Você está na página 1de 15

Os pais da Igreja e o sacramento da penitência (Confissão auricular)

Uma clara análise histórica e bíblica do Sacramento da Reconciliação.

1. INTRODUÇÃO

A penitência é “um sacramento da nova lei instituída por Jesus Cristo de que é
outorgado o perdão pelos pecados cometidos logo depois do batismo através da
absolvição do sacerdote àqueles que com verdadeiro arrependimento confessam seus
pecados e prometem dar satisfação pelos mesmos. É chamado de sacramento e não de
uma simples função ou cerimônia por que é um sinal interno instituído por Cristo para
conceder graça a alma. Como sinal externo compreende as ações do penitente ao
apresentar-se ao sacerdote e confessar seus pecados, e as ações do sacerdote ao
pronunciar a absolvição e aplicar o perdão” (Enciclopédia Católica).

É importante notar que: “A confissão não é realizada no secreto do coração do


penitente tão pouco a um leigo como amigo e advogado, tampouco a um representante
de autoridade humana, mas somente a um sacerdote devidamente ordenado com a
jurisdição necessária e com o poder das chaves, isto é o poder de perdoar os pecados
que Cristo outorgou a sua Igreja”. (Encíclopédia Católica).

A finalidade do presente estudo consiste em se aprofundar na base bíblica e histórica do


sacramento, analisar a luz desta evidência os erros introduzidos pela “reforma”
protestante, assim como as distorções históricas que se propagam nas denominações
surgidas desta, ao ponto de se chegar a converter em uma história alternativa
completamente diferente da real.

2. O FUNDAMENTO BÍBLICO

O poder que a Igreja tem para conceder em nome de Deus o perdão dos pecados provém
do mesmo Cristo que conferiu esse poder a seus apóstolos pois:
“Disse-lhes outra vez: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu
vos envio a vós. Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o
Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados;
àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (João 20, 21-23).

Também disse Jesus a Pedro:

“Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos
céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 16, 19).

E disse mais Jesus aos apóstolos:

“Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o
que desligardes sobre a terra será também desligado no céu” (Mateus 18, 18).

O significado de "ligar" e "desligar" não se limita a autoridade de definir o que é lícito e


que não é a respeito da doutrina, mas também o poder de conceder o perdão de pecados,
já que o poder outorgado aqui não é limitado: “tudo que ligares”, “tudo que desligares”,
poder que por sua vez é confirmado explicitamente por Cristo ao permitir perdoar ou
reter os pecados.

2.1 A EVIDÊNCIA DA RECONCILIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

A realidade sacramental da Igreja é precedida na história por seu modelo profético, a


Lei Mosaica. Na Lei Mosaica vemos (Levítico capítulos 4 e 5) que Deus exigia um
sacrifício cerimonial pelos pecados cometidos pelo povo, isto é, pelos fiéis. O sacrifício
se realizava no tabernáculo, (em seguida no templo) e diante dos sacerdotes, o qual em
si é uma admissão pública pelo pecado. O exercício destas cerimônias não só era
público, mas ainda ensinava aos pecadores a inevitável consequência do pecado: a
morte. O animal que se sacrificava morria no lugar do pecador. O modo de execução de
tais sacrifícios, é equivalente ao sacramento da reconciliação que não se poder negar
que nele tanto o sacerdote quando o fiel tem um participação claramente definida.

“Se for alguém do povo quem pecou involuntariamente, cometendo uma ação proibida
por um mandamento do Senhor, tornando-se assim culpado, trará para sua oferta uma
cabra sem defeito, pela falta cometida, logo que tiver tomado consciência de seu
pecado. Porá a mão sobre a cabeça da vítima oferecida pelo pecado e a imolará no
lugar onde se imolam os holocaustos. Em seguida, o sacerdote, com o dedo, tomará o
sangue da vítima, e pô-lo-á sobre os cornos do altar dos holocaustos, derramando o
resto ao pé do altar. Tirará toda a gordura, como se fez no sacrifício pacífico, e a
queimará no altar, como agradável odor ao Senhor. É assim que o sacerdote fará a
expiação por esse homem, e ele será perdoado. Se for um cordeiro que oferecer em
sacrifício pelo pecado, oferecerá uma fêmea sem defeito. Porá a mão sobre a cabeça da
vítima oferecida pelo pecado e a imolará em sacrifício de expiação no lugar onde se
imolam os holocaustos. Em seguida, com o dedo, tomará o sacerdote o sangue da
vítima oferecida pelo pecado, e o porá sobre os cornos do altar dos holocaustos,
derramando o resto do sangue ao pé do altar. Tirará toda a gordura como se tirou a do
cordeiro do sacrifício pacífico, e a queimará no altar, entre os sacrifícios feitos pelo
fogo ao Senhor. É assim que o sacerdote fará a expiação pelo pecado cometido por
esse homem, e ele será perdoado” (Levítico 4, 27-35).

2.2 OBJEÇÕES PROTESTANTES

Existem inúmeras objeções por parte das diferentes denominações protestantes a


respeito do Sacramento da Penitência. O protestantismo em geral declara que não é
necessária a intervenção humana para que Deus perdoe o pecado e que este deve ser
confessado em privado somente a Deus.

