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O PODER DA FÉ

MIZAEL XAVIER

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5S EDITORA
PARNAMIRIM/RN – 2023
SUMÁRIO
Introdução

1. O que é fé?

2. O poder da ressurreição de Jesus

3. O poder do arrependimento

4. O poder da obediência

5. O poder da quebra de paradigmas

6. O poder do compromisso incondicional

7. O poder da coerência

8. O poder da renúncia

9. O poder da gratidão

10. O poder do testemunho

11. O poder do controle da realidade

12. O poder da confiança

13. O poder do amor e das obras

14. O poder da ação solidária

15. O poder do possível

16. O poder do cristocentrismo

Conclusões

Referências bibliográficas
INTRODUÇÃO
“Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam,
a convicção de fatos que se não veem.”
(Hebreus 11:1)

Você, com certeza, conhece a história da bomba atômica


que foi lançada sobre as cidades de Hiroxima e Nagasaki, no Japão,
durante a segunda guerra mundial. Ambas possuíam 16 e 20
quilotons respectivamente de capacidade explosiva. Não é preciso
lembrar os terríveis resultados que essas bombas trouxeram, das
vidas que foram aniquiladas. Que grande poder! Mas existe um
poder muito maior e ilimitado em um simples grão de mostarda! Sim,
no menor de todos os grãos existe uma força infinitas vezes maior
que qualquer bomba atômica, um poder capaz de não somente
transportar montanhas, mas de gerar vida! E quem nos garante este
poder não é outro que não o próprio Senhor Jesus, que nos garantiu
que, se tivermos fé como um grão de mostarda, o menor de todos os
grãos, moveremos montanhas (Mt 17:20). Que grande poder temos
em mãos! Que realizações magníficas o poder da fé pode nos trazer!
Não um poder para destruir vidas como as bombas atômicas, mas
para abençoar vidas, para buscar a face daquele que possui todo o
poder, de quem é toda honra e para quem é toda a glória. Você crê
neste poder? Você crê no poder da fé? Tenho certeza que sim.
Outra coisa eu tenho certeza: talvez o seu entendimento sobre
o que é a fé não seja suficiente para lhe permitir fazer o uso correto
dela. Ou pode ser que esse conhecimento esteja distorcido por
ensinamentos e pregações que tratam a fé de uma forma totalmente
contrária daquela que a Palavra de Deus nos apresenta. Quando
lemos o texto de Hebreus citado logo no início, diversas informações
a respeito da fé nos vêm à mente, coisas que lemos nos livros, em
postagens nas redes sociais ou em pregações acaloradas com
mensagens triunfalistas. A maioria delas trata a fé de um ponto de
vista estritamente utilitarista, revelando-a como algo que se usa em
dados momentos para conquistar bênçãos e vitórias, para ter certeza
de que, embora ainda não o vejamos, o milagre de Deus está a
caminho, basta crer e esperar. Como veremos mais adiante, não é
isso que o autor de Hebreus pretendia que pensássemos quando
escreveu sua carta! Então, o que ele tinha em mente? Qual a
verdadeira função da fé na vida cristã? Existe algum poder oculto
que ainda não conhecemos, mas que, se desvendarmos, obteremos o
real poder da fé?
Acreditar que a fé é apenas um poder que transporta
montanhas ou que a sua única função é mover a mão de Deus para
nos abençoar é limitar ao mínimo a sua natureza e o seu alcance. E é
isso que a maioria dos cristãos tem vivido: uma fé limitada, com um
poder falso pregado pela Teologia da Prosperidade, repleta de
misticismo e elementos das religiões de mistério. Para muitos, o
poder da fé está atrelado ao uso de objetos ungidos, à prática de
rituais, às campanhas de oração ou até mesmo à fidelidade nos
dízimos e nas ofertas. Ou seja: não basta a fé, é preciso uma
ajudazinha para Deus, um pagamento ou algo parecido para que as
coisas aconteçam. E pensar que o poder da fé está em “fazer com
que as coisas aconteçam”, já revela uma total distorção do que a
Bíblia nos ensina ao seu respeito. Talvez você esteja como muitas
pessoas que utilizam a sua fé de maneira totalmente equivocada,
como aquela pessoa que possui uma ferramenta, mas não sabe como
utilizá-la.
Este livro foi escrito para você e para todos os que desejam
conhecer o que é a fé e qual o seu verdadeiro poder. Quando falo em
fé, não me refiro a qualquer fé, porque até mesmo os ateus creem em
alguma coisa. Budistas, muçulmanos, mórmons, espíritas, hindus,
cientistas... Todos estes possuem uma fé com base nas suas próprias
crenças e experiências. A fé a ser estudada neste livro é a fé
verdadeira: aquela que está registrada nas páginas da Bíblia, a fé
que vem de Deus, que está alicerçada sobre a Rocha, que é Cristo.
Então, podemos afirmar que a fé de muitos daqueles que se declaram
cristãos (protestantes ou católicos) tenha muito pouco a ver com
Deus e com a sua Palavra. A fé do crente evangélico pode levá-lo a
passar pela fogueira santa para conquistar bênçãos; já a fé do fiel
católico pode levá-lo a acender velas a algum santo ou santa para
alcançar um milagre. Onde se encontra o fundamento para essas
práticas? É essa a fé ensinada pela Bíblia? Se não, qual a verdadeira
fé, qual o ser real poder e como alcançá-lo? É sobre isso e muito mais
que estudaremos nos próximos capítulos.
Capítulo 1

O QUE É FÉ?
“visto que andamos por fé e não pelo que vemos.”
(2 Coríntios 5:7)

A questão da fé é um tema bastante complexo para


limitarmos o seu alcance e o seu poder a pedir e receber bênçãos,
vitórias e milagres. O texto bíblico citado acima nos fornece um claro
exemplo desse pensamento limitador a respeito da fé cristã. Para a
maioria das pessoas, viver pelo que não vemos significa que devemos
crer que já tomamos posse das bênçãos de Deus que tanto lhe
pedimos em oração, que no momento não podemos contemplar, mas
que, pela fé, sabemos que já estão a caminho. Em breve o anjo as
trará! Entretanto, o apóstolo Paulo se refere, no contexto, a uma fé
que enxerga um futuro glorioso nos céus, que não somente explica
muitas das nossas momentâneas tribulações presentes, como nos dá
ânimo e ao mesmo tempo controla o nosso comportamento. Se
cremos que vamos para o céu, com certeza o nosso caráter e as
nossas atitudes serão bem diferentes daquelas pessoas que não
possuem essa mesma esperança, que não têm compromisso algum
com Deus. A fé bíblica nos convida a enxergar para além dessa
realidade, o que naturalmente nos traz um anseio pelas coisas de
Deus, pelo seu Reino celestial e eterno; um anseio por nos comportar
como seus cidadãos e por sermos transportados o mais breve para lá.
Isso nos leva a uma questão: aquele que não anela pelo céu, possui
alguma fé verdadeira?
Então, o que é fé? Esta é uma pergunta com muitas respostas,
e que provavelmente irão variar de crença para crença. Mesmo
dentro do próprio cristianismo, o tema fé encontrará explicações e
práticas diferentes. Se o cristianismo ortodoxo ensina uma fé que
leva o crente a entregar-se totalmente nas mãos de Deus, as crenças
mais liberais, como o neopentecostalismo, por exemplo, entenderão
fé como o ato de tomar posse das promessas de Deus. Isto se
assemelha bastante à compreensão de fé presente no Antigo
Testamento, que possui uma conotação diferente da que temos hoje,
como crentes da Nova Aliança. De acordo com Erickson (op. cit., p.
397), a ideia de fé no hebraico do Antigo Testamento é transmitida
principalmente por formas verbais; ela não está ligada a algo que se
faz, mas que se possui. Essa fé transmite a ideia de descansar ou
apoiar-se confiadamente em alguém ou alguma coisa, geralmente
Deus ou a sua palavra de promessas. O capítulo 11 do livro de
Hebreus é dedicado a homens e mulheres que viveram a sua vida
pela fé, na confiança de que Deus cumpriria tudo o que lhes
prometera. A sua fé os conduziu a situações de perigo extremo,
ocasionalmente à morte.
O Novo Testamento dá uma grande ênfase à fé (gr. pistis),
ênfase que não é observada antes, nem mesmo em João Batista, que
pregava o batismo do arrependimento para a salvação. O substantivo
pistis é utilizado pelo apóstolo Paulo 142 vezes e ocorre no resto do
Novo Testamento 101 vezes; ele pode ser traduzido como “crença”,
“confiança” ou “credibilidade”. Cremos em Deus (crença), estamos
seguros quanto ao seu caráter e o seu agir (confiança) e temos
certeza de que Ele e a sua Palavra são a verdade e jamais falharão
(credibilidade). Todavia, esses três elementos se traduzem em
diversos resultados que a fé traz para a nossa vida e que também
podem explicá-la. O verbo pisteuo (crer) é empregado por Paulo 54
vezes e o adjetivo pistos (fiel ou digno de confiança) aparece 33
vezes em seus escritos. O termo grego utilizado para fé tem o seu
significado dentro do texto bíblico e dependerá do contexto em que
estiver empregado. Assim, a fé pode ser salvífica (cf. Ef 2:8,9; Rm
1:17; Gl 2:16), um dom espiritual (cf. 1 Co 12:9) ou um conjunto de
verdades e conhecimento (f. At 6:7) Para o apóstolo Paulo, é
impossível desassociar o cristão de crer (cf. Rm 1:16; 1 Co 1:21). A fé
é a alma da vida cristã e sem ela não existe cristianismo. Sem fé não
se pode falar em salvação, confiança em Deus, Evangelho,
escatologia, resposta de oração. Vemos, então, como é grande o seu
poder: poder de nos identificar com filhos de Deus, nascidos de novo,
santos e salvos.
O livro de Hebreus (11:1) explica a fé como uma certeza (gr.
hupostasis) e uma convicção (gr. elegchos, prova). A vida relatada de
homens e mulheres de Deus neste capítulo não deixa dúvida de que
eles tinham plena convicção do cumprimento das promessas de
Deus, ainda que não pudessem vê-las. A fé é, então, uma certeza
plena em Deus e na sua Palavra, que exclui qualquer dúvida e
transforma a nossa vida, ao ponto de tomarmos atitudes que, sem
esta fé, seriam totalmente impossíveis. A fé do cristão é uma
resposta pessoal à revelação de Deus. Deus se revela salvador em
Cristo, e somente pela fé o homem pode receber esta salvação
gratuita, sem necessidade de obras. A fé, na verdade, se contrapõe
às obras no que diz respeito à salvação, como Paulo explicita no livro
de Romanos e em outras epístolas. Todavia, esta fé não andava
sozinha, mas deve vir acompanhada de um mover em direção a Deus,
quando demonstramos confiança nele para a salvação. Não basta ao
homem crer em Deus, entender-se como pecador miserável, é
preciso que ele creia que somente Deus é capaz de demovê-lo de sua
situação desgraçada. Crer, segundo a Bíblia, é crer de todo o coração
(Rm 10:9). A fé, segundo o autor de Hebreus, é indispensável para a
salvação (Hb 11:6).
Como veremos neste estudo, a fé com todo o seu poder vai
muito além de crer que Deus cumprirá as suas promessas, mas
envolve uma vida totalmente dedicada a Ele. Crer na existência de
Deus não é uma prerrogativa apenas do ser humano, mas os próprios
demônios também creem (Tg 2:19). Então, ter fé extrapola a crença.
No mundo “gospel” atual, a fé está reduzida a palavras de ordem,
declarações triunfalistas e promessas de vitória. O crente que tem fé
é aquele que “toma posse da bênção”, que move o sobrenatural, que
materializa seus desejos e crê que Deus moverá o Universo para que
sejam atendidos. Tiago dirá que a fé envolve obras e que são essas
obras que legitimam a nossa fé, não o alcance das bênçãos. Que
Deus nos abençoe e nos guie em busca da compreensão sadia de
uma fé baseada na sua Palavra. Existem muitas “fés” pelo mundo, em
muitas religiões e até mesmo no ateísmo, mas a fé verdadeira é no
Senhor Jesus Cristo, a única fé que salva e leva o homem a Deus; a
única capaz de tirar o ser humano do seu estado de morte espiritual
para lhe dar a vida eterna (Hb 11:6; Mt 15:28; 9:2; Tt 1:2; 1 Pe 1:9; 1
Jo 5:4). Se esta não é a sua fé, ela não possui nenhum poder, neste
ou no outro mundo.

Fé e razão

Quando se fala em “poder da fé”, geralmente se pensa em


algum poder místico, algo que envolve pensamentos, palavras,
orações e jejuns, cuja finalidade única é produzir resultados: atrair
bênçãos, conquistar vitórias e promover curas e milagres. Nada
muito racional, pois não há o que se pensar, apenas sentir o poder da
fé e confiar que ela fará o que o Senhor Jesus nos prometeu: remover
montanhas e abrir a mão abençoadora daquele que abre e ninguém
pode fechar. Então o que será a fé? Crer com bastante convicção em
algo? Fazer força com a mente para mover a mão de Deus ou o
Universo? Essa fé mística é um fenômeno presente na fé evangélica
atual, para não dizer em todo o cristianismo, onde se vê a ausência
de uma atitude pensante, isto é: de uma fé capaz de pensar sobre a
realidade da própria fé em si e de tudo o que lhe diz respeito. Tudo
que se vive com relação a Deus parece acontecer apenas no campo
sobrenatural, místico, e não há espaço para o raciocínio, o
questionamento, a perscrutação. A fé e a razão parecem duas
extremidades de uma corda, totalmente afastadas, embora presentes
na mesma realidade; ou como a noite e o dia, incapazes de estarem
presentes num mesmo tempo. Essa desavença entre a fé e a razão é
que tem levado muitos crentes a não racionalizarem sobre as suas
práticas espiritualísticas, as pregações que chegam aos seus ouvidos,
aquilo que os seus olhos leem nas redes sociais. Se traz o nome de
Deus, é de Deus; não existe espaço para o questionamento.
De um ponto de vista bíblico, a fé é algo racional; logo, o seu
poder é igualmente inteligível. Em seu livro “Filosofia e cosmovisão
cristã” (2005), J. P. Moreland fala sobre a importância do estudo da
filosofia para a fé cristã. Ele afirma que “o maior dos perigos que o
evangelicalismo moderno enfrenta é a falta de desenvolvimento da
mente, especialmente em relação à filosofia” (p. 28). De fato, em
tudo o pensar filosófico é essencial ao desenvolvimento de uma fé
sólida e sadia, livre de “achismos” e com fundamento bíblico. Muitas
pessoas não são capazes de dizer as razões da sua fé porque não
conseguem pensá-la de forma lógica e coerente; não conseguem
criar pontes entre doutrinas nem aplicá-las de modo lógico à sua
realidade cotidiana, isto é, à prática da sua fé. Quando falamos em
filosofia, não nos referimos à aplicação do pensamento filosófico de
Platão, Aristóteles, Nietzsche, Kant, Sartre ou qualquer outro filósofo
aos textos bíblicos, mas à capacidade de pensar, analisar, lançar
perguntas sobre a Palavra de Deus para encontrar respostas.
Também questionar a nossa própria fé e a nossa existência, que dá
sentido àquilo que cremos e à forma como vivemos essa crença.
Qualquer pensamento que seja uma reflexão sobre a realidade de
forma sistemática e organizada em busca de uma verdade universal é
filosófico. E é isto que fazemos sempre que lemos as Escrituras:
pensamos a respeito de Deus, da sua Revelação e da maneira como
ela se aplica à nossa vida de maneira prática. O que “amai-vos uns
aos outros” nos diz sobre Deus, sobre o amor e sobre o nosso papel
no mandamento de amar? São perguntas que devem ser feitas para
todos os temas bíblicos.
Vemos como fé e razão estão unidas, e uma não exclui a outra.
Dar razão da fé que há em nós significa compreender racionalmente
esta fé. Não é dizer “eu acho”, mas “Eu creio porque a Bíblia diz”.
Jesus respondeu a cada tentação de Satanás com um enfático “Está
escrito” (Mt 4:4,7,9). Segundo Moreland (idem, p. 35), a noção
bíblica de fé inclui três componentes, que estão entre aqueles que
veremos durante este estudo. São eles: “notitia (entendimento do
conteúdo da fé cristã), fidúcia (confiança) e assensus (sanção do
intelecto à verdade de alguma proposição)”. Segundo o mesmo
autor, a confiança é baseada no entendimento, no conhecimento e na
aceitação da verdade pelo intelecto. Confiamos em Deus porque
cremos de forma racional na sua provisão. Obedecemos aos seus
mandamentos porque vemos coerência neles e compreendemos as
implicações temporais e eternas dessa obediência (ou da
desobediência). O cristão não crê no invisível de forma irracional,
mas porque estão escritas na Bíblia as razões para crer nisso. Existe
muito mais racionalidade nas Escrituras do que aquilo que se chama
de “mistérios”. Para cada ação miraculosa de Deus existe no meio
evangélico uma afirmação de que é “mistério”. De fato, para quem
não pensa a sua fé nem estuda a Palavra de Deus, tudo é um grande
mistério. Até mesmo o mais impressionante dos milagres pode ser
racionalmente explicado, tendo a Bíblia como referência: o milagre é
a vontade e o poder de Deus em ação.
Quando João Batista enviou alguns dos seus discípulos para
inquirem Jesus a respeito de quem Ele era, a sua resposta foi
racional, baseada em fatos que podiam ser vistos e comprovados:
“Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os
coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os
mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho”
(Lc 7:18-22). O conhecimento a respeito de Jesus que João Batista
precisava, foi-lhe mostrado por meio de provas perceptíveis. Os
próprios milagres relatados por Cristo em sua resposta são dignos de
compreensão racional. Alguns poderiam inferir que esses milagres
sobrenaturais não podem ser explicados racionalmente. Todavia,
entender quem Deus é, qual a natureza de Cristo, a veracidade dos
seus milagres e o seu propósito, podemos claramente racionalizá-los.
Tudo o que se realizou foi por meio do poder de Deus com o fim de
comprovar a messianidade de Jesus e dar sinais do Reino dos céus.
Tudo é perfeitamente confirmado, em se apresentando provas
irrefutáveis que o sustentem. A razão não é a antítese da fé, mas a
sua aliada. A razão da fé é a própria fé.
Quando pensamos em fé e razão, pensamos também na
experiência de fé com Deus. O início da nossa caminhada na fé é um
encontro com Deus, uma experiência de conversão promovida pela
sua maravilhosa graça e a atuação do Espírito Santo em nós. Não é
uma experiência mística, como se tivéssemos alcançado algum tipo
de grau máximo de evolução espiritual por meio da meditação ou da
ascese ou flutuado até o sagrado. É um encontro pessoal com Cristo,
que gera transformação de vida e nos conduz ao céu. É, na verdade,
o início de um relacionamento entre Pai e filhos. Entretanto, a fé vai
além da experiência. Muitos crentes buscam todos os dias uma
experiência sobrenatural com Deus e não percebem que a fé é
prática de vida. As igrejas neopentecostais supervalorizam a
experiência de fé, os testemunhos milagrosos, o falar em línguas, a
expulsão de demônios como manifestações visíveis do poder de Deus
e, assim, demonstram uma fé triunfalista, sem compreensão
verdadeira do que se está vivendo. São verdadeiros mistérios, mas
por um motivo simples: não podem ser explicados à luz da Bíblia,
porque não encontram nela a sua razão, o seu fundamento ou o seu
apoio. Isso nos leva a meditar: existe algum poder na fé que não
possa ser explicado tendo apenas a Bíblia como base teológica? Por
produzir sinais e maravilhas, determinada fé deve sempre ser
contada como manifestação do poder de Deus? Se sim, o que dizer a
respeito do Anticristo e seus sinais?
Fé sem razão, sem teologia, não é fé. A fé deve ser entendida
dentro de um contexto racional, consciente, mesmo que envolva
coisas inexplicáveis, sem esquecer de lado a emoção. Cremos em
Deus com a razão, independente das manifestações sobrenaturais.
Sabemos que Deus existe e enxergamos o seu agir em nós e no
mundo criado. Quando temos fé, sabemos o que fazemos (Rm
12:1,2). O nosso culto é “racional”. Como disse, para muitos, tudo é
mistério: “Deus tem um mistério na sua vida”. Embora a experiência
com Deus seja diária e sempre se renove, ela não é desprovida de
razão, não a razão humana, mas a razão bíblica. Mais que uma
experiência sobrenatural que faz o corpo tremer, a fé produz
compromisso com o Evangelho, obediência a Deus, santidade de
vida, frutos do Espírito Santo, manifestação dos dons espirituais,
arrependimento, perdão, relacionamentos saudáveis baseados no
amor, oração incessante e leitura assídua da Bíblia. Mesmo nas
questões da fé a razão está presente: se nossas experiências com
Deus não encontram fundamento bíblico, não estão corretas. Em
muitas experiências místicas evangélicas, as manifestações físicas e
as verbalizações de mensagens supostamente divinas não encontram
respaldo bíblico, muito pelo contrário: contrariam tudo o que dizem
as Sagradas Escrituras. O poder da fé aprendido aqui, só pode ser
verdadeiro se o conseguirmos comprovar por meio da Palavra de
Deus.

