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EM FOCO
Saúde sexual é o estado de bem estar físico, emocional, mental e social relacionado à
sexualidade; não se refere à mera ausência de doenças, disfunções ou enfermidades. A saúde
sexual exige uma abordagem respeitosa no que tange a sexualidade e relacionamentos sexuais,
assim como a possibilidade de ter experiências sexuais seguras e prazerosas, sem coerção,
discriminação ou violência. Para que a saúde seja atingida e mantida, os direitos sexuais de
todas a pessoas precisam ser respeitados, protegidos e cumpridos.” (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SÁUDE, 2006)
À medida em que cresce, o jovem deve poder libertar-se do fascínio pela anima,
exercido sobre ele pela mãe. Há, no entanto, exceções, especialmente no caso dos artistas, onde
o problema se coloca frequentemente de modo bastante diferente; o mesmo se dá com o
homossexualismo que em geral se caracteriza por uma identificação com a anima. Em vista da
conhecida frequência deste último fenômeno, concebê-lo como uma perversão patológica é
extremamente questionável. Segundo as descobertas da psicologia, trata-se mais de um
desligamento incompleto do arquétipo hermafrodita, unido à uma resistência expressa a
identificar-se com o papel de um ser sexual unilateral. (JUNG, [1936], 2014.)
O próprio deus Dionísio e Afrodite, segundo Eliade (1999 p.113), traz em suas
narrativas características andróginas: “Em Chipre, venerava-se uma Afrodite barbuda,
denominada Afrodito e, na Itália, uma Vênus calva. Quanto a Dionísio, era um ser
bissexuado por natureza.”
Os ritos de totalização pela androginia simbólica pode ser compreendido de
diversas formas, Eliade (1999, p.119) aponta como objetivo o sucesso de um começo,
tal como a primavera ou uma iniciação específica:
Vê-se, pois, que a esses ritos de totalização pela androginia simbólica ou pela orgia
podem ser atribuídos diversos valores. Mas todos eles são realizados quando se trata de garantir
o sucesso de um começo: começo da vida sexual e cultural representada pela iniciação, o Ano
Novo, a primavera, ou o “começo” representado por qualquer nova colheita. (ELIADE, 1999,
P.119)
Cristo, como hermafrodita e matéria prima é descrito por Jung em seu livro
Psicologia e Alquimia. São conceitos que retratam a visão do Self, que Jung distingue
do conceito de ego, em nota de rodapé, neste citado livro:
Muito embora eu tenha insistido, a cada situação que se apresenta, o conceito do si-
mesmo, tal como o defini, não coincidi com o da personalidade empírica e consciente,
constantemente deparo o mal-entendido que quer que o “eu” coincida com o “si-mesmo”.
Devido ao fato de a personalidade humana ser fundamentalmente indefinível, o si-mesmo é um
conceito limite, expressando uma realidade ilimitada em si. (JUNG, [1943], 2021, P.374)
O ato de produzir a mulher tirando-a do seu próprio lado indica que Cristo era
concebido como Adam secundus (segundo Adão). O fato de Ele produzir mulher indica
que desempenha o papel de Deus criador de Gênesis. Do mesmo modo pelo qual o Adão
anterior à criação de Eva é tido em diversas tradições como bissexual, assim também nesse
contexto Cristo mostra sua androginia de forma drástica. Em geral, o Homem Primordial
é hermafrodita. Assim, na tradição védica ele também produz sua metade feminina e se
une à ela. (JUNG, [1950], 2021, p. 243)
Em seu significado funcional, o símbolo não aponta mais para trás, mas para a frente,
para uma meta ainda não atingida. Sem ater-nos à sua monstruosidade, o hermafrodita tornou-
se pouco a pouco, inequivocamente, um portador de cura, superador de conflitos, significado
que já alcançara em fases bem anteriores da cultura. (JUNG, [1940], 2014, p.176)
O pensador Daniel Mundukuru (2013, p.45) traz como o próprio Jung, uma
visão de superação em relação à possibilidade de aprendizado e sensibilidade para
formar um novo povo, o “povo arco-íris”, marco simbólico da bandeira LGBTQIA+,
idealizada por Gilbert Baker, apresentada ao mundo em 1978, com a inspiração dos
hippies, segundo Ferreira (2022, p.1): “Ele se inspirou nos hippies, que veem o arco-
íris como símbolo da paz, e na música Over The Rainbow, que traz a mensagem: “além
do arco-íris existe um lugar muito bom”.
Todas essas profecias sempre estiveram escritas na memória desses povos milenares.
Menciona-se nelas, inclusive, uma nova modalidade de amigos dos “homens vermelhos”
(como são chamados os nativos norte-americanos). A profecia refere-se às pessoas que não
nasceriam “vermelhos”, mas com a alma dos “homens vermelhos” e que trariam em si a
possibilidade do aprendizado, a sensibilidade para construir um povo novo. Eles seriam o
“povo do arco-íris”, cuja história já começou. (MUNDUKURU, 2013, P. 45)
“[...] quando me assumi trans foi uma segunda “saída do armário”, porque o
meu entendimento de identidade de gênero veio depois da descoberta da sexualidade.
