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O SIGNIFICADO DO EVANGELHO

UMA INTRODUÇÃO À FÉ CRISTÃ


E AO EVANGELISMO

Israel Teixeira de Andrade


“… de graça recebestes, de graça dai.”
(Mateus 10:8b)

Copyright © 2021 de Israel Teixeira de Andrade

Direitos de uso livre. O conteúdo e as partes desse livro


estão liberados para uso geral. É permitida e até mesmo
incentivada, a reprodução, o armazenamento e a
transmissão desta publicação sem a necessidade de
autorização do autor ou de terceiros, contanto que o
conteúdo não seja alterado.

Primeira edição, 2021.


Agradecimentos

Quero agradecer em primeiro lugar a Deus, que

em sua soberania dirigiu os meus passos até a conclusão

dessa obra. Sem a sua graça, eu nada sou e nada alcanço.

Toda honra e toda glória ao Senhor Jesus!

Agradeço à minha esposa, Rita Karla Nicácio de

Andrade, pelo amor, pelo apoio e contribuições. Foram anos

de conversas, perguntas, sugestões etc. Obrigado amor!

Agradeço também a todos que, de alguma

maneira, contribuíram para a minha formação como cristão

e para a elaboração do conteúdo apresentado aqui. Vocês

são meus amigos, meus irmãos e minha verdadeira família

na fé.

Deus vos abençoe!

Israel Teixeira de Andrade, junho de 2021


5

Prefácio (1ª Edição)

Este livro é, em grande parte, fruto de uma

série de estudos bíblicos ministrados ao longo dos anos.

Trata-se de uma introdução à fé cristã 1, com foco na

mensagem do Evangelho2, partindo da análise de um

trecho da primeira epístola3 do apóstolo4 Paulo aos

Coríntios (I Coríntios 15:1-11) e a partir daí

desenvolvendo o raciocínio por meio de outros trechos

bíblicos.

Considerando a abrangência do tema,

recomendo ao interessado que busque maiores

1
Consulte o capítulo 2 para uma definição concisa de "fé".
2
Definição no capítulo 3.
3
A palavra “epístola” vem de uma palavra grega (epistole) cujo significado
literal era “palavra” ou “mensagem”. É o termo bíblico para a
correspondência, as “cartas” da antiguidade.
4
“Apóstolo” seria um termo no idioma original (grego) do Novo Testamento
da Bíblia, que se refere a alguém enviado ou comissionado para executar
uma determinada tarefa. No caso específico dos apóstolos de Jesus, o sentido
é mais restrito, referindo-se ao grupo de homens que foram escolhidos e
capacitados por Deus para ensinar e liderar o seu povo.
6

informações em bons livros ou artigos sobre os tópicos

apresentados.5

O que me motivou a princípio a trabalhar esse

tema foram as dúvidas pessoais que eu tinha a respeito

da fé cristã e do evangelismo, bem como a percepção de

que boa parte dos cristãos com que conversava também

partilhava das mesmas indagações.

A mensagem do Evangelho contém algumas

das doutrinas6 centrais do cristianismo, a base sobre a

qual, muitas outras doutrinas são erigidas. A própria

identidade cristã (daqueles que seguem e depositam a fé

em Jesus Cristo) fica comprometida quando desvinculada

dessa mensagem. Como podemos afirmar a realidade do

cristianismo em nossas vidas se nem sequer entendemos

a sua mensagem central?

5
Há bastante material de qualidade e excelentes indicações de livros neste
website: www.monergismo.com
6
"Doutrina" seria um conjunto de princípios ou ideias que expressa um
posicionamento religioso ou filosófico.
7

A minha esperança é que esse livro possa

ajudar você, a sua família e a sua comunidade a

compreender um pouco mais a respeito da Palavra de

Deus.

Que Deus te abençoe ricamente!


8

Sumário
Prefácio (1ª Edição).................................................................5
Introdução: I Coríntios 15:1-11............................................11
PARTE I: Examinando a Passagem.....................................15
1. O Evangelho que Salva.....................................................16
Resumo do Capítulo 1.....................................................20
2. O que é “Fé”?.....................................................................21
Resumo do Capítulo 2.....................................................27
3. A Mensagem do Evangelho.............................................28
Resumo do Capítulo 3.....................................................32
4. Quem é Deus......................................................................33
Resumo do Capítulo 4:....................................................41
5. A Tri-unidade de Deus.....................................................42
Resumo do Capítulo 5.....................................................48
6. O Pecado.............................................................................49
Resumo do Capítulo 6.....................................................53
7. A Ira de Deus.....................................................................54
Resumo do Capítulo 7.....................................................57
8. Cristo...................................................................................58
Resumo do Capítulo 8.....................................................62
9. Expiação..............................................................................63
Resumo do Capítulo 9.....................................................67
10. Segundo as Escrituras.....................................................68
Resumo do Capítulo 10...................................................71
11. A Ressurreição de Cristo................................................72
Resumo do Capítulo 11...................................................75
9

12. Pecados Passados e a Graça de Deus...........................76


Resumo do Capítulo 12...................................................79
13. Salvos de Quê?.................................................................81
Resumo do Capítulo 13...................................................93
14. Salvos Para o Quê?..........................................................94
Resumo do Capítulo 14.................................................104
15. O Novo Nascimento.....................................................106
Resumo do Capítulo 15.................................................110
16. A Graça de Deus............................................................111
Resumo do Capítulo 16.................................................116
17. A Lei e o Evangelho......................................................118
Resumo do Capítulo 17.................................................123
PARTE II: A Nossa Relação Com a Verdade...................124
18. Conhecendo a Verdade................................................125
Resumo do Capítulo 18.................................................128
19. Os 10 Mandamentos.....................................................129
Resumo do Capítulo 19.................................................132
20. A Relação da Lei com o Amor.....................................133
Resumo do Capítulo 20.................................................137
21. O Teste dos 10 Mandamentos......................................138
Resumo do Capítulo 21.................................................143
22. E Então? O Que Fazer?.................................................145
(Conversão: Fé e Arrependimento)..................................145
Resumo do Capítulo 22.................................................149
23. A Fé que se Apropria do Evangelho...........................150
Resumo do Capítulo 23.................................................155
24. A Certeza da Salvação..................................................157
Resumo do Capítulo 24.................................................162
10

25. Evidências da Salvação.................................................163


Resumo do Capítulo 25.................................................169
26. Nossa Jornada Até Aqui...............................................170
Resumo do Capítulo 26.................................................173
27. O que devemos fazer agora? (Parte 1)........................175
Resumo do Capítulo 27.................................................181
28. O que devemos fazer agora? (Parte 2)........................183
Resumo do Capítulo 28.................................................188
29. O que devemos fazer agora? (Parte 3)........................189
Resumo do Capítulo 29.................................................195
PARTE III: Compartilhando a Mensagem.......................197
30. As Instruções Finais de Jesus.......................................198
Resumo do Capítulo 30.................................................202
31 Equívocos Comuns........................................................203
Resumo do Capítulo 31.................................................216
32.Abordagem Evangelística Confrontativa...................219
Resumo do Capítulo 32.................................................231
Palavras Finais.....................................................................233
Apêndice: Folheto Evangelístico.......................................235
11

Introdução: I Coríntios 15:1-11

O texto base que iremos ler se encontra na

Bíblia Sagrada, no Novo Testamento, em I Coríntios, no

capítulo 15, versículos de 1 a 11:

Texto Base: I Coríntios 15:1-11 Ora, eu vos

lembro, irmãos, o evangelho que já vos anunciei; o qual

também recebestes, e no qual perseverais, (2) pelo qual

também sois salvos, se é que o conservais tal como vo-lo

anunciei; se não é que crestes em vão.(3) Porque

primeiramente vos entreguei o que também recebi: que

Cristo morreu por nossos pecados, segundo as

Escrituras; (4) que foi sepultado; que foi ressuscitado ao

terceiro dia, segundo as Escrituras; (5) que apareceu a

Cefas, e depois aos doze; (6) depois apareceu a mais de

quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda a

maior parte, mas alguns já dormiram; (7) depois

apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; (8) e por


12

derradeiro de todos apareceu também a mim, como a

um abortivo. (9) Pois eu sou o menor dos apóstolos, que

nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque

persegui a igreja de Deus. (10) Mas pela graça de Deus

sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã,

antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia

não eu, mas a graça de Deus que está comigo. (11) Então,

ou seja eu ou sejam eles, assim pregamos e assim crestes.

O trecho lido faz parte de uma carta que o

apóstolo Paulo enviou aos cristãos7 que moravam numa

cidade da antiga Grécia chamada Corinto. Na carta, após

tratar de diversos assuntos e problemas enfrentados pela

comunidade de cristãos daquele local, o apóstolo agora

se preocupa em retomar a mensagem do Evangelho, a

qual introduzirá a sua defesa da doutrina da ressurreição

(mencionaremos essa doutrina posteriormente) que se

7
“Cristãos” era o nome que se deu aos seguidores de Jesus Cristo quando o
seu grupo começou a crescer consideravelmente (conferir Atos 11:26).
13

encontra nos versículos a frente. Podemos considerar que

essa defesa vai do versículo doze até o cinquenta e oito.

O objetivo de todo o capítulo 15 é,

resumidamente, apresentar uma argumentação da

realidade e importância da doutrina da ressurreição para

a fé cristã. No entanto, o sumário da mensagem do

Evangelho contido nesses primeiros onze versículos é

muito interessante, porque, quando analisado com calma,

possibilita a compreensão de algumas doutrinas

fundamentais do cristianismo.

Vamos trabalhar o tema do Evangelho em três

partes. Primeiramente, faremos uma análise da

mensagem e teologia8 envolvidas na passagem. Em

seguida, faremos uma reflexão sobre as implicações dessa

mensagem para a vida de todos nós. Por fim, falaremos

8
“Teologia” é uma palavra resultante da junção de duas outras palavras
gregas: theos (Deus, divindade) e logos (estudo, lógica, discurso). Teologia, no
contexto do cristianismo evangélico, seria o estudo de Deus conforme Ele se
revela na Bíblia, e, de uma forma mais abrangente, o estudo das demais
doutrinas bíblicas.
14

algo a respeito de compartilhar essa mensagem com

outras pessoas.
15

PARTE I: Examinando a Passagem


16

1. O Evangelho que Salva

I Coríntios 15:1a Ora, eu vos lembro, irmãos,

o evangelho que já vos anunciei...

O trecho inicia com o apóstolo Paulo trazendo

à memória de seus leitores a mensagem do Evangelho,

que ele já havia anunciado aos cristãos da igreja 9 de

Corinto. A palavra “Evangelho”, no idioma original da

epístola (grego), euangélion, resulta da junção de duas

palavras gregas: eu que quer dizer “bom” e angelia que

significa “mensagem, notícia, ou novas”, ou seja,

“Evangelho” quer dizer “boas novas” ou “boas notícias”.

No mundo antigo, após uma vitória numa

batalha, era enviado um mensageiro denominado

“evangelista” com as boas novas, ou, boas notícias da

vitória para avisar uma autoridade. As boas novas aqui

9
O termo “igreja” (do grego: ekklesia) era de uso comum na antiguidade,
significando uma assembleia que convocava escolhidos dentre a massa do
povo, para debater assuntos ligados às políticas públicas. Na Bíblia, o seu
uso refere-se aos seguidores de Jesus Cristo, os cristãos.
17

na passagem se referem, como veremos mais a frente em

detalhes, à realidade de que a dívida do pecado do povo

de Deus, foi paga por Jesus Cristo em sua morte na cruz,

bem como o fato de Jesus ter ressuscitado e todas as

implicações relacionadas a esses dois eventos.

I Coríntios 15:1b ...o qual também recebestes,

e no qual perseverais,

O apóstolo afirma que os irmãos de Corinto

foram receptivos à mensagem do Evangelho, recebendo,

ou seja, crendo quando ela lhes foi anunciada, e não

somente isso, eles perseveraram, isto é, continuaram

crendo nela e vivendo de acordo com essa crença.

I Coríntios 15:2 pelo qual também sois

salvos, se é que o conservais tal como vo-lo anunciei; se

não é que crestes em vão.


18

Aqui, no segundo versículo, nos é revelado

que os leitores da carta eram “salvos” pelo Evangelho.

(veremos o que isso significa nos próximos capítulos) Isso

seria verdade, caso a mensagem do Evangelho estivesse

sendo conservada, ou crida, da forma como foi

anunciada por Paulo, sem modificações, ou adulteração.

O apóstolo deixa claro que se esse não fosse o caso,

aquelas pessoas não estariam salvas.

Atentando para o final do versículo lemos: “…

se não é que crestes em vão”. É possível entender, à luz

do contexto mais a frente, que isso provavelmente se

refere a uma fé errada, portanto vazia e equivocada, que

não leva a nada:

I Coríntios 15:17a E, se Cristo não foi

ressuscitado, é vã a vossa fé...

Em outras palavras, a fé cristã é fundamentada

em fatos específicos que deveriam ser conhecidos (em


19

sua pureza, sem adulterações) e assumidos como

verdade por aqueles que a professam, o que resultaria na

salvação daqueles que creem.

Precisamos agora compreender o significado

da palavra “fé”, ou, “crença”. No próximo capítulo

veremos como a Bíblia define esse termo.


20

Resumo do Capítulo 1

 (I Co 15:1) Paulo lembra os cristãos de Corinto sobre

o Evangelho;

 “Evangelho”: “Boas Novas” ou “Boas Notícias”

I. Do grego: euangélion

 Eu: “bom”

 Angelia: “mensagem, notícia ou novas”

II. Mensagem levada por um mensageiro

(evangelista) contando a vitória em uma batalha;

 Os cristãos de Corinto receberam o Evangelho

(acreditaram nele) e perseveraram nele (continuaram

acreditando e vivendo de acordo com essa fé);

 (I Co 15:2) As pessoas são salvas pelo Evangelho;

 É necessário permanecer crendo na mensagem pura

do Evangelho; Uma fé equivocada, ou adulterada, é

vã e não leva a lugar algum (I Co 15:17a);


21

2. O que é “Fé”?

A palavra “fé” ou, “crença”, é apresentada nos

textos bíblicos em, pelo menos, duas situações que nos

interessam por hora para entender o nosso texto base:

1) Designando uma crença pessoal, subjetiva,

ou seja, o ato de assentir (concordar, admitir) a uma

determinada informação, confiar. Por exemplo:

Romanos 4:3 Pois, que diz a Escritura? Creu

Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.

Pode-se notar então que crer ou ter fé em algo

ou alguém envolve duas coisas: (1) conhecer ou, entender

alguma informação e (2) assentir, aceitar a realidade, ou,

a verdade dessa informação, o que resulta em uma

segurança interior10, em relação à aceitação dessa mesma

10
Poderíamos dizer também segurança “psicológica”, no entanto preferi não
utilizar essa palavra porque popularmente ela é associada à
falsidade/irrealidade e a fé não é necessariamente colocada sobre
inverdades. É tanto possível crer em algo verdadeiro quanto em mentiras ou
falsidades.
22

realidade, uma certeza (essa segurança é normalmente

chamada de “confiança”).

Conta-se11 que certa vez um estudioso, que

pretendia traduzir a Bíblia para o idioma de uma tribo

indígena brasileira, se deparou com uma grande

dificuldade: a língua escolhida para a tradução não tinha

uma palavra específica para “fé”. Ele acabou decidindo

por traduzir o termo pela mesma palavra que os índios

usavam para “rede”, pois aquela tribo específica tinha o

costume de amarrar as suas redes nas árvores para

dormir, e era necessário que a rede fosse bem firme e o

nó bem-feito, caso contrário eles poderiam cair e morrer.

Ou seja, assim como eles depositavam a sua confiança na

rede para a sua segurança durante o sono, a fé seria a

nossa confiança em alguma informação que julgamos

verdadeira, ou suficiente, na qual, em certo sentido, nós

11
Ouvi essa história de um pregador na internet, mas não consegui
encontrar a fonte para confirmar a sua veracidade. De qualquer maneira,
ainda que se trate apenas de uma ilustração, eu a compartilho aqui apenas
para ajudar na compreensão do significado da palavra “fé”.
23

“descansamos” tranquilamente, pois temos uma

segurança interior a respeito de sua veracidade. Mas

ainda há um segundo uso da palavra “fé” na Bíblia, que

vai um passo além do que já mencionamos:

2) Significando um conjunto objetivo de fatos

e/ou doutrinas, passível de ser crido, como “a fé cristã”,

“a fé judaica” etc. Por exemplo, na epístola de Judas:

Judas 1:3 Amados, procurando eu escrever-

vos com toda a diligência acerca da salvação comum,

tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a

batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.

O apelo da passagem de Judas 1:3 não se

refere a batalhar pelo ato subjetivo de crer em qualquer

coisa, mas sim “pela fé que foi dada aos santos”, ou seja,

o corpo de fatos e doutrinas do cristianismo.

Vemos então que, fé individual (confiança

subjetiva), pode ser aplicada sobre artigos de fé


24

objetivos, como por exemplo, as doutrinas de alguma

religião, princípios filosóficos, fatos simples do dia a dia e

até mesmo teorias científicas.

É preciso ter clara a distinção entre esses dois

usos do termo “fé” no texto sagrado. No entanto, na

Bíblia percebemos que o primeiro uso do termo (fé

subjetiva, confiança pessoal), quando relacionado à

salvação (como é o caso do texto base), sempre se refere a

uma fé aplicada sobre um corpo específico de fatos e

doutrinas que deve ser conhecido, para então ser crido.

Em outras palavras, a fé que resulta em salvação envolve:

(1) conhecer a mensagem do Evangelho, e (2) um

assentimento por parte da pessoa a essa mensagem

especificamente12. A Fé necessária à salvação no contexto

da passagem é uma, tal como veremos mais a frente 13,

que nos é concedida pelo próprio Deus, para crer, ou

confiar, na mensagem do Evangelho (inclusive em suas

12
Isso é claro, inclui a relação dessa mensagem com a pessoa em questão,
mas falaremos mais a respeito disso na segunda parte do livro.
13
Mais explicações no capítulo dezesseis.
25

implicações para as nossas vidas), bem como permanecer

crendo nela, assim como foi com os coríntios.

Vale enfatizar que o texto base que estamos

examinando é incisivo sobre a importância de uma fé

correta a respeito da mensagem e doutrina cristã.

Muitas pessoas hoje apregoam: “não importa

no que você crê, contanto que seja sincero”, em

contrapartida, o apóstolo Paulo condena severamente

distorções da mensagem cristã. Podemos conferir isso na

epístola aos Coríntios e em outros escritos também.

Exemplo:

Gálatas 1:8 Mas, ainda que nós mesmos ou

um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do

que já vos tenho anunciado, seja anátema14.

Vemos então que a fé salvadora é a fé na

verdade, a verdade relacionada a Jesus Cristo e sua obra

14
“Anátema” é uma palavra que significa, aqui nesse contexto,
“amaldiçoado”.
26

de salvação. A fé salvadora não “descansa” em

falsidades, ou naquilo que julgamos conveniente.


27

Resumo do Capítulo 2

 A palavra “Fé” na Bíblia pode significar:

 (1) Conhecer ou compreender uma informação e

(2) aceitar a realidade ou verdade dessa mesma

informação (ex.: Rm 4:3), o que resulta em

confiança (segurança interior)

 Um conjunto de fatos e/ou doutrinas (ideias ou

princípios) a serem acreditadas (ex.: Jd 1:3)

 A Fé que salva envolve conhecer a Mensagem do

Evangelho e crer nela especificamente;

 Essa Fé é concedida ao homem por Deus;

 Distorções na Mensagem do Evangelho são

severamente condenadas na Bíblia (Gl 1:8);


28

3. A Mensagem do Evangelho

Voltando ao texto base, prosseguimos agora

para entender qual é, especificamente, a mensagem do

Evangelho.

I Coríntios 15:3a Porque primeiramente vos

entreguei o que também recebi...

Paulo fala que já entregou essa mensagem do

Evangelho aos cristãos de Corinto e que ele por sua vez a

recebeu anteriormente. Sabemos pela Bíblia que ele não

foi testemunha ocular do ministério terreno de Cristo,

nem mesmo da sua morte na cruz. No entanto, também

sabemos por outra carta do apóstolo Paulo, que ele

recebeu a mensagem do Evangelho por uma revelação

sobrenatural do Senhor Jesus Cristo:

Gálatas 1:11-12 Mas faço-vos saber, irmãos,

que o evangelho que por mim foi anunciado não é


29

segundo os homens; (12) porque não o recebi de homem

algum, nem me foi ensinado; mas o recebi por

revelação de Jesus Cristo.

Ainda no versículo 3 de I Coríntios 15, ele

começa a explicar a mensagem do Evangelho:

I Coríntios 15:3b,4 … que Cristo morreu por

nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi

sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo

as Escrituras;

Ou seja, a mensagem do Evangelho envolve o

fato de que Jesus Cristo, o Filho de Deus, morreu pelos

pecados do seu povo15 e, como vemos no verso seguinte,

o fato de que depois de três dias, Jesus ressuscitou

(voltou a viver). Isso tudo, veremos detalhadamente,

inclui não somente os fatos em si, mas o seu significado e

15
Embora a expressão “por nossos pecados” possa parecer referir-se ao apóstolo
Paulo e talvez àqueles a quem ele está enviando a carta, veremos ao longo
do livro que isso é bem mais abrangente.
30

implicações para aqueles que são chamados de “povo de

Deus”.

