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Pais da Igreja e o Sacramento da Extrema Unção

INTRODUÇÃO

A extrema-unção ou também unção dos enfermos é um sacramento cristão dedicado aos


enfermos, ungidos com óleo. O sacramento confere ao cristão uma graça especial para
enfrentar as dificuldades próprias de uma doença grave ou velhice. Assim o catecismo
da Igreja Católica assim define este sacramento:

“Pela sagrada Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, a Igreja toda entrega
os doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado, para que os alivie e salve.
Exorta os mesmos a que livremente se associem à paixão e à morte de Cristo e
contribuam para o bem do povo de Deus.” (CIC 1499)

“Cristo convida seus discípulos a segui-lo, tomando cada um sua cruz. Seguindo-o,
adquirem uma nova visão da doença e dos doentes. Jesus os associa á sua vida pobre e
de servidor. Faz com que participem de seu ministério de compaixão e de cura:
“Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. E expulsavam muitos demônios e
curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6,12-13). Esta unção sagrada dos
enfermos foi instituída por Cristo nosso Senhor como um sacramento do Novo
Testamento, verdadeira e propriamente dito, insinuado por Marcos, mas recomendado
aos fiéis e promulgado por Tiago (Tiago 5, 14-15), Apóstolo e irmão do Senhor.” (CIC
1506)

“Na tradição litúrgica, tanto no Oriente como no Ocidente, constam desde a


Antiguidade testemunhos de unções de enfermos praticadas com óleo bento. No curso
dos séculos, a Unção dos Enfermos foi cada vez mais conferida exclusivamente aos
agonizantes. Por causa disso, recebeu o nome de “Extrema-Unção”. Apesar desta
evolução, a liturgia jamais deixou de orar ao Senhor para que o enfermo recobre a
saúde, se tal convier à sua salvação.” (CIC 1512).

A UNÇÃO DOS ENFERMOS NA BÍBLIA

A unção dos Enfermos é claramente mostrada na bíblia. É prefigurada no Evangelho de


Marcos quando ele mostra que os apóstolos expulsavam demônios e curavam enfermos
ungindo os com óleo:

“Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. E expulsavam muitos demônios e


curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6,12-13).

Já na epístola de Tiago o sacramento é mostrado, recomendado e ensinado como deve


ser feito:

“Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem
sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o
Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados” (Tg 5,14-15).

A UNÇÃO DOS ENFERMOS NA IGREJA PRIMITIVA

Como prática comum da Igreja primitiva a Unção dos enfermos é relatada nos escritos
de diversos padres primitivos, dos quais alguns leremos agora.

Hipólito de Roma

O lugar e a data do seu nascimento são desconhecidos, embora saiba-se que foi
discípulo de Santo Ireneu de Lião. Seu grande conhecimento da filosofia e dos mistérios
gregos, e sua própria psicologia, indicam que procedia do Oriente. Até o ano 212 era
presbítero em Roma, onde Orígenes - durante sua viagem à capital do Império - o ouviu
pronunciar um sermão.

“O Deus que santifica este óleo, como Tu garantes a todos os que são ungidos e
recebem dele a consagração com que Tu fizeste ungir reis e sacerdotes e profetas, assim
fazei para pode dar força a tudo o que provam dele e saúde para todos os que usá-lo”.
(Hipólito de Roma, Tradição Apostólica, 5, 2).

Tertuliano

Estritamente falando, Tertuliano não é considerado um pai da Igreja, mas um apologista


e escritor eclesiástico, já que no final de sua vida cai em heresia abraçando o
montanismo. Porém foi lido antes de seu abandono da Igreja Católica. Tanto em seu
período ortodoxo quanto em seu período herético temos em Tertuliano um testemunho
que nos informa sobre a prática primitiva da Crisma na Igreja.
“Por que eles são corajosos o suficiente para ensinar, para disputar, para decretar
exorcismos, para realizar curas - podem até mesmo batizar.” (Tertuliano, Prescrição, 49)

Orígenes de Alexandria

Ilustre teólogo e escritor eclesiástico. Nascido em Alexandria por volta do ano 231, foi
reconhecido como o maior mestre da doutrina cristã em sua época, exercendo uma
extraordinária influência como intérprete da Bíblia.

“Além destes, há também um sétimo, embora difícil e trabalhoso... Desta forma, isso é
também cumprido, o que o apóstolo Tiago diz: „Se, pois, há alguém doente, Chame os
presbíteros da Igreja , e deixá-los impor as mãos sobre ele, ungindo-o com óleo em
nome do Senhor;. E a oração da fé salvará o doente, e se ele está em pecados, serão
perdoados‟” (Homilia sobre o Levítico 2, 4)

Afraátes o Persa

Afraates é originário da região de Nínive-Mosul, hoje Iraque, viveu na primeira metade


do século IV. Tem-se poucas informações sobre sua vida. Ele manteve relações estreitas
com os ambientes ascético-monásticos da Igreja Síria, sobre a qual transmitiu algumas
notícias em sua obra e à qual dedicou parte de sua reflexão.