Não foi fácil, foi uma dupla batalha, embora eu acredite que a diversidade sexual seja
mais aceita socialmente. Porém, quando assumi a decisão de transicionar, muito
daqueles com quem eu convivia fazia parte de alguma letra LGBTQIA+, e raras foram
as vezes que não sofri uma enxurrada de julgamento e questionamento deles, tendo
como enquete principal a seguinte pergunta: “mas precisa disso?” e respondia: “sim,
precisa!” (KHOURI, 2022)
No píncaro do monte mandou erguer uma pira e deitou-se sobre ela. Tudo pronto,
ordenou que se pusesse fogo na madeira (...). Esse fogo pode ser o símbolo de sua purificação,
despindo-se dessa vida e da túnica. Nossos heróis passam por esse fogo, a saída do armário
rumo à uma nova vida pode conter elementos simbolizados na túnica que está envenenada e
na tentativa de renascer, quem sabe pelo fogo. (BRANDÃO, 2007)
Passar pelo processo da saída do armário pode ser desafiador. Esse desafio é
arquetípico na medida em que se trata do convite singular à individuação: “Esse
processo corresponde ao decorrer natural de uma vida, em que o indivíduo se torna o
que sempre foi.” (Kast, 2022. p. 31)
Edinger (2020, p. 58) coloca a importância da aceitação no processo de
individuação, considerando o Si-mesmo como o órgão de aceitação por excelência:
O Si-mesmo, na qualidade de centro e totalidade da psique, capaz de conciliar todos
os opostos, pode ser considerado o órgão de aceitação par excellence. Como inclui a
totalidade, ele deve ser capaz de aceitar todos os elementos da vida psíquica, por mais
antitéticos que possam ser. O sentimento de ser aceito pelo Si-mesmo dá ao ego força
e estabilidade. Esse sentimento de aceitação é o veiculado para o ego através do eixo
ego-Si-mesmo. Um sintoma de danificação desse eixo é a falta de auto-aceitação. O
individuo sente que não merece viver ou ser o que é. A psicoterapia oferece à pessoa
que passa por isso uma oportunidade de enfrentar a aceitação. Em casos bem-
sucedidos, essa experiência pode equivaler a um reparo do eixo ego-Si-mesmo que
restabelece o contato com as fontes internas de força e de aceitação – o que deixa o
paciente livre para viver e crescer. (EDINGER, 2020, P. 58)
O sentimento de ser aceito pelo Si-mesmo dá ao ego estabilidade. Ser livre para
viver e crescer é algo valioso para todos, nesse caso a ênfase se dá ao paciente que vive
a sua revelação.
Quando Jung dala de anima e animus em termos de conteúdo – por exemplo, que a
anima personifica o eros e o animus o logos_, isso pode levar facilmente a conclusões
específicas de gênero se não separarmos com precisão essas imagens internas dos aspectos
conscientes da personalidade. Nesse caso mulheres passariam a corresponder ao princípio de
eros, e os homens, ao princípio do logos. Essas também são as maiores alterações nesse
conceito que precisamos realizar hoje: como Jung não falou em nenhuma ocasião de arquétipos
específicos de gênero, podemos supor que tanto anima quanto o animus aparecem em ambos
os sexos, muitas vezes até como casal. (KAST, 2019, P.81)
A grande riqueza dos insights de Jung e das elaborações posteriores feitas pelos
junguianos deve ser solidificada por um instrumento teórico capaz de lançar luz sobre uma das
mais fortes experiências de seres humanos: nossa sexualidade, suas paixões, seus movimentos,
sua orientação, significado e propósito. (HOPKE, 1993, P.200)
Stein (2006, p. 125) abre uma discussão sobre os aspectos de identificação com
características identificadas como masculinas por mulheres e femininas por homens em
nossa cultura: “Mas o que dizer a respeito de mulheres que não são muito femininas e
de homens que não são muito masculinos em suas personas?”.