Fundamentação Bíblica

O tema da razão nos traz consequentemente a outro aspecto da


fé cristã: a fundamentação bíblica. Como cristãos, temos como nossa
única regra de fé e prática a Bíblia Sagrada. Tal verdade, claro, não é
compartilhada pelos católicos romanos ou por certas correntes
evangélicas que se firmam nas revelações trazidas por seus bispos e
apóstolos. Entretanto, para o cristão reformado em geral, a Bíblia
contém tudo aquilo que Deus quis nos revelar acerca Si mesmo, da
sua vontade para a humanidade. É desta fé que falamos aqui: uma fé
baseada na Revelação de Deus. Logo, a fé cristã necessita de
fundamentação bíblica. Toda fé precisa encontrar respaldo na Bíblia.
Qualquer forma de fé que não encontre apoio nas Sagradas
Escrituras é vã e mentirosa. Ao escrever aos Gálatas, Paulo
condenou aqueles que pregavam um Evangelho diferente e que, por
isso, afastavam os crentes de verdadeira pregação (Gl 1:6-9). Se
quisermos permanecer na fé sadia, não podemos nos permitir ir além
daquilo que já está escrito, como fazem algumas seitas, como os
Mórmons. As Testemunhas de Jeová também possuem uma fé
deturpada, porque adulteram a Palavra de Deus para suprir seus
interesses doutrinários. Alguns movimentos de defesa da ideologia
de gênero já produzem bíblias onde os versículos que se posicionam
contra a prática homossexual são suprimidos. A Teologia da
Prosperidade e o seu sistema de Confissão Positiva também é uma
inovação diabólica, que mostra ao mundo uma fé totalmente
contrária à fé bíblica. Aqueles que pensam experimentar o poder da
fé, nesses e em outros casos, vivenciam justamente o contrário.
Para ter o real poder, a nossa fé precisa ser necessariamente
teológica, estudada, fundamentada no uso correto da exegese. É
necessária uma boa interpretação da Bíblia, à luz do Espírito Santo,
para nos garantir uma fé sadia e isenta de heresias. Antes da sua
conversão, o apóstolo Paulo cria na Palavra de Deus de uma maneira
equivocada, porque não compreendia a realidade da pessoa de Jesus
Cristo e da salvação pela graça. Após converter-se, a sua fé foi
abalada e sofreu uma grande transformação (1 Tm 1:13). A pregação
de Paulo ainda se utilizava do Antigo Testamento, mas encontrando
nele a presença de Cristo, o fundamento da sua fé (1 Co 15:3; Tt
1:2,3; Rm 15:4). A ignorância produz uma fé cega. Quando
iluminados pela sabedoria do Espírito Santo, passamos a enxergar as
coisas como de fato são, através da fé. Para isso, é necessário que
nos empenhemos em ler e estudar a Bíblia, conhecer as suas
verdades, questionar aquilo que ouvimos e lemos fora dela. Uma fé
ignorante, desprovida do alicerce seguro das Sagradas Escrituras,
não nos mantém firmes na tribulação, na provação, na tentação ou
frente às heresias. Comamos a Palavra de Deus e só assim a nossa fé
será inabalável, só assim viveremos no seu poder.
O que tem alimentado a fé cristã moderna? Podemos pensar no
secularismo e na teologia neoliberal presentes nas igrejas
neopentecostais. Podemos pensar, também, na inanição espiritual
experimentada por esse novo evangelicalismo desprovido de ensino
bíblico saudável. Contra as heresias e a apostasia do presente século,
o remédio é de fato a fé bíblica, como escreve o apóstolo Paulo a
Timóteo: “Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de
Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que
tens seguido” (1 Tm 4:6). Logo, o poder da fé, o seu conteúdo e a sua
veracidade estão na “boa doutrina”. Timóteo não seria um bom
ministro de Cristo nem teria uma fé saudável se não seguisse o
ensino apostólico, se desprezasse a Bíblia e passasse a dar ouvidos
às fábulas. Parece-nos que os atuais ministros que se dizem de Cristo
não têm se alimentado da maneira correta, não têm ingerido e
digerido a sã doutrina. Quem não se alimenta da genuína fé cristã,
não tem verdade para viver ou para ensinar, muito pelo contrário:
vive e prega a mentira, pratica um poder carnal, mundano e
diabólico. Ao mesmo Timóteo o apóstolo exortou: “Mantém o padrão
das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está
em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo
que habita em nós” (2 Tm 1:13,14). A Palavra tem um padrão, não é
qualquer palavra. A fé guarda o bom depósito e dele não de desvia;
ao contrário: cresce no conhecimento da verdade a fim de alcançar
maturidade espiritual (Hb 6:1-3).
Um conjunto de doutrinas
Judas 3

A fé poderosa, então, tem doutrina. Ela não é um momento de


êxtase ou uma espécie de transe induzido pelo Espírito Santo. Ela
não é algo que provém de nós mesmos e do nosso entendimento, de
modo que se adéque às nossas necessidades. Não existe um ato ou
uma palavra de fé específico capaz de realizar milagres. Nem mesmo
o Nome de Jesus é algo a ser usado mecanicamente, como um passe
de mágica. Muitas pessoas, incluindo crentes, têm aversão a
doutrinas e dogmas, por isso pregam uma fé livre de amarras
doutrinárias, fundamentada na experiência individual ou na
iluminação que cada um pensa ter das Escrituras. Entretanto, se a fé
cristã está alicerçada sobre a base segura da Palavra de Deus,
significa que ela não está sujeita às intervenções humanas que
desejam crer conforme os crentes bem entenderem. A fé também é
definida como um conjunto de doutrinas, ou seja: ela determina
aquilo em que nós cremos. Qual a nossa fé? Quem crê, crê em algo
ou alguém. Erickson (idem) salienta os casos em que pisteuo e pistis
significam “confiança pessoal em contraposição ao mero crédito ou
crença” (p. 397). Este significado geralmente vem seguido do uso de
uma preposição. Quando dizemos que cremos “em” Deus, essa
declaração nos remete à razão, porque entendemos que existe um
Deus no qual nós cremos, ainda que não o consigamos ver. Crer “no”
Evangelho é assumir a sua existência e apropriar-se racionalmente
do seu conteúdo (cf. Mc 1:15; Mt 18:6; Jo 2;11; At 10:43; 19:4; Gl
2:16; Fp 1:29; 1 Pe 1:8). Em 1 João 5:10 e 11, a crença em Cristo é
baseada no testemunho que o Pai dá do seu Filho. Esse testemunho é
demonstrado em todo o Antigo Testamento, na própria pessoa de
Jesus e no testemunho dos apóstolos, que agora escrevem sobre ele.
Embora a fé seja muito mais que um conjunto de doutrinas e
envolva o nosso relacionamento com Deus e com as pessoas, esse
relacionamento está fundamentado em ensinos específicos das
Sagradas Escrituras. Algumas doutrinas centrais atingem
diretamente a nossa maneira de crer: as doutrinas sobre Deus, o
Espírito Santo, Jesus Cristo, a Igreja, o pecado, as últimas coisas,
entre tantas outras. A visão que temos de oração, por exemplo, se for
bíblica, irá nos levar a incluir sempre a vontade de Deus acima das
nossas petições. Caso a oração esteja fundamentada em “achismos” e
doutrinas humanas, provavelmente a vontade do homem se
sobreporá à vontade de Deus. A própria fé, se for exercida sem levar
em conta o ensino das Escrituras sobre a sua natureza, comportará
inúmeros equívocos, como o de achar que podemos exigir algo de
Deus e decretar as nossas próprias vitórias, ao fazer uso da nossa fé.
Diremos à montanha: “passa daqui para acolá”, não porque cremos
que, se for da vontade de Deus, isso acontecerá, mas porque
achamos que realmente temos algum poder sobrenatural em mãos.
Crer em Jesus como Deus nos trará certezas e práticas
diferentes das pessoas que não possuem esta fé. Crer no Espírito
Santo como uma pessoa e não uma força, afetará a nossa crença e a
nossa relação com Ele. A nossa fé nas promessas de Deus dependerá
de doutrinas que especifiquem e qualifiquem essas promessas: quais
já se cumpriram e quais ainda não? Quais promessas nos dizem
respeito? A fé é a própria Palavra de Deus, onde muitos
mandamentos e doutrinas nos ensinam em que e como devemos
pensar e viver a nossa fé. Em Tito 1:9 e 2:1, o apóstolo Paulo enfatiza
a necessidade do apego à doutrina correta. Essa doutrina correta não
está fora da Bíblia, mas diluída em toda ela. Em 1 Timóteo 4:6,16, ele
liga o desempenho do ministério de Timóteo a um alimento duplo: as
palavras da fé e da boa doutrina, como já vimos. A doutrina é quem
define a razão e o objetivo da nossa fé. Quando ela falta, somos
levados por todo lado por todo vento de doutrina (Ef 4:14,15).
Embora a fé seja algo prático, ela envolve o aprendizado, a
apreensão de ensinamentos que a fundamentam. Sem estes,
creremos em qualquer nova fé que nos for oferecida, porque nos
faltará a base essencial, a raiz implantada pelo Senhor.
Desprezar a doutrina no exercício da fé é desprezar a própria
fé, que está fundamentada na doutrina. A Palavra inspirada nos
ensina, repreende, corrige, instrui, aperfeiçoa-nos e nos prepara
para toda boa obra (2 Tm 3:16,17). Se existem a Palavra e a
doutrina, logo existe o seu ensino (1 Tm 4:13). Se não há ensino, a fé
dobra-se diante das heresias (1 Tm 1:3,4; Gl 1:6-9). A doutrina é
importante não somente para definir aquilo que cremos, mas
também em quem nós somos. Permanecer na doutrina de Cristo é
crucial para revelar se estamos ou não em Deus, como escreveu o
apóstolo João: “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e
nela não permanece, não tem Deus; o que permanece na doutrina,
esse tem assim o Pai, como o Filho” (2 Jo 9). João também nos
orienta a não receber nem dar as boas vindas àqueles que chegam
até nós com uma doutrina diferente daquela que recebemos de
Cristo e dos apóstolos (v. 10). Aquele que recebe essas pessoas,
torna-se cúmplice das suas “obras más” (v. 11). Ou seja: existe um
tipo de fé que produz más obras, que foi rejeitada por Cristo e seus
apóstolos e que não deve ser acolhida pela Igreja. Quando um
pseudopastor espalha a unção do Espírito através de uma bola de
futebol enquanto os seus obreiros caem ao chão, vemos o agir de
Satanás da Igreja. Quando é necessário passar pela “fogueira santa”
e nela deixar todos os nossos bens para alcançar as bênçãos de Deus,
vemos que os anticristos permanecem ativos no mundo, enganando
os perdidos para que não creiam na verdade, na doutrina correta, no
Evangelho da salvação.
O Senhor Jesus define como seus verdadeiros seguidores
aqueles que têm os seus mandamentos e os guarda (Jo 14:21). O que
se configura um sério problema para a igreja atual é que ela tem
aberto as suas portas e dado as boas-vindas a todo vento de doutrina,
todo novo ensino, por mais absurdo e antibíblico que seja. Desde os
novos apóstolos até os objetos sagrados ou ungidos, a igreja
evangélica está abarrotada de falsos ensinos e heresias perniciosas
que são abraçados com muita boa vontade. Sem a sã doutrina, sem
aquilo que é a base da fé cristã – a Palavra de Deus – o inimigo tem
avançado sorrateiro, às vezes nem tanto. Portanto, se queremos uma
fé poderosa, queremos uma fé com base doutrinária sólida, operosa
em boas obras, totalmente submissa a Deus, capaz de humilhar o
homem e reduzi-lo a nada, para que somente Cristo seja exaltado. A
nossa fé não é antropocêntrica, mas cristocêntrica; ela não existe
para resolver os nossos problemas pessoais, mas para manifestar a
vontade e a glória de Deus no mundo.