“Do sacramento da vida, pelo qual os cristãos [o batismo], [sacerdotes na ordenação],


reis e profetas são aperfeiçoados; ilumina a escuridão [na confirmação], unge os
enfermos, e pelo seu sacramento secreto restaura os penitentes.” (Afraates o sábio persa,
tratados 23, 3)

São João Crisóstomo

Doutor da Igreja, nascido em Antioquia, em 347 d.C, morreu em Commana em Pontus


em 14 de Setembro de 407. É considerado o mais proeminente Doutor da Igreja Grega e
tido como o maior pregador que já subiu em um púlpito cristão.

“Pois não só no momento da regeneração, mas depois também, eles têm autoridade para
perdoar pecados. „É alguém entre vós doente?‟ é dito, „Chame os presbíteros da Igreja, e
estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor E a oração da fé
salvará o doente, e o Senhor o levantará.: e, se houver cometido pecados, serão
perdoados.‟” (Sobre o sacerdócio, 3, 6)

Atanásio de Alexandria

Atanásio de Alexandria (296 -373 d.C) foi bispo de Alexandria e o mais proeminente
teólogo do século IV.

“[Os doentes] consideram uma mais terrível calamidade do que a própria doença ... [em
vez de permitir] as mãos dos arianos ser colocadas sobre as suas cabeça.” (Atanásio,
Epístola Encíclica)

Serapião de Thmuis
Serapião nasceu no Egito, no norte da África e era um sacerdote profundo conhecedor
das questões eclesiásticas. Tornou-se um dos maiores combatentes dos hereges no
século IV que, aliás, foi o mais fértil deles. Fértil de hereges, mas também de
combatentes. Serapião, era amigo e companheiro do bispo Atanásio, que lhe enviou
cinco cartas, as quais fazem parte dos arquivos da Igreja, incentivando-o a continuar na
luta contra a doutrina dos arianos.

“[este óleo]... para a boa graça e a remissão dos pecados, para um medicamento de vida
e salvação, para a saúde e solidez da alma, corpo, espírito, para o fortalecimento
perfeito.” (Serapião de Thmuis, anáfora, 29, 1)

Efraim

“Eles oram sobre ti; alguém sopra sobre ti, outro selas tu” (Efraim, Homilia 46)

Santo Ambrósio

Bispo de Milão entre os anos de 374 à 397, nasceu provavelmente em 340 d.C, em
Trier, Arles, ou Lião, morreu em 4 de Abril de 397. Foi um dos mais ilustres Padres e
Doutores da Igreja.

“Por que, então, você impõe as mãos, e acredita que ela tem o efeito de bênção, se por
acaso alguma pessoa doente se recupera? Por que você supõe que qualquer um pode ser
purificado por você da poluição do diabo? Por que você batiza se pecados não podem
ser remidos pelo homem? Se o batismo é, certamente, a remissão de todos os pecados,
que diferença faz se os padres afirmam que esse poder é dado a eles em penitência ou na
fonte? Em cada mistério é um.” (Ambrose, Penitência, 1,8:36)

Cirilo de Alexandria

“Se alguma parte do seu corpo está sofrendo... recorde também o que diz na Escritura
divinamente inspirada: „Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes
façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé
salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, ser-lhe-ão
perdoados.‟”.(Tiago 5:14-15)” (Cirilo de Alexandria , louvor e adoração, 6)

Papa Inocêncio

Inocêncio I foi bispo de Roma de 401 a 12 de março de 417. Um líder capaz e enérgico.
Efetivamente promoveu o primado da Igreja Romana e cooperou com o Estado imperial
para reprimir a heresia.

“Na epístola do abençoado Apóstolo Tiago...‟Se alguém dentre vós está doente, Chame
os sacerdotes ... ". Não há dúvida de que isso deveria unção deveria ser interpretada ou
entendida do fiél doente, que pode ser ungido com o óleo sagrado da crisma... é uma
espécie de sacramento.” (Papa Inocêncio, para Decêncio, 25,8,11)

César de Arles
“Que quem está doente receba o Corpo e o Sangue de Cristo; que ele humildemente e
com fé pedir aos presbíteros o aabençoado óleo, para ungir seu corpo, de modo que o
que foi escrito possa ser frutuoso nele:“Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da
Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A
oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, ser-
lhe-ão perdoados.‟(Tiago 5, 14-15)” (Sermões, 13 (265), 3).

Cassdório de Cevilha

“[Um] sacerdote deve ser chamado, e pela oração da fé dele e a unção do óleo santo que
ele fará, vai salvar quem está aflito [por uma grave lesão ou doença].” (Cassiodoro,
Complexiones (570 dC))

CONCLUSÃO

Vemos aqui mais um sacramento que é fortemente baseado nas Escrituras e abertamente
praticado na Igreja Primitiva, como pudemos ver em diversos testemunhos dos pais da
Igreja.

Quem deseja ler, o que os pais da Igreja dizem sobre os outros sacramentos podem ler
aqui sobre a Crisma, aqui sobre a confissão, aqui sobre a Eucaristia e aqui sobre o
batismo infantil.

Fonte: http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-
patristicos/612-pais-da-igreja-e-o-sacramento-da-extrema-uncao

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