São introduzidos aqui os conceitos de

“pecado” e o que a teologia chama de “doutrina da

expiação16”, quando o texto nos diz: “… Cristo morreu

por nossos pecados…”, o que aqui se refere ao fato de

Jesus ter pago a dívida do pecado do seu povo.

É possível também dizer que outras doutrinas

marcam presença de forma implícita, porque são

pressupostos necessários para o trecho fazer algum

sentido. Em outras palavras, há um contexto aqui de

ensino teológico de longa data, no qual a mensagem de

Paulo está inserida. Paulo está falando com um público

que já conhece a respeito de muitas coisas das

Escrituras17, pois foi previamente ensinado. Dentre as


16
Expiação significa “pagar a dívida”, “apaziguar”, “cobrir”.
17
“Escrituras” ou, “Escritura”, é o termo bíblico para os textos sagrados
inspirados por Deus (II Timóteo 3:16). Até o momento da escrita da carta aos
Coríntios, consistia de todo o Velho Testamento e de alguns livros/trechos do
Novo Testamento, presentes em nossas Bíblias atuais. É também comum se
referir à Bíblia como “a Palavra de Deus”.
31

outras doutrinas implícitas no trecho poderíamos

mencionar: A existência e a natureza de Deus, o que é o

pecado, quais as suas consequências etc.

Primeiramente, não poderemos compreender

corretamente as doutrinas do pecado e da expiação sem

antes buscarmos entender à luz da Bíblia quem é Deus,

que é o tema do nosso próximo capítulo.


32

Resumo do Capítulo 3

 Paulo menciona que já havia entregado a mensagem

do Evangelho aos coríntios. Descobrimos também

em outra carta, que ele recebeu essa mensagem

através de uma revelação sobrenatural de Jesus

Cristo. (I Co 15:3; Gl 1:11-12).

 A mensagem do Evangelho consiste em que Cristo

morreu para pagar pelos pecados do seu povo

(expiação) e ressuscitou, bem como todo o

significado e implicações relacionados a esses

eventos.

 A passagem está inserida num contexto de ensino

teológico de longa data, onde várias doutrinas são,

provavelmente, conhecidas pelos endereçados na

carta, tais como as que se relacionam a Deus e ao

pecado.
33

4. Quem é Deus

É necessário deixar claro que esse capítulo

pretende fornecer apenas uma pequenina introdução à

teologia de Deus e não pretende ser tão abrangente ou

detalhado como gostaríamos. Para um aprofundamento

recomenda-se o estudo de um bom livro de Teologia

Sistemática.18

Há muito mais na Bíblia para ser estudado do

que o que será apresentado aqui, mas para o propósito de

contextualizar a mensagem do Evangelho, seguem

18
“Teologia Sistemática” seria o estudo de tópicos teológicos ordenados de
maneira a levar em conta o todo do que a Bíblia tem a dizer sobre um
determinado assunto. O autor Vincent Cheung disponibiliza a sua “Teologia
Sistemática” bem como todos os seus outros livros gratuitamente para
download em seu website ( www.vincentcheung.com/library/ ) e alguns foram
traduzidos para o português (com a autorização do autor) no website
www.monergismo.com que mencionamos anteriormente, inclusive a “Teologia
sistemática”:
www.monergismo.com/textos/livros/teologia_sistematica_completa_cheung.pdf. Se
o leitor preferir, é também possível adquirir o livro físico, além de muitas
outras boas obras cristãs no website da editora Monergismo
(www.editoramonergismo.com.br ). Também gostaríamos de indicar a, um
tanto mais robusta, “Teologia Sistemática” de Wayne A. Grudem, que se
encontra à venda em livrarias evangélicas, mas isso fica a critério do
interessado. Caso se opte por outras obras do gênero, recomendamos a
escolha de autores com uma linha de pensamento teológico reformado, ou
“protestante”.
34

algumas características de Deus conforme Ele as

apresenta na Bíblia:
35

A. Existente/Real:

Deus é um ser pessoal e distinto da criação.

Ele não é obra da imaginação dos homens. Para os

escritores bíblicos, a sua existência é uma realidade

assumida e perceptível. Não há tentativa de “provar” 19 a

existência de Deus na Bíblia, apenas uma reprovação

daqueles que nele não creem:

Salmos 53:1a Disse o néscio20 no seu coração21:

Não há Deus…

B. Criador:

Deus é o eterno (sem princípio nem fim) todo-

poderoso criador e sustentador de tudo o que há, sem o

19
Há uma discussão muito interessante sobre a tentativa de “provar” (como
em um experimento científico) a existência de Deus no excelente livro
“Questões Últimas” do autor Vincent Cheung:
http://www.monergismo.com/textos/livros/questoes_ultimas_livro_cheung.pdf
20
“Néscio” é um sinônimo para “tolo”.
21
“Coração” na Bíblia refere-se ao centro da consciência humana, a sede do
intelecto, da vontade e das emoções. “Mente” seria um termo equivalente
mais comum na cultura ocidental.
36

qual nada do que existe teria vindo à existência e

permanecido existente:

Apocalipse 4:11 Digno és, Senhor, de receber

glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas,

e por tua vontade são e foram criadas.

C. Soberano:

Deus governa o universo e o dirige para onde

bem entende. Ele tem poder sobre toda a criação e a

move de acordo com os seus propósitos eternos:

Isaías 46:9-10 Lembrai-vos das coisas

passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há

outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que

anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade


37

as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu

conselho será firme, e farei toda a minha vontade.

D. Santo:

Deus é perfeito e santo22, ou seja, não tem

nenhum defeito de ordem moral, o que seria impossível,

considerando que é a sua própria natureza que estabelece

o bem e o moralmente correto. Deus está separado de

tudo o que é mau e não tolera a impureza.

I Samuel 2:2 Não há santo como o Senhor; porque

não há outro fora de ti; e rocha nenhuma há como o

nosso Deus.

Salmos 99:9 Exaltai ao Senhor nosso Deus e adorai-

o no seu monte santo, pois o Senhor nosso Deus é santo.

E. Exige Santidade:

22
“Santidade” seria, literalmente, “estar separado”, seja de algo, ou para
algo/alguém.
38

Deus ordena ao seu povo que seja santo

também23. Para isso ele estabelece leis e preceitos que,

quando obedecidos, conduzem o seu povo à excelência

na conduta moral. A pessoa do Espírito Santo (falaremos

mais no próximo capítulo) está diretamente relacionada

com a santificação (o processo de aperfeiçoamento moral)

do povo de Deus.

Levítico 19:2 Fala a toda a congregação dos

filhos de Israel, e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o

Senhor vosso Deus, sou santo.

I Pedro 1:15-16 Mas, como é santo aquele que

vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa

maneira de viver; Porquanto está escrito: Sede santos,

porque eu sou santo.

F. Justo:

23
Uma leitura bíblica consistente vai poder notar que Deus tem padrões
específicos de santidade, não relegando isso à opinião individual das suas
criaturas, que infelizmente, distorcem esse conceito por conta de sua
condição pecaminosa (consulte o capítulo 6 para mais informações).
39

Além de perfeito em santidade, Deus é

perfeito em justiça e não tolera a impiedade e a

perversão, tendo em vista o castigo dos maus. Para isso,

preparou um dia em que há de julgar toda a obra da

criação. Ou seja, Deus não somente preza pela excelência

moral, como também se opõe a tudo o que é mau, àquilo

que se desvia dos seus eternos padrões de santidade:

Salmos 119:137 Justo és, ó Senhor, e retos são

os teus juízos.

Naum 1:3a O Senhor é tardio em irar-se, mas

grande em poder, e ao culpado não tem por inocente…

Salmos 9:7-8 Mas o Senhor está assentado

perpetuamente; já preparou o seu tribunal para julgar.

Ele mesmo julgará o mundo com justiça; exercerá juízo

sobre povos com retidão.

G. Amoroso:
40

Sabemos também que Deus é amoroso 24 e

misericordioso, o que significa que Ele trata com

bondade e abençoa os homens, muitas vezes perdoando

os seus erros:

I João 4:8 Aquele que não ama não conhece a

Deus; porque Deus é amor.

Neemias 9:31 Mas pela tua grande

misericórdia os não destruíste nem desamparaste,

porque és um Deus clemente e misericordioso.

Ainda consideraremos um outro atributo, ou

característica do ser de Deus que merece uma atenção

especial, trata-se da sua tri-unidade, que examinaremos

no próximo capítulo.

24
Essa é outra característica do ser de Deus que frequentemente é distorcida
pelas pessoas. A concepção popular afirma que o atributo divino do amor
exclui necessariamente a aplicação da justiça de Deus, o que passa longe do
que a Bíblia ensina.
41

Resumo do Capítulo 4:

 Algumas características de Deus de acordo com a

Bíblia:

I. Existente/Real (Sl 53:1)

II. Criador (Ap 4:11)

III. Soberano (Is 46:9-10)

IV. Santo (I Sm 2:2; Sl 99:9)

V. Exige Santidade (Lv 19:2; I Pe 1:15-16)

VI. Justo (Sl 119:137; Na 1:3a; Sl 9:7-8)

VII. Amoroso (I Jo 4:8; Ne 9:31)


42

5. A Tri-unidade de Deus
Um dos atributos de Deus que o torna

radicalmente diferente das suas criaturas, é a sua tri-

unidade (a chamada “Doutrina da Trindade”), ou seja, o

fato de Deus ser um em essência (a soma dos atributos do

ser de Deus) e três em personalidade, sem contudo que

hajam três essências individuais. Isso significa que todos

os atributos discutidos no capítulo anterior (e os que não

mencionamos) são compartilhados por três pessoas

distintas, a saber, o Pai, o Filho (Jesus Cristo) e o Espírito

Santo. Para estabelecer esses pontos, seguem as seguintes

explicações:
43

I. Sabemos pela Escritura que só há um Deus:

Isaías 43:10 Vós sois as minhas testemunhas,

diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o

saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e

que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de

mim nenhum haverá.

Isaías 44:6 Assim diz o Senhor, Rei de Israel, e

seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro,

e eu sou o último, e fora de mim não há Deus.

II. Também sabemos que as três pessoas

presentes em Deus compartilham de todos os atributos

exclusivos da natureza divina e são todas chamadas de

“Deus”, sem restrições:

1. O Pai:

João 6:27 Trabalhai, não pela comida que

perece, mas pela comida que permanece para a vida


44

eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este

o Pai, Deus, o selou.

João 20:17 Disse-lhe Jesus: Não me detenhas,

porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus

irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso

Pai, meu Deus e vosso Deus.

2. O Filho (Jesus Cristo):

Hebreus 1:8 Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu

trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de

equidade é o cetro do teu reino.

João 1:1, 14a (1) No princípio era o Verbo, e o

Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus… (14a) E o

Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua

glória, como a glória do unigênito do Pai...


45

3. O Espírito Santo:

Atos 5:3-4 Disse então Pedro: Ananias, por

que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao

Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?

Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava

em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu

coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.

I Coríntios 2:10-11 Mas Deus no-las revelou

pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as

coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos

homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do

homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as

coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.


46

III. Jesus, o Filho de Deus ensinou que seus

discípulos25 deveriam batizar as pessoas em nome do Pai,

do Filho e do Espírito Santo, o que corrobora o que temos

visto até aqui:

Mateus 28:19 Portanto ide, fazei discípulos de

todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do

Filho, e do Espírito Santo;

A doutrina da Trindade é um dos pilares da fé

cristã. Recomendo que o leitor busque se aprofundar no

assunto através de bons livros. (as recomendações dos

capítulos anteriores contém boas informações a respeito)

Existem ainda outros atributos importantes do

ser de Deus que poderíamos mencionar, como a sua

omnisciência (conhecimento pleno), omnipresença

(presente em todo lugar) e omnipotência (poder para

realizar tudo o que desejar), mas por hora voltaremos a


25
Um “discípulo” era um aprendiz, seguidor de algum mestre, esse último
por sua vez era chamado na época de “rabi”.
47

nossa atenção para o nosso texto base para explicar o

significado do termo “pecado”, que foi uma palavra

mencionada no terceiro versículo:

I Coríntios 15:3 Porque primeiramente vos

entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por

nossos pecados, segundo as Escrituras;


48

Resumo do Capítulo 5

 A Tri-Unidade de Deus

I. Um em Essência (soma dos atributos divinos)

II. Três em Personalidade (não se trata de 3

essências individuais)

 Só há Um Deus (Is 43:10; Is 44:6)

 As três pessoas da Trindade compartilham os

atributos divinos e são chamadas de “Deus”:

I. O Pai (Jo 6:27; Jo 20:17)

II. O Filho – Jesus Cristo (Hb 1:8; Jo 1:1,14a)

III. O Espírito Santo (At 5:3-4; I Co 2:10-11)

 Jesus instruiu seus seguidores a batizarem em nome

do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19)

 O terceiro versículo da passagem base menciona a

palavra “pecado” (I Co 15:3)


49

6. O Pecado

Pecado é a transgressão, ou desobediência da

lei de Deus, o conjunto de normas que Deus deixou para

o seu povo nas Escrituras. Na época em que Paulo

escreveu, se a lei se encontrava nos livros que hoje

dizemos fazerem parte do “Velho Testamento” na Bíblia.

I João 3:4 (NVI) Todo aquele que pratica o

pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a

transgressão da Lei.26

Um exemplo dessas leis seriam os famosos 10

Mandamentos, aos quais retornaremos mais a frente na

segunda parte do livro. Também podemos entender

como mandamentos de Deus, as ordenanças de Jesus nos

Evangelhos27, bem como as instruções dos apóstolos e

26
Foi escolhida a tradução da Bíblia conhecida por “Nova Versão
Internacional”, por conta dessa tradução deixar o termo “iniquidade” mais
explícito aqui. (“transgressão da lei”)
27
Aqui estamos nos referindo aos quatro primeiros livros do Novo
Testamento. “Evangelho” também pode ser considerado como um “gênero
literário” do começo do cristianismo.
50

demais escritores nos livros do Novo Testamento. Ainda

de forma mais abrangente podemos dizer que pecado é

“tudo o que não glorifica a Deus”, que é contrário à sua

vontade, seus preceitos que foram revelados, de maneira

especial, nas Escrituras.

O apóstolo Paulo assume que ele mesmo, bem

como as pessoas a quem endereça a carta, pecaram.

Outros trechos do Novo Testamento revelam que isso

não é uma situação exclusiva deles, mas também uma

condição geral da humanidade, que se vê portanto

separada de Deus, como explícito por exemplo, nos

seguintes versículos:

Romanos 3:23 Porque todos pecaram e

destituídos estão da glória de Deus;

Isaías 59:2 Mas as vossas iniquidades fazem

separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados

encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.


51

Essa condição de pecado resultou da

desobediência de Adão, o primeiro homem, no jardim do

Éden, no início da história da humanidade28:

Romanos 5:12 Portanto, como por um homem

entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim

também a morte passou a todos os homens por isso que

todos pecaram.

A teologia costuma designar esse fato como a

doutrina do “pecado original”, ou, a “doutrina da

queda”, que é reconhecida como “A Primeira Grande

Imputação” (“colocar na conta” de alguém, atribuir

responsabilidade) nas Escrituras. A culpa do pecado de

Adão foi imputada aos seus descendentes.

Além dessa condição geral da humanidade, a

Bíblia também nos ensina que constantemente pecamos

28
Conferir no livro de Gênesis nos capítulos de 1 a 3.
52

contra Deus pontual e individualmente, desde a nossa

queda:

Romanos 3:10-18 Como está escrito: Não há

um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda;

Não há ninguém que busque a Deus. Todos se

extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há

quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é

um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam

enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de

seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e

amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar

sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não

conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus

diante de seus olhos.


53

Resumo do Capítulo 6

 Pecado

 Desobediência da Lei de Deus (I Jo 3:4)

 Mandamentos do Velho Testamento

 Mandamentos de Jesus e dos

apóstolos no Novo Testamento

 Tudo o que não glorifica a Deus

 Tudo o que é contrário à vontade revelada

de Deus nas Escrituras

 Todos pecaram e estão separados de Deus

(Rm 3:23; Is 59:2)

 Começou com Adão (Gn 1-3; Rm 5:12)

 “A Primeira Grande Imputação”: a culpa

de Adão foi “colocada na conta” dos seus

descendentes

 Todos pecamos pontual e individualmente

(Rm 3:10-12; conferir até o versículo 18)


54

7. A Ira de Deus

A Bíblia nos diz que, a situação de pecado da

humanidade29 nos colocou a todos no caminho da justa

ira de Deus:

Mateus 3:7 E, vendo ele muitos dos fariseus e

dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes:

Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?

Atos 17:30-31 Mas Deus, não tendo em conta

os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os

homens, e em todo o lugar, que se arrependam;

Porquanto tem determinado um dia em que com justiça

há de julgar o mundo, por meio do homem que

destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o

dentre os mortos.

Romanos 1:18 Porque do céu se manifesta a

ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos

29
Referindo-se, como vimos anteriormente, à Primeira Grande Imputação e
aos nossos pecados pontuais
55

homens, que detêm a verdade em injustiça.

Romanos 2:5-6a Mas, segundo a tua dureza e

teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da

ira e da manifestação do juízo de Deus; O qual

recompensará cada um segundo as suas obras;

Essa ira da parte de Deus resulta, no final de

tudo, no julgamento e condenação dos pecadores ao

tormento eterno, num terrível lugar que chamamos de

“inferno”30. Um lugar de dor extrema e angústia sem fim,

sobre o qual nos alertou Jesus:

Marcos 9:43-44 E, se a tua mão te

escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida

aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno,

para o fogo que nunca se apaga, Onde o seu bicho não

morre, e o fogo nunca se apaga.

30
Por se tratar de um texto introdutório, foram omitidas as distinções entre o
termo hades e o “lago de fogo” (conferir em uma Teologia Sistemática).
56

Tamanha é a seriedade com que Jesus trata do

assunto que não seria sensato deixar de levar essa

verdade em consideração. Por um lado, a satisfação da

ira de Deus é algo que nós costumamos até certo ponto

compreender, no caso da punição de pessoas que

consideramos extremamente perversas. Por outro lado,

será que temos consciência de que, se todas as pessoas

estão debaixo da mesma condenação, nós também

poderíamos estar a caminho do inferno? Resumindo,

Deus pretende julgar, condenar e punir os pecadores.

No próximo capítulo continuaremos a analisar

a teologia pressuposta na passagem que temos visto

desde o princípio. Vamos falar da pessoa de Cristo, a

quem Deus enviou para salvar pecadores da condenação

eterna.
57

Resumo do Capítulo 7

 A situação de pecado da humanidade nos colocou a

todos no caminho da justa ira de Deus

(Mt 3:7; At 17:30-31; Rm 1:18; Rm 2:5-6a)

 A ira de Deus resulta em:

I. Um julgamento final da humanidade

II. Na condenação dos pecadores

III. Na punição eterna no inferno

 Lugar de angústia e sofrimento sem fim

(Mc 9:43-44)

 Cristo foi enviado para salvar pecadores da

condenação eterna
58

8. Cristo

A pessoa de Cristo é introduzida como o

principal agente no trecho de I Coríntios 15 (versículo 3

em diante). Mas afinal, quem é “Cristo”?

A palavra no grego original é Khristós, que

significa “ungido”. É o equivalente do hebraico

Mashíyach, que é transliterada para o português,

“Messias”.

Na Bíblia, o ato de ungir significa derramar

óleo sobre a cabeça das pessoas que seriam consagradas

(separadas) para exercer um ministério31 (uma função)

importante. Os ministérios de Cristo, segundo as

Escrituras, foram os seguintes:

“Ministério” na Bíblia significa literalmente “serviço”. No caso, serviço a


31

Deus, no exercício de algum dom.


59

1. Profeta:

Deuteronômio 18:15 O Senhor teu Deus te

levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como

eu; a ele ouvireis;

Hebreus 1:1 Havendo Deus antigamente

falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais,

pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo

Filho,

2. Sacerdote:

Hebreus 7:26-28 Porque nos convinha tal

sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado

dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; Que

não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer

cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios

pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele,

uma vez, oferecendo-se a si mesmo. Porque a lei


60

constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a

palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui

ao Filho, perfeito para sempre.

3. Rei

Salmos 2:1-6 Por que se amotinam os gentios,

e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se

levantam e os governos consultam juntamente contra o

Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as

suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.

Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará

deles. Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os

turbará. Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo

monte de Sião.

Os profetas falavam em nome de Deus, ou

seja, Cristo (Jesus) veio ao mundo revelar o plano de

Deus aos homens. Como sacerdote, Cristo faz a mediação


61

entre os homens e Deus Pai. Por fim, como Rei, ele

governa os seus súditos e os protege. Os judeus 32

compreendiam pelos escritos do Velho Testamento que o

Cristo, não seria mais um ungido comum, como o foram

os antigos reis, mas seria “O” ungido, um salvador

enviado por Deus.

No próximo capítulo falaremos mais

detalhadamente sobre a principal obra realizada por

Cristo, a expiação.

