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2011
APOLOGÉTICA CRISTÃ
UMA ANÁLISE CONTEMPORÂNEA
“... antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando
sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão
da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e
temor..." 1 Pedro 3:15-16
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO_____________________________________________________ 03
DEFINIÇÃO E CONSIDERAÇÕES INICIAIS________________________________ 04
TEODICÉIA_______________________________________________________ 19
BIBLIOGRAFIA_____________________________________________________ 36
3
Introdução
“O que é a apologética Cristã?”
A palavra "apologia" vem de uma palavra grega que significa "dar uma defesa".
Apologética Cristã, então, é a ciência de dar uma defesa da fé Cristã. Há muitos céticos
que duvidam da existência de Deus e/ou atacam a crença no Deus da Bíblia. Há muitos
críticos que atacam a inspiração e inerrância das Escrituras. Há muitos falsos
professores que promovem doutrinas falsas e negam as verdades básicas da fé Cristã. A
missão da apologética Cristã é combater esses movimentos e promover o Deus Cristão e
a verdade Cristã.
O versículo chave para a apologética Cristã é provavelmente 1 Pedro 3:15-16:
"antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados
para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-
o, todavia, com mansidão e temor..." Não há nenhuma desculpa para um Cristão ser
completamente incapaz de defender sua fé. Todo Cristão deve ser capaz de pelo menos
dar uma apresentação razoável de sua fé em Cristo. É claro, que nem todo Cristão
precisa ser um especialista em apologética, no entanto, deve saber o que acredita, por
que acredita, como compartilhar sua fé com outras pessoas, e como defendê-la contra
mentiras e ataques.Um segundo aspecto de apologética Cristã que é ignorado com
freqüência é a primeira parte de 1 Pedro 3:16: "fazendo-o, todavia, com mansidão e
temor..." Defender a fé Cristã com apologética nunca deve envolver ser rude, furioso ou
desrespeitoso. Enquanto praticando apologética Cristã, devemos tentar ser fortes em
nossa defesa e ao mesmo tempo imitar a humildade de Cristo em nossa apresentação. Se
ao ganharmos um debate levamos uma pessoa ainda mais longe de Cristo pela nossa
atitude, perdemos o verdadeiro propósito da apologética Cristã.
―... Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai preparados para
responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em
vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de
malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom procedimento em Cristo‖.
A Apologética, como ciência ou disciplina teológica, tem uma abrangência muito maior
do que aparenta. Vê-se, de antemão, que a apologética não se relaciona à organização ou
criação de dogmas ou ―leis‖ teológicas. Pelo contrário, procura defender o pensamento
fundamental do cristianismo frente às questões ou investidas dos que pensam de forma distinta.
Como o cristianismo tem um posicionamento muito específico acerca de alguns temas, tais
quais: o cosmos, o homem, Deus, o pecado, Cristo, etc., cabe hoje à apologética cristã dispor
de meios, argumentos, que corroborem o pensamento bíblico sobre tais temas. Assim, em
última análise, a apologética seria uma defesa do pensamento teológico bíblico cristão, e que
envereda pelos diversos campos do conhecimento.
Há quem afirme que a apologética é usada no evangelismo. Isto é verdade a partir do
momento em que o Evangelho é questionado quanto à sua veracidade como ―fé‖ verdadeira.
Aprenderemos que, por definição fundamental, a ―verdade‖ não é relativa, pois se assim
fosse estaríamos admitindo o pensamento de que há ―verdades‖ que se sustentam, baseadas
na cosmovisão de quem as vê. Fundamentalmente, a disciplina da Apologética cuidará em
defender o cristianismo, e não expô-lo. Porém, é certo que, principalmente nos dias atuais,
torna-se quase inevitável uma defesa do cristianismo no ato de sua exposição, pois à medida
em as culturas globalizam-se, um sentimento paralelo de identificação e auto-afirmação
religiosa está cada vez mais latente, principalmente em sociedades em que o Estado
confunde-se com a Religião.
Devemos ter ciência plena de que o Cristianismo é lógico e verdadeiro, e que o vácuo
deixado por outras ―soluções‖ religiosas para o homem, é completa e perfeitamente
preenchido pelo Cristianismo bíblico. Daí a importância de sabermos também, o que pensam
os grupos religiosos, tanto sobre os conceitos fundamentais do pensamento religioso, bem
como sobre o próprio Cristianismo. A forma como expusermos o Cristianismo fará muita
diferença. Cada vez mais, faz-se necessária uma defesa que englobe concepções acerca de
temas e questões para as quais, à princípio, não há um aparente posicionamento bíblico claro
e direto. Problemas modernos, peculiares, os quais ―exigem‖ que conheçamos mais acerca
do mundo que nos rodeia. Isto, apesar de amplamente aceito no meio evangélico
contemporâneo, não o era há algumas décadas atrás. Os missionários, por exemplo, não se
contextualizavam. Os teólogos, muitas vezes construíram um sistema sistemático do qual
alguma coisa, ou até muito do que fora construído, tinha mais a ver com a sua com a sua
concepção filosófico-religiosa, que por sua vez tinha raízes na realidade sócio-político-
econômica de seus dias, do que na verdadeira teologia bíblica. ―Apologética Cristã‖,
portanto, não é atacar o alheio, criar teologia; é fundamentalmente, ―responder a razão da
esperança que há em nós‖.
