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PONTIFICIA UNIVERSITÀ LATERANENSE

FACULDADE CLARETIANA DE TEOLOGIA


FABIANO DE LIMA

RESENHA DO LIVRO “A DIMENSÃO DA FÉ”

CURITIBA
2019
FABIANO DE LIMA

RESENHA DO LIVRO “A DIMENSÃO DA FÉ”

Trabalho apresentado ao curso de Teologia do


Studium Theologicum – Faculdade Claretiana de
Teologia da Pontificia Università Lateranense
como requisito para obtenção de horas
complementares.

CURITIBA
2019
1. RESENHA

O livro “Dimensões da fé” escrito por Anselm Grün foi escrito segundo ele, porque
algumas perguntas das pessoas o deixavam inquieto. Perguntas por exemplo: “Eu não crer,
porque? Tenho dificuldades com a fé? Porque não consigo acreditar, ter fé? Anselm Grün diz
em seu livro que “Eu tento entender exatamente o que as pessoas entendem por fé. Nem sempre
é claro o que cada um quer dizer quando fala em viver a partir da fé”.
Por causa desta ansiedade de querer apreender a conhecer o ser humano Grün escreveu o livro.
Ele deixa bem claro isto quando diz que “Em vista dessa insegurança, eu gostaria de
desenvolver neste livrinho alguns aspectos da fé”.
Anselm divide o livro em seis capítulos, são eles: 1° A fé nas expressões da linguagem;
2° Fé como confiança; 3° Fé como nova interpretação; 4° Fé como superação e ultrapassagem;
5° Fé como caminho para o verdadeiro eu; 6° A fé no cumprir as palavras de Jesus.
Logo na introdução o autor apresenta alguns conceitos do que é a fé. Por exemplo, a fé
de Abraão consiste em ser uma fé de confiança e obediência a Deus. Na epístola aos Hebreus a
fé é definida como sendo o “fundamento do que se espera e a convicção das realidades que não
se veem” (Hb 11,1).
A fé também significa: “Construir em Deus, confiar n’Ele, entender minha vida a partir
d’Ele. Na dogmática segundo Grün, a fé distingue entre aquilo em que eu creio (fides quae
creditur) e a fé como ato do ser humano (fides qua creditur). Anselm diz que a “fé, por
conseguinte, é deixar o rígido mundo do rendimento e do êxito e subir a um outro mundo, ao
mundo de Deus” (Jo 5,24).
Existem dois perigos que podem nos enganar quando buscamos a fé. São eles: Primeiro
consiste em reduzir a fé a algumas vagas ideias de um poder superior, que certamente existe.
Corremos o risco de reduzir a fé ao que hoje todos creem, ao que hoje é oferecido no mercado
espiritual. Podemos evitar estes perigos entrando conscientemente nas bases dogmática e
bíblicas da fé. O segundo é a tendência fundamentalista.
No empenho por encontrar uma base segura para sua fé, os fundamentalistas fixem-se
em palavras ou frases isoladas para se defenderem com veemência contra quem tem ideias
diferentes. Eles não perguntam o que as afirmações da fé realmente significam.

