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AULA 2

Papado e Fontes da
Revelação – Escritura e
Tradição

1
INTRODUÇÃO
Na segunda aula do curso A Igreja Nasceu Católica, nós vimos que
desde o princípio entendiam-se como duas as fontes da revelação:
a Escritura e a Tradição. Vimos também que o bispo de Roma era,
de fato, superior aos demais bispos, sendo sucessor de São Pedro,
a quem Nosso Senhor constituiu Príncipe dos Apóstolos.
Este documento não é um resumo da aula, mas um material de
apoio com as principais citações utilizadas, para que sirva de
consulta durante a aula e para remissões futuras. Para assistir à aula,
clique aqui.

TRADIÇÃO E ESCRITURA
A PROVA DA PRÓPRIA ESCRITURA
Diz São Paulo:

➢ 2ª Carta aos Tessalonicenses: “Estai firmes e conservai as


tradições que aprendestes, seja por palavra, seja por carta
nossa”.

➢ Epístola a Timóteo: um ano antes do martírio, recomenda a


seu discípulo que conservasse com fidelidade e exatidão, como
a verdade revelada, mais que tudo, seu testemunho oral: “O
que ouviste por mim por muitas testemunhas, confia-o a
homens fiéis, que sejam também capazes de instruir os outros”
(2,2).

2
➢ Epístola aos Romanos: São Paulo pergunta: “Como crerão
naquele de quem não ouviram? E como ouvirão sem se pregar?
E como pregarão, se não forem enviados?” E mais adiante diz:
“A fé vem da audição e audição da palavra de Cristo...”

➢ Epístola aos Gálatas: Declara o caráter definitivo da sua


pregação, que, portanto, deve ser fonte de fé. Excomunga pelo
anátema todos que venham pregar outro Evangelho (Gl 1,6-
10). Logo depois faz apologia do seu apostolado (1,11-24), pelo
qual transmitira oralmente a tradição apostólica.

➢ 1ª Epístola aos Coríntios: Faz alusão à sua pregação, não a


escrito algum, resumindo a doutrina que já tinha ensinado
oralmente (1Cor 15,1-3): “Eu vos lembro, irmãos, o Evangelho
que vos preguei, o qual também recebestes, e no qual estais
firmes. Porque eu vos entreguei primeiramente o que havia
recebido”.”

Também São João nas suas cartas faz alusão à pregação oral:

➢ 1Jo 1,1-4: “O que ouvistes desde o princípio, permaneça em


vós. Se permanecer em vós o que ouvistes desde o princípio,
permanecereis também vós no Filho e no Pai.

➢ Na segunda e na terceira epístolas (2Jo 12, 3Jo13), ele diz que


prefere falar “face a face” a escrever em papel “com tinta e
pena.

3
E nos Atos dos Apóstolos não vemos em parte alguma os
apóstolos entregarem documentos escritos às novas Igrejas. O que
eles fazem é

o Pregar,
o Nomear testemunhas idôneas a quem transmitiram pela
imposição das mãos os poderes do apostolado,
o Para passar límpida e pura a Tradição Apostólica.

SANTO IRINEU DE LYON


No Livro III de Contra as Heresias, Santo Irineu mostra que são
duas as fontes da Revelação e que a Tradição tem certa primazia:
A Igreja, diz ele, recebeu o Evangelho dos apóstolos, por primeiro
pregado, e depois por escrito (a Tradição antecede a Escritura):

➢ “Por outro lado, deve-se amar com zelo extremo o que vem da Igreja e
guardar a tradição da verdade. Ora, se surgisse alguma controvérsia sobre
questões de certa importância, não se deveria recorrer a igrejas mais
antigas, onde viveram os apóstolos, para saber delas, sobre a questão em
causa, o que é líquido e certo? E se os apóstolos não tivessem deixado as
Escrituras, não se deveria seguir a ordem da tradição que transmitiram
àqueles aos quais confiavam as Igrejas?”

➢ Santo Irineu diz também que muitas pessoas iletradas que


creem em Cristo, “sem papel nem tinta, levam a salvação escrita em
seus corações, guardam escrupulosamente a antiga tradição e, graças a essa
antiga tradição, não admitem absolutamente se possa pensar em qualquer
das invenções mentirosas dos hereges” (4,2).

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➢ Atitude daquele que nega a Tradição Apostólica (2,1-2):
“E quando, por nossa vez, os levamos à Tradição que vem dos apóstolos
e que é conservada nas várias igrejas, pela sucessão dos presbíteros, então
se opõem à tradição, dizendo que, sendo eles mais sábios do que os
presbíteros, não somente, mas até dos apóstolos, foram os únicos capazes
de encontrar a pura verdade.”