APOLOGÉTICA CRISTÃ
Conceitos Fundamentais e Análise de Questionamentos Contemporâneos
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É fato, porém, que nem tudo o que real é verdadeiro. Porém, tudo o que é verdadeiro é
real. Aqui, a ordem dos fatores altera o produto. A astrologia é algo real, porém será
verdadeiro? A questão é seguir um caminho que leve à realidade verdadeira. Este é o
objetivo de quem se preocupa com os conceitos fundamentais do Cristianismo, e com as
questões polêmicas que nos cercam hoje em dia, para as quais, infelizmente, não temos
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
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Conceitos Fundamentais e Análise de Questionamentos Contemporâneos
resposta justamente por não sabermos o que é verdadeiro quanto a tais questões. Por
exemplo: será lícito, de acordo com os preceitos cristãos, a eutanásia? Por quê?
Nossa tarefa como líderes, pensadores, instrutores e evangelistas, não é ficar
procurando questões para confrontá-las com o que cremos, mas, estarmos prontos para
analisar tais questões sob a ótica do que conhecemos da teologia bíblica, e das áreas do
conhecimento do pensamento humano. Há quem afirme que aquele que faz Teologia e
Filosofia será melhor teólogo do que aquele que só faz Teologia. Isto é questionável; porém,
uma coisa é fato: quanto mais conhecemos sobre o pensamento humano, mais ferramentas
temos para construir um modelo apologético conciso e livre de ―furos‖.
Esta idéia está ilustrada pela experiência do cilindro. Dependendo de nossa perspectiva
(cosmovisão) do cilindro, veremos ―verdades‖ diferentes, como segue:
Quando afirmamos que as três perspectivas são diferentes, e que trazem situações
completamente diferentes, não podemos dizer que ―são a mesma coisa‖, pela lei
fundamental do ―terceiro excluído‖. O cilindro não é um círculo, ou um retângulo.
Aquelas realidades (pois são produzidas pelas diferentes perspectivas) produzem falsas
―verdades‖. A perspectiva de número 3 nos dá uma idéia melhor do que é realmente a
figura. Deus, por sua vez, vê o objeto por inteiro, sua perspectiva é diferente da nossa:
Deus Deus
Deus Deus
As religiões vêem o mundo, e têm suas idéias, a partir de sua cosmovisão. Como
as cosmovisões têm contrapontos, ou seja, idéias opostas, logo uma cosmovisão
corresponde realmente à realidade. Lembre-se de que para uma cosmovisão ser
considerada verdadeira, todos os aspectos inerentes à mesma têm de ser reais, e
corresponderem exatamente à verdade que a realidade suscita. Um quadro com algumas
das principais correntes filosófico-teológicas, extraído do livro de Geisler e Bocchino,
pode ser visualizado logo abaixo. Tais correntes vêm com suas respectivas
correspondências (―verdades‖) sobre determinados assuntos, que são amplamente
debatidos nos círculos acadêmicos:
Sabemos que negar a verdade é negar a realidade. Ora, isto é o que alguns
filósofos chamam de conceito autofrustrante. Logo, quaisquer espécies de agnosticismo
são quase que imediatamente descartados como não coerentes, pois, rejeitar o
conhecimento da realidade pode ser, em última análise, rejeitar o conhecimento da
verdade. Se assim for, a pergunta ―A verdade pode ser isto OU aquilo?‖ fica ―sem
resposta‖, o que é uma impossibilidade filosófica.
9 – Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã - Vol. I, pg. 135
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Conceitos Fundamentais: Cosmovisões
2.1.3 - Os ―teístas‖ são os que não apenas crêem em Deus, mas o vêem como
Causa primeira do Cosmos. Deus é pessoal, no ―teísmo‖ (contrastando com o ―deísmo‖,
que radicaliza a transcendência divina, em detrimento de sua imanência). Deus é a causa
do bem, e o coração humano (realidade) é a causa do mal. A Ética é absoluta, pois
advém de Deus, ou seja, de suas normas ou daquilo que está estabelecido por Deus
como Moral, Amoral e Imoral. Nesta concepção está inserido o Cristianismo bíblico, e
sua cosmovisão parte também destas premissas.
que se está discutindo. Lembre-se de que quando as crenças tornam-se convicções, o aspecto
pessoal introduz um diálogo em que as emoções podem aprofundar-se muito! (...)
Uma pergunta de princípio pode catapultar uma conversa do nível
emocional e subjetivo para o nível racional e objetivo. Questionar princípios em vez de
crenças pessoais a fim de comprometer as pessoas com conceitos, e não com convicções, faz
diferença!(...)
Agora, você vai encontrar um aluno chamado Tom que está irritado porque não se
conforma com a sua crença aparentemente absurda em Deus. Ele mal pode esperar a
oportunidade de constrangê-lo na frente de outros alunos interessados em ouvir mais a
respeito de sua fé. Um dia... Tom decide sentar à sua mesa e dizer:
- Você se importa se eu lhe fizer algumas perguntas?
Você reage dizendo que as perguntas são bem vindas. Tom então pergunta:
- Jesus não disse em Mateus 19:26 que para Deus todas as coisas são
possíveis?
- Sim – você responde.
Tom continua:
- Você acredita que Deus é todo poderoso e pode fazer tudo?
Novamente a sua resposta é positiva. (...)
- Certo. Deus pode criar uma rocha tão grande que ele próprio não possa
levantá-la? (...)