Um exemplo disso é o Manual Prático para a Obra do Evangelismo Pessoal em que se


afirma:

“Não encontramos nas Santas Escrituras nenhuma só linha em que se ordene ao cristão
confessar seus pecados diante de um homem” (Manual Práctico para la Obra del
Evangelismo Personal, pub. Iglesia de Dios - Israelita -).

Outro exemplo desse tipo de declaração temos nos comentários de um dos mais
aficionados apologistas protestantes da internet, que escreve com mais entusiasmo do
que sabedoria:

“Jesus Cristo admitiu implicitamente que o único que perdoa os pecados é Deus
(Marcos 2, 7 e Lucas 5, 21). E o mesmo apóstolo João afirma que Deus é fiel e justo
para perdoar os pecados – se confessarmos nossos pecados, ele é fiel e justo para
perdoar nossos pecados, e limpar-nos de toda maldade – (I João 1, 8-9). Nem neste
texto, nem em nenhum outro a Escritura está registrado que algum apóstolo atuou
como confessor ou absolveu os pecados de algum cristão” (A confissão auricular,
Daniel Sapia).

Este tipo de objeção comete o erro de confundir quem concede o perdão (Deus), com o
meio que Deus utiliza para administra-lo (o sacerdote). O texto citado não entra em
contradição com a confissão do pecado ante o sacerdote ou ante a Igreja, senão que o
deixa o deixa implícito, pois se parte de algo que já se sabia – que a Igreja recebeu o
poder de perdoar pecados – para se dar a entender que Deus é fiel e justo para perdoar a
quem reconhece suas faltas. Isto se faz mais claro se se analisar o contexto inteiro. O
versículo anterior diz: “mas se dissermos a que não temos pecado, nós enganamos a nós
mesmos” e o versículo seguinte completa: “Mas se reconhecermos nossos pecados, fiel
e justo ele é para nos perdoar”. O contexto é em si uma exortação ao reconhecimento
das próprias faltas (ao invés de negá-las) e nunca uma recusa ou aval para confessarmos
nossos pecados diretamente a Deus.

Também é incorreto afirmar que Cristo admitiu que só Deus perdoa os pecados. A
Escritura ensina que Ele também tem a capacidade de Fazê-lo, sem entrar em polêmica
sobre sua divindade:
“Ora, para que saibais que o filho do homem tem na terra o poder de perdoar os
pecados” (Mateus 9, 6).

Dessa maneira, fica provado através de um milagre físico (o sinal externo da cura do
paralítico) o que é um verdadeiro milagre espiritual (a realidade interna do perdão do
pecado). Assim, na conclusão deste ensinamento, é-nos declarado:

“Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder
aos homens” (Mateus 9, 8).

É óbvio que isto não se refere a uma sanidade física, que era a prova tangível de um
milagre muito mais poderoso: o milagre da cura espiritual do enfermo através do perdão
dos seus pecados. E enquanto esse milagre da saúde física, nesse contexto, se fizesse
única vontade reconhecida por Cristo na ocasião de apenas curar (mesmo assim, coisa
que não se admite) – sem nenhuma realidade implícita além, isto tampouco teria por que
impedir que Cristo posteriormente pudesse transmitir esse poder a seus apóstolos, tal
como é finalmente testificado nas Escrituras.

Também não é verdade que nenhum apóstolo ou qualquer outro agiu como um
confessor, ou que não há nenhuma menção nas Escrituras de qualquer homem confessar
os pecados. Há referências bíblicas explícitas que a chegam demolir por completo essas
reivindicações, mostrando que os pecadores arrependidos não se limitaram à confissão
interior. O Evangelho de São Marcos narra como aqueles que vieram a João Batista para
ser batizado confessavam seus pecados:

“Pessoas de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a circunvizinhança do Jordão


vinham a ele. Confessavam seus pecados e eram batizados por ele nas águas do
Jordão” (Mateus 3, 5-6).

O mesmo se afirma daqueles que, ao se converter, vinham aos apóstolos:

“Muitos dos que haviam crido vinham confessar e declarar suas práticas” (Atos 19,
18).

Existem evidências também de que o pecador não somente devia confessar seus pecados
a Deus, mas também a Igreja:

“Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes
curados. A oração do justo tem grande eficácia” (Tiago 5, 16).

Apesar de não vermos nesses textos uma confissão auricular tal como a conhecemos
hoje, podemos ver dois fatos principais: (a) Cristo deu aos apóstolos o poder de perdoar
os pecados, e que (b) o pecador não se limitou à confissão interior. Como poderiam os
Apóstolos perdoar pecados secretos a menos que o fiel confesse?

É incorreta também a objeção de que quando na Escritura de ordena confessar os


pecados se refere a pedir perdão aos irmãos que ofendemos. Se uma ofensa é um
pecado, nem todos os pecados são uma ofensa ao próximo e reduzir a isto o significado
do texto é desvirtuar seu significado real e completo.