No livro IV (24,2) recapitula esse argumento, mostrando que se


para com os judeus se podia utilizar a Escritura para pregar, para
os gentios isso não era possível:

➢ “Tudo isso era pregado aos gentios por simples palavra, sem apoio nas
Escrituras”.

Conclusão importante de Santo Irineu:

➢ “Tendo, portanto, recebido esta pregação e esta fé, como dissemos acima, a
Igreja, mesmo espalhada por todo o mundo, as guarda com cuidado, como
se morasse numa só casa, e crê do mesmo modo, como se possuísse uma só
alma e um só coração; unanimemente as prega, ensina e entrega, como se
possuísse uma só boca. Assim, embora pelo mundo sejam diferentes as
línguas, o conteúdo da tradição é um só e idêntico. As Igrejas fundadas na
Germânia não creem e não ensinam um modo diferente, nem as da Ibéria,
nem as dos celtas, nem as do Oriente, nem as do Egito, nem as da Líbia,
nem as estabelecidas no centro do mundo; mas como o sol, criatura de
Deus, é em todo o mundo um só e o mesmo, assim a luz da pregação da
verdade brilha em todo lugar e ilumina todos os homens que querem chegar
ao conhecimento da verdade. E nem o que tem maior capacidade em falar
dentre os que presidem às Igrejas, dirá algo diferente, porque ninguém está
acima do Mestre; nem quem tem dificuldade em expressar-se inferioriza a

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Tradição. Sendo a fé uma só e a mesma, nem quem pode dizer muito sobre
ela a amplia, nem quem pode falar menos a diminui.”

OUTROS PADRES DA IGREJA


Hipólito de Roma:

➢ “Agora, movidos pelo amor que devemos a todos os santos, atingimos o


ponto máximo da tradição o que diz respeito às igrejas. Todos, assim, bem
instruídos, devem conservar a tradição que perdura até hoje e, conhecendo-
a através de nossas palavras, devem permanecer absolutamente firmes, já
que o ocorrido recentemente (heresia ou erro) foi motivado pela ignorância
e também pelos ignorantes. Que o Espírito Santo conceda a graça perfeita
àqueles que creem na verdade ortodoxa, para que aqueles que lideram a
Igreja possam saber como ensinar e preservar tudo de forma conveniente.”
(Tradição Apostólica I, 1 Prefácio)

➢ “Se todos ouvirem e seguirem a tradição dos apóstolos, nenhum herege


(nenhum mesmo!) poderá vos afastar do reto caminho. Na verdade, muitas
heresias se desenvolveram porque os chefes não quiseram aprender a
doutrina dos apóstolos, mas seguindo a própria fantasia, fizeram o que
quiseram, isto é, o que não deveriam fazer.” (Tradição Apostólica III,
38).

Orígenes:

➢ “Embora existam muitos que acreditam que eles mantêm os ensinamentos


de Cristo, ainda existem alguns entre eles que pensam de forma diferente
de seus antecessores. O ensinamento da Igreja se impôs devido a uma ordem

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pela sucessão dos apóstolos e permanece nas igrejas até o presente momento.
Não há de aceitar como verdade algo além daquilo que difere em nada da
tradição eclesiástica e apostólica.” (As Doutrinas Fundamentais 1, 2)”

➢ E ele menciona na sua homilia sobre romanos um costume: a


Igreja recebeu dos apóstolos o costume de administrar o
batismo para crianças.

Tertuliano:

➢ “Se aparecer alguma heresia com a intenção de ter suas origens em tempos
apostólicos, de modo que pareça uma doutrina entregue pelos próprios
apóstolos, porque eles são, eles dizem, daquele tempo, nós podemos dizer-
lhes: que nos mostre as origens de suas igrejas, que nos mostrem a ordem
de seus bispos em sucessão desde o começo, de modo que seu primeiro bispo
tenha como autor e antecessor um dos apóstolos ou dos homens apostólicos
que trabalharam em estreita colaboração com os apóstolos. Porque é assim
que as igrejas apostólicas transmitem suas listas: como a igreja de
Esmirna, que sabe que Policarpo foi colocado lá por João, como a igreja
de Roma, onde Clemente foi ordenado por Pedro. Assim, todas as outras
igrejas que tiveram lhes mostram em que tem as raízes apostólicas, tendo
recebido o episcopado pela mão dos apóstolos. Talvez os hereges queiram
inventar listas fictícias: afinal, se foram capazes de blasfemar, o que vai
lhes parecer tão pecaminoso? [...] Portanto, que nos tragam esta prova, até
mesmo igrejas que são de origem posterior no tempo - novas Igrejas surgindo
a cada dia - e não têm fundador imediato como um apóstolo ou um homem
apostólico, mas já que tem a mesma doutrina das igrejas de origem
apostólica também são consideradas igualmente apostólicas pela estreita
relação de suas doutrinas.” (Prescrição contra os hereges 32, 1).