Vamos retornar à pergunta de Tom e aplicar a ela o que aprendemos com o uso
correto da LNC. Tom quer que Deus crie uma pedra tão grande que o próprio Deus não a
possa erguer. O que Tom na verdade está pedindo para Deus fazer? Para saber, precisamos
definir e esclarecer o emprego das palavras de Tom. A primeira pergunta que vem à mente é:
―De que tamanho é a pedra que Tom quer que Deus crie?‖. Bem, Tom quer que Deus crie
uma pedra tão grande que seria impossível ao próprio Deus movê-la. -...) Mesmo que Deus
criasse uma pedra do tamanho do universo em expansão constante, Deus ainda seria capaz de
erguê-la e controlá-la. (...) Mas, uma vez que Deus é infinito, ele teria de criar uma rocha de
proporções infinitas! Esta é a chave: Tom quer que Deus crie uma pedra, e uma pedra é um
objeto físico, finito. Como pode Deus criar um objeto que é finito por natureza e dar a ele um
tamanho infinito? Há alguma coisa terrivelmente errada na pergunta de Tom. Então vamos
aplicar corretamente a LNC para analisá-la.
É lógica e concretamente impossível criar uma coisa finita fisicamente e fazer que ela
seja infinitamente grande! Por definição, uma coisa infinita, não criada, não tem limite, e
uma coisa finita, criada, tem. Conseqüentemente, Tom acabou de perguntar se Deus pode
criar uma pedra infinitamente finita, isto é, uma pedra que tem limites, e ao mesmo tempo e
no mesmo sentido, não tem limites. A pergunte dele, portanto, viola a LNC e vem a ser
absurda. Tom achava que estava fazendo uma pergunta muito importante, que poria o cristão
num grande dilema. Em vez disso, ele apenas conseguiu mostrar a própria incapacidade de
pensar com clareza.
Agora que temos entendimento claro da pergunta de Tom, é só uma questão de
formular uma pergunta de princípio a fim de que o erro dele se revele. Que tal esta: ―Tom,
qual o tamanho da pedra que você quer que Deus crie? Se você me disser o tamanho dela, eu
lhe direi se ele pode criá-la‖. Bem, podemos continuar perguntando até que as respostas se
aproximem do tamanho do universo e finalmente introduzam a idéia da infinitude. Uma vez
que Tom chegue ao ponto em que comece a enxergar o que está realmente pedindo para
Deus fazer – criar uma pedra infinita –, é necessário mostrar-lhe que está pedindo que Deus
faça algo logicamente irrelevante e impossível. Deus não pode criar uma pedra infinitamente
finita assim como não pode criar um círculo quadrado. Ambos são exemplos de
10 – LNC: Lei da Não-Contradição – Princípio da Lógica sobre o qual se baseia todo o pensamento. Quando se confrontam idéias
ou afirmações, admite-se que as idéias têm opostas. P. ex.: Para o Hinduísmo o mal é uma ―ilusão‖. Para o Cristianismo o mal é
―real‖. Se uma declaração do mal está correta, a outra necessariamente deve ser falsa. É uma lei ―auto-evidente‖, ou seja, no ato de
nega-la o indivíduo passa a utilizá-la.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 10
Conceitos Fundamentais Analisados Sob Uma Perspectiva Hstórico-Teológica
Deus, pois é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que
é galardoador dos que o buscam‖ (Hb. 11:6). A palavra ―crer‖ (gr. Pisteo) tem dois
aspectos básicos em sua definição, a saber:
- Crer racionalmente. Tem-se fé em quem se conhece, em quem se sabe. E a fé
não é algo ―cego‖, mas confiança baseada em um entendimento naquilo que se crê.
- Crer em um sentido mais subjetivo. Esvaziamento daquele que tem fé e a
colocação do objeto da fé no coração.
Note que um não pode vir sem o outro, pois o termo é definido por estas duas
variantes básicas. Tal forma no NT está muito presente no evangelho de João, por
exemplo. Cremos que o ―senso divino‖, ou qualquer que nome tenha, é algo real,
havendo no homem um sentimento, ainda que longínquo e terrivelmente distorcido,
acerca da existência de Deus. Prova disto é a espiritualidade inerente no ser humano,
verificável em todas as sociedades indistintamente, que resultam em alguns em algumas
formas religiosas específicas, estudadas pela história das religiões (na Antropologia
cultural). Alguns padrões de crenças e práticas religiosas apontam para um
conhecimento perdido ao longo da História, e que inclusive, é utilizado pelos
protestantes em missões ao redor do mundo inteiro (idéias quanto a um Deus Supremo,
uma Queda, uma Idade de Ouro no passado, um Dilúvio, vários temas sobre a salvação
da alma). Se aliarmos os aspectos práticos (não conceituais) da Teologia Natural, à
análise expositiva da revelação especial de Deus, podemos descobrir formas e
acrescentarmos meios interessantes ao estudo da Teologia Cristã.
3.2.2.1 – Hoje é sabido que o Universo teve um início, e a Física entende que
desconhece as leis que regiam “o que havia antes da criação do Universo”. Contudo,
há quem vá mais longe. É o caso de Stephen Hawking, que publicou suas idéias mais
recentes sobre o assunto no livro ―O Universo numa Casca de Noz‖ . Hawking nasceu
em Oxford, Inglaterra em 1942; é matemático, astrofísico e doutor em Cosmologia pela
Universidade de Cambridge. É tido como o
mais brilhante físico teórico desde Albert Einstein. Hawking é agnóstico, e prefere
respostas científicas aos problemas científicos. Porém, sua análise o levou a discordar
de Einstein, ao discorrer sobre o início do espaço e do tempo como os conhecemos.