32
O termo “judeu”, a princípio, referia-se à tribo de Judá, no povo israelita e
a sua descendência do patriarca Judá, filho de Jacó (também chamado de
Israel), bisneto de Abraão. No período da epístola de Paulo aos Coríntios a
palavra tinha um sentido mais abrangente, incluindo todos os descendentes
de Israel (todas as suas tribos).
62

Resumo do Capítulo 8

 A palavra “Cristo”:

 Do grego: Khristós

 Do hebraico: Mashíyach

(transliteração portuguesa: “Messias”)

 Significado literal: “Ungido”

 Ungir: derramar óleo sobre a cabeça de

quem assumiria um ministério importante

 Ministérios de Cristo:

 Profeta (Dt 18:15; Hb 1:1)

 Sacerdote (Hb 7:26-28)

 Rei (Sl 2:1-6)


63

9. Expiação

No terceiro capítulo, mencionamos a doutrina

da “expiação”, que como já antes mencionado, se resume

da seguinte maneira: a pena, ou, o castigo, que

justamente mereciam pecadores (inclusive os

mencionados na passagem de I Coríntios 15), foi

sofrido/pago pelo sacrifício de Cristo, que morreu na

cruz no lugar deles. Como explícito em várias passagens:

I Pedro 3:18 Porque também Cristo morreu

uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para

levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne,

mas vivificado no espírito;

Romanos 5:8 Mas Deus prova o seu amor

para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós

ainda pecadores.

Jesus Cristo, o Filho de Deus, a segunda

pessoa da Trindade, veio ao mundo, assumindo


64

(acrescendo) uma natureza humana ao nascer 33, mas não

abandonando sua divindade, viveu uma vida perfeita

diante do seu Pai celestial, obedecendo a todos os seus

mandamentos e, tendo exercido um ministério de

pregação e de milagres, foi, por fim, acusado

injustamente, castigado e executado em uma cruz pelas

autoridades da sua época.34

Essa execução no entanto, não foi somente

resultado do intento de homens maus (o que de fato

acabou sendo), mas foi também planejada e orquestrada

pelo próprio Deus que entregou o seu Filho para morrer

no lugar de pecadores:

Atos 2:22-23 Homens israelitas, escutai estas

palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus

33
Jesus é plenamente Deus e plenamente homem a partir de sua encarnação.
Maiores explicações nas obras (especialmente teologias sistemáticas)
anteriormente sugeridas.
34
Esse é basicamente um resumo do conteúdo dos Evangelhos que iniciam o
Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João. É extremamente
recomendado ler esses quatro livros com bastante atenção.
65

entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus

por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem

sabeis; A este que vos foi entregue pelo determinado

conselho e presciência de Deus, prendestes,

crucificastes e matastes pelas mãos de injustos;

João 3:16 Porque Deus amou o mundo de tal

maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo

aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Não há mais, portanto, uma condenação, um

castigo da parte de Deus reservado para os pecadores,

escolhidos de Deus, em Cristo, e que creem no

Evangelho, porque Jesus sofreu e morreu no lugar deles,

satisfazendo portanto, tanto a justiça, quanto o amor de

Deus, como diz o apóstolo Paulo em outra epístola:

Romanos 8:1 Portanto, agora nenhuma

condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que

não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.


66

Note-se que essa condição (sem condenação) é

exclusiva daqueles que estão “em Cristo”. Veremos mais

a frente que o estar em Cristo, ou, unido a Cristo, é algo

que só pode ser realizado por Deus e aqui existem muitos

detalhes importantes, mas, pelo menos, pudemos

perceber até agora que, a fé no Evangelho, na vida e obra

de Jesus, bem como em todo o seu significado, é um

elemento essencial para que alguém seja unido a Cristo e

receba os benefícios da sua obra de salvação.

A Expiação também é reconhecida pelos

teólogos como “A Segunda Grande Imputação”. Ou seja,

os pecados das pessoas mencionadas ali por Paulo foram

“colocados na conta” de Cristo e pagos em seu

sofrimento e morte na cruz.


67

Resumo do Capítulo 9

 Expiação: a pena que mereciam pecadores foi

paga/sofrida por Cristo (I Pe 3:18; Rm 5:8)

 Jesus Cristo (a segunda pessoa da Trindade):

I. Assumiu uma natureza humana (sem

abandonar a natureza divina)

II. Viveu uma vida perfeita e sem pecado

III. Pregou e realizou milagres

IV. Foi acusado injustamente, castigado e

executado em uma cruz

 A morte de Cristo foi planejada por Deus

(At 2:22-23; Jo 3:16)

 Não há mais condenação para os que estão “em

Cristo” e creem no Evangelho (Rm 8:1)

 A Expiação é chamada de “A Segunda Grande

imputação”
68

10. Segundo as Escrituras

Ainda no final do versículo 3 de I Coríntios 15

e adiante, vemos que a mensagem do Evangelho é

“segundo as Escrituras”, ou seja, em acordo com a

profecia, simbolismo e doutrina das “Escrituras”, a saber,

a Palavra de Deus, naquela época, consistindo apenas do

Velho Testamento em nossas Bíblias atuais:

I Coríntios 15:3 Porque primeiramente vos

entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por

nossos pecados, segundo as Escrituras;

Um exemplo de profecia que foi cumprida na

morte de Jesus e que Paulo provavelmente tivesse em

mente seria a profecia de Isaías no capítulo 53, no

versículo 5:

Isaías 53:5 Mas ele foi ferido por causa das

nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas


69

iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre

ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados

O profeta Isaías viveu por volta de 700 anos

antes de Cristo e recebeu de Deus informações a respeito

do que aconteceria a Jesus muito tempo depois. Ele

também recebeu de Deus informação a respeito de qual

seria o significado e as implicações desses eventos.

Um exemplo de simbolismo apontando para a

expiação de Cristo, foi o sistema de sacrifícios de animais

para lidar com o pecado do povo de Israel. Havia a figura

do sacerdote que degolava o cordeiro e espalhava o

sangue sobre o altar, para perdão dos pecados do povo:

Levítico 4:2-3 Fala aos filhos de Israel,

dizendo: Quando uma alma pecar, por ignorância,

contra alguns dos mandamentos do Senhor, acerca do

que não se deve fazer, e proceder contra algum deles; Se

o sacerdote ungido pecar para escândalo do povo,


70

oferecerá ao Senhor, pelo seu pecado, que cometeu, um

novilho sem defeito, por expiação do pecado.

No Velho Testamento não faltam exemplos

para ilustrar o que Cristo faria pelo seu povo. Mas a obra

de Jesus não terminou em sua morte, como veremos a

seguir.
71

Resumo do Capítulo 10

 O Evangelho é de acordo com a (1) profecia, (2)

simbolismo e (3) doutrina das Escrituras (I Co 15:3)

 As Escrituras (ou Palavra de Deus) consistiam

apenas do Velho Testamento na época de Paulo

 Um exemplo de profecia: Isaías 53:5

I. Isaías viveu 700 anos antes de Cristo

II. Recebeu de Deus informações sobre a obra de

Jesus, qual o seu significado e quais as suas

implicações

 Um exemplo de simbolismo: o sistema sacrificial do

Velho Testamento para perdão dos pecados (Lv 4:2-

3)
72

11. A Ressurreição de Cristo

Voltando a nossa passagem em Coríntios, o

apóstolo prossegue na sua apresentação do Evangelho:

I Coríntios 15:4 que foi sepultado; que foi

ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras;

Ele nos fornece um dado histórico importante,

que Jesus, após falecer, teve o seu corpo sepultado. 35 Mas

a história não terminou aí! No terceiro dia após sua

morte, Jesus, pelo poder de Deus, voltou à vida,

ressuscitou! Paulo fornece a seguir uma lista de pessoas

que testemunharam aparições de Jesus depois de ter

ressuscitado:

I Coríntios 15:5-8 que apareceu a Cefas, e

depois aos doze; (6) depois apareceu a mais de

quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda a

35
Conforme registrado no Evangelho de João (conferir João 19:38-42).
73

maior parte, mas alguns já dormiram; (7) depois

apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; (8) e por

derradeiro de todos apareceu também a mim, como a

um abortivo.

Essa ressurreição por sua vez teve um

significado atribuído por Deus, que ressuscitou Jesus

para vindicar (exigir o reconhecimento) a autenticidade

da vida, obra e justiça de seu Filho:

Romanos 1:4 Declarado Filho de Deus em

poder, segundo o Espírito de santificação, pela

ressurreição dentre os mortos, Jesus Cristo, nosso

Senhor,

Além disso, a ressurreição foi realizada para a

justificação daqueles que tiveram seus pecados expiados

na morte de Cristo:

Romanos 4:25 O qual por nossos pecados foi


74

entregue, e ressuscitou para nossa justificação.

A justificação é o ato legal da parte de Deus de

imputar (“colocar na conta”) a justiça da vida, obra e

ressurreição de Cristo aos mesmos que Paulo menciona

no trecho. Os teólogos chamam isso de “A Terceira

Grande Imputação”. O indivíduo “toma posse” desse

benefício através da fé:

Romanos 5:1 Tendo sido, pois, justificados

pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus

Cristo;

A ressurreição era portanto, a prova de que o

sacrifício de Jesus pelo seu povo foi aceito por Deus e que

essas pessoas estavam perdoadas de todos os seus

pecados.
75

Resumo do Capítulo 11

 Jesus foi sepultado (Jo 19:38-42) e ressuscitou no

terceiro dia (I Co 15:4)

 Várias pessoas testemunharam aparições de Jesus

após sua ressurreição (I Co 15:5-8)

 A Ressurreição serviu para:

I. Deus vindicar a autenticidade da vida, obra e

justiça do seu filho Jesus (Rm 1:4)

II. A justificação do povo de Deus (Rm 4:25)

 “Justificação” significa Deus imputar (“colocar na

conta”) a justiça de Cristo ao seu povo

 A Justificação é chamada também de “A Terceira

Grande Imputação”

 O indivíduo toma posse desse benefício pela fé (Rm

5:1)

 A Ressurreição de Jesus Cristo prova que:

I. O Sacrifício de Cristo foi aceito por Deus Pai

II. O povo de Deus teve os seus pecados perdoados


76

12. Pecados Passados e a Graça de Deus

No versículo seguinte de nossa passagem

Paulo se humilha afirmando que não é digno do seu

chamado para ser apóstolo do Senhor Jesus porque, antes

de se converter, Paulo perseguiu a igreja de Deus:

I Co 15:9 Pois eu sou o menor dos apóstolos,

que nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque

persegui a igreja de Deus.

Paulo foi anteriormente um fariseu36 que via

no emergente movimento cristão uma ameaça à lei de

Deus e à paz da nação de Israel, que estava, na época, sob

o domínio romano. Por conta de sua formação, Paulo

considerava absurda a ideia de um homem ressuscitar

antes do juízo final de Deus (esse posicionamento

36
Os fariseus foram um grupo de judeus que devotava sua vida ao estudo e
divulgação da Torá (o equivalente aos cinco primeiros livros das Bíblias
atuais, também chamado de “Pentateuco”) bem como dos demais livros do
Velho Testamento. Jesus criticou duramente sua conduta hipócrita (conferir
Mateus 23) e eles perseguiram implacavelmente os cristãos, daí a conotação
popular pejorativa do termo atualmente.
77

assumido por Paulo era recorrente entre os judeus do seu

tempo). Agora, após sua conversão, ele mesmo

argumenta da importância da ressurreição de Jesus

Cristo para a fé cristã.

(conferir: I Coríntios 15, versículos de 12 a 23)

Além disso, antes de abraçar o cristianismo37,

Paulo, também conhecido por Saulo38, entendia que o

crescimento do grupo dos cristãos significava um

abandono proporcional das leis e costumes judaicos, o

que o levou a empreender várias excursões onde, com

autorização das lideranças judaicas e romanas, localizava

e prendia os seguidores de Jesus.

Ele prossegue testemunhando que agora

trabalha incansavelmente pela Igreja de Cristo, até

37
A conversão de Paulo ao cristianismo se deu durante uma incursão à
cidade de Damasco, na antiga Síria, para prender os cristãos. No meio do
caminho, o Senhor Jesus, ressuscitado, apareceu em visão a Paulo e o
questionou sobre o porquê de ser perseguido por ele. Paulo ficou cego logo
depois disso, até que Deus enviou seu servo Ananias para orar por ele, e
assim, Paulo recobrou sua visão e abraçou a fé cristã. (conferir Atos 9:1-18)
38
O nome Saulo é hebraico e Paulo é um nome romano. Paulo havia
adquirido a cidadania romana. (conferir Atos 13:9 e Atos 16:37-38)
78

mesmo compartilhando que excedeu os seus

companheiros de pregação em seus esforços (os mesmos

mencionados como testemunhas da ressurreição no

trecho), mas reconhece que isso é fruto somente do favor

imerecido (graça) de Deus:

I Co 15:10 Mas pela graça de Deus sou o que

sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes

trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu,

mas a graça de Deus que está comigo.

O trecho termina com Paulo afirmando que,

seja pela própria pregação, ou a das pessoas

anteriormente mencionadas, os Coríntios creram na

mensagem do evangelho.

I Co 15:11 Então, ou seja eu ou sejam eles,

assim pregamos e assim crestes.


79

O próprio apóstolo Paulo então testemunha da

fé das pessoas a quem endereçou a carta. O que está

diretamente relacionado com a salvação no começo do

trecho, cujo significado exploraremos um pouco mais nos

próximos dois capítulos.

Resumo do Capítulo 12

 Paulo não se considerava digno de ser chamado

apóstolo porque perseguiu os cristãos no passado

(I Co 15:9)

 Antes, como fariseu, Paulo encontrava pelo menos

duas dificuldades para aceitar a fé cristã:

I. Alguém ressuscitar antes do juízo final de Deus

(agora ele defende essa doutrina em I Co15:12-23)

II. Entendia que o crescimento da fé cristã levava a

um proporcional abandono das leis e costumes

judaicos

 A conversão de Paulo se deu após uma incursão à

cidade de Damasco para prender os cristãos


80

(At 9:1-18)

 Saulo era o nome judaico de Paulo, enquanto

“Paulo” era o seu nome romano, pois adquirira

cidadania romana (At 13:9 e At 16:37-38)

 Já convertido, Paulo afirma que, pela graça de Deus,

excedeu em esforços os seus companheiros de

pregação (I Co 15:10)

 Paulo afirma que os coríntios creram na mensagem

do Evangelho, seja por sua própria pregação, ou pela

de seus companheiros pregadores (I Co 15:11)


81

13. Salvos de Quê?

A essa altura já deve ter se tornado óbvio que

se não fosse pela salvação oferecida por Deus em Cristo

Jesus, as pessoas a quem Paulo se refere teriam sofrido

seríssimas consequências por conta do seu pecado.

Podemos destacar, além da ira de Deus que já

mencionamos39, as seguintes consequências do pecado na

humanidade40:

I. A culpa resultante do pecado, que se

manifesta de duas formas:

A) Subjetivamente, ou psicologicamente,

em nosso sentimento de vergonha e medo de Deus, como

podemos ver ilustrado na história da queda do homem

em Gênesis 3:

Gênesis 3:9-11 E chamou o Senhor Deus a

Consulte o capítulo 7.
39

40
O que segue não pretende ser uma lista exaustiva das consequências do
pecado, mas fornece um panorama abrangente de como a desobediência a
Deus e a ruína espiritual prejudicam a humanidade.
82

Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz

soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.

E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste

tu da árvore de que te ordenei que não comesses?

B) Objetivamente, em nossa dívida legal

para com Deus:

Efésios 1:7 Em quem temos a redenção pelo

seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas

da sua graça,

Colossenses 2:13 E, quando vós estáveis

mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne,

vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas

as ofensas.

Ou seja, nosso problema não é só o fato de nos

sentirmos envergonhados pelas coisas erradas que

praticamos, pensamos, ou quando nos omitimos de fazer


83

o bem. Embora isso seja um problema, existe de fato uma

dívida legal41, um atentado contra a lei moral de Deus,

que como vimos, é perfeitamente santo e justo e portanto,

pretende punir aquele que procede de forma errada.

II. A depravação moral:

Romanos 1:24 Por isso também Deus os

entregou às concupiscências de seus corações, à

imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;

Filipenses 2:15 Para que sejais irrepreensíveis

e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma

geração corrompida e perversa, entre a qual

resplandeceis como astros no mundo;

41
Há vezes que a culpa subjetiva está presente, mesmo não havendo culpa
objetiva de acordo com a lei de Deus. Isto pode ser resultado de informação
equivocada, conceitos sem embasamento promovidos pelos outros, ou até
mesmo ideias fabricadas pela própria imaginação da pessoa. Há outros casos
em que a culpa subjetiva está ausente e a objetiva presente. Isso pode indicar
insensibilidade, indiferença ou até mesmo sociopatia em casos mais
extremos. O ideal seria a presença da culpa subjetiva apenas quando a culpa
objetiva se faz presente.
84

A prática do pecado representa uma

degradação do padrão moral original da criação. Ao

praticarmos aquilo que Deus condena, nos “sujamos” no

lamaçal do pecado e muitas vezes isso leva a uma

desobediência ainda pior como consequência. Não é

difícil observar isso na humanidade em geral 42, como

também em nossas próprias vidas, percebemos que o

pecado tem uma tendência de chamar ainda mais

pecado.

III A escravidão do pecado:

João 8:34 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade,

em verdade vos digo que todo aquele que comete

pecado é servo do pecado.

Romanos 6:20 Porque, quando éreis servos do

pecado, estáveis livres da justiça.

42
Paulo discorre sobre a depravação geral da humanidade em sua epístola
aos Romanos no capítulo 1 (versículo 18 a 32).
85

A Bíblia nos alerta sobre o efeito escravizador

do pecado. Se mantivermos algum pecado por hábito, é

possível que ele chegue até mesmo a dominar a nossa

própria vontade, ao ponto de não conseguirmos parar de

praticá-lo a não ser que consigamos ajuda sobrenatural.

O leitor já parou para pensar em quantas coisas pratica,

que parecem não ser tão voluntárias como inicialmente

aparentam? Ou já tentou fazer o que é certo segundo os

padrões de Deus, mas no fim das contas acabou

desistindo porque a própria vontade ou o arranjo das

circunstâncias pareceu favorecer outra forma de agir?

IV. A “cegueira espiritual”:

Romanos 3:10-11 Como está escrito: Não há

um justo, nem um sequer. Não há ninguém que

entenda; Não há ninguém que busque a Deus.

João 3:3 Jesus respondeu, e disse-lhe: Na


86

verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer

de novo, não pode ver o reino de Deus.

A Bíblia usa a metáfora da “cegueira” para se

referir à ignorância do homem em relação às coisas do

Espírito de Deus:

I Coríntios 2:14 Ora, o homem natural não

compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe

parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se

discernem espiritualmente.

Jesus chega a dizer43 que seria preciso que um

homem nascesse de novo para sequer ver, ou contemplar

o reino de Deus.44

V. A “morte espiritual”:

Outra figura para representar a incapacidade

espiritual do homem é a da “morte”:

43
Como exposto em João 3:3 logo acima.
44
Falaremos sobre o “nascer de novo” no capítulo 15.
87

Efésios 2:1 E vos vivificou, estando vós

mortos em ofensas e pecados,

A morte espiritual se refere à corrupção da

natureza do homem no seu estado mais essencial,

chegando ao ponto de inclinar todas as suas escolhas,

atitudes e pensamentos para o mal, e isso, desde o seu

nascimento:

Gênesis 6:5 E viu o Senhor que a maldade do

homem se multiplicara sobre a terra e que toda a

imaginação dos pensamentos de seu coração era só má

continuamente.

Salmos 51:5 Eis que em iniqüidade fui

formado, e em pecado me concebeu minha mãe.

Terrível é o estado do homem! Incapaz de até

mesmo compreender e aceitar as verdades de Deus. Não

admite seu estado de queda, sua necessidade de


88

redenção e que esta última só poderia ser realizada em

Jesus Cristo!

VI. A morte física:

A Bíblia nos informa que a morte em todos os

seus aspectos, (doenças, envelhecimento, males

psíquicos, cansaço etc.) surge como consequência do já

mencionado pecado original da humanidade 45. A

princípio a morte física não era, nem os demais males

que a acompanham, um fim certo e necessário à

existência humana. O homem desfrutava de íntima e

constante comunhão com o criador 46. Mas após a sua

desobediência47, o homem passou a sofrer as

consequências físicas do juízo de Deus sobre o pecado:

Gênesis 3:17-19 E a Adão disse: Porquanto

deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore

de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é

45
Explicação no capítulo 6.
46
Conferir o relato da criação em Gênesis 1 e 2.
47
Conferir o relato da queda em Gênesis 3.
89

a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os

dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te

produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu

rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque

dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.

VII. As consequências práticas do pecado:

A Bíblia revela, o que também é corroborado

pela experiência comum, que nossas atitudes

pecaminosas ferem a nós e ao nosso próximo, bem como

que algumas delas, os crimes, podem levar à punição por

parte das autoridades seculares, de maneira que não é

sábio se envolver com a prática do pecado. De fato, há

toda uma literatura sapiencial (de sabedoria) na Bíblia

alertando os homens a esse respeito:

Provérbios 11:19 Como a justiça encaminha

para a vida, assim o que segue o mal vai para a sua

morte.
90

Romanos 13:3-4 Porque os magistrados não

são terror para as boas obras, mas para as más. Queres

tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás

louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem.

Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a

espada; porque é ministro de Deus, e vingador para

castigar o que faz o mal.

VIII. O domínio de satanás:

A Bíblia nos fala sobre a existência de seres

maus, reconhecidamente poderosos e influentes que, em

rebeldia ao criador, militam contra os filhos de Deus,

perseguindo-os e levando-os ao pecado. Estes seres são

conhecidos pelo nome de “demônios” e eles servem ao

seu mestre conhecido por “satanás”, ou, “diabo”48.

A Bíblia também nos diz que, aquele que

ainda não foi alcançado pelo Evangelho de Cristo,

48
Consulte uma boa teologia sistemática para aprofundamento no tópico de
demonologia. Para artigos recomendamos: www.monergismo.com
91

consciente ou não, vive sob o domínio de satanás, e, por

consequência, acaba contribuindo com os seus planos:

I João 5:19 Sabemos que somos de Deus, e que

todo o mundo está no maligno.

I Timóteo 2:24-26 E ao servo do Senhor não

convém contender, mas sim, ser manso para com todos,

apto para ensinar, sofredor; Instruindo com mansidão os

que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará

arrependimento para conhecerem a verdade, E tornarem

a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em

que à vontade dele estão presos.

Enfim, o apóstolo Paulo aponta que fé no

evangelho é a única maneira de se ver livre do pecado e

de suas consequências temporais e eternas. Mas sabemos

pela Bíblia também que salvação não significa apenas ser

liberto do pecado, mas também desfrutar de uma série de


92

benefícios da parte de Deus. O que veremos no próximo

capítulo.
93

Resumo do Capítulo 13

 A salvação em Cristo livra o povo de Deus das

consequências do pecado

 Consequências do pecado (além da ira de Deus):

I. Culpa pelo pecado:

 Subjetiva/psicológica (Gn 3:9-11)

 Objetiva: Dívida legal (Ef 1:7; Cl 2:13)

II. Depravação moral (Rm 1:24; Fp 2:15)

III. Escravidão do pecado (Jo 8:34; Rm 6:20)

IV. “Cegueira espiritual” (Rm 3:10-11; Jo 3:3; I Co

2:14)

V. “Morte espiritual” (Ef 2:1; Gn 6:5; Sl 51:5)

VI. Morte física (Gn 3:17-19)

VII. Consequências práticas (Pv 11:19; Rm 13:3-4)

VIII. Domínio de satanás (I Jo 5:19; I Tm 2:24-26)


94

14. Salvos Para o Quê?

Anteriormente mencionamos a doutrina do

pecado original49 e o fato de a humanidade estar

separada de Deus50. Agora, a salvação efetuada por Jesus

garantiu, a expiação dos pecados dos seus seguidores

bem como a sua justificação. Mas além disso, os salvos

recebem os seguintes benefícios (não é uma lista

exaustiva):

I. A restauração da comunhão51 com Deus:

Na condição de pecador o homem perdeu a

proximidade que tinha com Deus no princípio. A

salvação em Cristo encerra um estado de inimizade entre

o homem e Deus.

I Coríntios 1:9 Fiel é Deus, pelo qual fostes

chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo

49
Consulte o capítulo 6.
50
Isso não significa uma separação física literal, afinal Deus é um ser
espiritual e onipresente. Mas sim que o homem não tem mais parte na
manifestação da glória de Deus, como explícito em Romanos 3:23.
51
Comunhão significa acordo, participação em comum, harmonia.
95

nosso Senhor.

Romanos 5:10 Porque se nós, sendo inimigos,

fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,

muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos

pela sua vida.

II. A liberdade da culpa do pecado

Aqueles que são alcançados por Deus para

fazerem parte do seu povo tiveram os seus pecados

expiados na cruz de Cristo. Não há mais uma dívida

legal52 deles perante Deus e portanto não irão mais sofrer

condenação no juízo final, porque Deus os perdoou:

Romanos 8:1 Portanto, agora nenhuma

condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que

não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.

Romanos 8:33 Quem intentará acusação contra

os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.

52
O que chamamos de “culpa objetiva” no capítulo anterior.
96

E a atitude de Deus, de não levar mais em

consideração os pecados passados do cristão, leva o

crente53 a desfrutar de paz interior54:

Isaías 43:25 Eu, eu mesmo, sou o que apago as


tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados
não me lembro.
Isaías 44:22 Apaguei as tuas transgressões
como a névoa, e os teus pecados como a nuvem; torna-te
para mim, porque eu te remi.

III.A ressurreição final para a vida eterna

O Evangelho representa também a vitória de

Cristo e seus seguidores sobre a morte, a qual a Bíblia

chama de “o último inimigo”:

I Coríntios 15:26 Ora, o último inimigo que

há de ser aniquilado é a morte.

53
Isto é, aquele que crê no Evangelho de Jesus Cristo.
54
Libertação do que chamamos de “culpa subjetiva”, ou “psicológica”.
97

No fim dos tempos, Deus planeja ressuscitar o

corpo daqueles que fazem parte do seu povo, para que

eles possam viver eternamente com Ele55:

I Coríntios 6:14 Ora, Deus, que também

ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu

poder.

I Tessalonicenses 4:16-17 Porque o mesmo

Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de

arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram

em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que

ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com

eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim

estaremos sempre com o Senhor.

55
Devo fazer aqui uma observação importante. É de entendimento
majoritário na cristandade, a noção de que a Bíblia fala que há um estado de
consciência do cristão após a morte física e antes da ressurreição final do seu
corpo. A Bíblia não limita a consciência ao corpo físico, dando testemunha
da existência do espírito/alma. (conferir II Coríntios 5:8)
98

IV.A adoção do crente por Deus

A Bíblia assegura que aqueles que são salvos

por Deus são feitos seus filhos:

João 1:12 Mas, a todos quantos o receberam 56,

deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que

crêem no seu nome;

Contrariando a concepção popular, a Bíblia

não afirma que todos são filhos de Deus. A Escritura

testemunha de uma comunhão profunda que só é

experimentada por aqueles que são salvos por Deus:

I João 5:19 Sabemos que somos de Deus, e que

todo o mundo está no maligno.

I João 3:1 Vede quão grande amor nos tem

concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus.

56
Receberam (creram em) a Jesus Cristo, segundo o contexto do capítulo 1
do Evangelho de João.
99

Por isso o mundo não nos conhece; porque não o

conhece a ele.

Sendo adotados por Deus, os salvos passam a

fazer parte da sua família57, podendo esperar o amor e o

cuidado de Deus, o seu Pai.

V. A habitação do Espírito Santo no crente

A restauração da comunhão entre Deus e o seu

povo não se limitou apenas a encerrar um estado de

inimizade. Deus resolveu habitar 58 nos seus filhos, como

certa vez prometeu Jesus:

João 14:16-17 E eu rogarei ao Pai, e ele vos

dará outro Consolador, para que fique convosco para

sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode

57
Eles passam a perceber uns aos outros como irmãos.
58
Por “habitação” não queremos dizer “ocupar espaço físico”, visto que
Deus não é limitado por tempo e espaço como o são suas criaturas. A Bíblia
não entra em muitos detalhes sobre a natureza dessa habitação. Há porém a
garantia de sua realidade e uma ênfase nos seus efeitos (segue no capítulo).
100

receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o

conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.

O apóstolo Paulo chega a dizer que o corpo

dos cristãos é “templo do Espírito Santo”:

I Coríntios 6:19 Ou não sabeis que o vosso

corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,

proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?

Habitando no crente, o Espírito Santo opera

nele visando o seu bem.

VI. A santificação

A obra do Espírito Santo no crente por sua vez

inicia um processo de santificação, em que o crente é

aperfeiçoado moralmente à semelhança de Jesus:

I Tessalonicenses 4:7 Porque não nos chamou


101

Deus para a imundícia, mas para a santificação.

I Pedro 1:2 Eleitos segundo a presciência de

Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência

e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos

sejam multiplicadas.

Esse aperfeiçoamento leva à prática de boas

obras e o abandono das más, também chegando a mudar

a própria forma de pensar do crente:

Efésios 2:10 Porque somos feitura sua, criados

em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus

preparou para que andássemos nelas.

Note que tudo isso costuma ser um processo

gradual, envolvendo a busca consciente do crente por

santidade59 através da leitura da Bíblia, da oração, da

59
Ser santo na Bíblia significa literalmente estar “separado”, aqui nesse
contexto, do que é mau, errado.
102

adoração etc, procurando sempre conformar sua vida aos

padrões de Deus revelados em sua Palavra.

VII. Receber a ajuda sobrenatural de Deus

Por toda a Bíblia vemos o testemunho da

manifestação do poder soberano de Deus agindo em

favor do seu povo. O crente pode contar com auxílio em

todas as questões e dificuldades da vida, através da

oração e operações de milagres pelo Espírito Santo. Isso

inclui cura de enfermidades e muitas outras bênçãos:

João 16:23-24 E naquele dia nada me

perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo

quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há

de dar. (24) Até agora nada pedistes em meu nome; pedi,

e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra.

Essa ajuda precisa ser solicitada com fé60:

60
Existe um erro comum, de que devemos justificar nosso insucesso em
alcançar alguma ajuda da parte de Deus, fazendo uso da doutrina da
soberania divina. Embora seja verdade que Deus faz o que quer, quando
quer e da maneira que quer, a Bíblia nos aconselha a abordar a questão
103

Mateus 17:20 E Jesus lhes disse: Por causa de

vossa incredulidade; porque em verdade vos digo que,

se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este

monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada

vos será impossível.

Muitas são as bênçãos de Deus para o seu

povo! No entanto, para que tudo isso se torne uma

realidade na vida de alguém, é necessário que haja uma

transformação, o que será o tema do próximo capítulo.

observando a nossa fé nas diversas situações e não atribuindo alguma


espécie de “culpa” a Deus. (conferir Marcos 4:36-41 e Mateus 13:58)
104

Resumo do Capítulo 14

 A salvação em Cristo garante, além da expiação e da

justificação do povo de Deus, os seguintes benefícios

para os crentes:

I. A restauração da comunhão com Deus

(I Co 1:9; Rm 5:10)

II. A liberdade da culpa do pecado

(Rm 8:1,33; Is 43:25; Is 44:22)

III. A ressurreição final para a vida eterna

(I Co 15:26; I Co 6:14; I Ts 4:16-17)

IV. A adoção do crente por Deus

(Jo 1:12; I Jo 5:19; I Jo 3:1)

V. A habitação do Espírito Santo no crente

(Jo 14:16-17; I Co 6:19)

VI. A santificação (I Ts 4:7; I Pedro 1:2; Ef 2:10)

VII. Receber a ajuda sobrenatural de Deus

(Jo 16:23-24)

 Que deve ser solicitada com fé


105

(Mt 17:20; Mc 4:36-41; Mt 13:58)


106

15. O Novo Nascimento

No capítulo 12 comentamos a respeito da

“morte espiritual” do homem, de como ele é escravo do

pecado e incapaz de se voltar em obediência para Deus.

Jesus porém, em certa ocasião, confortou os seus

discípulos com a promessa da vinda do Espírito Santo:

João 16:7-11 Todavia, digo-vos a verdade,

convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador

não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei. 8 E

quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da

justiça e do juízo: 9 do pecado, porque não crêem em

mim; 10 da justiça, porque vou para meu Pai, e não

me vereis mais, 11 e do juízo, porque o príncipe deste

mundo já está julgado.

Em outras palavras, Deus faria pelos

pecadores, na pessoa do Espírito Santo, o que eles não

poderiam fazer por si mesmos, a saber, transformar os


107

seus corações levando-os à fé e ao arrependimento. Tudo

o que é necessário à transformação do homem, é operado

pelo poder soberano do próprio Deus.

Isso já havia sido prometido há muito tempo,

através das revelações concedidas a um profeta chamado

Ezequiel, no Velho Testamento:

Ezequiel 36:26,27 Também vos darei um

coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo;

e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei

um coração de carne. 27 Ainda porei dentro de vós o

meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e

guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.

Se o leitor crê ou vier um dia a crer no

Evangelho para sua salvação, isso só é/será uma

realidade por conta de uma transformação anterior no

coração, feita pelo Espírito Santo. Transformação essa

que o Senhor Jesus chamou de o “novo nascimento”:


108

João 3:3,5-6,8 Respondeu-lhe Jesus: Em

verdade, em verdade te digo que se alguém não

nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. 5 Jesus

respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se

alguém não nascer da água e do Espírito, não pode

entrar no reino de Deus. 6 O que é nascido da carne é

carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. 8 O

vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não

sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo

aquele que é nascido do Espírito.

Note que o Senhor Jesus usa aqui a figura do

vento, enfatizando a sua liberdade de “soprar onde quer”

e associa isso com aquele que é “nascido do Espírito”. Ou

seja, o Senhor Deus, em sua liberdade e soberania, leva

uma pessoa a “nascer de novo”, transformando-a no

mais profundo do seu ser, trazendo vida espiritual (da

qual estávamos afastados por conta do pecado) e

finalmente à fé no Evangelho.
109

Recomendo que o leitor medite

demoradamente sobre o capítulo 3 do Evangelho de João.

Também é interessante conferir uma boa exposição a

respeito do mesmo61.

O apóstolo Paulo em outros escritos trata da

mesma verdade, fazendo uso do termo “regeneração”:

Tito 3:5-6 Não em virtude de obras de

justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua

misericórdia, nos salvou mediante o lavar da

regeneração e renovação pelo Espírito Santo, 6 que ele

derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo,

nosso Salvador;

Antes que alguém possa sequer crer no

Evangelho, é necessário que haja uma transformação no

seu interior. Essa pessoa precisa ser “regenerada”,

61
O artigo “Nascido de Novo” de Vincent Cheung é excelente e é
distribuído gratuitamente na internet:
http://monergismo.com/wp-content/uploads/nascido_novo_cheung.pdf
110

“nascer de novo”. A Bíblia ainda faz algumas

considerações importantes a respeito do porquê Deus

realizou isso, que é o tema do próximo capítulo.

Resumo do Capítulo 15

 A vinda do Espírito Santo foi prometida por Jesus

(Jo 16:7-11)

 O Espírito Santo transformaria o coração dos

homens, levando-os à fé e ao arrependimento

 Como fora prometido previamente, segundo a

profecia de Ezequiel no VT (Ez 36:26-27)

 Só pode crer quem “nascer de novo” (Jo 3:3-5,6,8)

 Transformação no coração feita por Deus

 Deus transforma quem ele quiser

 Paulo usa o termo “regeneração” para se referir ao

mesmo processo de transformação (Tt 3:5)


111

16. A Graça de Deus

Em outra carta escrita por Paulo aos cristãos

da cidade de Éfeso, lemos o seguinte:

Efésios 2:8-9 Porque pela graça sois salvos,

por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.

Não vem das obras, para que ninguém se glorie;

O que vemos nesses dois versículos é que a

salvação é um presente de Deus62. A fé é o meio, ou, o

instrumento, pelo qual Deus salva as pessoas e ela sequer

é produzida por nós mesmos, mas ela nos é dada por

Deus. Ou seja, para receber a salvação, alguém deve

depositar a sua fé na vida, obra e ressurreição de Jesus e

isso tudo, é um presente concedido por Deus, inclusive a

própria fé.

Ainda no mesmo versículo, vemos também

que as chamadas “boas obras” (“caridades”, conduta

62
“Graça” significa favor imerecido, benevolência.
112

moral etc.), que a crença popular associa com a salvação

eterna, são descartadas nesse contexto da salvação e que

somente a fé no Evangelho é necessária.63

A Bíblia deixa claro que somente a obra

expiatória de Cristo pode justificar alguém e, que não se

deve acrescentar nada a isso, sejam boas obras, seja

frequência em uma instituição religiosa ou qualquer coisa

semelhante (nem mesmo o próprio fato de se ter fé). De

fato, em outra epístola somos advertidos contra o perigo

de fazê-lo:

Gálatas 5:4 Separados estais de Cristo, vós os

que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.

A situação nesse versículo era a de que alguns

judeus convertidos ao cristianismo começaram a

63
As boas obras têm um papel de extrema importância na vida do cristão. De
fato, é esperado que ele as pratique segundo a orientação do Espírito Santo e
de sua Palavra (conforme exposto no tópico VI do capítulo 14), mas elas
definitivamente não tem relação alguma com a justificação de alguém diante
de Deus. Apenas a obra de Cristo na cruz pode salvar, e a fé nessa obra é o
único meio estabelecido por Deus para que alguém seja salvo.
113

anunciar que os cristãos deveriam guardar a lei de

Moisés64 (contida no Velho Testamento) para se salvar.

Isso iria totalmente contra a pregação de Paulo, que dizia

que a salvação não poderia ser comprada com boa

conduta, ou seguindo rigorosamente um código de leis.

Mesmo porque, a Bíblia testemunha que, (1) ninguém, a

não ser Jesus, obedeceu a lei perfeitamente e, (2) se

pecamos em um ponto da lei de Deus, somos culpados

de ter desobedecido a todas as suas leis:

Tiago 2:10 Pois qualquer que guardar toda a

lei, mas tropeçar em um só ponto, tem-se tornado

culpado de todos.

O verdadeiro papel da lei de Deus, da qual

trataremos mais a frente, é, dentre outras coisas, (1) um

instrumento usado pelo Espírito Santo para convencer o

64
Grande líder e libertador do povo de Israel no Velho Testamento. O relato
de sua trajetória se encontra nos livros de Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio. Através dele, Deus conferiu um corpo de leis para reger a
conduta moral, religiosa e civil do povo de Israel.
114

pecador do seu estado de rebelião contra Deus, bem

como (2) um guia de conduta para o cristão que já foi

alcançado pela graça de Deus. Mas as leis presentes na

Bíblia não são, de forma alguma, uma maneira de

“comprar” a salvação por meio da obediência.

Resumindo, a fé salvadora é um presente

gratuito de Deus, e quando alguém a recebe, deixa de

confiar em suas boas obras, ou caráter, ou qualquer outra

coisa para se salvar. Essa pessoa passa a confiar total e

exclusivamente na expiação dos seus pecados feita por

Jesus, na perfeita justiça transferida por Deus ao pecador

arrependido e na comunhão com Deus através da pessoa

do Espírito Santo.

Resta ainda fazer um alerta importante sobre a

interpretação das Escrituras. Um erro muito comum na

leitura bíblica levou muitas pessoas, ao longo dos

séculos, a confundir dois conceitos distintos, a Lei e o


115

Evangelho. E é sobre isso que falaremos no capítulo

seguinte.
116

Resumo do Capítulo 16

 A salvação é um presente (“graça”: favor imerecido)

da parte de Deus e a fé é o meio concedido por Ele

para isso se tornar uma realidade na vida de alguém

(Ef 2:8-9)

 As boas obras que o cristão deve praticar não tem

relação alguma com a sua justificação diante de

Deus.

 É temeroso usar das “obras da lei” para se justificar

perante Deus (Gl 5:4)

 Tropeçar num ponto da lei é tropeçar em todos

(Tg 2:10)

 A Lei é, dentre outras coisas:

 Um instrumento usado pelo Espírito Santo para

convencer o pecador do seu estado de rebelião

contra Deus

 Um guia de conduta para o cristão já alcançado

pela graça de Deus


117

 A pessoa que foi salva confia nos seguintes pontos:

 A expiação de seus pecados efetuada por Jesus

 A transferência da justiça de Cristo para si, feita

pelo próprio Deus

 A comunhão com Deus através do Espírito

Santo
118

17. A Lei e o Evangelho

Mesmo após a exposição dos assuntos tratados

até aqui, muitas pessoas, inclusive líderes espirituais do

passado, confundiram dois conceitos fundamentais na

interpretação da Bíblia, a Lei e o Evangelho. 65

A Lei, entendida de maneira mais ampla, seria

tudo o que Deus demanda de nós, a nossa obediência

devida. Ela se expressa através de leis/preceitos,

comandos diretos, exigências etc. Em outras palavras,

quando Deus, diretamente ou através de seus servos, nos

manda obedecer alguma instrução, seja moral ou prática,

temos ali um exemplo perfeito de Lei,66 que podemos

reconhecer através do uso do imperativo no texto. Um

exemplo:

65
Uma das pessoas que expôs essa distinção de maneira magistral foi o
reformador Martinho Lutero. Trata-se do que os teólogos chamam de “chave
hermenêutica”, uma ferramenta de interpretação de passagens bíblicas
informada pela Escritura e que nos ajuda a interpretá-la.
66
Note que o conceito é mais abrangente do que o código de leis explícito no
Velho Testamento presente em Levítico, Números e Deuteronomio, por
exemplo, podendo incluir também os comandos de Jesus no Novo
Testamento, ou as instruções dos apóstolos.
119

Filipenses 2:3 Nada façais por contenda ou

por vanglória, mas por humildade; cada um considere os

outros superiores a si mesmo.

Levítico 19:18 Não te vingarás nem guardarás

ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu

próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.