Quando a Escritura fala da confissão dos pecados não se refere a pedir perdão a algum
irmão por haver ofendido. Compare esta interpretação com a narrativa de São Marcos:

“E saíam para ir ter com ele toda a Judeia, toda Jerusalém, e eram batizados por ele
no rio Jordão, confessando os seus pecados” (Marcos 1, 5).

Deveríamos interpretar que todas as pessoas da Judeia e Jerusalém haviam ofendido a


João Batista? Se aplicarmos a Atos 19, 18 – “Muitos dos que haviam crido vinham
confessar e declarar suas práticas” – deveríamos interpretar que todos os novos
conversos haviam ofendido os apóstolos. Note que o texto aqui é particularmente claro,
porque fala de confessar e declarar “suas práticas”, não suas ofensas. Recordemos
também que o primeiro ofendido por nossos pecados é Deus, pois todo pecado é
primeiramente uma violação da Justiça Divina.

3. FOI O CONCÍLIO LATERANO IV QUE CRIOU A CONFISSÃO


AURICULAR?

Existe uma grande variedade de distorções históricas em cima do sacramento da


penitência entre as seitas protestantes. Algumas vêm a confissão auricular (componente
importante do sacramento) como um invento do segundo milênio. Um exemplo deste
tipo de distorção é encontrado no “Manual prático para a obra do evangelismo
pessoal” já citado, em que se afirma a esse respeito:

“A confissão auricular aos sacerdotes foi oficialmente estabelecida na Igreja Romana


no ano de 1215. Mais tarde no Concílio de Trento em 1557, pronunciou maldições
sobre todos aqueles que haviam lido na Bíblia o suficiente para rejeitar a confissão
auricular.”

É importante deixar claro que as definições dogmáticas dos concílios não podem ser
interpretadas como que de alguma maneira se está introduzindo uma nova doutrina.
Estas definições só ocorrem quando uma verdade fundamental é questionada ou
necessita ser definida claramente para o bem dos fiéis.

Mas onde os protestantes acharam no concílio Laterano IV uma instituição da confissão


auricular? Transcreveremos abaixo todo o cânon 21 que trata sobre a confissão auricular
para vermos se há a criação de alguma coisa:

“Todos os fiéis de ambos os sexos devem, depois de terem atingido a idade do


discernimento, fielmente confessar todos os seus pecados pelo menos uma vez por ano
ao seu próprio (pároco) sacerdote e realizar no melhor de sua capacidade a
penitência imposta, recebendo com reverência pelo menos na Páscoa o sacramento da
Eucaristia, a menos que, talvez, seguindo o conselho de seu próprio sacerdote podem,
por um bom motivo se abster por um tempo da recepção dela, caso contrário eles
devem ser cortados da Igreja (excomungados) durante a vida e privados de um enterro
cristão na morte. Portanto, que este salutar decreto seja publicado com frequência nas
igrejas, que ninguém pode encontrar no fundamento de ignorância sombra de desculpa.
Mas, se alguém por um bom motivo desejaria confessar seus pecados a outro sacerdote,
primeiramente, procure e obtenha a permissão de seu próprio sacerdote (pároco), pois,
caso contrário ele (o outro sacerdote) não pode desligá-los ou ligá-los.

O sacerdote seja discreto e cauteloso. Que ele possa derramar vinho e azeite nas
feridas de um dos feridos segundo o proceder de um médico habilidoso,
cuidadosamente investigar as circunstâncias do pecador e do pecado, a partir da
natureza da qual ele pode entender que tipo de conselho dar e qual o remédio aplicar,
fazendo uso de experimentos diferentes para curar o doente. Todavia, exercite-o na
maior precaução. Que ele não faça conhecido o pecador em qualquer grau por
palavra, sinal ou outra forma, mas que ele deve precisar do mais prudente concelho,
busque-o dele cautelosamente sem qualquer menção de pessoa. Aquele que se atrever a
revelar um pecado confidenciado a si em tribunal de penitência, nós decretamos que
ele não será apenas deposto do ofício sacerdotal, mas também relegado a um
monastério de estrita observância em fazer penitência para o resto de sua
vida” (Concílio Laterano, Cânon 21).

Não encontramos em nenhum lugar uma instituição da confissão da maneira


disseminada pelas calúnias dos adversários da Igreja, mas somente a recomendação
pastoral de que todos que atingirem a idade da razão, isto é, do discernimento façam a
confissão pelo menos uma vez no ano, para o seu próprio pároco, e que tenham a
permissão dele se o fizer a outro, e que qualquer sacerdote que revelar um pecado
confessado seja deposto e enclausurado em um mosteiro. Este cânon não faz nada
mais do que confirmar a legislação corrente na Igreja.

O concílio de Trento refutando os hereges “reformadores”, fala claramente:

“A Igreja não prescreveu através do concílio Laterano que os fiéis de Cristo deveriam
confessar – uma coisa que é sabida ser um direito divino necessário e estabelecido –
mas que o preceito de confessar pelos menos uma vez por ano deveria ser cumprida
por todos e cada um quando chegarem a idade da razão” (Sessão XIV, c. 5).

