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Formu Antlpa
fenício (semitico), 1000A.C. grego ocidental, 800 A.C. latino, 50 D.C.
1 r p
2. Not MaDuscrltot GfeIOI do Noyo TelltameDto
7f
3. Fonnu Modernas
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obrigação de salvar àqueles que nunca ouviram o sabido que o evangelho sempre foi uma mensagem
evangelho. Também dizem que Deus não tem muito localizada, desde a antiguidade até hoje.
obrigação de providenciar para que todos os homens Milhões de criaturas humanas jamais terão oportuni-
ouçam o evangelho. No entanto, o Novo Testamento dade de ouvi-la. Acresça-se a isso que as pessoas que
existe por causa do fato de que Deus auto-obrigou-se a só conhecem a teologia da Igreja Católica Romana, e
interessar-se pela salvação de todos os homens. Um das igrejas protestantes e evangélicas (as quais, no
outro argumento falaz é aquele que nega o intuito Ocidente, originaram-se da Igreja Católica Romana,
universal de Deus. Alguns pensam que está tudo certo pelo menos historicamen te falando) ficam surpreendi-
se Deus tomou providências quanto à salvação de das quando descobrem c..ue as Igrejas Orientais (que
alguns, mas não quanto à salvação das massas. vieram dos quatro grandes patriarcados de Jerusalém,
Porém, isso contradiz as assertivas dos apóstolos, que Alexandria, Antioquia e Constantinopla, e que se
mostram claramente o intuito e a provisão universais desenvolveram nas Igrejas Ortodoxas Orientais)
de Deus. ensinam que há uma oportunidade bem maior para os
Um outro argumento falaz é aquele que se refere a homens, com resultados muito mais amplos, do que
uma punição inferior, como se isso solucionasse o se espera no mundo ocidental. Ofereço provas sobre
problema. Os pagãos que nunca ouviram o evangelho, isso no artigo intitulado Descida de Cristo ao Hades:
obviamente têm menos oportunidades; e, se têm Perspectiva Histórica e Citações Significativas. Esse
menos oportunidades, continua esse argumento, artigo demonstra como a Igreja cristã histórica tem
então é lógico que eles também receberão um encarado a missão de Cristo no hades, com muitas e
julgamento menos severo. No entanto, esse tipo de úteis citações, que ilustram a teologia envolvida.
raciocínio não concorda com todos os fatos do Paralelamente, há um artigo geral sobre a Descida de
evangelho. Devemo-nos preocupar em reconhecer as Cristo ao Hades, Orígenes afirmava que ensinar que o
verdadeiras dimensões da missão de Cristo, não juizo divino é apenas retributivo é aceitar uma
aceitando qualquer idéia que importe em falha, por teologia inferior. O trecho de I Pedro 4:6 declara
parte da missão de Cristo, mesmo que tal falha abertamente que os homens serão julgados a fim de
signifique apenas que certos homens sofrerão menos poderem viver no Espírito, conforme Deus faz. Isso
no inferno do que outros. importa em uma vida bendita, e será conseguida
Esse evangelho é pequeno demais. O tipo de através do julgamento. A leitura dos dois artigos
evangelho que segue as linhas do raciocinio acima é citados oferece a posição deste autor sobre a questão,
pequeno demais para ser o verdadeiro evangelho do a qual conta com o apoio de largos segmentos da
Novo Testamento. Esse evangelho truncado tem Igreja cristã histórica. Há um evangelho maior e mais
sobrevivido bem na teologia cristã ocidental. No amplo do que muitas pessoas supõem, cujas mentes só
entanto, sempre foi rejeitado pela Igreja oriental. conhecem a teologia chamada ocidental.
Muitas heresias consistem em visões parciais da V. A Pu'" do MbtérIo ela VODtade de De_
verdade, embora haja aquelas que consistem em A passagem de Efésios 1:9,10 mostra-nos que
acréscimos feitos à revelação biblica. Ora, esse Deus, finalmente, fará todas as coisas girarem em
raciocínio nos apresenta uma visão parcial da verdade torno de Cristo, formando uma unidade. Essa é a sua
do evangelho. vontade, vontade essa que envolve, finalmente, o que
m. Podem... LeVIIl'-DQI por Dem8Is • SérIo ele realizará. Outrossim, essa vontade de Deus estava
Muitos crentes supõem que se aÓll não atingirmos oculta em mistério, tendo sido revelada por Paulo na
os perdidos, e dentro do periodo de vida em que eles epistola aos Efésios. Isso significa que aquilo que
viverem na terra, então eles estão automaticamente Deus tenciona fazer com todos os homens não era
condenados, sem qualquer remédio. Porém, o conhecido nos tempos do Antigo Testamento; e nem
evangelho real ensina-nos que Cristo fez provisão para mesmo no Novo Testamento, enquanto Paulo não o
os perdidos no hades, onde eles estão sendo revelou. Mas vemos, para nossa imensa satisfação,
castigados, tendo levado o evangelho até àquele lugar que a vontade de Deus abrange todos os homens, e
espiritual. Ver o artigo sobre a Descida de Cristo ao que conseguirá realizar uma vasta e universal
Hades . A citação feita abaixo, pelo teólogo batista harmonia. Ver os artigos separados sobre a Restaura-
A.H. Strong, ilustra como até mesmo homens ção e sobre o Mistério da Vontade de Deus. Afirmo,
inteligentes podem levar-se por demais a sério: alicerçado sobre os ensinamentos de largos segmentos
«A questão se os pagãos nunca serão salvos, se não da Igreja cristã histórica, de que há um ministério do
lhes apresentarmos o evangelho, não é uma questão Lagos nos ciclos da eternidade, que ainda jaz no
tão séria quanto aquela outra, isto é, se nós mesmos futuro; e que também ali (já no ministério celestial de
seremos salvos, se não lhes dermos o evangelho». Cristo) grandes coisas serão feitas em favor de todos
Essa declaração de Strong é curiosa, para dizermos os homens.
o mínimo. Os pagãos estão perdidos. Mas, poderia- Todavia, isso não fará todos os homens tornarem-se
mos nos perder, se não cumprirmos o nosso dever remidos, no sentido evangélico. Todavia, todos os que
para com os pagãos. Isso faz de nós importantes não forem salvos, serão restaurados. Os remidos serão
demais. Não é solução melhor pensarmos na triplice aqueles poucos que participarão da natureza divina
missão de Cristo: na terra, no hades e no céu? O que (ver II Ped. 1:4), por haverem sido regenerados; e os
poderiamos fazer, com nossos minúsculos e incons- restaurados serão os demais homens. Isso só poderá
tantes esforços, para evitar que milhões e milhões de redundar em bem para toda a espécie humana. De
pessoas não morram sem ouvir o evangelho? O Novo fato, pode-se esperar uma tremenda glória. em
Testamento, entretanto, assegura-nos que há uma resultado disso. porquanto será a realização do Cristo
11
PAGÁOS, DESTINO DOS - PAI
cósmico. Solicito do leitor que examine o artigo idioma que era usado pela dinastia sassânida, entre os
intitulado Restauração, onde esse evangelho completo séculos 111 e VII D.C., ou seja, da época da derrubada
é apresentado. Também quero relembrar o leitor, a dos partas até à conquista islâmica. A escrita pahlavi
esta altura, que a teologia ocidental tem truncado o era um alfabeto derivado de uma forma posterior do
evangelho. Mas a Igreja oriental, demonstrando aramaico ou siriaco.
possuir uma sabedoria superior, quanto a esse Esse idioma tomou-se o meio de comunicação
particular, dispõe de uma visão mais completa e quando chegou ao poder a dinastia sassânida, sob
superior daquilo que, finalmente, será realizado pela Ardashir I (cerca de 224 A.C.), uma dinastia que
missão de Cristo. continuou governando até que os islamitas conquista-
Portanto, torna-se claro que a questão do destino ram a Pérsia (em 651 D.C.). Alguma literatura em
final dos pagãos tem uma solução boa, e até mesmo pah1avi sobreviveu até hoje, quase toda tendo algo a
gloriosa, embora não se possa jamais comparar com a ver com os livros sacros do zoroastrismo (vide).
glória dos remidos que, repetimos, disporão da Porções das obras chamadas Dadhastan i Meno-
própria natureza divina. Ora, isso é exatamente o que ghkhrad, -Doutrína da Sabedoria Celeste.., e Ardajh
poderíamos esperar da parte do amor de Deus, pois Viraz-Namagh, -Visão de Ardagh Viraz.., contem
Deus é amor. Isso é precisamente o que poderiamos ensinamentos de Zoroastro. A vida lendária de
esperar do evangelho e da missão de Cristo. Ver o Ardashir I é relatada na obra Karnamak-i Ardashir-i
artigo separado sobre os Gentios. Papakan, Além disso, a obra chamada Denkard
aborda questões cosmológicas, além de lendas
VI. A Seriedade do Ja1pmeato religiosas de variegados tipos. Shapur I (241-270
O Fator Tempo. Efé. 1:9,10 fazem bastante claro D.C.) encorajou a tradução das principais obras do
que a restauração de todos os seres inteligentes, para zoroastrismo para o sânscrito e para o grego.
ser realizada, necessitará de alguns ciclos (eras) da
eternidade futura. Sendo-que o julgamento é um dos PAI
instrumentos que restaura (I Ped. 4:7), deve também No hebraico, ab, palavra que ocorre por cerca de
entrar nestes ciclos. Acredito, portanto, que o seiscentas e oitenta vezes, desde Gên. 2:24 até Mal.
julgamento ocupará um tempo bastante prolongado, 2:10. No grego, pater, que ocorre por cerca de
dentro dos ciclos da eternidade. Cada alma será trezentas e sessenta Tezes, desde Mat, 2:22 até Apo,
punida o bastante para efetuar sua restauração. 14:1.
Todavia, o propósito do julgamento é operar o bem
dos julgados, não meramente puni-los. A punição é Esboço:
um elemento do julgamento, não sua totalidade. O I. Significados
fato de que o julgamento poderá durar um tempo 11. Referências Biblicas e Significados
prolongado na eternidade futura aumenta nosso 111. O Pai e a Familia
conceito sobre sua seriedade. Mas seria um erro nos I. SIgnIfIcad08
rebaixar para uma teologia inferior declarando que o A palavra grega, patel', está relacionada à raiz que
julgamento não é restaurador, afirmando que é significa «nutridor» ou «protetor». Porém, no uso
meramente punidor. Também, sendo que os restaura- comum, havia muitas aplicações do vocábulo, como
dos perdem a redenção (participação na natureza ao pai de uma pessoa, ao chefe de um clã ou nação, ao
divina, 11 Ped. 1:4), que é o destino verdadeiro do ser cabeça espiritual dos mesmos, ou a um lider
humano, a restauração em si é um julgamento, espiritual, ou a alguém que ajudava a outrem para
considerado comparativamente com a redenção dos conseguir um significativo avanço espiritual, como o
redimidos. Neste sentido, o julgamento será eterno. originador de alguma organização, filosofia ou
Todavia, não devemos rebaixar a obra magnífica do religião; e também era usado como titulo de honra e
Restaurador que é também o Redentor. respeito, incluindo os nomes Pai, Filho e Espírito
Ver o artigo sobre Restauração, Observações Santo, da triunidade divina, ou então, Deus como o
Preliminares, especialmente 'pontos 3, 4 e 5. Pai dos seres humanos e de outros seres inteligentes.
n. ~ Blbne.e ~
PAGIEL Consideremos os onze pontos abaixo:
No hebraico, «encontro com EI (Deus)», Esse era o 1. Pai, no sentido imediato (Gên. 19:31; 44:19); 2.
nome de um filho de Ocrã. Pagiel foi chefe da tribo de um ancestral próximo ou remoto (I Reis 15: 11; 11 Reis
Aser, ao tempo do êxodo (ver Núm. 1:13; 2:27; 7:72; 14:3; NÚm. 18:2; Sal. 45:16); 3. o fundador de uma
10:26). Ele viveu em cerca de 1440 A.C. Ajudou tribo ou nação (Gên. 10:21; 17:4,5); 4. o iniciador de
Moisés a fazer o censo dos israelitas. alguma profissão ou arte (Gên. 4:20); 5. o iniciador de
uma fé, ou o principal exemplo da mesma (Rom. 4: 1),
como Abraão, o pai dos fiéis; 6. o criador (Já 38:28;
PAGODE Deus é o criador dos homens e dos anjos, e também é
A derivação dessa palavra é incerta. Talvez venha o Pai deles, segundo se vê em Isa. 63:16; Efê. 3:14,15;
do sânscrito, but , «idolo.., e kadah, -case», ou e também é o criador das estrelas, o «pai das luzes»,
bhagavati, «divino... A palavra portuguesa pagode conforme se lê em Tia. 1:17); 7. um benfeitor (Já
aponta para as torres ou templos religiosos do 29:16; Isa. 22:21); 8. o Messias, como o eterno
extremo Oriente. Usualmente, os pagodes têm um benfeitor e cabeça da raça espiritual, o Pai eterno
formato piramidal e são muito ornamentados. Ver o (Isa. 9:6); 9. algum grande mestre (I Sam. 10:12), ou
artigo geral intitulado Templos. lider espiritual (11 Reis 2: 12; 5: 13); 10. um primeiro
ministro, ou conselheiro-mor (Gên. 45:8); 11. um
relacionamento intimo, que chegue a corromper, é o
PÁBLAVI (PÃLAVI) pai de alguns (Jó 17:14).
Originalmente, esse nome persa significava parto, m.O . . . . . F........
alguém que nascera na PArtia. A PArtia era um antigo Temos apresentado um artigo separado sobre o
reino no que atualmente é o nordeste do Irã. Essa assunto, intitulado Família. Naquele artigo transpa-
palavra foi aplicada pelos persas àquele dialeto de seu recem a posição, a autoridade e os deveres de um pai,
12
PAI - PAIS APOSTúLICOS
no que concerne aos seus familiares. Esses deveres são o cristianismo institucionalizado. Embora Paine
sociais, psicológicos e espirituais. Hâ três coisas que tenha sido acusado de ser um ateu, a sua posiçlo
um pai deve a seus filhos: exemplo, exemplo, teológica real era o delsmo (vide).
exemplo. O pior erro que um pai pode cometer é Se muitos opunham-se a ele aJIUII1I8DlC'Dte. outros o
conhecer os ensinos espirituais das Escrituras elogiavam efusi.amente. No tocute a questões
Sagradas e deixar de transmiti-los a seus filhos. O polítícas, ele foi uma figura de proa DO despcrtamento
artigo sobre a Famllia expõe a história dessa unidade da oposiçio oorte-ammic:ua aos .......~ pois muito
fundamental da sociedade humana, incluindo o papel encorajou l revoluçioque. resultou Da ~
do pai, no seio da família, da nação norte-amenana. Seu livro. mtitulado
O pai da família era o principal mestre de sua Criais, era lido por oficiais das fo1ças armadas,
família e precisava levar a sério os seus deveres. Suas iDfundindo-1hes ~a,:e.m. Termiaada a pena da
instruções incluiam tanto alguma profissão como a independência. PaiIIe passou algum tempo na
educação religiosa (Deu. 4:9; 6:7; 31:13; Pro. 22:6; Europa. Então retoraou. __ EstadOs UIIidos da
Isa. 28:9). Ele exercia poder absoluto sobre seus
familiares e os disciplinava segundo essa autoridade
(Pro. 13:24; 19:18; 22:15; 23:13). Através das
_via
América, e logo estava envolvido em novas coatrovér-
sias. Seu livro, Tbe Ase o/ RM.fOII, pabo para
ele muitos adversúi05. Duraate ..... anos, • meu
autoridades constituídas, ele tinha o poder de em sua fazenda. DO estadO de Mofa Ior~. Ali faleceu
determinar a punição capital (Deu. 31:18). Um filho e ali foi sepultado, a 8 de'juhct de flI09.
desobediente, por exemplo, arriscava-se a perder a Em 1819. pedal. seus ~ foram levados l
própria vida. O Talmude Babilônico oferece um Inglaterra por WiIIua. COMlett.A1i. eIltrotaDto,
sumário dos deveres dos pais: circuncidar seus filhos; foi-lhe recusado o sepuJtameaJo, e seus OIIOS foram
remi-los; ensinar-lhes a lei; encontrar esposa para espalhados pela ilha.
eles; prover instruções quanto a alguma profissão ou PaiDe era amaate da Bberdade, e poucas coisas tem
negócio; ser um guia geral e autoridade sobre os sido mais viaofosas, DOS &tracfos Uaidlos 4a Am6rica
filhos, mesmo depois de se casarem. . do Norte, do 'I'JC esse ten*iIneNn e coo*çlo.
Os deveres das mães, as instruções apostólicas para WasbingtoD, FrankIiB e ootru _ _ JIOIte.aeeri-
a família toda, e outras questões dessa natureza, canas liderantcs pratan.m tributo a PeiDe.. dImdo a
aparecem no artigo geral sobre a Famllia, seus esforços em prol da ~ ....,.,a1IIIeIica:aas e
em favor da indepeDd&Dcia d'aqu*.paIS, do bemisf&lo
norte; mas as . . . . . . . . ."Nl8talistu auaca o
PAI, CASADO perdoaram.
Esse era um titulo conferido . . . . . . . . que havia
entre os israelitas (Jos, 22: 14). Comparar com los. PAIS
7:14,16-18. A palavra casa indica o lugar de
residência de uma família, vinculada à palavra Pai. A Ver ~ • . Ver t n * . I••,.....
I ,..... ex' •.
combinação significa uma propriedade da famBia em dacIe).
foco (Gên, 12:1,31; I Sam. 18:2). Porém, a expressão
também pode indicar as pessoas que residem naquela
casa (Gên. 46:31; Êxo, 12:3), no sentido mais lato,
incluindo os servos e os escravos, e nio os membros
imediatos da familia. A expressêo indica tamb&n as
divisões principais de cada uma das ooze tribos de
Israel (Núm. 3: 15,20), ou mesmo cada uma das tribos
inteiras (Núm. 17:2).
No Novo Testamento, a palavra -casa- pode indicar
um lar (Atos 7:20), o templo de Ierusalém (1010 2:16),
ou o céu (João 14:2). Nesta última referência,
aprendemos que a casa do Pai tem muitas moradas.
isto é, muitos lugares de residência. Isso posto, a
expressão alude à pluralidade dos céus e dos htgares
celestiais, uma doutrina comum judaica e que, sem
dúvida, refletia essas verdades. Comparar isso com a
expressão paulina, lugares celestiais (EM. 1:3), acerca
da qual examinar o NTl, nessa referitlcia. Ver
também Efé. 1:20; 2:6 e 3:10, onde O' coueeito é
reiterado.
PAI-NOSSO
Ver sobre 0nçI0 do s..-.
PAINE, TBOMAS
Suas datas foram 1737-1809. Ele foi um escritor
ínglês e depois norte-americano cpae expressou .6rios
pontos de vista radicais sobre questões poJIticas e
religiosas, que lhe causaram uma vida <:ercada de
controvérsias. Suas idéias foram expressas em suas
obras (com títulos em inglês): CommOll s.-:.T1ae
Rights o/ Man e The Age o/ Rea.ro1l. Para o PAD ~
cristianismo, a última dessas obras ~ a mais Temao ......, . . Y6dea _ aiI8:DI do
importante. Na verdade. essa obra repudia a BIbIia e final do " I D.C. + syv'o,
13
PAIS APOSTOLICOS - PAIXÃO
bem como aos seus escritos. Quase todos esses pais próprios evangelhos ou manipulando a tradição oral.
foram gentios, talvez discípulos dos apóstolos, ou Barnabé lança mão do evangelho canônico de
intimamente relacionados ao circulo apostólico. Seus Mateus, e Papias nos dá valiosas informações sobre
escritos caracterizavam-se pela simplicidade literária, Mateus e Marcos. Quanto a idéias completas sobre o
sinceridade e convicção religiosa. Naturalmente, tais cãnon, ver o artigo sobre esse assunto.
obras não fazem parte do Novo Testamento, mas 5. Teologia: Há alusão a várias doutrinas comuns
revelam grande interesse pelo Novo Testamento e suas ao Antigo e ao Novo Testamentos: Deus como
doutrinas, que aquelas personagens promoviam em criador, redentor e juiz. Conhecimento de Deus
face das perseguições, heresias e cismas. através de Cristo, o qual é o Salvador e o Filho de
O termo foi cunhado por J.B. Cotetier. que Deus. Expiação por meio do sangue (I Cle. 7:4). Uma
publicou uma edição dos escritos dos pais. em Paris, antiga fórmula trinitariana em Clemente: « ••• como
em 1672; e aL.T. Ittig, que usou precisamente essa Deus vive, como Jesus Cristo vive, como o Espírito
expressão, em sua ediçlo de Leipzig, desses escritos, Santo vive ... " (42:3). Inspiração de obras escritas pelo
em 1699. Espirito Santo (42:3; 63:2). Inácio também escreveu
1. Escritos dos pai& apost6licos: uma antiga fórmula trinitariana (Mag. 13:1),
a. Epislolas de Clemente de Roma, a primeira mencionando o nascimento virginal de Cristo (Efé.
escrita em Roma, em cerca de 95 D.C., e a segunda, 18:2; 19:1) e a ressurreição (Mag. 9:1). A teologia de
um sermão, originado em Roma, em cerca de 140 Clemente, Inácio e Policarpo repousava sobre a
D.C., ou em Alexandria, mas que não é considerada tradição apostólica; mas, nos escritos de Clemente,
de autoria gcnuina de Clemente. sente-se forte tradição pagã clássica, sobretudo no
b. Sete cartas de Inácio de Antioquia, escritas tocante a fórmulas éticas. As epistolas de Inácio e 11
quando se encaminhava ao martirio em Roma, Clemente usam terminologia gnóstica, mesmo não
durante o reinado-de Trajano (98-117 D.C.). São sendo obras gnósticas. O judaismo exerceu forte
cartas dirigidas aos efésios, aos magnesianos, aos influência na epistola de Barnabé, no Didache e no
tralianos, aos romanos, aos filadelfianos, aos esmir- Pastor de Hermas. A grande omissão que se nota
nenses e a Policarpo. nessas obras é qualquer compreensão adequada ou a
c. Carta de Policarpo aos fiJipenses (cerca de 135 expressão da doutrina da graça, de Paulo.
D.C.). 6. No tocante à Igreja primitiva: Os apóstolos
d, O Manirio de Policarpo (escrito em cerca de 160 estavam desaparecendo, e a autoridade repousava
D.C.). agora sobre os bispos e diáconos, cujos deveres são
definidos no Novo Testamento. Temos nessas obras
e. A Didache, ou Ensino dos Doze Apóstolos, obra vislumbres dos primórdios da organização eclesiásti-
de autoria composta, a começar em cerca de 90 D.C., ca, que transcendem a formas conhecidas no Novo
provavelmente escrita na Siria. Testamento. As Escrituras do Novo Testamento, em
f. Epístola de Barnabé, de autoria desconhecida, de sua original forma canônica, são consideradas
cerca de 130 D.C. autoritárias, juntamente com o Antigo Testamento.
g. O Pastor de Hermas, de Roma, escrita em cerca Pouca atenção é dada aos estritos problemas sociais,
de 150 D.C. embora selam ressaltados os deveres oessoais e éticos,
h. Carta de Diogneto, de cerca de 129 D.C. dos individuos e igrejas locais. O Didache dá grande
i. Citações de Papias, de Herápolis, cerca de 125 atenção a questões relativas à adoração, incluindo as
D.C. ordenanças, algo não muito comum nos demais
escritos dos pais da Igreja. (AM C GR Z)
2. Caracteristicas: São de aatiga data, geralmente
ortodoxas, defendendo a fé cristã, a maioria
endereçadaa cristlos. Abordam questões práticas, as PAIS DA IGREJA, ttICA DOS
relações entre a Igreja e o estado, princípíos éticos Ver sobre Ética Patrlstica,
gerais, as ordenanças da Igreja, com uma elevada
concepçio da pessoa de C ~ além do tema comum
escatológico. Foram obras escritas em grego, sem PAIXÃo, MúSICA DA
exceção.
Cânticos solenes narram a história da paixão de
3. Contribuição: Esses eseritos nos dão a primeira Cristo. Isso teve inicio no século VIII D.C. Ai pelo
visão extrabíblica da Igreja primitiva, de seus lideres, século XII D.C., já se desenvolvera uma forma de
organizaçio, fé e ensinamentos. Preenchem o hiato música para ser usada durante a missa. Várias dessas
entre o Novo Testamento e a moral formal que se antigas melodias têm sido preservadas até os nossos
desenvolveu na Igreja, algum tempo mais tarde. próprios dias. Na Alemanha, depois da Reforma
Conferem-nos nossa primeira visão da formação do (vide), a música era separada da liturgia. Foi assim
cânon do Novo Testamento. que essa música atingiu sua mais magnificente
4. Relação para com a Biblia e o cãnon expressão na Palxio de Sio Mateus, de Bach.
neotestamentério: Quase certamente, quando citam o Composições musicais de vários tipos foram criadas
Antigo Testamento, usam a Septuaginta. As citações para a Semana Santa, muitas delas partindo de peças
incluem livros que nio fazem parte do cânon hebreu. e produções teatrais medievais que destacavam
Mas o material assim citado é reputado Escritura. mistérios religiosos, retratando os sofrimentos de
Quanto ao Novo Testamento" Clemente mostra que Cristo. Dai surgiram vários oratórios. Os mais
ele reconhecia uma primitiva coletânea de livros que famosos oratórios são os de Shuta, Handel, Bach,
haviam adquirido autoridade, a saber, as epistolas de Haydn e Beethoven. O Messias, de Handel, e o Monte
Paulo, Hebreus, e provavelmente, o livro de Atos. das OUvelras, de Beethoven, são exemplos notáveis.
Inácio conhecia e usava uma coletânea das epistolas
de Paulo. Policarpo usava todas as treze epístolas
paulinas, excetuando Filemom, e talvez, também, I
Tessalonicenses e Tito. Ele aludia a epistola aos PAIXÃO, OFICIOS DA
Efésios como Escritura (12:1). Vários dos pais da Esses oficios s10 comemorações da paixão de Cristo
Igreja conheciam e usavam os evangelhos, mas nem nos Oficios Canônicos, que foram inicialmente
sempre sabemos' se eles estavam usando os desenvolvidos pelos padres passionistas (cerca de 1775
14
PAIXÃO DE CRISTO - PALÁCIO
D.C.), e que atualmente são largamente usados às Tobiades, têm sido encontrados pelos arqueólogos em
sextas-feiras, durante o periodo da quaresma, ou em suas escavações. Herodes mandou construir um
outras ocasiões solenes. palácio na torre de Hananel, à qual reconstruiu com o
nome de Torre de Antônia (vide). E também mandou
construir um outro palácio, Que recebeu o nome de
PAIXÃO DE CRISTO (SeIlUllUl da Pabio) Torre de Fasael, Esta pode ser vista até hoje, em suas
ruínas, Iosefo descreve como Herodes apreciava viver
A derivação do termo pahio, neste caso, é a na suntuosidade (Guerras 5:6,4). Herodes também
palavra latina pusle, de pati, «sofrer... Nada tem a ver tinha palácios em Maquero, Heródium e Jericô,
com o moderno uso da palavra, sobretudo na
linguagem romântica. O termo aplica-se aos sofri- D. TIpoII de Pallacl. ..
mentos especiais de Cristo antes e durante a sua
crucificação. Inerente ao vocábulo há a idéia da 1. Residências Reais. As famílias reais e os
expiação assim obtida pelo Senhor. Essa palavra tem principais oficiais do governo ocupavam esses
tido seu sentido ampliado, para incluir os sofrimentos complexos. Naturalmente, eram bem fomidos com
dos mártires, que participam assim nos sofrimentos servos. Ver 11 Crô. 8:11; 9:11; 11 Reis 7:9.
de Cristo (ver Fil. 3:10; I Ped. 4:13). O Domingo da 2. Principais Edifícios Públicos. Nessa classe, os
Paixão é o quinto domingo da quare81Da (vide); e a especialistas incluem o palácio de Acabe, em Jezreel
Semana da Paixão é aquela que antecede à Semana (ver I Reis 21:1); o palácio do rei assírio, em Ninive
Santa. O periodo de duas semanas, desde o domingo (Naum 2:6); os palácios de vários governantes
da paixão até às vésperas da páscoa, é chamado de babilônicos, na cidade de Babilônia (11 Reis 20: 18;
«tempo pascal... Dan. 4:4); e o palácio dos governantes persas, em
Na literatura. A Paixão de Cristo é a longa Susã (Esd. 4:14).
quádrupla narrativa, dos evangelhos, que descreve os 3. Os Principais Edificios de Alguma Fortaleza ou
eventos da paixão de Cristo. Cidadela. Esses ficavam na maioria das capitais das
nações: em Jerusalém (Isa. 32:14); em Samaria (Amós
3:10,11); em Damasco, como o de Ben-Hadade
(Amós 1:4); em Tiro (lsa. 23:13); na Babilônia (lsa.
PALÁCIO 25:2); em Edom (Isa, 34:13); em Gaza, Amom,
Esboço: Bozra, Asdode e Egito (Amós 1:7,12; 3:9).
I. Caracterização Geral A função de um palácio, como parte integrante de
uma fortaleza, é salientada em trechos como
11. Tipos de Palácios I Crê, 29:1,19; Nee. 1:1; 2:8; Est. 1:2. Outras
111. Caracteristicas de Palácios de Vários Lugares escrituras falam sobre seus jardins, pátios, complexos
IV. Usos Figurados de edifícios, decorações suntuosas, colunas, etc. Ver
I. Caracterlzaçi.o Geral Esd. 7:7,8; Cano 8:9; Eze, 25:4; Dan. 9:45.
As diversas palavras hebraicas traduzidas nas m. Caracterlltlcu de P...... ele ViarlOll Lapres
línguas modernas por «palácio» também podem ser 1. Em Israel. Supõe-se que o palácio-fortaleza de
traduzidas de várias outras maneiras, como «cidade- Saul, em Gibeá, era uma construção bastante
la .., «fortaleza.., «lugar alto.., «casa.., «templo-v.. Isso austera, um edificio de pedra, com o aspecto de um
posto, esses vocábulos não transmitem; necessaria- quartel militar. O palácio de Davi em Hebrom
mente aquilo que entendemos por um ..palácio.., a provavelmente também era um lugar rústico. Mas o
saber, uma augusta e luxuosa residência, com muitos palácio que ele construiu em Jerusalém, que ele
aposentos, ou um lar particular de riqueza incomum. conquistou dos jebuseus e então embelezou, sem
Mas, como é óbvio, essas idéias também podem fazer dúvida, já era um palácio suntuoso. Hirão, de Tiro,
parte daqueles termos porquanto, na verdade, os enviou-lhe cedros, carpinteiros, artesãos e outros
povos antigos tinham palácios no sentido moderno da operários especializados para garantir o resultado (ver
palavra. E o significado bíblico mais comum é alguma 11 Sam. 5:11). O palácio de Salomão caracterizava-se
residência suntuosa de algum rei ou importante figura por considerável grandiosidade, adornado com
pública. muitas pinturas, ouro e prata, uma sala grande que
A arqueologia tem ilustrado amplamente a continha um trono de ouro, decorada com a melhor
existência e o esplendor de alguns desses palácios. E arte fenicia. Esse palácio foi chamado de casa da
assim tem ficado provado que os palácios de Israel floresta do Llbano, porque suas colunas, estruturas
diferiam em bem pouco dos palácios dos povos do teto, etc., foram construidas com cedro provenien-
circunvizinhos. Alguns palácios, na realidade, eram te do Libano (ver I Reis 7:2 S9). Dispunha de uma
fortalezas, como O palácio de Saul, em Gibeá. muralha circundante com três fileiras horizontais de
Podemos pensar que o mesmo era parecido com o pedra, reforçadas por uma fileira de traves de
palácio de Davi, que a arqueologia encontrou em madeira, como proteção contra abalos sismicos. O
Jerusalém (ver 11 Sam. 5:7-9). Salomão também tinha trecho de I Reis 7:9 informa-nos que foram usadas
o seu próprio palácio, construido com a ajuda de pedras valiosas na construção. Onri e Acabe
operários estrangeiros especializados (ver I Reis construiram palácios quase equivalentes. Jeremias
7: 1-12). Esse palácio era chamado de «casa da floresta aludiu a diversos segmentos desse palácio, como «casa
do Libano.., por causa das colunas de cedro que ali de invernos, ..átrio da guarda», etc. (ver Jer. 36:20,22;
havia. Construido em tomo de um pátio central, tinha 37:21; 38:6). Esse complexo, porém, foi destruido por
um espaçoso salão de espera, uma sala do trono Nabucodonosor. Demos outros detalhes a respeito na
(ricamente decorada com ouro), apartamentos reais, primeira seção, acima, que ilustram o que acabamos
um harém e aposentos para servos. Havia uma de dizer.
entrada que dava para o pórtico sul do templo de 2. No Egito. Todos os Faraós do Egito (de trinta
Jerusalém. dinastias) tiveram seus luxuosos palácios. As escava-
Uma outra importante estrutura desse tipo era o ções arqueológicas têm comprovado amplamente a
palácio de Acabe e Jeroboão, na cidade de Samaria. natureza suntuosa daquelas edificações. Elas foram
Esse palácio, juntamente com os palácios de vários retratadas em relevos tumulares e nas mais diversas
governadores persas, em Laquis, e as residências dos obras de arte. O palácio de Meremptá, filho de
16
PALÁCIO - PALAVRA DA VERDADE
Ramsés 11 (cerca de 1230 A.C.). foi desenterrado. PALAL
Embora tal paJAcio tivesse sido destruído em um No hebraico, «Deus julga... Esse era o nome de um
incendio. so6rou o bastante para exibir as suas dos filhos de Uzai. Ele foi contado entre aqueles que
riquezas. Contiaha pinturas afresco; paredes de retornaram do cativeiro babilônico e ajudaram na
tijolos; U*l4e madeira; uma sala do trono no fim de reconstrução das muralhas de Jerusalém (Nee. 3:25).
um ,trio com colunata. Essa sala era sustentada por Sua época girou em tomo de 44S A.C.
seis aiBaatescas colunas de pedra calcária branca,
com cerca de 7.fiO IR de altura. As portas foram
confeccioaadas em bronze. Por igual modo. o palâcio PALANQUIM
de Ameabou,pe 111, em Tabel'. foi escavado. e objetos No hebraico. -.ppkyoa. Esse vocábulo, que s6 se
ali eDCOGtrados terminaram em exibiçlo em vários encontra em Cano 3:9, é de signíficação incerta.
museus. Um outro DOtll'el pa1Acio ~ o de Amenhotepe Parece referir-se a uma espécie de cadeira transportá-
IV (1385 A.C.). Foi coastmido em Aquetaten. em velo A Mishnah (vide) opina que essa palavra indica
Amama. As famosas cartas de T«l el-.Ilmama (vide) um leito nupcial, ou mesmo um coche aberto, em
foram achadas ali. O palicio de Atam era um dos ambos os casos, transportllveis. V árias traduções dão
ediftcios que fazialll.paI"te de um complexo. Uma coche ou leito nupcial.
dupla muralha àr'cuncIava esse palâcio. A rainha
Nefertite (esposa de Atam) tiaha o seu próprio Há especulações a respeito, que chegam a pensar
palkio. E tamb6m havialuIuous n:sidências de altos que esse artigo ilustra a pessoa de Cristo e seus oficios;
oficiais do CO\"ClI'DO. aesse 1DeSIDO complexo. mas isso é exagerar o sentido do texto. Tal objeto foi
construido em cedro do Líbano, e. sem dúvida, era
3. N. Maopot8mi4. Os assfrios e os babilônios altamente ornamentado.
dispunhám de esptendidos palâcios. O pal6cio de
Saqlo 11 (772 A.C.). como o de seu filho,
SeaaqueRbe. fOllUll e&ca"ados, onde os arqueólogos
encoDtranm evidhcias • _luxuosa decoração PALAVRA DA VERDADE
ardstica e de see mobilürio. O pal6cio de Ver João 17:17.
N ~ (16culo VI A.C.), representou outro Qual é o papel da Palavra de Deus, neste trecho
triuafo aI"CI'KaI6Iico. O paI6do de Nm.acodonosor 11 biblico? Exatamente aquilo que já pudemos encontrar
estava adonIado ~ ....esmekados. com no sexto e no oitavo versiculos deste mesmo capitulo,
artisticas liaIIas ,aeom6tricu. Motivos decorativos a saber:
favoritos, aesse pal6do. . . . . ~ touros e os dragões 1. Não se trata de uma referência às Escrituras do
em alto--relevo, sobre tijolos coloridos. Um outro A. T., embora essas Escrituras contenham a «palavra»
extraordiD6rio paI6.cio era o de Mari. que data de aqui mencionada, posto que de forma um tanto
cerca ele 1700 A.C. Trata-se de um tremendo imperfeita ou incompleta.
complexo de c:oastnIç6es. cobrindo nada menos que 2. Por semelhante modo, não se trata de uma
61 mil metros quadr. . . . Ali . . . . apartamentos referência às Escrituras do N. T.. as quais, quando
reais, ·editlcios administradvos e até lugares especiais Cristo proferiu tais palavras, ainda não existiam, e
para os escribas tI'abaJhan=m. Opa1ácio era adornado nem mesmo quando foi completado este quarto
com lDUI1Üs anist:icameIlte trahaIhados. alguns dos evangelho, ainda não havia «cânon.. formal do N.T.,
quais ai6 hoje peI'IIIGaOCeID em condições relativa- apesar de que esse «cânon- já estava em seus
mente boas. Esies ...... &u.stram todas as fases da primeiros estágios, nos evangelhos e em algumas das
vida da 'Poca. com ceaa de WcIa secular e J:'eligiosa. epístolas paulinas.
Tamb6m do pootc:ems esquecei' os pal6cioS dos 3. Pelo contrário, a Palavra de Deus, neste caso, é
monarcas persas. em PenépaIis,quase sempre aquela mensagem divina relativa a Jesus Cristo - a
extrav. . . . . . Os pe'4dosde StId. foram escavados. mensagem messiânica; a mensagem de que Cristo veio
~do exceleotes aempIos da elevada cultura da da parte do Pai, a fim de realizar uma missão
Neenrias seniu ela _ desses palácios, como especifica, que Cristo é o «Logos- eterno, o -Logos..
copeiro real. Ver . ._ D_. 8:2. encarnado, o -Logos» pôs-encarnado (o que é
4. EIraCNtlI. ImeRsos &abiriaios foram -eACODtrados subentendido nas diversas afirmativas de Cristo de
em CDOSSOS. peIe& . . . . . . . . . Nesses labirintos há que voltaria "para o PaÍ»). Trata-se, pois, da
muitos apo61CIItC)L T" b'TMf ·iIustram .a antiga mensagem cristã central. o «evangelho.., no dizer de
cultura mjaaoane, c::onferiBdcHao muitos espécimes da João GiH (in loc.), Trata-se da mensagem que esse
arte aatip. «evangelho» anuncia aos homens - Iesus é o Cristo, o
Filho de Deus, e a fé em Cristo resulta na vida eterna
IV. U-Ra ••• (ver João 20:30,31). Trata-se da mensagem mesma
Os filhos dos J-t8IJ sIo·.~ com palácios, que o Senhor Jesus trouxe aos homens, a qual foi
em Sal. 144:12. O . . . . . . . . é descrito como o profetizada e pintada incompletamente nas páginas
pal6cio de Deu (s.a. 4S:lS). P_a "Vias profetas, os do A.T., concernente à pessoa de Cristo, posterior-
paJ'cies ..................1 _ reais (ftr Am6s mente crrstalizada no N. T. Portanto. trata-se da
l:S).CeI1Io biIlo~_ _ :& cmDO Cristo deixou os mensagem essencial do N. T. referente a Cristo,
seus·~ w.a eHc tmIIlOO de embora isso tenha sido dito antes que os documentos
mis6riu. Isso refere ao sepado capitulo do N.T. houvessem sido vazados em forma escrita.
da . . . . . . . ~ • eacaraaçIo e a
hunri1heçAo que iao."";' .... o Losos. E ai Â8pedo8 da VenIade
temos . . ft6:ao . . _ _ • co-. A. riquezas do 1. ~ a verdade de Deus, que se acha em Cristo. que
céu foram den'amadM .~ a 1Iumaoidade, e os transforma as vidas humanas e opera tão grande
h08lllS ·lNnoH" beaeficia'CJI Nos ilOIIhos e glória.
nu ~ ump:&l6cie pua_locar a riqueza 2. e a verdade que milita contra a incredulidade
~ eatidade . - " , _ ~ de . . ser e de suas dos judeus, que negavam a autoridade do Messias,
~ _ "I:1Ultl-'t 0Blum& ade8a ou embora eles proclamassem todo o tempo terem a
podo, . . fala .-'-'e . . palSedo primitivo e verdade absoluta nos ritos, cerimônias e exteriorida-
selvagem. des do A.T.
16
PALAVRA - PALAVRA DE DEUS
3. Ela milita contra toda a incredulidade humana, N.T., ainda não havia sido completada. É impossivel
João 3:17 e ss . que essa expressão se refira aos documentos
Essa verdade, pois, pode tornar um homem santo, neotestamentários, em todo ou em parte. exceto que
pode santificá-lo, pode separá-lo deste mundo; e essa «palavra de Cristo» posteriormente veio a ser
assim acontece não porque se trata de uma palavra escrita, tornando-se uma coleção concreta, tomando a
meramente escrita e, sim. de uma mensagem viva. forma de nosso atual Novo Testamento. O apóstolo
soprada na alma pela atuação do Espirito Santo, que dos gentios referia-se à sua mensagem, isto é, à
a usa como instrumento, e que através dela instrui aos mensagem concernente ao Senhor Jesus Cristo.
homens, transformando-os segundo a perfeita santi- O pregador que se transforma em um mero
dade de Deus. A Palavra de Deus escrita, em face do político, e prega doutrinas políticas, erra crassamen-
fato de que descreve essa verdade de Cristo, pode te, pois ocupa-se com essas questões. em vez de
servir de instrumento que expõe ante os homens qual anunciar ao Senhor Jesus Cristo. Além disso, ficar
é a verdade de Deus; e por isso mesmo tem papel perenemente pregando «contra alguma' coisa», como
preponderante na transformação da alma do crente. contra o modernismo ou o mundanismo, é ter uma
(Ver o artigo separado sobre Santificação). mensagem unilateral, não sendo tal prédica o
cumprimento da Grande Comissão, que menciona
especificamente tanto o evangelismo como o ensino de
PALAVRA DA VIDA todas as ordens do Senhor Jesus, para serem
1. A alusão não é às Escrituras do A.T., e, menos praticadas por seu povo, e tudo centralizado em torno
ainda ao Novo Testamento, que ainda não recebera a da pessoa de Cristo. Já perdeu o seu chamamento e a
forma de coletânea, pois muitos de seus livros ainda sua visão o pregador que não mais está «centralizado
não haviam sido registrados, quando Paulo escreveu em Jesus Cristo», em sua pregação, porquanto não
essas palavras. mais percebe com clareza qual seja a sua responsabili-
2. Quase todas as expressões do N. T. que incluem o dade.
vocábulo «palavra», são de cunho evangélico. Isto é,
referem-se ao «evangelho», de diferentes maneiras. PALAVRA DE DEUS
(Veja-se isso amplamente ilustrado em Efê. 6:17 no
NTI, sob o titulo ",A Palavra de Deus»), Em Fil. 2:16 1. Essa expressão, algumas vezes. aponta para o
pois, Paulo se refere à mensagem de salvação que ele A.T., mas nunca para o Novo Testamento, porquanto
pregava. a formação do cânon neotestamentário, só teve lugar
3. Fil. 2: 16 pode ser comparado ao trecho de João após estar completo, como um documento escrito.
6:68, que se refere a «palavras de vida eterna », 2. Usualmente, nas páginas do N.T., essa
4. Podemos notar como a palavra do evangelho, expressão indica «a mensagem oral do evangelho» (ver
que traz «vida» é vinculada à metáfora da luz (Fil. I Ped. 1:25). Isso também se patenteia em Rom.
2:15). Assim também, em João 1:4, temos a «vida.. 10:17.
espiritual, que se deriva da vida Ilsíca, através do 3. A palavra de Cristo, também, pode indicar
processo da «iluminação» do Espírito. aquele corpo de doutrinas e de conceitos que
5. Aprendemos que as palavras de Cristo e o circundam a pessoa de Cristo, em seus ensinamentos,
evangelho, produzem vida através da iluminação. em suas instruções, etc., que algumas vezes têm algo a
ver com a moralidade e a conduta de nosso viver
6. Biologicamente, nada pode existir sem luz. Esse diário.
é um fato cientifico. Espiritualmente, nenhuma vida 4. Examinar as seguintes expressões paralelas:
poderia existir sem a i1uminadora palavra da vida.
Esse é um fato espiritual. a. Palavra de promessa, em Rom. 9:9
7. Por essas mesmas razões é que Jesus é,
b. Palavra de fé, em Rom. 10:8
pessoalmente, intitulado «vida .. (ver João 14:6) e «luz» c. Palavra da verdade. em Efé. 1:13
(ver João 1:9). d. Palavra de Cristo, em Col. 3:16
e. Palavra de justiça, em Heb. 5:13
8. A «vida» aqui referida é, naturalmente. a vida f. Palavra de profecia, em 11 Ped. 1:19
eterna. (Ver o artigo sobre Vida Eterna). A vida g. Palavra da vida, em I João 1:1
eterna é a salvação (ver o artigo).
5. A Palavra é vivificada pelo Espírito, tornando-se
9. Se é o evangelho que traz vida aos homens, quão assim uma força impulsionadora para o bem (ver
importante é a sua propagação! (Ver Rom. 10:14). Heb. 4: 12). A maioria dos usos neotestamentários é
de natureza evangelistica, tendo alguma referência ao
evangelho pregado pelos apóstolos, à nova fé
PALAVRA DE CRISTO religiosa, a qual, posteriormente, assumiu forma
Rom. 10: 17: Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela escrita no N. T. Algo como esse uso, provavelmente, é
palavra de Cristo. o que está em pauta no presente texto. Esse vocábulo
O sentido dessa citação de Paulo (Isa, 53), pois, é aponta para a espiritualidade, para sua criação e
que está em foco a mensagem concernente a Cristo, o desenvolvimento.
evangelho cristão. embora isso não signifique que o S mister esclarecer aqui que os «dois gumes» da
A. T. tenha sido completamente eliminado, porque é Espada do Espirito não são a «lei» e o «evangelho»,
claro que Paulo. com freqüência, citou esses porquanto tal interpretação é totalmente contrária à
documentos do A.T., em apoio às suas afirmativas; e mensagem do N. T. Não obstante, a lei condena, e isso
isso significa que, mui provavelmente, ele incluía, tem seu devido valor, para levar os homens a se
nessa expressão, a idéia da tradição messiânica e entregarem a Cristo.
profética do A.T. como parte integrante da «palavra A idéia de que a Palavra de Deus é uma espada foi
de Cristo». Mais especificamente ainda, Paulo aludia tomada por empréstimo da interpretação rabínica.
à mensagem do evangelho. que ele mesmo e outros Por exemplo, o comentário dos rabinos (a Midrash),
cristãos primitivos pregavam, e não às Escrituras do diz com respeito ao trecho de Sal. 45:3: «Cinge a
A. T., as quais também, e com toda a razão, poderiam espada no teu flanco, herói... » que: «Isso se refere a
ser chamadas de «palavra de Deus». Visto que, Moisés, que recebeu a Tora, que se assemelha a uma
quando o apóstolo escreveu, a coletânea sagrada do espada». (Rabino Judâ, 150 D.C.). E acerca da
17
PALAVRA DO SENHOR
«espada de dois gumes», que figura em Sal. 149:6, o poder). Dessa forma, não somente as palavras, mas
comentário rabínico diz: «Essa é a Tora, escrita e também as ações que elas representam, devem ser
oral». E a versão da Septuaginta traduz o trecho de levadas em consideração. Talvez essa idéia transpare-
Isa. 11:4, que diz, «... ferirá a terra com a vara de sua ça claramente em um texto bíblico como Salmos a5:20.
boca... », como «... com a espada de sua boca... » (Isso que diz: «Não é de paz que eles falam; pelo contrário,
pode ser confrontado ainda com o trecho de 11 Tes. tramam enganos contra os pacificas da terra». A
2:8). importância desse conceito da vinculação entre um
pensamento e seu poder, ou ação, ficará mais clara à
PALAVRA DO SENHOR medida que avançarmos na discussão sobre a Palavra
de Deus. tanto no Antigo quanto no Novo
Ver o artigo separado sobre Verbo. Testamentos.
Por detrás do conceito de palavra, dentro da B. No GIelo. Os termos gregos l6gos e rêma foram
expressão «Palavra do Senhor», destaca-se um
importante vocábulo hebraico e dois vocábulos ambos usados pelos tradutores da Septuaginta,
quando eles encontravam a palavra hebraica dabar,
gregos, a sabe r, respectivamente, dabar, lógos e No entanto, no idioma grego. no decorrer dos séculos,
rêma, que teremos de considerar um por um. A mbas esses vocábulos passaram por um desenvolvimento
as palavras gregas são usadas como tradução de
dabar, na Septuaginta; e. além disso, essas palavras inteiramente independente e diferente um do outro.
gregas são usadas como sinônimos virtuais nas Assim, 16gos passou por todo um leque de
páginas do Novo Testamento. significações, indo desde "memória.., passando por
«cômputo», «cálculo», "prestação de contas.., «consi-
Esboço: deração.., «razão», «narrativa», «fala.., e daí até
I. Os Vocábulos «palavra... Por sua vez. desde o principio, rêma teve o
A. No Hebraico significado de «declaração». com todas as suas
B. No Grego possíveis ramificações. Esse vocábulo indicava a
11. A Palavra no Antigo Testamento palavra como algo distinto de atos, ainda que.
A. A Palavra e a Revelação paradoxalmente, preservasse em seu bojo um elemen-
B. A Palavra e os Primeiros Profetas to ativo. até que os gramáticos chegaram a adotâ- lo
C. A Palavra e a Profecia como o termo que significa verbo (a palavra ativa), em
D. A Palavra e a Lei Mosaica distinção ao substantivo. No entanto, apesar de suas
origens e histórias tão diversas, essas duas palavras
E. A Palavra nos Salmos foram usadas, mais ou menos, como sinônimos, tanto
III. A Palavra Dentro da Filosofia Grega na Septuaginta quanto no Novo Testamento. E a
A. A Introdução proporção ou freqüência de uso também é interessan-
B. Heráclito te. Rêma é usada, na Septuaginta, quase três vezes
C. Os Filósofos Sofistas mais que lógos. Em proporções quase idênticas em
D. Platão Juízes e Rute. Dai por diante, o termo 16gos começa a
E. Arist6teles predominar. duas vezes mais usado que rêma entre
Ê
Mas Moisés é que pode ser devidamente considerado que certa mio se estendia para mim, e nela se achava
o protótipo de todos os profetas que se sucederam. o rolo de um livro ... Ainda me disse: Filho do homem,
«Vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus, do come o que achares; come este rolo, vai e fala à casa
meio da sarça, o chamou, e disse: Moisés, Moisésl Ele de Israel. Então abri a boca, e ele me deu a comer o
respondeu: - Eis-me aquíb (Sxo. :1:4). rolo. E me disse: Filho do homem, dá de comer ao teu
Samuel, considerado o último dos juizes e o ventre, e enche as tuas entranhas deste rolo que eu te
19
PALAVRA DO SENHOR
dou. Eu o comi, e na boca me era doce como o mel- E o livro de Deuteronômio ainda expõe com mais
(Eze, 2:9-3:3). Ora, tudo isso garantia que a palavra clareza esse ponto de vista. Esse livro, com todo o seu
de um profeta chamado por Deus fosse certeira, de tal conteúdo, começa com estas palavras: «São estas as
modo que, quando ela se cumpria, o povo tomasse palavras que Moisés falou a todo o Israel.;.» (Deu.
conhecimento de que um profeta estivera entre eles. 1:1). Essas palavras ele havia recebido da parte de
«Eles, quer ouçam quer deixem de ouvir, porque são Deus e as transmitiu ao povo de Israel. h dentro desse
casa rebelde, hão de saber que esteve no meio deles livro de Deuteronômio que Moisés se chama de
um profeta- (Eze. 2:5). «profeta», ao dizer: «O Senhor teu Deus te suscitará
Visto que a palavra não era do profeta, mas um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante
- do Senhor, por isso mesmo ela era dotada de um a mim: a ele ouvirás» (18:15). Isso indica que as
poder irresistivel, o mesmo poder com que Deus criou palavras que ele transmitia ao povo, fazia-o como um
o Universo, meramente por haver falado: «disse profeta, e essas palavras consistiam em uma revelação
Deus... ,. Por isso mesmo é que Deus diz que aquilo profética. A palavra estava ali mesmo, sem necessida-
que ele proclamava, teria cumprimento, mesmo de de alguém rebuscá-la no mar ou em terra (ver Deu.
porque ele via todas as coisas, do principio ao fim. 30:11 88). Em outras palavras, o que Moisés dizia era
«Quem anunciou isto desde o principio, para que o um autêntica palavra profética, entregue e recebida.
possamos saber, antecipadamente...,. (Isa. 41:26). Na Quando a lei mosaica é corretamente compreendida,
maioria das vezes, por conseguinte, na intermediação então, não a aceitamos como mero código de
dos profetas, a profecia assumia a forma de regulamentos externos. Pelo contrário, ela faz parte da
predição-de livramento, de bênção, de juizo, etc., Palavra de Deus, recebida e entregue como qualquer
porquanto o Senhor é o Deus do tempo. Essa palavra outra revelação divina. Se, tecnicamente, a lei
profética, pois, confronta o homem com uma pertence aos sacerdotes e a predição aos profetas, isso
advertência solene, com uma promessa segura ou não forma uma antitese final. Afinal, o próprio
com um mandamento incondicional, meramente por Jeremias, em cujo livro (18: 18) se encontram aquelas
ser a palavra dita por Deus, que assim age com base palavras, «... porquanto não há de faltar a lei ao
em sua retidão, veracidade e graça. Em face disso, sacerdote, nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao
ninguém pode se mostrar desatento para com uma profeta... ,., tanto era profeta quanto era sacerdotel A
palavra dita por Deus e ficar isento de culpa. Essa é a lei é Palavra de Deus, tanto quanto as profecias
conclusão clarissima do Novo Testamento: «... como biblicasl
escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande E. A Palal'l'a DOS Salmos. Embora o saltério nada
salvação? a qual, tendo sido anunciada inicialmente nos apresente de novidade, no tocante à nossa
pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a compreensão acerca da Palavra de Deus, contudo,
ouviram; dando Deus testemunho juntamente com enfoca certas coisas. A poesia é uma das formas
eles, por sinais, prodigios e vários milagres, e por mediante as quais Deus achou por bem nos revelar a
distribuições do Espirito Santo, segundo a sua sua vontade. A relação entre os Salmos e a criação
vontades (Heb. 1:3,4). «Se eu não viera, nem lhes (Sal. 33) e entre os Salmos e a lei mosaica(Sal. 119) é
houvesse falado, pecado não teriam; mas agora não um ponto especialmente enfatizado. No Salmo 119,
têm desculpa do seu pecado» (João 15:22). E há «palavra» é um termo significativamente empregado
muitas declarações semelhantes a essas, no Antigo e como alternativa para «lei», «mandamentcs»,
no Novo Testamentos! «estatutos», «preceitos», etc. - Tal como se vê
D. A PII1a'fl'a e a Lei MouIca. Alguns eruditos têm no livro de Deuteronômio, os Salmos salientam a
feito a distinção entre a profecia e a lei. Para tanto qualidade profética intrinseca da lei. Ao assim fazer,
eles gostam de basear-se em Jeremias 18:18, onde se talvez os Salmos nos forneçam a melhor descrição
lê: «... porquanto não há de faltar a lei ao sacerdote, isolada da «palavra», na Biblia inteira-uma descri-
nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao profeta...,. ção que pode ser aplicada não meramente à lei
Mas, à luz do ensino biblico, porém, isso é mais mosaica, como também às Sagradas Escrituras, em
fantasioso do que real. Os profetas declaram a sua inteireza. Assim, a palavra de Deus prevalece no
vontade e a palavra de Deus à sua própria época; mas céu (Sal. 119:89). Ela também é luz que nos alumia o
fazem isso dentro do contexto e à base da vontade e da caminho (vs. 105); proporciona vida (vs. 160);
palavra de Deus para o seu povo de todos os séculos, podemos confiar nela totalmente (vs. 42); podemos
isto é, a revelação da lei. Assim, se é verdade que a fazer nossa esperança depender dela (vs. 74); requer
palavra profética vem ao profeta e ao povo com de nós a obediência (vs. 57); deve ser entesourada no
grande potência e força de convicção, isso não é coração (vs. 11); é doce para o paladar espiritual dos
menos verdade no caso da lei. Afinal de contas, justos (vs. 103); e produz tanto deleite como quando
Moisés foi o primeiro e o maior de todos os profetas. A alguém encontra um rico despojo (vs. 162). A lingua
lei, dada por Deus a Moisés, e, através deste, a todo o dos justos haverá de falar de acordo com a Palavra de
povo de Israel, é a palavra de Deus, tanto quanto a Deus (vs. 172). Acima de tudo. a Palavra de Deus é o
profecia. Na verdade, Deus utiliza-se de vârios alvo não somente da fé e da esperança, mas também
métodos para tomar conhecida a sua vontade: lei, do amor de todos os remidos. E justamente porque a
história, poesia, profecia, evangelho-sem que al- lei de Deus é a Palavra de Deus que o salmista,
guém tenha o direito de dizer que este ou aquele expressando-se de modo totalmente contrârio ao que
método é mais condizente com a revelação divina do faria o legalismo, pôde clamar: «Quanto amo a tua
que qualquer outro método igualmente usado por lei! B a minha meditação todo o dia- (Sal. 119:97)1
Deus. Por semelhante modo, tanto as duas tábuas da m. A PlI1al'l'a Dentro da PUOIOfIa G~a
lei (os dez mandamentos) quanto os preceitos e A. Introduçlo. B preciso reconhecer que, paralela-
estatutos do resto do Pentateuco têm igual valor como mente ao desenvolvimento da doutrina biblica da
revelação divina: «Veio, pois, Moisés e referiu ao povo Palavra de Deus, no Antigo Testamento, dentro da
todas as palavras do Senhor e todos os estatutos; filosofia grega também estava havendo um desenvolvi-
então todo o povo respondeu a uma voz, e disse: Tudo mento do 16g08, posto que de natureza diversa. Isso
o que falou o Senhor, faremos» (Exo. 24:3). Nossa sucedeu assim porque Cristo Jesus é «...a verdadeira
atitude deve ser idêntica à dos israelitas, nessa luz que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem»
oportunidade. (João 1:9). Além disso, visto que o Novo Testamento
20
PALAVRA DO SENHOR
foi escrito tendo como pano de fundo o helenismo, é particular do ser ~umano. Todavia, no ~stoi~~mo
necessário que examinemos toda essa questão, posterior, o 16gos foi sendo crescentemente identífiea-
embora de forma breve. Que significação a idéia da do com a natureza. Essa fusão da ordem racional e
«palavra» foi adquirindo no mundo helenista? O dos poderes vitais criava um entendimento panteista.
desenvolvimento do pensamento grego, quanto a isso, G. O BeIenIsJmt
foi-se desdobrando de acordo com duas linhas 1. Os Mistérios. O vocâbulo 16gos encontrou um uso
mestras. O 16gos é: 1. o poder noético de aquilatar as religioso especial, dentro das religiões misteriosas
coisas, ou seja, o conteúdo racional sobre as orientais. O santo lôgos era considerado alguma
coisas; 2. uma realidade metafisica que se vai revelação ou doutrina sagrada. Por meio do 16gos,
expandindo gradualmente, até chegar ao conceito de pois, haveria a ligação com a deidade. Em algu~as
um ser cosmológico, um representante da divindade. instâncias, o 16gos era o equivalente aos pr6pnos
B. Heráclito. A principal contribuição de Heráclito mistérios, e um indivíduo que se iniciasse era
foi que ele via, no 16gos, a interconexão entre homem chamado de 16gos de Deus. O 16gos também indicava
e homem, entre homem e Deus, e, finalmente, entre as orações como um caminho até Deus. O 16gos
toda a existência e Deus. O 16gos tanto é a palavra também ensinaria o individuo tanto a orar quanto a
como a mensagem transmitida pela palavra, o seu adorar corretamente.
conteúdo. No 16gos estão embutidas tanto a fala 2. O Hermeticismo, Uma significativa caracteristi-
quanto a ação correspondente. O 16gos envolve a ca, quanto a esse ponto, é que o deus HerD?-~
eterna ordem por detrás das coisas, como uma lei personificava o 16gos. Estava em foco uma persomfi-
cósmica e eterna, e também a base da psique cação genuina e não uma encarnação. O principio por
humana. Em última análise, não está em foco alguma detrás de todas as coisas, portanto, era identificado
palavra proveniente de fora do homem e, sim, a com uma divindade popular. Hermes foi escolhido
palavra imanente no homem. No entanto, estranha- com base no fato de que ele era tido como o
mente, para Heráclito, o olho, e não a audição, seria o mensageiro dos deuses, o mediador, e tomava
instrumento principal de captação do IÓg03, por parte conhecida dos homens a vontade dos deuses. Também
do homem. havia um elemento racional, porquanto um conheci-
mento secreto seria desvendado por Hermes. Hermes,
C. O. fIl'-of.. 80..... Entre os pensadores à raiz dessa idéia, personificava o principio mais
sofistas, a palaYU era concebida como algo mais amplo da vida. Todas essas idéias, inevitavelmente,
intimamente associado à mente do homem. O lógos, aproximavam-se do panteísmo. A relação entre o
para eles, era afaculdade racional que está por detrás lógos e Deus era tema de muitas especulações. Deus
da fala e do pensamento. Como tal, seria indispensâ- seria o pai do 16gos; e o 16gos procedena de Dc:u~.
vel para a vida politica e cultural de todos os povos. Uma outra linha de pensamento, entretanto, dizia
Além disso, também desempenharia um papel que o lógos é a imagem de Deus, ao passo que o
importantissimo na pedagogia. No entanto, eles homem seria a imagem dol6gos. Porém, a despeito de
afastaram-se da idéia do 16gos como um principio algumas similaridades verba!s, essas idéias estã~ bem
dotado de proporções cósmicas, reduzindo-o a apenas pouco relacionadas à doutrina neotestamentária de
uma faculdade humana. Jesus Cristo como o Verbo ou Palavra de Deus.
D. Piado. Embora Platão seguisse as diretrizes do B. FlIo. Para esse pensador judeu (vide), a palavra
pensamento dos fil6s0fos sofistas sobre o lôgos, não se 16gos era muito importante. Ele a usou de muitas
mostrava defensor de um tão grande individualismo maneiras diferentes, de tal modo que é quase
para a «palavra» quanto eles. Para ele, o 16gos seria impossivel falar de uma doutrina do 16gos, nos
muito mais do que a faculdade racional individuali- escritos de Filo. A grande dificuldade que ele
zada. Antes, haveria um 16gos comum, alicerçado, em enfrentava, como sucedia a todos os demais
última análise, sobre a concordância que há entre as pensadores não-cristãos, era manter harmônícas entre
palavras e as coisas. O 16gos tanto derivar-se-ia das si as suas convicções judaicas e as idéias da filosofia
coisas quanto as interpretaria. Não seria meramente grega. Assim, os eruditos modernos estão divididos,
uma opinião, um ponto de vista particular. Visto que sem saber se, para Filo, o 16gos era um conceito
combinaria o pensamento, a palavra e a coisa assim predominantemente grego ou predominantemente
concebida e expressa, seria mais amplo que a judaico. Até onde vai o 16gos divino, parece que as
faculdade individual da razão, sendo uma realidade raizes desse conceito são judaicas, mas que o
maior do que essa faculdade. desenvolvimento do mesmo foi tremendamente
E. ArhtóteI•. Arist6teles manifestou entender a influenciado pelo pensamento grego.
dupla natureza do 16gos: seria palavra e compreensão, O 16gos de Deus, ou 16gos divino, não seria O
por um lado e, por outro lado, o resultado da palavra próprio Deus. Seria apenas uma das obras de Deus.
e da compreensão. O individuo proferiria a palavra; Porém, também seria a imagem de Deus e o agente da
mas, em certo sentido, suas ações também seriam criação, o que já importa em uma contradição, pois
controladas pela palavra. E, visto que o 16gos uma criatura não pode ser o criador. Filo identificava
conduziria à ação, a «palavra» poderia ser considera- o lógos com o cosmos noético. Mas serviria de
da como a origem das virtudes peculiares ao ser intermediário entre o Deus transcendental e o
humano. homem. No 16gos estariam embutidos os 16goi, ou
F. O E8tolcUmo. Os fil6sofos estóicos voltaram à seja, as idéias individuais. O próprio 16gos, entretan-
idéia do 16gos como um princípio côsmíco, No 16gos, to, era mais do que um mero conceito. Filo
pois, expressar-se-ia a ordem racional do mundo, a personificava o 16gos. Ele dizia que o 16gos é filho de
razão cósmica. Assim sendo, o 16gos poderia ser Deus. A herança judaica de Filo, entretanto,
tomado diretamente como Deus, ou Zeus. O 16gos resguardou-o tanto de deificar o 16gos quanto de
seria o germe (no grego, 16gos spermatikós), que se conceber um imanentismo total de Deus, o que já
desdobraria na forma de formas orgânicas ou seria equivalente ao panteísmo. De fato, o 16gos, para
inorgânicas. E também seria o 16gos orthôs, a lei, que ele, parecia um elo conveniente entre o Deus criador e
transmitiria conhecimento aos homens. Todas as o mundo que ele criou.
coisas procederiam do 16g03, e retomariam ao 16g03. 1. CoDellDlo. Visto que o Novo Testamento
O 16g03 geral tomaria forma consciente no 16g03 apre.senta Jesus Cristo como o Verbo encarnado de
21
PALAVRA DO SENHOR
Deus, sentimo-nos fortemente tentados a buscar Testamento, o termo 16gos pode também revestir-se
paralelos desse conceito biblico no mundo grego ou de sentidos particulares, derivados de sua significaçlo
helenista, como se as idéias gregas fossem as fontes de básica. Assim sendo, dar um 16gos é prestar contas,
onde Joio extraiu o seu entendimento acerca do 16gos ou a alguém, ou, mais comumente, nas páginas da
ou Verbo de Deus. Fazer tal coisa, entretanto, é Biblia, a Deus (Mat. 12:36; Rom. 14:12). Lógos é
ignorar as diferenças decisivas entre o pensamento vocábulo que também pode significar «base- ou
grego e o pensamento biblico e neotestamentârio, «razão», conforme se vê, por exemplo, em Atos 10:29.
Poderiamos sumariar essas diferenças quanto a Tema ou assunto, parecem ser os sentidos da palavra
quatro pontos principais: 1. a compreensão grega lógos, em Atos 8:21. Do ponto de vista espiritual, o
sobre o 16gos é racional e intelectual; a compreensão conceito de prestação de contas é o mais importante
biblica é teológica; 2. o pensamento grego chegava a dentro dessa categoria.
dividir o lógos único em muitos lógoij o Novo B. UIO &pedal
Testamento, por sua parte, reconhece somente um 1. O Antigo Testamento. Em um grupo inteiro de
Lógos, o Mediador entre Deus e o homem, Jesus versiculos do Novo Testamento, o verbo légo, «dizer»,
Cristo; 3. para os gregos, o 16gos deveria ser ou os substantivos 16gos/rêma, «palavra», referem-se
concebido inteiramente fora da consideração de ou à palavra de revelação do Antigo Testamento ou ao
tempo; mas Jesus Cristo, o Verbo eterno, assumiu pr6prio Antigo Testamento, na qualidade de Palavra
singularidade hist6rica quando se encarnou, ou seja, escrita de Deus. Um interessante ponto a observar,
veio viver dentro do tempo; 4. para os gregos, o 16gos nessas referências bíblicas, é que, algumas vezes, a
tenderia para ser identificado com o mundo, de tal «palavra- é descrita como a de algum autor humano e
maneira que o mundo seria o filho de Deus; mas o outras vezes, como a do Cristo preexistente e outras
Lógos da Biblia é o Filho unigênito do Pai, um ser vezes, como a de Deus. Além disso, também seu uso é
divino-humano distinto da criação, conhecido entre os indefinido, «foi ditos, ou expressão similar. E mesmo
homens como Jesus de Nazarê. Á luz dessas quatro quando a ênfase recai sobre o orador ou escritor
distinções fundamentais, aqueles paralelos 6bvios, humano, não resta dúvida nenhuma de que o mesmo
dos quais falamos acima, são reduzidos à ínsignífícân- é um porta-voz de Deus, de tal modo que embora o
cia material. homem esteja falando, Deus é o originador real das
IV. A Palama DO Novo Te8tameato palavras ditas, no Antigo Testamento. A «palavra»,
A. UIO GenJ. sem importar se alguma declaração isolada, se um
1. Neutro. Embora, no Novo Testamento, lógos/ livro inteiro, é palavra tanto do homem quanto de
rêma seja um importante vocábulo teolôgico, também Deus. O conceito que o Novo Testamento faz do
pode ser usado em um sentido geral. Em algumas Antigo Testamento, como também o conceito que o
instâncias, o sentido geral pode ter uma significação Novo Testamento faz de si mesmo e de sua
teol6gica toda pr6pria; mas, em outros casos, essa mensagem, é a noção biblica fundamental da Palavra
significação reveste-se de um caráter inteiramente do Senhor. Se a expressão «palavra do Senhor» (no
neutro. Assim sendo, esse termo, no singular ou no grego,I6gos toü /curtou) nunca é empregada no Novo
plural, pode denotar aquilo que já ocorreu, no Testamento, nessa conexão, para isso parece haver
passado (Mar. 7:29). O ato de falar também pode ser uma razão especial. Pois, no Novo Testamento, /cúrios
distinguido do ato de escrever uma carta (11 Cor. é um titulo do prôprio Jesus Cristo, pelo que
10:10). Mas, é digno de nota que a palavra escrita expressões como «palavra do Senhor» ou «palavras do
também transmite a palavra (vs. 11). Além disso, o Senhor- facilmente poderiam passar por expressões
vocábulo «palavra- pode indicar uma noticia ou um dominicais. E mesmo quando estio sendo feitas
rumor" ou mesmo a narrativa contida em um livro citações do Antigo Testamento, essas expressões não
(Atos 1:1). E nem mesmo é necessário que haja um são usadas como uma f6rmula introdut6ria, embora a
discurso inteligivel; pois as palavras podem ser palavra grega /cúrios, com um verbo, possa ser usada
proferidas em lingua extática, tanto quanto com o dentro das pr6prias passagens citadas, conforme se
entendimento (I Cor. 14:19). Qualquer coisa que se vê, por exemplo, em Romanos 12: 19. A maneira geral
diga pode ser lógos ou rêma, como o Novo Testamento se refere ao Antigo
2. A Palavra e a Realidade. Um interessante uso do Testamento, como a Palavra de Deus, deixa claro,
vocábulo lógos é aquele que indica uma palavra vazia, além de qualquer dúvida possivel que, tanto a
em distinção à realidade ou a uma ação. Isso é algo mensagem do Antigo Testamento como também os
teologicamente impossivel, quando a referência é à versiculos individuais são reputados como divinamen-
palavra divina. Porém, a fala humana pode consistir te dados e divinamente autoritários. O quanto isso é
apenas em fala, destituida de qualquer substância ou plenamente endossado pode ser visto com base no fato
realidade. A linguagem jactanciosa da sabedoria de que, em alguns poucos versiculos do Novo
humana cabe dentro dessa categoria (ver 1 Corintios Testamento é dificil dizer se há ali uma referência à
1-4). Por igual modo, a profissão de amor, sem as palavra do Antigo Testamento ou à mensagem do
demonstrações correspondentes (ver 1 Joio 3: 18; cf. Novo Testamento (ef, Heb. 4:12 e Efé. 6:17).
Tia. 2:14 ss). 2. A Palavra a Individues, No Novo Testamento, tal
3. No Mau Sentido. As palavras podem ser não como no Antigo Testamento, encontram-se exemplos
somente vazias e sem poder, mas também maldosas. de pessoas a quem foi dada alguma palavra ou
O trecho de Efésios 4:29 alude a uma linguagem mensagem da parte de Deus. Assim sendo, a rêma de
«torpe"; I Tessalonicenses 2:5 menciona palavras de Deus veio a Simeão(ver Luc. 2:29). Outro tanto é dito
«bajulação»: 11 Tim6teo 2:17 compara as palavras a respeito de Joio Batista (ver Luc. 3:2), Entretanto é
ditas pelos heréticos a uma excrescência maligna; 11 significativo que, embora os ap6stolos tivessem sido
Pedro 2:3 fala sobre «palavras fictícías»; e Tiago 3:2 especificamente encarregados do ministério de prega-
reconhece solenemente que quase todas as pessoas ção, essa f6rmula comum do Antigo Testamento não
ofendem em suas palavras. Paulo, em I Corintios 1-4 aparece mais depois do evangelho de Joio. Conforme
nada de bom tem a dizer sobre as palavras ditadas diz o pr6prio Novo Testamento, a lei e. os pr?fetas
pela sabedoria humana, porquanto nelas não há nem vigoraram até Joio (Mat. 11:13). Se, dali por diante,
verdade e nem poder. não lemos mais que a palavra de Deus veio a alguém,
4. Sentidos Especificos, Nas páginas do Novo isso não significa, naturalmente, que a palavra de
22
PALAVRA no SENHOR
Deus foi retirada, e nem que toda a maneira da qualquer fórmula única de citação; mas, a despeito de
revelação divina tenha sido drasticamente alterada. A toda a variedade, manifesta-se a mais plena confiança
razão é outra; é que agora a Palavra de Deus veio, em de que as afirmações citadas são autênticas, tendo
toda a sua plenitude, na pessoa de Jesus Cristo. Falar, sido fielmente transmitidas (ver Luc, 1:1-4; Atos
desde entã.o, a uma palavra de Deus que tivesse vindo, 1:21,22). De fato, em algumas instâncias. até o
por exemplo, para Paulo ou para Pedro, seria falar de aramaico original foi preservado (como em Mar. 5:41
uma maneira inteiramente contrâria à mensagem do e 7:34), embora nos evangelhos escritos, originalmen-
Novo Testamento. Agora, já foi proferida a palavra te, em grego, dirigidos, principalmente. a leitores de
definitiva. Disso dá testemunho o trecho de Hebreus fala grega. Por conseguinte, quando alguma declara-
1; 1,.2: «Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e ção do Senhor Jesus aparece em qualquer situação,
de muitas maneiras. aos pais, pelos profetas, nestes ela tem toda a força e a autoridade de um clamor
últimos dias falou pelo Filho, a quem constituiu profético, como «Assim diz o Senhor».
herdeiro de todas as cousas, pelo qual também fez o A autoridade das declarações do Senhor Jesus
universo». Todos os demais são comissionados para também foi sentida por seus ouvintes originais. Se
pregarem a palavra de Deus, e quaisquer orientações alguns se sentiram ofendidos, e outros julgaram-no
especiais que precisam receber, lhes são dadas por louco, chegando até a tentar impedi-lo disto ou
meio de uma visão, de um anjo, do Espirito Santo, ou, daquilo, a razão dessas atitudes é que ficaram
então, da parte do próprio Senhor Jesus. perturbados por sua palavra, que lhes parecia
e mister salientar que a fórmula profética do ameaçadora (cf. Mat. 15:12; João 10:20). Mas, todos
Antigo Testamento, Que se faz ausente em todo o os ouvintes de Jesus parecem ter reconhecido, com
Novo Testamento, depois do evangelho de João, espanto, que ele falava com toda autoridade, e não
também aplica-se ao Senhor Jesus. Assim, embora como os escribas (Mat. 7:28). As palavras de Deus
ninguém tenha proferido a Palavra com tanta produziam sobre as pessoas o mesmo impacto que a
autoridade, nunca lemos no Novo Testamento que a sua presença e pessoa. Por isso mesmo, Jesus disse
palavra veio a Ele, como, por exemplo, veio a Joio. que se envergonhar de suas palavras era envergonhar-
Uma voz manifestou-se por ocasião de seu batismo, e se dele, e vice-versa (ver Mar. 8:38). As ~avras
também por ocasião da transfiguração, mas essa voz proferidas por Jesus têm um poder din .co e
dirigiu-se ao povo, e não ao pr6prio Senhor Jesus. autoritário. Tal como a palavra do Antigo Testamen-
Essa voz era uma confirmação e não uma comissão. to, elas são eficazes. Por meio da palavra de Jesus, os
Visto que, sem a menor dúvida, Jesus é o Profeta enfermos eram curados, os pecadores arrependidos
supremo, maior até mesmo do que Moisés, sô eram perdoados, os mortos eram ressuscitados. E,
podemos chegar à conclusão de que essa f6rmula podemos acrescentar, eram e são. Pois, «passará o
veterotestamentária foi evitada, no caso dele, de modo céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão
proposital. A relação entre Jesus e Deus Pai, e (Mat. 24:35).
também entre Jesus e a Palavra de Deus transcende
tão completamente o que poderia ser dito sobre os A palavra de Deu raIIza aquilo que ela diz (cf.
profetas que, falar sobre alguma palavra dada a Jesus Gên. 1:1.). Da mesma forma que a palavra do
seria totalmente impr6prio. Conforme ver-se-á mais Antigo Testamento (ver Isa. 40:8), as palavras ditas
adiante, o âmago da mensagem do Novo Testamento por Jesus são eternas e potentes. O ap6stolo João, à
é que a Palavra de Deus veio com Jesus, e não a ele ou sua maneira, frisa a mesma verdade. No evangelho de
. édi d I S id íd d D João, as palavras de Jesus são palavras de vida eterna
por interm o e e. ua 1 entí a e com eus e com (ver Joio 6:68). Elas são -espírito e vida» (João 6:63).
a revelação de Deus situa todo o conceito da Palavra
de Deus debaixo de uma nova luz, inteiramente Têm a mesma autoridade que as palavras já
inédita e sem igual. «".0 Verbo era Deus... e o Verbo registradas nas Escrituras Sagradas (Joio 2:22 e
se-fez carne, e habitou entre nôs, cheio de graça e de 5:47). Se os homens tiverem de ser salvos, terão de
verdade, e vimos a sua glória, glória como do aceitar as palavras de Jesus (João 12:48), guardando-
unigênito do Pai» (João 1:1,14). as (João 8:51) e permanecendo nelas (João 8:31).
Além disso, essas palavras não eram apenas do
3. A Palavra de Jesus. Embora não se possa ler, no homem Jesus, porquanto ele estava escudado no
Novo Testamento, que a palavra de Deus veio a Jesus, mandamento de Deus Pai, no tocante ao que ele
conforme é dito sobre profetas e outros homens de deveria dizer e falar. «... e a palavra que estais ouvindo
Deus, o Novo Testamento, com freqüência, refere-se à não é minha, mas do Pai que me enviou» (João 14:24).
prédica ou às declarações de Jesus, chamando-as de Por isso mesmo, rejeitar a Jesus e às suas palavras
«palavra de Deus». Assim, Jesus aparece como sujeita o homem à condenação. E será a palavra
pregador da palavra (ver Mar. 2:2). Jesus mencionou proferida por Jesus, se tiver sido rejeitada, que julgará
aqueles que dão ouvidos à palavra de Deus e a põe em aos incrédulos, no julgamento final. «Quem me rejeita
prática (Luc, 8:21). Na parábola do semeador, a e não recebe as minhas palavras, tem quem o julgue; a
semente é a palavra (Mat. 13:18-23). Com muito própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no
maior freqüência, o Novo Testamento registrou aquilo último dia» (João 12:48).
quelesus disse, como ~ de,.. (cf. Mar.
10:22). Nessa conexão, são usados os vocábulos
4. A Palavra sob a Forma do Evangelho. Os
vocábulos gregos 16gos e rima não somente são
gregos 16gos erêma. E, quando chegamos ao livro de aplicados às palavras proferidas pelo Senhor Jesus.
Atos e às epistolas, ocorrem fórmulas como «a palavra Esses vocábulos também podem denotar a mensagem
(rêma) do Senhor» (Atos 11:16), «palavra (16gos) do inteira do evangelho, isto é, tudo quanto Jesus «disse-
Senhor- (I Tes. 4:15), e «palavras do Senhor Jesus» e «fez». Nesse sentido, encontramos especialmente
e
(Atos 20:35). digno de atenção que quando Paulo três expressões, a saber: «01660& de Deus», «o!ógôs do
apelou para certa declaração, proveniente do Senhor, Senhor» e «o 16gos». As expressões mais comuns
em I Cor. 7:10, esse ap6stolo considerou que essa dentre essas três, são a primeira e a terceira. Mas, em
declaração se revestia de autoridade conclusiva, e isso várias passagens do livro de Atos (como CII) Atos 6:4),
em relação com sua própria opinião apostôlica, como o 16gos não é alguma declaração de Jesus. mas antes,
alguém que também tinha o Espirito de Cristo. é a mensagem a respeito dele. E, se o Antigo
A Igreja primitiva, como é óbvio, sentia-se em Testamento também pode ser mencionado nessa
liberdade para citar essas afirmações, sem aderir a conexão, isso deve-se ao fato de que a palavra e as
23
PALESTINA
tem exercido sobre a civilização. Em números do nível do mar. E o mar Morto, propriamente dito, é
redondos, a Palestina tem 150 km de norte a sul, e uns bastante profundo; seu fundo fica a 396 m abaixo de
70 km de largura, em média. Conforme é fácil de sua superfície, tornando esse o lugar mais baixo à face
calcular, a Palestina é bem menor que o estado do planeta. Na verdade, tudo isso faz parte da falha
brasileiro de São Paulo. Seu comprimento, de norte a geológica que percorre daí até o mar Vermelho e entra
sul, tornou-se proverbial dentro da frase «de Dã a na parte oriental da África.
Berseba.., lugares esses que assinalavam seus extremos 4. A Palestina Oriental. Temos aí um extenso platô,
norte e sul, respectivamente. Foi durante os governos a maior parte do qual mantém-se a uma altitude de
de Davi e Salomão que Israel atingiu suas maiores mais de 900 m. Essa área incluía localidades como
proporções territoriais. Então as suas fronteiras Basã, Gileade e Moabe. Está dividida por Quatro rios:
estendiam-se até às margens do Eufrates e até às o Iarmuque, o Jaboque, o Amom e o Zerede. Os dois
fronteiras com o Egito, embora isso incluísse povos primeiros são tributários do Jordão. Mas o Amom e o
tributários. Na época, a população não ultrapassaria Zerede deságuam diretamente no mar Morto. Ao sul
a casa dos dois milhões de habitantes, incluindo do mar Morto fica a Arabâ, rica em cobre, que se
somente os israelitas; e talvez chegasse aos três espraia até Eziom-Geber, no extremo norte do mar
milhões, se fossem contados os povos tributários. Vermelho.
A Palestina é dividida em duas partes iguais, de E1evaçiel de Alguns Picos e Locals Notáveis:
norte a sul, por uma linha de colinas que, na verdade,
consiste na continuação dos montes do Líbano, da Monte Hermom, 3050 m; monte Catarina, no
Síria-Líbano. No seu extremo norte, essa cadeia Sinai, 2460 m; Jebel Mousa, no Sinai, 2145 m; Jebel
montanhosa tem alguns poucos picos que se et-Tyh, no Sinai, 1312 m; Jebel er-Ramah, 915 m;
aproximam dos mil metros de altitude. Ao descer Hebrom, 824 m; monte das Oliveiras, 774
para o sul, já no distrito da Galiléia, essa serra é m; Safete, 762 m; monte Gerizim, 732 m; Damasco,
intercalada por várias planícies. Entre essas está a 667 m; monte Tabor, 533 m; passo de Zefate, 438 m;
famosa planície de Esdrelom, ou Jezreel. Também há deserto de et-Tyh, 427 m; Nazaré, 2SO m; planície de
colinas, mais baixas, mais ao sul, já dentro dos Esdrelom, 140 m; lago de Tiberíades, 26 m abaixo do
distritos da Judéia e da Iduméia. Em Jerusalém, a nível do mar; a Arabâ, em Cades, 28 m abaixo do
altitude é de cerca de 760 m, pois a cidade encontra-se nível do mar; o mar Morto, 375 m abaixo do nível do
em um platô, no alto das colinas da região. Também mar; o fundo do mar Morto, 771 m abaixo do nível do
há colinas na área de Samaria, embora mais baixas, mar.
com vales espaçosos. Da extremidade norte das m. Esboço de Informes mstórlcos
colinas de Samaria, segue um espigão na direção Para relatar tudo, teríamos de começar pela
noroeste, até à planície costeira de Sarom, com seu pré- história e entrar no relato bíblico inteiro.
ponto culminante no monte Carmelo, cujo sopé é Portanto, damos aqui apenas um breve sumário, em
banhado pelas águas do mar Mediterrâneo. A parte forma de esboço.
oriental da Palestina consiste em um longo platô, que
vai desde o monte Hermom, ao norte, até o monte Por razões geográficas. a terra da Palestina servia
Hor, em Edom, ao sul. como caminho obrigatório para os povos que
passavam do ocidente para o sul; e as forças militares,
Quatro Areu Distinta em expansão, naturalmente escolhiam essa rota.
1. A Planlcie Maritima, Essa planície vai desde o Assim sendo, grande parte de sua história é uma
rio Leontes, ao norte, a oito quilômetros ao norte de interminável crônica de invasões e conquistas. No
Tiro, até o deserto para além de Gaza, ao sul. O entanto, foi em meio a essa situação sempre perigosa
monte Carmelo, entretanto, interrompe esse vale. A que o propósito divino levou a Palestina a desempe-
partir do Carmelo para o sul, até Jope, a região é nhar um papel tão crucial na história. Por muitas e
conhecida como planície de Sarom; e então como muitas vezes, os habitantes da Palestina, além do
Sefelá, desde Jope até o ribeiro de Gaza, na direção fluxo de fronteiras causado por conflitos intensos, têm
sul. Mais ao sul ainda, fica a área conhecida como sido sujeitados às imposições de potências estrangei-
planície da Filístia. ras, algumas distantes dos estreitos limites da região.
2. Cadeia Central. Conforme foi dito acima, as Como característica geral, podemos afirmar que o
montanhas do Libano internam-se Palestina adentro; principio da cidade-estado conferiu alguma estabili-
e nos distritos da Galiléia, da Samaria e da Judéia há dade à área.
extensões mais baixas dessa cadeia. A Alta Galiléia 1. Antes da Idade do Bronze. Não se sabe muita
dispõe de certo número de colinas, algumas das quais coisa sobre esses tempos, apesar das investigações
entre 600 e 900 m de altura, ou mesmo pouco mais, e arqueológicas. Contudo, desde os tempos neolíticos
outras chegando até os 1200 m de altitude. Abaixo houve ali povoados representando um período cru e de
damos as altitudes dos principais montes e colinas da baixa cultura. O décimo capitulo do livro de Gênesis
Palestina. A Baixa Galiléia forma um triângulo informa-nos que Canaã descendia de Cão; e esse é o
malfeito, limitado pelo mar da Galiléia e pelo rio primeiro informe bíblico acerca da Palestina (ou terra
Jordão, até Bete-Seã, a leste, e pela planície de de Canaã). Canaã era filho de Sidom, o que nos
Esdreíom, a sudeste. Colinas mais baixas são mostra que havia aí sangue fenício. A Tabela das
encontradas ali. O monte Tabor chega a 562 m, e o Nações mostra-nos como esses povos espalharam-se.
monte Gilboa a 502 m de altitude. A planície de 2. Idade do Bronze Antiga (começando em 3000
Esdrelom intercepta a região central. Ao sul dessa A.C.). Esse período foi marcado por sucessivas
área há muitos wadis (vide). O monte Gerizim chega invasões de povos semíticos, que ocuparam a região
aos 869 m de altura, onde ficava a cidade de Samaria. da Palestina. Em cerca de 1900 A.C. (mas outros
De Bete! a Hebrom, na Judéia, a serra continua e pensam em data bem posterior), Abraão representa-
chega à altura de 670 m. Betel está a uma altitude ria uma migração semítica para essa área. Tutmés
média de 792 m; Belém, a 778 m; Hebrom, a 927 m. 111, do Egito (cerca de 1480, ou um pouco mais
3. O Vale do Rio Jordão. Na verdade, esse vale é tarde), veio a dominar a área. Esse domínio foi
uma profunda e longa garganta. Desde a altitude de interrompido pelas invasões dos nômades habiru da
518 m, no monte Hermom, vai descendo rapidamente Mesopotâmia, como também pelos poderes dominan-
na direção do mar Morto, que já fica a 375 m abaixo tes sucessivos dos amorreus, vindos do Libano, e dos
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PALESTINA
hititas, da Anatólia. A XIX Dinastia egipcia terras do império macedônico, após a sua morte. Foi
(1304-1181 A.C.), porém, reconquistou a Palestina. ele quem expulsou os persas da Palestina, a qual,
Os filisteus, um dos «povos do mar» (do mar Egeu, depois, passou a ser governada pelos ptolomeus, do
sem dúvida), tomaram conta das costas marítimas da Egito (até 198 A.C.), e, então, pelos selêucidas, da
Palestina. Os arameus estabeleceram-se na Palestina, Mesopotâmia e do sul da Anatólia.
vindos do deserto da Síria, que lhe fica ao norte. E o 9. A Revolta dos Macabew. Em 168 A.C., Judas
povo de Israel, ao libertar-se da servidão egípcia, fez Macabeu (ver o artigo intitulado Haamoneanos) e seus
uma grande excursão na Palestina, tornando-se então irmãos revoltaram-se contra o poder dos selêucidas.
o povo predominante. Os estudiosos datam .a Antioco IV Epifinio havia tentado helenizar o
conquista israelita entre 1500 e 1225 A.C., o m&1S judaismo, e isso criou mais ~tação do q,!e. alguém
tardar. seria capaz de controlar. A liberdade religiosa dos
3. O Período dos Juizes. Esse periodo tem sido judeus foi obtida, após muito derramamento de
datado entre 1400 A.C. até 1150 A.C., o mais tardar. sangue, em 164 A.C. Mas e5$8 independência foi
Se essa data posterior for aceita, isso jA nos leva à mantida apenas pelo espaço de setenta e nove anos.
Idade do Ferro. Na época, os ganhos territoriais de 10. A Era Romana. As coisas desintegraram-se
Israel foram alternadamente desafiados e confirma- perigosamente sob os 20vemantes macabeus, na
dos, enquanto os israelitas procuravam dominar os Judéia. E: que os macabeus haviam perdido a visio
povos por eles conquistados, mas que se rebelavam. A dos propósitos originais da revolução. E os romanos
fé dos hebreus consolidou-se em tomo da adoração a intervieram para impor a sua ordem. Pompeu ocupou
Yahweh, embora com periodos de apostasia. Emergiu a Palestina, em 63 A.C., e esta tomou-se um
dai uma notável fé monoteísta, que estava destinada a protetorado romano.
exercer efeitos duradouros sobre a espiritualidade do 11. Herodes, o Grande. Ele era um rei vassalo
mundo. nativo, responsável diante do senado romano pela sua
4. Os Reis de Israel. O período dos juizes cedeu administração. Foi em sua época que nasceu o Senhor
lugar aos reis, a começar por Saul. A monarquia Jesus. E foi por causa de suas ameaças que a santa
adquiriu maior impeto com Davi e atingiu seu ponto familia precisou descer ao Egito. Ele reinou sobre a
culminante de glória com Salomão. A partir de então Judéia de 37 A.C. a 4 D.C.
as datas podem ser fixadas com exatidão. A era áurea 12. Os Procuradores Romanos. Dificuldades ad-
de Salomão fica entre 961 e 922 A.C. Nesse tempo, ministrativas logo tomaram necessário Roma gover-
Israel atingiu o máximo de sua extensão territorial, e nar a Palestina mediante governadores ou procurado-
Salomão desfrutou de um periodo pacifico e próspero, res. Isso significava que, doravante, Roma estaria
que ele usou para impressionar os países em derredor. governando a região diretamente. Os judeus, entre-
No entanto, após a sua morte, a unidade da nação tanto, ressentiam-se diante de qualquer forma de
viu-se quebrada, e o norte e o sul tomaram-se paises governo estrangeiro, sobretudo diante de um governo
distintos: Israel e Judâ. Os artigos sobre Israel e Judá direto. E a revolta, que se ocultava nos corações de
expõem detalhes completos sobre essa questão e sobre todos os judeus, acabou vinda à tona. Os zelotes
• história de ambas essas nações, até o final das (vide), desempenharam um papel liderante nisso.
mesmas. O tempo dos reis cobre as Idades do Ferro I, 13. A Destruição do Ano 70 D.C. Finalmente, foi
II e Hl, Depois disso, temos o periodo helenístico. mister que os romanos fizessem intervenção militar, a
S. O Cativeiro Asslrio, A nação do norte, Israel fim de controlar a rebelião, Sob as ordens de Tito (que
(cuja capital era Samaria), chegou ao seu fim quando mais tarde veio a tomar-se imperador de Roma), os
os assírios, sob as ordens de Sargão 11, destruiram exércitos romanos invadiram Jerusalém, executaram
praticamente tudo ali, levando os sobreviventes para a a milhares de judeus e arrasaram até o nivel do chão o
Assiria. Isso ocorreu em cerca de 721 A.C. Esse foi o magnificente templo de Herodes.
fim da história do reino do norte, Israel. A moderna 14. Destruição e Deportação. Os rebeldes judeus
nação de Israel compõe-se, essencialmente de Judâ, conseguiram recuperar-se, e a rebelião ferveu de
embora com vestigios de todas as outras tribos. novo. Dessa vez, o imperador reinante, Adriano,
Senaqueribe, sucessor de Sargão, assaltou e reduziu precisou pôr fim definitivo à questão. Isso ocorreu em
Judâ; mas aos babilônios coube terminar a tarefa. Ver 132 D.C. Então ele começou a esvaziar a Palestina de
o artigo Cativeiro Assirio, judeus, dando inicio à Grande Dispersão, que se
6. O Cativeiro Babilônico. Nabucodonosor, rei da estendeu de 135 a 1920 D.C., quase dezoito séculos! A
Babilônia, destruiu tudo quanto pôde em Judâ, e Jerusalém foi dado um nome pagão, Aelia Capitolina,
deportou os sobreviventes para a Babilônia. Isso teve e tomou-se uma colônia romana. Aos judeus foi
lugar em cerca de 587 A.C. Ver o artigo intitulado proibido de se aproximarem da cidade, exceto em
Cativeiro Babilônico. suas peregrinações. Os centros judaicos de erudição e
7. O Retomo de Judá a Jerusalém. Um pequeno cultura foram transferidos para lugares como a
remanescente voltou a Jerusalém, começando cerca de Galiléia, a Babilônia, a colônia norte-africana de
cinqüenta anos depois da deportação para a Cairuan e a Peninsula Ibérica.
Babilônia. Isso sucedeu quando a Pérsia controlava a 15. Influência Bizantina-Cristã. Quando o império
região, pois os babilênios tinham sido derrotados romano metamorfoseou-se no império bizantino, e
definitivamente pelos persas. Ciro, o Grande, depois que Constantinopla tomou-se a sua nova
conquistara e anexara ao seu império tanto a capital (cristã), em 330 D.C., automaticamente a
Babilônia quanto a Palestina, ao seu jA gigantesco Palestina transformou-se em uma importante provin-
império, em cerca de 539 A.C. Nos dias de Esdras e cia cristã-bizantina, uma espécie de posto avançado
Neemias, a cidade de Jerusalém foi reconstruida e a da Igreja Católica Oriental. Os patriarcados cristãos
adoração a Yahweh foi renovada. Um novo templo que então dominavam o cristianismo organizado eram
(mas bem mais modesto que o de Salomão) veio à Roma, Alexandria, Constantinopla, Antioquia e
existência, e o judaísmo conseguiu reequilibrar-se, Jerusalém. Somente Roma ficava na parte ocidental
após ter sido quase extinto. do império; os outros quatro centros ficavam na
8. Alexandre. o Grande. e os Monarcas Selêucidas. porção desse império.
Alexandre conquistou grande parte do mundo então 16. Assaltos Persas. Em 614 D.C., Ierusalém foi
conhecido e deixou que seus generais governassem as saqueada pelos persas, e quase todos os habitantes da
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PALESTINA
cidade foram deportados. Mas o imperador Heráclio estranha em tudo isso foi que os exércitos árabes
encabeçou uma cruzada contra os persas e restaurou mostraram ser aliados denodados e eficazes dos
na Palestina o dominío cristão, em 628 D.C. britânicos, nessas campanhas militares. Naturalmen-
17. Assaltos Islâmicos. A Palestina não conseguia te, eles pensavam que a Palestina ficaria nas mãos
descansar da guerra, e as invasões árabes (de mistura deles. Os ingleses passaram a exercer o controle sobre
com várias restaurações, mediante as diversas a Palestina mediante um mandato da Liga das
cruzadas; vide) se processaram durante um longo Nações. E os conflitos árabe-judeus começaram
período, O califa Omar ('Umar) I conseguiu tomar terminada a Primeira Grande Guerra. A divisão das
Jerusalém, em 638 D.C., e a Palestina e a Siria terras palestinas entre árabes e judeus não deixou
viram-se assim separadas por longos séculos do ninguém feliz, provocando a contenda.
governo do império romano-bizantino. Foi edificada 22. Imigrações Judaicas. Os judeus começaram a
primeiramente a mesquita de el-Aksa, em Jerusalém; retomar a sua terra, em cumprimento de antigas
e, então, no século VII, no local onde estivera o profecias biblicas. Em 1935 (um ano extraordinário),
famoso templo de Jerusalém, foi construldà a mais de sessenta mil judeus voltaram à Terra
mesquita de Ornar. Desde então, Jerusalém tem sido Prometida. E os árabes começaram a agitar-se, pois
uma cidade sagrada para os judeus, para os cristãos e
para os árabes. Conforme alguém já observou: viam o que estava sucedendo. Os judeus continuavam
«Jemsalém é sagrada demais para seu próprio beml- chegando de várias partes do mundo. Entre 1939 e
1944, cem mil judeus chegaram à Palestina.
18. O Dominio Muçulmano. Esse dominio foi
representado por diversas dinastias, entre os séculos 23. Segunda Guerra Mundial. Foi durante esse
VII e XVI de nossa era. Várias cruzadas cristãs foram periodo que o povo de Israel sofreu sua prova mais
efetuadas entre os séculos XI e XIII D.C., na tentativa excruciante, desde os dias do cativeiro babilônico,
de recapturar Jerusalém. E o poder trocou de mãos especialmente na Europa, devido às perseguições
por várias vezes, entre cristãos e islamitas. nazistas, que ceifaram cerca de seis milhões de
19. Os Turcos Otomanos. Pelos fins do século XVI, judeua..na mais séria tentativa moderna de extermínio
de uma raçal Terminada a Segunda Guerra Mundial,
os turcos otomanos haviam conquistado todas as porém, passado o pesadelo, grandes massas de judeus
terras possuídas pelos árabes, no Oriente Próximo e retomaram à Palestina. Os conflitos continuaram,
Médio, incluindo a Palestina, que passaram a fazer entretanto, em tomo da problemática questão de
parte do enorme império otomano. Naturalmente, os como dividir as terras entre judeus e árabes
turcos otomanos acabaram convertendo-se ao isla- palestinos. A influência norte-americana tem sido
mismo, o que significa que surgiu um novo estado critica; mas a questão parece estar longe de ser
islâmico, composto por outra etnia. E quando os solucionada.
turcos otomanos capturaram o Egito, em 1517, eles 24 A b 7: 7: .oi d O
também obtiveram o controle sobre Jerusalém, bem . Estados ra e e Judeu maepen entes.
como sobre as santas cidades islâmicas de Meca e mandato britânico chegou ao fim, e, a 14 de maio de
Medina. Durante quatro séculos, a Palestina perma- 1948, as Nações Unidas aceitaram a declaração de
independência do estado de Israel. Um grande
neceu sendo uma província de Importância apenas acontecimento havia tido lugar, mais do que muitos
relativa do império otomano. Napoleão tentou políticos seculares puderam perceber. Mas estou certo
alterar essa situação, em 1799, mas não obteve êxitol de que o presidente norte-americano, Harry Truman,
20. Dos Fins do Século XIX à Primeira Grande um bom evangélico batista, sabia exatamente o que
Guerra. Um movimento nacionalista árabe começou a estava sucedendo. Israel era novamente, uma nação
tomar forma nas províncias árabes do impêrio oficial, independente, e no seu próprio território da
otomano, com extensões pela Síria-Líbano. Uma Palestina!
força opositora foi o Movimento Sionista Mundial, A dJ.penIo, iniciada em 13S D.C., havia sido
encabeçado por judeus, cuja finalidade era par revertida. Os estudiosos da Bíblia, ao redor do
novamente Israel na Palestina. mundo, saltaram de alegria e admiração. Lembro-me
21. Durante a Primeira Grande Guerra. Árabes e de como o pastor de minha igreja batista, bem como
judeus colaboraram com os aliados, com o propósito toda a irmandade, vibraram diante da notícia. E,
de liberar a Palestina dos turcos. Em uma das durante algum tempo, a Igreja cristã foi varrida em
peuquíssimas vezes que assim aconteceu na história, todas as direções por um zelo profético. Os clamores
árabes e judeus estiveram combatendo lado a lado. dos céticos, que diziam que os judeus haviam
Terminada a guerra, as forças aliadas, Inglaterra e produzido um autocumprimento das profecias,
França, foram as potências encarregadas de decidir o soavam ridículos. Os judeus praticamente não haviam
que fazer com a Palestina e as áreas adjacentes. exercido controle sobre os poderes em entrechoque,
Muitas promessas conflitantes foram feitas. Na que tornaram tudo aquilo possível, exceto que eles se
porção costeira da Síria, a França sentiu-se na agitavam por detrás dos bastidores. E foi o exército
liberdade de estabelecer um centro administrativo britânico quem armou o palco para essa vitória I
que, finalmente, haveria de determinar seu estado. À Entretanto, as atividades terroristas dos árabes
Grã-Bretanha cabia exercer autoridade similar em palestinos nunca cessaram. Forças das Nações Unidas
outras âreas. Em novembro de 1917, um mês antes de foram enviadas ao local dos conflitos, tentando
Jerusalém capitular diante do Gen. Edmund Allenby, controlar a situação, mas parece que coisa alguma se
foi publicada a Declaração de Balfour, em Londres. tem mostrado eficaz.
Essa declaração prometia, da parte dos ingleses, «um 25. A Guerra dos Seis Dias. Tal como nos dias da
lar nacional para o povo judeu.., na Palestina. Essa antiguidade, várias nações circunvizinhas aliaram-se
declaração incluía uma vaga previsão de que os contra Israel. Mas, a 5 de junho de 1967, Israel
direitos de outros povos interessados seriam salva- atacou seus adversários: e em apenas seis dias foi
guardados. A vitória sobre os turcos foi alcançada no capaz de esmagar as forças combinadas do Egito, da
outono de 1917, e foi assinado um armistício, a 30 de Jordânia e da Siria. Isso deu a Israel a oportunidade
outubro de 1918. Houve ainda mais combates, mas, de tomar conta da parte antiga de Jerusalém, com a
finalmente, o mês de setembro de 1918 viu o fim do área do templo, juntamente com outros. territórios,
poder turco sobre a Palestina, ficando os ingleses aumentando substancialmente os territórios ocupados
encarregados de pôr o lugar em ordem. A parte por Israel na Palestina. Aqueles dias são inesquecíveis
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PALESTINA
para este co-autor e tradutor, pois poucas semanas um minimo de vegetação. Há, contudo, arbustos
antes recebera um poderoso derramamento do anãos, alho, junipeiro e alguma vegetação desértica
Espirito Santo, depois de ter passado um ano e meio típica, com muitos tipos de flores selvagens.
vendendo literatura evangélica entre judeus da Quanto àfauna, há animais de porte médio, como
cidade do Rio de Janeiro, Brasil! o gato do mato, o gato selvagem, a hiena listrada, o
26. Uma Previsão Profética. Finalmente, Israel lobo, o mangusto, o chacal e algumas espécies de
haverá de triunfar em sua luta. Porém, dias raposas. Os animais de porte pequeno incluem o
negríssimos estão à sua espera. A Terceira Guerra morcego, muitas espécies de pássaros, a pomba, o
Mundial verá a Rússia e seus satélites invadirem corvo, a coruja, a avestruz, a cegonha, a garça, o
Israel, somente para serem derrotados pelas forças ganso selvagem, a perdiz, a codorna e muitas outras.
aliadas do Ocidente. QUando a sobrevivência de Israel Cerca de cem espécies de aves habitam na Palestina
estiver muito ameaçada, Jesus será visto em forma corno residentes ou passam por ali, em suas
corpórea entre as forças de Israel, e a maré virará ao arribações. Atualmente é raro o aparecimento de
contrário. A intervenção divina terá lugar, e Israel espécies como o leopardo, o urso sírio e o crocodilo.
proclamar-se-á uma nação cristã. Se eu entendo Os peixes ocorrem em grande variedade, nos rios e
corretamente a profecia biblica, uma outra guerra no lago da Galiléia. Há cobras, quase todas elas
mundial (a quarta), terá de ferir-se. A China será o não-venenosas; abundantes também são os cágados, o
poder opositor, e os Estados Unidos da América e a camaleão, o lagarto, os escorpiões, etc.
União Soviética novamente se aliarão. Nessa quarta V. A Ocupação Humana
guerra o mundo será reduzido a cinzas, e então a Esta enciclopédia tem artigos sobre todos os nomes
Fênix- Israel levantará a cabeça entre as nações. locativos da Bíblia, Há cerca de seiscentos e vinte e
Seguir-se-á o milênio. Então Jerusalém tornar-se-á a dois desses locais, somente na parte ocidental do
capital religiosa e politica do mundo. Uma nova e Jordão, o que nos dá uma idéia do enorme número de
grande força religiosa emergirá no mundo, e um novo lugares mencionados nas Escrituras. Além dos nomes
cristianismo produzirá, segundo creio, uma nova locativos mencionados na Biblia, há aqueles que têm
revelação, com uma nova coletânea de livros sido fornecidos pela arqueologia, que incluem as listas
sagrados, um novo Novo Testamento; e, então, os de Tutmés lII, Setos I, Ramsés 11 e Sesonque I. A
homens poderio dizer novamente: ..Vi, pessoalmente, primeira enciclopédia cristã (a de Eusébio), chamada
as grandiosas obras de Deus". Ver o artigo separado Onomasticon, como também aquela de Jerônimo, são
intitulado, - Profecia: Tradição da e a Nossa valiosas fontes informativas sobre localidades. A
Epoca, arqueologia tem feito uma grande contribuição
IV. cOma, Flora e FaUDa quanto a essa questão, O Dr, Edward Robison
A terra de Israel, embora tão minúscula, é bastante identificou cento e setenta e sete lugares (em cerca de
diversificada, com as montanhas, vales e desertos. E o 1838); e o Fundo de Exploração da Palestina localizou
resultado disso é que o clima também é muito quatrocentos e trinta e quatro lugares (em cerca de
variável. O monte Hermom, com seus 3OSO m de 1865). E Conder ajuntou a isso mais cento e quarenta
altitude, fica coberto de neve no cimo. Dali o terreno e sete nomes.
desce sob a forma de urna garganta até 393 m abaixo Alguma forma de vida urbana já existia na
do nivel do mar. Mas há também um quentissimo Palestina desde nada menos de cerca de 8000 A.C.,
deserto. Na região montanhosa, as temperaturas são conforme a arqueologia tem sido capaz de demonstrar
modificadas, e, de outubro a abril, ventos ocidentais até agora. O vale do Jordão vem sendo habitado desde
carregam chuvas torrenciais. Porém, ventos que a pré-história remota. Cerca de setenta lugares dali
sopram do deserto trazem um calor tórrido (ver Jô datam de antes de SOOO A.C. A planicie costeira, ao
1:19; Jer. 18:17). A grosso modo, podemos falar em sul do Carmelo, tem contado com povoações desde
duas estações a cada ano: o inverno, que é chuvoso e tempos pré-históricos. Porém, um pouco mais para o
úmido (de novembro a abril); e o verão, que é quente e norte, no vale de Saram e na Alta Galiléia, antes havia
sem chuvas (de maio a outubro). densas florestas, que limitavam bastante a ocupação
A Palestina jaz à margem de um dos grandes humana. Entretanto, na Baixa Galiléia e na Samaria
desertos do mundo, o qual se faz sentir por meio de as evidências dão conta de uma ocupação humana
ventos secos e poeirentos. O deserto vai descendo na generalizada. A parte que fica ao sul de Jerusalém não
direção do mar, e então há uma área úmida com cerca era uma área favorável, devido a condições climáticas.
de cem quilômetros de largura. O vale do Jordão, com Na Transjordânia, a arqueologia tem desenterrado
suas baixas altitudes, toma-se quase insuportável- grandes fortalezas, como as de Petra, Bozra e Tofé.
mente quente durante os meses de verão; mas, Cidades importantes desenvolveram-se ao longo das
durante o inverno, é delicioso, bastante parecido com rotas comerciais. Entre elas podemos citar Berseba,
o sul do estado da Califórnia, nos Estados Unidos da Hebrom, Jerusalém, Betel, Siquém, Samaria, Megi-
América, ou com outros lugares de clima semitropi- do, Bete-Seã e Hazor,
cal. A porção leste da garganta do Jordão praticamen- VI. Suprtmento de Água e Agrkultara
te desconhece chuva. Assim, o clima da Palestina é O Nilo faz o Egito ser o que é. Sem esse rio, aquele
mais variegado do que qualquer outra área do mundo território seria desértico, um ermo por onde somente
de dimensões similares. os nômades passariam. A água é fonte de vida.
Flora e Fauna. Há três regiões florais distintas na Conforme já vimos, na Palestina há áreas onde as
Palestina: 1. oeste (âfea do Mediterrâneo), um lugar chuvas são abundantes durante os meses de inverno
dotado de árvores, arbustos de folhagem perene, (ver ponto IV, primeiro parágrafo). Mas, no verão, as
muitas flores e prados. Amendoeiras, oliveiras, chuvas rareiam. E isso exigiu a criação de um sistema
figueiras, amoreiras e videiras medram nessa faixa. 2. de cisternas e de irrigação. Por isso mesmo, umafonte
O vale do Jordão é subtropical, com muitas espécies de água sempre foi de capital importância na
de árvores, palmeiras, sícõmoros, figueiras, carva- Palestina. A palavra hebraica 'ain, «fonte", aparece
lhos, nozes, peras, álamos, salgueiros, acácias, em combinação com setenta nomes locativos na
oliveiras bravas, mostarda, etc. Há muitas e Palestina. Bir, ..poço", é outra palavra hebraica que
variegadas espécies de flores. 3. O deserto (no sul). O aparece em combinação com cerca de sessenta nomes
Neguebe e a área de Berseba têm poucas árvores e locativos. O Jordão é o único verdadeiro rio da
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PALESTINA
Palestina; mas seus modestos tributários também são do mesmo fica a planície de Aser, que se estende por
uma importante fonte de água potável. Há muitos quarenta quílômetros até à antiga Escada de Tiro.
ribeiros alimentados pelas águas derretidas das neves; Nesse local, as colina; da Galiléia chegam até bem
esses, naturalmente, produzem água por algum perto das costas marítimas. Para suleste fica o vale de
tempo, mas logo secam quando o clima muda, e então Jezreel e a planície de Esdrelom. Amplia-Se por cerca
no lugar dos mesmos nada mais resta senão wadis. Os de quarenta e oito quiômetros, para o interior, tendo
trechos de I Reis 17:7; re 24:19; Joel1:20 e Sal. 126:4 apenas dezenove quilômetros de largura, em seu
referem-se a essa situação. A invenção da argamassa trecho mais amplo. Una estrada importante passava
permitiu a instalação de cisternas. Oferecemos um por ali, ligando o Egito a Damasco, na Siria. Várias
artigo separado a respeito, que ilustra a importância cidades importantes achavam-se ao longo dessa rota,
das cisternas nos países de clima seco. Em cerca de como Megído, Jezreel e Bete-Seã (ver Juí. 5: 7:1; I
1300 A.C., já se usavam largamente as cisternas. As Sam. 31:12). Ao sul d.. monte Carmelo fica a planicie
pessoas que vivem em áreas desérticas ou nas de Sarom. Cinco notnveis cidades filistéias existiam
proximidades sabem a suprema importância da «água ali: Ecrorn, Asdode, Asquelom, Gate e Gaza. Mais
armazenada». Naturalmente, hoje em dia usam-se para leste ficava a Sefelâ, uma espécie de zona
grandes reservatórios. Mas o método humilde de tampão entre Israel e (IS filisteus. Nos tempos antigos,
armazenar água, na antiga nação de Israel, era o uso as colinas da região eram densamente arborizadas,
de cisternas. E esse foi um importante fator na rápida principalmente com sicêmoros (ver I Reis 10:27; 11
colonização das terras altas da Judéia. Apesar das c-e, 1:15 e 9:27).
cisternas praticamente em nada contribuiram para a A RealIo MontaDh'i." Centnl. Essa região cobre
irrigação, certamente facilitou a criação de gado, pelo cerca de trezentos e vinte quilômetros, desde o norte
que também grande parte das riquezas da Palestina da Galiléia até o Sínai. Muitas formações montanho-
girava em tomo de animais domesticados. Além das sas juntam-se para fornar uma espécie de baixa serra
cisternas, havia reservatórios primitivos, feitos con- montanhosa. Temos a. o coração geográfico de Israel.
forme as indicações dadas em Cano 7:4. A necessidade A região montanhosa eleva-se a um pouco mais que
de água chegou mesmo a ser uma lição moral, pois 900 m de altitude, em seu ponto mais elevado, em
existe tal coisa como a água espiritual, bem como as Hebrom. A oeste, o declive das colinas, na direção do
necessidades espirituais da alma humana, que podem Mediterrâneo, é suave, A leste, a descida na direção
ressecar-se devido à sede espiritual (ver Deu. 8:7-10; do vale do Jordão é mais abrupta. As terras dessa área
11:10-17; Jer. 2:13; 14:22). Assim, viver perto de não são muito férteis, e dependem de fontes e poços,
águas vivas (ou correntes) constituía uma grande para irrigação; mas grande parte da região é
vantagem. E ter acesso às águas vivas espirituais é desértica. As colina 5 em tomo da Judéia (ver
aquilo de que precisa a alma sedenta (ver João 4:7 ss), SaI.12S:2) formam uma massa compacta, o que
A agricultura depende de água de modo absoluto. facilitava a defesa n.ilitar da região. Ao norte de
Isso posto, em qualquer região onde inexistem bons Jerusalém ficam as colinas do território de Efraim,
sistemas de reservatórios de água, um bom regime bastião de defesa do .relno do norte, Israel. Trata-se
pluvial (ou, pelo menos, neves que se derretam) é de uma espécie de planalto dissecado, com cumes
essencial à vida das plantas, dos animais e dos seres isolados, como os mor .tes Gerizim e Ebal. Termina ao
humanos. A população rural da Palestina central norte no monte Giíboa, onde acaba o coração
consistia em pequenos proprietários de terras. A geográfico da Palestina. As colinas dessa área são
cevada era mais importante do que o trigo, na bastante modestas. Ali ficavam localizadas cidades
Palestina, porque podia ser cultivada com pouca como Gibeâ, Salêm, Siquêm e Sicar. Ao norte da
chuva, o que já não sucede no caso do trigo. Além planície de Esdrelom espraia-se a Galiléia, dividida
desse produto, muito importante era o cultivo da naturalmente em Baixa Galiléia (ao sul), e Alta
videira e da oliveira. A videira medrava principalmen- Galiléia (ao norte). Ali as colinas elevam-se a nada
te na área do Carmelo, enquanto que a oliveira era menos de 900 m de altitude, abrigando certo número
plantada principalmente na Galiléia e no território de de bacias. Essa ârea é excelente para as lides
Efraim. A seca, porém, trazia o endividamento e a agrícolas. O monte Carmelo eleva-se ligeiramente
servidão, com seu labor servil e forçado (ver I Sam. mais de 600 m, mas está situado em uma região
8:16; 22:7; 25:2). A vida pastoril era uma atividade circunvizinha de baixa altitude, já perto do mar. Por
proeminente na Transiordânia e no Neguebe. Os isso mesmo, forma uma elevação impressionante,
poços artificiais, e alguns poucos oásis permitiam apesar de não estar em grande altura. A serra do
uma agricultura muito limitada no deserto e em certas Carmelo tem apenas cerca de oito quilômetros de
áreas desérticas. largura, embora chegue mesmo a interromper a
planície costeira, dividindo-a em planície da Filistia e
Vll. Reglies e Dlvlsies planicie de Sarom, separadas das terras costeiras
1. Realiea estreitas da Fenicia. E a serra do Carmelo também
Até mesmo um pais pequeno, como é o caso da forma uma barreira entre a planicie de Sarom e a
Palestina, se tiver uma natureza variegada (como é o planície de Esdrelom, ficando assim de través da
caso ali) pode ser dividido em regiões e sub-regiões, histórica rota comercial entre o Egito e a Mesopotâ-
pelo que aquilo que aqui dizemos está sujeito a mia. Ver o artigo geral intitulado Estradas.
revisões e objeções. Não obstante, na Palestina há A Garganta do Rio Jordão, Essa vale, que é uma
algumas regiões naturais óbvias, que podemos falha geológica natural, estende-se por cerca de cem
mencionar. A seção X.l deste artigo apresenta um quilômetros, quase c ortando a Palestina ao meio. Ao
mapa ilustrativo dessas regiões. Falando em termos norte temos os lagos de Hulé e da Galiléia, com
bem genéricos, temos na Palestina as seguintes colinas laterais, notavelmente o monte Hermom (ver
regiões naturais: a. a planície costeira; b, a região Deu. 3:9), em cuja área o rio Jordão tem suas
montanhosa central; C. a garganta do rio Jordão; d. o cabeceiras. As águas desse rio cortaram rochas
platê da Transjordânia; e. o deserto. basálticas que em tempos imemoriais bloqueavam a
A Planlcie Costeira. Essa planície estende-se por grande depressão que começa dai por diante. Uma
cerca de cento e noventa quilômetros, desde as garganta foi formada no caminho para o mar da
fronteiras do Líbano até Gaz. O monte Carmelo Galiléia, que fica a 1:~3 m abaixo do nivel do mar. Não
interrompe esse tipo de paisagem, no norte. Ao norte muito abaixo, em seu curso, o rio Iarmuque aumenta
30
PALESTINA
as águas do Jordão. Abaixo disso, o vale alarga-se, à esse deserto sul que causou essa associação de idéias.
medida que o rio desce para o mar Morto. Entre o O povo de Israel nunca conseguiu manter um bom
mar da Galiléia e o mar Morto, ficam a planície de controle sobre as terras ao sul de Berseba. Somente
Bete-Hã e o vale do Jordão. O que sucede nesse vale é por breves períodos o Neguebe esteve sob o domínio
que as colinas da região precipitam.se abruptamente de Israel. Edom tinha nessa região predomínio muito
até àquilo que não é tanto um vale, mas um grande maior. As terras prometidas a Abraão estendiam-se
buraco na superfície da terra. As margens do mar do rio Nilo ao rio Eufrates, envolvendo essa área
Morto, a elevação é de 375 m abaixo do nível do mar; sulista; mas os israelitas nunca tomaram isso uma
e o fundo desse mar fica a 771 m abaixo do nível do realidade palpável.
mar, tomando-o o lugar de maior depressão à face do 2. Divides
planeta. Isso posto, o grande buraco natural conta Aqui estudaremos como o povo de Israel dividiu o
com duas grandes massas de água: o mar da Galiléia, território da Terra Prometida. uma divisão que nada
ao norte, e o mar Morto, ao sul. E o largo vale da tinha a ver com regiões naturais, sobre as quais
Arabá (que fica ao sul do mar Morto) resulta de uma acabamos de discutir. Três principais perlodos
falha geológica disfarçada. Tudo isso faz parte de um históricos proveram divisões politicas da área do
sistema ainda maior de falhas geológicas naturais, mundo: a. entre os tempos patriarcais e Moisés; b. a
que atravessam o Oriente Próximo e penetra até certo invasão da Palestina, após a saida de Israel do Egito;
ponto do continente africano. A Arabá estende-se por c. a Palestina na época de Jesus, sob o dominio
cerca de cento e sessenta quilômetros até chegar ao romano. Temos ilustrado os dois primeiros itens (a. e
golfo de Acaba, onde a área é pleno deserto. b.) no primeiro mapa apresentado abaixo, na seção
O Platô da Transjordãnia. A leste do rio Jordão, décima. As palavras escritas em letras graúdas
elevam-se colinas, formando uma cadeia que segue a representam os reinos que Israel encontrou quando
direção norte-sul. Nesse lado, a paisagem é bastante invadiu a Palestina, no século XIII A.C. Os nomes em
diferente do que no lado ocidental. Conforme têm letras menores (mas ainda grandes) indicam a
dito alguns estudiosos, a paisagem é «muito outra». A localização das tribos de Israel, depois que o território
história mostra-nos que os habitantes dessa área foi dividido entre elas. Em letras ainda de corpo
oriental também eram bastante diferentes em sua menor, há alguns poucos nomes locativos, a fim de
aparência e expressão. No começo da história de que o leitor possa localizar mais facilmente certos
Israel, foi ocupada pelas duas tribos e meia do leste do detalhes. O território da Palestina, na época de Jesus,
Jordão (ver Núm. 31:1-27). Para o norte, temos a quando Herodes era o rei vassalo que governava a
Galiléia; para o sul, Moabe, que se estende até um Judéia, e dai até o ano 30 D.C., é ilustrado no
pouco abaixo do mar Morto. Os montes formam um segundo mapa apresentado na décima seção deste
estreito cinturão de colinas, bem irrigadas. Esse artigo.
cinturão varia entre 65 e 80 quilômetros de largura,
jazendo entre o deserto, na Gor (para oeste) e o VIU. Arqueologia da Palestina
deserto da Arábia (para leste). Os picos mais elevados A despeito de suas minúsculas dimensões, o
ficam a oeste, dando frente para o vale do Jordão. Em território da Palestina é aquele que mais intensamente
Gileade, os montes e suas florestas eram quase tão tem sido vasculhado pelas explorações arqueológicas.
proverbiais quanto os cedros do Líbano. Nessas O artigo chamado Arqueologia demonstra isso
florestas era produzido o famoso bálsamo de Gileade. amplamente. Essa ciência moderna tem conseguido
Pastos frutíferos tornaram-se a possessão das tribos confirmar a existência de mais de cinqüenta dos
de Rúben e Gade (ver Núm. 32:1). Ao sul de Gileade antigos monarcas de Israel. Locais pré-históricos têm
ficava Moabe. Ainda mais para o sul ficava Edom. O sido desenterrados (entre 4500 e 3000 A.C., ou seja, a
que ali predomina é uma espécie de longa e estreita era calcolitica), Primitivas culturas palestinas, como
faixa de terras bem irrigadas, que formam uma aquela de Teleilat Ghassul, ao norte do mar Morto
espécie de tampão que separa o resto do território do (perto de Jerícô), têm sido regularmente elucidadas.
temivel deserto, mais para oriente. Essa área sempre As casas de tijolos de barro eram humildes, embora
representou uma ameaça para o povo de Israel. Ali ricamente adornadas com pinturas murais e outros
houve muitos conflitos e muitas trocas de terras. Na labores artisticos. Algumas surpreendentes pinturas
época de Salomão, toda a região acabou sob o afresco têm sobrevivido até hoje, provenientes daquele
controle rigido de Israel; mas essa situação não remoto periodo. A idade do Bronze (cerca de J<X)() a
perdurou por longo tempo. 2000 A.C.) tem sido iluminada mediante descobertas
O Deserto. As regiões adjacentes a Israel eram o de antiqüíssimos povoados cananeus, como os de
Líbano, nas costas maritimas, a oeste da Síria, no Megido, Jericó e Ai. A idade do Bronze Média (cerca
extremo norte do território de Israel. A oriente ficava de 2000 a 1500 A.C.), biblicamente considerada, teve
o grande deserto da Arábia. Para oriente das início na Palestina com a chegada de Abraão na Terra
montanhas do Líbano fica o oásis de Damasco, em Prometida. Na época, a região era densamente
meio a uma região essencialmente desértica, o que já arborizada, embora esparsamente habitada. Têm
fica no canto nordeste da Palestina. Essa área servia sido descobertas muitas evidências arqueológicas
de portão de entrada para forças invasoras. Para ilustrando a era dos patriarcas, que tendem por
leste, além da Transjordinia, - o deserto é confirmar muitos detalhes do relato bíblico, acerca
muito vasto, servindo de fronteira da Palestina, ao dos quais os céticos expressavam dúvidas. Uma
longo de seu costado oriental. Essa área, que em eras notável característica desse período eram as cidades
remotas foi local de regular atividade vulcânica, é fortificadas, dotadas de altas muralhas, valados e
desolada e selvática, com muitas cavernas e elevações construções gigantescas, cujo intuito era desencorajar
estéreis. Servia de abrigo para os fora- da- lei e para os invasores. A idade do Bronze Moderna (1500 a
grupos minoritários. - Alguns poucos corajosos 1200 A.C.), do ponto de vista bíblico é muito
nômades trafegavam por ali. Ao sul da Palestina, importante porque foi nesse periodo que a Palestina
havia mais desertos. Esse deserto servia de limite da foi invadida pelos israelitas, vindos do Egito. A data
Judéia ao sul e a suleste. Tribos do deserto vagueavam mais recuada desse evento, calculada pelos estudio-
por ali, e vez por outra atuavam com hostilidade, sos, é cerca de 1400 A.C., e, 1300 A.C. o mais tardar.
invadindo Judá. No idioma hebraico, as palavras que É realmente admirável o quanto os arqueôlogos têm
significam «sub e «crestado- vêm da mesma raiz; e foi podido recuperar dessa época, incluindo (quase
31
PALES-fiNA - PALEY
certamente) o altar de Josué (vide). Muitas cidades e 7. As peregrinaç 5'es dos patriarcas, que buscavam
povoados, mencionados em conexão com e~sa uma cidade melhor, falam acerca da nossa peregrina-
invasão têm sido desenterrados pela arqueologia. ção terrestre, que kaverá de terminar quando formos
Assim, ~bemos agora que Jericô foi edificada sobre o cidadãos do céu. Ver Heb, 11:16.
mesmo local onde já tinham existido outras três 8. Os quarenta anos de vagueação pelo deserto,
cidades. À quarta cidade foi aquela que ruiu diante de simbolizam aqueles que hesitam e que não entram na
Josuê. Ai, Betel e Laquis foram conquistadas pelos posse imediata de seus direitos espirituais, ou que
israelitas; e estão entre os lugares escavados pela deixam de cumprir os seus elevados propósitos, por
arqueologia moderna. As descobertas arqueolôgícas serem por demais preguiçosos ou temerosos.
são por demais num~rosas para se~m aquI. meneio- X. MapalIhutraUvOII Ver a 1Iepk.
nadas. Pedimos ao leitor que examine o artigo geral 1. As Divisões da Palestina Entre Abraão e Moisés
intitulado Arqueologia. Todavia, podemos menci~nar
aqui localidades como Bete-Sei, Taanaque, Megido, As palavras em letras mais graúdas, neste mapa,
Gezer, Bete-Semes, Samaria, Gibeá, Dibir, Hazor indicam os reinos que Israel encontrou ao entrar na
e. naturalmente. Jerusalém, Terra Prometida. Aquelas um pouco menores
indicam as localizações das tribos de Israel, ap6s a
IX. U.... FtgaradoI conquista. Palavras em letras ainda menores indicam
A Palestina arrebata e galvaniza a imaginação de alguns lugares importantes na Palestina.
homens do mundo inteiro, apesar de ser tão pequena. (Esse mapa é adaptado da RSV, mapas 1 e 3).
Judeus cristãos e árabes cultos sabem tanto acerca 2. As Divisões da Palestina nos Dias de Jesus
dessa ~gião que ela é, praticamente, uma segunda
pátria de todos eles, embora eles m~smos estejam Temos aqui a divisão que prevaleceu durante os
dispersos pela face do planeta. Até os filhos pequenos tempos do reinadó de Herodes e posteriormente, até
de famílias evangélicas sabem muita coisa sobre.a 3OD.C.
Palestina, com sua história e monumentos. A Igreja (Esse mapa é adaptado da RSV, mapas 10 e 11).
Católica Romana está começando a despertar para a 3. As RegilJes da Palestina
necessidade de ensinar às massas populares, cada vez (Esse mapa é adaptado da NO, pâg. 924).
menos satisfeitas com as informações parciais e Bibliografia. ALB AM ANET BA DAL I IB ID IOT
dosadas que lhes são ministradas ~lo clero. Os NDUNYOZ
islamitas são um povo que segue um livro sagrado, o
Alcorão; e grande parte do mesmo está alicerçada
sobre o Antigo e o Novo Testamentos. Eles mantêm PALEY ~ WILLIAM
controle sobre a área onde os patriarcas hebreus
foram sepultados. Portanto, é apenas natural que a O CLÁSSICO ARGUMENTO
Palestina tenha adquirido certas significações simbó- DO RELÓGIO
licas. William Paley (1743-1805) foi um filósofo moral e
teólogo britânico. Sua maior contribuição foi realiza-
1. A conquista da Terra Santa, por parte de Israel, da na literatura ética. No seu tratado, Natural
veio a representar qualquer empreendimento nobre e Theology (1802), ele desenvolveu uma analogia de
inspirador. Israel precisava pôr os pés sobre a Terra Deus com um fabricante de relógios, que se tomou
Prometida, onde puseram os pés, a terra tomou-se famosa. Esta analogia apresento a seguir:
deles. Ver Deu. 11:24,25. Ainda recentemente (na ••••••
década de 1970), israelitas marcharam sobre os Ao atravessar um caminho, suponhamos que eu
territórios ocupados, em um gesto simbólico, invocan- tropeçasse em uma pedra. E então que alguém me
do Deus como testemunha, para que confirmasse os perguntasse como aquela pedra veio a aparecer ali.
ganhos deles na Palestina. Essa conquista territorial Nesse caso, eu poderia responder que, a menos que eu
também pode simbolizar a obtenção da vida eterna, soubesse algo em contrário, deve ter sido posta ali
que segue à escravidão ao pecado. desde sempre, e não seria muito fácil mostrar o
2. De Dã a Berseba indicava a extensão da absurdo de minha resposta.
Palestina conquistada, de norte a sul, pelo que
MM~ lI1QHNIbamw que eu tivesse encontrado um
também veio a representar a gama inteira de alguma
coisa. Ver Juí, 20:1; I Sam. 3:20; 11 Sam. 3:10; I Reis reIóaIo no chão, e que alguém me indagasse como o
4:25. relógio viera parar naquele lugar; nesse caso,
dificilmente eu pensaria na resposta dada no Caso
3. A travessia do rio Jordão aponta para a transição anterior - que, a menos que eu obtivesse alguma
da morte fisica, que nos conduz a uma vida superior, prova em contrário, aquele relógio deveria ter estado
celestial. ali desde sempre. Todavia, por que razão a resposta
4. Sião é metáfora de qualquer grande centro de que serviria para o caso de uma pedra, não serviria
empreendimento espiritual. Os môrmons chamam a para o caso de um relógio? Por esta razão, e por
cidade de Salt Lake de Sião, por ser o centro da nenhuma outra, a saber, que ao passarmos a
atividade e da cultura deles. Sião também simboliza a inspecionar o relógio, perceberemos (o que não
habitação de Deus, e, por extensão,. os céus que os poderia ser descoberto na pedra) que suas diversas
cr.e,ntes antecipam. Ver Sal. 76:2. partes foram feitas e reunidas para um determinado
S. A dispersão (o exílio assírio, o exllio babilônico e propósito, como, por exemplo, que foram formadas e
a grande dispersão judaica de 135 D.C.) representa os ajustadas de tal maneira para produzir movimento,
recuos ocasionados pelo juizo divino. E o retorno de movimento esse regulado de tal maneira a marcar as
Judá, representa os resultados do arrependimento e diversas horas do dia; que, se as diversas partes do
da restauração. E uma outra maneira de expressar a relógio tivessem formatos diferentes daqueles que têm,
idéia são os contra-ataques do reino, após alguma fossem de dimensões diferentes do que são, ou
grande derrota. tivessem sido dispostas em outra posição, ou em outra
6. As instituições hebréias são emblemas dos oficios ordem qualquer, então, ou nenhum movimento seria
e realizações de Cristo. Isso constitui a essência da registrado pela máquina, ou não haveria utilidade
mensagem da epistola aos Hebreus, no Novo para o relógio, segundo encontramos agora. Conside-
Testamento. rando algumas de suas partes componentes mais
32
PALEY, ARGVMENTO no RELÚOIO
óbvias, bem como as suas respectivas funções, todas linguagem atribuir a qualquer lei o papel de causa
as quais tendem para obter um único resultado: eficiente e operativa do que quer que seja. Toda lei
vemos uma caixa cilindrica que contém uma mala pressupõe um agente, pois é apenas o modo pelo qual
elástica em espiral, que devido ao seu esforço de esse agente age; subentende poder, pois é a ordem
expandir-se, faz o mecanismo funcionar... Também segundo a qual esse poder atua. Sem esse agente, sem
observamos que as rodas da engrenagem foram feitas esse poder, ambos os quais são distintos dela, a lei
de bronze, a fim de não se enferrujarem; e que as nada faz e nada é.
molas são feitas de aço, pois nenhum outro metal é VIII. E finalmente, o nosso suposto observador
tão elástico: e que na face superior do relógio foi também não poderia abandonar a sua conclusão, e
posto um vidro, material empregado em nenhuma assim perder a confiança em sua verdade, se lhe fosse
outra porção do relógio, porquanto se tivesse sido dito que ele nada sabia sobre a questão. Pois a
empregado em seu lugar qualquer substância que não verdade é que ele sabe bastante para o seu argumento
fosse transparente, as horas não poderiam ser - ele conhece a utilidade do objeto - ele conhece a
verificadas a menos que se abrisse o mecanismo. Uma subserviência e a adaptação dos meios ao fim
vez - . . . . . . . - esse mecanismo••• 8ea clua • colimado. Uma vez que sejam reconhecidos esses
lDfe que reputam.os inevitável; aquele relógio pontos, a sua ignorância sobre os outros pontos, as
deve ter tido um fabrIcaDte; que deve ter havido, eJl1 suas possiveis dúvidas sobre os demais pontos, jamais
algum tempo, num lugar ou noutro, um artífice ou poderão afetar a segurança de seu raciocínio. A
artifices que formaram o relógio com 'O intuito que consciência de que pouco sabe não requer que ele
nele encontramos; os quais compreenderam a desconfie daquilo que já sabe.
maneira de fabricâ- o, tendo traçado o desígnio de seu
emprego. Contlnuaçlo do Arp.mento
I. Segundo entendo, essa conclusão de maneira Suponhamos, em seguida, que a pessoa que
alguma ficaria debilitada se jamais tivéssemos visto encontrou o citado relógio, após algum tempo, viesse
antes um relógio; se jamais tivéssemos conhecido um a descobrir que, em adição a todas as propriedades
artifice capaz de fabricar um desses aparelhos; e se que ele vinha observando até ali, o relógio possuísse a
fôssemos inteiramente incapazes de executar pessoal- inesperada propriedade de, no decurso de seus
mente uma obra dessa envergadura... movimentos, vir a produzir um outro relógio
11. E nem, em segundo lugar, como compreen- semelhante a ele mesmo... qual seria o efeito dessa
do, seria invalidada a nossa conclusão, se algumas descoberta sobre a sua conclusão anterior?
vezes o relógio funcionasse mal ou raramente se I. O primeiro efeito seria o de aumentar a sua
mostrasse exato na marcação das horas... pois não é admiração pelo invento, e também o de aumentar a
mister que um mecanismo seja perfeito a fim de ficar sua convicção sobre a grande habilidade do
demonstrado o desígnio com que foi feito: ainda inventor...
menos necessário se torna isso quando a única 11. Ele refletiria que embora o relógio estivesse ali à
pergunta é se foi feito com qualquer desígnio. sua frente - em certo sentido - o fabricante do
IH. E nem, em terceiro lugar, seria necessârio dar relógio fosse ele mesmo, no decurso de seus próprios
qualquer foro de incerteza ao argumento, ainda que movimentos, seria algo muito "diferente em sentido do
descobrissemos algumas poucas partes no relógio, caso em que, por exemplo, um carpinteiro é o
para as quais não vissem os qual a sua utilidade dentro fabricante de uma cadeira; o autor de sua invenção, a
do quadro geral; ou mesmo que houvesse algumas causa da relação entre suas partes componentes e o
partes acerca das quais não pudéssemos atribuir seu emprego. No que diz respeito a isso, o primeiro
qualquer utilidade... relógio não teria sido causa, de forma alguma, do
segundo relógio, pelo menos não no sentido de que foi
IV. E nem, em quarto lugar, qualquer individuo, o autor da constituição e da ordem, ou das partes
em sua mente sã, haveria de pensar que o relógio, contidas no novo relógio, ou dessas mesmas partes,
com seu complicado mecanismo, - poderia ser mediante a ajuda e a instrumentalidade daquilo que
explicado pela declaração de que deveria ser alguma foi produzido...
combinação fortuita de materiais; e que qualquer
ou tro objeto que tivesse sido encontrado no lugar do IH. Embora não seja agora mais provável que o
relógio, devesse ter contido alguma configuração relógio individual, que fora encontrado pelo nosso
interna ou outra; e que essa configuração poderia ser suposto observador, tenha sido feito imediatamente
a estrutura mais exibida, a saber, todas as partes pelas mãos de um artífice, todavia, essa alteração de
componentes do relógio, embora em uma estrutura forma alguma modifica a conclusão de que um
diferente. artifice foi originalmente empregado na produção de
V. Nem, em quinto lugar, o inquiridor haveria de um relógio, tendo concentrado a sua atenção nesse
obter mais satisfação, se lhe respondêssemos que mister. O argumento baseado no designio permanece
assim inalterado. Os sinais de designio e de invenção
existem nas coisas certo principio de ordem fortuita
que dispôs as partes componentes do relógio em sua não serão atribuidos agora de forma diferente do que
forma e situação presentes. E isso porque jamais teria eram antes... Estamos agora indagando qual a causa
visto um relógio fabricado por efeito desse principio dessa subserviência a um uso, aquela relação para
de ordem; e nem mesmo poderia formar idéia do com uma finalidade, que jâ observamos no relógio à
sentido desse principio de ordem, distinto da nossa frente. Nenhuma resposta será dada a essa
inteligência de um fabricante de relógios. pergunta com a réplica de que um relógio anterior o
produziu. Pois não pode haver plano sem um
VI. Em sexto lugar, ele ficaria surpreendido se planejador; nem invenção sem um inventor; nem
ouvisse dizer que o mecanismo do relógio não pode arranjo sem alguém capaz desse arranjo; nem
servir de prova de simulacro, mas tão somente de subserviência e relação para com um propósito, sem
motivo para induzir a mente a assim pensar. alguém que possa traçar esse propósito; nem meios
VII. E não menos surpreso ficaria se fosse apropriados a uma finalidade, e execução na
informado de que o relógio que tinha nas mãos nada realização dessa finalidade, sem que essa finalidade
mais era senão o resultado das leis de natureza tenha sido contemplada, ou sem que os meios tenham
metálica, Porquanto trata-se de uma perversão da sido adaptados à mesma Arranjo, disposição de
33
PALHA - PALHOCAS
«problema do desígnio», pela mera produção das tijolos.
palavras mágicas, seleção natural, mesmo no que diz Em Gênesis 24:32, a nossa versão portuguesa diz
respeito aos organismos vivos? Como, podemos «forragem », No entanto, no vs. 25 do mesmo capitulo,
perguntar, - funciona - a seleção natural, que Rebeca respondeu a Eliezer: «Temos palha e muito
inteligência está atrás dela? Pode ser que funcione por pasto... », onde a palavra «palha» é a mesma que ali é
acaso? Leva mais fé para aceitar isto do que para traduzida por «forragem... Tal tradução reflete a
aceitar o conceito de um Grande Artífice. No dúvida de alguns estudiosos, se estaria em foco a mera
máximo, a expressão "seleção natural» pode implicar palha, ou forragem para os camelos. Para que serviria
meramente em como funciona a Mente Divina, a palha para os camelos? Nossa versio portuguesa,
em determinada parte da natureza. - Ê a seleção pois, não se mostra coerente consigo mesma, quanto a
natural sem-mente? Que maravilhosas coisas a falta esse particular.
de mente ativa tem produzido! Os homens pensantes Outro trecho duvidoso, quanto ao que estaria em
reconhecerão que o conceito intitulado seleção foco, é o de Isaias 11:7, onde se lê: «... 0 leio comerá
natural, nos leva ao Artífice, e não para longe Dele. palha como o bois. No entanto, sabe-se que o boi não
Logicamente, sabemos que a seleção natural opera come palha. Por esse motivo, alguns estudiosos têm
neste mundo, apesar de eventos caóticos e cataclísmi- preferido pensar que, nessa passagem de Isaías,
cos produzirem mudanças imediatas, pulos para a deve-se pensar antes no «feno.., o que significa que o
frente e para trás. Ainda está aberto ao questiona- termo hebraico teben daria a entender tanto a «palha»
mento sério, mesmo no terreno científico, se este quanto o «feno», apesar do fato de que muitas versões
conceito pode explicar a origem do homem, como nós traduzem por deno.. uma outra palavra hebraica, isto
o conhecemos. Que a seleção natural opera no mundo é, chatsir, em Provérbios 27:25 e Isaias 15:6. Nossa
de outras maneiras, não nos resta dúvida. Mas para versão portuguesa s6 traduz essa palavra por «feno..
pedir a mim que creia nela como «não pensante» é na primeira dessas duas referências.
demais. Isto é tomar um passo para trás na explicação
de um «porquê» do desígnio e não um passo em VIGa ~I 1. A palha ê algo pequeno e sem
direção desta explicação. valor. Com base nessa circunstância, a palavra é
usada para indicar aquilo que é doutrinário e
espiritualmente destituído de valor, como o falso
ensino (Jer. 23:28). 2. O malfeitor também pode ser
PALHA considerado como se fosse palha, porquanto será
No hebraico, precisamos considerar tris palavras, e reduzido a nada (Sal. 1:4; Isa, 33:11; Mat. 3:12). 3.
no grego, duasl Cristo é aquele que separa o trigo da palha, no sentido
1. Teben, "palha... Termo que ocorre por dezessete espiritual, pois ele é o supremo Juiz (Mat. 3:12; Luc.
vezes, conforme se observa, por exemplo, em Gên, 3:17).4. O crente, quando for julgado quanto às suas
24:25,32; Êxo, 5:7,10-13,16,18; 1ui. 19:19; 1 Reis obras, precisa enfrentar a possibilidade de suas obras
4:28; 1641:27; Isa, 11:7; 65:25. serem consumidas como palha sem valor (I Cor. 3:12
2. Mathben, «palha». Esse vocábulo figura apenas ss). 5. A palha e partículas de poeira representam as
por uma vez, em Isaias 25:10, onde o profeta prediz nações que negligenciam os princípios espirituais
um futuro muito triste para os moabitas: «Moabe (Dan. 2:35). (G I ID)
será trilhado no seu lugar, como se pisa a palha na
água da cova da esterqueira», Essa palavra hebraica
poderia ser traduzida, mais acertadamente, por
«resíduos vegetais». PALBOÇAS t TENDAS
3. Qash. «palha». Outra palavra hebraica, que No hebraico, nldtoh, «palhoça», palavra usada por
aparece por dezesseis vezes: ~xo. 5:12; 15:7; 1ó 13:25; trinta e uma vezes. Por exemplo: Gên. 33:17; Lev.
41:28,29; Sal. 83:13; Isa. 5:24; 33:11; 40:24; 41:2; 23:42,43; Nee. 8:14-17; 10n. 4:5. Em nossa Bíblia
47:14; Jer. 13:24; Joel 2:5; Oba. 18; Naum 1:10 e portuguesa a palavra é traduzida como "palhoça..,
Mal. 4:1. «tenda.., «tendas de ramos .., etc. Indicava algum
4. Kalâme, «palha». Esse vocábulo grego ocorre abrigo tosco, feito de ramos de árvores e arbustos
apenas por uma vez em todo o Novo Testamento, em 1 (Gên, 33:17), como proteção contra a chuva, a geada
Cor. 3:12. e o calor. Nessas estruturas muito simples, os
5. Àchron , «palha seca». Termo grego usado israelitas celebravam a festa dos tabernáculos (que
somente em Mat. 3:12 e Luc. 3:17. vide) (Lev. 23:42,43). Em tais abrigos foi que Iacó
habitou, em seu retorno às fronteiras da terra de
A palha é o refugo do grão peneirado, as cascas, Canaã, em razão do que o lugar foi chamado Sucote
etc. No oriente, usualmente esse material é queimado (Gên. 33: 17), a forma plural daquela palavra
para impedir que o vento o sopre de volta ao grão hebraica. Quando da festa dos tabernáculos, os
limpo (Jó 21:18; Sal. 1:4; 35:5; Isa. 17:13; Sof. 2:2). israelitas usavam essas palhoças, mas não viveram em
Em Isaías 5:24 temos uma palavra diferente, que, palhoças durante seus anos passados no deserto. No
literalmente, significa «erva seca». Em Jer , 23:38 deserto eles viviam em tenda, que o hebraico chama
temos a palavra que significa «palha». E em Daniel de ohel. (Ver Gên, 4:20; Êxo. 16:16). Porém, ao
2:35 temos a palavra aramaica que significa «palha». ocuparem a Terra Prometida, os israelitas começaram
Na Palestina havia mais palha de cevada do que a construir edificações mais permanentes. Além disso,
palha de trigo, porquanto a cevada era usada como na Palestina havia madeira em abundância para tais
forragem de cavalos, de burros e do gado vacum, além construções, como também para a feitura de
do que a grande maioria do povo comum consumia palhoças, por ocasião da festa dos tabernáculos, ao
pão de cevada. Sem dúvida, também havia palha de passo que no deserto não havia madeira suficiente.
espelta. Não há certeza entre os estudiosos, se a As palhoças foram usadas por Jac6 (Gên. 33:17),
palha mencionada em gxodo 5:7-18 era palha de por Jonas (Jon, 4:5), pelos soldados, nos campos de
cevada, palha de espelta, ou apenas de ervas batalha (lI Sam. 11:11), pelos vigias que cuidavam
selvagens, porque os filhos de Israel eram forçados a dos campos(1ó 27:18), nas quais eles se protegiam das
apanhar no campo o que pudessem, a fim de usarem intempéries, ou nas quais abrigavam seus animais.
para reforçar a massa de barro usada no fabrico de Essas palhoças eram feitas de salgueiros, de oliveiras,
35
PALIMPSESTO - PALTI
de murteiras, de palmeiras e de árvores de ramos bem das formando bosques, embora também possam ser
copados (Lev. 23:40; Nee. 8:15). (G HA [O S) vistos espécimes isolados.
Heródoto referiu-se à palmeira como produtora de
pão, mel e vinho; mas é provável que, no caso do
PALIMPSESTO «vinho.., ele aludisse à aguardente araca. Com base
nessa circunstância, ê possível que algumas referên-
Essa palavra é transliteração do grego palimpses- cias veterotestamentârias a «vinho» sejam, na
tos, que vem de pâlin, «novamente.., e pseein, verdade, a essa bebida forte; e também o «mel.. nada
«esfregar.., «apagar.., ou seja, «raspado novamente... tenha a ver com o mel de abelhas. Josefo também
Esse é o nome que se dá a algum manuscrito escrito mencionou a existência de bosques de palmeiras.
sobre um pergaminho que já havia sido usado para Esse bosques existiam na área do mar da Galiléia, no
nele escrever-se alguma outra coisa. A escrita anterior vale do Jordão, perto de Jerusalém e no monte das
foi removida, e um novo texto foi escrito sobre tal Oliveiras. Certo bosque de palmeiras, perto de Jericó,
pergaminho. A razão do novo uso desse material de espraiava-se por cerca de onze quilômetros.
escrita é que o mesmo era muito caro.
Uma palmeira precisa de cerca de trinta anos para
Vários manuscritos do Novo Testamento são amadurecer; mas, uma vez desenvolvida, ela é
palimpsestos. Dentre esses destaca-se o Codex duradoura, sendo capaz de viver por duzentos anos.
Ephraemi Rescriptus, atualmente em Paris, França. Essa espécie tem uma estranha forma de polinização.
Quanto a informações detalhadas sobre esse manus- Algumas palmeiras produzem somente gametas
crito, ver o artigo Manuscritos, Novo Testamento. masculinos, enquanto outras só produzem gametas
111.5. Outros palimpsestos são antigos evangelhos femininos. Por isso, nos tempos antigos, os cultivado-
traduzidos para o síríaco, encontrados no monte res cortavam inflorescências masculinas e pendura-
Sinai, formando o papiro P(2), que também contém o vam-nas nas árvores femininas, a fim de garantir a
livro de Atos, as epístolas paulinas e o Apocalipse. polinização.
Referêncl811 BlbUcas. No Antigo Testamento há
trinta e duas menções à palmeira, em suas três formas
PALINGENESIA hebraicas: tamar, tomer e timmorah: Êxo, 15:27;
Essa palavra, transliteração do grego, pâlin, Lev. 23:40; Núm. 33:9; Deut. 34:3: Jui. 1:16; 4:5; li
«novamente.., e génesis, «nascimento.., significa «novo c-e, 3:5; 28:15; Nee. 8:15; Sal. 92:12; Cano 7:7,8;
nascimento... Esse é um dos vários vocábulos usados 1001 1:12; ler. 10:5; I Reis 6:29,32,35; 7:36;
para indicar a idéia da reencarnação (vide). 11 Crô. 3:5; Eze, 40:16,22,26,31,32,37; 41:18-20,
Frouxamente usado, o termo pode significar qualquer 25,26. E no Novo Testamento, por duas vezes é
tipo de regeneração ou novo nascimento. A palavra empregada a palavra grega, phoiniks: João 12:13;
equivale a regeneração, derivada do latim, regenera- Apo.7:9.
re. No seu uso cientifico, essa palavra indica a As referências em I Reis aludem às decorações do
transformação ou metamorfose de certos insetos. tabernáculo, que empregavam a figura de palmeiras;
em 11 Crô. 3:5 e 28:15 há menção a Jericó, a cidade
-das palmeiras; em Sal. 92:12 a palmeira aparece
PALLIUM como símbolo de inflorescência; em Cano 7:7,8 está
Essa palavra é usada, sem transliteração, na em foco a beleza e frutificação da mulher, enquanto
linguagem ritual da Igreja Católica Romana. Signifi- que o fruto da palmeira aparece como símbolo de seus
ca «capa». Está em foco uma espécie de faixa seios; nas referências do livro de Ezequiel temos as
arredondada de lã branca, com pendentes, conferida visões desse profeta quanto ao futuro templo ideal,
pelo papa aos arcebispos, como símbolo da jurisdição com enfeites sob o formato de palmeiras. Quanto ao
deles. Novo Testamento, - o trecho de João 12:13
menciona palmas em conexão com a entrada triunfal
de Jesus em Jerusalém. Esse evento é a inspiração do
chamado Dia de Ramos, da Igreja Católica Romana
PALMA DA MÃO (vide). Em Apo. 7:9, a palmeira é símbolo de vitória.
Ver o artigo sobre Pesos e Medidas. A palmeira possui uma raiz profunda, em busca de
água no subsolo; e assim ela resiste bem em lugares
áridos. devido a esse detalhe que a palmeira serve de
Ê
tratando-se de pão comum, sem falar nos pães asmas, modernos fermentos químicos são, de ação rápida. Os
etc. No grego temos ârtos, que aparece em quase cem pães asmos, todavia, não requeriam o uso de
trechos diferentes, oitenta por cento ou mais nos fermento. Esses eram chamados «doçuras» (ver Gên.
quatro evangelhos, desde Mat. 4:3,4 até Heb, 9:2. 18:6; 19:3; Êxo, 12:39 e I Sam. 28:24). Quando a
massa já estava fermentada, então era levada ao
No hebraico, lechem, que também significa. em forno, que podia ser público ou particular. Havia
termos gerais, «alimento» ou «sustento». Esse vocábulo padeiros profissionais desde a antiguidade (Osê, 7:4;
aparece no Antigo Testamento por mais de duzentos e Jer. 37:21). Ver também o artigo sobre Forno. Um
oitenta vezes, desde Gên. 3:19 até Mal. 1:7, sendo, tipo de fomo era uma escavação feita no meio de um
portanto, uma palavra comumente usada ali. No dos aposentos principais de uma casa, talvez com 1,20
Novo Testamento, ârtos, palavra grega que ocorre por m a 1,50 de profundidade e 0,90 m de lado. Esse tipo
noventa e sete vezes, desde Mat. 4:3,4 (que cita Deu. de fomo era forrado com uma espécie de cimento, ou
8:3) até Apo. 20:2. então com pedras. O fogo era aceso no fundo do
Nem sempre o pão foi leve e fofo conforme o forno. Quando ficava suficientemente aquecido,
conhecemos hoje em dia. De fato, foi somente a partir podia cozer grande variedade de alimentos. Durante
dos últimos cem anos que os panificadores têm usado os dias frios de inverno, o mesmo fomo era usado para
regularmente, o fermento, para tufar o pão. Antes aquecer a casa. Um outro método consistia em uma
disso, era preciso ter muitos anos de prática para que cavidade rasa, onde eram aquecidas algumas pedras,
alguém fizesse um bom pão, além de uma pitada de no fogo ali feito. Uma vez quentes, as pedras eram
boa sorte. Os padeiros misturavam cereais esmiga- removidas e a cavidade era limpa. A massa era posta
lhados com água, e então a massa era cozida sobre nessa cavidade aquecida, onde, por muitas vezes, era
pedras quentes ou sobre fomos primitivos. Outras deixada a noite inteira, pois o processo era lento.
vezes, a mistura era cozida ao ar livre. sobre cinzas Nesse processo, também podia ser usada a areia.
41
PÁO - PÁO, o PARTIR DO
Também havia panelas especialmente feitas com essa era uma especie de agradecimento pelos cuidados
finalidade, de barro, de ferro ou de ouros metais. providenciais de Deus, como devolução simbólica de
Essas panelas eram postas sobre pequenas fogueiras. parte daquilo que fora provido pela bondade de Deus.
De outras vezes, eram feitas fornalhas ou lareiras nas A mesa dos pães da proposição é um tipo de Cristo
casas, as quais eram usadas para cozinhar toda como o Pão da Vida, aquele que sustenta os homens,
espécie de alimentos, bem como para aquecer o meio espiritualmente falando (I Ped. 2:9 e Apo, 1:6). Esse
ambiente durante o inverno. Finalmente, havia o pão pão prefigura o grão de trigo (João 12:24),
de cinzas. Era feita uma fogueira no chão. Quando o pulverizado no moinho dos sofrimentos (João 12:27) e
solo estava bem quente, o pão era posto ali, e então sujeitado ao fogo do julgamento divino, em lugar dos
coberto com cinzas e brasas. Esse método, porém, homens (João 12:32-33). b. O pão do céu, o maná,
deixava a crosta do pão saturada de cinzas e era, literalmente falando, a provisão divina, simboli-
partículas de madeira queimada. O pão precisava ser zando os cuidados de Deus pelos homens, em sua
virado ao contrário, pois, do contrário, ficava cozido jornada durante a vida terrena, similar à subsistência
apenas em um dos lados. O trecho de Osêias 7:8 diz de alguém no deserto. c. Além disso, Cristo é nosso
que Efraim era "um pão que não foi virado», o que pão espiritual, descido do céu (João 6). Ver o artigo
significa que não era bem preparado-um lado separado sobre Jesus como o Pão da Vida. - Ver
cozido, e outro cru. Isso refere-se ao estado espiritual também sobre a Transubstanciação. d. O pão do
de Efraim, onde sua espiritualidade era mesclada com agape, ou seja, a refeição memorial da Igreja, que
idolatria. e corrupção. No Novo Testamento há uma comemora o sacrificio de Cristo (Mat. 26:26 e I Cor.
expressão similar, que lhe corresponde: "... tendo 11:23 ss). e. O pão da aflição, que indica a
forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder» sobrevivência com base em ração escassa, em períodos
(11 Tim. 3:5). Entretanto, um Targumjudaico sobre o de escassez (I Reis 22:27; Isa, 30:20). f. O pão da
trecho de Oséias também sugere estar em pauta a tristeza ou do trabalho árduo (Sal. 127:2), que indica
idéia de juízo do cativeiro. Isso significaria que antes o sustento obtido através do trabalho exaustivo. g. O
de Efraim ter chegado à maturidade, povos pagãos pão de lágrimas, que indica a condição de tristonha
haviam-no tomado e comido, ou seja, levaram-no à lamentação (Sal. 80:5). h. O pão da iniqüidade, ou do
destruição. Historicamente, foi precisamente isso que engodo (Pro. 4:17; 20:17), que simboliza a extrema
aconteceu, quando a Assíria levou o reino do norte iniqüidade do indivíduo - que vive como que
para o exílio, em 722 A.C. alimentando-se do pecado, e cujo sustento vem
através da fraude e de práticas enganadoras e
3. Tipos de pão. a. Bolos chatos e finos, misturados desonestas. i. A Palavra de Deus é comparada ao pão
com azeite, o que corresponderia, mais ou menos às da vida diária, sendo a provisão para as necessidades
nossas "pizzas », b. Uma espécie de panqueca feita de espirituais do homem (Mat. 4:4). j. O lançar o próprio
trigo e azeite, que era a forma usualmente usada nas pão sobre as águas (Ecl. 11: 1), provavelmente
ofertas de manjares, também chamadas ofertas de refere-se ao costume dos egípcios de lançarem semen-
cereais. c. Bolos de mel (Êxo, 16:31). d. Bolos de uvas tes sobre as águas rasas, das inundações do rio Nilo.
ou de uvas passas (Osê. 3:1; Cano 2:5). e. Um tipo de Parecia ser uma insensatez, mas a semente germina-
pão muito macio, tipo pudim (11 Sam. 13:6-9). f. va, e o resultado final era o pão. Isso simboliza a
Havia também "massas falhadas», provavelmente nossa generosidade com outras pessoas, o que, pelo
aprendidas pelo povo de Israel no Egito, cujos menos para alguns, pode parecer uma tolice, pois
padeiros eram famosos por sua arte (Keil, Arch., pode parecer uma dilapidação de recursos materiais.
2:126). Com a passagem do tempo, entretanto, a semente
4. Um artigo da alimentação dos povos antigos. O assim lançada germina, havendo um abundante
pão fazia parte da alimentação diária dos antigos retorno para esse tipo de ação. 1. O pão agradável,
(I Reis 11:8). Sara apressou-se para preparar pão comido secretamente, refere-se a prazeres secretos e
para os visitantes (Gên. 18:1-6). Aos trabalhadores, ilícitos (Pro. 9:17). m. Pão e água, alude às coisas
nos campos, era dado pão como alimento (Rute 2:14). nec.essárias para o sustento do corpo físico, os
Nas campanhas militares, servia-se pão também aos alimentos básicos (Isa, 3:1; Mat. 6:11). n. O pão dos
soldados (I Sam, 16:20). Os viajantes levavam pão homens, aludido em Eze. 24: 17, refere-se aos
para a viagem (Gên. 21:14; 45:23; Juí. 19:19). Jesus alimentos comuns. (FRI I IB NTI PRI S)
multiplicou pães e peixes para as multidões (Mat.
14: 13-21); e chegou a reiterar o milagre (Mat.
15:32-39). Era costumeiro o cabeça de uma família
iniciar uma refeição tomando um pão, dando graças PÃO, O PARTIR DO
ao Senhor, partindo-o em pedaços e distribuindo-os No Novo Test8mento, a expressão aparece em Luc.
entre os membros de sua família, algo que foi imitado 24:35; Atos 2:42; Mar. 8:6; 14:22; Mat. 14:19; I Cor.
quando da Ceia do Senhor (Mat. 26:26). 10:16 e 11:24. Consideremos estes pontos:
5. Pão usado em ritos religiosos. Além dos 1. Está em foco, basicamente, o costume hebreu do
sacrificios de animais, havia ofertas de cereais, sob a pai de uma família agradecer pelo pão, parti-lo e
forma de pães ou bolos cozidos ao forno, em uma distribuir os fragmentos aos membros de sua família.
panela ou em uma orelha (Lev. 2:4-10,14-16. Ver Esse costume r ~fletiu-se, pelo menos em parte, nos
também Lev. 24:5, quanto aos doze pães postos sobre ritos da Páscoa e da Ceia do Senhor. O Manual das
a mesa dos pães da proposição, no Lugar Santo, Ordens de Qumran arderia que o sacerdote estenda as
referidos em Êxo , 40:23 e Heb. 9:2). Pães eram as mãos sobre o pão e o vinho, em uma bênção
usados nas ofertas pacíficas (Lev, 7:12), nas ofertas comunitária, antes do início do banquete da Pãscoa.
das primícias (Núm. 15:17-20). E, naturalmente, o O Didache tem algo semelhante, no contexto cristão.
pão fazia parte das cerimônias da páscoa. Com base 2. Ao multiplicar os pães para os cinco mil homens,
nessa festa, a Ceia do Senhor foi instituída, como Jesus partiu os pães e ordenou que os mesmos fossem
símbolo de seu corpo (Mat. 26:26; I Cor. 11:23,24). distribuidos (João 6:9). Nisso, ele apresentava-se
Ver os significados dessas ofertas no item abaixo, usos simbolicamente como a provisão espiritual dos
simbólicos. homens, mediante o seu corpo partido. Essa refeição
6. Usos simbólicos. a. O uso religioso do pão, singela também serviu de antecipação do banquete
conforme descrito no ponto 5, acima, antes de tudo, messiânico, referido em João 6:53 ss.
42
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
3. No trecho de Atos 2:42, o pão refere-se, particularidades:
provavelmente, à Ceia do Senhor, efetuada com A 0rIeataçI0 ElpldtuaJ de Joio é MJ.tiea, e NIo
relativa freqüência. Ou então, refere-se às refeições de s.aaaa-tal.
comunhão, sem alusão formal à Ceia do Senhor. Ou
então pode ser que cada refeição, entre os crentes Dentre os quatro evangelhos, o de João é o mais
primitivos de Jerusalém, fosse tomada informalmen- místico e o menos sacramental; assim sendo, apesar
te, nos lares, em comemoração da Ceia do Senhor. do evangelho de João ser o mais usado, provavelmente
4. As passagens de I Corintios 10:16 e 11:20ss. é o menos compreendido dos quatro. Notemos que no
apontam para refeições comunitárias que incluiam a trecho de João 1:29-34, o lugar onde poderiamos
celebração da Ceia do Senhor. Posteriormente, essa esperar a história do batismo de Jesus, por João
refeição foi simplificada para o simples rito que Batista, não há qualquer menção ou descrição sobre o
envolve o pão e o vinho, com a descontinuação da batismo em água, conforme se lê nos demais três
evangelhos. Obviamente, se trata da mesma cena, e é
refeição por toda a comunidade. Ver os artigos sobre indubitável que devemos compreender ali que Jesus
Pão da Vida, Jesus como o e Transubstanciação. (B I foi batizado por João Batista; porém, não há qualquer
NTI)
alusão à própria cena do batismo. No entanto,
encontramos nesse trecho a menção especifica do
batismo do Espírito Santo, em que Jesus aparece
PÃO DA VIDA, JESUS COMO tanto como o Cordeiro de Deus quanto como o Filho
«Eu IOU o pio da "'da... » (Joio 6:35). de Deus. Nessa seção do evangelho de João, pois, o
batismo é de natureza mística, e não-sacramental.
«Quem comer a minha carne e beber o meu sangue
tem a vida eterna... » (João 6:54). Ainda mais surpreendente que essa instância é a
«...isto é o meu corpo...isto é o meu sangue... » daquela outra passagem onde poderíamos esperar
(Mateus 26:26,28). uma descrição sobre a instituição da Ceia do Senhor
ou eucaristia, a saber, João 13:1-20. Pois, apesar de
«, •• 0 que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê
ser evidente que essa passagem se refere à páscoa,
em mim, jamais terá sede... » (João 6:35). sendo paralela aos trechos de Mat. 26:7-30; Mar.
«Assim como o Pai, que vive, me enviou, e 14:17-26 e Luc. 22:14-39, contudo, nem ao menos há
igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alusão à instituição da Ceia do Senhor, ao passo que
alimenta, por mim viverá» (João 6:57). lemos ali uma longa descrição da cerimônia do
«Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, lavapês, que os demais evangelhos nem mencionam,
também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo" e que poderíamos julgar comparativamente sem
(João 5:26), importância, em relação à Ceia do Senhor. Não
« •• • os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os obstante, nesse trecho do evangelho de João, nos é
que a ouvirem, viverão" (João 5:25). ensinada uma verdade mistica, o que também era
Em torno desses versículos gira o ensino de Jesus muito característico do autor do quarto evangelho; e
como o Pão da Vida. Crentes sinceros têm atribuido por causa dessa verdade mística, essa passagem
aos mesmos grande variedade de interpretações, e obviamente se revestia de grande importância para o
muitissimas disputas se têm originado de tais seu autor sagrado.
explicações. Parece que uma das dificuldades da Poderíamos asseverar, por conseguinte, que o autor
interpretação deriva-se do fato de que a mensagem do quarto evangelho nem ao menos registra ou
central que essas passagens procuram nos transmitir é descreve um evento tão importante como foi a
muito mal compreendida pela igreja cristã, sendo instituição da Ceia do Senhor, ao passo que os outros
algumas vezes totalmente desconhecida e, ocasional- três evangelistas lhe conferem um tão conspícuo
mente, até mesmo combatida. Por causa dessas lugar? Não, isso não seria verdade, pois o sexto
condições, apesar de que certas porções da idéia capitulo do quarto evangelho encerra o registro sobre
correta do que aqui é ensinado são retidas por uma ou essa instituição da Ceia; no entanto, foi escrito não
outra denominação, com algumas variações, contudo, para descrever um sacramento e, sim, para servir de
a própria idéia, em sua inteireza e majestade, é expressão acerca de uma elevada doutrina mística.
percebida apenas em parte, obscuramente. Essa Devemos observar, por igual modo, que nesse sexto
profunda idéia do cristianismo, que «Jesus, como o capitulo do evangelho de João não hâ qualquer
Pão da Vida», oferece aos homens, está contida nas descrição acerca do modus operandi da cerimônia da
Escrituras de forma dispersa. As alusões a esse Ceia do Senhor, porquanto isso não se revestia de
conceito aparecem no evangelho de João; em alguns importância, aos olhos do autor sagrado; pelo
trechos das epistolas paulinas, sobretudo no oitavo contrário, nos é exposto, com abundância de
capitulo da epístola aos Romanos e no primeiro pormenores, o sentido espiritual retratado por essa
capítulo da epístola aos Efésios; em 11 Coríntios 3:18 e cerimônia; e esse sentido espiritual uma profunda
é
4. A Ceia do Senhor, em seu «simbolo» e na Jesus de «a Luz», «a, Ãgua», «o Pão», «o Pastor» e «a
«verdade simbolizada». Porta». E embora o evangelho de João não lance mão
5. Indicações existentes no sexto capitulo do da expressão especifica, «Este é o meu corpo» (em que
evangelho de João sobre a veracidade da interpretação Cristo se referiu ao pão da Ceia) contudo, no sexto
«mística». capitulo do mesmo é óbvio que uma terminologia
Passemos, pois, à exposição de cada uma dessas assim seria perfeitamente apropriada (ver João
43
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
6:54,55). Todavia, esse pão (que simboliza o corpo) é «provação à fé», e não um artigo de fé, supormos que,
declarado como algo que desceu do céu (ver João por algum meio misterioso, enquanto Jesus estava
6:32,58), o que mostra que, antes de tudo, não está sentado entre seus discípulos, inteiro e vivo. eles
em vista alguma alusão ao corpo fisico de Jesus; antes, tivessem participado de seu corpo e de seu sangue de
ele se refere a um tipo celestial de «pão», a um maneira literal.
principio espiritual, a uma comunicação e participa- b. A Interpretaçio Sacramental
ção mística na vida divina, o que, na realidade, é um
conceito transcendental, e não uma idéia sacramen- I. Teoria da collSUbstaDcIaçio. Lutero não se
tal. sentia satisfeito com a interpretação protestante
Por semelhante modo, quando falamos na «água», ordinária, a interpretação simbélica, pensando ele
que as vigorosas palavras de Jesus, «Isto é o meu
devemos ter em mente a infusão da vida espiritual, corpo... », exigem uma interpretação mais profunda e
recebida mediante a fé, e não algum elemento completa do que isso. Lutero também não se satisfazia
sacramental. Isso fica demonstrado pelo fato de que a com a explanação de Tomás de Aquino que
grande passagem joanina sobre a «água da vida» (o afirma que há alguma alteração substancial nos
quarto capitulo do evangelho de João), que nos elementos do pão e do vinho, de tal modo que, em
fornece maiores detalhes sobre a significação tencio- alguma maneira mística, mas perfeitamente real, o
nada acerca dessa «água», é registrada em um trecho pão e o vinho tornam-se verdadeiramente, no corpo e
totalmente separado do capítulo que versa sobre o no sangue de Cristo. Por essa razão é que Lutero criou
batismo do Senhor Jesus. Ali a «água da vida» figura essa doutrina que veio a chamar-se de «consubstan-
como a comunicação do Espírito Santo à alma ciação».
humana (ver João 4:23,24), em que essa água «mana»
como uma fonte eterna, uma ação continua e Essa doutrina preserva a presença de Cristo, «com»
toda possessiva, e não uma ação momentânea, como e «em» os elementos, embora não requeira qualquer
se verifica no caso de qualquer rito. Além disso, modificação real nos próprios elementos do pão e do
deve-se notar que no trecho de João 7:39 o próprio vinho. Conforme o ponto de vista luterano, os
autor sagrado interpreta o símbolo da água, ao dizer: elementos permanecem exatamente o que são, mero
«... Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam pão e mero vinho, sem qualquer modificação ou
de receber os que nele cressem... » Torna-se evidente, transferência de substância. Antes, através de algum
portanto, que vocábulos como «pão», «água», «porta», processo místico, a «presença» do corpo e do sangue
etc., são expressões que indicam elevadíssimas de Cristo é preservada, «em, em volta e sob» os
verdades espirituais, misticas quanto à sua natureza, elementos não- modificados do pão e do vinho. Ora,
e não sacramentais. Fica suposto com razão, neste isso cria um «dualismo», pois duas substâncias
sexto capitulo do evangelho de João, segundo distintas são misturadas, embora não intrinsecamente
acredito, que o «sangue» de Cristo, que é «...verda- misturadas. Essa explicação pretende nos levar a crer
deira bebida... ,. (João 6:55), tem um sentido que há uma espécie de «amassar ambos as
equivalente ao atribuido à «água», nos capítulos substâncias em uma única massa», mas que, ao
quarto e sétimo do evangelho de João, e que mesmo tempo, ambas as substâncias continuam
abordamos aqui a transmissão da vida divina, por distintas e independentes. Dentro da designação
intermédio do Espírito Santo. «consubstanciação», pois, a primeira parte, «con»
(scom-), significaria que a substância do corpo e do
O modo de expressão do evangelho de João, sangue é unida à substância do pão e do vinho,
portanto, é místico, e não-sacramental. embora não se deva pensar que tomaram aquelas o
Interpretaçies Centr.. do Sexto Capitulo do lugar destas últimas.
Evugelho de Joio Alguns estudiosos evangélicos têm rejeitado essa
a. A IDterpretaçio 51mb6llca noção porque ela parece requerer a onipresença do
A maioria dos intérpretes protestantes concorda corpo e do sangue de Cristo, o que, sem dúvida, é uma
sobre o fato de que neste sexto capitulo do evangelho idéia monstruosa. No entanto, de acordo com
de João, há uma alusão à eucaristia ou Ceia do conceitos teológicos e filosóficos mais refinados, que
Senhor, apesar disso não ser explicitamente declara- empreguem a idéia dos «universais» de Platão, ou o
do. Mas esses intérpretes (exceto os luteranos) elemento místico da descrição aristotélica sobre o que
ordinariamente manuseiam essa passagem do mesmo é uma substância, não somos forçados a imaginar
modo que o fazem com Mat, 26:26. Nesse caso, o qualquer corpo ou sangue literais, como se os mesmos
«corpo» (aqui é o «pão») nada tem a ver com o corpo tivessem características de onipresença. A maioria dos
literal de carne e ossos de Jesus, se estamos falando eruditos luteranos, entretanto, tem abandonado essa
sobre o beneficio espiritual e a transmissão real que se explicação, porque não há como alguém demonstrar
destacam neste capitulo; antes, esse «corpo» 011 «pão» tal coisa, sendo um conceito que necessita de pura fé
é a infusão da vida espiritual, sendo meramente para que seja aceito. Outrossim, tal conceito está
simbolizado pelo corpo literal de carne, que foi alicerçado sobre a especulação, e não sobre qualquer
partido e alquebrado por nós. Similar é a explicação realidade implícita nas Escrituras.
que se deve dar em relação ao «sangue». O sangue, n. Teoria da tr....ubstandaçlo. Essa é a
que foi verdadeiramente derramado, é o símbolo do explicação fIIOIÔflea.teol6glca de Tomás de Aguino,
Novo Pacto, bem como tudo quanto isso representa na que se tornou a maneira usual da Igreja Católica
vida espiritual dos crentes. A expiação exige o Romana explicar o sentido da declaração de Cristo:
sacrificio real do corpo, bem como o derramamento «Isto é o meu corpo... » Depende das descrições
do sangue; mas isso foi um ato efetuado de uma vez filosóficas aristotélicas acerca de «substância», bem
para sempre, que jamais pode ser repetido. E o como das explanações de Platão sobre o «universal».
beneficio que isso produz para os homens - a vida Por causa disso, pessoas filosoficamente destreinadas
eterna - é perpétuo, ainda que o próprio ato da não têm podido compreender muito exatamente o que
expiação não tenha sido perpétuo. Notemos, além a «transubstanciação» procura dizer. É quase
disso, que o Senhor Jesus proferiu as palavras «isto é o impossível ter a idéia certa do que essa doutrina
meu corpo... » enquanto ainda vivia fisicamente; pelo significa, se primeiramente não Hvermos algum
que também parece-nos lógico supor que ele falava entendimento sobre certos aspectos da metafisica de
em termos simbólicos, porquanto se torna uma Platão e Aristóteles. Aqueles que estudam a história
44
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
eclesiástica sabem que. a começar pelos pais gregos qualquer tipo de teste químico e cientifico, chegando
da igreja Justino, Clemente e Orígenes de Alexandria. mesmo ao exame da estrutura atômica do pão e do
e continuando com Agostinho e chegando até os vinho; e, após o rito, podemos sujeitar o pão e o vinho
tempos de Tomás de Aquino (l2S0 D.C.). a teologia aos mesmos testes. E mesmo que os dois testes
cristã vem sendo expressa pelo veiculo da filosofia produzam resultados exatamente idênticos, podemos
platônica. Pelo tempo de Tomás de Aquino, e dizer que a «substância». aquele elemento místico, foi
especialmente no caso dele, a ênfase se alterou para alterado, porquanto os testes cientificas podem
modos aristotélicos de expressão. ao passo que os examinar meramente os «acidentes». Se imaginâsse-
modos platônicos de expressão não foram totalmente mos testes cientificos ainda mais complexos e exatos.
abandonados. Quando surgiram controvérsias acerca mesmo no número de milhares deles, e depois de tudo
da abordagem filosófica da teologia, empregada por não descobrissemos qualquer diferença no pão e no
Aquino, para dar solução à pendência, o papa Leão vinho, antes e depois do rito, .não precisariamos ficar
XIII pronunciou-se em favor de Tomás de Aquino e a perturbados com isso. pois nos preocuparlamos
sua filosofia se tornou a expressão oficial da doutrina meramente com a substância dos elementos, e não
da igreja romanista. E foi desse contexto que se com os seus acidentes, e a ciência jamais poderá dizer
desenvolveu a explicação sobre a eucaristia que tomou ou descrever qualquer coisa sobre a substância, mas
o nome de «transubstanciação», somente sobre os acidentes dos elementos.
Abaixo tem... lIIIIa tentatl...a de declarar, de forma A DebUIdade ..... Teoria pode . . DeeIMada
breve. o que essa idéia ensina. Acredita~se que a Cemo Sepe:
substância ou «essência» do pão e do vinho é 1. Alguns pensam que foi criada uma mera
'suplantada' pela substância do corpo de Cristo. especulação filosófica, pois essa questão jamais
Essa «substância». entretanto, nada tem a ver com os poderá ser examinada, - mas deve ser sempre
«acidentes» do pão e do vinho. Os «acidentes» são aceita pela fé ou rejeitada pela fé. É possivel
todas aquelas caracteristicas que, de um modo ou de que alguma forma de «substância» misteriosa
outro, podem ser sentidas pelos cinco sentidos. ou tenha sido criada, mas nunca podemos estar certos de
percepção dos sentidos. Assim, pois, tudo que há a que ela é mais do que imaginária.
respeito do pão e do vinho que pode ser tocado. visto,
pesado, testado quimicamente (pois os testes quimi- 2. A sua maior fraqueza, entretanto, até onde
cos são apenas extensões complexas da percepção dos interessa a pessoas biblicamente treinadas. é que não
sentidos), é chamado de «acidentes». Portanto, tudo existe qualquer explicação dessa natureza dada nas
quanto podemos saber cientificamente, acerca desses Escrituras. e que. apesar dessa teoria ser engenhosa,
elementos. são apenas os seus «acidentes». Por outro aristotélica, platônica e aqüiniana, a verdade é que
lado, a «substância» desses elementos é aquilo que ela não é joanina, e nem evaRgélica.
compõe o pão e o vinho reais, que dão apoio aos meros 3. Se os elementos do pão e do vinho têm sua
acidentes. É nesse ponto que invocamos Aristóteles e substância alterada para a sabstância do corpo e do
Platão para que nos ajudem a compreender o que é sangue de Cristo, então, segundo algumas pessoas
«substância». De conformidade com a discussão pensam, e com razão. o pão e o vinho se tomam
aristotélica sobre o que é substância, ele fala de uma objetos próprios de adoração; e isso é repugnante para
espécie mística de elemento, que subjaz e dá apoio aos os crentes, porque seria uma forma disfarçada de
acidentes. Não se trata de algum elemento que possa ..idolatria», ou. pelo menos, tenderia nessa direção.
ser percebido. em qualquer sentido, pela percepção 4. Outros estudiosos saüentam que essa idéia não
dos sentidos humanos, a despeito do que é tem qualquer base nos ensinos patrísticos (isto é, não
perfeitamente real. se acham nos escritos dos primeiros pais da igreja e,
Isso não é totalmente diferente da doutrina de John poderíamos acrescentar, nem em parte alguma dos
Locke que fala sobre «41go que não sei o que é». Para escritos apostólicos), não passando de uma criação-
ele, as coisas se compõem de «qualidades primárias». posterior. não sendo, portanto, obrigatória para a fé.
coisas tais como peso, extensão no espaço. estrutura 111.. u... aItcrDatiYa para a ca_ ••••1açIe
atômica, etc., e secundárias, tais como cor. odor. e a tra 1IIÇ:Ie e- que procura permanecer
paladar, etc., que não são necessárias para a existên- dentro da categoria da iatapretaçlo sacramental,
cia das coisas. ao passo que as qualidades primárias o porque, à semelbança de O1ltras teorias afirma que o
são. Porém, além das qualidades primárias e corpo e o sanpe de Cristo do recebidos de alguma
secundárias, existe aquela outra coisa, "algo que não forma real no ato da participação dos elementos,
sei o que é», que também faz parte da substância das consiste da simples asserçio de que ..de alguma
coisas. E por essa razão é que Aristóteles falava em maneira. DIo sabemos dizer COIBO» , a verdade é que
uma espécie de coisa, «algo que não sei o que é». um isso reaimente acontece - o corpo e o sangue de
elemento místico, que seria a «substância» das coisas. Cristo se fazem presentes DO pio e no vinho, quando
Já Platão se referia ao «universal», que é uma espécie do rito da Ceia do SeRhor. Os defensores dessa
de existência própria do outro mundo, separada e alternativa não teRtam explicar a questão com
distinta dos objetos fisicos, mas segundo a qual os qualquer esclarecimento. mas fazem da situação
objetos fisicos são feitos e da qual eles parti- inteira um objeto da mais pura fé, sem a necessidade
cipam. como uma espécie de realidade inferior. de quaisquer descrições teelógicas ou filosóficas.
Conforme se vê, essa terceira posição procura
Assim, pois. no rito da eucaristia. de conformidade preservar. à semelkança das duas primeiras. o sentido
com a teoria da «transubstanciação», nenhum dos literal das palavras de Cristo: Isto é o meu corpo ....
acidentes dos objetos físicos se modifica, mas é a' embora também afimte que nio existe qualquer
«substância» que se altera. Esse elemento místico, que explicação satisfatória qoe se possa dar a respeito,
não é percebido por qualquer sentido humano, mas dentro do nosso preseMe estado de conhecimento.
que é a porção mais real de todos os objetos, é Ordinariamente, em paralelo com todas as
substituido pela «substância» do corpo e do sangue de interpretações csxrameaatais». fica suposto que a
Cristo, isto é, essa substância é «transferida. para o participação fiska deselemeatos do pio e do vinho. é,
pão e o vinho. Dessa idéia. portanto, é que se deriva o ao mesmo tempo, o recebimento literal de Cristo e das
termo «transubstanciação». E assim, segundo essa bênçãos que ele proporciona, especialmente da
teoria, antes que o rito tenha lugar, podemos realizar bênção da salvação, porquanto tal rito ê encarado
45
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
como necessário para a salvação, se não é mesmo a possível, de tal maneira que se tornam participantes
única coisa necessária para a salvação. da natureza divina, segundo também aprendemos em
e.A~MIIdca passagens neotestamentárias como 11 Ped, 1:4; Rom.
Essa interpretaçlo afirma que aquilo que Joio dizia 8:29 e Efé. 1:23. Sendo participantes da natureza
nessa passagem não é que os beneficios se derivam da divina, os crentes participam da essência ou
participação nos elementos. do pão e do vinho substância literal do ser de Jesus Cristo. Em outras
(conforme assevera o ponto de vista sacramental) e, palavras, são feitos seres dotados da mesma natureza
sim, se deriva da ..realida4te simbelizada» por esse que ele, superiores aos próprios anjos, «filhos de
rito. Essa realidade s ~ é tudo quanto Cristo Deus» autênticos, tal como Cristo Jesus é o Filho de
significa pal"a a alma.. Oventadleiro pão e o verdadeiro Deus, filho por força da participação real na natureza
vinho sio os beDetIcios fJ'IIC sobrevêm à alma dos divina, e não apenas de nome, ou por motivo de
homens.,; e Dão atpms e-.laleuecebidos pelo corpo, consideração.
mediaate a. ~().'~l'O pão é o ..pão Segundo creio, isso é o que ensina o sexto capitulo
ce~tiaf".1·~ pilo. cplIII~. do céu, o que é do evangelho de João. No entanto, cumpre-nos
relteJ'&do,prilI'. 5e1e' ~ . . . sexto capitulo do prosseguir com a explicação.
eva.ng:dho .Jol.(4ver'~~33.41,42,50,51e 58). A eucaristia ou Ceia do Senhor é o «símbolo»: e essa
E isso ss......a.queoplcloesl'. tal é a transmissão da total transformação segundo a imagem de Cristo (a
vida proveaiest1': do cê»,~,JIJltUIto foi feito através conseqüente participação na vida divina e eterna) é a
de CrisioellkS&a''V~ npi~e ressurreição, bem realidade simbolizada. A Ceia do Senhor consiste na
como ainNés' do Milii~.atual de seu Espírito participação de um elemento fisico - o pão e o vinho
Santo, O' qual tra~ os homens segundo a - pelo corpo físico. Simboliza a participação de um
imagem. Cristo, ~ assim à glória, não elemento celestial e mistico por parte da alma, o que
envol.end&merallleAte·. 1iJ'aInação da eucaristia ou não ocorre apenas ocasional e temporariamente e,
Ceia ~ SentIor, ·sem úBportaF quaisquer beneficios sim, continua e eternamente. O pão dos céus,
que esse rito- po5S& eoaferir . . homens. O sangue de portanto, é a vida de Cristo no homem, mediante o
Cristo ê que satisfaz. tod8s os anelos espirituais, e que uma pessoa não somente viverá eternamente, mas
isso não pode sei" redu:z.idO' aos estreitos limites 00 ato também possui a vida eterna, que é uma espécie de
simbôsee da Ceia do Senh«'. Trata-se. portanto, de vida - a vida de Deus, em Cristo - e não apenas a
uma transaçlo cetesti:a1. acima. além, separada, mas existência de duração eterna.
simbolizada pelo rito da Ceia do Senhor. Os trechos de João 5:25,26 e 6:57 nos ensinam algo
A eucaristia ou Ceia" Senhor, conforme é sobre essa «vida eterna». Essa vida é necessária e
normalmente observada. se caracteriza pelas seguin- independente. Essas são as únicas passagens, em todo
tes particularidades: . o N.T., onde essa doutrina é ensinada diretamente.
1. Ela é sacrameatal (seu: .alor é recebido mediante Existem muitos níveis de vida, começando pelos
.>'
a partíciJ'oçio Jl(). PJ'ÓPI'ÍO' animais unicelulares, os mais simples de todos. Dai
vamos passando para formas mais complexas de vida,
2. Eba.f-·ocasioaat (:suapaiodrdpação ocorre em um
mame. . ou;oUtroJ. como a dos insetos, a dos vertebrados, etc., até
chegarmos ao homem. Ao chegarmos ao homem,
3. S. é ~aI Ú'fOCli.:set repetida, e os seus encontramos uma forma de vida muito complexa, que
beneftcios.sóse tomadIt~"'.mediantea repetição). já encerra em si mesma tanto o elemento físico como o
Por6~ ~.".'s,~pela eucaristia ou espiritual, pois, na realidade, o homem é um ser
Ceia doSe&ior é·a. rHJI;rf••. cwpiritual que devemos espiritual, não muito inferior em estatura aos anjos,
procUl"af' ~ ~ ....... E suas particulari- embora, temporariamente, exista aprisionado em um
dades. ~ c~' CDIIIIIf" da posição descrita corpo fisico. Subindo ainda mais na escala da criação
acima, sio: ...' . inteligente, chegaremos a outros seres espirituais, de
1. Essa Ie t:~ ~ é infusão mistiea do estatura superior à do homem, seres que são puros
Espíritó. de ne.s ea' .... a personalidade do
individller, . . . . . ~; mlrill. de Cristo,' recebidos
espíritos e intelectos. Entre os próprios anjos existem
vários níveis de existência, pois podemos subir aos
med~. a. fê. (ws Joie.6e35). Isso importa em arcanjos. Ora, todos esses seres são dotados de uma
com~.fti:caÓlJoM'~e.ao utilizarmos aqui «modalidade» qualquer de vida, e nisso as vidas
«irreal... ..-s ames,. . . . . _kJi
o adjetWo ..mIsticaoo ~ • Wf:;IboS dar a entender
alguma comunica-
ção vetdadeiFa com O" SCIS divino, um comacto
diferem, embora muitos desses seres sejam «imortais»,
e, por conseguinte, possuem vidas «intermináveis». E
então, no pináculo mesmo da hierarquia da vida,
autênticocmaDeus,. ·flUO ~.-*fiDiçã<> mais básica do eleva-se Deus.
misticisl'lflf) (vide). ~ allJilesofia.
2. Essa realida.de é ~ - essa comunicação, Someate De.. é verdadeiramente Imortal. no
contacto e enchimemo- ~ com o Espirlto de sentido de que somente ele possui vida em si ...-mo,
Deus não, ocosre ~ . ati'atvés da eucaristia. mas derivada de si mesmo. Pois todos os demais seres
antes, é UID.$ e ~ e.tinua, para todos os possuem uma vida «derivada» ou dependente. Por
crentes ven:Iadiekos. Peded*s. dizer mesmo que o conseguinte, somente Deus tem uma vida «indepen-
crente ~bJa) está eavoIQdo.. em uma eucaristia dente». Outrossim, somente Deus possui a vida
místicae espirituaiCoattrn,do que o rito literal da «necessária», isto é, não fora a sua graça, nenhuma
Ceia do Senhor setve de siMlJelo vivido. Porém, aquilo outra vida poderia existir. Somente Deus «não pode
que Deus faz DaS pessoas. e pelas pessoas. ele o faz deixar de existir». Todos os outros seres pertencem a
continuamente. e isso leva. 05 crentes à transformação uma categoria em que a sua não existência ê
segundo a imagem moral e naetaftSica de Jesus Cristo. perfeitamente concebível para sempre.
Assim, pois, esses versículos do evangelho de João,
3. Essa realidade 6 eterrNI - o resultado dessa citados acima, ensinam a doutrina da vida «necessá-
comunicação constante coa o. ser divino, através do ria» e «independente» de Deus. Contudo, ensinam-nos
Espirito S. .to·( ver Joio 1:38~39} é que os homens são uma doutrina ainda mais extraordinária. E essa
tÇlt.almente traDSformades segundo a imagem de doutrina é que Jesus Cristo, «na qualidade de
Cristo, tornando-se verdadcirámente participantes da homem», quando de sua encarnação, tendo-se então
«substância» de Cristo, no sentido mais literal tornado o homem representativo, recebeu esse tipo de
46
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
vida «necessária» e «independente». É verdade que ele observar certos particulares:
já a possuía corno o Filho de Deus; mas, corno a. Além da mensagem geral expressa por este sexto
homem, recebeu-a de Deus Pai. (O trecho de João capítulo do evangelho de João, considerado como um
5:26 diz-nos expressamente que a Jesus Cristo foi todo, devemos voltar a atenção para os versículos
«dada» essa modalidade de vida). 32,33,38,41,50,51 e 58, que falam acerca do «pão
celeste». Não se trata do corpo físico de Cristo, e nem
E os trechos de João 5:2S e 6:57 dizem-nos que de qualquer «substância» mística desse corpo, e, sim,
Cristo tem o poder e a autoridade para conferir essa de tudo quanto Cristo significa para os remidos - ele
forma de vida aos outros homens também. Para essa é o seu alimento espiritual. Quando o redimido é
exata finalidade é que todo esse quarto evangelho foi assim alimentado, ele é transformado segundo o
escrito - a outorga e o recebimento desse tipo de vida modelo da imagem do Filho, moral e metafisicamente
divina, vida essa que nem mesmo os anjos, por mais falando.
elevados e majestáticos que eles sejam, jamais
possuirão. Por essa mesma razão é que a Biblia b. Devemos dar atenção especial ao versiculo
declara que os crentes se tornam a plenitude de cinqüenta e sete. O Filho de Deus recebeu essa vida
Cristo, aquele que preenche a tudo em todos (ver Efé. necessária e independente da parte de Deus Pai. Ele a
1: 23). Ora, isso jamais foi atribuido aos anjos, recebeu mediante a comunicação espiritual, e não
conforme é aqui atribuído aos crentes. Os homens, através de qualquer sacramento de que tivesse
por conseguinte, se tornam verdadeiramente «imor- participado, estando ainda em sua peregrinação
tais», no mesmo sentido em que o próprio Deus é terrena. Exatamente da mesma maneira, os crentes,
imortal, isto é, «não podem deixar de existir». Os por intermédio de Cristo, recebem a transmissão
crentes também recebem vida em si mesmos, são dessa mesma vida, por parte de Cristo, sem a interven-
auto-existentes, tais como o são Deus e Deus Filho. ção de qualquer meio sacramental. - O versiculo
Ora, essa é a eucaristia celestial, através da qual tudo cinqüenta e sete deste sexto capitulo do evangelho de
quanto Cristo é, em seu ser essencial, é transferido aos João, pois, compreendido corretamente, parece exigir
remidos. E a eucaristia terrena, ou cerimônia da Ceia a interpretação mlstica para toda essa passagem.
do Senhor, é tão -somente o sinal simbólico dessa c. O «modus operandi» dessa transmissão de vida
profundissima realidade. A realidade espiritual é a aparece no versiculo trinta e cinco. Aqueles que «vêm»
«realidade simbolizada», que precede, transcende e a Jesus participam do pão da vida, e nunca mais
perdura infinitamente para além do mero símbolo. sentem fome espiritual. Aqueles que «crêem» partici-
A kaDlab.tanclaçlo elpldtaal - Isso é que o pam da «bebida espiritual» que mitiga para sempre a
presente texto nos ensina, ou pelo menos, podemos sua sede. A «vinda» a Jesus consiste na, entrega total
lançar mão desse vocábulo a fim de expressar a da alma nos braços de Cristo. Ora, a Ceia do Senhor
mensagem do mesmo. Através dessa «transubstancia- simboliza essa verdade; e a participação em seus
ção espiritual», portanto, o ser de Cristo é insuflado elementos, de uma maneira correta, e com a atitude
no ser do homem, havendo então a modificação de certa, é então uma parte integrante dessa entrega;
substância, vindo assim o homem a participar da mas a própria Ceia do Senhor não é essa entrega.
natureza ou substância divina. Aquilo que é Outrossim, o beber da «água da vida.. (conforme a
normalmente chamado de «transubstanciação», por- definição de João 7:38,39) é o ministério realizado no
tanto, se arrasta na direção dessa elevadissima idéia homem interior do crente por parte do Espírito Santo.
bíblica, ainda que errônea e imperfeitamente. Ele como que emana continuamente no interior do
crente individual, sempre transformando-o mais de
E a Ceia do Senhor, visto que contém os emblemas acordo com Jesus Cristo. Portanto, trata-se de urna
do corpo e do sangue de Cristo, de sua expiação fonte que borbota do interior, e o resultado final é a
realizada em favor dos homens, que é verdadeiramen- «vida eterna», isto é, um tipo de vida, a vida divina, e
te o instrumento que leva a essa modificação celestial, não apenas uma existência sem fim.
serve de «sinal simbólico» de todo esse processo.
Reduzir o ensino do sexto capitulo do evangelho de Ela ....... opIaIIo,isso é o que o sexto capitulo do
João somente ao «sinal simbólico», ou supor que a evangelho de Joio pl'OC\U'& 1IOI1I'ansm.itir, sendo uma
concretização da realidade simbolizada se verifica dentre três ou quatro das mais profundas passagens
através da participação em urna mera ordenança ou espirituais de todo o N.T. E essas outras passagens,
sacramento, e não misticamente - através de tudo igualmente profundas, nonnalmente abordam o
quanto o Espírito Santo opera no homem interior, mesmo terna. (Ver o oitavo capitulo da epístola aos
corno o agente divino transformado - é compreender Romanos e o primeiro ,capitulo da epístola aos
pouquíssimo e equivocadamente desse texto tão Efésios), O primeiro capitulo. do evangelho de João é
profundo. igualmente profundo e iDdlIi_ . . . . de «luz»e dos
«filhos de Oeus.., o mesnw assullto aqui ventilado;
Indleaçla EsllteDteI DO Sexto c.pttalo do porém, aborda essa qu<aio do . . ponto de vista
EY....eIho de Joao diferente, sob a forma de simboIos e ...~ões.
Sobre a Veracidade da Interpretação Mística «... Seu divino podei' IJOIS ..... 4ado tudo quanto é
O sexto capítulo do evangelho de João, considerado necessário para a vida e apieUde. através do nosso
em sua inteireza, fala acerca de tudo quanto Deus faz pleno conhecimento da4-e'eqlle, mediante a sua
nos homens, pelos homens e com os homens, por glória e excelência, ftOli tOh:-.oupal'a si mesmo.
intermédio de Jesus Cristo, que é a nutrição espiritual Através dessas é que ele ftOS ~ cIoadoas suas
total do homem, e o seu princípio de vida. Isso preciosas e gloriosas pr.-essu., afim de que, por
ultrapassa a qualquer coisa que possa ser ensinada meio delas, depois de ·teRIes • escapada da
pela própria Ceia do Senhor, embora a eucaristia seja corrupção que está no muado, por causa de seus maus
um vivido sinal simbólico de toda aquela concretiza" desejos, possais vir a ~ ea .....reza divina".
ção divina. Fica salientada, por conseguinte, a (11 Ped. 1:3,4, COMonae a trachIçio inglesa de
perfeita operação realizada pelo Espírito Santo, Williams, aqui vertida para o português).
através da total existência da alma, até à sua completa O vocábulo grego aqui traduzido por «Qawreza.. é a
glorificação. E, novamente, a Ceia do Senhor, por si mesma palavra regulat"'8lleDte tr. .trida por «essên-
somente, não pode significar tudo isso, embora cia», «substância» ou c$iIÇI"», ia4icattdo a aatureza
simbolize toda essa verdade. Cumpre-nos, todavia, essencial, em contraste .CCKl\ âs meras caracteristicas
47
PÁO DA VIDA - PAPA. PAPADO
adquiridas. A sua forma verbal é o termo grego universal. Esse vocábulo vem do latim bárbaro,
ordinário que significa «gerar.. ou «produzir... Por papatia, com base na palavra latina papas, «pai».
conseguinte, manuseamos aqui com a natureza Essa palavra também pode referir-se à sucessão dos
essencial de alguma coisa, quando empregamos essa papas e à administração ou governo que eles exercem
palavra. Não existe conceito espiritual mais elevado sobre a Igreja Católica Romana. Quando escrita com
do que esse, o qual fala sobre homens que passam a inicial maiúscula, essa palavra indica o sistema
participar da própria natureza divina, sendo esse o governamental católico romano (o governo por meio
tema central em torno do qual gira a mensagem do dos papas).
sexto capitulo do evangelho de João. João Scotus A hist6ria revela que tem havido um desenvolvi-
Erigena (877 D.C.) percebeu o verdadeiro alcance menta gradual do oficio papal e de seus poderes,
dessa doutrina e a ensinou, ainda que, infelizmente, começando pela própria invenção do conceito. Esse
não muitos mestres evangélicos modernos tenham desenvolvimento gradual, porém, não parece coisa
tido o mesmo profundo discernimento. estranha para a Igreja Católica Romana, cuja teologia
A participação na natureza divina pelos filhos será diz que a doutrina cristã evolui com a passagem do
de modo finito, enquanto o Pai participa nesta tempo, e que o Novo Testamento representa apenas
natureza infinitamente. Durante toda a eternidade um estágio inicial dessa evolução. Por sua vez, os
esta participação dos filhos será continuamente grupos protestantes e evangélicos relutam em
aumentada, mas o finito nunca alcançará o reconhecer qualquer doutrina que não seja especifica-
infinito. A glorificação será um processo eterno. mente ensinada e descrita nas pâginas do Novo
Referências e Idéias Testamento. Naturalmente, essa idéia é um dogma,
1. Participação na divindade, II Ped. 1:4 não sendo algo requerido pelo próprio Novo
2. Participação na plenitude de Deus, Efé. 3:19 Testamento.
3. Participação na natureza e atributos de Cristo, Visto que a questão do papado nunca aparece no
Cal. 2:10 própt!0 daNovobTebstamenhi~o'6~ mistetr lqóu~ ela seja
exarmna so re ases st ncas e eo gtcas, como
um desenvolvimento gradual que requereu séculos
PÃODIÁRIO para chegar ao que é hoje.
D. DeunvohlmeDto HIstórIco
Esse é um dos elementos constitutivos da oração do 1. Começando pelo ap6stolo Pedro, que encabeça a
Pai Nosso. lista dos papas, de acordo com a Igreja Católica
Romana, o papado teria começado nas distinções e na
PÃO DO ALTAR autoridade maior desse apóstolo em relação aos
demais apóstolos. Isso com base em Mat. 16:18 ss,
Pão especialmente preparado para sei' usado no uma passagem extremamente controvertida. Temos
Ceia do Senhor. ou sem fermento (no Ocidente e na preparado um artigo detalhado sobre o assunto,
Igreja da Armema) oucomfenDento(noOriente). No intitulado Fundamento da Igreja, Pedro como. Ver
anglicanismo, o uso de pio sem fermento foi revivido também Fundamento da Igreja, Cristo como; e
no século XIX. O termo «hóstia» é usado para indicar Chaves, o artigo inteiro, sobretudo a seção li, As
esse tipo de pão. (E) Chaves e Pedro. Os intérpretes protestantes e
evangélicos insistem em que os trechos de Mat. 18: 18
e Joio 20:22,23 estendem a todos os apóstolos os
PAPA, PAPADO mesmos privilégios que foram dados a Pedro, em
Mat. 16:18,19. As chaves do reino (o privilégio de
Esboço: abrir a entrada do reino de Deus-uma realidade
I. Termos e Definições espiritual, e não alguma organização eclesiástica-
11. Desenvolvimento Hist6rico aos homens) foram outorgadas a todos os apóstolos, e
111. Opiniões Divergentes Sobre o Papado não somente a Pedro. Ver o artigo geral sobre Pedro
IV. A Usta dos Papas (Ap6stolo) , que aborda todos os detalhes concernen-
tes à sua pessoa, ao seu oficio e à sua possível posição
I de bispo da igreja cristã de Roma. Ver também os
• T. . . . e ~ artigos intitulados Sucessão Apostólica e Perdão de
O termo ptqXl vem diretamente do latim. papas P, do lo .tI_Á~ l
(derivado do grego, ptIpJNfIS)., .pailt. Esse vocábulo. em eca s pe s ~to os.
seu uso mais antigo, .Rlferia-se a qualquer bispo Ped1'o, Bispo de Roma? Papa? Essa questão de
im~te ou notbel, camo Cipriano. que foi asSim Pedro ter sido bispo de Roma foi adequadamente
intitulado. Na Igreja orieIItá, era 'URl tiaJIo apticado ventilada no artigo Pedro (Ap6stolo), pelo que esse
ao bispo de Alexandria. A,PIIIawa srega, JN'PPiU. a~ material não é aqui reiterado. Basta ser dito aqui que
hoje é aplicada aos cpadftslt da I@reja Ortodoxa um apóstolo, sem importar onde tivesse residido, pelo
Oriental. Mas optqKl, ~ . ~apecificamente, menos teria exercido a autoridade de bispo ou pastor
o cabeça da Igreja Catlóliea·RomMIa. Ele ~tem Baquelama. ~ inútil tentar reduzir a autoridade de
o titulo de Visirio de CriÃO.GU., «SUbstitlsto de Pedro. em Roma, a menos do que isso. E a tradição
Cristolt; e, como tal, é ~ () chefe da Isreja de que ele passou seus últimos anos de vida em Roma
universal, aJcuém que ~ aasmi.os o poder de é muito sólida. na história e nos escritos dos pais da
Cristo, podendo exercê-lo-l:taee4a teara. 'Oatrotftulo Igreja. Mas, o ter sido ele bispo de Roma não é a
do papa é Ponti/ex M«ri-ur. ce1adfe <:oDStnator de mesma -eoisa que ter sido ele o primeiro papa, no
pontelt• A idéia desse *-lo é que ele é osrande sentido que a teologia católica romana dA a esse
intermedi6rio entre ·Deus -e os homens,senoiRdo de tk:u10. A esmagadora maioria dos conceitos que
uma espécie de ponte. A tradiçlo catlJIica llOmMIa faz envolvem o papado surgiu posteriormente, algumas
do papa o sucessor de Pedro e possuidor' das Chaves vezes séculos mais tarde que os dias de Pedro, sem
(vide). qualquer sanção biblica ou nos escritos.
O PlIpQdo. Esse termoiDclicaoGflcio.adianidade e Pedro Nunca Foi Papa no Sentido de João Paulo 11.
a jurisdiçio do papa, () bispo ele Roma, que teria o dogma cat6lico romano, a bem da verdade, não diz
poder sobre todos os bispos, em sua liderança que a significação do primado petrino manifestou-se
48
PAPA, PAPADO
desde o começo com a pujança que adquiriu reforçou o prestigio de Roma como defensora da.
posteriormente. Ninguém pode provar que Pedro, ou ortodoxia.
mesmo os primeiros bispos de Roma, atuavam 4. Roma imperial, naturalmente, reconhecia mais
conforme o fizeram os papas medievais e contemporâ- os bispos cristãos de seu próprio território do que os
neos, A estatura do papado, segundo os teólogos bispos cuja jurisdição ficava fora de sua esfera de
católicos romanos mesmo admitem, foi crescendo mui influência romana. Isso se verificou antes mesmo da
gradualmente, tendo sido sancionada por Deus conversão de Constantino ao cristianismo, um fator
mediante um processo evolutivo, até que chegou à sua que tendeu por exaltar ainda mais ao bispo de Roma.
atual magnitude. A explicação deles é que a Igreja, 5. O imperador Aureliano, em 274 D.C., decidiu
em expansão, a cada período histórico, contou com que as propriedades cristãs de Antioquia ficariam na
um papado à altur-a das circunstâncias. Diferentes dependência das decisões dos bispos de Roma e da
periodos históricos tenam requerido diferentes tipos Itália. Essa intromissão imperial teve por base apenas
de papado, o que explica um oficio papal cada vez; um sentimento bairrista, e não que ele reconhecesse o
mais abrangente e de maior autoridade. primado de Pedro, pois nem cristão ele era.
Nataralmente, oe teóIoaoe prote8taDtes e evan- 6. Cipriano, bispo de Cartago (200-258 D.C.), o
gélicos vêem nessa explicação apenas uma tentativa maior eclesiástico do século 111 D.C., falou enfatica-
de justificação para uma excrescência extrablblica, mente da supremacia de Roma sobre o resto da
autopromovida; mas os teólogos católicos romanos, Igreja.
como é natural, nada vêem de estranho nessa idéia 7. Camélia. bispo de Roma (251-253 D.C.), foi
evolutiva que envolve não somente o papado, mas capaz de depor bispos rivais. Estava crescendo a
toda a organização eclesiástica da Igreja Católica prepotência dos bispos de Roma.
Romana. Somente mediante essa evolução a Igreja 8. A conversão de Constantino (no inicio do seco IV
poderia ter-se tomado uma entidade universal e um D.C.) obviamente em muito contribuiu para aumentar
poder mundial. o prestigio dos bispos de Roma. Talvez tenha sido
Voltando, porém, à questão de Pedro, deve-se então que começou o papado, ainda incipiente, posto
admitir que ele, pelo menos, foi bispo de Roma, cuja que ainda teria de haver muita evolução histórica para
palavra exigia respeito em qualquer dos segmentos da que o papado, como ele surgiu na Idade Média em
Igreja cristã de sua época, tanto por ser ele bispo na diante, realmente viesse a caracterizar-se.
capital do império romano, quanto, muito mais 9. A Cidade de Deus, obra escrita por Agostinho,
ainda, por ter sido ele um apóstolo de Cristo I foi uma defesa da supremacia da Igreja sobre o
Pedro e Paulo. A declaracão de Paulo, em Gâ1. 2:7, Estado, aumentando o prestigio dos bispos de Roma.
que o evangelho lhe fora confiado para o beneficio dos Foi a partir dai que a Igreja organizada começou a
povos gentllicos, e que o mesmo evangelho fora envolver-se pesadamente em questões seculares, no
confiado a Pedro para o beneficio dos judeus, pode ser governo, etc., fatores esses que se tomaram ainda
interpretada como indicação de que esses dois mais preponderantes durante o periodo da Idade
apóstolos de Cristo destacavam-se acima dos demais, Média. Agostinho foi bispo de Hipona, no norte da
em seus respectivos ministérios. África, a começar em 396 D.C. Essa idéia choca-se
2. O Caso de Policarpo. Policarpo foi discipulo do diretamente com a doutrina de Cristo, que disse:
apóstolo João, e veio a tomar-se bispo de Esmima. «Dai, pois, a César o que é de César. e a Deus o que é
Ver o artigo separado sobre ele. A páscoa era de Deus- (Mat. 22:21).
celebrada em datas diferentes, na Igreja oriental e na 10. O Coneflio de Calcedônia (451), presidido
Igreja ocidental. Então Policarpo foi a Roma (uma por legados do papa Leão I, manifestou-se claramente
viagem longa), a fim de conferenciar com o então em favor da supremacia espiritual de Roma.
bispo de Roma, Aniceto (bispo entre 155 e 166 D.C.), Seiscentos e trinta bispos estiveram presentes, vindos
a respeito da questão. Os dois não chegaram a um de toda parte do mundo entio conhecido. Eles
acordo, e o costume asiático continuou a ser seguido concordaram unanimemente diante da assertiva:
pela Igreja oriental, enquanto Roma continuou a agir «Aquilo em que Leão acredita, nós todos acreditamos;
a seu modo. De acordo com a teologia católica anátema seja aquele que crer de modo diferente.
romana, o incidente prova que o «papa-, mesmo Pedro falou pela boca de Leão», Leão L o Grande,
então, tinha autoridade para além de sua própria bispo de Roma entre 440 e 461 D.C., é considerado
região. Mas, se a jurisdição papal era universal, por por muitos historiadores e estudiosos o primeiro
que a Igreja oriental não atendeu a Aniceto e nem lhe verdadeiro papa no sentido moderno do termo.
prestou obediência? O que o incidente realmente A partir de LeIo I, o papado, já bem arraigado, nio
prova é que então o bispo de Roma só exercia fez; outra coisa senlo a1llDea.tar o ... poder, religiosa e
jurisdição sobre sua própria área, tal como cada bispo seculamiente falando. Degraus importantes nessa
exercia jurisdição sobre sua própria região. Aniceto ascensão foram os pontificados de Leio I (440-461),
foi consultado por Policarpo somente devido ao Gregório VII (1073-1085) e Inocente 111 (1198-1216).
prestigio de que já gozava a igreja em Roma, a capital 11. Greg6rio VII (1073-1084). Os historiadores
do império. consideram que o pontificado de Greg6rio VII
marcou a passagem da chamada Idade das Trevas
3. Os Gnósticos e os Montanistas. Eles desagrada- para um aspecto mais sorridente da Idade Média. Ele
ram à corrente principal da cristandade, devido aos ímpês muitas reformas na Igreja Católica. Seu poder
seus pontos de vista doutrinários e às suas práticas, secular e político era tanto que ele chegou a
em muito diferentes do usual. E, visto que o grande excomungar o imperador Henrique IV, da Alemanha
poder opositor a eles foi Roma, isso fortaleceu a causa (1056-1106), decretando que os seus súditos estavam
romanista desde cerca de meados do século 11 D.C., isentados de lhe prestar lealdade. Henrique IV foi
aos olhos do resto da cristandade ortodoxa. Pedro não forçado a submeter-se, declarando-se arrependido, e
havia sido testemunha em favor da doutrina cristã precisou comparecer em pleno inverno (janeiro de
tradicionall Portanto, apelar para Roma parecia ser 1077), vestido de cilício, em Canossa (onde o papa
apelar para a autoridade apostólica, sempre que estava como hóspede), a fim de implorar-lhe
surgia alguma heresia. Outro tanto pode ser dito no absolvição. Esta foi concedida, mas Henrique
tocante à questão ariana. Ver sobre Ario. Este último continuou em seu conflito com as autoridades
49
PAPA, PAPADO
eclesiásticas. Apesar de poder ser verdade que romano afirma que os concilios ecumênicos também
Greg6rio VII não procurava controlar os governantes são infaliveis, pelo que a declaração citada acima,
seculares (ele estava apenas protegendo a Igreja dos visto que foi expedida por um concilio, deve também
ataques de que era alvo por parte daqueles ser considerada infalive1.
governantes), permanece de pé o fato de que esse
papa representava um papado que havia adquirido
m_ OpIDl_ Dlvel'l_ _ Sobre o Papado
considerável poder secular e político. 1. Posição Católica Romana. Na seção segunda, foi
12. Inocente m (1198-1216) é aquele a cujo crédito esboçado o desenvolvimento do dogma concernente ao
os historiadores atribuem o fato de ter levado o papado dentro daquela organização que veio a
papado ao seu zênite, durante a Idade Média. O seu tomar-se a Igreja Cat6lica Romana. A citação dada
pontificado foi assinalado pela sua reivindicação de acima, de uma decisão do ConcUio do Vaticano,
que, na qualidade de Vigário de Cristo, ele exercia representa o ponto culminante desse desenvolvimen-
uma autoridade absoluta e universal sobre a Igreja, to. A doutrina católica romana promove a idéia de
excetuando a Igreja Oriental, dissidente, que rompera uma evolução hist6rica e espiritual, e não sente
com o papado em 1054. Ele reivindicava e exercia a qualquer necessidade de apoiar seus ensinos sobre as
autoridade de intervir nos governos seculares, e Escrituras. Ver o artigo geral chamado Autoridade,
tomou-se o mestre politico da Itália, tendo ajudado a que descreve as várias posições cristãs a esse respeito.
depor monarcas na Alemanha e na Inglaterra, e tendo A citação abaixo dá uma idéia da extensão da
recebido como feudos os reinos da Inglaterra, autoridade do papa, de acordo com o dogma cat6lico
Portugal, Dinamarca, Aragão e outros lugares. Ele romano:
quase conseguiu estabelecer uma comunidade cristã «Em virtude de (seu) poder supremo, o Pontí-
de nações, sob a liderança do papado. Mas foi então fice Romano reivindica o direito de comunicar-se
que surgiu o nacionalismo, impedindo esse alvo, livremente com os bispos do mundo inteiro e seus
embora Inocente 111 tenha chegado bem perto desse rebanhos. Pode-se recorrer a ele, como o supremo
alvo. Pedro, o pescador humilde, avançara extraordi- tribunal, em toda as causas cuja decisão for ecle-
nariamente no campo da politica mundiall siástica e de cujo parecer não há apelação. A asser-
13. Bonifácio VIII (1294-1303). Foi ele quem baixou tiva que é legitimo apelar a um concilio ecumênico,
a bula intitulada Unam Sanctam (1302), que em face de uma decisão sua é, aqui, condenada
declarava que o poder temporal e o poder espiritual como falsa» (AM).
estão ambos sujeitos à autoridade da Igreja, e que o Na vent.de, .... é elIpenlI' ........ ele um homem.
Estado deve sujeitar-se à Igreja. Essa bula foi tão 2. O Ponto de Vista Oriental. Historicamente, a
atrevida que chegou ao ponto de declarar que a Igreja Ortodoxa Oriental tem concordado com a idéia
própria salvação depende do individuo sujeitar-se ao de que o papa é o legitimo bispo de Roma, tendo um
pontifice romano, um patente exagerol primado legitimo e autoridade sobre a Igreja
Mas, após Inocente 111, o poder temporal ou ocidental. O Concilio de Lyons (1274-1289), bem como
político do papa foi declinando mais e mais, ao ponto o de Ferrara-Florença (1438-1445) chegaram bem
em que, em nossos dias, esse aspecto do papado quase perto de admitir todas as reivindicações do papa; mas
desapareceu, embora ainda não tenha sido oblitera- a unanimidade não foi conseguida, e a Igreja
do. Ortodoxa Oriental nunca endossou essas opiniões.
14. O Concílio de Trento (1545-1563) foi a resposta Não obstante, a perspectiva oriental difere da dos
de Roma à Reforma Protestante. Seu principal alvo protestantes e evangélicos, porquanto reconhece a
foi a eliminação da desunião religiosa, mediante a autoridade papal dentro de sua jurisdição ocidental,
conformação com as exigências de Roma. As embora rejeitando-a «fora dessa jurisdição». Devemo-
doutrinas dos protestantes acerca dos sacramentos nos lembrar que a Igreja Ortodoxa Oriental é uma
foram anatematizadas. Esse concilio serviu para espécie de associação, que se mantém unida em tomo
fortalecer a Igreja Cat6lica Romana, consolidando de crenças e tradições comuns, mas não por meio de
seus poderes nas mãos do papa. alguma autoridade centralizada, embora os seus
15. O Concilio do Vaticano (1870). Nessa oportuni- vários patriarcados sejam mantidos em elevada
dade, foi oficialmente promulgada a autoridade estima. Apesar disso, nenhuma figura da Igreja
absoluta do papa. Como suposto sucessor de Pedro e Ortodoxa Oriental tem qualquer autoridade que se
Vigário de Cristo, o papa teria autoridade sobre tudo. aproxime da do papa ocidental, e nenhuma
O papa teria poder para aconselhar e intervir, quando personagem é ali considerada infalivel.
necessário, em qualquer congregação da Igreja cristã 3. A Comunidade Anglicana. Os anglo-católicos
no mundo inteiro. aceitariam de bom grado a autoridade do papa,
16. A Infalibilidade Papal. Essa doutrina foi conforme ela é entendida pela Igreja Cat6lica
oficialmente declarada pelo Concilio do Vaticano, em Romana, mas muitos outros dentro daquela comuni-
1870, nos seguintes termos: dade não se dispõem a tanto. Entre os anglicanos há
um numeroso segmento ae evangélicos (muitos deles
«Ensinamos e definimos que é um dogma divina- de tendências batistas); portanto, não se pode esperar
mente revelado que o Pontifice Romano, ao falar ex para breve que a autoridade do papa seja ali
cathedra, isto é, na sua prerrogativa oficial de pas- reconhecida. Ao arcebispo de Canterbury é conferido
tor e doutor de todos os cristãos, em virtude de sua um primado de honra, dentro da comunidade
suprema autoridade apostôlica, ele define uma anglicana: mas a sua autoridade está longe de
doutrina acerca de fé e de moral a ser obser- comparar-se com a do papa romano. Tem havido
vada pela Igreja universal, mediante a divina assis- esforços para reunir a comunidade anglicana com a
tência que lhe foi prometida no bendito Pedro, Igreja Cat6lica Romana; e isso teria lugar se os
sendo possuidor daquela infalibilidade que o divino anglicanos reconhecessem o papa como o bispo dos
Redentor quis que sua Igreja fosse dotada, a fim de bispos, com uma autoridade maior que a dos bispos,
definir doutrinas atinentes à fé e à moral; e que, embora não absoluta. Além disso, com a exceção dos
portanto, tais definições do Pontifice Romano são anglo-catôlícos, várias idéias concernentes ao papado,
irreformáveis por si mesmas, não derivando sua como a da infalibilidade, não poderiam fazer pane
autoridade do consentimento da Igreja», desse reconhecimento do papa como cabeça da IgreJa.
Nio podemos esquecer que o dogma cat6lico Outrossim, de algumas maneiras, os anglicanos tem
50
PAPA, PAPADO
tomado menos provável essa reunião, com sua prática alguém precisa fazer é estudar em profundidade todos
da ordenação de mulheres ao sacerdócio. A maioria os supostos «remanescentes» da verdadeira Igreja,
dos anglicanos reconhece o papa como o legitimo dentro da Igreja Cat6lica Romana. E descobrir-se-á
bispo de Roma, conferindo-lhe uma autoridade que não houve evangélicos (conforme agora entende-
legitima na Igreja ocidental, acima da de qualquer mos o termo), e que certamente não houve batistas
outro bispo. durante muitos séculos. Isso posto, houve durante
4. O Ponto de Vista Protestante. Muitos protestan- todo esse tempo uma única Igreja cristã organizada, a
tes liberais aceitam, em sua essência, o ponto de vista Igreja Católica (posteriormente dividida em Igreja
anglicano. Eles podem conceber o papa como cabeça Católica Romana e Igreja Ortodoxa Oriental). Assim,
da Igreja, contanto que vários pontos dogmáticos é melhor falarmos em termos de abusos, os quais
católicos romanos não sejam retidos. Porém, a maior foram muitos. Também houve exageros doutrinários,
parte dos protestantes conservadores, que ainda que criaram vários aspectos dogmáticos do papado. O
vivem sob o impeto do espirito da Reforma, rejeita a pesado envolvimento politico e militar dos papas,
autoridade do papa como Vigário de Cristo e como contribuiu para a decadência moral e espiritual. A
chefe da Igreja universal; e alguns deles chegam declaração romanista de que concilios e papas são
mesmo a declarar que o papa nem ao menos é o infalíveis serve de clara tentativa de obtenção de
cabeça legitimo da Igreja de Roma. Isso significa que conforto mental, não sendo um reflexo da verdade
eles consideram a Igreja Cat6lica Romana apóstata, e (pois papas e concilias se autodesmentem por muitas
o papa como o cabeça de um movimento apostatado. vezes). Por outra parte, a Reforma Protestante não foi
O que os católicos romanos chamam de «evolução um erro. Antes, foi um grito para que a Igreja visivel
histôrica.. eles chamam de «câncer». E alguns deles de Cristo se reformassel
supõem que o papa será o profeta falso do futuro
anticristo. Mas, os reformadores também foram arrogantes e
perseguidores daqueles que não concordavam com
As ~.. da Reforma Protestante começaram suas opiniões. Quanto a provas disso, ver meu artigo
rejeitando a jurisdição do papa. Lutero negou a sobre João Calvino. Lideres católicos romanos e
infalibilidade dos concilios. Isso posto, o papado, protestantes incorreram, igualmente, em erros graves.
conforme é definido pelo protestantismo, não é Não obstante isso, a Reforma Protestante foi uma
dotado de autoridade sobre a Igreja. A Reforma, de convocação à liberdade, que até hoje ecoa. Por outro
certo ângulo, deveu-se a uma crise de autoridade no lado, não vejo razão para rejeitar o papa como
seio do catolicismo romano, quando ondas reformis- legitimo bispo de Roma, o qual, devido à sua posição
tas faziam-se sentir poderosamente. Alguns protes- de liderança, está acima de outros bispos da
tantes identificam o papa com o anticristo; mas, na organização religiosa que é a Igreja Católica Romana.
verdade, essa identificação começou entre um Nós, que estamos fora do pálio católico romano, não
movimento de minoria entre os próprios romanistas, podemos ditar regras à Igreja Católica Romana. Mas
os frades franciscanos, no século XIV. E então vários isso não significa que outros grupos cristãos estejam
vultos reformadores aceitaram sem pestanejar essa na obrigação de unirem-se àquela igreja, ou de
idéia; e até hoje, alguns protestantes e evangélicos submeterem-se à autoridade papal.
defendem essa opinião. A tradlçio profética tem traçado (de antemão) a
5. Ponto de Vista do Autor Desta Enciclopédia. história futura do papado. E isso ilustra a necessidade
Passo agora a exprimir uma opinião pessoal. De modo histórica do oficio, ainda que não sancione os abusos e
geral, embora não tão drasticamente, tomo o ponto de exageros que têm caracterizado o papado. Se
vista cristão oriental. Se lermos a história, veremos compreendo corretamente a tradição profética, ela
que o papado preservou a Igreja cristã em tempos não prediz que qualquer papa futuro venha a
dificilimos. Muitos papas foram não somente cabeças tomar-se o anticristo ou o falso profeta do anticristo
da Igreja, mas também foram homens de letras, de (ver Apo. 13). Muito pelo contrário, essa tradição
elevado intelecto, homens de notáveis habilidades, profética (incluindo o que têm dito místicos católicos
que mantiveram a unidade cristã e promoveram a romanos) prevê uma grande matança no Vaticano,
civilização. Em outras palavras, eles foram grandes com o assassinato do último papa, que seria talvez
figuras histôricas, e não apenas religiosas, sem as intitulado Pedro 11. E isso haveria de completar o
quais é duvidoso que a I8!eja cristã tivesse sobrevivido ciclo dos papas e do papado, e então o centro da
em um mundo hostil. 'E: verdade que alguns deles Igreja voltaria a Jerusalém, após a conversão dos
foram homens pervertidos que incorreram em erros judeus ao Messias, Jesus de Nazaré. Isso daria inicio a
gigantescos. Mas outros foram homens notavelmente um ciclo inteiramente novo. Assim como à Roma foi
piedosos, discipulos dedicados de Cristo. Grupos dado o papel de preservar a Igreja durante mil anos
separados (especialmente os batistas) gostam de negros de sua existência, assim também Jerusalém
apontar para certos grupos do passado como se será o centro da Igreja por um periodo semelhante,
fossem a verdadeira Igreja, em meio a uma garantindo a sua sobrevivência após tempos muito
cristandade apostatada; mas esses grupos, na conturbados e destrutivos. Se as predições sobre o
realidade, foram heréticos. Para exemplificar, os papado estão corretas, então João Paulo 11 provavel-
waldenses e albigenses (sobre os quais tenho mente será o antepenúltimo papa. Então o oficio
apresentado artigos), em sentido algum foram papal desaparecerá da Igreja, e terá inicio o novo ciclo
evangélicos, e sob hip6tese alguma foram batistas. Na de Jerusalém como o grande centro cristão no mundo.
verdade, os católicos romanos de nossos dias são Somente Deus é capaz de separar os bons dentre os
muito mais evangélicos do que esses dois citados maus, o trigo dentre o joio, o verdadeiro dentre o
grupos. Um exame hist6rico descompromissado falso. Ambos esses elementos existem em todas as
revela que houve, na verdade, apenas uma Igreja denominações cristãs. Há dogmas míopes e prejudi-
cristã por muitos séculos-a Igreja Católica. Assim ciais em todos os grupos cristãos. Mas isso não anula
sendo, seria absurdo negar a legitimidade da o que há de bom entre eles, e nem as suas legitimas
liderança dos papas naquela Igreja. Isso equivaleria a funções.
dizer que não houve Igreja cristã e nem autoridade 6. Ponto de Vista do Co-Autor e Tradutor Desta
cristã legitima durante muitos séculos. A tese que Enciclopédia. Minha formação teológica é batista,
aqui defendo é fácil de comprovar. Tudo quanto mas, com a passagem do tempo, aprendi a ver
51
PAPA,PAPADO
horizontes mais amplos que os batistas tradicional- Sotero 166 - 175
mente têm defendido e considero-me um interdenomi- Eleutério 175 - 189
nacional evangélico. Quanto às questões escatol6gi- Vitor I 189 - 199
cas, reconheço ser esse o aspecto mais dificil da Zeferino 199 - 217
teologia bíblica e sistemática. Muitas vezes, os Calisto I 217 - 222
próprios apóstolos tiveram de aprender somente com Urbano I 222 - 230
o desenrolar dos eventos preditos. Mesmo assim, Pontiano 230 - 235
arriscando-nos a errar, temos o direito de opinar, Antero 235 - 236
dentro da sabedoria que a cada um de n6s foi dada. Fabiano 236 - 250
Para mim, espiritualmente falando, s6 há duas Comélio 251 - 253
igrejas: a verdadeira (a Noiva do Cordeiro) e a falsa (a Lúcio I 253 - 254
Meretriz) (ver Apo. 19:1-10). Ambas estão ainda em Estêvão I 2S4 - 257
formação. A verdadeira, de cada vez em que o Xisto 11 257 - 258
Espirito do Senhor regenera a uma alma e a mergulha Dionisio 259 - 268
no corpo mistico de Cristo (I Cor. 12:13). A falsa, de Félix I 269 - 274
cada vez em que Satanás planta o joio (cristãos falsos, Eutiquiano 275 - 283
não-regenerados) à face da terra. Essa distinção não Caio 283 - 296
obedece fronteiras denominacionais. Marcelino 296 - 304
0ra8Dlzacloaalmente falando, há organizações Marcelo I 308 - 309
cristãs inspiradas extrabiblicamente, e, portanto, Eusébio 309 - 309
tendentes a se desviarem progressivamente. Entre Miltiades ou Mil-
essas quero destacar a Igreja Católica Romana (não quiades 311 - 314
por ser a única errada, mas por ser encabeçada pelo Silvestre I 314 - 335
papado, o assunto central deste verbete). Marcos 336 - 336
O grande erro do cristianismo organizado consiste Júlio I 337 - 352
em dizer que essa organização constitui a Igreja de Libério 352 . 366
Cristo. No entanto, a Igreja de Cristo é um organismo Damaso I 366 - 384
espiritual, cujo Cabeça único e insubstituivel é o Siricio 384 - 399
Senhor Jesus Cristo, e cujo corpo é formado por Anastácio I 399 - 401
crentes regenerados. Há crentes autênticos que não Inocente I 401 - 417
percebem isso devido à infantilidade espiritual, mas Zózimo 417 - 418
esse é o ensino da Bíblia. Os cristãos nominais, Bonifácio I 418 - 422
não-regcnerados, naturalmente não podem entender Celestino I 422 - 432
isso (ver 101.0 3:3). Mas, que importa? A beleza do Xisto 111 432 - 440
alvorecer ou de uma obra de arte não desaparece, Leão I. o Grande 440 - 461
somente porque os cegos não são capazes de Hilário 461 - 468
contemplá-la. Simplicio 468 - 483
Os cristãos do passado, os que viam a Igreja Félix ~II (11) 483 - 492
somente como uma organização religiosa, sentiram a Ge Iâsio ~ 492 - 496
necessidade de um cabeça visivel-dai surgiu o Apastác1011 496 - 498
papado. Os papas esforçam-se por ocupar a posição SH1mac.o 498 - 514
que cabe somente a Cristo. Eles se auto-intitulam orrrrisdas 514 - 523
Vigário de Cristo e Sumo Pontifice. Os crentes Joã? I 523 - 526
regenerados sabem que ninguém pode ser «substituto» Fél~ IV: (111) 526 - 530
de Cristo, intermediário entre Deus e os homens, Bonifácio 11 530 - 532
senão o homem Jesus Cristo, e ninguém mais. Ver João 11 533 - 535
Efé. 4:14,15 e I Tim. 2:5. Os cristãos do presente, que A.gap~to 535 - 536
não percebem essa realidade, como que sentem que S~vé~o 536 - 537
sem o papado a Igreja ficaria acéfala-e isso explica a V1rgil.10 537 - 555
continuação do papado. Pelâgio I 556 - 561
Mas, quando do retorno de Cristo, ele reunirá em João I~I 561 - 574
torno de si a todo o seu povo regenerado, na cena Bene~1to I 575 - 579
chamada de bodas do Cordeiro. E todo aquele que ~elágt6°· I~ o Grande 579 - 590
590 - 604
não o tiver aceito como seu Salvador, Senhor e S rebJJ .no ,
Cabeça ficará de fora a mrano 604 - 606
, . Bonifácio IH 607 - 607
IV. LIsta doe Pap.. Bonifácio IV 608 - 615
Apesar desta enciclopédia não ter tentado prover Deusdedite ou Adeo-
artigos sobre todos os papas, a maioria dos mesmos (e dato I 615 - 618
certamente aqueles de maior importância) tem Bonifácio V 619 - 625
merecido artigos separados. Honôrio I 625 - 638
Severino 639 - 640
Pedro (Apóstolo) 31 - 67 João IV 640 - 642
Lino 67 - 76 Teodoro I 642 - 649
Anacleto ou Cleto 76 - 88 Martinho I 649 - 6S5
Clemente I 88 - 97 Eugênio I 655 - 657
Evaristo 97 - lOS Vitaliano 657 - 672
Alexandre I lOS - 115 Adeodato H 672 - 676
Xisto I 115 - 125 Dono 676 - 678
Telésforo 125 - 136 Agato 678 - 681
Higino 136 - 140 Leão H 682 - 683
Pio I 140 - 155 Benedito H 684 - 68S
Aniceto 155 - 166 João V 685 - 686
52
PAPA, PAPADO
Conon 686 - 687 Estêvão X 1057 - 1058
Sérgio I 687 - 701 Nicolau 11 1059 - 1061
João VI 701 - 705 Alexandre 11 1061 - 1073
João VII 705 - 707 Gregório VII 1073 - 1085
Sisinio 708 - 708 Vitor 111 1086 - 1087
Constantino 708 - 715 Urbano 11 1088 - 1099
Gregório 11 715 - 731 Pascal 11 1099 - 1118
Gregório 111 731 - 741 Gelásio 11 1118 - 1119
Zacarais 741 - 752 Calisto 11 1119 - 1124
Estevão 11 752 - 752 Honório 11 1124 - 1130
Estêvão 111 752 - 757 Inocente 11 1130 - 1143
Paulo I 757 - 767 Celestino 11 1143 - 1144
Estêvão IV 768 - 772 Lúcio 11 1144 - 1145
Adriano I 772 - 795 Eugênio 111 1145 - 1153
Leão 111 795 - 816 Anastácio IV 1153 - 1154
Estevão V 816 - 824 Adriano IV 1154 - 1159
Pascal I 817 - 824 Alexandre IH 1159 - 1181
Eugênio 11 824 - 827 Lúcio 111 1181 - 1185
Valentino 827·827 Urbano 111 1185 - 1187
Gregório IV 827 - 844 Gregório VIII 1187 - 1187
Sérgio 11 844 - 847 Clemente 111 1187 - 1191
Leão IV 847 - 855 Celestino 111 1191 - 1198
Benedito 111 855 - 8S8 Inocente 111 1198 - 1216
Nicolau I. o Grande 858 - 867 Honório 111 1216 - 1227
Adriano 11 867 - 872 Gregório IX 1227 - 1241
João VIII 872 - 882 Celestino IV 1241 - 1241
Marino I 882 - 884 Inocente IV 1243 - 1254
Adriano 111 884 - 88S Alexandre IV 1254 - 1261
Estêvão VI 88S - 891 Urbano IV 1261 - 1264
Formoso 891 - 896 Clemente IV 1265 - 1268
Bonifácio VI 896 - 896 Grególio X 1271 - 1276
Estêvão VII 896 - 897 Inocente V 1276 - 1276
Romano 897 - 897
Teodoro 11 897 - 897 Adriano V 1276 - 1276
João IX 898 - 900 João XXI 1276 - 1277
Benedito IV 900 - 903 Nicolau 111 1277 - 1280
Leão V 903 - 903 Martinho IV 1281 - 1285
Sérgio IH 904 - 911 Honório IV 1285 - 1287
Anastácio 111 911 - 913 Nicolau IV 1288 - 1292
Lando 913 - 914 Celestino V 1294 - 1294
João X 914 - 928 Bonifácio VIII 1294 - 1303
Leão VI 928 - 928 Benedito XI 1303 - 1304
Estêvão VIII 928 - 931 Clemente V 1305 - 1314
João XI 931 - 935 João XXII 1316 - 1334
Leão VII 936 - 939 Benedito XII 1334 - 1342
Estêvão IX 939 - 942 Clemente VI 1342 - 1352
Marino 11 942 - 946 Inocente VI 1352 - 1362
Agapâto 11 946 - 955 Urbano V 1362 - 1370
João XII 955 - 964 Gregório XI 1370 - 1378
Leão VIII 963 - 965 Urbano VI 1378 - 1389
Benedito V 964 - 966 Bonifácio IX 1389 - 1404
João XIII 965 - 972 Inocente VII 1404 - 1406
Benedito VI 973 - 974 Gregório XII 1406 - 1415
Benedito VII 974 - 983 Martinho V 1417 - 1431
João XIV 983 - 984 Eugênio IV 1431 - 1447
João XV 985 - 996 Nicolau V 1447 - 1455
Gregório V 996 - 999 Calisto 111 1455 - 1458
Silvestre 11 999 - 1003 Pio 11 1458 - 1464
João XVII 1003 - 1003 Paulo 11 1464 - 1471
João XVIII 1004 - 1009 Xisto IV 1471 - 1484
Sérgio IV 1009 - 1012 Inocente VIII 1484 - 1492
Benedito VIII 1012 - 1024 Alexandre VI 1492 - 1503
João XIX 1024 - 1032 Pio 111 1503 - 1503
Benedito IX 1032 - 1044 Júlio 11 1503 - 1513
(Ver rodapé) Leão X 1513 - 1521
Silvestre 111 1045 - 1045 Adriano VI 1522 - 1523
Benedito IX 1045 - 1045 Clemente VII 1523 - 1534
Gregório VI 1045 - 1046 Paulo lU 1534 - 1549
Clemente 11 1046 - 1047 Júlio 111 1550 - 1555
Benedito IX 1047 - 1048 Marcelo 11 1555 - 1555
Damaso 11 1048 - 1048 Paulo IV 1555 - 1559
Leão IX 1049 - 1054 Pio IV 1559 - 1565
Vitor 11 1055 - 1057 Pio V 1556 - 1572
53
PAPA, PAPADO - PAPIAS
Gregório XIII 1572 • 1585 dela nos resta foi aquilo que outros citaram,
Xisto V 1585 - 1590 principalmente Eusébio, o primeiro historiador
Urbano VII 1590 - 1590 eclesiástico. Joseph B. Lightfoot recolheu o quanto
Gregório XIV 1590 ~ 1591 pôde dos fragmentos das obras de Papias, tendo-as
Inocente IX 1591 - 1591 incluído em sua publicação, Apostolic Fathers. Não
Clemente VIII 1592 - 1605 temos muitas informações acerca de sua vida, mas
Leão XI 1605 • 1605 lrineu adianta que ele foi companheiro de Policarpo,
Paulo V 1605 - 1621 que, por sua vez, foi discípulo do apóstolo João.
Gregório XV 1621 - 1623 Assim sendo, Papias foi uma espécie de cristão da
Urbano VIII 1623 - 1644 segunda geração, que teve contatos com discipulos
Inocente X 1644 - 16S5 (ou pelo menos, com um discipuIo) dos apóstolos..
Alexandre VII 1655 - 1667 Eusébio também assevera que Papias foi bispo de
Clemente IX 1667 - 1669 Hierápolis. A tradição revela que ele foi martirizado
Clemente X 1670 - 1676 juntamente com Policarpo, em cerca de 155 D.C.,
Inocente XI 1676 - 1689 mas essa é uma informação que os pesquisadores
Alexandre VIII 1689 - 1691 modernos têm descoberto ser falsa.
Inocente XII 1691 - 1700 Podemos derivar algumas informações de sua obra
Clemente XI 1700 - 1721 Interpretaçio. Foi Papias quem iniciou a tradição que
Inocente XIII 1721 - 1724 diz que Marcos era intérprete de Pedro. Ele teria
Benedito XIII 1724 - 1730 escrito as coisas que Pedro lhe narrara, mas não
Clemente XII 1730 - 1740 registrando necessariamente os acontecimentos por
Benedito XIV 1740 - 1758 sua ordem cronológica. Se isso é verdade, então
Gemente XIII 1758 - 1769 grande parte dos esforços dos harmonizadores não
Clemente XIV 1769 - 1774 pode ser acurada, visto que o evangelho de Marcos foi
Pio VI 1775 - 1799 utilizado por Mateus e por Lucas, quanto ao seu
Pio VII 1800 - 1823 esboço histórico. E alguns eruditos têm chegado ao
Leão XII 1823 - 1829 extremo de dizer que o evangelho de Marcos é o
Pio VIII 1829 - 1830 evangelho de Pedro, embora escrito por Marcos. Os
Gregório XVI 1831 - 1846 céticos, por sua vez, negam a validade de muita coisa
Pio IX 1846 - 1878 dita por Papias, pensando que, em muitos casos, ele
Leão XIII 1878 • 1903 estava meramente especulando. Porém, sua posição
Pio X 1903 - 1914 dentro da história indica que, a grosso modo,
Benedito XV 1914 - 1922 podemos ter confiança nas suas declarações. Papias
Pio XI 1922 - 1939 também afirmou que Mateus coligiu as declarações de
Pio XII 1939 - 1958 Jesus em hebraico (Eusêbio, Híst, 111.39.15,16). Mas,
João XXIII 1958 - 1963 um exame do evangelho de Mateus mostra que o
Paulo VI 1963 - 1978 mesmo não é uma tradução do hebraico para o grego,
João Paulo I 1978 • 1978 razão pela qual alguns estudiosos têm suposto que
João Paulo 11 1978 - Eusébio estava falando da fonte informativa do
O nome de Benedito IX aparece por tres vezes, por evangelho de Mateus, e não desse envangelho
causa de eventos confusos durante o seu pontificado. propriamente dito. E alguns deles têm identificado
Silvestre 111, Gregório VI e Clemente 11 podem ser essa fonte informativa com um documento chamado
considerados antipapas, ou rivais no papado. Q, um alegado documento que Mateus e Lucas
Bibliografia. AM B BMU C CD CE COR JAL teriam usado. Ver o artigo intitulado Problema
Sináptico, onde são discutidas as supostas fontes
informativas usadas por Mateus, Marcos e Lucas.
PAPADO lrineu citou Papias, conferindo algumas poucas
informações a respeito do apóstolo João, ao qual, é de
Ver o artigo geral intitulado Papa (Papado). presumir-se, ele pôde ter conhecido pessoalmente.
Mas, ficamos desapontados diante da escassez
PAPEL informativa, pois Papias apenas asseverou que João
continuou ensinando sobre Cristo, após a ressurreição
Ver os dois seguintes artigos: Papiro e EscrIta. dele, e prometeu um reino terrestre próspero.
caracterizado pela paz e pela abundância. quando os
homens seriam obedientes a Deus. Naturalmente,
PAPIAS DE HIERÁPOLIS Papias foi um entusiasmado milenialista, e influen-
Papias foi um antigo autor cristão, cujas datas não ciou a outros de seu tempo, acerca dessa doutrina
são conhecidas com exatidão. Mas, sabe-se Que ele (Irineu, Haer. v.33.3). Acerca de João, embora Papias
floreceu em tomo de 130 D.C. Foi bispo de pareça tê-lo conhecido pessoalmente (I rineu, Haer.
Hierápolis, na Frigia Pacatiana, localizada a poucos 5.33.4), Papias chamou-o de ..anciãos. Por esse
quilômetros ao norte de Laodicéia, e cerca de cento e motivo, Eusébio chegou a pensar que Papias
sessenta quilômetros a leste de Éfeso. Papias deve ter confundira o apóstolo com algum outro homem do
nascido por volta de 60 ou 70 D.C. mesmo nome. E também chegou a supor que
Papias era um homem curioso, que tinha o hábito houvessem dois proeminentes homens, ambos chama-
de inquirir sobre as origens do cristianismo. E, tendo dos João: um apóstolo. e outro, ancião. Eusébio tinha
vivido em um periodo histórico favorável, pelo menos em pouca conta os poderes intelectuais de Panias, e
algumas de suas informações devem ser corretas, sua exatidão como escritor. :E: verdade que Eusébio
embora, atualmente, saiba-se que ele cometeu alguns não concordava com Papias quanto à ênfase milenista
equívocos de informação. Sua principal obra intitula- deste; mas é dificil crer que ele teria falado acerca de
vá-se Interpretação das Afirmações do Senhor, Papias, como o fez, somente por discordar dele
também chamada Exposição dos Oráculos do Senhor, quanto a alguns pontos doutrinários. Todavia, no
uma extensa obra, em cinco volumes. Infelizmente, a campo das controvérsias doutrinárias, qualquer coisa
maior parte dessa obra pereceu com o tempo, e o que pode acontecer. Seja como for, os eruditos modernos
54
P(52) , Século n. João 18:31-34, 37-38, •
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PARÁBOLA DO SEMEADOR
Os Trabalhadores - Amigo O Bom Samaritano
não te faço agravo.
PARÃBOLA
adota e expande, usando-a como um discurso geral patente quando surgir esse personagem. O próprio
sobre o reino dos céus, sobre sua aceitação e rejeição. livro de Apocalipse parece ser um estudo sobre o
Os dois capítulos anteriores levam a isso. Apesar do sentido dos números, mas aqui notamos que, em
caráter variegado do material, o resultado é realidade, o autor do evangelho de Mateus registrou
admiravelmente apropriado. O evangelista concebe a oito parábolas, e não sete, a saber: a do semeador, a
maior parte deste discurso como se fosse dirigido às do joio, a do grão de mostarda, a do fermento, a do
multidões, mas teria havido explicações laterais para tesouro escondido, a da pérola de grande valor, a da
os discípulos». (Sherman Johnson, in loc.), rede de pescar e a do pai de família.
Este décimo terceiro capítulo de Mateus contém Usualmente os intérpretes, pretendendo limitar o
oito parábolas que são denominadas, em seu número dessas parábolas a sete, não consideram a
conjunto, «os mistérios do reino dos céus». A palavra história do pai de família como se fosse uma parábola,
«parábola» indica, literalmente, «comparação», e é mas isso não passa de preconceito de número. Nota-se
comumente usada para indicar uma história breve, também que, nos trechos paralelos em Marcos e em
um exemplo esclarecedor, que ilustra uma verdade Lucas, são apresentadas ainda outras parábolas: a da
qualquer. A parábola não é uma fábula, porque a lâmpada (Mar. 4:21 e Luc. 8:16) e a da semente que
fábula é uma forma de história ilustrativa ficticia e cresce por si mesma (Mar. 4:26-29), o que perfaz um
que ensina através da fantasia, mediante a apresenta- total de dez parábolas conhecidas. Também não é
ção de animais que falam ou de objetos animados. A impossível que a parábola de Luc, 13:6,9, que fala
parábola nem sempre lança mão de histórias sobre a figueira estéril, faça parte dos ensinos de Jesus
verídicas, mas admite a probabilidade, ensinando acerca do reino dos céus. Talvez tenha sido
mediante ocorrências imaginárias, mas que jamais apresentada ao mesmo tempo que as parábolas que se
fogem à realidade das coisas. A parábola também não encontram no décimo terceiro capítulo de Mateus.
é mito, pois este narra uma história como se fosse Assim sendo, vê-se que o número de parábolas
verdadeira, mas não adiciona nem a probabilidade e apresentadas por Jesus não é uma cifra exata, pelo
nem a verdade. A parábola não tenta contar uma que também é duvidoso formar qualquer teoria sobre
história que deve ser aceita como história real, e, sim, exegese ou sobre dispensações à base do número das
um tipo de narrativa que nem sempre sucedeu parábolas do reino.
realmente. A parábola, entretanto, não é idêntica ao
provérbio, a despeito do fato de que a mesma palavra Tanto Marcot como o autor do evangelho de
grega é usada para indicar ambas as coisas (ver Luc. Matem indica a existência de outra paribolas
4:23; 5:36 e Mat. 15:14,15). A parábola pode ser; (Mar. 4:33 e Mat. 13:34). Também é erro imaginar
que Jesus proferiu todas essas parábolas em uma só
porém, um provérbio ampliado, e o provérbio pode ocasião; tal interpretação exagera as palavras exatas
ser uma parábola condensada ou resumida. A da história, olvidando que o principal intuito do autor
parábola também não é a mesma coisa que a alegoria. do evangelho de Mateus foi o de reunir os ensinos de
A alegoria interpreta a si mesma, tão somente determinada qualidade em um lugar só, a fim de, ao
substituindo as personagens reais por outras. Na redor deles, construir as histórias e incidentes do
alegoria, as personagens ficticias são dotadas das evangelho. A comparação com os outros evangelhos
mesmas características das pessoas reais, sem sempre ilustra que, por causa disso, o autor deste
qualquer tentativa para ocultar ou para ilustrar por evangelho não relata os fatos pela sua ordem
meio de símbolos. A parábola ilustra por meio de cronológica. Por exemplo, nessa mesma seção, a
símbolos, como por exemplo, «o campo é o mundo», parábola do semeador, no evangelho de Marcos,
«o inimigo é o diabo», «a boa semente são os filhos do aparece depois da visita da mãe e dos irmãos de Jesus,
reino». etc. A parábola é uma narrativa séria, tal como sucede em Mateus, mas em Lucas a ordem é
colocada na esfera das probabilidades, isto é, a justamente a oposta (Luc, 8:4-15, 19-21).
história narrada na parábola pode ter acontecido
realmente, sendo ilustração das experiências comuns Alguns intérpretes opinam que é provável que
aos homens, e o conteúdo dessa história tem por fito todas, senão a maior parte destas parábolas, tenham
ilustrar, ensinar ou enfatizar um ou mais principios sido proferidas antes do Sermão do Monte, o que
éticos, morais, doutrinários ou religiosos. Talvez a pode ser verdade ou não, mas que ilustra o fato de que
alegoria não seja muito diferente disso, excetuando o alguns intérpretes estabelecem uma ordem artificial
fato de que pode indicar uma história criada, dotada de acontecimentos, que nega muitos fatos já
de mais símbolos comparativos. As definições não observados neste evangelho, confirmando que o autor
não tinha o propósito de relatar todos os ensinos
estipulam as diferenças entre essas formas de conforme foram apresentados, em sua ordem
comparação, ou seja, a parábola, a fábula, o mito, o
provérbio e a alegoria, conforme fizemos aqui, e pode cronológica, na vida de Jesus. Realmente, o propósito
ser que outras definições sejam acrescentadas a estas. do autor do evangelho de Mateus foi o de reunir os
ensinos para formar um núcleo em torno do qual se
ExpBcaçio Geral das l"aribolas: baseia cada seção de acontecimentos.
1. Nota-se que alguns comentaristas exageram o Neste terceiro grande trecho dos ensinos de Jesus,
suposto fato de que há sete parábolas neste capítulo, portanto, encontramos os principais ensinos acerca do
como se Jesus tivesse proferido somente sete parábolas reino dos céus, e dificilmente podemos aceitar a idéia
sobre os mistérios do reino dos céus, como se esse de que Jesus, de uma vez só, tenha proferido todas
número tivesse alguma significação mística. Não essas parábolas. Provavelmente apresentou uma de
podemos negar que, às vezes, as Escrituras empregam cada vez, quiçá com aplicações diferentes, fato esse
- certos números - com sentidos determinados; por que já foi observado outras vezes no tocante aos seus
exemplo, as sete igrejas do Apocalipse, onde esse ensinos - a do semeador e a do grão de mostarda,
número evidentemente indica a perfeição. Teríamos, enquanto Lucas apresenta apenas a parábola do
então, uma ilustração do caráter geral da igreja, e semeador. No evangelho de Lucas, as outras
talvez um pequeno esboço do caráter geral da história parábolas aparecem em outros trechos. Por exemplo,
eclesiástica. Quem pode negar que o número 666, em Lucas, a ordem de apresentação das parábolas é a
número do anticristo, tem grande significação? seguinte: do semeador, Luc. 8:4-15; do fermento,
Dificilmente alguém mostrou a sua exata significação, Luc, 13:20,21. Porém, em seu oitavo capitulo, Lucas
até hoje, mas provavelmente a explicação se tornará tem uma parábola não contida no evangelho de
59
PARÁBOLA
Mateus, a saber, a da lâmpada (Luc. 8:16), e talvez durante o período da igreja, a época da graça; mas,
também uma outra parábola, a da figueira estéril, em por respeito aos bons comentaristas que assim
Luc. 13:8,9. Marcos apresenta a parábola do ensinam, apresentamos aqui, em poucas palavras, a
semeador em Mar. 4:1-20, e a do grão de mostarda seguinte idéia: Alford, admitindo que a parábola tem
em Mar. 4:30-32. Tal como Lucas, Marcos acrescenta por escopo principal ensinar, e não predizer, expõe
a parábola da lâmpada (em Mar. 4:21), e também com cautela este esboço geral do elemento profético
apresenta uma parábola que não foi exposta nem por das parábolas: a. o período áureo da semeadura da
Mateus e nem por Lucas - a da semente que cresce semente do reino, no tempo dos apóstolos - parábola
por si mesma, em Mar. 4:26-29. A análise dessas do semeador. b. Intromissão de diversas heresias na
informações prova que Jesus proferiu mais do que sete igreja primitiva - parábola do joio. c. Apesar disso, o
parábolas (seu número total talvez tenha sido onze) progresso do reino teve prosseguimento e o reino se
sobre o reino dos céus; e certamente não o fez de uma desenvolveu - parábola do grão de mostarda. d.
vez só, nem na mesma oportunidade. Bruce, do Durante tempos difíceis, como na Idade Média, o
Expositor's Greek Testament, in loc., acha que, reino continuou se propagando, penetrando na
segundo a ordem da seqüência e da semelhança de sociedade inteira -parábola do fermento. e. Nos dias
propósitos, é provável que as parábolas do semeador, que correm surgiram as denominações evangélicas,
do joio e da rede de pesca tivessem sido proferidas na mas, apesar disso, o tesouro ainda pode ser
mesma ocasião. Precisamos concordar com ele em encontrado - parábola do tesouro escondido. f.
que é impossível dizer quantas parábolas foram Durante os períodos de desenvolvimento intelectual e
proferidas naquela ocasião em que Jesus saiu de casa da cultura secular em geral (Renascença), o homem
e assentou-se à beira-mar (Mat. 13:1). Também é ainda podia encontrar esse tesouro de excepcional
impossível dizer quantas parábolas, em sua totalida- valor - parábola da pérola de grande valor.
de, foram proferidas acerca dessa questão, ou qual o Finalmente, após o passar dos séculos, haverá o
momento exato em que foram proferidas; mas julgamento, com a separação entre o bom e o mau -
certamente podemos confirmar e confiar que aquelas parábola da rede de pesca.
que temos nos evangelhos representam fielmente os Alguns intérpretes apresentam uma comparação
ensinos de Jesus sobre o reino dos céus. dessas parábolas com as sete cartas do Apocalipse,
2. Como representação da hist6ria da igreja: Não pensando que esses trechos apresentam um esboço da
há certeza se essas parábolas foram proferidas por história eclesiástica. Inclusas nessa idéia, às vezes,
Jesus como um esboço do reino dos céus, ou seja, a também encontramos as bem-aventur...çu:
influência de Deus, através do Espírito Santo,
•••••• •••
Outras aplicações dessa matéria (incluindo as exageradas ou mesmo falsas. Dificilmente acharíamos
parábolas) aocaráter geral da igreja na atualidade, ou um texto que tenha sido mais abusado que o décimo
ao esboço da história eclesiástica, são quase sem terceiro capítulo de Mateus. Apesar disso, é certo que
número, e naturalmente há muitas interpretações temos muitas aplicações às condições da igreja, além
60
PARÁBOLA
de muitas liçses práticas, aplicadas à vida espiritual, povo para beneficio de todos, e não há que duvidar
quer da igreja, quer do individuo. Assim sendo, muito que ele quis ilustrar a rejeição à parábola naquele
podemos aprender desses ensinos. Devemos ter o tempo (ou sua aceitação, por parte de alguns), como
cuidado de não procurar ensinar mais do que Jesus também a rejeição ao reino dos céus, e, de maneira
quis ensinar e, especialmente, evitar as lições e os geral, rejeição à pregação de Jesus e aos seus conceitos
ensinos absurdos como aplicações dessas parábolas, doutrinários e morais. É certo que Jesus indicou a
3. Interpretação geral das parábolas: em primeiro expansão do ministério da palavra de Deus no
lugar, observamos que este trecho constitui o terceiro mundo, isto é, ensinou a universalidade da aplicação
grande bloco de ensinos de Jesus (dentre os cinco de sua mensagem e o seu objetivo, porquanto a «vinha
existentes em Mateus), ao redor dos quais este de Deus», que é a nação de Israel (Is, 5:1-7) e a
evangelho foi formado. As seções do livro, cada uma semeadura da semente no campo (o mundo), são
tendo como centro um bloco de ensinos, são as coisas diferentes. Jesus, portanto, sugeriu aqui o
seguintes: desenvolvimento do movimento religioso que recebeu
1. Caps. 3 - 7
o nome de cristianismo, religião verdadeiramente
2. Caps. 8 - 10 universal.
3. Caps, 11 - 13 2. PARÁBOLA DO JOIO (vss 24-30, e explicação
4. Caps. 14 - 18 dada por Jesus nos vss 36-43)
S. Caps. 19 - 2S Nota-se aqui pequena variação no emprego dos
A conclusão é formada pelos caps. 26 - 28. Os simbolos: a "boa semente» (a palavra; a pregação,
principais capítulos que apresentam os ensinos são: segundo a parábola do semeador) agora indica aquilo
que a palavra tem produzido, isto é, os filhos do reino.
1. Caps. S - 7 Satanás também semeia a sua semente, que são os
2. Capo 10 «filhos do maligno». O local onde isso se verifica é o
3. Capo 13 mundo (o campo); alguns insistem em fazer disso a
4. Capo 18 igreja. O resultado é o fato de que, por muitas vezes
S. Capo 2S - é impossivel distinguir as obras de Deus das obras
Após cada um desses ensinos aparece o cumpri- do diabo, e os filhos de Deus dos filhos do diabo.
mento dos mesmos em palavras do autor, como, por Devemos notar que o campo não é a igreja, porquanto
exemplo: "Quando Jesus acabou de proferir estas tal condição mista jamais foi a intenção de Deus, a
palavras ... »(Mat. 7:28); ou: "Tendo Jesus acabado de despeito do fato de que, na realidade, tal mistura
dar estas instruções... » (Mat. 11:1). Ou ainda: persiste. A igreja conta com mandamentos para
"Tendo Jesus proferido estas parábolas... » (Mat. observar, a fim de ser mantida a ordem e a disciplina,
13:53). Ou então: "Concluindo Jesus estas parábolas» especialmente visando preservar a pureza doutrinária
(Mat. 19:1). Ou, finalmente: "Tendo Jesus acabado e pessoal, e esta passagem não foi dada para eliminar
todos estes ensinamentos... »(Mat. 26:1), que marcam essa necessidade, supondo que tal obra seja atuação
o esboço do livro. dos anjos no final desta dispensação. Esta parábola
1. PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mar. 4:1-9 e também não indica simplesmente as condições do
Luc. 8:4-8) mundo em geral e, sim, as condições irregulares
O próprio Jesus interpretou essa parábola (Mat. daqueles que afirmam ser "filhos do reino», isto é, de
13:18-23). A semente é a palavra, isto é, a pregação Deus, cristãos. Assim sendo, esta parábola indica as
do reino. O semeador é Jesus, mas também pode ser condições da cristandade. O fato de ter sido feita uma
aplicado a qualquer discipulo que prega o reino. O mudança no simbolismo desta parábola, em compa-
maligno é Satanás (interpretação primária) ou ração com o simbolismo da parábola do semeador,
qualquer agência satânica, como a atração exercida ilustra a verdade que os simbolos usados nem sempre
pelo mundo, a falta de fé, o fascinio das riquezas, etc. significam a mesma coisa. Por exemplo, usualmente o
Os diversos lugares onde pode cair a semente simbolo da serpente, nas Escrituras e na literatura
significam as personalidades ou características da- judaica, representa algo maléfico; no entanto, de
queles que recebem a semente, bem como o uso que certa feita Jesus se utilizou desse simbolo em bom
fazem dela, ou então, como a semente germina sentido (ver Mat. 10:16). Não devemos ficar
ou não nas vidas desses individuas. De modo geral, surpreendidos, portanto, ao acharmos que Jesus
com estas palavras, Jesus ilustra o que se pode esperar também usou o fermento como simbolo não de uma
da pregação da palavra, isto é, pequena porcentagem coisa má (ver Mat. 13:33).
dos ouvintes acolherá a mensagem, mas, entre esses 3. PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA, vss.
ouvintes, haverá o desenvolvimento de muitos frutos. 31,32 (ver Mar. 4:30-32 e Luc. 13:18,19)
Jesus implica aqui a rejeição geral ao reino. "A menor de todas as Sementes... Não se trata de
Provavelmente, segundo alguns intérpretes insistem, uma verdade absoluta, e, sim, são palavras rqúe
as parábolas se aplicam tanto à igreja como aos representam um provérbio comumente usado com
individuas, e ilustram, de modo geral - a rejeição - referência ao grão de mostarda. "Maior do que as
ao evangelho; mas também indicam o sucesso parcial hortaliças». Novamente não representa uma verdade
do ministério da "palavra». Tais explicações dão idéia absoluta, mas é uma comparação da minúscula
de que haverá um intervalo entre a primeira e a semente que produz a hortaliça. Esta parábola ilustra
segunda vindas de Cristo, fato esse que os judeus o rápido desenvolvimento do reino, desde seu ínfimo
jamais compreenderam claramente. Esse intervalo começo, que era tão insignificante para as autorida-
seria ocupado pela revelação dos mistérios do reino. des do mundo, tanto políticas como religiosas, até o
As parábolas explicam, em termos gerais, o caráter grande e notável lugar que veio a ocupar no mundo. A
desse tempo. Talvez o autor deste evangelho tivesse figura das aves do céu, a habitarem nessa árvore,
tido o propósito de revelar esses mistérios com estas talvez seja tomada de empréstimo de Dan. 4:20-22,
parábolas, pois dificilmente poderíamos aceitar a que dá a idéia da falta de segurança da árvore; mas
idéia de que elas tivessem aplicação exclusiva aos muitos bons intérpretes indicam cem isso que está em
tempos de Jesus. Porém, também não se pode aceitar vista um lugar de refúgio, repouso e bênção, como
que essas parábolas não tivessem tido aplicação às resultado da existência do reino, e que essa é a
condições reinantes nos dias de Jesus. Ele falou ao intenção das palavras de Jesus.
61
PARÁBOLA
4. PARÁBOLA DO FERMENTO, vs 33 (ver Luc. Alguns interpretam a pérola como se fosse a igreja
13:20,21) ou Israel, e que Cristo é aquele que a compra.
Esta parábola ilustra o poder de penetração do Todavia, parece mais certo interpretar esta parábola
reino dos céus. Embora seja verdade que as Escrituras como se interpreta a parábola do tesouro. No tempo
apresentam o fermento como símbolo da corrupção, e de Jesus, as pérolas tinham grande valor, muito mais
que os rabinos tenham usado o termo nesse mesmo do que agora, comparativamente, porquanto eram
sentido, não há razão para crer-se que Jesus não tenha mais valiosas do que as esmeraldas, safiras e outras
tido coragem suficiente para mudar o símbolo, neste pedras preciosas. Eram usadas para enfeitar as vestes
caso, a fim de que passasse a simbolizar outra coisa. dos ricaços. Por causa da associação das pérolas com
Segundo alguns intérpretes, a intenção desta parábola o mar, os pescadores e aqueles que moravam à
é ilustrar como o reino haveria de receber elementos beira-mar, certamente, devem ter sentido o impacto
pervertidos e assim se estragaria com o aparecimento desta parábola. Aqui temos o quadro de um homem
de heresias, etc. Parece que muitos não admitem as que sempre achava pérolas pequenas de valor
palavras simples (e sem a interpretação de Jesus) que relativamente pequeno, e que vivia à cata de uma
ele proferiu. Os símbolos nem sempre são coerentes, pérola de grande valor, sem igual. Finalmente a sua
como já observamos em diversos casos: 1. A semente, busca o guia até aquela raríssima pérola. Imediata-
na parábola do semeador, significa a palavra. Porém, mente vende tudo quanto tem, todas as outras pérolas
na parábola do joio, significa os resultados da e seus outros bens, vendo nisso um sacrifício pequeno,
palavra, que são os «filhos do reino dos céus». 2. Nas contanto que assim possa adquirir aquela pérola
Escrituras e nos escritos rabínicos, a serpente sempre extraordinária - essa pérola é Cristo e seu reino. À
tem um sentido mau, usualmente indicando Satanás semelhança de Paulo, tal homem diria: «Sim, deveras
ou o mau-caráter de sua pessoa; porém, em Mat. considero tudo como perda, por causa da sublimidade
10:16 descobrimos que Jesus empregou esse símbolo do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por
com bom sentido. O símbolo do leão é usado tanto amor do qual perdi todas as cousas e as considero
para indicar a Satanás (I Ped. 5:8) como para indicar como refugo, para ganhar a Cristo ... » (Fil. 3:8),
o próprio Cristo (Apo. 5:5). Esta parábola ilustra a Questões pesadas, como aquela que afirma que
mesma coisa que a do grão de mostarda(desenvolvi- «nenhum homem busca a Deus», considerando assim
mento}, mas a parábola da mostarda implica em que o homem aludido nesta parábola não poderia ser
crescimento observado de fora, ao passo que esta do um pecador, são considerações impróprias que
fermento implica no desenvolvimento que, partindo apenas obscurecem o sentido que Jesus quis dar a
de dentro para fora, finalmente, se propaga a toda entender. Na experiência humana, o pecador sempre
a parte. isto é, a influência e o poder do mundo. é comparado com aquele que busca e, de fato,
Naturalmente que esta parábola não tem a intenção algumas passagens bíblicas indicam exatamente isso.
de ensinar que o mundo inteiro se converterá, O impulso do Espírito está presente em toda a parte e
conforme alguns têm dito ser o ensino deste texto, leva os homens a procurarem o caminho de Deus.
especialmente nos estudos feitos pelos pôs-milenistas, Contudo, não são todos os que buscam a peróla de
Devemos procurar evitar o extremismo na interpreta- grande preço, porquanto nem todos estão dispostos a
ção, que busca o sentido de cada palavra, ainda que pagar o necessário para obtê-la.
pequena, interpretação essa que transforma parábo- 7. PARÂBOLA DA REDE DE PESCA, vss. 47-50
las simples como a que temos aqui em questões (encontra-se somente em Mateus)
complicadas e complexas de teologia. Os vss. 49 e 50 fornecem a explicação, que é dura.
5. PARÁBOLA DO TESOURO ESCONDIDO, vs. Esta parábola expressa a intensa busca do reino dos
44 (somente em Mateus) céus que deve acompanhar a vida humana, porquanto
No sentido estritamente teológico, o homem nada os resultados de negligência, nessa busca, são
tem para dar em troca de Cristo e do reino, além do simplesmente horríveis. A palavra «rede», neste caso,
fato de que Cristo não pode ser comprado e que a segundo o grego, não era a rede pequena que um
igreja separada do mundo não o compra; mas a homem, sozinho, poderia manusear e, sim, a rede
prática desse tipo de prestidigitação exegética nos grande, que só poderia ser manejada por muitos
obriga a perder de vista o ensino desta parábola tão homens. Por causa de suas dimensões, essa rede de
simples. A verdade ilustrada parece indicar que d pesca apanhava muitos tipos de peixes, alguns
homem é conduzido, pelas circunstâncias de sua vida, apropriados ao consumo e outros inúteis para serem
à verdade que se acha em Cristo e em sua mensagem, comidos. Assim se dá com aqueles que professam o
e então reconhece a maravilha dessa descoberta. cristianismo, neste mundo. Algumas pessoas possuem
Reconhecendo imediatamente que todos os demais fé verdadeira, e sua religião cristã é autêntica; outras,
«tesouros » de sua vida, quer riquezas, quer prazeres, não. Para os propósitos de Deus, algumas pessoas
quer fama, etc., não se podem comparar a este servem, e outras não. Ver o artigo sobre o
tesouro imenso, então, por todos os meios possíveis, Julgamento.
assegura para si esse grande tesouro. Essa foi
exatamente a experiência dos apóstolos, os quais 8. PARÁBOLA DO PAI DE FAMÍLIA, vs. 52
«deixaram tudo», para seguirem a Cristo. Essa (encontra-se somente em Mateus)
experiência também tem sido a de milhares de outras Alguns não incluem esta parábola juntamente com
pessoas, entre os discípulos do reino. O espírito dessa as outras, evidentemente porque acham que não se
parábola não difere muito do daquele que achamos trata de uma parábola, o que não passa de um
em Mat. 11:12. «Desde os dias de João Batista até preconceito originado no desejo de preservar o
agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que número de sete parábolas. Porém, é perfeitamente
se esforçam se apoderam dele». Apesar da intensa óbvio que essas palavras formam outra parábola.
oposição interna e externa, alguns, com atitude Jesus usou a palavra «escriba», neste caso, para
resoluta, asseguram seus respectivos lugares no reino indicar os que ensinam a palavra de Deus, os
de Cristo. intérpretes do reino, os apóstolos e outros, e não se
6. PARÂBOLA DA PÉROLA DE GRANDE refere aos escribas dos judeus. Jesus aludia aos seus
PREÇO, vss 45,46 (encontra-se somente em discípulos que têm a responsabilidade de ensinar.
Mateus). Esses discípulos haveriam de ensinar o evangelho do
62
PARÁBOLA - PARACELSO
reino e 'da graça deDeus, utilizando-se dos meios quando cavou muito fundo chegou a uma rocha que
disponíveis. Alguns interpretam que as «cousas novas serviria de fundação. Por igual modo, no trato
e velhas» são a lei (as Escrituras do V. T., as coisas espiritual de Deus com os homens, não foi fácil
velhas) e o evangelho do reino (as coisas novas). Ou, encontrar uma provisão adequada para o seu templo
segundo outros interpretam. significam as coisas espiritual. Mas Deus encontrou Abraão, que servia a
antigas da velha dispensação, e as coisas novas do esse propósito. É óbvio o paralelo com Mat. 16:18.
cristianismo: e que essas coisas novas são usadas para Abraão foi o alicerce da comunidade judaica. Pedro e
esclarecer e ilustrar as antigas. Provavelmente a idéia os demais apóstolos foram a fundação da Igreja
também inclui a experiência pessoal do «escriba», não neotestamentária (ver Efé. 2:20). Todavia, no sentido
indicando apenas os livros usados por ele mas absoluto, Cristo é o grande alicerce da Igreja (ver I
também a expressão de sua própria pessoa, ao Cor. 3:11). Mas, em um sentido secundário (em que a
exercitar os dons do Espírito Santo. salvação não está envolvida), os lideres principais da
Igreja são fundamentais. Em I Enoque encontramos
IV. As Parábolas do Antigo Testamento ensinos parabólicos nos caps, 40-71, pelo que esse
Como é óbvio, Jesus não foi o criador das método didático penetrou nos livros do período
parábolas. Elas já existiam no Antigo Testamento. E intermediário entre o Antigo e o Novo Testamentos.
os rabinos também usavam esse método de ensino. VI. O. Propósitos das Parábola
Ver a seção V, abaixo. Os eruditos alistam onze Os hipercalvinistas têm explorado muito o texto de
parábolas no Antigo Testamento: Mar. 4:10-12, que indica que Jesus usava parábolas
1. Os moabitas e os israelitas. O narrador foi com a finalidade de ocultar a verdade, em vez de
Balaão, no monte Pisga (Núm. 23:24). revelá-la. Porém, esse versiculo deve ser considerado
2. As árvores que escolheram um rei. Foi contada no contexto do «julgamento judicial». Os ouvintes de
por latão, no monte Gerizim (Jui. 9:7-15). Jesus com freqüência mostraram-se hostis às suas
3. A ovelha e o pobre. Foi narrada pelo profeta palavras, Por aquela altura de seu ministério, ele fora
Natã, em Jerusalém (11 Sam. 12:1-5). rejeitado, embora ainda não tivesse sido crucificado.
4. O conflito entre irmãos. Uma mulher de Tecoa Isso posto, a verdade foi escondida daqueles que se
contou-a em Jerusalém (11 Sam. 14:9). recusavam a ouvir e ver. Quando algum ensino
S. O prisioneiro que escapou. Um jovem profeta, espiritual é rejeitado, o rejeitador torna-se mais
perto de Samaria, apresentou essa parábola (I Reis calejado do que antes, embora com menos desculpas
20:25-49). pela sua atitude. Deixar de compreender a Cristo é
6. O espinheiro e o cedro. O rei Joás a contou, em deixar de compreender as suas verdades; mas ele veio
Jerusalém (11 Reis 14:9). buscar e salvar (Luc. 19:10), o que significa que ele
deve ter vindo para ensinar claramente aos homens o
7. A videira que deu uvas bravas. Isaías contou essa caminho da salvação. Não é concebivel que ele tenha
parábola, em Jerusalém (Isa, 5:1-7). vindo para enganar àqueles por Quem morreu (I João
As outras quatro parábolas são de autoria do 2:2). Isso posto, quando os homens mal entendiam a
profeta Ezequiel, que as escreveu na Babilônia, como Cristo, isso era conseqüência das atitudes negativas
segue: deles, um aspecto da lei da colheita segundo a
8. As águias e a vinha (Eze, 17:3-10). semeadura.
9. Os filhotes de leão (Eze. 19:2-9). A mente humana compreende facilmente uma
10. O caldeirão fervente (Eze. 24:3-5). história. Muitos conceitos são complexos e parcial-
11. Israel como o vinha perto da água (Eze, mente ambíguos, ou mesmo duvidosos. Sempre será
24:10-14). mais difícil apreender o intuito de um conceito do que
V. As Parábolas Rablnicas uma história ilustrativa. De fato, as ilustrações
Os hebreus eram grandes contadores de histórias, ajudam-nos a aclarar e fixar conceitos em nosso
conforme se vê no próprio Antigo Testamento. Foi entendimento. Ao interpretarmos as parábolas de
apenas natural que parábolas viessem a fazer parte Jesus, devemos evitar dois extremos; supercomplica-
dos escritos sagrados e comentários daquele povo. Os ção e supersimplificação. Em toda parábola há uma
escritos rabínicos contêm algumas excelentes parábo- lição central; mas, algumas vezes, detalhes secundá-
las. Uma delas conta como um rei convidou pessoas a rios também envolvem sentidos especiais. Contamos
um banquete e instruiu-as a que trouxessem algo histórias aos nossos filhos pequenos, e eles as
sobre o que sentarem. Isso eles fizeram; mas então entendem com facilidade. Mas ensinamos conceitos
começaram a queixar-se da falta de bons lugares para aos estudantes universitários.
sentar. Alguns tinham trazido tábuas de madeira, Bibliografia. AM E LA(2) LINN NO NTI TI WA(2)
outros pedras, e outros alguma coisa desconfortável.
É que tinham estado com pressa, não tendo trazido
assentos decentes. Talvez pensassem que o rei PARÁBOLA, CONHECIMENTO COMO
providenciaria algo, apesar da negligência deles. O Ver"Slmbolo e o CoDheclmento.
rei, aborrecido diante do descuido deles, mostrou-lhes
que eles mesmos se tinham munido de assentos PARACELSO
inadequados. Essa parábola tem por intuito ilustrar Suas datas foram 1490-1541. Ele foi um médico
como, no após-túmulo, as almas dos homens suíço, nascido em Einsiedeln. Ele era, principalmen-
encontrarão, na Geena, exatamente aquilo que te, um autoditada. Viajou muito. Fez algumas
proveram para si mesmos. Em outras palavras, a lei descobertas no campo da medicina. Interessava-se
da colheita segundo a semeadura, ilustrada por meio fortemente pela alquimia, pela Cabala (vide), pelo
de um relato interessante, mas comum. (Ec1esiastes neoplatonismo e pelo gnosticismo. .
Rabba, 3:9,1). Idéias:
Outra parábola rabínica informa-nos a razão 1. O homem é um microcosmo gue corresponde ao.
pela qual Abraão é chamado de «a rocha de que fostes macrocosmo externo. Todos os aspectos da natureza
cortados» (Isa. 51:1; Yalqut sobre Núm. 7:66). humana têm uma contraparte no mundo da natureza.
Certo rei queria construir um edificio. Mas, A esse conceito ele chamava de «assinaturas»: uma
conforme cavava, encontrava apenas lama. Somente coisa é a assinatura da outra.
63
PARACELSO - PARADOXO
2. A natureza inteira, incluindo o homem, consolo nos conselhos, em nossa defesa como filhos
caracteriza-se por uma criatividade dinâmica e que estio sendo conduzidos à glória. Acrescente-se a
incansável, O crescimento inevitavelmente emerge da isso o fato de que essa tradução concorda com a
decadência; a morte procede da vida; a vida procede significação básica da palavra grega, derivada de
da morte; os ciclos da reencarnação restauram todas "para» (para o lado de) e «Kaleo» (chamar), ou seja,
as coisas; o mundo opera por meio de opostos, onde a alguém chamado ou convocado para o lado de
vida e a morte, o masculino e o feminino, são outrem, a fim de ajudá-lo. (Quanto a outros detalhes
exemplos importantes. sobre essa questão, ver as notas relativas a João 14:6
3. Deus é a origem de todas as coisas; a matéria no NTI).
crassa torna-se em matéria-prima, e o principio de ,,0 Espírito que ele envia para nós, é um ~spírito
separação resulta em todas as coisas que existem. vigoroso, que apela poderosamente para nos. Ele
Então todas as coisas retornam a Deus, conforme os envolve, reaviva e revigora; infunde um novo coração
ciclos rolam. Nisso temos uma espécie de emanação e uma nova coragem nos descoroçoados; e, fazendo se
pulsante, que vai e vem, como as marés. reunirem as fileiras dispersas, capacita-nos a arrancar
4. Paracelso apresentou uma anãlise alquimica da a vitória da própria derrota». (Arthur John Gossip, in
natureza que, surpreendentemente, assemelha-se loc., referindo-se a João 14:16).
muito à análise quimica das funções do corpo fisico, Ó Divino Preceptor,
ultrapassando em muito às idéias de seu tempo. Isso Mostra-nos o Salvador!
posto, ele foi um dos iniciadores da ciência moderna. Ó tu, bom Consolado r,
Porém, os seus interesses pela astrologia, pela Enche-nos de santo amor...
alquimia e pelas especulações teológicas foram um
outro lado de sua personalidade.
Escritos. Archidoxis; Four Treatises of Tehophras- Vem Espírito veraz,
tus of Hohenheim; Philosophia Sagax. Esta escuridão desfaz;
Encha o mundo a tua luz,
Guie todos a Jesus.
PARACLETOS (John Law)
João 15:26: Quando vier o Consolador, que eu vos Augusto Mestre! teu poder
enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que Sublime, imenso e eficaz.
do Pai procede, esse dará testemunho de mim; Opere em nós. faz exercer
Nos capítulos catorze a dezesseis deste quarto As leis da santidade e paz;
evangelho é apresentado um grupo de declarações E subirá nos altos céus
concernentes ao prometido paracletos (alguém envia- Culto que agrade ao eterno Deus.
do juntamente com outrem, a fim de ajudá-lo), o que (Kalley)
é uma referência ao Espirito Santo. Quatro dessas
declarações incluem a palavra grega paracletos, a
O vocábulo grego paracletos é utilizado exclusiva-
saber, João 14:15-17; 15:26,27; 16:5-11; 25:26. E
mente nos escritos de João, em todo o Novo
uma quinta declaração é similar, falando em termos
definidos sobre o Espirito Santo, embora sem usar a Testamento em João 14:16,26; 15:26; 16:7 e I João
2:1. Mas a idéia de que o ministério do Espírito Santo
palavra paracletos nas descrições ali expostas. consiste em ajudar ao crente, aparece em muitas
O vocábulo grego «paracletos» tem sido variegada- passagens, por todas as Escrituras, embora figure
mente traduzido e interpretado, como segue: especialmente nas páginas do N.T.
1. Consoladoro como nas traduções KJ, AA, AC e
IH. Isso faz parte do sentido da palavra, mas
certamente não o esgota. O Espírito Santo veio a fim PARADIGMA
de consolar, mas também veio para muito mais do Essa palavra vem do grego pBI'adelgma, «padrão..,
que isso. «modelo», "plano». Platão usou essa palavra para
2. Alguns intérpretes, seguidos por algumas indicar suas idéias ou formas. Ver sobre os
traduções, como a tradução inglesa RSV, preferem Universais. Neste mundo, tudo (as coisas às quais ele
Conselheiro como tradução. Isso também faz parte chamava de particulares) não passa de imitações dos
da significação do termo grego «paracleto», porquanto paradigmas. Estes são constantes, eternos,
o Espirito Santo veio da parte de Deus Pai a fim de perfeitos e existem independentes do tempo. Os
instruir, ensinar e aconselhar aos crentes. particulares, por sua vez, estão em estado de fluxo,
3. A tradução inglesa NE diz Advogado, e isso sendo temporais e meras imitações da realidade.
também é um sentido possível, pois, na realidade, é o Na filosofia moderna, o termo «paradigma.. passou
sentido mais primitivo de vocábulo grego, mas que se a indicar a solução de algum argumento. Kuhn
encontra também no grego helenista, bem como nos afirmava que as teorias científicas são construídas em
escritos de Josefo e de outros autores antigos. No redor de paradigmas básicos; e deu o exemplo do
trecho de I João 2:1 o termo é usado para indicar a sistema solar, modelado segundo a natureza do
pessoa de Cristo, onde a melhor tradução parece ser átomo. Mas as mudanças nas teorias cientificas e o
"advogado». posto ser Jesus Cristo o nosso justo avanço dos descobrimentos fazem alterar os paradig-
advogado. Por semelhante modo, embora a palavra mas, ou seja, os modelos cientificas que norteiam o
paracletos não seja usada, o Espírito Santo é pensamento. O grande paradigma cristão é o
apresentado como nosso «advogado», em Rom. Cristo-Lagos, em cuja imagem estamos sendo
8:26,27. Portanto, temos neste terceiro caso uma transformados. A fé dos hebreus tinha certos
interpretação legítima quanto ao ministério do paradigmas fundamentais que acharam cumprimento
Espírito Santo, embora imcompleta. na pessoa de Cristo.
4. As traduções em inglês WM e GD dizem
Ajudador. Temos a impressão de que essas traduções
acertaram em cheio na escolha desse termo como
tradução do vocábulo grego paracletos. Isso porque, PARADOXO
em todos os sentidos, ele é o nosso Ajudador, no Ver os dois artigos separados que são importantes
64
PARADOXO
no tocante aos paradoxos: Zen o, Paradoxos de Jourdain estava mentindo, em ambos os lados do
(relativo à filosofia); e Polaridade (relativo à fé cartão.
religiosa e às nossas maneiras de conhecer e 4. Os Paradoxos de Greeling: Os lógicos dizem
compreender as coisas). coisas que não podemos entender. Assim, se o leitor
Referências a Certos Pontos. Em outros artigos, vier a perder o rumo, no pequeno parágrafo que
temo-nos referido à questão dos paradoxos e temos citamos aqui, não se sinta infeliz. Esses paradoxos
mencionado o presente artigo. Os números referidos distinguem entre predicados que têm propriedades
estão localizados na seção 11. A. B. C. que eles denotam e predicados aos quais faltam essas
Esboço: propriedades. Para exemplificar, «polissílabo» e
I. O Termo «monossílabo». O primeiro tipo é chamado -autolôgí-
co», e o segundo tipo, «heterolôgico». O grupo de
11. Na Filosofia predicados autológicos possuirá, então, as proprieda-
UI. Na Teologia des que eles denotam, ao passo que o grupo de
I. O Termo predicados heterológicos não têm as propriedades que
Duas palavras estão combinadas nesse termo. os denotam. A questão que então surge é se o predicado
vocábulos gregos pará, "contra». e doksa, "opinião». «heterolôgico» é autológico ou heterológico.
