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Formação em Teologia

Volume 05

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Formação em Teologia

Vida cristã – fé em Cristo (parte 2)


No capítulo anterior, vimos que a vida cristã tem seu início na conversão. Por
mais que seja um evento pontual dentro de uma trajetória longa de vida, é de suma
importância. A conversão diz respeito à mudança de natureza de alguém e essa
mudança não é material ou biológica, mas espiritual. Quando Jesus disse que veio
para dar vida (João 10:10), Ele se referia à vida eterna, que transcende nosso corpo
de carne e osso e nossa própria mortalidade. Por ser um aspecto distante de nossa
realidade cotidiana, pouco a pouco acabamos deixando de lado esse aspecto da
conversão. Por isso a ação do Espírito Santo é tão importante, é Ele quem nos
ministra a natureza da conversão e nos aproxima dessa nova natureza. A partir de
agora vamos tratar detalhadamente da conversão e os sinais que a identificam.

I Conversão
Conversão está ligada, acima de tudo, com direção. Uma pessoa nasce,
cresce, e aprende, a partir da própria intuição e do ambiente no qual vive, a ser
humana. Ela tem um curso a seguir, e fica nesse curso até se deparar com a
Verdade, a qual tem o potencial de fazê-la mudar completamente o curso. A
conversão é o ato de decidir mudar a rota, quando confrontado com a verdade
única, na pessoa de Cristo e na verdade do seu amor e sacrifício. No momento da
conversão, há uma alteração no percurso e a própria Bíblia usa a imagem de uma
caminhada para exemplificar essa realidade:

“Portanto, vede como andais...” (Efésios 5:15)

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Tendo em vista que a conversão é uma completa mudança de rota, e


também uma transformação da natureza humana, é evidente que esse evento será
acompanhado de sinais que o caracterizam. Destacamos dois nos próximos tópicos
a fim de buscar uma explicação que sirva de ponto de referência para esse caminho
novo.

II Fé em Jesus
Na vida de fé existe uma questão que somente pode ser resolvida através do
conhecimento da Palavra, a fim de que tenhamos paz na alma pela confiança em
Jesus, é necessário conhecê-lo para confiar, e Ele se revela em seu Evangelho.
Todavia, também é necessário ampliar o conceito de fé, e para isso, vamos buscar
um ponto de vista teológico, porque a fé não é somente crer que Jesus morreu por
nós, mas a fé também passa pelo processo de conversão para se tornar mais
robusta e passar a ser o ato de confiar. Crer sem confiar é o risco de ter uma vida
cristã teórica e não experienciar a cristandade na prática, que é a fé viva, em
contínuo movimento e progressivo crescimento.
Na tradição judaico-cristã, a noção de confiar se traduz no ato do descanso.
É como jogar-se sobre a cama após um árduo dia de trabalho, sabendo que há
tempo e possibilidade de dormir em paz pois alguém cuida de tudo enquanto se
repousa. A fé em Deus é pacificadora. A fé é capaz de crescer no coração de toda
pessoa convertida, mas em quais situações a confiança se desenvolve? O apóstolo
Paulo ajuda a responder essa questão:

“Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e
nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também
nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a
paciência a experiência, e a experiência a esperança.” (Romanos 5: 2-4)

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Nessa passagem inspiradora, o apóstolo admite que somente por meio de


lutas é que a fé é trabalhada no coração do cristão, o que faz sentido, pois a
necessidade de confiar em Deus surge diante de incertezas e dificuldades, não
fosse assim, não haveria motivo para desenvolver a confiança. Sendo assim, a
esperança e a confiança não são meramente de que tudo vai dar certo, mas no
amor de Deus, independente do final, no amor de Deus. É isto que nos faz filhos de
Deus – confiamos em quem conhecemos, conhecemos em quem temos crido, e
normalmente, a pessoa em quem mais cremos é aquela de quem “nascemos”.

“E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em


nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Romanos 5:5)

“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus,
aos que crêem no seu nome.’’ (João 1:12)

I Arrependimento
Arrependimento significa, recorrendo ao idioma original bíblico, neste caso o
grego, é possível chegar ao nível profundo da mensagem do arrependimento. A
palavra empregada é “metanoia”:

● Meta: transformação, mudança.

● Noia: mentalidade, pensamento, entendimento.

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Portanto, pensar que arrependimento é sinônimo de remorso reduz


drasticamente o sentido. Como se vê, os pensamentos são maiores que os
sentimentos, assim como a transformação vem pela renovação da mente (Romanos
12:2). De fato, é da mudança dos pensamentos que virão novos sentimentos e novas
atitudes. Mudar o pensamento é atacar o pecado pela raiz. A transformação radical
da mente é o caminho para a transformação da vida. Lembre-se que a caminhada
cristã sempre implica mudança de vida. Metanoia é uma marca da conversão:

“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela
renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável, e perfeita vontade de Deus.’’ Devemos transformar nosso
entendimento.” (Romanos 12:2)

“Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho


homem, que se corrompe por desejos enganosos…’’ (Efésios 2: 22)

Note que o comportamento cristão, conduzido pelos princípios de Deus, é o


maior efeito social da conversão. Uma pessoa que se converte e continua vivendo a
conversão, ou seja, uma vida de fé em Cristo e de arrependimento, passa
inevitavelmente a caminhar na medida da perfeição de Cristo, em outras palavras,
começa a demonstrar, a partir de suas (re)ações, decisões e padrão de
comportamento, o Espírito Santo que habita em si, refletindo o caráter de Cristo.
Por fim, é preciso ressaltar o lugar do homem e o lugar de Deus na
conversão, devemos ter cuidado para não gerar confusões. Não é o arrependimento
do pecado que gera salvação e fé em Cristo, mas é a fé que gera o arrependimento.
O homem não é capaz de produzir arrependimento (metanoia) por conta própria,
ele depende da fé que é dada somente por Deus.

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Enfatizamos que o arrependimento, para ser genuíno, deve ser contínuo,


pois o homem sempre possui dois caminhos à frente: seguir a Cristo ou não seguir.
Se optar por não seguir, ele volta ao seu caminho prévio, onde não havia espaço
para arrependimento. A fim de continuar andando no caminho de Cristo, deve
continuamente se arrepender porque conversão não é um ato, mas sim, um
processo diário.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de
Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8,9)

Bibliografia sugerida:
SINGER, Peter. Vida ética
LEWIS, C.S. Ética para viver melhor

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