Você está na página 1de 7

INSTITUTO DE DIREITO CANÔNICO

DA ARQUIDIOCESE DE LONDRINA
CONVENIADO AO PISDC – RIO DE JANEIRO
UNIVERSIDADE GREGORIANA
MESTRADO EM DIREITO CANÔNICO

ALEX GONÇALVES DIAS

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA

«CATECHESI TRADENDAE»
DE SUA SANTIDADE
PAPA JOÃO PAULO II

LONDRINA
2021
ALEX GONÇALVES DIAS

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA

«CATECHESI TRADENDAE»
DE SUA SANTIDADE
PAPA JOÃO PAULO II

Trabalho apresentado à disciplina Múnus


de Ensinar, do Curso de Mestrado em
Direito Canônico, do Instituto de Direito
Canônico da Arquidiocese de Londrina,
para obtenção de nota e aproveitamento
do curso.

Orientador: Prof. Dr Dom Anselmo

LONDRINA
2021
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
“CATECHESI TRADENDAE”
"sobre a catequese do nosso tempo"

Cristo ressuscitado, antes de voltar para o Pai, deu aos Apóstolos a ordem de
fazer novos discípulos, com o poder de anunciar a todos os povos, aquilo que ouviram,
viram e tocaram sobre o Verbo da Vida. Ao dar-lhes o Espírito Santo, confiou também a
missão de explicar com autoridade aquilo que Ele lhes tinha ensinado, as suas palavras,
os seus atos, os seus sinais e os seus mandamentos.
A catequese foi, portanto, sempre considerada pela Igreja como uma das tarefas
primordiais. Os últimos papas atribuíram a ela um lugar eminente na sua solicitude
pastoral.
“Catechesi Tradendae” é uma Exortação Apostólica pós-sinodal, do Papa João
Paulo II, de 16 de outubro de 1979, "sobre a catequese do nosso tempo". O trabalho de
redação deste documento foi iniciado pelo Papa Paulo VI, com base nos documentos
dos padres sinodais, continuada por João Paulo I e concluída por João Paulo II.
O documento é composto por nove capítulos, mais a introdução e a conclusão.
Sua estrutura está dividida nos seguintes temas:

Introdução: Ordem final de Cristo


Capítulo I: Nós temos um único Mestre, Jesus Cristo
Capítulo II: Uma experiência tão antiga quanto a Igreja
Capítulo III: A Catequese na atividade pastoral e missionária da Igreja
Capítulo IV: Toda a Boa Nova colhida na fonte
Capítulo V: Todos precisam ser catequizados
Capítulo VI: Algumas caminhos e meios para a catequese
Capítulo VII: Como dar a catequese
Capítulo VIII: A alegria da fé num mundo difícil
Capítulo IX: A tarefa diz respeito a todos nós
Conclusão: O Espírito Santo, Mestre interior