Ou seja, o próprio concílio de Trento afirma que o artigo de Latrão não foi uma nova
definição, mas apenas as regras de como se fazer a confissão que é mandamento do
próprio Cristo. As bravatas começaram a surgir quando os pseudorreformadores
acharam que Cristo tinha abandonado a Igreja por centenas de anos e veio, somente,
restaurar a Igreja por meio deles, então começaram a negar tudo que antes era crido.

4. TESTEMUNHOS PRIMITIVOS

DIDAQUÊ
Examinemos a Didaquê (60-160 d.C.) considerada um dos mais antigos escritos cristão
não-canônicos e que antecede e muito a maioria dos escritos do Novo Testamento.
Estudos recentes comprovam que há possibilidade de haver terminado sua composição
em 160 d.C. É um excelente testemunho do pensamento da Igreja primitiva. Este
documento é particularmente insistente em pedir a confissão dos pecados antes de
receber a Eucaristia.

“Na reunião dos fiéis confessarás teus pecados e não te aproximarás da oração com
má consciência” (Didaquê XIV).

Na Didaquê temos um claro testemunho histórico oposto a posição protestante de


confessar os pecados diretamente a Deus.

CLEMENTE DE ROMA

“Submetam-se aos presbíteros e recebam a correção, de modo que se arrependam” (I


Carta aos Coríntios - capítulo 57).

TESTEMUNHO DE ORÍGENES (185-254 d.C.)

Orígenes foi escritor eclesiástico, teólogo e comentarista bíblico. Viveu em Alexandria


até o ano 231, passando os últimos 20 anos de sua vida em Cesareia Marítima
(Palestina) e viajando pelo Império Romano. Foi o maior mestre de doutrina cristã de
seu tempo e exerceu extraordinária influência como intérprete da Bíblia.

Afirma que depois do batismo há meios para obter o perdão dos pecados cometidos
depois dele. Entre eles enumera a penitência:

“(...) Dura et laboriosa per poenitentiam remissio peccatorum, cum lavat peccator in
lacrymis stratum suum et fiunt ei lacrymae suae panes die ac nocte, et cum non
erubescit sacerdoti domini indicare peccatum suum et quaerere medicinam”.

“Além destas três coisas há também um sétima [razão] dura e trabalhosa: a remissão
de pecados por meio da penitência, quando o pecador lava seu travesseiro com
lágrimas, quando suas lágrimas são sua vida de dia e de noite, quando não se retém
de confessar os seus pecados ao sacerdote do Senhor nem de buscar o remédio, da
maneira do que está escrito: „Diante do Senhor me acusarei de minhas iniquidades, e tu
perdoarás a deslealdade do meu coração‟” (Homilia sobre o Salmo 2, 4).

Assim Orígenes admite a remissão dos pecados através da Penitência e da Confissão a


um sacerdote. Afirma também que é o sacerdotes quem decide se os pecados devem ser
confessados também em público:

“Observa com cuidado a quem confessas teus pecados; põe a prova ao médico para
saber se é fraco com os fracos, e se chora com os que choram. Se ele achar que é
necessário que teu mal seja conhecido e curado na presença da assembleia reunida,
segue o conselho do médico sábio” (Homilia sobre o Salmo 37, 2, 5).
Também reconhece que todos os pecados podem ser perdoados:

“Os cristãos mortos choram como aos que se entregaram à intemperança ou cometam
qualquer outro pecado, por que se perdem e morrem para Deus. Mas, se dão provas
suficientes de uma sincera mudança de coração, são admitidos de novo no rebanho
depois de transcorrido algum tempo (depois de um intervalo maior do que quando
foram admitidos a primeira vez) como se tivessem ressuscitado dentre os mortos”
(Contra Celso 3, 51).

DECLARAÇÕES DE TERTULIANO

Tertuliano não é considerado um pai da Igreja, mas sim um escritor e apologista


eclesiástico, já que no final da sua vida caiu em heresia abraçando o montanismo.
Contudo foi muito lido antes de seu abandono da Igreja Católica. Tanto em seu período
ortodoxo quanto em seu período herético vemos Tertuliano testemunho sem igual que
nos informa sobre a penitência na Igreja.

Quando escreve De Penitentia (aproximadamente no ano 203 d.C., ainda sendo


católico). Fala-se de uma segunda penitência que Deus:

“Colocou no salão para abrir a porta aos que chama, mas somente uma vez, por que
está já é uma segunda” (De Paenitentia, c.7).

Nos textos de Tertuliano se vê um entendimento transparente de como o crente que caiu


em pecado depois do batismo tem necessidade do Sacramento da Penitência e expressa
o temor de que isto seja mal interpretado pelos fracos com um meio de seguir pecando e
obter novamente o perdão:

"Oh Jesus Cristo, meu Senhor, concede aos teus servos a graça de conhecer e aprender
com a minha boca a disciplina da penitência, mas enquanto lhes convém e não para o
pecado, em outras palavras, que depois (do batismo) não tenham que conhecer a
penitencia e nem pedi-la. Odeio mencionar aqui a segunda, ou por melhor dizer, neste
caso, a última penitência. Temo que, ao falar de um remédio da penitência que se tem
em reserva, parece sugerir que existe, todavia, um tempo em que se pode pecar. Deus
me livre alguém interprete mal meu pensamento, fazendo-os dizer que com esta porta
aberta a penitência existe, portanto, agora uma porta aberta ao pecado. (...) Temos
escapado uma vez (no batismo). Não vamos entrar mais em perigo, mesmo que nos
pareça que ainda escaparemos outra vez" (De Paenitentia, c.7).

