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LIÇÃO 02

FÉ PARA CRER QUE A


BÍBLIA É O LIVRO DE
DEUS

JONATHAS KAYRAN S. DOS SANTOS


DADOS CATALOGRÁFICOS

Diagramação, arte e produção:


Jonathas Kayran Souza dos Santos

Correção Teológica:
Pr. Isaque C. Soeiro

SANTOS, Jonathas Kayran S. Fé para crer que a


Bíblia é o livro de Deus: subsídio bíblico-teológico
da lição de jovens da CPAD. São José de Ribamar,
MA: IPEC, 2023.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610,


de 19/02/1998. Copyright © 2023 para IPEC Proibida a
reprodução total ou parcial por quaisquer meios –
mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos,
gravação, estocagem em banco de dados etc. – salvo em
citações com indicação da fonte.

Outubro de 2023
O presente texto serve de apoio aos professores da
Classe de Jovens da Escola Bíblica Dominical do
currículo da CPAD. Assim também como texto livre
sobre o assunto para todos quanto tiverem interesse.

Este 4º Trimestre de 2023 tem como tema central:


“sejam fortes - ensino sadio e caráter santo nas cartas
pastorais”.

O comentarista das lições é o pastor Eduardo Leandro


Alves, pastor auxiliar da Assembleia de Deus em João
Pessoa – PB. Ele é doutor em Teologia e autor da obra
A Sociedade Brasileira e o Pentecostalismo Clássico
publicado pela CPAD.

As citações bíblicas foram retiradas da Nova Almeida


Atualizada - NAA, salvo as indicações em contrário e
devidamente referenciadas.

Este breve subsídio de apoio à “LIÇÃO 01, Fé: o


ponto de partida para a vida com Deus, e LIÇÃO
02, Fé para crer que a bíblia é o livro de Deus”.,
foi escrito tendo como objetivos:

Apresentar uma conceituação da fé, sem inimigos


e seus limites, bem como uma apresentação da
Bíblia sagrada como um livro inspirado por Deus.

Refletir as limitações da fé, seu crescimento e


amadurecimento, bem como sobre a
dependência do Espírito Santo para crer na Bíblia.
SUMÁRIO
FÉ: O PONTO DE PARTIDA PARA A VIDA COM DEUS
01 O QUE É FÉ?
1.1 Fé e a incredulidade
1.2 Fé e o ceticismo
1.3 Fé e a dúvida
1.3.1 A dúvida transformada em adoração
1.3.2 Um pedido sincero contra a dúvida
CONCLUSÃO
Fé cristã não é um pulo no escuro
Ceticismo e incredulidade são inimigos da fé
A dúvida acompanhará a caminhada cristã

FÉ PARA CRER QUE A BÍBLIA É O LIVRO DE DEUS


01 A BÍBLIA E A INSPIRAÇÃO DIVINA
1.1 O meio da inspiração
1.2 A amplitude da inspiração
1.3 A intensidade da inspiração
02 EVIDÊNCIAS DA INSPIRAÇÃO DIVINA
2.1 Evidências internas
2.1.1 O Testemunho dos Salmos
2.1.1 O Testemunho das Epístolas
2.2 Evidências externas
2.2.1 A unidade e coerência da Bíblia
2.2.2 A historicidade da Bíblia
2.2.3 As profecias bíblicas
2.2.4 A influência da Bíblia na história e no mundo
03 OS ATRIBUTOS DA BÍBLIA
3.1 A inerrância das Escrituras
3.2 Perspicuidade das Escrituras
3.3 A autoridade das Escrituras
3.4 A Suficiência das Escrituras
04 A INSPIRAÇÃO E A NECESSIDADE DA FÉ
CONCLUSÃO
FÉ: O PONTO DE PARTIDA PARA
A VIDA COM DEUS

O mundo atual é, em sua grande parte, composto por


uma sociedade avessa à Fé; a crença em algo ou alguém que
está além daquilo que se pode ver e entender. Fruto do
naturalismo, existencialismo, relativismo e secularismo, a
sociedade atual costuma pensar que a fé é um dos grandes
pecados herdado do homem primitivo e até mesmo um
delírio do pensamento de pessoas religiosas.

Apesar deste lamentável fato supracitado, a fé nunca foi


considerada de fato um absurdo intelectual pelas mentes
mais brilhantes da humanidade. Na verdade, o homem sábio
é aquele que percebe claramente a sua própria limitação
intelectual para compreender as verdades fundamentais da
existência humana.