Dom de Deus
Hebreus 12:2

Muitos teólogos debatem há muitos séculos sobre a natureza


da fé: se ela nasce no coração do homem quando tocado pelo Espírito
Santo ao ouvir o Evangelho ou se ela é totalmente vinda da parte de
Deus, pois o ser humano caído é incapaz de desenvolvê-la por si só. O
ímpio tem dentro de si o poder de desenvolver a fé capaz de salvá-lo?
Pode o homem corrompido crer por iniciativa própria, estando morto
em seus delitos e pecados? É inegável que não. A nossa fé vem de
Deus, o seu Autor e Consumador (Hb 12:2), de onde desce todo dom
perfeito (Tg 1:17) e sem quem nada podemos fazer (Jo 15:5). Ele nos
chama (Rm 1:6,7) e nos mostra que o sacrifício do seu Filho é eterno
e poderoso para apagar os nossos pecados e nos fazer herdeiros da
eterna Aliança. Diante desta verdade, por meio do Espírito Santo, Ele
nos regenera e nos concede a fé para crermos, porque é do seu
desejo que sejamos salvos. A fé precede todas as coisas (Hb 11:6; cf.
10:22): o arrependimento e a santificação (At 26:18), a obediência
(Rm 5:1), a justificação (Rm 3:22,28), a salvação (Ef 2:8,9), a
ressurreição (Cl 2:12), a vitória sobre o mundo (1 Jo 5:4), o bom
testemunho (Hb 11:39), a herança das promessas (Hb 6:12). Nada
disso é possível sem fé. Assim como um cego não pode voltar a
enxergar por sua própria capacidade, o pecador também não pode
crer em Cristo se este não o capacitar a isso. Logo a fé vem de Deus,
é um dom de Deus.
Como escreveu o autor de Hebreus: “De fato, sem fé é
impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que
se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador
dos que o buscam” (Hb 11:6; cf. 10:22). Portanto, é impossível nos
aproximarmos de Deus sem antes crermos que Ele exista. O autor de
Hebreus deixa transparecer esta verdade: a fé vem antes da busca
por Deus. Só buscaremos Deus a partir do momento em que crermos
que Ele de fato existe. E esta aproximação é mais que uma simples
crença, mas é necessário crer na eficácia de Deus, que Ele não é um
Ser distante que pulsa somente nas teologias religiosas. Ele é um
Deus “galardoador”, que interage com o homem; é o Deus vivo,
presente e atuante na humanidade; transcendente, mas, ao mesmo
tempo, imanente. Esta é a fé professada por todos os servos e servas
de Deus listados em Hebreus. O fim dessa fé é a salvação da nossa
alma.
Também em Hebreus mostra a necessidade da fé para entrar
no descanso de Deus. O autor afirma que esta fé vem antes da nossa
entrada neste descanso: “Temamos, portanto, que, sendo-nos
deixada a promessa de entrar no descanso de Deus, suceda parecer
que algum de vós tenha falhado. Porque também a nós foram
anunciadas as boas-novas, como se deu com eles; mas a palavra que
ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé
naqueles que a ouviram. Nós, porém, que cremos, entramos nos
descanso” (4:1-3a). Somente uma coisa pode nos impedir de entrar
no descanso de Deus: a falta de fé. A Palavra que nos é pregada só
fará efeito se for acompanhada pela fé (cf. Rm 10:16s; Is 53:1). A fé
na pregação da Palavra é que nos permite entrar no descanso de
Deus. Esta fé que torna possível escolhermos Deus nos é dada por
Ele próprio, porque o pecador está morto em seus delitos e pecados
(Ef 2:1,5) e não pode gerar em si próprio a fé capaz de salvá-lo. Isto
é: somos escolhidos por Deus e capacitados a crer nele, porque, de
maneira natural, não queremos ir até Ele para termos vida (Jo 5:40).
Essa fé parte de Deus e não é obra meritória nossa. Somente
Deus pode salvar o pecador e fazê-lo crer. Em especial, em Efésios
2:8,9, a Palavra de Deus deixa bastante clara a oposição entre fé e
obras. A justiça de Deus é sobre todo aquele que crê em Cristo (Rm
3:26). Em Romanos 4:4,5 Paulo diz: “Ora, ao que trabalha, o salário
não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não
trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é
atribuída como justiça”. A fé é derivada de Deus e não do esforço
humano. Ela é apenas o meio pelo qual recebemos aquilo que Deus já
fez por nós (cf. Jo 3:16). Tanto a fé em Deus para a salvação quanto a
fé para permanecermos nele e dele recebermos bênçãos, vem dele.
Tudo nos é dado por Ele. Então, onde está o poder da “nossa” fé? Ele
está em Deus. A nossa fé é poderosa porque não parte da nossa
limitação humana, mas do Todo-poderoso Deus, que nos dá a
capacidade, a vontade e os meios necessários para exercemos a fé
que Ele próprio introduz em nós. A partir dos próximos capítulos,
veremos como essa fé opera grandemente na nossa vida e no mundo
inteiro.
Capítulo 2

O PODER DA
RESSURREIÇÃO DE JESUS
“Ide, pois, depressa e dizei aos seus discípulos que
ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós
para a Galileia; ali o vereis. É como vos digo.”
(Mateus 28:7)

O poder da fé começa quando cremos na verdade de que


Cristo morreu e ressuscitou pelos nossos pecados. Podemos crer em
Deus de todo o nosso coração, mas se não cremos nessa verdade, a
nossa fé é totalmente vã e inútil, como um pensamento positivo que
se direciona ao Universo. Cada religião tem a sua própria fé, o que
envolve o objeto da sua crença (Jeová, Buda, Alá, Gaia, etc.), a forma
como esta crença se manifesta (práticas espiritualísticas) e as
doutrinas que regulamentam essa fé (livro Sagrado, revelações, etc.).
A nossa fé – a verdadeira fé – está fundamentada na Bíblia e tem
como objeto (alvo) o Senhor Jesus Cristo. Todavia, os muçulmanos,
os espíritas, as Testemunhas de Jeová, os Mórmons, entre outros,
também creem na existência de Jesus. O que difere a nossa fé de
todas essas é que a fé desses é morta e a nossa é viva. Falta-lhes o
elemento principal: a ressurreição de Jesus, sem a qual nem a fé nem
o próprio cristianismo têm razão de existir. É isto que Paulo prega ao
defender a ressurreição de Cristo com um fato ocorrido e
incontestável (1 Co 15:3-8,12-19). Sem esta fé na ressurreição de
Cristo, o cristianismo se torna uma religião vã (v. 17), não havendo
perdão para os pecados, ressurreição e vida eterna (Rm 4:25). Se
Cristo não ressuscitou, continuamos mortos em nossos pecados e não
temos esperança alguma após a morte. É a ressurreição de Cristo
que valora, justifica e legitima a nossa fé e todas as suas
manifestações. A própria fé em si depende dela. Sem ressurreição,
sem fé, sem poder da fé.
É a ressurreição, conforme atesta Dr. Russel Shedd, o cerne da
esperança do cristão (1 Pe 1:3ss). A fé na ressurreição, por sua vez,
está ligada à escatologia. Isto é: a fé cristã não está limitada a este
tempo e lugar, mas aponta para a eternidade. É pela fé que
aguardamos a realização da promessa da volta de Cristo (Gl 5:5),
tendo a certeza da sua libertação operada em nós. A fé produz a
justiça de Deus em Jesus Cristo (Rm 3:22-26; Fp 3:9) e nos confirma
como seus filhos (Gl 3:26). Retiram-se os fatos de que Cristo é Deus,
morreu pelos nossos pecados, ressuscitou, subiu aos céus, sentou-se
a destra do Pai e voltará um dia para julgar a humanidade, o que nos
sobra é a religião, como há tantas outras no mundo. O que pode fazer
Maomé pelos seus seguidores? O que nos dá a esperança eterna
leva-nos a orar, estimula-nos a obedecer, motiva-nos a prosseguir em
meio às tribulações e testifica a nossa fé é a alegria de crer na
ressurreição do Senhor (At 3:15; Jo 11:25; 1 Co 6:14; Fp 3:10; Mt
20:17-19). Quais as consequências práticas de crer na ressurreição
de Cristo para a nossa fé? São consequências morais e eternas, que
nos transformam em novas criaturas que amam e servem ao Senhor,
que vivem uma vida diferente e lutam contra o seu próprio pecado.
Essas consequências são percebidas no nosso comportamento, nos
nossos relacionamentos, nas nossas escolhas e decisões, nas nossas
motivações e nos nossos objetivos: ansiamos pelo céu.
Como aqueles que creem num reino celestial e na esperança
eterna com a vinda do Senhor e a subida gloriosa da igreja, as nossas
ações devem demonstrar o nosso anseio pelo céu e a nossa
despreocupação com os valores e os prazeres deste mundo. O nosso
coração clama pela volta do Senhor. Os valores presentes na nossa
espiritualidade integral são os valores do Reino de Deus e não os
nossos próprios. Se a ressurreição de Cristo é bem compreendida,
queremos que ela se torne cada vez mais real em nós. Algumas
questões, todavia, precisam ser levantadas. A Igreja tem caminhado
nessa fé na ressurreição de Cristo, tem anelado por sua volta, vive os
valores do seu Reino eterno e é transformada pelo Senhor que reina
glorioso? A espiritualidade praticada hoje tem nos lançado para fora
da esfera da nossa vontade e atraído para nosso ser a vontade do Pai
que está nos céus? O nosso culto pessoal e comunitário celebra essa
ressurreição, tornando-a o cerne da nossa adoração e da
proclamação do Evangelho? Ou quem sabe a nossa pregação oculte
este fato de proporções eternas?
Não adianta falar em poder da fé enquanto desprezamos a
realidade da ressurreição do Senhor. Para muitas correntes
evangélicas que tem a sua crença totalmente alicerçada sobre a
Teologia da Prosperidade, a ressurreição de Cristo e a sua
entronização nos céus teve como único objetivo conquistar para nós
as bênçãos e vitórias de Deus, guardadas para nós nos cofres
celestiais, o que é mentira. É tempo de crer na ressurreição de Cristo
e na nossa, que com Ele ressuscitamos para uma nova e abundante
vida. Sem crer nisso, a nossa fé não terá poder algum para
transformar aquilo que realmente importa: a nossa relação com Deus
e com as pessoas, o conteúdo do nosso coração e a qualidade dos
nossos pensamentos. O nosso desejo por mover montanhas deve ser
substituído pelo desejo de mover a nossa ansiedade, as nossas
intrigas e disputas, as nossas mentiras, os nossos pecados, a nossa
falta de perdão e de misericórdia, a nossa apatia frente a obra do
Senhor, a nossa avareza e tantas outras montanhas invisíveis que
vivem dentro de nós. O poder da ressurreição de Cristo remove todas
essas montanhas e nos faz experimentar o verdadeiro poder de Deus.
Capítulo 3

O PODER DO
ARREPENDIMENTO
“E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou;
vai-te em paz e fica livre do teu mal.”
(Marcos 5:34)

Em 2009, o Brasil ficou chocado ao assistir no


noticiário um vídeo em que alguns deputados, após receberem
propina, formam um “círculo de oração” para agradecerem a Deus
pelo sucesso do seu empreendimento corrupto. Um dos deputados
“crentes” declara a Deus na sua oração: “Pai, quero te agradecer por
estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos”.
Esse fato estarrecedor nos leva a repensar o que é a fé. Como
pessoas que declaram ter fé em Deus são capazes de orar após
cometerem um grande pecado, crendo que Deus aceita a sua oração?
Na nossa consciência cristã, imaginamos que essa oração deveria ter
sido feita antes, pedindo perdão a Deus pelo desejo de se corromper
e a graça para livrá-los de praticar esse mal. Logo, a oração para
resistir à tentação de participar daquele ato corrupto era a oração
que Deus esperava escutar. Se, todavia, eles oraram pedindo perdão
a Deus por serem falhos e imperfeitos, deveriam ter demonstrado
isso ao devolver o fruto da sua propina e desistir da sua vida
corrupta, o que de fato não aconteceu.
A fé genuína produz arrependimento, porque provém da graça
e está alicerçada sobre os valores absolutos da Palavra de Deus.
assim, o crente sincero reconhece quando fere algum desses valores.
Certamente, é preciso crer primeiro para que possamos nos
arrepender. Como reconheceremos o nosso pecado se não cremos
que existe um Deus contra o qual pecamos? Como vamos nos
arrepender se não cremos na Palavra de Deus que nos mostra que
somos pecadores? A fé precede o arrependimento, mas tanto um
quanto o outro partem de Deus e são produzidos em nós por Ele.
Conforme escreveu o apóstolo Paulo: “Ou desprezas a riqueza da sua
bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de
Deus é que te conduz ao arrependimento?” (Rm 2:4). É o Espírito
Santo que move o nosso coração e nos aproxima de Deus (Jo 16:8).
Sem Ele, o homem não teria fé, a não ser a fé religiosa, natural, que
não produz no coração do perdido o verdadeiro arrependimento, mas
um mal estar por ferir princípios éticos, mesmo que sejam aqueles
bíblicos. O que Deus espera de nós é que a nossa fé nos leve a
reconhecer o nosso pecado e isso nos conduza ao arrependimento. O
apóstolo Paulo prossegue no mesmo texto: “Mas, segundo a tua
dureza de coração, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e
da revelação do justo juízo de Deus” (v. 5; cf. At 3:19,20). Estamos
sujeitos a pecar, como os deputados pecaram, mas em vez de
agradecer a Deus pela vantagem conseguida pelo pecado,
precisamos nos arrepender, abandoná-lo e não pecar mais. O poder
da fé nos leva ao arrependimento.
Alguns tipos de fé que não estão fundamentados na Bíblia,
levam em conta apenas o perdão de um Deus misericordioso, sem
atentar para o fato de que essa misericórdia tem prazo de validade.
Embora Deus de fato perdoe o pecador arrependido e confesso, Ele
próprio “estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com
justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de
todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17:31). Por isso, o
chamado de Deus é para o arrependimento (v. 30). O problema desse
tipo de fé que não gera arrependimento é que aqueles que dela
fazem uso não se enxergam enfermos para que busquem a cura.
Talvez eles nunca tenham sido apresentados ao diagnóstico de Deus,
que diz que todos pecaram (Rm 3:23; Lc 5:31,32). Sem conhecer a
doença, como buscar o antídoto? A grande maioria das pregações
atuais esconde esse diagnóstico. Parece que quem está doente é
Deus, carente da nossa fé, da nossa atenção, do nosso amor. Mas,
como lemos em Ezequiel 18:30-32, a doença do pecado está em nós,
do qual devemos nos afastar e desviar. Assim escreveu o profeta:
“Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus.
Portanto, convertei-vos e vivereis” (v. 32). A fé eficaz que nos é dada
por Deus, leva-nos a orar como Davi: “Lava-me completamente da
minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as
minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim”
(Sl 51:2,3).
Capítulo 4

O PODER DA
OBEDIÊNCIA
“Por que me chamais Senhor, Senhor,
e não fazei o que vos mando?
(Lucas 6:46)