I A FÉ NAS EXPRESSÕES DA LINGUAGEM

Nas conversas sobre os dogmas apresenta-se duas dificuldades: Primeira, para as


pessoas os dogmas são afirmações que nós temos que considerar como verdadeiras. Para elas
os dogmas não possuem nada de libertador, mas apenas o que restringe, que provoca medo. A
segunda, é o medo de examinar os dogmas.
Acham que com isto os dogmas logo ficariam relativizados. Segundo Grün devemos
perguntar: “Que é que isto quer dizer? Como posso compreender este dogma? Em que
linguagem eu posso formular hoje, de modo que eu e os outros saibamos fazer alguma coisa
com ele?” e ainda diz que “os dogmas sempre têm que ser traduzidos para a respectiva época”.
Os dogmas não manifestam outra coisa a não ser o fato de que fomos salvos pela morte
e ressurreição de Cristo. Este mistério central da nossa fé é tratado em todas as afirmações
dogmáticas. Porém, todas as verdades de fé se referem a nós seres humanos, a nossa relação
com Deus, ao agir de Deus em nós. Elas interpretam para nós nossa experiência de salvação e
redenção. Os dogmas interpretam nossa experiência, interpretam nossa vida a partir de Deus,
do que Deus nos fez por intermédio de Jesus Cristo, e do que ele nos disse nos escritos do
Antigo Testamento.
Os dogmas não se referem unicamente à visão correta de Deus, mas sempre se referem
também aos seres humanos. Eles criam uma moldura em que podemos olhar para Deus e para
as pessoas. E nos dão uma certa segurança de não estarmos olhando Deus e a nossa vida com
óculos que destorcem a realidade. Eles delimitam e excluem as interpretações errôneas. Mas
não são a verdade última. Estabelecem a linha que devemos procurar.
Os dogmas continuam sendo o fio condutor, que não podemos abandonar. Eles são
indispensáveis para a nossa busca. Excluem uma interpretação arbitrária da fé, mas não
dispensam da obrigação de sempre de novo refletirmos e pesquisarmos o que eles propriamente
querem dizer. Querem “anunciar-nos a incalculável riqueza do amor de Cristo e manifestar o
desígnio salvador de Deus, o mistério oculto desde os séculos em Deus, criador de todas as
coisas” (Ef 3,8ss).
O dogma expressa o que é o nosso mais íntimo, diz-nos que que o próprio Deus mora
em nós, que Deus nos sustenta como Pai, que em Jesus Cristo ele tornou-se nosso irmão, que
enviou seu Espírito, que nos penetra e plenifica nossa vida com a vida divina, que nos une ao
Pai e ao Filho.
Nos dogmas sobre Maria, o que está em foco é o destino do ser humano. Para a Igreja
primitiva Maria é o tipo do ser humano redimido. O dogma da assunção de Maria ao céu nos
diz alguma coisa a dignidade humana. Se meditarmos, descobriremos que também nosso corpo
é um órgão do encontro com Deus e da experiência de Deus, e que a redenção transforma a
pessoa inteira, em corpo e alma. Em última análise o dogma da assunção do corpo de Maria é
um desdobramento da verdade central da fé, que Cristo ressuscitou dos mortos.
Um dogma sempre é uma verdade de fé da qual nós podemos viver. Os dogmas da Igreja
são uma tentativa de formular as verdades da Bíblia no diálogo com a filosofia grega, de tal
forma que as pessoas com formação filosófica pudessem compreendê-las e aceita-las como
palavras libertadoras e salvíficas da revelação. A verdade dos dogmas consiste em que eles nos
tornam livres, revelando-nos nosso verdadeiro ser e permitindo-nos viver de acordo com ele.

II FÉ COMO CONFIANÇA

Para Lutero, a fé era sobretudo confiança na bondade e misericórdia de Deus. Ele não
considerava importante os dogmas da Igreja e sim a confiança que o ser humano pode depositar
em Deus. Para o reformador Jesus é a razão por que podemos depositar nossa confiança em
Deus. Quando fala da fé, Jesus está pensando em uma confiança sem reservas em Deus: “Tua
fé te salvou”.
Ao que foi curado ele aponta a fé como verdadeira razão da cura. Mas crer não significa
esperar até que a paralisia desapareça por si mesma, mas sim simplesmente levantar-se e partir,
na confiança de que a palavra de Jesus é verdadeira.
A confiança em Deus não nos garante que não iremos ficar doentes, que não iremos cair
em depressão, que não iremos ter nenhum acidente, que não podemos fracassar em alguma
coisa. Ela nos dá a certeza de que no fundo nada poderá prejudicar-nos, que nada poderá atingir-
nos em nosso núcleo pessoal.
Esta confiança tira-nos o medo do futuro. Ela nos traz tranquilidade e paz interior. A fé
como confiança nos alivia em nosso trabalho e nas responsabilidades que assumimos. A fé nos
tira o peso que nos é imposto com a responsabilidade pelos outros. A fé não pode ser adquirida
por autopersuasão. Meditar as histórias bíblicas de cura nos leva a crescer nesta fé.
III FÉ COMO NOVA INTERPRETAÇÃO