A vida com Deus, o criador do homem e de tudo que há, só


pode ser exercida por pessoas que chegam a compreensão
de que existe muitas coisas além daquilo que os olhos
naturais do homem podem observar. A fé é indispensável
para que o homem conheça a Deus, a si mesmo e até
mesmo a realidade a sua volta.

Assim, neste breve estudo, buscar-se-á conceituar a fé e seus


antagônicos; ceticismo e incredulidade. Procurar-se-á ainda,
relacionar a fé com o problema da dúvida, que não t é
totalmente estranho à vida cristã. Além disso, buscar-se-á
ainda aplicar o estudo à realidade da vida diária.

Bons estudos!

03
01
O QUE
É FÉ?

A palavra fé tem origem no grego “pistia” ou do substantivo


“pistis”, também tem raiz no latim “Fides”, ambos os termos
apontam para a atitude de confiança, crença e fidelidade.

A melhor definição para a palavra fé se encontra em


Hebreus: 'Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a
convicção de fatos que não se veem (Hb 11:1/NAA).

Portanto, a fé é a atitude de crer, confiar ou acreditar em


algo que não se pode ver ou experimentar empiricamente. É
um conceito completamente antagônico ao empirismo
filosófico, no qual afirma que o homem só pode acreditar
naquilo que se pode conhecer empiricamente.

Contudo, a fé não é um pulo no escuro, como alguns


costumam dizer. Em especial a fé cristã, não é algo irracional,
sem fundamento, sem lógica e totalmente fantasioso. Na
verdade, há muitas evidências na vida humana, natureza e
historia que apontam para o fato da existência de Deus, de
igual moto, há muitas evidências que apontam para fato de
esse Deus ser o Deus bíblico. Alister McGrath comenta:

04
Há boa base argumentativa ou empírica para as principais crenças
do cristianismo. [...] A fé cristã, se for de fato verdadeira,
compreenderá melhor as coisas do que as demais alternativas
possíveis. O cristianismo encaixa-se de maneira muito mais plausível
em nossas observações e experiências do que as alternativas[1].

Não é a intenção aqui, afirmar que a fé cristã pode ser


absolutamente provada, pois, na verdade, poucas coisas
nessa vida podem ser absolutamente provadas. Porém,
assim como a maioria das crenças fundamentais na vida
humana, a racionalidade leva a conclusões plausíveis, e no
caso da fé cristã, há grande plausibilidade em suas
afirmações.

Acreditar que há um Deus, não é um delírio, mas sim a


conclusão racional para muitas indagações que se podem
levantar através da observação e experiências da vida
humana. Crer em Deus é sinal de sabedoria, pois a Escritura
no diz que afirmar a inexistência de Deus é sinal de
insensatez (Sl 53.1)

Contudo, fé cristã não fica apenas no aspecto afirmativo que


há um Deus. Não apenas se diz que há um Deus, mas há
também a atitude de crer nesse Deus, confiar nele e viver
para Ele. McGrath afirma:

O fato é que a ideia cristã de fé comporta muitos outros elementos


além da crença pura e simples na veracidade de algumas coisas.
Para o cristão, a fé não é algo meramente cognitivo (“acredito que
isso seja verdade”), mas também relacional e existencial (“confio
nesta pessoa”). Não se limita a crermos que Deus existe. Inclui
descobrirmos que Deus é sábio, amoroso e bom - e, por
consequência, optamos por nos submeter a ele[2].

[1] MCGRATH, Alister. Apologética pura e simples: como levar os que buscam e os que duvidam a
encontrar a fé. São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 70.
[2] MCGRATH, Ibidem, p. 76.

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Portanto, a fé vai além do simples acreditar, pois passa a
confiar, se comprometer e relacionar com o Deus todo-
poderoso, criador de tudo e de todos.

1.1 Fé e a incredulidade

Enquanto a fé é uma atitude de crer, acreditar e confiar, a


incredulidade é o antagônico de tal atitude. McGrath defini
incredulidade como sendo a “decisão de não ter fé em Deus;
um ato de vontade, e não uma dificuldade para entender”[3].

Incredulidade não é simplesmente duvidar de algo, mas


decidir deliberadamente não crer em algo ou alguém. O
incrédulo decide não crer em Deus, e quando assim faz, está
fadado a crer em outras coisas até menos racionais.

