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Credo Apostólico

A resposta do homem a Deus


A amizade é uma via mão de dupla, ou seja, requer reciprocidade. Deus ama o homem, deste modo,
é necessário que o homem o ame de volta para que exista a amizade. A resposta do homem ao Deus
que fala é a obediência da fé, ou seja, ouvir com todo o coração, para além do sentido auditivo. A
obediência está no centro do Cristianismo e precisa ser entendida plenamente.
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Após Deus ter criado e falado com o homem, agora é o momento de o homem responder a Ele. É
nesse movimento de resposta do homem a Deus que se dá a chamada amizade. A Constituição
Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina ensina:
"Aprouve a Deus. na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o
mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo,
Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da
natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível
(cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr.
Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à
comunhão com Ele. Esta «economia» da revelação realiza-se por meio de ações e
palavras ìntimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por
Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades
significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o
mistério nelas contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a
respeito da salvação dos homens, manifesta-se-nos, por esta revelação, em Cristo, que é,
simultâneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação."

A amizade é uma via mão de dupla, requer reciprocidade. Deus ama o homem, portanto, é
necessário que o homem o ame de volta para que exista a amizade. A resposta do homem ao Deus
que fala é a obediência da fé, ou seja, ouvir com todo o coração, para além do sentido auditivo.
A obediência está no centro do Cristianismo e precisa ser entendida plenamente. São Paulo diz que
a fé nasce do escutar, pois ela é um escutar que diz ‘sim’, que aquiesce. É o caminho que Jesus veio
ensinar, viveu e morreu por ela. Os grandes santos viveram-na.
O Catecismo da Igreja Católica ensina sobre a obediência da fé dizendo:
"Obedecer (‘ob-audire’) na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto
que sua verdade é garantida por Deus, a própria Verdade. Desta obediência, Abrahão é o
modelo que a sagrada Escritura nos propõe, e a Virgem Maria, sua mais perfeita
realização." (144)

Obedecer, portanto, vem do verbo ouvir, mas é um ouvir mais profundo que o simples escutar,
requer o coração e vontade de quem se propõe a. O problema reside na dificuldade que o homem
encontra para pôr em prática essa forma total de ouvir. Sabendo disso, desde o início a Igreja quis
‘abrir os ouvidos’ de seus filhos e, já no ritual do Batismo o sacerdote repete o gesto de Jesus
narrado no Evangelho de São Marcos, capítulo 7, enfiando o dedo no ouvido da criança e dizendo
"Efatá" (abre-te). E, como narrado pelo evangelista: "... imediatamente, os ouvidos do homem se
abriram...". E ele pôde corresponder à amizade de Jesus. É isso que a Igreja quer fazer com seus
filhos.
O Catecismo cita dois grandes exemplos de obediência pela fé: Abraão, o pai de todos os crentes e
Maria, bem-aventurada a que acreditou. Quanto ao primeiro, ensina que:
"A Epístola aos Hebreus, no grande elogio à fé dos antepassados, insiste particulamente
na fé de Abraão: ‘foi pela fé que Abraão, respondendo ao chamado, obedeceu e partiu
para uma terra que devia receber como herança, e partiu sem saber para onde ia’. Pela
fé, vive como estrangeiro e como peregrino na Terra Prometida. Pela fé, Sara recebeu a
graça de conceber o filho da promessa. Pela fé, finalmente Abraão ofereceu seu unico
filho em sacrifício.
Abraão realiza, assim, a definição da fé dada pela Epístola aos Hebreus: ‘A fé é uma
posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se
vêem’. ‘Abraão creu em Deus, e isto lhe foi levado em conta da justiça’. Graças a esta
fé poderosa, Abraão tornou-se o pai de todos os que haveriam de crer.
O Antigo Testamento é rico em testemunhos desta fé. A Epístola aos Hebreus proclama
o elogio da fé exemplar dos antigos, que deram o seu testemunho. No entanto, ‘Deus
previa para nós algo melhor’: a graça de crer em seu Filho Jesus, o autor e realizador da
fé que leva à perfeição." (145-147)

Sobre Maria, "bem-aventurada a que acreditou", o mesmo Catecismo diz que:


"A Virgem realiza da maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o
anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que ‘nada é impossivel a
Deus’ e dando seu assentimento: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a
tua palavra’. Isabel a saudou: ‘Bem-aventurada a que acreditou, pois o que lhe foi dito
da parte do Senhor será cumprido’. É em virtude desta fé que todas as gerações a
proclamarão bem-aventurada.
Durante toda a sua vida e até sua última provação, quando Jesus, seu filho, morreu na
cruz, sua fé não vacilou. Maria não deixou de crer no cumprimento da Palavra de Deus.
Por isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé." (148-149)

Alguns podem se perguntar se não foi Jesus o maior exemplo de fé. A resposta é não, pois, embora
o corpo e a alma de Jesus tenham sido criados por Deus, é inadequado dizer que Jesus foi uma
criatura, pois Ele é também o Criador. Jesus também viveu a obediência, mas não é adequado dizer
que ele tinha fé, pois ele é objeto da fé. Os homens devem ter fé Nele. É por isso que Maria é o
ápice da fé.
O Catecismo diz que "...a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus; é, ao mesmo tempo e
inseparavelmente, o assentimento livre a toda verdade que Deus revelou" (150). Assim, crer em
Deus significa crer também naquilo que Ele revelou.
Significa também crer naquele que Ele enviou, ou seja, crer em Deus é crer em seu Filho bem-
amado. E, da mesma forma, é crer também no Espírito Santo, pois é Ele "... que revela aos homens
quem é Jesus...". Portanto, "a Igreja não cessa de confessar sua fé em um só Deus, Pai, Filho e
Espírito Santo" (152)
A virtude da fé é um virtude teologal, ou seja, ela é infundida no coração do homem pelo próprio
Deus. Desta forma, o homem é completamente dependente de Deus, podendo ser comparado até
mesmo a um mendigo. Até mesmo a fé que Deus espera que o homem lhe retribua é uma virtude
que deve ser recebida Dele. É por isso que o Catecismo elenca algumas caraterísticas da fé:
1. - a fé é uma graça, "é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele" (153);
2. - a fé é um ato humano, "na fé, a inteligência e a vontade humanas cooperam com a graça
divina: crer é um ato de inteligência que assente à verdade divina a mando da vontade
movida por Deus através da graça." (155);
3. - a fé está relacionada à inteligência, o homem crê "por causa da autoridade de Deus que
revela e que não pode enganar-se e nem enganar"; "o assentimento da fé não é de modo
algum um movimento cego do espírito" (156);
4. - a fé é certa, "mais certa que qualquer conhecimento humano porque se funda na própria
Palavra de Deus que não pode mentir. [...] as verdades reveladas podem parecer obscuras à
razão e à experiência humanas, mas a certeza dada pela luz divina é maior que a que é dada
pela luz da razão natural" (157);
5. - a fé procura compreender, "é característico da fé o crente desejar conhecer melhor
Aquele em quem pôs a sua fé e compreender melhor o que Ele revelou; um conhecimento
mais penetrante despertará por sua vez uma fé maior, cada vez mais ardente de amor"; "eu
creio para compreender, e compreendo melhor para crer (Santo Agostinho)" (158);
6. - a fé não se opõe à ciência, "portanto, se a pesquisa metódica, em todas as ciências
proceder de maneira verdadeiramente científica, segundo as leis morais, na realidade nunca
será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus"
(159).
A fé está relacionada com a inteligência, é preciso conhecer as razões para se crer, porém, a razão
não gera a fé. Ninguém pode ser constrangido a crer por nada nem por ninguém. A fé deve ser livre.
É por isso que Deus se esconde do homem, porque, caso se mostre, a liberdade humana cai por
terra. O homem deve amar a Deus livremente, por meio de um ato de fé. Desta maneira, é sempre
possível que não se creia - esta é a verdadeira liberdade. Diz o Catecismo:
"Com efeito, Cristo convidou à fé e à conversão, mas de modo algum coagiu. ‘Deu
testemunho da verdade, mas não quis impô-la força aos que a ela resistiam. Seu reino...
se estende graças ao amor com que Cristo, exaltado na cruz, atrai a si os homens." (160)

A fé é razoável, é inteligível, mas não é algo que se possa provar racionalmente, de forma apodítica,
irrefutável. Assim sendo, que cada um possa renovar seu ato de fé, conscientes de ser
imprescindível à dignidade humana "prestar, pela fé, à revelação de Deus plena adesão do intelecto
e da vontade e entrar, assim, em comunhão íntima" (155) com Deus.

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