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São Cipriano manda com toda a diligência manter a tradição
divina e práticas apostólicas:

➢ “Com toda a diligência deve manter a tradição divina e prática apostólica,


e temos de aderir ao que é feito entre nós, que é o que é feito em quase todas
as regiões do mundo...” (Epist. 67, 5).

Eusébio de Cesareia, falando de São Cipriano, disse que o santo


não permitiu “nenhuma inovação contrária à tradição que havia prevalecido
desde o princípio” (História Eclesiástica VII,3).

Santo Atanásio, nos seus “Dos Decretos do Concílio de Niceia”,


mostra como a doutrina daquele concílio é a expressão “do que
nossos pais nos entregaram, ou seja, a verdadeira doutrina” e nos seus “Dos
Sínodos de Rimini e Selêucia”, fulmina os arianos como
dilapidadores da tradição recebidas dos pais.

Santo Agostinho:

➢ “De minha parte, eu não deveria acreditar no Evangelho exceto quando


movido pela autoridade da Igreja Católica. Então, quando aqueles em
cuja autoridade eu tenho consentido a crer no Evangelho me dizem para
não acreditar em Maniqueus, o que posso senão consentir? Faça sua
escolha.” (Contra a Carta de Mani 5, 6).

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São João Crisóstomo fulmina a Sola Scriptura com uma clareza
indizível, comentando II Tessalonicenses:

➢ “Dessa forma, irmãos, fiquem firmes e guardem as tradições que lhes


foram ensinadas, seja por palavra ou por carta.” “Isso deixa claro que eles
não transmitiram tudo por carta, mas que havia muita coisa que não foi
escrita. Como a que foi escrita, a não escrita também é digna de crédito.
Então consideremos a tradição da Igreja como sendo digna de crédito. Isto
é da tradição? Então, não procure outra coisa.” (Homilias sobre a 2ª
Epístola aos Tessalonicenses 4,2).

São Basílio Magno:

➢ “Vamos investigar quais são nossas concepções comuns na relação com o


Espírito, assim como as que são reconhecidas por nós a partir da Sagrada
Escritura em relação com aquelas que recebemos da tradição não escrita
dos Pais.” (Sobre o Espírito Santo 9, 22).
➢ E mais adiante ele diz: “Entre as verdades conservadas e anunciadas
na Igreja, umas nós as recebemos por escrito e outras nos foram
transmitidas nos mistérios, pela Tradição apostólica. Ambas as formas
são igualmente válidas relativamente à piedade. Ninguém que tiver, por
pouco que seja, experiência das instituições eclesiásticas, há de contradizer.
De fato, se tentássemos rejeitar os costumes não escritos, como desprovidos
de maior valor, prejudicaríamos imperceptivelmente o evangelho, em
questões essenciais. Antes, transformaríamos o anúncio em palavras
ocas.”(Tratado sobre o Espírito Santo – 27, 66).

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PAPADO
AS PALAVRAS DE CRISTO
Lembremo-nos das palavras de Cristo em S. Mateus XVI e
analisemos essa passagem:
“Respondendo Jesus, disse-lhe: ‘Bem-aventurado és, Simão filho de Jonas,
porque não foi a carne e o sangue que te revelaram, mas meu Pai que está nos
céus. E eu digo-te que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do
reino dos céus: tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus, e
tudo o que desatares sobre a terra, será desatado também nos céus.’”

➢ “E eu digo-te”: A quem Jesus dirigiu estas palavras? Ao colégio


apostólico? Não. A Pedro.

➢ “Tu és Pedro”: Conforme o uso bíblico, a mudança de nome


é sinal de um benefício — como Abrão que se tornou Abraão,
e Jacó que se tornou Israel. No caso presente, o novo nome
que Jesus deu a Simão simboliza a missão que lhe confiou. E
qual missão é esta? A de ser a pedra, o fundamento sólido sobre
o qual Ele estabeleceria Sua Igreja.

➢ “E sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”: Se em latim e


em português a palavra muda tanto de desinência quanto de
gênero (pedra e Pedro), o mesmo não se dá na língua original.
É como se disséssemos: “Tu és rochedo e sobre este rochedo
edificarei a minha Igreja”. Ademais, o demonstrativo “esta”,
que se encontra em todos os textos (tanto latino, quanto
grego), claramente dá a entender que se refere somente a Pedro
e não aos demais.

