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AULA 1

Hierarquia e Sacerdócio nas


Origens

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INTRODUÇÃO
Bem-vindo ao curso A Igreja Nasceu Católica. Na primeira aula,
tratamos da Hierarquia Eclesiástica na Igreja Antiga. Nosso Senhor
instituiu uma igreja hierárquica, com bispos e padres ordenados? É
possível observar esses caracteres nas origens, entre os primeiros
cristãos? É o que procuraremos responder nesta aula, com base em
fontes dos séculos I, II, III e IV.
Este documento não é um resumo da aula, mas um material de
apoio com as principais citações utilizadas, para que sirva de
consulta durante a aula e para remissões futuras. Para assistir à aula,
clique aqui.

PROVAS ESCRITURÍSTICAS
O ponto de partida, naturalmente, devem ser os Evangelhos. E um
fato inconteste nos quatro evangelhos é que Cristo se apresenta
como autoridade e transmite essa autoridade a outros, para falarem
e agirem em Seu nome:

➢ A Escolha dos Doze: Todos os Evangelistas são concordes


em testemunhar que Jesus escolheu doze entre os discípulos, a
quem deu o nome de Apóstolos (Mat., X, 2-4; Marc., III, 13,
19; Luc., VI, 13, 16; João I, 35 e segs.).

➢ Instruiu-os duma maneira particular, desvendou-lhes o sentido


das parábolas que as turbas não compreendiam (Mat., XIII, 11)
e associou-os à sua obra mandando-lhes que pregassem o reino
de Deus aos filhos de Israel (Mat., X, 5, 42; Marc., VI, 7, 13;
Luc., IX, 1, 6). E Lucas 10,16.

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➢ Poderes conferidos aos Doze:
a) Ao colégio dos doze, — a Pedro em particular (Mat., XVI,
18, 19), e a todo o colégio apostólico (Mat., XVIII, 18), —
Jesus primeiro prometeu o poder de «ligar no céu o que
eles ligassem na terra», isto é, uma autoridade governativa
que os constituiria juízes nos casos de consciência e lhes
comunicaria a faculdade de preceituar ou proibir e,
portanto, de obrigar; de modo que todo o que não
obedecesse à Igreja seria considerado «como pagão ou
publicano» (Mat., XVIII, 17);
b) Poucos dias antes da Ascensão, Jesus conferiu aos Doze
Apóstolos o poder que antes lhes tinha prometido – “todo
poder me foi dado no céu e sobre a terra; ide, pois e fazei
discípulos (ensinai) entre todas as nações, batizando-as em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as
a observar todas as coisas que vos ordenei. E eis que estarei
convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt
XXVIII, 19-20).
Deste modo, Cristo comunicou aos Apóstolos o poder de:
o Ensinar;
o Santificar (pelos ritos instituídos para este fim, e em
particular pelo batismo);
o Governar (uma vez que os Apóstolos hão de ensinar ao
mundo a observar o que Jesus mandou).

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O CARÁTER HIERÁRQUICO – SÃO CLEMENTE I
Segundo os historiadores católicos, a hierarquia da Igreja remonta
às origens do Cristianismo.
O documento mais antigo da História da Igreja (à exceção do
Novo Testamento) já o aponta: a carta de São Clemente I, terceiro
bispo de Roma, aos Coríntios.

Figura 1 - São Clemente I, papa de 88 a 97, discípulo dos apóstolos e mencionado


nas cartas de São Paulo

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➢ “Os apóstolos vêm de Cristo e Cristo vem de Deus”,
“pregavam pelos campos e cidades, e aí produziam suas
primícias, provando-as pelo Espírito, a fim de instituir com elas
bispos e diáconos dos futuros fiéis”.

➢ “Os apóstolos instituíram aqueles de quem falávamos antes, e


ordenaram que, por ocasião da morte desses, outros homens
provados lhes sucedessem no ministério”.

CARTAS DE SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA


As cartas de Santo Inácio de Antioquia expõem claramente as
notas da Igreja: Una, Santa, Católica e Apostólica.

Figura 2 - Santo Inácio, terceiro bispo de Antioquia, discípulo de São Pedro e São
João. Assim como São Clemente, é chamado de Padre Apostólico.

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UNIDADE E CATOLICIDADE DA IGREJA
➢ Em primeiro lugar, há que se ressaltar que a Igreja, apesar de
espalhada em todos os cantos da terra, é uma só, é “universal”,
é “Católica”, termo usado pela primeira vez pelo próprio Santo
Inácio na carta aos esmirnotas (Em 8,2): “Onde aparece o bispo,
aí esteja a multidão, do mesmo modo que onde está Jesus Cristo, aí está a
Igreja Católica”.