A fé é para mim uma maneira bem determinada de interpretar o mundo e tudo o que eu
vivo e experimento no mundo. O psicólogo Paul Watzlawick, diz que ele considera a fé como
“uma reinterpretação a realidade”. Grün diz que “quando minha reinterpretação é arbitrária,
com o tempo ela não satisfaz à minha razão.
Minha reinterpretação tem que corresponder a verdade, do contrário eu haveria de
desmascará-la como um truque barato. Mas ao mesmo tempo sei que a fé só atua quando aquilo
em que eu creio realmente existe. Na fé, portanto, eu já supero o plano psicológico e me
relaciono com o Deus verdadeiro.
Na fé nossa razão não é descartada, uma fé que nossa razão tivesse desmascarado com
um truque psicológico em nada haveria de ajudar-nos. A palavra reinterpretar refere-se ao fato
de que inconscientemente nós sempre já estamos interpretando que na interpretação de nossa
vida nós partimos de interpretações inconscientemente assumidas de nosso contexto.
Frente a esta interpretação, muitas vezes irrefletida, a fé dá uma interpretação nova à
nossa vida. A interpretação da fé nós assumimos da Sagrada Escritura. O modelo da fé como
reinterpretação refere as palavras da Escritura à minha situação concreta de vida, levando-me
então a tratar minhas experiências de vida de uma maneira nova, que corresponde à redenção
por Cristo.
Anselm diz que para ele a reinterpretação é “uma coisa ativa” e que “eu não tenho que
imediatamente procurar uma reinterpretação, mas primeiro devo interrogar se posso ou se quero
mudar alguma coisa. A alternativa “mudar ou reinterpretar” leva-me diretamente a uma reação
ativa.
Tenho que decidir o que é que eu quero, como vou reagir aos desafios da vida, aos
desafios das outras pessoas e das situações no trabalho. Nós temos a liberdade de decidir. O
reinterpretar não é um ato de resignação, mas sim uma decisão livre. Eu me decido pela visita
e decido-me por ela porque a vejo positivamente, e procuro tirar dela o máximo de proveito.
Naturalmente a reinterpretação tem que ser sincera. A reinterpretação da vida assume a
realidade como ela é. Na fé supero o plano dos problemas e vejo-os a partir de uma perspectiva
diferente. Não é uma visão qualquer, é a visão da fé, da palavra de Deus que mergulha meu
mundo em uma nova luz.
Algumas situações devo reinterpretar por meio da fé. Na oração reajo ativamente. Nas
relações com pessoas difíceis vale a alternativa “modificar ou reinterpretar”. O que eu não posso
mudar, tenho que aceitar. Pois reinterpretar é uma coisa ativa.
Também sem a Bíblia eu posso reinterpretar positivamente as situações. Aqui a fé é
apenas uma boa forma de reinterpretação, mas em determinadas situações, como na doença e
na morte, ela é a única forma possível. Na fé eu me volto par a Deus e para o meu mistério,
como me foi revelado por Deus em seu Filho Jesus Cristo.
Para ver esta realidade da fé há necessidade de um modelo diferente. Na fé eu supero o
plano psicológico, no fundo experimentando aquilo que passei a ser através de Cristo. Este
modelo se encontra na psicologia transpessoal.