“A Igreja pode perdoar o pecado , mas não vou fazer isso (perdoar) para que eles (os
que são perdoados) cair em outros pecados.” (Sobre a modéstia, 21,7).

Tertuliano fala de “pedir” a penitência, descartando a ideia de se limitar a uma confissão


direta com Deus. Detalhadamente quando afirma que para alcançar o perdão o penitente
deve submeter-se a "έξομολόγησιρ" ou confissão pública, e também cumprir os atos de
mortificação (Capítulos 9-12).
O testemunho de Tertuliano prova também que a penitência terminava tal como hoje em
dia, como uma absolvição oficial, depois de haver confessado o pecado:

“Esquivar-se deste dever como uma revelação pública de suas pessoas, o que difere de
um dia para o outro... Acaso é melhor ser condenado em secreto que perdoado em
público?”

No capítulo XII fala-se da eterna condenação que sofrem quem não quiser usar esta
“planca salutis”.

Em seu período montanista Tertuliano nega a Igreja o poder universal de perdoar


pecados graves (adultério e fornicação) afirmando que a capacidade de perdoar esses
pecados só Pedro recebeu e negava que este poder foi transmitido a Igreja. As razões
desta negação, não são as razões dos protestantes de hoje, mas eram por causa do
caráter rigoroso da doutrina montanista que afirmava que esses pecados eram
imperdoáveis.

Assim como ele se retrata do escrito que ele mesmo escreveu De Pudicitia (Sobre a
Modestia) quando se vê impelido a enfrentar um bispo que ele chama Pontifex
Maximus e Epsicopus Episcoporum (muito possivelmente o Papa Calixto) em virtude de
um edito em que se escreve – “Eu perdoo os pecados de adultério e fornicação àqueles
que cumpriram penitência” – confirmando assim o poder da Igreja de perdoar pecados
mesmo que seja adultério e fornicação. Este edito é outra evidência da posição oficial da
Igreja que tem a consciência do poder recebido de Cristo para outorgar o perdão dos
pecados.

Tertuliano deixa assim seu testemunho hostil e revoltoso sobre a prática da Igreja numa
típica literatura pré-nicena:

“E desejo conhecer teu pensamento, saber que fonte te autoriza a usurpar este direito a
„Igreja‟. Sim, porque o senhor disse a Pedro: „Sobre esta Pedra eu edificarei a minha
Igreja‟, „Ti darei as chaves do reino dos céus‟, e também: „tudo o que desligares na
terra será desligado; todo o que ligares será ligado‟; tu presumes que depois que o
poder se ligar e desligar foi sucedido até você, ou melhor, a toda a Igreja que está em
comunhão com Pedro, que audácia a tua de perverter e mudar inteiramente a intenção
manifesta do Senhor, que conferiu este poder pessoalmente a Pedro! ” (De
Pudicitia, c.21)

REGISTROS DE SÃO CIPRIANO (258 d.C.)

São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de família rica e
culta. Dedicou-se em sua juventude à retórica. O desgosto que sentia diante da
imoralidade dos ambientes pagãos contrastado com a pureza de costumes dos cristãos, o
induziu a abraçar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito
bispo de Cartago. Ele é um claro expositor da consciência da Igreja de haver recebido
de Cristo o poder de perdoar pecados. Combate assim a heresia de Novaciano, que
negava que havia perdão para quem em tempo de perseguição havia renegado a fé (os
apóstatas). Assim, em De opere et eleenosynis disse que quem pecou depois de haver
recebido o batismo pode voltar a obter o perdão de qualquer pecado que seja.

Também deixa um testemunho claro do dever de confessar o pecado enquanto é tempo e


enquanto essa confissão pode ser recebida por a Igreja:

“Exorto-os, caríssimos irmãos, que cada um confesse seu pecado, enquanto quem
pecou vive ainda neste mundo, ou seja, enquanto sua confissão pode ser
aceita, enquanto a absolvição e o perdão pode ser outorgado pelos sacerdotes que são
agradáveis a Deus” (Os Apóstatas 28; Epistolae 16, 2).

“(...) Pois, se quando se trata de pecados menores fazem penitência os pecadores no


devido tempo, e conforme foi ordenado pela disposição disciplinar vêm à confissão e
recebem o direito da comunhão pela imposição das mãos do bispo e do clero, agora
em tempo difícil, quando ainda dura a perseguição, ainda não tendo sido restaurada a
paz à Igreja, são recebidos na comunhão e se oferece ao seu nome, e mesmo sem
fazer penitência ou confissão ou ter recebido a imposição das mãos pelo bispo e clero,
recebem a Eucaristia, enquanto está escrito: „Aquele que comer o pão ou beber o
cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e sangue do Senhor'.