Qualquer pessoa que rejeita deliberadamente a existência de


Deus, terá que acreditar em muitas bobagens e fantasias
científicas para explicar muitas das realidades observadas e
experimentadas. Contudo, essa é a posição e decisão do
incrédulo.

1.2 Fé e o ceticismo

O ceticismo é mais um princípio do que uma atitude.


McGrath define que o cético é aquele que toma “a decisão
deliberada de duvidar, por uma questão de princípio”[4].

Segundo essa definição de McGrath, a cético é alguém que


decidiu duvidar de tudo e de todos, mesmo antes de ser
exposto às evidências. É a pessoa que tem o principio da
duvidar como guia de vida.
[3] MCGRATH, Alister. Como lidar com a Dúvida: sobre Deus e sobre você mesmo. Viçosa, MG: Editora
ultimato, 2008, p. 11.
[4] Ibidem.,

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Tal individuo também estará fadado em crer apenas naquilo
que ele mesmo desejar crer, pois, como já observado, as
grandes questões da vida não podem ser provadas absolutas
e empiricamente.

O cético é alguém que se apresenta como sábio, mas no fim,


é na verdade um tolo, pois será guiado apenas pela sua
mente limitada e convencido por se mesmo a acreditar em
coisas até mesmo irracionais.

1.3 Fé e a Dúvida

Enquanto que a incredulidade e o ceticismo são atitudes que


não podem fazer parte da vida cristã, a dúvida, por outro
lado, não é antagônica a fé. O cristão é um ser humano como
qualquer outro, possui limitações intelectuais e em alguns
momentos pode ser afetado pela dúvida. McGrath observa:

A dúvida é, provavelmente, uma característica permanente da vida


cristã. É como se fosse uma dor do crescimento. Algumas vezes ela
deixa o centro da cena. Outras, assume o papel principal, marcando
sua presença intensamente. Um médico que conheci comentou que
a vida é uma batalha permanente contra todo tipo de doença, sendo
que a saúde nada mais é do que a capacidade de manter a doença
sob controle. Para algumas pessoas, a vida de fé costuma ser assim -
uma batalha constante contra a dúvida[5].

Isso não quer dizer que o crente é alguém cheio de dúvidas,


que não acredita em muita coisa mas mesmo assim se
entrega à mensagem cristã. Na verdade, esse fato aponta
para a limitação e natureza pecaminosa que ainda está no
cristão. O crente, nem sempre vai compreender todas as
coisas reveladas, e há momentos que a dúvida entra em
cena, contudo, a sua fé continua sendo verdadeira, apenas
está em crescimento e amadurecimento.
[5] Ibidem., p. 14.

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Há duas ocasiões bíblicas que são emblemáticas para o
assunto em questão:

1.3.1 A dúvida transformada em adoração: Em João


20: 24-29, encontra-se a narrativa dá dúvida de Tomé em
relação ao Jesus ressuscitado, ao ponto de Tomé afirmar
crer que Jesus estava vivo apenas se o visse com os seus
próprios olhos e lhe tocasse. Tomé era crente, pois já era
um discípulo de Cristo, contudo, precisava de algo a mais
para vencer a sua dúvida.

Jesus não disciplina Tomé por duvidar, nem mesmo lhe


critica, apenas adverte que os que não precisam ver para
crer serão bem-aventurados. Jesus, em uma
demonstração de amor, se revela a Tomé com intenção
de fazê-lo vencer a sua dúvida.

Assim, logo após sanar a dúvida, Tomé louva ao Senhor


Jesus de todo coração, reconhece que Ele é Senhor, que
de fato está vivo e que é o Deus de seu povo. A dúvida
de Tomé foi transformada em deleite e adoração
verdadeira.

1.3.2 Um pedido sincero contra a dúvida. Em Marcos


9: 14-29, é narrado o encontro de Jesus com um homem
e seu filho que desde a infância sofria a opressão e
possessão de um espírito maligno. Aquele pai já tinha
levado o seu filho aos discípulos de Jesus, mas estes não
foram capazes de trazer a libertação ao garoto. Então
aquele pai corre até Jesus, explica-lhe tudo e clama a
Cristo; se podes nos ajudar, ajude-nos.

