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Assembleia de Deus Madureira - do "papado" ao bispado

As redes sociais na internet, divulgaram com rapidez a recente novidade do mundo assembleiano. Na 40ª Assembleia Geral Ordinária (AGO) da
Convenção Nacional da Assembleia de Deus Madureira, a qual está se realizando na cidade de São Paulo, no templo da AD no Brás, oficializou-se
mais cinco novos bispos no ministério.

Além do bispo Manoel Ferreira, presidente vitalício da igreja, os escolhidos agora para a tão grande honra são os pastores Samuel Ferreira (SP),
Abner Ferreira (RJ), Abigail Carlos de Almeida (GO), Daniel Malafaia (RJ) e Oídes José do Carmo (GO). Sobre os dois primeiros, o sobrenome já diz
tudo: pertencem ao clã que domina o ministério. Os demais são obreiros estratégicos no apoio e consolidação do poder familiar.

Bispado de pai pra filhos


Historicamente, o uso de novas nomenclaturas ministeriais dentro das ADs nunca se deu sem alguma contestação. A CGADB de 1938, realizada em
Recife (PE), rejeitou a consagração de apóstolos. Somente seis décadas depois, é que o pastor Túlio Barros Ferreira - coincidências de sobrenomes
interessante - utilizou a titulação de apóstolo na AD em São Cristóvão (RJ).

O próprio termo, hoje tão utilizado de pastor-presidente ou pastor geral, não foi aceito sem críticas. Veteranos obreiros criticavam o modelo
eclesiástico que estava por trás das honrosas titulações. Era evidente a concentração de poder em detrimento da desejada autonomia das igrejas. O
sueco Otto Nelson chegou a criticar as nomenclaturas criadas considerando-as "antibíblicas".

Mas a realidade se impôs sobre os ideais dos pioneiros. O poder e a força dos pastores-presidentes somente aumentou com o tempo. Verdadeiros
feudos religiosos se constituíram e Paulo Leivas Macalão teria sido o primeiro a consolidar o modelo episcopal, quando em 1958 criou a Convenção
Nacional de Madureira e foi eleito pastor geral do campo.

Alcebiades Vasconcelos, no Mensageiro da Paz em 1959, ao observar a configuração eclesiástica assembleiana temia que um "pastor-geral com
caráter nacional", poderia resultar na criação "de um papado pentecostal brasileiro".

É óbvio que o líder de Madureira não gostava da comparação. No livro Galeria do Pastores, o autor Ely Evangelista saiu em defesa de Macalão,
afirmando que ele não tinha "tendências ou espírito papista" e muito menos "espírito ditatorial", pois as igrejas ligadas ao seu ministério tinham
"ampla liberdade de agir". A história, porém, registra o contrário...

Controvérsias à parte, o certo é que Paulo Macalão nunca adotou outra nomenclatura a não ser de pastor geral. Sua esposa, Zélia Brito Macalão,
muitos anos depois foi agraciada por Madureira com o título de "missionária". Titulação em uma igreja que não admitia (e em grande parte ainda
não admite) a separação de mulheres ao pastorado.

Mas foi com à morte de Macalão e o vácuo de poder reinante em Madureira, que o então pastor Manoel Ferreira conseguiu superar todos os demais
líderes e pretendentes à presidência da CONAMAD. Consolidada a liderança, Ferreira chegou ao bispado. Para justificar o uso do título, até hoje o
ministério apresenta versões controversas.

Uma versão diz que a titulação foi um reconhecimento da igreja russa aos trabalhos de evangelização de Madureira naquele país, em outra se
argumenta à necessidade de uma nomenclatura adequada para representar a igreja fora do Brasil. Para os estudiosos do pentecostalismo, é um
termo usado somente para prestigiar, distinguir e elevar Ferreira perante seus pares na convenção.

Agora, além de um exotismo ministerial, o bispado se estendeu aos filhos de Ferreira e alguns pastores mais idosos. Mas todos sabem que a linha de
sucessão se dará entre os filhos. Foi a maneira de legitimar ainda mais o que há anos se verifica em Madureira: o pleno domínio de um clã num dos
maiores ministérios das ADs no Brasil.

Fontes:

ARAÚJO, Isael de. José Wellington - Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: a expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980) - Assis, 2015.

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