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Oi, estou lendo "Compêndio de Teologia Ascética e Mística (com notas): Como

Progredir na Vida Espiritual" de Adolphe Tanquerey, Dalton César Zimmermann e quis


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"CAPÍTULO III – AS VIRTUDES TEOLOGAIS


1167.    1º - São Paulo menciona as três virtudes teologais. Considera-as um conjunto
de três elementos essenciais da vida cristã e destaca sua superioridade sobre as
virtudes morais.[665] Assim, exorta os tessalonicenses a revestirem-se com a couraça
da fé e da caridade, com o capacete da esperança (I Ts 5, 8), e louva-os pelas obras
de fé, os sacrifícios da caridade e pela firmeza da esperança (I Ts 1, 3). Ao contrário
dos carismas que passam, a fé, a esperança e a caridade permanecem (I Cor 13, 13).
1168.    2º - A função delas é unir-nos a Deus por Jesus Cristo, para fazer-nos
participar da vida divina. Assim, são ao mesmo tempo unificadoras e transformadoras.
a)    A fé nos une a Deus, verdade infinita, e põe-nos em comunhão com o
pensamento divino, porque através dela conhecemos a Deus como ele se revelou.
Com isso, prepara-nos para a visão beatífica.
b)    A esperança nos une a Deus, beatitude suprema, e faz-nos amá-lo como bom
para nós. Por meio dela esperamos firme e seguramente a felicidade do céu e também
os meios necessários para alcançá-la; por meio dela preparamo-nos desde já para a
plena posse da bem-aventurança eterna.
c)    A caridade nos une a Deus, bondade infinita, faz-nos amá-lo como infinitamente
bom e amável em si mesmo e estabelece entre Ele e nós uma santa amizade, que nos
faz viver, desde já, da própria vida divina, porque começamos a amá-lo como ele
mesmo se ama.
Esta última virtude teologal, na terra, sempre encerra as duas outras. De algum modo
podemos dizer que ela é a alma, a forma ou a vida da fé e da esperança, sendo que
estas, sem a caridade, são imperfeitas, informes e mortas. Conforme São Paulo, a fé
não é completa se não for manifestada pelo amor e pelas boas obras: “a fé que opera
pela caridade” (Gl 5, 6). A esperança é perfeita somente quando nos dá um antegozo
da bem-aventurança celeste pela posse da graça santificante e da caridade.
Art. I – A VIRTUDE DA FÉ[666]
Vamos expor: 1º - Sua natureza; 2º - Sua função santificadora; 3º - Seu exercício
progressivo.
I.I – NATUREZA DA FÉ
Recordaremos resumidamente aqui o que expusemos em nossa Teologia Dogmática
e Moral.
1169.    1º - Seu significado na Sagrada Escritura. A palavra fé significa quase sempre
uma adesão do intelecto à verdade, fundamentada na confiança. Para crer em alguém
é necessário ter confiança nele.
A)    No Antigo Testamento apresenta-se a fé como uma virtude essencial, da qual
depende a salvação ou a ruína do povo: “Ponde vossa confiança no Senhor e estareis
seguros” (II Cr 20, 20) e “Se não o crerdes, não subsistireis” (Is 7, 9). Essa fé é um
assentimento à palavra de Deus, acompanhada de confiança, abandono e amor. B)   
No Novo Testamento a fé é tão essencial que crer é professar o cristianismo e, não
crer, é não ser cristão: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será
condenado” (Mc 16, 16). A fé é a aceitação do Evangelho pregado por Jesus Cristo e
seus Apóstolos, que pressupõe a pregação: “a fé provém da pregação” (Rm 10, 17).
Portanto, a fé não é uma intuição do coração, nem uma visão direta: “vemos como por
um espelho, confusamente” (I Cor 13, 12); é uma adesão, livre e esclarecida, a um
testemunho divino, posto que, por um lado, o homem pode negar-se a crer e, por
outro, não crê sem motivos, sem a convicção interior da revelação de Deus (Fl 3, 8 –
10; I Pe 3, 15). Essa fé é acompanhada pela esperança e aperfeiçoada pela caridade:
“fé que opera pela caridade” (Gl 5, 6).
