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Responsa ad dubia

1 - O que é tradição?

É a ação de transmitir o que foi recebido (como diz Sâo Paulo na sua carta aos
coríntios no capítulo 11). No contexto eclesial, é o ensinamento dos Papas que
se mantém constante.

CONCÍLIO VATICANO I, 4ª sessão: Constituição “Pastor aeternus”

"E como, com ódio crescente de dia para dia, para derrocar, se fosse possível, a
Igreja, as portas do inferno se insurgem por toda parte contra seu fundamento
divinamente estabelecido, Nós julgamos necessário para a guarda, a
incolumidade e o aumento da grei católica, com a aprovação do Concílio, propor à
crença dos fiéis a doutrina sobre a instituição, a perpetuidade e a natureza do
santo primado apostólico, no qual reside a força e a solidez de toda a Igreja,
segundo a fé antiga e constante da Igreja universal, proscrevendo e condenando
os erros contrários, tão perniciosos à grei do Senhor.

Ensinamos, pois, e declaramos, segundo o testemunho do Evangelho, que Jesus


Cristo prometeu e conferiu imediata e diretamente o primado de jurisdição sobre
toda a Igreja ao bem-aventurado Pedro Apóstolo. Com efeito, só a Simão, a quem
antes dissera: “Chamar-te-ás Cefas” [Jo 1,42], depois de ter ele feito a sua profissão
com as palavras: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”, foi que o Senhor se dirigiu
com estas solenes palavras: “Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque
nem a carne nem o sangue to revelaram, mas sim meu Pai que está nos céus. E eu
te digo: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela. E dar-te-ei as chaves do reino dos céus. E tudo
o que ligares sobre a terra será ligado também nos céus; e tudo o que desligares
sobre a terra será desligado também nos céus” [Mt 16,16 ss]. E somente a Simão
Pedro conferiu Jesus, após a sua ressurreição, a jurisdição de pastor e chefe
supremo de todo o seu rebanho, dizendo: “Apascenta os meus cordeiros”,
“Apascenta as minhas ovelhas” [Jo 21,15-17]."

[...]

"Daí se segue que todo aquele que sucede a Pedro nesta cátedra, obtém, segundo
a instituição do próprio Cristo, o primado de Pedro sobre a Igreja universal.
“Permanece, pois, o que a verdade ordena; e o bem-aventurado Pedro,
perseverando na fortaleza de pedra que recebera, não abandonou o timão da Igreja
que uma vez empunhara”. Por isso, foi sempre “necessário que” a esta Igreja
romana, “por causa de sua mais forte principalidade, se unisse toda a Igreja, isto é,
todos os fiéis que há e donde quer que sejam”, a fim de que nessa Sé, da qual
emanam todos “os direitos da veneranda comunhão”, unidos como os membros à
cabeça, se juntassem na articulação de um só corpo."

[...]

"[Cânon] Se, portanto, alguém disser não ser por instituição do próprio Cristo,
ou seja, de direito divino, que o bem-aventurado Pedro tem perpétuos
sucessores no primado sobre a Igreja universal; ou que o Romano Pontífice
não é o sucessor do bem-aventurado Pedro no mesmo primado: seja
anátema.".
2 - O que é tradicionalismo?

É a ideologia que prega a manutenção dos costumes de forma cega, que visa
fim em si mesma.

Como disse Jesus "Jesus disse-lhes: “Isaí­as com muita razão profetizou de
vós, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o
seu coração está longe de mim. Em vão, pois, me cultuam, porque ensinam
doutrinas e preceitos humanos (29,13). Deixando o mandamento de Deus, vos
apegais à tradição dos homens”. (Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos,
capítulo 7)
3 - O que é ortodoxia?

É a guarda da verdade (que é absoluta) da Fé.

Encíclica “Qui pluribus"

É claro, portanto, em quão grande erro se debatem também aqueles que, abusando
da razão e julgando coisa humana as palavras de Deus, têm a audácia de
explicá-los e interpretá-los a seu arbítrio, se bem que Deus mesmo tenha
constituído uma autoridade viva que ensinasse e precisasse o sentido verdadeiro e
legítimo da sua celeste revelação, e decidisse de todas as questões quanto à fé e
os costumes com juízo infalível, para que os fiéis não sejam levados por todo vento
de doutrina, pela malícia com que os homens os induzem ao erro [cf. Ef 4,14].

Esta viva e infalível autoridade vigora somente naquela Igreja que, edificada pelo
Cristo Senhor sobre Pedro, de toda a Igreja o chefe, príncipe e pastor, cuja fé ele
prometeu nunca seria abalada, teve sempre, sem interrupção, os seus legítimos
Pontífices, que trazem sua origem do mesmo Pedro, estabelecidos na cátedra dele
e herdeiros e defensores da sua doutrina, dignidade, honra e poder.