IV FÉ COMO SUPERAÇÃO E ULTRAPASSAGEM

A psicologia transpessoal foi desenvolvida nos Estados Unidos nos anos 60. Abraham
Maslow é considerado seu criador. Maslow, diz que o ser humano tem seis necessidades
principais: 1° a necessidade de segurança; 2°de posse; 3° de poder; 4° de fazer parte de um
grupo, 5°de sentimento de autovalor; 6° de auto realização.
Maslow também fala em suas obras de metanecessidades ou necessidades B, ou seja,
necessidades do ser, do inglês “being”. Estas metanecessidades seriam a verdade, beleza e
bondade. Quando estas metanecessidades não são satisfeitas, a pessoa adoece, exatamente como
quando suas necessidades básicas deixam de ser satisfeitas. Estas doenças Maslow as chama de
“metapatologias”, definidas como consequência de valores-B.
Para Maslow a vida espiritual faz parte “da essência do ser humano”. Sem ela a natureza
humana não está completa. A psicologia transpessoal distingue três planos: 1° é o plano
psicológico, o plano das necessidades do ego; 2° é o plano do corpo. Trata-se de estar
inteiramente no corpo, de estar vivo, de perceber com todos os sentidos, de viver inteiramente
no momento presente.
As experiências passadas marcam meu sentido do corpo. Quando a palavra de Deus se
encarna em meu corpo, ela lhe traz vida. A palavra de Deus, que na contemplação está ligada é
respiração, faz-me ser mais consciente e mais desperto em meu corpo; 3° é o plano transpessoal,
onde tenho acesso ao meu verdadeiro eu, o eu transcendente.
Ken Wlilber, um dos principais representantes da psicologia transpessoal, aponta o
método da desidentificação, desenvolvido pelo psiquiatra Roberto Assaglioli. Na
desidentificação percebe-se os sentimentos que surgem na pessoa. Exemplo: observar a raiva
que surge em mim. Assaglioli fala do observador não-observado.
Eu posso, portanto, dizer a mim mesmo: “Eu estou com raiva. Mas eu não sou a raiva.
Eu tenho problemas. Mas eu não sou meu problema. Eu estou com ciúme. Mas eu não sou meu
ciúme. Este método pode me ajudar a distanciar-me dos sentimentos. Este método da
desidentificação também é usado na meditação.
No caminho espiritual isto, em última análise, é o mesmo método da desidentificação.
Este caminho leva a relativizar os sentimentos. Os escritores espirituais conhecem duas imagens
que os ajudam a lidar com os pensamentos. 1° é a da nuvem, os pensamentos são como nuvens
que passam pelo céu. Eu simplesmente deixo que elas passem e fico comigo. 2° é a do mar.
Na superfície do mar existem ondas, às vezes maiores e às vezes menores. Na superfície
o mar está sempre inquieto e em movimento. Mas quanto mais nós nos aprofundamos na
meditação, tanto mais tranquila ela é. A meditação é uma espécie d desidentificação. Eu deixo
as ondas irem e virem. Mas desço para o profundo, onde desfruto da tranquilidade ali reinante.
O resultado da desidentificação, como o conhecemos na meditação, é resumido por Ken
Wilber da seguinte maneira: Na medida em que você reconhece que seus medos, por exemplo,
não são você, eles deixam de ameaça-lo. [...] Você simplesmente deixa todas as perturbações
caírem por si mesmas, ao reconhecer que elas não são você.
Na psicologia transpessoal nós não tentamos repelir nossos problemas e necessidades,
mas procuramos deixar que eles se vão. Pois a luta constante contra nossos sentimentos e
paixões nos exige uma força muito grande. Mas se simplesmente as admitirmos sem que nos
identifiquemos com elas, elas perdem seu poder sobre nós. A desidentificação leva a
identificação.
Para James Bugental, defensor da psicologia transpessoal, é Deus que satisfaz “nosso
anseio por mais verdade e vida”. Segundo ele: “Nossa experiência de Deus nos leva à nossa
verdadeira profundidade, onde verdadeiramente nós somos nós mesmos: Pessoas que não são
mais dominadas pelo medo e pelo ciúme, que se libertaram da tirania de seus desejos e instintos,
que para além de todos os pensamentos e emoções descobriram seu eu transpessoal, que ao
mesmo tempo é um com Deus.
No modelo transpessoal eu me aceito quando avanço para o meu eu que se encontra para
lá desses desejos e recordações. Quem sou eu realmente? Eu sou aquele que tem pensamentos
e emoções. Mas o eu não está restrito aos pensamentos e emoções. Meu verdadeiro eu, eu só
descubro quando atravesso a superfície dos pensamentos e emoções e entro em contato com
meu núcleo transcendente.
Nos conceitos da mística alemã, poderíamos dizer que nós voltamos para o fundo da
alma, para o lugar onde Deus nasce em nós, onde verdadeiramente nós somos nós mesmos. O
místico Johannes Tauler diz que não podemos chegar a este fundo da alma por nossas próprias
forças, mas só deixando que Deus aja em nós. Para a mística alemã, este é o lugar do puro
silêncio, o lugar a que só Deus te acesso.
Os Padres da Igreja procuram lembrar-nos nossa verdadeira dignidade. Na fé nós
conhecemos quem verdadeiramente somos. A fé quer mostrar-nos o mistério de nossa redenção.
Na fé nós temos um lugar aonde podemos retirar-nos, o lugar do verdadeiro eu, que está inserido
em Deus.
Deus é mais bondoso do que nosso superego. Ele quer que nos tornemos vivos e livres,
e não que vivamos continuamente tensos e contraídos. A Boa-Nova da fé não nos anuncia o
que deveríamos ser ou o que deveríamos fazer, mas diz-nos antes de tudo quem nós realmente
somos.
Mas mesmo com todas as nossas culpas, ainda existe um núcleo que não foi tocado pelo
pecado. É isto o que nos quer dizer o dogma da Imaculada Conceição de Maria. Existe em nós
uma pureza que não foi perturbada pelo pecado original, um núcleo que não foi envolvido pela
culpa humana. Cristo, com sua mensagem, quer nos lembrar este núcleo. Devemos alegrar-nos
com nosso verdadeiro mistério, por já estarmos redimidos, por já termos parte na vida divina.