Trata-se de um documento cristocêntrico. No centro de toda a catequese está a


Pessoa de Jesus de Nazaré, aquele que, morrendo deu a vida por cada um de nós, e
ressuscitando, nos conduziu a um caminho de salvação. A vida cristã consiste, então,
em seguir a Cristo.
Catequizar é, de certo modo, levar alguém a penetrar no Mistério de Cristo em
todas as suas dimensões - conhecer os seus ensinamentos, sua verdade comunicada e
aquilo que Ele é.
Na catequese, é Cristo que ensina através dos seus porta-vozes. A preocupação
constante de todo o catequista, seja qual for o nível das suas responsabilidades na Igreja,
deve ser a de transmitir a doutrina e a as lições de vida de Jesus Cristo. Essa doutrina
não é um corpo de verdades abstratas, mas a comunicação do mistério vivo de Deus.
A qualidade d’Aquele que ensina no Evangelho e a natureza dos seus
ensinamentos ultrapassam de todas as maneiras as dos “mestres” em Israel. Ele é o
único Mestre, a quem os doze, os outros discípulos e as multidões de ouvintes Lhe
chamam “Mestre” com uma entoação ao mesmo tempo de admiração, de confiança e de
ternura. Até mesmo as autoridades do seu tempo não lhe recusam essa designação.
É o Mestre que ensina com sua própria vida e todo o seu ser. O Mestre que
revela Deus aos homens e revela o homem a si mesmo; o Mestre que salva, santifica e
guia, que está vivo e que fala, desperta, comove, corrige, julga, perdoa e caminha todos
os dias conosco pelos caminhos da história; o Mestre que vem e que há de vir na glória.
A imagem de Cristo que ensina foi impressa nos apóstolos e primeiros
discípulos. Não foram eles que escolheram seguir Jesus, mas o próprio Jesus que os
escolheu, e confiou a eles, de maneira formal, a missão de irem fazer novos discípulos.
Os mesmos não tardaram em levar adiante o seu mistério do apostolado. Os
Evangelhos, antes de serem escritos, foram expressão de um ensinamento oral,
refletindo claramente uma estrutura catequética.
A Igreja continua esta missão de magistério dos Apóstolos e dos primeiros
colaboradores, ao longo das diversas épocas da história, em todos os continentes e
ambientes sociais e culturais mais variados. Os Concílios trataram o ministério da
catequese com entusiasmo e energia. Está ligada a toda vida da Igreja. É um dever
sagrado e um direito imprescritível.
Todos os batizados têm o direito a receber da Igreja um ensino e uma formação
que lhes permita levar verdadeira vida cristã. A atividade catequética deve realizar-se
em circunstâncias favoráveis de tempo e lugar, ter acesso aos meios de comunicação
social e poder dispor de instrumentos de trabalho apropriados, sem discriminações em
relação aos pais, aos catequizandos e aos catequistas.
A catequese deve ocupar um lugar primordial nos planos pastorais da Igreja, e a
mesma deve sentir e mostrar-se responsável pela catequese, em todos os níveis.
O documento traz em si, um apelo a todos - aos bispos, presbíteros, diáconos,
religiosos, catequistas, à comunidade paroquial, à família, aos movimentos, aos colégios
católicos, entre outros. O Papa destaca que a catequese é o grande desafio da Igreja.
Sem dúvida, todo o futuro da comunidade eclesial está posto sobre esse alicerce: a
catequese.
Precisa, portanto, de uma renovação contínua, nos seus métodos, na busca de
uma linguagem adaptada e na técnica dos novos meios para a transmissão da
mensagem. Esta renovação nem sempre tem se processado com igual validade.
A catequese nunca pode ser dissociada do conjunto das atividades pastorais da
Igreja. Vale recordar que entre a catequese e a evangelização não existe separação nem
oposição.
A catequese visa o duplo objetivo de fazer amadurecer a fé inicial e de educar o
verdadeiro discípulo de Cristo, mediante um conhecimento mais aprofundado e
sistemático da Pessoa e da mensagem de Jesus. Sua finalidade é desenvolver, com a
ajuda de Deus, uma fé ainda inicial. Construir a fase de ensino e de ajuda à maturidade
da fé, como um autêntico cristão que diz Sim a Cristo, abandonando-se à Palavra de
Deus e apoiando-se nela, esforçando-se para conhecer cada vez melhor o sentido
profundo dessa Palavra.
Para tanto, é necessário que o ensino da catequese seja sistemático, não
improvisado, seguindo determinado programa. A catequese autêntica é sempre iniciação
ordenada e sistemática à revelação que Deus fez de Si mesmo ao homem, em Jesus