1170.    2º - Definição. A fé é uma virtude teologal que inclina o nosso intelecto, sob o
influxo da vontade e da graça, a dar firme assentimento às verdades reveladas, por
causa da autoridade de Deus.
A)    Antes de tudo é um ato do intelecto, pois trata-se de conhecer uma verdade.
Todavia, como esta verdade não é intrinsicamente evidente, a adesão não pode ser
feita sem o influxo da vontade, que requer que o intelecto estude as razões de crer e,
quando estas são convincentes, manda-o dar assentimento. Como se trata de um ato
sobrenatural, é preciso que a graça intervenha, tanto para iluminar o intelecto como
para ajudar a vontade. Por essas razões, a fé é um ato livre, sobrenatural e meritório.
B)    O objeto material de nossa fé é o conjunto das verdades reveladas, tanto aquelas
que a razão jamais poderá desvendar, com as que pode alcançar, mas que
compreende melhor pela fé. Todas essas verdades se agrupam em torno de Deus e
de Jesus Cristo; de Deus na Unidade de sua natureza e na Trindade de suas pessoas,
nosso primeiro princípio e último fim; de Jesus Cristo, nosso redentor e mediador,
Filho do Deus eterno, feito homem para nos salvar e que, por conseguinte, levou a
termo a obra redentora e tudo o que a ela se refere. Em outras palavras, cremos no
que um dia veremos no céu: “a vida eterna consiste em que conheçam a ti, um só
Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste” (Jo 17, 3). 1171.   
C) O objeto formal, ou o que normalmente se chama motivo de nossa fé, é a
autoridade divina, manifestada pela revelação que nos comunica alguns segredos de
Deus. Portanto, a fé é uma virtude inteiramente sobrenatural, tanto em seu objeto
como em seu motivo, que nos faz entrar em comunhão com o pensamento divino.
D)    Muitas vezes a verdade revelada nos é proposta autenticamente pela Igreja,
instituída por Jesus Cristo como intérprete oficial de sua doutrina. Assim proposta, a
verdade é dita de fé católica. Quando não há decisão autêntica sobre uma verdade
revelada, chama-se simplesmente fé divina.
E)    Não há adesão tão firme quanto a da fé: tendo plena confiança na autoridade
divina, muito mais que em nossas próprias luzes, com toda a nossa alma cremos na
verdade revelada. E a segurança com que o fazemos aumenta na proporção com que
a graça fortalece e facilita nosso assentimento. Por essa razão o assentimento à fé é
mais vivo e firme que a adesão às verdades racionais.
I.II – FUNÇÃO SATIFICADORA DA FÉ
1172.    A fé, assim compreendida, evidentemente exerce um papel muito importante
na nossa santificação, pois, ao fazer-nos participantes do pensamento divino, torna-se
a base da vida sobrenatural, unindo-nos muito intimamente a Deus.
1173.    1º - Ela é a base de nossa vida sobrenatural. Já dissemos que a humildade é
tida como o fundamento das demais virtudes e também como essa afirmação deve ser
entendida (nº 1138). Todavia, a fé é o fundamento da humildade, que, conforme
dissemos, os pagãos não conheceram. Assim, de modo ainda mais profundo, a fé é o
fundamento de todas as virtudes. Para melhor compreensão, devemos somente
comentar as palavras do Concílio de Trento que afirma que “a fé é o princípio, o
fundamento e a raiz da justificação”[667] e, por conseguinte, da santificação.
A)    É o princípio da salvação porque é o meio misterioso utilizado por Deus para nos
iniciar em sua vida, fazendo-nos conhecê-lo do modo como Ele se conhece a Si
mesmo. De nossa parte, é a primeira disposição sobrenatural, sem a qual não
podemos, nem esperar, nem amar. É, por assim dizer, a tomada de posse de Deus e
das coisas divinas. Para alcançar o sobrenatural e vivê-lo, primeiramente é necessário
conhecê-lo: “ninguém deseja o que não conhece”. Esse conhecimento nos vem pela
fé, luz sobrenatural que se junta à razão e que nos permite penetrar num mundo novo,
o mundo sobrenatural. É como um telescópio que permite enxergar coisas distantes
que não podemos ver a olho nu. Todavia, essa comparação é imperfeita porque o
telescópio é um instrumento de uso externo, enquanto a fé penetra no mais profundo
de nossa inteligência, aumentando-lhe a acuidade e o campo de ação.