Jesus responde com uma pergunta e uma afirmação: “se


posso? Tudo é possível ao que crer!”. Ao ponto que, o pai
do menino responde:

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“Eu creio! Ajude-me na minha falta de fé!”. O pedido do pai
deixa de ser apenas pela libertação do garoto, e passa a
ser também pela sua limitação em crer, em confiar e
acreditar.

Jesus, cura tanto o menino, ao expulsar dele o espírito


maligno, como também faz com que aquele pai vença
sua dúvida e passe a adorar ao Senhor.

Essas duas ocasiões mostram a realidade da dúvida mesmo


entre aqueles que acreditam no Senhor Jesus, entre aqueles
que foram até mesmo chamados ao apostolado. A dúvida de
fato é um inquilino indesejado, porém, só será totalmente
expulso na eternidade.

CONCLUÃO

A fé é a atitude indispensável para a vida cristã, desde o inicio


da vida cristã a fé é o elemento que proporciona a vida
espiritual. Assim, é oportuno ao crente fazer as seguintes
observações em relação a fé:

Fé cristã não é um pulo no escuro. O cristianismo é


fundamentado em um conjunto de doutrinas que não
eliminam a racionalidade. O fato de não ter provas
absolutas para determinadas verdades, não é apenas
uma questão relacionada a fé cristã, mas a todo tipo de
conhecimento. Portanto, o crente deve sempre buscar o
conhecimento e crescimento nas doutrinas do
evangelho, para que sua fé seja cada vez mais sólida.

09
Ceticismo e incredulidade são inimigos da fé. Essas
duas atitudes, abordadas da forma como foram
explanadas aqui, são empecilhos ao crescimento e
amadurecimento à fé. Isso não quer dizer que o crente
deve acreditar em tudo e em todos, mesmo em coisas
relacionadas a questões que acontecem na igreja. A
Bíblia mesmo já orienta quanto ao cuidado com os
enganadores e falsificadores, que à semelhança de
Satanás, buscam enganar o povo de Deus.

A dúvida acompanhará a caminhada cristã. Muitos


crentes vivem com receio de expor suas dúvidas pelo
fato de que esse assunto é pouco abordado e até
mesmo visto com preconceito por alguns. Contudo,
como foi visto, a dúvida também faz parte do processo
de santificação do cristão, onde esse, a medita que
cresce e amadurece na vida com Deus, vai também
vencendo as dúvidas que são frutos da limitação humana
e da natureza pecaminosa ainda relutante no crente.

10
FÉ PARA CRER QUE A
BÍBLIA É O LIVRO DE DEUS

A Bíblia Sagrada é o Livro de Deus, entregue por Ele


mesmo aos homens. Ela é a própria palavra de Deus para a
humanidade, portanto, ela tem Autoridade sobre a vida
humana e é a única regra de fé e prática para o cristão, isso
quer dizer que a vida do crente deve ser guiada somente
pelas Sagradas Escrituras.

A Bíblia é a consequência de um dos atos mais


extraordinários de Deus; o ato da revelação especial de Deus
para o homem, sua criatura. A teologia aponta basicamente
dois meios pelos quais Deus se releva ao ser humano: o
primeiro é a própria criação, o homem e a história, onde
Deus se faz conhecer pela grandiosidade das coisas criadas,
as leis naturais e morais. A esse fato a teologia dá o nome de
revelação geral. O segundo meio pelo qual Deus se revela ao
homem é chamado de revelação especial; as teofanias, os
profetas, a encarnação e a escritura (a qual possibilita o
conhecimento hoje de tais fatos). É por meio da Bíblia que
Deus se faz conhecer de uma forma mais detalhada, clara e
objetiva.

11
Portanto, é de suma importância para o homem,
principalmente o cristão, conhecer a Bíblia Sagrada. O crente
é totalmente dependente do conhecimento bíblico, tanto
para conhecer verdadeiramente a si mesmo, a Deus e a
condição do homem.

Apesar das afirmações acima estarem alicerçadas em


evidencias racionais a cerca do que a Bíblia diz sobre si
mesma, do poder e influência da Palavra de Deus ao longo
do anos, da sua fidelidade à realidade humana e dos
acontecimentos históricos, ainda assim, tais afirmações
exigem fé.

Assim, neste breve estudo, procurar-se-á apresentar a bíblia


como livro de Deus, inspirada, inerrante, suficiente,
necessária e imutável. Buscar-se-á também apresentar a
necessidade da fé e ação do Espírito Santo para crer que a
bíblia é o que diz ser; Palavra de Deus.