Einstein acertou em quase tudo o que postulou, porém, por razões de dogma acadêmico,
Segundo santo Agostinho, antes de criar o Céu e a Terra, Deus não criou
absolutamente nada. Na verdade, isso se aproxima bastante das idéias modernas.‖14
Observador
Densidade da matéria
fazendo com que o cone de
luz volte-se para o centro
―Singularidade‖ (?)
Fig. 4 – O cone de luz tem a forma de uma pêra.. Todo o Universo está contido
em uma região cujo limite cai para ―0‖ no big-bang. Isso seria uma ―singularidade‖.
Aqui as leis da Relatividade deixariam de ser válidas. Embora hoje, na astrofísica, se
postule sobre ―mundos paralelos‖, nada, nesta disciplina acadêmica, é conclusivo.
Em outras palavras, todo mundo sabe que existem obrigações morais absolutas.
Uma obrigação moral absoluta é alguma coisa que é ordenada a todas as pessoas, em
todos os momentos, em todos os lugares. Uma lei moral absoluta implica o Criador de
uma lei moral absoluta.
Veja que isso não quer dizer que toda questão moral possua respostas rapidamente
reconhecíveis ou que algumas pessoas não neguem que a moralidade absoluta exista.
Existem problemas difíceis na moralidade, e as pessoas suprimem e negam a lei moral
todos os dias. Isso simplesmente significa que existem princípios básicos de certo e
errado que todo mundo conhece, quer as pessoas admitam sua existência quer não.
Budziszewski chama este conhecimento básico de certo e errado de "aquilo que não
podemos não saber", no livro do mesmo nome.
Não podemos não saber, por exemplo, que é errado matar seres humanos
inocentes sem uma razão. Algumas pessoas podem negar isso e cometer assassínio sem
se importar, mas, lá no fundo do coração, elas sabem que matar é errado. Mesmo os
assassinos em série sabem que matar é errado — eles podem simplesmente não sentir
remorso. Tal quais todas as leis morais absolutas, o homicídio é errado para todos, em
todos os lugares: nos Estados Unidos, na Índia, no Zimbábue e em qualquer outro país,
agora e para sempre. É isso o que a lei moral diz a todo coração humano .
3.3.1 – Vários foram os expoentes (apologetas) entre os séculos II e III, tais como:
Aristides, cerca de 147 d.C. Sua obra ataca o paganismo e suas diferentes
formas de adoração, exaltando em contrapartida, a forma e a moral cristãs.
Justino Mártir, cerca de 150 d.C. Sua obra ―Apologia‖ foi endereçada
aos imperadores Adriano e Marco Aurélio. Afirmava que a Filosofia grega era útil,
porém incompleta, sendo aperfeiçoada em Cristo e em sua Revelação. A Filosofia seria,
como o Judaísmo, a precursora de algo superior
Aristo, metade do segundo século d.C. Escreveu um livro citado por
Orígenes, no qual demonstrava que as profecias judaicas cumpriam-se em Cristo Jesus.
Justino Mártir utilizou-se dessa obra como base em sua Apologia.
Atenágoras, final do segundo século d.C. Escreveu uma obra na qual
incluía argumentos a favor da ressurreição dos mortos. Na mesma escreve contra o
paganismo e o Estado romano. Endereça a obra a Marco Aurélio, esperando uma
melhoria no tratamento aos cristãos.
Taciano demonstrou aversão à Filosofia grega em prol da superioridade
do Cristianismo.
Teófilo de Antioquia, seguiu o caminho de Taciano.
Minúcio, início do terceiro século d.C. Procurou demonstrar que os
cristãos eram os ―melhores filósofos‖, em contraste com alguns dos seus predecessores.
Tertuliano, terceiro século d.C. Conforme Champlin, ―atacou a Filosofia
com argumentos filosóficos‖. Atacou o paganismo e o gnosticismo. Colocava a
Filosofia como simples produto do pensamento pagão. Porém, todo o exercício
teológico é, em suma, um exercício filosófico, até certo ponto. A razão não deve
separar-se da fé, mas aliar-se à mesma.
Irineu, segundo século d.C. Defendeu o Cristianismo, juntamente com
Hipólito, seu discípulo, contra as heresias gnósticas. Sua obra ―Contra as Heresias‖ é
tida como a primeira exposição sistemática das doutrinas cristãs.
Arnóbio, segundo e terceiro séculos d.C. Atacou a idéia platônica da
preexistência da alma, e defendeu o criacionismo.
Eusébio de Cesaréia e Lactâncio, séculos terceiro e quarto d.C.
Exaltaram o Cristianismo em detrimento do Judaísmo e do paganismo. Eusébio tinha
algumas idéias consideradas não ortodoxas acerca da divindade de Cristo. A principal
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APOLOGÉTICA CRISTÃ 16
Conceitos Fundamentais Analisados Sob Uma Perspectiva Hstórico-Teológica
contribuição de Eusébio é sua História Eclesiástica que narra quase quatro séculos de
tensão entre o Cristianismo e o Estado romano.
16 – Teodicéia: Do grego Theo – ―Deus‖ e dike – ―justiça‖. Termo usado para referir-se às tentativas de se justificar os caminhos de
Deus com os homens. A Teodicéia, em um determinado sistema teológico, resolve o ―problema do mal‖, ao mesmo tempo em que
demonstra que Deus é Todo-Poderoso, Todo-Amoroso e Justo.