O poder da fé também envolve a obediência. Os demônios


creem em Deus, Satanás conhece mais o conteúdo da Bíblia do que
muitos crentes sinceros. A diferença está em quem tem a
oportunidade e a capacidade dadas por Deus para obedecê-lo. Só
podemos expressar uma fé obediente porque o Espírito Santo nos
estimula a isso; do contrário, ficaremos apenas com a crença numa
divindade, como existem tantas espalhadas pelo mundo. Portanto, ao
crer, precisamos obedecer, o que nos levará a agir de modo diferente
de Adão (Rm 1:5). Jesus deixou bem claro que aqueles que o amam,
guardam os seus mandamentos (Jo 14:15). Aqueles que foram
libertos do pecado, vivem para obedecer a Deus de coração (Rm
6:17) e não se deixam enredar pela mentira (Gl 5:7). Seguir a Jesus
significa obedecer aquilo que Ele ordenou, guardar a sua Palavra,
fazer a sua vontade e imitá-lo. Muitas pessoas estão com um pé na
igreja e outro no mundo, oram nos cultos de domingo e frequentam
bares durante a semana; louvam a Deus na igreja e ouvem músicas
do mundo em suas casas. Não falamos aqui de pecados acidentais,
dos quais o cristão verdadeiro se arrepende amargamente no Senhor
por ter sucumbido, mas de um estilo de vida pecaminoso que em
nada lembra o caráter de Cristo, de vícios e manias que não
deveriam fazer parte da vida cristã, incluindo palavrões.
Tanto se fala e se prega sobre o poder da fé, sobre a
capacidade de mover montanhas, atrair bênçãos e operar milagres.
Pouco se fala, entretanto, do poder da obediência que a fé traz
consigo, capaz de realizar muitos milagres em casamentos falidos e
nas relações entre pais e filhos. Obedecer a Deus na administração
correta das nossas finanças faz mais sentido que participar de
campanhas mirabolantes e antibíblicas para a conquista da “unção
financeira”. Se obedecemos a Deus, isso reflete na nossa relação com
as pessoas. Honrar os pais e respeitá-los é uma atitude obediente.
Ser um bom estudante e cumprir suas obrigações como tal, também
demonstra obediência. Também na vida profissional, tanto na lida
com os empregados como do empregado com o patrão, a obediência
se faz presente. Ela também se encontra nas relações entre os
membros da Igreja, inclusive na obediência aos líderes, como
escreveu o autor de Hebreus: “Obedecei aos vossos guias e sede
submissos a eles” (Hb 13:17; cf. v. 7; Fp 2:12,19; 1 Ts 5:12,13; 2 Ts
3:14; 1 Tm 5:17; 1 Co 16:16).
Obedecer não é uma concessão, mas um mandamento, uma
ordem, e o seu cumprimento ou não mostra de que lado de fato nós
estamos. É pertinente falar da separação de termos que muitos
fazem na sua conversão: Jesus como “Salvador” e Jesus como
“Senhor”. O primeiro é pregado abundantemente, acima de tudo na
Teologia da Prosperidade. Todavia, não é o Cristo que salva o ímpio
da ira vindoura de Deus, mas de uma vida derrotada e
financeiramente miserável. Esse Jesus pretende restaurar
relacionamentos, não pelo poder da obediência a Deus que gera
santidade de vida e amor fraternal, mas por uma fé mágica que diz
que “crente não pode sofrer”. Esse “Salvador” dá emprego, faz
empresas alavancarem, destrói os espíritos de todas as
enfermidades, inclusive o “espírito da morte”, e pode ser acessado
através de amuletos (objetos ungidos) e mantras evangélicos. Este
Jesus fest food é vendido nas esquinas e nos templos suntuosos e,
como um grande apresentador de realit show, oferece recompensas
àqueles que cruzarem a linha de chegada da fé – recompensas, claro,
materiais.
Mas e o Jesus Senhor? O Jesus Salvador – dos pecados – é
também Senhor. Ele morreu na cruz para nos salvar dos nossos
pecados, dar-nos uma vida abundante aqui na terra – afinal, o Reino
de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo – e nos levar em
segurança para o seu lar celestial. Mas Ele não somente salva o
pecador, como também quer ser Senhor dele. É algo que não deve
ser desassociado: salvação e senhorio. Pelo fato de crermos em
Cristo como nosso Salvador, Ele necessariamente precisa ser o
Senhor da nossa vida, ditando as regras, assumindo o controle das
nossas escolhas e decisões, com poder para nos repreender quando
incorremos em alguma falta e amor para nos perdoar quando nos
arrependemos. Ele deve estar com as mãos no leme da nossa
embarcação, dirigir o nosso coração, renovar a nossa mente. Quem
tem este Jesus-Salvador-Senhor, não vive mais na prática do pecado,
mas entende que precisa obedecer, não por constrangimento ou
obrigação, mas por prazer e boa vontade. E será isso que decidirá se
estamos ou não no caminho de Jesus. São poucos os que aceitam
trilhá-lo quando encontram na entrada a necessidade de obedecer.
Mas quando obedecem, demonstram na prática o verdadeiro poder
da fé.
O motivo principal para a nação de Israel viver debaixo da ira
de Deus, sofrer diversas invasões de povos gentílicos e também
cativeiro, foi a sua desobediência. Desde a sua libertação da
escravidão do Egito, o povo demonstrou possuir um coração
obstinado em fazer aquilo que Deus não aprovava, ao praticar toda
sorte de males e entregar-se à idolatria. Deus fala a respeito do seu
povo, em Deuteronômio 5:29: “Quem dera que eles tivessem tal
coração, que me temessem e guardassem em todo tempo todos os
meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos,
para sempre”. Muitos cristãos vivem em pecado obstinado como
fazia o povo de Israel, cultuam a Deus de maneira religiosa,
cumprem rituais e liturgias, mas sem ter o coração realmente voltado
para o Senhor. Samuel afirmou a Saul após a sua desobediência,
quando este não esperou pelo profeta e ofereceu sacrifícios a Deus
antes que ele chegasse: “Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em
holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra?
Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor
que a gordura de carneiros” (1 Sm 15:22). Se a fé não gera
obediência a Deus, ela é apenas uma credulidade, a crença em uma
divindade impessoal que não se relaciona com o fiel nem lhe cobra
compromisso moral algum.
A fé que Deus espera de nós se demonstra por meio de uma
vida santa e submissa. Não seremos reconhecidos como discípulos de
Jesus apenas no templo, nas nossas orações em oculto, nos nossos
dízimos e ofertas, mas no nosso comportamento diante da Igreja e do
mundo, ao demonstrarmos que de fato Cristo é o Senhor da nossa
vida. O próprio Senhor Jesus declarou: “Por que me chamais Senhor,
Senhor e não fazeis o que vos mando?” (Lc 6:46). Não basta
declarar-se cristão, é preciso viver como tal. Não basta ter a Bíblia
como regra de fé e prática, é preciso praticá-la (cf. Mt 5:19, Js 1:8; 1
Jo 5:3). Como escreveu Tiago: “Tornai-vos, pois, praticantes da
palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg
1:22). A vontade de Deus para os seus filhos é que eles o obedeçam
e, assim, demonstrem que realmente fazem parte da sua família, que
foram alcançados por sua graça e que, por isso, sentem prazer em
cumprir seus mandamentos. O apóstolo Pedro registrou em sua
epístola aquilo que deve ser como um anseio para o coração do
crente: “Como filhos da obediência, não vos moldeis às paixões que
tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é
santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos
em todo o vosso procedimento, porque está escrito: Sede santos,
porque eu sou santo” (1 Pe 1:14-16). Quem nós éramos como filhos
da desobediência, deve ser deixado para trás, para que a nossa nova
identidade em Cristo de filhos da obediência transforme diariamente
o nosso caráter e nos santifique para que sejamos conforme a
imagem daquele que chamamos de Senhor (Ef 2:1-3; 4;17; 5:6-8; Cl
3:7; 1 Co 6:11). Precisamos ter a mente renovada e assim não
fazermos mais a nossa vontade, mas a de Deus (Rm 12:2). Isso é fé!
Isso é poder!
Capítulo 5

O PODER DA QUEBRA DE
PARADIGMAS
“Ouviam somente dizer: Aquele que, antes, nos perseguia,
agora, prega a fé que, outrora, procurava destruir.”
(Gálatas 1:23)

Um paradigma (gr. paradeigma) é um exemplo típico, o


modelo de algo, um padrão a ser seguido. Eles podem ser
individuais, estabelecidos pelo próprio indivíduo sobre aquilo que é
mais importante para ele, seu conjunto de crenças, sua cosmovisão.
Um monge budista terá paradigmas diferenciados de um empresário
envolvido num grande escândalo financeiro. Uma criança que padece
nas ruas terá uma cosmovisão bastante divergente daquela que
recebe tudo em suas mãos de maneira rápida e abundante. O
paradigma também pode se referir a normas gerais de um grupo,
que determinam a sua natureza e o seu padrão de comportamento,
ao estabelecer limites de como um indivíduo devem agir dentro
desse grupo. A sociedade possui inúmeros paradigmas, como as leis,
por exemplo. Desde torcidas organizadas de futebol, as empresas, as
famílias e qualquer outro tipo de ajuntamento humano para um fim
específico e comum, todos possuem paradigmas, modelos, padrões
que se espera que todos sigam e que conduzem os indivíduos a um
comportamento esperado e aceitável. Espera-se que um professor
saiba ensinar e um neurocirurgião faça uma cirurgia com êxito.
Espera-se que os políticos sejam honestos e que os pastores sejam
homem piedosos. Espera-se que os pais saibam educar os seus filhos
e os filhos obedeçam os seus pais. Geralmente, os paradigmas
individuais refletem aqueles apreendidos através da convivência
coletiva.
A vida cristã também possui os seus paradigmas, determinados
por Deus na sua Palavra. São padrões de fé e comportamento que
Deus estabelece para nós e que espera que andemos neles. Antes de
sermos convertidos, os nossos paradigmas eram ditados
exclusivamente por nossa natureza pecaminosa e pelos padrões
morais distorcidos estabelecidos pelo mundo caído. Esses
paradigmas produziam efeitos na nossa vida: a morte (Rm 6;23), a
ausência da glória de Deus (Rm 3:23), a impureza moral (Is 64:6), a
escravidão do pecado (Jo 8:34; Rm 7:14-17), a filiação diabólica (1 Jo
3:8). Em Romanos 3:10-18, o apóstolo Paulo resume bem quais
paradigmas compunham nossa existência antes de sermos
alcançados pela graça salvadora de Deus, padrões pervertidos que
nos afastavam do centro da vontade do Pai e nos lançavam numa
viagem de morte espiritual. Paulo escreve: “Naquele tempo que
resultado colhestes? Somente as coisas que agora vos envergonhais;
porque o fim delas é a morte” (Rm 6:21). Paradigmas humanos
conduzem indubitavelmente à continuidade da morte espiritual na
qual nascemos.
Ao nascer de novo, o cristão recebe uma nova natureza, com
novos paradigmas, com padrões de comportamento santos e divinos.
O mesmo Paulo prossegue em sua epístola: “Agora, porém, libertos
do pecado [o velho paradigma], transformados em servos de Deus,
tendes o vosso fruto para a santificação [o novo paradigma], e por
fim a vida eterna; porque o salário do pecado é a morte
[consequência do velho paradigma], mas o dom gratuito de Deus é a
vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor [promessa do novo
paradigma]” (Rm 6:22,23; os colchetes são meus). É impossível,
portanto, falar de fé sem falar de transformação. Uma vez iluminados
pela fé em Cristo, somos cheios com o Espírito Santo e elevados a um
novo patamar de existência, onde a nossa velha natureza será aos
poucos aniquilada pelo processo da santificação. Este é um indicador
eficaz para medirmos a qualidade da nossa fé, se ela é verdadeira ou
falsa, não o termos as nossas orações atendidas ou tomarmos posse
de bênçãos e milagres. Na verdade, em momento algum a Palavra de
Deus coloca “ser abençoado” como um paradigma para um crente de
fé.
A verdadeira fé envolve a quebra dos paradigmas impostos
pela nossa natureza pecaminosa e pelo mundo; evolve a
transformação da estrutura do nosso caráter. O apóstolo Paulo é um
exemplo daquilo que a fé em Jesus Cristo pode fazer com o pecador.
A sua vida obteve uma mudança integral, que redirecionou os seus
pensamentos e os seus atos, deu-lhe um novo propósito à sua fé.
Quando cremos em Jesus, passamos a enxergar e viver do ponto de
vista de Deus, sob paradigmas santos e eternos. Aquele que está em
Cristo, é uma nova criatura (2 Co 5:17) e por isso não vive mais na
prática do pecado (1 Jo 3:16). Como seres carnais, levaremos ainda
as marcas do velho paradigma em nós; todavia, somos convocados a
nos deixar encher pelo Espírito Santo para que nos tornemos
capazes de viver o novo e não permitir que o velho padrão de
comportamento se apodere da nossa carne (Ef 5:15-21; Rm 13:14).
A fé é transformadora e nos leva a crescer como filhos de Deus.
Ela denuncia a incapacidade do homem em se aproximar de Deus
pelos seus próprios méritos e esforços. Logo, a própria fé não é uma
propriedade nossa, um poder incomum que temos de acreditar em
Deus, mas um dom que Ele nos dá para que possamos crer nele e
viver de modo digno dessa crença (Rm 4:16). A fé do cristão não está
apoiada na sabedoria humana, mas no poder de Deus (1 Co 2:4,5).
Este poder anula sofismas, quebra as cadeias da nossa
incredulidade, rompe as barreiras do nosso racionalismo frio e nos
mostra o sobrenatural. As nossas filosofias e crenças, os nossos mitos
e sonhos são questionados pela fé e abalados pela certeza de que a
verdade nos liberta e nos posiciona corretamente diante de Deus e
da sua Palavra. Não é possível ter fé e continuar pensando e vivendo
as mesmas coisas, os mesmos paradigmas. Se a fé não nos tornar
pessoas diferentes e melhores, não veio de Deus (2 Co 5:17; Gl 2:20;
6:15; Ef 4:22-24; Cl 3:9,10; Is 43:18-19).
Capítulo 6

O PODER DO
COMPROMISSO
INCONDICIONAL
Então, ele respondeu: Que fazeis chorando e
quebrantando-me o coração? Pois estou pronto
não só para ser preso, mas até para morrer em
Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.”
(Atos 21:13)

O mundo religioso atual é representado por um


crescimento vertiginoso no número de pessoas que se denominam
cristãs, principalmente evangélicas e, acima de tudo, pentecostais e
neopentecostais. Isso deveria nos animar bastante, porque nada
melhor do que saber que as pessoas abandonam a sua vida de
pecados para se entregar a Cristo pela fé. Quando olhamos mais de
perto, porém, percebemos que a fé que esses crentes abraçam pouco
ou nada tem a ver com a fé evangélica, bíblica, salvadora e
santificadora. Ela não se baseia no arrependimento de pecados nem
aponta para a eternidade, mas procura atender a um apelo do
mundo, que clama por soluções imediatas e práticas para os seus
problemas, por promessas de bênçãos, milagres e vitórias. O
resultado disso é uma fé totalmente desconectada da Bíblia e
praticamente isenta de qualquer compromisso religioso, moral e
prático com o Evangelho de Cristo. A razão clara para esse tipo de fé
é que ela não provém de Deus, não é despertada pelo Espírito Santo,
não produz o novo nascimento e é estritamente egocêntrica.
Entretanto, é essa a fé pregada como poderosa nos meios cristãos.
A verdadeira fé cristã poderosa é genuinamente militante.
Embora existam pessoas que se dediquem mais do que outras à obra
do Senhor e ocupem cargos dentro da Igreja (pastores, diáconos,
mestres, etc.), não existe o termo “cristão leigo” disseminado pelo
catolicismo romano. Todos nós fomos salvos pela graça de Deus e
separados para as boas obras (Ef 2:8-10). Os dons do Espírito são
distribuídos para a edificação do corpo, de modo que todo crente
genuíno possui ao menos um dom para capacitá-lo na obra do Senhor
(1 Co 12). Aquele que tem fé em Deus, é comprometido com a sua
Palavra e a sua obra; comprometido com a ética e os valores do seu
Reino; comprometido com a proclamação do Evangelho de forma
integral. É um compromisso incondicional com aquilo que cremos
(Fp 1:27). Esse comprometimento ultrapassa as barreiras
eclesiásticas e se estende a todas as áreas da nossa vida e aos nossos
relacionamentos; ele transforma a nossa maneira de enxergar a vida
e lidar com ela.
Compromisso com a fé traz nova visão de Deus, das coisas, do
mundo e das pessoas, e uma maneira diferente de lidar com todos
eles. Quem tem compromisso com Deus, tem compromisso com a
verdade, a honestidade, a justiça, a fidelidade, a solidariedade, a
oração, o amor, o evangelismo, a santificação diária. Ser
comprometido com a fé envolve obediência, como foi dito. Um dos
primeiros frutos da fé comprometida e obediente é a fidelidade a
Deus (1 Co 4:2). Muitos afirmam a sua crença em Deus, oram e
esperam dele respostas às suas orações, buscam-no nos momentos
de desespero, mas não são fiéis a Ele nem à sua Palavra. Podemos
ver através da vida de Cristo o seu compromisso com a missão que o
Pai lhe confiou (Jo 4:34; 6:38), e também nos atos dos seus discípulos
descritos no livro de Atos dos Apóstolos. A fé de Paulo produzia esse
compromisso, ao ponto de a sua vida não valer nada diante da
magnitude da obra que o Senhor lhe conferira (At 20:24). A fé só tem
sentido quando vivida em toda a sua intensidade por amor a Cristo.
Sem compromisso verdadeiro não há fé.
Muitos daqueles homens e mulheres que seguiam a Jesus não
estavam dispostos a segui-lo até as últimas consequências. Enquanto
Jesus seguia com seu ministério itinerante, alguém lhe declarou:
“Seguir-te-ei para onde quer que fores” (Lc 9:57). O Senhor Jesus,
que sondava mentes e corações e não se deixava levar pela aparência
dos atos e das falas de quem se aproximava dele, com certeza
conhecia as intenções do coração daquela pessoa e as suas
fraquezas. Então lhe disse: “As raposas têm seus covis e as aves do
céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”
(v. 58). Outro que estava ali foi mais sincero ao responder ao
chamado de Jesus: “Permite-me ir primeiro sepultar meu pai” (v. 59).
Ainda outro achava que qualquer coisa vinha em primeiro lugar
antes de seguir a Jesus (v. 61). O Senhor então declara: “Ninguém
que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino
de Deus” (v. 62). O investimento que fazemos no Reino de Deus não
comporta preocupações com as coisas deste mundo nem
investimentos naquilo que nos afastam da natureza deste Reino. Não
podemos seguir adiante na nossa fé com o desejo de voltar atrás.
Quem não escolhe totalmente a Deus, significa que, na verdade,
jamais o escolheu; logo: não foi escolhido por Ele ou ainda carece de
conversão. Quem se envolve na obra de Deus preocupado com o que
deixou para trás, na verdade nunca se envolveu de fato. O nosso
compromisso com Deus é total e incondicional.
Capítulo 7

O PODER DA COERÊNCIA
“Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos
disserem, porém não os imiteis nas suas obras;
porque eles dizem e não fazem.”
(Mateus 23:1-12)