V FÉ COMO CAMINHO PARA O VERDADEIRO EU

O que aconteceu por Jesus Cristo, e o que nós viemos a ser através dele, isto nos é
mostrado antes de tudo pelo Evangelho de João. Jesus nos revelou nosso novo ser. Nós somos
aqueles que estamos cheios do Espírito de Deus. E Jesus nos aponta um caminho para que
possamos viver em conformidade com nosso ser.
João, no seu Evangelho quer responder às perguntas da gnose, que moviam os corações
das pessoas no final do 1° século. As pessoas ansiavam por iluminação, por conhecimento.
Iluminação, conhecimento, vida, luz, verdade, amor e unidade, estes eram os conceitos-chave
da gnose, que também João assume no seu Evangelho.
João descreve Jesus como a luz que desceu do céu para iluminar nossas trevas. Jesus
nos mostra o caminho para nos definirmos de uma maneira diferente: como filhos de Deus,
como seres humanos que nasceram de Deus e não da vontade do homem, que têm sua origem
em Deus e não no conceito dos seres humanos.
Se nos lembrarmos do modelo da psicologia transpessoal, de repente estas palavras de
Jesus adquirem um peso diferente. Jesus descreve nosso verdadeiro eu. Quando eu entender o
que significa ser nascido de Deus, então deixa de ser tão importante se eu nasci do bem-querer
desta ou daquela pessoa, se eu encontro ou não encontro atenção e reconhecimento.
A fé não salta por cima do plano da natureza, ela o supera. A palavra de Deus precisa
tornar-se em nós mais forte do que a palavra do humano. O nascimento de Jesus, a encarnação
de Deus em Jesus, quer mostrar-nos também o mistério do nosso nascimento, da nossa
verdadeira origem.
Nós nascemos do Espírito de Deus (Jo 3,6). Quem crê em Jesus não permanece na morte.
A paixão e morte de Jesus é a consequência última de sua encarnação. Observar os
mandamentos, para Jesus, não é algo exterior ao ser humano, mas é concretização do nosso
novo ser. Os mandamentos nos ajudam a sustentar a experiência do novo ser e a encarná-la em
todos os setores da vida. Meu mistério consiste em que eu sou um com Jesus Cristo, que sua
vida pulsa em mim, que nele eu me torno vivo e produzo fruto.
Na fé eu posso mergulhar na realidade do meu ser. E a partir daí as injúrias perdem o
poder sobre mim. A experiência da unidade é graça, é dom de Deus. Jesus nos diz que esta
unidade já existe em nós. Deus está realmente em nós e nós nele. Portanto, o objetivo da vida
de Jesus ao mundo é a nossa vida.
Jesus mostrou-nos o que é vida, e deu-nos seu espírito, para que também nós possamos
viver verdadeiramente, viver não mais no nível restrito de nossa visão superficial, mas sim nas
dimensões que Jesus nos revelou.
VI A fé no cumprir as palavras de Jesus
Nas exigências de Jesus, que encontramos, por exemplo, no Sermão da Montanha, nós
temos a impressão de que elas nos fazem exigências demasiadas. Aí a fé já não nos aparece
como algo que liberta, como o subir a um novo plano, mas sim como um peso que temos que
carregar sobre nossos ombros, como mandamentos por cujo cumprimento devemos empenhar-
nos com todas as nossas forças.
Mas também para as exigências de Jesus é válido o modelo da fé como superação. A
liberdade e a segurança que experimentamos em Deus tornam possível que cada um de nós
proceda de uma maneira inteiramente surpreendente, possibilita-nos um agir em que o bem
vence o mal.
Ser desonrados pelas pessoas não pode diminuir a honra que nos foi dada por Deus. Por
isso nós não precisamos estar preocupados em todas as circunstâncias com nossa honra. Nós