Já o Evangelho, tomado de forma mais

ampla67, se refere a toda verdade da graça 68 de Deus.

Aquilo que Deus afirma como verdade, ou realidade

estabelecida por Ele mesmo a favor do seu povo.

Exemplo:

Gálatas 3:29 E, se sois de Cristo, então sois

67
Note que não estamos agora restringindo o termo “Evangelho”, seja à
história da redenção em Cristo Jesus, seja aos quatro Evangelhos do Novo
Testamento, mas sim tomando o conceito de “graça” e contrastando-o com
Lei, para assim não misturar as duas ideias acidentalmente e por
consequência cometer erros terríveis de interpretação bíblica. Esse método
de leitura, nos permite maior precisão na interpretação bíblica.
68
O favor imerecido, como já mencionamos no capítulo anterior.
120

descendência de Abraão69, e herdeiros conforme a

promessa.

Note que nesse último versículo é comunicado

que aquele que é de Cristo é, por consequência, um

herdeiro conforme a promessa feita por Deus. A pessoa

não é instruída aqui a “se fazer herdeiro” por grande

esforço, ela é instruída a reconhecer uma realidade já

estabelecida.

O Evangelho pode ser facilmente reconhecido

pelo uso do indicativo na formulação das frases. Mais

um exemplo:

I João 5:13 Estas coisas vos escrevi a vós, os

que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais

que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do

Filho de Deus.

69
Ou seja, os que são de Cristo herdam as bençãos do patriarca Abraão.
121

As vezes as pessoas confundem os dois

conceitos, criando mandamentos de homens onde

deveriam enxergar o amor gracioso de Deus 70. Ou então

desprezam os mandamentos de Deus, desculpando-se

por uma visão distorcida da graça 71. É importante não

cometer nenhum destes dois erros pois, além de

prejudicar a interpretação da Palavra de Deus, eles levam

a uma prática nada saudável de “cristianismo”.

Lei é o que devemos fazer em obediência a

Deus, Evangelho é o que Deus faz por nós. É por isso

que, um grande estudioso das Escrituras, certa vez disse:

“Evangelho são boas notícias, e não bons conselhos”. Não

se trata de: “Faça! senão...”, mas sim de: “Veja o que Deus

fez!”. E é inclusive interessante como isso nos ensina a

obedecer a Deus. Não somos motivados à obediência dos

seus mandamentos única e exclusivamente pelas

consequências de não fazê-lo (embora devamos sim levá-

70
Esse erro é comumente chamado de “legalismo”.
71
Esse erro por sua vez é chamado de “antinomismo”.
122

las em conta), mas também por reconhecer o que Deus

fez por nós em Cristo.

Tendo visto um grande panorama a respeito

do Evangelho e das doutrinas relacionadas a ele,

encerramos a primeira parte deste livro e a seguir nos

ocuparemos de falar sobre como encarar e experimentar

essas verdades.
123

Resumo do Capítulo 17

 Muitos confundem o que é Lei e o que é Evangelho.

 A Lei se refere aos mandamentos de Deus e é fácil

reconhecer a Lei na Bíblia pelo uso do imperativo

(Fp 2:3; Lv 19:18)

 O Evangelho se refere à realidade da graça de Deus

e podemos reconhecê-lo na Bíblia pelo uso do

indicativo. (I Jo 5:13; Gl 3:29)

 É perigoso confundir a Lei e o Evangelho, isso pode

levar a pensamentos e práticas equivocadas.

 Lei é o que devemos fazer para Deus, Evangelho é o

que Ele faz por nós.


124

PARTE II: A Nossa Relação Com a Verdade


125

18. Conhecendo a Verdade

Certa vez Jesus disse que a verdade tem o

poder de libertar:

João 8:32 E conhecereis a verdade, e a verdade

vos libertará.

Ainda em outro momento, em oração,

declarou o seguinte:

João 17:17 Santifica-os na tua verdade; a tua

palavra é a verdade.

A Palavra de Deus é a verdade e Jesus orou

para que o seu povo fosse santificado nela.

O leitor pode ter reparado que até aqui foi

adotado um tom impessoal na exposição das verdades da

Bíblia. No entanto, a realidade do pecado, da ira de Deus

e a promessa de salvação não se restringem às pessoas


126

que viveram nos tempos bíblicos. São verdades que

falam diretamente com as nossas vidas.

Não sei qual a situação espiritual72 em que o

leitor se encontra, mas urge anunciar que tudo o que foi

dito até aqui tem a ver comigo, com você e com todas as

demais pessoas!

Eu não espero que o simples fato de escrever

esse livro e de você o ler, leve a qualquer resultado

positivo. Mas estou certo, plenamente convencido, de

que, se o Espírito Santo tocar a tua vida, seja através da

leitura desse livro, ou de ouvir alguém anunciando o

Evangelho, ou por quaisquer outros meios que Deus

desejar que a sua mensagem seja anunciada, você será

salvo! Você reconhecerá o pecado na tua própria vida

(como reconheci na minha) e irá se arrepender, clamando

a Deus em nome de Jesus para que Ele te perdoe e liberte

dessa condição. Ele, de maneira alguma te rejeitará, não

72
O termo “espiritual” comumente se refere a tudo relacionado a Deus e à
nossa ligação com Ele, ao mundo invisível dos espíritos (anjos, demônios
etc.) e à vida após a morte.
127

importa o que fizeste no passado, adotando-o em sua

família e fazendo morada no teu coração na pessoa do

Espírito Santo.

Além do pecado original que nos foi

imputado, é muito fácil reconhecer que todos pecamos

pontualmente de uma forma ou de outra.

É comum a teologia cristã demonstrar esse fato

através da exposição da lei de Deus, especialmente dos

conhecidos 10 mandamentos no livro de Êxodo capítulo

20, versículos de 3 a 17, que mencionamos anteriormente

e que veremos com atenção a seguir.


128

Resumo do Capítulo 18

 Jesus:

 Disse que a verdade liberta (Jo 8:32)

 Orou pedindo a santificação do seu povo na

verdade: a Palavra de Deus (Jo 17:17)

 A verdade da Palavra de Deus tem a ver com todos

nós!

 Deus pode nos transformar, pelo seu Espírito,

através da exposição de sua Palavra, que se

proclama por diversos meios

 Desobedecemos constantemente a Deus

 A teologia costuma demonstrar isso através

da exposição dos 10 mandamentos (capítulo

seguinte)
129

19. Os 10 Mandamentos

Os 10 mandamentos são um conjunto de leis

que foram entregues por Deus a Moisés, um profeta e

líder do povo de Israel. Costuma-se dividir esses

mandamentos em dois grupos (Êxodo 20:3-17):

I. Os que se referem ao nosso relacionamento com

Deus:

1º Não adorar outros deuses (v. 3)

2º Não criar ídolos (v. 4 e 5)

3º Não tomar o nome de Deus em vão (v. 7)

4º Santificar o sábado (v. 8-11)

II. Os que se referem ao nosso relacionamento com o

próximo (outras pessoas):

5º Honrar pai e mãe (v. 12)

6º Não matar (v. 13)

7º Não adulterar (v. 14)

8º Não furtar (v. 15)

9º Não dar falso testemunho (v. 16)


130

10º Não cobiçar (v. 17)

A desobediência a esses preceitos 73 não

significa, como alguns poderiam pensar, apenas um

“deslize” corriqueiro, a Bíblia nos ensina que violar esses

mandamentos representa uma ofensa direta ao próprio

Deus! A questão não é somente a importância que damos

individualmente a cada um desses preceitos, mas sim o

caráter e posição daquele que é ofendido, a saber, o

Senhor Deus criador dos céus e da terra!

Infelizmente nos pegamos constantemente

violando as normas de Deus e portanto, falhamos em

amá-lo e em amar as pessoas ao nosso redor. No Novo

Testamento, a pregação de Jesus seguiu a mesma linha de

raciocínio dos 10 mandamentos, como veremos no

próximo capítulo.

73
“Leis”, “mandamentos”, “preceitos”, são palavras intercambiáveis,
constantemente utilizadas na Bíblia para se referir às ordens de Deus quanto
a conduta moral do homem.
131
132

Resumo do Capítulo 19

 Os 10 Mandamentos (Ex 20:3-17):

I. Conjunto de Leis entregues à Moisés

II. Costuma-se dividir em dois grupos:

 Relacionamento com Deus: 1º Não adorar

outros deuses (v. 3); 2º Não criar ídolos

(v. 4 e 5); 3º Não tomar o nome de Deus em

vão (v. 7); 4º Santificar o sábado (v. 8-11);

 Relacionamento com o próximo: 5º Honrar

pai e mãe (v. 12); 6º Não matar (v. 13); 7º Não

adulterar (v. 14); 8º Não furtar (v. 15); 9º Não

dar falso testemunho (v. 16);

10º Não cobiçar (v. 17);

 A desobediência aos mandamentos representa uma

ofensa ao próprio Deus!

 Desobedecemos constantemente esses preceitos

 O ensino de Jesus segue a mesma linha de

pensamento dos 10 mandamentos (capítulo


133

seguinte)

20. A Relação da Lei com o Amor

Jesus certa vez foi interrogado por um

estudioso da lei de Deus:

Mateus 22:35-40 E um deles, doutor da lei,

interrogou-o para o experimentar, dizendo: Mestre, qual

é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe:

Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de

toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o

primeiro e grande mandamento. E o segundo,

semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti

mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei

e os profetas.

O conteúdo da “lei e dos profetas”, uma clara

referência de Jesus aos Escritos do Velho Testamento, é


134

todo dependente desses princípios morais de amor a

Deus e ao próximo. Ou seja, “amar a Deus” se expressa,

quando obedecemos os mandamentos de Deus. No caso

dos 10 mandamentos, podemos notar os primeiros

quatro exemplificando o nosso amor a Deus, enquanto

que “amar o próximo”, é demonstrado nos outros seis.

Isso tudo nos leva a perceber que a Bíblia dá

uma grande ênfase ao aspecto objetivo do amor. De fato,

a própria palavra “amor” nas Escrituras é quase sempre

associada com alguma atitude visível, como a obediência

aos mandamentos de Deus:

João 14:21 Aquele que tem os meus

mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e

aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o

amarei, e me manifestarei a ele.

João 15:10 Se guardardes os meus

mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo


135

modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu

Pai, e permaneço no seu amor.

Se formos definir amor segundo a Bíblia,

perceberemos que amor é uma disposição positiva do

coração/mente em relação a algo/alguém, que se

desdobra em atitudes concretas em favor do objeto do

nosso amor.

Aqueles que desejam seguir a Jesus são

ensinados na Bíblia a amar a todas as pessoas e até

mesmo os seus inimigos. Isso lhes confere a identidade,

ou o diferencial, de serem os discípulos de Jesus:

João 13:35 Nisto todos conhecerão que sois

meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.

Mateus 5:43-44 Ouviste que foi dito: Amarás o

teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos

digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos

maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos


136

que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais

filhos do vosso Pai que está nos céus.

A Bíblia portanto explica de maneira muito

clara como podemos amar a Deus e ao nosso próximo,

embora, como já temos visto anteriormente, ninguém

consiga fazer isso sem o auxílio do próprio Deus.

Sabendo disso, gostaria de propor um autoexame ao

leitor no próximo capítulo.


137

Resumo do Capítulo 20

 O conteúdo da “lei e dos profetas” é todo

dependente dos princípios de amar a Deus e ao

próximo (Mt 22:35-40)

 A Bíblia dá grande ênfase ao aspecto objetivo do

amor e às suas manifestações visíveis (Jo 14:21; Jo

15:10)

 Jesus ordenou que seus discípulos amassem a todos,

inclusive aos inimigos (Jo 13:35; Mt 5:43-44)

 Isso lhes confere a sua identidade essencial

 A Bíblia explica como podemos amar a Deus e ao

próximo

 Não podemos fazer isso sem a ajuda de Deus


138

21. O Teste dos 10 Mandamentos

Quero convidar o leitor a uma reflexão. Como

você se encontra em relação aos 10 mandamentos? Você

poderia com sinceridade dizer que viveu a vida toda de

acordo com esses preceitos?

Vejamos por exemplo o 3º mandamento:

Êxodo 20:7 Não tomarás o nome do Senhor

teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente

o que tomar o seu nome em vão.

Será que nunca mencionamos o nome de

Deus74 (a expressão não se limita a nomes específicos,

mas a menções ao ser de Deus também) em situações

levianas nas quais não necessariamente precisávamos do

seu auxílio? Ou até mesmo no lugar de um xingamento?

74
Deus se apresenta na Bíblia por vários nomes que revelam tanto o seu
caráter quanto a sua natureza. Um breve texto a respeito se encontra no
seguinte link: http://prazerdapalavra.com.br/colunistas/luiz-sayao/3889-o-
significado-dos-nomes-de-deus-luiz-sayao
139

Muitas pessoas não atentam para isso, mas é blasfêmia 75

trivializar o nome de Deus.

Ou o que dizer do 6º mandamento?

Êxodo 20:13 Não matarás.

Muitas pessoas se esquivam desse

mandamento dizendo: “Eu nunca matei!” Mas Jesus nos

ensina algo ainda mais profundo sobre esse

mandamento:

Mateus 5:21-22 Ouvistes que foi dito aos

antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu

de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem

motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de

juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu

do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu

75
Blasfêmia é um termo usado para se referir a (1) ofender a Deus, (2)
desrespeitar o que é sagrado/santo, ou (3) reivindicar para si atributos e
direitos exclusivos de Deus (como o da adoração).
140

do fogo do inferno.

Ódio e desprezo constituem violação do

mesmo mandamento de “não matar”, porque o mesmo já

ocorreu no coração. Embora a pessoa não tenha (por

hora) a ousadia para consumar algum ato físico motivado

pelo próprio ódio, aos olhos de Deus, ela já pecou. O

mesmo pode ser conferido na primeira epístola de João:

1 João 3:15 Qualquer que odeia a seu irmão

é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem a

vida eterna permanecendo nele.

Algumas pessoas ainda podem se gabar de

nunca ter cometido adultério76 (o 7º mandamento):

Êxodo 20:14 Não adulterarás.

No entanto, Jesus também nos disse:

76
A traição do cônjuge com outra pessoa.
141

Mateus 5:28 Eu, porém, vos digo, que

qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em

seu coração cometeu adultério com ela.

Bastaria olhar com desejo (luxúria) para

alguém que não é o nosso cônjuge que, aos olhos de

Deus, já teríamos cometido adultério.

Parece muito difícil que muitas pessoas

consigam se esquivar do 8º mandamento também:

Êxodo 20:15 Não furtarás.

Ouvimos constantemente de alguém que pega

“alguma coisinha” no trabalho. Ou que tenta se

aproveitar da hora de conferir o troco ao estabelecer uma

negociação.

Ou o que dizer da cobiça, da idolatria 77 etc? O

leitor já deve ter reparado que os mandamentos bíblicos

77
A adoração a outros seres ou coisas no lugar de Deus, geralmente expressa
através do culto à imagens de escultura.
142

são desenvolvidos nas Escrituras muito além da sua

interpretação literal e óbvia. Deus se interessa na

verdade, com o que ocorre no nosso coração, onde muitas

vezes tentamos ocultar uma triste realidade.

Nós poderíamos seguir com vários exemplos,

mas a questão é que os padrões de justiça e obediência a

que estamos nos referindo não são os nossos padrões

pessoais, mas os do próprio Deus! Continuaremos a

mentir pra nós mesmos a respeito da nossa condição de

pecadores?

1 João 1:8 Se dissermos que não temos

pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há

verdade em nós.

A seguir veremos o que a Bíblia tem a nos

dizer sobre o que devemos fazer em relação a tudo o que

foi dito anteriormente.


143

Resumo do Capítulo 21

 Um convite ao autoexame à luz dos 10

Mandamentos

 O 3º mandamento (Ex 20:7):

 Não tomar o nome de Deus em vão

 Mencionamos a Deus em situações levianas?

 O 6º mandamento (Ex 20:13):

 Não matar

 Odiar alguém no coração configura violação

desse mandamento (Mt 5:21-22; I Jo 3:15)

 O 7º mandamento (Ex 20:14):

 Não adulterarás

 Olhar com desejo para alguém que não é nosso

cônjuge já é violação desse mandamento

(Mt 5:28)

 O 8º mandamento (Ex 20:15)

 Pequenos furtos estão inclusos aqui

 Deus olha para o nosso coração (que está cheio de


144

pecado)

 Os padrões de justiça que devemos seguir são os de

Deus

 Mentimos se dizemos que não somos pecadores

(I Jo 1:8)
145

22. E Então? O Que Fazer?


(Conversão: Fé e Arrependimento)

A Bíblia nos diz que a salvação é uma obra

efetuada por Deus e que para experimentá-la, devemos

nos converter (mudar de rumo), o que envolve: crer na

mensagem do evangelho (expiação e ressurreição de

Cristo) e nos arrepender dos nossos pecados:

Marcos 1:15 E dizendo: O tempo está

cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-

vos, e crede no evangelho.

Romanos 10:9-10 A saber: Se com a tua boca

confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que

Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto

que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se

faz confissão para a salvação.


146

Arrependimento segundo a Bíblia significa

uma mudança de mente78. Isso significa abandonar ideias

erradas a respeito de Deus e nós mesmos, abraçando

outras (ideias bíblicas) no lugar e agindo de acordo. O

arrependimento costuma se manifestar de algumas

maneiras (a lista a seguir não é exaustiva), como, por

exemplo:

1. Quando admitimos que somos pecadores e

não podemos nos salvar.

2. Quando sentimos tristeza pela nossa

condição de pecado.

3. Quando estamos dispostos a abandonar as

nossas atitudes e hábitos de pecado que desagradam a

Deus.

Arrependimento e fé no evangelho são dois

lados de uma mesma moeda. Não será possível ter um,

sem o outro. É pela fé79 em Jesus Cristo (o que a Bíblia

78
Do grego bíblico: metanoeo.
79
Lembrando que a definição de “fé” na Bíblia, como já vimos, não é
147

nos informa sobre Ele, suas palavras, sua obra etc.) que

alguém muda sua forma de enxergar o mundo e viver,

porém não haverá fé verdadeira sem que haja uma

transformação no modo de pensar e agir do indivíduo.

É possível ilustrar isso pensando em que

vivemos caminhando pela vida numa determinada

direção (pecado e destruição), mas quando confrontados

pelo Evangelho e, recebemos de Deus o dom para nele

crer, mudamos o nosso rumo (conversão), para o sentido

contrário do que vínhamos tomando (arrependimento) e

na direção do que agora cremos (a fé) ser a verdade.

Note que fé e arrependimento não são coisas

que Deus está “implorando” para que você faça, mas é

algo que Deus na verdade comanda que todos façam e

que tem severas consequências, caso não sejam feitas:

Atos 17:30 Mas Deus, não tendo em conta os

desvinculada do conhecer intelectualmente o objeto da confiança, e, no caso


aqui, esse objeto é o Evangelho. Conferir o capítulo 2 em caso de dúvida.
148

tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens,

e em todo o lugar, que se arrependam;

João 3:36 Aquele que crê no Filho tem a vida

eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida,

mas a ira80 de Deus sobre ele permanece.

Agora, essa fé para a salvação, segundo a

Bíblia, possui algumas qualificações, que veremos no

próximo capítulo.

80
A ira de Deus se refere ao castigo final dos pecadores no tormento eterno,
como discutido no capítulo 7.
149

Resumo do Capítulo 22

 A salvação é obra de Deus e para experimentá-la

devemos (Mc 1:15; Rm 10:9-10):

 Crer na mensagem do Evangelho (expiação

e ressurreição)

 Nos arrepender dos nossos pecados

 Arrependimento segundo a Bíblia costuma

manifestar com:

 Admissão de que somos pecadores e que não

podemos nos salvar

 Tristeza pela nossa condição de pecado

 Disposição para abandonar a vida de pecado

 Não existe fé verdadeira sem arrependimento

 Fé e arrependimento são comandos de Deus para

todos
150

23. A Fé que se Apropria do Evangelho

Aqui tomo licença para novamente insistir

com o leitor. Se isso ainda não é uma realidade na sua

vida, arrependa-se e creia no evangelho! Deposite a sua

confiança em Cristo e fuja da ira que está por vir! Não

espere para fazê-lo depois, pois o dia do julgamento de

Deus está próximo!

Alguém poderia perguntar como eu poderia

saber que o juízo de Deus está próximo. Além de apontar

para o que Jesus ensinou a respeito do fim dos tempos, 81

devo mencionar que não sabemos quanto tempo nos

resta de vida. Viveremos muitos anos? Chegaremos à

velhice? Partiremos dessa vida de forma natural? Só Deus

sabe dessas coisas, mas a verdade é que, se o juízo de

81
Jesus e vários outros escritores da Bíblia se referiam à vinda do juízo de
Deus sobre o mundo como o “fim dos dias”, ou “o fim dos tempos”. O
estudo desse assunto é chamado de “Escatologia” (estudo das últimas
coisas). A teologia sistemática que recomendamos (W. Grudem) tem
capítulos dedicados a esse tópico. Recomendamos também a leitura de
outras perspectivas escatológicas, que podem ser conferidas no website:
www.monergismo.com
151

Deus não chegar literalmente para todos em breve, é

certo que chegará para todos os que morrerem antes,

individualmente. A passagem a seguir assegura as duas

verdades:

Hebreus 9:27-28 E, como aos homens está

ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o

juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para

tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem

pecado, aos que o esperam para salvação.