17 – Citado na revista Super Interessante, de Maio de 2004. Seção Super Novas.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 20
Teodicéia
4. TEODICÉIA
alguém, é porque ali está faltando algo no processo biológico normal, que impeça as
células de se multiplicarem desordenadamente. Geisler dá o exemplo da ferrugem, que
seria um exemplo de mal. A oxidação se dá pela falta de alguns elementos no ferro, o
que necessariamente originaria a presença de outros, que originariam o processo de
deterioração do ferro. Geisler ainda tenta coadunar o problema do mal metafísico com a
Segunda Lei da Termodinâmica, que diz ―que a quantidade de energia utilizável no
Universo está diminuindo constantemente‖. Como o Cosmos (Universo) é um sistema
fechado, isto é, não há força física que o alimente, toda a energia contida nele se dissipa,
gradativamente, transformando-se em energia não utilizável, como um carro. O carro
seria o Cosmos, e a gasolina toda a sua energia. Em um determinado momento, a
energia irá findar, pois, do percentual de energia da gasolina, aproximadamente 75% se
dissipa em calor, enquanto 25% em rendimento. Segundo esta Lei, o Universo caminha
para um estado caótico.
Este sistema pode justificar a existência do mal (no sentido metafísico), tanto
quanto a teodicéia daquele que afirma, de forma distinta da posição anterior, que o
problema do mal consiste no arbítrio do homem. Deus seria ―culpado‖, portanto, se
sabia que o homem, sua criação, usaria do arbítrio para usá-lo para o mal? Não, se
partirmos do pressuposto que Deus criou (decretou) leis, dentre as quais estivesse
presente a consciência da existência do mal. Assim, em sua Criação, o mal poderia vir a
existir, como realmente veio, e seria uma lástima para o ser humano. Em alguns casos, o
mal seria usado para produzir o bem, e encontramos exemplos disto, inclusive, nas
páginas das Sagradas Escrituras. Um exemplo clássico nas Escrituras é fato acontecido
em 1 Rs. 22:1-37. Aparentemente ilógico o problema, pois Deus ali se utiliza,
aparentemente, de uma mentira para punir o rei maligno Acabe. Como um ser
perfeitamente bom utilizaria um meio maligno? (a verdade é sempre associada ao bem,
enquanto a mentira, ao seu contra-senso, o mal, logo Deus estaria usando um meio
maligno).
A solução para este problema de 1 Rs. 22:1-37 estende-se à resposta do problema
do mal, em todos os âmbitos, de acordo com o sistema do livre arbítrio. Deus dera a
visão a Micaías, sobre o espírito de mentira, que estaria na boca dos profetas (vss. 10-9-
23). Por quê? Logicamente, porque sabia que Micaías seria chamado, e que falaria o que
realmente estava acontecendo. Logo, Acabe teria uma escolha: ou acreditaria em
Micaías, ou nos profetas de Baal. O resultado desta escolha iria produzir o bem, ou o
mal. Há quem diga que o homem perdeu o seu arbítrio para a salvação, no Éden. E, fica
apenas com o arbítrio racional. Bem, de qualquer forma, se Deus livrar-nos do mal, é
necessário que o arbítrio inerente a nós, seres racionais, seja anulado. O mal seria,
portanto, o preço a pagarmos para vivermos em um mundo com arbítrio. Preferiríamos
nós, o contrário? Um mundo com arbítrio sugere a possibilidade do mal. Isto, em última
análise não faz de Deus o autor do mal, uma vez que deva haver um mundo melhor
possível. Nós não estamos vivendo neste mundo, o ―céu‖, contudo, o mundo atual é um
meio para chegarmos àquele.
importante lembrarmos que a crítica bíblica tem o seu lado positivo. Através de testes,
como veremos a seguir, torna-se quase impossível duvidar-se da superioridade dos
manuscritos do Novo Testamento sobre outros escritos antigos.
A Apologética aqui carece de uma atenção especial, pois é mister que todo
apologeta ao menos se interesse em saber como a Bíblia passa pelos testes históricos,
bibliográficos, internos, etc. Vale salientar que outros títulos históricos clássicos têm o
mesmo tratamento, contudo, quando se trata da Bíblia, uma enxurrada de pressupostos,
muitos dos quais sem sentido, vêm à tona, e o desavisado pode enveredar-se por
informações não muito confiáveis, de alguém que, por exemplo, se utiliza de
pressupostos apenas para contradizer as Sagradas Escrituras. Um conhecimento prévio
de crítica bíblica é fundamental para uma análise sobre o quê afirma a própria crítica.
Vamos ao mesmo.
―A crítica bíblica pode ser dividida em baixa e alta crítica, como indicado na
tabela (aqui o autor inclui um gráfico, o qual reproduzimos):
Crítica de Redação
Crítica
Crítica
Crítica de Forma
de Fonte
Histórica
Crítica
Literária
} = Alta Crítica
16 – Teodicéia: Do grego Theo – ―Deus‖ e dike – ―justiça‖. Termo usado para referir-se às tentativas de se justificar os caminhos de
Deus com os homens. A Teodicéia, em um determinado sistema teológico, resolve o ―problema do mal‖, ao mesmo tempo em que
demonstra que Deus é Todo-Poderoso, Todo-Amoroso e Justo.
17 – Citado na revista Super Interessante, de Maio de 2004. Seção Super Novas.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 22
Conceitos Fundamentais e Análise de Questionamentos Contemporâneos
A crítica de fonte propunha que pelo menos quatro fontes estivessem por trás da
formação dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento. A mesma metodologia foi,
então, aplicada aos evangelhos durante o século 19 para sugerir várias fontes (por
exemplo: “Q”, “Marcos” e “Proto-Lucas”) subjacentes, aos relatos dos evangelhos.
