Artigo II: A Transmissão da Revelação Divina Isaac Jerônimo
1. A Tradição apostólica (P. 74 - 79)
Podemos resumir o texto anterior da seguinte forma: “Deus se revela à humanidade "enviando seu próprio Filho, no qual estabeleceu sua Aliança para sempre. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de sorte que depois dele não haverá outra Revelação.” (CIC 73) Jesus é o centro, o cume de toda Revelação. Vimos, então que a Revelação não é um livro, uma doutrina, mas sim uma Pessoa. O cristianismo não é uma religião de um livro, é a religião de uma Pessoa, do contato com a Pessoa de Cristo. “Se a Revelação foi feita pela Encarnação, a transmissão da Revelação se dá pela continuidade do Mistério da Encarnação. Esta continuidade ao longo da História chama-se Igreja, ou seja, a Igreja é o Deus que se fez carne que agora vive ao longo da História. Jesus não foi alguém que viveu no passado, ele vive hoje. Não somente no céu, junto de Deus, mas ao longo da história, num corpo chamado Igreja.” (Pe. Paulo Ricardo) Que é, então, a Igreja? A Igreja é santa e composta por pecadores, uma realidade pura, imaculada, ao mesmo tempo marcada por membros pecadores. A Igreja não é pecadora, mas os membros da Igreja têm pecados, sendo assim, para que a Verdade divina seja transmitida é preciso identificar onde está a verdadeira vida da Igreja. "Com suma benignidade, Deus fez com que se conservasse inalterado para sempre e fosse transmitido a todas as gerações aquilo que ele relevara para a salvação de todos os povos. Por isso, o Cristo Senhor, em que se consuma toda a revelação do Sumo Deus, ordenou aos Apóstolos que o Evangelho - o qual, prometido antes pelos Profetas, ele completou e por sua própria boca promulgou - fosse por eles pregado a todos os homens como fonte de toda verdade salvífica e de toda disciplina moral, comunicando-lhes os dons divinos." (DH 4207) Assim, os católicos têm a certeza de que aquilo que foi transmitido por Cristo está sendo transmitido pelos séculos, estando em sintonia com a Igreja de dois mil anos. “A Tradição Apostólica, portanto, é uma realidade que precisa ser crida. Jesus, ao ordenar aos apóstolos que pregassem o Evangelho, não abriu nenhum leque de possibilidades, mas foi enfático ao dizer que deveriam pregar tão somente aquilo que receberam.” (Pe. Paulo RicardoP) Mas como os apóstolos fizeram essa transmissão? Como eles transmitiram e guardaram o Depósito da fé e como esse depósito permanece inalterado até os dais de hoje? Levou cerca de 20 anos para que os apóstolos começassem a escrever e mais ainda para os evangelhos serem escritos. Se não havia bíblia, tal como conhecemos hoje, como essa transmissão foi feita? Dessa reflexão, tiramos uma importância conclusão: As Sagradas Escrituras, isoladas, não contém toda a verdade da Revelação divina. A transmissão oral do depósito da Fé, aquilo que os apóstolos ouviram e viram de Cristo, a convivência com Jesus, os hábitos das primeiras Igrejas, tudo isso foi passado de geração em geração, ensinado, tal como um “telefone sem fio”. A Tradição Apostólica é constituída por dois meios de transmissão: a tradição (transmissão oral) e as Sagradas Escrituras. Note que “Tradição”, (com “T” maiúsculo) e tradição (com “t” minúsculo) estão sendo usados para designar coisas diferentes; “o primeiro engloba o segundo sentido e agrega as Sagradas Escrituras para formar a Tradição Apostólica, que é o legado dos apóstolos para a Igreja. O segundo refere-se ao conteúdo oral que foi transmitido pelos apóstolos.” (Pe. Paulo Ricardo). Sendo assim, fica claro compreender que utilizar as Sagradas Escrituras como fonte única de Transmissão da Revelação Divina, é um erro. Muitas são as passagens do Novo Testamento que revelam a importância da tradição oral. São Paulo diz a Timóteo: “O que ouvistes de mim em presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam capazes de ensinar ainda a outros” (2Tm 2,2). Note bem o ouviste. “Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa” (2Tes 2,15). “Nem tudo o que Jesus ensinou e fez, nem tudo o que os apóstolos ensinaram foi escrito. Podemos, portanto, afirmar, com toda certeza, que tudo o que está na Bíblia é verdade, mas nem toda a verdade está na Bíblia. Parte da Revelação foi oral e está na Tradição, que, por isso, é Sagrada e indispensável” (Felipe Aquino). Ora, há costumes e maneiras, jeito de viver, como viver, que não podem ser passados simplesmente de forma escrita. O telefone sem fio foi uma comparação proposital mas não contempla o todo da transmissão da Fé da Igreja que, muito mais do que transmitir verdades, transmite sua vida. Jesus não nos deixou nada escrito, nos ensinou por meio de ações e palavras. O que Ele deixou foi sua Igreja, novo Povo de Deus, que é a continuação de sua Encarnação, um organismo vivo que continua atuante ao longo dos séculos. Veja, imagine uma mangueira, enorme. Vá mais longe, uma sequoia, árvore gigante. Repare que a sequoia desde o seu nascimento, como uma semente até a sua maturidade exuberante, passou por uma grande mudança. No entanto, o DNA permanece o mesmo. Tal é a transmissão da Tradição. “Portanto, a transmissão da Revelação divina mesmo feita oralmente é algo que está ligado com a vida da Igreja. Não seria errado dizer que a transmissão da Revelação divina faz com que o próprio DNA da Igreja seja perpetuado e passado de geração em geração.” (Pe. Paulo Ricardo). "Mas para que o Evangelho sempre se conservasse íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os Bispos, transmitindo a eles o seu próprio ofício de Magistério. Portanto, esta sagrada Tradição e a Sagrada Escritura de ambos os Testamentos são como o espelho em que a Igreja peregrinante contempla a Deus, de quem tudo recebe, até ser conduzida a vê-lo face a face tal qual ele é." (DH 4208). Existe uma sucessão apostólica, portanto, os bispos transmitem ao longo dos séculos tudo aquilo que receberam dos apóstolos. "Por meio da Tradição, a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações aquilo que ela é, tudo o que crê." (CIC 78) Atentemo-nos, então, a Tradição apostólica. Nela, transmitida para os primeiros bispos e confiada por Cristo ao Magistério da Igreja, se encontra, sem sombras de dúvidas, a verdade que Deus quis nos Revelar, pois o próprio Cristo confiou a sua Igreja o dever de manter íntegro todo o ensinamento que passou aos 12. O que crê, a vida e costumes é transmitido ainda hoje e o próprio Espírito Santos, o próprio Cristo, se fazem presentes na Igreja, inspirando, fomentando maior entendimento e sabedoria para a permanência gloriosa desde todos os séculos e pelos outros futuros que virão. Fiquem com Deus!