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➢ “Eu te darei as chaves do reino dos céus”:
o As Sagradas Escrituras, e as línguas orientais em geral,
designam “chaves do reino” por soberania ou supremo
poder. É, portanto, vontade de Cristo que este poder
se exerça sobre todos os membros da sua Igreja, sem
exceção, tanto sobre os chefes como sobre os fiéis.
o Se o poder de ligar e desligar seria estendido,
posteriormente, aos demais apóstolos, foi só a Pedro
que Cristo conferiu as chaves do Reino dos Céus e a
quem constituiu fundamento de sua Igreja. “Onde está
Pedro, aí está a Igreja”, diz Santo Ambrósio.

➢ “Tudo o que ligares na terra...”: Poderá todo o Colégio


Apostólico ligar e desligar, mas não de um modo igual para
todos. Só Pedro, o primeiro e único, que recebeu a promessa,
é que recebeu esse poder pleno e sem restrição, com direito de
exercê-lo sobre os demais. O poder foi originariamente
conferido somente a ele, e posteriormente aos demais. Tal
como escreve Bossuet, “era intenção evidente de Cristo dar
primeiramente a um só o que depois havia de estender a vários; mas o
posterior não invalida o primeiro, ou o primeiro não perde o seu lugar...
as promessas assim como os dons de Cristo não sofrem revogação; e o que
foi de vez e universalmente concedido, é de natureza irrevogável; além de
que o poder dado a vários importa restrição, originada da partilha; mas
não assim o poder outorgado a um só sobre todos e sem restrição, o qual
pressupõe plenitude”.

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CONFIRMAÇÃO DA PROMESSA POR CRISTO
➢ Antes da Paixão (Lc 22,31-32), Cristo disse que Satanás pediu
para joeirar a Pedro como trigo, no entanto, que Ele, Cristo,
rogará por ele, “para que tua fé não desfaleça e tu, uma vez
convertido, confirme teus irmãos”.

➢ Após a Paixão (João 21), quando Cristo apareceu a sete


apóstolos no Mar da Galileia, por três vezes perguntou a Pedro
se ele o amava, e três vezes Pedro disse que sim. Então Cristo
disse, também por três vezes: “Apascenta minhas ovelhas,
apascenta meus cordeiros”. Em grego, o verbo apascentar
significa também reger e governar. E nas línguas orientais esse
é o uso corrente. Assim, foi Pedro e só Pedro, o encarregado
de pastorear o rebanho, dotado por Cristo de um poder maior,
o primado de jurisdição. “Todos”, acrescenta Bossuet, “ficaram
submetidos às chaves dadas a Pedro, todos, reis e vassalos, pastores e
rebanhos. A Pedro que primeiro se manda amar mais que os mais
apóstolos, e se manda depois apascentar e governar a todos, cordeiros e
ovelhas, filhos e mães, e até os próprios pastores, os quais, se são pastores
em relação aos fiéis, são ovelhas com relação a Pedro”.

EXEMPLOS DO PRIMADO PETRINO EXTRAÍDOS DOS


EVANGELHOS E DOS ATOS
➢ O destaque dado a São Pedro é notório se considerarmos o
número de menções a ele no Novo Testamento. Trata-se, com
efeito, do segundo indivíduo cujo nome é mais invocado, atrás
apenas de Jesus: 171 vezes.

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➢ Em todas as vezes que os Apóstolos são listados, Pedro é
colocado em primeiro lugar. Tanto os Evangelhos quanto os
Atos o colocam como chefe e cabeça dos apóstolos, sem que
nenhum deles mostre o mais pequeno sinal de protesto ou
dúvida contra esta primazia. São Mateus diz mesmo que ele é
o primeiro no colégio apostólico, dizendo: “Eis os nomes dos
apóstolos: o primeiro Simão, que se ficou chamando Pedro”.

➢ Depois que Cristo subiu aos Céus, é Pedro que convoca,


preside e dirige a assembleia em que São Matias foi escolhido
como apóstolo.

➢ Foi ele quem primeiro pregou o Evangelho aos judeus.

➢ Foi ele quem recebeu de Cristo a ordem de batizar São


Cornélio, o primeiro cristão vindo do paganismo, abrindo
assim as portas da Igreja à gentilidade.

➢ Foi ele a castigar Ananias e Safira por causa de sua mentira.

➢ Foi Pedro quem confundiu Simão Mago.