O texto bíblico supracitado revela uma preocupação do


Senhor com relação à fé dos fariseus. Se os discípulos deveriam ouvir
a guardar tudo aquilo que aqueles religiosos lhes diziam, significa
que o que eles diziam era o correto. Havia, entretanto, uma
desconexão entre a fé que os fariseus professavam e a sua
espiritualidade prática: eram incompatíveis. Ao falar a respeito dos
judeus, o apóstolo Paulo também revela uma incoerência religiosa
entre fé e prática. Aqueles homens se gloriavam porque eram judeus,
porque possuíam a Lei e os profetas; entretanto, o seu
comportamento divergia da Lei que defendiam e dos profetas que
pregavam (Rm 2:17-24). Paulo os questiona: “tu, pois, que ensinas a
outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve
furtar, furtas? (...) Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela
transgressão da lei?” (vs. 21,23). Em sua epístola, Tiago também
revela a preocupação com uma fé cristã coerente, ao afirmar que “a
fé, se não tiver obras, por si só é morta” (Tg 2:17). Aqui percebemos
a fé como algo vivo e que produz vida; algo dinâmico, como uma
chama que produz calor de maneira natural e espontânea. Chama
que não aquece, não é chama. Desse modo, a fé coerente produz
obras, a começar pela obra interior, a mudança de comportamento
daquele que crê em Cristo Jesus.
Que poder é esse que tantos crentes buscam na fé que não é
capaz de transformar as suas vidas? Uma alma não precisa de um
milagre, mas de arrependimento e conversão. Uma vez convertida,
ela carece de uma fé que se legitima na expressão de uma vida
coerente, compatível com o caráter do Senhor que a resgatou. Se a
fé é um mecanismo de transformação pessoal em que a nossa antiga
natureza dá lugar a uma criação nova efetuada pelo Espírito Santo,
todas as nossas ações devem ser coerentes com essa fé. Se
perguntarmos à maioria das pessoas, acima de tudo no Brasil, onde a
fé cristã é professada pela maior parte da população, elas dirão que
creem no Deus da Bíblia e em Jesus Cristo. Algumas afirmarão que
Deus está com elas, que acreditam no Evangelho e seguem seus
ensinamentos. Todavia, sem uma conversão genuína operada pela
graça de Deus, é impossível estar em Cristo, de modo que a prática
de fé destas pessoas não será coerente com aquilo que a Bíblia
ensina. O Senhor Jesus censurou a atitude dos fariseus e aconselhou
seus discípulos a que não os imitassem em sua religiosidade
aparente. Eles criam em Deus e nas Escrituras, mas não havia
coerência entre a fé professada e a sua prática. Além disso,
cobravam das pessoas atitudes que eles mesmos eram incapazes de
praticar. O cristão genuíno não pode agir de maneira contrária
àquilo que crê e prega (1 Tm 1:19; 3:9; Hb 10:22).
Quando acreditamos em Deus, temos de abrir mão de tudo
aquilo que contraria essa crença, seja na teoria (a nossa teologia) ou
na prática (as práticas resultantes dessa teologia); do contrário,
seremos hipócritas (Mt 10:37). A árvore é conhecida pelos frutos.
Por mais que a nossa declaração de fé esteja coerente com aquilo
que a Bíblia ensina, o que cremos será visto por meio das nossas
atitudes, do nosso comportamento (Lc 6:43-45). Uma coisa é
declarar que cremos em Deus, aceitar a Jesus e nos considerarmos
salvos; outra coisa é esta salvação ser legitimada na nossa vida
prática. Fé gera arrependimento e este é verificado por meio de
frutos dignos (Mt 7:8). É preciso arrancar as máscaras e abandonar
os personagens da religiosidade, de modo a mostrar a nossa
verdadeira identidade e assumir uma nova identidade em Cristo.
A fé em Jesus nos chama à coerência com o nosso chamado.
Paulo afirma que fomos chamados à liberdade (Gl 5:13). Alguém
pode pensar que o fato de ser livre o autoriza a viver de forma
individualista essa liberdade, investindo naquilo que achar ser o
melhor para si. O que devemos questionar é a natureza e o propósito
dessa liberdade, o que nos levará a Jesus, que nos libertou da
escravidão do pecado (Jo 8:34-36). Logo, a nossa liberdade é limitada
pela graça de Deus em Cristo, que nos torna livres para fazer o que é
certo, para amar e servir a Deus, algo que era impossível quando
ainda estávamos escravizados pelo pecado. Desse modo, ela não deve
dar ocasião à carne, como vemos na epístola aos Gálatas (5:13,14),
mas devemos ser servos uns dos outros em amor. Ora, tudo o que
não provém do amor é pecado. Aquilo em que cremos deve ser vivido
de maneira coerente. Como dizemos cumprir a lei de Deus se não
vivemos no amor quando este é o cerne de toda a Lei (v. 14)? A
situação da igreja da Galácia há tantos séculos é parecida com a de
nossas denominações hoje, onde as pessoas se mordem e se devoram
pelos motivos mais estranhos e sórdidos (v. 15).
Aquilo que éramos e fazíamos no passado – a impiedade e as
paixões mundanas – deve ceder seu espaço a uma vida justa e
piedosa, enquanto aguardamos a bendita esperança da volta do
Senhor (Tt 2:12). Paulo mostra a Tito que isto só é possível porque a
graça de Deus se manifestou salvadora a nós (v. 1) e porque fomos
remidos de toda iniquidade e purificados como povo exclusivo, zeloso
de boas obras (v. 14). Como viver de modo incoerente com isso? O
apóstolo João escreveu: “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de
língua, mas de fato e de verdade” (1 Jo 3:18). Quando existe
coerência entre aquilo que falamos ou pregamos e aquilo que
vivemos, podemos tranquilizar o nosso coração na certeza de que
estamos cumprindo o mandamento do Senhor (vs. 19 e 23), na
segurança de vivermos o poder da fé. João conclui: “E aquele que
guarda os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus nele. E
nisto conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que nos
deu” (v. 24). E não é por acaso que o fruto desse Espírito é o amor
(Gl 5:22). Logo, a nossa fé deve nos conduzir a uma vida coerente,
onde o nosso caráter é transformado e isso é percebido através da
prática do amor. Se o amor está ausente de nós, a nossa fé é vã e
mentirosa. Que pode, então, esperamos ter?
Capítulo 8

O PODER DA RENÚNCIA
“Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a
todos os homens, educando-nos para que, renegadas
a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no
presente século, sensata, justa e piedosamente.”
(Tito 2:12)

Quando se fala no poder da fé, este está geralmente


ligado a conquistas, a obter algo, ganhar ou receber alguma coisa da
parte de Deus. Ou seja: a fé agrega bênçãos à vida do crente. Quem
poderá pregar sobre a fé que tira algo de nós, que nos leva a abrir
mão, inclusive de pessoas, coisas, situações, projetos e sonhos que
julgamos tão importantes? O princípio mais básico da fé cristã é crer
em Jesus Cristo e segui-lo. Ao ver a multidão que o apertava, o
Senhor declarou: “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai,
mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida,
não pode ser meu discípulo” (Lc 14:26). A fé no nosso Senhor
envolve tomar a nossa própria cruz para segui-lo (v. 27). Essa cruz
não pode ser carregada enquanto não conseguimos nos soltar das
amarras do mundo, enquanto não somos capazes de abrir mão da
bagagem do pecado. A notícia que deve nos animar é que a fé
salvífica é um dom que nos é dado graciosamente por Deus (Ef
2:8,9). Ela nos capacita a tomar essa cruz, a renunciar tudo o que é
necessário para seguirmos o Senhor. Essa fé poderosa transforma a
nossa vontade e nos faz desejar o que é da vontade de Deus, não da
nossa.
O que impede muitos de abraçarem a fé cristã é a necessidade
da renúncia para seguir a Jesus. Quando certo homem indagou o
Senhor sobre o que deveria fazer para entrar na vida eterna, Ele
afirmou ser necessário guardar os mandamentos. O homem alegou
que sempre fizera isso. Mas Jesus sabia que algo faltava na sua vida,
que ele não havia se entregado a Deus por completo. Então lhe disse:
“Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no
céu; então, vem e segue-me” (Mc 10:17-22). Diante de tal desafio, o
jovem recuou e retirou-se frustrado da presença do Senhor, porque
era dono de muitas riquezas. Aquele jovem tinha fé em Deus, seguia
os seus mandamentos, mas não estava disposto a renunciar àquilo
que para ele era mais precioso. Um tesouro no céu não compra bens
deste mundo, e era isso que ele tanto apreciava. Os discípulos de
Jesus, pelo contrário, renunciaram a tudo para segui-lo (Mc 10:28-
30) e foram recompensados com uma vida abundante na terra, que
também era uma vida eterna nos céus.
A afirmação de Jesus de que ao vender os seus bens e doá-los
aos pobres aquele homem teria um tesouro no céu, mostra-nos que o
que realmente importa são as coisas espirituais, os bens celestiais
guardados para aqueles que têm fé. O que evita que muitos vivam
em Cristo é justamente o seu apego àquilo que é terreno, seja ao
pecado ou aos bens materiais. O imediatismo da vida impede que
muitos aceitem a esperança de bênçãos no porvir, esquecendo-se da
vida em abundância que Jesus nos prometeu (Jo 10:10). Ele nos disse
que a nossa vida não consiste na abundância dos bens que possuímos
(Lc 12:15). Paulo nos ensinou que devemos buscar as coisas que são
do alto (Cl 3:1). A fé não pode estar fundamentada naquilo que é
terreno, que traz ansiedade e preocupação, mas no Reino de Deus
(Mt 6:33). Se não pudermos de abrir mão daquilo que tem roubado a
nossa paz e nos impedido de caminhar com Cristo, a nossa fé será
infrutífera, será mera religiosidade. E se estamos na igreja,
frequentamos os cultos e participamos de campanhas de oração com
o intuito de atrair do céu o que nos prende à terra, certamente a
nossa fé é mentirosa, do tipo que não salva e que nos lança no
inferno. O crente não deseja subir até o céu na sua fé para
conquistar bênçãos terrenas, mas para gozar da presença do Senhor.
As bênçãos, Ele acrescenta conforme a sua vontade.
Isso é o que faz a renúncia ser algo tão difícil. Muitos crentes
possuem uma fé capaz de transportar o monte Everest, fazer um
mudo falar ou tetraplégico se locomover novamente. Eles creem
fielmente nas bênçãos do Senhor, nas promessas bíblicas, na sua
vitória; mas a sua fé não é capaz de levá-los a renunciar aquilo que é
necessário, porque envolve abrir mão de si mesmos e da sua própria
vontade. No livro do profeta Daniel, temos o exemplo do rei
Nabucodonosor. Diante da arrogância do rei em rejeitar a Palavra do
Senhor que o advertia contra o seu pecado, Deus o destituiu do seu
reinado (4:27-31). Por não reconhecer a Deus como Senhor absoluto
de tudo aquilo que estava em suas mãos, Nabucodonosor passou a
viver nos campos como um animal, até que viesse a compreender
que nada nem ninguém é coisa alguma diante do Todo-poderoso (vs.
33-36). Renunciados a sua prepotência e seu egocentrismo, ele
declarou: “Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e glorifico o
Rei do céu; porque todas as suas obras são verdadeiras, e os seus
caminhos justos, e pode humilhar aos que andam na soberba” (v. 37).
A restauração de Nabucodonosor só aconteceu quando ele atendeu a
voz do Senhor e renunciou aos seus pecados (v. 27).
Quem nos convence e nos capacita para abrirmos mão da nossa
soberba e para reconhecermos o poder que está acima de nós é o
Espírito Santo. Podíamos bem resumir o pecado como “a atitude de
colocar-se acima de Deus”, pois todas as vezes que pecamos, Deus
não está sendo o principal na nossa vida (cf. Hb 6:1). Na epístola aos
Efésios, somos exortados por Deus a renunciar à nossa vida passada,
despojando-nos do velho homem que não o agrada, com todos os
seus pecados (Ef 4:22), o que envolve uma disposição mental
correta, renovada (v. 23). A razão da renúncia não está apenas
naquilo que devemos a Deus, mas na necessidade de nos
relacionarmos com os outros de forma verdadeira (v. 25). A mesma
graça de Deus presente em nós, que nos salvou, educa-nos a
renunciar a impiedade a as paixões mundanas, de modo que somente
assim possamos viver neste mundo de forma santa, justa e piedosa
(Tt 2:11,12). Desse modo, ter fé não significa apenas crer e esperar,
mas envolve atitudes coerentes com a natureza dessa fé – Deus –, o
que nos leva a renunciar a tudo aquilo que vai contra essa natureza.
Isso nos impulsiona a uma vida santa e justa e crucifica-nos na cruz
para que vivamos tão somente para Cristo.
Capítulo 9

O PODER DA GRATIDÃO
“Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom,
porque a sua misericórdia dura para sempre.”
(Salmo 118:29)

A gratidão é um ingrediente importante da fé. A fé nos


leva a buscar em Deus respostas, auxílio, proteção, bênçãos,
orientação, sua vontade. A gratidão é a resposta do coração que
encontra a vontade de Deus, que a reconhece e que se alegra com a
sua resposta, mesmo quando esta é um não. Somos gratos, acima de
tudo, pela salvação que nos foi outorgada por Cristo na cruz do
Calvário, quando Ele nos imputou a sua justiça para que vivêssemos
para Deus. Muito mais do que aquilo que Deus fez por nós – e faz
todos os dias, quando nos mantém salvos, mesmo com todos os
nossos pecados –, somos gratos porque Ele é Deus, simplesmente. É
impossível sair da sua maravilhosa presença sem experimentar o
sentimento de gratidão, sem sentir arder no coração um hino de ação
de graças pela sua Majestade altíssima. É impossível viver o poder
da verdadeira fé sem admitir que tudo o que somos e temos vem dele
e é para Ele, o que deve nos manter sempre agradecidos, porque,
apesar de não merecermos, Ele é tudo para nós.
O livro de Salmos está repleto de belas declarações de ações de
graças a Deus pelo seu amor, livramento, misericórdia, proteção,
auxílio, salvação, suas obras. O Salmo 118 é um Salmo de ação de
graças pela misericórdia eterna do Senhor. Nele, a fé do povo de
Deus se manifesta por meio da gratidão e da alegria de poder ir à
sua Casa para adorá-lo. Nas pregações de hoje, muito se fala sobre
as promessas de Deus, sobre como tomar posse delas, sobre
prosperidade financeira, batalha espiritual, curas milagrosas,
expulsão de demônios causadores de toda sorte de males; e existe
um culto especial para cada uma dessas coisas. Todavia, não se fala
de gratidão a Deus pelas bênçãos alcançadas ou simplesmente pela
própria existência e salvação. E não se ouve falar em cultos de
gratidão a Deus. Um coração alcançado pelo Senhor é antes de tudo
um coração agradecido, que reconhece a misericórdia de Deus e a
sua maravilhosa graça em todos os momentos da sua vida.
Um dos grandes frutos de uma fé grata a Deus é a alegria.
Como olhar para Deus e para as suas obras sem sentir alegria? Ao
falarmos assim, podemos imaginar aquela fé que se alegra por
enxergar o sobrenatural de Deus e ter a certeza de que tudo dará
bem. Mas a alegria do crente deve ir mais além, o que pode significar
ver na situação aqui e agora, tangente e visível, motivos para se
alegrar, mesmo que tudo esteja desértico. Uma das maiores
expressões de uma fé grata está em Habacuque 3:17-19, onde lemos:
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto
da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas
sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia,
eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor
Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me
faz andar altaneiramente”. Não importam as circunstâncias, pois o
Senhor nos conduz acima delas, não no sentido de nos livrar dos
problemas, mas de nos garantir a vitória mesmo nas maiores
adversidades. Tiago escreveu algo que representa um contraponto às
pregações modernas que tentam isentar o crente de qualquer dor e
sofrimento: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o
passardes por várias provações” (Tg 1:2). As nossas provações
sempre têm um fim proveitoso (vs. 3,4). Em Romanos 8:37-39, o
apóstolo Paulo demonstra a mesma fé esperançosa no Senhor,
porque nada poderá separar-nos do amor de Deus, que está em
Cristo Jesus, nosso Senhor. Se você tem essa confiança e essa
esperança; se o seu coração transborda de gratidão pelo cuidado do
Senhor, você tem fé.
O coração que não é agradecido, alimenta a ingratidão e
demonstra que de fato considera Deus apenas um banco de bênçãos.
Em Cristo, somos chamados a dar graças em todas as circunstâncias,
porque Deus é bom e misericordioso (1 Ts 5:18; Sl 107:1; 100:1-5;
50:23; 1 Cr 16:34). Muitos afirmam crer em Deus, dizem que o
conhecem, mas não lhe rendem graças nem o glorificam (Rm 1:21).
O coração agradecido se lembra de todos os feitos do Senhor e não
se esquece dele no momento da aflição; antes, sente-se agradecido e
esperançoso. Paulo nos exorta a sermos agradecidos em tudo aquilo
que fizermos (Cl 3:17). Ele próprio era um homem de coração grato
(Ef 1:16). A gratidão está ligada à nossa adoração, ao
reconhecimento daquilo que o Senhor nos tem dado, não somente as
bênçãos terrenas e passageiras, mas, acima e antes de tudo, o Reino
celestial (Hb 12:28; Ef 5:20; 1 Tm 2:1). A graça de Deus em Cristo
redunda em ações de graça por meio de muitos para a glória de Deus
(2 Co 4:15). Se temos fé, somos gratos; se não somos gratos, a nossa
fé precisa de uma urgente santificação.
Capítulo 10

O PODER DO
TESTEMUNHO
“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto
em Jerusalém como em toda Judeia e Samaria
e até aos confins da terra.”
(Atos 1:8)