(....)
Os alemães chamaram a crítica de forma de Formgeschichte, significando
“história da forma”. Seus principais proponentes foram Karl Ludwing Schmidt, Martin
Dibelius e Rudolf Bultmann. Outros críticos de forma incluem R. H. Lightfoot e D. E.
Nineham. Alguns dos críticos de forma mais moderados são Frederick Grant, B. S.
Easton e Vincent Taylor.
Os críticos de forma do Novo Testamento geralmente opinam que os evangelhos
foram compostos de pequenas unidades ou episódios independentes. Essas pequenas
unidades individuais (perícopes) circularam independentemente. Os críticos ensinam
que as unidades tomaram gradualmente a forma de vários tipos de literatura popular,
tais como lendas, contos, mitos e parábolas.
Segundo a crítica de forma, a formação e preservação das unidades foram
determinadas pelas necessidades da comunidade cristã. Em outras palavras, quando a
comunidade tinha um problema, eles criavam ou preservavam uma declaração ou
episódio de Jesus para satisfazer as necessidades desse problema em particular. Assim
sendo, essas unidades não são basicamente testemunhos da vida de Jesus, mas reflexos
das crenças e práticas da igreja primitiva. (....)
A tarefa da crítica de forma é, então, descobrir as “leis da tradição” que
governam a coleta, desenvolvimento, e registro das unidades isoladas. A seguir, com a
remoção da suposta estrutura artificial (editorial) da cronologia ou outras adições
providas pela comunidade, os críticos de forma acreditam que podem recobrar a forma
original das unidades (perícopes) e determinar qual o propósito prático (sitz-im-leben –
“situação vivencial”) para a qual os cristão a preservaram. Mediante este método
julga-se ser possível “ir além das fontes escritas e alcançar o período de transmissão
oral, chegando aos diferentes tipos de episódios que eventualmente se tornaram parte
dos evangelhos.
Onde a crítica de forma admitiu como possível o trabalho da “comunidade na
formulação das várias perícopes, a crítica de redação, originária da crítica de forma,
concentrou-se nos redatores finais (ou compiladores) dos evangelhos, como autores de
direito. Norma Perrin, um crítico de redação, define isso como “ocupado em estudar a
motivação teológica do autor como revelada na coleta, arranjo, revisão e modificação
do material tradicional; assim como na composição de material novo ou na criação de
novas formas dentro das tradições do cristianismo primitivo18‖.
18 – MACDOWELL, Josh – Ele Andou Entre Nós: Evidências do Jesus Histórico, pgs. 142, 143 e 144
APOLOGÉTICA CRISTÃ 23
A Bíblia e os Testes da Crítica Moderna
como os documentos (em sua maioria, cópias antigas da literatura clássica universal)
chegam até nós. O teste bibliográfico é uma ferramenta indispensável na tentativa de
comprovação da autenticidade histórica do Novo Testamento, e especificamente, dos
evangelhos. Assim afirma Josh Mcdowell:
“Vamos tomar nota disto”. O verbo tomar tem sentido diferente em cada frase.
Presume-se que as palavras geradoras de sentidos diferentes possuem as mesmas raízes
ou a mesma origem etimológica. Entretanto, pode haver total confusão se a pessoa
entender mal o que o autor escreveu, o que quis expressar ao usar estes vocábulos. (...)
É por isso que devemos aplicar-nos à exegese cuidadosa a fim de descobrir o que o
autor quis dizer à luz das situações e sentidos da época‖.
6.1.1 – ―Cristo‖ significa que Jesus era o Messias (hb. Mashiach), ou seja, o
―Ungido‖. Sabe-se que havia três tipos básicos de ―ungidos‖ na perspectiva vétero
testamentária, a saber:
O rei de Israel, a partir do período monárquico. Os reis deveriam ser
ungidos pelo sumo sacerdote para o ofício. Após Samuel ungir Saul, o sub título
―ungido‖ permanece consigo. Cf. 1 Sm. 24:10; 2 Sm. 22:51
O sumo sacerdote, desde o estabelecimento do ofício sacerdotal, nos dias
de Moisés e Arão. Cf. Lv. 8:12.
O Ungido prometido, este seria o ―restaurador‖ e ―libertador eterno‖ de
Israel. Traria, de acordo com a concepção judaica dos dias de Jesus, a paz e a
prosperidade para Israel, conforme os dias do rei Davi. Este Messias fora predito no AT
por textos que viriam a ser interpretados claramente como textos messiânicos, como o
Salmo 22 e o capítulo 61 de Isaías. Quanto a este último, Jesus testifica-o acerca de si
mesmo, em Lucas capítulo 4.
Mateus é o escritor evangélico que mais dispensa atenção ao título Messias, pois
era de seu interesse mostrar aos seus destinatários, os judeus, que Jesus era o Cristo. O
artigo ―o‖ identifica que o ―Ungido‖ nos dias Jesus assumiria uma conotação profética,
mística, pouco compreensível até, inclusive para os judeus. O messias seria um homem
comum? Seria um enviado, um mensageiro de Deus? Eram perguntas que permeavam a
mente dos israelitas. Em Mateus 16, observamos o interesse de Jesus em saber o que os
homens pensavam acerca dele mesmo. A resposta dos discípulos, sobre o que os
homens achavam sobre Jesus, demonstra o que eles pensavam. Esta resposta encontra-
se no versículo 14, e mostra que os homens associavam o ministério de Jesus a um
ministério profético sob os moldes do ministério profético do AT. Contudo, a resposta
de Pedro indica que ele sabia bem quem Jesus era. A resposta de Pedro, em Mateus
16:16, constitui-se no motivo de João ter escrito o seu evangelho: mostrar que Jesus é o
Cristo, o Filho do Deus vivo.