1174.    B)  Ela também é o fundamento da vida espiritual. A santidade é comparável a
um edifício, muito grande e alto, do qual a fé é o fundamento. Destarte, quanto mais
amplos e profundos forem os alicerces, mais alto poderá ser o edifício, sem perder sua
solidez. Portanto, é muito importante fortalecer a fé das pessoas piedosas,
especialmente dos seminaristas e dos sacerdotes, para que sobre esse fundamento
inabalável possa elevar-se o templo da perfeição cristã.
C)    Por fim, ela é a raiz da santidade. As raízes buscam no solo os nutrientes
necessários para o sustento e crescimento da árvore. Da mesma forma a fé, infiltrando
suas raízes no mais profundo da alma e nutrindo-se ali das verdades divinas, fornece
um rico alimento para a perfeição. Quando as raízes são profundas, dão também
firmeza à árvore que sustentam. Assim, a alma confirmada na fé resiste às
tempestades espirituais. Portanto, nada mais importante para alcançar uma perfeição
elevada que possuir uma fé profunda.
1175.    2º - A fé une-nos a Deus e faz-nos participar do seu conhecimento e do seu
viver. Trata-se do conhecimento com que Deus se conhece, comunicado ao homem
de forma parcial. Diz Mons. Gay:[668] “Por meio da fé a luz de Deus faz-se nossa luz;
sua sabedoria, nossa sabedoria; seu espírito; nosso espírito; sua vida, nossa vida.” Ela
une diretamente nosso intelecto com a sabedoria divina. Todavia, como não podemos
realizar nenhum ato de fé sem intervenção da vontade, esta tem sua parcela nos
felizes efeitos que a fé produz em nossa alma. Assim, podemos dizer que a fé é fonte
de luz para o entendimento, força e consolação para a vontade, e princípio de méritos
para toda a alma.
1176.    A) É uma luz que ilumina nosso entendimento e distingue o cristão do filósofo,
assim como a razão distingue o homem do animal. Há em nós três ordens de
conhecimento: o sensível, que ocorre pelos sentidos; o racional, que adquirimos por
meio do entendimento; o espiritual, ou sobrenatural, que adquirimos por meio da fé.
Este último é muito superior aos outros dois.
a)    A fé amplia o alcance de nossos conhecimentos sobre Deus e as coisas divinas:
através da razão conhecemos muito pouco da natureza de Deus e de sua vida íntima;
pela fé conhecemos que nosso Deus é um Deus vivo, que desde toda eternidade gera
um Filho e que do amor mútuo do Pai e do Filho procede uma terceira pessoa, o
Espírito Santo; que o Filho se fez homem para salvar-nos e que os que nele creem
tornam-se filhos adotivos de Deus; que o Espírito Santo vem habitar em nossas almas,
santificá-las e dotá-las de um organismo sobrenatural, com o qual podemos praticar
atos deiformes e meritórios. Tudo isso é apenas uma parte das revelações que nos
foram feitas.
b)    A fé nos ajuda a aprofundar as verdades já conhecidas pela razão. Por isso, há
muito maior precisão e perfeição na moral evangélica em comparação com a moral
natural. Quando relemos o Sermão da Montanha verificamos: desde o princípio Nosso
Senhor ousa proclamar bem-aventurados os pobres, os mansos e os perseguidos;
manda que seus discípulos amem os seus inimigos, orem por eles e façam-lhes o
bem. A santidade que prega não é uma santidade legal ou exterior, mas interior,
baseada no amor de Deus e do próximo por Deus. Para estimular nosso ardor,
propõe-nos o ideal mais perfeito: Deus e suas perfeições. Mas como Deus parece
estar longe de nós, seu Filho desce do céu, faz-se homem e, vivendo entre nós,
oferece-nos um exemplo concreto da vida perfeita que devemos levar na terra. Para
dar-nos a força e a constância necessárias para tal empreendimento, não se contenta
em caminhar à nossa frente, mas ele mesmo vem viver dentro de nós com sua graça e
suas virtudes. Portanto, a nossa fraqueza não serve como desculpa; Ele mesmo é a
nossa força e nossa luz.