Pouco nos ajudará conhecer muito a respeito

da Bíblia, da teologia, se também não nos apropriarmos

dessas verdades pela fé e vivermos de acordo com elas.

Tiago 2:19 Tu crês que há um só Deus; fazes

bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.

É preciso EXPERIMENTAR as verdades de

Deus, não apenas conhecê-las. Não leia apenas “todos


152

pecaram...” (Rm 3:23), mas compreenda: “eu pequei, eu

sou pecador...”. Não pare em “Se com a tua boca

confessares ao Senhor Jesus...” (Rm 10:9-10), mas

confesse “Senhor Jesus, tu és o Cristo, o Filho de Deus!”

Leia sua Bíblia, entendendo ser ela uma

mensagem de Deus para a SUA vida e não somente o

relato da experiência de outras pessoas. Afinal, Deus

deixou tudo isso registrado para que eu, você e várias

outras pessoas pudessem um dia crer no Evangelho.

João 20:30,31 Jesus, pois, operou também em

presença de seus discípulos muitos outros sinais, que

não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram

escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de

Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.

A obra da salvação de Deus ocorre de

maneiras variadas na vida das pessoas (durante uma

pregação, uma leitura etc.), no entanto ela sempre


153

envolve a fé exclusivamente no Senhor Jesus. 82 Você pode

orar83 a Deus, falando sobre o que leu até aqui, admitindo

a sua condição de pecador e clamando pelo perdão e

graça do Senhor.84 Você pode se emocionar ao fazê-lo e

chorar, mas isso não é sempre necessário, é preciso

apenas que seja consciente, verdadeiro e com fé. Saiba

que o Deus onisciente ouve as orações e que está disposto

a honrar a verdade da Sua Palavra (no caso aqui, a

verdade sobre a fé e o arrependimento).

Hebreus 11:6 Ora, sem fé é impossível

agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se

82
Outra observação pertinente é que a Bíblia deixa claro que Deus não tolera
nenhuma espécie de sincretismo religioso. Ou Jesus é o único e todo
suficiente salvador da pessoa, ou não o é de maneira alguma. (conferir João
14:6 e Atos 4:12)
83
Oração é falar com Deus, se dirigir a Ele comunicando louvor e adoração,
agradecimentos, pedidos, etc.
84
Note que não estamos afirmando que ao fazer essa oração, você utilizará
uma “fórmula mágica” que automaticamente te salva. Estamos apenas
ajudando o leitor a falar com Deus pedindo a fé no Evangelho, que é
justamente o instrumento de Deus para a salvação e que vem dele mesmo.
De fato, é bem possível que, ao decidir fazer essa oração, o leitor já possua
essa fé antes mesmo de abrir a boca e por consequência já esteja salvo.
154

aproxima de Deus creia que ele existe, e que é

galardoador85 dos que o buscam.

Caso não faça ideia por onde começar, aqui

está uma oração que pode utilizar como modelo, mas

você pode usar suas próprias palavras (de maneira

respeitosa). Se possível, procure um local calmo e isolado

(um quarto, ou uma sala por exemplo), se ajoelhe, feche

os olhos, e dirija a sua voz a Deus, dizendo:

“Senhor Deus, aprendi na Bíblia que tu és o

criador de todas as coisas, que tu és santo e soberano.

Aprendi que sou pecador e que por isso mereço punição,

pois tu és justo. Mas sei também que tu és um Deus de

amor e de misericórdia que enviou Jesus para morrer no

meu lugar. Venho então agora pedir perdão e me

arrepender dos meus pecados. Eu agora confesso que

85
“Galardão” é sinônimo de prêmio/recompensa. No entanto, é importante
lembrar que, na busca por Deus, a recompensada vem pelos méritos de
Cristo e não daquele que busca, mesmo sendo a busca um fator essencial na
vida do cristão.
155

Jesus é o Cristo, o Filho de Deus! Salva-me Senhor!

Acrescenta-me a fé para crer na tua Palavra. Dá-me o teu

Espírito Santo para que eu possa ter comunhão contigo e

te obedecer. Eu oro em nome do Senhor Jesus, amém.” 86

No próximo capítulo falaremos a respeito de

como alguém pode ter a certeza de que foi salvo por

Deus.

Resumo do Capítulo 23

 Um apelo: arrependa-se e creia no Evangelho!

 O juízo de Deus está próximo (Hb 9:27-28)

 Seja o juízo final

 Seja o nosso comparecimento perante Deus

após a morte

 Precisamos nos apropriar das verdades da Bíblia

pela fé e viver de acordo com elas (Tg 2:19)

 É necessário EXPERIMENTAR as verdades da Bíblia

86
Orar em nome de Jesus é orar de acordo com o que Deus nos ensina em
sua Palavra, ou seja, orar o que o próprio Jesus oraria, sendo nós, os seus
representantes. (conferir João 14:13). “Amém”, significa “que assim seja”.
156

(pecado, fé, arrependimento etc.)

 A Palavra de Deus foi escrita para sermos salvos

através da fé no Evangelho (Jo 20:31)

 A obra da salvação sempre envolve a fé

exclusivamente no Senhor Jesus

 É preciso dirigir nossas orações a Deus com fé

(Hb 11:6)

 Recomendação: orar confessando as verdades

bíblicas e clamando por salvação


157

24. A Certeza da Salvação

Todos as pessoas têm fé87 e apostam suas vidas

naquilo em que acreditam. Ao pegar um avião, a pessoa,

por mais cética que seja, deve ter alguma justificativa

muito boa para acreditar que ele sairá do chão, quanto

mais chegar em segurança ao destino final! Isso não quer

dizer que não haja momentos em que uma turbulência de

vez em quando não abale um pouco essa confiança.

Afinal, mesmo que o avião comece a tremer as pessoas

costumam ainda pensar: “Os cientistas passaram muito

tempo estudando para que esse negócio fosse seguro…”

ou então: “Os pilotos fazem isso há muitos anos e sabem

como lidar com essa situação” e etc. O fato é que a fé e a

dúvida são realidades experimentadas constantemente

por todas as pessoas.

Note que a fé, como temos enfatizado aqui,

sempre se sustenta em alguma outra coisa, um fato, uma

87
A definição que utilizamos aqui é a de crença pessoal, o assentimento
convicto à verdade de alguma informação, conforme explicado no capítulo 2.
158

situação, uma informação etc.88 Mas em que se

sustentaria a certeza/fé relacionada à nossa salvação

eterna? Em que fundamento descansaríamos seguros?

Nós já conferimos que as boas obras/caridade

são um péssimo candidato para garantir essa certeza,

visto que os critérios de Deus são perfeitos e nós estamos

longe demais de atingir esse nível de excelência. Sabemos

também que frequentar uma instituição religiosa e

praticar vários dos seus ritos também não nos ajudariam

muito, visto que nada disso foi considerado suficiente

por Deus para expiar os nossos pecados. 89 Afinal, o

próprio Deus estabeleceu a vinda de Jesus para a

expiação dos pecados do seu povo e exigiu desse mesmo

povo a fé no sacrifício de seu filho. Mas então chegamos a

uma “brilhante” conclusão: Só resta nos apoiar em nossa

88
Preciso deixar isso claro por conta da contemporânea militância neoateísta,
que usa da estratégia de atacar o espantalho de uma “fé” sem embasamento
algum, que pode até ser a realidade em algumas religiões, mas com certeza,
isso não tem lugar no cristianismo histórico.
89
Explicações nos capítulos 3 e 9.
159

fé no Evangelho! Considerando que foi esse o meio que

Deus estabeleceu para efetuar a salvação, certo?

Infelizmente esse também é um erro muito comum,

como demonstraremos.

A primeira coisa que devemos ter em mente é

que a fé no Evangelho é o MEIO e não a CAUSA da

nossa salvação. A obra e os méritos de Cristo é que nos

justificam diante de Deus. E a experiência nos mostra, se

a nossa caminhada cristã durou mais do que cinco

minutos, que em alguns momentos a nossa fé é abalada,

seja por alguma ideia que estamos considerando, seja por

uma situação específica que estamos enfrentando etc. Se

até mesmo essa fé, em nossos corações, vacila, com

certeza isso não é um fundamento assim tão sólido para

depositar a nossa confiança. Não devemos ter fé na fé.90

A resposta para o nosso questionamento

reside em lembrar dos atributos e do caráter de Deus.

90
Colocar nossa confiança em nossa capacidade de crer, sendo que o ato de
crer é muitas vezes inconstante na vida do homem, seria entender a salvação
como um jogo de “bem-me-quer, mal-me-quer”.
160

Nossa fé deve se apoiar no amor de Deus. O próprio

Deus, na pessoa de Jesus Cristo, veio ao mundo resgatar

e salvar o seu povo da destruição. Foi iniciativa dele, foi

Ele quem veio morar no seu povo, na pessoa do Espírito

Santo. Ou seja, a salvação é do interesse máximo de Deus

e é assegurada pelo próprio Deus:

João 3:17 Porque Deus enviou o seu Filho ao

mundo, não para que condenasse o mundo, mas para

que o mundo fosse salvo91 por ele.

João 6:37-40 Todo o que o Pai me dá virá a

mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o

lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a

minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum

de todos aqueles que me deu se perca, mas que o

ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele

91
Note nesse e em outros versículos a certeza de Deus em concretizar o seu
plano de salvação.
161

que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e

crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no

último dia.

Vemos então que a nossa fé não deve

descansar em outro lugar senão na verdade expressa da

Palavra de Deus. A saber, o amor de Deus e a sua

iniciativa de nos salvar através do seu Filho Jesus. Sendo

Deus perfeito em caráter e todo-poderoso, estamos

seguros de que Ele nos salvará e nos preservará até o

final. Mas a Bíblia nos exorta a atentar também para

algumas evidências dessa salvação em nossas vidas. É o

que veremos no próximo capítulo.


162

Resumo do Capítulo 24

 Todos as pessoas experimentam a fé e a desconfiança

constantemente

 Fundamentos inadequados para a certeza da nossa

salvação:

 Boas obras

 Ritos religiosos

 A nossa própria fé (a fé é o meio da graça de

Deus e não a sua causa)

 Nossa fé deve se apoiar no amor e no caráter de

Deus conforme revelado nas Escrituras

(Jo 3:17; Jo 6:37-40)

 A salvação é iniciativa de Deus e portanto é por Ele

assegurada
163

25. Evidências da Salvação

A Bíblia, como já vimos nos capítulos

anteriores, nos ensina que não devemos confiar em nada

além do amor de Deus, manifesto na obra de Jesus Cristo

na cruz, para assegurar a nossa salvação. No entanto, ela

também nos diz que a salvação produz frutos ou

resultados na vida da pessoa e que devemos examinar

tais frutos não como causa da salvação, mas como

consequência, evidência do agir de Deus em nossas

vidas. Devemos sim encontrar, ao longo do tempo,

mudanças em nós, na nossa forma de agir, de pensar, de

falar etc.

2 Coríntios 13:5 Examinai-vos a vós mesmos,

se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não

sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em

vós? Se não é que já estais reprovados.

Tiago 2:17-18 Assim também a fé, se não tiver


164

as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu

tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as

tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas

obras.

Se depositamos nossa fé em Jesus para a nossa

salvação, somos, segundo a promessa de Deus, feitos

habitação do Espírito Santo e isso tem consequências em

nossas vidas:

Gálatas 5:22-25 Mas o fruto do Espírito é

amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade,

fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas

coisas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus

crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus

desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo

Espírito. (NVI)

Vale notar também a exortação ao final do

versículo 25: “...andemos também pelo Espírito”. Ou seja,


165

mesmo não havendo participação humana no novo

nascimento,92 mesmo que as nossas boas obras tenham

origem no próprio Deus, devemos nos esforçar em nossa

santificação, em outras palavras “operar”, ou “pôr em

ação” a nossa salvação:

Filipenses 2:12,13 Assim, meus amados, como

sempre vocês obedeceram, não apenas em minha

presença, porém muito mais agora na minha ausência,

ponham em ação a salvação de vocês com temor e

tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer

quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.

O final destes versículos nos ajuda a

permanecer humildes diante de Deus. Foi o Senhor quem

operou tanto no nosso querer (a nossa vontade de

obedecer) quanto no nosso realizar (as nossas ações

concretas), de forma que toda a glória e honra pertencem

a Deus. Enquanto que o começo destes dois versículos


92
Ou “regeneração”, consulte o capítulo 15 a respeito do “novo nascimento”.
166

nos lembra que agir (aqui soarei redundante) é algo que

fazemos nós mesmos, o final dos versículos nos mostra

que esse agir não resulta de uma força que nasce de nós

mesmos, não resulta dos nossos próprios méritos, é uma

obra de Deus.93

O Espírito Santo nos levará a viver de forma

totalmente diferente de antes da nossa conversão 94. Até o

ponto que poderemos constatar sermos pessoas novas:

2 Coríntios 5:17 Assim que, se alguém está em

Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis

93
O leitor não habituado à soteriologia (doutrina da salvação)
reformada/evangélica pode estranhar o fato de que somos regenerados pelo
agir unilateral de Deus (o termo técnico em teologia é “regeneração
monergística”), enquanto que depois somos chamados a agir e trabalhar em
nossa santificação, sendo que novamente é Deus quem opera em nossa
vontade e ações. Para um texto elaborado nesse tópico, recomendamos o
capítulo de número 6 da “Teologia Sistemática” (à venda pela editora
monergismo e de graça na internet com autorização do autor) de Vincent
Cheung, no tópico “Santificados”. O trecho relevante se encontra no seguinte
link:
http://www.monergismo.com/textos/santificacao/cheung_santificado.htm

94
Sobre a conversão, consulte o capítulo 22.
167

que tudo se fez novo.

Pode ser que algumas coisas em nossas vidas

levem algum tempo até que se conformem ao que Deus

estabelece em sua Palavra, de fato, a santificação, 95 como

mencionamos, é progressiva nessa vida e tem um alvo

muito bem definido, sermos semelhantes a Deus em

caráter:

I João 3:2 Amados, agora somos filhos de

Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser.

Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos

semelhantes a ele; porque assim como é o veremos.

Toda essa transformação nos leva à obediência

a Deus, a assumirmos o seu senhorio 96 sobre as nossas

vidas, que se evidencia na mesma medida em que

obedecemos à Palavra de Deus:

95
Consulte o capítulo 14 (“Salvos Para o Quê?) no 6º tópico: “A Santificação”.
96
É por isso que a Bíblia chama a Deus de “o Senhor” e nós, de seus
“servos”.
168

Lucas 6:46 E por que me chamais, Senhor,

Senhor, e não fazeis o que eu digo?

No próximo capítulo faremos uma revisão do

que temos visto até aqui e esclareceremos alguns termos.


169

Resumo do Capítulo 25

 A salvação produz frutos como evidência (não

causa) da sua realidade. Devemos examinar esses

frutos (2 Co 13:5; Tg 2:17-18)

 A habitação do Espírito Santo em nós, quando

cremos em Jesus, tem consequências positivas

(Gl 5:22-25)

 Devemos nos esforçar em nossa santificação, ainda

que Deus exerça seu controle soberano sobre todo o

processo (Fp 2:12-13)

 Seremos pessoas completamente diferentes

(2 Co 5:17)

 A santificação é progressiva, tendo como alvo a

semelhança com Deus em caráter (I Jo 3:2)


170

26. Nossa Jornada Até Aqui

Conferimos na Bíblia, a Palavra de Deus

(também chamada de “as Escrituras”), que só há um

Deus, que é o criador de todas as coisas, que é santo,

justo e bom. Consistindo eternamente de três pessoas, o

Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Vimos também que desde o princípio, a

humanidade tem pecado e rejeitado os caminhos de

Deus, o que teve consequências desastrosas.

Fomos avisados do juízo final de Deus e de

que Ele pretende punir os pecadores eternamente no

inferno. Mas também vimos a respeito da sua bondade e

misericórdia, ao enviar o seu eterno Filho Jesus Cristo,

para morrer no lugar de pecadores.

Agora, Deus comanda que todos se

arrependam de seus pecados e creiam no Evangelho (as

boas novas) da graça de Deus (o seu favor imerecido) em

expiar o pecado do seu povo pelo sangue precioso do seu


171

Filho Jesus. Prometendo Deus que, onde houver

arrependimento e fé no Evangelho, ali haverá salvação.

Não há necessidade de acrescer obras de nenhuma

espécie para se alcançar mérito diante de Deus e obter a

salvação. De fato, fazê-lo, seria insultar a obra de Cristo e

incorrer em condenação.

Para que possamos crer devemos sofrer uma

transformação, feita por Deus, a qual a Bíblia chama de

“novo nascimento”, ou “regeneração”, na qual nos é

infundida vida espiritual. Nisso, estamos totalmente à

mercê do amor e da graça de Deus, mas note que ao

mesmo tempo, não há melhor garantia para a nossa

salvação do que o caráter, o poder e a bondade do

Senhor.

Ser salvo, significa ser liberto, resgatado do

pecado e de todas as suas consequências e, por fim,

declarado inocente (pelos méritos de Jesus somente)

quando Deus vier julgar o mundo.


172

Aquele que é salvo é feito filho de Deus e

passa a ser habitação do Espírito Santo, que santificará a

pessoa progressivamente à semelhança do Senhor Jesus.

Espero que a leitura do livro seja

espiritualmente proveitosa para o leitor. Que se não

conhecia a respeito do Evangelho, que possa nele crer e

ser salvo pela graça de Deus. E se já conhecia o

Evangelho, e nele cria, que o leitor possa ter sido

edificado em sua comunhão com Deus.

Seja qual for o caso, nos próximos capítulos

falaremos sobre algumas questões bem práticas sobre

como vive um cristão.


173

Resumo do Capítulo 26

 A Bíblia nos diz que só há um Deus:

I. Criador, santo, justo e bom

II. Consiste em três pessoas

 Pai

 Filho (Jesus Cristo)

 Espírito Santo

 Desde o princípio, a humanidade peca rejeitando os

caminhos de Deus, o que gera consequências

desastrosas

 Deus preparou o juízo final que resultará na punição

eterna de pecadores no inferno

 Deus, que é bondoso e misericordioso, enviou seu

Filho Jesus para morrer no lugar de pecadores

 Deus comanda que todos se arrependam e creiam

no Evangelho:

I. As boas novas da graça de Deus em expiar o

pecado do seu povo pelo sangue de Jesus


174

II. Ele promete que salvará aquele que se

arrepender dos pecados e crer no Evangelho

III. Não há necessidade de obras para nos salvar

(seria um insulto à obra de Cristo)

 Para que possamos crer precisamos nascer de novo

(regeneração) e receber vida espiritual

I. Estamos à mercê de Deus nessa questão, o que é

excelente para nós, visto que Deus é perfeito em

caráter, poderoso e bom

 Ser salvo significa:

I. Ser liberto/resgatado do pecado e suas

consequências

II. Ser declarado inocente quando Deus vier julgar

o mundo

 O salvo é feito filho de Deus e se torna habitação do

Espírito Santo, que santificará o crente à semelhança

de Jesus
175

27. O que devemos fazer agora? (Parte 1)

Se o leitor já possui a intenção de ser um

seguidor de Cristo, é possível que existam algumas

dúvidas em relação a como proceder na vida cristã.

Convém mencionar que outros já se indagaram a esse

respeito antes:

Atos 2:37 E, ouvindo eles isto, compungiram-

se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais

apóstolos: Que faremos, homens irmãos?

A primeira coisa que a Bíblia nos informa a

esse respeito tem a ver com o nosso arrependimento e

testemunho de nossa conversão:

Atos 2:38 E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos,

e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus

Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do

Espírito Santo;
176

Já falamos a respeito do arrependimento, tanto

em sua dimensão interna (o reconhecimento do pecado)

quanto externa (o abandono das práticas pecaminosas).

Mas note que o trecho acima nos apresenta um novo

elemento, o batismo, sobre o qual discorreremos um

pouco.

O batismo é o ato simbólico da iniciação do

cristão na fé, consistindo em aplicar água ao fiel. 97 Ao

participar do ato, o crente testemunha ao mundo da sua

conversão e sujeição ao Senhor Jesus. Também, de que o

97
A respeito do batismo, as diversas tradições cristãs têm argumentado a
favor de diferentes perspectivas sobre o modo (imersão total na água ou
derramar um pouco de água), o significado, e o candidato adequado ao
batismo (apenas crentes ou filhos de crentes também). Mantemos aqui uma
postura conhecida como imersionista (todo o corpo mergulhado na água) e
credobatista (o candidato adequado é aquele que professa a fé em Jesus). A
favor desse posicionamento, a princípio, recomendamos o seguinte artigo do
irmão Clovis Gonçalves:
http://www.cincosolas.com.br/2010/01/por-que-sou-credobatista.html
A discussão é bem extensa e se o leitor desejar, entre em contato por e-mail
(israeltandrade@gmail.com) que posso sugerir livros e recursos de mídia a
respeito. Como por exemplo:
http://oestandartedecristo.com/data/OMaravilhosoSignificadodoBatismoJoh
nPiper.pdf
177

crente morreu para o pecado e ressuscitou para uma

nova vida em Cristo:

Romanos 6:3-4 Ou não sabeis que todos

quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos

batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados

com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi

ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim

andemos nós também em novidade de vida.