Questionamentos pertinentes são movimentados por Stein em confomidade
com o questionamento em relação à contrassexualidade indagada por Hillman: “O que
dizer de homens que não se identificam com o gênero designado pelo sexo definido ao
nascimento? O que dizer de mulheres que não se identificam com o gênero definido
pelo sexo designado ao nascimento?” (Stein, 2006, p.126)
Jung (2013,[1930], p.354, §781) versando sobre as etapas da vida do homem,
em sua época, ou seja, nos idos dos anos 30, já colocava o tema em debate. Nessa
discussão parece intuir dados importantes sobre a masculinidade e feminilidade na
perspectiva de mudança que pode acontecer no meio da vida:
A palavra andrógino vem de duas palavras gregas, andros e ginos, que significam
“homem” e “mulher” respectivamente, e se refere a uma pessoa que combina na sua
personalidade tanto elementos masculinos quanto femininos. A palavra hermafrodita é uma
palavra análoga. Vem do deus grego Hermafrodito, que nasceu da união de Afrodite e Hermes
e que encarnava características sexuais de ambos. (SANFORD, 1987, P.9)
Saber como fazer um ninho numa árvore sem folhas, como voar para um lugar onde
passar o inverno, como realizar a dança do acasalamento — todas essas informações estão
armazenadas em reservatórios do cérebro instintivo do pássaro. Os seres humanos, porém,
sentindo toda a flexibilidade de que poderiam precisar para enfrentar situações novas,
resolveram armazenar esse conhecimento fora do sistema dos instintos: guardaram-no nas
histórias. As histórias, portanto — contos de fadas, lendas, mitos, folclore — equivalem a um
reservatório onde guardamos as novas maneiras de reagir, que podemos adotar quando as
maneiras convencionais e habituais se desgastam. (BLY, 1991, P. 4)
Os mitos e contos podem conter variadas temáticas sobre a vivência humana,
a sexualidade é um desse motes, dentre os quais a fluidez de gênero. Segundo Brandão,
especialista em mitologia grega e latina, são vários os mitos que versam a mudança de
sexo: “Acrescente-se logo que esses repetidos cambiamentos de sexo na antiguidade já
eram considerados ‘como forma de expressão de uma natureza propriamente andrógina,
segundo resulta da representação de um espelho etrusco, em que Tirésias , no Hades,
aparece com aspecto de hermafrodito.” (Brandão, 2007, p.35)
Brandão (2007, p.36) refere algumas passagens míticas da fluidez de gênero:
“Igualmente na Eneida, de Vergílio, 6, 488, o lápita Ceneu aparece como mulher:
Ceneu, outrora mulher, amada por Posídon, foi por ele, como recompensa,
transformada em homem (...)”.
A seguir serão apresentados alguns mitos em que a masculinidade, assim como
a concepção do que seja ser homem e a feminilidade, assim como do que seja ser mulher
e a possibilidade de transitar por esses papéis é apresentada como tentativa de
aproximação ao tema da transgeneridade. Levantar-se-á algumas possibilidades para
reflexão.
Estão entre os mitos a serem apresentados: o mito do ser humano original,
apresentado no Banquete de Platão, com suposto ano de publicação 385 a. C a 380 a.
C. por Aristófanes; o velho Tirésias, apresentado por Campbell (1990) e Brandão
(2009), Aquiles, o herói grego, filho da nereida Tétis e de Peleu, apresentado por
Brandão (2007), Hermafrodito, filho da deusa Afrodite e do deus Hermes, apresentado
por Alvarenga (2010) e Oxalá e Obá, orixás do panteão africano, apresentado
respectivamente por Noguera (2018) e Prandi (2001).
Essa ideia de que o ser humano original era macho e fêmea é encontrada em inúmeras
tradições. Por exemplo, tanto nas mitologias persas quanto talmúdicas falam de que modo Deus
criou primeiro um ser bissexuado _ um macho e uma fêmea unidos em um só ser_ e depois
dividiu em dois. (SANFORD, 1987, P.10)
Com efeito nossa natureza outrora não era a mesma que a de agora, mas diferente. Em
primeiro lugar, três eram os gêneros da humanidade, não dois como agora, o masculino e o
feminino, mas também havia a mais um terceiro, comum a esses dois, do qual resta agora um
nome, desaparecida a coisa; andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no
nome comum aos dois, ao masculino e ao feminino, enquanto agora nada mais é que um nome
posto em desonra. Depois, inteiriça era a forma de cada homem, com dorso redondo, os flancos
em círculo, quatro mãos ele tinha, e as pernas o mesmo tanto das mãos, dois rostos sobre um
pescoço torneado, semelhantes em tudo; mas a cabeça sobre os dois rostos opostos um ao outro
era uma só, e quatro orelhas, dois sexos, e tudo o mais como desses exemplos se poderia supor.
(PLATÃO, 1983, P.22)
Segundo Diehl (2018, p. 184), a mudança de gênero como castigo tem registros
na mitologia: “A mudança de gênero como castigo ou punição tem registros na
mitologia grega, como observado no caso de Tirésias, o profeta grego de Tebas, que
ficou famoso por ter passado 7 anos transformado em mulher.”
Tirésias passa por dois castigos: o primeiro castigo é a sua transformação em
mulher. Seria um castigo ou um chamado à ampliação de consciência? O seu segundo
castigo é a punição de Hera, com sua cegueira. Ao ver Tirésias cego, Zeus lhe concede
o dom da profecia e a possibilidade de viver sete gerações humanas: “Para compersar-
lhe a cegueira e por ‘gratidão’, Zeus lhe concedeu-lhe p dom da manteia, da profecia e
o privilégio de viver sete gerações humanas.” (Brandão, 2009, p. 184)
Em relato atual, João Nery, o Tirésias dos tempos atuais, psicólogo, pensador
e ativista refere a sua condição transgênera: “Somos seres únicos, a diferença e a
diversidade entre indivíduos são condições essenciais da natureza humana. Hoje sei
que sou uma pessoa melhor, mais completa, mais corajosa e infinitamente mais livre.”