➢ Reafirma em todas as cartas a unidade da Igreja. Aos magnésios


(Mg 7,2) exorta: “Correi todos juntos como ao único templo de Deus,
ao redor do único altar, em torno do único Jesus Cristo, que saiu do único
Pai e que era único em si e para ele voltou” e ainda que (Mg 7,1)
“reunidos em comum, haja uma só oração, uma só súplica, um só espírito,
uma só esperança no amor, na alegria imaculada que é Jesus Cristo, nada
é melhor do que ele.” (Mg 7,1).

➢ Aos filadelfienses (Fl 4) essa unidade fica ainda mais clara:


“Preocupai-vos em participar de uma só eucaristia. De fato, há uma só
carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só cálice na unidade do seu sangue,
um único altar, assim como um só bispo com o presbitério e os diáconos.”
Aos esmirnotas (Em 1,2), após descrever a morte e
ressurreição de Cristo, diz: “É graças a esse fruto, à sua divina e feliz
paixão que nós existimos, a fim de erguer para sempre um estandarte pela
ressurreição para os seus santos e fiéis, tanto judeus como pagãos, no corpo
único da sua Igreja.”

➢ Aos trálios (Tr 11,2) enfatiza que os fiéis (a Igreja), são o Corpo
único e indiviso de Cristo: “Por meio de sua cruz, Cristo vos chama
em sua paixão, vós que sois membros dele, a cabeça não pode ser gerada
sem os membros, pois Deus prometeu a unidade, que é ele mesmo”.

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OBS: Aqui é necessário recorrer
a São Cipriano, outro Padre da
Igreja:
➢ “Alguns se enganam a si
mesmos com uma presunçosa
interpretação das palavras do
Senhor: ‘Onde se acham dois ou
três...’. Apegam-se ao que é dito
depois, esquecendo o que foi Figura 3 - São Cipriano, bispo de
dito antes, lembram-se de uma Cartago e mártir (✝258)
parte da frase e, astutamente,
deixam do lado a outra. Assim como eles se separaram da Igreja, do
mesmo modo truncam o sentido de uma única sentença. [...] ‘Se dois
de vós se unirem entre si’, diz ele. Antes exige a união, põe na frente
a paz: o seu primeiro e mais firme preceito é que entre nós haja
acordo. E como poderá estar de acordo com alguém aquele que está
em desacordo com o corpo da Igreja e a totalidade dos irmãos? [...]
E quando, em seguida, formando entre si vários grupos, deram
origem a heresias e cismas, abandonaram a cabeça e a fonte da
verdade. O Senhor quer falar da sua Igreja e dirige aquelas palavras
àqueles que estão na Igreja, dizendo que, se dois ou três deles
estiverem concordes, como ele ensinou e mandou, e se reunirem em
um só espírito para rezar, embora sejam só dois ou três, impetrarão
da majestade de Deus o que pedem. [...] Por conseguinte, quando o
Senhor coloca entre os seus preceitos estas palavras: ‘Porque onde
se acham...’, não quer separar os homens da Igreja, pois ele mesmo
instituiu e formou a lgreja, mas ao contrário, repreendendo os
pérfidos pela discórdia e encarecendo, com a sua própria voz, a paz
dos fiéis, quer mostrar que ele está mais com dois ou três que estão
unânimes, do que com muitos que oram na dissidência, e que obtém
mais a prece concorde de poucos que a oração sediciosa de muitos.”

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Voltemos a Santo Inácio de Antioquia: Mas seria essa unidade
meramente espiritual e invisível, como afirmarão os protestantes
quatorze séculos depois? Não. Em cada uma das cartas, exceto
naquela aos romanos, Santo Inácio frisa que a unidade da Igreja se
dá em torno de uma hierarquia visível, composta por homens
vindos dos apóstolos e que são chamados a governar o povo
católico em cada uma das igrejas locais. Ou seja, essa unidade não
é apenas invisível e mística, mas visível e histórica:

ORIGEM DIVINA DO SACERDÓCIO CATÓLICO


➢ Insiste Santo Inácio aos efésios (Ef 6,1) que “É preciso que o
recebamos (ao bispo) como se fosse aquele que o enviou. Está claro,
portanto, que devemos olhar o bispo como ao próprio Senhor”. Aos
magnésios (Mg 3,1-2) diz que ao bispo deve-se tributar “toda
reverência”, se submetendo a ele, ou melhor, “não a ele, mas ao Pai
do bispo de todos, Jesus Cristo”.