E já que, onde está Pedro, aí está a Igreja, e Pedro fala pela boca do bispo de
Roma e, nos seus sucessores, sempre vive e julga e garante aos que a buscam a
verdade da fé, é claro, portanto, que as palavras divinas devem ser recebidas com o
mesmo sentimento que anima esta cátedra romana do beatíssimo Pedro, a qual,
mãe e mestra de todas as Igrejas [*1616], manteve sempre íntegra e inviolada a
fé transmitida pelo Cristo Senhor e a tem ensinado aos fiéis, mostrando a
todos o caminho da salvação e a doutrina da incorrupta verdade.
Precedente histórico

Carta “Regi regum” ao imperador Constantino IV

Confirmação das decisões do Concílio de Constantinopla III contra os monotelistas


e o Papa Honório I

Ficamos sabendo, de fato, que o santo ecumênico e grande sexto Sínodo [o III de
Constantinopla], como também o inteiro Sínodo [de Roma ano 680], reunido ao
redor desta Santa Sé Apostólica … pensou … e em concordância conosco
professou:

Que o mesmo Senhor Jesus Cristo é um da santa e inseparável Trindade e é


composto de duas e em duas naturezas, de modo inconfuso, inseparável, indiviso;
que, sendo único e o mesmo, é verdadeiramente perfeito Deus e perfeito homem,
salvaguardadas as propriedades das duas naturezas nele confluentes; que, um e o
mesmo, como Deus operou as coisas divinas e, inseparavelmente, como homem
operou as coisas humanas, exceto só o pecado: <o Sínodo> proclamou verazmente
que ele, por isso, tem duas vontades naturais e duas operações naturais, pelas
quais é também demonstrada, principalmente, a verdade das suas naturezas, para
que se reconheça claramente a diferença, <ou seja>, sua respectiva pertença a
essas naturezas das quais e nas quais é composto o único e mesmo Senhor nosso
Jesus Cristo; pelo que na verdade reconhecemos que este santo … sexto Sínodo …
seguiu a pregação apostólica sem tropeçar, de acordo em todos os pontos com as
definições dos cinco Sínodos santos e universais, sem nada acrescentar ou diminuir
quanto ao estabelecido pela fé ortodoxa, mas seguindo de modo bem reto o
caminho régio e evangélico; e neles e por meio deles foram guardadas a elaboração
dos sagrados dogmas e a doutrina dos Padres aprovados pela Igreja católica …

E já que [o Sínodo de Constantinopla] anunciou com grande ênfase … a definição


da reta fé, que também a Sé Apostólica do bem-aventurado Apóstolo Pedro …
acolheu com veneração, por isso, Nós, e através do nosso ministério esta
veneranda Sé Apostólica, concorde e unanimemente aprovamos o que por este foi
definido e o confirmamos com a autoridade do bem-aventurado Pedro …

E igualmente anatematizamos os autores do novo erro, isto é Teodoro, bispo de


Faran, Ciro de Alexandria, Sérgio, Pirro … e também Honório, que não iluminou
esta Igreja apostólica com a doutrina da tradição apostólica, mas tentou
subverter a imaculada fé com ímpia traição [versão grega: permitiu que a
<Igreja> imaculada fosse manchada por ímpia traição].
Considerações finais

Conforme acima exposto, o magistério da Igreja (excluindo opiniões emitidas sem


aspecto doutrinal perene, conforme irei exemplificar), guiado sempre pelos
legítimos Sumos Pontífices (excluindo os anti Papas) é sempre íntegro, infalível e
perene, logo, inadmissível de contradição. Portanto, o que vemos na motu proprio
Traditionis custodes em 16/7/2021 (principalmente no artigo 3⁰, parágrafo 6⁰ descrito
abaixo), contrasta com a motu proprio Ecclesia Dei de 2/7/1988 e motu proprio
Summorum Pontificum de 7/7/2007.

Motu proprio Traditionis custodes


"Art. 3. O bispo da diocese em que até agora existam um ou mais grupos que
celebram segundo o Missal anterior à reforma de 1970:
§ 6º. Cuidar para não autorizar a constituição de novos grupos." (Tradução não
oficial)

"Art. 3. Episcopus, in dioecesibus ubi adhuc unus vel plures coetus celebrant
secundum Missale antecedens instaurationem anni 1970:
§ 6. curae ei erit impedire ne novi coetus constituantur." (Versão oficial latina).

Motu proprio Summorum Pontificum

"Art. 1. O Missal Romano promulgado por Paulo VI é a expressão ordinária da «lex


orandi» («norma de oração») da Igreja Católica de rito latino. Contudo o Missal
Romano promulgado por São Pio V e reeditado pelo Beato João XXIII deve ser
considerado como expressão extraordinária da mesma «lex orandi» e deve gozar da
devida honra pelo seu uso venerável e antigo. Estas duas expressões da «lex
orandi» da Igreja não levarão de forma alguma a uma divisão na «lex credendi»
(«norma de fé») da Igreja; com efeito, são dois usos do único rito romano.