Daí resulta a idéia de que um paradoxo é uma idéia 5. Bertrand Russell aumentou nossa perplexidade
autocontraditória, ou pelo menos, assim parece sê-lo. ao falar sobre o paradoxo de pertencer a uma classe,
No uso comum, um paradoxo pode ser alguma idéia também chamado deparadoxQ de Zermelo, de acordo
contrária à opinião aceita, contrária ao bom senso, com o filósofo desse nome. Russell distinguiu entre
ou, meramente, contraditória. Na teologia, um classes que são membros de si mesmas e classes que
paradoxo é um ensino que parece ser autocontraditó- não o são. A classe dos lápis não é um membro de si
rio, conforme ilustrei na seção lU, abaixo. Um mesma, visto que a classe não é um lápis; mas a classe
paradoxo também pode ser uma idéia ou uma das coisas compreensíveis parece ser uma classe em si
declaração aparentemente absurda, mas que. na mesma, visto que tal classe é compreensível.
realidade, exprime uma verdade. Ou, então. declara- Levanta-se a questão concernente à classe de todas as
ções' ou idéias que, efetivamente, são absurdas e coisas que não são membros de si mesmasl Esse classe
falsas, e, portanto, «inacreditáveis». é um membro de si mesma. ou não?
n. Na F1IolOfia 6. O Paradoxo Burali-Forti, Esse é um paradoxo
A. Paradoxos têm sidoformulados a fim de provar matemático, que diz respeito ao número ordinal
algum ponto de vista contrário, devido ao alegado maior; ou pode ser um paradoxo de Russell,
absurdo de uma idéia exposta. concernente ao número cardinal maior; ou pode ser
1. Nessa classe temos os paradoxos de Zeno, bem um paradoxo de Richard acerca de números reais,
como aqueles do filósofo chinês Rui Shi, Ver os definíveis e indefiniveis; ou ainda um paradoxo de
artigos sobre ambos, quanto a explicações; mas Konit, no tocante ao mínimo número ordinal
especialmente sobre Zeno, Paradoxos de. Ver indefinível.
também acerca do filósofo indiano, Nagarjuna, C. Sugestões quanto a Soluções:
B. Filósofos megarianos e estóicos. Nas filosofias 7. Os paradoxos de Zeno podem ser chamados de
deles surgiram os paradoxos lógicos e semânticos. pseudoparadoxos, que dependem da fraqueza de
Esses paradoxos foram considerados insolubilia, por nosso conhecimento acerca de infinitudes e da divisão
filósofos posteriores, isto é, dilemas que não podem artificial das coisas em um número infinito, o que,
ser solucionados. afinal de contas, não faz muito sentido. Além disso,
2. Epim ênides , um filósofo cretense, apresentou uma flecha atirada pode atravessar um número
um belo paradoxo quando expôs o "paradoxo do infinito de unidades do espaço se houver, de modo
mentiroso». Se um mentiroso disser: «Se estou correspondente, um número infinito de unidades de
mentindo. estou dizendo a verdader- Na verdade, não tempo que lhe permitiam fazê-lo.
temos certeza sobre o que pensar então. Epimênides 8. Os paradoxos semânticos e l6gicos usualmente
era cretense; e, conforme era sabido, todos os creten- envolvem um círculo vicioso de linguagem ou
ses eram mentirosos. E assim, quando Epimênides expressão, no qual caímos e não mais podemos sair.
afirmou que todos os cretenses são mentirosos (e ele Definições próprias e predicativas não deveriam ter
mesmo era cretense), estaria ele dizendo a verdade? permissão para referir-se a uma classe inteira, ou da
Paulo fez alusão a essa debilidade dos cretenses, ao qual o termo que estiver sendo definido seja membro.
escrever: "Foi mesmo dentre eles, um seu profeta, que Se o fizermos, ver-nos-emos envolvidos na chamada
disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, falácia do circulo vicioso. As sentenças devem
ventres preguiçosos» (Tito 1:12). Essa foi uma citação referir-se a outras coisas, e não a si mesmas.
extraída dos escritos de Epimênides de Cnossos. É 9. Strawson foi um homem corajoso quando
interessante que aqui Paulo tacha-o de profeta. No ofereceu uma solução ao paradoxo do mentiroso. Ele
NTI dou notas completas sobre esse homem, e antigas procurou convencer ao mundo filosófico que os
referências literârias a ele. Paulo parece que pensava termos «verdadeiro» e «falso» não são termos
que Deus levantara certos indivíduos, entre os pagãos, descritivos, e, sim, termos performativos, De acordo
para testificarem aos povos, a despeito do fato de que com ele, pois, dizer-se que uma sentença é verdadeira
tais homens não eram nem judeus e nem cristãos. A é dizer somente que estamos concordando com uma
Igreja oriental sempre tomou essa posição, acampa- sentença; mas se ela exprime, realmente, uma
nhando as declarações dos pais da Igreja. Para eles, o verdade ji é coisa bem diferente. Em conseqüência,
Logos implanta por toda a parte as suas sementes, os dizer que uma sentença é verdadeira equivale a dizer
16goispermátilcoi. «ditto» (que quer dizer, «a mesma coisa repetida». do
3. P.E.B. Jourdain procurava confundir-nos latim, dictum), Mas dizer «ditto» não determina se
quando escreveu, em uma das faces de um cartão: "A algo é, realmente, correspondente à verdade. Isso
sentença do outro lado deste cartão é verdadeira». posto, embora fosse um cretense, Epimênides pode
Virando o cartão, achava-se a declaração: "A ter dito a verdade ao afirmar que todos os cretenses
sentença do outro lado deste cartão é falsa». Assim, são mentirosos. Por outro lado, como podemos ter
que cada um faça a sua escolha. Provavelmente, certeza? Afinal, Epimênides era cretense!
65
PARADOXO
ID. Na Teologia tal. Para ajudar nessa fraqueza de definição, os
1. Declaração Geral. As pessoas odeiam complica- homens ajuntam seus omnis, «onipotente», «onipre-
ções que perturbem seus sistemas. Todas as teologias sente", etc. Mas, nenhum de nós realmente com-
sistemáticas procuram eliminar os paradoxos. Não preende a infinitude, e usamos essas palavras para
obstante, o conceito de paradoxo é importante na esconder nossa ignorância com declarações aparente-
teologia. Um paradoxo nos deveria levar a fazer a mente profundas.
seguinte admissão: «Lamento, mas não sei como dar Se perguntarmos a um teólogo qual a natureza
uma resposta lógica e isenta de dificuldades a este básica de Deus, e de sua espiritualidade e euêncla,
problema». A dificuldade é que os teólogos não veremos, surpresos, o quão pouco ele sabe e tem a
gostam de fazer tal admissão, por não terem dizer a respeito; e o que ele disser, será eivado de
explicações lógicas para tudo. E o resultado é que as paradoxos. Os teólogos são capazes de falar com
explicações lógicas que oferecem são pseudo-explica- maior desembaraço sobre as obras de Deus; mas,
ções, apesar do fato de que são capazes de convencer a quando tentam explicar a essência divina, falta-lhes o
seus estudantes de que solucionaram todos os conhecimento necessário para dizerem coisas de
problemas dentro e fora do céu. Muitos teólogos são grande peso. Falamos também sobre o espírito.
pessoas de visão estreita. Deveriam ser forçados a Sabemos que se trata de algo bem diferente da
estudar filosofia, que amplia a visão. Alguns teólogos matéria; mas não podemos apresentar boas definições
são extremamente arrogantes acerca de seus sis- nem da matéria e nem do espírito. E em seguida,
temas. Daí é que têm surgido inúmeras denomina- quando procuramos dissertar sobre o Espírito
ções cristãs, cada qual afirmando ter-se aproximado Absoluto, ficamos essencialmente vazios de descri-
mais da verdade do Novo Testamento do que as ções; e mesmo quando conseguimos balbuciar alguma
demais. A humildade sempre é melhor do que a coisa, isso fica muito aquém da realidade dos fatos.
arrogância, quando estudamos questões teológicas. Somente aqueles que são filosoficamente ingênuos
De fato, só Deus não conhece paradoxos em sua não conseguem reconhecer essas dificuldades.
teologia. Todos os teólogos humanos têm que admitir 4. Saímo-nos um pouco melhor quando falamos
certo número de paradoxos em seus sistemas. Isso sobre o homem. O homem é espírito e matéria. E a
farão aqueles que ainda não reduziram sua teologia a experiência humana e o misticismo, de modo geral,
humanologia. têm-nos dado mais descrições sobre o homem do que
2. Definições. Um «paradoxo», no terreno da sobre o Ser divino. Apesar de continuarmos incapazes
teologia, é algum ensino aparentemente autocontradi- de definir a essência da alma, pelo menos podemos
tório. Quase sempre, um paradoxo tem dois pólos que dizer algumas coisas significativas sobre a existência
parecem irreconciliáveis. Os teólogos sistemáticos, humana, expondo demonstrações razoáveis. Ainda
pois, procurando solução; anulam um dos pólos; mas assim, o homem é um paradoxo para si mesmo. Nosso
o que eles não entendem é que isso deixa a verdade conhecimento cientifico não tem contribuído grande
truncada. Aí surge algum outro teólogo que resolve coisa para dispersar os mistérios que circundam o ser
anular o outro pólo! humano, a sua origem, a sua vida presente e o seu
destino.
Os teólogos assumem a tarefa de mostrar que os 5. A Doutrina do Deus-Homem. Falamos aqui
paradoxos não são autocontraditórios. Mas eles só sobre o Logos encarnado, chamado Cristo, em sua
conseguem convencer a si mesmos, e a seus alunos missão messiânica. Para nós, isso constitui um
particulares. Enquanto não formos vastamente mais paradoxo. Aceitamos mediante a fé, de alguma
inteligentes do que somos agora, e enquanto nosso maneira inexplicável, que o divino e o humano
conhecimento não for quase infinitamente superior do fundiram-se em um único ser, Cristo Jesus. Podemos
que é atualmente, não poderemos escapar dos descrever a natureza humana dele; e, até certo ponto,
paradoxos filosóficos e teológicos. Pensar que a estamos nos atrevendo a descrever a sua natureza
linguagem humana pode reduzir a verdade a divina. Mas até hoje ninguém descobriu uma maneira
proposições perfeitamente lógicas é algo por demais muito inteligente de esclarecer como essas duas
absurdo para merecer a nossa consideração. Uma das naturezas, tão diferentes entre si, podem coexistir em
coisas que o misticismo (vide) nos tem ensinado é que uma única pessoa. A Igreja tem lutado muito com a
há experiências espirituais que ultrapassam as questão da cristologia (vide), e tem provido algumas
categorias da intelecção humana, sendo experiências úteis definições; mas a maior parte dessa atividade é
essencialmente inefáveis, que não podem ser expres- apenas a tentativa de explicar o inexplicável.
sas em termos da linguagem humana. 6. O Problema do Determinismo versus Livre-
3. Alguns Paradoxos Teológicos: Arbítrio. A questão é a relação entre essas duas
Deus. Qualquer tentativa para explicar o Myste- realidades. Na história eclesiástica vemos denomina-
rium Tremendum (vide) que é Deus automaticamente ções separando-se de outras em torno dessa questão.
envolve-nos em uma série de paradoxos. Deus é Há grupos ferrenhos defensores do divino deter-
pessoal ou impessoal? e como? Deus é imanente ou minismo e há outros que morrem pelo, livre-arbítrio
transcendental? e como? Deus é infinito, mas humano. A verdade é que as Escrituras ensinam
manifesta-se de modo finito? e como? Deus é eterno ambas as coisas, mas nunca tentam reconciliar esses
mas governa um mundo temporal? e como? Qual dois conceitos. A reconciliação, Deus reservou-a para
slntese verdadeira desses problemas acha-se na Mente si mesmo I Precisamos do poder divino para
divina, mas não na mente humana. Os homens têm determinar as coisas. Ninguém poderia ser transfor-
teses e antíteses. Para efeito de harmonização, as mado à imagem de Cristo (ver Rom. 8:29) sem o
teologias sistemáticas ignoram alguma tese ou poder predestinador de Deus. O reverso da questão é
antitese. Mas não são capazes de elaborar uma síntese que Deus não nos transforma em autômatos
apropriada. Somente Deus sabe qual é a síntese de mecânicos, pois a verdade é que o livre-arbítrio
certos problemas. humano está à base da responsabilidade moral do
Além disso, encontramos dificuldades com as homem. E praticamente impossível dizermos qual-
explicações antropomórficas que os homens oferecem, quer coisa de significativo acerca dessa responsabili-
na tentativa de explicar Deus. Mas essas explicações dade moral do homem, a menos que incluamos a
expõem um super-homem, e não um Ser transcenden- verdade do livre-arbítrio humano. Assim, o deter-
66
PARADOXO - PARADOXO DO RELOGIO
-mtntsmo (vide) é a tese; o livre-arbítrio (vide) é a isto é, paradoxos dentro da revelação divina. em
antítese. E constitui um autêntico suicídio teológico contraposição a contradições meramente aparentes,
quando alguém simplesmente elimina uma outra que poderiam ser solucionadas se os' homens
dessas facetas da verdade revelada. continuassem a refletir sobre os problemas.
Entrementes, os homens continuarão disputando, 10. Na teologia moderna. os paradoxos ocupam
sem dúvida ainda por muito tempo. Mas isso não posição proeminente nos escritos de certos autores.
resolve coisa alguma. A teologia deveria ser uma Soren Kierkegaard, Karl Barth, Reinhold Niebuhr,
aventura de fé, e não um campo de batalha onde além de outros, têm percebido a inevitabilidade dos
idéias parciais se entrechocam. Indivíduos carnais paradoxos. O Deus infinito, que vive fora do tempo e
vivem numa polêmica ignorante constante. Mas não pode ser sondado, estendeu a mão à mente
aqueles que, pela fé, aventuram-se a descobrir a humana, que é finita, limitada e vive dentro do
verdade, deleitam-se com aquilo com que descobrem. tempo. Com freqüência, pois, somente os olhos da fé
Coisa alguma é tão deleitâvel à mente como examinar são capazes de divisar algo, onde o intelecto falha
uma questão de muitos ângulos, mas sem lhe totalmente. A fé tateia a verdade real em idéias e
descobrirmos a solução final. Ê aí que verificamos que circunstâncias; e essa fé é capaz de transformar-nos a
uma Mente muito maior do que a nossa estâ por vida. A fé compreende que somente a Mente divina
detrás dessas questões reveladas. Há uma certa tem a síntese dos paradoxos. Isso significa que essa
arrogância da parte daqueles que encontram soluções síntese está à nossa disposição; mas talvez não para
baratas para os mistérios da revelação. Somente esta vida, não para o homem ainda em sua
porque alguém pode prover um nome famoso, de mortalidade. Ver o artigo separado intitulado
algum pensador que imaginou ter solucionado Dialética, Teologia da.
paradoxos (como Calvino, que anulou a antítese do 11. Paradoxos Relativos à Onipotência e Onipresen-
livre-arbítrio humano, e terminou somente com a tese ça de Deus. Ver os artigos separados intitulados
do divino determinismo), isso não quer dizer que foi Onipotência, Paradoxos da; e Onisciência, Paradoxos
realizada qualquer coisa significativa. Por sua vez, o da.
arminianismo anulou a tese do determinismo, e 12. Polaridade. Ver o artigo separado sobre essa
preservou a antítese do livre-arbítrio, e acabou questão. Durante milênios os homens pensaram que a
cometendo erro idêntico ao de Calvino. Quanto à terra é chata e quadrada, e não tinham qualquer
síntese desse paradoxo, por enquanto ela existe conceito da redondeza da terra e dos pólos. Somente
somente na Mente divina. Naturalmente, é possível depois que a ciência avançou consideravelmente,
que, conforme nossa espiritualidade for crescendo, descobriu-se que a terra é uma esfera e que tem pólos
talvez enquanto ainda somos mortais (mas muito mais opostos. Se algum explorador desse uma boa
certamente quando já tivermos recebido a imortalida- descrição acerca de um dos pólos, digamos, o pólo
de), que certos paradoxos venham a ser solucionados. Norte, teria feito um bom serviço; mas, se ele
Mas, antes disso, as soluções fabricadas nos deixarão afirmasse que o globo terrestre tem apenas aquele
espiritualmente famintos. pólo, teria prestado um desserviço, No entanto,
7. Uma Útil Citação. «Por causa da diversidade e muitas teologias, quanto a questões criticas, reconhe-
complexidade da realidade e também em face das cem apenas um pólo, quando há dois: o lado divino e
limitações da finita e pecaminosa razão humana, os o lado humano. O homem que reconhece os opostos
melhores esforços do homem para vir a conhecer a quanto a certas verdades fundamentais e procura
realidade. levam-no tão-somente a produzir verdades expor descrições sobre ambos, talvez com
igualmente razoáveis (ou aparentemente razoáveis). alguma tentativa de reconciliação, é um homem
posto que irreconcilíáveis (ou aparentemente irrecon- que está bem mais perto da verdade do que aquele
ciliáveis). Nesses casos, os homens aproximam-se que apresenta uma boa descrição sobre um só dos
mais da verdade quando defendem ambos os lados de pólos, mas ignorantemente supõe que esse pólo não
qualquer questão paradoxal, em vez de defenderem tem o seu oposto natural. Schelling avançou a idéia de
apenas um lado ou outro da mesma questão» (B, os uma polaridade básica em Deus, naquilo que é um
itálicos são meus). contraste permanente e eterno dentro de Deus. Será
8. Consolo Mental. Os homens geralmente buscam difícil alguém provar que Schelling não estava com a
mais o consolo mental do que mesmo a verdade, ainda razão. (B C EP P)
que a maioria não reconheça isso. Contudo, o consolo
mental jamais será equivalente à verdade. Apesar de
que certas verdades não sejam esclarecidas como um PARADOXO DA FLECHA VOADORA
presente da parte de Deus, quase todas as verdades
reveladas podem ser comparadas a uma mina de Ver o artigo sobre Zeno, Paradoxos de.
pedras preciosas. B mister que cavemos fundo.
fazendo um esforço diligente para entendê-las. Outra
ilustração é que as verdades bíblicas são como um PARADOXO DO RELOGIO
campo que só produz seus deliciosos frutos quando A teoria da reladndade afirma que o tempo, e,
cultivado mediante árduo labor. Ninguém pode portanto, os relógios, passa ou funcionam mais
solucionar os grandes mistérios mediante o simples lentamente, em velocidades que se aproximam da
manuseio de textos de prova da Bíblia, e quanto velocidade da luz, quando observados de um ponto de
menos quando o fazemos para destacar nossas referência fixo. Assim. se gêmeos idênticos fizerem
interpretações favoritas desses mesmos textos I Decla- uma viagem ao espaço, aquele que viajar quase à
rou Tertuliano: ..Creio porqae é ablurdof,. Com isso velocidade da luz retornará mais jovem que seu irmão
ele quis dizer que é uma estupidez de nossa parte gêmeo. Porém, quando alguém leva em conta a
supor que a verdade divina precisa corresponder ao aceleração envolvida na ascensão, e a desaceleração
nosso raciocínio humano. f: verdade que há verdades envolvida no retorno, então um gêmeo não voltará
assim; mas há verdades que estão acima do nosso mais velho do que o outro. Acelerações e desacelera-
alcance! ções não fazem parte da teoria espacial envolvida
9. Martinho Lutero, contrariando os eruditos da nessa idéia de paradoxo do relógio. (F)
Sorbonne, defendeu a existência de verdades duplas,
••••••
67
PARADOXOS DE ZENO - PARAtSO
PARADOXOS DE ZENO (inferno) será desvendada, e defronte da mesma fica o
Ver o artigo sobre Zeno. paraíso de deleites»; Esse desenvolvimento prossegue
nos livros pseudepígrafos, embora não seja usado
necessariamente o termo «paraíso». I Enoque é livro
PARA!so que !ala em um céu de múltiplos níveis, ou seja, um
paratso em gradação.
Esboço:
A literatura rabínica não usa a palavra com um
I. O Vocábulo único sentido. Algumas vezes, ela indica a habitação
11. No Antigo Testamento geral dos justos, como equivalente ao lado bom do
111. Nos Escritos e Pensamento Posteriores Judaicos hades, ou, talvez, um lugar além do mesmo, mais ou
IV. No Novo Testamento menos equivalente ao céu. Outras vezes, o paraíso é
V. Homens que Ingressam no Paraíso referido como o terceiro céu, uso esse que Paulo
I. O Vocábulo seguiu no Novo Testamento (ver 11 Cor. 12:2,3); mas
Essa palavra portuguesa vem do antigo termo esse não é o lugar da habitação de Deus, e sim um
iraniano pairidaeza, «jardim», cercado por algum lugar de menor gl6ria. Ainda noutras ocasiões o
muro ou sebe. A transliteração dessa palavra para o paraíso é chamado de «seio de Abraão», u'ma
grego tomou-se a base da palavra moderna. No grego expressão aproveitada por Lucas (16: 19-21); mas este
temos parádeisos. Xenofonte usou o termo para autor, usando o termo especifico, «paraíso», refere-se
indicar os jardins dos reis persas. A Septuaginta ao lugar para onde Cristo iria após a morte, e com
traduziu a expressão hebraica gan 'eden, «jardim do Quem o ladrão penitente se encontraria ainda naquele
Éden-, por essa palavra grega, em Gên. 2:8. Com mesmo dia (Luc. 23:43). Isso poderia referir-se como
base nessa circunstância é que a palavra adquiriu as é óbvio, ao lado aprazível do hades, embora' possa
conotações de paz e esplendor, mesmo quando o indicar o «céu».
paraíso celeste não está em vista. A tradição rabínica falava sobre oitocentas mil
Usos Progressivos. Um jardim terrestre, físico, espécies de árvores frutíferas que adornariam o
literal; o estado intermediário de almas que ainda não paraíso, cujos frutos transmissores de vitalidade
entraram no céu, mas que merecem ocupar um lugar nunca deixam de ser produzidos. Naturalmente esse
muito agradável da existência. Isso foi estendido a simbolismo foi copiado pelo autor do livr~ de
vários lugares intermediários; o próprio céu, ou o céu Apoca!ipse, em sua cena sobre o céu (cap. 22).
dos céus, ou um dos céus inferiores, em contraste com Todavia, entre aquelas tradições havia algumas idéias
a habitação de Deus, que fica no céu dos céus; por ridículas, como aquela que assevera que o Éden (o
extensão popular, essa palavra indica qualquer lugar paraíso terrestre) continuava existindo neste mundo
ou condição deleitosa, terrestre ou celestial. !ísico! embora oculto do homem. E elas chegavam a
rmagmar que -as almas dos justos vão para lá. Mas
U. No Andgo Testamento afinal, isso não é tão estranho, quando no~
Na versão da Septuaglnta (vide), essa palavra lembramos que os antigos também localizavam o
aparece logo em Gên. 2:8, para indicar o jardim do hades (tan~o a parte boa quanto a parte má) no centro
Eden. O texto hebraico, entretanto só contém a da terra; e ISSO mostra que suas noções não ascendiam
palavra hebraica pardes em Nee. 2:8', onde alude a muito quando eles falavam da vida após-túmulo. Os
uma floresta que servia de suprimento de madeira judeus tradicionalistas também pensavam que o
Mes~ias tem a <:have que abre o paraíso, e que, por
para Neemias. E o trecho de Ecl. 2:5 usa-a a fim de
referir-se a um jardim ou parque com muitas árvores; ocasião de sua vinda, ele restaurará o jardim do Éden
e Ca? 4:13 refere-se à esposa como um pomar entre os homens. .
(paraíso) de romãs, dotado de toda espécie de fruto IV. No Novo Testamento
delicioso. Na Septuaginta, novamente a palavra é O Novo Testamento dá prosseguimento a algumas
empregada por mais duas vezes: em Gên. 13:10, que idéias típicas do judaísmo helenista.
?esc,reve o frutífero vale do rio J ordão, que era como o
~ardlm do Senhor; e o jardim do Éden, antes do dia do
Julgamento, em Joel 2:3.
o Paraíso No Novo Testamento
No Novo Testamento há apenas três usos.
ID. Nos Escritos e Pensamento Posteriores Judaicos 1. Em 11 Cor. 12:4 o terceiro céu (um dos lugares
e deveras curioso ver quão pouco o Antigo celestiais) é o paraíso.
Testamento tem a dizer sobre o estado dos seres 2.0 uso que aparece em Lucas 23:34, onde está em
humanos após a morte física. O texto mais instrutivo pauta o «lado bom» do hades.
ali é o d~ Dan. 12:2,3, que ensina a ressurreição geral: 3. O uso que figura em Apocalipse 2:7, onde o «céu»
alguns Irão para a vida eterna, e outros para a está em foco. Somente o autor do Apocalipse, dentre
condenação e vergonha eternas: os sábios resplande- todos os autores do N.T., se utiliza do vocábulo «céu»
cerão para. sempre, como o brilho celeste, e aqueles no singular, constantemente. Posto que ele concebia o
que encaminharam outros à retidão refulgirão como céu como um lugar (ou reduzia os céus a um termo
as estrelas. Muitos eruditos estão convencidos que coletivo, «céu»), foi natural para ele intercambiar o
esses pensamentos do livro de Daniel refletem a termo com a designação «paraíso». Paulo, entretanto,
teologia judaica helenista; e então, por essa e irias lança mão, constantemente, do plural, em consonân-
outras razões, atribuem a esse livro uma data cia com a maneira de pensar dos judeus. Portanto, o
posterior. A questão é ventilada no artigo sobre o livro terceiro céu, ou paraíso, dificilmente tem paralelo ao
de Daniel. Ver o artigo in titulado Estado Intermediá- uso que o termo paraíso recebe no Apocalipse. Paulo
rio. não reivindica ter visto a Deus, ou ter estado no mais
Apesar dos livros apócrifos muito expandirem as elevado céu. (Ver o artigo sobre Terceiro Céu).
questões escatológicas, ainda assim temos ali bem
POUc? acerca d,? paraíso. A tradição judaica posterior O lado bom do hades é um tema explorado por
localiza .o paraíso como uma habitação dos mortos Lucas, em Luc. 16:19-21 e 23:34. Mas a doutrina
Justos, Situada no hades, embora isso não transpareça lucan~ ~ca aquém do ensino paulino sobre os lugares
claramente nos livros apócrifos. O trecho de 11 Esdras celestiais (ver Efé. 1:3). É que Lucas continuava
7:36 associa a Geena ao paraíso: «A fornalha da geena martelando sobre idéias judaicas; e, para ele,
68
PARAtSO - PARALISIA
provavelmente a boa parte 'do hades era o céu cristão. também receberam esse privilégio. como Ben Azzai
f: um erro supormos que todos os vários escritores Ben Zoma e o rabino Akiba. '
do Novo Testamento tinham recebido a mesma luz Além disso, temos o próprio ensino neotestamentá-
sobre aquelas outras dimensões da existência. Grande rio, que parece fazer o antigo paraiso ser eliminado,
parte dos ensinos do Antigo Testamento e das idéias cedendo lugar ao céu cristão, aopasso que a porção
judaicas helenistas foi meramente transportada para má do hades continuaria como o estado intermediário
o Novo Testamento, com pouca modificação. Coube a das almas perdidas. Entretanto, há indicios de que a
Paulo trazer mais luzes sobre a vida após-túmulo, doutrina da vida no além não é assim tão simples.
especialmente em sua doutrina da transformação dos Parece que continuam existindo lugares interniediá-
remidos segundo a imagem de Cristo, e em sua rios de bem-aventurança e felicidade, que não são
doutrina sobre os lugares celestiais. O trecho de Efé. nem o «céu" e nem os «céus».
4:8-10 é usado pelos intérpretes cristãos como apoio à Conforme já dissemos, a escatologia ocidental tem
sua idéia de que a morte e a ressurreição de Cristo simplificado a escatologia propondo apenas dois
foram o poder por detrás da transferência das almas estados: o céu e o inferno. Porém, as evidências
salvas do bom lado do hades para o céu. E então, fornecidas por pessoas que chegaram a entrar nos
conforme a doutrina prossegue, a partir da ressurrei- estágios preliminares da morte, e têm voltado,
ção de Cristo os mortos justos partem diretamente favorecem a existência de muitos lugares intermediá-
para o céu, sem terem de fazer um estágio na boa rios, tanto bons quanto maus, e não apenas dois
porção do hades. estados opostos. Além disso, alguns misticos nos
A Igreja cristã ocidental deixa a questão nesse dão informações que certamente apoiam esta idéia.
ponto; mas a Igreja cristã oriental vê na descida de Por conseguinte, - podemos continuar usando o
Cristo ao hades (ver I Ped, 3:18-4:6) uma oportunida- termo paralso para fazer contraste com o céu e o
de oferecida aos mortos condenados, mormente em hades. A Igreja oriental, por sua vez, continua crendo
face do fato de que o texto petrino diz que Cristo em lugares intermediários onde os destinos dos
pregou n"o hades aos injustos (3:20), e essa pregação homens não são fixados, e onde o propósito remidor
foi a do evangelho (4:6). Entretanto, a Igreja continua atuante. De fato, tais lugares existiriam para
ocidental (Igreja Católica Romana e as suas filhas preparar os seres humanos para a vida eterna. Essa
históricas, protestantes e evangélicos) continua noção faz sentido. Poucas almas, podemos ter
truncando a missão de Cristo, eliminando a extensão certeza, atingem a salvação em um único perlodo de
dessa missão ao hades. Na verdade, a missão de Cristo vida terrena. A provisão de Deus precisa ser mais
é tridimensional: na terra, no hades e nos céus, e ampla do que isso. Em caso contrário o plano de
sempre uma missão de salvação. E isso fornece-nos o salvação terá fracassado miseravelmente. A Igreja
poderoso ensino que não somente o lado bom do ocidental, em seus dogmas, dá a entender que o plano
hades foi removido para os céus-o que a Igreja cristã de salvação realmente falhou miseravelmente, mas,
ocidental também ensina-mas igualmente que a quanto a mim, deixei de crer nesse ponto de vista
missão de Cristo modificou a parte má do hades, pessimista.
tendo-a tornado um campo missionário! Isso constitui Ver o artigo separado sobre Experiências Perto da
boas novas para o homem moderno. Ver plenos Morte.
detalhes acerca dessa doutrina no artigo Descida de
Cristo ao Hades . Não deverlamos limitar o ministério
de Cristo, referido em Efé. 4:8-10, como se isso PARALEUSMO
. envolvesse somente a salvação. De fato a sua descida Ver sobre Poesia.
ao hades teve o mesmo propósito que a sua subida ao
céu: que ele viesse a encher todas as coisas,
tornando-se «tudo para todos», conforme alguém PARALEUSMO (PROBLEMA CORPO.MENTE)
parafraseou a idéia de «preencher todas as coisas". Ê Ver o artigo geral intitulado Problema Corpo-Men-
nesse ponto que brilha mais intenso o famoso amor de te, seções IH e IV. Em um sentido secundário, um
Deus. Esse amor está estreitamente vinculado ao paralelismo pode significar apenas que todo evento
incansável poder de Cristo. E assim, feita essa mental tem uma correlação fisica.
vinculação, grandes coisas tinham mesmo de ser
realizadas. f: um equivoco diminuirmos o escopo da
-missão de Cristo, mediante nossas interpretações PARALELISMO PSICOFlsICO
pessimistas. Esse é outro nome dado ao paraleUlIDO, como
V. Homens que In....... no Paraüo aquele encontrado nos escritos de Leibnitz. Dei
As tradições e a literatura judaica e cristã pintam coml?letas explicações sobre a questão, além de outras
relacíonadas ao Problema Corpo-Mente, no artigo
~ertos homens especialmente justos como quem
ingressou no paraíso, conforme se vê na seguinte sobre esse assunto. Ver também sobre Mônada,
declaração:
•••••••••
(Albert Einstein)
•••
(Arthur Ford)
... _.....
•••
PARAPSICOLOGIA
co dessa academia e tem publicado alguns artigos em pelo fato dela estar sendo criticada ou não. De fato,
seu Journal o/ Religion and Psychical Research, Meu coisa alguma é mais clara, na história da ciência, do
interesse pessoal pelas pesquisas psíquicas deriva-se que a observação de que todas as idéias científicas
de duas considerações: a importância das mesmas importantes foram rejeitadas a princípio; e aqueles
para a epistemologia (teoria do conhecimento) e para que as apresentaram foram perseguidos. Outro tanto
a ontologia (o estudo do ser, que inclui a alma se dá com os pioneiros na fé religiosa.
humana). Sempre me senti atraído pela alma, e tenho "o maior amigo da verdade é o Tempo; seu
publicado vários artigos nos quais procuro demons- maior inimigo ê o Preconceito; sua companheira
trar que, cada vez mais, dispomos de evidências constante é a Humildade" (Charles C. Colton).
científicas para crer na realidade da porção imaterial «Se a verdade fere-nos tão gravemente, à maioria
do ser humano. Ver, nesta enciclopédia, os vários de nós, que nem queremos que ela seja dita, fere
artigos sobre a Imortalidade. Um desses artigos é de ainda mais cruelmente àqueles que ousam anunciá-la.
minha autoria, procurando oferecer razões para a A verdade é uma espada de dois gumes, com
crença na existência da alma, sobre bases científicas. freqüência mortalmente perigosa para quem dela faz
Ver Imortalidade, artigo I, Abordagem Científica à uso" (Juiz Ben Lindsey).
Crença na Alma e em sua Sobrevivência Ante a Morte «O mais ínfimo átomo de verdade representa um
Biológica. Também publiquei dois livros em portu- amargo labor e agonia de algum homem; para cada
guês, relacionados aos fenômenos psíquicos, que o porção ponderável da verdade, há o sepulcro de
leitor poderá achar útil. Esses livros são intitulados: algum bravo desbravador da verdade em algum
Evidências Científicas Demonstram que Você Vive monte de cinzas solitário e uma alma torrando no
Depois da Morte; e Como Descobrir o Sentido dos inferno.. (H.L. Mencken).
Seus Sonhos, Esses dois volumes foram publicados
pela Nova Epoca Editorial, SP. «Deus oferece a cada mente a escolha entre a
verdade e o sossego. Escolhe o lado que quiseres-não
Escopo. Na terceira seção, abaixo, ofereço os poderás ficar com ambos" (Ralph Waldo Emerson).
conceitos básicos e as esferas de atividade da
parapsicologia. Obviamente, esse escopo é muito O material apresentado abaixo, foi escrito por mim
vasto. Não estou interessado, pessoalmente, nessa em defesa de meus interesses pela parapsicologia.
perspectiva muito ampla embora creia que as Reproduzo esse material como uma espécie de
pesquisas devam envolver todas as áreas. A ignorân- declaração geral sobre a questão.
cia jamais nos oferece qualquer coisa de valor. O. Fen&menOll Pstquicoa
Também não concordo com todos os esforços que O homem é uma psique (um alma). Em
estão sendo feitos pelas ciências materiais e exatas; conseqüência disso, é impossível o homem viver sem
mas aos homens devemos permitir que pesquisas experimentar e causar fenômenos psíquicos. As
tragam tudo à tona. Não nos devemos opor a estágios evidências obtidas em laboratórios, acerca dessa
preliminares desses estudos, simplesmente porque declaração, têm-se tornado avassaladoras. O meu
podemos ver alguns defeitos nos mesmos. Seja como interesse sobre esse campo resulta de duas ansieda-
for, sob o grande guarda-chuva que se chama des: a. Verificar o que esses fenômenos têm a dizer
"parapsicologia", estão sendo investigados os seguin- sobre o conhecimento (a epistemologia). Tenho
tes assuntos: telepatia, clarividência, psicocinesia, ensinado essa disciplina em algumas universidades.
conhecimento prévio, retrocognição, psicometria, Sou/orçado a ter conhecimento sobre essas coisas. b.
escrita automática e outras formas de automatismo, Averiguar o que esses fenômenos podem contribuir
visões, aparições, fenômenos mediúnicos, sonhos, para uma prova científica da existência da alma e sua
música psiquicamente produzida, como também sobrevivência diante da morte biológica.
pintura e escrita psiquicamente produzidas, medicina Como é óbvio, um espírito bom ou um espírito
psicossomática, curas por meios mentais e espirituais, demoníaco pode produzir esses fenômenos (telepa-
fenômenos religiosos como línguas, profecia, etc, que tia, clarividência, conhecimento prévio, etc.), da
os pesquisadores acreditam ser (pelo menos mais mesma maneira que uma alma humana pode fazê-lo
freqüentemente) psíquicos, e não necessariamente também. Mas, pode haver abusos acerca de quaisquer
sobrenaturais. dessas coisas. Não há que duvidar que forças
Naturalmente, alguns pesquisadores, crendo que os demoníacas operam nos aspectos negros do espiritis-
fenômenos psíquicos relacionam-se à porção imaterial mo, da bruxaria, e até mesmo dentro do moderno
do homem, têm concentrado seus estudos sobre a movimento carismático, na Igreja cristã. Porém, ali
faceta da sobrevivência da alma ante a morte encontram-se os abusos, e não a essência desses
biológica. A projeção da psique e as experiências fenômenos psíquicos. Muitos evangélicos aceitam
perto da morte têm-se tornado, ali, o foco das declarações dessa ordem sem qualquer objeção.
atenções. Tenho oferecido artigos separados detalha- Existem formas falsas e perigosas de misticismo,
dos sobre esses assuntos, intitulados: Projeção da acerca das quais devemos advertir às pessoas, para
Psique e Experiências Perto da Morte. E, visto que a que as evitem. No NTI incluí um detalhado artigo
reencarnação faz parte desses fenômenos psíquicos precisamente sobre esse assunto, que foi escrito com
em geral, envolvendo a retroconhecimento, esse um propósito em mira: avisar. Se os pastores e
assunto também tem sido investigado especialmente mestres no Brasil tivessem contado com o conheci-
por alguns pesquisadores, mormente pelo Dr. Ian mento que tenho sobre essas coisas, o movimento
Stevenson, da Universidade de Virgínia, nos Estados carismático teria sido derrotado desde o começo. Não
Unidos da América do Norte. Ver o artigo sobre a quero dizer com isso que algumas pessoas não tenham
Reencarnação . genuínas manifestações carismáticas; porém, quanto
mais examino o movimento, como um todo, menos
ll. Decluaçio Introdutória; Defesa fico convencido de que foi gerado pelo Espírito de
Amigos, não significa muito se formos criticados Deus. Não sou contrário ao misticismo. Como poderia
devido a alguma idéia que defendamos. Somente sê-lo? Está em pauta a questão da imanência de Deus
aqueles que são absolutamente neutros sobre tudo e o que isso pode significar para a alma.
podem escapar dessas criticas; mas, se alguém chegar Se eu tivesse de oferecer uma defesa sobre esse
a tal neutralidade, ainda assim será criticado por essa assunto, tal defesa assumiria o volume de um livro.
atitude. Mas, dificilmente a verdade é determinada Por conseguinte, limito-me aqui a algumas poucas
71
PARAPS][COLOGIA
observações: maior freqüência do que qualquer outra pessoa.
a. M. R. DeHann disse-me, em pessoa, que Simplesmente, comecei a dar atenção à questão.
acreditava que, antes da queda no pecado, o homem Algumas das predições recebidas assim têm sido
dispunha de poderes psíquicos claros e abundantes; triviais, mas outras têm sido muito importantes para a
mas, um dos resultados da queda é que esses poderes minha vida.
foram amortecidos, levando o homem a tomar-se Irene, minha esposa, e eu, temos compartilhado de
mais dependente de seus sentidos fisicos do que antes. vários sonhos, sobre os quais temos conversado um
b. Os estudos no campo dos sonhos demonstram com o outro. Compartilhei de um significativo sonho
que recebemos experiências dessa natureza o tempo com uma de nossas obreiras. Coisas dessa natureza
todo, e não apenas ocasionalmente. Meu interesse acontecem, provavelmente de modo freqüente, mas, a"
sobre essa questão encorajou-me a escrever um livro menos que os contemos e compartilhemos com outras
sobre a interpretação dos sonhos. Já me foi dito, por pessoas, jamais descobriremos a verdade em tomo da
pessoas que devem saber o que estão dizendo, que questão.
esse livro é a única obra, escrita na lingua portuguesa,
que acompanha a história completa das investigações
C. Sonhos Lúcidos. Os sonhos também podem ter
cientificas sobre os sonhos. Contém tudo quanto a importância cientifica. Os chamados sonhos lúcidos
são aqueles em que a pessoa sabe que está sonhando
ciência tem dito sobre os sonhos, até o ano de 1982,
e, dessa forma, pode assumir o controle do seu sonho.
quando o livro foi publicado. Certo cientista britânico está desenvolvendo uma
s.be-.e . . . . que todos nós recebemos entre Ylnte e técnica que envolve o uso de uma corrente elétrica de
trlDta lOIIhoI a cada noite. Eles ocorrem no fim de baixa voltagem, a qual pode dar ao individuo o
ciclos de sono de noventa minutos. A principio, a conhecimento de que ele está experimentando um
porção de cada ciclo, ocupada com sonhos, é curta; sonho. Esse pesquisador aplica o choque elétrico
mas, à medida que a noite avança, essa porção quando as ondas cerebrais da pessoa mostram que ela
amplia-se. A grosso modo, a primeira parte da noite está sonhando. Duas conseqüências práticas estão
de sono revisa o presente; uma outra parte, revisa o sendo vinculadas a essa técnica. Em primeiro lugar,
passado; e a parte final da noite de sono passa em pessoas afetadas por câncer ou por outras enfermida-
revista o futuro. Sonhamos durante mais de duas dades mortais estão usando esses sonhos a fim de
horas a cada noite. Nesses sonhos, a maior parte, se provocar uma melhor função do sistema imunizador
não mesmo a totalidade, de nosso futuro, é projetada. do organismo. Em segundo lugar, está sendo feita a
Assim, em um sentido não-bíblico, cada individuo é tentativa de utilizar esses sonhos como uma
seu próprio profeta particular. Alguns estudiosos experiência francamente criativa. Presume-se que
afirmam que sonhamos tudo quanto nos acontece, e (finalmente), isso venha a produzir invenções, obras
que isso ocorre mediante cenários literais ou escritas criativas e funções solucionadoras de proble-
simbólicos em nossos sonhos. E isso tem sido mas.
essencialmente confirmado pelos cientistas. Estudos Quero aaIlental' DOV. . . . .te que essa questão, para
realizados no Maimõnides Hospital, de Brook1yn, mim, é apenas 1UIUl peça, dentro do quadro maior da
cidade de Nova Iorque, têm mostrado que é fácil natureza e do desenvolvimento espirituais do homem.
influenciar o conteúdo dos sonhos de uma pessoa que Acredito que sonhar seja uma função dada por Deus
dorme, mediante a concentração dos pensamentos do (<< ••• sonharão vossos velhos... » - Atos 2:17), embora
influenciador sobre certos assuntos. Existem sonhos seja apenas uma função dentre muitas, não devendo
criativos, sonhos psiquicos e sonhos espirituais. Para ser levada ao exagero. Também deveria ser frisado
exemplificar, durante muito tempo, Charles Singer, o que há muitos níveis de sonhos. Alguns desses níveis,
inventor da máquina de costura, lutou com o conforme Freud destacou, são apenas mecanismos de
problema de como fabricar uma agulha que cumprimento de desejos. Por outro lado, há aqueles
funcionasse em uma máquina de costura. A resposta sonhos do mais profundo da alma, que nos dizem algo
lhe foi dada por meio de um sonho. No sonho, ele que precisamos saber. O teólogo Strong conhecia um
via-se na África. Os nativos o haviam capturado e já o homem que, segundo ele alegava, foi salvo de um
tinham posto em um caldeirão de água fervente. Um quase inevitável acidente por haver sido avisado de
dos nativos debruçou-se sobre ele e disse: «Se você não antemão em um sonho, por um anjo. Talvez alguns
resolver esse problema, então nós vamos cozinhá-lo e sorriam diante desse testemunho, mas as Escrituras
comê-lo». Aquele nativo estava segurando uma lança. dizem que Deus enviou o seu anjo a fim de fechar a
Singer notou que a lança tinha uma perfuração na boca dos leões, quando Daniel estava em dificuldades
ponta. Ainda quando sonhava, Singer compreendeu (ver Dan. 6:22).
que havia recebido a resposta. Acordou, saltou da d. O Poder da Mente sobre a Matéria. Considere-
cama e anotou por escrito a sua descoberta. Mais mos uma única ilustração, dentre as inúmeras que
tarde, preparou uma agulha com um buraco na poderiamos utilizar. No fenômeno conhecido pelo
ponta, o que possibilitou a invenção da máquina de nome de múltiplas personalidades, em que um único
costurar. corpo físico é controlado por diversas e diferentes
Alguns sonhos são éticos e nos conferem profundas personalidades, o organismo reage de diferentes
instruções. Outros são triviais e não têm significado maneiras. Quando uma das personalidades está no
evidente. Porem, tenho descoberto que mesmo alguns controle, a pessoa pode ser destra, mas canhestra
dos sonhos mais ridiculos assumem significação quando outra personalidade veto controlá-la. Os
quando chegamos a compreender os símbolos usados traços do eletroencefalograma também se tornam
em nossos sonhos. Coisa alguma daquilo que tenho diferentes, à medida que diferentes personalidades
dito aqui serve para tomar o lugar dos meios normais assumem o controle. No entanto, os atores que têm
de desenvolvimento espiritual. Não obstante, afirmo procurado alterar suas ondas cerebrais, quando
com confiança que sonhar é uma herança dada por representam outras personagens, não têm obtido
Deus, que nos é outorgada através de uma linguagem qualquer sucesso na tentativa. Por igual modo,
misteriosa, que precisamos aprender. Uma vez que quando uma das personalidades está no controle, o
comecemos a aprendê-la, já começamos a usufruir corpo pode ter especificas e persistentes alergias; mas,
beneficios. Tenho recebido muitos, e não poucos, vindo outra personalidade, o mesmo corpo não mais
sonhos de conhecimento prévio. Não os tenho com apresenta qualquer reação alérgica. Quando uma das
72
PARAPSICOLOGIA
personalidades dá as ordens, ~'ã pessoa pode precisar nossos anjos guardiies ocasionalmente guiam-nos na
de óculos, para determinados problemas oculares; comunicação mente-a-mente, ou seja, a telepatia.
mas, quando há troca de personalidades, a visão da Damos bem pouco valor ao ministério dos anjos. O
mesma pessoa torna-se cem por cento normal. notável teólogo batista, Augustus Strong, declara em
Impelido por uma personalidade, o individuo pode ser sua Teologia Sistemática: ..Assim como os espirltos
cego para as cores; impulsionado por outra personali- malignos tiveram permissão de agir ativamente
dade, ele será capaz de distinguir perfeitamente as quando o cristianismo iniciou seu apelo aos homens,
cores. A lista é longa, demonstrando como a mente assim também rec(j-~eceu-se, com freqüência, que os
pode produzir mudanças radicais no corpo. Certo anjos bons são executores dos prop6sitos divinos•.
psiquiatra evangélico informa-nos de que cerca de Isso ele disse a fim de apoiar sua assertiva de que os
cinco por cento dos casos de múltipla personalidade anjos bons recebem a tarefa de influenciar homens
com que ele tem tratado, envolvem poderes demonía- para contrabalançar o mal e ajudar os bons. E foi por
coso Porém, em noventa e cinco por cento dos casos, a isso, igualmente, que ele disse: ..Assim como os
psicoterapia regular pode integrar em uma só as espiritos malignos podem tentar aos homens, assim
diversas personalidades. A maioria dessas personali- também é provâvel que os anjos bons atraiam os
dades constitui-se apenas de fragmentações ocorridas, homens à santidade». E então ele passa a dizer:
devido a crises e tragédias que as pessoas não podem "Pesquisas psiquicas recentes desvendaram possibili-
enfrentar com o uso de uma única personalidade. Em dades quase ilimitadas de influenciar outras mentes
conseqüência, tomam-se duas pessoas ou mesmo mediante a sugestão. Minúsculos fenêmenos físicos,
mais. Porém, nenhuma dessas personalidades é como o odor de uma violeta ou a visão de um livro, ou
maligna, como nos casos de invasão demoniaca. Ora, uma folha aleijada de roseira podem iniciar uma
se assim acontece, então podemos asseverar, com toda cadeia de pensamentos que alteram o curso inteiro de
a confiança, que a mente exerce tremendos poderes uma vidas. Coisa alguma é tio poderosa quanto a
sobre o corpo, sendo bem provável que nossas mente, e existe comunicação de mente a mente que
enfermidades sejam criadas ou, pelo menos, encora- pode ser sentida de modo sutil ou poderoso. Strong
jadas, pelos nossos estados mentais. Trata-se de um citou favoravelmente a Fisher, em seu livro Nature
fenômeno psíquico, uma _variante daquilo que se and Method o/ Revelation, onde aquele autor fala
denomina psicocinesia, E óbvio, pois, que os sobre a naturalidade dos fenômenos psíquicos, e sobre
fenômenos psíquicos têm tremendas implicações como os homens são mais susceptíveis às influências
médicas. espirituais do que a maioria das pessoas imagina. E
e. Psicocinesia, Os filósofos falam sobre o problema ele também opinava que os anjos malignos podem
corpo.méDte. Existiria tal coisa como uma mente atuar sobre nôs por meio da telepatia; e, quanto ao
separada do cérebro? Em caso positivo, como é que a outro lado da moeda, os anjos bons podem fazer a
mente interage com o corpo fisico? Cada individuo, a mesma coisa acerca do bem. Strong foi presidente do
cada minuto de sua vida, manifesta uma continua Rochester Theological Seminary e por muitos anos,
interação entre sua mente e seu corpo. Você nem ao foi um gigante intelectual do movimento batista. Sua
menos poderia mexer com o dedão do pé, sem um Teologia Sistemática tem sido usada como obra
fenômeno psíquico. Quando a mente atua sobre o padrão entre muitas pessoas, já por diversas gerações.
corpo, a fim de manipulá-lo, ou quando a mente usa o As citações feitas acima acham-se nas páginas 451 e
cérebro para transmitir e controlar a inteligência, a 453 daquela obra (titulo em inglês: Systematic
pessoa está envolvida na psicocinesia. Sem isso, não Theology).
poderia haver tal coisa como uma alma a habitar e
manipular um corpo físico. A nossa própria existência
m. ConeeItoII Búlcoa DeIae Campo do ~.
mento
como seres mortais-imortais, e a nossa vida diária Na primeira seção, mostrei quão amplo o escopo
ê
como tal, dependem inteiramente de fenômenos
psíquicos, Portanto, é ridículo dizer-se que essas dessa inquirição da parapsicologia. Limito-me aqui a
coisas acontecem apenas ocasionalmente, ou que hâ uma breve declaração sobre os fenômenos maís
algo de inerentemente maligno nesses fenômenos comuns associados à mesma:
psíquicos. 1. Telepatia. Dentre todos os fenômenos, esse é o
Moralmente falando, os fenômenos psíquicos são que tem sido estudado de forma mais cientifica, e com,
neutros. - Tais fenômenos não são bons e nem esmagadoras confirmações. A telepatia consistê na
maus, embora possam ser usados para finalidades comunicação entre mentes, ou, na lingua~m
boas ou para finalidades más. Mostro abaixo como o popular, "leitura do pensamento... Nenhuma forma de
teólogo Strong concordava com essa avaliação. Tenho energia conhecida explica o fenômeno, pelo que há
conversado com muitos evangélicos sobre essa pesquisadores que opinam que alguma forma
questão, e eles também mostraram concordar com desconhecida, mas real, de energia, fisiea ou
imaterial, 9ue algum dia serâ descoberta, explica esse
isso. E tenho conversado com outras pessoas, fenômeno que desde há muito vem deixando os
totalmente ignorantes sobre o assunto. Essas não pesquisadores confusos. Mas, apesar de não sabermos
reconhecem a sua importância no tocante a questões como a telepatia funciona, as evidências em favor do
da metafísica e da epistemologia. Porém, sendo fato são avassaladoras.
professor de filosofia, tenho tido de tratar com essas e
com muitas outras questões das quais os missionários 2. CIarIvIdiaeIa. Esse é o conhecimento das coisas
evangélicos comuns nunca se aproximam muito. E mediante meios não-sensoriais, como objetos perdi·
preciso testificar que a minha vida tem sido dos, acontecimentos à distância, etc., sem qualquer
enriquecida pelas muitas avenidas de conhecimento comunicação de mente-a-mente. Antes, envolve um
que tenho podido investigar nesses estudos. Hâ uma misterioso conhecimento de mente-a-objeto. Quando
diferença entre um missionário que é apenas um J.B. Rhine investigou a telepatia mediante o uso de
evangelista, cujo trabalho confina-se à sua igreja cartões com desenhos nos mesmos, ele f~ que uma'
local, e um missionário que também atua como pessoa tentasse obter as informações da mente de
professor universitário, e que precisa enfrentar todas outra pessoa. A clarividência foi investigada mediante
essas questões do conhecimento humano. o uso desses mesmos cartões; mas, nesse caso, uma
pessoa tentava adivinhar a figura do cartão sem que
Mlnllltério ADaellClll. B quase indiscutivel que qualquer outra pessoa tivesse consciência do que
73
PARAPSICOLOGIA
estava no mesmo. A clarividência envolve uma espécie fantasia, têm sido captadas algumas genuínas vidas
de «visão remota». Também não se sabe como o passadas, realmente vividas. Mas isso ainda nos deixa
fenômeno funciona, embora existam muitas teorias, a braços com o problema da identidade. O que é
quase todas elas envolvendo alguma espécie de indiscutível é que a retrocognição é um fato; mas a
energia em operação. De alguma maneira, a mente é identidade de um indivíduo, com uma série de
capaz de atravessar o espaço e observar e tomar memórias passadas, e a declaração: «Eu fui aquela
conhecimento de coisas, sem o uso dos sentidos pessoa.., continuam sendo questões problemáticas,
físicos. que requerem maiores investigações. No meu artigo
3. Pslcocinésla. Essa é a capacidade mental de sobre a Reencarnação, ofereço informações detalha-
movimentar objetos sem o emprego da força fisica. ~ das sobre o que pode ser dito contra ou a favor dessa
quase certo que esse é o poder que a mente tem de teoria.
fazer o corpo movimentar-se; e, assim sendo, trata-se 6. Os Sonhos. Importantes parapsicólogos e
de um acontecimento constante no caso de todas as psicólogos estão aplicando suas aptidões ao estudo
pessoas (excetuando as mortas!). Pensamos, e, dos sonhos, de tal modo que o assunto vai-se
através do pensamento, fazemos um objeto qualquer rapidamente tornando uma ciência por seus próprios
movimentar-se à nossa vontade, mediante impulsos direitos. Estão sendo buscados meios não somente
físicos. Isso sucede todo o tempo, pelo que deve haver para obterem-se informações dos sonhos, que atuem
algum contacto entre a mente e o corpo. Ver o como diretrizes na vida, mas também que nos
Problema Corpo-Mente, quanto a uma detalhada mostrem como controlar os sonhos, para que os
explicação sobre as várias teorias filosóficas sobre homens possam lançar mão de seus poderes de
como a mente e o corpo interagem. l.B. Rhine criatividade e cura. A telepatia (capaz de provocar
investigou primeiro a psicocinesia fazendo seus alunos sonhos em outras pessoas, ou sonhos compartilhados)
lançarem dados mediante a força do pensamento. e a precognição são eventos perfeitamente comuns nos
Acabou ficando demonstrado que a mente humana sonhos. E isso serve de demonstração do fato de que
também tem um efeito sobre a desintegração do todas as pessoas são psíquicas, e que essa função não
átomo, nos materiais radioativos. Ê provável que é rara ou esporádica. O conhecimento que temos
certas formas de curas psíquicas estejam envolvidas sobre suas funções é que é defeituoso, levando-nos a
na psicocinesia. Pessoas têm sido capazes de mover distorcer a visão que temos sobre a questão. Os
pequenos objetos com o poder da mente, sem tocar sonhos revestem-se de uma importância espiritual, e
nos mesmos. Assim, certa dama precisou de mais de não meramente psíquica. No artigo sobre o assunto,
uma hora para separar a gema da clara de um ovo. dei aos leitores uma ampla visão a respeito.
Pequenos objetos podem ficar suspensos no ar; 7. Cmas. Apesar das curas poderem ser uma
objetos de metal podem ser dobrados ou mesmo questão espiritual, quando então torna-se indispensá-
quebrados. Instrumentos podem parar temporaria- vel a intervenção divina, há boas evidências em favor
mente de funcionar. A agulha de uma bússola pode da afirmação de que muitas pessoas, se não mesmo
sair temporariamente de seu lugar. Essa capacidade, todas, são dotadas de poderes mentais de curas, que
tal como outros fenômenos psíquicos, pode ser parecem envolver a manipulação de energias misterio-
desenvolvida mediante a prática. sas, mas naturais, que pertencem ao complexo
humano de energias. No processo dessas curas, as
4. Conhecimento Prévio. Temos ai a capacidade da pessoas usadas para curar com freqüência perdem
mente para prever acontecimentos. A profecia é uma peso, o que parece indicar a perda de certa
forma desse fenômeno, embora transcenda ao quantidade de energia vital, que pode ser medida por
conhecimento prévio comum, por estar envolvida com certas balanças extremamente sensíveis. A antropolo-
o Espírito de Deus. Os estudos sobre os sonhos têm gia tem demonstrado dois poderes psíquicos constan-
mostrado que quase todas as coisas que sucedem tes em muitas culturas, se não mesmo em todas: o
conosco são previstas em nossos sonhos, apesar do conhecimento prévio e as curas. Essas coisas são reais,
fato de que tão pouco disso emerge em nossa sem qualquer coisa de divino ou de diabólico
consciência. Ver o artigo sobre os Sonhos, quanto a envolvida, embora, como é óbvio, possam ser
uma demonstração do fato. Ver o artigo separado e produzidas por tais meios.
detalhado, intitulado Precognição (Conhecimento
Prévio). 8. Projeção da Psique. Se o homem é um espírito
S. Retrocognlçio. Da mesma forma que a menu que usa um corpo físico como veículo; e, se ele, como
humana pode prever coisas, assim também pode espírito, pode abandonar sua concha física por
revisar o passado por meios desconhecidos e ocasião da morte, não seria possível ele fazer outro
misteriosos. Isso pode envolver a participação na tanto estando ainda vivo, retornar ao corpo, e então
Mente universal, tal como no caso do conhecimento lembrar-se sobre o que experimentou fora do corpo?
prévio. Ver o artigo sobre a Mente Universal. Jung Os pesquisadores estão encontrando fortes evidências
pensava que as mentes humanas participam de em favor dessa tese. Nada há de moderno quanto à
grande depósito dos arquétipos, como também de experiência propriamente dita. O que há de recente
toda a consciência humana. Sob certas circunstân- nessa ciência é a concentração de investigação sobre a
cias, essa fonte poderia ser sondada. Uma coisa ~ questão, que está produzindo resultados positivos.
certa: a mente é um poder muito maior do que a Ver o artigo separado intitulado Projeção da Psique.
maioria das pessoas imagina. A mente é capaz de Essa é uma das mais promissoras formas de
fazer coisas notáveis. Uma importante aplicação de demonstrar, cientificamente, a existência da alma e
retroconhecimento, no dizer de alguns intérpretes, é a sua sobrevivência ante a morte física.
reencarnação. Modos de obter alegadas informações 9. Experiências Perto da Morte. Será possível
sobre vidas anteriores são, principalmente, cinco em alguém entrar nos estágios preliminares da morte do
número: a. os sonhos; b. a regressão hipnótica; c. as corpo, passar por coisas significativas, enquanto o
experiências místicas das próprias pessoas envolvidas; espírito está separado do corpo, e então voltar para
d. o trabalho dos místicos com outras pessoas; e. a contar algo a respeito? A ciência está começando a
memória espontânea em momentos despertos, espe- dizer.que «sim ... Ver meu artigo Experiências Perto da
cialmente no caso de crianças. Morte, que é bastante detalhado quanto a essa
Apesar de grande parte disso poder ser mera questão. Outro artigo que aborda o assunto é
74
PARAPSICOLOGIA
Imortalidade, em seu quarto ponto, Quando os demonstre que estamos tratando com pólos de alguma
Mortos Voltam, por Henry L. Peirce, vol, IH, pág. forma de energia ainda desconhecida. Quanto a uma
277. mais detalhada explicação a esse respeito, ver o artigo
10. Pesquisas em Geral sobre a Sobreviv~ncla da Problema Corpo-Mente, seção HI.
Alma. Para muitos pesquisadores, o interesse pela 4. Definições de Energias. Apesar de abundarem as
parapsicologia tem sido motivado pela esperança de descrições acerca do átomo, a teoria atômica ainda
descobrir evidências cientificas em prol da existência não passa disso, uma teoria. Trata-se de uma crença,
da alma e sua sobrevivência após a morte física. De que vai recebendo evidências adicionais o tempo todo.
fato, alguns dos pioneiros do campo buscavam, Novos elementos subatômicos estão sendo descobertos
especificamente, esse tipo de informação. Os fenô- com regularidade. Assim, apesar de suas grandes e
menos mediúnicos foram e continuam sendo investi- impressionantes realizações, a ciência ainda não
gados tendo isso em mente; mas também muitos têm dispõe de coisa alguma como uma completa descrição
crido que os fenômenos psiquicos são provas do do átomo. E sendo essa a verdade, muito menos ainda
dualismo platônico e cartesiano. Se um homem é, podemos dizer a respeito do espirito, de alguma
realmente, uma psique (uma alma, ou um espírito), energia não-material. Apesar das evidências aponta-
então é apenas natural, e até necessário, que produza rem na direção de algo não-material, conferindo-nos
fenômenos psiquicos, Eu mesmo creio assim, e penso algumas idéias sobre essa outra ,forma de energia,
que os estudos feitos têm acumulado muitas ainda assim não contamos com qualquer definição
evidências em favor dessa posição. Apesar de que real a respeito. Isso posto, é patente que estamos
certos fenômenos chamados psíquicos acabarão sendo tratando com questões que requererão muito tempo
classificados, afinal, como resultantes de qualidades para serem definidas. Da mesma maneira que os
desconhecidas dos átomos, parece que, até agora, o teólogos afirmam que Deus é esplrito, mas não sabem
dualismo (o complexo mente-corpo do homem) é a dizer grande coisa sobre a essência de Deus (embora
posição melhor apoiada. saibam dizer algo mais sobre as suas obras), assim
Os dez pontos acima apresentados estão longe de também a parapsicologia usa o termo espirito sem ter
formar uma descrição completa sobre o assunto, mas ainda uma boa definição a seu respeito. O espirito
tão-somente sugerem quão amplo é esse leque. Um opera de modos diferentes do que é atômico; tem
assunto assim tão amplo, naturalmente coincide com propriedades diferentes daquilo que é atômico. Mas a
muitos pontos da religião, da filosofia, da psicologia, sua essência permanece indefinida.
da antropologia, e, de fato, tem vinculações com a S. Até Pequenos Problemas são Vexatórios. As
maioria das ciências que tem qualquer coisa a ver evidências em favor da telepatia são convincentes.
com a natureza humana. Contudo, não há consenso geral acerca de como ela
IV. Natureza dos Fenômenos Pslquleos funciona. Alguns estudiosos pensam que uma energia
Eu seria muito brilhante se pudesse dizer aos real é transmitida de uma mente para outra, levando
leitores Qual a natureza exata dos fenômenos mensagens. Outros pensam que é melhor explicar a
psíquicos. Ofereço aqui apenas algumas sugestões: questão supondo-se que uma pessoa impressiona a
1. Alguns Fenômenos Psiquicos Podem ser outra mediante algum meio não-físico, talvez de
Atômicos (Físicos). Nesse caso, eles não requeririam mente para mente, mas sem envolver qualquer forma
qualquer tipo de essência espiritual ou psiquica. Para de energia. Uma mente é uma entidade capaz de
exemplificar, a psicocinesia pode ser realizada por tomar conhecimento das coisas, talvez podendo saber
alguma energia atômica real, como também muitas do conteúdo de outras mentes, sem a transmissão de
curas fisicas. A telepatia poderia ser a manipulação qualquer forma de energia. E a vontade talvez leve as
de alguma forma de energia atômica, mas, no mentes a saberem das coisas; a vontade poderia levar
presente, desconhecida. a mente de um homem a receber conhecimentos.
Deus conhece todas as coisas sem a transferência de
2. Energias ou Estados Espirituais. Há fortes qualquer forma de energia. O homem, criado à
evidências em prol da realidade da mente, como algo imagem de Deus, é um Ser que toma ciência das
distinto do cérebro. Apesar de algum conhecimento coisas, podendo saber, por habilidade inata, sem
prévio ser realizado pelos poderes de computação do qualquer manipulação de energias. Tendo dito isso,
cérebro, é muito dificil explicar alguns casos dessa dissemos uma teoria básica, embora nada tenhamos
maneira. Apesar do retroconhecimento poder ser dito sobre como tudo isso opera. Apesar de algumas
cerebral em alguns casos, é dificil ver como o cérebro curas parecerem envolver certa transferência real de
pode retroceder tanto no tempo. A memória parece
energia, outras parecem ir além disso; e ainda outras
envolver mais do que o cérebro. Pessoas que têm parecem envolver atos de criação, que podem estar
entrado nos estágios iniciais da morte, cujas ondas dentro ou não do escopo dos poderes humanos. De
cerebrais acusam «zero», ainda assim têm a memória certa feita, Jesus disse que ele sabia que uma «virtude»
intacta. Existe tal coisa como memória extracerebral. saira dele, ao realizar certa cura (ver Mar. 5:20). Sem
Karl Popper e um outro pesquisador escreveram um dúvida, isso implica em alguma transferência de
livro que versa sobre «a mente e seu cérebro.., um
assunto extremamente sugestivo, que parece apontar energia; mas algumas curas podem envolver mais do
para essa grande verdade. As experiências perto da que isso, conforme já observamos. Quando mortos
morte servem de poderosa evidência em favor de um são ressuscitados, isso quase necessariamente envolve
autêntico rompimento entre a mente e o corpo fisico, um ato criativo, e não meramente a aplicação de
alguma energia.
por ocasião da morte, bem como em favor da
realidade da mente (espírito, alma), em contraste com V. Experiências Dustrativu: TooOll SIo Pslquleos
o cérebro e o corpo fisicos. A literatura sobre fenômenos psiquicos, na lingua
3. A Teoria do Duplo Aspecto. E bem possivel que portuguesa, atualmente é suficientemente rica; e o
as energias fisicas e psiquicas sejam, afinal de contas, leitor que tenha curiosidade, poderá examinar tal
aspectos de uma mesma forma de energia, dando a literatura. Ali ele verá quanta evidência real está
entender que o homem é um monísmo, embora com envolvida. Os vários artigos aos quais me tenho
uma manifestação dualista. Nesse caso, as teorias referido também apresentam ao leitor boa abundân-
espirituais seriam preliminares e parciais, e teriamos cia de provas ilustrativas. Os céticos, contudo, jamais
de esperar por alguma grande descoberta que deixar-se-ão convencer, sem importar a quantidade e
75
PARAPSICOLOGIA
a qualidade das evidências comprobatórias. Isso é outras pessoas?
assim porque essas realidades solapam seu sistema Proximidade Emocional e Mental. A intimidade de
básico de crenças. E, desejando consolo mental, eles convivência com alguém, havendo ou não o envolvi-
resguardam suas crenças preferidas. Por outra parte, mento de parentesco, aumenta a intercomunicação
alguns cristãos fundamentalistas temem investigar e mental. Tenho desfrutado de uma proximidade
tomar conhecimento desses fatos, tachando os fenô- especial com meu filho caçula. Quando ele ainda era
menos psíquicos de diabólicos. Nunca alguém obteve criança, ele e eu experimentávamos várias óbvias
conhecimentos através dessa abordagem a la avestruz. transferências de pensamento. Isso sempre me deixou
Grande parte das evidências frisa o quão naturais são admirado, embora desnecessariamente. Conheci duas
os fenômenos psíquicos. Não precisamos apelar para outras pessoas que obviamente eram capazes de ler os
Deus ou para o diabo, a fim de explicá-los nesses meus pensamentos, ao ponto de eu não ter dúvidas de
casos. Fazem parte daquilo que o ser humano é. que assim, realmente, sucedia. Tenho compartilhado
Afinal de contas, o homem é uma psique, sendo de vários sonhos com minha esposa; e, em um caso
apenas natural que ele tenha experiências psíquicas. notável, com uma funcionária minha, tive um sonho
Um espírito humano não poderia manipular seu compartilhado, que envolvia pessoa íntima da minha
corpo fisico a não ser através de algum poder familial E tenho tomado conhecimento de muitos
conectador, como aquele postulado na psicocinesia. sonhos de pn.-eonheclmento da parte de outras
Os estudos acerca dos sonhos mostram, além de pessoas.
qualquer dúvida, os poderes psíquicos do ser Usualmente, esses fenômenos existem dentro de
humano. Temos entre vinte e trinta sonhos a cada "nosso circulo de relações», geralmente envolvendo-
noite. Em laboratórios especializados, tantos quantos nos diretamente. Outras pessoas vêem coisas por nós;
oito desses sonhos, a cada noite, têm sido detectados. compartilham de nossas provações. Há uma união das
Quando uma pessoa sonha, seus olhos oscilam de mentes. Quando olhamos para as vastidões oceânicas,
forma característica, e, durante essas oscilações, a vemos várias ilhas. Mas, se mergulharmos fundo no
pessoa pode acordar, fixando na memória esses mar, descobriremos que todas as ilhas estão interliga-
sonhos. Mesmo usando-se esse método de despertar a das, no fundo do mar. Assim também, se cada
pessoa quando seus olhos estão oscilando, só se individuo pode ser considerado uma ilha, cada qual
consegue capturar cerca de uma terça parte dos está vinculado a todos os outros indivíduos mediante
sonhos que ela tem. Não obstante, mesmo ai nota-se uma mente subconsciente. Jung chegou ao extremo de
que o futuro da pessoa está sendo predito de modo postular uma memória racial, compartilhada no
simbólico, de mistura com casos de telepatia, grande depósito da mente universal. Assim também
incluindo casos de sonhos compartilhados. No se as pessoas consistem em entidades físicas distintas,
decorrer de um período de dois anos e meio, registrei há um vínculo mental e espiritual que confere a todos
cerca de sessenta de meus próprios sonhos, de os homens uma humanidade coletiva. E certos
natureza precognitiva. Apesar de alguns desses fenômenos psíquicos envolvem essa humanidade
sonhos poderem ter sido pura sorte, eles são numero- coletiva. No quinto capítulo de sua epistola aos
sos demais para ser explicados dessa maneira. E, se Romanos, Paulo asseverou o vinculo humano
alguns desses sonhos são triviais, outros me deram universal: em Adão todos são pecadores; em Cristo
importantes informações. Mas isso é apenas comum, todos recebem retidão e são vivificados, atendidas as
e não extraordinário. O que é incomum é quando as condições do evangelho. Um homem não é apenas um
pessoas podem lembrar-se de um número significativo individuo isolado: ele é uma unidade dentro da
de seus sonhos. totalidade. Isso pode ser demonstrado de várias
A função psiquica é liberada nos sonhos, e todas as maneiras, uma das quais são certos fenômenos
pessoas que sonham demonstram possuir essa psíquicos. Naturalmente, poderes demoníacos podem
capacidade na tranqüilidade da noite. Mas, como t estar envolvidos em certos fenômenos psíquicos, o que
óbvio, a função dos sonhos é perfeitamente natural, discuto na seção VI, abaixo.
não sendo algo inspirado pelo poder dos demônios.
Não menos que os céticos, alguns cristãos temem que VI. Contrute com o Ocultismo
seus sistemas de crenças sejam abalados, e buscam, Não conhecem muito sobre o assunto aquelas
tanto quanto aqueles, consolo mental, e não a verdade pessoas que o equiparam com o ocultismo. A palavra
dos fatos. ocultismo (apesar de indicar algo oculto, podendo
assim aludir a qualquer questão onde suposto
Gêmeos Idênticos: conhecimento oculto seja oferecido somente a alguns
Um frudfero meio de investigação de certos poucos seletos) usualmente tem conotações negativas.
aspectos dos fenômenos psíquicos consiste no estudo Tal conhecimento e suas práticas seriam ocultos por
de gêmeos idênticos. Parece haver certa proximidade: fazerem parte do jogo do diabo, que gosta de jogar
incomum, genética ou não, que favorece os fenôme· com as pessoas. Esse conhecimento oculto, pois, é
nos psíquicos em relação a esses gêmeos. Donald contrastado com o conhecimento de Deus que foi
Keith estava caminhando por uma rua, em Rockville: E:
trazido à luz, para conhecimento de todos. verdade
Maryland, quando, subitamente, teve dores agudas H que um espírito demoníaco pode transmitir mensa-
inexplicáveis em um dos escrotos. Mais tarde, naquele gens às mentes humanas através da telepatia.
mesmo dia, ao entrar em contacto com seu irmão Também é verdade que tal espírito pode levar alguém
gêmeo, ficou sabendo que este sofrera uma grave a predizer o futuro. Um espírito não-humano(bom ou
injúria naquela parte do corpo. Nada existe de isolado mau) naturalmente tem fenômenos psiquicos e pode
ou raro em tais acontecimentos. Um artigo SObN provocá-los. Porém, essa é apenas uma das considera-
irmãos gêmeos, na edição de abril de 1988, da revista ções sobre a questão, e uma das menores dentre elas.
internacional Reader 's Digest, afirma: "Os psicólogo. Alguns antropólogos e psicólogos chamam todas as
têm ouvido sobre dúzias de relatos nos últimos anos, religiões de superstições e manifestações da mente
envolvendo irmãos gêmeos. A percepção extra-senso- primitiva. Outros supõem que elas sejam mágicas, ou
rial com freqüência gira em torno de acontecimentos poderosamente influenciadas pelas artes mágicas.
importantes: injúrias, nascimentos e mortes». Deve- Pessoas religiosas, entretanto, objetam a essa
ríamos supor que os gêmeos idênticos têm uma tax.a simplificação e "agrupamento», que nos afastam da
de incidência maior de possessão demoniaca do que as verdade, em vez de aproximarem-nos dela. Por
76
PARAPSICOLOGIA
semelhante modo, chamar os fenômenos psíquicos de usar aquilo que temos para servirmos a Deus e ao
ocultismo é uma simplificação que nos desvia da próximo. Um aspecto disso, sem dúvida, consiste
verdade, em vez de aproximar-nos dela. Isso seria o naquilo que um homem é, em sua natureza psíquica.
mesmo que dizer que todos os homens, até os mais Deus pode usar minhas capacidades naturais de
devotos, participam das artes ocultas; e isso porque os sonho para que eu sirva a mim mesmo e a outros. Ele
homens são espiritos que participam dos fenômenos pode usar minhas capacidades naturais de cura para
psíquicos e os produzem com naturalidade. ajudar outras pessoas. Posso passar por experiências
Quando usamos a palavra mente, em contraste com telepáticas (que alguns chamam de intuitivas) a fim
«cérebro», já estamos falando acerca da capacidade de de servir a outras pessoas. Algumas pessoas têm feito
qualquer ser humano participar dos fenômenos curas durante a experiência da projeção da psique. As
psíquicos e produzi-los. Psique é mente; psique é experiências perto da morte têm sido utilizadas para
espírito; um espírito age; um espirito é pslquico, iluminar mentes humanas. Nada hã de errado ou
VII. Contraste com a Esplrltu.udade maligno com essas experiências. Elas podem servir ao
bem ou ao mal, tudo dependendo de como são
Os fenômenos mentais não são, necessariamente, usadas, e não dependendo do que elas são em si
fenômenos espirituais. Todos os homens são psíqui- mesmas.
cos, mas nem todos os homens são espirituais. O
homem espiritual pode manipular os fenômenos VID. Sua Importância para a FIlosofia e a Teologia
psíquicos de maneira positiva, benéfica. Mas o 1. Se existem modos extra-sensoriais de tomarmos
homem natural só pode manipulá-los de maneiras conhecimento das coisas, então o estudo dos
negativas. Os fenômenos psíquicos são neutros, moral fenômenos psíquicos está diretamente relacionado à
e espiritualmente falando. Aqueles que deles se teoria do conhecimento, também chamada epistemo-
utilizam é que os tomam positivos ou negativos. logia. Precisamos ter uma visão holística do homem,
Algumas pessoas especialmente espirituais têm-se ou seja, em seu conjunto total. O homem não está
notabilizado pela produção de fenômenos psíquicos, limitado à percepção dos sentidos quando se trata
mormente a precognição, a projeção da psique, a dele conhecer as coisas. Antes, o homem é um espirito
telepatia, etc. Porém. isso envolve um uso espiritual intuitivo, e não meramente uma máquina sofisticada.
dessas funções. Essas funções, em si mesmas, não são As fés religiosas sempre ensinaram que o homem está
espirituais e nem antiespirituais. Um homem não se sujeito à revelação divina, e quase todas as religiões
torna mais espiritual meramente por ter tido um enfatizam os poderes racionais e intuitivos do ser
sonho de conhecimento prévio. Um homem pode humano. Os fenômenos psíquicos enfatizam a
curar a outrem, sem que tenha qualquer espirituali- versatilidade da natureza humana, combatendo a
dade especial. Um homem pode até mesmo expulsar visão mecânica do homem, promovida por alguns
um espírito demoníaco, pela força de sua vontade, ramos da ciência.
sem que isso faça dele um homem espiritual. Por 2. Ontologia. Um homem é mais do que o seu corpo
outro lado, essas habilidades, embora naturais, físico. Isso foi ensinado por Platão, Descartes e outros
podem ser usadas visando ao bem, por um homem pensadores dualistas. Esse é o dogma religioso
espiritual. Usamos outras capacidades naturais para comum sobre a questão da natureza humana. Os
o bem, como nossos talentos e aptidões intelectuais. fenômenos psíquicos provêm evidências em prol do
As habilidades psíquicas também podem ser usadas dualismo e em prol da distinção entre a mente e o
positivamente. mas a sua simples existência nem é cérebro, como também em prol da diferenciação entre
contra e nem a favor da espiritualidade de uma a alma e o corpo.
pessoa. Homens maus podem usar capacidades
psíquicas de modos negativos; mas. em si mesmos, 3. Provas Cientificas da Alma. A parapsicologia
esses homens são negativos. Estou convencido de que está provendo um modo de demonstrar a porção
muito daquilo que acontece no movimento carismáti- imaterial do homem, do ponto de vista cientifico. E
co é psíquico, e não espiritual. Saber o que outra isso apresenta um vasto potencial para o bem. Se a
pessoa está pensando não é prova de que um homem é ciência puder demonstrar que o homem é um espírito
impulsionado pelo Espiríto de Deus. Ser capaz de ou alma, e que o seu corpo é apenas um veiculo, isso
falar em línguas pode ser uma função psíquica, e não revolucionará toda a maneira de pensar e a conduta
espiritual. As profecias podem nada ser senão a dos homens. Isso provará que a fé religiosa estava com
criatividade de uma mente que foi psiquicamente a razão o tempo todo. Isso não significa, porém, que
expandida. Por outra parte, há manifestações todos os dogmas religiosos devam ser automaticamen-
genuínas de dons espirituais, que alguns poucos te apoiados, mas significa que, em certo ponto critico,
crentes sérios empregam. a ciência e a fé religiosa concordarão plenamente. O
Dr. Michael B. Sabom,em seu livro Recollections of
Devemos ter o cuidado de não degradai' a Death-a Medical Investigation, estudou cientifica-
person.udade humana. O Espírito de Deus pode usar mente, e em profundidade, a questão do retomo de
tudo quanto um ser humano possui naturalmente. muitos pacientes da morte clínica ou da quase-morte.
Não foi por acidente que o Espírito Santo escolheu Ele é um cardiologista que já viu a morte em
Lucas e Paulo para produzirem a maior parte do Novo muitíssimas ocasiões, e que começou seus estudos
Testamento. Eles eram dotados de alta capacidade com o intuito de refutar esse acontecimento, e não
intelectual, e o Espírito do Senhor pô-los a trabalhar para confirmá-lo. Para sua surpresa, suas pesquisas
na produção de uma literatura imortal. Por igual terminaram confirmando a realidade da experiencia.
modo, o Espírito de Deus pode usar os poderes Ele acredita que a morte é a separação entre a mente e
naturais psíquicos dos homens tendo em vista o bem. o corpo. E isso significa que o dualismo foi favorecido
O Espírito Santo usa os homens, com tudo quanto por suas descobertas.
eles têm, para as suas finalidades. Os espíritos Albert Einstein, mui significativamente, declarou:
malignos também usam homens, com tudo quanto «Todos quantos estão seriamente envolvidos nas
possuem, para os seus propósitos. Deus tem dotado pesquisas cientificas ficam convencidos de que
homens com certas habilidades básicas, e ele usa aos manifesta-se um Espírito nas leis do universo-um
homens e às suas habilidades naturais. Ele também Espirito vastamente superior ao espírito humano,
pode usar um homem para que ele ultrapasse a si diante do qual nós, com nossos modestos poderes,
mesmo: mas a vida diária consiste essencialmente em precisamos sentir-nos humildes» (The Human Side, A.
77
PARAPSICOLOGIA
Einstein, Princeton University Press, pág.-33). contra a areia da praia.
Quanto a essa citação, Sabom observa (à pâg, 186): O experimentador fecha a porta atrás de si e sai do
"... é precisamente esse Espírito que tem sido quarto. A paciente está agora sozinha. Sua única
reconhecido por muitas e muitas vezes pela maioria companhia são os seus próprios pensamentos.
daqueles que têm passado por uma experiência perto Não temos aí nem uma experiência com a privação
da morte... E é precisamente esse Espírito que parece dos sentidos e nem a tortura do confinamento
continuar vivendo nas vidas daqueles que têm sido solitário. Em vez disso, estamo-nos deparando com
tocados por alguma verdade inefável, encontrada face um teste recém-desenvolvido, que procura investigar a
a face, nos momentos mais próximos da morte... percepção extra-sensorial, com o emprego do
IX. PSI:· As Fançies Pslqulcu e a Prlvaçlo chamado efeito Ganzfeld. (<<Ganzfeld.. é um vocábulo
e a Prlvaçlo dOI Sentidos alemão que significa «campo total..). Os principais
sentidos dos pacientes são totalmente controlados
Esta seção é um artigo que ilustra a praticabilidade, durante a experiência. Nesse vácuo de sensações, a
a normalidade e a importância dos fenômenos psí- mente solitária parece estar morrendo de fome por
quicos. estímulos e-ao que tudo indica-busca mensagens
PSI: As Funçies Pslqulcu com grande anelo.
e a Prlvaçio dOi SentldOl Visto que os pacientes nada vêem senão o
- O Efeito Ganzfeld - resplendor avermelhado e nada ouvem senão o «ruído
Por Martin Ebon branco.., a mente deles começa a criar imagens do tipo
Reimpresso pela gentil permissão de Fate devaneio acordado. Em casos raros, esses devaneios
Magazine (outubro de 1987). tomam-se alucinações francas. Mas, conforme des-
cobriu, em 1973, Charles Honorton, então diretor de
Apagando das mentes dos pacientes tudo menos a pesquisas do i .Maímênídes MedicaI Center, em sua
percepção extra-sensorial, novas experiências têm divisão de parapsicologia e psicofísica, essas imagens
produzido dramáticas evidências em favor das talvez também contenham impressões extra-senso-
capacidades psíquicas das pessoas. riais. Desde há muito que Honorton estava interessa-
Nas décadas de 1960 e 1970, psicólogos e do em estados mentais que podem ajudar às pessoas a
parapsicólogos interessaram-se pelos chamados esta- obterem impressões extra-sensoriais, e suas pesquisas
dos alterados de consciência. A começar pelo início da passadas haviam incluído a hipnose, os sonhos e a
década de 1960, os pesquisadores do Maimônides privação dos sentidos. E visto que ele deu notícia do
Medical Center, em Brook1in, Nova Iorque, passaram seu sucesso, mediante o uso dó efeito Ganzfteld,essa
a investigar sonhos como possíveis transmissores de técnica tomou-se uma das mais populares formas de
informações da percepção extra-sensorial. O projeto testar as percepções extra-sensoriais no campo da
rendeu dividendos, e logo os pesquisadores estavam parapsicologia. Eis abaixo, exatamente, como a coisa
buscando métodos relacionados para tirar proveito funciona.
das funções psíquicas. E isso conduziu-os à estranha Antes de começarem os testes, estando o paciente
dimensão da privação dos sentidos. no ambiente acima descrito, são lidas as seguintes
O eltlmulo GaDZfeld é uma forma simples de instruções:
isolamento dos sentidos, em que o paciente é Nesta experiência queremos que você pense em voz
desligado das fontes normais de estímulos visuais e alta. Fale sobre todas as imagens, pensamentos e
auditivos. Daí resultam quadros mentais espontâ- sentimentos que passarem pela sua mente. Não se
neos, parecidos com as imagens mentais que apegue a qualquer deles. Simplesmente observe-os
antecedem o sono. Por coincidência, três parapsicólo- enquanto se sucedem. Em algum ponto, durante esta
gos, em diferentes laboratórios, deram início ao sessão, lhe enviaremos uma mensagem. Não tente
trabalho Ganzfeld, mais ou menos na mesma época. antecipar ou imaginar qual será essa mensagem.
Eles esperavam encontrar provas de que as imagens Tão-somente sugira a si próprio-agora mesmo-que
produzidas desse modo transmitiriam informações a mensagem aparecerá em sua consciência no
extra-sensoriais. Charles Honorton estava usando esse momento certo. (Pausa).
procedimento, no Maimônides, e publicou seu Mantenha seus olhos abertos tanto quanto possível,
trabalho primeiro, enquanto William e Lendell Braud durante toda a sessão, e permita que a sua consciência
estavam explorando simultaneamente suas possibili- flua em meio ao ruído branco que você estará ouvindo
dades, no estado do Texas. A pesquisa com o efeito através dos fones de ouvido.
Ganzfeld também estava sendo feito pela Universida- Depois que eu p..... oe fo... de ouvido sobre suas
de de Edimburgo, na Escócia. orelhas, sairei para a sala ao lado, de onde o
.Atualmente, o efeito Ganzfeld é um dos procedi- monitorarei. Você deve esperar alguns minutos para
mentos mais populares dos parapsicólogos. Neste ficar bem à vontade. Afrouxe toda a tensão muscular
relatório de nossa contínua série, «Parapsychology de seu corpo e relaxe completamente. Assim que você
Today.., Martín Ebon põe nossos leitores em contato começar a observar o seu processo mental, comece a
com as pesquisas mais recentes que os estudiosos têm «pensar em voz alta». Continue a compartilhar
conseguido realizar. conosco as suas imagens, pensamentos e sentimentos,
O ambiente da experiência é uma sala totalmente durante toda a sessão.
às escuras. A paciente está sentada em uma cadeira NOI prlmelrol tata, os pacientes eram mantidos
confortável de encosto, dentro de um recinto fechado no isolamento do ambiente à prova de som durante
à prova de som. Bolas de pingue-pongue, cortadas trinta e cinco minutos. Em certa altura da
pela metade, cobrem os seus olhos. Embora a experiência, ou um assistente laboratorista ou um
paciente esteja diante de uma lâmpada que emite amigo do paciente começava a olhar gravuras, em
fortes raios de luz vermelha, ela vê apenas um campo uma seleção feita ao acaso, postas em um carretel.
difuso avermelhado, para onde quer que dirija os Esses carretéis são um implemento favorito educacio-
olhos. Através dos fones colocados sobre seus ouvidos, nal. Uma série circular de sete slides com o mesmo
a jovem mulher nada mais ouve senão um chiado tema são vistos em sucessão, mediante um visor posto
suave, um «ruído branco», muito parecido com o som contra a luz. (Esses carretéis variam desde cartões de
das ondas do mar a se chocarem monotonamente desenhos Disney até cidades, animais e lições de
78
PARAPSICOLOGIA
'ciência). Enquanto isso, os pacientesfalam o tempo rápido, e parece que há estrelas no fundo».
todo, dizendo o que eles imaginam,' com um Honorton e Harper também observaram uma
experimentador, em ligação com eles mediante um estranha relação entre as memórias de seus pacientes
sistema de comunicação interna. Honorton e sua e suas subseqüentes impressões de percepção extra-
assistente, Sharon Harper, não tardaram muito a sensorial. Com freqüência, parecia que algum
descobrir que os pacientes encontram pouca dificul- paciente não estava realmente captando os quadros
dade em descobrir as imagens que lhes ocorrem, que que lhe estavam sendo enviados pela percepção
combinavam com os quadros que lhes estavam sendo extra-sensorial, e, sim, que a percepção extra-senso-
enviados telepaticamente de algumas poucas salas de rial estava vinculada a memória de cenas relativas aos
distância, no mesmo edificio. quadros enviados. Se o leitor reler os exemplos citados
Por exemplo, Jacldynne, uma de suas primeiras acima, poderá perceber que um dos pacientes falou
pacientes, e que nunca se considerou dotada de em ter encontrado um falcão doente, pouco antes do
qualquer habilidade psíquica, experimentou um jorro teste em que o assunto ei'a Aves do Mundo. E quando
de' imagens, enquanto se submetia ao método o assunto passado a um outro paciente foi O Índio
Ganzfeld: «um avião voando no meio de nuvens . Americano, esse paciente teve imagens baseadas na
aviões passando acima das cabeças das pessoas . recente leitura que fizera do livro de Carlos
agora trovões, com nuvens de chuva... aviões . Castaneda, Journey to Ixtlan, que narra as alegadas
ultra-som... um incêndio, chamas vermelhas. Uma experiências do autor entre índios mexicanos.
estrela de cinco pontas... um avião em picada... » O sucesso obtido por Honorton provocou uma
Um pouco adiante, durante a mesma experiência, pequena epidemia entre os experimentadores. Quan-
ela disse: «Uma ave gigantesca a voar ... seis faixas em do ele deu a público, pela primeira vez, o seu trabalho
um uniforme do exército, em forma de V. Um rosto com o efeito Ganzfeld, outros pesquisadores quiseram
que aparece dentre as faixas. Agora um V... uma examinar. no que a coisa consistia, igualmente.
serra montanhosa, coberta de neve. Um vôo passando Um dos primeiros acompanhamentos do assunto
por montes ... A sensação de avançar muito rapida- foi feito por - Rex Stanford -, um pro-
mente... uma metralhadora. Uma escada". fessor de psicologia da Universidade de São João,
Durante essa experiência, um agente estava em Iamaica, Nova Iorque. Durante suas primeiras
enviando um carretel intitulado Academia da Força experiências, os pacientes não tentaram captar
Aérea Norte-Americana, de uma sala isolada próxi- telepaticamente o que um agente estava procurando
ma. transmitir-lhes. Em vez disso, eles empregaram a
clarividência para ver quadros ocultos em envelopes
Algumas vezes, os acertos ainda são mais próximos. fechados. Após o término do teste, os pacientes
Quando um agente estava examinando um carretel tiveram de selecionar o quadro escolhido dentre um
chamado Aves do Mundo, - um outro paciente grupo de quatro. Alguns pacientes descreveram
declarou: «A imagem de uma árvore estranha, talvez vagamente esse quadro; mas outros deram boas
uma figueira-de-bengala... Sinto uma grande cabeça descrições do quadro errado-ou seja, descreveram
de falcão defronte de mim, de perfil. Uma percepção com exatidão um dos quadros que lhes fora mostrado
de penas lisas. Agora a ave vira a cabeça e sai voando. terminado o teste, embora apenas um dos quadros
Talvez porque achamos, neste fim de semana, um alternativos.
falcão doente... »
A fim de determinar quão bem-sucedidas são essas Ponentara o efeito Gaufeld teria estimulado o
experiências, afinal de contas, cada paciente tinha de conhecimento anterior, deixando de lado o verdadeiro
examinar quatro carretéis de quadros, terminado o quadro escolhido, e permitindo que o paciente
teste, para escolher aquele que pensava ter-lhe sido percebesse o quadro que lhe seria enviado telepatica-
enviado telepaticamente, e que se ajustasse mais de mente somente mais tarde? Apesar dos resultados
perto às imagens que recebera. Dentre as primeiras não-conclusivos, Stanford descobriu que os pacientes
trinta pessoas que se submeteram aos testes que subestimaram o período de tempo que passaram
Ganzfeld-e, lembremo-nos que tais pessoas não encerrados (que era, de vinte minutos) se saíram
afirmavam possuir qualquer poder de percepção melhor do que aqueles que subestimaram o tempo do
extra-sensorial, e que elas só estavam se submetendo teste. Para Stanford . isso sugeriu que os pacientes que
ao teste por pura diversão, 43,3 por cento escolheram passaram por um estado de consciência profunda-
o carretel certo. A pura chance teria resultado em mente alterado perderam a consciência quanto à
uma cifra como vinte e cinco por cento. passagem do tempo, exibindo maiores poderes de
A parte desses convincentes resultados globais, percepção extra-sensorial do que os pacientes menos
Honorton e Harper também encontraram algumas afetados pela experiência.
poucas inexplicáveis peculiaridades durante as suas Outros parapsicólogos têm feito experiências com o
pesquisas. Antes de tudo, os pacientes, com efeito Ganzfeld que se parecem mais com o trabalho
freqüência, descreviam o tema dos carretéis antes do originalmente Jeito no Hospital Maímônídes. Para
agente realmente começar a olhar para os mesmos! exemplificar, no estado de Texas, nos fins da década
Isso se devia à clarividência ou ao conhecimento de 1970, os Drs. William e Lendell Braud efetuaram
prévio? Para exemplificar, um dos pacientes começou uma pesquisa que foi tão excitante quanto inédita.
a falar sobre suas imagens mentais muito antes do Eles procuraram isolar os estados mentais e corporais
agente começar a «enviar» as figuras do carretel, que facilitam as percepções extra-sensoriais. A
Projeto Apolo. principio estudaram como o relaxamento ajuda a
Embora ninguém, nem mesmo o agente, soubesse pessoa a concentrar-se sobre a percepçãoextra-senso-
que dentro de instantes estaria examinando quadros riaI. Em seguida, fizeram experiências acerca da,
sobre espaçonaves atravessando o espaço, o paciente predominância de hemisférios cerebrais. Mediante o
começou a dizer, pelo sistema de comunicação estimulo do hemisfério direito do cérebro, suposta-
interna: «E quase como se eu estivesse voando, voando mente sede dos impulsos estéticos e criativos, eles
cada vez mais alto no espaço... o céu mudou para a foram capazes de ajudar seus pacientes a receberem
cor azul escuro, com estrelas. Agora, há alguma coisa ou detectarem mensagens através da percepção
que não é próprio dali, girando, em forma de extra-sensorial. Porém, os dois Brauds obtiveram seu
crescente, arredondado. Está indo cada vez mais maior êxito quando passaram a' usar o efeito
79
1:' '
u
PARAPSICOLOGIA
Ganzfeld, tematicamente relacionadas ou memórias dos slides
No seu primeiro teste, os pesquisadores fizeram reais. Mas o sucesso de Cláudia fez um notável
defrontar-se dez pacientes submetidos ao efeito contraste com aqueles. Ela vira representações quase
Ganzfeld e dez pacientes que meramente se sentavam fotográficas dos quadros transmitidos mediante a
tranqüilos, para então descreverem verbalmente os percepção extra-sensorial!
quadros recebidos, sem a ajuda do meio ambiente ROlO, portaDto, passo~ a efetuar uma série de
criado pelo efeito Ganzfeld. Todos os pacientes projetos com Cláudia, empregando a aparelhagem do
submetidos ao efeito Ganzfeld foram bem-sucedidos efeito Ganzfeld. Porém, não demorou a surgir um
no teste, ao passo que somente metade dos outros pequeno problema. A percepção extra-sensorial de
pacientes obtiveram êxito. Os Brauds escreveram, no Cláudia era tão ativa que quando ela se assentava
Journal of the American Society fo,. Psychical para submeter-se ao efeito Ganzfeld, a pesquisa tinha
Research (abril de 1975) que a taxa de sucesso com o de ter por objetivo limitar seus poderes extra-senso-
efeito Ganzfeld é «o mais alto obtido em nosso riais, em vez de tentar induzi-los. Rogo empregou
trabalho, até agora». alguns testes de clarividência nos quais ela tentou
Nio demorou multo para que outras pesquisas com descrever quadros dentro de envolopes selados. E a
o efeito Ganzfeld tivessem lugar em Los Angeles. cada vez em que Cláudia era submetida ao efeito
Encorajado pelo sucesso obtido por Honorton, D. Ganzfeld, sua clarividência mostrava uma potência
Scott Rogo que era então diretor de pesquisas da tão ativa que, com freqüência, ela descrevia mais de
Sociedade da Califórnia do Sul para Pesquisas um quadro que Rogo estivesse usando.
Psiquicas, procurou reduplicar o trabalho feito no Para exemplificar, em uma das experiências, Rogo
Hospital Maimênides, em um laboratório que lhe foi empregou quatro envelopes selados. Ele escolheu um
emprestado pelo Instituto de Neuropsiquiatria da dos quadros como aquele que queria transmitir, e
UCLA. Mas Rogo acabou desviando-se da trilha deixou os outros três como quadros alternativos, para
selecionada por causa de uma paciente que foi tão serem usados em experiências subseqüentes. Porém,
bem-sucedida que ela se tomou uma superpsíquica não somente Cláudia descreveu o quadro, como
assim que foi submetida ao efeito Ganzfeld. E então também descreveu, com toda a exatidão, os três
quase todas as suas pesquisas concentraram-se em outros quadros, dentro dos envelopes fechados, em
tomo dessa paciente. um único teste.
Cláudia Adams é uma jovem ambiciosa de cabelos Assim sendo, Rogo foi abençoado com uma
negros, uma atriz de Bever1yHills, que tem aparecido paciente que simplesmente era dotada de tremenda
em comerciais populares na televisão. Ela trabalhava percepção extra-sensorial. As pesquisas prossegui-
como secretária de meio-expediente na Sociedade de ramo Conforme ele mesmo relatou, na convenção de
Pesquisas Psiquicas do Sul da Califórnia quando 1975 da Associação de Parapsicologia, a percepção
conheceu Rogo. A principio ela hesitou em submeter- extra-sensorial de Cláudia talvez fosse superativa
se ao efeito Ganzfeld. O que aconteceu, quando ela porque nada havia de suficientemente forte para que
finalmente aceitou, foi descrito por Rogo como nisso enfocasse a sua atenção. Nesses testes, Rogo
«admirável». atuou como agente telepático. Assim que Cláudia
Depois que a jovem estava submetida ao efeito começou a falar em "imagens, após ser submetida ao
Ganzfeld por alguns minutos, a assistente de Rogo, efeito Ganzfeld, ele começou a enviar telepaticamente
Cristina Shepherd, do lado de fora do recinto isolado um quadro selecionado, dessa maneira criando um
de chumbo, e que estava fazendo o papel de agente, «motivo emocional- para que a sua paciente enfocasse
escolheu ao acaso um dos quarenta carretéis com no mesmo a sua atenção. E ele também mantinha as
quadros e começou a examiná-lo. O carretel era sessões o mais breve possivel, a fim de que os poderes
intitulado The American Indian, «O Indio Norte- extra-sensoriais de Cláudia não «divagassem». Essas
Americano». Sua primeira cena mostra uma mulher sessões raramente duravam mais de dez minutos, em
india, deitada em uma rede, segurando um infante vez dos usuais periodos de vinte a trinta e cinco
despido à sua frente. Naquele exato instante a voz de minutos, que outros parapsicólogos têm usado. As
Cláudia falou pelo sistema de comunicação interna: experiências continuaram obtendo bom êxito.
«Nativos, pessoas nativas. Vejo um bocado de pessoas Em breve, surgiram mais algumas novas adapta-
despidas. E também como se fosse uma mãe ções da técnica de isolamento dos sentidos, na
segurando uma criança nos braços», tentativa de obter resultados ainda melhores. Um
A agente manuseou o quadro seguinte, uma grande avanço foi conseguido no Centro Médico
fotografia aérea de uma floresta com uma clareira no Maimônides, onde Honorton havia adaptado, a
meio. Imediatamente mudaram as imagens de principio, o efeito Ganzfeld para testar os poderes
Cláudia, e ela disse: «Uma floresta, com muitas extra-sensoriais. Essa nova experiência foi trabalho de
mores. E continuou. Todas as árvores parecem estar dois enérgicos voluntários do Hospital Maimônídes,
em fila, pelo que não é como se eu estivesse olhando Michael Smith e Laurence Tremmel, que trabalha-
para elas de cima para baixo, mas como se eu vam sob a supervisão de Honorton.
estivesse descendo sobre uma fileira de árvores». Em leU trabalho, eles partiam do pressuposto de
Cláudia descreveu uma terceira cena, no mesmo que a percepção extra-sensorial é um processo
instante em que esta estava sendo vista. Essa cena inconsciente. Em outras palavras, a percepção
mostrava uma canoa, tripulada por dois indios, que extra-sensorial é primeiramente «recebidas pela
descia por um rio abaixo. A vista era como se alguém mente inconsciente, um conhecimento que gradual-
estivesse contemplando a cena da praia. A paciente mente vai filtrando para a mente consciente. E
disse:-um barco à vela. Não, não há vela. ~ um bote Honorton sentia que um teste acerca da percepção
simples. Está subindo e descendo nas ondas. Estou extra-sensorial poderia ser melhor sucedido se o
olhando da terra e um bote está passando! agente telepático «enviasse" mensagens inconscientes
Cláudia havia descrito vividamente três cenas em também. Isso pode parecer uma contradição de
sucessão, enquanto elas estavam sendo vistas por sua termos; mas não o é, conforme fica demonstrado
agente. A maioria das pessoas que se submetem ao pelos resultados abaixo descritos.
efeito Ganzfeld, a julgar pelo relatório de Honorton, Quanto a uma série de testes de percepção
parece abranger sua atenção para incluir imagens extra-sensorial especiais, Smith, Tremmel e Honorton
80
PARAPSICOLOGIA
contaram, cada um deles, com um agente, que pacote que lhes haviam sido enviados. Mas essa falha
contemplava um quadro através de um dispositivo não podia explicar como é que um paciente, isolado
taquitosc6pico. Esse aparelho faz brilhar o quadro, em seu ambiente fechado, podia realmente descrever
para o agente, por não mais de um milésimo de os quadros, enquanto eles ainda estavam sendo
segundo. Assim, o agente não «vê. conscientemente o «enviadoss-e-um fenômeno freqüentemente observado
quadro. Não há tempo hábil para isso; mas um pelos pesquisadores que usavam o efeito Ganzfeld.
grande número de experiências psicológicas tem Uma segunda reação favorável assumiu a forma de
provado que a pessoa pode ver e registrar tais quadros alguma pesquisa prática, efetuada por lohn Palmer,
de modo inconsciente. Por exemplo, elementos de um um parapsicôlogo que atuava no estado da Califórnia,
quadro assim enfocado podem aparecer em sonhos na ligado à Universidade de Utrecht, na Holanda. O Dr,
noite seguinte, ou a pessoa poderá relembrar o Palmer nunca teve boa sorte com o modo de proceder
quadro, se meditar sobre o mesmo após a exposição. do efeito Ganzfeld, pelo que ele levou a efeito
Usualmente, entretanto, apenas fragmentos ou pesquisas para explorar a teoria dos «dedos gordura-
distorções do quadro é que vem à tona. sos•. E assim ele efetuou uma experiência com o efeito
Destarte, depois que os agentes telepáticos exami- Ganzfeld no qual os pacotes entregues aos seus
naram seus quadros através do taquitosc6pico, foram pacientes estavam deliberadamente manchados. Mas
postos em um aparelho Ganzfeld separado, para não descobriu qualquer evidência de que os seus
falarem sobre as imagens que recebessem. Ao mesmo pacientes tinham conseguido captar esse pequeno
tempo, um paciente com poderes extra-sensoriais foi indicio. De fato, chegaram a fracassar mesmo quando
posto no aparelho Ganzfeld em outra sala, procuran- se chamou a atenção deles para os pacotes
do imaginar o quadro visto apenas inconscientemente manchados.
pelo agente que, por sua vez, estava procurando Porém, o mais importante dos resultados foi que os
captar o quadro de seu inconsciente. E Smith, parapsicôlogos vieram a modificar seu modo de
Tremmel e Honorton anunciaram ter obtido excelen- proceder, passando a usar carretéis duplicados-um
tes resultados com esse modo de proceder. O paciente conjunto para os enviadores e outro conjunto de
captava e discernia o quadro projetado, mediante seus carretéis para os pacientes avaliarem. E os resultados
poderes extra-sensoriais, tão facilmente como se continuaram sendo tão coerentes e convincentes
estivesse sendo «enviado» por telefone mental. De quanto haviam sido antes.
fato, essas experiências com um «quadro enviado CarIs-ra-t insistiu em usar esse segundo modo de
subconscientemente» mostraram ser mais bem-suce- proceder, quando levava a efeito sua longa e
didas do que no caso dos testes convencionais com o oem-sucedida série de experiências com o efeito
efeito Ganzfeld. Ganzfeld, na Universidade de Cambridge, começan-
Por volta de 1977, o efeito Ganzfeld já se havia do pelo ano de 1978. Não somente ele fez uma réplica
tomado o mais debatido t6pico no campo da do trabalho feito .no Hospital Maimônides, como
parapsicologia. Nada menos de oito diferentes séries também o ampliou um tanto. Entre 1978 e 1980, ele
de experiências, usando o procedimento, tinham sido efetuou diversas experiências, nas quais demonstrou
efetuadas no Hospital Maimônídes, ao mesmo tempo que as pessoas extrovertidas mostram-se especialmen-
em que dezoito diferentes séries de experiências te hábeis na demonstração de seus poderes extra-seu-
haviam sido realizadas por outras instituições. soriais quando submetidas ao efeito Ganzfeld; que os
Dezessete dessas séries produziram resultados signifi- pacientes podem tornar-se mais sensíveis a esse modo
cativos. de proceder conforme se vão familiarizando mais e
InlltlgadOll por esse deuflo, finalmente os céticos mais com o mesmo; e que-por alguma razão
entraram em ação, igualmente. O principal critico desconhecida-alguns pesquisadores têm tido melhor
dessa pesquisa havia sido o psícôlogo Ray Hayman, sorte com o efeito Ganzfeld do que outros
da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos da pesquisadores.
América. Ele havia citado uma falha no trabalho Infelizmente, está em debate a credibilidade do
original do Hospital Maimênides-e-uma falha que os trabalho efetuado pelo Dr. Sargent. Quando a
pesquisadores subseqüentes também estavam repetin- parapsicóloga inglesa Susana Blackmore visitou o
do. Honorton e Harper tinham permitido que seus laboratório de Sargent, no começo da década de 1980,
pacientes e seus agentes usassem os mesmos quadros ela suspeitou de algo, quando descobriu uma falha
em slides. Quando o agente terminava de «enviar», crucial na maneira como Sargent selecionava os seus
durante uma sessão típica, ele punha o carretel de quadros. E, quanto mais acompanhava as pesquisas
volta na caixa, juntamente com os três outros dele, mais cheia de suspeita ia ficando. E Sargent
carretéis. Então o pacote inteiro era entregue aos reagiu às criticas feitas por ela abandonando
experimentadores, que os davam aos pacientes, para subitamente as pesquisas, e recusando-se a cooperar
que fizessem comparações com as .imagens que com outros parapsic6logos, que desejavam acompa-
tinham antes recebido. nhar as alegações da Dra, Blackmore. Não foi
O Dr, Hyman, pois, argumentava que os agentes descoberta qualquer evidência convincente de fraude,
poderiam ter marcado os quadros, ou poderiam tê-los em Cambridge; mas o abandono das pesquisas, por
manchado com os dedos, por inadvertência. E esses Sargent, da maneira precipitada como o fez, fez
pequenos indicios poderiam ter alertado os pacientes muitos p~apsic6logos estranharem de sua atitude.
quanto aos carretéis certos. E os céticos davam Não obstante, continuam sendo efetuadas firme-
excessiva importância a essa pequena falha na mente pesquisas que usam o efeito Ganzfeld, ao
pesquisa, porquanto a maioria dos pesquisadores que derredor do mundo:
usava o efeito Ganzfeld, triste é dizê-lo, estavam .Rex Stanford e seus colegas, na Universidade de
usando carretéis simples. São Joio, estio fazendo experiências para verificar se
Porém, os parapsicólogos não demoraram a reagir diferentes tipos de «ruído branco» podem aumentar o
favoravelmente ante o desafio. Observaram correta- efeito Ganzfeld.
mente que a teoria dos «dedos gordurosos» poderia _ .Nos Laboratórios de Pesquisas Psicoftsicas de
explicar somente o sucesso estatístico de suas Prlnceton, Nóva Jersei (sucessores do antigo labor~
experiências-ou seja, os resultados alieerçados sobre rio do Hospital Maimônides), Charles Honertonestâ
a escolha de um dentre quatro quadros em cada computarizando os resultados obtidos com o efeito
81
rr· .
PARAPSICOLOGIA
Ganzfeld, Esses modos de proceder inovativos desde logo um sucesso de livraria. A principal
buscam evitar qualquer possibilidade de fraude, por descoberta dela foi que as pessoas exibem quatro
parte dos experimentadores. estágios ou reações, antes de, finalmente, aceitarem a
·Pesquisas quanto aos caminhos secundârios do morte fisica. Usualmente, as pessoas primeiramente
efeito Ganzfeld também estão sendo efetuadas na negamo fato da morte, em seguida exibem ira diante
Universidade de Edimburgo, onde Julie Milton está da sorte delas, então procuram barganhar com Deus,
explorando vârios fatores que talvez intensifiquem a solicitando mais tempo, e, finalmente, entram em
eficácia desse modo de proceder. um profundo estado de depressão. Mas, depois de
·0 City College da City University of New York, sobreviverem ante essa noite escura 'da alma,
ainda recentemente, conferiu um diploma de doutora- emergem preparadas para a viagem final da vida.
do a Nancy Sondow, Que vinha estudando a questão Continua sendo debatido entre os psicólogos se
de que tipos de quadros mostram ser especialmente esses estágios da morte são reações previsiveis e
bons para serem usados como quadros no efeito seqüências de enfermidades terminais, ou se ao menos
Ganzfeld. existem tais estágios. Porém, ao apresentar suas
Por que motivo, pois, o efeito Ganzfeld funciona experiências diante do grande público, a Dra.
tão bem? Essa indagação tem ocupado muito da Kubler-Ross ofereceu à sociedade uma nova aprecia-
atenção de Honorton, e ele tem apresentado vârias ção acerca das complexidades da morte. Por assim
respostas possiveis. Antes de tudo, ele acredita que dizer, ela tirou o assunto de dentro do arquivo,
esse efeito submete o paciente a uma situação em que fazendo do mesmo um assunto a ser discutido.
a sua mente anela por receber qualquer tipo de Essa médica pioneira, após seus tio produtivos
estimulo possivel. Visto que a mente fica fora do estudos, publicou uma seqüência intitulada Questions
alcance de qualquer sensação normal, talvez volte-se and Answers on Death and Dying, em 1974. Sete anos
para as impressões captadas pela percepção extra- depois, ela publicou sua obra Living With Death and
sensorial, como se fossem um substituto. Dying. Esse livro apresenta uma modificação
Também é fato bem conhecido que as pessoas que substancial no pensamento e nas pesquisas da Dra.
recebem impressões extra-sensoriais, com freqüência, Kubler-Ross. Essa psiquiatra suíça antes disso
asseveram que essas impressões ocorrem sob formas estivera primariamente interessada no estudo de
quase visuais. Os sonhos e as visões são veiculos pessoas que chegavam ao fim de uma vida longa e
milenares da percepção extra-sensorial. E visto que o produtiva. Mas, no livro Living With Death and
efeito Ganzfeld impulsiona os pacientes a extrairem Dying, ela devotou um significativo capitulo aos
imagens bastante nítidas, isso talvez fomente as cuidados com crianças moribundas. Nos fins da
chances dos pacientes adquirirem uma maior década de 1970. Kubler-Ross ficou fascinada diante
influência das percepções extra-sensoriais, conferindo do desafio de aconselhar a esses tenros pacientes.
às impressões extra-sensoriais um veiculo natural de Atualmente, ela especializa-se no cuidado psicolôgíco
expressão. das crianças. e em seu livro mais recente, On Children
F1naImente, um paciente submetido à privação dos and Death, ela explora o mundo psicolôgíco de
sentidos sente-se psicologicamente ligado aos seus crianças às portas da morte. Surpreendentemente, o
experimentadores. Porventura isso pode produzir livro não diz respeito somente aos aspectos psicológi-
aquele tipo de liame emocional que ajuda a percepção cos desse mundo interior, mas também aborda as
extra-sensorial a transcender ao tempo e ao espaço? percepções psiquicas e as experiências de crianças
Poderia isso explicar, por semelhante modo, por que moribundas.
razão somente alguns pesquisadores noticiam um Desde há muito que os parapsicólogos reconhecem
reiterado sucesso com esse modo de proceder, ao que algumas pessoas tomam-se extremamente dota-
passo que outros pesquisadores, como o Dr. Palmer, das, psiquicamente falando. quando estão diante da
não têm sorte com o seu uso? mOI1e física. Talvez o primeiro pesquisador a chamar
Todas essas são perguntas que as pesquisas futuras uma atenção generalizada para o fato tenha sido Sir
talvez consigam responder. Por enquanto, entretanto, William Barrett, um médico de Dublin, Irlanda,
bem podemos ficar no aguardo de novos desenvolvi- co-fundador (em 1882) da Sociedade de Pesquisas
I
mentos, desfrutando dos sucessos recentes, sem nos Psiquicas da Grã-Bretanha. Em seu célebre livro,
preocuparmos demasiadamente com os seus fatores Deathbed Visions, publicado postumamente, esse
exatos. Certamente que o efeito Ganzfeld é um dos pesquisador citou um incidente incomum, noticiado
mais promissores desenvolvimentos da parapsicolo- nos Estados Unidos da América do Norte. O relato
gia. Suas implicações são excitantes, e podemos ficar dizia respeito a duas crianças pequenas, que estavam
esperando novos progressos. morrendo de difteria, que na época era uma
enfermidade séria. causada por uma bactéria, e que
X. O Mando Pslquico de CrIanças Moribundas usualmente resultava na morte. As meninas lennie e
Esta seção é um artigo que ilustra a pratícalíbílida- Edith eram amiguinhas chegadas, e ambas contrai-
de, a normalidade e a ímportâncía dos fenômenos ram essa infecção em junho de 1889. Jennie morreu
psíquicos. primeiro. mas os pais e os médicos de Edith não
deixaram transpirar qualquer informação da morte
O Mando Pslqulco de CrIanças Moribundas daquela a esta última. Mas. três dias depois da morte
Por D. Scott Rogo de Jennie, Edith falou acerca de uma figura
Reimpresso pela gentil permissão de Fate Magazine bem-vinda. que chegara ao lado de seu leito.
(setembro de 1987). Instantaneamente. Edith percebeu que estava mor-
rendo, e ficou de olhos fixos na presença invisivel no
As experiências delas confirmam uma antiga quarto.
verdade: quanto às questões espirituais, as crianci- -Ora. papai. eu vou levar Jennie comigo!
nhas podem ser nossos melhores mestres. exclamou a menina. que então continuou:-Ora,
A Dra. Elizabeth Kubler-Ross tomou-se melhor papai, você não me disse que Jennie estava aqui! Em
conhecida por seu trabalho psicológico junto a seguida, ela estendeu uma das mãozinhas para a
pacientes moribundos. Seu primeiro livro sobre o fantasma e disse: -Oh, Jennie, estou tão alegre que
assunto, On Death and Dying (Sobre a Morte e os você está aqui! E morreu logo em seguida, proferindo
Moribundos), foi publicado em 1969, tomando-se essas palavras para seus admirados genitores.
82
PARAPSICOLOGIA
Talvez pudéssemos eliminar esses casos de visões de escrevera uma nota de agradecimento aos futuros
leito de morte, não fossem eles tão numerosamente hospedeiros da família. Ela nunca havia escrito antes
noticiados. Um estudo sério e detalhado de fenôme- alguma nota parecida. Então ela deu a cartinha a
nos similares à beira do leito de morte, foi efetuado uma sua irmã, pedindo-lhe que fizesse a entrega da
pelo professor James H. Hyslop, que republicou os mesma, como quem percebesse que jamais consegui-
resultados de suas pesquisas no seu livro Psychical ria fazê-lo pessoalmente.
Research and the Resurrection, em 1908. (Hyslop Igualmente digna de atenção é uma carta que
começou a sua carreira ensinando filosofia na Kubler- Ross recebeu de uma perturbada mãe. Dois
Universidade de Colúmbia; e, mais tarde, em 1907, dias antes de sua filha ser morta em um acidente de
ajudou na fundação da American Society for trânsito, a correspondente levara a jovem para
Psychical Research). Estando ocupado em suas almoçar fora. Durante a refeição, a mãe e a filha
pesquisas, descobriu um curioso livro publicado pelos conversaram sobre o futuro delas, e a mãe expressou
pais de Daisy Dryden, uma pequena menina que alguma preocupação diante do fato de que as notas
havia falecido em Marysville, estado da Califórnia, a 9 escolares de sua filha vinham piorando cada vez mais.
de setembro de 1854. A história detalhada de Daisy Foi então que, subitamente, a menina disse que isso
Dryden foi publicada na revista Fate, edição de simplesmente não tinha importância: - Minha vida
janeiro de 1953, no artigo de Philip Bartholomew, está quase no fim! dissera ela, para sua espantada
«The Little Girl Who Knew», Algum tipo de enterite mãe.
progressiva foi a causa mortis da menina, e ela A maneira como a jovem preparou-se obviamente
expirou quatro dias após ter ficado doente. Durante para sua morte, que ocorreria em breve, foi ainda
aqueles quatro dias críticos ela se tomou uma mais bizarra. Escreveu sua mãe, na carta a
clarividente tão extraordinária que sua mãe ficou Kubler-Ross: Ela passou os dois últimos dias
constantemente sentada ao seu lado, tomando notas passando a ferro toda a sua roupa. Eu quase não
abundantes. A pequena paciente anunciou ver uma podia acreditar ao ver o quarto dela tão bem
série de visitantes "espirituais» ao lado de seu leito. arrumado... Afinal, ela era apenas uma menina de
Com freqüência, essas figuras afirmavam ser seus quinze anos, sabia? Eu estava admirada. Ela não
parentes já falecidos; mas Daisy também percebeu a levava consigo qualquer identificação no dia do
presença de amigos e parentes falecidos de seus acidente e agora posso ver isso como um ato de amor,
vizinhos, e falou de modo a dar-lhes provas de que os pois ela sabia de tudo. Ela sabia, quando entrou no
via. automóvel, que nunca mais voltaria para casa; ela não
Narrativas slmUares têm sido comumente noticia- quis que eu fosse despertada à 1:30 horas da
das, especialmente quando a mortalidade infantil madrugada, para me dizerem que minha filha havia
ainda era muito alto na América do Norte, e quando a morrido; e só fiquei sabendo do ocorrido às 15:00
maioria dos pacientes morria em suas próprias horas do dia seguinte.
residências, rodeados por amigos e parentes. Entre- Esses comentários ficam mais claros quando a carta
tanto, a morte vem sendo progressivamente furtada
de sua essência espiritual, por parte de nossa inteira é lida. A jovem sempre levava consigo o seu
, . di cartão de identificação, quando saia de casa. Por essa
sociedade organizada; pois, em nossos propnos las, razão, foi muito significativo o fato dela não tê-lo
raramente os pacientes voltam dos hospitais às suas
casas, a fim de falecerem. Em vez disso, os pacientes levado, na opinião de sua mãe. A jovem deixara seu
morrem confinados em seus quartos de hospital, cartão de identificação sobre sua cama, bem ao lado
sedados e inconscientes, atrelados a sistemas mecâni- de seu diário; e quando sua mãe examinou um pouco
mais, descobriu uma mensagem importante escritano
cos de prolongamento da vida. livro. Essa mensagem fora escrita como um recado à
- O- sua mãe, para beneficio da mesma, exortando-a a
Kubler-Ross recusa-se a aceitar esse método buscar autocura para as dores que ela sentia. E era
impessoal de enfrentar a morte, bem como essa falta evidente que a menina esperava que sua mãe
de consideração para com os moribundos. Ela prefere encontrasse a passagem escrita.
aconselhar aos moribundos onde quer que eles se Kubler-Ross citou casos adicionais de crianças que
sintam em maior conforto; e mediante essa prática é subitamente começaram a falar sobre a morte, a
que ela tem podido redescobrir, gradualmente, o reencarnação e outras questões espirituais, imediata-
mundo psíquico das crianças à beira -da morte. As mente antes de acidentes com perigos de vida.
crianças parecem ser dotadas de uma intuição Entretanto, esses casos nem sempre apresentam
consciente da aproximação da morte, sentindo a sua simples conhecimento anterior ou intuição da morte.
presença, sem importar se ela ocorre devido a alguma Em certas oportunidades, as crianças realmente
enfermidade ou devido a algum acidente repentino. E receberam alguma forma de revelação espiritual. A
Kubler-Ross relatou as experiências das crianças por carta mais sensacional que a psiquiatra recebeu foi
ela aconselhadas no livro de sua autoria, On Children enviada por uma mãe residente na costa oriental dos
and Death. Estados Unidos, que cabe diretamente dentro dessa
Relatou a psiquiatra: "Um casal compartilhou a categoria. Aquela mãe relatou que sua filha
história de sua pequena menina de oito anos de idade, acordou ainda de madrugada extremamente ex-
a qual morreu devido a um pequeno acidente, em citada e eufórica. Ela havia dormido no leito de sua
uma viagem ao outro lado do mar. Eles não prestaram mãe, naquela noite, e despertou sua sonolenta mãe
atenção nos indícios que mostravam que teria sido sacudindo-a e abraçando-a espontaneamente.
melhor se eles nem ao menos tivessem feito aquela - Mamãe, mamãe I exclamava ela repetidamente.
viagem». Jesus disse-me que eu vou para o céu. Gosto muito do
Quando a pequena menina caiu e se feriu céu, mamãe. Ali é tudo bonito, dourado, prateado e
gravemente na cabeça, seus pais levaram-na correndo brilhante, e Jesus e Deus estão lâl
a um hospital; mas este distava muitos quilômetros A menina estava falando tão depressa e com tanto
dali, e a criança só sobreviveu à queda por cerca de frenesi que sua mãe não foi capaz de relembrar mais
vinte minutos. Posteriormente, os pais da menina tarde tudo quanto ela disse.
perceberam que sua filha havia intuído a própria - (A linguagem dela) fora afetada principalmente
morte. Ainda no avião, cruzando o oceano, a criança por sua excitação, escreveu a correspondente a
83
PARAPSICOLOGIA
Kubler-Ross. E continuou: -(Minha filha) por revelar a seus pacientes a triste verdade de suas
natureza era uma menina calma, quase contemplati- enfermidades terminais. Talvez devido a seus
va, extremamente inteligente... mas não muito dada a compreensíveis preconceitos, esses médicos algumas
conversas tolas e sem sentido, como acontece a muitas vezes têm-se recusado a permitir que Kubler-Ross
meninas de quatro anos de idade. Tinha boa trabalhe com os pacientes de uma maneira inteira-
habilidade verbal, muito precisa em suas frases. mente franca e sem reservas. Mas a médica sente que
Notá-la tão excitada que tropeçava nas palavras foi as crianças sabem, intuitamente, quando elas estão
algo muito incomum. De fato, não me lembro de tê-la morrendo, e que ninguém lhes precisa dizer isso. Essa
jamais visto naquele estado, nem no Natal, nem nos dedicada psiquiatra algumas vezes não tem arredado
seus aniversários e nem no circo. pé dos leitos de seus jovens pacientes, até o último
A mãe tentou acalmar a criança, mas a menina suspiro de suas breves existências. E o que ela tem
estava tomada por um entusiasmo que ninguém podia podido experimentar poderia servir de lição à
sopitar. Ela continuava a falar sobre os anjos, as jóias profissão médica em geral.
que vira no céu, e nos seres que ela conheceria, Escreveu Kubler-Ross, em seu livro On Children
.chegando ali. Finalmente, quase em desespero, a mãe and Death; "Pouco antes das crianças morrerem, com
da menina tentou raciocinar com ela. freqüência há um bem 'claro momento', conforme lhe
- Se você fosse para o céu, eu sentiria muito a sua dou o nome. Aquelas que tinham permanecido em
falta, disse a mãe. E estou alegre que você teve um estado de coma, desde o seu acidente ou cirurgia,
sonho tão feliz. Mas agora vamos nos tranqüilizar e abrem os olhos e parecem bem coerentes. E aquelas
relaxar por um pouco, está bem? que tinham sofrido muitas dores e desconforto, ficam
muito quietas e tranqüilas. precisamente nesses
A menina, todavia, continuava a falar sobre a sua
Ê
Depois que Osis tomou-se diretor de pesquisas da vivia. Poucos dias após o assassinato da menina, sua
American Society for Psychical Research (também mãe estava descansando em seu quarto quando,
com sede na cidade de Nova Iorque), ele expandiu as subitamente, uma luz brilhante resplandeceu através
suas pesquisas. Ele desejou comparar experiências de da vidraça da janela. Então apareceu, dentro desse
morte em nossa cultura com experiências similares, halo de luz, a pequena menina, sorrindo radíosamen-
em outra cultura qualquer. E assim, esse psicólogo te. A figura desapareceu nos instantes seguintes, mas
nascido na Letônia efetuou pesquisas entre médicos e a visão consolou grandemente àquela mãe.
enfermeiros, tanto nos Estados Unidos da América Escreveu então Kubler-Ross: «A visão encheu-a de
quanto na India. E os resultados de seus estudos tal paz e amor que ela se sentiu em uma condição
mostram que os relatos de beira de leito são similares, mental muito melhor, após esse incidente" em
tanto em um quanto em outro desses dois países. E comparação com os intranqüilos moradores da
visto que poucos dos pacientes entrevistados estavam comunidade! "
tomando drogas quando suas visões tiveram lugar, Kubler-Ross continua explorando os mundos
Osis e seus colaboradores acreditam que os informes particulares de crianças moribundas. E ela agora está
colhidos apontam diretamente para a sobrevivência expandindo a sua obra para incluir as questões
da alma diante da morte física, espirituais, psíquicas e psicológicas envolvidas. Ê
Mas, a despeito dessas pesquisas, alguns psicólogos provável que o melhor conselho dela, reiterado em
e parapsicólogos permanecem no ceticismo ante as cada um de seus livros, é que a sociedade deve
conclusões a que Osis tem chegado. Apesar das visões aprender a viver diante da ameaça da morte. Quiçá
de leito de morte e das revelações provavelmente não possamos aprender a apreciar a morte como uma
serem causadas por disfunções cerebrais (como mudança final que visa ao nosso desenvolvimento
aquela causada pela falta gradual de oxigênio), pessoal, afinal de contas. A coragem e o cumprimento
permanece de pé a possibilidade de que essas espiritual que muitas crianças têm achado durante o
experiências representem uma curiosa forma de processo da morte deveriam representar uma impor-
fenômeno psicológico. Alguns céticos têm mesmo tante lição para nós. As experiências dessas crianças
sugerido que o cérebro produz artificialmente essas refletem 05 temores que tantos dentre nós sentem
experiências, com o intuito de aplacar os temores dos diante do espectro da morte. Kubler-Ross tem-nos
pacientes, diante da possibilidade de morte. Tais redirecionado a uma sábia e antiga verdade: quando
visões, assim sendo, talvez reconciliassem os pacientes se trata de questões espirituais, as criancinhas podem
moribundos com a sua sorte, ajudando-os a aceitar a ser nossos melhores mestres.
própria mortalidade. É por um motivo assim que os XI. Avallaçio Pessoal
casos que fornecem evidências, como aqueles Minhas opiniões pessoais têm sido expressas ao
episódios historiados por Kubler-Ross, tomam-se longo do artigo, pelo que ofereço aqui um breve
importantes. Porquanto indicam que um paciente sumário a respeito:
qualquer esteve experimentando uma visitação real,
uma experiência que a psicologia convencional não L Os estudos sobre os fenômenos psiquicos
consegue encontrar meio para desconsiderar. confirmam algumas importantes verdades religiosas,
especialmente aquelas relacionadas à vastidão e ao
Em seu livro, essa psiquiatra escreveu: «Durante potencial humano, que mostram que ele é um espirito
todos os anos em que venho coligindo tranqüilamente ou alma, e não um mero corpo fisico mecânico.
informes, desde Califórnia até Sidnei, na Austrália,
entre crianças brancas e negras, aborígenes, esqui- 2. Esses estudos confirmam o potencial humano de
mós, americanas do sul e libias, cada criança que tem aprender muito mais do que ele é capaz de captar
mencionado que alguém estava esperando por ela através da percepção de seus sentidos, o que, de resto,
indicou alguém que a havia realmente antecedido na sempre foi afirmado pela fé religiosa.
morte, nem que fosse por alguns poucos instantes. No- 3. O estudo sobre as aptidões psiquicas humanas é
entanto, nenhuma daquelas crianças havia sido tão necessário e legitimo quanto o estudo de suas
informada acerca da morte recente de seu parente, de propriedades físicas, ou seja, aquelas questões
nossa parte, em qualquer instante. Coincidência? investigadas pela biologia e pela fisiologia. A hist6ria
Mas agora não existe cientista ou estatistico que me da ciência tem-nos mostrado que os pioneiros, em
possa convencer que isso sucede-conforme têm dito qualquer campo da pesquisa, encontram amarga
alguns colegas-em resultado da privação de oxigê- oposição da parte dos tradicionalistas e de várias
nio, ou por causa de alguma outra razão racional e ortodoxias, até que suas teorias tenham oportunidade
científica». de ser confirmadas. Porém, o progresso, quanto a tais
questões, com freqüência só pode ser medido em
Visto que esses casos apresentam evidências tão termos de meio século, ou mesmo de um século.
impressionantes, Kubler-Ross acredita na continua- 4. Apesar de pessoas dotadas de fé possam não
ção da vida após a morte física, Por isso, ela relaciona precisar do apoio de provas cientificas, em favor da
a importância das visões à beira do leito com muitas natureza imaterial do homem, e que a morte é apenas
experiências de quase-morte, cujos relatórios ela tem uma transição, e não o fim, muitas pessoas, na
coligido de seus pacientes-pessoas que andaram realidade, precisam desse tipo de confirmação. Se a
vagueando no outro mundo, em seus breves encontros porção ímateríal do homem for provada como uma
com a morte. realidade científica, então uma grande vitória terá
Essa ênfase sobre as dimensões espirituais da sido obtida em favor da fé religiosa.
experiência da morte é reverberada na maneira de 5. Os abusos, como aqueles que ocorrem quando as
pensar de Kubler-Ross ainda de uma terceira pessoas interessadas pelos fenômenos psíquicos
maneira, e não menos importante. Ela tem recolhido misturam-nos com o ocultismo, são exatamente isso,
e publicado alegados casos de crianças que voltaram abusos. Esses abusos não detratam do valor geral
da morte a fim de consolarem seus entristecidos pais. desse estudo mais do que qualquer falsa teoria
Para exemplificar, em seu livro ela escreveu a respeito cientifica é capaz de anular as investigações cientificas
85
PARAPSICOLOGIA - PARDAL
em geral. Todos os campos da pesquisa científica têm designação venha desde os tempos dos jebuseus,
tido suas falsas teorias, que somente a passagem do absorvida pelos hebreus em seu vocabulário. Alguns
tempo é capaz de vencer. Mas essas falsas teorias, eruditos pensam estar em foco um complexo de
esses abusos, não descontinuam a ciência. construções, e não uma localidade. Por todas essas
6. Os anglicanos e outros têm feito bem em razões o próprio nome, sua derivação e o lugar (ou
promover estudos e pesquisas a respeito dos construções) permanecem na incerteza.
fenômenos psíquicos. Estão em jogo grandes ques-
tões. Se a existência da alma puder ser comprovada
cientificamente, isso será de maior importância e de PARCIMONlA, LEI DA
impacto mais decisivo para o mundo do que qualquer Expressão alternativa para Navalha de Ockham
descoberta feita até o momento, incluindo a energia (vide). A raiz dessa palavra é o termo latino
atômica. parcimonia, «parcimônia». Trata-se de uma regra de
7. Tem sido adequadamente demonstrada a simplificação. Assim, quando alguém está enfrentan-
naturalidade dos fenômenos psíquicos. Isso não do um problema que tem duas ou mais soluções
significa, entretanto, que não existam forças demo- propostas, a mais simples delas deve ser escolhida,
níacas. Ver os artigos sobre Demônios e Possessão como a mais provável. Quine afirmava que a
Demoníaca. Todos os campos do conhecimento estão economia conceptual deve ser empregada com um
sujeitos a abusos, mas nem por isso abandonamos as procedimento cientifico básico. O resto que tenho a
pesquisas. dizer sobre o assunto fica no artigo Navalha de
8. Todos deveríamos estar interessados por todos os Ockham (vide). E: evidente que nem sempre a verdade
campos de investigação, mesmo que não tenhamos o é fácil; às vezes, a simplicidade serve somente para
tempo, o treinamento e o interesse para nos limitar a verdade, e não para esclarecê-la. Um
envolvermos pessoalmente. A ignorância não tem exemplo berrante, na teologia, consiste em falar sobre
qualquer valor. Os teólogos pelo menos deveriam ter a vida após-túmulo em termos de céu e inferno, como
um conhecimento geral da filosofia e da parapsicolo- se não houvesse alternativas, e como se as coisas
gia, em face das momentosas questões envolvidas e da fossem tão simples quanto isso. Além disso, os
contribuição que essas disciplinas fazem ao nosso paradoxos sempre envolvem-nos em complexidades, e
conhecimento em geral. mesmo em perplexidades, longe de atenderem ao
9. A parapsicologia e a filosofia têm enriquecido principio da parcimônia.
minha maneira de pensar e meu fundo de
conhecimentos. Visto que o conhecimento é um
aspecto importante da vida, posso afirmar, sem PARDAL
qualquer qualificação, que esses dois campos de
investigação têm enriquecido a minha vida. No hebraico, tslppor, palavra que aparece por
Bibliografia. No decurso do artigo, tenho mencio- quarenta vezes, nem sempre traduzida como «par-
nado vários artigos que se relacionam ao tema deste dal». Em nossa versão portuguesa, isso só ocorre por
verbete. Vários desses artigos contêm bibliografias uma vez. em Salmos 84:3. Outras versões também
detalhadas. Limito-me aqui a algumas poucas dizem "pardal", em Salmos 102:7, mas a nossa versão
obras-padrão, além de referências a enciclopédias que portuguesa diz ali «passarinho». Geralmente essa
apresentam úteis estudos em esboço. O estudo de AM palavra é traduzida por «ave". Ver, para exemplificar,
foi preparado por J.B. Rhine, pelo que nos fornece Gên. 7:14; Lev. 14:4-7,49-53; Deu. 14:11; Pro. 6:5;
Amós 3:5.
valiosas informações de pano de fundo, além de uma
história das primeiras pesquisas nesse campo. A No grego, strouthlon, «pardalzinho». O vocábulo
enciclopédia EP é surpreendentemente boa, conside- está no diminutivo. E: termo que ocorre por quatro
rando-se que essa é uma enciclopédia de filosofia. vezes no Novo Testamento: Mat. 10:29,31; Luc.
Quanto a obras individuais, ver: BA Y BROA BU 12:6,7.
CHE CR DCJ DRE EC MOO MOO(1977) MY OS[ Todos os estudiosos concordam que o termo
PR[C RAN RU R[N SA SUG SL WEA. hebraico tsippor tem um sentido mais geral,
Revistas especializadas importantes sãoProceedings indicando a idéia de «passarinho", e um sentido mais
e Joumal da London Society for Psychical Research; especifico, segundo se vê em Salmos 84:3 e 102:7
Journal o[ the American Society for Psychical (embora neste caso, como já mostramos, nossa versão
Research; Journal of Parapsychology (impresso por portuguesa também a traduz por «passarinho..). Em
Duke University): The Journal of Religion and Salmos 84:3, pode estar em foco o pardal caseiro, que
Psychical Researcn (impresso pela Academy of tanto gosta de fazer seu ninho nas habitações
Relígíon and Psychical Research); e Theta (Journal of humanas. E em Salmos 102:7, conforme pensam
the Psychical Research Foundation). vários estudiosos estaria em foco o tordo, uma
pequena ave que vive solitária nas rochas e nas
edificações abandonadas. Na verdade, há ornitólogos
que dizem que esse é o verdadeiro «pardal». Assim, há
PARBAR boas evidências em favor do uso geral da palavra em
No hebraico, «subúrbio»,. uma porção da cidade de Gênesis 15:10, onde se refere explicitamente, à rola e
Jerusalém mencionada em relação ao templo, em 11 ao pombinho do versículo anterior. A mesma palavra
Reis 23:11 e I Crô. 26:18. Nossa versão portuguesa, é empregada para indicar aves usadas no cardápio
em ambas as passagens, diz «âtrios. Outras comum, em Neemias 5:18, ou para indicar aves
traduções, de acordo com indicações rabínicas, dizem oferecidas nos sacrifícios, em Levítico 14, sem
«no lugar exterior». Mas é quase certo que essa falarmos em diversos outros contextos onde se lê sobre
palavra hebraica é cognato do hebraico parvarim, que aves usadas na alimentação. Portanto, o sentido geral
significa «subúrbios», mormente em li Reis 23:11. da palavra poderia ser qualquer ave pequena, limpa,
Josefo aludiu a um lugar em um vale profundo, ou seja, permitida para os judeus como alimento.
que separou a muralha ocidental do templo da Porém, sempre que houver comparação com alguma
cidade, deironte ao vale. Isso corresponde à outra ave. deveríamos pensar no pardal. :E: precisa-
extremidade sul do vale Tíropoeano, podendo ser esse mente o caso de Salmos 84:3, onde lemos: "O pardal
o local chamado Parbar. Também é possível que tal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si. .,»
86
PAREDE - PARETO
Interessante é observar que o termo grego Outrossim, nada existe de tão universal neste mundo
strouthlon também é uma palavra de sentido geral, como a graça divina e a fé.
que requer algum adjetivo ou frase qualificadora para
denotar alguma espécie em particular. Os pardais, Paulo aludiu metaforlcameate a um muro de
pois, eram tão comuns que Jesus pôde usá-los como hostilidade que separara judeus e cristãos mas
indicação de coisa corriqueira e de pouco valor. «Não afirmou que esse muro foi anulado por Cristo, ; assim
se vendem dois pardais por um asse? e nenhum deles passou a imperar unidade e harmonia entre esses dois
cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai» povos, quanto àqueles que aceitam a Cristo. Parece
(MaL 10:29). que Paulo tinha especificamente em mente a
legislação mosaica, e corno esta havia dividido judeus
de cristãos, e até mesmo cristãos de cristãos. Isso nos
PAREDE faz considerar o problema legalista. Muitas pessoas
Palavra que traduz diversos vocábulos hebraicos e incluindo cristãos de tendências legalistas continua~
dois vocábulos gregos. As palavras hebraicas mais a crer na justificação em termos legais. As doutrinas
usadas são chomah, «parede», usada por cerca de da graça-fé têm levado os homens a separarem-se em
cento e trinta vezes, de Êxo. 14:22 a Zac. 2:5; e qir, campos opostos. Apesar da referência específica de
«parede» ou «trave», usada por setenta e seis vezes, de Paulo ser à antiga fé judaica legalista (com base nas
Lev , 14:37 a Hab. 2:11. Há outras treze palavras leis mosaicas), faremos bem em ver aqui uma
hebraicas, variegadamente traduzidas, embora com a aplicação desse texto à nossa situação moderna. Que
idéia geral de «muro» ou «parede». As palavras gregas pode haver de mais hostil do que a hostilidade
são teichos, «muralha» (ver Atos 9:25; 11 Cor. 11:33; religiosa?
Heb. 11:30; Apo. 21:12-19), e toichos, «parede» (ver Alguns ministros cristãos chegam a gabar-se de ser
Atos 23:3). ca.mpeões das contendas. As várias denominações
As paredes das casas usualmente eram feitas de cristãs desenvolveram-se formando uma· série de
campos armados hostis, opondo-se, odiando-se e até
tijolos, colocados sobre alicerces de pedras brutas. perseguindo-se mutuamente, sempre que isso é
~casionalmente as paredes eram feitas de pedras
possível. Noutras épocas, eles chegavam a matar-se.
irr~gul:ues, presas umas às outras com argila. Nos
Mas atualmente eles preferem os desíorços verbais
prrmerros tempos, as muralhas das cidades eram empregando a tática do isolamento, para manterem à
feitas ~erticalmente, sem quaisquer projeções ou distância aqueles que não concordam com os seus
guarnições externas, para proteção, prática que princípios separatistas. A parede de separação à qual
continuou até o começo da idade do ferro. Paulo aludiu era pior que a parede divisória do
Posteriormente, as muralhas passaram a ser sólidas e templo, da qual falamos acima. «A parede divisória
espessas, para poderem resistir aos arietes assírios. A da qual falávamos era muito mais formidável, por ser
espessura das muralhas variava entre três e cinco uma parede de preconceitos cegos».(Z)
metros, com bastiões que se projetavam a cada tantos
metros. Esses bastiões eram dotados de saliências
para impedir o acesso de atacantes, havendo també~
grades para proteção dos arqueiros. PARENTE, VINGADOR DO SANGUE
Em Cantares 8:9, a palavra hebraica chomah é No hebraico, goel, «redentor», palavra usada
usada simbolicamente para indicar uma menina na somente em Neemias 13:29. Ver o artigo separado
idade da puberdade. A idéia é que ela era chata como sobre Goel. Na sociedade hebréia e em suas leis
um~ parede, .mas que em breve obteria a típica figura vârios deveres eram requeridos da parte dos parent~
feminina, porque seus seios, comparados com «torres das pe~soas. ç> p~~eiro responsável era o parente
so~re a m~ralha», apareceriam. O aparecimento dos mascuhno mais proximo, Um dos mais importantes
seios era sinal de que ela estava chegando à idade desses deveres era o de servir de vingador do sangue e
própria para o casamento. Os intérpretes vêem nesse de parente remidor (ver os artigos separados). A
simbolismo a Igreja de Cristo, que se prepara corno instituição da responsabilidade dos parentes era
uma noiva para seu noivo; ou então qualquer forma comum entre os povos semitas. Todo erro praticado
de bênção que ocorre quando há o devido desenvolvi- con~r~ alguém .precisava ser ~evi~amente vingado; e a
mento espiritual. (G HA ID) família assumia formas de justiça que hoje em dia
seriam prerrogativas exclusivas do Estado. O sangue
da pessoa injustiçada (se um assassinato ou uma
morte acidental tivesse tido lugar) é retratado como se
PAREDE DA SEPARAÇÃO estivesse clamando do chão, pedindo vingança. O
No grego, mesódchoD, «parede do meio". Corres- parente. masculino mais próximo estava na obrigação
ponde a chel dos hebreus, um vocábulo que indicava de OUVir o caso e cumpnr o seu dever de tirar
uma parede ou uma espécie de sebe, entre o átrio dos vin~ança. Um. fil~o deveria vingar a morte de seu pai,
gentios e o templo de Jerusalém. O termo grego um irmão devia Vingar a morte de uma irmã sua. A lei
aparece em Efé. 2: 14. do linchamento é uma forma primitiva de justiça.
A intenção dessa parede era impedir que os Mas, em certas sociedades, era legalizada de uma
não-judeus se aproximassem da área santa do templo forma ou de outra. Em casos de morte acidental, o
o qual era símbolo da própria lei mosaica qu; goel na~a podia fazer. se o homicida se refugiasse em
separava os judeus dos gentios, para que est~s não certas Cidades. Ver sobre as Cidades de Refúgio Ver
par:ticipassem dos privilégios religiosos de Israel. Foi o artigo separado sobre o Vingador do Sangue•.
~S~lI~ que ~ foi estabelecendo uma espécie de
lm!"lZade mutua entre judeus e gentios. Mas o
apostolo Paulo, sendo apóstolo dos gentios 'no PARENTE REMIDOR
segundo capítulo de sua epístola aos Efêsios, sali~ntou Ver sobre GoeI.
que essa parede de separação fora anulada pelo poder
e pelos efeitos da missão terrena de Cristo. Efetuada
essa missão de Cristo, a lei mosaica não continua PARETO, VILFREDO
sendo o fator dominante da fé religiosa revelada;. Suas datas foram 1848-1923. Ele foi um fil6sofo
antes, a graça e a fê substituiram aquele principio, italiano, mas nascido em Paris. Educou-se na Itália,
87
PARETO - PAROLEIRO
na Universidade de Lausanne. foi um dos mais importantes filósofos pré-socráticos.
Idéias: Nasceu em Elêia e foi influenciado pelos pitagorea-
1. Todas as sociedades são governadas por entes, nos. Opunha-se à doutrina de Heráclito de que «tudo
apesar das reivindicações em contrãrio. Porém, há se acha em estado de fluxos. Era expoente do
dois tipos de governos elitistas: a. aqueles que se monismo e da imutabilidade, e foi o fundador da
filosofia eleâtíca,
arriscam e tentam novas coisas; b. aqueles que não se
arriscam e sempre procuram manter o status quo. O Idéias
primeiro tipo tenta novas combinações de idéias; o 1. Raeiona1lamo Extremo. Para ele, o ser e o
segundo tipo promove os antigos e já experimentados pensamento seriam idênticos, pelo que a verdade
agregados. sobre o ser poderia ser conhecida através do
2. Ambos esses elementos sempre existiram na pensamento disciplinado, e não através da percepção
sociedade, e ambos são forças internas que lutam em dos sentidos.
favor do bem ou do mal. A esses elementos contínuos 2. As experiências adquiridas pela percepção dos
ele chamava de resíduos da sociedade. Outrossim, as sentidos são contraditórias, razão pela qual são
crenças dos homens estão ligadas a esses elementos. ilus6rias, pois o mundo fisico não passa de mera
Aos elementos que variam ele chamava de derivações. aparência.
Os homens usam essas derivações para justificar os 3. O pensamento busca aquilo que é constante,
seus residuos. Essa é apenas uma outra maneira de invariável e comum nas coisas (ou seja, o universal, de
dizer que quanto mais as coisas se alteram mais elas acordo com o vocabulário de Platão). O ser existe; Ó
continuam a mesma coisa, visto que estamos sempre a não-ser não existe; não existe isso de tomar-se ou de
braços com os mesmos conjuntos de condições e de estar vindo à existência.
formações na sociedade. 4. A criação impossível, porquanto nada pode ser
é
3. Quanto à questão religiosa, Pareto compartilha- trazido à existência, a partir do nada. O ser é eterno e
va da crença de Freud de que a religiosidade é apenas imutável. O resto é ilusão.
uma maneira de pensar esperançosa. As organizações S. As mudanças são impossíveis, pois elas
religiosas são apenas grupos de interesses especiais significariam que algo veio à existência onde antes
existentes na sociedade. Seus ataques contra a religião nada existia; a não-existência não existe, e nem
eram venenosos e irracionais. qualquer mudança.
6. Se qualquer coisa mover-se, terá de ocupar um
espaço onde antes essa coisa não estava; e visto que o
PARKER,THEODORE espaço vazio não existe e nem é ser, o movimento é
Suas datas foram 1818-1860. Foi um teólogo algo impossivel.
norte-americano, nascido em Lexington, estado de 7. As coisas parecem estar separadas pelo espaço;
Massachusetts. Educou-se em Harvard. Tornou-se mas, se isso fosse verdade, então o espaço vazio teria
um lider do liberalismo. Foi um dos principais de ser alguma coisa. Mas, visto que o espaço vazio não
ministros unitários, tendo construido o seu pensamen- existe, então também não existe tal coisa como
to religioso em torno de três ensinamentos principais: separação mediante o espaço. Isso também é ilusório,
Deus, a lei moral e a imortalidade. Tomou-se não passando de um sonho fantástico.
conhecido por seu amor pela liberdade, e mostrou-se 8. O ser é homogêneo em todas as suas dimensões,
ativo no movimento de emancipação que, finalmente, como a massa de uma esfera, que é perfeita em todos
deu liberdade aos escravos. Sua influência era tão os seus lados. Todas as coisas estão a igual distância
grande que Emerson apelidou-o de o Savonarola do do seu centro. Ele e seu mais hábil discípulo, Zeno de
Transcendentalismo da Nova Inglaterra (vide). Sua Elêia, defenderam esses pontos de vista em seus
principal obra escrita foi Discourse on Matters paradoxos. Ver Zeno, Paradoxos de, bem como o
Pertaining to Re/igion. artigo geral intitulado Paradoxo.
9. Deve-se observar que as descrições do Ser, por
parte de Parmênides, são idênticas às descrições
PARMASTA cristãs acerca de Deus: eterno, imutável, perfeito, etc.
Esse termo vem diretamente de um vocábulo persa Esse é o único Real, e todas as demais coisas são
que significa «o primeiro». Esse era o nome do ilusórias.
primeiro dos dez filhos de Harnã (ver Est. 9:9). Foi Escritos. Sobre a Natureza, do qual há somente
executado pelos judeus. Deve ter vivido por volta de alguns fragmentos.
470 A.C.
PARNAQUE
PÁRMENAS No hebraico; «dotado... Esse era o nome do pai de
Parece que o sentido da palavra grega por detrás Elisafã, um príncipe da tribo de Zebulom. Elisafã foi
desse nome próprio é «constante... Esse foi o nome de escolhido para ajudar a distribuir os territórios a oeste
um dos sete diáconos originais da Igreja cristã do rio Jordão, entre as tribos que deveriam viver
primitiva, de acordo com Atos 6:5. Nada mais se sabe naquela faixa da conquistada Terra Prometida. Ver
sobre ele, exceto esse fato. Mas a tradição não pôde Núm. 34:25. Isso sucedeu em cerca de 1440 A.C.
resistír e .acrescento~ algumas poucas informações a
seu respeito. Presumivelmente ele sofreu o martírio no
tempo do imperador Trajano, em Filipos, sabendo-se PAROLEIRO
que Trajano governou entre 99 e 117 D.C. Hip61ito
ajuntou que Pârmenas tomou-se bispo de Soli. Sua A tos 17:8. Em vez de tagarela, a versão portuguesa
festa é celebrada, na Igreja Oriental Ortodoxa a 28 de AC. diz paroleiro, A tradução literal dessa palavra
.iulho. sena apanhador de sementes, geralmente aplicada
aos pássaros, os quais andam ao redor apanhando
uma semente de cada vez, onde quer que as encon-
pARMBNIDES trem. Por extensão, essa expressão passou a ser usada
Suas datas aproximadas foram 515 a 450 A.C. Ele acerca de qualquer pessoa que vivia apanhando
88
PAROLEIRO - PAROUSIA
ninharias, procurando harmonizá-las. em sentido muralhas de Jerusalém (ver Nee. 3:25), e assinaram o
físico ou em sentido mental. Era aplicada a indivíduos pacto com Neemias (Nee, 10:14). Isso ocorreu
reputados como }Meudo-úbIOll. cuja erudição se ligeiramente depois de 536 A.C.
compunha de pedaços de material tomado por
empréstimo de outros, em segunda mão, não-
digeridos, mas meramente repetidos de uma forma PAROUSIA
desordenada. Shakespeare falou sobre os «apanhado- Segunda Vlllda de CrIato
res de trivialidades não-consideradas», Browning fez Esboço
alusão aos «apanhadores de pedacinhos de erudição»,
expressões essas que são equivalentes modernos I. Observações Gerais
daquela expressão grega. 11. O Tempo do Arrebatamento
111. A Vinda Literal de Cristo
Um equivalente shakespeareano se encontra em IV. A Igreja Cristã Primitiva Esperava Esse
Love 's Labor Lost , verso segundo: Acontecimento em seus Próprios Dias
Esse indivíduo apanha perspicácia como os pombos V. A Segunda Vinda de Cristo Será a Concretiza-
apanham ervilhas, ção do Senhorio, Tanto Para o Mundo'
E novamente as diz, quando Jove assim acha por Como Para a Igreja
bem. VI. Observações Sobre o Arrebatamento No To-
Ele é o vendilhào da perspicácia, e retalha sua cante a Segunda Vinda de Cristo Para Julgar
mercadoria,
Nas festas e bebedeiras, nas reuniões, nos mercados VII. Urgência Desta Verdade
e feiras. VIII. Acontecimentos que Terão de Anteceder
à Parousia
Aqueles que se dão ao vício da bisbilhotice ~ambém
apanham as suas informações dessa maneira, por I. Ob8enaçê5el Ger'"
serem parasitas das conversas intermináveis, ansiosos 1. A parouala será uma série de acontecimentos,
por darem suas informações maliciosas. Zenão, o começando com Armagedom e se estendendo até a
filósofo estóico, aplicava essa mesma palavra a um de destruição final da velha terra (11 Ped. 3:4,12, ver
seus discípulos, o qual era mais prolixo nas palavras notas no NTI). O tempo do aspecto da parousia que
do que mesmo sábio. E com isso o filósofo o acontecerá antes do milênio é desconhecido (Mat.
desprezava. (Ver Diog. Laert. Zeno, capo 19). 24:6). O tempo do arrebatamento da igreja é
Eustácio de Constantinopla{ll60 D.C.), que foi um debatido. Ver notas completas sobre este assunto em I
autor e retórico erudito, tece referências aos retóricos Tes. 4: 15 no NTI.
que eram meros coletores de palavras, não passan?o 2. Será um período de refrigério ou descanso, vindo
de plagiadores constantes. E. segundo ele nos diz, da parte do Senhor (Atos 3:19).
esse termo era igualmente aplicado àqueles que 3. Significará a restauração de todas as coisas
freqüentavam conferências mas que, de forma (Rom. 8:21; Efé. 1:10). O «mistério da vontade de
errônea e não-científica, repetiam o que tinham Deus» será cumprido. A segunda vinda será uma série
ouvido, aplicando erroneamente seus informes, por de acontecimentos e até o milênio pode ser
tê-los entendido mal, abusando disso. Alford (in loe.) considerado parte dela. 11 Ped. 3:4-13 mostra que até
sugere que essa palavra também faz alusão àqueles o julgamento final e a destruição do velho sistema
que eram capazes de falar fluentemente, m~s sem cósmico fazem parte da parousia no seu sentido mais
flropósito algum, sempre pedindo de empréstimo as amplo. O processo histórico será incorporado na
suas idéias e palavras de terceiros. grande transição da «parousia», A parousia utilizará o
Foi com esse vocábulo, pois, em nossa versão processo histórico para cumprir o mistério da vontade
portuguesa traduzido por «tagarela». que aqueles de Deus, mas também transcenderá aquele processo.
filósofos epicureus e estóicos ridicularizaram de Paulo O cumprimento do mistério da vontade de Deus fará
como se fosse um pretencioso mas grosseiro mestre. de Cristo o centro da Nova Criação na qual ele será
que meramente recolhia sobejos de conhecimentos, tudo para todos. Ver o artigo sobre este assunto
que havia apanhado aqui e acolá. sem a menor intitulado Restauração. Ver Eíê. 1:10.
organização, ao longo de sua vida. 4. Consistirá da manifestação, aparecimento e
revelação de Jesus Cristo (I Ped. 1:7, 13).
S. Será o dia de nosso grande Deus e Salvador,
PAROQUIA Jesus Cristo (Tito 2: 13).
Uma área local sobre a qual um padre ou pastor 6. Também será o Dia de Deus e de nosso Senhor
exerce jurisdíção, e onde exerce seus deveres Jesus Cristo (I Cor. 1:8 e 11 Ped. 3: 12).
pastorais. Nas igrejas católica romana e anglicana, 7. Ê acontecimento predito nas páginas do A. T.
usualmente a paróquia faz parte de uma diocese. A (Dan. 7:13); e figura tão freqüentemente no N.T., que
raiz dessa palavra encontra-se no grego, pará, «ao é mencionado numa média de um versículo em cada
lado». e oikeeln, «habitar », Dai vem o termo grego vinte e três. (Ver Jud. 14; Mat. 25:31; João 14:3; Atos
paroikla, «circunvizinhança», 3:20 e I Tim. 6:14).
8. Esse acontecimento será precedido por certos
PAR Os sinais (Mat. capo 24).
No hebraico, «pulga•. Nos trechos de Esd. 2:3; 8:3; 9. Sua maneira: será nas nuvens (Mat. 24:30 e Apo,
10:2; Nee. 3:25; 7:M; 10:14, lê-se sobre os descenden- 1:7): na glória de Deus Pai (Mal. 16:27); na glória de
tes de Parôs, Estes formavam uma importante família Cristo (Mat. 25:31); uma verdade literal (Atos
dos tempos pôs-exilicos que fixou residência em 1:9,11); acompanhado pelos anjos (Mat. 16:27; I
Jerusalém, quando um remanescente de Judá havia Tes. 3:13 e Jud. 14); em companhia dos crentes (I
retomado do cativeiro babilônico (vide). Na época Tes. 4:14); repentino (Mar. 13:36); como se fora um
dessa volta, eles eram dois mil, cento e setenta e dois. ladrão que assalta à noite (I Tes. 5:2; 11 Ped. 3:10 e
Homens dessa família tinham-se casado com mulhe- Apo. 16:15); será como um relâmpago (Mat. 24:27).
res estrangeiras e tiveram de divorciar-se delas (ver 10. Propósitos: a glorificação dos santos (11 Tes.
Esd, 10:25). Eles atuaram na reconstrução das 1: 10: I Tes. 4: lS e ss); não será para efeito de
89
PAROUSIA
expiação (Heb. 9:28 e Rom. 6:9,10); visará a própria uniformemente usada em alusão à vinda de Cristo à
glória de Cristo (11 Tes. 1:10); visará julgar tanto aos terra, a fim de estabelecer o seu reino milenar,
salvos quanto aos perdidos (Sal. 50:3,4; João 5:22; 11 acontecimento esse que todos consideram pré-tributa-
Tim. 4:1; 11 Cor. 5:10). cional.
Cumpre-nos observar, por semelhante modo, que Argumento HIstórico
taljuízo é vinculado e.porousia e não à morte fisica de I. A igreja cristã primitiva cria na iminência do
cn cln indivlduo. V'er llula" ""11 I Peu. 4:6 no NTI. As retorno do Senhor, o que é um ponto doutrinário
questões eternas, pois, não serão fixadas até à essencial da posição pré-tribulacíonal,
segunda vinda de Cristo. Portanto, o poder salvador 2. O desenvolvimento detalhado da verdade
ou restaurador de Cristo se prolonga pelo mundo pré-tribulacional, durante os poucos séculos passados
intermediário e não se restringe apenas a este mundo não prova que essa doutrina seja recente ou que seja
físico. terreno. Ver I Ped. 3:18. uma novidade. Seu desenvolvimento é similar ao das
Cristo destruirá a morte quando de sua vinda (ver I outras principais doutrinas da história da igreja.
Cor. 15:25,26). Assim, os seus santos receberão a Hermenêutica
natureza e a semelhança de Cristo, mediante a 3. A posição pré-tribulacional é o único ponto de
ressurreição e a subseqüente glorificação; e isso atua vista que permite uma interpretação literal de todas as
neles, por enquanto, como uma esperança purificado- passagens tanto do Antigo como do Novo Testamento
ra (ver I João 3:2,3 e I Tes. 4:14,16). Tal ocorrência sobre a Grande Tribulação.
redundará em glória tanto para Cristo como para os 4. Somente a posição pré-tribulacional distingue
crentes (ver Col. 3:4). A coroa da glória será dada aos claramente entre a nação de Israel e a igreja, em seus
crentes nessa oportunidade (ver 11 Tes. 4:7 e I Ped. respectivos programas.
5:4). Então. terá início o reino milenar de Cristo (ver Natureza da Trlbulaçio
Dan. 7:27: 11 Tim. 2:12; Apo , 5:10 e 20:6). (Ver o 5. O pré-tribulacionisrno conserva a distinção
artigo sobre o MIlênio). bíblica entre a Grande Tribulação e a tribulação em
11. Em relação aos crentes, esse acontecimento se geral que a antecede.
reveste agora dos seguintes elementos: os crentes 6. A Grande Tribulação é devidamente interpreta-
devem amar a vinda do Senhor (ver 11 Tim, 4:8); da. pelos que crêem no arrebatamento antes da
devem esperar por ele (ver Fil. 3:20; Tito 2:13); devem tribulação como tempo de preparo para a restauração
aguardar a Cristo (ver I Cor. 1:7 e I Tes. 1 :10); devem da nação de Israel. (Ver Deut. 4:29,30 e ler. 30:4-11).
apressar a vinda de Cristo (ver 11 Ped. 3: 12); devem O propósito da tribulação não é preparar a igreja para
orar para seu desenlace (ver Apo. 22:20); devem estar a glória.
preparados para esse dia (ver Mat. 24:44; Luc. 7. Nenhuma das passagens do A.T. sobre a
12:40); devem vigiar a respeito (ver Mat. 24:42). tribulação menciona a igreja (ver Deut. 4:29.30: Jer.
12. Em relação aos incrédulos, a segunda vinda de 30:4~ 11; Dan. 9:24-27 e 12:1.2).
Cristo serve de motivo de zombarias (ver I Ped. 3:3,4); 8. Nenhuma das passagens do N.T. sobre a
os incrédulo:'> presumem a sua ocorrência tardia (ver tribulação menciona a igreja (ver Mat. 24:15-31: 11
Mat. 24:48); serão surpreendidos por seu súbito Tes. 1:9.10; 5:4-9 e Apo. 4-19).
desenlace (ver Mal. 24:37-39); serão castigados 9. Em contraste com a posição meio-tribulacional,
quando houver tal ocorrência (ver 11 Tes. 1:8,9); e o o ponto de vista prê-tribulacional provê uma explana-
anticristo será destruído em seu poder e dominio ção adequada para o começo da Grande Tribulação,
nessa oportunidade, caindo em perdição eterna (ver 11 no sexto capítulo do livro de Apocalipse. Já a primeira
Tes. 2:8). Efésios 1: 10, vinculado com I Ped. 3: 18-7.0, dessas posições é refutada pelo ensinamento claro das
4:6. mostra como a missão de Cristo, afinai, terá Escrituras, que diz que a Grande Tribulação
efeitos imensos e universais. sobre todos os homens, começará muito antes da sétima trombeta do décimo
não somente sobre os eleitos. Tudo, afinal, terá seu primeiro capítulo do livro de Apocalipse.
centro em Cristo, e terá uma utilidade, embora não a
mesma dos eleitos. sendo imensamente inferior. 10. A distinção apropriada é mantida entre as
trombetas proféticas das Escrituras através da posição
Queremos notificar ao leitor de que, nas referências pré-tribulacional. Há base firme para o argumento
sugeridas acima, nenhum esforço foi feito por nós central do meio-tribulacionismo que a última trombe-
para distinguir os temas relativos ao «arrebatamento ta do livro de Apocalipse é a última trombeta, não
da igreja», dos temas atinentes à segunda vinda de havendo conexão segura entre a sétima trombeta do
Cristo, na «glória». décimo primeiro capítulo do livro de Apocalipse. a
n. O Tempo do Arrebatamento última trombeta do trecho de I Cor. 15:52 e a
Precisamos também considerar a questão do tempo trombeta de Mat. 24:31. São três acontecimentos
da segunda vinda de Cristo, no que diz respeito à distintos.
tribulação, e no que concerne à diferença entre o 11. A unidade da septuagésima semana do livro de
arrebatamento da igreja e a segunda vinda de Cristo. Daniel é mantida pelo pré-tribulacionisrno. Em
John F. Walvoord, presidente do Dallas Theological contraste com isso, a posição meio-tribulacional
Serninary, de Dallas, no Texas. talvez tenha escrito a destrói a unidade dessa septuagésima semana,
exposição mais completa que há sobre esse tema. Ele confundindo o programa de Israel com o programa da
alistou cinqüenta razões pelas quais cria no igreja.
arrebatamento antes da tribulação, o que significa Natureza da Igreja
que a igreja não passaria pelo período da Grande 12. O arrebatamento da igreja nunca é mencionado
Tribulação. Bastaria a natureza completa de seus em qualquer passagem referente à segunda vinda de
estudos para merecer a nossa atenção, mesmo que Cristo, após a tribulação.
não concordemos totalmente com tal ponto de vista. 13. A igreja não está destinada à ira (ver Rom. 5:9; I
Abaixo expomos essas razões e oferecemos uma Tes. 1:9, 10 e 5:9). Portanto, a igreja não poderá
breve crítica. entrar no «grande dia da ira deles" (ver Apo, 6:17).
Para efeito de brevidade, o termo arrebatamento é 14. A igreja não será surpreendida pelo Dia do
usado para indicar a vinda de Cristo para a sua igreja, Senhor (ver I Tes. 5:1-9), que inclui a tribulação.
ao passo que a expressão «segunda vinda» é 15. A possibilidade do crente escapar da tribulação é
90
PAROUSIA
mencionada em Luc. 21:36. 31. Se for literalmente traduzida a expressão ..isto
16. Ã igreja de Filadêlfia foi prometido livramento não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia»,
da «hora da provação que há de vir sobre o mundo ou seja, «isto não acontecerá sem que primeiro venha
inteiro, para experimentar os que habitam sobre a a partida», ficará claramente demonstrada a necessi-
terra» (Apo. 3:10). dade do arrebatamento antes do começo da Grande
17. Ê uma das caracteristicas da maneira divina de Tribulação.
agir a de livrar os fiéis antes de qualquer juizo divino NeeeuIdade eleum Iaten_ eaDe O Arrebata-
ser infligido contra o mundo, conforme é ilustrado nos' mento e a Sepnda VIndaele CrIIto
livramentos de Noê, Lô, Racabe, etc. (ver 11 Ped. 32. De acordo com 11 Cor. 5:10, todos os crentes da
2:6-9). presente era deverão comparecer perante o tribunal
18. Ao tempo do arrebatamento da igreja, todos os de Cristo, nos céus, um evento jamais mencionado nas
crentes irão para a casa de Deus Pai (ver João 14:3), e narrativas detalhadas concernentes à segunda vinda
não retornarão imediatamente à terra, após o de Cristo à terra.
encontro com Cristo nos ares, conforme ensinam os 33. Se os vinte e quatro anciões do trecho de Apo. 4:1
pós- tri bulacionistas, - 5:14 representam a igreja, conforme muitos
19. O pré-tribulacionismo não divide o corpo de expositores bíblicos acreditam, então toma-se neces-
Cristo quando do arrebatamento com base no sário o arrebatamento e o galardoamento da igreja
princípio das obras. O ensinamento de um arrebata- antes do início da tribulação.
mento parcial se baseia sobre a falsa doutrina que diz 34. A vinda de Cristo para buscar sua Noiva deverá
que o arrebatamento da igreja recompensará as boas ter lugar antes da segunda vinda de Cristo à terra,
obras. Trata-se antes de um aspecto final da salvação para a festa nupcial (ver Apo. 19:7-10).
pela graça divina. 35. Os santos da Grande Tribulação não serão
20. As Escrituras ensinam claramente que a igreja arrebatados quando da segunda vinda de Cristo, mas
inteira, e não apenas uma parte dela, será arrebatada continuarão em suas ocupações normais, plantando e
quando da vinda de Cristo para a sua igreja (ver I Cor. edificando casas, e também gerarão filhos (ver Isa,
15:51,52 e I Tes. 4:17). 65:20-25). Isso seria impossível se todos os santos
21. Em oposição ao ponto de vista que postula um fossem arrebatados .quando da segunda vinda de
arrebatamento parcial, o pré-tribulacionismo se Cristo à terra, conforme ensinam os pôs-tribulacionis-
alicerça sobre o ensinamento definido das Escrituras tas.
que a morte de Cristo nos livra de toda a condenação. 36. O julgamento dos gentios, que se seguirá à
22. O remanescente piedoso da tribulação é segunda vinda de Cristo (ver Mal. 25:31-46), indica
retratado como composto de israelitas, e não que tanto os salvos como os incrédulos ainda se
membros da igreja, conforme é dito pelos pôs-tribula- acharão em seus corpos naturais, o que seria
cionistas. impossível se o arrebatamento tivesse lugar quando da
23. O ponto de vista pré-tribulacional, em contraste segunda vinda de Cristo.
com o pós-tribulacionismo, não confunde termos 37. Se o arrebatamento tivesse lugar ao mesmo
gerais como 'eleitos' e 'santos', que se aplicam aos tempo que a segunda vinda de Cristo à terra. não
salvos de todos os séculos, com termos especificos haveria necessidade alguma de separar as ovelhas
como 'igreja' e aqueles que estão 'em Cristo', o que se dos cabritos, como algo ocorrido em um julgamento
refere somente aos santos desta era. subseqüente, mas a separação teria lugar no próprio
DoutrlDa da lmIDanda ato do arrebatamento dos crentes, antes de Cristo
24. A posição pré-tribulacional é o único ponto de realmente estabelecer o seu trono à face da terra (ver
vista que ensina que o retorno de Cristo é realmente Mat. 25:31).
iminente. 38. O julgamento da nação de Israel (ver Eze.
25. A exortação para nos consolarmos ante a vinda 20:34-38), que ocorrerá depois da segunda vinda de
do Senhor (ver I Tes. 4:18) só é significativa para o Cristo, indica a necessidade de reunir novamente o
ponto de vista pré-tribulacional, sendo contradita povo de Israel. A separação entre os salvos e os
especialmente pelo pôs-tribulacionismo, perdidos, nesse julgamento, obviamente terá lugar
26. A exortação para esperarmos pela 'gloriosa algum tempo após a segunda vinda, e seria algo
manifestação' de Cristo em favor do que lhe desnecessário se os salvos já tivessem sido separados
pertencem (ver Tito 2:13) perde sua significação se a dos incrédulos por meio do arrebatamento.
tribulação deve ocorrer antes disso. Os' crentes, nesse Contrute Entre
caso, deveriam esperar sinais da vinda de Cristo, o Arrebatameato e a Sepnda VIndaele CrI8to
apenas. 39. Ao tempo do arrebatamento, os santos se
2,7. A exortação para nos purificarmos, em face do encontrarão com Cristo nos ares, ao passo que, na
retorno do Senhor, se reveste de maior significação se segunda vinda, Cristo retomará ao monte das
a vinda de Cristo for iminente (ver I João 3:2,3). Oliveiras, vindo assim ao encontro dos santos na
28. A igreja é uniformemente exortada a esperar a terra. r
vinda do Senhor, ao passo que aos crentes que 40. Ao tempo do arrebatamento, o monte das
estiverem vivos durante o período da tribulação se Oliveiras ficará intocado, ao passo que ao tempo da
recomenda que aguardem sinais da volta 'de Cristo. segunda vinda será formado um grande vale a leste de
A Obra do Eaplrlto Santo Jerusalém (ver Zac. 14:4,5).
29. O Espírito Santo, na qualidade de «restringidor 41. Quando do arrebatamento, os santos vivos serão
do mal», não poderá ser retirado do mundo a menos arrebatados, ao passo que nenhum crente será
que a igreja, na qual habita o Espirito, seja retirada ao arrebatado em conexão com a segunda vinda de
mesmo tempo. A tribulação não poderá começar Cristo à terra.
enquanto essa restrição não for suspensa. 42. Quando do arrebatamento, os santos serão
30. O Espírito Santo, na qualidade de «restringidor-, levados para os céus, ao passo que, na segunda vinda
será tirado do mundo antes de revelar-se o 'iníquo', de Cristo à terra os santos continuarão à face da terra.
que dominará o mundo durante o período da sem qualquer arrebatamento.
tribulação (ver 11 Tes. 2:6-8). 43. Ao tempo do arrebatamento, o mundo
91
PAROUSIA
continuará sem julgamento e prosseguirá em seus ca entre o «arrebatamento» e a «segunda vinda de
caminhos pecaminosos, ao passo que na segunda Cristo» é uma doutrina recente, que veio à cena
vinda de Cristo o mundo será julgado e a retidão será apenas a cem anos passados. Portanto, pode tratar-se
estabelecida neste mundo. de uma criação moderna, que dá à igreja da fé fácil
44. O arrebatamento da igreja é retratado como um meio de escape para não entrar na prometida
livramento antes do dia da ira; mas a segunda vinda Grande Tribulação. Os crentes primitivos criam na
de Cristo será seguida pelo livramento daqueles que iminência do retorno de Cristo; mas isso não consistia
tiverem confiado em Cristo durante a tribulação. de um dogma, mas tão-somente de uma esperança.
45. O arrebatamento é descrito como imimente, ao (Caso contrário, a igreja primitiva teria incorrido em
passo que a segunda vinda de Cristo é precedida por grave erro de cálculo, pois Cristo não retornou no
sinais definidos. tempo deles). Mas, quanto à sua «esperança», ela não
46. O arrebatamento de santos vivos é uma verdade se cumpriu, o que facilmente pode dar-se também em
revelada exclusivamente no N.T., ao passo que a nosso caso. Por igual modo, Paulo esperava morrer
segunda vinda de Cristo, com suas ocorrências em Roma, e no fim de sua vida terrena parece ter
correlatas é uma doutrina que se destaca em ambos os perdido a esperança que veria a Cristo enquanto vivo
Testamentos. na carne. Outrossim, estando os crentes primitivos
47. O arrebatamento diz respeito exclusivamente aos tão distantes daquele evento, não se mostraram muito
salvos, ao passo que a segunda vinda de Cristo envolve exatos sobre o que deveriam esperar; e seus
sentimentos sobre a iminência do retorno de Cristo
tanto os salvos como os perdidos. não devem ser necessariamente transferidos para a
48. Quando do arrebatamento, Satanás não será igreja moderna, apesar de ser correto esperarmos pela
amarrado, ao passo que por ocasião da segunda vinda vinda «breve» de Cristo, precedida por determinados
de Cristo, Satanás será amarrado e lançado no sinais, conforme aqueles que lemos no vigésimo
abismo. quarto capítulo do evangelho de Mateus, Passagens
49. Nenhuma profecia a ser cumprida há entre a comoessa não antecipam uma vinda de Jesus Cristo
igreja e o arrebatamento, ao passo que muitos sinais em dois «estágios»; e são somente os hiperdispensacio-
terão de ser cumpridos antes da segunda vinda de nalistas que separam as previsões de Jesus nas
Cristo. categorias «para os judeus» e «para os cristãos», ao
50. Nenhuma passagem, que trata da ressurreição passo que o evangelho de Mateus é um documento
dos santos, por ocasião da segunda vinda de Cristo, «cristão», escrito J' bem dentro da era erbd.
em ambos os Testamentos, menciona o arrebatamen- b. O argumento baseado na hermenêutica:
to dos santos vivos, ao mesmo tempo. pode-se acreditar bem firmemente em uma «tribula-
Não se presume que os argumentos acima expostos ção» literal, e ao mesmo tempo crer que a igreja cristã
estabeleçam por si mesmos a sua validade; antes, passará por ela.
apresentamos esses argumentos como apoio e c. Natureza da tribulação. Limitar a tribulação
justificação para a discussão previamente exposta, somente à preparação da nação de Israel para a
dando o sumário de razões em favor do ponto de vista restauração, e não encarar a tribulação como medida
pré- tribulacional. que purificará a própria igreja, como se fosse uma
ACR1TIcA espécie de medida preparatória da Noiva para a vinda
A partir deste ponto apresentamos a crítica a esses do Noivo, é fazer com que os capítulos quinto a
pontos de vista pré-tribulacionais: décimo nono, do livro de Apocalipse, não tenham
1. Um bom lenlço foi feito pelo autor da lista qualquer aplicação direta à igreja cristã, ao passo que
acima, pois apresenta-nos "ÚfM fonnu de distinção, esse livro tem como seu propósito especifico advertir e
existentes entre os evangélicos de hoje em dia, entre o sustentar a igreja em meio à tribulação; e isso tanto no
«arrebatamento» e a «segunda vinda de Cristo», e a período da igreja primitiva, que sofria tribulações e
relação que ambas essas ocorrências têm para com a perseguições, como prefiguração do que aconteceria
igreja cristã, para com os incrédulos, para com a futuramente, como também profeticamente, para
Grande Tribulação e para com o milênio. Isso ajudar a igreja cristã que existir quando ocorrer a
nos ajuda aperceber, de maneira geral, como a «Grande Tribulação». Fazer com que a maior parte do
questão é manuseada em nossos dias, em contraste livro de Apocalipse e outras passagens proféticas
Com ó modo como era manuseada ttm gerações (como o décimo terceiro capitulo do livro de Marcos f
passadas, por aqueles que não estabeleciam tais o vigésimo quarto capítulo de Mateus), não tenham
distinções. qualquer aplicação à igreja é estabelecer distinções
2. EDtretaato, devem. talIentu que um mero que as próprias Escrituras não estabelecem. cortando
....de uámero de argumentos, por si mesmos, não a Bíblia em pedaços, porquanto assevera indireta-
prova a validade de tais distinções, a menos que mente que esses não são, realmente, documentos
alguns deles, considerados isoladamente, ou todos cristãos, não tendo sido escritos para beneficio da
juntos, realmente sejam convincentes. Ora, aqueles igreja, o que é uma posição insustentável.
que não acreditam na distinção entre o «arrebatamen- d. No tocante à natureza da igreja, Passagens
to», e a «segunda vinda de Cristo», quanto à sua como Apo. 3:10, que supostamente indicam o
natureza e quanto ao elemento do tempo, não se "livramento da presença da ira», bem podem não
deixam convencer por aqueles argumentos acima, significar isso ao serem consideradas dentro do
nem considerados em separado e nem em seu pensamento que tal versiculo foi escrito para uma
conjunto. Abaixo oferecemos apenas um exemplo de igreja que naquele exato momento passava por uma
como alguns desses argumentos são negados, através hora de teste, a qual foi "sustentada» ou «guardada».
do que se pode ver como podem ser todos eles mas não foi livrada da presença da tribulação. A
derrubados. Não nos deveríamos esquecer de que igreja primitiva foi «guardada da tribulação» por
qualquer sistema, quando bem desenvolvido, tem boa haver sido preservada de seus maus efeitos; mas não
consciência dos argumentos dos sistemas opostos, no sentido de ter sido tirada da tribulação. Ora, esse é
pelo que também encerra argumentos e contraargu o mesmo tipo de livramento que aguarda a futura
mentos sobre pontos controvertidos: igreja cristã. Em sentido algum a igreja do fim está
a. O argumento histórico. A distinção cronológi- destinada à ira; mas poderá sofrer os efeitos da ira'
92
PAROUSIA
divina que sobrevirá ao mundo, até o ponto em que tenho certeza e apresento esta interpretação como
elamostrar-se mundana, necessitada de purificação uma especulaçãoq:ue_ pede ser parcialmente certa,
desses elementos, embora a ira final de Deus não se parcialmente errada. E parte da minha especulação a
descarregue contra ela. Se há alguma coisa evidente idéia de que a tribulação durará até 40 anos, o
no mundo de hoje, é que a igreja precisa número místico e simbólico de provação.
desesperadamente dessa purificação. m. A V.eIa lJteral ele CrI8to
3. A obra do FAplrlto Santo. O Espirito Santo, na A palavra literal normalmente é usada para
qualidàde de reIItrlnaldor, serâ realmente tirado do indicar o que é fisico ou visível e, com freqüência,
caminho antes que a grande tempestade comece a
açoitar; mas isso não significa que Ele não possa «real». Mas a vinda de Cristo pode ser -real-, ainda
permanecer com sua igreja durante a tempestade, que não seja física e nem visível para todos os homens.
protegendo-a até ao ponto em que isso não impeça a Pelo menos, para a igreja e para o Israel, será visível.
tempestade. Cristo recolherá para si mesmo os seus santos, e
passará a reinar sobre a terra; mas este «reino» poderá
4. Contr..te8 entre o arrebatamento e a .,....nda ocorrer «espiritualmente». Isso não indica uma
vinda p~ julp.r. Ninguém pode negar que hâ maneira «irreal» e, sim, «real», de uma maneira
trechos bíblicos que descrevem diferentemente h diferente do que partes da igreja ordinariamente
segunda vinda de Cristo, mostrando os elementos pensam. Afinal de contas, o que é «real», e mesmo
variegados, complexos e aparentemente contraditó- «mais real», não é o que é material, mas antes, o que é
rios que há ali, porquanto muitas condições e povos, espiritual. Portanto, uma elevada glória poderá ser
terrenos e celestiais, estão ali em foco. Porém, tudo dada à igreja, havendo grande transformação fisica à
quanto pode ficar provado por essa observação é que face da terra, um autêntico milênio, mesmo sem a
se trata de uma ocorrência complexa e dotada de forma visível de Cristo fazer-se presente. Seja como
efeitos de longo alcance, não que deve ser dividida for, Cristo é o poder que há por detrás de ambas as
meramente em duas fases cronológicas separadas. coisas, e ele reinará verdadeiramente, «literalmente..,
É melhor dizer que a segunda vinda de Cristo será embora talvez não se manifeste sob forma visível.
uma série de acontecimentos, sobre um tempo Ainda temos malto que aprender sobre o que
considerável, e que alguns deles se aplicarão à igreja. significará a manifestaçio particular do segundo
e outros aos outros homens. advento de Cristo, no que diz respeito à terra.
Nenhuma tentativa é feita aqui para apresentar Dizemos uma vez mais que os próprios acontecimen-
uma refutação completa. Longos artigos têm sido tos, à medida que se desenrolarem, esclarecerão isso
escritos sobre o tema, ao longo das linhas aqui para nós, se Deus não o fizer mais claramente de
sugeridas. O argumento em favor do arrebatamento antemão, A segunda vinda de Cristo será um
anterior à Grande Tribulação não é tão forte como acontecimento real e literal, mas talvez ocorra
seus defensores dão a entender. Todavia, a questão inteiramente de forma espiritual (para0 mundo
não está resolvida sob hipótese alguma. Esta físico). Deus, entretanto, esclarecerá isso para nós,
enciclopédia toma a posição de que qualquer exame quando estivermos preparados para receber tal
do problema em face do que dizem as Escrituras e esc1arecimento.
mediante o uso de argumentos favoráveis e contrário,
não pode solucionar a questão além de qualquer IV. A . . Cn.tI PrImIdTa &pera.a &Ie
dúvida, e que somente os acontecimentos da história, Aeoateetmeato . . . . . PNprh» DIaa
em desdobramento podem aclarar o assunto, a menos (Ver I Tes. 4: 15 e I Cor. 15:51). Não esperavam que
que Deus ache bem nos dizer qual a verdade' final houvesse um longo «período da igreja», entre o
sobre a matéria, mediante profecia ou revelação, e primeiro e o segundo adventos de Cristo. Em todos os
assim unir a igreja em torno da questão. O mais séculos a igreja cristã deverá compartilhar dessa
provável, entretanto, é que os próprios acontecimen- atitude, a fim de preservar essa esperança, para que
tos venham a esclarecer tudo. O autor desta ela atue como um elemento purificador (ver I João
enciclopédia crê pessoalmente na necessidade de 3:2,3). A própria primeira epístola aos Tessalonice...
purificação, através, pelo menos parte da Tribulação, ses, a qual nos mostra quão viva era essa esperança,
e que assim a igreja sofrerá para seu próprio de modo que alguns cristãos primitivos tinham
benefício; e também que esses acontecimentos suspendido até mesmo o trabalho físico, com suposta
ocorrerão por volta dos fins do século XX. A base na iminência da vinda de Cristo, serve de
experiência demonstrará tudo para nós, ao passo que demonstração dessa expectação, É mesmo possível
nossos argumentos em prol e contra esta ou aquela que as declarações do Senhor Jesus que se encontram
posição servem somente para nos deixar na dúvida, 'em Mat. 16:28 e 24:34 tivessem sido ...........
até que os próprios acontecimentos ocorram. cIetermIIIaat:e dessa atitude da igreja primitiva. Essas
Estou escrevendo este pequeno parágrafo alguns passagens dizem, respectivamente: «Em verdade vos
anos depois da escritura dos parágrafos dados acima. digo que não passará esta geração sem que tudo isso
Atualmente acho que a tribulação durará bem mais aconteça». E: «Em verdade vos digo que alguns que
do que os sete anos tradicionais. Possivelmente o aqui se encontram de maneira nenhuma passarão
número 7 é simbólico e indica um perlodo completo morte até que vejam vir o Filho do homem no seu
ou perfeito de desastres que quebrará o poder de um reino». Por outro lado, há passagens bíblicas, como
mundo pagão. Possivelmente o número (se não Atos 1:7 e Mar. 13:32 que impossibilitam toda a idéia
simbólico) indica um tempo especial para a nação de de cálculo aproximado de tempo, deixando o assunto
Israel que constituirá, não tudo, mas uma parte, da como questão aberta.
tribulação. A igreja, então, uma vez purificada,
poderá escapar destes 7 anos. O Apocalipse deixa bem V. A SepDda VIDdade CrWo Seri. CoacndzaçIo
claro que a igreja passará a tribulação e enfrentará o do Senhorio de CrIRot Tato pua o M"""
anticristo..Certamente, os cristãos antigos esperavam CoaaoPana'"
exatamente isso, embora tal não fosse destinado para Será um gigantesco passo na direção ela restauração
eles. A esperança de escapar aos sete anos (de terror de tudo, segundo os termos do primeiro capitulo da
maior, talvez), pode ser uma compreensão moderna, epístola aos Efêsios. Ver o trecho de Efé. 1:10 e as
inspirada pelo Espírito Santo. Sobre este ponto, não notas expositivas ali existentes no NTI acerca do
93
PAROUSIA
«mistério da vontade de Deus», que se cumprirá manifestação, no que diz respeito a «estágios».
quando do retorno de Jesus Cristo. como um fato ou 2. Por conseguinte, o próprio Paulo, ao descrever a
potencialmente, devido ao poder e autoridade que parousia, podia cair em aparentes contradições,
Cristo assumirá naquela oportunidade, ainda que não porquanto explanava algo muito complexo, sobre o
se manifestem de imediato todos os efeitos da tomada que ele mesmo tinha um conhecimento limitado.
daquela autoridade, conforme se vê no décimo quinto Alguns têm mesmo sugerido que, em diferentes
capítulo da primeira epístola aos Coríntios e na oportunidades, Paulo possa ter exprimido uma idéia
passagem dos capitules décimo nono a vigésimo ou outra, no que chegou mesmo a contradizer-se.
segundo do Apocalipse. Cristo será, afinal, «tudo para 'Nesse caso, em I e 11 Tessalonicenses, ele pode ter
todos» (como Efé. 1:23 pode ser traduzido). feito exatamente isso.
O termo grego mais freqüentemente usado para 3. Sem embargo, penso que existe uma interpreta-
indicar a volta de Cristo é a parousia, que significa ção mais provável ainda. Em I Tessalonicenses, Paulo
«presença» ou «chegada». De fato, esse vocábulo veio a expressou um «sentimento» ou «esperança», isto é, que
ser usado como termo técnico para indicar esse Cristo voltaria em breve. Isso é encarado como algo
acontecimento, que também é denominado tão breve que fica eliminada qualquer necessidade de
«segunda vinda», a fim de distingui-lo da primeira sinais prévios. No entanto, ele exprimia uma
vinda de Cristo. (Ver as notas expositivas, em I Tes. «esperança», e não um dogma. Se porventura fosse
2:19 no NTI acerca do uso «técnico» e do uso «não- um dogma, estaria laborando em erro, porquanto
técnico» dessa palavra). Cristo não retornou durante o período de vida de
VI. O......açae. Sobre o Arrebatamento No Paulo. Já em 11Tessalonicenses, Paulo teria tido de
TOCIIDte • Sepada VInda de CrI8tG para assumir uma posição mais madura sobre o assunto. E
assim, a vinda de Cristo, embora ele continuasse
''''''''
1. Suposta contradição entre I e 11 Tessalonicenses
no tocante a esse assunto. I Tessalonicenses parece
sentindo que ocorreria em breve, não teria lugar
imediatamente, porquanto seriam necessários pelo
menos dois sinais de aviso, antes que pudesse
ensinar um «arrebatamento» sem sinais de aviso, e, realizar-se a vinda de Cristo: a. o aparecimento do
portanto, iminente, extremamente próximo. 11 Tessa- anticristo; e b. a apostasia. Isso nos é dito em 11 Tes,
lonicenses, por sua parte, parece dizer que isso não 4:3. Tal ensino, pois, adquiriu então a forma de uma
poderá suceder enquanto não acontecerem primeiro declaração dogmática, mais ampla e completa, que a
certas coisas, a saber, o aparecimento do anticristo e a declaração «esperançosa» de I Tessalonicenses. Em
apostasia. Por que essa diferença? outras palavras, temos aqui um «desenvolvimento»
teológico.
a. Há uma interpretação que se vai popularizan- Nota do Tradutor. Além disso, em I Tessalonicen-
do em nossos dias, e que pretende fazer-nos crer que I
Tessalonicenses fala sobre o arrebatamento da igreja ses, Paulo não estava entrando em contradição com
(o que ocorreria sem sinais prévios e que poderia aquilo que ensinara pessoalmente aos crentes de
suceder a qualquer instante), ao passo que II Tessalônica, quando ainda se encontrava entre eles.
Tessalonicenses se referiria à vinda de Cristo a fim de Apenas fizera um sumário de seu ensino, naquela
julgar o mundo (um acontecimento posterior, primeira epístola. Como esse sumário fora entendido
precedido por sinais). Tal idéia é extremamente como se tivesse exprimido o quadro completo, Paulo
se viu forçado, em 11 Tessalonicenses, a apresentar o
duvidosa, como a leitura meramente casual do quinto .. • I
capitulo de I Tessalonicenses é capaz de indicar. Pois quadro profético mais amplo. E no quinto versicu o,
capitulo 2, relembra aos Tessalonicenses, que quando
o «mesmo dia» que apanhará o crente verdadeiro estivera entre eles, mostrara a complexidade da
desperto e vigilante, apanhará o incrédulo dormindo, questão, que eles haviam erroneamente simplificado
espiritualmente falando. Comparar I Tes. 5:2 com 11 ao lerem sua primeira epistola: «Não vos recordais de
Tes. 2:2. Ambos esses trechos aludem à «parousia», que, ainda convosco, eu Costumava dizer-vos estas
não havendo qualquer indicio de que Paulo estivesse cousas?»
falando acerca de acontecimentos distintos.
b. Luzes derivadas do A. T. É verdade que o A. T. Essa controvérsia, contudo, é explicada ainda com
se refere ao primeiro e ao segundo adventos de Cristo, malora de~ no artigo sobre a segunda epístola
como se fossem um único evento. E por certo, os aos T....OIlkeIue8. seção I.
rabinos judeus também não faziam qualquer distin- 4. No tocante a «quando» o arrebatamento ter'
ção entre as duas ocorrências. Portanto, é possível que lugar. se pré-tribulacional, meio-tribulacional ou
os dois acontecimentos de que falamos (um arrebata- pôs-tribulacional, isso é amplamente ventilado nas
menta e uma vinda de Cristo para julgar), venham a notas sobre I Tes. 4:15 no NTI. A posição desta obra é
ser, afinal, acontecimentos distintos. sem que isso que a própria tribulação abarcará um periodo de
jamais tenha sido claramente descrito. quarenta anos (o número místico bíblico que
c. Seja como for, porém, a própria «parousia» representa provação), e que os sete anos (tradicio-
não será um único evento, e nem mesmo um evento nais), serão um perlodo especial daquele periodo
duplo. Antes, será uma série de acontecimentos. Terá maior, e não a totalidade do mesmo. A igreja pode
início na batalha de Armagedom (ver Apo. 16: 14.15); escapar ou não daquele período especial, no último
terá de incluir o arrebatamento da igreja; e terá de estágio do período maior de quarenta anos, e terá
envolver. igualmente. a vinda de Cristo para julgar envolvimentos especiais com Israel. Seja como for, a
os perdidos. No entanto, envolverá também a igreja terá de enfrentar o anticristo, pelo menos nos
destruição final dos céus e da terra, terminado o primeiros passos de seu poderio; e também será
milênio (ver 11 Ped. 3:4,12). A «parousia», pois, será a testemunha da apostasia. A cristandade tornar-se-á
vinda e a manifestação de Cristo através de uma série uma ala do poder do anticristo e o remanescente de
verdadeiros crentes, que resistirá a ele, será amarga-
de ocorrências, o que se prolongará por um extenso .
periodo de tempo. No processo dessa manifestação, mente perseguido.
Cristo sujeitará todas as coisas debaixo de seus pés e VD. Ura&aeIa Delta Verdade
tornar-se-á o Senhor universal (ver Efé. 1:10). 1. Poucas dúvidas existem de que a anticristo já
Portanto, podem ser falsas ou verdadeiras as está vivo e logo tornar-se-á conhecido por todos.
distinções de tempo que estabelecermos quanto a essa Manifestará seu poder em nossa geracão, e teremos de
94
PAROUSIA - PARTEIRA
enfrentá-lo. Ver o artigo intitulado, Profecia: negativa, nas páginas da Bíblia, não podendo ser
Tradição da, e a Nossa Época. Este artigo nos confundida com o arrebatamento dos salvos.
dá razões para essa crença, juntamente com um Primeiro venha a apostasia: 11 Tes. 2:3. Nô grego
esboço das profecias relativas ao futuro. temos apostasia. Tal palavra pode significar «rebe-
2. Cremos que a tribulação começará em breve. lião», «abandono». Daí vem o seu sentido religioso de
abrangendo um período total de quarenta anos. Os «apostasia». Ver Jos. 22:22; 11 Crô. 20:19 e I
sete anos tradicionais serão uma porção desse período Macabeus 2:15. Ver também Atos 21:21, onde se lê
total. com aplicação especial à nação de ISrael. (Ver o « ... ensinas todos : os judeus entre os gentios a
artigo sobre a «tribulação-). apostatarem de Moisés... »
3. Esse período é tão breve, mas terá muitas
implicações morais.
4. Como nos poderemos preparar para os dias
difíceis imediatamente à frente? Através do desen- PARSISMO
volvimento espiritual. Utilizemo-nos dos meios desse Esse é o nome da religião do ZoI'CNlltrlmlo (vide),
desenvolvimento; a. o estudo dos livros sagrados (ver assim chamada porque foi inicialmente fundada em
I Tim. 4:13); b. a oração (ver Efé. 6:18); c. a Pars, ou Pérsia. Atualmente é a fé religiosa de cerca
meditação (ver Efé. 1:18); d. a santificação (ver I Tes. de cem mil panes, na parte ocidental da Índia, Eles
4:3); e. a prática da lei do amor, que consiste das boas foram um grupo de zoroastrianos que migraram para
obras em favor do próximo (ver I João 4:7); e f. o uso a India quando os islamítas conquistaram a Pérsia. no
dos dons espirituais (ver a introdução ao décimo século VIII D.C. E, uma vez na India, concentraram-
segundo capítulo da epístola de I Coríntios no NTI). se em Bombaim.
Há problemas de autenticidade e de autoria, na
segunda epístola aos Tessalonicenses. Se a segunda
epístola ensina que certos sinais devem anteceder à PARTAS (PÁRTIA)
«parousia-, ao passo que a primeira epístola aos O trecho de Atos 2:9 menciona judeus vindos desse
Tessalonicenses não dá qualquer indicação nesse lugar. presentes em Jerusalém no dia de Pentecoste.
sentido, mas descreve um evento realmente iminente. Sem dúvida eram prosélitos judeus que tinham vindo
então se cria o problema sobre como Paulo poderia ter assistir à festa de Pentecoste. Os partas eram um povo
ensinado uma coisa em uma epístola, e outra coisa na da porção noroeste da Pérsia,. modemo Irã, que
segunda. Surge então a suposição de que Paulo não vivià na área geral a suleste do mar Cáspio...Na'
teria sido o autor da segunda epístola, que é a mente do escritor do livro de Atos. a Pârtia designava
explicação dada por alguns intérpretes. Esse proble- .o grande império construido pelos partas, e que se
ma inteiro. juntamente com outros, referente à estendia desde a India até às margens do rio Tigre, e
autenticidade e à autoria, é abordado na seção 11 desde o deserto corasmiano até às praias do oceano
sobre esta epístola. Acerca disso, talvez seja melhor Indico. Dai a posição proeminente ocupada pelos
dizermos que um autor qualquer pode escrever de partas, na lista de nacionalidades presentes no dia de
acordo com dois pontos de vista, com base em duas Pentecoste. A Pârtía era uma potência que quase
teses diversas. Quiçá Paulo visse a «parousia» como rivalizava com Roma, e foi o único poder então
iminente, em certas ocasiões, e que em outros existente que experimentou forças contra os romanos
momentos sentisse que certos eventos deveriam e não foi batido no encontro. O dominio parta
precedê-la. Essa aparente vacilação é possível no que perdurou por quase cinco séculos, a começar pelo
tange à questão das profecias, onde, em várias áreas, século 111 A.C. e terminando jA no século 111 D.C. Os
nosso conhecimento ainda é incompleto. Os primeiros partas haviam conquistado Jerusalém em 40 A.C., e
cristãos esperaram uma iminente segunda vinda de Roma fez de Herodes rei da Judéia. na época, a fim de
Cristo, sem contemplar um grande intervalo entre a entravar o formidável avanço do império parta para o
primeira e a segunda vindas. Mas esta esperança foi Ocidente» (UN).
um sentimento não um dogma. Uma consideração A Pártia era um distrito que ficava a suleste do mar
mais exata mostrou para Paulo que a igreja deverá Cáspio, que fizera parte do império persa. conquista-
enfrentar o anticristo. I Tes. fala do sentimento de do por Alexandre o Grande. dá Macedônia. Na
iminência. 11 Tes. tem o dogma de que a igreja deve guerra, os partas eram hâbeís arqueiros-cavaleiros, o
enfrentar o anticristo. Os próprios acontecimentos, que os romanos descobriram com surpresa e
porém, dar-nos-ão maior entendimento sobre essas desânimo. De conformidade com Josefo, historiador
questões, e então perceberemos mais claramente o dos judeus, os israelitas deportados para esse
que diversos trechos bíblicos querem dizer. Essas território continuaram a falar um dialeto aramaico e a
predições bíblicas haverão de fortalecer espiritual: adorar a Yahweh. Enviavam tributo a Jerusalém.
mente os crentes, no tempo de seu cumprimento, A lenda que dizia que Nero recuperar-se-ia de seu
ainda que agora tenhamos de permanecer curiosos ferimento mortal (ele cometeu suicidio), e que então
sobre os detalhes específicos dos acontecimentos voltaria com os partas para cometer matricidio,
vindouros. reflete-se em Apo. 17:10 ss. De acordo com essa
vm. Acontecimento. que Terio de Anteceder • lenda, os dez reis seriam reis partas que Nero faria
..Paro...la,. consolidar, contando assim com um exército invenci-
1. O an ticristo terá de surgir em cena e adquirir um vel, que serviria de seu instrumento de operações
domínio imenso. bélicas.
2. Terá de haver a grande apostasia, I Tes. 2:3, que
envolverá a todos os seres humanos, e até a igreja
organizada. Essa « apostasia» nada tem a ver com o PARTEIRA
«arrebatamento», conforme alguns têm afirmado
equivocadamente. Apesar de que «apostatar», no No hebraico, yalad, ..quem ajuda a dar à luz»,
grego, significa «deslocar-se da posição», não está em ..parteira». A referência é àquelas mulheres que
pauta o deslocamento dos salvos deste mundo para as tomavam sobre si a tarefa de ajudar a outras
nuvens, ao encontro do Senhor, e, sim, a perda de mulheres, por ocasião do parto.
posição no terreno da fé. A apostasia é uma idéia A cultura hebréia tinha bem pouco espaço
96
PARTEIRA - PARTO
concedido à medicina como uma ciência. Ver o artigo Essa palavra é usada pelos entomologistas 'para
sobre a Medicina. Apesar disso, podemos supor que indicar certos processos reprodutivos dos insetos. Dai
as parteiras hebréias que talvez tivessem aprendido a foi tomada por empréstimo (e de modo impróprio,
sua técnica com os egípcios, eram dotadas de conforme alguns pensam) para aludir à controvérsia
considerável conhecimento e habilidade. Geralmente, que envolve o nascimento virginal de Jesus. Ver o
as parteiras eram amigas ou parentas mais idosas, artigo geral Nascimento Virginal de Jesus.
mas também parece que havia, entre os israelitas,
uma classe de mulheres treinadas e experientes nessa
técnica. Quanto a referências biblicas às parteiras e PARTICIPAÇÃO DOS HOMENS NA NATUREZA
ao trabalho que desempenhavam, ver Gên, 35:17; DIVINA
38:28; Êxo, 1:15,17-21 e Eze, 16:4. A última dessas
passagens fàla sobre cortar o cordão umbilical, lavar o Ver Divindade, Participação na pelos Homens.
nascituro em água, esfregá-lo com sal e envolvê-lo em
faixas de pano.
Outras pequenas informações que temos na Biblia PARTÍCULARES
sobre a questão são como aquela que historia que Temos ai um vocábulo platônico que alude aos
quando nasceram gêmeos a Tamar, a parteira objetos terrestres, em contraste com os universais
identificou o menino «mais velho" amarrando um fio (vide). Estes também são chamados formas ou idéias.
vermelho no seu braço. Isso, sem dúvida, atendia às Os particulares aparecem no fluxo postulado por
exigências dos preceitos sobre a herança (ver Gên, Heráclito. Os particulares são temporais, mutáveis,
38:28). Além disso, o Faraô, rei do Egito, querendo
diminuir a ameaça representada pelo povo de Israel, imperfeitos, meras imitações dos universais. Por
que cada vez mais se multiplicava ali, ordenou que as serem perecíveis e limitados, representariam uma
parteiras hebréias matassem as crianças do sexo realidade inferior da dos universais. Teriam vindo à
masculino, conforme fossem nascendo, mas poupas- existência por meio do Demiurgo (um conceito
sem a vida das crianças do sexo feminino, por razões parecido com o do Logos). A presente criação foi
óbvias. O texto envolvido (Exo. 1:15-22) indica a planejada para imitar os universais. Isso posto, nesse
sentido, os particulares participam, em algum grau,
facilidade com que as mulheres hebréias davam à luz da realidade dos universais. Platão não atribuia aos
a seus filhos, em contraste com as mulheres egipcias. particulares uma natureza ilusória, conforme fazem
Talvez essa facilidade no parto se devesse ao fato de certas religiões orientais. - Ele concebia um
que as mulheres hebréias, escravas como eram, autêntico dualismo. Todavia, Platão aludia aos
faziam muito exercicio físico, enquanto as damas particulares como representantes de uma realidade
egípcias pouco se exercitavam. Mas, como já seria secundária, temporal. O homem é apanhado no
mesmo de esperar, as ordens do Faraó foram mundo dos particulares, visto que possui corpo fisico.
desobedecidas pelas parteiras hebréias. Esse texto, no O corpo fisico é o sepulcro ou prisão do homem. Mas
hebraico, também menciona a banqueta de parir, a sua alma anela pelo mundo dos universais, ao qual
ilustrada em gravuras egípcias, nas paredes do pertencia, no passado distante, e para o qual voltará,
palácio de Luxor. A rainha Mautmés aparece sentada como seu lar. A alma humana participaria da
em uma dessas banquetas, dando à luz a uma eternidade, e nem teria sido criada e nem jamais
criança, enquanto duas parteiras lhe esfregam as pereceria.
mãos, sem dúvida para reanimá-la.
Essa banqueta podia ser algo tão simples como dois
tijolos, postos de modo a deixarem um espaço no
meio, e sobre os quais a mulher se assentava. Talvez a PARTIDO DA CIRCUNCISÃO
crueza do arranjo admire a alguns; mas está provado
que essa posição, para a mulher na hora de dar à luz, Ver Clrcunclsão, Partido da.
é muito melhor que a nossa costumeira posição
deitada de costas, pois até a força da gravidade ajuda
à mulher a ter sua criança naquela posição. O termo PARTO
egipcio mshnt aludia à banqueta de parir, e o I. As Palavras
hieróglifo egípcio para «nascer" estava alicerçado Precisamos considerar três palavras hebraicas e
sobre o formato daquela banqueta. E o vocábulo duas palavras gregas, quanto a este verbete:
egípcio msi, veio a significar «dar à luz". As passagens 1. Chabal, - «ter trabalho de parto". Esta palavra
de I Sam, 4:20 e Rute 4:14,15 podem ser outras ocorre com esse sentido por três vezes: Cano 8:5; Sal.
referências às «parteiras", embora ali não seja 7:14.
empregada a palavra hebraica propriamente dita.
2. Yalad, «ter trabalho de parto", "parir", palavra
Uso Metafôrico, Os diálogos socráticos, que hebraica que aparece por pouco mais de duzentas
procuravam extrair idéias e conhecimentos de outras vezes, conforme se vê, por exemplo, em Gên. 3:16;
pessoas (em vez de simplesmente declará-los), eram 30:39; 11 Reis 19:3; Jó 15:35; 39:1,2; Sal. 7:14; 48:6;
chamados maiéticos, com base na palavra grega que Isa, 13:8; 21:3; 33:11; 37:3; 51:18; 65:23'; 66:7,8;
significa «relativo às parteiras», Qualquer ato que 42:14; ler. 6:24; 22:23; 30:6; 31:8; 49:24; 50:43;
procure extrair de outras pessoas o melhor que elas Osê. 13:13; 9:16; Miq. 4:9,10; 5:3; Sof. 2:2.
têm, em qualquer empreendimento moral, intelectual 3. Chul, «ter dores de parto", uma palavra hebraica
ou espiritual, pode ser considerado um trabalho de que, com esse sentido, ocorre por quatro vezes: Isa.
parto. 23:4; 54:1; 66:7,8.
4. Odlno, «ter dores de parto". Palavra grega que é
usada por três vezes no Novo Testamento: Gál. .iJ:19;
4:27 (citando Isa. 54:1); Apo. 12:2. O substantivo,
PARTENOG~SE odln, «dores de parto», ocorre por quatro vezes: Mat.
Essa palavra vem do grego, pârthenos, «virgem", e 24:8; Mar. 13:8; Atos 2:24 e I Tes. 5:3. O termo
génesis, «origem", «nascimento". Assim, significa ou reforçado sunodlno, «ter dores de parto juntamente
«nascimento virginal» ou «nascido de uma virgem". com», aparece por apenas uma vez, em Rom. 8:22.
96
PARTO
5. Tlkto, «dar à luz.., «parir... Um vocábulo grego por exemplo, quando Raquel, por ocasiio do
que é "Utilizado por dezoito vezes: Mat. 1:21; 1:23 nascimentode Benjamim, «deu à luz... um filho. cujo
(citando Isa, 7:14); 1:25; 2:2; Luc. 1:31,57; 2:6,7,11; nascimento lhe foi a ela penoso. Em meio às dores de
João 16:21; Gál. 4:27 (citando Isa. 54:1); Heb. 6:7; parto..... Gên. 35:16.17, onde é empregada a palavra
Tia. 1:15; Apo. 12:2,4,5,13. hebraica yalad (edeu à luz... e «dores de partos),
No grego, teknogonla, palavra que aparece somente Entretanto, na grande f maioria al das ocorrências,
. I oé
em I Tim. 2: 15. Consideremos os pontos abaixo: termo hebraico em oco, qu quer que seja e e,
empregado em sentido figurado.
1. O Termo. Essa palavra significa parturição, O trabalho de parto pode retratar as agonias
referindo-se ao trabalho de parto. O ato envolve . . Im •
intenso labor, o trabalho da mulher que dá à luz a um envolvidas nos julgamentos diVInOS contra os pios,
filho. O trecho de Hebreus 1:9 declara que as Os babilônios condenados sofreriam angústias como
uma mulher em trabalho de parto: «...e teria
mulheres hebréias eram «vigorosas .., mais que as contorsões como a mulher parturiente.... (Isa. 13:8;
mulheres egípcias, podendo dar à luz com mais 6p • edi .
facilidade e menos demoradamente. Provavelmente, ver também Jer. 50:43). E o pr rio lsalas, ao m tar
sobre tais sofrimentos, por empatia, como que sofreu
isso deveria ser explicado com base no exercido fisico dores de parto (Isa, 21:3). O mesmo é afirmado,
regular, que prepara a mulher para o ato. As . • . . S'
mulheres israelitas, sujeitas a muito trabalho, no quando se fala sobre os JUIZOS que sobrevmam a iio
cativeiro egipcio, naturalmente davam à luz a seus (Miq. 4:9,10), a Israel (Jer. 6 :24
» . aJudá (Jer. 4(ll;
filhos com mais facilidade que suas sedentárias 13:21), ao Líbano (Jer. 22: 23 e a Damasco er,
49:24). Portanto, na linguagem dos profetas. a
senhoras egipcias. expressão ..trabalho de parto.., ou sinônimo, era muito
2. Estágios do Parto. a. Dilatação da boca do útero usada para indicar angústia profunda, mormente em
(cerviz) o que, geralmente, dura de oito a catorze resultado dos juizos divinos.
horas. b. Expulsão da criança, com as contrações
uterinas, o que geralmente demora de uma a duas No Novo Testamento. vemos que o apóstolo Paulo,
horas. c. Separação e expulsão da placenta, o que com a sua alma agonizada, em face da falta de avanço
regularmente demora mais quinze minutos. O espiritual dos gálatas, de IIlÍlijUra com um .~entAvel
elemento tempo, nesses processos, varia com as desvio da pureza do evangelho, exprime o seu protesto
dimensões e o formato da pélvis da mãe, as suas contra esse estado de coisas, escrevendo: «...meus
energias fisicas, o tamanho da vagina, e possiveis filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, at6
demoras ocasionadas por complicações. ser Cristo formado em v6s..... (Gál. 4:19). Essa figura
3. O Trabalho de Parto. A Biblia emprega simb6lica das dores de parto também aponta para a
simbolicamente essas dores para referir-se às angús- angústia que os discipulos de Cristo haveriam de
tias inesperadas (I Tes. 5:3), por ocasião da parousia padecer, quando Cristo viesse a ser crucificado. Mas,
ou segunda vinda de Cristo; Mar. 13:6-8, por ocasião assim como uma parturiente regozija-se, depois do
dos juizos de Deus; Gál. 4:19, acerca do desenvolvi- nascimento de seu bebê, a mesma coisa sucederia aos
mento dos convertidos, que são filhos dos mestres discipulos: ..A mulher, quando está para dar à luz.
cristãos; Rom. 8:22, acerca dos sofrimentos da tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas,
criação, na expectativa da restauração (que vide), o depois de nascido o menino, já não se lembra da
que, de acordo com Gênesis 3:16, resultam do pecado aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo
e da maldição impostos contra o mesmo. um homem. Assim também agora v6s tendes tristeza; .
4. O trecho de 1 Tim6teo 2:15 não é de masoutravezvosverei;ovossocoraçl.osealegrará,e
interpretação fácil, pois o mesmo assevera que as a vossa alegria ninguém poderá tirar» (João 16:21,22).
mulheres serão salvas «através de sua missão de mãe», m. UIO Metafédeo
se permanecerem na fé e no amor. O mais provável é Finalmente. a metáfora do·' trabalho de parto
que isso signifique que a mulher que assume seu retrata a atual condição da criação inteira, que geme
legitimo papel na economia divina, como esposa e sob o peso das conseqüências morais e ftsicas do
mãe, com isso prepara circunstâncias apropriadas pecado. Essa situação haverá de ter solução por
para a conversão religiosa. Alguns intérpretes ocasião do retomo de Cristo. O apóstolo Paulo
distorcem a idéia, traduzindo ..serâ preservada através refere-se a isso quando escreve: «Porque sabemos que
de sua missão de mãe», conforme faz nossa versão toda a criação a um 56 tempo geme e suporta
portuguesa, como se nada mais estivesse envolvido angústias até agora. E não somente ela. mas também
além da segurança fisica, das mães piedosas, por nós que temos as primicias do Espirito, igualmente
ocasião do parto. Antes, o que está em pauta é que gememos em nosso intimo, aguardando a adoçla de
uma mulher, através de sua missão de mãe, facilita filhos, a redenção do nosso corpo. (Rom. 8:22,23).
seu pr6prio desenvolvimento espiritual, porquanto ela Portanto. até mesmo nós estamos envolvidos nessa'
evita os excessos das mulheres mundanas, que agem afliçio, porquanto ainda estamos divididos: por um
como homens ou levam vidas caracterizadas pela lado possuimos a natureza de Cristo, e por outro,
iniqüidade. Alguns estudiosos têm chegado a pensar, ainda temos conosco a natureza de Adio. E isso, para
embora sem nenhuma razão, que o dar à luz é algo nós, constitui-se em uma autentica agonia, que pode
aecessârio para a salvação de uma mulher. Não há
nenhuma base bíblica para tal noção. Há várias
outras interpretações a respeito, alistadas e discutidas
ser comparada com as dores de uma mulher em
trabalho de parto. Mas, se essa nossa agonia ter'
quando de nossa ida para o Senhor (mediante a morte
fim
nas notas expositivas sobre I Tim. 2:15, no NTI. física), ou quando do retomo de Cristo (que
5. Alguns vinculam a questão ventilada no transformará OS nossos corpos mortais em corpos
parágrafo acima à maldição acerca do parto, ri qual, imortais), outro tanto não suceder' aos ímpíos,
devido ao pecado, tomou-se um processo doloroso Antes, o retomo de Cristo ao mundo, para esses
(Gên. 3:16). Em outras palavras, para a mulher que últimos, representará a mais cruel agonia, por
suportar pacientemente tais dores, disso derivará saberem eles que estão inexoravelmente condenados:
certo beneficio espiritual. ..Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que
D. S-dcIo UtenI lhes sobrevirá repentina destruição, como vem a dor
Essas palavras a.~arecem. tanto em sentido literal do parto à que estA para dar lluz; e de nenhum modo
quanto em sentido figurado. O sentido literal aparece. escaparão.. (I Tes. 5:3).
97
PARTOS - PASCAL
PARTOS PASCAL (PÁSCHO)
O historiador Lucas (Atos 2:9), evidentemente fez a O adjetivo pascal deriva-se do termo hebraico
lista dessas nações do ponto de vista do império pesach. Mas este, por sua vez, não se deriva do verbo
romano, a começar pelo grande reino dos partos, que grego páscho, «sofrer», embora a similaridade desses
continuava sendo, como fora desde os dias de Crasso, vocábulos tenha tentado alguns estudiosos a upresen-
o mais formidável adversário dos romanos. Outros- tarem essa suposição. Aquela palavra hebraica foi
sim. era a região que dava mais para o nordeste do adotada pelo vocabulário grego e latino como pascha,
império. O catálogo vai procedendo do nordeste para que veio a tornar-se «páscoa», em português. Paulo.
o ocidente e para o !'UI. Também segue a ordem das sugeriu esse uso, em I Cor. 5:7 SS, onde ele escreve que
três dispersões dos judeus - caldaica, as~iria e Cristo é o nosso «Cordeiro pascal•. Ver o artigo
egípcia (segundo foi observado por Mede, livro I, intitulado Páscoa, Cristo Como a.
Disc, xx). A isso poderíamos acrescentar o f~to de que Desde tempos remotos do cristianismo, cerimônias
os judeus ainda passaram pela dispersão romana, pascais têm sido observadas na Igreja Ocidental; e,
formando uma quarta dispersão. Dessa maneira, as naturalmente, a base das mesmas é a Ceia do Senhor,
nações aqui nomeadas poderiam ser agrupadas não só conforme era observada na Igreja primitiva.
geograficamente, mas historicamente por semelhante Na história da cristandade posterior, surgiu o
modo, porquanto houve diversos períodos da história costume de acender a Vela da Páscoa (vide), no
judaica em que a população judia se misturou com os Sábado Santo, que permanecia acesa até o dia da
povos ali mencionados, a saber: 1. Dispersão oriental Ascensão. Isso representa a luz, a vida e a esperança
ou babilônia; partos, medos e elamitas; 2. dispersão no tocante ao sacrifício, à ressurreição e à ascensão do
síria: Judéia, Capadócia. Ponto, Ásia, Frígia e Senhor. Batismos em água tinham lugar nessa
Panfília; 3. dispersão egípcia: Egito e as regiões da ocasião; e assim cumpria-se graficamente o simbolis-
Libia: 4. dispersão romana: seriam os prosélitos mo de Rom. 6:3-5, pois ali lemos que, por ocasião da
judeus procedentes de cada uma dessas regiões, além imersão em água, somos «sepultados. e então
dos judeus de raça, que se encontravam presentes «ressuscitados» juntamente com Cristo. Esse rito
nessa festa do Pentecoste, e que portanto puderam acabou incorporando a noção de renovação dos votos
observar os acontecimentos daquele dia. do batismo, feita pela congregação inteira.
A Pârtia era um distrito que ficava a suleste do mar
Cáspio, que fizera parte do império persa, conq~is!a
do por Alexandre, o Grande, da Macedônia,
Atualmente a região faz parte do moderno Irã. Na PASCAL, AMULETO DE
guerra eram espertos arqueiros-cavaleiros, ~ que os Ver sobre Pascal, Blalse, primeiro parágrafo.
romanos descobriram com surpresa e desânimo, De
conformidade com Josefo, historiador judeu, os
israelitas deportados para esse território continuavam PASCAL, APOSTA DE
a falar um dialeto aramaico e a adorar ao verdadeiro Ver sobre Pascal, Blalse, sexto ponto.
Deus, enviando tributos ao templo de Jerusalém.
PASCAL, BLAISE
PARUA Suas datas foram 1623-1662. Matemático e cientista
No hebraico, «ínflorescência•. Nome do pai de natural, nascido na França em Clermont-Ferrand.
Josafá (não o rei). Josafâ foi um dos servos civis de Mudou-se com a família para Paris. Mostrou ser um
Salomão, encarregado de suprir o palácio real quanto gênio matemático. Reconstituiu as provas da Geome-
às suas necessidades durante um mês por ano. Ver I tria euclidiana até à Proposição 32. Isso ele fez com a
Reis 4:17. Ele dirigia o distrito de Issacar, idade de onze anos, sem nunca ter lido antes Euclidesl
Q 'lando ainda adolescente, escreveu obras originais
sobre matemática, tendo feito contribuições originais
PARVAIM à mexma. Também escreveu sobre a física. Porém, as
Não se sabe a significação desse nome hebraico. idéias religiosas atraíam-no poderosamente. Foi
Sabe-se somente que era o nome de um lugar onde influenciado pelas idéias do estoicismo e do
Salomão obteve ouro para decorar o templo de jansenismo. Sua mente lutava com contradições e
Jerusalém. Ver li Crô. 3:6. Os rabinos Hida e Ashi problemas de toda sorte, envolvendo questões
afirmaram que o ouro proveniente desse lugar tinha espirituais. Em 1654, ele passou por uma profunda
cor avermelhada, especialmente no dia da Expiação experiência mística, das 22:30 de certa noite, durante
(ver Talmude Yoma, 45a) , o que é uma declaração duas horas. Experimentou o fogo espiritual, alegria,
estranha. Geograficamente, o nome tem sido identifi- paz e o senso de união com Cristo. Com base nessa
cado com Sak el-Farwein, em Iemamâ; ou com experiência, veio a perceber o transcendental valor do
Farwa, no Iêrnen, ou mesmo com Sefar (mencionado cristianismo, e que essa é a principal avenida para
em Gên. 10:30). Gesênio e outras autoridades quem quer aproximar-se da verdade. Um pont,?
afirmaram que essa palavra era uma espécie de curioso é que a essência dessa compreensão fOI
sinônimo para Oriente. Seja como for, esse nome reduzida à forma escrita por ele, tomando-se então
nunca foi encontrado noutra fonte, exceto nessa única uma espécie de amuleto que ele costurou ao seu
referência bíblica. paletó, e que permaneceu com ele pelo resto de sua
vida. Ohl o poder de uma única experiência mística!
PASAQUE A irmã dele, Jacquelíne, entrou no convento da
abadia de Port Royal, que era um dos centros do
No hebraico, «passado por cima». Esse foi o nome jansenísmo. O próprio Pascal uniu-se ao grupo, como
de um dos três filhos de laf1ete, que foi lider da tribo leigo. Mas, finalmente, o jansenismo (vide) acabou
de Aser. Ele é mencionado em I Crô. 7:33, onde sendo condenado como uma heresia. (Era simples-
figura como bisneto de Aser. Viveu em cerca de 1390 mente o calvinismo dentro do catolicismo romano).
A.C. Outras fontes dizem que seu nome signífíca Pascal defendeu o j ansenismo em uma série de ensaios
«manco•. . e cartas que são chamados Cartas Provincial.. Ele
98
PASCAL - PÁSCOA
continuou a escrever sobre assuntos cientificos, mas existe, então nada teremos perdido. Por outro lado, se
também preparava material que servia de apologias ignorarmos a Deus e à sua existência, no que nos diz
da fé cristã, Sua tendência geral consistia em rejeitar respeito, então terminaremos na condenação eterna.
o racionalismo como o meio de encontrar Deus, e que Os jogadores e os matemáticos precisam reconhecer
ele substituía pela vereda mística, onde o coração e a que isso envolve um jogo razoável. Quem se arriscar
vontade humanos são agências importantes. Seus pode ganhar muito, sem ter nada a perder. Isso posto,
escritos são reconhecidos em face de sua elevada que todos apostemos. Um aspecto da aposta de Pascal
qualidade literária. é que aquele que fizer a aposta terá de ser sério no
Idéias: jogo. Não poderá simplesmente crer que Deus existe,
como uma proposição intelectual. Antes, terá de
1. O dllema humano. O homem sofre neste mundo. moldar sua vida a essa crença. Terá de conformar sua
Ele não pode vindicar verdadeiramente suas crenças e vida aos principias da graça divina. O Deus da graça é
aspirações religiosas, e nem pode ceder diante do o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e não o Deus dos
inútil ceticismo. Tem certeza apenas da incerteza. O filósofos. E: de presumir que, se fizermos essa aposta,
homem é apenas uma cana esmagada. levando nossas vidas a conformarem-se ao principio
2. Um ler humano é um anjo e uma fera, divino, então o Deus da graça haverá de abençoar-
misturados em um só ser. :E: capaz de atos de grandeza nos, justificando-nos em nossa fé e aposta.
e de muitas desgraças. O homem é um paradoxo para Filósofos e teólogos têm criticado severamente a
si mesmo. essa aposta de Pascal. Eles frisam que se Deus existe e
3. A mOBOOa oferece racionalismo e dogma, mas é dotado dos poderes de razão que lhe atrlbuimos,
também ceticismo. Nenhuma dessas coisas ajuda o então não se deixará impressionar em nada com os
homem a encontrar solução para os seus paradoxos. A homens que meramente apostam em sua existência.
razão é limitada e o ceticismo é inútil, servindo Isso posto, Deus não se sentirá forçado a abençoar aos
somente para nos levar ao desespero. Pascal via individuas que fizerem tal aposta. Não há que duvidar
sentido nos princípios calvinistas (jansenistas), que que o próprio Pascal não ficou muito impressionado
deixam tudo aos cuidados de Deus, encontrando com o seu esquema. Ele dependia de experiências
resposta para tudo na graça divina. Porém, essa misticas para encontrar-se com Deus, e não de meras
posição deixa sem solução a grande agonia do apostas. Ver sobre o Mlstlcllllllo. Por outra parte, a
sofrimento humano. A vontade divina (de acordo com sua insistência que tal aposta deve incluir a outorga de
o calvinismo) deixa a grande maioria dos homens em nossa vida aos cuidados de Deus, serve de fator
um eterno terror. Essa idéia dificilmente oferece favorável às experiências místicas. Para certas
solução para qualquer problema humano. pessoas, a Aposta de Pascal pode ser um elemento
4. Os métodos humanos consistem, essencialmente, valioso. Certamente Deus leva em conta a fraqueza
naquilo que ele chamou de espirito da geometria, ou humana, e bem pode abençoar ao individuo que tenha
seja, um procedimento sistemático para resolver apostado a sério em sua existência. Afinal, a aposta
problemas (o método cientifico), ou então, «espírito de Pascal inclui a outorga da vida a Deus, e não um
de sutileza», Temos ali, essencialmente, a intulçlo, mero assentimento mental quanto à sua existência.
que obtém conhecimentos imediatos. Além disso, esse Esse é o aspecto que levaria muitas pessoas a pensar
conhecimento pode ser muito mais completo do que o duas vezes, antes de apostar de maneira superficial.
entendimento obtido através do método racional. O
coração tem razões próprias que ultrapassam ao
processo do raciocínio. Deus é muito mais sentido
pelo coração do que conhecido através da razão. PÁSCOA
Porém, essa intuição não é completa e nem totalmente Esboço:
suficiente. Muito mais poderoso é o misticismo (o I. Caracterização Geral
contacto direto da alma humana com o Espirito de 11. Palavras Associadas à Páscoa
Deus; ver sobre o Misticismo). 111. Associações e Desenvolvimentos Históricos
S. Provas ela Existência de Deus. Apesar das provas IV. Principais Simbolos e Lições Envolvidos
racionais terem algum valor, parecem convencer
somente por alguns momentos, e então perdem a V. A Última Ceia: A Páscoa Cristã
força. A razão fracassa por tratar-se de um poder I. ClU'acterizaçio Geral
finito que procura descrever uma Entidade infinita. A palavra portuguesa «páscoa» é usada para
Contudo, as provas racionais da existência de Deus designar a festa dos judeus que, no hebraico, é
não devem ser abandonadas. Elas são de alguma chamada pasach, que significa «saltar por cima»,
ajuda para algumas pessoas. Dessa atitude foi que «passar por sobre». Pesach é a forma nominal da
emergiu a famosa Aposta de Pascal, descrita abaixo, palavra. Esse nome surgiu em face da tradição de que
no sexto ponto. o anjo da morte, ou anjo destruidor, «passou por
6. A Aposta de Pascal. Os amigos de Pascal eram sobre- as casas assinaladas com o sangue do cordeiro
livres-pensadores, e muitos deles apreciavam o jogo. pascal, quando ele matou os primogênitos dos
Foi dentro desse contexto que Pascal inventou uma egipcios (ver Êxo. 12:21 e ss). Essa foi a última das
prova da existência de Deus, ou talvez seja melhor pragas que se tornaram necessárias para convencer ao
dizer, um método de abordar o problema, e não tanto Faraó de permitir que Israel saisse do Egito, após
uma prova séria. Ele já havia assumido a posição que séculos de escravidão naquele pais. Portanto, a
afirma que as provas racionais da existência de Deus f'áscoa assumiu o sentido de livramento, e o próprio
têm algum valor, embora não grande. E Pascal exodo foi Oi. concretização dessa libertação.
pensou que seria útil se seus amigos jogassem acerca Em face do cordeiro pascal, sacrificado na ocasião,
da idéia divina, visto que estavam interessados pela o evento veio a ser integralmente associado à idéia de
matemática e pela taxa de probabilidades. Crer ou expiação, embora não fosse essa a sua intenção
não na existência de Deus pode ser unia espécie de original. E: provável que tal sacrificio já fosse de uso
jogo. E assim, apostemos que ele, de fato, existe. Se comum, mas foi então utilizado com esse significado
vier a ser provado, finalmente (na nossa experiência especial. Alguns estudiosos crêem que a festa original
futura), que ele realmente existe, então teremos era pastoril nos seus primórdios, e que o seu nome,
obtido a felicidade eterna. E, se Deus, afinal, não «saltar por cima», aludia fi. como as ovelhas costumam
99
PÁSCOA
saltar por cima de coisas, quando brincam. Seja como Seder, a ingestão de ervas amargas (no hebraico,
for, a festa (se é 'iue realmente existia antes de sua maror = amargo), para que os israelitas se
associação com o êxodo) veio a ser associada a esse lembrassem de quão amargos tinham sido a
evento. Na terra de Canaã a festa veio a ser unida à escravidão e os sofrimentos no Egito.
festa agrícola dos pães asmos. Continua sendo Haggadah (vide), a literatura embelezada empre-
celebrada durante sete ou oito dias, desde o décimo gada para o ritual da páscoa.
quarto dia do primeiro mês (Nisã), como memorial da 111. Auoclaçies e DelIenvolvlmentos Hlatórlcos
libertação dos hebreus da servidão no Egito. Essa
festa, de acordo com Êxo, 12:15; 34:18; Lev. 23:6; 1. Á Guisa de Sumário
Núm. 28:17 e Deu. 16:3, era celebrada desde o Podemos afirmar que é possível que ambas as
pôr-do-sol do décimo quarto dia do mês de Abibe (na festas. o sacrifício ritual do cordeiro e os pães asmas
primavera), que posteriormente recebeu o novo nome fossem elementos da sociedade hebréia antes que a
de Nisã. Visto que o dia, para os judeus, começa tradi- combinação das mesmas tivesse ocorrido, ao tempo
cionalmente ao pôr-do-sol, estritamente falando, essa do êxodo do Egito. Tais festas assumiram então uma
festa começava no décimo quinto dia do mês. O nova significação, quando associadas à questão das
primeiro e o sétimo dia eram dias santos plenos, onde pragas do Egito e da saída dos hebreus daquele pais.
ninguém podia fazer qualquer trabalho. Temos ai uma espécie de renascimento de Israel. O
passado foi anulado e um glorioso novo começo foi
As tradições judaicas posteriores adicionaram um iniciado na Terra Prometida. O sacrifício veio a ser
dia a essa festa, perfazendo isso dois dias santos associado ao livramento, a mesma associação que
plenos tanto no começo quanto no fim, e assim vemos dentro da doutrina da expiação. O Novo
reduzindo a quatro os meios-dias santos intermedlâ- Testamento preserva ambas as idéias, e vê seu
rios. Nas duas primeiras noites, ocorre a cerimônia do cumprimento final na pessoa de Cristo, que é tanto a
Seder, que se desenvolveu a partir da refeição pascal nossa páscoa quanto a nossa expiação.
ensinada na Bíblia (ver Êxo. 12:8i Deu. 16:5-7). É
então que toda a familia se reúne. h cantado e lido o 2. Ritos PrImitivos
Haggadah, um texto ritual especial, que contém uma Alguns eruditos têm questionado a etimologia da
versão muito ornamentada da história do Êxodo, de palavra hebraica pesach, e têm proposto que esse
mescla com certos salmos, cânticos religiosos, orações termo hebraico também pode significar «manquejar-
e bênçãos. Em seguida é consumida a refeição (com base em I Reis 18:21). Assim, a festa original
tradicional, que serve de memorial. Um osso torrado é poderia ter sido uma dança manquejante, lamentan-
posto sobre a mesa, simbolizando o cordeiro da do a morte de uma divindade, e isso ligado aos ciclos
l!áscoa, .sacrificado e ingerido por cada familia (ver do ano, quando uma estação ,morre e outra tem
Exo. 12.3-11). começo. Mas outros sugerem que o rito original
A Dupla SlgnlfI.caçio. 1. A redençio dos judeus da estaria ligado ao temor aos maus espíritos, o que seria
servidão no Egito, como uma questão histórica, que refletido na «noite do Senhor- (Bxo. 12:42), enquanto
envolve, naturalmente, muitas implicações e símbolos era esperado o anjo «destruidor». Nesse caso. estaria
morais e religiosos. Deve-se incluir aí o pio sem sugerido uma origem pagã (talvez tomada de
fermento. Esse pão é chamado matzoth . Em memória empréstimo do culto pré-jeovista de Cades). O rito
dos sofrimentos de Israel no Egito, são comidas ervas original talvez fosse realizado como proteção contra
amargas (no hebraico, maror), que fazem parte do algum demônio noturno. Uma terceira idéia é que os
Seder. Todo fermento é removido dos lares israelitas. ritos seriam originalmente pastoris e agrícolas em sua
2. Festa da Natureza. A páscoa incluía uma festa natureza, que se combinavam bem como o sacrifício
agrícola que envolvia as primícias (ver Lev. 23:10), de um cordeiro e com a questão dos pães asmos,
oferecidas ao templo, em Jerusalém, em tempos produtos da terra. Quando Moisés requereu que
posteriores. Essa era uma das três grandes festivida- Israel pudesse sair do Egito para celebrar a festa (ver
Êxo, 5:1) talvez estivesse em foco esta festa da
des requeridas a todos os hebreus do sexo masculino,
que deveriam reunir-se em Jerusalém. páscoa, ou então as festas da páscoa e dos pães asmos.
E verdade que a festa dos pães asmos coincidiu com a
11. Palavras AssocIadas à Páscoa colheita da cevada, na primavera, e com a ordenança
Pesach, «passar por sobre», «saltar por cima•• Uma do sacudir dos molhos de cereais diante do Senhor,
possível alusão a uma antiga festa de origem pastoril, sem dúvida observâncias de origem agrícola, Ê difici1
além de ser unia referência direta ao anjo da morte, dizer quanta verdade possa haver nessas especula-
que passou por sobre os filhos de Israel, mas destruiu ções. Sem dúvida, porém, é verdade que Israel tinha
todos os primogênitos do Egito. ritos e observâncias primitivos, que se perderam com
Ablbe (vem de aviv = primavera), uma referência a a passagem dos séculos. Exatamente qual porcenta-
essa estação do ano, bem como o nome do mês em que gem das celebrações bíblicas da páscoa e da festa dos
esse evento começava; mais tarde esse mês chamou-se pães asmos continuou nelas, não pode ser afirmado
Nisã. Esse tomou-se o primeiro dos meses do com qualquer grau de certeza. O que é certo é que
calendârio judaico, em honra àquele momentoso esses ritos assumiram significados inteiramente
acontecimento, o começo da nação de Israel. inéditos, quando foram vinculados ao êxodo.
Matzoth, os pães sem fermento, ou pães asmos, 3. Elementos matórlcos e Seu DelIenvolvlmento
associados à páscoa. Muitos eruditos acreditam que a Á noitinha de 14 de Nisã (Abibe), eram mortos os
Páscoa e a festa dos Pães Asmos eram, orginalmente, cordeiros pascais. Eram então assados e comidos com
festas separadas, mas que acabaram associadas, e pães asmos e ervas amargas (ver Exo. 12:8); era
então celebradas como se fossem uma só. O Novo uma observância em familia. No caso de familias
Testamento combina as palavras distintas, pascha, pequenas, os vizinhos podiam reunir-se para partici-
«páscoa», e ta adzuma, «pães asmos», em uma única parem juntos da festa; e mais orientações e condições
referência (ver Mat. 26:2,17; Luc, 2:41; 22:1). foram acrescentadas à questão, conforme o tempo foi
Entretanto, o evangelho de João emprega somente passando. Esses acréscimos regulamentavam a festa
pascha, Ver exemplos disso em João 2:13,23; 6:4; dos pães asmos, que durava sete dias (ver Êxo,
11:55, etc. Josefo combinou os termos ao referir-se a 14:3·10). A páscoa foi estabelecida a fim de instruir às
uma única celebração (Anti. 14:2,1; Guerras 5.3,1; gerações futuras (ver Êxo. 12:24-27). Então mais
6;9,3). . caracteristicas foram adicionadas. Quatro sucessivas
100
PÃSCOA
taças de vinho, misturado com água, eram usadas. Os 1. A morte de Cristo, que ocorreu exatamente no
Salmos 113·118 eram entoados em lugares apropria- período da páscoa, sempre foi considerada um evento
dos. Fruta misturada com vinagre, na consistência de capital para os primeiros cristãos, e daí por diante,
massa de pedreiro, era servida, para relembrar a durante todo o cristianismo. Jesus é chamado de
massa que os israelitas tinham usado nas edificações, nosso "Cordeiro pascal- (ver I Cor. 5:7). Isso tem sido
quando estavam escravizados. O primeiro e o último associado pelos cristãos à idéia de expiação e
dia das festas eram sábados solenes. Todo trabalho livramento, que nos liberta dos inimigos da alma. Ver
manual cessava (ver Êxo. 12:16; Núm. 28:18-25). No o artigo separado intitulado Páscoa, Cristo Como a.
segundo dia, um molho de cevada recém-amadureci- 2. A ordem de não ser partido nenhum osso do
da era sacudido pelo sacerdote a fim de consagrar a cordeiro pascal foi aplicada por João às circunstâncias
inauguração da colheita (ver Lev. 23:10-14). Sacrifi- da morte de Jesus Cristo (ver Êxo. 12:46 e João 19:36),
cios elaborados eram efetuados mediante as ofertas pelo que foi estabelecido um vínculo entre os dois
queimadas ou holocaustos de dois touros, um eventos, fazendo o primeiro ser símbolo do segundo.
carneiro, sete cordeiros e um bode, como ofertas pelo A idéia de expiação, como é patente, faz parte vital da
pecado, a cada dia (ver NÚm. 28:19-23; Lev. 23:8). questão.
Assim sendo, a idéia de expiação foi integrada à 3. O cristão (tal como os antigos israelitas) deve pôr
páscoa, passando a fazer parte do simbolismo que foi de lado o aotigo fermento do pecado, da corrupçio,
transferido para o Novo Testamento. da malícia e da desobediência, substituindo-o pelos
4. NegUgência e Restauraçio pães asmos da sinceridade e da verdade. A
Após o Sinai (ver Núm. 9:1-14), esses ritos foram santificação (vide) faz parte necessária da experiência
negligenciados, até à entrada na terra de Canaã (ver cristã.
Jos, 5:10). A mesma coisa sucedeu na história 4. A última eea é exposta nos evangelhos
subseqüente. Certos monarcas reformadores, como sinópticos como uma refeição pascal. O evangelho de
Ezequias (11 Crô. 30) e Josias (11 Reis 23:21-23; 11 João (18:28; 19:14) apresenta o fato de que a refeição
Crô, 35), vieram a restaurar os antigos ritos. Por foi tomada antes da celebração, e Jesus foi crucificado
ocasião da dedicação do segundo templo, terminado o ainda naquele mesmo dia (lembrando que, para os
cativeiro babilônico, a celebração da páscoa foi judeus, o dia começava às 18:00 horas). Para muitos,
restaurada, juntamente com outras antigas tradições isso constitui um dos grandes problemas de harmonia
dos hebreus (Esd. 6:19-22). dos evangelhos, sobre o que abordo no NTI, nas
IV. Prlnclpals 51mbolos e Uçies Envolvioo. passagem envolvidas. Porém~ essa pequena desloca·
1. As primitivas associações sugerem a idéia de ção cronolôgica em nada contribui para anular a
ação de graças, pelas provisões recebidas, mediante os associação da última ceia com a pwoa. Talvez o
produtos da terra e a criação de animais, resultantes Senhor Jesus tenha antecipado a refeiçio por algumas
em alimentos e produtos variados. poucas horas. Nesse caso. o quarto evangelho expõe a
2. A idéia de proteçio diante dos poderes correta cronologia quaato à -questão, O ensino
demoníacos, também era um elemento importante. paulino sobre a última ceiac (.er 1 Cor. 11:23-26) faz
3. O bem e o mal recebem seus respectivos com que a mesma seja um memorial tanto da morte
galardaes e punlçies. O Faraó foi longe demais. O libertadora de Cristo quaato. da expiação. Ambos os
Egito foi julgado. Israel obedeceu a Yahweh. elementos faziam parte da páscoa do Antigo
Seguiram-se livramento e bênção. Testamento, segundo já vimos. Paulo nio menciona
especificamente a páscoa, Daquela seção, embora ele
4. Existempoderes sobl'e.human.que abençoam e o faça em I Cor. 5: 7. Euséh» aceitava o conceito da
destroem. O homem não vive sozinho no universo.
páscoa cristã no sacrificio de Cristo (ver Hüt. 5,23,1).
5. A escravidio é algo .a ser amargamente E essa também era a idéia tradicional da Igreja
relembrado. A liberdade é a mais preciosa de todas as antiga. ~ interessante 't'IC a palavra hebraica par",
possessões humanas. As forças das trevas escravizam. páscoa, pascha, é tio parecida com a palavra gregâ
O Espírito de Deus concede liberdade. para sofrer, péscbo, que alguns crístios antigos
6. A obediência redunda na libertação. Israel fizeram a ligação entre elas, embor'a ni:o haja
seguiu as instruções divinas e fez as provisões qualquer conexão histórica entre esses termos. Cristo
apropriadas. A desobediência foi desastrosa para o sofreu e ele é a nossa p6sCOfl, um jogo de palavras
Egito. empregado por Eusêbio, Para os cristãos, a palavra
7. O princípio da explaçio faz parte das grega an6mne.fis (memorial), é'uma palavra-chave. A
necessidades humanas. ceia do Senhor é um memorial que deve ser mantido
8. A assistência divina, ou intervenção, algumas vivo, até que o Senhor retorae, Essa é a ênfase
vezes se toma parte necessária da experiência paulina, que não se ve nos evangelhos sinópticos,
humana. Israel nunca poderia ter-se libertado por si embora. apareça em Luc. 22~19. Provavelmente, esse
mesmo. elemento foi uma adiçio cristA às declarações feitas
9. e bom pl'etle1'V8I' as tradlçies e evitar a por Jesus, embora sugerida pelo que ele havia dito, se
negligência, conforme certos monarcas reformadores é que ele mesmo não ensinou assim. Por outro lado, é
demonstraram. possível que Mateus e Marcos tenham omitido uma
10. Em Cristo temos o nosso libertador, nossa afirmação genuina de Jesus, e que Paulo. e Lucas
expiação, bem como o cumprimento esplrltwd de preservaram. O que é certo é que Jesus reinterpretou a
vários principias acima mencionados. páscoa em consoainda com as suas próprias
11. Foi estabelecido um pacto entre o Senhor e a experiências. A páscoa, pois, foi encarada pela Igreja
emergente nação de Israel. Também há um novo cristã como uma daquelas muitas coisas que
pacto em tomo de Cristo (ver Luc, 22:20; I Cor. receberam cumprimento e adquiriram maior signifi-
11:25). cação na pessoa de Cristo, retendo o tipo de simbolo e
de lições que descrevi na quarta seção deste artigo,
V. A Oldma Cela: a Páscoa Cdsti acima.
Um acontecimento tão importante como aquele que
deu origem à nação de Israel não poderia ser ignora· A idéia de piIde também se faz presente. Yabweh
do pelo Novo Testamento. Isso pode ser comprovado firmou um pacto. COIR a eJRel'geDte naçio de Israel. E
nos cinco pontos abaixo: Jesus estabeleceu um pacto com sua emergente Igreja.
101
PÁSCOA - PÁSCOA CRISTÃ
Ver Êxo. 2:24; 3:15; mas, especialmente, a kainé uma observância de sete semanas.
diathéke, "o novo pacto» (Heb, 12:24; Luc. 22:20; I 4. Crisôstomo fala sobre corno havia latitude
Cor. 11:25). Esse Novo Testamento corno foi um quanto à questão, conforme já se mencionou.
cumprimento do Antigo Testamento, 5. A observância da quaresma, conforme atualmen-
5. O êxodo crlstio. Não nos deveríamos esquecer te é praticada, data de cerca do século IX D.C.
desse aspecto. A pâscoa do Antigo Testamento
marcava o começo de urna saida da escravidão; e, de •••••••••
fato, era o poder por detrás dessa libertação. Assim
também, em Cristo, encontramos um êxodo que nos
liberta da velha vida com sua escravização ao pecado. PÁSCOA, CORDEIRO DA
No sentido teológico, algo foi realizado que não
poderia ter sido realizado pela lei. Esse é o tema A palavra portuguesa pÍlscoa vem do termo
principal tanto de Paulo (com sua doutrina da hebraico ~h, cujo sentido é "passar por sobre»,
justificação pela fé) quanto do tratado aos Hebreus. O uma referencia à páscoa original, relatada no livro de
êxodo judaico libertou um povo inteiro da servidão Êxodo, quando o anjo da morte passou por sobre os
física. O êxodo cristão oferece a todos os homens a filhos de Israel, mas destruiu todos os primogênitos
libertação do pecado, bem como a outorga do Reino do Egito. Muitos eruditos crêem que, antes desse
da Luz, onde impera perfeita liberdade. Em Cristo, acontecimento, já havia o sacrifício do cordeiro, que
. pois, os homens podem tomar-se filhos de Deus (Gâl. envolvia a idéia de expiação simbólica. Mas então esse
4:4-6), transformados segundo a imagem do Filho rito foi adaptado ligeiramente para os eventos do
(Rom. 8:29), participantes da natureza divina (11 Ped. êxodo de Israel. Ver Êxo, 12:15; 34:18; Lev, 23:6;
1:4; Col. 2:10). E agora eles olham para a Cidade Núm. 28:17; Deu. 16:3.
celeste corno a sua pátria, da mesma maneira que
Israel buscava uma nova pátria (ver Heb, 11:10). (AM
B E NO SEGWZ) PÁSCOA, CRISTO COMO A
QUARESMA "... Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado» (I
Esse é o titulo do período de penitências de Cor. 5:7). No seu contexto, essa declaração tem um
quarenta dias (o que lhe explica o nome), e que se sentido moral. Deveríamos desvencilhar-nos de todos
prolonga desde a Quarta-Feira de Cinzas (vide), até à os elementos estranhos à espiritualidade, visto que
véspera da Páscoa. A terminologia oficial-da Igreja Cristo fez o seu grande e eterno sacrifício, que é o
CAtólica Romana, acerca desse período, ê Quadragé- agente de nossa purificação moral. Cumpre-nos
sima. O jejum prê-pascal, a princípio, era bem curto; abandonar nossa velha maneira de viver. Ver os
mas, gradualmente, foi-se ampliando para incluir a artigos separados sobre Cordeiro de Deus e Páscoa.
Semana Santa, e, então, a décima parte de um ano, e, Este último inclui um estudo sobre a páscoa cristã (em
finalmente, quarenta dias. Na antiguidade, era um sua quinta seção).
período de preparação para o batismo, durante a
páscoa, e para a penitência pública por parte dos
candidatos ao batismo. Gradualmente, porém, foi PÁSCOA, VELA DA
envolvendo uma aplicação universal, para todos os De acordo com a liturgia da Igreja Católica
católicos romanos. O uso das cinzas, durante esse Romana, uma grande vela é acesa em meio a uma
período, um desenvolvimento posterior. As igrejas
ê cerimônia solene, no dia anterior ao da páscoa, a qual
oriental ortodoxa, catôlica romana e anglicana fica a queimar até o dia da ascensão. Isso serve de
observam a quaresma. Nos primeiros três ou quatro símbolo de luz, vida e esperança no que diz respeito
séculos da cristandade, havia muita latitude quanto a ao sacrifício, à ressurreição e à ascensão de Cristo.
essa questão. João Cris6stomo (347? - 407)
recomendava, embora não exigisse, que esse período
fosse celebrado com esmolas, boas obras especiais, PÁSCOA CRISTÃ (EASTER)
etc. Nos primeiros séculos, não havia qualquer Preservamos entre parênteses a palavra inglesa, a
distinção quanto à dieta desse período, pelo que não fim de melhor destacar o fato de que há uma
havia qualquer proibição de alimentos especificos. diferença entre a páscoa dos hebreus e a páscoa dos
Até os mais bem conhecidos ascetas do cristianismo cristãos. Ver o artigo geral sobre a Páscoa, onde a
comiam carne durante esse período, embora se versão cristã é incluída em uma seção separada.
abstivessem de comê-la desde o amanhecer até o cair
da noite. Então podiam comer carne. Gradualmente, Easter é uma palavra usada nos idiomas germâni-
porém, essas proibições se foram universalizando para cos para denotar a festividade do equinócio do
os católicos, que observavam esse período de alguma inverno, e que, dentro da tradição cristã posterior,
maneira especial. A. atual forma de observância da passou a ser usada para denotar o aniversário da
quaresma data de cerca do século IX D.C. ressurreição de Cristo. Nas línguas latinas, como o
português, a palavra para «páscoa» vem do latim
Sumário da Histôria: pascha, a qual, por sua vez, alicerça-se sobre o termo
1. Quarenta horas de jejum eram observadas antes hebraico, pesach , que significa «passar por cima». O
da páscoa. Esse tempo tinha por base o número de termo grego pascha também é derivado do hebraico,
horas que Cristo passou da morte à ressurreição. pelo que é indeclinável.
2. Então, vários dias foram adicionados ao periodo, A origem da palavra Easter é controvertida. Alguns
cujo número dependia de cada localidade. João estudiosos pensam que a mesma está ligada ao nome
Cassiano (420 D.C.) informa-nos de que, em sua da deusa anglo.sax&Dlcaque representa a primavera,
época e em sua região, o periodo era de seis ou sete Eoestre, Nesse caso, teríamos o comum fenômeno de
semanas. Nenhuma das igrejas que ele conhecia um nome de um costume pagão receber um
ampliava isso para mais de trinta e seis dias de jejuns. significado cristão. Ou então, essa palavra poderia
3. O historiador Sozomeno (440 D.C.) informa-nos estar relacionada às vestes brancas usadas durante a
de que as igrejas da Uma e as igrejas ocidentais celebração da festa cristã relativa à semana da
observavam seis semanas, mas que em outras havia páscoa. Nesse último caso, o plural da palavra que
102
PASEA - PASSAS: PASTAS DE UVAS
significa «branco» foi confundido com a palavra que subjetiva, pelo que os seus elementos podem
significa «alvorecer», e, subseqüentemente, foi vincu- alterar-se, embora nenhum evento passado realmente
lado ao alvorecer do dia da ressurreição. Seja como mude.
for, a celebração da ressurreição antecede a tudo isso, 4. Whitehead dizia que o passado está perecendo
visto que cada primeiro dia da semana, originalmen- perpetuamente. embora também consista em uma
te, representava isso; e, pelos fins do século 11 D.C., a perpétua preservação. Esse segundo aspecto ele
, celebração da ressurreição como uma festa da Igreja vinculava à natureza conseqüente de Deus.
cristã, já estava bem estabelecida. No tocante a
detalhes sobre a Páscoa Cristã, ver isso como um
subponto do artigo geral sobre a Páscoa. PASSARINHEIRO
No hebraico. yaqcMh ou yaquh. palavra que. em
suas duas formas, ocorre por quatro vezes: Sal. 91:3;
PASEA 124:7; Pro. 6:5 e Osé. 9:8.
No hebraico, «mandos. Esse é o nome de três Um passarinheiro é alguém que apanha aves por
personagens que figuram nas páginas do Antigo meio de redes. alçapões e armadilhas, que são
Testamento, a saber: engenhos que apanham as aves vivas; ou então, por
1. Um filho de Estom, descendente de Judâ (I Crô. meio de fundas e arco e flecha, que. geralmente,
4: 12). Viveu em cerca de 1420 A.C. apanham as aves mortas. Os egípcios faziam dessa
2. O cabeça de uma familia de servidores do atividade um esporte, comum a todas as camadas
templo, ou netlnlm (vide), que retornou do cativeiro sociais. Havia passarinheiros profissionais. que
babilônico em companhia de Zorobabel. Seu nome é usavam armadilhas e redes. Porém, uma forma
grafado como Paseâ, Ver Esd. 2:49; Nee. 7:51. Seu esportiva de apanhar aves. no Egito, consistia no uso
filho ou descendente, Joiada, ajudou a restaurar um, de uma peça de madeira. talhada de certo formato,
dos portões da cidade. Isso ocorreu algum tempo com uma superfície larga e chata. que não oferecia
antes de 536 A.C. muita resistência ao ar, quando lançada, semelhante
3. O pai de Ioiada (Nee. 3:6), que ajudou a reparar ao bumerangue. Tinha cerca de sessenta por trinta
as muralhas de Ierusalém. Alguns estudiosos identifi- centímetros. podendo atingir um pássaro em pleno
cam-no com o homem que aparece no número dois, vôo. com relativa facilidade. por quem treinado para
acima. lançar a peça com pontaria. Os antigos passarinhei-
ros, tal como seus congêneres modernos, também
usavam chamarizes para atrair as aves.
Os egípcios caçavam aves por puro esporte, mas
PASSADIÇO COBERTO também porque as aves eram um de seus alimentos
No hebraico. m ....k, de sentido incerto. Sabe-se favoritos. E ambas as motivações são comuns até
apenas que se tratava de um termo arquitetural. hoje, entre os homens. Os antigos também usavam
Talvez fosse uma estrutura coberta ou uma barreira. aves nos seus sacrifícios religiosos, e também para
A expressão inteira diz «passadiço coberto para uso no propósitos decorativos, em aviários e gaiolas.
sábado». (Ver 11 Reis 16:18). Muitas espécies de aves migram do norte para o sul,
Se essa palavra deriva-se do verbo que significa atravessando a Palestina durante a primavera e o
«cobrir» ou «sombrear», então a expressão refere-se a outono. preferindo voar por sobre terras, ao invés de
um lugar coberto ou salão, usado pelo rei ou pelos cruzarem as águas do mar Mediterrâneo. E isso
sacerdotes, para entrarem no templo, e que, por sempre facilitou o trabalho dos passarinheiros.
algum motivo para nós desconhecido, o rei Acaz A lei de Moisés proibia que se apanhasse uma ave
«retirou da casa do Senhor, por causa do rei da mãe com seus ovos ou com os seus filhotes. tendo em
Assíria» (11 Reis 16: 18; cf. 11 c-e. 28:24). vista a preservação das espécies (Deu. 22:6,7). Deus
Porém, em vista de uma referência, em Eze. 46:1,2, prometia longa vida àqueles que observassem esse
a uma porta que era mantida fechada, exceto em dia preceito da lei.
de sábado e nos dias de lua nova, talvez esteja em UIOS Metafóricos:
pauta uma barreira ou uma grade, pela expressão que 1. O homem maligno. que prepara armadilhas para
ali aparece, myyasa hassabat. - Nesse caso, a suas vitimas, levando-as à ruína espiritual, moral ou
derivação poderia ser da palavra hebraica que material, também é chamado de passarinheiro. Ver
significa «cercar», «encarrar» (cf. Jô 3:23; 38:8). Sal. 14:7; 91:3; Pro. 6:5.
2. Uma ave é um símbolo universal da alma, e
qualquer tipo de maquinação que cativa ou impede
PASSADO uma ave, dentro das manifestações psíquicas,
O conceito do passado tem atraído a atenção de representa aquelas coisas que são moral ou espiritual-
filósofos e teólogos. Abaixo damos um mostruário de mente prejudiciais para o ser.
idéias:
1. As filosofias e as religiões orientais pensam que o
tempo é uma ilusão, mera ficção, resultante do sonho PÁSSAROS DA BIBLIA
de Deus.
2. Bergson aludia ao passado como algo interno em Ver sobre Aves da BlbOa.
relação ao presente. e apresentou a analogia da bola
rolante de neve. que vai adquirindo novas camadas ad
lnfInitwn, enquanto puder descer. O tempo, pois, é a PASSAS, PASTAS DE UVAS
bola-de-neve, e sempre contém elementos passados No hebraico. tdmm.aqam. «frutas secas.., que
como suas partes. alguns pensam derivar-se de uma raiz que significa
3. Os filósofos pragmáticos têm ensinado que o «comprimir». Os bolos comprimidos eram formados
passado é tão variável quanto o presente. Modifica-se depois que as uvas estavam completamente secas, e,
com cada modificação do presente. Além disso, toda a uma vez cobertas, tornavam-se quase impereciveis.
extensão do tempo até certo ponto é uma avaliação Eram usadas como oferendas aos deuses por muitos
103
PASSIONISTAS - PASTOR
povos antigos, aparecendo nas listas de mercadorias cuida dos rebanhos de ovelhas. Aparece pela primeira
de vários portos maritimos. Também são menciona- vez em Gên, 4:2, a fim de descrever a ocupação de
das como alimento usado por viajantes e soldados (11 Abel. Portanto, juntamente com a ocupação do
Sam. 6:19, etc.), e como um acepipe (Isa. 16:7). agricultor, é a mais antiga profissão do mundo.
Geralmente as frutas secas eram postas em água ou Posteriormente, Abraão, Isaquer Jacó e os filhos de
caldo, misturadas com algum cereal, a fim de serem Jacó foram identificados como pastores (ver Gên,
consumidas. Havia misturas de frotas secas como 13:7; 26:20; 30:36; 37:22 3S). Em vista de sua
uvas, figos, abricós e tâmaras, tudo temperado com ocupação de pastores, os filhos de Jacó, quando se
sal ou especiarias. Embora consideradas um afrodi- mudaram para o Egito, não tiveram permissão de
síaco, essas pastas são remotamente mencionadas viver nos mesmos lugares com os egípcios, ~ue
como tal no A.T. (ver Cano 2:5i Osé 3:1; etc.), consideravam os pastores uma abominação (Gên.
46:34).
Os pastores eram conhecidos como profissionais
PASSIONISTAS que alimentavam e protegiam os rebanhos (Jer. 31:10;
Esse é nome alternativo dado aos membros da Eze. 34:2), que procuravam as ovelhas perdidas (Eze.
Congregação dos Servos Descalços da Santissima 34:12) e que livravam dos animais ferozes as ovelhas
Cruz e da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa que estivessem sendo atacadas (Amós 3:12).
organização foi fundada em Roma, em 1720, por 3. Moisés como Pastor
Paulo da Cruz, também conhecido como Paulo Moisés era apenas um pastor, em Midiã, quando
Francis Danei. Deus o chamou ao Egito para libertar o povo de
Ele atuou em Gênova, na Itália. Seu irmão, João, Israel, que estava ali escravizado há várias gerações
esteve intimamente associado a ele nessa obra. A (Êxo, 3: 1). Davi também era pastor de ovelhas
regra da ordem foi aprovada pelo papa Benedito XIV, quando Deus o chamou, ainda na juventude, a fim de
em 1741. O principal propósito da ordem é ~ ser o futuro rei de Israel (I Sam. 16:11 ss). Parece que
santificação, primeiramente dos seus próprios mem- a vida dos pastores era uma excelente preparação
bros, e então daqueles a quem eles ministram. Seus para quem tivesse de ser um dos lideres do povo de
membros ocupam-se em retiros, trabalho missionário, Deus. Cf. Amós 1:1.
trabalho pastoral, e ievam vida austera, algumas
vezes monâstíca, Com base na idéia de que o pastor é um protetor e
As freiras passionistas constituem um grupo lider do rebanho, surgiu o conceito de Deus como o
Pastor de Israel. Os próprios pastores antigos foram
distinto, embora a organização delas também tenha os primeiros a salientar essa similaridade. Assim Jacó
sido fundada por Paulo da Cruz. Elas devotam-se à se dirigiu a Deus. nos dias que antecederam a sua
vida contemplativa, caracterizada pela quietude e morte (ver Gên. 4S:1S).E Davi chamou Deus de seu
pela santidade. Porém,hâ uma ordem desse grupo, Pastor, no bem conhecido Salmo Vinte e Três (vs. 1),
na Inglaterra, que se dedica ao trabalho eclesiãstico. o que Asafe também fez, em Salmos 80: 1.
4. Isaías como Pastor
Isaias expandiu esse ponto de vista de Deus que foi
PASSOS CUR'l'OS descrito por ele como o pastor que alimenta o povo de
O profeta Isaias não estava satisfeito com a maneira Israel (Isa, 40:11). Jeremias aludiu ao Senhor como
como algumas mulheres israelitas andavam. Em 3:16 um' pastor que protege o seu rebanho (Jer. 31:10). E
de seu livro ele as criticou, dizendo: ..... sãoaltivas as Ezequiel completou esse quadro a respeito de Deus ao
filhas de Sião, e andam de pescoço emproado, de descrevê-lo como um pastor que busca pelas ovelhas
olhares impudentes, "andam a passos curtos, fazendo de seu rebanho (Eze. 34:12).
tinir os ornamentos de seus pés". Dessa maneira, elas Em coosonb.cla com eae coneelto, encontramos
.se faziam de dengosas, embora, na verdade, (assem muitas passagens, no Antigo Testamento, que se
orgulhosas e sensuais. referem aos lideres do povo de Deus como pastores
Havia mulheres que usavam correntes que ligavam que agem sob a supervisão de Deus. Nos trechos de
seus tornozelos, o que as obrigava a caminhar com Números 27:17 e I Reis 22:17, a sorte de Israel, que
passos curtos. Além disso, usavam sinetas nos então estaria sem lideres à altura, é comparada com
tornozelos, para chamarem a atenção para si mesmas. um rebanho de ovelhas que não dispõe de um pastor.
Muitos concebem as mulheres judias como damas Posteriormente, os profetas, os sacerdotes e os reis de
caseiras, ocultas por baixo de seus véus, cuidando de .Israel, que haviam falhado em seu encargo, diante de
suas crianças I Isaías deve ter visto mulheres bem :Deus e do povo de Deus, foram condenados como
diferentes disso, em lugares públicos I pastores que haviam desertado o rebanho ou que
haviam enganado as ovelhas (ler. 2:8; 10:21; 23:1 ss;
Eze. 34:28S, etc.).
PASTOR 5. Nas Páginas do Novo Testamento
1. O Termo Não é surpreendente que, com tão rico pano de
No hebraico, raah, palavra que figura por setenta e fundo, no Antigo Testamento, os escritores do Novo
sete vezes, no participio, onde tem o sentido de Testamento tenham descrito o Senhor Jesus como um
..pastor» (por exemplo: Gên. 49:24; Êxo. 2:17,19; Pastor (no grego poimén), Assim, Jesus é o Bom
Num. 27:17; I Sam. 17:40: Sal. 23:1; Isa. 13:20; 31:4; Pastor que deu a sua vida pelas suas ovelhas (João
40:11; Jer. 6:3; 23:4; 25:34-36; 31:10; Eze. 34:2-10, 10:2,11,14,16). Ele separa suas ovelhas dos bodes, à
12,23; Amós 1:2; 3:12; Zac. 10:2,3; 11:3,5,8,15,16; semelhança do que faz um pastor (Mat. 25:32); e ele
13:7. No grego poimén, vocábulo que ocorre por sofreu pelas suas ovelhas, como deve fazer todo o bom
dezoito vezes: Mat. 9:36; 25:32; 26:31 (citando Zac. Pastor (Mat. 26:31).
13:7): Mar. 6:34: 14:27; Luc. 2:8,15,18,20; João O escritor da epistola aos Hebreus chamou Jesus de
10:2,11,12,14,16; Efé. 4:11; Heb. 13:20; I Ped. 2:25. «... 0 grande Pastor das ovelhas... » (Heb, 13:20).
Ver também Ovelhas e Ocupações. Pedro, por sua vez, também retrata o Senhor Jesus
2. O Trabalho do Pastor como o «...Pastor e Bispo das vossas almas. (I Ped.
No seu sentido literal, um «pastor» é alguém que 2:25). Ver ainda sobre Ovelhas e Ocupações.
104
PASTOR - PASTOR (OFICIO DA IGREJA)
No t~an~e aos pastores como um dos ministérios questão é descrita no artigo chamado Dons Espiri-
da Igreja cristã, ver sobre a ~t Seu MIDIstérlo e tuais, Homens Como. Um bom pastor deve ser
Pator (Ofldo da . . . .). possuidor de dons espirituais. Sem dúvida terá o dom
de governos, sendo esse um dom especifico dos
Características do Verdadeiro Pastor pastores. Mas também deve ter o dom da fé, e talvez
1. Pode entrar legalmente no aprisco das ovelhas outros dons, como o de profecia, etc. Além disso, deve
(João 10:1). Isso se refere à missão messtantca ser capaz de ensinar (ver I Tim. 3:2b). Temos descrito
autêntica de Jesus e à sua autoridade. (Ver o artigo a questão dos dons espirituais no artigo intitulado
sobre Autoridade, seção 7. Ver também sobre a Dons Espirituais, especialmente sua seção IV
transferência dessa autoridade para a igreja cristã em Charismata. Nem todos os pastores s10 mestres (ver Í
substituição à autoridade religiosa do sinédrio, que já Tim. 5:17); e nem todos eles são dotados de facilidade
fora destruído ao tempo em que o evangelho de João de expressão. Mas um pastor deve ser possuidor de
foi escrito, em Mat. 16:19 no NTI). aprec~áveldose de compaixão e simpatia, sendo capaz
2. O trabalho do verdadeiro pastor é coroado de de mlstu~ar-se bem com as pessoas, gostando da
suce~so e el.e entra apropriadamente no aprisco,
companhia dos seus seme~antes. Um monge, em seu
mediante a ajuda do porteiro (provavelmente simbolo mosteiro, que gosta da solidão, meditando, rezando e
do Espírito Santo, João 10:7). lendo seus livros sagrados, sem importar quantas
3. O bom pastor instrui as suas ovelhas com a sua
outras virtudes possa ter, jamais seria um bom pastor.
palavra e o seu exemplo, e as guia (João 10:7). Um mestre, mergulhado até o pescoço nos seus livros
que manuseia idéias e gosta de estudar e aprender:
4. O bom pastor vive bem familiarizado com as suas pode ser um professor espetacular de Escola
ovelhas, e elas o conhecem bem, o que indica Dominical, mas provavelmente não está bem adapta-
comunhão e comunicação (João 10:3,4). do às tarefas próprias de um pastor.
5. O pastor verdadeiro guia o rebanho, tanto nesta 2. DistiD\&8
vida como em direção à vida eterna (João 10:4 10 17 e
28). ,. , Um pastor, sendo ocupante de um oficio eclesiâsti-
co respeitável. ainda assim. de acordo com certos
6. O bom pastor é o exemplo moral das ovelhas e grupos cristãos, ocupa posição inferior à de um bispo.
vai adiante delas (João 10:4).
7. O verdadeiro pastor é inteiramente devotado ao e comum hoje. - em muitas denominações
evangélicas. uma igreja ter mais de um pastor.
seu rebanho e dá a própria vida pelas suas ovelhas
(Jo~o 10: 11). Fica implícito aqui, no caso de Cristo, a dependendo das muitas necessidades da mesma.
expiação realizada na cruz do Calvário, porém, mais Assim. um deles ocupar-se-á do trabalho pastoral
particularmente ainda, a vida que lhes é conferida interno, um outro cuidará dos jovens, e ainda um
através do sacrifício do pastor, isto é, a vida eterna, o outro ficará encarregado do evangelismo, por
lado positivo da expiação, sendo frisada a união exemplo. Isso ocorre devido à complexidade do oficio
mística com Cristo, e não tanto o lado negativo, que é pastoral, sem falarmos no fato de que. às vezes. o
o perdão dos pecados (João 10:28). rebanho toma-se por demais numeroso para que um
8. O verdadeiro pastor garante a segurança do único homem faça a contento o seu trabalho.
rebanho, tanto agora como para toda a eternidade 3. Usos BlbUcos da Palal'l'a
mediante a autoridade que lhe foi conferida pelo Pai: Na Biblia,. «pastor» pode ser alguém que,
com quem Cristo tem perfeita união, tanto no tocante literalmente, cuida de ovelhas. A forma singular
à sua natureza quanto no que diz respeito aos seus acha-se no Antigo Testamento somente em ler. 17:16.
desígnios (João 10:27-30: ver também 5:19, acerca da A forma plural aparece por dezessete vezes, dentre os
unidade essencial entre o Pai e o Filho). quais os trechos de ler. 2:8: 3:15; 10:21; 23:1,2
Todas essas características fazem violento contraste servem de exemplo. No hebraico, a palavra correspon-
com os falsos pastores. que são indivíduos totalmente dente é raah, baseada na idéia de «cuidar dos
egoístas e perversos, e que, na realidade, não podem rebanhos», «íar pasto». Já no Novo Testamento. o
oferecer qualquer dessas vantagens e bênçãos ao termo grego correspondente é poimen, um substantivo
rebanho. de Deus. Por ,:ons~guinte, é dito aqui que o que figura somente em Efê. 4:11. onde o pastor
verdadeiro pastor, que e Cristo, entra pela porta, isto aparece como alguém que Deus deu à Igreja como um
é, pelos canais espirituais competentes, porquanto dom. Jesus é o principal pastor, segundo se vê no
não tem necessidade de iludir, posto que todos os seus décimo capitulo de Joio; e todos os demais pastores
propósi tos são benévolos. são subpastores. Uma palavra grega cognata é
poimaine, «pastar» (ver João 21:15). e outra forma
A mensagem principal de João 10:2 é ensinar que o verbal,poimanate, significa «pastoreais, «dai o pasto»
verda~eiro pastor, que é Cristo Jesus, tem a (I Ped. 5:2). Esse pastoreio espiritual deve incluir um
autoridade própria e a comissão divina para ministrar ensino sério, além do trabalho de cuidar das ovelhas,
às ovelhas, que são os verdadeiros filhos de Deus de em todos os sentidos. Jesus é chamado de «o grande
cujo direito não participam os falsos pastores. Essa Pastor», em Heb. 13:20. Pedro, por sua vez,
autoridade é aqui ilustrada pelo ato de entrar no chamou-O de «Pastor e Bispo (supervisor) das vossas
aprisco, com a permissão e a boa acolhida que é dada almas- (I Ped, 2:25). Assim. os bons pastores são
ao verdadeiro pastor pelo porteiro (ver João 10:3). imitadores daquele, e da parte dele recebem sua
inspiração e orientação, Ele é o Bom Pastor que deu a
sua vida pelas suas ovelhas (ver João 10:2.11,14.16).
PASTOR (OFICIO DA IGREJA) 4. QuaUficaçêies dos p..tona
Esboço: No primeiro ponto, acima, demos os dons que um
1. O Dom Pastoral pastor deveria possuir; e isso. como é óbvio, faz parte
2. Distinções de suas qualificações. Passagens das chamadas
epistolas pastorais (I e 11 Timóteo e Tito) dão listas de
3. Usos Biblicos da Palavra qualificações desses ministros, além de outros. Ver I
4. Qualíficações dos Pastores Tim. 3:1 ss e Tito 2. Um pastor deve ser homem
1. O Dom P..toral controlado, livre de vícios, não belicoso. sem excessos.
O oficio do pastor é um dom de Deus à Igreja. Essa Deve governar bem a sua casa; não pode ser um
105
PASTOR (OFICIO) - PÃTARA
noviço; deve ter boa reputação, devidamente conquis- Jerusalém. Jeremias deu previsões sombrias, de
tada; deve ser avesso a maledicências e ao uso condenação. Pasur não gostou da resposta de
incorreto da lingua; não deve ser ganancioso; não deve Jeremias, e apresentou a Zedequias uma mensagem
andar atrás do dinheiro; deve ser homem que se negativa. O resultado foi que ele e seus associados
santifica; deve ter uma boa esposa, que não lhe traga receberam permissão de fazer com o profeta o que
perturbações; deve ser forte na fé e mestre da mesma; bem entendessem. Assim, amarraram-no e baixaram-
deve ter ousadia no seu ensino; deve ser cheio de amor no à cisterna vazia; e Jeremias ficou atolado na lama
e paciência; deve ser perseverante; deve caracterizar- (ver Jer. 38:6). Porém, o etíope Ebede-Meleque
'se por boas obras; na doutrina, deve ser incorrupto; acabou retirando dali o profeta. Os descendentes de
deve ser homem sério; sua linguagem deve ser sadia; Pasur, por sua vez, retornaram a Jerusalém,
deve saber exortar; deve ser honesto; deve saber terminado o exílio babilônico, segundo se vê em I Crô.
repelir toda forma de impiedade; deve ser alguém 9:13; Nee. 11:12 e Jer. 21:1,3. Isso aconteceu mais ou
ansioso para ensinar e capaz de fazê-lo; e, finalmente, menos em 589 A.C. Alguns identificam-no com o
deve ser homem de reconhecida piedade. Pasur de número quatro, nesta lista, abaixo.
Unger, no artigo intitulado Pastor, divide as muitas 4. O pai de Gedalias e líder em Judâ, que também
qualificações de um pastor em três categorias: participou do ato de descer Jeremias à cisterna,
a. O serviço de mmistração ao culto divino, pondo conforme foi descrito no terceiro ponto, acima. Ver,
em ordem a adoração da congregação, administrando Jer. 38:1.
as ordenanças, pregando a Palavra de Deus. Nesse 5. Um dos chefes da tribo de Judâ, que, terminado
sentido, o pastor é um ministro. o cativeiro babilônico, assinou o solene pacto de
b. Ele deve ser habilidoso nos cuidados pastorais, observar os caminhos do Senhor, nos dias de
cuidando de alimentar espiritualmente o rebanho, Neemias, Ver Nee. 10:3.
mostrando-se vigilante, deixando-se envolver em boas
obras e ações de misericórdia e compaixão.
c. Ele deve brandir a autoridade espiritual da PATANJALI
Igreja, sendo um dirigente que merece respeito e que Ele foi um filósofo indiano e líder religioso do
impõe ordem e disciplina. Um pastor deve ter como século 11 A.C. E considerado o fundador do sistema
um de seus alvos o aperfeiçoamento dos santos (Efé. de Ioga (vide). Para ele, a ioga era um método de se
4:12). mostrando-se espiritualmente alerta (Heb, obter o avanço da alma e a salvação, através do
13:17; 11 Tim. 4:5) sendo capaz de exortar, advertir, controle dos aspectos físicos e psíquicos da natureza
consolar e orientar com autoridade (I Tes. 2:22; I Cor. humana. Seu principal escrito chama-se Ioga Sutra.
4: 14,15). No quarto capítulo da epístola aos Efésios, o
trabalho dos pastores suplementa o trabalho dos
apóstolos, evangelistas e profetas. PÁTARA
Trata-se de um porto do mar, a sudoeste da Licia,
no vale do rio Xantus, e que ficava localizado cerca de
PASTOR DE HERMAS cem quilômetros a leste da ilha de Rodes. Esse porto
ficava na porção sul da Ásia Menor. Era uma cidade
Ver Hermas, Pastor de. populosa, com um ativo comércio. Já desde o século
IV A.C., contava com as suas próprias moedas, o que
PASTORAIS, EPtSTOLAS indica. a sua importância como centro comercial desde
Ver o artigo sobre Eplstolas Pastorais. a antiguidade. Teria sido fundada por Patarus, filho
de Apolo, o que lhe explica o nome. Dispunha de um
templo, com um oráculo, que se tornou famoso e era
PASUR muito freqüentado.
No hebraico, «libertação». Esse é o nome de quatro A Licia era um pequeno distrito da costa sul da
ou cinco homens que aparecem nas páginas do Antigo Ásia Menor, onde ficava o vale do rio Xantus, e onde
Testamento: há montanhas que atingem mais de três mil metros de
1. Um filho de Imer, um sacerdote. Ele foi o altitude. Pátara funcionava como porto da cidade de
principal supervisor do templo de Jerusalém. Teve a Xantus, que ficava cerca de dezesseis quilômetros de
infeliz distinção de haver ferido a Jeremias e tê-lo distância. Atualmente, a embocadura do rio Xantus e
preso no tronco, por causa de suas predições de o porto da cidade de Xantus estão parcialmente
derrota de Judá e de sua deportação para a Babilônia. tomados pela areia. A antiga muralha da cidade
Então Jeremias contou-lhe que dali por diante seu ainda pode ser percebida, em suas ruínas modernas,
novo nome seria Terror-por-todos-os-lados (no he- às quais dão o nome de Galemlsh. Outrossim, o
braico, Magol'-mlssablb), e que ele e seus familiares alicerce do templo e de alguns outros edifícios
seriam levados para a Babilônia, e que Pasur ali públicos é tudo perfeitamente visível. E possível que
faleceria e seria sepultado (ver Jer. 20:2-6). Isso uma das mais interessantes ruínas ali existentes seja o
ocorreu em cerca de 605 A.C. arco triunfal onde estão inscritas as palavras «Pâtara,
metrópole da nação Iícia».
2. Um antepassado da família sacerdotal que
retornou do cativeiro babilônico em companhia de O apóstolo Paulo atingiu Pátara por meio de Cós e
Zorobabel, a fim de fixar residência em Jerusalém. da ilha de Rodes, tendo vindo de Mileto, em sua
Um dos seus descendentes assinou o solene pacto de viagem final a Jerusalém. Foi ali que ele foi
que os judeus andariam pelos caminhos retos de transferido para outro navio que se destinava a Tiro,
Yahwe&. Outros dentre seus descendentes tiveram de segundo se aprende em Atos 21:1,2. O Códex Bezae,
divorciar-se de mulheres estrangeiras com as quais se com uma adição tipicamente ocidental ao texto, diz «e
tinham casado, conforme se ve em passagens como Mira.., depois da palavra «Pitara». Essa adição
Esd. 2:38; 10:22 e Nee, 7:41. parece sugerir que o transbordo deu-se em Mira, e
não em Pátara. Porém, não há como averiguar a
3. Um contemporâneo do Pasur que acabamos de exatidão disso, e nem mesmo a questão reveste-se de
mencionar, filho de Malquias. Esse foi enviado pelo qualquer importância.
rei Zedequias a fim de perguntar de Jeremias qual o
resultado do ataque de Nabucodonosor contra
, ••• ••••
106
PATERNIDADE
PATERNIDADE <MATERNIDADE) mulheres ímpios, pois, têm revertido essa maneira de
ajuizar as coisas.
Esses são grandes vocábulos éticos. Do ponto de
vista biológico, referem-se à reprodução humana, mas Herança do Senhor são os filhos:
não é esse o interesse desta enciclopédia. Antes, em o fruto do ventre seu galardão. (Sal, 127:3-5J
uma obra desta natureza, o que importa são as Como flechas na mão do guerreiro,
implicações morais e espirituais dessas palavras. assim os filhos da mocidade.
Grande parte dessa questão já foi abordada no artigo Feliz o homem que enche deles a sua aljava.
intitulado Família. Ver também o artigo Educação.
Ser pai ou mãe é algo ao mesmo tempo glorioso e de
muita responsabilidade. PATERNIDADE DE DEUS
Esboço:
1. Informes Bíblicos: I. Principais Ensinos sobre a Paternidade de Deus
a. O matrimônio é a base legal dessa questão. Ver 11. O Conceito da Filiação
Gên, 1 e 2. b. Os filhos são bênçãos divinas aos pais III. A Paternidade é Efetuada pelo Poder do
(Sal. 127:3-5; 128:3). c. É enfatizada a responsabili- Espírito
dade na criação deles, envolvendo a instrução
espiritual (Gên. 18; 19; Deu. 6:6,7; 11: 19,20). d. A IV. A Adoção pelo Espírito
natureza pecaminosa básica das crianças precisa ser V. Aba, Pai
anulada mediante uma disciplina amorosa e uma VI. O Novo Nascimento e a Responsabilidade
instrução diligente (Efé. 2:3; 5:26; João 3:3,6; I Tim. 1. Principal. EDabios Sobre a Paternidade cleDeus
3:14-17). e. O caminho de Cristo deve estar sempre 1. Deus tambem ê Pai, dentro da Trindade, que
diante dos olhos dos pais (Mar. 10:14; Efé. 6:4; Col. envolve o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Alguns têm
3:21; Sal. 103:13). imaginado que o Espírito exerce funções análogas a
É um absurdo os pais preocuparem-se com as uma mãe. Se assim for, então dentro da própria
necessidades biológicas, sociais, profissionais e fisicas Trindade há uma relação doméstica. E isso tem
em geral, ao mesmo tempo em que negligenciam as paralelos com o ensino que a salvação consiste,
necessidades da alma das crianças. O treinamento das essencialmente, na obtenção da filiação. Pelo menos é
crianças deve incluir um treinamento planejado e verdade que o trecho de Rom. 8:14 ss, onde a
sistemático do conhecimento das Escrituras, sem paternidade de Deus é claramente afirmada, também
exclusão de outras coisas que promovam os interesses encerra a idéia da nossa adoção. E também devemos
da alma. Um profeta persa, Bahá Ullâh, afirmou, e levar em conta as afirmações que fazem de Deus o Pai
com toda a razão, que o pior erro que um pai pode de nosso Senhor Jesus Cristo (Efé. 1: 17; I Cor. 8:6; I
fazer, no que toca a seus filhos, é não lhes transmitir o Ped. 1:3). Jesus orava a Deus como o seu Pai (Mat.
conhecimento espiritual que possui. Além disso, os 6:7 ss). Também referiu-se a Deus como seu Pai e
pais devem três coisas a seus filhos: exemplo, nosso Pai (João 20:17), o que também é um conceito
exemplo, exemplo. comum na oração sacerdotal do Senhor Jesus (João
2. O Propósito do Plano Divino 17). Ver o artigo geral sobre a Trindade.
Os filhos não são acidentes biológicos de seus pais. 2. No Antigo Testamento, Deus aparece como o pai
As Escrituras encarecem o propósito da vida humana, da nação judaica, o que subentende a sua
atribuindo a cada indivíduo um caráter ímpar que preocupação e interesse especiais por esse povo, como
deve ser desenvolvido no interesse do cumprimento de o veiculo de sua mensagem ao mundo (Deu. 32:6;
sua missão espiritual. Deus conhece as pessoas antes Osé. 11:1; Sal. 68:5; 103:13; Mal. 1:6).
mesmo delas nascerem (Jer. 1:5), o que alguns 3. No Novo Testamento, o conceito é expandido a
eruditos pensam ser uma alusão à preexistência da fim de incorporar um sentido cósmico. Deus é o Pai
alma. João Batista era grande figura espiritual antes de muitas famílias de seres inteligentes, e não apenas
mesmo de nascer, e outro tanto se deu no caso de de almas humanas redimidas (Efé. 3:15). Todas essas
Paulo (Luc. 1:15; Gál. 1:15). Não há razão para famílias recebem o seu nome, ou seja, estão
supormos que a mesma coisa não se aplica, intimamente associadas a ele como Criador e
potencialmente, a todos os seres humanos. A Igreja Sustentador delas. Ele é o Pai dos espíritos (Heb.
cristã oriental sempre opinou que a alma é 12:9), como também das estrelas (Tia. 1:17), isto é,
preexistente. Se isso é verdade, então é impossível desta criaç-ão inanimada, mas gloriosa, como Criador
exagerar o papel dos pais, que continuam, e não de todas as coisas.
meramente começam a influenciar a seus filhos, 4. Deus é o Pai de todos os homens, remidos ou
ajudando-lhes a alma a prosseguir caminho. não. Isso explica o poder do seu amor universal. Ver
3. Caráter Ímpar dos Indivíduos Atos 17:27; Luc, 3:8 e João 3:16. Apesar de estar em
A singularidade de todas as almas é ensinada em foco principalmente o seu ato criador, também é
Apo, 3:12, na doutrina do novo nome. As verdade que os homem; oompartilham de sua natureza
experiências perto da morte (vide) incluem aconteci- espiritual e moral; e os remidos virão a compartilhar
mentos que demonstram o fantástico desígnio que da própria essência ou natureza, ou seja. tornar-se-ão
circunda a vida humana. Os pais têm a grande filhos de Deus no mais completo sentido da palavra.
responsabilidade de cuidar para que o desígnio divino 5. Deus é o Pai dos Remidos. Isso em sentido
quanto a cada vida seja cumprido da melhor maneira especial, porquanto esses tornam-se participantes de
possível. sua vida necessária e independente, através da missão
4. Falhas do Filho (João 5:24 ss), participante de sua natureza
Os pais materialistas falham em seu papel, essencial (lI Ped. 1:4), e sendo transformador
sobretudo quando levam seus filhos a serem segundo a imagem do Filho, o Irmão mais velho
materialistas também. Certos povos antigos falhavam (Rom. 8:29). Assim, os remidos participarão da plena
desde o começo, quando abandonavam seus filhos ao divindade (Col. 2:10). Ver também João 1:12 'e o
relento, para que morressem. O aborto (vide) é um artigo sobre Adoçio (vide).
equivalente moderno. Séculos atrás, morrer sem 6. Deus é Pai na Adoção. Ver as seções IV e V deste
filhos era considerado um opróbrio; hoje em dia, ter artigo, bem como o verbete separado sobre esse
filhos é que é considerado um infortúnio. Homens e assunto.