➢ A hierarquia católica – bispo, presbítero, diácono – é exposta à


exaustão por Santo Inácio, a ponto de não se poder questionar
que esse sistema hierárquico é de instituição apostólica. Na
carta aos trálios (Tr 3) manda que “todos respeitem os diáconos como
a Jesus Cristo, e ao bispo, que é a imagem do Pai, e os presbíteros como à
assembleia dos apóstolos. Sem eles, não se pode falar de Igreja.” Na carta
aos esmirnotas (Em 8,1) diz: “segui todos ao bispo, como Jesus Cristo
segue ao Pai, e ao presbitério com os apóstolos; respeitai os diáconos como
à lei de Deus”.
➢ Aos magnésios (Mg 6,1) expõe com inigualável clareza a
hierarquia eclesiástica: “Por isso vos peço que estejais dispostos a fazer
todas as coisas na concórdia de Deus, sob a presidência do bispo, que ocupa
o lugar de Deus, dos presbíteros, que representam o colégio dos apóstolos, e
dos diáconos, que são muito caros para mim, aos quais foi confiado o serviço

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de Jesus Cristo, que antes dos séculos estava junto do Pai e por fim se
manifestou.”

➢ Em suma, a unidade da Igreja se dá, em primeiro lugar, pela


união dos fiéis em torno de sua legítima hierarquia. Por isso
Inácio exorta os efésios (Ef 4) a caminharem de acordo com “o
pensamento do vosso bispo”, para que toda a Igreja Católica se torne
“um só coro, a fim de que, na harmonia de vosso acordo, tomando na
unidade o tom de Deus, canteis a uma só voz, por meio de Jesus Cristo,
um hino ao Pai, para que ele vos escute e vos reconheça por vossas boas
obras, como membros do seu Filho. É proveitoso que estejais em unidade
inseparável, a fim de sempre participar de Deus”. Essa necessária
unidade em torno do bispo é uma correspondência à unidade
da Igreja com Jesus Cristo, e de Jesus Cristo com o Pai (Ef 5,1).

CONTRA AS HERESIAS, DE S. IRINEU DE LYON


Debrucemo-nos no Livro III de “Contra as Heresias”, de Santo
Irineu.

Figura 4 - Santo Irineu (ca. 130 – 202), bispo de Lyon, autoridade inconteste em seu
tempo, discípulo de S. Policarpo, por sua vez discípulo de S. João.

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➢ Autoridade Apostólica da Igreja: Irineu alicerça de maneira
clara a autoridade da Igreja Católica nos apóstolos, dos quais
recebeu a “única fé, verdadeira e vivificante” e a “comunica a seus
filhos”. “O Senhor de todas as coisas deu aos seus apóstolos o poder de
pregar o Evangelho e por meio deles nós conhecemos a verdade, isto é, o
ensinamento do Filho de Deus. A eles o Senhor disse: ‘O que vos ouve, a
mim ouve, e o que vos despreza, a mim despreza e a quem me enviou’”
(Mt 28,18-19).

➢ A Tradição Apostólica (1,1) “E se os apóstolos não tivessem


deixado as Escrituras, não se deveria seguir a ordem da tradição que
transmitiram àqueles aos quais confiavam as Igrejas?” e que muita
gente iletrada que crê em Cristo, “sem papel nem tinta, levam a
salvação escrita em seus corações, guardam escrupulosamente a antiga
tradição e, graças a essa antiga tradição, não admitem absolutamente se
possa a pensam em nenhuma das invenções mentirosas dos hereges” (4,2).

➢ Atitude daquele que nega a Tradição Apostólica (2,1-2):


Os hereges, que não acreditam nos apóstolos (e na Igreja que
deixaram) desprezam o próprio Senhor, condenam-se e se
opõe à própria salvação. Eles deformam a Escritura e negam a
tradição quando ela lhes é oposta: “E quando, por nossa vez, os
levamos à Tradição que vem dos apóstolos e que é conservada nas várias
igrejas, pela sucessão dos presbíteros, então se opõem à tradição, dizendo
que, sendo eles mais sábios do que os presbíteros, não somente, mas até dos
apóstolos, foram os únicos capazes de encontrar a pura verdade.” Com
isso, conclui o santo, eles não concordam nem com a Escritura
e nem com a Tradição.