(Nery, 2019, p.9)
Conta-se que Himeneu era um jovem atenisense de tamanha beleza, que comumente
era confundido com uma lindíssima adolescente. Embora de condições modestas, apaixonou-
se por uma jovem eupátrida e, desesperado por não poder desposá-la, seguia-a, de longe, aonde
quer que ela fosse, como Eco, se bem que, em condições diversa, buscava sempre a Narciso.
Certa feita, moças atenienses nobres foram a Elêusis oferecer sacrifícios à Deméter, mas uma
súbita irrupção de piratas as raptou a todas, incluindo-se Himeneu, mais uma vez identificado
a uma simples e linda mulher. Após longa travessia, os piratas chegaram a uma costa deserta
e, extenuados, dormiram. Himeneu, com grande ousadia matou a todos e, tendo deixado as
jovens em lugar seguro, voltou só a Atenas e se prontificou a devolvê-las, desde que se lhe
desse em casamento aquela que ele amava. Concluído o pacto, as atenienses foram devolvidas
às suas famílias. (BRANDÃO, 2007, P. 35)
Segundo Brandão (2007, p.35), Himeneu era reconhecido em Pompéia como
andrógino. Trata-se de mais um mito sobre o caráter andrógino do herói. O feito heroico
de Himeneu, visto como uma bela mulher que defende as moças nobres atenienses
aproxima-se do relato de um homem transgênero, Tarso Brant, descrito no livro Vidas
Trans:
Filha única de uma família de classe médiam eu era, portanto, a princesa da casa.
Meus pais eram bancários, e a vida não era tinha grandes dificuldades. Mas o que eles não
sabiam é que, diferentemente do meu estado físico de menina, eu nasci menino. E não estamos
falando de aparência, mas, sim, de essência (alma). Um sentimento de estar em um corpo com
o qual você não se identifica. (BRANT, 2017, P.32)
Himeneu pode estar vivo em nossa sociedade e se sentir em um corpo que não
atende ao chamado de sua alma. Raptado como mulher por piratas, tem a chance de
defender quem ama e a si mesmo, salvando em si a possibilidade de escolher seu destino.
Pode-se considerar a façanha do herói grego Aquiles para além de uma punição,
ou artimanha de sua mãe com o objetivo de poupar o filho da participação na guerra de
Tróia. É possível pensar em Pirra, nome dado à Aquiles vestido como uma moça, como
o sentimento de um homem transgênero, vivendo como mulher, em uma situação que
não traduz sua vivência interna? As Pirras da atualidade podem traduzir a incongruência
com o gênero designado ao nascimento?
Ulisses, à procura do herói traça um plano para descobrir o que acontecera com
Aquiles, como se pode acompanhar na narrativa desse herói, ele é descoberto a partir
de seu próprio desejo e identificação com seu aspecto masculino, nesse caso a prontidão
para a guerra. No trecho abaixo, extraído do livro Tróia, Moreno (2004, p.105) revela
essa façanha de Ulisses e o chamado de Aquiles:
Num gesto teatral, Ulisses desembainhou-a de um só golpe, enchendo a sala toda com
o ruído de metal que roça em metal; em seguida, ergueu-a a acima da cabeça, para que a luz
da janela fizesse rebrilhar a lâmina polida, enquanto examinava a reação das princesas. Só uma
delas reagiu, e só podia ser Pirra, a donzela dos pés grandes. Ela vinha acompanhando
entediada, a demonstração do mercador, aborrecida com a incompreensível animação das
mulheres diante daquelas quinquilharias coloridas. Agora no entanto, tirou a espada das mãos
de Ulisses e apertou com prazer a empunhadura cinzelada; experimentou o fio da lâmina do
dorso da mão, fez com ela um floreio no ar, para melhor sentir-lhe o peso, e deu duas ou três
estocadas para frente contra um inimigo imaginário. “Ela é toda tua, Aquiles. Foi feita para
ti!”, disse-lhe então Ulisses, sorrindo ao ver a imensa satisfação com que o jovem renunciava
seu disfarce. (MORENO, 2004, P.105)
Meus pais faziam de tudo para me enfeitar e me empurrar para o universo das meninas,
Era raro o dia em que meu pai não me trazia um vestido. Quando via a caixa de presente, pensava:
“Uau! Um brinquedo, um jogo...”, mas não, era sempre um maldito vestido. E meu sorriso de
expectativa se transformava em decepção...E saía eu arrastando aquele trapo pela casa.
(BRANT, 2017, P. 139)
Stein (2006, p.125) sustenta alguns quesitos que nomeia como qualidades do
sexo, à guisa de algumas definições: “O que realmente significam, pois, qualidades do
sexo quando se pretende definir a natureza e a qualidade da atitude interior, a anima e
o animus?”