107
PATERNIDADE DE DEUS
Aqui nos é apresentado o maior de todos comentado com abundância de detalhes na exposição
esses conceitos, - o qual também, sem dúvida, é a sobre o vigésimo norio versículo deste capítulo no NTI.
mais profunda demonstração de que o indivíduo Os filhos desfrutam de comunhão mística com o
regenerado não pode continuar no pecado, mas antes, Espírito Santo, que é o agente da transformaç!o
precisa ter uma vida vitoriosa, vitória essa que lhe é espiritual que se processa neles. A passagem de Gál.
conferida a través do sistema da graça. E o conceito 5:18 enfatiza o fato de que aqueles que são guiados:
que garante isso é o fato de que somos filhos de Deus. peta Espírito Santo não estão mais «debaixo da lei»; e
n. O Conceito da Ftllaçio o oitavo capítulo da epístola aos Romanos, apesar de
I.Filiação é, na realidade, um termo ÔDônlmo de não ensinar essa verdade especificamente, deixa
salvação; pois somos salvos como filhos. A filiação entendido que assim acontece, do princípio ao fim do
descreve as condições e o fato da nossa. salvação mesmo. Agora existe uma superior «lei de vida» para o
(vide). crente. Porém, a lei mosaica não é nem o Salvador e
2. Dois termos são usados para descrever a filiação; nem a regra de conduta do crente do N.T. Cristo é
uios , que pode significar «filho por adoção». E quem é o nosso Salvador, e a comunhão com o
questão vinculada a um antigo costume romano, o Espírito Santo, no homem interior, é que é a nossa
que nos dá algumas noções sobre o sentido da filiação. «regra de viria», sendo uma regra extremamente
Envolvia a declaração de que alguém era «filho superior a tudo quanto poderia ter sido imaginado,
adulto», com plenos direitos à herança (ver Rom. como resultado da observância legalista. O resultado
8:16). O outro vocábulo é teknos, que tem o sentido dessa regra de vida é a vida vitoriosa, conforme é
defilho por geração natural (ver João 1:12). E verdade comentado por Ernest De Witt Burton, em seu livro
que, com freqüência, as duas palavras eram usadas sobre a epístola aos Gálatas (pág. 302): «Ê claro pois,
como sinônimas, a despeito de que esses elementos que a vida pelo Espírito constitui, para o apóstolo,
podem ser distinguidos claramente em alguns casos. .uma terceira maneira de viver, por um lado distinta
do legalismo e, por outro lado, caracterizada pelo fato
3. A filiação significa que participaremos da de que o crente não cede aos impulsos da carne. Sob
própria natureza de Deus Pai, em sentido perfeita- hipótese alguma é um curso médio entre essas duas
mente literal. Ver 11Ped. 1:4, Cal. 2:10 e 11 Cor. 3:18. coisas, mas antes, é um caminho elevado, que está
4. Dessa forma, chegaremos a possuir igualmente acima de ambas as coisas, uma vida de liberdade de
todos os atributos divinos (ver Efé. 3:19), ou seja, a meros estatutos, uma vida de fé e de amor»,
sua «plenitude», com base na participação em sua
natureza. m. A Paternidade é Efetuada pelo PodeI' do
Esptrlto
5. Por semelhante modo, possuiremos a «plenitude
do Filho», o que é esclarecido em Cal. 2: 10. O trecho de 11 Coríntios 3:18 deixa claro que a
nossa progressão metafísica, que nos levará de um
6. Já temos certa participação moral na natureza estágio de glória para o próximo (em um processo
divina (ver Mat, 5:48) e também uma real eterno, estejamos certos), é obra do espírito de Deus,
participação quanto ao «tipo de vida» (ver João porquanto somente ele é capaz dessa realização. O
5:25,26).
Espírito do Senhor nos está conduzindo de um estágio
7. Por conseguinte, surgirá uma «nova espécie», do desenvolvimento espiritual para o seguinte, até que
muito superior aos anjos, porquanto os remidos nos tornemos autênticos membros da familia divina.
participarão da própria natureza do Filho (ver Rom.
8:29), Essa nova espécie, comporá a familia de Deus, Guiados pelo Esptrlto
em sentido bem real. A natureza do Pai, porém, é Essas palavras podem ser melhor compreendidas se
infinita, mas nós participamos de sua natureza em um as desdobrarmos nos pontos abaixo:
sentido «finito». Todavia, a eternidade inteira será 1. Somos guiados pelo Espírito Santo na vida diária
empregada em nosso progresso na direção de Deus, e de santidade, acima das exigências da carne e livres
iremos participando mais e mais de suas perfeições e da mesma.
atributos. Portanto, a glorificação será um processo 2. Em contraste com a liderança moral da lei,
eterno, e não - um único ato - instantâneo, somos guiados pelo Espírito Santo. Os crentes
imediatamente após a morte física. possuem uma nova «regra de vida», muito superior à
Rom. 8:14: Pois todos os que são guiados pelo antiga regra legal de conduta, que foi dada aos
Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. israelitas.
No décimo terceiro versículo nos é assegurada a 3. Em sentido absoluto, através dessa orientação do
orientação do Espírito Santo em nossa vida, o que Espírito, SOIlJOS levados cada vez mais perto da
será evidenciado por uma participação crescente na imagem de Cristo, e somos levados a entrar na posse
santidade, bem como em uma vitória cada vez mais de nossa herança espiritual.
intensa sobre o pecado que procura utilizar-se de 4. Mediante a orientação do Espírito Santo,
nossos corpos, o que é, tão-somente, uma manifesta- entramos na relação de membros da nova família
ção do principio do pecado-morte na personalidade celeste, sendo filhos reconhecidos e feitos tais por
humana. Neste ponto é introduzido na discussão o nosso Pai, mediante o poder divino, algo que a lei
grande conceito de ser o crente um «filho de Deus». jamais poderia fazer. A elevada «posição» e «catego-
Essa é a mais exaltada explanação possível pela qual, ria" do crente é assim salientada. Tal crente não pode
tendo sido conduzidos aos pés de Cristo, - dentro mesmo ser escravo do pecado.
do sistema da graça divina, não podemos mais 5. A relação para com a lei consistia de escravidão,
continuar no pecado. Assim sendo, descobre-se certa de terror e servitude. A posição de «filho de Deus», em
progressão de pensamento na resposta à pergunta que contraste com isso, é de liberdade e privilégio. Temos
aparece em Rom. 6: 1: "Permaneceremos no pecado, deixado a posição de servos na casa, tendo-nos
para que seja a graça mais abundantej'» tornado filhos favorecidos. Isso é o que a graça divina
A filiação a Deus garante a herança celeste e a faz a nosso favor.
nossa transformação segundo a imagem moral e 6. O termo «filho» subentende responsabilidade do
metafísica do Filho de Deus; e era isso que Paulo crente para com o Pai celeste, de que não será
queria que entendêssemos, porquanto esse é um dos desgraçado e vilipendiado o nome da família.
mais elevados cumes da mensagem cristã, o que é Portanto, esse termo nos impõe esse dever.
108
PATERNIDADE DE DEUS
7. Ser conduzido pelo Espírito é algo que envolve «o Merivale (em Conversion of the Roman Empire)
poder e a energia» da nova vida, o que' era impossível explica o uso que Paulo faz desse conceito romano da
para a lei conferir-nos. «adoção», como segue: «Tratava-se do processo de
8. Ser «filho de Deus» também subentende que a adoção legal, mediante o qual um herdeiro escolhido
santidade é o resultado natural de uma realidade recebia o direito não somente à reversão da
espiritual, e não o resultado do esforço humano para propriedade à sua posse, mas também ao estado civil,
que o alvo da santidade seja atingido, por meio de em suas obrigações e direitos, daquele que o adotava,
alguma exigência legalista. tornando-se, por assim dizer, seu outro 'eu', unido a
9. A nossa posição de «filhos de Deus» requer ele .... esse, igualmente, é um principio romano,
motivos de gratidão e amor. «Esse favor é um exemplo peculiar naquela época ao povo romano, desconheci-
de graça divina surpreendente, que excede a todas as do, segundo creio, entre os gregos e, segundo todas as
outras bênçãos, tornando os santos honrosos. E isso é aparências indicam, também desconhecido entre os
acompanhado por muitos privilégios, que perduram judeus, porquanto tal provisão não se pode encontrar
para sempre, para aqueles que estão nessa relação na legislação mosaica, nem sendo mencionada em
para com o Senhor Deus, os quais devem se colocar qualquer lugar onde se faz menção .aos filhos, da
sob essa graça divina, solicitando, com gratidão, que aliança. Nós mesmos fazemos apenas uma pálida
essa se torne a sua maneira de viver, sendo seguidores idéia do que essa ilustração significaria para quem
dele, amando-o, honrando-o e sendo-lhe obedientes». estava familiarizado às práticas romanas; isso serviria
(John Gill, in loc.). para. impressioná-lo com a certeza de que um filho
IV. A Adoçio pelo Esplrito adotivo de Deus se torna, em sentido peculiar e
íntimo, unido ao MU Pai celeste».
Podemos notar, na tradução portuguesa que serve
de base para o presente artigo, que o texto diz:
espírito, e não Espírito de adoção, isto é, com inicial Rom. 8: 15: Porque não recebestes o espírito de
minúscula. Por conseguinte, essa versão faz a alusão escravidão. para outra vez estardes com temor. mas
ser um princípio, atitude ou estado mental. Ainda que recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos:
alguns bons intérpretes assim tenham pensado, é Aba, Pai!
muito mais natural, acompanhando o contexto desta A expressão espírito de escravidão tem sido
passagem. continuarmos a compreender que Paulo se compreendida pelos intérpretes de diversas maneiras,
referia ao Espírito de Deus. No grego não foi usada como segue:
uma letra maiúscula para indicar o Espírito, e quando 1. Seria uma referência à dispensação do A. T.,
os autores do N.T. se referiam ao Espírito de Deus ou governada pela lei. O espírito na mesma dominante
ao espírito humano, lançavam mão da palavra levaria à escravidão, porquanto os que estavam
«pneuma» sempre com a inicial minúscula. Portanto, debaixo da antiga dispensação ficavam sujeitos a
essa questão aqui focalizada está sujeita à interpreta- muitas leis e cerimônias, pesadas e insuportáveis, as
ção. Notemos, nos versículos catorze e dezesseis, que quais não oferecem qualquer possibilidade de
o Espírito Santo é claramente aludido. não havendo transformação íntima, necessária para cumprir as
nenhuma razão de peso que nos leve a pensar que, no exigências feitas. Não há que duvidar que o apóstolo
versículo quinze. a palavra «pneuma» também não se Paulo tinha esse aspecto da realidade em mente, sem
refira ao Espírito Santo. importar se aludia especificamente ou não ao mesmo.
Ê o Espírito Santo quem produz a adoção de filhos, 2. Agostinho pensava que se trata de uma alusão a
aquele novo e altíssimo privilégio, porquanto ele é o Satanás, autor do espírito de servidão (ver Heb.
«alter ego» de Cristo, que atua sobre a personalidade 2:14,15); e, por semelhante modo, Lutero aplicava
humana, transformando-a de acordo com a imagem esta expressão a Cairn, em oposição ao espírito de
do nosso irmão maior, a saber, Cristo Jesus. Assim é Graça manifesto por Abel. E verdade que aquela
que Vincent diz (in loc.): «Trata-se do Espírito de referência na epístola aos Hebreus contém a idéia
Deus, que produz a condição de adoção». dada por Agostinho, mas não parece que Paulo se
Adoçiio. Paulo não negava aqui qualquer real referia a isso. neste versículo da epístola aos
transmissão de natureza, de Deus para os crentes, Romanos. No entanto, em outras instâncias de seus
(conforme diz especificamente o trecho de João 1:12); escritos, Agostinho mostrou esposar uma interpreta-
e nem negava que os verdadeiros crentes participam ção similar à que aqui ocupa o primeiro lugar.
do real caráter ou natureza divina (conforme nos 3. Alguns estudiosos vêem aqui ambos os
ensina a passagem de 11 Ped. 1:4). De fato, este oitavo «espíritos», isto é, o da servidão e o da adoção, como
capítulo desenvolve a idéia da participação real dos alusão a disposições espirituais subjetivas: portanto,
crentes na família de Deus, na qualidade de filhos, os estaria em foco o espírito de servilismo, bem como o
quais se tornam tais em sua natureza íntima. No espírito livre de um filho, o qual é adotado com plenos
entanto, neste vs., o apóstolo se vale de um costume direitos na família divina. Essa interpretação,
romano bem conhecido, a fim de ilustrar como o contudo. não expressa o sentido específico deste
Espírito Santo leva os homens à família de Deus, versículo, embora. naturalmente, contenha certa
utilizando-se do costume da «adoção». Essa palavra, verdade, implícita aqui, embora não explicitamente
por si mesma, indica o «pôr» ou «colocar» como filho. declarada.
No presente contexto, isso deve indicar a colocação 4. Alguns eruditos pensam que o Espírito Santo é
dos crentes na posição de filhos adultos, não mais focalizado em ambas as referências, tanto na
filhos infantes, que ainda não chegaram à idade de referência ao «espírito de servidão», como na
entrarem na posse de sua herança, que não possam referência ao espírito da liberdade dos «filhos de
participar de todos os direitos e privilégios atinentes Deus», mediante a adoção. O espírito de servidão
àqueles que pertencem à família divina. Pelo seria o ofício penal atribuido ao Espírito Santo,
contrário. o crente entra na familia de Deus como mencionado em João 16:8. Isso expressa uma
adulto, espiritualmente falando, capaz de gozar dos verdade, mas provavelmente ainda não é a idéia
plenos beneficios de sua herança, bem como das central deste versículo, e nem a questão específica
responsabilidades decorrentes dessa posição. Por tencionada.
conseguinte, poderíamos dizer que essa adoção de 5. O mais provável é que esteja em mira aqui o fato
filhos produz nos crentes a filiação adulta. de que o Espírito Santo deve ser considerado somente.
109
PATERNIDADE DE DEUS - PÁTIO
como o agente da adoção e não como se ele levasse os mostra para com seu genitor, bem como. a sua
homens à servidão. Sua suposta conexão com a expectação de ser atendido pelo mesmo.
servidão é apenas uma hipótese, criada por Paulo, 3. Seria uma expressão mais completa sobre a
para fazer contraste com a verdadeira natureza de sua paternidade de Deus, visando aos judeus e aos
influência habitadora e serviço em favor dos crentes. gentios, unidos como um só povo crente, em Cristo.
Pois o Espírito Santo não é nenhum agente de 4. Seria assim enfatizado o afeto que enlaça os
escravidão, como o era a lei; pelo contrário, é o poder membros de uma família harmoniosa, como atitude
vivo que transforma os homens em filhos de Deus, natural entre eles. (Quanto a outros usos dessa
levando-os a entrarem na plenitude de sua herança. expressão, Aba. Pai, ver os trechos de Mar. 14:36 e
Outra vez atemorizados. A lei lançava o temor nos Gá1. 4:6).
corações dos homens, porquanto revelava claramente A paternidade de Deus:
o pecado deles, bem como a penalidade necessária «Há cinco mil anos passados, ou talvez um pouco
para tal pecado, isto é, a morte eterna. Os homens, antes, os arianos, que então ainda não falavam nem o
pois, tornavam-se escravos pelo temor, um temor que sânscrito, nem o grego e nem o latim, chamavam
esperava a morte. Ora, o Espírito de Deus livra-nos de Deus de 'Dyu patar', Pai celeste.
tudo isso. A lei era, essencialmente, um sistema Há quatro mil anos passados, ou um pouco antes,
refreador, por ameaças, e ameaças reais, e não os arianos que se locomoveram para o sul dos rios do
meramente hipotéticas. Quanto melhor se compreen- Panjab, chamavam-no de 'dyaush-pita', Pai celeste.
dia os requisitos da lei, tanto mais se compreendia Há três mil anos passados, ou um pouco antes, os
como a lei era um sistema de temor. As palavras outra arianos das praias do Helesponto, chamavam-no de
vez, que aqui figuram, mostram-nos que as pessoas "zeus pater'; Pai celeste.
para quem o apóstolo escrevia haviam sido anterior-
mente escravizadas à lei; e isso significa que o Há mil anos atrás, o mesmo Pai celeste, e Pai de
apóstolo Paulo falava a uma igreja local que todos, era invocado pelos nossos próprios antepassa-
desfrutava de bom entendimento sobre o que significa cos peculiares, os arianos teutônicos, por seu antigo
estar alguém sob a lei, a despeito do fato de que a nome de Tiu ou Zio, o qual foi então ouvido talvez
igreja local da cidade de Roma se compunha, pela última vez ...
principalmente, de elementos gentios. E nós, que estamos nesta antiga abadia... se
desejamos dar nome para o invisível e infinito, que
V. Aba, Pai nos cerca por todos os lados, o desconhecido, o
Um servo ou escravo, espiritualmente falando, não verdadeiro 'eu' do mundo, e o verdadeiro 'eu' de nós
poderia chamar a tal por esse titulo, fazendo-o por mesmos, igualmente nós, sentindo-nos uma vez mais
direito e razão. No aramaico, o vocábulo, Aba, como crianças, ajoelhadas em uma sala escura e
significa' pai. Isso nos faz lembrar que os primeiros pequena, dificilmente podemos encontrar uma desig-
seguidores de Jesus Cristo falavam nesse idioma, e é nação mais apropriada do que 'Nosso Pai, que estás
provável que, em suas orações e formas litúrgicas, eles no céu' »; (Extraído do livro Lectures on the Origin of
tivessem preservado essa palavra como um título Religion, de Max Muller, em conferências na abadia
aplicado a Deus, paralelamente a outros vocábulos de Westminster, pâgs, 216 e 217. Londres: Long-
gregos e latinos. E a dupla expressão de pai, em dois mans, Green, 1878).
idiomas diversos, serve para fortalecer aqui a idéia de
filiação e de paternidade. VI. O Novo Nascimento e a Responsabilidade
«A reiteração provavelmente se deriva de uma A doutrina do novo nuclmento (ver sobre a
fórmula litúrgica, que talvez se tenha originado entre Regeneração) é a base do ensino do Novo Testamento
os judeus helenistas, que preferiram reter a consagra- sobre a paternidade de Deus, embora a adoção faça
da palavra 'Aba'. Alguns estudiosos pretendem ver parte proeminente disso, conforme já pudemos ver. A
aqui indícios da união entre judeus e gentios, em adoção, contudo, não dá a entender que a natureza
Deus». (Vincent. in loc.). real de Deus não nos seja comunicada, como se
Acompanhando essa opinião de Vincent, Morison, fôssemos filhos de Deus somente em sentido
comentando sobre o trecho de Mar. 14:13, ao metafórico. Todos os homens são filhos de Deus em
referir-se ao uso que o Senhor Jesus fez dessa dupla virtude da criação, mas os remidos são filhos de Deus
expressão, diz que é possível que ele personalizasse no sentido que já começaram e continuarão recebendo
assim, em si mesmo, tanto os judeus como os gentios. a natureza essencial de Deus, segundo os moldes de
Jesus Cristo, o Filho. E, visto que somos filhos do Pai
«Essa repetição expressa afeto e apelo, baseada no celestial, precisamos buscar as perfeições do Pai
impulso natural que demonstram as crianças de (Mat, 5:48). É por causa da transformação moral que
repetirem um nome querido sob formas diferentes. a transformação metafísica é possível. Ver o artigo
Com isso se pode comparar o hino de Newton: separado sobre a Santificação. A vida cristã
Jesus, meu Pastor. Esposo. Amigo. caracteriza-se pela responsabilidade do crente diante
Meu Profeta. Sacerdote e Rei... do Pai (I Ped. 1: 17). «Ora, se invocais como Pai
(Sanday, in loc.). aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as
É a chamada ao Pai, tal como as crianças pequenas obras de cada um, portai-vos com temor, durante o
chamam seu pai em confiança simples e própria de tempo da vossa peregrinação». Aquele que mostrar
crianças». (Lutero, in loc.). ser um filho responsável de Deus haverá de receber
Portanto. abaixo damos as idéias que se têm dito a uma vida abençoada, bem como a aprovação do Pai,
respeito do uso dessa dupla expressão, Aba, Pai. que provê tudo quanto for necessário para os seus
1. Seria a preservação de um termo sagrado, por filhos (11 Cor. 1:3; 11 Tes. 2:16; I Ped. 1:3). Elevados
parte dos mais primitivos cristãos, que usavam o privilégios sempre requerem uma elevada dedicação.
termo aba para se referirem a Deus. e que
continuaram a fazê-lo, embora o grego se tivesse
totnado o idioma predominante na igreja cristã. PÁTIO DA GUARDA
Deles, pois, os crentes gregos e romanos adotaram Excetuando o trecho de Nee, 3:25 (onde aparece,
esse termo, como nome próprio de Deus. em nossa versão portuguesa, sob a forma de «pâtio do
2. Essa repetição fala da dependência que um filho. cârcere»), essa expressão só figura no livro de
110
PÁTIO - PATRIARCA
Jeremias. O pátio da guarda era uma ârea no palácio olhos do vidente solitário. Acima, sempre houve o
onde esse profeta ficou detido (ler. 32:2), recebendo espaçoso céu do firmamento grego; algumas. vezes
visitantes (ler. 32:8), e até efetuando negôeios (ler. brilhante com suas na._ bnuaca (ver Apo. 14:14),
32:12). Contava com uma cisterna, onde alguns outras vezes com relim..... e tro.leI, obscurecido
oficiais terminaram por arriar o profeta, quando por 'grande saraiva', ou alegado por um 'arco-trls
quiseram tirar-lhe a vida (Jer. 38:6). como uma esmeralda' (ver Apo. 4:3; 7:7; 11:19; e:
16:21). Sobre os cumes elevados de Icária, Samos e
Naxos elevam-se os montes da Ásia Menor; entre os
PÁTIO DO CÁRCERE, PÁTIO DA GUARDA quais jazeria, ao norte, o circulo das sete Igrejas que
foram endereçadas. Ao redor dele estavam os montes
Essa expressão aparece em Nee. 3:25; ler. e as ilhas do arquipélago (ver Apo. 6:14; 16:20).
32:2,8,12; 33:1; 37:21; 38:6,13,28; 39:14,15. No Quando olhava ao seu derredor, abaixo ou acima, 'o
hebraico é chetser mattarah. Os estudiosos estão mar' sempre OCupava lugar proeminente... as vozes
divididos quanto ao significado da expressão. Ê do céu eram como o som de ondas batendo na praia,
possível que estejam em foco «celas de prisão», usadas como 'o ruído de muitas águas' (ver Apo. 14:2 e 19:6);
pelos guardas de um palácio. Mas outros pensam que a grande pedra foi 'lançada ao mar' (ver Apo. 18:21);
se trata de algum pátio descoberto existente em um o mar haveria de 'entregar os mortos que nele havia'
palácio. Se eram celas, então eram usadas para deter (ver Apo, 20:13)•. (Arthur P. Stanley, Sermons in the
prisioneiros por algum tempo, até que se pudesse East).
obter um arranjo permanente para eles. Seja como
for, Jeremias ficou confinado em um lugar assim,
embora tivesse tido a permissão de dar prosseguimen- PATRIARCA (PATRIARCADO)
to ao seu trabalho profético, com bastante liberdade. Ver o artigo geral intitulado Oficios Eclesiásticos,
especialmente seu décimo primeiro ponto. Ver
também sobre Patriarcas (Blblicos).
PATMOS Um patriarca é um elevado oficial e ministro da
Ver Apo. 1:9. O começo da histôria dessa ilha é Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa
obscuro. Somente já dentro da era cristã dispomos de Oriental. Quanto ao começo do desenvolvimento do
algum informe histôrico fidedigno, acerca. de c~isas patriarcado e à localização das grandes sés patriarcais
ali ocorridas. Esse fOI o lugar para onde fOI banido o da Igreja cristã antiga, ver os artigos referidos. Os
vidente João (autor do livro de Apocalipse). Com base patriarcados eram e continuam sendo superiores em
nessa circunstância, surgiu uma aura religiosa em autoridade aos metropolitas e arcebispos. O patriar-
tomo da ilha, em tempos subseqüentes. Em 1088, o cado consiste no território sobre o qual domina um
monge Cristôbulo levantou ali o Claustro de São João, patriarca. A organização eclesiástica do cristianismo
no antigo local de um templo dedicado a Artemis. E antigo seguiu, quanto a certos aspectos, a organização
isso veio a ser local de aprendizado clerical. Uma do governo civil do império romano. Os bispos das
excelente biblioteca foi edificada ali, que se tomou regiões mais importantes adquiriram mais autoridade
um dos bastiões da Igreja Católica Grega. Em 1453, do que os bispos ordinârios, e chamavam-se
foi lançado um apelo, por parte dos ministros cristãos metropolitas (vide). Eles assumiam controle sobre
dali. a Roma, para que os ajudasse contra os turcos, mais de uma diocese, como se fossem superbispos,
No século XVI, finalmente, a ilha caiu sob o poder dos sem se tomarem arcebispos. Esses lugares mais
turcos, ainda que, durante algum tempo, lhe fo~se importantes tornaram-se centros especiais da cristan-
permitida grande dose de liberdade. Depois de 1912, dade, e o bispo daquele lugar tomava-se um patriarca
passou a pertencer ao Dodecaneso italiano. Em 1947, cuja autoridade era reconhecida até em lugares
passou para o domínio grego. distantes de sua jurisdição direta. Os primeiros
lnfornuaç1e8 Gerais centros, nesse processo, foram Jerusalém, Antioquia,
O vidente Joio fora banido para a ilha Alexandria, Roma e Constantinopla, ou seja, quatro
de -Patmos-, por ordem do imperador Do"!-iciano; no Oriente e um no Ocidente. Até pelo século V D.C.,
e ali, em sua solidão, recebeu as visões do hvro do esses centros eram as províncias eelesiâsticas mais
Apocalipse. Patmos era uma das ilhas E.sporades, um importantes. Nos séculos VIII e IX D.C., o titulo
grupo de ilhas do mar Egeu, ao sul de Mileto, cerca de patriarca veio a ser usado para indicar os lideres
quarenta e cinco quilômetros a sudoeste de Samos. eclesiásticos (bispos) dessas áreas. O patriarca de
Atualmente essa ilha se chama Patmo e Palmosa, Fica Constantinopla tomou-se o cabeça da Igreja Oriental,
cerca de oitenta quilômetros de Éfeso. A ilha é e continua retendo o primado entre todas as igrejas
vulcânica, com cerca de dezesseis quilômetros de ortodoxas orientais, embora não seja considerado um
comprimento e dez quilômetros de largura, em sua papa. Cada seção nacional da Igreja Oriental tem o
porção mais larga. :E: uma ilha estéril e rochosa, com seu próprio patriarca. As chamadas igrejas orientais
colinas que atingem, no mãximo, trezentos metros de heréticas também contam com seus pr6prios patriar-
altura. Conta com uma baia chamada La Scala, que cas, seguindo assim o estilo do cristianismo oriental.
se aprofundá pela ilha na direção do oeste, e que De acordo com a linguagem eclesiâstica, o bispo de
quase divide a ilha em duas partes iguais, para o norte Roma tanto é papa quanto é patriarca.
e para o sul. Na porção do sul há um mosteiro No Sentido Yeterotestamentârio. Ver o artigo
chamado de ..São João», e também uma gruta separado sobre Patriarcas (Blblicos). Chamamos de
intitulada ..gruta de Apocalipse., onde, supostamen- patriarcas aos primeiros fundadores da fé dos
te, foram recebidas as visões constantes deste livro de hebreus, como Abraão, Isaque, Jacô e José (como
Apocalipse, embora isso seja mera conjectura. também aos originadores das doze tribos de Israel),
..A esterilidade severa e dura de seus promontórios todos eles filhos de Jacô. Além disso, os progenitores
interrompidos se prestava bem ao fato hist6rico de da raça humana, como Adio e Noé, são assim
que às suas praias eram relegados cristãos condena- chamados.
dos, como que a uma prisão. A visão do seu pico mais No Sentido Geral. Qualquer grande lider, secular
elevado, ou, de fato, de qualquer elevação maior da ou religioso, especialmente se for fundador de 8JBum
ilha, desdobra uma cena incomum, como bem se movimento, fé religiosa, ete., pode ser chamado de
presta ao Apocalipse, o desvendamento do futuro aos patriarca.
111
PATRIARCADO -f PATRIARCAS
Na Igreja Mórmon. O termo, nessa fé, refere-se à arqueologia tem demonstrado que os nomes bíblicos
ordem superior dos sacerdotes, dotado .. de autoridade que aparecem na história de Abraão eram comuns em
especial e jurisdição, capazes de confe rir bênçãos. sua época. Além disso, nomes similares têm sido
Definição Verbal. Patriarca é termo que vem do encontrados entre os amorreus do período. Esses
grego patriá, «família», e archein, «governo", ou seja, eram semitas ocidentais, alguns dos quais se
o governo ou chefia de uma família, Quanto a mudaram para a Caldéia. ao sul da Mesopotâmia. e
informações adicionais ver Patriarcado. que formaram o antigo império babilônico, dentre os
quais Hamurabi foi o principal governante. O nome
amorreu vem de Amurru, que significa ocidentais,
PATRIARCADO visto que entraram na Mesopotâmia vindos do
Ver o artigo chamado Patriarca, Patriarcado. Este noroeste. Naturalmente, os relatos bíblicos mostram
artigo supre informações adicionais àquele artigo. que eles formavam um povo que ocupava a Palestina
no tempo dos patriarcas, como parentes chegados
O patriarcado é o ofício ou sede de um patriarca, destes. O trecho de Eze. 16:3 reflete esse fato.
um titulo confinado, no cristianismo antigo, aos
bispos de Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Roma e Os arqueólogos têm desenterrado tabletes que dão
Constantinopla. Os patriarcas exerciam a sua informações sobre as atividades comerciais da época.
autoridade através e em conjunção com um concilio Aí pelo século XIX A.C .• mercadores assírios haviam
geral, e era através desse concilio que a autoridade penetrado na Ásia Menor com propósitos comerciais.
desses bispos estendia-se às sés circunvizinhas. Em As evidências provam que esse comércio envolvia
1590, os patriarcas ortodoxos consentiram com a vários povos e ampliava-se até o Egito. Uma pintura
criação do patriarcado de Moscou. tumular (de cerca de 1900 A.C.) retrata trinta e sete
semitas entrando no Egito, procurando negócios. com
O termo patriarcado, em sua designação mais vestimentas e equipamentos típicos dos semitas
ampla, pode significar: 1. ofício; 2. o domínio ou asiáticos.
território governado pelo patriarca; 3. a residência do As Viagens eram uma Constante. Abraão mudou-
patriarca; 4. o tipo patriarcal de governo eclesiástico. se de Ur da Caldéia para o Egito. no decurso de sua
vida. Jacó viajou pela Palestina acima, até Harã, e
então voltou (Gên. 28:35); e, mais tarde, transferiu-se
PATRIARCAL. ERA para o Egito, o que armou o palco para o drama da
Ver sobre Patriarcas (BlbUcos). escravidão dos israelitas nesse país, antes do êxodo.
Os relatos do Antigo Testamento sugerem que havia
rotas comerciais intensamente usadas. Um grupo de
PATRIARCAS (BIBLICOS) negociantes levou José até o Egito (ver Gên, 37:28-36).
O PEmODO PATRIARCAL
Esboço: 3. DIrIgentes
O pai era o chefe da familia. O mais idoso e mais
1. Definições poderoso pai tomava-se o chefe do seu clã. que dele
2. Estilo e Condições de Vida descendia. Acima dessa estrutura, podia haver um
3. Dirigentes melek, isto é, um «rei". Porém, quase todos esses
4. Costumes Ilustrados pela Arqueologia primeiros reis eram apenas dirigentes de clãs, que
5. Estrutura da Familia conseguiam reunir forças militares para impor aos
6. Religião dos Patriarcas Bíblicos outros a sua vontade ou para proteger o território
7. Contribuições dos Patriarcas deles. O trecho de Gên. 14:1,2 conta acerca de quatro
8. Cronologia desses «reis»; mas ali são destacados apenas chefes de
clãs, e não chefes de cidades-estado, e, muito menos.
1. Deflnlçiies de nações. Provavelmente. nessa época já havia tal
A palavra grega por detrás desse vocábulo é UD.1a coisa como as cidades-estado. Por exemplo, Melquise-
combinação de pater, «pai», e archés, «cabeça.., deque é chamado rei de Salém (Jerusalém), e
«chefe". Os patriarcas bíblicos são aqueles que são podemos imaginar que essa cidade controlava as áreas
considerados os fundadores da raça humana, Adão e adjacentes, pelo que talvez ela tenha sido uma
Noé (este último através de seus três filhos. Sem, Cão primitiva cidade-estado. Em Edom havia «reis" ou
e Jafé; ver Gên. 10); ou então aqueles que foram «duques.. (ver..Gên. 36:19,31). Os horeus também
cabeças ou fundadores das doze tribos de Israel. O contavam com duques (ver Gên. 36:29). Mas. no
vocábulo também é aplicado a Abraão, no Novo Egito já havia verdadeiros reis, todos eles intitulados
Testamento, em Heb. 7:4, por ser ele o fundador Faraós (ver Gên. 12:15-20; 37:36; 39:1). Devemo-nos
(progenitor) da nação hebréia, sendo também o pai lembrar que nada menos de dez dinastias, ou mesmo
dos homens espirituais, tanto judeus quanto gentios. mais, tinham subido sucessivamente ao trono do
que sigam com seriedade a vereda espiritual. Os filhos Egito. antes de Abraão chegar à Palestina; e que os
de Jacó são chamados «patriarcas" em Atos 7:8,9 e egípcios representavam uma avançada civilização;
Davi é denominado desse modo, em Atos 2:29. O antes e durante o tempo de Abraão, quando este e sua
período patriarcal é aquele período de tempo da gente eram apenas pastores e criadores de gado que
formação da nação hebréia, antes da época -de viviam como nômades. :E: impossível reconstituirmos o
Moisés. quadro contando somente com o livro de Gênesis;
2. Estilo e CondlçiJes de Vida mas, lançando mão da ajuda da arqueologia,
Os patriarcas viviam em estilo seminômade, nas, poderemos obter uma boa idéia do fato de que havia
terras do chamado Crescente Fértil (vide). Abraão e alguns poucos governantes poderosos cuja influência
sua família imediata vieram de Ur, na Caldéia, até o chegava até a alguma distância, pois quase todos
Egito. trazendo consigo seus rebanhos e demais eram apenas pequenos lideres de pequenos clãs. Uma
possessões. As riquezas eram calculadas sob a forma boa pergunta, que lança muita luz sobre a questão, é
de propriedades móveis. A única coisa que Abraão aquela que indaga: «Como as coisas poderiam ter sido
comprou, até onde vão os registros sagrados, foi um diferentes quando tudo isso aconteceu dentro de um
campo onde havia um local próprio para sepultamen- território que era menor do que a metade do tamanho
tos, para sua família, começando por Sara. A do estado de São Paulor»
112
PATRIARCAS ~(BIBLICOS)
4. eo.twne. D....... pela ArqaeoIaaIa do marido de suas senhoras.
As descrições btblicas !êm paralelo bem pr6~o 6. ReJ.WIo"" PatrIarcM JIIbIIe-
nos registros achados em tabletes com .escnta Estudos sobre as culturas do Crescen~ Fértil tem
cuneiforme, como aquelas descobertas em NUZl, perto mostrado que o Oriente Pr6ximo e Médio exibiam
de Quircuque, na década de 1920. Foram encontra- várias formas de politelsmo. Os cananeus dispunham
dos cerca de quatro mil desses tabletes, fornecendo- de um bem fomido pantel.o de divindades, tendo El
nos preciosas informações sobre a vida na época, (<<força.) como o cabeça. Ele teria gerado nada menos
incluindo muitos paralelos biblicos. Temos apresenta- de setenta deuses e deusas. Baal era um de seus
do um artigo separado sob o titulo Nuzi, que Uustra a descendentes, e que muito perturbou aos israelitas na
questão, pelo que esse material não é repetido a9u i. hist6ria posterior deles. O nome El, naturalmente, era
Ver especialmente o quarto ponto daquele artigo, um nome comum dado a Deus pelos hebreus, também
Pontos de Interesse Confrontados com o Gênesis. As usado por outros povos, aparentados dos israelitas. A
mais diversas questões são Uustradas, como docu~en- grande contribuição de Israel foi, primeiramente o
tos escritos, costumes de adoção, os terafins, práticas henotelsmo (vide), e então o monoteúmo (vide),
de-sepultamento, mies substitutas,. poligamia, f~i- simplificação essa que levou a fé dos hebreus mais
lias poligamas, costumes entre as irmãs, os habiru, perto da verdade divina do que as religiões ~ seus
contratos, testamentos, etc., etc. O côdigo de vizinhos. Como é claro, durante o período patriarcal,
Hamurabi chega a ventilar uma situação análoga à de havia uma concepção muito antropom6rfiea de Deus;
Sara e Hagar, onde a segunda esposa (ou concubina) mas até hoje isso persegue nossos conceitos sobre o
de um homem podia aspirar por maiores coisas para Ser divino. Experiências místicas eram comuns, e
seu fUho do que no caso dos fUhos da primeira esposa Deus era muito pessoal para os patri~ hebreus.
daquele homem. Nesses casos de «rebeldia., a Ficamos especialmente1mpressionados diante da vida
segunda esposa podia ser reduzida à «servidão» (Par. de Jacô, com as suas muitas e significativas
í.26). Naturalmente, Hagar já era escrava antes de experiências espirituais. A cultura grega tinha
haver gerado Ismael, ao passo que o c6digo de algumas concepções similares, posto que em meio ao
Hamurabi refere-se a uma mulher que era sacerdoti- politeísmo.
sa, que poderia ser tomada como segunda esposa; Alguns estudiosos têm imaginado que o homem
mas a filosofia é a mesma em ambos os casos. A primitivo era mais sensivel para com os ~
questão da poligamia e os problemas atinentes são divinos e para com as manifestações do Esplrito de
amplamente Uustrados nos antigos registros paralelos Deus, em comparação ao que sucede ao sofisticado
às Sagradas Escrituras. Ver o artigo geral !o~re a homem moderno. Apesar da maioria dos deuses
Poligamia. Ver também sobre o Matnmonro. A paglos começarem sua hist6ria como divindades
arqueologia muito tem contribuido para confirmar a tribais, segundo a história e a arqueologia tio
exatidão geral das narrativas bíblicas quant? ao claramente o demonstram, para eIltio haver um
periodo patriarcal. Também os textos de Man são progresso gradual na quaHdade dessas divindades,
muito importantes quanto à questão de textos bem como na esfera de sua jurisdição, o fato de que
literários que ilustram o período patriarcal. No que Abraão pagou dizimos a Melquisedeque mostra-nos
conceme a uma ampla descrição, ver o artigo com que Abraid e Melquisedeque pisavam sobre um
esse titulo, especialmente sua quarta seção, Os Textos terreno comum, pois eram dotados de um conceito
de Mari e o Antigo Testamento. mais lato de Deus, em sua universalidade, do que
5. &tratara da FamOIa sucedia com outros povos. Muitos eruditos acreditam
Dentro da unidade da farnllia, o pai era o chefe da que o período patriarcal (dos hebreus) caracterizou-se
casa. Também era o seu sumo sacerdote, responsável pelo henoteismo, e não pelo monoteísmo. Isso
por dirigir devidamente os ritos e costumes da fé significa que apesar de talvez ser admitida por eles.a
religiosa. O pai estendia sua autoridade sobre outras existência de mais de um Deus, a fé dos hebreus havia
famllias, como um autêntico patriarca. Seu filho mais progredido ao ponto de aceitar a Yahweh como «o
velho vinha a substitui-lo, quando falecia. Esse filho nosso único Deus, o único a quem devemos prestar
era o herdeiro da posição e das propriedades de seu contas•. Antes de Moisés, pois, já havia surgido entre
pai. Se não houvesse herdeiros, um filh'? adotado os hebreus um autêntico monoteísmo, O Deús de
(mesmo que tivesse sido um escravo), podia tomar-se Melquisedeque era El Elyon, ou seja, «o Deus
o herdeiro (ver Gên. 15:2 e ss), Além disso, um filho Altissimo»; e esse foi um dos nomes dados a Deus, a
nascido de uma concubina, ~vez a escrava da esposa partir do período patriarcal.
legitima, poderia vir a ser o herdeiro, na ausência de
fUhos da esposa principal (ver Gên. 16:2). Mas, se no O cabeça da famUia era também o sacerdote da
decorrer dos anos, nascesse um filho à esposa mesma. Porém, o caso de Melquisedeque (vide)
principal, a questão era revertida, e esse filho vinha a mostra-nos que também existia pelo menos uma
ser o futuro chefe do clã (ver Gên. 15:4; 17:19). A classe especial de sacerdotes que desfrutavam de uma
poligamia complicava os laços familiares; mas os jurisdição mais ampla. Sacriftcios de animais, e,
filhos de diferentes esposas eram identificados algumas vezes, até sacriflcios humanos (como nos
mediante o uso do nome matemo. Os trechos de Gên. mostra o sacriftcio de Isaque, que esteve perto de
16:4; 29:23,24,28,29 mostram quão comum era essa concretizar-se), eram empregados; e, com base nos
forma de matrimênio. detalhes do epis6dio podemos supor que os sacrifícios
A hist6ria de Jac6 mostra que um pretendente humanos estavam desaparecendo gradualmente, pelo
podia obter esposa trabalhando para o seu futuro menos em alguns lugares. As mais antigas informa-
sogro, sem dúvida regulado por algum tipo de ções de que dispomos mostram-nos que os povos
contrato, escrito ou verbal (ver Gên. 29:18,27). Uma antigos acreditavam literalmente que a vida estA no
filha, com freqüência. era dada como um presen~ se sangue, não meramente em sentido biol6gico, mas até
seu pai estivesse interessado em obter um determina- em sentido psicológico. Atributos misteriosos, pois,
do genro. Outrossim, uma criada (usualmente uma eram atribuidos ao sangue, e o sangue vertido nos
escrava) era &ida como um presente, pelo pai, a uma sacriftcios revestia-se de uma extrema importlncia
sua filha, quando esta se casava (ver Gên, 19:24,29), e ritualistica. As pessoas criam que os deuses que eram
essas criadas tomavam-se parte integral da famllia, e honrados por eles manifestavam a sua presença por
às vezes tornavam-se segundas esposas ou concubinas, ocasião dos sacriftcios, conferindo-lbes favores espe-
113
PATRIARCAS - PATRÍCIO (SANTO)
ciais. Ver o artigo geral, Expiação; e também muito controvertida. No artigo Cronologia, procuro
Expiação Pelo Sangue. examinar os problemas envolvidos, onde também são
A Questão da Alma. O periodo patriarcal, pelo apresentadas várias teorias alternativas. Ver especial-
menos no que tange à fé dos hebreus, não incluía mente os pontos 3. Problemas Comuns da Cronologia,
qualquer crença clara na existência da parte imaterial e S. Períodos Bíblicos Especlficos, c. Do Dilúvio até
do homem, apesar de reivindicações em contrário, Abrão, ponto 1. A Grande Era dos Patriarcas.
através da interpretação cristã do trecho de Gên, 2:7.
E quando é dito, acerca de Raquel, que ao morrer o
seu espírito saiu dela, isso poderia significar
tão-somente que ela «soltou o último suspiro.., como PATRIclDIO
também a versão inglesa RSV traduz esse versículo Palavra que vem do latim, patel', «pai.., e caedere,
(Gên. 35:18). Até mesmo dos tempos mosaicos não «cair.., «matar», Em todas as sociedades, os incidentes
nos chega qualquer referência clara acerca da alma, que resultam em patricídio geralmente são causados
como um elemento distinto do complexo humano, por atos violentos do momento. No entanto, há uma
capaz de sobreviver à morte biológica. Nos escritos exceção, isto é, na Melanésia; ali a questão envolve
mosaicos, nunca é prometida uma apás-vida para um costume social. Quando um idoso chefe perdia
aqueles que praticassem o bem, e nem qualquer juízo sua capacidade mental e fisica, não sendo mais capaz
após-túmulo é ameaçado para aqueles que praticas- de cumprir as suas responsabilidades, seu filho mais
sem o mal. A doutrina da alma só se tornou mais clara velho deveria substituí-lo. E isso incluía o assassínio
a partir da época em que foram escritos os Salmos. A público e cerimonial do idoso homem. Isso não era
partir de então, essa crença tornou-se uma constante feito com um cacete, uma lança ou uma faca,
na fé judaica, embora não fosse universalmente crida, conforme alguém poderia matar um inimigo; mas
conforme se vê no caso dos saduceus. mediante um enterro cerimonial, onde a vitima era
7. Contribuições dos Patriarcas enterrada viva. O filho dizia respeitosamente:
É patente que um povo nômade não consegue «Senhor, sua estrela se pôs.., E o pai recebia tudo isso
contribuir grande coisa para a arquitetura, para as tranqüila e confiantemente, por ser esse o seu dever
ciências, para a agricultura ou para as artes em geral. terreno; e, em segundo lugar, porque esperava ser
Outrossim, a contribuição hebréia para a literatura, o deificado após a morte.
ponto mais forte dos israelitas, só ocorreu algum Como é óbvio, o cristianismo, ao chegar naquelas
tempo mais tarde. Podemos dizer que a principal ilhas do Pacifico, fez oposição a tal bárbaro costume,
contribuição que os patriarcas e seus descendentes em face de sua desumanidade e em face do valor das
deixaram à humanidade limitou-se ao campo do pessoas idosas. Deve haver uma maneira melhor de
pensamento religioso. Já no tempo dos patriarcas afastar um homem senil do que sepultá-lo vivo! Seja
hebreus tinham sido lançados os alicerces da fé do como for, esse costume enfatizava o louvável costume
Antigo Testamento. E parece bem claro que houve e atitude da solidariedade grupal, a disposição dos
significativas experiências religiosas que acompanha- membros de um grupo a fazerem tão grandes
vam aqueles conceitos de fé, sendo até mesmo a sacrifícios pessoais.
origem desses conceitos, pois eram conceitos revela-
dos.
8. Cronologia PATRlCIO (SANTO)
Os eruditos conservadores datam a migração de Esse nome vem do latim, patricl.... Ele foi uma
Abraão à Palestina em cerca de 2000 A.C., embora memorável personagem da antiga cristandade. Suas
outros pensem em uma data tão tardia quanto 1750 datas foram 389-461 D.C. Ele é considerado o
A.C. para esse acontecimento. Assim, se aceitarmos a apóstolo e patrono da Irlanda. Nasceu na parte
data mais antiga, então diremos que o periodo ocidental das ilhas Britânicas, e faleceu na Irlanda,
patriarcal durou de 2080 a 1871 A.C., aproximada- sua pátria adotiva e a grande área de suas atividades.
mente; e que a jornada do povo de Israel no Egito Descendia de uma família proeminente e abastada.
perdurou de 1871 a 1441 A.C., aproximadamente. Seu pai, Calpôrnio, era filho de um sacerdote cristão
Mas, se a data mais recente é que está certa, então de. nome Potito; e o próprio Patricio foi pai de um
Abraão deve ser posto dentro do novo império diácono e membro do conselho municipal. Com a
sumero-acadiano de Ur-Namu, fundador da famosa idade de dezesseis anos, Patrício foi capturado e se
terceira dinastia de Ur (cerca de 2080-1960 A.C.). tornou um escravo na Irlanda.
Esse monarca assumiu o novo titulo de «rei da Tal como sucede a tantas notáveis figuras
Suméria e Acade». Ele construiu um gigantesco religiosas, podemos ver a mão divina em operação na
zigurate (vide) em Ur, que até hoje pode ser visto em sua vida. Patricio não estivera muito interessado pela
suas ruínas. E se a data mais antiga estiver com a fé religiosa, apesar de todo o envolvimento de sua
razão, então Abraão partiu de Ur exatamente quando família no cristianismo. Porém, quando se tomou
essa cidade atingia o seu ponto de maior glória. No cativo, precisou voltar-se mais e mais para Deus e
tocante aos estados amorreus e elamitas da Mesopotâ- para a fé, a fim de poder ser sustentado em sua
mia, naquilo em que se relacionam a Abraão, então provação. Então ele começou a receber sonhos e visões
este viveu quando as cidades de Isin, Larsa e Esnuna espirituais, que ele recebia como inspiração divina; e
eram proeminentes, cujos principes foram os herdei- esse toque místico lhe transformou a vida. Foi escravo
ros da terceira dinastia de Ur, depois que essa durante seis anos e durante esse tempo foi crescendo
dinastia entrou em colapso. Por semelhante modo, o em visão e forças espirituais. Então recebeu um sonho
tempo de Abraão corresponde, ao reino médio do que mostrava que havia um navio preparado para içar
Egito, especificamente a sua XII Dinastia (2000-1780 velas para a Inglaterra. Patricio fugiu e andou por
A.C.). Abraão esteve no Egito precisamente no duzentas milhas romanas, tendo chegado a um certo
começo dessa dinastia. José tornou-se primeiro- porto. Ali havia um navio prestes a partir. Patrício
ministro de um dos Faraós dessa dinastia, e José pediu para ser levado; o capitão, embora recusando-
chegou ali nos tempos do mesmo, provavelmente se a principio, acabou mudando de idéia, e Patrício
Amenemes l-IV ou Senrosrete 1-111. Desnecessário é partiu de volta à sua terra. Ele jamais teria aceitado
dizer, a cronologia da época dos patriarcas é questão de bom grado o cativeiro, com labores forçados, por
114
PATRIcIO - PATRIPASSIANISMO
tantos anos; mas assim Deus foi capaz de atingir o seu poderia obter. Mas essa acusação ele rebateu com
coração. Ás vezes, a adversidade é a maior de todas as sucesso, demonstrando, a sobejo, que ele recusara
mestras, embora nunca queiramos tê-la como presentes oferecidos por seus convertidos vivendo uma
instrutora I Os melhores professores não são neces- vida simples e frugal. Por igual modo foi acusado de
sariamente os mais suaves e de relacionamento fácil! gastar dinheiro mui livremente. Ao que parece, ele
O navio aportou na Bretanha, na porção ocidental recebia fundos da Inglaterra. E ele não negou isso.
da França. Não havia alimentos no lugar, e os homens Talvez pudesse ter sido menos perdulário. Chegou
vagueavam à procura de algo para comer. Todos mesmo a gastar algum dinheiro para subornar figuras
estavam à beira da inanição. Patricio apelou para a locais do governo, a fim de ser protegido por elas. No
oração. E assim Deus mandou alimentos a eles. Os entanto, lembremo-nos que ele estava em território
homens não acharam o que comer. Mas uma vara de hostil. Mas ele não gastava dinheiro em proveito
porcos selvagens veio ao encont...o dos homens; próprio, vivia em relativa pobreza. Quase todo o seu
quando a gente não tem carne de vaca, a carne de dinheiro era canalizado para obras de caridade, que
porco é deliciosa. eram extensas. Ele desafiou as :religiões pagãs da
Irlanda, levantou um templo, estabeleceu um
Finalmente, Patricio voltou à companhia de seus mosteiro, treinou um clero, organizou sociedades
pais. Naturalmente, ficaram muito satisfeitos, exor- cristãs, introduziu o latim e a cultura européia na
tando-o a nunca mais deixar o lar. Bastava de Irlanda. O fato histórico é que ele chegou a uma
vagueações pelo estrangeiro I Isso pareceu muito bom, Irlanda inteiramente pagã, mas, ao morrer, deixou
e Patrício contentou-se em ficar entre sua gente. uma Irlanda cristã. Ao mesmo tempo em que tinha de
Porém, certa noite, apareceu-lhe um homem em um enfrentar continuamente a oposição de homens que
sonho. - Não era um sonho ordinário; e nem o lhe eram inferiores, o seu prestigio ia crescendo
homem era um homem qualquer. Ele aproximou-se poderosamente, com o resultado que, finalmente,
de Patrício e lhe entregou uma carta. Patrício leu-a. com justiça passou a ser conhecido como «o apóstolo
As palavras iniciais diziam «a voz dos irlandeses». O da Irlanda... A Igreja cristã declarou-o santo, e sua
incidente foi notável, porque, enquanto leu a carta, festa é comemorada a 17 de março.
também ouviu vozes, e reconheceu que eram as vozes Uções que Aprendemos da Vida de Patrldo:
das pessoas com as quais estivera associado na 1. Deus escolhe definidamente alguns homens para
Irlanda. Essas vozes diziam: «Nós te rogamos, jovem missões especiais, e o seu propósito é invencível,
santo, que voltes e andes novamente entre nós». realizando o Senhor o que quer.
A história não nos brinda com muitas informações 2. Todos os homens são culpados de cairem em
sobre os estudos e os preparativos de Patricio; -mas é lapsos, mas esses não podem e nem devem impedir o
evidente que ele passou algum tempo em um cumprimento do propósito divino para suas vidas.
mosteiro, talvez na Gália (mais ou menos equivalente Todos os homens têm defeitos que impedem em parte,
ao que é hoje a moderna França). Finalmente, ele foi embora não anulem, a contribuição deles para a
consagrado bispo (432 D.C.), tendo sido preparado causa do Senhor.
para a sua missão entre os irlandeses.
3. O cumprimento da nossa missão poderá exigir
E assim Patrício partiu de novo, deixando para trás que nos separemos de nosso povo, familia e amigos.
sua amada terra, sua família e seus amigos. Os laços
domésticos foram novamente cortados, pois aquela 4. As experiências místicas de fato transformam as
missão exigia esse sacrificio pessoal. Patrício precisou vidas de muitos crentes, e o propósito de Deus, com
enfrentar muitos empecilhos. Suas dificuldades freqüência, opera através de sonhos" profecias,
visões-a Presença do Senhor, enfim.
começaram antes mesmo dele deixar a Inglaterra. Ao
se espalharem as notícias sobre sua missão, um certo S. Até mesmo um homem que com razão podemos
«amigo», aparentemente invejoso do progresso espiri- in titular de apóstolo, sofre as criticas e a oposição de
tual de Patrício, revelou um pecado que ele havia muitos dentro da própria Igreja cristã. Mas, embora
cometido na juventude. Coisa alguma se sabe acerca combatido, Patricia trabalhou mais abundantemente
da natureza do lapso; mas essa questão, de parceria que eles todos. A história, por isso mesmo,
com outras declarações que foram feitas contra ele, vindicou-o.
criaram dificuldades. A maledicência daquele amigo, 6. Há alegria na tarefa bem-feita, completa e cheia
tão estúpida (pois quem não cometeu algo que pode de bons frutos.
ser dito contra sua pessoa?), causou-lhe muita dor.
Não obstante, com firme propósito, - Patrício
continuou em sua vereda. PATRIMONIO DE SÃO PEDRO
Outros labutaram no século V D.C. para a O papa Gregório, o Grande, chamou a propriedade
conversão da Irlanda; mas, dentre todos eles, Patricio da Santa Sé, em Roma, de «propriedade dos pobres...
foi o mais enérgico e bem-sucedido. No entanto, Um nome alternativo e mais universal para a mesma
homens menores puseram em dúvida a sua capacida- coisa é «patrimônio de São Pedro», Essa expressão
de para a tarefa. Somos informados acerca da também tem sido usada, em sentido geral, para
questão, além de outras, em sua obra intitulada referir-se aos estados da Igreja, os quais, naturalmen-
Confissão, um tipo de vindicação de sua vida e te, incluem propriedades muito além da área da
conduta. Com base nessa obra, podemos obter uma cidade de Roma.
boa idéia a respeito da oposição que ele teve de
enfrentar na própria Igreja. Era considerado rústico e
destituído de educação superior. E, de fato, ele PATRIOTISMO
confessou-se culpado disso. Sua vida, incluindo a Ver o artigo sobre Nacionaliamo, que inclui o que
questão da interrupção de sua educação devido ao poderiamos dizer sobre a questão.
cativeiro na Irlanda, - impedia que ele freqüentasse
escolas, conforme gostaria de ter feito. Além disso,
diferente de outros, ele foi forçado a usar um idioma PATRIPASSIANtsMO
estrangeiro em sua juventude; e isso muito dificultou Esse vocábulo vem do latim, patH, «pai.!-, e plltlor
os seus estudos na adolescência. Também foi acusado «sofrer». Está em foco o sofrimento de um pai. M~
de estar na Irlanda por causa do dinheiro que dali está em pauta a doutrina do sofrimento de Deus Pai.
115
PATRIPASSIANISMO - PATROS
Uma das bases dessa teoria monstruosa é um ante-nicenos (antes do concilio de Nicéia). E os pais.
exagerado antropomorfismo, que imagina que o que pôs-nícenos da Igreja são Ário, Atanásio, Hilário,
sucedeu ao Jesus terreno, foi tolamente transferido Basilio, Gregório de Nissa, Cirilo de Alexandria,
para o Pai celeste. Isso é aceito com base na analogia Teodoro de Mopsuéstia, Jerônimo, Agostinho e João
que o Filho é divino e o Pai também é divino: e assim, Damasceno. Orígenes foi a maior influência teológica
o que sucede a um deve suceder, obrigatoriamente, ao sobre a Igreja Oriental. E Agostinho foi a maior
outro. Ou então, com base em uma doutrina má, que influência sobre as idéias teológicas da Igreja
não reconhece a distinção entre Deus Pai e Deus Ocidental. Algumas importantes doutrinas cristãs
Filho. Nos tempos modernos surgiu o movimento do foram interpretadas de modo diferente por esses dois
«Jesus somente.., que afirma que Jesus é divino, e que pais da Igreja.
títulos como Pai e Espirito Santo tarnhêTl1 - aplicam Extensão do Termo. Alguns têm chamado de «pais..
a ele, do que resulta o abandono de qualquer doutrina a lideres proeminentes da Igreja cristã que viveram
trinitariana (que eles insistem ser uma doutrina até o século VIII D.C. Alguns poucos desses vultos,
triteista). devido à sua influência extraordinária, também têm
O patripassianismo popular (não-histórico) envolve sido assim chamados, até mesmo depois desse tempo,
um antropomorfismo tolo acerca do Ser divino (o como Tomás de Aquino (1225-1274). Mas talvez seja
Pai), que diz que Deus tem todas as variedades de correto dizer que os pais chegaram até João
emoções humanas, desde a alegria até à tristeza. E até Damasceno (675-749). Artigos separados são apresen-
mesmo alguns autores evangélicos têm incorporado tados nesta Enciclopédia, acerca de todos os nomes
essas idéias em seus escritos, imaginando um Deus acima alistados.
que realmente chora, ri, ira-se, grita e canta.
Historicamente, patripassianismo foi um nome
jocoso cunhado por Cipriano (vide), para indicar a PÁTROBAS
doutrina do monarquianismo modalista, que dizia Esse nome é abreviação de Patroblus, que significa
que os sofrimentos remidores de Cristo também «vida do pai». Pátrobas era um dos cristãos de Roma
envolveram os sofrimentos de Deus Pai, visto que (Rom, 16:14), ou da Ásia Menor, se é que o décimo
Cristo era o Pai sofredor. Em outras palavras, o Pai e sexto capitulo de Romanos é uma breve carta aos
o Filho eram a mesma pessoa, em diferentes modos e cristãos da Ásia Menor, conforme têm pensado alguns
atos. Noeto e Práxeas foram expositores proeminentes estudiosos (ver o artigo sobre Romanos, VIII.
dessa doutrina, que floresceu nos séculos 11 e 111 D.C. Integridade da Epístola), para quem Paulo enviou
Tertuliano informa-nos que Práxeas chegou ao suas saudações.
absurdo de dizer que «o Pai nasceu e o Pai sofreu... O nome Pátrobas era comum entre os escravos,
Também declarou graficamente que Práxeas «pôs embora não se saiba dizer se Pátrobas era escravo.
em fuga ao Parac1eto e crucificou ao Pai». Os Aparentemente, ele fazia parte de uma igreja que se
modalistas (ver o artigo intitulado Modalismo) reunia em uma casa. A tradição antiga diz que ele foi
confundiam as pessoas da Trindade e negavam a um dos discipulos-missionários antigos, mencionados
união da natureza divina com a natureza humana na em Lucas, décimo capítulo; mas, usualmente,
pessoa de Cristo. Talvez as noções gregas da tradições desse tipo são inúteis, pois não podem ser
divindade (que os romanos abraçaram e ampliaram), comprovadas.
já que esses povos tinham mais de um deus que teria
passado por consideráveis sofrimentos, embora
tivessem permanecido imortais, tenham servido de PATROCLO
influência sobre os criadores dessa esdrúxula doutri- Esse foi o nome do pai de Nicanor, um general sirio
na. que guerreou contra os judeus, segundo está
Os pais da Igreja, Hipôlito, Tertuliano e Orlgenes, registrado em I Macabeus 3:38 e 11 Macabeus 8:9.
opuseram-se a essa doutrina, e a teologia cristã Isso aconteceu em cerca de 166 A.C. Seu nome
subseqüente, como é natural, deu-lhes apoio. derivava-se do herói homérico do mesmo nome, amigo
Entretanto, isso não conseguiu abafar de todo o de Aquiles, e ao qual Heitor matou. Coisa alguma se
antropomorfismo (vide) que tão freqüente e poderosa- sabe sobre esse homem, embora seu filho tenha
mente tem feito parte de declarações tradicionais desempenhado um importante papel na história dos
acerca da natureza e dos atributos de Deus. Macabeus.
PATRlSTICA PATROLOGIA
Essa é a designação dada àquele ramo da teologia Ver o artigo sobre Patrlstlca. A patrologla a
ê
(e da história) que estuda os chamados pais da Igreja ciência que estuda os escritos dos primeiros pais da
cristã. Esses estudos incluem as vidas, os escritos e as Igreja, cujo número geralmente é contado até João
doutrinas dos primeiros e mais proeminentes lideres Damasceno, inclusive (cerca de 675-749 D.C.).
da Igreja cristã pós-apostólica. A questão tem sido
dividida cronologicamente em pais ante-nícenos e pais
pôs-nícenos, Aqueles que viveram mais próximos dos PA1'ROS
apóstolos, do ponto de vista cronológico, têm sido
chamados Pais Apostálicos (vide). Entre eles contam- Essa palavra é de origem egípcia e significa «terra
se Clemente de Roma, Policarpo e Inácio; e seus do sul-, o nome dado pelos egípcios ao Alto Egito, em
escritos têm sido intitulados escritos dos pais distinção a Matsor, o Baixo Egito (ver Isa, 11:11; Jer,
apostólicos. Em adição, esse termo é aplicado ao 44:1,15; Eze. 30:14). Sua forma alternativa era
Pastor de Hermas e à epístola de Diogneto. Em Tebaida, Nos textos cuneiformes, esse nome aparece
Alexandria, Pantaeno, Clemente e Orlgenes são como Paturissu, Esse território ficava entre o Cairo e
considerados os principais primeiros pais da Igreja. Answan, seguindo o vale do rio Nilo. Há provas de
Outros vultos notáveis, cujos escritos também são que esse nome vinha sendo usado desde tão cedo
considerados patristicos, foram Tertuliano, Cipriano, quanto 680 A.C., quando ficou registrado nas
Novaciano, Irineu e Hípôlito. Todos esses, menciona- inscrições de Esar-Hadorn, rei da Assíria, o qual se
dos até este ponto, são conhecidos como pais jactou de ser o rei do Egito, juntamente com vários
116
PATRUSIM - PAULISTAS
outros lugares. daquele segmento da cristandade. Se eram adoeían-
Nessa área havia uma colônia judaica numerosa. nistas, não eram docêticos. Deixararm de existir como
Jeremias identificou o Egito com Patros, em uma um grupo separado no século XI D.C.
referência frouxa (ver Jer. 44:15). Ezequiel 29:14 e
30:14 ensinam que essa era a região de onde os
egípcios se originaram. PAULINISMO
Esse termo refere-se ao cristianismo visto pelos
olhos do apóstolo Paulo. Muitos estudiosos ficam
PATRUSIM impressionados pelo aparente fato de que a versão
Em egípcio, essa palavra, que ao ser passada para o paulina do cristianismo de fato era bem diferente da
hebraico está no plural, significa «habitantes de versão de Jesus e de Tiago. Os dispensacionalistas
Patros», Ver o artigo sobre Patros, Esse povo vivia no reconhecem uma diferença radical. Seja como for, o
Alto Egito. A palavra encontra-se nas listas cristianismo de Paulo era diferente, em muitos
genogrâficas de Gên. 10:14 e I Crô. 1:12. aspectos, daquele que transparece nos evangelhos
sinópticos. Os hiperdispensacionalistas ficam im-
pressionados com o contraste entre Paulo e outros
PAU autores cristãos, e chegam ao extremo de pensar que
somente suas epístolas (ou mesmo as chamadas
O significado dessa palavra êobscuro, embora epístolas da prisão), são autoritárias quanto à ordem
alguns estudiosos tenham sugerido «balido», isto ê, a eclesiástica, embora outras passagens bíblicas, tanto
voz das ovelhas. De acordo com nossa versão do Antigo quanto do Novo Testamentos, sejam
portuguesa, Pau era a cidade capital de Hadar, um honradas quanto ao seu valor ético e instrutivo.
dos príncipes edomitas (ver Gên, 36:39). O nome Ccasionalmente, o paulinismo envolve essas posições
dessa cidade aparece com a forma variante de Pai, em radicais. Somente Paulo seria o doutrinador, para os
I Crô. 1:50. Nesta última passagem, o nome do tal paulinistas, ao passo que o resto das Sagradas
príncipe também é alterado para Hadade, uma forma Escrituras não recebe a aceitação que a Bíblia merece,
que alguns estudiosos consideram ser a correta. Não em sua inteireza. Ver a doutrina de Paulo no artigo
se sabe a localização moderna dessa cidade. intitulado Paulo, 11.5. O ponto seis dessa seção
encerra uma discussão sobre Paulo e Jesus, onde o
problema do contraste é ventilado. Paulo recebeu
PAULICIANOS (PAULICIANISMO) muitas visões e revelações que ultrapassaram às
Os paulicianos foram uma seita adoclanlsta informações dadas por outros autores neotestamentá-
armênia (vide), que talvez tenham derivado seu nome rios, e esse é o fato que emprestou a Paulo tão distinta
do bispo Paulo de Samosata (vide), e que defendia posição no seio do cristianismo. A grande palavra-
pontos de vista similares. Também muito enfatizavam chave, em todas as coisas, é moderação. Reconhece-
a antítese do apóstolo Paulo entre a graça e a lei, o mos a distinta contribuição de Paulo, mas não
que pode ter sido outra razão para o titulo que devemos negligenciar as contribuições dos demais
ostentavam. No começo, o termo era de natureza escritores sagrados.
pejorativa, mas logo tornou-se uma designação
comum. Eles ensinavam que o homem Jesus recebeu o
Espírito de Cristo por ocasião de seu batismo, tendo PAULISTAS
recebido «as vestes primárias de luz», que caracteriza- Esse é o titulo da organização cujo nome completo é
ram sua pessoa e sua vida. Desse modo veneravam a Sociedade Missionária de São Paulo. A,,6stolo, uma
Cristo, mas rejeitavam qualquer forma de adoração à comunidade de padres, fundada em 1858, pelo padre
Virgem e aos santos da Igreja. Também eram Isaque Thomas Hecker, em Roma e Nova Iorque,
fortemente iconoc1ásticos, rejeitando o emprego de com a ajuda dos padres Agostinho F. Hewit, George
qualquer tipo de imagem nas igrejas. Um grupo Deshon, Francis A. Baker e Clarence A. Walworth. O
diretamente descendente deles foram os bogomilos, movimento dos redentoristas assinalara-se por contro-
da Bulgária, e semelhantes a eles foram os câtaros e os vérsias e problemas, e o padre Hecker fora excluído
albigenses do sul da França, movimentos cristãos dos daquela comunidade. Então. juntamente com alguns
séculos XII e XIII D.C. Ver os artigos sobre esses três bispos norte-americanos proeminentes, Hecker ape-
grupos. lou para o papa. Ele e outros foram liberados dos seus
Os protestantes, ansiosos por encontrar raizes votos, e formaram a sua própria comunidade, a dos
encravadas na antiguidade, com freqüência apontam paulistas, com a provação do arcebispo John Hughes,
para grupos como esses, que teriam tido idéias de Nova Iorque. Essa cidade tomou-se a base deles, e
"protestantes», como anti-romanistas, que repudia- a obra missionária veio a ser sua principal atividade.
vam a idolatria, o batismo infantil, as relíquias, as Eles seguem a regra dos redentoristas (vide), embora
imagens. etc. Mas. convenientemente esquecem-se sem tomarem votos. Esse grupo salienta a santificação
das doutrinas heréticas desses grupos, e ignoram o pessoal e a conversão de não-católicos. Mostraram-se
fato de que, quanto à doutrina, católicos romanos e ativos na prédica, nas conferências e no trabalho de
protestantes estão mais perto um do outro do que os literatura. Certo número de igrejas tem sido
protestantes estão dessas antigas seitas anti-romanis- estabelecido por eles, e também têm-se mostrado
tas. ativos na promoção' de progratuas radiofônicos que
Os paulicianos foram um dos poucos grupos propalam suas idéias. - A Imprensa Paulista de
cristãos da Idade Média que praticavam o batismo Nova Iorque, tem-se tomado uma das maiores casas
por imersão, e que adiavam até que o candidato publicadoras católicas romanas do mundo. A revista
atingisse os trinta anos de idade, em imitação ao deles, The Catholic World, foi a primeira dessas
batismo de Cristo. Eles usavam tanto o Antigo quanto publicações católicas nos Estados Unidos da América
o Novo Testamentos, mas também pregavam uma do Norte. O grupo tem-se internacionalizado através
obra chamada A Chave da Verdade, que considera- de suas organizações congêneres, em outras regiões do
vam um livro inspirado. Esse grupo cresceu na parte globo.
oriental da cristandade, e não na sua porção
ocidental, e representaram um pequeno cisma dentro PAULO, APOSTOLO Ver depois de Paulo (Papal).
117
PAULO (PAPAS)
PAULO (PAPAS) Os anos finais de sua vida foram maculados pelo
Seis papa assumiram o nome do apóstolo Paulo assassinato de seu filho, Pier Luigi, e pela revolta de
como seus títulos eclesiásticos, a saber: ' seu neto,. Otávio Ele apelava para o nepotismo (vide),
1. Paulo I, Santo d.a mane~r~ mais desavergonhada; mas, do ponto de
Ele pontificou entre 757 e 767 D.C. Foi sucessor de VIsta catohco romano, foram muito significativ.as as
suas contribuições para a restauração e unidade do
seu próprio irmão, o qual recebeu o título de Estêvão catolicismo romano. Lançou os alicerces da reorgani-
111. Fez parte de seu propósito fortalecer eclesiastica- zação da Cúria e do Sacro Colégio. O concilio de
mente a sé de Roma, contra os poderes politicos da Trento tomou decisões de longo alcance, incluindo
ép~a, incluindo os da própria cidade de Roma. O rei
Pepino, dos francos, ajudou-o nesse propósito. Os aquela referente !1 ~omo tratar com o protestantismo,
além de uma especie de declaração final sobre o cânon
francos foram uma das tribos germânicas que viviam do Novo Testamento. Ele aprovou a fundação da
às margen~ do rio Reno, no começo da era cristã. ordem dos jesuítas, uma providência que se mostrou
Monges onentais, que tinham tido dificuldades com extremamente frutifera para os interesses do catoli-
os ic?noclastas (vide),. visitaram a Pepino, tendo cismo romano.
recebido dele o seu apoio. Um mosteiro foi fundado
para uso deles, e o papa encorajou-os a continuar com 4. Paulo IV
a sua liturgia oriental. A festa de Paulo I é celebrada a Seu nome de batismo era Giampietro Caraffa ou
28 de junho. Giovanni Pietro Caraffa. Suas. datas foram 1476-
2. Paulo II 1559. Foi nomeado bispo de Chiete em 1509; núncio à
Seu nome original era Pietro Barba. Nasceu em Inglaterra em 1513; e então, à Espanha em 1515.
Veneza, na Itália, a 23 de fevereiro de 1417 e faleceu Tomou-se arcebispo de Brindisi, em 1518. Fundou a
em Roma, a 26 de julho de 1471. Seu gove~o foi de ordett:t dos teatinos, em 1524, e tornou-se o primeiro
~upe~?r_da ?rdem. Paulo 111 nomeou-o dirigente da
1464 a 1471. Seu tio foi o papa Eugênio IV, que fizera
dele cardeal, em 1440. Tomou-se bispo de Vicenza e tnqutsiçao (vide). Para vergonha eterna do catolicismo
então sucedeu a Pio 11 como papa. Antes mesmo de romano, ele cumpriu seu papel principal inquisidor
sua eleição, ele trabalhou para fortalecer a autoridade com elevado grau de desumanidade e crueldade. Foi o
sucessor de Paulo 111. .
dos cardeai~, e ao tomar-se papa era pouco mais do
que o' presidente do Sagrado Colégio. Entretanto, . Seu sobrinho, cardeal Carla Caraffa, era homem
~ertos elementos da Igreja Católica fizeram objeção a
VIOlento, carregado de crimes. Exercia poderosa
ISSO, te~do ficado elar?, pela lei c~nônica, que ele não influência sobre o pa1?a, a principio; mas, gradual-
era obngado a assumir uma posição tão humilde. O mente, Paulo IV fOI reconhecendo o verdadeiro
resul~a~o foi. que, c?m a passagem do tempo, ele caráter do sobrinho, e privou-o de suas honras tendo
adquiriu muito maior autoridade. Ele é melhor banido a ele e a seu irmão, Giovanni de 'Roma.
relem~rado ~raças aos seus esforços por estabelecer
Porém, isso não o livrou dos pendores g~néticos que
uma liga cristã em face da ameaçada invasão da herdara, juntamente com eles. Pois também era
Europa pelos turcos; mas não foi bem-sucedido nesse homem de temperamento vulcânico e acabou
intento. Também procurou reformar a Igreja, mas, envolvendo-se em muitos excessos. Manuseou de
Igualmente, não obteve êxito, pois, ao que parece f~)fma inepta o caso do cisma inglês, e seus erros têm
faltava-lhe energia para a tarefa. ' tido repercussões desde então, até hoje.
3. Paulo /lI 5. Paulo V
Seu nome original era Alessandro Farnese. Nasceu Seu nome verdadeiro era Camillo Borghese, Nasceu
em Canino ou Roma, na Itâlia, a 29 de fevereiro de em Roma, em 1552; e ali faleceu, em 1621. Estudou
1468, e faleceu em Roma, a 10 de novembro de 1549 em Perúgia e Pádua; e retornou a Roma com o titulo
Foi papa entre 1534 e 1549. Recebeu boa educação' de advogado. Sua atuação como tal foi notável. Foi
em Roma e Florença, na corte de Lourenço ~ feito vice-legado de..Bolonha; auditor da Câmara
Magnificente. O papa Alexandre VI fez dele Apostólica; serviu em missões diplomáticas; foi
cardeal-diácono: e tornou-se bispo de Cometo e nomeado cardeal, em 1596; bispo de Jesi, em 1597'
entã? de Montefiascone, Parma, Benevento e Ostla. vice-regente de Roma, em 1603. Era homem dotad~
E, finalmente, tornou-se deão do Sagrado Colégio. de considerável erudição canônica, e de elevada
Sucedeu a Clemente VII como papa. educação. Tomou-se conhecido como homem afável
Tornou-se astuto diplomata, como também refor- de gentil e impoluta conduta. Entretanto, ~
mador e administrador. Suas decisões eram tomadas nepotismo era a sua debilidade. Ele promoveu as
reformas e principias decretados pelo concilio de
cuidadosamente; ~as, uma vez que as tomasse, era Trento. Publicou uma edição revisada do Rituale
resoluto no cumpnmento das mesmas. Foi ele quem Romanum,
convocou o famoso Concilio de Trento que entre
outras coisas, enfrentou os resultados da R~forma . Fo! homem que realizou muitas obras públicas,
Protestante. Mostrou-se ativo na defesa da Europa incluindo o estabelecimento do mercado de cereais
contra os turcos; e foi a força que reprimiu o para os pobres, a restauração de antigos aquedutos
protestantismo em certos países do sul da Europa. No romanos, e o embelezamento da cidade de Roma.
~ampo d~ p~litica internacional, procurou manter a
Também foi um mecenas das artes e das ciências
independência da sé romana, enquanto várias forças tendo completado a Basilica de São Pedro e ampliad~
opo~~as . se enm:chocavam. Conseguiu manter um
o Palácio do Quirinal e a Biblioteca do Vaticano.
equilíbrío precário de forças entre Francisco I, rei da 6. Paulo VI
França, e o imperador Carlos V, da Alemanha, e Originalmente chamava-se Giovanni Battista Mon-
procurou estabelecer entre eles a paz. Convidava a tini. Nasceu em Concesio, perto de Brêscia, na Itália,
muitos homens ilustres a Roma, a fim de consultá-los. em 1897. Morreu em Roma, em 1978. Provinha de
Em seu pontificado foram efetuadas várias reformas. uma Iamília proeminente e rica, envolvida no
Excomungou a He~rique VIII, da Inglaterra, o que empresariado de jornais. Foi treinado pelos jesuitas;
acab<?u ~ando ongem à ~greja da Inglaterra prestou exames finais em Bréscia. Foi ordenado padre
(ançl~camsmo), um grande cisma dentro da Igreja em 1920. Fez trabalho de pós-graduação na Pontificia
Catohca Romana. Restabeleceu a famigerada inqui- Universidade Gregoriana, de Roma. E, como erudito
sição (vide). distinguido, foi escolhido para ser treinado na
118
PAULO (PAPAS) - PAULO (APOSTOLO)
diplomacia eclesiástica. Passou certo período de PAULO (APOSTOLO)
tempo como conselheiro espiritual da Federação A Importância de Paulo
Italiana da Universidade dos Estudantes Católicos
(1923-1934), mas essa organização foi descontinuada Esboço:
pelo governo fascista de Mussolini. Serviu na r. Vida
Secretaria de Estado do Vaticano, até 1954, 1. Fontes de Informação
excetuando um breve período de ausência, quando 2. Passado
atuou como núncio apostólico em Varsóvia, na 3. Primeira Viagem Missionária
Polônia. 4. O Concílio Apostólico
Em 1954, o papa Pio XII nomeou-o arcebispo de 5. Segunda Viagem Missionária
Milão; o papa João XXIII o fez cardeal, em 1958. Os 6. Terceira Viagem Missionária
dois homens foram amigos íntimos durante os cinco 7. Aprisionamento e Encarceramento em Roma
anos seguintes, até que Paulo VI o sucedeu como 8. Paulo, de Novo Livre, Vai à Espanha
papa, em 1963. 9. Segundo Encarceramento e Morte
Em 1963, Paulo VI reconvocou o Concílio 10. Cronologia da Vida de Paulo
Ecumênico, iniciado por João XXIII, em 1962. Fez da 11. Significação de Paulo
unidade cristã o seu objetivo primário, e muitas 1. As Escolas Críticas e Paulo
reformas foram instituídas, tendo esse alvo em mente. 2. As Epístolas Paulinas
Em 1964, foi efetuada uma terceira sessão desse 3. O Servo de Cristo
mesmo concílio. Isso resultou na exoneração dos 4. O Apóstolo dos Gentios
judeus em geral da culpa pela crucificação de Jesus,
bem como em medidas que garantem a liberdade S. A Doutrina de Paulo
religiosa. 6. Paulo e Jesus
Em 1964, Paulo VI fez uma peregrinação à Terra 7. Como Paulo Comprovou seu Apostolado
8. Paulo e Tiago
Santa. Parte de sua missão ali foi a visita ao patriarca
Atenâgoras I, da Igreja Ortodoxa Oriental. Essa foi a Discutir sobre todos os grandes temas paulinos,
primeira visita de um papa à Terra Santa, bem como neste artigo, requeriria um estudo por demais longo.
o primeiro encontro com um patriarca oriental, desde O cristianismo deve suas distinções à pessoa de Cristo
1439. Nesse tempo, o papa deixou claro que estava e à teologia de Paulo. Damos abaixo os títulos de
interessado na reconciliação; e Atenágoras I mostrou- alguns dos principais temas paulinos, manuseados em
se igualmente enfático. Meios de reunião foram diferentes artigos, embora temas menores também
discutidos, mas até hoje não foram postos em obra. tenham merecido ser ventilados em artigos separados,
Paulo VI viajou mais extensivamente que qualquer visto que um dos propósitos desta enciclopédia
papa antes dele. Mas João Paulo 11 ultrapassou em consiste em cobrir o campo inteiro da teologia.
muito o recorde daquele. Sua viagem mais longa ArtIgos Separados a Consultar, para Melhor
(até então a mais longa que já fizera qualquer papa) Compreensão ele Paulo:
foi a viagem ao Trigésimo Oitavo Congresso Adoção
Eucarístico Internacional, efetuado em Bombaim, na Andar, Metáfora do
India. Na ocasião, ele aproveitou a oportunidade para Anjos
conferenciar com Sarvepalli Radhakhrishnan, presi- Batismo
dente da Índia. Batismo no Espírito Santo
Em 1965, ele visitou a cidade de Nova Iorque. Batismo pelos Mortos
sendo a primeira visita de um papa aos Estados Boas Obras
Unidos da América do Norte. Ali discursou diante de Casamento (ver sobre Matrimônio)
uma sessão especial da Assembléia Geral das Nações Céu (ver também sobre Lugares Celestiais)
Unidas, quando procurou promover a paz mundial. Conduta Ideal
Também conferenciou com o presidente norte-ameri- Descida de Cristo ao Hades
cano, Lyndon B. Johnson, e com outras figuras Depravação
liderantes da grande nação norte-americana. Demônios (Demonologia)
Seguiram-se outras viagens, entre as quais uma ao Divórcio
santuário mariano de Fátima, em Portugal, em 1967, Eleição
bem como uma visita à Turquia, em 1967, quando Espírito Santo
conferenciou com o patriarca Atenágoras I, de Expiação
Constantinopla. Em novembro de 1967, foi submetido Expiação pelo Sangue
a uma operação na próstata. Esteve presente ao Fruto do Espírito
Congresso Eucarístico de Bogotá, na Colômbia, em Graça
agosto de 1968, a primeira vez em que o papa visitou a Herança
América Latina no decorrer de seu pontificado. Ali Igreja
expressou sua preocupação acerca dos grandes Justificação
problemas sociais daquela parte do mundo. Lugares Celestiais
A 29 de julho de 1968, publicou uma encíclica sobre Livre-Arbítrio
o controle de população intitulada Humanae Vitae Matrimônio
(Sobre a Vida Humana), que tomou a linha dura Mistério da Vontade de Deus
sobre a questão, tendo-se mesmo declarado contrário Misticismo
a qualquer meio artificial de controle de nascimento. Paciência (cada aspecto do fruto do Espírito tem um
Essa mensagem provocou grande agitação dentro e artigo separado)
fora da Igreja Católica Romana, e muitas pessoas Pactos
resolveram não obedecer ao papa acerca dessa Parousia
questão. Paternidade de Deus
Paulo VI faleceu em Roma, em 1978, e foi Paulo e Jesus (ver Paulo. 11.6)
substituido pelo papa João Paulo I, que ficou na Paulo, Êtica de
cátedra papal por bem pouco tempo. Paz {cada aspecto do fruto do Espírito tem um artigo
119
PAULO (APOSTOLO)
separado) e viagens de Paulo que não se encontram nas páginas
Pecado do N.T., mas parecem ser quase totalmente lendários.
Perfeição Espiritual A arqueologia em nada tem podidocontribuir pare
Plenitude dos Gentios comprovar esse material e atualmente não hã modc
Plenitude dos Tempos como afirmarmos a validade de qualquer informação
Plenitude (Pleroma) de Deus, Participação do adicional, sobre a vida de Paulo, contida nesse livro
Homem na apócrifo. Há muitas declarações sobre Paulo nos
Pleroma escritos dos pais da igreja, mas quase todos esses se
Predestinação derivam, de algum modo, do livro de Atos ou das
Presciência de Deus epistolas de Paulo, e outra parte se deve, provavel-
Primicias do Espirito mente, ao material legendário que foi se avolumando
Propicíação em tomo da pessoa de Paulo. A comunidade cristã,
Salvação em sua maior parte, compunha-se de pessoas vindas
Santificação das classes humildes, pelo que também os historia-
Segurança Eterna do Crente dores antigos ignoraram-na quase completamente; e é
Transformação Segundo a Imagem de Cristo por esse motivo que temos tão escassa informação
acerca do desenvolvimento inicial do cristianismo, nos
APÓSTOLO PAULO escritos desses autores seculares. A arqueologia
Cristo! Sou de Cristo! e que esse nome te seja bas- nos fornece. alguma informação sobre os muitos
tante; lugares que foram visitados por Paulo, bem como
Sim, para mim, também, ele tem sido grandemente acerca de sua cidade natal, Tarso; porém, excetuan-
suficiente; do-se as influências culturais que tais localidades
Eis que não te quero conquistar com palavras devem ter exercido sobre Paulo, não se pode extrair,
melifluas, dessas informações, qualquer elemento adicional
Paulo não tem honra ou amigo, a não ser Cristo. sobre a pessoa do próprio Paulo. Por conseguinte,
Sim, sem o ânimo de uma irmã ou de uma filha resta-nos analisar o livro de Atos dos Apóstolos e as
Sim, sem o apoio de um pai ou de um filho, epistolas paulinas; e toda outra informação deve ser
Sozinho 11a terra, sem lar sobre as águas, aceita apenas experimentalmente.
Passe eu, com paciência, até estar finda a obra. 2.........
Contudo, não estou sozinho, se Cristo está comigo. Neste ponto. estamos mais limitados do que acerca
Ele acorda obreiros para o grandioso emprego; dos anos posteriores de Paulo. Do nascimento de
Oh, não na solidão, se as almas que me ouvem Paulo até o seu aparecimento em Jerusalém, como
Extraem, de meu júbilo, a surpresa da alegria. perseguidor dos crentes, temos apenas informações
Tenho conquistado corações de irmãs e irmãos, muito esparsas. Sabemos que ele nasceu em Tarso,
Vivo sobre a terra ou oculto entre torrões; «cidade não insignificante» (ver Atos 21:39), descrição
Eis que cada coração espera por mim, outro essa que tem sido confirmada pelas escavações
Amigo na impoluta famllia de Deus. arqueológicas de Sir William Ramsay. Naquele tempo
Sim; através da vida e da morte, da tristeza e do Tarso (na Cilícia) foi incorporada à provincia da Siria.
pecado, Tarso, por essa época, já tinha história antiga, e fora
Ele será suficiente para mim, ele tem sido bastante; cidade importante por muitos séculos antes da era
Cristo é o fim, pois Cristo foi começo. cristã. Tarso chegou a ser a cidade mais importante
Cristo é o começo, pois o fim é Cristo. da Cilicia, Essa cidade se tornou uma região de
(Frederic W.H. Myers, 1868) sintese entre o Oriente e o Ocidente, entre a cultura
grega, a cultura oriental e, finalmente, a cultura
I. Vicia romana. Também se sabe que era um centro cultural,
1. Fonta de Iafonnaçlo e que ali era muito forte a variedade do estoicismo
Sabe-se muito mais acerca de Paulo do que acerca romano.
de qualquer outro personagem apostólico. Nosso Paulo nasceu como cidadão romano, provavelmen-
conhecimento sobre esse apóstolo e a sua carreira é te porque o seu pai também já era cidadão romano.
praticamente tudo quanto se sabe acerca do Ao nascer, o menino recebeu o nome de Saulo,
desenvolvimento do cristianismo, durante aqueles provavelmente devido ao rei Saulo, mas é provável
dias. Fora de suas próprias epistolas e do livro de Atos que também fosse chamado Paulo como cognome
dos Apóstolos, no N. T., temos apenas uma referência latino. Paulo significa pequeno e isso pode ter-se dado
adicional a ele, a saber, em 11 Ped. 3:15, onde se lê: devido ao fato de que seus pais o chamavam de
«... 0 nosso amado irmão Paulo... » A fonte primária «pequerrucho»; mas também é possivel que ele tenha
de informação, portanto, é o livro de Atos; a fonte recebido o nome de Paulo, simplesmente por ter som
secundária de informação são as suas epistolas e as semelhante ao nome de "Saulo». Também é possível
alusões incidentais que ele faz a si mesmo e às suas que o apóstolo tivesse um nome romano: mas, nesse
viagens. Entretanto, alguns têm ensinado que apesar caso, não deve tê-lo usado com freqüência, porquanto
de fornecerem menos informações sobre ele, as não temos nenhuma informação sobre qual seria esse
epístolas são mais valiosas para o estabelecimento da nome. A alteração posterior de seu nome, de Saulo
cronologia - pelo menos uma cronologia que é mais para Paulo, mui provavelmente foi apenas a adoção
extensa e que inclui os últimos poucos anos de sua de seu apelido como nome próprio. Não' se sabe
vida, acerca dos quais o livro ele Atos nada nos diz. qual o. ano de seu nascimento; porém, quando do
Isso incluiria o seu periodo de liberdade entre os dois apedrejamento de Estêvlo (que ocorreu em cerca de
encarceramentos a que foi sujeito em Roma, e seu e
32 D.C.), lemos que Saulo era um jovem. razoável
martirio final. supor, por conseguinte, que ele tenha nascido na
Fora do N. T. há algum' material informativo, mas primeira década do século [ D.C., sendo, assim, um
normalmente esse não é reputado como digno de contemporâneo mais jovem de Jesus, embora não haja
muita confiança. Por exemplo, temos o livro apócrifo qualquer evidência de que ele tenha visto alguma vez
«Atos de Paulo», que só foi escrito na segunda metade ao Senhor. E não é mesmo provável que o tenha visto,
do século 11 D.C. Essa obra contém alguns incidentes pois Paulo jamais se refere ao fato.
120
Os soldados levam Paulo a Antípatris
(Atos 23:31)
Cidades onde Paulo Ministrou
[l'f
PAULO (APOSTOLO)
assassmro, não poupando nem as mulheres, - E, harmonia essencial entre essas varias narrativas
no entanto, repentinamente, tornou-se igualmente bíblicas, além de certas coincidências verbais que
zeloso defensor e propagador do evangelho de Cristo. confirmam o fato de que há uma fonte informativa
Que ocorrência teria sido suficientemente drástica e única para todas elas. Dessa maneira, essas narrativas
decisiva para produzir tão notável modificação em são interdependentes entre si, e não narrativas
suas atitudes? As respostas dadas por certos independentes umas das outras. As histórias narradas
indivíduos são repugnantes para a fé e a sensibilidade por Lucas, mui provavelmente, - se basearam
cristãs. Porquanto alguns querem fazer-nos crer que em narrativas pessoais, apresentadas pelo próprio
Paulo era um esquizofrênico, ou que de outra maneira Paulo. A história nos mostra que Lucas foi quase
sofrera um desequilibrio mental qualquer, e que constante companheiro de viagens daquele apóstolo,
teriam sido essas aberrações mentais que criaram as em suas jornadas missionárias. Os sentimentos de
condições necessárias para suas experiências místicas. temor, a luz brilhante, a purificação psicológica, a
No entanto, não nos devemos admirar ante essa sua renovação, a sua conversão, são todos sinais de
opinião adversa sobre Paulo, porque até mesmo uma experiência mística genuína; e são exatamente
pessoas moderadamente dotadas de dons pslquicos esses os elementos que reaparecem em todas as
são consideradas um tanto estranhas. Quanto mais narrativas sobre o evento da conversão de Saulo. Em
poderosos são esses dons e quanto mais elas sua vida posterior, Paulo recebeu outras grandes e
reivindicam possuir experiências místicas, mais são importantes visões, e a sua doutrina repousa
consideradas fracas da cabeça. Todavia, a verdade é essencialmente sobre essas diversas revelações. Por
que tais pessoas geralmente não são subnormais, e que pensarmos ser estranho que Deus se revele l\
sim, supranormais, Por isso mesmo é que santos e alguém? De fato, o cristianismo, como revelação
homens piedosos, bem como os operadores de distintiva de Deus, se alicerça em tais revelações,
milagres, geralmente servem de escândalo para o sobfetudo sobre as revelações outorgadas ao apóstolo
mundo. Isso continuará nesse pé, até que o mundo Paulo, porquanto nelas é que encontramos as grandes
seja suficientemente espiritualizado para compreen- distinções que separam o cristianismo do judaísmo.
der (se é que isso algum dia se tornará realidade) que A condição original para alguém entrar no
assim deve ser a «normalidade» para a humanidade, apostolado, entre outras, era que o candidato tivesse
embora, normalmente, os homens não passem de visto ao Senhor (ver Atos 1:21). Ora, essa exigência
feras um pouco mais inteligentes do que os animais teve cumprimento na experiência de Saulo. Quando jâ
irracionais. apóstolo, refere-se Paulo por quatro vezes, em suas
Outros criticas supõem que o senso de culpa, epístolas, à sua experiência de conversão; essas
reprimido durante anos, em face de suas perseguições passagens mostram que ele estava convicto da
e assassinios contra os cristãos, teria subitamente realidade objetiva da mesma, considerando-a como
explodido em experiências pseudomisticas, o que equivalente a «ver» a Cristo, o que o qualificava ao
resultou em vir a ser ele justamente o contrário do que oficio apostólico (ver Gál. 1:15,16; I Cor. 9:1; 15:8 e
vinha sendo, ou seja, a sua conversão. Assim sendo, 11 Cor. 4:6). Paulo não estabeleceu distinção alguma
ainda segundo esse ponto de vista, a experiência de entre essa forma de ver e aquelas que os demais
Saulo poderia ter sido meramente "psicológica», e não apóstolos experimentaram," antes da ascensão de
verdadeiramente mística. Ora, nesse caso, Lucas, o Cristo, porquanto todas essas aparições foram do
autor do livro de Atos, teria exagerado em suas «Senhor ressurrecto»,
narrativas, adornando com um colorido mais vivo a As duas grandes pedras fundamentais, que servem
realidade da vida de Paulo. de características distintivas do cristianismo, são a
Ê perfeitamente possível, entretanto, que o próprio ressurreição do Senhor Jesus e a conversão de Saulo,
Paulo soubesse muito bem que aquilo que lhe bem como as proposições que se seguem, coerente-
ocorrera era uma experiência mística da mais elevada mente, desses dois fatos históricos.
ordem, ou seja, um encontro pessoal com o próprio Naturalmente, essa não foi a única experiência
Senhor Jesus. Nada existe no campo do bom senso ou mística de Paulo, pois ele também menciona algumas
da experiência religiosa sã que contradiga tal coisa. outras (tal como a visita ao terceiro céu, em 11 Cor.
De fato, a maioria das doutrinas e das práticas 12). Parece que ele recebeu nada menos que sete
religiosas, originalmente, se alicerçam em alguma
forma de experiência mística. Os modernos estudos grandes visões e a sua doutrina repousa sobre a
da parapsicologia tendem a confirmar a realidade das informação transmitida por meio delas. O cristianis-
experiências místicas válidas, embora algumas dessas mo repousa sobre o aparecimento do Cristo
experiências, como é normal, não passem de ilusões ressurrecto aos vários apóstolos e sobre a mensagem
psicológicas. O fato de que a personalidade de Paulo que ele lhes trouxe quando voltou dentre os mortos.
foi transformada tão radical e permanentemente é um Se esse fundamento for removido, restar-nos-á um
ponto positivo em favor da validade de sua judaísmo reformado (que também repousa em
experiências místicas, como as de Moisés). Removen-
experiência e em prol da. realidade de sua origem,
porquanto o Senhor Jesus está vivo, e não se há de do-se essas formas de experiência, quando muito, nos
duvidar que teve contactos pessoais, após a sua morte, restará uma forma de filosofia religiosa, e não a
ressurreição e ascensão aos céus, com Paulo, desde o religião revelada que certamente o cristianismo é.
Mas, por que se pensaria ser impossível que Deus se
momento de sua conversão, na estrada de Damasco.
revelasse aos homens? E por que se pensaria ser
A história da conversão de Saulo de Tarso é impossível, neste mundo admirável, que Jesus, o
narrada em três lugares do livro de Atos (ver Atos Cristo, um personagem metafísico altamente exaltado
9:3-19; 22:6-21 e 26:12-18), havendo algumas não pudesse revelar-se aos homens?
variações quanto às minúcias, o que nenhuma pessoa A co."enIo de Paulo talvez tenha ocorrido por
sensata pode negar, ante a simples leitura dessas volta de 35 D.C. Ap6s sua conversão, Paulo passou
passagensjver notas sobre estas diferenças, Atos 22:6 alguns poucos dias com os discípulos de Damasco.
no NTI). E possível que o próprio Paulo, ao narrar a Pregou ali, por algumas vezes, ensinando, particu-
história, inconscientemente tenha variado um tanto o larmente, que Jesus era o Messias. Depois disso,
seu conteúdo. No entanto, muitos eruditos, até retirou-se para a Arábia, possivelmente para a regíãc
mesmo da escola liberal, concordam que há uma de Haurã, uma bacia fértil, que fica cerca de oitenta
122
I I
PAULO (APOSTOLO)
quilômetros ao sul da cidade de Damasco, diretamen- missionários com Zeus (Barnabé) e com Hermes
te a leste do extremo sul do mar da Galiléia. Outros (Paulo). Um culto improvisado na hora, pOI> alguns
crêem que a área aludida era o' pais dos nabateus e a sacerdotes locais, em honra aos dois «deuses», teve de
península do Sinai, Aquele era mais acessível para ser interrompido pelos missionários, porque sabiam
quem partisse de Damasco, mas este último lugar que tal titulo não era merecido. Mas não demorou que
revestia-se de grande significação religiosa, por causa os judeus radicais atacassem novamente, e em Listra
de sua conexão com a transmissão da lei, sendo (Atos 14) Paulo foi apedrejado.
possível que Paulo tivesse preferido essa atmosfera. Alguns intérpretes acreditam que foi nessa ocasião
Passou algum tempo em seu retiro, e dali, como é que Paulo teve a sua visão do terceiro céu (11 C!Jr. 12~
provável, esteve por diversas vezes em Damasco e e que ele realmente esteve morto, mas revrveu, h
voltou. A sua mensagem era essencialmente a mesma possível que sua alma tenha sido momentaneamente
- desde o principio - mas por essa altura, Paulo liberta de seu corpo dormente e à beira da morte, o
«... mais e mais se fortalecia e confundia os judeus que que algumas vezes ocorre, conforme também se tem
moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o aprendido em estudos parapsicológicos. O certo é que
Cristo» (Atos 9:22). os enviados, tendo partido de Listra, foram pregar em
Pouco depois disso, Paulo visitou Jerusalém pela Derbe. Começaram a voltar desse ponto, a fim de
primeira vez. após a sua conversão, tendo ficado com confirmarem na fé os novos convertidos, e assim
Pedro por quinze dias, para consulta e consolo passaram sucessivamente por Listra, Icônio e
mútuo (ver Gál. 1:18). Dali partiu para as regiões Antioquia da Pisidia. Oficiais foram eleitos para as
da Siriae da Cilicia (ver Gál. 1:21). É provável que congregações. - Dali, eles partiram para Perge,
tenha visitado sua cidade natal - Tarso, tendo e, finalmente, para Atalia, - importante porto
permanecido naquela região por algum tempo, maritimo da Panfilia. Ali chegando, embarcaram em
embora não tenhamos qualquer informação acerca um navio a fim de irem para Antioquia da Siria, de
disso. Enquanto Paulo pregava em Tarso, Barnabé e onde tinham partido dois anos antes. Essa primeira
outros lideres cristãos se encontravam em Antioquia, viagem os levara às Iáreas de Chipre, Panfília, Pisidia
onde se ia desenvolvendo uma poderosa comunidade e Licaônia e nesses lugares novas igrejas cristãs foram
cristã. A passagem de Atos 11:25 nos diz que Barnabé estabelecidas.
foi a Tarso, à procura de Paulo, sem dúvida para 4. O Conclllo ApoItóIIco
obter a sua ajuda na igreja em Antioquia, que O ...-cIe Iafluxo de gentios na Igreja cristi que se
precisava de uma liderança maior e mais forte. Isso ia formando, criava grandes problemas entre os
foi um movimento provocado pela providência divina, elementos judaicos, especialmente no tocante às expe-
pois armou o palco para a longa carreira de Paulo riências da lei mosaica, e particularmente no que
como apóstolo- missionário. dizia respeito à lei cerimonial e à questão da
3. PrimeIra VIapm MIuIonirla circuncisão. A fim de dar solução a esses problemas e
Em cerca de 46 D.C., Paulo e Bamabé foram com o fito de fornecer uma resposta universal e
comissionados pela igreja em Antioquia a se atirarem autoritária às mesmas, Paulo e Barnabé subiram a
numa excursão evangelistica, Essa viagem fê-los Jerusalém, a fim de conferenciarem ali com os
atravessar a ilha de Chipre (onde Barnabé nascera), apóstolos (ver Atos 15). Corria o ano de 49 D.C.,
tendo passado pelo «sul da Galácia» (ver Atos 13 e 14). calculadamente. O concilio determinou que os gentios
Na companhia de Paulo e Barnabé ia também João não eram obrigados a cumprir as exigências da lei, e
Marcos, autor do chamado evangelho de Marcos. que não deveria haver maior «carga» do que
Este era primo de Barnabé. Ao chegarem a Perge, se absterem de alimentos oferecidos a idolos,
eapital da Panfilia, por razões para nós desconheci- do sangue, da carne de animais sufocados e da
das, Marcos preferiu interromper a expedição e falta de castidade, isto é, de todas as formas de
regressou a Jerusalém, sua terra. Talvez Marcos não pecados sexuais. As restrições visavam uma aplicação
estivesse disposto a dar prosseguimento a uma viagem essencialmente local, e não como padrão universal
tão difícil. - Paulo ressentiu a sua partida, para todos os gentios, embora talvez tenham servido
julgando-a como ato de deserção, e mais tarde não de precedentes para a solução de problemas que
consentiu que ele o acompanhasse em outra excursão surgissem posteriormente. Tudo foi feito (isto é, as
missionária (ver Atos 15:38). Isso tomou-se "motivo de decisões de proibir certas coisas, esboçadas na lei
acirrado debate entre Paulo e Barnabé, pois também cerimonial) a fim de ajudar os membros judeus e
eram humanos e também estavam sujeitos a errar. De gentios da igreja a se darem bem uns com os outros
Perge viajaram a Pisidia, um distrito em uma ilha, com mais facilidade.
onde realmente teve começo a evangelização da Ásia 5. SepDda Vt.aem MIIdoaái.
Menor. Em Antioquia da Pisídia, em um dia de Paulo, então já doa0 de maior experiencla em
sábado, os dois missionários expuseram a sua viagens missionárias, ansiava por partir novamente.
importante mensagem messiânica, e foram bem Mas, devido às divergências com Barnabé, por causa
acolhidos. No sábado seguinte, entretanto, já fora de João Marcos, dessa vez Paulo preferiu levar aSilas
criada uma amarga oposição por parte de alguns (ver Atos 15:40 - 18:22). Partindo de Antioquia,
judeus radicais. E os missionários cristãos foram seguiram por terra para as igrejas do «sul da Galâcia»,
obrigados a abandonar a cidade. e em Listra o grupo foi engrossado com a adesão do
Dali partiram para Icõnio ; importante cidade jovem Timóteo. Ali chegando, o Espirito Santo
comercial da Licaônia, Seguindo seu costume desviou-os da direção ocidental, e passaram a viajar
original, pregaram na sinagoga dos judeus, e na direção norte, atravessando o norte da Galãcia.
obviamente tiveram êxito, pois ficaram ali por tempo Em Trôade, uma visão indicou que a Macedônia (no
considerável. Mas eis que os radicais novamente continente europeu) €;.ta um dos alvos dessa viagem.
provocaram um levante, que forçou Paulo e Barnabé Assim sendo, começou a evangelização da Grécia.
a fugirem, finalmente. Dali foram para Listra e Foram visitadas as cidades de Filipos, Tessalêníca e
Derbe, nenhuma das quais era considerada cidade de Berêia, Na Acaia (sul da Grécia), foram visitadas as
grande importância. Essas cidades ficavam localiza- cidades de Atenas e Corinto. Paulo demorou-se em
das na parte oriental da Licaônia. As superstições Corinto por quase dois anos. Em Trôade, Lucas se
locais levaram as multidões a identificarem os reunira ao grupo missionário, e parece certo que nesse
123
U~. \~~ oc; 'Y.U~ J.~~U a.l~Ulll UI'" :)11; lUIUitlü, l-Ci:111U(1UCJ 4ut:: A condição orígmaí para alguém entrar no
assim deve ser a «normalidade» para a humanidade, apostolado, entre outras, era que o candidato tivesse
embora, normalmente, os homens não passem de visto ao Senhor (ver Atos 1:21). Ora, essa exigência
feras um pouco mais inteligentes do que os animais teve cumprimento na experiência de Saulo. Quando já
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~-~ _.':~
PAULO (APÓSTOLO)
tempo começou ele a escrever a sua importantíssima trecho de Atos 21:17 - 28:16 conta a história. Os
narrativa da igreja primitiva, chamada de Atos dos judeus radicais, nessa ocasião, não tiveram de
Apóstolos. obra da qual se obtém quase todo o perseguir a Paulo, mas ele caiu direto na armadilha
conhecimento de que dispomos acerca de Paulo e suas que lhe armaram. - O mais estranho é que a
viagens, bem como do desenvolvimento da igreja confusão foi provocada por alguns judeus que
primitiva em geral. vinham da provincia da Ãsia, que por acaso estavam
Durante as suas viagens, Paulo se mantinha em no templo e reconheceram Paulo; foram eles que
contacto com as congregações cristãs anteriormente agitaram as multidões e fizeram-nas atacar o
organizadas por meio de epístolas, certo número das apóstolo. As autoridades romanas aprisionaram
quais têm chegado até nós, tendo-se tornado parte de Paulo por estar perturbando a ordem. A essa altura,
nosso N. T. As epistolas de I e 11 Tessalonicenses Paulo fez um discurso na escadaria do templo,
devem ter sido escritas nesse tempo. De Corinto, con tando com pormenores como ele fora perseguidor
Paulo partiu para Êfeso, onde ficou durante pouco dos crentes, como ele se convertera, e como pregara a
tempo. Dali, em viagem apressada, passou por Jesus como Messias de Israel. Paulo foi ameaçado de
Jerusalém e chegou a Antioquia da Slria, Dessa açoites pelas autoridades romanas, mas, informando-
maneira se encerrou a sua segunda viagem missioná- as de que era cidadão romano, o tribuno militar o
ria. Essa segunda viagem missionária evidentemente soltou. Mas essa ação causou tal protesto, por parte
ocupou de ano e meio a dois anos, e provavelmente dos judeus que, para sua própria proteção, Paulo foi
terminou em cerca de 51 D.C. Depois disso Paulo levado de volta às barracas militares. Os judeus, ato
passou mais algum tempo (quanto, exatamente, não contínuo, conspiraram em matá-lo, e por isso Paulo
sabemos), em Antioquia da Siria. foi" removido para Cesaréia, com um grupo armado.
6. Terceira Viagem Mlulonárla Ali Paulo foi conduzido à residência de Félix,
Foi a época do mlnistêrio em volta do mar Egeu (ver procurador romano. Paulo foi guardado sob sentine-
Atos 18:23 - 20:38). Sob diversos aspectos, esse foi o la, no palácio de Herodes. Aparentemente, esteve em
período mais importante da vida de Paulo. A Cesaréia pelo espaço de dois anos, e alguns crêem que
província da Asia foi evangelizada, e postos ali ele escreveu a sua epístola aos Colossenses, aos
avançados do cristianismo foram lançados na Grécia. Efésios e a Filemom; mas uma data posterior para
Durante esses anos, Paulo escreveu I e 11 Coríntios, essas epistolas é mais provável.
Romanos, e talvez (ainda que não todas) algumas das Após dois anos de administração malsucedida,
chamadas epístolas da prisão - I e II Timóteo e Tito. Félix foi chamado de volta a Roma, e Pórcio Festo
De Antioquia, Paulo partiu para Éfeso. Ali passou tomou o seu lugar. Este era homem de caráter
cerca de três anos, tendo estabelecido um dos centros amargo. (Isso aconteceu em cerca de 58 D.C.Y.
mais importantes do cristianismo, a despeito da feroz Quando o novo procurador se recusou a ouvir o caso
oposição, movida tanto pelos judeus como pelos de Paulo, em Jerusalém, os judeus desceram a
aderentes da adoração à deusa Arternísa (Diana). Cesaréia, a fim de acusarem a Paulo ali. Assacaram
Desse ponto, provavelmente, Paulo visitou diversas graves acusações contra ele, mas que Paulo negou
outras áreas ao redor, mas seu trabalho principal se categoricamente. Foi então que Paulo apelou para
concentrou em Éfeso. Também tornou a visitar as César, que era direito de todos os cidadãos romanos, e
congregações cristãs ao redor do mar Egeu, que dessa maneira se criou o motivo de sua viagem a
haviam sido anteriormente fundadas. Atravessando Roma. Antes de partir para Roma, Paulo falou
Trôade, Paulo chegou à Macedônia, onde escreveu a perante o rei Agripa II e sua irmã, Berenice. Esse
epístola chamada 11 Coríntios, e dali partiu para Herodes era o bisneto de Herodes, o Grande. Nessa
Corinto. Nessa cidade ele passou o inverno e escreveu oportunidade, Paulo repetiu a história de sua
a epístola aos Romanos, antes de_continuar viagem conversão, e é óbvio que impressionou favoravelmente
até Mileto, um porto próximo de Efeso. os que o ouviram.
Por essa altura, Paulo desejou subir a Jerusalém, Dali. viajando pelo mar, Paulo partiu para Roma,
a fim de levar auxílios aos crentes pobres dali juntamente com muitos outros prisioneiros. Fez
(empobrecidos pela perseguição e pela fome), diversas paradas ao longo do caminho, incluindo uma
enviados pelos crentes gentílicos. A principio ele permanência de três meses em Malta. Paulo chegou a
queria ir à Síria por via marítima, mas, devido a uma Roma em S9 D.C., não como homem livre, mas, não
armadilha que lhe fizeram para tirar-lhe a vida, obstante, como poderosa testemunha do cristianismo.
preferiu viajar por terra, tendo atravessado a Chegando a Roma, Paulo não foi tratado como
Macedônia. Dali, ele e seus companheiros de viagem prisioneiro no sentido ordinário, e nem como
tomaram um navio e velejaram ao longo das costas criminoso. Ali ele desfrutou do que se denominava
ocidentais da Asia Menor. Breves paradas foram «libera custódia», isto é, podia viver em sua própria
efetuadas em diversos lugares, incluindo Mileto, casa, desfrutando de muitos privilégios de liberdade
cidade portuária de Efeso, o que forneceu a Paulo a de ação, mas sempre acompanhado de um guarda.
oportunidade de se despedir finalmente, dos crentes Paulo pregava àqueles que o visitavam, explicando-
que ali habitavam. Finalmente, desembarcaram em lhes as razões de seu aprisionamento; e também
Tiro, na costa da Síria. A despeito das várias enviava epístolas a lugares distantes. Foi nesse
advertências sobre os perigos que ele teria de periodo que, provavelmente, foram escritas as
enfrentar em Jerusalém, Paulo prosseguiu viagem. epistolas aos Colossenses, a Filemom, aos Filipenses
Paulo chegou em Jerusalém no Pentecoste, provavel- (e, provavelmente, aos Efésios).
mente em cerca de 56 D.C. Sua terceira viagem O livro de Atos dos Apóstolos encerra-se brusca-
missionária, por conseguinte, terminou após um mente, não como um livro inacabado, e, sim, dando a
pouco mais de três anos de atividades. idéia de que o autor tencionava escrever outra seção
7. Aprlaionamento e Encarceramento em Roma ou livro a fim de suplementá-lo. Lucas escrevera um
Paulo se movimentara com admkál'eI UbenIade, evangelho, e então essa história, e não é de modo
embora nunca o tivesse feito sem teste, tribulação e algum impossível que ele tivesse planejado ainda um
perseguição. Jerusalém rejeitara muitos homens outro volume. De conformidade com a tradição cristã
piedosos, muitos profetas, e o próprio Jesus; e Paulo primitiva, Lucas continuou sendo fiel auxilar de Paulo
não estava destinado a conseguir maior êxito ali. O até o martírio deste, e então deu continuação ao seu
19.4
PAULO (APÚSTOLO)
ministério, no evangelho, por mais vinte anos (até 84 atividades?
D.C.), até que, finalmente, faleceu em Beôcia, na 2. Quinze dias de visita a Jerusalém - Paulo
Grécia, com a idade de oitenta e quatro anos. Se viu a Pedro e a Tiago, irmão de Jesus
podemos confiar nessa tradição, ficamos completa- (Gál. 1:27).
mente atônitos, por não sabermos por que não foi 3. Sua obra na Síria, Cilícia e Galâcia, e talvez
completada a história de Paulo, em um escrito nas regiões ocidentais - Macedônia e Grécia
subseqüente, juntamente com outros importantes (14 anos) (Gál. 1:21) 35-93 D.C.
acontecimentos que estariam ocorrendo na igreja, A. Escreveu a maioria de suas epistolas:
após o falecimento de Paulo. I e 11 Tessalonicenses (11 Cor. 6:14 - 7:1)
8. Paulo, ele NOTO Une, Vai à Elpanha B. Possível aprisionamento em Éfeso
Nenhum relato bíblíco nos diz que Paulo foi Colossenses, Filipenses e Filemom
libertado novamente a fim de ministrar outra vez; mas e. Visita a Jerusalém - Visita de conferên-
existem algumas evidências que dão essa indicação. Ê cia (Gál. 2:1; Atos 15) 49D.C.
possível que Paulo tenha sido libertado em cerca de 63 D. Volta à Ásia (provincia romana)
D. C., e que tenha visitado tanto a Espanha como a I e 11 Cor. 10 - 13
área do mar Egeu, uma vez mais. A epístola de Período de crise com os cristãos judaizan-
Clemente (em vss. 5-7, 95 D.C.), - o cânon tes - (Gá1àtas inteiro; 11 Cor, 10~13:
muratoriano (170 D.C.) e o livro apócrifo Atos de Fil. 3:2 - 4:7)
Pedro (1:3 - 200 D.C.) falam de uma visita de Paulo 4. Solução da Crise
à Espanha. As epístolas pastorais, ou pelo menos 11
Timóteo, parecem envolver um ministério posterior à A. Termina a coleta para os pobres de
Jerusalém 55 D.C. (11 Cor. 1-9 exceto
história narrada no livro de Atos, desenvolvido no 6:14-7:1 - I Cor. 16:1-4; 11 Cor. 9:1-15;
Oriente, pelo que também parece que Paulo pôde
cumprir o seu desejo de visitar a Espanha, conforme Rom. 15: 14-32)
expressou em Rom. 15:24. B. Planos de visitar a Espanha e Roma
(Rom. 15:24,28) 56 D.C. 11 Cor. 1-9;
9. Sepndo Eacarcerameato e Morte Romanos 16 (Pedro e Febe)
Não se sabe quais as circunstâncias do segundo S. Viagem a Jerusalém, levando a oferta - N~o
encarceramento de Paulo, embora a tradição indique há referências diretas, exceto as que antecí-
que ele foi aprisionado pela segunda vez, levado de pam o evento. 57 D.C.
volta a Roma e lançado na prisão. Sabe-se que Nero 6. Aprisionamento em Roma - Conforme a
odiava os cristãos e que chegou mesmo a usar os seus tradição cristã (Atos 20). 59 D.C.
jardins pessoais como local de torturas cruéis, nos
7. Novamente livre, talvez com um ministério
quais os cristãos eram obrigados a enfrentar animais na Espanha - cerca de um ano. (Só
ferozes. Essa perseguição rebentou em cerca de 64
D.C. Provavelmente, Paulo foi aprisionado, com tradição cristã, sem qualquer alusão bíblica).
muitos outros cristãos, em cerca de 64 D.C. Na 8. Segundo aprisionamento e morte. (Só t~adi·
qualidade de cidadão romano, é provável que tenha ção cristã, sem qualquer alusão bíblica),
sido julgado por um tribunal, mas, quais tenham sido 6S D.C.
as acusações contra ele ou quais as condições do
julgamento, não temos meios de saber. Paulo sofreu o D. Slplflcaçlo ele Paulo
martirio em Roma, provavelmente no ano de 6S D.C. 1. AI FMoIM Cdtlcaa e Paulo
De acordo com certa tradição, foi decapitado. É possí- Albert Schweitzer (Paul and His Interpreters,
vel que nesse período final de sua vida tenha sido 1912) salientou o fato de que com freqüência J:l.S
escritas as chamadas epistoias pastorais - I e 11 Escrituras têm sido usadas por pessoas comuns e por
Timóteo, e Tito - e, igualmente, a epístola aos intérpretes tão-somente como uma mina de textos de
Efésios. Assim terminou a carreira do maior e mais prova, sem qualquer consideração histórica ou.
influente exponente do cristianismo em toda a sua epexegética. Esses dizem que qualquer argumento
história, após ter combatido o bom combate, ter pode ser solucionado simplesmente abrindo-se a
terminado a carreira e ter conservado a fé. Não há que Blblia em certa passagem que, alegadamente, traz a
duvidar que o esperam· as coroas prometidas (ver 11 resposta. Os opositores, em qualquer debate, pareciam
Tim.4:7). igualmente habilidosos em apelar para «textos de
10. Cronoloala da Vida ele PaIo prova", empregando esse método. O século XVIII
I. Vida de Paulo antes do contacto com os segui- testemunhou uma revolta contra tais princípios, pelos
dores de Jesus pietistas e racionalistas, os quais, por razões
1. Provável nascimento e infância em Tarso diferentes entre si, procuravam distinguir a exegese
(judeu da dispersão) (Atos 22:3; Gál. 1:21) das conclusões providas pelas considerações dos
5 D.C. credos e pelo simples exame de «textos de prova»:
2. Vida como judeu zeloso, da seita dos fariseus a. O trabalho de J.S. Semler (1725-91) e J.D.
(Gál. 1:13,14; Fil. 3:3-6; Atos 26:4,5) Michaelis, Esses homens tentaram aplicar métodos de
20·26D.C. critica histôrica-literéria às Escrituras, tendo esboça-
11. Vida como perseguidor dos seguidores de Jesus do normas hermenêuticas, na esperança de mostra-
(Gál. 1:13; I Cor. 15:9; Atos 8:3; '9:1) :12 rem que o N.T. não se desenvolveu em um vácuo, m~
D.e. que se devem aplicar indagações históricas e
literárias, se quisermos entender apropriadamente a
111. Conversão de Paulo sua mensagem. A filologia foi introduzida como parte
(Gál. 1:15; I Cor. 9:1; talvez 11 Cor. 12:1-4; da abordagem histórica na interpretação e na solução
Atos 9:1-19; 22:4-16; 26:9-18). Cerca de dos problemas. À base desses estudos, mostrou-se que
3S D.C.? em I e 11 Coríntios temos uma correspondência do
IV. Carreira de Paulo como apóstolo apóstolo com os crentes de Corinto, e não meramente
1. Três anos na Arábia e em Damasco (e outras duas epístolas, incluindo, talvez, um grupo de quatro
áreas) (Gál. 1:17) 32-39 D.C. Problema: epístolas, que, finalmente, foram reunidas em duas
Sobre o que ele meditava, ou quais suas divisões principais. E outras sugestões semelhantes
125
PAULO (A,POSTOLO)
foram feitas, no tocante às epístolas de Paulo, C. OS eruditos britânicos e norteamericanos
b. A escola de Tubingen . No século XIX, na examinaram a reconstrução apresentada por Baur,
Alemanha, surgiram formas mais radicais de escolas mas, na maioria dos casos, não Se deixaram
críticas da Biblía. Obras de autores tais como G.W. persuadir. O conjunto de escritos paulinos (com
Brarniley (Biblical Criticism) e J .E. Schmidt, Schleier- exceção de Hebreus, que poucos eruditos têm
macher e F.C. Baur (de Tubingen), levantaram atribuído a Paulo, porquanto o próprio livro não
dúvidas sobre a autenticidade de I e 11 Timóteo e de 11 reivindica tal autoria) permaneceu de pé. Sólida
Tessalonicenses, à base de considerações literárias, exegese histórica saiu da pena de Lightfoot e de
lingüísticas e de vocabulário. Baur só deixou intactos Ramsay. Este último só escreveu após intensa
cinco dos vinte e sete livros do N.T., como pesquisa arqueológica. Tais autores confirmaram a
testemunhos incontestáveis do período apostólico e autoria lucana do livro de Atos; e isso aumentou a
escritos pelos próprios apóstolos. - Ele tentou credibilidade e esclareceu a cronologia desse livro, no
distinguir a verdadeira literatura apostólica mediante que se relaciona a Paulo.
o princípio interpretativo da «tendência». As duas d. Outros eruditos têm produzido teorias sobre o
grandes tendências que teriam dado colorido à conjunto paulino de escritos. E.J. Goodspeed
literatura apostólica eram o conflito entre Paulo (e o conjecturou que em cerca de 90 D.C., algum
cristianismo gentílico), de um lado, e o cristianismo admirador de Paulo (talvez Onésimo, conforme J.
judaico estrito e a ameaça do gnosticismo, do outro; Knox sugeriu mais tarde) tenha publicado as epístolas
tendência, sob a qual teriam sido escritas as de Paulo, tendo escrito pessoalmente a epístola aos
chamadas epístolas gerais. De conformidade com essa Efésios como epistola generalizadora ou como tratado
teoria da «tendência», toda literatura que tentasse introdu tório.
reconciliar a controvérsia judaico-paulina, ou tentasse De conformidade com a tradição, Onésimo,
reconciliar em parte o gnosticismo, foi classificada ex-escravo, finalmente, veio a tornar-se superinten-
como não-apostólica, e isso extirpava a maior parte dente da igreja de Éfeso, pelo que estaria em posição
dos livros existen tes do N. T. , tornando-os não- de fazer isso. Toda essa idéia, todavia, se esvai em
apostólicos. Baur também ensinava que Paulo foi o fumaça, quando consideramos que nada há, na
helenizador do cristianismo. própria epístola aos Efésios, que indique que ela
Em resultado disso, essa escola convenceu a bem tenha encabeçado ou terminado um conjunto de
poucos, além de a si mesma: Não é lógico supormos epístolas paulinas; e nem se pode provar que essa
que um homem só, e em tão pouco tempo, pudesse ter epístola contenha um sumário não escrito por Paulo
helenizado o cristianismo (e assim tivesse alterado seu acerca do pensamento desse apóstolo.
caráter original). Também é verdade que esse e. A crítica literária do século atual tem procurado
elemento helenístico, apesar de presente, tem sido discutir e desenvolver os seguintes temas: a. Esforço
altamente exagerado; e Paulo, sendo judeu criado em contínuo para obter uma construção histórica geral
Jerusalém e ali criado como Iariseu, certamente não das epístolas de Paulo e de seu pensamento. b.
foi quem helenizara a si mesmo. A citação de Paulo, Determinação exata de quais epístolas Paulo teria
feita em I Clemente (95 D.C.) e nos escritos de Inácio escrito ou não. c. Determinação da origem e das datas
(110 D.C.). onde não se vê qualquer reflexo de um das epístolas pastorais, que alguns supõem terem sido
suposto conflito entre Paulo e uma tendência escritas por algum discípulo de Paulo, que procurava
judaizante. nesse período, são argumentos fatais às expressar as atitudes desse apóstolo. d. Determinação
teorias da Escola de Tubingen. Baur ficou na mira de das epístolas paulinas e não-paulinas. e. Solução para
vários conservadores, principalmente J.C.K. Hofman várias questões relativas a unidade, a autoria e a
e os seguidores de Schleierrnacher. Mas o golpe mais interpretação das epístolas paulinas individuais.
devastador foi dado por um ex-discípulo de Baur, A. Outras implicações dessas pesquisas se encontram
Ritschl, o qual abandonou a idéia da alegada no parágrafo abaixo acerca das epistolas paulinas.
hostilidade entre Paulo e os discípulos originais de
Cristo. Ele salientou a unidade dos discípulos e a 2. As Epl.tolas Paullnas .
unidade essencial da mensagem cristã. Os discípulos Quanto aos detalhes do esboço fornecido aqui, o
'Posteriores dessa escola de Tubingen começaram a leitor pode examinar os artigos sobre cada epístola.
aceitar como paulinas quase todas as epístolas Embora, ao longo dos séculos, toda correspondência
atribuidas a Paulo (exceto 11 Tessalonicenses, as que tem chegado até nós com o epíteto de paulina,
epístolas pastorais e Efêsios, cuja aceitação, em isto é, escrita por Paulo, tenha sido posta em dúvida,
muitos lugares, não era mais considerada essencial 8 por alguns, como autêntica. Existem quatro escritos
ortodoxia) . paulinos clássicos que nem mesmo os eruditos
modernos põem em dúvida, mesmo entre os mais
As controvenlas sobre a autoria revolvem em torno liberais. Trata-se das epístolas aos Romanos, aos
de Efésios, Colossenses e as epístolas pastorais, Gálatas e I e 11 Coríntios. Lutero dizia que se
sobretudo essas últimas; e as discussões podem ser pudéssemos ao menos preservar o evangelho de João e
vistas in loco Os «clássicos paulinos» (que poucos a epístola aos Romanos, o cristianismo não poderia
duvidam ser de autoria paulina) são Romanos, ser extinto. Entretanto, mais geralmente aceitam-se
Gálatas, I e 11 Coríntios. A essas quatro, outras cinco os nove livros seguintes como saídos realmente da
são adicionadas pela maioria dos estudiosos, com pena de Paulo: Romanos, I e 11 Coríntios, Gálatas,
pouca hesitação, a saber, I e 11 Tessalonicenses, Filipenses, Colossenses, I e 11 Tessalonicenses e
Filipenses, Colossenses e Filemom. Filemom. Para muitos, as epístolas de I e 11 Timóteo e
Somos forçados a reconhecer, entretanto, que Tito (as epístolas pastorais), além de Efésios, são
algum bem surgiu dessa controvérsia, pois os consideradas obras dos discípulos de Paulo (escritas
intérpretes foram alertados para a necessidade de em seu nome). E a epístola aos Hebreus (apesar de
levar-se em conta as considerações históricas e não ter sido rejeitada do cânon do N.T.) é quase
literárias, para que se faça bom juízo do N.T. Baur universalmente rejeitada como epístola escrita por
trouxe à luz uma abordagem indutiva histórica ao Paulo. (Quanto a detalhes sobre essas declarações,
cristianismo primitivo, e libertou as pesquisas da idéia consultar os artigos sobre cada uma dessas epístolas).
de que nada havia a ser aprendido, posto que todas as De modo geral, nas pesquisas mais recentes, a
conclusões já haviam sido formadas. atenção se tem desviado da autoria das epístolas para
12~
PAULO (APOSTOLO)
outras questões. Por exemplo, costuma-se discutir verdadeiro escravo de Jesus progride muito mais
sobre a forma original das epístolas ou a sua unidade rapidamente no caminho da absoluta transformação
essencial. Teria sido escrita realmente aos crentes de segundo a imagem de Cristo, e isso contribui para a
Roma a chamada epístola aos Romanos?' Nesse caso, verdadeira glória de Deus. Aqueles que persistem no
por que alguns manuscritos omitem as palavras «A pecado, portanto, «carecem» dessa glória. O verdadei-
todos... que estais em Roma», em 1:7, e «...em ro escravo do Senhor, por conseguinte, ê, realmente,
Roma», em 1:15? Qual teria sido a forma original um homem liberto, pois somente no cumprimento de
dessa epístola, porque alguns mss contêm mais de seu destino é que o homem libertado de seu estado
ê
127
PAULO (APÓSTOLO)
gentios «pretensões» e «ambições jamais ouvidas. onde se vê que a expiação ali efetuada faz- parte
Paulo tornou-se o porta-voz mais proeminente dessa integral do plano geral do evangelho. Ele percebeu
nova mensagem, sendo bem reconhecido o fato de que que o esforço humano jamais poderia realizar o que
somente Paulo expõe, com clareza e pormenores, a foi realizado na cruz do Calvário. E assim também os
mensagem central da posição e do destino da «igreja», seus esforços anteriores, como fariseu, assumiram um
que declaradamente, e na realidade, viria a ser novo significado, pois em seus frenéticos esforços para
essencialmente uma igreja gentílica. obter a justiça própria, mediante a observância da lei,
PaIIIo • op.................te a essa mensagem, Paulo recebeu uma lição perfeitamente objetiva da
até mesmo quando ela ainda estava em sua forma total necessidade da justiça que vem _por meio de
primitiva, nas mãos dos outros apóstolos, antes das Cristo. Posteriormente, ele usou sua própria experiên-
grandes revelações que encontramos em Romanos, cia como lição objetiva (Fil. capo 3), pois ninguém
em Efésios e em Colossenses, as quais, verdadeira- podia vangloriar-se de mais obras na carne do que o
mente, deram à igreja cristã a sua definição final. jovem Paulo. «Mas foi exatamente esse jovem" que
Paulo não podia aceitar antes da sua conversão, e até chegou a compreender que o destino do homem está
mesmo abominava, uma mensagem que falava de um nas mãos de Cristo. Viver corretamente não é o alvo
Messias que fora crucificado e que ressuscitara. principal do destino humano. Isso deve ser feito e será
Aquele filho de Benjamim, o fariseu, era por demais feito por todos os verdadeiros discípulos de Cristo,
astuto para não ser capaz de discriminar o possível mas essa vida resulta da transformação do crente à
impacto que esse Messias crucificado e ressurrecto imagem mesma de Jesus Cristo. Paulo passou da
haveria de impor à comunidade judaica. Outrossim, noção de que a vida é aquilo que um homem faz para
certos porta...... da nova religi.io tinham anunciado a idéia muito mais elevada de que a vida é aquilo em
publicamente, que Deus ab-rogara as exigências da que tornamos metafísica e moralmente transformados
lei antiga, tais como a circuncisão, a justiça mediante segundo a imagem do Caminho, que é ao mesmo
a observância da lei, e os sacrifícios no templo, porque tempo o pioneiro do caminho, e o próprio caminho
tudo isso eram símbolos que haviam sido cumpridos que devemos palmilhar. Paulo começou a perceber
pelo Messias, o antítipo de todos esses tipos que o destino humano é uma longa e grande busca,
simbólicos. Além disso, também haviam anunciado que finalmente conduz à própria presença de Deus, e
que esse mesmo Messias era Senhor de todos, e que aqueles que ali chegam são transformados em seres
.em breve estabeleceria o longamente esperado Reino que serão a própria imagem de Deus impressa neles, e
de Deus, e que a nação judaica, como um todo, corria que, de fato, não serão menos santos do que o próprio
o perigo de perder a participação nesse reino. Sendo Deus. Essa grandiosa e elevada mensagem tornou-se o
fariseu, Paulo sentia repugnância por tais ensinos, e, grande poder impulsionador por detrás do zelo de
em seu zelo pela justiça que lhe parecia autêntica, que Paulo, e ele foi por toda parte do mundo gentílico com
ele reputava estar exclusivamente na lei e nos ritos que o intuito de proclamá-la. Os capítulos 9 a 11 da
saturavam o judaísmo, tornou-se o mais temível epístola aos Romanos consistem de revelações concer-
opositor do cristianismo. Não haveria de descansar nentes ao destino de Israel e à base dessas revelações
enquanto não desaparecesse da face da terra o último Paulo sabia que a nação de Israel seria posta de lado
vestígio dessa nova heresia. Sabia ao que fazia por algum tempo, que a época dos gentios deveria
oposição, e por quais motivos. chegar ao término de seu curso, até que toda a igreja
Mas eis que, repentinamente, o próprio Jesus tivesse sido chamada. Por essa razão, passou a buscar
resolveu interferir na loucura do jovem, apanhando-o ainda com maior determinação a salvação dos
no ato de intensificar os seus violentos esforços de gentios, a fim de estabelecer a igreja, permitindo,
derrubar a igreja. A experiência mística de Paulo, assim, que Deus tornasse a chamar a nação de Israel,
pois, «purificou-o» e «modificou-o», mas deixou a qual, no fim, teria um destino um tanto diferente do
perfeitamente intacta a sua natureza ardente e zelosa. da igreja.
A princípio, Paulo podia pregar apenas a mensagem ACI'IIZUullbém .reveltia de significação simb6lica
messiânica, pois até aquele ponto ainda não recebera na misslo de Paulo como apÔStolo aos gentios.
maiores luzes sobre o sentido da morte de Cristo, as Significava sacrifício, conformidade com a morte de
vastas implicações de sua ressurreição e ascensão. Por Cristo (ver Rom. 6), o que, por outro lado, significa
isso é que., em Damasco, ele pregou que Jesus era o não-conformação com o mundo. A cruz fala de dor,
Messias. E provável que em sua retirada para a de sofrimento e de angústia em sua forma mais
«Arábia» tenha recebido as visões preliminares e as intensa, e Paulo aceitava essas coisas como sinais de
revelações que o equiparam para a tarefa de quarenta seu ministério. Por toda parte era assediado pelos
anos que tinha a sua frente. O trecho de GáL 1:14,15 radicais, e sua longa lista de sofrimentos, em 11 Cor.
indica que um dos ingredientes essenciais das 11:23-28, menciona espancamentos, muitos aprisio-
revelações recebidas por Paulo é que o seu ministério namentos (dos quais temos o registro de apenas
seria entre os «gentios». Posteriormente, no concilio alguns, talvez em número de três), apedrejamentos,
efetuado em Jerusalém (sobre o qual lemos no açoites com flagelos e com varas, naufrágios, perigos
segundo capitulo da epístola aos Gálatas), vemos que de assaltantes e inundações, fome, exaustão física
a sua missão especial foi reconhecida e aprovada pelos devido a trabalhos contínuos e árduos, frio e falta de
demais apóstolos. Dessa forma, Paulo lançou-se ao vestes apropriadas. Acima de tudo, pesava-lhe nas
cumprimento do grandioso desígnio de Deus, como costas o fardo psicológico do cuidado por todas as
nem mesmo os profetas da antiguidade haviam igrejas locais. Trazia em seu próprio corpo as marcas
imaginado. Alguns deles tinham previsto a salvação do Senhor Jesus, tal como Jesus levava, em suas mãos
dos gentios, mas as indicações acerca da igreja - a e em seus .pés, os sinais dos cravos da cruz. Isso fazia
noiva de Cristo - são escassas no V.T., e mesmo parte da significação de Paulo como apôstolo dos
assim foram expostas de forma velada, em tipos e gentios. Era um autêntico soldado da cruz, e exibia
sombras. O grande propósito do oitavo capítulo de um discipulado de consagração sem-par, que o
Romanos e do primeiro capitulo de Efésios jamais mundo jamais pôde esquecer, e que ficou para sempre
havia sido exposto por lábios judeus antes de Paulo. gravado nas páginas das Santas Escrituras, para
. escrutínio de todos. Paulo anunciou uma mensagem
Paul~ aprendeu.qual o pnpWto da ena, confm:me distintiva, que falava do exaltado destino da
ele explica no décimo quinto capitulo de I Corlntios, humanidade, e foi um mensageiro distinto dessa
128
PAUW (APOSTOLO)
mensagem, e é desses dois fatores que aprendemos literatura da Escola Dominical A despeito de Paulo
um outro significado da vida de Paulo. ter sido um místico, parece que o misticismo tem'
5. A DoatrIBa de ..... caldo no esquecimento, ou mesmo tenha sido
A descriçlo mais completa da doutrina de Paulo geralmente rejeitado. Entretanto, Baur mais tarde
pode ser encontrada nas diversas centenas de páginas retrocedeu e voltou ao padrão estabelecido pelá
reforma,. dividindo as diversas doutrinas paulinas em
sobre ~uas epi~tola~, nesta enci~lopédia, cujos pontos compartimentos, sem qualquer tentativa de vê-las
centrais são discutidos nos artigos sobre cada livro.
Aqui temos apenas uma tentativa de salientar o como um conceito unificado. Muitos outros escritores
caráter central dessa mensagem, em torno da qual seguiram esse pa~rã?,.e ingenuamente pensaram que.
tudo o mais é subserviente. ao descreverem individualmente as diversas doutri-
nas, ao mesmo tempo, expunham o pensamento <de
. ~ ~~ ~1UIte salientava a justiça ou Paulo.
justificação mediante a fé e nos séculos seguintes, esse
continuou sendo o fator controlador de· toda R.A. Lipsius (1853) deu um grande passo à frente
qu.and~ rec~l!heceu a «redenção» como o grande
interpretação dos escritos de Paulo. Mui infelizmente
os intérpretes não sondaram ainda com mai~ princípio unificador na doutrina de Paulo e definiu
profundidade o pensamento do apóstolo, pois apesar também dois pontos de vista: o j~rídico (a
ju~tificação) e o ético (a nova criação). Seguindo essa
?e~~ ter salientado a justiça e a justificação, essas
~de!as tão - somente ~ã? parte de. uma mensagem
orientação, Hermann Luedemann, em seu livro «The
maior, porções necessanas, para dizer a verdade, mas Anthropology of the Apostole Paul» (1872), concluiu
ape~as partes componentes de um grande plano. Ê
que os dois la?os da redenção realmente repousam
poss~vel que se os .reform~dores e aqueles que os
sobre esses d01S aspectos da natureza humana. Do
seguiram tivessem tido mais compreensão, a igreja ponto de vista «judaico» anterior de Paulo (Gálatas e
atual talvez compreendesse melhor a descrição do Romanos 1-4), a redenção aparece como um
grande evangelho de Paulo. Desafortunadamente veredicto judicial de inocência; in as , para o Paulo
porém, a igreja tem estacado mais ou menos onde ~ mais maduro (Romanos 5-8 e Efé. 1), a redenção
reforma a deixou, e mui raramente o evangelho surge como uma transformação ético-física da «carne-
completo de Paulo é pregado na igreja comum. Não para o «espírito», mediante a comunhão com o
ser~ isso um dos motivos para a intranqüilidade? Espírito Santo. A fonte da primeira idéia é a morte de
Muitos não se sentem desassossegados e, algumas Cristo e a nossa participação nessa morte. A fonte da
vezes, até mesmo famintos de informações pertinentes segunda idéia é a ressurreição de Cristo e a nossa
à inquirição espiritual? Sim, parece que o povo participa;ção ness~ ressurreição, com sua implicação
evangélico anela por uma mensagem mais profunda' de um tipo de vida nova e transformada. Richard
por uma tentativa mais profunda de compreender po; K~bisch recuo~ ao supor que essa redenção visa
un!camente. a livrar a alma do julgamento vindouro.
que estamos aqui e para onde nos dirigimos. Paulo,
nos dá essa informação, mas esta dificilmente é P01S o destino humano envolve muito mais do que
pregada. Certamente a salvação é mais do que o isso, embora, ouvindo alguém os sermões que
perdão dos pecados e a mudança de endereço para o geralmente se pregam nas igrejas, talvez não chegue a
«céu». Porém, com que freqüência ouvimos prédicas conclusão mais elevada do que essa. Albert Schweit-
que vão além disso? Seria declaração por demais zer, seguindo as indicações de Luedemann e Kabisch
ousada dizer que o evangelho de Paulo, na sua forma desenvolve~ uma sintese com a qual ensinava qU;
completa, raramente é pregado na igreja moderna? Paulo tencionava que sua «redenção» fosse principal-
Homens como L. Usteri (1824) e A.F. Daehne mente escatológica, isto é, um fim dos acontecimentos
(1835) explicaram Paulo em termos da justiça mundiais. Mas o fato é que o segundo capitulo da
epist~la aos F!lipenses contradiz essa posição, como
imputada, segundo é ensinado na epistola aos
Romanos. Em contraste com isso, H.E.G. Paulus tambem o quinto capitulo da segunda epistola aos
salientou a «nova criação» e a «santificação» Corintios. E também errou ao pensar que posto que o
(conforme se vê em passagens como 11 Cor. 5:17 e mundo não terminou imediatamente, conforme Paulo
~e!1sava, passou o apóstolo a expor um «misticismo
Rom. 6). Grande discernimento foi exposto por
Paulu~,. o q~al declarou que a fé em Jesus, significa,
físico», .".0 qual os sacramentos, at;avês da mediação
na .anahse final, a fé de Jesus. E que coisa admirável do Espírito Santo, servem de mediador da ressurrei-
sena se.l?udéssemos aprender esse conceito, pois nos ção de Cristo e de seus efeitos sobre o crente.
conduziria a uma compreensão mais profunda do «Misticismo», sim; mas misticismo fisico através dos
apóstolo Paulo. Imaginemo-nos, por um momento, a elementos fisicos dos sacramentos. ja'mais. Nada
exercer realmente a fé de Jesus, a mesma fé que ele poderia estar mais distante do pensamento de Paulo.
ex~rcia. Porém, isso é impossivel, a menos que
porque ~Ie sempre de~tacou. o puramente espiritual
sejamos pessoas «como Jesus», moralmente transfor- em detrimento do físico. Tinha razão, todavia, ao
madas para sermos como ele era. Não obstante, supor que Paulo ensinou que a união com Cristo
avançar da fé em Jesus para a fé de Jesus foi um nesta vida, através do Espírito, assegura ao crente ~
di~cer~timentoq~e a reforma não doou à igreja, e que participação na ressurreição espiritual de Cristo
a igreja atual so pode explicar e compreender da quando de sua «parousia-, '
maneira mais nebulosa. o pude .... eeataI de . . . - qual ê ele? a e
. F.C;:. Baur, que interpretava à base do arcabouço do salvaçio. Mas um ponto de vista muito ....... da
idealismo de Hegel (1845), procurou primeiramente salvação. O grande tema de Paulo é soteriolôgico e
compreender a Paulo em termos do Espírito, dado se o quisermos, bem podemos usar o te;m~
mediante a união com Cristo, através da fé - e talvez «redenção», pois isso diz exatamente a mesma coisa.
um tanto inconscientemente, ele conseguiu notávei Que espécie de salvação Paulo ensinava? Permitamos
avanço na interpretação, pois não resta a menor que os versículos seguintes falem por si mesmos:
dúvida; de que o Espirito é a grande chave para o «Assim como nos escolheu nele antes da fundação do
cumpnmento do tema central de Paulo. Por mundo, para sermos santos e irrepreensiveis perante
semelhante modo. a idéia da união com Cristo é ele; e ent amor nos predestinou para ele para a
importante, embora esse conceito RÚStiCO tenha adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, ~gundo o
geralmente desaparecido dos sermões da igreja e da beneplâcíto de sua vontade.,; e qual a suprema
129
PAULO (APOSTOLO)
grandeza do seu poder para com os que cremos, espiritual. - O primeiro capitulo da epistola aos
segundo a eficácia do seu poder; o qual exerceu ele em Colossenses ensina a mesma verdade).
Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o b. O alvo de Deus é a adoção de muitos filhos,
sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de que ainda serão iguais (sempre em potencial) e
todo principado, e potestade, e poder, e dominio e de totalmente semelhantes (em essência de ser) a seu
todo nome que se possa referir, não só no presente Filho, Jesus Cristo.
século, mas também no vindouro. E pôs todas as c. Deus enviou Jesus, não só para ser o Caminho,
cousas debaixo dos seus pés, e, para ser o cabeça mas também para mostrá-lo. Em sua vida humana,
sobre todas as causas, o deu à igreja, a qual é o seu Jesus viveu o tipo de experiência que devemos ter. Sua
corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas vida não foi somente um espetáculo para ser
as causas» (Efê. 1:4,5, 19-23). «Pois todos os que são admirado, mas é um padrão que precisa ser duplicado
guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus... o em nós. Jesus, em sua vida humana, « aprendeu a
próprio Espírito testifica com o nosso espírito que obediência pelas causas que sofreu », e, co~o
somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos homem, em sua existência humana, « tendo Sido
também herdeiras, herdeiros de Deus e co-herdeiros aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna
com Cristo: se com ele sofrermos, para que também para todos os que lhe obedecem» (Heb. 5:8,9). Os .que
com ele sejamos glorificados... a ardente expectativa lhe obedecem são aqueles que agem como ele agtu e
da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus... são o que ele foi, mediante uma obediência
gememos em nosso intimo, aguardando a adoção de verdadeiramente completa e perfeita. Não obstante,
filhos, a redenção do nosso corpo... Sabemos que esse é o alvo, e a transformação moral provoca a
todas as causas cooperam para o bem daqueles que transformação metafisica, exatamente como ocorreu
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o no caso de Jesus, o qual, devido à sua comunhão
seu propósito. Porquanto aos que de antemão intima com o Pai, mediante o Espírito (que é o agente
conheceu, também os predestinou para serem transformador. II Cor. 3:18), foi capaz de multiplicar
conforme a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja pães, andar sobre a água e até mesmo ressuscitar a
o primogênito entre muitos irmãos. E aos que mortos, incluindo a si mesmo, após a sua morte. Ele
predestinou a esses também chamou; e aos que vivificou o seu próprio corpo, tão grande foi o seu
chamou, a esses também justificou; e aos que poder espiritual.
justificou, a esses também glorificou... nem altura, Lembremo-nos da lição da encarnação: Jesus,
nem profundidade, nem qualquer outra criatura manifestação do Verbo Eterno, veio participar
poderá separar-nos do amor de Deus, que está em literalmente da natureza humana. Ele não era um
Cristo Jesus, nosso Senhor» (Rom. 8:14,16,19,28,30, anjo que fazia um papel teatral. E assim como ~le
39).
participou literalmente da natureza humana, fundin-
A partIeIpaç:Io Da Jmaaem meta""ca deCriato do a natureza humana com a divina, assim também
indica a participação na Bat1ueza di", segundo abriu tal caminho para todos os homens. Pois todos os
Cal. 2:9,10 mostra claramente (ver também Efé. remidos haverão de participar de sua «natureza
3:19). Ver a extensa exposição sobre aqueles vss., glorificada», de sua divindade de modo real, tal como
no NTI, onde é traçada a doutrina na história sua participação da natureza humana foi real. Essa é
eclesiástica e na teologia. Participamos da «natureza a grande lição mística da encarnação. Ele é divino a
divina» quando participamos da «imagem de Cristo». fim de ser «admirado»; mas também é divino a fim de
Naturalmente, disso participamos de modo finito, ser «duplicado» em «outros filhos», pois os remidos são
pois Deus é «infinito». Todavia, trata-se do mesmo filhos do mesmo Pai. Naturalmente, o Filho participou
«tipo» de «forma de vida», da mesma «essência de ser» infinitamente da divindade, mas nossa participação
que o próprio Cristo tem, o que é infinitamente será sempre finita. Contudo, a essência dessa partici-
exemplificado em Deus Pai. Diferimos da natureza de pação é real; não é uma imitação. A eternidade inteira
Deus Pai na «extensão» da participação na essência será passada enchendo o finito com o infinito,
divina, mas não quanto ao «tipo» (ver João 5:25,26 e enchendo o que é secundário com o que é primário,
6:57 no NTI quanto a notas sobre a vida «necessária» e havendo uma gradual e prodigiosa transformação da
«independente» de Deus, e como os homens, mediante alma humana segundo a imagem e a natureza de
a participação na ressurreição de Cristo, chegam Cristo (ver II Ped. 1:4 e Cal. 2:9-10).
a participar desse tipo de vida. Já que Deus é infinito, Lembremo·....... o....... Bça.: a liçAo de sua
e será sempre o alvo da existência humana, terrena ou vida, a lição de sua morte, a lição de sua ressurreição
celestial, mortal ou imortal, sempre haverá um e ascensão, a lição de sua infinita e interminável
progresso infinito na direção desse alvo. Não pode glorificação. Em tudo isso temos símbolos místicos do
haver estagnação na inquirição espiritual, pois seus progresso e da redenção humanos. Pois em todos os
horizontes são infinitos. Já que há uma infinitude com pontos seremos assemelhados a ele, tal como em todos
a qual seremos cheios, também haverá um preenchi- os pontos ele se fez como nós.
mento infinito. (Ver 11 Ped. 1:4 e o artigo
Divindade, Partlelpaçlo na, . . . . 8 0 _ . «E todos nós com o rosto desvendado, contemplan-
do como por espelho, a glória do Senhor, somos
O plano é imenso e sua realização é -além das tranformados de glória em glória, na sua própria
capacidades humanas. Portanto, a salvação se realiza imagem, como pelo Senhor, o Espírito» (11 Cor. 3:18).
pela graça de Deus. Ver notas completas sobre este d. Jesus cumpriu a sua missão, tendo vivido a
tema em Efé. 2:8 no NTI. Abaixo estão os pontos admirável vida que teve, tendo morrido como
mais destacados desse evangelho: expiação pelo pecado, tendo sido ressuscitado dentre
a. Plano divino da redenção e transformação dos os mortos, e, nesse processo, foi transformado de
homens segundo a própria imagem de Cristo, a homem mortal em homem imortal, assento ao céu e
imagem absolutamente moral e metafisica de Cristo, glorificado - e tudo isso como homem - pois ele foi
que é um plano eterno, e que, em realidade, é a razão o primeiro homem imortal de Deus, o padrão para o
mesma da existência da criação. (Essa é, igualmente, resto da humanidade. Nessa glorificação ele foi ainda
a mensagem do primeiro capitulo do evangelho de mais profundamente transformado, e continua
João, porquanto a vida - a criação física - existe esperando sua glorificação maior, quando receber a
para prover material para a «luz» ou criação sua Noiva, a igreja. A última porção do primeiro
130
PAULO (APQSTOLO)
capítulo de Eíésios demonstra que foi o infinito poder nos circunda através de seu Espírito. De maneiras
de Deus que realizou tudo isso, o poder de Deus ainda desconhecidas, ele está conosco, mas esse estar
através do Espirito. Eis que esse mesmo Espirito está conosco, com toda a probabilidade, consiste de uma
em nós, e tenciona realizar em nós a mesma obra. real transferência de alguma espécie de energia
Morremos a morte de Cristo, compartilhamos de sua espiritualizada que o Espírito de Deus transmite, e
ressurreição e de sua ascensão e participamos de sua essa energia, mui provavelmente, é a substância da
glorificação. Ele é quem preenche tudo em todos, e própria vida. Essa é a «salvação» presente, e a
que está acima de todos; a despeito do que, o participação nessa salvação é que produz os atuais
completamos, pois somos a sua plenitude, e nada tão padrões de «santificação». E a santificação presente
elevado tem sido jamais dito acerca dos anjos. (Efé. provoca as transformações metafísicas de nossas
1:23). naturezas. E tudo isso está prenhe de autêntica
O próprio espírito sussurra aos nossos ouvidos qual imortalidade. Dai o crente parte para a ressurreição,
é nosso elevadissimo destino, pois o destino de Cristo então para a ascensão e, finalmente, para a
é o nosso e sabemos quão grande ele é, e quão vasto é glorificação, que não se trata de um ato isolado, mas
o seu destino, como cabeça do universo inteiro. A de um processo, o que continua acontecendo até
criação física inteira se impacienta, esperando essa mesmo com Cristo, nosso irmão mais velho. E o alvo
poderosíssima manifestação dos filhos de Deus, como final é a perfeição e a transformação absolutas. É a
homens imortais, transformados e espantosamente tudo isso que se denomina de salvação, e esse é o
glorificados - pois eles serão - verdadeiramente evangelho anunciado por Paulo. O leitor poderá
filhos e irmãos de Cristo, e não menos' perfeitos julgar, por si mesmo, quanto dessa verdade é pregada
(potencialmente sempre) e exaltados, embora cabeça atualmente nas igrejas evangélicas. A simplificação
e ClJnJO tenham ofícios distintos. Outro tanto se dá do evangelho como - se resumisse ao perdão dos
com Cristo e a igreja. E assim como a cabeça de um pecados e a uma viagem ao céu - tem prejudicado -
corpo tem certa ascendência sobre esse corpo, assim a todos nós. E tem deixado os crentes desassossega-
também Cristo tem proeminência sobre a igreja. Não dos, porque, interna ou externamente, perguntam se
seremos sub-herdeiros dele, e, sim, co-herdeiros. Não não há mais nada além disso? Os crentes, pois, ficam
estamos seguindo uma estrada diferente da dele, nem descontentes, pois o cristianismo tem perdido o seu fio
um alvo diferente do seu - seguimos exatamente a cortante e desafiador. Precisamos pregar o evangelho
mesma estrada que Cristo, e visamos ao mesmo alvo. de Paulo. Precisamos aprender o que isso significa na
A predestinação de Deus assegura a obtenção desse experiência diária. Precisamos conhecer, na realidade
alvo. e é nas provisões dessa predestinação que diária, O que significa estar alguém «em Cristo».
seremos totalmente «transformados», e não apenas 6. Paalo e I. . .
perdoados de nossos pecados, nem apenas nos Os estudos sobre o pensamento paulino, neste
aproximando do «céu», conforme há muito tempo, o século XX, se têm devotado, especialmente, a três
«evangelho» vem sendo pregado por partes da igreja. perguntas: 1. Qual a relação entre Paulo e Jesus? 2.
e. Por conseguinte, no que consiste a justificação? Quais as fontes do pensamento de Paulo? e 3. Qual o
Consiste em um passo na direção do alvo, e que papel da escatologia na doutrina de Paulo? Dessas
envolve o pecado que precisa ser eliminado, porque os três, a primeira - Qual a relação entre Paulo e Jesus?
filhos devem ser tão santos quanto o próprio Deus. E é mais vexatória e problemática. A distinção entre os
o que será a santificação? É apenas a estrada pela qual dois pensamentos básicos de Paulo - justiça
estamos caminhando, enquanto vamos sendo trans- juridica (Rom. 1-4) e justiça /ética/ (Rom, 5-8),
formados moralmente à imagem de Cristo, o que tem-se desenvolvido em um estudo muito importante,
também produz uma transformação metafísica, isto e a maioria dos escritores sobre o assunto se tem
é, a transformação literal da natureza de nossos pronunciado a favor da idéia «ética» como mais básica
próprios seres. O nosso alvo, portanto, é a absoluta ao pensamento paulino posterior, como mais repre-
perfeição. moral, não menos santa do que a santidade sentativa de Paulo em seus anos maduros. Pelo menos
de Deus, que nos torna não (potencialmente) menos pode-se dizer que isso certamente se parece mais com
amorosos, não menos compassivos, não menos o pensamento expresso nas epístolas de Efésios e
eficazes (em nossas respectivas esferas) na realização Colossenses e com a mensagem geral da redenção ou
de sua obra e na expressão de sua natureza. «salvação» (conforme se explicou na seção anterior), e
Obteremos a imagem moral de Deus que os anjos não que certamente essa é a mensagem central do apóstolo
possuem e talvez jamais possuirão. O próprio Jesus Paulo. Por conseguinte, temos um certo tipo de
ordenou que fôssemos perfeitos, tal como o Pai, nos «misticismo de Cristo», a saber, Cristo, o Deus-ho-
céus, é perfeito (ver Mal. 5:48). Esse é o nosso alvo mem que do céu desce a este mundo rodeado pelo
eterno e a nossa transformação total tornar-se-á uma mal, incluindo uma espessa nuvem de poder
realidade. Possuiremos a natureza moral de Deus. demoníaco. A união com Cristo (isto é, a comunhão
Mais do que isso, possuiremos a imagem metafísica mística com ele) tornou-se o principal conceito acerca
de Cristo, que está acima de todos, de todos os nomes, do sentido e da direção da atual experiência humana.
de todos os poderes, até mesmo dos poderes E essa união assegura a «ressurreição» juntamente
angelicais. Nossa participação nisso será total. Os com ele, que é o passo inicial da glorificação da alma.
termos «filhos de Deus» e «irmãos de Cristo» indicam Esses pensamentos lançaram os fundamentos para
algo tremendamente elevado e ainda que tivéssemos a uma série de estudos, e muitos intérpretes, ao lerem
perfeita descrição dessas verdades, do ponto de vista os evangelhos e as palavras de Jesus, segundo elas
metafísico, não poderíamos compreender suas impli- estão ali escritas, para em seguida lerem a Paulo,
cações. O nosso atual desenvolvimento nãe permitiria especialmente seus «escritos posteriores», como as
a completa apreensão dessas verdades profundíssi- epístolas aos Efésios e aos Colossenses, começaram a
mas. Portanto, que. significa estar alguém em Cristo? indagar se as duas mensagens ou «evangelhos» seriam
Isso fala da atual comunhão mística com ele, por meio realmente uma só. Alguns negaram isso em termos
do Espirito, Já conhecemos algo da transformação à inequivocos. W. Wrede, em sua obra Paulus (1905),
sua imagem, porque já estamos começando a viver a expôs a questão nos termos mais francos. Ali Paulo é
sua vida. A energia de sua vida, em sentido bem real, visto não como verdadeiro discípulo do rabino Jesus,
já transparece em nós, e o céu já desceu à terra, e ele mas realmente um segundo fundador do cristianismo.
131
PAULO (APOSTOLO)
A piedade individual e a salvação futura ensinadas básicos de dualismo ético em uma redenção
por Jesus (idéias comuns ao judaísmo dos dias de sacramental; porém, dizer, como Bultmann asseve-
Jesus) haviam sido transformadas, pelo teólogo Paulo, rou, que essas idéias foram tingidas pelo gnosticismo,
em uma redenção presente através da morte e da é um erro; porque, segundo elas aparecem nas
ressurreição do Cristo-Deus. Quem aceitar esse ponto epistolas de Paulo, dificilmente precisamos atribui-Ias
de vista terá de escolher entre Jesus, e assim a quaisquer idéias gnósticas.
permanecer bem perto do judaísmo, ou terá de
preferir a Paulo, entrando em uma esfera religiosa Paulo concordava essencialmente com a declaração
diferente. A tendência parecia permanecer com Jesus, gnóstica de que existem vários níveis de seres
e não levar muito a sério as idéias de Paulo. espirituais, que existem principios bons e maus neste
mundo, cada qual investido de sua própria autorida-
A controvérsia acerca da suposta diferença entre
de, tanto no céu como na terra. Porém. contrariamen-
Paulo e Jesus conduziu a uma investigação ainda mais
te aos gnósticos, o apóstolo ensinava que. à testa de
detalhada sobre as origens do pensamento paulino, todos esses poderes avulta a pessoa de Cristo. que é o
F.C. Baur explicava o pensamento de Paulo à base da Deus e criador de tudo (ver Col. 2:8-16). Cristo não
controvérsia eclesiástica, isto é, Paulo era contrário ao pode ser classificado em qualquer das categorias de
judaísmo antigo, e, sendo o «helenizador» do
espiritos. Os manuscritos do Mar Morto foram um
cristianismo, fez declarações diversas que visam a embaraço para a identificação do gnosticismo com o
afastar o cristianismo o mais possivel do judaísmo, pensamento paulino, segundo dizia Bultmann, posto
Schweitzer explicava que a origem do pensamento de que ali já se encontra expresso o dualismo ético que
Paulo era o seu problema escatológico peculiar, que Paulo teria encontrado, supostamente. no gnosticis-
era uma adaptação quase exclusiva das idéias do mo, e que, subseqüentemente. teria influenciado a
judaismo posterior. Mas as pesquisas na história sua doutrina. Portanto, essas idéias são anteriores ao
judaica não têm contribuído para consubstanciar essa gnosticismo. Contudo, não havia necessidade de
idéia. esperar pelo descobrimento dos manuscritos do Mar
Outros, como R. Reitzenstein e W. Bousset, Morto para sabermos isso, pois, a simples leitura da
pensavam que tinham encontrado o manancial do literatura antiga nos fornece essas idéias básicas. Para
pensamento paulino, em uma espécie de mistura das começar, o estudioso deve ler Platão, onde se
religiões misteriosas orientais helenistas e de elemen- encontram todas as idéias dualistas que alguém
tos doutrinários do judaísmo. É verdade que os poderia desejar. Outrossim, no gnosticismo primitivo,
mistérios falavam de deuses que morriam e tomavam não há a doutrina da «descida de um redentor» (esse
a viver, de «senhores» e de redenção por meio ~ foi um desenvolvimento posterior, no gnosticismo.
sacramentos. Qualquer um que leia os clássicos, e sobre o qual o apóstolo não teve conhecimento), o que
suas adaptações religiosas posteriores, naturalmente mostra que é impossível que a idéia paulina tivesse
verá os paralelos. (Ver o artigo separado sobre o sido tomada de empréstimo do gnosticismo. E assim
Período Intertestamental, Acontecimentos e Condi- tem continuado a controvérsia, em que vários autores
ções no Mundo, ao Tempo de Jesus, que fala sobre a assumem diversas posições em torno da questão,
«religião» do mundo greco-romano). Estudos poste- como é o caso de Grant, que vê Paulo como homem
riormente feitos abrandaram o impacto dessa idéia, cujo mundo espiritual se situa entre as idéias
mostrando, acima de tudo, que tais idéias não eram apocallpticas judaicas e o gnosticismo plenamente
totalmente estranhas ao pensamento judaico, espe- desenvolvido do segundo século da era cristã. Ele acha
cialmente ao pensamento judaico posterior. Final- que a tendência de Paulo. ao interpretar a
mente, observamos que a idéia da «religião misterio- ressurreição, era, entre outras coisas, torná-la um
sa» não conquistou muita aprovação, embora tenha triunfo sobre os poderes cósmicos. (De fato, Col. 2: IS
continuado a exercer grande influência sobre os diz exatamente isso). Mas Paulo não tinha de apelar
estudos acerca de Paulo. para o gnosticismo para encontrar essa idéia, porque
AIa1IIII t·....... tmtIInua lIpr o pensamento de a necessidade de tal triunfo era comum ao judaísmo
Paulo COtll as idmas gn6sp.cas, especialmente as idmas posterior e o próprio Jesus expressou a mesma idéia.
gnósticas acerca da natureza do mundo, seus muitos ao "declarar: «Eu via a Satanás caindo do céu como um
níveis de espiritos, autoridades. etc. (conforme alguns relâmpago», Luc. 10:18: Ver o artigo sobre Satanás,
crêem estar refletido em Efésios e no primeiro Queda de, que contém detalhes sobre este assunto que
capitulo de Colossenses). Sabemos, todavia, que essas concorda com a tese de Paulo que a obra redentora de
duas epístolas de fato são livros escritos contra as Cristo, finalmente, triunfará sobre todos os poderes
formas iniciais da heresia gnôstíca, e não é provável cósmicos malignos.
que Paulo tivesse apoiado um acordo justamente com N ~ , O próprio aa-dclamo era sistema
a heresia que atacava. Essas idéias sobre muitos niveis altamente misturado, pois tomava elementos empres-
de espíritos, autoridades, etc., eram comuns ao tados da mitologia grega, da filosofia, das religiões
judaísmo posterior, e Paulo não teria que tomar de misteriosas, de várias formas de misticismo oriental,
empréstimo dos primitivos gnósticos essas idéias. e, diretamente, do próprio judaísmo, como também
Alguns têm argumentado que a menção de Paulo do cristianismo, depois que este entrou em cena.
sobre «principados», «poderes», «potestades», e «do- Portanto, é quase impossivel dizer-se, «Isto Paulo
mínios» não significa que ele tivesse aceito como tomou por empréstimo do gnosticismo.., até mesmo
veridicos os muitos niveis de poderes espirituais nos nos casos que parecem «empréstimos» feitos daquele
lugares celestiais, mas que meramente ao usar esses sistema. O mais provável é que idéias que Paulo e os
termos, dizia que, sem. importar quais poderes gnósticos tinham em comum, eram simplesmente
existam, Cristo é o cabeça desses poderes, sendo Deus pontos de concordância, sem que houvesse qualquer
sobre todos. Mas isso equivale a subestimar o empréstimo direto. A tendência, mais recentemente.
pensamento de Paulo, pois parece perfeitamente tem sido negar, ignorar ou suavizar a suposta
claro. na análise dessas passagens, que Paulo aceitava «influência gnôstica sobre Paulo», à proporção que
tais niveis de poder, embora não os tivesse descrito. se vai entendendo melhor qual era o «meio ambiente
Bultmann aproximou-se mais da verdade ao mostrar de conceitos» do primeiro século. Não se pode negar. é
que Paulo estava alicerçado no judaísmo helenista e claro, que muitas das idéias e expressões desse
no .cristianismo helenista, que tem seus conceitos apóstolo refletem sua própria cultura, pelo que são
104)
PAULO (APQSTOLO)
«empréstimos» tirados das idéias correntes. Contudo, 22:14-20, onde Jesus instituiu a ceia memorial, a qual
cremos que as grandes pedras fundamentais de sua indica que Jesus contemplava sua missão come
doutrina se derivam de uma fonte superior, realizadora da expiação e de uma redenção sacramen-
repousando sobre alicerce mais firme que a mera tal.
repetição de idéias comuns a todos. Levamos a sério Não se pode dizer, por conseguinte, que Paulo
sua reivindicação de haver recebido «muitas» revela- tenha criado essa idéia, porquanto a sua passagem
ções (ver 11 Cor. 12:1). Ele recebeu «visões e central sobre a questão - I Cor. 11:23-26 - é apenas
revelações», e fala de sna experiência no "terceiro uma compilação ou sumário do mesmo material de
céu», como ilustração desse fato. Ver Gâl, 1 e Efé, 3:3 ensino que se reflete nos evangelhos. Portanto, a
ss, Paulo era um místico de primeira ordem, e grande doutrina que alguns querem fazer-nos crer que foi
parte dos pontos distintivos do cristianismo repousa tomada de empréstimo de alguma forma de
sobre suas visões, que se concretizaram nas Escritu- gnosticismo ou de judaismo helenizado, em realidade
ras, preservadas para nôs no Novo Testamento. já estava presente nas palavras mesmas de Jesus.
A dIIC1IAio acima, sobre as origens do pensamento A expiação subentende a idéia básica da justifica-
paulino, leva-nos 1 conclusio de que apesar de grande ção pela fé. Essa doutrina não é claramente ensinada
parte da doutrina de Paulo não ser geralmente ouvida nos evangelhos; e poucos afirmam tal coisa. Mas a
dos lábios de Jesus, isto é, na exposição que os expiação é o alicerce dessa doutrina, e de fato, todo o
evangelhos fazem dos ensinos de Jesus, em coisa sistema sacrificial dos judeus aponta para esse ensino.
alguma estava em desacordo com os ensinos essenciais A expiação sô se toma necessária quando o individuo
dele. Paulo não teve, por outro lado, de pedir não é capaz de fazer tudo por si mesmo, ou seja,
emprestado as idéias do gnosticismo. Outrossim, quando a salvação. o «livramento» está fora de seus
pode-se observar que a discussão inteira sobre as próprios recursos. O judaismo inteiro, pois, salientava
«origens» conforme ela é apresentada pelos autores essa verdade. É verdade que a doutrina formal da
mencionados, ignora por completo a questão da justificação pela fé não é esboçada nos evangelhos,
inspiração, dando a entender que Paulo não era embora' existam ali as condições básicas que
inspirado pelo Espírito Santo, segundo ele declarava requeiram a sua delineação final. E verdade que Paulo
que era, ou que ele não aprendeu o seu evangelho por foi além do que se lê nas palavras de Jesus, nos
revelação, conforme ele mesmo declarou (Gâl, 1:12). evangelhos, mas isso não' significa, necessariamente,
A leitura das epístolas de Paulo não nos pode deixar de que ele tenha contradito o Senhor. Ninguém procura
convencer que, quer isso expresse a verdade, quer não, ocultar o fato de que o cristianismo é um
o apóstolo pensava que aquilo que ensinava chegara desenvolvimento dos pontos de vista preliminares dos
ao seu conhecimento por meio de visões e revelações e evangelhos, e, realmente, esse fato é confiantemente
que ele alicerçava o seu evangelho sobre esses proclamado, pois o próprio Paulo, ao mencionar as
fundamentos. revelações que recebeu, declara que as doutrinas da
igreja lhe tinham sido dadas para serem expostas por
Mais especificamente, acerca de Jesus e Paulo, ele. Também ninguém afirma que os evangelhos
podem-se fazer as seguintes observações. Ver o artigo fornecem uma clara apresentação da igreja. A Paulo
sobre Jesus que descreve Jesus, a sua identificação, o foi dado o privilégio de fazê-lo. Mas Jesus antecipou e
seu ministério e os seus ensinamentos. Na seção que mesmo predisse que a sua igreja seria uma
aborda os seus ensinamentos, descobre-se que Jesus comunidade religiosa separada do judaísmo, Por
era bom representante do judaismo, em sua forma conseguinte, dificilmente alguém pode pensar em
mais excelente; mas é um erro vê-lo apenas como tal. Jesus tão-somente como um reformador do judaismo.
Pois ele se reputava divino. igual ao Pai, em uma Há evidências de que Jesus se alienou da corrente
posição metafísica altamente exaltada. Por exemplo, principal do judaismo desde quase o principio de seu
consideremos a sua declaração: "Eu o sou; entretanto, ministério. De fato, já no décimo sexto capitulo do
eu vos declaro que desde agora vereis o Filho do evangelho de Mateus vê-se que uma nova comunidade
homem assentado à direita do Todo-poderoso, e vindo estava se formando. No décimo oitavo capitulo do
sobre as nuvens do céu» (Mat. 26:64). O sumo mesmo livro vêem-se as regras básicas que os
sacerdote ficou extremamente perturbado ante essa discípulos deveriam seguir em suas relações mútuas
declaração, e rasgou as prôprias vestes, pois para ele no seio da igreja. A partir do décimo sexto capitulo do
tal declaração parecia uma grande blasfêmia. evangelho de Mateus temos o arcabouço básico da
Outrossim, o capitulo vigésimo quarto de Mateus (o «nova comunidade religiosa». Portanto, o que Paulo
«pequeno apocalipse.. como é chamado), ensina de fez foi adicionar estatura a esse arcabouço, e, através
maneira bem definida um Jesus metafísico altamente das revelações que recebeu, indicou o destino da
exaltado, e não meramente um rabino judeu que não igreja. o qual, para sermos verazes, se encontra ~6 nos
tinha as credenciais fornecidas pelas escolas judaicas. escritos paulinos. Paulo nos fornece dimensões
Parece claro, pela narrativa dos dias finais de Jesus e vastamente ampliadas acerca do destino do homem
sua crucificação, que a principal acusação contra ele (que é descrito de modo breve sobre a seção «e» deste
foi de que blasfemava, ao declarar-se mais do que um mesmo artigo). Ninguém afirma que Jesus, nos
mero homem. O ponto de vista de Jesus sobre sua evangelhos, expôs qualquer coisa assim; mas as idéias
missão messiânica não se limitava à de um mero não são contraditôrias. e, sim, suplementares.
homem que cumpria uma incumbência. Para ele, o
Messias era um homem de origem celestial, dotado de Dev. . . . cIu .t.açlo à dedIiraçIo de PaaIO, em
um ministério celestial e terreno. Foi justamente esse o Gál. 2:2,6-8, onde ele mOIta que propositalmente
conceito que o levou à cruz, mas de fato ele não foi visou aos demais apóstolos, a fim de verificar se o seu
apenas um reformador. Sua declaração, em Mat. evangelho não estava de acordo em alguma coisa
20:28, que diz: «... tal como o Filho do homem, que com o que pregavam. Assim, descobriu que não havia
não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua desacordo algum, e, além disso, que nada podiam
vida em resgate por muitos», indica o conceito de acrescentar ao que ele ensinava. Verificou que o
Jesus acerca de sua vida e morte, cuja finalidade era evangelho de Pedro era igual ao seu, embora as suas
oferecer expiação e vida espiritual, e não meramente esferas de atividade fossem diferentes, pois Pedro fora
servir de exemplo. A mesma verdade é destacada nos enviado aos judeus, ao passo que Paulo fora enviado
trechos de Mat, 26:26-29; Mar. 14:22-26 e Luc. aos gentios. Pedro confirma o fato com SU8.$. próprias
133
Ir
PAULO - PAULO, APOCALIPSE DE
palavras, no segundo capitulo de Atos, ao falar sobre a. Ele foi diretamente comissionado por Cristo, o
a expiação. E em Atos 15:10, lemos que Pedro disse: Senhor ressurrecto, para esse elesado oficio, o que
«E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, fica implicito na sua pergunta, «... não vi a Jesus,
purificando-lhes pela fé os corações. Agora, pois, por nosso Senhor? .. » Essa mesma idéia é expandida em
que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos Gál. 1:11 e ss,
discipulos um jugo que nem nossos pais puderam b. Seu poderoso ministério é salientado como uma
suportar, nem nós? Nessa oportunidade, como é prova do caráter genuíno de seu ministério, prova de
claro, Pedro declarou a necessidade da ..justificação sua comissão divina. E isso é declarado através da
mediante a fé». O ponto disso é que Paulo, quanto aos seguinte pergunta: « ... acaso não sois fruto do meu
pontos básicos - sem pensarmos por enquanto sobre trabalho no Senhor? .. » Essa idéia é desenvolvida em
os grandes suplementos com que ele contribuiu para a várias outras passagens, como no segundo capitulo da
mensagem cristã total, ou seja, as revelações especiais epístola aos Gálatas, embora o seja mais particular-
que recebeu - em coisa alguma estava em desacordo mente ainda nos capitulas décimo a décimo segundo
com os outros apóstolos quanto a essa doutrina. da segunda epistola aos Corintios. Por essa razão é
Ceriameate .. outn. .......... que andaram com que Paulo pode asseverar: « ... trabalhei muito mais do
Jesus durante três anos. conheciam perfeitamente a que todos eles... » (I Cor. 15:10). E isso não constitui
sua doutrina e as suas intenções, e não se teriam uma reivindicação de pouca monta, proveniente como
deixado enganar por Paulo, se seus ensinos estivessem foi do contexto do cristianismo do primeiro século,
equivocados. Ê verdade que os ensinamentos de Jesus, quando foram realizados labores realmente extraor-
conforme os encontramos registrados, eram principal- dinários.
mente éticos, mas essa ética não é contrária ao c. O trecho dos capitulas décimo a décimo segundo
cristianismo paulino. Também é verdade que muitas da segunda epístola aos Corintios nos fornece outras
das idéias de Paulo não se encontram nos registros provas do apostolado de Paulo, incluindo suas
sobre as palavras de Jesus, isto é, o silêncio reina experiências místicas e visões, que foram dadas a
nesses particulares; mas o próprio Paulo foi o Cristo para confirmar o seu ministério e autoridade,
primeiro a admitir tal fenômeno, ao dizer que as bem como para aumentar a sua eficácia. (Ver :
revelações lhe confiaram explicações novas quanto ao especialmente o décimo segundo capitulo da citada
destino da humanidade. Nada mais se pode fazer, no epístola).
sentido de pesquisar o Jesus histórico, do que aceitar o d. Os sofrimentos especiais pelos quais Paulo passou
testemunho daqueles que foram seus intimas, que o também são apresentados como provas de seu oficio
viram e que o imitaram. Os outros apóstolos também apostólico. (Ver II Cor. 11:23 e ss).
declaram-no Senhor da glória, personagem de e. Operações miraculosas, levadas a efeito por meio
elevadíssima estatura metafísica. O evangelho de João de dons especiais do Espírito Santo, também tiveram
é uma declaração expandida dessa verdade. E um por propósito servir de prova dos verdadeiros
pequeno fragmento desse evangelho intitulado P(52), apóstolos de Cristo. Os trechos de 11 Cor. 12:12 e o
definidamente escrito em cerca de 100 D.C., mostra nono capítulo do livro de Atos em diante fornecem
que esse evangelho provavelmente foi escrito antes do provas tanto das grandes realizações como dos
ano 100 D.e. Assim sendo, temos no evangelho de extraordinários sinais operados por Paulo, tudo o que
João uma das primeiras interpretações apostólicas da fazia parte integrante de seu ministério apostólico.
pessoa de:Jesus. Pedro declarou, no primeiro capitulo Grande porção do livro de Atos serve de demonstra-
de sua primeira epistola, que aguardamos do céu o ção desses fatos, embora esse livro do N.T. não tenha
SENHOR, o aparecimento de Jesus Cristo (ver I Ped. sido escrito diretamente com essa finalidade, visto
1 :7), e que, através de sua morte e ressurreição, chega que, para Lucas, não havia necessidade alguma de
até nós a redenção e a expiação dos pecados (I Ped. apresentar defesa do apostolado de Paulo, já que o
1:18-20). A passagem de 11 Ped. 1:17,18 menciona a próprio Espirito de Deus lhe autenticava o ministério.
glória da transfiguração que foi contemplada pelos
apóstolos originais (conforme é descrita no décimo f. O elevadíssimo conhecimento espiritual de Paulo,
sétimo capitulo de Mateus), e isso faz parte da bem como o fato de que ele atuava como instrumento
descrição de Jesus como personagem metafisico para revelar à igreja cristã o seu exaltado destino, no
altamente exaltado, o Senhor da glória, conforme que Paulo se destacou acima de qualquer outro
Paulo o denomina em I Cor. 2:8. No trecho de I Ped, homem da história, também serve de prova de seu
4: 11 nos é ensinado o domínio eterno de Jesus. apostolado. Todas as suas epístolas. bem como os
Portanto, concluimos que o «Jesus teológico» se sublimes ensinamentos ali contidos, ilustram esse
destaca com grande evidência nos escritos dos ponto (ver 11 Cor. 11:6 e Gál. 2:2 e ss).
apóstolos primitivos de Jesus, como Pedro. Se Pedro g. Paulo foi um instrumento especial no avanço do
não era capaz de interpretar corretamente a pessoa de evangelho de Cristo, tendo sido escolhido para essa
Jesus, após tão longa e intensa associação que teve tarefa desde o berço, tendo sido preservado para a
com ele (e o livro de Atos reflete o alto conceito que os mesma, até mesmo durante seus anos de rebeldia (ver
apóstolos tinham de Jesus como personagem metafísi- Gál. 1:13-24). A leitura dos trechos dos capitulas
co), então resta-nos conjecturar para descobrir quem. primeiro e segundo da epístola aos Gálatas e dos
era realmente Jesus. f: importante notar que também capitulas décimo segundo da segunda epístola aos
nessa particularidáde, Pedro e Paulo estavam de Coríntios, fornece-nos várias outras provas menos
pleno acordo. Pode-se dizer, pois, que não pode ser decisivas, como aquelas aqui mencionadas, em defesa
comprovada qualquer contradição entre Jesus e do apostolado de Paulo.
Paulo. O que permanece de pé, e ninguém se 8. . . . . n.ao Ver n.ao (Uno), VII.
aventuraria a negá-lo, é que estava reservado aPaulo BlbIIoanfIa. AM DEIS (1926) EN IB ID ND
revelar, através do Espirito Santo, as doutrinas mais NTI POR RID TI W WIK WR Z
profundas sobre a natureza do mundo dos espíritos, e
o chamamento e o alto destino da igreja, conforme o
judaismo jamais pudera imaginar, e que Jesus PAULO, APOCALIPSES DE
meramente indicou de passagem. Existem dau dessas obras q~ chegaram até nôs,
7. Como Paulo eoaqROyoa . . . apoGoI.do. O Impulso ele Escrever. Ver os comentários sobre
Uma mulüplicidade de maneiras: esse ponto no artigo intitulado Paulo, Atos de. As
134
I I
PAULO - PAULO, ATOS DE
pessoas" não permitem que os grandes homens (hist6rias obviamente originadas na mesma fonte
descansem. Foi apenas natural que atos. epistolas e informativa, mas com diferentes distorções) mostra-
apocalipses viessem à existência, atriêuídos a Paulo. nos que vários escribas puderam manipular a
Esse era um antiqüíssimo hábito literário, que não produção. o que talvez tenha ocorrido durante um
aprovariames hoje em dia, mas que os antigos não longo perlodo de tempo.
sentiam ser uma prática errada. Um herói era Outras Obras Utilizadas. O livro dá provas de que o
exaltado mediante um livro escrito em seu nome. e as autor (ou autores) estava familiarizado com os
pessoas não faziam objeção a esse tipo de produção. Apocalipses de Elias, Sofonias e Pedro. Algum
Paulo foi um grande místico (ver sobre o Misticismo), material foi extraído do capitulo vinte e um do
pelo que alguns antigos autores julgaram que seria Apocalipse canônico e do segundo capitulo do livro de
estético-se um apocalipse fosse escrito em seu nome. Gênesís, A mitologia grega é mesclada com a
Talvez a declaração de Paulo. em 11 Cor. 12:1-4. de narrativa, segundo se vê na menção a Aquerüsía, ao
que ele havia recebido revelações que incluiam coisas Tártaro e à jornada de bote (Carom e o rio Estix).
que não podiam ser ditas por meio de palavras, tenha Influência. Obras como essa influenciaram as
servido de inspiração para obras desse jaez. Mas. opiniões das pessoas acerca do céu e do inferno.
agora, estando no paraíso, tais revelações podiam ser Descrições similares encontram-se nos escritos medíe-
dadas a público. Naturalmente, os escritores de vais a respeito da vida após-túmulo, incluindo o
apocalipses não precisavam de tais desculpas para dar Inferno de Dante.
livre curso à sua fértil imaginação; mas algo assim n. O Apocdpae de Paulo, contido no c6dex V da
deve ter cruzado a mente dos autores dessas obras. biblioteca de Nag Hammadi, é a segunda das obras
I. O ApocalIpse de Paulo. existente em grego, em dessa natureza a trazer o nome de Paulo. Essa é a
forma abreviada. mas .em uma versão mais completa primeira de quatro obras existentes naquele c6dex.
em vários manuscritos traduzidos para o latim e o Um meio ambiente artificial é criado para os
cóptico, provavelmente é a mesma obra mencionada acontecimentos. A visão teria sido recebida na ficticia
por Agostinho e que foi condenada pelo Decretum «montanha de Jerícô-, que então se toma uma espécie
Gelasianum, Presumivelmente, essa obra fora deixa- de pseudo-Sinal,
da na casa de Paulo, em Tarso, e que. por um grande
golpe de sorte. o livro foi descoberto por alguém. para Conteúdo:
ser apresentado ao mundo. No entanto, a visão do 1. Na alegada montanha de Jerícô, Paulo
livro teria sido dada a um ocupante da casa já durante encontra-se com os doze apóstolos de Cristo. ~ então
o reinado de Teodôsio, o que data o livro como arrebatado ao paraíso, e o drama tem inicio.
pertencente ao fim do século IV D.C., ou mesmo no 2. Ele sobe ao terceiro céu, e em seguida ao quarto.
começo do século V D.C. Ali ele é testemunha ocular do julgamento de uma
Conteúdo: alma. Três testemunhas oculares condenam a tal
1. Deus queixa-se (aos moldes do livro de Gênesis) alma, de acordo com os requisitos de Deu. 19: 15.
dos muitos pecados dos homens. Anjos trazem-Lhe Como castigo. a alma é condenada a encarnar-se em
relatórios, noite e dia. acerca dos males que se vão um corpo humano. Isso provavelmente concorda com
multiplicando. idéias platônicas, de acordo com as quais uma
2. Paulo é arrebatado ao terceiro céu e vê o jornada em um corpo fisico é um castigo para uma
julgamento (tipico) de duas almas, uma boa e outra alma preexistente, uma idéia aproveitada pelo
má. judaísmo helenista. Poderia apontar para a reencar-
3. No paraíso, Paulo encontra-se com Enoque, nação, Essa alma não conseguira chegar, por seus
atravessa o lago Aquerúsio, e visita a cidade de Cristo, merecimentos, à glória. pelo que foi enviada à terra
circundada por doze muralhas. com doze torres e para outra tentativa, uma idéia de Platão e também
doze grandes portões. tudo de estonteante beleza. do farisaismo.
4. Paulo contempla os condenados no inferno. 3. Paulo continua subindo. até o sétimo céu. onde
sofrendo todo tipo de terrores, e, tendo compaixão se encontra com um idoso homem. No outro
deles. intercede por eles e obtém para eles descanso, Apocalipse, esse homem é chamado de Enoque; mas.
no dia e na noite do dia do Senhor, o domingo. neste. seria meramente um guardião. Paulo prossegue
S. De volta ao paraíso, ele encontra-se com ilustres subindo. até o décimo céu; mas não há descrições a
profetas e santos homens como Abraão. Isaque, Jacó, respeito.
Moisés, vários profetas do Antigo Testamento, 4. A partir do quarto céu, Paulo olha para a terra,
Zacarias, João Batista. e, por último, Adão. lá em baixo. onde vê muitos juizos divinos ocorrendo.
As descrições são breves e destituidas de imaginação.
6. Diferentes manuscritos terminam de diferentes
modos. Os manuscritos grego. latino e sirlaco S. Não há conexão entre este e o outro Apocalipse
terminam quando Paulo encontra-se com Elias e de Paulo. embora algum material similar possa ser
Eliseu (Zacarias não aparece no relato). O sirlaco encontrado em ambos. (HEN JAM Z)
adiciona alguns detalhes. incluindo como o livro fora
registrado. como fora oculto (por causa do que Paulo
foi repreendido pelo Senhor. visto que o livro PAULO. APOSTOLO, TEOWGIA (ENSINOS) DE
destinava-se à publicação. e não a ser ocultado). A Ver o artigo geral sobre Paulo. seção 11. quinto
versão côptica fala sobre uma terceira visita ao céu. ponto, A Doutrina de Paulo. Outras porções desse
Alguns eruditos pensam que tudo quanto é dito após o mesmo artigo abordam outras doutrinas paulinas,
encontro de Paulo com Adão representa adições feitas especialmente em sua sexta seção; e vários outros
por escribas posteriores. Outros pensam que o fim do grandes temas paulinos aparecem em outros artigos,
livro é no ponto onde os condenados no inferno obtêm os mais importantes dos quais são alistados na seção
descanso aos domingos. Porém. o arrebatamento de acima referida. Ver também. . . . . :bica de.
Paulo, no Monte das Oliveiras, parece ser a conclusão
mais apropriada, o que talvez eorrespondia ao
original. Todavia. as variações existentes nos diversos PAULO, ATOS DE
manuscritos impossibilita-nos qualquer certeza quan- (PAULO E TECLA, ATOS DE)
to a essa particularidade. O fato de que há variantes' Ver também Paulo. Paixão de Paulo. uma verslo
185
n: · 1
PAULO, ATOS DE
latina de certa porção dessa mesma obra. resultou no fato de Paulo ser açoitado e expulso. A
Esboço: própria Tecla foi condenada a morrer na fogueira;
1. O Impulso de Escrever mas uma súbita e pesada chuva salvou-lhe a vida. Em
2. Informações Históricas sobre os Atos de Paulo e Antioquia, ela teve de enfrentar as feras; mas,
Tecla novamente, foi miraculosamente salva da morte. Uma
·3. Caráter Geral caracteristica tipica das obras apócÍifas é que
milagres extraordinários originam-se de toda parte, à
4. Natureza Teológica da Obra medida que a narrativa avança.
5. Data e Fontes Informativas Em Mira. O evangelho dividiu ali familias,
6. Manuscritos conforme Jesus predissera que aconteceria. Nesse
I. O Imp..... de &ereTer lugar, Hermôcrates, sua esposa, Ninfa, e seus filhos,
As vidas dos grandes homens provocam uma Diom e Hermipos, foram as principais personagens.
reação. O gênio requer ação. Ele jamais se satisfaz Os membros da família, com exceção de Hermipos,
com a indiferença generalizada. Lendas e histórias foram ganhos para Cristo por Paulo; mas, finalmente,
são escritas sobre esses homens; e, algumas vezes, é até ele 'aderiu à verdade. E assim a família, antes
dificil distinguir a lenda do que é histórico. Paulo foi dividida, acabou unida.
um desses indivíduos que provoca grande reação. Em Sidom, Paulo foi aprisionado no templo de
Além do nosso Novo Testamento, dq qual mais de Apolo; mas, previsivelmente, o templo ruiu e libertou
trinta por cento pertence a Paulo (e cuja narrativa o apóstolo. Os acontecimentos tiveram lugar em Tiro,
ocupa uma grande porção do livro canônico de Atos), mas foi danificado o manuscrito que contava essa
também surgiu um bom número de obras apócrifas história.
que têm por intuito contar-nos o que Paulo fez e disse. Em Esmirna e Éfeso. Paulo passou por Esmirna e
Assim, há os Atos de Paulo (também chamado Atos chegou a Êfeso. Chegando ali, ele pregou na casa de
de Paulo e Tecla); os Atos de André e Paulo,' O Áquila e Prisca. Foi submetido a julgamento e
Apocalipse de Paulo,' as Cartas de Paulo e Sêneca e a condenado a lutar contra as feras. Segundo as coisas
Paixão de Paulo. Esta enciclopédia contém artigos sucederam, Paulo havia antes batizado um leãol E foi
sobre todas essas obras. Ver também o artigo sobre os justamente esse o leão encarregado de comê-lo.
Livros Apócrifos do Novo Testamento. Apesar de Naturalmente, o leão recusou-se a morder o apóstolo.
poder haver, aqui e acolá, algumas narrativas e História fantâstical
declarações autênticas, as obras apócrifas usualmente Em Corinto, Segue-se uma espúria correspondência
não passam de produtos da imaginação, uma paulina com os crentes de Corinto, incluindo a
propaganda em favor das doutrinas favoritas de seus história da ressurreição de Frontina, uma filha de
autores. O gnosticismo (vide) foi a grande força Longino. Paulo embarcou de Corinto, partindo em
isolada por detrás da produção dos livros apócrifos, direção à Itália. Q capitão do navio, Artemão, fora
embora nem todos tivessem provindo desse movimen- batizado por Pedro, e a viagem ocorreu de maneira
to. relativamente pacifica.
2. lnfornuaçGes lllltóricu IGbn OI Atol de Pa1ll.o e
Tecla Em Roma. O relato fala sobre muitos convertidos
na capital do império, inclusive na casa de César,
Tertuliano (Sobre o Batismo, 17) informa-nos que onde Pátroclo, o copeiro-mor do imperador, conver-
esse livro foi escrito por um presbítero da Ásia Menor, teu-se. Ele caiu de uma janela, mas foi restaurado à
que foi removido de seu oficio por haver produzido vida por Paulo. A pregação de Paulo, na prisão,
essa obra espúria, embora não tenhamos razão para resultou em conversões, incluindo a do prefeito Longo
duvidar de sua palavra que ele escreveu «movido pelo e a do centurião Cesto. Posteriormente, foram
amor a Paulo». Hipôlito e Origenes também batizados por Lucas e Tito, perto do túmulo de Paulo,
éonheciam essa obra, e podemos supor que a mesma quando este já havia sofrido o martirio. Esse foi um
foi escrita no século 11 D.C. Eusébio tHist, 111.25) toque dramático apropriado, provido por um autor
também chamou essa obra de «espúria», o mesmo que teria tido uma interessante, mas imaginária
termo que usou para descrever o livro Pastor de viagem em companhia de Paulo e seus amigos.
Hermas, como também Barnabé e o Apocalipse de
Pedro. No entanto, os Atos de Paulo foram incluidos 4. Natureza Teolóalca da Obra
no catálogo do Codex Claromontano (designado 0(2». A obra Atos de Paulo enfatiza a virgindade, embora
Os pais da Igreja em geral rejeitaram a obra, e não seja uma produção gnôstica, Nega as especula-
quando os maniqueanos consideraram-na autoritária, ções gnósticas, dá apoio ao Antigo Testamento e
ela veio a cair completamente no descrédito, dentro sustenta a doutrina da ressurreição e defende um
da corrente principal do cristianismo. elevado código moral. Advoga o poder de Deus, mas,
com freqüência envolve aplicações triviais e exagera-
3. Caúter GenJ das.
A obra contém uma seção acerca de Tecla e seu s. Data e Fontel InfonnatlyU
relacionamento com Paulo, o que explica o nome O segundo século da era cristã provavelmente foi o
alternativo do livro. Ela interrompeu o seu noivado e . tempo em que essa obra apócrifa foi escrita. O fato
permaneceu na virgindade, por amor ao evangelho. de que Hipólito e Origenes citaram a obra, no século
Uma das prineipais finalidades da obra foi exatamen- IH D.C., elimina a possibilidade de uma data muito
te essa: a exaltação da virgindade. Uma outra seção posterior.
Ê desapontador que uma obra cristã tão
contém uma alegada correspondência de Paulo com antiga não tenha muita coisa sólida a dizer. O livro
os crentes de Corinto. E ainda uma outra seção faz empréstimos das obras canônicas de Atos e de
encerra um relato lendário sobre o martirio de Paulo. algumas epistolas paulinas; é uma espécie de
Do começo ao fim do livro encontramos notáveis duplicação do Quo Yadis, relativo a Pedro, e que foi
milagres de mistura com a biografia de Paulo, a preservado no livro apôcrifo Atos de Pedro. Talvez
começar pela sua conversão, no caminho de lendas locais sobre homens santos (cristãos e pagãos)
Damasco. A história de Tecla é geograficamente tenham sido incorporadas em certos casos, e
situada em Icônio. O noivo de Tecla ficou obviamente aplicadas a Paulo. Talvez a história de Tecla tenha
perturbado diante da influência exercida por Paulo sido inspirada pela vida de alguma santa mulher, cuja
sobre a jovem; e isso levou-o a criar uma agitação que vida foi piedosa. Porém, .a imaginação ali correu
186
PAULO, ATOS DE - PAULO, ÉTICA DE
solta. O autor não teve a intenção de apresentar um Presença de Deus. Quando Paulo afirmou que o
substituto para o livro· canônico de Atos, mas tão- crente não está debaixo da lei (ver Rom. 3:19;
somente quis contar uma história interessante, que 6:14,15; Gál. 3:10, 23·25; 4:211; 5:18), quis dizer que
promoveria alguns de seus ideais e idéias, além de não estã debaixo da lei nem como medida
exaltar a pessoa de Paulo. justificadora e nem como medida santificadora, mas
6. Manuscrltos sob a influência e orientação do Espirito de Deus. O
As três divisões da obra ou seja, os Atos de Paulo e galacianismo (vide) é aquela falsa doutrina que diz
Tec1a, o martirio de P~ulo e a correspondência que o crente, uma vez justificado ~ela fé, agora está
apócrifa com os corintios (uma espécie de pseudo 111 debaixo da lei como sua norma de VIda. No entanto, é
Coríntios), sobreviveram em fragmentos separados, a lei do Espírito que nos toma livres, vivos e
em diversos idiomas. Mas a descoberta do Papiro espiritualmente crescent~s (~er RO;D?-. 8:2,3). O
Õptico Heidelberg (em 1894), revelou que as três contexto dessa passa~~ inclui a saD:ti~caç~o. Essa. é
partes pertenciam todas ao livro geral Atos de Paulo. uma operação do Espírito, que a lei jamars po~e!'1a
A obra original continha cerca de 3600 linhas, em realizar. Aqueles que cogitam das cou~as do Espíríto
comparação com as 2800 linhas do livro canônico de são precisamente aqueles em quem reside o poder do
Atos' mas a maior parte daquelas linhas perdeu-se Espírito (ver Rom. 8:5). A Presença do Senhor, o
com' o tempo. A obra apresenta um esforço Espírito, é que faz toda a diferença, e n~ os no~os
ambicioso, mas que produziu pouco. Diferente do esforços por nos aiustarmos a algu~ código; e aSSIm,
livro canônico de Atos, os Atos de Paulo quase não sem aquela Presença, ja teremos SIdo.derrotados em
demonstram estrutura. Paulo simplesmente achava-se nossa batalh~ ~ontra o pecado. Os vá~~ aspectos do
em uma longa viagem, indo de lugar para lugar, sem fruto do Espírito são produtos do Espírito, conforme
qualquer quartel-general de onde partia e para onde se aprende abaixo, na segunda seção.
retomava. Mas, tal como no caso do livro canônico de ll. O. Frutos do Esplrito; as VIrtudes CardeaIs
Atos, as suas vagueações, finalmente, levaram-no a Em GãI. 5:22,23, Paulo expõe a metáfora agrícola.
Roma. Somos o campo onde são produzidos os vários
Um notável fragmento do livro foi publicado com o aspectos do fruto do Espírito. O Espírito é o agricultor
manuscrito Papiro Bodmer X, que data do século 111 que planta a semente, que a rega e lhe transmite vida.
D.C. Um outro notável fragmento do mesmo é o Tais virtudes são produzidas em nós, e tomam-se
papiro grego de Hamburgo. (HEM M(1964) Z) expressões permanentes de nossa natureza básica,
porquanto estamos sujeitos a uma transformação
moral e espiritual real. Daí vem a nossa transforma-
PAULO, ATOS DE ANDU E ção metafísica, que nos leva a compartilhar da
Ver sobre Anché e Paalo, Atos de. própria imagem e natureza de Cristo, ou seja, que nos
toma participantes da natureza divina. Ver o artigo
separado intitulado Transformação Segundo a Ima-
-bnrCA DE gem de Cristo, onde oferecemos detalhes sobre essa
PAULO, nu. doutrina. Ver também sobre a Santificação. A
Esboço: atuação ética do crente é grande demais para ser
L A Natureza Revolucionária da Ética Paulina reduzida a um código escrito. Antes, requer a direta
11. Os Frutos do Espírito; as Virtudes Cardeais intervenção do Espírito de Deus. Isso faz parte da
111. A Base de Toda Ação Êtica herança do evangelho. Temos apresentado um
IV. A Ética Paulina e a Lei detalhado artigo sobre o Fruto do Espírito, que expõe
os princípios gerais envolvidos e descreve as virtudes
V. A Presença Transformadora; o Propósito da cristãs cardeais.
Êtica
VI. Pressupostos da Êtica Paulina m. A Ba8e de Toda Açio EtIca
VII. Uma Citação Notável O amor é o solo onde são cultivadas todas as
virtudes cristãs. Temos apresentado um longo artig~
Ver o artigo separado sobre Paulo, especialmente a com várias citações ilustrativas, sobre esse assunto. ~
seção 11, quinto ponto, onde os ensinamentos de significativo que a lista paulina dos vários aspectos do
Paulo são apresentados e onde damos uma lista de fruto do Espírito seja encabeçada pelo amor, a maior
títulos de artigos separados, que desenvolvem temas de todas as virtudes. Além disso, algures, esse
paulinos individuais. O presente artigo examina os apóstolo refere-se à fé, à esperança e ao amor como as
ensinos de Paulo no tocante à conduta cristã ideal. três principais expressões cristãs, dentre as quais a
Ver também sobre Ética, seção IX, Ética Telsta, que maior é o amor (ver I Cor. 13:13). O amor é divino; o
aborda questões importantes, da doutrina paulina. amor é cultivado em nós pelo Espírito de Deus. O
Ver também Etica Cristã: Etica de Jesus e Ética amor transforma; o amor é o cumprimento mesmo da
Patristica. lei, seu espírito e condicionamento (ver Rom. 13:10).
I. A Natw'eza Revolucionária da &tca PaUUua IV. A :bica Paallna e a lei
Deveriamos começar considerando quão revolucio- Na primeira seção deste artigo, mostrei que a ética
nária era a visão ética de Paulo. Paulo, o ex-fariseu, ensinada por Paulo era revolucionária, mormente
rejeitava a lei como base da prática ética! Esse fato considerando-se que ele fora um fariseu, para quem a
não foi visto claramente por muitos dos antigos pais lei de Moisés havia sido a norma de toda crença e
da Igreja, ficou inteiramente esquecido na doutrina ação. Não obstante, Paulo asseverou que a sua
da Igreja Católica medieval, e nem chegou a ser doutrina não anulava a lei (Rom. 3:21). Antes, em sua
restaurado à Igreja pelos reformadores protestantes. mente, ela «confirmava. a lei. Porém, quando lemos a
Esses reformadores, embora tivessem eliminado a lei explicação dele, vemos que esse estabelecimento da lei
como base da justificação, esqueceram-se de "que a lei não é exatamente aquilo que a mente judaica teria
também não é o guia da conduta cristã ideal. antecipado por meio dessa expressão. Pois Paulo não
A doutrina paulina, por sua parte, era que o confirmava a lei nem como poder justificador e nem
Espirito é agora o padrão e o guia da ética. Em outras como poder santífícador, mas tão-somente como uma
palavras, um código escrito foi substituído por apta ilustração e demonstração da pecaminosidade do
experiências místicas, a saber, a capacitadora pecado. A lei empresta ao pecado o seu poder,
137
rI'
PAULO, ~TICA DE - PAULO. PAIXÁO
porque, sem lei, o pecado jamais te~a podido ser porá em prática a conduta ideal, em um grau que
imputado aos homens. Mediante a Iei vem o «pleno agrade a Deus.
conhecimento. do pecado (ver Rom. 3:20). O ~ado, 3. Há um ministério do Espírito Santo, que é eficaz.
pois, é revivido pela lei (ver ~om. 7:9). Mas a ~e1 nada 4. O desenvolvimento espiritual em geral tomará
faz para ajudar-nos a por em obras aquilo que esse ministério uma realidade.
pensamos ser melhor (segundo o sétimo capitulo de 5. A conduta ideal não é algo isolado do resto dos
Romanos demonstra abundantemente), e nem nos prop6sitos atinentes à espiritualidade. Antes, f~
capacita a agir em conformidade com a ética cristã. A parte do processo geral mediante o qual o crente var
conclusão do sétimo capitulo de Romanos é que sendo transformado segundo a imagem de Cristo,
precisamos de Jesus Cristo para cumprir essas levando-o a compartilhar de sua natureza e atributos,
funções; e o sep oitavo capitulo ilustra ainda ~ais esse incluindo ()f. atributos morais.
conceito salientando o ministério do Espírito Santo
em nôs, 'sendo ele o alter ego de Cristo. 6. As virtudes cristãs cardeais são outros tantos
aspectos do fruto do Espírito, que ele cultiva no
A função do amor. Os dois grandes mandamentos homem.
consistem em amarmos a Deus de todo nosso coração,
forças e mente, bem como ao próximo como a nós 7. Aqueles que estão «em Cristo» (uma expressão
mesmos. Essa idéia já aparecia no Antigo Testamen- usada por mais de cento e cinqüenta vezes nos escritos
to mas foi confirmada por Jesus (ver Mat. 22:37,38). paulinos) são aqueles que desfrutam de comunhão
E 'Cristo adicionou que a lei depende inteiramente com o Espírito Santo. Todos os crentes precisam do
desses dois princípios fundamentais (vs. 40). Paulo toque mistico. Precisamos da Presença de Deus. A
repetiu a essência dessa verdade ao afirmar que o conduta ideal é resultante disso, e não de algo que
amor é o cumprimento da lei inteira, porque aquele podemos produzir mostr~do-nosobediente~ a ~gum
que ama não fará qualquer coisa prejudicial (Rom, código. Um homem em Cristo é uma nova cnaçao (ver
13:10). Ver o artigo separado sobre o Amor. 11 Cor. 5:17).
8. O homem que está «em Cristo» tem a lei de Cristo
A letra mata; o Esplrito transmite vida. Temos aqui em seu coração (ver I Cor. 9:21; Gál. 6:2). E também
outra maneira pela qual Paulo falava da rel~ã,! entre é possuidor da mente de Cristo (ver I Cor. 2:16).
a lei e o Espirito de Deus. Ver 11 Cor. 3:6. eeV1dente
que aquilo que mata sob hipótese alguma pode ser Vll. Uma Notável Otaçlo
uma medida justificadora ou santificadora. Paulo «A ênfase primária de Paulo, na expressão da ~
chamou a lei de «ministério da morte. (11 Cor. 3:7), cristã não recaia sobre a adição de virtude a virtudes,
como também em «véu» que entenebrece o entendi- na fo~ação do caráter, e nem sobre uma compilação
mento(1I Cor. 3:15). A conclusão de seu argumento é de certas «virtudes cardeais», conforme pensavam
uma das mais nitidas declarações acerca da quase todos os antigo~ moralistas. Antes, o após~olo
transformação que nos é conferida em Cristo. Cristo é frisava uma personalidade permeada pelo Espirito,
um espelho espiritual; e, quando nos contemplamos bem como o 'fruto do Espirito', que vai sendo
nesse espelho, vamos sendo transformados em. sua produzido na vida do crente por atuação do Espírito,
própria imagem. Essa transformação passará por com o resultado que a vida de Cristo passará a
estágios, por toda a eternidade, até que cheguemos a manifestar qualidades ~0n;t0 'am,?r, .alegria, p~,
compartilhar de sua imagem e natureza (11 Cor paciência, bondade, benignidade, fidelidade, mansi-
3:18). Isso posto, a verdadeira ética requer o tOqUI dão e dominio pr6prio' (Gâl, 5:22,23; comparar com
mistico, a Presença de Deus, que nos transforma. Efé. 5:9). Uma das constantes designações dadas por
Paulo ao ideal ético é a expressão grega to kal6n (ver
V. A Pre8ença Tran.formadouJ o Prop6*o da Rom. 7:18,21; 11 Cor. 13:7; Gál. 6:9; I Tes. 5:21),
·JWea uma expressão usualmente traduzida por belo,
. Acabamos de ver, em 11 Cor. 3:18, qual é o bom excelente. honroso. O conceito incorpora.
propósito da ética. Seu alvo é a c0I!~uta ide~. Mas Inuariças religiosas, racionais, morais e estéticas, e
nisso encontramos o processo da santificação (vide), Á aponta para atividades agradáveis aos olhos de Deu~,
medida que um homem vai sendo santificado, dirigidas racionalmente, moralmente honrosas, reali-
também vai sendo metafisicamente transformado. zadas com graça. Esse é o tipo de ~tica que !'
Esta não pode ocorrer sem aquela. Ambas as coisas, individuo em Cristo deve expressar com magnammi-
por sua vez, dependem de um gradual e significativo dade de espírito' (to epieikés), para com todos os
desenvolvimento espiritual. O homem bom não.se homens (Gâl. 6:9,10; Fil. 4:5), mas, sobretudo para
tomou bom porque seguiu algum código, e, sim, com os domésticos da fé (Gál. 6:10)>>. (H)
mediante a sua comunhão com o Espirito, o toque
mistico. Ver sobre o Misticismo. Não basta alguém ler
a Biblia e orar. Também é mister que ele medite, PAULO, PAIXÃo DE
ponha em prática as boas obras, siga a santificação, A obra AteM de Paulo (vide) consiste em três seções
faça uso dos dons espirituais; mas, acima de tudo, é principais: os Atos de Paulo e Tecla; o M~o; a
mister que receba os toques misticos, que realmente correspondência ap6crifa. com os coríntios. .Na
lhe desenvolvem a espiritualidade. O homem que transmissão desse matenal, alguns manuscntos
coerentemente emprega esses métodos e busca ao contêm apenas uma dessas seções, como se a mesma
Senhor tornar-se-á um gigante espiritual, e haverá de fosse uma obra distinta. Uma revisão latina do
naturalmente agir como lhe convém. Mas a sua Martirio de Paulo veio a tomar-se conhecida como
conduta será parte do quadro maior do dese~volvi- Paixão de Paulo, embora isso não signi~qu~ uma
mento espiritual em geral que o estará conduzmdo à composição literária separada. Essa obra f01 atribuida
participação na imagem moral e metafisica de Cristo, a Lino o sucessor de Pedro na sé de Roma, segundo
o Filho de Deus. Ver o artigo intitulado Transforma- alguns' pensam. Essa versão latina encerr~ algumas
ção Segundo a Imagem de Cristo. quanto a uma notáveis adições, como a alegada admiração de
declaração completa sobre esses principios. Sêneca pelo apóstolo Paulo (ver Paulo e Sêneca.
VI. Pna........ da 2tlca Pau1lDa Cartas de) e como a estória de Ptautil«, Alegadamen-
1. A lei é inadequada tanto para a justificação te a cam~o da execução, Paulo pediu emprestado
quanto para a santificação. dela um lenço, prometendo devolvê-lo mais tarde.
2. O homem justificado e regenerado é aquele que Paulo foi executado, . e, na volta, os soldados
188
I I
PAULO, S~RGIO - PAULO E TECLA
zombaram de Plautila, acerca do lenço. Mas ela lhes continuou propalando as suas crenças, e conseguiu
contou uma visão que tivera pouco antes e um bom número de seguidores. Isso parece haver
dramaticamente mostrou-lhes o lenço-todo ~an resultado em um pequeno cisma na Igreja antiga, que
chado de sangue I Um toque literârio carregado de perdurou até o concilio de Nicéia.
emoção! Se essa est6ria fizesse parte do Novo
Testamento canônico, seria recontada em incontáveis
sermões e encenada em muitas produções teatrais PAULO E S:2NECA, CARTAS DE
(LIP Z) .
1. Um Acontecimento Natural
Qualquer pessoa que tenha lido as obras de Sêneca
poderá reconhecer um fundo comum de declarações e
PAULO, S~RGIO idéias que Paulo e Sêneca defendiam igualmente. Mas
Ver sobre SérgIo Paulo. isso não é surpreendente, porque ambos tinham uma
formação no estoicismo romano. Uma observação
desse fenômeno aparentemente serviu de inspiração a
PAULO DE SAMOSATA essas pseudocartas, que, alegadamente, representam
Não se conhecem suas datas com precisão, mas uma correspondência mantida entre esses dois
sabe-se que ele foi. bispo de Antioquia de 260 a 272 homens. Porém, aqueles que lêem somente o Novo
D.e. Ele foi o mais famoso expositor e dinâmico Testamento, não tomam consciência dessas fontes
representante do monarquianismo (vide), uma doutri- informativas. Não nos deverlamos esquecer que Paulo
na surgida nos séculos 11 e 111 D.C., que salientava a nasceu em Tarso, um dos centros da erudição estôica,
unidade (monarquia) da natureza divina, em contras- que Paulo recebeu ali uma notável educação,
te com distinções pessoais, segundo se vê na doutrina levando-o, naturalmente, a familiarizar-se com a
da trindade. O artigo acima referido apresenta várias literatura não-bíblica.
versões da idéia. 2. Natureza Geral
Paulo de Samosata pensava que o poder do Lagos A coletânea consiste em catorze cartas. Sêneca
inspirara o homem Jesus, o qual teria nascido de uma (vide) foi um filósofo estóico romano, e foi o tutor de
virgem. Em face das operações do Logos, Jesus foi Nero. Portanto, na realidade, era contemporâneo de
unido moralmente ao Pai, embora não tendo havido Paulo. Jerônimo informa-nos que Sêneca faleceu
uma unidade de natureza. E Jesus teria sido exaltado somente dois anos antes do glorioso martirio de Pedro
à posição de ser divino, mediante a ressurreição e Paulo. Os dois poderiam ter-se conhecido em Roma,
dentre os mortos, por causa da obra que realizou e da embora não disponhamos de indicações hist6ricas
pessoa que era. válidas quanto a isso. Alguns estudiosos têm chegado
Os eruditos não concordam acerca da interpretação a imaginar que Sêneca foi parcialmente responsável
de Paulo de Sarnosata sobre o Lagos, Certamente ele pela declaração de inocência de Paulo, em seu
não vinculava essa idéia à idéia trinitariana. De primeiro julgamento; mas isso não passa de
acordo com a doutrina de Paulo de Samosata, Deus especulação romântica. Provavelmente, o propósito
existiria único e solitãrio, pelo que o termo Lagos por detrás da compilação dessas cartas tenha sido
pode ter sido usado por ele somente como uma duplo. Em primeiro lugar, a reputação de Sêneca foi
maneira poética de aludir às manifestações e à usada em apoio ao cristianismo, como uma espécie de
influência de Deus. Ou, então, ele pode ter crido que aprovação romana à fé cristã; e, em segundo lugar,
o Logos a principio existiu imanente no único Deus, uma espécie de universalidade é emprestada a Paulo.
para então receber uma existência quase hipostática, Presumivelmente, Sêneca admirava as epístolas
no decurso dos atos criadores de Deus. Essa hipôstase paulinas aos Gálatas e outras, que são mencionadas
(vide), entretanto, n10 envôlveu alguma pessoa na obra. E Sêneca também lamenta que o
separada, segundo se vê na doutrina da Trindade. cristianismo estivesse sendo perseguido por Roma.
Certos trechos dos escritos de Paulo de Samosata Presumivelmente, por igual modo, o próprio impera-
parecem conferir ao Espirito Santo uma existência dor teria manifestado admiração pelas idéias de
separada. No entanto, parece que ele era essencial- Paulo, indagando como um homem que não recebera
mente um unitário. Assim, parece melhor interpretar a educação usual poderia ter escrito tais obras.
que as hipôstases concebidas por ele (o Logos e o Naturalmente, esse informe dado no livro é incorre-
Espírito) seriam apenas modos funcionais do único to-Paulo havia recebido a educação usual, que havia
Deus, e não, em qualquer sentido, substâncias ou no mundo romano, além da educação recebida em
pessoas distintas. Jerusalém.
TrIndade Econômica: Esse é o termo empregado 3. Nos Escritos dos Pais da Igreja; Data
pelos teólogos para referirem-se a um tipo de doutrina Jerônimo conhecia doze dessas catorze cartas, e ao
trinítariana em que o Deus único manifesta-se de que parece aceitava-as como genuínas, E ele também
diferentes modos, como Filho (o Logos) ou _como chamou Sêneca de ..escritor cristão", por causa dessas
Espírito. Mas essas manifestações, de acordo com cartas (Vir. RI. 111.12). Agostinho também conhecia
esse ponto de vista, devem ser entendidas como essas cartas, mas nadaescreveu de especial acerca ~
atividades de Deus, e não como pessoas divinas mesmas. Duas délas foram acrescentadas à coletl-
separadas, que compartilham da mesma essência nea, provavelmente de, data posterior, com grande
divina. Na divina economia das coisas, ou seja, na diferença de estilo. Provavelmente, as primeiras delas
maneira como ele se relaciona com os homens, Deus pertençam ao século IV D.C. Manuscritos atualmente
manifesta-se de diferentes maneiras, embora não seja existentes foram copiados no século IX D.C. Lino, em
um Deus em três Pessoas. Ver o artigo intitulado sua obra Paixão de Paulo, faz menção a essas cartas.
Trindade Econômica. Alguns vêem em Paulo de São interessantes, mas sem nada de extraordinário; e
Samosata um ponto de vista binitariano, Ver sobre o também não podem ser consideradas hist6ricas,
Binitarianismo, Seja como for, sem importar qual infelizmente, (HEN IAM Z)
tenha sido a cristologia de Paulo de Samosata,
suas idéias foram condenadas no terceiro dos três
sínodos efetuados em Antioquia, entre 264 e 269 PAULO E TECLA, ATOS DE
D.C., e ele foi excluído. Mas Paulo de Samosata Ver sobre ~aaIo, Atoe de.
139
ri' - 1
PAULUS. SERGIUS - PAZ
PAULUS, SERGIUS também é referida como que coberta pela glória do
Ver sobre Sérgio, P.alo. Senhor.
propósito não pode falhar. Eis por que temos paz no do Espirito Santo. Ver o art:iso detalhado 100M Fruto
coração (ver Fil. 1:6). do Elplrlto e também, Gal. 5:22.
, 3. Portanto, as circunstâncias adversas que 4. A paz é também a confiança no tocante ao
necessariamente acompanharão nosso caminho, não futuro, tanto neste mundo material como no mundo
podem derrotar-nos no final, embora nos entravem da alma. Consiste na confiança da alma, em Cristo
temporariamente e cheguem a preocupar-nos por Jesus, o que nos conserva vinculados a ele, em atitude
algum tempo. , de fidelidade para com ele e para com os seus
4. A paz é um dos aspectos do fruto do Espírito, ensinamentos.
pelo que se manifesta mais verdadeiramente no crente
espiritual (Gál. 5:22). 5. A paz que há na alma crente e no seio da igreja
5. As aflições redundarão para nós· em grande serve de prefiguração da paz e da harmonia universais
glória, 11 Cor. 4:17. A esperança da imortalidade dá que haverá sob o governo milenar de Cristo, o que é
paz presente e promete o triunfo final, 11 Cor. 4:18. salientado no trecho de Col. 1:20, e onde as «coisas
6. A paz resulta da justificação (Rom. 5:1), mas a nos céus» são inclusas, e não apenas as coisas
inteireza da salvação nos outorga certeza de terrenas. Portanto, a paz consiste na harmonia, ria
harmonia, tranqüilidade e o senso e bem-estar. boa vontade enobem-estarresultantesdofato de que
Em conexão com essa idéia, Philip Schaff (em Jo. Cristo terminou a sua missão universal, o que é
16:33 no Lange's Commentary) diz: «A paz abarca antecipado no primeiro capitulo desta epístola aos
tudo quanto constitui o descanso, o contentamento e a Efésios. Ao instaurar a «paz", entre judeus e gentios,
autêntica felicidade de coração, à base da salvação no seio da igreja (entre duas entidades que antes
cristã e da união vital com Cristo. A tribulação estiveram em grande conflito), mostrou o Senhor
consiste tanto na perseguição vinda do exterior como Deus que isso se tornará universal, no tempo próprio.
na interrupção e perturbação causadas pelas fraque- 6. Devemos ainda observar que o «vinculo da paz"
zas e pecados restantes dos remidos ou causadas por não consiste em alguma doutrina, na aceitação de
este mundo ímpio, Não obstante, bem lá no fundo da algum credo, por qualquer grupo de crentes. Pelo
alma, a paz continua a reinar, por mais que a contrário, consiste em uma pessoa, Cristo Jesus.• o
superfície do oceano da vida seja agitada pelos ventos qual, portanto, transcende a quaisquer crenças
e tempestades da existência». particulares. Deus dispõe de tempo suficiente para
D. CJWu L'IOIDO N Pu (Ef6. 2:14)
nos unificar, em nossas muitas «crenças" divergentes;
e isso será efetuado mediante a unidade superior de
As palavras. é pa, formam paralelo com nossa comunhão mística com Cristo, através do seu
o trecho de Col. 1:20. Aprendemos ali que a paz vem Santo Espírito,
através do «sangue da cruz», e que isso se deve ao fato
de que Cristo reconciliou todas as coisas consigo 7. A paz era um conceito freqüentemente associado
mesmo, tanto nos céus como sobre a terra. Essa à vinda do reino do Messias, de conformidade com o
passagem da epistola aos Colossenses tem, portanto, pensamento do A.T. (ver Isa. 9:5,6; 52:7; 53:5; Miq,
uma aplicação mais ampla, falando da paz e unidade 5:5; HaS. 2:9; Zac. 9:10). Esse é um dos aspectos da
universais também referidas em Efé. 1:10. Mas, neste grande paz universal que Cristo Jesus inaugurará, A
ponto, Paulo limita a idéia à «paz», no que conceme à ênfase do presente versículo, entretanto, recai sobre a
igreja cristã, que é a comunidade dos remidos unidos, «paz» que reina no seio da igreja, a paz pessoal, de um
vindos tanto dentre os judeus como dentre os gentios, crente individual com a sua própria alma, com o seu
os quais não podiam ser unidos, pelo menos religiosa, Deus, com os seus semelhantes - a paz entre judeus e
'espiritual e até mesmo politicamente falando, debaixo gentios. Não obstante, a igreja, em certo sentido, já é
das condições do antigo pacto: o reino de Deus sobre a terra, ainda que o conceito d~
141
ri-
PAZ
reino não se circunscreva à igreja, mas antes, envolve evidência sobre o desenvolvimento espiritual de nosso
muitas outras coisas. homem interior. Os crentes que se deixam controlar
Cristo Jesus é a nossa «sabedoria», «retidão», pelo Espírito Santo gozam da mesma paz de que o
«santificação» e «redenção» (ver I Cor. 1:30). Ainda Senhor Jesus desfrutou, porquanto Cristo, em seu
1J,Ih dos seus nomes é «a Paz». Cristo é todas essas desenvolvimento espiritual como homem, se limitou
coisas porque, nele e por ele é que essas coisas se as mesmas condições impostas a todos os homens,
cumprem. Em alusão ao trecho de Isa, 9:6, certo porquanto esse era o próprio desígnio de sua
escritor rabino chama o Messias de «a Paz». Ele encarnação. E esse fato, mesmo considerado isolada-
também é a «oferta pacifica», aquela que reconcilia o mente, nos infunde grande consolo.
homem com seus semelhantes e com Deus. «A paz inclui tudo quanto ~onstitui o descanso, o
8. De ambos fez um. Harmonia e união foram contentamento e a felicidade autêntica de coração,
conferidas «a judeus e a gentios», que ficaram alicerçada sobre a base da salvação cristã e da união
unidos dentro da comunidade superior da igreja vital com Cristo. Já a tribulação consiste tanto na
cristã, ficando assim eliminadas as muitas barreiras e perseguição que nos chega do exterior como das
preconceitos inerentes ao sistema judaico. E a interrupções e perturbações provenientes de nossas
maneira como Cristo estabeleceu a paz é revelada próprias fraquezas remanescentes, de nossos pecados,
através de uma série de imagens vívidas, conforme a do mesmo modo que procedem do mundo ímpio que
lista abaixo: nos cerca. Contudo, lá no mais profundo do ser,
a. Cristo fez de judeus e gentios, uma vez crentes, continua a reinar a paz, ainda que grande parte da
uma única comunidade religiosa, vivendo em plena superfície do oceano da vida esteja agitada pelo vento
harmonia, servindo ao mesmo Senhor - e isso não foi e pela tempestade». (Philip Schaff, sobre João 16;33).
uma realização sem importância. 5. Finalmente, o destino do crente em Cristo, posto
b. Cristo derrubou o muro de separação, os que Jesus nos promete a participação em sua natureza
aspectos restritivos da antiga lei mosaica, porquanto e destino, por sermos filhos de Deus, ainda que não
eliminou tais preceitos como norma da conduta diária houvesse outro fator na vida humana que pudesse
do crente. Esse muro falava sobre o sistema judaico nos conferir a paz - é suficiente para garantir a
em sua inteireza, o qual, devido à sua própria tranqüilidade da alma que os homens tanto buscam.
natureza, excluía os gentios. (O décimo quinto Todos os acontecimentos da vida convergem para o
versículo deste capítulo define o presente versículo, cumprimento desse destino, e esse destino é a própria
dizendo-nos exatamente o que é indicado pela figura essência da paz: paz de alma, paz entre os homens e
simbólica da lei). paz com Deus. O Espírito Santo nos conduz a uma
c. Cristo pregou a «paz» (ver o décimo sétimo melhor compreensão sobre a natureza desse destino
versículo deste capítulo). especial; e isso nos confere paz, na vida diária. (Sobre
d. Cristo nos confere o seu Espírito, mediante o «elevado destino do homem», ver os trechos de Efé.
quem obtemos acesso ao próprio Deus Pai. 1:23; Rom. 8:29 e 11 Cor. 3:18).
e. Cristo nos tornou cidadãos e membros da 6. A paz que há em Cristo
família de Deus (ver o décimo nono versículo deste a. Ela vem através do poder reconciliador de sua
capítulo). . - C o.
expiaçao, 1 1: 20 .
f. Cristo, ao unir todos os homens, edificou um b. Vem através da realização da nossa justifica-
novo templo, um templo de carne humana, para 1
ç a- o, R o m . 5 :.
servir de habitação para o próprio Deus, no Espírito c. Ela solucionou a divisão e o conflito universais,
do Sednhodr E(vf~r 20)s versículos vigésimo e vigésimo Efé. 1:10.
segun o e e. .
Por conseguinte, em Cristo há um só «corpo», há IV. Verdades da paz Elplrltaal
união. Em contraposição a isso, não há judeu ou 1. Cristo nos oferece a paz, isto é, a harmonia com
gentio, escravo ou livre, varão ou varoa, mas todos são Deus (Rom. 5:1) e com os homens, a tranqüilidade
um só em Cristo Jesus (ver GáI. 3:28). que nasce da retidão espiritual.
m. Q1IaII. . . . e P..... da paz 2. A paz se baseia sobre o bem-estar da alma, sendo
produto da regeneração.
1. A paz nos chega através da calma certeza da
confiança na providência .divina e seus desígnios, 3. Cristo é a nossa paz, pois sua missão nos concede
harmonia com Deus.
crendo que os acontecimentos, tanto os de natureza
cósmica como os de natureza espiritual ou prática, de 4. Ela é fruto do Espírito, uma operação espiritual,
todos os dias, foram determinados adredemente pelo uma qualidade da alma (GáI. 5:22).
Senhor; pois nada sucede sem propósito, sem a 5. Ela acompanha a fé (Rom. 15:13) e a retidão
aprovação e o controle divinos. (Isa. 32:17), e se deriva do amor ela lei de Deus (Sal.
2. As ocorrências devastadoras da natureza, 119:165). Ela se firma mediante a mentalidade
portanto, fazem parte desse plano divino, embora espiritual (Rorn, 8:6).
sejam lamentáveis; mas a sua dureza pode ser 6. O evangelho anuncia a paz e a introduz, Rom.
suportada, porque o crente tem a certeza de que Deus 10:15.
continua entronizado nos céus, e que, finalmente, 7. Os que são espirituais haverão de promovê-Ia,
tudo correrá bem neste mundo. Mat. 5:9.
3. O Senhor Jesus experimentou tristezas semelhan- 8. Aos ímpios faltam o conhecimento e a
tes às nossas, e teve de lutar contra os mesmos experiência da paz, Rom, 3:17.
adversários que temos de combater; no entanto, 9. A paz ultrapassa o entendimento, Fil. 4:7. E se
triunfou, até mesmo nas horas mais negras de sua consuma após a morte física, Isa, 57:2.
provação, tendo triunfado completamente, em sua 10. A paz espiritual é um consolo e uma força
ressurreição para a vida eterna. presentes, e essa é a mensagem principal de João
4. A paz é um dos aspectos do fruto do Espírito 14:27.
Santo (segundo nos informa Gál. 5:22), e isso resulta Ê evidente que somos atingidos em nossas reações
do ministério transformador do Espírito de Deus, emocionais às coisas. Por isso mesmo é que Epicteto
que habita no íntimo do crente. A própria paz serve de declarou: «O que é, portanto, que perturba e
142
PAZ, OFERTA DE - P~
confunde as multidões? Seria o tirano e seus guardas? latim, e deste para muitos idiomas modernos. A m~
Não, de forma alguma. Pois é impossível que aquilo antiga representação dessa letra que a arqu~logul
que é livre por natureza seja perturbado ou impedidc tem podido descobrir tinha o formato de um numero
por qualquer coisa fora de si mesmo. O que perturba «7... Esta enciclopédia presta informações sobre o
a um homem são os seus próprios julgamentos. Pois formato e a história de todas as letras do alfabeto,
quando o tirano diz a um homem: 'Vou prender-lhe como parte de uma página-titulo para cada letra.
pelas pernas' , se ele dá valor às suas pernas,
responde: 'não, tem misericórdia'; mas, se dá mais p2
valor à sua própria vontade, então diz: 'Se te parece
mais proveitoso assim, prende-as'., 'Não dás atenção Há três palavras hebraicas e uma palavra grega,
ao que digo?' 'Não, não dou atenção. Mostrar-te-ei envolvidas neste verbete, a saber:
que tenho domínio próprio'.. (Discursos). 1. Ken, «bases, «pé», Com este último sentido,
Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize, aparece por oito vezes: Êxo, 30:18,28; 31:9; 35:16;
(João 14:27). Juntamente com a declaração do dom da 38:8; 39:39; 40:11; Lev. 8:11.
paz, o Senhor Jesus repete as palavras que serviram de 2. Paam, «passo .., «pé». Palavra hebraica usada por
introdução a João capitulo 14, uma firme declaração seis vezes com o sentido de pé: I Reis 19:24; Sal.
de que nada há para o crente temer - portanto 58:10; 74:3; Pro. 29:5; Cano 7:1; Isa. 37:25.
confiamos nele e confiamos em Deus, conhecemos ao 3. Regei, «pé». Vocábulo hebraico usado por
seu Espirito, e esse Espirito nos administra paz na duzentas e dezesseis vezes.. segundo se vê, por
própria alma. exemplo em Gên. 8:9; Êxo. 21:24; Lev. 8:23; Núm.
22:25; Deu. 2:5; Jos. 1:3; 11 Sam. 2:18; 11 Crô. 33:8;
re, 2:7; Pro. 1:15; Ed. 5:1; Isa. 1:6; Jer. 2:25.
PAZ, OFERTA DE 4. Poús, «pé», Palavra grega usada por noventa e
Ver o artigo geral sobre Sacrlftcl. e Oferta. três vezes por exemplo: Mat. 4:6 (citando Sal. 91: 12);
Mat. 28:9; Mar. 5:22; Luc. 1:79; Atos 7:49 (citando
Isa. 66:1), I Tiro. 5:10; Heb. 1:13; Apo. 1:15,17.
PAZ DE DEUS Os pés, no ser humano, são a extremid,~de inferior
das pernas, sobre os quais o corpo se apoia, quando
Ver o artigo geral sobre a Paz, seção 11, Cristo como de pé bem como o instrumento de movimento de um
a Nossa Paz, que está diretamente relacionada à faz local para outro, - mediante o andar. O homem é
de Deus. Ver Efé. 1:10; 2:14 e Col. 1:20. Cnsto bípede (dois pés) como as aves. O macaco tem quatro
confere-nos a paz com Deus, porque Cristo é o agente mãos e os outros animais têm quatro patas. A palavra
da paz divina. A paz de Deus (que pertence a ele e que «pé» também é aplicada a bases, pedestais ou
ele oferece aos homens), também é conhecida como extensões de vários objetos. Assim, algumas traduç~s
paz de Deus. Ele passa a ser dk>s homens quando eles usam a palavra "Eé», para indicar a base do lavatôrio
se reconciliam com o Senhor, mediante o perdão dos do tabernáculo (Exo. 30:18), e para o mastro de um
pecados. O Deus da paz é aquele que outorga paz aos navio Usa. 23:23). Uma outra palavra hebraica, regei
remidos (ver I Tes. 5:23), através da salvação. Há um (ver acima), refere-se aos pés dos J;tomens e também às
evangelho da paz que é o veiculo dessa mensagem (ver patas dos animais e, antropomorficamente, aos pés de
Efé. 6: 15). Jesus conferiu a sua salvação e a sua paz Deus (ver sobre usos figurados, abaixo). Essa palavra
aos homens (ver João 14:27; 16:33). Ver sobre a hebraica também era usada para indicar bases de
fórmula «Deus da paz.., em Rom, 15:'33; FU. 4:9 e I objetos. O vocábulo hebraico paam, que se ~ri~~ de
Tes. 5:23, onde a expressão é usada como uma espécie uma palavra que significa «bater.., pode significar
de conclusão litúrgica de letras ou parágrafos «passo», ou o próprio «pé» (lsa. 26:6). O termo grego
principais. poús é genérico, indicando tanto pés huma~os quanto
Paulo exprimiu o desejo que seus leitores experi- patas de animais. Grande cuidado se conferia aos pés,
mentassem a paz com Deus e a paz de Deus, isto é, nos países do Oriente. Ê que as pess~as andav.am
aquela vida que Deus dá aos crentes. Em Rom.5:1, a descalças ou quando muito, com sandâlias. E aSS1m.
«paz com Deus» é o resultado da justificação mediante a la~agedt dos pés tornou-se parte da hospitalidade
a fé. O estado de paz resulta das operações da graça oriental (Gên, 18:4). A tarefa da lavagem dos pé~ era
(ver II Ped. 3:14). Há uma paz de Deus que deixada ao encargo de escravos e servos. Isso exphca a
ultrapassa todo o entendimento, e essa deve ser a obra força do exemplo deixado por Jesus, em favor desse
do Espirito (ver Fil. 4:7). Temos ai a idéia de humilde serviço prestado a seus discípulos, quando
tranqüilidade e confiança, que uma correta relação lhes lavou os pés, e recomendou que fizéssemos o
com Deus nos confere, a despeito das perturbações mesmo (João 13:5). O trecho de I Timóteo 5: 10
externas da vida diária. A paz é um dos aspectos do mostra que as viúvas lavavam os pés dos santos. Em
fruto do Espirito (ver Gál. 5:22), ou seja, uma tempos de aflição, os judeus negligenciavam os pés,
qualidade divina, e mera tranqüilidade, conforme os deixando-os descalços, a fim de mostrarem ~ sua
homens a conhecem naturalmente. Os homens estão consternação (11 Sam. 15:30; Eze, 24: 17). Cair aos
sendo convidados à «paz de Cristo.., como parte da pés de outra pessoa era sinal de profundo respeito ou
herança espiritual deles (ver Cal. 3:15). temor (I Sam. 25:24; 11 Reis 4:37). Beijar os pés de
outrem exprimia os mesmos sentimentos (Luc. 7:38).
As patas dos animais algumas vezes er~m decepadas
PE ou aleijadas (Juí. 1:6,7; I Saro. 4:12). Pisar o pescoço
Essa é a décima sétima letra do alfabetó hebraico. de um inimigo prostrado simbolizava tri~mf!l absoluto
Essa letra encabeça a décima sétima seção do Salmo ·(Jos. 10:24; Sal. 110:1). Descalçar os propnos pés era
119 onde cada versiculo dooriginal começa com essa sinal de adoração (Êxo. 3:5).
letra. Tinha o valor numérico de 80, e equivalia à letra Usos Metafóricos:
moderna «P... No hebraico significa -boca». Nosso 1. Os anjos guardam os pés dos santos, ou seja,
alfabeto latino veio de letras semíticas, com alguns protegem-nos em tudo quanto são e fazem (Sal.
empréstimos tirados dos hieróglifos egípcios. Ver 91:1,12).
sobre Alfabeto. Os gregos tomaram essa letra por 2. Descalçar-se indicava respeito, como na'presênça
empréstimo e chamaram-oapi. Dai ela passou para o de um alto oficial, ou do Senhor Deus (Êxo. 3:5).
143
I 1
PÉ - PECA
3. Estar sob os pés de alguém indicava sujeição Então ele passou a saquear a nação de Judâ, o reino
(Sal. 8:6; Heb. 2:8; I Cor. 15:25). hebreu irmão. Ao que parece, o rei de Judá, no
4. Estar sobre os próprios pés indicava estar pronto começo desse processo, era Jotão (ver 11 Reis 15:37).
para servir, ou para receber instrução (Jui. 4:10). Os Porém, a execução do plano consumiu um longo
discípulos sentavam-se aos pés de seus mestres, nas tempo, provavelmente porque Jotão dispunha de um
escolas judaicas. Ver Atos 22:23; Luc, 10:39. sistema de defesa eficaz, além de ter sabido governar
5. Aleijão era sinônimo de aflição ou calamidade o seu país (ver 11 Crô. 27). Mas quando seu filho
(Mat. 18:8; Jer. 10:10; Miq. 4:6,7). Acaz, um homem mais fraco, substituiu-o no trono,
6. Pôr os pés em um lugar significava tomar posse as coisas derruiram para Judâ. O décimo sexto
do mesmo (Deu. 1:36; 11:26). capitulo de 11 Reis e o vigésimo oitavo capitulo de 11
7. Andar por um caminho reto simbolizava andar Crônicas contam a triste história. Peca aliara-se à
de modo correto, moralmente falando (Gál. 2:14). Síria, tentando derrotar o poder assirio, que
ameaçava à Síria e a Israel. Acaz, embora convidado
8: Descobrir os pés indicava luto ou lamentação a fazer parte da aliança, recusou-se a tal. E assim, a
(Eze. 24: 17). Também poderia ser um sinal de primeira coisa que sucedeu foi que Judá foi invadido e
adoração (Êxo. 3:5). No Oriente, uma pessoa jamais derrotado, e muitos judaitas foram levados em
entraria calçado em um templo, a fim de adorar. Os cativeiro. Mas houve a intervenção do profeta Obede,
sacerdotes levitas serviam descalços. que fez os prisioneiros serem devolvidos a Judá. No
9. Pôr os pés sobre uma rocha indica estabilidade e entanto, em 733 A.C., as forças assirias de
confiança própria (Sal. 31:8). Tiglate-Pileser IH invadiram Israel vindas do norte, e
10. Escorregar os pés indica ceder diante das ele foi capaz de assenhorear-se das fortificações e
tentações e falhar (Jó 12:5; Sal. 17:5; 38:16). ocupar a Galiléia e a região costeira. Esses territôrios
11. Pisar com os pés indica total destruição (lsa. foram anexados ao império assírio, e cada região
18:7). recebeu um governador estrangeiro. Muitos habitan-
12. Lavar ou mergulhar os pés em manteiga indica tes foram exilados, sendo levados à Assiria. A única
a posse de grande abundância material (Deut. 33:24; porção do reino de Israel que continuou independente
Jó 29:6). por algum tempo foi a capital, Samaria, com a região
13. Guardar os pés é proteger e guiar (I Sam. 2:9). montanhosa de Efraim, que lhe ficava contígua,
14. Molhar os pés indica irrigar, visto que esse ato Porém. uma década mais tarde. o poder assirio pôs
era feito por meio de bombas manejadas com os pés fim até mesmo a isso.
(Deu. 11:10). O próprio Peca não sobreviveu ao desastre. Foi
morto e substituido no trono por Oséias, filho de Elá,
15. Cobrir os próprios pés é fazer as próprias que renovou a política de submissão à Assiria. Ver 11
necessidades (I Sam. 24:3). Reis 15:30. Nessa passagem bíblica, a questão da
16. Abraçar e beijar os pés demonstrava humildade, remoção de Peca do trono é atribuida a uma
sujeição e temor (Luc, 7:38). conspiração palaciana (sem dúvida encabeçada por
17. Conservar os próprios pés em seus passos Osêias), ocasião em que Osêias tomou-se rei de Israel.
indicava manter uma conduta coerente (Jô 23:11). Todavia, os anais de Tiglate-Pileser IH dizem que os
18. Um pé não deve invejar uma mão, no corpo de samaritanos dominaram Peca e nomearam a Oséias
Cristo. Em outras palavras, um crente não deve rei em seu lugar. Talvez issõ signifique que Osêias, ao
invejar os dons espirituais de outro crente. conspirar pelo poder, voltou-se contra o seu próprio
19. Lavar os pés é sinal de humildade e de prestação rei, mas acabou sendo um instrumento d6cil nas mãos
de serviço a outrem (João 13). Ver o artigo separado dos assirios. Seja como for, Oséias (vide) foi o último
sobre o Lava-pêl. monarca de Israel, o reino do norte.
4. EvidênciasArqueolôgicas, Escavações efetuadas
em Hazor e Megido mostram uma destruição
PÊ DE VENTO Ver Vento, Pé de. generalizada ali, que teria havido na época de Peca,
sem dúvida obra dos assírios. Ver 11 Reis- 15:2S-32,37j
PECA 16:1,5; 11 Crô. 28:6; Isa. 7:1.
1. Nome. Esse nome, no hebraico, significa ..ele 5. Problema de Cronologia. Tem sido provado que
(Deus) abriu os olhos», ou apenas ..abriu». Porém, o informes que envolvem a cronologia e a sucessão dos
nome divino, Yahu, está presente no nome. reis de Israel e Judá nem sempre foram cuidadosa-
2. Família. Ele era filho de Remalias. Visto que mente manuseados pelos autores dos livros históricos
Peca havia sido um oficial do exército, é possível que do Antigo Testamento. Portanto, ocasionalmente,
sua familia também contasse com muitos militares. surgem problemas. Uma das principais causas da
Seja como for, não pertenciam à família real. confusão é o fato de que houve reinados justapostos,
3. Rei de Israel. Peca reinou entre 741 e 732 A.C., onde, vez por outra, mais de um rei esteve no poder,
tendo sido o décimo oitavo rei do reino do norte, como na combinação pai e filho. A Enciclopédia de
Israel. Ele servira como oficial militar às ordens do rei Zondervan enfrenta esse problema de Peca segundo se
Pecaías. Obteve o trono mediante uma conspiração vê na citação abaixo. Em questão está a data da sua
contra aquele monarca, da qual participaram subida ao trono e da sua morte.
cinqüenta gileaditas. Com base nessa circunstância, "O problema pode ser equacionado dizendo-se que
alguns pensam que Peca era gileadita. Seja como for, as datas de 753-752 A.C. para o trigésimo oitavo ano
a conspiração resultou no assassinio de Pecaías, de Uzias e de 732 para a queda de Samaria, não
quando então seu assassino usurpou o seu trono. Uma permitem tempo suficiente para os reinados de
das razões da conspiração é que vârios reis que o Zacarlas (seis meses), Salum (um mês), Menaém (dez
tinham precedido haviam .enfraquecido a Israel, anos), Pecaias (dois anos), Peca (vinte anos) e Oséias
pagando imensas somas de tributo aos assirios (ver II (nove anos), perfazendo um total de quarenta e um
Reis 15:20), sem falar em agitações intestinas. E anos e sete meses, ao passo que o tempo real foi de
talvez Peca estivesse interessado em reverter a apenas trinta anos. A solução está baseada em 11 Reis
situação. Com esse propósito, ele buscou o apoio de 15:30 e 17:1, quando o último ano de Peca, o primeiro
uma aliança estrangeira com Rezim, rei de Damasco. de Osêías, o décimo segundo de Acaz e o vi"ésimo de
144
PECA - PECADO
Jotão ocorreram ao mesmo tempo.' Computando o variedade de modos, cada um dele!'> com v uso de
tempo para trás, o ano de 722 A.C., fornece-nos o ano um quadro falado sobre o que isso significa. Cristo
da coroação de Osêias como sendo 7321731 A.C. Jesusé a cura de cada uma dessas manifestações do
Nesse mesmo ano morreu Peca, sendo esse ano pecado, pois a sua expiação apaga a divida; e a
correspondente a esses quatro reis. Dando margem santificação em Cristo transforma o pecador, para
para os governos de Zacarias, Salum, Menaém e que seja um ser santo e celestial. E Deus é fiel e justo,
Pecaias, chegariamos a 740-739 A.C., quando Peca conferindo esse imenso beneficio aos homens que se
usurpou o trono de Israel. Dessa data até 7321731 submetem a ele, isto é, que exercem fé em Cristo e ao
A.C., temos cerca de oito anos, para o governo de seu mundo eterno (ver Heb. 11 :1).
Peca sobre Israel. E comparando os governos dos reis
acima alistados, e a reivindicação de que Peca reinou D. tomo TnDipI"1o da Lel(I Joio 3:4)
durante vinte anos, faria com que o começo desses O pecado é a traDIpeIdo da lei. O autor sagrado
vinte anos coincidisse mais ou menos com a coroação oferece-nos uma definição possível de «pecado»,
de Zacarias. E visto que Peca foi designado capitão de bastante lata, mas não a única possível. O pecado
cinqüenta gileaditas (ver 11 Reis 15:25), isso parece pode ser praticado por «omissão» (ver Tia. 4: 17); e os
indicar o local onde ele residia-Gileade-e isso, pagãos, que não tinham lei - no sentido de uma
juntamente com o seu governo de vinte anos, parece legislação divinamente dada mesmo assim
indicar uma pretensão sobre a Transjordânia, nos pecavam (ver o segundo capítulo da epístola aos
dias de Pecaías». Isso posto, aos seus próprios olhos, Romanos). A «lei», neste caso, certamente é a «lei
parece que ele exerceu poder durante vinte anos, o mosaica», e não a nova lei do Espírito, revelada no
que incluiria sua pretensão ao trono, embora seu evangelho. Horém, apesar de poderem ser dadas
governo real e oficial tivesse durado muito menos do outras definições de pecado, o autor sagrado não
que isso. estava interessado em qualquer delineamento comple-
6. Avaliação Btblica, O trecho de 11 Reis 15:28 diz to do que pode ser o pecado. Para o seu argumento,
que Peca deu continuação às mâs tradições instituidas bastava que o chamasse de «transgressão da lei». O
por Jeroboão. Ele teve seu dia de glória e poder; mas, «desregramento» dos gnósticos era ato condenado
tendo começado a reinar em meio à violência, peremptoriamente na legislação mosaica, pelo que o
terminou pela violência. Isso revela muita coisa sobre conceito de pecado como «transgressão da lei» servia
a história dos reis e dos homens em geral. de instrumento adequado para ser usado contra os
falsos mestres. E possível que essa definição de
pecado tenha sido escolhida porque os mestres
gnósticos negavam a autoridade do A.T. O autor
PECADO afirma, por conseguinte, a. despeito do que os gnósticos
Esboço asseveravam em contrário, que a lei de Deus, revelada
I. Definições no A.T., os condenava. Os gnósticos desconsideravam
o sétimo mandamento, além de outros similares.
11. Como Transgressão da Lei Julgavam-se acima da lei. No entanto, a lei os
111. A Natureza do Pecado condenava. -É como se então o autor advertisse
IV. Como É Que Todos Pecaram: Rom, 5:12 a seus leitores: «Cuidai para que não sejais numerados
V. Como a Graça Opera a Fim de Nos Dar entre eles. Cerinto deve ser confrontado com Moisés".
Vitória Sobre o Pecado: Rom. 6:14
VI. Perfeição Impecável? I 10. 1:10 «A gravidade do pecado ou de atos pecaminosos é
VII. Perdão dos Pecados salientada pela identificação dos mesmos com o
VIII. Gradações de Pecado 'desregramento'. termo que parece indicar o pecado
IX. O Reino do Pecado em toda a sua enormidade e blasfêmia, a julgar pela
I. DeflDlçae. caracterização do anticristo, em 11 Tes. 2:7,8, como o
'iníquo' , e suas atividades como o 'mistério da
No grego é amartia, Esse termo é derivado de uma iniqüidade'. O trecho de Mat. 24:12 também cita o
raiz que indica «errar o alvo», «fracassar». Trata-se do aumento da iniqüidade como um dos sinais da
fracasso em não atingir um padrão conhecido, mas tribulação messiânica. Os cismáticos iluminados e
antes, desviando-se do mesmo. Essa palavra, porém, jubilosos talvez dessem excessiva importância ao fato
veio a ter também um significado geral, indicando o de que não estavam acima de toda a lei, sem
principio e as manifestações de pecado, sem dar apreciarem que não estavam 'sem lei para com Deus,
qualquer atenção a seu significado original. O trecho mas sob a lei de Cristo' (I Cor. 9:21). Irineu aludiu aos
de I João 3:4 usa o vocábulo anomia, «desregramen- hereges, que supunham que 'devido à nobreza de sua
to», desvio da verdade conhecida, da retidão moral. O' natureza, em grau algum podiam contrair polução,
pecado tanto é um ato como é uma condição. É o sem importar o que comessem ou fizessem' (Contra
«estado» dos homens sem regeneração, que se Heresias, 11. 14:5); e em outra oportunidade fala
manifesta na forma de numerosos e perversos atos. daqueles para quem o bem e o mal são apenas
Pecar é afastar-se daquilo que Deus considera a questões de opinião humana (op. cit., 11.32.1) ».
«conduta ideal», do homem ideal, exemplificado em
Jesus Cristo. Isso conduz à «impiedade.. (asebeia; 11 m. A Natureza do PfJLWIo
Pede 2:6), que consiste na oposição a Deus e a seus 1. O pecado é cósmico em sua natureza. Nenhum
princípios, em autêntica rebelião da alma. E isso leva ser humano peca sozinho. O pecado sempre fará parte
à «parabasis», «transgressão» (ver Mat, 6: 14 e Tia. de uma rebelião cósmica contra Deus e contra a
2:11) contra princípios piedosos reconhecidos. Isso retidão. I João 3:8 enfaticamente assevera que aquele
leva o individuo à «paranomia.., a «quebra da lei», o que «pratica o pecado" é do diabo. Esse ser maligno é
«afastamento» da lei moral (ver Atos 23:3 e II Pede intitulado «o deus deste mundo» (ver 11 Cor. 4:4), e
?:16)__ Nossos pecados também são «passos em falso», muitos são seus súditos e escravos. Será necessária
Isto e, «paraptoma-, no grego (ver Mat, 6:14 e Efé. uma providência cósmica para remover o pecado, e o
2~). Propositadamente «caímos para um lado», julgamento tomará conta disso.
«desviamo-nos pela tangente», apesar de estarmos 2. Mas o pecado também é pessoal. Embora as
instruidos o bastante para não fazê-lo. forças satânicas forneçam a agitação (ver Efé. 6:11 e
Desse modo, o N. T. descreve o «pecado» sob boa 55), o individuo é responsável pelas suas ações, e,
145
PECADO
portanto, ele é convocado a arrepender-se. O homem como participantes.
não pode alterar o quadro cósmico, mas pode ser V. Como a Graça Opera, a F1m de No. Dar VItórIa
pessoalmente redimido. (Ver o artigo sobre o Sobre o Pecado Rom. 6:14
ArrependImento).
1. A palavra «graça», neste caso, refere-se ao
3. Sem importar se cósmico ou pessoal, o fato é que sistema espiritual da graça, em contraste com o
o pecado é, definidamente, uma questão de rebeldia. sistema da lei. Sob Moisés, os homens receberam um
O pecado tem por escopo destruir uma alma eterna
(ver I Pe'd. 2:1). O pecado é algo muito mais sério do conhecimento para eles elevado demais. Ficaram
que aquilo que gostamos de pensar a seu respeito. sabendo o que havia de errado, mas foram deixados
sem poder para resistir ao pecado. De fato, a lei
4. Foi preciso a missão de Cristo para dar solução revigorou-o pecado. Sob a graça, pelo contrário, o
ao problema do pecado (ver Rom. 5: 1; CoI. 1:20 e ministério do Espírito nos é conferido, pois ele é o
Efé. 1:10). alter ego de Cristo, o qual faz de nós o seu templo (ver
IV. Como é que Tocto. Peeuam, Rom. 5: 12 Efé. 2:20), e, dessa forma, nos transforma.
1. Alguns intérpretes dizem: «Em Adão.. isto é. 2. O método mosaico era «legalista», isto é,
todos os homens participaram, em Adão, do pecado consistia em uma lei que exigia coisas dos homens,
original, e contra esse pecado é que o juizo foi encorajando o orgulho humano. Abria caminho para
proferido. Essa idéia é frisada por causa da analogia os méritos humanos como maneira de considerar-se a
com o ato isolado de justiça que nos outorgou a obtenção da salvação. Portanto, não podia prover aos
justificação. A expiação de Cristo foi exatamente esse homens o dom divino, a saber, a salvação da alma.
ato, mediante o qual somos justificados, e não 3. O caminho do Espírito é místico, Esse vocábulo,
mediante inúmeros atos de justiça que porventura consoante à sua definição mais básica, significa que
pratiquemos. Por semelhante modo, somos julgados entramos em «contacto» com algum poder superior,
por causa de um único ato - o pecado de Adão - do especificamente, Deus, o Espírito Santo, Cristo. Esse
qual todos participamos. Há evidências rabínicas em contacto capacita-nos a cumprir os requisitos da
favor dessa idéia (ver Zohar, em Lev. foI. 46:2, e retidão, não com perfeição impecável, mas com
Pugionern Fidei, par. 590). vitórias sobre o vicio e o pecado.
2. Outros afirmam que Rom. 5:12 fala de pecados 4. No trecho de Rom. 6:12 no NTI, demos notas sob
individuais (e essa opinião é esposada pela maioria o titulo «Como pôr fim a esse reino do pecado», onde
dos intérpretes). Também há evidências rabinicas há certo número de sugestões que têm aplicação aqui.
quanto a esse ponto de vista (conforme é esclarecido Assim perceberemos que tais meios, todos eles em seu
por Henry St, John Trackeray, «The Relation of St, conjunto, foram providos pelo poder do Espírito, o
Paul to Contemporary Jewish Thought», pág. 33). qual é o agente do «método da graça» da salvação.
S. O trecho de Rom. 8:2 fala sobre a «lei do
3. Talvez seja melhor misturar esses dois pontos de Espírito» que opera em nós; e é através desse novo
vista. O homem nasce com o pecado original. Ele princípio que obtemos a vitória. Essa nova lei foi
pecou em Adão. Mas cada individuo também tem seu escrita em nossos corações, pelo que se torna em uma
próprio pecado. E ambas as modalidades o conde- caracteristica dá alma, e não mero conhecimento
nam. Isso está em consonância com os princípios mental (ver 11 Cor. 3:3 quanto a esse conceito).
ensinados em Romanos 2:6, o de que cada um será 6. O Espirito Santo é o poder por detrás dos meios
finalmente julgado de acordo com suas próprias de desenvolvimento espiritual. O método da graça
obras. O pecado de Adão é a raiz; os pecados da opera através de tais meios.
humanidade são os ramos; e os pecados individuais 7. Obviamente, o método da graça abre a provisão
são os frutos. A 'sentença de julgamento recai sobre a necessária para a santificação, uma importantíssima
árvore inteira, e não apenas sobre uma parte da realidade e doutrina cristã (ver I Tes. 4:3).
mesma. Ver a elaboração abaixo acerca dessa idéia.
(Comparar este versículo com Rom. 3:23 e ver as 8. O alvo maior das operações do Espírito, o que,
notas ali existentes no NTI). paralelamente, é o aspecto mais elevado da salvação,
é a transformação do indivíduo segundo a própria
Como ilustração do que Paulo procurava dizer imagem de Cristo, de tal modo que o crente vai
aqui, podemos usar uma árvore, com suas raizes, com passando de um estágio de glória para outro, em
seu desenvolvimento acima do solo e com seus frutos. continua ascensão. (Ver notas completas a respeito
A realidade de tudo quanto uma árvore é, se origina em 11 Cor. 3:18 no NTI). E obvio que a pessoa assim
de suas raizes. Uma árvore, entretanto, é bem mais do beneficiada, dificilmente se vê sujeita ao reino do
que apenas as suas raízes; pois também consiste no pecado.
grande tronco que se eleva da superfície do chão.
Também inclui até mesmo os seus frutos. Ora, outro VI. Perfelçlo I.m.peeável' I Joio 1:10
tanto sucede no caso do pecado. A raiz é o pecado de O autor sagrado demonstra que a «perfeição
Adão, e o juizo divino foi pronunciado contra a raiz. impecâvel», é, essencialmente. auto-ilusio. Ele reafir·
Mas o pecado também desenvolveu o seu tronco, ma a mensagem coerente das Escrituras, a qual é
visível para todos, o que representa O' principio do confirmada pela razão e pela intuição, de que todos os
pecado, que opera neste mundo. Finalmente, o homens devem imensa divida, tendo-se afastado desse
pecado tem os seus frutos, o que significa os atos problema, sendo assim restaurada a comunhão com
individuais de todos os homens. Ora, tais atos Deus, através de sua mediação. Tudo isso, como é
também produzem o julgamento, determinando a claro, tem um aspecto polêmico. Os gnósticos (ou.
intensidade do mesmo, porquanto a declaração pelo menos, alguns deles), afirmavam ser «impecâ-
biblica, freqüentemente repetida, é que os homens veis», pelo que também rejeitavam a necessidade de
serão julgados de acordo com as suas obras. (Ver expiação, admitindo o poder de Cristo em seu batismo
Rom, 2:6 e as notas expositivas ali existentes no NTI, (Cristo teria vindo somente «pela âgua»), ao mesmo
onde o princípio inteiro é ilustrado e onde várias tempo que negavam qualquer poder em sua morte
referências paralelas são dadas}. Portanto, para (não teria vindo pelo «sangue»). Esses falsos mestres
dizermos toda a verdade, o pronunciamento original afirmavam ter elevada e ímpar comunhão com Deus,
do julgamento foi contra a transgressão de Adão, de mas supunham que podiam ter isso sem a necessidade
cujo julgamento todos os homens são apresentados da verdadeira pureza e santidade de corpo e espírito.
146
JESUS E A MULHER PECADORA
H'. Dyu . R . A . JESUS E A MULHER DE SAMARIA
PECADO - PECADO IMPERDOAVEL
O autor desta epistola afirma que tal opinião não ção na natureza divina é a principal característica da
passa de ilusão. Sim, é fácil alguém cair na salvação (ver 11 Ped. 1:4).
auto-i1~ão, mediante o exagero" da importância e VID. Gnd.ça. ele PeeIMIo
profundidade dos nossos sentimentos religiosos.
Facilmente podemos superestimarmos a nós mesmos, 1. Alguns crentes, naqueles momentos que fazem
no que diz respeito à qualidade de nossa espirituali- experiências com a teologia popular, supõem que não
dade. O egoismo pode assumir muitos disfarces, há gradação no pecado. Em outras palavras, «pecado
sendo fácil aliviar uma consciência intranqüila por é pecado», dizem, «e todos os pecados são igualmente
truques emocionais e racionalizações. As pessoas maus diante de Deus».
religiosas se tornam sofistas. Mas o autor sagrado 2. Essa opinião, entretanto, nega o principio
pro,:ura d.estruir todos esses truques religiosos exarado em Rom.. 2:6, que diz que cada indivíduo
sentimentais, declarando que a prova da espirituali- será julgado de conformidade com as suas próprias
dade se acha na observância dos mandamentos obras, e que o próprio crente será julgado segundo o
divinos. O «imperativo moral» do evangelho não pode que tiver praticado, de bom ou de mau, através do seu
ser exagerado. Nossa fé exige que «façamos» e que corpo (ver 11 Cor. 5:10).
«sejamos», e não somente que «acreditemos». O 3. Essa teologia popular também nega a base
principio da graça divina envolve o poder do Espirito mesma da lei da colheita segundo a semeadura (ver
Santo, em nós residente, o qual é capaz de Gál. 6:7,8).
nos transformar moral e espiritualmente. Ora, isso a IX. O ReIao do Pecado
lei jamais poderia ter feito, pelo que o autor sagrado 1. O pecado, fortalecido pela lei, transformou-se
diz que, no caminho cristão, a lei moral se encontra em um tirano universal; prometia beneficios, mas
nas mãos da Realidade espiritual em nós residente, dava aos homens a morte fisica e a espiritual (ver
devendo ser cumprida naqueles que lhe são hospedei- Rom.6:3).
ros. A transformação moral do crente não é algo que
possa ser acompanhado ou não pela fé mas é a 2. A morte é merecida, conforme fica claro na
própria fé em expressão. Não pode have~ salvação, referência bíblica acima. Os homens se aprovam
sob hipótese alguma, sem a santificação. Isso é mutuamente, -encorajam uns aos outros, ao mesmo
deixado bem claro na seção a nossa frente, o que tempo que ganham esse horrendo salário (ver Rom.
confirma a observação paulina, em 11 Tes. 2:13. A 1:32). Isso prova o quanto o pecado se tomou em um
santificação é o próprio meio da salvação, pois, sem a tirano, a ponto que os homens sejam enganados e
santificação, ninguém jamais verá a Deus (ver Heb. cheguem mesmo a gostar daquilo que praticam. O
12:14). O autor sagrado, por conseguinte, ataca a tirano os submeteu a uma 'lavagem cerebral tão
chamada «crença fácil» que há, de modo generaliza- completa que eles, mesmo quando reconhecem que
do, na moderna igreja cristã, bem como havia na estão praticando o que é errado, e mesmo quando
filosofia amoral dos mestres gnósticos. podem antecipar seus resultados, não podem contro-
lar-se.
A~ abordar a questão do pecado, o autor sagrado
reafirma o valor da morte de Cristo como «expiação» 3. Esse tirano domina o corpo inteiro (o que explica
(ver I João 1:7,9). Ele sabia que seu valor é pelo as ações da alma) e reduz os homens a totais escravos
mundo inteiro, pelo «pecado de todo e qualquer (o que é a mensagem do sexto capitulo de Romanos),
homem», e não apenas em favor de alguns poucos 4. O pecado obriga os homens a fazerem coisas
individues selecionados. Os gnósticos, entretanto, irracionais e absurdas, mas os homens não têm força
acreditavam que somente alguns poucos indivíduos de vontade contra isso. Alguém disse uma verdade:
eram passíveis de redenção. No entanto, a missão de «Senhor, temos conhecimento; o que não temos é
Cristo, é tão eficaz que todos os homens são força de vontade».
potencialmente redimiveis. 5. O que os homens se recusam a fazer
habitualmente torna-se para eles uma impossibilidade
Vll. PenIio ... Pec.to. moral. Ou aquilo que os homens fazem de errado
1. Ê conferido exclusivamente por Deus (Mar. 2:7). habitualmente extrai de suas consciências o senso da
2. Alicerça-se sobre a expiação pelo sangue (Heb, pecaminosidade do pecado.
9:22; ver também Efé. 1:7). 6. Os pensamentos se transformam em hábitos; os
3. ~ dado por meio de Cristo (Luc. 1:69,77). hábitos se tornam em caráter; o caráter determina o
4. E exibição das multiformes misericórdias de destino.
Deus (Efé. 1:7; Isa. 55:7 e Rom. 5:20).
_5. Consistem em serem apagadas nossas transgres-
soes (Isa, 44:22), com total olvido das mesmas por PECADO. GRAUS DE
parte de Deus (Heb, 10:17). Ver Pecado Mon.J e Pecado V...... especialmel1te
6. ~estaura o pecador diante de Deus (Isa. 44:22). ponto 3 e PeeIMIo. VIII.
7. E, ~ começo da salvação, além de ser condição
necessana para a mesma (Rom. 4:8).
8. Mas a salvação não consiste apenas no perdão de PECADO ETERNO
pecados. ~ na transferência de endereço para os cêus.. Ver sobre o Peeado lDIperdoáfel.
como, algumas vezes, a salvação é definida. O perdão
é. apenas o começo, e jamais o fim (ver Heb. 6:1-3).
Segue-se a isso a santificação, como um resultado
nat~ral t; necessário (ver I Tes. 4:3). Segue-se, 'ECADO IMPERDOÁVEL - Mat. 12:32
obrigatoriamente, a participação nas virtudes de Mat. 12:32: Se alguém disser alguma palavra
Cristo (ver Gâ1. 5:22,23). Nisso tudo ocorre a contra ~ Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas
transformação moral do ser, o que, por sua vez, se alguém falar contra o Esptrito Santo, não lhe será
provoca a transformação metafisica. Dessa forma o perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro.
cr~nte vem a participar da imagem e da natureza'de Diversas Interpretações
Cristo (ver Col. ~:10 e Rom. 8:29). Isso é uma 1. O ato de não confiar em Cristo que termina em
operação do Espírito (ver 11 Cor. 3:18). A participa- juizo inevitável, Mas o próprio texto'indica c1aramen-
147
PECADOIMPERDOAvEL
te que Jesus não aludiu a isso. Ê verd~de que a obras do Espírito Santo. O texto indica que aqueles
rejeição continua a Cristo produz um Julgamento homens religiosos, autoridades da religião judaica,
idêntico ao do pecado imperdoável; mas Jesus falava deveriam ter reconhecido o fato de que as obras
sobre atos hostis ao Espirito Santo. Alguns explica- operadas por Jesus, eram realizadas mediante o
riam, desejando manter essa explicação, que o ato de Espírito Santo; mas, como já vimos, em seu ódio,
rejeição a Cristo não seria apenas um ato, mas um consciente ou inconscientemente preferiram atribui-
processo que envolveria a pessoa do Espírito Santo, las a Satanás. Parece certo que tal conduta resulte de
como atitude final de quem assim o fizesse. Isso um processo de rebeldia contra Deus. Não se pode
também é verdade, mas dificilmente cabe dentro imaginar que um homem pudesse agir assim sem
deste texto. Ê verdade que os mandamentos e conhecer os princípios religiosos que mostram se algo
deveres que os homens se recusam, ~ontin~aJl?ente, a é feito por Deus ou por Satanás. O texto inclui
cumprir, tornam-se moralmente impossrvers para também a idéia de que aqueles que cometem tal
eles, mas o texto aborda outra questão. pecado só podem cometê-lo porque têm conhecimento
2. Outros, modificando a primeira idéia, explicam de Deus, de Cristo e da natureza da influência e das
que Jesus falou do fato de não crerem em Cristo, obras do Espírito Santo. Somente tais pessoas são
apesar dele ter provado que suas obras eram ~apazes de cometer o pecado imperdoável.
inspiradas pelo Espirito Santo; seria uma espécie de S. Pequena modificação da quarta posição, é
descrença arrogante. Essa explicação se baseia mais aquela que contempla um aspecto temporário, 9ue
no texto que a primeira, mas ainda não focaliza. a atribui intencionalmente a Satanás as obras feitas
idéia principal do texto, isto é, um tipo de blasfêmia pelo Espírito Santo, apesar de terem sido realizadas
que visa o Espirito Santo. A descrença arrogante será através de Cristo, quando ainda se achava na terra.
julgada como tal, merecendo a condenação eterna; Essa interpretação dá a idéia de que tal tipo de pecado
mas o próprio texto mostra que os crimes contra o só podia ser cometido nos dias de Cristo neste mundo,
Cristo, o Filho do homem, são perdoáveis, e o que fica porquanto a natureza desse pecado exige a presença
entendido com as palavras «todo pecado e blasfêmia de Cristo, agindo em suas obras maravilhosas, as
serão perdoados aos homens», é que tais pecados, quais são atribuídas a Satanás. A passagem de Mar.
mesmo que sejam excluidos os piores, são passiveis de 3:30 acrescenta: «Porque diziam: tem espírito
perdão. E possível que depois de algum tempo, a alma imundo». Essa adição, naturalmente, faz avultar esta
culpada de descrença arrogante não procurasse, a quinta interpretação, porque os lideres dos judeus
salvação em Cristo e assim viesse a perecer. Tambem realmente acusaram a Jesus de estar possuído por
é possível que, neste caso, o Espírito Santo perdesse algum demônio, acusação essa que dificilmente pode
toda influência sobre tal pessoa, deixando-a para ser repetida em nossos dias, porquanto Cristo não está
perecer nessa condição, o que a levaria a ser conosco em carne.
fatalmente condenada; mas, ainda que tudo isso seja
verdade, o texto ensina outra doutrina. A rejeição a Cristo conduz ao julgamento - eterno.
Os homens rejeitaram-no então, como continuam a
3. Uma leve modificação da segunda explicação, fazê-lo agora. Mas, o pecado aqui em foco, ainda que
que aplica o texto mais ao Espírito Santo qu~ a !<:sus, tenha o mesmo resultado, é muito diferente desse. A
é a que diz que Jesus deu a idéia de que o .mdlVlduo quinta interpretação só admite a possibilidade desse
que rejeitasse a influência e a obra do Espírito S.anto, pecado nos dias de Cristo, pois só naquele te!llpo
que é a de convencer os pecadores de sua necessidade havia possibilidade de atribuir as obras de Cnsto,
de aceitar a salvação em Cristo, uma vez que a feitas pelo poder do Espírito Santo, a Satanás. A
influência do Espirito se tenha dado por sinais e obras ausência de Jesus desta terra impossibilita que se
convincentes e inegáveis, teria rejeitado definitiva- cometa tal pecado hoje em dia, ainda que os homens
mente essa influência do Espírito, e, naturalmente, rejeitem a Cristo. O julgamento sobrevirá fatalmente
pereceria por fim. Esta interpretação também contra aqueles que, em sua incredulidade, não
apresenta uma verdade, e provavelment~ isso ocorre, aceitarem a Jesus, os quais, por isso mesmo, também
mas ainda não chega a alcançar o sentido pleno do rejeitam as obras e a influência do Espírito; e o
texto, que fala diretamente de um ~ecado ':0!ll~tid? resultado será idêntico. A diferença é que considera-
contra o Espirito Santo, e não so da rejeiçao a mos impossível que alguém pudesse cometer esse ato
influência do Espirito de Cristo. atualmente. Assim sendo, conclui-se também que os
4. O texto não alude a um pecado em particular, que rejeitam agora a Cristo não se tornam incapazes
mas a um ato ou a atos definidos que determinam um de aceitá-lo depois, embora isso talvez se torne
estado pecaminoso que consiste na oposição deter- impossível em decorrência do processo de endureci-
minada e voluntâria contra a força e a obra patentes mento do coração, por motivo de incredulidade e da
do Espírito Santo. Esta idéia incluiria o fato de que rejeição à influência do Espírito Santo. Mas, no juízo
aquele que comete o pecado imperdoável atribui as final, o resultado será o mesmo; os meios para alguém
obras do Espírito a Satanás, ou pelo menos não chegar a ele é que são diferentes.
reconhece a atuação do Esplrito Santo. Jesus «Não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem
continuava mostrando que a própria razão, bem como no porvir». Essa declaração tem sido alvo de diversas
a .instrução religiosa sobre a pessoa de Deus, interpretações:
demonstravam que o Espírito Santo é que operava 1. Fica subentendido que o perdão, impossibilitado
através de Jesus. Mas, em seu ódio contra Jesus, os nesta existência terrena, por causa da blasfêmia
fariseus optaram por não aceitar essa evidência dada contra o Espírito Santo, poderá ocorrer na vida
por Deus. Preferiam dizer que Satanás expelia a além- túmulo. Talvez as próprias palavras, se não
Satanás do que admitir que Jesus operava pelo poder levarmos em conta o sentido dado pela literatura
do Espírito. E perfeitamente claro que a aceitação ou judaica, possam ter esse sentido; mas os intérpretes
rejeição da pessoa de Jesus contribuiu para determi- em geral recusam reconhecer a possibili~ade d,:ssa
nar a atitude dos fariseus quanto às obras de Cristo e interpretação. Não é provável que Jesus quisesse dizer
à origem das mesmas; mas a rejeição a Cristo, por si tal coisa, pois a intenção do ensino, como é óbvio, é
só, não constituía pecado imperdoável. Essa rejeição é provar justamente a impossibilidade do perdão.
que servia de base para alguém cometer o pecado
imperdoável. que consiste em atribuir a Satanás as •••••••••
148
PECADO - PECADO MORTAL
2. Muitos exemplos dessa expressão, existentes na sacramental que a Igreja Católica Romana adminis-
literatura judaica, demonstram que, com essas tra. mediante o poder da expiação de Cristo. O trecho
palavras, os judeus indicavam o presente (antes da de I João 5: 16, 17 é oferecido como texto de prova
vinda do Messias, para eles) e o porvir (depois da dessa idéia em geral. Essa passagem fala sobre
vinda do Messias). Portanto, essas palavras ensina- pecados para morte e pecados não para morte. Nio há
riam que aquele que cometesse tal pecado não seria ali, entretanto, qualquer referência ao chamado
perdoado nem no periodo anterior à vinda de Cristo, "pecado imperdoável». Ver o artigo intitulado Pecado
nem no tempo do reino dos céus sobre a terra. Mas, Imperdoável. No entanto, é mais acertado interpretar
embora essa interpretação concorde com as palavras aquela passagem de I João como alusiva a pecados
literais e com o uso que aparece na literatura judaica, que levam à morte fisica, e não à morte eterna,
devemo-nos lembrar que o próprio Jesus proferiu porquanto não há pecado que leve à morte eterna
essas palavras, e, assim sendo, dificilmente se poderia sobre o qual não se possa orar. Ninguém está jamais
estabelecer essa distinção entre dois periodos de sua fora do alcance da graça de Deus. Todavia, se está
vinda. mesmo em pauta a morte espiritual, conforme bons
3. Outros pensam que o perdão não podia ser intérpretes evangélicos - insistem (embora poucos),
conferido nem no tempo da lei judaica nem no então devemos pensar nos casos de apostasia final,
período atual do cristianismo, que Jesus veio iniciar. como sucedia aos oponentes gnósticos da antiga Igreja
Novamente, aqui está uma interpretação que parece cristã, que eram destrutivos e malignos, e acerca de
aceitável se levarmos em consideração exclusivamente quem o autor sagrado não recomendava que se orasse,
as palavras literais do texto, mas não é provável que na hip6tese de que eles já estavam no caminho
assim seja. descendente da perdíção. Seja como for, homens
4. A idéia de outros é que o julgamento se aplica comuns, mui provavelmente, não estão aqui em foco,
somente à vida fisica, à morte do corpo, e não à alma; sem importar a gravidade de seus pecados. E, assim
e também que a alma pode ser perdoada, mesmo sendo, o texto nada diz sobre pecados mortais em
desse pecado. Mas tal idéia não goza do apoio do contraste com pecados veniais.
texto. Se aquela passagem de I Joio visa pecados graves (e
5. Acompanhando Alford, devemos concordar que não a apostasia, especificamente), então o autor
essa e outras expressões do N.T. indicam tanto esta sagrado, mui provavelmente, tinha em mente aqueles
vida como a vida depois da morte, no além-túmulo. individuos que persistem ein seus caminhos pecami-
Wordsworth, referindo-se ao Talmude, diz que essas nosos, não dando ouvidos aos conselhos dados por
palavras são uma expressão hebraica que tem o homens espirituais. Existem individuos acerca dos
sentido de para sempre. Bruce diz: «Neque ante quais a Igreja simplesmente deveria desistir de tentar
mortem, neque per morrem». A interpretação salvar, não perdendo-tempo em orações que peçam a
verdadeira, por conseguinte, é que o pecado conversão dos mesmos. "Evita o homem faccioso,
imperdoável não pode ser perdoado durante a vida depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois
física, na terra, e nem na vida de além-túmulo. Alguns sabes que tal pessoa está pervertida e vive pecando, e
como Ellicott (in loc.), desejando ainda encontrar por si mesma está condenada. (Tito 3:10,11).
alguma esperança de misericórdia e perdão de pecado Mas, voltando ao texto de I João 5:16,17,
na -vida do outro mundo, enfatizam o fato de que dificilmente poderíamos pensar que temos ali a
somente um pecado tenha merecido tão severa doutrina católica romana ordinária dos pecados
condenação, e dai concluem que outros pecados talvez mortais. Á Igreja de Cristo nunca foi aconselhado que
possam ser perdoados no outro mundo. E certo que I não orasse por individuos que cometam pecados
Ped. 3:18-20 e 4:5,6 ensinam algo semelhante. Ver graves, mesmo que tenham pecado deliberadamente.
notas ali no NTI. Porém, dificilmente se pode ver tal Todavia, devemos pensar que alguns casos podem ser
ensino neste texto. tão radicais que desencorajem aos crentes a orarem a
«No porvir, Mat. 12:32. Isso implica em que o respeito.
arrependimento, e conseqüentemente, o perdão, será 2. Pecado Venial
dado no estado que há depois da morte? Não sabemos Esse adjetivo vem da palavra latina venta, «perdão»,
dizê-lo, e fazemos aqui indagações que não podemos «misericôrdia». Refere-se a pecados menos graves,
resolver; mas pelo menos as palavras impedem uma que envolvem menor grau de depravação, não
inflexível resposta negativa. Se apenas um pecadu não cometidos de forma deliberada. e sem que haja
pode ser incluído no perdão no mundo do além, persistência nos mesmos. Já dissemos que até mesmo
outros pecados não podem ser postos na mesma pecados mortais, quando cometidos na ígnorâncía,
classe, e assim, a escuridão, através do véu, é são considerados «veniais. pela teologia católica
atravessada ao menos por um raio de esperança» romana. Segundo essa teologia, a penitência pode
(Ellicott, in loc.). remover a culpa desse tipo de pecado. E, mesmo
O que Ellicott implica, I Ped. 4:6 ensina. Quão depois da morte fisica, um periodo passado no
grande é a graça de Deus! purgat6rio (vide), é capaz de cancelar os pecados
veniais.
3. Graus de Pecado
PECADO MORTAL E PECADO VENIAL .e verdade que o trecho de I João 5:16.17 reconhece
1. Pecado Mortal que há diferentes graus de pecado. O Senhor Jesus fez
De acordo com a teologia católica romana para Idêntica distinção, segundo se vê em Mat. 23:14.
que um pecado seja considerado «mortal-, é ~ister Outrossim, Paulo ensinou que os homens podem
que tenha duas caracteristicas: ser sério e ter sido piorar (ver 11 Tim. 3:13). Uma visio superficial do
deliberadamente cometido. Já os pecados cometidos pecado é a que pensa que todos os pecados têm a
ignorantemente, embora sem esse fator fossem mesma gravidade, mas isso é ridículo. Os trechos de
considerados mortais. são considerados veniais. Rom. 2:6 e Apo. 20:12 mostram que haverá nlveis de
Segundo essa teologia, um pecado mortal separa o condenação, dependendo tudo do mal e do bem que
homem de Deus, e, se não for perdoado, resultará na cada individuo tiver praticado. Mas, a verdade blblica
condenação eterna. Ainda segundo essa mesma é que todo pecado é pecado, e que todo pecado é
teologia, o perdão é provido através da graça mortal, se não for perdoado por Deus. Esse é o ensino
149
PECADO - PECADO ORIGINAL
paulino, em Rom. 3:23 e 6:23. Esta última passagem força do mau exemplo, e não por gualquer
estipula: «••• 0 salário do pecado é a morte, mas o dom mecanismo de natureza física ou espiritual. E que ele
gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, desejava preservar o conceito de' liberdade moral,
nosso Senhor». mediante a sua doutrina, e pensava que a idéia do
Os protestantes e evangélicos diferem dos católicos pecado original (ensinada por Paulo), debilitava esse
romanos quanto a essa questão da distinção dos conceito da liberdade moral do homem.
pecados em mortais e veniais. Os protestantes e 3. Teólogos Módernos e o Liberalismo: a Evolução.
evangélicos reconhecem a necessidade de perdão Há tantos mistérios em qualquer tipo de transmissão
divino a pecados mais ou menos graves. Mas de pecado, de uma geração para a outra I Esse
entendem. que o pecado que resulta na condenação problema pode ser solucionado simplesmente afir-
eterna é aquele que consiste em não querer o homem mando-se que o homem proveio de um passado
arrepender-se e crer em Cristo. Disso resulta a eterna animalesco, e que a selvageria e todo tipo de elemento
separação entre a alma humana e Deus. Além disso, desagradável, em sua natureza, simplesmente são
protestantes e evangélicos nunca vinculam o perdão resquícios daquela sua natureza animal anterior. Por
dos pecados à intervenção sacramental. Ademais, eles evolução, o homem é um ser defeituoso, não tendo
não vêem o perdão de pecados como algo dependente havido necessidade de qualquer queda específica no
de penitências. Antes, tudo depende de um ato pecado, em algum ponto histórico de sua existência,
perdoador direto da parte de Deus, por meio do para que se caracterizasse por essa condição.
Senhor Jesus Cristo, recebido mediante a fé. Não 4. Uma Realidade Prática. Todos os pensadores,
obstante, alguns grupos protestantes, como os excetuando os extremamente otimistas, reconhecem
luteranos, retêm certa dose de sacramentalísmo, que o homem é uma combinação do que é mais
mormente no tocante ao batismo em água. excelente com o que é mais vil, e que a depravação é
uma realidade brutal no homem. Essa condição
requer o remédio apropriado. E esse remédio é
PECADO ORIGINAL destacado pela fé religiosa. Para sabermos disso, não
precisamos da história, Essa condição requer o
Essa doutrina procura definir o. problema da remédio prescrito por Deus, a fé em Deus Pai e no
natureza pecaminosa do homem. Várias considera- Senhor Jesus. Ver João 17:3.
