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FÉ: TÃO PEQUENA E TÃO GRANDE

Fé é uma palavra bem pequena aliás pequenina mas muito carregada de rico significado
e de sentidos variados. Lembro que alguém falou que ia jogar na sena da loteria
esportiva e seu colega logo acrescentou:
Você bota fé?
Já outra pessoa com um parente em precário estado de saúde em UTI de hospital
expressava:
Tenho fé e entrego esse caso a Deus
No dia 8 de dezembro alguém observava um fiel subindo de joelho, o morro da
conceição e arrematou de chofre:
Olha o tamanho da fé do camarada!
Numa aula de teologia o professor dizia que um fenômeno pode ser observado de
formas diferentes. A chuva que cai pode ser visto como um fenômeno meramente
natural: um fenômeno natural. Um olhar sob a ótica da fé pode ser compreendido como
sobrenatural; a pessoa que olha com os olhos da fé, enxerga Deus agindo; vê na chuva
que cai a ação de Deus. A fé é vista sob diversos aspectos.
Quando se fala de fé de que forma vamos compreender? O que é fé? Todos têm fé? E
todos têm fé da mesma forma?

Quando se fala em fé as pessoas muito religiosas de imediato lembram logo da citação


de hebreus 11,1 quando diz:

“A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades


que não se vêem”

É uma citação bíblica que antecede a narrativas de fé de figuras do antigo testamento de


fé comprovada. A Bíblia apresenta o conceito de fé e exemplifica com a vida dos
patriarcas Noé, Enoque, Abraão e outros. É normal que a Bíblia proceda assim porque
ela é um livro de fé, foi escrito por pessoas de fé.

Para nos ajudar a responder o que seja fé evoquei um estudioso; alguém que pudesse
descomplicar o que parece complicado. O teólogo, filósofo, psicólogo, escritor e músico
Rubem Alves escreveu um pequeno tratado “o que é religião” e no capítulo final –
aposta - nos dá boas intuições para responder a esta pergunta, sem complicação. Para
ele, fé é aquela dimensão humana capaz de dar sentido à vida. É algo que se
experimenta emocionalmente, sem que se saiba explicar ou justificar; é algo que nos
ocorre de forma inesperada e não-preparada, como uma brisa suave que nos atinge, sem
que saibamos donde vem nem para onde vai, e que experimentamos como uma
intensificação da vontade de viver a ponto de nos dar coragem para morrer, se
necessário for, por aquelas coisas que dão à vida o seu sentido. É uma sensação inefável
de eternidade e infinitude, de comunhão com algo que nos transcende, envolve e
embala. Entender fé assim é declarar que vale a pena viver apesar de toda adversidade.
Que é possível ser feliz e sorrir.

Fé é crer, acreditar, correr risco, sonhar ou apostar (daí o título do capítulo) que tudo
não é pura ilusão mas verdade que me faz lutar para ser feliz.

Fé tem a capacidade de munir a pessoa de esperança; a esperança é aquela virtude cristã


que age como um motorzinho que empurra a gente para frente; sempre para frente. Ai!
De quem não tem esperança! Esvazia-se por completo; desaparece a dimensão do
humano.

Conheço um caso de alguém que chegou aos 60 anos e sem esperança não quis ser um
peso para ninguém; escreveu um bilhete explicando sua decisão e foi encontrado morto
no dia seguinte, por decisão própria. É o fim de quem não tem esperança.

Fé tem a capacidade de fazer a pessoa sonhar. Ai! De quem não sonha! O sonho também
tem essa capacidade de empurrar a gente para frente. Por que você está na faculdade?
Por que apesar de tudo, insiste em concluir o curso? Porque sonha. O sonho tem essa
capacidade de dar força, ânimo para lutar e superar os desafios.

Por falar em sonho quem nos pode ajudar a compreender bem o que seja fé, é um artista
da MPB, Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha quando escreveu em “Nunca pare de
sonhar”, fé na vida, fé no homem, fé no que virá, nós podemos tudo nós podemos mais.

Nunca pare de sonhar

Ontem um menino
Que brincava me falou
Hoje é a semente do amanhã

Para não ter medo


Que este tempo vai passar
Não se desespere, nem pare de sonhar

Nunca se entregue
Nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar

Fé na vida, fé no homem, fé no que virá


Nós podemos tudo, nós podemos mais
Vamos lá fazer o que ser

Todo exemplo é sempre falho mas não deixa de ser ilustrativo. Vou convidar um de
vocês, por uma venda nos olhos de tal forma com a total impossibilidade de ver
qualquer coisa. Agora o tomo pela mão e o conduzo ao 5º andar do prédio , que é a parte
mais alta da faculdade. De repente o coloco numa parte estratégica desse andar, solto
sua mão e digo:
Agora pode saltar que você encontrará chão com toda segurança.
Se você tem fé na minha palavra, saltará e nada lhe vai acontecer. Salta? Isso é fé. Aliás
“fé de Abraão” de que fala a Carta de Hebreus 11, já citada acima.
Rubem Alves, ao falar dessa realidade complicada apela para uma parábola que pode ser
muito ilustrativa:
É sobre um punhado de rãs que viviam dentro de um buraco fundo. Haviam nascido lá,
nada conheciam sobre o mundo de fora. Pensavam que seu buraco escuro e malcheiroso
era o universo. E estavam muito felizes. Até que um pintassilgo entrou lá dentro e
começou a trinar canções sobre o maravilhoso mundo de fora. As canções do pintassilgo
provocaram um rebuliço. A paz do mundo das rãs foi perturbada pelas as idéias novas.
As rãs românticas acreditaram, começaram a sonhar e a fazer planos para sair do
buraco.
A revelação de “mundo lá fora” tornou aquela vida diferente e carregada de significado
capaz de lutar pela conquista desse novo mundo.
Leonardo Boff nos ajuda dizendo e diferenciando a fé e religião. Segundo ele “a religião
é concreta. Possui credo, moral, teologia, santos e santas, hierarquia, templos, festas,
ritos e celebrações (....) A fé é o encontro vivo com Deus; não valem as normas.
Emudecem as palavras. Cessam as imagens e empalidecem as celebrações (...) Tudo fica
numinoso” (BOFF, 1998, p.88) um
Religião não deve se confundir com Igrejas ou instituições religiosas mas essas devem
ajudar as pessoas discernir e orientar melhor sua fé.. Pessoas como Martin Luther King,
Mahatma Gandhi e D. Hélder Câmara, apenas para citar algumas, são exemplos grandes
de fé. Fé que fez Martin Luther King lutar até a morte contra a segregação racial na
comunidade norte-americana; fez Mahatma Gandhi morrer para alcançar a
independência do povo indiano contra o domínio inglês. Fez D. Hélder Câmara correr o
mundo denunciando os horrores da ditadura militar aqui no Brasil.

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