Quem pode negar que, a despeito das suas limitações, os


apóstolos do Senhor Jesus eram homens de grande fé? Vemos a sua
fé se manifestar de diversas formas, o que inclui a operação de
milagres e a expulsão de demônios. Mas a raiz do chamado
apostólico não estava na realização de prodígios; estes eram apenas
sinais do seu apostolado, detalhes da sua missão verdadeira:
testemunhar do Evangelho. Recebereis “poder” para ser
“testemunhas”. A fé não existe sem testemunho. Os apóstolos criam
em Jesus, mas, ainda assim, permaneceram ocultos, até que do céu
veio o revestimento de poder do Espírito Santo e eles passaram a
testemunhar do Evangelho. Muitos crentes são verdadeiros “agentes
secretos” do Reino de Deus. A sua fé só se torna conhecida quando
indagados a respeito do que creem. É preciso que aquele que crê,
testemunhe aos outros sobre a sua fé e a sua própria vida, coerente
com essa fé, sirva como testemunho (Rm 1:8; Cl 1:4). A fé é produto
da evangelização e uma ação evangelizadora. O mandamento de
Jesus é para que o Evangelho seja pregado a toda criatura a fim de
que todos possam conhecê-lo e venham a crer. Somente os que
creem têm a vida eterna. É a fé que abre as portas para a eternidade,
porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
“Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como
crerão naquele de quem nada ouviram?... E, assim, a fé vem pela
pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10:14,17). Eis a
importância da pregação da Palavra, do evangelismo, das missões.
Ter fé significa que o nosso testemunho poderá nos levar a
sofrer, como sofreram os apóstolos em seu compromisso com a fé
que professavam (cf. 2 Tm 3:12). Em primeiro lugar, porque o mundo
jaz no maligno e jamais entenderá a nossa fé, sempre estará contra
nós, perseguindo-nos. Em segundo lugar, seremos provados nesta fé
para nela sermos aprovados (Tg 1:2-4). A fé gera obras, transforma-
nos em sal e luz, dá-nos a missão santa de fazer a diferença. Essa
diferença também se dá através de uma vida reta diante de Deus, na
prática da justiça, como santos em todo o nosso proceder. O mundo,
mesmo ao nos odiar, precisa olhar para nós e glorificar a Deus. eis o
testemunho de uma fé poderosa: “Assim brilhe também a vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16). O Evangelho é
poder de Deus para a salvação daquele que crê (Rm 1:16), não o
nosso exemplo de vida. Mas o testemunho de uma vida
comprometida com o Senhor é modelo de como Deus quer que as
pessoas sejam, do que Ele opera na vida delas. Ainda que muitas
jamais se convertam, pelo testemunho prático da nossa fé, Deus é
glorificado por elas.
O nosso testemunho pode aproximar ou afastar as pessoas da
vontade de crer em Deus, muito embora aquelas que foram
escolhidas para a salvação, crerão de toda forma. Todavia surge a
pergunta: Qual testemunho? Muitos templos estão lotados por falsos
crentes, indivíduos que atenderam a um apelo emocional e
sensacionalista pelo fim do seu sofrimento e por sua prosperidade.
Geralmente, esses cultos de conversões em massa envolvem o
testemunho de pessoas que supostamente alcançaram grandes
vitórias, receberam bênçãos materiais e prosperaram. Baseadas
nesses testemunhos, ávidas por viverem e receberem as mesmas
coisas, essas pessoas se “convertem” a Jesus. O resultado é:
conversões falsas baseadas no testemunho falso de um falso
evangelho, que não é o da cruz de Cristo, que não traz salvação
alguma.
Crer envolve uma resposta positiva a Jesus, de modo que,
manter-se rebelde contra Ele, significa permanecer debaixo da ira de
Deus (Jo 3:36). Quando cremos, somos regenerados para uma viva
esperança e guardados pelo poder de Deus (1 Pe 1:3-5; Jo 11:25;
12:44). Se estamos em Cristo, se a nossa vida está escondida com
Ele nos céus (Cl 3:3), se não pertencemos mais a esta pátria e nela
somos apenas forasteiros (1 Pe 2:9), devemos viver de modo
diferente daquele que vivíamos, de maneira que o nosso
procedimento seja exemplar e Deus seja glorificado através do nosso
testemunho diante daqueles que ainda não creem (1 Pe 2:11,12).
Pedro escreveu: “Porque assim é a vontade de Deus, que, pela
prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos” (v. 15).
No livro do Apocalipse, a festa no céu que celebra a vitória de Cristo
inclui a presença daqueles que venceram pelo sangue do Cordeiro e
“por causa do testemunho que deram, e mesmo em face da morte,
não amaram a própria vida” (Ap 12:11,12). Não se trata
primariamente de “mostrar quem somos”, mas de “viver o que
somos” em Cristo. Maior prova de fé não há que amar a Deus ao
ponto de testemunhar dele com o risco da própria vida. Quantos
estão aptos a fazê-lo?
Capítulo 11

O PODER DO CONTROLE
DA REALIDADE
“Deus proverá...”
(Genesis 22:1-13)

A fé é um agente transformador que modifica toda a


nossa realidade. Ela transforma o nosso posicionamento diante de
Deus, tirando-nos da posição de criaturas perdidas para nos tornar
seus filhos, salvando-nos da condição de pecadores para habitantes
do seu Reino celestial. A fé também transforma a nossa relação com
as pessoas, a forma de as enxergarmos e lidarmos com elas, e o
mesmo faz com relação à nossa visão do mundo e o nosso
relacionamento com ele. Se antes éramos prisioneiros da carne,
servos do mundo e objetos nas mãos do diabo, pela ação do Espírito
Santo e a fé em Jesus Cristo assumimos o controle da realidade e não
nos deixamos mais controlar por ela. Ter fé, então, significa não ser
controlado pela realidade presente, palpável e efêmera, mas pela
realidade celestial, da qual temos viva esperança, mesmo sem a
podermos contemplar (Rm 8:24,25). Isto significa ansiarmos pelo
Reino vindouro de Cristo e vivermos os seus valores no tempo
presente. O apóstolo Pedro revelou sua preocupação com o nosso
controle sobre a natureza que não deve mais fazer parte de nós:
“Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis
anteriormente na vossa ignorância” (1 Pe 1:14). O apóstolo Paulo nos
chama a um culto racional de autossacrifício, onde não devemos nos
“conformar” com este século, mas sermos transformados pela
renovação da nossa mente (Rm 12:1,2). Em Cristo assumimos, pelo
seu poder e graça, o controle sobre aquilo que antes nos controlava,
pois “o pecado não terá mais domínio sobre vós” (Rm 6:14).
Por mais que consigamos controlar os nossos impulsos
mediante a nossa “força de vontade”, o controle total da realidade se
dá apenas pela graça de Deus e a presença do Espírito Santo. Ter fé
constitui ter esperança no Senhor, mesmo quando tudo parece
perdido. Abraão possuía grande fé em Deus e assim pôde controlar a
realidade à sua volta. Aceitar sacrificar seu filho só foi possível
porque ele cria que Deus podia até mesmo ressuscitá-lo, porque
haveria de cumprir a promessa que lhe fez (cf. Hb 11:19). Se Abraão
tivesse sido controlado pela realidade, provavelmente teria pensado:
“Se eu sacrificar Isaque, a promessa de Deus não se cumprirá”. Isso
é o que as circunstâncias insinuavam. Da mesma forma, Jesus
poderia ter pulado do pináculo do tempo quando Satanás o tentou,
mas Ele estava no controle da realidade e não se permitiu levar pelas
artimanhas do maligno. Isso nos traz a profunda convicção de que só
podemos dar uma resposta de fé às situações que se nos apresentam
quando estamos de posse do conhecimento da Palavra de Deus. Em
todas as tentações do diabo, as respostas do Senhor foram
fundamentadas nas Escrituras Sagradas (Mt 4:1-11). Muitos não
conseguem responder de forma correta à realidade por não
possuírem no coração a resposta bíblica para ela. O que Deus espera
que façamos em cada situação, está na sua Palavra. Como
poderemos lidar com cada circunstância, também está escrito.
Deus está no controle de tudo! Se tivermos uma fé bíblica, o
mundo e a sua realidade jamais poderão nos controlar. No Senhor
está a nossa esperança (Sl 39:7). Nele sabemos que a morte nada é,
porque Cristo ressuscitou (At 24:15) e as tribulações podem e devem
ser motivos de grande alegria (Rm 5:3,4). A nossa fé é baseada na
esperança que há em Cristo (Gl 1:3-5; 1 Ts 1:3), por isso não se deixa
controlar pela realidade presente. Quando falamos nesse controle da
realidade, não afirmamos um poder pessoal capaz de mover as
situações, mas da entrega total Àquele que constituiu todas as coisas
e que tem em suas mãos poder sobre o tempo e as circunstâncias.
Alguns crentes creem que a sua fé é uma força nata que os torna
poderosos para mover até mesmo a mão de Deus. Outros se
esquecem de que aquilo que são não teria sido possível sem a
presença do Espírito Santo. A própria santidade, que envolve a
participação no crente em seu processo por meio da obediência aos
mandamentos de Deus, só é possível porque o crente é templo do
Espírito Santo. Sem o Espírito não existe vontade ou motivação para
obedecer, logo, não há santidade, porque não há fé.
A fé poderosa nos leva a não perder o controle sobre
absolutamente nada na nossa vida: as nossas emoções, os nossos
impulsos, os nossos desejos mais carnais, o nosso temperamento. O
apóstolo Paulo escreveu: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol
sobre a vossa ira” (Ef 4:26). Também assumimos o controle sobre as
nossas finanças e os nossos gastos, sobre o tempo e a nossa agenda,
sobre o uso das redes sociais. Aprendemos a controlar a língua,
inclusive! Quando falamos de “controle da realidade”, falamos, na
verdade, sobre o “autocontrole” ou “autodomínio”, que a Palavra de
Deus chama de “domínio próprio”. Este é um dos frutos do Espírito
Santo (Gl 5:22,23). O sábio rei Salomão comparou alguém que não
sabe se dominar como uma cidade com os seus muros derrubados
(Pv 25:28). Nela, qualquer coisa ou pessoa pode entrar e causar
grande destruição, como pecados que penetram na nossa mente
quando não a protegemos da maneira correta. Vale repetir que
somos capazes de nos controlar porque o Senhor nos controla,
porque temos o seu Santo Espírito. Desse modo, podemos resistir às
tentações da carne (1 Co 10:13) e ao próprio diabo, através da
sujeição a Deus, e ele foge de nós (Tg 4:7). O conselho do apóstolo
Pedro para vencer as situações que nos tentam controlar é ter
critérios, orar e ter sempre o amor como base: “Ora, o fim de todas
as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem
das vossas orações. Acima de tudo, porém, tende amor imenso uns
para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (1 Pe
4:7,8).
Capítulo 12

O PODER DA CONFIANÇA
“E Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem
bom ânimo, filha, a tua fé te salvou. E, desde
aquele instante, a mulher ficou sã.”
(Mateus 9:22)

Como vimos no início, “confiança” é um dos significados


da palavra grega para fé: pistis. Aquele que se aproxima de Deus,
deve confiar nele. Existem muitas pessoas no mundo que se
declaram cristãs e afirmam que creem em Deus, mas jamais
depositam nele a sua confiança. Elas recorrem a toda sorte de saídas
para os seus problemas – sua própria força, superstição, imagens de
escultura, jogos de azar, decisões individualistas, etc. – e não
colocam as suas necessidades diante de Deus. Quando todas as
opções de solução estão esgotadas, algumas se lembram de Deus e o
buscam. Por outro lado, alguns confiam tanto na sua própria fé, que
imaginam que ela tem algum poder em si mesma, isto é: acontecerá
o que for determinado por meio da fé. Quanto maior a fé, maior a
confiança, não no poder de Deus, mas na sua própria capacidade e
poder. No fundo, eles confiam é em si mesmos e se gabam da sua fé.
Todavia, a confiança que a fé gera em nós não é uma confissão
daquilo que podemos fazer, mas daquilo que Deus pode realizar de
acordo com a sua soberana vontade. Segundo MacArthur (2015, p.
375), “Ter fé é abdicar da confiança em si mesmo e transferir essa
confiança para outra pessoa ou coisa”. E essa pessoa é Deus.
Os evangelistas relatam um fato do ministério de Jesus em que
uma mulher anônima, que padecia de uma doença hemorrágica, já
havia buscado a ajuda de vários especialistas, sem conseguir,
entretanto, obter a cura. Ao ver o Senhor passar, aquela mulher teve
uma atitude de confiança: ela creu que, se somente tocasse nas suas
vestes, ficaria curada. E assim aconteceu (cf. Mt 9:19-22; Mc 5:21-
24; Lc 8:40-42). Deveria ser algo automático: cremos em Deus, então
confiamos nele. Mas não é isso que acontece em todas as vezes em
que nos encontramos em determinadas situações. Cremos em Deus,
mas somos incapazes de confiar na sua Palavra, de esperar
confiantemente na sua provisão, no seu socorro. A nossa fé fraca e
frágil acaba por nos levar a agir pelos nossos próprios padrões e
esforços, quando deveríamos confiar plenamente no Senhor.
Algumas seitas neopentecostais passam aos seus seguidores a
impressão de que não é possível confiar totalmente no agir de Deus,
por isso é preciso ungir objetos, carregá-los, usá-los como amuletos
para atrair as bênçãos ou afastar as maldições. Crer em Deus e
confiar nele tão somente não basta! Que poder carrega esse tipo de
fé? Se cremos que Deus transportará a montanha, não precisaremos
de tratores e retroescavadeiras. Isso, claro, metaforicamente.
Aquele que crê em Deus, deve confiar nele, porque se
reconhece falido e incapaz de prover qualquer coisa para si próprio.
Esse é o sentido da palavra “pobre” em Mateus 5:3, alguém que se
enxerga tão irremediavelmente falido espiritualmente, que não pode
prover a própria salvação, por isso se achega a Deus, o que o torna
digno do Reino dos céus. Ter fé é, então, confiar plenamente naquele
que pode ser tudo para quem não é nada, dar todas as coisas para
quem não possui coisa alguma, prover a salvação para quem se
encontra em total falência espiritual. Ao contrário disso, inúmeros
supostos crentes hoje determinam aquilo que desejam receber de
Deus, profetizam a sua bênção, declaram a sua vitória e ordenam
que Deus satisfaça à sua fé. Eles não se acham falidos, mas
enriquecidos de um ego que não cabe em si. Quanto menos
confiamos em nós mesmos, quanto mais nos enxergamos
dependentes de Deus, mais o agradamos, porque Ele é Deus, não
nós. Aqueles que mais receberam de Deus foram os que mais
confiaram nele (Mt 8:10; 9:22,29; 15:28; Lc 7:50; 8:48). Confiamos
em Deus na salvação, no auxílio, na provisão, nos livramentos, no
fortalecimento, na capacitação, na sua misericórdia. Confiamos que
Ele sempre estará conosco e nos dará aquilo que for para a sua
glória. Confiamos que nossos nomes estão escritos do Livro da Vida e
um dia estaremos com Ele para sempre no céu. Confiamos que Ele
exerce justiça e juízo sobre a humanidade.
O autor de Hebreus, após descrever o sentido bíblico de fé (Hb
11:1), passa a listar diversos homens e mulheres que, por causa da
sua fé, tiveram plena confiança nas promessas de Deus, ao ponto de
padecer toda sorte de sofrimentos, tudo em nome de uma promessa
re recompensa celestial (vs. 13,39,40). Ele escreve no v. 6: “De fato,
sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que
aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna
galardoador dos que o buscam” (11:6). Porque os chamados “heróis
da fé” enfrentaram tão enormes tribulações? Por causa da sua
esperança no comprimento das promessas de Deus e na confiança
que possuíam nessas promessas, na sua Palavra. Nem sempre somos
capazes de esperar o cumprimento das promessas bíblicas, não de
prosperidade financeira ou de milagres, mas do cuidado sempre
presente do Senhor, do seu auxílio e da volta de Jesus. Vivemos no
mundo como se aqui fosse o fim último de todas as coisas,
esquecendo-nos que a nossa habitação real, a nossa pátria
verdadeira está nos céus. Quanto mais mantivermos os nossos olhos
e os nossos pés fixos nesta realidade mundana e passageira, mais
nos desesperaremos, menos esperaremos no Senhor e ainda menos
experimentaremos o poder da verdadeira fé.
Capítulo 13

O PODER DO AMOR
E DAS OBRAS
“Porque, assim como um corpo sem espírito é morto,
assim também a fé sem obras é morta.”
(Tiago 2:26)