Antes de se extinguir o medo da perseguição, antes de nosso regresso, antes quase no


mesmo trânsito dos mártires, têm comunhão com os mortos, oferecem e entregam a
Eucaristia" (Carta 16, nº. 2ss – HARTEL, 518ss; Bayard; ML 4,251 A – 253 B,
epist. 9).

“O apóstolo [Paulo] da mesma forma dá o testemunho e diz: „Portanto, todo aquele


que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do
sangue do Senhor‟ (I Coríntios 11, 27). Mas [o impenitente] despreza e ignora todos os
avisos; antes de seus pecados serem expiados, antes deles terem feito a confissão de
seus crimes, antes das suas consciências terem purgado na cerimônia e na mão do
sacerdote... Eles são violentos com o corpo e o sangue, e com suas mãos e boca eles
pecam contra o Senhor mais do que quando o negam” (Os Apóstatas 15, 1-3).

ENSINAMENTOS DE SANTO HIPÓLITO MARTIR (235 D.C)

Desconhece-se o lugar e data de seu nascimento, embora se saiba que foi discípulo de
Santo Irineu de Lião. Seu grande conhecimento da filosofia e dos mistérios gregos, sua
própria psicologia, indica que era do oriente. Até o ano 202 d.C. era presbítero em
Roma, onde Orígenes – durante sua viagem a capital do império – o ouviu dar um
sermão.

Com a ocasião do problema da remissão na do que haviam apostatado durante uma


perseguição, instalou-se um grande conflito que se opôs ao papa Calixto, pois Hipólito
se mostrava rigoroso neste assunto, embora não negava o poder da Igreja para perdoar
os pecados. Tão forte foi o enfrentamento que Hipólito se separou da Igreja e, eleito
bispo de Roma por um reduzido círculo de partidários, se tornou assim o primeiro
antipapa da história. O cisma de prolongou após a morte de Calixto, durante o
pontificado de seus sucessores Urbano e Ponciano. Terminou no ano de 235 d.C., com a
perseguição de Maximiano, que baniu o Papa legítimo (Ponciano) e a Hipólito para as
minas de Cerdenha, em que se reconciliaram. Ali os 2 renunciaram ao pontificado, para
facilitar a pacificação da comunidade Romana, que deste modo pôde eleger um novo
Papa e dar por terminado o cisma. Tanto Ponciano como Hipólito morreram no ano de
235 d.C.

Hipólito é uma excelente testemunha de como a Igreja estava consciente de sua própria
autoridade de perdoar pecados, já que, embora sendo intransigente, não nega a
faculdade da Igreja para a absolvição. Prova disto está na A Tradição Apostólica –
Αποστολική παπάδοσιρ, em que nos deixa um testemunho indiscutível quando
reproduz ali a oração para a consagração de um bispo:

“Pai que conhece os nossos corações, concede a este teu servo que foi eleito para o
episcopado… Que em virtude do Espírito do Sacerdócio soberano tenha o poder de
„perdoar os pecados‟ segundo teu mandamento; que „distribua as partes‟ segundo tua
disposição, e que „desate todos os laços‟, segunda a autoridade que destes aos
apóstolos” (Tradição apostólica, 3).

Particularmente importante este testemunho, já que a Tradição apostólica é a fonte de


um grande número de constituições eclesiásticas orientais, o que confirma a dita
consciência estava bem presente em toda a Igreja.

AS CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS DO SÉCULO IV

Como na Tradição Apostólica de Santo Hipólito, as constituições apostólicas escritas na


Síria no século IV incluem uma oração similar a oração do bispo:

“Dá-lhe, Senhor Todo-Poderoso, através de Cristo, a participação em teu Espírito


Santo, para que tenha o poder de perdoar os pecados de acordo ao Teu preceito e Teu
comando, e desate todos as ataduras, qualquer que seja, de acordo com o poder que Tu
outorgou aos Apóstolos” (Constitução Apostólica, VIII).

SÃO BASÍLIO O GRANDE (330-379 d.C.)

Foi bispo de Cesareia e proeminente clérigo do século IV. É santo da Igreja ortodoxa e
cantado entre os pais da Igreja.

Quasten comenta que embora K. Holl diz que foi São Basílio que introduziu a confissão
no sentido católico, como a confissão regular e obrigatória de todos os pecados, mesmo
os mais secretos. (Enthusiasmus, p. 257. 2ª ed.. 267). Acrescenta também:

“Seu erro, no entanto, é identificar a 'Confissão Sacramental' com 'confissão


monástica' que era simplesmente um meio de disciplina e orientação espiritual e não
implicava a reconciliação e absolvição sacramental. Em sua regra (Regulae fusius
tractae 25, 26 e 46), São Basílio ordena que o monge tem que descobrir seu coração e
confessar suas ofensas, até mesmo seus pensamentos mais íntimos, a seu superior e aos
outros homens honestos „que gozam da confiança dos irmãos‟. Neste caso, o posto do
superior pode ocupar alguém que foi eleito como seu representante. Não há a menor
indicação de que o superior ou seu substituto tenha que ser sacerdotes. Se pode dizer,
pois, que Basílio inaugurou o que se conhece com o nome de „confissão monástica‟ ,
mas não a confissão auricular, que constitui uma parte essencial do sacramento da
penitência.”