ções atraem a nossa atenção, a saber:
5. Um Texto de Prova Dúbio do Antigo
1. A explicação bíblica sobre a questão é que Adão Testamento. Alguns teólogos usam a passagem de
e Eva, pessoas humanas Iiteraís, foram criados em Sal. 51:5 como texto de prova veterotestamentário
estado de inocência, por um ato divino. Em seguida, quanto a essa questão do pecado original: «Eu nasci
foram tentados e caíram no pecado. Isso impôs a na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha
mortalidade, a degradação e a desintegração. Esse ato mãe». Essas palavras podem significar que um
de pecado, e seu estado resultante, foram então homem, desde o começo de sua existência (a
transferidos para a raça humana inteira, devido à concepção) recebe uma natureza pecaminosa, em
conexão da raça com Adão. O apôstolo Paulo razão de que as gerações que vão sendo concebidas
introduziu essa maneira de pensar no cristianismo, no derivam sua natureza pecaminosa da geração
quinto capitulo da epístola aos Romanos. ,.....por um anterior. Mas, para outros, o que esse texto
sô homem entrou o pecado no mundo... », asseverou provavelmente significa é que qualquer mulher que
ele. Paralelamente, Paulo via em Cristo o Segundo (ou tenha contato sexual inevitavelmente é assaltada por
último) Adão, no qual há uma perfeita justiça, que pensamentos de adultério, pelo que qualquer
pode ser imputada a todos os homens, tal como nos concepção dai resultante inclui uma expressão
foi imputado o pecado do primeiro Adão. Temos ai a pecaminosa. Naturalmente, os intérpretes cristãos
doutrina dos Dois Homens. Esse tema é desenvolvido cristianizam o versículo, e vêem aí o pecado original.
longamente no artigo intitulado Dois Homens, Na verdade, pensamos que esse versículo exprime
Metáfora dos. Até onde sei dizer, essa doutrina foi precisamente esta última idéia, embora admitindo
originada pelo apóstolo Paulo. Nos escritos rabínicos que é difícil ver no mesmo, sem a assistência do Novo
não há qualquer ensino claro sobre o pecado adâmico Testamento, um ensino claro sobre o pecado original;
transmitido à raça humana. No entanto, visto que e por isso temos dito que esse texto veterotestamentá-
Paulo era fariseu, é perfeitamente possível que a rio não é definitivo.
abordagem dele sobre a questão tivesse surgido no
judaísmo helenista, não tendo sido originada por ele. 6. Aspectos Históricos da Doutrina
2. Como o Pecado é Transmitido? Nos escritos de a. A verdadeira interpretação do texto de Sal. 51 :5,
Paulo, parece que a idéia de alguma espécie de antes do Novo Testamento, permaneceu em dúvida.
comunhão mística da raça indica que o que se aplica a Agora, precisamos expurgar o ensino rabínico a
Adão aplica-se também a todos os homens. Um respeito.
homem é mais do que um individuo; antes, faz parte b. Paulo expôs a verdadeira doutrina do pecado
do todo; ele é uma alma que faz parte da comunidade original. Muitos dos pais da Igreja concorreram com
das almas; e essa identificação do individuo com a Paulo nessa posição, pois entendiam que a humani-
humanidade inteira é algo intimo, que não pode ser dade mantém uma comunhão mistica intima entre
quebrado. Por igual modo, a redenção é mais do que todos os seus membros. Isso posto, quando Adão
uma questão indívidual. A redenção envolve o corpo pecou, nele todos pecaram.
inteiro dos remidos, e os mesmos fazem parte desse c. Agostinho, fazendo oposição a Pelâgio, incluiu
corpo. Irineu e Tertuliano, que falaram sobre esse na questão a idéia do traducionismo; conforme foi
tema, aceitavam o ensino bíblico correspondente, sem dito acima.
exigir qualquer explicação. Mas Agostinho lançou d. Tomás de Aquino explicou que o pecado original
mão da doutrina estóica do traducionismo (vide), que consiste na ausência de retidão ou justiça, privação
ensina que o homem e a mulher, sendo seres tanto essa causada pela queda. Nesse caso, a transmissão
físicos quanto não-materiais, naturalmente procriam do impulso pecaminoso ocorre em um vácuo de bem,
seres de sua própria natureza. E assim, o pecado é não dependendo da prática de algum ato externo.
espiritualmente transmitido, no ato da procriação. Esse vácuo logo é preenchido por atos pecaminosos.
Pelágio (vide) pensava que o pecado passa adiante por e. A Igreja Católica Romana acompanhou Agosti-
150
PECADO - PECADO VOLUNTÁRIO
nho, quando do concilio de Trento. Ali foi explanado portuguesa dão a impressão de que qualquer pecado
que o pecado não passa de uma geração para outra pode ser praticado «deliberadamente», a propósito, de
meramente por efeito do mau exemplo deixado por tal modo que o individuo passa a «viver no pecado».
Adão. Isso está de acordo com certas indicações que
f. Os reformadores protestantes não se afastaram aparecem no A.T.
da posição de Paulo e Agostinho, e sustentaram as 2. Mas também podem estar em foco certos
bases históricas da questão. pecados seriíssimos e agravados, cometidos com pleno
g. Os arminianos e socínios rejeitaram essa posição, conhecimento de causa; segundo o presente texto, que
no afã de preservarem a idéia da liberdade e da fala em «... depois de termos recebido o pleno
capacidade humanas, bases da moralidade; pois, conhecimento da verdade... », isso só pode suceder
segundo pensavam, essa liberdade só pode ser depois que alguém ouviu e recebeu o evangelho. Essa
preservada dessa maneira. A idéia deles é que a morte é uma idéia razoável, mas nada existe no contexto, ou
de Cristo cancelou o pecado original e conferiu aos no pano de fundo do A.T., que a sugira.
homens um novo começo. Isso posto, nenhum ser 3. Outros estudiosos supõem que o sentido é que
humano nasceria pecador; mas adquiriria posterior- qualquer pecado, de qualquer classe, se for cometido
mente essa natureza, pela força do hábito. Os voluntariamente, após alguém chegar ao conhecimen-
môrmons apegam-se a essa idéia. to da verdade, segundo ela se acha em Cristo, não
h. A doutrina cristã em geral isentaJesus do pecado pode mais ser perdoado. Porém, apesar de talvez
original. E a doutrina católica romana inclui Maria, podermos ver esse sentido na passagem do décimo
mãe de Jesus, nessa isenção, embora a Biblia faça quinto capitulo do livro de Números, e até mesmo
total silêncio a respeito. aqui, se ficarmos com a simples declaração que aqui
i. Emanuel Kant e outros têm definido o pecado se acha, sem injetar qualquer interpretação, isso não
como uma fraqueza inerente à natureza humana, sem poderá ser feito. E ainda que o autor sagrado tivesse
envolverem-se em interpretações históricas. dito isso, estaria equivocado, pois, nesse caso,
j. Os evolucionistas (entre os quais há até teólogos) ninguém poderia jamais ser salvo, pois quem é aquele
acreditam que o pecado é um resquicio natural da que, depois de ter conhecido e recebido a mensagem
anterior natureza animalesca do homem. cristã, não tem cometido deliberadamente muitos
pecados?
1. A maioria dos cristãos reconhece a natureza
pecaminosa do homem (que precisa ser curada) como 4. Em consonância com o presente contexto, e
uma realidade prática, sem importar o que diga a levando em conta uma advertência similar já feita (ver
teologia a respeito. Heb. 6:4 e ss), o pecado voluntário parece ser o "da
apostasia, em que o individuo abandona a fé cristã,
retornando aos caminhos pagãos ou ao judaísmo.
PECADO, RETENÇÃO DO Essa interpretação está em total harmonia com a
Ver RetençIG de PecadoI. mensagem central do tratado, e provavelmente é o
que está em foco aqui. Contudo, não entra em
contradição com a explicação de número «um». O
PECADO VENIAL autor sagrado veria a apostasia como um processo
Ver sobre Pecado Mortal e Pecado Venial. progressivo; começa na indiferença, continua na
lassidão moral e termina na apostasia. Portanto, o
autor sagrado incluiria a primeira explicação, ainda
PECADO VOLUNTÁRIO que não seja essa a questão primariamente em foco
aqui.
Heb. 10:26: Porque se voluntariamente continuar- S. Seja como for, a advertência é feita a crentes,
mos no pecado, depois de termos recebido o pleno pois ele não se dirigia a alguma audiência fantasma.
conhecimento da verdade, já não resta mais sacrificío Em Heb. 3:6b, no NTI, damos notas expositivas
pelos pecados, acerca de «para quem foram dirigidas essas
O ponto de vista do autor é de que não há remédio advertências». Faremos do tratado inteiro um caos, se
para a «apostasia», o que certamente ele entendia transferirmos as mesmas para os judeus ou para os
como um dos pecados «deliberados», sendo destacado «quase crentes». O autor sagrado, sem importar se
como tal dentro deste versiculo. Na realidade, nada gostamos disso ou não, cria que a apostasia é possível,
havia de novidade nesse ponto de vista; era opinião que ela é fatal, sem reversão e sem expiação. Uma
comum entre os rabinos, com base no A.T. (ver Núm. grande parte da igreja cristã tem anulado estes
15:24-31). Somente os pecados de «ignorância» ensinos. Alguns poucos teólogos continuam afirmando
poderiam ser expiados; se um homem pecasse estas opiniões. Outros, rejeitando estas idéias, forçam
teimosamente, com pleno conhecimento de sua o autor a não ter, igualmente, estas noções;
maldade, mas «deliberadamente» prosseguisse, não mas nisso demonstram ignorância sobre a teologia
haveria mais sacrificio em seu favor; simplesmente judaica, que forma a base dos pontos de vista do autor
ficaria «cortado» ou exclui do do povo. Sua iniqüidade sagrado, os quais, segundo a literatura rabínica o
permanecia sobre ele (ver o trigésimo primeiro demonstra, consubstanciavam ambas essas idéias.
versiculo); e isso significaria que ele entraria no outro (Uma discussão mais completa sobre essa questão é
mundo sem perdão, perdido. Todavia, não sabemos dada na introdução ao sexto capitulo desta epístola ao
como eram determinados quais eram os pecados de trecho de Heb. 6:4 no NTI).
ignorância e quais eram os deliberados. 6. O pecado voluntário, pois, não é cometido por
Se viermos deliberadamente em pecado. O grego «quase crentes», que muito têm aprendido acerca de
diz, simplesmente, «pecarmos deliberadamente». O Cristo, mas que, finalmente, abandonam o cristia-
termo grego «ekousios» indica «de· prôpriâ e nismo. Essa posição é uma forma tipicamente
livre vontade», «voluntariamente». Portanto, não calvinista de evitar o sentido claro da passagem, e não
temos exatamente uma «tradução» neste ponto, e, uma explicação da mesma. (Ver os artigos sobre: .
sim, uma interpretação. Calvinismo; Segurança Eterna do Crente; Arminia-
Do que ConsIIte O Peado Vol1mtúIo' nismo, e Apostasia). Especulo que a queda é
1. Os tradutores oU revisores de nossa verslo «relativa», limitada a esta peregrinação terrena, ou no
151
PECADO VOLUNTÁRIO - PECAtAS
mundo intermediário do espírito. Um homem que mostram a convicção que tinha o autor sagrado de
conhecera a Cristo em verdade pode cair; mas tudo é que o sacrifício único de Cristo é o sacrificio final e
«relativo», «temporário», não podendo caracterizá-lo perfeito. Nada pode ser acrescentado a essa perfeição.
finalmente. Por outro lado, a segurança do salvo é Se rejeitarmos o sacrifício perfeito, simplesmente
«absoluta», no sentido de que a promessa de que perdemos o perdão. A apostasia é uma maneira de
nenhuma das ovelhas de Cristo se perderá deverá se rejeitarmos esse sacrifício, ainda que por algum
cumprir finalmente. Deus trará de volta os tais, tempo tenha sido o mesmo aceito. Naturalmente,
mesmo que seja no mundo intermediário do espírito, nesse particular, o autor sagrado impõe certa
antes da segunda vinda de Cristo e antes de serem limitação sobre a nova aliança e seu sacrifício, que
fixadas as fronteiras eternas, se é que isso será feito. O não é reconhecida no resto do N. T., e que certamente
amor de Deus não permitirá que uma de suas ovelhas não é válida. Não há ocasião em que um homem, sem
se perca finalmente, embora possam vaguear e errar; importar o que tenha feito, mesmo que tenha
mas, nesse estado de desvio terão de aprender muitas desprezado a Cristo, depois de tê-lo recebido, em que
e difíceis lições, sofrendo juízos e disciplinas difíceis, não possa ser perdoado. A paixão e a intensidade do
os quais serão castigos retributivos, mas também autor, em salvar os seus leitores originais da
terão natureza restauradora. apostasia, são atitudes recomendáveis, mas ele
7. Não está em foco o pecado contra o Espírito exagerou o seu caso, ao não fazer provisão para o
Santo. o «pecado imperdoável». (Ver o artigo sobre o retorno dos apóstatas. O trecho de Heb. 6:4. em suas
Pecado Imperdoável). (Quanto a outras passagens notas expositivas no NTI, aborda mais profundamen-
que enfatizam o «caráter final da apostasia», que é te essa questão. Há muitos Pedros que. depois de
idéia do autor sagrado, ver Heb. 2:2,3; 6:4-8 e terem negado a seu Senhor, retornam. Também
12:25-29. A seriedade da apostasia se vê no fato de cremos que muitos Judas Iscariotes podem retornar e
que o apóstata rejeita ao «único e perfeito sacrifício», o têm feito. E haverá maior número dessas
que não pode ser substituído por outro. Portanto, se o restaurações. O amor de Deus não apenas atinge a
sacrificio de Cristo for rejeitado, não mais haverá mais alta estrela; também atinge o mais profundo
expiação pelo pecado). inferno.
Depois de termos recebido. A «verdade» é a
mensagem cristã, a esperança dada na expiação e no
sacerdócio de Cristo, na «mensagem cristã». 'Esse é o PECADOS CAPITAIS
uso normal do termo, nas páginas do N.T. (Ver 11 Ver sobre os Sete Pecados Capltals.
Cor. 6:7; Efé. 1:13, «palavra, da verdade»; Gál. 2:5,
«verdade do evangelho»; elITes. 2: 10, «amor da
verdade»). Alguns indivíduos tapam os ouvidos para
não ouvirem a verdade (ver 11 Tim. 4:4). Jesus é a PECADOS CARDEAIS
verdade personificada (ver João 14:6). A questão de Também são chamados de Sete Pecados Mortais
ter alguém «recebido» a verdade envolve muito mais (que vide) ou de pecados capitais. Esses pecados são o
do que tê-la «ouvido»; também inclui o seu orgulho, a concupiscência, a inveja, a ira, a cobiça. a
«acolhimento». Está em foco a profissão cristã, não glutonaria e a preguiça. Há diferentes listas desses
havendo razão para supormos que o autor sagrado pecados mortais, com pecados veniais ou secundários
não visse tal profissão como genuína, da parte de seus que os acompanham. O artigo referido fornece
leitores originais. detalhes sobre a questão. comentando também sobre
O conhecimento dessa verdade é dado «rnisticamen- a significação teológica da questão.
te», como uma revelação, conferido por meio de
Cristo, através de seus apóstolos, e sob a mediação do
ministério do Espírito Santo. O termo grego traduzido
aqui por «conhecimento» é epignosis, «pleno conheci- PECADOS DE OMISSÃO
mento». Está em foco uma pessoa realmente Ver sobre Onüasio, Pecados de.
iluminada. Notemos, por igual modo que, no
vigésimo nono versículo, tal pessoa foi verdadeira-
mente «santificada». Isso deixa claro que o autor
sagrado fala de verdadeiros crentes, os quais corriam PECAlAS
o perigo de apostatarem de Cristo. Esse nome significa «Yahweh abriu (Seus olhos)".
Não resta sacrifício pelos pecados. Essas palavras Esse rei foi filho de Menaém, e foi o décimo sétimo rei
devem ser entendidas em dois sentidos, a saber: 1. de Israel. Sucedeu a seu pai em cerca de 7421741 A.C.
Não pode haver outro sacrifício, além daquele que já (ver 11 Reis 15:23-26). Peca, filho de Remalías, havia
foi feito - o de Cristo - e que possa conferir perdão encabeçado a conspiração e o assassinato de Pecaías,
de pecados. Os sacrifícios levíticos foram abolidos; para que ele mesmo pudesse ser o próximo monarca
não têm valor para fazer expiação; e nem pode haver de Israel (ver sobre Peca). Talvez uma das razões
um novo sacrifício expiatório. 2. Mas, além disso, o .dessa conspiração seja o fato de que Pecaías estava
autor sagrado indica que tal pecado está fora do dilapidando os recursos da nação de Israel por pagar
alcance do perdão divino, a apostasia é fatal. um elevadíssimo tributo à Assíria, na tentativa de
«Deus já fez tudo quanto pode ser feito, tudo diminuir o ímpeto dessa nação guerreira e reter uma
quanto o próprio Deus pode fazer. As indizíveis certa dose de independência. Peca, porém, tentou
riquezas que possuem como crentes serão equipara- obstar em vão esse poder. De fato, ele foi o penúltimo
das por indizível desgraça e perda. se agora rejeitarem rei de Israel, antes do cativeiro asslrio (vide). E assim
deliberadamente a elas. Essa não é apenas a opinião teve lugar o inevitâvel, a despeito de seus esforços.
do autor. Repousa sobre as Escrituras, porquanto o Oséias, •que foi o sucessor de Peca, voltou a
antigo pacto punia os ofensores deliberados com a submeter-se aos assírios; mas isso somente serviu para
morte (ver Deut. 17:2-6); 'quanto pior' será a pena adiar o inevitável, por alguns poucos anos.
para quem rejeita deliberadamente a nova ordem?» Seja como for. Pecaias teve um breve reinado de
(Purdy, in loe.). apenas dois anos, depois do que foi derrubado.
As passagens de Heb. 7:27; 9:12,26,28 e 10:10 Durante esse tempo, além de suas outras falhas,
152
PECODE - PEDERNEIRA
permitiu e mesmo promoveu a idolatria no reino de nome de um certo número de' pessoas que àparecem
Israel. Ocupou-se em práticas pecaminosas, ensina- nas pâgínas do Antigo Testamento, a saber:
das pelo notório Jeroboão, o qual viera a tomar-se 1. O pai de Joel, príncipe da meia-tribo de
uma espécie de emblema da corrupção. O trecho de 11 Manassés, na época de Davi (I Crê, 27:20). Ele viveu
Reis "15:24 oferece-nos um quadro constrangedor de em tomo de 1013 A.C.
avaliação de sua vida. Ele deu prosseguimento à 2. O pai da esposa de Josias, Zebida. Ele era
adoração ao bezerro, em Dã e em Betel; e Peca, seu habitante de Ruma(H Reis 23:36). Ele viveu em cerca
sucessor, fez a mesma coisa. Nos livros de Crônicas de 5:J6 A.C.
não há qualquer alusão a ele ou ao seu pai, talvez 3. O pai de Zorobabel (I Crê, 3:18), mediante a
devido à amarga desaprovação divina quanto ao que viúva de Salatiel, seu irmão. Ele viveu em cerca de 536
ele fez e deixou de fazer. Peca apossou-se do trono de A.C.
Israel com a ajuda de cinqüenta homens de Gileade, 4. Um descendente de Parôs, que ajudou a
que então parecia ser o principal centro de oposição à reconstruir as muralhas de Jerusalém, terminado o
política de Pecaías. cativeiro babilônico (Nee. 3:25). Isso ocorreu por volta
de 446 A.C.
5. Um filho de Colaías, um benjamita da familia de
PECODE Jesaías (Nee. 11:7). Ele viveu em cerca de 530 A.C.
Essa palavra vem do assirio-babilônico Paqudu. 6. Um levita que servia como tesoureiro, nos
Talvez o termo signifique «visitação» ou ~jUlgamento», tempos de Neemias (ver Nee. 13:13). Provavelmente
conforme seu equivalente hebraico parece indicar. O foi ele quem ficou ao lado esquerdo de Esdras,
nome alude a uma tribo de arameus do sul da quando este explicava a lei ao povo reunido, e quando
Babilônia, que residiam na margem oriental do baixo os israelitas firmaram um novo pacto com Yahweh
rio Tigre. Os reis assírios Tíglate-Píleser IH, Sargão 11 (Nee. 8:4). O tempo da ocorrência foi cerca de 44S
e Senaqueribe conseguiram dominar esse povo, pelo A.C.
menos temporariamente. Jeremias mencionou o lugar
(e o povo), em suas profecias de condenação, no
capitulo cinqüenta de seu livro (ver o vs. 21). Ali ele PEDAZUR
apresenta um jogo de palavras (merathaim, com base No hebraico, «a rocha liberta». Nome de um chefe
na raiz mhr, «rebelar-se», e pekod, com base na raiz de clã da tribo de Manassês. Ele era pai de Gamaliel,
que significa «castigos), dando a entender que a o qual ajudou Moisés a enumerar o povo (ver Núm.
Babilônia estava destinada a cair, sofrendo tal castigo 1:10; 2:20; 7:54,59; I Crê, 27:20). Viveu em tomo de
em virtude de sua rebeldia. Ezequiel incluiu Pecode 1450 A.C.
juntamente com os babilônios e outros entre os
amantes de Jerusalém que, finalmente, mostrar-lhe-
iam uma conduta, traiçoeira, tomando-se seus PEDERASTIA
adversários, em vez de amantes. Ver 23:22.
Um dos terrores de nossa época é o abuso sexual
Fontes informativas no acádico informam-nos de contra crianças. A palavra pederastia refere-se
que Puqudu era uma tribo de arameus que viviam no especificamente a um comportamento homossexual
lado oriental do baixo rio Tigre que tinham dirigido a crianças do sexo masculino (e freqüente-
combatido contra os assírios mas, finalmente, foram mente forçado). A raiz grega dessa palavra é pais
subjugados por Nabucodonosor, Eles deram o seu (paid6s) , «menino», e erastés, «amante». Uma das
nome a uma cidade e a um canal, que são "mais perturbadoras perversões sexuais é aquela que só
mencionados nos registros assírios, e, naturalmente, encontra prazer no sexo com crianças. A pederastía é
ao seu território em geral. Nos dias de Ezequiel eles já quase universalmente condenada por lei. E óbvio que
tinham sido engolfados pelo império caldeu, confor- as crianças não têm poder reaI de escolha, o que
me se vê através das referências dos livros de Jeremias significa que qualquer atividade dessa espécie é uma
e Ezequiel, acima. opressão que equivale moralmente ao estupro.
Algumas vezes, esse ato é inspirado pelo desequi-
PEDAÇO DE PÃO MOLHADO líbrio mental; em muitos casos, nenhuma causa
No grego, PIOmJon, palavra que ocorre por quatro dessa natureza pode ser encontrada. Seja como for, o
vezes: João 13:26,27,30. Era uma fatia fina de pão homossexualismo é claramente condenado na Bíblia,
que era molhada na terrina comum, como uma e quanto mais quando é cometido com crianças! Ver o
espécie de colher improvisada, para apanhar algum artigo sobre esse assunto.
molho. Na época eram desconhecidos os talheres à
mesa. Portanto, as porções mais liquidas de uma PEDERNEIRA
refeição eram obtidas molhando-se nelas um pedaço Há duas palavras hebraicas envolvidas, a saber:
de pão.
1. Challamish , «pederneira», palavra usada por
quatro vezes: Deu. 8:15; Sal. 114:8; Isa. 50:7 e Jó
PEDAEL 28:9.
No hebraico, «Deus Libertou». Nome de um dos 2. Tsor, «rocha», «pederneira». Essa palavra só é
homens nomeados para trabalhar com Eleazar e Josuê usada por duas vezes: Eze, 3:9 e Êxo, 4:25.
na distribuição da Terra Prometida conquistada, A pederneira é uma rocha de sílica, uma variedade
entre as tribos de Israel, que deveriam ocupar a área a granulada do quartzo, um tanto parecida com a
oeste do rio Jordão (ver Núm. 34:28). Ele pertencia à calcedônia. É uma rocha classificada como criptocris-
tribo de Naftali e era filho de Amiúde. Viveu em tomo talina, isto é, seus cristais são pequenos demais para
de 1450 A.C. serem vistos. mesmo no microscópio. Usualmente
tem cor cinza-escuro ou amarronzada, sendo mais
escura no interior do que à sua superfície, Nódulos de
PEDAlAS pederneira podem ser encontrados entre rochas
ND hebraico, «Yah (Yahweh) comprou». Esse é o sedimentares calcárias. Muitos veios de pederneira
153
PEDERNEIRA - PEDRA DE TROPEÇO
têm-se formado em águas marinhas profundas, somente em Lev. 26:1, onde se lê: «Não fareis para vôs,:
através do acúmulo de organismos que contêm sílica, outros idolos... nem poreís pedra com figuras na vossa
como os dioptásio e as radiolárias. Sepultados terra, para vos engastadas a ela..... Geralmente as
abaixo de sedimentos, esses organismos acabam figuras eram engalhadas à superfície de uma laje de
alterados, formando a pederneira. Outras formas de pedra. Nos lugares altos (que vede), onde as práticas
pederneira formam-se com base na silica coloidal, isto idólatras eram levadas a efeito, havia pedras
é, em suspensão em água, mas debaixo de- grandes esculpidas e também imagens fundidas, que faziam
pressões. E também pode ser formada a pederneira parte dos objetos do culto. A arqueologia tem
mediante a siliclficaçl.o de sedimentos. Muitos f6sseis ilustrado abundantemente a questão. Numerosas
de animais delicados têm sido preservados em figuras em relevo, com sentidos mágicos religiosos,
pedaços de pederneira. têm sido encontradas nas paredes externas e internas
A pederneira é bastante dura e ocorre em nódulos dos túmulos e templos do Egito. Os marcos de
duros. Ver Isa. 50:7. Há nódulos de pederneira que fronteira, na Babilônia, eram decorados com figuras
ocorrem em pedras de giz e em pedra calcária, no de divindades protetoras e de símbolos mágicos.
norte de Samaria e em certas porções do oeste da Outrossim, representações mitológicas de todas as
Galiléia, além de várias áreas do leste do rio Jordão e" variedades têm sido encontradas esculpidas na
no vale do Jordão. A pederneira não é tão dura ~,uanto superfície de lajes de pedras. O trecho de Provérbios
,certas gemas; mas é mais dura que o aço e é ..sada 25:11: «Como maçãs de ouro em salvas de prata... ",
como abrasivo. talvez aluda a trabalho de prata marchetado de ouro.
Instrumentos de pederneira têm desempenhado um
papel crucial na sobrevivência do homem, desde os
tempos pré-históricos. Pederneira lascada, que já PEDRA DE CAL
pode ocorrer nesse estado, é muito afiada, podendo NQ hebraico, eben atr, que aparece somente em Isa,
servir como arma ou como instrumento de corte. Os 27:9. Trata-se de uma pedra extraida de rochas de
povos antigos produziram muitas facas e outros pedra calcária, que constituem uma caracteristica
instrumentos de pederneira, lindamente modelados. geológica comum na Palestina. E facilmente reduzida
Instrumentos de pederneira de vários tipos também a pó, e, algumas vezes, é queimada a fim 4e servir de
eram produzidos pelos antigos. Metaforicamente cal. Esse material varia, em coloração, do branco ao,
falando, a pederneira representa a dureza, a falta de cinzento, sendo pouco coerente, consistindo em
sensibilidade e a crueldade. Os cascos dos cavàlos são carbonato de cálcio finamente granulado, de origem
comparados com pederneiras, em vista de sua 'dureza incerta, de mistura com pequena quantidade de
(Isa, 5:28). Em Isaias 50:7, o profeta resiste a todos os fragmentos de conchas. Tal material forma extensas e
ataques e vicissitudes, mas não cede diante de nada, espessas camadas, em várias regiões do mundo. Data
porque o seu rosto torna-se duro como se fora feito de de cerca de 88 a 38 milhões de anos. Na Palestina,
pederneira. Assim sendo, não podia envergonhar-se, extensas camadas desse material encontram-se ao
porquanto Deus mesmo o sustentava. Em Ezequiel norte de Samaria, a oeste da Galiléia e em grande
3:9, lemos que a fronte do profeta Ezequiel também parte da rêgíão a leste do rio Jordão. A maciez e a
era dura como a pederneira, o que significava que ele falta de resistência do material é que dá origem ao uso
não precisava temer seus inimigos, e nem a rebelde metafórico que se acha em Isaias 27:9, onde ~
casa de Israel. declarado que os ídolos serão quebrados e demolidos
como pedra de cal, pondo completo fim à adoração
idólatra.
PEDESTAL
No hebraico, kea. Essa palavra ocorre somente em
I Reis 7:29 e 31, em relação ao lavatório do templo de PEDRA DE ESCAPE
Jerusalém. A referência é à base arredondada que Esse nome aparece, em nossa versão portuguesa,
servia como ponto de apoio ao lavatório. A descrição somente em I Sam. 23:25-29. A expressão hebraica
ali diz como segue: •.•.a boca era redonda como a significa mais «rocha de divisão» ou «rocha macia». A
obra de um pedestal, e tinha O' diâmetro de um côvado tradução «rocha dos caminhos» também tem sido
e meio•. Algumas traduções dizem apenas «base•. sugerida pelos estudiosos. Nossa versão portuguesa,
entretanto, prefere seguir a versão inglesa RSV. Um
penhasco bem conhecido, no deserto de Maom (vide),
PEDOBATISMO está em foco, provavelmente referindo-se à Maom
Essa palavra foi transliterada dó grego, pais existente ao sul de Hebrom, onde Saul esteve prestes a
(paidÓ8), «criança», bâptismôs, «imersão.., «batismo•. capturar Davi. Parece não se tratar de Massada,
Essa palavra enfoca a prática do batismo de crianças. conforme alguns já disseram, visto que esse penhasco
Ver-o detalhado artigo intitulado Batismo Infantil. é um tanto distante de Maom. A localização da Pedra
de Escape é desconhecida.
I I
PEDRA DE TROPEÇO - PEDRAS
3. Negeph, «golpe», «praga». Embora ocorra por «pedra da coisa que se arrasta", ou, então,' «pedra
sete vezes, essa palavra só tem o sentido de «pedra de escorregadia». A forma como ela se acha em nossa
tropeço» em Isa, 8:14. versão portuguesa deriva-se da Septuaginta, llthon to
4. Prôskomma, «pedra de tropeço». Palavra grega Zóeleth. A única menção a essa pedra fica em I Reis
que foi usada por seis vezes: Rom, 9:32,33 (citando 1:9.
Isa. 8:14; cf. 28:16); 14:13,20; I Cor. 8:9 e I Ped. 2:8. Era uma pedra ou rocha arredondada que havia
O verbo correspondente, proskôpto, «tropeçar», perto de En-Rogel, uma fonte existente nas proximi-
aparece por oito vezes: Mat. 4:7 (citando Sal. 91:12); dades de Jerusalém, no vale do Cedrom, perto da qual
7:27; Luc, 4:11; 1010 11:9,10; Rom. 9:32; 14:21; I Adonias ofereceu sacrifícios durante sua abortada
Ped.2:8. tentativa de tornar-se rei (ver I Reis 1:9). O original
5. Slcá"dalon, «armadilha», «ardU». Palavra grega hebraico. hazohelet ; que vem de um verbo que
usada por quinze vezes: Mat. 13:41; 16:23; 18:7; Luc. significa «escorregar. (cf. Deu. 32:24 e Miq. 7:17)
17:1; Rom. 9:33 (citando Isa. 8:14; l!f. 28:16); 11:9 talvez indique que essa pedra deslizou das elevadas
(Sal. 69:23); 14:13; 16:17; I Cor. 1:23; ou, 5:11; I colinas para perto da fonte, ou, então, que essa pedra
Ped. 2:8; I Joio 2:10 e Apo. 2:14. O verbo estivera associada ao emblema cúltico da serpente.
correspondente, s1candallt:zo, «armar armadilha»,
«escandalizar», aparece por trinta vezes: Mat. 5:29,30';
11:6;13:21,57; 15:12; 17:27; 18:6,8,9; 24:1Q; PEDRA Fll.OSOFAL
26:31,33; Mar. 4:17; 6:3; 9:42,43,45,47; 14:27,29; Esse era o nome que se dava a uma substância
Luc. 7:23; 17:2; João 6:61; 16:1; Rom. 14:21; I Cor. hipotética que os alquimistas procuravam descobrir
8:13; 11 Cor. 11:29. (ver sobre Alquimia), e que supunham ter o poder de
6. Uthos tor: proslc6mmatos, «pedra de tropeço». transformar metais vis em ouro. Essa substância
Essa expressão grega foi usada por duas vezes: Rom. aparece na literatura da alquimia com vários títulos,
9:32,33. A pedra filosofai é usada por alguns misticos para
B. No Antigo Testamento aludir à kundalini (vide), uma suposta energia
A causa de tropeço pode ser algo literal, como um inerente ao homem (embora pouco conhecida e
obstãculo posto no caminho de um cego (Lev. 19:14). usada), que confere iluminação e gênio, quando
No entanto, na maioria das vezes, o sentido é figurado provocada a prestar iluminação. Supõe-se que muitas
e ético. Figuradamente, fica retratado o jui7 n de Deus pessoas têm acesso a essa forma de energia, embora
contra os rebeldes (ver ler. 6:21; Eze. 3:20). não tenham consciência de seu modus operandi, o que
Eticamente falando, uma pedra de tropeço é aquilo explica a sua natureza extraordinária. Meu artigo
que causa a iniqüidade. Essa causa pode ser o ouro ou sobre a Icundalini entra em completos detalhes sobre
a prata (Eze, 7:19) ou os idolos (Eze. 14:3,4,7; 44:1~; essa questão.
Sof, 1:3). Nesta última passagem, a nossa versão
portuguesa diz «ofensa», o que é um sentido possivel e
legitimo para a palavra hebraica. PEDRA MOABITA
C. No Novo Testamento Ver sobre Moablta, Pedra.
Encontramos a idéia de «tropeçar» contra um
objeto qualquer. Geralmente devemos pensar em um
sentido figurado, como o caso de um crente que PEDRAS
tropeça em face de alguma ação errada de um seu No hebraico, há quatro palavras a serem consídera-
irmão em Cristo (Rom. 14:13; I Cor. 8:9). A causa das e no grego, três, a saber:
desse tropeço está no ato errado do irmão mais forte, 1. Eben, «pedra•. Palavra hebraica que ocorre por
que não mostra consideração para com a consciência mais de duzentas e trinta vezes, desde Gên. 2:2 até
mais 'impressionável do seu irmão mais fraco, que, Zac. 12:3.
por i~so mesmo, sente-se ofendido. A vida de Paulo foi 2. Sela, «pedra rude•. Palavra hebraica que aparece
um exemplo notável do exercicio apropriado do amor por sessenta vezes, como, por exemplo, em Núm.
e da consideração cristãos (I Cor. 9). 20:8,10,11; Deu. 32:13; Jui. 1:36; 6:20; 21:13; I Sam.
O vocábulo grego s1cãndalon transmite a idéia de 13:6; 23:25; 11 Sam. 22:2; I Reis 19:11; 11 Crô. 25:12;
uma armadilha armada para apanhar alguém que de Nee. 9:15; Jó 39:1,28; Sal. 18:2; 42:9; 104:18; Pro.
nada suspeita. Esse termo é usado em conexão com o 30:26; Cano 2:14; Isa. 2:21; 7:19; Jer. 5:3; 13:4;
fato de que Israel não reconheceu o seu próprio 51:25; Eze. 24:7,8; Amôs 6:12; Oba. 3.
Messias sofredor (Rom. 11:9; I Cor. 1:23; Gál. 5:11). 3. Tsur, «rocha» (com base no fato de que é
Não devemos pensar que, nesse caso, a cruz de Cristo aguçada). Essa palavra hebraica é usada por cerca de
seja a armadilha em foco. Antes, a causa da própria setenta vezes, como em Êxo, 17:6; 33:21,22; N'lÍm.
queda do povo de Israel eram as suas idéias 23:9; Deu. 8:15; 32:4,13,15,18,30,31,37; Jui, 6:21; I
. preconcebidas a respeito da pessoa e das realizações Sam. 2:2; 11 Sam. 21:10; 23:3; I c-e, 11:15; rs, 14:18;
do Messias prometido, visto que tais idéias não 18:4; 29:6; Sal. 18:31; 27:5; 28:1; 105:41; 114:8; Isa,
admitiam que ele deveria sofrer, antes de poder entrar 2:10.
em sua glória. Os judeus, em suas fantasias de
homens sem a luz divina, chegaram a conceber o 4. Tseror, «pedrinha redonda». Com esse sentido,
Messias apenas como um grande guerreiro, que apenas por uma vez, isto é, em 11 Sam. 17:13.
deveria libertá-los militarmente dos seus inimigos em 5. Lithos, «pedra». Esse substantivo grego é usado
de~dor. por cinqüenta e seis vezes: Mat. 3:9; 4:3,6 (citando
No trecho de Apocalipse 2:14, a armadilha é Sal. 91:12); 7:9; 21:42 (citando Sal. 118:22); 21:44;
vinculada ao ato de Balaão e Balaque, para enganar 24:2; 27:60,66; 28:2; Mar. 5:5; 12:10; 13:1,2; 15:46;
Israel a comer alimentos sacrificados a idolos e a 16:3,4; Luc. 3:8; 4:3,11; 11:11; 17:2; 19:40; 19:44;
praticarem a idolatria e a imoralidade. 20:17,18; 21:5,6; 22:41; 24:2; Joio 8:7,59; 10:31;
11:38,39,41; 20:1; Atos 4:11; 17:29; Rom. 9:32,33
(citando Isa, 8:14; cf. 28:16); I Cor. 3:12; 11 Cor. 3:7;
PEDRA DE ZOELETE I Ped. 2:4-6 (citando Isa. 28:16); 2:7,8; Apo. 4:3;
No hebraico, o sentido provável da expressão é 15:6; 17:4; 18:12,16,21; 21:11,19.
155
Ir'
PEDRAS
6.. Pétros, -pedrinha», Em João 1:42, refere-se à extremo norte da Terra Prometida, resultou em
coisa com esse nome. Em todas as outras passagens grandes contrastes quanto aos tipos de pedras
em que a palavra ocorre, alude à alcunha dada a encontradas por toda a região.
Simão, filho de João, pelo Senhor Jesus. Ver sobre Em ...... .. ......... do mar Vennelho, os
Pedro. granitos, lado a lado comas rochas cristalinas,
7. Pséphos, «calhau.., «pedrinha». Essa palavra explicam as formas das rochas expostas às intempê-
grega ocorre apenas por três vezes: Atos 26:10 e Apo. ries. As montanhas que ladeiam o mar Vermelho
2: 17. supriam o Egito e, mais tarde, Roma imperial, de
As pedras são pedaços de rocha, de qualquer pedras para monumentos, além de alguns metais. A
tamanho e formato, geralmente, desprendidas de água gelada vai penetrando e rachando as rochas,
alguma grande rocha, como fragmentos de pequeno tanto ali como na península do Sinai, dando origem a
tamanho, conforme se vê à beira dos rios, por granitos de formato mais ou menos retangular (cf.
exemplo (I Sam, 17:40). Os homens sempre usaram sobre as «tábuas de pedra», em Êxo, 24:12), muitos
pedras para vários prop6sitos de construção (ver Gên. dos quais podem ser facilmente lavrados (cf. Êxo,
35:14, para exemplificar). A menos que tiradas das 34:4).
Tochas mediante a ação humana, conforme se vê nas No distrito que vai do golfo de Ácaba até o mar
pedreiras (I Crô. 22:15), as pedras são destacadas Morto, mais ao norte, região essa que inclui Edom, o
pela ação das águas dos rios. Vârios processos vento desempenha um papel erosivo importante,
naturais, como a âguacorrente ou a neve,dão cavando largos vales entre montes de arenito,
formato às pedras. O termo «pedras.. também indica ladeados de plintos, perto do golfo de Ácaba.
as chamadas pedras preciosas. Ver sobre Jóias e Também hâ gargantas estreitas, - inclusive nas
Pedras Preciosas. vizinhanças de Petra e no wadi Yitan, onde a ..estrada
~. perfeitamente compreensivel a importância das do rei.., dos tempos bíblicos, subia do Egito para o
pedras para os povos que habitavam na Terra Jordão, e dai para Damasco e até à Mesopotâmia (cf.
Prometida e nas cercanias, pois eles viviam em um Núm. 20:14-18). As pesadas chuvas ocasionais,
territ6rio rochoso, onde havia muitas pedras soltas de arrastando para longe os sedimentos, deixaram
todos os tamanhos. Montes de pedras eram feitos descobertos grandes massas de arenitos, com muitos
para comemorar eventos notâveísI'Gên, 31:46; Jos. rochedos íngremes. Ali hâ depósitos tanto de cobre
4:5-8). Alei de Moisés foi inscrita em tâbuas de pedra (vicie) quanto de ferro (vide), que desempenha-
(Êxo. 31:18), e a pedra de esquina de um edificio se ram um importante papel na história de Israel. nos
revestia de grande significação (Sal. 118:22; Efé. dias de Davi e de Salomão.
2:20). Os altares eram edificados de pedras (Jos, O platô do Jordão, a leste desse rio, é aberto e
22:10), como também residências. Os israelitas que plano, com grandes áreas cobertas de pedregulhos,
residiam em lugares pedregosos conheciam bem a que são resíduos da erosão produzida pelos ventos na
dificuldade de caminhar em tais terrenos (Sal. 91:12). camada caleâria que antes prendia os pedregulhos
Entre os israelitas, no caso daqueles que desobedeces- (vide). Isso s6 é interrompido raramente por colinas
sem gravemente à lei de Moisés, havia a execução por de topo plano, as pedras calcárias da série Belqa.
apedrejamento (Deu. 22:24-e Atos 7:59). Um sepulcro A maior parte da região montanhosa a oeste do rio
escavado na rocha, com uma tampa redonda de Jordão foi escavada da base de pedras calcârias e
pedra, foi considerado o lugar final de descanso dolomitas da região calcária da Judéia. Essa formação
terreno de Jesus de Nazaré (Mat. 27:60); mas, depois rochosa é tendente a produzir fontes, e também conta
que Jesus ressuscitou, essa pedra foi rolada de com muitas cavernas, devido à ação de correntes
defronte da entrada do sepulcro, para mostrar que ele subterrâneas de água. Essas cavernas proviam para os
não estava mais ali dentro (Mat, 28:2). antigos israelitas lugares de esconderijo (I Sam, 13:6),
A natureza e a antiguidade das rochas do Oriente sem falarmos que também serviam de lugares de
Pr6ximo variam muito. Na maior parte do sul dessa sepultamento. Essas pedras calcárias e dolomitas
região, aparecem rochas pré-cambrianas, pertencen- eram muito usadas em vârios propósitos, pelos
tes ao maciço arabe-núbio. Essas rochas são construtores antigos. Nos terremotos, muitas dessas
antiqüíssimas, e ali o granito é comum. Lado a lado rochas, em posição vertical, caiam (cf. Apo, 6:16).
com esse maciço cristalino há uma zona sedimentar No norte de Samaria e em várias porções ocidentais
em formato chato, onde predominam os arenitos. Um da Galiléia, as rochas mais comuns são o giz e as
pouco mais para noroeste, norte e nordeste, as pedras calcárias brancas da série Belqa, Por causa
camadas são gentilmente dobradas, e ai são comuns disso, a topografia apresenta muitas formações
as pedras calcárias. rochosas arredondadas, havendo pedras brancas que
. Na região da Síria moderna, da parte oriental do se prestam bem para a construção de casas, feitas com
Curdistão' e da porção ocidental da Pérsia, as rochas blocos retangulares brancos, conforme se vê na região
são dobradas de forma complexa, formando parte do em redor da cidade de Nazarê.
cinturão de montanhas alpinas. Rochas sedimentares A região montanhosa é atravessada por uma série
um tanto mais recentes aparecem na garganta do de depressões. Entre elas poderiamos citar a planície
Jordão, bem como ao longo da planície costeira da de Beerseba, tendo Berseba como o principal oásis do
Palestina, ao passo que na Síria e um pouco mais ao Neguebe, e também a planicie de Esdrelom. Nessas
sul da região do lago de Tiberíades, houve alguma depressões depositaram-se camadas de aluvião,
atividade vulcânica no passado distante. Isso criou geralmente, recobertas por dunas de areia amarron-
grandes pilhas de lava basáltica, de antiguidade zada. Ali hâ bem poucas pedras visíveis e quando
relativamente recente, ou seja, de cerca de apenas há, geralmente são formações de xisto mole.
quatro mil anos de idade, de acordo com as anâlises O monte Carmelo divide em dois trechos a planície
pelo radiocarbono, feitas sobre matéria orgânica ali costeira, o trecho norte e o trecho sul. O Carmelo é
carbonizada. formado por um bloco separado de pedras calcárias
FMa ........adaçIo quanto ao tIpO e eombiD.ça. da Judéia, com várias camadas de pedra calcária e
de rochas, a par com condições climAticas extremas, dolomita, provendo blocos retangulares chatos, que
que vão desde o clima desértico até os picos facilmente podiam ser usados na construção de
montanhosos eternamente recobertos de neve, no edifícios ou de altares (I Reis 18:26).
166
I I
PEDRAS - PEDREIRAS
o leito do vale do Jordão (produzido por unindo toda a estrutura. Sem essa Pedra, não haveria
terremotos), mostra-se árido e estéril, fazendo como unir judeus e gentios no edificio espiritual.
contraste com as regiões montanhosas que o ladeiam. 3. O trecho de Isaías 28:16 parece referir-se às
O rio Jordão vai descendo lentamente, em meandros, maciças pedras Que formavam o templo, simbolizan-
cerca de cinqüenta metros abaixo do terreno do a presença de Yahweh, em todo o seu poder, entre
circundante. E, de uma margem à outra há uma faixa o seu povo. Isso é interpretado como profecia
de terras imprestáveis, produzidas pela erosão do messiânica, em Rom. 9:33 e I Ped. 2:6, em conjunto
terreno muito mole que o rio atravessa. Ao sul do mar com Isaías 8: 14.
Morto há rochas brancas, devido à presença de sal 4. A passagem de Salmos 144:12 invoca o Senhor,
rochoso. Esse sal aparece entremeado com argilas pedindo-lhe que as moças israelitas fossem como
(vide), e toda a região está sujeita a deslizamentos de "pedras angulares», isto é, fossem sustentáculos, em
terras, particularmente quando ocorrem terremotos virtude de suas altas qualidades morais e espirituais.
(vide). Isso, juntamente com os canais de erosão, Simbologia. A "pedra angular", que é Cristo, é o
resultantes de grandes e pesadas chuvas, resultou na mais importante fator do templo espiritual. Esse
produção de formatos erodidos estranhos, alguns com templo não é material, e nem mesmo é alguma
a aparência de colunas de sal (cf. Gên, 19:26). Os organização terrena, e, sim, uma entidade espiritual,
abalos sismicos, muito comuns em todo o comprimen- da qual Cristo é o construtor (Mar. 14:58; Mat.
to do vale do Jordão, provavelmente, também têm 16:18). Cristo é o Sumo Sacerdote desse organismo
sido os responsáveis pelas quedas e desbarrancamen- espiritual (Heb. 9: 11). Seu corpo é a essência do
tos que ali se verificam, - conforme o que templo espiritual (João 2:21). Os crentes, por sua vez,
aconteceu quando as águas do rio Jordão foram são «pedras vivas», que fazem parte da sobrestrutura
temporariamente represadas pouco acima da cidade desse templo espiritual (I Ped. 2:5).
Adão, cerca de trinta e nove quilômetros acima da Ainda de acordo com uma outra metáfora, Cristo é
entrada do rio Iordão no mar Morto, segundo nos retratado como o alicerce inteiro desse templo
relata o trecho de Iosué 3:13-16. espiritual, e não meramente a «pedra angular» (I Cor.
3:11). Os apóstolos e profetas da Igreja também são
PEDRAS ANGULARES intitulados «alicerce» do templo espiritual (Efé. 2:20),
No hebraico, zaviyyoth, termo que aparece somente em cujo caso Cristo é novamente chamado de «pedra
em Sal. 114:12 e Zac. 9:15. No grego, akrogoniaios, angular». Os apóstolos e profetas do Novo Testamento
«ângulo extremo», palavra que figura somente em formam o alicerce do templo espiritual como lideres, e
Efé. 2:20 e I Ped. 2:6 (citando Isa. 28:16). não em sentido soteriolôgico. No sentido soteriológi-
co, somente Cristo pode servir de fundamento da
As pedras angulares eram maciças pedras postas na Igreja. (B NTI S W Z)
esquina formada pela junção de duas paredes,
unindo-as de modo mais firme do que poderia ser
feito, na antiguidade, de outra maneira qualquer.
Essa pedra também contribuía para fortalecer os PEDRAS PRECIOSAS
alicerces da estrutura. Ver sobre Jólu e Pedra PreeIoa8.
A «pedra de remate» (no hebraico, eben roshah, ou
«pedra da cabeças), que aparece em Zac. 4:7, parece
indicar que, em algumas construções, as paredes que PEDREIRAS
formavam esquina eram unidas no alto por alguma Escavações feitas para remover pedras a serem
forma de pedra. O trecho de Isaías 28:16 refere-se a usadas nas mais diversas construções. Em nossa
uma certa pedra, que nossa versão portuguesa chama versão portuguesa, a referência mais clara é a de I
de «angular», mas que no hebraico é pinnah, que era Reis 6:7: "Edificava-se a casa com pedras já
usada como laje sobre a qual uma parede era preparadas nas pedreiras... » Há grande número de
construída, a fim de melhor ligá-la com outra, em pedreiras na Palestina, pois a qualidade das pedras ali
uma esquina. Algumas vezes, essas pedras formavam existente é própria para construções. Destacados os
duas camadas. A arqueologia tem demonstrado que a blocos por métodos primitivos, porém eficientes, eram
maioria das pedras angulares eram simplesmente transportados sobre toras de madeira. Em Baalbeque
imensas pedras, toscas e mal formadas, Mas, a partir as maiores pedras de construção chegam a pesar
da época de Salomão, essas pedras eram cortadas e algumas centenas de toneladas e foram transportadas
modeladas cuidadosamente. de uma pedreira a mais de um quilômetro e meio de
Usos Espirituais e Figurados. 1. O Cristo distância.
profetizado (Sal. 118:22; no hebraico, pinnah), a No A.T. há alguns trechos problemáticos que
pedra que os edificadores rejeitaram, mas que se envolvem pedras e pedreiras. Por exemplo, Juí.
tomou a pedra principal, - correspondendo ao 3:19,26, onde nossa versão portuguesa lê «imagens de
sentido da palavra. hebraica, que significa «principal» escultura». Contudo, tal tradução faz pouco sentido, a
ou «da frente». Esse feito divino é uma maravilha aos menos que Gilgal, referida no trecho, fosse um centro
nossos olhos. Envolve importantissima doutrina do de fabrico de ídolos. Alguns estudiosos têm sugerido a
Novo Testamento. Ver Mat. 21:42; Mar. 12:10; Luc. tradução "pedras escavadas» para esse trecho, embora
20:17; Atos 4:11 e I Ped. 2:7. A idéia envolvida é que não haja qualquer indicio disso no próprio texto
pedreiros insensatos (a nação judaica, para a qual bíblico. Outro tanto pode ser dito quanto ao trecho de
viera o Messias), tinham rejeitado o mais importante los. 4:4-9. Há versões que falam em «pedreiras» em
elemento de seu edificio espiritual, a saber, o Messias. ambas essas passagens, mas sabe-se que, pelo menos
Mas Deus corrigiu tal injustiça, assegurando que a na atualidade, não há qualquer sinal de que em Gilgal
Pedra encontrasse seu devido lugar no templo ou nas proximidades houvesse pedreiras. O termo
espiritual. hebraico usado nesses trechos, como também em
Deu. 7:5 e 11 Reis 17:41, poderia ser traduzido por
2. O apóstolo Paulo, em Efé. 2:20,21, faz Cristo ser «algo escavado».
a -predra de remate» (embora nossa tradução
portuguesa diga «pedra angular»; mas o sentido da
palavra grega é «ângulo extremos), completando e •••••••••
157
ri" T
PEDREIRO - PEDRO (APOSTOLO)
PEDREIRO PEDRINHAS DE AREIA
Há dois vocábulos e duas expressões hebraicas que Em nossa versão portuguesa, essa expressão traduz
precisam ser levadas em conta, para entendermos o a palavra hebraica chatsats, que ocorre somente em
assunto: Pro. 20:17 e Lam. 3:16, com esse sentido. Na primeira
1. Gadar, «levantar uma parede•. Verbo que ocorre dessas passagens bíblicas está em foco o individuo que
por dez vezes, e que no participio tem o sentido de amassa o pão do engano, e que lhe parece doce à
«pedreíro-, que aparece por três vezes: II Reis 12:12; boca, Mas depois, em vez de ter bom gosto, a sua
22:6 e Isa. 58:12. boca fica cheia de pedrinhas de areia. A lição é que
2. Chatsab, «cavar•. Esse verbo ocorre por vinte e tudo aquilo que é ganho de forma desonesta, redunda
cinco vezes, e que, no particípio, aparece com o em detrimento para quem assim age. E, na segunda
sentido de «pedreiro. por Sete vezes: I Crê, 22:2; H passagem, temos a idéia de quem sente tanta tristeza
c-e, 24:12; Esd. 3:7; I Reis 5:15; II Reis 12:12; I c-e, que é como se sua boca estivesse cheia de pedrinhas de
22:15; H c-e, 2:18. areia.
3. Charash eben qir, «cavador de parede de pedra•.
Essa expressão hebraica aparece somente em H Sam,
5:11. PEDRO (AI'OSTOLO)
4. Charash qir, «cavador de parede». Essa Esboço:
expressãoaparece somente em I Crê, 14:1. I. Seus Nomes
Salomão empregou milhares de homens para H. Família
prepararem as pedras que haveriam de ser usadas na IH. Caracterização Geral
construção do templo de Jerusalém (I Reis 5:15-18). IV. Nos Escritos dos Pais da Igreja e nas Tradições
Oitenta mil homens talhavam as pedras nas V. Um Louvor a Pedro: Suas Caracteristicas
montanhas, e setenta mil transportavam-nas. sem Pessoais
falar nos supervisores, que atingiam o número de três VI. Pedro e Alguns Problemas Especiais
mil e trezentos.
Há versões que traduzem por «lavradores de VII. Pedro e os Símbolos dos Sonhos e Visões
pedras. a palavra hebraica que, em nossa versão VIH. Pedro Foi Mesmo o Primeiro Bispo de Roma?
portuguesa é traduzida por giblitas, Por isso, muitos IX. Pedro Foi a Rocha sobre qual a Igreja foi
leitores sem conhecimentos técnicos têm pensado que Edificada?
eles também seriam pedreiros de algum tipo. I. Seua NOIIIflI
Esclarecemos aqui que essa palavra é apenas um O nome hebraico original do apóstolo Pedro era
adjetivo pátrio, indicando os naturais de Gebal ou Symeon (ver Atos 15:14; H Ped. 1:1). um nome
Biblos, uma cidade da Fenícia, à beira-mar. Ver sobre pessoal comum nos dias do Antigo Testamento. Ver
Gebal, cidade mencionada na Bíblia em Josuê 13:5. Gên. 29:33; 34:25; 42:24,36. O Símeão do Antigo
Nossa versão portuguesa está com a razão. Testamento era filho de Lia, e tomou-se o progenitor
de uma das tribos de Israel. Ver o artigo separado
O trabalho dos pedreiros é tão antigo quanto a sobre Simeão, E «Simão. é uma variante da grafia
história humana. Os egípcios eram hábeis no trabalho desse nome. Várias personagens bíblicas tiveram esse
com pedras, e podemos supor que os hebreus nome, o que se demonstra no artigo Simão. O sentido
derivaram deles esse conhecimento. O trecho de H dessa palavra é «audição». O Simeão original foi assim
Sam, 5:11 sugere que os hebreus não eram tão chamado por Lia porque ela cria que o Senhor havia
habilidosos nesse mister quanto os tírios (ver I Reis ouvido a sua oração, dando-lhe esse seu segundo
6:7 e 7:10). Sabe-se que Salomão contratou operários filho. Rúben era o filho primogênito dela. O Senhor
estrangeiros para a construção do templo de Jesus teve um irmão que atendia por esse nome (ver
Jerusalém. Ver H Reis 12:12 e 22:6, que são trechos Mat. 13:55), e um outro dos apóstolos dele também
que falam sobre aqueles que trabalharam como era chamado assim.
pedreiros, no projeto da construção do templo. Um O Senhor Jesus deu a Simão, filho de Jonas, a
pedreiro tanto construía paredes simples como alcunha de Pedro. No grego, esse nome significa
também erigia edificios (I Cra. 22:2), fortalezas e «pedregulho». Ver Mar. 3:16; Luc, 6:14; João 1:42.
arcos (H Crê, 33:14; Esd, 3:10), além de lavrar pedras Podemos dizer, pois, que esse era o «nome cristão. de
para ereção de edifícios (lI Crô. 24:12). As passagens Simão, e que lhe foi dado em antecipação ao fato de
cte I Reis 5:17 e 6:7 falam sobre o trabalho de talhar que ele era uma pedra sobre a qual a Igreja seria
pedras, nas pedreiras; Isa. 5:2 refere-se ao fabrico de edificada (ver Mat. 16:18), tal como a «casa de Deus.
talhas de pedra, para vinho. E os trechos de Êxo, é edificada sobre indivíduos fundacionais, ou seja, os
20:25; I Reis 5:17 e Amós 5:11 referem-se ao trabalho ap6stolos e profetas (ver Efé. 2:20). Dentro dessa
de talhar pedras. H Sam. 5:11 e I Crê. 14:1 estrutura espiritual. Jesus Cristo é a «pedra angular»;
Informam-nos que os fenícios eram peritos nesse e uma pedra angular dificilmente pode ser o alicerce
trabalho; e 11 Sam. 5:11 e I Crô. 22:2 dizem como inteiro. No entanto, no sentido salvatício, Cristo é o
Davi e Salomão tiraram proveito dessa perícia. único fundamento, segundo aprendemos em I Cor.
As cidades maiores dos israelitas, como Jerusalém, 3:11. Mas, no tocante à Igreja visivel, organizada,
Megido e Samaria. servem de exemplos da habilidade Pedro e os demais apóstolos (mas, especialmente.
dos pedreiros construtores. O ponto culminante dessa Pedro) são os alicerces. Tenho apresentado um artigo
arte foi atingido no templo de Herodes, uma das separado sobre essa questão, chamado Fundamento
maravilhas do mundo antigo. da Igreja. Pedro Como, e que aborda a exposição do
Entre os instrumentos usados pelos pedreiros havia décimo sexto capitulo de Mateus, além de outras
os martelos. entre os quais um maior. para ser usado considerações.
nas pedreiras (ver Jer. 23:29), e um menor, para a Algumas vezes, os evangelhos usam a combinação
preparação das pedras individuais (ver I Reis 6:7). «Simão Pedro», como em Mat. 16:16; Luc. 5:8; João
Um relevo em bronze, da época de Salmaneser IH, 1:40; 6:8; 13:6. Por duas vezes encontramos um
apresenta pedreiros assírios trabalhando, usando reflexo da forma hebraica, Simeão (ver Atos 15:14 e 11
vários tipos de ferramentas. Ver o artigo intitulado Ped, 1:1). O equivalente aramaico do nome Pedro é
Arquitetura. Celas, «rocha•. E isso figura em João 1:42; I Cor.
158
I I
PEDRO SE AFUNDA
A NEGAÇAO DE PEDRO
PEDRO (APOSTOLO)
1:12; 3:22; 9:5; 15:5; Gál. 1:18; 2:9,11,14. Paulo usa crucificação de cabeça para baixo, bem como seu
o nome Pedro, em Gál. 2:7,8. E dessas várias ministério prévio em Roma. Não sabemos quanto
referências recolhemos a idéia de que Pedro atendia de~se~ irrformes é válido, mas é provável que o esboço
por vários nomes. principal o seja. As escavações feitas na capital do
D. FamOI. antigo império romano têm revelado um antigo culto
O nome dopai de Pedro era Jonas (ver Mat. 16:17). de Pedro em Roma. Isso pode ser comparado com o
Mas o pai de Pedro também era conhecido como João que diz Eusébio, em sua História Eclesiástica 11.25.
(ver João 1:42; 21:15-17). Uma variante textual Portanto, há indicações de que Pedro trabalhou ali
procura harmonizar a questão, no evangelho de João, en,tbora isso talvez tenha sido exagerado. A tradiçã~
embora não haja qualquer razão para isso. Talvez ele afl~ma que el~ pereceu na matança dos cristãos, na
fosse chamado por ambos os nomes, de som similar, colma. do Vaticano em 64 D.C., sob as perseguições
posto que não da mesma origem. Seja como for, O pai neronianas.
de Pedro, tal como seus filhos, Simão e André, era Pedro foi uma rocha e uma coluna da igreja nos
pescador. A familia era da cidade de Betsaida (João seus primeiros anos. Devido à sua fé e ardor, ao seu
1:21,29), e parece que eram sócios, na indústria de temperamento gentil e de mente aberta, além de seus
pesca, de Tiago e João, filhos de Zebedeu (Luc. 5: 10), dotes intelectuais, ele salvou a igreja em seus dias
e que, posteriormente, mudaram-se para Cafamaum iniciais e mais dificeis da possivel desintegração. Em
(ver Mar. 1:2,29). Os trechos de Mar. 1:30 e I Cor. alguns lugares ele era altamente favorecido, acima de
9:5 mostram que Pedro era casado, embora não todos os demais apóstolos, conforme fica claro na
disponhamos de informações sobre sua familia famosa passagem da «pedra», no décimo sexto
imediata, sua esposa, seus filhos, etc. Por essa razão, capítulo do evangelho de Mateus. A igreja cristã, após
nada de certo pode ser dito sobre a questão. Esse fato a destruição de Jerusalém, com seu templo e seu
de Pedro ter sido homem casado é admitido Sinédrio e, conseqüentemente, com sua autoridade
universalmente; mas muitos católicos romanos su- religiosa, buscou alguma autoridade estabilizadora.
põem que ele abandonou o estado ao tomar-se o Alguns segmentos da igreja puseram Pedro nesse
primeiro }lapa. Todavia, quanto a isso não há lugar; mas outros (conforme se reflete no evangelho
qualquer informação e nem evidência. E a alusão feita de João 20:22,23) deram ao Sinédrio a autoridade
por Paulo, em I Cor. 9:5, dá a entender que Pedro não anteriormente dada ao concílio dos doze. Mais tarde,
abandonou sua esposa, mesmo depois de começar a a própria igreja cristã foi investida dessa autoridade,
atuar como apóstolo, após a ressurreição do Senhor conforme fica demonstrado no décimo oitavo capítulo
Jesus. E a questão também não é importante, exceto do evangelho de Mateus, bem como em vários lugares
para os dogmas posteriores. do livro de Atos, onde se vê que a igreja é que
André, irmão de Pedro, era seguidor de João comissiona os seus lideres e seus respectivos labores,
Batista, até que veio a tornar-se discípulo de Cristo por consenso geral.
(ver João 1:35-37,40). Foi André quem atraiu Simão a Foi Jesus quem deu a Simão o nome de «Pedro»,
conhecer a Jesus e tomar-se seu discipulo (João que significa «rocha», para caracterizar a missão que
1:41,42); e, de acordo com o evangelho de João, foi ele estava prestes a realizar (ver Mat. 16:18 acerca
quando se encontraram que o Senhor deu a Simão o disso). Assim, ao referir-se a si mesmo, ele usa o novo
apelido de "Pedro", em antecipação ao seu destino e nome, Pedro, e não o nome original, «Simão», tal
importância no seio da Igreja cristã, que estava como Paulo nunca mais chamou a si mesmo de Saulo,
prestes a emergir. depois que se tornara conhecido como Paulo entre os
cristãos. Paulo, entretanto, chamou Pedro de «Cefas»,
m. Cuacterlzaçlo Geral que é transliteração do termo aramaico que significa
Fica claro, nos evangelhos, que Pedro ocupava rocha (ver Gál. 2:9 sobre isso).
posição de supremacia entre os doze. E essa posição é IV. NOII E8cl'itOll doi P.u da ..... e lUla Tnu:llçiies
m~ntida no livro de Atos, até que Paulo parece ter-lhe
feito sombra. Pedro é alistado em primeiro lugar nas Na seção IH abordei essa questão até certo ponto; e
quatro listas dos doze discípulos de Cristo (ver Mat. aqui apresento maiores detalhes. O termo "Babilô-
10:2; Mar. 3:16; Luc. 6:14-16; Atos 1:13). Pedro é o nia», em I Ped, 5: 13, quase certamente é um código
mais freqüent~ll}e~temencionado dos doze apóstolos; para Roma, pelo que essa epístola localiza Pedro ali,
e em certos episôdios, como aquele no qual é chamado sob a ameaça de martirio. O livro de Apocalipse
de fundamental, ou o outro, no qual negou a Jesus (14:8; 16:19; 17:5; 18:2,10,21) também usa o nome
(Mat, 16 e Mat. 26:69-75, respectivamente), seus atos «Babilônia" para indicar Roma; e podemos supor
são descritos longamente. Noutras oportunidades, corretamente que-relacionar Babilônia com Roma era
Pedro é descrito como um dos três discípulos mais costumeiro entre os cristãos primitivos. Roma era a
Babilônia da época apost6lica. Seja como for, no
chegados de Cristo, juntamente com Tiago e João tocante a Pedro, temos uma conexão com Roma,
(por ocasião da transfiguração, Mat. 17: 1-9' no
jardim do Getsêmani, Mat. 26:37·49; e por ocasião da apesar do silêncio do livro de Atos.
ressurreição da filha de Jairo, Mar. 5:37). Foram Os intérpretes pensam que Pedro e Paulo foram
esses três, juntamente com André, que fizeram vitimas da demência de Nero. Eusêbio data a morte
perguntas sondadoras sobre questões escatológicas de ambos em seu décimo quarto ano (67-68 D.C.) de
(ver Mar. 13:3). governo, marcando a partir daí as perseguições
nerônícas contra os cristãos. Todavia a data é
Em Atos, depois de Paulo, Pedro é o maior vulto. disputada, embora não necessariamente o acontecido.
Este livro termina sem nos dar qualquer indicação O trecho de João 21:18 pode ser uma alusão
~obre a sua vida posterior; mas isso é preenchido por profétíca-histôríca da suposta crucificação de Pedro
informes provenientes da tradição. Não há base de cabeça para baixo. E a passagem de João 21:19
suficiente para alguém disputar a residência de Pedro definidamente diz respeito ao modo de sua morte. Os
em Roma e seu martirio naquela cidade. Quase Atos de Pedro e Eusêbio (Hist, Eccl, 3:1) contam a
certamente, a primeira epistola de Pedro foi escrita mesma história. Eusébio faz alusão a uma declaração
dali, porquanto a palavra Babilônia (ver I Ped. 5:13), de Orígenes sobre a questão, mas não sabemos qual a
era um título criptico para indicar Roma. O livro fonte informativa de Orígenes. A Epístola de I
apócrifo, Atos de Pedro, registra seu martírio por Clemente, lrineu, Papias, Gaio e Tertuliano disseram
169
PEDRO (APOSTOLO)
todos que Pedro foi martirizado na colina do ele foi um dos três discípulos mais chegados dé Jesus,
Vaticano, em Roma; e um memorial sobre esse evento a menos que tenha sido, verdadeiramente, um homem
ali existia desde tão cedo quanto 160 D.C. extraordinário. O livro de Atos (cap. 2 e ss)
Presume-se que o túmulo de Pedro jâ foi localizado; fornece-nos vârios incidentes que mostram a sua
mas muito debate circunda o ponto. A discussão gira coragem e os seus labores eficazes. Ele e Paulo são as
em tomo da Igreja de São Pedro e das catacumbas de figuras que ocupam a maior parte do conteúdo do
São Sebastião, na via Apia. A existência de desenhos livro de Atos; e isso serve para informar-nos como a
simples com invocações a Pedro e a Paulo, nas Igreja primitiva sobreviveu e se desenvolveu, e quais
catacumbas de São Sebastião talvez preste algum as forças que tomaram isso possível. Pedro era
apoio à teoria de que os restos mortais de Pedro ali homem entusiasmado e ousado. Era supremamente
jazem, talvez por terem sido transferidos para o lugar devotado a Cristo, e, apesar de algumas poucas
durante as perseguições movidas por Valeriano (258 falhas, nunca se desviou de seu curso. Tomou-se
D.C.), para sua maior segurança. Eusébio (Hist, também um homem miraculoso, segundo o terceiro
Eccl.) citou Gaio (residente em Roma em cerca de capitulo do livro de Atos o demonstra. Recebeu
199-217 D.C.), que afirmara que ali estavam os algumas das mais contundentes reprimendas de
troféus de São Pedro, localizados no Vaticano e no Jesus, mas sempre foi beneficiado por elas. Talvez ele
caminho para Ostia. Outros opinam que as sepulturas se tenha mostrado arrogante, em algumas ocasiões,
de Pedro e de Paulo estiveram naqueles lugares até segundo as figuras religiosas costumam ser; mas isso
serem transferidos dali, mais tarde, conforme foi era anulado pelo seu caráter geral e pelas realizações
mencionado acima. E aqueles que argumentam de sua vida. Ele serve de supremo exemplo de ousada
contra a permanência de Pedro em Roma têm usado, lealdade a uma nobre causa. Talvez seja verdadeira a
entre outras coisas, uma inscrição, em um ossuârio, tradição que diz que o evangelho de Marcos consiste
existente na capela franciscana iDominus Flevit) que em uma espécie de memôrias de Pedro, pois o
fala sobre Simão BaIjonas como uma indicação de conteúdo essencial ter-se-ia originado nesse apóstolo.
que seus ossos acham-se ali. Entretanto, o texto dessa Nesse caso, não nos afastariamos grandemente da
inscrição é incerto, e dificilmente pode contrabalan- verdade se disséssemos que o evangelho original foi o
çar outras evidências. Além desses nomes serem evangelho de Pedro. Papias, citado por Eusêbio (Hist.
bastante comuns, ainda que o citado texto fosse bem Eccl. 3:39,15) diz-nos que Marcos foi o «intérprete..
Iegível, o que não sucede, não teria de estar em foco, (no grego, ermeneutes) de Pedro. Nesse caso, grande
necessariamente, o apóstolo Pedro do Novo Testa- parte da história conhecida de Jesus Cristo repousa
mento. sobre a autoridade de Pedro.
o papa Paulo VI, a 26 de junho de 1968, anunciou VI. Pedro e Algwu ProblellUUl E8pecla1a
que os ossos de Pedro haviam sido positivamente 1. A Negação de Pedro. Esse foi um incidente muito
identificados por Margherita Garducci, que os teria instrutivo. Tenho provido um artigo separado a
achado em uma gaveta de mármore, na parede G, sob respeito, intitulado Negação de Pedro.
a Igreja de São Pedro, no Vaticano. Naturalmente, as
evidências a respeito têm sido questionadas ou 2. Os Apóstolos Perdoavam Pecados? Ver o artigo
negadas. Parece seguro dizer que a identificação separado chamado Perdão de Pecados pelos Apósto-
desses ossos permanece uma questão precária, se não los.
mesmo uma tarefa impossível. Contudo, parece além 3. Pedro foi o Alicerce da Igreja? Ver o artigo
de qualquer disputa que Pedro passou os anos finais separado intitulado Fundamento da Igreja. Pedro
de sua vida em Roma. As evidências (a começar pela como.
própria primeira epístola de Pedro) parecem variadas 4. Portas do Inferno (Mat. 16:18). Qual é o sentido
e bastante extensas. Pedro morreu como mártir, em dessa expressão no que diz respeito à Igreja, contra a
algum ponto nas vizinhanças da colina do Vaticano. qual nenhum poder é capaz de prevalecer? Ver o
Um estudo completo sobre a questão foi apresentado artigo chamado Portas do Inferno.
no livro de Oscar Cullmann, Peter; Disciple-Apostle- 5. Relato Petrino da Descida de Cristo ao Hades,
Martyr, publicado em 1953. No tocante à questão se Os intérpretes que não sabem muito sobre as
Pedro foi mesmo o primeiro papa, essa questão tradições preservadas nas obras pseudeplgrafeu (vide)
repousa sobre o dogma e a fé da Igreja Católica e nem sobre o testemunho das religiões antigas,
Romana, mas não sobre provas históricas. Que ele foi supõem que o relato de Pedro acerca da descida de
bispo de Roma é questão que dificilmente pode ser Cristo ao hades (ver I Ped. 3:18-4:6) é um texto
disputada; mas os primeiros bispos de Roma não isolado, podendo ser interpretado sem ligação alguma
eram, ipso facto, papas, visto que esse oficio papal com o resto da Biblia, de acordo com os seus dogmas.
resultou de um desenvolvimento que se arrastou por O artigo Descida de Cristo ao Hades procura mostrar
vários séculos. Ver sobre Papa. Papado. que esse conceito reflete um motivo universal, que não
V. Um l.Gul'or • Pedro: Suas CaracterIBtlcu era ensinado somente pelo judaísmo e pelo cristianis-
PeaoaIa mo. Era apenas apropriado que Pedro, que nos deu
Jesus não se equivocou quando chamou Pedro por (posto que indiretamente, através de Marcos) a
esse nome, «rocha... Ele, juntamente com um grupo primeira descrição do ministério terreno de Jesus,
de outras personalidades fortes, preservaram a também nos desse uma descrição de seu ministério no
primitiva Igreja cristã, a despeito do reinado de terror hades. Para que tivesse pleno sucesso, o Logos
de vários imperadores romanos. Pedro foi uma precisava ter uma missão tridimensional: na terra, no
autêntica rocha e coluna da Igreja, poderoso na fé, hades e nos céus.
embora ocasionalmente vacilante. Pelo menos, quan- VU. Pedro e OI 51mboIOI .... Sonhoa e VàiSeI
do ele se mostrava forte, era muito forte; e isso foi o Foi apenas natural que certos símbolos de sonhos e
suficiente para garantir o pleno sucesso de sua missão visões se tenham alicerçado sobre a pessoa de Pedro.
terrena. Pedro não era um literato, a exemplo de O mais comum desses símbolos, naturalmente, é o da
Paulo; mas a literatura que chegou até nós, em seu -permissão» de entrada no céu, visto que Pedro,
nome (se ele escreveu suas duas epístolas, com o popularmente, é retratado como o porteiro das
próprio punho, é duvidoso), mostra uma mente aguda mansões celestes. E visto que, por brincadeira, é dito
'e um caráter bem formado. Não hâ como explicar que que Pedro controla as intempéries, ele também pode
160
PEDRO (APQSTOLO)
simbolizar bênçãos inesperadas: «as chuvas celestes». apostólica. As epistolas pastorais foram escritas para
E como presumivel primeira cabeça da Igreja, o ajudar Timóteo e Tito a serem bons administradores,
delegado de Jesus Cristo, nessa capacidade, pode e não meramente pastores de igrejas individuais.
servir de simbolo de alguém que dá tarefas especiais a Assim, a autoridade manava dos apóstolos, passava
serem realizadas. Ou então, como suposto primeiro pelos administradores e dai descia até os pastores
papa, ele pode representar qualquer elevada autori- :e
(ver 11 Tim. 2:2). óbvio que qualquer apóstolo, onde
dade, mormente de natureza religiosa, ou importan- quer que se encontrasse, tinha maior autoridade que
tes principios religiosos. um administrador-delegado ou um pastor. Nesse caso,
vm. Pedro Foi Meuno o PrImeIro lIl8po da Roma? poderiamos chamar um apóstolo de «bispo», sem
1. Evidências Extraidas das Escrituras importar em que região estivesse agindo. Ver também
Pedro, como uma rocha fundamental da Igreja os pontos 4 e 5, abaixo.
(cap. 16 de Mateus) mostra que ele nem foi um cristão 2. Pedro. Rocha Fundamental da Igreja
comum e nem um apóstolo qualquer. O Sinédrio Tenho apresentado um artigo separado sobre esse
acabou sendo destruido, e, juntamente com ele, a assunto. Ver sobre Fundamento da Igreja. Pedro
autoridade religiosa máxima entre os judeus. E a como. Esse verbete aborda as muitas interpretações e
Igreja cristã, ao procurar um substituto por esse debates que cercam a questão, iniciada em Mat.
principio (após a ascensão de Cristo), encontrou esse 16:16. O catolicismo romano usa esse texto para tentar
substituto ou em Pedro (Mateus), ou nos apóstolos provar que Pedro foi o primeiro papa. Contra isso,
como um todo (João 20:22), ou nos apóstolos e deve-se afirmar, antes de tudo, que não houve oficio
profetas (Efé. 2:20). Os apóstolos eram dotados de cristão eclesiâstico como o papado, senão virios
uma autoridade real, segundo vemos no livro de Atos. séculos mais tarde. Nem por isso devemos negar que a
Não eram apenas lideres de uma democracia. O posição dos bispos de Roma, desde o principio, foi
governo da Igreja primitiva tomou algumas medidas uma posição altamente respeitada e autoritária. B
democráticas, no tocante a certas coisas (ver Mat. dificil crer que Pedro, apóstolo do Senhor, testemu-
18:15 ss), mas o livro de Atos mostra-nos que esse nha ocular e principal autoridade humana da Igreja,
governo era episcopal, pois os apóstolos eram os não tenha exercido pelo menos o oficio de bispo em
supervisores principais e mais autoritários. Jã uma Roma ou cercanias, e não meramente em alguma
outra questão é se esse tipo de governo eclesiástico outra cidade. A teologia católica romana aplica aqui a
continuou atuando ou não (ver sobre Sucessão lógica, supondo que, em qualquer época, a Igreja
Apostólica). Mas, que tal governo existia durante o cristã deve ter tido uma cabeça unificadora, e dai
periodo apostólico é algo inegável. parte para a afirmação que, apesar de desenvolvimen-
As chamadas epístolas pastorais (I e 11 Timóteo e tos posteriores inegáveis, essa cabeça unificadora
Tito) mostram-nos que certos homens, como Tito e pode ser chamada corretamente de «papa», A Igreja
Timóteo, exerciam sua autoridade sobre regiões, e Católica Romana usa o trecho de Mat. 16:16 como
não meramente sobre igrejas locais. Apesar dessa ter sua principal prova bíblica da idéia, e isso em
sido uma forma primitiva do oficio episcopal (oficio combinação com a razão humana e as tradições.
esse que se foi tornando mais e mais complexo), 3. Argumentos Extraidos das Tradições e da
continua de pé o fato de que nem todos os pastores História
tinham igual autoridade. E nem essa autoridade Na seção IV. Nos Escritos dos Pais da Igreja e nas
estava limitada a uma única congregação local, Tradições, tenho provido material que pode ser usado
apesar da doutrina batista e de outros grupos para mostrar que Pedro tinha, pelo menos, a estatura
democráticos similares. Assim, na Igreja primitiva, de um bispo. Eusébio (Hist. Eccl. 4:1) afirma que o
havia, em primeiro lugar, a autoridade apostólica, oficio dos bispos era uma realidade no século [[ D.C.
então a autoridade de delegados especiais (como Tito E ele afirma que Lino, antes mesmo desse tempo
e Timóteo), e então a autoridade dos pastores. Não hâ (exerceu seu bispado em cerca de 67-79 D.C.), foi o
razão para supor que não houve a intenção de existir segundo bispo de Roma, Pedro tendo sido o primeiro.
um autoridade secundária à dos apóstolos, isto é, a Sua declaração exata diz: ..Lino... foi o primeiro,
dos bispos, ou que essa autoridade secundária não depois de Pedro, que obteve o episcopado da igreja
teve continuação. Toda a história da Igreja que dos romanos». Em seguida vieram, sucessivamente,
registra o século 11 D.C. mostra-nos que sem dúvida Cleto (Ancleto) e Clemente (cerca de 98 - 99 D.C.).
foi o oficio episcopal. Conseqüentemente, supor que Assim, antes mesmo do século 11 D.C., quatro
Pedro, sem importar onde ele atuou, não foi pelo homens são chamados «bispos de Roma. por Eusêbio,
menos um bispo, em seu poder e' autoridade, é um Essa informação foi ofictalizada e formalizada na
absurdo. Aliâs, isso ele diz que é: «...eu, presbitero teologia católica romana (Concilio do Vaticano 4,
como eles ... » (I Ped. 5:1). capo 1,2; cânon 1; capo 4 do mesmo concilio). As
O trecho de Tito 1:5 mostra-nos que Tito foi tradições mostram que o bispo de Roma era tido em
honra especial, embora não fosse então reputado
deixado em Creta a fim de nomear anciãos. E apesar como um papa, o que só veio a acontecer vârios
de ancião (ou presbitero) ser um termo sinônimo de séculos depois. lrineu (Adv. Haer., livro 111, caps.
supervisor (ou bispo), se alguém tinha autoridade de 1~3) e Clemente de Alexandria (em Eusébio, Hist,
nomear outros anciãos, então é que jã era um bispo Eccl. 6.14) afirmam que Pedro exerceu um ministério
primitivo. Não se deve descartar, contudo, a apostólico em Roma, antes de ser ali martirizado.
possibilidade de que Timóteo e Tito estavam agindo
como delegados apostólicos, cuja autoridade não era 4. As Chaves e as Obrigações Pastorais
deles mesmos, mas a do apóstolo Paulo. Nesse caso, já A Pedro foram entregues as chaves do reino do céu,
não teriamos de pensar em uma classe de superbispos o que significa que, através de seu ministério, coisas
primitivos, que exerciam autoridade sobre outros seriam soltas ou atadas. A declaração de Mat. 16:19 é
bispos. Por outra parte, a história da Igreja, no século muito controvertida; mas pelo menos fica evidente
11 D.C. mostra-nos que certos anciãos exerciam que algo bastante incomum foi entregue a Pedro por
autoridade sobre áreas, e não meramente sobre Jesus. Houve alguma espécie de poder que lhe foi
igrejas locais. A complexidade que esse oficio dado na ocasião que ultrapassou totalmente a
adquiriu mais tarde não labora contra a sua qualquer noção democrática de governo eclesiâstico.
existência,em forma mais simples, ai pelos fins da era Mas essa autoridade especial de Pedro era comparti-
161
PEDRO - PEDRO (PRIMEIRA EPIST.)
lhada por todo o grupo apostólico, segundo se vê em Igreja, Pedro como, e então comparar esse material
Mat. 18:18: «Em verdade vos digo que tudo o que com o artigo Fundamento da Igreja, Cristo como.
ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que Bibliografia. AM B C CHE 10 lTS(8,1957) ND
desligardes na terra. terá sido desligado no céu». Por NTI TON(l956) WW Z
isso mesmo, diz-se que a figura de Pedro era a de um
par entre seus iguais, que se destacava entre os
demais por suas qualidades de personalidade e PEDRO (PRIMEIRA EPISTOLA)
liderança, um «primus inter pares». Mas, é impossível
Esboço:
supormos que, tendo chegado a Roma, Pedro
deixou de ter esses poderes. Acresça-se a ISSO que I. Confirmação Antiga
Pedro recebeu deveres pastorais especiais, da parte de 11. Autoria
Jesus, em João 21:15. Em terceiro lugar, o nome de IH. Data; Proveniência e Destino
Pedro encabeça todas as listas dos apóstolos; e isso IV. Estilo Literário e Linguagem
subentende algum tipo de primado. V. Motivo e Propósitos
A questão das chave. cio reino precisa de alguma VI. Primeira Epístola de Pedro e o Resto
elaboração. Se o reino e a Igreja fossem exatamente a do Novo Testamento
mesma coisa, então teriamos ai um argumento muito VII. Pedro e Paulo
poderoso em favor da noção episcopal ~e. governo VIII. Temas Principais
eclesiástico. Mas, como as Escnturas definidamente
mostram que a Igreja é uma parte especialissima do IX. Conteúdo
reino, esse argumento perde praticamente todo o seu X. Bibliografia
impeto. Os apóstolos pregavam o evangelho do reino. As Epístolas Católicas. As chamadas Epístolas
e jamais o evangelho da Igreja. C~m sua prédi~a, Católicas do N. T. são Tiago, I e 11 Pedro, as três
Pedro abriu o evangelho do remo a Judeus e gentios epístolas de João e a epístola de Judas. Para alguns,
(ver Atos 2:14 e 10-11). esse título significa «canônico», isto f>, aquela série de
5. Pedro Presidiu o Primeiro Concílio Ecumênico? epístolas, dessa porção do N.T., que foi aceita no
A questão do legalismo causou muitas dificulda~es cãnon dos livros sagrados da igreja. Para outros,
na Igreja primitiva. Sob que condições os gentios significa «apostólico»; e ainda para outros, «ortodo-
deveriam ser acolhidos na Igreja? Essa foi a pergunta xo». O sentido comumente aceito do termo,
que o primeiro concilio ecumênico, em Jerusalém, entretanto, é «geral», dando a entender aquelas
quis solucionar. Ver Atos 15. Pedro presidiu esse epístolas neotestamentárias que foram escritas para
concilio. Ali estava em jogo mais do que o mero uma «audiência geral», e não para qualquer
cuidado pastoral-era mister fazer sentir a autoridade comunidade cristã especifica.
apostólica. Essa autoridade, é claro, não repousava I. Cooflnnaçio Antiga
somente sobre os ombros de Pedro. E tanto isso é A antiga cooflnnaçio conferida à primeira epistola
verdade que foi Tiago quem sugeriu quais medidas de Pedro é igual àquela dada à maioria dos outros
deveriam ser tomadas (ver Atos 15:13-21). E as livros do N.T., e, em alguns aspectos,' é mesmo
palavras seguintes ainda são mais esclarecedoras: superior. Consideremos os seguintes pontos:
«Então pareceu bem aos apóstolos e aos presbiteros, 1. O trecho de 11 Ped. 3:1 é a primeira confirmação
com toda a igreja... » (Atos 15:22). Novamente, Ped~o antiga da primeira epístola de Pedro. Ainda que
agiu como primus inter pares, dentro d~ colégio ponhamos em dúvida a autoria petrina daquela
apostólico, e não como um papa medieval ou segunda epístola, ainda assim ela nos fornece o
moderno. Mas, definido melhor esse papel de Pedro. reconhecimento do uso da presente epístola, desde os
no concilio de Jerusalém, é dificil imaginarmos que, primeiros tempos do cristianismo, porquanto aquela
dotado de tal autoridade, ele também não presidisse a segunda epístola não deve ter sido escrita mais tarde
igreja em Roma e sua área imediata, na capacidade que os meados do segundo século da era cristã.
de um bispo ou supervisor, depois que ali chegou. Incidentalmente, essa referência também demonstra
6. A História e o Bispo de Roma que a primeira epístola de Pedro circulara desde os
Antes mesmo da conversão de Constantino, no primeiros tempos, sendo reconhecida como uma
começo do século IV D.C., os sucessivos bispos de epístola do apóstolo Pedro, e não como carta
Roma eram respeitados no seio da Igreja universal. E anônima, conforme alguns estudiosos têm pensado.
foi somente após o casamento do Estado com a Igreja, 2. A epístola de Barnabé evidentemente cita e faz
por iniciativa de Constantino e aceitação do gr~~S? da alusão a esta primeira epístola de Pedro. A epístola de
Igreja cristã organizada, que realmente teve ImC10 o Barnabé data entre '70 e 130 D.C., segundo as
oficio papal, embora tivesse continuado à sombra d;a diversas opiniões. (Comparar Barnabé 1:5 com I Ped.
figura maior dos imperadores romanos, os quais 1:9; 4:12 com 1:7; 5:1 com 1:2; 5:6 com 1:11 e 16:10
foram os virtuais cabeças da Igreja cristã (a partir de com 2:5). Esses paralelos não são absolutamente
Constantino, e com uma ou outra rara exceção, como convincentes, mas parecem resultar de algum
a de Juliano, o apóstata) enquanto o império romano conhecimento da primeira epístola de Pedro.
do Ocidente não foi destruído pelos bárbaros
3. Clemente de Roma. Essa epístola data de cerca
germânicos. Com a queda do império romano e o
desaparecimento de seus imperadores, restou, como a de 95 D.C. Além da similaridade do vocabulário, o
única outra figura respeitável, o bispo de Roma. E que, por si mesmo, não é particularmente significati-
então teve começo a fase papal, propriamente dita. e vo, há certo número de passagens paralelas, o que
que ainda assim continuou evoluindo até chegar ao pode indicar certa dependência de Clemente à
que hoje é, após longas lutas com imperadores do primeira epístola de Pedro. Lightfoot apresenta doze
Santo Império Romano e com os concílios, o que é desses paralelos, e Harnack descobre vinte. (Ver as
sobejamente conhecido por todos os que estudam a saudações, que são igualmente similares; comparar
história universal. Ver sobre Papa, Papado. Clemente 7:4 com I Ped. 1:19; 9:4 com I Ped. 3:20;
36:2 com I Ped. 2:9). Além desses paralelismos, há
IX. Pedro Foi a Rocha Sobre a qual Cristo EdifIcou outros menos óbvios. Clemente se utiliza de duas
Sua Ignp? citações, extraídas do A.T., que também foram
Ver o artigo separado intitulado Fundamento da usadas na primeira epístola de Pedro. (Ver Clemente
162
PEDRO (PRIMEIRA EPlSTOLA)
30:2 e I Ped. 5:5: Pro. 3:34; 49:5 e 4:8: Pro. 10:12). E iii.20,4, atribuindo tal citação "a Isaías: mas, em iv.
isso pode ser significativo ou não. A primeira dessas 22: 1, a atribuição é a Jeremias. Entretanto,
passagens, Pro. 10: 12, também é citada em Tia. 4:6. originalmente, a citação pode ter sido tomada por
4. Testamenta XII Patriarcharum, Fim do'primeiro empréstimo de I Ped. 3:18-20 e 4:6.
século ou começo do segundo século de nossa era. 11. Tertuliano, falecido em 220 a 240 D.C. Seu livro
(Comparar Benu. 5.8, Naftali 4 com I Ped. 1:3,19; Scrop. xii pode ser comparado com o trecho de I Ped.
Gade 6 com I Ped.. l:22; Benjamim 8 com I Ped. 4:14 2:20; e Adu. Judaeos x com I Ped, 2:22; iv.13 com I
e Aser 5 com I Ped. 3: 10). Ped. 2:8 e De Orat. xv com I Ped. 3:3.
5. Hermas , 110 a 140 D.e. (Comparar Hermas 3:5 12. Clemente de Alexandria. Morreu em cerca de
com I Ped. 2:5; 4:3,4 com I Ped. 1:7; Sim. 9:28,5 com 213 D.C. Clemente cita livremente passagens de cada
I Ped. 4:14; Sim. 9:16 com I Ped. 4:6). capitulo desta primeira epistola de Pedro.
6. Policarpo, martirizado em 155 D.e. Na Hist6ria 13. Os gnósticos Basílides, Valentino, Marcósio
Eclesiástica de Eusébio (iv. 14.9) temos uma conheciam e citaram, ou mesmo puseram em dúvida
vinculação de Policarpo com a presente epístola. Em certas porções da primeira epístola de Pedro. Márcion
Policarpo há várias citações reais, e não meras também conhecia o livro, mas recusou-se a aceitá-lo
similaridades, conforme se vê até este ponto na como autoritário.
discussão. (Comparar Fil. 1:3 com I Ped. 1:8; 2:1 com 14. Visto que os primeiros «cânones- do N. T.
1:13,21; 2:2 com 3:9; 5:3 com 2:11; 7:2 com 4:7; 8:1 estavam baseados sobre leves modificações do «cânon»
com 2:14,22; 10:2 com 2:12). Uma das curiosidades de Mârcion: .dez epístolas paulinas e o evangelho de
sobre o uso que Policarpo faz desta epístola é que ele Lucas, incorporando as mesmas epistolas paulinas,
nunca diz que se trata de uma epistola de Pedro, mas expandindo o «cãnon» para incluir lodos os
apesar de sempre citar Paulo por nome. Alguns quatro evangelhos, a primeira epistola de Pedro não
estudiosos têm julgado que tal indicio não é foi incluída em qualquer cômputo canônico dos
significativo, mas outros têm pensado que isso indica primeiros séculos, nem mesmo no caso do cânon
que a epístola circulou a principio como carta muratoriano, datado de cerca do ano 200 D.C., que
anônima, e que somente mais tarde o nome de Pedro refletia as idéias da igreja de Roma. A sua natureza
foi ligado à mesma. Nesse caso, a segunda epistola de fragmentar, entretanto, tem sido ventilada corno uma
Pedro teria sido escrita após os dias de Policarpo, das razões por que não foi incluida a presente
porquanto o trecho de 11 Ped. 3:1 demonstra que a epistola. Presumivelmente, o documento original a
primeira epístola de Pedro era conhecida como de conteria. Mas, acerca disso, não há qualquer indicio
autoria petrina pelo menos pouco depois de meados positivo ou negativo. Entretanto, Eusêbio, em sua
do segundo século. História Eclesiástica iii.25.2 alistou a primeira
7. Papias, Eusébio, em sua Hist6ria Eclesiástica epístola de Pedro entre os livros «comumente aceitos»
iii.39 .17, menciona que Papias se utilizou desta entre os cristãos, o que demonstra que, por essa
primeira epístola de Pedro. Sua data é 130 - 140 altura, a epístola atingira aceitação universal, em
D.C. contraste com vários outros livros (como Tiago, 11
8. Justino Mártir. Sua morte é datada em 163 - Pedro, Hebreus, Judas, 11 e 111 João e o Apocalipse),
165 D.C. Mas alguns pensam em uma data tão os quais continuaram sendo «livros disputados», por
recuada como 148 D.C.. Em sua Apologia i.61 e em não serem de aceitação universal nas fileiras cristãs.
Trifo HO, o titulo de Cristo, aspilos, isto é, Ainda outros escritos foram por ele ch .....nados de
«imaculado», é empregado, cujo paralelo, no N.T. «espúrios», o que significa que Eusébio deu à primeira
inteiro, aparece somente em I Ped. 1:19. Em Trifo epístola de Pedro a melhor avaliação possivel em seu-
114 ele alude a Cristo como apedra angular, tal como tempo. (Quanto a detalhes sobre a questão do
temos em I Ped. 2:6. Também há outras similaridades «Canon», ver o artigo separado sobre essa importante
verbais, Trlfo 138 parece subentender conhecimento questão). Tal como no caso da epistola de Tiago, a
da história de Noé, segundo ela é comentada em I presente epístola foi usada e citada, primeiramente,
Ped. 3: 18-21 no NTI. Noé, como tipo do batismo pela igreja grega. A confirmação dada por autores
cristão, em que oito pessoas foram envolvidas no latinos não é muito forte. Mas, no inicio do terceiro.
incidente, é referido, conforme se dá no seu paralelo século de nossa era, tal aceitação jâ se tinha tornado
na primeira epístola de Pedro. Justino Mártir também universal em seu escopo.
escreve sobre a descida do Senhor ao hades, a fim de H.Autoria
pregar o evangelho aos mortos (ver TrIlo 72), Arpmentoa tlplCOI contra a autoria petrIaa da
conforme também se vê em I Ped. 3:18-20 e 4:6; mas primeira eplltola de Pedro:
ele apela para uma citação apócrifa que ele atribui a 1. A epístola se reveste de tal qualidade, quanto ao
Jer.emias. A mesma citação é usada por lrineu em grego usado (ver a seção IV deste artigo, acerca dos
idêntica conexão. A dependência de Justino Mártir é detalhes a respeito), que não hâ como atribui-la a um
considerada como provável, mas de modo algum pescador galileu, A idéia de que a obra é uma tradução
como conclusiva. não convence, pois as traduções inevitavelmente
9. Há vários outros escritos antigos em que talvez exibem o fato de que o original foi escrito em outro
haja certa dependência, conforme é demonstrado no idioma. Não há qualquer indicio de que a primeira
caso de Melito de Sardis Apologia ix, par. 432, em epístola de Pedro seja uma tradução para o grego. Seu
comparação com I Ped. 1:4. Sua data é cerca de 170 uso dos artificios retóricos, ensinados nas escolas
D.C. Teófilo de Antioquia (185 D.C.), em Ad Autol. gregas, demonstra que seu autor estava afeito ao
ii,34, que é comparável com I Ped. 1:18. E atos dos idioma grego, tendo sido criado na cultura grega. Há
Mártires Cilitanos (180 D.C.), edição de J.A. menos hebraismos em [ Pedro do que nos escritos de
Robinson, pâg. 114, em comparação com I Ped, 2:17. Paulo que, sem dúvida, falava o grego desde a
1O.lrineu (nasceu em 130 D.C.). Foi o primeiro dos infância e escrevia em grego. Dificilmente poderíamos
pais da igreja a citar esta epistola pelo nome de Pedro. esperar ser isso verdade no caso de um autor criado na
(Ver iV.9:2; 16:5 e v.7:2). Ele inclui a mesma citação, Galiléia. pois uma tradução feita de obra assim
extralda de livros apócrifos, que se refere à descida de certamente incluiria esses maneirismos Iingüísticos,
Cristo ao hades, a fim de pregar o evangelho aos conforme fica abundantemente demonstrado em
perdidos, e que foi usada por Justino Mártir, em outros livros do N.T., cujos autores são definidamente
163
PEDRO (PRIMEIRA EPlSTOLA)
conhecidos como israelitas que tiveram contacto com uma vez sequer? Por que não pronunciou ilustrações
a Palestina, tendo vivido ali pelo menos durante baseadas na vida de Jesus? A isso alguns têm declara-
algum tempo. do que os trechos de I Ped. 1:8 e 5: 1 subentendem que
2. Esta epístola é obviamente dependente dos o autor conhecia Jesus pessoalmente; que I Ped.
escritos de Paulo, quase servilmente. Isso é comenta- 2:21-24 alude ao julgamento de Jesus; e que I Ped. 5:2
do na seção VI do presente artigo. Esta epístola pode ser uma reminiscência da ordem de Jesus,
depende pesadamente de Romanos e de Efêsios, conforme se lê em João 21:17. Há diversos «ecos» dos
especialmente. Não é muito provável que Pedro, um evangelhos e dos ensinamentos de Jesus, embora não
apóstolo do Senhor, dotado pessoalmente de revela- sejam citações diretas. Talvez não se possa esperar
ções e de uma vasta experiência, incluindo o contacto que um livro de cento e cinco versículos contenha mais
direto e pessoal com o Senhor Jesus, tivesse sentido a do que esses pontos implícitos sobre a possibilidade de
necessidade de depender tanto do apóstolo Paulo. que o autor sagrado conhecia pessoalmente a Jesus.
3. O extenso contacto de Pedro com Jesus teria 4. Quanto ao tempo em que esta epístola foi escrita,
influenciado mais definitivamente qualquer coisa que a alusão às «perseguições» (ver I Ped. 1:6; 2:12,15;
ele tivesse escrito sobre a doutrina cristã; mas não há 4:12 e ss e 5:9) é de ordem geral (excetuando o trecho
quaisquer evidências que o autor desta epístola tenha de I Ped. 4:12 e ss), e pode facilmente ser aplicada a
escrito com base na experiência em primeira mão. perseguições anteriores (como no tempo de Pedro, o
(Isso pode ser contrastado com I João 1:1,2). No apóstolo) e não às mais intensas perseguições do início
entanto, poderíamos esperar algo dessa natureza, se do segundo século da era cristã. A expressão «se sofrer
esta epístola fosse genuinamente petrina. como cristão» (I Ped. 4:16), não subentende,
4. O período que a epístola parece refletir, deve ser necessariamente, uma época em que o cristianismo já
situado na primeira porção do segundo século de fora oficialmente declarado como uma traição ao
nossa era, o que dificilmente coincide com a época da estado (o que ocorreu nos tempos de PUnia, 112 D.C.
vida de Pedro. em diante, pelo menos ao que se sabe), porquanto
5. Confirmação antiga. (Ver a seção I deste artigo). grandes tinham sido as perseguições contra os
Temos de admitir que essa confirmação é forte, não «cristãos», que desde há muito vinham sendo
parecendo ter havido quaisquer dúvidas, nos tempos intitulados dessa maneira. Nero ordenou a decapita-
antigos, sobre a autoria petrina. Entretanto, apesar ção de Paulo; e Roma era o centro das ferozes
de ser evidente que esse livro foi usado pelos primeiros perseguições que rebentaram em cerca de 62 D.e.
pais da igreja, não foi senão nos tempos de Irineu Mas até mesmo naquela época, a mera profissão
(nascido em 130 D.C.) que a epístola foi diretamente cristã era, por muitos, considerada como uma traição.
atribuída a Pedro. Policarpo, por exemplo, apesar de De fato, nosso livro de Atos foi escrito como uma
citá-la diretamente, não a atribui a Pedro. Alguns têm apologia, na esperança de que ao cristianismo se desse
pensado, com base nessa circunstância, que a a posição de religião legal. Por conseguinte, até
principio a epístola circulou como obra anônima. A mesmo naquele tempo os cristãos vinham sendo
passagem de 11 Ped. 3: 1 atribui a Pedro esta primeira perseguidos somente por serem cristãos, membros de
epístola; mas talvez a segunda epístola de Pedro tenha uma seita «fora da lei», embora isso ainda não tivesse
surgido somente após os meados do século 11 D.e. sido uma questão universal e decidida por parte das
refletindo idéias próprias daquela época, e não idéias autoridades romanas.
anteriores. Já que nos faltam informes mais diretos S. A forte confirmação antiga nos convence de que
sobre esse ponto, é impossível demonstrar, meramen- esta carta é petrina. O bom grego provavelmente foi
te através da confirmação antiga, que Pedro foi o devido ao fato de que Silvano, ou outro, cuja língua
autor desta epístola. nativa era o grego, fez uma revisão cuidadosa,
Faaa cinco oIdeçiJea, 110 entanto, tU IIldo acrescentando, talvez, algumas expressões tipicamen-
.~DdI"" per_ erudito. ela .......te 1IUIIIeIra: te gregas.
1. Alguns eruditos presumem que Pedro poderia ter O fato de que alguns dos pais mais antigos citaram
aprendido suficientemente bem o grego, para I Pedro sem mencionar, especificamente, o nome de
produzir um livro dessa natureza. Sendo galileu, Pedro, podemos considerar uma simples omissão que
provavelmente ele sabia, desde a infância, algum não tem qualquer significado. Todos os manuscritos
grego «koiné», Mais tarde na vida, poderia ter gregos (e das versões que possuímos) têm o nome de
estudado o grego, dominando-o suficientemente para Pedro em 1: 1. Se o manuscrito original, e as primeiras
produzir uma epístola como esta. Além disso, ele teve cópias, circularam sem o nome de Pedro, é quase
a ajuda de outros, que «revisaram» sua obra, como é a certo que pelo menos uma cópia em grego ou uma
de Pedro, mas que a mão que a escreveu foi a de cópia de uma versão teria chegado a nós sem seu
Silvano, Uma revisão extraordinariamente hábil nome. O fato de que isto não tem acontecido prova
poderia ter produzido o grego de I Pedro e eliminado (quase certamente), que, desde o principio, o livro foi
as expressões hebraicas naturais que devem ter conhecido como uma carta do Apóstolo Pedro.
aparecido na obra original de Pedro.
2. Que se pode dizer sobre a forte dependência que m. Data; Pro...enl8icla e ne.tlno
esta epístola demonstra, quanto aos escritos paulinos? Data. As tradições afirmam que Pedro sofreu
Pedro e Paulo representaram a mesma teologia e martírio durante o reinado de Nero, ou seja, durante a
tradição, pelo que pouca divergência haveria entre década de 60 D.C. A perseguição neroniana irrompeu
eles quanto às doutrinas. Alguns estudiosos acreditam em 64 D.C., portanto, é provável que este livro foi
que a idéia da dependência tem sido exagerada, pelo escrito em cerca de 67 D.e. Alguns lhe dão uma data.
que não haveria aqui qualquer forte argumento. De ainda anterior, supondo que esta epístola foi escrita
qualquer maneira, Pedro, um homem com pouca imediatamente antes do irromper dessa perseguição,
instrução formal, não teria hesitado em emprestar porquanto Pedro continua aconselhando a lealdade
liberalmente idéias e expressões de Paulo, um óbvio ao imperador (ver I Ped. 2:13-17), talvez dando a
gigante literário. entender que -ele previa que o pior ainda viria,
3. Por que razão o autor, se realmente foi Pedro, segundo se vê em I Ped. 4: 12. Nesse caso, a epístola
não exibiu memórias mais vitais de seus anos deve ter sido escrita pouco antes de 64 D.C.
passados em companhia de Jesus? Por que não o citou Seja como for, a epístola não pode ter sido escrita
164
PEDRO.(PRIMEIRA EPISTOLA)
muito tarde, sendo que Papias a usou em sua epistola eclesiásticos, e não do próprio N. T.
aos Filipenses. Eusêbio diz que Papias se utilizou dela o.tIno. O trecho de I Ped. 1: 1 nos fornece a
(ver Histária Eclesiástica iii, 39,17), pelo que deve ter resposta, pelo menos em parte: Ponto (norte da Ásia
gozado de boa circulação no inicio do segundo século Menor), Galácia (região centro-sul da Ásia Menor,
de nossa era. incluindo as cidades visitadas por Paulo durante sua
Pro...eaJiacla. Se Pedro não é o autor desta epistola, primeira viagem missionária - Antioquia da Pisidia;
então qualquer conjectura sobre isso pode ser Icônio, Listra e Derbe, ver os capitulos treze e catorze
artificial, pois as menções sobre pessoas e lugares do livro de Atos), Capadócia (oriente da Ásia Menor),
seriam artificioso Mas, se ele realmente foi seu autor Ásia (ocidente da Ásia Menor, da qual Éfeso era sua
(como supomos) então qualquer localização geográfi- principal cidade) e Bitínia (norte da Ásia Menor),
ca indicada pelo termo «Babilônia" deve ser onde se encontravam as congregações para as quais
identificada como o lugar de onde a epistola foi escreveu o autor sagrado. Não se pode duvidar de que
enviada. Naturalmente, é possivel que ainda que aquelas igrejas se compunham, predominantemente,
Pedro não tivesse sido seu autor, a referência à de gentios, embora algumas daquelas localidades
Babilônia seja genuína, de parte do seu verdadeiro contassem com numerosa população judaica, isto é, as
autor. O trecho de I Ped. 5:13 nos fornece essa cidades mais importantes. Isso significa que essas
identificação. «Aquela» que se encontrava em igrejas eram compostas de algum elemento judaico.
Babilônia, conforme se vê na saudação final, mui Essa epistola poderia ter sido uma carta circular,
provavelmente era a igreja local, e não a esposa de cujo intuito era ser enviada a diferentes províncias
Pedro ou alguma proeminente figura feminina da da Ásia Menor romana, na ordem alistada em I Ped.
comunidade cristã - portanto, a igreja em Babilônia 1: 1; ou quiçá o portador da epistola faria uma viagem
enviava saudações aos endereçados da epistola. a essas áreas, na ordem alistada, levando diferentes
Alguns estudiosos supõem que a antes renomada cópias da epistola original.
cidade da beira do rio Eufrates realmente esteja em
foco; mas a maioria deles pensa que isso é apenas um IV. btno Uterárlo e UDauaem
código, um nome críptico para a cidade de Roma. Se Esta Epístola não se mostra tio hábil na retóri~a
assim realmente é, e se a epistola foi realmente escrita como a epístola de Tiago, mas evidencia conhecimen-
pelo apóstolo Pedro, pelo menos é dado algum crédito tos sobre os artifícios retóricos do grego. A epistola
à tradição que diz que Pedro foi bispo de Roma, tendo contém menor número de hebraísmos do que os
ali sido martirizado, sob ordens de Nero, embora isso escritos de Paulo. A versão da Septuaginta (tradução
não faça dele, sob hipótese alguma, o primeiro papa, do original hebraico do A.T. para o grego,
conforme diz a Igreja Católica Romana. completada bem antes da era apostólica) é usada nas
Na atualidade, a maioria dos intérpretes protestan- citações, tal como se dá no caso da epistola de Tiago;
tes aceita a tradição que põe Pedro em Roma durante e pode-se observar que o autor sagrado tinha especial
os últimos anos de sua vida. Não há qualquer razão predileção pela literatura do perlodo dos Macabeus e
verdadeiramente válida para duvidar disso. (Compa- pela literatura de Sabedoria. Os hebraismos suposta-
rar com Apo. 14:7 e 17:5, onde há outras alusões mente identificados na presente epístola aparecem em
cripticas a «Roma»), A menção de Marcos e Silvano, I Ped. tl:13,14,17,25 e 3:7.
além disso, favorece a referência a Roma. A tradição A primeira epístola de Pedro se assemelha mais ao
afirma que Marcos escreveu seu evangelho na capital grego clássico do que ao grego «koiné» vernáculo, o
do império, e que esse evangelho consiste essencial- que evidencia que o autor sagrado recebera uma
mente nas memórias da igreja de Roma sobre a vida educação liberal. Emprega o artigo definido grego
de Jesus, de mistura com as memórias do apóstolo com mais elegância do que qualquer outro dos
Pedro. A associação de Marcos com Roma, portanto, escritores do N.T. (Ver I Ped. 1:17; 3:1,3,20; 4:14;
é quase certa; e a associação de Pedro com Marcos, 5:1 (por duas vezes) e 4, quanto a usos especiais 00
nas proximidades da morte desse apóstolo, indicaria artigo). Também exibe o uso clássico do termo grego
que Pedro esteve igualmente associado com a igreja «os» (advérbio), tal como o faz o autor do tratado aos
em Roma. Quanto ao motivo por que a epistola de Hebreus, o que não é comum nas páginas do N.T. O
Paulo aos Romanos não menciona a pessoa de Pedro, autor sagrado emprega um vocabulário muito lato,
pode ser que essa epistola tenha sido escrita antes da considerando-se as dimensões da epístola, empregan-
chegada de Pedro ali. Seja como for, a longa lista de do sessenta e dois vocábulos que não se acham em
saudações, no décimo capitulo da epistola aos qualquer outra porção do N.T. De forma geral, o
Romanos (e que não inclui o nome de Pedro), mui autor sagrado usa de graça, liberdade e dignidade em
provavelmente não faz parte original daquela sua linguagem, e freqüentemente com precisão
epístola, mas antes, parece ser uma carta de refinada. E óbvio, portanto, que Pedro, o apóstolo,
recomendação em favor de Febe, enviada para a não poderia ter escrito essa epistola pessoalmente.
igreja em Éfeso. (Acerca de evidências a esse respeito, Mas alguns estudiosos têm sugerido (provavelmente
ver a in tradução ao décimo sexto capitulo da epistola com razão) que temos aqui a voz de Pedro, que passou
aos Romanos no NTI). pelas mãos de Silvano (ver I Ped. 5:12). O dialeto
aramaico de Pedro deixava transparecer sua origem
A aceitação da referência à «Babilônia», como se humilde (ver Mat. 27:73), tendo outros se referido a
fora «Roma», era universal na igreja, até à época da ele como homem iletrado e inculto (ver Atos 4:13). O
Reforma protestante, quando alguns pensaram ser argumento de que ele poderia ter aprendido
necessário negar isso a fim de combater a idéia de que suficientemente bem o grego, a ponto de escrever
Pedro foi o primeiro papa de Roma. Mas agora, dessa maneira, é extremamente improvável, conforme
tendo-nos afastado do calor da polêmica da reforma, sabem todos aqueles que se utilizam de um idioma
a maioria dos eruditos, protestantes ou não, chegou a aprendido como segunda lingua.
reconhecer que isso é o que realmente essa menção Silvano era um judeu, um cidadão romano,
significa. Se Pedro foi ou não o primeiro papa é uma escolhido para a delicada tarefa de explicar as
questão que tem de alicerçar-se sobre muitas outras resoluções tomadas pelo concilio de Jerusalém (ver
considerações, além daquela que ele pode ter vivido Atos 15:22 e ss), para igrejas gentílicas de áreas
em Roma por algum tempo; e essas considerações, remotas; portanto, era homem de considerável
naturalmente, se originam das tradições e dos dogmas habilidade.. Era-um obreiro devotado, que trabalhava
165
PEDRO (PRIMEIRA EPtSTOLA)
em áreas gentílicas. Portanto, deveria ser homem que que é perseguido neste mundo confirma esse fato;
dominava bem o idioma grego. Têm sido encontrados portanto, devemos viver aqui como estrangeiros e
alguns paralelos verbais entre I e 11 Tessalonicenses e peregrinos. Até o gr mde Cristo, a «pedra de esquina»
esta primeira epístola de Pedro. (Comparar I Tes. do edifício espiritual de Deus, foi rejeitado e
4:3-5 com I Ped. 3:7). Em I Tes. 1:1 elITes. 1:1, perseguido na esfera terrena: isso é o que ensina,
ficamos sabendo que Silvano (também chamado principalmente, o segundo capítulo. 3. Enquanto
Silas), estava associado com Paulo naquele tempo, e estivermos neste mundo, devemos fazê-lo com nossos
que talvez tenha sido usado pelo apóstolo como lares em ordem. As mulheres devem conduzir-se em
amanuense de algumas de suas epístolas. E provável, piedade e propriedade, e os maridos devem cumprir
portanto, que seus pensamentos pessoais e suas os seus deveres: essas são as principais idéias do
formas de expressão tenham dado certo colorido a terceiro capitulo. 4. Os sofrimentos de Cristo e a sua
essas epístolas paulinas, como também a esta missão recebem uma atenção especial e extensa. Têm
primeira carta de Pedro. (Ver o artigo separado sobre valor para fazer expiação aqui, e até mesmo no hades,
Si/as). o mundo dos espíritos perdidos, porquanto ele
V. Modvo e Propólltos também teve uma missão a cumprir ali (ver I Ped.
Há muitas alusões a perseguições nesta epistola, 3:18 - 4:6). Quanto bem, portanto, foi conseguido
considerando-se sua brevidade. (Ver I Ped. 1:6; com os sofrimentos de Cristo. Portanto, se o crente
2:12,15; 4:12 e 55 e 5:9). Toma-se imediatamente sofrer juntamente com Cristo, só poderá advir disso a
óbvio que as perseguições é que levaram esta epístola bênção (ver I Ped. 4:12-19). Esses são os temas
a ser escrita. O autor sagrado queria fortalecer os principais do quarto capítulo. S. Os anciãos, na
crentes da Ásia Menor para poderem enfrentar as qualidade de lideres do rebanho, são os que mais
tribulações que já sofriam, preparando-os para testes dispostos devem ser por cuidar do rebanho que sofria,
ainda mais severos, no futuro (ver I Ped. 4:12 e 5S). tal como fazia o Sumo Pastor. Esse é o tema básico do
Também queria que se mostrassem firmes em sua quinto capítulo. Pode-se ainda notar que até mesmo
lealdade cristã, e mostrou-lhes que o próprio Cristo no propósito didático o tema dos sofrimentos do
fora assim perseguido; dessa maneira não estranha- crente percorre do principio ao fim do livro,
riam a tragédia, de outro modo inexplicável, baseada assumindo diversas formas e aplicações.
no caos. (No tocante a quando tiveram lugar essas VI. PrImeira Eplatola ele Pecho e o Resto do
perseguições, que envolve a questão de quando foi Novo Tatamento
escrita a epístola, ver sobre a «data», na seção 111 do Apesar de alguns estudiosos terem procurado
presente artigo). diminuir ao máximo a dependência desta epístola aos
«O alvo do autor desta breve epístola - é mais ou escritos de Paulo, o que tem sido usado como
menos das mesmas dimensões da epístola aos argumento contrário à autoria petrina (ver a seção 11
Filipenses - é exclusivamente prático. Seu próprio do presente artigo), é perfeitamente óbvio que o
desejo era o de inspirar e encorajar seus leitores, em autor sagrado leva pelo menos várias epístolas de
face de uma severa perseguição, ou pelo menos, em Paulo, principalmente Efésios e Roman.os. Daniel
face da oposição. Não deveriam perder de vista o Schulze, no começo do atual século XX, af1r~ava que
grande prêmio; através de seu amor e pureza a primeira epistola de Pedro era pouco mais do que
deveriam avançar e propagar o poder do evangelho, reminiscências extraídas das epístolas de Paulo.
provocando a admiração de seus adversários. O Outros eruditos, como Holtzmann e Julicher, em
verdadeiro crente só aparece em período de grande tempos mais recentes, têm procurado mostrar que o
sofrimento. Essa é a tese mesma desta epístola. Mas, autor deve ter estado familiarizado com quase todo o
embora todo o esforço do autor sagrado visasse essa resto do N.T. E isso subentende, naturalmente, uma
finalidade, reforçando a espinha dorsal daqueles que data posterior para esta epístola. Von Soden via uma
dentro em breve seriam chamados a 'sofrer como dependência definida às epístolas aos Romanos, ~os
cristãos', nada há de pessimista ou mórbido, do Gálatas, à primeira epístola a Timóteo. e a TI10'
começo ao fim. Pelo contrário, a nota-chave é a V ârios eruditos (como Lightfoot, Hort e Sieffert) tem
esperança. E desde às palavras de abertura essa nota é mencionado e procurado demonstrar a mesma coisa.
soada com uma mão firme»: O último desses nomes tem até mesmo defendido a
«Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo estranha teoria de que as epístolas aos Efêsios e a
que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou primeira de Pedro foram escritas pelo mesmo autor
para uma viva esperança... para uma herança (não o apóstolo dos gentios, mas um paulinista).
incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada Outros têm revertido a prioridade, dizendo que
nos céus para vós outros .. .' (I Ped. 1:3,4).» Romanos e Efésios é que demonstram dependência
"Eles haveriam de sofrer, mas não como 'homici- literária a esta primeira epístola de Pedro, uma idéia
das, ou ladrões, ou malfeitores, ou quem se intromete que não é aceita de bom grado pela maioria dos
em questões alheias, e, sim, como cristãos'. Nada eruditos.
tinham a temer. Para eles, a esperança nunca Considerando que Paulo foi um homem letrado e
esmaeceria-. (Morton Scott Enslin, The Literature of tinha uma reputação de erudito e teólogo (tendo
the Christian Movement, pág. 321). recebido muitas visões e experiências místicas do
O propósito a ensinar. Esta epístola, apesar de Espírito), não teria sido estranho para .Pedro, um
visar, principalmente, o encorajamento dos crentes na homem com pouca instrução, emprestar hberalmente
perseguição, tal como fazem todos os demais as idéias e expressões das cartas de Paulo.
documentos do N.T., aproveita a oportunidade para Certamente, ele tinha diversas das cartas dele para
ensinar. Portanto, ela tem um propósito didático. usar.
Consideremos os -pontos seguintes: 1. Há uma Comparar:
esperança eterna que conduz à salvação da alma; ela
se alicerça sobre a redenção, e isso mediante a Efésios I Pedro
expiação pelo sangue de Cristo, e não devido a méritos 1:1-3 1:1-3
pessoais; essas são as idéias capitais do primeiro 1:4 ~:20
capítulo da epístola. 2. Essa doutrina da redenção faz 1:14 2:9
do crente uma pessoa de «outro mundo»; e o fato de 1:21 3:22
166
PEDRO (PRIMEIRA EPISTOLA)
2:21,22 2:5 12:14 3:11
5:22-24 3:1-6 1:2 1:20
5:25-33 3:7 9:14 1:19 (afinidade de
6:1-6 Instruções termos sobre a
às crianças, redenção)
não em I Pedro. 9:28 2:24 (mesmo fenô-
6:5-9 2:18-25 meno que o
caso anterior)
Essas similaridades envolvem algum material que 11:1 1:8 (o objeto da fé é
fazia parte de itens comuns do ensinamento e da o mundo invi-
pregação do cristianismo primitivo, podendo coincidir sível)
com os mesmos; mas não é provável que todos esses 12:1-3 2:21-23 e 3:17,18
itens coincidam. Embora a mentalidade do autor da (Jesus mostrou
epístola aos Efésios seja mística, e a mentalidade do como se deve
autor desta epístola seja prática e pastoral, não há sofrer)
razão para supormos que não há qualquer dependên- 10:37 4:7,27,19 (persegui-
cia. Cada autor expressou o assunto à sua maneira. cões, um sinal
Romanos I Pedro do fim).
4:24 1:21 Afinidades literárias entre Tiago e I Pedro:
6:7 4:1 Tiago [ Pedro
6:11 2:24
8:18 5:1 1:1 1:1 (a diáspora)
8:34 3:22 1:2,3 1:6,7
12:1 2:5 1:10,11 1:23-2:2
12:2 1:14 4:6,7 5:5-9
12:3-8 4:10,11 Muitos eruditos acreditam que se um desses autores
12:9,10 1 :22 sagrados dependeu do outro, Tiago é que se baseou
12:14-19 3:8-12 em Pedro.
13: 1-4 2: 13-15 Alusões aos evangelhos, em alguma forma pré-ca-
Um caso especial a ser observado: nônica. Alusões às fontes que, mais tarde, se
Rom. 9:33 I Ped. 2:6,7 tornaram os nossos quatro evangelhos. A semelhança
é mais evidente no caso do evangelho de Lucas.
U ma série de citações aparece na epístola aos
Romanos, extraídas de Isa. 28:16a; 8:14 e 28:16b, e
Lucas I Pedro
que Pedro, por igual modo, usou. Fizeram ambos
essas citações praticamente do mesmo modo, 10:24,25 1:10
utilizando-se da Bíblia em grego (mas com modifica- 24:26 1:11-21
ções para o sentido hebraico original), que sofrera 12:35 1:13
certas modificações na Septuaginta utilizada. Como é 11:2 1:17
que essas citações foram usadas em série, e 8:12 1:23
praticamente do mesmo modo, a menos que haja 20:17,18 2:7
certa forma de dependência um ao outro? É possível 6:28 3:9
que os cristãos primitivos tivessem antologias de 12:42 4:10
citações do A.T., e que ambos os autores tivessem Mateus [ Pedro
feito empréstimos de uma fonte comum, e não um do 5:16 2:12
outro. Mas, apesar disso ser possível, simplesmente 5:10 3:14
há um número demasiadamente grande de similari- João 1 Pedro
dades para supormos que não houve qualquer 3:3
interdependência. Pelo menos deve-se dizer que o 1:3
autor «ouviu» Paulo pregando por muitas vezes, ainda 1:13 1:23
que talvez não houvesse lido os seus escritos; e isso 1:29 1:19
explicaria como ele podia estar tão bem fundado no 10:11 2:25
21:16 5:2
pensamento e nas expressões de Paulo.
Atos I Pedro
Gálatas I Pedro 10:34 1:17
3:23 e 4:7 1:4 '15:9 1:22
5:13 2:16 4:11 2:4
4:24 3:16 5:41 4:13,16
No entanto, esses exemplos podem ter sido meras 1:8,22 5:1
coincidências. Alguns estudiosos fazem objeção ao
uso da epístola aos Gálatas por parte do autor desta Tudo isso poderia ser usado como argumento em
epístola, porquanto ele não tece qualquer comentário prol de uma data posterior, o que daria tempo para
sobre o controvertido segundo capítulo; mas talvez que o N. T. fosse circulado, mediante a prédica e o
não tenha tido ele qualquer motivo para usar material ensino. Porém, grande parte dessa coincidência
dali extraído. E nem mesmo deveria ser de seu poderia ser devida meramente ao uso de material
interesse reavivar a controvérsia entre Pedro e Paulo proveniente de fontes informativas comuns; contudo,
descrita naquele capítulo. ' a dependência a Paulo parece ser bem real. (Quanto
As afinidades desta epístola com as epístolas a Tito ao problema de autoria que isso cria, quanto à
e as duas a Timóteo são menos óbvias. Mas a presente epístola, ver a discussão sob a seção 11 deste
afinidade com o tratado aos Hebreus é forte. artigo).
Heb~us [Pedro VD. Pedro e P"
13:21 4:11 ~o artigo sobre a epístola de Tiago ê discutida a
13:21 5:10 (oração final) relação entre Paulo e Tiago; e esta breve seção tem
167
PEDRO (PRIMEIRA EP!STOLA)
atitude similar àquela. Apesar de ser quase certo que Cristo, através da prova e da purificação da fé (I Ped.
Tiago representa o ramo da igreja (ver o 1: 7). 3. Isso resulta em alegria inexprimível e cheia de
artigo detalhado sobre UC ). e apesar de glória (I Ped. 1:8). 4. Isso resulta em vida eterna. a
ser absolutamente certo que o livro de Tiago, que foi salvação da alma (I Ped. 1:9). 5. A própria morte,
escrito em seu nome. representa essa tradição, mediante a perseguição, não é fatal: Deus ressuscitou
somente a escola de Tubingen e alguns escassos a Cristo; e ele também nos ressuscitará, após a
eruditos dispersos têm contendido que Pedro se aliou purificação de nossas almas (I Ped. 1:21,22). 6. Seja
ao legalismo, opondo-se à doutrina paulina de como for, toda a carne é apenas «erva», e através da
«justificação pela fé. mediante a graça, sem o perseguição ou de outro modo, logo haverá de perecer
concurso da lei mosaica». (I Ped. 1:24,25). 7. Mas a Palavra de Deus, o
Evidências: as principais evidências bíblicas a evangelho, não pode perecer, como também não
serem examinadas são os capítulos dez, onze e quinze podem perecer aqueles que confiam nessa Palavra (I
do livro de Atos, e o segundo capítulo da epístola aos Ped. 1:25). 8. O próprio Jesus, a despeito de toda a
Gálatas. Pedro facilmente teria sido um legalista; mas sua grandeza e valor, não pôde evitar o sofrimento (I
recebeu uma visão especial que lhe deu uma Ped. 2:6 e ss); antes. seus sofrimentos foram vicários
amplitude de visão mais lata que a dos membros e expiatórios, o que lhes dá imenso valor: assim
comuns da comunidade cristã de Jerusalém; foi também os sofrimentos do crente podem revestir-se de
severamente criticado por sua defesa da missão valor (I Ped. 2:21 e ss). 9. O sofrimento nos mostra
gentilica, bem como por causa de seus métodos; ele que precisamos ser estrangeiros e peregrinos neste
não impunha a circuncisão, a observância da lei ou mundo, pois a terra não oferece habitação segura (I
regras dietéticas aos convertidos gentios; misturava-se Ped. 2: 10 e 55). 10. Os sofrimentos de Cristo levaram o
livremente com eles; e se declarou favorável e evangelho até às almas perdidas no hades, melhoran-
pregador da doutrina da justificação pela fé, quando do suas condições, ou lhes oferendo salvação.
do concilio de Jerusalém. A única dúvida que surge (Ver I Pedro 3:18-4:6). - Isso nos mostra os
em todo o N. T., acerca dessa questão, é a do segundo imensos resultados dos sofrimentos de Cristo.
capítulo da epístola aos Gálatas, onde se vê Pedro em Fizeram dele o Salvador cósmico. 11. O sofrimento
uma de suas falhas. porquanto se retirou dos gentios. serve-nos de lição moral que nos ensina a rejeitar os
não tendo mais companheirismo com eles. Todavia. pecados da carne, pois é o princípio do pecado que
deve-se, notar que até Barnabé errou nessa oportuni- produz desastres, bem como os atos desumanos dos
dade. E claro que em nenhum dos casos isso foi feito homens (I Ped. 4: 1 e ~s). 12. Os sofrimentos humanos
por convicção, mas por acomodação àqueles que podem ser uma participação nos sofrimentos de
tinham sido enviados da parte de Tiago. E o próprio Cristo, mas devem ser sofridos somente porque o
Paulo não deixou de deslizar ou de se comprometer, crente participa da sua santidade, e não porque
devido à época de transição do antigo para o novo merece os maus-tratos, devido a uma vida depravada
pacto. em que ele viveu. (Ver o fato de que ele fez (I Ped. 4:12 e ss). 13. Os anciãos da igreja local,
votos judaicos, em Atos 21:18. o que. uma vez mais, particularmente, deveriam estar prontos a sofrer pelo
foi feito devido à pressão exercida por Tiago, irmão do rebanho, tal como fez o Grande Pastor (I Ped. 5:1 e
Senhor). Não há qualquer razão para crermos. ss). 14. Satanás está por detrás de homens ímpios e
porém, que Pedro continuou em sua conduta desvairados; ele é o inspirador das desumanidades
comprometedora, e o fato de que mais tarde ele deles. Resistamos ao ciabo, portanto (I Ped. 5:8 e ss),
ministrou em Roma parece ser outra indicação de que 15. Haverá um fim de todos os sofrimentos do crente.
ele não poderia diferir grandemente de Paulo quanto porquanto Deus nos chamará para a vida eterna (I
à doutrina e à prática. Não há que duvidar que se Ped. 5:10), e haveremos de finalmente triunfar.
tivesse havido algum conflito sério entre Paulo e contra todos os obstáculos (I Ped. 5:11).
Pedro, quanto à questão do legalismo, a história Temas doatdnúlos da primeira epistola de Pedro.
eclesiástica tê-lo-ia registrado. É verdade que algumas B óbvio que esta carta apresenta elementos da
seitas legalistas do segundo século de nossa era pregação cristã mais_ primitiva (no grego, kenqpna).
tomaram a Pedro como seu herói, rejeitando a Paulo, Paraielamente a essa «pregação», devemos levar em
especificamente por causa de sua posição acerca da lei conta os ensinamentos de Jesus, quase sempre de
mosaica e do método de justificação; e seitas legalistas natureza ética. Portanto, o evangelho foi proclamado
de séculos posteriores continuaram assim fazendo. (como se vê em Marcos, o mais antigo dos
Porém, não há quaisquer provas de que Pedro foi bem evangelhos), em combinação com ensinamentos
escolhido por elas. como campeão de sua doutrina, do morais. Dentro desse padrão de pregação e ensino,
mesmo modo que certas seitas libertinas, como alguns supunha-se que a substância do A. T. ficava
ramos do gnosticismo, não tinham o direito de preservada; mas, no cristianismo, isso era visto sob
reivindicar a autoridade de Paulo quanto às suas uma luz mais significativa. Isso é o que explica as
idéias e práticas. que atribuíam a esse apóstolo. freqüentes alusões ao A.T., e mesmo citações
Não há qualquer evidência. no N. T., acerca de diretamente extraídas dali. Em livros como Hebreus,
qualquer grande divergência. na doutrina e na Tiago e I Pedro, também foram usados os livros
prática, entre Paulo e Pedro; e qualquer dedução que posteriores do A.T., os livros apócrifos, sobretudo a
se possa tirar disso, com base na história eclesiástica, literatura de Sabedoria; e isso na forma de alusão, de
dificilmente pode apoiar tal tese. Se a presente idéia, embora não na forma de citações diretas. Na
epístola é autenticamente petrina, então o argumento epistola de Tiago, isso é demonstrado na seção V do
já está bem firmado. Trata-se do livro mais artigo sobre o mesmo. Nesta primeira epistola de
tipicamente paulino do N.T.• fora da coletânea Pedro, há pelo menos quarenta referências veterotes-
paulina. tamentárias, além de seis claras referências a livros
apócrifos do A.T. Devemo-nos lembrar que a
VIn.T...... PrIncIpaIa Septuaginta (a tradução grega do A.T. hebraico)
O tema predominante. que também sugere quase continha os livros apócrifos. Era apenas natural, pois.
todos os demais, é o do sofrimento do crente. (Ver I que alusões e citações extraídas dos mesmos
Ped. 1:6; 2:12.15; 4:12 e S8 e 5:9). Consideremos os chegassem a penetrar nas epístolas «católicas», que
pontos seguintes: 1. Podemo-nos regozijar nos foram enviadas a áreas tipicamente gentílicas, ou
sofrimentos (I Ped. 1:6). 2. Isso traz honra e glória a para a igreja cristã em geral. Somente os judeus da
168
PEDRO - PEDRO (SEGUNDA EPlSTOLA)
Palestina é que rejeitavam os livros apócrifos do A. T. predominantes desta epístola, um encorajamento em
Esses nunca foram recebidos como parte da Bíblia . meio às tribulações e desastres. (Ver 1 Ped, 1:3 onde
hebraica (o A.T. original). Contudo, os judeus da se aprende que a esperança repousa sobre a
dispersão usavam esses livros, segundo se vê mediante ressurreição de Cristo). A esperança da salvação vem
ouso lato da versão da Septuaginta, naquelas regiões através de Cristo (I Ped. 1:7,13;~ 4:13). Ocorrerá
ocupadas por eles. Os temas que figuram nesta quando da vinda de Cristo, como coroa de Glória,
epístola de Pedro, por conseguinte, são estes: como galardão de imensas proporções (I Ped. 4:13;
1. A doutrina de Deus. Nesse caso temos o conceito ?:1,5). A esperança é dada ao crente n~ tocante ao
judaico, com pouca ou nenhuma modificação. Deus é Julgamento (I Ped, 4:5,17,18); mas Cnsto levou a
vivo, criador (I Ped. 4:9); transcendental e santo (I esperança até mesmo ao hades (I Ped. 3:18-20 e 4:6).
Ped. 1:5); longânimo e gracioso (I Ped. 3:20 e 5:10). Abandona os teus planos tolos;
Dentro do contexto cristão ele é nosso Deus e Pai, Pois ninguém poderá segurar-te,
bem como o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (I Ped. Salvo aquele que nunca muda,
1:3,17); temos de aproximarmo-nos dele com Teu Deus, tua vida, tua cura!
profundo respeito (I Ped. 1:7 e 3:2). Ele é o Juiz (I (Henry Vaughan)
Ped. 1:17). Dentro do contexto cristão, ele é o Deus
da ressurreição (I Ped. 1:3,21). IX. Coate(ado
2. Os ensinamentos morais. Aparece aqui o cingir I. Saudação (1:1-2)
moral (da mente) (I Ped. 1:13; comparar com Luc. 11. Ação de graças (1:3-12)
12:35). Há a invocação de Deus como Pai (I Ped. 1:7; 1. Pela misericórdia e esperança, mediante a
comparar com Luc. 11:2). Há a menção das boas ressurreição de Cristo (vs. 3)
obras para glória de Deus (I Ped. 2:12; comparar com 2. Pela herança eterna (vsA)
Mat. 5: 16). Não se deve retornar o mal pelo mal (I 3. Pelo poder resguardador de Deus (vs.S)
Ped. 3:9; comparar com Luc. 6:28). Os sofrimentos 4. Em meio aos sofrimentos (vss. 6,7)
devido à justiça são abençoados (I Ped. 3:14; 5. Pelo consolo dado pelo Cristo invisivel (vs. 8)
comparar com Mat. 5:11). Teremos de prestar contas 6. Pela salvação da alma (vs. 9)
ao Juiz dos vivos e monos (I Ped, 4:5; comparar com 7. Pela revelação do Espírito de Cristo (vss.
Mat. 12:36). Quem sofre por causa de Cristo é 1O:12)
abençoado (I Ped. 4:14; comparar com Mat. 5:11).
Convém que nos humilhemos debaixo da mão de 111. Resultados implícitos na salvação. Exortação à
Deus, para sermos exaltados finalmente (I Ped. Vida santa (1:13-2:3)
5:6; comparar com Luc. 14:11). É mister pormos de IV. A pedra de esquina e o novo templo de Deus
lado toda a ansiedade (I Ped. 5:7; comparar com Mat. (2:4-1O)
6:25}. Uma lista similar de comparações entre esta V. Os deveres dos cristãos (2:11-4:11)
epístola e o Didache também pode ser feita. Este 1. Relações entre o crente e o incrédulo (2: 11-12)
último é um documente que representa a pregação 2. Os cristãos em relação ao estado (2: 13-17)
cristã primitiva, imediatamente após a época apostó- 3. O dever dos escravos (2:18-20)
lica. 4. Imitando a Cristo (2:21-25)
3. A doutrina de Cristo e sua obra. Cristo é o 5. Relações entre esposos e esposas (3: 1-7)
Senhor (I Ped. 2:3 e 3:15). Ele é o que ressuscitou (I 6. Sumário (3:8-12)
Ped. 1:3,21 e 3:21). Ele é o Servo Sofredor (I Ped. 7. Os cristãos debaixo da perseguição (3:13-17)
2:21,22). Ele é quem fez expiação por nossos pecados 8. Cristo, exemplo de sofrimento. Sua miseri-
(I Ped. 2:24 e 3:18 e ss), Ele é o Salvador cósmico (I córdia atingiu o próprio hades, habitação das
Ped. 3: 18-29 e 4:6). Ele é preexistente (I Ped. 1:20). O almas perdidas (3:18-22. Ver também 4:6).
titulo divino Yahweh, que aparece no A.T., pode ser 9. Apureza da vida (4:1-6)
aplicado com propriedade a Cristo (I Ped. 2:3 e 3:15). 10. Vivendo em função do fim de tudo (4:7-11)
Ele ocupa o mesmo nível do Pai e do Espírito Santo (I VI. Os sofrimentos do cristão (4:12-5:11)
Ped. 1:2). Ele é o instrumento de nossa fé em Deus (I 1. Chamada à perseverança (4:12-19)
Ped. 1:21). Em contraste com o tratado aos Hebreus, 2. Exortação aos anciãos (5:1-5)
esta epístola jamais usa o titulo simples, ..Jesus». 3. Exortação final (5:6-11)
4. A doutrina do Espírito Santo. O Espírito Santo VII. Conclusão e bênção (5:12-14)
foi enviado dos céus (I Ped. 1:2), uma provável
referência ao dia de Pentecoste. A consagração vem
mediante o Espírito (I Ped. 1:2). Ele forma agora uma X. Blblloanfla. AM E EN IB ID ID KELI.(1969)
casa espiritual (I Ped. 2:5). Ele repousa sobre os LAN MOF NTI TI TIN VIN RO Z
crentes (I Ped. 4:14). Ele se encontrava tanto no
Antigo quanto no N.T., como o inspirador dos
profetas (I Ped. 1:11). PEDRO (SEGUNDA EPlsTOLA)
5. A doutrina da igreja. A palavra «igreja» (no I. Confirmação Antiga
grego, ekklesia) não figura neste livro, mas existem 11. Autoria
vários ensinos sobre a igreja. A igreja é o povo de 111. Data
Deus, e se forma de judeus e gentios crentes, reunidos IV. Proveniência e Destino
em um corpo (I Ped. 2:10). Por isso mesmo, a igreja V. Relação Entre Esta Epístola, I Pedro e Judas
assume vários titulos que tinham pertencido à nação
de Israel (I Ped. 2:9,10). A igreja é um templo VI. Motivo e Propósitos
espiritual (I Ped. 2:5). Os crentes que a formam são VII. Conteúdo
pedras vivas, e Cristo é sua principal pedra de VIII. Bibliografia
esquina. Além disso, os crentes são sacerdotes desse Esta segunda epistola de Pedro pode ser chamada
templo, e oferecem sacrifícios espirituais (I Ped. 2:5). «literatura de heresia.., ou seja, um dos livros do N.T.
Também são o rebanho de Deus (I Ped. 5:2). E Cristo escrito para combater a heresia. Seu autor foi um
é o seu Sumo Pastor (I Ped, 5:4). ardoroso defensor da fé cristã ortodoxa. Parece que
6. A esperança e a vida eterna. Esse é um dos temas vários mestres falsos usavam o fato de serem membros
169
PEDRO (SEGUNDA EPISTOLA)
da igreja cristã como frente para a -propagação de escritos gregos de Origenes, talvez sendo interpola-
doutrinas e práticas não-cristãs. A conseqüência desse ções. Mas Origenes afirma que Pedro deixou apenas
erro é que a licenciosidade invadiu a igreja. O autor uma epístola genuína (I Pedro). Ele' classificou 11
toma a posição, tomada por toda a parte no N. T., que Pedro como «duvidosa» quanto à sua autenticidade e
a prática correta deve estar alicerçada sobre a participação no cânon. (Comentário sobre João, V.3).
doutrina correta, e que quando há desvios doutriná- Eusébio incluía 11 Pedro em seu N.T., juntamente
rios inevitavelmente haverá debilidades morais na com outras epístolas católicas, mas dizia que sua
vida diária. Provavelmente, nesta epístola, é atacada final aceitação pela igreja resultou de ser «lida em
alguma forma primitiva de gnosticismo. Em contraste público, na maioria das igrejas» (História Eclesiástica
com a variedade ascética, atacada na epístola aos 23:25; 1II.3.l,4). Contudo, de conformidade com ele,
Colossenses, esta segunda epístola de Pedro trata dos «os anciãos de tempos antigos», reconheciam somente
gnósticos libertinos. Outros livros neotestamentários a primeira epístola de Pedro como autêntica e
quI' >It>l"'>Im o gnoo<:ticio<:mo. direta ou indiretamente, ....'In;'mi r-'" Ao<:o<:im serrdo era um livro «disputado.
são o evangelho e as epístolas de João, as epistolas apesar de ser familiar para a maioria». (Op. Cito
pastorais e a epístola de Judas. (Ver o artigo separado I1I.25.3). O próprio Eusébio duvidava de sua
sobre Gnosticismo, que foi um câncer da igreja autenticidade, mas não negava seu uso na igreja.
primitiva por cerca de cento e cinqüenta anos. Ver Após o século 111 D.C., o livro começou a obter
Cal. 2:18). aceitação geral, embora antes fosse reputado duvido-
I. Conflrmaçio Antiga so. Assim Atanásio (Epístolas Festais xxxix.S) e
Parece não haver citações absolutamente claras Agostinho (Sobre a Doutrina Cristã, 11.8.13) reconhe-
desta epístola até Origenes (falecido em 253 D.C.). Os ceram ambos o livro como canônico; e essa posição
primeiros pais da igreja, como Irineu (l8S D.C.), com também foi assumida pelo concílio de Cartago, em
freqüência citam a primeira epístola de Pedro, mas 397 D.C. Jerônimo alude às «duas epístolas de Pedro»,
nenhuma de suas citações, tiradas da presente mas uma vez mais revive a antiga questão da
epístola, diz que Pedro era citado. Irineu fala da autenticidade, admitindo que «muitos» não aceitavam
«epístola de Pedro». E possível, naturalmente, que ele uma delas como de autoria petrina (Sobre Homens
tivesse conhecido a presente epístola, mas a tivesse Famosos, 1). Ele mencionou o problema, mais
rejeitado como autêntica. Contemporâneos seus no amplamente investigado em tempos modernos,
Ocidente, como Tertuliano e Cipriano, não fazem dizendo que seu estilo é contrário à sua aceitação.
qualquer alusão ao livro. O cãnon muratoriano, que Certamente é muito diferente em estilo à primeira
refletia a tradição canônica primitiva no Ocidente, não epístola de Pedro. Mas deu a entender o uso de um
contém a presente epistola. Pelo menos no Ocidente, diferente escritor ou compilador, o que poderia
até 200 D.C., a segunda epístola de Pedro não era explanar tal diferença. Parece que ele a aceita com
aceita como canônica, era ignorada e não era citada, cautela; mas sua atitude não foi compartilhada por
mesmo que porventura fosse conhecida. vários pais eminentes de seus próprios dias,
principalmente Crisôstomo, Teodoro e Teodoreto,
No Oriente, por esse tempo, Clemente de Alexan-
cujos escritos, apesar de volumosos e prenhes das
dria era o principal líder cristão. Eusêbio (História
Escrituras, não citam 11 Pedro.
Eclesiástica vi, 14:l), nos diz que Clemente deu
«explicações concisas sobre todas as escrituras A versão siriaca, em suas formas primitivas,
canônicas», incluindo os escritos chamados «disputa- aceitava somente três das epístolas católicas como
dos", como Judas, e as demais epistolas católicas, a canônicas, a saber: Tiago, I Pedro e I João, e alguns
epístola de Barnabé e o Apocalipse de Pedro. Suas estudiosos duvidam que o siríaco original ao menos
declarações subentendem que Clemente conhecia incluía tais livros.
nossa segunda epístola de Pedro, mas os próprios ll. Autoria
escritos de Clemente não contêm qualquer citação Não foi senão no século IV D.C., que esta epístola
direta tirada desta epístola. Protrep , x.106 talvez começou a ser aceita como de autoria petrina. E foi
aluda ao trecho de 11 Ped. 2:2; Strom . 1:19,94 talvez somente no século V D.C. que ela recebeu
se refira a II Ped. 1:14; Strom. ii.12.SS alI Ped. 2:8. reconhecimento geral na igreja. Mas mesmo assim,
E alguns poucos outros casos poderiam ser alistados. alguns pais importantes a ignoraram. Isso dificilmen-
Mas o mais provável é que se tratem de «coincidências te poderia ter ocorrido se Pedro realmente a tivesse
verbais», e não citações diretas, porquanto certo escrito. Assim, a maioria dos eruditos concorda, tanto
acúmulo de material (idéias, expressões, partes de liberais como conservadores (embora não necessaria-
declarações, etc.) estava em disponibilidade de todos mente pastores e líderes não-eruditos da igreja) que
os autores do período. E assim, nas epístolas ersta segunda epístola de Pedro deve ser classificada
católicas, há similaridades de conteúdo, o que é como umapseudepígrafe. Naturalmente, nos primei-
transferido para os escritos dos primeiros pais da ros séculos, muitas obras assim foram produzidas.
igreja; mas isso não reflete qualquer real dependência Conhece-se, em forma fragmentar ou mediante
literária. citações, cerca de cem obras primitivas que suposta-
Pelo menos é certo que Pantaeno, antecessor mente foram escritas por apóstolos ou outros nomes
imediato de Clemente, não exibe ter tido qualquer cristãos famosos. Um evangelho é atribuído a Tomé,
conhecimento deste livro; pelo que é possível que outro a Pedro, e um outro a Nicodemos. Há um
certas similaridades de expressão, nos escritos de Apocalipse de Pedro, um Atos de Paulo, etc. Os livros
Clemente e nesta epístola, sejam meras coincidências. apócrifos seguem as mesmas classificações das
No Oriente, pois, esta epístola certamente não era escrituras canônicas: evangelhos, Atos, epístolas e
reputada canônica até o começo do século 111 apocalipses. (Ver o artigo sobre Livros ApócrlfOll do
D.C., embora pudesse ser conhecida. De outro modo, Novo Testamento).
teria sido usada em citações, embora não diretamente Naqueles dias não era vergonhoso atribuir uma
reputada como livro canônico. epístola ou um livro a algum autor famoso. Isso era
Origenes cita esta segunda epístola de Pedro por feito para «honrar>' tal autor, propagando suas idéias,
cerca de seis vezes, diretamente, além de fazer outras ou mesmo apenas para garantir larga circulação para
poucas alusões. Tem sido salientado que até mesmo o livro. Não havia leis que regulamentassem tais
nesse autor as citações são tiradas da versão latina dos práticas; e parece que elas não eram condenadas pela
170
PEDRO (SEGUNDA EPISTOLA)
opinião pública. Paulo tinha o cuidado de autenticar segunda eplstola de Pedro reflete um tempo posterior,
suas epístolas mediante assinatura pessoal, ou então na história da igreja; ao período refletido na primeira
escrevendo de próprio punho as últimas poucas epístola de Pedro, pois ali as alusões à «parousia» são
linhas. E é bem possível que ele assim fizesse a fim de freqüentes, sem qualquer indicação de que alguém,
evitar as más conseqüências de epístolas que na igreja cristã, se opunha a essa idéia.
circulassem em seu nome, mas que não lhe 9. A primeira epístola de Pedro foi escrita para
pertenciam de fato. (Ver I Cor. 16:21; Gál. 6:11; Col. fortalecer a igreja sob perseguição. Pouco depois de
4:18 e II Tes. 3:17 quanto a essa prática). sua composição, essa situação se agravou. E dificil
Araum.--
Pedro:
'Oplca. CoDta a Autoda Petdua de D
imaginar que uma carta, escrita à igreja que sofria
sob tais circunstâncias, pudesse olvidar-se totalmente
de tais assuntos. Além disso, há boas evidências de
1. Falta-lhe a confirmação dos pais da igreja, que que Roma foi o lugar de «proveniência» e que a Ásia
viveram nos primeiros séculos da era cristã. Nenhuma Menor foi o «destino», tanto quanto no caso da
confirmação sólida, pelos pais da igreja, aparece, até primeira epístola de Pedro. No entanto, nada diz ela
o século V D.C. (Ver as notas expositivas a esse acerca da questão das perseguições sofridas. Parece,
respeito, na seção I). então, que a segunda epístola de Pedro foi escrita
2. Parece haver dependência literária para com a mais tárde que a primeira, de fato, em um período
epístola de Judas, o que dificilmente sucederia, se o pôs-petrino,
apóstolo Pedro realmente a tivesse escrito. Isso é
anotado na seção V deste artigo. 10. A maioria dos eruditos concorda que a segunda
epístola de Pedro (cap. 2), é um plágio da epístola de
3. Sua distância de I Pedro, quanto ao estilo Judas, incorporando grande parte da mesma. Não é
literário e quanto ao conteúdo. Não há possibilidade provável que um homem da experiência espiritual do
do mesmo autor, da mesma mente, ter estado por apóstolo Pedro tivesse tido necessidade de fazer tal
detrás de ambas essas epístolas. (Ver notas expositi- empréstimo, embora não se possa dizer que, de
vas sobre isso na seção V deste artigo). conformidade com os padrões da antiguidade, isso era
4. Parece ter sido grande a ansiedade de seu autor «rebaixar-se.. em uma atividade obviamente dúbia.
por autenticar a autoria petrina. Assim Pedro é
chamado e descrito como «servo e apóstolo» de Iesus Arpm.to. em Fa?or da Autorla Petdaa de D
Cristo (ver 11 Ped. 1:1). A predição do martírio de Pedro:
Pedro é aludida (ver II Ped. 1:14; comparar com João 1. Ela afirma isso em seu próprio favor.
21:18,19). Há alusão à sua presença com Jesus, no 2. Suas várias «autenticações internas» são reputa-
monte santo (monte da transfiguração) (ver 11 Ped. das marcas genuínas de autoria petrina,
1:17,18; comparar com Mat. 17:5; Mar. 9:7 e Luc. 3. Suas diferenças, quanto ao estilo, e à gramática
9:35). Há uma referência implicita à «primeira podem ser explicadas, supondo-se que Pedro se
epístola», como livro igualmente escrito por ele. Esses utilizou de dois escritos diferentes, na composição de I
dados, longe de serem favoráveis à autenticidade da e 11 Pedro. O grego «artificial» de 11 Ped, (um grego,
epístola, parecem ser uma tentativa exagerada, por parcialmente aprendido de livros) bem possivelmente
parte de seu autor, por fazer a obra passar por pode refletir a realização do próprio Pedro na língua
petrina. Esse zelo «autenticador» cria mais dúvidas do grega. E possível, então, que I Ped. foi escrito
que confiança. Porém, apesar disso, a igreja em geral, (reduzido) por Silvano, enquanto 11 Ped. foi escrito
até o século IV D.C., não a aceitava ou não a por Pedro diretamente, com uma revisão por um
conhecia como livro autenticamente petrino. discípulo.
S. O reconhecimento, por parte do autor, sobre 4. O argumento contra 11 Ped. que nos diz que
certas epístolas paulinas como «Escritura», e seu «deveria» ter incluído trechos sobre perseguições
abuso às mãos de hereges (ver 11 Ped. 3:16) aponta (como existem em I Ped.) perde toda a sua força
definidamente para um período pós-petrino, embora quando nos lembramos que as perseguições continua-
essa seja nossa primeira afirmação «canônica» na ram até o quarto século, e até ficaram piores do que
igreja primitiva. nos primeiros anos apostólicos. Por este argumento
6. Alguns estudiosos crêem que a heresia combati- (das perseguições), qualquer livro escrito até o quarto
da é o gnosticismo, e que isso a situa, automaticamen- século devia ter tratado, pelo menos parcialmente,
te, nos meados do século 11 D.C., obviamente distante das perseguições. - O fato é que não é assim que
dos tempos de Pedro. Todavia, isso não é argumento aconteceu. Um livro ou carta podia ter tratado de um
muito forte, pois agora se sabe que já havia formas ou outro assunto crítico, sem mencionar outros menos
primitivas de gnosticismo desde o começo da igreja ou igualmente críticos.
cristã. S. A dependência sobre Judas teria sido natural
7. Outro argumento fraco é o que afirma que as para Pedro, um homem sem grande instrução. I Ped.
«idéias» da epístola refletem o período dos meados do depende pesadamente de Paulo. O pescador da
século 11 D.C. e depois. Nada, entretanto, na própria Galiléia podia ter usado bom material de diversas
epístola, reflete idéias que já não existiam na era fontes, sem qualquer condenação da consciência.
apostólica. 6. A ansiedade da autenticação apostólica não é
8. O terceiro capítulo desta epístola parece ter sido mais exagerada do que o que nós encontramos em
especificamente escrito para restabelecer a fé na certos trechos de Paulo, como em I e 11 Cor. e Gál. A
«parousia» ou segundo advento de Cristo. Isso oposição contra os hereges, naturalmente, exigiu uma
sugeriria que, pelo tempo em que esta epístola foi forte declaração de autoridade apostólica. Assim,
escrita, vários elementos da igreja já tinham aconteceu com Paulo, e porque não podia ter
começado a crer que a volta de Cristo não seria acontecido com Pedro?
imediata. Evidentemente, alguns dos mestres falsos 7. O reconhecimento das escrituras de Paulo como
tinham chegado a essa conclusão, incorporando-a em autoritárias (3:16) seria bem natural dentro do
suas doutrinas. Sabemos, porém, que a verdadeira contexto do primeiro século. Todos que conheceram
igreja primitiva sempre teve o ponto de vista do Paulo, suas visões e forças espirituais, podiam ter
«retorno de Cristo a qualquer instante ». (Ver o artigo considerado suas escrituras inspiradas desde o
sobre a Parousia). Por conseguinte, parece que esta principio. Tal reconhecimento não teria exigido
171
PEDRO (SEGUNDA EPÍSTOLA)
qualquer grande período de tempo. perseguições. A alusão ao evangelho de Marcos
8. O terceiro capítulo pode reafirmar a crença na (produzido em Roma) tende a localizar ali a produção
«Parousia», e não procurar restabelecê-la. Além disto, desta epistola. (Ver 11 Ped. 1: 15 e ss). Além disso, em
certos escritos de Paulo (como I Cor. 15; sobre a I Pedro e em Judas (que influenciou o conteúdo da
ressurreição) mostram que a igreja primitiva tinha presente epístola), quase certamente temos documen-
elementos que não aceitaram doutrinas básicas da fé tos romanos; pelo que seria natural que o autor
cristã. Portanto, todas estas doutrinas exigiram sagrado, residente naquele lugar, tivesse dependido
reafirmação e repetição, bem dentro da época dos mesmos. Apesar de que nenhum desses
apostólica. argumentos em separado, ou todos eles, coletivamen-
9. O único argumento de peso real contra a autoria te, possam ser vistos como prova inequívoca de origem
petrina desta carta é aquele que nos informa que a romana, a idéia não conta com qualquer alternativa
atestação antiga da carta foi fraca. Teria sido possível séria, pelo que pode ser aceita com alguma confiança.
isto se o próprio Pedro (ou um discípulo seu, sob sua I Ped. 5:13 quase certamente coloca Pedro em Roma
direção) tivesse escrito a carta? E possível, certamen- nos seus últimos anos.
te, que Pedro (como Paulo) escreveu muitas cartas Destino. Esta epístola é dirigida àqueles que
que nunca chegaram a ser incluidas no «cânon» do «... conosco obtiveram fé igualmente preciosa... » Os
N.T. Sendo que existiam muitas composições contra outros que tinham tal fé seriam os apóstolos.
os hereges, é possivel que «mais uma», até de Pedro, Supostamente, os leitores endereçados tinham recebi-
podia ter passado muito tempo sem ser conhecida ou do a primeira epístola de Pedro (ver 11 Ped. 3:1).
reconhecida como importante. Também é dito que pertenciam à mesma área onde
foram distribuídas algumas epístolas de Paulo, as
m. Data quais tinham sido canonicamente aceitas. (Ver 11
1. O que acreditamos sobre a data depende muito Ped. 3: 16). Se não temos nisso armadilhas literárias
do que cremos sobre a autoria. Se Pedro escreveu esta (como provavelmente não) então a Ásia Menor está
epístola, deve tê-lo escrito em 67-68 D.C., pouco antes em vista, pois, certamente, esse foi o destino da
de seu martirio, sob as ordens de Nero. Mas, se primeira epistola de Pedro. (Ver I Ped. 1: 1). As
negarmos a autoria petrina, podemos situá-la no fim epístolas de Paulo (a maioria delas, em comparação
do primeiro século (dando tempo à formação de uma com qualquer outro território) foram enviadas
coletânea de escritos paulinos, considerados canoni- primeiramente àquela área, tendo obtido autoridade
camente autoritários; ver 11 Ped. 3:16). A maioria ali antes que em qualquer outra região. Nenhuma
dos eruditos modernos, porém, a situa nos meados do congregação local estava particularmente em foco.
século 11 D.C. Esse argumento se baseia sobre a Portanto, a epístola é «católica», isto é, dirigida às
observação de que, de modo geral, reflete o meio igrejas de uma determinada região, ou à igreja em
ambiente do segundo século. O autor sagrado geral, e não a alguma assembléia cristã local.
conhecia e, evide,,temente, aceitava a tradição de que O gnosticismo sempre foi forte no cristianismo da
o evangelho de Marcos consiste, essencialmente, nas Ásia Menor, e isso serve de uma evidência a mais,
memórias de Pedro (ver 11 Ped, 1:15; comparar com I inteiramente à parte de questões especificas da
Ped. 5:13 e Eusébio, História Eclesiástica 111.39,15). própria epístola, de que essa região foi o destino
2. Apesar de que as epístolas de Paulo, sem dúvida, original da epístola. Portanto, é quase certo que
obtiveram reconhecimento quase imediato, não foi alguma forma de gnosticismo libertino é aqui
senão no tempo de Márcion (150 D.C.) que teve lugar assediada. Não há valor nas observações de que esta
o real processo de canonização dos livros do N.T., na segunda epístola de Pedro não poderia ter sido escrita
igreja. Ê provável, alguns dizem, que 11 Ped. 3:16 para a mesma área que recebeu a primeira epístola de
reflita um período não muito distante disso. Pedro. já que os tópicos abordados pelas duas
Não tem nada no livro, todavia, que não possa epístolas tanto diferem entre si. De fato, esta epístola
refletir uma situação do primeiro século. 11 Pedro deixa inteiramente de lado o tópico da perseguição,
3:16 reconhece as escrituras (algumas, pelo menos) de que tanto satura a primeira epístola.
Paulo como autoritárias. Isto facilmente podia ter Portanto, ambas as epístolas foram escritas para a
acontecido no tempo de Pedro, e, podia ter sido uma mesma área, mas refletem circunstâncias diferentes.
convicção do próprio Pedro. A declaração não reflete, O sofrimento era o principal problema abordado por
necessariamente, um «cânon» do N.T. muito avança- Pedro, em sua primeira epístola. Mais tarde, o
do, o que foi, naturalmente, o produto de um tempo principal problema se tornou a entrada de conceitos
posterior. 11 Ped. 1: 15 pode refletir um fato histórico. heréticos na igreja.
O que Pedro experimentou, o que ele viu e ouviu,
seria reduzido a um evangelho, ou quando ele V. Relaçlo Entre Esta Eplstola, I Pedro e
escreveu esta carta, já foi publicado. Pedro, bem
provavelmente, teria mencionado isto em uma ou Judas
mais das cartas que ele escreveu. Judas. Todos os eruditos concordam que um autor
Outros fatores, que alguns acham em favor de uma se baseou no outro; mas os estudiosos não concordam
data posterior têm sido discutidos sob «autoria», com sobre quem se apoiou em quem. Lutero se manifestou
argumentos pró e contra. em prol da prioridade da segunda epístola de Pedro,
dizendo que a epístola de Judas fora «forjada». Mas
IV. Proveoliada e Deetlno essa suposição, apesar de continuar sendo apoiada
Alguns indicias parecem apontar para uma origem por alguns, tem caído no descrédito da maioria.
romana. O quadro que o autor sagrado nos dá das Holtzmann escreveu: «Não é mister refugar novamen-
relações entre Pedro e Paulo (remotas das controvér- te essa hipótese (a prioridade da segunda epístola de
sias que os cercaram na igreja primitiva, acerca das Pedro), a qual tem sido abandonada praticamente no
relações entre a graça e o legalismo) parece indicar presente». Weiss diz que «não pode haver dúvidas»
uma área distante do conflito. Em Roma, - Pedro quanto à prioridade da epístola de Judas. Essa
e Paulo eram tidos em alta conta, sendo possível posição é defendida pela maioria dos eruditos. Mas há
que ambos sofreram martirio sob Nero. A menção do aqueles que tomam uma posição mediana, postulan-
martírio potencial de Pedro seria natural a uma do uma «origem comum» .para ambas as epístolas,
epístola produzida em Roma, lugar de muitas crendo muitos que os evangelhos também têm fontes
172
PEDRO (SEGUNDA EPtSTOLA)
informativas comuns, tomadas por empréstimo,com ritmo jâmbíco, (Ver 11 Ped. 2:1 - aon agropasanta»,
algumas modificações. etc. Ver 11 Ped. 2:3 - «plastoisin umas», etc. Ver 11
Em favor da prioridade da epistola de Judas, Ped. 2:4 - theos ouk, etc.). No seu terceiro capitulo,
Morton Enslin (The Literature of the Christian há uma perceptível aproximação ao movimento de
Movement) declara que várias obscuridades existentes versículos em branco, nos sonoros passivos futuros,
na segunda epistola de Pedro são imediatamente bem como no valor métrico da linguagem, como em
esclarecidas mediante a consulta da epistola de Judas. stoiceia de kausoumena, etc. Sabemos que, em
Ele supõe que essas obscuridades surgiram em Alexandria, os autores judaicos gostavam de imitar o
resultado do manuseio inapropriado da epistola de verso grego jâmbico; portanto, não é de surpreender
Judas, por parte do autor da presente epístola. Ele vê que isso transpareça nas páginas do N.T. Porém, o
evidências de que o autor desta epistola modifica, ponto que aqui destacamos é que a primeira epistola
sistematicamente, os tempos passados dos verbos, na de Pedro não demonstra essa caracterlstica de estilo.
epistola de Judas, para o futuro, na tentativa de dar a Os autores antigos também observaram a diferença
Pedro a posição de profeta. (Ver 11 Ped. 2:10-22 de estilo e de vocabulário, particularmente Jerônimo,
quanto a provas sobre isso). Judas se refere à negativa embora Orígenes, que era melhor autoridade sobre
de Miguel, ao contender com o diabo, de proferir essa questão, tenha negligenciado a questão no que
«julgamento» condenatório contra ele (ver o nono concerne às duas epistolas de Pedro. A primeira delas
versículo). Sobre isso, comenta Enslin: «11 Pedro está saturada de citações extraídas do N.T. Nesta
(2:11), ao omitir essa alusão especifica, tirada da segunda epístola isso é muito menos aparente. A
Assunção de Moisés, faz uma alusão totalmente primeira epístola de Pedro conta com um número
ininteligível aos anjos em geral, que não ousariam muito maior de alusões a palavras e fatos dos evange-
proferir juizo contra dignidades emgerab. (pág. J"M»). lhos. Seu vocabulário também é solene. Jâ o
Alguns acham impossivel que um homem, com a 'vocabulário desta segunda epístola de Pedro tende por
experiência espiritual de Pedro tivesse emprestado seus ser grandioso, talvez até mesmo artificialmente.
materiais desta maneira. Mas isto é de ver a coisa com Para alguns, estas diferenças literárias lançam
olhos modernos. Na antiguidade, escritores não dúvida sobre a autoria comum de I e 11 Pedro. É certo
hesitaram em copiar de outros sem qualquer que Pedro usou escribas diferentes na redução das
condenação segundo os padrões do tempo. Pedro, um cartas. Provavelmente, SIlTllllO escreveu I Pedro
homem com pouca instrução formal, provavelmente (sob a orientação de Pedro), e possivelmente, o
não teria hesitado em emprestar materiais que ele próprio Pedro escreveu 11 Ped. usando um grego
considerava importante para sua composição. «aprendido» de livros, portanto, «artificial». Subse-
Dependência a Judas. O segundo capitulo desta qüentemente, sua carta provavelmente foi revisada.
epístola exibe muito dessa dependência. (Considerar Ver notas completas sobre o problema de «autoria» na
11 Ped. 2:1-2 com Jud, 4; 11 Ped. 2:4 com Jud. 6; 11 parte 11 deste artigo.
Ped. 2:11 com Iud. 9; 11 Ped. 3:3,4 com Jud, 17,18). VI. Motivo e PropóIltol
Ambos os escritores apresentam um quadro bem 1. O autor sagrado via que alguma forma de
similar quanto ao julgamento dos impios: gnosticismo libertino invadia a igreja. Portanto, ele
II Pedro 2 Judas lança um amargo ataque contra essa heresia, que
1. ----- Israel no deserto (vers, 5) assediou a igreja por cerca de cento e cinqüenta anos.
2. Anjos caídos (vers, 5) Anjos cai dos (vers, 9 e ss) O segundo capitulo envolve isso. O primeiro capitulo
3. O dilúvio (vers, 5) é essencialmente introdutório, envolvido com o
4. Cidades da planície (Lô) Cidades da planície (sem a estabelecimento da autoria petrina do autor.
(vers, 6,7) menção de Lô, verso 7) 2. O terceiro capitulo reinicia o ataque, mas assedia
5. ----- Caim (vers, 11) primariamente um ângulo da heresia. A igreja
6. Balaão (vers. 15,16) Balaão (vers. 11) começara a negligenciar a doutrina da «parousia-, e
7. ----- Coré (vers. 11) evidentemente os falsos mestres tinham negado
inteiramente o segundo advento de Cristo, ou então o
Dado o fato de que Judas tem apenas vinte e cinco transferiam para um futuro distante. O autor sagrado
versículos, pode-se ver que quase toda ela foi não estava disposto a permitir que isso sucedesse
incorporada nesta epístola, principalmente em seu àquela doutrina, pois evidentemente concordava com
segundo capitulo. a opinião da igreja primitiva de que tal acontecimento
I Pedro. Nesta segunda epístola de Pedro há cerca poderia ter lugar a qualquer instante. (Ver I Tes. 2:15
de cinqüenta e cinco vocábulos gregos que não ·e I Cor. 15:51 quanto à expectação da igreja primitiva,
figuram no resto do N.T. Há cerca de trezentas e de que esse acontecimento teria lugar em seu próprio
sessenta palavras que não figuram na primeira tempo).
epistola de Pedro. Bigg (em sua introdução à segunda 3. A heresia atacada não era o tipo asceta de
epístola de Pedro, seção 4), alista cerca de quarenta gnosticismo, como sucedeu em Colossos (ver Col. 2: 14
palavras que se esperariam que aparecessem na e ss), mas a variedade libertina de gnosticismo. (Ver
segunda epístola de Pedro, se a primeira e a segunda 11 Ped. 2:12 e ss quanto a esse problema nesta
tivessem sido escritas pelo mesmo autor, apesar da epistola). Os gnósticos criam que um dos propósitos
diferença quanto ao conteúdo. Essas palavras do processo do sistema do mundo visa «destruir» o
envolvem expressões comuns e usos típicos da corpo, que é a sede do principio do pecado, porquanto
primeira epístola de Pedro. Na presente epistola há 1 corpo é material, e toda a matéria seria
cerca de duzentas e trinta dessas expressões que não inerentemente má. Podemos cooperar com o sistema
fazem parte da primeira. Esta epistola usa menor do mundo, ainda segundo essa opinião, degradando e
número de particípios do que a primeira. Além disso, castigando o corpo. Isso poderia ser feito através do
sempre haverá os «sinais» de autoria, como as ascetismo ou da licenciosidade, pois ambas as coisas
expressões adverbiais, - «além disso», «portanto», enfraquecem e degradam eficazmente o corpo.
«não obstante», etc. Essas são as coisas que um Podemos nos ocupar de ambas as atividades, segundo
escritor usa bem regularmente em suas composições, diziam os gnósticos, sem sofrer qualquer dano no
sem importar a diferença quanto ao tema. Nesta espírito, o qual simplesmente ficaria livre do corpo
segunda epístola de Pedro há a tendência de cair no fisico por ocasião da sua morte. Assim sendo. não
173
PEDRO - PEDRO, APOCALIPSE DE
importa o que fazemos com o corpo. De fato, PEDRO, APOCALIPSE DE
fariamos bem em puni-lo. Dependendo das inclina- 1. Semicanonicidade, O leitor que dedicar tempo à
ções pessoais, alguns gnósticos escolhiam o ascetismo, leitura das obras apôcrífas e pseudepigrafas que
ao passo que outros preferiam a licenciosidade, corno chegaram até nós em nome de Pedro, o apôstolo,
meio de cooperar com o sistema do mundo para talvez chegue a entreter-se, mas não se sentirá
livrar-se o homem do seu corpo físico e de toda a espiritualmente elevado. O Apocalipse de Pedro,
matéria. entretanto, é um caso um tanto diferente, por ser um
4. Esse tipo de gnosticismo, portanto, tirava dos poucos livros ap6crifos que desfrutaram de uma
proveito do ensinamento paulino sobre a liberdade espécie de prestigio semicanônico. O Apocalipse de
cristã, transformando-a em licença para a vida Pedro é" alistado no Cânon Muratoriano (vide),
imoral. (Ver 11 Ped. 3:16). juntamente com uma nota que esclarece que alguns
5. O ataque contra a má moral, naturalmente, não o respeitavam como obra canônica. Naturalmen-
levou o autor sagrado a inserir algum material «ético », te, isso indica que alguns o respeitavam como tal.
(Ver o trecho de 11 Ped. 1:4-9, que contém a melhor Alguns poucos dentre os pais da Igreja acharam
porção ética desta epistola. Tal seção é a mais alguma utilidade para esse livro, como Te6fi10 de
significativa da epistola, do ponto de vista espiritual, Antioquia. Clemente de Alexandria e Sozomeno
e, como é freqüente nas páginas do N.T., nos fornece (século V D.C.);Eusébio rejeitou a obra, juntamente
os «imperativos morais» do evangelho). Deve o com outras obras ap6crifas atribuidas a Pedro (Hist.
evangelho produzir fruto santo, ou, de outro modo, Eccl. 3.3). Ele chamou de espúrios (Hist. Eccl. 3.25) a
terá falhado, quanto ao individuo que se diz crente, livros como Pastor de Hermas, Barnabé, Atos de
mas é um profano. Ao darmos atenção ao imperativo Paulo e Apocalipse de Pedro, o que, sem dúvida, é um
moral, através do desenvolvimento da vida santa, bom adjetivo para os mesmos. Mas, apesar de
«fazemos certa a nossa eleição». O autor sagrado, avaliações negativas, essa obra teve uma larga
pois, procurou corrigir um ensinamento falso, circulação, tendo parcialmente incorporada em
levando os verdadeiros crentes a se declararem outras obras, como os Oráculos Sibilinos (livro 11) e os
contrários ao mesmo, propagando, ao mesmo tempo, Apocalipses de Paulo e de Tomé. Até mesmo Dante,
uma autêntica ética cristã. A heresia é que em sua Divina Comédia. utilizou uma pequena
«ocasionou» esta epistola; sua correção foi o propósito porção dessa literatura.
do autor sagrado. E todos os «ternas» da presente 2. Data. Com base no manuseio que dela fizeram os
epístola giram em torno desses elementos. pais ela Igreja, parece que essa obra foi produzida no
VD. CoDteúdo século 11 D.C., um periodo muito ativo em produções
I. Saudação (l: 1,2) literárias dessa natureza.
11. Fé Ortodoxa, Guia para a Salvação (1:3-21) 3. Remanescentes. Um fragmento grego dessa obra
1. Conhecimento de Cristo, portão da apropria- foi achado em Akhmim, juntamente com uma parte
ção da gloriosa salvação (1:3-11) do Evangelho de Pedro, outra das fabricações
preparadas em nome de Pedro. Ainda um outro
2. Autoridade de Pedro em prol da verdade do . fragmento, em etiópico, existe. Além disso, há a
evangelho dos apóstolos (1:12-21) considerar as citações patrísticas. Esses dois fragmen-
a. Está contida na revelação (1:12-15) tos apresentam algumas diferenças quanto à ordem
b. Baseia-se no testemunho ocular (1:16-~8) dos eventos, mas são obviamente representantes da
c. Concorda com a tradição profética (1: 19- mesma obra. Além disso, existem dois fragmentos
21) menores.
111. Heresia, Fonte de Perdição e não de Salvação
(2:1-22) 4. Conteúdo. O que damos abaixo segue a versão
1. Os hereges são filhos espirituais dos falsos etiópica, mais longa:
profetas do A.T. (2:1-10a) a. Os discípulos perguntam acerca dos sinais da
2. São corruptos quanto à doutrina e à parousia (vide), ou seja, acerca da segunda vinda de
prática Cristo.
a. Concupiscência e irreverência são seus b. Eles mostram-se interessados em conhecer os
guias (2: lOb-17) sinais sobre esse evento.
b. A liberdade pregada por Paulo é perverti- c. Jesus adverte sobre os enganadores. Até este
da por eles (2:18-22) ponto, a fonte inspiradora é o Pequeno Apocalipse de
IV. A Parousia, Poder Determinante dos Deveres Mat. 24; Mar. 13; Luc. 21.
Cristãos (3: 1-18) d. Aparece a parábola da figueira, novamente um
1. Critérios para a condenação da heresia que reflexo dos evangelhos canônicos.
nega a parousia (3: 1,2) e. Jesus lamenta as almas perdidas. Pedro sente- se
2. Os ímpios, destruidos pelo dilúvio, foram os perturbado diante das aflições e do pranto dessas
precursores dos que agora negam a parousia almas, e agoniza diante do fato de que elas ao menos
(3:3-7) foram criadas (um reflexo de Mar. 14:11 ss).
3. Provas extraídas do A.T. em apoio à f. Jesus repreende a Pedro por causa disso-embora
parousia (3:8-10) não seja dada a razão de tão inesperada reprimenda-
4. Aplicação ética da doutrina da parousia pois, em seguida, Ele passa a descrever, com detalhes,
(3:11-13) os terriveis sofrimentos que as almas precisam
5. Epístolas de Paulo em apoio à doutrina da atravessar, em face dos seus pecados. Algumas
parousia (3:14-18a) porções de tão horrivel material foram aproveitadas
por autores da Idade Média, que queriam descrições
V. Conclusão e Bênção (3:18b) vividas sobre os sofrimentos dos condenados.
VDI. Jilbllolnfla. AM E EN IB ID ID LAN MOF g. Em seguida vem uma breve descrição da
NTJ TI TIN VIN RO Z bem-aventurança dos salvos (caps. treze e catorze).
h. A hist6ria da transfiguração, dos evangelhos
sinôpticos, é adaptada como parte da descrição da
••• ••• ••• condição dos salvos.
174
PEDRO - PEDRO. EVANGELHO DE
i. Jesus e Elias é que dão essas descrições. Yercelli Acts exploram, principalmente, a est6ria da
Terminando de dá-las, eles são transportados em uma rivalidade entre Pedro e Simão, o Mago (ver o oitavo
nuvem e recebidos no céu. Essa seção está faltando na capitulo de Atos). As vicissitudes dessa rivalidade
versão grega. Os discípulos, arrebatados pela visão de trazem à tona diversos milagres insensatos e
Jesus e Elias, descem a colina exultantes, tipicamente apócrifos: um cão que fala; um peixe seco
5. Variações. No fragmento Akhmim (escrito em que volta a viver; e várias ressurreições. Simão, o
grego), a descrição do paraiso antecede à descrição Mago, aparece ali como um mágico realmente
do inferno. Alguns estudiosos crêem que a versão poderoso; mas Pedro sempre consegue ultrapassâ-lo,
etiópica é a que melhor representa o original; e o afinal. E Pedro ali aparece obcecado pela questão da
'grego é a forma modificada da mesma. Talvei a virgindade e da continência; e sua constante pregação
versão grega circulasse originalmente com o Evange- acerca dessas questões é que acabam provocando o
lho de Pedro. seu martírio. Mas isso faz a Igreja cristã redobrar em
seu poder. (HEN)
PELONITA PENALOGIA
Essa designaçio foi aplicada a Helez e a Aias, que Esse termo português vem do latim ~, «penaa,
189
PENALOGIA - PENAS ECLESIÁSTICAS
e do gregoI• • «estudo», ou seja, a ciência que trata o prop6sito da Igreja cristã não deve tentar
dos castigos. da prevenção do crime e o gerenciamen- aniquilar a vontade do individuo e moldA-la à vontade
to de prisões e reformatórios. Váriosartigos desta da maioria. É preciso manter certa latitude de idéias e
enciclopédia tratam dessa questão. Ver Punição práticas. Mas, quando o erro genuino penetra, então
Capital; Punição Corporal; Reforma das Prisões; é mister, para a saúde do corpo mistico inteiro, que a
Punição e Retribuição. disciplina seja devidamente aplicada.
Problemas Relacionados a essa Ciência: A Igreja precisa reconhecer a dependência mútua
1. A severidade e a duração dos castigos. entre seus membros, bem como a sua individualidade.
2. Sistemas educacionais que ajudem a reabilitar os . A própria liberdade também precisa reconhecer esse
prisioneiros, e não somente que os castiguem. principio.
3. Instrução religiosa com esse mesmo propósito. Nas igrejas ou denominações cristãs menos
4. Cooperação de várias ciências, com esse mesmo formalizadas, a base das penas aplicadas são as
propósito. Escrituras que tratam da disciplina, como Mat.
5. A questão do aprisionamento e do banimento. 18:15-18; I Cor. 5:5; 11 Cor. 2:6; I Tim. 1:20. Mas as
igrejas ou denominações mais formais, como na Igreja
6. A relação entre a insanidade e os hospitais para Católica Romana, têm desenvolvido um sistema de
alienados mentais. leis canônicas. Ver sobre o Cãnon, sétimo ponto.
7. As alternativas das prisões domiciliares e da quanto a uma descrição a esse respeito. Entretanto,
liberdade condicional. várias dessas medidas são desnecessárias no caso de
8. A alternativa do trabalho forçado, ou dos igrejas com pouca ou nenhuma hierarquia. Os
'serviços públicos, em lugar do aprisionamento. tribunais eclesiásticos (que vide) tornaram-se parte
9. A alternativa das multas para substituir ao das sanções eclesiásticas. Houve tempo em que os
aprisionamento. tribunais eclesiásticos não tinham maior autoridade
10. A alternativa da restituição às vitimas dos do que qualquer tribunal secular; e tinham o poder de
crimes, para substituir ao aprisionamento ou suple- impor punição a individuos que tivessem praticado
mentá-lo. crimes civis, e não apenas de natureza religiosa. De
fato, em certos estágios da história eclesiástica, a
distinção entre esses dois tipos de tribunal pratica-
PENAS ECLESIÁSTICAS mente se perdeu, da mesma maneira que sucedeu no
Ver o artigo sobre DiadP...... Os seres humanos, antigo povo de Israel. onde não havia, virtualmente,
imperfeitos como são, requerem a orientação e as separação entre a Igreja e o Estado.
pressões que lhes são impostas pelas penas baixadas ll. 1Dfraç&e8
contra os erros que praticam, mesmo quando o A maioria das infrações cometidas na Igreja
contexto dentro do qual cometem esses erros é a produz apenas cenhos franzidos e comentários
Igreja. As várias divisões do cristianismo aplicam adversos. Algumas vezes, os sermões incluem
variegadas formas de disciplina. Os grupos evangéli- alfinetadas que visam 'membros específicos, que não
cos têm a tendência de permanecer mais perto das estejam andando de acordo com os principios e ideais
declarações bíblicas, no tocante ao que fazer com o do Novo Testamento. Usualmente a disciplina é
indivíduo que erra, ao passo que a Igreja Católica evitada, mediante um recado dado por algum oficial
Romana tem desenvolvido um sistema disciplinar eclesiástico.
mais elaborado. Em certas ocasiões, porém, infrações sérias e
Esboço: mesmo crimes, são cometidos por membros de
I. Princípios Envolvidos igrejas. No caso de igrejas menos formais, isso
lI. Infrações torna-se uma questão para ser tratada nos tribunais
111. Algumas Penas civis. Esses são os delicta fori mixti, os quais, na
Igreja ocidental, são punidos tanto pelas autoridades
IV. Maneiras de Aplicar civis quanto pelas autoridades ec1esiásticas. Essas
I. PrIDeIp.... En...oI.... infrações incluem o suicidio, o aborto, o duelo e
. A fé cristã requer que o individuo goze de grande outras coisas que são castigadas pelas leis civis, como
liberdade de ação, a fim de poder manter a sua os furtos. os assaltos, os seqüestros, etc. O membro de
autonomia, porquanto uma única alma humana tem uma igreja que se torne assassino, sob hipótese
mais valor que a criação fisica inteira (Mar. 8:36). alguma pode ser considerado um membro de boa
Paulo reconhecia o principio da liberdade cristã posição, e terá de enfrentar a lei civil, sem importar
quanto àquelas questões que não são eticamente quais outras medidas a sua igreja venha a tomar.
criticas, embora fossem precisamente isso para As infrações não-eclesiásticas, no mundo atual, não
algumas pessoas. Ver o décimo quarto capitulo de são tratadas conforme costumavam ser durante a
Romanos. O Novo Testamento pode ser usado para Idade Média, por tribunais que tinham todo o poder
mostrar quais coisas estão franqueadas à liberdade civil e eclesiástico. E nem impõem as igrejas penas
cristã, e quais coisas realmente contradizem os que pertencem, com maior propriedade, às autori-
princípios morais. Naturalmente, há ramos do dades civis. Os hereges não continuam sendo banidos
cristianismo que não concordam quanto à interpreta- ou executados, mas podem ser separados da
ção dessas instruções, em sua integra, ainda que, em comunhão da igreja local. A hierarquia maior da
sentido geral, as diretrizes lhes pareçam claras. Igreja Católica Romana apresenta a possibilidade de
Nem sempre, porém, pode um ato ser explicado haver certos crimes eclesiásticos como a profanação
pelo uso ou pelo abuso da liberdade. Há tal coisa das santas espécies (o pão e o vinho da eucaristia). a
como o pecado. Quando o erro real penetra, a atitude violência contra a pessoa do papa ou de outras figuras
da Igreja deveria caracterizar-se pela razão, pela eclesiásticas, a violação do selo da confissão
gentileza e pela consideração, na atitude de quem sacramental, a apostasia, a heresia, o impedimento
procura restaurar àquele que errou,como alvo mais das funções das autoridades eclesiásticas, a aderência
importante do que a punição. De fato, a própria à maçonaria, a participação nas atividades de seitas
punição deveria ser um meio de restauração, e não de não-católicas, a violação do enc1ausuramento das
mera retribuição. freiras, a manufatura de reliquias falsas, etc.
190
PENAS ECLESIÁSTICAS - PENDÃO
Em algumas igrejas, o número das coisas dessa outros oficiais da igreja, como os diáconos e anciãos, a
natureza é grandemente multiplicado, cobrindo todas fim de pressionar o membro: ofensor; uma assem-
as áreas da vida como a participação em atividades bléia geral da igreja é convocada e as questões são
mundanas, vestes indecentes, certos penteados, a falta discutidas; penas são impostas ao membro infrator.
de freqüência à igreja, etc. Porém, para alguns grupos As penas mais sérias são a exclusão, talvez com a
evangélicos há poucas coisas tão drásticas como o suspensão da mesma se houver evidência de
desvio de idéias, mesmo quando isso não possa ser arrependimento. Nos casos severos, que tratam de
classificado como heresia franca. Casar-se fora do crimes morais graves, a pessoa pode ser entregue a
próprio grupo é considerado um problema sério em Satanás, para destruição do corpo (I Cor. 5:5). Só
quase todos os grupos cristãos, mesmo quando tal tenho visto um único caso dessa natureza; mas
matrimônio se dá com membros de alguma outra suponho que muitos têm tentado impor essa pena sem
denominação cristã. sucesso. Pois Deus nunca fará qualquer coisa dessa
ID. AIpmu Penu natureza, somente porque algumas pessoas pensam
Nos grupos cristãos menos formais, às vezes, um que assim deve ser feito, e cujos motivos não são
membro aborrece o outro, não por meio de algum ato perfeitamente justos.
formal, mas como se fosse uma censura. A palavra de Na Igreja ocidental, as maneiras de proceder são
conselho do pastor ou de outro oficial eclesiástico é muito complexas, sendo governadas por leis específi-
uma penalidade suave comum. Se alguma infração caso As ferendae sententiae são penas impostas por
for mais séria, talvez a igreja sinta ser mister aplicar a sentenças judiciais. Atualmente, são raramente
pressão exercida por dois ou três outros membros, na impostas a membros leigos da Igreja Catôlicâ'
companhia de quem o pastor visita o membro Romana. Usualmente, essas penas envolvem um
ofensor. Nos casos radicais, quando é sentido que o julgamento na presença de um juiz. As latae
melhor é remover o membro faltoso do rol de sententiae envolvem casos onde leis específicas estão
membros da igreja, a questão é considerada por toda envolvidas e as penas são impostas sem a necessidade
a congregação, ou então pelo presbitério (dependendo de qualquer julgamento, por já serem penas previstas
do tipo de governo eclesiástico existente). Essas na legislação. A exclusão pode ser uma das penas
questões são abordadas no artigo sobre a Disciplina, impostas. Das pessoas espera-se que saibam o
com textos de prova apropriados. bastante acerca das leis e das penas de suas igrejas,
A Igreja acidentai fala em termos de duas classes para que tenham consciência do que lhes poderá
gerais de penas: a primeira dessas categorias suceder, se cometerem certos erros. As ferendae
compõe-se das censuras, também chamadas penas sententiae (impostas principalmente contra membros
medicinais. Em segundo lugar, há as penas ofensores do clero) envolvem julgamentos com
vindicativas, cuja finalidade é infligir castigo. A advogados de defesa e modos de proceder muito
primeira dessas categorias tem a esperança de parecidos com os dos tribunais seculares. Nesses
produzir a reforma; a segunda categoria aplica à casos, o juiz tem o poder de escolher entre penas
pessoa o que ela merece por suas más ações. Além alternativas possíveis, repreendendo no caso de uma
disso, há as penitências (que vide), que visam à primeira ofensa, ou suspendendo uma sentença já
satisfação ou reparação. As penas vindicativas, baixada. A audição perante um bispo pode substituir
naturalmente, também podem ter um aspecto medici- esse método, embora essa substituição não seja
nal. A própria exclusão é tanto vindicativa quanto permitida no caso de ofensas mais sérias.
medicinal. A privação de sepultamento cristão, como A disciplina e as penas têm por intuito reformar e
nos casos de suicídio, é uma espécie de medida não apenas injuriar. Mas, algumas vezes, o indivíduo
vindicativa pós-morte. Os ministros que erram estão precisa pagar pelo que fez. Certo autor cuja obra
sujeitos às suas próprias penas como a deposição do impressa tenho à minha frente neste momento,
cargo, a privação de direitos de oficio, a perda das lamenta-se como segue: «Os fiéis têm ficado mais
vestes eclesiásticas e a suspensão, digamos, do direito mornos, mais passivos e menos ativamente irreveren-
de celebrar missas ou ouvir confissões, no caso de tes do que antes-um sinal dos tempos. Mas as
padres católicos romanos. A exclusão, visto que regras, conforme elas são, testificam sobre a
envolve muitos niveis de infração, é uma medida solicitude da Igreja em favor daqueles que lhe foram
extremamente complexa na Igreja Católica Romana. confiados». (R)
Os excomungados são classificados de acordo com
três classes diversas: 1. Os tolerati. Esses são aqueles
que praticaram erros particulares. Esses não podem PENDÃO
participar dos oficios divinos, mas não são excluídos Duas palavras hebraicas são assim traduzidas em
das reuniões da igreja. 2. Os notorii, Esses são aqueles portugues:
cujos erros são notórios, que vieram a tornar-se 1. Degel, «bandeira», «estandarte•• No deserto,
públicos. Os culpados são excluídos dos oficios cada tribo de Israel tinha seu estandarte identificador
divinos, embora não necessariamente dos cultos da (ver Núm, 1:52; 2:2,3). O trecho de Sal. 20:5 usa essa
igreja. Se não se declararem arrependidos, poderão palavra para referir-se aos estandartes usados pelos
sofrer a pena de não terem sepultamentos cristãos. 3. exércitos que iam à batalha, com inscrições
Os vitandi, ou seja, aqueles que devem ser evitados. apropriadas, em consonância com seus propósitos e
Esses são excluídos dos ofícios divinos, bem como de esperanças. Em Cano 6:4,10 temos um uso figurado
qualquer participação em funções eclesiásticas, do termo, referindo-se à aparência distinta da pessoa
embora não dos contactos sociais necessários. Esse amada.
tipo de exclusão só pode ser declarado pela Santa Sé, 2. Nes, «bandeiras, «insignia... Era em tomo dessa
e atualmente somente os casos mais graves são assim insígnia que os soldados reuniam-se. Em Isa, 11:12,
tratados. lemos que o Messias levantaria sua bandeira, como
IV. MJmeIr.. de ApUcar sinal de seu poder e de seus propósitos. Talvez esteja
Nas igrejas menos formais, o modo de proceder é implicita ai a- assertiva Yahweh nusi, ou seja, «o
simples: uma pessoa fala com outra e exprime seu Senhor é a minha Bandeiras, Ver Exo. 17: 15 em
desprazer; o pastor aconselha o ofensor, algumas conexão com essa possibilidade.
vezes na presença da pessoa ofendida; o pastor leva Essas bandeiras ou pendões eram erigidos em
191
PENDENTE - PENHOR
mastros, altos de colinas ou outros lugares elevados, PENDENTES DE NARIZ
convocando tribos ou exércitos. Ver Núm. 2:2; 21:8
ss; Sal. 60:4; Isa. 11:10; 13:2; Jer. 4:21. Os Por incrivel que possa parecer, a vaidade feminina
arqueólogos encontraram uma significativa insignia levava as mulheres, na: antiguidade, a perfurarem a
dessas quando, nos túmulos reais da Sumérla, em Ur aba do nariz para ali enfiarem um pendente
(de cerca de 2900 A.C.), encontraram um pendão (conforme tantas mulheres hoje em dia furam as
cravejado com conchas e lápis-lazúli. . orelhas para usar brincos). Esses pendentes, munidos
de uma argola, eram feitos de metais preciosos,
Os pendões eram símbolos de identificaçlo, como o ouro e a prata, nos quais se engastavam contas
autoridade, prop6sito-e tomavam-se objetos de ou corais. Geralmente, esses pendentes de nariz eram
ufania e patriotismo. usados no lado direito do apêndice nasal. Esse
costume continua até hoje entre as mulheres
beduinas, e na India. Rebeca usava um desses
PENDENTE pendentes de nariz, erroneamente referido em
No hebraico, devemos dar atenção a três palavras alfUmas traduções como um brinco de orelha. Ver
diferentes: Gen. 24:22,30. O trecho de Isa. 3:21 mostra-nos que
1. Nezem, «argola para o nariz ou para a orelha». as mulheres, nos dias do profeta Isaías, usavam
Ela é usada por quinze vezes no Antigo Testamento: pendentes do nariz. Entre os presentes que Deus dará
Gên. 24:22,30,47; 35:4; Êxo. 32:2,3: 35:22; Jui. simbolicamente a Jerusalém, temos o pendente do
8:24·26; J6 42:11: Pro. 11:22: 25:12: Osé.· 2:13; nariz, em Eze. 16:12. Ver o artigo geral sobre JóiaSf
lsa. 3:21; Eze. 16:12..
2. Lachash, «amuleto». Essa palavra ocorre por
apenas duas vezes de modo a poder ser traduzida por rgNEIRA
pendente: Isa. 3:20 e Ecl. 10:11. No hebraico, há duas palavras envolvidas, a saber:
3. Agil, «argola». Também é palavra que 56 figura 1. Kebarah, que aparece somente em Am6s 9:9.
por duas vezes: Núm. 31:50; Eze, 16:12. Dá idéia de 2. Naphah, que figura também somente por uma
um adorno em forma circular. vez, em Isa. 30:28.
Especialmente no caso da primeira dessas palavras Um utensílio usado pelos povos orientais para
temos a idéia de algo «pendurado•. Por H>SO mesmo os peneirar grãos de cereal. Esse utensílio era feito de
pendentes têm um formato que faz lembrar uma talas ou de tios. Nos textos referidos, o instrumento
gota que cai. O trecho de Jui. 8:24-26 pode indicar aparece em sentido metaf6rico, referindo-se ao dia em
pendentes para pôr no nariz ou nas orelhas, Mas que Deus julgará as nações gentilicas e a nação de
também havia pendentes para serem postos sobre a Israel.
testa. Ver os artigos Anéis e Jóias e Pedras Preciosas.
recebeu a educação necessária, como também diz a produzido certas seções do Pentateuco, que, Iingüisti-
Bíblia: «E Moisés foi educado em toda a ciência dos camente falando, pertencem a um periodo diferente
egípcios.... (Atos 7:22). Ver o artigo geral chamado desse idioma. Posso ilustrar isso, conforme também
Escrita, quanto a detalhes sobre a questão. O tenho feito, com base na minha experiência pessoal
ugaritico foi a mais antiga lingua semítica, e a escrita com o idioma grego. Tenho lido o grego por diversos
ugaritica, puramente alfabética e fonográfica antece- anos, estando bem familiarizado com o grego clássico
de ao hebraico bíblico por cerca de nada menos de mil do tempo de Platão, e com o grego «koiné». Porém
anos. Abraão viveu em um tempo em que podia quando me foi dada a tarefa de ler Homero (que data
observar cinco sistemas distintos e completos de de alguns poucos séculos antes da época de Platão),
escrita, comumente usados no ambiente cultural à sua perguntei a meu professor: -O senhor tem certeza de
volta. Isso posto, Moisés, sem a menor sombra de que isto não é egípcio, e não grego? Sim, porque o
dúvida, conheceu esses e outros sistemas de escrita. Ê vocabulário grego é radicalmente diferente, de tal
até mesmo possivel que os próprios israelitas comuns modo que o estudante precisa aprender um vocabulá-
cativos no Egito (pelo menos alguns deles), fossem rio virtualmente novo, pertinente àquele período mais
capazes de escrever nas antigas linguas semíticas, que antigo. E os eruditos do hebraico dizem-nos que
Moisés também pode ter aprendido, além de saber existem níveis de hebraico no Pentateuco, que não
escrever em egípcio. Escritas alfabéticas semíticas podem ser todos atribuídos a um único periodo
parecem já ter estado em uso desde 1900 A.C. As histórico.
descobertas arqueológicas, além disso, tendem por Ê claro, pois, que a resposta a essa questão das
mostrar que a arte da escrita é mais antiga do que se duplicações não depende somente em explicar as
pensava anteriormente. discrepâncias existentes nos relatos paralelos. E
4. O Uso dos Nomes Divinos. Um dos principais também não podemos afirmar que algum dado autor
alicerces da teoria dos múltiplos documentos, meramente repetiu-se por meio de algum sumário, ou
chamado de teoria J. E. D. P.(S.), argumenta que a fim de fornecer a seus leitores alguns outros
distintos nomes divinos identificam diferentes autores detalhes. G.L. Archer expõe concisamente esse
ou editores. Assim, a fonte J teria empregado o nome problema das duplicações, em sua obra A Survey 01
Yahweh (Jeová), ao passo que a fonte E teria Old Testament Introduction, págs. 117-124, mas
empregado o nome Elohim, Contra esse argumento, isso não resolveu o problema Iingüístico,
pode-se mostrar que a fonte J também empregou o 6. Os Problemas de Estilo e de Vocabulário. O
nome Elohim, e que a fonte E também empregou o estilo de um autor é como as suas impressões digitais.
nome Yahweh. Em réplica, os criticos dizem que Trata-se de algo muito pessoal. Além disso, sua
editores posteriores é que misturaram os nomes, e que escolha de certas expressões toma-se algo habitual.
essas misturas não são muito freqüentes. No entanto, Por outra parte, qualquer autor, aqui e acolá, haverá
a arqueologia tem demonstrado que nas culturas de incorporar os escritos de alguma outra pessoa; e,
mesopotâmicas, o uso de vários nomes divinos para nesses casos, temos um autor étiferente, mas somente
uma única divindade era um fenômeno comum. Seria pelo fenômeno da incorporação, e não como uma
realmente de estranhar se isso também não tivesse autêntica múltipla autoria. Facilmente Moisés pode-
sido feito pelos autores bíblicos. Assim sendo, o uso ria haver incorporado outros materiais, como c6digos
predominante de algum nome divino talvez tenha sido legais, poemas e relatos, e ainda assim ter sido o único
uma questão de mera preferência pessoal, e não que autor-editor do Pentateuco. Assim, o argumento
algum nome divino especifico fosse o único nome alicerçado sobre as diferenças de estilo não é inútil a
conhecido e empregado por algum autor sagrado. O tal ponto que possa ser ignorado. Na verdade,
deus artifice ugaritico (adorado mais ou menos na diferentes autores escrevem de diferentes modos.
época de Moisés) tinha um nome duplo, Kothar Mas, visto que isso pode refletir mera Incorporação, e
198
PENTATEUCO
não a obra verdadeira de algum autor distinto, o dito que não há uma única referêncíahistórica ao
argumento não é conclusivo. O reformador protestan- período após a morte de Moisés, embora certas coisas
te, . Carlstadt .não foi capaz de achar diferenças de ali ditas possam ser entendidas dessa maneira. Seja
estilo em seções de antes e depois da morte de Moisés, como for, se é verdade que o livro foi escrito durante o
dai supondo que Moisés não poderia ter escrito tanto período monárquico de Israel, então o autor sagrado
umas quanto outras. E visto que as seções que se usou de extremo cuidado para evitar qualquer
seguiram à sua morte obviamente não foram escritas referência clara às coisas que estavam sucedendo
por ele, dai ele concluiu que Moisés não pode ter durante os seus próprios dias. A passagem de Deu.
escrito o Pentateuco, sob hipótese alguma. Isso ele 17:14-20 . é especialmente controversa, porquanto
fez como aplicação do argumento baseado no estilo, antecipa claramente a monarquia (talvez profética-
ainda que de maneira um tanto inversa, mente), ou então é mesmo um pequeno trecho
A . dIstiIlçlo entre J e E com base no vocabulário e hist6rico, apresentado como se fosse uma antecipa-
no estilo não parece estar suficientemente fundamen- ção. Os criticos argumentam que a monarquia está
tada, embora a fonte P (S) pareça ter algumas definidarnente em vista como uma realidade histórica,
características distintivas. Seu estilo é esquemático, apesar da tentativa do autor de fazer «tudo parecer
altamente ritualista, estatistico (muito uso de antigo. no seu livro. Os vss. 16 e 18, que falam na
genealogias, informes, cifras). No entanto, a alegada multiplicação de esposas e cavalos parece ser um
fonte informativa J menciona o sacerdócio aarônico comentário indireto- sobre Salomão, que cometeu
por treze vezes, pelo que necessariamente contém avidamente ambos os erros. Porém, isso é negado
muito daquilo que certos eruditos têm atribuido pelos eruditos conservadores. O uso da terceira pessoa
exclusivamente a P(S). - Isso significa que os do singular era e continua sendo prática comum entre
argumentos não são suficientemente convincentes em muitos autores, que preferem escrever desse modo,
favor de uma múltipla fonte informativa. em vez de usarem a primeira pessoa. Talvez isso tenha
7. A Data Posterior do Deuteronômio. Uma grande ocorrido no caso do Deuteronômio.
porção desse livro (fonte informativa D) é datada em 9. Diferenças Religiosas. Alguns estudiosos vêe~
cerca de 620 A.C., por certos críticos. Os argumentos no Pentateuco certas idéias religiosas e problemas que
em favor disso incluem a afirmação de que as práticas foram típicos não nos tempos mais antigos, e, sim, em
pagãs ali mencionadas ajustam-se bem ao tempo de tempos monárquicos, posteriores. Um desses itens
Josias, mas não antes. O Deuteronômio parece tomar envolve a questão das formas de idolatria. Formas de
consciência da posição cêntrica da adoração (em idolatria, mencionadas em Deu. 4:19 e 17:3; que
Jerusalém), apesar do fato de que o livro não incluíam a adoração a corpos celestes, parecem
menciona o templo, e, muito menos, Jerusalém. ajustar-se melhor a um período histórico posterior.
Passagens como Deu. 12:5 ss: 14:23 sa; 15:20; 16:2 'ss; Porém, a arqueologia tem provado que a adoração aos
17:8,10; 18:6 e 26:2 talvez apontem para a adoração astros é uma das mais antigas formas de idolatria. Já·
efetuada em Jerusalém. Nesse caso, o autor sagrado pudemos considerar a questão da centralização da
teria evitado criteriosamente mencionar essa cidade e adoração, em Israel, que se aplica ao que aqui
seu templo, porque estava tentando emprestar ao seu dizemos. Ver sobre o sétimo ponto. Presumiveis
livro um passado mais distante. Por outra parte, a diferenças religiosas podem depender da falta de
centralização da adoração em um único lugar, informações, e não de distinções hist6ricas genuínas,
poderia ser uma espécie de antecipação profética 10. A Arqueologia e o Periodo Patriarcal. Os críticos
ideal. Nesse caso, a omissão de Jerusalém e de seu admitem hoje em dia que a arqueologia tem
templo foi uma omissão histórica genuina. Os críticos demonstrado de forma adequada a autenticidade dos
pensam que a proibição, em Deu. 16:5,6, de não se relatos sobre os patriarcas. Mas isso poderia envolver
sacrificar a páscoa em qualquer outro lugar além a incorporação de genuínas antigas tradições, e não
daquele determinado por Deus, como um reflexo da que o próprio Moisés tenha sido autor desses relatos.
contenção entre os judeus (Jerusalém é o lugar da Os estudiosos conservadores, por sua parte, pensam
adoração), e os samaritanos (o monte Gerizim é o que Moisés foi o responsável pela transmissão desses
lugar da adoração). Os eruditos conservadores materiais, como um figura cêntrica na corrente dá fé
acham, entretanto, que isso é ler demais no texto dos hebreus.
sagrado.
8. O Uso da Terceira Pessoa do Singular e as CoDceIl'a. FeltM por AJa-- ~ Coa-
Referências Históricas. O próprio Pentateuco não senado... Nem todos os estudiosos conservadores
reivindica a autoria mosaica (exceto em Deu. 31:6, pensam que é mister supor a autoria mosaica do
mas que poderia ser uma anotação editorial, Pentateuco inteiro. Antes, procuram encontrar um
conferindo a autoridade mosaica à sua obra escrita, a meio-termo entre os críticos e os conservadores a
tradição mosaica da lei, ou a coletânea dos cinco qualquer preço. Crêem que a tradição da autoria
livros), e a totalidade da obra foi escrita na terceira mosaica do Pentateuco é satisfeita pela declaração de
pessoa do singular. Os discursos de Moisés, que que há ali a incorporação de escritos mosaicos
foram incorporados, poderiam refletir genuinas genuínos, e que seu código legal ficou ali bem
declarações mosaicas, ou, em alguns casos, ser da preservado. Os grandes códigos legais são atribuidos
lavra do editor. Até mesmo Deu. 31:9 é uma especificamente a Moisés (a saber, Êxo, 20:2-23:33;
referência feita na terceira pessoa do singular, algo Deu. caps. 5-26; 31). - Além disso, o itinerário
que um editor normalmente teria feito. O vs. 24 fala coberto por Israel, em Núm. 32:2, sem dúvida, é um
no ato de escrever de Moisés, mas, novamente, na documento histórico genuino.
terceira pessoa. Destarte, o livro de Deuteronêmío Elementos Não-Mosaicos no Pentateuco. Isso é
poderia ser um pseudepígrafo, ou meramente uma admitido até mesmo por estudiosos conservadores.
obra que incorpora alguns escritos mosaicos genui- Ver Gên. 14:14 (a menção de Dã); 36:31; Êxo, 11:3;
nos. Declarou W.F. Albright: eDeuteronômiofoi uma 16:35; Núm. 12:3; 21:14,15; 23:34 ss; Deu. 2:12 e
tentativa de recapturar a letra e o espírito do 34:1-12. Outras referências discutidas antes, podem
mosaísmo, que havia sido negligenciado ou esquecido caber dentro dessa categoria. Assim sendo, falamos
pelos israelitas da monarquia». Isso sumaria um sobre a autoria mosaica do Pentateuco, no sentido de
ponto de vista possível da autoria e historicidade do incorporação genuína de escritos mosaicos, com su'*
livro de Deuteronômio. Contra isso, porém, pode ser idéias, tradições e contribuições. Mas não pensamos
199
PENTATEUCO
que Moisés foi o autor exclusivo do Pentateuco, Sem esse simbolismo, encontrando muitas lições religiosas
qualquer papel desempenhado por um editor ou e morais que se estribam sobre o relato do Antigo
editores, e sem a incorporação de elementos Testamento. O quintó capitulo da epistola aós
posteriores. A redação final do Pentateuco pode ter Romanos dá-nos a doutrina dos dois homens, o
ocorrido durante o periodo monárquico. Desnecessá- primeiro e o segundo Adão. Ver o artigo intitulado
rio dizer, o problema é extremamente complexo e vai Dois Homens. Metáfora dos. Ver também Éxodo, O
crescendo, à medida que são apresentados novos conceito de pacto (havendo alguns deles no Pentateu-
argumentos, pelo que as conclusões são meras co) é muito importante dentro do pensamento cristão,
tentativas. Ver o artigo geral sobre os Pactos. Paulo deixou claro
A defesa da autoria mosaica do Pentateuco inteiro que a fé cristã repousa sobre' os atos hist6ricos
é, essencialmente, a defesa da tradição que circunda a remidores, registrados no Pentateuco (ver Gál. 3 e
questão, e não a defesa de qualquer reivindicação Rom. 4). A fé do Antigo Testamento é a mesma do
. feita pelo próprio Pentateuco. Novo Testamento. A fé de Abraão é a nossa fé, e nós
V. TeoIoIIa cio Pentateaeo e Sua ImportiDela somos filhos espirituais de Abraão. O antigo
ReJJaIoIa legislador. Moisés. foi substituido pelo Novo Legisla-
«O Pentateuco precisa ser definido como um dor, Jesus Cristo (segundo se aprende em João 1:17).
documento que empresta a Israel a sua compreensão. O Sermão da Montanha repousa sobre esse conceito e
e sua etiologia da vida. Ali, através de narrativas, esclarece-nos bastante sobre a nova lei que Cristo
poemas, profecia e lei, é revelada a vontade de Deus ensinou. Ver Mat. 5-7. A lei exerceu sua função vital
acerca da' taPefa do povo de Israel no mundos (A. de mestre-escola, que nos conduziu a Cristo (ver Gál.
Bentzen, Introduction to the Old Testament ... 1952. H, 3). Através de seus muitos ritos e cerimônias. a lei
ilustrou aspectos diversos do oficio remidor de Cristo,
p á g. 77) . d • I
«Um registro de revelações e reações às mesmas, o segun o também a epísto a aos Hebreus ilustra com
Pentateuco testifica dos atos salvaticios de Deus, o muitos detalhes.
soberano Senhor da hist6ria e da natureza. O ato VI. Importiada IIbt6dca do Pentateaeo
central de Deus, no Pentateuco (e, de fato, em todo o O Pentateuco relata questões baseadas em fatos
Antigo Testamento), é o êxodo de Israel do Egito. Ali hist6ricos genuínos, Não se trata, contudo, de uma
Deus irrompeu na consciência do povo de Israel, história completa dos tempos historíados, mas
revelando-se como o Deus redentor... Tendo provado enfatiza certos eventos que são importantes para
fOClerosa e abertamente ser ele o Senhor, no ato do compreendermos a hist6ria relativa à fé judaico-
exodo, Deus conduziu os ísrâelítas à percepção de ser cristã. O periodo patriarcal tem sido ricamente
ele o criador e sustentador do universo, bem como o ilustrado pela arqueologia. O registro do Pentateuco
dirigente da hist6ria... A graça divina não somente é sobre os prim6rdios do homem e como se propagou
revelada em seu livramento e orientação, mas também subseqüentemente, limita-se às áreas em tomo das
na outorga da lei e na iniciação do pacto... Sem quais gira o relato bíblico, e não pretende falar sobre
importar qual tenha sido a origem do Pentateuco. raças que não pertenciam àquelas áreas, embora
agora destaca-se como um documento que possui uma alguns tentem injetar isso no registro sagrado: Mas,
rica unidade interior. e o registro da revelação de quanto ao surgimento e propagação da cívíüzação,
Deus na história e de seu senhorio sobre a histôria. naquelas regiões do mundo, o Pentateuco reveste-se
Testifica tanto sobre a reação de Israel como sobre de grande importância histórica. Seu relato sobre o
sua falha, por não reagir devidamente. Testifica da dilúvio recebeu subsídios de outros antigos relatos a
santidade de Deus. que O separa dos homens, e respeito, sendo confirmado por descobertas geográfi-
também de seu gracioso amor, que vincula os homens cas e arqueol6gicas modernas. Apesar de datas exatas
com ele, segundo as suas condições» (NO). e detalhes estarem em dúvida. a narrativa do
Fato. 1' • Notar. O Pentateuco é o Pentateuco sobre as jornadas de Israel no Egito e
............... depois do êxodo, além da conquista da Terra
co~eço e o alicerce de todas as revelações judaico- Prometida. tem sido consubstanciada por outras
cristãs subseqüentes. Procura descobrir o começo de fontes informativas, tanto literárias quanto arqueolô-
todas as coisas. apresentando Deus como a fonte de gicas. Apesar da fé religiosa ser capaz de sobreviver
toda a vida. A partir dai. procura conferir-nos noções muito bem sem conexões histôricas, a história sempre
sobre o começo do homem, e como o mesmo foi importante aos olhos dos hebreus; e outro tanto
relaciona-se com Deus. ou deve relacionar-se com Ele. pode ser dito acerca dos registros cristãos no Novo
Os três nomes divinos. Yahweh. Elohim e Adonai, Testamento. que falam sobre a origem e o
cada qual com sua própria significação (respectiva- desenvolvimento da fé em Jesus Cristo.
mente, o Eterno, o Todo-Poderoso e o Senhor),
aludem a maneiras pelas quais Deus relaciona-se à vn. TeorIM CoemolóPea
sua criação. Seus variegados tipos de literatura e a Uma importante caracterlstica distintiva do Penta-
complexidade de sua mensagem encontram seu mais teuco consiste em sua tentativa de descrever origens, .
perfeito cumprimento na pessoa do Cristo que veio primeiramente do próprio universo material. e então
dos céus até nós (ver I Cor. 10:11). do homem. dentro desse ambiente. Um importante
O Pentateuco e a Teologia do Novo Testamento. aspecto disso é sua abordagem monotelsta, o que
Antes de tudo. o Deus da antiga criação é também o distingue essa narrativa de relatos similares. de outros
Deus da nova criação. por meio de seu Filho. Essa povos mesopotâmicos. Os cristãos tem cristianizado e
circunstância distingue o cristianismo de todas as modernizado seus relatos, a fim de ocultar certos
religiões e filosofias. Apesar de persistirem mistérios problemas; mas a contribuição feita pela história
quanto ~o modo e ao tempo da nova criação. pelo biblica da criação nem por isso saiu prejudicada.
menos dispomos do grande fato de que essa criação Tenho escrito vários artigos sobre o assunto. dando
envolverá uma intBTVençiio divina. um plano divino. amplos detalhes sobre a questão, que não são
um alvo divino. A queda do homem no pecado reiterados aqui. Ver sobre Cosmologia: Cosmogonia:
tomou-se parte -,essencial do pensamento cristão, Criação: Adão: Antedüuvianos.
acompanhado pela necessidade de redenção que o VID. 11~ de Uteratura DO ~
ex~ e a entrada na Terra Prometida tipificavam. 1. Narrativas. Uma das caracterlsticas do povo
Mwtas passagens do Novo Testamento empregam hebreu é que eles gostavam de narrar histórias, o que
200
I I
PENTATEUCO - PENTECOSTALISMO
evoluiu ao ponto de tomar-se llist6ria verdadeira e ajustam a esse esquema, como a de Ismael (Gên,
séria, pela qual eles muito se interessavam. Dai 25:12-18), ou a de Esaú (0&1. 36). Mas tais
originou-se o Antigo Testamento, o mais excelente genealogias foram anotadas por sua intima associaelo
dos livros de hist6ria da antiguidade, posto que de com a hist6ria de Israel. O décimo capitul() de
qualidade especial-e-a hist6ria das revelações divinas Gênesis encerra a tabela das nações, uma espécie de
ao homem-que veio a tornar-se mundialmente genealogia u1uversal, que nos informa quanto .ao
conhecida. No Pentateuco começamos pelas narrati- papel das nações descendentes dos três filhos de Noé.
vas da criação; em seguida vem a narração do dilúvio; Não é usado, porém, o termo -gerou», dando-nos a
entâo a propagação das nações; e depois a hist6ria dos impressão de um bem amplo esboço de descendência,
patriarcas hebreus. No livro de Êxodo, ficamos sem grande exatidão. Essa tabela apresenta várias
sabendo como o povo de Israel terminou escravizado nações do mundo bíblico, dentro daquilo que
no Egito, e como, apôs vários séculos, por poderiamos chamar de relações etnogeográficas..
instrumentalidade de Moisés, os israelitas foram Bibliografia. ALB AM ARC BA BAR BEN BRI CG
libertos do Egito. No livro de Números, é detalhada a DRI G GN IB IOT MAN ND Z
história das vagueações de Israel pelo deserto, onde
também encontramos a introdução das instituições
que se tomaram o alicerce da nação hebréia. O livro
de Levitico não inclui muito desse elemento de PENTATEUCO SAMARITANO
narrativa, embora tenhamos ali os relatos sobre os Ver sobre Samulbmo, O Peutldeaeo.
pecados rituais de Nadabe e Abiú, filhos de Aarão
(cap. 10). Esse livro reinicia a história onde ela fora
deixada pelo livro de Êxodo, com Israel estacionado PENTECOSTAUSMO
no deserto do Sinai, E então, é dito como os israelitas Ver o artigo geral sobre MedmeatG Carfena........
organizaram seus exércitos para a conquista da Terra O pentecostalismo emergiu dentre o metodismo. Não
Prometida. O trecho de Núm. 9:1 conta a história da demorou para que surgissem muitas divisões separa-
primeira páscoa. O relato sobre os espias arma o das do movimento, as quais se transformaram em
palco para a invasão da Terra Prometida, mas isso foi denominações. E, então, a fragmentação do protes-
seguido por trinta e oito anos de vagueação, devido à tantismo acelerou-se extraordinariamente. Minha
covardia de fé da parte de Israel. Ai, pois, principal fonte informativa alista vinte principais
encontramos uma grande lição moral objetiva. Há denominações pentecostais nos Estados Unidos da
coisas de grande valor, que podemos perder, por falta América; mas o número total é muito maior do que
de coragem espiritual. Felizes aqueles que têm isso. A mensagem pentecostal espalhou-se a todas as
grandes sonhos e dispõem-se a pagar o preço para que partes do mundo, através de suas agências missioná-
tais sonhos se concretizem. Os capítulos 26·36 de rias. Cerca de metade das igrejas evangélicas do Brasil
Números falam sobre os preparativos para a invasão compõe-se de grupos pentecostais.
da Terra Prometida. O livro de Deuteronômio dá As primeiras ênfases foram o perfeccionismo
continuidade a esse aspecto, embora não contenha metodista, a possessão e o uso dos dons espirituais
muita narrativa. Antes, ocupa-se com a reiteração dos (ver sobre Dons Espirituais) e a santificaçio (vide).
côdigos legais. Coube ao livro de Josué narrar como os Com alguma variação, essas sempre foram as ênfases
israelitas entraram na Terra Prometida, como a mais importantes do movimento pentecostaI. O
conquistaram e nela se estabeleceram. Enquanto livre-arbltrio é enfatizado. fazendo contraste com o
outras fontes, literárias e arqueolôgicas, têm servido determinismo (ver os artigos sobre ambas as
para confirmar o relato apresentado, a narrativa do questões). De modo geral, a doutrina arminiana é
Antigo Testamento nunca teve apenas esse intuito. favorecida, fazendo contraste com o calvinismo (vide).
Pois, ao mesmo tempo, sempre serviu de manual de Ver sobre Arminianismo, No entanto, dentro do
orientação, ensinando-nos sobre como agir. Há movimento carismético (vide), que vai alcançando as
relatos que expõem exemplos positivos e negativos, mais diversas denominações cristãs, é comum
que muito têm a ensinar-nos. acharem-se igrejas de pendor nitidamente calvinista,
ou mesmo aquelas que assumem posição de
2. C6digos Legais. Quanto a um sumário desses meio-termo entre o arminianismo e o calvinismo,
códigos, ver a seção I, .ponto nono, C6digos Legais quando então a questão fica assim definida: antes da
Distintos do Pentateuco. Naturalmente, para o regeneração, o calvinismo; apôs a regeneração, o
judaísmo nunca houve fato tão importante quanto a arminianismo, ou, pelo menos, enfatiza-se a respon-
sua lei. Temos apresentado um artigo separado e sabilidade humana do crente. Quanto à posiçio
detalhado sobre Lei-C6digos da Biblia, Esta encielo- hist6rica do pentecostalismo no âmago do protestan-
pêdia contém trinta e cinco diferentes artigos acerca tismo, ver a quinta seçio do artigo chamado
da lei. Uma completa lista desses artigos pode ser Protestantismo.
achada no verbete intitulado Lei. Ver especialmente A maior virtude desse movimento é a sua ênfase
Lei no Antigo Testamento e Lei no Novo Testamento. sobre a necessidade da renovação espiritual atrav&
3. Poesia. Ver a seção I, décimo ponto, quanto a das experiências misticas(ver sobre o Misticismo). Os
esse material. seus piores vicios são o fanatismo, o legalismo, o
4. Genealogias, Essas têm a função de apresentar espiritismo cristlo (promovido sem que aqueles
linhagens, muito importantes para o desdobramento crentes tenham consciência do fato) e o exclusivismo.
do relato bíblico. As primeiras genealogias (Gên, 5 e e costumeiro aparecer algum novo grupo clt
11), entretanto, não visavam ser registros completos, -restauração», afinnando-se uma expressão superior'
pelo que não podem ser usadas para estabelecimento ou mesmo única do cristianismo bíblico. Também
de datas. Antes, tinham a finalidade de apresentar poder-se-ia mencionar que, em vista de uma formaçio
nomes representativos de alguma linhagem que partia teológica deficiente, por parte de boa parte do
de Abraão, por meio da qual o propósito divino para ministério pentecostal, praticam-se' muitas aberra-
Israel seria cumprido. Através de Abraão é que todas ções, que parecem chocantes para crentes mais bem
as famUias da terra seriam abençoadas; e dele, fundamentados nos ensinos neotestamentários. Em
igualmente, procederia o Remidor, o Messias. defesa desse estado de coisas pode-se ventilar o fato de
Todavia. há algumas genealogias laterais que não se que o movimento pentecostal ainda é muito recente
201
ri'
PENTECOSTE
(surgiu ai por volta de 1900). O que isso significa pode zadas, naquele dia.
ser ilustrado pelos batistas, no inicio de sua história,
quando a falta de maturidade do grupo provocou I. Pentc.~ Jaa.aeo
muitos abusos e distorções grotescas. Portanto, Temos no Novo Testamento na palavra PeatecNte.
aguardemos algum tempo. A história sem dúvida uma designaçio~o-helenistapara a festa hebraica
mostrarâ reformas dentro do pentecostalísmo; e as das semanas, cuja instituição é descrita em Lev.
profecias bíblicas certamente estão ao lado do 23:15-21. Nas páginas do A.T., essa festa é chamada
misticismo que prevalecerá nos últimos dias. Ver 1001 de Festa das Semanas. (Ver o artigo geral sobre Festas
2:28-32 e Atos 2:16-41. (Festividades) Judaicas, e especificamente seção 11.
4.b.). O termo, Festa das Semanas císa: uma alusão às
diversas semanas que se tinham de passar entre a
páscoa e essa observância. Passavam-se sete semanas
PENTECOSTE E O PENTECOSTE CIUSTÃP (50 dias) entre as duas ocorrências, calculadas a
Ver o artigo geral chamado F.... (FfJlltlYI.....) começar do primeiro dia após o primeiro sábado da
JadaJcu, especialmente a seção IIAb. Feda cIu páscoa (ver Lev. 23:15~16). Os judeus que falavam o
Sem..... oa Penteeoate. grego chamavam a essa festa de Pentecoste, por ser
observada no qüinquagésimo dia após o tempo que
Introdução acabamos de mencionar. Ambas as designações
Declaração Geral aparecem em Tobias 2.1. A páscoa estava associada à
O termo Pentecoste é de origem grega, referindo-se colheita da cevada. O Pentecoste, pois, assinalava o
a «cinqüenta.. dias: A festa religiosa biblica do término da colheita da cevada, que começava quando
Pentecoste ocorria exatamente cinqüenta dias após a a foice era pela primeira vez lançada no grão (ver
pâscoa(Lev. 23:15-21; Deu. 16:9-12). Muitos eruditos Deut. 16:9). Também se considerava o começo dessa
supõem que sua origem era alguma festa da colheita, colheita ao serem movidos os molhos, « ••• no dia
celebrada pelos cananeus e por outros povos da ârea, imediato ao sábado... » (Lev. 23:11, 12a). Já a festa de
Então Israel teria tomado por empréstimo a mesma, Pentecoste marcava a colheita do trigo, e agia como
depois de ter-se estabelecido na Palestina, posto que espécie de santificação de todo o periodo da colheita,
conferindo à mesma um significado diferente. O da páscoa ao Pentecoste. .
Pentecoste era celebrado ao final de sete semanas, As festividades não se limitavam aos tempos do
envolvidas na colheita do cereal. Nos escritos bíblicos Pentateuco, mas a sua observância é indicada nos dias.
mais antigos, era chamada de «festa da colheita.. ou de Salomão (ver 11 CrÔ. 8:13), como a segunda das
«festa da sega dos primeiros frutos.. (Êxo, 23:16). três festas anuais (ver Deut. 16:16). Essas três grandes
Posteriormente, veio a ser conhecida como o shabuot; festas anuais eram: a festa dos pães asmos (que veio a
isto é, «festa das semanas.. (Deu. 16:10). Na literatura tornar-se parte integral da celebração da pâscoa,
judaica pôs-bíblica, veio a ser associada ao aniversário embora tivesse sido. instituída como celebração
da revelação da lei no monte Sinai, segundo o registro separada; ver Mat, 26:17 e João 2:13), a festa das
do décimo nono capitulo de Êxodo, semanas (Pentecoste) e a festa dos tabernáculos (ver
Uso Secular do Vocábulo. A palavra -Pentecoste.., João 7:2). Todas essas três festividades requeriam a
a partir do século IV A.C. em diante, passou a ser presença de todos os indivíduos de sexo masculino em
usada em conexão com um imposto sobre as Jerusalém, a fim de que participassem das cerimônias
mercadorias, cobrado pelo Estado. Dentro do seu uso e celebrações.
não-bíblico, a palavra era um termo técnico Observações sobre o Pentecoste e o Sinai, No
originalmente ligado aos impostos sobre as cargas no período intertestamentário e posteriormente, a festa
porto de Piraeus. Mas, em Israel, não havia qualquer de Pentecoste era reputada como o aniversário da
conotação de um imposto sobre as primícias dos entrega da lei mosaica, no monte Sinai. (Ver Jubileus
produtos do campo. O livro de Jubileus (6:21) LI com vL17; Talmude Babilônico, Persashim 68b e
revela-nos que se revestia de um duplo significado: Midras, Tanhuma 26c). Os saduceus celebravam essa
uma referência às semanas, e também às primícias, festa no qüinquagésimo dia (cômputo inclusivo, em
Sua relação com a outorga da lei foi ainda uma outra que o primeiro dia de uma série é incluído no cálculo),
significação que essa palavra acabou por adquirir. começando pelo primeiro domingo após a celebração
Em Israel, a festa de Pentecoste é celebrada no da páscoa. Esse era o cálculo que regulava a
sexto dia do mês de Sivã; e entre os judeus fora de observância pública do Pentecoste, enquanto esteve
Israel, no sexto e sétimo dias do mês de Sivã (entre a de pé o templo de Jerusalém. Por conseguinte, a igreja
segunda metade de maio e a primeira metade de cristã está justificada por sua observância do primeiro
junho). Na Diáspora, essa festividade perdeu comple- Pentecoste cristão em um primeiro dia da semana ou
tamente o seu caráter agrícola, tomando-se, pura- domingo, também chamado de domingo branca,
mente, uma festa .do tempo da outorga de nossa lei (a termo esse criado com base nas vestes brancas que os
Torah) ... Esse é o aspecto que atualmente permeía a candidatos ao batismo costumavam usar, prática essa
liturgia e as orações associadas às sinagogas que ficou vinculada à festa do Pentecoste.
modernas. A festa do Pentecoste era proclamada como dia de
O Pentecoste e o Domingo de Pentecoste. O santa convocação, durante a qual nenhum trabalho
Pentecoste veio a tomar-se um feriado cristão que manual podia ser feito, exceto aquilo diretamente
celebra a descida do Espírito Santo (ver a seção 11 associado à observância dessa festividade. Todos os
deste artigo), conforme está registrado em Atos 2:1·4. indivíduos do sexo masculino estavam na obrigação
Ocorre cinqüenta dias após a páscoa, pelo que foi de comparecer ao santuário central de Jerusalém (ver
retido o seu nome Pentecoste, com um sentido Lev. 23:21). Nessa ocasião, dois pães assados, de
tipicamente cristão, vinculado à descida do Espírito farinha de trigo nova e sem fermento, eram trazidos
Santo (a outorga da lei do Espírito) o seu antitipo, a para fora da tenda da congregação e eram movidos
doação da lei mosaica. A comunidade anglicana pelo sacerdote na presença do Senhor, juntamente
chama esse feriado religioso pelo seu nome inglês, com as ofertas de sacrifício cruento, pelo pecado, e
.Whitsunday.., que literalmente significa «domingo com as ofertas pacificas, que expressavam agradeci-
brancos. Esse dia é assim chamado por causa dM. mento (ver Lev. 23:17-20). Era considerado o
vestes de cor branca usadas por pessoas recém-bati- Pentecoste como um dia de júbilo, conforme também
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PENTECOSTE
(surgiu ai por volta de 1900). O que isso significa pode zadas, naquele dia.
ser ilustrado pelos batistas, no inicio de sua história,
quando a falta de maturidade do grupo provocou I. Pentc.~ Jaa.aeo
muitos abusos e distorções grotescas. Portanto, Temos no Novo Testamento na palavra PeatecNte.
aguardemos algum tempo. A história sem dúvida uma designaçio~o-helenistapara a festa hebraica
mostrarâ reformas dentro do pentecostalísmo; e as das semanas, cuja instituição é descrita em Lev.
profecias bíblicas certamente estão ao lado do 23:15-21. Nas páginas do A.T., essa festa é chamada
misticismo que prevalecerá nos últimos dias. Ver 1001 de Festa das Semanas. (Ver o artigo geral sobre Festas
2:28-32 e Atos 2:16-41. (Festividades) Judaicas, e especificamente seção 11.
4.b.). O termo, Festa das Semanas císa: uma alusão às
diversas semanas que se tinham de passar entre a
páscoa e essa observância. Passavam-se sete semanas
PENTECOSTE E O PENTECOSTE CIUSTÃP (50 dias) entre as duas ocorrências, calculadas a
Ver o artigo geral chamado F.... (FfJlltlYI.....) começar do primeiro dia após o primeiro sábado da
JadaJcu, especialmente a seção IIAb. Feda cIu páscoa (ver Lev. 23:15~16). Os judeus que falavam o
Sem..... oa Penteeoate. grego chamavam a essa festa de Pentecoste, por ser
observada no qüinquagésimo dia após o tempo que
Introdução acabamos de mencionar. Ambas as designações
Declaração Geral aparecem em Tobias 2.1. A páscoa estava associada à
O termo Pentecoste é de origem grega, referindo-se colheita da cevada. O Pentecoste, pois, assinalava o
a «cinqüenta.. dias: A festa religiosa biblica do término da colheita da cevada, que começava quando
Pentecoste ocorria exatamente cinqüenta dias após a a foice era pela primeira vez lançada no grão (ver
pâscoa(Lev. 23:15-21; Deu. 16:9-12). Muitos eruditos Deut. 16:9). Também se considerava o começo dessa
supõem que sua origem era alguma festa da colheita, colheita ao serem movidos os molhos, « ••• no dia
celebrada pelos cananeus e por outros povos da ârea, imediato ao sábado... » (Lev. 23:11, 12a). Já a festa de
Então Israel teria tomado por empréstimo a mesma, Pentecoste marcava a colheita do trigo, e agia como
depois de ter-se estabelecido na Palestina, posto que espécie de santificação de todo o periodo da colheita,
conferindo à mesma um significado diferente. O da páscoa ao Pentecoste. .
Pentecoste era celebrado ao final de sete semanas, As festividades não se limitavam aos tempos do
envolvidas na colheita do cereal. Nos escritos bíblicos Pentateuco, mas a sua observância é indicada nos dias.
mais antigos, era chamada de «festa da colheita.. ou de Salomão (ver 11 CrÔ. 8:13), como a segunda das
«festa da sega dos primeiros frutos.. (Êxo, 23:16). três festas anuais (ver Deut. 16:16). Essas três grandes
Posteriormente, veio a ser conhecida como o shabuot; festas anuais eram: a festa dos pães asmos (que veio a
isto é, «festa das semanas.. (Deu. 16:10). Na literatura tornar-se parte integral da celebração da pâscoa,
judaica pôs-bíblica, veio a ser associada ao aniversário embora tivesse sido. instituída como celebração
da revelação da lei no monte Sinai, segundo o registro separada; ver Mat, 26:17 e João 2:13), a festa das
do décimo nono capitulo de Êxodo, semanas (Pentecoste) e a festa dos tabernáculos (ver
Uso Secular do Vocábulo. A palavra -Pentecoste.., João 7:2). Todas essas três festividades requeriam a
a partir do século IV A.C. em diante, passou a ser presença de todos os indivíduos de sexo masculino em
usada em conexão com um imposto sobre as Jerusalém, a fim de que participassem das cerimônias
mercadorias, cobrado pelo Estado. Dentro do seu uso e celebrações.
não-bíblico, a palavra era um termo técnico Observações sobre o Pentecoste e o Sinai, No
originalmente ligado aos impostos sobre as cargas no período intertestamentário e posteriormente, a festa
porto de Piraeus. Mas, em Israel, não havia qualquer de Pentecoste era reputada como o aniversário da
conotação de um imposto sobre as primícias dos entrega da lei mosaica, no monte Sinai. (Ver Jubileus
produtos do campo. O livro de Jubileus (6:21) LI com vL17; Talmude Babilônico, Persashim 68b e
revela-nos que se revestia de um duplo significado: Midras, Tanhuma 26c). Os saduceus celebravam essa
uma referência às semanas, e também às primícias, festa no qüinquagésimo dia (cômputo inclusivo, em
Sua relação com a outorga da lei foi ainda uma outra que o primeiro dia de uma série é incluído no cálculo),
significação que essa palavra acabou por adquirir. começando pelo primeiro domingo após a celebração
Em Israel, a festa de Pentecoste é celebrada no da páscoa. Esse era o cálculo que regulava a
sexto dia do mês de Sivã; e entre os judeus fora de observância pública do Pentecoste, enquanto esteve
Israel, no sexto e sétimo dias do mês de Sivã (entre a de pé o templo de Jerusalém. Por conseguinte, a igreja
segunda metade de maio e a primeira metade de cristã está justificada por sua observância do primeiro
junho). Na Diáspora, essa festividade perdeu comple- Pentecoste cristão em um primeiro dia da semana ou
tamente o seu caráter agrícola, tomando-se, pura- domingo, também chamado de domingo branca,
mente, uma festa .do tempo da outorga de nossa lei (a termo esse criado com base nas vestes brancas que os
Torah) ... Esse é o aspecto que atualmente permeía a candidatos ao batismo costumavam usar, prática essa
liturgia e as orações associadas às sinagogas que ficou vinculada à festa do Pentecoste.
modernas. A festa do Pentecoste era proclamada como dia de
O Pentecoste e o Domingo de Pentecoste. O santa convocação, durante a qual nenhum trabalho
Pentecoste veio a tomar-se um feriado cristão que manual podia ser feito, exceto aquilo diretamente
celebra a descida do Espírito Santo (ver a seção 11 associado à observância dessa festividade. Todos os
deste artigo), conforme está registrado em Atos 2:1·4. indivíduos do sexo masculino estavam na obrigação
Ocorre cinqüenta dias após a páscoa, pelo que foi de comparecer ao santuário central de Jerusalém (ver
retido o seu nome Pentecoste, com um sentido Lev. 23:21). Nessa ocasião, dois pães assados, de
tipicamente cristão, vinculado à descida do Espírito farinha de trigo nova e sem fermento, eram trazidos
Santo (a outorga da lei do Espírito) o seu antitipo, a para fora da tenda da congregação e eram movidos
doação da lei mosaica. A comunidade anglicana pelo sacerdote na presença do Senhor, juntamente
chama esse feriado religioso pelo seu nome inglês, com as ofertas de sacrifício cruento, pelo pecado, e
.Whitsunday.., que literalmente significa «domingo com as ofertas pacificas, que expressavam agradeci-
brancos. Esse dia é assim chamado por causa dM. mento (ver Lev. 23:17-20). Era considerado o
vestes de cor branca usadas por pessoas recém-bati- Pentecoste como um dia de júbilo, conforme também
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RockefeJler·McCormiek Ms 966, Atos 1:16;
2:1, ss. A ReuniIo dos ApóstolosDO dia de
Pentecostes.
COrtesia, University of Chicago
Atos Laudiano, Século VI, Latim e Grego, Atos 9:25-27, - Cortesia, Bodleian
Library
PENTECOSTE - PEOR
nos diz Deut. 16:16; e era, essencialmente, um dia em Santo é o agente de toda essa operação divina, por ser
que o povo rendia graças a Deus pelo abundante ele a emanação da presença de Deus em nós, o «alter
suprimento da colheita. Porém, essa festa também ego» de Cristo, cujo desígnio é o de terminar a obra da
estava vinculada à memória do livramento de Israel redenção, que teve começo no ministério terreno de
da escravidão egípcia (ver Deut. 16:12) e do fato de Jesus Cristo.
que os israelitas eram um povo que firmara pacto com 3. Posto que esse acontecimento corresponde ao dia
Deus (ver Lev. 23:22). O fato da aceitação das ofertas em que a lei mosaica foi outorgada; no monte Sinai, o
pressupunha a remoção do pecado e a reconciliação Pentecoste do cristianismo pode ser historicamente
com Deus; e por isso é que sacrifícios eram oferecidos encarado como o começo daquela nova lei que é
em conjunção com as demais atividades próprias da implantada nos corações dos homens, o que os
festa. capacita a observarem-na, pois o poder para que o
crente observe a lei da liberdade é conferido
Dentre todas as festividades religiosas do calendá- juntamente com essa própria lei (ver 11 Cor. 3:3 e
rio judaico, essa era a mais intensamente freqüenta- Rom. 8:1-4).
da, porquanto as condições atmosféricas prevalentes
favoreciam as viagens, tanto por mar como por terra. 4. O principio da nova vida, no Espírito Santo,
Por outro lado, os perigos durante as viagens, devido assinala o término da escravidão ao esquema deste
às más condições do tempo, no principio da mundo, tal como o Sinai assinalou o começo de uma
primavera e no fim do outono, impediam muitas nova vida para a nação de Israel, em que ela foi
pessoas de virem à capital, Jerusalém, durante as liberta da escravidão ao Egito.
festas da páscoa e dos tabernáculos. Portanto, por S. O Pentecoste também marca um dia de ação de
ocasião da festa de Pentecoste, chegavam a Jerusalém graças e de comemoração, porque a obra do Espírito
representantes judeus e gentios vindos tanto da Judéia Santo, naquele dia, foi um daqueles «tempos» ou
como de muitas outras nações, mais do que em «épocas» que o Pai reservou para sua exclusiva
qualquer outro período do ano. autoridade e através do que, uma vez completado, a
n. O Penteco8te CdItio criação inteira haverá de encontrar o seu centro na
pessoa de Cristo e será finalmente estabelecida uma
Atos 2: 1: Ao cumprir-se o dia de Pentecostes,
estavam todos reunidos no mesmo lugar. ordem social completa e universal que será a grande
característica dos séculos eternos. (Ver também o
As palavras ao cumprir-se o dia formam uma trecho de Efé. 1:10 sobre a questão).
expressão utilizada exclusivamente por Lucas (ver 6. O dia de Pentecoste trouxe uma experiência
também Luc. 9:51). Literalmente traduzidas tería- unificadora, unindo judeus e gentios, perfazendo uma
mos, estava sendo cumprido. Trata-se de um modo de só igreja (I Cor. 12:13) e conferindo unidade espiritual
expressão hebraico, que encara a sucessão de dias que (Efé, 4:1 e ss), o que envolve muitos aspectos. (Ver
levava ao dia de Pentecoste (partindo da páscoa), também Atos 1:14). Os crentes estão unidos em fato e
como uma quantidade ou medida que deveria ser em ato.
preenchida. Assim sendo, enquanto não chegasse o 7. A maioria dos in térpretes acredita que o
dia de Pentecoste, tal medida não ficaria preenchida. Pentecoste assinalou o começo da igreja cristã. A
Porém, chegada aquela data, tal medida ficava presença do Espírito é a característica distintiva da
repleta; e isso meramente significa que o dia em igreja, a qual dificilmente poderia ter vindo à
questão havia chegado. existência sem essa característica.
No mesmo lugar. Provavelmente está em foco aqui «... e embora houvesse tantos deles, reunidos,
o «cenáculo», onde O Senhor Jesus proferia a sua mostraram-se muito unânimes e pacificas; não houve
preciosa promessa concernente à vinda do Espírito conflitos e nem contendas entre eles; todos se
Santo, e onde os apóstolos posteriormente se mantinham no mesmo parecer mental e 0.0 mesmo
reuniram, em outras ocasiões memoráveis, conforme juízo, impelidos pela fé e pela prática comuns,
nos indica o trecho de Atos 1:13. (Ver o artigo sobre gozando de um só coração e alma, cordialmente
Sala Superior). ligados por afeto uns aos outros; e todos se
encontravam no mesmo lugar... » (John Gill, em Atos
O Pentecoste cristão trata -se da comemoração da 2:1).
descida do Espírito Santo sobre a igreja, em «Desejamos que o Espírito se derrame do alto sobre
cumprimento à promessa de Cristo a respeito. nós? Então estejamos todos de comum acordo, sem
Podemos observar os seguintes elementos, em importar a imensa variedade de nossos sentimentos e
resultado do que sucedeu naquele dia que se tornou interesses, como, sem dúvida, sucedia também entre
distintamente cristão, em confronto com o Pentecoste aqueles primeiros discipulos, concordemos em amar-
conforme era comemorado pelos judeus: nos uns aos outros; porque onde habitam os irmãos
1. A igreja nasceu como primícias ou primeiros juntamente, em unidade, ali o Senhor ordena a sua
frutos da humanidade, para Cristo. Deu-se assim bênção» (Matthew Henry, em Atos 2:1).
início ao grande recolhimento de pessoas de todas as Todos. Certamente estão aqui em vista mais do que
nações, no seio da igreja, que assinala o começo da meramente os «doze», e talvez estejam incluídos os
transformação dos remidos segundo a imagem moral cento e vinte referidos no décimo quinto versículo do
e metafísica de Cristo (ver Rom, 8:29 sobre essa primeiro capítulo de Atos.
questão). Temos ali a colheita espiritual dos homens
para dentro do reino dos céus (ver I Cor. 12:13).
Naturalmente, isso assinalou o principio de uma PEOR
grande e nova dispensação - a era da graça -
durante a qual Deus trata dos homens de maneira No hebraico, «abertura», «fenda.. No Antigo
mais perfeita e íntima, a fim de produzir a redenção Testamento, esse é o nome de um monte e de uma
dos mesmos. divindade, a saber:
2. Para o crente individual, a descida do Espírito 1. Peor figura como uma montanha de Moabe, o
Santo foi e é a garantia e o selo de sua lugar para onde Balaque conduziu o profeta falso,
completa regeneração, glorificação e participação na Balaão, a fim de que ele amaldiçoasse ao povo de
natureza divina (ver 11 Ped. 1:4), porquanto o Espírito Israel (ver Núm, 23:28). Ali, lê-se que esse monte
203
PEOR - PERCEPçAO
«olha para a banda do desertos, o deserto que havia 1. MetlJloras~Raizes. Ele acreditava que os sistemas
em ambas as margens do mar Morto. Foi perto do filosóficos desenvolveram-se a partir de quatro
pico da parte norte das montanhas de Abarim, perto metáforas-raizes" básicas: o formismo (como em
da cidade de Bete-Peor, que Israel acampou nas Aristóteles, onde '·a forma é a questão básica); o
planicies de Moabe, segundo se lê em Deu. 3:29 e mecanismo (como 'em Hobbes e no materialismo,
4:46. Ficava isso na região de Nebo, embora. não se onde o conceito de máquina é básico); o organicismo
tenha podido ainda fazer uma identificação segura. (como em Whitehead, onde o organismo é o conceito
2. Peor também era o nome de uma das divindades organizador); o contextualismo (isto é, o pragmatismo)
moabitas, o deus da imundicia (ver Núm. 25:18; onde a referência aos contextos gerais é importante).
31:16 e Jos. 22:17). A primeira dessas passagens conta O próprio Pepper favorecia a última dessas quatro
como Israel sofreu a pena por haver adorado a esse metáforas.
deus, porque muitos homens israelitas casaram-se 2. No campo da ética e da estética ele acreditava
com mulheres moabitas, O juizo divino seguiu-se a que outros conceitos fundamentais são importantes
isso. Balaão armara o palco para os israelitas no desenvolvimento dos sistemas, como o hedonismo,
envolverem-se com essa falsa divindade (ver Núm. o pragmatismo, o relativismo cultural e a evolução,
31:36), - mediante casamentos com mulheres cada qual correto em seus próprios contextos
moabitas, o que provocou uma queda na espirituali- limitados. - Cada um tem uma noção útil, como
dade do povo de Israel. E a última dessas três perspectiva. Dai, desenvolveu-se o conceito do
passagens alude à questão, mostrando que..as duas perspectivismo, que significa que cada ângulo pelo
tribos e meia envolveram-se em atos semelhantes. A qual se v~ uma questão usualmente tem alguma
cidade de Baal-Peor era um santuário especial da validade e acrescenta algo ao nosso conhecimento
adoração a essa divindade pagã (Núm. 25:3; Deu. sobre aquela questão. Ver o artigo com esse titulo.
4:3; Jos. 13:20; Sal. 106:28). O castigo infligido em Entretanto, Pepper não foi o criador desse conceito,
face da corrupção provocada por essa idolatria embora o tivesse achado útil para o seu próprio
tornou-se uma espécie de advertência' proverbial em sistema.
tempos posteriores (ver Núm. 31:16; Deu. 4:3; los. Escritos. AestheticQuality; World Hypotheses:
22:17). Ver o artigo geral sobre os Deuses Falsos. The Basi« o/ Criticism in the Arts; The Work of Art;
. Além disso, na Septuaginta, no trecho de los. The Source of Value.
15:59, aparecePeorcomo uma cidade do território de
Judã. Mas isso não aparece em nossa versão
portuguesa. Todavia, essa cidade tem sido identifica- PERCEPÇÃO
da com a moderna Khirbet Faghur, a sudoeste de Esboço:
Belém.
I. Contrastada com Outros Modos de Tomar
Conhecimento
11. Idéias de Vários Filósofos Sobre a Percepção
PEPINO 111. A Percepção e sua Relação com Outros Fatores;
No hebraico, glsblhalm. Essa palavra aparece a Mediação da Mente; a Memória; a Gestalt; a
somente em Núm. 11:5. Mas os estudiosos vacilam Imaginação; a Ilusão; as Alucinações; os
entre os sentidos de melancia, cabaça e pepino. Nossa Equivocos
versão portuguesa prefere "pepino•. Rã um outro IV. A Percepção e a Mente
vocábulo hebraico, miqshah, que também é usado
apenas por uma vez, em Isa, 1:8, que tem sido I. Contratada com Outros Modoe de To....
traduzido por «pepinal-, conforme se vê em nossa Conhecimento
versão portuguesa. Mas é possivel que esteja em foco a Ê um exagero pensar que só conhecemos as coisas
melancia. através da percepção de nossos sentidos. Também
O pepino era conhecido em Israel, sendo usado na precisamos levar em conta a razão (ver sobre o
confecção de saladas, conforme sucede até hoje. Foi Racionalismo), a intuição (vide) e o misticismo (vide).
um dos itens alimentares que os israelitas lembravam Cada sistema tem o seu devido 'Valor, e precisamos de
com saudades, enquanto vagueavam pelo deserto todos eles para contarmos com uma abordagem
global ao conhecimento.' Platão punha a percepção
(Núm. 11:5). Porém, os eruditos disputam quanto à
identidade da planta. A cabana construída em um dos sentidos no nivel mais inferior da pilha dos modos
pepinal (Isa. 1:8), era um abrigo tosco, feito de varas de conhecimento, chegando a supor que a tendência
e palmas, com o propósito de proteger o vigia do sol e da percepção dos sentidos é distorcer o conhecimento,
dos animais ferozes, enquanto ele trabalhava na terra em vez de representá-to fielmente. Sua hierarquia de
utilidade punha a contemplação da Idéia (uma forma
e cuidava dos frutos que amadureciam. Quando a de misticismo) no topo dessa pilha.
colheita terminava, a cabana era esquecida, pois jâ
havia servido à sua finalidade. Portanto, tal cabana D. Id6la de VúIoI Pu_foe Sobre a Pen:epçio
tomou-se um simbolo de total desolação, porque 1. Empédocles pensava que temos percepções
acabava caindo em ruinas. Melões e pepinos devido à existência, em nós, de alguma coisa que
medravam bem no Egito, em vista da irrigação pelas corresponde a coisas similares em nosso ambiente. A
âguas do rio Nilo. Foi no Egito que Israel conheceu percepção, pois, seria uma espécie de interação de
pela primeira vez a planta. O Cucumis sativus era o similaridades.
mesmo legume que conhecemos hoje em dia. Algumas 2. Anaxágoras afirmava o ponto de vista oposto.
vezes, os pobres só conseguiam alimentar-se com pão supondo que a percepção se torna possivel por algo
e pepinos. em nós que contrasta as. qualidades das coisas ao
nosso derredor.
3. Leucipo e Demócrito (além de outros atomistas)
PEPPER, STEPBEN C. criam que imagens (ou particulas) de coisas .
Suas datas foram 1891·1972. Foi um fil6s0fo percebidas estão bombardeando constantemente
norte-americano, educado em Harvard. Ensinou na nossos aparelhos dos sentidos, e que sentimos esses
Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos da objetos através de imagens invasoras.
América. 4. Platão defendia um baixo conceito da percepção
204
PERCEPÇAO
dos sentidos, acreditando que ela sô nos pode conferir ingênuo ensina que as percepções são validades,
conhecimentos quanto a este mundo dos particulares mostrando a realidade, conferindo-nos um autêntico
(o mundo físico), o qual é apenas uma imitação do conhecimento. As coisas seriam exatamente aquilo
real mundo das Idéias. Outrossim, mesmo nesse caso, que parecem ser. Mas o novo realismo argumenta em
as percepções tendem por distorcer os eventos que favor da realidade dos objetos que percebemos, em
notamos no mundo fisico. Acima da percepção dos contraste com o conteúdo de minha percepção. e
sentidos -ele punha a :razão; acima da razão, a acredita que uma percepção bem disciplinada dos
íntuíção.: e acima da intuição. a contemplação (o sentidos (com ajustamentos apropriados e confirma-
misticismo). dos com instrumentos de precisão, etc.), seja capaz
S. Aristóteles não diminuia o valor da intuição de conferir-nos um verdadeiro conhecimento. O
(súbitos relâmpagos do entendimento); mas, como realismo crítico, por sua vez, crê na realidade do
cientista que era, frisava a percepção como o principal mundo fisico, à parte das nossas idéias. e aferra-se à
modo de tomar conhecimento das coisas. Todavia, idéia de que as nossas percepções (auxiliadas por
também dava à mente um papel importante nesse instrumentos) são as fontes do conhecimento que
processo, supondo que a mesma tem qualidades que podemos ter sobre este mundo. Entretanto, esse
possibilitam extrair das inúmeras imagens que nossos sistema utiliza-se de uma abordagem cética, deelaran-
sentidos captam, a ..forma- que essas imagens do que o conhecimento assim adquirido não é
representam. A abstração (uma capacidade da mente) perfeito, pode estar eivado de erros e ilusões. pelo que
deixa de lado os detalhes contingentes. A idéia de também o verdadeiro conhecimento será sempre
abstração de fantasmas tornou-se uma importante apenas um ideal, e nunca uma realização. Temos aqui
doutrina filos6fica durante a Idade Média. uma consideração em trlade; há o objeto a ser
6. Hobbes apegou-se à teoria materialista, aceitan- percebido; há os informes dos sentidos; e há o ato de
do a natureza mecanicista da percepção e do perceber, mediado através da mente. O resultado
conhecimento. Ele falava na percepção como matéria pode ser prático, mas não é uma verdadeira
em movimento. representação da verdade. Ê apenas uma conclusão
7. Descartes julgava que a percepção é um ato representativa.
intelectual. Sensação sem intelecto seria algo amorfo. 13. Os informes dos sentidos, ou seja, quaisquer
A mente precisa participar do nosso processo itens destacados pela percepção dos sentidos, são uma
cognitivo, sem o que não haveria percepção. expressão introduzida na filosofia por Moore (vide) e
8. John Locke fazia da mente uma tábula rasa, que foi empregada por Russell (vide) e por Broad
supondo que a percepção dos sentidos gradualmente a (vide). Essa expressão, «informes dos sentidos.., indica
enche com sinais, que se tomam os elementos básicos que percebemos não as coisas propriamente ditas,
do nosso conhecimento. A organização desses sinais mas os informes produzidos por nossos sentidos. Esse
confere-nos um quadro ou um conceito. Então damos é o ponto de vista do realismo critico. Os informes dos
nomes a esses conceitos; e é desse processo que evolui sentidos acerca de um objeto qualquer podem ser algo
a linguagem. Nesse caso, a linguagem seria a base de bem diferente daquele objeto. A ciência está
toda a nossa intelecção. Mas, tudo teria começo na confirmando esse fato. Um objeto é composto de
percepção fisica, sem o que a mente seria reduzida a átomos em movimento, constituido, principalmente,
nada. A sua idéia é denominada teoria representativa de espaço vazio; mas os informes dos nossos sentidos
da percepção. A origem de todas as idéias poderia ser nada nos dizem acerca dessa realidade. Toda
retraçada até à experiência; a experiência basear-se-ia percepção dos sentidos está envolvida em uma ilusão
nas sensações e nas reflexões mentais. Dai é que mental (até que grau é dificil de dizer), sendo uma
procede toda a complexidade da nossa vida mental. ilusão 6ptica.
9. Leibnitz asseverava que a percepção é um Em sentido geral, aqueles que aceitam a relevância
processo continuo no homem, continuando mesmo no e a máxima importância da percepção dos sentidos,
sono profundo, e provendo a continuidade mental do no tocante à obtenção de conhecimentos, são
homem. As pequenas percepções ocorrem continua- chamados teoristas dos informes dos sentidos, ainda
mente no homem. Porém, ele também dizia que o que não defendam a idéia de que percebemos
homem é uma mônada, com toda percepção informes dados pelos sentidos, e não as coisas
adredemente embutida nele, correspondente às propriamente ditas. Nesse sentido mais geral, estk.
imagens externas, embora sob hip6tese alguma incluidos fil6sofos como lohn Locke.
causada por elas. Assim, de acordo com a sua 14. Alguns empiristas, como Ryle e Austin, têm
filosofia, na realidade a percepção é algo embutido na tachado a teoria dos informes dados pelos sentidos de
mente, e não algum estimulo que chega ao homem do compilação desnecessária, afirmando que recebemos
seu meio ambiente. Ver o artigo geral sobre o percepção das coisas propriamente ditas.
Problema Corpo-Mente, especialmente em sua quarta 15. Merleau-Ponty ofereceu uma análise fenomeno-
seção, Paralelismo (Harmonia Preestabelecida). 16gica da percepção. afirmando que a mesma sempre
10. Kant definia a percepção como tomada de é acompanhada por várias relações, incluindo as
consciência acompanhada por sensações, misturando avaliações mentais, as formas relacionais, a subjetivi-
fatores fisicos com mentais. Esse era o assunto' de sua dade, etc. Portanto, uma percepção não é meramente
estética transcendental. Ele fazia da percepção a base o ato mecânico de perceber. Antes, está em jogo uma
das proposições (alicerçando a percepção sobre a
atividade dos cinco sentidos), mas desenvolveu um
ponto de vista mais amplo, em sua obra Critica da
ReIa.
complexa combinação de elementos.
m. A PercepçIo e ma COIII Outrol
Fato. .; A MedllIÇIo da MM1teJ • MemódaJ •
Razão Prática, onde ele admitiu a necessidade da GeItaI
razão, da intuição e das experiências misticas, para t; • Jmaalnaçlo; • Dado; • Alueblaça.;
e .. EqalvoeOl
que pudesse arquitetar uma filosofia razoável. 1. A Mediação da Mente. A percepção nunca
11. Mill dizia que a matéria fornece-nos a ocorre isolada; sempre é acompanhada pela avalia-
possibilidade permanente das sensações, abrindo ção. A mente é sempre ativa, acrescentando ou
espaço para ofenomenalismo (vide), onde o dualismo diminuindo algo. Uma avaliação é um ato mental. Se
entre as sensações e os objetos é eliminado. eu vir um leão na floresta, provavelmente sentirei
12. Estudo Sobre Formas de Realismo. O realismo temor, e um resultado fisico poderá ser sudorese nas
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PERCEPÇAO EXTRASSENSORIAL
mãos. Mas, se eu vir o mesmo leão engaiolado em um pelos sentidos. E também temos alucinações em
zoológico, provavelmente não terei temor, e nem operação, inventando coisas-que não fazem parte dos
minhas mãos ficarão úmidas de suor (resultado do crus informes obtidos pelos' sentidos. ~ dificil precisar
medo). Poderei pensar que esses dois eventos terão qual percentagem daquilo que vemos ou ouvimos está
tido lugar (um com suor; outro sem suor) devido a sendo erroneamente interpretado ou é mera invenção
duas diferentes percepções. Porém, a verdade é que da mente.
houve duas avaliações distintas, ou seja, dois atos 6. Os Equivocas, Esses também corrompem a
mentais; e o ato mental é que causará a presença ou percepção dos sentidos. Temos ai algum erro de
ausência do suor nas mãos. Destarte, a percepção está julgamento e de fé, e não tanto um erro da percepção.
envolvida no Problema Corpo-Mente (vide), porquan- Vemos algo, mas cremos estar vendo outra coisa.
to sempre envolve avaliações mentais, atos mentais. IV. A Percepçio e a Mente
Não existe percepção que não seja acompanhada de O uso comum da palavra percepçIo indica uma
algum ato mental, que não envolva alguma mediação maneira breve de dizer percepção dos sentidos, os
da mente (vide). informes colhidos pelos nossos cinco sentidos físicos.
2. A Memória. Ver o artigo com esse titulo. A Na presente discussão, não podemos esquecer que a
memória sempre é um fator na percepção dos mente também percebe e avalia, e que a mente é algo
sentidos. Lembramo-nos de como alguma percepção distinto do cérebro (ver sobre o Problema Corpo-Men-
relaciona-se conosco, e isso nos ajuda em nossa te). De fato, os nossos cinco sentidos fisicos são
avaliação da percepção obtida. A memória confere instrumentos da mente para que ela possa funcionar,
substância às nossas percepções, e muitas associações incluindo a manipulação do corpo. A mente é a
mentais vêem-se assim envolvidas. construtora; o corpo é o veiculo; a mente é a
3. A Gestalt: Essa palavra germânica que significa inteligência primária; o cérebro é o instrumento da
..forma» indica um arranjo de distintos elementos das mente. A mente lança mão das percepções fisicas;
experiências, das emoções, etc., que se apresentam mas a mente tem percepções próprias independentes
sob certa forma ou padrão, uma configuração tão das sugestões dadas pela percepção dos sentidos. Ver
integrada que parece funcionar como uma unidade, e os artigos gerais sobre Mente e Memória. Existe
não como mero sumário de suas porções constituintes. aquilo a que poderíamos chamar de memória
A psicologia Gestalt interpreta os processos biológicos extracerebral.
e psiquicos em termos de ação e interpenetração de Bibliografia. AM EP F MM P
padrões intimamente integrados, chamados Gestal-
ten; o efeito observado de um Gestalt, bem como o PERCEpÇÃO DOS SENTIDOS
mecanismo de sua ação, não podem ser adequada- Ver o artigo geral sobre a PeftepçIo.
mente explicados mediante uma simples análise de
suas I?artes constituintes. Isso posto, há uma espécie
de complexidade envolvida na percepção que põe em PERCEPÇÃO EXTRA-SENSORIAL
'ação as várias capacidades do ser humano, que Ver o artigo detalhado sobre Puapllco......
ultrapassa à simples percepção dos sentidos, aos Essa expressão indica que hi pene, ç'- que nos
informes crus obtidos pelos sentidos. outorgam conhecimentos que DIo dependem da
4. A Imaginação. Uma pessoa pode acrescentar ou atividade de nossos cinco sentidos físicos. Em outras
subtrair de uma percepção, por meio de sua palavras, o homem é capaz de conhecer coisas de
imaginação. Por causa disso é que quando as pessoas modos não mediados pelos sentidos. Os racionalistas
recontam detalhes de algum acontecimento, são supõem que a razão é a faculdade humana superior,
destacadas coisas bem diferentes. A imaginação podendo proporcionar-nos verdades que o método
quase sempre faz parte da cena da percepção; mas a cientifico não é capaz de fazer. Ver sobre o
imaginação é inventiva. Racionalismo. Os intuicionistas pensam que podemos
S. ,:.4. Rusão e as Alucinações. Sabe-se atualmente obter conhecimento imediato sem a mediação da
que parte da alegada percepção consiste em ilusões e percepção dos sentidos. Ver sobre a Intuição. Os
alucinações. A mente elabora os informes crus dos misticos afirmam que hâ a revelação divina, que nos
sentiéos, que nos são apresentados pela percepção. Ê pode dar a verdade como um dom divino; e que, na
muito difícil determinar o grau ou porcentagem de contemplação, podemos ver diretamente as essências
ilusões e alucinações em nossas percepções, mas esses e .compreendê-Ias parcialmente, sem a percepção dos
são fatores constantes. A mente leva-nos a ter sentidos, sem a razão e sem a comum intuição. Ver
percepções enganadoras, exageradas, ou simplesmen- sobre o Misticismo.
te equivocadas. ..Nenhuma clara demarcação entre
ilusões e percepção toma-se possivel. Muita análise Os poderes psiquicos como a telepatia, a clarivi-
experimental tem sido devotada ao estudo das ilusões dência, a psicocinesia, a retrocognição e. o conheci-
ópticas... quando alguém está percebendo algo, o que menta anterior são chamados de poderes ou
esse alguém percebe depende notoriamente de seus percepções eXÍfa-sensori&is. Em outras palavras;
próprios hábitos de reflexão e concentração, de suas essas capacidades ultrapassam o poder dos sentidos
circunstâncias e de seu humor, como também do pano fisicos. Cada um desses termos mereceu um artigo
de fundo e do contexto dos objetos percebidos lO (AM). separado nesta enciclopédia; e, no artigo intitulado
Algumas vezes, uma ilusão é um virtual sinônimo de Parapsicologia oferecemos uma descrição desses
uma alucinação. Contudo, deveriamos fazer aqui uma poderes e suas funções, juntamente coro teorias que
distinção. Uma ilusão é uma interpretação errada dos procuram explícâ-los. O assunto' reveste-se de
informes prestados pelos sentidos. Uma alucinação, importância na gnosiologia e na metafisica, pelo que é
por sua parte, é uma ínveoçãodamente, quanto a importante tanto para a filosofia quanto para a fé
coisas que não estão contidas na percepção dos religiosa.
sentidos. As alucinações não têm base sensória, mas Tais poderes são naturais para o ser humano, pois o
apenas nas sugestões. A sugestão pode criar homem é uma psique (uma alma). Contudo, por
alucinações na percepção dos sentidos. Assim sendo, detrás desses poderes pode haver outros- seres
temos as ilusões em operação, interpretando erronea- espirituais, como os anjos ou os demônios. Essas
mente e adicionando algo aos crus informes dados capacidades, por si mesmas, não são boas e nem mâs,
206
PERCEpÇÁO - PERDÁO
Tudo depende de como forem utilizadas. Sem tais I. P"nu EDvolrida
capacidades, seria impossive1 à nossa mente (uma No hebraico, temos a considerar quatro palavras, e,
substância imaterial) agir sobre o corpo fisico (uma no grego, também quatro, a saber: "
substância material). Por conseguinte, a cada instante 1. Salach , «perdoar... Verbo "hebraico usado por
as pessoas estão exercendo poderes psiquicos, de onde quarenta e seis vezes, conforme se vê, por exemplo,
se derivam também as percepções extra-sensoriais. em Núm. 30:5,8,12; I Reis 8:30,34,35,39,50; 11 c-e.
Os poderes psíquicos não somente percebem; também 6:21,25,27,30,39; Sal. 103:3; Jer. 31:34; 36:3; Dan.
atuam. A psicocinesia é ato, e não mera percepção; 9:19; Amôs 7:2.
mas é classificada juntamente com os outros 2. Sallach, «perdão». Substantivo hebraico usado
fenômenos como uma parte da mesma capacidade por uma vez: Sal. 86:5.
humana. Seja como for, esses poderes estão
interligados. 3. Kaphar, «cobrir". Palavra hebraica usada por
cerca de dez vezes com o sentido de "perdoar..,
A afirmação de que os homens podem saber das embora seja palavra traduzida, principalmente, por
coisas por meios extra-sensoriais. concorda com o «expiar... Ver, por exemplo, Sal. 78:38; ler. 18:23;
espirito das declarações dessas diversas posições. Por Deut. 21:8; II c-e. 30:18; Lev. 8:15; Eze. 45:15,17;
exemplo, acredita-se que a transferência de pensa- Dan.9:24.
mentos ou telepatia (que vede) é um fato da 4. Nasa, "levantar.., «perdoar». Palavra hebraica
experiência humana. Também acredita-se que o usada por cerca de treze vezes com o sentido de
pensamento (uma das propriedades da mente) pode «perdoar..: Gên, 50:17; Êxo, 10:17; 32:32; 34:7; Núm.
exercer efeitos sobre a matéria, no fenômeno chamado 14:18,19; I Sam.25:28; Sal. 25:18; 85:2; Isa. 2:9.
de psicocinesia. Ver o artigo sobre esse assunto. A 5. Apbiemi, "deixar ir.., «perdoar... Termo grego
cura de enfermidades pode ser um aspecto da mente usado por cento e quarenta e cinco vezes no NT, desde
sobre a matéria, quando o poder da mente produz Mat. 3:15 até Apo. 11:9.
efeitos sobre a nossa porção fisica. O homem seria
capaz de conhecer coisas, mesmo sem comunicar-se 6. Âphesis, "perdão». Subtantivo grego empregado
com outras mentes e sem a percepção dos sentidos. por dezessete vezes: Mat. 26:28; Mar. 1:4; 3:29; Luc.
Isso se chama clarividência (que vede). O homem 1:77; 3:3; 4:18 (citando Isa. 61:1); 4:18 (citando Isa,
.também seria capaz, inteiramente à parte da 58:6); 24:7; Atos 2:38; 5:31; Efê. 1:7; Cal. 1:14; Heb.
inspiração divina, de predizer o futuro. Isso se chama 9:22; 10: 18.
conhecimento prévio (que vede). O homem também 7. Charizomai, «ser gracioso com.., uma palavra
seria capaz de passar em revista o passado, de grega utilizada por vinte e duas vezes: Luc.
maneira" misteriosa, vindo a saber de certas coisas 7:21,42,43; Atos 3:14; Rom, 8:32; I Cor. 2:12; 11
sobre o mesmo, como não aprendera por meio de Cor. 2:7,10; Gál. 3:18; Efé. 4:32; Fil. 2:9; Col. 2:13;
livros. Isso chama-se conhecimento retroativo (que 3: 13; File. 22.
vede). 8. Apolúo ; "soltar.., "perdoar... Verbo grego que
O que aqui dizemos é apenas sugestivo. Um ocorre por apenas urna vez com o claro sentido de
completo estudo sobre essas questões figura no artigo perdoar, em Luc. 6:37. Significa em outros lugares
sobre a Parapsicologia. Essa é uma ciência emergen- soltar, deixar, dívorciar-se, etc.
te. O fato de que alguns misturam o ocultismo e o D. CanctIdzaçio Geral
demonismo com este assunto, não significa que esses O perdio pode ser um ato cll.YIao, que resulta no
estudos não possam ser feitos sobre bases cientificas. perdão do transgressor humano. Por igual modo, um
Todas as ciências estão' sujeitas: a abusos. Todas as ser humano pode perdoar a outro. O perdão dos
categorias da atividade e do conhecimento humanos pecados é uma prerrogativa divina (Sal. 130:4). Jesus
têm sido abusadas. Sem os poderes psíquicos, o Cristo recebeu o poder de perdoar da parte do Pai
homem nem 'poderia existir, visto que é a mente, do (Mat. 2:5). Um perdão pleno, gratuito e eterno é
começo ao fim, que controla o corpo físico. O homem oferecido a todos quantos se arrependerem e crerem
é uma mente; o homem é uma alma; o homem é uma no evangelho, contanto que disso resulte uma
entidade imaterial; u homem é um intelecto. Como verdadeira mudança na vida e na alma, e não apenas
tal, ele controla o seu corpo, que é um veiculo fisico. uma profissão de fé. Ver Atos 13:38,39; I João 2:12.
Esse controle é uma utilização complexa da Os crentes devem perdoar àqueles que os ofendem, de
psicocinesia, Sem essa função psíquica, o homem modo imediato, abundante, definitivo, porque esse
morreria - no instante seguinte-, porquanto não perdão deve imitar o ato divino (Luc. 17:3,4). Isso
haveria qualquer interrelacionamento possivel em seu precisa ser feito, pois, de outra forma, não podemo..
corpo. Ver sobre o Problema Corpo-Mente. Portanto, esperar que o -Senhor nos perdoe (Mat. 6:12-15;
afirmar que a percepção extra-sensorial é algo do 18:15-35). Alguns chamam isso de base legal; mas
diabo é dizer que todos os homens são possuidos por aquele que retém o ódio em seu coração está longe de
demônios, porquanto a própria essência do conheci- ter endireitado os seus caminhos diante de Deus, e,
mento é a atividade da alma, ou seja, da psique. As assim, continua levando o seu pecado. Por outra
percepções da alma podem ser mediadas através do parte, aquele que foi verdadeiramente regenerado
corpo fisico, mas também podem ser extra-sensoriais. possui a- atitude de perdão, como uma de suas
Se a perceoção extra-sensorial não existisse, a própria qualidades essenciais. Se assim não for, é que aquele
existência da alma seria posta em dúvida. individuo não foi, realmente, regenerado.
O perdão é um ato da alma mediante o qual a
PERDÃO pessoa ofendida permite que o seu ofensor fique livre,
esquecendo-se então da ofensa. Deus requer, na
Esboço maioria dos casos, embora nem sempre, que o ofensor
I. Palavras Envolvidas se arrependa, que haja perdão e que haja reparação
11. Caracterização Geral pelos danos causados, sempre que isso for possivel,
111. A Ênfase da Fé Cristã Essa é uma condição básica; mas o puro amor de
IV. Ensino Bíblico Sobre o Perdão Deus cobre uma multidão de pecados quando o
V. Problemas Relativos à Doutrina do Perdão individuo não é capaz de corrigir o erro praticado ou
VI. O Escopo e o Tempo do Perdão de restaurar o danificado (Rom, 5:5-8). Mesmo
207
PERDÃO
quando essas condições não podem ser preenchidas, o isso cria uni problema teológico para alguns. Ver sob
perdão divino é dado somente se o indivíduo, em a seção quinta, abaixo. Ver também Mat 6'12.15'
imitação ao Senhor, for gracioso, amoroso, disposto a 18:15-35. ' ..,
perdoar a seus ofensores. Textos como os de Mal. 2. O perdão depende diretamente da expiação de'
6:12; 18:23-35; Mar. 11:26 contêm esses ensina- Cristo (Efé. 1:7; Rom. 3:25; 4:25; Mat. 26:28).
mentos, enfaticamente. 3. A validade da expiação cerimonial, no Antigo
m. A LI_ da Fé Cdati Testamento, dependia do indivíduo considerar a sua
A fé cristã é supremamente destacada por sua participação espiritual na futura missão e expiação de
ênfase sobre o perdão, mais do que as outras grandes Cristo (Rom, 3:25). No Novo Testamento, os povos
religiões do mundo. Assim sucede porque o grande gentílicos também são beneficiados, mediante a fé em
Profeta do cristianismo, o Cristo, em sua morte e Cristo, e não somente o povo de Israel (Atos
ressurreição forneceu aos homens os próprios meios 17:30,31). A descida de Cristo ao hades O Ped. 3:18
do perdão. Esse elemento faz parte do significado da - 4:6) estende o beneficio da expiação de Cristo a
missão do Filho. A fé cristã também salienta que o todos os homens, oferecendo-lhes a salvação através
perdão nos é dado da parte de um Pai misericordioso, do evangelho, conforme I Pedro 4:6 deixa claro:
quem é a fonte de toda vida e existência. Quanto a «... pois, para este fim foi o evangelho pregado
referências bíblicas sobre esse oficio de Cristo, ver também a mortos, para que, mesmo julgados na
Efé. 4:32; Atos 5:31; 13:38; Mar. 2:10; I João 1:9 e, carne segundo os homens, vivam no espírito segundo
especialmente, Efé. 1: 7. Este último trecho ensina: Deus». r
« ••• no qual (Amado, Cristo) temos a redenção, pelo 4. O continuo perdão dos pecados dos crentes,
seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a também depende diretamente da obra expiatória de
riqueza da sua graça». Cristo (I João 1:9).
IV. EDsIno BlbUc:o Sobre o PerdIo 5. O perdão está diretamente vinculado ao
A. No Anda0 Teaamento arrependimento (Miq. 1:4; Atos 2:38; Luc, 24:47).
1. O elaborado sistema de sacrifícios do Antigo 6. O perdão também está ligado à fé ou à confiança
Testamento estava diretamente vinculado à idéia de em Cristo (Atos 10:43; Tia. 5:15). O arrependimento
expiação e, conseqüentemente, de perdão. Apesar de e a fé servem de meios para o perdão. O mérito nunca
certos trechos do Novo Testamento, como Rom. é humano, mas somente em Cristo. Apesar disso, sem
3:25, darem a entender que o perdão divino, no aqueles meios (arrependimento e fé = conversão) não
Antigo Testamento, estava condicionado ao futuro haverá perdão, porquanto o mérito de Cristo precisa
ministério de Cristo, não há que duvidar que os ser apropriado pelo homem.
israelitas, nos dias do Antigo Testamento, pensavam N.B. - Outros ensinos neotestamentârios sobre o
que seus sacrifícios eram eficientes - para o perdão, que não foram ventilados aqui, são tratados
perdão de seus pecados, mediante a expiação. O na seção abaixo, sobre os Problemas.
artigo sobre a Expiação fornece-nos detalhes. 7. Visto que Deus perdoa gratuita e abundante-
2. As ofensas são vistas como perdoadas, e o perdão mente, outro tanto deveriam fazer os crentes, sem
é encarado como um ato da graça divina, que deve ser nunca limitarem o número de vezes em que eles
recebido com profunda gratidão. O pecado merece ser perdoam a seus ofensores (Mal. 18:22). Esse ensino,
punido, e o perdão é uma medida da graça e da naturalmente, está muito acima da capacidade da
misericórdia divinas. O recebimento desse beneficio maioria das pessoas e serve como um elevado ideal.
deveria criar o senso de temor no coração dos homens, 8. O perdão repousa sobre a completa missão de
Ver Sal. 130:4; Deu. 29:20; 11 Reis 24:4; Jer. 5:7 e Cristo, sobre a sua morte e ressurreição (Heb. 9:26;
Lam. 3:42, quanto às idéias aqui expressas. Rom.4:25).
3. Somente Deus tem a prerrogativa de perdoar aos V. Probl..... Re1adY08 à Douam. do PenIIo
homens (Deu. 9:9). A única maneira como o homem 1. Cristo ensinou claramente que o perdão divino
pode perdoar é indiretamente, mediante a pregação depende (como uma condição possível) de perdoar-
do evangelho. Os que aceitarem a mensagem cristã mos aos nossos ofensores. Ver Luc, 6:37; Mat.
serão perdoados por Deus. Ver João 20:23. Mas os 6:12-15; 18:15-35. Isso cria uma grande consternação
apóstolos nunca perdoaram pessoalmente senão a para os estudiosos de teologia. As explicações dadas
alguma ofensa pessoal contra eles, como qualquer por esses estudiosos têm sido as seguintes:
crente pode fazer. No caso de pecados contra o Senhor a. A Declaração de Cristo é Absoluta. Sem
eles deixavam a questão nas mãos de Deus. importar se no regime da lei ou no regime da graça, o
«Arrepende-te, pois, da tua maldade, e roga ao perdão sempre foi dado somente àqueles que
Senhor; talvez que te seja perdoado o intento do estiverem dispostos a tratar seus semelhantes confor-
coração» (Atos 8:22). me Deus trata com eles. Sem dúvida era assim que
4. O perdão divino está alicerçado sobre a Jesus pensava. De outra sorte, como poderia ter
misericórdia, a bondade e a veracidade de Deus (Êxo, falado como falou? Porventura, ele não tinha
34:6 ss). O perdão torna-se impossível se Deus não se consciência de que uma nova dispensação religiosa
mostrar gracioso. E essa graciosidade divina, como é estava começando, que o nosso período da graça
óbvio, manifesta-se exclusivamente através de Cristo e haveria de modificar isso? Ou ele exprimiu uma lei
sua palavra. moral fixa?
5. O perdão dado por Deus é completo. Ele afasta b. A Declaração de Cristo é Legalista. Os eruditos
de nós os nossos pecados tanto quanto o Oriente dista dispensacionalistas supõem que essa declaração
do Ocidente (Sal. 103:12). Ele lança para trás de suas refletia uma verdade antes da cruz, mas que, depois
costas as nossas transgressões, sem mais considerá-las da mesma, o perdão é dado gratuitamente, através da
(Isa. 38:17). Ele apaga as transgressões dos perdoados graça de Deus, inteiramente à parte de quaisquer
(Isa, 43:25; Sal. 51:1,9) e nunca mais relembra os condições humanas, exceto o arrependimento e a fé,
seus pecados (Miq. 7:19). que é a resposta favorável do homem à mensagem
B. No Novo TeIt.lDlllto divina.
1. O pecador é perdoado, por sua vez deve c. A Declaração de Cristo Precisa ser Condiciona-
perdoar aos que o ofendem (Luc. 3:37). No entanto, da. O individuo perdoado, em face de ser um homem
208
PERDÁO
que foi regenerado e transformado pelo poder de 20:23). Nas notas expositivas do NTI, ofereço uma
Deus. mui naturalmente dispor-se-á a perdoar a seus longa discussão sobre esse versículo. Aqui apresento
ofensores. No caso dele não se dispor a isso, então apenas algumas observações principais.
será duvidoso se ele foi, realmente, regenerado. Em a. A Igreja Ocidental compreende essas palavras de
outras palavras, o perdão estendido a outros é um Cristo como uma declaração literal, supondo que os
resultado. e não uma causa do perdão que recebemos apóstolos tinham a autoridade real de perdoar
da parte de Deus. pecados. Naturalmente, ali essa autoridade é explica-
Nio há maneira ücII de lOIaeloDar esse problema; e da .como algo delegado por Deus, e não que eles
as respostas que os estudiosos têm dado nos deixam, tivessem, em si mesmos, os méritos para perdoar os
algumas vezes, perplexos. pecados alheios. Mas, o erro dessa posição é que, por
um salto ilógico, esse poder é transferido para o
2. O Anulamento do Perdão Recebido. O sexto sacerdócio, quando o Novo Testamento nem reconhe-
capítulo da epístola aos Hebreus certamente ensina ce a existência de um corpo clerical, em contraste com
que algumas pessoas que foram regener~das e um corpo laico. Na prática, essa posição equivale a
perdoadas podem perder essas graças mediante o dizer que a máquina eclesiástica é o agente do perdão
desvio, o pecado voluntário e a apostasia. E~se texto é divino, e que as suas funções e sacramentos são
um antigo campo de batalha, levando-nos díretarnen- essenciais a isso. Os que estão fora dessa organização
te ao problema da eterna segurança dos salvos. Minha eclesiástica, assim sendo, não poderiam receber o
resposta especulativa é que um crente verdadeiro pode perdão. Tudo isso é totalmente contrário ao ensino
cair de sua posição, tornando-se como uma pessoa neotestamentário, que deixa claro que cada crente
não-convertida. Mas, visto que ele recebeu a trata diretamente com Deus, por meio de Cristo Jesus,
promessa da vida eterna, da parte do Senhor, e que sem qualquer intermediação humana.
pertenceu a ele, então será finalmente trazido de volta b. Os grupos protestantes (e também os católicos
ao aprisco, ou antes da morte física, ou já nos mundos romanos liberais) têm dito que a doutrina, conforme é
espirituais. Todavia, também especulo que essa exposta tradicio~almente pelo catolicisR!0 romano é
recuperação pode envolver um longo, longo tempo. A por demais radical. Os grupos evangélicos pensam
alma nessa situação pode vaguear em estado de que o trecho de João 20:23 ensina que os apóstolos
perdição, chegando mesmo a sofrer o julgamento no perdoavam medianeiramente (isto é, por meio de sua
hades. O relato da descida de Cristo ao hades (I Ped. missão de pregadores do evangelho), e não pessoal-
3:18 - 4:6) indica que o evangelho foi anunciado até mente, como se perdoar os pecados dependesse de
mesmo ali, a fim de oferecer a vida. Suponho, pois, uma decisão deles. Os protestantes liberais pensam
que uma pessoa que realmente se converteu, mas que interpretar literalmente esse versículo é ultrapas-
desviou-se de Cristo. pode terminar no juízo do hades; sar o bom senso e aquilo que a fé biblica requer de
mas em face dela ter sido escolhida, será restaurada, nós. E também dizem que mesmo que o autor daquele
ainda que chegue ao hades. Aprofundo-me mais versículo realmente acreditasse (e desejasse ensinar)
ainda na especulação. Se a reencarnação exprime que os apóstolos tinham a autoridade para perdoar
uma verdade (ver o artigo sobre esse assunto), então a pecados, ele estava equivocado, e seu ensino era falso.
restauração da alma poderia ocorrer em uma outra Os católicos liberais, por sua vez, acreditam que a
vida terrena. Estamos envolvidos em grandes mistê- ordem usual das coisas (o perdão dos pecados através
rios, quando pensamos sobre o destino da alma. Mas, do clero) tem suas exceções, controladas pela graça de
para mim, parece-me preferível procurar respostas Deus. Assim, até mesmo pagãos bem-intencionados
especulativas do que simplesmente ser um arminíano, (como aqueles referidos no segundo capítulo da
O arminianismo ensina que se um homem salvo vier a epístola aos Romanos) podem ser perdoados, sem o
se perder, estará perdido para sempre. Ou então, ser, ofício intermediário da Igreja visível.
simplesmente um calvinista. O calvinismo ensina que o. evlllllêUc- ........... que mesmo que aos
o verdadeiro crente nunca pode se desviar de Cristo. apóstolos tivesse sido dado autoridade para per-
Na entanto, a experiência humana ensina-nos que doarem pecados, não há qualquer razão convincente
um crente verdadeiro pode 'se desviar de Cristo; foi a para supormos que essa autoridade tenha sido
consciência desse fato que inspirou o escritor da transferida para algum sacerdócio cristão (inexistente
epístola aos Hebreus, no seu sexto capítulo. No nas páginas do Novo Testamento, como. uma .classe
entanto, esse mesmo capítulo de Hebreus termina distinta dos outros cristãos); e menos ameia, que o
com uma nota de segurança: ..Quanto a vós outros, sacerdócio da Igreja Católica Romana tenha sido
todavia, ó amados, estamos persuadidos das causas destacado como o _ receptor - dessa autoridade
que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que transferida. Mediante uma manipulação interpretati-
falamos desta maneira» (Heb. 6:9). Cristo tem poder va, alguns estudiosos têm dito que ?s ap~st~los
para restaurar a qualquer um, mesmo após o meramente confirmavam o perdão que Já havia Sido
sepulcro. Ver o artigo geral sobre a Segurança Eterna, conferido por Deus, e não que eles fossem os
que entra em maiores detalhes sobre esse complicado perdoadores imediatos. Essa interpretação é conse-
problema. As respostas simples, ou unilaterais, guida mediante a observação que, no grego, o verbo é
raramente são adequadas para equacionar os posto no tempo perfeito (uma ação no passado, com
profundos problemas. Suponho, pois, que a seguran- resultados no presente); porém, o mais provável é que
ça do crente é absoluta. Ela haverá de ser apanágio do isso seja uma eisegese, e não exegese. Ver os artigos
crente. No entanto, o desvio do crente é relativo à sua sobre Eisegese e Exegese.
experiência total. Mas, se o crente vier a desviar-se, 4. O Pecado Imperdoável. Esse é o pecado contra o
será, finalmente, restaurado, e ficará para sempre Espírito Santo (Mat. 12:31 ss; Mar. 3:28 3S). Mais
com o Senhor. . precisamente, no que consiste esse pecado?