01
A BÍBLIA E A
INSPIRAÇÃO DIVINA

O que de fato entende-se por inspiração divina da Bíblia?


“O significado etimológico de Inspiração Divina. Em 2Timóteo
3.16 o termo traduzido por “inspirada” é a tradução da
palavra grega theopneustos (junção theos, Deus + pneo,
respirar) que significa “soprada por Deus”[6].
[6] HORTON, Stanley M (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro, RJ: CPAD,
1996, p.100.

12
Basicamente, a ideia do termo “inspirada” é a de inspiração
do ar para dentro dos pulmões. É pela inspiração do ar que
temos fôlego para falar. Segundo o teólogo Millard Erickson,
“a impressão nessa passagem é a de que as Escrituras são
divinamente produzidas, assim como Deus soprou no
homem o fôlego da vida”[7]. Erickson ainda complementa
que inspiração é “a influência sobrenatural do Espírito Santo
sobre os autores das Escrituras, que converteu seus escritos
em um registro preciso de revelação ou que faz com que
seus escritos sejam realmente a Palavra de Deus”[8].

Portanto, quando se fala de Inspiração Divina, refere-se a


doutrina que afirma e explica como as palavras que foram
escritas por homens são de fato as palavras do próprio Deus.
Para melhor compreensão dessa verdade Bíblica, alguns
pontos devem ser aqui destacados.

1.1 O meio da Inspiração: São muitas as opiniões


quanto ao modo ou forma que Deus inspirou os autores
sagradas no momento que estavam escrevendo.
Contudo, a definição que mais se enquadra ao ensino
bíblico é a inspiração verbal e plenária, “Deus não falou
por intermédio dos homens como quem fala por um
alto-falante. Antes, o Espírito de Deus usou as faculdades
mentais daqueles homens, produzindo, dessa maneira,
uma mensagem perfeitamente divina, mas que, ao
mesmo tempo, conservava os traços da personalidade
do autor”[9].

1.2 A amplitude da Inspiração: Quando se estuda


essa doutrina, muito se pergunta se a Bíblia é toda
inspirada ou apenas alguma parte dela foi de fato
inspirada.
[7] ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo, SP: Vida Nova, 2015, p. 191.
[8] ERICKSON, Ibidem., p. 67.
[9] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2009, p. 31.

13
O que a igreja sempre defendeu e acreditou é que toda a
bíblia passou pelo processo de inspiração. O Teólogo
Zacarias de Aguiar afirma que “nada ficou sem a
inspiração divina. Assim toda a Bíblia é a Palavra de Deus.
Não se pode pensar que uma passagem da Escritura
tenha sido inspirada e outra não”[10].

Alguns questionam o fato de que em 2Tm 3.16 Paulo


está se referindo ao Antigo Testamento, e não aos
escritos do novo testamento. Apesar de isso ser uma
verdade, muitos outros textos, como 1Jo 4.6; 1Ts 1.5; 2Pe
3.16, deixam a entender que os próprios apóstolos já
viam os escritos dos demais apóstolos como igualmente
inspirados por Deus. Além do mais, a própria doutrina da
inspiração faz com que esse texto de 2tm 3.16 seja
aplicável a toda a Bíblia.

1.3 A intensidade da Inspiração: Aqui a pergunta é;


até que ponto chegou a inspiração Divina nos autores
Bíblicos? Apenas nas ideias, conceitos ou influencia? Ou
chegou a um ponto que até as palavras usadas foram
orientadas por Deus? Analisando como os autores do NT
fizeram uso das palavras do AT, e principalmente quando
Jesus faz menção ao que já estava Escrito, “poder-se-ia
inferir que a inspiração da Escritura foi tão intensa que
atingiu até a escolha de palavras específicas”[11].

[10] SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba – PR: Santos Editora Ltda, 2010,
p. 30.
[11] ERICKSON, Millard j. Ibid., p. 74.

14
02
EVIDÊNCIAS DA
INSPIRAÇÃO DIVINA.