As características definidas por Stein (2006, p.125) como masculinas são
aquelas que saltam aos olhos quando Aquiles revela sua verdadeira identificação: “O
sexo masculino tem sido quase universalmente definido por adjetivos como ativo, rijo,
vigoroso, penetrante, lógico, peremptório, dominante; o sexo feminino tem sido
amplamente definindo como receptivo, suave, doce, generoso, nutriente, emotivo,
empático”.
Pirra, salta para o chamado de sua alma em prontidão de um herói: Aquiles
estava destinado à grandes feitos. Assim, em mais uma metáfora, pode-se alinhar o
chamado e ampliar sua consciência. A individuação passa pela integração dos
conteúdos sombrios, mas também da coragem em atender esse chamado: o esforço de
tornar-se consciente desenvolver consciência.
Aos quinze anos pôs-se a percorrer o mundo, Viajando pela Àsia Menor, encontrou-
se um dia, na Cária, às margens de um lago, habitado pela ninfa Salmácis, que por ele se
apaixonou violentamente. Repelida pelo jovem, fingiu-se conformar-se, mas, quando
hermafrodito se despiu e se lançou às águas do lago, Salmácis o enlaçou fortemente e pediu
aos deuses que, para sempre, lhes unissem os dois em um só. Os imortais ouviram a súplica e,
assim, surgiu um novo ser, de dupla natureza. Por seu lado, Hermafrodito implorou aos deuses
e estes o atenderam, que todo aquele que se banhasse no lago da Ninfa Salmácis perdesse a
virgindade. (BRANDÃO, 2009, p. 213)
Segundo Alvarenga (2010, p. 2010), a união entre Afrodite e Hermes pode
expressar o surgimento do amor transgressor, evolutivo que transpõe intempéries e que
possibilita o reencontro com a totalidade: “A união de Afrodite e Hermes pode
expressar que, de posse dos atributos da deusa (encantamento, beleza, paixão e amor),
acessamos com mais facilidade os atributos do deus (astúcia, esperteza, trapaça).”
Em sua discussão sobre a dupla natureza humana, Brandão (2007, p. 37) cita
Carl Jung: “Para Jung, o homem nos mitos sempre exprimiu a idéia da existência do
masculino e do feminino em um só corpo. Tais intuições psicológicas se acham
projetadas de modo geral na forma da sizígia divina, o par divino, ou na ideia da
natureza andrógina do Criador”.
A androginia como conceito pode ser ampliada para além do comportamento,
afetos ou práticas sexuais. Segundo Molina (2017, p. 1): “A androginia é muito mais
um conjunto de fatores que afetam várias instâncias físicas e do pensamento, aliás, pode
ser lida como um elo de ligação entre os dois.”
Molina (2017, p.1) amplia a visão sobre androginia, traçando um espaço a ser
refletido sobre esse conceito: “(...) é mais uma idéia, um conceito, uma imagem do que
outrora foi e poderá vir a ser a humanidade: o andrógino como ser total e pleno de
potencialidades, Sem qualquer polaridades entre os sexos, mas não só isso: livre de
amarras e das obrigações impostas pela atual moral heteronormativa que se expressa
nas leis, na religião, na moda, na estrutura familiar.”
Salmácis aparece na narrativa como aquela que aprisiona Hermafrodito em
uma relação simbiótica. Nesse mitologema, a saga de Hermafrodito é a prisão em uma
fusão que não alimenta sua ânsia por liberdade.
Apesar da ideia de totalidade e a vivência da fluidez de gênero, Salmácis pode
representar o aprisionamento de uma sociedade que destrói a possibilidade de um
verdadeiro encontro com Hermafrodito. Ele se vê aprisionado com a ninfa, em uma
relação de fascínio e prisão. Definir quem é a Salmácis pode ajudar a definir o que
aprisiona Hermafrodito e todas as suas possibilidades de existência.
Letícia Lanz traz em seu relato, descrito em seu livro A construção de mim
mesma, o chamado pela liberdade: “Quando a liberdade grita dentro da gente, só há
duas coisas a fazer: tapar os ouvidos ou romper de uma vez por todas com os bloqueios
que nos mantêm prisioneiros de nós mesmos, nos impedindo de ser livres e felizes.” A
libertação de Salmácis pode ser um caminho para Hermafrodito.
E. Obá e Oxalá: experiências com o outro, entre o desejo e a transgressão
“[...] todo o homem tendo anima, toda a mulher, animus. É o desejo de efeminação do homem,
a nostalgia de Hercules de ficar aos pés de Ónfale; é o desejo de masculinização da mulher, de
que a mulher fálica é o símbolo extremo. Podemos dizer que a religião afro-brasileira
reconhece este bovarismo sexual e que apresenta justamente uma solução para ele, fazendo do
homem o possuído de uma deusa, da mulher, a possuída de um deus, forçando-os assim a
desempenhar no teatro místico papéis opostos aos fixados pelos status sociais dos dois sexos”.