1177.    B) A Epístola aos Hebreus, no capítulo XI, mostra excelentemente que a fé é
um princípio de força. De fato, a fé nos dá convicções profundas que fortalecem
significativamente a vontade:
a)    Mostra-nos o que Deus fez e continua a fazer por nós, como vive e opera em
nossa alma para santificá-la; como Jesus nos incorpora a ele e faz-nos participantes
de sua própria vida (nº 188 - 189). Então, com os olhos fixos no autor de nossa fé, que
preferiu a cruz e as humilhações em vez do gozo e da fama (Hb 12, 2), sentimo-nos
corajosos para levar a nossa cruz depois de Jesus.
b)    Põe continuamente diante de nossos olhos a eterna recompensa que será o fruto
dos sofrimentos temporais: “A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos
proporciona um peso eterno de glória incomensurável” (II Cor 4, 17). Podemos dizer
como São Paulo: “Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm
proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8, 18).
Como ele, até nos regozijamos com nossas próprias tribulações (Rm 5, 3 – 5), porque
cada uma delas, pacientemente suportada, proporcionará um grau a mais de
contemplação e de amor de Deus.
c)    Se algumas vezes sentimos a nossa fraqueza, a fé nos lembra que Deus é a
nossa força e nosso apoio, que nada temos a temer, mesmo que o mundo e o
demônio unam-se contra nós: “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (I Jo
5, 4). Isso fica evidente na transformação maravilhosa que o Espírito Santo operou na
alma dos Apóstolos. A partir daquele instante, eles, antes tímidos e medrosos,
armados com a força de Deus, corajosamente vão ao encontro de provações de todos
os tipos, açoites, prisões, a própria morte, felizes por padecer em nome de Jesus:
“cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de
Jesus” (At 5, 41).
1178.    C) A fé também é uma fonte de consolação, não somente no meio das
tribulações e humilhações, mas também na dor da perda de pais e amigos. Não
somos daqueles que se entristecem sem esperança; sabemos que a morte é apenas
um sono, logo seguida pela ressurreição, e que trocamos uma residência temporária
por uma morada eterna.
O que mais nos consola é o dogma da comunhão dos santos. Enquanto não nos
reunirmos com aqueles que nos deixaram, permaneceremos intimamente unidos a
eles em Cristo Jesus. Rogamos para que o tempo deles no purgatório seja abreviado
e apressada a entrada no céu. Eles, por sua vez, tendo já certeza da própria salvação,
oram fervorosamente para que, um dia, nos juntemos a eles.
1179.    Por fim, é uma fonte de muitos méritos:
a) O ato de fé é em si mesmo muito meritório, porque submete à autoridade divina o
que de melhor possuímos, nosso entendimento e nossa vontade. Essa fé é ainda mais
meritória na medida em que hoje em dia está sujeita a numerosos ataques e, em
alguns países, os que a professam ficam expostos a ridicularizações e perseguições
ainda maiores.
b)    Além disso, é a fé que faz nossas outras obras serem meritórias, porque elas não
o podem ser sem uma intenção sobrenatural e sem ajuda da graça (nº 126, 239). A fé,
orientando nossa alma para Deus e para Nosso Senhor Jesus Cristo, permite-nos
fazer tudo com intenções sobrenaturais. Também é ela que, revelando a nossa
incapacidade e a onipotência divina, move-nos a rezar com fervor para obter a graça.
I.III – PRÁTICA DA VIRTUDE DA FÉ
1180.    Sendo a fé um dom de Deus e, ao mesmo tempo, uma livre adesão de nossa
alma, é evidente que para nela progredir é necessário oração e esforço pessoal. Essa
dupla influência tornará a fé mais esclarecida e simples, mais firme e ativa.
Aplicaremos esse princípio aos diferentes graus da vida espiritual.