2.1 Evidências internas. O que a Bíblia diz sobre ela


mesma? A Bíblia é um livro que se autoproclama como
Palavra divina. A maior evidência da inspiração divina das
Escrituras é o seu próprio testemunho sobre si mesma. Há
muitas referencias que fazem uma clara alusão à divindade
do texto bíblico:

2.1.1 O Testemunho dos Salmos: Das muitas


passagens bíblicas no Antigo Testamento que fazem
menção a divindade do texto bíblico, destaca-se o salmo
19: 7-10 e todo o salmo 119. Estes dois textos são claros
em colocar a Bíblia Sagrada como o livro de Deus para o
homem, e de como esse livro é precioso e mais valioso
do que qualquer outra coisa.

2.1.2 O Testemunho das Epístolas. É nas epístolas


do novo testamento que se observa com maior clareza a
doutrina da inspiração divina do Texto bíblico. Os
apóstolos entendiam os textos do AT como inspirados, e
da mesma forma encaravam seus proprios escritos na
mesma categoria que aqueles. (1Co 14.37; 2Tm 3.16-17;
2Pe 1.20-21; Hb 1.1-2).

15
2.2 Evidências Externas. O que se pode observar a cerca
da Bíblia para crer que é de fato um livro divino? Além do
testemunho interno das Escrituras, pode-se observar:

2.2.1 A unidade e coerência da Bíblia. Apesar de ser


escrita em um intervalo de 1.600 anos
(aproximadamente), por 40 autores diferentes, em
épocas diferentes, de personalidades diferentes, de
intelectualidade variadas, homens cultos e leigos,
homens que foram reis e homens que foram do campo,
ainda assim, a Bíblia possui uma unidade, completude e
coerência sobrenatural no seu texto.

2.2.2 A historicidade da Bíblia. Os fatos históricos


narrados nas Escrituras são fidedignos, apesar de que
muitos historiadores tentarem contradizer algumas
narrativas bíblicas, nunca ouve sucesso em tais
tentativas.

2.2.3 As profecias bíblicas. Muitas profecias Bíblias se


cumpriram ao longo da historia humana, e ainda outras
estão se cumprindo atualmente, e ainda outras vão se
cumprir futuramente. O cumprimento das profecias é
uma grande evidência que a Bíblia é um livro divino.

2.2.4 A influência da Bíblia na história e no mundo.


Não existe, em toda a historia da humanidade, um livro
de maior influência do que a Bíblia Sagrada. É o livro mais
traduzido, mais lido e mais vendido do mundo inteiro.
Nos grandes acontecimentos da historia humana é
possível encontrar a influência deste livro.

16
03
OS ATRIBUTOS
DA BÍBLIA

Atributos é a qualidade do que é peculiar a algo ou


alguém. É o que é inerente, faz parte da natureza. Assim
como Deus possui atributos (todo poderoso, onipresente,
etc.), Também a Bíblia, por ser uma obra do próprio Deus,
possui atributos, dos quais destaca-se:

3.1 A inerrância das Escrituras. A inerrância é uma


implicação do fato de que Deus é o Autor Supremo da
Bíblia e, em seu caráter eterno, imutável e perfeito, não
permitiu que nenhum erro impregnasse sua Palavra no
processo de inspiração divina quando usou autores
humanos como instrumentos de sua revelação[12].

Contudo, para que se evite conclusões equivocadas, é


necessário observar que a Bíblia não tem o objetivo de
ser é um livro científico, nem uma enciclopédia, que visa
falar sobre todos os assuntos do mundo. Assim, há
assuntos e eventos históricos que não estão registrados
na Bíblia, e os autores bíblicos escreveram a partir de
seus conhecimentos e em linguagem fenomenológica.

[12] SOEIRO, Isaque Costa; SOUSA, Járber. A Bíblia: Formação, preservação e atributos. Pedreiras, MA:
Servus Publicações, 2022.

17
3.2 Perspicuidade das Escrituras. O termo que não é
muito claro, porém, aponta para o fato de que a Bíblia é
clara em sua mensagem. O pastor Deyoung afirma que
“A mensagem salvadora de Jesus Cristo é claramente
ensinada nas Escrituras e pode ser entendida por todos
os que têm ouvidos para ouvir. Não precisamos de um
magistério oficial da igreja para nos explicar o que a
Bíblia quer dizer”[13].

Este atributo aponta para o fato que, qualquer pessoa


que faça uma leitura honesta e cuidadosa da Bíblia, vai
chegar ao claro conhecimento da sua principal
mensagem; a mensagem de salvação. É claro que há
textos que precisam de mais estudos e pesquisa para
serem entendidos corretamente, contudo, o mais
necessário pode ser compreendido por qualquer pessoa
que leia a bíblia.