É lógico que ninguém poderia batizar a si

mesmo, o que nos leva necessariamente a importância de

se fazer parte de uma comunidade cristã, uma igreja

local, onde, espera-se, sejam observados os mandamentos

bíblicos para a reunião dos crentes:

1. A correta administração das ordenanças 98 (o

batismo e a ceia):

98
“Ordenança” é o termo que alguns teólogos usam para se referir aos dois
rituais ordenados por Jesus aos seus discípulos: a santa ceia e o batismo.
178

Mateus 28:19 Portanto ide, fazei discípulos de

todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do

Filho, e do Espírito Santo;

Lucas 22:19-20 E, tomando o pão, e havendo

dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu

corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de

mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia,

dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue,

que é derramado por vós.

Mateus 26:26-27 E, quando comiam, Jesus

tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos

discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E,

tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo:

Bebei dele todos;

Enquanto o batismo simboliza a entrada do

fiel na comunhão cristã, a ceia simboliza a sua

permanência nela e a memória do sacrifício de Jesus. Mas


179

além da correta administração das ordenanças, é

necessário que a igreja local apresente:

2. A pregação fiel da Palavra de Deus e o esforço

para obedecê-la99:

2 Timóteo 4:1-2 Conjuro-te, pois, diante de

Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos

e os mortos, na sua vinda e no seu reino, Que pregues a

palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas,

repreendas, exortes, com toda a longanimidade e

doutrina.

Tiago 1:22 E sede cumpridores da palavra, e

não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.

Se o leitor deseja assumir a sua vida cristã e ser

coerente com os mandamentos de Deus para a sua vida,

99
É importante observar que é virtualmente impossível encontrar uma
comunidade cristã onde tudo isso seja feito de maneira perfeita. No entanto,
isso é algo que deve ser buscado na igreja local e considerado seriamente
antes de se associar a uma comunidade de fé. Caso encontre dificuldade em
encontrar uma comunidade cristã séria, entre em contato por e-mail:
israeltandrade@gmail.com Será um prazer poder ajudar.
180

procure uma comunidade de fé onde esses aspectos

sejam levados a sério.

Note que neste capítulo enfatizamos as

questões comunitárias da vida cristã. No próximo

capítulo falaremos sobre as práticas individuais do

cristão/crente.
181

Resumo do Capítulo 27

 Ao assumir a vida cristã podemos nos encontrar

perguntando o que devemos fazer (At 2:37)

 Dentre as primeiras coisas que a Bíblia nos indica

temos o arrependimento e o batismo (At 2:38)

 O batismo é um ritual de iniciação na fé cristã que dá

testemunho:

 Da conversão do fiel e do senhorio do Senhor

Jesus

 Da morte para o pecado e de uma nova vida em

Cristo (Rm 6:3-4)

 É importante participar de uma comunidade cristã

onde sejam corretamente observados:

I. As ordenanças: o batismo e a ceia

(Mt 28:19; Lc 22:19-20; Mt 26:26-27)

 A ceia é um ritual de permanência na

comunhão e um memorial do sacrifício de

Jesus
182

II. A pregação da Palavra de Deus e a sua

obediência

(II Tm 4:1-2; Tg 1:22)


183

28. O que devemos fazer agora? (Parte 2)

Mesmo fazendo parte de uma igreja local

séria, devemos atentar para a manutenção da nossa vida

espiritual individual. Há algumas práticas que

contribuem para isso e que nos levam ao crescimento 100.

Neste capítulo falaremos um pouco sobre uma das mais

importantes, a leitura da Bíblia.

A busca por conhecer a Palavra de Deus traz

uma série de benefícios para a vida do cristão.

Destacamos a princípio que ela é o instrumento de Deus

para o início, manutenção e crescimento da nossa fé:

Romanos 10:17 De sorte que a fé é pelo ouvir,

e o ouvir pela palavra de Deus.

A Palavra de Deus é o nosso alimento

espiritual:

100
Há algumas práticas espirituais que fogem aos objetivos deste livro, mas
que o leitor poderá se interessar de praticar no futuro, como o jejum, o
exercício dos dons espirituais, a preparação de pregações e estudos bíblicos
etc.
184

Mateus 4:4 Jesus respondeu: “Está escrito:

‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra

que procede da boca de Deus’”.

É através da leitura da Bíblia que somos

informados da vontade de Deus para as nossas vidas,

descobrimos a respeito da salvação eterna e podemos

progredir verdadeiramente em nosso conhecimento das

coisas espirituais:

2 Timóteo 3:14-17 Quanto a você, porém,

permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem

convicção, pois você sabe de quem o aprendeu. Porque

desde criança você conhece as sagradas letras, que são

capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé

em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e

útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e

para a instrução na justiça, para que o homem de Deus

seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.


185

Ela também contribui para “limpar” a nossa

mente de coisas ruins, preencher a nossa alma com bons

pensamentos relacionadas a Deus, sendo também a chave

para que o cristão dê bons frutos. É esperado que o

cristão renove constantemente a sua mente através da

Palavra de Deus, para que não se conforme ao modo de

pensar e agir do mundo e para que possa experimentar

cada vez mais profundamente a vida cristã:

João 15:1-3 "Eu sou a videira verdadeira, e

meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim,

não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para

que dê mais fruto ainda. Vocês já estão limpos, pela

palavra que lhes tenho falado.

Romanos 12:2 E não sede conformados com

este mundo, mas sede transformados pela renovação do

vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a

boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.


186

Mesmo sabendo disso tudo, alguém pode se

perguntar: Ler a Bíblia? Como? Quanto? Com que

frequência? O leitor descobrirá com o tempo que há

muitas maneiras de fazê-lo, visando objetivos diferentes.

Por exemplo, pode-se fazer uma leitura da Bíblia por

inteiro101 para gerar uma visão panorâmica do seu

conteúdo. Também é possível estudar com mais

profundidade um livro específico, ou estudar um tópico

teológico que passará por diversos livros. A princípio 102,

recomenda-se a leitura dos quatro evangelhos 103: Mateus,

Marcos, Lucas e João. Quanto a questão do tempo, é

recomendável que se leia o quanto for possível. Costuma-

se ler pela manhã, nas horas vagas durante o dia, de noite

antes de dormir, nas reuniões cristãs etc.

101
Há um excelente plano de leitura nesse estilo, no seguinte link:
http://voltemosaoevangelho.com/blog/wp-content/uploads/2011/12/plano_d
e_leitura_biblica_2_v4.pdf
102
Em caso de dúvida, entre em contato: israeltandrade@gmail.com
103
Costuma-se começar pelo evangelho de João.
187

É também saudável alternar a leitura dos

capítulos da Bíblia com literatura cristã séria104.

No próximo capítulo daremos atenção à outra

prática essencial na vida do cristão, a oração.

104
Já foram feitas várias recomendações a esse respeito nos capítulos
anteriores. Os ministros da igreja local também farão indicações de livros.
De qualquer maneira, recomendo enfaticamente os autores indicados no site
monergismo (www.monergismo.com), que inclusive dispõe de livros e artigos
gratuitos para download legalmente.
188

Resumo do Capítulo 28

 Devemos cultivar a nossa vida espiritual

individualmente através da Leitura da Bíblia:

 Para manter e aumentar a nossa fé

(Rm 10:17)

 Ela é o nosso alimento espiritual (Mt 4:4)

 Nos leva a conhecer as verdades espirituais

relacionadas ao que Deus deseja, à salvação

eterna etc. (2 Tm 3:14-17)

 Ela limpa a nossa mente e é essencial para

que o cristão frutifique (Jo 15:1-3; Rm 12:2)

 Há várias maneiras de ler a Bíblia:

 Exemplos: leitura panorâmica, leitura de

um livro específico, estudo de um tópico

teológico etc.

 Recomendação: leitura dos quatro

Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e

João)
189

29. O que devemos fazer agora? (Parte 3)

Além da leitura da Bíblia é essencial que o

cristão tenha o hábito de falar com Deus através da

oração. Já mencionamos anteriormente ser a oração um

dos meios que o Espírito Santo usa para a nossa

santificação e até verificamos um exemplo de oração

relacionado ao que temos apresentado neste livro. Dentre

as várias etapas possíveis do falar com Deus, destacamos

as seguintes, por serem recorrentemente enfatizadas na

Bíblia, seguidas de exemplos na Escritura105:

IV.I. Louvor e Adoração

▪ Enaltecendo os atributos divinos. Exemplo

bíblico:

Salmos 45:6 O teu trono, ó Deus, é eterno e

Não é uma lista exaustiva, mas essas “etapas” costumam ser recorrentes
105

nas orações e seguem uma ordem lógica. Primeiro nos apresentamos a Deus
com louvor e adoração, depois agrademos pelo que Ele nos fez e, por fim,
pedimos, tendo como prioridade os interesses do próprio Deus e depois os
nossos. É muito comum também que a oração encerre com mais louvor e
adoração (estamos na presença do Rei dos Reis) e o reconhecimento que a
nossa ligação com Deus vem através de Jesus: “em nome de Jesus, amém”.
190

perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de eqüidade.

▪ Enaltecendo os feitos de Deus:

Salmos 92:4 Pois tu, Senhor, me alegraste

pelos teus feitos; exultarei nas obras das tuas mãos.

▪ Desejando o Crescimento do Reino de Deus:

Mateus 6:10 Venha o teu reino, seja feita a tua

vontade, assim na terra como no céu;

II. Agradecimento

▪ Por bençãos106 recebidas em geral:

1 Tessalonicenses 5:18 Em tudo dai graças,

porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para

convosco.

Efésios 5:20 Dando sempre graças por tudo a

No contexto do cristianismo o termo “benção” se refere a um favor/ajuda


106

da parte de Deus, ou a uma oração que apela às promessas bíblicas em favor


de alguém.
191

nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo;

▪ Pelo sucesso da obra de Deus:

1 Tessalonicenses 2:13 Por isso também

damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo

recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a

recebestes, não como palavra de homens, mas

(segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a

qual também opera em vós, os que crestes.

Romanos 1:8 Primeiramente dou graças ao

meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos,

porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé.

III. Pedidos

▪ Perdão dos pecados:

Lucas 11:4 E perdoa-nos os nossos pecados,

pois também nós perdoamos a qualquer que nos deve, e

não nos conduzas à tentação, mas livra-nos do mal.


192

▪ O Espírito Santo:

Lucas 11:13 Pois se vós, sendo maus, sabeis

dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o

Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?

▪ Dons e capacitações sobrenaturais:

I Coríntios 14:1 Segui o amor, e procurai com

zelo os dons espirituais, mas principalmente o de

profetizar.

▪ Auxílio na obra de Deus:

Atos 4:29-30 Agora, pois, ó Senhor, olha para

as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem

com toda a ousadia a tua palavra; Enquanto estendes a

tua mão para curar, e para que se façam sinais e

prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus.

▪ Provisão:
193

Mateus 6:11 O pão nosso de cada dia nos dá

hoje;

▪ Bençãos diversas:

I Crônicas 4:10 Porque Jabez invocou o Deus

de Israel, dizendo: Se me abençoares muitíssimo, e

meus termos ampliares, e a tua mão for comigo, e

fizeres que do mal não seja afligido! E Deus lhe

concedeu o que lhe tinha pedido.

▪ Livramentos, curas etc.

Isaías 38:16 Senhor, por estas coisas se vive, e

em todas elas está a vida do meu espírito, portanto cura-

me e faze-me viver.

▪ Pelas autoridades:

I Timóteo 2:1,2 Admoesto-te, pois, antes de

tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e


194

ações de graças, por todos os homens; Pelos reis, e por

todos os que estão em eminência, para que tenhamos

uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e

honestidade;

Encerramos aqui a segunda parte deste livro

com uma palavra de encorajamento. Se a mensagem que

tem sido compartilhada até aqui teve algum sentido pra

sua vida, ore a Deus pedindo o perdão dos seus pecados

e confessando a Jesus como Salvador e Senhor. Leia a

Bíblia regularmente e busque orientação numa igreja

séria, onde se busque entender a Bíblia e obedecê-la. Se

desejar também, não deixe de entrar em contato por

email (israeltandrade@gmail.com). Será um prazer te

ajudar no que for necessário em relação a todos os

assuntos compartilhados aqui.

Na terceira e última parte do livro, nos

deteremos sobre o tema de como compartilhar a

mensagem do Evangelho.
195

Resumo do Capítulo 29

 É essencial que o cristão fale com Deus em oração,

comunicando:

I. Louvor e adoração

 Enaltecendo os atributos divinos (Sl 45:6)

 Enaltecendo os feitos de Deus (Sl 92:4)

 Desejando o Crescimento do Reino de Deus

(Mt 6:10)

II. Agradecimentos

 Por bençãos recebidas em geral

(I Ts 5:18; Ef 5:20)

 Pelo sucesso da obra de Deus (I Ts 2:13; Rm 1:8)

III. Pedidos

 Perdão dos pecados (Lc 11:4)

 O Espírito Santo (Lc 11:13)

 Dons e capacitações sobrenaturais (I Co 14:1)

 Auxílio na obra de Deus (At 4:29-30)

 Provisão (Mt 6:11)


196

 Bençãos diversas (I Cr 4:10)

 Livramentos, curas etc. (Is 38:16)

 Pelas autoridades (I Tm 2:1-2)


197

PARTE III: Compartilhando a Mensagem


198

30. As Instruções Finais de Jesus

O Senhor Jesus, depois de ressuscitar,

apareceu aos seus discípulos e lhes deixou algumas

instruções, por exemplo:

Mateus 28:18,19 E, chegando-se Jesus, falou-

lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.

Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações,

batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito

Santo;

Marcos 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o

mundo, pregai o evangelho a toda criatura.

A Igreja107 do Senhor Jesus recebeu a

incumbência de não apenas crer na doutrina da salvação

eterna, mas também de proclamá-la e fazer discípulos108.

Aqui não me refiro a uma comunidade de pessoas local e específica, mas


107

ao corpo de cristãos no mundo todo ao longo da história. O termo “Igreja” é


usado nos dois sentidos na Bíblia (compare: I Tessalonicenses 1:1 e I
Coríntios 12:28)

108
“Discípulo” era um aprendiz que resolvia seguir de perto um mestre,
199

Isso inclui todo o processo de ensinar às pessoas,

detalhada e fielmente, o conteúdo da Bíblia (seus fatos,

suas doutrinas etc.), como também ensiná-las a praticar,

corretamente, o que Deus mandou nas Escrituras

(batismo, ceia, amor, perdão etc.).

Infelizmente, muitíssimas pessoas e

comunidades cristãs, na tentativa de obedecer as

instruções de Jesus, falham, por conta de ideias fixas e

não bíblicas a respeito do que deve ser feito.

As vezes, pode-se acreditar ter um enorme

“sucesso” em fazer o que preferimos, ou achamos ser o

correto, em nossas concepções equivocadas sobre o servir

a Deus. O resultado no entanto, pode acabar não

agradando ao Senhor:

Lucas 6:46 E por que me chamais, Senhor,

Senhor, e não fazeis o que eu digo?

Mateus 7:22,23 Muitos me dirão naquele dia:

submetendo-se à sua autoridade e buscando absorver o seu conhecimento.


200

Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e

em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome

não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi

abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim,

vós que praticais a iniquidade.

Fazer coisas “de igreja” não é necessariamente

obedecer a Deus. Atividade não é sinônimo de piedade 109.

O que segue adiante no livro, portanto, não tem

compromisso com quaisquer concepções populares a

respeito do como e do porquê se deveriam evangelizar e

discipular as pessoas. Nosso único compromisso,

anteriormente e daqui em diante é com a Palavra de

Deus.

Comecemos então apresentando uma

definição Bíblica de “evangelismo” e “discipulado”:

“Piedade”, no contexto cristão, seria o verdadeiro amor a Deus e aos seus


109

mandamentos. A prática daquilo que Ele ensinou em sua Palavra.


201

“Evangelizar” é o ato de apresentar, ou,

proclamar o Evangelho, a uma ou várias pessoas ao

mesmo tempo. Já o “discipulado” se refere a prosseguir

no ensino da doutrina e da prática cristã às pessoas que

aceitarem a verdade do Evangelho110:

Lucas 9:6 E, saindo eles, percorreram todas as

aldeias, anunciando o evangelho, e fazendo curas por

toda a parte.

Atos 14:21 E, tendo anunciado o evangelho

naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para

Listra, e Icônio e Antioquia,

Considerando a enorme confusão atual

envolvendo esses temas, No próximo capítulo falaremos

de algumas concepções equivocadas sobre a

evangelização e o discipulado.

Note a simplicidade da definição. Isso será importante para evitar erros


110

doutrinários e práticos mais adiante.


202

Resumo do Capítulo 30

 O Senhor Jesus deixou instruções após ressuscitar

(Mt 28:18-19; Mc 16:15):

I. Proclamar a mensagem da salvação

II. Fazer discípulos

 Isso inclui ensinar a doutrina e a prática

cristã contida na Bíblia

 Muitas pessoas e comunidades tem concepções

equivocadas sobre esses temas


203

31 Equívocos Comuns

Listamos a seguir alguns erros que costumam

circular no imaginário cristão (especialmente evangélico)

a respeito do evangelismo e do discipulado. Eles podem

aparentar não ter grande impacto sobre o resultado final

de muitos programas de comunidades cristãs, mas de

fato, eles dizem muito sobre como as pessoas buscam

“obedecer” a Deus, como enxergam o papel das

Escrituras e até mesmo sobre a sua fé.

1. Evangelizar é o mesmo que “converter” alguém?

Em muitos lugares se tem a ideia de que o

evangelismo não ocorre até que alguém “se decida por

algo de igreja”. O padrão é totalmente arbitrário e sem

fundamento bíblico. A pessoa deve “se tornar membro”,

ou “se batizar”, ou “participar de alguma programação”

para ter sido considerada devidamente “evangelizada”.

No entanto, e isso vemos com frequência, alguém pode

fazer tudo isso e não ter a menor ideia do que seja o

Evangelho. Portanto, essa mentalidade pragmática (típica


204

da nossa era), para não dizer legalista, tem a tendência de

entender a operação de Deus como correlata ao esforço

humano, o que já vimos anteriormente, não se harmoniza

com a mensagem bíblica sobre o poder soberano de

Deus.111

De maneira bem simples, o evangelismo

ocorre toda vez que é anunciado o Evangelho de fato, a

saber, a mensagem da morte e ressurreição de Jesus,

acompanhada da explicação do seu significado bíblico.

Não cabe ao homem “convencer”, ou “converter” os

ouvintes. A parte que nos cabe é interceder em oração,

apresentar a mensagem fielmente e obedecer os

mandamentos de Deus, confiando que o Espírito Santo

fará a obra de Deus nos corações.112

Deus é quem opera a conversão, a santificação e garante o sucesso da sua


111

obra.
112
Note que não estamos dizendo que a mensagem bíblica não deva ser
“argumentada” (checar a nota de rodapé associada ao tópico da existência
de Deus no capítulo 4). De fato, há um grande empreendimento racional
proposto na Bíblia e empreendido de maneira magistral pela Igreja ao longo
das eras, a chamada “apologética (defesa da fé). O que estamos dizendo é
que a decisão final dos ouvintes cabe à operação soberana de Deus, que
205

Aquele que se aplica à obra da evangelização

deve estar ciente e em paz com o fato de que nem todos

responderão positivamente à mensagem do Evangelho. A

Bíblia deixa isso claro de muitas maneiras, atestando

enfaticamente a soberana vontade de Deus:

1 Pedro 2:6-8 Por isso também na Escritura se

contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da

esquina113, eleita e preciosa; e quem nela crer não será

confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa,

mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores

reprovaram, essa foi a principal da esquina, E uma pedra

de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que

tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que

inclusive pode usar a nossa argumentação como um meio para atingir seu
propósito.
A “pedra principal de esquina” é uma metáfora para se referir a Jesus
113

Cristo como “o fundamento” da fé cristã.


206

também foram destinados.114

Romanos 9:13-24 Como está escrito: Amei a

Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? Que há injustiça

da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a

Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e

terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.

Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que

corre, mas de Deus, que se compadece. Porque diz a

Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti

mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja

anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de

quem quer, e endurece a quem quer. Dir-me-ás então:

Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem

resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que

a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que

a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro

114
Para aqueles que Deus não escolheu soberanamente convencer do
Evangelho, esse último soará como “ofensivo”, “primitivo”, “inadequado”,
“irrelevante”, “repugnante” etc, durante todo o período de suas vidas.
207

poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um

vaso para honra e outro para desonra? E que direis se

Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu

poder, suportou com muita paciência os vasos da ira,

preparados para a perdição; Para que também desse a

conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de

misericórdia, que para glória já dantes preparou, Os

quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre

os judeus, mas também dentre os gentios?115

2. Não é melhor “evangelizar” pelo exemplo?

Por conta do desconhecimento que as pessoas

têm do real conteúdo da Bíblia, muitas vezes elas acabam

imaginando coisas que surgem, não da Palavra de Deus,

mas sim de livros de autoajuda, discursos de motivação,

115
Essa doutrina bíblica é conhecida comumente como a da “eleição
incondicional”. Deus salva as pessoas, independente de seus méritos pois,
como já vimos, ninguém os possui em qualidade e grau suficiente para
merecer coisa alguma, antes, todos nascem debaixo de condenação e
prosseguem a vida em pecado. É Deus que em sua misericórdia age para
salvar, libertar e santificar o seu povo.
208

ou até mesmo, provérbios populares com alguma

sabedoria reconhecida. Por exemplo, a famosa frase “a

palavra convence, o exemplo arrasta”. Isso pode ser

verdade em algumas situações, no entanto, ao se tratar

do Evangelho, é preciso muito cuidado com o que se

pretende afirmar!