3. Os apóstolos podiam perdoar pecados? E essa
autoridade deles poderia ser transferida a outros? A a. Os textos envolvidos ensinam que se trata de uma
primeira dessas duas perguntas precisa ser respondi- blasfêmia. Essa. blasfêmia diz respeito a Cristo,
da afirmativamente, embora requeira qualificação. A atribuindo aos demônios a inspiração por atos
segunda já vai além das palavras que Jesus proferiu a realizados por Jesus, ao invés de atribuir tal
respeito: ..Se de alguns perdoardes os pecados, são- inspiração ao :E;spirito Sant? O ponto de vis~a
lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos.. (João dispensacional afirma que tal tipo de pecado só podia
209
PERDÃO
ocorrer nos dias em que Cristo estava neste mundo. uma restauração final, posto que nos ciclos remotos
Agora, porém. Cristo não está operando no mundo. da eternidade futura (chamados ali de -dispensaçãó
em pessoa, pelo que as pessoas .não podem atribuir da plenitude dos tempos"). Uma vez que cada período
ao diabo o que ele realiza. tenha contribuído com a sua parte. resultando
b. A opinião dos não-dispensacíonalistas é que esse no beneficio máximo, então Cristo (o Lagos)
pecado continua sendo possível até hoje. Por exemplo, tornar-se-á tudo para todos (Efé. 1:23). E o resultado
quando os homens resistem teimosa e perversamente disso, segundo podemos antecipar, será a redenção
às operações do Espirito, manifestadas através da plena para os eleitos de Deus, e restauração para os
ministração do evangelho, e atribuindo tais operações não-eleitos. Ao que parece, até estes obterão o perdão
a Satanás. dos pecados, pois, de outro modo, como poderiam
c. A interpretação da resistência agravada. Os eles ser beneficiados? Uma dificuldade a enfrentar é
individuos que continua e resolutamente se opõem ao que Jesus disse que alguns nunca serão perdoados,
evangelho e ao seu ministério, durante certo período nem neste mundo e nem no vindouro: «... mas se
de tempo, terminam por colocar-se fora do alcance do alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso
perdão divino. Assim sendo, esse pecado de fHasfêmia perdoado, nem neste mundo nem no porvir" (Mat.
contra o Espírito Santo envolveria um longo período 12:32). E mister palmilhar com muito cuidado, nessas
de rebeldia e oposição, não sendo um pecado isolado. especulações, para não irmos além do que está
d, Interpretação da desobediência agravada, peca- escrito, e nem entrar em choque com ensinos biblicos
minosidade e apostasia. Os homens que persistem no claros. O pecado imperdoável mostra que nem todos
pecado, em sentido geral, finalmente não mais podem serão perdoados. Temos de confessar que há mistérios
ser alcançados pelo perdão divino. Aqueles que não" revelados por Deus, pois há coisas que ele
continuamente repelem a chamada divina, e que se reservou para a sua exclusiva autoridade. Quanto a
opõem aos que anunciam o evangelho. tornam-se essas doutrinas, ver os artigos sobre a Restauração e
culpados de· blasfêmia contra o Espírito Santo, sobre a Descida de Cristo ao Hades. Esse modo de
contra a missão de Cristo. Dentre essas quatro interpretação, contudo, é comum nas Igrejas Ortodo-
possibilidades, parece-nos que a mais provável é a xas Orientais e na Igreja Anglicana, embora
primeira, «a", acima. negligenciado no Ocidente, até mesmo pelas igrejas
5. O Pecado para Morte de I João 5:16. Alguns protestantes e evangélicas. Em minha maneira de
estudiosos têm vinculado esse pecado ao pecado pensar, o Oriente tem algo a ensinar ao Ocidente. (B
imperdoável. No entanto, o pecado para morte é o C E ND NTI)
pecado cometido por um crente. Tal pecado pode
levar à morte física, mas não à morte espiritual.
Alguns crentes abusam; e, depois, não há mais PEImÃO DE PECADOS PELOS APOSTOLOS
caminho de retorno. Vivem por tempo demasiado na João 20:23: Àqueles a quem perdoardes os pecados,
obstinação do pecado e perdem a sua utilidade. Ou são-lhes perdoados; e àqueles a quem os retiverdes,
então acabam cometendo algum gravissimo pecado são-lhes retidos.
, (ou uma série de pecados); e assim precisam Esta passagem, (João capitulo 20), especialmente
experimentar a morte física, como resultado natural por causa do presente versículo, tem-se tornado
de seus atos. Encontramos um caso assim em I campo de intensas controvérsias, como se dá no caso
Coríntios 5: 1. O quinto versiculo desse mesmo do texto de Mat. 16:19 e 18:18, sendo possivel que
capitulo mostra que o pecado de imoralidade preserve, de forma ligeiramente diferente, a mesma
envolvido no caso resultaria fatalmente na morte tradição por detrás do texto do evangelho de Mateus.
física, a menos que o crente culpado se arrependesse Naquele primeiro evangelho, o Senhor se dirigiu a
do mesmo. Mui provavelmente, esse é o tipo de coisa Simão Pedro; e isso parece dar a impressão de que ele
tencionado em I" João 5:16, onde a questão é tratada recebeu algum tipo de poder ou autoridade que os
de modo geral, sem qualquer pecado especifico em outros apóstolos não receberam. Entretanto, confor-
mira. me se vê na passagem de Mat. 18:18,19, estão em foco
VI. O E8c0po e o Tempo elo Penlio «dois dentre VÓS", e, no versiculo seguinte, o Senhor
O trecho de Heb. 9:27 parece indicar que o ajunta: « onde estiverem dois ou três reunidos em
perdão e, portanto, a salvação, precisa ser recebido meu nome ", tudo o que serve para mostrar-nos que
..dentro de uma única vida fisica da alma. Diz esse as ações coletivas da igreja cristã é que provocavam as
trecho: «E, assim como aos homens está ordenado «ligações" ou «desligamentos" de que fala o texto.
morrerem uma só vez, e, depois disto o juizo... » O Essas «ligações" e «desligamentos" do texto do
primeiro capitulo de Romanos também parece indicar evangelho de Mateus, mui provavelmente devem ser
que aqueles que não dão ouvidos ao evangelho, interpretados segundo os termos rabinicos dos judeus,
durante sua existência terrena, estão irremediavel- isto é, como tais expressões eram utilizadas pelos
mente perdidos, por não haverem sido perdoados. rabinos. Nesse caso, tudo quanto estava em foco nas
Devemos aceitar trechos assim como expressões de palavras de Jesus seriam decisões que proibiriam
ensino geral. Porém, o relato da descida de Cristo ao (ligar) ou permitiriam (desligar) certas ações ou
hades (I Ped. 3:18 - 4:6) ensina que a mensagem do condições no seio da comunidade cristã, e dificilmente
evangelho foi levada ao hades. E isso indica que, o essas palavras teriam qualquer vínculo com os alvos.
perdão e a salvação podem ser obtidos mesmo do espirituais finais, como o perdão de pecados de
outro lado da vida biológica. O trecho de I Pedro 4:6 alguém, ou a salvação de uma alma. Pelo contrário,
afirma categoricamente que a obra do Espirito, que nas páginas do N. T., quando aplicadas à igreja cristã,
confere vida, foi "estendida aos desobedientes, que essas expressões significam que a igreja, e não os
estavam sofrendo a condenação no hades. O rabinos e o seu sinédrio é que tinham o direito de
evangelho é capaz de fazer coisas assim. O trecho de estabelecer normas religiosas, para governo de. sua
Efésios 4:8 ss mostra-nos que a descida de Cristo ao própria comunidade.
hades, e sua subida dali, até os céus, tiveram o mesmo Devemo-nos lembrar que, quando foi escrito o
propósito: fazer Cristo ser tudo para todos. E o trecho evangelho de Mateus, bem como estas palavras que
de Efésios 1 :9, 10 mostra-nos que, de acordo com a ora comentamos no quarto evangelho, a cidade de
vontade de Deus, que envolve um mistério, haverá Jerusalém já havia sido destruida, e, juntamente com
210
PERDÃO
ela, terminara a autoridade, o poder e a presença do assumido muitas formas, defendida por muitos
sinédrio na nação judaica. Ora, isso deixara um intérpretes, é aquela que diz que os apóstolos, na
imenso vácuo de autoridade, de natureza eminente- realidade, na qualidade de representantes de Cristo,
mente religiosa. Quem teria agora a autoridade podiam verdadeiramente perdoar ou reter os pecados
anteriormente exercida pelo sinédrio? A resposta dos homens em sentido plenamente literal através da
dada no décimo sexto capitulo do evangelho de administração do confessionário ou de outros meios
Mateus é que o apóstolo Pedro deveria ser eclesiásticos. Essa interpretação pode assumir muitas
reconhecido como possuidor dessa autoridade. A formas variegadas e elaborações, tal como aquela que
resposta do décimo oitavo capitulo desse mesmo afiança que os apóstolos estabeleceram as primeiras
evangelho é que essa autoridade repousava sobre a regras da igreja cristã primitiva, tornando obrigató-
comunidade cristã, quando agisse numa espécie de rios deveres, ritos e cerimônias, além de haverem
ação coletiva ou democrática. Jâ a resposta do trecho determinado, em muitos casos, no que consiste
de João 20:23 é que essa autoridade fora entregue aos exatamente o pecado, em vários casos duvidosos. A
apóstolos. (Quanto a plenas explicações sobre o isso tem sido acrescentada a idéia da sucessão
problema criado pela autoridade especial dada a apostólica, ou seja, que esses privilégios e oficios,
Pedro, ver as notas referentes a Mat. 16:18,19, no altíssimos como são, são efetuados através do clero de
NTI). Ver o artigo sobre Fundamento da Igreja, uma determinada denominação cristã, que seria a
Pedro Como. única capaz de exercer os mesmos direitos que os
Tim aparecido di".... Interpntaçlea .1He O que apóstolos tiveram enfeixados nas mãos. No entanto,
atplflcarla o fato de que OI apóMoIOI neebenun essa doutrina se baseia na tradição, e não em
autoddade para perdoar ou reter pecadOI, como qualquer declaração bíblica. A fé na mesma equivale
legUe:. à fé numa determinada denominação e em seus
1. Alguns intérpretes têm observado que os verbos lideres, e jamais em qualquer declaração das próprias
principais deste versiculo estão vazados no tempo Escrituras Sagradas. Por isso mesmo, tal posição
perfeito, no original grego, os quais, por isso mesmo, precisa ser comprovada ou refutada com base em
poderiam ser traduzidos como foram retidos e foram outras considerações, e não com base na exegese
perdoados. Assim dizendo, esses intérpretes ensinam simples do texto bíblico. Ainda que pudéssemos
que essa aparente retenção ou perdão de pecados é admitir que os apóstolos possuiam tais poderes, isso
meramente um discernimento daquilo que já fora estaria longe de comprovar que outros indivíduos,
determinado pela vontade divina, ou através de depois deles, também receberam tal autoridade, ou
circunstâncias que circundam o caso. Assim sendo, que o alto privilégio proporcionado a Simão Pedro foi
eles preferem traduzir essa passagem do seguinte transferido a qualquer linhagem de sucessores seus.
modo: "Se perdoardes os pecados a alguém, já foram Essa transferência é exatamente o ponto que mais
perdoados; se retiverdes os pecados de alguém, já repousa sobre a tradição eclesiástica, desenvolvida
foram retidos». Dessa maneira os pregadores, ao paulatinamente através dos séculos, e não na
ministrarem a Palavra de Deus, simplesmente autoridade das Escrituras, por meio da exegese
confirmam o que deve ser de conformidade com as bíblica.
exigências divinas, sem que isso signifique que 4. Alguns intérpretes protestantes, entretanto,
tenham criado essas exigências divinas. Porém, têm-se inclinado em demasia para o ponto de vista
apesar de que a conclusão dessa interpretação muito contrário, eliminando qualquer oficio apostólico
provavelmente expressa a verdade, o modo gramatical especial, dizendo que qualquer ministro do evange-
de chegar a ela, segundo aparece na tradução provida lho, ao pregar aos homens, cria com isso as
acima, é extremamente dúbio, não se harmonizando circunstâncias que levam os pecados dos homens a
bem com o contexto, - e nem com a idéia que serem perdoados ou retidos. Apesar de que nisso hâ
aparentemente é transmitida aqui. Não podemos certa verdade, contudo, em sentido especial, o oficio
apresentar esse tipo de argumento com qualquer apostólico é que criou essas condições, porquanto foi
certeza, com base no tempo perfeito do texto grego, através dos apóstolos originais de Cristo que os
especialmente no caso do grego helenista (do qual o homens vieram a se defrontar, pela primeira vez, com
N, T. é um dos principais representantes), porquanto a mensagem de Jesus, de sua ressurreição e de suas
o tempo perfeito pode ser usado em lugar do presente exigências impostas aos homens, das novas definições
e do aoristo, sem que isso tenha qualquer sentido cristãs do pecado e das conseqüências do mesmo.
especial. Outrossim, a condição da continuação do Também foi por meio dos apóstolos que a igreja cristã
estado de «perdoado» ou do estado de «retido», foi estabelecida, como agente divino para anunciar a
gramaticalmente pelo menos, depende da clâusula mensagem de Deus à humanidade. Dessa forma, os
anterior: « se de alguns perdoardes... se lhos apóstolos ocupavam uma posição elevada, investidos
retiverdes -: e assim fica derrubado por terra todo o como estavam de seriíssimo oficio, envolto em
argumento fundamentado no emprego do tempo considerações gravíssimas, de tal modo que a
perfeito. pregação deles e o exercício de dons especiais e até
mesmo miraculosos, que tinham por intuito autenti-
2. Alguns estudiosos pensam que o perdoar e o reter car a sua mensagem e convencer aos homens, criaram
são equivalentes ao desligar e ao ligar (respectivamen- as condições sob as quais os pecados dos homens
te) segundo aparecem estes dois últimos verbos nos podem ser perdoados ou retidos. É somente nesse
trechos de Mat. 18:18 e 16:19. Porém, isso não faz sentido que se pode asseverar que os apóstolos
sentido neste presente contexto, porquanto não foi perdoavam ou retinham os pecados dos homens. A
dito aos apóstolos que determinassem o que deveria idéia de que os apóstolos podiam fazer' isso
ser considerado pecado ou não, isto é, que literalmente, embora não contradiga o presente texto,
«permitissem» determinados atos mas "proibissem» pois tal idéia pode ser espremida para fora do texto
outros (como no caso do evangelho de Mateus). Pelo que ora consideramos, contanto que não se queira
contrário, neste quarto evangelho, estão envolvidos o levar em consideração outras passagens que versam
perdão ou a-retenção dos pecados, bem como o que sobre a questão, não é admissivel para a teologia
significa esse pecado, determinado pela natureza geral, nem do Antigo e nem do Novo Testamentos. De
moral de Deus, e não pelas idéias dos homens. fato, em parte alguma tal doutrina é ensinada pelo
3. A interpretação eclesiástica exagerada, que tem apóstolo Paulo, e grande mestre dos gentios na fé, em
211
PERDÁO - PERDIÇÁO
suas passagens teológicas dogmáticas. Um problema exclamando, abandonou o vicio 'do fumo para
de tão magna importância certamente teria sido sempre. O notável feito da alunissagem, levou-o a
abordado de alguma maneira por esse apóstolo, ou praticar também um pequeno feito, de sua autoria.
pelo menos, por algum dos outros apóstolos, em Sim, a lua havia modificado a sua maneira de pensar.
qualquer porção do volume do N.T., se porventura Portanto, aquilo que Cristo realizou e o que os
devêssemos compreender que tal autoridade lhes fora apóstolos fizeram, certamente, podem modificar
dada - a de realmente perdoar pecados. Somente o ainda muito mais facilmente, e com muit-o maior
Senhor Jesus, o Messias, é que tem tal autoridade e razão, a nossa maneira de pensar no tocante às
poder (ver Mat. 9:2-6). nossas relações com Deus, por intermédio de Cristo
5. Alguns estudiosos acreditam que o trecho de I Jesus. Através dessa inspiração podemos ser homens
João 5:16,17 é pelo menos aludido neste versiculo. melhores, servos melhores dos nossos semelhantes; e,
Nessa primeira epistola de João é abordada a questão mediante a pregação do evangelho, podemos conduzir
dos pecados para a morte, e como aos crentes não é outros homens aos pés de Cristo.
permitido fazer julgamento sobre tais questões, Nem mesmo os apóstolos. nos dias
orando ou de alguma outra forma qualquer Em que andaram com ele, amaram -no tanto
entregando alguém à morte, e ainda que uma pessoa Como amamos a Cristo agora, que notamos seu
tivesse cometido claramente um desses pecados, não louvor
deve o crente importar-se em orar por ela, como se Lendo a história que eles contam.
tivesse autoridade ou poder para tal. Todavia, não Escrita por eles quando sua visão aumentou
parece haver qualquer conexão vital entre o presente E quando aquele que fugiu e o negou três vezes
versiculo e esse texto, embora uma questão, tal como Face a face, mostrou finalmente ser autêntico.
esta, seja séria. Não hâ nenhuma indicação de que E morreu alegremente por sua memória:
alguém possa ser entregue à morte fisica e muito Tão poderosa visão como não houve outra
menos à morte espiritual por ação de outrem. Sobre quem a rede do Pai foi lançada;
A autoridade de perdoar pecados era administrada Nem mesmo entre os mais assustados, nenhum houve
mhaiIterIaImeDt pelos apóstolos, no fato de que eles Que o abandonou finalmente, para sempre.
trouxeram aos homens as condições sob as quais esse (Vision, Obras Poéticas de Robert Bridges).
perdão lhes podia ser conferido. Na realidade, os Por semelhante modo, este texto, através do
apóstolos forçavam a tomada de decisões espirituais, exemplo que nos foi deixado pelos apóstolos,
por parte dos homens, mediante o seu ministério; não ensina-nos a nos elevarmos acima de nós mesmos,
fora isso, essas pessoas nunca teriam tomado tais para que sejamos servos dignos de Cristo Jesus.
decisões a respeito de Cristo e nem jamais se
interessariam por qualquer suposta salvação que
porventura tivesse chegado ao conhecimento deles. PERDIÇÃO
O que dissemos acima tinha lugar através dos Essa palavra vem do latim perdere, «perder»,
seguintes meios: 1. A prédica do evangelho, com «destruir•. O termo é usado na teologia para indicar
poder do Espirito, autenticado pelos milagres os resultados do julgamento dos impios, o estado de
efetuados pelos apóstolos. 2. O estabelecimento da quem está perdido, em associação a vários conceitos
igreja cristã, o que forçou os homens a examinarem de destruição e perda. O vocábulo grego envolvido é
com mais cautela as extraordinárias reivindicações de apôleia, «ruína», «perdição», «destruição», Essa
Cristo. 3. O fato de serem os apóstolos a nova palavra pode ser usada em sentido literal, não-teolôgi-
autoridade sobre as questões religiosas, autoridade co (como em Mat. 26:8; Mar. 14:4; referindo-se ao
essa que veio a preencher o vácuo deixado pela estrago de ungüento). Judas Iscariotes foi chamado de
destruição do sinédrio, quando Jerusalém foi destrui- «filho da perdição», como alguém destinado à
da pelos romanos, no ano 70 D.C. perdição espiritual. Outro tanto é dito acerca do
Apesar de havermos enfatizado corretamente, neste anticristo, em Apo. 17:8,11 elITes. 2:3. No
ponto, a posição e autoridade dos apóstolos, não nos Apocalipse, o lago do fogo aparece como a mais
devemos olvidar daquela interpretação secundária terrível representação da perdição, uma figura
que estende esse mesmo tipo de responsabilidade a simbólica tomada por empréstimo dos livros pseude-
todos os ministros do evangelho. O apóstolo Paulo pigrafos. Ver sobre o Lago de Fogo, a Segunda Morte
expressou essa idéia quando escreveu: «Para com estes (Apo. 20:14) uma outra maneira metafórica de
cheiros de morte para morte; para com aqueles falar sobre a perdição.
aromas de vida para vida. Quem, porém, é suficiente Perdição é uma maneira de indicar a perda da
para estas cousas?» (11 Cor. 2:16). Ora, nessa vida eterna bendita, de estar alguém excluido do reino
passagem o apóstolo Paulo se referia ao ministério dos de Deus (João 17:12; 11 Tes. 2:3; Heb. 10:39; 11 Ped,
crentes, em lugar de Cristo, em favor dos homens. 3:7; Apo. 17:8,11). Ver os artigos intitulados
Assim sendo, portanto, outros crentes, após os Julgamento de Deus dos Homens Perdidos; Hades;
apóstolos, tornaram-se instrumentos de Cristo; Inferno; Geena; Sheol; Mortos. Estado dos. Esses
porém, de alguma maneira, isso teve base no artigos expõem o que penso sobre o assunto,
ministério original dos apóstolos. mormente sobre o julgamento, pelo que não repito
Marcus Bach, em seu artigo, The Moon has aqui esse material. Quanto ao aspecto mais
Changed our Thinking (A Lua Mudou nossa Maneira esperançoso da questão; ver os artigos Descida de
de Pensar. Fate Magazine, maio de 1970), fala de um Cristo ao Hades e Restauração. Creio que os
amigo seu que tinha grande dificuldade para pôr fim versiculos mais pessimistas, a respeito do julgamento,
ao seu antigo hábito de fumar. Já tinha fracassado em que dependem da visão dos livros pseudeplgrafos
diversas tentativas. Porém, quando «Águia», isto é, (vide), foram ultrapassados por uma visão muito mais
Apolo XI, alunissou, e Neil Armstrong desceu pelas otimista (também no Novo Testamento), e que falam
escadas da nave, tornando-se assim o primeiro sobre o mistério da vontade de Deus (vide), por meio
homem a pousar seus pés no solo lunar, esse seu da qual aquela sombria escatologia foi substituida por
amigo jogou fora o cigarro que estava fumando, e outra, dotada de esperança e glória. A teologia opera
disse pensativamente: Se eles puderam fazer isso, mediante saltos quantum, e não depende exclusiva-
então eu também posso fazer isto. E, assim mente de textos de prova. Apesar de haver mais
212
PERDIÇÁO - PERDIZ
versículos que expõem a visto''aIlterior do castigo evangélica e dizer: «Isso é tudo quanto Deus foi capaz
eterno, envolvendo as chamas eternas do inferno, de fazer. Lamento, amigos•.
existem alguns versículos que mostram como a missão
de Cristo anulou esse aspecto de punição eterna. Pois
em Cristo, finalmente, será obtida uma unidade, PERDIÇÃO, FILHO DA
dentro da qual haverá gl6ria para todos os seres
humanos, posto que não no mesmo grau para todos. PIIDO de Fando Judáeo. Temos ai uma expressão
Todavia, é 6bvio que haverá muito tempo para que hebraica que expressa alguma caracteristica básica de
isso suceda, pois sô ocorrerá nos corredores da uma pessoa, chamando-a de .filho de •. Assim, temos
eternidade futura (ver Efé. 1:9,10). Todavia, a obra os «filhos da ressurreíção« e os «filhos da desobediên-
divina será gloriosa, e o julgamento fará parte dessa cia», etc. De acordo com isso, umfilho de perdição ê
realização. O julgamento é remedial (segundo se vê alguém cujo destino de ruína eterna é ricamente
claramente em I Ped. 4:6), e resulta na vida. O merecido. Há· dois homens chamados, no Novo
julgamento é apenas um dedo da amorosa mão de Testamento, de «filho da perdição», a saber: Judas
Deus. O julgamento terá uma gloriosa obra a realizar, Iscariotes, que traiu ao Senhor Jesus; e o anticristo
finalmente; mas isso em nada diminui a sua f ). Ver João 17:12 e Atos 1:20, nc tocante ajudas;
(vide
severidade. e I Tes. 2:3 e Apo. 17:8,11 no que concerne ao
A MIsIio TrlcIbneDdonal de Cdato. Cristo atuou à anticristo. Os m6rmons levam muito a sério essa
face da terra, no hades e nos céus. Ou melhor, questão, pensando que alguns poucos outros indivl-
continua atuando, tanto pessoalmente quanto através duos, realmente malignos, com razão podem ser
de seus missionários, em todos os lugares onde chamados «filhos da perdição», em face de seus
residam almas humanas, sem importar o estado em crimes, que merecem um juizo especialmente severo,
que se encontrem. :E: errado solapar qualquer desses em contraste com todos os demais homens. Alguns
aspectos da missão de Cristo por meio de nossa grupos evangélicos também têm visto algo de especial
bitolada teologia. Todos os labores de Cristo são' na expressão «filho da perdição•. Uma interpretação
redentores-restauradores - redenção para os eleitos e popular é aquela que diz que Judas Iscariotes,
restauração para os não-eleitos, Com essas breves reencarnado, será o anticristo, pelo que não seria por
explicações, deixo a matéria, rogando que o leitor acidente que a expressão é aplicada, em todo o Novo
examine os artigos acima mencionados, e que Testamento, somente a Judas e-ao anticristo. E para
desenvolvem esses temas. A Igreja cristã oriental (e os reforçar essa interpretação, é salientado que a Biblia
anglicanos), influenciados pelas interpretações dos diz que Judas foi «para o seu prôprio lugar. (Atos
pais gregos da Igreja, têm preferido essa alternativa 1:25). Essas palavras são interpretadas como se ele
mais esperançosa do julgamento, ao passo que a tivesse ido para algum lugar especial no hades,
Igreja ocidental (com seus fragmentos: todos os reservado para ele, e de onde ele ascenderia, segundo
protestantes e evangélicos) tem preferido tradicional- o Apocalipse diz que o anticristo fará (Apo. 11:7 e
mente o ponto de vista mais pessimista. O ponto de 17:8). Outros eruditos associam um Nero redivivo
vista pessimista destrói o evangelho' até onde diz com a figura do anticristo. Os Oráculos Sibilinos,
respeito às massas humanas. No entanto, Deus tem bem como certos escritores cristãos, comentaram
amado a todos os homens. Assim sendo, essa posição sobre essa lenda.
faz com que o amor de Deus pareça ter falhado. Para Tudo isso envolve uma interessante interpretação,
mim, essa é uma visão impossivel da missão de Cristo. mas é bem possivel que tudo quanto a expressão «filho
Elevam-se aqui várias impossibilidades, a saber: da llerdiç~olt queria dizer é que aqueles que são assim
Primeira, é impossível dizermos que Deus não amou à designados merecem a perdição que tão cuidadosa-
raça humana inteira, as massas (João 3:16; I João mente cultivaram. Ver o artigo geral sobre aPerdição.
2:4). Segunda, é impossivel dizermos que apesar de
Cristo ter realizado uma expiação universal, esta é
apenas teôrica, e não tem efeitos universais (ver o PERDIZ
artigo sobre a Restauração). Terceira, é impossivel Ver I Sam. 26:20 e Jer, 17:11, onde este pássaro
supormos que fracassará o mistério da vontade de provavelmente está em foco. No hebraico é &Ore.
Deus (Efê. 1:9,10). Quarta, é impossível dizermos que Talvez o trecho de Sal. 91:1 faça alusão indireta a
a descida de Cristo ao hades não teve efeitos como essa ave era apanhada em armadilhas, pelos
remidores-restauradores (I Ped. 4:6 ensina-nos que caçadores. Na Palestina havia duas espécies de
ele pregou o evangelho aos mortos desobedientes; ver perdiz: a perdiz das rochas (AIectoda paeea), que é
I Ped. 3:20). Quinta, é impossível supormos que a similar à perdiz de pernas vermelhas, da parte
missão tridimensional de Cristo fracassou, e que o sudoeste da Europa (AIectorla rufa). Além disso havia
poder de Cristo, por isso mesmo, não era adequado (e até hoje existe) a perdiz do deserto (ÂIaIIlOIIpeI'db
para a tarefa a que ele se propôs. Sexta, é impossível heyI), que é de porte bem menor f" s6 é encontrada em
aceitarmos um cristianismo pessimista, onde a regiões rochosas em tomo do mar Morto e nos
existência da grande maioria das pessoas será trágica desertos do Neguebe e do Sinai. A primeira tem os
além de toda descrição. Pergunto, onde estava o Deus lados da cabeça brancos, com bordas negras, e atinge
Todo-Poderoso em tudo isso? Onde está o seu amorl cerca de 36 cm de altura. A última tem uma coloração
Onde estava o Filho de Deus? Por quais razões eles arenosa, de tal modo que é diflcil vê-Ia quando está
teriam falhado? Por que razão a Igreja existe, se o ciscando a terra.
que ela tem a pregar é apenas tragédia, exceto para As perdizes correm bem, mas não voam bem. Sua
uma pequena porcentagem de pessoas, que creram no melhor proteção é esconderem-se em ambientes que
tempo certo, da maneira certa? Schopenhauer falava se assemelham à sua coloração, o que talvez seja
em termos pessimistas sobre a existência, mas nunca aludido em I Sam. 26:20. Davi disse que ele agia
desceu ao sepulcral pessimismo da Igreja cristã como uma perdiz, quando fugia diante de Saulo O
ocidental. A definição primária do pessimismo (vide) trecho de ler. 17:11 reflete uma crença sobre as
é que a própria existência é um mal. Se a posição da perdizes, que talvez não corresponda. à realidade dos
Igreja ocidental sobre o que finalmente sucederá aos fatos. A perdiz remove os ovos dos ninhos de outras
homens, for verdade, então temos ai um evangelho espécies de aves e, então, senta-se sobre os ~mos,
pessimista. Eu teria vergonha de entrar em uma igreja para chocá-los. Mas, quando os filhotes nascem,
213
PERDIZ - PEREGRINO
correm para suas verdadeiras mies I Assim também tribos gentllicas conquistadas (I Reis 9:20 ss).
acontece ao individuo que- fica rico por meios Contrariamente ao costume judaico atual, que diz que
desonestos, arrebatando o que não lhe pertence. Os o filho de uma mulher judia é um judeu, mas não o
árabes modernos acreditam que a perdiz põe ovos em filho de um homem judeu (conforme a opinião dos
dois ninhos diferentes, e um desses ninhos é cuidado rabinos, embora não seja esse o parecer de todos os
pelo macho, sem dúvida uma provisão da natureza judeus), o Iilho de um ger e de uma judia era
visando à sobrevivência da espécie. Mas essa idéia que considerado gero Ver Lev. 24:10-22. Isso mostra que
a perdiz choca ovos que não são seus certamente os rabinos não estão seguindo o precedente bíblico
envolve uma crença duvidosa. Nomes próprios, no mais antigo, e, sim, um costume que se estabelceu
Antigo Testamento, empregavam a raiz do nome que por ocasião da volta dos judeus do exílio babilônico,
significa a perdiz, como En-Hacorê, nome de uma porquanto muitos judeus tinham se casado no exílio
fonte, em Jui. 15:19. E também lemos sobre um com mulheres estrangeiras, e os filhos desses
homem de nome Corê, em I Crô. 9:19. Essa ave era casamentos mistos criaram problemas na comunidade
excelente para ser consumida pelo homem, pelo que israelita.
também era incansavelmente caçada, juntamente I.«pJmente, um &er tinha muitos privilégios. Os
com muitas outras espécies de aves que serviam ao israelitas não deveriam oprimi-lo (Exo. 22;21; 23:9;
mesmo propósito. Lev. 19:33,34). Pelo contrário, deveriam amá-lo
(Deu. 10:19). Os rabiscos das vinhas e dos campos
PEREGRINO plantados deveriam ser deixados para os peregrinos
Há quatro palavras hebraicas vinculadas a .essa em Israel (Lev, 19:10; 23:22; Deu. 24:19-21). Havia
idéia, nas páginas do Antigo Testamento, a saber: provisões para proteger os peregrinos, nas cidades de
1. Ger, «peregrino». Essa palavra aparece por refúgio (Núm. 35:15; Jos. 20:9). Embora as provisões
oitenta e oito vezes, como, por exemplo, em Gên, legais considerassem um ger como uma pessoa pobre,
15:13; Êxo. 2:22; Lev. 16:29; Núm. 9:14; Deu. 1:16; alguns deles, segundo todas as aparências, tornavam-
los. 8:33,35; I Crô. 22:2; 11 Crô. 30:25; ló 31:32; Sal. se abastados em Israel (Lev. 25:47 ss. e Deu. 28:43).
39:12; Isa. 14:1; ler. 7:6; Eze, 14:7; Zac. 7:10; Mal. Quanto ao aspecto religioso, havia privilégios iguais
3:5. tanto para os israelitas quanto para os peregrinos
2. Our, «peregrino... Esse termo figura ~or sete entre eles. Assim, os peregrinos podiam e deviam
vezes com esse. sentido, conforme se ve, para descansar no sábado (Exo, 20:10; 23:12), regozíjan-
exemplificar, em 11 Sam, 4:3. do-se nas festas das semanas e dos tabernáculos (Deu.
3. Moshab, «colono-. Esse vocábulo é usado por comendo16), observando o dia da expiação (Lev, 16:29), e não
quarenta e uma vezes, embora apenas por uma vez (Êxo. fermento quando da festa dos pães asmas
com esse sentido, em Êxo, 12:40. 12:19). Não podiam os peregrinos ser
compelidos a participar da páscoa, mas, se eles
4. Toshab, «colono.., «habitante». Palavra empre- se circuncidassem, podiam participar dessa festivida-
gada por catorze vezes, conforme se vê, por exemplo, de (Êxo. 12:48). Os peregrinos não podiam comer
em Gên. 23:4; Lev. 22:10; 25:23,35,40,47; NÚm. sangue, enquanto os israelitas se encontrassem
35:15; I c-e, 29:15; Sal. 39:12. vagueando pelo deserto (Lev. 17:10-12), e, durante
1. A primeira dessas palavras, ger, refere-se a um esse mesmo período, embora não depois, eles foram
estrangeiro residente em um outro pais, um não- proibidos de comer animais que tivessem morrido por
cidadão que reside ali de modo mais ou menos si mesmos (Lev. 17:15 e Deu. 14:21), sob a pena de
permanente, desfrutando de certos direitos civis ficarem imundos cerimonialmente até o anoitecer.
limitados. Um peregrino é alguém que habita no meio .Interessante é a observação de que os peregrinos
de um outro povo, em contraste com o estrangeiro, podiam oferecer sacrificios (Lev, 17:8; 22:18; Núm.
cuja permanência é temporária. Para que não haja 15:14), estando sujeitos às mesmas regras que os
confusão nas traduções, seria necessário que houvesse israelitas nativos, se cometessem pecados involuntâ-
coerência na tradução dessa palavra, o que nem rios (Lev. 15:22-31); e também precisavam passar
sempre tem acontecido, pois, algumas vezes, as pelos ritos de purificação, se entrassem em contato
traduções também dizem «estrangeiro», quando fisico com algum cadáver (Lev. 19:10·13).
deveriam dizer «peregrino.., além do que combina 2. Toshab é palavra hebraica que, em alguns casos,
com o verbo hebraico gur, «peregrinar». parece ter sido usada como sinônimo de ger.
Esse termo foi usado na Biblia para indicar os Entretanto, seu uso limitou-se ao Pentateuco, com
patriarcas, quando peregrinavam na Terra Prometida apenas três exceções (I Reis 17:1; I Crô. 29:15 e Sal.
(Gên. 23:4), para indicar os israelitas, escravizados no 39:12).
Egito (Gên. 15:13; Êxo. 22:21), para indicar os levitas
que habitavam entre seus compatriotas israelitas 3. O estrangeiro (em hebraico, nokri) era palavra
(Deu. 18:6; Juí, 17:7), ou para indicar um efraimita reservada para indicar alguém que tivesse nascido no
que esteve morando em Gibeá (lui. 19:16), além de estrangeiro e que, usualmente, vivesse fora do territô-
indicar os estrangeiros que vinham residir por algum rio de Israel, Um estrangeiro não usufruía de direitos
tempo na terra de Israel. Em Israel, os peregrinos legais em Israel (Deu. 15:3; 23:30). Essa palavra,
gozavam de muitos privilégios, uma posição sem igual pois, denotava basicamente a diferença entre os
nos primeiros sistemas legais, geralmente adversos israelitas e os não-israelítasf lsa. 61:5; ler. 5:19; 30:8).
aos estrangeiros. Visto que um peregrino sofria por Salomão chegou a ser censurado porquanto amou a
causa de certas desvantagens naturais, a legislação «muitas mulheres estrangeiras.. (I Reis 11:1). Os
mosaica protegia-o (Lev. 19:33 ss; Deu. 10:18). De estrangeiros não podiam participar da festa da páscoa
fato, os peregrinos foram favorecidos desde o começo. (Êxo, 12:43); mas podiam oferecer sacrificios ao Deus
Uma «multidão mista.. saiu do Egito juntamente com de Israel, em lerusalém, a capital religiosa (Lev.
os filhos de Israel; e, após a conquista da Terra 22:25). A lei mosaica vedava aos estrangeiros o direito
Prometida, os israelitas e outros povos da região de receberem algum cargo de govemança em Israel
viveram lado a lado no mesmo território. Os livros (Deu. 17:15). Posteriormente, porém, foi encorajada
hist6ricos da Biblia mencionam repetidamente os a adoração a Deus à distância, se os estrangeiros
estrangeiros e os peregrinos. Nos dias de Salomão assim quisessem fazê-lo (I Reis 8:41,43; Isa. 2:2 ss;
havia muitos deles, provavelmente remanescentes de 56:3,6 ss), O caso de Naamã, um general. sirio,
214
PEREGR1NO - PER~IA
mostra-nos que um estrangeiro podia adorar ao Deus outros escritores a fim de descrever tanto a Pe~
de Israel no estrangeiro (11 Reis 5:17). A existência de politica quanto as terras da margem esquerda do
bairros ocupados por estrangeiros, em Israel, é algo Jordão, em geral. O trecho de João 1:28 diz-nos que
que pode ser inferido de trechos como I Reis Jesus foi batizado «doutro lado do Jordão... O termo
9:20,21,24 e I Crônicas 22:2. -Perêía.. nunca é usado na Bíblia, embora o distrito
Nos primeiros estágios da história de Israel, desse nome seja referido como «do outro lado do
casarnentos com pessoas estrangeiras eram comuns, Jordão...
embora o costume não fosse aprovado com prazer 2. Sua Ãrea Geográfica
(Gên. 24:3; 27:46; Núm. 12:1; Jui. 14:3). Moisés Está em pauta um distrito da Transjordlnia, que
determinou que o sumo sacerdote de Israel se casasse corresponde em termos gerais à antiga Ciileade (vide).
com uma virgem dentre o seu pr6prio povo (Lev. O nome Peréia s6 começou a ser usado ap6s o exilio
21:14). Esdras e Neemias iniciaram uma vigorosa babilônico, denotando uma área a leste do rio Jordão,
campanha contra os casamentos mistos entre homens com cerca de dezesseis quilômetros de largura, e
judeus e mulheres estrangeiras (Esd. 10 e Nee. estendendo-se desde algum ponto entre os rios
13:23-31). Nas civilizações da antiguidade, um Jaboque e larmuque, ao norte, até o rio Amom, ao
«estrangeiro. e um «inimigo. eram, praticamente, a sul. Essencialmente, era a subida de mil metros de
mesma coisa. Talvez a legislação mosaica, tio branda altitude que acompanhava o Jordão a certa distancia.
e favorável para com os «peregrinos», tivesse por Sua fronteira ocidental, na realidade, era formada
propósito suavizar essa aversão aos estrangeiros, em por esse rio. Ali havia certo número de cidades,
Israel. situadas em uma altitude regular. Contava com um
4. O sentido exato de zar, «estrangeiro», precisa ser regime de chuvas regular e era recoberta por florestas,
determinado pelo contexto. Essa é uma palavra em suas porções mais elevadas. As áreas de nivel
hebraica que aparece por sessenta e cinco vezes, desde intermediário eram cultivadas com oliveiras e
Êxo. 29:33 até Oba. 11. Com freqüência, refere-se a videiras, e também com algum trigo; e havia ali
povos hostis estrangeiros, formando contraste com algumas terras de pasto. Quando as tribos de Gade e
Israel (Isa. 1:7; Eze. 7:21; Osé. 7:9; 8:7; Joel 3:17 e Rúben (ver NÚm. 32:1-5) investigaram a região,
Oba. 11). Em outros contextos, refere-se a «estrangei- perderam o interesse em cruzar o rio Jordão para o
ro. em um outro sentido, como os não -aaronitas outro lado, e estabeleceram-se ali. Mas, estando no
(Núm. 16:40; Heb. 17:5), ou aos não-levitas (Núm. lado oriental (e menos protegido) de Israel, ficaram
1 :51), ou, então, a alguém que não era membro de sujeitas aos freqüentes ataques de povos hostis. O
alguma famllia bem definida (Deu. 25:5). Quando era trecho de I Macabeus 5:9-54 narra como Judas
contrastada com os sacerdotes significava «leigo. Macabeu salvou uma minoria de judeus que ali
(Lev. 22:10-13), e quando contrastada com o que era residia. Alexandre Janeu conquistou a área e forçou
santo, significava «profano. (Êxo, 30:9). os habitantes pagãos a aceitarem a fé judaica e o seu
Quando chegamos ao Novo Testamento, vemos que governo; e conforme as coisas sucederam, ele faleceu
o termo «estrangeiro.. já não se aplica mais aos não- em Ragaba, em 76 A.C. Nos dias de Jesus, Herodes
judeus, porquanto havia desaparecido a nacionalida- Ântipas (4 A.C. - 39 D.C.) con1rolava a Peréia
de judaica, bem como a base politica do povo de inteira, tendo reconstruido Betaramfta, que é a
Deus. No Novo Testamento, todos os crentes são mesma Bete-Arã de Jos. 13:27. Mas deu-lhe o novo
estrangeiros neste mundo (ver FiI. 3:20; I Ped. 2:11). nome de Julias, conforme nos adianta Josefo (Anti.
No entanto, através de Jesus Cristo, todos os 18.2.1).
estrangeiros e peregrinos podem tomar-se membros 3. Divisões da Mishnah; Informes Hist6ricos
com todos os direitos da casa de Deus, visto que o Esse documento hebreu fornece-nos três áreas
muro de separação, entre judeus.. e gentios, foi gerais da Palestina: a Judéia, a Transjordinia e a
derrubado por meio de sua cruz (Efé. 2:11-19). Galiléia (Baba Bathra 3.2; Ketuboth 13:10). Mui
O conceito da fraternidade da humanidade remida, provavelmente, Decápolis fazia parte da Peréia,
em tomo de Cristo é um passo que ul1rapassa em muito embora Josefo pareça ter excluido aquela porção da
às . mais arrojadas concepções de igualdade e fronteira norte daquela área. De acordo com ele,
solidariedade humana.entre os israelitas. De fato, se ficava ao sul de Pela, uma cidade para onde os judeus
no cristianismo não há mais a mínima diferença racial cristãos fugiram quando os romanos invadiram a
e cultural entre os homens, quando se encontram em Palestina. A fronteira sul da Peréia era Maquero
Cristo, de acordo com a legislação mosaica houve (onde Herodes mandara decapitar a Joio Batista).
grupos étnicos que jamais puderam fazer parte da Ver Josefo (Anti. 18.5,2). Herodes Agripa 11, durante
comunidade israelita. Ver· Deu. 23:2-9, onde a o tempo do imperador Nero, governava a Peréia.
participação na assembléia fica vedada aos bastardos, Atualmente, a Peréia está incluída no reino hasemita
aos amonitas e aos moabitas, embora essa proibição da Jordânia; mas desde há muito que o nome Perêía
não pesasse nem sobre os edomitas e nem sobre os caiu em desuso.
egipcios.
4. Jesus na Peréia
Embora o nome Peréia não figure nas páginas do
Novo Testamento, certos lugares pertencentes àquela
PERDA área são mencionados em relação ao ministério de
Esboço: Cristo. Conseqüentemente, os eruditos falam sobre o
1. A Palavra e as Referências Bíblicas ministério de Jesus na Peréia. Jesus deixou a Galiléia e
2. Sua Área Geográfica partiu para a Peréia (ver Mat. 19:1; Mar. 10:1). Esse
3. Divisões da Mishnah; Informes Hist6ricos periodo terminou com o incidente da unção de Jesus
por Maria, em Betânia, que já ficava na Judéia (ver
4. Jesus na Perêia Mat. 26:6 ss). Qs trechos biblicos que abordam essa
1. A Palavra e as Referências Blblicas fase do ministério de Jesus mencionam lugares da
O nome Peréia deriva-se do grego, «do outro lados, Transjordânia que então não faziam parte da Peréia,
Está em foco a área da Transjordinia, na Palestina. A razão pela aual a expressão «ministério ~ PeI'éUP não
Septuaginta diz apenas peran tou Iordanou, «do outro é exata. Viajando de Nazaré a Jerusalém, Jesus
lado do Jordão•. Essa expressão foi usada por Josefo e naturalmente a1ravessou aquela regilo. Os trechos de
215
PERES - PERFEIÇAO
Mat. 4:25 e Mar. 3:8 falam sobre as grandes filisteus e com osjônios (descendentes de Javã), o que
multidões que vinham da Peréia buscar cura no parece indicar que eles eram semitas, e não
Senhor Jesus. indo-europeus. E os ferezeus são mencionados junto
com os amorreus, o que subentende que eles
PERES ocupavam uma área geográfica ainda mais ocidental.
Além disso, as designações não são precisas no que
Essa palavra deriva-se do aramaico, pea-_, tange ao ponto de vista étnico, tendendo por designar
«dividir". O escrito em aramaico que apareceu
misteriosamente na caiadura da parede, repreenden- povos de área específica, e não de raças especificas.
do a Belsazar (ver Dan. 5:25), dizendo Mene, Mene, Ver Êxo, 3:8,17 quanto à menção dos ferezeus com os
Tequel Ufarsim (vide), incluía a raiz peras, no termo amorreus. Eles também são mencionados em
Ufarsim, poisperas é a forma singular da mesma. O conjunção com os refains, em Gên. 15:20, o que
«U" de Ufarsim é apenas !l conjunção «e". A parece situá-los na ârea a oeste do rio Jordão, Parece
mensagem assim transmitida dizia, pois, que o reino que eles ocupavam territórios a oeste do rio Jordão e
de Belsazar seria dividido e dado aos medos e persas. ao norte do mar Morto, na região montanhosa entre
Bete-Seã (Beisã) e Bezeque (Khirbet Ibziq). Foram os
homens da tribo de Manassés que, finalmente, vieram
PEREZ a possuir a maior parte dessa região.
Palavra que vem de uma raiz hebraica que significa A primeira menção aos ferezeus ocorre em Gên.
«separar... Esse era o nome de um dos dois filhos de 13:7, como um povo associado aos cananeus; então
Maquir, da tribo de Manassês, que era seu avô (I Crô. eles entraram em contacto com Abraão (ver Gên.
7:16). Perez viveu em torno de 1650 A.C. 34:40). Judâ ocupou parte do território deles,
conforme se aprende em Juí, 1:4,5. Os ferezeus
PEREZ·UZÁ continuaram convivendo perto dos israelitas até os
tempos de Salomão, o qual os sujeitou ao pagamento
Esse nome significa «brecha" ou «ferimento" (de de tributo (I Reis 9:20). Os trechos de Deu. 3:5 e 1
Uzâ), E também veio a tomar-se o nome de um lugar Sam. 6:16 parecem indicar que eles habitavam em
que também era conhecido como Nacom (11 Sam. 6:6) cidades e aldeias sem muralhas, pois a própria
e também «eira de Quidom» (I Crô. 13:9). Foi ali que
morreu Uzá (vide), ao ser ferido pelo Senhor por palavra, ferezeus, significa "habitantes de aldeias sem
haver ousado estender a mão para não deixar a arca muros", como palavra cognata de paruz; usada na
cair. Mishna para indicar um habitante de uma aldeia sem
A grande questão é por que isso lhe sucedeu; e o muros. A palavra árabe que significa lugar baixo,
artigo a respeito de Uzá procura sondar o assunto. entre colinas (onde surgiam essas vilas), parece ser um
Davi ficou muito abalado diante do acontecido, e deu termo cognato.
ao local o seu nome novo, Perez-Uzâ, porquanto ali
Uzâ fora ferido. O local exato é desconhecido
atualmente, embora ficasse entre Jerusalém e PEREZITAS (PEREZ)
Quriate-learim. Esses adjetivos vêem do termo hebraico que
significa «irromper", «espalhar-se », Perez foi o nome
de um dos gêmeos referidos em 1 Crê, 27:3 e Nee.
PEREZEUS (FEREZEUS) 11:4,6. Seu irmão chamava-se Zerâ, Os dois eram
As traduções variam entre estes dois nomes. filhos de ludá e sua própria nora, Tamar, que
Esse povo antigo é mencionado somente no Antigo enganou seu sogro e manteve relações sexuais com ele
Testamento. Ver Gên. 13:7; Êxo. 33:2; 34:11; Deu. (Gên, 38:29; 1 Crô. 2:4). Perez foi assim chamado por
7:1; 20:17; los. 3:10; 12:8; 17:15; Jui. 1:4,5; 3:5; 1 ter sido o primeiro a «irromper" do ventre materno
Reis 8:2; 11 Crô. 8:7; Esd. 9:1 e Nee. 9:8. Esse era o (ver Gên. 38:29). Com o tempo, ele tomou-se pai de
nome de um dos povos cujas terras os israelitas Hezrom e Hamul (Gên. 46:12; Núm, 26:21), cujos
conquistaram sob a liderança de Josuê, embora descendentes são chamados «perezitas» no Antigo
alguns eruditos creiam que o nome indique a Testamento. A linha messiânica passa por Perez e por
população mais antiga da Palestina, sem designar Hezrom, conforme se aprende em Mat, 1:3 e Luc.
qualquer nação em particular, pelo que seria um 3:33. O trecho de Rute 4: 12 refere-se a esse homem,
termo coletivo. Seja como for, esse nome não aparece tendo em vista a passagem de Gên. 38. Ambos os
relatos aludem ao casamento levirato (vide). Desse
na tabela das nações, no décimo capítulo de Gênesis. modo foram garantidas as promessas de grande
Parece que- essa palavra significa apenas «aldeões», prosperidade e de muitas terras possuídas, feitas por
pelo que, desde o começo, tinha um sentido bem Deus a Abraão (Gên. 13:14-17). A família de Perez
amplo. tomou-se numerosa, como exemplo do cumprimento
Algumas vezes, cananeus e ferezeus são nomes dessa promessa divina. Seus descendentes eram
usados para abranger todos os povos que habitavam notáveis nos tempos de Davi (ver I Crê. 11:11;
na Palestina, antes da invasão hebréia; nesse caso, 27:2,3). Um remanescente que sobreviveu ao cativeiro
quase certamente o termo ferezeus é um termo babilônico retornou para fixar residência em Jerusa-
coletivo para indicar todos aqueles que não eram lém (Nee. 11:4-6).
considerados cananeus, Ver Gên. 13:7. Outros PERFECIONISMO Ver Perfeito, Pedecclonlmlo.
pensam que o termo era aplicado essencialmente aos
amorreus. Também é possível que, coletivamente PERFEIÇÃO Ver também Perfeito, Pedeedonlamo.
fálando, os povos semitas ocidentais fossem os A fim de que apresentemos todo homem perfeito
cananeus, e que os povos semitas orientais fossem os em Cristo, Col, 1:28. Isso pode ser comparado com o
ferezeus. Minhas fontes informativas dão conta que trecho de Efé. 4:12 e ss. que fala acerca do fato de
dados culturais, lingüísticos e históricos dão apoio a que o exercicio dos dons espirituais, nas igrejas locais,
essa teoria de dualidade. Os ferezeus não são tem a finalidade de obter a perfeição dos crentes,
mencionados juntamente com os hititas, com os perfeição essa que é definida como tornar-se «homem
216
PERFEIÇAO - PERFEIÇAO ESPIRITUAL
perfeito» (ver Cal. 1:23), em que o. crente p~sa a PERFEIçÃO, PRINcIPIO DA
possuir a «medida da estatura da plenitude de Cristo».
Referências e idéias. A perfeição: A filosofia de Leibnitz, com a sua Grande Menada
1. A perfeição é de Deus (ver Sal. 18:32 e 138:8). que programaria as mônadas inferiores de que todas
2. Todos os santos possuem a perfeição inerente, em as coisas são compostas, não deixava espaço para
Cristo (ver I Cor. 2:6; Fil. 3:15 e Col. 2:10). 3. A qualquer genuíno Problema do Mal (vide). Por cavsa
perfeição de Deus é o padrão da nossa (ver Mat, dessa programação divina foi que ele declarou que
5:48). 4. A perfeição implica em total devoção (ver Deus criou «o melhor de todos os mundos possíveis»,
Mat. 19:21). onde há um máximo de perfeição, com um minimo de
Ê uma interpretação má e errônea reduzir a idéia deficiência. Doutra sorte, Deus não seria um bom
da perfeição, exposta nas páginas do N. T., à m~ra programador.
«maturidade» espiritual. O alvo colimfldo é m?t!0
mais elevado do que isso, porquanto e a perfeição
absoluta; e, apesar de não poder ser alcançada nesta PERFEIÇÃO ESPIRITUAL
vida senão imperfeitamente, no entanto, é o nosso I. Pelo CoaheebDento
gran'de alvo. E no que consiste.a nossa perfeição em Nenhum crente individual e nem a igreja,
Cristo? Vejamos os pontos abaixo: coletivamente. atingiram ainda a unidade que a fé
1. Consiste em possuirmos toda a plenitude de pode produzir, quando e~tão estaremos em total
Cristo (ver Cal. 1:23). união com tudo quanto Cristo é e tem. Paulo não
2. Consiste em possuirmos toda a «plenitude de reivindicava haver atingido a perfeição (ver Fil.
Deus» (ver Efé. 3:19). 3:12-14). Há uma só fé (ver o quinto versículo), sendo
3. Consiste em sermos santos como o é Deus Pai essa uma das formas unificadoras fundamentais do
(ver Mat. 5:48). sistema cristão. Essa fé salvadora, essa «entrega de
4. Consiste em virmos a participar da imagem de alma» a Cristo. finalmente resultará em total entrega
Cristo, de sua natureza, em seus aspectos moral e a Cristo, por parte de todos os crentes. pisso é que
metafísico (ver Rom. 8:29 e 11 Cor. 3:18). fluirá a plena unidade e tudo quanto esta prometido
5. Consiste em participarmos da própria divindade no caminho das bênçãos espirituais e celestes (ver Efê,
(ver 11 Ped. 1:4). Toda a atividade cristã visa esse 1:3). (Ver o artigo sobre a Fé).
elevadíssimo alvo. Pleno conhecimento do Filho de Deus, Efé. 4:13.
As palavras pleno conhecimento, traduzem um único
Uma Oração: vocábulo grego, epignosis; mas, visto que e~sa
.o Deus, a quem ouso chamar .de Pai, ajuda-me, palavra é uma forma intensificada (com um prefixo
primeiro a 'ver': a ver a ~statura mcomensu~ável de preposicional), é tradução correta ~izer como temos
Cristo, a ver que ele deseja supremamente VIver em aqui. Quem recebe tal conhecimento, con!tece
mim e me transformar, para que eu seja como ele experimentalmente o Filho de Deus. Quanto a ISSO,
mesmo é, para que, na realidade, ele seja meu Irmão consideremos os pontos abaixo:
mais velho. 1. Essa palavra indica conhecimento intelectual,
Ô Cristo exaltado, a quem ouso chamar de Irm~o, mas não somente isso.
ajuda-me a 'ser', a começar a ser, ~esde agora, aqu~o 2. Também significa o conhecimento experimental
que tu mesmo és, - que a minha natureza seja da alma, mediante a «comunhão» com o Filho de
espiritualizada como a tua, para ql;le c~:mser.ve essa Deus em sua natureza essencial e em suas
elevada visão do 'ser' até que o suspiro final liberte a manifestações. Paulo via Cristo como uma personali-
minha alma para que suba para Ti.
dade transcendental que, em sua grandio~i~ad~, só
O Espírito divino, agente dessa graça, ajuda-me a pode vir a ser conhecido por métodos espmtuaís. E
não desanimar diante dos homens, os quais têm uma assim conhecido ele passa a transformar os homens,
visão inferior à minha acerca do Filho, ou da filiação Eara que estes assumam sua natureza .e suas riquezas.
que ele compartilha com o~ homens .. Se porventura E por isso que Paulo declarou, em FIl. 3:10: «para o
disserem-me: 'Tu te aproprias demasiadamente para conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão
ti mesmo', ajuda-me na alma, para que responda: dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua
'Por tempo demais tenho-me apropriado de pouco morte ... »
demais' não honrarei a Cristo se esforçar-me por um 3. Esse conhecimento, pois, é de natureza
alvo q~e fica aquém daquele. que ele designou pa~a «mística» conforme diz a teologia paulina do
mim'. Esse pensamento divino eu nunca tena princípio'ao fim. Em outras palavras, tal conhecimen-
imaginado ser capaz de ter: veio-!lle por rev~lação, ~o to nos chega através da «iluminação e transformação»
mistério do Cristo em nós residente. COIsas mais operadas pelo Espirito Santo, (comparar isso com
elevadas coisas mais nobres - essas são as que têm Efé. 1: 18) onde Paulo ora para que os crentes tenham
atraido ~ meus olhos», (Russell N. Champin) seus olhos do entendimento «iluminados», a fim de
Ver Perfelçio ElpIrltua1 e Vitória Elplrltual: que possam «conhecer» a esperança da nossa vocação,
Estágl.. ela Iaqulrlçlo &plrltual. as riquezas da glória de herança nos santos; e assnn
«conheceremos» seu grande poder, que foi exercido
PERnUÇÃO, GRAUS DE em Cristo, e que será exercido ~m ~ós. (Ver Efé.
1: 19). Conhecer e experimentar tais COIsas, portanto,
Esse é um dos argumentos tradicionais em favor da faz parte do que significa «conhecer» a Cristo.
existência de Deus. Também é conhecido por
argumento axiolôgico, ou seja, baseado na idéia de A revelação, além disso, leva-nos a conhecer. ao
próprio Deus, conforme aprendemos no décimo
valores. A existência de valores em graus variados sétimo versículo deste mesmo capítulo. O tema da
implica na necessidade de postuJamios o Valor segunda oração de Paulo, neste livro. é que possamos
Absoluto, fonte e sustentáculo de todos os valores. «conhecer» o «amor de Cristo», e nesse amor se
Valor Absoluto é um outro nome dado a Deus. Ver encerra o «conhecimento de tudo quanto o amor de
dois artigos separados, intitulados Cinco Argumentos Cristo está fazendo por nós e em nôs», Pois, nas
de Tomás de Aquino em Favor da Existência de Deus páginas do N.T., conhecer é amar, pois o «conheci-
e Argumento Axiotôgioa, mento - amor» é a gnosis neotestamentária, em
217
PERFEIÇAO NA FILOSOFIA
contraste com os conceitos dos gnósticos. Sim, o amor quanto Cristo é. Trata-se de elevada doutrina, que
é a real gnosis cristã, por ser essa a fonte originária de nos ensina profunda verdade. Essa elevação, entre-
todas as bênçãos espirituais. tanto, está oculta da moderna igreja evangélica, que
Do Filho de Deus, Efé. 4:13. Essa expressão, não pode se elevar acima de pensamentos como
está ligada tanto à «fé» como ao «conhecimento». ficarmos livres do pecado. Porém, estarmos sem
Trata-se da «fé em Cristo» e do «conhecimento de pecado não nos torna perfeitos. Pois os anjos, que não
Cristo». caíram, são impecáveis, mas nem por isso participam
D. PlaaJldade da perfeição de Deus Pai e de Deus Filho. O
A perfeita varoa.Uldade, Efé. 4:13. Variações dessa evangelho, porém, expõe ante os homens essas
expressão são «homem perfeito», «varonilidade ma- perfeições, que transcendem infinitamente a mera
dura». Paulo fala de um corpo humano que cresce impecabilidade que muitos vêem aqui.
desde a infância até atingir a idade adulta, a m. A Natureza da Perfelçlo
maturidade. Espiritualmente falando, a «criança», 1. Em sua manifestaçi.o terrena, a perfeição
que é a igreja, mediante o "desenvolvimento aparece como maturidade espiritual, como elevado
espiritual», haverá finalmente de tornar-se homem grau de santidade, de parceria com o poder espiritual
maduro. (Isso pode ser comparado com o «novo e utilidade nas mãos de Deus no que diz respeito tanto
homem» de Efé. 2:15). Porém, «plenamente desen- a nós, quanto à igreja. Recebemos poder a fim de
volvido» ou «maduro», neste caso, no presente servirmos e cumprirmos nossas respectivas missões.
contexto, deve também significar «perfeito», ou seja, 2. Porém, nas dimensões celestiais, começaremos
«homem sem qualquer deficiência ou defeito», dotados da mesma natureza que Cristo (ver I João
porquanto nada menos do que isso concorda com o 3:2), e assim participantes de sua plenitude e
próprio texto, ao mesmo tempo que o vocábulo grego atributos (ver CaL 2:10).
«teleios- naturalmente tem esse significado, ainda que 3. Por semelhante modo, pertencem-nos a natureza
não tenha necessariamente tal sentido, podendo e os atributos do Pai (ver Efé. 3:19).
indicar apenas «maduro», em contraste com «infan- 4. Na qualidade de seres tão exaltados, ainda assim
til», quando aplicado a seres humanos. a nossa perfeição será apenas «relativa», pois só Deus
No versículo seguinte, Paulo menciona os nepioi é perfeito. Mas iremos passando de um estágio de
(<<crianças»), palavra grega essa que com freqüência glória para outro, perenemente aumentando a nossa
indica «infantes» bem pequenos, que ainda não sabem perfeição, sempre nos aproximando, mas nunca
falar. Os crentes imaturos são como tais crianças, atingindo plenamente as perfeições divinas. Portan-
quanto ao desenvolvimento espiritual. Porém, o to, a glorificação será um processo interminável. A
propósito dos dons espirituais, na igreja e em seu impecabilidade será apenas seu inicio. Também
programa geral de edificação (ver o décimo segundo iremos avançando no campo das virtudes positivas de
versículo), é produzir a maturidade e a perfeição no Deus, em seus atributos, e na participação de sua
seio da igreja; e nessa unidade perfeita é que se forma de vida.
cumpre o mistério da vontade de Deus, no tocante à Qual será o tempo da maturidade? Paulo não frisa
igreja (ver Efé. 1:10 e 3:3). aqui nenhum ponto no tempo, presente ou futuro,
A igreja inteira, e não meros crentes individuais, é para atingirmos esse alvo da perfeição. Mas a
que está em pauta aqui, embora seja verdade que eternidade futura será o terreno da busca contínua e
aquilo que sucede à igreja inteira necessariamente bem -sucedida, De fato, sendo Deus infinito, e visto
sucede a todos os seus membros. Cada crente será um que estamos crescendo segundo a sua plenitude,
exemplar do que Cristo é, porquanto somos Cristo em passaremos a eternidade nessa inquirição, crescendo
formação. O singular usado neste caso, o "homem» sempre na direção da perfeição, o que é o propôsito da
que chegou à «perfeita varonilidade», assinala a total vida: tudo vem de Deus; tudo volta para Deus. VerVl·
unidade que se busca concretizar e que, fatalmente, tória EsplrltDal: Ea6alos da Inqalriçlo Esplrtul.
será atingida. Portanto, toda e qualquer desunião,
conforme vemos hoje em dia à face da terra, no seio
da própria igreja evangélica, com suas numerosissi- PERFEIÇÃO NA FROSOFIA
mas denominações, onde igrejas locais competem Ver o artigo geral sobre a Perfelçao, que aborda
entre si em mau sentido onde crentes se destroçam
uns aos outros, tudo isso é uma negação prática da certo número de aspectos dessa questão, do ponto de
unidade da igreja, sinal de imaturidade espiritual, por vista biblico e do ponto de vista teológico. O assunto
que ainda somos infantes, espiritualmente falando. também tem parecido importante para os filósofos, o
Para chegarmos à unidade, é inútil continuarmos a que é demonstrado pelo presente artigo.
reduzir o cristianismo ao seu estado mais intimo, com O termo latino perfectio significa «perfeição». A
o que todos possam concordar e ficar unidos. Pelo forma verbal repousa sobre per, «através», e facere ,
contrário, precisamos, todos nós, crescer em Cristo, «fazerlt,com o sentido de ter sido feito completamen-
atingir a maturidade espiritual. Somente assim te, estar perfeito. No caso de pessoas e de coisas, isso
seremos unidos em Cristo, alicerçados no «máximo» e aplica-se com justeza ao caso de Deus, no tocante às
não no "mínimo» do cristianismo. O movimento suas obras, embora não no tocante à essência de seu
ecumênico da igreja de hoje em dia procura unir os ser. Na filosofia, o termo perfeição aplica-se
cristãos sobre bases «mínimas»: e por isso fica principalmente a Deus; e, em sentido derivado, ao
automaticamente condenado pelo conceito de unida- homem.
de encontrado nesta passagem.
I~ de Vlarios mÓllofos:
A medida da estatura da plenitude de Cristo, Efé.
4:13. Isso reitera, em outras palavras, o conceito da 1. Xen6fanes referia-se a Deus como imutável,
perfeição com que se inicia o presente versículo. A dotado de propriedades como onipresença e onipotên-
obtenção da perfeição, na realidade, consiste em cia. Sua filosofia não podia entender um Deus
assumirmos a total medida da plenitude de Cristo. mutável.
Essa expressão também define o que deve ser o 2. Platão falava sobre as Idéias (ver sobre os
«homem perfeito» (que Paulo acabara de mencionar). Universais) como imutáveis, desligadas do tempo,
Ninguém poderá ser «perfeito» enquanto não for tudo perfeitas. As coisas deste mundo dos Particulares
218
PERFEIÇÃO NA FILOSOFIA
(vide), ou seja, o nosso mundo fisico, são o contrário procurou unificar todas as teorias éticas com base no
disso, meras imitações daquilo que é imutável e critério da perfeição. Cousin, por sua vez, pensava
perfeito. Em seu diálogo, Leis, ele chegou a substituir que esse critério é superior a todos os demais critérios,
o termo Idéias pelo termo Deus. E isso, provavelmen- como o prazer, o benevolência, a utilidade, etc.
te, representava uma antiga forma de monoteismo, 9. Herbart julgava que o conceito da perfeição é
completa com várias descrições judaico-cristãs. uma das cinco relações básicas da vontade, ou seja,
3. Aristôteles. Para ele, a perfeição se encontrava daquilo que constitui a vontade. O homem deseja
no Movedor Inabalável, o seu conceito de Deus como chegar à perfeição. As outras quatro qualidades da
uma força cósmica. Deus seria uma força (um ser) de vontade são: a harmonia, a benevolência, a lei e a
Forma Pura e de Ato Puro, onde todas as eqüidade. Como no caso de todos os filósofos aqui
potencialidades tem cumprimento. Isso distinguiria mencionados, ver o artigo separado acerca dele,
Deus de todos os outros seres, que ainda estio em quanto a maiores detalhes.
processo de concretização, o que significa que têm 10. Fechner, em oposição a muitos outros pensado-
deficiências. Todos os demais seres seriam um misto res, defendia a idéia de uma perfeição crescente. a
de concretização e potencialidade. A perfeição de qual, obviamente. não é a ~ perfeição em sentido.
Deus, porém, implicaria na imutabilidade. absoluto. Ele acreditava que Deus pode ultrapassar a
4. Jesus Cristo. apesar de não podermos considerá- si mesmo, embora nenhum outro ser seja capaz de
lo um fil6sofo, ainda assim precisa ser levado em ultrapassar a Deus. Isso posto, as perfeições de Deus
conta neste verbete, visto que as suas idéias iriam sempre aumentando. Essa idéia, como é claro,
revestem-se de vasta importância filosófica. Cristo fala sobre um Deus finito. que vai avançando para
achava em Deus todas as perfeições, e também fazia uma expressão mais perfeita. Alguns poucos te61ogos
de Deus o alvo de toda busca pela perfeição (ver Mat. cristãos vêm advogando a idéia de um Deus finito,
5:48). O artigo chamado Perfeição aborda as idéias com base no problema do mal. Assim, há coisas
teol6gicas sobre a perfeição. O perfeccionismo que erradas, neste mundo, porque Deus. apesar de ser
tem maculado o cristianismo também é descrito muito grande. não era grande o bastante para impedir
naquele artigo. Ver também o artigo Perfeição completamente a presença do mal. Assim também
Espiritual. pensam os môrmons, que idealizam um Deus que
5. Anselmo. Seu conceito ontol6gico depende do continua sendo finito. ~mbora imen~.
conceito da perfeição divina. Ver sobre o Argumento 11. T.H. Greel! refena-~ à ~~e1Ção humana em
Onto16gico. Somente um Deus que realmente existe term~ de organização SOCI~ objetiva. com suas lutas
pode ser chamado perfeito. Portanto, o conceito da ~ ~~hzações. A auto-~alização é o ~vo. ~ cada
perfeição precisa incluir a idéia de existência. Deus é mdl~duo, e a perfelçic? hu~ana (mdivtdual e
Aquele que é melhor ser do que não ser, e nisso ele coletiva) é o alvo da própria sociedade. Faz parte do
atinge e exprime a perfeição, em cada categoria. dever do Estado ?r~ver condições adequadas para que
Apesar desse tipo de argumentação parecer estar todo~ poss~m ati~~ esse ~vo .. ~m conseqüê~t:ta, em
baseado somente na razão, podendo assim ser uma s~a ?Iosofia. os direitos do individuo estão acima dos
invenção intelectual, que não reflete a verdade, direitos do Estado.
torna-se claro, nos escritos de Anselmo. que ele estava 12. Hartshorne tinha um conceito curioso da
dependendo de revelações e experiências místicas perfeição, algo parecido com o de Fechner, m lLS com
como base de sua teoria. Ademais. naturalmente ele uma leve distorção. Ele usava a palavra surrelativo
pressupunha que a razão humana encontra intinitude (que, provavelmente. não se acha nos dicionários). a
na mente divina, ou seja. é capaz de criar tais fim de descrever seu ponto de vista. Essa palavra vem
proposições que correspondam à realidade dos fatos. do latim, sur, «além», e relativus, do latim posterior,
6. Tomás de Aquino empregou uma forma do que com base no termo latino clássico relatus, «relativo,..
agora é chamado de Argumento Axiol6gico (vide), Assim, a palavra -surreíatívo» indica algo que «vai
alicerçado sobre o conceito de que graus de perfeição além do relativo». Deus, pois, não seria absoluto. mas
requerem o pensamento de que deve haver um grau relativo, podendo ultrapassar a si mesmo. Em um
máximo de perfeição. Quando chegamos a esse grau dado momento, Deus ê o MAximo Absoluto presen~.
mâxímo, encontramos Deus. que é a fonte e o padrão Mas, na verdade, um absoluto nunca é realmente
de todas as perfeições. Deus é a concretização de toda atingido enquanto Deus não se ultrapassa a si mesmo.
perfeição. Todas as demais coisas tem algum grau de criando um novo máximo. Deus é capaz de.
concretização; mas consistem, princípalmente.. em ultrapassar a si mesmo. Isso posto. ele apresentaa
potencialidade. O termo grego áxios (valioso) veio a perfeição em qualquer dado momento, mas pode:
ser usado para referir-se a todos os valores éticos, melhorar a sua própria perfeição; e, em conseqüên-
estéticos e metafisicos. ela, ele seria um Deus surrelativo:
7. Leibnitz definia Deus como a somat6ria de todas 13. O positivismo (vide) ensina que todos os termos
as perfeições. Ele chegou a essa definição separando da linguagem humana resultam da experiência
entre si todas as propriedades individuais de Deus. humana. pddendo ser postos a serviço da descrição
Todas elas são perfeitas em si mesmas; e. considera- dos conceitos metaftsicos. De fato, esses conceitos não
das conjuntamente, acrescentam ao Ens Realissimum' podem ser investigados. pelo que são destitultJos de
(o mais real e mais perfeito dos Seres. a fonte de todas sentido, segundo os termos humanos. Portanto, é
as outras perfeições). Ele é a grande Mônada que inútil falar sobre um termo tão amplo quanto
trouxe à existência todas as outras mônadas, de que «perfeição», como se pudéssemos saber que qualquer
todas as coisas estão constituídas. e que foram coisa é perfeita..Além disso, a filosofia da linguagem
programadas por ele. tem-nos ensinado.que qualquer termo absoluto, como
8. Fergwon fazia da perfeição o alvo de toda vida o omnis de onipotente, de onisciente. etc.. na
individual e coletiva; e o critério de todas as realidade é um termo negativo. Chegamos a um certo
considerações de certo ou errado seria a perfeição. Ele ponto. .em uma descrição. e então. quando não mais
219
PERFEITO, PERFECCIONISMO
podemos avançar, ocultamos o vácuo em nosso pecado, para que se torne possivel ao homem atingir a
conhecimento por meio de um omni, Outrossim, até chamada perfeição. O segundo erro ai envolvido
aquele ponto podemos apresentar uma descrição que consiste em supor que meramente estar isento de
depende da experiência e da linguagem humanas. pecado já é a perfeição. Esse ponto de vista, pois,
Porém., como poderíamos descrever algo divino com olvida-se que a verdadeira perfeição deve incluir,
tais elementos? obrigatoriamente, a participação positiva nos atribu-
As pessoas com inclinações religiosas respondem a tos infinitos de Deus. Apesar de já estarmos
essas objeções. dizendo que. apesar de ser verdade, compartilhando em pequena escala nesses atributos,
mediante uma análise filosófica, que são negativos os visto que estamos sendo transformados segundo a
imagem e natureza do Filho de Deus (ver Rom, 8:29),
grandes termos que tentam descrever a Deus, por jamais chegaremos (agora ou na eternidade) a
outra parte, ainda assim podemos sentir a grandiosi- compartilhar desses atributos em sentido infinito.
dade de Deus, indicando esse sentimento (posto que Assim sendo, jamais poderemos considerar-nos.
não a compreensão intelectual) por meio de um omni absolutamente perfeitos, mesmo já estando no estado
ou de algum outro vocábulo de significação profunda. de glorificação, lá nos céus. Quanto a maiores
Há verdade por detrás desses sentimentos. e não explicações sobre a questão, ver o artigo sobre o
precisamos sacrificar essa verdade, a despeito de Pecado, em sua sexta seção, Perfeição Impecável?
nossos fracos meios de investigação. Ademais, há O Perfeccionismo Escatológico. Esse é o termo
experiências humanas bastante incomuns, conforme empregado pelos teólogos ao que acabamos de dizer.
se vê no misticismo (vide); e essas experiências Uma total realização humana, a perfeição moral
levam-nos para além do baixo teto que o positivismo (impecabilidade) e a participação positiva nos
impõe sobre as nossas cabeças. Quanto a uma atributos positivos de Deus (o que poderá ser algo
'ilustração disso, ver os artigos sobre Satya Sai Baba e fantástico e crescente eternamente, embora nunca
sobre as Experiências Perto da Morte. A experiência absoluto), são bênçãos prometidas para a eternidade
humana é mais rica, mais completa e mais futura, embora não para esta vida, em qualquer
significativa do que os filósofos positivistas imaginam, sentido que poderiamos chamar de perfeito. Não há
pelo que essa experiência pode ser invocada em defesa exemplos vivos de perfeccionismo neste lado da
existência, embora algumas pessoas espiritualmente
dos conceitos religiosos, por mais imperfeitos que os notáveis tenham subido acima da multidão geral dos
mesmos possam ser. Ninguém precisa da perfeição cristãos. Na fé cristã, a perfeição, em seu sentido
para sentir a grandiosidade de algo. Essa grandiosi- absoluto (ver o terceiro ponto, Pefelçio Divina), é
dade está disseminada por toda a existência. A soma atribuida única e exclusivamente a Deus.
total da vida é realmente estarrecedora em sua
grandiosidade, e talvez não seja um exagero usar o o Peregrino. O verdadeiro crente acha-se na
vocábulo «perfeito» para descrever a Fonte do estrada que leva à perfeição; mas essa estrada chega
tremendo espetáculo que podemos observar dia apôs até às eras distantes da eternidade futura. Assim
dia. sendo, o crente é um peregrino, tanto nesta quanto na
outra vida. Isso é verdade porque o homem é um ser
pertencente ao outro mundo, e o crente vai avançando
PERFEITO, PERFECCIONISMO de glória em glória (ver 11 Cor. 3:18).
Esboço: Os Advogado8 do Pedecclonlsmo Atual. Alguns
mlsticos cristãos, em seu entusiasmo gerado por
1. Usos Legitimos do Termo elevadas experiências espirituais, têm usado a
2. Um Uso Errôneo do Termo linguagem do perfeccionismo; mas os misticos não SEi
3. A Perfeição Divina preocupam muito com meras palavras, pelo que a
4. Usos Biblicos da Palavra Perfeição linguagem deles não precisa indicar que defendem o
S. As, Perfeições de Cristo dogma do perfeccionísmo. Por outro lado. é possivel
6. Sumário de Idéias que alguns deles realmente defendam essa posição.
7. Perfeição na Filosofia Porém. isso reflete um exagerado entusiasmo quanto
1. Usos T -'Um... do Termo às próprias experiências. Os moralistas, por sua vez,
.-... entusiasmam-se quanto às suas realizações espiri-
Em nossa gradual transformação à imagem e tuais, e algumas vezes caem na tentação de usar
natureza de Cristo, esforçamo-nos (e, finalmente, erroneamente a palavra "perfeito». Orígenes, ao
atingiremos) por alcançar um significativo grau de incorporar as idéias e a linguagem dos misticos
perfeição. A perfeição absoluta, entretanto, pertence neoplatônicos, ocasionalmente falou como se ele fosse
exclusivamente a Deus. A mera impecabilidade um perfeccionista. O monasticismo católico romano,
jamais é considerada perfeição. Em nossa transforma- em seu misticismo, produziu alguns exemplos dessa
ção à imagem do Filho de Deus, vamos recebendo maneira de falar. Alguns anabatistas e seitas
mais e mais da natureza e dos atributos divinos (ver 11 espiritualistas têm pensado ser possivel a perfeição
Ped, 1:4), embora em um sentido secundário, finito. impecável. Naturalmente, eles viam com olhos baços
Mas. visto como isso faz parte da glorificação (vide). a profunda depravação do homem, não tendo idéias
será uma transformação crescente, cada vez mais tão claras a respeito quanto os reformadores
profunda e abrangente. O finito, pois, ir-se-á protestantes. Os metodistas, os menonitas, os quacres
aproximando cada vez mais do Infinito. Ver o artigo e várias denominações pentecostais têm dado
Transformação Segundo a Imagem de Cristo,' e continuação ao perfeccionismo histórico.
também Perfeição Espiritual. Mas, apesar desse ideal ser nobre. é preciso que um
2. Um Uso Errôneo do Termo homem defenda uma teologia bem superficial para que
Contra as claras indicações de I João 1:10, alguns possa considerar-se perfeito. ou mesmo impecável, o
cristãos supõem que ainda presos a este corpo mortal, que já fica aquém da perfeição. Alguns estudiosos
os crentes podem atingir o estado de perfeição liberais, inclinados para o misticismo, também têm
impecável. O primeiro erro nessa idéia consiste em adotado uma postura perfeccionista. Mas ninguém
não reconhecer a natureza radical e toda-permeadora acredita nas reivindicações dos perfeccionistas, senão
do próprio pecado. E muitos rebaixam a definição do eles mesmos. Pessoalmente, conheci somente duas
220
PERFEITO, PERFECCIONISMO
pessoas que se diziam possuidoras da perfeição e às criaturas.
impecável. Uma delas era um alcoólatra que, Sumário. O perfeito é superior ao não-perfeito.
naturalmente, falava desvairado, sob a influência da Deus é aquilo que é melhor ser do que não ser. Essa
bebida. E a outra era um pregador pentecostal, que se
declarava perfeito. A esposa dele e outras pessoas perfeição aplica-se à ausência de qualidades negativas
intimas e amigos sabiam que não era assim; mas ele em Deus; mas tambêm à possessão, no mais elevado
conseguia continuar iludindo-se. Isso não quer dizer grau, das qualidades positivas que, naturalmente,
que ele não fosse uma boa pessoa. Ele o era. Mas o fazem parte de um Ser Perfeito. A perfeição também
uso do adjetivo «perfeito», que ele aplicava a si envolve a capacidade e o esforço de enriquecer aqueles
mesmo, era arrogante ao extremo. seres e aquelas coisas que Lhe são inferiores. Nas
Sem Desculpas. Apesar de ser impossivel defender obras de Deus, há um processo de auto-enriquecimen-
o perfeccionismo, também é impossivel para o crente to. Assim, quando o amor de Deus opera, e uma alma
defender urna atitude lassa acerca da inquirição é salva, tanto aquela alma quanto o prôprio Deus são
moral e espiritual. Essa inquirição precisa ser enriquecidos. Grande mistério!
coerente, persistente, guiada na direção de nobres Trechos Blblicos que"Filiam Sobre as Perfeições de
realizações. Somente assim poderemos ser considera- Deus. O trecho de Mal. 5:48 alude diretamente a
dos autênticos discipulos de Cristo. Mas o crente essas perfeições. E a significação desse versículo
abandonou a atitude de denunciador. também envolve a necessidade de todo sério discipulo
3. A Pedelçio DIvIDa de Cristo buscar obter essa perfeição. O versiculo não
Ver o artigo geral intitulado Atdbutoll de Deu. A determina uma imposição cronol6gica à questão,
palavra «perfeição» vem do latim, per, «através», e mas apenas a apresenta como um ideal de todo
facere, «fazer», dando a idéia de algo completamente remido. Esse ideal chegará a concretizar-se, em
feito, perfeitamente feito. No caso de Deus, o sentido grande escala, por ocasião da glorificação, mas não de
original do vocábulo não diz respeito a algo por Ele forma absoluta. Pois na eternidade continuaremos
atingido, exceto na teologia môrmon: pois, conforme crescendo, rumo à perfeição. A lei do Senhor (Sal.
en~inam os môrmons, Deus, mediante seus esforços, 19:7), o caminho de Deus (Sal. 18:30) e as admiráveis
vela a tomar-se perfeito, deixando o bom exemplo obras de Deus (Jó 37:6), são chamados perfeitos na
para os seus filhos. De fato, para os mórmons, Deus, Bíblia. E o homem, bem como seu caminhar
na qualidade de um ser finito (e não infinito), com os espiritual, também é chamado perfeito, posto que
seus próprios problemas, também não possuiria a em sentido relativo, comparativo, e não em sentido
perfeição absoluta. Porém, dentro da corrente absoluto e teológico. Assim é que Noé foi chamado
principal do judaismo e do cristianismo, o Deus «perfeito» (Gên. 6:9), e J6 foi chamado «integro» (Jó
infinito é naturalmente perfeito. Ele possui todos os 1:1). Os corações dos homens, por semelhante modo,
seus atributos no sentido mais elevado possivel. Isso podem ser chamados perfeitos (I Reis 11:4; 15:14),
posto, Deus é perfeito tanto em sua natureza quanto embora essas não sejam declarações para serem
em seus atributos, sendo o Ens Realissimum (o Ser entendidas em sentido absoluto. Os homens podem
final, o absolutamente real e perfeito), dotado de ser espiritualmente «maduros» (ver Fil, 3:12,15), e
atributos que correspondem à essência de sua algumas traduções dizem ali perfeitos, mas essas
natureza. Em Deus, acham-se presentes todos os traduções não servem de texto de prova para qualquer
valores reais e possíveis, e não apenas em potência. coisa que vá além da possibilidade de uma elevada
Deus é o manancial de todos os valores e de todas as realização espiritual.
perfeições, como também o preservador dos mesmos. 4. UIOS BlbUCOI da Palavra Perfelçio
Qualquer outro ser será, forçosamente, apenas um Acima demos alguns exemplos. Perfeito, no sentido
fragmento minúsculo disso, e não a totalidade, ainda de maturidade, de algo completo e são é usado em Jó
que possa ir avançando na direção daquele padrão 1:1,8; 2:3; Sal. 18:30; 37:37; 64:6; I Reis 8:61; 11:4;
final que é Deus. Assim sendo, é ridiculo pensar que 15:3; 11 Reis 20:3; I Crô. 12:28; 28:9; 11 Sam, 22:21;
qualquer criatura, angelical ou humana, possa ser passagens essas que aludem tanto à perfeição divina
perfeita. quanto à perfeição humana.
Além disso, existe e perfeição dinâmica, de acordo No Novo Testamento, o caminho de Deus é
com a qual Deus é concebido por nôs como Quem vai chamado de «perfeito» (ver Atos 18:26), como
progredindo em suas obras e expressões, se não também o prôprio Deus (ver Mat. 5:48). A função da
mesmo em sua natureza bâsica, Mudanças naquilo disciplina espiritual é o aperfeiçoamento do crente
que é perfeito são possíveis em termos de expressão. O (Tia. 1:4), como também se dá com certo aspecto do
termo perfeição estática pode ser aplicado à natureza amor cristão (I João 4: 18). Pessoas são chamadas
bâsica .períeita de Deus: mas também pode ser (relativamente) perfeitas, em Mat. 19:21; Efé. 4:13;
aplicado a um Deus em quem não há mudanças, Fil, 3:15; Cal. 1:28; 4:12e Tia. 3:2. Nessas passagens,
estagnado. O primeiro sentido é razoável; o segundo é as palavras em questão podem ser traduzidas por
errôneo. Naturalmente, quando falamos sobre Deus «maduro», «completo».
estamos falando sobre o Mysten'um Tremendum 5. Aa Perfelç1e8 de C!üto
(vide), e a linguagem humana deve ser tida como débil Como membro da Trladade (vide) e sendo ele o
e meramente simbólica, capaz de comunicar alguma Lagos (vide), Cristo Jesus possui o atributo divino da
coisa, mas não muito. O perfeito estático é imutável perfeição. Ver também o Eu Sou de Jesus. Em sua
independente, simples, sem extensões, absoluto n~ encarnação (vide), ele autolimitou-se, e, embora
conhecimento e na bondade; os atributos tradicionais impecável (ver sobre a Impecabilidade de Jesus), ele
"da. série omnis (onipotente, onisciente, onipresente, foi aperfeiçoado mediante as coisas que sofreu. Ver
ombondoso, etc.). Mas, o perfeito. dinâmico é Heb. 2:10. Costa sofreu as tentações comuns aos
.mutâvel, mediante adições de sua realidade e de suas homens e esteve envolvido em fraquezas humanas,
obras, er;nbora seja independente, porque o próprio mas venceu; e assim tornou-se não somente o
Deus assim se faz, em relação às suas obras, à criação Caminho, mas também o Pioneiro do caminho (ver
221
PERFEIÇAO - PERFUME
Heb. 2:10). E, uma vez aperfeiçoado, tomou-se a podemos supor que vários dos ungüentos ali
fonte da eterna salvação para todos quantos Lhe mencionados (vide), serviam como perfumes.
obedecem. Ver Heb. 5:10. Cristo tomou sobre si 2. lDpedleatet e MaDufatara dot PerfaIDeI
mesmo o nosso estado de humilhação, com todas as Várias substâncías vegetais eram usadas no fabrico
suas condições, para que pudesse compartilhar de sua de perfumes, como o aloés, o sândalo, o bálsamo, o
natureza e de seus atributos conosco, os remidos. boêlio, o câlamo, a giesta, a mirra, o nardo, a câssia,
6. SaDWIo de ldéIaa o cinamomo e outros, que eram itens de comércio,
a.Toda perfeição encontra-se em Deus (Sal. 18:32; envolvendo regiões não somente como a Palestina,
138:8). mas também a Arábia, a lndia, a Pérsia, o Ceilão e
b. Todos os santos são considerados perfeitos em muitos outros lugares. Ver Gên. 37:25; I Reis 10:10 e
Cristo (I Cor. 2:6; Fil. 3:15). Eze. 27:22, quanto a indicações acerca desse
'C. A perfeição divina é o padrão para toda e comércio. Além desses elementos eram empregadas as
qualquer outra perfeição (Mat. 5:48). essências de várias flores, várias cascas de árvore e
d. A perfeição envolve um elevado grau de devoção raizes. O azeite de oliveira era comumente usado
ao Senhor (Mal. 19:21). como base (ver I Reis 10:10; Eze. 27:22). Ungüentos
e. Também subentende santidade e pureza (Tia. perfumados eram um artigo de luxo (Amós 6:6), e os
3:3). tesouros antigos incluiam perfumes e ungüentos.
f. Todos os santos devem fixar os olhos nesse alvo Os ingredientes usados, incluindo óleos e resinas
(Gên. 17:1; Deu. 18:13). especialmente preparados, faziam parte importante
g. Os santos devem seguir a perfeição (Pro. 4: 18; do comércio fenicio. Ungüentos e perfumes eram
Fil. 3:12). importados por Israel em vasos de alabastro (vide).
h. Os ministros do Senhor devem encorajar os Plínio tHist. Nat: 13:2) comentou sobre os ungüentos
de grande preço e o comércio com os mesmos. A
crentes à perfeição (Efé. 4:12; Col. 1:28). preparação de ungüentos e perfumes exigiu o
i. As exortações devem incluir a idéia da perfeição surgimento de uma classe profissional, no hebraico os
(11 Cor. 7:1; 13:11). raqachim, mencionados, por exemplo, em Êxo,
j. A perfeição não pode ser obtida neste mundo (11 30:25,35; 37:29 e Ecl. 10:1. Tão fortes e bem
Crô. 6:36; Sal. 119:96; I João 1:10). preservados eram alguns ungüentos e perfumes que
1. A Palavra de Deus é perfeita, e seu designio é podiam manter suas fragrâncías por centenas de
encaminhar-nos na direção da perfeição (11 Tim. anos. Vasos de alabastro feitos no Egito, atualmente
3:16,17). guardados em museus ao redor do mundo, ainda
m, Devemos orar pedindo a perfeição (Heb. preservam suas fragrâncias. O «santo óleo da unção»,
13:20,21; I Ped. 5: 10). preparado nos dias do Antigo Testamento era
n. A Igreja haverá de atingir a perfeição (João composto por duas partes de mirra, duas partes de
17:23; Efé. 4:13). cássia, uma parte de cinamomo e uma parte de
o. A perfeição é bendita (Sal. 37:37; Pro. 2:21). cálamo, e como base era usado o azeite de oliveira
7. Pedelçlo Da 11l000Ba (ver Êxo. 30:35,37). O uso desse tipo de perfume era
Ver o artigo separado com esse titulo. vedado para individuos particulares (ver Êxo,
30:32,33). Grandes quantidades desse ungüento
perfumado eram preparadas, de tal modo que cerca
de dez kg de ingredientes sólidos eram misturados
PERFUME com cerca de trinta e oito litros de azeite de oliveira, o
Esboço: que serve para dar-nos uma idéia da concentração da
1. A Palavra mistura. Certos filhos de sacerdotes eram designados
2. Ingredientes e Manufatura dos Perfumes para trabalhar como boticários, segundo se vê em I
3. Usos Literais Crô. 9:30.
4. Usos Metafóricos Os ingredientes básicos eram algumas vezes
1. A Palana pulverizados a fim de serem guardados, e então eram
Esse termo vem do latim, ,., «através», e fum., liquefeitos na base apropriada, o que é refletido em
«fumaça.., ou seja, «através da fumaça•. Isso refere-se Cano 3:6. Mas o próprio pó podia ser usado sem
ao fato de que o incenso perfumado era antigamente mistura alguma. O material seco era guardado em
aplicado como uma fumaça, que disseminava suas sacas e outros recipientes; mas, quando liquefeitos,
agradáveis fragrâncias. Atualmente, os perfumes via havia frascos e vasos de alabastro para essa
de regra são um liquido volátil qualquer, que tem a finalidade.
propriedade de emitir facilmente as fragrâncias nele O clima muito quente dos paises do Oriente
impregnadas. Naturalmente, a palavra também é Próximo e Médio favorecia o uso de perfumes e
usada para indicar flores que são dotadas de ungüentos. Além de disfarçar maus odores, há algo
fragrância agradável. A palavra hebraica ketoreth nos perfumes que reanima o espirito. Além disso,
refere-se ao ato de fumigar (ver Êxo, 30:35,37; Pro. certas fragrâncias acabam associadas a determinados
27:9). A primeira dessas duas referências alude ao individuos ou situações, e isso lhes empresta um valor
incenso preparado pelos perfumistas; mas a referên- subjetivo. Os ungüentos, como é claro, tinham
cia do livro de Provérbios fala sobre os perfumes também o uso prático de tratar a pele ressecada (ou
regulares. A raiz dessa palavra hebraica significa mesmo queimada).
«aspergir». O participio é usado para indicar a Referências Biblicas a Ingredientes Espedficos dos
profissão dos perfumistas. O trecho de Isa. 57:9 traz a Perfumistas. Sândalo (11 Crô. 2:8; 9:10); madeira de
palavra hebraica raqquach, que significa «coisa sândalo. (I Reis 10:11,12); incenso (Éxo. 30:34-36;
sentida pelo olfatos, ou seja, um «perfume•. No grego, Lev. 2:1,2,15); gálbano (Êxo, 30:34); mirra (Êxo,
no Novo Testamento, a palavra não aparece, mas 30:23; Sal. 4~:8; Pro. 7:17; Cano 1:13; Mat. 2:11;
222
PERFUME - P~RGAMO
101019:39); onicha (Êxo. 30:34); açafrão (Can. 4:14); imperial, mas tal significado não é ilustrado no nome
nardo (Can. 1:12; 4:13,14); estoraque (Êxo, 30:34). da cidade.
3. u_ Uterall Pérgamo era uma cidade da provinda romana da
Talvez o uso mais ôbvío dos .perfumes seja aquele Ásia, nos dias neotestamentários, na parte ocidental
ocupado hoje em dia pelos desodorantes, mascarando do que agora é a Turquia Asiática. Fora a antiga
odores corporais, exacerbados pelo tórrido clima do capital de Atalo, a cidade-estado doada ao império
Oriente Próximo e Médio. Os trechos de Luc. 7:38 e romano, em 133 A.C. Geograficamente, ocupava
importante posição, próxima do extremo marítimo do
Joio 12:3 indicam esse tipo de uso, pois perfumes e largo vale do rio Caico. Também tinha boa
ungüentos eram aplicados aos pés, uma vez lavados. importância comercial e política, além de sua
o que veio a tomar-se um item importante da importância religiosa. Existia ali uma antiga forma de
hospitalidade oriental. O ato de ungir é mencionado adoração ao diabo. Também era a sede de um antigo
envolvendo as mãos e o corpo inteiro (aparentemen- culto de mágicas babilônicas, e tornou-se importantís-
te), após o banho (Can. 5:5; Rute 3:3). Festas e ritos simo centro da propagação do «culto ao imperador..,
religiosos estavam envolvidos com perfumes e que era apenas outra forma de religião falsa, usada
ungüentos (Sal. 45:8; 133:2; Cano 4:11). Leitos e pelas forças satânicas. Tornou-se a sede de quatro dos
colchões eram perfumados (Pro. 7:17), como também maiores cultos pagãos, a saber, de Zeus, de Atena, de
sepulcros (11 CrÔ. 16:14). E, naturalmente. cadáveres Dionísio e de Asclépio. Também se estabeleceu ali o
recentes (Joio 19:29). Ver sobre o uso lit,úrgico do culto dos Magos, de origem babilônica. O sacerdote
Incemo. Quando da chegada de algum hóspede. desse culto era de Pontifex Maximus ou então de
incenso e ungüentos eram usados "na hospitalidade «Principal Construtor da Ponte.., e sua suposta tarefa
comum. - Quando uma personagem real ausen- era preencher o vácuo entre o homem e os poderes
tava-se do palácio, seus atendentes esparziam incenso superiores, os quais se tornavam objetos de adoração.
perfumado em redor dele e perante ele (Can. 3:6). Os habitantes de Pérgamo eram chamados de
Mas, em tempos de lamentação pelos mortos, não «principais guardiães do templo.. da Ásia.
eram usados perfumes (ver Isa. 3:24). Quando o «culto ao imperador- cresceu em
4. U_ MeqdÓdC08 importância, dentro do império romano, Pêrgamo se
tornou um de seus centros principais, embora outros
O trecho de 11 Cor. 2:14 usa o perfume como um falsos cultos ali nunca tivessem fenecido completa-
simbolo de nosso conhecimento de Cristo. Esse é um mente. A alusão que temos ao «trono de Satanâs»,
perfume de que todos precisamos mais e mais! O mui provavelmente, diz respeito a esse culto (ver Apo.
auto-sacrifício de Cristo foi uma oferta fragrante a 2:13). Satanás impulsionava homens a adorarem um
Deus, que somos exortados a imitar (ver Efé.'5:2). De mero homem; esse era o seu «ardil.., naqueles tempos.
modo geral, um perfume serve de símbolo daquilo que Politica e economicamente a cidade florescia, tendo
é agradável, romântico, convidativo. sido chamada por Plinio de «a mais ilustre de todas as
cidades da Ásia... Todas as principais estradas da Ásia
ocidental convergiam para ali. Fabricava ungüentos,
PERFUMISTA vasos e pergaminho (que assumiu seu nome dessa
Aparece com essa forma em E.xo. 30:25 e 37:39, e cidade), Esse tipo de «papel» (feito de peles de
com a forma de «perfumador.., em Ecl. 10: 1. Era animais) chegou a ser chamado -charta pergamena..,
homem que sabia compor ungüentos e perfumes em por ser fabricado em Pérgamo, de onde era
geral (ver Nee. 3:8). Algumas vezes eram mulheres distribuído. Não foi a cidade que derivou seu nome
que se encarregavam desse trabalho (ver I Sam. 8:13). desse tipo de papel; deu-se exatamente o contrário.
Originalmente, em Israel, o óleo para as unções era Em 29 A.C. foi dedicado um templo a Augusto em
preparado por Bezalel (ver Êxo, 31:11). Mais tarde, Roma, por parte do sinodo provincial (ver Tácito,
provavelmente era preparado por um dos sacerdotes. Anais iv.37), e isso «oficializou.. o culto ao imperador
Os antigos perfumistas também preparavam ervas em Pérgamo, - que naquele tempo, era a principal
medicinais, pois suas funções incluiam algo de cidade da província da «Ásia... U m segundo templo foi
farmácia, uma prática generalizada no mundo antigo. ali edificado, em honra a Trajano, e ainda um
Um tablete de argila, desenterrado em Nipur, na terceiro, em honra a Severo. Desse modo, a adoração
baixa Babilônia, entre o Tigre e o Eufrates, fornece religiosa pagã ali se centralizou e consolidou. Por
uma fórmula para um ungüento de bálsamo prescrito detrás da cidade havia uma colina em forma cônica,
para um metalúrgico que viveu séculos antes de com cerca de trezentos metros de altura, a qual, desde
Abraão e que sofreu queimaduras. Os perfumistas tempos antigos, vivia recoberta de templos e altares
também preparavam especiarias paraos sepultamen- pagãos, o que fazia significativo contraste com o
tos (ver 11 Crô. 16:14). (UN) «monte de Deus», referido em Isa. 14:13 e Eze.
28:14,16. Este último foi chamado também de «trono
de Deus» (ver I Enoque 25:3). O culto ao imperador
PERGAMINHO criou ali um «trono de Satanás», talvez havendo nisso
Ver sobre F.IIedta. alusão à colina acima descrita. O grande e idólatra
culto ao imperador incorporava em si mesmo todo o
paganismo que tornou Pêrgamo famosa, embora não
P!RGAMO houvesse eliminado totalmente todas as outras
Ver Apo. 2:12 •. formas. E a igreja cristã, que se recusava a participar
desse «culto.., automaticamente foi tachada de
Esta palavra estava relacionada a purgas, isto é, «traidora.., tendo de sofrer as conseqüências de sua
«torre» ou «castelo», ou seja, ..fortificada», Pêrgamo recusa.
era a «cidadela- de Tróia. E, de fato, nos escritos
clássicos, tal palavra era usada para indicar a
«cidadela» ou «fortaleza» de qualquer cidade. Sua Hoje em dia não resta mais glória à antiqüíssima
suposta significação de «casada.. não é apoiada nos cidade. Uma peq.uena aldeia, de nome Bergama,
dicionários. :E: verdade que aquela igreja entrou em ocupa o seu lugar, na planicie abaixo do local da
matrimônio com o mundo, quando ficou sob o favor antiga Pérgamo.
223
PÉRGAMO - PÉRGAMO. CARTA
.:4 Igreja em Pérgamo 1. A colina por detrás da cidade, seria um trono,
Apaganização da igreja de Pérgamo (historicamen- com seus templos e altares pagãos. Esse cômoro
te, nos fins do primeiro século, e no segundo e terceiro faria contraste com o monte de Deus (ver Isa, 1:14;
séculos, especialmente mediante o gnosticismo liber- Eze, 28:14,16).
tino, e, profeticamente, na época de Constantino, 2. O altar dedicado a Zeus Soter (Salvador), que
quando a igreja ficou sob o favor imperial) exigiu que descrevemos acima.
a mesma recebesse um severo julgamento. Isso
salienta- o «imperativo moral» do evangelho. A 3. Vários templos, ou algum templo pagão
santificação é necessária à «salvação» (ver 11 Tes. especifico, cujo culto era ofensivo aos cristãos
2:13), e não meramente para a «comunhão com o primitivos, especialmente por promover o culto ao
Senhor». Ê falso o evangelho que não envolve imperador romano, em tais lugares.
exigências morais, ou que as subestima. 4. A própria cidade de Perge, tão repleta de sinais
«Nessa igreja de Pérgamo, muita coisa havia que do paganismo.
precisava de cirurgia moral. Era mister alguma S. A adoração a Esculápio, cujo sim bolo era uma
amputação e execução morais, para que tudo fosse serpente.
corrigido - a separação de coisas que não se 6. A adoração idólatra que havia em Pêrgamo, em
harmonizavam entre si, bem como a destruição de sentido coletivo.
males que se tinham instaurado e estavam atuando de
forma desfavorável...A exibição do cutelo prefigu- Significação Espiritual. Pelo menos fica claro que a
rava a separação e a dissecação morais, no que não se alusão, em Apocalipse 2:13, é à fanática adoração
poderia poupar qualquer erro, devendo morrer tudo pagã que havia em Pérgamo. Satanás havia
quanto fosse estranho e prejudicial à igreja...Uma das conseguido controlar de tal modo os seus habitantes,
razões por que tantas pessoas evitam e odeiam à que a cidade podia ser considerada o trono do diabo.
verdade de Deus é que ela os fere, despertando os O gnosticismo (vide), em suas primeiras formas,
açoites da consciência e destruindo totalmente as suas pode estar em foco. O gnosticismo foi uma antiga
esperanças. E essa forma de ferimento agora descera heresia que chegou a ameaçar a pureza do
sobre aquela igreja». (Seiss, em Apo. 2:12). cristianismo antigo. Essa salada de elementos
judaicos, pagãos e cristãos conferia a Satanás uma
sólida base de operações em Pêrgamo, e até sobre a
P2RGAMO, ALTAR DE própria igreja local. Posteriormente, o gnosticismo
Ver o artigo geral sobre Pérgamo. A carta dirigida à conseguiu sobrepujar ali a adoração ao imperador,
igreja cristã em Pêrgamo, preservada em Apo. 2:12 como o problema mais dificil com que se defrontava a
55, inclui uma referência a um altar, que era um dos Igreja cristã. Vários livros do Novo Testamento (como
mais famosos do mundo antigo. Esse altar ficava em o Apocalipse, Colossenses, Judas e as epistolas de
uma colina que dominava a cidade. Esse altar foi João) fazem ressoar esse combate contra o gnosticis-
descrito na antiguidade pelo viajante grego Pausânio. mo primitivo.
Em 1871, esse altar foi descoberto e transportado
para a Alemanha, e atualmente está no Museu de
Berlim Oriental. Era uma pequena versão daquele
que se tomou o altar mais elaborado de' Victor PÉRGAMO, CARTA (EPISTOLA) A
Emanuel, rei da Itália, posto em Roma. Uma Ver o artigo separado sobre as Sete Cartas (do
pequena escadaria conduz ao imenso altar de Perge. Apocalipse), que fornece uma descrição geral sobre
A derrota de um exército gaulês, cerca de dois séculos aquelas cartas, uma das quais dirigida a Pérgamo, Os
antes de sua construção, serviu de inspiração à ereção capítulos segundo e terceiro do Apocalipse contêm
desse antigo altar. Bandos de assaltantes celtas essas cartas, como uma espécie de introdução geral ao
costumavam vergastar a região (e deram seu nome à livro.
Galâcia): mas os habitantes de Pêrgamo tiveram a Memage_ F..speclflcas
energia suficiente para resistir a eles; e então o feito Quanto ao desenvolvimento detalhado de certos
foi comemorado por meio desse altar. Seu friso
pontos, ver os artigos separados intitulados Pérgamo,
representa os deuses do Olimpo, combatendo Trono de (Apo. 2:13); Nicolaitas (Apo. 2:14;
gigantes; e musculosos guerreiros, dotados de caudas provavelmente uma seita gnôstica que perturbava a
de serpentes, adornam o mesmo. Esse altar foi
Igreja cristã daquele lugar). Ver também sobre o
dedicado a Zeus, onde também ele é chamado de
Gnosticismo. Além disso, temos a questão da grande
salvador. Parece claro que os habitantes do lugar
promessa divina àquela igreja local, alusiva a como
pensavam ter recebido sua ajuda divina naquela
vitória contra .Ç>S gauleses. . cada crente individual é ímpar, agora e na eternidade.
Ver o artigo sobre esse tema, chamado Novo Nome e
No livro de Apocalipse, esse altar é chamado de «o Pedra Branca, com base em Apo. 2:17. Ver também
trono de Satanás» (2:13), como representante do sobre Ântipas, um notável mártir cristão do periodo
paganismo em suas muitas formas. Os arqueólogos apost6lico, associado àquela cidade. Também deve
ficaram boquiabertos diante do fato de que uma ser levada em conta a doutrina de Balaão (vs. 14). Ver
figura gigantesca, muito estragada, em mármore, foi sobre Balaão, quinto ponto, onde são discutidos os
achada em um depósito de sucata, na oficina do usos metafóricos de seu nome, nas páginas da Bíblia.
conselho da cidade de Londres, na Inglaterra. E então> Ver o quarto ponto desse mesmo artigo, quanto à
descobriu-se que fazia parte do famoso friso do altar doutrina e ao caminho de Balaão. Nesses vários
de Pêrgamo, O conde de Arundel, dois séculos antes, simbolismos destacam-se os ensinos e as práticas
havia levado o fragmento para a Inglaterra, e o corruptoras do paganismo (incluindo o gnosticismo).
mesmo acabou virando sucata. Como a glória de Zeus Porém, aos vencedores (vs, 17), é oferecida uma das
fora degradadaI mais notáveis promessas das sete cartas do Apocalip-
Ván'QS interpretações do trono, mencionado em se, acerca do manâ escondido e da pedra branca (vs.
Apocalipse 2:13: 17). Dentre a corrupção reinante, pode emergir um
224
PÉRGAMO - PERIODO
individuo extraordinário, um instrumento especial do área. Ao que parece, a cidade gozou de um periodo de
bem, destinado a uma elevada missão. independência, e suas moedas indicam e inscrições
confirmam um continuo predominio romano ali,
desde então.
P:ERGAMO, ESCOLA DE Os turcos modernos chamam a localidade de
Temos ai. uma escola do aeoplato......o (vide), do Eski-Kalesi. Naturalmente, Perge arruinada faz parte
século IY A.C., fundada por Edésio da Capadócia, da Turquia moderna.
que havia estudado aos pés de Jãmblico (vide). Esse
~po contava com certos membros famosos, como o.
Imperador Juliano; o apóstata (vide), além de PEiUCORESE
Salústio, o neoplatênico (vide). Palavra derivada do grego, perikopé, «algo cortado
de», aplicada a uma seção de um livro. de uma
história, de uma pequena peça literâria, mas mais
PERGE comumente de uma parte de uma obra maior, como a
Esse era o nome de uma cidade às margens do rio prôpria palavra deixa perceber. A primeira vez em
Cestro, navegável até àquele ponto. na antiguidade. que ouvi essa palavra ser usada foi quando meu
Ficava no distrito daPanfllia (vide). e era a capital do professor e amigo, o Dr. Jacob Geerlings (a quem
mesmo. Estava a onze quilômetros da desembocadura dediquei o Novo Testamento Interpretado, In
do Cestro. Foi ali que Marcos desertou de Paulo (ver Memoriam), quis falar de uma narrativa dos
sobre Marcos. Falha de). O lugar foi visitado pelo evangelhos com problemas textuais especiais. Uma
apóstolo dos gentios quando de sua primeira viagem utilização comum desse vocábulo se di em referência
missionária (ver Atos 13:13,14). Era centro da aos lecionârios (vide), de onde eram selecionados
adoração a Ártemis (Diana), cujo templo ficava em trechos para serem lidos a cada domingo e dias
uma colina, fora da cidade. Paulo chegou ali em feriados. Essa prática parece ter começado no século
. maio, quando os passos não estavam impedidos pela V D.C., e o seu propósito principal era a apresentação
neve. O local era quente, e muitos de seus habitantes, sistemâtica das Escrituras diante do povo. A maioria
quando possivel, passavam algum tempo nas colinas das pessoas não sabia ler. e poucas pessoas tinham
da Pisídia, durante o verão, porque estas recebiam manuscritos bíblicos, do Antigo ou do Novo
chuvas abundantes, e havia neve durante o inverno. Testamentos. Assim, o contacto de uma pessoa com
Os arqueólogos investigaram a região, e um as Sagradas Escrituras limitava-se ao que a Igreja
relatório foi publicado pelo Turk Akkeloji Dergesi, podia fornecer, em suas leituras coletivas. As igrejas
em 10 de agosto de 1958 (pâgs, 14-16). Moedas ali Católica Romana, Ortodoxa Oriental e Anglicana
encontradas traziam a efigie de Diana como continuam essas leituras sistemáticas, mas as igrejas
caçadora. Perge é uma das cidades mais bem protestantes e evangélicas hâ muito as descontínua-
preservadas a ter qualquer coisa com as viagens ramo Essas leituras também tinham o propósito de
missionârias de Paulo. Restam muitas ruínas de prover lições biblicas adequadas, correspondentes ao
edificios e ruas. Ao pé da acrópole hâ ruínas de um calendário eclesiâstico, segundo oqual são celebrados
teatro que tinha capacidade para mais de dez mil os principais eventos históricos do cristianismo.
pessoas, além de um estádio. Também restam muitos
banhos e sepulcros. Tal como a maioria das cidades
daquelas costas marltimas, infestadas por piratas, PERlODO INTERTESTAMENTAL
essa ficava em uma pequena ilha e era servida por um Acontecimentos e Condições do Mundo ao Tempo
porto fluvial, Ataléia, cidade fundada no século 11 de Jesus
A.C., para servir Perge de porto. Tal porto tem Esboço:
permanecido até os tempos modernos, embora tenha 1. O Período Intertestamental
atravessado muitas camadas de civilização, ao passo 2. Pérsia
que Perge estâ reduzida a escombros. 3. Os Ptolomeus e os Selêucidas
Não foi ainda identificado o local do antigo templo 4. Os Macabeus e a Independência
de Diana, mas foram desenterrados quatro templos S. Intromissão Romana
cristãos em ruínas, dois do século IV D.C. e dois do 6. Descobrimentos Arqueológicos que
periodo da Idade Média. O único bispado moderno Ilustram esses Anos
da região fica em Atalia, a antiga Ataléia, porto de 7. A Palestina ao Tempo de Jesus
Perge, mencionado acima. Data do século XI D.C. a. Pano de Fundo
AJamu lnfonDeII Hbtódca.. Pouco se sabe sobre b. Antípatre
Perge, quanto a seus tempos mais primitivos. Mas seu c. Herodes o Grande
nome sugere que foi iniciada como colônia grega. nas d. Os Vários Herodes do Novo Testamento
costas da Panfília, Seja como for, os fundadores da
'e. O Nacionalismo Judaico
cidade pertenciam a alguma cultura da era do
Bronze. e Ártemis fazia parte da mesma. O local f. Revolta e Destruição de Jerusalém
ficou famoso como centro de veneração a essa deusa. 8. O Mundo Greco-Romano
Porém, pouco se sabe acerca da cidade durante os a. Pano de Fundo
tempos da hegemonia persa na Ásia Menor, embora b. Moralidade
saibamos que Alexandre, o Grande, passou pela c. Filosofia
mesma ao menos por duas vezes. Era em Perge que os d. Religião
monarcas selêucidas, da Síria, controlavam a região. 9. Bibliografia
Então chegaram os romanos. no século 11 A.C. Em 10. Diagramas:
188 A.C., havia ali uma forte guarnição siria•.que foi a. Israel, Pérsia, Egito e Siria (Pérsia
o que os romanos encontraram, quando entraram na durante o período intertestamental)
225
PERloDO INTERTESTAMENTAL
b. Os Selêucidas reconquistou a Palestina, e esta voltou ao controle dos
c. Os Hasmoneanos -selêucidas». Em 175-164 A.C., os judeus foram
d. Os Herodes severamente perseguidos por Antíoco Epifânio, que
e. Acontecimentos durante os tempos estava resolvido a exterminá-los, juntamente com sua
neotestamentârios: Roma, Palestina, o Novo religião. Esse é o «pequeno chifre» de Daniel 7:9,
Testamento descrito nessa passagem profética. No ano de 168
A.C., Antíoco Epifânio profanou o templo de
1. O Pedodo InterieltllllleDgJ Jerusalém, oferecendo uma porca sobre o altar.
As condições gerais desse periodo podem ser Tornou-se o tipo vívido do ainda futuro antícrísto,
relembradas sabendo-se que houve quatro períodos que, semelhantemente, atacará e procurará destruir
distintos em que esses quatrocentos anos podem ser qualquer verdadeiro testemunho de Deus. Antíoco
divididos: 1. :0 período persa, 430-322 A.C.; 2. o Epifânio cometeu muitas outras atrocidades contra os
período grego, 321·167 A.C.; 3. o período da judeus, incluindo a tentativa de destruir todos os mss
independência, 167-63 A.C.; e 4. o período romano, das Escrituras. Seus excessos é que provocaram a
63 A.C. até Jesus Cristo. revolta dos Macabeus, o que resultou, finalmente,
2. NnIa num período de independência dos israelitas.
Israel caiu sob o controle persa. A Pérsia foi a 4. Os MaeabeUI •• Independ&lela
grande potência mundial durante cerca de duzentos O periodo de independência israelita também é
anos, e foi mais ou menos na metade desse período conhecido como período macabeu, ou hasmoneano.
que' Israel seguiu para o cativeiro. Nomes como (O nome de família dos Macabeus era «Hasmom-).
Artaxerxes I, Xerxes 11, Dario 11 e Artaxerxes 11, são Matatias, um sacerdote, tinha cinco filhos, de nome
nomes familiares entre nós, corno reis persas que Judas, Jônatas, Simão, João e Eleazar. Judas foi
governaram durante esse tempo. Neemias reconstruiu guerreiro de habilidade extraordinária, tendo reunido
Jerusalém durante o governo de Artaxerxes I. as forças necessárias para a libertação dos judeus. Em
Usualmente os persas eram clementes, e tanto a 165 A.C., Judas purificou e reconsagrou o templo, e
autoridade civil como a autoridade religiosa foram esse acontecimento passou a ser comemorado pela
restabelecidas em Israel durante esse periodo. O festa da Dedicação. Um período de cem anos de
império persa caiu sob Dario 111, em cerca de 331 independência seguiu-se a partir dai. Porém, essa
A.C. liberdade terminou em 63 A. C., quando os romanos
3. O PtoIomeUl .... SeliaCidM conquistaram a Palestina.
Com a queda da P~ia. o equilíbrio do poder 5. Intromt.lo RoIaaDa
mundial passou da ÁSia para o OCidente, para a Em 63 A.C., os romanos, comandados por
potência crescente dos gregos. Quase todos estão bem Pompeu, tomaram a Palestina. Antípatre, um
familiarizados com o nome de Alexandre o Grande idumeu (isto é, edomita, descendente de Esaú), foi
que, com a idade de vinte anos, assumiu o comando nomeado governador da Judéia. Esta incluía as
do exército macedônio e, em um período extrema- regiões da Galiléia, Samaria, Judéia, Traconite e
mente breve, reduziu aos seus pés todas as demais Peréia (algumas vezes intituladas, coletivamente, de
potências, tendo varrido o Egito, a Assíria, a «Judéia,,). Essas divisões haviam sido estabelecidas
Babilônia e a Pérsia. ainda durante o período sírio, mas permaneceram
Alexandre conquistou a Palestina em cerca de 332 durante a maior parte do tempo do período romano,
A.C., poupou a cidade de Jerusalém e disseminou a que o seguiu. Com Antípatre é que começou o governo
língua e a cultura gregas por toda a parte. Marchas dos Herodes, tão bem conhecidos nos evangelhos.
forçadas e bebidas imoderadas arrebataram-lhe a Herodes o Grande era filho de Antípatre. (Ver o
vida quando contava apenas trinta e três anos de artigo separado sobre os Herodes), Os herodianos
idade, estando ele na Babilônia, no ano de 323 A.C. eram o partido político que favorecia a linhagem dos
Quando de seu falecimento, morreu também a idéia Herodes, como artifício para evitar o governo romano
de um governo universal, e, em cumprimento da direto. Muitos consideravam a sucessão dos Herodes
profecia de Daniel (Dan, 11:4,5), o seu reino foi como o «Messias». No tempo do governo de Herodes c
dividido. O império foi repartido entre os quatro Grande é que nasceu Jesus. Foi no tempo do governo
generais de Alexandre. As duas porções orientais do tetrarca Herodes (também chamado Ãntipas, um
ficaram com generais separados - a Síria ficou com dos filhos mais novos de Herodes o Grande, Luc.
Seleuco, e o Egito, com Ptolomeu. Dessa maneira 3:19) que Jesus morreu e ressuscitou.
vieram à existência os ptolomeus (reis gregos do'
Egito) e os selêucidas (reis gregos da Síria). Outros 6. DeKobrImeDto. ArqaeoIÕlieOl que D1IItnm
. p..,. ....
domínios foram estabelecidos em resultado da morte
de Alexandre; mas só esses dois têm alguma As descobertas arqueológicas têm servido para
significação na história bíblica, em relação ao período adicionar informações ao nosso cabedal de conheci-
entre os Testamentos. A) principio, a Palestina ficou mentos sobre aqueles tempos, além das informações
debaixo do controle sírio, mas não muito depois que temos podido recolher nas fontes escritas. Muitos
passou para o controle egípcio. Assim permaneceram têm dito, e com freqüência, que o livro de Daniel está
as coisas durante cerca de cem anos, até 198 A.C. em conflito com a História, ao afirmar que Belsazar
Durante esse período os judeus. estiveram dispersos, e era o rei da Babilônia ao tempo da queda dessa
Alexandria serviu de importante centro político e cidade. Existem documentos históricos que indicam
cultural, o que propiciou meios do V.T. ser traduzido que Nabonido foi o últi'!l0 rei da Babilônia, e que nã<?
para o grego, tradução essa que tomou o nome de foi morto pelos conquistadores, e, sim, que lhe foi
Septuaginta, representada também pelo símbolo dada uma pensão para viver. Porém, pelos meados do
LXX (que significa «70,,· em latim), por causa da século XIX foram descobertos alguns tabletes de
tradição que foi completada em 70 anos, por setenta e argila, na região da antiga Babilônia, juntamente com
dois tradutores judeus da Palestina. Sob os «ptolo- seu pai. Evidentemente, Nabonido passava grande
meus", os judeus prosperaram, e até exigiram parte de seu tempo na Arábia, tendo nomeado
importante centro religioso em Alexandria. Belsazar à posição de monarca reinante, por causa de
Entretanto, em 198 A.C., Antíoco o Grande sua ausência habitual. Outras descobertas, como a
226
Ptolomeu IV, em Mármore. - Cortesia, Museum of Fine Arts, Boston
1. Demétrio Poliorcete 2. Seleuco I 3. Antíoco I
4. Antíoco 11 5. Filetaero 6. Ptolomeu I
7. Ptolomeu 11 Filadelfo e Arsínoe (ouro) 8. Arsínoe 11 9. Ptolomeu 11
Filadelfo e Arsínoe (ouro) - Cortesia, Museum of Fine Arts, Boston
PERtODOINTERTESTAMENTAL
dos papiros de Elefantina (assim chamados devido a destacado edificador, e algumas de suas estruturas
uma ilha desse nome, localizada no rio Nilo, acerca de têm sido desenterradas. Cerca de dez quilômetros ao
940 quilômetros ao sul do Cairo), confirmaram certo sul de Belém foi identificado o ..herodium•. Era uma
número de detalhes contidos nos livros de Esdras e espécie de castelo forte, uma magnificente estrutura,
Neemias, tais como a menção de Sambalate e o evidentemente com a finalidade de servir de memorial
governo de Artaxerxes I, coincidentes com certos perpétuo dos Herodes. Porém, Herodes o Grande é
acontecimentos descritos em livros biblicos, mormen- mais bem lembrado devido à matança dos inocentes,
te à volta de Neemias para reedificar Jerusalém. sendo o seu mais apropriado memorial. Herodes
Provas arqueológicas também foram descobertas também erigiu o templo de Jerusalém, posteriormente
quanto à familia de Tobias. Perto da atual Amã, destruido pelos romanos. Esse templo foi iniciado em
foram descobertos os túmulos dessa família. cerca de 19 A.C., e chegava aos estágios finais
Com os sucessores de Artaxerxes 1(465-423 A. C.) é durante o ministério de Jesus. Restos de um templo
que se iniciou o periodo intertestamentário. A construído por Herodes, em Samaria, também podem
Palestina se tornou parte da quinta satrapia (ou ser vistos até hoje. (Ver a nota, em Luc, 2:41, no NTI,
província) persa, cuja capital era Damasco ou quanto a outras estruturas de Herodes).
Samaria. 7. A P....... ao Tempo de l . -
Existem abundantes achados arqueológicos que a. Pano de Fuado
ilustram as conquistas de Alexandre. Foi descoberto
um mosaico que ilustra a destruição dos exércitos de Os excessos de - Antioco Epifânio - em sua
Dario 111, por Alexandre o Grande. Tal mosaico foi tentativa de destruir a religião judaica, conduziram à
encontrado nas escavações em Pompéia, efetuadas em oposição unida por parte de todo o Israel. Os
1831. O cerco de Tiro, pelas tropas de Alexandre, Macabeus (assim chamados por causa da alcunha de
cumpriu, nos minimos detalhes, as profecias de Judas, embora o nome da familia fosse «hasmon-),
Ezequiel (capitulo vigésimo sexto). As pedras e a foram os lideres do momento que os israelitas
madeira da cidade foram realmente lançadas à precisavam. Judas Macabeu centralizou todas as
beira-mar, quando Alexandre as usou para formar atividades judaicas ao redor da capital, Jerusalém,
um molhe que atingisse a ilha onde estava edificada a dando assim algum terreno comum ao povo, embora
cidade, cerca de oitocentos metros distante da praia, grandes seções do pais, especialmente na Galiléia e na
e que os habitantes da cidade continental tinham Peréia, permanecessem essencialmente sob controle
construido, depois de terem fugido daquela cidade. estrangeiro. Essas áreas tinham culturas não-judaicas
Josefo relata-nos que Alexandre visitou Jerusalém; que datavam de séculos, e as populações judaicas que
mas essa informação só é consubstanciada pelo ali havia eram esparsas. Os hasmoneanos obtiveram
Talmude dos judeus, nada se sabendo quanto à domínio quase total depois da revolta contra Antioco
autenticidade da história. Epifânio, e Hircano, Aristóbulo e Alexandre J aneu
oficiaram como sumos sacerdotes ungidos, sempre de'
Muitas moedas e vasos de barro, desenterrados, armas ao alcance da mão, para defenderem sua
têm fornecido evidências sobre o governo dos - independência e domínio há pouco comquistados.
Ptolomeus do Egito - sobre a Palestina. Túmulos
belamente pintados, com inscrições gregas, foram Mas esses tempos bons não poderiam durar muito,
descobertos em Marissa, ao norte de Beth Gubrin e, como sempre, começaram a multiplicar-se os
(Eleuterópolis), na estrada de Gaza, pertencentes à abusos nos circulas politicos. Gradualmente, uma
segunda metade do século 111 A. C. Numerosas oposição profunda se foi formando entre o povo,
moedas dos reis Selêucidas, incluindo Antioco contra a casa real. Isso começou a aparecer desde os
Epifânio (175-164 A.C.), têm sido descobertas em anos de João Hircano. (Ver o gráfico que se segue,
diversas cidades da Síria e da Palestina. nesta seção, que dá a lista dos reinados dos
Hasmoneanos e suas datas aproximadas). A história
Durante o tempo das lutas de independência dos revela-nos que Alexandre Janeu foi um governante
M 'acabeus, os dois grandes partidos do judaísmo - os sangüinário. Durante esse tempo, rebentou uma
fariseus e os saduceus - vieram à existência. Os guerra civil que encharcou Jerusalém em sangue
fariseus apoiavam ardorosamente o movimento de durante cinco anos. Após o falecimento de Janeu, sua
independência, e tiveram início admirável, exaltando viúva, Alexandra, mediante grande astúcia, evitou
a lei de Deus, aguardando o Messias e esperando a ainda maior derramamento de sangue, e isso ela fez
ressurreição. Os saduceus, por outro lado, acolhiam a concedendo maior autoridade aos súditos não-reais e
cultura helênica, interessando-se mais pelas vanta- aumentando o poder do concilio de Jerusalém, além
gens materiais. Sem dúvida não eram ortodoxos nas de ter introduzido nesse concilio os «escribas», os
questões religiosas, e por isso mesmo eram despreza- quais aos olhos do povo, eram considerados lideres
dos pelos fariseus. O ódio que surgiu entre esses dois mais dignos que os membros da linhagem real, cujos
grupos terminou por afundar o reino hasmoneano. Os sacerdotes, em geral, eram menos educados e menos
essênios também se desenvolveram como um grupo cultos. A morte de Alexandra, entretanto, foi o sinal
'distinto entre os judeus, nesse período. Os manuscri- para novas lutas pelo poder no seio da dinastia dos
tos do Mar Morto dão muita informação valiosa sobre hasmoneanos. Seus dois filhos, Aristóbulo e Hircano
eles. Ver os artigos separados sobre os Fariseus e os se opunham amargamente um ao outro. Aristôbulo
Essênios- Na cidade de Gezer, foi desenterrada uma era uma cópia fiel de seu pai, amante da guerra, e
das fortalezas de Simão Macabeu. Muitos outros embora Hircano hesitasse em combater e fosse
remanescentes foram encontrados, tais como moedas, incompetente, contava com o apoio do astuto
cerâmicas, e, no caso da cidade de Marissa, uma Antípatre (pai de Herodes o Grande). Antípatre fora
gravura helenística típica, ilustrando a vida e a antes conselheiro de Alexandre Janeu.
cultura da Palestina durante esse período, Foram Finalmente Hircano, auxiliado por um bando de
encontradas moedas que trazem o titulo de «rei», árabes nabateus, assediou o seu irmão em Jerusalém.
estampado tanto em grego como em hebraico, Roma já criara provincia forte na Siria (dos
referentes aos reis hasmoneanos. remanescentes do reino selêucida), mas jamais
Também há abundantes achados arqueológicos que interferira muito em Jerusalém. Porém, intensifican-
ilustram o governo da linhagem dos Herodes, durante do-se a guerra civil ali, finalmente Roma resolveu
o qual Cristo viveu e morreu. Herodes o Grande foi intervir, e com essa intervenção dissipou-se a
227
PERIODO INTERTESTAMENTAL
independência israelita uma vez mais. Pompeu, o obtivesse a ascendência sobre Jerusalém, e o pequeno
general romano, entrou em Jerusalém no ano de 63 estado judeu que circundava a cidade ficou em suas
A.C. Israel perdeu seus territórios extrajudaicos: as mãos. Imediatamente Herodes sofreu a oposição da
cidades gregas da costa marítima e ao longo do vale linhagem dos hasmoneanos, que, naturalmente, viam
do Jordão foram libertadas das mãos dos odiados nele o seu maior obstáculo à possível restauração da
judeus. A Samaria e a Galiléia foram reunidas à liberdade. Antígono encabeçava essa oposição, e, ao
recém-formada província da Síria. Muitos saudaram intensificar-se a mesma, os romanos resolveram
essa intervenção romana como ótima medida, posto intervir, a fim de preservar e consolidar os seus
que muitos já estavam exaustos com a luta pelo poder interesses na Palestina. Para tanto, Herodes foi
na seio da dinastia hasmoneana, Flávio Josefo nomeado «rei dos judeus». A principio o titulo parecia
apresenta a lista de muitas «cidades libertadas», tais vazio, mas não demorou a Herodes torná-lo válido.
como Gaza, Azoto, Jope, Jamnia, A Torre de Estrato, No espaço de três anos já obtivera completo controle,
Dora (todas na costa marítima). No interior havia e Antígono foi executado. Herodes foi monarca
Samaria. Citôpolis, Hipos, Gadara, Pela, Dion e, sem autêntico, mas jamais se esqueceu de que usava a co-
dúvida alguma, muitas outras. Novas cidades do roa por permissão dos romanos. Nesse ínterim, a
outro lado do Jordão se uniram a Citópolis como vitória de Otávio sobre Antônio e Cleópatra trouxe um
uma espécie de aliança comercial, a «aliança de dez período de paz e tranqüilidades relativas.
cidades», e que popularmente veio a ser conhecida
como Decápolis. Dessa maneira, o minúsculo estado Augusto (Otávio), através de uma série de medidas
judeu retornou à posição política em que estivera cem sábias, obteve autoridade completa sobre o império
anos antes, desnudo de terras e de sua independência. romano, que assim, ainda mais completamente do
De maneira geral, todavia, Pompeu não modificou as que antes, se modificou de uma democracia para uma
formas de governo local, e os seus sucessores seguiram monarquia. Foram nomeados governadores direta-
essa orientação. E por isso, sob muitos aspectos, a mente responsáveis a ele. Mas por toda a parte,
vida sob os romanos era preferível à vida sob os conforme era a norma romana, esses governadores
hasmoneanos. Alguns chegaram a aclamar esses tinham a liberdade de agir de conformidade com as
acontecimentos como a aurora da independência, mas circunstâncias. Augusto preferia nomear lideres
os judeus, de maneira geral, não compartilhavam "locais» do que enviar governadores romanos para
desse entusiasmo. João Hircano, que fora deixado governarem as provincias. Ora, Herodes era um
temporariamente no poder, finalmente perdeu o que desses homens, aos olhos de Otávio. Durante o
lhe restava, e seus antigos territórios tornaram-se reinado de Herodes, que se prolongou por quarenta
parte da provincia da Síria. anos, distrito após distrito das áreas ao redor, foi
sendo adicionado ao seu reino. Sob o governo de
b. Aatlpatn Herodes, «Israel» recuperou as fronteiras aproxima-
As condições não demorariam a alterar-se. Durante das que Alexandre Janeu conquistara e consolidara,
o espaço de dez anos (63-53 A.C.), enquanto os em resultado de sua revolta contra os Selêucidas.
acontecimentos acima descritos estavam ocorrendo, Esse período, considerado em linhas gerais, se
Antípatre, ex-conselheiro de Alexandre Janeu, e mais caracterizou pela prosperidade generalizada, a des-
tarde campeão de Janeu, preferia ficar em segundo peito da tirania geralmente intensa, criada pelos
plano, ao mesmo tempo que cultivava o favor dos diversos governantes. Augusto encontrou Roma
romanos. - Por algum tempo, João Hircano construída de tijolos e a deixou erigida de mármore.
ocupou a posição de -etnarca-, principalmente por Herodes foi grande edificador, e. entre outras coisas,
causa da influência favorável de Antípatre ante os construiu o templo, ginásios, anfiteatros, aquedutos e
romanos. Mais ou menos por esse tempo, a própria novas cidades, incluindo Samaria, que há muito
Roma experimentou terrível guerra civil, que come- tempo jazia em ruínas. A fim de prover um porto para
çou quando César atravessou o Rubicon e terminou a costa tão inóspita, Herodes construiu Cesaréia
finalmente com a vitória de Otávio (mais tarde Estratones, que foi erigida no antigo sítio da Torre de
intitulado Augusto), em Ãcio, Todos esses aconteci- Estrato. Não demorou para essa cidade tornar-se urna
mentos, que tiveram lugar entre 49 e 31 A.C., tiveram das principais da Palestina. Mas, a principal
seus reflexos na Palestina. Antípatre, mediante realização de Herodes foi o templo. Este tornou-se
cálculos inteligentes, sempre conseguiu ficar ao lado motivo de um refrão: «Quem ainda não viu o templo
vitorioso na luta pelo poder entre os romanos. de Herodes, ainda não viu o que é belo». Herodes
Transferia sua lealdade à medida que as condições o também realizou outras coisas. Em certos pontos,
exigiam, de Pompeu para César. então para Filipe, mostrou ser uma miniatura de Augusto. A terra sob
daí para Antônio; e, depois de Ãcio, para Otávio. seu governo desfrutou de paz, ainda que ternporaria-
Tudo isso foi largamente recompensado pelos mente apenas, e ele muito se esforçou por eliminar o
romanos. César aboliu a quíntupla divisão em que a banditismo. Em periodos de escassez era provido trigo
Palestina fora dividida. Hircano ficou com uma seção gratuitamente, além de vestes para os pobres. Os
unida (etnarca) que consistia da Judéia unida, tendo impostos, entretanto. eram altíssimos, trinta e três
recebido posição senatorial conferida por Roma. por cento em 20 A.C., e vinte e cinco por cento seis
Antípatre, por seus vários serviços, recebera a anos mais tarde. O governo de Herodes, apesar de ter
cidadania romana tão cobiçada e, temporariamente, alguns pontos favoráveis, foi assinalado por muitas
tornou-se primeiro ministro de João Hircano. As atrocidades, violências e homicídios, e ele nunca
reivindicações de Arístôbulo e de Antígono, seu pai, gozou de popularidade entre as massas, a despeito dos
haviam sido totalmente ignoradas. Jerusalém tornou- esforços do partido político denominado «os herodia-
se, uma vez mais, a capital nominal da região. nos», que dava preferência a ele, e não ao governo
c. lIencIes o Graade direto de Roma.
Herodes, o hábil e astuto filho de Antipatre. O falecimento de Herodes (4 A.C.), provocou
durante esse período, mostrou ser um valioso aliado grandes e duradouras modificações nos acontecimen-
dos oficiais romanos no Oriente. Foi nomeado tos políticos de Israel. Seu reino foi dividido em três
governador militar de toda a fronteira do sul da Síria porções, administradas por três de seus muitos filhos.
(Coele-Siria), pelo governador romano dessa provín- Filipe ficou com os distritos ao norte e a leste da
cia. A morte de Antípatre, permitiu que Herodes Galiléia. A Galiléia e a Peréia ficaram com Ãntipas ,
228
PERIODOINTERTESTAMENTAL
Arquelau recebeu a seção sul do reino anterior de seu (por exemplo, Atenas). Em seus prôpríos territórios
pai, isto é, a Judéia, a S"amana e a Iduméia. Ântipas e ele reconstruiu a cidade de Samaria (dando-lhe o
Filipe governaram durante muitos anos, tendo nome de Sebaste, em honra ao imperador). Reedifi-
permanecido no poder até bem depois da crucificação cou a torre de Estrato, na costa do mar Mediterrâneo,
de Jesus. Assim, pois, enquanto Jesus permaneceu na e construiu ali um porto artificial, chamando-o de
Galiléia ou viajava pelas terras do sul, além do Cesaréia. Mas o seu maior empreendimento como
Jordão, percorria os dominios de Ântipas. Quando edificador foi a ereção do magnificente templo de
Jesus viajou à Cesaréia de Filipe (conforme está Jerusalém, que foi construido para ultrapassar o de
registrado nos evangelhos de Mateus e Marcos), Salomão, o que conseguiu em diversas particularida-
entrou no território e na capitalde Filipe. óbvio que
Ê des. Esse templo substituiu o templo que fora
o povo o favorecia, porquanto continuou no poder até construído após o cativeiro babilônico, embora os
seu falecimento em 34 D.C. Ântipas ainda governou judeus considerassem-nos idênticos. Somos informa-
por mais tempo (cinco anos mais), - mas dos, nas páginas da história, de que essa construção
caiu no desagrado, mediante as manipulações de seu teve o intuito de pacificar os judeus, indignados ante
sobrinho, Agripa; e por ter caído no desagrado do as suas traições e o assassínio de muitos lideres,
imperador (Gaio), foi finalmente banido. Esse incluindo sacerdotes. Entretanto, os judeus jamais
Herodes é mais bem lembrado como o assassino de puderam esquecer o desaparecimento criminoso da
João Batista. família hasmoneana, às mãos de Herodes o Grande.
Arquelau não se saiu tão bem quanto os outros. 2. Arquelau, chamado «Herodes o Etnarca-, em
Não demorou a surgirem distúrbios em seus suas moedas. Herodes, o Grande, doou o seu reino a
territórios. Era homem violento, tal como fora seu três de seus filhos - a Judéia e a Samaria a Arquelau
pai, Herodes o Grande, pelo que logo caiu no (Mat. 2:22); a Galiléia e a Perêia a Ãntipas; e os
desagrado do povo em geral. Em 6 D.C. foi acusado territórios do nordeste a Filipe (Luc. 3:1). Augusto
de desgoverno, e foi convocado a Roma por Augusto. ratificou essas doações. Arquelau era o filho mais
O resultado é que foi retirado do governo e banido. velho de Herodes por sua esposa samaritana,
Sua província, daí por diante, ficou sob o controle Maltace. O programa de construções iniciado por
direto de Roma, por intermédio de "procuradores», Herodes o Grande foi continuado por Arquelau, mas
isto é, governadores nomeados pelo governo central parece que a grande ambição de Arquelau era
do império. Copônio foi o primeiro desses procura- ultrapassar a seu pai em crueldade e iniqüidade. Seu
dores. governo, finalmente, tomou-se íntolerâvel, e uma
d. O VúIoellendea do NoYo T.......to embaixada enviada da Judéia e de Samaria obteve a
remoção de Arquelau do governo. Foi nessa altura dos
Os Herodes do N.T. sio aqui descritos com mais acontecimentos que a Judéia se tornou uma província
amplos pormenores. romana, passando a ser governada por procuradores
1. Herodes o Grande: governante dos judeus de 40 a nomeados pelo imperador.
4 A.C. Nasceu por volta de 73 A.C. Era descendente
de idumeus (isto é, edomitas), povo conquistado e 3. Herodes, o Tetrarca (ver Luc, 3:19 e ~1:7).
trazido para o judaismo por João Hircano, por volta, Também era chamado Ântipas. Era um dos fiihos
de 130 A.C. Assim sendo, os Herodes, ainda que não mais novos de Herodes, por Maltace. Os distritos da
fossem judeus por nascimento, eram-no pelo menos Galiléia e da Perêia eram o seu território. e
por religião. Mas essa religião eles usavam como lembrado, nos evangelhos, como aquele que prendeu,
veiculo para fomento de seu governo secular, isto é, encarcerou e executou a João Batista, e também como
visavam tão-somente aos seus próprios interesses. aquele que teve breve encontro com Jesus, quando do
Herodes, o Grande, foi nomeado procurador da julgamento deste (Luc. 23:7). Também foi grande
Judéia em cerca de 47 A.C. Pouco depois a Galiléia construtor. Edificou a cidade de Tibêrio. Divorciou-se
também ficou sob o seu controle. Após o assassinato de sua esposa (filha do rei nabateu, Aretas IV), a fim
de César, desfrutou ele da boa vontade de Antônio. O de se casar com Herodias, esposa de seu meio-irmão,
titulo de Herodes, o Grande, ..Rei dos Judeus», foi-lhe Herodes Filipe, e foi por causa disso que João Batista
conferido por Antônio e Otávio. Faziam-lhe oposição o acusou. Essa ação, finalmente, foi a causa de sua
os descendentes dos Macabeus (cujo verdadeiro nome queda, porquanto Aretas usou desse argumento como
de familia era Hasmom, pelo que eram chamados de desculpa (provavelmente válida aos seus próprios
hasmoneanos). Essa familia controlava Israel antes do olhos) para fazer guerra contra Herodes, o Tetrarca,
dominio romano e ressentia-se muito do governoexer- tendo-o vencido de maneira decisiva. Esse Herodes
cido por Herodes. Todavia, ele se casou com Mariam- terminou os seus dias no exitio.
ne, membro dessa família hasmoneana, por ser neta de 4. Herodes Agripa, chamado de Herodes, o rei, em
um ex-sumo sacerdote, Hircano 11. Mas essa medida Atos 12:1. Era filho de Aristôbulo, neto de Herodes o
não eliminou as suspeitas dos principais sobreviventes Grande. Era sobrinho de Herodes o Tetrarca e irmão
dos hasmoneanos. Por isso mesmo, Herodes foi de Herodias. Após a execução de seu pai, em 7 A.C.,
assassinando um por um deles, incluindo a própria foi levado a Roma. Deixou aquela cidade por ter
Mariamne, bem como dois filhos que tivera com ela. incorrido em grandes dividas, e subseqüentemente foi
Essa foi apenas uma dentre as muitas matanças favorecido por Ântipas. Por ter ofendido o imperador
efetuadas por Herodes o Grande. Foi esse mesmo Tibêrio, foi encarcerado; mas depois da morte de
Herodes que matou as criancinhas inocentes de Belém Tibêrio, ganhou novamente a liberdade. Posterior-
(ver Mat. 2). Pouco antes de sua morte ordenou a mente recebeu os territórios ao nordeste da Palestina,
execução de seu filho, Antipatre, e providenciou para como governante: e quando Ãntipas (seu tio) foi
que após a sua morte todos os seus nobres fossem banido, também fieou encarregado da Galiléia e da
mortos, a fim de que não houvesse falta de Peréia. O imperador Cláudio aumentou mais ainda os
lamentadores ao ensejo de seu falecimento. Morreu de seus territórios, acrescentando a Judéia e a Samaria,
uma enfermidade fatal do estômago e dos intestinos. pelo que Agripa governou, finalmente, um território
Por toda a parte o seu nome se tomou conhecido por que era quase idêntico ao que fora controlado por seu
suas copiosas atividades como construtor. Essas avô, Herodes, o Grande. Procurou obter o favor dos
atividades foram realizadas não só dentro dos seus judeus, e aparentemente conseguiu muito êxito nessa
dominios, mas até mesmo em cidades estrangeiras tentativa. Assediou os apóstolos, provavelmente por
229
PERIODOINTERTESTAMENTAL
essa mesma razão. Matou 7iago, o irmão de João. sido atribuido o crédito de impedir tal coisa, porque a
(Ver Atos 12:2). A sua morte, súbita e horrível, é tentativa de Gaio causou uma indignação geral, e esta
registrada por Lucas em Atos 12:23, sendo atribuida a teria sido muito mais generalizada se tivesse sido
um julgamento divino. Seu filho único, também realidade. Mas o povo deu o crédito a Agripa (neto de
chamado Agripa, veio a governar todos os territórios Herodes, o Grande). Agripa fora nomeado chefe da
dominados por seu pai. Suas duas filhas, Berenice tetrarquia de Filipe, em 34 D.C., após a morte deste.
(Atos 25:13) e Drusila (Atos 24:24), foram outras Ao seu território foi acrescentada uma considerável
duas sobreviventes dessa família. porção de outras áreas (incluindo da Judéia), e uma
5. Agripa, filho de Herodes Agripa, Ainda era vez mais Israel teve uma semelhança de rei. Agripa
jovem demais para assumir o governo quando do também tinha sangue judeu, porque sua avó era a
falecimento de seu pai. Mais tarde recebeu o titulo de princesa hasmoneana Mariamne, a desgraçada
rei, conferido pelo imperador Cláudio, P. p~<:"Q\l a esposa de Herodes, o Grande.
governar as porções norte e nordeste da Palestina. Subseqüentes governadores (procuradores), geral-
Tempos depois, Nero aumentou os seus territórios. De mente governaram áreas maiores que a de Pilatos, e
48 a 66 D.e. foi-lhe outorgada a autoridade de também foram antagônicos ao povo judaico. Por
nomear os sumos sacerdotes dos judeus. Procurou conseguinte, durante um período de cerca de vinte
diligentemente evitar a guerra entre os judeus e os anos, aproximadamente, as tensões foram aumentan-
romanos, mas falhou (66 D.C.). Permaneceu leal a do. Durante esse tempo, os missionários cristãos
Roma. Ê conhecido, nas páginas do N.T., por causa evangelizavam por toda a parte, enfrentando a oposi-
de seu encontro com o apóstolo Paulo, encontro esse ção tanto dos judeus como dos romanos. O desastre
registrado em Atos 25:13 - 26:32. O trecho de Atos como que pairava no ar e a profecia de Jesus, sobre a
26:28 diz que Agripa proferiu estas palavras: «Por destruição de Jerusalém, deve ter sido o tópico das
pouco me persuades a me fazer cristão». Mas, embora conversas entre as familias cristãs. De fato, qualquer
alguns prefiram a tradução mais ou menos como: um que quisesse interpretar os acontecimentos, por
«Com pouca persuasão tentas fazer-me um cristão!» essa altura poderia ver quão facilmente a predição
(ASV); ou: «Estás muito apressado em persuadir-me a feita por Jesus se cumpriria.
tornar-me um cristão!» (GD e WM), é evidente que f. Revolta e Destruição de Jerusalém
Agripa disse essas palavras em tom jocoso, e não Finalmente, em 66 D.C., a tempestade que se vinha
seriamente. Morreu sem filhos, em cerca de 100 D.e. concentrando e que ameaçava por tanto tempo,
Os herodianos eram o partido político que favorecia irrompeu de súbito. Por cem anos os romanos haviam
a familia dos Herodes, preferindo o seu governo ao dominado a Palestina, mas a mão de ferro usara uma
domínio romano direto (ver o artigo sobre os luva de veludo. Em 66 D.C., entretanto, os romanos
Herodianos), tiraram a luva de veludo. A rebelião cada vez mais
e. O Nacionalismo Judaico intensa provou, aos olhos de Roma, que sua política
As alterações políticas e econômicas resultantes do de relativa tolerância na Palestina fora um equivoco.
governo romano mais direto, causaram uma oposição Durante quatro anos a ira de Roma se fez sentir.
ainda mais intensa por parte dos judeus, o que levou à Jerusalém caiu finalmente, e vastas áreas, por toda a
revolta encabeçada por Judas o Galileu (ver Atos Palestina, foram destruídas. E essa destruição foi tão
5:37). A Galiléia, sua terra, não foi diretamente completa que a arqueologia não tem sido capaz de
envolvida nessa revolta. O próprio Judas foi morto no identificar, sem qualquer sombra de dúvida,
processo da revolta. Também parece que ele estivera nenhuma das sinagogas que havia em Israel no século
envolvido em uma revolta sem êxito, efetuada cerca de I de nossa era. Grandes números de judeus foram
dez anos antes. Após essa experiência, Roma apertou crucificados em Jerusalém, até não poder mais
ainda mais o seu dominio sobre Israel. Essa revolta, se encontrar madeira para continuar fabricando -
embora tivesse sido facilmente derrotada pelas tropas cruzes. O belo templo construido por Herodes foi
romanas, teve importante efeito nos desenvolvimentos arrasado pedra por pedra, cumprindo assim a
históricos posteriores. Alguns acreditam que o partido predição de Jesus, 'que reverberou clara e altissonante:
político radical chamado de «os zelotes-, se originou «em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre
nessa ocasião; mas a história mostra que tal pedra, que não seja derrubada» (Mat. 24:2).
movimento é anterior a essa revolta. Não obstante, a Oa CrIstIoe, lembrando-se da advertência de Jesus,
revolta serviu para consolidar a oposição a Roma. O para que fugissem ante a destruição, fugiram para
lema da organização dos zelotes passou a ser. :«A Pela ao saberem que a dianteira dos exércitos
espada, sem nada poupar; e não há rei senão romanos não estava longe. Por causa dessa fuga, seus
Yahweh», Outra figura, chamada Hezequias, tam- companheiros judeus não-cristãos jamais os perdoa-
bém liberou uma revolução abortiva, e foi destruída ram. Os terríveis clamores dos judeus que haviam
por Herodes Ãntipas. Além dessas revoltas, houve crucificado a Jesus, exclamando: «Câia sobre nós o
outros levantes de menor monta, dirigidos por essa seu sangue, e sobre nossos filhosl» (Mat, 27:25); e:
organização politica extremista. Josefo jamais usa o «Não temos rei, senão César» (João 19:15), devem ter
termo «zelote» para designar esse grupo, pelo que ressoado aos ouvidos de muitos, durante aqueles dias
também não se tem certeza de que esse tenha sido o horrendos. Jerusalém caiu, o sinédrio foi extinto, e
seu verdadeiro nome, embora alguns eruditos Roma passou a governar suprema sobre a terra de
continuem a retê-lo. Israel.
N. IUIOI que N8U1ram, de maneira geral, os Acerca dos anos seguintes (antes do imperador
partidos nacionalistas de Israel não tiveram a- Adriano} temos escassa informação; mas não há que
capacidade de sacudir a nação em uma revolta de duvidar que, durante esse tempo, as chamas da
escala geral, pelo 'menos enquanto as condições revolta se foram novamente ativando gradualmente.
permaneceram suportáveis pelo povo em geral. As Corno que para fazer as chamas arderem ainda com
condições se agravaram na Palestina quando Gaio mais intensidade, Adriano (imperador romano de
(neto-sobrinho de Tibêrio) passou a governar em 117 a 138 D.e.) resolveu erigir um novo templo
Roma, após o falecimento de Tibêrio (37 D.C.). Gaio dedicado a «Zeus Capitolino-, no antigo local do
resolveu colocar a sua própria estátua no templo de templo de Jerusalém. Os romanos tornaram a questão
Jerusalém. Ao governador da Síria é que deveria ter ainda pior quando também descontinuaram a
230
PERIODOINTERTESTAMENTAL
circuncisão, o que, entretanto, em realidade era imperador Adriano (132 D.C.). O periodo que
apenas parte de uma proibição geral (por decreto antecedeu de perto ao surgimento do cristianismo é
imperial) contra a mutilação fisica, que visava freqüentemente intitulado de era helenística, porque
especialmente a prática da castração, prática de os gregos thelenos, no idioma grego), mediante as
diversos cultos orientais. Foi nessa época que surgiu conquistas de Alexandre, «helenizaram» o mundo
um grande patriota, de nome Bar Cocheba, que então conhecido e fizeram o mundo dessa época ser
chegou a fazer reivindicações messiânicas. De caracterizado pelo pensamento helênico, especial-
maneira quase incrível, essa reivindicação foi mente nas âreas da filosofia e da cultura literária.
largamente aceita, até mesmo pelos eruditos rabinos Sabemos que, naqueles dias, até mesmo muitos
judeus,- como Aldba. Ele patrocinou a causa do autores romanos escreveram no idioma grego e, a
novo messias, e realmente fez campanhas em seu despeito da perda do poder político, a cultura grega
favor, em viagens por toda a Palestina. Nos dias dos continuava muito apreciada e buscada, e muitas
Macabeus, os hasideanos (ou «píedosos») já haviam familias romanas das classes mais abastadas tinham
reunido forças suficientes para consolidarem planos professores gregos, filósofos e eruditos na literatura
de independência; e uma vez mais houve esperanças grega, especialmente quanto aos escritos de Homero.
de uma Palestina libertada. As multidões julgavam Os romanos não foram inovadores em quase coisa
que as coisas divinas estavam em jogo, e é sabido que alguma, especialmente no tocante aos aspectos
não existe zelo mais profundo do que o zelo religioso, culturais dos estudos e empreendimentos humanos,
nem violência como a violência religiosa. pelo que também os elementos da cultura grega eram
Naturalmente, a revolta fracassou. E dessa vez os tomados de empréstimo e cultivados entre os
romanos realmente perderam a paciência. No local romanos. O período helenístico é ordinariamente
onde ficava Jerusalém, foi construida uma cidade considerado como o tempo que vai da morte de
romana, de nome Aelia Capitolina, e os judeus foram Alexandre, o Grande, até à fundação do império
proibidos de ao menos entrarem na cidade.' Alguns romano por Augusto (323-30 A.C.). Nos séculos
anos mais tarde, essa severidade foi relaxada, anteriores, a cultura da Grécia esteve em desenvolvi-
permitindo que entrassem na cidade uma vez por ano, mento e atingiu notável grau de maturidade. Os
a fim de que chorassem ante o chamado muro das acontecimentos politicos e militares, especialmente
lamentações. aqueles provocados por Alexandre, fizeram essa
Estava reservado a Constantino (imperador romano cultura expandir-se para muito além das fronteiras
em 310 D.C., e que se tornou nominalmente cristão) gregas, atingindo, realmente, todo o mundo civilizado
restaurar Jerusalém aos religiosos, como lugar de então conhecido. O «idioma grego» tornou- se univer-
adoração. Ele também restaurou o antigo nome de sal e pelos estudos da arqueologia, sabe-se que era
«Jerusalém» à cidade. falado em todas as capitais do mundo, incluindo a
Quanto a outros detalhes, concernentes às condi- própria Jerusalém.
ções religiosas, sociais e políticas da Palestina, PoUtlcamente W.ndo, essa era foi assinalada peio
durante o tempo de Jesus, o leitor deveria ver os declínio dos estados mais antigos e anteriormente
artigos sobre: os Sacerdotes; os Escribas, os Fariseus, poderosos, e pelas culturas da antiguidade. As
os Saduceus, os Herodianos, o Sinédrio, os Essênios, civilizações da Mesopotâmia e do Egito jâ tinham tido
as Sinagogas, os Publicanos, e os Samaritanos, No a sua oportunidade e há muito que estavam no
fim desta seção, vários gráficos são apresentados a fim processo de declinio e decadência. - Poderíamos
de esboçar os acontecimentos do período intertesta- dizer a mesma coisa quanto à própria Palestina, e até
mental, e também desde Herodes até a destruição de mesmo a Grécia. Os dias de Davi e Salomão jamais
Jerusalém, tais como a «Cronologia do período retornaram, e a história de Israel passou a ser
Intertestamental-, «Os Selêucidas-, «Os Hasmonea- caracterizada pelo dominio estrangeiro e pelas
nos», «Os Herodes» e acontecimentos durante o revoltas contra essa dominação. Os estados gregos
periodo do N. T., que é um esboço comparativo dos primeiramente desfrutaram de um periodo de
acontecimentos ocorridos em Roma e na Palestina, dependência aos seus conquistadores, e então
paralelamente a ocorrências especificamente mencio- penetraram em sua longa noite de obscuridade. Ao
nadas no N.T. desmembrar-se o mundo antigo, somente o lato poder
de Roma deu ao mesmo certa aparência de unidade.
Esse poder em realidade fundia e dividia elementos
8. O Maado Greeo-Romaao em uma nova sintese. Alguns acreditam que o império
A fim de caracterizar as condições do mundo romano, que foi a culminação da evolução politica da
greco-romano, ao tempo de Jesus Cristo, observare- antiguidade, foi o mais forte e iluminado governo do
mos de passagem os seguintes pontos: pano de fundo, mundo antigo. Pelo menos pode-se observar que a
moralidade, filosofia e religião. Todos esses fatores cultura helenista ensinara ao mundo algo acerca da
formam importantes considerações acerca do estudo importância do individuo, a despeito do fato de que a
do levantamento, e desenvolvimento do cristianismo. escravidão e outras formas de degradação social,
O cristianismo não se originou e nem se desenvolveu ainda prevaleciam por toda a parte. Estava reservado
num vazio, e o estudo das condições e circunstâncias a Jesus Cristo ensinar realmente ao mundo essa lição;
então reinantes sempre servirá de ajuda na compreen- mas é uma lição que a humanidade continua se
são dos elementos de qualquer instituição, movimento esforçando por aprender como convém. A filosofia
social ou sociedade religiosa. ensinara aos homens que se interessassem pelos seus
destinos pessoais, pelo poder do pensamento e pela
a. Pano de Fundo dignidade do conhecimento.
As páginas anteriores, nesta seção, oferecem breves
descrições acerca das condições políticas e sociais dos Alexandre ~oi -capaz de realizar seus prodígios
diversos periodos de tempo que antecederam o mlht8;res parcl~lmente porque os gregos já haviam
ministério de Jesus, tais como o dominio persa colonizado muitas áreas além-fronteiras. Ocuparam
(430-332 A.C.), o periodo grego (331-167 A.C.), o Creta, a maior parte de Chipre, as ilhas do mar Egeu
período de independência sob os Macabeus (167-63 as praias da Ásia Menor até considerável profundida:
A.C.), a interferência dos romanos desde 63 A.C. até de, além de grandes áreas ao longo das margens do
à destruição final de Jerusalém, ao tempo do mar Negro, as costas da Libia e da Cirenaica, na
231
PERloDO INTERTESTAMENTAL
África. Além de suas colônias, os gregos mantinham ou menos por esse tempo, o poder romano começou a
postos comerciais avançados até lugares tão distantes ser sentido em áreas diversas, largamente separadas
como o delta do rio Nilo. No Ocidente haviam entre si. As legiões romanas combateram contra os
penetrado no sul da Itália e haviam adquirido uma macedônios e os derrotaram em Cinoscêfale, e os
porção substancial da Sicília, da Sardenha, da gregos receberam as legiões romanas com entusiasmo.
Córsega, e haviam estabelecido colônias até mesmo no As relações entre os gregos e os romanos, porém, nem
sul da Gália e na Espanha. Todas essas áreas jamais sempre foram muito boas, porque descobrimos que
se tomaram alvo de qualquer sistema politico cinqüenta anos mais tarde (em 146 A.C.), os romanos
unificado, mas a propagação da cultura e da destruíram a cidade de Corinto e venderam grande
influência gregas se tomou possível por meio dessas parte de sua população à escravidão. No entanto, essa
áreas colonizadas. A erudição grega se tomou uma cidade foi reedificada por Júlio César, e mais uma vez
espécie de laço comum entre todas elas. Peregrinos prosperou. Na porção oriental, a área pertencente aos
vinham à Grécia, provenientes de muitas partes do Selêucidas, Roma foi obtendo controle gradual, até
mundo, a fim de admirarem a arte e a arquitetura que Pompeu, o Grande, conquistou a região e a
gregas, e a fim de aprenderem mais da lingua e do anexou ao império romano, em 64 A.C. No ano de 63
espírito dos gregos. Por conseguinte, o mundo estava A.C., Pompeu conquistou a Palestina, a fim de
pronto para Alexandre, pois o que ele fez essencial- estabelecer a ordem, porquanto rebentara a guerra
mente, foi propagar o poder político e militar dos civil por causa das ambições de dois irmãos
gregos, onde a cultura grega já havia preparado o hasmoneanos, Hircano e Aristóbulo. Pelo tempo em
caminho. Alexandre primeiramente firmou-se em sua que os romanos conquistaram a Palestina, já haviam
própria terra, e então penetrou rapidamente em consolidado o seu poder na Síria e em outros lugares.
muitas outras áreas, derrotando Dario IH em Isso, Foi preciso longo tempo para que Roma chegasse à
nas planícies da Cilícia, em 333 A.C. Então dirigiu-se maturidade. Quando a Grécia já chegara ao seu
para o sul, tendo penetrado na Síria e destruído a zênite, os romanos ainda levavam uma existência
cidade de Tiro, aliada da Pérsia. Dessa forma ele tribal. A monarquia primitiva do povo romano foi
exterminou a supremacia marítima dos fenícios derrubada em cerca de 500 A.C., tendo sido
que, durante muitos séculos, haviam sido os substituída por uma república vigorosa, que perdurou
comerciantes e os marinheiros do Oriente Próximo, até 30 A.C. Foi então que Augusto formou o império
sendo os únicos verdadeiros rivais dos gregos nos romano. Durante o tempo de Alexandre, os romanos
mares daquela época. unificaram a Itália, unificação essa que se completou
QuandO ... habitantes, de Jerusalém receberam a por volta de 264 A.C. (ao tempo da primeira guerra
notícia da sorte de Tiro, imediatamente entraram em púnica), Se Alexandre tivesse continuado vivo,
entendimentos com Alexandre. Alexandre aceitou a provavelmente teria invadido essas áreas, mas o seu
lealdade dos judeus, e deixou a cidade essencialmente falecimento permitiu a continuação desses desenvolvi-
intocável. Em seguida, Alexandre conquistou o Egito. mentos. Quando Roma conseguiu subjugar comple-
Mas isso foi feito sem luta, porque os egípcios tamente Cartago, 146 A.C., já era senhora suprema
regozijaram-se em ser liberados da influência e do do Ocidente. Então começou o processo da conquista
controle dos persas. Pouco tempo mais tarde, de áreas ao norte e ao oriente. Grande parte das terras
Alexandre estabeleceu a cidade que traz seu nome até continentais da Grécia caiu nas mãos dos romanos,
o dia de hoje, perto da boca do Nilo chamada Roseta. bem como passaram a controlar porções da Ásia
Após ter desfechado o golpe final contra o império Menor. Dessa forma, os rivais mais próximos estavam
persa já extremamente combalido, em Arbela, no tão distantes como o Egito e a Síria. Nos séculos que
norte da Mesopotâmia, em 331 A.C., Alexandre se seguiram, esses territórios foram gradualmente
invadiu a Índia. Ali obteve vitórias militares, mas foi tornando-se parte do império romano em expansão.
fisicamente exaurido. Voltou à Babilônia somente Conforme já explicamos, em 63 A.C., a Síria e a
para morrer ali subitamente em 321 A.C. Palestina haviam sido subjugadas. A conquista da
Um dos sonhos de Alexandre era o de estabelecer Gália, por Júlio César, completou-se em cerca de 49
um governo e um povo universais. Ele mesmo e dez A.C. Júlio Cesar tornou-se um herói, e o único rival
mil de seus soldados casaram-se com mulheres sério de Pompeu. Mas eis que assassinos o prostraram
asiáticas, lançando, com isso, os símbolos do na câmara do senado, em março de 44 A.C. Os seus
universalismo. De certa maneira, Alexandre criou homicidas temiam o fim da república e o princípio da
realmente certo universalismo, que consistia na ditadura; e esses temores eram justificados. Mas a
cultura grega, incluindo suas influências nas áreas da morte de Júlio César praticamente não alterou o rumo
«filosofia», das «artes» e da «língua». Ele esperara que dos acontecimentos.
o mundo unido pudesse levar avante os ideais gregos. César havia nomeado seu herdeiro Otávio, que
E foi assim que, c0!11 Alexandre o Grande, o poder do tinha en tão dezoito anos de idade e era neto da irmã
mundo mudou da Asia para a Europa. Chegara o fim de César. Marco Antônio, que estivera associado a
da supremacia asiática. Sem ter consciência disso, César, nas cruzadas militares na Gália, procurou
Alexandre preparou o caminho para acontecimentos ignorar esse testamento e procurou obter, pessoal-
ainda de maior envergadura, a saber, o levantamento mente, o poder. Mas Otávio já era muito astuto,
da religião verdadeiramente universal, o cristianismo. apesar da juventude e mediante habilidosas manipu-
O idioma grego tornou-se o veículo da propagação lações, fizera-se nomear general; e subseqüentemen-
universal do cristianismo, e os ideais gregos ajudaram te, com seu exército, entrou em Roma e forçou o
no desenvolvimento de uma fraternidade universal, senado a nomeá-lo cônsul.
onde, todos quantos se acham «em Cristo», não
conhecem distinções entre «judeus e gregos». De8eDvoIveI'aID..1Ie rlvaOdadel por toda a parte e a
fim de enfrentar a crise, Otávio (posteriormente
A morte de Alexandre, todavia, interrompeu suas intitulado Augusto) formou um «triunvirato» com seus
visões e ambições, e as lu tas pelo mando, que se rivais, Antônio e Lépido, de cujo auxílio precisava a
seguiram entre os seus generais e outros oficiais, fim de derrotar a Bruto e Cássio, os dois líderes do
tiveram inicio. O reino de Alexandre foi dividido entre assassinato de Júlio César. Na batalha que houve em
os seus generais. Os detalhes acerca disso podem ser Filipos, em 42 A.C., as forças de Bruto e Cássio, que
vistos nesta seção nos seus primeiros parágrafos. Mais representavam a causa republicana, foram derrota-
232
PERIODO INTERTESTAMENTAL
das. Bruto e Cássio se suicidaram. Então os triúnviros especialmente chocados ante a depravação homos-
dividiram os despojos. Antônio recebeu a Gália e as sexual que era chamada -paiderastia.. (literalmente,
províncias orientais; a África ficou com Lépido; e a «amor aos meninos-), Platão, em seu diálogo
Itâlia e a Espanha ficaram em mãos de Otávio. Mas intitulado «Symposium-, indica que esse vício era bem
Lépido em breve se retirou, entregando a África a conhecido em seus dias, e que não era considerado
Otávio. A Gália também não demorou a ficar em suas pervertido pela maioria das pessoas. Por essa razão é
mãos. Entrementes, Antônio separou-se de sua que tal pecado é geralmente conhecido por pecado
esposa, que, infelizmente para ele, era irmã de «grego». Alguns escritos antigos parecem idolatrar o
Otávio, por se ter apaixonado por Cleópatra. Também amor entre pessoas do mesmo sexo, como, por
se lançou em grandiosas movimentações de tropas e exemplo, Sapho, a antiga e bem conhecida poetisa
campanhas militares, pelo Oriente, exigindo maior grega; e alguns chegam a pensar que Platão também
número de soldados por parte de Otávio. Isso Otávio se entregava a tais práticas. Porém, aquele que
recusou-se a fazer, e em breve se reacenderam as conhece as raízes da filosofia platônica, com sua
antigas rivalidades. Os dois rivais se enfrentaram ênfase sobre a supressão dos prazeres «carnais» e sua
armados em Ãcio, em 31 A.C. Antônio contava com o elevação dos aspectos mentais e espirituais dos
apoio de sua amada rainha egipcia, e da grande homens, dificilmente poderá aceitar tal suposição.
flotilha de navios egípcios: mas pouco depois do início Há muitos indícios, nos escritos antigos, que então
da batalha, ela fugiu. Antônio se suicidou. Por mais prevalecia a lassidão sexual, o que é demonstrado pelo
estranho que isso pareça, Cleópatra procurou atrair fato de que as experiências sexuais antes do
Otávio com seus encantos. Mas, tendo falhado na casamento não eram ordinariamente consideradas
tentativa, também cometeu suicídio. Em seguida, más, por muitos filósofos gregos e romanos. O
Otávio anexou o Egito e o transformou em provincia adultério, todavia, era fortemente combatido, espe-
imperial. cialmente por filósofos como Platão e Aristóteles e,
A república tlIta•• de8DltlYluneDte IaOrta (por volta evidentemente, por Sócrates, conforme este é exposto
de 30 A.C.). Mas, sendo oficialmente apenas um nos escritos de Platão, posto que o próprio Sócrates
cônsul, Otávio não pôs a coroa na cabeça. Manteve as nada deixou escrito.
formas externas da democracia, mas foi esmagando
lentamente a sua essência, dentro das engrenagens do Sabe-se que, nas cidades antigas, nos cultos
governo. Tornou-se tribuno, general, «pai da pátria.. e pagãos, o sexo desempenhava papel preponderante, e
«príncipe», mas não era oficialmente intitulado rei ou que muitas sacerdotisas eram pouco mais que
imperador. O seu reino, entretanto, era perfeitamente prostitutas templárias. Os poderes da procriação
real, e foi caracterizado pela paz e pela prosperidade eram, dessa maneira, adorados através de meios
material. O seu governo só terminou em 14 D.C., com simbólicos, e o sexo se tornou o grande símbolo dessa
sua morte. Encontrou Roma construída de tijolos, e adoração. É importante observar, nessa conexão, que
a deixou construída de mármore. Muitos sentiam os pagãos tinham deuses cujos adoradores considera-
gratidão genuína pelo que ele fizera, porquanto vam-nos sexualmente desviados, o que transparece
lembravam-se ou sabiam da era de violência e até mesmo nas tradições gerais estampadas na
derramamento de sangue que antecedera à sua subida literatura antiga. Seria muito dificil que os adorado-
ao poder. res de tais deuses tivessem a convicção de que era
necessário viver vidas mais morais que esses deuses.
Abaixo examinamos algumas das condições sociais
do tempo que caracterizava o mundo em que Jesus A prostituição era uma 1DatItal~ e uma
viveu. proflldo pedeitamente reconhecida nas culturas
antigas, e o V.T. indica que isso sucedeu até mesmo
b. Moralidade entre os antigos judeus. Nosso vocábulo, «fornicação»,
As Escrituras, tanto do Antigo como do Novo se deriva da palavra latina «fornix-, que significa
Testamentos, em termos latos, fazem referência à «arco» ou «cúpula». Na "Roma antiga, os lupanares
moralidade do mundo antigo como corrupta. funcionavam em lugares subterrâneos. Daí também,
Qualquer sociedade caracterizada pela idolatria, patrocinar um lupanar era «fornicar» (<<fornicare..). As
dificilmente poderia ser aquilatada de outro modo jovens escravas é que eram vítimas desse deboche.
pelos escritores sagrados. Passagens como o primeiro Lê-se que muitas famílias antigas vendiam meninas
capítulo da epístola aos Romanos descrevem, com não-desejadas a esse tipo de escravidão. Justino, em
pormenores, alguns aspectos da decadência moral dos sua Primeira Apologia (capítulo XXVII) ataca
antigos. Nas Escrituras, a base da verdadeira decididamente essa prática; e por seus escritos
moralidade é considerada como a verdadeira lealdade ficamos sabendo que a prostituição masculina
a Deus. Faltando esta, profetas e apóstolos jamais se também era tão prevalente quanto a feminina, e que
deixariam impressionar por demonstrações externas meninos e meninas eram vendidos, ainda na infância
de moralidade, sem importar tais manifestações. Os ou meninice, a fim de serem criados desse modo. Tal
museus modernos atestam quão generalizada era a corno nas sociedades modernas, isso conduziu a
idolatria. Do Egito têm vindo pássaros, cães, touros, muitos acontecimentos brutais e horrendos, porquan-
crocodilos, abelhas e outras coisas mumificadas, que to os escravos não eram senhores de seus próprios
.eram objetos de adoração. Com a possível exceção do corpos, e muitos eram torturados e mortos por
zoroastrismo da Pérsia, todas as culturas antigas se sadistas, A prostituição organizada era ajudada pela
caracterizavam por tais conceitos de divindade. religião organizada, conforme foi indicado no
Paulo considera a depravação sexual como resulta- parágrafo anterior. Os ritos de fertilidade, ligados às
do dos conceitos errôneos sobre Deus e também como prostitutas do templo, ou separadas das mesmas,
resultado da rejeição da revelação que é dada a todos, sancionavam - com sua autoridade religiosa -
a da natureza da pessoa de Deus nas maravilhas da as perversões da sensualidade. Lemos que essas
natureza. O livro de Apocalipse concorda com a práticas continuam perfeitamente vivas no culto de
melancólica descrição de Paulo e com os escritores da Siva, -até os nossos próprios tempos. Estrabão
igreja primitiva, tais como Inácio, Justino, lrineu, (<<Geografia», VIII.6.20) conta-nos que o templo de
Tertuliano, Clemente de Alexandria e Origenes, que Afrodite, em Corinto, tinha mil escravas sagradas ou
não falam com grande variação acerca dessa questão. prostitutas' templárias. Essa prática era também
Os escritores cristãos, a começar por Paulo, ficavam comercial, e Corinto era um centro popular de
233
PERloDOINTERTESTAMENTAL
turismo e comercio, parcialmente por causa dessa Outras formas de violência organizada e oficial
instituição. maculavam a imagem de Roma. Criminosos em
A e.cravldlo também era uma tremenda mácula no grande número eram postos a se combaterem entre si,
código moral dos antigos. Era prática comum como gladiadores nas arenas, e isso servia de forma de
con~enar p~sioneiros.de g~erra ,?U povos conquista- diversão pública. Josefo conta (Guerras dos Judeus,
dos a escravidão. Assim, fOI possível, em uma única VII.2,t) que tal esporte era apreciado por cornúnida-
venda, entregar nada menos de cinqüenta mil pessoas des na Palestina e na Síria, e não somente em Roma.
à servidão. Flávio Josefo nos diz (Guerras dos Judeus Outras modalidades de violência pública, empregadas
VI.9.3) que Tito, após ter conquistado Jerusalém, e~ como esportes, consistiam em lançar pessoas aos
70 D. C., escravizou a noventa e sete mil judeus. Além animais ferozes ou em fazer os cativos de guerra se
dessas prâticas, havia negociantes profissionais de digladiarem entre si. Em um desses espetáculos,
escravo~. De fato, tudo isso perfazia um gigantesco preparado por Tito no dia do aniversário de
comércio. Os escravos eram freqüentemente mais Domiciano, dois mil e quinhentos 'cativos foram
cultos que os ~e~s ca~t~res, pois descobrimos que mortos assim. (Ver «Guerras dos Judeus», VII.3.1).
alguns eram médicos, filósofos, mestres e artistas. O Outros esportes públicos favoritos eram os combates
bem conhecido filósofo estóico, Epicteto, antes fora forçados entre animais ferozes, ou a matança de
escravo. Seu proprietário chegou a reconhecer suas animais. E nessas matanças, as vítimas preferidas
habilidades, libertou-o e educou-o; mas poucos eram pareciam ser os elefantes.
tão afortunados quanto ele. Mas lê-se, como nos Os crl8tio1 enun peneaaldOl e mortos das
escritos de Sêneca, sobre um senhor qualquer que maneiras mencionadas acima. Ser queimado na
ocasionalmente, dava liberdade aos seus escravos' fogueira tornou-se um método de execução, mas
voluntariamente. Infelizmente, o cristianismo nã~ provavelmente após o tempo em que foi escrito o N. T.
atacou frontalmente essa instituição, e as epístolas de (Ver notas no NTI sobre I Cor. 13:3). Tácito (Anais
Paulo refletem a presença de escravos nas casas XV.44), o famoso historiador romano, diz-nos que
cristãs. Paulo admoestou os escravos crentes a durante o reinado de Nero, os cristãos eram mortos
obedecerem aos seus senhores, como um dever vestindo-os em peles de animais e lançando cães
cristão; mas também exigiu tratamento humano aos ferozes contra eles. Muitos outros foram crucificados
escravos, por parte dos senhores crentes frisando muitos combateram contra animais ferozes. Ner~
que, «em Cristo», não há «escravo nem Ii~re». (Ver usava, os seus próprios jardins particulares para esses
Gâl, 3~28). Outrossim, ele e outros escritores do N.T. espetaculos. As cartas de Inácio, bispo de Antioquia
enfatizaram o amor, como principio orientador em OIS D.C.) revelam que ele esperava tal tipo de morte
todas as coisas, e foi essa ênfase que gradualmente a ~aminho de Roma! a fim de;: responder às acusações
esmigalhou a. instituição da escravatura. Alguns feitas contra ele. Policarpo, bispo de Esmirna morreu
!radutores consideram que a passagem de I Tim, 1:10 queimado na fogueira, em cerca de ISS D.c'.
e um ataque contra a servidão, especialmente contra
os negociantes de escravos; e, se isso é verdade, então A sc:ciedade do mu~do antigo, naturalmente, tinha
pelo menos temos esse ensino direto contra tal tambem seu lado melhor, especialmente nas realiza-
prática. A t~adução de Williams (em inglês) alista, ções da arte, da literatura, da filosofia e nas
entre as coisas condenadas pelo apóstolo Paulo, instituições da lei romana. Os gregos foram os
«homens que fazem de outros homens seus escravos». pioneiros de alguma arte dramática e em formas
lit~~árias, tendo-as aperfeiçoado a um grau que não
Isso é uma referência definida à escravidão' mas o
foi Igualado nem mesmo pelas noções modernas. A
sentido da palavra não é aceito concordemente por
todos os tradutores. A tradução de Almeida filosofia do mundo ocidental ainda repousa em cheio
Atualizada, tem «raptores de homens». A tradução da sobre os alicerces gregos. As leis de muitas nações
ainda repousam sobre os fundamentos lançados pelos
Imprensa Batista tem «roubadores de homens» e a romanos. O estoicismo desenvolveu a idéia da
Almeida, edição revista, também tem essa trad~ção. fraternidade universal e da doutrina da dignidade do
(Ver as notas sobre este versículo no NTI). Houve homem. O cristianismo, isto é, os escritos fundamen-
vários escritores antigos que condenaram a crueldade tais do cristianismo, desenvolveram e expandiram
dessa prática. Epicteto (Discursos 1.13.1-3) dizia que esses temas. Todos quantos lêem Sêneca (o filósofo
o homem e seu escravo são irmãos, filhos do mesmo estóico romano) e Paulo reconhecem a grande
Deus. Cícero e PUnia, o Jovem, eram conhecidos pelo similaridade de idéias e de sua expressão entre os
~ratamento humano que davam aos seus escravos. O
Imperador Adriano procurou eliminar parte da dois. Paulo foi criado em um centro de estoicismo
crueldade e proibiu a morte de qualquer escravo sem r?mano, a cidade. de Tarso, e essa influência pode ser
a permissão de um magistrado. Não foi senão em 428 vista e.~ seus escritos, Nem tudo quanto saíra da pena
D.C., entretanto, que foram baixadas leis que dos filósofos ou de outros elementos dignos da
proibiam a prostituição de escravos. Os escravos tam- sociedade antiga foi rejeitado pelos apóstolos, e por
que haveria de se-lo, quando parte de suas idéias
~ém eram vitimas freqi1entes da crucificação, e esse
estava de pleno acordo com os conceitos básicos
tipo de execução, a princípio, se limitava exclusiva- hebreus e cristãos , Algo do estilo dos escritos de
mente a eles. Gradualmente, entretanto, passou a ser Paulo, particularmente como se vê nas epístolas aos
usado contra os criminosos políticos e os tipos vis de - Gálatas e aos Romanos, reflete o método de ensino
rebeldes, na sociedade. e escrita das escolas filosóficas. E por que não seriam
. ~a/vez a crucificação seja uma boa medida para refletidas essas coisas, se elas são boas e dignas? Nem
indicar a e:,tensão da crueldade que persistia no Paulo e nem qualquer dos outros escritores do N. T. se
mundo. antigo, Lemos que durante o cerco de de~env?lveu em um vácuo, - e as características
Jerusalem, no ano de 66 - 70 D.C., Tito crucificou pessoais de qualquer homem resultam, parcialmente;
nada menos de quinhentos judeus diariamente do de seus anos formativos.
lad~ de fora .dos muros da cidade, de ond~ os
cadaveres podiam ser vistos. (Josefo, Guerra dos c. Filosofia
Judeus, I1.S.2; V.6,S; V.U.l). Estava destinado a Caracterizar a filosofia antiga, juntamente com as
C<;,nstantino,. o imperador romano nominalmente adaptações e modificações sofridas na sociedade
cristão (depois de 300 D.C.), abolir essa prática. romana, não é tarefa fácil. Ê muito mais fácil
234
PERtODO INTERTESTAMENTAL
observar quais as influências filosóficas sobre o no seu tratado sobre o tempo. O restante da filosofia
cristianismo do que oferecer um esboço lato da romana é a mera reestruturação da filosofia grega,
filosofia em geral. Portanto, esta pequena seção com pontos de vista especialmente ecléticos. .
procura mencionar apenas a maioria das questões Quanto à ética, os filósofos romanos geralmente
básicas. Os grandes filósofos sistemáticos foram combinavam o que consideram ser - o melhor - em
Platão e Aristóteles, e deles é que vêm as idéias todos os sistemas, mas - especialmente - elementos
metafísicas básicas da filosofia antiga. Sócrates foi o epicüreos e estóicos. É possivel que o estoicismo
mestre de Platão, e Platão foi o mestre de Aristóteles. modificado fosse a idéia mais dominante, estando
Aristóteles era mestre particular de Alexandre o ligado a nomes como Sêneca, Cícero, Epicteto e
Grande. Platão desenvolveu aquilo que se chama de Marco Aurélio. O estoicismo romano abandonou a
dualismo. Ele estabeleceu grande diferença entre a «apatia» como o alvo da vida e ensinava a «disciplina»,
durabilidade e a importância da natureza essencial do a «moderação», o «autocontrole», a «obediência... Essa
mundo superior das formas ou idéias e o mundo forma de estoicismo (que não era realmente
inferior das particularidades (de que o nosso mundo estoicismo, segundo as definições dos gregos) se
consiste). O nosso mundo seria meramente uma adaptou muito melhor ao robusto espirito romano do
imitação daquele mundo superior, e o «demiurgo» que a variedade mais antiga. justamente essa forma
Ê
criou o nosso mundo usando como modelo o mundo de estoicismo que transparece ocasionalmente em
superior de existência eterna. O cristianismo ensina a Paulo, especialmente em seus escritos éticos e sobre a
mesma espécie de dualismo, e em termos que não conduta do crente.
diferem grandemente daqueles que foram usados por ArütóteI. exerceu pequena influência entre os
Platão (embora o sentido tencionado possa ser primitivos cristios e os pais da Igreja cristã, Porém, a
diferente). Isto não deve nos surpreender, sendo que sua doutrina de «substância» e de «causa primária»
alguns dos primitivos pais da igreja, que for- tornou-se um importante fator na formação da
mularam a terminologia e a expressão da teologia filosofia medieval de Tomás de Aquino. Essa filosofia
cristã foram filósofos neoplatônicos, a saber, Justino, veio a tornar-se o alicerce do pensamento filosófico da
Origenes, Clemente de Alexandria, e outros. O igreja Católica Romana. De conformidade com o
«platonismo» assumiu uma forma religiosa intitulada pensamento aristotélico, cada objeto se compõe de
neoplatonismo, e os pais da igreja foram influencia- substância e atributos. Um dos aspectos de seu ensino
dos por esse desenvolvimento. Para Platão, o sobre a substância indica que esta é metafisica e esta
conhecimento é aquele conhecimento daquele mundo fora do alcance dos sentidos, e que os atributos (coisas
superior de «formas», tal como o conhecimento, para de natureza não· essencial a um objeto) podem
os cristãos, deve ser essencialmente o conhecimento alterar-se sem que se altere a essência de qualquer
de Deus e da alma. Na busca pelo conhecimento, coisa. A doutrina da transubstanciação tem sua base
Platão frisou a razão, a intuição e o misticismo, e não nesse pensamento, pois acredita-se que o pão e o
a experiência dos sentidos (isto é, a percepção dos vinho podem ser alterados quanto à sua substância,
sentidos), e o cristianismo concorda plenamente com isto é, de pão e vinho no corpo e no sangue de Jesus,
essa avaliação. Platão não tentou formular uma - sem que haja qualquer modificação nos seus
teologia, mas é óbvio que ele rejeitou as noções atributos. Assim sendo, os testes cientificos podem
antropomórficas e politeístas de seus contemporâ- não determinar qualquer transformação no vinho e no
neos. Ensinou algumas proposições fortemente pão, embora a sua «substância» se tenha modificado;
teológicas, como, por exemplo, a imortalidade da e a substância não está sujeita a testes científicos.
alma, em favor do que ele formulou argumentos Aristóteles ensinava que tudo se compõe de matéria
baseados na razão e na intuição, que jamais puderam em movimento, e que o movimento é causado pela
ser melhorados pelos pensadores modernos. «causa primária», que é o único que permanece
PIado ensinava uma CItputkIa penoaaJIdade imóvel, mas que move tudo ao seu redor ao «ser
humana: corpo (vegetal), mente (lnimo), com o que amado». Tomás de Aquino desenvolveu essa idéia
entendia, essencialmente, a parte emotiva do homem, como prova da existência de Deus, salientando que
e alma (que seria a parte mais elevada e eterna do todos os movimentos devem ter uma causa, e
homem). A boa conduta se caracterizaria pelo mostrando ainda que somente Deus pode ser essa
domínio da alma através da razão, que resulta na causa.
subjugação do corpo e suas paixões. Dessa maneira,
Platão enfatizava a alma acima do corpo e ensinava a Além das influências do pensamento filosófico
eternidade da mesma, a qual, segundo a sua antigo sobre o cristianismo, conforme são menciona-
doutrina, tem uma afinidade especial com o mundo das nos parágrafos anteriores, podemos alistar de
superior das idéias. Outros sistemas éticos antigos passagem, algumas outras: formas de educação, a
tinham outras idéias, entretanto. O epicurismo prática e os métodos exegéticos, formas retóricas, etc.
ensinava que o prazer é o alvo da vida, mas enfatizava Os discursos públicos tiveram seus paralelos, nas
sempre os prazeres mentais. O hedonismo também comunidades cristãs, nos cultos públicos, especial-
salientava os prazeres, mas os prazeres fisicos, mente no estilo do sermão, nas primeiras assembléias
carnais. O estoicismo pensava que todas as emoções cristãs. As escolas filosóficas tiveram influência na
eram más, e por isso destacava a necessidade do formação da teologia sistemática cristã, especialmen-
despreendimento, isto é, a apatia. Sócrates ensinava a te após 150 D.C., através de ministros filósofos-
necessidade de conhecimento para que houvesse a teólogos como Justino, Orígenes e Clemente, de
correta conduta ética, crendo, talvez ingenuamente, Alexandria, os quais sistematizaram a teologia e
que o homem que sabe o que é realmente melhor para freqüentemente se utilizaram da terminologia filosófi-
ele não agirá contrariamente aos seus melhores ca nesse processo. Esse tipo de atividade aumentou e
interesses. O cinismo ensinava que não existem floresceu nos tempos medievais, no chamado «escolas-
valores éticos ou humanos reais, e que a independên- ticismo», quando a filosofia e a teologia tornaram-se,
cia deve ser o alvo do homem, isto é, independência na prática, uma só disciplina. (Quanto ao completo
da sociedade e de todos os seus julgamentos de tratamento desses acontecimentos, ver a obra -The
valores. Os romanos nada criaram de novo na Influence 01 Greek Ideas on Christianity.., por Edwin
filosofia, incluindo os principios éticos. A única Hatch, New York: Harper and Brothers).
filosofia original, escrita em latim, foi ade Agostinho, d. Religião
285
PERtoOO INTERTESTAMENTAL
Zeus e outros deuses: Ê necessano que uma O deus Hades era grandemente estimado (sendo
literatura tão estilisticamente elevada como a Iliada irmão de Zeus), e templos foram edificados em sua
de Homero tivesse se baseado em diversos séculos de honra; porém esse culto nunca se tornou influência
desenvolvimento, antes que tão elevada grandiosidade poderosa na Grécia. De conformidade com a
pudesse ser conseguida. Homero (século IX A.C.) ao mitologia grega, quando da morte, a «alma» ou
escrever sua bela composição (sem dúvida tirando «sombra» da pessoa era levada por Hermes para o
proveito de muitas fontes literárias; e é provável que submundo, onde Hades exercia seu domínio, Carom,
uma parte da Illada não tenha sido escrita o barqueiro, fazia as almas atravessarem o rio Estix,
por ele, mas tenha sido adicionada posteriormente) mas somente quando elas pagavam determinada
preservou para nós uma grande herança de pensa- quantia com uma moeda. Muitos gregos eram
mento. Poucos ou mesmo nenhum escritor se tem sepultados com uma moeda na boca, para cuidar
igualado ao estilo simples, mas elevado e estranha- dessa despesa. No submundo (posteriormente cha-
mente belo de Homero. As suas obras são a «Biblia» mado hades por causa do deus desse nome) as almas
da Grécia antiga. A despeito de sua beleza literária, levariam uma espécie de existência sombria, sem
que é um fato indisputâvel, o conceito de um deus ou consciência verdadeira, mas nebulosa. Essa idéia
deuses, que ali aparece, nos deixa desolados. Cronos, foi-se alterando paulatinamente, entretanto, para a
pai de Zeus, furtara o seu poder de Urano, seu pai, e de uma existência real, se não mesmo feliz.
de Rea, Era um canibal vitorioso, que devorava os o.lIIlItérI. eIe1uIuOll (ritos de natureza reli..,giosa
seus filhos assim que nasciam. Mas Zeus foi praticados em Elêusis, na costa do sul da Atica)
escondido por sua mãe, e uma pedra foi provida em estavam vinculados ao deus Hades, e esse culto se
lugar de Zeus, para que Cronos a engolisse, embru- tornou extremamente popular. Baseava-se no ciclo
lhada em panos, como disfarce. Zeus foi muito astuto, das estações, com ênfase especial sobre os ciclos
e, ao chegar à maturidade, foi capaz de derrotar seu alternados de morte e vida, de primavera e inverno.
vingativo pai, tornando-se um rei universal e Demétria era uma das deusas especiais desse culto, e
todo-poderoso, que mantinha o seu governo mediante a ela era atribuída a guarda dos campos férteis. Core
o uso de relâmpagos, e não mediante a influência da ou Persefone, sua filha, seria o espírito protetor da
bondade e sua aplicação. Zeus teria amado pelo vegetação, enquanto que Plutão ou Hades era o deus
menos seis esposas, duas delas foram suas irmãs, 'los mortos, que a cada outono trazia morte a todas as
e não resistia a uma viagem ocasional à terra para coisas vivas. Muitos santuários foram edificados em
caçar alguma mulher especialmente bela, ainda que honra a Demétria, e Hades era ao mesmo tempo
terrena. Essas idéias, relacionadas aos deuses antigos, temido e odiado, talvez por muitos. Os aderentes
não eram incomuns; cria-se mesmo que muitos desse culto, evidentemente, esperavam que, através
homens eram filhos de deuses e de mulheres da ação benéfica de Dernêtria, pudessem ter uma vida
humanas ou vice-versa. Tais filhos eram ocasional- futura, após a morte, caracterizada pela felicidade e
mente chamados heróis, sendo usualmente homens pela prosperidade. O ensinamento central dizia
capazes de grandes feitos. respeito à história de uma deusa que morrera e
Zeus, originalmente - senhor único - do ressuscitara dos mortos, e os iniciados nesse culto
universo, dividiu o seu governo com dois irmãos seus, criam que, mediante identificação com essa deusa,
Poseidon, que tomou conta dos oceanos, e Hades, que também pudessem conquistar a morte e o submundo,
se apossou do submundo. Zeus permaneceu nos céus, rompendo assim as cadeias escravizadoras da
e por isso passou a ser especialmente associado às imortalidade. Ê óbvia a similaridade dessa idéia com
tempestades, às trovoadas e a outras manifestações a morte e a ressurreição de Cristo; mas todas as
atmosféricas que tanto aterrorizavam os antigos. A tentativas que têm procurado demonstrar que a
organização real dos muitos deuses gregos não era doutrina cristã da ressurreição se tenha originado,
diferente demais da sociedade feudal. Algumas vezes pelo menos parcialmente, nesse culto, têm falhado e
os súditos de Zeus, por também serem divinos, têm sido rejeitadas pela grande maioria dos eruditos
tornavam-se extremamente rebeldes, e então era modernos. Certamente, o pensamento hebreu, ao
mister todo o poder de Zeus para acalmar a tempo de Jesus, não era menos orientado na direção
tempestade, e às vezes só o poderoso relâmpago era da ressurreição do que esses cultos, e se o cristianismo
capaz disso. O seu poder sempre estava sujeito a porventura tivesse de tomar de empréstimo alguma
revisão e a possíveis modificações, porquanto Cronos, idéia, não teria de fazê-lo dos mistérios eleusianos.
Urano e Rea, antes dele, tinham caído. Não obstante, a verdade ilustrada é importantíssima,
sem importar onde ela se encontre.
Em geral, ....... 11M de1ueI era muito semelhante
à dos homens que os tinham imaginado. Estavam O culto de DlODUo - também era chamado B8e0.
sujeitos aos mesmos afetos, ódios, contendas, Baco era, primariamente, o deus do vinho. Dioniso,
violências e paixões, e, a julgar pelos padrões tal como Persefone, morreu e ressuscitou, e estava
terrenos, cometiam os mesmos pecados que seus associado aos festivais do inverno e da primavera. Os
criadores. E fácil de se ver, portanto, quão pouco valor seus cultístas criam que beber vinho ao ponto de
ético tinha tal pano de fundo a oferecer a qualquer chegar a certo êxtase, provocado pelo ingestão do
cultura. Naturalmente, muitos gregos rejeitavam tais vinho e pela dança, fazia com que o seu espírito
deuses antropomórficos; mas até mesmo nos tempos entrasse neles. Gradualmente essas práticas se
de Sócrates a rejeição aos deuses equivalia a traição. E transformaram em orgias sexuais. O culto de Dioniso
na «Apologia» de Platão vê-se que urna das acusações passou a ser identificado com esse tipo de moral
feitas contra Sócrates foi a de «ateísmo». (Mas essa degradada.
acusação não parece ter podido consubstanciar-se). O culto de Apolo - Apolo era o deus que punia, e
Em torno do âmago central dos ensinos acerca dos as suas flechas tiravam a vida de muitos homens.
deuses, desenvolveram-se diversos cultos de natureza Entretanto, teria funções muito mais amplas,
especializada. Na Acrópole (principal colina de porquanto era reputado o ajudador da humanidade, o
Atenas) foi construido o grande Partenon, em honra a pai da medicina, o inspirador dos poetas, dos videntes,
Atena, que veio a ser a principal deidade daquela e dos adivinhos. Assim é que muitos monumentos,
cidade, Isso tornou-se simbolo da unidade e do templos e santuários lhe foram construidos, e as
poderio da cidade. multidões criam que sua influência profética poderia
236
PERIODO INTERTESTAMENTAL
ser experimentada, e muitos profetizavam em seu nascimento de Cristo, e é justamente nesse dia que o
nome. Um de seus oráculos famosos era o de Delfos, e chamado Natal continua sendo celebrado na maioria
muitas ações eram determinadas por declarações da cristandade, até hoje.
proferidas dali. O culto de Isis. Era um desenvolvimento de uma
Asclépio, filho de Apolo, era considerado o médico religião egípcia, a qual, partindo de sua fortaleza no
divino. Asc1épio teria gerado dois filhos, que eram Egito, se foi espalhando por todo o mundo
pintados como curadores, nos tempos de Homero. E mediterrâneo. Sua teologia, tal como no caso de
também teria gerado uma filha, Higêia, deusa da alguns outros que já foram mencionados, se baseava
saúde. Havia um santuário dedicado a Asclépio, em na mudança das estações do ano. lsis e seu filho,
Atenas entre o teatro e a Acrópole, e que Paulo deve Horas, eram a original madona e seu filho do mundo
ter visto ao visitar essa cidade. Em realidade, os helenístico. Isis era a terra-mãe; Osiris era seu
santuários a ele consagrados eram numerosos por marido irmão, e era cultuado como espirito protetor
toda a Grécia. Os santuários dedicados a Asclépio da vegetação. Osiris tinha um irmão, Sete, que era
eram, para os gregos, o que os ho~pitais. são para nós; reputado como deus mau, e que por ISSO mesmo
mas também não eram muito diferentes dos representava o espirito do mal no mundo. Sete matou
santuários modernos da Igreja Católica Romana, e Osiris e ocultou o seu corpo. Mas Isis, auxiliada por
muitas curas milagrosas eram efetuadas ali, segundo outras divindades, encontrou o corpo de Osírís e o fez
se noticiava. reviver. Portanto, esse culto também girava em torno
De JDOdo ...., no mundo pagão antigo, pode-se de um símbolo de morte e ressurreição, que a
observar que cada terra, pais e te~tó!Í0' tinha seus principio provavelmente estava relacionado aos ciclos
próprios cultos e seus deuses nacionais. Entretanto, das estações, mas que gradualmente se tornou
devido à helenização produzida pela cultura grega, e questão de convicção religiosa pessoal, fomentando a
porque a cultura grega predominara sobre as ~~ais, esperança da imortalidade pessoal. Os Ptolomeus,
o mundo antigo, quanto às suas crenças religiosas, uma dinastia grega que governou o Egito após o
usava as idéias gregas como elemento sintetizador. falecimento de Alexandre, o Grande, parecem ter
Deuses antigos tinham seus nomes alterado~ paraas propagado esse culto em volta do mundo mediterrâ-
designações gregas. Nesse processo, novas dimensoes neo. Osiris foi absorvido pelo conceito do deus grego
eram acrescentadas aos conceitos gregos antigos. Os Serâpis (palavra formada de Osiris e Ápis). Uma
elementos se misturavam, e não era desconhecido o inscrição dedicada a Serâpis ainda pode ser vista
fato de que os devotos de um culto, geralm~nte, entalhada no pilar direito da porta de Sião, no muro
também eram devotos de outros. A Ãsia Menor tinha sul de Jerusalém. Foi posto ali por um porta-estandar-
um culto similar ao de Elêusis, centralizado em tomo te da terceira legião de Cirene, em cerca de 115 D.C.
de Cibele, a terra-mãe, e de Atis, seu amante, o Muitas moedas cunhadas após o começo do segundo
espírito da vegetação que morna anual~ente no século também trazem a imagem de Serápis, o Osiris
outono, e que se levantava dos mortos na primavera. helenizado.
Lê-se que muitos ritos bárbaros acompanhavam esse Religião romana. Pode-se caracterizar a religião
culto, e que os sacerdotes realmente decepavam os romana mais ou menos nos mesmos termos com que
seus órgãos genitais e os lançavam no altar d:e falamos sobre a filosofia romana. Em Roma e nas
Cibele, enquanto rodopiavam em u!Ua dança fren~tl áreas ao redor, houve um período paralelo às crenças
ca. Em outro rito, um devoto se deitava por debaixo politeístas dos gregos, e praticamente as mesmas
de um touro, - que era morto, julgando-se que o idéias se desenvolveram. Em fase da propagação da
sangue do touro limparia os pecados do devoto, e que cultura grega, designações romanas foram identifica-
assim este renasceria para a eternidade. das com deuses gregos, até o ponto de ser dificil
Mitra era o deus dos soldados. Esse deus foi encontrar qualquer diferença. Assim sendo, Zeus e
adorado a principio pelos antigos aria~os, q~e, Júpiter tornaram-se nomes intercambiáveis para o
subseqüentemente, levaram seu culto à Índia. Dali o mesmo deus. Afrodite e Vênus foram identificadas,
culto chegou à Asia Menor. Após o ano ~~ .67 A.C., como também Poseidom e Netuno, Hefaisto e
depois que os piratas das costas da Cilicia foram Vulcano, Demétria e Ceres, além de muitos outros.
derrotados Pompeu levou alguns dos cativos a Roma, Roma tinha crenças religiosas separadas, e também
e eles espaíharam o culto de Mitra ali também, pois festividades religiosas distintas, e atribuía aos seus
alguns desses cativos eram aderentes desse culto. A imperadores certa forma de divindade. Dai a religião
adoração a esse deus se propagou entre as tropas passou a ser identificada com opatríotismo, e o culto
romanas. No mundo romano, Mitra era identificado ao imperador foi, principalmente, a tentativa de
com o deus-sol. O rito central consistia no abate de preservar o patriotismo. Por causa disso se originaram
um touro e da ingestão de seu sangue. Dizia:se, as perseguições movidas por alguns imperadores,
igualmente, que Mitra morria no inverno e ressusc~ta como Nero e Domiciano, que se adoravam como
va na primavera. Os seguidores. do culto de MItra deuses e que exigiam essa adoração por parte dos
observavam o nascimento de Mitra a 25 de dezembro. outros.
Quando o cristianismo foi obtendo a ascendência
sobre esse rival (que durante algum tempo.fol o prmci-
pai rival do cristianismo, e!U. Roma), o antigo costume 9. Blb1loanfla: AM CLA(1940) CM EN ID SAM
e ritos foram sendo modificados em celebração do TeZ
287
PERIODO INTERTESTAMENTAL
10. DIAGRAMAS:
a. ISRAEl pERSIA EGITO SIRIA
ISRAEL IMP~RIO PERSA:
Data: '39-540 Ciro
538 Zorobabel 530-522 Cambises
Sheshbazaar: 522·486 Dario I
alguns voltaram aIerusalêm.
537 O começo da reconstrução
do templo 486-465 Xerxes I (Assuero)
Interrupção da construção do 464-423 Artaxerxes I
templo
520' A construção recomeçada
423-404 Dario IJ Nothus
516 O templo é completado
404-359 Artaxerxes IJ Mnemon
(3 de Adar. 10 de março)
359-337 Artaxerxes IJI Ochus
458 Ezra vai a Jerusalém 338·335 Arses
445- 336-331 Dario III Codomanus
433 O Templo de Neemias em 331-323 Alexandre de Macedônia
Jerusalém
ISRAEL EGITO SrRIA
324 Israel sob o domínio da Síria 323 Ptolomeu I Soter 312·281 Seleuco, I Nicator
282 Ptolomeu I Soter 285-246 Ptolomeu li, 281-261 Antíoco. I Sorer
Philadelphus
320 A Judéia torna-se parte do 261-246 Antíoco, 11 Theos
império de Ptolomeu. 246-222 Ptolomeu UI, Euergetes 246-225 Seleuco 11
anexada por Ptolomeu I 222-205 Ptolomeu IV. Philoparer 225·2H Se/cuco IH 50ter
A Palestina torna-se parte do 204·180 Ptolomeu V. Epiphanes
198 223-187 Antíoco 111. O Grande
império sírio. permanecendo
até os Macabcus
167-
40 Os Macabeus (hasmoneanos) 187-175 Seleuco IV
A libertação de Israel 175-163 Antíoco IV Epiphanes
Matatias. o pai. inspirou 163·162 Antíoco V
a revolta H'í2·150 Demétrio I
166-
161 Judas Macabeu
160-
143 Jonatan Macabeu
143- 139·129 Antíoco VII Sidetes
135 Símio Macabeu
135-
104 joão Hircano I
104·
103 Aristóbolo I
103-
76 Alexandre jannaeus
76.
67 Rainha Salomé Alexandra e
Hircano II
67-
40 Hircano II e Arisrõbolo II
63 Pompeu estabelece o prote-
torado romano; Israel é
dominado
40 Herodes o Grande apontado
como rei dos judeus
37·4 Governo de Herodes
PERloDO INTERTEBTAMENTAL
b. OS REIS sELEUClDAS
19. Seleuco VI Antíoco XI Filipe Demétrio III Antíoco XII (95-83. em conflito) Antíoco X
I
c. OS HASMONEANOJ
d. OS HEROD/ANOS
Foram Incluídas Todas As Referências Bíblicas
H/STORJA JUDA1CA DE 61 A. C. A 70 D. C.
l. Início do domlnio romano: 6J A.C ..... A.C. Poder indireto, luta entre
Roma e os hasmoneanos.
2. Poder indireto, governo de Herodes (sujeito a Roma): 40 A.C.-44 D.C.
3. Judéia. Samaria, Iduméia (que constitulam a provlneia romana <Ia
Judéia) governada por procuradores romano.r: 6 D.C.-41 D.C.
4. Palestina inteira governada por Agripa: 41 D.C.-44 D.C.
5. Palestina inteira governada diretamente por ROllllI, aUi à deslruiçlo
de Jerusalém: 44 D.C.-70 D.C.
PERIODOINTERTESTAMENTAL
r[
PÉRSIA
com muitos padrões complicados, onde iiguravam muralhas da cidade, etc. Sesbazar foi nomeado
imagens de homens e de animais foram produzidos. governador de Judá (Esd. 1:1-4), mas Esdras e
Os persas eram habilidosos no uso de metais, que Neemiasreceberam ampla autoridade para efetuar a
também foram usados em seus objetos de arte. restauração necessária. O governador «dalém do rio.
Pinturas miniaturas tomaram-se uma especialidade (a região a oeste do rio Eufrates), aparentemente sem
persa no período islâmico. Livros bem adornados e ter tido conhecimento do decreto de Ciro, tentou adiar
iluminados vieram a tomar-se uma parte notável no a obra; mas Ciro confirmou a ordem que dera, e os
desenvolvimento da arte persa. judeus obteram a sua solução de continuidade em seu
Obras de: arte refletiam o pendor dos persas pelos trabalho reconstrutivo. Os livros de Esdras e Neemias
jardins. Palácios e residências dos ricaços eram oferecem detalhes sobre a história dos judeus, nesse
construidos com jardins internos, e excelentes tempo.
representações dos mesmos sobreviveram até nós em Dario, e então seu sucessor, Xerxes I (487-465
obras de arte. A.C.), subiram ao trono da Pérsia. Este último foi o
A Rellallo Pena. Assuntos religiosos sempre foram marido de Ester, razão pela qual o livro de Ester
um elemento preponderante na literatura, na arte e fornece-nos o ponto de vista judaico da história da
em muitos aspectos da cultura persa. Os persas época, Podemos imaginar que ela fazia parte do
antigos reverenciavam divindades representantes da harém de Dario. A história secular nem a menciona,
natureza, da fertilidade e dos poderes celestes. A tribo motivo que tem levado alguns a pensar que o livro de
dos magos compunha-se, principalmente, de sacerdo- Ester é uma mera novela religiosa, duvidando eles que
tes, e exerciam grande autoridade. No século VI A.C., o livro reflita um relato genuino. Ver o artigo sobre o
Zoroastro foi o maior dos profetas persas, e a sua livro Ester, quanto a uma discussão a respeito.
influência jamais desapareceu. Ver o artigo intitulado Os tempos de Esdras ampliaram-se até o reinado de
. Zoroastrismo, Ele proclamou elevados ideais morais e Artaxerxes (465-424 A.C.), na Pérsia. Esdras atuou
religiosos, alieerçados sobre o conceito básico que diz: como uma espécie de Secretário de Estado para
«Faze o bem e aborrece ao mal•. Zoroastro concebeu Negócios Judaicos (ver Esd, 7:12). O copeiro-mor
um bem demarcado dualismo (vide): por uma parte desse monarca persa era Neemias, que, final-
haveria o deus bom, Ahura-mazda; mas, por outra mente, viu-se pesadamente envolvido na reconstrução
parte, havia o opositor, o poder maligno da maldade de Jerusalém, pois contava com o apoio e o
consumada. Dario I adotou o credo essencial de encorajamento da autoridade real. E, com o tempo,
Zoroastro; e mesmo quando o islamismo invadiu a Neemias foi nomeado governador de Judâ (ver Nee.
Pérsia, não conseguiu eliminar de todo o zoroastris- 8:9).
mo. Quase certamente, por igual modo, angelologias e Quando Alexandre, o Grande, fez a hegemonia
demonologias elaboradas, adotadas pelo judaismo passar para as mãos dos gregos, a lealdade dos judeus
posterior e até pelo cristianismo, têm por base simplesmente foi transferida para outra das grandes
histórica conceitos da religião persa. Em todos os potencias mundiais. Seus sucessores 'na Siria, os
periodos da história persa, os lideres religiosos têm monarcas selêucidas, foram finalmente derrotados
exercido uma enorme influência-basta que conside- pelos patriotas levíticos, os Macabeus, e Judá pôde
remos. Irã atual, com os seus ayatolahsl Estudiosos desfrutar, desse modo, de um periodo de independên-
maniqueanos, arianos e islâmicos cairam todos diante cia. Mas esse periodo terminou diante da interferên-
do feitiço do antigo misticismo iraniano, com sua cia romana, antes mesmo da eclosão do cristianismo.
filosofia meditativa. O sistema maniqueista, com seus
aspectos filosóficos e místicos, completo com uma V. A Pénla e o Crlltlanlsmo
elabora cosmologia, também era um fator de atração. Os persas como tal não são mencionados, nas
Quando o islamismo entrou na cultura persa, páginas do Novo Testamento; porém, associados a
separou-se em três seitas: os sia, os sufi e os dirdausi povos irmãos, como os medos. os partas e os elamitas,
(estes últimos notoriamente fatalistas e determinis- estiveram presentes por ocasião do Pentecoste,
tas). O filósofo religioso AI-Ghazali (vide), influen- segundo se vê no segundo capitulo do livro de Atos.
ciou a filosofia islâmica, judaica e cristã. Portanto, desde o começo, pessoas de descendência
persa estiveram vinculadas ao cristianismo. A Pártia
IV. A Pinta e a BlbIIa era um distrito a suleste do mar Cáspio, que fizera
Ao longo deste artigo, temos dado informações parte do império persa, conquistado por Alexandre, o
quanto a esse particular, razão pela qual aqui temos Grande. Esse foi um dos distritos para onde os
apenas um sumário. israelitas tinham sido deportados quando do exílio
Indiretamente, Ciro I, ao opor-se a Assurbanipal, assírio, onde os descendentes deles continuaram a
da Assiria, teve algo a ver com a história de Israel, falar o aramaico e a observar as formas religiosas
visto que a Assiria foi o poder que levou para o judaicas. Os partas que estiveram em Jerusalém no
cativeiro as dez tribos do norte, Israel. Ver sobre o dia de Pentecoste (ver Atos 2:9), talvez fossem
Cativeiro Asslrio, Esse cativeiro teve lugar em 722 descendentes de israelitas (provavelmente com con-
A.C. A Assiria foi sendo lentamente superada pela vertidos dentre os nativos). E assim a Igreja cristã,
Babilônia; e então foi a vez desta ser ultrapassada desde o inicio, absorveu uma certa porcentagem de
pela Média-Pérsia. Israel (a nação do norte) perdeu-se descendentes de cativos da deportação assiria de
irreparavelmente, visto que não houve retomo dos Israel.
seus.eativos. Mas Judá (o reino do norte) prosseguiu, O primeiro grande baluarte cristão na Pérsia foi a
o que significa que o povo de Israel, pelo menos em cidade de Edessa. Houve. segundo se pensa, uma
parte, continuou ai ser uma porção menor do quadro correspondência entre o principe de Edessa e o
histórico que envolveu as nações, durante algum apóstolo Judas Tadeu (Judas, irmão de Tiago),
tempo mais. Quando Ciro 11 conquistou a Babilônia, embora, mui provavelmente, isso envolva apenas uma
em 539 A.C., isso armou o palco para a volta de Judá ficção, sobre a qual Eusêbio tomara conhecimento. O
do cativeiro babilônico (vide). Ciro devolveu aos missionário e patriarca nestoriano, Mar Aba, foi
judeus os preciosos vasos que Nabucodonosor havia perseguido por seus contemporâneos zoroastrianos.
levado para a Babilônia (ver Esd. 1:7 ss), Além disso, Nestor viveu por volta de 400 D.C. Ele foi um dos
proveu as disposições legais para o retomo dos judeus patriarcas de Constantinopla (428-431 D.C.). Os
a Jerusalém, para a reconstrução do templo, das islamitas expulsaram da Pérsia os missionários sírios,
250
P~RSIA
Pequenos grupos de cristãos foram então suprimidos Tanto Ecbatana quanto Susã, importantes cidades da
mediante uma aberta perseguiçlo, que se prolongou antiga Pérsia, têm sido intensamente exploradas pelos
por séculos. Os perseguidos eram quase todos cristãos arqueólogos. De Ecbatana bem pouca coisa restou,
nestorianos e armênios. Muitos deles fugiram para mas foi descoberta uma inscriçlo na qual Artaxerxes
outros paises, assim diminuindo o número de cristãos 11 Mnemom (404-359 A.C.) celebrava a construção do
na Pérsia. Missões evangélicas modernas na Pérsia palácio real. Essa cidade foi uma antiga capital da
tiveram começo quando o míssíonârio inglês, Henry Pérsia, e um centro especial de atividades culturais,
Martyn foi para ali enviado (1781-1812). Ele traduziu conforme afirmam os relatos veterotestamentâríos, e
parte da Biblia para o. idioma persa. O bahaísmo que o Antigo Testamento chama de Susi. Ver Nee.
começou em Irã em 1884; embora tenha sofrido 1:1; Dan, 8:2; Est. 1:2. Atualmente, o local chama-se
sempre uma severa perseguição. Baba Ullah foi um Shush. Escavações ali feitas têm desenterrado um
profeta persa que afirmava ser sucessor de Maomé, o magnificente palácio real, que começou a ser
que o islamismo afirma não ser possível, pois o construido por Dario I, tendo então sido ampliado e
islamismo é uma fé estagnada, que pensa que o embelezado por reis que o sucederam. Belos tijolos
profeta final, enviado por Deus, foi o Maomé! Com o esmaltados decoravam várias porções do palácio.
surgimento da ortodoxia islâmica, o pouco que ainda Touros alados e grifos, bem como os famosos
restava de cristianismo no Irã tem sofrido horrendas lanceiros da guarda-real, foram representados em
provações e privações. relevo. Isso posto, a arqueologia tem confirmado a
VI. A Antueololla e a Pénia reputação persa de ter tido uma arte, uma literatura,
Arqueólogos do Instituto Oriental da Universidade uma arquitetura e uma ciência magnificas, algo sobre
de Chicago, nos Estados Unidos da América do o que temos discutido na terceira seção deste artigo.
Norte, têm escavado a antiga capital persa, Persépo-
lis, a respeito da qual apresentamos um artigo
separado, que inclui descobertas feitas ali por aqueles Bibl1ografia. AM BN CN CN(1948) E 10 LW NO S
pesquisadores. Esse material não é repetido aqui. UNZZAE
ARÁBIA
251
P~RSIDE - PERSONALIDADE
pBRsmE e teológicas. A expressão indica que, dentro de um
Esse foi o nome de uma mulher crente à qual Paulo único individuo (e, algumas vezes, dentro de um único
saudou. Ela era membro da i,p-eja cristã de Roma (ou corpo físico), pode haver duas ou mais personalidades
talvez de alguma cidade da Asia Menor, se o atual distintas, que convivem. De outras vezes. quando
capitulo dezesseis da epístola aos Romanos foi uma alguma dessas personalidades assume o controle. a
pequena epistola, enviada àquela área, que acabou consciência do individuo olvida-se inteiramente das
sendo adicionada à epistola aos Romanos; quanto a outras personalidades. Essa personalidade é realmen-
esse problema, ver o artigo sobre Romanos, em sua te diferente das outras. Mas, após algum tempo,
oitava seção, Integridade da Eplstola). Seja como for, alguma outra das personalidades passa a assumir o
o nome está obviamente relacionado à Pérsia. talvez controle, e o individuo toma-se diferente do que até
alusivo à sua ascendência persa. Ela era estimada pelo recentemente era. Em certos casos, o individuo tem
apóstolo dos gentios. que reconheceu ser ela uma consciência da existência das outras personalidades,
~sforçada em favor.do evangelho, dotada de profundo
sopitadas. quando uma outra está no controle. Em
interesse pela fé cristã, Juntamente com várias outras casos extremos (havendo disso alguns poucos registros
mulheres crentes, ela é alvo de comentários favoráveis documentados), as personalídades ' falam idiomas
da parte do apóstolo. Apesar de nada mais sabermos .difere!1tes. e até parecem ter idades diferentes. Alguns
acerca de Pérside, podemos ver como as mulheres pesquisadores veem msso meros casos de possessão
exerceram um importantissimo papel no soerguimen- demoniaca; mas outros percebem nesse estranho
to do cristianismo primitivo. fenômeno uma possivel demonstração da reencarna-
ção (vide). O raciocinio desses últimos estudiosos é
que o «eu» alternativo na realidade é o retomo da
PERSONA memória de uma personalidade anterior, que
algumas vezes. poderia impor-se novamente. '
Esse foi um termo usado por lana (vide) para aludir 2. Fato. Notáveis SobreaPenonalldade MiIldpIa
a como uma pessoa apresenta-se diante de seus O poder da mente sobre o corpo fisico é, realmente,
seme~a~tes (ou mesmo diante de si mesma). ~ como
imenso. A Intemational Society for the Study of
se. o. indivíduo usasse uma máscara que usa em Multiple Personality e a Rush-Presbyterian-St, Luke's
público, - sem nunca mostrar como ele é
realmente. • Medical Center, de Chicago, nos Estados Unidos da
América do Norte, organizaram uma conferência
sobre o assunto, em 1985, em Chicago, quando
PERSONALIDADE COLETIVA duzentos documentos foram submetidos a exame.
nesses estudos, emergiram os seguintes fatos:
E~a express~ refere-se à comum expresslo P.
a. Quando uma das personalidades é dominante, o
sentimento familiar, ou de um clã, tribo ou nação, individuo pode ser destro; mas, predominando outra
quando há laços de sangue ou vinculos sociais bem das personalidades, o individuo pode tomar- se
definidos. Também refere-se à solidariedade criada canhoto.
por uma história e um destino comuns. A idéia é b, Os traçados do encefalograma de diferentes
importante na teologia, quando aplicada ao conceito
de aliança do Antigo Testamento, bem como à nação personalidades variam, conforme esta ou aquela
de Israel, como veiculo da mensagem divina. Os personalidade assume o controle. Atores e atrizes que
conceitos neotestamentários da Igreja, da comunhão têm a capacidade de representar diferentes papéis,
dos sa~tos, e mesmo da idéia geral da redenção, estão não são capazes de modificar seus encefalogramas,
envolvidos nessa questão da personalidade coletiva. que permanecem os mesmos, sem importar quais
No quinto capitulo da epistola aos Romanos. Paulo papéis teatrais estejam sendo representados.
refere-se ao homem individual como parte do c. Uma personalidade pode ter diferentes alergias
Homem. encabeçado por Adão e por Cristo os de outra personalidade, apesar do fato de que um
cabeças federais da raça humana terrestre e da ~aça único corpo esteja sendo controlado.
humana celeste. Aquilo que acontece à coletividade, d, Uma personalidade pode usar óculos para
acontece também a cada membro da mesma. compensar por uma deficiência ocular qualquer, ao
Ademais, a redenção envolve o corpo de Cristo e não passo que outra personalidade pode ter visão perfeita,
meros individuos isolados. Outro tanto está en~olvido apesar do fato de que o par de olhos continua o
na doutrina da restauração (que vide), a qual haverá mesmo.
de unificar, no tempo certo, todas as familias de e. Uma personalidade pode sofrer de epilepsia, mas
Deus, homens remidos e anjos bons (Efé. 1:10). outra não.
f. Uma personalidade pode sofrer de cegueira para
cores, mas outra não.
PERSONALIDADE DE DEUS. A g. Em certo caso, uma pessoa estudada sofrera um
Ver sobre Pessoa. Deus Como Uma. Ver também envenenamento por chumbo; mas, tendo havido troca
sobre Personalismo e Personificação. de personalidades, o problema desapareceu.
. h. No caso de diabete, várias personalidades têm
diferentes graus de necessidade de insulina, embora,
~o 9ue pareça, nenhuma .das personalidades seja
PERSONALIDADE M(}LTIPLA
ínteíramente livre da necessidade de insulina.
Esboço: i. Em alguns casos raros, embora reais, há
1. Descrição Geral modificações culturais e de linguagem, conforme
2. Fatos Notáveis sobre a Personalidade Múltipla diferentes personalidades assumem o controle do
3. P~ssões Demoniacas e Personalidade Múltipla individuo. Esses casos, entretanto, têm sido anuncia-
4. O AJudador do Eu Interior dos por diferentes pesquisadores, e não pelos mesmos
5. Causas Presumiveis investigadores dos casos anteriores.
1. DeIcrIçIo Geral . O que se evidencia, em todos esses casos, é o
E~ ass~to, embora seja mais uma preocupação extraordinário poder da mente sobre o corpo fisico
da psicologia, tem profundas implicações metafisicas sem importar se a mente está sendo expressa por est~
252
PERSONALIDADE - PERSONALISMO
ou aquele fragmento de personalidade, ou se etc. E, finalmente, devemos considerar a \ causa
diferentes mentes estio ocupando um mesmo corpo' possível das possessões demoníacas, ainda que em
fisico ao mesmo tempo. uma bem menor porcentagem de casos (ver .sobre
3. Po.elllel ~ e PenoaaIIUde Máltlpla Possessão Demoníaca): e, conforme alguns crêem,
O Dr, M. Scott Peck, um dos ltderes do movimento alguns possíveis casos de reencarnação.
que visa integrar a psicologia e a espiritualidade, e Conforme sucede no caso de tantas outras coisas,
que é famoso psiquiatra e cirurgião, tem tratado de no presente caso defrontamo-nos com profundos
muitos casos de possessão múltipla. Em alguns casos, mistérios, que envolvem os seres humanos. Talvez
segundo ele opina, uma personalidade distinta pode uma pessoa, afinal de contas, consista em muitas
refletir algum ser espiritual separado. Ele tem podido pessoas, provenientes do passado; e, assim, no futuro.
obter verdadeiras dissociações de poderes malignos talvez haja toda uma famllia de personalidades, enio
que não pertencem, realmente, ao individuo vitima- apenas um individuo. Seja como for, parece
do, embora tais poderes já tenham podido controlar a indiscutível que mais de uma mente pode ocupar um
pessoa em alto grau. Com base em seus muitos anos corpo humano ao mesmo tempo, ou, então, que uma
de experiência, ele calcula que, em noventa e cinco única mente, assumindo diferentes modos de expres-
por cento dos casos, não há verdadeira possessão são, é capaz de afetar profundamente o corpo ftsico. E
demoniaca, não há qualquer traço da presença de uma mente diferente algumas vezes pode indicar um
algum espírito estranho. Mas, em cerca de cinco corpo diferente, ainda que esse corpo, aos nossos
por cento dos casos, ele. tem descoberto a presença de olhos, pareça continuar o mesmo.
espíritos malignos ou estranhos, envolvidos nos casos
de possessão múltipla. Ele também tem tido
dramáticas confrontações com poderes demoníacos, PERSONAUSMO
e com base nesta experiência recomenda que
nenhuma pessoa tente enfrentar sozinha tais situa- Esboço:
ções. Nesses casos, ele trabalha com a ajuda de uma I. Definições
equipe, e tem sido capaz de obter alguns notáveis 11. Informes Hist6ricos
exorcismos. Ver o artigo detalhado sobre Possessão IH. Idéias de Fil6sofos Específicos
Demonlaca. IV. Tipos de Personalismo
4. O AJucbldor cio Eu InterIOr V. Promoção de Suas Idéias Principais
Um outro interessante aspecto desse fenômeno é o VI. Influência do Personalismo Sobre a Teologia
chamado «ajudador do eu interior-o Ao que tudo I. DeftnlçIa
indica, temos ai a entidade ou pessoa real do ser, que A idéia filosófica fundamental envolvida no
se mostra interessada em ajudar o psiquiatra a personalismo é que o Conceito de pessoa deve ser a
integrar uma personalidade dividida. Alguns pesqui- preocupação final daqueles que buscam a verdade.
sadores declaram que esse «eu- interior (o individuo Quanto a definições léxicas do termo -pessoa-, ver o
ou entidade real) tem consciência de outras vidas artigo separado chamado Pessoa. Na filosofia, o
terrenas pelas quais já passou, nas quais manifestou personalismo é aquele sistema ou sistemas que
diferentes personalidades. E esse detalhe tem sido encontra nas pessoas as únicas realidades dominantes
utilizado como uma das sugeridas provas da ou metafísicas, bem como os únicos valores intrlnse-
reencamaçêo (vide). Apesar desse fator não ser uma cos e dignos de investigação. Por pessoa, entende-se
constante em todas as pesquisas, tal elemento merece
maiores investigações. Seja como for, usualmente há
uma espécie de «imago de personalidade», isto é, uma
personalidade principal à qual se atrelam personali-
dades secundárias. Um tratamento bem orientado
1[-
«uma substância individual, de natureza racional••
n.InfOl'lllelIlllté"'~
carga usualmente transportada por esse animal), mais mencionado somente em Levitico 14:10-24, para
ou menos o equivalente a um máximo de 134 litros. indicar a quantidade de azeite que se deveria usar no
Esse termo acha-se nos textos nuzianos e assirios do rito da purífícação dos leprosos. Portanto, seria o
império médio. equivalente a 0,2625 litro. A traduçi.o da Septuaginta
Não dispomos de evidências suficientes para usa o termo grego kotúle; e a Vulgata Latina diz
determinar as unidades cananéias de capacidade, sextarius, No Talmude calcula-se o legue como a
embora muitos acreditem que deveriam parecer-se quantidade de água deslocada por seis ovos de
muito com as do sistema mesopotâmíco. Sabemos, galinha, que alguns estudiosos têm calculado como
todavia, que o hmr (hômer) era uma unidade para 0,432 litro, em média, embora outros, conforme
secos, o que também acontecia à Ith (leteque). O Ig vimos, pensam em uma quantidade bem menor do
(logue) era outra dessas medidas de capacidade, que que isso.
tem sido encontrada na literatura ugaritica.
Quanto às medidas de capacidade, usadas entre os MedI.... de LIqaI-', DO AJdIIo T"1IIeDto
hebreus, elas nunca foram padronizadas, havendo até Hômer (coro) dez batos 189 litros
mesmo o fenômeno de düerentes designações serem Bato seis hins 18,9 litros
usadas para indicar a mesma unidade, em alguns Him doze logues 3,15 litros
casos. Também eram nomes usados para indicar
medidas para liquidos e para secos, mais ou menos Logue 0,2625 litros
como. se faz hoje com o moderno litro. Já entre os B. See., DO AatIao T........to
romanos, as medidas de capacidade chamavam-se 1. Hômer. No hebraico, chomer. Essa era a medida
quartario, sextarius, congius, um~ e ânfora. padrão para secos, entre os hebreus. No entanto,
Quando passamos a examinar a Biblia, no tocante também era chamado de coro, devido a assimilação
a medidas de capacidade. então poderemos dividi-las de dois sistemas diferentes, formando um s6. Essa
como segue: palavra vem de um termo hebraico que significa
«carga de um jumento». Os cálculos dos especialistas
A. UqaI-., ao Aatllo T........ variam muito, quanto a essa medida, oscilando desde
1. Bato. No hebraico, bath. No grego, bétos cerca de 134 litros, passando por 230 litros, e, mais
(somente em Luc, 16:6, onde nossa versão portuguesa antigamente, chegando até 387,64 litrosl Sabe-se
diz -cado-). Essa era a medida padrão dos hebreus somente que era equivalente ao coro, e que continha
269
PESOS E MEDIDAS
dez batos ou elas (ver Eze, 45:11-14). Esse dado 25:18; I Reis 18:32; 11 Reis 7:1,16,18. Por falta de um
permite-nos fazer um cálculo melhor, conferindo-lhe termo português correspondente, nossa versão portu-
a capacidade de 189 litros. O hômer era usado para guesa traduz essa palavra por «medidas, e muito
medidas regularmente grandes, nas páginas do dificil determinar a sua capacidade, embora alguns
Antigo Testamento. Servia de medida grande para estudiosos tenham calculado sua capacidade como o
cereais (Eze. 45:13; O~. 3:2). Um hômer de cevada equivalente a 12,93 litros. Erubin, do Talmude
valia cinqüenta síclos de prata (Lev. 27:16). Como babilônico diz que a seah do deserto equivalia ao
uma exceção, foi medida usada para medir as volume de 144 ovos de galinha, ao passo que a seah de
codornizes que os israelitas apanharam no deserto. Jerusalém seria igual a 173 ovos de galinha, ou seja,
Essas aves chegaram a cobrir o solo a uma um sexto maior que a seah do deserto. E a seah de
profundidade de dois côvados, por um dia de marcha Seforis (uma medida sagrada, usada em cerimônias
em torno do acampamento de Israel. Como eles religiosas) equivaleria a 207 ovos de galinha.
ficaram recolhendo essas aves o dia inteiro e a noite 6. Omer. No hebraico, omer; no grego, g6mor, que
inteira, bem como o dia seguinte, «... 0 que menos aparece na Septuaginta. Não se deve confundir essa
colheu teve dez ômeres» (Núm. 11:32). Se um hômer medida com o hômer, embora, na grafia portuguesa,
equivalia a 189 litros, então isso daria o equivalente a as duas palavras sejam escritas da mesma maneira.
1890 litros de codornizes, o que nos dá uma idéia da Entretanto, essa palavra hebraica só apareee no relato
glutonaria dos israelitas, naquela oportunidade. sobre o recolhimento de maná (ver Exo, 16:13-36).
Lemos em Isaias 5:10: «...e um ômer cheio de semente Representava a ração de um dia, para cada individuo.
não dará mais do que um efa», Ora, o efa era a Por isso mesmo, no sexto dia da semana, dois ômeres
décima parte do hômer. Isso exprime uma maldição precisavam ser recolhidos, para serem consumidos na
imposta às terras arráveis, por causa dos pecados dos sexta-feira e no sábado. E um ômer de maná deveria
israelitas. ser guardado como memorial (Êxo, 16:32-34). Em
2. Coro. No hebraico, kor, Ver, por exemplo, Eze. Êxodo 16:36 é identificado como equivalente a uma
45:14. Era uma medida de capacidade igual ao ômer. décima parte de um efa, o que fazia do ômer uma
Era uma medida grande para cereais (ver I Reis 4:22; medida igual ao issaron ou «décima parte», conforme
5:11; 11 Crê, 2:10). Era uma medida para secos, se lê em Êxodo 29:40. Nesse caso, equivalia a 1,89
embora o trecho de Ezequiel 45: 14 dê a impressão de litro.
que era uma medida para líquidos, como o azeite. Tal 7. Issaron, Provavelmente era apenas um outro
como o hômer, continha dez batos. Uma pedra de nome para o ômer, porquanto valia uma décima parte
coloração ferrugem, com meio hômer de peso, usada de um efa. Em nossa versão portuguesa, além de
há cerca de três mil anos passados, em Jerusalém, foi outras, aparece apenas como «a décima parte», em
encontrada pelos arqueólogos. Êxo, 29:40, além de aparecer como medida para
3. Leteque. No hebraico, lethek, Essa palavra cereais, nos textos litúrgicos (Êxodo 29:40; Lev.
ocorre exclusivamente em Osêias 3:2, no trecho onde 14:10,21 etc.). Nossa versão portuguesa diz nesses
se lê: «Comprei-a, pois, para mim por quinze peças de versiculos do livro de Levitico, «dizima de um efa•.
prata, e um ômer e meio de cevada». Corresponde à 8. Cabe. No hebraico, kab, um termo que figura
palavra «õmer», em nossa versão portuguesa, o que é exclusivamente em 11 Reis 6:25, embora nossa versão
um erro. O fenício Ãquila, Simaco, Teodóclo e a portuguesa prefira não usar a palavra, dizendo:
Vulgata Latina interpretam essa palavra como «meio «...um pouco de esterco de pombas....., quando
coro•. Nesse caso, equivaleria a 94,S litros. Todavia, deveria dizer «...um cabe de esterco de pombas..... Na
alguns estudiosos permitem-se duvidar dessa avalia- verdade, no original hebraico o texto está um tanto
ção daqueles antigos escritores. corrupto, sendo compreensivel que várias traduções e
4. Ela. No hebraico, ephah. No egípcio, 'pt. Era versões prefiram evitar diretamente a palavra. Josefo
uma medida para secos, e usada por muitas vezes no (Anti. 9.4,4) considerava que um quarto de um cabe
Antigo Testamento (ver Deu. 25:14; Pro. 20:10; Miq. equivalia a um sextarius (no grego, kséstes), Alguns
6:10). Equivalia a uma décima parte do hômer (ver calculam o cabe como um dezoito avos do efa. Isso
Eze, 45:11), pelo que teria 18,9 litros. No entanto, no seria equivalente a 1,05 litro.
trecho de Zacarias 5:5-11, o efa que aquele profeta viu 9. Mão~Cheia. Em adição às medidas para secos,
em visão denota um espaçoso receptáculo com tampa, mais bem definidas, conforme vimos acima, no
suficientemente grande para conter uma mulher de Antigo Testamento também encontramos freqüentes
nome «Iniqüidade•. Essa efa tinha de ser bem maior expressões como: «mãos-cheias de cinza. (Exo. 9:8),
que o efa comum, para poder conter uma pessoa em «um punhado da flor de farinha. (Lev. 2:2), «um
seu interior. O efa comum é mencionado por nada punhado como porção memorial. (Luc. 5:12), «um
menos de trinta e seis vezes no Antigo Testamento, punhado de farinha. (Reis 17:12), «punhados de
conforme se vê, por exemplo, em Exo. 16:36; Lev. cevada. (Eze. 13:19). De fato, no hebraico há nada
5:11; 6:20; 14:10,21; 19:36; Núm. 5:15; 28:5; Deu. menos de sete vocábulos ou expressões que as
25:14; Jui, 6:19; Rute 2:17; I Sam. 1:24; Isa. 5:10; traduções e versões geralmente traduzem por «punha-
Eze, 45:10; Amós 8:5, etc. do.., «mão-cheia», «porção», etc.
O efa precisava ser uma medida justa, exata (Lev. MedidM p.... Secos, do A. T.
19:36; Deu. 25:15); não podia ser pequeno demais
(Amós 8:5; Miq. 6:10). Os israelitas não podiam usar Hômer (Coro) 189 litros dez efas
dois efas diferentes, um grande e outro pequeno (Deu. Leteque (1/2 hômer) 94,S litros cinco elas
25:14; Pro. 20:10). Também são mencionadas frações Efa (1110 do hômer) 18,9 litros 10 seahs
de um efa, como em Eze. 45:13; 46:14-um dezesseis Seah (1/3 do efa) 6,3 litros
avos de efa; Lev. 5:11; 6:20; Núm. 5:15; 28:5-uma 3113 ômers
décima parte de um efa. Era empregado para medir Omer (1/10 do efa) 1,89 litro 14/5 cabe
farinha de trigo, cereais, cevada, grãos tostados, mas Cabe (1/8 do efa) 1,05 litro
jamais Iiquidos. No caso de líquidos, o equivalente era
o bato (vide).
5. Seah. No Antigo Testamento, essa palavra
hebraica figura por nove vezes: Gên. 18:6; I Sam. •••••••••
260
PESOS E MEDIDAS
C. MecllcIM DO No't'O T"1IIIIeIIto Testamento, isto é, «pedra» (no hebraico, eben), Até
Dentre todas as medidas para líquidos, que damos os nossos próprios dias os aldeões usam pedras
acima, somente o bato pode ser encontrado no Novo achadas no campo como pesos. Eles selecionam
Testamento (Luc. 16:6, -cados», segundo a nossa algumas pedras que sejam aproximadamente do peso
versão portuguesa). E de todas as medidas acima, que eles desejam. Um outro vocábulo que algumas
para secos, somente duas também figuram no Novo vezes era usado para indicar um peso era eben-kis,
Testamento. Essas duas medidas são a seah (no «surrão de pedra», o que indica que o transporte de
grego, sâton, que a nossa versão portuguesa traduz pesos, em uma sacola ou surrão era um costume bem
por «medida..-Mat. 13:33) e o coro (no grego', kôro«, estabelecido na antiga nação de Israel (Pro. 16:11;
que a nossa versão portuguesa traduz acertadamente Miq. 6:11).
por «coros-e-Luc. 16:7). O sáton era uma medida de No periodo inicial da história de Israel, o dinheiro
capacidade mui comumente usada por todo o império não era usado como padrão de valores para trocas e o
romano. Equivalia a 10,91 litros, ou seja, quase a comércio em geral. E isso porque as moedas só foram
metade de um efa dos hebreus. Os hebreus, introduzidas entre os israelitas já durante o periodo
entretanto, usavam três medidas diferentes com o persa, quando a monarquia era coisa do passado em
mesmo nome, seah; e isso complica bastante o Israel. Portanto, antes disso, as transações eram feitas
quadro. Outras medidas encontradiças no Novo mediante a prática do escambo (a troca de
Testamento são as seguintes: mercadorias entre si, como a de uma ovelha por certa
1. Choiniks, que nossa versão portuguesa traduz quantidade de cereal, ou por um dado peso em ouro
por «medida.. (ver Apo. 6:6), era uma medida grega ou prata). Assim sendo, a despeito de tão abundantes
para secos, com a capacidade de, aproximadamente, informações que os arqueólogos têm conseguido
1,1 litro. recolher em suas pesquisas, nenhum sistema definido
2. Chestes, No grego, kséstes; no latim, sextarius, de pesos jamais foi encontrado em todo o antigo
Esse era o nome de um vaso doméstico, cuja Oriente Próximo e Médio. Havia uma grande variação
capacidade equivalia, mais ou menos. a 0,642 litro. nos pesos usados porque havia sistemas independen-
Ver Marcos 7:4, onde a nossa versão portuguesa diz tes, que variavam de região para região, sem falarmos
«vasos». no fato de que também havia variações de
3. Metretas, No grego, metretês. Era uma medida conformidade com as mercadorias oferecidas A venda.
de capacidade para Iíquídos, equivalente a cerca de 39 Os padrões de peso, entre os hebreus eram tão
litros. A Septuaginta mostra-se insegura a respeito, inexatos que essa variedade de que estamos falando
pois traduz várias medidas hebraicas por metreta, o existia até mesmo no caso de pesos com a mesma
que é impossivel. Josefo, entretanto, disse que a inscrição, ou seja, marcados como se tivessem um
metreta era equivalente ao bato (ver Anti. 3.8.3; mesmo valor de peso.
8.2,9). Ora, se o bato (ver acima) equivalia a 18,9 Conhece-se a unidade básica de pesos no antigo
litros. como poderia equivaler à metreta, que tinha 39 Egito, que era o deben . Esse padrão, entretanto,
litros? Com base nas descobertas arqueológicas, segundo as descobertas arqueológicas o têm demons-
porém, sabe-se agora que havia metretas com várias trado, variava desde cerca de 13,43 g até cerca de 19 g.
capacidades, o que explica a discrepância. Uma jarra Mas, como o Antigo Testamento nunca menciona
encontrada entre as ruinas de Qumran tem permitido quaisquer dos pesos egipclos, não nos damos ao
que os arqueólogos calculassem a metreta em 45,4236 trabalho de catalogá-los aqui para o leitor. Importa-
litros; sem dúvida uma metreta grande. Mais uma nos muito mais o sistema de pesos que havia entre os
vez, vê-se a falta de uniformidade total entre as hebreus.
medidas antigas, sobretudo entre os hebreus. Ver O sistema hebreu de pesos derivava-se do sistema
João 2:6, exclusivamente. cananeu, que, por sua vez, tinha sido recebido dos
4. M6dio. No grego, môdios; no latim, modius: Era babilônios. A palavra hebraica para peso é shakal, de
uma medida para secos, equivalente acerca de 8,49 onde também se deriva o termo síelo. O siclo era a
litros. Nossa versão portuguesa a traduz por unidade básica de peso entre todos os antigos povos
«alqueire», em Mar. 4:21 e Luc. 11:33. Ninguém semitas. No acádico chamava-se siqlu. Os pesos
acendia uma lamparina para então cobri-la com uma assírios e babilônios não se ajustavam a um padrão,
dessas medidas. emborcada, como é óbvio. A medida mas antes, variaram muitíssimo com a passagem dos
«môdio.., usada em Jerusalém, nos tempos helenistas e séculos-até mesmo uma mudança de governantes
romanos, era equivalente ao modius itálico. podia resultar na modificação dos padrões de peso, ao
5. Libra. No grego, lttra; no latim, libra. Com o sabor do capricho dos mandantes. Interessante é que
equivalente a 0,3548 litro, a libra era usada tanto os pesos usados na Mesopotâmia estavam alicerçados
como um peso quanto como uma medida de sobre uma base sexagesimal (múltiplos de sessenta ou
capacidade. Essa foi a quantidade de ungüento que fração). Em comparação com isso, os egípcios
Maria usou para ungir os pés do Senhor Jesus (João pareceriam mais modernos para nôs, pois o seu
12:3). Nicodemos, por sua vez, trouxe uma mistura de sistema era decimal. O sistema babilônico deixou,
mirra e aloés com o peso de cem libras (35,48 kg), a contudo, sinais até mesmo na civilização moderna,
fim de ungir com a mesma o corpo de Jesus (João pois o sistema de dividir a hora em sessenta minutos, e
19:39). o. minuto em se~sealntabsebguilp.~os deDuriva-se daquele
sistema sexagesun a omco, tros valores
IV. Medida de Pelo babilônicos de peso eram a mina (no acâdíco, manu;
As evidências arqueol6gicas são muito mais no hebraico maneh}, o talento (1;10 acâdico biltu) e a
abundantes !Ia caso de m~didas de peso do que no gera (no acádico, giru). Isso posto, o sistema
caso de medidas de compnmento, área e capacidade babilônico pode ser facilmente representado desta
~m ~ande nú~ero ~e pesos, com a forma de pedr~ maneira: um talento = 60 minas; uma mina = 60
mscntas e não-ínscrítas, representando um sielo ou sidos; um sido = 24 geras. Os mesopotãmícos
suas frações, tem sido encontrado na Palestina. O fato também tinham pesos chamados «reaís», sempre o
de que a maioria dos antigos pesos, usados entre os dobro do comum. Assim, um talento real valia cento e
, heb~u~, que têm sido encontrados pelos arqueólogos, vinte minas, etc. Um siclo de ouro valia dez sielos de
consístía etp. pedra ~ura ~~~.se napalavra ge,ral prata. De acordo com o sis~ma mesopotâmíco maís
que a Biblia usa a fim de mdicar peso, no Antigo comumente empregado, o siclo pesava 8,4 gramas.
261
PESOS E MEDIDAS
Alguns dos pesos assirios eram moldados na forma paga por 603.550 homens, atingiu cem talentos,
de leões de metal, com a boca aberta e cauda mil setecentos e setenta e cinco sic1os, o que deixa
levantada, com um símbolo impresso ao lado, que claro que cada talento estava dividido então em três
mostrava qual era o valor daquele peso. A fim de que mil sic1os. Isso pode significar tanto que havia
essas figuras de leões se aproximassem o mais possível sessenta minas de cinqüenta sic1os, como que havia
do peso ali determinado, pedacinhos de metal eram cinqüenta minas de sessenta ciclos. Um peso de dois
tirados ou preenchidos na forma oca do peso. Assim. talentos, encontrado em escavações, em Lagase, e que,
um leão de bronze, com o peso marcado de dois terços atualmente, se encontra no Museu Britânico, em
de mina, foi encontrado no palácio de Salmaneser, rei Londres, Inglaterra, apresenta um peso de cerca de
de Assur. E um peso de trinta minas, com o formato 30.3 kg por talento. E pesos de uma mina,
de um pato. esculpido em basalto negro, foi provenientes de vãrios periodos históricos, até o
encontrado no palácio de Eriba-Marduque 11 império neobabilônico, mostram que o peso do
(688-680 A.C.-foi o seu reinado). Uma antiga talento foi mantido em oscilação, durante muitos
pedra babilônica, com as palavras inscritas «verdadei- séculos, entre 28,38 kg e 30,27 kg, R muito provável
ro peso de meia mina.., com o peso real de 244,8 que esse mesmo talento fosse o padrão tanto na Síria
gramas, foi encontrada. Isso daria à mina o peso de quanto na Palestina.
489,6 gramas. Uma outra dessas pedras, inscrita B. Mina. No hebraico, maneh . Aparece apenas mui
«verdadeiro peso de uma mina.., ao ser aferida, raramente no Antigo Testamento (ver I Reis 10:17;
entretanto, resultou em 978,3 gramas. Como é óbvio, Esd. 2:69; Nee. 7:70; Eze. 45:12; cf. Dan. 5:25). De
essas duas pedras representavam a mina-leve e a mina acordo com o sistema babilônico. estas eram as
pesada, que havia na antiguidade. relações: um talento = sessenta minas; uma mina =
Conforme já deixamos claro, o sistema dos hebreus sessenta sidos. Em Ugarite, porém, há provas de que
derivava-se do sistema cananeu, que, por sua parte, havia uma mina de cinqüenta sidos. O trecho de
derivara seu sistema da Mesopotâmia. Isso posto, os Ezequiel 45: 12, define a mina como equivalente a
sistemas metrológicos nessas duas regiões do mundo, sessenta sidos. O trecho, no original hebraico. agora
a grosso modo, eram idênticos, excetuando que a traduzido, diria: «... a mina será para vinte sic1os, e
mina cananéia continha cinqüenta sidos, e não vinte e cinco siclos e quinze sidos.., resultando em
sessenta. Assim também em Israel, antes dos dias do uma mina de sessenta sidos, tal e qual no caso da
profeta Ezequiel, conforme evidências, havia uma mina babilônica. Aquela maneira de contar, no
mina de cinqüenta sidos. Alguns dos textos ugaríticos trecho de Ezequiel que citamos, é incomum,
determinam pesos de acordo com sidos «pesados », sugerindo que havia pesos de quinze, de vinte e de
Além disso, em Ugarite, o talento tinha apenas três vinte e cinco sic1os, e que este último era uma mina de
mil sidos. e não três mil e seiscentos. Certa coleção de cinqüenta sidos, tal e qual havia em Ugarite,
pesos, de Ugarite, que aparecem em certos textos, Também há evidências de que na Israel prê-exílíca o
indica um siclo leve de 9.5 gramas, além de alusões padrão comercial era o talento, assim dividido: um
a um sido pesado, com exatamente o dobro desse talento = cinqüenta minas = dois mil e quinhentos
valor, isto é, 19 gramas. Outros textos ugarítícos, sidos. No trecho de Êxodo 21:32, uma multa de trinta
encontrados em Ras Sharnra referem-se ao kkr (o sidos foi imposta, no mesmo caso em que o famoso
talento dos hebreus) e ao tkl (o siclo dos hebreus). código de Hamurabi impunha meia mina. A mina
antiga, mui provavelmente, pesava entre 550 e 600
O .atema hebreu de computaçlo de pesos seguia o gramas. Mas, de acordo com o sistema que
sistema decimal, e não o sistema babilônico transparece no livro de Ezequiel, a mina já aparece
sexagesimal, A unidade básica era o sic1o; e os seus com o peso de cem gramas. Isso posto, as flutuações
múltiplos eram a mina e o talento. A mina aparece de peso. entre uma época e outra, são tão grandes que
mencionada nas páginas do Antigo Testamento desafiam toda a nossa tentativa de estabelecer um
apenas com muita raridade (ver I Reis 10:17; Nee. valor preciso para a mina.
7:71). Há uma certa confirmação de que as unidades
assinas e hebréias eram idênticas, pelo menos em C. Siclo, No hebraico, shakal, que significa «pesar...
algumas instâncias. Diz a passagem de 11 Reis 18:14: Esse era o peso básico, usado nas antigas metrologias
«Então o rei da Assina impôs a Ezequias, rei de Judá, dos povos semíticos, Todavia. é mister adiantar. logo
trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro», de salda, que não havia peso uniforme para o siclo, na
Nos anais de Senaqueribe, rei da Assíria, a respeito do antiguidade. Até mesmo pesos inscritos com os
mesmo incidente. é indicada a mesma quantidade de mesmos sinais não tinham os mesmos pesos entre si,
ouro, embora a quantidade de prata apareça como porquanto havia pesos leves e pesados, comuns e
oitocentos talentos, e não trezentos; e a similaridade reais. Vários especialistas têm calculado o valor do
entre os dois relatos é bastante interessante. Os pesos síclo como equivalente, em gramas, entre 11.3 e
gregos chamavam-se estâter, mina e talento. Já os 11,47. O trecho de Ezequiel 45:12 afirma que o sido
pesos romanos, denominavam-se dracma, sido, mina pesava vinte geras, e que a mina era igual a sessenta
e talento, em ordem crescente, isto é, cada vez mais sidos.
valiosa. O Aatiao T. . . . . .to refere-se a frações do sido.
A. Talento. No hebraico, kikkar, porquanto esse Assim, meio sido (Êxo, 30:13), um terço de síclo
peso deriva o seu nome do fato de que se trata "de um (Nee. 10:32), um quarto de sido (I Sam. 9:8). E o
peso em forma circular. Era a mais valiosa das trecho de Ezequiel 45: 12 parece redefinir a mina
unidades, e entre os babilônios tinha o nome de biltu, como se contivesse sessenta sidos. Abraão pagou pelo
O talento dos babilônios tinha o peso de 30,13 kg, campo de Macpela «quatrocentos sidos de prata
estando dividido em sessenta minas de 0,5021 quilo
cada. Nossa palavra portuguesa, talento, vem do
moeda corrente entre os mercadores..(Gên. 23:16).
possível que essa expressão tenha sido usada para
e
latim, tendo partido do grego tâlanton, -que significa distinguir esse peso do «siclo do santuãrio.., de vinte
«peso... Com freqüência, é mencionado nos livros geras (cf. Êxo, 30:13). I;: possível que essa distinção
históricos do Antigo Testamento. mas raramente no explique por que motivo Neemias (ver Nee, 10:32)
Pentateuco (ver );,xo. 25:39; 37:24; 38: 24-Q9). De disse que a taxa do templo era de um terço de sido, ao
acordo com o trecho de Êxodo 38:25,26. a taxa do passo que, no Pentateuco, isso aparece como uma
santuário, de Uma beca (ou meio siclo), por cabeça, beca ou meio sielo (ver Êxo, 38:26).
262
PESOS E MEDIDAS
o peso ánuãl dos cabelos aparados de Absalão, que valor para o siclo, mediante decreto oficial, sem
alguns estudiosos têm calculado em mil e oitocentos falarmos no uso de pesos diferentes para pesar
gramas, refere-se ao sido pelo padrão do «peso real» diferentes mercadorias, a influência de sistemas
(11 Sam. 14:26). Essa referência evidencia o fato de metrológicos estrangeiros, e variações ocasionais,
que, até mesmo em tempos tão remotos quanto os devido ao manuseio descuidado na preparação e
dias de Davi, jâ havia um padrão oficial, com o qual conservação dos pesos envolvidos. Todavia, parece
qualquer peso poderia ser confrontado. Ao estabele- que as evidências mostram que quanto maior o peso,
cer um padrão assim, Davi estava tio - somente menor era a unidade do siclo ali contida. Um sumârio
copiando a prâtica de outros monarcas do passado. diria o seguinte: havia três valores padrão para o siclo:
Uma cópia de um peso de pedra de uma mina, a. o sido do templo, ou nsp, com cerca de dez gramas,
preparada a mando de Nabucodonosor (605-562 que acabou depreciado para cerca de 9,8 gramas; b. o
A.C.), foi confirmada como estando de acordo com o sielo ordinário, de cerca de 11,7 gramas, que chegou a
padrão estabelecido por Sulgi, rei de Ur (cerca de ser depreciado para cerca de 11,4 gramas; e, c. o siclo
2000 A.C.). E um grande peso, nlo-marcado, pesado de cerca de 13 gramas.
proveniente de TeU Beít Mirsim, provavelmente igual D. Gera. Esse peso era uma vigésima parte do siclo
ao peso de oito minas, di ao siclo um peso de 11,41 (ver Êxo, 30:13; Lev. 27:25; Núm. 3:47; Eze. 45:12).
gramas. A beca é o único peso cujo nome aparece Ê muito provâvel que essa palavra, de origem
tanto no Antigo Testamento quanto em pesos babilônica, passando pelo hebraico, venha de uma
recuperados pela arqueologia. A beca equivalia a palavra que siFfica «grão». De conformidade com o
meio sielo (ver Êxo, 38:26). Sete pedras com a sistema babilonico cada siclo valia vinte e quatro
inscrição bq' foram encontradas. O peso delas varia geras, e não vinte. Assim, um peso equivalente a 2,49
entre 5,9 gramas e 6,65 gramas, dando uma média de gramas, proveniente de Sebastiyeh, inscrito com hms,
6,04 gramas. Cinco outros pesos com inscrição, provavelmente representando cinco geras, foi encon-
dentro das mesmas variações. fazem com que o peso trado pelos arqueólogos. E um outro peso, encontrado
da beca seja de 6.02 gramas. Isso significa que no mesmo local, trazia a inscrição «um quarto de nsp,
podemos fazer uma média, com base nesses dados, e meio sql», Essa inscrição, pois, tende a confirmar a
dizer que o siclo valia 12,02 gramas. Isso posto, teoria de que o nsp corresponde ao sido de vinte geras
parece que o simbolo que se assemelha a um oito com de Ezequiel. A gera tem sido calculada como
a parte superior' decepada ~), que tem sido equivalente a cerca de 0,571 gramas.
encontrado em pesos de cerca de doze gramas é um E. Beca. A beqa dos hebreus vem de um verbo que
emblema antigo para indicar o siclo. No entanto, significa «separar», «dividir". Tem sido traduzido por
alguns estudiosos postulam que esse cálculo estâ «meio siclo», em Gênesis 24:22, com base no que se lê
por demais exagerado, visto que o peso encontrado em Êxodo 38:26, «isto é, meio siclo, segundoo siclo do
em TeU Beit Mirsim, acima mencionado. empresta ao santuário». A beca é o único peso antigo que é
sido um valor de 11.41 gramas; e o peso médio de mencionado tanto no Antigo Testamento como
outros dezessete pesos desses, com a marca dosíclo, é também tem o seu nome inscrito em pesos
de 11.53 gramas. Várias teorias têm sido propostas recuperados pelos arqueólogos. Além disso, é o único
como explicação para o simbolo do sielo, o oito com a peso cuja relação com o siclo é dada na Bíblia,
parte superior cortada, mas nenhuma dessas tentati- conforme se vê nesse trecho de Êxodo 38:26. Ao que
vas é satisfatória. Alguns têm sugerido que esse parece, a beca era o mais antigo padrão de peso do
emblema teve origem egípcia, outros pensam em uma Egito, tendo sido encontrado em lugares pré-históri-
origem babilônica ou persa. cos do periodo amartiano. No Egito era o peso
O chamado «siclo do santuârio» (Êxo. 30: 13,24; geralmente usado para a avaliação do ouro. Sete pesos
38:24-26; Lev. 5:15; NÚm. 3:47, etc.) seria igual ao de pedra, inscritos bq', - foram achados pela
valor de vinte geras. Algumas traduções dão essa arqueologia. variando o seu peso entre 5,8 e 6,65
mesma expressão como -síclo sagrados, Algumas gramas, com uma média de 6,04 gramas. Cinco
autoridades no assunto pensam que seu valor era outros pesos com inscrição também devem ter sido
diferente do sielo ordinário. Talvez aluda a um peso becas, dando um peso médio de 6,02 gramas. Isso é
padrão, guardado no recinto do tabemâculo e do um tanto superior a outros cálculos, que parecem
templo, embora isso não nos seja informado pela sugerir um peso médio de 5,712 gramas para a beca.
própria Bíblia. F. Netsefe, Esse não é um peso mencionado nas
páginas da Bíblia, Por causa de sua similaridade com
Outro. ........... têm sido achados. contribuin- a palavra árabe nusf, «metade», nome tanto de uma
do mais ainda para a confusão reinante na moeda quanto de uma medida, alguns estudiosos têm
determinação do valor do siclo, visto que tais pesos conjecturado que a netsefe era a metade de alguma
sugerem um sistema com um siclo de peso levemente coisa. Esse era um peso que também aparecia
superior, ou seja. de cerca de 13 gramas; e alguns dividido em frações. Assim, um peso em forma de
especialistas pensam que esse tipo de peso era usado fuso, que agora se encontra no museu Ashmoleano,
para pesar certos tipos de mercadorias. Assim, de Oxford, na Inglaterra, traz a inscrição «um quarto
sabe-se que em Ugarite duas palavras eram de netsefe-. Pesa 2,54 gramas, o que corresponderia a
empregadas para indicar o síclo, isto é, tql e kbd, e 10,16 gramas para o netsefe. A netsefe, como jâ
que o siclo «pesado. era usado para pesar linho dissemos, era a metade de alguma coisa, mas não
tingido de púrpura. Um peso, encontrado em el-Jib pode ter sido a metade do siclo usado entre os
Pritchard, com 51,58 gramas. e assinalado «quatro hebreus. Dentro do sistema ugaritico, a Mp, segundo
síclos-, faz o siclo ter um peso de 12.89 gramas, o que se tem aventado, seria o siclo «leve,., equivalente a
é confirmado por um outro peso marcado -cínco-. metade do siclo «pesado», E· também tem sido
Assim sendo, essas e outras descobertas arqueológicas sugerido que esses pesos de netsefe, encontrados na
semelhantes, não nos permitem determinar o peso Palestina. teriam sido perdidos ali por negociantes
exato do siclo, na antiguidade. As variações cananeus.
.encontradas, conforme mostramos nos exemplos
dados acima, podem ser atribuidas a vârios fatores, G. Pim, O pim é mencionado em uma única
como a tendência para depreciar padrões com a passagem biblica. Durante séculos, porém, essa
passagem do tempo, estabelecendo assim um novo passagem parecia incompreensivel para os tradutores,
263
PESOS E MEDIDAS
até que se descobriu um peso com esse nome. A a um peso. Somente a libra, que no grego é lltra,
passagem é I SamueI13:21, onde se lê: «... e "não se refere-se a um peso (ver João 12:3 e 19:39). Conforme
podia nem aguçar uma aguilhada», segundo a nossa já vimos em III.5, Libra. tem sido calculado esse peso
versão portuguesa. Entretanto, com aquela descober- como o equivalente a 0,3548 litro ou quilograma.
ta arqueolôgica, tem sido possivel dar uma tradução Todavia, ajuntamos aqui que alguns estudiosos
mais exata, conforme se vê, por exemplo, na Revised pensam que a libra seria equivalente à libra romana,
Standard Versíon, em inglês, onde se lê (aqui vertido em cujo caso teria 0,327 litro ou quilograma.
para o português): «...cobrava-se um pim para amolar V. lU Balança
os arados e os machados». B possivel que o pim Essa palavra, no hebraico, moznayim (sempre no
represente duas terças partes de um sielo, ou seja, 7,8 plural), ocorre por dezesseis vezes: Lev. 19:36; Jô 6:2;
gramas, se tomarmos como base o siclo ordinário, de 31:6; Sal. 62:9; Pro. 11:1; 16:11; 20:23; Isa. 40:12,15;
11.7 gramas. De fato, sete pesos, trazendo a inscrição ler. 32:10; Eze. 5:1; 45:10; Dan. 5:27; Osé, 12:7;
pim, variam entre 7,18 gramas e 8,59 gramas, com
Amós 8:5; Miq. 6:11. E também peles, somente em
uma média de 7,762 gramas, bastante aproximada do Isa. 40: 12. No grego, zug6s (Apo. 6:5).
cálculo que fizemos linhas acima. Essa palavra pode
ser de origem estrangeira, pelo que não se sabe o seu Para que fossem úteis, os pesos precisavam ser
sentido em hebraico, embora tivesse sido absorvido usados em balanças, geralmente com dois pratos
esse nome dentro do sistema de pesos usado pelos equilibrados, conforme se vê até hoje em dia.
antigo hebreus. Os alimentos eram medidos muito mais por
H. Arrâtel, Essa palavra encontra-se em nossa volume, ao passo que os metais, sim, eram
Biblia portuguesa como tradução do termo hebraico aquilatados por peso. Os itens pequenos eram
maneh; e no Novo Testamento, aparece no original pesados em balanças de dois pratos. Essas balanças
grego como mnã, Ver I Reis 10:17; Esd. 2:69; Nee. ou eram apoiadas sobre uma haste verticalvcentral,
7:71,72; e também: Luc. 19:13-25. E, por igual modo, ou então eram penduradas por uma corda. O desenho
aparece em I Macabeus 14:24; 15:18. Ver também não diferia praticamente em nada das modernas
sobre Mina, mais acima. balanças de dois pratos. A balança graduada, com
I. Quesita. No hebraico, qesitah . Esse vocábulo
base no principio do nivelamento, s6 veio a aparecer
hebraico aparece por duas vezes somente, em já no século IV A.C., pelo que não era conhecida nos
dias do Antigo Testamento. Havia uma classe oficial
Gên. 33:19 e J6 42:11; cf. também Jos. 24:32. Nossa dos especialistas em pesagens, muito conceituados e
versão portuguesa traduz essa palavra por «peças de influentes nos dias antigos. Esses oficiais já eram
dinheiro», na primeira dessas referências; em J6 atuantes desde os dias do antigo império egípcío. O
42: 11, nossa versão portuguesa prefere nem falar em rei Burraburiâ, de Caraduniase, escreveu uma carta
outra coisa, senão em «dinheiro». Josuê 24:32, ao rei do Egito, Faraó Amenhotepe IV, queixando-se
segundo nossa versão portuguesa, também fala em que as vinte minas de ouro que lhe haviam sido
«peças de prata». Não se sabe qual o valor da quesita. enviadas por aquele Faraô não se equiparavam aos
Talvez a Septuaginta nos ajude, porquanto ali a padrões, quando testadas na fornalha. Como se vê, o
palavra é traduzida por «cordeiro», em Gên, 33:19, e ludibrio nos negócios não é um apanágio dos
por «cordeira», em Jos. 24:32 e em Jô 42:11. Talvez se negociantes modernos I Cenas do Livro dos Mortos,
trate de um peso de metal com o formato de um dos egípcios, mostram os corações dos mortos sendo
cordeiro, ou, então, com a quantidade de prata pesados em balanças, diante do deus Osíris, E uma
suficiente para se comprar um desses animais. Mais figura similar, embora com outra conotação, é
do que isso, não tem sido possível deslindar, quanto a empregada no trecho de Daniel 5:27, quando
esse antigo peso mencionado no Antigo Testamento. apareceu um escrito misterioso na parede do salão de
1. Peres. Esse é outro termo que, provavelmente, banquete de Belsazar: «Tequel: Pesado foste na
deva ser incluído na relação de pesos que são balança, e achado em falta». Isso dá a entender que,
mencionados apenas por uma vez em todo o Antigo de acordo com os padrões da justiça divina, Belsazar
Testamento (ver Dan. 5:25,28, no aramaico). No fora rejeitado por Deus.
acádico peres, no plural, parsin: Nessa passagem de
ê
Daniel aparece juntamente com a mina e com o siclo. Os esforços no sentido de estabelecer pesos e
Com base no siclo ordinário de 11,7 gramas, medidas honestos são antiqüissimos. O código legal
poderiamos atribuir os seguintes valores para os pesos de Ur-Namur, fundador da 111 Dinastia de Ur (cerca
no Antigo Testamento: de 2050 A.C.), continha pesos e medidas oficiais, na
tentativa de desencorajar a desonestidade nos
Tabela de Pe.olI do ADtIao T_ _to negócios. E um antigo hino sumêrio, dedicado à
deusa Nanse, contém uma passagem denunciando os
Um talento (de três mil siclos) 35,10 kg malfeitores, os quais «substituem peso grande por um
Uma mina (de cinqüenta siclos) 0,585 kg pequeno, e uma medida normal por uma medida
Um siclo 11,7 g pequena». Como é apenas natural, no Antigo
Um pim (2/3 de síclo) 7,8 g Testamento também há grande ênfase sobre a
Uma beca (meio síclo) 5,85 g necessidade do emprego de medidas e pesos justos e
Uma gera (1120 do siclo) 0,585 g honestos, dando a entender que era mister proibir
medidas abusivas comuns, nesse campo da atividade
L. Pesos no Novo Testamento. Nas páginas do Novo humana. As leis leviticas requeriam que se fizessem
Testamento há bem poucas alusões a pesos. O talento transações honestas (ver Lev. 19:35,36). O profeta
(no grego, tálanton) (ver Mat. 18:24; 25:15,16,20,22. Ezequiel também exaltou a importância dos pesos e
23,25,28) refere-se, nessas passagens a certa soma em das medidas justos. «Tereis balanças justas, efa justo
dinheiro, e não a pesos; e somente em Apo. 16:21 é e bato justo» (Eze. 45:10), Ver os trechos de Já 31:6 e
que há alusão a um peso. Lemos ali: «... desabou do Provérbios 16:11. Am6s também denunciou a
céu sobre os homens grande saraivada, com pedras utilização de balanças enganosas (ver Amôs 8:5,6). A
que pesavam cerca de um talento...» Pedras de 35 kgl passagem de Deuteronômio 25:13 também calca
Sem dúvida, uma chuva de meteoritos. A mina (no sobre essa questão: «Na tua bolsa não terás pesos
grego, mnã; ver Luc, 19:13-25), como é patente, diversos, um grande e um pequeno». Além disso, uma
refere-se, igualmente, a uma soma em dinheiro, e não bênção divina foi prometida àqueles que usassem de
264
PESOS E MEDIDAS - PESSOA
pesos e medidas corretos: «Terás peso integral e justo, fraco, transitório e ilusório. A vida não seria digna de
efa integral e justo: para que se prolonguem os teus ser vivida, afinal de contas, porque termina na
dias na terra que te dá o Senhor teu Deus» (Deu. tragédia. Schopenhauer acreditava na reencarnação,
25:15). 'Vale dizer, o ladrão, que usa de balança mas pensava que isso sô serve para continuar a
enganosa e de sofismas e desonestidades nos neg6cios, miséria. O deus dele era uma Idéia absurda e
geralmente morre cedo I Outras passagens que irracional, que somente quer continuar existindo, e
denunciam a prática, muito comum, de balanças fazendo outras coisas existirem, mas sem nenhum
alteradas, são as seguintes: Pro. 11:1; 20:23; Osé, propósito. O caos prevalece; a condenação predomi-
12:7 e Miq. 6:11. na; esse deus é insano, e quer continuar existindo em
O Talmude contém regulamentos estritos a respeito meio à miséria, com grande empenho. Schopenhauer
das atividades comerciais, conforme se percebe na via esperança na possibilidade de que esse deus algum
seguinte citação: «Um lojista deveria limpar suas dia desejará que todas as coisas cessem de existir; e
medidas duas vezes por semana, seus pesos uma vez então haverá descanso.
por semana, a sua balança ap6s cada pesagem» (B. No mundo dos pessimistas, todos os ideais
B. vs. 10). Como parte integrante de sua mensagem finalmente vêem-se frustrados. A felicidade seria algo
profética, Ezequiel recebeu ordens para dividir seus transitório e ilusório; o bem não prevalece, afinal; e
cabelos em três porções iguais, com o auxilio de uma beleza jamais poderá vencer a feiúra; a cultura e o
balança (ver Eze. 5:1). Menção simbólica a balanças progresso são meros fraudes, O mal, e não o bem, é o
encontra-se em trechos como Jô 6:2; Sal. 62:9 e verdadeiro poder que governa este mundo.
Daniel 5:27. Jô solicitou que a sua vida fosse
aquilatada em uma balança justa (ver Jô 31:6). E, no O CrlItbudmao e o ....m ....o. A teologia
Novo Testamento é enfatizado não somente que ocidental (a da Igreja Católica Romana e de seus
usemos de medidas justas, mas até de medidas filhos desviados, protestantes e evangélicos) caracteri-
generosas, dentro daquelas palavras do Senhor Jesus: za-se por uma escatologia extremamente pessimista.
«... dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, Ela ensina, antes de tudo, que os homens só podem
sacudida, transbordante, generosamente vos darão; encontrar a salvação em um único periodo de vida
porque com a medida com que tiverdes medido vos terrena, e que a morte física assinala o fim da,
medirão também» (Luc, 6:38). oportunidade de salvação; e então ensina que a
grande maioria dos homens, que obviamente não
VI. Condado encontrou a salvação nesse tempo absurdamente
Com base no estudo que aqui encerramos, pode-se breve, está perdida para sempre; e então, havendo
notar que não havia padrões de pesos e medidas perdido tal oportunidade, as almas queimarão para
suficientemente fixos, nos dias bíblicos, que nos sempre nas chamas do inferno, nos mais excruciantes
capacitem a determinar equivalentes métricos exatos. sofrimentos que se pode imaginar. Mas a teologia
Diferentes paises contavam com diferentes padrões, e oriental apresenta um quadro mais esperançoso,
até mesmo regiões diversas, em um mesmo pais, contradizendo a teologia ocidental. A Igreja Ortodoxa
contavam com diferentes padrões. E isso variava Oriental e a Comunidade Anglicana têm uma visão
também de época para época. Com freqüência, havia mais otimista da salvação, afirmando que a
dois padrões em vigência, ao mesmo tempo, o comum oportunidade de salvação não termina quando da
e o real, o leve e o pesado. As pesquisas arqueológicas morte biológica (ver I Ped, 4:6). Cristo tem-se
nos fornecem informações suficientes apenas para ocupado de uma missão tridimensional (na terra, no
determinarmos valores aproximados. E não se pense hades, e nos céus); e essa missão obteria um sucesso
que isso se restringe aos tempos bíblicos, refletidos no marcante. A minha própria opinião a respeito é
teor das Sagradas Escrituras. A Enciclopédia bastante otimista, afirmando que Deus redimirá os
Britânica, em seu verbete Weightsand Measures eleitos e também restaurará aos não-eleitos. Ver o
(<<Pesos e Medídas-) dá-nos a informaçãode que os artigo Restauração, no que tange a uma declaração
estudiosos têm podido encontrar, no mundo, nada sobre esse ponto de vista. Ver também sobre o
menos de trezentos e oitenta e seis diferentes padrões Mistério da Vontade de Deus e sobre a Descida de
que envolvem medições de comprimento, peso, Cristo ao Hades, que abordam essa visão mais
capacidade e área. Diante disso, até que a confusão otimista da existência humana. Homens pensantes
que se reflete na Bíblia parece muito modesta I certamente reconhecerão que a teologia ocidental
promove uma visão pessimista do destino da
humanidade (excetuando para um número ridicula-
PESSIMISMO mente pequeno), o que virtualmente anula o amor de
Essa palavra vem do latim pl•• Im...., «pior., Deus (Deus amou o mundo; mas isso não teria feito
superlativo de malum, «mau». Popularmente, esse grande diferença, afinal). Cristo também fez comple-
termo indica a disposição de assumir uma visão ta expiação (ver I João 2:2); mas isso também não fez
tristonha da vida, uma atitude oposta do otimismo, grande diferença, em última análise. Homens
uma visão esperançosa das coisas. A sua definição sensíveis, pois, sentir-se-ão infelizes ante esse alegado
filosófico-teológica é mais radical. Nesses campos, o fracasso de Deus. Os calvinistas chegam a dizer que
ponto de vista é que a própria existência constitui um Deus falhou propositalmente, distorcendo os versícu-
mal, e que seria até melhor que o homem não tivesse los que falam sobre o amor de Deus, que eles aplicam
vindo A existência. Naturalmente, nesses campos há somente ao grupo dos eleitos, e não ao mundo de
niveis diversos de pessimismo. Uma variedade todos os homens. Essa é uma teologia simplesmente
intermediária é que as coisas são más, mas não tão absurda, sem importar quem a esteja ensinando.
más que seria melhor que nem existisse a vida. As
pessoas podem tolerar certas coisas bastante más, e PESSOA
ainda assim não desejarem a morte. Essa palavra portuguesa vem do latim, penoII&,
Schopenhauer (vide) introduziu o termo -pessímis- que corresponde ao vocábulo grego pr6.s0pon, «rosto».
mo» na filosofia. Para ele, o mal é algo real, A referência original era à máscara usada pelos atores
persistente, duradouro, e, finalmente, predominará, no palco. Jung, em sua palavra, persona, reteve esse
apesar de algumas coisas boas que possam acontecer sentido primitivo, referindo-se Aquilo que um
ao longo do caminho. O bem, por outra parte, seria indivíduo representa ser, uma «máscara» que usa em
265
PESSOA - PESSOA. DEUS COMO UMA
público, parte da atuação teatral em que estâ esse termo é ali comumente usado como sinônimo da
envolvida. A pessoa real é outra questão. O termo alma individual. Essa pessoa é ímpar, dotada de uma
grego veio a significar ..fisionomia». Finalmente, missão ímpar, ou mesmo de vãrias missões, mas que
porém, esse termo adquiriu o sentido de ser humano perfazem uma única missão. Quanto a esse conceito
individual. Esse é o uso comum na linguagem ver o artigo sobre Novo Nome e Pedra Branca.
moderna que essa palavra retém. 14. Deus como uma Pessoa. Ver o artigo separado
IdéIa ..... F1IÓlIOfos • ReIpelto: intitulado Pessoa. Deus como uma.
1. Epicteto e outros pensadores estóicos usavam a 15. A natureza da pessoa consiste na consideração
palavra para indicar um individuo, como um ser daquilo que um individuo é. Ver o artigo geral sobre
dotado de uma tarefa e de um propósito especiais na Homem. Ele é material (ver sobre o Materialismo)?
existência, que lhe teriam sido atribuídos pelo Logos, Ele é apenas espiritual (ver sobre o Idealismo)? Ele é
a Razão Universal. material e espiritual ao mesmo tempo (ver sobre o
2. Na lei romana, essa palavra era usada para Dualismo)? O homem é um ser tríúno, ou é
indicar o individuo que tinha direitos e deveres. constituído de quatro elementos ou mais? Ver os
3. No cristianismo, o termo adquiriu grande artigos intitulados Sobre-ser; Dicotomia - Tricoto-
importância nas doutrinas de Cristo e da Trindade mia; Alma; e, especialmente, Natureza Humana.
(vide; ambas). Hâ uma única substância divina; mas 16. Identidade Pessoal. Os filósofos e os teólogos
hâ três hípôstases ou pessoas, em uma única discutem sobre de quantas maneiras um individuo
substância. pode falar sobre si mesmo como uma pessoa, agora e
4. Em Cristo, hâ a mesma essência (phúsis) divina, continuamente. A discussão acima, com suas vãrias
a mesma possuída pelo Pai e pelo Espirito Santo. Isso idéias acerca do que estâ envolvido no termo ..pessoa»,
unifica-os em um único Ser. Mas ele (o Logos, que se aborda esse problema.
chamou Jesus Cristo em sua encarnação) é uma
pessoa ou hipôstase distinta. Outrossim. a natureza PESSOA, DEUS COMO UMA
de Cristo (a sua pessoa) tem um aspecto divino e outro Deus serâ uma força cósmica? Deus é composto
humano. Portanto, em Cristo combinaram-se duas pela natureza inteira (panteísmo)? Deus é uma
naturezas, em uma única pessoa. Ver o artigo pessoa, em qualquer sentido, conforme conhecemos e
Cristologia, definimos as pessoas? Até que ponto podemos aplicar
5. Para Boethius, uma «pessoa» era uma substância corretamente aquilo que sabemos sobre as pessoas ao
individual de natureza racional. Ele retinha a Mysterium Tremendum que é Deus? Essas aplicações
identificação de pessoa com hipôstase, porventura apenas nos afundam mais ainda no
6. John Locke identificava a pessoa com a lamaçal do antropomorfismo? Consideremos os
autoconsciência e com a memória. De acordo com pontos abaixo:
essa definição, uma pessoa pode deixar de existir, 1. As Religiões Primitivas. Coisa alguma é mais
contanto que a memória ou a auto-identidade sejam comum, nas religiões primitivas, do que a idealização
anuladas. Segundo esse ponto de vista, é possível que de deuses como pessoas, dotadas de características
a substância humana sobreviva além da pessoa ou humanas comuns. Xenófanes queixou-se dizendo que
individuo, considerado em sua materialidade. Na se os babuinos tivessem deuses. esses deuses
reencarnação (vide), por exemplo, de acordo com essa certamente seriam apenas superbabuinos. - Nas
idéia, uma única alma pode tomar-se várias pessoas, religiões primitivas, os deuses eram amantes e
ao longo de sua existência. A mesma coisa poderia destruidores; eram nobres e enganadores; eram
acontecer a um individuo, em um único período de dotados de propósito e eram caóticos. tal e qual são os
vida na carne, se perturbações psiquicas viessem a seres humanos.. A tendência da fé religiosa é ir
anular a sua pessoa. Um caso radical de tal fenômeno limpando aos poucos o conceito de Deus. E também
chama-se Personalidade Múltipla (vide), quando um tenta destacar as qualidades transcendentais da
homem pode ser vãrias pessoas no decurso de sua divindade e diminuir as atribuições antropomórficas.
vida. Há um detalhado verbete sobre esse fenômeno, 2. A Antiga Fé dos Hebreus, No livro de Gênesís,
nesta enciclopédia. encontramos Deus andando pelo jardim do Êden,
7. Fichte supunha que postulamos o eu e o não-eu; falando com Adão como um amigo. Temos aí o real
e isso entenderia que a pessoa e a não-pessoa são misticismo. No livro de Êxodo, vemos Moisés
poderes da mente humana (ver o artigo Idealismo). entrevendo Deus pelas costas, como se ele tivesse
Assim sendo, uma pessoa seria a construção do algum formato humano e pudesse ser visto por quem
processo e do fato da autoconsciência. tivesse a oportunidade e a coragem para vê-lo. Mas, à
8. Scheler definia a pessoa como a unidade do ser medida que avança o relato do Antigo Testamento,
concreto de alguém. Uma pessoa faria um conceito de Deus vai-se tomando mais e mais transcendental. Ele
si mesma com base no seu conhecimento metafisico. continuava enviando mensagens aos homens. mas não
mais se mostrava tão acessivel. O trecho de João 1:18
9. F. C. S. Schiller identificava a pessoa com o lado diz que ninguém, realmente, viu a Deus em qualquer
espiritual e intencional da natureza humana. e não tempo. I Timóteo 6:16 é passagem que diz que Deus
com uma entidade, natural ou espiritual. Isso fazia habita em ..luz inacessível». Isso é um detalhe mais
com que esse termo aludisse às funções, e não à apreciado pelos teólogos modernos, que objetam à
substância. natureza intensamente antropomórfica de certos
10. Whitehead dizia que o homem compõe uma trechos do Antigo Testamento. Ademais, os teólogos
ordeira sociedade pessoal. Outros elementos existi- usam o termo teofania para aludir às manifestações
riam como o que é orgânico e o que é inorgânico. de Deus, afirmando que o que podemos saber de Deus
11. Sartre pensava na pessoa como uma invenção é aquilo que ele resolve revelar-nos, mas que a sua
.que identificava a cada individuo. e julgava que é verdadeira natureza permanece insondável e desco-
errado pensar que cada pessoa tem qualquer nhecida para nós. Isso posto, a busca por Deus é
realidade permanente. eterna. Nunca chegará o tempo em que saberemos
12. Jacques Lacan dizia que uma pessoa é um categorizar a Deus, quanto à sua natureza básica e
assunto que vai passando. verdadeira, embora essa tentativa faça parte de nossa
13. No cristianismo, a pessoa é permanente, pois inquirição eterna, mesmo lã nos céus.
266
PESSOA - PESTIL~NCIA
3. Uma Pessoa. Seja como for, sabemos que a PESSOA DE CRISTO
Bíblia fala sobre Deus em termos pessoais, atribuiu-
do-lhe características humanas comuns, levadas a Ver sobre Ctütologla.
uma potência máxima. O artigo chamado Atributos
de Deus ilustra detalhadamente essa atividade. PESTIL2NCIA
Permanece em dúvida, porém, quanto dessa tentativa
de descrição pode, realmente, ser aplicada ao Deus. No hebraico, deber; no grego, lolmóe. A palav,-a
Supremo, e quanto não passa de uma fraca tentativa hebraica significa, primariamente, «destruição», O
de dizer algo significativo a respeito de Deus. Assim, Antigo Testamento usa esse termo hebraico por cerca
falamos sobre as perfeições divinas nas áreas da de cinqüenta vezes, apontando para coisas como a
inteligência, do poder, das qualidades morais-como fome, animais ferozes, enfermidades, destruições,
a bondade e o amor. Mas Deus também aparece como etc. As pragas do Egito foram pragas notáveis, que
um Ser que se ira, uma emoção humana negativa; e envolviam um propósito divino (ver Bxo. 5:3), e os
muitas pessoas enfatizam esse lado acima de tudo. termos são freqüentemente usados em conexão com os
4. Via Negativa; Via Positiva (Via Eminentiae), A juizos divinos contra o pecado. Ver Lev. 26:25, nessa
conexão.
via negativa procura dizer-nos o que Deus é ao dizer o
que ele não é. Essa forma de descrição não nos deixa Nos dias em que não havia antibióticos e nem
esquecer que a linguagem humana é inadequada para cuidados médicos significativos, a pestilência era um
dizer muita coisa acerca da verdadeira natureza de espantalho dos povos. Ver a oração de Salomão por
Deus, embora suas obras possam ser melhor descritas Israel, nessa conexão, em I Reis 8:37. O Salmo de
Prot~ão (91) promete a proteção divina acerca da
por nós. A via positiva, por sua vez, toma os atributos
e características humanos e eleva o grau dos mesmos "estllencia, apresentando os anjos como protetores'
até à potência do omnis. O homem sabe algo; Deus (vss, 10,11). Lembro-me que nos dias de minha
sabe tudo (Ele é onisciente). O homem tem algum juventude, antes do aparecimento da vacina contra a
poder; Deus tudo pode (ele é onipotente, etc.). Esse poliomielite, quando chegava o tempo de algum surto
método positivo também é chamado via eminentiae, dessa doença, minha mãe socorria-se. do Salmo 91,
«caminho da eminência», Porém, o quanto esses como proteção. Continuam havendo várias enfermi-
métodos são capazes de transmitir é algo que dades contra as quais dispomos de pouca proteção, e
permanece na dúvida. Temos exposto artigos confiamos na vontade de Deus, em combinação com
separados sobre cada uma dessas vias. nosso destino, como proteção. Essa circunstância
ilustra nossa dependência da providência de Deus, ao
Âs evidências óbvias que observamos todos os dias mesmo tempo em que exibe a fraqueza humana, algo
indicam que Deus é um ser altamente poderoso ~ sobre o que os homens até relutam em pensar. Uma
irãeligente, características essas que implicam que ele das promessas do paraiso é que todas as enfermidades
é uma pessoa, embora além de qualquer definição serão ali coisa do passado (ver Apo. 21:4; 22:2).
humana atual.