3.3 A Autoridade das Escrituras. Nenhum outro livro


possui a autoridade normativa que a bíblia possui. Mais
uma vez Deyoung é oportuno quando afirma que “a
última palavra sempre será a palavra de Deus. Nunca
devemos permitir que os ensinamentos da ciência, da
experiência humana ou de concílios da Igreja tomem
precedência sobre as Escritura”[14].

Por ser a Palavra de Deus, a Bíblia tem autoridade


máxima na vida da Igreja e de todos os cristãos. Tudo o
que ela diz deve ser tido como verdadeiro e deve ser
obedecido. É notório que na declaração de fé das
assembleias de Deus no Brasil, no seu primeiro artigo de
fé, afirma:
[13] DEYOUNG, Kevin. Levando Deus a Sério. São José dos Campos, SP: Fiel, 2014, p. 49.
[14] Ibidem.,

18
CREMOS, na inspiração divina verbal e plenária da Bíblia
Sagrada, única regra infalível de fé e prática para a vida e o
caráter cristão (2Tm 3.14-17)[15].

3.4 A Suficiência das Escrituras. O crente não necessita


de nenhuma outra revelação para obter comunhão com
Deus, mesmo o crescimento nesta comunhão está atrelado
ao crescimento no conhecimento bíblico. Mas uma vez é
oportuna a afirmação contida na declaração de fé das AD:

A Bíblia fornece-nos, ainda, o conhecimento essencial e


indispensável à nossa comunhão com o Pai Celeste e com o nosso
próximo. Assim sendo, não necessitamos de uma nova revelação
extraordinária ou pretensamente canônica para a nossa salvação e
o nosso crescimento[16].

O teólogo Wayne Grudem define esse atributo da seguinte


forma:

Dizer que as Escrituras são suficientes significa dizer que a Bíblia


contém todas as Palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em
cada estágio da história da redenção e que hoje contém todas as
Palavras de Deus que precisamos para a salvação, para que, de
maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele obedecer. Essa
definição enfatiza que só nas Escrituras devemos procurar as
Palavras de Deus para nós[17].

Então Deus não fala mais hoje? Essa é uma pergunta que
algumas pessoas podem levantar, e até mesmo é comum
ouvir de algum pregador, que quer ir além da Bíblia, dizer: Eu
acredito que Deus fala ainda hoje, você não crer?

[15] SILVA, Esequias Soares(Org.). Declaração de fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD,
2017, p. 21.
[16] Ibidem., p. 29.
[17] GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistématica. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 86

19
Sim, Deus fala ainda hoje com seu povo, majoritariamente
através leitura da Bíblia sagrada e da exposição de sua
mensagem. Dentro da teologia pentecostal há espaço para
crer que Deus pode falar através de visões, sonhos e
revelações, contudo, todos esses meios estão subordinados
à Escritura, tudo que se impõem como “Deus falou” deve está
amparado biblicamente. Nada pode ser acrescentado, e
nada pode ser subtraído.

O fato é que, a Igreja pode viver sem visões, sonhos e


revelações, mas não pode viver sem a Bíblia Sagrada. Pois a
Bíblia é suficiente e totalmente necessária.

04
A INSPIRAÇÃO E A
NECESSIDADE DA FÉ

Os fatos relacionados acima não podem ser aceitos por


um incrédulo, é necessário fé para crer que a Bíblia é o que
diz ser. Contudo, essa necessidade não repousa em uma
carência de evidências ou na racionalidade desta doutrina,,
pelo contrário, repousa-se no fato de que todo homem é um
ser limitado e pecador, e somente pode crer nas coisas
espirituais aquele que foi reavivado espiritualmente.