Cristo. Esta revelação está conservada na memória profunda da Igreja e nas Sagradas
Escrituras, e é constantemente comunicada, por uma tradição viva e ativa, de uma
geração a outra.
A catequese está intrinsecamente ligada a toda a ação litúrgica e sacramental.
Tem uma ligação íntima com a ação responsável da Igreja e dos cristãos no
mundo. Aqueles que aderem a Jesus Cristo pela fé e se esforçam por consolidar essa fé
na catequese, têm necessidade de viver em comunhão com outros que deram o mesmo
passo. Está igualmente aberta ao dinamismo missionário. Ela é tão necessária para o
amadurecimento da fé dos cristãos, como para o seu testemunho frente ao mundo.
O conteúdo da mensagem transmitida é o da Boa Nova da Salvação, mediante
uma tomada de consciência cada vez mais responsável das suas repercussões da vida
pessoal. Seu conteúdo encontra verdadeiro sentido na fonte viva da Palavra de Deus,
transmitida na Tradição e na Escritura, e já acentua que esta tem de ser impregnada e
embebida de pensamento, espírito e atitudes bíblicas e evangélicas, mediante um
contato assíduo com os textos sagrados.
O documento chama também a atenção para a importância de uma catequese que
inclua as exigências morais e pessoais requeridas pelo Evangelho, e as atitudes cristãs
frente à vida e frente ao mundo.
Numerosos Padres do Sínodo solicitaram, com legitima insistência, que o rico
patrimônio da Doutrina Social da Igreja, tivesse lugar na formação catequética e
ordinária dos fiéis.
O Papa chama atenção sobre o conteúdo da catequese, no que diz respeito à sua
integridade. O método e a linguagem utilizados para a transmissão do conteúdo devem
manter-se verdadeiramente como instrumentos para comunicar a totalidade e não apenas
parte das “palavras de vida eterna” ou dos “caminhos da vida”.
A catequese também não pode ficar alheia à dimensão ecumênica. Todo fiel é
chamado a participar do movimento da Unidade. Além disso, a catequese não consiste
somente em ensinar a doutrina, mas também em iniciar a toda a vida cristã, levando
para tanto a participar plenamente nos Sacramentos da Igreja.
Todos precisam ser catequizados, destacando a importância de uma adequada
catequese para as crianças e jovens. Ela dá normas e sugestões sobre como catequizar os
diversos destinatários da catequese: as crianças, os adolescentes, os jovens, os
deficientes, os jovens sem apoio religioso, os adultos. Desde a primeira infância até o
limiar da maturidade, a catequese torna-se pois uma escola permanente de fé e segue as
grandes linhas da vida, à maneira de um farol que ilumina o caminho da criança, do
adolescente e do jovem.
Efetivamente, a comunidade cristã, nunca poderá pôr em prática uma catequese
permanente sem a participação dos adultos, quer sejam eles os destinatários, quer os
promotores da catequese. Os adultos em qualquer idade e as próprias pessoas idosas
merecem atenção particular. Importante também ressaltar que a catequese entre as
diversas fases da vida tenha uma comunicação entre si, favorecendo a sua perfeita
complementaridade.
As vias e os meios utilizados para a catequese devem acompanhar a evolução da
sociedade. Os meios de comunicação social contribuem muito para isso. Os esforços
que já foram feitos nestes domínios são de molde a dar-nos melhores esperanças.
O Papa pede que os catequistas valorizarem a piedade popular, as orações do
povo simples, a memorização como valiosos meios de evangelização. Uma catequese
que seja adaptada aos nossos tempos modernos, sem jamais usar “uma linguagem que
engane ou que seduza”, e que transmita “todo o conteúdo doutrinal de sempre, sem
deformações”.
O documento chama atenção aos múltiplos lugares, reuniões e movimentos de
grande alcance, onde se tem pleno cabimento a catequese, assim como a revalorização
das peregrinações, das missões populares, abandonadas, muitas vezes, precocemente e
que são insubstituíveis para uma renovação periódica e vigorosa da vida cristã. Os
agrupamentos jovens, os grupos de ação católica, grupos caritativos, grupos de oração e
de reflexão cristã que suscitam grandes esperanças para a Igreja de amanhã, devem ser o
lugar onde a catequese encontra um espaço fundamental.
Quando a catequese é feita dentro do enquadramento litúrgico, principalmente
na assembleia eucarística, a homilia retoma o itinerário da fé proposto na catequese e