Por isso é lícito celebrar o Sacrifício da Missa segundo a edição típica do Missal
Romano, promulgada pelo Beato João XXIII em 1962 e nunca ab-rogada, como
forma extraordinária da Liturgia da Igreja. As condições para o uso deste Missal,
estabelecidas pelos documentos anteriores «Quattuor abhinc annos» e «Ecclesia
Dei», são substituídas como segue:

Art. 2. Nas Missas celebradas sem o povo, todo o sacerdote católico de rito latino,
tanto secular como religioso, pode utilizar seja o Missal Romano editado pelo Beato
Papa João XXIII em 1962 seja o Missal Romano promulgado pelo Papa Paulo VI
em 1970, e fazê-lo todos os dias à excepção do Tríduo Pascal. Para tal celebração
segundo um ou outro Missal, o sacerdote não necessita de qualquer autorização da
Sé Apostólica nem do seu Ordinário."

[...]
"Art. 4. Nas celebrações da Santa Missa, referidas no art. 2, podem ser admitidos –
observando as normas do direito – também os fiéis que o solicitem por sua
espontânea vontade.

Art. 5-§ 1. Nas paróquias, onde houver um grupo estável de fiéis aderentes à
precedente tradição litúrgica, o pároco acolha de bom grado as suas solicitações de
terem a celebração da Santa Missa segundo o rito do Missal Romano editado em
1962. Providencie para que o bem destes fiéis se harmonize com o cuidado pastoral
ordinário da paróquia, sob a orientação do Bispo, como previsto no cân. 392,
evitando a discórdia e favorecendo a unidade de toda a Igreja."

[...]

"Art. 7. Se um grupo de fiéis leigos, incluídos entre os mencionados no art. 5-§ 1,


não vir satisfeitas as suas solicitações por parte do pároco, informe o Bispo
diocesano. Pede-se vivamente ao Bispo que satisfaça o desejo deles. Se não puder
dar provisão para tal celebração, refira-se o caso à Pontifícia Comissão «Ecclesia
Dei»."

Motu proprio Ecclesia Dei


"6. Tendo em consideração a importância e a complexidade dos problemas
mencionados neste documento, em virtude da minha Autoridade Apostólica,
estabeleço quanto segue:

a) é instituída uma Comissão, com a tarefa de colaborar com os Bispos, com os


Dicastérios da Cúria Romana e com os ambientes interessados, a fim de facilitar a
plena comunhão eclesial dos sacerdotes, dos seminaristas, das comunidades ou de
cada religioso ou religiosa até agora ligados de diversos modos à Fraternidade
fundada por Mons Lefebvre, que desejem permanecer unidos ao Sucessor de Pedro
na Igreja Católica, conservando as suas tradições espirituais e litúrgicas, de acordo
com o Protocolo assinado, a 5 de Maio passado pelo Cardeal Ratzinger e por Mons.
Lefebvre;"

[...]

"c) além disso, em toda a parte deverá ser respeitado o espírito de todos aqueles
que se sentem ligados à la tradição litúrgica latina, mediante uma ampla e generosa
aplicação das directrizes, já há tempos emanadas pela Sé Apostólica, para o uso do
Missal Romano segundo a edição típica de 1962."
Fontes:

Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral da Igreja católica;


traduzido, com base na 40a. edição alemã (2005), aos cuidados de Peter
Hünermann, por †José Marino Luz e Johan Konings apud Enchiridion symbolorum
definitionum et declarationum de rebus fidei et morum; Quod emendavit, auxit, in
linguam germanicum transtulit et adiuvante Helmuto Hoping edidit; Petrus
Hünermann.
EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2006.

https://www.vatican.va/content/francesco/la/motu_proprio/documents/20210716-mot
u-proprio-traditionis-custodes.html

https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/motu_proprio/documents/hf_ben-xvi_
motu-proprio_20070707_summorum-pontificum.html

https://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_commissions/ecclsdei/documents/hf_j
p-ii_motu-proprio_02071988_ecclesia-dei_po.html

Autoria:

Gabriel Miranda de Oliveira

Bacharelando em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Tocantins


Coordenador Arquidiocesano da Juventude Missionária em Palmas
Cerimoniário na Paróquia Santo Antônio - Aureny III, Palmas - TO

Contato:
gabrielpalmense@gmail.com
@gabriel.miranda2000 no instagram
t.me/Gabriel_Bawerk

7 de janeiro de 2022, São Bernardo de Claraval, São Roberto Belarmino e Santo


Afonso Maria de Ligório, rogai por nós!

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