➢ Onde está a verdadeira Tradição? Na sucessão apostólica


(3,1): “Portanto, a tradição dos apóstolos, que foi manifestada no mundo
inteiro, pode ser descoberta em toda Igreja por todos os que queiram ver a
verdade. Poderíamos enumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas
Igrejas pelos apóstolos e os seus sucessores até nós”, mas como isso seria
coisa bastante longa, ele se limita a apontar a sucessão e a

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primazia de uma das cátedras instituídas pelos Apóstolos, e a
mencionar o testemunho de São Policarpo, do qual foi
discípulo:
• A primazia da Igreja de Roma (3,2-3,3): “Com esta
ordem e sucessão chegou até nós, na Igreja, a tradição apostólica e
a pregação da verdade. Esta é a demonstração mais plena de que é
uma e idêntica a fé vivificante que, fielmente, foi conservada e
transmitida, na Igreja, desde os apóstolos até agora.”
• O testemunho de São Policarpo (3,4): Foi discípulo
dos apóstolos e estabelecido por eles como bispo de
Esmirna. Irineu recorda que o viu em sua infância e que
ele proclamava contra os hereges que “não tinha recebido
dos apóstolos senão uma só e única verdade, aquela mesma que era
transmitida pela Igreja.”

➢ Somente há verdade na Igreja – refutação antecipada de


todas as heresias (4,1): “Sendo as nossas provas tão fortes, não é
necessário procurar noutras pessoas aquela verdade que facilmente podemos
encontrar na Igreja, porque os apóstolos trouxeram, como num rico celeiro,
tudo o que pertence à verdade, a fim de que cada um que o deseje, encontre
aí a bebida da vida. É ela definitivamente o caminho de acesso à vida e
todos os outros são assaltantes e ladrões que é mister evitar. Por outro lado,
deve-se amar com zelo extremo o que vem da Igreja e guardar a tradição
da verdade. Ora, se surgisse alguma controvérsia sobre questões de mínima
importância, não se deveria recorrer a Igrejas mais antigas, onde viveram
os apóstolos, para saber delas, sobre a questão em causa, o que é líquido e
certo?” Antes de todos os hereges, acrescenta (4,3), existe a
Igreja.

OUTROS TESTEMUNHOS DO SÉCULO II


➢ São Policarpo de Esmirna: Ele designa os pastores como
“chefes da hierarquia e guardas da fé”.

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➢ São Dionísio de Corinto: Escrevendo em sua carta à
Igreja Romana, no século II, que guarda fielmente as
admoestações recebidas outrora do Papa Clemente.

➢ Hegesipo: Sustenta que as Igrejas são governadas pelos


bispos, sucessores dos apóstolos.

➢ Abércio, bispo de Hierápolis: Conta que nas suas


viagens pelas Igrejas cristãs encontrou por toda parte a
mesma fé, a mesma Escritura, a mesma Eucaristia.

CONTINUE SEUS ESTUDOS


Nas próximas duas aulas deste curso gratuito A Igreja Nasceu
Católica, continuaremos a estudar a Igreja Antiga:

➢ Aula 2: Papado e Fontes da Revelação – Escritura e


Tradição
➢ Aula 3: Missa, Sacramentos e Veneração aos Santos na
Antiguidade
Aguardamos você no YouTube!
E se você deseja conhecer mais a fundo as obras dos Padres da
Igreja que tratamos nesta primeira aula, a Escola de História da
Igreja é um ótimo caminho. Em nosso curso de Patrística nós
temos aulas sobre:

➢ A Carta aos Coríntios, de São Clemente (†99)


➢ As Sete Cartas de Santo Inácio de Antioquia (†107)

12
➢ O livro III de Contra as Heresias e a Demonstração da Pregação
Apostólica de Santo Irineu de Lyon
➢ Da Unidade da Igreja Católica, de São Cipriano de Cartago
(†258)
➢ +20 aulas estudando as obras de outros Padres da Igreja
Além disso, você terá acesso a 42 aulas apenas sobre a Igreja
Antiga, nas quais tratamos de temas como:

➢ As perseguições romanas, desde


Nero até a grande perseguição de
Diocleciano, e a vida dos mártires;
➢ A vida católica nos primeiros
séculos, como eram os
sacramentos, a liturgia, a educação,
etc;
➢ A formação do Novo Testamento;
➢ O papado nos primeiros séculos;
➢ A conversão e o reinado de
Constantino;
➢ A crise ariana e outras heresias do
período;
➢ A vitória da Igreja sobre o Império Romano.
Aqueles que se matricularem até o dia 5 de março receberão
gratuitamente o curso de Apologética Fundamental, que reúne as
respostas aos principais ataques e objeções que se levantam contra
a Igreja.

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