➢ Foi a Pedro que São Paulo dirigiu-se, três anos após sua
conversão, para visitar.

➢ Foi Pedro a ir ao tribunal judaico e atestar o seu direito e sua


missão de pregar.

➢ Foi Pedro o primeiro santo a realizar um milagre, para


demonstrar a autenticidade da fé.

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➢ Foi Pedro a presidir o Concílio de Jerusalém e, à sua fala, toda
a assembleia calou-se.

ARGUMENTOS EXTRAÍDOS DA TRADIÇÃO


➢ Tertuliano de Cartago: “Nada pôde ocultar-se a Pedro, assim
chamado, porque sobre ele como sobre pedra fundamental é que foi
edificada a Igreja, a Pedro, que recebeu as chaves do reino dos céus, como
o poder de desligar e ligar na terra e no céu”. “Deu o Senhor as chaves a
Pedro e por Pedro à Igreja”.

➢ São Cipriano de Cartago: “Sobre um só foi construída a


Igreja: Pedro”.

➢ Orígenes de Alexandria: Declara que se a Igreja está fundada


sobre os apóstolos, Pedro, contudo, é o “grande fundamento e a
pedra mais sólida sobre a qual Jesus Cristo a fundou”. “Pedro recebeu o
poder supremo de pastorear as ovelhas”. “Se bem que Nosso Senhor deu
a todos os apóstolos o poder de ligar e desligar, contudo, a fim de a unidade
derivar de um só, não se dirigiu senão a Pedro, e só a ele, quando disse:
Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela”.

➢ São Jerônimo: “Eu me estreito a Vossa Santidade que equivale à


Cátedra de Pedro. E esta a pedra sobre a qual Jesus Cristo fundou a sua
Igreja. Seguro em vossa cátedra eu sigo a Jesus Cristo”.

➢ Santo Ambrósio: “Onde está Pedro, aí está a Igreja Católica”.

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➢ São Leão Magno: “Pedro foi o único escolhido para ser anteposto a
todos os apóstolos e a todos os Padres da Igreja. E conquanto haja muitos
padres no povo de Deus, Pedro os governa a todos, como Cristo
principalmente os governa. Concedeu a divina bondade uma grande e
admirável parte do seu poder a este apóstolo; e se quis compartilhassem
também alguma parte dele os chefes da Igreja, foi sempre por intermédio
de Pedro que receberam o que ela lhes não recusou”.

PROVAS DA PERMANÊNCIA DE SÃO PEDRO EM ROMA


Devemos investigar, em primeiro lugar, se São Pedro esteve na
capital do Império Romano e se aí fundou uma comunidade cristã.
Isso foi aceito sem contestação durante treze séculos: os primeiros
a negá-lo serão os valdenses e depois, naturalmente, os
protestantes e, por fim, os racionalistas. Em especial os
protestantes empenharam todos os seus esforços para negar este
fato, de uma importância capital nas suas controvérsias com os
católicos.
Hoje, no entanto, somente os mais empedernidos (e
intelectualmente desonestos) ousam negar que São Pedro fundou
a Igreja de Roma, pois já no século XIX os inimigos mais
aguerridos da Igreja já admitiam este fato. Ernest Renan, por
exemplo, deu como “provável a permanência de São Pedro na capital do
Império” em seu “Antechrist”. Harnack, igualmente, escreveu que
“o martírio de Pedro em Roma foi antigamente combatido pelos preconceitos
tendenciosos dos protestantes, mas foi um erro que todo investigador, que não
queira ser cego, pode verificar”. Harnack, em 1907 disse mesmo que

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“sabemos que esta vinda é um fato incontestável e que o começo da primazia
romana na Igreja remonta ao século II”.

Provas da permanência de São Pedro em Roma:

➢ Palavras do próprio apóstolo: Escrevendo aos fiéis da Ásia


(I Pedro 5,13), diz que escrevia “da Babilônia”. Pelo nome de
Babilônia quer ele designar, assim como São João no
Apocalipse, a cidade de Roma, considerada pelos judeus como
o centro da impiedade, à semelhança da Babilônia do Oriente,
que foi o centro do cativeiro judaico. Não hesita Renan em
confirmá-lo, dizendo que era assim que as comunidades cristãs
mais antigas se referiam à cidade de Roma.

Escritos dos Padres da Igreja:

➢ São Clemente I: em sua carta aos coríntios, no final do século


I, após se referir ao morticínio de cristãos sob Nero, nomeia
entre outros São Pedro e São Paulo, e acrescenta que “foram
eles de grande exemplo entre nós; foi aqui que eles suportaram
os ultrajes dos homens e sofreram toda sorte de torturas”.