20
A inspiração divina da Bíblia é um assunto espiritual, e de fato
requer que o homem vença sua limitação natural para que
possa crer que a Bíblia é o livro de Deus. O apóstolo Paulo,
ao falar sobre o mistério do evangelho, argumenta que
somente os espirituais podem discernir e crer, pois o homem
natural é incapaz para tal feito (1Co. 2.6-16). Da mesma
forma, pode-se afirmar que, para crer que a Bíblia é o livro de
Deus, faz-se necessário o agir do Espírito Santo. O
reformador João Calvino comenta:

Se, pois, quisermos firmar a nossa consciência de modo que não


permaneça agitada e em perpétua dúvida, é preciso que
coloquemos a autoridade da Escritura muito acima das razões ou
das circunstâncias ou das conjeturas humanas; quer dizer, é preciso
que a estabeleçamos com base no testemunho do Espírito Santo.
Porque, ainda que, por sua própria majestade, a Escritura nos leve a
respeitá-la, não obstante, verdadeiramente só começa a tocar-nos
quando é selada em nosso coração pelo Espírito Santo. Iluminados,
pois, pelo poder do Espírito Santo, não é mais baseados em nossa
avaliação e na de outros que nós cremos que a Escritura é a Palavra
de Deus. É graças à certeza dada por uma autoridade superior que
concluímos que, sem dúvida nenhuma, a Escritura nos foi outorgada
diretamente por Deus - a tal ponto, que é como se nela
contemplássemos a sublimidade de Deus em seu Ser essencial[18].

O que Calvino afirma não pode ser visto como uma


abordagem negativa quanto as evidências, tanto internas
como externas, que corroboram com a atitude de crer que a
bíblia é o livro de Deus. Na verdade, Calvino aponta para o
fato de que essas evidências são insuficientes para o coração
do incrédulo, é necessário pois, a ação do Espírito Santo.
Calvino, após desenvolver esse argumento, conclui que:

[18] CALVINO, João. As institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa.
São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 72

21
Inútil será tentar provar a autoridade da Escritura com argumentos
da razão, inútil será tentar estabelecê-la por decisão da igreja ou
confirmá-la por outros meios. A razão disto é que, se primeiro não
for posto esse fundamento, permanecerá a dúvida. Como, ao
contrário, depois de recebida com disposição para obedecer a ela,
tendo sido eliminada toda dúvida, os argumentos da razão, que
antes não tinham grande força para plantar e fixar a certeza em
nosso coração, agora poderão prestar boa ajuda[19].

As evidências servem para corroborar com a fé, porém,


sem a ação do Espírito Santo, a ação que gera a fé,
convencimento e arrependimento, o homem jamais crerá
que a Bíblia é a Palavra de Deus.

CONCLUSÃO

A Bíblia não é apenas mais um livro, mas é o livro dos livros, a


escritura de Deus para o homem, em especial o cristão.
Conhecendo melhor a natureza das escrituras, seus atributos
e como Deus conduziu toda a sua formação e preservação, o
crente não pode mais ignorar a necessidade deste livro na
sua vida; moldando sua forma de viver e sua forma de servir a
Deus.

Tendo recebido a ação do Espírito Santo em sua vida, o


homem pode confiar plenamente em tudo o que a Bíblia
ensina, e assim, saber que, ao viver conforme a Bíblia
Sagrada, estará vivendo conforme a vontade do Deus criador
de todas as coisas.

Além disso, este homem pode fundamentar sua fé neste livro


através daquilo que a bíblia diz sobre si mesma e como este
livro tem tido uma influência e relevância sem igual ao longo
da vida humana.

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AUTOR: Diác. JONATHAS KAYRAN, diácono na Igreja Evangélica
Assembleia de Deus na cidade de Senador Alexandre Costa (MA).
Graduações em: Bacharel em Administração (FACAM-MA).
Pós-graduações em: Teologia e Interpretação Bíblica (FABAPAR-PR),
Docência no ensino superior (FAVENI-ES), Especialização em Gestão
Escolar (FAVENI-ES).
Pós-graduando em: Teologia e Literatura (INSTITUTO REFORMADO
DE SÃO PAULO)
E-mail: jonathaskayran@icloud.com

REVISOR: PR. ISAQUE C. SOEIRO, pastor auxiliar na Igreja Evangélica


Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA) e filiado na
CEADEMA – Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleias
de Deus no Maranhão.
Graduações em: Bacharel em Administração (UNITINS-TO), Bacharel
em Teologia (FATEH-MA).
Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional
(UNISEBCOC), Especialização em Ciência das Religiões
(ILUSES/FATEH-MA),
Mestrado em Teologia (FAETAD) e Mestrando em Ciência das
Religiões (ILUSES/LUSÓFONA).
Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC.
E-mail: ic.soeiro.ic@gmail.com.
REALIZAÇÃO

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