Jeremias e Ezequiel enfatizaram o aspecto de juizo
S. O Existencialismo. Os teólogos dessa escola de divino das enfermidades. Israel e Judâ teriam de ser
pensamento concebem Deus como o mistério eterno, atingidas por pragas, em face da desobediência. Os
jamais desvendado. Deus é o alvo continuo de buscas cativeiros também eram ameaças; e houve tanto o
e pesquisas, que sempre mostrarão ser imperfeitas. exílio quanto as pragas. Jesus declarou que os últimos
Deus é verdadeiramente transcendental, embora suas dias se caracterizariam por grandes pragas, algo que
manifestações possam ser observadas por nós. A estamos começando a ver de uma maneira temive1.
atribuição de características humanas (pessoais) a Basta pensarmos na AIDS. Ver Mat. 24:7; Luc,
Deus é algo precário, para dizer-se o minimo. Sem 21:11. Justamente quando a ciência pensou que
dúvida o antropomorfismo fracassa (ver o artigo com estava avançada na sua luta contra as enfermidades,
esse nome). tendo aprendido a controlar muitas bactérias, eis que
6. Âté Onde Vão as Evidências? À parte das apareceram vários vírus, de modo súbito e misterioso.
referências biblicas,· .dispomos das evidências dadas Provavelmente mutações estão envolvidas nesse
pela natureza. Ali vemos os reflexos de grande poder e fenômeno, combinadas com condições favoráveis ao
inteligência. Dai concluimos que é legitimo pressupor contágio de grande número de pessoas.. .
que Deus é dotado de poder e inteligência, e essas são Algumas pessoas religiosas exageram a questão,
características próprias de uma personalidade. Entre- atribuindo à atividade dos demônios todas as
tanto, isso ainda não nos permite pensar em Deus enfermidades. A demonologia (vide) tem provas
como uma pessoa, no mesmo sentido que conferimos absolutas de que espiritos malignos podem causar e
aos nossos semelhantes; e também não podemos realmente causam enfermidades. A mente também
transferir para Deus os atributos de personalidade. pode fazer uma pessoa doente ou saudâve1. Mas é
Essas evidências naturais conferem-nos algum conhe- ridículo pensar que todas as enfermidades.têm apenas
cimento; mas isso ainda não soluciona os grandes uma dessas causas. No entanto, esse é um fator que
mistérios que cercam a pessoa de Deus. não pode ser ignorado. Os estudos feitos mostram que
7. O Mysterium Tremendum, Ver o artigo separado até enfermidades como o câncer podem ter forças
com esse titulo. Algumas vezes é mais sábio dizer espirituais malignas por detrás, para nada dizermos a
pouca coisa do que tentar entrar em pormenores. respeito de desordens nervosas e doenças psicossomá-
Quando falamos acerca de Deus, certamente sentimo- ticas.
nos limitados em nosso conhecimento e em nossa Os juizos divinos incluem desastres naturais, a
experiência. Pensamos em Deus como uma Pessoa, e guerra, a fome, a pestilência-armas que Deus usa
hâ evidências a favor dessa idéia. Mas esse contra as perversões dos homens (ver 11 Sam, 24:15);
conhecimento é apenas um principio, que não Por' outra parte, é ridicula a afirmação de que' «um
consegue encontrar solução para o Mysterium bom crente não pode apanhar câncer», conforme se
Tremendum que é Deus. Mas, pelo menos, é verdade ouvia dizer, há algumas décadas atrás. As enfermida-
que a revelação de Deus nos é conferida de maneira destêm muitas causas, e podem ter razões que vão
pessoal, e que Deus se toma pessoal para nós, além da teoria simplista que diz: «o mal causa as
mormente na pessoa de Jesus Cristo, o Lagos enfermidades...
encarnado. Até nessa questão encontramos mistérios. Uma
267
PETITES - PETRARCA
enfermidade pode atuar como medida disciplinadora. impressionantes figuras esculpidas, que são as
No caso de Jô, por exemplo, é'claro que ele não estava fachadas muito ornamentadas de templos e túmulos.
enfermo por causa de algum pecado que tivesse Quando se entra ali, há aposentos escavados que, na
cometido, embora fosse um pecador. Mas a causa de realidade, são cavernas, sem qualquer tentativa de
sua enfermidade jazia nos misteriosos conselhos da ornamentação. Essas estruturas pertencem, quase
vontade de Deus. No entanto, a imortalidade haverá todas, ao período dos nabateus. Também há outras
de curar todas as enfermidades. Ver o artigo separado ruínas de interesse, que já pertencem à arquitetura
sobre o Problema do Mal, que aborda a questão de grega posterior, incluindo uma grande residência, um
por que razão o homem sofre. anfiteatro, um convento, uma cidadela e um palácio.
Os romanos edificaram ali estradas pavimentadas,
banhos, vários edificios públicos e o teatro que se
PETITES PERCEPI10NS acabou de mencionar.
Expressão francesa que significa «pequenas percep- Essa cidade foi capturada por Amazias, rei de
ções». Leibnitz acreditava que uma pessoa está Judâ, no século IX A.C. As referências bíblicas ao
constantemente registrando percepções e conceitos, lugar são Juí. 1:36; H Reis 14:7; Isa. 16:1 e 42:11 (nas
abaixo do limiar da consciência. E aplicou esse nome quais a cidade é chamada Sela). Quando os romanos
àquelas formas de percepção. Quanto mais aprende- apossaram-se da cidade, tomando-a dos nabateus,
mos sobre a psicologia e os poderes da mente e do tornaram-na capital romana da província de Arábia
Petrêia, Durante a era cristã, foi estabelecido ali um
cérebro, mais essa idéia vai sendo confirmada. bispado cristão.
Petra fora uma capital edomita, uma capital do
PETlTIO PRINCIPD reino nabateu, e então a capital de uma província
romana, o que demonstra sua importância histórica.
Expressão latina que significa «tomar uma questão Foi uma fortaleza notável, e também um lugar de
como provada», dentro da linguagem da argumenta- culto pagão.
ção. O alegado debatedor não quer debater coisa Os A'rqueálogos e suas Escavações. As ruínas de
nenhuma, pois já sabe a conclusão a que deseja
chegar. Nenhum argumento é capaz de convencê-lo. Petra foram escavadas por W.F. Albright e outros,
. EI: toma com.o questão adredemente provada o que em cooperação com a expedição Melchett, em 1934.
V81 debater, e jâ sabe todas as respostas; assim sendo,
F oi então examinado o chamado Lugar Alto de
ele não estará debatendo. Meramente busca maneiras Conway, juntamente com vários outros pontos de
de demonstrar o que quer. Qualquer contrademons- interesse. George Robinson, em seu livro (Sarcopha-
tr~ão será automaticamente n:jeitada. Aquele que
gus of Ancient Civilization} fornece-nos interessantes
assim age supõe que suas premissas são verídicas, e descrições e estudos sobre o lugar alto de Petra.
que suas idéias não precisam ser investigadas. Tudo A mais recente informação sobre a localidade está
levaria fatalmente à conclusão a que ele já chegou. contida na literatura escrita por Howard C.
Hammond Jr., em seu artigo intitulado «Petra», que
apareceu no The Bíblical Archaeologist xxüi, 1
PETOR (1960), págs. 29-32; como também em outras
Um nome assírio-babilônico para essa cidade era publicações mais recentes. O Dr. Hammond é um
Pitru, nome que também lhe fora dado pelos hititas. professor de antropologia da Universidade de Utah,
Os assírios chamavam-na de Ana-ashur-utir-asbat nos Estados Unidos da América do Norte, e foi
que significa «estabeleci-a novamente para Assur»: professor de um de meus filhos que se formou como
Em conexão com o Antigo Testamento, a localidade é Bacharel em Artes, em Antropologia, naquela
conhecida como terra do falso profeta Balaão, filho de instituição. Em 1987, visitamos o escritório do Dr.
Beor. Ver Núm. 22:5 e Deu. 23:4. Hammond, e ele nos mostrou vários artefatos,
tendo-nos explicado os métodos de datar objetos
Esse nome locativo aparece na lista do conquistador (acerca de cujos métodos pouco consegui entender).
egípcio Tusmose IH, do século XV A.C. Ficava Esse meu filho, Darrell, que foi aluno do Dr,
localizada essa cidade na margem ocidental do rio Hammond, preparou o índice da presente enciclopê-
Eufrates, a poucos quilômetros ao sul de Carquemis. dia,além de mapas, ilustrações e trabalho de arte
para sua ornamentação.
PETRA
Transliteração . da palavra grega que significa PETRARCA (FRANCESCO PETRARCA)
«rocha... Esse foi o nome de uma antiga cidade
(atualmente em ruínas), localizada no território de Suas datas foram 1304-1374. Ele nasceu em
Edom, perto de Arabá. Seu nome aramaico era Arezzo, na Itália; mas residiu em Avignon, na
~ekem, mas os hebreus chamavam-na Sela. Prima- França. Estudou direito em Bolonha. Foi sacerdote
namente, trata-se de uma cidade nabatéia em ruínas, católico romano, ortodoxo em sua doutrina, amigo
na. terra de Edo~, ao norte da Arábia, na porção intimo de Boccaccio (vide). Tornou-se importante
onental da Arábia Petréia, o que lhe deu o seu nome figura na renascença italiana, pelo que exerceu uma
grego. duradoura influência sobre a maneira como muitas
Tinha grande importância como centro comercial e pessoas pensam. Foi poeta, retórico, erudito e
posto de caravanas, quando estas viajavam partindo eclesiástico. Tem sido chamado de pioneiro da
da Sfria ou da Arábia, até o século IV D.C. Cerca de Renascença na Itália. Além dessas atividades,
u~ ~ulo mais tarde, Petra desapareceu dos anais da também destacou-se em missões diplomáticas, in-
histona humana; e somente em 1812 o antigo local foi cluindo uma ao imperador Carlos IV.
redescoberto, quando Burckhardt o descobriu por Idéias:
acaso na wadi Musa. Fica em um estreito vale que é 1. Ele era representante de um significativo
cercado, por todos os lados, por elevados picos. A humanismo (vide). A suá mente ia buscar subsídios
âreamaís baixa assim formada tem cerca de 1600 m nos clássicos gregos e romanos, como alicerce de seu
de comprimento por cerca da metade disso em humanismo. Ele promovia o estudo dos clássicos
largura. Nas paredes perpendiculares dos rochedos há como algo digno de nossa atenção, ou como fonte de
268
Petra
PLATAFORMA DE CAMBRIDGE
PLANtCIE
Trata-se do modelo de governo eclesiâstico adotado
1. As Palavras e Definições na Nova Inglaterra, a partir do s i n o d o de 1618,
Hâ seis palavras hebraicas envolvidas, e, talvez, aprovado pelo Tribunal Geral do estado de Massa-
uma sétima. No grego, encontramos uma expressão chusetts, em 1651, e recomendado às igrejas como
que merece consideração. modelo a ser seguido. Faz lembrar os padrões do
As palavras hebraicas são: a. Elon, «lugar plano». congregacionallsmo (que vide), em Massachusetts,
Ver Gên. 12:6; 13:18; 14:13; 18:1; Deu. 11:30; Juí. durante todo o período colonial, e, no estado de
4:11; 9:6,37; I Sam. 10:3. b. Biqah, «vale aberto», ou Connecticut, até a Plataforma de Saybrook (que
seja, uma expansão plana, sobretudo um terreno vide), que foi adotada em 1708. O documento consiste
plano entre montanhas, como a planicie de Sinear de dezessete capítulos, e é um sumário do melhor
(Gên. 11:2) ou o vale de Megido (11 Crô. 35:22; Zac. pensamento do congregacionalismo da Nova Inglater-
12:11). Essa palavra também pode indicar apenas um ra. Declara abertamente os princípios permanentes
«vale» (Nee. 6:2; Isa, 40:4), Ocorre por um total de desse sistema: o pacto como base das igrejas locais, a
vinte e uma vezes. Além dessas referências, ver autonomia de cada congregação, embora cada igreja
também Eze. 3:22, 23; 8:4; 37:1,2; Amôs 1:5; Dan. esteja vinculada a outras igrejas, mediante a
3:1; Deu. 8:7; 11:11; 34:3; Sal. 104:8; Isa. 41:18; necessidade de companheirismo e conselho. Adotam
-63:14; los. 11:8,17; 12:7. c. Kikkar, «círculo»: com o as Escrituras como sua única autoridade espiritual.
sentido de «planície» aparece por treze. vezes: Gên. (E)
3:10-12; 19:17,25,28,29; Deu. 34:3; 11 Sam. 18:23; I
Reis 7:46; II Crê. 4:17; Nee. 3:22; 12:28. Devemos
pensar, nesse caso, em uma região que formava um PLÁTANO
circulo ou meio-circulo, em redor de outra ârea, como
aquela em redor da porção sul do mar Morto (na No hebraico, umom. Ver Gên. 30:37 e Eze. 31:8.
primeira dessas referências). Mas também pode estar Hâ uma verdadeira árvore de planície na Palestina,
em foco uma planície elevada ou planalto, segundo se cujo nome cientifico é Platlllltu odentalls. Essa
vê em Deu. 3:10. Israel era chamado de povo das espécie pode ser achada especialmente nos sopés do
montanhas, por outros povos, e o Deus de Israel, de monte Libano. Produz cachos de flores, formando
Deus das montanhas, visto que, com freqüência, as bolas arredondadas, em torno de uma haste comum.
terras baixas estavam em disputa, e os israelitas não Essa árvore é de grande porte e faz muita sombra,
eram seus firmes possuidores (ver I Reis 20:23). Os além de ser muito valorizada. O trecho de Eclesiástico
inimigos ocupavam as planicies; e os israelitas 24:14 fala sobre ela metaforicamente, como simbolo
refugiavam-se nas montanhas. d, Mishor, «planície.., de grande estatura. Pode atingir ligeiramente mais de
«lugar nivelado». Esse termo figura por dezesseis 50 m de altura, com um tronco bem grosso, isso em
vezes: Deu. 3:10; 4:43; los. 13:9,16,17,21; 20:8; I tomo do monte Libano. Nas planícies mais ao sul,
Reis 20:23,25; 11 Crê. 26:10; Sal. 26:12; 27:11; Jer. embora a árvore não cresça tanto, ainda assim é uma
21:13; 48:8,21; Zac, 4:7. Nem sempre devemos pensar espécie impressionante.
em uma planicie, pois também pode estar em pauta A madeira do plátano é muito usada no fabrico de
um planalto, segundo se vê em Deu. 3:10. e. Arabah , móveis, porquanto pode adquirir um acabamento
«deserto», «lugar obscuro». Com um claro sentido de lustroso. As folhas, com três e cinco lobos, com alguns
«planície.., essa palavra aparece por quarenta e duas dentes, algumas vezes chegam a 25 em de
vezes, desde Núm. 22:1 até Jer. 52:7,8. Como um comprimento. e mais ou menos com a mesma largura.
lugar especifico, a Arabah também era conhecida O fruto, de formato globular, fica pendurado em
como planicie de Moabe (Núm. 22:1) ou planicie de ramiculos.
Jericô (Jos. 5:10). Está sempre em vista o vale A familia do plátano está distribuida pelo mundo
formado por uma falha tectônica, nos lugares onde inteiro, e espécies fósseis têm sido encontradas até os
seu fundo ficava seco e estéril, ao sul do lago da tempos cenozóicos. O plátano é abundante ao longo
Galiléia, até o golfo de Ãqaba. O que existe ali é uma de todos os cursos de água da Siria e da Mesopotâmia.
espécie de fundo de vale plano. f. Shephelah, O cedro do Líbano ê posto em comparação com o
«afundado». Esse termo aparece por dezenove vezes plátano (ver Eze. 31:8), por causa de sua imensa
em todo o Antigo Testamento. Exemplificamos com I altura. Armon, nome hebraico do plátano, significa
Crê, 27:28; 11 Crô. 9:27; Jer, 17:26; Oba. 19; Zac. «liso.. ou «nu.., que se deriva do fato de que a árvore
7:7. A ma era constituida por colinas baixas entre as perde a sua casca externa.
montanhas da Judéia e a planicie (autêntica) costeira.
Ver o artigo separado intitulado Shephelah,
2. As Cidades da Planície PLATÁO
Ver o artigo separado chamado Cidades da Esboço.'
Campina. I. Informes Históricos
3. Usos Figurados 11. Teoria do Conhecimento
Uma planicie simboliza um lugar seguro e UI. Metafisica
destituido de obstáculos (Sal. 26:4), como também a IV. Politica
vereda dos justos, que é fiei! e segura de ser seguida V. Êtica
(Sal. 27:11). VI. Estética
288
PLATÃO
••••••
... .. ...
~
PLATÃO
•••
•••
Quer seremos melhores e mais corajosos e
menos impotentes, se pensamos que devemos
procurar o conhecimento, do que teríamos
sido, se tivéssemos aceitado a fantasia de
que não há maneira de conhecer, e que é inútil
lutar para saber o que agora não sabemos -
é um tema para o qual estou pronto para com-
bater em palavras e trabalhos - ao máximo
do meu poder.
(Platão)
•••••••••
PLATÃO
---
Platão :fundou a Acacle7'7l.ia., a priTTJ.eira univer-
sidade da história hl'1'IDa n a . Esta escola
ensinava tod.os os r'H"l'TJOS do con.h.eciD')eu.t:;o do
tempo.
Cícero nos in.fOr:n::l.& qu.e Platão "l'TJ.orreu. de
súbito, e :facilD')en.te, nlJ"I'TJ& :festa de caSSD"e:n.to
de UD1 BJT1igo, aos 80 anos de idade. Segundo
sua inEorrnação. PlatAo trabalhava e escrevia
até o :fb:n. .seTTJ. a debilitação de doenças. O
Senhor, concede-nos taZ graça..
---
Quer ~ o s ED.elhores e IX'ais corajosos e
IX'eD.OS hn.poten:tes, se pensaYDos que deveD'los
procurar o conheeirnen:t;o, do que terla.zn.os
sido. se t í V é s s e D 1 0 S aceitado a :fantasia de
que:não há D]:aneira. de conhecer, e qu.e é in:ú.til
lutar para saber o que agora não sabeD10s -
é UD1 t;eTna para. o qu.al. estou pron.to para. CO"I'TJ.-
bater eDJ. palavras e trabalhos - ao "l'TJáxiJT1o
do D1eu poder.
(Platão)
oPINIÃo
Imaginação Imagens de aparências. O conhecimento imaginado
através dos sentidos, sem qualquer investigação.
são e não meramente o «tempo" determinado para os inútil tentar ajustar isso às antigas idéias sobre o
gentios. A conversão se completará, envolvendo todas julgamento divino. Se assim fizermos, perderemos de
as nações gentilicas que reconhecerão a missão vista a mensagem dessa nova revelação, que afirma o
SOl
PLEROMA - PLOTINO
que Deus fará pelos homens, de modo geral, através vazios, porquanto tanta gente se voltara para o
da missão de Cristo - algo que, antes, disso, seria cristianismo. Ele chamou o cristianismo de excessiva
inconcebivel. mas inofensiva superstição. Chegou a examinar
Ficamos, pois, sabendo que a missão de Cristo pessoas sob tortura, fazendo-as dizerem tudo quanto
afeta a todos os homens, ou para remir (aos ele desejava saber. Desse modo, ficou sabendo que os
escolhidos), ou para restaurar (aos demais). Nisso são cristãos costumavam reunir-se antes do amanhecer,
combinados os discernimentos do calvinismo e do entoavam um hino a Deus e a um homem chamado
arminianismo. O calvinismo declara que a missão de Cristo, comprometiam-se a não cometer iniqüidades,
Cristo não pode falhar; no entanto, corrompe o participavam de uma refeição em comum. Nada
conceito ao aplicar essa missão somente aos eleitos. O tendo achado nos cristãos que incorresse em culpa,
arminianismo percebe que a missão de Cristo é suspendeu a condenação contra eles. O imperador
potencialmente universal, mas corrompe o conceito, Trajano elogiou o ato de Plínio, sem forçá-lo a agir de
não percebendo que o propósito predestinador de outro modo. Também aconselhou-o a procurar
Deus está por detrás de tudo. Portanto, essa missão suspeitos, mas sem receber acusações anônimas.
não é universal apenas potencialmente, mas universal Todavia, qualquer cristão condenado (por haver
na realidade. Desse modo, a revelação de Paulo praticado algum ato ilegal) deveria ser punido, a
ultrapassa a ambos os sistemas, embora ambos os menos que negasse ser cristão e autenticasse essa
sistemas continuem a promover suas respectivas negação prestando o devido culto aos deuses romanos.
compreensões parciais da questão. As cartas de Plínio, o Moço, foram escritas em
No trecho de Gálatas 4:4 temos uma expressão excelente estilo literário, cheias de encanto, muito
similar, ..a plenitude do tempo», mas no singular. informativas quanto às condições de vida da época, e
Provavelmente, tudo quanto esse texto indica é que, bastante artisticas.
..no momento exato», o Filho de Deus foi envíadc em Além da carta que fala acerca dos cristãos, há
Sua missão terrena, messiânica. outras que se revestem de especial importância, como
aquela que fala sobre a sua vila Laurentina (livro 11,
carta n? 17), aquela que fala sobre os estudos
·PLEROMA constantes de seu tio (livro 11, carta nO 5), e aquela
Ver diversos artigos sob o titulo de PIeDltude. sobre a erupção do monte Vesúvio (livro VI, cartas
nOs 16 e 20).
de efulgência, e outras ceísas foram assim individuali- explicar a origem do mal, ~a em qual sistema for,
zadas. Mas, como é 6bvio, na emanação, nada viria à pelo que muitas teorias tem sido aventadas. A
existência partindo do nada. Naturalmente, temos explicação dada por Plotino parece ser que a
aqui um tipo de pantelsmo (vide). emanação da materialidade está tão distante do Um
c. A emanação inicial foi a Nous ou Inteligência, a que, virtualmente, não existe, incorporando aquilo
Substância Mental. Plotino igualava a Naus às Idéias que chamamos de «mal». Ele chegou bem perto,
(vide) de Platão. E a Naus teria dado multiplicidade portanto, de dar a resposta gn6stica de que o mal
ao Um; a Nous, além disso, existiria por meio das consiste na própria materialidade, e que a matéria
virtudes, da vontade e do poder do Um. não tem remissão. Nesse caso, temos em Plotino, um
d. A segunda emanação do Um seria a Alma do dualismo prático. E ele adicionava a isso que a
Mundo. Essa é a vida e a inteligência ativa que existe perfeição do Todo requer a imperfeição das partes
na contemplação da Nous, Esse poder é o equivalente que constituem o Todo. Mas rejeitava a idéia de
aproximado do Demiurgo de Platão (vide). Explicaria algum criador maligno dos mundos físicos. Ele
a existência da criação inferior, imitação (através de minimizava a natureza do mal, afirmando que o
emanações) das Idéias (Nous). Temos ai o mundo mesmo só existe para os homens maus, não exercendo
temporal-espacial que é conhecido através da qualquer efeito negativo sobre a alma que já se
percepção dos sentidos. De fato, o mundo do aproxima do Um. Além disso, em comunhão com
espaço-tempo é, por assim dizer, parte da Alma do alguns filósofos, ele supunha que chamar algo de mau
Mundo-o seu corpo. O tempo seria apenas o registro é, na realidade, perder de vista o Todo, o Um, no qual
de como a Alma do Mundo procura incorporar, no não há qualquer mal, e o qual deve incorporar suas
mundo material, a plenitude do Ser eterno e infinito. partes constitutivas, incluindo o mundo físico. Assim
e. O estágio final da emanação do Um é o mundo sendo, ele chegou bem perto de dizer que não há tal
material; e essa emanação está tão distante do Um e é coisa como o mal, em última análise. O mal seria
um reflexo tão imperfeito do mesmo que pode ser apenas a ausência do bem, da mesma forma que as
considerado como virtualmente não-existente. Platão trevas são apenas a ausência de luz.
falava em termos do Real (as idéias) e do menos real n. A providência permeia a tudo e precisa realizar a
(o mundo fisico). sua obra. Essa providência, porém, seria impessoal, e
f. O mal ê um concomitante natural e necessário da não atuação de um Deus pessoal. Coincidiria com o
materialidade. Isso posto, só poderiamos escapar do universo natural e operaria através de tudo quanto
mal pondo fim à nossa vinculação com a matéria, existe e de tudo quanto acontece. A própria morte é
razão pela qual a alma humana deveria interessar-se boa para o homem bom, visto que permite que ele
por essa inquirição e libertação. continue em sua busca por restauração ao Um, sem o
g. O homem combina em si mesmo os elementos da empecilho do corpo ftsico.
materialidade e da imaterialidade, pelo que é um ser
em guerra contra si mesmo. Ele anela pela união com PLURALISMO
o Um, mas acha-se obstaculizado e degradado por
causa de seu corpo ftsico. Esboço:
h. A contemplação (por meio das experiências 1. O Pluralismo Metafisico
misticas) é o modus operandi da libertação do ser 2. O Pluralismo como uma Teoria de Valor
humano, pois dessa maneira a sua alma pode atingir 1. O Pluralismo Metaflsico
uma união preliminar com o Um. Quando é usado como expressão filosófica, o
i. A liberação é o alvo do homem, embora não se «pluralismo metafísico» fala da idéia de que a
deva esperar que o homem possa atingir esse alvo em existência compõe-se de muitas essências e elementos,
um único periodo de vida terrena. A reencarnação, e que elas não podem ser reduzidas a uma única
pois, para Plotino, era uma necessidade da experiên- substância ou realidade. O pluralismo insiste que há
cia humana. pelo menos três ou mais substâncias verdadeiras e
j. Todas as realizações e buscas humanas de algum distintas ou tipos de realidade. O monismo aceita
.modo estariam associadas ao desejo de ser o individuo somente uma verdadeira essência, embora possa
restaurado à unidade com o Um, a fim de que este se haver uma pluralidade de expressões desse único
tome tudo para todos. Apreciamos os objetos belos elemento. Com freqüência, no monísmo, essas
por vermos o Um e a Sua beleza nesses objetos. manifestações são consideradas ilusórias l ou .menos
Anelamos pela bondade, . porque nela pressentimos reais. Por sua parte, o dualismo é a crença de que
algo pertencente ao Um. Oculta-se ai, impllcito, o existem duas essências básicas de realidade. Nesta
argumento axiológico em defesa da existência de enciclopédia há artigos separados quanto a esses dois
Deus, como também os argumentos baseados nos termos. Leibnitz falava acerca de muitas manadas
valores, na ética e na estética. Ver o artigo sobre o autocontidas, o que. mostra que ele era um pluralista
Argumento Axiol6gico. nesse sentido. Mas, visto que ele acreditava que tudo
303
PLURALISMO - PLYMOUTH
participa de uma única essência, nesse outro sentido gens são descritas sem esse processo de emparelha-
ele era um monista. A doutrina do atomismo lógico, mento. Plutarco de Queronéia também escreveu sobre
segundo ela foi desenvolvida por Bertrand Russell, é questões morais, formando uma coletânea conhecida
uma doutrina inteiramente pluralista. Ver o artigo por Moralia, Esses ensaios versam sobre assuntos
separado sobre Bertrand Russell, como seus titulos indicam: Sobre a Virtude e o Vicio;
O cristianismo é normalmente pluralista, pois Sobre o Progresso na Virtude; Sobre a Educação das
refere-se à essência divina como única; então alude Crianças,' Sobre a Restrição na Ira; Sobre a
aos seres não-materiais, que podem representar mais Tranqüilidade da Alma; Sobre a Falsa Modéstia;
de uma categoria de ser (embora esse ponto seja Sobre a Distinção Entre um Lisonjeador e um Amigo;
disputado); e também fala sobre a materialidade, Sobre Como Evitar Dívidas; Sobre as Virtudes
ainda uma outra dimensão da existência. Em Femininas; etc.
contraste com isso, o panteismo é monista. Anaxâgo- Sua obra, Vidas, inclui descrições acerca de
ras era um pluralista confirmado, porquanto concebia homens como Alexandre, o Grande, Temístocles,
um grande número de substâncias qualitativamente Péricles, Aristides, Sula, César, Cícero e Catão, o
diferentes. Empédocles, todavia, limitava o número Moço. Essas descrições seguem, mais ou menos, a
dessas substâncias a quatro: a terra, o ar, o fogo e a ordem cronol6gica. Embora não seja um livro
água. Herbart postulou certa multiplicidade de produzido por um gênio, tem provido muito material
«realidades», que sintetizam e, dessa maneira, útil para os historiadores e os filósofos.
formam o nosso mundo.
2. O Pluralismo Como Uma Teoria de Valor PLYMOUTB, IRMÃos
Esse ponto de vista pode ser aplicado à ética, à
estética e à política. Temos ai a idéia de que não pode Essa pequena denominação evangélica, que se
haver uma única fonte ou principio do bem. O homem recusa ser considerada uma denominação, surgiu na
operaria melhor quando leva em consideração e se Inglaterra, no século XIX, como uma espécie de
utiliza de valores variegados, cada qual com sua protesto contra a comunidade anglicana. Além de
contribuição particular, embora não sejam donos de algumas diferenças doutrinárias, eles objetavam a
tudo. A soberania nunca deveria ser deixada nas mãos uma comunhão J muita pr6xima entre a Igreja e o
de uma única igreja ou de um único partido político. Estado, requeriam uma liderança plural, davam
Pois dai resulta, inevitavelmente, a ditadura de alguns pouca importância ao estudo teol6gico formal e
poucos, a arrogância, o desequilibrio, e muitas acreditavam em um ensino espontâneo (sem estudos
desvantagens finais. f: uma ingenuidade pensar que prévios) na igreja, presumivelmente sob a liderança
uma única igreja ou partido politico, ou um único do Espirito Santo. O nome do grupo derivou-se do
conjunto de idéias ou valores éticos e estéticos possam fato de que seu número maior vinha da cidade de
ser os donos da verdade. Assim como nenhum Plymouth, no sul das ilhas Britânicas. Seu lider mais
individuo isolado pode ser o protótipo da verdade, not6rio foi John Nelson Darby. O movimento
assim também nenhuma instituição isolada pode espalhou-se para outros países da Europa e da
afirmar ser a sintese de todo o bem. América do Norte, por meio das emigrações. Sua
frouxa organização e sua acentuada postura calvinista
destruiram qualquer real esforço missionário, pelo que
PLUTARCO DE ATENAS essa «denominação» permaneceu pequena, contando
com menos de trinta mil membros, e mesmo assim
Suas datas foram, aproximadamente, 350-433 D.C. atualmente divididos em nada menos de seis grupos
Ele foi o primeiro lider da Escola de Atenas quando
essa academia platônica passou a seguir o neoplato- diferentes.
nismo. Plutarco misturava idéias platônicas e Embora eles se digam avessos aos credos, e
aristotélicas. Ele pensava que a comunhão com Deus reivindiquem seguir somente as Sagradas Escrituras,
pode ser promovida através de ritos teúrgicos. Esses na verdade defendem fortes posições credais. Reiei-
ritos consistem em cerimônias mágicas, com base na tam a noção que vem da Reforma Protestante de que a
crença que os espiritos podem ajudar e influenciar lei, embora não seja uma medida justificadora, serve
nessa busca. Plutarco escreveu um comentário sobre o de regra de vida diária. Também rejeitam qualquer
livro de Aristóteles, Sobre a Alma. Ver os artigos ministério formal, pois todos os irmãos seriam iguais.
gerais intitulados Neoplatonismo e Academia de Qualquer irmão pode falar durante o culto, contanto
Platão. que esteja em comunhão com a igreja local. Observam
a comunhão fechada (participação na Ceia do Senhor
somente por parte dos membros da igreja local). Ás
PLUTARCO DE QUERON:tIA mulheres é vedado o uso da palavra na igreja. Visto
Suas datas aproximadas foram 45-125 D.C. Ele foi que os sermões são extemporaneos, a tendência é que
um filósofo e um literato grego. Nasceu em os vários irmãos que falam apresentam apenas
Queronéia, na Boécia. Era filósofo platônico. sermonetes, com freqüência bastante superficiais,
Estudou na Academia de Platão, em Atenas; mas, dependendo das habilidades nativas de cada um.
voltando a sua terra, estabeleceua sua própria escola. Ignoram as indicações neotestamentárias da hierar-
Sabe-se que ele permaneceu em Roma por certo quia ministerial, rejeitando tanto a sucessão apostóli-
tempo, onde ensinou a filosofia por meio de preleções. ca quanto o oficio de bispos. Mas, faltando-lhes
Há uma tradição que diz que ele foi tutor de Adriano, organização e autoridade forte, seu alcance missionâ-
o imperador romano, e que foi nomeado por ele como rio é deficiente, segundo já dissemos. E apesar de não
procurador da Grécia. Também foi um dos lideres da se reputarem uma denominação cristã" na realidade
religião misteriosa de Apolo Pitiano. Seus ensinamen- formam uma denominação bem fechada e exclusivis-
tos incluiam a tipica purificação da alma a fim de que ta.
a mesma pudesse retomar aos mundos eternos e Em favor do grupo, entretanto, pode-se dizer que
encontrar sua unidade com a divindade. Dentre os levam muito a sério o estudo biblico e a vida cristã.
seus escritos, o que ficou melhor conhecido chama-se Durante meus dias de juventude, a influência deles,
Vidas Paralelas, no qual ele descreveu as vidas de nos Estados Unidos da América do Norte, fugia à
quarenta e seis homens proeminentes, gregos e proporção de seu pequeno número. Os próprios
romanos, formando pares. E quatro outras persona- batistas, na época a que me refiro, sentiam-se em
304
PNEUMA - ro
desconforto diante de seu ministério de «um homem», sinônimo de pneuma. Ver Mat. 10:28; 11:29; 12:18;
por causa da ênfase, nos circulos evangélicos, Heb. 4: 12, que abordam o problema da dicotomia-tri-
impulsionada pelos Irmãos de P1ymouth, sobre um cotomia (vide), onde também parece haver certa
ministério plural. Essa «necessidade» era tão sentida distinção entre a «alma» e o «espírito». Nesse caso, os
que influenciou vârios outros grupos evangélicos a teólogos geralmente dizem que a alma alude aos
seguir a mesma regra, conforme se vê hoje em dia. De sentimentos, às emoções, ao intelecto e à vontade do
fa~o, .p.arece que isso concorda com a prâtica da Igreja homem, ao ponto que o espirito seria aquela parte
prímítíva. Ver, por exemplo, c...bem como, em cada imaterial que retoma a Deus. Hâ estudos que indicam
cidade, constituisses presbiteros, conforme te prescre- que a alma, a porção imaterial do homem, que em
vi» (Tito 1:5). (O itâlico é nosso). grego é a psuché, está sujeita ao superego, o
verdadeiro «eu. do homem, tal como o corpo fisico
está sujeito à alma. O superego também é chamado
PNEUMA sobre-ser.
Qualquer pessoa que dedique tempo a examinar Essa dimensão maior do homem pode ser
um léxico grego ficarâ admirada diante do grande confrontada com o conceito do anjo guardião; mas,
número de significações que esse vocâbulo grego pode no caso que estamos examinando, o anjo guardião é o
assumir. Naturalmente, no campo da teologia, o verdadeiro homem, o sobre-ser, o eu superior, o
termo também tem adquirido vârios sentidos. verdadeiro ser de cada individuo; ao passo que a
Basicamente, a palavra significa «respiração» ou alma, embora também imaterial, seria apenas um
«vida», embora também indique a porção espiritual fragmento desse «eu» superior. Discuto sobre esses
do homem, em contraste com o seu corpo fisico. Além conceitos no artigo sobre o problema dicotomia-trico-
disso, essa palavra alude à espiritualidade de Deus. tomia, conforme jâ dissemos. Ver também o artigo
Diz João 4:24: «Deus é espírito» (no grego, pneuma o sobre o Sobre-ser, quanto a maiores informações a
the6s). respeito.
1. Na Filosofia Estôica e Epicurista Quase todas :as passagens biblicas atinentes,
Ali, o termo grego pneuma indicava a energia entretanto, ignoram qualquer distinção entre o
criadora, ígnea, a força vital da natureza e então do pneuma e a psuchê, quando aludem à porção
homem. No estoicismo, pensava-se que essa força imaterial do homem. Ver Apo. 6:9, onde está em foco
fosse divina, e que no homem constitui uma fagulha a porção imaterial do homem, a alma, jâ no céu. E
divina. evidente que essas entidades com igual propriedade
2. Exemplos no Grego Koiné e no Novo Testamento poderiam ser chamadas de pneumata (forma plural
a. Sopro; vento; respiração. Filo (Ep. Arist.), Josefo de pneuma). Ver o artigo intitulado Humanidade
(Anti. 2:343,349), I Clem. 36:3 e Heb. 1:7. Em todas (Natureza Humana) quanto a uma explicação sobre o
essas passagens, os anjos são chamados «ventos". complexo de energias de que se compõe o ser humano.
b. O espirito é o elemento que transmite vida ao
Há pelo menos quatro níveis nessa complexidade: o
corpo fisico, a vitalidade (enêrgia semimaterial), a
corpo físico, segundo se vê em escritos como os de
Esquilo (comumente), Polibio (31:10,4), Eur, Hec. alma e o sobre-ser. Dentro desse contexto de
571; Luc. 8:55 e Apo. 13:15. Nesta última passagem, complexidade, é legitimo falarmos sobre a alma como
um espirito anima a imagem da besta, e a faz falar. uma entidade distinta, quando comparada com o
sobre-ser (ao qual poderiamos chamar de «espirito»).
c. A porção imaterial do complexo de energias do Todavia, a terminologia biblica não é adequada para
ser humano, segundo se vê em Josefo, Anti. 1.34; I estabelecer as distinções que atualmente estão sendo
Cor. 5:3-5; 11 Cor. 7:1; Fil. 1:27; Colo 2:5. Quando é feitas através dos estudos misticos e cientificos.
assim usada, a palavrapneuma toma-se sinônimo de Dentro da terminologia bíblica, pneuma e psuché
psuché, usualmente aparecem como sinônimos.
d. E a fonte e a sede do discernimento, dos Formas Adjetivadas
sentimentos e da vontade, conforme se lê em Sir. 9:9; O adjetivo grego pnellllUltlkÓII indica «de maneira
I Clemente 18:17; 52:4; João 11:33; 13:21; Atos espiritual», «no espírito», ..de maneira divina", idéias
17:16; 19:21; Rom. 8:16. essas que concordam com a idéia básica do termo
e. Um estado espiritualizado da mente, uma grego pnellllUl. Fazendo contraste com isso, o adjetivo
disposição santa e devota (Gâl. 6:1; I Ped. 3:4). pIIucblkÓII pode significar cfisicoJO, «não-espiritual»,
f. Deus considerado como um espirito (João 4:24); embora tenha raiz em pnehé, a porção imaterial
espíritos bons e maus (anjos e demônios), conforme do ser humano. Esse adjetivo enfatiza a vida deste
aprende-se em Enoque 15:4-6,8,10; Josefo (Anti. «mundo natural».
4.108); Heb. 12:9. Ocorrem muitas referências aos
demônios, considerados como espiritos, nos evange- PNEUMATOLOGIA
lhos sin6pticos: Mat. 12:43; Mar. 1:23; 3:30; 9:25;
Luc. 8:28; 9:42. Ver também Atos 16:18. Ver o artigo sobre Pneuma, a palavra grega
g. Os homens também são vistos como espíritos, em envolvida nessa questão. A pneumatologia é um ramo
Fil. 3:3; Col. 2:5; Heb. 12:9,23; I Ped. 3:19; 4:6. Estâ da metafisica que procura dar iiiformação sobre os
então em pauta a natureza espiritual do homem, o seres espirituais, como Deus, os anjos e a alma
homem em sua essência. humana. Mas algumas vezes esse termo é utilizado no
senso restrito da " hierarquia de seres espirituais
h. O Espirito Santo de Deus. Ver Mat. 1:18,20; não-humanos.
3:11; 12:32; Luc. 1:5; 3:16; Atos 1:2,5,8,16; 4:8;
10:38,44; 11:15,ló; 21:11; 28:25; Rom, 5:5; I Cor.
2:13; I Ped. 1:12; Jud. 20. Ele também é chamado Pó
«Espírito de Deus» em Mat. 3:16; 12:28; Rom. 8:9,14; Há duas palavras hebraicas e duas palavras gregas
I Cor. 2:11; 3:16; 7:40; I João 4:2. envolvidas, a saber:
1. Aphar, "pó". Palavra hebraica usada por cerca
3. Comparações Entre Pneuma e Psuché de cento e sete vezes como em Gên. 2:7; 3:14,19;
No Novo Testamento, psuché usualmente é 13:16; Êxo, 8:16,17; Lev. 14:41; Deu. 9:21; los. 7:6;
traduzida como calma», aludindo à porção imaterial Jó. 2:12; 4:19; 5:6; Sal. 7:5; 18:42; Pro. 8:26; Isa.
do homem. Nesse caso, trata-se de um simples 2:10; 25:12; Lam, 2:10; Eze. 24:7; Dan. 12:2; Zac.
806
PO - POBRE, POBREZA
9:3. residenciais não demoram a transformar-se em
2. Abaq, «poeira fina». Palavra hebraica utilizada favelas, quando para ali vão residir favelados.
por seis vezes: Isa. 5:24; 29:5; Eze. 26:10; Naum 1:3; Talvez a educação seja o maior instrumento
Exo, 9:9; Deu. 28:24. necessário para libertar as pessoas da pobreza.
3. Koniortôs, «pó», «poeira». Termo grego que Porém, uma boa alimentação é importantíssima,
aparece por cinco vezes: Mat. 10:14; Luc. 9:5; 10:11; desde o começo da vida do bebê, pois a inteligência
Atos 13:51; 22:23. nativa vê-se prejudicada ou diminuída por uma dieta
4. Choôs, «barro.., «terra... Palavra grega que figura pobre, mormente durante o período da primeira
por duas vezes: Mar. 6:11 e Apo. 18:19. infâncía. A fé religiosa também pode ser um fator,
O pó consiste em terra fina e solta, ressecada pela visto que, inspirada por motivos superiores, uma
falta de umidade. O pó é agitado pelo vento, de tal pessoa pode receber um efeito positivo em sua vida,
forma que hâ tempestades de poeira, Um dos castigos resolvendo vencec e pCU:'pt:lI'aI" na vida. Quanto a seu
divinos contra o rebelde povo de Israel foi enviar lado negativo, somos informados que grande parte da
tempestades de poeira, ao invés de chuvas (Deu. pobreza, na Espanha e na India tem sido promovida
28:24). pela ênfase exagerada sobre os valores religiosos e
Sentidos Simbôlicos, 1. O luto ou a contrição são místicos, em detrimento das necessidades materiais.
simbolizados pelo ato de pôr pó sobre a cabeça, A chamada ética protestante, que diz que o
geralmente misturado com cinzas (Jos, 7:6; Miq. trabalho árduo é uma virtude e a pessoa deve ser
1:10; Jó 42:6, etc.). 2. Ultraje ou protesto podem ser trabalhadora. não meramente para adquirir riquezas
expressos lançando pó no ar (Atos 22:23), o que Paulo materiais, mas também como um exercício espiritual,
testemunhou como um protesto dos judeus incrédulos certamente exerceu grande influência sobre a
contra ele. 3. Sacudir o pó dos pés significa rejeitar prosperidade que tem havido na Inglaterra e nos
àqueles que se mostram obstinados contra a Estados Unidos da América. Em contraste com isso,
mensagem do evangelho (Mat, 10:14; Luc. 10:5). 4. em alguns lugares, o trabalho (especialmente aquele
Sacudir-se do pó significa recuperar-se após um de natureza manual) é desprezado como se houvesse
período de lamentações (Isa, 52:2). S. Lamber a poeira no mesmo algum opróbrio.
dos pés de outrem é o mâximo da humilhação e da 2. Defl.niçies
sujeição (Sal. 72:9; Isa. 49:23). 6. Suspirar pelo pó da A pobreza é uma categoria ou situação econômica
terra sobre a cabeça dos pobres é desejar a completa na qual as pessoas são incapazes de obter (e de
destruição deles (Amós 2:7). 7. Comer pó, como nç possuir) os meios de sustento, por seus próprios
caso da serpente, indica que Satanás assediará os esforços, evitando assim passar necessidade. Quem é
iníquos, e que eles sentir-se-ão miseráveis por estarem verdadeiramente pobre precisa depender de outras
servindo-o (Gên. 3:14; Isa. 65:25). 8. Um símbolo do pessoas ou instituições, como agências de caridade,
sepulcro, por razões bem óbvias (Gên. 3:19; Jó 7:21; religiosas e seculares, a fim de receberem o seu
Ecl. 12:7). 9. O homem é poeira e cinzas, porquanto sustento. Por sua vez, a pobreza ordinária alude
seus corpos mortais estão sujeitos ao retorno a esses àquela condição em que uma pessoa ganha apenas o
elementos (Gên. 18:27); razão pela qual os mortos são suficiente para sobreviver, sem qualquer ajuda
chamados «pó.. (Sal. 30:9). 10. O povo de Israel foi externa. embora não tenha o bastante para os
comparado ao «pó da terra- devido ao seu grande confortos comuns e as vantagens desfrutadas por
número (Gên. 13:16), pois o pó é composto de outras classes. Essa categoria de pessoas pobres
inúmeras partículas que compõem o todo. 11. No geralmente ressente-se de uma boa educação, não
dizer de Jó 5:6, a «aflição não vem do pó», porquanto podendo viajar e nem desfrutar de qualquer tipo de
tem uma causa, e não surge do nada ou sem qualquer luxo. Por outra parte, os criticamente empobrecidos
razão. 12. Naum diz que as nuvens são o pó levantado são aqueles que dependem inteiramente de outras
pelos pés do Senhor (Naum 1:3). pessoas, para sua simples sobrevivência. Entre essas
classes, a mortalidade infantil é extremamente alta, e
a expectação da duração de vida, entre os adultos, é
muito baixa. Assim sendo, em um sentido bem real,
POBRE, POBREZA tais pessoas não estão nem ao menos sobrevivendo,
Esboço: como o resto da população. A terceira categoria dos
1. Caracterização Geral pobres são os destiuddos, Esses são aqueles em
2. Definições condições . econômicas desesperadoras, como as
3. No Antigo Testamento crianças abandonadas, que mendigam pelas ruas, ou
4. No Novo Testamento adultos com familias que moram debaixo das pontes.
5.. Usos Figurados invadem edificios e cujo nivel de vida assemelha-se à
1. CuacterIzaçIo Geral dos animais irracionais. A segunda e a terceira
categorias chamam a atenção (embora inadequada)
A pobreza é um dos mais persistentes e vexatórios das agências de caridade e dos programas de socorro
problemas da humanidade. Por muitas vezes,
instaura-se por culpa do próprio individuo, que se dos governos.
entrega à inatividade; mas, outras vezes, é imposta às 3. No Anda0 TestameDto
pessoas pela força das circunstâncias, pela falta de O trecho de Deu. 15:11 alerta-nos para o fato de
educação e pela ignorâncía acerca de como a pessoa que a pobreza era uma constante na vida do povo de
deve tirar proveito das oportunidades. Jesus meneio- Israel, desde o principio. Os elementos dessa questão
nou a proverbial persistência da pobreza (Mat. da probreza, referida no Antigo Testamento, são os
26:11). Os sociólogos reconhecem a necessidade de seguintes:
dar-se aos pobres os meios e o conhecimento
necessários para eles escaparem de sua pobreza, e não a. A passagem de Sal. 112: 1-3 dá a impressão de
meramente suprir suas necessidades gratuitamente. que a prosperidade quanto às coisas materiais era
As experiências nos projetos de casas populares têm apanágio do homem piedoso, e que a pobreza
demonstrado que é preciso arrancar a favela do caracterizava ao homem maligno. Deu. 28:1-14
coração dos favelados, antes de remover com eficácia mostra-nos que Deus abençoa materialmente ao
os favelados de suas favelas. Pois novos distritos homem.
306
POBRE, POBREZA
b. Por outra parte, sempre foi um problema sofrimentos causados pela pobreza material.
espinhoso deslindar por que as riquezas geralmente c. A vida espiritual é viável mesmo em meio à
são controladas por homens maus, o que é o lado pobreza (Mar. 12:42 ss; Tia. 2:2-5); mas Paulo
oposto da mesma moeda. Ver Sal. 73:12-14. interessava-se em que os crentes trabalhassem e
Naturalmente, Deus promete julgar a tais homens; tivessem o suficiente, de modo a não encontrarem
mas, enquanto não vier esse juizo, o quebra-cabeça obstáculos em sua atuação cristã, o que ele
permanecerá de pé. No entanto, em tempos exemplificou com os seus esforços pessoais (ver 11 Cor.
opressivos, homens piedosos são reduzidos à pobreza, 9:8). O próprio apóstolo dos gentios sabia o que era
e, nesse caso, o adjetivo «pobre» toma-se um virtual desfrutar de abundância e o que era sofrer privações,
sinônimo de «piedoso» (ver Sal. 14:5,6). e continuava atuando no evangelho sob ambas essas
c. As verdadeiras riquezas, que são de natureza condições (ver Fil. 4:12).
espiritual, são encontradas em Yahweh; e o favor do d. Os cristãos primitivos foram ensinados a não se
Senhor deve ser buscado até mais do que qualquer sentirem imunes à pobreza (Rom. 15:26; Oál. 2:10).
quantidade de ouro (ver Sal. 73:16-28). e. Os crentes deveriam ajudar aos pobres (Mat.
d. Geralmente li pobreza ou a riqueza são 19:21; 11 Cor. 8:2 ss; I Joio 3:17 ss).
simplesmente atribuidas à vontade soberana de Deus, f. Aqueles que ajudam meramente de palavra, mas
como se tais condições fizessem parte do destino não em ação, são hipócritas (Tia. 2: 15 ss), Viver
necessário do ser human? (ver. I Sam. 2:7). Na segundo a lei do amor é a gran~ prova da
verdade, é provável que nisso haja algum fundo de espiritualidade e um aspecto disso é a ajuda prestada
verd.ade, mas ta~ co?cei~o não deve ~r enfatizado er,n aos pobres. Ve~ I João 4:7,8; 11 Cor. 8:2 ss •
detri~ento da indústria e do desejo do progredir g. O favoritismo no seio da Igreja, com base na
matenalmente. . prosperidade econômica, é proibido aos crentes (Tia.
e. A opressão contra os pobres é condenada na lei e 2:5-9).
nos profetas. Ver Sal. 72:14; Isa. 3:15; Amós 2:6. h. O oficio eclesíâstíco dos diáconos (vide) veio à
f. Contribuições caridosas aos pobres haverão de existência devido à pobreza entre a classe das viúvas
receber sua recompensa, da parte do céu (ver S~. (Atos 6:1-7).
41:1;. Pro. 14:~l). Essa quest~ semp~ fOI mudo i. A Igreja primitiva, em Jerusalém, experimentou o
enfatizada no J~d~i.smo, e dat transfenda para Q comunismo (partilha dos bens materiais em comum),
crístíanísmo prímítívo. N~o obstante os .pobres embora sobre bases voluntárias. Aqueles que quíses-
sempre fora.m objetos de piedade, de compaixão, e sem participar da experiência podiam fazê-lo, e
não de ad~lr~ão. ..• • aqueles que preferiam manter ~u~ propriedades
g. A legislação mosaica incluía u~ bom ~umero de privadas, e não quisessem participar, não eram
provisões em favor dos pobres: várias provisões para forçados a fazê-lo. Essa experiência foi ocasionada
os dc:s.tituidos CSX?. 23:11; Lev. 14:2~; ~9:10); o por uma extrema pobreza causada pela perseguição,
favoritismo era prOlbl~o com bases t?C0nomlcas (Lev. que envolvia somente os crentes e não era nenhuma
19:15); um escravo tinha de ser libertado no seu decisão nacional de estabelecer uma forma diferente
sétimo ano de serviço (Êxo, 21:1 ss);. um peça de de governo (Atos 4:34 ..). Essa experiência foi eficaz
vestuário, tomada como penhor, tinha de ~r dentro das circunstâncias particulares do momento
devolvida ao pôr-do-sol .(S?,o. 22:26 e ss); os salários mas não se tomou um padrão a ser seguido pela Igreja
tinham que ser I?agos diariamente 8:0~ trab.alha~or~s em geral, como também a história deixa claro.
(Lev. 19;13); os implementes essencíais à Vida diária j. A abundância material pode ser prejudicial à fé
não podiam ser an:ebatad~s dos tra~a1hadores ~Deu. religiosa e destrutiva da piedade, conforme afirma-
24:6,1~ ss); a provisão básica de. alunentos de,?~ ser ram tanto Jesus (ver Mat. 19:24) e Tiago (Tia. 5:1
garan~da (Deu. 24:19-22);. a lS';1aldade esptn~al ss). O texto da epistola de Tiago deixa claro que os
~ntre ncos e pobres sempre Ici considerada a condição ricos, que assim sendo, têm poder, tomam-se
Ideal (Pro. 22:2). abusivos, injustos, arrogantes, negligentes espiritual-
4. No Novo Telltamento mente, participando de prazeres pecaminosos destru-
No Novo Testamento encontramos uma espécie de tívos,
modificação nas atitudes diante das questões econõ- 1. A raiz de todas as formas de mal é o amor ao
micas em geral e da pobreza em particular. Ali ° dinheiro (I Tiro. 6:10). Mas alguém já alterou essa
estado abençoado por Deus parece envolver a declaração para a que segue: ..A falta de dinheiro é a
adversidade, e não a abundância material, porquanto .raíz de toda espécie de males». Isso também exprime
os primeiros discípulos de Jesus foram homens uma verdade, em certos casos.
perseguidos, e, naturalmente, empobrecidos. s. U............
a. «Bem-aventurados v6s os pobres... » é a
declaração simples de Luc. 6:20. O evangelho é a. A. verdadeira pobreza (humildade)' de esptrlto
anunciado aos' pobres (Luc, 4:18). Mateus, contudo, caracteriza os membros do reino de Deus (Mat. 5:3).
qualifica essa pobreza, dizendo: «Bem-aventurados os Devemos entender ai a simplicidade espiritual, em
humildes (pobres) de espirito... » (Mat. 5:3), o que é contraste com a arrogância que geralmente caracteri-
uma óbvia interpretação da declaração original de :ta ls pessoas ricas e ímpias. Os humildes de espírito,
Jesus, a qual foi mais originalmente preservada por contudo, são espiritual e moralmente ricos.
Lucas. Todavia, estarlamos equivocados se pensâsse- b, Também há uma vida espiritual empobrecida,
mos que Jesus via qualquer bem-aventurança na que com freqüência caracteriza aos ricos que estão na
pobreza, em si mesma. Antes, visto que o seu Igreja, e que não têm qualquer necessidade de coisas
evangelho parecia ser mais eficaz entre as classes materiais (Apo. 2:9; 3:17).
pobres, embora não tão eficaz entre as classes mais c. Em sua encarnação, 0- Logos de Deus tornou-se
abastadas, tomaram-se termos paralelos «pobre» e pobre, a fim de que pudéssemos enriqueeen
«espiritualmente bem-aventurado». espiritualmente (11 Cor. 8:9; Fil. 2:5 ss).
b. Jesus reconheceu o caráter permanente da d. A expressão ..os ricos e os pobres» significa
pobreza entre os povos do mundo (ver Mat. 26: 11; «todos», ou seja, todas as classes que compõem a
Mar. 14:7; comparar com Deu. 15:11), embora isso sociedade humana (ver Sal. 49:2; Pro. 22:2; Apo.
não signifique que ele fosse indiferente para com os 13:16).
307
POBREZA - POÇO
POBREZA interiormente as mesmas, tomando-as estanques, o,
Ver sobre Pobre, Pobreza. que só aconteceu pouco antes da salda de Israel do
Egito, sob a liderança de Moisés.
O vocábulo mais usual para indicar uma fonte que
POBREZA EVANG2LICA jorra do ch.io é ain, «olhoe. E a palavra para indicar
Dentro da Igreja Católica Romana, a pobreza é um um poço que precisa ser cavado até atingir a tábua
voto necessário em algumas de suas ordens religiosas. subterrânea de água, ou seja, o uivei em que as águas
Tal voto não faz parte do evangelicalismo, embora freáticas permanecem estáveis, é beer, Essa palavra,
alguns evangélicos pratiquem uma forma voluntária muitas vezes traduzida em nossa versão portuguesa e
de pobreza, como parte de sua renúncia ao mundo. A outras por «poço-, ocorre por trinta e seis vezes,
vida de Jesus e seus discipulos serve de exemplo segundo se vê, para exemplificar, em Gên. 16:14;
primário de tal tipo de renúncia, sem falar em ordens 21:19,25,30; 24:11,20; 20:2,3,8; Êxo, 2:15;
especificas, dadas a pessoas especificas, como aquela Núm. 20:17; 21:16-18,22; 11 Sam. 17:18,19,21; Pro.
achada em Mat. 19:21 ss, onde Jesus diz ao jovem rico 5:15; Hab. 4:15. E a palavra que indica cisterna ou
que venda tudo quanto tem para então segui-Lo no «açude- é bor, que ocorre por quinze vezes com esse
discipulado cristão. Cristo prometeu àquele homem sentido, pois também significa «buraco- e «prisão»,
um «tesouro no céu», E alguns crentes têm aceito isso Ver Deu. 6:11; I Sam. 19:22; 11 Sam. 3:26; 23:15,16;
como um ideal a ser seguido por todos os cristãos, e I Crô. 11:17,18; 11 Crô. 26:10; Nee. 9:25, para
não meramente uma ordem baixada a algum exemplificar. Contudo, visto que esses termos
individuo em particular. A maioria dos evangélicos, hebraicos são intercambiâveis entre si, é aconselhável
entretanto, tem rejeitado essa interpretação restrita. que o leitor examine com cuidado o contexto de cada
A religião organizada é criticada por suas riquezas passagem, para obter o sentido exato.
materiais e por seu exagerado interesse em templos O vocábulo grego usual para indicar qualquer fonte
cada vez maiores e mais ornamentados. A Igreja que proveja um contínuo fluxo de água é pegé (ver
Católica Romana é criticada por suas imensas Tia. 3:11). E aquilo que modemamente chamamos de
propriedades e por sua pompa. Algumas pessoas poço, uma perfuração artificial no solo, até se chegar
acreditam, com base no quinto capitulo da epistola de abaixo do nivel das águas freáticas, é ph,.éar (ver João
Tiago, e com base na declaração de que a salvação de 4:11). Mas, novamente, esses dois termos gregos por
um homem rico é mais diftcil do que passar um muitas vezes podem ser usados como sinônimos.
camelo pelo buraco de uma agulha (ver Mat. 19:24), A possessão de poços era algo tão importante na
que qualquer riqueza material é incompativel com o antiguidade que havia até mesmo conflitos armados e
discipulado cristão sério. Mas, contra essa idéia sobre desavenças por causa deles. E essas diferenças, por
a necessidade da pobreza material para que o crente muitas vezes, só podiam ser resolvidas por alguma
sirva bem a Deus, temos a declaração de Paulo: «Deus aliança ou acordo, como o que se deu entre Abraão e
pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, Abimeleque (ver Gên, 21:25 ss).
tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, super- . Essa grande valorização dos poços devia-se, pelo
abundeis em toda boa obra lO (11 Cor. 9:8).
menos parcialmente, ao grande trabalho despendido
A prática de certas boas obras requer a possessão na escavação dos mesmos. Grupos rivais, por isso
de dinheiro e Paulo orou no sentido de que os crentes mesmo, muitas vezes preferiam lutar por causa de um
de Corinto tivessem abundância material. Um exame poço do que cavar um outro poço. Note-se que, em
do contexto daquela passagem citada mostra que o Deuteronomio 6:11, os poços são arrolados entre
dinheiro está ali em foco, visto que Paulo estava outros itens de grande valor econômico, juntamente
falando no sustento financeiro dos ministros do com os vinhedos e os bosques de oliveiras, plantações
evangelho. Aqueles que sustentam a outros serão essas de crescimento lento e dispendioso. O valor dos
divinamente sustentados, e a idéia em pauta é a da poços também pode ser percebido no fato de que eram
abundância material. :E: bom dar em abundância, e dados a eles nomes especificos (ver Gên. 26:20-22). As
então receber em abundância. E: verdade que o amor cidades, por muitas vezes, tomavam nome com base
ao dinheiro é raiz de todos os males (ver I Tim. 6:10); em algum poço famoso que houvesse nas proximida-
mas outros pensam que afalta de dinheiro também é . des, como foi o caso de Berseba.
uma dessas raizes. Na verdade, há obstáculos tanto no
amor ao dinheiro quanto na falta de dinheiro. :E: Os poços também desempenhavam um papel
verdade que o dinheiro pode corromper. No entanto, estratégico preponderante quando havia guerras de
o homem espiritual deve ser capaz de manusear seu invasão. Os exércitos antigos geralmente só guerrea-
dinheiro, sem qualquer prejuízo pessoal. :E: um prazer vam durante os meses de verão, porquanto então
dispor de bens materiais em suficiência para se ser poderiam os soldados sobreviver alimentando-se das
generoso para com o próximo. Porém, o homem plantações saqueadas de seus adversários. Todavia,
religioso que só trabalha para elevar seu nivel de vida, também era durante os meses de verio em que a água
ou que arranca dinheiro de outras pessoas com essa rareava mais por todo o Oriente Próximo e Médio.
finalidade de ter uma polpuda conta bancária ou Por essa razão, os defensores das cidades e das regiões
possuir casas e outros bens, definidamente não se estâ invadidas costumavam tapar as bocas de seus poços
mostrando homem muito espiritual. O ideal grego da com pedras, I?ara então porem uma ·camac:i: espessa
moderação em tudo aplica-se aqui. de terra, a fim de que os soldados inimigos não
pudessem encontrar esses poços. Foi por essa razão
- que Ezequias, rei de Judâ, mandou escavar o túnel de
POÇO Siloé, que trazia água daquele poço até o interior da
Visto que o reF!' de chuvas, na Palestina, cidade de Jerusalém, a fim de que pudesse resistir
concentra-se quase inteiramente durante os meses de melhor ao ~~dio das t;ropas assírias. E quando
inverno, a água torna-se um artigo difícil de ser alguém quena tirar uma vmgança especial contra um
achado durante grande parte de cada ano. As fontes inimigo, então destruia os seus poços, conforme se vê
naturais de água são as fontes, os rios, os riachos e o em II Reis 3:25: «Arrasaram as cidades, e cada um
mar da Galiléia. E as fontes artificiais são os poços e lançou a sua pedra em todos os bons campos, e os
as cisternas. Todavia, estas últimas constituiram um entulharam, e tamparam todas as fontes de águas..• -
problema énquanto não se descobriu como forrar Ver também o artigo intitulado Cistema.
308
poçO....;. PODER
poços ANTIGOS sobre Giom, A arqueologia tem desenterrado outros
reservatórios de águas artificiais," naquela área geral.
Descoberta Arqueolôgica: Localidade. Leito do c. O açude velho (Isa, 22: 11). ficava localizado não
mar Mediterrâneo, ao longo das costas do monte distante da muralha dupla, perto dos jardins reais (11
Carmelo, entre Haifa e Dor. Uma estrutura de pedra Reis 25:4; Jer. 39:4). provavelmente na porção suieste
e madeira, de um antigo poço no leito do mar, em um dacidade, perto da fonte de Siloam, ou Hasselá (Nee.
local que já foi terra seca. Foi descoberto em 1985. 3:15).
Trata-se de um dos mais antigos poços jamais d. O açude do rei (Nee. 2:14). Tem sido
localizado. Fica situado acerca de 300 m da atual identificado com a fonte da Virgem, a leste de Ofel.
linha da praia. Objetos encontrados nas vizinhanças, Talvez fosse o açude também chamado de Salomão.
como cabanas de pedra, ossos de ovelhas e peles de e. O tanque de Betesda (vide). provavelmente
cabras, além de vários instrumentos, indicam um localizado no canto nordeste da cidade, perto da porta
período neolitico posterior ou calcolítico anterior, das Ovelhas (João 5:2).
4500 A.C. ou mesmo antes. Restos de carvalhos f. O açude de Gibeom (11 Sam. 2:8-17). Era uma
mostram que a ocupação estava, no meio de espécie de poço escavado para armazenar água. Foi
carvalhais. O fato deque não crescem carvalhos perto construído no inicio da Idade do Ferro. Uma
do mar, por causa"da atmosfera salgada, a qual eles escadaria descia até o nivel da água. O açude tinha
não resistem, mostra que a área antigamente era terra um total de quase 11 m de profundidade. Posterior-
firme, e que a linha da praia foi consideravelmente mente, foi escavado um túnel que levava água de um
alterada. Ver sobre Cbtenaaa e Poço (Lagoa). manancial fora das muralhas da cidade até o seu
interior. Ver o artigo geral sobre Gibeom, quanto a
maiores detalhes.
g. O tanque de Si/oé (também chamado de «águas
de sues». Ver Isa. 8:6; Nee. 3:15; 12:37; João 9:7.
poço (LAGOA) Josefo, o historiador judeu, mencionou com freqüên-
1. Palavras Blblicas Envolvidas cia esse tanque, localizado na extremidade do vale dos
fabricantes de queijo, ou vale Tiropeano (ver Guerras
Os termos biblicos correspondentes indicam ou 5:4,1). Ficava fora das muralhas de Jerusalém
uma lagoa (no hebraico, agam, ver lsa. 14:23; 35:7), (Guerras 5:9,4). Sua descrição sugere o atual Birkhet
bênção ou prosperidade material (no hebraico, Silwan, que ficava no lado oposto do vale do Cedrom.
berakah, Sal. 84:6); um ajuntamento de águas (heb, Foi a esse tanque que Jesus mandou o homem
milcWeh, ver Gên. 1:10; Êxo, 7:19); um lugar de lavar-se, a fim de recuperar sua vida. O tanque de
mergulhar (no grego. kilumbethra, ver Joio 5:2.4.7; Siloé era alimentado por um canal que foi escavado na
9:7,11). rocha sólida pelo espaço de quase 520 m, começando
2. Importância da Preservação de Ãgua Potável na, fonte da Virgem (ver sobre EnrogeI). Quanto a
Ver o artigo separado chamado Cisterna. Lugares maiores detalhes. ver o artigo intitulado Siloé.
onde a chuva é escassa, o calor é intenso, e há desertos 4. Simbolismo nos Sonhos e nas Visões
nas proximidades, dependem da preservação artificial Um poço, lagoa, açude, tanque, etc., ao refletir a
de água, ou de alguns poucos mananciais ali imagem de algum objeto, pode ser emblema da mente
existentes. O trecho de Isa. 14:23 provavelmente inconsciente. Em suas profundezas estão ocultos
refere-se a algum açude artificial, um tipo de todos os tipos de coisas misteriosas e inesperadas.
reservatório. A conservação das águas pluviais era Reflexos à superficie da água falam sobre o que o
crucial na Palestina. A precipitação de chuva, em sonhador está procurando descobrir sobre si mesmo,
Jerusalém, atinge somente cerca de 63 em por ano, e sobre seu destino, suas necessidades, suas perversões,
isso mesmo limitado a um período de cinqüenta a etc.
sessenta dias a cada ano. No resto do tempo, a
preservação da água é uma importante questão poço DEIACO
nacional. Túneis e valados eram feitos. As disputas
por causa de Fquenos suprimentos de água eram Ver I., Poço de.
comuns (ver Gên. 26:15-22; Êxo, 2:16 ss),
3. Reservat6rios Mencionados na Blblia
a. O aqueduto de Ezequias (11 Reis 20:20). Essa foi poço DO AQUEDUTO (AÇUDE DE BASSELÃ)
uma grande bacia aberta a mando do rei Ezequias, na Ver Nee. 3:15. Algumas traduções dizem nesse
cidade de Jerusalém, e que era alimentada por algum trecho c~ude de Hasselâ», Está em pauta um
curso de água. O trecho de 11 Crô. 32:30 mostra-nos reservatório. existente em Jerusalém, perto da Porta
que Ezequias canalizou essas águas desde Giom até da Fonte. que talvez fosse idêntico ao caçude do rei,.
o interior da cidade, utilizando-se de canal (Nee. 2:14), ou mesmo ao «açude inferiOD, menciona-
subterrâneo para essa finalidade. Os árabes chamam do emIsa, 22:9. AJ:aunsidentificam-no com o poço de
essa construção de Birket el-Hammam: e esse canal Siloé; mas parece ter sido um reservatório distint<!,.
aparentemente entrava pela porção noroeste da dentro do complexo do sistema de fornecimento de
moderna Jerusalém, não muito longe do portão de água. construido para atender As necessidades em
Jaffa, Jerusalém. A fonte de Giom era de onde manavam
b. O aqueduto do açude superior; o aqueduto do principalmente, essas âguas. •
açude inferior. O açude superior é mencionado em
Isa, 7:3; 36:2; 11 Reis 18:17. Ficava situado perto do PODER
campo do lavandeiro, fora da cidade. E o açude Esboço:
inferior é mencionado em Isa, 22:9. Ambos esses
açudes eram supridos de água Pela fonte do Giom, I. Definições
que era uma fonte intermitente e que constituia o 11. Agentes Poderosos na Bíblia
suprimento de âgua mais antigo de Jerusalém, .111. Poderes Malignos
situado no vale do Cedrom, imediatamente abaixo da IV. O Poder do Evangelho: A Missão Tridimen-
colina oriental chamada Ofel. Ver o artigo separado sional de Cristo .
309
PODER
I. De:fla1çies 2. Cristo. o Logos, foi o poder responsável pela
A base da palavra portuguesa «poder. é o latim, criação (João 1:1-3; Col. 1:16); e é o responsável pela
posse, «ser capaz•. O poder consiste na capacidade de sustentação da criação (Col. 1:17). Nele reside,
agir; é potência (vide); é uma virtude mediante a qual igualmente, o poder da encarnação (João 1:14),
uma pessoa ou uma coisa pode tomar algo uma mediante o qual a vida espiritual manifesta-se aos
realidade. Poder é capacidade em potencial; é força homens. O poder do Espirito de Deus atuava
ativa em operação; é o direito de ser ou de fazer poderosamente em Jesus Cristo, para cumprimento de
alguma coisa; é qualquer forma de energia. Na física, sua missão terrena especial (Luc, 4:14). Esse poder
o poder é a taxa com que a energia é convertida ou mostrou-se eficaz em sua vida (Luc, 4:36; 6:19; 8:46;
transferida em trabalho. Biblicamente falando, Deus 10:13; Atos 2:22). Cristo tinha o poder de dar a sua
é o Ser Todo-Poderoso (onipotente), sendo ele a fonte vida e de retomá-la (João 10:18). Haverá tremenda
originária de todos os outros estados e atos de poder. manifestação do poder de Cristo, por ocasião de sua
Palavras Bíblicas Envolvidas: parousia (vide; ver Mat. 24:30; 26:64). Cristo
No hebraico: 1. koach , «ser firme», «agir vigorosa- outorgou aos seus discipulos o poder de darem
mente», «produzir•. Essa palavra figura por cento e continuidade à sua missão (Mat. 28:18).
vinte e uma vezes, de Gên. 31:6 a Zac. 4:6. Esse termo 3. Os Discípulos de Cristo São Agentes de seu
é usado em todos os tipos de conexão, divina e Poder. Ver Luc 2:49; Atos 1:8; Efé. 3:20; Fil.
humana. 2. Oz, «força», «dureza», «segurança.., 3:10; 11 Tes. 1:11. Por essa razão, as orações deles são
«majestade». Esse vocâbulo ocorre por noventa e poderosas (Tia. 5:16). A passagem de João 14:12 diz
quatro vezes, conforme exemplificamos em Lev. que os que crerem em Cristo serão capazes de realizar
26:19; Esd. 8:22; Sal. 59:16; 62:11; 63:2; 66:3; 78:26; obras ainda maiores que o pr6prio Jesus realizou, se
90 :11,' 150:; 6 H a.
1 E ze. 30 :; b 3 :.
4 T ambé m é p al avra tiverem nele a fé suficiente.
usada para indicar qualquer tipo de poder. 3. 4. O Poder do Esplrito Santo, que é o alterego de
Geburah, «valor», «poder.., «força», «domínios: usada Cristo, atua para dar um continuo sucesso à missão de
por sessenta e uma vezes, conforme se vê, por Cristo. Ver Atos 1:8. O trecho de João 14:12 também
exemplo, em Deu. 3:24; Jui. 5:31; I Reis 15:23; 11 deixa isso entendido, visto que os discipulos sô
Reis 10:34; I Crê. 29:12,30; Est. 10:2; Isa. 11:2; ler. poderiam fazer obras maiores que as de Jesus, se ele
9:23; 10:6; Eze. 32:29,30; Dan. 2:20,23; Miq. 3:3; fosse para o Pai, indicando que assim ele enviaria a
7:16. Um bom número de outras palavras hebraicas eles o seu Espirito Santo. Ver o artigo geral sobre o
também aparece, mas elas são, essencialmente, Esplrito Santo. no tocante a completas notas sobre
sinônimos dessas três palavras hebraicas. essa questão. Ver Luc. 4:14; Mat. 12:28; Sal. 104:30.
No grego: 1. dúnamis, «poder.., indicando coras 5. A Igreja. A comunidade dos salvos é o agente do
poderosas (milagres). Dai é que vem o termo modernc Espirito Santo na propalação da mensagem de Cristo
e
«dinamite... vocábulo usado por cento e vinte vezes e do poder do evangelho. Poder pode ser um dom de
no Novo Testamento, desde Mat. 6:13 até Apo. 19:1. Deus (ver I Cor. 14:3), que alguns crentes possuem, o
Os verbos dúnamai e dunamôo também são muito que, provavelmente, indica a capacidade de realizar
comuns, sobretudo o primeiro deles. 2. Eksousla, grandes obras e milagres. Também é preciso poder
«poder», «autoridade», «direito... Essa palavra ocorre para que o crente compreenda as profundas
por cento e três vezes no Novo Testamento, de Mat. realidades da fé, o que é um ideal acenado para todos
7:29 e Apo, 22:14. A forma verbal eksousiâzo ocorre os crentes (ver Efê, 3:18,19). Algumas igrejas locais
por quatro .vezes, em Luc, 22:25; I Cor. 6:12; 7:4. têm pouco poder material (ver Apo. 3:8); mas, se
Também pode ser traduzida com o sentido de dependerem do poder de Cristo e de seu Espirito,.
«jurisdição» e até «liberdade». 3. Krâtos, «poder», poderão ser eficazes na sua missão.
«íominío.., «força ... Vocábulo que foi usado por doze 6. Poderes para Governar. Antes de tudo, devemos
vezes no Novo Testamento: Luc. 1:51; Atos 19:20; pensar no poder de Deus,ovemar todas as coisas (ver
Efé. 1:19; 6:10; Col. 1:11; I Tim. 6:16; Heb. 2:14; I I Crô. 29:11,12; 11 Cro. 25:8). O poder de Deus
Ped. 4:11; 5:11; Iud. 25; Apo, 1:6; 5:13. As formas manifesta-se por detrás dos governos humanos, que
verbais kratéo e krataiôo também são bastante atuam como seus agentes, em um certo sentido (ver
freqüentes. A idéia básica de dúnamis é «força ..; de Rom, 13:1-7).
eksousla é «direito.., «legalidade»; e de krâtos é 7. Anjos e Poderes. O trecho de Efé. 1:21 deixa
"«superioridade... O adjetivo krâtistos, «nobre», «exce- entendido que existem poderes angelicais de muitos
lente.., «ilustre.., deriva-se desse último vocábulo (ver niveis, talvez até havendo diferentes espécies de seres
Luc. 1:3; Atos 23:26; 24:3; 26:25). espirituais. Estão todos sujeitos ao poder do Logos, e
ll. Aaenta Podel'osoa na BlbU. são seus agentes. Ver Col. 1:16.
1. Deus. Ele é chamado na Biblia de o A palavra «poder» (singular) ou «poderes» (plural)
Todo-Poderoso. O trecho de I Crô. 29:11,12, é uma refere-se a alguma ordem angelical de elevado naipe,
das mais destacadas entre as passagens que assim m, então, é usada como termo genérico para várias
chamam Deus. Lemos ali: «Tua, Senhor, é a )rdens angelicais muito poderosas, embora menos
grandeza, o poder, a honra, a vitória e a majestade..... ;oderosas que outras ordens, como o são os
O mundo foi feito mediante o poder de Deus (ver ler. principados. Ver Efé. 1:21. Este último termo
51:15). O povo de Israel foi tirado do Egito pelo poder também é usado para indicar poderes angelicais
do Senhor (ver lho. 32:11). Os servos especiais de malignos (ver Cal. 2:15; Efê. 6:12; Rom, 8:39).
Deus vêem grandes obras poderosas através do poder m. Poderes Ma1IpOl
divino (ver Dan. 3:27; 6:27). Deus tem o poder de vida 1. O poder do pecado é uma realidade que escraviza
e de morte (ver Sal. 49:15; 79:11; 89:48). A esperança aos homens, conforme osêtímo capitulo da epístola
da ressurreição do corpo depende do poder de Deus aos Romanos ilustra longamente. Mas o evangelho
(ver Fil. 3:21). Ver também os artigos sobre Deus e tem o poder de quebrar esse dominio, o que se vê no
Atributos de Deus. O poder de Deus é imenso (Sal. oitavo capitulo daquela mesma epístola. Tanto judeus
79:11); é forte (Sal. 89:13); é glorioso (Isa. 63:12); é quanto gregos estão sob o noder do pecado (ver Rom,
eterno (Rom, 9:21); é soberano (Rom. 9:21); é eficaz 3:9). O trecho biblico de Rom. 1:18-3:20 aborda esse
(Isa. 43:13); é irresistivel (Deu. 32:39); é incomparâ- problema, em sua inteireza. Aqueles que praticam o
vel (Êxo, 15:11; Ec1. 3:11). O poder de Deus pode pecado são escravos do pecado (João &:34).
tudo (Mat. 19:26). 310
PODER - PODER DE DEUS
2. Satanás é o principal poder maligno, e a Bíblia milagres (Mat. 10:1; Mar. 16:17,18; Luc. 10:17).
apresenta-o como uma espécie de comandante das No perdão dos pecados (Mat. 9:6; Atos 5:31).
forças da malignidade. O poder de Satanás é limitado Na doação da vida espiritual (João 5:21,25,26).
por Deus (Jô 1:12.; 2:6), apesar do que ele é muito Na doação da vida eterna (João 17:2).
poderoso, encabeçando um vasto exército do mal (ver
Efé, 2:2; 6:12). Porém, sua queda final é certa (Luc. Na ressurreição de mortos (João 5:28,29).
10:18). Ver os artigos chamados Satanás e Diabo. No ter-se soerguido da morte (João 2:19-21; 10:18).
3. Anjos caldos, poderes e demônios fazem parte do No fato de que venceu o mundo (João 16:33).
reino das trevas, reino esse que tem o poder de No fato de que venceu Satanás (Cal. 2:15; Heb.
influenciar os homens e de votá-los à perdição. O 2:14).
trecho de 11 Ped. 2:11 refere-se ao poder desses seres No fato de que destruiu as obras de Satanás (I João
malignos. O mundo inteiro está debaixo do poder 3:8).
deles, excetuando-se somente os lavados no sangue de Guardados Pelo Poder de Cristo
Cristo (ver I João 5:19). Esses seres são numerosissi- 1. Na qualidade de Filho de Deus, ele tem o poder
mos (Efé. 6: 12). Não obstante, esses poderes não têm de guardar-nos (ver Mat. 28:20).
forças para separar-nos do amor de Cristo (ver Rom. 2. Seu poder ê supremo (ver Efé. 1:20,21).
8:38). A existência desses seres provoca um conflito de 3. Ele está acima de todas as coisas, agora e para
dimensões cósmicas (ver Efé. 6: 12). O reino das trevas sempre (ver João 17:2, Efé, 1:19 e ss).
é contrastado com o reino da luz (Col. 1:13). O
dualismo (vide) ensina que o reino da luz e o reino das 4. Seu poder exibido na concessão da salvação
é
trevas estão em luta um contra o outro, e que há (ver Heb. 7:25), e no fato de que ele sustenta a todas
esperança que esses dois reinos, finalmente, separar- as coisas (ver Col. 1: 17).
se-ão inteiramente. Porém. dentro desse sistema, não 5. Ele venceu o mundo, e nele também haveremos
há qualquer expectação de que o reino das trevas fatalmente de vencer (ver João 16:33).
possa vir a ser derrotado. A Biblia Sagrada. por outro 6. Coisa alguma pode existir, agora e para sempre,
lado, é dualista somente em parte. Ela projeta a capaz de contradizer ou destruir esse poder; portanto,
vitória do mundo da luz sobre o mundo das trevas, e a nossa segurança ê absoluta, conforme nos ensina o
não apenas uma separação final entre esses dois trecho presente.
reinos. Os últimos capitulas do livro de Apocalipse
refletem essa certeza. O trecho de Cal. 2: 15 refere-se PODER DE DEUS - O EVANGELBO
ao triunfo garantido por Cristo sobre as forças do mal. Ver 1 Cor. 1:24.
segundo também se aprende em Rom. 8:38 ss, Ver os
artigos separados Demônio, Demonologia e Possessão Poder, no grego ê dúnamis, que significa «força»,
Demoníaca. «energia», «habilidade», «poder», mas que normal-
mente se refere a algum agente de poder ou força,
IV. O Poder do Evangelho: A MIuio TrIdImensIo- capaz de realizar um determinado trabalho. Nosso
nal de Cristo. vocábulo «dinamite» se deriva desse termo grego; e
A salvação dos homens depende da eficácia de um isso ilustra a natureza da palavra. Tal palavra era
poderoso evangelho (ver Rom. 1:16). A missão usada para indicar «milagres» e «maravilhas», isto é,
tridimensional de Cristo (sobre a terra, no hades e nos «feitos», que requerem poder extraordinário e
céus) toma universalmente eficaz esse evangelho. O sobreumano, (Ver Mat. 7:22; 11:20,23 e 13:54). Nos
evangelho resulta na redenção (vide) dos eleitos e na trechos de Atos 3:12 e 4:7, essa palavra é empregada
restauração (vide) dos perdidos. Coisa alguma está para indicar o poder que Pedro usou a fim de curar o
fora do alcance do evangelho, e uma atitude aleijado. Em Atos 1:8, o poder referido é o do Espirito
pessimista no tocante ao resultado final da missão Santo, que seria dado aos crentes primitivos no dia de
tridimensional de Cristo é reflexo de uma teologia má. Pentecoste.
O evangelho de Cristo fala sobre o poder de Cristo Dentre todas as formas de poder, o poder de Deus é
salvar ou restaurar, até mesmo dentro do reino das o pináculo e o sumário; e todo o poder de praticarmos
trevas, com resultados positivos (ver I Ped. 4:6). Ver o o bem é conferido por Deus. E mister o maior de todos
artigo intitulado Descida de Cristo ao Hades, os poderes, para a realização da redenção, da
restauração, da transformação, da salvação humanas.
e também para governar o mundo.
PODER DE CRISTO O evangelho é o poder de Deus. A pregação da cruz
Na qualidade de Filho de Deus. tem o poder de Deus tem resultados muito maiores do que é possivel para a
(João 5:17-19; 10:28-30; Mat. 8:27). sabedoria humana; pois o evangelho pode salvar uma
Na qualidade de homem, esse poder lhe vem do Pai alma eterna, o que certamente é a obra mais elevada
(Atos 10:38). que a mente humana pode conceber, quando se
compreende, realmente, quão vasta obra é a salvação.
Descrito como: Pois não é coisa de pouca monta vir um pecador
Supremo (Efê, 1:20,21; I Ped. 3:22). remido a compartilhar de tudo quanto Cristo é e
Sem limites (Mat. 28:18). . d he deir arti· te de
Sobre toda a carne (João 17:2). possw, tornan o-se seu co- r oep cipan
sua natureza divina, de modo a tornar-se um ser
Sobre todas as coisas (João 3:35; Efé. 1:22). ........ aos próprios uU os . Somente o poder de
Glorioso (11 Tes. 1:9). Deus, atuando por intermédio do Espirito Santo, é
Eterno (I Tim, 6:16). que pode transformar os homens dessa maneira.
É capaz de subjugar a tudo (Fil. 3:21). Não é diminuto o poder que nos. salva da
Exibido: condenação devido ao pecado e à ilusão humana;
Na criação (João 1:3,10; Col. 1:16). mas isso é apenas o começo do poder que opera
Na sustentação de tudo (Col. 1:17; Heb. 1:3). através do evangelho de Cristo. Dai que procede a
ê
Na salvação (lsa. 63:1; Heb. 7:25). completa transformação dos remidos segundo a
No seu ensino (Mat. 7:28,29; Luc. 4:32). imagem de Cristo, em que os homens mortais vão
Nos seus milagres (Mat. 8:27; Luc, 5:17). sendo transformados em seres divinos e imortais,
Na capacidade que deu a outros de realizarem participantes da vida necessária e independente do
311
PODER - PODERES DO MUNDO
próprio Deus, em meio a uma santidade perfeita. Ver através da agência desses poderes espirituais inferio-
os trechos de Mat. 5:48; João 5:25 e 6:57. Ora, a res, que são pervertidos. Aquelas manifestações,
sabedoria humana não pode nem aprender e nem entretanto, também podem se derivar de espíritos
concretizar qualquer dessas realidades espirituais. humanos partidos deste mundo, em estágio de pouco
Mas Deus pode torná-las experiências nossas, através desenvolvimento, se é verdade que o mundo
do evangelho de Cristo. (Ver o trecho de Rom, 1:16 «intermediário» existe, pois do mesmo há muitas
quanto ao conceito do evangelho como o «poder de evidências nesse sentido.
Deus»). Os «demônios» podem ser de ordem humana ou
«O evangelho não é produto da sabedoria humana. angelical, conforme se ensinava na teologia judaica,
Em sua inquirição pelo sentido da vida e por Deus, a na filosofia grega e nos escritos mitológicos. E essa
mente humana jamais poderia ter concebido a posição foi comumente aceita pela igreja cristã em
verdade. Se, por um lado, a filosofia humana, em seu geral, até o século V de nossa era, conforme também
nível mais elevado, é um impulso na direção de Deus, continuam pensando certos eruditos da igreja cristã.
então, a filosofia de Deus, é um impulso na direção do Alguns estudos parapsicológicos parecem confirmar
homem. Através de Jesus Cristo, e este crucificado, esse ponto de vista. Ver o artigo sobre os Demônios,
um novo conceito do poder e da sabedoria de Deus em sua origem, natureza e manifestações. Lange, o
invadiu o mundo qual dilúvio». (John Short, in loc.). principal dos intérpretes luteranos, sustentava que os
«Existe uma palavra, uma eloqüência, que é a mais demônios são espíritos angelicais pervertidos como
poderosa de todas, a eloqüência da cruz». (Stanley, in espíritos humanos de indivíduos falecidos, e há
Ioc.), evidências modernas que parecem comprovar esse
«Aquilo que para o mundo, parece uma 'debilida- ponto de vista.
de' nos planos de Deus (ver I Cor. 1:25) e em sua O apóstolo Paulo conclui, por conseguinte, que o
maneira de exposição, por parte de seu apóstolo (ver I mundo invisível e sobrenatural, embora seja uma
Cor. 2:3), na realidade é seu 'poder', o poder que nos realidade temível, que só pode ser manuseada com
confere a salvação. E aquilo que parece 'insensatez', extrema cautela, não pode prejudicar finalmente o
por causa da insuficiência da 'sabedoria das palavras' crente, porquanto o amor de Cristo não o permitiria.
humanas (ver I Cor. 1: 17), na realidade é a mais alta Nem a esfera terrena (a vida e a morte) e nem a
'sabedoria de Deus'. (Faucett, in loc.). esfera etérea ou sobrenatural, a esfera extraterrena.'
Um Pouco de Aprendizado podem produzir qualquer prejuízo espiritual perma-
Aprender só um pouco é algo muito perigoso; nente para os remidos.
Sorve fundo, ou não proves da fonte da sabedoria; A Ousadia
Ali, goles pequenos intoxicam o cérebro 1. As palavras de Paulo, no oitavo capitulo de
E beber profundamente nos toma de novo sérios. Romanos, acerca da segurança dos crentes, encora-
Não é aos olhos, ou aos lábios que achamos belos, jam-nos a uma atitude de ousadia e confiança. A
Mas é ao conjunto, o resultado total de tudo. provisão divina é grande; o alvo está garantido.
Assim, ao contemplarmos alguma cúpula bem-feita 2. Nossa ousadia vem através da fé em Cristo (ver
(O mundo se admira, e até mesmo tu, ó Romaf), Efé. 3:12 e Heb. 10:19).
Nenhuma porção isolada igualmente surpreende, 3. Essa ousadia é produzida pela fê em Deus (ver
Tudo chega unido ante os olhos admirados; Atos 4:19), devido ao temor a Deus (ver Atos 5:29), e
Nenhuma altura desmedida, largura ou compri- através da fidelidade a ele demonstrada (ver I Tim,
mento; 3:13).
Mas o todo é, ao mesmo tempo, ousado e regular.
(Alexander Pope) 4. Essa ousadia é tão profunda que poderá ser
retida até mesmo no dia do julgamento (ver I João
4:17).
PODERES 5. Se nos falta tal segurança, cumpre-nos orar para
Ver o artigo Poder, 11.7 e 111.3. Essa palavra é que possamos adquiri-la (ver Efé. 6:19,20).
usada ou de maneira genérica, referindo-se a várias 6. Ela pode ser retida, mesmo diante da mais
ordens de espíritos angelicais bons ou maus, ou então amarga oposição (ver I Tes. 2:2).
visa indicar alguma ordem especifica de seres, ou 7. Os ministros do evangelho deveriam exibir
ambas as ordens. Os ensinamentos biblicos mostram ousadia na pregação (ver Fil. 1:14), e na reprovação
que o conflito entre o bem e o mal nunca é uma mera ao pecado (ver 1sa. 58:1).
questão pessoal. Antes, extrapola das dimensões 8. Paulo serviu de grande exemplo dessa ousadia
espirituais para a nossa própria dimensão material, (ver Atos 9:27,29 e 19:8).
envolvendo o homem nesse conflito côsmico, e não
sendo alguma luta meramente terrena e individual.
PODERES DO MUNDO "(ERA) VINDOURO
Ver Rom. 8:38. Essa expressão aparece em Heb, 6:5. Provavelmen-
A palavra poderes, evidentemente, indica os anjos te trata-se de uma expressão bem geral, referindo-se a
de nível um tanto inferior do que aquele mantido todas as variedades de poderes, de seres e de coisasj.
pelos «principados». Existem poderes angelicais de que governarão a eternidade futura. Ou talvez
natureza boa e de natureza má. Os «poderes», neste estejam em foco poderes e forças espirituais
caso, não são os tiranos terrenos e os inimigos sobrenaturais, ou dons espirituais, que pertencem à
guerreiros, como' alguns têm interpretado essa era ou dispensação do Novo Pacto, do qual Jesus
palavra, embora os remidos sejam protegidos, por Cristo é o Mediador. Comparar com Heb, 9:15. O que
semelhante modo, desses outros poderes terrenos. é certo é que esses poderes haveria de produzir uma
Alguns intérpretes pensam que esses «poderes» tremenda transformação espiritual nos crentes,
inferiores são envolvidos em todas as formas de levando-os a terem um tipo inteiramente diferente de
manipulação de Satanás, nas artes da mágica negra, existência. O trecho de Heb, 6:5 diz que certas
na feitiçaria, nas manifestações próprias do espiritis- pessoas já experimentaram, em um sentido prelimi-
mo, etc. É provável que ao menos uma parte dessas nar, os poderes do mundo vindouro, mas que, mesmo
manifestações seja controlada pelo poder satânico, assim, podem chegar a desviar-se. Em minha
312
POESIA - POETA, POESIA
estimativa, crentes verdadeiros estão ali em evidência, um trecho de Arato de Misia: ..Porque dele também
e não meramente quase-crentes. Isso levanta a somos geração». Com base nessa linha poética, Paulo
questão da «segurança dos crentes», Ver o artigo salientou o absurdo da idolatria.
detalhado sobre Segurança Eterna do Crente. A Segundo se verifica com qualquer palavra de
exposição que provi no NTI (Novo Testamento sentido muito amplo, não há nenhuma definição
Interpretado), sobre o sexto capitulo da epistola aos isolada e boa para a poesia, embora esta seja uma boa
Hebreus (que é motivo de lamentação para algumas tentativa: «(A poesia) é um discurso emocional e
pessoas), aborda todas as interpretações que circun- imaginativo em forma métrica-ou seja, a representa-
dam essa passagem de Hebreus. Minha posição sobre ção de experiências ou idéias que envolvem significa-
o problema da segurança do crente é que um crente ção emocional, em uma linguagem caracterizada pela
verdadeiro pode cair; mas, se é que ele é membro do imaginação e pelos sons ritmicos. Pelo lado da
corpo mistico de Cristo, então será trazido de volta ao imaginação concreta, a arte da poesia está bastante
redil, porquanto isso é uma promessa bíblica. Esse ligada com as artes da pintura e da escultura, embora
«trazer de volta» pode suceder antes ou depois da diferindo dessas porque está melhor adaptada à
morte biológica do individuo, visto que tal promessa representação de continuidade e movimento e também
não está limitada por qualquer condição temporal. por poder fazer uso de idéias puramente abstratas,
bem como de imagens verbais. E pelo lado do som
rítmico, está intimamente relacionada à música,
POESIA embora diferindo desta em sua capacidade de
Ver sobre Poeta, Poesia. representar tanto idéias concretas quanto idéias
abstratas com alguma exatidão. Quando o assunto é
encarado objetivamente pelo poeta, a poesia pode ser
POESIA E TEOLOGIA narrativa ou descritiva, quando subjetivamente, a
Ver sobre Poeta, Poesia, seção quarta. poesia pode ser llrica. A poesia dramática combina
esses dois pontos de vista: ela é objetiva para o poeta,
mas apresenta a matéria subjetivamente, através de
personalidades imaginárias. Visto que a poesia pode
POESIA NO ANTIGO TESTAMENTO tratar tanto de assuntos gerais como de assuntos
Ver sobre Poeta, Poesia, seção segunda. concretos, também há um tipo de poesia que poderia
ser apropriadamente chamado de poesia expositiva ou
didática, mas essa, 1por causa de seu pequeno uso de
POESIA NO NOVO TESTAMENTO valores emocionais e de expressões imaginativas,
Ver sobre Poeta, Poema, seção terceira. existe por assim dizer, fazendo fronteiras com a
prosa». (AM)
Até onde vão os registros, a poesia é a mais
POETA, POESIA primitiva das antigas artes literárias. O poeta grego,
Esboço: Homero, do século IX A.C., surpreende-nos com seus
I. Definições e Descrições versos de estranha beleza e de arranjo tio artistico,
11. A Poesia no Antigo Testamento apesar do fato de que ele viveu em uma época de
111. A Poesia no Novo Testamento semibarbárie. O espirito amortecedor que há no
homem de algum modo não foi capaz de amortecer a
IV. A Poesia e a Teologia expressão poética. Outro tanto pode ser dito quanto à
I. Deflnlçiie8 e De8criçiie8 poesia do rei Davi (1000 A.C.), cuja arte literária nos
No grego, devemos considerar o termo poletés, é tão su~reendente quanto a sua vida caracterizada
«fazedor», «realizador". No sentido literário, um poeta pela violencia.
é alguém que exprime as suas idéias mediante
imagens verbais, metáforas e outros artificios n. À Poesia DO ADtlao TeItameJdo
literários. Um poeta prima pela brevidade de 1. Artifícios Poéticos:
expressão, em conjunção com expressões claras e a. Linguagem figurada. Essa é uma importante
eloqüência. Os melhores poetas são individuos caracteristica do cântico de Moisés (Exo. 15: 1 ss), do
criativos, que são capazes de manipular a linguagem cântico de Débora (Juí, 5:1 ss), de certas porções do
de maneira reveladora. livro de 16 (38:28 ss; 41:1 ss), e também freqüente no
Sócrates falava sobre a inspiração poética, mas livro de Salmos. Os poetas eram manipuladores da
não ficava impressionado diante das explicações linguagem figurada, e um bom poeta tem uma
racionais dos poetas, porquanto supunha que o imaginação fértil, que se manifesta sob a forma de
homem dotado de grande acuidade intelectual ou expressões verbais coloridas. «O próprio idioma
intuitiva com keqüência pode fornecer melhores hebraico é ressonante, ritmico e musical, até mesmo
explicações para as coisas do que os poetas. na prosa. O seu vocabulário é vivido. Abunda em
A poesia tem sido comumente usada como figuras de linguagem como aliterações, personifica-
expressão tanto secular quanto religiosa. Na cultura ções, hipérboles. metáforas, similes, metonimia e
grega, os escritos formais, tanto filosóficos quanto assonância, A diferença entre a prosa e a poesia dos
históricos, eram grafados em forma poética, porquan- hebreus nem sempre é fácil de determinar. Na poesia,
to o sentimento geral era que os escritos importantes os ritmos são confinados dentro de certos limites, ao
só podiam ser corretamente expressos dessa maneira. passo que na prosa esses ritmos são absolutamente
Levou tempo até que a pessoa começasse a ser usada livres" (UN).
nos escritos filosóficos e hist6ricos. A poesia ocupa um b. Paralelismo. Esse artificio opera de mais de uma
importante papel no Antigo Testamento; mas só maneira: por sinônimos, com a repetição de idéias
ocasionalmente vem à tona nas páginas do Novo similares (Sal. 49:1; todo o Sal. 104); paralelismo
Testamento. A poesia tem feito uma contribuição sintético, quando uma segunda linha é adicionada à
significativa para a teologia, dentro e fora do contexto primeira, como uma espécie de reiteração da mesma
hebreu-cristão, conforme demonstro na seção quarta declaração, mas com uma expressão levemente
deste artigo. A palavra «poeta- aparece na Bíblia düerente(Sal. 55:6); paralelismo antitético, quando a
somente em Atos 17:28, onde o apóstolo Paulo cita segunda linha apresenta um contraste com a idéia
313
POETA, POESIA__
expressa na primeira (Sal. 1:6); paralelismo climáti- indicações que a cultura hebréia contava com muita
co, quando a segunda linha amplia a idéia contida na poesia, de natureza tanto religiosa quanto secular. Os
primeira (Sal. 55:12,13); paralelismo binósfico, em livros poéticos do Antigo Testamento são Jô, Salmos,
que a primeira linha é seguida por diferentes tipos de Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão,
paralelismos. m. A P.... DO Novo Testamento
Algumas Ilustrações: O Novo Testamento não dispõe de nenhum livro ou
Por Sinonímia: de larga porção de algum livro de natureza poética.
Sal. 59: 1 Apesar disso, considerando seu volume limitado, há
1a linha - ..Livra-me, Deus meu, dos meus inimigos; bastante poesia no mesmo.
2 a linha - "põe-me acima do alcance dos meus 1. Citações. O livro veterotestamentário mais citado
adversários». no Novo Testamento é o livro de Salmos. Com base
Paralelismo Antitético' nessa circunstância, uma boa parcela de poesia foi
Sal 1 ' 6 ' incorporada assim pelos autores do Novo Testamento.
a' .. . . . Todavia, também são citados ali poetas não-hebreus.
1 linha - ..POIS o Senhor conhece o caminho dos JUs- O trecho de Atos 17:22-31 dá-nos o sermão de Paulo
a t~s, .• . no Areópago. O vs. 28 dessa passagem provê uma
2 linha -=- ..ma~ o c~mmho dos rmpios perecerá». citação de três poetas gentios, a saber: Epimênides de
Paralelismo Binôsfico: Creta (..Pois nele vivemos, e nos movemos e
Sal. 45:1 existimos»), Arato da Cillcia e Cleantes, o estóico
1a linha - ..De boas palavras transborda o meu ("Porque dele também somos geração-). E Paulo, em
coração: Tito 1:12 também citou Epimênides (cCretenses,
2 a linha - ..Ao Rei consagro o que compus: sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiço-
3 a linha -- ..a minha língua é como a pena de sos-). Visto que Epimênides era cretense, teria ele dito
habilidoso escritor». a verdade nesse casol Os filósofos têm-se divertido
Paralelismo Sintético: diante dessa indag~lo. O trecho de I Cor. 15:33
Sal. 55:6 emprega uma máxima de Menandro (<<As más
illlinha - ..Quem me dera asas como de pombal c~nversações corrompem os bons costumes»), Essas
2 a linha - «voaria e acharia pouso». ~tações sugere~ ...que: Paulo recebeu ~ma educação
, liberal. As evidências em favor disso também
c. Ritmo. Essa é uma terceira caracteristica da dependem do fato de que muitas de suas declarações
poesia hebréia. Os hebreus não desenvolveram o 'encontram paralelo em dizeres de filósofos estóicos. A
ritmo ao ponto em que o fizeram os gregos, embora cidade de Tarso era: centro Ide cultura estóica.
seja um artificio que tem seu desempenho na poesia Fatos como esses laboram contra o antiintelectualis-
dos hebreus. Os hebreus não contavam sílabas, como mo (vide), tão popular entre certos crentes.
o faziam os gregos. Os eruditos têm sido capazes de 2. Fragmentos de Hinos Antigos. Os intérpretes
detectar um cet;to ritmo na acentuação das. pala~as, julgam poder descobrir porções de antigos hinos
mas não no numer~ das. sílabas. ~ métric~ liri~a, cristãos no prólogo do evangelho de João; em Efé.
entre os hebreus, tena dOIS mais dOIS; a poesia épica 5'14 19' em I Tim 3'16' em 11 Tim. 2:11-13' em Col.
ou didática, teria três mais três; e a lamentação teria 1;13:20: em 11 C~r: 5:i4-18 e em Fil. 2:5:11. Mui
três mais dois, conforme se vê para exemplificar, no provaveimente, essas eram peças de poesia cristã
livro de Lamentações. Cumpre-nos notar, porém, que musicadas cujo intuito era exprimir importantes
os hebreus não dispunham de regras rigidas sobre idéias e se~timentos cristãos. Refletem tanto a poesia
essa questão, e que nem se deve pensar em emendar hebréia quanto a Urica grega, conforme também já
textos para moldá~los a ess~s acen~ações. ~entro seria de esperar. Ver o artigo geral chamado Hino
dessa questão rítmica, a poesia hebréia caractenza-se (Hinologia) quanto a detalhes sobre essa questão.
mais pelo !'ÍtI!J.0 ~e um. espírito que se eleva, e não por 3. Nos Escritos de Lucas. Visto que Lucas foi
algum artificío Iiterârio especial. homem de considerável habilidade literãria, é apenas
, . -. natural que ele tenha incluido poesia em suas
. d. O us? ~ mustca. Sabe-se que a poesia gr~ga composições. No evangelho de Lucas hâ oito
tinha por finalidade ser e~toada. Isso só é verdadeiro passagens poéticas: 1:14-17,33-35,46-55,68-79; 2:14,
em .parte, no caso da poesia do.s hebreus. çertamente 29-32,34,35. As poesias mais bem conhecidas e mais
muitos ~~ salmos foram mU~lcados. DaVI desenvol- utilizadas, dentro do evangelho de Lucas, são: o
veu ~ mus~caa ser usada nos ntos do templo. Trechos Magnificat(1.46-55); o Benedictus (1.68-79); o Gloria
e~r:turisticos c0rI!0 o de Sal. 137:.3 mostr~ q~e a in Excelsis (2.14) e o Nunc Dimittis (2.29-31). O
músíca Ie, presu~~velmente,.a poe:s1a) não se lirntta,:a Antigo Testamento foi empregado quanto a quase
à expressão relígíosa dos israelitas. Pouca p~sla todo esse material e o estilo é tipicamente hebraico.
não-religiosa nos chegou da parte dos antigos _ . • ... J ('1 8)
hebreus, porém o trecho de Núm. 21:17,18 refere-se 4. ~e~eçoes Mlscel"'!eas. O prólogo de oão 1. -li
ao ..cântico do poço», que parece ser uma espécie de é defiDldam~nte poético, podendo. repre,sentar,. pe o
coro, empregado pelos cavadores de poços para se me~os parcialmente, algum antigo hin? cnstão;
encorajarem enquanto ocupados em um trabalho várias declarações do Senhor ~esus são poéticas, como
árduo como esse. Provavelmente outras ocupações as bem-aventuranças (Mat. 5.3-12) e outras partes do
pesadas também contavam com cânticos similares, Sermão da Montanha (6:25-34). Os trechos de Mat.
comônas atividades-da sega (ver Isa. 9:3), da vindima 11:.28-30 e 23:37-39 soam como p~sla segundo o
(ver Isa, 16:10), além de haver .cântícos usados em estil<;J hebreu. O trecho de João 14.1-7 também é
ocasiões especiais (ver Gen. 31:27), festas de poético. Paulo tomou:se u~ ~oeta. ao escrever
casamento (Jer. 7:34), elegias (11 Sam, 1:19-27), p~sagens como Rom. 8.35-38, 11.33-3~, I Cor. 13 (o
lamentações (11 Sam. 18:33). E as passagens de Êxo. ~o ao amor); I çor. 15:51-57. Além disso, há lances
15:20; Isa. 23:16; I c-e. 25:6 mostram que eram Dltidame~te poéticos e~ Beb. 11:32-38 e Ju.d. 24,25.
usados instrumentos musicais nessas oportunidades. A versão lD&!.e~ de Kmg J~mes, com sua mcomum
Sem dúvida, eram peças poéticas declamadas com o beleza e cadência, conseguiu até melhorar algumas
au:x:llio da música. A maior coletânea de poemas dessas passagensl
hebreus que se conhece é o livro de Salmos; mas há No Novo Testamento observa-se o emprego de
814
POETA - POLARIDADE
paronomâsía e de aliteração. Exemplos disso são Luc. 1. Deflnlça.
21:11 (no grego, loimoi, limoi); Rom. 1:29 (no grego, Alguns fil6sofos também usam a designaçio
phthonou, phonou); Atos 17:25 (no grego, zoen, «conceitos polares».
pnoen); Heb. 5:8 (no grego, emathen, epathen); Rom, Algumas vezes, só podemos chegar a compreender
12:3 (no grego, huperpronein, phronein); Mat. 16:18 alguma idéia após considerarmos seu pólo oposto ou
iPetros, petra); File. 10 e 20 (Onesimus. onaimen), contrário. Opostos como imanência e transcendência,
Há um jogo de palavras, em Atos 8:30 (no grego, livre-arbitrio e determinismo, pluralidade e unidade,
ginoskeis, anaginoskeis), que pode ter ocorrido por o ideal e o real só podem ser inteligíveis em termos de
acidente. um estudo global, que inclua ambos os pólos dessas
5. O Livro de Apocalipse. Nenhum outro livro do questões. O principio da polaridade informa-nos,
Novo Testamento é tão poético quanto esse, do desde o começo, que o estudo dos pólos de alguma
começo ao fim. Depende pesadamente da literatura idéia mui naturalmente põe-nos frente a frente com
apocalíptica dos hebreus (incluindo os livros pseude- questões misteriosas. ~ um absurdo tentar retirar o
pígrafos) e do Antigo Testamento. Notáveis passagens elemento misterioso de nosso .conhecimento das
poéticas são os hinos ou cânticos exaltados que se coisas, especialmente no caso do conhecimento
acham nas seguintes passagens do Apocalipse: 4:8,11; teológico, e isso através da ignorância ou da perversão
5:9,10,12,13; 7:15-17; 11:17-19; 15:3,4 (o cântico de de algum dos pólos, com a exagerada ênfase sobre um
Moisés e do Cordeiro); 18:2,8,14-24 (a condenaçio de único pólo de um par de verdades. A poIuldade é a
Babilônia); 19:6,8. John Milton chamou o Apocalipse qualidade de «ter pólos», isto é, os dois lados de uma
de João de «um coro de sete aleluias e sinfonias de questão. Naturalmente, não nos podemos esquecer
harpas»; e Handel musicou alguns deles em sua que algumas questões têm mais de dois lados,
imortal composição, O Messias. Uma de minhas fon- podendo ser até multifacetadas. Não obstante isso, o
tes informativas queixa-se de que grande parte dessa principio da polaridade ensina-nos que precisamos
linguagem imaginativa não é interpretada no próprio considerar todos os ângulos de um problema
Apocalipse, dando a entender que as metáforas qualquer, e não apenas dois desses lados, naqueles
poéticas obscureceram o entendimento dessas por- casos onde houver mais de dois lados envolvidos.
ções, e sugerindo que a chave disso provavelmente
existiu na antiguidade. Porém, se o autor dessa fonte ll. ldéIu doa F1I61ofOl IGbre a PoIaddllde
informativa tivesse lido os livros apocalípticos e 1. Nicolau de Cusa (vide) declarou que o próprio
pseudepígrafos do Antigo Testamento, teria descober- Deus é o principal exemplo de ser ou assunto que deve
to ali quase todos esses simbolos e as explicações dos ser considerado da perspectiva da polaridade. Deus é,
mesmos. O restante deriva-se diretamente do Antigo ao mesmo tempo, imanente e transcendente; ele é
Testamento. amoroso e severo; ele é ilimitado, mas autolimita-se.
IV. A Poesia e a Teoloala 2. Fichte (vide), Hegel (vide), Marx (vide), além de
muitos outros filósofos têm pensado que a questão da
A poesia tem contribuído para a teologia, não polaridade deve ser resolvida por meio de uma sintese.
somente dentro da tradição hebreu-cristã, mas Entretanto, a experiência ensina-nos que nunca há
também em outras culturas. As obras de Homero (a uma sintese final, pois esta toma-se, de imediato, em
Biblia dos gregos) foram escritas em um excelente uma nova tese. Não há tal coisa como um fim em tudo
estilo poético, com uma força de expressão jamais isso. Todos os fins tomam-se meios para reiniciar o
igualada em qualquer outra literatura. As escrituras processo.
hindus, o Bhagavadgita (vide) contém notáveis 3. Schelling (vide) supunha que Deus tem em si
passagens poéticas. E há obras modernas que têm mesmo, de modo inerente e necessário, o principio da
levado avante a expressão poética, emprestando poder polaridade, que se manifesta de diferentes maneiras.
à teologia. Entre essas obras modernas poderíamos Eis a razão pela qual nunca podemos chegar a uma
citar a Divina Comédia (de Dante); a Tempestade, O conclusão final acerca da natureza e das obras de
Paraíso Perdido, o Paraíso Recuperado (de Milton); Deus, o qual permanece acima do nosso entendimen-
Fausto (de Goethe); e vários poemas de Tennyson, to. Todas as descrições que podemos oferecer sobre
como o Memoriam, Outros poetas metafisicos foram Deus são parciais e inadequadas, e todas maculadas
Robert Burns, John G. Whittier, John Donne e pelo erro. Deus é o Mysterium Tremendum (vide).
Browning. De modo não infreqüente, as mais notáveis
composições poéticas têm reinvidicado inspiração. Os 4. Morris Cohen (vide) por certo tinha razão ao
grandes temas de Deus, Cristo, as perfeições e a asseverar que muitas análises requerem que se levem
missão de Cristo, o amor de Deus, e a alma e sua em conta duas idéias opostas, e que a eliminação de
imortalidade têm sido fontes naturais de inspiração qualquer uma delas produz uma avaliação inadequa-
poética. da e errônea, quanto a muitas questões.
Muitos hinos são apenas grandes poemas musica- ID. AJaumas ApUcaça. TeoIó8Iaa
dos; sendo assim, é correto dizermos que a hinologia, O material acima sugere várias aplicações teol6gi-
em geral, serve de meio de expressão teológica. cas do principio da polaridade. Esse problema é vital
Alguns estudiosos têm até exagerado nisso, afirmando para a ciência, para a filosofia e para a teologia, razão
que a hinologia é um ramo da teologia. A eficácia da pela qual achamos importantes figuras defendendo
hinologia vê-se diante do fato de que não instrui um pólo ou outro de muitos problemas. Podemos
meramente a mente. Mas também anima e inspira ao exemplificar com a questão do determinismo vers~s
espirito. Um bom hino inspira nobreza, tal como a livre-arbitrio-não há, no momento, qualquer manei-
música corrupta inspira a corrupção. Ver os artigos ra adequada de reconciliar essas duas facetas de um
intitulados Música e Hino (Hinologia). problema maior ainda, o plano de Deus. Contudo,
sabemos que ambos esses princlpios são necessários e
POLARIDADE, PRINCIPIO DA verdadeiros. Esses são pólos de alguma verdade
. Esboço: única, transcendental, que ainda não é clara Pat:a
nós. Muitos cristãos, defendendo uma teologta
1. Definições infantil têm enfatizado um pólo ou outro dessa
11. Idéias dos Filósofos sobre a Polaridade questãC:, e denominações cristãs !tt~as tem-se
111. Algumas Aplicações Teológicas dividido por causa da questão. ~ tradictonal, entre os
IV. A Teologia Dialética; Pares Polares estudantes de teologia, causarem muitas dores de
315
POLARIDADE
cabeça uns aos outros, por causa desse problema; e Deus' As evidências indicam que o homem é
também é tradicional que seus mestres aticem mais composto, pelo menos, de quatro elementos básicos: o
ainda a fogueira, defendendo um lado ou outro da corpo fisico; a vitalidade semifisica; a alma espiritual;
questão. Em casos como o desse problema, o e o sobre-ser, que é a porção verdadeiramente
procedimento correto a ser seguido é ensinar ambas as transcendental do homem. Ver os artigos separados
verdades, a fim de derivar das mesmas o beneficio dali sobre Humanidade (Natureza Humana) e Sobre-ser.
advindo, sem qualquer tentativa de reconciliação. O principio da polaridade ensina-nos a ser pacientes
Ambos os lados têm muito a ensinar-nos. O erro com 'problemas complexos e a não falarmos alto
consiste em anular qualquer um dos p610s, a fim de demais sobre coisas que quase desconhecemos
obter o conforto mental. Se cairmos nesse erro, inteiramente.
acabaremos ensinando uma humanologia, e não a 5. A Ira e a Graça Divinas. Alguns teólogos alistam
teologia. e forçoso admitir que várias idéias esse duo entre os paradoxos ou pares que, de fato,
terminam em um paradoxo (vide). Na verdade, ter constituem uma única verdade, para nôs um tanto
uma teologia sem paradoxos é ter um sistema obscura. Pessoalmente, creio que temos algum
teol6gico infantil, sem a devida profundidade. discernimento quanto à questão. O juizo é O amor em
1. O prop6sito da teologia não é obter consolo men- operação, e não, na verdade, o contrário do amor. O
tal por meio de algum sistema sem problemas. julgamento divino é remedial(ver I Ped. 4:6), estando
Aqueles que se sentem perfeitamente à vontade às alicerçado sobre o amor de Deus, que procura corrigir
voltas com o mundo das idéias, e não encontram os homens. Todos os juizos divinos envolvem um
quaisquer mistérios que não possam resolver, são elemento de restauração. Consideremos o julgamento
apenas iniciantes, da cruz de Cristo. Esse juizo foi remedial do começo
2. O Problema de Deus. Deus é imanente e ao fim. E o julgamento dos perdidos também será
transcendente; ele é infinito, mas toma-se finito remedial, procurando tomar uma realidade a
quando se autolimita; ele é todo-poderoso, e, no Restauração (vide). Em outras palavras, o julgamento
entanto, o mal prevalece neste mundo (ver sobre o final será um dos elementos que, unido a outros,
Problema do Mal). Todos os omnis que aplicamos a chegará àquele propósito. Contudo, para alguns
Deus, terminam em paradoxos. Pergunte-se a teôlogos cristãos, a ira e a graça divina continuam
qualquer teólogo a respeito da natureza básica de sendo uma polaridade.
Deus, ele não terá muita coisa a dizer. O vocábulo 6. O Tempo e a Eternidade. A ciência moderna
«espírito» ainda não recebeu qualquer boa definição sabe mais sobre o tempo do que antigamente. Platão
simples, a não ser esta: um espirito é imaterial. No pensava que a dimensão do tempo-espaço veio a
entanto, nem ao menos sabemos ainda no que existir mediante a intrusão das Idéias no mundo
consiste o átomo. Quando afirmamos que Deus é fisico, e que esses elementos são caracteristicas deste
Espirito Absoluto, temos dito algo, mas não muito. mundo inferior, embora sem qualquer aplicação ao
Manifestar-se de maneira diferente disso tão-somente mundo das Idéias. Albert Einstein demonstrou que o
manifesta uma teologia ingênua e preliminar. tempo não é constante, mas varia na velocidade de
3. O Problema do Deus-Homem. Costumamos sua passagem. As religiões orientais têm opinado que
falar sobre as duas naturezas do Logos, o qual se o tempo é apenas uma ilusão, e não parte da
encarnou como o Cristo. Podemos descrever ambas verdadeira Realidade de todas as coisas. O tempo é
essas naturezas, mas não há como afirmar o modo onde ocorrem as modificações; mas a eternidade é
como ambas essas naturezas-a divina e a humana- imutável. Ou, pelo menos, é nesses termos que falam
podem residir em um único ser. Somente aqueles que teólogos e filósofos. Alguns seres vivem fora do tempo;
são filosoficamente ingênuos não reconhecem essas e outros vivem dentro do tempo. O eterno penetra em
coisas. Os eruditos liberais sacrificam a natureza nossa dimensão fisica, como no caso da alma
divina de Cristo, reduzindo-o a um mero homem, humana, que é eterna. Grandes mistérios circundam
porquanto não podem tolerar paradoxos (e assim todas essas coisas.
eliminam o p610 da divindade de Cristo). Os antigos Martinho Lutero defendia a existência de «verdades
gnósticos e docéticos sacrificavam a natureza humana duplas», contra os iestudiosos da Sorbonne, que
de Crístov fazendo dele um ser meramente divino opinavam ao contrário. Em outras palavras, ele
(embora de um tipo inferior de divindade), por não pensava que existem paradoxos reais. Alguns dos
poderem tolerar paradoxos (e assim eliminavam o chamados paradoxos podem ser solucionados pelo
p610 da humanidade de Cristo). Muitos evangélicos, estudo e pela extensão da experiência humana.
embora não sejam docetistas em seu dogma oficial. 7. A Matéria e o Esplrito. Temos evidências em
nem por isso deixam de ser docêticos em uma favor da existência de ambas essas coisas, as quais, de
aplicação prática. Esses evangélicos exaltam de tal algum modo, podem coexistir dentro da mesma
maneira a natureza divina de Cristo (à qual são dimensão, e, no caso do ser humano, em um único ser
atribuídas todos os seus atos) -que bem poderiamos vivo. Porém, não temos nenhuma boa explicação
perguntar que elemento humano restava nele. Nesse quanto a como isso pode ser verdade; e assim
caso, como pôde ele morrer? Nenhuma Cristologia resta-nos refletir sobre a polaridade envolvida na
decente (vide) pode subsistir se não reconhecermos o existência, conforme a conhecemos. Meu artigo sobre
principio da polaridade. E, além disso, devemos o Problema Corpo-Mente procura expor algumas
reconhecer que os pólos envolvidos não podem ser idéias sobre como os dois elementos interagem; mas a
reconciliados entre si através de nosso presente nivel verdade é que pouquíssimo se tem descoberto. até
de entendimento. Ver dois artigos afins, Humanidade agora, sobre a verdadeira natureza tanto da matéria
de Cristo e Divindade de Cristo. quanto do espirito.
4. O Problema da Homem. No minimo, o homem é 8. O Problema do Mutável e do Imutável. Esse era
um ser duplo: material e imaterial. No entanto o um problema bãsico da filosofia grega original. As
Problema Corpo-Mente (vide), 'que procura mostrar- mudanças estavam vinculadas à idéia de fluxo (como
nos como esses dois lados do homem podem interagir nos escritos de Heráclito), e alguns materialistas
em um único ser, aponta para profundos mistérios. supunham que essa é a única realidade. Mas-outros
Nosso conhecimento não tem contribuido muito para pensadores, como Parmênides, encontravam a reali-
desfazer os mistérios que circundam o ser humano; e dade somente no Eterno, que ele declarava ser
quanto menos os mistérios que- envolvem a pessoa de imutável. Em seguida, ele dizia que o fluxo e as
316
POLARIDADE - POLIANDRIA
mudanças são ilusórias, sem qualquer realidade. t»OLEGAR
Platão postulava um mundo de Idéias imutãveis e No hebraico, bohen, «polegar»; também, bahen
eternas, atribuindo fluxo e temporalidade ao mundo yad, «polegar da mio». A palavra isolada aparece por
dos particulares (nosso mundo fisico), chamando-o de sete vezes: Êxo, 29:20; Lev. 8:23,24; 14:14,17,25,28.
«menos real». Aristóteles via a eternidade e a E a expressão bohen' yad é utilizada por duas vezes:
imutabilidade em seu Movedor Inabalável, embora ler. 1:6,7.
visse mudanças e desintegração nas demais realida-
des. O polegar constitui um dos mais versâteís dedos da
mio. Sua ligaçlo direta ao pulso permite e facilita a
Uma Útil Otaçlo. «Por causa da diversidade e sua rotação a uma posição em que sua ponta fica
complexidade da realidade e por causa das limitações diretamente oposta às pontas dos outros quatro dedos
da finita e pecaminosa razão humana, os melhores da mio. A experiência demonstra que a perda do
esforços do homem por conhecer a realidade levam-no polegar deixa a mão severamente aleijada e limitada.
somente a perceber verdades razoáveis (ou aparente- De conformidade com as modernas leis trabalhistas, a
mente razoáveis), mas irreconciliáveis. Em tais casos, perda do polegar recebe uma compensação bem mais
o homem pode estar mais perto da verdade quando alta do que a perda de qualquer dos outros dedos da
defende ambas os lados de qualquer questão mão. - As modernas técnicas cirúrgicas têm-se
paradoxal, e não quando desiste de um dos lados, em esforçado por substituir um polegar perdido por
favor do outro» (B, os itálicos são meus). algum outro dedo da mão, ou mesmo por algum
IV. A Teologia Dialética; Pua Polua artelho, com ligações similares às de um polegar
Karl Barth e sua escola rejeitavam a abordagem verdadeiro. E, nisso, os cirurgiões têm conseguido
teológica clássica da obtenção do conhecimento de uma razoável medida de sucesso.
Deus. Esse método clássico tem três aspectos: 1. Via
afirmativa. Conhecemos a Deus encontrando evidên-
e digno de nota que há proeminência especial aos
polegares dos filhos de Aarão, em conexão com sua
cias de sua natureza na sua criação, como no caso do consagração ao ministério sacerdotal do tabernáculo,
homem. Em seguida, expandimos o que ali achamos, porquanto a consagração desses ministros envolvia
e dizemos: «Deus é assim». Inevitavelmente, isso nos seu corpo inteiro, mas, especialmente, aquelas
envolve no antropomorfismo (vide). Esse método porções do corpo mais úteis ao serviço (ver Lev.
também é chamado de via positiva ou de via 8:23,24).
eminentiae. 2. Em segundo lugar, temos a via
negativa ou via negationis, o método negativo. Deus
«não» é como o homem é. Deus é inefável, e os POL8MICA
antropomorfismos somente afastam-nos para longe Essa palavra portuguesa vem do termo grego
da verdade, e não nos aproximam dela. Por isso, polemikôs, «aguerrido». Sua definição básica é
procuremos conhecer a Deus mediante experiências «pertinente à controvérsia, às disputas». No contexto
místicas, quando então a alma sente como Deus é, da teologia cristã, a polêmica refere-se a disputas
embora não seja capaz de descrevê-lo intelectualmen- havidas entre cristãos, acerca de questões controverti-
te. Ver o artigo separado sobre esse assunto, quanto a das, difíceis, nebulosas. Nesse sentido, essa palavra
maiores detalhes. Algumas religiões orientais concor- pode ser usada em contraste com o vocábulo
dam com esse método, afirmando que a única apologética, cujo intuito é prover subsídios para os
declaração verídica real acerca de Deus é: «Ele não é incrédulos meditarem, demonstrando a verdade
isto». Não há que duvidar que temos ai um exagero; cristã, tanto para os incrédulos quanto para os
mas, pelo menos, a via negativa instruí-nos a ser crentes.
cuidadosos sobre pensarmos que temos muito a dizer A polêmica é útil quando dela nos ocupamos no
sobre o Mysterium Tremendum, pois quase nada correto espírito cristão, com a idéia de instruir e
sabemos dizer a respeito. Faríamos melhor em falar receber instrução. Infelizmente, porém, a polêmica
sobre as obras de Deus, mais abertas às nossas freqüentemente degenera apenas naquilo que a
investigações. 3. A via eminentiae, Esse método é um palavra grega sugere, «conflito», com sua esteira de
sínônimo da via afirmativa ou positiva, embora
enfatizando as máximas sobre o que o homem é, ao separação e destruição da unidade entre os crentes.
procurar descobrir o que Deus é. Assim, do poder
humano subimos para a idéia do Deus todo-poderoso;
do conhecimento humano passamos para a onisciên- POLlANDRIA
cia divina, etc. As características humanas só são Ver o artigo geral sobre o MatrImaaIo, quanto às
verdadeiras quanto a Deus se forem elevadas à várias formas de casamento que prevalecem entre os
potência máxima, o que explica o titulo desse terceiro seres humanos. A transliteração do grego dessa
método. palavra é poli, «muitos», e anér (andr6s), «homem».
Essa abordagem é negada por Karl Barth e sua Esse termo fala da situação marital em que uma
escola, como já dissemos. Em lugar da mesma, eles mulher tem vários maridos, usualmente irmãos. O
preferem a via dialética. Nisso temos simplesmente mundo não tem exposto muitos exemplos desse
declaração e contradeclaração, o «sim» e o «não» dos costume. O exemplo mais notável são os todas,. da
paradoxos, onde são aceitos, mediante a fé, os pares India. Ali a prática era acompanhada pelo infanticí-
polares. E isso é tudo o que precisamos. Isso posto, dio de crianças do sexo feminino, pois nasciam muito
aceitamos como verdades a ira e a graça divinas, o menos meninos que meninas. A causa principal da
tempo e a eternidade, o livre-arbítrio humano e o poliandria, ali, era a pobreza. B que um homem só
determinismo divino (além de outros pares polares não dispunha de meios para sustentar uma mulher.
similares), sem sentir a necessidade de fornecer As mesmas objeções morais que se aplicam à
explicações racionais sobre como ambos os aspectos poliandria têm aplicação à poligamia (vide). Nos
desses pares podem ser verdadeiros ao mesmo tempo. montes do Tibete, a forma de poliandrla prevalente
S 'Impossível identificarmos a verdade divina com um era a de um irmão mais velho que compilrtilhava de'
conjunto de proposições dogmâtícas. A Palavra de sua esposa com os irmãos mais novos dele. Mas, se
Deus é mais ampla do que qualquer sistema qualquer dos irmãos resolvesse mudar-se para outra
dogmático. A Palavra de Deus não pode ser reduzida região, perdia os seus direitos maritais. Portanto, no.
a uma teologia escrita! caso, os homens é que tomavam as decisões, e nlo a
317
POLIANDRIA - POLICARPO
mulher. - E o Irmão mais velho I{eralml!'nte tinha Cristo, respondeu: ...Por oitenta e seis anos tenho sido
direitos maritais maiores do que seus irmãos mais servo de Cristo, e ele nunca me fez mal algum. Como
jovens. Na prática, a mulher usualmente podia opinar posso blasfemar de meu rei, que me salvou?» Ato
quanto à freqüência dos contactos sexuais, além de continuo, foi preparada para ele a fogueira; mas,
outros direitos. segundo se diz, o fogo fez um arco ao seu redor,
Os naiares de Cochim, ilha de Malabar e ficando ele intocado no meio das chamas. Alguém que
Travancore, praticam certa forma de poliandria estava próximo, entretanto, matou-o com um golpe de
não-fraternal. Em outras palavras, uma mulher pode sua adaga.
ter mais de um marido, e esses maridos não têm de Policarpo, que nasceu em 69 D.C., morreu em 159
ser, necessariamente, irmãos. Nesse caso, a palavra D.C. Para nós ele representa a igreja dos mártires, a
cabível é a liberalidade. Entre aquelas tribos, as constância cristã sob as mais severas perseguições.
mulheres gozam de excessiva liberdade quanto a Policarpo foi martirizado em meio a uma coragem
terem maridos e amantes. Cómo é óbvio, nos casos de invencivel, e foi recompensado com a coroa da vida,
poliandria, a paternidade nunca se toma importante; por aquele que também tivera morte horrível, mas
pois quem poderia dizer, na esmagadora maioria dos que triunfara em sua ressurreição, Jesus, o Senhor. O
casos, quem é o pai específico de alguma criança? único escrito que resta de Policarpo é sua epístola aos
Algumas vezes, é adotada a paternidade artificial, isto Filipenses. Também há uma carta de Inácio a
é, o irmão mais velho é reconhecido como o pai do Policarpo, que foi uma das sete cartas que Inácio
primeiro filho; o segundo irmão, do segundo filho, e escreveu, estando a caminho de Roma e do martirio.
assim por diante, sem qualquer consideração para
com as razões biológicas.
Vantagena. Extensas propriedades são assim POLICARPO, EPISTOLA DE
mantidas intactas. Há uma espécie de vida comunitá- 1. Autor
ria que requer a partilha dos recursos materiais. Cada A epístola de Policarpo é a única epístola que restou
pessoa que faz parte do grupo marital dispõe de desse antigo pai da Igreja, que foi bispo de Esmirna e
privilégios e responsabilidades. f;: possível que discípulo do apóstolo João, Temos provido um artigo
algumas mulheres considerem a poliandria uma separado sobre ele. Busêbío, o grande historiador
espécie de vantagem sexual, embora essa seja minha eclesiástico do passado, e Irineu, ambos tecem
opinião, e não o que dizem minhas fontes informati- considerações sobre ele.
vas. 2. Atividade Literária
Além dos todas e de certas tribos do Tibete, a Eusébio e lrineu informam-nos que Policarpo
poliandria tem existido igualmente na Sibéria da escreveu várias cartas (ver Eusêb, Hist. 5:20,8).
Rússia, em algumas sociedades africanas, e entre Alguns estudiosos têm proposto a teoria de que a
certos ameríndios do norte e do sul. Também tem sido chamada epístola aos Filipenses, atribuída tradicio-
encontrada nas ilhas Canárias, e em algumas poucas nalmente a Policarpo, na verdade é uma carta
ilhas do Pacifico Sul e nas ilhas Marshall. composta, algo similar à correspondência de Paulo
com os coríntios. Policarpo estava longe de ser um
literato, pois não se distinguia por uma educação
POLICARPO esmerada e nem era um teólogo. Assim sendo, já era
Policarpo (cujo nome significa multo fruto), o de se esperar que suas atividades como escritor não
discípulo pessoal do apóstolo João, homem muito fossem muito extensas.
consagrado, foi o «principal pastor» da igreja de 3. Pano de Fundo Histôrico
Esmirna, bem como o principal instrumento do poder Policarpo nasceu em uma família cristã, e foi
de Cristo (parcialmente mediado pelo anjo guardião seguidor de Cristo durante muitos decênios. Foi um
da igreja). A história de seu martírio é narrada por discipulo do apóstolo João. Foi amigo e mestre de
Eusébio, em sua História Eclesiástica iv.15 e em Irineu, e conheceu a Inácio. Este último esteve
Mart. Polyc., caps, 12 e 13, págs. 1037 e 1042. Foi durante algum tempo em Esmirna, quando Policarpo
levado à arena, lugar dos jogos olímpicos, um dos já estava aprisionado, e foi encorajado por ele. Dali,
maiores teatros abertos da Asia Menor, parte de cuja Inácio foi. para Roma. A carta de Policarpo aos
construção permanece de pé até hoje. Foi-lhe Filipenses foi escrita em cerca de 110 D.C., no ano em
ordenado que se retratasse e que abandonasse a que Inácio de Antioquia foi martirizado em Roma.
Cristo, dando sua lealdade ao imperador romano, Ver o artigo separado sobre Inácio.
como se fora um deus. Foi-lhe ordenado que dissesse: 4. Conteúdo da Epistola
«Fora com os ateus», isto é, com os cristãos. Isso ele A carta de Policarpo aos Filipenses usa continua-
fez, mas fazendo um gesto largo com a mão, mente o Novo Testamento, especialmente as epístolas
indicando a população hostil das arquibancadas, de Paulo, o que mostra a condição canônica
composta de pagãos. Foi-lhe ordenado que jurasse não-oficial mas já real das mesmas. Naturalmente, o
pelo «gênio» de César, confessando assim a divindade cânon neotestamentário da época consistia nas
do imperador. Isso ele se recusou a fazer. Foi epístolas de Paulo e nos quatro evangelhos. Ver sobre
ameaçado de ser morto pelas feras, mas não o Cênon, :e significativo que nessa epístola de
demonstrou qualquer temor. Foi resolvido que o Policarpo haja treze alusões às epistolas pastorais
queimariam na fogueira. O procônsul se opôs a tais paulínas, e isso mostra que mesmo então, aquelas
providências, mas sem resultado. Alegremente, obras atualmente denominadas deuteropaulinas
muitos trouxeram madeira para fazer a fogueira, tinham grande prestigio no começo do século 11 D.C.
Quando lhe foi dito que se retratasse, ele zombou do. O trecho de Efé. 4:26 é citado ali como «Escritura». O
fogo que tinham feito, e relembrou seus algozes do evangelho de Mateus, o relato Lucas-Atos, a epístola
fogo muito mais terrível das chamas do juizo eterno, aos Hebreus e I Pedro também são escritos utilizados.
que os ímpios terão de sofrer. Então disseram: ...Esse é Embora o próprio Policarpo fosse bispo, ou seja,
o mestre da Ásia, o pai dos cristãos, aquele que pastor de uma igreja local, seu poder e influência
derruba por terra os nossos deuses e que tem ensinado dificilmente confinavam-se a uma única congregação
a muitos a não sacrificarem e nem adorarem», Ante às local, e os oficiais eclesiásticos ali mencionados são
ameaças deles, que instavam para que amaldiçoasse a somente os presbiteros (ou anciãos, outro titulo para
318
POLICARPO - POLIGAMIA
os pastores) e os diáconos. Muitos pensam que um foram depois apostas: uma com o propósito de
presbitero (ou ancião) podia ser ou o pastor de uma fornecer a data da narrativa, e a outra relatando que
igreja local, ou um «supervisor.. (bispo) de uma região um certo Gaio copiou o manuscrito com base em
com várias igrejas locais. Por isso mesmo, então eram material pertencente a Irineu, que Sócrates (ou
intercambiâveis os titulas de «pastor.., «bispo» e Isócrates) fez outra cópia em Corinto, e que Piônio
«presbítero». Em outras palavras, esses titulas apenas copiou a sua obra. Câlculos feitos a partir desse livro
destacavam facetas de uma única posição eclesiástica, parecem situar a morte de Policarpo a 22 de fevereiro
embora isso não queira dizer que alguns anciãos não de 156 D.C., o que não concorda com a informação
funcionassem como supervisores de áreas inteiras. dada por Eusébio, que situa o martirio de Policarpo
Certamente que Timóteo e Tito eram mais do que em 167 D.C. E a maioria dos estudiosos pensa que
pastores de igrejas locais isoladas. Somente nos Eusébio estava mal informado a esse respeito, por não
séculos que se seguiram, esses títulos foram ter consciência do material contido no vigésimo
desmembrados, cada qual indicando alguma função capitulo desse livro.
eclesiástica diferente, havendo atualmente não pe- Irineu salienta que Policarpo foi escolhido para seu
quena confusão a respeito. oficio de bispo pelos apóstolos, que o tinham
Essa epistola de Policarpo dâ grande peso às boas conhecido ainda menino tHer, 3.3,4). Ele menciona a
obras e à uma vida cristã piedosa. Embora o estado visita feita por Policarpo a Roma, acerca da disputa
romano fosse hostil ao cristianismo, essa epistola da data certa da celebração da páscoa.
destaca os mandamentos paulino e petrino para os Talvez a porção mais significativa desse livro seja o
crentes obedecerem aos governantes civis e até orarem fato de que ela nos informa sobre as obras e as
em favor deles. As doutrinas frisadas acerca de Jesus atitudes dos cristãos que tiveram de enfrentar o
são as seguintes: Jesus Cristo verdadeiramente veio martirio no começo do segundo século da era cristã.
em carne (contra o docetismo); e ele realmente Um desses cristãos, de nome Germânico, sofreu uma
morreu e ressuscitou (insistência primitiva da morte her6ica; mas um outro, chamado Quinto,
doutrina apostólica, e que não pode ser abandonada apostatou. Este era menos corajoso do que pensava.
por todo verdadeiro crente). Denunciou-se como cristão, diante das autoridades,
S. Manuscritos em um momento impetuoso; mas, chegada a hora de
O apoio aos manuscritos da epistola de Policarpo é enfrentar a morte, perdeu a coragem. Esse incidente
adequado. embora não muito forte. Todos os foi usado como aviso, feito aos cristãos em geral, para
manuscritos gregos que chegaram até nós são que não se autodenunciassem. Que a natureza
defeituosos, terminando em 9:2. Mas vários manus- seguisse o seu próprio curso.
critos latinos suprem-nos o resto do texto da epistola, Policarpo, a exemplo de Jesus, escondera-se para
excetuando seu décimo terceiro capitulo. Isso é citado evitar maiores dificuldades. Porém, foi finalmente
por Eusébio. Há algumas citações na versão siriaca encontrado, em uma fazenda. No seu momento de
dessa epistola, mas não manuscritos. crise, orou durante duas horas, em voz alta, por vários
Bibliografia. CY GR LIG LO individuos, e pela Igreja de Cristo espalhada pelo
mundo. Quando o procônsul romano convocou-o a
fim de retratar-se e abjurar a Cristo, ele replicou: «Por
POUCARPO, MARTlRIO DE oitenta e seis anos tenho-O servido, e ele nunca me fez
L Assunto e Pano de Fundo Histôrico nenhum mal. Como posso agora blasfemar do meu
Policarpo, bispo de Esmirna, é o grande persona- Rei. que me salvou?.. Em vista disso, foi queimado
gem desse livro, especificando o seu martirio, naquela vivo na fogueira. Ê nesse ponto do relato que talvez
cidade, durante as perseguições movidas contra os topemos com elementos apócrifos, que dizem como as
cristãos na época do imperador Marco Aurélio. chamas dançaram ao redor dele, sem atingi-lo, e que
Policarpo tinha sido discípulo do apóstolo João; foi foi mister que o carrasco o executasse à espada; e
amigo e mestre de Irineu, e conheceu pessoalmente então o seu sangue extinguiu as chamas.
Inácio de Antioquia,: que, acabou também sendo Deveras interessantes são os pressupostos trinitaria-
martirizado. Ver amplas informações sobre ele nó nos que aparecem no décimo quarto capitulo desse
artigo intitulado Policarpo. O martirio de Policarpo livro, além de outros lugares do mesmo. Também
teve lugar em 155 P.C., na cidade de Esmirna, a atual figura ali a idéia de que os mortos bem-aventurados
Ismir da Turquia moderna. tomam-se imediatamente anjos (uma espécie de
2. Caráter da Obra recompensa dada aos mártires), segundo se ve nos
O Mçzrtirio de Policarpo descreve o martirio desse capitulos dois e três dessa obra.
antiqüíssimo vulto cristão. Trata-se de uma carta 4. Manuscritos
enviada pela igreja cristã de Esmirna à igreja. em Existem vários manuscritos gregos; há também
Filomélio. Policarpo tinha sido bispo de Esmima pelo citações nas obras de Eusébio; há um manuscrito
espaço de cinqüenta anos, e o seu martirio ceifou uma latíno.rcom algumasomissões, o que fortalece a idéia
vida plena de realizações. Filomélio, por sua parte, de que algumas interpolações acabaram sendo
era uma pequena cidade da Pisidia, localizada acrescentadas ao texto grego original. Um 6bvio
próxima à fronteira com a Frigia, e cerca de elemento apócrifo, no texto grego, é aquele que diz
quatrocentos quilômetros a leste de Esmirna. Ambas que quando Policarpo foi ferido no lado de seu corpo
as localidades, como é claro, estavam localizadas no com a espada do carrasco, saiu do ferimento uma
que é hoje a Turquia asiática. A narrativa do martirio pombal A imaginação popular não hesita em
de Policarpo foi feita por um homem chamado Márcio corromper até às mais solenes narrativas. Porém,
(segundo somos informados em 20.1 dessa narrativa), apesar desses toques apócrifos, não há que duvidar
o qual não deve ser confundido com o famoso mestre que o relato é autêntico.
gnóstico do mesmo nome. ~ óbvia a genuinidade da Bibliografia. CY GR LIG LO
narrativa, embora pareça que algum material
lendário ou apócrifo tenha sido adicionado.
3. Conteúdo POUGAMIA
Antes de tudo, há uma saudação. Aparecem então Esboço:
vinte seções ou capitulos. Duas porções adicionais 1. Definições
319
POLIGAMIA
2. Sociedades Polígamas religiosas sem o empecilho de ter de trabalhar para
3. A Moderna Cena Religiosa Mundial sustentar-se. Em sezundo IUA:ar, quando ela morreu,
4. A Moralidade e a Poligamia: Noções Biblicas ele fez da poligamia a prâtíca oficial e divinamente
1. DefIalç&ll sancionada.
Ver o artigo geral sobre o MatrlmÔDIo, onde s10 Nos paises da antiguidade, a prática da poliginia
discutidas as várias formas de casamento. Ver era quase universal. O Antigo Testamento deixa isso
também sobre Monogamia, que informa sobre um claro, até com respeito à antiga sociedade dos
ponto que faz parte integral do presente tema, hebreus. Esse também era um costume que prevalecia
especialmente no que diz respeito a como a no Egito e na Arâbia. - Até os pr6prios tempos
monogamia é rara entre as espécies de animais modernos, também era prâtlca comum na China e na
irracionais no mundo. O termo poligamia vem do Irlanda. Na China e no Japão dos nossos dias, a
grego poli, «muitos», e gámos, «festa de casamento », poligamia ainda persiste, sob a forma de um
Esse vocábulo refere-se, estritamente, aos casamentos concubinato socialmente aprovado. Os casais ali se
plurais, ou nos casos em que um homem tem muitas formam já com o entendimento que ambos os
mulheres (também chamado poliginia, «muitas cônjuges podem dar suas escapadas sexuais. Durante
mulheres-I, ou nos casos em que uma mulher tem a Reforma Protestante. houve um notável caso de
muitos maridos (ou seja, a poliandria, «muitos sanção. Martinho Lutero aprovou o casamento
homens-). O primeiro desses casos, a poliginia, é o bigamo de Filipe de Hesse. Mas isso causou
termo mais certo para quando um homem tem muitas unicamente perturbações e contendas entre os
mulheres; mas, de acordo com o uso popular, protestantes.
geralmente é usada a palavra poligamia para essa . Além das riquezas materiais adquiridas, conforme
situação, e as pessoas usualmente usam o termo foi dito acima, há uma outra vantagem do casamento
incluindo a idéia da poliandria, A Encyclopedia poligamo-é absorvido o excesso de mulheres sobre os
Americana envia o leitor a examinar o verbete homens, que se verifica em muitas sociedades,
Poliginia, sob o titulo Poligamia, o que está tomando-as esposas plurais. Doutra sorte, elas
verbalmente correto, embora isso vá de encontro continuariam, quando muito, a ser amantes, ou a
ao conhecimento e à compreensão comuns das terem uma vida caracterizada pela permissividade.
palavras. 3. A Moderna CeDa Rellaloea Mandiad
2.SoeI"." Pb. . . . . .
Embora as sociedades ocidentais sejam legalmente
O. mais conspícuo exemplo de poligamia, na cena
mundial, é o islamismo. A cada homem s10
monógamas. ainda assim. há muita poligamia, permitidas quatro esposas, contanto que cada qual
através da instituição semilegalizada do concubinato seja tratada igualitariamente pelo esposo. Esse ideal
(A Constituinte Brasileira, de 1988. - legalizou parece impossivel de ser cumprido, mas os bons
o concubinato), sem falarmos nas «amantes», secretas islamitas continuam tentando. O mormonismo, no
ou francas. Mas, quanto às sociedades que reconhe- começo de sua histôría, também praticava a
cem, legal e religiosamente, a instituição da poligamia. Seu grande lider, Brigham Young,
poligamia, somos informados que as mulheres segundo se noticia, teve mais de trinta mulheres. No
envolvidas dirigem seus ciúmes não na direção de entanto, ele parece ter preferido uma delas, com a
questões sexuais, mas na direção da posição social de qual passava a maior parte de seu tempo. Ê preciso
cada uma, do número de filhos, dos favores recebidos dizer a verdade que a porcentagem de casos de
do marido, da predominância social de umas sobre as poligamia, entre os môrmons, nunca foi muito
outras, etc. Também somos informados, por quem grande. Ademais. havia regras estritas regulamentan-
deveria saber o que está dizendo, que as sociedades do a questão como algo espiritual (um aspecto da fé
onde a poligamia há muito está arraigada, que elas religiosa deles), e não somente por razões pessoais ou
preferem essa forma de casamento, e isso não só da econômicas. A doutrina mórmon ensina que Deus
parte dos homens, mas até da parte das mulheres. :e tem muitas esposas, e que as almas humanas s10
produtos da procriação divina. Assim, os homens que
que uma co-esposa provê companheirismo e ajuda no
trabalho doméstico. Acresça-se a isso que, nessas seguirem esse divino exemplo estão-se tomando
sociedades, o número de esposas de um homem deuses, e precisam de muitas esposas para a formação
corresponde, a grosso modo, à sua prosperidade do núcleo de seus futuros reinos celestes, seguindo o
financeira, o que significa que uma familia poligama modelo deixado pelo Pai Celeste. A poligamia foi uma
tem mais prestigio social e financeiro que uma familia prática franqueada no território que agora é o estado
monógama, pois esta última pode estar seguindo esse norte-americano de Utah, de 1843 a 1890. Mas então
regime meramente porque o chefe da familia não é tão o congresso noite-americano baixou leis drásticas
abastado assim, podendo sustentar somente uma contra a prática, a qual foi constitucionalmente
mulher. Além disso, os casamentos poligamos suprem aceita pelo estado de Utah. - Espiritualmente
a força de trabalho que faz uma familia tomar-se falando, porém, a poligamia ainda existe no
mais próspera que as familias monógamas. Os mormonismo, na «selagem. de esposas a homens.
historiadores dizem que os indios norte-americanos para a. vida após-túmulo. Ocasionalmente, descobre-
blackfoot passaram de uma sociedade bastante se a poligamia fisica entre os môrmons, especialmente
empobrecida para uma sociedade afluente por razílo entre aqueles que vivem em áreas mais remotas do
de sua poligamia. As várias mulheres de um homem estado de Utah. Os môrmons que ainda praticam
eram treinadas a cuidar dos couros de búfalo e de esses casamentos plurais são chamados por eles de
outros animais. Enquanto o marido caçava, as «fundamentalístas», porquanto consideram a poliga-
mulheres é que preparavam as peles. Quanto mais mia um aspecto importante da fé môrmon, Entretan-
esposas tivesse um homem em sua tenda, mais to, embora eu tenha vivido por vinte e quatro anos
prósperos tornavam-se todos os membros da famllial completos no estado de Utah, nunca conheci ali uma
A poliginia é comum em alguns paises africanos, única familia polígama; mas havia rumores, ou algum
sendo a prática oficial dos muçulmanos. A sabedoria artigo que era publicado, sobre os fundamentalistas
prática de Maomé dificilmente pode ser posta em môrmons.
dúvida. Em primeiro lugar, ele casou-se com uma rica 4•. A 1\fonUdade e a Po~. .mla; Noç8eI BlbIlcM
viúva, pelo que teve tempo de seguir suas idéias Aqueles que manipulam a seu talento os textos de
320
POLITARCA ...... POLOS. MUDANÇA nos
prova biblicos supõem que a passagem de Gên. 2: 18 O segundo artigo acima referido, Deuses Falsos, dá
ss indica que a ordem original e correta era a uma boa descrição das formas que a idolatria e o
monogamia, e que, posteriormente, a poligamia foi politeismo assumiam na antiguidade, Uma forma de
permitida e atê mesmo encorajada, tendo-se tomado politeismo que prevalece entre os cristãos é a elevação
a forma dominante de casamento. Abraão, pai do de falsos valores, como o dinheiro, a fama, as
judaísmo, e todos os seus filhos, foram poligamos. O ambições pessoais, etc., a uma desmedida importân-
trecho de Deu. 21:15 ss regulamenta a prática. E, cia, como se fossem divindades. Desse modo, até
apesar do judaismo pôs-exíllco ser predominantemen- mesmo os individuos mais piedosos às vezes
te monôgamo, nem por isso a prática da poligamia foi escorregam e caem na idolatria e em um politeismo
oficialmente abandonada. Nos dias de Jesus, ainda prático, embora, na teoria, eles permaneçam mono-
havia a poligamia em Israel, e o div6rcio era tão fácil teistas. Ver o artigo "separado, Idolatria, que é uma
que casamentos plurais, em sucessão, tomaram-se inevitável associação do politeismo.
extremamente comuns. Jesus ressaltou o ideal original
da monogamia, e isso passou para outras porções do
Novo Testamento. Ver Mat. 19:3-9; Mar. 10:1-12; I POLlTICA
Cor. 6:16; 7:1,2; Efé. 5:22-33; I Tiro. 3:2. Dos Ver o artigo sobre a FUOIOBa PoIUca.
"diáconos (e outros lideres) da Igreja esperava-se a
monogamia (conforme fica demonstrado na passagem
de I Timóteo), mas a poligamia nunca foi condenada POLOS, MUDANÇA DOS
em termos finais e oficiais, mesmo no Novo Alguns investigadores estio certos de que grandes
Testamento. desastres têm sucedido no decorrer dos milênios de
idade do globo terrestre. Uma constante nesses
cataclismos (uma média de um desastre a cada oito
POLITARCA mil anos) é a mudança de posições dos pólos norte. e
Apesar de certos detalhes da narrativa lucana de sul. Isso pode explicar grandes e súbitas mudanças
Lucas-Atos não terem sido ainda confirmados pelos climáticas. Assim, para exemplificar, têm sido
arqueólogos, a tendência sempre foi que quanto mais encontrados grandes quadrúpedes congelados no
descobertas são feitas, tanto mais exato mostra-se ser Alasca, ainda com alimentos não-digeridos em seus
Lucas. Um caso em questão é o uso que ele faz do estômagos. Outrossim, o fenômeno explicaria como
termo politarca (no grego, politárches), em Atos 17:6 as atuais regiões árticas já foram tropicais, com uma
e 8, referindo aos magistrados civis de Tessalênica, fauna nitidamente tropical, ainda que, atualmente,
Apesar de alguns eruditos do passado chegaram a esses animais não possam sobreviver ali.
levantar dúvidas quanto ao acerto desse uso, julgando Alguns estudiosos crêem que os relatos sobre Adio,
que Lucas o teria inventado, agora contamos com" e Noê assinalam, respectivamente, a penúltima e a
dezessete exemplos desse titulo, em diversas inscrições última dessas mudanças de p6los terrestres. "E a
(de acordo com o Ameriean Joumal of Theology, de cronologia bíblica corresponde, a grosso modo, com
julho de 1892, pâgs. 598-632). O Museu Britânico as datas dessas imensas convulsões. Ambos os relatos,
atualmente abriga uma dessas inscrições, retirada de pois, falariam sobre novos começos, e não sobre
um arco arquitetônico de Salônica. Uma lista de princípios absolutos. E talvez também tenham
nomes ali existentes corresponde a alguns dos nomes existido raças humanas pré-adâmicas, sobre as quais
dados como membros da igreja cristã de Tessalônica, a Biblia nada nos informa.
e o próprio termo «polítarca.. parece ter sido usado As evidências indicam que essas mudanças de pólo
principalmente na Macedônia. Esse vocábulo signifi- têm ocorrido por muitas vezes, talvez nada menos de
ca «dirigente da cidade.., pelo que está em foco algum quatrocentas vezes, desde a formação da terra. E isso
cargo público que corresponde mais ou menos aos significa que tem havido grandes ciclos terrenos de
atuais prefeitos. imensa duração, e que a nossa história é apenas a
história da raça humanôide mais recente, e não da
raça humana inteira. Ademais, a nossa história,
POLITEISMO excetuando alguma descoberta ocasional, que nos
Essa palavra vem do grego, poli, -muítos-, e theóe, leva a tempos mais remotos, é quase toda ela bem
"deus.., ou seja, a crença de que existem muitos recente. Quanto a maiores explicações sobre essa
deuses. Isso contrasta com o monoteísmo, a crença na questão, ver o artigo intitulado Dilúvio, em sua
existência de um único Deus, e com o henotelsma, a segunda seção, onde damos algumas evidências
crença de que apesar de existirem muitos deuses, acerca desse fenômeno. Ver também o artigo
somos responsáveis diante de um só Deus. Dois Antediluviano«, especialmente em seu quinto ponto.
artigos devem ser consultados nesta enciclopédia, em Aa Mu....ç. dali PóIoI e _ ProfedM. Vários
relação ao politeismo, Ver sobre Deus, especialmente místicos modernos estio predizendo, para a nossa
sua terceira seção, Conceitos de Deus, ponto época, uma outra mudança nos pólos a qual
primeiro, Poliseismo, Ver também sobre Deuses (biblicamente falando) fará parte da Grande Tribula-
Falsos. Naturalmente, o politeismo tem predominado ção, e será o golpe definitivo contra a raça humana,
entre as religiões do mundo. S6 as três grandes fés: a que chegou a um estado tão baixo de corrupção que
do judaismo, a do cristianismo e a do islamismo têm não haverá recuperação, a menos que haja algum
adotado uma forte posição monoteista. Contudo, os acontecimento radical como esse. As mudanças dos
judeus e os maometanos vêem o conceito trinitariano pólos sempre rearranjam os continentes, e, natural-
cristão como uma forma velada de monoteismo. mente, são acompanhados por gigantescas inunda-
Dentro do cristianismo moderno, os m6rmons ções (como o dilúvio de Noê), como também por
defendem um politeismo teórico. De acordo com o terremotos incrivelmente poderosos. Essas mudanças
mormonismo, na verdade existiriam muitos deuses; polares assinalam o fim de ciclos antigos e o começo
mas, na prática, eles promovem um triteismo: haveria de novos ciclos.
três deuses com os quais temos algo a tratar, o Pai, o
Filho e o Espirito Santo, que seriam pessoas
separadas e deuses distintos uns dos outros, e não
meras hipástases (vide) de uma única essência divina. •••••••••
321
POLUIÇAO - POLUIÇAO AMBIENTAL
POLUIÇÃO interpretação. O décimo quarto capitulo da epistola
aos Romanos aborda as questões cerimoniais que, aos
Esboço: olhos dos judeus, eram consideradas corruptoras, mas
1. As Palavras e suas Definições não aos olhos dos cristãos, exceto quando algum irmão
2. No Antigo Testamento chega a tropeçar, devido à liberdade excessiva e
3. No Novo Testamento impensada de outro crente.
4. A Questão Ambiental 4. A Questão Ambiental
1. As Palavras e suas Definições Em nossos dias, os ecologistas têm salientado quão
Essa palavra vem do latim, pollutus, participio errado, moralmente falando, é abusar da natureza. E,
passado do verbo polluere, que significa «tomar sujo•. com a passagem do tempo, suas advertências
Os sinônimos são «abusar», «contamínar», «correm- mostram estar com toda a razão. A destruição da
per», -vlolar», «macular», As palavras hebraicas atmosfera estâ causando um calor excessivo; esse
traduzidas por «poluir. (ou por algum sinônimo) têm calor está produzindo secas em mas antes bem
o sentido básico de «traspassar», «contaminar», regadas pela chuva. Assim, as colheitas estão
«sujar», «tomar comum», quase sempre dizendo falhando, e a fome estâ se alastrando. Rios poluídos
respeito às poluições morais e cerimoniais. são origem de enfermidades e de morte. A destruição
As três palavras gregas assim traduzidas são: a. da Floresta Amazônica mudar! o clima do mundo
allsgema, «polução», «contaminação» (Atos 15:20); b. inteiro. Quanto a um maior desenvolvimento desse
miasma, «polução moral» (em suas vârias formas, tema, ver o artigo Poluição Ambiental.
como verbo, substantivo, etc., João 18:28; Tito 1:15;
Heb. 12:15; Jud. 8; 11 Ped. 2:10,20). A forma verbal é
mialno, POLUIÇÃO AMBIENTAL
2. No Antigo Testamento I. Causas da Poluição
Uma mulher, durante o seu periodo menstrual, era 11. O Labor da Ecologia
considerada cerimonialmente imunda, ou seja, 111. O Respeito pela Natureza
durante esse periodo ela não podia participar dos ritos IV. Implicações Morais e Teológicas
normais da fé judaica (ver Eze, 22:10). Outras coisas
que podiam tomar o individuo cerimonialmente A ecologia é aquela divisão da biologia que trata das
impuro era fazer um altar de pedras lavras (Éxo, relações entre os organismos e seus meios ambientes,
20:25), tocar em um cadâver (Nüm. 9:6; 19:14), envolvendo também as populações humanas e suas
ingerir a carne de vârios animais considerados relações reciprocas em termos de ambiente fisico,
imundos (Lev, 11), desconsiderar as regras atinentes distribuição espacial e caracteristicas culturais. A
ao matrimônio (Lev. 18:6 ss), comer coisas contami- palavra ecologia vem do grego o(kos, «casa», elogia,
nadas pela idolatria (Atos 15:20,29), fazer oferendas «estudo». Em outras palavras, «o estudo do ambien-
com animais aleijados ou imperfeitos, ou com motivos te •. Atualmente, o assunto da ecologia tomou-se uma
errôneos (Mal. 1:7-9). Então, naturalmente, com ou questão moral critica, talvez envolvendo a própria
sem a palavra, o envolvimento em qualquer tipo de sobrevivência da humanidade.
pecado ou iniqüidade era considerado poluidor, sem I. ea.... da Pol"çIo
falarmos em qualquer violação da legislação mosaica. 1. A produção e o' uso de energia desde hâ muito
A questão do pecado é muito ampla no Antigo vem sendo uma das principais causas da poluição
Testamento, visto que a fé dos hebreus visava mais a ambiental. Quase todos os combustiveis poluem. O
questão moral, e não a metafisica. Ver os artigos hidrogênio é uma exceção, mas a tecnologia relativa
separados chamados Limpo e Imundo; Imundlcie e ao hidrogênio ainda é primitiva. A energia solar
Pecado. também não é poluente; mas, novamente, temos ai
3. No Novo Testamento uma tecnologia incipiente. A energia atômica, a
A passagem de Atos 15:20,29 usa o termo em principio, prometia solucionar o problema energético;
conexão com o concilio de Jerusalém e o problema do mas, não demorou muito tempo para sucederem
legalismo. Os gentios deveriam observar que porcen- grandes acidentes envolvendo as usinas atômicas.
tagem da lei mosaica? Uma coisa era certa: os gentios Todavia, esse campo ainda oferece promessas de uma
convertidos precisavam evitar as poluções natural- energia ilimitada, e finalmente poderâ tomar-se
mente associadas à idolatria e à impureza moral. O não-poluente e segura, havendo maior progresso na
trecho de João 18:28 menciona a preocupação dos ciência. E é a nossa geração que está. a braços com
judeus com a impureza cerimonial, conforme também esses graves problemas.
o faz o trecho de Mar. 7:4ss. A passagem de Tito 1:15 2. A explosão populacional naturalmente tem
menciona a extraordinâria poluição das mentes dos aumentado de forma espetacular a poluição ambien-
individuos impios. As consciências deles estão tal. Os homens contaminam os rios e fontes de âgua;
corrompidas, e eles chegam a distorcer aquelas coisas espalham lixo por toda parte; poluem os alimentos
que, por si mesmas, não são impuras. Para eles, coisa com seus aditivos; poluem a atmosfera com a fumaça
alguma é pura. Provavelmente estão em pauta os dos escapamentos de seus veículos, Quanto mais
mestres gnósticos. Ver sobre o Gnosticismo. A aumenta o número de pessoas no mundo, pior fica a
amargura dos crentes uns contra os outros corrompe a poluição. Os próprios oceanos, que antes eram
comunhão na Igreja cristã. Essas atitudes tendem por considerados ilimitados, estão repletos de lixo e
fazer pessoas irreligiosas tomarem-se elementos detritos industriais.
prejudiciais na Igreja, quando conseguem introduzir- 3: A afluência. O chamado alto padrão de vida faz
se nela (ver Heb; 12:15,16). O texto de Jud. 8 as pessoas tomarem-se descuidadas. Hâ um desperdi-
aparentemente é uma referência à obra contaminado- cio tremendo de energia; os receptáculos de pllstico
ra dos gnósticos. 11 Pede 2:20 adverte-nos que as de inúmeros produtos não são destruidos com o tempo
pessoas que haviam escapado das poluções do mundo, e nem são usados novamente. Nos Estados Unidos da
podem voltar a cair nelas, tornando-se a situação América do Norte, a poluição ambiental tem custado
delas pior do que antes. Mui provavelmente estavam mais de dez vezes a taxa do produto nacional bruto. O
em foco os gnósticos". mas a advertência é geral, e não critério da conveniência governa a produção de
deve ser eliminada por nós mediante uma falsa produtos que não podem ser reciclados.
322
POLUIÇAO - POMBA
4. Os aditivos agrícolas para o solo e os inseticidas provisões para a sobrevivência dos animais, e não
com freqüência têm mostrado ser prejudiciais, ou somente do homem.
mesmo mortiferos. No entanto, certos produtos 2. O Homem como Mordomo. O primeiro capitulo
proibidos por lei em alguns países circulam livremente de Gênesis deixa claro que o homem foi posto no
em outros. jardim do Éden como um mordomo. Costumamos
5. A desconsideração ignorante e proposital pelo falar sobre a mordomia espiritual. Essa é uma
equilíbrio da natureza, conforme se dâ na incrivel doutrina importante. - A mordomia do homem
destruição da Floresta Amazônica, continua a semear deveria incluir o interesse pela natureza. Ela envolve
a mina no seio da natureza. mais do que a gerência apropriada dos talentos e do
ll. O Labor da Ecologia dinheiro.
Hâ pessoas que se especializaram na área da 3. O Erro Envolvido na Destruição. Se é errado
ecologia, e que estão produzindo literatura e fazendo destruir a vida humana, também é um erro destruir
propaganda que mostram a seriedade dos abusos outras formas de vida, exceto com o prop6sito
cometidos contra a natureza. Na maioria dos paises necessário da alimentação. As religiões orientais têm
industrializados, a ·Iegislação visa à proteção da a ensinar-nos certas lições, apesar do fato de que
natureza; mas, com freqüência, na prática, essa glorificamos à nossa própria fé às expensas da fé
legislação não é observada. Porém, não é fácil alheia. Um importante elemento disso é o respeito dos
cancelar o desejo de vantagens a curto prazo, mesmo orientais pela vida. Há piadas que zombam dessa
quando elas envolvem prejuízos ao meio ambiente. atitude, dizendo que não devemos matar uma vaca
Muitas pessoas que, em sua vida privada são morais, porque pode ser a nossa avó (envolvendo a
não aplicam isso à natureza e aos seus recursos. «Uma transmigração de almas). Porém, a verdadeira razão
grande porção dos verdadeiros custos de produtivida- dessa proibição oriental é o respeito pela vida, em
de não aparece, e os custos ocultos usualmente são todas as suas formas. e possível que os orientais
custos sociais. A distribuição mundial e o uso tenham exagerado quanto a isso; mas os ocidentais
persistente do DDT, para exemplificar, têm feito o exageram quanto ao outro lado da questão.
sentido da palavra vizinho abranger a comunidade
mundial inteira, e até mesmo as gerações seguintes.
Ademais, as questões ecológicas e econômicas se PÓLUX
justapõem, e temos de escolher entre a poluição e o Ver sobre Diôscuros.
uso das coisas». (H)
m. O Respeito pela Natureza
Existem crimes contra Deus e contra o homem. POMAR
Mas também existem crimes contra a natureza. O que No hebraico, p..me., uma palavra tomada por
fazemos com a natureza deve ser influenciado pela empréstimo do persa. Nesse último idioma significa
nossa moralidade pessoal. Não deveria haver padrões «recinto murados, Mas estão em foco pomares de
duplos dentro dessa questão. A natureza é o sistema árvores frutiferas, especialmente de romãs, que eram
de sobrevivência do homem. Na porção ocidental dos muito comuns nas terras bíblicas, Ver Ecl. 2:5.
Estados Unidos da América, nos séculos passados, os Algumas traduções dizem «parques», Em Cano 4:13 a
homens aniquilaram os grandes rebanhos de búfalos e palavra aparece no singular, «pomar».
de outros animais, dos quais os indios dependiam
para sua sobrevivência. E os civilizados faziam isso
por pura esportividade, para ver se tinham boa POMBA
pontaria com seus rifles e pistolas. O resultado foi que No hebraico, ycmah, palavra usada por trinta e uma
as imensas manadas de búfalos, que antes existiam vezes, como em Gên. 8;8-12; Sal. 55:6; Cano 1:15;
naquela região do pais, foram tão drasticamente Isa. 38:14; Jer. 48:28. Naum 2:7. No Novo
reduzidas que o búfalo andou perto de extinguir-se. Testamento, peristerâ, palavra usada por dez vezes:
E, em nossos próprios dias, pelo vasto mundo, os Mat. 3:16; 10:16; 21:12; Mar. 1:10; 11:15; Luc, 2:24
homens continuam a dilapidar a vegetação e a fauna. (citando Lev. 12:8); 3:22; João 1:32; 2:14,15. Ver o
Quanto a essa questão, São Francisco de Assis tem artigo geral Aves da Bíblia.
uma lição a ensinar-nos. ~ o santo patrono da nature- Na Palestina atual hâ, pelo menos, seis espécies
za e tem recebido o respeito dos ecologistas modernos. dessa ave, e, desde a década de 1950, com a extensão
Ele falava sobre a autonomia de todas as porções da das áreas plantadas, elas se têm multiplicado
natureza; e somos informados que os animais e os extraordinariamente. As pombas são totalmente
pâssaros reuniam-se espontaneamente em redor dele, vegetarianas, comendo sementes, frutas e verduras. A
sem demonstrar o menor temor. Além dele, São pomba da rocha é a espécie ancestral de todas as
Benedito ensinava que os monges devem aprender a atuais espécies, achando-se espalhada pela Europa,
cuidar devidamente da terra. Por outra parte, nossa Ásia e Norte da África. Ela faz seu ninho em
própria consciência deveria instruir-nos, e não penhascos e saliências naturais, da mesma maneira
meramente alguns poucos santos e cientistas. que os pombos modernos gostam das saliências dos
IV. ImpUcaçieI Morais e TeoI6gleu edificios das cidades. Mas também fazem ninhos nas
1. Deus como Criador. A natureza é obra das mãos árvores, ou em buracos de lugares rochosos. A
de Deus. O respeito por Deus requer o respeito por arqueologia tem demonstrado que essa ave vem sendo
aquilo que ele criou. Um ponto significativo acerca da domesticada comumente desde os tempos mais
lei de Moisés era a sua preocupação em regulamentar remotos. Já desde 2SOO A.C., era usada no Egito
todos os aspectos da vida humana, incluindo o como alimento. É possivel que a sua domesticação
relacionamento do homem com a terra e com a fauna. tenha começado para as pombas servirem de
O ano sabático (ver Êxo. 23:10) é um exemplo óbvio. alimento.
O interesse de Deus por todas as formas de vida Em Israel, a pomba era a única ave que podia ser
transparece claramente no Salmo 104; e mais ainda oferecida nos sacrificios. Eram usadas pelos pobres,
nas afirmações de Jesus como aquela de que nenhum que não podiam arcar com as despesas do sacrificio de
passarinho cai sem que o Pai o saiba (ver Mat. 10:29). um carneiro ou de um boi. Nos tempos neotestamen-
O relato do dilúvio informa-nos que Deus fez târios, sabemos que os individuos que vendiam
323
POMBAS - PONTIFICÁLIA
pombas para os sacrificios sentavam-se em redor do PONCIO, PILATOS
recinto do templo (Mat, 21:12) .. Quanto a alusões ao Ver sobre PUato., P&aclo.
sacrificio dessas aves, no Antigo Testamento, ver
Gên, 15:9; Lev. 5:7. O trecho de Lucas 2:24 revela
que Maria e José sacrificaram um par.de.ssas aves, de PONTES
acordo com a lei mosaica que requeria ISSO, quando Nas Escrituras não hA nenhuma mençlo a pontes,
do nascimento de uma criança (ver Lev. 12:8). embora as mesmas existissem, especialmente na
Usos Metafóricos. 1. Um simbolo de vi~doura região da Transjordânia, onde havia os rios principais
reconciliação com Deus (Gên. 8:8,10).2. Um símbolo da Palestina. Há menção a uma ponte militar, em 11
de gentileza, ternura e devoção (Can, 1:15; 2:14). 3. Macabeus 12:13, que Judas Macabeu tencionava
Um símbolo do Espirito Santo (Mat, 3:1; João 1:32). construir, para facilitar suas operações militares. O
4. Um simbolo de timidez (Osê. 11:11).5. Simbolo da reino de Gesur, referido nos livros de 11 Samuel e I
niG - resistência (Mat. 10:16). 6. Símbolo da Crônicas, tinha um nome que significava «terra de
ingenuidade e tolice naturais, que levam ao ~ano pontes ... Ficava em Basã, a nordeste do mar da
próprio (Osê. 7:11). 7. Um simbolo de uma atitude Galiléia; e a alusão às «comportas.., em Naum 2:6,
inofensiva (Mat. 10:16). 8. Um simbolo de lamento e talvez seja uma alusão a pontes, conforme é indicado
desespero, provavelmente devido ao som que as por uma paráfrase em caldaico. Mas, a maioria dos
pombas fazem (Isa. 38:14; Naum 2:7). De fato, ,a eruditos prefere mesmo a idéia de «comportas.., para
palavra hebraica yonah , «pomba», vem de uma raiz controle das enchentes. (S)
que fala sobre o som lamentoso dessa ave. Esse era o
nome hebraico do profeta Jonas. (ARNO S)
PONTIFICAL
Esse adjetivo vem do latim, pontlfe:l:: poDa ~,
POMBAS, ESTERCO DE isto é, .fazedor de pontes». A idéia é a de um homem
As pessoas, na antiguidade, em seu desespero. ou função eclesiâstica que faz pontes entre Deus e o
realmente comiam esterco de pombas? Ás vezes, nas homem, ou que atua como mediação. O termo é
ruas, os cães comem esterco de cavalo. Em muitos aplicado a objetos, a funções, a instituições (escolas) e
lugares, o esterco seco é usado como combustivel. a individuas. Dentro da Igreja Católica Romana
Cheira muito mal quando queimado, mas é aplica-se, supremamente, ao papa, em seu oficio
econômico. Mas as pessoas, alguma vezes, chegaram intermediário de vigário (substituto) de Cristo. Dentro
a comer esterco? Ver 11 Reis 6:25. Abaixo damos da lei romana pagã, os pontifices eram os formadores
explicações sobre isso. do concilio supremo do imperador, que tinham a
1. Em 11 Reis 6:25, está em vista uma planta que responsabilidade de regulamentar todas as questões e
produzia cachos muito parecidos, em seu formato, cultos religiosos. Quando Roma pagã foi substituida
com esterco de pombas. Esse nome, «esterco de por Roma cristã, o papa assumiu o titulo de Pontifex
pombas» é dado à espécie vegetal Ornithogalum Supremus ou Pontifex Maximu«. E o termo pontifex
umbellatum, Para comer esses bulbos, é mister também é comumente usado para referir-se a algum
cozê-los ou assá-los. Um dos nomes atuais dessa membro de uma elevada ordem religiosa. Um
planta é «estrela de Belém... Supõe-se que esse bulbo pontifice, pois, pode ser um papa ou um bispo. O
era conhecido na Palestina ao tempo do cativeiro verbo pontificar significa realizar o trabalho de um
assírio, embora não haja provas de que já tinha o nome pontifice. Popularmente é uma maneira enfática ou
que, mais tarde, lhe foi dado. Quando assado, o dogmática de indicar os atos de quem possui grande
bulbo é adocicado. Suas flores brancas formam um autoridade.
pecíolo em forma de estrela.
2. Uma outra explicação é que o alimento referido PONTlFICAL, MISSA
naquele texto era adubado com esterco de pombas, Ver o artigo intitulado PoD~. A ~issa
em seu cultivo, pelo que era chamado por esse nome. pontifical é aquela celebrada pelo papa, por um bispo
Mas essa explicação é fantasiosa, sem qualquer base ou por algum prelado que tenha certos direitos. como
em evidências. bispo, embora sem nunca haw:r sido c~nsagr~do
3. Muitos intérpretes insistem em uma interpreta- como tal. Essa missa representa a mais antiga
ção literal, conforme também a LXX traduz o trecho. fceIebração litúrgica da eucaristia (vide). Em distinção
Eles supõem que as pessoas, durante o sitio lançado a essa missa, destaca-se a missa dos catecúmenos,
por exércitos estrangeiros, estando com fome, onde o bispo ajudava, embora não diante do altar.
realmente ingeriam esterco de pombas. Somos Antes, o bispo ficava em um trono.
informados de que um exército inglês, em 1316, As eerimênias da missa pontifical são regulamenta-
enfrentou uma escassez similar de alimentos, e os das pelo Ceremoniate Episcoporum, Os eleme~tos
soldados acabaram ingerindo esterco de pombas. incluem o investimento no trono; o ósculo no Livro
Naturalmente, o esterco tem algum valor alimentar, dos Evangelhos, no começo da missa; a recitação do
por mais que nos revolte o estômago. Escritores Intróito (vide), além de outras lições e rezas, até à
judeus informam-nos de que o esterco de pombas era repetição do Credo, no trono; a lavagem das mãos,
usado como combustivel, o que dá algum apoio à diante do ofertório; a recitação de parte do primeiro
referência literal do trecho biblico que estamos capitulo do evangelho de João. Isso tem lugar quando
comentando. Outros, porém, pensam que o que o celebrante deixa o altar. Há a participação de certo
sucedia era que sementes não-digerídas e fragmentos número de ministros; clérigos inferiores; assistentes
de alimentos eram cuidadosamente retirados do presbíteros; um diácono e um subdiácono; e dois
esterco (e lavados, segundo esperamosl), e então eram mestres-de -cerímônias.
comidos. Não há como obter certeza quanto à
questão, embora isso nos seja indiferente, a não ser
que ficamos a meditar sobre os famintos de Samaria.
A lição moral do incidente é clara, seja como for. O PONTlFICAUA
pecado os havia reduzido a uma situação realmente Ver a palavra PoDdflcal, [quanto a significados
miserável. verbais. Pontificália é uma palavra litúrgica,can&nica
324
PONTO - PORCA
e oficial, definida no cânon nO 337, apontando para as supõe que as idéias cientificas vêm à. tona em saltos
funções episcopais empregadas por ocasião da Alta imaginativos, com base no largo fundamento das
Missa Pontificai. durante a concessão de Grandes atividades e do conhecimento humanos, incluindo a
Ordens, da celebração das Vésperas Solenes, e de pseudociência, os preconceitos da vida diária, a
outras importantes ocasiões. No sentido mais lato, filosofia, etc., e não meramente dos estudos
essa palavra indica todos os direitos e privilégios cientificas formais.
episcopais, as vestes litúrgicas que são prescritas pelo 2. Apesar do método padrão de verificação, através
Ceremoniale Episcoporum, Essas vestes incluem as de muitas experiências controladas, continuar impor-
meias, as luvas, a tunicela, a dalmática, a jaqueta tante, ele enfatizava o principio da falsificação.
com capuz, a capa, a magna, e, mais antigamente, o Devemos Luscar falsificar uma hip6tese mediante
peitoral racional, a mitra, o bastão com a cruz, o anel, exemplos negativos. Uma falsificação bem colocada
a cruz peitoral e o pálio. Os cardeais desfrutam do pode eliminar rapidamente uma hipótese. que quicá
privilégio de usar a pontificá/ia. Os abades, os tenha sido apoiada por muitas experiências positivas.
prefeitos apostólicos e os protonotâríos podem usar a Quando não aparecem instâncias negativas, então
pontificélia, embora em um sentido restrito. Os podemos começar a ter confiança em uma hip6tese.
abades podem usá-la a fim de conferirem ordens 3. A ciência é necessariamente incompleta,
menores. potencial e provis6ria. A probabilidade atribui
propensão a algumas idéias. Deveriamos cuidar em
não estabelecer limites, pois as evidências nunca
PONTO podem ser totalmente colhidas.
No grego «mar», Nome de um território da Ásia 4. No campo da politica, ele negava a viabilidade
Menor (atual Turquia), que tinha como uma de suas filosófica de todos os totalitarismos, preferindo
fronteiras o mar Negro. Estendia-se ao longo desse defender o pluralismo (vide). A engenharia social será
mar, razão por que foi chamado Ponto, «mar», Essa sempre uma necessidade, devendo ser aplicada de
região ficava entre os rios Halis e Calquis, Para o várias maneiras e em diferentes oportunidades. 2
interior, estendia-se até à Capad6cia. O seu terreno impossível partir de um grande plano-piloto que
em geral é muito acidentado, formado por uma série centralize a autoridade, na esperança de ser
de cadeias montanhosas que correm paralelas às estabelecido um governo eficaz.
planicies costeiras. Em seus lados leste e sul, o pais 5. Na sociologia. ele argumenta contra a interpreta-
era montanhoso, mas grandes e férteis planicies, ção holista ou orgânica da sociedade. Para ele, as
drenadas pelo sistema do rio lris, ampliavam-se até às conjunturas sociais não são entidades fisicas, mas
costas. Os gregos começaram a estabelecer-se ali bem apenas proposições teóricas. Os fenômenos sociais
cedo; e a área continha as cidades de Amiso, Ceraso, devem ser analisados em termos de individuos, suas
Cotiora e Trapezus. Mais para o interior havia as ações e seus relacionamentos com seus semelhantes.
cidades de Amasia (a capital), Coma e Zela. 6. A mente e o seu cérebro. Popperencontra-se
Ariobarzanes 11 recusou-se a pagar tributo aos persas, entre aquele crescente grupo de cientistas que
que dominavam a região, e conseguiu obter para a acredita que a mente é maior que o cérebro, e que
região um estado de independência. Mitridates I ou 11 fenômenos que podemos observar subentendem a
transferiu voluntariamente esse território para a existência da alma, acima do corpo. O livro de autoria
suserania de Alexandre, o Grande. Quando Alexan- dele. «The Mind and Its Braín» (<<A Mente e seu
dre desapareceu, a região caiu sob o poder de Cérebros), enfatiza essa abordagem.
Antigono I. Seu sucessor, Mitridates 111 (302-266 Escritos: Logic of Scientific Discovery; The Open
A.C.), expandiu um tanto a área do territôrio, Foi no Society and Its Enemies: The Poverty of Historicism:
tempo de Mitridates IV (chamado de o Grande) que o Conjectures and Refutations; The Mind and its Brain.
poder romano chegou à área. Pompeu foi o general
romano envolvido nisso, e a porção ocidental do Ponto
foi anexada à Bitinia, como parte do império romano; POPULAÇÃO, CONTROLE DA
e outra parte tomou-se formadora do territ6rio da
Galácia. No século I D.C., o Ponto tomou-se uma Ver sobre Coatmle de N.t.Hdede.
provinda romana.
Na antiguidade, o mar Negro era conhecido como
Ponto Euxino, Os trechos de Atos 2:9 e 18:2 POQUERETE-HAZEBAIM
informam- nos que ali havia uma colônia judaica. O No hebraico, «prendedor de gazelas». Esse era o
trecho de I Ped. 1:1 mostra-nos que o cristianismo nome de uma famllia que servira em Israel durante o
chegou a esse territ6rio, embora não disponhamos de reinado de Salomão. Um remanescente deles retomou
quaisquer detalhes a respeito. O aspecto mais à Palestina. terminado o cativeiro babilônico. Eles
importante da hist6ria do Ponto, como um poder fixaram residência em Jerusalém. São mencionados
militar significativo. diz respeito aos tempos do rei em Esd. 2:57; Nee. 7:9 e J Esdras 5:34.
Mitrídates, entre cerca de 337 A.C e cerca de. 63 A.C.
PORATA
POPPER.KARL Esse nome próprio vem de uma palavra persa que
Nasceu em 1902. Quando este artigo foi escrito significa «liberal». «generoso». Esse foi o nome do
(setembro de 1988), ele continuava vivo. Popper é um quarto dos filhos de Hamã, o qual, juntamente com
filósofo da ciência nascido em Viena, na Áustria. seus filhos, foi executado pelos Judeus, depois que os
Educou-se na Universidade de Viena. Ensinou na israelitas tinham escapado por pouco do exterminio,
Nova Zelândia e na Escola de Economia de Londres, devido aos planos do maldoso Hamã. VerEst. 9:8 e
na Inglaterra. Desenvolveu certos aspectos do método seu contexto. Isso sucedeu em cerca de 509 A.C.
empirico, com sua ênfase sobre a falsificação, e não
meramente sobre a verificação.
IdéIu: PORCA
1. O surgimento.idas idéias cientljictJS. P9PjJel" Ver o artigo sobre Poreo.
325
PORCIO - PORFIRIO
PORCIO tornou-se mais comum, mesmo em Israel. O Novo
Ver sobre Feito, Pórclca. Testamento menciona uma numerosa vara de porcos
(Mar. 5:11), embora isso tivesse sucedido na
Decâpolis, cujos habitantes eram quase todos
PORCO helenistas. Os demais judeus desprezavam a criação
de porcos. Isso explica por que motivo, na parâbola
No hebraico, chazIr, palavra que ocorre por seté do filho pródigo, este só conseguiu achar emprego
vezes: Lev. 11:7; Deu. 14:8; Pro. 11:22; Isa. 65:4; para cuidar de porcos (Luc. 15:15). Ele chegara ao
66:3,17 e Sal. 80:13. No grego, chotros, vocábulo que degrau mais inferior da desgraça humana. A
é usado por doze vezes: Mat. 7:6; 8:30-32; Mar. conversão começou quando ele abandonou os porcos.
5:11-13,16; Luc. 8:32,33 e 15:15,16. Uma outra parábola de Jesus, envolve porcos. Essa
O javali do Velho Mundo e o porco do mato das parábola, mais uma mâxima, diz: «Não deis aos cães
florestas equatoriais e tropicais da América do Sul, o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas
são considerados os ancestrais do porco doméstico. pérolas, para que não as pisem com os pés, e,
Na Europa e no oeste asiático surgiu a espécie Sus voltando-se, vos dilacerem.. (Mat. 7:6). A idéia é que
scrofa, enquanto que na China surgiu o Sus vittatus, hâ pessoas indignas de ouvir sobre as excelências do
Ê dificil dizer quando a domesticação desse animal evangelho e do companheirismo com o Senhor. Elas
tão útil teve lugar, o que foi ainda mais complicado não têm sensibilidade para tanto. Antes, sendo
pelas muitas correntes humanas migrat6rias, quando brutais como os porcos, acabarão se enfurecendo
os homens levavam em sua companhia os seus diante das maravilhas espirituais que nos encantam, e
animais domesticados a milhares de quilômetros de tentarão nos ferir.
distância, entre eles o porco. Porém, tem-se
convencionado de que o porco foi domesticado pelo Referindo-se àqueles que chegaram a tomar
homem desde o período neolítico, quando o homem conhecimento do evangelho de Jesus Cristo, mas que
começou a viver não mais como um nômade. Os se deixaram novamente envolver nas corrupções do
porcos eram deixados em relativa liberdade, dentro de mundo, diz o apóstolo Pedro: «Com eles aconteceu o
grandes cercados, no interior dos quais podiam que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu
pr6prio vômito; e: a porca lavada voltou a revolver-se
encontrar seu pr6prio alimento, arrancando raizes e no lamaçal.. (11 Pede 2:22). Isso aponta para os que
fuçando por toda a parte. O terreno não tardava a não se converteram realmente, mas apenas reforma-
tomar-se lugar prôprio para plantio, facilitando assim ram-se exteriormente. Mais cedo ou mais tarde,
as atividades agrícolas. Hâ indicios de que em tomo voltam ao seu prôprio elemento. O cão e a porca
de 2500 A.C. os porcos eram domesticados em regiões representam o mesmo tipo de individuo, o crente
que hoje são a Grécia, a Hungria, o Egito e a fingido, nunca regenerado pelo Espirito, que s6 sabe
Mesopotâmia. seguir seus impulsos primãrios e pecaminosos.
Até hoje o porco é um animal doméstico de grande
utilidade na alimentação humana. Não hâ animal que
possa transformar os vegetais em carne comestivel
-com tanta eficácia quanto o porco, além de sua carne
ser muito rica em riboflavina, ou vitamina 8(6). •••••••••
Sempre houve alguma surpresa, da parte dos
estudiosos, diante da proibição levitica da ingestão da
carne de porco, por parte dos israelitas. Entretanto, poRFIRIo
as modernas pesquisas sobre as enfermidades Seu nome original era Malco. Ele foi um erudito
humanas têm lançado muita luz sobre a questão. Se grego e fil6sofo neoplatônico. Nasceu em Tiro (dai foi
sua carne não for devidamente preparada e cozida, chamado de Tirio) de Batanéia, a Basã do Antigo
ela pode tomar-se o veiculo potencial de vãrias Testamento, uma cidade da Síria. Isso explica por
doenças perigosas para o homem, a mais importante que ele também é alcunhado de Bataneotes, Ele
das quais é a tricnose, causada por um verme que, a nasceu em cerca de 233 D.C., e morreu em Roma em
certo estágio, desenvolve-se nos músculos do porco, e cerca de 304 D.C.
que progride para seu segundo estágio somente Longino foi um de seus mestres, que lhe deu o
quando ingerido pelo homem, ou por algum outro apodo de Porfirio, «vestido de púrpura», provável-
hospedeiro vivo. Nesse segundo estâgío, o verme mente uma referência às vestes pr6prias de um
invade vários tecidos do corpo humano, causando fil6sofo. Porfirio foi aluno do famoso pai da Igreja
intensas dores, e até mesmo a morte. Um cozimento oriental, Orígenes; e então de Apolônio e de Longino,
perfeito nem sempre era possivel na antiguidade, pelo em Atenas, na Grécia. Quando estava com trinta anos
que a proibição total era a melhor norma para a de idade, foi a Roma estudar sob a supervisão de
época. Além disso, visto que o porco vive nas Plotino (vide). A principio, ele resistiu aos ensinos de
proximidades das habitações humanas, facilmente Plotino; mas, gradualmente, foi absorvendo as
pode ingerir material infectado por várias formas de opiniões de seu mestre", embora com algumas
germes patogênicos, transmitindo tal infecção aos modificações e elaborações. Tomou-se o editor
que consomem sua carne. literârio e publicador das obras de Plotino. Foi ele
Como vimos acima, o porco não é mencionado por quem compilou as Eneadas (vide) de Plotino. Mas
muitas vezes no Antigo Testamento. Nem mesmo era Porfirio também foi autor de muitos livros de sua
possivel haver muita menção a um animal cuja pr6pria pena. Seu principal objetivo, nessa literatura,
criação era vedada aos israelitas, porquanto ele só tem era a preparação dai alma para a reuniio com. o Um
utilidade prática como alimento. A transgressão de tal divino. Ele também escreveu um üvro contra os
proibição é condenada severamente, conforme se vê cristãos, que o imperador Teodósio [[ mandou
em lsaias 65:4 e 66:j. Para os judeus, comer carne de queimar, em 435 D.Ç.
porco era equivalente a tomar-se.um apóstata (ver 11
Macabeus 6:18 e 7:1). Todavia, vários outros povos Id6IuI
antigos não consumiam carne de porco, provavelmen- 1. A Arvore. das Espécies, descrita em seu livro
te por motivos de tabus religiosos. Na época da Isagoge, aborda essa questão. Transcrevemos aqui
dominação greco-romana a criação de porcos essa «more..:
326
PORFIRIo._- PORNOGRAFIA
A Árvore de Podido
l~
Gênero Subalterno
Animado Ingnimado
Diferenciação
coisaVi~
Gênero Subalterno
Sensivel Insensivel
Diferenciação
Gênero Subalterno Animal~
PRAGA
Ver também o artigo Prapa do EaIto. Uma palavra PRAGA DE GAFANHOTOS
hebraica comum empregada para indicar uma praga Esboço:
é nega, «golpe. (ver Lev. 13 e 14). Uma palavra 1. Espécies de Gafanhotos e Sua Descrição
cognata é makkah, «ferimento., «espancamento. (ver
Lev. 26:21; Núm. 11:33; Deu. 28:29; I Sam. 4:8; ler. 2. Palavras Biblicas para Gafanhoto
19:8). Também há o vocábulo deber, «pestilência», 3. O Gafanhoto como uma Praga
«pragas, que vem de uma raiz que significa 4. Usos Figurados do Gafanhoto
«destruição» (ler. 14:12; Bze. 6:11). A grande 1. ~ de Gafanhot.- e ... Deledçlo
epidemia que matou a setenta mil pessoas em Israel, A principal palavra hebraica é ubeh. Nos tempos
quando Davi foi castigado por seu orgulho, ao fazer o biblicos eram conhecidas várias espécies de gafanho-
recenseamento do povo (ver 11 Sam, 24:5), foi tos, como o Aedipoda migratam e o Acridium
indicada por essa palavra. Por sua vez. maggepa é peregrinam, A primeira também é chamada pelo
termo hebraico que quer dizer «praga» ou «ferimento. nome de Locusta migratoria. Outros nomes desse tipo
(ver Êxo, 9:14: Zac. 14:12). E negep quer dizer de inseto, atualmente existente (e. provavelmente.
«tropeço. ou «praga» (ver Éxo. 12:13; Jos, 23:17). que também atacavam a Palestina). são o Schistacer-
No Novo Testamento encontramos três vocábulos ca gregaria e o Doeiostaurus maroccanus. O termo
gregos envolvidos: cientifico, orthopter«, aplicado a esses insetos.
1. Mástih, «açoite•• mas que se refere aos açoites significa «asas retas», E o termo acridium vem da
das pragas (ver Mar. 3:10: 5:29,34; Luc. 7:21; Atos palavra grega akris, «gafanhoto•. Esse vocábulo grego
22:24; Heb. 11:36). Também era palavra comumente tem relação com a palavra grega para ocpico•• «cume»,
usada para indicar alguma doença. talvez, referindo-se à formação das pernas dos
2. Loimôs, «pragas, «peste. (ver Luc. 21:11; Atos gafanhotos, que se projetam para cima. quando ele
24:5). losefo usou esse termo em Guerras dos Judeus está pousado. A palavra latina gryllw, ao que tudo'
(6:9.3). Esse vocábulo é freqüentemente associado à indica, está relacionada ao zumbido que eles fazem.
idéia de fome. visto que muitas pragas de enfermida- O termo grego grulizo, «grunhir», é uma palavra
des acompanham a escassez de alimentos. relacionada.
3. Plege, «praga•• «golpe. (ver Luc. 10:31; 12:48; Os ôrgãos produtores do zumbido dos gafanhotos
Atos 16:23.33; 11 Cor. 6:5; 11:23; Apo. 9:18,20; encontram- se nas pernas traseiras e nas beiras das
11:6; 12:3.12,14; 15:1,6.8: 16:9.21: 18:4,8; 21:9; asas frontais. O som é produzido quando o animal
22:18). Ver ainda sobre Fome, quanto a um outro tipo raspa uma dessas partes contra a outra. O gafanhoto
de praga. possui antenas curtas, corpo alongado, pernas longas
A Teologia da Praga. A leitura das referências e poderosas, com as coxas grossas e ovipositores
dadas acima mostrará que. com freqüência. se não curtos. Por ocasião das pragas. os gafanhotos chegam
sempre. as pragas indicavam o desprazer de Deus a escurecer a luz solar com o seu número imenso.
com o povo. De mistura com isso temos a Enquanto os adultos alçam vôo, os filhotes ficam
demonologia. Ver os artigos separados sobre Demô- devorando toda a verdura ao seu alcance. no solo; e
nio (Demonologia) e Possessão Demoniaca. Embora estes últimos, quando crescem, também alçam vôo. A
haja grandes exageros. as pesquisas modernas ~mea do gafanhoto deposita seus ovos formando uma
confirmam que tanto enfermidades físicas quanto massa de forma oval. usualmente. em algum buraco
mentais podem ser causadas por poderes espirituais feito no chão. Esses ovos são muito resistentes.
malignos. E apesar da questão dos juízos divinos capazes de tolerar condições muita adversas. O
poder ser exagerada pelos homens também é verdade nascimento dos filhotes depende muito da umidade;
que, algumas vezes. Deus julga a humanidade com mas os ovos podem ser postos em terreno muito seco.
pragas ou enfermidades. Não obstante, nem toda e ainda assim sobreviverem por mais de três anos.
enfermidade é causada pelo pecado. Há vezes em que Mas, assim que chega a umidade, no espaço de dez
a questão tem tons didáticos, segundo grandes dias, os ovos são chocados, e há uma produçio de
místicos nos afiançam. Mas também pode haver o gafanhotos em números alarmantes. Os gafanhotos
resultado natural do caos, da desorg.mzaçlo. o que é jovens parecem-se muito com os gafanhotos adultos.
uma realidade desagradável. embora isso não seja um mas 56 adquirem asas aos cinco ou seis meses de
fator dominante na vida humana. Também há coisas idade. No entanto, mesmo sem asas. são muito
más que sucedem aparentemente sem causa. Paulo. vorazes. pelo que. em bem pouco tempo. depois que
no oitavo capitulo da epistola aos Romanos. saem de seus ovos. os gafanhotos já 510 intensamente
mostra-nos que esse caos leva os homens a buscarem a destruidores.
Deus, pelo que até a confusão pode ter um bom e difici1 dizer quantas espécies de gafanhotos
347
li'
PRAGA - PRAGAS DO EGITO
existem; mas talvez vários milhares de espécies tempo está seco, e nada sucede com os ovos. Ninguéni
diferentes seja um bom cálculo. Os intérpretes suspeita de coisa alguma. Entio chega alguma
rabinicos diziam ter conseguido alistar oitocentas umidade e, dentro de dez dias, tem começo uma
espécies diferentes. praga de gafanhotos. Mais seis meses, e a praga
:1. Plllana BIbIIeM para GafJmhoto levanta vÔ<:!. Os gafanhotos, voando, cobrem um vasto
Há nove palavras hebraicas para indicar esse territ6rio. Novos ovos são depositados, e o ciclo se
inseto, e também uma palavra grega. No entanto, as repete. As pragas de gafanhotos são um dos juizos
palavras hebraicas nio indicam diferentes espécies, e, divinos contra os pecados humanos, juntamente com
sim, descrevem coisas que podem ser ditas sobre o os terremotos e outros desastres naturais.
gafanhoto. O termo hebraico mais comum, ·arbeh..l. John Walsh, em Science, de 3 de outubro de 1986,
está ligado à raiz que significa «multiplicar». b fornece-nos algumas incrlveis informações sobre as
vocábulo usado para indicar o inseto, por vinte e pragas de gafanhotos. Via de regra, os gafanhotos
quatro vezes (ver exo. 10:4,12-14,19; Lev. 11:22; vivem sem causar demasiada destruição, Também
Deu. 28:38; I Reis 8:37; 11 Crê, 6:28; Sal. 78:46; não percorrem grandes distâncias sob condições
105:34; 109:23; Pro. 30:27; Joel 1:4; 2:25; Naum normais. Porém, quando seu número aumenta,
3:15,17; Jui. 6:5; 7:12; Jó 39:20; ler. 46:23). Essa é a resultando uma superpopulação, produzem um
palavra que foi usada para indicar a praga de hormônio que altera toda a aparência fisica deles e
gafanhotos do Egito, que foi a oitava dentre as dez toda a sua conduta. Quando isso sucede, então a
que fustigaram os egipcios. Em Lev. 11:22, esse termo praga está prestes a rebentar. A superpopulação
indica, uma dentre quatro espécies diferentes. ocorre quando os gafanhotos ainda não têm asas. Ai
Outra palavra hebraica que também aparece em passam a consumir mais oxigênio, e sua taxa
Lev. 11:22 é solam, «calvo.., porque a cabeça do metabólica aumenta muito. Suas cores modificam-se
gafanhoto dá a Impressão de calvicie. Nossa versão e suas proporções corporais aumentam. Além disso,
portuguesa traduz essa palavra por «locustas. tomam-se muito mais ativos. Quanto mais chuva cair,
Bargol, «saltador.., ao que parece é outra espécie de mais ovos serão chocados; a chuva aumenta a relva e
gafanhoto, e não algum besouro, conforme dizem a verdura, e isso é mais alimento ainda para os
algumas versões, també. em Lev. 11:22. Nossa gafanhotos. As poças que se formam no chio contêm
versão portuguesa diz "8afanhoto devorador», cerca de cem ovos cada. Quando os gafanhotos
Chaqab é outra palavra hebraica para esse inseto, emergem de seus ovos, logo há um enxame de
que também figura em Lev. 11:22, onde lemos, em pequenos gafanhotos agitando-se no solo. Cada
io rtu afanh t E al gafanhoto pesa cerca de 3,5 gramas, comendo o seu
nossa vers po guesa, «g o 0-. ssa p avra próprio peso a cada dia. Uma dessas nuvens de
derivava-se de um verbo que significa «ocultar», e
possívelque esse nome se deva ao fato de que quando gafanhotos pode conter um bilhão de insetos, e
bilhões de gafanhotos alçam vôo ao mesmo tempo, quanto há uma praga das grandes. pode haver nada
chegam a ocultar a luz do sol enquanto estio menos de cem nuvens dessas. Portanto, isso resulta
passando. em 100.000.000.000 de gafanhotos! .
O trecho de Joel 1:4 tem três palavras hebraicas, Os gafanhotos têm uma incrivel capacidade de
que talvez indiquem estágios no desenvolvimento do sobrevivência. Algumas vezes, um enxame desses
gafanhoto. A primeira dessas palavras é gazam, que pousa sobre uma montanha coberta de neve. Eles
significa «cortador.., conforme também se vê em nossa podem ficar ali durante semanas, para então alçarem
versão portuguesa, «gafanhoto eortador». Essa pala- vôo outra vez. E podem, em um único dia, percorrer
vra refere-se à devastação que uma praga de 320 km. Em uma única migr~ão, podem cobrir dez
gafanhotos causa às plantações e mores frutiferas. A vezes essa distância. Podem até mesmo pousar no
segunda palavra é arbeh, sobre a qual já pudemos oceano e permanecer flutuando, pousando uns por
comentar. E a terceira palavra é yeleq, que vem de sobre os outros. E, quando estio descansados,
«lamber.., um nome que indica a voracidade desse levantam vôo da superficie do mar. Podem levantar
inseto. vôo da superficie do mar, do solo e das montanhas
recobertas de neve. O dano que eles podem causar à
A palavra hebraica tselatsel' aparece somente em lavoura tem inspirado e deprimido as mentes dos
Deu. 28:42. Significa «redemoínho», «rodopio.., homens, desde os tempos mais remotos. E ainda nio
indicando o turbllhio provocado pela imensa ouvimos tudo o que eles são capazes de fazer, apesar
quantidade de gafanhotos, quando levantam vôo. de todo o nosso avanço cientifico.
Finalmente, no hebraico, temos a palavra gob, 4. V . . lI'Ipndot do ç.fanhoto
«enxame.., que aparece somente em Naum 3:17. a. Grandes números, como os exércitos dos assirios.
Assim sendo, há cerca de vinte e quatro referências Naturalmente, temos aqui, igualmente. o poder
diretas ao gafanhoto, nas pAginas do Antigo destruidor de tais números. Ver lsa. 33:4,5; Núm.
Testamento, sem falarmos naquelas alusões de 3:15,17.
caráter duvidoso ou disputado. b. Os julgamentos divinos usam as forças da
A palavra grega akrls, «gafanhoto.., é usada por natureza, ou literalmente, como no caso das pragas de
quatro vezes no Novo Testamento: Mat. 3:4; Mar. gafanhotos, ou mediante algum outro poder, simboli-
1:6; Apo. 9:3,7. As duas primeiras referências zados pelos gafanhotos. Ver Apo. 9:7. Nessa
mostram que era permisstvel a ingestio desse inseto passagem do Apocalipse, provavelmente, estio em
pelo homem, porquanto Joio Batista se alimentava de foco poderes demoniacos. Ver também Joel 1:1,6,7;
gafanhotos e mel silvestre. e verdade que alguns têm 2:2-9.
sugerido que se trataria de alguma planta, chamada
«alimento de Joio Batista..; mas quase todos os PRAGAS DO EGITO
intérpretes rejeitam essa especulação, O trecho de
Lev. 11:21 contém a permissão para que se coma esse Esboço:
inseto. I. Fundo Histórico
3. O Gwfwn...... eomo .... Pnp 11'. Pragas Especificas
Im~emos os ovos do gafanhoto iA depositados 111. Implic~ões Teológicas
em buracos, no solo, em números prodigiosos. O IV. Outras Interpretações; Criticas
848
PRAGAS DO EGITO
I~ F1uIdo :m.tódco
Ver o arligo geral sobre .v-_.
......
Com fre...nar;..
"t
0A
as
....-,
demais
te,. (ND).era tão desastrosa como uma cheia insuficien-
.
pragas eram vistas como calamidades inflingidas por B. v - _ BIped8e.
Deus As pessoas, em resultado da iniqüidade delas. O ..........
artigo Praga oferece amplas evidências quanto a isso. 1. Água Transformada em Sangue (Sxo. 7:14-25).
Era apenas natural que as calamidades que Moisés recebeu ordem para estender sua vara pOr
sobrevieram ao Egito, quando Israel esteve ali sobre o rio Nilo, para que suas âguas se transformas-
escravizado e queria partir, sem receber permissão sem em sangue, o que resultou na morte da vida
dos egípcios, fossem vistas como visitações divinas. E, aquática, além do que suas âguas não eram mais
de fato, o caráter extraordinário dessas pragas, numa potáveis. Alguns intérpretes pensam aqui em termos
seqüência nunca antes verificada, testifica sobre isso. literais (conforme o texto espera que o façamos). Mas
Moisés e Aarão foram os porta-vozes de Yahweh. Eles outros imaginam que o termo «sangue» indica alguma
exigiram a soltura do povo de Israel, a fim de que o espécie de poluição «cor de sangue». Uma inundação
propósito divino acerca de seu povo avançasse e particularmente severa poderia ter trazido lama e
chegasse ao seu alvo. Podemos dizer, pois, que essas barro. A menos que o autor sasrado tenha criado uma
pragas foram desagradáveis, mas persuadiram. Ade- histôría, se esse «sangue,. nio era biológico, deveria
mais, havia nelas o propósito de exaltar o nome do haver algum poluente bacteriológico. Se essa praga
Senhor, às expensas da vil idolatria que predominava esteve associada a uma das cheias do NUo, então pode
no Egito. As pragas serviam de confirmações da ter ocorrido em julho-agosto ou outubro-novembro.
autoridade de Moisés e de Aarão. O Fara6, pois, foi Pode ter trazido barro vermelho das bacias do rio Nilo
forçado a tomá-las a sério, e, finalmente, cedeu As e do Atbara, o que explicaria a coloração, mas não os
exigências deles. Isso não teria sido possivel sem os poluentes necessários para causar os danos. Outros
so~entos experimentados pelos egipcios. Por outro intérpretes pensam que a cor foi causada por plantas
lado, Israel já vinha sofrendo há muito As mãos dos criptogâmicas e infus6rias, um fenômeno natural,
egipclos, e a retribuição estava madura. O Faraó era apenas intensificado pelo juizo divino. O trecho de
um individuo duro. Ele se imaginava o porta-voz das Joel 2:31 fala sobre a lua avermelhada como sangue,
divindades que adorava; e dispunha de seus mágicos e, naturalmente, pensamos nisso como um colorido, e
com as suas mágicas. Além disso, não respeitava a não em sangue verdadeiro. A maioria dos intérpretes,
Israel. Ele pensava que a sua medicina era mais pois, pensa que temos ai uma maneira aceitÁvel de
poderosa que a medicina de Moisés e Aarão. E interpretar esse milagre do sétimo capitulo do Êxodo,
resolveu que entraria em competição com eles. E O rio ficou poluído, de águas mortUeras, avermelha-
mesmo quando já estava muito derrotado, apegou-se das como sangue. Milênios após o ocorrido, agora é
à esperança de sair-se vencedor. Somente diante da extremamente diftcil examinar o caso e dizer
morte de todos os primogênitos do Egito foi que o exatamente o que sucedeu. Os egípcios foram
Fara6 deu-se por vencido. O nono capitulo de forçados a cavar poços em busca de água potável, pois
Romanos apresenta Deus como Aquele que endure- pelo menos durante um periodo de tempo, suas águás
ceu ao coração do Faraó, a fim de que este não estavam envenenadas.
cedesse de pronto, a fim de que pudesse haver uma 2. Rãs (Êxo, 8:1-14)
plena demonstração do poder e supremacia de As rãs multiplicaram-se aos milhões. Provavelmen-
Yahweh. Alguns teólogos sentem dificuldades diante te foi uma praga das minúsculas rãs do NUo, que os
desse fato, e comento sobre a questão na quarta seção efipcio:s chamam de doI/a. Os pequenos batráquios
deste verbete. disseminaram-se por toda parte, durante sete dias.
Na época, o poder egípcio era mais forte no delta do Quando as rãs morreram em massa, seus corpos
Nilo. O trecho de Sal. 78:43 parece indicar esse tipo decompostos tornaram-se uma ameaça à saúde e
de situ~, ao mencionar o «campo de ZoA,.. Essa eram muito ofensivos ao olfato. E é possivel que as rãs
cidade era localizada na margem oriental do ramo tenham morrido devido a alguma doença, o que teria
tanitico do rio NUo. Ver o artigo separado sobre o servido para aumentar o perigo. As rãs eram como
Delta. As condições da primeira e da segunda pragas uma praga de formigas. Elas infestavam os leitos, os
naturalmente ocorreram em um lugar onde havia utensllios domésticos, os fogões, as amassadeiras e
muita água, riachos e lagos, o que era tipico no baixo salta,:am e se grudavam nas pessoas. Os mágicos
Egito. egípeios, porém, ímitaram com sucesso o mil~~,
Não se sabe ao certo por quanto tempo perduraram conforme tinham feito no caso do primeiro prodlgio
as pragas do Egito. Provavelmente, as estações do ano (de resultado não-estipulado). O texto blblico parece
foram favoráveis à manifestação das mesmas, pelo querer que entendamos que algum poder oculto,
que deve ter havido a passagem de um ano, ou mesmo maligno, foi manipulado por aqueles mágicos,
mais. emb?ra não haja qualquer indicação do poder
Houve dez prodigios nessas pragas, coletivamente mampulado. Mas Moisés e Aarão foram solicitados a
chamados «julgamento,. (ver Exo, 7:4), e também livrar o Egito da praga das rãs, o que o Fara6
«sinais" e «maravilhas» (E,xo. 7:3). Essas pragas foram reconheceu como algo vindo da parte de Yahweh. De
a reação da justiça de Deus contra a iniqüidade e a fato, as rãs eram tão desagradáveis que o Fara6
obstinação. Mui provavelmente, combinavam os ch~gou a concordar com a saida do povo de Israel do
fenômenos naturais com a intervenção divina Egito; mas o rei retrocedeu em sua decisão, assim que
intervenção esta que servia de elemento controlador: as rãs desapareceram.
As primeiras nove pragas demonstraram o controle A rã era o animal que representava o deus Held e
que Deus exerce sobre a ordem natural (a criação); era um dos animais adorados em alguns lug~. I~so
mas a décima praga foi por demais especifica para ser posto, essa segunda praga deve ter sido desconcertao-
atribuida a qualquer coisa que fosse natural. te para os egipcios, que pensavam na ri como um
«Hort salientou 'Iue as nove primeiras pragas animal que requeria respeito.
formaram uma seqilencia lógica e ligada, a começar 3. Piolhos (SIo. 8:16-19)
com uma inundação anormalmente elevada do rio A tradução portuguesa «piolhos,. dificilmente
NUo, que ocorreu nos meses usuais de julho e agosto, corresponde ao intuito do texto sagrado. Antes
em que a série de pragas terminou aproximadamente .devemos pensar em «mosquitos,.. A inundação do Nil~
emmarço (heb. abib). No Egito, uma cheia grande favoreceria uma incomum proliferação de mosquitos.
349
fi'
PRAGAS DO EGITO
Na verdade, essa é a mais constante e perigosa das que não tentaram duplicá-la com suas magrcas. A
pragas da humanidade. De fato. é dificil passarmos etimologia da .palavra hebraica envolvida sugere o
um dia sem recebermos ao menos uma ferroada de irrompimento de pústulas, ou pelo menos de inchaço
mosquito. O mosquito é o inimigo mais perigoso do com pus. Alguns eruditos pensam estar em foco a
homem, transmissor de várias enfermidades, e peste bubônica, mas essa ni.o se ajusta ao contexto.
sempre presente. Seus ovos não amadurecem todos ao As pessoas eram atormentadas por essa praga, mas
mesmo tempo, mas são programados a chocar não eram mortas em grandes números.
gradualmente, um óbvio truque da natureza com 7. Saraiva (Êxo, 9:17-35)
vistas à preservação da espécie. As únicas regiões do A saraiva (em nossa versão portuguesa, «chuva de
mundo isentas de mosquitos são a Ártica e a pedras») é um instrumento comum dos juizos divinos.
Antártica, absolutamente congeladas. E mesmo nas Ver Êxo, 9:18; Isa. 28:2; Ageu 2:17. Há quem pense,
áreas subárticas , o mosquito consegue sobreviver, igualmente, que devemos pensar aqui não na saraiva,
incomodando a todos os demais seres vivos. Somente e, sim, no «granizo». Mas, tanto a saraiva quanto o
as fêmeas do mosquito sugam o sangue, o qual é granizo (quando este é pesado é demorado) podem ser
necessário para sua reprodução. E elas também se muito destrutivos. O texto sagrado diz «mui grave
deliciam com o sangue. Os machos da espécie sugam chuva de pedras», como os egipcios nunca tinham
o néctar das plantas. Alguns intérpretes acreditam visto qualquer coisa parecida. Essa chuva destruiu
que o inseto em pauta era alguma espécie de mosquito tudo, as plantações, os animais, e até seres humanos
da areia ou alguma espécie de pulga. Segundo o texto que não se abrigaram. Mas, na terra de Gôsen, onde
bíblico ajunta essa praga foi iniciada quando Aarão estavam os israelitas, nada disso sucedeu. A saraiva
bateu no pó da terra, que então se transformou em foi acompanhada por tremenda borrasca elétrica. Isso
uma incrlvel massa de insetos. Porém, há quem pense poderia ajustar-se a condições comuns no Egito,
que temos ai uma linguagem simbólica. Os mágicos durante o mês de fevereiro. O Faraó confessou que
do Egito não conseguiram duplicar o milagre. E havia pecado, por manter suas atitudes rigorosas. O
podemos pensar que foi o poder divino que restringiu linho e a cevada, que já tinham florido, foram
o poder demoniaco que atuava por detrás das mágicas destruidos; mas não o trigo e o centeio, que «ainda
dos egipcios. não haviam nascido». Moisés, a pedido do Faraó, fez
4. Moscas (Exo. 8:20-32) essa praga cessar, embora sabendo que o Faraó ainda
Em foco provavelmente está algum tipo de mosca não humilhara o seu coração diante de Deus.
ferroadora dos alagadiços e não a mosca doméstica
comum que conhecemos. Mas mesmo estas últimas, 8. Gafanhotos (Éxo, 10:1-20)
em grande número, poderiam ser perigosas e Ver o artigo separado intitulado Praga de
incômodas. A etimologia da palavra envolvida não Gafanhotos, quanto a uma completa descrição do
identifica o inseto. Mas o número fantástico das poder destruidor desse inseto. Certas condições
moscas toma óbvio que estava em operação algum climáticas fazem esses insetos modificarem-se fisica-
poder divino incomum. O Faraô queria que Moisés e mente e multiplicarem-se em números astronômicos.
Aarão efetuassem ritos e oferecessem sacrificios que o A raiz hebraica desse vocábulo para «gafanhoto»
isentassem de permitir a salda dos escravizados significa «enxame». No Egito, pragas de gafanhotos
israelitas do Egito. E o Faraó prometeu dar liberdade eram uma constante, conforme também se sabe
aos israelitas se o Egito fosse livrado daquela praga; através de várias fontes literárias. O texto menciona
mas, assim que esta começou a amainar, novamente o um vento que soprou durante um dia e uma noite, e
monarca egipcio mudou de opinião. que trouxera os gafanhotos. Poderlamos interpretar
5. Pestilência nos Animais (Êxo, 9:1-7) que esse vento foi divinamente enviado. Além disso, o
Está em pauta alguma enfermidade nos animais número dos gafanhotos foi tão grande que os próprios
domésticos, embora a mesma não seja definida com egipcios perceberam haver nessa praga um dedo do
precisão. Talvez esteja em pauta algum tipo de sobrenatural. O Faraô ficou desesperado, e mandou
infecção, resultando em condições de saúde extrema- chamar Moisés e Aarão às pressas a fim de que
mente adversas no gado, ou que talvez até tenha orassem a Yahweh para que a praga cessasse. E
antecedido a outras pragas. Ê possível que algum então, veio um forte vento ocidental que levou para
inseto tenha propalado a doença entre os animais. Os longe os gafanhotos. Ainda assim, o Faraó não
animais dos israelitas, porém foram poupados por permitiu que os israelitas saíssem do Egito. É que o
razões que desconhecemos. Mas devemos imaginar Senhor havia endurecido o coração do Faraó (Êxo.
que houve alguma intervenção divina em favor do 10:1), a fim de que Deus tivesse a oportunidade de
gado de Israel. Alguns estudiosos pensam que o gado exibir os seus sinais e as suas maravilhas. Alguns
dos egipcios estava solto nos campos, ao passo que o intérpretes assumem uma posição calvinista extrema-
gado dos israelitas estava confinado em estrebarias, o da aqui, vendo somente o lado divino da questão
que teria protegido o mesmo das enfermidades (Deus endureceu o coração do Faraô, e este foi apenas
apanhadas ao ar livre. Mas, embora o Faraó tivesse um títere nas mãos de Deus); mas outros afirmam que
podido verificar o fato de que somente o gado dos Deus endureceu um coração que já estava endurecido
egípcios havia sido afetado e morrera (ao passo que pela desobediência, desde o momento em que resistira
nada disso sucedera ao gado dos israelitas), ele a Moisés e a Aarão, antes mesmo da primeira praga.
permaneceu de coração endurecido. Seja como for, o fato é que o Faraó sofreu uma
cegueira judicial, a principio cultivada por sua
6. úlceras (Êxo. 9:8-12) própria desobediência e incredulidade, e então,
Essas úlceras mui provavelmente eram causadas confirmada pela vontade divina. Esta interpretação é
por picadas de insetos, que permitiam que bactérias mais racional; a primeira interpretação é duvidosa,
como estreptococus e estafilococus penetrassem sob a mesmo porque também lemos que o Faraô endureceu
proteção da pele. A mosca cujo nome cientifico é o seu próprio coração. Lemos no vs. 34: «... Faraô...
Stomoxys calcitrans multiplica-se na matéria em endureceu o seu coração, ele e os seus oficiais».
decomposição, e poderia ser a principal transmissora. 9. Trevas (Êxo, 10:21-29)
Essas úlceras (ao que parece) afetavam princípalmen- As trevas encobriram o Egito inteiro, excetuando a
te as mãos e os pés (ver Êxo, 9:11). Os mágicos do terra de Gósen (vs. 23), onde Israel habitava. As
Egito também foram afetados por essa praga, pelo trevas foram totais, absolutas. Um homem não podia
350
PRAGAS DO EGITO
ver a um seu semelhante que estivesse na sua frente. capitulo de Romanos, a fim de ilustrar a soberania e a
Alguns intérpretes entendem que houve nisso um inexorável vontade de Deus, capaz de amaldiçoar e
acontecimento sobrenatural, talvez único até hoje, em destruir, se ele assim o quiser. Ver Rom, 9:17,18.
toda a história da humanidade. Mas outros pensam Essa passagem, bem como todo o nono capítulo de
que algum forte vento provocou uma tempestade de Romanos, tem recebido diferentes interpretações. A
poeira. Porém, também devemos pensar na chamada mais radical delas (mas aquela que o apóstolo,
«poeira côsmica», que poderia ter bloqueado toda luz provavelmente, tencionava) é a que diz que, de fato,
solar e das estrelas, no espaço sideral, durante algum Deus manuseia os homens como peões, endurecendo-
tempo. E o fato de que a terra de G6sen não sofreu lhes os corações e tomando-os vasos de ira. Essa
esse tipo de desastre é considerado por alguns como impiedosa vontade de Deus chega mesmo a dividh
um toque mitico, para conferir ao incidente uma aura familias, fazendo Jacó ser amado e Esaú ser odiado
de mistério e milagre. Mas ainda outros supõem que (ver Rom. 9:13). E isso foi decidido sem importar o
esse detalhe confirma a natureza miraculosa dessas que um e outro viesse a praticar de «bem- ou de «mal-
trevas, visto que nenhuma outra explicação pode (vs. 11). Isso posto, tudo depende de Deus, e o homem
informar-nos por que razão uma porção tão pequena nada representa. Esse texto (paralelamente a outros)
do Egito-a terra de Gósen-desfrutava de ilumina- tem sido enfatizado por alguns intérpretes unipolares,
ção natural, enquanto o resto permanecia sob trevas que convenientemente ignoram aqueles outros textos
espessas. Naturalmente, o escritor sagrado queria que neotestamentários que falam sobre o amor universal
entendêssemos ter havido uma intervenção divina de Deus, sobre o intuito universal do evangelho e
miraculosa. O Faraó resolveu que seria aceitável uma sobre a capacidade universal dos homens escolherem
saida parcial do Egito, por parte dos israelitas. As entre o bem e o mal. Os artigos chamados
pessoas poderiam ir, mas não o seu gado. Moisés Determinismo; Predestinaçiio e livre·Arbitrio abor-
rejeitou esse plano econômico do monarca, e o Faraô dam todas as implicações envolvidas nesse problema.
ficou tão irado que disse a Moisés para partir e não Ver também os artigos intitulados Paradoxo e
voltar, sob ameaça de morte. Moisés sabia que o Polaridade. Minha própria opinião é que a doutrina
Faraô não mais veria o seu rosto, mas não do modo do determinismo, isoladamente, sem o concurso de
como o Faraô pensava (ver Éxo. 10:29). ~ que a praga seu p610 do amor divino e do livre-àrbitrio humano,
final seria um golpe definitivo, depois do qual não constitui uma doutrina mâ, destrutiva e imoral. Pois
haveria mais a necessidade da mediação de Moisés. pretende dar solução ao paradoxo inerente à questão
10. A Morte dos Primogênitos (Êxo. 11:1-12:36) do determinismo versus livre-arbitrio humano, per-
As calamidades sofridas até então tinham sido tão fazendo uma humanologia, em vez de uma teologia.
severas que o Egito jazia virtualmente arruinado. Ao Por outro lado, de nada adianta distorcer o nono
término da oitava praga, a dos gafanhotos, os servos capitulo de Romanos para que o mesmo diga o que ele
do Faraô lhe haviam dito: «Acaso não sabes ainda que não diz. Alguns intérpretes dizem, simplesmente, que
o Egito está arruinadoj» (10:7). Porém, nenhuma das o mesmo ê uma peça mi de teologia e recusam-se a
pragas anteriores foi capaz de comparar-se à da morte examiná-lo. Pessoalmente, apesar de admitir a
dos primogênitos dos homens e dos animais. O anjo natureza paradoxal desse problema (o qual existe na
da morte passou por todo o Egito. Mas o povo de filQsofia e na ciência, e não meramente na teologia),
Israel foi protegido mediante a instituição da páscoa lanço meu voto em favor do amor de Deus e o
(vide), com seu sangue aspergido. A morte sobreveio à universal poder da expiação realizada por Cristo (ver I
meia-noite. O fato de que morreram somente os João 2:2), bem como da missão tridimensional de
primogênitos, tanto dos homens quanto dos animais, Cristo (na terra, no hades, no céu). Afinal de contas,
serviu de prova de que o acontecido era a mão de nisso consiste a mensagem do evangelho, as
Deus. Um grande clamor de desespero ouviu-se por boas- novas celestes para o homem. O resto do que
todo o Egito; e Moisés e seu povo não somente tiveram tenho a dizer pode ser lido nos artigos mencionados
permissão de partir, mas também foram exortados a acima.
fazê-lo, de modo insistente. Acresça-se a isso que a
Israel foram dados suprimentos abundantes para que 6. O Poder do Sangue de Cristo. Uma das
pudessem partir, e isso por parte dos próprios principais mensagens teológicas envolvidas no relato
egipcios. das pragas do Egito é a da expiação pelo sangue, que
protegeu os israelitas do anjo da morte. Isso é um
m, ImpU~ TeoI6glcu emblema do sangue de Cristo, o qual nos livra da
1. O Telsmo (vide). Deus existe e está interessado morte espiritual. Cristo tomou-se a nossa Páscoa (ver
em sua criação; ele faz intervenção; ele recompensa I Cor. 5 :7). Ver os artigos Expiação e Expiação pelo
ou castiga, em contraste com o conceito deista de Sangue.
Deus, de acordo com o qual Deus seria apenas 7. A Teologia dos Tipos. O relato sobre as pragas
transcendental e divorciado de sua criação, não do Egito, especialmente em seu desfecho, mostra-nos
fazendo intervenção, não galardoando e nem punin- como Deus opera entre os homens. No Antigo
do, e tendo deixado a sua criação entregue aos Testamento, isso é feito de maneira preliminar. e
caprichos das forças naturais. Ver sobre o Delsmo, típica. E a epístola aos Hebreus demonstra que, em
2. A possibilidade do miraculoso ê um elemento Cristo, essas coisas tiveram uma grande e universal
importante na vida humana. Ver o artigo geral aplicação.
intitulado Milagres. Quanto a um operador atual de 8. A controvérsia conservadora-liberal entra no
atos miraculosos, ver sobre Satya Sai Baba. problema da interpretação desses episódios históricos,
3. O erro da idolatria e da crença religiosa o que é tratado na quarta seção deste artigo.
distorcida. Houve em todo o incidente das pragas do 9. Os Pactos. O texto ilustra como Yahweh honrou
Egito um conflito entre Deus e as divindades pagãs. o pacto estabelecido com Abraão, garantindo a
4. A estupidez da rebeldia, em face de avassalado- identidade e a continuidade da nação de Israel-os
res sinais e maravilhas, o que nos faz lembrar de Jesus descendentes de Abralo-que deveria ser o veiculo da
e seu ministério, quando ele teve de enfrentar amarga mensagem divina, culminando no aparecimento do
oposição, a despeito de suas portentosas obras. Messias. A libertaç40 de Israel fazia parte do plano
5. A Predestinação e a Perdição. A história das divino,e tinha que ocorrer.
pragas do Egito foi tomada por Paulo, no nono IV. Oatnllaterpretaçlell Clt. .
2 351
PRAGAS DO EGITO - PRAGMATISMO
Com a palavra «outras. indico aquelas interpreta- O termo pr......tlaDlo deriva-se do termo grego
ções que procuram éxplicar, por meios naturais, as prâgm«, -coísa», «fato», «matéria... Sua forma verbal é
pragas do Egito, furtando-lhes seus elementos prassein, «realízar». O pragmatismo ensina que
miraculosos ou suas causas miraculosas. Naturalmen- pensamentos, idéias e ações só têm valor em termos de
te, muitos estudiosos liberais, bem como os céticos, conseqüências práticas. Dentro desse sistema filosófi-
dizem que esse fator miraculoso foi inventado, para co, não há nenhum conjunto fixo teórico de valores.
.dar maior dramaticidade aos relatos bíblicos, Creio Antes, todos os valores são testados quanto às suas
que é um erro ver aqui apenas um elemento conseqüências práticas. As idéias devem ter «valor
miraculoso. Mas também é errado negar que os monetário». Qualquer idéia é considerada ínútíl, a
milagres podem acontecer e realmente acontecem. O menos que tenha o poder de atuar sobre as coisas ou
artigo sobre os Milagres aborda detalhadamente essa de modificá-las. Aquilo que é «prático. provê o seu
questão. Alguns intérpretes, procurando promover a próprio valor; mas, se for deixado como uma teoria,
idéia da invenção (talvez com base em algum fato), será meramente uma curiosidade. A verdade não é
chegam a opinar que o relato das pragas do Egito tem fixa e nem imutável. Pelo contrário, a verdade é
base em várias fontes informativas, destacando-se determinada por aquilo que é prático e funcional. As
nisso a teoria doJ.E.D.P.(S.). Ver o artigo cujo nome conseqüências práticas são o teste da veracidade de
é essa abreviação, quanto à teoria das múltiplas fontes qualquer idéia. Usualmente, o pragmatismo é
informativas do Pentateuco. De acordo com isso, as relativista. A minha verdade não é, necessariamente,
pragas são divididas entre as fontes como J (pragas a verdade de outrem; o Que funciona no meu caso,
1, 3, 4, 5, 7, 8 elO); E (partes das pragas I, 7 e 8, toda não é o que mnciona, necessariamente, no caso
a praga 9 e partes da praga 10); S (partes das pragas 1 de outrem. O pragmatismo, pois, é utilitarista.
e 2, todas as pragas 3 e 6, e partes da praga 10). Desse O pragmatismo, como um sistema filosófico, tem
modo, o relato é visto como urna tradição que se foi sido uma contribuição norte-americana para a
desenvolvendo, e não um relato histórico de uma série filosofia, o que ocorreu nos fins do século XIX e no
de acontecimentos vinculados entre si. Durante a século XX. Mas, conforme disse William James, um
Renascença e o período da Reforma Protestante, esse dos principais expositores desse sistema: «(O pragma-
relato era chamado de uma lenda crua e brutal. No tismo) é um novo nome para certas maneiras antigas
século XIX, a alta critica desmembrou o relato, de pensar. Essa palavra tomou-se urna espécie de
conforme acabamos de mostrar. E o resultado disso termo generalizado para referir-se a várias teorias
foi um relato tão fragmentado que é impossivel sobre significação, verdade, conhecimento, método.
defendê-lo. E alguns intérpretes complicam ainda intelectual e ética. Comum a todas essas teorias é a
mais a questão, pensando haver encontrado causas ênfase sobre o caráter evolutivo e mutável da.
extraterrestres. Assim, I. Velikovsky propôs alguma realidade, a incerteza do conhecimento teórico e a
catástrofe natural de origem astronômica, aplicando relevância do conhecimento em situações práticas, a
isso à divisão das águas do mar Vermelho e à nuvem necessidade de submeter a teste idéias e atos,
de fumaça que emanou do monte Sinai, bem como às mediante aquilo que eles produzem, a natureza
próprias pragas do Egito. O livro de autoria dele, instrumental das idéias. Os homens agem a fim de
Worlds in Collision está recheado dessas explicações encontrar soluções para situações problemáticas e as
cósmicas que resultaram em alterações no globo e soluções assim encontradas podem ser chamadas de
outros eventos, as quais podem ser respeitadas, mas «verdade»: mas nenhuma chamada verdade é algo
não aceitas sem investigação e meditação. Sem ríaido e eterno. Os filósofos pragmáticos minimizam a
dúvida, algumas grandes transformações terrestres distinção entre o pensamento e a prática. O própria
têm tido causas cosmológicas, mas será preciso um ato de pensar é um modo de realizar, e pensar bem é
maior estudo para verificar se isso tem aplicação ao realizar bem".
relato das pragas do Egito e acontecimentos O termo «pragmatismo. aparentemente foi cunha-
subseqüentes. do dentro do mundo filosófico em um artigo escrito
Imitações Eglpcias. Para muitos estudiosos liberais por C.S. Peiree, em 1878, que definia o significado de
e céticos, o fato de que os mágicos egipcios foram um conceito qualquer em termos de suas conseqüên-
capazes de duplicar algumas das pragas serve apenas cias. Isso armou o palco para uma ampla esfera de
para provar a natureza lendária do relato como um atividades, de natureza religiosa, cientifica e ética,
todo. Por outro lado, alguns eruditos conservadores mantendo aquele conceito fundamental como sua
encontram nisso o poder de forças demoníacas, que base mais importante. Na quarta seção deste verbete,
pode imitar os milagres de Deus, produzindo assim e em artigos separados sobre os principais filósofos
milagres reais, embora malignos. Não há que negar pragmáticos, demonstro como esse conceito básico
que isso pode suceder. Mas permanece questão aberta encontrou muitas aplicações.
se isso tem aplicação às pragas do Egito. A principal declaração pragmática de Peirce foi a
seguinte: «Consideremos quais efeitos (que concebi-
velmente teriam conseqüências práticas) concebemos
PRAGMATISMO ser o objeto de nossa concepção. A somatória dessas
Esboço: conseqüências constituirá o significado inteiro da-
I. Definições e Caracterização Geral quele conceito... William James, F.C.S. Schiller e
lI. Teoria da Verdade John Dewey desdobraram o pragmatismo em várias
IlI. A Ética teorias da verdade, embora retendo o conceito básico.
IV. Importantes Filósofos Ligados ao Pragmatismo Em seu livro sobre o Pragmatismo, James declarou:
..As idéias mostram ser verdadeiras somente até onde
V. Objeções Religiosas ao Pragmatismo nos ajudam a entrar em relações satisfatórias com
Os filósofos mencionados no corpo deste artigo outros aspectos da nossa experiência». Peirce,
mereceram descrições separadas nos verbetes escritos entretanto, não se sentia feliz diante de todas as
a respeito deles. Muitos detalhes aparecem ali que ramificações que a sua idéia foi forçada a entrar, por
suplementam este artigo. Ver o artigo separado sobre parte de outros filósofos, pelo que começou a
o Utilitarismo, que serviu de importante influência denominar a sua idéia de pragmaticisma, que pensava
histórica sobre o Pragmatismo. ser uma palavra tão feia que ninguém haveria de
I. Deftalç&:s e ~ GenI querer furtá-la, para dar-lhe outro significado. Mas
352
PRAGMATISMO
muitas pessoas religiosas não apreciam a postura m. A 2tIea
relativista desse sistema. E Bertrand Rus~ll, apesar As bases da ética pragmática sio a evolução, o
de ser at~ um ateu, chamou esse sistema 'de humanismo, o positivismo e a sociologia moderna.
«obscurantistas, 1 A . •
N b ' . A enfase sobre o homem, e não sobre teonas
. lo o stante, o ~ragm~tismo exen:,eu um trc:mendo acerca de Deus, e como Deus deu ao homem a sua
Impacto sobre a filOS?fiB:- e t~ SIdo cons~derado ética, é própria do pragmatismo. Naturalmente,
como a grande contrlbuição lSOl~da ~os filósofos existem cristãos pragmáticos: e essa declaração não se
norte-amencanos.ao pensamento filos6fi~o..Na~al- aplica a eles. Porém, até mesmo eles mantêm um forte
men.te, o pragmatísmc ~nde ~ certas Idêías éticas ponto de vista humanista da ética. 1;: seguro dizer que
e eplste~016gIcas dos ~tigos sofistas, como também a maioria dos pragmáticos compõe-se de homens
do e~p~smo, do relativismo e do método cientifico e ateus, deistas e agnósticos. William James, pois, foi
das idéias de evolução. uma notável exceção.
A influência do pragmatismo, sobre o pensamento 2. As idéias inatas não fazem parte desse sistema.
teolôgico protestante, foi profundamente sentida Para os fil6sofos pragmáticos, as idéias nos chegam
entre os circulos liberais. A chamada escola de por meio da experiência, e o valor de verdade das
Chicago, liderada por John Dewey, tentou expressar a idéias é descoberto mediante a inquirição e a continua
fé cr!sti em termos da filosofia pragmática e experimentação. Somente a experiência humana pode
empinca. - Um de meus professores havia sido fornecer-nos a ética humana. A conduta humana
estudante de Dewey, pelo que cheguei a ouvir ideal é descoberta para cada individuo mediante
pessoalmente essa forma de pragmatismo quase de experimentações pessoais e coletivas. Os pensadores
sua fonte. O pragmatismo exerceu grande poder sobre pragmáticos egoístas acreditam em um valor ético
o sistema educacional norte-americano, durante para cada individuo, o que os relativistas também
muito tempo, e isso influenciou, indiretamente, as afirmam. Os pragmáticos comunais crêem que a
escolas evangélicas. O grande lema era ali «experí- experiência humana é suficientemente comum de
mentação-; e, em seguida, «instrumentalísmo». Para individuo para individuo, de tal maneira que pode
o pragmatismo não há conseqüências fixas e finais. haver valores éticos coletivos, e não meramente
Todas as conseqüências tomam-se instrumentos para individuais.
novos começos. O aparecimento da neo-ortodoxia 3. A Evolução. Aquilo que mostra ser bom,
tendeu por entravar a influência do pragmatismo mediante o processo evolutivo, corresponde à.
sobre o pensamento e a vida protestantes. Natural- verdade. A utilidade consiste no que é bom, quando
mente, as igrejas evangélicas fundamentalistas opuse- testado e provado. As idéias éticas válidas dos homens
ram-se ao pragmatismo desde o seu inicio. são um subproduto do processo evolutivo, e nlo um
n, Teoria da VenIade dom ~ Deus, qu~ ~s hom~ns aceitem como ~al e
Fomeci uma detalhada descrição a esse respeito no perfeito. Não e~tiria tal COlSa com~ um ponto ~~.
artigo Conhecimento e a Fé Religiosa. O, ão 11. Cada pon~ terminal toma·~ UJ?- mel~ para dar início
Teorias da Verdade: Critérios, ponto décim~rim.ei- a outra COIsa qualquer. As Idéias éticas dos homens
ro, Pragmatismo. A essência da idéia pragmática es~o sempre e~ estado de .fluxo e de~nvolVlIDento.
sobre a verdade, ou seu critério para avaliar a Diferentes socíedades precisam de diferentes. solu-
verdade, é o «valor monetârio» prático que essa idéia ções. Uma geração não pode viver conforme a ética de
t euh a. U ma Iídêila l u '
nClOna be?
m Contríibui
UI com al go? outra geração.. . . . .
Com o que ela contribui? Mas, se alguma idéia é 4. O. Positivismo, A maioria..d?& pensadores
meramente teórica, não é considerada válida como pragmáticos concorda com os posítívístas, os qU&1S
verdade. Somente as idéias que funcionam é que são aban~onaramqualquer busca pela v~r~ absoluta e
verdadeiras. As idéias que produzem conseqüências perfeita. Isso.~osto, a verdade é. ~!inida por e!es em
desejâveis são idéias verdadeiras. O valor de verdade termos de .u~dade e pra.cticalibilidade, qualidades
de qualquer idéia está nas contribuições práticas da que emergmam da expe~entaç~o. Isso é v~r~
mesma. Essa maneira de pensar acabou sendo at~ no que c,?nceme. às idéias étic~. Os umversalS
aplicada à. fé religiosa. Em um dos extremos, alguns (vide) não se~ entidades metafisicas, mas apenas
fil6sofos pragmáticos não podiam perceber grande term~~ <!& lmguagem ~u~ana, qu~ de~em
valor de verdade nas idéias religiosas, pelo que expenencias c~muns (no.mmalrsmo). Umve~ls éticos
tendiam por ser evolucionistas e humanistas. Mas, no ~io. estab<:lecldos mediante ~ desenvolvimento de
outro extremo, William James tinha a certeza de que idéias, obtido através de experimentação,
as idéias sobre Deus e a alma são valiosas e exercem 5. O Estado de Fluxo. Não se pode esperar, de
notável influência sobre os homens, produzindo acordo com o pragmatismo, que a verdade de hoje
muitos resultadoa.Para ele, o sistema pragmático fica seja a verdade de amanhã, da mesma forma que não
empobrecido, sem o concurso dessas idéias. As idéias pode o homem moderno viver segundo a verdade do
são verdadeiras quando provêm soluções práticas homem ~. antiguidade. Cumpre-nos ab~,!~ar
para os problemas, sem importar se esses problemas questões finais, e continuar a explorar as possíbilída-
são de natureza científica, ética ou religiosa. des, que poderão melhorar.noss~idéias e nossos atos.
-Peírce, o fundador do pragmatismo, definia ~ O desenvolvune~to evolucionârio ~ homem é uma
verdade como um conjunto de crenças que é prova da neceSSIdade. de uma ética em estado de
defendido pela comunidade de inquiridores, a longo fl1;lxo. O homem estana em um estado de fluxo: e a
prazo-ap6s uma série indefinidamente longa de ética também, Os termos «bom- e «mau. são palavras
inquirições. A contraparte objetiva dessas crenças que, por SI mesmas, descrevem o que. temos
seria a realidade. A verdade, pois, é o resultado da de~ob.e';ío, o que tem mostrado ser bené!ico ou
inquirição» (P). Essa citação destaca o método prejudicial. Com a passagem do tempo, à. medida que
empírico (cientifico) de testar e estabelecer a verdade. esse. ~uxo .prossegue, e~s vocábulos poderão
 idéia empirica é acrescentada a idéia prática. Essa adquirir sentidos e valores diferentes.
inquirição precisa produzir resultados práticos. IV. Importaatea F'UiMofoa 1.1...... 110 Prqm-tt.mo
Dewey. enf~~ou o problema.mostrando qual o alvo 1. Char:les Sanders Peirce (vide) adaptou o termo
dess~ ínquíríção, Ver o artigo separado Verdade. «pragmatismo» com base em idéias de Emanuel Kant.
Teorias da. Kant havia feito a distinção entre a razão prática
35--5
PRAGMATISMO
(vide) e a razão critica (vide). As teorias de Peírce, experiência válida, e as experiências misticas são o
pois, foram desenvolvidas com base nas sugestões de alicerce de todas as fés religiosas. Ver sobre o
Kant. Ele desenvolveu -a máxima pragmática que Misticismo. William Iames muito trabalhou nesse
mencionei na primeira seção, quarto parágrafo, deste assunto, em seu livro Yarieties of Religious Experien-
artigo. Ver também Peirce, Idéias, primeiro item. ce: Ele tem ali muito a dizer em favor da existência da
2. William James (vide) foi quem ampliou ainda alma, útil para o pensamento religioso. No campo da
mais essa máxima, conferindo-lhe a seguinte formu- ética, deve-se admitir que muitas questões são
lação: «O significado de qualquer proposição sempre práticas, e precisam ser solucionadas dentro da arena
pode ser reduzido a alguma conseqüência particular da experiência humana. e não com base p.m rpgt"<lIQ
em nossa furora experíencia pratica, sem importar se fixas de algum sistema de pensamento.
passiva ou ativa». Ele utilizava essa idéia básica nos Pelo lado negativo, a ética relativista do pragma-
campos da ética, do.pensamento religioso, da verdade tismo é rejeitada, porque não reconhece o valor da
e da significação. Assim, ele conferiu aos pragmáticos revelação e dos livros sagrados. Naturalmente, o
uma expressão mais lata, incluindo as questões pragmatismo ateu, agnóstico e positivista é ali
religiosas e as experiências místicas, coisas essas retratado como perversões da verdade, e não como
explicadas no meu artigo acerca dele. melhores abordagens à verdade. As pessoas religiosas
3. Royce (vide) falou sobre o pragmatismo reconhecem o valor da experiência humana a fim de
absoluto, uma expressão usada por ele para designar easinar e definir a verdade; mas também crêem que
o seu sistema filosófico geral, já nos últimos anos de liá outros meios válidos, a começar pela revelação,
sua vida. Sua filosofia concentrava a atenção sobre mas também incluindo a razão e a intuição,
como uma pessoa pode passar do caráter finito e especialmente quando estas são guiadas pelo Espirito
fragmentar da experiência ordinária para uma de Deus. A maioria das pessoas religiosas não
plenitude infinita e bem ordenada da experiência, e acredita que as questões éticas possam ser soluciona-
assim chegar a conhecer a Deus, ou seja, o Absoluto. das meramente por indivíduos isolados. Os problemas
Um tipo de practicabilismo está envolvido nisso. Á quase sempre são de ordem coletiva, e existem
experiencia humana fragmentar confere-se assim uma principios éticos que transcendem ao individuo.
unidade e uma significação, na pessoa de Deus. O que Algumas definições nos são fornecidas pela revelação
é temporal subentende o que é eterno, e é no eterno divina, e não precisam ser testadas pela experiência
que achamos o bem final. humana. E, apesar de que, em muitos casos,
4. Giovanni Papini (vide) manifestava-se em favor possamos afirmar que a minha verdade é minha, e
da tolerância, de acordo com a qual os filósofos que a tua verdade é tua, quando não estão em foco
poderiam defender teorias em conflito, mas todas as princípios éticos vitais, por outro lado há casos em
quais deveriam satisfazer ao critério usado pelo que tanto eu quanto tu precisamos moldar-nos à
pragmatismo. verdade divinamente revelada. Assim sendo, Dewey
S. Le Roy (vide) aplicou a máxima pragmática dizia que a sociedade é que testa a verdade, e não o
tanto à ciência quanto à religião. individuo isolado; mas, acima da sociedade humana,
6. RC.S. Schiller (vide) aplicou a espécie de também poderiamos apelar para os valores espiri-
pragmatismo de William Iames à filosofia inglesa, tuais. As almas humanas têm valores que são
embora sua variedade seja mais relativista do que a de permanentes e cõerentes, e não transitórios. E aquilo
. que os homens talvez chamem de ..bom», pode não ser
Iames. A verdade e a realidade senam, pelo menos em ..bom.., em última anâlise. Deve haver um critério
parte, construções da mente humana, e não entidades superior para a verdade do que meramente aquilo que
absolutas.
é prático. Isso posto, a forma de pragmatismo que
7. G.R. Mead (vide) aplicou os ideais pragmáticos ignora a experiencia religiosa e os valores espirituais
aos presentes contextos biolôgieos e sociais. ignora um aspecto importantissimo da experiência
8. John Dewey (vide) procurou fazer uma humana. Ora, os livros sagrados estão fundamenta-
reconstituição da filosofia, e acreditava que o dos sobre a experiência mlstica,
pragmatismo oferece-nos a chave para tanto. Ele Muitos pensadores pragmáticos têm dado um valor
frisava o instrumentalisma, dizendo que a verdade é exagerado ao behaviorismo (vide). Mas o homem é
garantida pela sua afirmabilidade, Todos os fins mais do que um animal que esteja aprendendo a viver
seriam instrumentos para novos começos. A inquiri- com outros animais, que esteja exercendo seus
ção seria básica em todos os atos, instituições e idéias instintos e esteja sendo moldado pelo condicionamen-
dos homens. Dewey exerceu poderosa influência sobre to de seu meio ambiente. Existem grandes verdades
a esfera da educação, e enfatizou que há um f I
processo mútuo de aprendizado que gravita entre o espirituais que em coisa alguma são a etadas pe a
P rofessor e seus alunos. A liberdade é necessária para experimentação humana. Meditemos sobre as verda-
des da imortalidade da alma, e do Deus diante de
que o ser humano funcione bem, e a democracia é o quem a alma terá de prestar contas; dos milagres
sistema politico que melhor promove essa liberdade. (vide), que têm por baseprincipios superiores àqueles
9. C. 1. Lewis (vide) desenvolveu um sistema ao concebidos pelo espirito utilitarista. Tentar investigar
qual chamou de pragmatismo conceitualista, De a verdade exclusivamente através de meios pragmâti-
acordo com sua explicação, a mente supre as cos, limitados à experiência humana, é abordar a
categorias, os conceitos e os princípios que são então verdade de uma maneira muito parcial. Pois há
experimentados de maneira .organizada na vida grandes e profundas verdades que não foram
diária. A polaridade valor-desvaler da experiência inventadas pelo homem, mas que são acessiveis para o
humana é um modo de experiência. homem, se não as buscarmos apenas pelo ângulo
10. Ernest Nagel (vide) criou uma espécie de prático. A revelação divina, a razão, a intuição e as
naturalismo pragmático alicerçado, essencialmente, experiências misticas podem fornecer-nos muitas
sobre as idéias de Peirce e de Dewey. Ele acreditava verdades que são ignoradas pelo pragmatismo e seus
que a inquirição humana é autocorretiva. critérios limitados. Em outras palavras, apesar de sua
V. Objeçiles ReIJ&lou- ao Pngmatl8mo utilidade quanto a certas questões, o pragmatismo é
O estudioso que ler as obras de William Iames um sistema provincial, com limitações auto-impostas.
encontrarã ali muita coisa valiosa a ser aplicada à fé Bibliografia. Ver as obras de cada filósofo acima
religiosa. A experiência religiosa também é uma mencionado. Esses livros estão alistados sob o titulo
354
~RAIA - PRATA
Escritos. Obras de referência úteis que esclarecem Mal. 3:3, o que significa que ê palavra bastante
facetas do pragmatismo são AM E EP F H MM P. comum no Antigo Testamento. Isso sem falar nas
cento e quinze vezes que ela aparece com aquele outro
sentido. No grego, árguros, palavra que ê usada por
PRAIA quatro vezes no Novo Testamento: Mat. 10:9· Atos
No hebraico, há três palavras envolvidas que nos 17:29; Tia. 5:3 e Apo. 18:12. As palavras copatas
convém examinar, e, no grego, três, a saber: argúreos, «prateado», e argúrion, «moeda de prata»,
1. Choph, «praia». Esse termo hebraico ocorre por ocorrem por mais vinte e quatro vezes, no total.
sete vezes, conforme vemos em lui. 5: 17; ler. 47:7; A prata é um dos metais preciosos. Tem cor
los. 9:1; Eze. 25:16. branca, é dúctil e tio maleável que pode ser reduzida
2. Qatseh, «fim», «extremidade». Palavra hebraica a folhas tão finas quanto 0,00025 mm. Sua densidade
usada apenas por uma vez com o sentido de «costa é 10,5 e funde-se a 961 graus centigrados. Dá boas
marítima», em los. 15:2. ligas com outros metais, como o ouro, o cobre, o
3. Saphah, «lábio», «beirada». Vocábulo hebraico níquel e o zinco. O ouro nativo apresenta um teor de
empregado por seis vezes com o sentido de «praia», a entre 10 e 15 por cento de prata. O metal chamado
sabe~: Gên. 22:17; Êxc, 14:30; los. 11:4; I Sam. 13:5; electro, usado em muitas moedas antigas, era a liga
I Reis 4:29 e 9:26. natural com o ouro, com 15 a 45 por cento de prata.
4. Aigial6s, «praia». Palavra grega empregada por No Egito, essa liga era chamada asem, A estrutura dos
seis vezes: Mat. 13:2,48; l0ã0 21:4; Atos 21:5; cristais de prata assemelha-se às dos cristais do ouro
27:39,40. (vide) e do cobre (vide), um entrelaçado de cubos. As
5. Cheilos, «areia». Palavra grega que aparece por dimensões das células cúbicas básicas da prata e do
sete vezes: Mat. 15:8 (citando Isa, 29:13); Mar. 7:6; ?uro,. formadas por 9uatro átomos, são quase
Rom. 3:13 (citando Sal. 140:4); I Cor. 14:21 (citando ldê!1ticas, e, por causa disso, a prata substitui o ouro,
Isa. 28:11); Heb. 11:12; 13:15; I Ped. 3:10 (citando e vice-versa, com cem por cento de eficácia.
Sal. 34:14). Em face de sua comparativa escassez, cor branca,
6. Prosormlzo, «puxar para a praia». Palavra grega grande lustre (a prata é o mais lustroso de todos os
usada exclusivamente em Mar. 6:53. metais), resistência à oxidação atmosférica e maleabi-
lidade, a prata tem sido usada, desde a antiguidade
As praias do mar desempenham um papel bastante no fabrico de artigos de luxo e valor, como par~
insignificante na narrativa bíblica, excetuando dentro exemplificar, ornamentos (ver I Crê, 18:10~ Atos
do contexto da simile familiar para os leitores da 19:24), jóias e moedas (ver Lev. 5:15; Mat. 26:'15). A
Bíblia: c ••• muito povo, em multidão, como a areia que prata mais antiga, provavelmente, provinha do norte
está na praia do mar» (Jos. 11:4), ou expressão da Siria (o estado arameu de Zobá, I Sam. 14:47),
paralela. Os israelitas nunca foram um povo voltado bem como de certas regiões da Ásia Menor. Visto que
para as atividades do mar, de tal modo que até mesmo não havia prata no território da Palestina, Israel a
as suas costas marítimas do Mediterrâneo quase importava de Társis (I Reis 10:22; ler. 10:9 e Eze.
nunca foram bem controladas por eles. Ver sobre Mar 27:12): Para os judeus, não era tão rara quanto o ouro
e Mar Grande. Em conseqüência disso, para os (11 Reis 15:19,20). Na corte de Salomão, o ouro era
israelitas o mar permanecia um elemento estranho e tão abundante, de modo que todas as taças do seu
hostil. Nas páginas do Novo Testamento as palácio er:--m f~itas desse metal mais nobre, que ali
referências razoavelmente freqüentes ao mar dizem nada -havia feito de prata, porquanto, na época
respeito ao mar da Galiléia, visto que tão grande daquele monarca judeu, no dizer de I Reis 10:21, «não
parcela do seu sustento era extraida dali. Em tomo do se dava a ela estimação nenhumas.
mar da Galiléia desenvolveu-se uma ativa indústria
pesqueira que, nos tempos neotestamentários, expor- No Egito conhecia-se a prata, embora ali fosse
tava o pescado até para a capital do império romano. muito rara. Menes, que fundou a primeira dinastia do
No circulo quase continuo de cidades e aldeias em antigo Egito (cerca de 3100 A.C.) estabeleceu o valor
redor desse mar interior que, na realidade, era apenas da prata como um quarto do valor do ouro.
Conh~m-se ornamentos caldeus feitos de prata,
um lago, na época do Novo Testamento não somente a
pesca, mas igualmente toda a espécie de meio de provenientes de cerca de 28SO A.C. Parte das riquezas
transporte (como no caso do trigo que era materiais de Abraão consistia em peças de prata
transportado por meio de embarcações de um lado (Gên. 13:2). Em Tiro, cidade fenicia, havia prata em
para outro do lago) formava a base dos empregos grande abundância (Zac. 9:3). e provável que, por
remunerados. Em conseqüência disso, pode-se dizer volta de 800 A.C., todas as nações entre o Nilo e o
que .Jes~1S escolheu.a região mais ativa e populosa do Indus usassem tanto o ouro quanto a prata como
territôrío para servir de seu púlpito, quando resolveu dinheiro. Os registros dos romanos nos mostram
pregar nas cidades em tomo do mar da Galiléia, como que antes de ser usado o termo argentum para indicar
um dos centros do seu ministério. E, sem dúvida a prata, a prata era chamada luna e seu simbolo era
alguma, as marcas deixadas pelas passadas de uma lua em quarto crescente. Os alquimistas da
Jesus, ficaram impressas nas areias da praia do mar Idade Média usavam esse mesmo simbolo e
da Galiléia, entre tantas outras daquela região. denominavam a prata de luna ou de ártemis, este
último nome com base na grande deusa pagã da Ásia
(cí. Atos 19:10,22,26,27).
PRANTO ~ prata era utilizada na confecção de adornos
Ver o artigo sobre Lamentaçlio. (Gen. 24:53; exo. 3:22), utensDios diversos, como
pratos ou colheres, e até mesmo idolos (lsa. 2:20; Atos
19:24).
Estranhamente, a prata nativa ocorre com bem
PRATA maior raridade do que o ouro nativo, mas encontra-se
No hebraico, keHph. Essa palavra era usada com o largamente distribuida em pequenas quantidades.
sentido de prata, propriamente dita, ou com o sentido Grande parte da produção mundial de prata provém
de dinheiro. Com o sentido de «prata» aparece por da mineração do chumbo, como a galena, ou de
iuzentas e oitenta e sete vezes, desde Gên, 13:2 até sulfetos de cobre e zinco, os quais contêm pequena
366
PRATA - PRAXIOLOGIA
porcentagem de prata. Todavia, a prata pode ser receptáculo para receber uma libação (11 Reis 21:13).
extraída de seus minérios mediante certo número de Em Pro. 19:24 e 26:15, algumas versões traduzem,
processos metalúrgicos simples, entre o quais aquele erroneamente, por «seio». Melhor ê fazer como faz
chamado cape/ação. que remonta aos tempos dos nossa versão portuguesa, que também traduz essa
babilônios antigos, e que até hoje é usado. Esse palavra por «prato».
processo é interessante para nós, pois explica a 3. Qearah, «prato», «pires». Palavra hebraica que
formação da -escõría» da prata, referida em Eze. ocorre por três vezes com esse sentido: Êxo, 25:29;
22: 18. O minério de prata era fundido juntamente com 37:16; NÚm. 4:7. Essa palavra hebraica significa
chumbo ou minêrios de chumbo, em uma fornalha «fundo», pelo que poderíamos imaginar algo parecido
simples. A liga dai resultante-prata-chumbo-era com um de nossos pratos fundos. Os pratos de ouro
então fundida em um fomo poroso de cinzas de ossos. do tabernáculo tinham esse nome, no hebraico.
O chumbo oxidava-se em contato com o oxigênio do 4. Trubllon, "prato», "terrina». Termo grego que
ar. formando uma camada do óxido de chumbo aparece somente em Mat. 26:23 e Mar. 14:20.
derretido. Quaisquer outras impurezas metálicas Aparece na narrativa sobre a última Ceia, onde Jesus
também Se oxidavam e se dissolviam no 6xido de e os seus discípulos molhavam o pão no molho.
chumbo, que era então removido como uma fina 5. Plnaks, palavra grega que se refere, metaforica-
camada à superficie do metal fundido. Somente a mente, ao prato raso cujo lado externo os fariseus
prata, juntamente com algum ouro ou platina mantinham limpo, ao passo que no interior havia
presentes, permanecia no cadinho, sem a presença muita sujeira. O vocábulo grego ocorre por cinco
de qualquer outro metal (ef. Isa, 1:22). Ver sobre o vezes: Mat. 14:&,11; Mar. 6:25,28; Luc. 11:39. É
artigo Metais e Metalurgia. neste último versículo que Jesus acusa os faríseus de
A prata cria uma camada escura devido à ação do hipocrisia.
ácido sulfúrico ou de compostos sulfurosos na Os antigos egipcios e israelitas tinham o interessan-
atmosfera, depositando uma camada de sulfeto de te mas anti-higiênico cõStume de usarem um único
prata à superficie dos objetos feitos desse metal. Esse prato para servir os alimentos, em cujo prato, posto
efeito pode ser verificado especialmente nas cidades sobre uma mesa, todos os participantes da refeição
pesadamente industrializadas, como São Paulo, metiam o seu pão, para absorver o molho. Essa
capital do estado do mesmo nome. Talvez por esse prática era considerada sinal de hospitalidade e de
motivo OS habitantes do Rio de Janeiro, que é amizade. As pessoas não usavam talheres, mas
relativamente pouco industrializado, apreciem tanto o apanhavam os alimentos com os dedos. O pão era
uso de adornos de prata, o que já não sucede na usado como colher. Ficar com um pedaço escolhido,
cidade de São Paulo. Mas talvez o motivo seja outro, a quando se era um convidado, era receber um
saber, o medo dos assaltantes e descuidistas, cumprimento e um sinal de amizade. Ver João
chamados «trombadínhas» ou «trombadões.., depen- 13:25-27; Mat. 16:23.
dendo de serem eles menores de idade ou adultos. Já
nos tempos bíblicos, a prata não perdia tio facilmente Na antiguidade, muitos pratos tinham forma oval,
o seu lustro e nem enegrecia, a menos se estivesse e eram mais rasos do que os atuais, como também
em lugares onde houvesse minérios de sulfetos. Ver maiores. Podemos supor que o prato sobre o qual foi
também sobre Moedas. entregue a cabeça de João Batista era especial, de
ouro ou de prata, algo adequado para a circunstância
PRATA BATIDA festiva e solene da ocasião. Os pratos eram feitos de
No hebraico, é uma expressão que indica «espalhar metal, cerâmica e madeira.
em chapas ... Desde há muito que os homem. O Senhor Jesus usou a palavra «prato» de modo
reconhecem a maleabilidade da prata. Os fenicios figurado, quando falou sobre a hipocrisia que inclui a
exportavam chapas finas de prata batidas a martelo corrupção interior oculta, com aparência externa de
(ler. 10:9). Um uso comum da prata era o servir de piedade, de tal modo que o copo ou prato pode
incrustações nos ídolos (Is, 30:22) e recobrir parecer limpo, mas, ao ser examinado com cuidado,
peças de uso caseiro, conforme se vê também nos contém toda espécie de corrupção. Ver Mat.
móveis do tabernáculo (lho. 38: 17). Até mesmo 23:25,26; Luc. 11:39.
certas peças de cerâmica eram recobertas com uma
fina camada de prata (Pro. 26:23). (FOR)
PRAXE
PRATA, CORDA (FIO) DE Ver Flo de Prata. No grego, éth., «hábio.., «costume.., «praxe... Essa
é a palavra raiz por detrás de ética (que vede). A
palavra grega tem sido transliterada para algumas
PRATO línguas modernas, embora não para o português. a
Três palavras hebraicas e duas palavras gregas fim de referir-se aos valores costumeiros de uma
estão envolvidas neste verbete. V ârios tipos de pratos sociedade ou grupo social. Assim, fala-se na praxe
são mencionados nas Escrituras, e nem sempre há puritana, que enfatizava o trabalho árduo como uma
certeza sobre o tipo exato em foco. A arqueologia tem
iluminado bastante essa questão. Alguns pratos eram
virtude. A "aD DOrte-amerleaDa consiste em admirar
o avanço tecnológico. A praxe ocidental, pós-renas-
bastante crus, essencialmente feitos de argila não cença, é o respeito pelo individualismo. A praxe do
trabalhada. Outros eram autênticas obras de arte, capitalismo insiste sobre o direito à prol?riedade
altamente coloridos, principalmente nos tons verde, privada e à iniciativa pessoal, entre outras coisas. E a
azul e amarelo. Também havia pratos feitos de vários praxe cristã é a ética que gira em torno do princípio
metais, principalmente de cobre. do amor.
1. Sephel, «baixo... Palavra hebraica que provavel-
mente alude a um prato ou panela rasa. Aparece
somente por duas vezes: Juí. 5:2S e 6:38. Na primeira PRAXIOLOGIA
referência temos um prato para conter manteiga ou
coalhada; na segunda referência talvez uma taça para Ver sobre Kotarbinski, quarto ponto.
água.
2. Tsallachath, «colo.., um prato ou algum outro
•••••••••
356
PRAZER
PRAZER o leitor prefere o «prazer. de fazer a tentativa. com o
Esboço: risco da pr6pria vida. Porém. o que sucede em um
Conside Bibli caso assim é que a pessoa pesou as «alternativas
1. onsi rações cas dolorosas», e não suas «alternativas prazerosas•. Isso
e
2. Definições Amplas Truques Filosóficos envolve um truque filosófico, distorcendo o signüica-
3. A Alegria de Quem Serve a Jesus do usual das palavras, a fim de que «dor. venha a
4. O Prazer nas Funções Bem-Sucedidas significar «prazer•.
1. CoIIai~ BIbIIaI 3. A AIepIa de Quem Sene • __
Os termos hebraicos traduzidos por «prazer- têm Se estivermos falando sobre a vida diária, entio
raizes que indicam as idéias de «boa vontade», teremos de reconhecer que o prazer é um de seus
«intenção. e «prazer. (mental ou fisico). Ver Nee. principais fatores. Na verdade. há pessoas que vivem
9:37: Sal. 51:18: 111:2; Ecl. 5:4: 12:1; Isa. 58:3. Uma para sentir prazer e evitar a dor. A essas pessoas dá-se
outra palavra hebraica que significa ..propósito. ou o nome de ..hedonistas•. Usualmente, os hedonistas
«vontade•• aparece em hxo. 10:10; Isa. 44:28; 46: 10; fazem dos prazeres fisicos o alvo da vida. Epicuro
48:14 e 53:10. tentou convencer os homens que os verdadeiros
O termo grego eudokla, «boa vontade», ..bom prazeres são de natureza mental: mas os hedonistas
propôsito», algumas vezes é traduzido por prazer. Ver autênticos não pensam dessa forma.
Mat. 11:26; Luc, 2:14; 10:21: Rom. 10:1: Efé. 1:5,9; A pessoa religiosa busca prazer. embora fazendo-o
Fil. 1:15; 2:13; 11 Tes. 1:11. A sua forma verbal, na fé religiosa. no serviço caridoso. na generosidade,
eudokéo, figura por vinte e uma vezes: Mat. 3:17; etc. Uma vida transformada é o maior de todos os
12:18 (citando Isa, 42:1); 17:5: Mar. 1:11; Luc. 3:22; prazeres. Podemos imaginar que Pedro e Paulo
12:32; Rom, 15:26.27; I Cor. 1:21; 10:5: 11 Cor. 5:8: sentiam prazer em ser encarcerados. não pela
12:10: Gâl, 1:15; Col. 1:19; I Tes. 2:8: 3:1: 11 Tes. experiência em si. mas porque tão duras experiências
2:12: Heb. 10:6 (citando Sal. 40:7): 10:8.32 (citando podem fazer parte da inquirição espiritual. à qual
Hab. 2:4); 11 Ped. 1:17. Mas a palavra grega muitos homens de Deus tem dado um valor supremo.
comumente traduzida por ..prazer», no Novo Testa- 4. O Prazer nu Pança. Bem.Saeedld..
mento, é edoné, Ver Luc. 8:14; Tito 3:3; Tia. 4:1,3; 11 Arist6teles não dava tanta importlncia aos prszeres
Ped, 2:13. e dai que se deriva nosso adjetivo
«hedonista», que indica alguém cujo alvo na vida é o que fizesse deles o alvo próprio de sua vida. Antes.
. b esse alvo ele achava na realização de funções ou
prazer. Temos apresentado um detalhado artigo so re tar f . . divid á d
o Hedonismo, que expõe os vários pontos de vista e as para as quais o in uo est prepara o,
filosóficos sobre os valores ou desvantagens dos preenchendo assim o devido lugar que lhe cabe na
prazeres. bem como o modo em que essa palavra sociedade. Afirmava ele que esse cumprimento das
aparece usada nos sistemas filosóficos. Nas referên- próprias funções é o mais elevado prazer na vida. A
experiência comprova a correção geral desse ponto de
cias biblicas que acabamos de dar. na maioria dos vista. Spinoza pensava. por sua vez, que o prazer é
casos estão em foco os prazeres pecaminosos. que aquele sentimento que obtemos quando passamos de
guerreiam contra o bem da alma. o que já é uma uma perfeição menor para uma perfeição maior. Em
forma de morte. Mas esses prazeres pecaminosos outras palavras. há prazer no aperfeiçoamento
também aparecem no Novo Testamento grego como pessoal. onde cada estágio nesse aperfeiçoamento
spataláo (I Tim. 5:6: Tia. 5:5). ou como trufáo. (Tia. confere um bem-estar especifico. Por outra parte.
5:5). O primeiro desses verbos significa «viver F d
sensualmente»: e o segundo, «viver índulgeatemente-, reu pensava que os homens devam viver segundo o
..viver em oreías», «principie do prazer», como algo essencial à
11:1& experiencia humana.
2. Deflnlç&l Amp. e Traquel Fl1oIóflcot O resto que tenho a dizer sobre este assunto aparece
Tal como qualquer outra palavra de rico significa- no detalhado artigo chamado Hedonismo.
do. o termo «prazer. pode receber certo número de
definições. indicando tanto aquilo que é bom quanto Essa é uma palavra que tem implicações éticas.
aquilo que é mau. Se estivermos falando sobre as Está ligada às idéias de prazer, satisfação e bemestar.
alegrias da vida após-túmulo, sobre a ausência de No sentido fisico, falamos em prazer através dos
sofrimentos. sobre as enfermidades ou sobre as sentidos físícos, embora também exista aprazimento
alegrias que temos no Senhor, então estaremos que envolve a mente e o espírito. Diz certo hino
falando sobre prazeres desejáveis. Mas. se estivermos evangélico: «Há alegria no serviço a Jesus»; e a
aludindo às coisas deste mundo que dão prazer aos Confissão de Westminster diz que podemos desfrutar
homens carnais e impedem a inquirição da alma (ver I de Deus para sempre. Em sua forma mais crassa,
João 2:15-17). entãojá estaremos falando a respeito porém, o aprazimento consiste no simples hedonismo
de prazeres pecaminosos e daninhos. Mas, mediante (que vide) de acordo com o qual os homens supõem
um truque filosófico. podemos emprestar à palavra que a única finalidade da vida é a obtenção de
«prazer. uma defini~ão tão ampla que podemos fazer prazeres, usualmente interpretados como prazeres
dos prazeres o alvo mesmo da vida neste mundo. Um fisicos. Quanto a seu lado positivo, o aprazimento na
exemplo tradicional disso consiste em salvar a vida de vida é considerado pelos psicólogos como parte de
outrem. somente para perder a própria vida. uma personalidade bem. integrada. A alegria espon-
Presumivelmente, esse ato seria um «prazer.. tânea é sinal de boa saúde mental. Há muitos fatores
Digamos. para exemplificar, que o leitor veja uma que permitem o individuo a desfrutar da vida. Em
criança que está se afogando. O leitor não sabe nadar. primeiro lugar, a verdade é que o homem precisa de
pelo que um cálculo rápido lhe diz aue não são muito aprazimento fisico. Um asceta geralmente não é
boas as chances dele salvar à criança e a si pessoa muito alegre. O aprazimento fisico sempre
mesmo. De acordo com essa teoria. o leitor estará será legitimo Se for mantido dentro de seus limites
fazendo uma rápida «avaliação de prazer», Se não próprios, se não for exaltado ao ponto de tornar-se o
fizer a tentativa de salvar a criança. sentirá depois grande alvo da vida. A medicina psicossomática tem
muito remorso. pela perda da pequena vida. Mas o demonstrado que uma pessoa que aprecia a vida
leitor também julga que seria menos doloroso perder a normalmente, de maneira física, é uma pessoa mais
própria vida do que ficar com remorso pelo resto da saudável que outras. Mas, além dessa satisfação geral
vida. além de ter de passar por um covarde. E assim, diante da vida, há aquele prazer vinculado às
357
PRAZE.R - PRECOGNIÇAO
realizações pessoais, ao trabalho bem-feito, à.-busca PRECOGNIÇÃO (CONHECIMENTO PRmO)
por alvos dignos, entre os quais, naturalmente, está a Esboço:
realização espiritual. Em Cristo, pois, temos confian- I. Definição e Tipos de Precognição
ça na vitória final sobre a morte, pelo que a vida nos
parece digna de continuar. E isso confere alegria 11. Relação para com a Predestinação
autêntica. Por isso mesmo, quando estamos em meio 111. A Precognição e a Profecia
a tristezas e aflições, não nos lamentamos, conforme IV. A Precognição na Biblia
fazem outras pessoas, que não têm tal esperança. V. Algumas Considerações Filosóficas a Respeito
Alguns filósofos e teólogos insistem que o bem é a VI. A Precognição e a Parapsicologia
sua própria recompensa e isso é parcialmente assim, I. DeflDlçIo e TIpoe de PrecopIçio
porque a prática do bem, mesmo que não venham
recompensas imediatas, nos infunde satisfação. Por
No grego, pnan....., «conhecimento prévio».
Palavra usada por duas vezes: Atos 2:23; I Ped, 1:2. O
outra parte, a prática do mal envolve a sua própria verbo correspondente, progin6sko, aparece por cinco
tristeza conseqüente, a despeito das vantagens vezes: Atos 26:5; Rom. 8:29; 11:2; I Ped. 1:20; 11 Ped.
momentâneas que uma pessoa possa obter com essa 3:17.
prática. O ódio e a maldade, por si mesmos, aleijam
a alegria da vida, a despeito das risadas dos ímpios. Conhecer de antemão é saber de algo antes que a
Até mesmo as provações da vida podem ser motivos de coisa aconteça. Em outras palavras, é tomar
alegria, se sofrermos por amor a Cristo e ao progresso conhecimento de algo que ainda sucederá, embora
espiritual. VerTia. 1:2,3; I Ped. 1:6-9; Fil. 2:17; Mat. ainda esteja no futuso. Essa presciência pode ser
5:12. O aprazimento está relacionado à alegria, e a absoluta: a coisa prevista terá de ocorrer: ou então
alegria ê um dos cultivos do Espirito (Gâl. 5:22). Isso pode ser relativa: a coisa prevista poderá ocorrer ou
significa que nosso maior aprazimento nos é dado não embora haja alguma potencialidade para a sua
quando o Espírito de Deus opera em nós e através de oco;rência. Ver os artigos separados sobre Parapsico-
nós, visando o nosso próprio bem e tornando-nos logia; Determinismo; Livre-Arbltrio e Atributos de
instrumentos benéficos para outras pessoas. Ver o Deus. Há vários tipos desse fenômeno, a saber:
artigo sobre Meios do Desenvolvimento Espiritual. 1. Precognição Natural. Um certo evento está
programado a t~r lugar e há causas em operação, q~e
haverão de faze-lo acontecer. Tomando consciencta
das causas em operação, um individuo poderá saber
PRÉ.ADÁMICOS que o evento causado é inevitável, ou, pelo menos,
Ver os artigos gerais Antediluvianos; Criação e provável. Para exemplificar: um geólogo pode
Adão, onde são oferecidos estudos que incluem a idéia predizer um terremoto ou uma erupção vulcânica, por
de que houve raças pré-adâmícas de homens, que não perceber certos sinais típicos na natureza. Posso
são antecipadas e nem descritas no relato bíblico prever que terei de ir ao dentista, dentro de algum
sobre o homem. Evidências avassaIadoras acerca da tempo, porque observo que um dente meu está
imensa antiguidade do globo terrestre e de raças de começando a cariar, E assim por diante.
seres humanos, que antecedem em muito aos seis ou 2. O Computador Cerebral. A mente inconsciente
sete mil anos de cronologia bíblica, têm dado margem sempre tem consciência de determinados aconteci-
a especulações. Entre essas a apresentação de alguns mentos que estão prestes a ocorrer. A mente calcula
fatos que favorecem fortemente a noção de que a raça como se fosse um computador, com base em causas
adâmíca não foi a primeira raça humana na terra, que atuam no presente. A mente consciente talvez não
mas apenas o começo de tempos relativamente tome consciência desses cálculos; mas acaba tomando
modernos. Certo calvinista francês (em 1655) consciência das informações através de sonhos ou de
antecipou esse pensamento (embora sem evidências experiências intuitivas. Parece que certas profecias
científicas), que ele descreveu em um livro onde nada passam senão dessa função. Pode parecer algo
asseverava que Adão foi o progenitor somente dos misterioso, mas é algo perfeitamente natural. Os
judeus, ao passo que os gentios descendiam de estudos feitos sobre os sonhos mostram que todas as
habitantes anteriores da terra. De conformidade com pessoas têm esse tipo de consciência sobre aconteci-
esse ponto de vista, o trecho de Gên, 1:26 ss, descreve mentos futuros.
a criação dos antepassados dos gentios, no sexto dia 3. Precognição Telepática e Clarividente. Podemos
da criação, ao passo que Gên. 2:7 fornece apanhar, de outras mentes, certas intenções e causas
informações sobre a criação de Adão, após o sétimo em formação, por meios telepáticos, - e assim
dia da criação. E ele achava apoio para a sua idéia, no podemos tomar conhecimento de algo que, provavel-
Novo Testamento, em Rom. 5:12-14. Posteriormente, mente, terá lugar. Somos capazes de pressentir
porém, ele renunciou a essas noções e tomou-se eventos naturais, como um terremoto, ou que certas
católico romano. Assim passou para a história essa coisas poderão provocar um incêndio, ou que uma
curiosa exposição, mas a tese de raças pré-adâmicas represa está prestes a romper-se, através da
tem crescido em importância, devido a descobertas clarividência (vide). Isso não envolve qualquer
científicas que, na atualidade, como os muitos comunicação entre as mentes e, sim, entre a mente e
métodos modernos de descobrir a antiguidade de objetos naturais, por meios reais, embora ainda pouco
objetos (não apenas o método do carbono 14), têm compreendidos. Os clarividentes obtêm algum suces-
feito essa idéia tomar-se necessária, a menos que so na predição de desastres naturais. Esse tipo de
consideremos o relato sobre Adão um mito antigo, precogníção é relativo, embora real. Em outras
sem qualquer base histórica. Ver também sobre o palavras, nem todos os eventos assim preditos acabam
Dilúvio de Noé, primeira seção, Mudanças dos Pôlos, acontecendo, embora haja uma certa porcentagem de
que fornece informações adicionais sobre o assunto. A acertos que mostra que há algo em operação.
segunda seção desse mesmo artigo fornece maiores Usualmente, esses meios são apenas naturais, embora
evidências sobre as muitas mudanças de pólos pelos atuem de modo misterioso.
quais, ao que tudo indica, a terra já passou.
4. A Mente Universal. A mente humana é capaz de
penetrar na esfera da mente universal (vide), obtendo
lampejos sobre os acontecimentos futuros. Os
••••••••• acontecimentos assim previstos usualmente são
358
PRECOGNIÇÁO
fixados, embora haja exceções. Esse raciocínio nos mostra que existem as chamadas
S. O Poder da Mente. A mente humana ê uma causas secundárias, pois nem tudo é causado por
entidade misteriosa e maravilhosa, que envolve muito Deus. Quando o homem causa alguma coisa,
mais do que o cérebro físico, O homem, como ser mediante o exercício de sua livre vontade, então é que
espiritual que é, é um ser cognoscivel, um intelecto,
é Deus previu tal ato, embora não tenha causado o
criado segundo a imagem do Grande Intelecto, Deus. mesmo ato. Por outro lado, Deus prevê algumas
Por ser esse tipo de ser, o homem é dotado de coisas, sendo ele mesmo a causa primária das
precognição, como parte de sua condição humana. mesmas. Ele sabe que certas coisas sucederão, porque
Podemos supor que um ser espiritual do nivel dos ele mesmo as determinou de antemão. Os pensadores
anjos não tem dificuldades para ter conhecimento calvinistas destacam muito esse ponto; mas os
prévio de muitos acontecimentos, embora, natural- arminianos dão muito peso às causas humanas,
mente, não de todos os acontecimentos. Não há razão previstas por Deus. Ambas as doutrinas são
para supormos que o homem, por ser um ente verdadeiras, não se excluindo uma à outra, e nem são
espiritual, também não tenha essa capacidade, que contraditórias. No entanto, quando os homens
isso não faça parte de suas capacidades naturais, sem insistem em ter uma teologia unilateral, que não leve
necessidade de haver inspirações divinas ou demonia- em conta tanto a predestinação divina quanto o livre-
cas para que elas se manifestem. arbitrio humano, então vêem apenas um aspecto da
6. Conceitos de Tempo. :E: possivel que o futuro, em verdade, como alguém que insistisse em dizer que
algum sentido, não seja futuro. Se eu estivesse em um uma das moedas só tem a cara, mas não a coroa, ou
avião voando alto, poderia olhar ao redor e ver coisas vice-versa. Ver os artigos separados sobre o Determi-
distantes do ponto bem abaixo do aparelho. No nismo e o Livre-Arbitrio, quanto a explicações mais
entanto, o que eu visse, embora distante desse ponto completas acerca dessas difíceis questões, sobre as
central de referência, continuaria sendo parte da quais há tantos debates teológicos.
paisagem. Portanto, o que é distante na verdade é m. A PreeoPiçlo e a Profecia
apenas parte de um eterno agora. Nesse sentido, as A profecia (vide) 6 uma realidade, embora seja uma
distinções entre o passado, o presente e o futuro ficam manifestação relativa. Certas coisas previstas terão de
borradas. Na estrada da vida, por algum meio suceder, por terem sido divinamente ordenadas.
misterioso (como aqueles ventilados acima), posso Outras coisas podem tomar lugar ou não, porquanto
tomar consciência do que jaz mais à frente. Mas essa não são acontecimentos predeterminados. Assim, há
tomada de consciência pertence a um eterno agora, no causas secundárias que entram em cena; e também há
sentido mais estrito, e não a alguma situação em que o o caos, pois algumas coisas sucedem sem qualquer
presente e o futuro são distintos um do outro. Ainda causa absoluta. Ver o artigo sobre o Acaso. A
precisamos aprender muita coisa sobre o que está profecia, pois, pode prever muitos, mas não todos os
envolvido no tempo. Quando aprendermos sobre acontecimentos. Um dos pontos mais problemáticos é
certas coisas, talvez compreendamos melhor o que é a a seqüência do tempo. Até mesmo os profetas do
precognição. Antigo Testamento, em certo sentido, estavam
equivocados, porquanto predisseram o estabelecimen-
7. O Conceito dos Ciclos. Todas as coisas que to do reino de Deus para imediatamente depois do
acontecem, já aconteceram; e as coisas que estão retorno dos cativos judeus da Babilônia. Assim
acontecendo, haverão de acontecer de novo. A mente também, no livro de Apocalipse, o autor sagrado
é capaz de penetrar em ciclos que se repetem
(cósmicos ou pessoais) e assim pode prever aconteci- parece contemplar o fim quase imediato do império
mentos, através da analogia. romano, quando, de fato, o mesmo continuou por
diversos séculos após a sua morte. Sua predição de
8. A Presciência Divina, Determinada. Deus prevê que haveria sete reis, e então um oitavo que surgiria
que certas coisas acontecerão porquanto já predeter- dentre os sete (que seria o anticristo), ao mesmo
minou que elas acontecerão. tempo em que o sexto estava então governando,
9. A Presciência Divina, Não-Determinada. Deus quando ele escreveu sua predição (ver Apo. 17:10,11),
prevê que algumas coisas acontecerão, embora na verdade estava equivocada, consistindo em um mal
também perceba que ele não será a causa das cálculo cronológico. Os intérpretes que insistem que
mesmas, o que significa que outras causas lhes darão essas coisas não podem acontecer na profecia biblica,
origem, como coisas que os próprios homens fazem com que os reis em questão sejam reinos. Mas
produzem, mediante o exercício de seu livre-arbítrio. isso envolve uma eisegese (vide), e não uma autêntica
10. A Influência Demoníaca. :E: possivel que certos exegese.
fenômenos de precognição, entre os homens, tenham Os modernos místicos, mesmo quando bons, têm
sua origem na influência demoníaca, visto que os uma margem de erro entre vinte e cinco e trinta por
demônios, por serem entes espirituais, têm algum cento. Supomos que o diabo sabe melhor do que isso.
conhecimento dos eventos futuros. Porém, pensar que E isso por sua vez, mostra-nos que não há razão para
toda precognição humana é demoníaca, o que a suposição de que essa gente, sua maioria, opere atra-
equivale a dizer que o homem, naturalmente, não vés da influência demoníaca. A profecia faz parte na-
possui tal habilidade, é ridiculo e contrário às tural da natureza humana. Os profetas bíblicos, sob a
evidências. Ver o artigo sobre a Parapsicologia. influência do Espírito de Deus, geralmente acertam
D. ·Relaçao Para co- a Pnd-Un" no centro do alvo. Porem, tudo quanto passa pela
Alguns teólogos e fil6s0fos têm pensado que se mente humana envolve alguma margem de erro.