➢ São Dionísio de Corinto: Escrevendo aos romanos diz que


“tendo vindo ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos
formaram na doutrina do Evangelho. A seguir, indo para a Itália, eles
vos transmitiram os mesmos ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio
simultaneamente.”

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➢ Santo Irineu de Lyon: Em cerca de 180, escrevia que: “Mateus
publicou entre os judeus, na língua deles, o escrito dos Evangelhos, quando
Pedro e Paulo evangelizar em Roma e aí fundavam a Igreja”.

➢ Caio de Roma: um padre romano do final do início do século


III, do tempo do Papa Zeferino, escrevia que “Se quiserdes ir ao
Vaticano ou à Via Óstia lá encontrareis os troféus dos que fundaram esta
Igreja”, dizendo em outra parte que Santo Eleutério foi o
décimo terceiro bispo de Roma depois de São Pedro.

➢ Tertuliano: “A Igreja também dos romanos demonstra por


instrumentos públicos e provas que Clemente foi ordenado por Pedro. Feliz
Igreja, na qual os Apóstolos verteram seu sangue por sua doutrina
integral, onde a paixão de Pedro se fez como a paixão do Senhor! Nero
foi o primeiro a banhar no sangue o berço da fé. Pedro então, segundo a
promessa de Cristo, foi por outrem cingido quando o suspenderam na
Cruz.”

➢ Orígenes de Alexandria: “Pedro, ao ser martirizado em Roma,


pediu e obteve que fosse crucificado de cabeça para baixo”. “Pedro,
finalmente tendo ido para Roma, lá foi crucificado de cabeça para baixo.
Igreja Bem-Aventurada... na qual os apóstolos derramaram todo o seu
ensinamento, além de seu próprio sangue.”

➢ São Cipriano de Cartago: Dá o nome de cadeira de São


Pedro à igreja romana: “A cátedra de Roma é a cátedra de Pedro, a
Igreja principal, de onde se origina a unidade sacerdotal.”

➢ Eusébio de Cesareia: Baseando-se nas memórias de


Hegesipo, que viveu no século II, escreveu que “Pedro, de

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nacionalidade galileia, o primeiro pontífice dos cristãos, tendo inicialmente
fundado a Igreja de Antioquia, se dirige a Roma, onde, pregando o
Evangelho, continua vinte e cinco anos bispo da mesma cidade.”

➢ São Doroteu de Tiro: “Lino foi Bispo de Roma após o seu


primeiro guia, Pedro”.

➢ Santo Optavo de Milevi: “Não podeis negar que sabeis que


na cidade de Roma a cadeira episcopal foi primeiro investida
por Pedro, e que Pedro, cabeça dos Apóstolos, a ocupou”.

AOS BISPOS DE ROMA SEMPRE SE RECONHECEU O


PRIMADO

(a) Demonstrações do século IV

➢ Santo Agostinho:
o “A Pedro sucedeu Lino, Clemente, Anacleto, Evaristo, Sixto,
Telesforo, Higino, Aniceto, Pio, Sotero, Alexandre, Victor,
Zeferino, Calixto, Urbano, Ponciano, Antero, Fabiano,
Cornélio, Lúcio, Estêvão, Sisto, Dionísio, Félix, Eutiquiano,
Caio, Marcelo, Eusébio, Melquiades, Silvestre, Marcos, Júlio,
Libério, Dâmaso, Siricio, Anastásio.” (Carta 53, A
Generoso, 1,2).
o “O que te fez a cátedra da Igreja Romana, em que Pedro se
sentou, na qual hoje se senta Anastácio?” (Réplica a cartas
de Petiliano, Livro II, 51,18).

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➢ No começo do século, Santo Optato de Milevi, argumentando
contra os donatistas, invoca a necessidade de se manter em
comunhão com a Sé de Pedro.

➢ 325 – O Primeiro Concílio de Nicéia foi presidido pelo bispo


Ósio de Córdoba e pelos padres Vito e Vicente, como
representes do Papa Silvestre, apesar da presença de bispos de
sés mais ilustres que a de Córdoba (como os de Alexandria e
Antioquia). Ademais, os três foram os primeiros a assinar as
atas do concílio.

➢ 341 – Ao ser deposto de sua sé pelos arianos, Santo Atanásio


foi a Roma para apelar do injusto julgamento de que fora
vítima ao Papa São Júlio I, submetendo-se ao juízo de um
concílio reunido pelo pontífice em Roma.