1181.    1º - Os principiantes vão procurar fortalecer sua fé.
A)    Agradecerão a Deus por dom tão excelso, que é o fundamento de todos os
outros, e de toda a alma repetirão com São Paulo: “Graças sejam dadas a Deus pelo
seu dom inefável!” (II Cor 9, 15). Graças ainda maiores darão à medida que
perceberem a quantidade de incrédulos que os rodeiam. Pedirão a graça de conservar
tão precioso dom, apesar dos perigos que os cercam, e também pela conversão dos
infiéis, hereges e apóstatas.
1182.    B) Recitarão com humilde submissão e firme convicção os atos de fé, dizendo
com os Apóstolos: “Aumenta-nos a fé!” (Lc 19, 5). Mas à oração deverão agregar o
estudo ou a leitura de livros próprios para esclarecer e reforçar a fé. Em nossos
tempos lê-se muito, mas quão poucos, mesmo entre cristãos esclarecidos, leem livros
sérios de religião e piedade! Não é isto uma aberração? Quer-se saber tudo, exceto o
único necessário.
1183.    C) Evitarão tudo que possa perturbar desnecessariamente a fé: a) As leituras
imprudentes onde são atacadas, ridicularizadas ou postas em dúvida, as verdades da
fé.
A maior parte dos livros hoje publicados, não apenas os doutrinários, mas também os
romances e as peças teatrais, contém ataques, às vezes disfarçados, às vezes
abertos, contra a fé. Se não houver cuidado, pouco a pouco absorve-se o veneno da
incredulidade e perde-se no mínimo a pureza da fé, podendo-se chegar ao ponto em
que, abalados por dúvidas e hesitações, não se sabe como defender-se. Sobre essa
matéria deve-se observar as sábias disposições da Igreja, que compila um catálogo de
livros maus ou perigosos;[669]NT não se deve desprezá-lo sob pretexto de considerar-
se suficientemente imune a esse perigo. De fato, nunca somos: Balmes, de espírito
tão profundo e equilibrado, que tão habilmente defendeu a Igreja, forçado a ler livros
heréticos para refutá-los, dizia a seus amigos: “Sabeis quão arraigados estão em mim
os sentimentos e doutrinas ortodoxas. Pois bem, apesar disso, toda vez que leio um
livro proibido sempre sinto a necessidade de reavivar-me com a leitura da Bíblia, da
Imitação de Cristo, ou de Luis de Granada. O que acontecerá com essa juventude
insensata que se atreve a ler tudo sem qualquer precaução ou experiência? Só esse
pensamento já me aterroriza.” Obviamente o mesmo motivo deve levar-nos a fugir das
conversas com os descrentes ou das suas conferências.
b)    Deve-se também evitar aquele orgulho intelectual que quer rebaixar tudo ao nível
do próprio entendimento, aceitando apenas o que entende. Recordemos que acima de
nós há um Espírito infinitamente inteligente, que vê o que a nossa débil razão não
pode alcançar, e que nos faz grande honra ao manifestar o seu pensamento. A partir
do momento em que constatamos que Ele falou, a única atitude razoável é acolher
com gratidão essa luz adicional. Se nos curvamos diante de um gênio humano que se
digna dar-nos um pouco do seu conhecimento, com muito maior confiança devemos
nos curvar diante da Sabedoria infinita.
1184.    D) No que se refere às tentações contra a fé, deve-se distinguir aquelas que
são vagas das que têm um objeto específico.
a)    Quando são vagas, tais como esta: Quem sabe se tudo isso é verdade? Devem
ser repelidas como moscas indesejáveis.
1.    Estamos na posse da verdade, temos títulos fidedignos sobre ela: isso é
suficiente. 2.    Ademais, em outras ocasiões já vimos claramente que nossa fé se
apoiava em fundamentos sólidos, o que também é suficiente. Não podemos ficar a
cada dia suscitando dúvidas sobre coisas já comprovadas. Nas coisas da vida comum
não nos detemos nas dúvidas, nas ideias malucas que atravessam a nossa mente;
seguimos adiante e a certeza volta mais tarde.