Comenta também Quasten:

“De suas cartas canônicas (cf. supra, p. 234) se deduz que seguia todavia em rigor a
disciplina que havia existido nas Igrejas da Capadócia desde os tempos de Gregório
Taumaturgo. A expiação consistia na separação do penitente da assembleia cristã
(Capítulo VII). Na Epístola canônica menciona quatro graus: o Estado de „os que
choram‟, que foram colocados para fora da igreja (πποίσκλαςσιρ), o estados de „os que
ouvem‟, que estavam presentes para a leitura da Sagrada Escritura e para o sermão
(άκπόασηρ), o estado „dos que se prostram‟, que assistem de joelhos a oração
(ςπόσταση), por último, o estado de quem „estava de pé‟ durante todo o oficio, mas não
participavam da comunhão (σύστασιρ)”.

SANTO AMBRÓSIO DE MILÃO (340-396 D.C.)

Padre e doutor da Igreja, nascido no ano 340 e consagrado bispo em 374. Foi também
um ardente defensor da ortodoxia contra o Arianismo. Morreu no ano 397. Em 387 d.C.,
batizou Santo Agostinho de Hipona. Fez-se popular pela firmeza de que deu provas em
390 d.C. diante do imperador Teodósio, a quem proibiu o acesso a suas Igrejas depois
da matança em Tessalônica, até que o imperador fizesse penitência pública.

Compôs entre 384 e 394 d.C. o De Paenitentia, que é um tratado não homilético em
dois livros, nos quais Ambrósio refuta as afirmações dos novacianos acerca do poder da
Igreja de perdoar pecados e facilita informações de particular interesse para conhecer a
prática penitencial da Igreja de Milão no século IV.

“Professam mostrando reverência ao Senhor, reservando só a Ele o poder de perdoar


pecados. Maior erro ele não poderia cometer ao buscar rescindir as Suas ordens
derrubando o ofício que Ele mesmo conferiu. A Igreja o obedece em ambos os aspectos,
ao ligar o pecado e ao desliga-lo; por que o Senhor quis que ambos os poderes fossem
iguais” (De poenitentia, I, ii, 6).

Ensina que este poder é uma função do sacerdócio e que este pode perdoar todos os
pecados:

“Pareceria impossível que os pecados devam ser perdoar através penitência; Cristo
outorgou este (poder) aos apóstolos e dos apóstolos foi transmitido ao ofício dos
sacerdotes” (De poenitentia II, ii, 12).

O poder de perdoar se estende a todos os pecados:


“Deus não faz distinção; Ele prometeu misericórdia para todos e a Seus sacerdotes
outorgou a autoridade para perdoar sem nenhuma exceção” (De poenitentia I, iii, 10).

SANTO ATANÁSIO

Santo Atanásio também escreve:

“Assim como o homem batizado pelo sacerdote é iluminado pela Graça do Espírito
Santo, assim também aquele que em penitência confessa seus pecados, recebe através
do sacerdote o perdão em virtude da graça de Cristo” (Fragmentum contra
Novatum, PG XXVI, 1315).

SANTO AGOSTINHO DE HIPONA (354-430 d.C.)

Bispo de Hipona e doutor da Igreja, é reconhecido como um dos quatro doutores mais
distintos da Igreja latina, ao lado de São Jerônimo, Santo Ambrósio e São Gregório
Magno. Nasceu em 354 e chegou a ser bispo de Hipona durante 34 anos. Combateu
duramente todas as heresias de sua época e morreu no ano 430.

Escreve contra aqueles que negam que a Igreja recebeu o poder de perdoar os pecados:

“Não vamos ouvir aqueles que negam que a Igreja de Deus tem o poder de perdoar
todos os pecados”.

“Quando você for batizado, mantenha uma vida boa nos mandamentos de Deus para
que você possa preservar o seu batismo até o fim. Que eu não digo que você vai viver
aqui sem pecado, mas eles são pecados veniais que esta vida nunca está sem. O
Batismo foi instituído para todos os pecados. Para pecados leves, sem os quais não
podemos viver, a oração foi instituída... Mas não cometa esses pecados por conta de
que você teria que ser separado do corpo de Cristo. Pereça o pensamento! Para
aqueles que você vê fazendo penitência cometeram crimes, seja adultério ou algumas
outras enormidades. É por isso que eles estão fazendo penitência. Se seus pecados eram
leves, a oração diária bastaria para apagá-los... Na Igreja, portanto, existem três
maneiras em que os pecados são perdoados: nos batismos, na oração, e na maior
humildade de penitência” (Sermão aos Catecúmenos sobre o Credo 7:15; 8:16).

“Um abcesso havia se formado em sua consciência; ele o atormentado e não lhe deu
nenhum descanso... Confesse, e na confissão deixe o pus sair e escoar” (Comentário
sobre Salmo 66, 6).