Deus prevê qualquer coisa que deve acontecer, então Talvez seja isso que Paulo queria dizer, quando
as coisas não podem ocorrer livremente, ou seja, sem afirmou: <I ••• porque em parte conhecemos, e em parte
alguma causa divina. De acordo com essa posição, a profetizamos.. (I Cor. 13:9).
precognição seria o equivalente à preordenação das IV. A PrecopIçIo _ BIbIIa
coisas. Agostinho livrou o mundo dessa maneira de Em primeiro lugar, h6 uma presciencia divina que
pensar ao afirmar que Deus prevê que o homem agirá se encontra por detrás da profecia, o que comentamos
livremente, através de sua própria qualidade do livre no parágrafo anterior. Não há razão alguma para
arbítrio. Visto que Deus prevê esses livres atos pormos em dúvida a exatidão geral da profecia
humanos, então é que eles, realmente, devem existir. bíblica, Oferecemos um artigo separado sobre a
369
PRECOGNJÇAO - PRECURSOR
questão e procuramos mostrar o que foi predito para a outras palavras, ninguém, nem mesmo Deus, seria
nossa própria época em geral. Ver _o artigo intitulado: capaz de predizê-lo perfeitamente. No entanto, n"
Profecia: Tradição da, e a Nossa Epoca, tocante à revelação, ele precisou rejeitar essa opinião,
A onisciência é um atributo de Deus. Ver o artigo deixando-nos comum paradoxo e um mistério, no
sobre os Atributos de Deus. Naturalmente, a tocante à questão.
onisciência divina inclui a precognição, A Biblia 4. Os socinios (vide) estribavam-se sobre a posição
ensina que coisa alguma está oculta do conhecimento filosófica de Ockham e, por isso mesmo, pensavam em
de Deus. Ver Jó 28:23,24; 37:16; Sal. 44:21; 139:1-4; um Deus finito, tentando mostrar que as Escrituras
Isa, 46:9,10; 48:2,3,5; Jer. 1:5; I Cor. 2:10. não ensinam tal coisa. Ver o artigo sobre Finito, em
Precognição, Fé e Salvação. Começam os proble- seu terceiro ponto, O Deus Finito.
mas com o conhecimento prévio quando relacionamos 5. Agostinho defendia o livre-arbitrio, ao mesmo
a questão à fé humana, o veiculo da salvação. Os tempo em que aceitava uma completa presciência
trechos de I Pedro 1:2 e Romanos 8:29 são divina, supondo que Deus prevê que o homem agirá
popularmente interpretados como se a fé humana livremente, ou seja, o homem deve agir desse modo.
fosse prevista por Deus, e então que, com base nessa Deus, pois, não é a única causa. Deus pode prever
fé, ele escolheu alguns para a salvação. Porém, coisas que acontecem por causa de outras causas.
quando lemos os versículos em pauta, descobrimos 6. O paradoxo (vide) ocorre quando não sabemos
que as pessoas é· que foram conhecidas de antemão, e como Deus pode prever todas as coisas, ao mesmo
não a fé dessas pessoas. Esses textos são similares ao tempo em que elas não são necessariamente
que diz Amós 3:2: ..De todas as familias da terra determinadas. Tal ensino parece contradizer a si
somente a vós outros vos escolhi ... » O povo escolhido mesmo.
ou conhecido de antemão é o povo amado por Deus. 7. O principio de polaridade (vide). Quando
Desse modo. a palavra grega traduzida por «de consideramos problemas difíceis, precisamos levar em
antemão conheceu» não envolve o conhecimento que conta ambos os lados da questão. Nosso relaciona-
Deus teria de que certas pessoas exerceriam fé e, sim, mento com Deus tem dois lados, o de Deus e o nosso.
qúe Deus conheceu essas pessoas de antemão, Se, por uma parte, a precogníção divina parece tomar
tendo-as amado antes mesmo de virem à existência. inevitáveis os eventos previstos, por outro lado, alguns
Notemos, igualmente, o trecho de [ Pedro 1:20, que deles ainda assim podem acontecer livremente. Esses
diz sobre Cristo o mesmo que é dito sobre os eleitos. são os dois lados da questão, e precisamos levar em
Cristo foi conhecido antes da fundação do mundo, ou conta os mesmos, se quisermos conhecer a verdade da
seja, foi considerado alvo do favor especial de Deus. O questão. Se nos apegarmos somente a um dos pólos da
termo grego prôgnosis, apesar de significar. estrita- questão, talvez isso nos deixe satisfeitos e em conforto
mente falando, o mero conhecimento prévio sobre mental, mas apenas meio informados.
alguma coisa, na Bíblia envolve mais do que isso, visto VI. A freeoipdçlo e a Parapdcologla
que as pessoas que foram conhecidas de antemão são
um povo especial para Deus, e isso nada tem a ver Uma das capacidades humanas que está sendo
com conhecer apenas que tais pessoas viriam a exercer investigada pela emergente ciência da parapsicologia
fé. (vide) é a capacidade natural que o homem tem de
prever o futuro. Efetivamente, o mais comum
Por outra parte, não podemos determinar a relação acontecimento psíquico é o sonho precognitivo. Ver o
entre a fé e a salvação somente com base no uso que a artigo geral sobre os Sonhos. O autor deste artigo não
Biblia faz da palavra precognição; ou qualquer de tem tido apenas alguns, mas muitos desses sonhos. E
seus sinônimos. Por todas as suas páginas, a Biblia os estudos acerca dos sonhos mostram a universali-
apela aos homens para que se arrependam e creiam; e dade do fenômeno. As experiências intuitivas,
eles devem ser capazes de fazer isso, pois, de outra durante as horas despertas, também fornecem-nos a
sorte, não poderiam ser moralmente responsabiliza- compreensão prévia sobre o futuro. E inútil dizer que
dos se não quisessem arrepender-se e crer. Apesar da todos esses fenômenos são provocados pelos demô-
fé ser um dom de Deus (o que fica implicito em Efé. nios. Se os demônios são a causa da precognição
2:8, embora não seja diretamente afirmado), todos os humana simples, então todos os seres humanos são
homens podem exercer fé, porquanto esse é um dom possuidos pelos demônios. Quanto a detalhes sobre
geral do Espirito de Deus, que pode ser cultivado ou como a precognição faz parte do campo mais
anulado, dependendo do exercicio do livre·arbitrio de amplo da parapsicologia, ver o artigo sobre esse
cada individuo. Entramos nos detalhes da questão, assunto. (AM B C E NT! Z)
ventilando os muitos prôs e contras, em dois artigos
diferentes: Determinismo e Livre» Arbítrio. Ver
também sobre a Eleição. PRECONCEITO
V. Alpmu CondcIeraçiN 1"Iao.ófIeu a Re.pelto Ver o artigo intitulado DIIerImlnaçIo.
1. U tomismo (vide) assevera que Deus conhece os
nossos atos futuros, embora sejam livres, porquanto
ele conhece os acontecimentos, não através das suas PRECURSOR
condições, nos eventos anteriores, mas diretamente, No grego. próclm_. um vocábulo que ocorre
neles mesmos. Deus é o centro do circulo cósmico, somente por uma vez em todo o Novo Testamento:
eqüidistante a todos os seus pontos, e o tempo é Heb. 6:20. Esse termo indica alguém que é enviado
inteiramente irrelevante para o conhecimento de Deus adiante de outrem, a fim de cumprir alguma espécie
sobre as coisas. de missão, iniciada pelo precursor e completada pelo
2. O scotismo (vide) rejeita esse ponto de vista, de- outro. Assim, um diplomata que prepara o caminho
clarando que Deus conhece o futuro porque suas con- para um visitante real ou presidencial é um precursor.
dições determinadoras se encontram em sua yontade. Um profeta que aparece antes de alguma grande
Isso elimina qualquer conceito de liberdade humana, figura, à qual anuncia, em seu propósito e intuito
e concorda com o número oito do primeiro ponto, espiritual, ou a fim de preparar as pessoas para
acima. receberem a sua mensagem com maior compreensão,
3. Ockham afirmava que o futuro (filosoficamente é um precursor.
falando) é mais ou menos intermediário e livre. Em Precursores nas Escrituras:
860
PRECURSOIt - PREDESTINAÇAo
1. Todos os profetas verdadeiros preparam os eternidade definirâ para nós esses detalhes. Notemos
homens para a habitação do Espirito e para a Heb. 9:23,24 quanto ao fato de que, na epistola aos
mensagem de Deus, nas almas dos homens. Hebreus, o templo terreno aparece como simbolo do
2. Cristo é o grande precursor dos remidos, os quais templo celestial. Jesus, por causa de sua grandeza,
haverão de residir nos mundos celestiais. Cristo não poderia mesmo ocupar algum lugar inferior ou
cumpriu a sua missão na terra, e foi para aquelas secundário. Entrou diretamente no Santo dos Santos.
habitações celestes antes deles. O trecho de Hebreus Assim também o faremos, quando da glorificação, o
6:20 chama-O claramente de «precursor», e esse, que significa, finalmente, a participação nas perfei-
como jã dissemos, é o único uso claro da palavra ções e atributos de Cristo, baseada essa participação
grega, em todo o Novo Testamento. Entretanto, a em sua própria natureza. Mas essa glorificação ê
passagem de João 14:2 ss, além de vários outros textos gradual, sendo, de fato, o avanço da alma para a
biblicos, fornecem-nos a essência da missão de Cristo. recepção de «toda a plenitude de Deus», conforme
3. João Batista foi o precursor de Jesus Cristo. Mat. encontramos em Efé. 3:19. Visto que hâ uma
3. infinitude de plenitude, assim também hâ uma
4. O falso profeta será o precursor do anticristo infinitude de enchimento. Deus ê infinito, e por toda a
(Apo. 13: 11 ss). O falso profeta será a besta «saída da eternidade chegaremos a compartilhar, em grau cada
terra», ao passo que o anticristo será a besta «saida do vez mais alto, de suas perfeições e atributos, e isso
mar». Ver também os artigos sobre Falso Profeta e porque somos seus filhos verdadeiros. Cristo nos
Anticristo, outorgou o «modelo» de como essa participação tem
Qualificações de um Precursor: lugar.
1. Propósitos similares aos da pessoa anunciada Novidade do conceito do precursor. O povo de
pelo precursor (Mat. 3). Israel nunca recebeu permissão de entrar no Santo
dos Santos. O próprio sumo sacerdote dos hebreus só
2. Autorização (Mal. 3:1; 4:5), a par com penetrava ali uma vez porano, mas jamais como meio
predições, no sentido biblico, conforme se deu no caso de preparar o povo para tal entrada. O sumo
de João Batista. sacerdote do A. T. era apenas «representante» do
3. Transmissão de uma missão divina, com uma povo, que obtinha para eles o favor divino. Cristo,
mensagem definida (Mal. 4:6; Luc. 1:76-79). como nosso sumo sacerdote, tem a função diferente de
4. A realização de uma missão preliminar (Mat. preparar o caminho para seu povo entrar onde ele
3:1-17). entrou. Isso é algo que nunca foi antecipado pelo
5. A intima identificação com a pessoa representa- sistema levitico.
da pelo precursor (João 1:19-24). Tornado sumo sacerdote. Consideremos os pontos
Um precursor pode ser uma pessoa, mas também seguintes: 1. por nomeação de Deus (ver Heb. 5:4); 2.
um acontecimento, como no caso daqueles eventos por causa do fato de ter-se completado com êxito a
que serão os precursores da parousia (vide). suá missão terrena (ver Heb. 1:9 e 4:10); 3. porque,
em sua missão terrena, ao identificar-se com os
homens, ele aprendeu a sentir e a conhecer suas
PRECURSOR, JESUS COMO fraquezas, de tal modo a poder mostrar-se simpático
para com eles e interceder eficazmente em seu favor
Ver Heb. 6:20. (ver Heb. 4:15); 4. porque ele ofereceu o sacrificio
No grego é usado o vocábuloprodromos, isto é, o «ir perfeito (ver Heb. 5:1,3 e 9:23); 5. porque suas
adiante», mas que é usado pessoalmente para falar de promessas são melhores, oferecendo-nos um pacto
quem «entrou adiante», A idéia é de alguém que é melhor que o da dispensação do A.T. (ver Heb. 8:6).
«pioneiro no caminho», que se torna o lider que outros
devem seguir, e que devem atingir o mesmo «destino»,
como alguém que foi à frente. Essa palavra é usada PREDESTINAÇÃO
somente aqui, em todo o N.T. Esse vocábulo é usado Ver o artigo sobre Determinismo (Predestinação).
nos escritos clássicos para indicar «escoteiro», alguém
que espia a terra e a prepara para a chegada das
tropas. Posto que Jesus entrou no Santo dos Santos, PREDESTINAÇÃO (e Une.Arbltrló)
então até ali deverão chegar também os seus remidos. Este artigo tem somente o intuito de suplementar
Encontramos a mesma idéia em Heb. 10:19. Vários outros artigos, apresentados sob titulos separados.
intérpretes acreditam que os céus são pintados como Quanto a informações completas sobre questões
arquétipo do templo terreno. Tem muitos comparti- relativas à predestinação, à eleição e ao livre-arbítrio
mentos, - como o templo terreno tinha o átrio dos ver os seguintes verbetes: Determinismo, Eleição e
gentios, o átrio das mulheres, o Lugar Santo e o Santo Livre -Arbítrio .
dos Santos. Isso equivale, em significado, aos «lugares Alguns fatores adicionais a serem considerados:
celestiais» mencionados por Paulo, comentados no
NTI em Efé. 1:3. Ver também as «muitas mansões»
aludidas 'por Jesus, e comentadas em João 14:2, no Esboço:
NTI. Os antigos nunca concebiam um «céu .. só, uma I. Textos de Prova
única «habitação espiritual», e, sim, muitas esferas ou 11. Fatores Interpretativos
reinos espirituais. Ora, Jesus, na posição de nosso 111. Fatores Filosóficos
precursor, entrou no «mais alto céu.., a saber, no IV. Fatores Psicológicos
Santo dos Santos. Ali ele aguarda por nós. Isso não V. Uma Possivel Reconciliação
significa que o mero ato da morte nos conduzirâ até
ali. Antes, penetramos nos «lugares celestiais», na VI. O que é Promovido pela Predestinação?
grande casa de Deus, sobre a qual Cristo governa I. Teno. de prova
como Filho. Mediante o processo de glorificação é que « ••• Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os
finalmente, entraremos na própria presença de Deus, homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimen-
porquanto quem não estiver perfeito, não poderá to da verdade... Cristo Jesus, homem, o qual a si
entrar ali. Contudo, todos os remidos poderão estar mesmo se deu em resgate por todos..... (I Tim. 2:3-6).
no seu «templo», e assim estarem «com Cristo». A 1. Deus é Salvador - I Timóteo 2:3.
361
PREDESTINAÇAO
2. Esse Salvador deseja que todos os homens sejam afirme que nem todos os homens podem ser salvos.
salvos - I Timóteo 2:4. 3. Se Deus é Salvador. disso conclui-se que todos os
3. Cristo, ao cumprir a vontade do Pai, fez expiação homens podem ser salvos. Deus não deseja meramen-
por todos os homens - I Timóteo 2:6. te que isso suceda, sem envidar qualquer esforço nesse
4. O pano de fundo histórico do texto requer a sentido.
plena aceitação da universalidade ali ensinada. O 4. A fim de executar o intuito universal do Pai, o
livro foi escrito contra certa heresia gnóstica que Filho fez uma expiação universal (vs. 6). Isso significa
promovia atitudes exclusivistas. Os pensadores que, em contraste com o exclusivismo dos gnósticos,
gnósticos classificavam os homens como segue: todos os homens, de fato, podem ser salvos. A
a. Os hllicos: A palavra vem do grego e significa provisão é adequada para essa finalidade, e tem
«materialista». De acordo com os gnósticos, os precisamente esse intuito.
indivíduos hílicos são aqueles totalmente envolvidos e.... e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não
com as questões materiais, ao ponto de nunca somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do
poderem livrar-se de si mesmos. Tais pessoas não mundo inteiro» (I João 2:2).
podem ser salvas, porquanto são completamente Ê impossível torcer esse versículo de forma a
dominadas pelo princípio da materialidade. Esses torná-lo harmônico com qualquer forma de exclusi-
indivíduos haverão de perecer na conflagração final vismo. Tal impossibilidade, de qualquer ponto de
que porá fim ao próprio princípio da materialidade. vista sensato, é demonstrado pelo pano de fundo
b. Os pslquicos: O termo grego significa «espiri- histórico do versículo. Novamente, a heresia gnóstica
tual»; mas os gnósticos usavam-no para referir-se a está em foco. Os gnósticos diziam que o batismo de
uma espiritualidade secundária, que pode almejar a Jesus foi o instante, dentro do tempo, em que o aeon
uma glória apenas secundária. Os psíquicos não ou anjo ou espírito celeste desceu sobre ele. E esse
podem aspirar à glória dos verdadeiramente espiri- teria sido o poder impulsionador que, subseqüente-
tuais e iniciados, os quais virão a participar da mente, cumpriu o propósito da missão salvaticia de
natureza divina. Os gnósticos supunham que os Cristo. Todavia, eles negavam totalmente a realidade
profetas do Antigo Testamento e um número limitado da expiação. Essa é a razão pela qual o trecho de I
de outros, haveriam de obter essa glória secundária. João 5:6 afirma que o Filho de Deus veio através da
c. Os pneumáticos: A palavra grega significa água e do sangue e não somente através da água. A
«espiritual» em sentido pleno, e os gnósticos missão de Cristo dependeu tanto da água (seu batismo
usavam-na para indicar os eleitos, os verdadeiramente e unção pelo Espírito) quanto do sangue (sua obra
espirituais, que seriam eles mesmos. Conforme expiatória). Isso posto, os gnósticos negavam o valor
ensinavam, somente tais indivíduos seriam capazes de da expiação de Cristo como um princípio, bem como
obter a salvação no sentido mais completo e elevado; o seu alegado objetivo universal, a saber, todos os
número de pneumáticos seria extremamente pequeno. homens.
Segundo pensavam os gnósticos, o número dos Portanto, João diz ali que a expiação realmente vale
psíquicos pode ser maior; mas a grande maioria dos para os nossos pecados, mas também para os pecados
homens compõe-se dos büicos, Esses não podem ser do mundo inteiro. Isso concorda com o que diz Paulo,
remidos, pelo que a mensagem espiritual não se em I Timóteo 2:6. Cristo deu-se a si mesmo como
aplicaria aos tais. resgate «por todos». Ambos esses versículos argumen-
Paralelos óbvios com o Cal1'ÜIlmIo: tam contra o exclusivismo dos gnósticos e contra
1. Somente um pequeno número de pessoas pode qualquer forma de exclusivismo, como é o caso do
ser salvo. calvinismo extremado. Foram escritos especificamen-
2. Esse pequeno grupo compõe-se exatamente te para denunciar a interpretação exclusivista do
daqueles que anelam por ensinar que eles são os evangelho. Ver o artigo separado sobre o Gnosticis-
eleitos, a saber, os calvinistas confirmados e mais mo.
alguns outros poucos. D. Fatores interpretativos
3. O evangelho consiste em boas novas somente 1. O nono capitulo da epístola aos Romanos
para esse grupo exclusivo, embora consista em más contradiz a passagem que acabamos de comentar. Ela
novas para o resto, formado pela grande maioria dos ensina tanto a eleição absoluta e incondicional quanto
homens. a reprovação ativa. Se tivéssemos de depender
somente de textos de prova, a fim de entender a
Mas, o ensino de I Timóteo 2:3-6 é contrário ao verdade, e se contássemos somente com esse trecho de
exclusivismo, em qualquer de suas variações. Romanos, teríamos de ser calvinistas radicais. Ê inútil
Vejamos: tentar interpretar esse trecho de Romanos de outro
1. Antes de tudo, observemos que essa passagem foi modo. E o método de textos de prova não é o único
especificamente escrita contra qualquer exclusivismo. que nos permite obter conhecimento da verdade.
Portanto, dividir Deus e dizer que seus decretos dizem 2.. A existência de uma passagem como o nono
respeito a diferentes categorias e representam capítulo de Romanos, no Novo Testamento, é
diferentes graus de interesse divino é algo contrário ao requerida pelas inadequações de certos aspectos da
texto. Deus, como Salvador, e Cristo, sendo o autor teologia judaica. O Novo Testamento arrastou para si
da expiação universal, garantem que Deus deseja que muito do pensamento judaico e do Antigo Testarnen-
todos os homens venham a ser salvos. Isso concorda to, embora também ultrapasse a um e a outro. Ora, a
plenamente com a missão de Cristo e não somente é teologia judaica era fraca quanto às causas secundá-
sugerido por essa missão. Aqueles intérpretes que rias. Isso pode ser ilustrado por uma história extraída
afirmam que os decretos de Deus foram baixados em do Talmude. Certo dia, um rabino viu um homem
graus variados, de tal modo que ele realmente deseja muito feio e aleijado. Chegou mesmo a rir-se. porque
algo, pelo que também cumpre esse desejo, mas que o homem era uma daquelas piadas da natureza. Mas
quer outras coisas menos, - pelo que as deixa sem o aleijado reagiu com estas palavras: «Deus foi quem
cumprimento, promovem aquele exclusivismo que é me fez assim». Isso foi devastador para o rabino, que
combatido pelo texto. começou a pedir perdão pelo que havia feito. Não
2. Deus é retratado como Salvador, nesse texto, entrou na cabeça do rabino que Deus não era,
especificamente a fim de negar qualquer doutrina que necessariamente, responsável pela condição daquele
362
PREDESTINAÇÃO
homem. Segundo a sua teologia, Deus era a única os detalhes envolvidos foram esclarecidos. Assim,
causa de tudo. Mas, se o Senhor é a única causa de falamos sobre a divindade e a humanidade de Cristo,
tudo, então ele também é a causa direta do mal. O mas não temos meios para dizer como ambas essas
trecho de Romanos 9: 14 reconhece essa conseqüência, naturezas podem conviver em uma mesma pessoa. O
embora não tente dar uma resposta adequada. O vs. livre·arbitrio e a predestinação também podem ser
19 do mesmo capítulo aproxima-se de novo dessa explicados desse modo. Essas duas idéias, por assim
conseqüência, mas, novamente, não lhe dá resposta. dizer, são os pólos extremos de uma verdade maior
O fato, porém, é que quando fazemos de Deus a única que, por enquanto, ultrapassam à nossa capacidade
causa, negligenciando as causas secundárias, não há de explicar. Por igual modo, Deus usa o livre-arbítrio
como escapar do corolário necessário de que Deus é a humano sem destrui-lo, embora não sabemos dizer
causa primária do mal. A resposta dada em Romanos como.
é a mesma que foi dada por aquele aleijado: «Deus fez 2. Polaridade. Os antigos explicavam de modo
as coisas dessa maneira e ninguém tem o direito de muito inadequado a natureza do mundo. Suas idéias
objetar». Ver Romanos 9:20-22. Porém, o que essa eram parciais e seus mapas eram desastrosos, mas
resposta não reconhece é que estamos tratando com eles pensavam que sabiam muita coisa. As grandes
um pouco de teologia inadequada, que é corrigida em verdades, tal como o próprio mundo, têm dois pólos,
outros trechos do Novo Testamento (como naqueles os quais, segundo nos parece, são contraditórios um-
versículos de I Timóteo e de I João). com o outro. Se explicarmos a natureza do mundo
Torna-se patente, pois, que o objetivo do nono físico, mas fizermos alusão a somente um dos pólos,
capítulo de Romanos não é dar resposta ao próprio tal explicação, por mais verdadeira que seja, até onde
Deus, mas apenas objetar a uma teologia um tanto vai, será apenas parcial. Há dois pólos na doutrina da
inadequada acerca de Deus. V árias versículos do predestinação e do livre-arbítrio. Precisamos levar em
Novo Testamento afirmam a necessidade dessa conta a predestinação, como o lado divino, porquanto
objeção. o homem caiu demais para poder socorrer-se a si
3. Além daqueles versículos que salientam a mesmo. Precisamos do livre-arbítrio, porque o homem
teologia inadequada do nono capítulo de Romanos (e não é trazido de volta a Deus como um autômato. Um
de versículos paralelos), devemos notar que há autômato não é responsável pelos seus atos,
aqueles trechos do Novo Testamento que emprestam porquanto foi adredemente programado. Um homem
ao evangelho uma universalidade que fora anulada programado nem seria um homem. A mortalidade
totalmente pelo exclusivismo da teologia anterior. depende da realidade do livre-arbitrio humano.
Temos a narrativa da descida de Cristo ao hades, a 3. A manipulação de textos de prova. É legítimo
fim de pregar o evangelho aos mortos desobedientes (I usar textos de prova extraídos da Bíblia. Porém, a
Ped. 3:18-4:6), com o resultado de que aqueles que são busca pela verdade deve ir além dessa prática. Em
julgados conforme devem ser julgados os homens na primeiro lugar, todos os textos de prova estão sujeitos
carne, contudo possam viver de acordo com Deus, no à interpretação, a qual pode ser distorcida. Em
espírito (I Ped. 4:6). O trecho de Efésios 4:8-10 segundo lugar, a Bíblia não nos fornece uma teologia
mostra-nos que a descida de Cristo ao hades e sua sistemática, completa e absoluta. Os dogmas huma-
subseqüente ascensão até os céus, teve o mesmo nos é que dizem isso. A Bíblia não afirma isso a seu
propósito: fazer Cristo tornar-se tudo para todos, isto próprio respeito. Portanto, há outras fontes da
é, «encher todas as coisas». Essa doutrina não é verdade, que é tão vasta quanto o próprio Deus.
antecipada na teologia do nono capítulo de Romanos, Nenhum livro ou biblioteca pode conter toda a
e pertence a uma teologia progressiva, mais verdade de Deus. Minha única ortodoxia é a verdade.
amadurecida, que vê além do exclusivismo próprio do A insistência sobre o uso de textos de prova, como a
antigo judaísmo. única maneira de se chegar à verdade, deixa-nos
4. Tal como confessamos que o Novo Testamento presos à necessidade de interpretarmos tudo quanto
ultrapassa à teologia do Antigo Testamento, por igual lemos na Bíblia. Cada texto de prova, se isolado do
modo devemos confessar que trechos do Novo resto da Bíblia, é respondido por algum texto de prova
Testamento ultrapassam a outros trechos, quanto à contrário, se também for usado isoladamente. Para
profundeza teológica, porquanto a revelação bíblica é exemplificar, - o nono capítulo de Romanos é
progressiva e que são os dogmas humanos que deixam oposto ao segundo capitulo de I Timóteo. Se não
estagnada a teologia e não o propósito de Deus. ultrapassarmos ao sistema de debates que só emprega
Quando Paulo disse: «Eis que vos digo um mistério», textos de prova, ficaremos sempre com uma teologia
isso equivalia a dizer: «Eis um ponto teológico que inadequada (conforme se dá com os versículos acima
ultrapassa a tudo quanto foi ensinado até este ponto». aludidos, em I Timóteo e I João), e também nunca
Se não fosse assim, ele não poderia ter falado em traremos novas luzes a qualquer problema.
mistério. Observemos que a passagem de Efésios 4. Eisegese, Todos os proponentes de teologias
1:9,10 contém o mistério da vontade de Deus; o fatõ sistemáticas praticam a eisegese, Em outras palavras,
de que, em algum distante futuro, ele unirá todas as incluem nos textos elementos que não fazem parte
coisas em torno de Cristo. Isso não pode indicar genuína desses textos. Desse modo, são capazes de
apenas que ele haveria de unificar judeus e gentios, na manter um sistema teológico fechado. Isso fazem a
Igreja cristã, porquanto isso já vinha sendo anunciado qualquer custo, mesmo que envolva a desonestidade
desde o Antigo Testamento e Paulo não teria dito que na interpretação das Escrituras. Tanto os calvinistas
isso é um mistério. Um mistério, de acordo com a quanto os arminianos têm-se tornado culpados dessa
Bíblia, é algum segredo divino que acabou de ser prática, porquanto o Novo Testamento é mais amplo
revelado. do que qualquer desses dois sistemas.
m. Fatora mo.ó&co. IV. Fatora "eoIóalc.
1. Ao manusearmos as verdades espirituais, 1. A maioria das pessoas interpreta de acordo com
precisamos manter em mente a possibilidade de que os fatores psicológicos já existentes. O conforto mental
dois lados de uma mesma verdade podem parecer (a necessidade de evitar questões difíceis) é um desses
contraditórios. Nesse caso, estaremos tratando com fatores. Os calvinistas radicais sentem o desastre
umparadoxo, isto é, um parecer que, aparentemente, inerente em uma missão de Cristo que falhou, se,
é autocontraditôrío, devido ao fato de que nem todos verdadeiramente, Deus amou a todos os homens e fez
363
PREDESTINAÇÃO - PREDICÁVEL
provisão para uma expiação universal. Essa provisão há que duvidar que o propósito restaurador da
seria inútil se, de fato, o Senhor tivesse de salvar vontade de Deus, contido em um mistério, consiste
apenas a alguns poucos, deixando o resto condenado. em amor e bondade. Que dizer, pois, acerca do
Assim, os calvinistas radicais obtêm conforto mental julgamento final? Só podemos dizer que o próprio
promovendo uma teologia que diz, virtualmente: «A juízo divino é um meio para a restauração, ou seja,
missão de Cristo não falhou porque nunca teve um um dedo da amorosa mão de Deus. Desse modo, até a
objetivo universal». ira de Deus faz parte desse amor, realizando algo de
2. Porém, a busca por esse conforto mental cria um construtivo. Não se trata de um fator separado e
corolário que é contrário ao evangelho. Os homens contrário. Lembremo-nos do princípio da polaridade.
devem ficar, necessariamente, insensíveis diante dos O amor e a ira de Deus parecem verdades opostas,
condenados. Os arminianos procuram interessar-se mas são apenas pólos de uma mesma verdade. Essa
mais pelos perdidos e conseguem o intento afirmando verdade envolve boas novas para os homens.
o intuito universal do evangelho. Os universalistas, Mediante a exegese de I Pedro 4:6, podemos atingir a
que se preocupam principalmente com o bemestar dos idéia de que o próprio julgamento divino é um meio
homens, fazem a predestinação apoiar o propósito para se chegar à restauração final.
salvatício universal e assim fazem com que, no fim, Um Humanismo Cristão. Um certo amigo meu,
todos os seres humanos terminem salvos. Esse tipo de professor em um seminário evangélico, descreveu essa
teologia busca apenas conforto mental. Todos nós teologia como um humanismo cristão. Esse título
extrapolamos para a Bíblia, por causa de fatores também me satisfaz. Diz a mesma coisa que o trecho
psicológicos, aquilo que desejamos ver ali. Todos nós, de João 3:16: «Porque Deus amou ao mundo de tal
pois, tornamo-nos culpados de eisegese. maneira que deu o seu Filho unigênito... » Aquilo que
- V. Uma poaIvel. recDncm.çIo potencialmente é o melhor em mim. aquilo que é mais
Essa reconciliação consiste na m.IDha eisegese e no digno de ser promovido, é exatamente aquilo que é
meu conforto mental! promovido pelo poder predestinador de Deus. A
A predestinação absoluta poderia exprimir uma preocupação mais ínt1ma desse poder predestinador é
verdade se, correspondendo a isso, tivéssemos a a nossa transformação segundo a imagem do Filho
provisão da morte de Cristo em favor dos perdidos, (Rom. 8:29), sendo essa a essência mesma da
capaz de conferir-lhes uma glória secundária, isto é, salvação. Através dessa transformação, nos intermi-
inferior àquela dos eleitos. Somente então a missão de náveis ciclos da eternidade, poderei vir a participar da
Cristo seria bem - sucedida em sentido absoluto, natureza divina (lI Ped. 1:4; Col. 2: lO), mediante o
embora em dois graus diferentes. Essa idéia me dá poder transformador do Espírito de Deus (11 Cor.
3:18).
conforto mental, pois resolve uma questão que fica
sem solução, de acordo com o sistema calvinista ou
arminiano. Ademais, essa idéia evita o exagero dos PREDICADO
universalistas, que pensam que todos os homens serão Usada como um substantivo, essa palavra significa
salvos, afinal de contas. E também estabelece, aquilo que é asseverado acerca de um assunto
conforme deve ser, a diferença entre os eleitos e os não qualquer, ou um termo que indica alguma proprieda-
eleitos, embora faça a missão de Cristo beneficiar a de. Na metafísica, indica um atributo qualquer de
todos os seres humanos. Essa abordagem pode incluir uma substância. Verbalmente, predicar indica o ato
uma exegese genuína, porquanto o mistério da mediante o qual se atribui alguma qualidade a
vontade de Deus parece exigir alguma conclusão. alguma coisa.
Ver a minha exposição sobre a questão, no Novo
Testamento Interpretado, em Efésios 1:9,10. Nesta
enciclopédia vou um pouco além do que digo naquela PREDIÇÃO
exposição, onde declarei que se os perdidos sofrerão Há. duas palavras gregas envolvidas neste verbete:
uma perda infinita, sem importar quais outras
vantagens eles venham a obter, então isso degrada ao 1. Proeipon , «dizer de antemão». Palavra que é
Redentor-Restaurador. Na verdade, não se pode falar usada por duas vezes: Atos 2:31 e Gál. 3:8.
em degradação, quando se trata de qualquer 2. Prolégo , «falar de antemão». Termo usado por
realização de Cristo, em sua missão a este mundo. três vezes: II Cor. 13:2; Gál. 5:21 e I Tes. 3:4.
Lamento que declarações assim tenham entrado em A palavra pode apontar para alguma profecia
meu comentário. Minha maneira de pensar, pois, (vide), ou meramente alguma informação dada antes
evoluiu para melhor, o que aqui expresso. do tempo. Um profeta falava acerca do futuro ou em
VI. O que é promondo pela preclatlnaçlo! suas advertências ou em suas promessas. Suas
palavras, porém, tinham o intuito de ter uma
Os calvinistas extremados têm deixado de reco- aplicação e um uso contemporâneos. Todavia, a
nhecer que o homem é um poderoso ser criativo e que, profecia não visa à satisfação de nossa curiosidade e,
apesar da queda, ocupa uma posição não muito sim, para nos instruir. Algumas vezes, uma profecia
inferior à dos anjos. Ê lamentável que eles tenham ajuda-nos a dar o passo seguinte, porquanto ela nos
posto o poder predestinador de Deus à base da permite ver o alvo distante. Escrevi um livro sobre
condenação, seguindo a inadequada teologia do profecia que talvez interesse ao leitor: Profecias para o
judaísmo e que chega a entrar no Novo Testamento Nosso Tempo: ,Quarenta Anos Finais da Terra,
em alguns lugares. E os arrninianos caem no erro de publicado por Nova Êpoca, São Paulo. Damos um
anular. por meio de sua eisegese, a atividade sumário para os eventos esperados para o futuro
predestinadora de Deus para a salvação. E os prôximo.jro artigo intitulado Profecia: Tradição da, e
universalistas exageram ao remover a distinção a Nossa Epoca.
bíblica entre os eleitos e os não-eleitos. Pelo menos,
estes últimos têm visto que isso redunda em um bem e
não em um mal, embora não corresponda ao ensino
bíblico. Quanto a nós, faríamos bem em reconhecer o PREDICÁVEL
poder predestinador de Deus por detrás da salvação, À base dessa palavra está. o termo latim pnedlcare,
promovendo tudo quanto é bom para o homem, tudo «proclamar», «afírmar». O que é predicâvel é aquilo
quanto contribua para o bemestar e a harmonia. Não que pode ser afirmado sobre qualquer coisa, como as
364
PUEEMIN:B;NCIA - PREEXIST:ENCIA
descrições acerca de uma espécie, as categorias pôs-exílio não se aplicam ao reino do norte, Israel, e
filosóficas, etc. Para Aristóteles, os predicAveis eram ao cativeiro assírio, visto que nia houve hist6ria
tipos de relações que podem descrever algum termo pôs-exíhca do reino donorte das dez tribos. Ver os
universal, como gênero, espécie, diferença especifica, artigos gerais sobre Cativeiros (Asslrio e BabiU~nico).
propriedade e acidente contingente. Nessa conexão,
ele não usou especificamente o termo -espêcíe-, Mas
Porfirio (vide) trouxe a questão à tona, em sua PREEXIST2NCIA DA ALMA
discussão na obra Árvore (o que é ilustrado no artigo Tenho apresentado um estudo completo sobre as
acerca dele). Para ele, os predicáveis são em número idéias atinentes à origem da alma, no artigo intitulado
de cinco, conforme se disse acima. Alma, primeira seção (criacionismo; traducionismo;
O uso dos predicáveis serve tanto para descrever fulguração; eternidade; preexistência; emanação). A
quanto para limitar um assunto qualquer. Se pr6pria Biblia não diz muita coisa que nos permita
Arist6teles quisesse definir um circulo, com os seus deduzir -quando a alma humana começou. De acordo
quatro predicáveis, teria digo algo parecido com isto: com alguns estudiosos, a declaração, em Gên. 2:7 de
1. um plano curvo, cada ponto extremo do qual é
Ê
que Deus soprou no homem o sopro da vida, não se
eqüidistante de um ponto central: 2. seu formato é tal refere à alma, visto que essa doutrina só veio a fazer
que o ângulo no segmento que subentende um parte do pensamento hebreu na época dos salmos e
diâmetro é um ângulo reto; 3. é um plano curvo; 4. dos profetas. A lei de Moisés nunca apela à vida
pode ter um diâmetro especifico. com 10 em, que o apôs- túmulo, nem como lugar de castigo em potencial
distingue de outros círculos, para os perdidos, e nem como lugar de recompensa
para os retos. Isso posto, na história da criação, não
encontramos qualquer declaração sobre a origem da
PREEMIN2NCIA alma. Mas o trecho de Gên. 2:7 tem sido
Essa palavra vem do latim, prae, «antes», e «cristianizado» em apoio ao criacionismo. Porém,
eminere, «destacar-se.., indicando assim alguma mesmo que a alma humana tenha vindo à. existência
pessoa ou coisa que é distinguida de todas as pessoas e mediante um ato especial de criação, naquela ocasião,
coisas devido à sua ~natureza superior, aos seus isso não significa que as almas subseqüentes também
atributos ou à sua importância. Usualmente, esse estejam vindo à existência devido a um ato especial
termo incorpora a idéia de governo, porquanto aquilo divino de criação, por ocasião da concepção ou
que tem preeminência também governa outras coisas. nascimento.
No terreno teológico, esse termo é aplicado a Deus e a A doutdDa da preeDdacla da ...... é comum no
Cristo, ou então à Trindade, seres divinos que se budismo, no hinduismo,.em várias religiões egipclas e
mostram preeminentes em honra e em poder, além de na filosofia grega (pitagoreanos, vários filósofos
ocuparem o primeiro lugar na escala do ser. socráticos, nos escritos de Platão e do neoplatonismo).
O gnosticismo (vide) forçou os apóstolos de Cristo e O judaismo helenista adotou essa idéia, pelo que
os cristãos que se seguiram a se manifestarem muitos judeus a têm defendido, especialmente aqueles
enfaticamente acerca da preeminência de Cristo. Os das tradições misticas, como os cabalistas. Os pais
gnósticos concebiam um vasto exército de seres alexandrinos da Igreja cristã (Pantaeno, Clemente e
angelicaD, arranjados em uma hierarquia de poder e Orígenes), como também muitos da Igreja oriental,
gl6ria, e Cristo não ocuparia, necessariamente, o têm advogado essa noção. Tal ensino aparece com
primeiro lugar. Trechos biblicos que ensinam a freqüência no Talmude. Essa doutrina tinha ampla
preeminência de Cristo, são: Col. 1:15-18; João circulação nos circulos cristãos até o tempo do Sinodo
1:1-19; Heb. 1:3, 2().23; 4:15,16. - A preemi- de Constantinopla (533 D.C.), que a rejeitou. Aqueles
nência de Cristo resulta de sua posição como Criador que acreditam na reencarnação (vide) naturalmente
e Redentor. optam por ela; mas os pais alexandrinos da Igreja a
aceitavam sem essa idéia paralela. Atualmente, os
m6rmons ensinam essa doutrina, embora esse grupo
PU-EX1LI.o, pOs.EXlLIO não acredite na reencarnação, excetuando em casos
Essas duas palavras indicam uma maneira genérica especialissimos. Alguns trechos biblicos são apresen-
de dividir a hist6ria do reino de Judá de acordo com o tados em defesa da idéia, como Pro. 8:22-31, mas
tempo que houve antes e depois de S86 A.C., o ano em alguns aplicam essas passagens exclusivamente ao
que o povo de Judá foi levado para o cativeiro na Logos pré-encarnado, a Sabedoria de Deus. O trecho
Babilênia, Setenta anos depois, um remanescente de Jer. 1:5 é um versículo mais forte, visto que ali,
voltou a Jerusalém, a fim de dar prosseguimento ali à como é 6bvio, a pessoa em foco é o profeta humano:
vida nacional. O período pré-exilico inclui as fases «Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te
pré-histórica, patriarcal, mosaica, dos juizes e conheci, e antes que saísses da madre, te consagrei e
monárquica. O periodo pôs-exílíco armou o palco te constitui profeta às nações...
para a cultura helenista do judaísmo, quando o reino Porém, aqueles que não querem ver nesse trecho a
do norte (Israel) não mais existia, e quando o que preexistência da alma asseveram que temos ai apenas
restou do mesmo já havia sido incorporado em Judá, uma declaração do conhecimento prévio de Deus, e
que então se tornara o único Israel que havia. Esse não que a alma de Jeremias tivesse existido antes de
período estendeu-se até à prôximatgrande deportação, seu nascimento. Mas, contra essa interpretação
que teve lugar no tempo de Adriano, imperador alguns tem aduzido, em primeiro lugar, que a simples
romano. Dali até os nossos próprios dias, Israel tem leitura da passagem não indica qualquer coisa como a
estado no exílio. O moderno movimento restaurador precogníção divina; e, em segundo lugar, que a
(sionismo) conseguiu levar novamente o povo judeu a teologia judaica posterior, mediante idéias tomadas
organizar-se como uma nação, com seu próprio por empréstimo, favorecia as idéias da preexistência
territ6rio e governo. Conforme já seria de esperar, da alma e da reencarnação. A teologia judaica
praticamente nenhum judeu moderno pode traçar a posterior dizia que Jeremias era a reencarnação de
sua linhagem de volta, excetuando aqueles que Moisés, ensinando que os principais profetas são
descendem diretamente de Judá, pois a distinção encarregados de mais de uma missão terrena, através
entre as chamadas dez tribos perdidas tornou-se de várias reencarnações. O trecho de Ecl. 1:9·11
impossível, Assim sendo, os termos pré-exilio e talvez indique a idéia da preexistência da alma.
365
PREEXISTBNCIA - PREGAÇAO
No Novo Testamento, encontramos o relato sobre imagem, conforme à nossa semelhança....., onde o
João Batista, cheio do Espirito Santo desde antes de verbofaçamos e o adjetivo possessivo nossa, indicam
seu nascimento, como também uma informação sobre pluralidade. E isso é reforçado em Gên. 3:22, onde
o apóstolo Paulo, que foi chamado para sua elevada Deus diz: «Eis que o homem é como um de nós,
missão desde o ventre materno. Ver Luc. 1:15 e Gál. sabendo o bem e o mal....., e onde devemos destacar
1:15. Argumenta-se que as escolhas divinas nunca as palavras «um de nôs», E, quando chegamos ao
podem ser vistas como arbitrárias, e que se esses dois Novo Testamento, o primeiro capitulo de João mostra
homens tiveram elevadas missões, as quais lhes foram definidamente a preexistência do Logos (vide), como
atribuidas antes de se converterem, dentro da um corolário necessário do ensino de sua deidade e
experiência humana, então eles devem ter tido poder como Criador. Isso significa que Cristo não
existências anteriores, onde obtiveram elevada posi- pertence à ordem criada; pelo contrário, ele é o
ção espiritual. Nesse caso, eram irmãos do Grande criador. Acresça-se a isso que o Logos «encarnou-se..
Irmão, Cristo, e todos foram preexistentes. Ora, se (ver João 1:14), subentende a idéia de sua
isso sucedeu a esses dois homens, então é lógico preexistência. Ver o artigo sobre a Encarnação de
supormos que muitos, se não mesmo todos os Cristo.
homens, compartilham dessa mesma condição de O trecho de Miq. 5:2 é um texto de prova
preexistência. veterotestamentário da preexistência do Messias.
Acresça-se a isso que há alguma evidência cientifica Aquele que nasceria em Belém tinha suas origens
quanto à preexistência da alma nos campos de vida «desde os tempos antigos, desde os dias da
que circundam os fetos, um poder, uma energia, ou, eternidade». E em Isa. 9:6, o Filho é chamado de «Pai
talvez, um ser que prepara o feto para seu uso, através da Eternidade», Essa é uma declaração dogmática e
do controle do código genético. Ver o artigo sobre a profética acerca da deidade e da preexistência do
Aura Humana (Campo de Vida). Lagos (o Filho, o Cristo). O próprio Jesus ensinou a
Teologicamente falando, é dificil sustentar o sua preexistência, segundo se lê em João 8:58: ..Antes
criacionismo, a idéia que diz que Deus cria novas que Abraão existisse, eu sou... Ver o artigo separado
almas «ex nihilo» (do nada), a cada concepção ou sobre o Eu Sou de Jesus, que tem como paralelo o Eu
nascimento. Além de fazer Deus tornar-se ridicula- Sou de Deus (sobre o que também preparei um
mente ocupado nesse empreendimento (o que parece artigo).
antieconômico), pode-se perguntar como é que cada A oração sumo sacerdotal de Jesus também afirma
individuo nasce pecador, se Deus cria uma alma nova enfaticamente a preexistência do Filho e sua
de cada vez. Deus criaria almas pecaminosas? Como comunhão com o Pai ..antes que houvesse mundo..
poderiamos ensinar o criacionismo e a doutrina do (João 17:5,24). O trecho de Heb, 7:3 manifesta-se
pecado original ao mesmo tempo? Certamente Deus sobre o sumo sacerdócio de Cristo, equiparando-o ao
não cria pecadores. de Melquisedeque que ..não teve principio de dias..,
Para alguns, a solução para esse problema é o além de ser «sem pai, sem mãe, sem genealogia». O
traducionismo, Temos ai a idéia que tanto o homem titulo de Cristo ..o Alfa e o Omega.. (sobre o qual
quanto a mulher, sendo ambos seres fisicos e escrevi um artigo) afirma a sua preexistência e
espirituais, mediante a procriação produzem filhos preeminência. A passagem de Col. 1:17 assevera que
que são entidades fisicas e espirituais. Em outras Cristo é ..antes de todas as cousas.., declaração que
palavras, não somente o corpo fisico, mas também a deve ser entendida em sentido temporal e também em
alma, seria produzida pelos pais. Todavia, essa idéia é sentido de preeminência. E todas as afirmações
apenas uma suposição, uma suposição racional ad biblicas acerca de como o Logos é o Criador,
hoc. Tal idéia teria sido inventada «para esse caso.., a naturalmente envolvem a idéia de sua preexistência.
fim de explicar como almas humanas já nascem Ver João 1:1-3 e Col. 1:16. Outro tanto com respeito
pecadoras, aliviando assim Deus de uma tarefa de às declarações acerca de sua deidade. Ver o artigo
criar almas a cada minuto do dia. Considerando-se intitulado Divindade de Cristo.
todos os fatores, a idéia da preexistência é a que cria
menor número de problemas. Assim sendo, apesar da
maioria dos teólogos defender o criacionismo, não é PREFEITO APOSTOLICO
contra o bom senso defender a idéia da preexistência. Na ausência de um bispo, de acordo com certos
Mas, sem importar qual idéia advoguemos, ver-nos- segmentos da cristandade, um homem pode assumir,
emos envolvidos em profundos mistérios. e bom com esse titulo, muitos deveres de um bispo. Tal
admitirmos que não sabemos muita coisa, e que homem pode ocupar-se em atividades missionárias,
teremos de continuar investigando, a fim de conhecer funcionando, de modo geral como um bispo, até que
a verdade acerca de algumas importantes questões. O seja nomeado um bispo residente.
resto que tenho a dizer sobre esse assunto, acha-se no
artigo sobre a Alma, conforme mencionei acima.
PREGAÇÃO EXEGm'lCA
PREEXlST2NCIA DE CRISTO Essa é uma forma de pregação em que a exege.e
(que vede) de algum texto biblico é a base daquilo que
Ver o artigo geral sobre a Cristologia e também é dito. É feita a tentativa de trazer à superficie os
sobre a Preexistência da Alma. elementos históricos, lingüísticos, morais, literários e
O conceito da preexistência de Cristo é essencial a teológicos do texto; e então se fazem aplicações do
qualquer sã doutrina cristológica. A Bíblia, profética mesmo às circunstâncias atuais. Em seu pior aspecto,
e dogmaticamente, salienta esse ensinamento. Alguns esse tipo de pregação torna-se por demais pesado e
estudiosos vêem o ensino da Trindade já no primeiro enfadonho, sendo mais adaptado para a sala de aula
nome hebraico que o Antigo Testamento confere a do que para o público em geral. Em seu melhor
Deus, E.to~im. Esse vocábulo está no plural, embora aspecto, o método pode ser uma rica fonte de
out:0s insistam que se trata apenas do plural de informações para sermões substanciais, de tal
majestade, não indicando, assim, verdadeira plurali- maneira que estes ensinem, e não somente entretam.
dade. De maior peso é o argumento fundamentado Todos os sermões podem tirar proveito desse método,
sobre Gên, 2:26, que diz: «Façamos o homem à nossa embora a sua preparação seja trabalhosa. Os
366
PREGAÇÁO - PREGAR, PREGAÇÁO
pregadores preguiçosos evitam esse tipo de pregação usado por sessenta e uma vezes, que exemplificamos
porquanto dá muito trabalho ao pregador. com Mat. 3:1; 4:17,23; Mar. 1:4,7; 16:15,20; Luc,
3:3; Atos 8:5; 9:20; Rom. 2:21; 10:8; GAl. 2:2; Fil.
PREGAÇÃO EXPOSITIVA 1:15; I Tes. 2:9; I Tim. 3:16; I Ped. 3:19. A kérugma
Um pregador pode usar muitos métodos e modos de
é a «coisa pregada. a «mensagem do evangelho•. Essa
palavra é usada por oito vezes no Novo Testamento:
pregação. Cada um desses métodos tem suas próprias Mat. 12:41; Luc, 11:32; Rom. 16:25; I Cor. 1:21; 2:4;
vantagens e desvantagens. A pregação expositiva é a 15:14; 11 Tim. 4:17; Tito 1:3. Essa palavra indica a
apresentação oral de informes obtidos e arranjados pregação apostólica, que é a mensagem central e o
exegeticamente. Usualmente, esse modo de pregação fundamento do Novo Testamento.
ou ensino cobre todo um livro da Biblia, ou uma boa
parcela de um livro da Bíblia, a fim de dar aos 4. Didaché, «ensino•. Essa palavra aparece por
ouvintes uma idéia geral sobre aquele bloco de trinta vezes no Novo Testamento, referindo-se A
material biblico. Esse tipo de pregação pode ser doutrina de Jesus e de seus apóstolos: Mat. 7:28;
contrastado com o sermão tópico, segundo o qual o 16:12; 22:33; Mar. 1:22,27; 4:2; 11:18; 12:38; Luc,
pregador escolhe algum assunto e então desenvolve a 4:32; João 7:16,17; 18:19; Atos 2:42; 5:28; 13:12;
sua mensagem, explicando como esse tópico é 17:19; Rom. 6:17; 16:17; I Cor. 14:6,26; 11 Tim. 4:2;
explanado em várias passagens da Bíblia, ou nas Tito 1:9; Heb. 6:2; 13:9; 11 João 9,10; Apo.
diversas experiências da Biblia. A pregação por 2:14,15,24. O adjetivodidáskalos, «mestre», um titulo
tópicos é mais fácil de ser preparada; exigindo menos dado a Jesus, e então aos mestres em geral, é usado
estudos; e, por essa razão, é aquela mais comumente por cinqüenta e oito vezes, que exemplificamos com
usada. Todavia, tende à superficialidade, como se Mat. 8:19; 9:11; Mar. 10:17,20; Luc. 7:40; 20:21;
alguém estivesse contando uma história. Por outro João 1:38; 8:4; 20:16; Rom. 2:20; I Cor. 12:28,29;
lado, a pregação expositiva, a menos que seja feita por Efé. 4:11; I Tim. 2:7; Heb. 5:12; Tia. 3:1. Didáslco, o
um pregador capaz e experiente, assume mais o aspec- verbo, -ensinar», é utilizado por noventa e sete vezes.
to de uma lição para uma sala de aula, e não tanto o Exemplificamos com Mat. 4:23; 13:54; Mar. 6:2,6;
aspecto de um discurso diante de um auditório João 6:59; Atos 1:1; 4:2; 5:21; Rom. 2:21; I Cor. 4:17;
público. Também pode tornar-se enfadonha e Gál. 1:12; Efé. 4:21; Col. 1:27; 3:16; I Tim. 2:12;
pedante. Não obstante, os crentes precisam mais Heb. 5:12; I João 2:27; Apo. 2:14,20. Ver os artigos
desse tipo de pregação expositiva, a qual pode separados Ensino e Ensinos de Jesus.
tornar-se interessante quando feita mediante bons 2. Imporiincia da PrepçIo e cio EDaIno
métodos de apresentação, com base em um estudo Temos enfatizado essa importância no artigo
sólido. É o tipo de sermão que melhor se presta para intitulado Ensino. A grande abundância de referên-
as interpretações exatas, inclusive com exame das cias ao ensino e à pregação demonstra o papel
linguas originais, quanto a vocábulos-chaves. primordial dessas funções, no Novo Testamento. O
texto de I Cor. 1:18,21 mostra-nos- que, no conceito
dos gregos incrédulos, a pregação era uma «tolice•.
PREGAR, PREGAÇÃO Eles preferiam a sabedoria filosófica. Porém, através
Esboço: da pregação do evangelho é que a salvação é
1. Palavras Empregadas outorgada aos homens. O trecho de Rom. 10:14,15
mostra que o pregador é uma figura necessária dentro
2. Importância da Pregação e do Ensino do modus operandi de Deus, para anunciar a
3. A Kérugma do Novo Testamento: Seu Conteúdo mensagem de Deus aos homens. O próprio Senhor
4. O Caráter Divino da Pregação Jesus deixou-nos o exemplo, tendo sido ele o supremo
5. A Pregação e o Ensino são Funções Distintas pregador, não somente à face da terra, mas também
6. Transição da Pregação Apostólica para a no hades (ver [ Ped. 3:19 e 4:6).
Pastoral .
7. A Pregação no Seio da Igreja 3. A Kénqpna do Noyo TntUneato: Seu Conteúdo
8. A Pregação como uma Arte Por kérugma entende-se a mensagem cristã e seu
conteúdo geral. Compõe-se dos seguintes elementos:
1. Palanu Empregaulu a. A época do cumprimento veio na pessoa de Jesus
No Novo Testamento há um total de quatro Cristo, um dia predito pelos profetas, e, portanto,
palavras usadas para indicar a «pregação», indicando antecipado no Antigo Testamento (ver Atos 2:16;
as idéias de «dizer as boas novas», «pregar», «ensinar», 3:18,24). b. O cumprimento teve lugar na vida, na
«proclamar", «mestre", «pregador", etc.: morte e na ressurreição de Jesus, que deu evidências
1. Euangelizesthai, «anunciar as boas novas•. Esse abundantes de seu messiado e de sua autoridade. Ver
verbo é usado por cinqüenta e cinco vezes, conforme o artigo separado sobre Profecias Messiânicas
exemplificamos em seguida: Mat. 11:5; Luc, 4:18; Cumpridas em Jesus. c. Em face do cumprimento de
Atos 5:42; 8:4,12; 15:35; Rom, 1:15; 10:15; I Cor. sua missão, Jesus, o Cristo, foi exaltado nos céus (ver
15:1,2; 11 Cor. 11:7; Gál. 1:8,9; Efé. 2:17; I Tes. 3:6; Atos 2:33-36; 3:13; 4:11). d. Há uma universalidade
Heb, 4:6; I Ped. 1:12; 4:6; Apo. 14:6. A forma que faz parte dessa pregação que não se aplica
nominal, euaggélion, «boa nova», é usada porquase somente à esfera terrena. Cristo pregou até mesmo no
cento e cinqüenta vezes. Como exemplos ~er Mat. hades (I Ped. 3:19; 4:6), e ele prossegue os seus
4:23; 9:35; Mar. 1:1,14; Atos 15:7; Rom. 1:1,9; I Cor. labores nos céus (ver Rom. 8:34; João 14:2,3; I João
4:14; 9:12; 11 Cor. 11:4,7; ou. 1:6,7; Efé. 1:13; Col. 2:1). Assim sendo, Cristo tem tido e continua tendo
1:5,23; I Tes. 1:5; I Tim. 1:11; I Ped. 4:17; Apo, 14:6. uma missão tridimensional, com o propósito de que,
2. Kataggéllein, «proclamar», «pregar», «proclamar finalmente, todas as coisas encontrem nele a grande
as boas novas". Essa forma verbal é usada por dezoito unidade (ver Efé. 1:9,10), assim cumprindo o
vezes no Novo Testamento: Atos 3:24; 4:2; 13:5,38; Mistério da Vontade de Deus (vide). Desse modo, ele
15:36; 16:17,21; 17:3,13,23; 26:23; Rom, 1:8; I Cor. tornar-se-á tudo para todos (Efé. 4:10). Tanto a
2:1; 9:14; 11:26; Fil, 1:17,18; Col. 1:28. A forma descida de Cristo ao hades quanto a sua subida (e,
nominal, kataggeleú3, «pregador», «proclamadcr», portanto, seu ministério nos céus) estão relacionados
ocorre por apenas uma vez, em Atos 17:18. a esse glorioso propósito, conforme deixa claro o
3. Kerússein; «anunciar», «proclamar•. Esse verbo é contexto do quarto capitulo da epístola aos Efésios. e.
367
PREGAR, PREGAÇAO - PREGO
A futura era messiânica atingirá um ponto de fruição «boca de ouros) e com Agostinho. Orígeães assinalou
mais plena quando tiver lugar a parousia (vide) (Atos a transição da homilia hortatória para o sermão
3:21). f. A kérugma requer reação favorável da parte expositivo, de acordo com o qual (para consternação
dos homens, começando pelo arrependimento, e de alguns), começou a ser usado o método alegórico.
levando a uma completa dedicação à mensagem cristã Ver sobre Alegoria, especialmente seu quarto ponto.
e à vida cristã. Ver Atos 2:38; Rom. 12:1,2. g. A Agostinho também se valeu desse método, e dai
kérugma é constituida por atos e se centraliza em propagou-se pela Igreja ocidental.
e
tomo de uma Pessoa, Jesus Cristo. altamente ética e Houve alguns grandes pregadores biblicos na Igreja
vitalmente espiritual. Católica Romana, antes da Reforma Protestante,
4. O Caráter DlYlno da Preaaçio embora o sacramentalismo e a liturgia tendessem por
A kérugma é eficaz por causa do ministério do obscurecer a missão de pregação e ensino da Igreja. A
Espirito Santo. Isso posto, essa pregação não se Reforma Protestante (vide) foi um momento de
assemelha a outras proclamações, por boas e dignas retomo à pregação e ao ensino biblicos, e grandes
que elas sejam, porquanto ela é inspirada pelo multidões começaram novamente a reunir-se para
Espirito de Deus e é um veiculo da graça divina. O testemunhar o espetáculo, desde há muito abafado.
evangelho é o poder de Deus para a salvação de todos João Wesley foi um talentoso pregador, e toda uma
quantos confiam (ver Rom. 1:16). O evangelho nova denominação desenvolveu-se em tomo dele e de
oferece-nos novidade de vida (I Cor. 1:18 ss: Efé. 2:1 seu irmão, e isso parcialmente tendo por base esse
ss), Ela é assinalada por uma divina compulsão (Luc. tipo de comunicação. Em nossos próprios dias, a
4:43; Atos 4:20). Paulo não podia mostrar-se pregação liberal concentra demais de sua atenção e de
negligente para com a sua missão de pregador (ver I seu tempo à politica e aos problemas sociais. Entre os
Cor. 9:16); dons especiais do Espirito fazem da pre- fundamentalistas.v-i- um número demasiadamente
gação e do ensino cristãos atividades vitais e eficazes grande de sermões dedica-se a atacar ao liberalismo,
(ver I Cor. 12:4-11,28,29; Efé. 4:11). ao comunismo e aos males sociais, havendo
, 5. A Preaaçao e o Enslno do FaaçUes DlldntM pouquissima pregação e ensino que sejam realmente
E .isso com um grande propósito. embora nem biblicos. Um outro mal é a mania pelajpsicologia
sempre sejam funções claramente distinguidas no popular, que tem provido a base para muitos sermões
texto biblico. A diferença entre essas duas funções é sem nenhum conteúdo bíblico. Uma outra debilidade
muito mais uma questão de estilo do que de conteúdo. entre os fundamentalistas e os evangélicos é a ênfase
Ver Mat. 4:23. Jesus ocupou-se tanto na pregação exclusiva sobre o evangelismo, pelo que, em muitas
quanto no ensino. Sua pregação é salientada em Mar. igrejas, somente mensagens de salvação são ouvidas,
1:29 e Luc. 4:44. E seu ensino é enfatizado em Luc, com pouquissima exposição sobre outros ensinos que
4:15. No entanto, esses dois verbos podem ser usados fazem parte da Bíblia. Por causa disso, uma certa
de modo intercambiável (ver Mar. 1:14,15,21,38,39). superficialidade doutrinária tem atingido a Igreja, em
A função apostólica incluia ambas as modalidades todas as denominações. Além disso, preciso fazer aqui
(ver Atos 5:42; 28:31: Col. 1:28). A igreja cristã não uma pausa a fim de criticar o «evangelho» que está
pode viver somente da pregação; ela também precisa sendo pregado, e que deixa de lado grandes
ensinar. A pregação precisa incluir a proclamação do dimensões da mensagem cristã, a saber, a missão
inteiro conselho de Deus (ver Atos 20:20,27: 11 Tim. tridimensional de Cristo (na terra, no hades e no céu),
4:2), e a Grande Comissão inclui a necessidade de apresentando assim um ponto de vista pessimista
ensinar (ver Mal. 28:20). daquilo que a prédica cristã haverá, finalmente, de
realizar. Ver o artigo separado sobre Missão
6. Tnulçio da hegaçh ApostóUca para a Universal do Logos (Cristo). Ver também sobre o
Putoral Mistério da Vontade de Deus, quanto a uma
As chamadas epistolas pastorais (I e 11 Timóteo e dimensão da mensagem cristã que não está sendo
Tito) descrevem a transição da pregação apostólica anunciada pela Igreja ocidental (a Igreja Católica
para a pregação pastoral, o que envolve o ensino Romana e suas fragmentações evangélicas e protes-
cristão. Outros cristãos receberam altas responsabili- tantes). Mas a Igreja oriental tem tido uma visão
dades, e o ministério apostólico teve prosseguimento melhor das verdadeiras dimensões da mensagem
por meio de delegados. A pregação e o ensino cristã.
tomaram-se deveres e privilégios sagrados (ver I 8. A PregaçKo como uma Arte
Tim. 4:lJ,14; 11 Tim. 2:15; 3:14-16; 4:1-5). A Ver o artigo separado e detalhado chamado
sucessão de homens fiéis garante a continuação desse Homilética (Homilia). Ver também o artigo Herme-
ministério (ver 11 Tim. 2:2). Alguns estudiosos, nêutica, a ciência da interpretação, que muito tem a
antigos e modernos, vêem ai uma base escrituristica ver com a pregação e o ensino cristãos.
para a idéia da Sucessão Apostólica (vide).
7. Pnpçio DO Selo da JareJa
Os apóstolos seguiram o exemplo de Jesus, e 'PREGO
homens fiéis continuaram o processo. O sermão
missionário, nos tempos cristãos primitivos, era o Precisamos considerar, neste verbete, três palavras
elemento primordial no culto cristão. A pregação hebraicas e uma grega.
formal, incluindo a oratória, também foi uma 1. No hebraico, yathed, uma cunha de madeira.
caracteristica muito antiga. Muito disso era feito à Todavia, esse mesmo vocábulo é usado para indicar
imitação dos retóricos greco-romanos. Sem dúvida, os pregos feitos de outros materiais. Ver Eze, 15:3; Isa.
filósofos de Corinto estiveram envolvidos nessa forma 22:25. As peças usadas para firmar uma corda de
de pregação (Apolo, provavelmente, era tido como uma tenda também eram assim chamadas. Foi uma
herói dessa classe; ver I Cor. 3:4). E é provável que dessas peças de madeira que Jael utilizou para matar
alguns deles lançassem no ridículo àquele discurso a Sisera (ver Jui. 4:21,22).
«desprezível», que geralmente se ouvia nas sinagogas, 2. No hebraico, masmer, um prego ordinário ou
o que era um material embotado e sem brilho para os ornamental. Ver I Crô. 22:23; 11 Crô. 3:9. Pregos de
retóricos (ver I Cor. 10:10). Dentro da história da ferro foram usados como pivôs das portas do templo.
Igreja, a pregação eloqüente atingiu seus pontos O trecho de I Crô. 22:3 mostra que essas peças eram
culminantes com Crisóstomo (cujo nome significa de ferro, o que chegava a constituir, então, um luxo,
368
PREGO - PREGUICA
pois o ferro era raro e caro. Ver ~bé~ 11 Crê. 3:9, preguiçoso chega tarde ao trabalho; sai cedo de seu
que fala sobre pregos ornamentais, feitos de ouro, emprego; faz longas interrupções somente para tomar
usados no templo ~ J~rusalém. Os pre~ comuns o cafezinho; entrega-se muito A maledicência; goza os
usados pelos carpínteíros também recebiam esse feriados um dia antes e um dia depois dos mesmos·
nome, no hebraico. acaba adoecendo de tanto comer, mas fica bo~
3. No hebraico, sipporen, palavra usada para miraculosamente, quando alguém fala em levâ-lo a
indicar tanto uma unha humana (ver Deu. 21:12) passeio; pensa que a terra é um lugar de lazer e
como a ponta de um estilete ou um alfinete metálico prazer; pensa que o céu é um lugar fácil de ser obtido,
(ver ler. 17:1). Em Dan. 4:33 e 7:19 é usado o seu porque sempre poderá aplicar o seu famoso ejeitinho•.
paralelo aramaico, tephar, onde alude As garras de Alguns preguiçosos chegam a escrever livros. Os
aves ou de mamiferos. artigos que anunciam esses livros dizem algo como:
4. No grego, elos, que indica os cravos de ferro que ..o senhor Fulano ou Sicrano trabalhou durante trinta
foram usados quando da crucificação do Senhor Jesus e cinco anos nesse livro, que será publicado no ano
(Joio 20:25; Colo 2:14). Os arqueôlogos têm podido que vem•. Então, descobre-se que o tal livro tem
encontrar um grande número desses cravos, alguns apenas cento e vinte páginasl Algumas pessoas
dos quais pertencentes ao século I D.C. preguiçosas também escrevem teses universitúias.
Usos Figurados. Os lideres nacionais de Israel eram Ouvi acerca de uma tese dessas, que precisou de seis
chamados de ..estacas de tenda- (ver Zac. 10:4), an?, para ser escrita. Os prc:guiçosos ~bam criando
porquanto conferiam estabilidade A nação. Eliaquim fendas nas costas, de tanto ficarem deitados na cama,
foi comparado com uma estaca fincada em lugar de. papo par.a o ar. ~e chegarem a andar um
firme (ver Isa. 22:25). Ele conferia estabilidade à sua quilômetro, dizem que ficaram com os pés em carne
famllia inteira, mas quando ele caiu, arrastou-os viva: Seus 0!hos ardem, se tiverem de ler mais de dez
consigo. As palavras ditas pelos sábios são compara- páginas. Ficam com. dor de cabeça por quase
das a pregos bem fincados, aos ouvidos daqueles que ~ualquer razão, especlalment<: se chegou a hora de
lhes dão atenção (Bel. ~2:1l). E isso porque causam trem .para o trabalho; mas, mtraculosamente, pouco
impressões profundas e duradouras nas mentes dos depois estão m~tramente recuperados. Em qual9u~r
homens. Algo similar foi dito quanto As palavras de !ugar. ~>nde haja pessoas trabalhando, não é .diftci1
Sôerates, isto é, que elas pareciam espinhos nas Identificar ~ preguiçosos. Eles costumam ficar Juntos
mentes dos seus ouvintes. E há um provérbio oriental nos parapeitos das janelas, passando o tempo a olhar
que faz um prego simbolizar uma donzela pobre que para fora, como se fossem a~es que estio esperando
se casou com um homem rico, firmando-se assim em somente que a porta da gaiola se abra, a fim de
uma casa. Talvez uma idéia assim esteja por detrás de escaparem voando. E, Cluando tem que fazer algum
textos como os de Esd. 9:8 e Isa. 22:23-25. trabalho, fazem o mínimo posslvel, a fim de
castigarem seus patrões, que não lhes pagam
conforme eles pensam que merecem.
PREGUIÇA Ver também .......çmo. Ê com extrema raridade que a preguiça se toma
uma vantagem. Conta-se a piada de um homem
O fato de que muito daquilo que fazemos ou realmente preguiçoso. Ela diz assim: Um homem que
gostaríamos de fazer é pecaminoso, é constemador fazia uma viagem a pé, parou em um lugar a fim de
para a maioria das pessoas" A situaçlo é conforme pedir informações. Viu um homem deitado debmo
alguém disse: eTudo do que gosto ou engorda ou é de uma árvore. Aproximou-se dele e perguntou em
Imoral». Para aumentar ainda mais a nossa que direção deveria seguir, para chegar onde queria.
consternação, aprendemos que existem os pecados de O homem debaixo da árvore nem se levantou, mas
omissão. Se deixarmos de fazer certas coisas, que apenas apontou na direção geral a ser tomada com o
fazem parte de nossa obrigação, estaremos pecando dedão de um pé. O viajante comentou: Esse é o ato
por inatividade. Além disso, existem aqueles pecados mais preguiçoso que já vi. Se alguém puder fazer algo
que não são pecaminosos por si mesmos, mas que se ainda com maior preguiça, darei ao tal uma nota de
tomam errados se, ao praticá-los, ofendermos a mil cruzados! O homem que jazia no chão
algum irmão na fé (ver Rom. 14). E, acima de todas respondeu: Basta que você me role no chão e ponha a
essas categorias, é pecaminoso nada fazer. Por esse nota de mil cruzados em meu bolso•.
motivo, alguém observou: ..A pessoa é condenada se
fizer, e é condenada se não fizer». E à isso, alguém Conheci um homem com terrível tendência para a
preguiça. Quando alguém lhe perguntou o motivo
acrescentou uma p és sima teologia, ao asseverar: para isso, ele replicou: ..Meu pai trabalhou muito na
..Então, vamos fazerl»
vida, e eu jã nasci cansado-o
A Preguiço.. A preguiça consiste na indisposição
para fazer qualquer esforço, na indolência, no ócio. A O individuo preguiçoso nem se inspira por nada e
pessoa preguiçosa é um dos casos humanos mais nem inspira a outros. Paulo mostrava-se definidamen-
1 tá· . E· te avesso à preguiça. Disse ele: eSe alguém nlo quer
amen Ve1S que existem. la não se deíxa íaspirar por trabalhar, também não coma- (11 Tes. 3:10). Muitas
qualquer idéia; ameaças de nada adiantam para
torná-la ativa. O preguiçoso não se envolve em pessoas têm dito coisas espirituosas sobre a preguiça e
qualquer ocupação, e olvida-se de qualquer propósito sobre as pessoas preguiçosas:
na vida. Com freqüência, o preguiçoso é apenas um ..O ócio é apenas o refúgio das mentes fracas, o
parasita que pensa que outros ~recisam sustentá-lo. feriado dos insensatos. (Lord Chesterfield).
Ele se queixa quando suas acomodações nlo são de eAusência de ocupação não é descanso; uma mente
primeira classe, e critica a outros de egolsta quando sem nada para fazer é uma mente inquieta. (William
não é servido como pensa que deveria ser. Quando Cowper).
algum trabalho precisa ser feito, ele se ausenta eNão há lugar para o ocioso na civilização. Nenhum
naquele dia. Mas, quando há qualquer festa e há de nós tem qualquer direito A preguiça.. (Henry Ford).
alimentos gostosos em abundância, o preguiçoso está ..A preguiça avança tio devagar que a pobreza nlo
sempre presente. demora a alcançi-la- (Benjamim Franldin).
Algumas pessoas preguiçosas são forçadas o. ..D e todas as nossas faltas, aquela da qual nos
tro balh ar, ou pela simples pressão social, ou, então, desculpamos mais facilmente é a preguiça- (François
por grave necessidade econ&mica. O individuo de la Rochefoucauld).
369
PREGUIÇOSO - PRE-MILENISMO
«Satanás acaba encontrando alguma coisa maléfica destrutivo; mas essa passividade muitas vezes é tão
para as mãos ociosas fazerem .. (Isaque Watts). prejudicial como as ações dos destruidores, embora a
«Nada fazer é a coisa mais dificil do mundo... ,. incúria redunde em perda em ritmo mais lento, por
(Oscar Wilde). falta de cuidados.
«Um homem sem ambição é como uma mulher sem 4. Nas Palavras de Jesus
beleza.. (Frank Harris). A parábola de Jesus sobre os talentos reitera o tema
«Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os do temor insensato como a própria raiz da preguiça e
seus caminhos, e sê sábio.. (Pro. 6:6). do ócio (Mat. 25:25,26), além de salientar o temor ao
Ver o artigo intitulado Ócio e Trabalho, Dignidade Senhor como a fonte originária da diligência,
e Ética do. deixando claro que será por ocasião da segunda vinda
do Senhor, quando ele vier julgar aos homens (cf. o
"dia da colheita», tantas vezes referido no livro de
PREGUIÇOSO Ver também PreguIça. Provérbios) que o emprego diligente dos dons de Deus
serão recompensados, ao mesmo tempo em que os
No hebraico, temos a considerar uma palavra, e preguiçosos serão punidos.
duas palavras no grego, a saber: 5. Nas Palavras de Paulo
1. Atsel, palavra hebraica que aparece por catorze O apóstolo dos gentios frisou a necessidade de
vezes, como, por exemplo, em Pro. 6:6; 6:9; 10:26; servirmos a Deus em proporção aos dons e às
13:4; 20:4; 26:16; Jui. 18:9. habilidades que ele nos outorgou (Rom. 12:3-8), de
2. Okneros, «preguiçoso.., «dísplicente-, principal- tal modo que não devemos ser preguiçosos, mas antes,
mente no sentido de não odececer aos mandamentos devemos ser impelidos a uma febricitante atividade,
de Deus ou ao seu chamamento. Esse termo grego por meio do Espirito de Deus (Rom. 12:11). Portanto,
aparece por três vezes: Mat. 25:26; Rom, 12:11 e FiI. o preguiçoso está resistindo ao Espirito Santo! Por
3:1. semelhante modo, a epístola aos Hebreus enfatiza que
3. Nothrôs, «preguiçoso... Esse vocábulo grego não devemos retroceder, depois de termos participado
aparece por apenas duas vezes: Heb. 5:11 e 6:12. do Espírito, mas antes, cumpre-nos prosseguir a
1. Nos Provérbios": caminhada, e isso, conforme diz o escritor sagrado:
O livro de Provérbios, que é o livro bíblico que mais « ••• para que não vos torneis indolentes, mas
alusões faz ao - defeito da preguiça, ou indolência, imitadores daquele que, pela fé e pela longanimidade,
descreve o preguiçoso como individuo que gosta de herdam as promessas- (Heb. 6:12). Conforme se pode
dormir. O preguiçoso não cuida de suas propriedades, deduzir desse e de outros trechos bíblícos, a preguiça
nem de suas plantações, pelo que também está sujeito não envolve somente as atividades humanas corri-
a padecer fome, ao passo que o diligente ou queiras, mas existe também tal coisa como a preguiça
trabalhador prospera e tem tudo em abundância. Ver espiritual, a pior forma de preguiça, porquanto
Pro. 6:6,9; 13:4; 15:9; 24:30; 26:13-16. A condição da importa em perda eterna e irremediável.
preguiça é tão lamentável que um preguiçoso, mesmo
que tivesse alimentos, não levaria a comida até à boca
(Pro. 19:24). Vive descobrindo desculpas esfarrapa- PRELADO, PRELAZIA
das para nada fazer, como aquele que diz que há um Essetermo vem do latim praelautus cuja raiz verbal
leão solto nas ruas, o que o impede de ir ao .trabalho é praeferre, «estabelecer.., indicando assim um oficial
(Pro. 22:13). Essa indolência, todavia, para o eclesiástico graduado. A palavra prelazia, por sua
preguiçoso parece ser grande demonstração de vez, refere-se àquele tipo de governo eclesiástico cujo
sabedoria (26: 16), como se ele estivesse se poupando controle é exercido pelos bispos, arcebispos, metropo-
do desgaste físico. Prefere as fantasias do que o litas e patriarcas. Dentro do catolicismo romano há
trabalho, que é sempre cansativo e dificil (Pro. 13:4; vários outros ofícios que compõem o quadro geral,
21 :25). Por essa razão, o preguiçoso não somente como abades, probostes, núncios e prefeitos apostóli-
arruina a si mesmo, mas também causa prejuizos a cos. Dentro da comunhão anglicana, bispos e
quem ele tiver de prestar algum serviço (Pro. 10:26). arcebispos são chamados prelados. Prelazía é,
2. Contrastado com a Indústria algumas vezes, usada como sinônimo de episcopado.
A preguiça do preguiçoso é contrastada com a
indústria da mulher virtuosa (31 :27), um contraste
que se destaca muito mais porque o preguiçoso é do PÚ-MILENISMO (PÚ-MlLENARISMO)
sexo masculino, e a mulher virtuosa é do sexo Ver o artigo sobre MUêalo, mormente em
feminino. Essa mulher virtuosa é abençoada não seu sexto ponto, onde são examinados os vários
somente porque enriquece, mas também por causa da pontos de vista sobre o milênio. O pré-milenismo é a
oportunidade que o seu trabalho lhe confere de cuidar asserção de que haverá uma futura era áurea, mas que
dos mais pobres (Pro. 31 :20), além do que ela vê o seu para tanto será mister o aparecimento pessoal de
marido tornar-se um dos lideres da comunidade onde Cristo (ver sobre Parousia), o qual inaugurará o
vive o casal (Pro. 31:23). O trabalho conjunto, do milênio. Um milenismo exagerado é chamado
marido e da mulher, pois, produz ótimos resultados, quiliasmo, termo derivado de chilia, palavra grega
não somente na forma de abundância material maior, que significa «mil», ao passo que milênio vem
mas também na forma de um maior prestigio social. diretamente do latim. O quiliasmo ensina que serão
O que mais importa, entretanto, é que a mulher restaurados os antigos ritos e sacrificios levítícos, e
virtuosa, trabalhadeira, recebe louvores da parte do que Davi retomará a fim de reinar sobre Israel.
Senhor (Pro. 31:30). O pré-milenismo predominou dentro do pensamen-
3. É um Pecado to escatológico da Igreja, até surgirem em cena os
A preguiça não é apenas um dentre uma grande teólogos alexandrinos (século 111 D.C.). Origenes e
variedade de pecados, mas também é uma atitude que Clemente sugeriram um ensino simbólico ou alegórico
prejudica os próprios deveres do individuo para com acerca dos mil anos referidos em Apo, 20:4. Uma
Deus e para com o próximo. O preguiçoso oferece a Igreja exausta, que havia esperado ardorosamente,
Deus e aos seus deveres pessoais uma espécie de mas em vão, pelo imediato retorno de Cristo (séculos I
resistência passiva, mesmo que ele não se torne e 11 D.C.), deixou-se influenciar facilmente por essa
370
PREMISSAS - PRESBITÉRIO
perda de coragem, e abandonou a posição pré-mile- pode ser conseguida mediante uma lavagem diária
nar. A principio, o amilenismo (que diz que não com sabão desinfetante.
haverá qualquer milênio) foi considerado uma
heresia; mas, gradualmente, foi sendo aceito,
especialmente através da influência de Aaostinho. já PRESA, DESPOJO
no século IV D.C. Agostinho rejeitava o pré-milenis- No hebraico, baz, «presa,., palavra usada por vinte
mo, tachando-o de literal e carnal demais, e e cinco vezes. Por exemplo: ler. 49:32; Núm. 14:3,31;
espiritualizou o conceito. O amilenismo tornou-se a Eze. 7:21; 38: 12,13. Um termo cognato é malqoach,
posição geralmente adotada pela Igreja Cat6lica
«saque», palavra usada por oito vezes. Por exemplo:
Romana, e chegou mesmo a ser defendida pela maior Núm. 31:32. E ainda um terceiro termo cognato é
parte dos reformadores protestantes. meshissah, «despojo», palavra usada por seis vezes.
O pré-milenismo voltou a ser aceito nos dias Por exemplo: Hab. 2:7; Sof. 1:13. Nossa versão
posteriores à Reforma Protestante, de tal maneira portuguesa, secundando virias outras traduções
que, atualmente, é uma doutrina comum entre os estrangeiras, não se mostra coerente na tradução
protestantes e os evangélicos, sem que isso signifique dessas três palavras, as quais têm sentidos especificos.
que tenha desaparecido a posição do amilenismo. O Assim, presa é aquilo que pode ser útil ao captor;
milênio acabou vinculado aos ensinos sobre o reino de saque inclui tudo quanto pode ser consumido,
Deus, e assim pôde ser defendido por meio de muitos satisfazendo o apetite; e despojo é tudo quanto serve
textos biblicos de prova, embora apenas o trecho para designar o triunfo obtido.
neotestamentário de Apo. 20:4 mostre a duração A primeira referência biblica a presa e despojo
especifica do periodo, que é previsto em vários trechos
do Antigo Testamento. O artigo intitulado Milênio encontra-se em Núm. 31:27, onde também se vê que
demonstra que o milenismo e o amilenismo têm Moisés cuidou para que as coisas tomadas do inimigo
precedentes na teologia judaica helenista, pelo que fossem distribuidaseqüitativamente entre todo o
não há nada de novo quanto a ambas as idéias. O Israel. Essa prática foi seguida por Josuê, apôs a
resto do que tenho a dizer sobre o assunto, incluindo conquista da terra (Deu. 2:35; Ios.8:2), bem como por
muitas referências bíblicas, aparece no meu artigo Davi (I Sam. 30:24). Ver também ler. 49:32; Naum
chamado Milênio. 3:1 e Hab. 2:7. Somos informados, em Números
31 :25-47, que a presa consistia até mesmo de
mulheres virgens, além de gado vacum, ovino,
PREMISSAS asínino, etc. Metade da presa foi dada ao Senhor,
Essa palavra portuguesa vem do latim, p..........., entregue aos levitas. Da outra metade, uma parte de
«enviado antes... Esse vocábulo é tradução da palavra cada cinqüenta foi entregue aos levitas que cuidavam
grega prôtasis, «posto antes», A premissa é usada do tabernáculo do Senhor.
formalmente na lógica a fim de indicar aquelas No Novo Testamento encontramos duas palavras
declarações de onde podemos deduzir conclusões. gregas que nos chamam a atenção, quanto a essa
Aristóteles distinguia entre a premissa maior e a idéia: Diarpázo, «arrebatar totalmente»; e sulagogéo.
premissa menor, das quais a conclusão é extraida. «levar como despojo... A primeira delas figura por três
à parte de seu uso formal na lógica, uma premissa vezes (Mat. 12:29; Mar. 3:27), e a nossa versão
é uma proposição que é apresentada, provada, portuguesa a traduz por «roubar» e «saquear». E a
suposta ou subentendida, que serve de base de um segunda delas é uma h apax legomena (que vide),
argumento ou como uma conclusão de um argumento figurando apenas em Col. 2:8, onde Paulo a usa
que fora declarado. metaforicamente, para indicar o engodo com que os
falsos mestres «enredam» suas vitimas crédulas. As
PUMIO Ver GaIahbO e Corou. vitimas desses falsos mestres servem-lhes, pois, de
prova de triunfo. Que Deus nos guarde de servir de
despojo para esses sofistasl
PREPARAÇÃO, DIA DE ;Ver DIa de Pl'epançio.
PREPÚCIO PRESBITERIANA, IGREJA
A dobra de pele solta que encobre a glande do pênis Ver sobre lpeJa Pnlblted....
masculino. Essa dobra de pele era removida quando
da operação da circuncisão (vide), deixando a glande
descoberta. Visto que a circuncisão simbolizava a PRESBITERIANO
purificação, o prepúcio simbolizava a corrupção. Por
esse motivo é que achamos na Biblia expressões como: Ver Janda PnsbltedaDa.
"Circuncidai, pois, o vosso coração, e não mais
endureçais a vossa cerviz» (Deu. 10:16). "Circuncidai-
vos para o Senhor, circuncidai o vossa coração, ó PRESBIT2RIO
homens de Judâ e moradores de Jerusalém... » (Jer, Ver sobre Pre8bltel'o e sobre Go't"emG F.delláUeo.
4:4). Expressões assim apontam para as corrupções O presbitério é o corpo eclesiástico governante da
humanas e para o seu estado pagão. Visto que a Igreja Presbiteriana (vide). Cada presbitério é ali
circuncisão era sinal do pacto abraâmico, o prepúcio constituído pelos anciãos mestres (um clero ordenado)
era sinal daqueles que não faziam parte desse pacto. e pelos anciãos dirigentes (leigos). Cada um desses
Algumas vezes, o prepúcio era tirado como um troféu presbitérios exerce autoridade sobre uma área ou
de gentios mortos, que eram inimigos de Israel, mais distrito da Igreja em geral. O voto do presbitério
ou menos da mesma maneira que os indígenas decide sobre questões importantes no tocante ao
norteamericanos tiravam os escalpos de suas vitimas distrito e às igrejas locais dentro daquele distrito. O
(I Sam. 18:25; 11 Sam. 3:14). A ciência médica governo presbiteriano deve ser distinguido da prelazia
moderna tem demonstrado que a circuncisão é uma (vide) e do governo democrático (ou independente),
excelente medida higiênica, capaz de impedir como uma das principais formas de governo
infecções tanto no homem quanto na mulher, e até eclesiástico. Dentro do vocabulário da Igreja Cat6lica
mesmo o câncer do pênis. A mesma coisa, todavia, Romana, o presbitério é a residência de um padre.
371
PRESBITERO - PRESCIBNCIA DE DEUS
PRESBITERO se vê no Novo Testamento, Questões corriqueiras,
Palavra portuguesa que é transliteração do termo segundo esse sistema democrático, podem ser
grego presbéteros, «ancião.., «velho», Na Igreja resolvidas pelo pastor, sem necessidade de decisão por
primitiva esse titulo era usado de modo intercambiá- voto; mas, quando se trata de questões mais
vel com outros dois, «bispo.. e «pastor... Todavia, isso importantes, como a compra ou venda de proprieda-
não quer dizer que não houvesse anciãos dirigentes des, o recebimento ou exclusão de membros, etc.,
que tinham autoridade sobre territórios, e não tudo já se decide por voto da maioria. Ademais, o
meramente sobre congregações locais. Os apóstolos próprio pastor é eleito dentre certo número de
foram os primeiros anciãos que dirigiram territórios, candidatos ao oficio, uma prática que não tem
que também podiam ser chamados bispos (csupervi· qualquer antecedente no Novo Testamento, Tim6teo e
sores..). Com o tempo, houve anciãos como Timóteo e Tito consagraram anciãos, que foram postos sob
Tito, que certamente exerciam autoridade sobre igrejas locais; e as instruções dadas nas epístolas a eles
áreas, e não apenas sobre igrejas locais. Isso explica dirigidas fazem-nos entender que os consagrados
por que aqueles três termos-presbitero (ou ancião). tinham sido homens que já se haviam distinguido
bispo (ou supervisor) e pastor, eram usados de modo como lideres, contando com a aprovação geral da
intercambiável (cada um deles enfocando alguma congregação, embora sem a aprovação formal através
faceta do ministério pastoral). Atualmente concebe-se de qualquer tipo de votação. O voto democrático que
que cada pastor é dirigente de uma igreja local, mas se pratica hoje em dia em certas igrejas evangélicas,
isso não se verifica no próprio Novo Testamento, e com base em regras escritas, definidamente é
nem pode ser demonstrado pela história eclesiástica desconhecido no próprio Novo Testamento, e foi
antiga, como as citações dos pais da Igreja do século concebido quando foi eliminada a hierarquia que
11 D.C. então comandava as igrejas, Se, nesses grupos e em
Mas, com a passagem do tempo, esses três termos outros, houvesse uma orientação mais clara do
começaram a receber significados especiais, e Espírito, não teria sido dificil determinar a vontade do
passaram a ser distinguidos uns dos outros. Hoje Senhor, quanto à liderança. Mas, faltando essa
temos uma situação em que ou um presbitero é um orientação, apelou-se para um esquema baseado nas
padre, ou, então, ocupa um cargo indefinido, em regras parlamentares. Ver o artigo geral intitulado
certas igrejas evangélicas, que não chega a equiparar- Governo Eclesiástico.
se com a autoridade de um pastor. Na Igreja
Presbiteriana, trata-se de um clérigo ordenado (um PREscttNCIA
ancião que ensina) ou um leigo (um ancião que
governa). O conjunto dos presbiteros, naquele grupo Ver sobre Preeoaniçlo (Conhecimento Préno).
protestante, forma o corpo governante da igreja. Esse
é um tipo de governo eclesiástico conhecido como PRESC~CIADE DEUS
presbiteriano, ou seja, o governo dos «anciãos... Ali
não impera a democracia, mas uma oligarquia, isto é, I. Porqaanto . . q1Ie de aatemJo conheceu.
o governo de poucos. Ver Rom. 8:29. Temos aqui alusão à «presciência
No começo, não havia diferença entre um de Deus». Esse conhecimento anterior não indica
presbitero e um bispo (eram apenas titulos diferentes mera presciência acerca da fé ou da escolha humana.
para um mesmo oficio). Mas depois um presbitero Essa declaração não diz que aqueles que foram
podia desempenhar o papel de um bispo, se lhe fosse conhecidos por Deus de antemão haveriam de exercer
dada autoridade (temporária) para tanto. Assim, os fé, ou que aqueles que foram predestinados vieram a
presbíteros podiam batizar e administrar a Ceia do Cristo por sua livre escolha. Os intérpretes é que têm
Senhor. Os presbiteros prestavam contas ao bispo, e insuflado essas idéias neste versiculo, mas na
estavam sob a sua autoridade. Não obstante, os realidade, não é isso que é ensinado aqui. Não pode
presbiteros ajudavam no governo das igrejas como haver dúvidas de que Deus vê, com antecedência,
uma espécie de senado ou concilio, sob autoridade quais seres humanos haverão de exercer fé ou não.
episcopal. E, com a passagem do tempo, o oficio do Isso é uma verdade, mas não é a verdade aqui
presbitero tomou a feição do. oficio de um padre. Por declarada e contemplada. Pois os próprios crentes é
essa razão, a segunda das ordens maiores das igrejas que são «conhecidos de antemão», e não a fé deles. O
católica romana, anglicana e ortodoxa oriental é uso dessa expressão é similar àquilo que se lê em
descendente direta dos antigos presbiteros. E embora, Amós 3:2: «De todas as familias da terra somente a
após o século 11 D.C., os presbiteros não tivessem o vós outros vos escolhi.i ,» Não há aqui, por
direito de ordenar a outros, era a opinião de João conseguinte, qualquer pensamento acerca de uma fé
Wesley que, originalmente, essa fora uma de suas prevista, exercida pelo livre-arbítrio humano, embora
funções, até mesmo nos tempos neotestamentários. isso também seja uma verdade, mas não expressa na
Por esse motivo, os presbíteros metodistas eram presente passagem. Antes, está em foco um «povo
criados mediante a imposição de mãos de outros conhecido de antemão».
presbíteros. A idéia aqui transmitida para nós indica uma
Nos grupos evangélicos de governo eclesiástico espécie de amor preordenado, de familiaridade
democrático, como os batistas e outros, a palavra anterior, de preocupação e interesse por certos
«pastora envolve todos os demais titulos. Ali os individuos da parte de Deus. O trecho de I Ped. 1:2
pastores também são os bispos (ou supervisores) e os pode ser similarmente interpretado, porque ali, por
presbíteros (ou anciãos). Por outra parte, o governo semelhante modo, não há qualquer declaração no sen-
eclesiástico democrático, como é praticado nesses tido de que Deus prevê aqueles que haveriam de crer,
grupos, também não corresponde exatamente ao que tendo escolhido os mesmos, embora muitos intérpre-
se vê no Novo Testamento. Pois, em vez de haver uma tes tenham forçado essa significação sobre esse trecho
pluralidade de pastores (ou presbiteros ou bispos), petrino, por igual modo. E mister observarmos que,
dirigindo a congregação e decidindo sobre questões em I Ped. 1:20 essa mesma expressão é utilizada para
unportantes, que requerem maturidade espiritual, a indicar a pessoa de Cristo. Ali vemos que Cristo
congregação (composta de crentes experientes e também foi «conhecido de antemão», e não se pode
inexperientes) é consultada, e tudo é decidido por voto conceber que isso significa que Deus meramente
da maioria, um método inteiramente estranho ao que previu que Jesus Cristo faria isto ou aquilo. Esse
372
PRESCI:mNCIA DE DEUS
versículo declara especificamente que esse «conheci- alicerce da predestinação e eleição deles, de sua
mento anterior» ocorreu antes da fundação do conformação com Cristo, de sua chamada, justifica-
mundo. Por conseguinte, Cristo foi «favorecido.., ou ção e glorificação ,. (John Gill, in loc.),
teve «intimidade.. com o Pai; e todos os eleitos, em m. EIel'" pnIdaaela de Deaa PaI
Cristo, são similarmente ..conhecidos de antemão». A Ver Efé. 1:1,2 e I Ped. 1:2. Aqueles que nl.o podem
tradução inglesa de Williams, diz nesse ponto: ..Pois incorporar em Sua teologia e mentalidade a idéia de
aqueles em quem fixou de antemão o seu coração, que Deus escolhe a alguns e deixa de lado a outros,
assinalou como seus.. (aqui vertida para o português). como se isso fosse algo contrário ao bom senso e à
Williams deixou uma nota de rodapé, dizendo que justiça, se têm agarrado a esta simples expressão,
esse era o uso comum da palavra grega traduzida aqui como se ela quisesse dizer: «Aqueles a quem Deus
por «conhecer de antemão.., segundo a tradução da previu que creriam, a esses ele elegeu», Naturalmente,
Septuaginta (tradução do A. T. hebraico para o grego, não é isso o que indica o original grego, e nem sua
que ficou pronta cerca de duzentos anos antes da era tradução. Não há aqui qualquer indicio de «fé
cristã). Esse conhecimento anterior, portanto, é uma prevista». Antes, foram previstas as «pessoas.., aqueles
espécie de amor previamente determinado, a força que anteriormente foram conhecidos por Deus, por
que provoca a eleição para a salvação. serem amados por ele. Notemos que, I Ped. 1:20,
Kelly (in loc.) observa: «É importante notarmos que Cristo também é considerado como «conhecido de
o apóstolo (Paulo) não alude aqui a algum antemão»; e certamente, nesse caso, não pode haver
conhecimento anterior passivo ou vazio, como se isso pensamento de fé prevista. (Comparar com Amós 3:2,
quisesse dizer que Deus meramente viu de antemão que diz: «De todas as familias da terra somente a vós
que alguns seriam isto ou aquilo, fariam isto ou outros vos escolhi, portanto eu vos punirei por todas
aquilo, ou creriam. O conhecimento prévio de Deus as vossas iniqüidades»), Portanto, esse termo tem a
envolve pessoas, e não a conduta das mesmas; não idéia de cuidado anterior, de favor previamente
importa o 'que', e, sim, a 'quem' ele conheceu de conferido a alguém, e não do mero conhecimento de
antemão». como os homens corresponderiam ao evangelho.
D. A idéia de ~p'" alo é ..... aqui Notemos ainda, em Rom. 8:29, que o povo conhecido
em DeDh....... doia ....wo. .......0: de antemão também é o povo predestinado. Ali, por
1. Não é simples previsão da fé que seria exercida igual modo, não há nenhuma idéia de «fé prevista... A
por alguns. tradução inglesa de Williams, aqui vertida para o
2. Também não é o conhecimento de que certos português, diz: «Aqueles em quem ele pôs seu coração
individuas persistiriam nessa fé, os quais, por de antemão» (em lugar de «conheceu antes..); e esse,
conseguinte, chegam à plena fruição de sua salvação. sem dúvida, é o sentido da frase. (Ver as notas
Pelo contrário, está mais em vista o conhecimento expositivas em Rom. 8:29 no NTI, onde há um estudo
amoroso ou «preocupação» e «familiaridade» para mais completo dessa idéia, inerente ao conhecimento
com os entes amados, isto ê , aqueles que seriam prévio de alguém por parte de Deus).
amados por Deus. «Conhecer de antemão.., portanto, Isso não quer dizer, como é claro, que o homem não
pode referir-se ao propósito «interno» de Deus, que tenha genuino Iivre- arbitrio. Esse também é um
vem a ser externamente exercido em sua eleição e ensino essencial do evangelho; mas é um outro lado da
predestinação divinas. questão, não abordado no presente texto. Porém,
sempre se evidencia no esquema inteiro da salvação.
«Aqueles de quem Deus tomou conhecimento desde O arrependimento, a fé, a conversão, a santificação
a eternidade (ver Efé. 1:4) ... também ordenou de - tudo tem seu lado divino e seu lado humano. O
antemão que fossem conformados segundo a imagem Espirito de Deus inspira a todos. Sem Deus, ninguém
de seu Filho. Essa conformidade à imagem de Cristo poderia existir, e nem alguém poderia se aproximar
é o último estágio da salvação, tal como o de Deus, pois o homem está irrevogavelmente
conhecimento anterior é o primeiro estágio. Essa decaído, sem a «ajuda divina», Contudo, no
imagem tem um sentido não meramente espiritual, arrependimento, um homem pode corresponder por
mas também escatológico. O Filho de Deus é o Senhor sua própria vontade; pela fé, ele deve exercer sua
que apareceu a Paulo, próximo de Damasco - ser vontade, a fim de que creia; na santificação, deve
conformado à sua imagem é participar da sua glória, aceitar o poder transformador do Espirito. Todos
bem como de sua santidade. O evangelho paulino é esses aspectos do caminho para Deus, embora
lamentavelmente distorcido quando isso é esquecido». constituam um único caminho em Cristo, têm dois
(James Denny, in loc.). lados, duas pistas. A salvação não consiste apenas na
« ••• é provável que o conhecimento prévio que Deus pista divina; também consiste na pista humana.
tem de seu próprio povo indica a sua 'peculiar e Envolve o que Deus faz pelo homem, mas também
graciosa complacência neles', ao passo que a sua envolve o que o homem faz, em reação favorável a
'predestinação' ou 'preordenação' dos mesmos signi- Deus. Toda a experiência humana comprova isso.
fica o seu 'propósito' fixo que disso se deriva, de Não possuimos nenhuma maneira excelente de
'salvá-los e chamá-los com santa vocação' (ver 11 Tim, reconciliar essas «duas pistas de uma única estrada»:
1:9)>>. (Brown, in loc.). mas para cada um desses aspectos há provas biblicas
«De acordo com a doutrina paulina, existe uma abundantes, demonstradas na experiência humana.
'predestinação dos santos', no sentido apropriado das Assim é que Deus' elege, predestina; mas o homem
palavras: isto é, não que Deus conhece de antemão deve corresponder. Todos são potencialmente eleitos
que eles haverão de ser santos, por decisão própria e, de um modo que não sabemos explicar logicamente.
sim, que ele mesmo criou neles essa decisão». No entanto, a verdade transcende à lógica humana.
(Oishausen, in IDe.). Chamamos de paradoxo ao ensino da eleição e do
«Isso (a presciência) diz respeito ao amor eterno de livre-arbítrio humano, ou seja, uma verdade que é
Deus em favor de seu próprio povo, o deleite que ele aparentemente autocontraditôria, Mas a contradição
sente neles, a sua aprovação a eles; nesse sentido é que existe apenas na compreensão humana, e não na
Deus os conheceu, tendo-os conhecido de antemão própria verdade.
desde a eternidade, tendo-os amado afetuosamente, Assim sendo, erramos quando supomos que a
sentindo um infinito deleite e prazer neles; e esse é o opinião calvinista ou a opinião arminiana estão
373
PRESCRITIVISMO - PRESENÇA
plenamente corretas ou totalmente errôneas. Ambas história de Moisés e a sarça ardente é outro desses
essas posições apresentam certa verdade; mas ambas episódios. Novamente, vemos Moisés e a teofania no
são míopes, não podendo ver o outro lado respectivo. monte Sinai, Ou então pensemos em Elias, no monte
Não se deve pensar que a verdade pode ser reduzida a Horebe, No Novo Testamento, Paulo teve uma visão
um único sistema teológico, ou que um sistema de do Cristo ressurrecto na estrada para Damasco. Jesus
pensamento possa conter toda a verdade, e nada apareceu transfigurado a três de seus discípulos. E
senão a verdade. Ananias, um obscuro discípulo judeu, teve uma visão
Ver o artigo sobre Livre-arbítrio. com Cristo, que lhe apareceu e conversou com ele (ver
Atos 9:10 ss). Apesar de termos de permitir espaço
para as expressões antropomórficas, não imaginando
PRESCRITlVISMO que Deus tenha formato humano em qualquer
Essa palavra, cunhada por R.M. Hare, para sentido, ainda assim não há razão alguma para
contrastá-la com o descritivismo; vem do latim, prae negarmos as reais manifestações da presença de
cantes», e scribere, «escrever». :(;; termo usado com !J Deus, que podem assumir muitas formas.
sentido de asseverar algo como válido, de estabelecer 3. Manlfestaçé5el Formalizada.
como uma diretiva. Hare ensinava que juízos morais Entre essas devemos incluir as manifestações
devem ser dados como normas de nossas ações, e não divinas como fogo que cai do céu, como se fosse um
meramente como descrições de idéias e alternativas. altar especial, como se deu com Elias. A arca da
Se um julgamento moral for prescritivo, então aqueles aliança, primeiro no tabernáculo e então no templo, o
que o aceitam deveriam agir de conformidade com o próprio tabernáculo, e depois o templo, especialmente
mesmo. Dizer a uma pessoa o que ela devefazer é a o Santo dos Santos, onde a presença divina
função primária das afirmações morais. ocasionalmente manifestava-se, eram outras tantas
manifestações da presença de Deus. Também
devemos incluir o trabalho do sumo sacerdote, que
PRESENÇA DE DEUS incluía visões, sonhos, adivinhações, oráculos, e, mais
Esboço: especificamente ainda, o uso dos misteriosos Urim e
1. Declaração Introdutória Tumim (vide). Os intérpretes rabínicos imaginavam
2. As Teofanias tolamente que mesmo após a destruição do templo de
Jerusalém, a presença divina vagueava por toda
3. Manifestações Formalizadas aquela área. Além disso, entre eles, a presença divina
4. O Ensino da Imanência era. associada ao ensino da lei, de tal modo que se ao
5. O Teísmo e o Deísmo menos duas pessoas se reunissem a fim de discutir
6. A Presença de Deus no Novo Testamento sobre a lei, o Espírito de Deus far-se-ia presente com
7. O Misticismo elas (Pirke Aboth, 3.2).
1. Declaração introdutória 4. O EnsIno ela Imanência
A expressão «presença de Deus» reveste-se de Ê patente que a cultura hebréia esperava que Deus
interesse, nesta enciclopédia, em relação ao freqüente se manifestasse entre o seu povo, fazendo-se presente
ensino bíblico acerca da disponibilidade da «presença entre eles sob as mais variadas circunstâncias. Essa
do Senhor•. O trecho de João 1:18 ensina enfatica- cultura era saturada com crenças místicas, comum às
mente que ninguém jamais viu a Deus. O trecho de I teologias altamente teístas. Ver sobre o Telsmo,
Tim. 1:16 diz que Deus habita em «luz inacessível». A S. O TeJUDo e o Delsmo
passagem de Col. 1: 15 diz que Deus é o invisivel, mas O telsmo (vide) ensina que Deus não somente críou.,
que pode ser conhecido através do Filho, Jesus Cristo, mas também está vital e continuamente interessado
que é a sua imagem. E I Tim, 1:17 também alude a por sua criação, sempre presente para recompensar
Deus como o invisível, o que é reiterado em Heb. ou julgar. O deísmo (vide), por sua vez, ensina que
11 :27. E devemos entender esse adjetivo, «invisível», embora tenha havido alguma força (ou pessoa)
como dando a entender mais do que não ser capaz de criadora, essa força ou pessoa deixou que as leis
ser visto pelo sentido fisico da visão. Pois também naturais governassem as coisas, de tal modo que não
significa que, espiritualmente falando, Deus está há qualquer comunhão direta entre Deus e os
oculto e é desconhecido pelos homens, cujo nivel de homens. Deus não galardoaria e nem castigaria, mas
conhecimento e de experiência espiritual não lhes as leis naturais é que fazem ambas essas coisas.
permite ver a Deus nem espiritual e nem fisicamente. 6. A Pre8en\8 de Deus no Novo Testamento
Não obstante tudo isso, os misticos falam em . A idêia essencial do Antigo Testamento é
experimentar a presença de Deus; e, efetivamente, a transferida para o Novo Testamento e a comunidade
Bíblia contém muitas declarações que concordam remida. No Novo Testamento, é Jesus Cristo que se
com essa apreciação. faz presente, sempre que duas pessoas se reúnem em
2. AlI Teo'...... seu nome (ver Mat. 18:20). O mesmo Espírito que se
Podemos supor que quase todas as revelações fazia presente com os santos do Antigo Testamento,
veterotestamentárias da presença divina deram-se faz-se agora presente com a comunidade dos salvos.
mediante teofanias, ou seja, qualquer tipo de Ele é agora o alter ego de Cristo (ver o artigo
manifestação da presença divina que salienta o poder intitulado Paracleto), O Logos (chamado Jesus Cristo,
e a glória de Deus, embora sem a visibilidade de seu em sua encarnação) tomou-se o revelador do Deus
ser real. Um ser angelical, uma visão, um sonho, etc., invisivel (ver João 1:18). O Novo Testamento narra
podem ser modos do Ser divino revelar a sua várias manifestações e visitações divinas, por meio do
presença, sem que seja vista a sua essência, Anjo do Senhor ou por algum outro meio, como os
porquanto, para o homem, isso é simplesmente sonhos e as visões. Ver Mat. 1:20ss; Atos 7:55; 9:1 ss,
impossível. Mas um ser humano pode perceber algo A promessa da presença do Espirito Santo e do poder
que representa a divindade. A «shajdnah» era uma por ele conferido é registrada como cumprimento de
espécie de revelação resplandecente de Deus, em urna profecia de Joel, no Antigo Testamento (ver Atos
feérica exibição luminosa. No Antigo Testamento 2:17 ss), Em I Cor. 12-14, essa presença é descrita em
encontramos o relato sobre Adão e Eva, que andavam detalhes quanto às funções e poderes que tal presença
em companhia de Deus e conversavam com ele. A deveria engendrar entre os remidos. Urna das grandes
374
PRESENÇA REAL - PR~·socRATICOS
i'romessas escatológicas é que a presença de Deus mente real, como parte do tempo, que consiste em
estará com os homens, de forma toda especial, uma série de eventos que se vão descortinando com o
durante a era da eternidade futura (ver Apo. 21:3,8). tempo.
Para o povo remido, o céu lhes é prometido como um 2. Alguns filósofos e teólogos tem contrastado a
lugar ou um estado no qual eles desfrutarão eternidade com o tempo, asseverando, corretamente,
continuamente da presença de Deus (João 14:1-6; que hâ uma esfera onde o nosso conceito de tempo
17:21-24). não tem sentido. Mas a maioria, mesmo afirmando
7. O MWldsmo isso, tem mantido a crença em uma seqüência de
O mIstldsmo (vide), e que descrevi com detalhes em eventos. O tratamento de Agostinho sobre a
um artigo separado, tem, como um de seus conceitos eternidade (uma esfera onde não haveria o tempo)
fundamentais, a idéia de que a Presença de Deus pode antecipou a teoria moderna da relatividade; mas
e deve ser experimentada, transcendendo a qualquer Agostinho estava apenas emprestando uma idéia de
poder medianeiro, como a razão oua percepção dos Platão, cujo mundo das Idéias (Universais; vide) é
sentidos. O misticismo é o nosso mais poderoso meio uma esfera de existência onde o tempo não tem
de desenvolvinlento espiritual, algo de que precisamos qualquer aplicação. O tempo faz parte das condições
urgentemente. deste mundo dos particulares, o nosso mundo fisico.
3. Leibniz e Whitehead fizeram o tempo ser relativo
ao arcabouço de referência de algum observador (ou
PRESENÇA REAL consciência), sendo capaz de ser refreado em sua
Essa idéia faz parte da doutrina católica romana velocidade, ou mesmo cancelado pela velocidade da
que diz que Jesus Cristo, corporalmente e em outros luz.
sentidos, faz-se presente na hóstia da missa. Essa 4. William James deu um tipo de definição
idéia contrasta com a interpretação de outros grupos psicológica do presente e da percepção do tempo, ao
cristãos, como os batistas, somente para exemplificar, asseverse que o presente de uma pessoa é uma espécie
que diz que os elementos da Ceia do Senhor não de tOlllada de consciência em que estio contidos o
sofrem modificação alguma, visto que o pio e o vinho presente e elementos tanto do passado quanto do
são meros simbolos memoriais (e não sacramentos). A futuro.
doutrina da presença real, desenvolvida pela Igreja 5. Mead afirmava que o presente pode alterar o
Católica Romana, também é conhecida como passado, primeiramente por ser uma espécie de
transubstanciação (vide). Em alguns segmentos do fruição do passado; e, em segundo lugar, presumivel-
luteranismo, esse desenvolvimento terminou cristali- mente, por meio de interpretação, que faz o passado
zando-se no dogma da consubstanciação (vide). parecer du.erente do que' realmente foi. As histórias
A Igreja Ortodoxa Oriental nunca definiu com oficiais áos povos distorcem o passado devido ao
exatidão o modo da presença, mas refere-se a essa desejo de grorificação própria, quando então o
presença como algo real, garantido por algum tipo de presente torna-se uma espécie de fruição ideal (não-
metabolismo. A comunidade anglicana também não real) de um passado que foi arranjado, pelo menos
definiu como a presença real de Cristo pode parcialmente, de um modo diferente daquilo que
manifestar-se na eucaristia, mas afirma isso como se realmente sucedeu. O presente, como é óbvio,
fosse um fato. No entanto, seus teólogos apressam-se determina o futuro, excetuando quando há uma
por adicionar que essa presença é espiritual, e não intervenção divina ou então se estabelece o caos.
fisica. E certos grupos evangélicos chegam bem perto 6. As religiões orientais encaram todo o conceito do
da posição anglicana, quando falam sobre como tempo como ilusório. Há uma espécie de eterno
Cristo comunga com aqueles que se reúnem em seu «agora», que não sofre a passagem do tempo. Nós
nome, porquanto concebem que essa comunhão criamos o passado, o presente e o futuro por
verifica-se mormente durante a celebração da Ceia do imposições artificiais da consciência. Experimenta-
Senhor. mos artificialmente esses estados que não fazem parte
Historicamente, o ponto de vista católico romano da realidade. Platão julgava 'iue, neste mundo
da questão tem sido expresso de duas maneiras: material, todas as coisas se mantem em um presente
praesentia realis, «presença real», e preasentia rei, não-irreal, mas menos real do que se dá nas condições
«presença da coisa», referindo-se ao corpo e ao sangue que imperam na eternidade, o mundo das Idéias
de Cristo. A primeira maneira está prenhe de idéias (vide).
que dizem que a «presença real» significa que Jesus se
faz presente em corpo, alma, sangue e divindade, e
isso como Deus e como homem. Isso distingue a PRESIDENTE
eucaristia dos demais sacramentos, que possuiriam Algumas traduções (como a nossa versão portugue-
matéria, forma, intenção, ministração e beneficio, sa) usam esse vocábulo para traduzir o termo
mas não ores sacramenti (que é o corpo e o sangue de aramaico sarekim (ver Dan. 6:2-4,6,7). Esse termo é
Cristo). ali usado para indicar os governadores nomeados pelo
rei da Pérsia para governarem as cento e cinqüenta
satrapias do império persa.
PRESENTE Daniel foi chamado ali de «presidente» em face da
Os filósofos divertem-se com o conceito do tempo, o autoridade que lhe fora conferida. Por causa da
que, naturalmente, inclui uma discussão acerca do oposição e inveja de outros líderes foi que Daniel
presente, no que ele se relaciona com o passado e com terminou sendo lançado na cova dos leões.
o futuro.
1. Uma Definição Simples. Popularmente (e Pô-soCRÁTICOS
também em algumas filosofias), o presente é o tempo
que é agora, e que se divide naquilo que foi e naquilo Ver o artigo geral sobre F1IoIoBa, seçio quarta,
que será (ou seja, o passado e o futuro). A maioria dos onde são discutidos os periodos históricos desse ramo
filósofos tem defendido esse ponto de vista calcado do conhecimento. O primeiro ponto daquela seção
sobre o bom senso. Desde Aristóteles até Newton, o aborda, especificamente, os filósofos pré-socráticos.
momento presente sempre foi considerado objetiva- Isso abrangeu os séculos VII a V A.C. Importantes
376
PRESSÁGIO - PRETORIANA
figuras desse período foram Tales, Parmênides, Zeno, PRESUNÇÁO (TOMAR A QUESTÁO COMO
Alcmaeon, Anaxágoras, Anaximandro, Demócrito, RESOLVIDA)
Diógenes de Apolônia, Empédocles, Eurito, Herácli- O vocábulo presunção significa que alguém tem
to, Leucipo, Melissis, Filolau, Pitágoras e Xenófanes. certeza de que a sua posição em uma disputa é
correta, pelo que ela não requer qualquer modificação
PRESSÁGIO (AGOURO) mediante a discussão que se processa. Portanto, esse
alguém na verdade não busca uma resposta,
Quanto a informações sobre essa e questões porquanto pensa que já chegou à resposta correta.
semelhantes, ver o artigo sobre Adivinhação. Um Toma como questão resolvida que a posição por ele
agouro é um objeto ou um acontecimento que mantida não pode ser alterada por qualquer
presumivelmente prefigura algo que sucederá, usual- discussão. Em conseqüência, a pessoa presume que
mente de natureza negativa, ainda que alguns possam nenhuma disputa ou investigação é necessária; e só
ser positivos. Tais sinais podem ser vistos nas ações e entra no debate a fim de convencer seu oponente do
acontecimentos da natureza, dos animais, dos acerto de sua posição.
pássaros, das estrelas, das ocorrências celestes de
qualquer espécie, ou das coincidências estranhas. Há
muitos tipos de agouros entre os povos. Quase todo PRETAS
ser humano quer receber alguma espécie de indicação
do que o futuro reserva, e os agouros provêm veiculos Esse é um termo hindu que equivale, a grosso
que satisfazem (ou procuram satisfazer) esses desejos. modo, ao nosso fantasma (vide). Na lndia, uma
Até bons crentes pensam poder perceber agouros 'nas crença popular diz que os espiritos dos mortos, não
coisas e acontecimentos, embora pensem que Deus tendo ainda entrado no seu descanso, e nem tendo
esteja por detrás de tais manifestações. Além das ainda um destino fixo, podem assombrar casas e
coisas acima mencionadas, alguns agouros têm lugar cemitérios, etc. Há evidências que mostram que tais
através de sonhos e visões, bem como de variegadas entidades realmente existem; mas, o mais provável
formas de misticismo. (E) (pelo menos em alguns casos) é que se trate de meros
fragmentos de personalidades humanas, ou seja,
aquilo que chamamos de vitalidade, não sendo
PRESSUPOSIÇÁO entidades humanas reais. Meu artigo sobre os
Essa é uma palavra importante _ dentro do Fantasmas aborda essa questão.
vocabulário da filosofia. As verdades fundamentais
são pressupostas sem qualquer prova empirica,
porquanto o conhecimento começa à base dessas PRETOR
verdades fundamentais. Todas as filosofias e religiões Esse era o titulo de um elevado magistrado da
contam com certas idéias pressupostas, sobre as quais antiga Roma, tanto durante a república como durante
as outras idéias são erguidas, produzindo-se assim um o principado. Ele estava investido de funções judiciais
sistema. De fato, a metafisica tem sido considerada nos julgamentos civis (jurisdictio) , e brandia um
por alguns pensadores como o estudo das pressuposi- poder de comando timperium) no sentido mais lato do
ções básicas. termo. Dentro da hierarquia oficial, a patente
:E: comum pressupormos a existência sem a imediatamente superior era a dos cônsules. A pretoria
necessidade de prová-la mediante intrincados argu- foi introduzida em 367 A.C., e ai por volta de 337
mentos filosóficos. Os argumentos acerca desse A.C., plebeus começaram a ser admitidos ao oficio.
assunto tendem por levar alguns filósofos ao Gradualmente, o oficio foi-se expandindo, e a
ceticismo; ou então o solipsismo (a idéia de que a jurisdição do mesmo acabou dividida entre os pretores
única coisa realmente existente é o próprio «eu..) pode urbanos (que julgavam aos cidadãos romanos) e os
ser o resultado de tais esforços. Alguns pressupostos pretores peregrinos (que julgavam aos cidadãos
envolvem verdades contingentes, e não necessárias, e não-romanos). Os pretores foram importantes inova-
são defendidas tentativamente, a fim de emprestar dores da lei. Seus deveres, finalmente, vieram a
força a algum argumento. Essas pressuposições, incluir o controle sobre a administração das
naturalmente, envolvem supostas verdades contingen- provincias. Um pretor, ao ser nomeado para o seu
tes, e não verdades que podem ser comprovadas. oficio, expedia os seus editos, os quais proviam
precedentes para regimes sucessivos, mantendo a lei
romana sempre atualizada e flexivel.
PRESSUPOSTO ESTRATONIClANO
Essa expressão está alicerçada sobre o nome do
filósofo Estrato de Lampsaco (vide). Ele foi o cabeça PRETORIANA, GUARDA
do liceu, depois de Aristóteles. E esforçou-se por A guarda pretoriana nunca é mencionada no Novo
derrotar o principio teológico deste último. O Testamento, embora a palavra grega praitôrion, em
pressuposto estratoniciano é a assertiva que diz que Fil. 1:13; talvez aluda a essa força armada (o que
faz parte da responsabilidade daquele que postula' explica a tradução que aparece em nossa versão
Deus ou os deuses, ou então forças divinas ou portuguesa, «guarda pretoriana..). Naturalmente, os
cósmicas fora do universo, dar provas de sua prisioneiros politicos eram mantidos sob vigilância de
proposição. uma guarda, mesmo quando estivessem sob prisão
Os Cinco Caminhos de Tomás de Aquino foram domiciliar.
formulados a fim de derrubar a idéia de Estrato de Originalmente, um pretor (vide) era um alto
Lampsaco, com o fim de prover o tipo de prova que magistrado romano. Com a passagem do tempo, esse
mostra que a teleologia e o principio de causa são oficio Passou. a ser chamado oficio dos cônsules.
proposições necessârias em qualquer filosofia correta- Porém. a forma adjetivada continuou a ser usada em
mente formulada. Em outras palavras, Tomás de vários contextos, como a cohors praetoria, «guarda
Aquino(e, naturalmente, outros antes dele) tomaram pretoriana.., que formava a guarda pessoal de um
o desafio de Estrato e tentaram prover provas de general. Mais tarde ainda, desenvolveu-se a Guarda
principios fora do universo, que são reputados Pretoriana do Império, formada originalmente por
responsáveis pelo mesmo e seus modos de operação. nove coortes, e que foi constituida por Augusto, em 27
376
PRETORIO - PRICE
A.C .. Essa era uma esp~ie de corpo dé elite, que PREVISmILIDADE
provia uma proteção especial e uma força ostensiva, a
fim de ajudar a manter a boa ordem. Ver os artigos separados intitulados Precognição
Esse grupo tornou-se tão poderoso que chegou a (Conheçimento Prévio); Profecia, Tradição da e a
derrubar e levantar imperadores. Os membros da Nossa Epoca; Profecia. Profeta e o Dom do Profecia,'
Profecias Messiânicas Cumpridas em Jesus; Sonhos e
guarda pretoriana recebiam um salário três vezes Parapsicologia, em sua terceira seção.
maior que o soldo dos soldados ordinários, além de
beneficios extras especiais. Caligula aumentou a A capacidade do homem prever o futuro tem sido
guarda pretoriana para doze coortes; e Vitélio (em 69 adequadamente comprovada, tanto espiritualmente
D.C.), para dezesseis. Domiciano, entretanto, redu- quanto através das investigações cientificas. O
ziu esse número para dez coortes. Constantino espírito humano pode ser usado pelo Espirito de Deus
desativou a instituição em 312 D.C. Uma coorte a fim de prever coisas; um espirito maligno (além de
usualmente consistia em quinhentos soldados. Os espíritos de outros tipos) pode fazer a mesma coisa.
militares desse grupo seleto serviam somente durante Mas o próprio homem, visto ser ele um ser espiritual,
dezesseis anos; e então recebiam uma aposentadoría é dotado de poderes de conhecimento prévio,
especial. exercitando esses poderes a cada noite, em seus
sonhos, quando essa capacidade está perenemente em
operação. Essa é uma previsibilidade alicerçada sobre
as probabilidades, as quais, por sua vez, estão
PRE'I'ORIO baseadas em fatos ou condições já existentes.
Essa palavra é uma transliteraçlo do termo grego Costumamos dizer: «Isto, provavelmente, sucederá»,
praitôrion (ver Mar. 15:16). A palavra ~ de origem porque calculamos tal coisa com base em nossas
latina, e significa, primariamente, «relativa ao presentes condições, A mente subconsciente pode
pretor». Ver o artigo chamado Pretor. No sentido refinar esse processo e então produzir coisas
mais amplo, um praetor era alguém que «ia à frente... surpreendentes, embora sem prever, realmente, os
o que mostra que vários tipos de oficiais podiam acontecimentos. Porém, a previsibilidade envolve
receber esse titulo. Sinônimos são «chefes, «líder.., muito mais do que o poder de computação do cérebro.
«comandante,., etc. Em um sentido formal, o praeto; Prever o futuro é uma capacidade inerente ao homem,
era uma espécie de «chefe,. especial, conforme meramente por ser ele um ser humano. Sem dúvida,
expliquei naquele artigo. Por sua vez, originalmente o esse e outros grandes poderes existem no homem por
praetorium era a residência de um pretor, ou, então, o haver sido ele criado à imagem de Deus, e porque ele
palácio de algum oficial de alta categoria. Mais tarde, compartilha, até certo ponto, dos atributos divinos. O
-pretôrio- veio a significar a «tenda de um general.., artigo sobre a Parapsicologia procura demonstrar a
ou o seu «quartel-general•. Ali eram levadas a efeito naturalidade dos fenômenos psíquicos,
funções importantes do exército romano. No acampa-
mento militar, era do pret6rio que manavam as - Apesar desses poderes talvez serem ím-:
ordens. postos a nós - do exterior - , por parte de seres
No Novo Testamento há várias referências onde angelicais ou demoníacos, na verdade tais poderes já
esse vocábulo aparece. Ver Mat. 27:27; Fil. 1:13; Joio fazem parte do que o homem é em si mesmo. Os
18:28,33; 19:9 e Atos 23:35. As traduções traduzem poderes psiquicos são espiritual e moralmente
essa palavra de diversas maneiras, como «palâcio», neutros, embora possamos canalizá-los para finalida-
«sala de julgamento», etc. Nossa versão portuguesa des boas ou más.
apenas a translítera, «pretôrio». Em nossa versão Na filosofia, a previsibilidade é distinguida da
portuguesa, a «guarda pretoriana» (Fil, 1:13) prova- predestinação ou do determinismo, visto que esses
velmente indica o quartel da guarda imperial, que termos implicam a inevitabilidade dos acontecimen-
havia sido edificado por Tibêrio. Os pr6prios tos, ou da parte de alguma força cósmica, ou da parte
membros dessa corporação eram conhecidos, coletiva- de Deus. Mas, meramente porque um acontecimento
mente, por «guarda pretoriana». Ver sobre Pretoria- futuro é previsivel, isso não significa que já tenha sido
na. Guarda. Além disso, a palavra pretôrio pode determinado de modo absoluto. Além disso, algo
referir-se a um grupo de pessoas, e não apenas aos previsível não quer dizer que as suas causas sejam
lugares onde residiam e de onde exerciam seu poder. conhecidas e sejam absolutas. Naturalmente, existe
-O pretôrio é a totalidade daquele corpo de pessoas uma previsibilidade deterministica, sendo essa apenas
ligadas à corte imperial suprema, que se assentavam outra maneira de falar sobre aqueles eventos futuros
para julgar. No caso em foco (Fil, 1:13), estâ em vista que são determinados de modo absoluto, sem
o prefeito ou ambos os prefeitos da guarda pretoriana, importar qual força esteja envolvida em sua
representantes do imperador, em sua capacidade de realização.
fonte de onde manava a justiça, juntamente com os
assessores e elevados oficiais do tribunal» (Ramsey,
St. Paul. The Traveller, pág. 357). PRICE, H.H.
Destacamentos de praetoriani eram enviados às Nasceu em 1899. na Inglaterra. Minhas fontes
provincias. Na cidade de Roma, eles estavam informativas não falam sobre sua morte. Foi um
encarregados de vigiar os prisioneiros importantes, fil6sofo inglês cuja principal obra escrita tem o titulo
sob custódia imperial. No tocante ao julgamento de de Perception. Portanto, foi para o campo da
Jesus Cristo, a palavra talvez indique a residência percepção, no terreno do conhecimento, que ele
oficial do governador, em Jerusalém, ou parte dessa contribuiu principalmente. Educou-se em Oxford e
residência. Também pode aludir à sede do procura- Cambridge, e ensinou em Oxford de 1935 a 1959.
dor, ao palácio de Herodes, ou à torre de Antônia, IdéIaI:
que ficava contígua ao átrio exterior do templo de 1. Russell tinha razão ao dizer que os objetos de
Jerusalém. Não há como investigar qual a referência nossa percepção dos sentidos são informes dos
exata. :E: mesmo possivel que as diferentes referências sentidos, e não os objetos reais. Não obstante, Price
ao pret6rio, no Novo Testamento, designem locais argumentava que a percepção tem algumas das
diversos. O uso da palavra, em Atos 23:35, porém, propriedades de objetos reais, ao passo que outros
refere-se ao palácio de Herodes, em Cesaréia. objetos, como é 6bvio, permanecem acima da
377
PRICE - PRIMEIRA CAUSA
percepção de nossos sentidos, e se fazem apenas responsabilidade.
parcialmente presentes para nós, através da experiên- Escritos: Review of the Principal Questions in
cia dos sentidos. Por isso, Priee, algumas vezes, tem MoraIs. Observations on the American Revolution;
sido reputado um fenomenalista (aqueles que opinam Materialism and Philosophical Necessity,
que as coisas materiais são apenas informes dos
sentidos). A bem da verdade, porém, ele pensava
que as coisas materiais têm poderes de causa, além da PRIMA FACIE, DEVERES
capacidade que têm de provocar impressões em
nossos sentidos. No latim, prima facIe significa, «primeiro apareci-
2. Os informes dos sentidos podem distorcer os mento», Na filosofia, essa expressão relaciona-se a
objetos, ou nossos sentidos podem dar-nos informes evidências que dêem apoio a qua!qu~r caso. Aquelas
distorcidos. As variações dos sentidos levam as nossas evidências que aparecem em primeiro lugar talvez
mentes a terem uma percepção ou idéia acerca dos pareçam estabelecer um fato, enquanto não surgem
objetos. Pensamos nos objetos como se fossem outras evidências que refutem as primeiras. No campo
tridimensionais; e isso, naturalmente, é uma con- da ética, o termo sugere que o dever de uma pessoa é
veniência. Mas esse tridimensionalismo é apenas uma aquele que ela sente (ou intui) em primeiro lugar.
parte da verdade. Os objetos são muito mais do que Presumivelmente, essa intuição fornece uma certa
isso, embora nossos sentidos simplifiquem-nos para ordem aos deveres, que seriam arranjados por ordem
que tenham um simples padrão tridimensional. de importância. No entanto, isso pode ser alterado,
sob reflexão posterior. A responsabilidade de um
3. Qualquer descrição sobre um objeto envolve-nos individuo, a qualquer momento, é diante de seus
em um conjunto de associações dentro do qual os deveres prima facie, relacionados ao momento
objetos são agrupados e entendidos como participes presente.
de propriedades similares.
4. Conceitos não são objetos, e podem ser
empregados sem qualquer alusão aos objetos fisicos, e PRIMALIDADES
sem referir-se a eles como «objetos da mente... Nossas Na filosofia de Tomasso Campanella, destaca-se a
mentes. empregam simbolos, e nossas mentes podem doutrina que diz que todas as coisas possuem, embora
extrapolar desses simbolos, indo além dos mesmos, em diferentes graus, as «primalidades» do conheci-
devido a seus poderes inventivos e criativos. mento, do poder e do amor. Seriam os principias mais
Escritos: Perception; Hume's Theory of the fundamentais de todas as coisas. O amor de Deus e o
Externai World; Thinking and Experience, desejo de união com Deus estão infundidos em todas
as coisas.
PRlCE, RICHARD
Suas datas foram 1723-1791. Sua importância PRIMEIRA CAUSA
como filósofo foi ganha com seus estudos sobre a Também chamada ca.... prlmáda. Para efeito de
ética. Nasceu em Tynton, pais de Gales. Foi um nossa melhor compreensão, dividimos a questão em
ministro dissidente. Ocupou pastorados na área de «causa linear» e «causa vertical...
Londres. Começou a escrever sobre questões politicas 1. Causa Linear. As causas prosseguem ao longo de
e financeiras. Nesse campo, manifestou-se em favor uma linha, dentro do tempo. Uma causa provoca
da independência norte-americana. certa coisa que, por sua vez, é causa de outra.
IdeIaa: Poderiamos ir retrocedendo de causa em causa, ad
1. Ele advogava uma espécie de Idéia IDaw, infinitum, dentro desse processo, ou então poderia-
dentro da teoria moral, acreditando que certo e mos dar um salto até à Primeira Causa, que os
errado são simples idéias que se derivam de nossa filósofos e teólogos identificam com Deus. Para eles,
compreensão, Elas não podem ser reduzidas ainda parece mais fácil e lógico supor a existência de uma
mais, e não estão sujeitas à análise empirica, o que, se causa primária do que toda uma infinita série de
possivel, serviria somente para enfraquecê-las. A causas e efeitos. Todavia, há pensadores que pensam
reflexão é um exercício útil no descobrimento dessas que uma série infinita é tão possível quanto uma
idéias. causa primária. Os fil6sofos positivistas pensam que é
2. As idéias morais não são arbitrárias. São impossivel qualquer investigação quanto a essas
~iecessariamente derivadas, e isso da intuição, coisas, pelo que opinam que qualquer resposta dada a
mediante reflexão sobre as condições e os atos essa questão não tem sentido, e em nada contribui,
humanos. A aprovação moral inclui um ato e um senão dar aos investigadores um falso senso de terem
entendimento, além de emoções básicas do coração descoberto alguma coisa.
que nos dizem o que é certo e o que é errado. 2. Causa Vertical. A razão pela qual o meu corpo
3. O alvo da vida moral é a felicidade, porque está vivo é que no mesmo há condições internas que
somente o que é verdadeiramente bom pode ser, sustentam a sua vida biolôgica. Porém, causas
finalmente, verdadeiramente feliz. Em última análise, externas também se fazem necessárias para tanto,
a felicidade depende da retidão. como a atmosfera certa, com o correto suprimento de
4. A base real da moralidade é a realidade de Deus oxigênio e uma temperatura que meu mecanismo
e sua atuação. Deus criou-nos de certo modo; ele nos fisico possa suportar. Para que isso se verifique, há de
deu as nossas emoções; ele nos deu a nossa intuição. haver as condições próprias no sistema solar, sem
Isso posto, a moralidade tem raizes no teísmo. A falarmos nas condições do universo inteiro, tudo
moralidade não é uma mera questão humana. contribuindo para que as condições certas neste
Outrossim, Deus conferiu ao homem livre-arbitrio e mundo sustentem vivos os organismos fisicos. Além
autodeterminação, e, paralelamente a isso, - a dessas causas imediatas e necessárias, temos a Idéia
responsabilidade para corresponder aos imperativos ou Causa Primária, que é Deus, que arranjou e
divinos da maneira correta. organizou todas essas causas. E, visto que posso falar
S. O homem essencial é a alma, que é imaterial e em passar de uma causa imediata e presente, para
forma uma unidade divinamente arranjada, a qual alguma outra causa, como se estivesse ascendendo
também confere ao homem suas potencialidades e sua para causas superiores, até chegar à Causa Final, por
378
PRIMEIRA - PRIMEIRO
isso mesmo uso o termo vertical, para indicar esse essa expressão exata, ver também Apo. 2:8 e 22:13).
processo. Tudo quanto isso indica é que devem existir Cristo é a fonte de toda a vida e bemestar. e, por igual
causas presentes, imediatas e interdependentes, modo, o calvo» de toda a existência, em quem,
capazes de sustentar qualquer forma de vida, fimca ou finalmente, se achará todo o bemestar. O trecho de
imaterial. E deve-se postular Deus como a Idéia ou Col. 1:16 ensina-nos a mesma verdade - a criação foi
Causa que sustenta todas as coisas, ou seja, a causa feita «em Cristo» (ele é seu arquétipo), «por Cristo»
primária, que dá origem a todas as outras causas e (ele é o seu agente), e «para Cristo» (ele é o seu alvo).
efeitos. O primeiro capitulo da epistola aos Efésios ensina-nos
3. O Argumento Cosmolôgico, Um dos importantes essa verdade, sob a roupagem do «mistério da vontade
argumentos filosóficos e teológicos em prol da de Deus».
existência de Deus baseia-se no conceito da Primeira Todas as coisas (que no grego, literalmente, é cO
Causa. Ver sobre o Argumento Cosmolôgico.. E, visto todo»), nos céus, na terra e debaixo da terra (o mundo
que o desígnio forçosamente está envolvido em inferior) finalmente haverão de encontrar-se com
qualquer noção de causas, também devemos conside- Cristo em -tudo. Tudo haverâ de ser restaurado a ele,
rar o Argumento Teleolôgico (que vede). em um grau que esteja de acordo com o seu agrado:
4. A Primeira Causa Não Tem Causa. Para que haja nada pode escapar de seu poder restaurador.
uma Primeira Causa absoluta, que cause a cessação Finalmente, tudo lhe prestará feliz lealdade. Isso não
da série de causas, precisamos postular que essa destruirá o caráter impar dos eleitos, porquanto eles
Causa Primária é autocausada, ou então que não tem virão a compartilhar da pr6pria vida e natureza de
causa. E essa Causa Primária também deve estar Deus, bem como dos seus atributos e de sua gl6ria.
envolvida na existência eterna, o que, para nós, Entretanto, finalmente, todos virão a conhecer e
constitui um outro grande mistério. experimentar a Cristo, como «tudo para todos.. (ver
5. Grandeza da Primeira Causa. Deve-se postular Efé.l:23). Ver o artigo sobre a Descida de Cristo ao
-que a Causa Primária de tudo deve ser realmente Hades e também o artigo sobre a Ira de Deus.
abrangente. Podemos asseverar que a criação exibe, Notemos ~ue aquilo que é dito acerca de Deus Pai
pelo menos, dois dos atributos de Deus: inteligência e (o Alfa e o Omega) o alvo de toda a existência (ver
poder. Portanto, dentro da doutrina da Primeira Apo. 1:8 e I Cor. 8:6), é dito aqui acerca de Cristo
Causa, encontramos alguma noção sobre os atributos Jesus, como também em Apo, 21:6 e Col. 1:16. Isso é
divinos. Ver o ãrtigo geral sobre Causa. Ver também prova de sua dignidade, porque nenhuma pessoa não-
os Cinco Argumentos de Tomás de Aquino, divina poderia receber elogios tão prodigiosos como
esses. Ele é o Filho de Deus, não sendo diferente de
Deus Pai, quanto à gl6ria e ao poder.
PRIMEIRA FILOSOFIA De acordo com a linguagem aristotélica, Cristo é: 1.
Para Aristóteles, essa expressão significa o estudo A causa material. Nele reside o «potencial» de cada
do ser. E aos estudos que ele fez em seguida, ele ser, de cada destino. Ele é o «estofo.. do qual se eleva
chamou de física e de metafísica (após o que é fisico). todo o bem-estar. 2. Ele é a causa formal, isto é, ele é
Visto que os assuntos tratados nesse livro dizem o «arquétipo» do que se derivam todas as coisas,
respeito àquilo que atualmente chamamos de mediante quem as coisas têm um «plano.. que pode ser
metafísica, esse termo veio a significar (como uma de desenvolvido, mediante o qual os remidos podem
suas definições), aqueles estudos que investigam a chegara compartilhar de sua natureza e bem-estar. 3.
natureza das coisas imateriais. A metafisica, em Ele é a causa eficiente, isto é, a «causa impulsionado-
combinação com a teologia, veio a ser intitulada de ra», a «energia eficaz» que produz a operação de
Primeira Filosofia. Ver sobre a Metafísica. gl6ria. 4. Ele é, igualmente, a causafinal, isto é, o Ser
em quem todas as coisas encontram sua realização. O
trecho de Col. 1:16 diz tudo isso em termos menos
elaborados.
PRIMEIRAS CADEIRAS «Estou começando a perceber que posso e devo crer
Duas palavras gregas estio envolvidas: em Deus, mas estou simplesmente assustado. Tenho
1. Protokathedrla, que aparece em Mat. 23:6; Mar. ficado acostumado a uma vida sem Deus, até certo
12:39; Luc. 11:43 e 20:46. ponto. Se eu admitir a mim mesmo que ele é real,
2. Protoklisla, que figura em Mat. 23:6; Mar. então sei que terei de fazer algo sobre isso, e sinto que
12:39; Luc, 14:7,8; 20:46. toda a minha vida será transformada. E procuro
Ambas essas palavras gregas referem-se aos evitar essas alterações possíveis, mas por mim
principais assentos nas sinagogas ou aos lugares desconhecidas». (U m jovem, que escrevia para
principais em um banquete. A primeira diz respeito à Herbert Gray).
sinagoga, e a segunda aos lugares de honra nos A lição da vida. A vida inteira tem por fito ensinar a
banquetes. Parece que, nas sinagogas, havia uma lição que o ser de Cristo é «o primeiro e o último». Ele
espécie de banco circular em redor da arca, e de frente é a fonte originária de tudo; e ele é o alvo de tudo.
para a congregação. Esse era o lugar que os judeus Todos os seres, finalmente, serão levados a essa
gostavam de ocupar, em sua ostentação. concretização, mental e na realidade da vida.
«Eu sou o primeiro e o último. Primeiro por
criação, último por retribuição. Primeiro, porque an-
PRIMEIRO DIA DA SEMANA tes de mim nenhum Deus se formara; último, porque
Ver sobre o J>omIDae. após mim não haverá outro. Primeiro, porque todas
~coisas'procedemde mim; último, porque todas as
coisas são para mim; de mim procede o começo, até
mimchega o fim. Primeiro, porque sou a causa. da
PRIMEIRO E (JI,TIMO, TlTULOs DE CRISTO origem; último. porque sou o Juiz e o fim ... (Ricardo
Eu I0Il o primeiro e o á1dmo, Apo. 1:17. Isso de Silo Vítor). ',.'
equivale às palavras, «Eu sou o Alfa e o Omega», que No A.r. hâpaJavras proferidas por Deus,
são aplicadas a Deus Pai, no oitavo versículo, mas semelhantes a .estas proferidas por Cristo: c ••• ditas
também ao Filho de-Deus, em Apo. 21:6. (Quanto a para consolar a seu povo e remover seus temores»
379
PRIMEIRO - PRIMEIROS
(John Gill, in loc.), (Ver Isa, 41:4; 44:6 e 48:12). primeiros serão últimos.
Assim também as palavras de Cristo consolam à sua A mesma declaração (logos) se encontra em Mat.
igreja que sofre, repleta de mártires; porque visto que 19:30, mas a ordem das palavras é ligeiramente
ele «deu vida" (por ser o primeiro), com a mesma diferente entre as' duas passagens. Uma completa
certeza vencerá a morte e o sofrimento, dando vida explanação de todos os sentidos possíveis desse lagos
eterna (por ser ele o último). se encontra em Mat. 19:30 no NTI, que o leitor deve
examinar. É verdade que a obra do individuo não
depende inteiramente do tempo que ele despende na
PRIMEIRO IMPULSIONADOR mesma, pois a qualidade do serviço também se reveste
Esse é o Impablonador IDabalável de Aristóteles, o de grande importância. ler. Berak, ii.Sc, entre os
principio de todo movimento, desenvolvimento e escritos rabínicos, diz: «Assim também o rabino Bun
bar Chija, em vinte e oito anos, realizou mais do que
modificação. Esse Primeiro Impulsionador é concebi-
do como a origem de todo o movimento. A muitos eruditos estudiosos em cem anos». O sentido
necessidade da postulação de uma causa para o nessa declaração, neste contexto da parábola, não é
movimento conferiu a Tomás de Aquino um de seus que o galardão será igual para todos os «servos», quer
cinco argumentos para procurar demonstrar a entrem cedo, quer entrem tarde no serviço cristão. De
existência de Deus. Ver o artigo sobre os Cinco fato, o tom da parábola inteira é contrário à
Argumentos de Tomás de Aquino . igualdade. e favorece mais a desigualdade. O ponto
Fatos a Serem Observados: que Jesus deixou claro é que aquilo que os homens
1. O movimento envolvido não é o mero movimento podem considerar como base para ocupar o
fisico, de um lugar para outro. Antes, tal idéia envolve «primeiro» lugar ou a melhor recompensa, não
toda espécie de movimento, transformação e modifi- expressa, necessariamente, o que Deus reputa como
cação, como o crescimento biológico, ou o principio base de «primeiro» ou de «último» lugar. Segundo o
do próprio crescimento, e o movimento dos átomos, ponto de vista humano, os que entraram por último
dentro da matéria animada e inanimada. Além disso no trabalho, mui naturalmente seriam os últimos
o conceito inteiro de causa, que requer desenvolvi: quanto às recompensas; no entanto, tornaram-se os
mento, está envolvido nessa noção. «primeiros», pois seu galardão foi comparativamente
maior do que o periodo de tempo em que trabalharam
2. O Impulsionador Inabalável não se move e nem nos faria acreditar, Em termos gerais, e mediante o
muda, mas faz todas as outras coisas moverem-se, por uso desse ditado familiar, Jesus adverte-nos de que os
se,: amado. Supõe-se que Aristóteles, ao assim galardões, quer envolvam a vida eterna, a salvação
afirmar, estava usando uma expressão poética para o~ diversos graus de glória ou punição, poderão ser
indicar alguma força cósmica misteriosa e pouco dispensados de uma maneira extremamente diferente
compreendida pelos homens. Os crentes, quando daquela que esperaríamos. Em todas essas condições
usam esse argumento, não estão pensando na (vida eterna, salvação, graus de glória ou punição,
imobilidade de Deus, mas somente no fato de que ele etc.) haverá muitos «primeiros» que serão «últimos», e
não muda. Deus é o Impulsionador Inabalável, ao muitos «últimos» que serão «primeiros».
passo que outros seres, embora possam impulsionar,
são causados por Deus. fnterpfttaçilea Dlvenaa
Deus, como a causa do movimento, é o iniciador da 1. Alguns pensam que a referência feita por Jesus
própria existência da matéria, bem como o sustenta- não foi à recompensa individual e, sim, para as nações
dor da mesma. As duas coisas básicas à existência ou povos. Ensinam esses intérpretes que Jesus aludiu
fisica são a matéria e o movimento, ou melhor, a aos «gentios», que seriam os «primeiros», e aos
matéria em movimento, incluindo-se nisso até a «judeus», que seriam os «últimos».· Embora essa
própria teoria atômica. Explicamos a existência da interpretação encerre uma verdade possível, de
matéria afirmando que Deus foi a Primeira Causa conformidade com as idéias do cristianismo, face ao
que a criou. Ver sobre Causa Primária. Referimo-no~ fato .de que os judeus rejeitaram o seu próprio
a Deus como o Primeiro Impulsionador quando MeSSIas. a aplicação é claramente individual,
levamos em conta tudo quanto está envolvido no conforme o texto demonstra - o jovem rico era um
movimento. no crescimento, no desenvolvimento e na indivíduo. Foi como indivíduo que ele recusou ser
capacidade de sustentar aquilo que, no principio. foi discipulo de Jesus. Os doze também eram individues e
posto em movimento. Portanto, Deus é a inteligência foi como indivíduos que aceitaram o sacrifício próprio
que se interpõe entre as ações das partículas atômicas do discipulado cristão. Esses casos também nos
e o crescimento bic lógico de todas as variedades. Para for~ecem ilustrações _ acerca do principio aqui
Aristóteles, o movimento era inerente à matéria ensinado por Jesus. E provável que, à vista das
eterna; para Tomás de Aquino, o movimento foi autoridades religiosas da época, o jovem rico
imposto, por ocasião da criação, pelo Impulsíonador merecesse mais recompensas do que os doze. De fato,
(Deus), que existe fora da criação. Os deistas essas autoridades teriam dito que os doze eram
imaginam um mundo no qual o Impulsionador deu hereges e que só mereciam as penas do inferno, mas
corda, como se fosse um relógio, e então deixou-o a que o jovem rico, como membro respeitado em sua
funcionar por si mesmo. Os teístas, por sua vez. comunidade, merecia uma grande recompensa. À
supõem que um continuo movimento e desenvolvi- vista do Senhor Jesus, entretanto, isso constituiria
mento requerem uma continua intervenção divina. erro crasso; e certamente, em casos semelhantes, os
Para eles, a causa não é um acontecimento isolado no primeiros serão últimos, e os últimos serão primeiros.
inicio da criação; antes. é uma necessidade conti~ua. 2. Outros pensam que esse logos expressa duas
O trecho de Colossenses 1:17 parece ter algo assim em opiniões opostas - a dos homens e a de Deus. Os
vista, ao declarar que o Lagos (Cristo) é o poder que «primeiros», na opinião dos homens, são os «últimos»
mantém unido o universo inteiro, que o sustenta. na opinião de Deus. Essa idéia talvez seja razoável,
mas supõe que o pensamento humano sempre deve ser
contrário ao de Deus.
PRlMEtROS sERÃo OLTIMOS; OLTIMOS 3. Outros interpretam que as duas opiniões opostas
sERÃO PRIMEIROS se referem às opiniões do século presente em contraste
Mat. 20:16: Assim os últimos serão primeiros, e os às opiniões que prevalecerão no século vindouro.
380
PRIMEIROS - PRIMICIAS
Provavelmente, essa idéia ê razoável em parte. têm suas heranças espoliadas; mas, na existência
É claro que as opiniões que prevalecem agora vindoura, todas as desigualdades terrenas serão
podem ser reputadas erradas pela revelação do niveladas. Cristo é a divulgação de Deus acerca do
julgamento próprio ao século vindouro. Contudo, não caráter do julgamento final. ....
é mister que limitemos a interpretação a essa idéia. A passagémde Luc. 13:30 contém 'esse logos de
Jesus falou de modo geral sobre valores de serviço, Jesus, mas em um contexto diferente. Os vss. 29 e 30
mas provavelmente incluiu a idéia de que alguma dizem: "Muitos virão do Oriente e do Ocidente, do
recompensa não procede diretamente do mérito do Norte e do Sul, e tomarão lugares à mesa no reino de
serviço e, sim, da graça de Deus, que se baseia em Deus. Contudo, há últimos que virão a ser primeiros,
considerações que são da alçada exclusiva do Senhor! e primeiros que serão últimos... O vs 28 desse mesmo
Mas, de modo geral, essa interpretação parece ter capitulo de Lucas se refere a individuos "lançados
alguma razão. fora.., pelo que também este «logos» certamente alude
4. A interpretação de outros é que o ensino também à salvação e à regeneração. É indicada aqui a ..posição
pode incluir a idéia centralizada na parábola que se metafisica.. de cada um, isto é, a posição de cada
segue, que o tempo da chamada (ou seja, a duração individuo no estado eterno, no reino de Deus, na
do serviço) não garante uma recompensa maior. Os regeneração. (Ver os v:.s. 28 desse capitulo). No
trabalhadores que foram convocados mais tarde estado eterno, quando ~ julgamento, muitos dos
receberam a mesma recompensa dos que foram "primeiros.., segundo a ordem deste mundo, serão
chamados no principio do dia. Portanto, é possível ..últimos.., na ordem do reino celeste de Deus. Bruce
que a intensidade do serviço seja mais importante do apresenta um sumário das significações possíveis
que a duração do serviço. deste logos (in loc.); ..Este aforismo admite muitas
aplicações: Existem não somente muitas variedades
S. Considerando o caso do jovem rico, alguns sob cada categoria (de significação), mas, igualmente,
intérpretes têm ensinado que a interpretação do muitas categorias, como por exemplo: primeiro neste
trecho deve incluir a idéia de que este logos de Jesus mundo, último no reino de Deus (exemplificado pelo
também inclui as considerações de salvação e jovem rico e os doze); primeiro quanto ao 'tempo',
regeneração. O jovem rico era um dos ..primeiros» à último quanto ao poder e à fama (exemplificado pelos
vista de muitos; entretanto, de acordo com a doze e por Paulo); primeiro em privilégio, último na
aquilatação dos céus, sem dúvida figurava entre os fé cristã (exemplificado nos judeus e nos gentios);
..últimos». Nem ao menos era discípulo de Jesus ou do primeiro em zelo e sacrificio pessoal, último na
reino, e jamais se convertera. Iur conseguinte, esse qualidade do serviço, devido às influências profanas
logos deve ter uma ampla aplicação. Talvez indique o de motivos vis (falsa piedade, legalismo ou piedade
caráter da recompensa entre os crentes, ou pode evangélica falsa). Esse aforismo é adaptado a um uso
indicar o caráter da ação do Juiz Supremo, em sua freqüente, em diversas conexões, e poderia ter sido
aplicação a todas as suas criaturas. Portanto, quer utilizado pelo Senhor Jesus em ocasiões diversas•.
esteja em vista a recompensa ao serviço prestado pelos O emprego dessa citação no evangelho de Lucas
crentes, quer esteja em vista o juizo geral de todos os confirma essa idéia. No décimo terceiro capitulo de
homens, o principio ilustrado pelas palavras, ..muitos Lucas, onde aparece esse logos de Jesus, o autor desse
primeiros serão últimos; e últimos primeiros.., será evangelho vincula o logos com o texto que se refere à
finalmente demonstrado. Sabemos que essa é uma porta estreita e ao fato de que ..Nem todo o que me
verdade, sem importar se Mat. 20:16 a ensina ou não. diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus.....,
Mat. 20:16 indica que às vezes supomos que este que aparece em Mat. 7:21. ..Então direis: Comiamos e
mundo é um mero reflexo do mundo real. A luz dos bebiamos na tua presença, e ensinavas em nossas
céus haverá de lançar luz sobre o caráter, o mérito, os ruas». No paralelo de Mateus encontramos uma
motivos e o valor do nosso serviço. Judas Iscariotes, explicação mais completa. Essas mesmas pessoas
provavelmente, operou milagres na companhia dos dizem: «••• não temos nós profetizado em teu nome, e
doze apóstolos, mas finalmente se perdeu devido à sua em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome
ambição e desonestidade. Porém, sua alma nunca se .não fizemos muitos milagres.' (Mat. 7:22). Tanto
converteu. O ladrão na cruz, ao lado de Jesus, andou Mateus como Lucas registram a mesma resposta dada
neste mundo erradamente, mas ao morrer foi para o por Jesus: "Nunca vos conheci..... - Mateus: ..Não sei
paraíso. Nisso podemos contemplar a graça e a glória .donde vós sois ..... - Lucas. Jesus: ..Nunca vos
de Deus. No serviço cristão talvez aqueles que aqui conheci.. ... - Mateus. Ambos registram: "Apartai-
são os primeiros nos dons, serão os últimos na vos de mim, vós todos os que praticais iniqüidades•.
consagração desses dons. O jovem rico, sendo homem Neste texto, por conseguinte, encontramos uma
de importância, porquanto era Iíder e autoridade claríssima aplicação do logos de Jesus - Há últimos
religiosa em sua comunidade, abandonou tudo em que virão a ser primeiros; e primeiros que serão
troca das riquezas. André, porém, sendo homem últimos.
pouco conhecido e que a ninguém liderava, na
presença de Jesus Cristo encontrou a oportunidade de
obter uma grande recompensa. O êxito no serviço pRIMlClAs
cristão não é, «ipso facto.., garantia de recompensa Esboço:
futura. Alguns dirão, quando da prestação final de I. Caracterização Geral
contas, que fizeram grandes serviços em favor do 11. Coisas Especificas Envolvidas nas Oferendas
reino (como cristãos), mas Jesus lhes dirá explicita- 111. Oferendas e Cerimônias Envolvidas nas Primí-
mente: "Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os cias
que praticais a iniqüidade.. (Mat. 7:22). É provável IV. Usos Figurados
que esses obreiros de grandes obras tenham iludido a
muitos, e talvez até a si mesmos; mas em vista de I. c.r.ctedzaçIo GeaI
terem sido dos ..primeiros», em última análise serão Hâ duas palavras. hebraicas principais envolvidas, .e
dos ..últimos... Buttrick assevera (in loc.): "Quantos uma palavra grega, a saber: .
heróis serão descobertos quando do julgamento! 1. Bikkur, "primeiro fruto». Termo hebraico que
Agora mesmo há muitas reversões de veredictos aparece por dezoito vezes, conforme se vê, por
humanos. Aqui e agora os humildes por muitas vezes exemplo, em Êxo, 23:16,19; 34:22,26; Lev. 2:14;.
381
PRIMICIAS - PRIMICIAS DO EspIRITO
23:17,20; NÚm. 28:26; 11 Reis 4:42; Nee. 10:35; Eze. rua. Quando chegavam ao templo de Jerusalém,
44:30. aqueles que ofereciam os produtos recitavam o trecho
2. Reshith , «primeiro», «principal». Vocábulo de Deu. 26:3-10. Daquele momento em diante, os
hebraico usado por cinqüenta vezes no Antigo produtos tornavam-se propriedade da classe sacerdo-
Testamento, das quais por doze vezes tem o sentido de tal. Os que tinham trazido as primícias ficavam na
«primícias», a saber: Lev. 2:12; 23:10; Núm. 18:12; cidade durante a noite, e só voltavam a seus lugares de
Deu. 18:4; 26:10; 11 Crô, 31:5; Nee. 10:37; 12:44; origem no dia seguinte. Nem todas as pessoas tinham
Pro. 3:9; Jer. 2:3; Eze. 20:40 e 48:14. a obrigação de fazer a viagem. Aqueles que cuidavam
3. Aparché, «primeiros frutos», palavra grega das árvores, das plantações, dos rebanhos, etc., mas
utilizada por nove vezes: - Rom. 8:23; 11:16; que não eram proprietários dos mesmos, não
16:5; I Cor. 15:20,23; 16:15; 11 Tes. 2:13; Tia. 1:18 e participavam do cortejo. Aqueles que viviam na
Apo.14:4. Transjordânia, visto que, estritamente falando, não
Os preceitos leviticos acerca dessa questão tinham o pertenciam ao território que manava leite e mel, não
propósito de relembrar os homens sobre todas as precisavam apresentar-se (Deu. 26: 10-15). Os proséli-
coisas boas que lhes são dadas como presentes ou tos também traziam suas ofertas, mas não recitavam
dádivas, devolvendo-lhe algo em preito de gratidão. as Escrituras, visto que não eram descendentes «dos
Essa era uma prática boa e saudável. Aquele que nos pais» de Israel. Além disso, servos, escravos e
confere todas as coisas deveria ser reconhecido nas mulheres não tinham permissão de recitar as
vidas daqueles que são os beneficiários. As primícias, Escrituras, visto que não eram proprietários de terras
pois, eram ofertas de vários tipos. Eram oferecidas (Deu. 26: 10). Quanto a trechos biblicos que se
aos sacerdotes, como representantes do povo. Uma referem a esse costume, ver Deu. 26:2-11; Sal.
certa porção das primícias era sacrificada e a outra 122:1,2; Sal. 150; Lev. 19:23 S5; 23:15,20; Núm.
parte era usada pelos sacerdotes, que se ocupavam 18: 12; 11 CrÔ. 31 :5.
dos deveres religiosos e não produziam alimentos paree IV. UIIOS FIgurados
si mesmos. Por isso lemos em Êxo, 23:16,19: 1. Os patriarcas hebreus foram as primícias da
«Guardarás a festa da sega dos primeiros frutos do teu nação judaica (Rom. 11:16).
trabalho, que houveres semeado no campo, e a festa 2. Os hebreus foram as primícias do cultivo de Deus
da colheita... As primícias dos frutos da tua terra entre a humanidade, o seu povo peculiar, antes dos
trarás à casa do Senhor teu Deus... » Essa era uma das povos gentilicos terem sido reunidos a Silo (Jer. 2:3).
três festividades religiosas principais a serem observa- 3. As primícias do Espirito são as suas bênçãos e
das por todo o povo de Israel. Ver Lev, 23:9-14 quanto provisões espirituais, que produzem a filiação e,
a detalhes adicionais sobre a questão. Ao que parece, em conseqüência, salvação (Rom. 8:23).
essa festa começou a ser negligenciada após os dias de 4. Os convertidos à fé cristã são as primicias de uma
Salomão; mas foi revivida por Ezequias (11 Crô. 31:5; grande companhia de remidos, que representam a
Nee, 10:34,37; 12:44). Em um período de apostasia, colheita espiritual (Rom. 16:5; I Cor. 16:15).
em Israel, Eliseu sobreviveu em face do pão feito com
as primícias, bem como através da miraculosa 5. Os cento e quarenta e quatro mil, referidos em
multiplicação da farinha de trigo (11 Reis 4:42-44). Apocalipse 14:1-5, são primícias especiais dos
remidos, em tempos de grande provação.
Israel não foi a única nação antiga a ter tais 6. O próprio Jesus Cristo é as primícias da
costumes. As cerimônias das primicias provavelmente ressurreição, garantindo a ressurreição de todos os
originaram-se como um método tribal de proteger o remidos, por ocasião da segunda vinda de Cristo ou
suprimento de alimentos, além de ser uma maneira de parousia (I Cor. 15:20,23).
agradecer aos deuses ou espíritos, pela ajuda que
prestam no sustento das pessoas. Ofertas eram feitas
aos deuses, em diversas cerimônias, como também os PRIMlCIAS DO ESplRITO
sacerdotes que representavam esses deuses. Em Ver Rom, 8:23.
algumas culturas, os antepassados já falecidos
supostamente ajudavam a suprir as necessidades da Essas palavras podem ser melhor compreendidas se
tribo ou da familia e a eles eram apresentados desdobrarmos o que nelas está incluso, a saber:
presentes na forma de primicias. Nos lugares onde o 1. Certamente elas apontam de volta ao dia de
peixe e a carne eram o alimento principal, as Pentecostes e a tudo quanto isso deixa implicado para
oferendas eram dadas em forma dos primeiros peixes a igreja cristã.
apanhados e dos primeiros filhotes do rebanho. 2. A atual presença habitadora do Espírito Santo
Sacrificios humanos, em outras culturas, faziam parte (segundo vemos em Rom. 8:9).
das oferendas em primícias. Santuários, lugares 3. Os dons do Espirito Santo, que são veículos da
santos, templos e outras instalações de cultos expressão cristã (ver o décimo segundo capitulo desta
religiosos com freqüência eram sustentadas pelas epístola aos Romanos),
oferendas de vários tipos. 4. A regeneração e a santificação progressiva do
n. Co.... FApedflcas .... Oferenclu Oferendas Espírito, que alça o sistema da graça divina acima do
1. Homens e animais (ver sobre Primogênitos), sistema da lei, e mostra-nos que só através da graça
Êxo, 13:2. divina é que a regeneração poderia ter lugar, assim
2. A produção agrícola C~xo. 22:29). realizando o que a lei mosaica não podia cumprir (ver
3. O produto do labor humano, como a farinha de os capítulos sexto a oitavo desta epístola aos
Romanos).
trigo, o azeite, o vinho, os cereais em. geral, o gado
criado (Êxo, 34:18,22; Lev, 23:16-20; 11 CrÔ. 31:5). S. Por conseguinte, temos assim uma «adoção» de
filhos; embora essa ainda não tenha atingido o ponto
W. Oferenclu e Cedm.&nIu En~oIndM .... da total fruição. Essafruição espera pela redenção do
PrImIeIu corpo, o que, no vocabulário de Paulo, indica a
As primicias de todas as sortes eram levadas a ressurreição (ver o artigo separado). Os crentes, por
Jerusalém em meio a grande pompa e cerimônia. enquanto, precisam carregar consigo ainda os seus
Todo o povo de um dado distrito reunia-se em um dia corpos mortais não-redimidos, os quais são usados,
marcado, em alguma cidade, em alguma praça ou com extrema facilidade, pelo pecado, e não pela
382
PRIMICIAS - PRIMOG:ENITO
justiça, conforme também nos esclarece o sexto primos são os filhos e as filhas de algum tio ou tia.
capitulo desta epistola. E a adoção completa só Todavia, na linguagem moderna, o termo também é
ocorrerá quando nosso corpo for igualmente remido, usado para indicar um parentesco devido a ascenden-
não deixando oportunidade alguma para a operação tes comuns, ou até mesmo em expressões como: «Os
do duplo principio do pecado-morte. tupis e seus primos guaranis».
O major D.W.Whittle declarou: «A dificuldade que A lingua hebréia não tinha uma palavra especifica
há com a maioria dos crentes é que eles não estão para indicar esse grau de parentesco, pelo que os
dispostos a gemer! Não se dispõem a enfrentar hebreus usavam circunlocuções como: «filho do irmão
constantemente o fato de que estamos 'em um de teu pai». Mais freqüentemente, era usada a palavra
tabernáculo', o nosso corpo terreno, no qual que significa «parente», embora essa deixe de
gememos, sentindo-nos sobrecarregados; para que especificar o grau e a natureza do parentesco. No caso
assim possam anelar pela vinda de Cristo, que lhes dos direitos e heranças, havia certos privilégios dos
redimirá os corpos. A maioria dos crentes se cansa e primos, segundo se vê em Núm. 36:11 e ler. 32:7-12.
anela pela morte. pela perda do corpo. o que não faz Nos tempos do Antigo Testamento, com freqüência os
parte integrante da esperança cristã. Ou então, a fim primos casavam-se com suas primas, o que não era
de sentirem satisfação. voltam-se para algumas coisas proibido pelas leis leviticas sobre o casamento. No
próprias deste mundo pobre, miserável e moribundo. Novo Testamento, a palavra grega suggenis, que
Ou ainda procuram 'erradicar' o pecado de seus algumas versões traduzem por «primo», pode signifi-
corpos». car somente «narente». No grego clássico, essa palavra
Adoção. Ver o artigo a respeito. significa «relacionado com». Tal palavra também
No presente versículo, a adoção dos «filhos de pode significar «compatriota» ou -concidedãos, Em
Deus» é vista no que diz respeito à sua fruição, ou algumas traduções, Barnabé é chamado primo de
seja, na redenção do corpo. o que levará a Marcos, em Cal. 4: 10 (conforme se vê em nossa versão
personalidade humana inteira, corpo espiritual, portuguesa). Ali, o termo grego usado é anepsiôs,
mente e alma para receber a influência do Espírito «primo». Portanto, equivocam-se as traduções que
que expurgará, finalmente, tudo quanto pertence dizem ali «sobrinho». Jesus e João Batista, aparente-
à natureza do «velho homem». Ora. premidos pelo mente, eram primos de segundo grau (Luc. 1:36); mas
corpo mortal que carregamos, e que tão facilmente se a palavra grega ali usada, suggenis, é indefinida,
presta a servir de instrumento do pecado, ante as mais impossibilitando a determinação do parentesco exato
leves tentações. nós gememos e sofremos dores de que havia entre eles. .
parto, sabendo que esse conflito só chegará ao
término quando o Espirito Santo ressuscitar o nosso
corpo, já remido e espiritualizado,
PRIMOGlNITo
Esboço:
PRIMITIVISMO I. Considerações Humanas
Os historiadores e os filôsoros costumam ponderar H. Considerações Animais
sobre o que se sabe ou o que se imagina acerca dos IH. O Termo «Primogênito" Aplicado a Cristo
estados primitivos do homem e da sociedade; e dai
extraem várias conclusões. Rousseau (vide) não IV. Usos Figurados
acreditava que a vida primitiva fosse pior do que a I. CO.....dençIe. Human-
moderna, mas supunha que o ideal seria uma simples A palavra hebraica correspondente, bekor, que tem
vida comunal, entre os dois extremos. O marxismo algumas formas variantes. como bekirah e bakar,
imagina ingenuamente que os selvagens primitivos vem de uma raiz que significa «irromper... uma alusão
viviam em uma espécie de unidade comunal ao processo do nascimento. ocorre por cerca de cento
bem-aventurada, pelo que teriam algo para ensinar- e vinte vezes no Antigo Testamento, com suas
nos sobre como devemos viver. E certos fi16sofos, variantes. desde Gên. 4:4 até Zac. 12:10. No grego
como Lévy-Bruhl; têm pensado que o homem temos uma única palavra, protôtokos, empregada no
primitivo atuava em um nivel pré-lógico. e que esse Novo Testamento por oito vezes. em Luc. 2:7; Rom.
elemento continua fortemente atuante entre os 8:29; Col. 1:15,18; Heb. 1:6; 11:28; 12:23; Apo. 1:5.
homens modernos. E o substantivo. prototákia, aparece por uma vez. em
Muitos pensadores têm imaginado que a civilização Heb. 12:16. A derivação desse vocábulo grego é
só tem trazido degradação e corrupção, e que as importante, sobretudo quando aplicado a Jesus.
sociedades primitivas eram melhores que as atuais. Procede de duas outras palavras gregas, prôtos,
Porém, isso é uma fantasia, não concordando com «primeiro», e tikta, «dar à luz». Essas palavras. no
aquilo que a arqueologia revela. Todas as sociedades hebraico ou no grego, eram usadas a respeito de seres
primitivas tinham sua boa parcela de degeneração. humanos ou de animais.
Ao que parece, a maioria das pessoas supõe que a Em Israel. Um filho primogênito do sexo
civilização tem feito algo para melhorar as condições masculino, em todas as familias de Israel, bem como
de vida dos homens. Parece que um maior o primogênito de todos os seus animais, eram
conhecimento das coisas tem melhorado certos consagrados ao Senhor, em comemoração ao juizo
aspectos da conduta e da maneira de pensar dos com que Deus castigou os primogênitos do Egito. Ver
homens, embora não tenha sido obtida qualquer coisa Êxo, 13:2. Várias provisões da legislação judaica
parecida com uma regeneração da humanidade. O conferiam privilégios especiais aos filhos primogêni-
que parece seguro é que a fé religiosa tem progredido tos:
quanto ao seu conteúdo e aos seus conceitos, com a 1. Um primogênito recebia uma dupla porção da
passagem dos séculos. Uma série de revelações divinas herança. - ou das propriedades do pai da
tem-se encarregado disso. familia (Deu. 21:17). Isso constituia o seu direito de
primogenitura. Contudo, esse direito podia ser
transferido. Ver Gên.21:15-17;, 25:31,32.
PRIMO 2. O filho mais velho oficiava como sacerdote da
De acordo com o uso moderno da palavra, os família, na ausência do pai. ou quando o pai falecia.
383
PRIMOO:mNITO
Posteriormente, essa função sacerdotal foi transferida Filho de Deus por excelência e nós somos os filhos de
para os homens da tribo de Levi, formando-se assim Deus. Nesse sentido, ele é o primeiro no senso de
um sacerdócio formal. Ver Núm. 3:12;18; 8:18. Em preexistência, ao passo que nôs outros vamos
resultado, os primogênitos das outras onze tribos de surgindo no decurso do tempo. Essas são as idéias que
Israel eram redimidos, sendo apresentados ao Senhor devemos ter, quando lemos sobre Cristo como
quando tinham um mês de idade, pagando uma soma «primogênito da criação», e não que ele foi o primeiro
que não excedia a cinco ciclos (Núm. 18:16). Esse Ser criado. Jesus não faz parte da criação, pois ele é o
dinheiro da redenção era entregue a Aarão e seus próprio Criador: «Todas as causas foram feitas por
filhos, como compensação pelos primogênitos, que intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez»
pertenciam ao Senhor (Núm. 3:40 ss), Mesmo assim, (João 1:3).
todos os filhos primogênitos eram apresentados de 2. Cristo é o Primogênito Dentre os Mortos. Ver
modo especial ao Senhor e, presumivelmente, tinham Colossenses 1:18 e Apocalipse 1":15: Esse ensino não
elevados deveres a cumprir (Luc. 2:22), mesmo indica que Cristo foi o primeiro a ressuscitar da morte
quando o Senhor Jesus já estava na terra. Essa biol6gica, pois muitos outros ressuscitaram antes
quantia indicava que tal pessoa não era obrigada a dele, e ele mesmo ressuscitou a muitos, nos dias de
servir como sacerdote, compensando pelos serviços seu ministério terreno. Mas significa que ele foi o
que ela poderia prestar, mas não prestaria. Contudo, primeiro a experimentar à morte e então voltar à vida
reiteramos que a cerimônia vinculada à questão com uma nova modalidade de vida, revestido de
também relembrava o fato de que os primogênitos de imortalidade em seu próprio corpo. Na qualidade de
Israel haviam sido poupados, ao passo que os Lagos eterno, Jesus Cristo já era plena divindade;
primogênitos dos egípcios pereceram todos na décima mas, quando de sua ressurreição, o seu pr6prio corpo
praga do Egito. Quando um menino primogênito tinha humano foi divinizado, isto é, veio a participar da
treze anos de idade, jejuava no dia anterior à Páscoa, natureza divina. Os filhos de Deus, remidos pelo
em comemoração ao fato de que os primogênitos do sangue de Cristo, haverão de receber essa nova
povo de Israel haviam sido poupados no Egito. natureza, essa imortalidade no corpo, quando da
ll. CoasIdenç6ea Anlm." ressurreição dos santos, no último dia. Isso incluirá a
Os primogênitos de todos os animais limpos eram participação na própria natureza divina, como
usados em sacrificio ou holocausto ao Senhor (Êxo, verdadeiros filhos de Deus que eles já são, mas não no
13:2), E os primogênitos dos animais imundos (que corpo, por enquanto. Ver 11 Ped. 1:4; Cal. 2:10; Rom,
não podiam ser servidos como alimento) podiam ser 8:29 e 11 Cor. 3:18. Esse ensino tem paralelo na idéia
remidos com a adição de uma quinta parte de seu bíblica de que Cristo é «as primícias dos que dormem»
valor, conforme os sacerdotes determinassem (Lev, (I Cor. 15:20). As primicias eram os primeiros frutos
27:13). De outra sorte, teriam de ser vendidos, <file amadureciam na colheita. Só mais tarde era feita
trocados ou destruidos (Êxo. 13:13; Lev, 27:27). a colheita por inteiro. Cristo já foi colhido; no tempo
Supõe-se que os cães nunca eram redimidos (Deu. certo, haveremos de ser colhidos também. No
23:18). No entanto, quando uma pessoa devotasse Apocalipse, entre outros símbolos, esse fato aparece
qualquer coisa ao Senhor, tal coisa não podia ser como a ceifa. «Olhei, "e eis uma nuvem branca, e
redimida e nem usada para beneficio pessoal. sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de
m. O Termo «PrIm.....to» ApDcado • Crillto homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro, e na
mão uma foice afiada... E aquele que estava sentado
No Novo Testamento, a palavra portuguesa sobre a nuvem passou a sua foice sobre a terra, e a
«primogênito» é aplicada principalmente a Jesus terra foi ceifada» (Apo. 14:14-16).
Cristo. Trata-se de um titulo messiânico, sugerido
desde Salmos 89:27: «Fâ-Io-ei, por isso, meu 3. Cristo é o Primogênito Entre Muitos Irmãos.
primogênito, o mais elevado entre os reis da terra». Essa é uma maneira mais direta de afirmar o que já
Há vários sentidos em que Cristo é o «primogênito», foi dito no segundo ponto, acima. Cristo é o Irmão
teologicamente falando, a saber: mais velho, dentro da familia divina. Essa familia,
quando inteiramente recolhida no céu, consistirá de
1. Cristo como Primogênito de Toda a Criação. filhos ressurrectos e imortais de Deus. Aos crentes é
Esse ensino figura em Colossenses 1:15. Os antigos conferida a condição de filhos, ou seja, herdeiros.
arianos agarravam-se a esse ensino, dizendo então Destarte eles fazem parte da grande assembléia
que Cristo era apenas um ser criado, posto que a celestial dos filhos de Deus. Ver Heb. 12:23 e Rorn.
primeira de todas as criações de Deus. Isso já havia 8:1455.
sido dito, de certo modo, pelos mestres gnôsticos, E
até hoje é a posição de alguns, como, por exemplo, as 4. Jesus Era o Filho Primogênito de Maria. Isso
Testemunhas de Jeová. Se o resto do Novo ocorreu mediante um milagre único de Deus, que os
Testamento não nos brindasse com quaisquer te6logos chamam de partenogênese (que vede), (ver
definições cristol6gicas, então a palavra «primogêni- Mal. 1:25; Luc. 2:7). Foi assim que teve começo o
to» teria de significar exatamente isso. Porém, visto ministério encarnado do Filho de Deus.
que a Biblia também ensina que Cristo é o Lagos IV. U... Flprados
eterno (João 1:1,2), temos de buscar algum outr-o 1. O termo prlm.Wto denota também aquilo
sentido. Assim, aprendemos que Cristo é o «primogê- que é supremarnente excelente, capaz de prestar
nito» por ser o primeiro a pertencer à espécie humana serviço especial a Deus. Isso pode ser aplicado
espiritual, o protótipo de todos os remidos, cuja especialmente à pessoa de Jesus Cristo, conforme
imagem será neles impressa, com perfeição, quando vimos no terceiro ponto, acima. Mas também é uma
da ressurreição e glorificação dos santos. Além disso, idéia implicita na doutrina geral dos primogênitos, no
Cristo é o primeiro em termos do tempo, visto que ele tocante a homens e a animais.
existiu antes de todos, desde a eternidade, o que não 2. Os «primogênitos dos pobres» são aqueles que
requer a idéia de começo. Agregue-se a isso a idéia de são extremamente carentes, devido à sua extrema
que Cristo é o primeiro em poder, proeminência e pobreza (Isa. 14:30).
autoridade, dentro da familia divina, o que, 3. O «primogênito da morte», referido em J6 18: 13,
novamente, não subentende qualquer idéia de é a própria morte, que é atormentadora, miserável e
começo. Outrossim, Cristo é o primeiro de uma maldita. E as enfermidades são consideradas filhas da
grande série de filhos espirituais de Deus. Ele é o morte.
384
PRIMOG~NITO - PRINCIPADOS
PRIMOG2NITO, CRIsTO COMO O superior aos aeons, No dizer de Veare (in loc.), «... a
sua ressurreição inaugura uma nova vida para o
Ver o artigo -geral sobre PrImoafaIto, seção 111. homem, uma vida que passou pela morte mas
emergiu vitoriosa, a vida eterna".
PRIMOG2NITo, JESUS COMO
-Corno aplicação local, visto que o livro de
I. Segundo Co/. 1:15: o qual é imagem do Deus Apocalipse foi escrito à igreja cristã, quando esta
invistvel, o primogênito de toda a criação. sofria perseguição, numa época em que houve muitos
De acordo com Justino Mârtír, aponta para a mârtires, esse titulo dado a Cristo equivale ao que se
divindade de Cristo, em contraste com a sua lê em Apo. 2:10: «Sê fiel até à morte, e
humanidade (ver Trifo ; capo 84). Tertuliano (c. dar-re-ei a coroa da vida».
Praxeam. 7) refere-se à igualdade entre o Filho e o Uma possivel metáfora. possivel que a morte seja
Ê
Pai, por decreto divino, utilizando-se desta passagem. vista aqui como um «ventre feminino». Dali é que
Ele é tanto o «primogênito» como é o «unigênito». Isso surge uma nova forma de vida. O que parecia ser
pode ser comparado com o que diz Teófilo, bispo de horrendamente final, tornou-se o novo nascimento,
Antioquia (contra Márcion, v.19), do segundo século uma nova vida. Na ressurreição, assim sendo, Cristo
de nossa era, que usou esta passagem ao defender a foi declarado Filho de Deus (ver Rom, 1:4). Seus
tese que, antes de haver qualquer criação, Deus Pai privilégios, dentro do favor divino, ele compartilha
tinha a Palavra como seu conselheiro; e quando a plenamente com outros filhos, que compartilham de
idéia da criação foi concebida, então a Palavra fvi sua vida ressurrecta.
«gerada» (por decreto divino), na qualidade de Ver o artigo separado sobre ressurreição.
«primogênito».
Novaciano (de Trin, capo 16), do terceiro século de
nossa era, ao referir-se à Col. 1:15, diz que Cristo é o PRINCIPADOS
unigênito por ser divino; porque na qualidade de
Verbo Divino, em relação ao Pai, era o unigênito, Provavelmente é verdade que a grande hierarquia
mas que a criação subseqüente "de outros seres fez dele de anjos, de diferentes poderes e dignidades, tenha
o «primogênito». Portanto, esse é um titulo que indica sido uma idéia tomada por empréstimo da religilo
posição, e não começo no tempo, embora essa persa, tendo passado dai para o judaísmo helenista, e
«relação» com o mundo tenha começado dentro do dai para o cristianismo. Apesar de que essa questio
tempo. Porém, o que é dito acerca da relação, não possa ser exagerada, não hâ razão alguma para
pode ser aplicado ao seu ser essencial, que não teve duvidarmos da existência de uma grande hierarquia
princípio. Hilário (de Trin, viii.SO) fazia esse termo de poderosos seres espirituais, tanto bons quanto
aplicar-se à «eternidade» de Cristo, como uma maus.
afirmação da mesma. Atanásio e alguns outros dos A palavra principados vem do termo grego arché,
primeiros pais da igreja, aludiam à condescendência «primeiro», tendo o sentido de «governo», «magístra-
de Cristo ao usar o vocábulo primogênito, mediante o tura-. Paulo empregou a palavra para indicar
que ele se tornara o mais velho entre muitos irmãos elevados poderes demoniacos, investidos de podei.
(ver Rom. 8:29), como se isso se referisse à criação Ver Rom. 8:38; I Cor. 15:24; Efé. 1:21; 3:10; 6:12;
nova ou espiritual. (Ver Arota. iLc.Ariar, pâg. 419, Col. [:16; 2:10,15; Tito 3:1. A posição ocupada por
§62). Como homem, Cristo é o primeiro que foi essa palavra, dentro da lista de poderes, parece
elevado para que participasse da divindade; mas indicar alguma elevada ordem de poderes angelicais
muitos outros - os remidos, se seguirão a ele (ver ou demoniacos; porém, não há qualquer certeza
Col. 2:10; Efé. 3:19 e 11 Ped. 1:4). quanto a isso. O trecho de Col. 1:16 refere-se ao fato
de que esses principados foram criados sob a
Este versiculo breve e, aparentemente simples, tem autoridade do Lagos, a quem estio sujeitos e para
provocado muita e diversificada literatura, na qual quem existem. Ver o artigo geral sobre os Anjos.
algumas idéias em conflito são expressas. Pelo menos
é evidente que a grandeza e a proeminência de Cristo A angelologia ocupava importante posição dentro
são aqui salientadas. do sistema do gnosticismo (vide), visto que seus aeons
(ordens de seres angelicais) eram vistos como
11. Primogênito dos mortos em Cal. 1:18 e Apo. 1:5 mediadores entre Deus e os homens, e cuja função era
Em Col. 1:18, Cristo como o primogênito expressa a distanciar Deus deste mundo material corrupto. Essa
décima das onze superioridades de Cristo alistadas no doutrina minimizava a autêntica deidade de Cristo. A
contexto. Paulo enfatizou essas superioridades contra refutação de tal doutrina era necessãria; e essa é a
doutrinas gnôsticas que diminuiram a posição de idéia por detrás de algumas passagens da epistola aos
Cristo na economia divina. Em Col. 1:18, a nova Colossenses que falam sobre a pleroma (vide). Ali a
criação está especificamente em foco. Cristo morreu deidade acha-se concentrada na pessoa de Cristo, e
como homem, mas a ressurreição lhe restaurou uma não em alguma grande hierarquia de espiritos
vida nova, superior, imortal, a própria espécie de vida angelicais. Ver Cal. 2:9,10. Para os gnósticos, porém,
que Deus tem. Mediante a ressurreição, pois, a pleroma compunha-se da interminâvel hierarquia
tornou-se o primeiro homem imortal de Deus, o de seres angelicais, que teriam algo da glória divina,
Deus-homem. Assim sendo, ele é as «primícias» da em grau descendente.
grande colheita, em que muitos outros receberão a
mesma natureza. Cristo é o «primogênito» de todos Esse vocábulo pode ser igualmente usado para
quantos nasceram dentro dessa vida eterna, dessa indicar anjos bons e maus. (Ver Cal. 1:16 e 2:15
natureza celestial. A ressurreição, por assim dizer, foi quanto aos «anjos bons»; e ver I Cor. 15:24 e Efé.
sua mãe, o poder que lhe deu essa vida. E a nossa 6:12, quanto aos «anjos maus»), O trecho de Efé. 1:21
ressurreição também será nossa mãe, outorgando-nos parece utilizar-se do termo «principados" de maneira
a mesma vida e destino que ele tem. O fato de que geral, incluindo em uma referência geral tanto os
Cristo é o primogênito subentende que se seguirão anjos bons como os anjos maus. Alicerçados nas
mais nascimentos dessa mesma sorte, e disso é que diversas alusões aos "principados», parece-nos que
consiste a mensagem da redenção. Paulo mostra que a está "em foco a ordem mais elevada dos anjos. O
vida só pode ser antecipada em Cristo, e não em judaismo corrente nos dias de Paulo pensava em
algum poder angelical, no que se vê que Cristo é muitos agrupamentos e ordens de anjos; e, com base
386
PRINCIPADOS - PRINCIPE
nos escritos desse apóstolo vemos claramente que ele Jerusalém.
concordava com essas idéias, pelo menos de forma 5. Os pais da sinagoga, que provavelmente eram
geral, embora não saibamos dizer, com base nesses idênticos aos «anciãos», um termo geral que se refere
mesmos escritos, quais os seres angelicais que ele aos anciãos que ocupavam diversas posições de
considera maiores ou menores. autoridade já descritas.
• Não há dúvida, entretanto, que Paulo diz, em 6. As mães da sinagoga, provavelmente análogas às
Rom, 8:38, que os seres angelicais, superiores ou viúvas e diaconisas da primitiva igreja cristã, as quais,
inferiores, bons ou maus, não têm capacidade alguma entre os judeus, eram chamadasnomomatheis, ou
de tocar na vida dos crentes ou armar-lhes obstáculos, seja, «estudantes da lei». De modo geral, as mulheres
jamais podendo desfazer o elevado destino que os eram consideradas indignas de aprenderem a lei
remidos têm em Cristo, o que fica garantido pelo seu mosaica, e os fariseus chegavam mesmo a disputar
amor. Tais poderes espirituais, entretanto, ultrapas- sobre essa questão, afirmando que as mulheres são
sam em muito à força e resistência de qualquer destituídas de alma. Não obstante, algumas mulheres
homem mortal, mas, apesar disso, não podem fazer se distinguiam de tal maneira que era mister dar-lhes
qualquer dano ao crente. Todavia, o destino dos algum' reconhecimento. (Quanto à posição das
crentes é que finalmente eles ascendam muito acima mulheres, na antiga sociedade judaica, ver as notas
dos poderes angelicais, tanto em sua natureza expositivas sobre João 4:27 no NTI). Todavia, na
essencial, por estarem. transformados segundo a opinião do Dr. A. Edersheim, uma autoridade
imagem de Cristo, como em seu poder real, moderna, universalmente reconhecida, sobre a cultu-
porquanto estão destinados a ser a «plenitude daquele ra judaica, que viveu no século passado, os titulas
que enche tudo em todas as coisas» (ver Efé. 1:23), o «pai» e «mãe» da sinagoga não implicavam em função
qual está infinitamente mais elevado que todos esses alguma, mas eram antes títulos honrosos dados aos
poderes, o que significa que o crente assim será membros mais antigos das sinagogas, que continua-
igualmente. Além disso, os crentes são «filhos de vam dando bom exemplo às gerações mais jovens.
Deus», os quais estão sendo conduzidos à glória, o que Esses títulos foram encontrados em inscrições que
não pode ser dito a respeito dos anjos (ver Heb. 2:10). falam de pessoas de idade extremamente avançada,
Alguns intérpretes pensam que a palavra «principa- entre os oitenta e os cento e dez anos de idade.
dos», neste caso, indica os magistrados «civis» e 7. Um outro grupo distinguido era o dos
«terrenos»; porém, parece mais certo interpretarmos comerciantes ricos, muitos dos quais exerciam
que todas essas três palavras; «anjos», «principados» e considerável influência sobre as comunidades judai-
«poderes» referem-se a seres não-materiais, sobrena- cas, ainda que não de forma oficial, nas sinagogas.
turais, mais elevados em seu ser essencial que o (Ver Josefo, Vida, capo 3, que cita um certo
homem. «Aliturius», que, aparentemente, pertencia a essa
categoria. Aliturius exercia influência até mesmo
sobre Nero).
PRINCIPAIS DOS JUDEUS
Atos 28:23: Havendo-lhe eles marcado um dia,
muitos foram ter com ele à sua morada, aos quais PRINCIPAL DA SINAGOGA
desde a manhã até a noite explicava com bom No grego, arclulan'aoeos. Essa palavra é usada por
testemunho o reino de Deus e procurava persuadi-los nove vezes: Mar. 5:22,35,36,38; Luc. 8:49; 13:14;
acerca de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos Atos 13:15; 18:8,17. Era o homem que cuidava da
profetas. parte material e do arranjo dos cultos na sinagoga. O
Os principais dos judeus voltaram a Paulo, a fim de seu equivalente moderno seria presidente da sinago-
que houvesse aquela conferência marcada, e provavel- ga.
mente trouxeram consigo outras pessoas interessadas. Diversos homens, que serviam nessa ocupação, são
A nata da sinagoga judaica da cidade de Roma nomeados ou mencionados no Novo Testamento.
achava-se presente, e isso deu ao apóstolo Paulo uma Jairo. pai da garota de doze anos de idade que foi
excelente oportunidade de pregar a Cristo, a quem ele devolvida à vida pelo Senhor Jesus (ver Mar. 5:22-43;
considerava como a personificação mesma da cf. Mat. 9:18-26 e Luc. 8:40-56). Um homem cujo
esperança de Israel. Os principais entre os judeus (ver nome não é dado, e que se mostrou indignado ante o
outra referência a eles no décimo sétimo versículo fato de que Jesus curara uma mulher aleijada em dia
deste capítulo), incluiam as seguintes personalidades: de sábado (ver Luc. 13: 10-1 7). Aqueles que
1. O chefe ou presidente da sinagoga, que no grego permitiram que Paulo e Barnabé falassem à sinagoga
tinha o titulo de archisynagogos . Esse titulo é de Antioquia da Pisídía (ver Atos 13:15). Crispo,
confirmado por diversas evidências arqueológicas e chefe da sinagoga de Corinto, que veio a confiar em
referências literárias. Certa inscrição, encontrada em Cristo ante a pregação de Paulo ali (ver Atos 18:8). E
Cápua, que atualmente se acha no museu Laterano, Sóstenes, também um dos líderes da sinagoga de
contém tal vocábulo. Corinto, que foi espancado quando Gálio recusou-se a
2. Os archontes , ou seja, os governantes do povo. E: ouvir as falsas acusações feitas pelos judeus
possivel que esses fossem assistentes do presidente da incrédulos contra Paulo (ver Atos 18:17). Muitos
sinagoga, embora, em alguns casos, tal termo fosse acreditam que ele é o mesmo Sôstenes, posteriormen-
usado como sinônimo para «presidente da sinagoga», te mencionado, em I Coríntios 1: 1, pois, com a
conforme vemos no primeiro ponto, acima. O passagem do tempo, também veio a crer em Cristo,
cemitério dos judeus, em Roma, que ficava a leste da embora as Escrituras não façam qualquer ligação
via Apia, tem fornecido algumas provas arqueológicas entre os dois.
sobre esse titulo.
3. Os escribas, que no grego eram chamados
grammateus . Ver o artigo sobre Escribas. PR!NCIPE, PRINCESA
4. Os gerousiarchai, ou seja, diretores do senado O fato de que nada menos de quinze diferentes
judaico, que era um corpo judicial, e que, em alguns palavras hebraicas são assim traduzidas, alerta-nos
lugares, como em Alexandria, no Egito, tinha o para a percepção que essas palavras cobrem um
direito de legislar independentemente do sinédrio de campo muito amplo. Quase todos esses vocábulos
386
PRINCIPE - PRINCIpIO
estio ligados a idéias de liderança, sobre grandes começo as coisas que estão fora de Deus. Os m6rmons
agrupamentos humanos, como uma comunidade ou aceitam o antigo ponto de vista dos gregos da
uma nação. Mas também estão envolvidas idéias de eternidade da matéria, fazendo de Deus apenas um
menor alcance, como «Uder. ou «capitão•. Planejador e Organizador, mas não um Criador
1. Algumas Palavras Yeterotestamentérias e Seu absoluto. Mas o ponto de vista da Biblia é que houve
Uso, traduzidas por «príncipe» ou «princesa•. Os tempo em que somente Deus existia, o que é um
termos sátrapa (lehahathrapavan) e fratama, que grande mistério. Por exemplo: «Onde estavas tu,
indicam alguma pessoa destacada, foram tomados por quando eu lançava os fundamentos da terra?.. (Jô
empréstimo do persa. Ver Dan, 3:2. O termo 38:4).
aramaico'ahasdarpan é empregado em Dan. 1:3. O O conceito de criação ex nihilo (do nada)
acádico sarru, «rei», referia-se a algum elevado oficial dificilmente pode ser correto, pois. do nada, nada
entre povos não-israelitas (ver Gên, 12:15; 19:11,13; pode vir. Antes, a energia divina esteve envolvida em
Jer. 25:19). Sar é termo usado para indicar o Messias. alguma forma de transformação de energia em
em Dan, 8:25; mas também anjos guardiães, em Dan, matéria. Essa idéia é claramente descrita em Hebreus
10:13.21 . O termo hebraico nasi é um vocábulo 11:3, embora não em termos cientificos (ver notas
usado para indicar algum lider, chefe ou príncipe, completas a respeito. nessa referência, no NTI).
sendo usado para indicar os chefes de Israel (ver Quanto ao ato de criação, ver também os trechos dé
Núm. 1:16. 44; 7:2; 10:4; 16:2). Sal. 33:7,9; Amôs 4:13; Rom. 4:17; Heb. 11:3; João
2. No Novo Testamento. Temos a considerar ali três
termos gregos:
a. Archeg6a, «lider., -autor», «pioneiro... Ver Atos
°
1:1 as.
termo grego arché envolve as idéias de «começo..,
-príncípios elementares.., «origem.., «primeira causa...
3:15; 5:31; Heb. 2:10 e 12:2. Em Atos 3:15 e Heb. «autoridade», etc. No trecho de João 1:1 lemos: «No
2:10, o termo é aplicado à pessoa de Cristo. principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o
b. Archon. «potentado.., «autoridade... «principe•. Verbo era Deus». Isso mostra que o Verbo (no grego.
Esse termo é aplicado a várias pessoas como os lideres Lagos, «palavra», «idéia»);á estava no principio com
dos gentios, Cristo. Satanás e os poderes demoníacos. Deus. o que mostra que Ele é coeterno com o PaL
Ocorre por trinta e seis vezes: Mat. 9:18,23.34; 12:24; Isso é contrário à idéia gnôstica (atualmente ensinada
20:25: Mar. 3:22; Luc. 8:41; 11:15; 12:58; 14:1; pelas Testemunhas de Jeová) de que o Lagos foi o
18:18; 24:20; 28:13.35; João 3:1;' 7:26.48; 12:31,42; primeiro ser criado por Deus, ou sua primeira
14:30; 16:11; Atos 3:17; 4:5.8.26 (citando Sal. 2:2); emanação, e que então o Logos criou todas as demais
7:27,35; 13:27; 14:5; 16:19; 23:5 (citando Exo.22:27); coisas. Ver o artigo sobre o Logos, Em Apocalipse
Rom. 13:3; I Cor. 2:6.8; Efé. 2:2; Apo. 1:5. 3:14. Cristo é chamado de «••• principio da criação de
c. Egem6n, «chefe», Palavra usada por dezenove Deus», onde o vocábulo grego arché sem dúvida
vezes: Mat. 2:6 (citando Miq. 5:1); 10:18; 27:2.11.14. indica «originador», e não que Cristo foi o primeiro ses'
15.21.27; 28:14; Mar. 13:9; Luc. 20:20; 21;12; Atos criado por Deus. (Ver esse versiculo nas notas
23:24,26~33; 24:1,10; 26:30; I Pede 2:14. E o verbo completas do NTI).
correspondente, egéomai, «chefiar.., também é bas- O vocábulo gregow arché é novamente usado em I
tante freqüente (vinte e oito vezes), aparecendo desde João 1: 1, na expressão «O que era desde o
Mat. 2:6 até II.Ped. 3:15. Além de aludir à cidade de princípio... » Muitos eruditos pensam que essa
Belém da Judéia(Mat. 2:6). alude a oficiais romanos expressão pode apontar para o começo do ministério
de vários níveis e patentes. público de Jesus, o que podemos conceder. Porém, em
I João 2:13, lemos: «... conheceis aquele que existe
desde o principio....., onde, novamente, temos uma
pRlNCIPES (DUQUES) alusão ao Lagos preexistente, cuja origem não pode
No hebraico, aIluph, «lider.. «cabeça de mil». ser determinada, que sempre existiu, cuja existência
Palavra usada por sessenta e oito vezes, e que as remonta a qualquer principio que se possa nomear.
traduções traduzem por «capitão», «príncipe», «gover- Isso concorda com o que nos diz lsaias 9:6: «Porque
nador», etc. Em Gên. 36:15-43 temos o trecho que um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo
mais emprega esse vocábulo, referindo-se aos chefes está sobre os seus ombros; e o seu nome será: ...Deus
tribais de Edom, até os dias de Moisés (Êxo, 15:15). Forte, Pai da Eternidade... »
A nossa versão portuguesa usa o termo «príncipe». O
sentido real é o de -quiliarca- ou chefe de mil. Há Em Colossenses 1:18 Jesus aparece como «Ele é o
outras palavras que nossa versão portuguesa traduz princípio, o primogênito dentre os mortos..• " Como
por «príncipe», como nagid, nadib, nasik, nasi, sar, «princípio», Cristo é o -originador- de todas as coisas.
etc. no hebraico, e também como archegôs, ôrchon e Diz João quanto a essa idéia: «Todas as cousas foram
egemôn, no grego. Ver o verbete Príncipe. feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi
feito se fez. (João 1:3). E, como «primogênito dentre
os mortos», Cristo foi o primeiro de uma nova
categoria de homens, «ressurrectos dentre os mortos»,
PRINCIPIO Cristo é o pioneiro, o primeiro a ter em seu corpo
Apesar de haver pelo menos cinco palavras glorificado a vida independente. Que ele não ficará
hebraicas que têm sido traduzidas como «principio", sozinho toma-se evidente através de I Cor. 15:20.22.
«começo» ou sinônimos, interessa-nos aqui a palavra 23: «Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos,
usada em Gênesis 1: 1, no hebraico, reshith , sendo ele as primícias dos que dormem... Porque
«principio", que reaparece em João 1: 1 no grego assim como em Adão todos morrem, assim também
arché, «principio». todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém,
Em Gênesis 1:1 temos o começo da criação. por ato por sua pr6pria ordem: Cristo, as primicias; depois os
de Deus. Teólogos e filósofos têm discutido inutilmen- que são de Cristo, na sua vinda... Aleluial (Ver sobre a
te sobre o que Deus estava fazendo antes de seu ato de vida independente. a vida que Deus tem em si mesmo.
criação. Alguns deles supõem que a criação é um ato a vida não-causada, mas causa de toda vida que há. e
eterno de Deus, ou então que a criação é uma que Jesus afirmou possuir: «Porque assim como o Pai
emanação de Deus, pelo que não se poderia tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter
determinar nenhum tempo especifico quando tiveram vida em si mesmo» (João 5:26). (A B K NTI)
387
PRINCIpIO
PlUNClPIO (PRINCIPIOS) 1. Nessa expressão não há qualquer idéia que Cristo
Essa palavra portuguesa vem do termo latino foi o «primeiro» dos seres criados. Isso é contrário a
principium , o qual, por sua vez, traduzia o vocábulo toda a cristologia do N. T. Aquele que é o Criador não
grego arché, «começo». Assim, significava «ponto pode, sob hipótese alguma, fazer parte da criação.
inicial», ou então algo que dá inicio a outras coisas, 'JLogos (o Cristo) é o Criador{Col. 1:16), distinto de
como um «primeiro principio», criação ou atos. sua criação. Ele é eterno (ver João 1:1 e Heb, 7:3),
1. A antiga filosofia grega buscava um principio pelo que não teve «começo» dentro do tempo.
qualquer que pudesse explicar a existência de todas as 2. A palavra grega aqui usada, arche (principio),
coisas, ou de modo absoluto ou por derivação. Os pode ter a idéia de «originador», ou seja, o «iniciador»
quatro elementos básicos-terra, ar, fogo e água-ou da criação divina. Esse é o uso que se acha no
""ntilQ algum elemento indetenninndo, ernrn ehatna- eva.ngelho de Nicodemos xviii. 12, onde SatanÁs é
dos de primeiros princípios, chamado de «começo do pecado», o que, sem dúvida,
2. Aristóteles usou a palavra em um sentido mais significa o «originador do pecado», ou «iniciador do
lato, referindo-se a ser, geração ou conhecimento. A pecado».
derivação a partir de algum primeiro princípio 3. Cristo é o iniciador tanto da criação fisica como
dar-se-ia através de um grupo de princípios, leis ou da criação espiritual, da antiga e da nova ordens. Ele
·capacidades inerentes à natureza. é a fonte originária de toda a vida, fisica e espiritual e,
3. As leis da lógica e dos princípios filosóficos e portanto, é o seu «principio».
teol6gicos são aquelas supostas verdades e conceitos 4. Cristo é igualmente a causa primária, da qual
ou realidades básicas de onde outras coisas se todas as demais causas dependem. A filosofia grega
derivam, e das quais dependem. Essas são as deis do utiliza o termo arche com esse sentido. Em Jos. C.
pensamento», ou as leis do pr6prio ser. Apo. 2,190, Deus é chamado de «arche» ou «primeira
4. A palavra «princíplos» também pode ser aplicada causa». A «causa primária» é a «fonte» de toda a
àquelas proposições primitivas que expressam verda- criação, de todos os seres, de toda a existência.
des presumíveis, e sobre as quais sistemas são 5. Espiritualmente falando, Cristo, na qualidade de
edificados. Esses primeiros princípios são tão básicos Pioneiro do Caminho (além de ser o próprio
que não precisam ser sujeitados à investigação. Todo «Caminho»), foi o primeiro a mostrar como a «vida
conhecimento partiria deles. As pessoas religiosas espiritual» é transmitida aos homens. Isso significa
usualmente encontram-nos entre as declarações que ele foi o primeiro homem a possuir tal forma de
básicas dos livros sagrados que aceitam como vida. da qual, então, compartilha com seus remidos.
inspirados por Deus. (Ver João 5:25,26 e 6:57 e o artigo Pioneiro,
5. O Principio Protestante, desenvolvido dentro da Jesus como). Estes conceitos envolvem um sen-
teologia-filosofia de Paul Tillich, é a crença ou regra tido escatológico: na nova criação, Cristo produzi-
que diz que é errado absolutizar qualquer coisa rá a nova criação, porquanto ele é o primeiro
humana, a fim de afirmar o que é o Ser divino. De exemplar daquilo que Deus tenciona fazer com os
acordo com essa regra-que obviamente milita contra homens.
as atividades do antropomorfismo-o Ser divino está 6. Alguns intérpretes fazem conexão do que aqui é
acima de toda atividade dessa ordem, e permanece dito com o trecho de Apo. 1:5 (trecho paralelo a Col.
sendo o Mysterium Tremendum (vide). Os esforços 1:18: «...primogênito dentre os mortos... »); e, nesse
humanos somente reduzem o conceito de Deus a uma caso, Cristo é encarado como o primeiro ser da nova
humano/agia, presumindo que Deus pode, realmente, criação, que vem à luz mediante a ressurreição.
ser entendido pelos processos intelectuais humanos. O 7. Dentre esses vários significados possíveis, o de
Principio Protestante é aplicável aos escritos bíblicos, número dois é o mais provável. Entretanto, isso não
quando estes tomam uma postura antropom6rfica. exclui várias das outras idéias. Cristo é o originador
Naturalmente, nenhum te61ogo deveria presumir absoluto da criação, do que se conclui que ele também
dizer-nos como é Deus, destacando como o homem é. é o originador da «criação espiritual».
6. O principio indeterminado da mecânica quan- A lição ensinada aqui é que Cristo é o Alfa de toda a
tum (vide) assevera que a posição e a velocidade das criação, sua fonte de vida, bondade e bem-estar. Os
partículas não podem ser precisa e simultaneamente membros da igreja de Laodicêia ignoravam tudo isso,
determinadas. Isso sugere que o indeterminismo e o colocando no lugar dele, como fonte de satisfação, o
livre-arbitrio são verdades autênticas da existência. dinheiro e o prôprio eu. O trecho de Col. 1: 16
7. Dentro do contexto biblico, os principias são ensina que Cristo é o Alfa e o Omega da criação, a sua
aqueles que governam a nossa fé e a nossa conduta, causa «primária» e tambémfinal. Isso, de acordo com
sendo essencialmente determinados mediante a a linguagem aristotélica, quer dizer a «fonte» e o
revelação bíblica, Os grupos protestantes e evangéli- «alvo» da criação.
cos aceitam esses principios como supremos, não se Dentro do contexto da epistola aos Colossenses,
podendo adicionar aos mesmos as tradições humanas Cristo aparece como o «arche», em contraste com os
e as decisões de concílíos, lideres eclesiásticos e papas. «archai», ou seja, em contraste com os mediadores e
Por sua vez, a Igreja Cat6lica Romana acredita na poderes angelicais. Somente ele pode servir de
evolução dos príncípios, permitindo-se aceitar princi- mediador entre Deus e nós, ainda que outros
pios de origem extrabiblica. Ver o artígo geral «poderes» sejam seus servos, recebendo dele uma
chamado Autoridade, que aborda a questão. autoridade delegada.
.....- ...
o hades é chaTTlado de prisão dos espíritos.
(I Ped.. 3:18-20)
O próprio Cristo esteve ali a fiDl. de libertar
cativos, COD1 propósitos salvatícios. Ver deta-
lhes sobre esta doutrin.a de DÚseriCÓrdia no
artigo, Descida ele Cristo ao Hades.
A servidão ao pecado e a Satanás é cbaD'lada de
prisão. (Isa. 42:7; 61:1).
Nos sonhos e nas visões eD1 que a pessoa se vê
eD1 1JTD8 prisão, isso alude a c:ircunstAnciss
tolhed.oras ou que serven:l de arn:utdjJha.
SisteD'lsS de teologia" polltica, filosofia, etc."
podeD1 ser prisões da D1ente.
•••
Fé de nossos pais, que sobrevive
Apesar de JT1ft sxn.orras, fogo e espada.
=üi
homeóstase do organismo, ou seja, o auto-regula- Primeiramente, meus pelos se eriçam; e, então,
mento de seu meio ambiente interno. Como tudo isso aparece suor em minhas mãos. O processo antes
opera a fim de obter :esse equilíbrio interno, descrito ocorre instantaneamente, além daquele
originando aqueles impulsos que produzem diversos ue envolve meus cabelos, mas que prefiro não
efeitos, como a sudórese, o aumento de batimentos
cardíacos, e assim por diante, é algo que a ciência Esta história ilustra o problema corpo-mente.
ainda não descobriu. Porém, aqueles que sabem algo Quem não tem treinamento filosófico não percebe
a respeito não opinam que haja em tudo isso a1gum qualquer coisa, nesses acontecimentos, que precise
comando mental. O hipotâlamo, por sua parte. está ser analisada. O materialista não-sofisticado pensa
intimamente ligado ao córtex e à área subcortical do que o problema, na verdade, é um pseudoproblema.
cérebro, de maneira tal que alterações fisicas e Ele simplesmente explica que uma percepção física
químicas, nessas áreas, produzem- efeitos fisicos ativou um processo flsico, que resultou em um
dentro do hipotálamo, o qual, por sua vez, mediante fenômeno flsico. O dualista, de sua parte, acredita
uma série de processos físícos, cuja complexidade que a mente foi que iniciou aquele cortejo de causas e
estamos apenas começando a descobrir, produz efeitos. A idéia é o verdadeiro gatilho disparador. O
efeitos tão remotos como a secreção da transpiração argumento persiste.
nas palmas das mãos». M0cU8cando a DIUtnçIo:
«Nos seus traços mais gerais, lemos ai a química e a Estou em um ambiente natural na Ãfrica.
flsica da transpiração emocional. O que está Caminhando por uma trilha, aprecio a cena tropical.
envolvido é uma enorme cadeia de complexas causas Subitamente, bem defronte de mim, um leão exibe
da transpiração fisica. Mas, para cada aspecto dessa sua formidável cabeça. Ele não parece amistoso.
cadeia. de causas que podemos compreender, sem Porém, noto que está preso em uma gaiola, que os
dúvida há centenas de outros aspectos que não nativos fizeram com toras fortes de madeira. O leio,
compreendemos ainda. O ponto importante, entre- assim sendo, não me assusta, e nem as minhas mãos
tanto, é que, ao descrevermos aquilo que melhor ficam suadas. O "não-filósofo continua feliz em sua
entendemos, em cada estágio, não há necessidade de indiferença. O materialista não-sofisticado explica
introduzir substâncias ou reações mentais ou não-fisi- que o fato de minhas mãos não terem ficado suadas é
cas... Sabemos que o resultado final dessa cadeia de que a percepção fisica que ocorreu não é do tipo que
processos fisicos é a secreção de transpiração nas causa temor, pelo que nada de novo ocorreu no meu
mãos, Temos algum conhecimento sobre os processos bípotâlamo. O dualista afirma que a idéia que
894
PROBLEMA CORPO-MENTE
acompanhou o encontro com o leão não é do tipo que c. A parapsicologia apresenta-nos algumaevidSncia
causa temor, e, conseqüentemente, que nada cientifica em fa~or do dualismo.
aconteceu. O problema persiste. d. Existe algo a que se pode chamar de crença
Outra MocIlfIcaçio da DII8traçIo: verdadeira, justificada, nlo-derrotada.
Estou em um ambiente natural na África. e. As experiências perto da morte parecem destacar
Caminhando por uma trilha, aprecio a cena tropical. a realidade da inteligência extracerebral (os processos
Subitamente, bem defronte de mim, um leio exibe mentais prosseguem, mesmo quando o corpo fisico
sua formidável cabeça. Ele não parece amistóso. está clinicamente morto). Ora, essa posição reflete o
Primeiramente, meus pêlos se eriçam; e, então, dualismo. Um dos prop6sitos do presente artigo é
aparece suor em minhas mãos. Porém, eu estava mostrar que essas experiências favorecem o dualismo.
somente sonhando, e não houve qualquer percepção (Os outros argumentos do dualista-a.b. e c.-estio
fisica de algum leio fisico, e, sim, apenas a avaliação fora do escopo deste artigo). Essas experi8ncias lançam
mental sobre um leão, em um sonho. Mas, acordando alguma luz sobre o antigo problema da relação entre a
. assustado logo em seguida, noto que as minhas mãos mente e o corpo fisico .
estão úmidas de suor. Embora não tivesse havido Especificamente, no tocante à crença verdadeira,
qualquer experiência fisicã, algo fez exsudar suor de justificada, não-derrotada, consideremos a seguinte
minhas mãos. ilustração,
Eu nunca havia crido na existência da alma.
Impõe-se então a pergunta: como poderia ter Costumava dizer: -Quando morrer, ficarei extinto».
começado o processo, em meu hipotálamo, se não Eu já tinha problemas para viver minha vida terrena,
houve qualquer percepção fisica? Uma percepção e não ansiava por pensar sobre os problemas de uma
apenas imaginada poderia dar inicio ao processo? ~ alegada existência ap6s-túmulo. Então pensei: -Uma
óbvio que sim. Porém, uma percepção imaginada é vida de cada vez. Se houver outra vida (do que
apenas uma idéia. Uma mera idéia deu inicio ao duvido), enfrentarei a mesma, quando ela chegar».
e
processo? claro que sim. Sócrates dizia: «Todos os homens são mortais». Mas
Todas as três ilustrações provam a mesma coisa. eu esperava que os deuses imortais permitissem uma
Voltemos agora à ilustração original. O dualista, exceção, e que eu poderia continuar vivendo
agora parecendo estar vencendo em seu raciocínio, interminavelmente. Porém, não foi assim que
quer mostrar que, na realidade, não houve diferença sucedeu. Chegou o dia da minha morte, e morri. Para
alguma no que sucedeu, sem importar se aquele leão é minha surpresa, descobri que o verdadeiro eu
real ou apenas me apareceu em un sonho. Assim, se continuava vivo, dotado de memória, consciência,
houve o envolvimento de algum leio fisico, não foi a raciocinio. .. e tudo em nivel muito mais elevado.
percepção fisica .do mesmo que agitou meu hipotá- Antes, nada sabia sobre esse novo estado, que chegou
lamo. O que fez isso foi a minha avaliação sobre o a me surpreender. Não sei como descrever o novo
perigo representado pelo leio. Ora, uma avaliação é estado. Mas, é real. Portanto, tenho uma crença
uma idéia. Vejo um leão, e, então, o avalio. E é esse verdadeira, justificada, não-derrotada. Justificada,
segundo ato mental, que é um evento mental, que porque continuo vivo; não-derrotada, porque nada
agita o cérebro em algum lugar especifico. Imagine- pode desprová-Ia. Verdadeira, porque estou verda-
mos uma criança que tivesse sido ensinada que os deiramente vivo. Mas, tudo é apenas crença.
leões são animais amistosos, apenas gatinhos grandes. As expériências perto da morte dão-nos alguma
A criança estava me acompanhando no passeio pela evidência em prol desse tipo de crença. Isso tem muita
floresta. O leão aparece e as minhas mãos ficam importância, mesmo que as evidências não sejam de
suadas. Mas as mãos da criança não ficam. Por quê? ordem científica. A ciência pode começar por ai. A
Porque a criança avaliou o leão de modo bem elaboração de provas para crenças pode começar mais
diferente de mim. Sua idéia não envolveu o elemento tarde. Além dessa forma de crença, as experiências
do temor, pelo que nada sucedeu em suas mãos. perto da morte fornecem-nos algumas evidências
. 4. Crença Verdaclelra, Justificada, Nio-Derrotada. cientificas em favor do dualismo, e esse dualismo fàla
O materialismo não se sente feliz ante a direção a que sobre a existência da alma humana e sua sobrevivên-
nos levou a nossa discussão. Então, ele faz uma certa cia diante da morte fisica.
pergunta: O que é uma idéia? O dualista retruca, Nada de novo há com a idéia de que o homem é
dizendo que uma idéia é algo imaterial, associado à mais do que o seu corpo fisico, e que ele não depende
alma imaterial do homem; um atributo da alma. Mas do mesmo para continuar existindo. Nossos credos e
o materialista persiste em sua indagação, porque o dogmas nos têm assegurado isso desde milhares de
dualista está ficando vago. O dualista fala sobre anos atrás. A novidade consiste nas evidências
diferentes formas de energia, algumas delas mate- cientificas, fidedignas, que nos informam que os
riais, e outras imateriais. A ciência tem mostrado que teólogos e filósofos estavam certos o tempo todo.
temos algumas descrições daquelas primeiras formas 5. Defbdçiel e ~ do Problema
de energia (um tanto ou quanto inexatas), e o Corpo-Mente, e como isso se relaciona às experiências
misticismo e, talvez, a parapsicologia, têm-nos perto da morte. «Um dos mais persistentes
fornecido algumas descrições não-conclusivas das problemas da história da filosofia, o problema
segundas formas de energia. O materialista persiste corpo-mente, indaga como se pode entender a relação
em sua pergunta, e o resultado é que o dualista não é entre a mente e o corpo. Visto que as descrições do
capaz de dizer muita coisa sobre a natureza da idéia, conteúdo mental são bem diferentes das descrições
pelo que, por que motivo deveriamos crer nas idéias dos processos fisicos, a mente e o corpo podem ser
como separadas das funções cerebrais? O dualista, considerados ou não uma identidade? O problema
em seguida, fornece várias respostas: estâ tão profundamente arraigado que a discussão a
a. A experiência humana, no campo do misticismo, respeito de suas possiveis soluções equivale a uma
tem algum valor, e o misticismo implica no dualismo. discussão sobre QS sistemas filosóficos.(2}.
b, A experiência humana, no campo religioso, deve cO problema corpo-mente, na primeira ínstâneía,
ter algum valor, e a fé religiosa (com suas diz respeito à questão se pode ser feita uma distinção
reivindicações de revelação divina) deve ter algum válida entre a mente e o corpo. Se tal distinção puder
valor. ser feita, então, também poderemos indagar se, de
395
PROBLEMA CORPO-MENTE
fato, existem quaisquer coisas às quais podemos «Todo aquele que se tem envolvido seriamente nas
aplicar qualquer desses termos, ou ambos esses inquirições da ciência está convencido de que se
termos. Finalmente, se existem coisas às quais ambos manifesta um Espirito nas leis do universo-um
os termos podem ser aplicados, então, poderemos Espirito vastamente superior ao espírito do homem,
'indagar quais são as relações entre a mente e o em face de cujo Espírito, nós, com nossas modestas
corpo- (3). capacidades, precisamos sentir-nos humíldes-Iê).
«Essas experiências, relatadas por Moody, nada Sabom, por sua vez, afirmou que é precisamente
mais são do que acometimentos nos lóbulos esse Espirlto que, por tantas vezes, foi reconhecido
temporais (do cérebro). Vejo vários pacientes, a cada pelos seus pacientes. Muitos deles referiram-se ao
semana, que descrevem experiências similares duran- poder transformador das experiências perto da morte
te esses episódios cerebrais. Wilder Penfield descreveu e às suas óbvias qualidades espirituais, e não
esses fenômenos no começo da década de 1950, meramente à aparente separação entre as porções
usando técnicas de eletroestimulação do cérebro. Isso não-material e material do ser humano. Esse é o
sucedeu antes que ele, como Moody, tivesse sido Espírito que vem viver naqueles que são tocados por
envolvido nas sequeias religiosas dessas ocorrências. alguma verdade inefável. Tais pacientes quedavam-se
Penfield fez algumas contribuições muito significati- admirados diante de algum grandioso segredo, que
vas à neurologia até àquele ponto,.(4). (Comunicação tinham podido contemplar de modo tão breve, mas
pessoal de um professor de neurologia ao Dr. Michael que deixara marcas indeléveis em suas mentes.
B. Sabom, cujo nome não foi revelado). Portanto, o problema corpo-mente envolve mais do
O Dr. Sabom ofereceu razões pelas quais as que alguma mera questão acadêmica, pois penetra
experiências perto da morte não podem ser identifica- nas mais profundas questões da propría vida.
das com os acometimentos epilépticos, que afetam os 6. Uma Ponte que LIga a a'acla e a Fé ReIJaIosa.
lôbulos temporais do cérebro. Em primeiro lugar, ele Se o homem é uma alma imortal, conforme é
mostra que tipos de experiências mentais são ensinado pelo dualismo, e se as evidências cientificas
provocadas por esses ataques epilépticos. Em segundo dão isso a entender em termos bastante convincentes
lugar, ele mostra que tais experiências são diferentes atualmente, devendo fazê-lo ainda mais definitiva-
daquelas provocadas pelas experiências perto da mente no futuro, então, quanto a essa questão
morte (5). importante, a ciência e a fé religiosa estão unidas por
O Dr. Wilder Penfield, conhecido por suas uma ponte. As experiências perto da morte fazem
contribuições ao campo da neurologia, considerando parte do começo da construção dessa ponte.
anos passados de pesquisa nesse terreno, chegou à 7. O Problema Corpo-Mente e Se.. Corolários
seguinte conclusão sobre o problema corpo-mente: Morais e Esplrltuala
«Em minha opinião, após uma vida profissional «... a vida eterna começa aqui na terra, e a alma do
inteira, passada na tentativa de descobrir como o homem vive e respira onde ela ama; e o amor,
cérebro explica a mente, foi com surpresa que cheguei mediante uma fé viva, tem forças suficientes para
a descobrir, durante esse exame final das evidências, fazer a alma humana experimentar unidade com
que a hipótese dualista (distinção entre a mente e o Deus-'duas naturezas em um único espirito e
cérebro) parece a mais razoável das duas explicações amor' ... Não acredito que um filósofo possa discutir
possíveis.,; A mente entra em ação e sai de ação sobre a imortalidade da alma sem levar em conta as
juntamente com o mais elevado mecanismo cerebral, noções complementares que o pensamento religioso
é verdade. Mas a mente possui energia. A forma dessa acrescenta às verazes mas incompletas respostas que a
energia é diferente daquela forma de energia das razão e a filosofia podem fornecer-nos» (Jacques
potencialidades neuronais que percorrem as veredas Maritain)(9).
dos axônios. Neste ponto, devo deixar a questão-Iô),
Em seguida, relacionamos as principais teorias que
O Or. Michael B. Sabom, em seus pensamentos dizem respeito ao problema corpo-mente:
finais sobre seu livro acerca das experiências perto da I. Materialismo (Monluno)
morte(7), afirmou que as evidências indicam e separa-
ção entre a mente e o corpo, perto da morte. Salienta
que seus pacientes estavam próximos do momento da
morte, e não necessariamente mortos. Naturalmente,
houve casos em que a morte ocorrera, pelo que as /
/'-
pessoas envolvidas estavam clinicamente mortas. Seja .I
como for, a indagação que se impõe vigorosamente é
se essa separação significa a separação entre a alma e
o corpo, alma essa que continua a existir após a morte
definitiva do corpo. Em caso positivo, conforme
Sabom pensa que sucede, então temos a ciência e a fé \.
religiosa frente a frente, sobre uma questão muito
critica. «Morrendo o homem, porventura tomará a
viver? (J6 14:14). Sabom estava «totalmente perple-
xo» diante do fato de que muitos de seus pacientes
tinham enfrentado condições físicas incompativeis
com a vida bio16gica, e, no entanto, voltaram a vida Talvez a mais simples definição do materialismo
ainda com maior energia. E mostrava-se sensível seja: .0 que existe é apenas matéria. O que sucede
diante dos fatos científicos, obtidos através da são os movimentos dos âtomos que compõem a
pesquisa, que salientam a realidade das experiências matéria». Os dicionários, porém, definem o materia-
perto da morte; mas, mais ainda, ele se identificou lismo como: «A doutrina que diz que os fatos da
com as lágrimas de alegria e tristeza que acompa- experiência podem ser todos explicados referindo-nos
nhám o desdobramento desses misteriosos dramas. à realidade, às atividades e às leis das substâncias
Ele se humilhou diante dos mistérios do universo, e fisicas ou materiais»(lO). No entanto, a matéria
citou Albert Einstein, que escreveu, com uma atitude envolve uma questão de/é, visto que a filosofia ainda
similar: não foi capaz de definir a matéria, e visto que a teoria
396
PROBLEMA CORPO-MENTE
atômica ainda está em desenvoízimento, sendo uma realmente completa poderia revelar-nos o que está
ciência crescentemente inclusiva. Os cientistas filoso- envol':Ído na ma.têria. Mas, se não sabemos o que a
ficamente treinados admitem isso. A filosofia matéria-é (ou deixa de ser), como podemos dizer que
intitulada Positivismo Lógico também afirma isso. O todas as coisas são compostas de matéria? Para
materialismo, pois, é aquela fé que assevera que o fazermos tal asserção, teremos de depender de uma fé
universo total, incluindo a vida inteira, e os chamados animal.
eventos mentais, podem ser reduzidos e explicados em
termos de matéria em movimento. A própria 2. O epifenomenalismo faz o pensamento tomar-se
consciência é concebida como devida a energias claramente supérfluo. Não obstante, toda a nossa
físicas, e não explicada com base em algo imaterial. experiência aponta para a conclusão exatamente
Visto que um único principio é proposto para contrária, A mente é a construtora de todas as coisas,
explicação de todas as coisas, o materialismo é incluindo a investigação científica. Ê um absurdo
considerado um monismo: chamar os processos mentais de meros subprodutos
Teoria da Identidade. Essa é a posição que diz que dos estados fisicos quando fica demonstrado, pela
os estados mentais e os estados cerebrais são medicina psicossomática que os estados físicos podem
contingentemente idênticos. Todos os conceitos ser criados pelos estados mentais. Ou seja, os estados
mentais seriam meros estados do sistema nervoso físicos podem resultar dos estados mentais.
central. Filósofos cujos nomes estão associados a esse 3. O materialismo ignora a força que está sendo
conceito são Herbert Feigl, I.I.C. Smart, U.T. Place, descoberta pelos estudos parapsicológicos. O materia-
D.M. Armstrong e Richard Rorty. Naturalmente, o lismo, pois, oferece explicações alternativas, para
materialismo depende dessa racionalização. explicar os eventos mentais, que são inadequados.
Reducionismo. Esse é o nome dado a qualquer Uma defesa dessa declaração está fora do
processo mediante o qual alguma ciência é reduzida a escopo deste artigo; mas, em minha opinião, pode ser
outra, na suposição de que os termos-chave da efetuada com resultados muito favoráveis.
primeira podem ser definidos segundo a linguagem da 4. O materialismo ignora as evidências dadas pela
outra. Por exemplo, alguns afirmam que a psicologia fé religiosa, pela psicologia, pela moral e, especial-
pode ser reduzida à fisiologia. No tocante ao mente, pelas experiências místicas. O campo do
problema do corpo-mente, a teoria reducionista diz misticismo é muito vasto e complexo, apresentando
que todos os chamados eventos mentais podem ser muitos problemas que o materialismo simplesmente
reduzidos a meras funções do cérebro. O materialis- não pode manusear adequadamente. Outrossim, a
mo, pois, é um reducionismo. maioria dos materialistas mantém-se bastante igno-
Epifenomenalismo, Esse é o ensino que diz que a rante sobre esses assuntos, pois, como é patente, estão
consciência é um mero acessório e acompanhamento fora da esfera de seus interesses. Apesar de ser
dos processos fisiológicos, cuja presença ou ausência verdade que muitas pessoas religiosas têm a «vontade
não faz qualquer diferença nesses processos, e cuja de crer», o que prejudica seus pontos de vista e
atividade não pode interferir com os mesmos, também seus poderes analíticos, também é verdade
influenciando-os nem para melhor e nem para pior que muitos materialistas têm a «vontade de não crer»,
(11). De acordo com essa teoria, os eventos mentais o que lhes dâ uma visão miope sobre a natureza do
são propostos como epifenômenos dos estados mundo.
cerebrais. O estado mental seria um subproduto da
parte física do homem, e não algo independente dessa 5. Especificamente, no tocante ao problema
parte física. corpo-mente, se o materialismo fornece uma boa
explicação sobre a cadeia de causas e efeitos ftsicos, é
Naturalismo. Para explicar o universo e suas inadequada a sua explicação de como esse processo
manifestações, não precisariamos olhar para qual- tem inicio. Seu apelo à fé (pois os materialistas
quer origem, continuação ou destino sobrenaturais. O costumam dizer que algum dia a ciência explicará
universo é auto-existente, podendo ser explicado esse como) revela a vontade deles em crer, por uma
somente por si mesmo. A vida e o comportamento parte, acompanhada pela vontade de não crer, por
humanos podem ser inteiramente explicados median- outra parte.
te a estrutura orgânica e as necessidades característi-
cas das espécies humana e animal. O que foi cllto ~. nesses cinco pontos, tem por
Naturalismo Crítico. Não sabemos o suficiente escopo convencer especialmente quanto às debilida-
sobre a realidade que nos capacite a afirmar, com des da teoria do materialismo. Apenas sugere aquilo
dogmática certeza, de que não existe qualquer que pode ser dito sobre a questão, o que, uma vez
princípio imaterial. Porém, temos a fé de que se tal desenvolvido, pode obter respeitável credibilidade.
princípio vier a ser descoberto, fará parte de um Mas, uma coisa que este artigo não tenta é mostrar a
universo natural, não havendo qualquer necessidade força contrária ao materialismo, exercida pelas
para apelarmos para algum fator sobrenatural. Se o experiências perto da morte, o que dá apoio a alguma
dualismo vier a ser provado algum dia, espera essa forma de dualismo.
posição que se trate de algum dualismo natural, que Os principais fi16sofos que têm ensinado o
não requeira a junção entre tal princípio e as crenças materialismo são: Leucipo, Dem6crito, Epicuro,
religiosas. A parte imaterial do homem, se é que a Lucrêcio, Thomas Hobbes, Pierre Gassendi, Jean
mesma existe, poderia ser um produto natural do Meslier, Julian Offray de La Mettrie, Paul Henri
processo evolutivo, e não um dom dos deuses. D'Holbach, Jacob Moleschott, Ludwig Buchner,
Avallaçlo e CdtieM: Friedrich Albert Lange, Friedrich Engels, Karl Marx
Apresento uma avaliação negativa do materialis- (e os filósofos comunistas em geral), Eugene Duhring,
mo, exibida pelo fato de que meu rosto (acima), não Axel Hagerstrom, E.D. 801t, W.P. Montague (que
está sorridente. Não tento expor uma critica acreditava na possibilidade de uma alma fisica.
detalhada, pois isso está fora do escopo do meu atribuindo à própria matéria um aspecto psiquico
artigo. Porém, suziro
&~ as seguintes críticas: Iimitado) , J •I •C• Smart, D.M . Armstrong, C.D.
1. Apesar da ciência haver oferecido muitas Broad (o movimento geral do positivismo lógico tem
descrições sobre a matéria, ainda estamos longe de favorecido o materialismo, embora não o tenha
saber o que ela é. Somente uma teoria atômica promovido como uma forma de metsfisíca).
397
PROBLEMA CORPO-MENTE
B. Jdeallmao (MOldamo; DmIIhmo; PlaraIImao) minha mente; especialmente por meio de considera-
ções morais, estéticas e metafisicas. Porém, não terei
proposições à parte de minha própria mente.
Idealismo Pluralista. Hâ várias espécies de mentes,
como a alma humana, seres imateriais de vãríos tipos,
e a fonte do ser, Deus, o qual, em sua essência, é
diferente dos mundos e dos seres que ele criou. O
cristianismo (de acordo com a maioria de seus
• teólogos) apresenta um idealismo pluralista, mas
, usualmente admite também a realidade da matéria.
\ Platão defendia um verdadeiro dualismo (espírito e
matéria), porquanto não negava a existência real da
matéria. Porém, aludia ao mundo material como
inferior e temporal, em contraste com o mundo das
.r.. idéias (formas, universais). O mundo das idéias é
&pIrito eterno, não-material, imutâvel, as mesmas coisas que
Idealismo Metaflsico. A realidade pertence à o cristianismo diz a respeito de Deus. De fato, em seu
natureza da mente, da idéia, do espírito, do diálogo intitulado Leis, Platão substituiu as incontâ-
não-material. O que chamamos de matéria é ilusório veis idéias por uma só palavra, Deus (no grego,
ou é um epifenômeno da idéia. O idealismo dualista theôs).
admite a realidade da matéria, mas, de modo geral, As Religiões Orientais. Essas fés religiosas falam
mantém que a idéia, a mente ou o espirito constituem sobre o mundo fisico como se fosse uma iluslo. As
uma realidade superior. O idealismo pluralista supõe chamadas coisas fisicas nos enganariam, de modo a
que hâ diferentes espécies de realidades imaterais. pensarmos que elas são reais; mas a mente seria a
Deus é espirito; o homem é espírito: mas não única realidade. Essa idéia também é representante
pertenceriam à mesma espécie de substância imate- de um idealismo monista,
rial. Ilustração do Sonho. Alguns sonhos são extrema-
Meu rosto acima, reflete meu desprazer diante do mente reais. Neles nós vemos, ouvimos, tocamos, dê.
idealismo monista, embora não diante das variedades fato, exercemos todos os nossos sentidos; mas,
de idealismo dualista e pluralista. presumivelmente, as coisas com que sonhamos são
O idealismo sofisticado aproveita-se dos avanços da apenas imaginârias. Toda realidade, por assim dizer,
ciência acerca dos conceitos de energia, sugerindo que é um sonho de Deus; e, se ele deixasse de sonhar,
a realidade é uma energia mental, que Deus é a fonte todas as coisas cessariam de existir. Podemos
de todas as energias, e que as chamadas coisas transferir essa maneira de pensar para o nosso mundo
materiais são epifenômenos da energia mental, e não diârío da percepção dos sentidos. Posso dizer que esta
forças separadas dessa energia (conforme diz o cadeira que estou prestes a chutar (a fim de mostrar a
idealismo monista). Max Planck, fisicoalemão independência dela) não faz parte do meu processo
pioneiro da teoria da mecânica quantum (ele recebe~ mental. Posso ver a cadeira afastar-se de mim, pois
o prêmio Nobel de física, em 1918, devido ao seu acabei de chutá-Ia. Posso sentir sua solidez; e,
trabalho nesse campo), afirmava que o mundo naturalmente, penso que ela é independente de minha
assemelha-se mais a uma gigantesca idéia do que a própria pessoa. Porém, se me puser a examinar o que
uma complexa mâquina. Ele argumentava que as leis sucedeu, descobrirei que nada aconteceu que não
da natureza não foram inventadas pelas mentes esteja envolvido em meus processos mentais. A
humanas; pelo contrário, fatores externos forçam-nos objetividade daquela cadeira, de fato, poderia ser
a reconhecer essas leis. Elas exibem uma ordem uma ilusão. t;: assim que falam os idealistas
mundial racional, e não o resultado do acaso epistemológicos. Mas hâ outros que criticam isso,
c:
mecanista revelam uma razão onipotente, que dirige afirmando que essa maneira de falar meramente tira
to~s as cOlsas(12). ~esneces~ârio é dizer que ele foi vantagem de nosso dilema de conhecimento, que,
criticado por outros físicos, devido a essa sua incursão naturalmente, sempre precisa ser concebido como
na metafisica. vinculado ao «pensamento•.
Idealismo Epistemológico. O que eu sei sobre a O Ide.llmao e o Problema Corpo-Mente:
realidade é a idéia que faço da realidade. Um objeto é Se estamos abordando a questão do idealismo
produto do fato de ser conhecido. Pode existir ou não dualista, então também estamos ventilando as
sem ser conhecido. Isso continua sendo uma questão mesmas considerações discutidas sob Interação
aberta; mas o que conheço sobre qualquer coisa é a número VI, abaixo, Mas, se estamos tratando do
idéia que faço sobre essa coisa. Somente o que é idealismo monista, então temos o seguinte a dizer a
mental pode ser conhecido. respeito:
Idealismo Objetivo. A Mente universal (ou Mente Av.lla. e Cdtleaa:
divina) existe e garante a existência das outras coisas. Continuo assumindo minha relativa superficialida-
mediante os seus processos mentais. As coisas existem de, conforme foi evidenciado quando tratávamos do
independentemente do meu conhecimento a respeito materialismo, visto que não faz parte do propósito
delas, mas elas não são independentes da mente. deste artigo examinar de modo critico e profundo o
Idealismo Subjetivo. O mundo é a minha idéia. Isso problema corpo-mente, mas tão-somente expor uma
é o que eu sei. Sem importar se as coisas existem ou declaração geral a respeito, e, então, mostrar como as
não independentemente de minha mente, essa não é experiências perto da morte relacionam-se à questão.
uma pergunta a que eu possa dar' resposta. As As experiências perto da morte lançam alguma luz
categorias mentais de Kant foram propostas a fim de sobre o problema do corpo-mente, favorecendo,
mostrar que' tipo de conteúdo mental a mente força segundo penso, o dualismo.
sobre o mundo. Não conhecemos o mundo da maneira 1. O idealismo monistico parece contradizer
como ele é; conhecemos o mundo da maneira que radicalmente a nossa experiência diâria com este
somos. Posso postular um mundo independente de mundo fisico, que as investigações cientificas têm
398
PROBLEMA CORPO-MENTE
evidenciado abundantemente. Essas mesmas evídên- Spinoza. Para ele, o real manifesta-se como
cias ilustram que o mundo é distinto de minha idéia extensão (res extensa), ao que chamamos de matéria.
do mundo, ao mesmo tempo em Que 0_ bom senso Mas também manifesta-se como mente (re, cogitans).
insiste em que o mundo lá fora é real, sem precisar Logo, o corpo fisico e a mente sio atributos do real.
manter qualquer ligaçio com a minha idéia a seu São modalidades de uma única energia.
respeito. «Sesubstância-Deus-natureza é algo absolutamente
2. Se eu disser que a Mente Divina criou todas as infinito, deveria ser caracterizado por um número
coisas, e que elas são apenas ficções de minha infinito de atributos. ~pinoza descobriu apenas dois
imaginaçio, que elas não slo reais em si mesmas, atributos: pensamento e extensão, Contudo, ele
então, parecerá que criei uma proposiçio metafisica supunha que esses dois atributos podem ser aplicados
tio avançada que a pus fora de minha própria a tudo quanto há na realidade, pelo que, em certo
capacidade de investigaçlo. sentido, estio em toda parte»(13}.
3. No tocante ao problema especifico do corpo- Nlo haveria verdadeira interaçlo entre a extenslo e
mente, embora eu diga que a idéia' seja tudo, de tal o pensamento. E também, não haveria substâncias
modo que não há interação entre o corpo material e a separadas. Haveria apenas modos de manifestaçio do
alma imaterial, não sou capaz de prover uma boa real. O real (Deus) programou-os para que sejam
definição de «mente», tal como não posso fazê-lo em paralelos em todas as coisas, e a interação entre essas
relação à matéria. E assim, sou forçado a exercer a fé duas coisas é apenas aparente. Para cada evento
que as qualidades mentais sio tais que fazem o corpo e material, haveria um evento mental paralelo; para
a mente parecerem separados um do outro, quando, cada evento mental, haveria um evento fisico paralelo.
na realidade, não o são, E concordam entre si porque expressam o mesmo
4. O idealismo monista depende de uma pesada real, embora não interajam como su_tincias
metafisica, conhecida-através da razão, da intuição e separadas. Esse ponto de vista, como é evidente, leva
do misticismo, mas que aparentemente ignora as a um determinismo absoluto. A realidade não poderia
evidências colhidas pela percepção dos sentidos ser diferente do que é, visto que todas as coisas estio
físicos. em Deus e são de Deus, absoluta e imutavelmente.
Os principais fil6sofos .que tem ensinado uma Uma pessoa é uma energia dotada de modos de
forma ou outra de idealismo são: Platão (e os filósofos expressão mental e fisica; mas esses modos não sio
platônicos e neoplatônícos em geral), a escola inerentemente diferentes um do outro, e nem slo
idealista alemã (Friedrich Wilhelm Joseph Shelling, independentes.
Johann Gottlieb Fichte, George Wilhelm Friedrich Uma Possivel Teoria Cientlfica do Duplo Aspecto.
Hegel, lmmanuel Kant, F.H. Bradley, T.H. Green, Podemos abandonar com segurança o panteísmo,
Bemard Bosanquet, Josiab Royee, George Berkeley, embora preservando a idéia do duplo aspecto.
G.H. Howison, Alfred Fouillée, Borden Parker Imaginemos que a matéria é tio lata em suas
Bowne, William R. Sorley, Hastings Rashdall, manifestações que inclua aquilo que chamamos de
Edmund Husserl, August Messer e Giovanni Gentile. mental e de fisico. A alma pode ser atômica, de algum
Um estudo nos escritos desses fi16s0fos revelará as modo, embora ainda não compreendamos de que
nuances que eles deram ao idealismo. maneira. Pode ser capaz de uma existência separada.
m. Teoria do Duplo ÂIpeetO (MoaImIo; DuaIIamo embora atômica. como se dá com a matéria. Ou,
Aparente) então, o átomo não é a base de tudo, embora seja um
modo ou manifestaçio de energia pslquica, energia
essa que é mais básica. A energia psíquica, por sua
vez, pode ser um modo ou manifestaçlo da Mente
divína. Nesse caso teriamos um. cadeia formada pela
,"--.. Mente divina, pela energia psiquica, e por uma
concentração de energia psíquica, o átomo. De acordo
com a primeira teoria, expressamos o materialismo,
mas um materialismo tio amplo que inclui aquilo que
atualmente chamamos de espírito. De acordo coma
- segunda teoria, expressamos o idealismo, mas um
idealismo tio abrangente que inclui .o que agora
chamamos de matéria. Seja como for, mente e corpo
não seriam fundamentalmente diferentes. Todavia.
em consonância com essa teoria. há uma genuina
interação, e não uma interação programada, como se
CoqJo / &plrlto vê no panteismo de Spinoza. Contudo, a interaçlo
Talvez essa teoria tenha sido inspirada em parte dar-se-ia entre dois modos da mesma substi.ncia.
pela dificuldade de explicar como interagem as A TeoIocIa MónDOD:
propostas partes material e imaterial do homem. A doutrina dos m6rmons afasta-se dos ensinamen-
Porém, nos escritos de Spinoza, a força principal por tos do cristianismo biblico quanto a alguns pontos
detrás de sua formulação, sem dúvida alguma, foi o vitais. Filosoficamente, podemos classificar a idéia
seu panteismo, Qualquer forma de panteismo precisa mórmon da realidade como um materialismo
asseverar a teoria do duplo aspecto no tocante ao pluralista. Apesar deles crerem que alma e corpo são
problema do corpo-mente, visto que todas as coisas coisas diferentes, para todos os propósitos práticos, a
sio Deus, manam de Deus e manifestam Deus. alma compor-se-ia de matéria refinada. «O espirito
Haveria apenas uma verdadeira essência das coisas. ocupa espaço, tem localizaçlo. e, pelo menos em
Essa essência, porém, manifesta-se de diferentes principio, não é totalmente diferente da matéria em
modos. O corpo flsícoi é uma de suas manifestações; e seu caráter» (14). O que dissemos sobre a alma,
a alma é outra. Essas manifestações interagem em também pode ser dito sobre Deus. Ele tem uma
um aparente dualismo; mas, de fato. nio são localização temporal e espacial, e a sua essência é
entidades metafisicas distintas, e nem são substâncias descrita em termos do que é material, e não em
inerentemente diferentes. termos do que é imaterial.
899
PROBLEMA CORPO-MENTE
Sendo essa a posição do mormonísmo, no tocante Acabamos de examinar uma forma de paralelismo
ao problema corpo-mente podemos falar segundo foi na teoria panteísta do duplo aspecto, de Spinoza,
dito acima. Ao materialismo é conferida uma Leibnitz, em sua doutrina da mônada, ofereceu ao
definição tão ampla que inclui aquilo que normal- mundo filosófico uma outra forma dessa teoria.
mente denominamos de espirito, O-- mormonismo, A Mônada. Essa palavra vem do vocábulo grego
pois, reflete essa teoria filosófica particular, quanto monas, «unidade". Pitágoras usou o termo para
ao problema corpo-mente. indicar o primeiro número de uma série, ou seja, o
N.B. - A teoria do duplo aspecto de Spinoza, que número do qual toda a série se deriva. Giordano
é uma teoria panteista, é um paralelismo. Não admite Bruno empregou o termo como nome da unidade
uma real interação entre supostas essências distintas e ontológica irredutível da qual tudo o mais derivar-se-
separadas. Porém, as demais formas da teoria do ia. Isso posto, essa palavra pode referir-se a Deus, em
duplo aspecto, apesar de insistirem sobre a existência um sentido panteísta. De acordo com Leibnitz, a
de uma única substância, ainda assim ensinam uma força é a essência básica de todas as coisas. Força
verdadeira interaçm entre os modos de manifestação seria um principio metafisico. Leibnitz chamava esse
dessa substância única. Conseqüentemente, elas principio de mônada, Ela não teria extensão, seria
envolvem um dualismo prático, mas um monismo indivisível, simples, fundamental, eterna, auto-exis-
teórico. tente, auto-sustentadora, imutável, indestrutível.
Av.uaçio e Cdtlea: Poderíamos falar em mônadas como átomos; mas
1. Sua teoria da identidade de todas as coisas em Leibnitz não emprestava aos átomos as mesmas
uma sô essência, como é claro, não passa de uma propriedades que os cientistas lhes dão, como
especulação metafísica, estando, pelo menos por constitutivos de toda matéria. A grande Mônada, a
enquanto, fora de nossos meios de investigação. Força (o Deus de sua teoria), teria criado outras
mônadas, não mediante umacriaçãoex-nihilo, e nem
2. Sua eliminação da substância não-material pode por emanação, mas por fu!guração. Isso significa que
ser ilusória. Há algumas coisas significativas que de seu Ser fulguraram ou lampejaram todas as outras
podem ser ditas em favor do dualismo. mônadas. As mônadas secundárias, pois, são
3. Dentro da tradição filosófica e religiosa, a idéia fulguradas ou relampejadas, dividindo-se da Mônada
chamada unidade da verdade poderia favorecer a divina. A fulguração, como um conceito, parece
teoria do duplo aspecto. Os homens tendem por pairar em algum ponto entre a criação por fiat (do
dividir e dissecar. Visto que temos aparentes eventos nada, mediante a Palavra de Deus) e a criação por
mentais e eventos fisicos, falamos em termos de emanação(lS). O que se torna evidente e que todas as
matéria e de espírito. Mas a verdade da questão pode mônadas são divinamente derivadas, mas não foram
ser uma unidade inerente. Nesse caso, matéria e criadas.
espírito seriam, na verdade, modos de expressão de As mônadas existem em número incalculável.
uma e a mesma coisa, coisa essa mais básica que seus
dois modos. As definições atuais da matéria e do Todas elas têm as mesmas características, conforme
espirito podem tornar-se absolutas, uma vez que o foi alistado acima; mas diferem em suas auto-apre-
nosso conhecimento progrida até o ponto em que sentações. Elas têm tanto extensão quantopensamen-
sejamos capazes de definir, com maior precisão, o to, mas em graus variegados.
real. Essa definição pode afastar-se completamente O Homem e as Mônadas. Um homem seria
do conceito que o átomo é a base da realidade. Ou composto de uma combinação de mônadas, Ele teria
poderá demonstrar propriedades inesperadas do mônadas intelectuais que se apresentam como mente
átomo, capazes de explicar aquilo que antes se ou pensamentos. Ele teria mônadas materiais que se
chamava espírito. apresentam como extensão. Essas últimas mônadas
4. A filosofia grega começou pela busca da seriam sonolentas, ao passo que as mônadas
compreensão do um, o elemento básico e subjacente intelectuais resplandeceriam de vigor. Outros animais
que sustentaria todas as coisas. Não podemos ter teriam uma combinação inferior de mônadas,
certeza se Tales de Mileto e os outros filósofos algumas ainda mais sonolentas que aquelas do
milesianos estavam falando em termos materialistas homem, o que explicaria por que motivo o homem é
ou em termos pampsiquistas. No caso da teoria do superior a todo o reino animal. A matéria bruta é
duplo aspecto, somos deixados com o mesmo dilema. essencialmente constituída por mônadas que repre-
As pesquisas futuras talvez consigam solucionar esse sentam extensão. Têm qualidades mentais (pampsi-
dilema, mostrando-nos que essa abordagem não era a quísmo), mas em graus muito baixos, pelo que a
verdadeira vereda. matéria mantém-se dormente.
No meu rosto, desenhei um sorriso débil. Pode As Mõnadas não têm Janelas. Não haveria
haver ai alguma verdade, mas o mais provável é que qualquer interação entre as mônadas. Elas são
teremos de esperar por muito tempo para saber se isso universos contidos em si mesmos. Não têm janelas e
condiz com a verdade dos fatos. nem portas. Contudo, parecem interagir, mas isso já
IV. Para1e11amo (Hannonla Preestabelecida) faz parte do trabalho de Deus, a grande Mônada.
Uma Harmonia Preestabelecida. Deus programou
todas as mônadas, de tal modo que tudo quanto
sucede vem do íntimo, e não da interação externa
entre as mônadas. Assim, neste momento, posso
pensar que estou olhando para você, e você pode
pensar que está olhando para mim. Estamos em um
diálogo, e parecemos estar interagindo. Mas isso é
apenas uma ilusão. O que realmente está sucedendo é
que a minha programação interior é paralela e
harmônica à sua programação. Meu mundo interior
corresponde ao mundo interior do leitor, mas não há
qualquer interação. Outro tanto sucede no caso das
supostas interações entre o meu corpo e a minha
Corpo / &plrlto alma. Tanto o corpo quanto a alma são compostos de
400
PROBLEMA CORPO-MENTE
mônadas programadas para parecerem que intera- Deus, e Deus, instantaneamente, transfere essa
gemo Mas a verdade é que a programação deles é mensagem para a mente. No momento mesmo em que
harmônica, existindo como paralelos, mas não como a mente é estimulada, e precisa comunicar-se com o
estados de interação. Pensemos no som gravado em corpo, envia uma mensagem a Deus, do que resulta a
uma fita de cinema. Essa gravação é feita para mesma coisa que no caso anterior. Usando o exemplo
acompanhar paralelamente as cenas do filme. Ou que dei sobre encontrar um leão na floresta, ficamos
imaginemos o caso de dois relógios que estejam com o seguinte quadro. A mente avalia o perigo
marcando exatamente o raesmo horário. Não representado pelo leão, ao corpo fisico, e rapidamente
colaboram um com ou outro. Mas funcionam envia uma mensagem a Deus. Deus, fielmente,
paralelamente, sempre em perfeita harmonia um com transfere essa mensagem para os músculos da
o outro. Tiquetaqueiam juntos, dão as horas no pema-e eis que saio correndo.
mesmo momento, e estão sempre marcando os Geulincx de Antuérpia, professor de filosofia e
mesmos segundos, minutos e horas. No entanto, a medicina, e Nicolau Malebranche, um mósofo
harmonia que há entre esses dois relógios vem do francês, foram os principais exponentes do ocasiona-
interior de cada um deles, e não em face de alguma lismo, Eles consideravam a matéria como passiva,
interação. incapaz de produzir ou interagir com os processos
Avall8 çio e CrItIcM: mentais. Existem mentes finitas, que se movimentam
1. Leibnitz criou uma teoria que tem atraido muita em Deus, sendo naturalmente sintonizadas por
gente, embora pareça ser mais o produto de uma ele, - e que têm afinidade com a Mente divina.
imaginação fértil do que uma verdadeira exposição da O nosso conhecimento, assim sendo, sempre consiste
realidade. Seja como for, a teoria está fora dos nossos na participação do conhecimento que Deus tem das
meios de investigação. coisas. A alma do homem possui liberdade e força,
2. Essa teoria faz de Deus a única caU3a. Se Deus é mas todas as operações que digam respeito ao corpo
a única causa, então, ele é a causa do mal, o que fisico, precisam ser mediadas através da Mente
parece fazer a teoria de Leibnitz inaceitável, sobre divina(l6).
bases morais. Deus, porventura, programou as Avallaçio e CrltlCUI
mônadas em seu agrupamento comunal para pratica- 1. Se Deus é a ÚDlca causa, então ele deve ser a
rem o mal? causa do mal. Malebranche explicava o mal como
3. Essa teoria reflete um determinismo extremado. resultante da queda do homem no pecado; mas se o
A nossa experiência parece ensinar-nos que somos pensamento conduz ao pecado (conforme a doutrina
capazes, pelo menos em algumas ocasiões, de fazer padrão afirma), então, esse pensamento e o pecado
escolhas genuinas. resultante precisam ser mediados por Deus. Reco-
4. Visto que Deus fez aquela programação, então o nhecendo seu dilema, Malebranche asseverou que o
mundo é «o melhor de todos os mundos possíveís-. mal, quando contemplado universalmente (isto é, do
Mas, considerando todo o caos, a maldade e o ponto de vista divino, que é o mais elevado e o único
sofrimento que aqui aparecem perguntamos por que correto), deve ser visto como um bem. Em outras
motivo Deus não fez um mundo melhor. Meu rosto palavras, no sentido mais estrito, o mal não existe, ou,
não está sorrindo. então, Deus não se envolveria diretamente em sua
V. OculonaDamo (DualIsmo .em Iateqçio) perpetuação. O ocasionalismo, pois, é moralmente
deficiente, pelo menos do ponto de vista cristão
ordinário.
~D~S~"" 2. O ocasíonalísmo não é um sistema econômico.
Força Deus a envolver-se em todo pensamento e ato
humano (e, presumivelmente, animal). e: dificU
, I ~
r
•
perceber como Deus serviria de sistema telefôni~
para receber e transmitir chamadas telefônicas. A
teoria é por demais absurda para ser aceita, sendc,
dificil ver o raciocinio capaz de redimir a teoria dessa
"\, tremenda fraqueza.
:}. Essa idéia ignora aquilo que parece ser a expe··
<,..; riência humana comum. Temos corpos; temos mentes,"
Estes interagem constantemente, a despeito do fato de
Corpo / Elplrlto que somos incapazes de explicar como isso opera. Ê
Reagindo contra o dualismo de Descartes (com melhor tentarmos descobrir aquele como (que conta
interação), os ocasionalistas procuraram criar uma com o apoio de algumas evidências e descrições) do
teoria que não requeresse qualquer interação entre os que inventar idéias extravagantes, que servem apenas
elementos mental e fisico do homem. Em primeiro para afastar-nos ainda mais da verdade dos fatos.
lugar, precisamos afirmar que eles consideravam 4. A eliminação de causas secundárias parece ser
esses elementos reais, pertencentes a substâncias uma maneira barata de sair de uma situaçio embara-
diferentes. Todavia, simplesmente não conseguiam çosa que nos poupa da necessidade de fazer
conceber como substâncias de naturezas diversas investigações frutiferas.
poderiam reagir entre si. Assim, duas explicações VI. Inter.aom.mo (DaaIIIIDo)
diferentes são dadas à questão, conforme mostramos
abaixo. Mas, antes disso, consideremos uma defini- ~._._~--.
ção básica.
Visto que não conseguiam conceber como duas ,
substâncias diferentes (mental e material) podem
;,
•
encontrar um meio para interagirem, eles abandona-
• \,
ram a idéia da interação, substituindo-a por uma
espécie de sistema telefônico celeste. No momento
mesmo em que o corpo é estimulado e precisa
comunicar-se com a mente, envia uma mensagem a
401
PROBLEMA CORPO·MENTE.
o corpo existe. Nio é unta ilusão. Participa da ensinava, o corpo é a prisão ou sepulcro da alma. A
matéria, que é uma substâncla real. A mente também alma resolveu experimentar a materialidade, e acabou
existe. Não é um mero epifenêmeno das atividades presa à mesma, e agora procura desvencilhar-se da
cerebrais. A mente é real, posto que de um tipo matéria por meio da ascensão moral e espiritual. No
diferente de substância, pois é imaterial. A pessoa conceito cristão, a alma participou da queda no
humana é inerentemente dualista. A mente atua sobre pecado ou antes (se a alma é preexistente), ou depois
o corpo, e o corpo atua sobre a mente, apesar das de sua 'associação ao corpo fisico. Seja como for, a
dificuldades que levantamos sobre como e onde essa união com o corpo fisico não é o estado ideal, e nem se
interação ocorre. A mente usa o cérebro como um espera que seja o estado final. Escreveu Paulo, em
instrumento, mas não devemos identificá-la com o Filipenses 1:23: «••• tendo o desejo de partir (morrer) e
cérebro. O corpo fisico limita a mente, enquanto a estar com Cristo, o que é incomparavelmente
mente e o corpo existem formando uma pessoa. Isso melhor...
pode ser ilustrado por um equipamento elétrico. Os O Local da Interação. Esse é um dos mais
geradores de uma grande hidrelétrica podem produzir complicàdos problemas do dualismo. Descartes
uma prodigiosa quantidade de energia elétrica; mas, pensava que o ponto de interação é a gl8.ndula pineal,
se eu disponho apenas de uma lâmpada de 40 watts, localizaCia profundamente entre os dois hemisférios
essa lâmpada só dará luz correspondente a essa do cérebro( 17). Outros postulam uma interação na
energia, a despeito do potencial quase ilimitado por localização de todas as células, ou onde se enc,?ntra o
detrás dela. A mente humana, mediada por meio do sistema glandular como um todo. O psícôlogo
corpo fisico, é reduzida a um mero fragmento de seu Benjamim B. Wolman explorou o problema corpo-
potencial. Um cérebro melhor permitirá que a mente mente em sua obra Contemporary Theories and
funcione muito melhor. Defeitos no cérebro farão a Systems 01 Psychology (1960), onde concluiu que
mente entrar em curto-circuito. Assim também o apesar de haver uma constante interação corpo-
6rgão de algum tabernáculo mõrmon é um instru- mente, que é um fato observ~vel, por enquanto
mento ponderável, mas a sua grandiosidade s6 se ninguém sabe como e onde essa Interação ocorre.
evidencia quando um instrumentista habilitado toca o Dualismo Hindu. Essa fé religiosa tem produzido
mesmo. Por semelhante modo, a mente é um poder complexas idéias sobre a interação da mente e do
capaz de coisas admiráveis; mas se o instrumentista (o corpo. Uma das versões do Iocus dessa interação é
cérebro) é inferior, a mente não conseguirá manifestar aquela que diz que ela tem lugar em sete centros de
grande coisa de si mesma. energia, chamados chakras(18) - . (<<rod~., no
A mente manifesta-se por meio de experiências sânscrito). Esses centros de energia senam vórtices de
místicas quando os homens transcendem a si .mesmos força. As energias espirituais manifestar-se-iam
mediante poderes que eles não entendem multo bem. nesses locais, manipulando as energias do corpo
A mente humana tem afinidade com a Mente divina; físico. Esses sete centros de energia encontram-se: na
e bastaria essa afinidade para tomá-la grande. Jung raiz (base da espinha dorsal); no sacrum (as áreas das
pensava ~ue a mente humana é um depósito da his- forças vitais do homem); noplexo solar (no externo e
tória inteira da humanidade, podendo sondar esse adjacências); no coração; na garganta; na testa e no
imenso depósito mediante a intuição e as experiências alto da cabeça. Esse último centro é o mais elevado, e
mlsticas. Eis por que, segundo alguns pesquisadores, ali é que se daria a consciência da presença de Deus,
alguns sonhos assemelham- se a sintonizar acidental- através da meditação e das experiências misticas.
mente um aparelho de rádio a uma estação de rádio Esses sete vórtices de energia seriam como a escala
estrangeira. Tudo faz parte do inconsciente coletivo. musical de sete notas. As notas inferiores estão
Sócrates acreditava na Mente Universal, e pensava associadas ao corpo e suas necessidades; as notas
que através do raciocínio (como nos diálogos) e superiores estão ligadas à intelectualidade e espiritua-
através da intuição e das experiências místicas, a lidade humanas, Uma versão mais simples dessa idéia
mente humana pode sondar a Mente Universal. é que as chakras ou vórtices de energia estão
Platão fazia da mente humana uma instância da localizadas na posição das glândulas, controlando o
Mente Divina, uma espécie de transmissor limitado corpo mediante o sistema glandular como um todo.
da mesma. Ele também cria que o corpo, com as As energias envolvidas seriam vibrantes e móveis, e a
percepções dos crassos sentidos, serve de obstáculo ao meditação poderia provocar a concentração de
conhecimento, longe de ser a sede desse conhecimen- energias nas áreas intelectuais e espirituais mais
to. elevadas, assim provendo iluminação ao individuo.
Dualismo Naturalista. Alguns estudiosos crêem que Mas, quando essas energias concentram-se em tomo
a mente (a alma, a parte imaterial do homem) é de suas gônadas (ainda segundo essa idéia), então, o
produto da evolução, como sua mais si~ificativa individuo permanecerá essencialmente semelhante a
realização, até este ponto no tempo. Asslnl, é até um membro qualquer do reino animal. A meditação
mesmo possivel crer na existência da alma, sem crer seria o meio de elevar para niveis mais altos essa
na existência de Deus. De fato, há ateus que são concentração de energias.
dualistas. Nesse caso, a alma, apesar de real, e apesar Em favor desse elaborado sistema, os homens
de ser perfeitamente capaz de sobreyiver à morte '!O «santos- do Oriente apontam para as experiências
corpo ftsico, também é natural. Assím, a alma sena misticas que ilustram ~ suas crenças, e não para
imanente, e não transcendente. Mas, se falarmos no evidências cientificas, as quais, por enquanto, não
destino da alma, à parte de alguma provisão celeste existem. Outros salientam a acupuntura como prova,
(comum à maioria das religiões), então, teremos visto que se uma agulha é posta em um lugar, exerce
entrado em uma esfera desconhecida, a menos, efeito em outro lugar. Isso dever-se-ia, alegadamente,
naturalmente, que postulemos a reencarnação, que, ao fato de que o homem é controlado pelos vórtices de
como é óbvio, perpetraria a existência natural e o energia, de tal modo que um toque em um ponto pode
meio ambiente da alma. exercer efeito em outro.
Dualismo Sobrenaturalista, A alma existe por c...apo. de Vida. O Dr, Harold Saxton Burr,
haver sido criada por Deus (ou mediante emanação ou professor de medicina da U Diversidade de Yale,
fulguração), e a sua associação ao corpo fisico envolve detectou campos de vida em redor do corpo humano,
prop6sitos educacionais. Ou,entio, conforme Platão tendo apresentado boas evidências de que as energias
402
PROBLEMA CORPO-MENTE
vitais do ser humano nio terminam em sua pele. Ele levantada por casos de experiências perto da morte,
usou voltimetros muito sensíveis, e descobriu que esse por ele estudados em sua prática médica, é a evidente
campo de energias pode ampliar-se até três metros validade da doutrina religiosa da alma e sua
fora do corpo, As radiações são maiores na cabeça, no sobrevivência ante a morte biol6gica. Ele acredita que
peito e nas mãos, variando de pessoa para pessoa, essas experiências estejam formando uma ponte Que,
aparentemente em harmonia com seus poderes algum dia, fará ligar entre si a ciência e a fé
mentais e suas energias vitais. Esse campo eletrodi- religiosa(21).
nâmíco, de acordo com ele, é um tipo de molde de 2. Carl Jung, através de seus estudos pela vida
energia que organiza a matéria e lhe empresta a forma inteira acerca dos processos psicol6gicos humanos,
que ela assume. Ele pensava que çsse campo é também ficou convencido de que temos caldo em
primário, obrigando a matéria a assuÕ1ir as formas muitos erros em nossas avaliações. eTemos tido de
que ela" assume, e não que, de alguma maneira, esse aprender, através de um sem-número de erros, que a
campo seja irradiado pela pr6pria matéria. Burr medicina orgânica mostra-se totalmente impotente no
ensinou naquela universidade por quarenta e três tratamento das neuroses, e que os métodos psiquicos
anos, e suas pesquisas quanto aos campos de vida podem curá-las... Foi ao reconhecer esses fatos que a
foram um aspecto importante de seus interesses, ciência descobriu a psiQue. e temos a obrígacão de
durante aquele tempo. Publicou o livro Blueprint for admitir a sua realidade» (22). - ,Á medIdaa
Immortality, the Electrical Pattems o/ Li/e, em 1972, ~ea parece favoroc:er a id6ia do intera-
além de haver publicado, no espaço de muitos anos, cionismo.
noventa e três artigos sobre os campos de vida, em 3. Sigmund Freud apresentou muitas evidencias
publicações eroditas(l9). Sua teoria central foi corroboradoras que mostram que a psique pode afetar
apresentada como segue: seriamente o corpo, conforme se vê nos casos de
.0 padrão ou organização de qualquer sistema neurose, hipnose e as descobertas psiconaliticas em
biológico é estabelecido mediante um complexo geral(23). - E chegou a crer na realidade dos
campo eletrodinâmico, determinado em parte por fenômenos psíquicos por causa de seus estudos nesse
seus componentes atômicos físico-químicos, o que, campo e no campo dos sonhos(24).
por sua vez, determina parcialmente o comportamen- 4. Estudos Neurolôgicos, Já pude ilustrar como os
to e a orientacão daqueles componentes. Ese campo é estudos sobre a neurologia têm convencido a alguns
elétrico, no sentido físico, e, mediante s\.'~ proprie- cientistas sobre a realidade da mente como uma
dades, relaciona-se a entidades do sistema bíolôgíco entidade separada do cérebro. Minha citação de
em um padrão característico. Em parte, esse padrão Wilder Penfield (seção I, ponto 5) ilustra isso. Sir
resulta da existência daquelas entidades. Esse padrão John Eccles, prêmio Nobel de 1963, reconhecido por
determina e é determinado por aqueles componentes. seus estudos acerca de como os nervos usam
Além disso, precisa manter o seu padrão em meio ao transmissores químicos para enviar mensagens ao
fluxo fisico-químico. Portanto, precisa regular e cérebro, afirmou sem rebuços que a mente
controlar as coisas vivas. Precisa ser o mecanismo, a transcende ao cérebro, e afirmou ter descoberto o
organização e a continuidade, de onde resultam a local exato, na área motora suplementar do cérebro,
totalidade do sistema bioI6gico,.(20): onde a mente interage com o cérebro. Segundo sua
Edward Russell asseverou que algumas das opinião, o comportamento não consiste em alguma
descobertas de'Burr acerca das extensões do campo de descarga ad hoc e ao acaso de células cerebrais, e,
vida merecem a sugestão de que os seres humanos sim, depende de alguma intenção não-material da
possuem um campo controlador adicional, que pode mente, que age sobre as células fisicas do cérebro,
ser a alma, o tema central de seu livro intitulado levando-as a disparar. Nisso, ele também via uma
Design for Destiny, publicado em 1971. Pessoalmen- confirmação científica do livre-arbítrio, indicando
te, não vejo ai a alma do homem; mas parece que o que os homens são responsáveis pelo que fazem. A
campo de vida é um mecanismo controlado pelo mente é a construtora (2S). A publicaçio Science
intelecto (alma), e através do qual se relaciona ao Digest, de julho de 1982, no ~o intitulado
corpo físico. O feto humano tem o seu próprio campo -Scíentísts in the Search of the Soul», alista os
de vida, sendo possível que esse mecanismo esteja por seguintes cientistas como aqueles que estio desce-
detrás do controle do côdigo genético, que produz o brindo indicações sobre a existência da alma, em suas
corpo da criança, segundo passos apropriados, para pesquisas: Sir John Eccles; Sir Karl Popper; Eugene
que tome a forma devida. Wigner; Briam Josephson; David Bohm.
A Filosofia do Campo de Vida. Platão falava sobre N.B. - O prop6sito dessas afirmações não é
as formas ou idéias que moldam o nosso mundo, de provar, em qualquer sentido, que o interacionismo é a
tal forma que os objetos físicos são imitações das verdadeira visão sobre o problema corpo-mente, mas
formas. Burr referia-se aos campos de vida como apenas mostrar que existem cientistas respeitáveis que
compostos por energias sutis, similares à eletricidade, assim pensam. Logo, não podemos eliminar leviana-
embora, em essência, não sejam elétricas. Ele mente essa idéia. Meus próprios estudos sobre as
acreditava que esses campos são responsáveis pela experiências perto da morte lançam alguma luz sobre
formação das células, pelo crescimento, pelo reparo a questão, favorável à idéia do interacionismo.
dos tecidos e pela continuidade da vida biológica. Se 5. As crenças religiosas e as experiências misticas
Platão tivesse tido conhecimento disso, provavelmente compõem uma parte importante das experiências
teria suposto que as formas operam por meio desse humanas. Elas favorecem o dualismo corpo-mente, e
tipo de mecanismo. as evidências fornecidas por elas devem ser levadas em
A...8liaçlo e Crldcu: consideração.
1. Alguns estudiosos criticam a idéia da interação 6. As qualidades psicológicas como a vontade. as
com base no fato -ae que ela favorece as noções idéias morais, os conceitos de desígnio, finalidade e
religiosas, e que, talvez, resultem dos desejos propósito parecem transcender ao que poderíamos
religiosos. Michael Sabom, contrariamente a. isso, esperar das funções das células cerebrais.
com base em seus estudos sobre as experiências perto 7. Os estudos no terreno da parapsicologia, em seus
da morte, ficou convencido de que esse é um ponto aspectos da telepatia, da clarividência, das curaS
crucial. De acordo com seu parecer, a questão final, psíquicas, do retroconhecimento, do pré-conhecl-
403
PROBLEMA CORPO-MENTE
mento e da psicocinese, parecem favorecer o devem ser considerados substâncias distintas. O
dualismo. substancialismo dualista pode ser identificado ao
8. As experiências perto da morte parecem interacionismo se este último disser que a alma teve
favorecer o interacionismo. efou terá um destino transcendental. No entanto, o
9. As afirmações em contrário incluem aquelas que ínteracíonismo contrasta com o interacionismo natu-
salientam que se não podemos falar com muita ralista. No substancialismo dualista, o espírito pode
inteligência sobre a matéria, muito menos ainda ser concebido como um produto da evolução, se o
podemos fazê-lo acerca da mente ou idéia. O que mesmo disser que o espírito veio à existência mediante'
fazemos é simplesmente transferir os nossos proble- um processo evolutivo, mas devido à vontade de Deus,
mas para um passo atrás, encontrando na mente o que teria usado a evolução com esse prop6sito, e que,
iniciador misterioso da cadeia de eventos que resulta subseqüentemente, a alma assim produzida tem um
em algum fenômeno fisico. Não obstante, não destino transcendental. Porém, não é comum o
sabemos como definir a mente. Antes de mais nada, substancialismo manifestar-se desse modo. No entan-
precisamos confessar que nisso tudo há uma profunda to, essa posição é teoricamente possível, sem que o
verdade. Todavia, dispomos de algumas descrições de conceito sofra violência.
como a mente funciona, mesmo que não tenhamos
qualquer definição sobre o que é imaterial. Há Su_tanelaUamo Plat&Dleo; Uma ExpU~ Trlpil-
evidências em prol da existência independente da ee. Platão dividiu a personalidade humana em três
mente, a despeito do fato de que não há qualquer segmentos: a vegetal (o corpo); a animada (aparente-
descrição metafisica do que seja sua substância ou mente, um atributo da alma, mediante o qual ela
A •
essencia. exibe coragem e elevadas qualidades morais); a
racional (o principio espiritual que participa da nous,
10. O Local da Interação. Têm sido feitas algumas a Mente Divina). Ele aludia à alma como uma
sugestões a respeito, e talvez haja alguma verdade instância da nous (palavra grega que significa
nessas sugestões. Entretanto, ainda continuamos «mente-), mas que teria em si mesma o principio
esperando por uma boa explicação sobre o assunto. eterno da vida, um princípio não-derivado, da mesma
Essa dificuldade, contudo, não anula aquilo que já maneira que a Mente divina não é derivada. Isso
sabemos. significaria que a alma é eterna, ainda que se veja
VD. Substanel8lhmo (DulIsmo; Natureza individualizada nas pessoas humanas. Em seus
Trlplice) diálogos, intitulados República e Faedo, Platão
salientou a alma como o principio do automovimento,
o que nos asseguraria a imortalidade da alma. Em
contraste com a alma, a matéria teria movimentos
derivados, e, assim, seria temporal. A ênfase sobre o
automovimento da alma prossegue em sua obra
.. " .. Leis(26). Nesse contexto, o movimento é o principio da
vida, e não apenas algum movimento local, enten-
\
damos bem. Todas as coisas, pois, estariam
envolvidas em movimento. O crescimento físico, por
~ exemplo, seria uma forma de movimento. O processo
evolutivo dependeria do movimento. Uma das
Corpo f Alma (VltaBdade) f Esplrlto principais características do átomo seria o movimen-
to. Essa força seria criativa e sustentadora, o próprio
principio da vida.
Em seus ensinos éticos, Platão falava sobre a dupla
No contexto do problema corpo-mente, o termo natureza da alma. Os apetites vinculam-na ao que é
substancialismo indica que o espirito (ou alma) do terreno e vil; mas a razão vincula-a a Deus. Os
homem é uma substância transcendental que não apetites tornam a alma rebelde; a razão, porém,
pertence a este mundo material. Teria tido a alma empresta-lhe boa ordem e um avanço ético. A fim de
uma existência anterior, em alguma esfera celestial ilustrar o ponto, ele falava na alegoria do cocheiro
(conforme se vê na teologia da Igreja Ortodoxa cujo veiculo era puxado por dois cavalos. Um deles
Oriental, que acompanha as idéias dos pais gregos da era rebelde, sempre escoiceando, não se deixando
Igreja), ou, então, sem essa condição, pelo menos tem domar: o outro era um cavalo de raça, bem
um destino transcendental. Em conseqüência, de disciplinado e vigoroso. Ambos os cavalos eram
acordo com esse ponto de vista, o homem, na verdade, alados, pelo que a carruagem avançava voando. O
é um estrangeiro e peregrino neste mundo, um cavalo rebelde ameaçava constantemente o equilibrio
cidadão da pátria celestial, que cumpre um prop6sito do vôo, com sua insistência em satisfazer os seus
em um mundo estranho. Nas páginas do Novo apetites. Mas o outro mantinha o equilíbrío, puxando
Testamento, trechos como Colossenses 1: 13 e Hebreus a carruagem cada vez mais para perto do mundo
11:13-16 empregam esse tipo de linguagem. Ademais, superior(27).
a idéia inteira da redenção humana é que a alma, «A alma humana faz parte da razão pura (naus).
cativa em um mundo de iniqüidade, de trevas, de Mas também é parcialmente espiritual (devido aos
materialidade e de temporalidade, é libertada, seus impulsos mais nobres) e parcialmente material
recebendo, então, a cidadania nos mundos eternos da (devido aos seus apetites e paixões inferiores)>>(28).
luz. Todavia, Platão não deixou claro se essa distinção,
SubstaneblllRDo DuaIIata (dicotomia). O homem é dentro da alma, envolve apenas um aspecto ético, ou
composto de duas substâncias diferentes: a material também um aspecto metafísico, Platão usou tais
(o corpo fisico) e a imaterial (espírito-alma). Essa termos a fim de expressar como a alma está dividida
substância imaterial também pode ser expressa como quanto à sua conduta ética e quanto às suas
mente-alma ou mente-esplríto, A alma pode também potencialidades, ou ele queria dizer, realmente, que a
ser usada em contraste com o espírito, Nesse caso, a alma em parte é espiritual e em parte é material, em
alma refere-se aos atributos intelectuais e emocionais sua natureza básica ou essencial? Opino em favor
do espírito imaterial. Porém, alma e espírito não desta última possibilidade. Seja como for, nos escritos
404
PROBLEMA CORPO-MENTE
de Platão encontramos um homem que forma uma imperecível e ímortal(30). - A alma do homem
triada, nos sentidos prático e ético, ainda que, em sua participa dessa razão ativa como um intelecto, mas
essência, ele seja dualista. Aristóteles referia-se a ela como separada do corpo,
O Drama Sagrado da Alma, Segundo Platão. A embora não tivesse certeza de que ela pudesse
substância «alma- sempre teria existido. A alma teria sobreviver como uma entidade separada, por ocasião
participação na vida eterna das Idéias (formas, da morte do corpo físico. As adaptações cristãs, com
universais). Nesse contexto, as Idéias não são base nas idéias de Aristóteles, também eliminam esta
pensamentos, e, sim, algum tipo de entidades dúvida, afirmando a eterna continuação do intelecto
celestes, imateriais, eternas e imutáveis (as coisas que que ê o homem. O tomismo, naturalmente, tomou-se
os cristãos atribuem a Deus). Em sua obra, Leis, a filosofia oficial da Igreja Católica Romana.
Platão chamou ao conjunto de idéias de Deus; e é com Subatanclall8mo & ....élleo. Um tanto menos
base nisso que sabemos que as Idéias, na linguagem sofisticada, filosoficamente falando, é a tricotomia
de Platão, são princípios divinos. A alma humana, defendida por grupos evangélicos. Uma forma
não-individualizada, na verdade, seria uma espécie de popular da trícotomía, diz como segue:
idéia, ou pelo menos, similar às Idéias. Então veio a .....0 homem foi feito à imagem e semelhança de
individualização. A alma seria preexistente; Mas, Deus. Essa imagem encontra-se principalmente na
então, a alma sentiu curiosidade quanto à matéria, e triunidade do homem e em sua natureza moral. O
resolveu experimentá-Ia. E dessa experiência resultou homem é espírito, alma e corpo (I Tes. 5:23). O
a queda da alma na materialidade. Então, a alma Espírito é aquela porção do homem que conhece (I
tornou-se prisioneira de um corpo fisico, ao qual Cor. 2:11), tornando-o parte da criação espiritual e
Platão considerava um sepulcro. Agora, porém, a dando-lhe a consciência de Deus. A alma dá a
alma reconhece que essa experiência foi prejudicial, e entender a vida autoconsciente, em distinção das
procura retornar ao mundo da luz. Para isso, a alma plantas, que têm uma vida inconsciente. Nesse
precisa ser purificada. Mas a purificação é um sentido, os animais, também têm alma (Gên. 1:24).
processo difícil que requer milhares de anos de . Contudo, a alma humana tem um conteúdo muito
reencarnações sucessivas. Platão tomou emprestada mais vasto do que a alma dos animais irracionais. No
essa noção do misticismo ôrfíco, isto é, das religiões homem, ela ê a sede das emoções, dos desejos e dos
orientais. A alma, uma vez adequadamente purifica- afetos (ver Sal. 42:1-6). O coração, segundo o uso
da, retornaria ao seu devido mundo das Idéias bíblico, é quase sinônimo de alma. Visto que o
divinas. Então, ela é reabsorvida pela vida das Idéias, homem natural, muito caracteristicamente, é o
quando então teria atingido a glória eterna. «Para homem animal ou pslquico, a alma é, cOpl
Platão, o destino da alma consiste em recuperar seu freqüência, usada para indicar o próprio individuo
direito de primogenitura, que é reunir-se à eternidade (por exemplo, Gên. 12:5). O corpo físíco, separado do
à qual ela pertence, e da qual, de alguma maneira, espírito e da alma, susceptível à morte, não obstante,
separou-se. Ela pode chegar a atingir esse destino faz parte integral do homem, conforme fica
renunciando repetidamente ao mundo dos sentidos e demonstrado pela ressurreição (ver João 5:28,20; I
refugiando-se no que é inteligível e não dependente Cor. 15:47-50; Apo. 20:11-13). O corpo físico ~ a sede
do tempo, até que, finalmente, tenha-se purificado dos sentidos (os meios através dos quais o espírito ti
suficientemente da escória da terra. E então, chegado a alma têm consciência do mundo), como também dá
o momento da libertação, a alma consegue escapar do natureza adâmica caída (Rom, 7:23,24),,(31).
circulo vicioso da reencarnação, sai totalmente do Os evangélicos caracterizam-se por sua abordagem
tempo, deixa de ser perene e une-se com o eterno. Sua bíblica a problemas dessa ordem, sem qualquer
discussão sobre o amor, na obra Simpósio, nos mistura com opiniões filosóficas, as quais eles
familiariza com essa imortalidade mística, superpes- desprezam.
soal, independente do tempo,.(29).
O substancialismo cristão supõe, conforme pode ser
Conforme se pode ver, a alma, para Platão, notado em todas as suas versões, não meramente a
definidamente é um ser transcendental, pelo que a intercomunicação entre o corpo e a mente, no ser
sua explicação fornece-nos uma forma de substan- humano, mas também uma linha direta de comunica-
cialismo, No tocante ao problema corpo-mente, ção com Deus, visto que o espírito, naturalmente, tem
Platão falava em interacionismo, o que significa que consciência de Deus. Os místicos cristãos têm
ele acreditava em um dualismo radical, mas o seu enfatizado esse aspecto fortemente, especialmente em
interacionismo não é natural, e, sim, transcendental. sua busca por iluminação.
Substanclallsmo Criado. Essa posição, em sua ExpUcaçlo da Panplleol...... No caso das pessoas
forma sofisticada, encontra-se na combinação da envolvidas nos estudos parapsicológicos também
teologia cristã com a filosofia aristoteliana, feita por encontramos a defesa da tricotomia. Ali o corpo é a
Tomás de Aquino. O homem seria um ser triúno, porção material do homem; o espírito é a parte
possuidor de corpo, mente e espírito. A alma é imaterial, parte essa também chamada alma. A
transcendental, uma substância espiritual, que mente, pois, também poderia ser tida como a
sobrevive à morte e penetra nas dimensões celestes, vitalidade do homem, - sendo. que é tida como
por ocasião da morte biológica. A alma é um semimateríal, uma espécie de substância intermediá-
intelecto, tal como Deus é o grande Intelecto ria, que age como uma medianeira. Ela age
(terminologia usada por Aristóteles). Como tal, a vinculando o corpo e a mente. Essa vitalidade é que
alma espírito puro, sendo imperecível e eterna, não
ê explicaria as aparições, que realizam atos mecânicos
sujeita à dissolução, conforme se dá no caso do corpo mas aparentemente destituídos de razão, que não se
físico. Aristóteles falava em uma razão passiva, parecem com os atos de um intelecto (a alma). A
existente na matéria, estando vinculada ao corpo vitalidade humana estaria envolvida nas interações de
físico. Ela seria a responsável por coisas como a mente e corpo, ou de alma e corpo, mas separando-se
percepção, a imaginação e a memória, mas seria dos dois, por ocasião da morte biológica. Muitos
perecível. Porém, ele também falava sobre uma razão pensam que a vitalidade é capaz de sobreviver
ativa, que seria criativa, actualidade pura, por meio independente por algum tempo, para finalmente
da qual os conceitos são concebidos. Essa razão ativa dissipar-se. Essa forma de tricotomia, entretanto, não
existia antes da alma e do corpo, sendo algo imaterial, está necessariamente vinculada ao substancialismo,
405
PROBLEMA CORPO-MENTE
embora possa ter vinculações com o mesmo, se "éque a havido muitas tentativas para provar que se trata de
alma (a parte imaterial do homem), envolvida na um pseudoproblema; masnenhuma dessas tentativas
explicação, for concebida como uma substância tem ficado de pé, diante do exame detido. Tem havido
transcendental. muitas tentativas para encontrar solução. mas, pelo
menos por enquanto, nenhuma solução destaca-se
A......·~ e
CrItI cal: como notoriamente superior às outras. E nem parece
1. O que foi dito no tocante ao dualismo e ao que novas informações empiricas sejam capazes de
interacionismo aplica-se também essencialmente fornecer uma solução decisiva. em favor de qualquer
aqui, exceto que. no caso do substancialismo, há uma e
teoria. bem possivel que a relação entre a mente e o
pesada teologia que apela às religiões sobrenaturais, e corpo seja uma relação final. ímpar, que não pode ser
não meramente ao raciocinio filosófico e às experiên- devidamente investigada e descrita pelo homem.
cias humanas comuns. A verdade existente no Nesse caso, a sabedoria filosófica consistiria em
substancialismo depende em grande parte da verdade desistir da tentativa de compreender a relação entre a
das religiões dependentes da revelação divina como mente e o corpo, preferindo outras relações como
sua principal fonte de conhecimentos. Isso posto, o mais familiares ao homem, e aceitando aquela como
misticismo reveste-se de Importância capital, quando uma anomalia,.(J.7).
se trata de consubstanciar as reivindicações do Acredito, porém, que é cedo demais para os
substancialismo. Parte desse misticismo consiste em investigadores desistirem de suas investigações. As
revelação divina, e parte consiste em experiências experiências perto da morte parecem ter algo com o
místicas humanas. que contribuir. Usualmente, os limites que os homens
2. As experiências perto da morte, entretanto, divisam são os limites de suas próprias mentes, e não
incluem elementos transcendentais, de natureza limites autênticos. Sempre será cedo demais para
negativa e de natureza positiva, que se aliam de modo desistir.
bem definido ao substancialismo. Michael Sabom, Blbll--afla:
conforme já vimos, acredita que essas experiências .....
têm levantado, de modo eloqüente, a questão de qual (1) Taylor, Richard, Metaphysics, Prentice-Hall,
seja a verdadeira natureza do homem; e parece que a Inc., Englewood Cliffs, N.J. 1963, págs. 17-19.
transcendência é uma consideração necessária. Até (2) Reese, W .L., Dictionary of Phüosophy and
pode ser verdade, que, a longo prazo, à medida que Religion, Humanities Press Sussex, Harvester Press,
nosso conhecimento for-se expandindo, a ciência N.J. 1980, pág. 336.
acabe investigando a própria transcendência. E isso (3) Edwards, Paul, editor-chefe, The Encyclopedia
haverá de mostrar que a ciência autolimitou-se of Philosophy, Macmillan Publishing Co., Nova
exageradamente em sua abordagem positivista lógica Iorque, 1967, pág. 336.
à realidade, onde somente à percepção dos sentidos (4) Sabom, Michael B., Recollections o/ Death; A
tem lugar como fonte válida de conhecimentos. Mas Medicai Investigation, Harper and Row, Nova
talvez, nas experiências perto da morte esteja sendo Iorque, 1982, pág. 329.
construida uma ponte entre a ciência e a religião. (5) Sabom, ibid., págs. 173-174.