Primeiro porque, como já dissemos, quem

“arrasta” (convence) não é o nosso exemplo, as nossas

obras, ou qualquer coisa que fazemos, mas a obra

soberana de Deus, na pessoa do Espírito Santo. Não

devemos associar o “sucesso”116 na pregação do

Evangelho com a nossa excelência moral, ou atitude. Isso

seria arrogante e portanto, falharia em glorificar a Deus

na obra da evangelização.

Em segundo lugar, porque a Bíblia deixa claro

que a ordem de Deus para evangelização e o discipulado

é a proclamação ou, divulgação da “Mensagem do

Mais à frente falaremos mais sobre o que configura “sucesso” de fato na


116

evangelização.
209

Evangelho”, seguida do ensino da doutrina e prática

bíblica, e não a proclamação de como somos “boas

pessoas”:

Mateus 6:2-6 Quando, pois, deres esmola, não

faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os

hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem

glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já

receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola,

não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;

Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai,

que vê em secreto, ele mesmo te recompensará

publicamente. E, quando orares, não sejas como os

hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas

sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos

pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o

seu galardão. Mas tu, quando orares, entra no teu

aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está

em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará


210

publicamente.

Marcos 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o

mundo, pregai o evangelho a toda criatura.

Mateus 28:19,20 Portanto ide, fazei discípulos

de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do

Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas

as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou

convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.

Amém.

De fato, há passagens que sugerem até mesmo

que a Mensagem do Evangelho pode ser usada por Deus,

mesmo que o comunicador não esteja cem por cento

alinhado com ela:

Filipenses 1:16-18 Uns, na verdade, anunciam

a Cristo por contenção, não puramente, julgando

acrescentar aflição às minhas prisões. Mas outros, por

amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho.


211

Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado

de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade,

nisto me regozijo, e me regozijarei ainda.

Note que não é dito “contanto que sejam boas

pessoas, contanto que pratiquem boas obras, o Evangelho

está assegurado pelo seu exemplo”. Pelo contrário, é dito

que a proclamação do Evangelho é eficaz independente

da excelência moral do comunicador. Isso porque quem

assegura o sucesso na evangelização, como temos falado

repetidamente é o Espírito Santo de Deus que pode agir

de maneiras que muitas vezes não prevíamos.117

Terceiro, é enfatizado em diversos lugares da

Bíblia, da necessidade da comunicação, ou, divulgação

117
Esperamos que o leitor não enxergue nisso uma desculpa para uma vida
que não leva em conta os preceitos de Deus. Como diz a Escritura, do que
adiantaria ganhar o mundo inteiro e perder a nossa própria alma? (Mt 16:26)
O plano ordinário de Deus é a proclamação do Evangelho através de servos
fiéis. Se eventualmente Ele usar pessoas que não são exemplo de conduta
cristã, é porque tem propósitos maiores, que excedem o nosso entendimento
e que talvez tenham por objetivo a salvação de outras pessoas inclusive.
212

do Evangelho, porque esta é a forma que Deus escolheu

para alcançar o seu povo:

Romanos 10:14 Como, pois, invocarão aquele

em quem não creram? e como crerão naquele de quem

não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?

Logo, o exemplo moral, embora tenha o seu

lugar na vida do crente/cristão, não é um substituto para

a proclamação clara e objetiva do Evangelho.

3. Seremos bem-sucedidos na evangelização quando

“lotarmos” a igreja?

Aqui o conhecimento da doutrina bíblica faz

total diferença. De fato, Deus já nos alertou a respeito:

Oséias 4:6 O meu povo foi destruído, porque

lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o

conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não

sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste


213

da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus

filhos.

Sabemos pela palavra de Deus que nem todos

atenderão positivamente ao chamado do Evangelho de

conversão e arrependimento.118

II Coríntios 2:14-16 E graças a Deus, que

sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós

manifesta em todo o lugar a fragrância do seu

conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume

de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para

estes certamente cheiro de morte para morte; mas para

aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas

quem é idôneo?

Sabemos também pela Palavra de Deus, e isso

não podemos ignorar, que faz parte dos planos do

118
Vide o que Deus atesta a respeito da sua soberania na conversão.
214

adversário dos cristãos, o diabo, “misturar” falsos

convertidos com aqueles que de fato servem a Deus:

Mateus 13:24,25 Propôs-lhes outra parábola,

dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que

semeia a boa semente no seu campo; Mas, dormindo os

homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do

trigo, e retirou-se.

Mateus 13:38,39 O campo é o mundo; e a boa

semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do

maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é

o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos.

Portanto, grande número de “convertidos”

através de campanhas de evangelização não se configura

automaticamente num atestado de sucesso e fidelidade a

Deus. Podemos ser enganados pelas aparências:

I Samuel 16:7 Porém o Senhor disse a Samuel:


215

Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza

da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o

Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o

que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o

coração.

Concluindo, teremos sucesso na obra de

evangelização quando obedecermos a Deus em seu

comando de proclamar/divulgar a Mensagem do

Evangelho. Algumas pessoas atenderão ao chamado,

porque foram tocadas por Deus e transformadas para

responder positivamente, outras rejeitarão a mensagem,

seja porque não foram apontadas por Deus para isso, ou

porque ainda não é o momento.119

No próximo capítulo apresentaremos um

exemplo de como o Evangelho pode ser compartilhado,

tentando respeitar o que Deus apresenta na Escritura.

Esse foi, por exemplo, o caso do apóstolo Paulo, que não dava ouvidos à
119

mensagem cristã, até ser tocado e transformado por Deus.


216

Resumo do Capítulo 31

 A forma como abordamos o evangelismo e o

discipulado diz muito sobre:

 A nossa obediência a Deus

 Como enxergamos o papel da Bíblia na vida

cristã

 A nossa própria fé

 Erros do imaginário cristão:

I. Evangelizar é o mesmo que “converter”

alguém?

 Não, evangelizar é proclamar/divulgar a

Mensagem do Evangelho

 Não significa também fazer alguém

participar de “atividades de igreja”

 Deus é quem efetua a conversão

 Nem todos responderão positivamente à

mensagem cristã, pois isso depende da

vontade soberana de Deus (I Pe 2:6-8;


217

Rm 9:13-24)

II. Não é melhor “evangelizar” pelo exemplo?

 O exemplo tem seu lugar na vida cristã,

mas não como substituto à comunicação

do Evangelho

A) Porque o convencimento é feito pelo

Espírito Santo

B) Devemos proclamar o Evangelho,

seguindo com o ensino da doutrina e

prática da Bíblia, e não apregoar as

nossas boas obras (Mt 6:2-6; Mc

16:15; Mt28:19-20)

 A Bíblia sugere que a

proclamação é eficaz,

independente do comunicador

(Fp 1:16-18)

C) Deus escolheu alcançar seu povo

através da comunicação do
218

Evangelho (Rm 10:14)

III. Seremos bem-sucedidos na evangelização

quando “lotarmos” a igreja?

 Esse tipo de pensamento resulta da falta

de conhecimento (Os 4:6)

 Nem todos atenderão positivamente à

proclamação do Evangelho (II Co 2:14-16)

 O diabo planeja infiltrar falsos

“convertidos” no meio do povo de Deus

(Mt 13:24-25, 38-39)

 Podemos ser enganados pelas aparências

(I Sm 16:7)

 As vezes as pessoas não respondem

positivamente ao Evangelho porque ainda não

é o momento de acordo com os planos

soberanos de Deus
219

32.Abordagem Evangelística Confrontativa 120

O que apresentamos a seguir é apenas um

exemplo hipotético de como poderia ser a apresentação

de alguns dos pontos principais do Evangelho numa

incursão em dupla. No apêndice final, é possível

encontrar um modelo de folheto para copiar ou imprimir

e assim deixar com as pessoas após a conversa.

Esse mesmo “modelo” de apresentação pode e

deve ser adaptado a diferentes circunstâncias: falando em

público, no horário de almoço do trabalho, para

familiares etc. Use as suas palavras e modifique o que

julgar necessário, mas sem omitir a verdade da Palavra

de Deus.

Note que aqui já se pressupõe que a pessoa

que apresentará a Mensagem do Evangelho frequente um

local de reunião cristã (seja uma igreja, seja uma casa


120
Por abordagem confrontativa queremos dizer: que é realizada sem muita
aproximação informal, como no caso das estratégias evangelísticas
relacionais. A ênfase aqui é a apresentação de pontos importantes da
mensagem do Evangelho e o contexto seria o de incursões evangelísticas em
duplas ou organizadas pela comunidade da igreja local.
220

etc.), onde as pessoas que responderem positivamente à

mensagem poderão visitar e, querendo Deus, frequentar.

Se prepare bem, ore fervorosamente antes das

incursões e acima de tudo, confie em Deus.

Apresentação (“A Mensagem da Bíblia”):

Oi, bom dia/tarde/noite! Meu nome é “X” e

esse é o meu amigo/amiga “Y”. Estamos conversando

com as pessoas do bairro a respeito da Palavra de Deus,

da Bíblia. Poderíamos compartilhar uma mensagem?

(Resposta:…) Muito obrigado! Qual o seu nome?

(Resposta:...) Muito prazer “Z”! (o nome da pessoa)

Eu tenho aqui comigo uma Bíblia (mostrar

para o ouvinte) e nós gostaríamos de falar um pouco a

respeito da grande mensagem que ela nos traz. Qual é o

recado de Deus para nós.


221

1. Quem é Deus:

A primeira coisa que a Bíblia nos fala é a

respeito de quem é Deus.

a) (Criador) Logo no começo dela

descobrimos que Deus é o Criador de todas as coisas. Ou

seja, Ele existia antes de tudo e fez, pelo seu poder, os

homens, os animais, os planetas etc. E significa também

que Deus colocou o homem para governar a Terra

debaixo da sua autoridade.

b) (Santo) Além disso, a Bíblia nos diz que

Deus é Santo, o que significa que Ele é separado de tudo

o que é mal, de tudo o que é errado e ruim. E Ele

também exige que todos sejam santos como Ele é santo.

c) (Justo) Na Bíblia vemos também que Deus

é perfeitamente Justo, o que significa que Ele não se

contenta apenas em estar longe do que é mal, mas

também que Ele pretende punir aquele que faz o mal,

como a gente pode conferir aqui nesse trecho do livro de


222

Naum... Você poderia olhar aqui, por favor? 1

Naum 1:3 O Senhor é tardio em irar-se, mas

grande em poder, e ao culpado não tem por inocente...

Quando o trecho diz: “ao culpado não tem

por inocente”, significa que Deus sempre age de forma

justa com as pessoas que praticam aquilo que é errado.

d) (Bondoso e Amoroso) Outros trechos da

Bíblia ainda nos dizem que Deus é bondoso e amoroso,

mas isso não significa que Ele deixe de ser Santo e Justo.

2. O Pecado:

a) (Todos Pecaram) Depois de nos falar a

respeito de Deus, a Bíblia nos fala a respeito do pecado.

Ela nos informa que todas as pessoas pecaram, ou seja,

desobedeceram a Deus, rejeitando a sua autoridade,

como podemos conferir aqui em Romanos 3:23:

Romanos 3:23 Porque todos pecaram e

destituídos estão da glória de Deus;


223

Esse trecho da Bíblia mostra que nós todos

falhamos em cumprir a vontade de Deus de maneira

perfeita.

c) (O Teste dos 10 Mandamentos) “Você” (ou


121
“o senhor”/“a senhora” ) já ouviu falar dos 10

mandamentos? Não matarás, não adulterarás, honra teu

pai e tua mãe etc? (Resposta:...)

d) (Def. 10 Mandamentos) Pois então, os 10

mandamentos são um exemplo de leis que Deus colocou

na Bíblia para nos ensinar sobre como nos relacionar

com Ele e com as outras pessoas.

 (Mentira) Por exemplo, existe um

mandamento que nos ensina a não levantar falso

testemunho, ou seja, mentir. Só que é bem difícil

imaginar alguém que nunca mentiu na vida.

 (Roubar) Existe outro mandamento

que diz que nós não devemos roubar. Só que hoje em

121
Tratar a pessoa adequadamente de acordo com o seu contexto.
224

dia não é fácil encontrar alguém que nunca pegou

nada que não lhe pertencia e quantas não são as

pessoas que tentam tirar vantagem das situações?

 (Matar) Um outro mandamento

ainda diz que não devemos matar. Mas a Bíblia

também nos diz que bastaria odiar alguém no

coração, que para os padrões de Deus, é como se nós

tivéssemos matado essa pessoa. E quantas pessoas nós

vemos guardando ódio no coração, não é verdade?

Enfim, a gente poderia continuar falando de

vários outros mandamentos, mas o fato é que a situação

de pecado, infelizmente é uma coisa que todos

experimentam na vida.
225

3. O Juízo de Deus

a) (Dia do Juízo) Agora, nós dissemos que

Deus, além de Santo é perfeitamente Justo. Por conta

disso, Ele pretende punir aqueles que pecaram e

rejeitaram a sua autoridade. Para isso, Deus preparou

um dia em que Ele vai julgar todas as pessoas de acordo

com o que elas fizeram na vida. Veja só o que diz no

começo desse trecho em Romanos 6:

Romanos 6:23 Porque o salário do pecado é a

morte...

b) (Inferno) Em outras palavras, a

recompensa do pecado é a morte. Essa “morte” aqui,

assim como em outras partes da Bíblia, significa estar

separado de Deus para sempre, sofrendo onde na Bíblia

normalmente é chamado de “inferno”. Ou seja, Deus vai

julgar, condenar e punir os pecadores.


226

4. Evangelho

a) (Misericórdia de Deus) Mas a Palavra de

Deus também nos traz boas notícias! Ela nos diz que

Deus, que também é bondoso e amoroso, resolveu

resgatar, ou, salvar um povo dessa situação, enviando

seu filho Jesus Cristo ao mundo.

b) (Jesus o Filho de Deus) Há uns dois mil e

poucos anos atrás, Jesus veio, nascendo de uma virgem.

A partir daí a Bíblia nos fala de Jesus como Deus e

homem. Ele viveu na Terra uma vida perfeita,

obedecendo todos os mandamentos que nós falhamos

em obedecer. Ele pregou a Palavra de Deus e curou as

doenças das pessoas. No final da sua vida, ele acabou

sendo acusado injustamente, foi castigado e depois

crucificado.

c) (Expiação) Agora, essa morte de Jesus teve

um significado, um objetivo muito especial. Jesus


227

morreu para pagar pelos pecados do seu povo. A gente

lê assim aqui em Romanos no capítulo 5:

Romanos 5:8 Mas Deus dá prova do seu amor

para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores,

Cristo morreu por nós.

Ou seja, a Palavra de Deus conta que Jesus

morreu como substituto do seu povo, Ele pagou a dívida

do pecado dessas pessoas.

d) (Ressurreição) Só que a Bíblia também fala

que três dias depois de morrer, Jesus ressuscitou, e

apareceu pra várias pessoas que o seguiam, dizendo que

essas pessoas também ressuscitariam um dia e viveriam

pra sempre com Deus. Isso, porque Jesus sofreu na cruz

no lugar daquelas pessoas, que de outra forma seriam

punidas por causa dos seus pecados. E o fato de Jesus

ressuscitar era prova de que o sacrifício de Jesus foi

aceito por Deus Pai e que essas pessoas foram

justificadas.
228

5. Fé e Arrependimento

a) (Ordem e Promessa) Por fim, a Bíblia

também nos diz que agora Deus comanda que todos os

homens se arrependam dos seus pecados e tenham fé

nessa mensagem da morte e ressurreição de Jesus. E Ele

promete que, todo aquele que se arrepender dos seus

pecados e crer em Jesus será salvo, ou seja, receberá a

vida eterna conquistada pelo sacrifício dele. Veja por

exemplo, aqui no livro de Romanos, no capítulo 10:

Romanos 10:9 A saber: Se com a tua boca

confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que

Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.

b) (Def. de Arrependimento) O

arrependimento acontece quando admitimos que somos

pecadores e não podemos nos salvar. Quando sentimos

tristeza pela nossa condição de pecado e estamos

dispostos a deixar os nossos hábitos de pecado que

desagradam a Deus.
229

c) (Def. de Fé) Agora fé significa confiar. No

caso aqui, seria confiar que o sacrifício de Jesus na cruz é

suficiente para nos salvar, como está aqui nesse versículo

em Efésios 2:8, que diz assim:

Efésios 2:8 Porque pela graça sois salvos, por

meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus;

d) (Graça) A palavra “graça” aqui no trecho

significa “ajuda sem merecimento”. A salvação é um

presente gratuito de Deus. Não precisamos fazer nada

extraordinário para receber a salvação. Não é fazendo

caridade ou tentando praticar grandes obras que nós

alcançamos a vida eterna. Basta nos arrepender dos

nossos pecados e confiar em Jesus. Ser salvo, significa ser

liberto, resgatado do pecado e declarado inocente quando

Deus vier julgar o mundo. Arrependimento e fé em Cristo

é o único meio que Deus estabeleceu para sermos salvos.


230

6. Convite

Para terminar, eu gostaria de perguntar: Você

considera que isso já é uma realidade na sua vida “Z”?

(Resposta...) Existe alguma coisa hoje te impedindo de se

arrepender dos teus pecados e confiar em Jesus para a

tua salvação? (Resposta...)

Nós temos aqui um folheto, você aceita?

(Resposta...) Aqui tem um resumo do que a gente

conversou hoje. Se você tiver uma Bíblia a gente gostaria

de recomendar que você conferisse nela as coisas que

falamos aqui, ok? E seria um prazer se pudermos

conversar novamente. (pedir para anotar/compartilhar

contato, se possível) Se puder, procure frequentar uma

igreja evangélica séria, onde a Bíblia seja lida e

obedecida. E fica o convite para nos visitar nesse

endereço. (mostrar endereço ou indicar local de

reuniões) Muito obrigado pela atenção, Deus te abençoe!


231

Resumo do Capítulo 32

 Antes de evangelizar é bom se assegurar que as

pessoas terão aonde buscar comunhão com outros

crentes

 Se prepare bem, ore fervorosamente e confie em

Deus

 Apresentação (explicar o que estão fazendo, dizer o

nome, perguntar o nome e se pode compartilhar

uma mensagem, mostrar a Bíblia etc.)

 Quem é Deus (criador; santo; justo;

bondoso/amoroso)

 O Pecado (todos pecaram; definição de pecado; o

teste dos 10 mandamentos: mentir, roubar, matar)

 O Juízo de Deus (dia do juízo; inferno)

 Evangelho (misericórdia de Deus; Jesus o filho de

Deus; Expiação; Ressurreição)

 Fé e arrependimento (ordem e promessa; definição

de arrependimento; definição de fé; graça)


232

 Convite (já é realidade? algum impedimento?

entrega do folheto; recomendações: conferir na Bíblia

e frequentar uma igreja evangélica; convite para o

local de reunião)
233

Palavras Finais

Chegamos então ao final deste livro, na

esperança de que os leitores possam ser alcançados pelo

Evangelho da salvação em Cristo Jesus, e que, ao

responderem positivamente à chamada do Espírito

Santo, busquem poder e graça de Deus para obedecer aos

seus mandamentos e compartilhar a mensagem do

Evangelho com pureza, sem distorções.

Talvez sejamos desconhecidos um para o

outro, mas se a verdade da Bíblia transformou o teu

coração, seja bem-vindo à família de Deus e é com muita

alegria que gostaria de te chamar de meu irmão, ou

minha irmã. Como disse o Senhor Jesus:

Mateus 12:48-50 Ele, porém, respondendo,

disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem

são meus irmãos? E, estendendo a sua mão para os

seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus

irmãos; Porque, qualquer que fizer a vontade de meu


234

Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe.

Mais uma vez, se quiser ou precisar conversar

sobre o livro, não deixe de entrar em contato:

israeltandrade@gmail.com

A paz do Senhor Jesus!


235

Apêndice: Folheto Evangelístico

Nas próximas páginas encontra-se o folheto

evangelístico sugerido, que resume a mensagem exposta

no capítulo trinta e dois. Você pode tirar cópia,

digitar/carimbar o endereço da igreja, adaptar etc.

Apenas mantenha o conteúdo teológico e bíblico sem

modificação.

Após copiar ou imprimir (frente e verso), basta

dobrar nas linhas indicadas que ficará com o formato de

um folder convencional.

Faça bom proveito e que tudo contribua para a

glória de Deus!

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