O poder da fé está ligado, na maioria das teorias e


pregações, ao mover de montanhas ou “mover o sobrenatural”.
Quanto maiores as manifestações místicas – como operações de
“milagres”, línguas estranhas, unções e danças frenéticas –, maior é
considerada a fé dos crentes e, por consequência, mais ungido e
poderoso é o culto por eles realizado. Entretanto, a fé vai além
dessas coisas e talvez não esteja ligada a nenhuma delas. Existe uma
estreita relação entre três elementos essenciais do cristianismo: fé,
amor e obras. A fé é o princípio de tudo, porque por ela somos salvos
e nela nos movemos. Todavia, essa fé não é inoperante, mas nos leva
a produzir obras que foram preparadas de antemão para nós por
Deus (Ef 2:8-10). Como ter fé e não ter obras? Este é o
questionamento de Tiago em sua epístola. As obras da fé são
praticadas a partir do momento em que compreendemos a
mensagem do Evangelho e entendemos que o que legitima a nossa fé
é o amor, e o amor sempre gerará boas obras. Se afirmarmos crer
em Deus, mas essa crença não redundar em ações de amor, a nossa
fé é vã e mentirosa. Algo está errado com aquele crente que se ufana
por possuir uma fé inabalável no sobrenatural de Deus, mas que não
tem o seu comportamento transformado nem consegue se
compadecer dos que sofrem.
Onde estará o poder dessa fé? Onde está a sua legitimidade?
Não é possível ter fé se a sua base não for o amor (1 Co 13:2).
Muitos creem tanto nas promessas da Bíblia, que esquecem que a
sua fé deve ser usada para a glória de Deus e por amor aos irmãos e
ao próximo. O contrário disso é egoísmo e, portanto, não pode ser fé,
muito menos poder, porque a fé atua pelo amor (Gl 5:6). A fé não é
algo subjetivo, não produz somente salvação e milagres, mas conduz
a prática das obras (1 Ts 1:3; 1 Jo 3:18), e sem obras toda fé é morta
(Tg 2:17). A Igreja de Tessalônica era um exemplo de fé e de amor, o
que levava o apóstolo Paulo a dar graças a Deus pela vida e pela fé
daqueles irmãos, que demonstravam o amor fraternal mesmo em
meio às grandes tribulações (2 Ts 1:3,4). Por outro lado, fazer
acepção de pessoas enquanto se diz que possui fé, é incoerente.
Tiago escreve: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus
Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas” (Tg 2:1). Esse tipo
de atitude nos conduz na contramão do amor, tornando-nos juízes
“tomados de perversos pensamentos” (v. 4). A Lei é bastante clara
com relação a isso, como o próprio Tiago faz questão de nos lembrar:
“Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (v. 8). Vemos como a fé e
as obras decorrentes dessa fé – neste caso, não fazer acepção de
pessoas – estão intimamente ligadas ao amor.
Não se deve usar a fé apenas como um meio de angariar as
bênçãos de Deus, mas acima de tudo como uma forma de produzir
frutos para o seu Reino (Jo 15:16). A fé é comunitária, gera
comunhão, partilha e consolo entre os irmãos (Rm 1:11,12). A fé
como um dom espiritual, tem como objetivo a edificação e a unidade
do corpo de Cristo (Ef 4:13). O cuidado com os nossos demonstra a
nossa fé ou a falta dela quando esse cuidado se revela ausente (1 Tm
5:8). Tiago desafia: “mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com
as obras, te mostrarei a minha fé” (2:18). O que está implícito aqui é
a incapacidade de cumprir o desafio, porque, sem produzir obras,
ninguém poderá demonstrar fé alguma. Isto significa que somente a
partir das obras é que a fé pode ser demonstrada. Se não temos
obras, significa que não cremos em Deus, por mais que a nossa boca
diga o contrário. Cristo habita em nós pela fé, de modo que, nele,
estamos arraigados e alicerçados no amor (Ef 3:17). Cristo, fé e amor
caminham juntos, um amor que excede todo entendimento e que
rende glórias a Deus (vs. 18-21). Portanto, quem deseja viver o poder
da fé, deve viver em obras, todas elas, na medida da sua fé, dos seus
dons e dos seus talentos. Rodar talvez impressione alguns, mas
produzir obras rende glórias a Deus! A fé sem obras é morta, e uma
coisa morta não tem poder algum.
Capítulo 14

O PODER DA AÇÃO
SOLIDÁRIA
“Assim, também a fé, sem obras, por si só é morta.”
Tiago 2:15-17

A fé do crente não é morta , mas viva; não é passiva,


mas ativa; não é incoerente, mas eficaz. Uma fé de tal forma
consistente produz ação. O simples fato de crer já significa um ato.
Existem coisas impossíveis que somente Deus pode fazer por nós,
milagres que somente o seu poder pode nos dar, embora as coisas
mínimas e possíveis também sejam frutos da sua maravilhosa graça e
misericórdia, porque tudo vem dele e é para ele (Rm 11:36; 1 Co
8:6): sem Ele nada podemos fazer (Jo 15:5). Por meio da oração,
exercitamos a nossa fé, trazemos o mover de Deus sobre as nossas
súplicas e podemos, por sua vontade e no seu tempo e modo,
contemplar os seus milagres e bênçãos para nós. Entretanto, existem
coisas que urgem muito mais passos além do ato de orar, que pedem
de nós uma atitude de fé prática. Por exemplo, de que adianta orar
para Deus abençoar as viúvas e os órfãos se não fazemos nada por
eles? O mandamento bíblico é visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações, como prova da verdadeira religião (Tg 1:27), o que
significa ação, atitude. Com certeza, lembrar-se dos pobres, para o
apóstolo Paulo, era muito mais que fazer menção deles nas suas
orações (Gl 2:10). A crítica de Tiago é pertinente: “Se um irmão ou
uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos
e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é
o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só é
morta” (Tg 2:15-17).
O que nós, como igreja, fazemos pelos pobres que congregam
conosco e pelos desassistidos do mundo? Quanto do dinheiro dos
dízimos e ofertas que damos está sendo posto a serviço dos
oprimidos? O que existe de comunitário nas letras dos louvores que
cantamos, na Palavra que pregamos e nas nossas orações? Um
exemplo clássico de fé que produz ação pode ser encontrado nos
primórdios da igreja, quando o Evangelho começava a ser pregado e
as pessoas encontravam em Cristo a sua segura salvação. No
capítulo dois do livro de Atos dos apóstolos, conhecemos muito mais
que um avivamento espiritual ou a base da doutrina do batismo do
Espírito Santo e o dom de línguas. Na verdade, percebemos ali uma
comunidade cuja fé desencadeou-se em atitudes práticas em
benefício de seus próprios membros. Os que ouviram a Palavra,
creram e foram batizados, somaram mais de três mil (v. 41). A partir
dali, um modelo de igreja ativa surgiria. As suas atitudes
demonstravam o valor da fé que possuíam: perseverança na doutrina
dos apóstolos (a crença correta que redundaria em práticas
corretas), no partir do pão e nas orações (v. 42); realização de
prodígios e sinais (v. 43); sentimento de comunidade: estavam
juntos, tinham tudo em comum (v. 44); ação social (v. 45);
perseverança unânime no templo com o partir do pão (v. 46); louvor
a Deus (v. 47). Como resultado de sua fé ativa, Deus lhes
acrescentava dia a dia os que iam sendo salvos. E neles havia temor.
Então a fé, muito mais que uma declaração verbal, é algo que
nos impulsiona, que nos coloca em movimento, que nos estimula a
agir. O contrário disso é uma fé legalista, é apenas uma declaração
doutrinária ou um credo religioso. Muitas pessoas enganam-se,
julgam possuir alguma fé em Deus simplesmente porque acreditam
na sua existência e não têm a mínima dúvida disso. Mas se de fato
cressem em Deus, creriam também na sua Palavra e ao crer na sua
Palavra, a sua fé se transformaria em ação, como aconteceu com os
cristãos em Atos. É esta fé viva e ativa que salva e que pode nos dar
a certeza e a segurança da nossa salvação. Esta fé é transformada
em prática, em ação, fazendo com que as pessoas tomem atitudes
diante da realidade a sua volta. Em tudo na nossa vida precisamos de
ação, atitude: para amar, mudar, abandonar nossos pecados, fazer
missões, evangelizar, orar, socorrer os doentes, ajudar os fracos na
fé, discipular, enfrentar as tribulações, testemunhar do Evangelho. É
esse tipo de fé que o Espírito Santo desperta no crente (Tg 2:24-26;
4:10; Ef 2:10; Fp 2:3-5; 4:8,9; Cl 3:8-10; Rm 12:1).
Capítulo 15

O PODER DO POSSÍVEL
“Mas ele respondeu: Os impossíveis dos homens
são possíveis para Deus.”
(Lucas 18:27)

A partir de uma concepção popular, a fé envolve,


acima de tudo, o “impossível”: aquilo que não podemos operar por
nossas próprias forças, a fé em Deus opera. Todavia, a fé não envolve
somente as coisas impossíveis, mas, de igual modo, as possíveis. A fé
no Deus do impossível está minando a fé dos crentes no Deus do
possível. O fato é que transportamos a nossa fé em Deus somente
para o mundo sobrenatural, para as coisas milagrosas que são
impossíveis de serem conquistadas mediante nossos próprios
recursos e esforços, como a cura de uma doença terminal, por
exemplo. Entretanto, esquecemos que Deus também é o Deus do
aqui e agora, das coisas comuns, possíveis e mais corriqueiras da
nossa existência. Isto é, acabamos excluindo Deus da maior parte da
nossa vida, a parte possível, que achamos que podemos realizar sem
a intervenção dele. Mas Deus nos diz que sem Ele nada podemos
fazer (Jo 15:5). Quando se diz “nada”, não se está falando de tudo
que é impossível para nós, mas mesmo as ações mais mecânicas e
cotidianas. Alguém é capaz de respirar sem que Deus lhe dê o ar?
Independente da sua resposta às nossas orações, Deus é Deus.
Quando cremos em Deus e o amamos e servimos por quem Ele é,
independente de movermos ou não o sobrenatural, a nossa fé é
fortalecida. Ele deixa de ser somente o Deus do impossível e passa a
ser o Deus de absolutamente tudo na nossa vida, cada momento,
cada instante, mesmo do ato corriqueiro de escovar os dentes. O
apóstolo Paulo aprendeu a viver contente em toda e qualquer
situação (Fp 4:10-20) porque, para ele, Deus era o Deus do possível e
do impossível, da falta e da abundância, da humilhação e da honra.
Em todas as circunstâncias, Ele é Deus, não apenas das urgentes e
improváveis, como certa santa católica das “causas impossíveis e
improváveis”. Se a nossa fé em Deus está firmada apenas nas causas
impossíveis, será que ela será mantida durante as possíveis? Cremos
em Deus pelo que Ele é, independente do que Ele fez ou fará. A
nossa fé deve nos levar a nos mantermos firmes, até mesmo nas
melhores circunstâncias. Será que se não houver uma forte
tempestade no mar da nossa vida, capaz de nos levar ao naufrágio,
mas sempre ventos a favor e pequenas marolas, lembraremos de que
Jesus está no barco? Talvez não.
Na música “Nada é impossível”, o cantor de rap gospel,
Pregador Luo, afirma: “As muralhas que eu puder, eu mesmo
derrubo/Aquelas que não der, Deus põe no chão para mim”.
Aparentemente, esta frase mostra alguém que confia em Deus nos
momentos difíceis, que crê que Ele estará ao seu lado a lutar, a
quebrar as cadeias, a derrubar as barreiras. Naquilo em que a força
humana não consegue intervir, podemos estar seguros de que o
poder de Deus sempre conseguirá. Deus não tenta: Ele faz!
Entretanto, essa declaração pode levar a algo perigoso. Da forma
como essa frase está construída, dá a entender que o crente pode
viver sem Deus na maior parte do tempo, que não precisa da sua
intervenção em todos os momentos de sua vida, mas apenas em
alguns. Ela afirma que temos poder para resolver aquelas coisas
consideradas fáceis, que não precisam do agir de Deus. Em outras
palavras: podemos existir sem Deus se na nossa vida não houver
nenhuma barreira impossível de ser transposta. Quando as muralhas
surgem, agimos com a força do nosso braço e do nosso intelecto,
enfrentamos, lutamos até conseguir derrubá-las. Somente em último
caso, quando vemos que todos os nossos esforços foram inúteis, é
que decidimos fazer uso do poder de Deus. Caso contrário, sempre
agiremos “sozinhos”. Dizemos: “Senhor, deixe esse possível comigo.
Quando o impossível vier, eu lhe chamo”.
Isso nos leva a uma questão: em que momento do nosso dia,
desde o despertar até o adormecer, não precisamos de Deus, do seu
poder, da sua graça, da sua misericórdia, da sua ajuda, do seu
auxílio, da sua intervenção? Podemos respirar sem o ar que Ele
criou? Podemos caminhar sem os pés que Ele nos deu e sem o chão
que colocou para que pudéssemos andar sobre ele? Sem a presença
constante de Deus, a vida humana se resumiria num inferno na terra.
Quem pode garantir que estará vivo amanhã ou daqui há um segundo
sem a poderosa mão de Deus para sustê-lo? Frases como aqula,
denunciam a arrogância e a prepotência humana de achar que não
precisa de Deus. Denuncia, também, uma ideia insuficiente de que
Deus é o Deus do impossível. Isso é só parte da verdade. Deus é o
Deus do impossível e também do possível. Ele é Soberano sobre
todas as coisas, pessoas e circunstâncias. Não devemos buscar a
Deus somente quando tudo vai mal, mas, da mesma forma, quando
tudo está bem. Não devemos contar com a ajuda de Deus apenas
para derrubar as barreiras, mas para existir em meio a um campo
florido com um rio de águas cristalinas. Precisamos de Deus o tempo
todo, sem parar. Não da sua “ajuda” simplesmente, mas da sua
presença. Deus não é um subterfúgio. Ele não é um amuleto. Deus
não é uma opção, é essencial. Isso é ter fé. Se a nossa fé está firmada
apenas sobre o natural e o impossível, ela de fato não existe.
Capítulo 16

O PODER DO
CRISTOCENTRISMO
“Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos
os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória.”
(Mateus 25:31)

Há poucos dias, travei um debate com uma senhora que


afirmava possuir muita fé em Deus e em nosso Senhor Jesus Cristo.
Entretanto, a sua fé chegou a me assustar. Tudo começou quando
postei nas redes sociais uma mensagem que alertava para a volta de
Jesus. Ela me procurou e disse já ter superado essa crença, que não
acreditava mais nisso, que Jesus já tinha voltado e nós já vivíamos no
Reino de Deus. Além disso, afirmou que, após servir durante muitos
anos em uma igreja evangélica, a corrupção e o pecado presente na
igreja levou-a a uma busca por respostas. Então, ela viajou para a
Europa, de onde retornou com uma concepção bastante apóstata de
que a Bíblia contém erros, porque foi escrita por homens. Essa
concepção tirou-lhe a fé tradicional na Palavra de Deus e no próprio
Senhor Jesus, que sempre nos garantiu que voltaria para nos levar
consigo para o céu. Eu lhe disse que ela fora buscar a água da vida
no esgoto, em um continente considerado pós-cristão, fruto da
investida do liberalismo teológico e seus desdobramentos satânicos.
Disse-lhe, também, que uma parte da verdade não é a verdade
inteira. Não podemos crer em Cristo e na Bíblia sem crer de maneira
integral. E ainda: se a Bíblia contém erros, quem garante até mesmo
que o próprio Deus exista ou que Jesus nasceu, viveu, morreu,
ressuscitou e subiu aos céus? Ela diz possuir muita fé, mas, como diz
a letra de uma canção, “só não se sabe fé em quê”.
Não podemos ter uma visão de Cristo que não leve em conta o
ensino geral das Escrituras. Sem a crença correta, o verdadeiro Jesus
não está presente na nossa fé, por mais que declaremos o seu Nome.
Existem crenças, mesmo no meio cristão, em que o centro da vida da
comunidade de fé não é Jesus Cristo. O antropocentrismo promovido
pelo neoliberalismo teológico tem tirado do Senhor o seu lugar de
direito. Em algumas igrejas, Ele com certeza bete à porta a espera
que alguém o deixe entrar. A fé cristã genuína coloca a Trindade
como centro da devoção, da adoração e da pregação da Igreja. Ela
humilha o homem e exalta a Deus. Muitos usam a fé para se
autopromover e se acham mais espirituais do que os outros porque
oram mais, falam em línguas, pregam com maior eloquência e, assim,
retiram Deus do centro das atenções. Ainda outros direcionam a sua
fé para a criatura, acabando por praticar a idolatria. A fé racional
gera relacionamento sadio com Deus, através da observação
cuidadosa dos seus mandamentos. Pela fé, relacionamo-nos com
Cristo e com o Espírito Santo, o que produz transformações
profundas na nossa vida e na nossa maneira de crer em Deus e nos
relacionar com as pessoas e o mundo.
Crer em Deus significa que precisamos nos relacionar com Ele.
Quando Cristo está no centro, o ideal cristão de vida transforma-se
no desejo de agir dentro dos planos de Deus e cumprir a sua
vontade, ainda que não nesta vida não enxerguemos as bênçãos que
Ele tem guardadas para nós (Hb 11:33-39). A nossa fé em Deus nos
dá segurança de buscar acima de tudo a sua direção em todas as
esferas da nossa vida. Esta é uma luta constante, porque seremos
sempre tendenciosos a nos colocar em primeiro lugar e esquecer que
a glória deve ser dada a Deus, não a nós. Jesus colocou o Pai no
centro da sua missão. Os apóstolos colocaram Jesus no centro da sua
pregação. João Batista reconheceu que Cristo deveria crescer,
enquanto ele, precisava diminuir. A fé deve nos humilhar e exaltar a
Deus, deve nos colocar na posição de servos e Ele, na posição de Rei
Soberano da nossa vida. É este o resumo de todo este estudo: o
Senhor Jesus como a natureza, a razão e o objetivo da nossa fé. Se
Ele não for a figura central da nossa vida, tudo aquilo que achamos
crer, não terá valido nada. Sem Ele, nenhuma verdade é verdade,
nenhum caminho conduz a Deus e nenhuma vida é plena e eterna.
CONCLUSÕES
“E assim, a fé vem pela pregação, e a pregação
pela palavra de Cristo.”
(Romanos 10:17)

