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A Relação Entre Fé e Razão

Por Marcos Aurélio dos Santos

Por vários séculos, através da história muitos ramos da teologia se valeram da razão para
tentar explicar teologicamente as devidas questões sobre o assunto. Mas história
relata que muitos caíram em um abismo sem volta. Negaram a fé em benefício da
exaltação da razão, submetendo a Bíblia sobre o crivo do entendimento humano.

Influenciados pelo pensamento de que tudo deveria ser explicado pela mente humana,
muitos cristãos defenderam a ideia de que a Bíblia deveria estar submissa ao crivo da
razão. Então, tudo que não fosse explicado racionalmente de veria ser descartado.

Esse pensamento formou uma teologia antropocêntrica, racionalista que desprezava a


Bíblia e abraçava a razão humana. A Escritura foi submetida ao limitado pensamento
humano.

Tudo que não fosse provado cientificamente deveria ser rejeitado. Não havia
mais espaço para oração. A razão humana tragou a fé.

Milagres, doutrinas como nascimento virginal de Cristo, Céu, Anjos, Inferno, ressurreição e
muitas outras verdades bíblicas, foram totalmente rejeitadas simplesmente pelo fato da
razão humana não aceitar o que não fosse provado à luz do saber.

Entre fé e razão deve haver equilíbrio. No estudo da teologia bíblica, Existem textos
que nossa razão humana não consegue compreender, é inútil explicar o inexplicável, é
como lutar contra a correnteza em um barco sem leme.

No entanto, por meio da fé nós cremos naquilo que não compreendemos. O inexplicável
pode ser aceito por meio da fé. Neste caso, é possível crer sem ter uma explicação
definitiva sobre a questão.

A fé não anula a razão, mas transcende. Como crer por exemplo, na doutrina da trindade
ou na eleição e predestinação? É impossível entender pela razão humana, mas pela fé
cremos que é revelação de Deus para nós, ainda que em nossa percepção, seja entendida
de forma limitada e incompleta.

A fé deve estar em sintonia com o entendimento, pois como poderemos


explicar aos outros a razão da mesma? Como poderemos anunciar e viver as boas novas
do evangelho, sem conhecer de fato o que ela significa para nós? É por meio da fé, e não
pelo exercício da razão que começamos e mantemos uma relação com Deus.

É preciso relacionar-se para conhecer, e uma vez conhecendo, começamos a amar e ser
amado, desfrutando de sua maravilhosa graça que é rica em misericórdia, compaixão,
perdão, acolhimento.

Então, a razão serve apenas para compreender. Compreendemos com a mente, e nos
relacionamos com o coração. A razão nos faz entender, o espírito por meio da fé arde em
conhecer aquele que deu sua vida por nós na Cruz do Calvário.
VERIFICAR:

Não obstante este feito há certas crenças religiosas que nunca poderão ser
compreendidas por meio do uso da razão, sem serem extintas. Não há uma
maneira de provar que Deus tenha conversado com Moisés no Sinai, assim como
também não há provas lógicas da virgindade de Maria, daSantíssima Trindade,
etc. São credibilidades fincadas pela fé e por isso tornam-se enigmas que não
podem ser questionados, transformando-se, assim, em dogmas. Por este motivo,
Paulo diz que “a fé é um escândalo para a razão".

VERIFICAR:

Fé firmemente baseada na razão


Por exemplo, a Bíblia diz que, para nossa adoração ser “aceitável a Deus”, ela deve ser “um
serviço sagrado” prestado com a “faculdade de raciocínio”. Em outras palavras, devemos
adorar a Deus “de uma forma digna de seres racionais”. (Romanos 12:1; The Jerusalem Bible)
Assim, a fé descrita na Bíblia não é cega e irracional, como se fosse um tiro no escuro. E não é
credulidade. É algo que você analisou bastante — resultando em confiança em Deus e em sua
Palavra, que é firmemente baseada na razão.
É claro que a razão exige informações exatas. Até mesmo os melhores programas de
computador projetados com base em princípios sólidos de lógica apresentarão resultados
muito estranhos se forem alimentados com dados incorretos. De modo similar, a qualidade de
sua fé depende bastante do que você ouve ou da confiabilidade das informações com as quais
você alimenta sua mente. Apropriadamente, a Bíblia diz que “a fé segue à coisa ouvida”. —
Romanos 10:17.
Um requisito fundamental para a fé é “um conhecimento exato da verdade”. (1 Timóteo 2:4)
Segundo a Bíblia, apenas “a verdade” liberta — isso inclui libertação de crenças enganosas,
tanto científicas como religiosas. (João 8:32) A Bíblia nos alerta contra acreditar “em cada
palavra”. (Provérbios 14:15) Ela diz que devemos ‘nos certificar de todas as coisas’ — ou
questionar as coisas que ouvimos antes de acreditar nelas. (1 Tessalonicenses 5:21) Por que
você deveria pesquisar e questionar suas crenças? Porque a fé baseada em falsidades não
passa de uma ilusão. Algumas pessoas de ‘mentalidade nobre’ da antiga cidade de Bereia
deixaram um excelente exemplo de desenvolver o tipo certo de fé. Embora realmente
quisessem acreditar no que os missionários cristãos haviam ensinado, aquelas pessoas
fizeram questão de examinar “cuidadosamente as Escrituras, cada dia, quanto a se estas
coisas eram assim”. — Atos 17:11.
VERIFICAR:

A Bíblia descreve a fé verdadeira como “a expectativa certa de coisas esperadas, a


demonstração evidente de realidades, embora não observadas”. (Hebreus 11:1) Fica claro que
alguém com fé real está longe de ser ingênuo, pois baseou suas crenças numa análise
minuciosa de todas as informações disponíveis. Raciocinar sobre essas informações leva a
pessoa a ter a convicção de que até mesmo coisas que não podem ser vistas são realidades.
Mas e se aquilo que você está aprendendo parece contradizer algumas de suas crenças mais
importantes? Deveria simplesmente ignorá-lo? É claro que não. É provável que haja situações
em que a coisa certa a fazer seja analisar fortes evidências que parecem contradizer suas
crenças. Na Bíblia, Deus promete recompensar com conhecimento, discernimento e raciocínio
as pessoas que sinceramente buscam a verdade. — Provérbios 2:1-12.
A fé fundamentada nos ensinamentos bíblicos é compatível com a razão. Qual é o tipo da sua
fé? Muitas pessoas “herdaram” suas crenças religiosas e nunca pararam para analisá-las a
fundo, à base da razão. Não pense que é um desrespeito examinar suas crenças a fim de
‘provar a si mesmo’ que seu modo de pensar está em harmonia com a Palavra de Deus.
(Romanos 12:2) A Bíblia nos instrui a ‘provar as expressões inspiradas para ver se se originam
de Deus’. (1 João 4:1) Se fizer isso, você estará — mesmo quando suas crenças são
questionadas — ‘pronto para fazer uma defesa perante todo aquele que reclamar de você
uma razão para a esperança que há em você’. — 1 Pedro 3:15.

VERIFICAR:
A razão é inata no ser humano, e como tal, parte da criação de Deus. Nesse sentido, é
essencialmente boa (Gn 1.26,31), e objeto da graça comum (Mt 5.45; Tg 1.17), por exemplo
na capacidade de pensar eticamente (Rm 2.14,15); embora finita e incapaz de alcançar o
Deus transcendente (Is 55.8,9) é evidentemente funcional para diversas tarefas, e essencial
para a vida humana. De modo que o irracionalismo é antibíblico e desumanizante.
Esse fato não deve fechar nossos olhos para a realidade do pecado. No relato da queda em
Gênesis, temos indícios claros de que o pecado do homem foi possível devido a um ato de
incredulidade que envolveu a razão humana:

“... no Éden o homem foi conduzido a uma escolha ética e relacional que envolvia questões
metafísicas e epistemológicas (atribuir ao fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal um significado intrínseco à parte da revelação divina e atribuir a si mesmo, com a ajuda
da serpente, a habilidade de julgar pseudo-autonomamente a veracidade da declaração de
Deus)”24

Paulo deixa claro em Romanos 1.20-23 que o estado de pecado envolve rejeição ativa do
conhecimento de Deus manifesta numa espécie de trabalho intelectual que busca suprimir o
conhecimento de Deus (vs 25) substituindo-o por um sistema religioso idolátrico. Tal
trabalho tem aparência de sabedoria, mas seu efeito real é obscurecer o coração e levar o
homem à nulidade e à loucura. Em Efésios 4.17-19 somos informados de que os gentios
sofrem de um “obscurecimento de mente” provocado pela dureza de coração, que conduz à
insensibilidade e ao pecado. Estamos falando dos efeitos noéticos do pecado. A razão foi
profundamente afetada pela queda tornando-se cega e embotada no que se refere às coisas
de Deus (1Co 2.14; 2Co 3.14,15; 4.4), padecendo principalmente da mentira auto imposta
pela dureza de coração (Jr 17.9), a mentira epistemológica fundamental contra o
conhecimento de Deus.

VERIFICAR:

O fato de que a mente humana foi obscurecida pelo pecado não signfica que ela não tenha
valor; “... a queda [...] não destruiu totalmente a competência da razão humana.”25 A razão
é ainda capaz de realizar muitas tarefas e de produzir sabedoria, e efetivamente o faz, mas
não independentemente de Deus. Dele vem todas as dádivas e o conhecimento, desde que
é o “Pai das Luzes” (Tg 1.17); ele é a fonte da sabedoria: “Porque o Senhor dá a sabedoria, e
da sua boca vem a inteligência e o conhecimento.”26 (Pv 8.14-16, 22,23). Onde se manifesta
a inteligência humana, aí está a graça comum em operação.
Embora o homem possa receber certa medida de sabedoria da parte de Deus, não recebe o
suficiente para se libertar do obscurecimento contra a revelação. Assim Paulo pôde dizer,
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria,
aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação.”27 A sabedoria humana
presentemente é uma mistura de graça comum e rebeldia contra a revelação.
Sendo parte integral do ser humano, a razão é também objeto da graça redentora. Como
regenerados, recebemos a “mente de Cristo” (1Co 2.16), e somos chamados a “renovar” as
nossas mentes, ou seja, permitir que nossa razão e atitude mental sejam purificadas e
conduzidas pela verdade, na aceitação crente da Palavra de Deus, para experimentarmos a
plenitude da salvação (Rm 12.2; Ef 4.22-24). Somente através da fé a razão pode ser liberta
da mentira e o homem pode alcançar a verdadeira sabedoria28: “O temor do Senhor é o
princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência”29. O homem deve
portanto buscar a inteligência (Pv 4.5), mas não deve fazê-lo com auto-suficiência carnal (Pv
3.5); deve fazê-lo arrependendo-se de sua rebeldia intelectual e temendo a Deus. Deve
exercitar fé na revelação para compreender o mundo e sua própria existência a partir dessa
revelação.
Tal entendimento é possível por ser o homem à imagem de Deus. A mesma sabedoria pela
qual Deus criou o mundo (Pv 8.22-30) é sabedoria que ele dá aos que a buscam com fé (Pv
2.1-5; Tg 1.5,6). Essa sabedoria é nada menos que o logos de Deus, Cristo, pelo qual Deus fez
o mundo (Jo 1.3) e pelo qual a luz alcança o homem (Jo 1.4-10). O próprio Cristo é a
sabedoria de Deus (1Co 1.24), e a aceitação da revelação cristã proporciona a chave para o
homem compreender o universo. Ele já é a razão objetiva do mundo, e se torna nossa razão
subjetiva, quando nos dá entendimento restaurando e renovando nossas mentes para
compreendermos a verdade.

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