(BASTIDE, 1973, P. 318).
Durante o casamento, Obatalá seguiu e observou os passos de Nanã e como ela fazia
para passar pela porta do mundo dos vivos e dos mortos. Logo, ela engravidou e se recolheu
para cuidar dos filhos. Obalatá aproveitou-se, e vestido com roupas semelhantes às de Nanã,
passou-se por ela, dizendo para os espíritos que, de agora em diante, também deveriam
obedecer o marido. (NOGUERA, 2018. P. 85)
Oxalá se coloca para os espíritos como uma mulher e adquire poder. Qual pode
ser os efeitos dessa vivência para uma mulher transgênero? Qual a sua identificação
com o feminino e seus poderes? Quem pode narrar essa sensação? Quem adentra o
reino de Nanã e autoriza a descoberta de seus poderes a não ser com a voz, as roupas e
a energia de Nanã? Amaira Moira, no livro Vida Trans, refere essa vivência do travestir-
se e descobrir o poder da libertação das amarras sociais:
Eis a primeira vez que me imaginei travesti, como se tratasse de uma personagem de
livro, um papel, e não foi só comigo que isso se deu. Quantas e quantas pessoas vão de
descobrindo trans justo assim, algumas no próprio teatro, o momento em que acreditam estar
encarnando uma personagem sendo justo quando se libertam daquele eu que a vida inteira
foram ensinadas a ser? (MOIRA, 2017, P. 15)
Obá e Oxum competiam pelo amor de Xangô. Cada semana, uma das esposas cuidava de
Xangô, fazia sua comida, servia à sua mesa. Oxum era a esposa mais amada e Obá imitava
Oxum em tudo, inclusive nas artes da cozinha, pois o amor de Xangô começava pelos pratos
que comia. Oxum não gostava de ver Obá copiando suas receitas e decidiu vencer
definitivamente a rival. Um dia convidou Obá à sua casa, onde a recebeu usando um lenço na
cabeça, amarrado de modo a esconder as orelhas. Oxum mostrou a Obá o aguildar onde
preparava uma fumegante sopa, na qual boiavam dois apetitosos cogumelos. Disse à curiosa
Obá que eram suas própria orelhas, orelhas que ela cortara, segredou cumplicemente. Xangô
havia de se deleitar com a iguaria. Não tardou para que ambas testemunhassem o sucesso da
receita. O marido veio comer e o fez com gula, se fartou. Elogiou sem parar os dotes culinários
da mulher. Na semana seguinte, Obá preparou a mesma comida, cortou uma de suas orelhas e
pôs para cozinhar. Xangô, ao ver a orelha no prato, sentiu engulhos. Enojado, jogou tudo no
chão e quis bater na esposa que chorava. Oxum chegou nesse momento, exibindo suas intactas
orelhas. Obá num segundo entendeu tudo, odiou a outra mais do que nunca. Envergonhada e
enraivecida , precipitou-se sobre Oxum e ambas se envolveram numa briga que não tinha fim.
Xangô não suportava ver tanta discórdia em casa e esse incidente só fez aumentar sua raiva.
Ameaçou de morte as briguentas esposas, perseguiu-as. Ambas tentaram fugir da cólera do
esposo. Xangô procurou alcançá-las, lançou o raio contra elas, mas elas corriam e corriam,
embrenhando-se nos matos, ficando cada vez mais distantes, inalcançáveis. Conta-se que elas
acabaram por ser transformadas em rios. E de fato, onde se juntam o rio Oxum e o rio Obá, a
correnteza é uma feroz tormenta de águas que disputam o mesmo leito. (PRANDI, 2001, p.315)
Na verdade, não eram as roupas, os sapatos, nem as maquiagens que o atraíam, mas
todo o universo feminino que representavam. Tudo o que revestia as mulheres e o que ele via
no dia a dia, assim como trejeitos, o andar, o falar, o jeito de ser, refletiam algo que havia
dentro de si. (ROCHA, 2017, P. 102)
Era uma moça tão linda quanto a lua! Os jovens da tribo eram todos apaixonados por ela.
Amável, ela demonstrava amizade por todos eles. Apenas amizade. Convivia assim, expansiva
e sedutora, mas não queria ouvir falar em casamento. Até o filho do tuxaua se declarou a ela e
foi rejeitado. Ela alegou que não era filha de chefe e ele, talvez compreendendo que ela não se
sentisse à sua altura, se conformou, tristonho. Acontece que, quando não estava se divertindo,
junto com os outros jovens, ela costumava sumir da vista de todos. Deixava sua maloca e
ninguém via para onde ela ia. Intrigados, os rapazes resolveram segui-la. Imaginavam que tinha
um amante secreto e queriam matá-lo, por sentirem ciúmes. Foi numa noite de lua cheia que
eles resolveram pôr seu plano em ação. Com a luz do luar clareando a paisagem até bem longe,
viram quando ela se encaminhava para a cachoeira. Foram atrás e encontraram a moça sentada
numa pedra com o rosto voltado para cima, parecendo mirar a lua. Era tão bonita e tão clara
aquela visão que eles, atraídos, foram chegando cada vez mais perto. Aí perceberam que o
rosto da moça era a própria lua, igualzinha àquela que aparecia no céu. Emocionados, chegaram
a perder a fala de tanta surpresa! O clarão que viam parecia um fogo que iluminava tudo ao
redor. Mas não foi só isso. Logo eles viram descer do céu uma outra moça, bonita como a lua.