Imaginemos a nossa fé como um enorme edifício,


daqueles que parecem até mesmo tocar o céu. As suas paredes estão
firmes e ele se mantém impoluto por um único motivo: a firmeza dos
seus alicerces. Agora imaginemos se um único dos seus alicerces
fosse retirado. O que aconteceria? Toda a estrutura viria a baixo. Se
tirarmos aquilo que sustenta uma construção, ela cai. Agora
imaginemos uma fruta, como uma laranja, por exemplo. Se
observarmos apenas um caroço, poderemos saber se é de uma
laranja ou de um limão? Mesmo se soubermos que é de uma laranja,
poderemos precisar de que tipo seria? E se tivermos apenas um dos
gomos, será possível dizer que temos a laranja inteira? Se tivermos a
laranja inteira, mas faltar a sua casca, podemos dizer que toda a
laranja está ali? E o que tudo isso tem a ver com a nossa fé?
A nossa fé precisa estar edificada sobre bases sólidas, para que
não venha a desmoronar. Ela também precisa ser íntegra, inteira,
nada pode lhe faltar, pois somente assim saberemos que cremos da
maneira correta naquilo que é correto. Quando falamos em
obediência, por exemplo, essa obediência deve estar relacionada com
o ensino geral das Escrituras, porque, caso se baseie em apenas um
único texto, correremos o risco de obedecer a Deus da maneira
errada. E o que acontecerá se retirarmos da nossa fé o senhorio de
Cristo? Enquanto escrevo esta conclusão, o Brasil tem vivido uma
situação inusitada, acima de tudo para os cristãos. Alguns deputados
parecem insistir em modificar o texto bíblico, certamente para torná-
lo politicamente correto, de acordo com suas próprias demandas. O
que aconteceria se tirássemos algum texto da Bíblia ou
modificássemos o seu significado? O ensino ali presente se perderia
e toda a Bíblia ficaria comprometida. Como um corpo humano que
perde um membro ou um copo com água pura em que lhe é
acrescentada alguma outra substância.
O poder da fé não existe sem uma fé íntegra, pura, bíblica.
Existem muitos pregadores que fazem pessoas caírem com o poder
do toque do seu paletó e chamam a isso fé. Mas o fato de não possuir
nenhum apoio bíblico, torna essa “unção” algo mentiroso e maldito.
Ao longo dos séculos, o Cristianismo tem enfrentado esse tipo de
coisa, essas crenças diabólicas que nada fazem, além de afastar o
crente da verdadeira fé, da Revelação perfeita e suficiente de Deus: a
Bíblia. A Reforma Protestante, iniciada no ano de 1517, veio resolver
muitas das questões teológicas equivocadas que a fé cristã vivia na
época e buscou devolver a Bíblia ao povo na sua própria linguagem,
promovendo um retorno à sã doutrina e à maneira de viver dos
primeiros cristãos. Nota-se que os dois elementos caminham juntos:
fé e prática, ortodoxia e ortopraxia. A crença correta gera práticas
corretas; a crença errada gera práticas erradas, por mais sinceras
que sejam.
Portanto, para finalizar este estudo sobre a fé, é importante
repetirmos o ensino reformado sobre os pilares da fé cristã, sem os
quais a nossa crença não se sustenta. Esses pilares – os Cinco Solas
da Reforma Protestante – tornam a nossa fé íntegra e inabalável.
Retira-se apenas um e tudo aquilo que cremos perde o sentido e nos
conduz ao erro e à heresia. Não existe poder da fé sem completude e
integridade.

Sola Scriptura (2 Tm 3:16). Somente as Escrituras Sagradas são a


verdadeira e única revelação de Deus. Tudo o que precisamos saber
a respeito de quem Deus é e da sua vontade para a humanidade e a
sua Igreja está na Bíblia. Ela é a nossa única regra de fé e prática.
Antes de haver uma prática, é necessário haver a crença correta
para que as nossas práticas sejam igualmente corretas. Todas as
promessas, profecias e mandamentos que devemos crer e seguir
estão na Bíblia, interpretados de maneira correta. Ela é nosso escudo
contra as heresias. Ela é essencial para o amadurecimento da nossa
fé e o desenvolvimento da nossa santidade.

Solus Christus (1 Tm 2:5). A salvação é somente através de Cristo.


Tudo deve ser dele, por Ele e para Ele (Rm 11:36). A nossa vida deve
estar alicerçada nele. Jesus deve ser o centro e o fim da nossa fé.
Tudo deve convergir para Ele.

Sola gratia (Ef 2:8,9). A salvação é somente pela graça de Deus,


independente das obras. Toda a obra da redenção do pecador
começa com Deus e se desenvolve nele. É Ele quem escolhe,
regenera, convence, dá a fé necessária para a salvação, produz o
arrependimento, converte, santifica e promove a perseverança na
salvação (Ef 1:3-14). A salvação é totalmente gratuita.
Sola fide (Rm 5:1; Hb 10:38,39). O justo vive por fé, isto é: é a fé que
justifica o pecador e o regenera para uma viva esperança em Cristo
(1 Pe 1:3,4). Estávamos mortos em nossos delitos e pecados, mas
Deus nos deu vida por meio da fé em Cristo (Ef 2:1-7). Não é
necessário pagar pela salvação nem é possível alcançá-la por nossos
próprios esforços. As nossas justiças diante de Deus são como trapo
de imundícia (Is 64:6).

Soli Deo gloria (Fp 4:20). Toda glória deve ser dada somente a Deus,
seja pelo fato de Ele ser o único Deus ou pelas questões referentes à
salvação do pecador. Isto é: a salvação não é fruto de nenhum
esforço humano, mas exclusivamente do agir de Deus. Além disso,
Deus deve ser em tudo glorificado na vida do cristão individualmente
e da Igreja (1 Co 10:31). Devemos amar a Deus acima de tudo e de
todos (Mt 22:34-40) e buscar o seu Reino em primeiro lugar (Mt
6:33). A conduta do cristão deve levar os homens a glorificar a Deus
(Mt 5:16).

Assim, Toda a nossa vida e a nossa pregação estarão


totalmente baseadas na Bíblia. Não devemos nos dobrar diante
dos modismos teológicos. Não somos obrigados a crer em nada
que não se possa comprovar biblicamente, mesmo em certos
milagres. O nosso compromisso é com a pregação, o ensino e a
defesa da verdadeira fé cristã. Nossa mensagem é a cruz e
nosso alvo é Jesus. Precisamos, como crentes sinceros,
combater tenazmente a Teologia da Prosperidade e suas
heresias: objetos ungidos, ações proféticas, Confissão Positiva,
quebras de maldição, cultos de cura e libertação, novas
revelações, diversas unções. Se cremos no verdadeiro poder da
fé, pregaremos uma fé prática, que vai além da teoria e se faz
real na vida cotidiana da Igreja. Defenderemos um cristianismo
transformador, comprometido com os valores do Reino de
Deus, com o amor ao próximo e com a responsabilidade social.
A nossa mensagem não deve ser para agradar ninguém nem
para satisfazer as ambições dos ouvintes. Nossa fé deve estar
alicerçada no Evangelho da cruz, na mensagem da salvação, que nem
sempre agradam aos ouvidos, mas que trazem glórias a Deus. O
nosso objetivo é realmente incomodar, confrontar e levar os crentes
à ação e o pecador ao arrependimento e à conversão. Este é o
verdadeiro poder da fé, um poder que nos abençoa e que, acima de
tudo, glorifica o Nome do Senhor Jesus.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo:
Vida Nova, 1992.

MACARTHUR, Jhon. Manual bíblico MacArthur. Rio de Janeiro:


Thomas Nelson, 2015.

MORELAND, J. P. Filosofia e cosmovisão cristã. São Paulo: Vida


Nova, 2005.
MIZAEL DE SOUZA XAVIER

Olá! Sou o Mizael Xavier, poeta e escritor. Tenho 51 anos de idade.


Comecei a escrever poemas aos 12 anos, quando eu e meu irmão
sonhávamos montar uma banda de Rock; os meus poemas seriam as
letras das nossas músicas. Sou natural da cidade de Petrópolis, RJ, e
resido no Rio Grande do Norte há 28 anos. Sou cristão reformado,
divorciado, conservador, pai de Thiago e Milena. Possuo inúmeros
artigos publicados em jornais de Natal. Realizei vários trabalhos
como ator, diretor e multiplicador de Teatro do Oprimido. Além de
escrever, sou ensaísta e teólogo. Em 2013, formei-me em Gestão de
Recursos Humanos pela Universidade Potiguar. Sou autor dos livros
físicos “Eu te amo” (poesia), “Memórias do Silêncio”
(autobiografia/Bullying) e “Até onde o amor pode alcançar”
(poesias). Participei de duas antologias da editora Lírio Negro
(Brasilidade em Versos e Fragmentos de almas eternizadas), e da
antologia ¨Poemas do coração V: Em busca da Paz”, da editora
Antologias Brasil. Além disso, possuo mais de 70 e-Books publicados
na Amazon. No Facebook, criei e administro os grupos “Receita de
amor” e “Pássaros feridos”, além das páginas “frases.sem.fim” e
“Escritor Mizael Xavier”. Sou membro da ALIPE, ocupando a cadeira
125, tendo com patrono Júlio Verne. Sou membro da Igreja Batista.

REDES SOCIAIS

Blog de poesias: www.escrevicomavida.blogspot.com


Blog de estudos: www.pregandoaverdadeirafe.blogspot.com
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Amazon e projetos em andamento

Espiritualidade

A graça de ofertar: ofertando a Deus com amor

A marca da Igreja: as características bíblicas da verdadeira Igreja de


Cristo

A ovelha peregrina: o Salmo 23 e a salvação

A vitória de Deus nas tribulações

Alcançado pela graça: a conversão do apóstolo Paulo

Batalha Espiritual: uma luta em defesa da verdade

Caminhando sobre as águas: os 11 momentos cruciais da vitória


cristã

Cinco evidências de que você precisa de salvação

Como saber a vontade de Deus para nós: estudo + 16 princípios


bíblicos para conhecer e praticar a vontade de Deus

Corpo e espiritualidade: glorificando a Deus através do nosso corpo

Curso de formação de evangelistas em quatro módulos, vol. único

Dê um UPGRADE na sua fé: o Programa 5S da Qualidade Total


aplicado à vida espiritual cristã

Desafio Diário: devocional com mensagens para cada dia do ano

Educação cristã de filhos: comunicação e estímulos na educação dos


filhos

Espiritualidade líquida: caminhos e descaminhos da espiritualidade


cristã

Eu e a minha casa serviremos ao Senhor: um breve estudo sobre


Josué 24:14-25 para os lares cristãos

Faça a escolha certa: aprenda a tomar decisões segundo a vontade


de Deus
Idolatria e Batalha Espiritual

Igrejados: 70 razões e desculpas para a evasão nas igrejas cristãs


(análises e orientações pastorais, evangelísticas e apologéticas)

Integridade cristã: buscar o equilíbrio ou viver a verdade?

Mais que vencedores: três estudos para edificar a nossa fé

Manual do obreiro aprovado: ações estratégicas de separação,


capacitação, treinamento, envio e manutenção de obreiros

O Deus desconhecido: um estudo sobre Atos 17:15-34

O poder da oração: aprenda os segredos da oração que move


montanhas

O poder da fé: um estudo sobre a fé genuinamente bíblica

Os sete barcos de Deus: sete mensagens para edificar a sua fé

Os sete hábitos da espiritualidade biblicamente eficaz

Pai Nosso, uma oração com a vida: aprenda os segredos da oração


mais conhecida dos cristãos

Palavras inspiradoras, vol. 1: amor e relações interpessoais

Palavras inspiradoras, vol. 2: motivação, superação e vitória

Palavras inspiradoras, vol. 3: Deus, fé e espiritualidade

Palavras inspiradoras, vol. único: Deus, fé, espiritualidade,


motivação, superação, vitória, amor e relações interpessoais

Papai Noel: a verdadeira história jamais contada

Por uma Igreja pensante: a crise da razão bíblica e a importância da


fé racional e inteligente

Mariologia

Desvendando o segredo de Maria, vol. 1

Eu sou a número quatro: semelhanças entre Maria e a Trindade nas


obras de Ligório, Montfort, Roschini, João Paulo II, no Vaticano II e
outros escritores marianos
Idolatria e Batalha Espiritual

Maria e a vontade de Deus para nós: um estudo sobre a Anunciação

Geral

As feias que me perdoem: quatro textos e um poema sobre ser feio e


o que é fundamental

Assédio moral no trabalho; análises e ações estratégicas de gestão de


pessoas

Comunicação empresarial: problemas e soluções

Gestão com pessoas: breves estudos

Memórias do silêncio: relatos e reflexões de uma ex-vítima do


bullying

Ninguém morre de amor: como superar a desilusão amorosa, ser


uma pessoa realizada e feliz e viver um novo amor

O poder da oratória: a arte de se expressar, convencer e liderar

Os males do alcoolismo e como Jesus pode te libertar

Poesia romântica

120 frases e poemas para conquistar o seu crush

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120 frases e poemas para você declarar o seu amor

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1000 Quadras de amor: centenas de quadras que falam tudo sobre o


que é o amor e o amar

Amor nos anos 80: coletânea de poemas para ler escutando músicas
internacionais dos anos de 1980 (com indicações de músicas para
cada poema)

Ápice do amor: poemas transbordantes


Até onde o amor pode alcançar: textos e poemas de amor

Carta de amor: poemas de amor e de adeus

Chão estrelado: poemas de amor, de muito amor

Coração paralelo e outros poemas de amor

Em caso de amor, abra o livro: poemas

Entre flores e mel: poemas e frases de um amor verdadeiro

Eu te amei desde a primeira vez em que te vi: poemas de amor

Eu te amo: poemas de amor

Flor de cerejeira e outros lindos poemas de amor

Não haverá última canção para o amor: poemas de amor

Para sempre e mais além: poemas de amor

Poemas românticos demais para serem lidos com o coração:


antologia romântica

Receita de amor: poemas

Retalhos da minha vida: antologia

Poesia geral

A face do homem abstrato: poemas sobre os muitos eus em mim

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Bomba de efeito moral e outros poemas altamente explosivos

Escrevi com a vida: poemas sobre Deus, sobre mim, sobre tudo

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Eu não devia ter escrito este livro: poemas góticos e outros temas

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O recolhedor de palavras: poemas estranhos demais para serem lidos

O saxofonista e outros personagens em histórias rimadas

Vidas em preto e branco: poemas sobre a vida, a morte e a morte em


vida

Poesia cristã

Aos teus pés: poemas cristãos para a glória de Deus

Oceano: poemas cristãos

Infanto-juvenil

60 poemas para ler na escola: poemas para fazer pensar

A bruxa Jezabel: um conto sobre o poder do perdão

A floresta do desassossego

Cordel vencendo o Bullying

Mata essa barata: pequena história rimada

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O Cravo e a Rosa (ei, e eu, a Margarida!): baseada em uma canção


infantil

Poemas para crianças de todas as idades

Contos

A floresta do desassossego: às vezes o passado volta, às vezes ele


nunca passou

A palhaça gorda e outros microcontos

Eu matei meu pai: um microconto sobre o desespero e a redenção

No meio das pedras tinha um caminho: uma pequena aventura na


fazenda, uma grande lição de vida

O nevoeiro: poema-conto
Teatro

Peça teatral “Se Jesus não tivesse vindo: para igrejas, evangelistas e
missionários”

Peça teatral “Se Jesus não tivesse vindo: versão para o Natal”

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS DO ESCRITOR MIZAEL XAVIER

Espiritualidade

A Queda: as consequências do pecado original e a graça abubdante

Asas de águia: o poder de Deus na resiliência cristã

BOPE: Batalhão de Operações Piromaníacas Espirituais

Eu profetizo: verdades e mentiras sobre o “profetizar bênçãos”

Evangelho segundo Mateus: série Mensagens e Reflexões

Imitação de Deus: como nos tornarmos imitadores de Deus

Inteligência espiritual: vivendo uma espiritualidade inteligente e


prática

João 3:16: uma pergunta e muitas certezas

Não toquem no ungido do Senhor: uma palavra sobre o autoritarismo


pastoral

O poder da expansão: supere os seus limites e cresça

O poder do tempo: princípios bíblicos para a administração do tempo

O toque da graça e outros textos para a edificação da nossa fé.

Os leões e a fornalha: o que Daniel e seus amigos têm a nos ensinar


sobre a verdadeira fé?

Quem é você? O autoconhecimento cristão

Seitas e heresias: manual de combate


Um milagre por dia: o comum, o extraordinário e o poder de Deus em
cada um

Mariologia

Desvendando o segredo de Maria

A medalha milagrosa

A tentação de Maria

Série Catolicismo Romano: doutrinas e refutações

Celibato

A salvação na Igreja Católica

Infalibilidade do Papa

Tradição e Magistério da Igreja

Purgatório

Série Bullying

Bullying: o que é? Conheça o problema, os personagens e os tipos de


agressão

Bullying: estratégias de superação pessoal

Contos

Histórias de desencantado, o príncipe que não sabia amar (poemas-


contos)

Geral

O caminho do sucesso

Manual prático do agente de portaria: atribuições, procedimentos,


comportamento e segurança
Coleção: poesia na escola

Vol. 1: 50 poemas para ler na escola

Vol. 2: Brincadeiras de criança

Vol. 3: Muito mais que a realidade

Vol. 4: É preciso falar de amor

Vol. 5: Ao Mestre dos mestres

Vol. 6: Histórias rimadas

Série liderança cristã

O líder cristão

A essência do líder cristão

O líder eficaz

Liderança e motivação

Liderança e trabalho em equipe

Liderança e planejamento estratégico

A liderança de Neemias

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