➢ 346 – O Concílio de Sardica, que reuniu uma multidão de


bispos vindos de todas as províncias do Império Romano,
incluindo Santo Atanásio de Alexandria (o homem mais
importante da Igreja no século IV), estabeleceu uma série de
cânones reconhecendo a Sé de Roma como a instância
decisória máxima da Igreja, dando a todas os sacerdotes o
direito de recorrer a ela quando se considerassem vítimas de
um juízo injusto. Ademais, o Concílio escreveu ao Papa Júlio I
(que não pôde comparecer) uma carta pedindo que
subscrevesse as decisões e declarando o Papa como cabeça da
Igreja, nos seguintes termos: “Esta, de fato, parecerá ser a coisa
melhor e mais apropriada: que os sacerdotes do Senhor de todas as
províncias recorram à cabeça, isto é, à sé do Apóstolo Pedro.”

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➢ 393 – O Concílio de Hipona, que reuniu muitos bispos da
província romana da África, elaborou uma lista com o cânone
bíblico. Após listar os livros, o Concílio declara que “Sobre a
confirmação deste cânon se consultará a Igreja do outro lado
do mar.”

➢ Naquele século, Santo Ambrósio de Milão considera a Igreja


de Roma como centro e cabeça de todo o universo católico;

➢ São João Crisóstomo, em 405, deposto arbitrariamente de sua


sé, São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, apelou ao
Papa Inocêncio I. São Jerônimo afirma que a cátedra de Roma
equivale à cátedra de Pedro.

(b) Demonstrações dos século II e III

➢ 272 – O Papa São Félix I interveio na querela envolvendo


Paulo de Samósata, bispo herético de Antioquia, subscrevendo
a decisão de um concílio regional que o depôs.

➢ 260 – O Papa São Dionísio corrige o bispo de Alexandria a


respeito de dogma: O bispo de Alexandria pareceu ceder a
certo subordinacionismo (subordinando o Filho ao Pai), e o
papa enviou-o uma carta corrigindo-o (conservada por Santo
Atanásio). Ao receber a carta do pontífice, o bispo de
Alexandria se submeteu, dizendo que nunca quisera dizer algo
diferente do que disse o papa, mas que apenas se equivocou na
terminologia utilizada.

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➢ Ca. de 254-257 – Papa Santo Estevão I ordenou que as igrejas
da África seguissem o mesmo costume que em Roma a respeito
do batismo dos hereges: que fossem considerados válidos e que
não fossem ministrados novos batismos. São Cipriano, que
entrou em uma contenda com o papa a esse respeito, atesta que
Estevão I utilizou de sua autoridade proibindo “que na Igreja seja
batizado quem provenha de qualquer heresia, ou seja, julgou fundados e
legítimos os batismos de todos os hereges.” Utilizou com vigor de sua
autoridade, ameaçando os bispos da Cilícia, da Capadócia, da
Galácia e das províncias circunjacentes de romper a comunhão
com eles porque rebatizavam os hereges. O bispo Fimiliano da
Capadócia atestou que “Estevão proclama ocupar a cátedra de Pedro
por sucessão”, ou seja, que invocava sua autoridade como
sucessor de São Pedro para impor seu juízo.

➢ Ca. de 240 – O padre e teólogo Orígenes de Alexandria,


acusado de heresia pelo seu bispo, enviou cartas não apenas
aos bispos de sua região para se defender, mas apelou ao Papa
Fabiano, bispo da distante Roma, para que decidisse seu caso.

➢ Ca. de 220 – O Papa São Calisto I condena para toda a Igreja


o rigorismo daqueles que negavam a possibilidade de
penitência para certos pecados, admitindo universalmente os
adultos penitentes na Igreja.

➢ Final do século II – Santo Irineu diz que “a Igreja de Roma é a


maior e mais antiga, fundada e constituída pelos dois gloriosíssimos
apóstolos, Pedro e Paulo [...] Com efeito, deve necessariamente estar de
acordo com ela por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto
é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira

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especial, a tradição que deriva dos apóstolos”. E acrescenta: “Os bem-
aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a Igreja transmitiram o
governo episcopal a Lino, o Lino que Paulo lembra na carta a Timóteo.
Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele, em terceiro lugar, depois
dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente. A este Clemente sucedeu
Evaristo, a ele Alexandre; em seguida Sisto, depois dele Telésforo, depois
Higino, em seguida Pio, depois dele Aniceto. A Aniceto sucedeu Sotero e,
presentemente, Eleutério, em décimo segundo lugar na sucessão apostólica,
detém o pontificado. Com esta ordem e sucessão chegou até nós, na Igreja,
a tradição apostólica e a pregação da verdade. Esta é a demonstração mais
plena de que uma e idêntica é a fé vivificante que, fielmente, foi conservada
e transmitida, na Igreja, desde os apóstolos até agora”.