6.1.2 - A filiação para o judeu tinha um caráter mais excepcional do que para nós,
ocidentais, hoje. A filiação significava natureza. Ser filho de alguém significava, em
última análise, compartilhar da natureza daquele indivíduo. Ser ―Filho de Deus‖
significava compartilhar da natureza de Deus (cf. Jo. 5:18), e apenas a uma pessoa ao
longo da História foi dado este atributo, Adão. Uma coisa, porém, era dizer-se igual a
Adão, outra coisa era dizer-se igual a Deus. E é aí que há um fator desconcertante nos
ensinos de João: o registro das auto reivindicações de Jesus, com a forma ―EU SOU‖. O
uso do termo ―Eu Sou‖ tinha um especial interesse aos judeus e rabinos da época, pois,
para eles, estava clara a associação com a utilização da mesma forma por Deus, no
Velho Testamento:
―Respondeu Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos
olhos de Israel: EU SOU ( hyh, hayah – texto hebraico; egw eimi, „egô eimí‟ – LXX:
tornar-se, ser, vir a ser, acontecer, existir) me enviou a vós.‖ Êxodo 3:14
―Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos e viste a Abraão?
Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, EU
APOLOGÉTICA CRISTÃ 29
A Divindade de Cristo: Pilar Apologético
SOU. Então pegaram em pedras para lhe atirarem, mas Jesus ocultou-se, e saiu do
templo passando por meio deles, e assim se retirou‖. João 8:57-59
―Se vocês não crerem que EU SOU, de fato morrerão em vossos pecados‖. João
8:24
―Jesus disse: ―Eu sou o bom pastor‖ (Jo. 10:11); o AT declarou : ―Iahweh
(SENHOR) é o meu pastor‖ (Sl. 23:1).
Jesus declarou ser o juiz de todos os homens e de todas as nações (Jo.
5:27; Mt. 25;31).
Jesus disse: ―Eu Sou a luz do mundo‖ (Jo. 8:12); o AT proclamou:
―Iahweh é luz para sempre‖ (Is. 60:19). ―Iahweh é minha luz‖ (Sl. 27:1).
Jesus afirmou que podia ―perdoar pecados‖ (Mc. 2:5), e os judeus
reagiram a ele dizendo: ―Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?‖ (Mc. 2:7). Jesus
então provou sua autoridade pela cura miraculosa (Mc. 2:10-12; contudo, Jeremias
31:34 afirma que ―Porque eu (Deus) lhes perdoarei‖.
Jesus declarou ser o doador da vida (Jo. 5:21-23). Somente Deus dá a vida
(1 Sm. 2:6; Dt. 32:39).
Finalmente, Jesus disse: ―Eu e o Pai somos um‖ (Jo. 10:30). O termo um
refere-se à essência ou natureza do Ser divino‖.
6.1.3 - A tabela a seguir associa alguns títulos usados exclusivamente por Deus
(YHWH)23 no Antigo Testamento, e os relaciona com Jesus, em passagens do Novo
Testamento. A tabela é uma reprodução do Trabalho de Josh McDowell e Bart Larson,
no livro ―Jesus: uma defesa bíblica de sua divindade‖, reproduzida no livro
―Fundamentos Inabaláveis‖, de Geisler e Bocchino:
João apresenta a Jesus como o ―Logos‖ de Deus (Jo. 1:1; 1 Jo. 1:13; Ap. 19:13).
Este termo, da forma como foi usada por João, apresenta similaridades e discrepâncias
quanto ao conceito, se comparado com o termo como era usado na filosofia grega. De
forma geral, para os gregos, o logos era razão, e refletia o pensamento de que Deus não
poderia entrar em contato diretamente com a matéria, mas utilizava-se da razão como
um sensor divisório entre si e o mundo. Assim o logos do pensamento grego era a razão
de Deus e da ordem do mundo sensível, criado. Contudo, o logos de João relacionava-se
mais ao uso que a expressão tinha comumente, ―palavra‖. Em última análise, a palavra é
a expressão absoluta de um pensamento, sendo um meio pelo qual o pensamento se
revele. A associação com o pensamento grego fora inevitável, e alguns viram isto de
forma benéfica, sugerindo que a filosofia grega preparou o mundo para o recebimento
desta mensagem. Alguns gnósticos viram similaridade entre o pensamento neoplatônico
grego e o uso da expressão em João, sugerindo um evangelho gnóstico. Porém, percebe-
se que o evangelho traz uma idéia latente radicalmente diferente da usada pelos
filósofos neoplatônicos, como Filo.
A expressão tinha mais a ver, segundo alguns eruditos, com o uso de ―palavra‖ no
Velho Testamento. A expressão ―Verbo‖ vem do latim (Verbum = logoi, palavra). No
hebraico, dabar (palavra) é usada 394 vezes, é a expressão virtualmente concreta da
personalidade divina. A idéia é a de que ―Deus é aquilo que ele diz‖. O salmo 119
mostra esta ―palavra‖ como fonte de vida (vs. 25), da luz (vs. 105) e do entendimento
(vs. 169). Na LXX, logos e rhema são usadas para traduzir dabar. Contudo, logos tem
proeminência no uso, principalmente nos livros proféticos. O ―Verbo‖que no princípio
esta com Deus, ao mesmo tempo é Deus.