Nesse momento, a moça uanana levantou-se e já não parecia mais uma mulher: era um moço!
A moça que descera do céu e aquele moço se abraçaram, e um fogo frio os envolveu. A friagem
chegou até os rapazes e eles tremiam, sem saber ao certo se era de emoção ou frio... Chegavam
a sentir seus corpos doerem e voltaram depressa para casa, silenciosos durante todo o caminho.
Sentiam tanto medo ao lembrar o que tinham visto, que nem conseguiam falar uns com os
outros a respeito. Exaustos, adormeceram logo, e no dia seguinte, ao acordarem, não
recordavam direito o que havia acontecido. Tudo parecia não passar de um sonho e se mostrava
ainda mais irreal porque a moça tuxaua andava pela aldeia, naquela manhã, como fazia sempre,
normalmente... Mas quando os rapazes viam as outras jovens abraçando a moça misteriosa,
iam se lembrando pouco a pouco da cena a que tinham assistido... Mesmo assim, continuaram
não fazendo nenhum comentário sobre o acontecido. Foi a própria moça uanana quem resolveu
esclarecer o assunto. Ela começou contando para as outras jovens:
Antigamente, muito tempo atrás, havia uma terra, bem na raiz do céu, onde todo mundo era
bonito. E tinha um moço, mais lindo que todos, que chegava a ser tão bonito como o sol! Ele
era desejado por todas as moças da sua terra e cada qual procurava conquistá-lo a seu modo,
fazendo agrados e até puçanga para que ele as amasse. Só que ele era pajé também e pôde ver
pela sua sombra, enquanto sondava, o que estava acontecendo... O moço ia todas as noites para
a beira da praia, sentava na areia, e as moças iam atrás dele. Cansado dessa perseguição, ele se
sentia triste e ficava só olhando para elas, de longe, até que elas desistiam e voltavam para casa.
Ele continuava lá... Tantas vezes isso aconteceu que as mulheres combinaram de ir uma de
cada vez, para tentar conquistá-lo. Foi a primeira, abraçou-o, fez cócegas em seu corpo e
chegou a lhe dar um beijo na boca. Ele não se mexeu e ficou só olhando para ela. Decepcionada,
ela voltou e contou às amigas o que se passara e como fora rejeitada. Depois dessa, foi outra e
repetiu a tentativa de conquista, e tudo foi igual. Uma a uma, elas foram se revezando, até que,
muitas luas depois, cansadas, por não alcançarem nenhum resultado, combinaram: “Agora,
uma de nós vai sozinha e vai forçá-lo a namorar!” A mais novinha do grupo se ofereceu,
ameaçando matar-se, se ele não a quisesse. Combinaram que uma delas ficaria vigiando o que
ia acontecer e puseram o plano em prática. Assim que anoiteceu, lá foram as duas (uma mais
na frente, a outra mais atrás), seguindo o moço até o porto. A mocinha fez toda a cena de agrado
e sedução, tentando envolver aquele moço bonito como o sol. Ele olhou bem nos seus olhos e,
desconfiado, perguntou onde estavam suas amigas. Quando ela afirmou que estava sozinha,
ele quis saber por que viera e ela, então, se declarou, dizendo amá-lo.