“Eu percebo o que a incontinência pode dizer: (...), que se um homem, acusando a
esposa de adultério, mata-la, este pecado, pois ele está acabado e não perdura nele
[isto é, desde que ele não continue a cometê-lo], se ele é cometido por um
catecúmeno, é absolvido no batismo, e se for feito por quem é batizado, é curado por
penitência e da reconciliação” (Casamentos adúlteros 2:16:16).

A Crença de Agostinho na penitência (e da necessidade do batismo e da Eucaristia)


coloca uma sentença de morte na opinião de que ele ensinou o Sola Fide.
“No entanto, aqueles que fazem penitência de acordo com o tipo de pecado que eles
cometeram, não fiquem desesperados para receberem a misericórdia de Deus na
Santa Igreja, para a remissão de seus crimes, porém graves” (Echiridian 17, 65).

“Iniquidade, no entanto, por vezes, faz tal progresso nos homens que, mesmo depois de
terem feito penitência e após a sua reconciliação com o altar eles cometem os mesmos
pecados ou mais graves... E apesar de que o lugar da penitência na Igreja, não lhes é
concedido, Deus não vai ser esquecido de sua paciência em relação a eles (...)” (Cartas
153, 3, 7).

“Há aqueles que diriam que nenhuma penitência está disponível para certos pecados; e
eles falam que eles devem ser excluídos da Igreja e feitos hereges. A Santa Madre
Igreja não é impotente a qualquer tipo de pecado” (Sermões 352, 9).

SÃO JOÃO CRISÓSTOMO

Também são João Crisóstomo mostra claramente que já em seu tempo 15 séculos atrás,
tinha plena certeza do poder dos sacerdotes perdoarem os pecados:

“Fosse loucura manifesta para condenar tão grande poder, sem a qual não podemos
nem obter o céu nem receber o cumprimento das promessas... Não apenas quando eles
(os sacerdotes) nos regeneraram (batismo), mas também depois de nosso novo
nascimento, eles podem perdoar nossos pecados” (De sacra., III, 5).

“Os sacerdotes receberam um poder que Deus não deu nem aos anjos nem aos
arcanjos. Foi dito a eles: 'Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares, será desligado. Governantes temporais têm realmente o poder de ligação,
mas eles só podem ligar o corpo. Sacerdotes, em contraste, podem ligar com um
vínculo que pertence à própria alma e transcende os próprios céus. Será que [Deus]
não lhes dar todos os poderes do céu? ‘De quem você deve perdoar pecados’, diz ele,
‘são-lhes perdoados; cujos pecados você retiver, são retidos’. Que maior poder há do
que isso? O Pai entregou todo o julgamento ao Filho. E agora eu vejo o Filho
colocando todo esse poder nas mãos dos homens [Mat. 10, 40, João 20, 21-23]. Eles
são criados para esta dignidade como se eles já estivessem reunidos para o céu” (O
Sacerdócio 3, 5).

Pode haver testemunhos mais claros do que esses, se a Igreja criou a confissão e a
absolvição no concílio de Latrão IV em 1215, por que será que 800 anos antes deste
mesmo concílio São João Crisóstomo, faz tais declarações?

SÃO JERÔNIMO

São Jerônimo é categórico em falar que é necessário a confissão e a penitência:

“Se a serpente, o diabo, morder alguém secretamente, ele infecta essa pessoa com o
veneno do pecado. E se o que foi mordido se manter em silencio e não fizer penitência,
e não quiser confessar sua ferida... então seu irmão e mestre, que tem a palavra [de
absolvição] que vai curá-lo, não pode o ajudar muito bem” (Comentário sobre
Eclesiastes 10, 11).

SÃO PACIANO, O BISPO DE BARCELONA

Em 390 d.C. Escreve a respeito do perdão dos pecados:

“Isso que tu dizes, só Deus pode perdoar. Bastante certo: mas quando o faz através de
seus sacerdotes é Ele que faz com Seu próprio poder” (Epistola I ad Simpron, 6 em
P.L., XIII, 1057).

SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA (447 d.C)

Também este ilustre doutor da Igreja escreve:

“Homens cheios do Espírito de Deus (isto é. sacerdotes) perdoam pecados de duas


maneiras, tanto pela administração do batismo a aqueles que merecem ou pelo perdão
do filho penitente da Igreja” (In Joan., 1, 12 em P.G., LXXIV, 722).

CONCLUSÃO

Estas evidências mostram que a Igreja sempre teve a consciência plena de haver
recebido de Cristo o poder de perdoar os pecados e considera este como parte do
depósito de fé. Surpreendentemente tanto os padres do oriente como do ocidente
interpretam as palavras de Cristo tal como nós católicos fazemos quase vinte séculos
depois. É evidente, portanto, que o concílio de Trento somente fez eco do que a Igreja já
ensinava contra os hereges dos primeiros séculos, os quais, em sua grande maioria, nem
sequer defendia a posição protestante de hoje, já que a grande maioria deles não
rejeitava que a Igreja havia recebido tal poder.

Fonte: http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-
patristicos/578-os-pais-da-igreja-e-o-sacramento-da-penitencia-confissao-auricular

Você também pode gostar