➢ 190 - O Papa São Vítor I emitiu uma excomunhão para todas


as igrejas, especialmente as da Ásia, que não celebrassem a
Páscoa na mesma data que em Roma. No ano seguinte (191)
excomunga o herege antitrinitário Teódoto de Bizâncio (a
primeira excomunhão de caráter geral a um herege).

➢ Ca. de 160 - São Policarpo visita o Papa Aniceto e o consulta


acerca de matérias de fé e disciplina. O herege Marcião solicita
da Sé Apostólica aprovação para sua doutrina.

➢ Ca. de 150 – O Papa São Pio I decreta que a Páscoa em todas


as igrejas do Ocidente deveria ser celebrada na mesma data que
em Roma.

➢ 107 – Santo Inácio de Antioquia, escrevendo à igreja de Roma,


chama-a de “igreja que preside na caridade”, “digna de Deus, digna de

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honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna
de pureza, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai”.

(c) Demonstração do século I

➢ Ca. de 92-96 – a Carta do Papa Clemente aos coríntios:


Podendo apelar ao apóstolo João, que ainda vivia (inclusive em
uma localidade mais próxima de si), os cristãos de Corinto
apelaram a Roma para que arbitrasse e decidisse sobre uma
divisão interna. A resposta veio na famosa Carta de São
Clemente, na qual ele ordena aos coríntios que se submetam
aos legítimos pastores (63,1-2): “Convém que nós, com tantos e
tantos exemplos, curvemos a fronte e ocupemos o lugar que nos cabe pela
obediência. Desistamos da vã revolta, para alcançarmos
irrepreensivelmente o escopo que nos é proposto na verdade. Vós nos dareis
alegria e contentamento, se obedecerdes ao que escrevemos por meio do
Espírito Santo, se acabardes com a cólera injusta da vossa inveja, segundo
o pedido, que vos dirigimos nesta carta, tendo em vista a paz e a
concórdia”.

POR QUE VOCÊ É CATÓLICO?


Se um evangélico estivesse na sua frente agora e te perguntasse por
que você é católico e não protestante, você saberia dar uma
resposta satisfatória?
Você saberia explicar que a Igreja nasceu católica?

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Como católicos, é nosso dever defender a Igreja. Pensando nisso,
nós criamos na Escola de História da Igreja um curso de
Apologética Fundamental.
Com este curso, queremos equipar você com as armas da verdade,
para combater pela Igreja. Veja o que nós abordamos:
Em primeiro lugar, a demonstração de verdades contestadas por
ateus e agnósticos:

➢ a autenticidade e historicidade dos


Evangelhos,
➢ a existência de Cristo,
demonstrada a partir de fontes
fora da Bíblia,
➢ e a divindade de Cristo.
Depois, partimos para a resposta aos
protestantes:

➢ a fundação de uma Igreja visível


por Nosso Senhor,
➢ a primazia de Roma, Figura 1 - Lançado em junho de 2023, o
curso Apologética Fundamental foi um
➢ a origem apostólica do papado, grande sucesso entre nossos alunos.

➢ e a questão dos maus papas.


Essas aulas já estão disponíveis.
Ainda no primeiro semestre vamos disponibilizar o segundo
módulo:

➢ O contexto em que o protestantismo nasceu;


➢ O protestantismo explicado a partir de seu fundador, Martinho
Lutero;

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➢ Contra a Sola Scriptura: a autoridade da Tradição;
➢ Refutando o “Mito de Constantino”;
➢ Provando que o protestantismo é um erro.
Por fim, no terceiro módulo, tratamos de outras acusações:

➢ o suposto obscurantismo da Idade Média,


➢ as cruzadas,
➢ a inquisição,
➢ as guerras religiosas,
➢ o caso Galileu.
Este curso não é ofertado há 9 meses. Porém, nós percebemos o
quanto o Apologética Fundamental pode auxiliar aqueles que estão
participando do curso A Igreja Nasceu Católica. E por isso decidimos
entregá-lo gratuitamente para todos aqueles que se matricularem
na Escola de História da Igreja até a próxima terça-feira, 5 de
março.

➢ Clique aqui e faça já a sua matrícula para aproveitar


essa condição especial
Ao entrar na Escola você terá acesso às 42 aulas sobre a Igreja
Antiga, ao curso de Patrística, com 24 aulas já disponíveis, ao curso
de Apologética Fundamental e vários outros cursos.
Esperamos você na Escola!

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