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ANTÓNIO VIEIRA)
O Sermão da Sexagésima é, talvez, um dos seus sermões mais
famosos. Pregado na Capela Real, em Lisboa, em Março de 1655, abre
a série de quinze volumes dos sermões de Padre Vieira, servindo de
prólogo, ao mesmo tempo que encerra uma arte de pregar, inspirada
pela dialéctica conceptista, indo contra os excessos gongóricos.
"Do trigo que deitou à terra o semeador uma parte se logrou, e três se
perderam. E por que se perderam estas três? A primeira perdeu-se,
porque a afogaram os espinhos; a segunda, porque a secara as pedras;
a terceira porque a pisaram os homens, e a comeram as aves. Isso é o
que diz Cristo; mas notai o que não diz." Padre António Vieira, em "O
Sermão da Sexagésima."
Análise
Parte I
Como bom orador que era, Vieira tenta conquistar a docilidade se seu
auditório com um discreto elogio, também chama a tenção para a
importância do tema pelo fato de ter viajado tão longe para pregar para
eles:
E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse
hoje tão desenganado da pregação, como vem enganado com o
pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do caso
que me levou e trouxe de tão longe.
Argumentos:
Parte II
Parte III
Deus não pode ser o culpado porque Ele é infalível. Essa é uma
declaração de fé defendida no concílio de Tridentino. Vieira usa
novamente (como em todo o sermão), a parábola do semeador para
ilustrar a pregação do evangelho comparando-a com o semear. As
causas são terrenas, as pedras, os caminhos, os espinhos. O Céu
sempre ajuda sendo com sol ou chuva.
Parte IV
Parte V
O estilo. Segundo Vieira o estilo dos pregadores de sua época era ruim.
O pregador deve ter um estilo simples e natural.
Argumentos:
O céu (natureza) foi o primeiro pregador. Cita o salmo 19, que diz que
“os céus declaram a glória de Deus e o firmamento proclama a obra de
suas mãos...”
O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os
que não sabem e tão alto que tenham muito que entender os que sabem.
O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura e o mareante
para sua navegação e o matemático para as suas observações e para os
seus juízos. De maneira que o rústico e o mareante, que não sabem ler
nem escrever entendem as estrelas; e o matemático, que tem lido
quantos escreveram, não alcança a entender quanto nelas há. Tal pode
ser o sermão: -- estrelas que todos vêem, e muito poucos as medem.
Parte VI
Argumentos:
1.Ele cita uma metáfora sobre a árvore e suas diversas partes que
exemplifica a estrutura de um bom sermão:
Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas,
tem flores, tem frutos. Assim há-de ser o sermão: há-de ter raízes fortes
e sólidas, porque há-de ser fundado no Evangelho; há-de ter um tronco,
porque há-de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco
hão-de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas
nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos hão-de ser
secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão-de ser
vestidos e ornados de palavras. Há-de ter esta árvore varas, que são a
repreensão dos vícios; há-de ter flores, que são as sentenças; e por
remate de tudo, há-de ter frutos, que é o fruto e o fim a que se há-de
ordenar o sermão. De maneira que há-de haver frutos, há-de haver
flores, há-de haver varas, há-de haver folhas, há-de haver ramos; mas
tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo
são troncos, não é sermão, é madeira. Se tudo são ramos, não é
sermão, são maravilhas. Se tudo são folhas, não é sermão, são versas.
Se tudo são varas, não é sermão, é feixe. Se tudo são flores, não é
sermão, é ramalhete. Serem tudo frutos, não pode ser; porque não há
frutos sem árvore. Assim que nesta árvore, à que podemos chamar
«árvore da vida», há-de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores,
o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos; mas
tudo isto nascido e formado de um só tronco e esse não levantado no ar,
senão fundado nas raízes do Evangelho: Seminare semen. Eis aqui
como hão-de ser os sermões, eis aqui como não são. E assim não é
muito que se não faça fruto com eles.
Parte VII
Argumentos:
Argumentos:
Cita a Bíblia que fala de Jesus como alguém que prega sem bradar e
João Batista que bradava no deserto.
Vieira encerra essa parte levantando uma questão que aponta para o
desfecho do sermão, e a principal causa da falta de fruto que a pregação
teve em seus dias:
Parte IX
Argumentos:
Parte X
Argumentos:
Advirtamos que nesta mesma Igreja há tribunas mais altas que as que
vemos: Spectaculum facti sumus Deo, Angelis et hominibus. Acima das
tribunas dos reis, estão as tribunas dos anjos, está a tribuna e o tribunal
de Deus, que nos ouve e nos há-de julgar. Que conta há-de dar a Deus
um pregador no Dia do Juízo? O ouvinte dirá: Não mo disseram. Mas o
pregador? Vae mihi, quia tacui: Ai de mim, que não disse o que convinha!
Não seja mais assim, por amor de Deus e de nós.
Estamos às portas da Quaresma, que é o tempo em que principalmente
se semeia a palavra de Deus na Igreja, e em que ela se arma contra os
vícios. Preguemos e armemo-nos todos contra os pecados, contra as
soberbas, contra os ódios, contra as ambições, contra as invejas, contra
as cobiças, contra as sensualidades. Veja o Céu que ainda tem na terra
quem se põe da sua parte. Saiba o Inferno que ainda há na terra quem
lhe faça guerra com a palavra de Deus, e saiba a mesma terra que ainda
está em estado de reverdejar e dar muito fruto: Et fecit fructum
centuplum.
Considerações finais