leva-o ao seu complemento natural. A pregação , centrada nos textos bíblicos, deverá à
sua maneira, fazer com que os fiéis se familiarizem com o conjunto dos mistérios da fé
e das normas da vida cristã.
Neste conjunto de vias e meios, os livros catequéticos devem adaptar-se à vida
concreta da geração a que são destinados, numa linguagem compreensível, esmerando
em ser a expressão de toda a mensagem de Cristo e da Igreja, em vista de uma autêntica
conversão. Quanto aos conteúdos dos textos de catecismos, eles devem sempre levar em
conta as normas de referencia do Diretório Geral da Catequese.
Os métodos a serem adotados no sentido do ensino da catequese são variados e
acompanham as circunstancias do tempo e lugar, porém deve-se evitar à tentação de
misturar indevidamente com o ensino catequético, perspectivas ideológicas de natureza
político-social, evitando, assim as “dicotomias”. Outro fator importante é o respeito às
culturas que deve ser levado em conta, para não cair no erro do passado. A catequese
tem que encarnar-se nas diversas culturas e nos diferentes meios, sem, portanto, perder
sua essência. As simples devoções e a própria religiosidade popular devem servir como
instrumentos enriquecedores, porém, de certa forma onde é preciso, sob vários aspectos,
purificados e ratificados em relação a elementos que podem fugir da essência cristã.
A pluralidade dos métodos na catequese contemporânea pode ser sinal de
vitalidade e de talento inventivo. Porém, importa que o método escolhido se atenha
acima de tudo a uma lei fundamental para toda a vida da Igreja: a lei da fidelidade a
Deus e da fidelidade ao homem, numa única atitude de amor.
Vivemos num mundo difícil, secularizados e cheio de incertezas, por isso a
catequese tem de ajudar os cristãos a serem sal e luz no mundo, reafirmando a
identidade cristã em meio aos desafios da vida e do mundo, que em boa parte, nega
Deus.
A originalidade inconfundível da identidade cristã tem como corolário e
condição uma pedagogia não menos original da fé. Na pedagogia da fé, não basta
transmitir um saber humano, por mais elevado que seja, trata-se de comunicar na sua
integridade a revelação de Deus. Nenhuma técnica será válida na catequese senão na
medida em que for posta a serviço da fé a transmitir e a educar.
A linguagem deve estar adaptada aos diversos interlocutores do ensino
catequético, porém não poderá perder ou deformar o conteúdo doutrinal a ser
transmitido.
A catequese deve proporcionar aos jovens catecúmenos as certezas que temos
simples, mas sólidas; são elas que os hão de ajudar a procurar mais e melhor o
conhecimento do Senhor. Neste contexto é importante que se compreenda bem a ligação
entre a catequese e a teologia.
O dom mais precioso que a Igreja pode oferecer ao mundo contemporâneo,
desorientado e inquieto, é o de nele formar cristãos bem firmados no essencial e
humildemente felizes na fé.
Essa tarefa cabe a todos, por isso o Papa encoraja os responsáveis pelo ensino
religioso e pela preparação para uma vida conforme o Evangelho, a coragem, a
esperança e o entusiasmo. Dirigindo-se aos bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e
religiosas, catequistas leigos, e detentores do poder civil, o Papa anima-os a depositarem
um intenso fervor e ardor missionário, a fim de que Jesus Cristo, centro e fonte da vida
cristã seja conhecido e experimentado por todos.
Os lugares onde os agentes da catequese atuam devem servir-se como espaços
primordiais da escuta, do seguimento, da animação catequética, do incentivo da fé e da
missão, seja na paróquia, na família, na escola, nas associações e movimentos, nos
Institutos de formação.
O Espírito Santo deverá conduzir toda a Igreja, transformando seus discípulos
em testemunhas de Cristo. A catequese, que é crescimento na fé e amadurecimento da
vida cristã em ordem à sua plenitude é, por consequência, obra do espírito santo, obra
que só Ele pode suscitar e manter na Igreja.
Que a Virgem Santíssima do Pentecostes ajude a todos alcançar esse propósito.
Que a presença do Espírito Santo, pois pela intercessão de Maria, possa alcançar
à Igreja um impulso sem precedentes na atividade catequética que para ela é essencial!
A Igreja desempenhar-se-á então de modo eficaz, neste tempo de graça, da missão
inalienável e universal recebida do seu Senhor: “Ide e ensinai todas as gentes”.

João Paulo II

Você também pode gostar