não pertencemos à terra, mas somos filhos da luz, filhos do céu. Outra palavra que as pessoas
não aceitam é que a cruz faz parte da nossa vida, mas quando a cruz é aceita, ela nos amplia. E
nos faz mais abertos. A imagem da cruz, faz que nos tornemos mais sábios e maduros.
Quando determinadas palavras de Jesus nos amedrontam, isto só pode ter duas razões:
1° nós não entendemos corretamente as palavras de Jesus, 2° nós assumimos padrões errôneos,
de modo que os padrões de Jesus para uma vida plena parecem ser um ataque contra nossa auto
compreensão. Ele sabe que por vezes nós temos necessidades de um choque para deixar nossos
hábitos de pensamento e enfim olharmos a realidade de frente.
Crer não significa apenas ver, mas também agir a partir das palavras de Jesus. E o agir
leva mais uma vez a um novo ver. Ver e agir, portanto, são dois polos que se completam
mutuamente.
Conclusão
Muitas pessoas dizem: A fé é uma graça. A luta pela fé é um processo permanente. A fé
nunca é uma coisa que a gente possua, que se tenha na mão. As ideias sobre a fé como confiança,
a fé como reinterpretação e a fé como superação quiseram mostrar-nos que as dimensões da fé
nos levam também a novas dimensões de vida.
Mas a fé não é nenhum bem que nós possamos agarrar. A fé sempre é também atacada
pela dúvida. Pode-se mesmo dizer que a dúvida necessariamente faz parte da fé. E quando na
fé ultrapassamos o plano do ego e nós voltamos para o nosso verdadeiro eu, também pode surgir
a dúvida se não estamos nos deixando enganar.
Pois sem visão de fé não existiriam obras de arte, não existiriam igrejas românticas nem
catedrais góticas, não existiriam cantatas de Bach nem Paixão de São Mateus, nem o Messias
de Handel nem sinfonias de Mozart e Beethoven. Este nosso mundo seria pobre e vazio.
No fundo do nosso coração nós todos entrevemos que a visão da fé está certa, que este
Jesus de Nazaré veio de Deus, que ele é o Filho de Deus, que ele torna possível para nós uma
nova vida livre das angústias e dos medos, que ele nos salvou de todo envolvimento com a
culpa.
No fundo de minha alma eu tenho a certeza de que esta é a verdade, de que tudo está
certo, que o caminho para Deus é este. Este caminho abre novas dimensões à minha vida, que
me conduz a experiência da unidade com Deus, a verdadeira razão de todo ser, e que na unidade
leva-me também a ser um com Deus, e um com meu núcleo mais íntimo, e com todos os seres
humanos.

2. COMENTÁRIO

Este livro do Anselm Grün, foi escrito com uma linguagem simples, onde todas as
pessoas possam entender onde ele quer abordar. Todos os capítulos de seu livro têm conteúdo
sólidos, que nos levam a uma reflexão. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi o
capítulo terceiro que fala sobre a fé como uma nova interpretação e utiliza o conceito de
reinterpretação. Outros conceitos de não tinha conhecimento são: metanecessidades usada por
Maslow estas seriam algumas necessidades do ser e desidentificação que Ken Wilber utiliza
com método.
Grün, fala sobre a fé como confiança em Deus, podemos refletir se a maioria das pessoas
confiam realmente em Deus. Na minha opinião, na atualidade há uma crise de fé. No capítulo,
sexto, o autor comenta sobre a nas palavras de Jesus. Novamente poderíamos analisar, refletir,
e responder se realmente vivenciamos o Jesus nos pede. Se verdadeiramente colocamos as
palavras de Jesus em prática em nosso cotidiano.

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