A afirmação final do versículo 1, de João 1, literalmente diz ―...E Deus era a
Palavra‖. ―Palavra‖, portanto, seria o sujeito, enquanto que ―Deus‖ é o predicado. De
início observamos que João lança os alicerces da doutrina da Trindade, pois afirma que
o Logos, ao mesmo tempo em que estava com Deus era Deus. Aqueles que dizem, como
as Testemunhas de Jeová, que é necessário o uso do artigo indefinido por ser norma no
grego não levam em conta várias considerações. Vejamos algumas: A) Esta regra
deveria aplicar-se, portanto, a toda vez que aparece um substantivo como predicado, o
que tornaria a tradução inteira o caos. Por exemplo: no versículo 14 do mesmo capítulo,
seguindo-se esse pensamento, a tradução seria ―...e o verbo se tornou uma carne‖. No
versículo 18 deveria estar escrito ―...ninguém jamais viu a um deus‖. O que,
APOLOGÉTICA CRISTÃ 31
A Divindade de Cristo: Pilar Apologético
6.2.1 – O Pão da Vida – Em Êx. 16:15 está escrito que os israelitas, no deserto,
comiam do Maná (hb. sig, ―o que é isto?‖). O maná precisava ser recolhido diariamente,
pois se ficasse para outro dia, amanheceria estragado. Por ser a base da nutrição israelita
naquele período, o Sl. 78:24-25 afirma que Deus lhes dera o trigo do céu. No versículo
41 do capítulo 6 de João, Jesus afirma acerca de si mesmo:
Nos versículos 56 a 58, Jesus não somente reafirma metaforicamente que ele é o
―pão vivo que desceu do céu‖, como ele orienta que as pessoas bebam de seu sangue e
comam de sua carne. Ora, o que terá quisto dizer com isto. Além de relacionar-se à fé
nele, isto é, em quem Jesus era, era preciso ouvir à sua palavra. ―Comer a carne‖ seria,
portanto, ―ouvir e obedecer à sua palavra‖. Isto é exatamente o que diz Pedro, quando
muitos discípulos, após este discurso, deixam Jesus (vs. 66), no versículo 68: ―... Tu tens
as palavras da vida eterna‖.
6.2.2 – A Luz do Mundo – Jesus diz de si mesmo: ―Eu sou a luz do mundo‖, em
Jo. 8:12. Como vimos, o salmista, no Salmo 119:105 diz que a Palavra do Senhor é luz
para o seu caminho. Obviamente que Jesus fazia um paralelo com texto tão conhecido.
O Salmo 119 era especialmente observado por ser um salmo que fala inteiramente da
Palavra de Deus. É o maior salmo da Bíblia, e é dedicado exclusivamente a fazer
referências sobre a Palavra de Deus. Jesus, em outras palavras, está dizendo novamente
que ele mesmo é a Palavra.
6.2.3 – A Porta das Ovelhas – Esta terceira figura, ―porta das ovelhas‖ (10:9), que
Jesus usa para falar acerca de si mesmo, funciona quando observamos o contexto, quase
como um preparativo para a próxima figura usada por ele, a do Bom Pastor (10:11).
Somente o pastor das ovelhas passaria pela porta, isto porque era costume dos pastores
israelitas ficarem de guarda nos currais das suas ovelhas. Muitos dormiam inclusive
nestes currais, e somente os que guardassem as ovelhas estariam autorizados a entrarem
pela porta. A ―porta‖ tinha uma finalidade: levar aquele que adentrasse por ela a ―achar
pastagens‖ (vs. 9). O que isto significa? No mesmo versículo Jesus afirma que aquele
que passar pela porta, ―entrará e sairá...‖, esta é uma expressão que nitidamente
relaciona-se à liberdade! No capítulo 8 de João, versículos 31 e 32, está escrito:
APOLOGÉTICA CRISTÃ 32
A Divindade de Cristo: Pilar Apologético
―Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes em minha
palavra, verdadeiramente sereis os meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará‖.
―Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda vara que em mim não
dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais
limpos pela palavra que vos tenho falado‖. Jo. 15:1-3
Somos nutridos, como varas que estão enxertadas na Videira, que é próprio
Senhor Jesus. Observe que, como a seiva nutre interiormente, a limpeza pela Palavra é
interior.
É nítida a idéia de Jesus, pelo relato dos evangelhos, cria que era Deus. Os
milagres (sinais) testificaram isto. Não é à toa, portanto, que João inicia seu evangelho
afirmando que, no início era a Palavra... e a Palavra era Deus. Por todo o seu
evangelho, João relaciona Jesus com a Palavra de Deus, e isto está presente nos
discursos de Cristo. Há sete sinais em João, e ele, distintamente dos sinóticos, apresenta
os sinais (milagres) não apenas como eventos escatológicos, mas como ações
sobrenaturais de Deus para exemplificar verdades inerentes que o próprio Deus quis
transmitir. Interessante que o último destes sinais relatados em João fora a ressurreição
de Lázaro (Jo. 11:1-46), o que apontava diretamente para o último milagre relatado no
evangelho, que seria a sua própria ressurreição (Jo. 20:1-10).
7. BIBLIOGRAFIA