– Mas por que você me ama? – quis saber o rapaz. Como paixão não tem explicação, ela só
conseguiu dizer que era isso o que sentia em seu coração. – Pois bem, se eu lhe revelar o motivo
por que não posso retribuir seu amor, você seria capaz de guardá-lo, em segredo? A mocinha
prometeu ser discreta, e o rapaz continuou: – Lembra que eu não cresci entre vocês? Vim de
outro lugar e não sou como vocês. Vou lhe mostrar como sou. Tirou, então, a tanga e mostrou-
lhe o corpo nu. – Vê? Dá pra dizer se sou homem ou sou mulher? A indiazinha, intrigada, viu
que naquele corpo não havia qualquer marca de definição de um sexo. Assustada, deu um grito
de pavor e, correndo, se jogou no rio. Sua companheira, que até então estava escondida,
percebendo o perigo, gritou tão alto que logo apareceram todas as outras moças. O que viram,
ao chegar ali, foi o moço saindo de dentro d’água, carregando nos braços a mocinha meio
desfalecida. Ele, então, beijou-lhe a boca e sussurrou em seu ouvido: – Você viu: não sou
homem, nem sou mulher. Não esqueça que me prometeu segredo. Guarde em seu coração o
que sabe! Levada pelas amigas para casa, a moça foi ficando cada dia mais triste. Olhar perdido,
não quis responder a nenhuma das perguntas das amigas. Irritadas, as moças se reuniram
novamente e decidiram insistir na conquista. Combinaram de matar o moço, se ele as recusasse
como namoradas. De longe, ele ouviu tudo e achou graça. Na noite seguinte, ainda era dia
quando o moço foi para o rio. O vento soprou, trazendo uma chuva fina e, quando as moças
foram atrás dele, viram uma grande fumaça no ar. Seguiram nevoeiro adentro e não
encontraram o rapaz. Aguardaram. Quando a madrugada foi chegando, o vento aumentou e a
neblina se espalhou. Aí elas viram a cabeça dele ir desaparecendo dentro da água enquanto
ouviam seu grito: – Êh! Êh! Êh! E o perderam de vista outra vez. Pularam todas na água
depressa, tentando achá-lo. Mergulharam várias vezes e nada! Como o dia já ia alto, voltaram
para casa, tristonhas, mas com o compromisso de recomeçarem a busca ao anoitecer. E assim
foi. Mal escureceu, foram se sentar lá, onde o moço costumava aparecer, e ficaram assim,
chorando desconsoladas, ouvindo o canto repetitivo do urutau. Dali pra frente, ninguém nunca
mais as viu, ninguém nunca soube para onde foram. Dizem que a lua as levou e a mãe-d’água
tomou o moço pra si. – É essa a história da lua – terminou de contar a índia uanana. – Agora
já é tarde, vamos todos dormir – e levantou se despedindo, desfazendo o grupo. Os rapazes
atentos, que, de longe, tinham ouvido a narração, começaram a pensar que talvez ela fosse uma
história verdadeira. Então, quando tarde da noite a índia saiu de casa e foi para a cachoeira,
eles a seguiram, como que encantados. Repetiu-se a cena das noites de luar e novamente o fogo
frio fez com que voltassem. Com a cabeça em rodopios, foram vendo passar o tempo. Muitas
luas depois, já andavam tão tristes e desanimados que as moças começaram a ter pena deles.
Foram procurar a moça bonita e pedir que fosse mais carinhosa com os rapazes. – Hoje à noite,
vou contar a cada uma de vocês o meu segredo. Vocês vão saber por que não posso agradar a
esses moços – foi a resposta que receberam. Quando anoiteceu, a moça cumpriu o prometido.
Ia abraçando cada garota e levando uma por uma até o mato. Lá lhe mostrava seu corpo.
– Vê? Não sou mulher, sou homem. Mas não diga a suas amigas. Deixe que eu me mostre a
cada uma delas. As moças sabiam, agora, que estavam apaixonadas por ela e concordavam
com o que pedia, pedindo que não as esquecesse. Isso durou três dias e três noites. Enquanto
isso, os rapazes continuavam a seguir a moça nos passeios noturnos até a cachoeira. Depois
que todas as jovens já sabiam de seu segredo, ela não conseguia mais sair de casa. Era tanta a
ciumeira que as mulheres sentiam que ficavam vigiando a noite toda, para que ninguém se
aproximasse dela. Uma noite, ela foi até a cachoeira, mesmo assim. As moças a seguiram.
Quando viram o fogo frio chegando, tiveram medo e gritaram. Na mesma hora, o clarão subiu
pro céu, correu em direção à lua e, juntando-se a ela, desapareceu de vez. Passadas muitas luas,
todas as moças apareceram grávidas. Quando seus pais perguntaram quem era o pai das
crianças, elas responderam: – O pai de nossos filhos é a Moça-retrato-da-lua, que nunca mais
ninguém viu.
... assim termina a contação, porque, a história mesmo, ninguém sabe dizer se já acabou.
(SANTO, 2010, P.181)
Mundukuru (2009, p.9 ) através de sua visão sobre uma educação libertadora
coloca algo caro ao psicólogo junguiano: “Uma das coisas que aprendi quando criança
é que por mais insignificantes que possam parecer, todas as pessoas merecem nossa
reverência.”
“Aceitar as diferenças, quaisquer que sejam elas, é importante para que haja a
vivência da alteridade.” (Carybé, 2020, p.35). O mito revela a importância que se esteja
ciente da natureza corporal fluída de nossa sexualidade e expressões de gênero. Muitos
pais transgênero estão gestando seus filhos.
É preciso encontrar espaço para expressão simbólica pois para Jung (2021
[1950] p. 65, § 111): “A alma, provavelmente não se importa com nossas categorias de
realidade.”
O arquétipo do andrógino marca presença na cultura indígena e com a força
desse arquétipo tem-se as grávidas do clarão da lua.
5 .Conclusão
7.REFERÊNCIAS