3.    Por fim, outros, mais inteligentes que nós, creem nessas verdades e estão
convencidos de que estão bem comprovadas. Assim, submetemo-nos aos seus juízos,
muito mais sábios do que o daqueles extravagantes que sentem um prazer maligno de
se destacar por minar a base dos fundamentos da certeza. A essas razões de bom
senso, acrescente-se esta oração: “Creio! Vem em socorro à minha falta de fé!” (Mc 9,
24).
1185.    b) Se forem precisas e concentrarem-se em determinado ponto,
continuaremos a crer firmemente, pois estamos na posse da verdade. Porém, assim
que possível procuraremos esclarecer a dificuldade, seja através do estudo pessoal,
se tivermos o material necessário e a capacidade de compreendê-lo, seja consultando
alguém instruído, apto a ajudar-nos a resolver mais facilmente o caso. Destarte, se
juntamos a oração ao estudo, a docilidade com a pesquisa leal, geralmente não tarda
a solução.
Contudo, advirta-se que nem sempre essas ações removerão toda a dificuldade. Às
vezes há objeções históricas, críticas ou exegéticas, que somente podem ser
resolvidas por longos anos de estudo. Ademais, quando uma verdade já está provada
com bons e sólidos argumentos, a prudência exige dar-lhe adesão até que a luz
dissipe as nuvens: a dificuldade não destrói as evidências, somente revela a
debilidade de nosso entendimento.
1186.    2º - As almas adiantadas praticam não somente a fé, mas também o espírito
de fé, ou a vida de fé: “O justo viverá pela fé” (Rm 1, 17).
A)    Leem o Santo Evangelho com amor, felizes em seguir Nosso Senhor a cada
passo, saborear seus ensinamentos, admirar seus exemplos para imitá-los. Jesus
começa a ser o centro dos pensamentos: buscam-no nas leituras e trabalhos, desejam
conhecê-lo cada vez mais, para mais amá-lo.
1187.    B) Habituam-se a considerar e a julgar tudo sob o ponto de vista da fé: coisas,
pessoas e acontecimentos. 1) Veem a mão do Criador em todas as obras divinas e
“ouvem-nas” dizer: “Ele nos fez, e a Ele pertencemos” (Sl 99, 3). Assim, em toda parte
contemplam-no. 2) As pessoas que as rodeiam consideram como imagens de Deus,
filhas do mesmo Pai celestial e suas irmãs em Jesus Cristo. 3) Os acontecimentos,
que para os incrédulos são às vezes desconcertantes, são interpretados por eles à luz
deste grande princípio de que tudo é ordenado para os eleitos, que o bem e o mal são
distribuídos para a nossa salvação e perfeição.
1188.    C) Sobretudo, procuram agir em tudo conforme os princípios da fé: 1) Seus
juízos baseiam-se nas máximas do Evangelho e não nas do mundo. 2) Suas palavras
são inspiradas pelo espírito cristão e não pelo do mundo, pois são coerentes com os
seus juízos e, assim, triunfam sobre o respeito humano. 3) Suas ações tornam-se o
mais possível próximas das de Nosso Senhor, que é o seu modelo, não se deixando
arrastar pelos maus exemplos do mundo. Em suma, vivem a vida de fé.
1189.    D) Por fim, buscam propagar a fé, que os penetrou, para outros: 1) Por suas
orações, pedindo a Deus que envie obreiros apostólicos para trabalhar na
evangelização dos infiéis e dos hereges: “Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie
operários para sua messe” (Mt 9, 38); 2) Pelos seus exemplos, cumprindo as
obrigações do próprio estado, de tal maneira que quem os conhecem sintam-se
movidos a imitá-los; 3) Por suas palavras, confessando com simplicidade, sem
respeito humano, que encontram na fé as energias para fazer o bem e o consolo no
meio das tribulações; 4) Pelas suas obras, contribuindo com donativos e sacrifícios, e
ação pessoal, para educar moral e religiosamente o próximo.
3º - Os perfeitos, cultivando os dons da ciência e do entendimento, aperfeiçoam-se
ainda mais na fé, como exporemos ao tratar da via unitiva."

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