3. A Morte é a Maior de Todas as Farsas. Isso é o (6) Penfield, Wilder, The Mystery of the Mind,
que o substancialismo procura ensinar-nos. O quanto Princeton University Press, Princeton, Nova Jêrsia,
os homens temem a morte! A vida inteira vivem em 1975, pág. 73.
servidio,por causa desse temor. Eles têm uma ciência (7) Sabom, ibid. pág. 186.
que se consagra a adiar ao máximo a morte. Alguns (8) Einstein, Albert, The Human Side, Helen
têm até congelado cadáveres humanos, na esperança Dukas e Benesh Hoffmann, editores, Princeton
de que a vida lhes possa ser renovada, algum dia, University Press, Princeton, N.J. pâg, 33.
mediante o reavivamento da vida biológica. Tem sido (9) Maritain, Jacques, «A Proof of the Immortality
levantada uma grande indústria que junta dinheiro of the Soul», Religious Belief and Philosophical
com base na morte, com seus esquifes, cultos Thought, Harcourt, Brace and World, Nova Iorque,
religiosos e cemitérios que custam muito dinheiro. No á 52
momento da morte, a fé religiosa estremece. Temos a 1963, p g. 3 .
certeza da sobrevivência da alma; mas, no momento (10) Funk and Wagnall Standard Dictionary; Nova
da morte, parece que essa fé religiosa hesita. No Iorque, 1969, s.v,
entanto, ao que tudo indica, conforme se vê nas (11) Fuller, B.A.O., e McMurrin, Sterling M., A
evidências colhidas nas experiências perto da morte, a History of Modem Philosophy. Henry Holt e Co.,
morte é uma amiga, por ser o portão para uma vida Nova Iorque, glossário xxxvii.
superior. De fato, a morte é um nascimento. Se (12) Edwards, ibid., pág. 313.
examinarmos seus elementos (conforme os mesmos (13) Reese, ibíd., pâg, 546.
são revelados através das experiências perto da (14) McMurrin, Sterling M., The Philosophical
morte), veremos que esses são bem parecidos com os Foundations D/Mormon Theology. University of Utah
elementos do nascimento fisico. A morte, olhada por Press, SLC., 1962, pág. 18.
esse prisma, é a maior de todas as farsas. (15) Fuller, íbíd., pág. 115.
Condado: (16) Reese, ibid., 328.
Este verbete sobre o problema corpo-mente não tem (17) Fuller, ibid., pág. 67.
o intuito de ser um estudo completo e em (18) Rendel, Peter, Introduction to the Chakras, The
profundidade. Todavia, é suficientemente completo Aquarian Press, Wellinborough, Northamptonshire,
para dar-nos uma noção aceitável sobre o que ~tá 1979, pâgs. 22-26.
envolvido. Feito isso, pode-se ver como as experien- (19) Tribbe, Frank G., «The Nature of Non-Material
cias perto da morte projetam luz sobre a questão. Isso Mind: A Psychical Researeh Viewpoint-, The Joumal
pode ser uma valiosa contribuição, visto que o ofReligion and Psychical Research, vol. 8, n? 1, 1985,
problema corpo-mente tem sido um dos mais p á g. 30.
vexatórios problemas da fil osofi a. (20) Tribbe, ibid. pág. 32.
«O problema corpo-mente permanece sendo uma (21) Sabom, ibid., págs. 186-187.
fonte de agudo desconforto para os filósofos. Tem (22) Sahakian, William S., Sahakian, Mabel Lewis,
406
PROBLEMA DO MAL
Realms of Philosophy, Schenkman, Publishing Co., todos os acontecimentos, incluindo os de mâ
Cambridge, Massachusetts, 1965, pág. 271, citando o natureza, ou que deixa de impedl·los mesmos,
livro de Carl Jung, Modem Man in Search of a So",l, mediante a aplicação de medidas preventivas.
Harcourt, Brace and Co., 1933. f. a doutrina biblica da predestinação
(23) Sahakian, ibid., pág. 271. Uma citação de Epicuro, que evidentemente põe
(24) Jones, Ernest, The Life and Work of Sigmund em foco esse problema: «Ou Deus deseja remover o
Freud, Basic Books, Nova Iorque, 1957, pâgs. 385, mal deste mundo, mas não pode fazê-lo; ou ele pode
389 e 393. fazê-lo, mas não o quer; ou não tem nem a capacidade
Michel, Howard e Gruenke, Carol, ..Did Freud e nem a vontade de fazê-lo; ou, finalmente, ele tem
Real1y Say, 'U I Had My Life to Live over Again, I tanto a capacidade como a vontade de fazê-lo. Ora, se
Should Devote Myself to Psychical Research Rather ele te~ a vontade, mas não a capacidade de fazê-lo,
than Psychoanalysis'?», The Academy of Religion and então 1SS0 mostra fraqueza, o que é contrário à
Psychical Research, Annual Conference, Proceedings, natureza de Deus. Se ele tem à: capacidade, mas não a
1986, pâg, 63. vontade de' fazê-lo, então Deus é mau, e isso não é
(25) Eceles, Sir JoOO, The Understanding of the menos contrário à sua natureza. Se ele não tem nem a
Brain, McGraw, Nova Iorque, 1976; The Human capacidade e nem a vontade de fazê-lo, então Deus é
Mystery, Springer, Verlag, 1979, conforme citado ao mesmo tempo impotente e mau e, conseqüente-
pelo The Joumal of Religion and Psychical Research, mente, não pode ser Deus. Mas se ele tem tanto a
..The Nature of Non-Materíal Mínd-, por Frank C. capacidade como a vontade de remover o mal do
Tribbe, pâg, 26. mundo (a única posição coerente com a natureza de
(26) Reese, ibid., pâg, 442. Deus), de onde procede o mal (unde malum?), e por
(27) Platão, Phaedus, 246-257. que Deus não o impede?"
(28) Bentley, John Edward, Philosophy, An Outline- m. DIIu Dlltbaçlel
History , Littlefield Adams & Co., N.J., 1962. Quando falamos do M.I, estabelecemos duas
(29) Fuller, ibid. pâg. 152. distinções, a saber:
(30) Bentley, ibid. pâgs, 20,21. 1. O mal moral, isto é, aquele que se deriva da
vontade pervertida do homem, da desumanidade do
(31) Scofield, C.L, Scofield Reference Bible, Oxford homem contra os seus semelhantes.
University Press, Nova Iorque, sobre Gên. 1:24. 2. O mal natural, ou seja, os desastres, os dilúvios,
(32) Edwards, ibid., pâg. 345. os terremotos, os incêndios, os acidentes, as
enfermidades e a morte, que é o maior de todos os
males naturais.
PROBLEMA DO MAL Porque esses males existem? Por que Deus permite
Esboço: tais condições, sabendo de antemão que acontecerão,
I. Definição e sendo possuidor do poder de impedi-los? Antes de
11. A Reconciliação de Seis Elementos tudo, por que ele permitiu que o mal entrasse no'
Aparen temente Irreconciliáveis universo, se Deus é inteiramente bom, e se faz parte
de nossa teologia o fato de que Deus tem o poder de
111. Duas Distinções governar conforme ele quiser, assim podendo impedir
IV. Diversas Soluções Propostas completamente a entrada do mal? E, finalmente, por
V. A Resposta do livro de Jó que Deus permite que essas condições subsistam?
I. DEFINIÇÃO IV. DI..... Solaç&. PropoitM
A maldade existe e é maligna. Deus também existe 1. O ponto de vista natural. De acordo com essa
e é todo- bondoso e todo-poderoso. Como é que posição o Deus pessoal, onipotente e benévolo é
podemos reconciliar estes fatos? Isto é o problema do substituido. Conforme os que assim dizem, tudo
mal. Sob a seção 11, dou uma lista dos elementos que quanto existe é apenas a matéria, e tudo quanto
entram em choque e que complicam o problema. acontece é apenas movimento da matéria. Portanto,
Teodicéia. Esta palavra vem do grego theos (Deus) matéria em movimento é tudo quanto se pode dizer a
+ dike (justiça). No uso, ela designa a controvérsia fim de descrever a existência. Quando se remove Deus
sobre como podemos reconciliar a existência do mal do quadro, resta somente o mal; mas esse problema é
com a bondade e onipotência de Deus. Leibnitz usou solucionado no sentido que todo o mal é meramente
o termo pela primeira vez em 1710. A teodicéia é a alguma forma de perversidade ou acontecimento
«Teoria para justificar a bondade de Deus em vista da adverso acidental, que atinge coisas inteiramente
existência de maldade no mundo» (MM). Na teodicéia materiais. Por exemplo, um terremoto seria apenas
examinamos e justificamos a conduta de Deus no um reajustamento da crosta terrestre, nada tendo a
mundo. Esta palavra também designa' o ramo da ver com u~ Deus que prevê o desastre ameaçador,
filosofia que trata do ser, das perfeições e do governo mas não o Impede. Em conseqüência disso, não há
de Deus, e da imortalidade da alma. Sendo muita nenhuma força inteligente que, por causa desse
larga, a teodicéia, neste sentido, naturalmente trata do conhecimento anterior, possa fazer cessar os acon,teci-
problema do mal, especialmente nas discussões sobre mentos. Assim, pois, o citado terremoto não é
conceitos do governo divino, mas a primeira definição nenhum mal, mas tão - somente uma Ocorrência
mecânica. J
é aquela que é especificamente envolvida no problema
do ...... Ver o artigo sobre Mal. Porém, de conformidade com esse ponto de vista o
ho~em .é . reduzido a um ser desamparado. ' O
D. A Reeoa.elUaçlo de Sela mem-.. Apareate. «existencialismo ateu»~ que se apega a esse parecer,
IDellte 1necoDefII6". chega ao extremo de dizer que o homem é uma piada
a. a onipotência divina da natureza. Sua existência ocorreu por puro acaso
b. a benevolência divina ~m mundo caótico. A alma e Deus são apenass,ua~
c. a existência do mal invenções mentais, na tentativa de impor ordem e
d. o pronunciamento do julgamento inarredável esperança a algo que verdadeiramente é destituido de
contra o mal ordem, ou, pelo menos, de ordem moral, e que.
e. a presciência de Deus que aparentemente força certamente, nao é acompanhado de esperança
407
PROBLEMA DO MAL
alguma. religião dualista.
Na realidade, esse ponto de vista somente contribui 6. Tiquismo, Esta palavra vem do grego tuche que
para agravar o problema do mal, porquanto não significa chance. Este mundo é mesmo um mundo de
oferece para o mesmo nenhuma solução. Na verdade, caos e chance onde as coisas acontecem sem qualquer
declara francamente que não há solução para tal desígnio. Portanto, é inútil esperar escapar de
problema. Remove o mal somente na aparência, mas, sofrimentos e tragédias. As dores humanas, as
na realidade, aprofunda o desespero causado pela tristezas, as doenças e a morte, afinal, constituem
existência do mal. parte do caos geral. Este mundo é um mundo
2. O ponto de vista deísta. Segundo essa posição, pessimista, e não adianta falar outra coisa.
existe um Deus, que é o criador. Todavia, Deus não se 7. Tiquismo controlado. Enquanto o mundo
faz presente no mundo, e nem mantém qualquer realmente é um lugar como é descrito sob ponto 6, o
interesse pelo mesmo. Não galardoa e nem pune às homem, por força de sua vontade, poder moral e
suas criaturas morais, como o homem, e nem orienta espiritualidade pode impor desígnio sobre este mundo
as leis naturais que ele pôs em movimento, mas antes, de caos. Ele faz isto quando aprende lições em meio à
abandonou-as como coisas inteiramente mecânicas, a miséria e quando ele avança a despeito dos
fim de que governassem sozinhas o universo. sofrimentos. Também, na prática da lei do amor, ele
Mas essa posiçio equivale ao atebmo pr6tlc:o, ao pode anular muitos resultados da maldade que reina
mesmo tempo que, teoricamente, se aferra à idéia da neste mundo. Além disto, se ele é uma alma imortal,
existência de alguma força ou forças superiores. pouca diferença faz se ele sofre nesta esfera física. Na
Todavia, de acordo com todas as considerações imortalidade, poderá descobrir bondade, paz e
práticas, esse ponto de vista é idêntico ao primeiro, desígnio e assim escapar deste mundo caótico. A
porquanto, segundo o mesmo, não há nenhum Deus imortalidade curará tudo.
em vinculação com este mundo. E assim, até onde nos 8. O ponto de vista do otimismo. A despeito de seus
diz respeito, tudo quanto existe é apenas a matéria, e muitos problemas, de acordo com os que assim
tudo quanto acontece é somente movimento. Essa era afirmam, o mundo é o melhor dos mundos. Alguns
a idéia que Epicuro fazia da existência de Deus, e, politeístas aceitavam a existência de algum deus ou
com a passagem dos séculos, muitos têm vindo a deuses bons, que não eram, entretanto, todo'
aceitar tal conceito, incluindo o famoso e profano poderosos, ou seja, não eram onipotentes; e que, por
filósofo francês, Voltaire. A 10 de novembro de 1775, isso mesmo, eram incapazes de impedir a atuação do
um terremoto matou cinqüenta mil pessoas em mal sobre o mundo. De fato, conforme diziam tais
Lisboa, Portugal. Voltaire ficou profundamente individuos, o mal é perfeitamente real, não podendo
amargurado contra Deus. por causa disso, ainda que haver certeza da esperança que o bem prevalecerá por
a sua posição intelectual sobre a questão fosse o fim.
«deísmo». Ele descobriu ser possível alguém ficar FMe ponto de YIata, in1elizmente, tem sido
amargurado contra um Deus cuja existência nega, o defendido por alguns cristãos, que não aceitam a
qual, de acordo com esse mesmo conceito, não onipotência absoluta de Deus, mas que acreditam em
poderia ter qualquer responsabilidade em relação ao sua bondade e em seu «grande» poder, mantendo
que aconteceu. assim a esperança de que ele conseguirá fazer com
3. O ponto de vista do pessimismo. Os que tomam que o bem, finalmente, prevaleça.
essa posição afirmam que Deus realmente existe e é 9. O ponto de vista cristãos; Diversas Idéias: Seria
onipotente; porém, não é um Deus benévolo. Assim melhor falarmos em pontos de vista crsitãos: pois nem
sendo, o mal existe realmente, e até pode ser todos os cristãos estão de acordo sobre o problema oo
provocado pelo exercicio da vontade de Deus. Esse era mal. Assim sendo, devemos' destacar as seguintes
o ponto de vista do filósofo alemão Schopenhauer, o posições cristãs:
qual considerava que a própria existência é um mal, a. Alguns cristãos, conforme foi mencionado
tendo dito: «O maior pecado do homem é que ele acima, aceitam a realidade do mal, mas limitando o
nasceu». O ideal seria que todas as coisas cessassem poder de Deus, apesar de manterem a sua bondade.
de existir, por uma determinação da vontade Esses têm a esperança de que o bem conseguirá
universal (que teria loucura pela vida), revertendo triunfar, finalmente. O mal não seria proveniente de
essa sua tendência, e levando todas as coisas, inclusive Deus e, sim, de outros poderes, inteligentes ou
a si mesmo, a desaparecerem da existência. meramente mecânicos, conforme se vê na natureza; e
4. Voluntarismo cristão. Tudo o que importa é a Deus nem sempre teria perfeito controle sobre tais
vontade de Deus. Se ele salva ou condena é poderes.
problema dele. Alguma coisa é certa porque o faz. Ele b. Teólogos-filósofos como Agostinho e Tomás de
não faz coisa alguma porque é certa por algum tipo de Aquino ; têm procurado solucionar o problema da
lei exterior à vontade dele. A miséria que existe no existência do mal, afirmando que o «mal», como uma
mundo existe pela vontade de Deus e quem pode entidade positiva, realmente não existe. (Ver A
se queixar? Paulo, em Rom, 9:16, utiliza esta teologia Cidade de Deus, de Agostinho, capo XI). Pelo
que já existia no judaísmo, mas o resto do NT, contrário, o mal seria algo negativo, isto é, a ausência
inclusive as escrituras de Paulo, ultrapassam este do bem, o vácuo, tal como o frio é a ausência do calor,
pessimismo. Ver sobre Reprovação. ou como as trevas são a ausência da luz. O mal
5. Dualismo. Ver este assunto. O bem existe; o mal existiria no próprio homem, posto que no homem há
existe. Nunca existiu, e nunca existirá uma um vácuo da boa influência divina. O mal seria,
reconciliação entre estes dois elementos. Continuam realmente, o bem, mal orientado, mas não uma
em guerra. O bem vai vencer, afinal, mas só no entidade positiva, em si mesma. Isso parece explicar
sentido de efetuar uma separação entre os dois algumas formas de mal, de forma adequada, mas não
principios, não no sentido de eliminar o mal. Ou, pode explicar muitas de suas formas; e nem as .
segundo outros, talvez o mal vença. De qualquer mentes não - filosóficas, ou mesmo filosóficas se
maneira, o problema do mal existe justamente porque satisfazem inteiramente com essa explanação. Após
existem os dois princípios opostos que nunca serão exame, tudo se reduz a um ponto de vista «simplório»
reconciliados. Estamos no meio do conflito e sofremos sobre a existência do mal. Foi uma posição criada
as conseqüências. Zoroastrianismo (ver) é uma para aliviar Deus de haver criado ou de estar
408
PROBLEMA no MAL
permitindo o mal, o que ele poderia ter-se recusado a do que o mal. Somente se o homem pertencesse a essa
fazer, sendo um ser todo - poderoso, se porventura categoria de ser é que poderia vir a ser perfeito, à.
assim tivesse querido fazê-lo. Eliminar a existência do semelhança de Cristo, tornando-se assim participante
mal deste mundo, mediante alguma explicação da natureza divina (ver Rom. 8:29; Efé. 1:23; II Ped.
racionalizadora, não dá solução ao problema, mas tão- 1:4). Por conseguinte, a ascensão do homem, para
somente oculta cruamente o mesmo, não passando que venha a participar da posição de Cristo, para que
tudo de um truque filosófico. chegue à sua plenitude, sendo ele quem preenche a
c. Alguns cristãos têm procurado encontrar tudo em todos, só poderia tornar-se uma realidade
soluções parciais, negando a realidade da presciência sendo ele um ser inteiramente livre, alguém que já
de Deus. Assim sendo, no que diz respeito à entrada aprendeu, pela dura experiência, que o bem deve ser
do pecado no mundo, e não no tocante à escolha do escolhido por seu próprio valor intrinseco, em vez do
homem - aceitando ou rejeitando a Cristo - Deus mal. Isso explica, pelo menos em parte, por que Deus
como que eliminou a sua própria presciência, pelo permitiu a queda do homem, embora não tivesse sido
que é incapaz de impedir o mal ou de influenciar os o seu causador. Esse elevado alvo do homem é mais
acontecimentos dessa natureza. Mas essa posição faz importante para Deus do que o de impedir a entrada
de Deus menos do que Deus, e não é a posição do mal no mundo.
defendida pelas Escrituras. Soluciona o problema do e. Por que o mal continua. O problema que indaga
mal apenas parcialmente, porquanto se pode dizer porque Deus permite que o mal prossiga é mais fácil de
que o mal é um produto inteiramente da feitura do compreender e de explicar do que o problema de sua
homem, o qual, por assim dizer, apanhou Deus origem. Assim, pois, o mal continua existindo no
inteiramente de surpresa. Porém, ao solucionar assim mundo, pelos seguintes motivos: a. para servir de
parcialmente, o problema do mal, essa posição cria lição objetiva para o homem; b. para servir de
um problema, relativo ao conceito de Deus, e o punição contra o pecado; c. para servir de testemunha
resultado disso é dos mais abomináveis para a maioria do fato de que praticar o bem é melhor do que
dos cristãos. Agostinho mui astutamente procurou praticar o mal; d. para servir de contraste com a
demonstrar que a «presciência» não exige necessaria- verdade e a bondade de Deus, o que mostra aos
mente o «determinismo»; mas isso em nada nos ajuda homens em que consiste a santidade verdadeira, em
neste ponto, porquanto tudo quanto essa posição extensão maior e mais clara do que seria possivel, se o
afirma é que Deus, desconhecendo o que estava homem fosse um autômato, que jamais pudesse
prestes a acontecer, naturalmente não foi capaz de experimentar pessoalmente do mal (conforme fica
sustar, pelo que também não é o responsável e nem é o subentendido no terceiro capitulo da epístola aos
autor do mal no mundo. Romanos). e. Tragédias, desastres, doenças e morte,
Ponto de . . . do No..-o TfiltalDeDto. Nio existe nos ensinam que somos criaturas dependentes, isto é,
qualquer passagem neotestamentária que se lance à. devemos depender de Deus para estabilidade, paz,
tentativa de dar alguma explicação completa sobre bondade. Só em Deus temos a nossa eternidade.
esse problema; por conseguinte, o melhor que se pode AUa..-..... NI1IIt8.... do pec_, que inclui o mal
fazer é recolher implicações de vários lugares, a saber: tanto moral como natural, porquanto tudo resulta da.
a. Sob hipótese alguma se pode pensar que Deus é o desordem que o pecado introduziu no universo, Deus
originador do mal; mas para muitos, o próprio fato de ensina aos homens a grande lição que é melhor
que ele permitiu que o mal entrasse no mundo, seguirem a ele do que a Satanás, porquanto todas as
através da vontade pervertida, angélica ou humana, maçãs do diabo têm vermes ocultos e que, finannente,
mostra-nos que deve haver algo mais importante para o bem deverá ser livremente preferido, devido ao seu
Deus realizar do que meramente impedir que a sua próprio valor intrínseco, de modo absoluto, sem
criação ficasse maculada pelo mal. qualquer lapso; pois de outra forma, o mal terá
b. Tanto os seres angelicais como o homem foram continuação. Essas lições são duras, mas necessárias,
feitos dotados de livre-arbítrio, o que significa que têm a fim de que seres inteligentes, como os anjos e os
a potencialidade de se inclinarem para o mal. E essa homens, possam tirar verdadeiro proveito da existên-
potencialidade foi que deu margem ao fato. O fato do cia. O mal presentemente existente mostra-nos clara-
mal é assim atribuido à «queda», angelical ou humana mente que ele nos conduz a um alvo errado, quais
(ver Gên. 1; Isa. 14:12 e ss e Rom. 5:12 e ss). os maléficos resultados do pecado, e que quanto mais
c. Mas o problema surge quando aplicamos a intensos são esses resultados do mal, presumivelmente
«presciência» de Deus e a sua onipotência, juntamente mais clara é a lição recebida. Por meio do mal que há
com a sua benevolência. Deus percebeu que o mal se no mundo, Deus é capaz de mostrar-nos quão
aproximava, e poderia tê-lo impedido; no entanto, excessivamente maligna é a natureza do pecado, e
não o fez. Por quê? Só podemos responder que existe essa é a lição de que necessita o universo inteiro.
algo mais importante para Deus do que impedir o E isso nos leva a perceber que a alma humana
mal; que deve haver algum alvo mais elevado, que sempre sofre o que merece, devido às suas ações,
ocupou o lugar mais importante nos pensamentos de presentes ou passadas; e que, por outro lado, sempre
Deus. E neste ponto contradizemos o antigo filósofo, se beneficia em face daquele bem que tiver praticado,
Epicuro, asseverando que o fato de Deus não ter sem importar se isso sucedeu nesta esfera ou em
impedido o mal, não tendo sido o mal uma criação outras quaisquer.
divina, não pode ser tomado como uma demonstração f. Textos e problemas. Algumas passagens biblicas,
de «malignidade» da parte de Deus. como o nono capitulo da epistola aos Romanos,
d. Pelo menos no caso do homem, podemos atribuir parecem ensinar que Deus predestinou os homens
uma razão pela qual Deus não impediu o mal. A fim para um- curso que não conduz a ele, no caso dos que
de que o homem seja levado à transformação segundo estão reservados para a perdição; e isso significa que o
a imagem de Cristo, é mister que seja um ser mal é o curso determinado para essa gente. De
totalmente livre, porquanto essa é a natureza de alguma manejra a vontade divina age conjuntamente
Cristo; outrossim, o homem não poderia ser bom com a vontade humana, produzindo esse curso, o que
obrigatoriamente e, sim, por escolha própria; depreendemos mediante o confronto de certas
também teria de aprender a fazer essa escolha passagens biblicas. Devemos ter cuidado aqui para
voluntariamente, sabendo que o bem é sempre melhor não cair no exagero do hipercalvinismo. O N.T.,
409
PROBLEMA - PROBLEMA SINOPTICO
como um todo, é certamente contra esta posição, a Que nem um verme é ferido em vão;
despeito de alguns versículos que parecem ensiná-la. Que nem uma mariposa com vão desejo
Ora, essa dupla atuação também se verifica no caso E lançada em uma chama infrutífera.
da salvação pessoal. A vontade humana se utiliza do Senão para servir ao ganho de outra.
livre-arbítrio humano sem destruí-lo, ainda que não Eis que de coisa alguma sabemos;
saibamos explicar como isso pode suceder. Isso é um Penso tão-somente confiar que o bem sobrevirá
paradoxo, isto é, um ensinamento que aparentemente Finalmente - de longe -finalmente, para todos.
se contradiz. Não temos resposta para tal paradoxo E que todo inverno se tornará em primavera.
como também não descobrimos solução para como Assim se descortina o meu sonho: porém. que sou
Jesus Cristo pode ser, ao mesmo tempo, divino e eu?
humano, ou para como Deus pode ser um e três, ao Um infante a clamar à noite:
mesmo tempo. Todo paradoxo, aparentemente. se Um infante a clamar pedindo luz;
contradiz; porém, suas partes componentes são E sem linguagem. mas apenas com um clamor.
apenas outros tantos aspectos da mesma verdade.
Porém, como é que isso pode ser, não sabemos dizer. (Alfred Lord Tennyson, 1809-1892).
g. Aquilo que não podemos explicar e para o qual,
na realidade, não dispomos de qualquer solução
perfeita, como é o caso do problema do mal, ainda
V. A·""'.
A Restaançlo (vide) anular' o problema do mal.
J6 é
IJftO tleJ6
o único livro da Biblia que aborda
assim poderemos aplicar-lhe o princípio da fé. especificamente, o problema do mal. Os «amigos» de
Acreditamos que o Juiz de todos tem feito e farã Jó propuseram a teoria comum de que todo
o que é direito. ainda que não compreendamos sofrimento pode ser atribuldo a anteriores atos
plenamente como isso tem sucedido. Cremos, malignos da parte do sofredor. Porem, a resposta
outrossim, que o bem é o grande alvo de todo o mal, finalmente dada por J6 foi a Presença. Vale dizer, na
apesar de não sabermos dizer como isso acontecerão presença de Deus sentimos que tudo vai bem com o
Essa fé, juntamente com quaisquer explanações que mundo, afinal de contas.
porventura possamos formular, é melhor do que
sacrificar a fé na existência e na bondade de Deus, ou PROBLEMA SINÕPI'ICO
do que o enfraquecimento ou a eliminação de
qualquer outro de seus atributos. como o seu poder, o Esboço:
seu conhecimento ou a sua benevolência, conforme I. A Palavra -Sinôptíco»
todos os outros sistemas são forçados a fazer. 11. Exposição do Problema
h. A missão de Cristo tem efeitos absolutamente UI. Idéias Sobre a Origem dos Evangelhos
universais, Efé. 1:9,10,23, e não pode falhar. Isto Sinôpticos
aprendemos de passagens como CoI. 1:16, Efé. 1:23 e 1. Teoria do não-documento
I Ped. 3:18-4:6. Estes versículos ensinam um 2. Teoria do documento único
«humanismo cristão», no qual, afinal, Cristo recebe 3. Teoria dos dois documentos
de novo tudo que ele criou, e para o bemestar de tudo 4. Teoria dos quatro documentos
e todos. Isto não Iarâ de todos. «eleitos», mas IV. Marcos, Principal Fonte (Histórica) dos Sinôp-
certamente resolverá completamente o problema do ticos
mal. V. Bibliografia
Não podemos chegar ao ponto da blasfêmia que VI. Ilustração das Similaridades e Diferenças entre
assevera, conforme têm dito alguns: «Se eu fosse os Evangelhos Sinópticos
Deus, teria criado um mundo melhor», ficando assim
subentendido que não existe nenhum Deus criador. E I. A Palavra «Slnóptlco»
nem podemos ser queixosos, a exemplo do poeta que O termo sináptico se deriva do grego synoptikos,
disse: forma adjetivada de «synopsis», formada de syn (com)
Se eu fosse Deus ... e opsis (vista), O que, aplicado aos evangelhos, veio a
significar «vistos de um ponto de vista comum». Isso
significa que os três evangelhos chamados «sínôptícos»
Se eu fosse Deus... encaram a vida, os ensinamentos e a significação da
vida de Jesus do mesmo ponto de vista. em contraste
Não haveria mais: o adeus solene. com o ângulo de João, cuja apresentação é bem
A vingança, a maldade. o ódio medonho, diferente. Pode reconstituir uma harmonia passável
E o maior mal, que a todos anteponho, com os evangelhos sínôptícos, que registram a vida de
A sede. a fome da cobiça infrene! Jesus na Galiléia, com algumas viagens laterais a
Eu exterminaria a enfermidade. outros lugares. Mas o evangelho de João se limita
Todas as dores da senilidade, quase inteiramente ao que Jesus disse e fez na área de
Jerusalém, razão por que dificilmente se adapta às
A criação inteira alteraria. narrativas dos evangelhos sinópticos com exatidão. A
Porém, se eu fosse Deus... razão desse ponto de vista comum, conforme agora se
(Martins Fontes, Santos, 1884-1937). reconhece quase universalmente, é que Mateus e
Pelo contrário, convém que reiteremos as palavras Lucas usaram o anterior evangelho de Marcos como
daquele outro poeta, que escreveu: seu esboço histórico. Mateus não segue servi/mente a
ordem de eventos da narrativa de Marcos, mas adapta
Oh. podemos ainda confiar que de algum modo o esses eventos em cinco grandes blocos de ensinamen-
bem tos, o que constitui o âmago de seu evangelho. Esses
Será o alvo final do mal, blocos são os caps. 3-7; 8-10; 11-13; 14-18 e
Das dores da natureza, dos pecados da vontade. 19-25. A fim de acomodar o esboço histórico de
Dos defeitos da dúvida. e das manchas de sangue; Marcos a seus blocos didâticos, foi mister rearranjar a
Que nada caminha sem alvo ordem de alguns dos acontecimentos. Lucas, por
Que nenhuma única vida será destruída; outro lado, quase sempre conserva a ordem de
Ou lançada como refugo no vazio. acontecimentos exposta por Marcos, mas omite uma
Quando Deus completar a pilha. seção bastante longa (a maior parte dos caps. 6-8), e
410
PROBLEMA SINOPTICO
faz duas longas inserções no material de Marcos, que
ele recolhera de outras fontes informativas. Grande m. IdéIu SoIHe • ~ ... Emnp"ns
parte dessas inserções de Lucas se acha em Mateus, SID6ptlcoe
mas esparsas, e não da forma condensada em um 1. Teoria do não-documento
número específico de seções. Mateus e Lucas Essa é a idéia que diz que os chamados evangelhos
adicionam à narrativa histórica de Marcos muitos sinôpticos se desenvolveram independentemente uns
ensinamentos de Jesus, pois o evangelho original dos outros, sem qualquer ..fonte comum» na tradição
continha pouquíssimo desse material. Dispunham de oral ou escrita. Segundo essa posição, supõe-se que os
algum material comum, mas também de algum vários autores apenas escreveram o que tinham visto
material distinto, pelo que variam não somente de ou ouvido, sem consultarem a qualquer fonte
Marcos, mas também um do outro. Devido a essas informativa comum.
diferenças (amplamente comentadas em IHA e V Essa é uma maneira muito simplória de considerar
deste artigo), é que temos três evangelhos distintos. o problema, que não pode resistir nem mesmo a uma
Mas, devido às suas. similaridades, sobretudo, um investigação superficial. Todos os estudiosos do Novo
esboço histórico em comum, na realidade apresentam Testamento repelem essa idéia, e algumas das razões
um ponto de vista comum, no tocante à vida e aos dessas rejeições são as seguintes:
ensinamentos de Jesus, sendo apropriadamente
chamados «sinôpticos». Outrossim, o material diversi- a. As obras e palavras de Jesus foram vastíssimas
ficado que há neles não é contraditório, mas antes, (João 20:30 e 21 :25). De acordo com a teoria do «não-
suplementar; pelo que até mesmo suas diferenças não documento», como se pode explicar por que os três
diminuem seu caráter -sinôptico», autores dos evangelhos de M ateus, Marcos e Lucas
acertaram com o mesmo esboço hist6rico, já que se
ll. &podçlo do Problema tratava apenas de um «esboço»? Por que escolheram
e bem mais fW expor a natureza do problem das os mesmos acontecimentos "representativos», quando
poderiam ter selecionado muitos outros? Os evange-
«fontes informativas dos evangelhos sinôpticos- do
que afirmar qualquer conclusão certa. Desde os lhos sinôpticos contam com cerca de oitenta e cinco
primeiros anos, após sua produção, sempre se por cento de material em comum, isto é, material
reconheceu que os três evangelhos, Mateus, Marcos e registrado pelo menos por dois dentre os três, e a
Lucas, são mui similares em conteúdo e apresentação. similaridade do material histórico ainda é mais
Essa semelhança aparece não só no plano geral da notável. Isso jamais poderia ter ocorrido, a menos que
narrativa histórica e dos ensinamentos, mas até nos houvesse alguma interdependência, ou mediante
termos escolhidos para expressar essas coisas. quase
Ê
empréstimo direto, ou mediante a utilização de fontes
impossível evitar a conclusão de que houve um informativas comuns.
empréstimo de uns aos outros, ou, pelo menos, de b. Com base na teoria do não -documento, é
fontes informativas comuns. Talvez houve tanto um" impossível explicar o emprego de palavras e frases
«empréstimo» direto como o «uso comum» de certas idênticas, parágrafos quase idênticos, pelos três
fontes. O «problema sinôptíco- alude àquela «dificul- evangelhos, ao descreverem um mesmo evento, ou ao
dade» que está envolvida na determinação, com relatarem algum ensinamento de Jesus. Se não
qualquer precisão, das relações exatas entre os usaram fontes informativas comuns, poderiamos
evangelhos de. Mateus, Marcos e Lucas; e isso, esperar com razão a mesma história em ..geral»,
naturalmente, envolve a dificuldade de determinar ensinamentos expostos mais ou menos da mesma
quais foram as «fontes informativas» desses evange- forma, e com algumas expressões em comum; porém,
lhos. a similaridade, e às vezes a "igualdade» de palavras,
Pode-se postular certo número de perguntas que frases e narrativas são grandes demais para supormos
incorporam em si mesmas a essência do problema que as relações entre os evangelhos sinôpticos são
sinóptico: acidentais. Tomemos, por exemplo, o caso da cura do
1. Os evangelhos foram escritos «independentemen- paralítico (Mar. 2:10; Mat. 9:6 e Luc. 5:24). Jesus,
te- uns dos outros, sem qualquer fonte comum oral e respondendo a seus criticos, diz: ..Ora, para que
escrita, sendo narrativas somente feitas de memória? saibais que o Filho do homem tem sobre a terra
2. Se houve fontes comuns escritas ou orais, de que autoridade para perdoar pecados - disse ao
natureza e quantas eram elas? paralitico... Levanta-te... li Todos os três evangelistas
3. Qual dos evangelhos sinôpticos é primário? E concordam, sem qualquer variação, nas palavras
esse evangelho foi usado diretamente como fonte de exatas da declaração de Jesus, e a interrompem todos
informação pelos demais evangelistas? Nesse caso, com o mesmo parêntese um tanto desajeitado, e no
como explicar as diferenças, até mesmo no material mesmo ponto. E impossivel supor que todos os três
usado em comum? autores poderiam ter produzido isso, incorporando o
mesmo parêntese um tanto infeliz, se não comparti-
4. Qual foi a fonte de material usado pelos lharam da mesma fonte em comum, que também
evangelhos não-primários, naquilo em que estão de trazia a narrativa desse modo, ou a menos que Mateus
acordo entre si, nas passagens que não figuram em e Lucas simplesmente estavam usando Marcos como
Marcos? sua fonte informativa. Outro tanto sucede aos
vocábulos, até mesmo raros. Em Mar. 9:42 temos a
S. Quando um evangelho não - primário tem expressão «pedra de moinho» (no grego, literalmente,
material peculiar a si mesmo, qual foi sua fonte é «pedra de moinho girada por um asno», o que é
informativa? expressão extremamente incomum). No entanto,
6. Quais foram as fontes informativas do evangelho Mat. 18:6 a reproduz. Em Mar. 13:20 temos «Nio
primário? tivesse o Senhor 'abreviado' aqueles dias... », palavras
As discussões que se seguem dão resposta a todas que literalmente significam «tivesse mutilado», o que é
essas indagações, embora não na ordem em que elas expressão raríssima, pois não é utilizada para outra
são feitas aqui. No fim da discussão sobre a «Teoria coisa senão para mutilações ftsicas. No entanto, no
dos quatro documentos», ponto 4, seção 111, são paralelo de Mat. 24:22, o mesmo uso é duplicado.
dadas as respostas a essas perguntas, de forma Esses exemplos poderiam ser multiplicados grande-
.abreviada, e na ordem em que são aqui alistadas. mente pela simples comparação das diversas narrati-
411
PROBLEMA SINOPTICO
vaso grande acúmulo de tão excelente material.
c. Papias, discípulo de João (apóstolo), nos diz
que Marcos não registrou os acontecimentos da vida b. Igualmente difíceis de explicar seria o que. se
de Jesus necessariamente na ordem em que sucede- convencionou chamar matérias M e L, ou seja,
ram. Sendo fato que a ordem de acontecimentos em aquelas narrativas e acontecimentos, juntamente com
Marcos nem sempre reflete os fatos históricos, como ensinamentos, que somente Mateus registra (M), ou
pode ser que os autores de Mateus e Lucas registram que somente Lucas registra (L). Dificilmente esse
de modo geral a mesma ordem de acontecimentos? Se material poderia fazer parte de um «único documen-
porventura escreveram de memória, quase certamente to» original, que foi usado por todos os três
teriam corrigido a ordem dada por Marcos, evangelistas. A matéria é suficientemente extensa para
apresentando ordens diversas para os acontecimentos mostrar que devem ter sido usadas fontes informativas
da vida de Jesus. Outrossim, se tivessem escrito de reais, pois não podem ter sido produto de mera
memória, sem qualquer interdependência, é certo que imaginação ou adorno literário. A fonte informativa
não teria tanto acordo quanto há no tocante à ordem M consiste de cerca de 300 versiculos (ou seja, uma
dos eventos, pois muitos anos se tinham escoado terça parte da totalidade do volume do evangelho de
desde sua ocorrência até que foram registrados, Mateus), que só Mateus contém. A fonte informativa
permitindo tempo para que lapsos de memória L equivale a cerca de quarenta por cento do volume
influíssem sobre a ordem dos acontecimentos. (Ver as total de Lucas, e só ele contém esse material. Essa tão
citações de Papias em Eusébio, História Eclesiástica grande adição proporcional dificilmente é devida à
111. 39.15). imaginação dos autores sagrados, e nem se pode
pensar que Marcos omitiu os denominados materiais
2. Teoria do documento único M e L, se o «único» documento usado por todos eles
Alguns estudiosos supõem que os evangelhos como fonte, os continha. (A natureza mais exata das
sinôpticos tiveram um único documento como fonte supostas fontes adicionais, como Q, M, L, é debatida
informativa, que seus autores usaram em comum. As em 111.4, sob o título «Teoria dos Quatro Documen-
diferenças surgiram quando cada autor modificou, tos»; e pormenores às peculiaridades de cada um
apagou ou adicionou material. Esse «documento» deles).
poderia ter sido escrito ou era uma «tradição oral»
padronizada de alguma sorte, que serviu de fonte c. O testemunho do pr6/ogo de Lucas (1: 1) é
única postulada. definidamente contrário à teoria do «documento
Essa teoria, naturalmente, é rejeitada pela esmaga- único», pois afirma especificamente que havia muitas
dora maioria dos eruditos, pelas seguintes razões: fontes, indicando claramente ~que vários outros
a. Embora a teoria do «documento único» seja também já haviam escrito. Quando alguém «em-
superior àquela que fora ventilada, não oferece preende uma narração», usualmente fá-lo em forma
qualquer solução razoável para a inquirição nas escrita, e Lucas diz que muitos já se tinham atarefado
naturezas diversas dos três evangelhos sinópticos. Pois em tal atividade. A verdade da questão parece ser que
resta ainda inquirir sobre o material que foi Lucas, pelo menos, se utilizou de muitas fontes
adicionado ao proposto documento único. Pois o que informativas, tanto orais quanto escritas.
foi adicionado se reveste de natureza significativa. Em 3. Teoria dos dois documentos
outras palavras, o que os evangelhos sinôpticos têm Quase todos os eruditos que estudam tais questões,
em comum pode permitir-nos supor que esses consideram Marcos como o evangelho original (pelo
evangelhos não tinham «um único documento» em menos dentre os que conhecemos hoje em dia); e que
comum, e essa seria a fonte informativa que lhes esse evangelho foi usado como base do esboço
emprestou o seu esboço histórico. Porém, essa histórico de Mateus e Lucas é posição firme de
suposição de modo algum avançaria o nosso muitos. Na seção IV deste artigo, há provas
conhecimento acerca da fonte informativa comum dos abundantes em apoio a essa reivindicação. A Marcos,
«ensinamentos» apresentados por Mateus e Lucas, como «fonte histórica», alguns acrescentam Q, a fonte
que Marcos ou não possuía, ou preferiu não utilizar. didática, isto é, os «ensinamentos de Jesus» (cerca de
Se o documento original incluía os «ensinamentos», 250 versículos), que Mateus e Lucas têm em comum,
então não podemos imaginar por que razão preferiu mas não Marcos. O símbolo Q vem do alemão
apagar os mesmos, assim produzindo um evangelho «quelle», que significa «fonte», e indica especificamen-
«magro». A Ionte informativa dos ensinamentos Q, te um conjunto de ensinamentos de Jesus.
consiste de cerca de duzentos e cinqüenta versículos. A fim de ilustrar a teoria dos «dois documentos»,
Marcos sob hipótese alguma teria deixado de lado tão apresentamos o diagrama abaixo:
Fontee . . SlnóptlCOl
I
Protomarcos «Q» (vquelte-), fonte dos ensinamentos
Evangelho de Marcos
Evangelho de Lucas
I
Evangelho de Mateus
(Quanto a uma explicação das fontes de Marcos - na igreja de Roma e as memórias de Pedro. Mateus e
o protomar.cos - ver 111.4, a "Teoria dos Quatro Lucas, por sua vez, se utilizaram do evangelho de
Documentos»), Supomos que Marcos usou várias Marcos, pelo que dispuseram do esboço histórico em
fontes orais e escritas, incluindo a tradição preservada geral, além de alguns ensinamentos de Jesus. E a isso
412
PROBLEMA SINOPTICO
ambos adicionaram os «ensinamentos» ou Q. devedores (7:41-50), do bom samaritano (l0:2S-37),
A idéia da fonte em «dois documentos», porém, do amigo importuno (11:5·10), do rico insensato
imediatamente-ficou sujeita à crítica, pois ainda resta (12:16-21), da figueira estéril (13:18,19), quatro
explicar os 40070 de material lucano (L), bem como outras parábolas (14:7-33), da moeda perdida
113 do material de Mateus (M), que não provieram (15:8-10), seis outras parábolas (15:11-18:8), além de
nem de Marcos e nem de Q, que são substanciais e sete milagres (4:30; 5:1; 7:11; 13:11; 14:1; 17:11;
obviamente autênticos, - forçando-nos a postular 22:50), sobre os quais os outros nada dizem. Deve ter
fontes informativas adicionais, provavelmente em havido alguma fonte informativa ou mesmo várias
forma escrita. Lucas, por exemplo, conta com 16 para esse material empregado exclusivamente por
parábolas que lhe são totalmente peculiares. Ele não Lucas. Além das dez parábolas peculiares a Mateus,
teria criado essas histórias sobre Jesus. Podemos há três milagres que somente esse evangelho encerra
meramente crer que Lucas pôde recolher algures essas (9:27; 9:32 e 17:24). Torna-se bem evidente, pois, que
parábolas de Jesus, e que constituem uma fonte da houve mais fontes informativas envolvidas na
qual Marcos e Mateus não dispuseram. Por igual compilação dos evangelhos do que meramente os dois
modo, Mateus tem 10 parábolas que não se acham propostos pela teoria dos «Dois Documentos».
nem em Lucas e nem em Marcos, pelo que deve ter 4. Teoria dos quatro documentos '
tido acesso a documentos ou, pelo menos, a um Nenhum erudito moderno diria que a teoria dos
documento, sobre o qual os outros nunca puseram as «quatro documentos» se aproxima da perfeição, e nem
mãos, por ignorarem-no totalmente. Além disso, no que nos dá o quadro mais completo da verdade dos
tocante a algum material usado por Mateus, Lucas fatos. No entanto, de modo geral, essa teoria nos
tem apenas em forma abreviada e fragmentar. Por fornece uma boa maneira de «abordar» o problema, e,
exemplo, o Sermão da Montanha. Lucas tem como teoria, certamente tem sido mais frutífera que
fragmentos do mesmo, dispersos por seu livro. E as outras que já foram propostas. É possível que mais
difícil crer que ele usou a mesma fonte informativa fontes informativas estejam envolvidas, e não somente
que Mateus usou nesse caso; mas tinha algum quatro; mas é igualmente possível que muitas coisas
ma terial similar e idêntico, embora em menor declaradas nessa teoria sejam válidas, ainda que não
quantidade, paralelo à fonte informativa usada por possamos proferir qualquer resposta absoluta no caso
Mateus. Lucas registra a parábola do credor com dois do problema das fontes informativas.
FONTESDossmOPncos
Evangelho de
Marcos, 55
D.C.
~~----
Evangelho de Mateus,
cerca de 8S D. C.
~----
-----------
Evangelho de Lucas,
cerca de 80 D.C.
EqJlleaçIo ela FoatellDfO"lDatlT.1 dadas diretamente por Pedro. Portanto, embora não
tenha sido escrito por uma testemunha ocular, o
1. O Protomarca. evangelho de Marcos conta com o respaldo da
Ao considerarmos esse tema, abordamos uma série autoridade apostólica. (Ver I Ped. 5:13, onde Marcos
inteiramente nova de problemas e debates. No é chamado por Pedro de seu «filho-), A maioria dos
artigo sobre o evangelho de Marcos, seção 6, a eruditos crê que por detrás do testemunho de Pedro
questão é discutida. Aqui, pois, expomos· somente temos a tradição da igreja de Roma, pois Marcos é o
conclusões. Certos testemunhos antigos, e especifica- evangelho romano. Cada um dos principais centros
mente Papias (discípulo de João ou do presbítero) cristãos se tornou depósito de certo número de
vinculados com trechos do próprio evangelho, tradições, escritas ou orais, da parte de testemunhas
mostram que uma porção central de Marcos se baseia oculares, ou mediante relatos em segunda ou terceira
no testemunho ocular apostólico, a saber, o de Pedro. mão. Vários desses centros do cristianismo se
Mediante outras referências do N .T. (fora do tornaram fontes informativas dos evangelistas que
evangelho de Marcos), ficamos sabendo que Marcos e escreveram evangelhos canônicos. Além disso, deve-
Pedro foram associados, pelo que não teria havido mos supor que algum material de Marcos proveio de
problema para Marcos compilar grande parte de seu tradições orais e escritas, algumas apostólicas
evangelho através de informações que lhe fossem (baseadas em outros apóstolos além de Pedro), e
413
PROBLEMA SINOPTICO
outras de testemunhas secundárias, as quais não eclesiástica. O trecho de Luc, 1: 1 indica que muitos já
tinham participado dos próprios acontecimentos, mas tinham posto em forma escrita a vida de Jesus. 'e
conheciam pessoas que haviam participado dos possível, pois, enquanto procuramos reduzir nossos
mesmos. Sem dúvida, algumas narrativas sobre a vida principais testemunhos a supostos «quatro» na
de Jesus, e alguns de seus ensinamentos, foram realidade tenha havido muito mais que isso. Todavia,
preservados para os evangelhos mediante uma única com «quatro» se pode classificar, de modo geral, as
testemunha, e não mediante umacot:llunidade fontes informativas dos evangelhos sinôpticos.
1 2 3
Narrativa de testemunhas Tradições orais e escritas Outras tradições orais e
oculares de Pedro: as me- da Igreja de Roma escritas, alguns dos
mórias de Pedro apóstolos e outras teste-
munhas oculares fora da
Igreja de Roma.
Evangelho de Marcos
talvez tão remoto quanto SS D.C.
-------
2. M - tndIçIo da ..... de AatIocpda. Muitos empréstimo de Marcos, aqui e acolá exibem alguns
crêem que o evangelho de Mateus foi escrito em detalhes e narrativas em Mateus, que não figuram em
Antioquia da Síria. Se isso é verdade, então qualquer outra porção. Mateus diz especificamente
naturalmente o autor sagrado teria se utilizado de que o dinheiro oferecido a Judas foi trinta moedas de
material preservado naquela comunidade eclesiástica, prata; identifica Judas como traidor, por ocasião da
tanto oral quanto escrito. Cada comunidade ecle- última ceia, o que Marcos não faz; conta a história do
siâstica «isolou» certo acúmulo de matéria válida sonho da esposa de Pilatos, e fala do terremoto e da
acerca da vida e dos ensinamentos de Jesus, ressurreição de santos quando da crucificação de
tornando-se assim uma fonte de informações que Jesus; alude à vigília ante o túmulo, e ao suborno
representava uma determinada área geográfica. dado aos soldados, para que-mentissem, No entanto,
Antioquia da Síria foi um dos primeiros centros do Mateus omite a aparição de Jesus aos discipulos, na
cristianismo, e o evangelho de Mateus, desde o Judéia (após sua ressurreição), e não menciona o fato
começo, foi o evangelho mais popular naquela da ascensão, embora nos forneça a aparição de Jesus
localidade. Inácio, supervisor de Antioquia (107 na Galiléia, além de não dar uma forma distintiva da
D.C.?). mostrou sua preferência pelo evangelho de Grande Comissão. Algumas das coisas aqui sugeridas
Mateus. Alguns chegam mesmo a supor que a como provenientes de M, poderiam provir de
passagem de Mat. 16:17-19 tenha sido uma adição, narrativas individuais, da parte de pessoas não-
feita naquela comunidade, ao texto do evangelho, relacionadas de forma alguma à comunidade eclesiás-
porquanto Pedro era muito estimado naquela porção tica de Antioquia ou de Jerusalém, ou de onde quer
do mundo. que a fonte M se tenha desenvolvido. Contudo, não
M - aquilo que pertence distintivamente a Mateus pode haver dúvida razoável de que um documento (que
- representa cerca de 300 versículos, uma boa parte consiste de várias tradições orais e escritas, finalmente
dos quais, de algum modo, trata de leis e de costumes registradas) realmente existia e foi empregado pelo
judaicos. Observando isso, alguns eruditos preferem autor do evangelho de Mateus, uma tradição de que
identificar com M a «Judéia» ou mesmo «Jerusalém», ele dispunha, mas fora do acesso dos demais
e, nesse caso, a igreja de Jerusalém seria a fonte evangelistas sinôpticos. .
informativa. Alguns, que identificam M com Jerusa- 3. A fORte Q" (qaeDe). Cerca de 250 a 300
lêm, então identificam Q com Antioquia. Outros versículos sio preservados em comum por Mateus e
identificam M com o partido judaizante extremo de Lucas, os ensinamentos de Jesus, que não são
Jerusalém, embora a evidência em torno disso não registrados por Marcos. Supõe-se, pois, que esse
seja muito convincente. bloco de material veio de uma fonte que aqueles dois
Material M. Consiste do seguinte: a genealogia autores tiveram, mas que Marcos não conhecia, ou
(1:1-16); algumas narrativas como as dos magos que ignorou (mais provavelmente a primeira possibi-
(2:1-12), várias parábolas, como as que se acham em lidade). Alguns eruditos têm pensado que Q foi o
13:36-43,44,45,46,47-50; 18:23-35; 20:1-16; 21:28- documento a que Papias aludiu como «Oráculos do
32; 22:1-14; 25:1-13,31-46. Mateus conta três Senhor», da autoria de Mateus. Aquele documento.
milagres que os outros não narram: a cura dos dois entretanto, foi escrito em aramaico, ao passo que o
cegos (9:27); a cura do endemoninhado (9:32); e a evangelho de Mateus foi todo escrito em grego.
moeda na boca do peixe (17:24). Além disso, as Todavia, não é impossível que os "Oráculos do
questões atinentes ao julgamento, crucificação e Senhor», escritos por Mateus, sejam uma fonte de Q,
r~surreição, embora tomadas largamente por ou pelo menos, estejam relacionados a ela. Talvez a
414
PIJ,OBLEMA 8INOPTICO
fonte Q seja uma tradução daqueles oráculos, ou, pelo Por conseguinte, apesar de não podermos provar a
menos, estivesse baseada nos mesmos. 'E: altamente existência da fonte Q, da mesma maneira irrefutável
improvável porém, que os «Oráculos do Senhor» com que podemos «provar» que Marcos foi usado
sejam a mesma coisa que o evangelho de Mateus, como fonte tanto de Mateus como de Lucas, 'esse
conforme pensavam vários estudiosos da antiguidade, conceito é o melhor que já foi apresentado para
pois não há nenhuma evidência de que Mateus seja explicar o material comum em Mateus e Lucas, no
tradução proveniente do aramaico. Seja como for, tocante aos «ensinamentos» de Jesus. Todavia, no
sem importar quais sejam as relações entre Q e os presente é impossivel fazer qualquer descrição veraz
Oráculos, é improvável que Lucas simplesmente do material Q. E porções daquilo que atribuimos a
tenha copiado informações de Mateus, incluindo Q, poderiam pertencer a outra fonte que continha
apenas esta porção, porquanto se ele contasse com material similar, de tal modo que cada autor sagrado
-uma cópia do evangelho de Mateus, é quase certo que se utilizou de mais de uma fonte, que continha
teria incluido muito mais do mesmo do que o material material parecido, embora o produto final tenha
Q. Pelo contrário, houve uma fonte informativa, resultado similar.
como os «Oráculos do Senhor», .a qual ambos 4. FODte L - tndIçIoda ..... de c..nIa' Essa
tiveram acesso. Não existem boas evidências de que suposta fonte informativa representa cerca de 40% do
Mateus dependeu de Lucas, ou vice-versa; mas a volume de Lucas, e envolve tanto énsinarriento quanto
evidência esmagadora é que ambos se estribaram em narrativa histórica. A tradição antiga associa Lucas a
uma fonte informativa comum, a qual identificamos Antioquia, mas isso não quer dizer que ele tenha
pela letra Q. escrito ali o seu evangelho, como se houvesse-se valido
O material Q. Consiste do seguinte: já que essa das tradições existentes naquela cidade. Alguns
fonte inclue essencialmente os ensinamentos de Jesus, supõem que o evangelho de Lucas foi escrito em
consiste principalmente de parábolas: Mat. 7:24-47 Roma; mas outros pensam em Éfeso ou Corinto. O
com Luc. 6:47-49; Mat. 12:43-45 com Luc. 11:24-26; fato é que, historicamente falando, não podemos
Mal. 13:33 com Luc. 13:20,21; Mat. 18:12-14 com vincular textualmente o evangelho de Lucas a
-Luc. 15:3-7; Mat. 24:42-44 com Lucas 12:36-40; Mat, qualquer lugar especifico. O livro de Atos mostra-nos
24:45-51 com Luc. 12:42-48; Mat. 25:14-30 com Luc. que Lucas acompanhou Paulo em muitas de suas
19:11-27. Alguns também incluem nessa fonte certas viagens missionárias; mas Lucas quase certamente
narrativas, como a forma adornada da história da escreveu o seu evangelho após as experiências
tentação, a narrativa sobre o servo do centurião de narradas no livro de Atos, pelo que nenhuma
Cafarnaum, e algum material concernente a João localização geográfica pode ser demarcada como local
Batista. onde ele escreveu seu livro. Alguns estudiosos vêem
Alguns eruditos têm atacado a própria existência de evidências, no próprio material lucano, de uma
qualquer documento Q, pelo que normalmente a origem palestina, sobretudo no tocante a algumas
existência do material Mateus-Lucas é explicada com parábolas. Porém, qualquer material «palestino» com
base em duas tradições «justapostas», mas um tanto facilidade poderia ter sido pteservado na igreja de
diversas, tendo Mateus se alicerçado em uma delas, Cesaréia ou em qualquer outro lugar, tendo sido
ao passo que Lucas se baseou na outra. Mas outros compilado ali, e não em Jerusalém. De acordo com a
estudiosos simplesmente supõem um - empréstimo tradição antimarcionita, após o falecimento de Paulo,
- direto de Mateus a Lucas, ou de Lucas a Mateus, Lucas continuou seu ministério na Beôcia, na Grécia,
Apesar disso ser possível, é extremamente ím- até a idade de 84 anos; e, nesse caso, seu evangelho
provável que Mateus, ao utilizar-se de Lucas, tenha pode ter sido escrito ali. Contudo, o próprio Lucas
omitido nada menos que dezesseis parábolas e muito nos fala de suas investigações e pesquisas (Luc.
outro material, algum dele de cunho histórico. Se 1:1-3), sendo perfeitamente possivel que L, seu
Lucas copiou de Mateus, então por que ele omitiu dez material distintivo, realmente seja uma compilação de
parábolas e três milagres, e por que ele não procurou achados baseados em tradições derivadas de muitos
reconciliar suas narrativas do nascimento e sua lugares e de muitas pessoas, algumas das quais seriam
genealogia ao que Mateus escreveu, ou por que não narrativas feitas por testemunhas oculares diretas,
incorporou em seu evangelho certas narrativas, apostólicas ou não, ao passo que outras seriam
sobretudo acerca dos incidentes iniciais da vida de narrativas em segunda mão. Com facilidade ele
Jesus? Parece que se houve qualquer empréstimo poderia ter interrogado os. setenta discípulos, tanto
direto, Mateus e Lucas seriam muito mais parecidos quanto os Qnze apóstolos originais; e por que motivo
um com o outro, do mesmo modo que quase a duvidariamos que grande parte de seu material, que
totalidade do evangelho de Marcos fui .incorporada outros evangelhos não possuem, se tenha originado de
por Mateus e Lucas, simplesmente porque Marcos foi suas extensas pesquisas? Já que Cesaréia foi um dos
verdadeiramente usado como fonte informativa de primeiros centros cristãos, parte da sua fonte
ambos. Se Mateus de fato tivesse. sido uma das fontes informativa L, poderia ter-se alicerçado sobre as
informativas de Lucas, teríamos um evangelho lucano tradições daquele lugar.
bem maior; pois se Lucas achou por bem usar cerca O material L. Consiste do seguinte: o material
de 60% de Marcos, incorporando em seu evangelho distintivamente lucano são as palavras que estão em
seis grandes blocos de material, é provável que ele não Luc, 7:36-50; 10:25-37; 11:5-10; 12:16-21; 13:6-9;
tivesse usado menor proporção do evangelho de 14:7-11; 14:16-24; 14:28-30; 14:32-33; 15:7-10;
Mateus. Nesse caso, ele teria usado bem mais 15:11-32; 16:19-31; 17:7-10; 18:1-8; 18:9-14. Ele
material, e o material comum a Mateus e Lucas registra seis milagres que os demais não fazem: Luc.
certamente ultrapassaria a 250 versículos. Mas as 5:1; 7:11; 13:11; 14:1; 17:11 e 22:50. A isso
diferenças entre Mateus e Lucas são simplesmente precisamos acrescentar os capítulos introdutórios ao
grandes demais para supor-se que houve qualquer evangelho, a genealogia e certas «narrativas sobre o
«interdependência». O evangelho de Mateus incorpo- nascimento», bem como a "longa viagem a Jerusa-
ra 600 dos 661 versiculos de Marcos; e se o autor de lém» para celebração da última j>ãscoa (que alguns
Mateus tivesse usado Lucas como fonte informativa, estudiosos denominam "Documento de Viagem», que
teria produzido um evangelho bem mais amplo. Por tem boa porção de material histórico, além de
que ele teria usado tanto de Marcos, e comparativa- declarações de Jesus), Luc. 9:51-18:14. A seção de
mente tão pouco de Lucas? Luc. 6:20-8:3, também não pertence a Marcos; e na
416
PROBLEMA SINOPTICO
história da última semana da vida terrena de Jesus. evangelho de Marcos, e seu uso como fonte
encontramos a adição de vários detalhes que não se informativa).
acham na história de Marcos. Entre tais detalhes 4. A fonte Q, cuja natureza exata não pode ser
temos o «suor como sangue,., no jardim do definida com as evidências que possuímos no
Getsêmani, a declaração que diz: «Pai. perdoa-lhes, momento, foi a fonte usada por Mateus e Lucas,
porque... ». a conversa dos ladrões na cruz, a quando os dois estavam em consonância com o
promessa do paraíso a um deles, a caminhada até material não-pertencente a Marcos.
Emaús, uma aparição de Jesus em Jerusalém, após a
ressurreição, a ascensão, e a volta dos seguidores de 5. Mateus, um evangelho não-primário. ao usar
Jesus a Jerusalém. a fim de adorarem. Não resta material peculiar a si mesmo, tinha uma fonte. M.
dúvidas de que Lucas seguiu uma tradição diferente. que é descrita sob a seção 111.4.2. Lucas contou com a
nessas narrativas. em confronto com aquilo que fonte L. descrita em 111.4.4.
Marcos soube. 6. As fontes do evangelho primário foram diversas,
Tal como no caso da fonte informativa Q, alguns como as memórias de Pedro. a tradição da igreja de
estudiosos têm duvidado da própria existência de L, Roma (para a qual contribuíram muitos participan-
como fonte isolada. preferindo supor que em seu tes), e os relatos de testemunhas oculares. algumas
lugar houve muitas fontes informativas miscelâneas. apostólicas, juntamente com relatos em segunda mão.
ou mesmo que Lucas meramente desertou de seu provenientes de outras comunidades ou indivíduos.
posto de historiador, e compôs vários incidentes e (Ver sobre o «protomarcos», em 111.4.1).
parábolas, que figuram somente em seu evangelho, e As conclusões da presente investigação são consi-
não nos outros. E bem mais provável. porém. que deradas meras tentativas, estando sujeitas a revisão.
Lucas fosse homem honesto. capaz de descobrir Contudo, embora de modo algum queiramos ser
muitas coisas que outros não descobriram. tendo-os dogmáticos, cremos que algumas das coisas aqui ditas
reunido em uma «compilação». A isso chamamos de L nos aproximam mais da verdade concernente às
e não nos sentimos na obrigação de associar esse fontes informativas dos evangelhos sinôpticos, do que
material a qualquer dada comunidade eclesiástica. A 'poderiamos fazer previamente. antes de qualquer
fonte L certamente resulta da pesquisa mencionada investigação.
em Luc. 1:1-3. Apesar de não ter sido alguma «fonte IV. ~ , Prlndpal Fonte (Histórica) dos
isolada». como pode ter sido o caso de Q. não SlDóptlcu.
obstante. tratava-se de composição escrita. cuidado- Reconhece-se de forma virtualmente universal, hoje
samente preparada por Lucas. que repousava sobre em dia. em contraste com os séculos anteriores. que o
incidentes autênticos da Maravilhosa História. evangelho de Marcos foi o evangelho original
O leitor poderá-observar que nossa explicação sobre (daqueles que foram preservados até nós), e que
a «teoria dos quatro documentos» não se ocupa em Mateus e Lucas se utilizaram desse evangelho
seguir simplesmente as linhas que outros eruditos têm como alicerce do seu esboço histórico da vida de Jesus.
sugerido. Em nossas mãos, essa teoria sofreu várias A idéia antiga, popularizada por Agostinho. é que
modificações e especulações. Nenhuma teoria arru- Mateus era o evangelho original, e que o evangelho de
madinha das fontes dos evangelhos pode ser Marcos era um sumário do mesmo. Entretanto.
construída de forma a satisfazer ao menos uma grande massa de evidência favorece a idéia da posição
minoria dentre os eruditos. Contudo. de modo cru. a primária de Marcos, além de favorecer a suposição de
teoria dos «quatro documentos» é a que mais se que Marcos foi usado diretamente como fonte
aproxima da verdade, conforme acreditamos. no informativa de Mateus e Lucas. As evidências acerca
tocante às fontes informativas dos evangelhos disso, são as seguintes:
sinôpticos, 1. Dentre o número total de versículos de Marcos
SaJúrIo . . . . . . . . . . . . 1W...... - 661 - nada menos de 600 se acham em Mateus, ou
Feita na SeçIo D DeIte ArtIao seja, cerca de noventa por cento. Se Mateus não usou
1. Os evangelhos sinópticos se caracterizam por sua Marcos como seu esboço histórico, então deve ter
«interdependência». Mateus e Lucas dependeram de usado um protomarcos que diferia mui levemente do
Marcos acerca do esboço histórico. E altamente resultante evangelho de Marcos.
improvável. porém. que Lucas tenha dependido de 2. A narrativa de Mateus usualmente segue o
Mateus, ou Mateus de Lucas. evangelho de Marcos, embora ele tenha omitido
2. Quase certamente, Mateus e Lucas. em parte dos alguns versículos, evidentemente por amor à brevida-
ensinamentos que expõem, dependeram de uma fonte de; ou então modifica algo aqui e ali. a fim de obter
comum que chamamos de Q. Também pode ter melhor estilo literário. Outras modificações provavel-
havido outras fontes informativas menores e não mente se devem à tentativa do autor sagrado de
identificadas. ou pode ter havido fontes múltiplas, eliminar alguns elementos ásperos, como a aparente
que continham material similar, as quais, quando aspereza de Jesus para com um leproso (ver Mat.
copiadas (cada evangelista copiou de fontes distintas, 8:2,3. em comparação com Marcos 3:5 elO: 14). Em
embora similares). deram a aparência de que Mateus, algumas passagens foram alteradas ou
dependiam de uma única fonte comum. desenvolvidas, a fim de torná-las mais aplicáveis às
3. O evangelho de Marcos certamente é primário. condições posteriores da igreja. do <tue se dava no
tendo sido diretamente usado como fonte informativa tempo refletido .no evangelho de Marcos. que lhe é
por Mateus e Lucas; ou então um protomarcos foi anterior. O famoso capítulo dezesseis. com seu
utilizado por eles. o qual não diferia materialmente do «material eclesiástico» (igreja edificada sobre Pedro,
evangelho de Marcos. Diferenças nas seções comuns a disciplina, etc.), certamente é um exemplo do que
Marcos podem ser explicadas com base no trabalho dizemos.
«editorial» feito pelos dois outros autores sagrados. 3. A narrativa de Mateus normalmente segue a
Ou então, se foi usado um protornarcos, muitas ordem de acontecimentos que achamos em Marcos.
dessas diferenças (em comparação com o resultante mas ele não hesita em alterar essa ordem, se a mesma
evangelho de Marcos) poderiam já estar contidas se presta melhor a seus propósitos. O autor sagrado
naquele documento (ou documentos). (Ver a seção IV que produziu essencialmente um evangelho dos
quanto a provas sobre a posição primária do ensinamentos de Jesus, arranjou seu material em
416
PROBLEMA SINOPTICO
cinco blocos, a saber: caps. 3:7; 8-10; 11-13; 14-18 e sentiu-se compelido a acrescentar ensinamentos ao
19-25. A narrativa histórica se adapta então a esse esboço histórico que lhe foi provido. Também
plano básico; e, por causa disso ele foi forçado a acrescentou alguns eventos adicionais, baseados em
alterar, ocasionalmente a ordem de acontecimentos fontes informativas que estavam à sua disposição,
que figuram no evangelho de Marcos. As «diferenças» mas não para Marcos, o que explica a existência tanto
entre Mateus e Marcos, pois, podem ser assim do material Q quanto M, no evangelho de Mateus.
esclarecidas, sem qualquer dificuldade maior, no Lucas, por outro lado, devido às suas pesquisas
tocante àquela porção dos dois evangelhos que são intensas, teve grande acúmulo de material que não
quase idênticas. Sob IIIA temos explicado as esteve ao alcance .em de Mateus e nem de Marcos; e
diferenças entre esses dois evangelhos, no tocante assim, apesar de ter o material Q à sua disposição, em
àquilo em que Mateus suplementa o evangelho de conjunção com Mateus, também adicionou ao esboço
Marcos. de Marcos, o que agora chamamos de fonte
informativa L.
4. Lucas se utilizou de cerca de sessenta por cento
do volume total do evangelho de Marcos. Embora 6. Pode-se observar certa dependência verbal de
tivesse usado menor proporção de Marcos, do que Mateus e Lucas a Marcos, ao empregarem aquele
fizera Mateus, é mais exato na transcrição dos evangelho, o que dificilmente pode ser creditado à
informes. Normalmente, Lucas preservou a mesma mera chance. Essa é outra indicação da posição
ordem de acontecimentos que Marcos apresenta, a primária de Marcos, como também do fato de que
mesma ordem de palavras, com menos omissões do este foi usado diretamente como fonte informativa dos
que se vê em Mateus. Lucas usou seis grandes blocos demais evangelhos sinôpticos. (Ver essa dependência
do material de Marcos, além de porções menores. Ele verbal ilustrada em III.l.b do presente artigo).
omite somente uma grande seção de Marcos, 7. A escassez de Marcos é prova conclusiva de que
inteiramente, isto é, Mar. 6:45 - 8:26, que alguns este não poderia ter sido escrito sobre o alicerce de
eruditos apodam de «Grande Omissão». As modifica- Mateus ou Lucas como fonte informativa. Dentre as
ções feitas por Lucas, em confronto com Marcos, 41 parábolas registradas nos evangelhos sinópticos,
podem ser atribuídas às tentativas lucanas de Marcos conta apenas com oito, e apenas uma dessas
melhorar o grego e o estilo de Marcos, omitindo parábolas é singular a Marcos, ou seja, não é
irrelevâncias, suavizando ou idealizando as «imagens» encontrada nem em Mateus e nem em Lucas, ou seja,
empregadas por Jesus e pelos discípulos, omitindo a semente que medra (ver Mar. 4:26-29). É impossível
incidentes incongruentes ou incompreensiveis, como a supor que se Marcos tivesse tido acesso a esse
maldição à figueira (Mar. 11:12-14, 20-22). Em certo material, que teria deixado de lado tanto material, e
lugar, o próprio Lucas confunde o esboço histórico, ao isso propositalmente. Mateus tem dez parábolas que
inserir no plano simples de Marcos o longo não figuram nem em Marcos e nem em Lucas; e Lucas
«Documento de Viagem», Luc. 9:51 - 18:14, que de tem dezesseis dessas parábolas. Se Marcos tivesse
modo algum se adapta bem em qualquer harmonia usado ou Mateus ou Lucas como fonte informativa,
com os evangelhos de Marcos e Mateus, ainda que
sem dúvida alguma, apresentem material autêntico.
provável o fato de que Lucas tenha recolhido maior
ª isso não teria acontecido. Marcos certamente teria
incluído algumas daquelas declarações de Jesus.
Dentre quarenta milagres ou mais, narrados nos
abundância de material histórico do que Marcos, evangelhos sinópticos, Marcos registra vinte, ou seja,
que o impediu de seguir, estritamente, o es- cerca da metade, e somente dois milagres narrados
boço histórico de Marcos. - Assim, um tanto por ele não foram duplicados por Mateus e Lucas, a
desajeitadamente, ele incluiu parte de seu material, saber, a cura do surdo mudo (Mar. 7:31) e a cura de
interrompendo o esboço deixado por Marcos. certo cego (Mar. 8:22). E difícil acreditar que Marcos
5. Sucede, pois, que dos 661 versiculos, 600 são teria deixado de registrar mais da metade dos
incorporados por Mateus e Lucas, deixando apenas milagres, sobre os quais poderia ter escrito se
cinco dúzias que não foram copiadas. Porém, se porventura tivesse ante si fontes informativas que as
Marcos meramente condensou Mateus, conforme historiassem.
criam os antigos, é impossível entender por que razão 8. O evangelho de Marcos nada nos diz acerca do
ele deixou fora quase 50%; e mais difícil ainda é nascimento e do começo da vida terrena de Jesus, e
entender por que' motivo Marcos deixou de lado, não supre a genealogia. Se ele tivesse ou Mateus ou
quase inteiramente, os ensinamentos de Jesus. Seria Lucas para usar como fonte informativa, seria
isso uma omissão inconcebível e imperdoável. Se extremamente provável que não houvesse incluído
Mateus tivesse sido escrito primeiro, não haveria parte daquele material.
qualquer razão por que Marcos deveria ter sido
escrito. Mas podemos entender facilmente por que V. BI1JIIoInfIaa E EN FIL(1939) IB ID STRE TA
razão Mateus, ao usar um evangelho «escasso», TRA
Ver a seguir:
417
PROBLEMA SINÓPTICO
DERIVADOS DE M:
A cura dos dois cegos 9:27
A cura de um endemoninhado 9:32
A moeda na boca do peixe 17:24
418
PROBLEMA SINÚPTICO
DERIVADQS DO PROrOMARCOS:
A cura do surdo- mudo 7:31
A cura do C~J/:0 8:22
DERIV ADO DE L:
A pesca maravilhosa ~:1
A ressurreição do filho da viúva 7:11
A cura .da mulher enferma 13:11
A cura do hidrõpico 14: 1
A cura dos dez leprosos 17: 11
A cura <ia orelha decepada de Malco 22:)0
Também há vário! milagre! registrado! somente por}040, que !40 dados aqui parti
Jalú/II%t'r jj curiosidade do leitor, embora não mvolvam os evangelhoJ sinõpsicos:
Transformação da água em vinho João 2: 1
Cura do filho de um oficial do rei 4:46
Cura de um paralítico ~: 1
Cura de um cego de nascença 9: 1
Ressurreição de Lázaro 11:43
Pesca maravilhosa 21: 1
419
PROCEDÊNCIA - PROCISSÃO
PROCED2NCIA DO ESplRITO SANTO suás ações.
O Espirlto Santo procede somente da parte de Deus Paulo raciocina aqui que se os crentes não devem
Pai? ou tanto de Deus Pai quanto de Deus Filho? A julgar aos de fora, conforme se lê em I Cor. 5:12,13,
teologia cristã oriental apega-se à primeira dessas então não deveriam os de fora ter qualquer coisa a ver
posições, enquanto que a teologia cristã ocidental com o julgamento de crentes, naqueles casos em que
prefere a segunda delas. Essa foi uma importante dois crentes, em conflito um com o outro, podem ser
questão, que acabou provocando o cisma entre julgados pela igreja local. Paulo deixava subentendido
Oriente e Ocidente, em 1054 D.C. Ver o detalhado que a consciência cristã e a influência do Espírito
artigo chamado Filioque, que descreve essa idéia. Santo contribuem para fazer da igreja cristã local um
tribunal melhor e mais sábio do que qualquer tribunal
secular poderia sê-lo. Mui provavelmente a idéia geral
em que esse pensamento se alícerça vem da cultura
PROCESSO, FILOSOFIA DE judaica, pois dentro' da sinagoga e do templo havia
Essa filosofia, que salienta mais a idéia de provisão para todas as formas de julgamento,
«tornar-se» do que a idéia ~e «s~r,. é chamada ~e incluindo os julgamentos de natureza inteiramente
Filosofia de Processo. Heráclito foi um dos prmcipais secular. O próprio governo romano permitiu aos
dos antigos filósofos a manter esse ponto de vista. judeus continuarem essa prática, até que caiu no mais
U ma coisa qualquer nunca é, mas está continuamente total abuso. Os rabinos costumavam usar o trecho de
tornando-se: panta rei, tudo se acha em estado de Êxo. 21: 1 a fim de mostrar que era ilegal apresentar
fluxo. Um moderno filósofo que assim pensa é uma queixa perante juízes idólatras. Entre os judeus,
Whitehead. Outros que também podem ser classifi- normalmente, três eram os juízes nomeados para
cados como tais são aqueles que dependem da tese da cuidarem de tais casos. (Ver Strack e Billerbeck,
triade formada por tese, antitese e síntese, e que Kommentarzum N. T. aus Talmud und Midrasch., lU,
pensam que essa é uma noção fundamental. Ver págs. 364-365).
acerca de Hegel. Além desses, John Dewey, que O mais provável é que Paulo não estivesse pensando
supunha que todos os pontos finais na realidade são que a igreja cristã devesse assumir qualquer posição
apenas meios ou instrumentos de novos começos, legal, a fim de julgar questões dessa natureza, posição
precisa ser assim classificado. essa que fora atribuída à sinagoga judaica por
permissão do governo romano. Não obstante, a igreja
deveria cuidar de si mesma quanto a essas questões,
PROCESSO, TEOLOGIA DE em que dois de seus membros entrassem em conflito
Ver sobre Teologia de Processo. Ver também o um com o outro. Pois Paulo era da opinião que a
artigo intitulado Progresso. sabedoria espiritual deve ser suficiente para cuidar de
tais casos, sobretudo em face do fato de que os crentes
estão destinados a serem juízes universais (6:2), em
PROCESSOS LEGAIS, ABUSOS DOS sentido escatológico. O terceiro versículo deste mesmo
Contra 011 proc:euoa ..... entre 011 cnatel, I Cor. capítulo mostra-nos que tal juízo envolverá até mesmo
6:1-8 os anjos, acerca de cujo assunto dispomos de informa-
ção bem escassa. Mediante a transformação dos
Gradualmente Paulo foi repreendendo os muitos remidos segundo a imagem de Cristo, em cujo
vícios, as práticas condenáveis, os males de toda a processo há a formação de sua natureza moral e
sorte, na igreja cristã de Corinto. Já havia condenado metafísica, os homens são elevados a uma estatura
o problema das divisões partidárias, a ênfase sobre a espiritual muito superior à dos próprios anjos. De
sabedoria mundana, a diminuição da importância da fato, assim deverá ser, pois os remidos participarão da
palavra da cruz, a veneração aos heróis e a própria «natureza divina», no dizer de 11 Ped. 1:4.
degradação de ministros autênticos de Cristo. (Ver os Sendo essa a realidade, certamente as pequenas
capítulos primeiro a terceiro deste mesmo livro). questões que atualmente surgem entre os irmãos na fé
Também havia mostrado como os verdadeiros devem podem ser solucionadas sem a ajuda dos incrédulos,
ser avaliados (ver o quarto capítulo de I Cor.). Por os quais, presumivelmente, possuem muito menor
igual modo, havia atacado os baixos padrões morais, sabedoria, ou pelo menos, sabedoria espiritual muito
tendo destacado especialmente um caso de abuso inferior.
sexual dos mais abomináveis, dentre tudo o que já se Paulo nos permite entender que os crentes devem
ouvira falar. E exigira ação por parte da igreja cristã viver acima da lei, já que possuem a lei superior de
de Corinto nesse caso, bem como a exclusão do Cristo para obedecerem. Isso, entretanto, fará dos
indivíduo culpado, sua entrega a Satanás, para que o remidos excelentes súditos, cidadãos exemplares e
mesmo perdesse a sua vida física. cumpridores das leis de seus respectivos países.
Mas, a partir deste ponto, Paulo ataca um diferente (Ensino esse bem esclarecido no décimo terceiro
tipo de abuso, a saber, o de julgar a outros, em capítulo da epístola aos Romanos). O crente deve
sentido legal, na presença de incrédulos, em seus se preocupar com suas responsabilidades espirituais,
tribunais de justiça. Paulo considerava que a igreja e não meramente com os seus «direitos». Por essa
cristã tem a capacidade de efetuar os seus próprios exata razão é que disse Aristófanes (444-389 A.C.),
julgamentos, a despeito das questões que porventura «Os sábios, ainda que todas as leis fossem abolidas;
fossem encontradas. Essa ação, naturalmente, pres- levariam o mesmo tipo de vida».
supõe o caso de dois crentes que discordassem e
entrassem em conflito por algum motivo, e não os
casos em que um crente fosse envolvido em querela PROCISSÃO
com um incrédulo. Não é provável, neste caso, seja Uma procissão é um tipo de demonstração pública
como for, que o incrédulo concordasse em ser julgado de crença, ou então celebração de algum aconteci-
em um tribunal cristão, eclesiástico. Paulo continuava mente importante ou ato de fé. As procissões
procurando regulamentar a conduta no seio da igreja, religiosas têm uma longa hist6ria. Há evidências de
e não entre crentes e incrédulos. Preocupava-se o que esses cortejos religiososjá eram comuns na era do
apóstolo com a ordem correta no seio da igreja cristã, Bronze. O propósito originai parece ter sido o desejo
e em que o espírito de Cristo fosse aplicado a todas as de transportar objetos sagrados (ou seja, poderes) de
420
PROCISSÁO - PROCONSUL
um lugar para outro. As procissões com ídolos, vasos equilibrar suas emanações, para então convocar todas
religiosos ou rituais, tronos e outros objetos e as coisas de volta a si mesmo. Naturalmente, esse
equipamentos faziam parte das religiões do Egito, da ensino da unidade final é uma importante idéia
Babilônia, da Índia, do Japão, da China, da Grécia e religiosa, que aparece em um número demasiado
de Roma. Na Grécia, a mais célebre dessas procissões grande de sistemas, de modo a não poder ser
era aquela em que era honrada a deusa Atena, ignorado. O trecho de Efé. 1:9,10 explica que o
quando uma vestimenta nova lhe era apresentada, por mistério da vontade de Deus é a unidade final de
parte de uma pessoa escolhida do Partenon. Outras todas as coisas em tomo do Lagos (chamado Cristo,
famosas procissões eram as de Dionisia e Elêusis, em sua encarnação). Ver o artigo sobre Mistério da
quando eram celebrados os mistérios de Demeter. As Vontade de Deus. Não é provável que o apóstolo
procissões religiosas eram muito importantes em Paulo tenha falado em termos menos inclusivos (como
Roma, sobretudo nos tempos de crise, quando era se algo fosse exc1uido, como os perdidos, e ainda
buscado o favor dos deuses. Essas procissões com assim fosse obtida uma unidade). :E: impossivel
freqüência eram ligadas a atos públicos e festividades. obter-se unidade através da exclusão. Visto que o
Certas evidências indicam que no culto dos hebreus conceito era importante para a filosofia antiga, como
também havia procissões em honra a Yahweh. a do platonismo e a do estoicismo, não é provável que
Trechos veterotestamentários relacionados ao costu- Paulo tenha sido menos abrangente, sem ter oferecido
me podem ser Sal. 24:7-9; 26:6; 47:1-9; 48:12-14, e, qualquer explicação de por que teria excluido isto ou
especialmente 68:24-35. aquilo.
O cristianismo antigo, sujeito a perseguições, não 2. As Henadas, Essa palavra significa «às
teve muita oportunidade para dedicar-se a essa unidades 10, com base na palavra grega que significa
prática. Porém, a começar pelo século IV D.C., as «um», Essa doutrina faz lembrar as mônadas de
procissões foram-se tomando comuns. Eram então Leibnitz. Ver sobre as Mõnadas, O Um contém todas
associadas a importantes feriados religiosos, como as as henadas em si mesmo, e seriam, na realidade,
festividades em honra aos mártires. A procissão das parte do Um, como suas emanações. Representam a
luzes era uma caracteristica comum, mormente diversidade dentro da unidade. Cada henada é uma
quando da festa da Purificação. O procedimento espécie de espelho do Um, algo semelhante a um
usual consiste em passar de um santuário ou templo microcosmo do macrocosmo (vide). A série do ser
para outro santuário ou templo, de maneira solene, seria composta por: Um, Ser, Vida, Inteligência e
com acompanhamento de hinos. As procissões Alma.
especiais incluem os funerais e aquelas que saúdam a 3. Os Deuses. O universo estaria repleto de deuses,
algum novo bispo ou elevado oficial eclesiástico. mas essas divindades seriam apenas emanações e
E. atrelada grande importância mistica às procis- reflexos do Um. Seja como for, temos nessa idéia uma
sões papais. que percorrem as diversas igrejas de forma de panteismo. Proclo confiava no poder da
Roma, ou então as procissões antes da alta missa, que teurgia (vide) a fim de controlar e utilizar os poderes
incluem a congregação inteira naquele ato de divinos com propósitos práticos. Ele acreditava que
veneração. Significados misticos e dramáticos são temos ai um poder que transcende à sabedoria
conferidos às procissões do Domingo de Páscoa e da humana, um poder que pode ser utilizado de maneira
Candelâria, esta última sendo a festa que relembra a legitima.
apresentação de Cristo no templo, segundo o registro 4. A Visão Beatifica. A alma humana é capaz de
de Luc. 2:22. No Ocidente isso é chamado de entrar em unidade com o Um, e a sua principal
Purificação da Bendita Virgem, enquanto que no preocupação deveria ser um retomo completo, a fim
Oriente chama-se de Encontro com Simeão e Ana. Os de ser absorvida pela divindade. Á alma foi dada uma
rogos são um aspecto importante das procissões da inteligência especial e superior, capacitando-a a
Hóstia, como na procissão de Corpus Christi, ou nas concretizar esse propósito.
litanias, onde há orações intercessórias solenes. S. Influência de Proelo, Ele exerceu grande
influência, por meio de Dionísio, o pseudo-areopagí-
ta, que promovia as suas idéias. Essa influência foi
PROCLO poderosa sobre certos filósofos da Idade Média e até
Suas datas foram 410-485 D.C. Ele nasceu em mesmo da Renascença.
Constantinopla. Estudou sob a direção de Olimpiodo- Escritos. Elements of Theology; Plato s Theology;
ro (vide). Proclo foi um filósofo neoplatônico da escola Elements of Physics; Ten Doubts Conceming
de Alexandria. Foi dísclpulo de Siriano, ao qual Providence; Conceming Providence and Fate; On the
sucedeu como chefe da escola.' Apreciava de tal Subssistence of Evil. Além dessas obras, ele proveu
maneira esse seu mestre que chegou a solicitar ser Comentários sobre as idéias de Platão.
sepultado no mesmo túmulo que ele.
A filosofia de Proclo era uma tentativa de combinar
as filosofias de Arist6teles, Platão, Plotino e Jâmblico. PROCONSUL
Era homem devoto e religioso, um grande erudito e Essa palavra vem diretamente do latim, pIO
mestre, - o que foi um dos últimos dentre os coDlule, «substituto de um cônsub. Esse era um titulo
pensadores religiosos pagãos importantes do império dado a governadores provinciais romanos. No
romano. Escreveu muito. Foi chefe da Academia de começo, o titulo foi usado para indicar algum oficial
Atenas. que era cônsul, mas então recebeu outro termo de
Idéias: oficio além daquele que já havia exercido, mas dessa
1. Ele procurou explicar as emanações parcialmen- vez em uma elas provincias romanas. Destarte, ele
te em termos das categorias aristotélicas, mormente tomava-se procônsul. mediante uma extensão de sua
as categorias da identidade, da diferença e do retomo. autoridade. Essa obra era a de um governador que
A categoria da identidade referia-se à unidade divina; dirigia alguma provincia. Sob os imperadores
a da diferença dizia respeito à emanação do Um; e a romanos, o titulo passou a simplesmente designar os
do retomo indicaria como todas as coisas procuram governadores das provincias, sem importar se o
voltar ao Um. Desse modo, o universo era por ele individuo tivesse sido cônsul ou não, Damos um artigo
encarado como um sistema em que o Um consegue separado sobre Cônsul.
421
PROCORO - PRO·ESCRAVIDÃO
Um ex-cônsul também podia desempenhar os Mas o oficio terminou por ser equivalente ao de um
deveres de um cônsul nas campanhas militares, em governador ou prefeito, um homem nomeado para
cujo caso também podia ser chamado de procônsul. dirigir uma área limitada, e não uma provineia
Os candidatos ao proconsulado provincial, apôs terem inteira. No Novo Testamento, o vocábulo refere-se ao
obtido a aprovação do senado romano, costumeira- governador da Judéia.
mente eram escolhidos por meio de sortes. que Três procuradores aparecem no Novo Testamento,
determinavam quais provincias eles governariam, a saber: Pôncio Pilatos (26-36 D.C.) (ver Mat. 27:2);
usualmente pelo espaço de um ano. embora também Antônio Félix (52-59 D.C.) (ver Atos 23:24 ss); e
houvesse termos mais longos do que isso. Um P6rcio Festa (59-62 D.C.) (ver Atos 24:27 ss). Damos
procônsul era investido de autoridade quase suprema artigos separados sobre todos os três. Os procuradores
sobre as forças militares que houvesse na sua região, da Palestina tinham a dificil tarefa de manter a ordem
sobre o governo em geral e sobre os casos tribunicios entre os judeus, pelo que dispunham de tropas ao seu
civis e criminais. Mas precisava enviar relatório de seu comando. Estavam subordinados à autoridade do
governo a Roma; e, se seu desempenho fosse legado imperial (no latim, propraetor} da Síria, e seu
considerado negativo, era responsabilizado pelo quartel-general ficava em Cesaréia, embora com
desgoverno causado. freqüência se fizessem presentes em Jerusalém. Esses
Nas páginas do Novo Testamento são mencionados procuradores não obtiveram grande sucesso em sua
dois proconsules: Sérgio Paulo (ver Atos 13:7) e Gálio missão de pacificadores, conforme se evidencia pelo
(ver Atos 18:12). Temos provido artigos separados fato de que houve duas notáveis rebeliões judaicas, a
sobre ambas essas personagens. primeira em 70 D.C. e a segunda em 132 D.C.
PROCORO PRÚDICO
Esse homem é mencionado exelusivamente em Atos Suas datas nproximadas foram 460-399 A.C. Ele foi
6:5, o que não nos permite fazer qualquer idéia sobre um filósofo sofista (vide). Nasceu em Ceos, uma ilha
ele, além do que as Escrituras aqui nos informam de grega do Mediterrâneo. Prôdíco é mencionado nos
que ele foi um dos sete diáconos originalmente Diálogos de Sócrates. Ele se interessava por assuntos
selecionados pela igreja de Jerusalém. Todavia, de gramâtíca, de religião, de filosofia (especialmente
tradicionalmente, Prócoro é o autor do livro Atos de a ética). Era um pensador cético e pessimista. Sua
João. Porém, trata-se de ~ma obra apôcrifa e fabulosa obra sobre a ética foi extremamente cética. Seu mito
sobre o apóstolo João. E extremamente improvável de Hérac1es ilustra o ponto. Hêracles postara-se em
que tal livro tenha sido escrito por Prôcoro, um dos uma encruzilhada, podendo escolher entre a virtude
sete diáconos originais da igreja de Jerusalém. Essa árdua e o vicio agradável. E ele preferiu a virtude, o
tentativa foi feita para que o citado livro se escudasse que lhe custou muito trabalho.
sobre a autoridade de Prôcoro, como suposta Prôdico talvez tenha sido o originador do curioso
testemunha ocular dos labores do apóstolo João. No argumento contra o temor da morte, que os filósofos
entanto, pouco ou nada existe capaz de autenticar epicuristas empregaram posteriormente. Asseverava
essa obra. Essa obra apócrifa, «Atos de João» ele que a morte não deve ser temida porque, enquanto
apresenta Prócoro como companheiro desse apóstolo alguém teme, é que ainda não morreu. Além disso, ele
e seu biógrafo. Ver o artigo sobre os Livros Apócrifos confiava na proposição que diz que quando alguém
do N. T. A arte bizantina faz o apóstolo João dedicar morre perde todos os sentimentos, porquanto, para
o seu evangelho a Prôcoro, Há também uma outra ele, a morte seria a cessação da existência.
tradição que ajunta que Prôcoro foi consagrado por Escritos. Sobre a Natureza; Sobre a Natureza do
Pedro como bispo da Nicornêdia. Porém, nenhuma Homem; Sobre a Propriedade da Linguagem; Horas
dessas tradições é digna de confiança. (onde aparece o mito acerca de Hêracles). Somente
fragmentos restam dessas obras.
PROCRIAÇÃO
Ver sobre Sexo. PRÚ-ESCRAVIDÃO, DOUTRINA DE
:e incrivel o que as pessoas julgam poder encontrar
na Biblia para defender. J ames H. Thomwell escreveu
PROCURADOR um artigo, publicado no Southern Presbyterian
Essa palavra portuguesa vem do latim, procarator, Review (julho de 1850), argumentando, de forma
«quem cuida dos interesses alheios». A idéia de hábil e detalhada, em favor da sanção biblica à
procuração aparece no prefixo pro. A base da palavra escravatura. Podemos imaginar os versiculos que ele
é o termo latino curare, «cuidar»; e cura, «cuidado», é deve ter usado, como aqueles nos quais Paulo
o elemento básico dessa palavra. encorajou individuas a permanecer no estado em que
Na antiga Roma. um procurador era alguém que estavam quando se converteram (ver I Cor. 7:21), ou a
cuidava dos rendimentos imperiais, atuando como epistola a Fílemom, onde Paulo, naturalmente (em
coletor de rendas do império, especialmente em consonância com os costumes da época) encorajou-o a
alguma das provincias. Em seguida, o termo passou a aceitar de volta seu escravo, que havia fugido, com a
ser usado, de modo geral, para indicar algum promessa de que tal fuga não se repetiria. Ver o artigo
administrador provincial. Um procurador era um geral sobre a Escravidão. O cristianismo, na
agente ou delegado do imperador. Antes da época dos qualidade de uma nova fé que estava sob perseguição,
imperadores, o termo tinha diversos usos, como o não se encontrava em posição de alterar o comércio
supervisor e coletor dos rendimentos imperiais, ou escravagista, e nem se lançou mesmo à tarefa, pelo
como o gerente de uma propriedade, um mordomo, que parece haver vários textos bíblicos de prova em
ou qualquer outro tipo de administrador. Sob os favor da escravidão, conforme mostrou o irmão
imperadores romanos, essa palavra passou a denotar- Thornwell, No entanto, é patente que a escravidão
delegados ou governantes que assessoravam em vários representa um grande mal social, a despeito da
serviços e deveres burocráticos. nomeados pelos brilhante defesa dele, e apesar da deficiência do Novo
equites (os romanos da segunda mais elevada classe Testamento quanto a esse ponto. Thornwell classifi-
social). Seus deveres eram essencialmente financeiros. cou a servidão, o pecado e as enfermidades como
422
PROFANO - PROFECIA
males que se impuseram por causa da maldição divina PROFECIA
contra o homem. Então chegou a seu argumento mais
notável, o de que apesar da escravidão ser um grande Esta enciclopédia tem dado toda a atençlo a ess~
mal, não era um pecado-algo que não é dificil de questão da profecia. O leitor pode consultar os
entender. Ele comparou a escravidão à pobreza, a seguintes artigos distintos: Dom, especialmente a
qual, apesar de ser um mal, não é um pecado. Mas, terceira seção, Os Dons Divinos; Profecia: Tradição
naturalmente, ele não mostrou como o pecado, a Da. e a Nossa Época. Esse artigo aborda as profecias
ganância e muitas outras perversões acham-se à raiz sobre o mundo, incluindo as profecias da Biblia e dos
da pobreza. Todavia, ele foi generoso o bastante para misticos modernos; Precognição (Conhecimento Pré-
admitir que, após a morte, cessam as distinções entre via); Predição; Profetas Maiores; Profetas Menores;
os senhores e os seus escravos, além de ter ensinado Profetas Falsos; Profecias Messiânicas Cumpridas em
que um escravo crente pode ter tantos direitos Jesus; Profecia. Profetas e o Dom da Profecia;
espirituais e tão grande glória eterna como seu senhor Profetisas; Oficios de Cristo. especialmente sua
crente. Não demorou muito para que a nação terceira seção.
norte-americana se visse a braços com uma renhida e
longa guerra para resolver a questão da escravatura. PROFECIA E CONHECIMENTO
Deus, por sua providência, deu a vitória ao norte, e
isso pôs fim à escravatura, naquele pais. Ê
Ver sobre Profecia, Profetas e o Dom da Profecia,
entristecedor que o irmão Thomwell tenha sido capaz seção oito. Ver também sobre Misticismo e Conheci-
de defender, de Biblia aberta na mão, um mal e um mento e a Fé Religiosa.
pecado tão grande como é o da escravidão. Não
admira que muito em breve o processo histórico PROFECIA, PROFETAS E O DOM DA PROFECIA
haveria de tachâ-lo de mentiroso. Quanto aos muitos artigos oferecidos nesta
enciclopédia sobre o tema das profecias, ver Profecia,
onde há uma lista desses artigos.
PROFANO Esboço:
Esboço: I. Termos e Definições
1. O Termo e suas Definições 11. No Antigo Testamento
2. Profanações Proibidas na Biblia 111. Grãfico dos Profetas do Antigo Testamento
1. O Termo e suas Definições IV. No Novo Testamento: Diversas Interpretações
Essa palavra portuguesa vem do latim, profanas, V. Vossos Filhos e Filhas Profetizarão
que significa, literalmente, «perante» ou «fora do VI. Jesus Cristo como Profeta
templo", ou seja, aquilo que é secular ou corrompido, VII. Profetas Modernos
não-religioso, vulgar, indecente. Ê o antônimo de VIII. Profecia e Conhecimento
«sagrado». Seus sinônimos são «irreligiosos, «secular», I. TenDOI e De8Dlçies
«sacrílego.., «blasfemo», «impio», «vulgar».
A palavra hebraica para «profeta» é 1Ulbl, que vem
A palavra hebraica mais comum assim traduzida da raiz verbal naba. Essa palavra significa «anuncía-
no Antigo Testamento é haJal, «livre», «aberto», dor», «declarador», e, por extensão, aquele que
provavelmente com a idéia de que certas coisas anuncia as mensagens de Deus, freqüentemente
estavam franqueadas a um uso vulgar, desvinculado recebidas por alguma revelação ou discernimento
dos poderes sagrados do templo. No grego, por sua intuitivo. Ademais, os profetas usavam vãrios meios
vez, o vocábulo correspondente é bébelos, «acessível», de adivinhação e envolviam-se em oráculos. Os termos
«legal de ser pisado». Ver I Tim. 1:9; 4:7; 6:20; 11 hebraicos roeh e hozeh também são usados. Ambos
Tim. 2:16; Heb.12:16. O verbo, bebelôo; aparece por significam «aquele que vê», ou seja, «vidente». Todas
duas vezes: Mat. 12:5 e Atos 24:6. Fora do templo, as as três palavras aparecem em I Crô. 29:29. Os
coisas eram vulgares, podendo ser pisadas por pés eruditos procuram estabelecer distinções entre elas,
comuns. Quando alguém tratava o templo ou a mas talvez sejam meros sinônimos, usados para
algum recinto sagrado como trataria coisas vulgares, emprestar variedade literãrla às composições escritas.
então era considerada sacrilega. Nabi é termo usado por mais de trezentas vezes no
2. Profanações Proibidas na Bíblia Antigo Testamento. Alguns poucos exemplos são
O Antigo Testamento muito tem a dizer a respeito Gên. 20:7; Êxo, 7:1; Núm. 12:6; Deu. 13:1; Jul. 6:8; I
das coisas santas. Distinções bem claras foram ali Sam. 3:20; 11 Saro. 7:2; I Reis 1:8; 11 Reis 3:11; Esd.
traçadas entre o sagrado e o profano. O Senhor lesus e
5:1; Sal. 74:9; ler. 1:5; Eze. 2:5; Miq. 2:11. possivel
ensinou que todos os aspectos da vida humana são que essa palavra também fosse usada para designar a
santos e consagrados. O homem, uma vez remido, missão profética. Um titulo comumente aplicado aos
toma-se um templo onde o que é profano não pode profetas era «homem de Deus», que ocorre por cerca
entrar (ver I Cor. 3:16 ss), Estamos vivendo em um de setenta e seis vezes no Antigo Testamento. Cerca
perlodo caracterizado pela profanação, quando de metade dessas ocorrências é usada em referência a
muitas pessoas não mais têm qualquer objeto sagrado Eliseu, e outras quinze dizem respeito a um profeta
e nem mais têm respeito pelos sentimentos e pelas cujo nome não é dado (I Reis 13). Além disso, a
funções religiosas. expressão é usada para designar Moisés, Elias,
No Antigo Testamento, ainda, aparecem manda- Samuel, Davi e Semaias. Por sua vez, roeh figura por
mentos para que não se profane ao santuãrio (ver Lev. doze vezes no Antigo Testamento: I Saro. 9:11,18,19;
19:8; 21:9), ao sábado (Exo, 31:14), ao nome de Deus 11 Saro. 15:27; I Crô. 9:22; 26:28; 29:29; 11 c-e.
(Êxo, 19:22; Mal. 1:12), ao leito conjugal do próprio 16:7,10; Isa. 30:10. Sete dessas ocorrências aplicam-
pai de alguém, através do incesto (Gên, 49:4). Esaú se a Samuel. Hozeh figura por dezenove vezes: I Crê,
desprezou o seu direito de primogenitura, e assim 21:9; 25:5; 29:29; 11 Crô. 9:29; 12:2,15; 19:2;
obteve a reputação de ser uma pessoa profana, que 29:25,30; 33:18,19; 35:15: 11 Sam. ~:11; 11 Reis
não tinha respeito pelas coisas santas (ver Heb. 17:13; Isa, 29:10; Amós 7:12; Miq. 3:7. Ainda outros
12:16). O trecho de ler. 23:11 mostra que até mesmo títulos dados aos profetas são: Atalaia (no hebraico,
profetas e sacerdotes podem tomar-se profanos. sophim): Jer. 6:16; e Eze, 3:17; epastor (no hebraico,
423
PROFECIA
raah}: Zac. 11:5,16. quanto à natureza da história. A noção hebréia da
No No.o Teatameato, a palavra comumente usada história era teista. Yahweh era o poder que atuava por
é prophétes, que aparece por cento e quarenta e nove detrás da história de Israel, a força ativa de suas
vezes, que exemplificamos com" Mat. 1:22; 2:5,16; realizações. E os profetas desempenhavam um
Mar. 8:28; Luc. 1:70,76; 7:16; Joio 1:21,23; 3:18,21; importante papel nesse processo. Ver Isa. 45:20-22;
Rom. 1:2; 11:3; I Cor. 12:28,29; 14:29,32,37; Efé. Exo. 2:11 ss; Deu. 24:19-22. A própria lei mosaica foi
2:20; Tia. 5:10; I Ped. 1:10; 11 Ped. 2:16; 3:2; dada por inspiração profética, cuja legislação
Apo.l0:7; 11:10. O substantivo prophetela, «profe- governava toda a sociedade israelita, e serviu-lhe de
cia», é usado por dezenove vezes no Novo Testamento: guia na história.
Mat. 13:14; Rom. 12:6; I Cor. 12:10; 13:2,8; 14:6,22; 5. Os Profetas-Estadistas. Descobrimos que alguns
I Tes. 5:20; I Tim. 1:18; 4:14; 11 Ped. 1:20,21; Apo. dos principais profetas da história de Israel aconse-
1:3; 11:6; 19:10; 22:7.10,18,19. Essas palavras lharam, ajudaram ou mesmo opuseram-se a reis. Com
derivam-se do grego pro, «antes.., «em favor de.., e freqüência eram perseguidos e foram martirizados,
phemi; «falar.., ou seja, «alguém que fala por outrem.., segundo Cristo frisou (ver Mat. 23:37). Jeremias foi
e, por extensão, «intérprete.., especialmente da um exemplo conspicuo de profeta perseguido e
vontade de Deus. Tais palavras gregas, naturalmente, banido, caluniado de traição, como se fosse partidário
estão por detrás do termo português «profeta... da Babilônia opressora.
Apesar da idéia de predição do futuro fazer parte 6. Os Sumos Sacerdotes como Profetas. Esperava-
inerente do oficio profético, incluindo acontecimentos se que os sumos sacerdotes de Israel fossem capazes
nacionais, comunais e individuais, o oficio profético de profetizar. Ver sobre Sumo Sacerdote. Eles
envolvia as atividades de exortação, ensino, pastoreio usavam o Urim e o Tumim (vide), que talvez fossem
e liderança espiritual em geral. Os profetas eram tidos sortes ou pedras preciosas, mediante o que eles entra-
como representantes de Deus, libertadores e intérpre- vam em transe, sendo assim capazes de profetizar.
tes da mensagem divina. Eles serviam de elo vital na 7. A' Ordem Profética. Esta não foi abandonada à
questão das revelações, bem como veiculos do sua própria sorte. Havia toda uma instituição
conhecimento espiritual. As revelações por eles profética. Os profetas e os sacerdotes eram ambos
recebidas, por ordem do Senhor em alguns casos líderes civis e religiosos na cultura dos hebreus. Isso
tomaram-se concretas nos livros que escreveram. foi oficializado nas posições ocupadas por Moisés e
Esses livros, por sua vez, foram canonizados, com a Aarão, e o ideal foi levado avante durante toda a
passagem do tempo, sendo então aceitos como história subseqüente de Israel. Foi feita a Moisés a
Escrituras Sagradas. Isso põe-nos frente a frente com promessa da perpetuidade do oficio profético em
o conhecimento através do misticismo (vide), do qual Israel (ver Deu. 18:9,15), que culminaria na pessoa do
a profecia é uma subcateaoría. Ver o artigo geral Messias, o maior de todos os profetas. Houve Moisés;
sobre o Conhecimento e a Fé Religiosa. então a sucessão dos profetas; então a fruição do
D. No Antigo Testamento oficio profético na pessoa de Jesus Cristo. Entre os
dias de Josué e de Eli «as visões não eram freqüentes..
1. No trecho de Núm. 11:29, encontramos a (I Sam, 3:1), o que significa que o oficio profético
declaração de Moisés em favor da liberdade que deve esteve em baixo nivel. Mas esse oficio ressurgiu com
ser outorgada aos profetas. Ele desejava que todo o os reis-profetas e com o aparecimento das escolas de
povo de Deus se compusesse de profetas. Ele não profetas. Samuel, um levita da familia de Coate (ver I
aprovou a tentativa de censura aos profetas. Com base Crê, 6:28), produziu um novo irrompimento da
nisso, podemos deduzir a idéia de que havia muitos função profética e de reformas sociais (I Sam. 9:22).
que receberam o dom profético, embora somente os Não foi Samuel quem criou essa ordem. mas foi o
nomes de certos profetas nacionais tenham chegado a instrumento de renovação do seu poder. Quanto às
tomar-se familiares para nós. Podemos apenas supor raizes da ordem profética. ver Deu. 13:1; 17:18;
que declarações extâticas eram comuns desde a 18:20.
história inicial do povo de Israel. Também houve
videntes individuais que não eram figuras públicas de 8. As Escolas dos Profetas. Essas surgiram nos dias
nota, mas que eram procurados para solução de de Samuel, e devido ao encorajamento que ele lhes
problemas pessoais, sendo essa uma das funções deu. Ver I Sam. 19:18,20; 11 Reis 2:3,5; 4:38; 6:1.
secundárias dos profetas. O simples fato de que a Essas escolas deram ao oficio profético um novo poder
palavra «profeta.. ocorre por mais de trezentas vezes e perpetuidade.
no Antigo Testamento mostra-nos a importância da 9. A Inspiração Profética. A Biblia ensina-nos que
função naquele contexto. o Espirito Santo é o inspirador dos profetas (ver Núm.
2. Abraão foi a primeira pessoa a ser chamada de 11:17,25; I Sam, 10:6; 19:20; 11 Ped, 1:21). Os falsos
«profeta.. na Biblia (ver Gên. 20:7). E Moisés foi o profetas, por sua vez, falavam por iniciativa própria,
primeiro profeta nacional de Israel (ver Deu. de seu próprio ceração, de acordo com sua
18:15-19). Então Moisés tomou-se uma espécie de imaginação (ver ler. 23:16; Eze. 13:3). Os modos de
modelo dos profetas de todos os tempos. Muitos inspiração incluiam certas formas de adivinhação,
rabinos chegaram a pensar que Jeremias fosse Moisés conforme jâ foi mencionado. Ver o artigo intitulado
reencarnado. De acordo com tal tradição. os Adivinhação. Mas também estavam envolvidos
principais profetas voltariam para cumprir novas sonhos e visões (ver Núm. 12:6). Além disso,
missões proféticas. Essa tradição também é exemplifi- encontramos exemplos biblicos de comunicação
cada na doutrina acerca de Elias-João Batista. direta, mediante a voz divina, a Presença divina. Os
Observando esses fatos, podemos perceber a grande profetas adaptavam as suas mentes a condições
importância atribuida aos profetas, dentro da cultura favorâveis à recepção de revelações, como o transe
hebréia. (ver 11 Reis 3:15; I Sam, 10:5; I Crô, 25:1). Mas esse
3. Deus é quem prepara os profetas, conforme estado podia sobrevir subitamente, como nos casos de
aprendemos em Exo. 3:1-4:17; Isa. 6; Jer. 1:4-19; Paulo e de Pedro, no Novo Testamento. Algumas
Eze, 1-3; Osé. 1:2; Amós 7:14,15; Jon. 1:1. Porém, vezes. foram outorgadas visões das dimensões
um profeta falso pode ter a ousadia de autonomear-se celestes, como nos casos de Isaias (ver Isa, 6) e de
(ver ler. 14:14; 23:21). Paulo (ver 11 Cor. 12). Ver os artigos sobre
4. A profecia provê uma espécie de consciência Inspiraçõo; Revelação e Misticismo. Tanto Isaias (ver
424
PROFECIA
Isa. 6:1) quanto Ezequiel (ver Eze. 1:1) «viram». profecia em particular. Todavia, há uma forma
Também havia o «assim diz o Senhor lO, a palavra de não-hostil de ceticismo que é definidamente útil
autoridade divina (ver Jer. 1:8,19; 2:19; 30:11; Amós quando enfrentamos a questão das profecias. Alguns
2:11; 4:5; 7:3), A palavra do Senhor «vinha» a homens intérpretes pen~ enxergar muitas profecias nas
impulsionados pelo Esptrito (ver Isa. 7:3,4), inclusive Escnturas, relativas ao futuro, quando, na realidade
pela voz exterior (verl Sam. 3:3-9). Eram passiveis de muitas dessas predições já ocorreram ou ~
receber revelações súbitas, algumas vezes de maneiras descrições históricas, e não previsões de acontecimen-
deveras estranhas (ver Núm. 22:31; 11 Reis 6:15-17). tos que ainda jazem no futuro. Precisamos mostrar-
10. Funções Proféticas. Vários itens do material nos críticos quanto a essa probabilidade. Uma atitude
exposto acima indicam essas funções. Oferecemos cética também deve ser aplicada às previsões dos
aqui um sumário: a. O recebimento de oráculos, místicos modernos, os quais, se conseguem alguns
privados ou particulares; b. o oficio didático acerca do acertos. também cometem alg]lns equivocos.
pecado e da retidão (Isa. 58:1; Eze, 22:2; 43:10; Miq. b. Método Experimental. Podemos crer em um
3:8), como também. as atividades de pastoreio, profeta, biblico ou extrabiblico, quando suas predi-
consolação, aviso de juizo divino, chamada ao ções passam no teste experimental. Essas predições
arrependimento (lsa. 40:1,2); c. o trabalho dos realmente cumprem-se? Alguns conservadores radi-
atalaias (Eze, 3:17; 33:7-9), como também a obra de cais supõem que as predições biblicas são infaUveis,
um embaixador, dentro e fora de Israel (a mensagem mas não levam em conta o fato de que tudo que passa
geral do livro de Jonas), o que incluía o evangelismo; através das mãos dos homens, tem erros. Esta atitude
d. apesar dos profetas não serem sacerdotes no envolve certa forma de idolatria. pois somente Deus é
sentido pleno da palavra, o caso de Samuel mostra infalivel. Para exemplificar, os profetas do Antigo
que eles também podiam desempenhar funções Testamento predisseram o retomo do povo de Israel à
sacerdotais (ver I Sam. 16:6-13); e. o trabalho de sua terra, após os cativeiros (assirio e babilônico), e
conselheiros de reis e outros oficiais civis (11 Sam. que então ocorreria a Idade Áurea, como aconteci-
7:3-16), o que dava aos profetas uma função própria mento imediato, segundo é fácil entender com a
de estadistas; f. os profetas derivavam de Moisés as leitura de seus textos. Porém, os profetas do Antigo
suas funções, dando continuidade ao oficio profético, Testamento não perceberam a grande expansão de
conferindo assim ao povo de Israel a consciência de tempo que teria de passar-se entre a volta dos cativos
ser um povo ímpar, preservando a identidade israelitas e a era do milênio. Passaram-se praticamen-
nacional (controlada pelas instituições santas e pelas te dois milênios e meio desde aqueles profetas, mas a
leis escritas: - Isa. 45:20-22; 60:3; 65:25; Êxo, Idade Áurea ainda não surgiu no horizonte. Assim, os
2:11 ss; Deu. 24:19-22; Miq. 5:4). Ver o décimo profetas também não anteciparam a maior de todas as
primeiro ponto. abaixo, no que conceme à importân- dispersões: aquela provocada pelos romanos, no
cia da função profética quanto à literatura. século I D.C., a qual. infelizmente, ocorreu (lp6s o
11. Os Profetas e as Escrituras. Os profetas foram os retomo dos judeus do cativeiro babilônico, desfazen-
principais instrumentos usados por Deus para a do qualquer possibilidade de uma verdadeira
redução das revelações divinas à forma escrita-as restauração, durante muitos e muitos séculos. E ainda
Sagradas Escrituras. Essa era uma função especial estamos esperando pelo cumprimento dessas predi-
revestida de importância capital, porquanto dava ao ções biblicas. Contudo, podemos estar certos de que,
oficio profético uma função que ultrapassava em no tempo certo, elas terão cumprimento. As
muito aos limites da nação de Israel, tendo produzido Escrituras Sagradas reservam a Deus o direito de
um dos mais notáveis documentos espirituais do conhecer o futuro. A questão «tempo» é uma das
mundo, o Antigo Testamento. Costuma-se falar em prerrogativas divinas. «Não vos pertence saber os
profetas maiores e profetas menores, sobre cujo tempos ou épocas que o Pai determinou para sua
assunto damos artigos separados nesta enciclopédia. exclusiva autcrídades (Atos 1:7).
O Pentateuco (os primeiros cinco livros da Biblia) O autor do livro de Apocalipse, já no Novo
foram produzidos por Moisés, o primeiro dos grandes Testamento, esperava para breve o fim do império
profetas, talvez chegado às nossas mãos pela romano, com um pronto retomo de Cristo. Ele não
instrumentalidade de vários editores, redatores e fazia qualquer noção sobre todo o longo período de
outras pessoas que adicionaram certas porções. tempo que se passaria-os dezenove séculos que já se
Muitos dos salmos de Davi têm natureza profética. passaram desde então-sem a volta de Cristo. E só
Deus sabe quanto tempo ainda se escoará antes da
12. o. Meto. do CoDhedmeIltoe aPIofeela. Muitas volta bendita do Senhor. Ver Apo. 17:10 ss, Essa
pessoas religiosas sentem-se nervosas quando alguém passagem tem sido distorcida por intérpretes desones-
fala em tomar conhecimento de qualquer coisa que tos para eliminar o fato de que o autor sagrado
não seja através da revelação divina. E que supõem antecipava somente mais dois imperadores do império
que essa revelação é completa, e que basta a Biblia romano, e que o último deles seria a reencarnação de
para que possamos conhecer tudo de mede infalfvel. um dos sétimo (pelo que seria o oitavo e último
Porém, somente Deus é infaUveh-5empre que alguém imperador). ~ claro que o autor sagrado estava
atribui infalibilidade a qualquer outro ser, está equivocado em sua maneira de pensar. Todavia,
exercendo idolatria. Ademais. todos os meios postos Deus, que tudo sabe, reservou para si mesmo um
ao nosso alcance para obtermos conhecimentos são conhecimento mais alto das coisas. O império romano
legitimes, e deveriam ser utilizados em favor da prosseguiu durante alguns séculos ap6s os ap6stolos
espiritualidade e do conhecimento espiritual. Diga- de Cristo. e muitos cristãos perderam toda esperança
mos que De~s forneceu-nos. o cerne da verdade, e que de qualquer regresso imediato de Cristo. O importan-
agora precisamos revestir esse cerne com os te é entendermos que coisas assim não anulam a
pormenores que a completam. Para tanto, há vários profecia:
esquemas, conforme vemos nos três pontos abaixo: . m. GúfIco ... Profeta. do Antl80 TelltlllDeDto
a. Ceticismo. Há ceticismos de muitas variedades. Primeiramente, apresentamos aqueles profetas que
Ver o artigo Ceticismo. Assim, há um ceticismo foram usados na produção de livros sagrados. Em
anti-religioso, que só busca negativismos. Podemos segundo lugar, alis~os outros profetas importantes,
ignorar sem dano algum essa variedade, sem importar embora não nos tivessem brindado com qualquer
se labora contra a fé religiosa em geral ou contra a produção literária.
425
PROFECIA
Ordem CmDoIó&lea Profeta Referênd_ BlbUcaa ReIs EnyohidOll
e Data Aproxlm-d.
1. 837·800 A.C. Joel Joel 1:1; 11 Reis 11 Joâs?
2.825 - 782 Jonas 11 Reis 13, 14 Amazias, Jeroboão 11
3.810 - 785 Am6s 11 Reis 14, 15 Jeroboão 11
4. 782 - 725 Osêías 11 Reis 15 - 18 Jeroboão 11
5. 758 - 698 Isaias 11 Reis 15 - 20 Uzias; Jotão: Acaz;
11 Crô. 26 - 32 Ezequias
6. 740 - 695 Miquéias 11 Reis 15:8·20; Isa. Uzias; Jotão: Acaz;
7,8; ler. 26:17-19; Ezequias
11 c-e. 27 - 32
7.640- 630 Naum Jonas; Isa. 10 Josias
Sof. 2:13-15
8.640- 610 Sofonias 11 Reis 22, 23 Josias
11 Crô. 34 - 36
9. 627 - 586 Jeremias 11 Reis 22 - 25 Josias; Joacaz; leoa-
11 Crô. 34 - 36 quim; Joaquim; Ze-
10.609 - 598 Habacuque 11 Reis 23, 24 Josias dequias
11 Crô. 36:1-10
11.606 ·534 Daniel II Reis 23 - 25 Exílio; Nabucodono-
II Crô. 36:5-23 sor; Ciro
12.592 - 572 Ezequiel 11 Reis 24:17-25 Exílio; Nabucodono-
11 Crô. 36:11-21 sor
13.586 - 583 Obadias 11 Reis 2S Exílio; Nabucodono-
11 Crô. 36:11-21 sor
14.520 Ageu Esd. 5, 6 Após o exilio; Ci-
ro; Esdras
15.520 - 518 Zacarias Esd. 5, 6 Após o exilio; Da-
rio I; Esdras
16.433 - 425 Malaquias Nee. 12 Após o exílio: Arta-
xerxes I; Neemias
485
PROFECIAS MESSIÂNICAS
munhos», uma antiga coletânea de «textos de prova» Messias ocuparia, de maneira suprema, ambos esses
com base no A.T., usada pelos cristãos primitivos oficios, de modo a empanar a atuação extraordinária
para comprovar o caráter messiânico de Jesus. Essas de Moisés.
citações primeiramente apareceram em forma oral, Era necessário que os judeus reorientassem os seus
mas foram incorporadas em forma escrita nos pensamentos e a sua interpretação acerca dessa
primitivos documentos cristãos, até que subseqüente- declaração de Moisés, porquanto prevaleciam muitas
mente vieram a fazer parte do texto dos livros que diferenças e havia muita confusão sobre o profeta.
vieram a fazer parte do cãnon do N. T. Essas citações Alguns interpretavam essa predição como se ela
algumas vezes incluíam diversas passagens juntamen- fizesse alusão a uma série de profetas semelhantes a
te. ou parafraseavam trechos do A.T. no hebraico ou Moisés (ver Jarchi sobre Deut. 18:15). Porém, jamais
da tradução da LXX (Septuaginta), em vez de serem houve qualquer sucessão de profetas que ao menos se
dadas palavra por palavra de um ou outro desses aproximasse da estatura espiritual de Moisés, e a
documentos. própria história serve de ampla demonstração sobre
I. MoWe F.Joa Sobre Crfato esse fato. Outros estudiosos judeus aplicavam essa
1. Moisés foi selecionado aqui como o maior dos predição ao profetaJeremias (ver Aben Ezra, in loc.)
profetas do A.T., como aquele que ofereceu o ou a Davi (ver Herban. dispo cum Gregent., pág. 13).
testemunho mais convincente a respeito de Cristo. Todavia, nenhum desses dois personagens ao menos
Consultar Deu. 18:15 e Lev. 23:29. começou a cumprir as exigências envolvidas nessa
profecia sobre «o profeta».
2. Os essênios esperavam que três personagens
cumprissem as promessas messiânicas. Os judeus não MohélI tlplDcoa o M..a. dos seguintes modos: 1.
tinham nenhuma doutrina fixa acerca do Messias. Em uma grandeza óbvia, maior que a de todos os
Os cristãos primitivos viam em Jesus o cumprimento outros profetas. 2. Como instigador de uma nova
de todas as expectações e a harmonia de todas as ordem de coisas e doador de uma nova lei. 3. Como
idéias divergentes quanto ao Messias. alguém que tinha contacto especial com Deus, maior
3. Em Joio 20:31, no NTI, dou um sumârio comple- que o dos outros profetas. 4. Como alguém que
combinava em sua própria pessoa os ofícios de
to sobre a polêmica cristã em favor do caráter legislador e de profeta. 5. Como alguém que trouxera
messiânico de Jesus. O testemunho de Moisés é um redenção ao seu povo.
item importante nessa polêmica.
O uso de Moisés como representante da tradição O Messias se distinguiria de Moisés pelo fato de que
profética, quando aceito, se reveste de significação. o seu ofício teria uma amplitude muito maior,
toda especial para os judeus. Moisés era reputado tipo porque seria mesmo universal, e porque isso
simbólico de Cristo (ver João 1:21), Deus falava com conduziria à restauração de todas as coisas, o que não
ele face a face (ver Êxo, 33:11) e era considerado o teria fim, ao passo que o oficio de Moisés era apenas
maior de todos os profetas (ver Deut. 34:10). Por intermediário, mediatório. Naturalmente, se falarmos
semelhante modo, Moisés era considerado redentor de Cristo como o «Logos» eterno (ver João 1:1-3),
de seu povo. Quanto a outras referências ao «profeta», então não poderá haver qualquer base para
que - os cristãos aceitavam como um único profeta e comparações entre o Senhor Jesus e Moisés.
a mesma pessoa que o «Messias», ver João 1:21,25; Moisés não foi o único profeta da antiga
6:14 e 7:40. Tal como no caso de Moisés, o Messias dispensação judaica a fazer predições com referência
entraria em contacto com Deus de forma toda especial ao Cristo, embora Simão Pedro, nesta passagem do
- face a face - tendo contacto muito maior e íntimo livro de Atos, o tenha usado como o maior de todos
com o Senhor do que os profetas comuns, e, tal como quantos profetizaram a seu respeito. Neste ponto
Moisés, estabeleceria uma nova ordem de coisas, queremos apresentar um ponto de vista geral acerca
embora de significação universal muito maior, visto das profecias messiânicas existentes no A. T. As
que não atingiria somente a nação de Israel, mas profecias referentes ao Messias, como «Servo Sofre-
também fluiria na forma de uma redenção e dor», aparecem nos comentários no NTI, referentes ao
restauração universais de tudo. Tudo isso mostraria décimo oitavo versículo deste mesmo capitulo. E as
quão maior seria o Messias do que Moisés, embora profecias referentes ao «reino» do Messias, são dadas
Moisés tivesse sido seu tipo simbólico. dentro das notas expositivas atinentes ao vigésimo
Moisés foi ao mesmo tempo legislador e profeta; e o primeiro versículo deste capítulo.
••• ••••••
n, USTA DE PROFECIAS MESSIÂNICAS CUMPRIDAS POR JESUS
Trecho Bíblico Teor da Profeica Cumprimento
Gên. 3:15 Seria o «descendente da mulher» Luc. 2:7; GáI. 4:4 e Apo, 12:5
Gên. 12:3; 18:18 Seria o «descendente de Abraão» Mat. 1:1; Luc. 3:34 e Atos 3:25
Gên. 17:19 Seria o «descendente de Isaque» Mat. 1:2; Luc. 3:34
Gên. 28:14 e Núm. 25:17 Seria o «descendente de Jacó» Mat. 1:2,3; Luc. 3:33
Gên.49:1O Descenderia de Judá Mat. 1:2,3; Luc, 3:33
11 Sam. 7:13; Isa. 9:7; 11:1-5 Herdaria o trono de Davi Mat. 1:1,6
Miq.5:2 Nasceria em Belém de Judá Mat. 2:1; Luc. 2:4-7
Dan.9:25 Tempo de seu nascimento Luc. 2:1.2,3-7
Isa. 7:14 Nasceria de uma virgem Mat. 1 :18; Luc. 1:26-35
Jer. 31:15 O massacre dos infantes Mat. 2:16-18
Osê. 11:1 Fuga para o Egito Mat. 2:14.15
Isa. 9:1,2 Seu ministério na Galiléia Mat. 4:12-16
Deut. 18:15 Seria profeta João 6:14; Atos 3:19-26
Sal. 110:4 Seria sacerdote da ordem de Melquisedeque Heb. 5:5,6; 6:20 e 7:15-17
Sal. 2:2; Isa. 53:3 Seria rejeitado pelos judeus Luc. 4:29; 17:25; 23:18; João 1:11
Sal. 45:7; Isa. 11:2-4 Algumas de suas características Luc. 2:52; 4:18
436
PROFECIAS PROFETAS FALSOS
Isa. 62:11; Zac. 9:9 Sua entrada triunfal Mal. 21:1-11; João 12:12; 12:13,14
Sal. 41:9 Seria traido por um amigo Mal. 26:14-16; Mar. 14:10,43-45
Zac. 11:12,13 Seria vendido por trinta moedas Mat, 26: 15
Zac. 11:13 Tal dinheiro seria devolvido Mat. 27:3-10
Sal. 109:7,8 Judas seria substituido Atos 1:16-20
Sal. 2'7':12; 35:11 Testemunhas falsas o acusariam Mat. 26:60.61
Sal. 38:13,14; Isa. 53:7 Calar-se-ia ao ser acusado Mat, 26:62,63; .27:12-14
Isa. 50:6 Seria ferido e cuspido Mar. 14:65; 15:17; João 18:22; 19:1-3
Sal. 69:4; 109:3-5 Seria odiado sem causa João 15:23-25
Isa, 53:4,12 Sofreria vicariamente Mal. 8: 16, 17; Rom. 4:25; I Cor. 15:3
Isa.53:12 Seria crucificado com criminosos Mat. 27:38; Mar. 15:27,28; Luc. 23:33
Sal. 22:16; Zac. 12:10 Teria mãos e pés traspassados João 19:37; 20:25-27
Sal. 22:6-8 Seria zombado e insultado Mat. 27:39-44: Mar. 15:29-32
Sal. 69:21 Dar-lhe-iam fel e vinagre Mat. 27:34.48: João 19:29
Sal. 22:8 Ouviria palavras proféticas repetidas com zombaria Mal. 27:43
Sal. 109:4; Isa. 53:12 Oraria pelos seus inimigos Luc, 23:34
Zac. 12:10 Teria o lado traspassado João 19:34
Sal. 22:18 Soldados lançariam sortes quanto à sua túnica Mar. 15:24: João 19:24
Êxo. 12:46; Sal. 34:20 Nenhum de seus ossos seria quebrado João 19:23
Isa. 53:9 Seria sepultado com o rico Mal. 27:57-60
Sal. 16: 10 e Mat. 16:21 Ressuscitaria dentre os mortos Mat. 28:9: Luc. 24:36-48
Sal. 68: 18 Ascenderia aos lugares celestiais Luc, 24:50.51: Atos 1:9
•••••• •••
PROFETA I. Nio dela cricIIto • qual.... apll'lto
Ver sobre Profecia quanto a uma lista de artigos Não pode haver qualquer dúvida de que o autor
referentes aos profetas e à profecia. Ver especialmente sagrado refere-se aqui aos espíritos malignos (demô-
o artigo chamado Profecia, Profetas e o Dom da nios), como poderes que inspiram os homens a crer
Profecia. erroneamente e praticarem o mal. Isso equivale a uma
declaração de que o gnosticismo era inspirado pelos
demônios; e sendo inspirado por espiri tos malignos,
PROFETA VELHO opunha-se ao Espírito de Deus. Isso pode ser
Essa expressão aplica-se a um profeta cujo nome comparado à atitude de Paulo referente à idolatria,
não nos é fornecido, que residia em Betel, no começo que não é apenas um tipo de adoração pervertida. por
do reinado de Jeroboão I. Somos informados somente homens dotados de baixa percepção espiritual. mas
quanto a um incidente de sua vida (I Reis 13:11-32; 11 antes, é algo praticado pela inspiração dos demônios
Reis 23:16-18). Esse profeta queria oferecer hospitali- (ver I Cor. 10:20). A idéia é que a idolatria de algum
dade a certo homem de Deus, que viera do reino do modo paga tributo e presta serviço a espíritos
sul, Judâ, e que aparecera em Betel a fim de malignos invisíveis, e que os altares que recebiam os
denunciar o santuário id6latra real daquele lugar. O sacrifícios idólatras e os próprios ídolos adorados ou
profeta de Judá já estava retornando à sua terra venerados, servem de meios dessa lealdade dada a
quando o profeta velho insistiu que ele ficasse. O espíritos malignos.
profeta judaíta recusou-se a principio, sob a alegação Alguns judeus criam na realidade dos deuses
de que Yahweh lhe tinha proibido comer naquele pagãos, isto é, não acreditavam que o sistema inteiro
lugar. Mas o profeta velho mentiu, ao dizer que um do paganismo seria mítico e imaginário, mas antes,
anjo do Senhor o instruíra, dizendo que não estaria supunham que poderes espirituais autênticos, mas de
errado se o outro comesse em BeteI. E assim, o profeta natureza maligna, dominavam os pagãos através de
de Judá acabou tendo uma refeição em companhia do suas crenças e práticas religiosas distorcidas. Por isso
profeta velho. Depois disso, o profeta de Judâ partiu é que o autor sagrado não diz ser invenção humana a
de volta para Sua terra; mas, no caminho, um leão base doutrinária do gnosticismo; pelo menos não
saiu ao encontro dele e o matou. atribuía o gnosticismo somente a isso. Por detrás de
O profeta velho 'percebeu nesse evento a mão tudo ele via um poder demoníaco. Há um «espírito do
castigadora de Yahweh, embora ele mesmo tivesse anticristo» (ver I João 4:3) e também há o «maligno»
enganado ao outro profeta, fazendo-o desobedecer à (o «diabo»; ver I João 3:10). Além disso, este mundo
ordem original que recebera da parte do Senhor. E o incrédulo inteiro está debaixo do controle do diabo
velho profeta sepultou o "profeta judaita em seu (ver I João 5: 19). Isso pode ser comparado à expressão
próprio sepulcro. Com isso, o profeta velho exibiu seu de Paulo. «o deus deste século» (11 Cor. 4:3). O diabo
arrependimento, embora isso não tivesse trazido de tem uma maneira de cegar os homens espiritualmen-
volta a vida do outro. Esse episódio mostra como te.
podemos incorrer em erros que produzem conseqüên-
cias drásticas nas vidas de outras pessoas, que Os-crentes devem estar alertas quanto à natureza
acabam caindo em alguma armadilha, por meio de verdadeira das religiões falsas, não permitindo que
ludibrio ou coisa parecida. elas obtenham qualquer cabeça de ponte na igreja.
Esse estado de alerta deve revestir-se de certa
qualidade espiritual, e não apenas intelectual.
Pode-se entender que a maturidade espiritual dá ao
crente essa espécie de discernimento. O trecho de I
PROFETAS FALSOS Cor. 12:10 nos mostra que existe um dom espiritual
I João 4:1: Amados, não creiais a todo espirito.vnas do «discernimento de espíritos». Isso é dado aos
provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos crentes como um favor -direto do Espírito Santo,
falsos profetas têm saldo pelo mundo. conferido a certos dentre eles, para ajudar na
437
PROFETAS - PROFETAS MENORES
manutenção da pureza da Igreja, protegendo-a dos tinham vidas imorais, fazendo da imoralidade parte
assédios de demonismo. Isso nos faz lembrar da de seu sistema ético. Não criam que é errôneo o abuso
tremenda necessidade que a igreja evangélica atual do corpo. Supunham que o espírito humano não pode
tem desse discernimento, porque algumas igrejas ser prejudicado pelo pecado, tal como o ouro,
locais, evidentemente, tornaram-se centros espíritas, mergulhado na lama, não adquire nada da natureza
embora involuntariamente; pois, paralelamente à da lama. Chegavam mesmo a imaginar-se impecáveis
intensificação das «manifestações espirituais» tem (porque seu espirito estaria livre do pecado, embora o
havido a intensificação da atividade demoníaca. Isso é corpo pudesse corromper-se). Ver I João 8:10.
demonstrado pelo fato de que, algumas vezes, quando Os profetas do N.T. eram homens que falavam por
há o fenômeno da «glossolalia» ou «falar em línguas», impulso imediato do Espirito de Deus, pela
blasfêmias e obscenidades são proferidas. Além disso, «inspiração». Não eram, essencialmente, homens que
algumas pessoas, paralelamente a seus supostos dons «prediziam» o futuro, embora isso também ocasional-
espirituais, envolvem-se em problemas psíquicos, mente ocorresse. (Ver Atos 21:10 e ss). Também eram
sinal patente de que entrou em contacto com espíritos mestres inspirados. Não dependiam do corpo de
estranhos, e não com o Espirito Santo. mestres reconhecidos, exclusivamente. Mas podemos
Apesar de assim dizermos, é evidente que não supor que suas profecias concordavam, de modo
podemos julgar quão espalhada anda a mistificação geral, com os ensinamentos cristãos revelados e
entre aqueles que buscam e usam ativamente os dons escritos, pois, do contrário, suas profecias seriam
espirituais. Não há que duvidar que a igreja cristã reputadas falsas.
precisa de que lhe sejam restauradas as mani.festações IV. Maltoa ,..... profeta
espirituais (em algum modo de expressão) pois são um O movimento gn6stico era uma real ameaça à igreja
excelente meio de desenvolvimento espiritual (ver Efé. cristã na Ásia Menor, e conseguia convertidos à sua
4:8-16). Mas, em vista do exposto, a busca pelos dons causa dentro do próprio cristianismo. O N.T. conta
espirituais deve ser feita com o acompanhamento da com oito livros escritos para combater essa heresia, a
busca pelo dom do discernimento de espiritos, ao saber, a epistola aos Colossenses, as três epístolas
mesmo tempo. Gostaríamos de saber quantos têm pastorais, as três epístolas de João e a epístola de
pensado sobre isso. E quantos não agem assim? Judas. Há outros livros do N. T. que refletem isso em
Robertson (in loc.} fala sobre pessoas que caem parte, como a epístola aos Efésios, o evangelho de
vítimas fáceis das «trapaças espirituais». Mas isso João e porções do livro de Apocalipse. O fato de que
demonstra a falta de apreciação pela realidade das tanta literatura foi escrita contra esse sistema falso
ê
drogas, e da consciência projetada. Cada uma dessas pessoas. As mais fru feras dentre essas experiencias
variedades de consciência tem os seus próprios têm sido aquelas cujo participante foi Blue Harary,
mistérios, e merece investigação. O Dr, Roll aguarda um estudante da Universidade Duke, (Artigo, pág.
o dia em que os nossos laboratórios haverão de prover SO). A experiência transcrita abaixo contém elemen-
o equipamento necessário para serem exploradas as tos que nos chamam a atenção.
caracteristicas da consciência viva, caracteristicas O Sr. Harary tem passado por muitas experiências
essas que talvez prossigam mesmo depois da morte de projeção da psique. De certa feita, estando no
biológica. E ele menciona três organizações que espírito, ele resolveu visitar um amigo. Concentrando-
estão nos estágios iniciais de desenvolvimento de' se, ele foi capaz de ir até certo lugar, em Nova Iorque,
laboratórios dessa ordem. São as seguintes: a onde residia o seu amigo, George. Harary viu-se
American Society for Psychical Research, a Divisão de pairando por cima de seu amigo, e tentou despertar o
Parapsicologia da Universidade de Vírgínia, em «eu" não-físico de George, tendo ajudado esse «eu" a
Charlottesville, e a Psychical Research Foundation, sair do corpo. Nem um e nem outro julgaram estranho
em Durham, na Carolina do Norte. Três são as áreas o que estava acontecendo, No espirito, eles foram de
especificas da consciência que atualmente estão sendo Nova Iorque ao estado de Maine, e caminharam por
investigadas, a saber: uma região arborizada. Passaram por uma poça de
a. A consciência real do «eu», que pode estender- liquido róseo, quente e borbulhante, Harary advertiu
se para fora do corpo; George para que se mantivesse afastado da tal poça,
tendo afirmado que ela representava um perigo,
b. deve ser possivel a averiguação dessa extensão; mesmo para o corpo não-físico.
c. o «eu" estendido deve ser capaz de existir ôsi d
independentemente do organismo fisico, ao Essa jornada, evidentemente, teve o prop sito e
qual chamamos de corpo (portanto, o corpo é visitar uma outra entidade, uma mulher; e, para
apenas um veiculo; o «eu" consiste em intelecto surpresa deles, ela já estava esperando por eles.
Harary reconheceu-a imediatamente, ao ver os seus
ou consciência). cabelos louro-avermelhados, com seu rosto de maçãs
Dok Meto. ele IDveetla·çiio proeminentes. Ora, essa visita tinha por escopo a
Essas proposições podem ser examinadas com ajuda mútua. E discutiram a respeito de coisas que os
maior proveito através de dois meios frutiferos: a estavam perturbando, e foram instruidos e consolados
psicologia e a parapsicologia. A psicologia pode com a companhia uns dos outros. Terminada a visita,
conferir-nos discernimentos a respeito da natureza da regressaram a seus respectivos lugares, e reentraram
consciência, e esses discernimentos sugerem, ainda em seus corpos físicos. Ao despertar, na manhã
que não provem de maneira absoluta, que um ser seguinte, o Sr. Harary lembrava-se de toda aquela
humano é muito mais do que o seu corpo físico, A experiência (?) ou sonho (?). Mais tarde, naquele
parapsícología pode investigar as reivindicações de mesmo dia, encontrou-se com George, o qual tinha a
uma consciencia ,ue se estenda até após a morte, estranha sensação de que se havia esquecido de algo
estando então em oco aquela função intelectual que importante. Mas, à noite, quando discutiam sobre
existe independentemente do corpo material. As seus sonhos, a fisionomia de George adquiriu uma
experiências fora do corpo e o retomo após a morte estranha expressão, ao relembrar-se da experiência da
clinica parecem ser os dois meios mais promissores noite anterior. Lembrou-se da «fantástica" idosa
para demonstrarmos a existência do ea como uma senhora, de cabelos louro-avermelhados, e não
entidade separada do corpo. encanecidos, como seria de esperar-se. Também se
O Dr, Roll acredita que tais experiências oferecem relembrava de algo a respeito de uma poça de água.
448
PROJEÇÁO DA PSIQUE
Estava lembrado da naturalidade da experiência detectaram o .eu» não-físico do Sr. Harary, por
inteira, bem como dos dois individuos cujos corpos ocasião de sua projeção.(Artigo, pág. 82)
eram quase duplicatas dos corpos fisicos de Harary e O Sr. Roll também frisa que o Sr. Harary era capaz
George. Tudo isso. a despeito do fafode que as lem- de exercer.. um efeito notável sobre gatinhos,
branças de George não eram tio claras e detalhadas :e
àcalmando-se. interessante notarmos que, quanto a
quanto as de Harary. esse particular, o Sr. Hararyfoi capaz de acalmar um
Pondo-se de lado a desagradivel possibilidade de certo gatinho, mas não um outro, que estava presente.
que Harary estivesse meramente contando uma boa Mais mistérios' Ainda no tocante a experiências com
história, a fim de confundir o Dr, Roll, defrontamo- esses dois felinos, em uma outra oportunidade, por
nos com certo número de problemas, na citada ocasião de uma projeção astral o Sr. Harary viu
experiência. Realmente, não haveria quaisquer somente um dos animaizinhos, e ao despertar,
problemas se aceitássemos a evidente realidade da transmitiu a sua impressão ao pesquisador.•Corretol»
história toda, a saber: a pessoa real não é o seu corpo disse este último. Pois o pesquisador havia removido
fisico; a pessoa (o intelecto) pode projetar-se para
fora, enquanto seu organismo ftsico ainda vive; as
experiências psiquicas podem ser compartllhadas com
um dos gatos de seu lugar.
ReI-çio Entre a PercepçIo
ProjeçIo da Pllqae
Edn........ e a
outras pessoas, em um estado similar de projeção; há Alguns pesquisadores tem opinado que as chama-
um propósito espiritual em tudo isso, porquanto das projeções da psique são apenas experiências subje-
existem lições que precisamos aprender, havendo tivas da percepção extra-sensorial, não envolvendo
outras entidades não-Ilsicas que estão interessadas qualquer separação real entre os elementos fisico e
pelo nosso bem-estar, e podem ajudar-nos. espiritual do ser humano. Assim sendo, seria de se
Encaremos francamente a questão. A fé religiosa, presumir que as supostas viagens da alma sejam
bem como alguns sistemas filosóficos, sempre apenas a consciência telepática ou clarividente,
nos 'ensinaram essas realidades. De fato, são questões interpretada como se a pessoa tivesse realmente ido
que pertencem ao ABC daquelas disciplinas, embora lá. Essa uma questão que não pode ser manuseada
ê
a idéia da projeção astral possa ser considerada com facilidade, devido à limitação de nosso
estranha para alguns teólogos e filósofos, como um conhecimento sobre o que, exatamente, está envolvido
meio de experimentarmos eventos espirituais. na percepção extra-sensorial. No 'sumârio e avaliação
No que ..... _ pmbItmM _voI""'-, poderia- que oferecemos no fim deste artigo, sob o titulo
mos asseverar com confiança que essa experiencia foi Razões para crermos que as projeções não são meros
um sonho compartilhado. Os estudos nesse campo sonhos muito vividos, no seu décimo quinto item,
,.. . al sugiro um certo número de razões pelas quais
têm mostrado que os individuos emocton mente deveriamos distins....ir entre percepção extra-sensorial
vinculados entre si, por estarem ocupados em algum 0-
empreendimento ou trabalho comum, na realidade normal e a projeção astral.
têm sonhos dessa natureza, com detalhes literais ou Declarou o Sr. Roll: .A percepção extra-sensorial é
simbólicos (os detalhes são diferentes, mas os a consciência daquilo que já faz parte do pr6prio 'eu' .
simbolos retratam as mesmas coisas). Poderiamos até As experiências fora do corpo confirmam o que já
falar em alucinações compartilhadas. e possivel que sabemos sobre a percepção extra-sensorial» (Artigo.
possamos lançar dúvidas sobre a realidade da pág. 84). Esse estudioso prossegue a fim de salientar
projeção da psique quanto a dois particulares, isto é, que a percepção extra-sensorial pode manifestar-se
que ela possa servir de prova da existência da alma e mesmo sem a percepção consciente do individuo, ao
de prova de sua independência quanto ao corpo. passo que a projeção da psique é uma experiência
Notemos, entretanto, que o Sr. Harary passou altamente pessoal e consciente. Esse argumento, no
definidamente pelo modus operandi da projeção, o entanto, nem sempre é válido, pois parece que há
Que certamente não é tipico dos meros sonhos. autênticas experíências de projeção das quais o
Segundo a minha avaliação, que aparece no final individuo (uma vez reunido novamente ao corpo
deste artigo, procuro oferecer razões pelas quais, fisico) não retém qualquer lembrança. Isto posto. o
pelo menos algumcu projeções da psique, são seu primeiro argumento parece melhor que o
exatamente isso, não podendo ser confundidas com segundo. A projeção da psique consiste em uma real
meros sonhos muito vividos. viagem do 'eu' (a consciência ou intelecto), sem a
Atentemos ainda a um outro estranho aspecto dessa participação (e o entrave) do corpo fisico. A percepção
,.. . fi . extra-sensorial, porém, é uma função desse 'eu',
experiência, que 410 igura nos casos previamente sendo intensificada quando da projeção astral.
relatados. O -eu- não-fisico de George foi despertado ;.o
pelo Sr. Harary. Ora, não há motivos para crermos Enquanto se conserva preso ao corpo ftsico, o
que o «eu» não-físíco não seja capaz de dormir. intelecto fica dependendo das informações fornecidas
AIgumas narrativas . b 6s pelos sentidos do corpo. Mas, quando se acha fora do
so re retornos ao corpo, ap a corpo, a sua consciência toma-se muito mais livre, e
morte clinica, indicam que a morte por meios
. 'de de f alm d . poderiamos mesmo afirmar que agora o seu
violentos, ou por 8C1 nte, po azer a a ornnr conhecimento tomou-se extra-sensorial, porquanto OS
por algum tempo, como que para recuperar-se do sentidos fisicos não estio envolvidos.
abalo. Sem embargo, a morte que ocorre por meios
naturais quase sempre deixa a alma desperta, pelo O Dr, C.G. Jung publicou um episódio de projeção
que a transição se efetua sem qualquer perda de astral forçada, com a qual esteve pessoalmente
consciência. envolvido (relatado por Allen Spraggett, em seu livro,
O Sr. Roll, ao considerar a possibilidade de que as The Case for Immortality, New American Ubrary,
projeções da psique nio passam de fantasias Nova Iorque, 1975, págs. 7S e 76).
mdíviduais, rejeita tal noção (pelo menos no caso de Umajovem senhora, tendo sofrido severa hemorra-
algumas projeções), porquanto ele dispõe de provas, gia logo depois de haver dado à luz a uma criança,
colhidas no decorrer das suas pesquisas, no sentido de afundou-se em um vazio nublado quando uma
que a presença projetada pode ser sentida. U tilizan- enfermeira correu para o seu lado, a fim de tomar-lhe
do-se do Sr. Harary como sujeito; o Sr. Roll foi capaz OPulSO. Repentinamente, ela começou a ter uma nova
de confirmar esse ponto em nada menos de seis conscíêneia da realidade, Ela estava olhando para
diferentes ocasiões, durante as quais outras pessoas baixo, de um ponto qualquer prôxímo ao teto da sala,
449
PROJEÇAO DA PSIQUE
observando todos os acontecimentos que se desenrola- porquanto o homem está incorporado a uma porção
vam no aposento. Ela divisou o seu próprio corpo não-física, «capaz de agir independentemente do
empalidecido, bem como o médico que caminhava corpo e fora do corpo fisico» (Spraggett, ibid., pág.
frenético, para lá e para cá pela sala. O seu marido e a 81). Um de seus sujeitos foi Ingo Swann, um artista e
sua mãe entraram e olharam para ela com ar de escritor que reside em Nova Iorque. Em uma série de
grande aflição, de cenho franzido. Por detrás dela experiências, a tarefa dada a Swann consistia em
mesma, entretanto, resplandecia uma cena de abandonar o próprio corpo, ascendendo até um lugar
qualidade inteiramente diferente-uma paisagem perto do teto, onde se encontrava um objeto em uma
maravilhosa com cores vibrantes, um prado de cor prateleira. Esperava-se dele que chegasse até o local,
verde-esmeralda e uma luz solar amarelo-pálido. observasse o objeto e então dissesse mais tarde do que
Repentinamente, porém, ela achou-se de volta ao seu se tratava. Nessa série particular, que consistiu em
próprio corpo, e a enfermeira disse-lhe que ela oito tentativas, ele foi capaz de identificar os objetos
estivera «inconsciente» por meia hora. Mais tarde, ela corretamente, todas as vezes, sem erro qualquer.
repreendeu (com bom -humor) ao seu médico, por ter Foram empregados objetos de fácil identificação,
ele dado aqueles passos nervosos pela sala, que quase como um guarda-chuva, uma maçã, etc. O Dr. Osis
chegavam à histeria. A princípio, ele quis negar que informa-nos que a chance de acertar, em oito
tivesse agido assim, admirado e embaraçado ao oportunidades, aproxima-se da taxa de probabilida-
mesmo tempo; mas, finalmente, admitiu que o que des de quarenta mil para um. Durante as suas viagens
ela vira realmente tinha acontecido com ele. para fora do corpo, as ondas cerebrais de Swann
Se Crookall tivesse sido convidado a examinar o exibiam notáveis modificações de voltagem. Uma vez
episódio, sem dúvida salientaria o fato de que, nesse mais defrontamo-nos com a questão da «clarividência
caso, estamos abordando um exemplo de projeção itinerante». A fonte informativa de que dispomos não
astral forçada. Uma das caracteristicas desse tipo de faz distinções similares às de Crookall, como:
projeção é que o «eu» projetado fica pairando por «Estariam em ação mecanismos de projeção astral?..
sobre o corpo, fazendo observações. Contudo, nesse Se essa informação estivesse em disponibilidade,
episódio também encontramos sinais de que houve a estariamos em melhor posição para aquilatarmos tais
projeção do corpo superfísico, porquanto houve certa episódios.
duplicidade de cenas. Manifestou-se o que poderia- Spraggett (ibid., pág. 84) menciona fotografias de
mos apelidar de espiada para além da vida fisica aparições de aparentes projeções da psique, citando o
normal. Esse vislumbre revelou a beleza da vida bem conhecido caso de Charles Good, cuja aparição
eterna. Sob a ameaça da morte, o corpo superfisico já foi fotografada nos edificios do Parlamento da
se havia libertado, ou então estava no processo de provincia de Vitória, Colúmbia Britânica, no Canadá,
desvencilhar-se do corpo vital, e, em vista disso, apesar de se saber positivamente que ele estava
começou a materializar-se uma experiência paradísía- atacado por gravissima enfermidade, não podendo
ca. Conforme declarou Jung, acerca de uma afastar-se do leito, em casa, porquanto já entrara em
experiência dessa natureza, que ele mesmo teve: ..E. a estado de coma. Quando o conselho de parlamentares
bem-aventurança eterna. ~ algo que não pode ser reuniu-se, a 13 de janeiro de 1865, uma fotografia
descrito; é por demais maravilhoso» (C.G. Jung, tirada dos membros daquela assembléia estampava a
Memories, Dreams, Reflections, Nova Iorque, New imagem de Good, claramente discernivel entre os
York Books, 1963). A fé religiosa sempre se manifes- outros membros, mas com uma espécie de aparência
tou nesses termos. Algum dia, talvez não muito de transparência, «fantasmagórica.._
distante, a ciência também entoará esse cântico Fotografia cIeua DIItareza podem ser deveras
jubiloso. significativas; entretanto, podem ser fotografias do
corpo vital, e não do corpo superfisico. Se aparecem
FlllltaIu 011 Fato.' em tons de branco e preto (como parece ter sido o caso
Porventura essas eXf.'Criências poderiam ser simples que envolveu Good), então mui provavelmente são
variações daquele fenomeno conhecido pelos psic6lo- retratos do corpo vital, nada podendo ser demonstra-
gos, ao qual eles dão o nome de «autosccpía», isto é, do, por esse intermédio, acerca da questão da
..ver-se a si mesmo, em um espelho..? Essa estranha existência da alma e de sua sobrevivência diante da
experiência tem sido mencionada por inúmeras morte biológica. Mas, se essas fotografias são
pessoas, incluindo alguns personagens famosos, como coloridas (como sucede em certos casos) então é
Goethe, Dostoevsky e Freud. Não passaria de uma possivel que o corpo superfisico esteja envolvido.
forma de alucinação. A projeção da psique seria mera Nesse último caso, algo de extremamente significati-
alucinação? Notáveis psicólogos e pesquisadores das vO,noque conceme à questão da sobrevivência da
questões psíquicas, como o Dr, Nandor Fodor, têm alma, terá sido fotograficamente obtido. Os místicos,
rejeitado esta noção. Fodor salienta que durante o que asseguram ser capazes de enxergar essas duas
fenômeno da «autoscopia.. a consciência permanece modalidades de projeção, também afirmam que tais
no corpo fisico, e que o duplo é visto como se fora uma modalidades podem ser distinguidas mediante as suas
entidade externa. Todavia, no caso da projeção da respectivas cores (entre outras diferenças).
psique, o processo é revertido. A entidade projetada
vê o corpo físico, e fica completamente separada do Havendo tantos mistérios que nos circundam, por
mesmo. Outrossim, as alucinações autosc6picas que motivo se julgaria estranho que o próprio homem
produzem, mui tipicamente, uma profunda ansieda- seja, afinal, um ser espiritual, capaz de prodigiosas
de, ao passo que as autênticas projeções da psique façanhas, realmente pertencentes a uma esfera mais
produzem a sensação de tranqüilidade, de felicidade, elevada do que este mundo material? Por que se
de iluminação, de êxtase e de triunfo espiritual. pensaria ser estranho que a presença do homem neste
(Spraggett, ibid., pág. 77). mundo consista apenas de uma jornada instrutiva, e
O Dr, Karlis Osis, diretor de pesquisas da não uma residência fixa? Quando encontramos
American Soclety for Psychical Research, de Nova declarações de Platão que essencialmente dizem a
Iorque, tem-se interessado vividamente pelo fenême- mesma coisa, embora respeitemos a sua genialidade,
QO da projeção astral. Osis afirma que o homem é um somos invadidos por certo senso de nostalgia, mas
tipo de ser que é capaz daquilo que ele denomina de terminamos por desconsiderar o significado ~ suas
experiências eesomâticas (literamente, fora do corpo) palavras. E, se algum profeta disser algo de similar,
460
PROJECÁO DA PSIQUE
então as nossas mentes saltam para uma mente se fizesse ouvir todas as vezes que algum deles abrisse
exclamação de fanatismo religioso! os lábios, ao que você pensa que eles atribuiriam tais
A :1Jlaneira pela qual compreendemos o nosso vozes, se não às sombras que estivessem passando?
mut;l~o padece de um equívoco básico. Sentindo a -Por certo assim pensariam que fosse.
debilidade da carne huma!1a, Julgamo-nos ~potentes -Nesse caso, aqueles prisioneiros haveriam de
em um ~lUndo de. maténa e ,:aos. Assumunos uma pensar que as sombras dos artigos manufaturados
perspectiva negativa a respeito de nôs mesmos, seriam as únicas realidades que existem não é
supondo que somos apenas átomos em movimento. mesmo? '
Em suma, olvidamo-nos do espirito, o que equivale a - N ã o há que duvidar disso.
nos esquecermos de nós mesmos. Tornamo-nos Consid. . de . algum
semelhantes ao homem da caverna dentro da a1egori - ,!SI eremos agor,!, o que suce na ~ .
de Platão O homem da ' de nh .a acontecimento natural libertasse aqueles prrsioneiros
. caverna sco .ecta de suas correntes, e se a insensatez deles fosse
c.ompletamen~ ~ mundo real fora da caverna, e amda remediada da seguinte maneira: suponhamos q ue um
tinha a ousadia Ignorante de chamar as sombr~ que deles tivesse sido libertado e fosse obrigado a pôr-se
dançavam nas paredes da caverna tanto de realidade bitam t de pé , do
como também de única realidade NIo ob tante sl?- I en e , giran o pescoço e avançando na
ó' é . f' . s, a direção da luz com os olhos abertos; e suponhamos
pr pna mat na, se. or situada dentro da escala ainda que tal individuo fizesse tudo isso sentindo
ascendente da realidade, é apenas uma sombra dores, e que o resplendor da luz o tornasse incapaz de
tremeluzente.
. di nsar
. aqueIes obi~etos d oquais,
s ' antes, vta
. somente
Alepda ela Caverna as sombras, Qual resposta daria tal prisioneiro a
República de Platão, VII, 515·518 alguém, se lhe fosse dito que agora ele estava mais
Sócrates discutia com Glaucon acerca da natureza pr6ximo da realidade, podendo ver as coisas como
da realidade: elas realmente são? E, especialmente, se lhe fossem
-Imagine você um certo número de homens, que mostrados diversos daqueles objetos que estivessem
vivessem em uma caverna subterrânea dotada de uma sendo transportados, juntamente com a ordem que ele
única entrada de luz, estendendo-se por toda a dissesse o que são tais objetos? Você haveria de
extensão da caverna. Aqueles homens haviam sido esperar que ele ficasse perplexo, chegando a pensar
confinados naquela caverna desde a infância, com as que as suas antigas visões eram mais verdadeiras do
pernas e os pescoços atados de tal maneira que eles que os objetos que agora lhe eram exibidos?
eram forçados a sentar-se eretos e olhar para a frente, -Sim, assim seria.
visto que suas cadeias impossibilitavam-lhes olhai - Além disso, se aquele homem fosse compelido a
para cima. E imagine também uma fogueira que contemplar diretamente a luz, os seus olhos nIo
ardesse brilhantemente a alguma distância, acima e ficariam ofuscados, e ele não haveria de preferir voltar
por detrâs deles, havendo ainda um caminho elevado, para as sombras onde antes podia ver as coisas com
que passasse entre a fogueira e os prisioneiros. Esse mais clareza, chegando a considerar tais zombras
caminho elevado tinha uma mureta baixa ao longo do mais claras do que os objetos reais que lhe haviam
mesmo, como os tapumes que os prestidigitadores sido exibidos?
costumam colocar defronte de suas audiências, e - Exatamente.
acima dos quais exibem os seus truques. - E, se porventura alguém o arrastasse violenta-
-Compreendi, retrucou Glaucon. mente peta subida para fora da caverna, nIo lhe
_ Imagine, igualmente, que por detrás desse dando descanso enquanto ele não chegasse sob a
tapume esteja caminhando um certo námero de plena luz do sol, por acaso ele não ficaria indignado
pessoas, as quais levam consigo estátuas de homens e diante de tal tratamento? E, ao chegar à luz do dia, os
imagens de animais, feitas de madeira, de pedra e de seus olhos não ficariam de tal maneira ofuscados pelo
toda espécie de material, juntamente com diversos resplendor que ele tornar-se-Ia incapaz de ao menos
outros artigos, que aparecem por cima do tapume; e, ver um dos objetos que agora lhe tinham sido
como já seria de se esperar, algumas dessas pessoas apresentados como os objetos reais?
conversam enquanto caminham, ao passo que outras - Sim, essa seria a sua impressão inicial.
se conservam em silêncio. - Posto isso, penso que ele teria de primeiramente
-Você está descrevendo uma estranha cena, com habituar-se com a luz, antes de poder perceber
estranhos prisioneiros. qualquer objeto do mundo exterior. Primeiramente,
-Eles apenas se parecem conosco, respondi. Pois, ele perceberia melhor as sombras; depois, ele
deixe-me perguntar-lhe, antes de mais nada, se perceberia também as imagens refletidas na água,
pessoas assim confinadas poderiam jamais ter visto imagens de seres humanos e de outros objetos; e
qualquer coisa sobre elas mesmas, ou sobre as somente mais tarde poderia perceber as pr6prias
demais, a não ser as sombras projetadas pela luz da realidades; e, mais tarde ainda, haveria de levantar os
fogueira, sobre a porção da caverna imediatamente olhos para divisar a luz da luz e das estrelas,
defronte delas. Poderiam? encontrando menor dificuldade em estudar os corpos
-e-Certamente não, se imaginarmos que, durante celestes e o próprio firmamento, durante as horas da
toda a vida, nunca puderam mover a cabeça. noite, do que o sol e a luz do sol. durante o dia.
-E o conhecimento delas, acerca de todas aquelas - Sem dúvida.
coisas que costumam ser transportadas pelo caminho - Finalmente, imagino que ele seria capaz de
elevado, não seria igualmente limitado? observar e contemplar a própria natureza do sol, e
-Sem dúvida nenhuma. não como este aparece refletido sobre a água ou sobre
-E, se porventura os prisioneiros pudessem alguma outra superficie, mas conforme o sol é, na
realidade.
conversar uns com os outros, você não pensa que eles _ Naturalmente.
estariam no hábito de dar nomes aos objetos que
vissem passar à sua frente? - O pr6ximo passo a ser dado por esse homem
-Certamente. seria de tirar a concluslo de que o sol é o autor das
-Novamente, se houvesse um eco dentro da estações e dos 8.IlOS, bem como que o sol é o guardião
caverna, e que viesse defronte dos prisioneiros, e que de todas as coisas deste mundo ~vel. e que, de certo
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PROJEÇÁO DA PSIQUE
modo, o sol é a causa de todas as coisas que ele e os sol, qu.anto. no mundo intelectual, dispensando, de
seus colegas de prisão costumavam ver. forma Imediata e com toda a autoridade, verdade e
- É ôbvio que essa seria a sua próxima conclusão. razão-e-bem como de que todo aquele que quiser agir
- Nesse caso, que sucederia? Quando ele se com sabedoria, privadamente ou em público, terá de
lembrasse de sua anterior habitação, juntamente com postar essa Forma do Bem diante de seus olhos.
o entendimento que ali imperava, lembrando-se de - Concordo inteiramente com você, afirmou
seus ex-colegas de prisão, você não pensa que ele Glaucon.
haveria de congratular-se consigo mesmo e que teria - Sendo esse o caso, continuei, rogo-lhe que
dó dos demais? concorde comigo ainda sobre um outro ponto, .e que
- :f;; inegável que sim. não se surpreenda diante do fato de que aqueles que
_ E se naqueles dias houvesse a prática de já subiram tão alto não se dispõem a participar das
receberem honrarias e reconhecimentos uns dos atividades ordinárias dos homens, porquanto as suas
o~tros, c?m a doação de prêmios àquele que tivesse a almas anelam por partir para aquelas regiões mais
VIsta mars aguçada para perceber os objetos que elevadas. Pois, como as coisas poderiam ser então
passassem, ou que se lembrassem melhor do que diferentes, se é que a ilustração acima representa
antecedesse e se seguisse a isso, e, com base nessa corretamente a situação?
memória, pudesse adivinhar melhor o que deveria - Na verdade, dificilmente poderia suceder de
surgir em seguida, você pensa que uma pessoa outra maneira.
cobiçaria esses prêmios e invejaria àqueles que fossem -Pois bem, você pensa que é motivo de admiração
honrados e exercessem autoridade entre eles? Você que uma pessoa, que tenha acabado de voltar da
não imagina que essa pessoa sentiria o que Homero contemplação das realidades divinas, a fim de tornar
descreveu, e que preferiria ter de sofrer qualquer a contemplar as fraquezas humanas, venha a deixar
coisa, em vez de entreter aquelas antigas opiniões e transparecer quão mal ele se sente, e quão ridículo se
VIver daquela maneira, como um prisioneiro? sente, enquanto a sua visão continuar debilitada,
- Quanto a mim, replicou Glaucon, estou antes de acostumar-se novamente com as trevas 9ue
perfeitamente certo disso. Acredito que tal individuo reinam agora ao seu derredor? Agora ele é compelido
se disporia a passar por qualquer coisa, preferindo a contender em tribunais de justiça, ou em outros
isso a voltar a viver daquela maneira. lugares quaisquer, a respeito das sombras da justiça
_ Mas considere agora o que aconteceria se tal ou das imagens que causam essas sombras, entrando
homem tivesse de descer novamente ao fundo da em choque com as arbitrárias suposições defendidas
caverna, sentando-se de novo em seu antigo lugar. por aqueles que nunca receberam o menor vislumbre
Tendo saldo tão de repente de debaixo da luz do sol, sobre as caraeteristicas essenciais da justiça.
ele não ficaria cego a principio, devido às trevas - Realmente, isso não seria motivo de admiração
reinantes na caverna? sob hipótese alguma. '
_ Sem dúvida nenhuma. - Certo, pois um homem sensato relembrar-se-ia
_ E se porventura ele tivesse de emitir novamente a de que os nossos olhos podem ficar confusos de duas
sua opinião acerca daquelas sombras da caverna, e maneiras distintas e por dois motivos diversos, isto é,
esse .parecer se c~~asse com as idéias daqueles que pela transição súbita da luz para as trevas, ou das
continuavam aprisíonados, enquanto a sua própria trevas para a luz. E, crendo que essa mesma idéia é
visão estivesse embotada e os seus olhos não pudessem aplicável à alma, sempre que um homem sensato
divisar as coisas-e se esse processo de iniciação defronta-se com um caso que lhe deixe a mente em
perdurasse por considerável tempo-não se tomaria perplexidade e incapaz de distinguir os objetos, ele
tal homem motivo de chacotas, e não seria dito por não haveria de rir-se irracionalmente, mas haveria de
todos os outros que ele saíra da caverna somente para pesquisar se porventura não deixou alguma vida mais
regressar com a sua visão destruída, e, que, por isso resplendente, tendo ficado cego devido à novidade das
mesmo, nem valia a pena alguém tentar sair da trevas, ou se porventura não emergiu das profundezas
caverna? E se algum estranho tentasse libertá-los para da Ignorância para uma vida mais esplendorosa,
fora, para a luz do sol, eles não chegariam ao extremo tendo ficado ofuscado diante daquele resplendor
de tentar matá-lo, se ao menos pudessem apossar-se incomum. Somente então tal individuo haverá de
daquele estranho? regozijar-se por causa de sua vida e condição, ao
_ Sim, chegariam a esse extremo. mesmo tempo que haverá de compadecer-se dos
_ Ora, meu caro Glaucon, você precisa aplicar outros; mas, se porventura ele preferir rir-se de tudo,
esse caso imaginário, com todas as suas particulari- tal riso será pelo menos não tão ridículo do que as
dades, às nossas anteriores declarações, comparando risadas às expensas da alma que desceu à caverna
aquilo que o olho humano é capaz de revelar no subterrânea, proveniente da luz daquelas regiões
interior da caverna com aquilo que pode ser visto do supenores.
lado de fora, além de comparar a luz da fogueira com - Você está discorrendo com grande argúcia.
a luz do sol. E então, se compararmos a saída para - Portanto, se tudo isso corresponde à verdade,
fora daquela caverna e a contemplação do mundo não podemos deixar de adotar a crença que diz que a
exterior com a compreensão da alma ao chegar à verdadeira natureza da educação não está em
região intelectual, você terá finalmente chegado a consonância com o que dela dizem certos mestres, os
entender onde quero chegar, em minhas conclusões quais pretendem, segundo acredito, infundir nas
visto que você está desejando saber quais sejam elas: mentes um conhecimento do qual essas mentes estão
embora somente Deus realmente saiba se elas estão ao destituídas, da mesma maneira que a visão não pode
lado da razãol Seja como for, a opinião que eu tenho ser instilada em olhos cegos.
formado sobre a questão, é a seguinte: no mundo dos - :f;; verdade. Esses tais não passam de uns
conhecimentos, a Forma essencial do Bem é o limite pretenciosos.
máximo das nossas inquirições, mas ela é mal - Por outra parte, .0, nosso presente argumento
percebida; entretanto quando chega a ser percebida, mostra-nos que existe uma certa faculdade, residente
não podemos evitar a conclusão de que, em todos os na alma de cada individuo, um instrumento capaz de
casos, ela é a origem de tudo quanto é rebrilhante e nos fazer aprender. E da mesma maneira que
belo-tanto no mundo visível, dando origem à luz e ao podemos supor ser possível fazer a vista passar das
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PROJEÇAO DA PSIQUE
tre!as para a luz. sem termos de gir.ar o corpo inteiro. meditação, etc.) para que essa janela se abra mais
assun também essa:faculdade, esse ms~mento, pode amplamente. Finalmente, a ciência poderá descobrir
ser posto a funcionar, em companhia da alma, que a própria espiritualidade, quando é genulna,
afastando-se do mundo presente, até tomar-se capaz desvenda-nos melhores e mais elevados diseernimen-
de. contemplar o mundo real e a sua porç~ mais tos; e, assim a ciência talvez acabe promovendo a
brilhante, a qual, de acordo com o que dissemos, moralidade e a espiritualidade, a fim de podermos
assume a Forma do Bem. conhecer com mais exatidão a natureza da realidade.
••• Naturalmente, estou apenas especulando quando digo
Citei Platão extensamente, nesta altura do artigo, que a moralidade e a espiritualidade talvez venham a
porque certas particularidades da sua filosofia ser campos investigados pela ciência. passando a ser
concordam com a idéia geral que este volume procura inteligentemente promovidos por ela. Quero asseverar
transmitir. Estou procurando dizer que o homem não que, finalmente, a porção espiritual do homem será
é meramente um corpo fisico, um redemoinho de um dos principais aspectos humanos que a ciência
átomos, o qual deixa de existir assim que a morte terminará investigando, se nio mesmo a questão
biológica tenha efetuado a sua obra destrutiva. central. Estou supondo que a ciência do futuro
Também estou asseverando de que dispomos de boas disporá de meios para levar avante as suas pesquisas
evidências cientificas (e não meramente filosóficas ou espirituais. Creio que, finalmente, a ciência abando-
religiosas) em favor dessa assertiva. Ajunt~se a isso nará completamente a sua atitude materialista,
que os estudos feitos no campo da parapsicologia procedente do século XIX, e assim se desvencilhará de
estão confirmando determinadas declarações feitas seu passado tio raso. Não é autêntica aquela ciência
pelos místicos, pois mostram que existem certas que ignora as próprias realidades e se contenta em
maneiras de conhecermos aquilo que transcende à investigar apenas o que existe na cavema subterrânea.
percepção dos nossos sentidos, ou seja, existem meios 4. Notemos como Platão não somente nega que a
que nos permitem tomar conhecimento de um mundo percepção dos sentidos possa conhecer a realidade.
que transcende ao nosso mundo fisico. mas também como ele assegura que a realidade está
NotemOll • LlÇaei que PIado QuIa En.....·DOI inteiramente/ora daquela caverna imaginária. Platão
1. O homem, em seu estado atual. aprisionado a acreditava que o mundo fisico (simbolizado pela
um corpo físico, pouco mais é que um prisioneiro caverna) é apenas um cópia muito imperfeita da
amarrado dentro de uma caverna subterrânea. realidade. Ele também aludiu a uma outra realidade,
2. Tudo quanto podemos conhecer agora é somente de natureza espiritual, intelectual, não-material. a
a sombra de uma c6pia da realidade mais alta. qual pode vir a ser conhecida através da razão e da
Notemos como Platão não nos permite ver, nem ao intuição, e, sobretudo, por meio das experi~ncias
menos, sombras da realidade, no nosso estado místicas. Ele pensava que agora podemos obter
presente. A realidade, para ele, seria algo de apenas ligeiros vislumbres dessa realidade, e que
transcendental, completamente do lado de fora somente quando a alma se liberta do corpo pode
daquela caverna, que sob hipótese nenhuma pode ser ascender em seu vôo místico, a fim de contemplar a
contemplado pelo olho físico. Vemos tão-somente realidade de maneira direta e perfeita.
sombras de cópias cruas da realidade, as quais foram S. Notemos como Platão comparou este nosso
trazidas para dentro do limitado alcance da percepção mundo fisico a um lugar onde imperam as «trevas».
dos nossos sentidos físicos. Quanto a isso ele soa como os autores bíblicos, os
3. Platão queria que reconhecêssemos. antes de quais associam o nosso mundo às trevas espirituais,
tudo, a inerente limitação envolvida na tentativa de contrastando-o com a «luz» reinante nos lugares
conhecermos as coisas somente através dos nossos celestiais. Quanto a esse particular, ele projeta a
cinco sentidos físicos. Essa percepção, para início de moralidade e a espiritualidade dos diferentes tipos de
conversa. nem ao menos visa a investigar a realidade. existência. com suas respectivas propriedades ineren-
Os sentidos investigam apenas sombras de cópias das teso O nosso mundo, na estimativa de Platão, é
coisas reais. Portanto, é óbvio que a percepção dos inerentemente negro, é moralmente pervertido. é um
sentidos jamais poderá conferir-nos qualquer idéia autêntico sepulcro da alma; pois a alma, afinal de
sólida sobre a natureza da realidade. Para poder contas, nem pertence a este mundo. Em contraste
conhecer a realidade. é mister que o individuo saia da com isso, a outra realidade é uma esfera iluminada.Ê
cavema. Destarte, Platão negava que a ciência ali que rebri1ha a Forma do Bem, pois é a sua porção
realmente possa vir a reconhecer a natureza das mais rebrilhante. Platão não via como se pode separar
coisas, enquanto ela limitar o seu modu« operanâi do o conhecimento e a existência da moralidade e da
conhecimento aos meros sentidos ftsicos. espiritualidade. Essas coisas estão intrinsecamente
Ora, a grande verdade é que a ciência estâ combinadas entre si.
chegando àquele ponto em que terá de deixar para 6. O objeto real e mais elevado do conhecimento é a
traz a noção de que só podemos saber das coisas Forma do Bem. Platão referia-se a uma realidade que
através dos nossos cinco sentidos (ao que a filosofia se aproximava do Deus justo exposto pelo cristianis-
chama de empirismo). Não é mesmo impossível que a mo, embora o tivesse feito em termos impessoais. No
ciência do século XXI venha a reconhecer que a razão, seu diálogo, intitulado Leis. ele usa o termo cDeus»,
a intuição e o misticismo são avenidas que nos em substituição à sua hierarquia de formas ou idéias.
conduzem ao conhecimento, ajudando-nos de manei- Para o leitor sem treinamento filosófico,nlo disponho
ra palpável no emprego desses outros meios para de uma maneira simples de expressar isso no espaço
chegarmos ao conhecimento. Por exemplo, se a que gostaria de dispor. Mas basta dizer que. embora
glândula pineal pudesse ser posta em ação de maneira de maneira impessoal, nessa alegoria da caverna,
mais intensa, por meio de substâncias quimicas ou de Platão dizia que a Justiça consumada é o mais elevado
hormônios. e se isso pudesse ser aplicado àquela objeto do nosso conhecimento; pois ele abordava um
glândula por meio da ingestão ou de injeções. então conceito divino, aceitando como veraz a idéia de que
abrir-se-ia nova janela para recebermos ilumina- existe uma realidade transcendental a ser buscada e
ção, experimentada. Se expressássemos tudo isso em
Talvez a ciência acabe por aprender que existem termos cristãos, pessoais, tudo tomar-se-ia mais fácil
meios totalmente naturais (exercícios espirituais, de ser compreendido. Existe um Deus justo, que é a
463
PROJEÇAO DA PSIQUE
mais elevada realidade. Os homens são almas. são universidades é desempenhado nesse nível inferior.
seres espirituais, e possuem a capacidade de retomar Platão diria que as nossas escolas meramente fazem
a Deus e aos mundos espirituais. A percepção dos parte das atividades da imaginária caverna subterrâ-
sentidos pode ajudar-nos somente um pouco, ou, nea.
melhor ainda, serve realmente de obstáculo para essa Para alguns, somente a morte pode livrar-nos da
inquirição, pois a nossa percepção somente nos faz escravatura imposta pelas trevas. Diz-se acerca de
levar muito a sério este nosso mundo material, como Thomas Edison que, pouco antes de falecer, tendo
se ele fosse a única realidade, quando, na verdade, é recebido um vislumbre sobre a vida do além,
somente uma miserável cópia do mundo real. exclamou: «Estou surpreendido. e muito bonito do
Você deseja saber um pouco mais a respeito da outro lado! .. Aqueles que têm passado pela projeção
outra Realidade? Então dependa um pouco mais da astral dizem que esse conhecimento pode ser ohtido
razão; dai, suba para a intuição; e, finalmente, -sem termos de esperar pela morte.
busque o conhecimento através das experiências
místicas, porque tudo isso está envolvido na ascensão Um Calo Claro ele PrqJeçio Forçada da Nque
da alma. Ed MorreU era um dos prisioneiros da Penitenciária
Esse é o ponto que estou tentando frisar! Estadual do Arizona, nos Estados Unidos da
A projeção da psique é um dos meios. embora América. Ali foi submetido a torturas; mas, graças a
imperfeito, de que a alma dispõe para sair de dentro isso, passou por experiências muito instrutivas no
daquela caverna subterrânea. O que as pessoas têm campo da projeção da psique. Ele conta a sua história
experimentado, mediante a projeção astral, deveria no livro de sua autoria. The Twenty-Fifth Man, A
ser considerado (pelo menos em parte) como tortura que provocava sua projeção consistia em duas
vislumbres de uma realidade mais elevada que o nosso camisas de força que eram encharcadas na água, e em
mundo material. seguida eram ambas vestidas no prisioneiro. E
quando elas se secavam, encolhiam, e assim exerciam
~ com Outro. CuoII e Eatud... considerável pressão sobre a vitima. Morrell relata
Colin Wilson, em seu volume. Myateries, pâgs. 335 que ele se sentia como se estivesse sendo esmagado até
e ss , conta a história do Dr, 1000 Lilly (o qual, por à morte, com forte sensação de que estava sendo
sua vez, toma a narrar a sua experiência em seu asfixiado. Desde a primeira vez em que foi submetido
próPrio livro, intitulado, The Center of the Cyclone, a essa tortura, subitamente encontrou-se andando do
1972). O que há de mais interessante acerca dessa lado de fora da prisão.
experiência é o encontro de Lilly com seres Ora, MorreU era um prisioneiro dificil, que insistia
pertencentes à outra realidade. Diz ele: «Tomei-me o em propalar as suas opiniões anticapitalistas obstina-
centro focal da consciência e viajei para outros das. Jack London fez dele um herói, em sua última
espaços, encontrando-me com outros seres, entida- novela. denominada The Star Rover, Devido ao seu
des, ou consciências. Há uma luz dourada que continuo estado de agitação, MorreU era freqüente-
permeia o espaço inteiro, em todas as direções, até o mente torturado; e aquela variedade de tortura,
infinito... Dois seres, que pareciam ser uma espécie de acima descrita, por muitas vezes provocou uma
anjos da guarda, avassalaram-me com um profundo projeção forçada da psique. Ao projetar-se, o seu
senso de amor e interesse. (Ele também relata-nos corpo caia em sono profundo; e os seus guardas
que. de certa feita, em ocasião anterior, quando fora sentiam-se perplexos diante dessa reação às torturas
anestesiado, ele já se encontrara com tais seres). E que lhe inflingiam. Essas projeções o levavam a
prosseguiu: .Eles me disseram que estão sempre lugares distantes, e não meramente aos diversos
comigo, mas que usualmente eu mesmo não me recintos da penitenciária. Morrell costumava explo-
encontro em condições de percebê-los. Mas, quando rar, então, as ruas de São Francisco, e, de certa feita,
estou à beira da morte do corpo., então fico em presenciou o naufrágio de um navio, na baia de São
condições de percebê-los. Nesse estado, o tempo Francisco. A realidade do incidente foi mais tarde
desaparece. Há uma percepção imediata do passado, confirmada pelo noticiário local. Isso também se
do presente e do futuro, como se tudo fosse apenas o verificou no caso de diversos episódios similares. O
momento presente», Em outras oportunidades, nas governador do estado do Arizona, George W.P. Hunt,
projeções da psique, ele se encontrou com aqueles verificou que MorreU descrevera acuradamente certos
seres, os quais lhe falaram sobre a necessidade dele acontecimentos Que eram conhecidos somente por ele,
progredir até chegar a ocupar, permanentemente, o o governador, sendo impossível que MorreU tivesse
nível de existência que ele estava visitando; e tomado conhecimento dos mesmos de alguma
asseguraram-lhe também que, enquanto ele vivesse no maneira física. Quando as torturas foram interrompi-
estado mortal, poderia. por assim dizer, viver em das, porém, ele não foi mais capaz de projetar-se.para
ambas as dimensões. Concordando com experiências fora do seu corpo (Mysteries, p, 378 e ss),
similares (de outros individuos), Lilly alude à beleza
arrebatadora da outra existência. de sua luz radiante, Projeç6a do corpo aapedlalco IIOIIMIlte, em
do calor, do amor e do conhecimento sem iguais que dlatlnçio .. P ~ ...-te do COqlO YltaI
ali imperam.
Nas projeções do corpo snperãsíeo, poderíamos
lilly oferece-nos alguns comentários iluminadores, pensar estar envolvido o concurso da vontade; pois
paralelos aos discernimentos expostos por Platão. O com freqüência, se não mesmo sempre, a pessoa
homem fisico-natural se compara com um «bio-
computador humano.., ou robô. De fato. ele poderia lembra-se de sua projeção. Geralmente essa variedade
passar toda a sua vida assim, não fora certa espécie de de projeções inclui instruções metafisicas, morais e
despertar, que vem sacudi-lo. Um homem poderia espirituais, acompanhadas por determinado grau de
passar a vida inteira meramente cumprindo a sua iluminação. Porém, a projeção do corpo vital
•programação... Foi T.S. Eliot quem disse: «Onde está fantasmagórico ocorre sem o concurso da vontade•
a vida que temos perdido vivendo?.. Nessa indagação sem qualquer conhecimento do que está ocorrendo,
há uma certa percepção espiritual. Aquilo que o sem haver lições aprendidas e, conseqüentemente,
homem é, antes de haver sido iluminado, um outro sem qualquer iluminação que possa ser atribuida à
pesquisador chamou de nlvel de sono; e queixou-se de projeção.
que quase tudo quanto ocorre nas escolas e
•••••••••
454
PROJEÇAO DA PSIQUE
CouIdenmoI .... c... a cunhada daqueles amigos que vinham subindo na
F.W.H. Myers, em seu livro, Human PersonaJity ~ão da casa em uma charrete. Isso também foi
anâ its Survival 01 Bodily Death, descreve o caso de VIsto por outras pessoas. Mas, para surpresa de todos
um rapaz, de nome S.H. Beard, que, mediante o os ~ircunstantes, .a charrete não estacou,. mas
exercicio deliberado da vontade, era capaz de se continuou o seu trajeto pela estrada. Poucos minutos
projetar para fora do seu c~rpo e ir até à residência de m~ tarde. entre~to, ~egou realmente a. charrete~
sua noiva Srta. L.S. Venty, quando então era VISto A VIsão fora colonda, pOIS, de outra maneira, todos
tanto por 'ela quanto por uma sua irmã, de onze anos teriam ficado surpreendidos diante da estranheza da
de idade. Nesse epis6dio, vontade e conhecimento aparição. (ibid., pág. 383).
estavam igualmente envolvidos. Todavia, as aparições Casos dessa natureza parecem envolver uma
«fantasmag6ricas,. {que, segundo pensamos, envolvem imagem telepática projetada (e subseqüentemente
somente o corpo vital) não se revestem dessas compartilhada por mais de um observador) e não uma
condições. real projeção do corpo vital ou do corpo superfisico.
Antônio de Pádua o santo cat6lico romano Sem embargo, não podemos eliminar inteiramente a
afirmou que, quando' pregava em uma igreja ~ possib~dade de que ~ corpo vital possa (em algun....,.;
Limoges, na Terça-feira Santa do ano de 1226, opo~mdades) ser VISto como se fora ~turalmente
subitamente lembrou-se de que lhe competia estar em colo~do. Para cada re~osta.9ue conseguimos obter,
uma outra igreja, em um outro bairro da mesma continua havendo mwtos nustérlos e persuntâs sem
cidade. Mais tarde, ficou sabendo que a congregação resposta.
reunida no outro templo pudera vê-lo, e ele foi capaz EIped&et. PeI...... do Autor
de confirmar que isso Coincidira com o momento do Penso que meu filho mais velho já presenciO\1
seu súbito desejo de estar ali. Quase certamente projeções de corpos vitais ou superfisicos, ou mesmo
temos, nesse episódio, uma projeção do «corpo vital imagens telepáticas. No artigo que versa sobre o
fantasmagôrico-. Não houve recolhimento de infor- 'retorno à vida ap6s a morte clínica, além de
mações, a projeção não serviu para qualquer experiências similares, relacionadas à pr6pria morte,
propósito. Foi meramente uma espécie de imagem narro uma hist6ria que ilustra esse fato. No que
projetada, que pôde ser vista. conceme ao presente artigo, talvez seja digno de
As projeções fantasmag6ricas eram, realmente, um menção que, em mais de uma ocssíão, estando eu
grave problema para Emilie Sagée, uma jovem ausente de casa, meu filho mais velho me viu andando
professora francesa. Ela perdeu nada menos de na direção de casa. Uma dessas visões pareceu-lhe tio
dezoito empregos em dezesseis anos, porque, involun- natural que ele realmente entrou na casa para
tariamente, ela era vista em dois lugares diferentes ao anunciar que eu estava chegando, somente para
mesmo tempo. Julgo que o «espanto» que isso causava observar que se tinha equivocado. Naquela oportuni-
entre os seus superiores levavam-nos a quererem dade calculeí que, no momento em que ele me teria
livrar-se de ambos os seus -eus-, querendo-os longe visto, na realidade eu estava dentro de um ônibus:,
dos seus estabelecimentos de ensino. O que lhe voltando para casa, ainda cerca de duas horas antes
ocorria sem dúvida era muito estranho, mas da minha chegàda. Julgo que se tratou de uma
dificilmente poderia ser motivo de alarme. Algumas imagem telepaticamente projetada, e não de uma
vezes, o duplo de Emille era visto de pé, ao seu lado, projeção do corpo vital ou do corpo superftsico
imitando todos os seus gestos. Para exemplificar, propriamente ditos.
certo dia, quando ela escrevia no quadro-negro, os Quando minha mie era jovem, nos.prímeíros anos
seus alunos assustaram-se ao virem uma outra Emilie de casada, em certo número de ocasiões. estando o
fazendo a mesma coisa, imitando com precisão todos meu pai ausente de casa, ela foi capaz de vê-lo no
os seus movimentos. Algumas vezes o duplo de Emilie interior da residência. Ora, essas experiências
aparecia em sua ausência. E nem o fato de que Emilie pareciam assustadoras para ela. e ela sempre
era uma boa professora foi capaz de preservar-lhe o apanhava a sua Biblia a fim de acalmar os nervos,
emprego. Se Robert Crookall pudesse fazer-se lendo algum trecho das Escrituras. Ela via imagens
presente, uma conferência sua sobre tais aconteci- naturalmente coloridas (como aquela que descrevi
mentos teria aliviado os temores das pessoas acima, envolvendo o meu filho mais velho) e estou
envolvidas. (Informação extraida do livro de Colin aqui opinando que deveriam ser imagens telepáticas,
Wilson, Mysten"es, págs. 380 e ss ). ou então energias deixadas no espaço, as quais. sob
Esse é um claro exemplo de como parte da certas circunstâncias, podem tomar-se visiveis.
vitalidade do corpo semifisico pode ser projetado, Estranho, de Fato
assumindo o mesmo formato do corpo físico, Nessas
ocasiões, a consciência e a íntelígêncía permanecem Erikson Gorique foi um importador nova iorquino
no corpo (o qual continua retendo, como é6bvio, o que, de certa feita, fez uma viagem de neg6cios à
corpo superfisico, que é o veiculo da alma). Quando Noruega. Porém, antes mesmo de sua viagem, o seu
o corpo vital é projetado sozinho, ele não é o veiculo duplo chegou a aparecer e mesmo em conversas com
;.I outras pessoas. Um camareiro de um hotel de Oslo
da inteligência. Entretanto, ao ser projetado, o corpo observou que «era ôtimo» v8-10 novamente, embora o
superfisico leva consigo a inteligência. Sr. Gorique nunca antes tivesse estado em Oslo. O
SapoRu ~ ~ do corpo ..........co camareiro recusou-se a acreditar que aquela era a
Existem aqueles episódios em que se vê uma primeira vez que o Sr. Gorique chegava à capital
aparição colorida, mas que, mui provavelmente, não norueguesa. No dia seguinte, um atacadista de nome
envolve a projeção do corpo superfisico. Estamos aqui Olsen reagiu da mesma maneira, declarando que ele e
tomando a posição de que o corpo vital, quando Gorique já se tinham conhecido dois meses antes.
projetado, é visto em tons de branco e preto. Todavia, Gorique, provavelmente em espirito, falara com um
essa suposição não tem de envolver, necessariamente. certo número de pessoas. Talvez as imagens
todas as possibilidades. telepáticas possam falar telepaticamente. e. possive1
O Rev. W. Mountford, de Boston, estado que o corpo superfisico, por motivo de levar consigo a
norte-americano de Massachusetts, certo dia, quando inteligência, possa comunicar-se sem que aquele que
estava visitando alguns amigos, observou (como se o projeta tenha..consci8ncia do fato. Talvez o corpo
fora um acontecimento totalmente natural) o irmão e vital possa aparecer colorido e possa realizar essa
456
PROJEÇAo DA PSIQUE
tarefa mediante alguma espécie de inteligência achou pairando por cima do seu corpo. Pôde então
mecânica. (ibid., p. 383 e ss). contemplar o seu corpo, que jazia lá em baixo, no
PrõJeçae. Até o na.- chão. Isso o deixou tremendamente assustado, e, com
Interessante material acerca dessa questão das um .mergulho súbito, ele reentrou em seu corpo.
projeções astrais nos é provido pelo livro de Robert (Informação extraída do livro de Colin Wilson,
Monroe, Journeys Out of the Body. Monroe, um Mysteries, pâgs. 156 e ss).
homem de negócios norte-americano, teve o seu caso Cumpre-nos observar que esta experiência estava
estudado por Charles Tart, o qual ficou impressiona- relacionada à cabeça desse homem. Crookall salien-
do diante de sua evidente autenticidade como projetor tou' nos seus estudos que as projeções do corpo
da psique. superfisico estão vinculadas à região da glândula
Monroe descreve encontros alarmantes com entida- pineal, que fica no interior da cabeça, ao passo que as
des de natureza não-física, dotadas de propriedades projeções que envolvem o corpo vital estão ligadas à
atribuiveis somente aos demônios, gnomos e entida- área do plexo solar. De alguma maneira, as projeções
des elementares, sub-humanas. Poderiamos descon- da psique estão relacionadas a essas áreas do corpo.
siderar todo o fenômeno como mera alucinação de Embora assustado a principio, Monroe começou a
uma mente desequilibrada, não fora o fato de que fazer experiências com o fenômeno, e pôde confirmar,
muitas outras fontes-incluindo vários documentos para sua total satisfação, que o fenômeno nada tinha
sagrados das religiões do mundo, entre os quais a a ver com meros sonhos ou alucinações. Em primeiro
nossa própria Biblia-contribuem com informações a lugar, normalmente o fenômeno não estava associado
respeito de tais seres. As religiões têm insistido no ao estado de sono. De certa feita, estando fora do'
tocante à existência de niveis de vidas inferiores ao corpo, ele visitou um amigo que se achava enfermo
nosso próprio nivel, e cujos habitantes fazem todos mas descobriu que esse amigo estava saindo de casa
nós parecermos comparativamente santos. Poderia- em companhia da esposa. Subseqüentemente, ficou
mos desprezar a maioria das descrições que nos têm sabendo que seu amigo, de fato, fora dar um passeio
sido deixadas por certas pessoas; mas as evidências em companhia da mulher, pois já havia se recuperado
assim acumuladas pelo menos testificam sobre a o suficiente para tanto. Noutra oportunidade, ele
realidade desses lugares do tipo do hades . beliscou uma amiga sua, a qual reagiu com um
Crookall salienta o fato de que quando a alma se safanão, retendo no corpo uma marca visivel de uma
projeta com o acompanhamento do corpo vital (não causa invisível.
tendo conseguido realizar somente a projeção do A. u:pedmelaa ele Mouoe ajudaram-no a dis-
corpo superfisico) às vezes passa por experiências tinguir a existencia de três mundos ou dimensões: a.
assustadoras, ao sair do seu corpo fisico. Além disso, Este mundo. Trata-se do nosso mundo, mas visto de
ficamos impressionados pelas experiências das cha- uma perspectiva diferente, embora envolva até mesmo
madas «viagens más.., feitas pelos toxicômanos, certas dificuldades de orientação. Monroe afirma que
experiências essas que parecem ser projeções a regiões o corpo astral não foi criado para viajar nesta nossa
espirituais que poderiam ser chamadas de «hades.., se dimensão, pois não está bem adaptado para a mesma.
porventura faltar-nos nome melhor para designá-las. b. O mundo das energias e/orças, que é um mundo
Em prol da genuinidade de pelo menos algumas intelectual, um mundo de sonhos, onde o pensamento
dessas projeções astrais ao hades, poderiamos faz as coisas serem o que são. Ali podem ser
salientar os pontos seguintes: encontrados o céu e o inferno tradicionais. Poderia-
1. A fé religiosa e a sua revelação fazem mos supor que essas coisas nada mais são do que
reivindicações similares. criações mentais dos seres que ali habitam. O que ali
2. Se o mecanismo da projeção da psique pode existe parece ser o que os seus habitantes desejam que
transportar um individuo a lugares paradisiacos, ou exista. Isso não significa, todavia, que não existam de
simplesmente pode permitir que a alma flutue, liberta fato o céu e o hades autênticos, não-criados pelo
do corpo fisico, no mesmo local onde este último jaz pensamento, trazidos à existência mediante o
inconsciente, e se pudermos compilar evidências em pensamento, como se fossem consolidações de
favor da validade dessas experiências (o presente imaginações e imagens mentais de meros sonhos. c. O
artigo é uma dessas compilações) então não existem terceiro mundo é o mais estranho de todos, tendo
razões sôüdas para rejeitarmos todas essas experiên- levado alguns a duvidarem da validade das experiên-
cias, igualmente concretizadas, que transportam a cias de Monroe, Poderiamos mesmo afirmar que as
alma. projetada até o hades. suas experiências têm incluido o que é real, o que é
3. Sumariando, estamos afirmando aqui que o imaginãrio e o que não passa de alucinação.
mesmo tipo de experiência psiquica pode conduzir um Comparando essas experiências com outras pesqui-
individuo a um destes lugares: a. a lugares sas, talvez possamos estabelecer algumas distinções
paradisíacos; b. a lugares como o hades; c. a lugares válidas. Seja como for, esse terceiro mundo inclui
naturais, pertencentes a este mundo. E isso nos leva a visitas a mundos do passado, a lugares onde há
suspeitar que a projeção da psique pode envolver, na reversões do tempo, de fato, lugares parecidos com a
verdade, muitas esferas da existência. substância das mais improváveis histórias da ficção
As experiências desse tipo, narradas por Monroe, científica.
começaram nos fins da década de 1950 e evidente- A metafisica religiosa e filosófica fala de um maior
mente foram totalmente espontâneas. Certa tarde de número de dimensões da existência do que aquelas
domingo, sem qualquer aviso prévio, repentinamente descritas por Monroe. Não hâ qualquer necessidade
ele sentiu o que pareceu ser um quentissimo raio de de supormos que, por mais válidas que sejam as
luz que fez o seu corpo vibrar. Exames fisicos a que projeções da psique, elas tenham de descrever mais do
ele se submeteu nada revelaram de errado. Então, um que uma pequena fração da realidade. Parece segura
dia, quando essa experiência se repetiu, ele teve a a suposição de que essas experiências indicam
curiosa sensação de que podia fazer a ponta de seus fortemente ao menos duas coisas: a. a alma existe e é
dedos atravessar para o outro lado de um tapete, sem capaz de agir independentemente do corpo, mesmo
rasgá-lo. Simultaneamente a isso, houve uma quando o corpo ainda vive; b, existem outras
explosão de energia que lhe atravessou a cabeça. realidades que transcendem à realidade física.
Quando tal coisa sucedeu, instantaneamente ele se •••••••••
456
PROJEÇAO DA PSIQUE
A Memória e • ProJeçIo da Palque Muitas questões sem importincla, pessoais, foram
Já sabemos que as pessoas tem de vinte a trinta antecipadas por.Monroe, devido às suas experiências
sonhos por noite; mas poucos desses sonhos são fora do corpo (como também nos sonhos).
relembrados depois, porquanto bastam um minuto ou ReYelaç&.. - Suas projeções tem produzido
dois para apagá-los da mem6ria, depois que a pessoa alguns «vislumbres apocaJlpticos» que ele têm podido
desperta. Como é 6bvio, excetuando algumas ocasiões contemplar, relacionados ao futuro pr6ximo de nossó
especiais, os únicos sonhos de que nos podemos mundo. Nisso ele mostra-se em completa harmonia
lembrar são aqueles que tivermos imediatamente com o que dizem os profetas, antigos e modernos, os
antes de acordarmos, ou então algum sonho que quais prevêem uma tremenda derrocada da civiliza-
tivermos no meio da noite, acordando imediatamente ção em nossa época. Os profetas contemporâneos têm
em seguida, para depois tomarmos a dormir. Parece previsto grandes desastres, naturais, ou provocados
que ocorrem comunicações entre seres superfisicos, pelos homens, como uma das grandes caracteristicas
mas a memória desses contatos pode ser obliterada do último quartel do século XX e a porção inicial do
facilmente, tal como sucede no caso das imagens dos século XXI. Tão aterrorizantes têm sido alguns dos
sonhos. vislumbres apocalipticos de Monroe, que ele diz que
Uma vez fora do corpo, Monroe era capaz de espera que algumas de suas visões sejam apenas
conversar com pessoas vivas, mas aparentemente alucinações.
fazia-o com os seus corpos superfisicos. Em maio de Uma das coisas que depreendemos desses estudos
1961, ele se projetou até o estúdio do notôríe que rimos'descrevendo é que o homem, por si mesmo,
parapsícôlogo, Dr, Adrija Puharlch, e entrou em J' é um ser de notável estatura e de grande capacidade.
conversa com ele, desculpando-se por sua negligência Não é que ele precise desenvolvê-las, ainda que,
no caso de um projeto no qual estavam ambos eternamente, haverá espaço e oportunidade para esse
trabalhando. Ele observou vários detalhes existentes crescimento. Porém, de maneira bem real, os poderes
no estúdio de Puharich. Mais tarde, foi capaz de e substâncias transcendentais do homem estio
averiguar esses detalhes em companhia do próprio esperando ser descobertos por ele, porquanto já
Puhárich; mas este não tinha qualquer lembrança da existem. Há algo de profundamente errado na visão
conversa astral que houvera entre os dois. Tudo diária que os homens fazem de si mesmo. O
parece indicar que Monroe entrara em comunicação materialismo do século passado amarrou o homem em
com o «eu superior» de Puharich, ao passo que o «eu sua ignorincia, ~ e quase jogou fora a chave capaz de
diário» (limitado pelo cérebro ftsico) de Puharich ou destrancar a sua prisão. Uma ciência dotada de
estava totalmente inconsciente da ocorrência, ou maiores luzes está destrancanno os'portões de ferro. O
prontamente se olvidou da mesma. (Informação homem, uma vez liberto do seu cárcere, o homem,
extraída do livro de Colin Wilson, Mysteries, págs. uma vez que emerja de sua caverna subterrânea,
162-163). algum dia andará em companhia dos deuses.
Poder Estra·SenIon.le ProJeçIo da Palqae EfeU«. Mat.IaIa ela PrqIeçAo da Palqae
Já pudemos observar que a percepção extra-senso- Se alguém fosse capaz de movimentar um objeto
rial mostra-se ativa durante a projeção da psique. fisico, enquanto estivesse fora do corpo, esse seria um
Sem dúvida isso é o que acontecia durante as dos meios possiveis de sugerir, se não mesmo de
experiências de Monroe. Quase todas essas experiên- demonstrar, a sua presença literal. O Sr. Sylvan
cias sucediam não durante as projeções propriamente Muldoon, do estado de Wisconsin, autor de um livro
ditas, mas imediatamente antes da separação entre o incomum, intitulado The Projection 01 the Astral
corpo e o «eu» superftsico. Essas experiências lhe eram Body, afirma ter feito precisamente isso. Estando fora
conferidas visualmente, como se fossem sonhos ou do corpo, ele resolveu tentar uma experiência. Em um
visões. Um desses episódios foi quando ele se viu em dos aposentos de sua residência havia um piano
uma viagem de avião, na qual o aparelho passava dotado de metrônomo. Com as suas mãos astrais ele
debaixo de alguns cabos elétricos, para em seguida fez o mecanismo começar a funcionar, e então voltou
precipitar-se no solo e espatifar-se. No sonho (ou apressadamente ao seu corpo fisico, para ver se
visão) ele sobreviveu. Menos de três semanas depois, poderia ouvir o metrênomo tiquetaquear, quando
quando viajava de avião, subitamente Monroe estivesse consciente e de volta ao corpo. Muldoon
percebeu que as coisas estavam se assemelhando voltou ao seu corpo e uespertou. Passou-se um
muito com as cenas daquele sonho. Corajosamente, pequeno intervalo de tempo, e então o metrônomo
ele resolveu olhar para fora, a fim de testar quão exata começou a funcionar. Eis ai um mistériol Por que
fora aquela premonição. Afinal de contas, ele aquele lapso de tempo? A causa é desconhecida, mas
sobrevivera ao desastre por uma vez. Por que não por o fenômeno já foi observado em outros casos. Eusapia
duas vezes? O avião entrou diretamente em uma Paldino, uma famosa sensivel italiana, podia mover
tempestade, mas não voou por baixo de cabos objetos sem entrar em contacto ftsico com eles, e
elétricos, sendo que Monroe chegou à conclusão de quando estava totalmente desperta. Ela movia a mão
que uma coisa simbolizava apenas a outra. O na direção que quisesse que o objeto se movesse; e o
aparelho resistiu a um severo castigo e aterrizou com objeto se movia cerca de dois segundos após o seu
segurança. Quatro dias mais tarde, entretanto, movimento. Ela era capaz de fazer um acordeão
Monroe sofreu um ataque cardiaco, e por esse motivo tocar, através do mesmo método, mas o movimento
passou algum tempo em um hospital. Ele acredita dos seus dedos antecedia o efeito musical por um
que a verdadeira crise foi o ataque cardíaco, e que o pequeno intervalo de tempo. A personalidade
sonho transferiu essa crise -para a experiência com o humana é capaz da psico-sinésia (movimentaçl.o de
avião. Ora, tudo isso está em consonância com aquilo objetos mediante o pensamento ou o esforço mental).
que sabemos sobre os poderes extra- sensoriais. Não é de surpreender que isso esteja relacionado às
Apesar de que, algumas vezes, os poderes extra-sen- projeções astrais. Isso não serve de prova da validade
soriais acertam em cheio com um acontecimento, na de uma presença transferida (o vêo do próprio corpo
maior parte das vezes acerta somente na substância de superfisico) mas, adicionado a todas as coisas
uma situação, com várias distorções. Isso também mencionadas até este ponto, não deixa de se revestir
sucede no caso da telepatia e da precogniçio. Ê um de certa significaçlo. (Informaçl.o extraida do livro de
fenêmeno constante no caso dos sonhos psíquícos. Nandor Fodor, Between Two Worlds, pág. 107).
467
PROJEÇAO DA PSIQUE
O mec.a.....o ela projeçio ela pdqlle é ele voltava ao seu corpo com toda a segurança. lâ
lIP~cIo por um homem tivemos oportunidade de observar que as projeções da
Raramente um sonho altera o curso de uma vida; psique que envolvem a glândula pineal (que está
no entanto, foi exatamente isso o que aconteceu com alojada na cabeça) são as menos atravancadas e
Oliver Fox, quando era estudante em um colégio difíceis, porquanto projetam o nosso corpo superfisi-
técnico. Ele teve um curioso sonho, no qual ele estava co, e não o corpo vital. O Sr. Fox aprendeu coisas
de pé, do lado de fora da sua casa, quando notou que dessa ordem sem qualquer conhecimento anterior
os paralelepipedos do calçamento haviam mudado sobre tais fenômenos, através das suas experiências
misteriosamente de posição. Imediatamente raiou-lhe pessoais. Que assim tenha acontecido obviamente
a compreensão de que a realidade não era daquele favorece a suposição de que tais experiências
modo. No seu sonho, ele via as pedras colocadas envolveram autênticas projeçoes astraís, e não meras
paralelamente à guia da calçada, apesar de saber que alucinações. Não é provável que as alucinações
elas são arrumadas perpendicularmente à guia da exigissem essa forma de modus operandi,
calçada. A instantânea compreensão de que ele estava Mas o Sr. Fox, agora de volta ao seu corpo, teve de
apenas sonhando fez o sonho tomar-se ainda mais experimentar outra aterrorizante surpresa. Embora
vivido. Paralelamente ao vivido caráter daquele tivesse retomado ao corpo, estava completamente
sonho, ele também obteve um novo senso da beleza paralisado, de tal maneira que nem ao menos podia
das coisas, além de uma espécie de grande iluminação movimentar as pálpebras. Ele acabou aprendendo
intelectual, sem falarmos sobre um elevado senso de que esse estado se devia a um tipo de transe
bem-estar. Declarou ele: «A· sensação foi estranha auto-induzido. O passo seguinte consistiu em
além de qualquer capacidade de expressão, mas aprender a interromper o transe. Ora, isso ele
perdurou apenas por alguns momentos, e então conseguiu concentrando-se na sua intenção de
despertei», Essa experiência inspirou-o a tentar movimentar um dedo, então a mão inteira, e,
prolongar os seus sonhos mediante o esforço mental finalmente, o resto do corpo, agarrando-se ao estrado
para tomar consciência de que estava apenas da cama, acima de sua cabeça, e puxando-o com
dormindo. O seu truque consistia em tentar ensinar à força. Embora tomado de alegria, ele sentia profunda
sua "mente a observar incoerências patentes nas náusea e fraqueza. Os estudos feitos por Crookall
imagens dos seus sonhos, de conformidade com tomaram familiares para nós todos esses fenômenos.
aquilo que ele sabia ser a realidade. Os seus esforços O transe auto-induzido, que por sua vez permite-nos
obtiveram um sucesso meramente parcial, a despeito alcançar a projeção da psique. pode ser uma
da intensidade dos mesmos. Parece que o fato é que o experiência assustadora. Embora o Sr. Fox não tenha
seu original sonho lúcido, além de outros sonhos que jamais dito tal coisa, é possivel que ele estivesse
se seguiram, na verdade foram as suas primeiras projetando o corpo vital juntamente com o corpo
experiências de projeção da psique. No entanto, superfísico, conferindo às suas projeções um caráter
cumpre-nos observar os pontos seguintes: menos livre do que teria sido de outra maneira.
a. Esses esforços mentais produziram dor na região Essas experiências fizeram o Sr. Fox pensar com
da glândula pineal; primeiramente ele sentiu uma dor maior seriedade quanto ao perigo envolvido no que
embotada, mas depois ela se intensificou rapidamen- estava fazendo, mas o entusiasmo e a ousadia juvenis
te. Fox reconheceu, instintivamente, que isso era uma levaram-no a prosseguir. Ele mesmo salientou os
advertência para ele parar. perigos envolvidos na projeção proposital da psique:
b, Todavia, quando ele foi atacado por aquela dor, a. Batidas descompassadas do coração; insanidade,
conseguiu obter uma dupla consciência. Ele penetra- devido ao choque sofrido. O mundo por ele
va no cenário do seu «sonho.., mas, ao mesmo tempo, encontrado era «atrativo.., mas algumas vezes ele
tomava consciência do seu próprio corpo, que jazia também se defrontou com alguns «terrores». Ora,
dormente no leito. Mediante o exercicio da vontade, outras pesquisas têm mostrado exatamente essas
ele podia intensificar as imagens de um sonho, possibilidades. Podemos ter projeções ao paraíso ou
fazendo a outra imagem, relativa ao seu corpo, ao nades, por assim dizer.
desaparecer. b. Sepultamento prematuro. Em um estado de
A despeito da advertência representada por aquela transe, como ele conseguiu impor a si mesmo,
dor, ele estava curioso para saber o que aconteceria se facilmente poderia ter sido dado por morto.
ignorasse tal desconforto e continuasse lutando, até o e
c. Obsessão. possível que entidades negativas se
mesmo cessar. E foi isso que ele tentou fazer. Assim, apossem de um corpo humano, ou mesmo que
mediante uma considerável. agonia, realizou o seu danifiquem uma mente envolvida numa dessas
propósito. Para sua admiração, o fato de ter projeções.
suportado aquela dor finalmente provocou uma d, Segmentação do fio de prata. Esse é o fio de
espécie de clique em seu cérebro, e, com isso, a dor prata que vincula o corpo superfisico ao corpo fisico.
desapareceu. Ao desaparecer a dor, desapareceu Poderíamos dizer que se trata de uma linha de vida,
também a consciência dupla, com o resultado que a embora pouquissimo saibamos dizer a respeito. O
consciência de um «sonho extremamente vivido.. rompimento do fio de prata indica uma projeção
tomou conta de tudo. A partir desse ponto, em sua permanente, a saber, a morte.
narrativa, encontramos uma típica projeção da e. Poderia haver repercussões maléficas sobre o
psique. Fox viajava pela força do pensamento; corpo fisico, isto é, injúrias contra o corpo astral
encontrava-se com pessoas que nem ao menos o viam; poderiam ser transferidas ao corpo físico. E curioso
não sentia qualquer conexão com o seu corpo fisico, e, que certas curas são efetuadas exatamente dessa
por isso mesmo, tinha a impressão de que estava maneira-o tratamento do corpo astral exerce
morto. influência sobre o corpo fisico-e não há qualquer
Durante as suas experiências iniciais, Fox sentiu razão para supormos que o processo oposto também
dificuldades para retomar ao próprio corpo. O poder não funcione.
da vontade levava-o a viajar em seu corpo superfisico, O Sr. Fox adverte-nos a não tentarmos adotar os
mas não era capaz de trazê-lo de volta ao seu corpo seus métodos. Crookall implora aos seus leitores a não
material. Diversas dessas tentativas, entretanto, tentarem provocar as projeções da psique, se elas não
produziam aquele «clique.., agora já familiar, e assim ocorrerem naturalmente. Outros pesquisadores,
458
PROJECÁO DA PSIQUE
todavia, não têm exibido tal preocupação. 2. Nesse estado, as pessoas são capazes de ver
Mais Experiências Seguir-se-iam eventos reais e descrever lugares reais, uma funçio
Os sonhos de conhecimento (descritos acima) que ultrapassa das funções normais dos sonhos,
quanto à freqüência, validade e intensidade. Nlo há
conduzem ao estado de transe. O corpo do Sr. Fox que duvidar que as alucinações nio nos proporcionam
ficava em posiçlo semí-rigida; podia ver o quarto
perfeitamente bem, embora os seus olhos continuas- informações dessa natureza exata.
sem fechados; podia ouvir sons fisicos; alucinações 3. O mecanismo da projeção, o processo da
podiam ser provocadas por ele à vontade; havia separaçio e o processo da reentrada no corpo, não são
temores e tensões estranhas, invisiveis. De modo experiências associadas aos sonhos e alucinações. O
geral, esse estado foi por ele considerado como modus operandi da projeçio da psique é confirmado
bastante desagradável. por pessoas procedentes de culturas as mais diversas.
O passo seguinte consistiu em experimentar se o 4. Nesse estado, a pessoa projetada é capaz de
estado de transe poderia levar ao sonho de influenciar outras pessoas, comunicando mensagens,
conhecimento (projeção da psique) e, portanto, se curando, prevendo o futuro, ete., funções essas que
poderia servir de causa voluntária do mesmo. A transcendem à função dos sonhos. As alucinações sob
resposta mostrou ser positiva. O Sr. Fox aprendeu a hipótese alguma realizam esses feitos.
passar do transe auto-índuzído para a proieção da. S. As projeções da psique incluem encontros com
psique. Isso ele conseguiu meditando sobre a dor de outros seres que porventura se encontrem no mesmo
advertência, localizada na glindula pineal, Ele estado; ou com seres distintos da espécie humana;
aprendeu que, através desse ato, ele era capaz de mas isso não caracteriza os sonhos normais. Por certo
forçar o seu «eu» su~rftsico para fora do corpo, as alucinações não produzem tais experiências.
através da porta da glandula pineal. Quando ocorria 6. A psique projetada tem sido vista (e fotografa-
aquele citado -estalido», ele se libertava. O Sr. Fox foi da?) como se fora uma aparição, por muitas pessoas.
capaz de aperfeiçoar a sua técnica ao ponto de poder 7. A evidência de natureza religiosa: há uma
.passar do transe à projeção da psique, sem a perda da crônica toda religiosa a respeito da projeção da
consciência. psique. (Ver o capitulo doze de 11 Corlntios).
O processo era deveras interessante. Mediante a 8. Alguns daqueles que têm tentado tais experien~
força de vontade, uma vez que se encontrasse em cias, mediante o uso de técnicas aprendidas, têm sido:
estado de transe, o «eu» incorpóreo era projetado para psicologicamente prejudicados. Dificilmente poderia-
fora mediante o portal da glândula pineal. Naquele mos .esperar que sonhos e alucinações tivessem tal
momento, uma luz dourada aumentava furiosamente efeito.
de intensidade, até fazer o quarto explodir em 9. As caracteristicas do corpo vital e do corpo
chamas. Algumas vezes, eram necessárias várias superfisico (descritas neste artigo) demonstram, de
tentativas para o Sr. Fox produzir a projeção da maneira a mais convincente, que não estamos
psique. Com freqüência, o temor era um acompa- abordando meros casos de sonhos ou alucinações.
nhamento inevitável dessas tentativas, mas, junta- 10.. Os tipos de experiências comuns às projeções
mente com o sucesso, ocorria o bem-estar mental e a astrais-normais, paradisiacas e infernais-que têm
iluminação, sido repetidas por pessoas provenientes de muitas
Até ai muito bem. Todavia, uma coisa ainda tinha culturas diferentes, em termos notavelmente simila-
de ser feita: passar voluntariamente ao estado de res, indicam que QStio envolvidas experiências
transe e uma vez ali, mantê-lo. n
que o estado de objetivas, e não meras imagens de sonhos.
transe se interrompia com extrema facilidade. Porém, 11. A similaridade entre a experiência temporária
o Sr. F ox aprendeu a retomar ao corpo, a fim de para fora do corpo (produzida pela projeçio da
fortificar o transe, para que a experiência tivesse psique) e a separação temporária entre o corpo e o
prosseguimento. O transe podia ser induzido median- espirito (produzida pela morte clínica) subentende
te a concentração radical sobre a glândula pineal e que estamos abordando um mesmo fenêmeno,
sobre o desejo de projetar-se dessa maneira, com a embora efetuado de maneiras diversas. As experiên-
exclusão rigorosa de todo e qualquer outro pensamen- cias com a morte clínica são realizadas sem a
to. O estado de transe era sempre desagradável, e isso circulação do sangue (o coração cessa as suas batidas)
concorda com certos informes que Crookall nos e sem ondas do cérebro. Os sonhos e as alucinações
fornece acerca das projeções «forçadas,. da psique. também poderiam realizar-se sob tais clrcunstincias?
A caminhada foi árdua e longa. Foram necessários Em caso contrário, então é óbvio que as experiências
nada menos de catorze anos para o Sr. Fox durante o estado de morte clínica não são a mesma
aperfeiçoar as suas técnicas. (Informação. The New coisa. Mas o fato de que esse fenômeno é tio parecido
World of Dreams, p. 91 e ss). com a projeção da psique indica que essa experiência
Fazendo algumas distinções necessérias é uma função da natureza transcendental do homem,
A projeçlo do corpo vital sem dúvida alguma e nio apenas uma função cerebral.
envolve algumas «histórias de fantasmas», Poderia- 12. A consciência expandida, que algumas vezes
mos considerar esse corpo como uma espécie de obtém uma significativa Iluminação, e que dificilmen-
fantasma, mas existem muitas outras espécies. Por te caracteriza os sonhos e as alucinações, indica o
outra parte, algumas manifestações que são tidas por caráter transcendental de algumas dessas experiên-
fantasmagóricas, na realidade não são, de conformi- cias. Os sonhos fornecem-nos experiências telepáticas
dade com uma si definiçlo. Uma delas é a projeçlo e mesmo precognitivas, mas os próprios sonhos nio
do corpo superfísíco. são transcendentais. Algumas vezes as visões slo
também dessa natureza, sendo que se assemelham
Ay"f.~ e Swúrio DeIte ÂId80 mais às projeções da psique do que aos sonhos.
...me. PrqIeçio da Pllqae Algumas vezes as projeções astrais produzem a
I. RazIe. para c::renDOe que .. p ~ alo 110 consciência cósmica, tal como sucede no caso de
. . . . . 10..... ou alaelnaçlel YIYkIM certas visões. Mas os sonhos já sio outra coisa.
1. As pessoas que têm passado pela projeçlo da
psique são as primeiras a distinguir as projeções dos A ~ .......... inclui a participaçJ.o do
sonhos e alucinações comuns. individuo no «campo coletivo da consciencia», isto é,
469
PROJEÇAO DA PSIQUE
no armazém da consciência universal, posto à diante de um mistério, mas que pouco é capaz de
disposição de todos os homens. Esse campo da demonstrar no que conceme à sobrevivência da alma.
consciência pode ser alcançado pela consciência 14. Algumas projeções da psique têm sido vinculadas
individual sob determinadas circunstâncias, como àqueles periodos de ondas cerebrais e àqueles típicos
durante várias formas de iluminação. Antigos movimentos oculares do estado de sonhos. Isso tem
filósofos e teólogos falaram acerca da Mente sido averiguado em estudos conduzidos em laborató-
Universal, e talvez o campo coletivo da consciência rio. Outras projeções, não obstante, têm ocorrido sob
seja um aspecto da mesma. Todavia, a consciência condições fora dos periodos de sonhos. Visto que a
cósmica sem dúvida inclui mais do que a mente alma e o corpo reagem entre si, até mesmo durante as
humana, coletiva ou individualmente considerada. projeções astrais (por meios que ainda desconhece-
Aquele que atinge qualquer grau da consciência mos, a menos que isso se dê através do «fio de prata»)
cósmica chega a sentir não somente a unidade de não é impossivel que uma projeção genuina possa ter
todas as coisas e a inerente harmonia que une a tudo, lugar durante um periodo de sonhos. O mais
mas também recebe iluminação considerável, chegan- provável, entretanto, é que essas supostas projeções
do a compreender intuitivamente as respostas de sejam apenas sonhos clarividentes. Isso poderia ser
grandes problemas filosóficos e teológicos. Em suma, esclarecido. pelo menos parcialmente. indagando-se
tal pessoa obtém discernimento quanto a alguns das pessoas envolvidas se elas passaram ou não pelos
mistérios da própria existência. Quanto a evidências e mecanismos comuns de separação e de nova união
discussões a respeito, ver o artigo sobre Conhecimento com o corpo, durante tais experiências. Em caso
e a Fé Religiosa. negativo. então quase certamente teve lugar algum
A projeção da psique pode consistir na simples sonho psiquicamente ativo, e não uma projeção. Mas.
separação entre o espírito e o corpo, quando então são se os mecanismos de projeção fizeram-se presentes.
vistos eventos comuns, ordinários bem como objetos como parte da experiência. poderiamos presumir que
físicos, sem a ajuda dos nossos olhos físícos. Por outra os movimentos dos olhos e as ondas cerebrais tipicas
parte, algumas vezes uma projeção conduz o espirito a podem aparecer durante uma projeção da psique. As
dimensões transcendentais da consciência. Essa é a projeções desacompanhadas desses sinais. todavia,
função do misticismo, sendo que com razão poderiam ser consideradas como ocorridas fora dos
poderíamos supor que algumas projeções da psique estados de sonhos, sobretudo se envolverem os tipicos
são experiências misticas, e isso envolve mais do que mecanismos de separação e de nova união.
algum mero sonho ou alucinação. 15. Algumas projeções não estão relacionadas aos
13. Detecção de alguma presença. Se uma alma sonhos porque são efetuadas durante períodos de
abandona o seu corpo físico, poderia ser detectada a vigllia, Isso pode ocorrer mediante o poder da
sua presença por outras pessoas, estando ela fora do vontade, ou mesmo espontaneamente. Algumas
seu corpo? Nesse caso, as projeções da psique dessas ocorrências são totalmente súbitas e inespera-
dificilmente poderiam ser simples sonhos ou alucina- das. Nestes casos, o sono e os sonhos não podem ser
ções. Há consideráveis evidências historiadas a envolvidos. Naturalmente, poder-se-ia argumentar
respeito do fato. O fenômeno mais comum é o da que houve alucinações ou experiências extra-senso-
«presença pressentida», invisivel, mas real. Seis casos riais (clarividência itinerante, telepatia, etc.). Vários
ocorridos com Blue Harary (um estudante da dos argumentos anteriormente aduzidos podem ser
Universidade Duke), monitorizados pela Psychical empregados para mostrar-se que estão envolvidos
Research Foundation, em Nova Iorque, Estados mais que algum poder extra-sensorial. Visto que as
Unidos da América, indicam a realidade da presença ocorrências extra-sensoriais estão relacionadas às
pressentida. toVocê esteve aqui, embora eu não lhe experiências fora do corpo. não estaremos abordando,
tivesse visto», é declaração transcrita de um artigo de nesses casos, qualquer fenômeno que contenha
William G. Roll, intitulado Survival Research elementos contraditórios. De fato, a consciência
publicado pela revista Fate, edição de novembro de projetada torna-se sujeita a muitas manifestações
1974, à pág. 82. próprias das manifestações extra-sensoriais.
16. A maneira como as experiências fora do corpo
Outros casos investigados por essa fundação são causadas distinguem-nas dos meros sonhos. Os
incluem a detecção de uma presença projetada por choques elétricos, a dor intensa, a sufocação, etc.,
parte de animais. Os animais de estimação das poderiam provocar sonhos? Um sonho poderia ser
pessoas que passam por projeções parecem tomar provocado pela força de vontade, de tal maneira ~ue
consciência de suas presenças invisiveis (talvez visiveis alguém pudesse passar-sem a perda de conscien-
para eles; ou então de outro modo perceptiveis para cia-do estado normal de vigília para o estado dos
eles, embora de maneira diferente da percepção dos sonhos? (Ver as causas da projeção da psique,
sentidos humanos). Os gatos de uma mulher que abaixo). Porventura as alucinações poderiam ser
costumava projetar a psique, seguiam-na de sala em provocadas dessa forma?
sala de sua casa, embora ela estivesse fora do corpo.
Harary foi capaz de acalmar um gatinho, que até n. Raziies para crennos que a projeção nio é uma
então se mostrava agitado. Alguns estudiosos percepçlo eldna-lleDSOrIaI que nlo envolva qual.
asseveram que os aparelhos que medem os campos quer &eparaçlo entre o -..ldto e o corpo
electromagnéticos podem detectar com êxito as 1. As pessoas que têm passado por ambas essas
presenças invisiveis, mas essas reivindicações não são modalidades de experiência têm também podido
suficientemente conclusivas para serem usadas como distingui-las entre si. Projetar o corpo superfisico é
afirmações dogmáticas, e requerem maiores investi- algo bem diferente do que passar por uma experiência
gações. Algumas fotografias e filmes cinematográfi- telepática ou clarividente.
cos, que contêm as imagens de pessoas fisicamente 2. Os mecanismos da projeção da psique não são
ausentes, e que eliminam toda a possibilidade de idênticos aos das experiências extra-sensoriais.
fraude, servem de evidências convincentes, se não 3. Os encontros entre pessoas projetadas parecem
mesmo conclusivas (extraída a informação de ibid., ultrapassar das qualidades próprias de simples
pág. 82). Contudo, restam dúvidas se tais impressões comunicações mentais, da mesma maneira que estas
foram deixadas pelo corpo vital ou pelo corpo transcendem aos sonhos compartilhados.
superf'tsico. No primeiro caso, então estariamos 4. As evidências religiosas. A história religiosa das
460
PROJEÇÁO DA PSIQUE
projeções da psique parece favorecer as projeções de qualquer fator desagradâvel., an~~ e (1epois, são
genuínas, em contraste com as experiências extra- aquelas que já atingiram um notável desenvolvimento
sensoriais normais. Ver a narrativa bíblica, em 11 espiritual. Nesse ponto é que realmente podemos
Coríntios 12: 1 e ss, Esse epis6dio envolveu o apóstolo distinguir entre fenômenos meramente psíquicos e
Paulo, homem de elevadissimas qualidades espiri- fenômenos autenticamente espirituais, quando então
tuais, sem dúvida. Aqueles que projetam somente o as projeções da psique tomam-se um meio de
corpo superfisico e passam por experiências paradi- iluminação e de avanço espiritual.
siacas, normalmente são pessoas altamente desenvol- IV. npo. de projeçlM ela ,.Jque
vidas, espiritualmente falando. Essas qualidades 1. Projeções normais. A porção não-material do
parecem servir de trampolim para significativas individuo é projetada para o meio ambiente diário
experiências misticas, mas as experiências extra-sen- deste mundo.
soriais não estão envolvidas em tais casos. provável
Ê
PROPRIEDADE PROPRIUM
Esse vocábulo vem do latim, proprl..., «próprio», Essa palavra latina significa «possessão» ou
«pertencente a alguém». Popularmente, a palavra ..característica». Os filósofos não são acordes quanto a
indica algum objeto de valor que pertence a uma como Aristóteles distinguia o seu proprium do seu
pessoa como sua possessão. Mas também significa acidente. Um proprium é alguma caracteristica de
aquilo que pertence a um objeto, como uma alguma entidade que não faz parte de sua essência, e
caracteristica ou qualidade distintiva. Na filosofia, sem a qual pode existir. Um cão pode existir sem
indica aquilo que é comum a todos os membros de abanar a cauda; mas os cães vivem abanando as
alguma classe, ou aquilo que uma pessoa possui. caudas. Esse costume de abanar a cauda é um
proprium, Porém, como distinguir isso de um mero
acidente permanece um mistério.
Idéiu _ F1IÓNf...: Schleiermacher (vide) empregou essa palavra para
1. Aristôteles fazia da propriedade um dos cinco indicar a diferenciação interna do individuo que
tipos de atribuição. Esses cinco tipos são: espécie, exprime seu lugar particular na natureza e na
genero, diferença, propriedade e acidente. O uso história, ou sua posição finita distintiva, em meio à
dessas definições dá-nos uma boa idéia sobre a infinitude. Ã medida que uma pessoa desenvolve o seu
natureza e a manifestação das coisas. Uma proprie- proprium, ela se toma mais e mais um individuo
dade não faz parte da essência de uma coisa, apesar distinto e útil. Em seu proprium, tal pessoa tem sua
de pertencer exclusivamente a ela. Por exemplo, uma identidade e unidade. Todos os principais elementos
propriedade do homem é a sua capacidade de da vida contribuem para a formação desse proprium,
aprender as regras da gramática. Não se pode definir a saber, a ética, a sociedade, a religião, a educação, o
a essência de um homem ao dizer que ele possui essa desenvolvimento espiritual, o desenvolvimento profis-
habilidade; mas podemos atribuir alguma coisa a ele, sional, etc.
ao mesmo tempo em que hesitariamos atribuir tal
capacidade a outros objetos ou entidades.
PRos2LITo, PROSELITISMO
2. Locke falava nas propriedades no sentido de um
«direito natural». Ele acreditava que a possessão de Esboço:
uma propriedade é um direito outorgado por Deus, I. Palavras e. Definições
algo básico à existência humana. 11. Caracterização Geral
469
PROSÉLITO
UI. No Antigo Testamento m. No Alltigo TeRameato
IV. Informações Rabinicas 1. A tolerância e a participação parcial. Essas
V. No Novo Testamento condições eram oferecidas a todos os estrangeiros em
Israel, embora houvesse exigências. Não podiam viver
I. PalaftM e Deflnlçae. emTsrael e blasfemar contra Yahweh (Lev. 24:16).
A forma grega verbal dessa raiz é proserchesthai, Também não podiam praticar a idolatria (Lev, 20:2),
«aproximar». A forma nominal é prosélutos, «alguém tinham de agir com decência (Lev. 18:26), não
que chegou» em um lugar. Nesse sentido, pode podiam trabalhar em dia de sábado (Êxo, 20:10), não
referir-se ao ato literal de chegar a um lugar estranho. podiam comer pão com fermento durante os dias da
Ou, por analogia, pode aludir a alguém que chegou a celebração da páscoa (Êxo. 12: 19), não podiam comer
alguma nova fé religiosa, tendo vindo de algum outro sangue ou a carne de animais que tivessem morrido
lugar (metaforicamente falando). Na Septuaginta naturalmente ou tivessem sido despedaçados por feras
(tradução do Antigo Testamento para o hebraico), (Lev. 17:10,15). Se cumprissem esses regulamentos,
essa palavra grega é usada para traduzir o vocábulo podiam viver em paz, embora não fossem cidadãos e
hebraico ger, um residente estrangeiro, que vivia em nem tivessem os direitos de cidadania. Mas, se não
Israel mas não era hebreu. Esse termo hebraico pode cumprissem tais condições, estavam sujeitos ao
ter um sentido civil, significando então «estrangeiro»; exterminio.
ou pode ter um sentido religioso, um estrangeiro
«convertido», que assumira algumas ou todas as 2. Naturalização e Plena Participação. Aqueles que
responsabilidades da fé judaica. O termo grego quisessem esse estado, precisavam ser batizados e
prosélutos, por sua parte, pode significar «recém-che- circuncísados, Desse modo, comprometiam-se a
gado», «visitante», «estrangeiro», e, por analogia, guardar a lei inteira, tomando-se israelitas nativos,
«convertido•. participantes dos pactos (ver Êxo, 12:48,49; Rom.
9:4). Havia algumas exceções. Nem todos os
o proselitismo consiste no esforço proposital de estrangeiros podiam ser assim recebidos. Os amonitas
fazer convertidos a alguma fé religiosa, ou a alguma e moabitas estavam excluidos por certos atos que
idéia ou partido politico. No seu sentido mais lato, um tinham de realizar, até à décima geração (o que, para
prosélito é um convertido a qualquer sistema ou todos os propósitos práticos, tomavam-se permanen-
conjunto de crenças e práticas, embora o termo tenha tes). Os edomitas só podiam ser admitidos na terceira
chegado a assumir um significado quase totalmente geração (ver Deu. 23:3,8). Essas nações tinham feito
religioso ou politico. Quase todas as fés religiosas, oposição a Israel, quando o povo de Deus deixou o
embora nem todas, fazem. prosélitos. Egito, e não podiam ser facilmente perdoados por
causa disso. Mas outros povos, como os queneus,
ll. CaracterIzaçio Geral podiam tomar-se convertidos plenos (ver Jui. 1:16).
O termo hebraico ger. indicava um estrangeiro que Os gibeonitas foram aceitos, mas, na verdade, foram
residia em Israel, e, por extensão, um estrangeiro reduzidos à virtual escravidão. Vemos, pois, que
convertido ao judaísmo. Um «prosélito justo. distin- houve vários padrões em ação, pelo menos na prática,
guia-se dos outros prosélitos, da classe religiosa, e posto que não oficial (ver Jos. 9:16 ss). No tempo da
tomava-se parte integral do judaísmo. Recebia o monarquia, alguns estrangeiros obtiveram elevadas
banho batismal e a circuncisão. Esse individuo, na posições em Israel; mas, considerados como uma
verdade, tomava-se judeu. Mas um «prosélito do classe, eles eram cidadãos de segunda categoria, e
portão. (ver Deu. 5:14) não se filava à fé judaica em muitos tiveram de tomar-se trabalhadores forçados
sentido pleno, embora aceitasse os elementos univer- (ver I Crô. 22:2; U Crô. 2:17,18). O profeta persa
sais da fé judaica, conforme são sumariados nas sete Baha Ullah estabeleceu uma boa regra ao afirmar que
leis mosaicas. Essas leis salientavam a importância da nunca deveriamos pedir a outra pessoa para fazer algo
justiça, proibiam a idolatria, proibam a crueldade por nós quando nós mesmos nos recusamos a tal. Isso
contra os animais, ilegitimavam o furto, o assassinio e é degradante para a personalidade humana; mas
a blasfêmia. Todavia, um homem desses não se Israel, e até os cristãos (donas-de-casa com suas
envolvia com os aspectos ritualistas do judaísmo. Mas empregadas quase escravas) continuam atuando
aos verdadeiros convertidos eram concedidos plenos dessa maneira.
direitas religiosos e legais, embora muitos deles não Israel via-se a braços com uma espécie de problema
atingissem igualdade quanto a questões sociais e estrangeiro, tal como sucede a muitas nações
financeiras. O trecho de Atos 2:10 distingue entre modernas, especialmente por razões militares e
judeus e gentios que haviam adotado o judaísmo. O comerciais. E na época em que Judâ voltou do
profundo senso de preconceito racial dos judeus não cativeiro, tinha havido muita miscigenação entre os
permitia uma verdadeira igualdade. Sabemos que os judeus, que Esdras e Neemias procuraram
três séculos anteriores ao cristianismo caracterizaram purificar; mas como é apenas natural, o elemento
um período de intenso proselitismo (mediante todas estrangeiro sempre foi elevado, depois disso.
as formas de atividade didática e missionária). Jesus Houve uma modalidade de universalismo, em
referiu-se negativamente a isso, em Mat. 23:15. Tem alguns segmentos e em alguns periodos do judaísmo,
sido calculado que havia nada menos de três milhões que não caracterizava a totalidade da nação.
de judeus na diáspora, e que talvez a maioria deles Generosas orações chegaram a ser feitas (ver I Reis
consistisse, na verdade, em convertidos ao judaismo, e 8:41-43; Isa. 2:2-4; 49:6; 56:3-8; Jer. 3:17; Sof. 3:9),
não judeus de nascimento. Os conflitos entre os que demonstram um espirito universalista. No Antigo
judeus e os romanos, com a destruição final de Testamento, quanto a isso, destaca-se o livro de
Jerusalém (nos anos 70 e 132 D.C.), pôs fim, de modo Jonas, que é o João 3:16 do antigo pacto.
quase definitivo, ao proselitismo judaico. Então 3. Após o Cativeiro. Alguns estrangeiros foram
chegou a vez do cristianismo tomar-se a grande força atraidos pelo judaismo devido à presença e ao
proselitista do mundo, em obediência ao mandamen- exemplo da piedade religiosa que os hebreus deram
to de Cristo (ver sobre Comissão, A Grande). E a na Babilônia e estavam dando em outros lugares.
passagem de Col. 1:16 mostra-nos que o cristianismo Além disso, estava havendo um amálgama de povos e
obteve um sucesso inicial surpreendente, nesse idéias, e o judaismo absorveu muitas idéias e práticas
esforço. que não se originavam no Antigo Testamento. Isso
470
PROSÉLITO
tendia por fazer a fé judaica tomar-se mais aceitável ss). Midrash Rabbath, no seu oitavo capitulo (citado
diante de estrangeiros. O trecho de Est, 8:17 na Antologia Rabínica) reflete uma atitude bondosa
menciona especificamente que houve muitos converti- de alguns rabinos para com os convertidos gentilicos
dos ao judaísmo, durante o perlodo persa. As ao judaísmo, afirmando que eles deveriam ser
conquistas dos macabeus naturalmente engrossaram respeitados e amados mais do que os israelitas
as fileiras dos convertidos ao judaísmo. As conversões nativos. A questão dos meio-prosélitos foi levantada
compulsórias também eram comuns durante aquele por Schuerer (Geschichte do JuedUchen VoIko, vol.
perlodo histórico. mas essa prática foi posteriormente 111, pâgs, 124 ss), como se tal condição fosse estranha
denunciada. ao ponto que chegou a ser proibido até às crenças fundamentais do judaísmo. Alguns
mesmo forçar um escravo a converter-se ao judaísmo escritores judeus chegam ao extremo de negar que o
(Hebamoth 48b). Naturalmente. houve exceções. Os Talmude descreve qualquer coisa como um pleno
membros da família de Herodes, que eram converti- convertido ao judaismo. Porém. as citações oferecidas
dos vindos de Edom, sempre insistiram que aqueles parecem ser contrárias a essa opinião. e o próprio
que quisessem casar-se com membros da familia se Antigo Testamento certamente estabelece distinção
convertessem ao judaismo (mediante a prática da entre os' dois tipos de prosélitos.
circuncisão, para os homens). V. No Novo TedJI"'"
4. O Grande Aumento. O perlodo dos Macabeus, 1. Ainda Sobre Bases Yeterotestamentérias, Aque-
com suas conversões forçadas, obviamente foi um les que no grego eram chamados «oi phoboúmenoi»,
tempo em que a causa judaica avançou, pelo menos «os tementes (a Deus).., quando eram gentios, sem
quanto a números. Porém, além disso, os três séculos dúvida eram convertidos ao judaísmo, que então
antes de Cristo foram assinalados por entusiásticas vieram a converter-se ao cristianismo. Dentro dessa
missões judaicas. Os trechos de Tobias 1:8 e Judite categoria estavam o centurião de Cafarnaum (ver Luc,
14:10 dão-nos alguma idéia quanto a isso. Não 7:5), o eunuco etiope (ver Atos 8:27 ss), Comélio de
demorou muito para ojudaismo ser bem representado Cesaréia (ver Atos 10). E os trechos de Atos 2:10 e
nas grandes capitais do mundo antigo, como 6:5 alertam-nos quanto ao fato de que deve ter havido
Alexandria. Uma abundante literatura religiosa muitos desses proséticos que entraram em contacto
ajudou nesse processo do proselitismo; e Filo (vide) foi com a fé cristã, e assim supriram muitos membros à
um dos poderosos autores nesse esforço. O próprio Nova Fé. Já pudemos ver que uma elevada
Josefo, exilado. sendo um historiador judeu autoriza- porcentagem de judeus da diáspora compunha-se, na
do (reconhecido por Roma), atuou como força em realidade, de convertidos gentios, e que o perlodo
favor do proselitismo judaico. Houve colônias helenista foi um tempo de intensas missões gentilicas.
judaicas em Roma desde tão cedo quanto o século 11 Talvez fosse mais fácil ser judeu nas áreas remotas do
A.C. Mostraram-se tio zelosos e bem-sucedidos que mundo greco-romano do que na Palestina. Uma
os romanos expulsaram-nos dali em 139 A.C., mas, condição básica para quem fosse aceito como judeu,
no século I A.C. eles voltaram, mais resolutos do que se tivesse vindo do paganismo. era a circuncisão. e
nunca, propagando-se por várias cidades da Itália e então o batismo purificador. Para as mulheres, a
de outras partes do império romano. Eles dispunham condição era o batismo e o oferecimento de um
de numerosas colônias no Egito e em Cirene, Quando sacrificio.
Pompeu obteve suas vitórias militares, levou muitos 2. No Tocante à Igreja Cristã. A Igreja cristã foi
judeus para Roma como escravos. Alguns deles, forçada a herdar o problema do proselitismo que
posteriormente, adquiriram a cidadania romana. havia no judaísmo, e então enfrentar seus prôprios
Autores como Tácito, Juvenal, Horácio e Cícero problemas com os novos convertidos, vindos do
falaram dos judeus de maneira pejorativa. Mesmo paganismo. sem que eles tenham, primeiramente,
assim, tais autores queixaram-se do exclusivismo dos feito uma fase preparatória no judaísmo. O que
judeus e das atitudes xenofóbicas deles. mesmo deveria ser requerido da parte desses puros gentios
quando judeus eram os estrangeiros. Jesus comentou que se tomassem crentes (sem o benefício de antes
negativamente sobre os abusos do zelo missionário terem-se tomado judeus)? O décimo quinto capitulo
dos judeus (ver Mat. 23:15). Todavia, um aspecto de Atos conta-nos a história. A circuncisão não foi
negativo não pode anular as atitudes e as práticas requerida da parte deles. o que pareceu extremamen-
morais aprimoradas. que o judaismo fazia espalhar te insatisfatório para os judeus cristãos mais
pelo mundo. Afinal de contas. precisamos reconhecer conservadores, os quais não podiam conceber a
que essa obra missionária, em mais de um sentido. salvação sem a circuncisão {ver Atos 15:1). O primeiro
facilitou a propagação do cristianismo no mundo concilio ecumênico, efetuado em Jerusalém, fomece-
greco-romano, e, com freqüência. os primeiros nos os requisitos impostos aos convertidos do
convertidos ao cristianismo provinham de colônias paganismo: precisavam abster-se de coisas que
judaicas de muitas localidades. tivessem sido oferecidas aos ídolos. Tais coisas não
IV. Informa~ RabJalaa podiam ser usadas na alimentação. E também não
Na literatura rabinica encontramos opiniões extre- podiam ingerir sangue e nem a carne de animais que
madas acerca dos prosélitos. Por um lado. eles tivessem sido sufocados. Igualmente, deveriam evitar
chegaram a ser elogiados até mesmo mais que os de todo a imoralidade. e, naturalmente. qualquer
israelitas nativos. Mas, por outro lado, são escarneci- forma de idolatria. Á medida que o cristianismo foi-se
dos ali como se nunca se tivessem realmente expandindo para áreas puramente gentílícas, onde os
convertido. mas antes. sempre estivessem maculados legalistas não se fizessem presentes para levantar
pelo pecado, o qual se manifestaria com grande objeções. provavelmente diversas regras dessas come-
facilidade (ver Baba Muia 59b). Yebamot l09b chega çaram a ser ignoradas, como o uso de sangue nos
a compará-los com úlceras na pele de Israel. O termo alimentos; e até mesmo a questão de comer coisas que
hebraico ger era usado para indicar um prosélito tivessem sido oferecidas a ídolos parece ter sido
pleno. Um estrangeiro residente era chamado de relaxada, se nenhum irmão se ofendesse diante do
gertosab, Essa foi a expressão que acabou sendo fato (ver I Cor. 8:7 ss). Paulo recusou-se a permitir a
traduzida por «prosélito do portão... Porém, quem se circuncisão de Tito. a despeito das pressões que lhe
convertesse por motivo de temor. era apelidado. foram feitas nesse sentido, porquanto Tito era um
desprezivelmente de «prosélito leão» {ver 11 Reis 17:25 gentio puro (ver Gál. 2:3-5). Porém. no caso de
471
PROTESTANTISMO
PROTESTANTISMO pode ser percebida em '!~ passado mui~ an~~or, em
Esboço: alguns grupos que se dividiram da Igreja OfiCIal, sem
falarmos em alguns poucos prelados e lideres
I. O Termo Protestante religiosos, dentro da Igreja Cat6lica, que procuraram
11; Caracterização Geral impor reformas. ou que ap~ntaram i~ que
111. Esboço Histôrico divergiam daquelas da cnstandade orgamzada.
IV. Tipos Básicos de Protestantismo Poderiamos citar nomes como os albigenses e os
V. Expressões Modernas: Gráfico waldenses (ver os artigos acerca desses grupos), os
VI. Doutrinas Distintivas Básicas quais, embora não tenham sido protes~tes quanto à
I. O Termo ProteRaate doutrina em geral, opunham.se à autondade papal e
buscavam uma manifestação independente. E dentro
Ver os artigos separados Reforma Protestante e da Igreja Cat6lica Romana levantaram-se os grandes
Reforma Cat61ica. patriarcas da Reforma, Joio Wycliffe; de Oxford, na
A palavra protestantismo é um termo coletivo, Inglaterra (1321-1384), e Joio Huss, de Praga, na
usado para aludir àquele movimento religioso e Boêmia, acerca dos quais temos apresentado artigos
àqueles grupos que vieram a fazer oposição à Igreja separados.
Cat6lica Romana, o que produziu um sério cisma na «Um movimento de reforma religiosa na Europa,
Igreja Cat6lica, no século XVI. Os grupos que cujos lideres viveram durante o espaço de dois sécul~.
mantêm essa atitude cismâtica são chamados de A começar por Wycliffe, no século XIV, que foi o
«protestantes». Ver a segunda seção, Caracterização primeiro a propor os princípios da Reforma, e então
Geral, quanto a uma definição mais completa do com Huss, nos fins do século XIV, e começo do século
Protestantismo. Esse apodo, «protestantes.., que veio XV,·que foi o primeiro ~ implementar ~
a ser aplicado àqueles que repeliram a autoridade principios, o movimento ampltou-se durante a maior
papal, formando igrejas independentes, originou-se parte do século XVI. E começando com Lutero. que
na Alemanha quando, por ocasião da segunda dieta tomou posição com as suas Noventa e Cinco Teses, em
de Espira, em 1529, aqueles que apoiavam as idéias 1517, a Reforma posicionou- se no centro do palco ~
de Lutero apresentaram o seu protesto por haver sido cena européia. A iniciativa de Lutero teve prossegui-
repelido o edito anterior e mais tolerante de 1526. mento com os labores de Melanchton (vide). Zwinglio
Esses seguidores de Lutero eram principes alemães (vide), Calvino (vide) e João Knox (vide). E a Igreja
que faziam objeção à decisão que dizia que não Cat6lica Romana reagiu com a sua Contra-Reforma
podiam dirigir as suas pr6prias questões religiosas. (víde)» (P).
dentro de seus respectivos territ6rios, conforme viam
que seria justo. Naturalmente, o apelido não tardou a O protesto da segunda dieta de Espira (1529) teve
generalizar- se, chegando mesmo a ter um uso uma orientação niti~ente politica;. e a ~~aração
retroativo. Assim. em 1517, Lutero havia «protestado- mais longa que emergiu daquela dieta, mtitulada
contra certas crenças e práticas da Igreja Cat6lica Instrumentam Appellationis, deixou claro que a
Romana, ao expor as suas Noventa e Cinco Teses. Seu minoria evangélica tomara a mesma.posição que Lute-
principal protesto fora contra a venda das indulgên- ro havia tomado, acerca da autondade das Santas
cias e contra a doutrina geral católica romana a esse Escrituras. «A Santa Biblia é, em todas as coisas,
respeito. Assim. aquilo que teve começo como um necessâria para o cristão.,; Somente ~ Pala~a
protesto. não demorou a transformar-se em denomí- deveria ser pregada, com nada que lhe seja contrârío.
nações cismâticas, A fragmentação nunca cessou, de Ela é a única verdade. :E: a regra segura de toda
tal modo que os grupos protestantes, hoje em dia. são doutrina e conduta cristãs. Jamais poderá falhar e
muito numerosos. Nos séculos XVI e XVII, esses nem enganar-nos.., dizia aquela afirmaçlo.
novos grupos cristalizaram-se em tomo de suas Conforme pode-se ver, apesar do termo «pro~tan
posições, e o cisma protestante tomou-se oficial e te- enfatizar a idéia de protesto, a Reforma fOI um
permanente. tempo de reafirmação da Biblia e sua aut~ridade, com
um novo testemunho em favor das Escnturas, o que
u. CuaeterIzaçIo Gend finalmente resultou nas missões modernas, que
A Reforma Protestante sem dúvida nenhuma não propagaram o protestantismo a todas as partes da
foi um erro. Teve e tem seus pontos bons e terra. «O protestantismo migrou para a América com
necessários. Foi uma convocação à liberdade e um os primeiros colonos, e, durante o século XIX, o
retomo à Biblia (embora alguns dogmas e interpreta- movimento missionârio protestante espalhou suas
ções ocidentais. em minha opinião falsos, tenham doutrinas, defendi~s por diversas igrejas protl:stan-
permanecido à base do movimento). Por outra parte. tes, pelo mundo inteiro, mormente pela ÁSIa onental
por seu lado negativo. a hist6ria do protestantismo é e pela África,. (AM).
uma massa confusa de igrejas e credos em
competição, de hostilidades, de lutas pelo poder, e de ESPIRA. QIETAS DE
uma interminâvel fragmentação. Nas igrejas protes- Lembramo-nos dessas dietas não meramente por
tantes, apesar da suposta autoridade ser «as terem tido alguma importlncia durante o perfodo da
Escrituras somente», na prática essa autoridade Reforma Protestante, mas também porque foi ali que
consiste nas Escrituras e no que eu e minha o termo «protestante» veio a designar os luteranos, e
denominação interpretamos. e admírâvel como dai para os vâríos outros grupos que depois surgiram.
tantos grupos podem afirmar estarem mais pr6ximos Espira foi a cena de quatro dietas, durante o perlodo
das Escrituras que os demais, justificando sua da Reforma. Em 1526, Carlos V muito queria impor
alegada superioridade mediante um apelo a certos as estipulações do Edito de Worma (vide). Porém, a
textos de prova biblicos selecionados. Naturalmente, situação politica forçou-o a concordar com a
nisso estâ havendo distorções do ensino biblico. resoluçlo proferida por ocasilo das Dietas de Espira, a
Historicamente, o protestantismo é aquele movi- qual dizia: cCada qual deve lovem&r e asir CODforme
mento religioso que houve. no seio da Igreja ocidental espera responder a Deus e à Sua Majestade Imperial».
(a Igreja oriental jâ se afastara do papado em 1054), Isso descortinou uma liberdade suficiente para o
associado à Reforma Protestante (vide) do século l~~r~smo . ~pqlhar-se por toda a Alemanha,
XVI. No entanto, a atitude de protesto e de reforma dividíndo relígíosamente a nação. Mas, ai por volta de
475
PROTESTANTISMO
1529, Carlos V tomara-se forte o bastante, no âmbito movimento histórico do século XVI. Ver o artigo
da política, e ele resolveu esmagar o luteranismo. chamado Comunhão Anglicana. Essa comunhão
Assim, naquele ano, foi baixada uma resolução que representa uma espécie de meio caminho entre o
revertia a situação de volta ao Edito de W orms, catolicismo romano e o evangelicalísmo, retendo
contradizendo as decisões mais liberais da Dieta de aspectos católicos (no anglo-catolicismo) e evangéli-
Espira. Ora, o Edito de Worms havia condenado cos. Os batistas (vide) tiveram sua origem no espírito
claramente Lutero e suas posições teológicas, e evangélico que foi gerado dentro da comunidade
procurava submeter a imprensa a uma censura rigida. anglicana.
Os luteranos sentiram-se muito contrariados diante 9. Nos séculos XVIII e XIX, o protestantismo
do fato de que a Dieta de Espira tinha perturbado a consolidou-se sob a forma de suas denominações
liberdade deles, e assim «protestarams, publicando a históricas, mas sofreu alguma fragmentação adicio-
seguinte declaração: «Em questões concernentes à nal, em grupos menores. A grande inovação do século
honra de Deus e à salvação das almas, cada qual deve XVIII foi o Metodismo (vide).
prestar contas de si mesmo a Deus», dando..a 10. No século XIX, vários grupos vieram fixar-se na
entender, naturalmente, que os governantes CIVIS América do Norte. Dali e da Europa(começando pela
devem deixar em paz as pessoas no tocante a questões Alemanha) desenvolveu- se o moderno movimento
de consciência, fazendo da tolerância a atitude para missionário. Isso propalou as várias denominações
com todos os grupos religiosos. Não obstante, nas protestantes e evangélicas tradicionais, por todo o
localidades onde os governantes civis eram protestan- mundo, embora, no começo, principalmente no
tes, esse sentimento foi geralmente ignorado, e os Extremo Oriente e na Africa.
oponentes foram perseguidos. 11. No século XX, tem havido grande fragmentação
Em duas outras dietas de Espira, Carlos V uma vez de grupos protestantes e evangélicos. A história do
mais foi forçado a fazer concessões aos luteranos, protestantismo, nessa altura dos acontecimentos,
para que estes o ajudassem a combater os turcos tem-se tomado uma massa confusa de igrejas e
(1542), e também os franceses (1544). Porém, uma credos. Tal competição tem-se espalhado para todas
vez que ele obteve a vitória contra estes últimos, as partes do mundo, através do movimento missionâ-
novamente voltou-se contra os luteranos, em Muel- rio. As denominações protestantes mais antigas
berg (1547), esmagando-os com suas forças militares. têm-se fragmentado em intermináveis divisões e
subdivisões. O liberalismo tem sido uma dessas forças
m. Esboço lllatódeo de desagregação, mas a maior parte dessas divisões
1. Os Albigenses <vide), uma seita de reformadores tem envolvido disputas sobre doutrinas e prâtieas
religiosos (séculos XI a XIII), que em nenhum sentido secundárias, ou, então, devido à luta pelo poder, à
foram protestantes e evangélicos, exceto que se arrogância e à camalidade. O movimento carismático
insurgiram contra a autoridade papal, buscando (vide) tem adicionado um número ainda maior de
liberdade religiosa. Nesse sentido, eles anteciparam fragmentos. Ali busca-se uma nova expressão de vida,
o movimento protestante do século XVI. através das experiências místicas. Infelizmente, faz-se
2. Os Waldenses (vide), uma seita de dissidentes isso sobre bases antiintelectuais, no combate ao
religiosos, fundada em cerca de 1170 D.C., por Pedro dogmatismo das denominações protestantes e evangé-
Waldo, que buscava restaurar a Igreja à sua pureza licas tradicionais. - Por volta de 1950, jâ havia
original, enfatizando o estudo das Escrituras. Apesar duzentos e cinqüenta grupos protestantes diferentes
de não terem sido protestantes e evangélicos quanto a nos Estados Umdos da América do Norte.
muitas doutrinas, eles representavam um anseio 12. O movimento ecumênico insuflou uma tentativa
por reforma e por liberdade, destacando a importân-
cia das Escrituras Sagradas. Esses elementos vieram a de unificação, um esforço que prossegue. Infelizmen-
tomar-se preciosos para o protestantismo. Os te, busca-se ali uma unificação organizacional, com o
waldenses continuam existindo como grupo indepen- sacrificio de crenças biblicas autênticas. Quanto a
dente até hoje, tendo assumido posições mais maiores informações sobre a questão, ver o artigo
evangélicas do que antes. intitulado Movimento Ecumênico. A oposição a esse
movimento, lamentavelmente, tem servido de outra
3. João Wycliffe (século XIV) (vide) foi uma inspiração à fragmentação. Ver o artigo sobre o
verdadeira antecipação da Reforma Protestante. Ver Liberalismo.
mais detalhes no artigo acerca dele.
4. João Huss (vide) promoveu as idéias de Wycliffe e IV. npos BúlCOlI de ProteIItantlamo
assim tomou-se outro elo verdadeiro no processo 1. Os Dois Tipos Originais. Diretamente da
histórico que conduziu à Reforma Protestante. Suas Reforma Protestante, emergiram a Igreja Luterana
datas aproximadas foram 1369-1415. (seguidores das idéias de Lutero) e a Igreja
5. Os Anabatistas (vide). Esses formaram um Reformada (calvinista, formada por seguidores das
movimento anterior à Reforma Protestante, mas idéias de Calvino). Esses grupos espalharam-se pela
eram, essencialmente, reformadores. Eles defendiam Alemanha, pela Holanda, pelos países escandinavos,
várias doutrinas nitidamente evangélicas, que influen- pela Grã-Bretanha, e, mediante a emigração, para a
ciaram o curso da Reforma. E então, com a passagem América do Norte.
do tempo, terminaram por mesclar-se com os 2. Um outro tipo de protestantismo foi aquele
reformados. representado pela Igreja Anglicana. Eles podem ser
6. A Reforma Protestante propriamente dita teve considerados protestantes no sentido de serem
seu inicio em 1517, quando Lutero afixou suas contrários a Roma; mas preservam mais do
Noventa e Cinco Teses. Ver o artigo separado catolicismo do que os outros grupos protestantes.
intitulado Reforma Protestante. Retêm a liturgia e certas doutrinas romanistas
7. Ver os artigos separados sobre Lutero. Calvino. tradicionais, rejeitadas pelos outros grupos protestan-
Zwlnglio e João Knox, o que nos leva ao final do tes, especialmente as questões da sucessão apostólica
século XVI, apresentando a propagação do protestan- e do sacramentalismo. O anglicanismo tem servido de
tismo por vários lugares da Europa. uma espécie de ponte entre o catolicismo romano e o
8. A Igreja Anglicana. A separação entre a Igreja protestantismo.
da Inglaterra ea Igreja de Roma também foi um 3. Um tipo de protestantismo de ala esquerda tem
476
PROTESTANTISMO
sido o dos anabatistas e menonitas. Esses eram mais ocidental e sua teologia achou novas adaptações e
radicais, distinguindo-se por doutrinas que, aos olhos manifestações. Em minha opinião, a Igreja oriental
dos grupos mais tradicionais, eram consideradas preservou (devido aos pais gregos da Igreja) algumas
extremadas. doutrinas que são superiores às do Ocidente, as quais,
4. Os batistas, bastante parecidos com os grupos em sua maior parte, não foram adotadas pelos vârios
protestantes tradicionais no tocante à maioria dos grupos fragmentados do Ocidente.
pontos, trouxeram algumas inovações no campo do A mais conspicua das doutrinas da cristandade
governo eclesiástico, além de negarem a teologia oriental, em distinção à cristandade ocidental, é sua
sacramenta1ista e de ensinarem o batismo por visão mais esperançosa do destino do homem. Os
imersão, somente para os regenerados. Os batistas teólogos orientais têm-se mostrado favoráveir. à idéia
originais procediam da comunidade anglicana. Ver o da continua oportunidade de salvação, após o túmulo,
artigo sobre os Batistas. asseverando que o após-túmulo é um lugar de
S. Os metodistas formam uma espécie de preparação para a salvação, exatamente como o é a
movimento pietista que se separou da comunidade vida mortal, no corpo fisico. Eles acreditam na missão
anglicana, tomando-se independente. Ver sobre o tridimensional de Cristo: sobre a terra, no hades ~ nos
Metodismo. céus. Nessas três dimensões haveria salvação ou
6. Os eruditos liberais formam uma espécie de restauração. Fazendo contraste com isso, seguindo a
frente de ala esquerda, dentro do protestantismo. teologia de Agostinho, a Igreja ocidental veio a
Surgiram no século XIX e se fizeram proeminentes no encarar o atual estado mortal do homem como a única
século XX. Ver sobre o Liberalismo. fase da existência humana onde há oportunidade de
7. O movimento carismático emergiu do metodis- salvação. Há textos de prova bíblicos em favor de
mo, e em breve mostrou pouca força de coesão, ambos os lados da controvérsia, mas, pessoalmente,
fragmentando-se em denominações distintas. As adoto o ponto de vista mais otimista, crendo que o
denominações tradicionalistas também contam, em mesmo evita que a fé cristã seja pessimista. Ver meus
suas fileiras, com elementos carismâtícos. De fato, artigos intitulados Restauração e Descida de Cristo ao
isso ocorre até mesmo dentro da Igreja Cat6lica Hades, que expõem o ponto de vista mais otimista do
Romana. Ver sobre o Movimento Carismático. poder e atuação do evangelho, algo que, segundo
Os três tipos tradicionais de protestantismo são: os creio, muito carecemos.
luteranos, os reformados e os anabatistas-menonitas. 2. Na terceira seção mostrei os pontos essenciais
Dali foram surgindo outros grupos, e, por efeito de acerca da evolução desde a Igreja Católica Romana
fragmentação, temos hoje o espetáculo de uma até o item que, no gráfico, chamei de Conservantis-
incrivel variedade nas manifestações do cristianismo mo Protestante Geral Modemo, com seus respectivos
protestante e evangélico. ramos. Assim, estas explicações prosseguirão até
V. EIpI'ellêlft Moderna: Gntlco aquele ponto.
3. Os Protestantes Evangélicos Tradicionalistas são
Igreja Católica Romana aquelas denominações que dão prosseguimento aos
três tipos básicos de protestantismo com poucas
J alterações, a partir do século XVI. Dentre eles, os
Pré-Reformadores menonitas são os que mais se modificaram, pois
! foram ficando cada vez mais parecidos com os outros
evangélicos, tendo abandonado certas doutrinas e
,
Reforma Protestante práticas estranhas, que haviam herdado dos anabatis-
tas.
Três TIpos Básicos: 4. Os Fundamentalistas são aqueles grupos que
Luteranos; Calvinistas; Anabatistas-Menonitas enfatizam não somente um estrito biblicismo, mas
também dispõem-se a combater qualquer desvio dessa
I posição. Aceitando as Escrituras como sua única
Comunidade Anglicana: regra de doutrina e conduta, eles têm a certeza de que
Ponte entre Romanismo e Protestantismo não há erros nas mesmas. Além disso, em sua
maioria, adotam uma teoria da inspiração verbal por
i ditado das Escrituras. A fragmentação tem-se
mostrado mais intensa entre os fundamentalistas da
Começo da Fragmentação: velha escola. O historiador Mardsden talvez tenha
Batistas e Metodistas dito a verdade ao afirmar que «um fundamentalista é
/ \ um evangélico que está irado acerca de alguma coisa-o
Conservantismo Protestante Geral Moderno O grande vicio do fundamentalismo é a hostilidade,
de onde se originam as fragmentações e a tendência
1 para o conflito. O vicio do liberalismo, por sua vez, é o
Protestantes Evangélicos ceticismo. Ver o artigo separado sobre o Fundamenta-
Tradicionalistas lismo,
Fundarltentalistas 5. Os Neofundamentalistas defendem as doutrinas
I essenciais do fundamentalismo, embora anseiem por
Neo-Evangêlicos desvencilhar-se da reputação de visão estreita, de
Liberai~ pouca cultura e de permanente fragmentação. Além
Pentecbstais disso, esforçam-se por edificar associações mais
Carismlticos Não-Pentecostais amplas e alianças espirituais, incluindo um leque
mais amplo de evangélicos do que o fazem os
Explicações: fundamentalistas. Em outras palavras, para os
1. Este gráfico mostra a fragmentação da Igreja neofundamentalistas «separação- não é a palavra-
ocidental. Não nos esqueçamos de que a Igreja chave.
oriental já se havia separado da ocidental, em 1054. 6. Os Neo-Evangélicos moveram-se um tanto para a
Portanto, o que aqui mostramos é como a Igreja esquerda dos neofundamentalistas. Sua postura
477
PROTESTANTISMO
doutrinária é um pouco mais liberal, embora não se Carismático.
tenham tornado liberais. Entre eles, a crença de que a VI. DoutdDu DIR:1D.dT_ BWca8
Biblia «não tem erros. recebe interpretações diferen- Os artigos separados sobre Batistas. Metodismo.
teso Muitos deles não crêem em uma exatidão Igreja Presbiteriana. Calvino. Lutero e Luteranismo
absoluta, mas preferem dizer coisas como: «Não hâ fornecem os padrões doutrinários gerais dos grupos
erros na mensagem do evangelho•. Ou então falam protestantes e evangélicos. Ver também sobre
sobre a mensagem bíblica em geral, sem entrarem em Evangelicalismo. Neste verbete, os meus comentârios
detalhes. Pontos de vista mais liberais são tomados limitam-se à breve menção daquelas doutrinas que
quanto a certa variedade de assuntos, como a criação, distinguem os protestantes dos católicos romanos. A
a sua maneira, o elemento temporal da criação, etc. grande massa das doutrinas permanece idêntica.
Podemos dizer que os neo-evangélicos representam Porém, as exceções foram e continuam sendo
uma posição do meio-termo entre o fundamentalis~o importantes.
e o liberalismo; e, na verdade, cada neo-evangéllco 1. Foi tomada uma posição mais restrita acerca da
representa essa posição em um grau todo próprio. Ver autoridade, e as Escrituras Sagradas foram eleitas a
o artigo separado chamado Neo-Evangelicalismo, única regra de fé e prâtíca, Ver o artigo intitulado
7. Os Liberais. Esses pensadores abandonaram a Autoridade.
noção da perfeição das Sagradas Escrituras, e 2. Houve uma volta para o agostinianismo, com
começaram a aplicar os métodos cientificos e abandono do tomismo (ver os artigos acerca dessas
históricos ao estudo da Biblia. Outrossim, não duas posições). Os artigos sobre Agostinho e Tomás
pensam ser necessârío, e nem mesmo correto, supor de Aquino abordam as particularidades.
que a Bíblia é a únice, autoridade. Para eles, a Bíblia é 3. A autoridade papal foi rejeitada, e o papa,
apenas uma das autoridades (e com defeitos), entre é· bi I giti d
outras autoridades. Eles reieitam a Bibliolatria (vide). quando muito, aceito como o ISpO e mo e
-oi Roma, ou então, é identificado com o falso profeta ou
Os estudiosos liberais, naturalmente, representam um com o anticristo.
espectro muito amplo de crenças, a começar pelos M .
virtuais não-cristãos, céticos, e dai até os cristãos, de 4. Houve a rejeição à veneração a ana e aos
. liberai santos, com a paralela eliminação de imagens de
crenças muito lassas. MUitos rais pensam que o escultura. Ver sobre Mariolatria e Marioloeia.
cristianismo nem mesmo é a única expressão religiosa e
legitima no mundo, e alguns deles opinam que o S. Houve a reieição do conceito das indulgências
cristianismo não é, necessariamente, a melhor dentre (vide).
tantas expressões religiosas do mundo. Quanto a 6. Também foi rejeitada a doutrina da sucessão
maiores detalhes, ver o artigo sobre o Liberalismo. apostôlica (vide), na maioria das denominações
Seu ponto positivo é sua franca e freqüentemente protestantes e evangélicas.
sincera busca pela verdade, incluindo sua luta contra 7. Houve a rejeição ao sacramentalismo (vide), na
a estagnação. Mas o seu grande vicio é o ceticismo. O maioria das denominações, embora muitos luteranos
liberalismo e a Comunidade Anglicana têm sido e anglicanos continuem aceitando o batismo e a
poderosas forças por detrás do Movimento Ecumênico eucaristia como sacramentos.
(vide). 8. Os concllios foram rejeitados como inerrantes.
8. OsPentecostais. Esses originaram-se do metodís- 9. A justificação pela fé, lado a lado com o ensino
mo. Mas o pentecostismo não demorou a expressar-se geral sobre a graça divina, tornou-.se o fator princiPa!
em muitas denominações distintas, aumentando na prédica. Os reformadores continuaram a ver a lei
enormemente a fragmentação do protestantismo. mosaica como guia da vida do crente, embora não
Alguns estudantes de um colégio biblico metodista como justificadora. Mas esse ponto de vista tem ~ido
resolveram que era errado dizer que os dons rejeitado por alguns grupos protestantes e evangélicos
espirituais deveriam desaparecer apôs o perlodo modernos.
apost6lico. As línguas foram buscadas e O~?da~. 10. No luteranismo, a consubstanciação (vide)
Então, presumivelmente, outros dons espirituais tomou o lugar da transubstanciação (vide), mas
foram acrescentados, de tal modo que, hoje em dia, muitos luteranos, e certamente a maioria esmagadora
muitos pentecostais afirmam que todos os dons dos outros grupos protestantes também rejeitam a
espirituais neotestamentârios jâ foram restaurados. primeira dessas doutrinas.
Mas outros pentecostais preferem falar em termos de 11. O determinismo foi e continua sendo uma ênfase
uma restauração parcial. Tenho relatado essa história comum de muitos grupos protestantes, em contraste
no artigo chamado Movimento Carismático, A grande com a posição oficial da Igreja Católica Romana, que
virtude desse movimento é a sua insistência de que favorece o livre-arbitrio humano. Ver os artigos sobre
ainda há muita coisa a ser aprendida pelos crentes, e essas questões. Quando o Jansenismo (vide) foi
que as experiências misticas são um poderoso meio de formalmente rejeitado pelo catolicismo romano, o
desenvolvimento espiritual. Ver sobre o Misticismo. determinismo jamais poderia ser aceito novamente
Mas o movimento tem certos vícios, como um pelos romanistas. No entanto. as doutrinas da
determinado exclusivismo, e, desafortunadamente, predestinação (vide) e do determinismo (vide) têm
falsas manifestações dos dons, de mescla com certas desempenhado papel preponderante nas crenças de
manifestações que muito se assemelham às do muitos grupos evangélicos.
espiritismo. 12. Foi rejeitado o celibato obrigat6rio (vide), como
9. Os Carismáticos Não-Pentecostals, Essa gente requisito imposto aos ministros.
também é conhecida como Neopenteeostais, ou 13. Houve a separação entre Igreja e Estado, o que,
simplesmente, carismáticos. Esses têm permanecido em muitos grupos protestantes e evangélicos é aliado
como membros das denominações protestantes ao governo democrático da Igreja.
tradicionais, embora seguindo práticas pentecostais, 14. Tem havido maior ênfase sobre a total
como a possessão e o uso dos dons espirituais. Até depravação do homem do que é comum à teologia
certos católicos romanos poderiam ser assim chama- católica romana.
dos, visto que o povo carismâtíco, naquela igreja, não 15. Muitos grupos protestantes chegaram a rejeitar o
difere muito dos carismâticos evangélicos, exceto que batismo infantil (vide).
aceitam a autoridade papal. Ver sobre o Movimento 16. Houve total- rejeição da hierarquia eclesiástica,
478
PROTESTANTISMO - PROVl!:RBIO
com muita simplificação no ministério (mais do que é possa ser definido ou compreendido. t;: o caso de Pro.
permissivel pelo Novo Testamento), chegando-se" ao 17:3, que diz: «O crisol prova a prata, e o forno o
extremo do governo democrático. ouro; mas aos corações prova o Senhor». Pode-se
17. Impôs-se o conceito do saeerdôcio de todos os comparar esse provérbio com um outro, que lhe é
crentes, com a rejeição (por parte da maioria dos similar, em Mal. 3:3. O trecho de Pro. 1:17 é outro
grupos protestantes e evangélicos) do conceito de que exemplo que requer reflexão demorada: «Pois debalde
o ministro é uma espécie de padre. se estende a rede à vista de qualquer ave».
18.:a fortissima a ênfase sobre a necessidade do 3. Os Provérbios da Biblia
indivíduo estudar as Escrituras. com a conseqüente Podemos encontrar os provérbios espàlhados pela
rejeição da idéia de que somente a Igreja tem Biblia inteira; mas o Livro de Provérbios (vide) é uma
autoridade para interpretá-las. espécie de coletânea principal de provérbios, atríbuí-
Bibliografia. AM AMe B e E EP HOO NAS P dos a Salomão. Os trechos de I Sam. 10:11: 19:24 e
PAU PAU(1950) R 24: 13 também contêm declarações proverbiais. Outros
exemplos são Jer. 31:29 e Eze. 18:2. J6, sendo um
J'ROTEVANGELIUM DE TIAGO livro poético, naturalmente encerra muitos provér-
Ver Tiago, Protevangelium de. bios. A passagem de Jô 28:28 é bem conhecida; «Eis
que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do
PROVAS DA EXISTlNCIA DE DEUS mal é o entendimento». Esse provérbio, em uma
Ver »-a, seção V, e Araam-*- em Prol da forma modificada, reaparece no livro de Provérbios
EüdacIa de DeaI. (1:7), como uma espécie de provérbio principal, que
determina o espírito do livro inteiro.
PROVAS DA EXISTlNCIA E SOSREVIVtNCIA A presença de provérbios em Deu. 28: 15 ss e vs. 37
DAALMA mostra-nos que esse uso é bastante antigo na cultura
Ver sobre Alma, seção V, e imortalidade (diversos hebréia. Um povo desobediente é ameaçado de vir a
artigos). tornar-se um provérbio.
A passagem de Sal. 69:10,11 serve-nos de exemplo
PROVAS DE CULPA da maneira como são apresentados os provérbios. Um
Houve tempo em que a culpa ou inocência das individuo, humilhado e em estado aviltado, torna-se
pessoas era determinada sujeitando-se as mesmas um provérbio para outras pessoas.
a testes fisicamente dolorosos e perigosos. Assim, No NOTO Te.tameDto, há duas palavras gregas que
jogava-se um homem dentro da água, e esperava-se são usadas e que podem ser traduzidas. por
que ele não morresse afogado, se fosse inocente. «provérbio»: parabolé, como em Luc, 4:23; e
Aqueles que promoviam tais absurdos supunham que paroimia, como em João 6:25,29 e 11 Ped. 2:22.
algum poder sobre-humano interveria em favor de Figuras de linguagem, expressões vividas ou declara-
quem fosse inocente. Torturas também eram aplica- ções enigmáticas podem estar envolvidas nesses
das, e que a parte inocente supostamente não deveria vocábulos. Jesus empregou provérbios, em Seu
sentir, ou, pelo menos, que deveria suportar com ensino, como aquele de Luc, 4:23: «Médico, cura-te a
galhardia; mas, se fosse culpada, não agüentaria a ti mesmo». Esse provérbio pode ser confrontado com
prova. Se povos primitivos tem usado tais métodos, 10ão·16:25,39. Ver também Mat. 6:21 e João 12:24.
essa prática era comum na Europa da época Paulo falou em amontoar brasas vivas sobre a cabeça
medieval. de alguém (ver Rom, 12:20). E o trecho de I Cor.
15:33 contém um signüicativo provérbio, tomado por
empréstimo do poeta grego Menandro: .As más
PRoV2RBIO conversas corrompem os bons costumes». Outros
Esboço: provérbios de Paulo acham-se em I Cor. 14:8: «Pois
1. A Palavra e suas Definições também se a trombeta der som incerto, quem se
2. A Natureza dos Provérbios preparará para a batalhaf»; e Tito 1:15: «Todas as
cousas são puras para os puros; todavia, para os
3. Os Provérbios da Biblia impuros e descrentes, nada é puro». E Tito 1:12 tem
4. Os Provérbios como Fenômeno Verbal e da outro provérbio, citaçãó do poeta grego Epimênides:
Literatura Universal «Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres
1. A Palavra e suas Definições preguiçosos». Também podemos citar I Tim. 6:10:
Essa palavra vem do latim, proverbium, formada «Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os
por pro, «antes», e verbum, «palavra». Seu sentido é males», um provérbio universalmente conhecido.
algumas vezes expresso por algumas poucas palavras, Provavelmente também poc:leriamoscatalogar como
precisas e coloridas. O latim, pro, pode ter o sentido proverbial a declaração de Tia. 2:26: «Porque assim
de «de acordo com», ou «através de», e talvez essa seja como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé
a força desse prefixo, nessa palavra. No hebraico, o sem obras é morta». Uma outra dessas declarações é a
vocábulo correspondente é mashal, «ser semelhante», de Tia. 1:22: «Tornai-vos, pois, praticantes da
o que salienta o valor dos provérbios para a feitura de palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós
comparações e observações sutis e inteligentes. mesmos». Por sua vez, Pedro nos ofereceu um
2. A Natureza dos Provérbios excelente provérbio, quando escreveu: «...0 amor
Um provérbio é uma declaração expressiva, incisiva cobre multidão de pecados» (I Ped. 4:8). E a
e concisa, embora com o intuito de transmitir um afirmação que se lê em 11 Ped. 2:22: «O elo voltou ao
pensamento novo ou importante. Pode ser uma seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a
declaração enigmática ou uma máxima, como se fosse revolver-se no lamaçal», é chamada de «adágio
uma minúscula parábola ou simile. Os seus sinônimos verdadeiro», por esse apóstolo. A primeira parte dessa
são aforismo, máxima, mote, preceito, simile. No afirmação vem de Pro. 26:11; mas não se conhece a
Oriente, os provérbios usualmente incluem compara- fonte originária da segunda parte da mesma.
ções, uma espécie de observação aguda e condensada. Certas declarações de Jesus, feitas como se fossem
Um provérbio também pode ser uma «declaração provérbios, expõem diante de nós a essência da
enigmática», que requer meditação e análise para que esperança do evangelho: «...conhecereis a verdade, e a
479
PRov:BRBIO - PROV:BRBIOS
verda~e vos libertará..(João 8:32); e: «Se, pois, o Filho VIII. Estado do Texto
vos libertar, verdadeiramente sereis livres- (João IX. Problemas Especiais
8:36). A. A Figura da Sabedoria
4.. Os Provér~ios Como Fenômeno Verbal e da B. Relação entre Provérbios e a Sabedoria de
Literatura Universal Amenemope
. Antes da escrita haver sido inventada, os provérbios 1. O documento egípcio
circulavam sob forma verbal. A literatura de todos os 2. Relações léxicas
povos revela que tal costume era universal. A X. Conteúdo e Esboço do Livro
litera~ra antiga dos sumêrios, dos babilônios, dos A. Conteúdo
e~pclOs, dos gregos e dos r0!Uanos contém provér- 1. Gêneros literários
bIOS, o que também pode ser dito acerca dos chineses, 2. Assunto
dos celtas, e de outros povos. Provérbios populares B. Esboço
ac~b.aram se tOtpando provérbios literários. As XI. Teologia do Livro
reltgt~ também têm l.ançado m~o 40s provérbios. Os I. Pano de Fundo
provérbios são especialmente úteis no ensino de S· .... . .
principios éticos, e para exprimir expressões de bom em unportar ~ a autona salomomca é aceita ou
senso. São excelentes instrumentos didáticos não, pode-.se facilmente ,:oncordar que ~ pano de
. fundo do ltvro de Provérbios parece ter Sido a corte
real em Jerusalém. Embora a literatura de sabedoria
PROV2RBIOS, LIVRO DE (vide), no antigo Oriente Próximo, seja anterior ao
livro de Provérbios, por mais de mil anos aquela
No hebraico, mulud, «simile lt , «comparação», um f~rma particular de instruções, endereçadas 'ao «meu
substantivo que ocorre por trinta e oito vezes nas filho.., parece-se mais com certas obras literárias
páginas do Antigo Testamento, conforme se vê, por egípcias, como- As Instruções de Ptahotepe: As
exemplo, em NÚm. 21:27; Deu. 28:37; I Sam. 10:12; Instruções de Mari-ka-Ré: As Instruções de Ame~-en
24:13; I Reis 4:32; 9:7; 11 Crô. 7:20; Sal. 69:11; Pro. hete e As Instruções de Ani. O casamento de Salomão
1:1,6; 10:1; 25:1; Ecl. 12:9; Isa, 14:4; Jer. 24:9; Eze. co.U?- a fil~a do F ~raó pode ter conduzido esse grande
12:22,23; 14:8; 16:44; 18:2,3. Na Septuaginta, rei israelita a ter Interesse por esse tipo de instruções.
paroimia, palavra gre~a que significa «comparação»,
com base em uma raiz verbal que tem o sentido de Caracteristicas literárias individuais, como a
«ser semelhante», «ser paralelo- (d. Gên. 10:9; Pro. mashel, o padrão X, X + 1 e os longos discursos
10:26). ~<? Novo Testamento, parabolé, palavra grega encadeados encontram paralelos na literatura semíti-
que SIgnifica «posto ao lado», «comparação», «ilustra- ca anterior. Assim sendo, o livro de Provérbios deve
ção», Um vocábulo empregado por cinqüenta vezes:
ter atraído os leitores já familiarizados com aquela
Mat. 13:3,10,13,18,23,31,33,34; 13:35 (citando Sal. forma literária.
78:2); 13:36,53; 15:15; 21:33,45; 22:1; 24:32; Mar. Muitos criticos modernos têm negado aos hebreus
3:23; 4:2,10,11,13,30,33,34; 7:17; 12:1,12; 13:28; uma m~nt~ ver4adeiramente fil~6fica, a qual
Luc, 4:23; 5:36; 6:39; 8:4,9-11; 12:16,41; 13:6; 14:7; caractenz~a mais os gregos. ASSim, na opinião
14:3; 18:1,9; 19:11; 20:9.19; 21:29; Heb. 9:9; 11:19. d~sses críticos, os israelitas prefeririam depender das
O nome do livro, em hebraico, é misle selomoh diretas revelações dadas do alto, em vez de ficarem a
«provérbios de Salomão-o ' ~ensar à moda dos filósofos gregos, que criavam
O termi? hebraico mashal teve seu sentido ampliado sistemas com base em conceitos. Essa critica, porém,
para cobrir também outras formas de discurso, como leva em conta somente uma das facetas da mente dos
o oráculo de Balaão (Núm. 24:15), os cânticos de hebreus, Outra faceta dessa mesma mentalidade
mostra-no~ que os i~raelitas, t~l ~ qual qualquer outro
zombaria(Isa. 14:4; Hab. 2:6) e as alegorias, que são povo, sabiam confiar nos mentos de uma filosofia
exten~as comparações (Eze. 17:2; 20:49; 24:3). Há
estudiosos que pensam que esse vocábulo hebraico humana autêntica. ~ grande diferença, porém, é que
vem da raiz que 'significa «governar», porquanto os hebreus não apreciavam aquela filosofia especulati-
mashal, realmente, «cria novas situações- segundo va, que fica a imaginar como os mundos e os seus
disse um deles (Gemser, Spruche Saiamos, pâg. 7). problemas teriam sido criados; antes, eles preferiam
olh~lr para uma orientação prática na vida. E isso eles
Uma outra sugestão, no tocante à origem da palavra é
aquela que diz que esse termo vem do assirio mishlu faziam de maneira intuitiva e analógica, e não em
«pt~tade-, referindo-se ao fato de que um provérbi~ resultado de raciocinios dialéticos. Isso explica
típico consiste em duas metades postas em paralelis- porque os hebreus davam a essa forma de pensamento
mo. Entretanto, o mais provável é mesmo que esse o nome de «sabedoria.., porquanto, na busca pela
vocábulo hebraico, em seu sentido mais restrito de solução diante dos problemas morais do homem
«comparação», por sínêdoque, acabou sendo usado diante da vida, eles demonstravam muito mais amo;
~ela • ~abedoria prática do que pelas especulações
para indicar vários tipos de literatura de sabedoria, fílosôficas,
como aqueles que aparecem coletados no livro
canônico de Provérbios. Em vis~a di~so, o livro de Provérbios, começando
com máxunas Isoladas, acerca dos elementos básicos
Esboço: da conduta humana, revela, de muitas maneiras
I. Pano de Fundo sugestivas, que os seus autores (ver sobre Autoria)
11. Unidade do Livro cada vez mais se aproximavam, em suas apresenta-
111. Autoria ç~s, de uma postura filosófica. No mínimo pode-se
IV. Data afirmar que eles tinham uma filosofia em formação.
A. Seção I Esse desdobramento pode ser visto até mesmo na
B. Seção 11 maneira como o vocábulo hebraico mashal foi sendo
C. Seções 111 e IV ~sa4~ cada vez c?m. uma maior amplitude de
D. Seção V significação, ao que Já tivemos ocasião de referir-nos.
E. Seções VI, VII e VIII A mashal, em seus primeiros usos, era de natureza
V. Lugar de Origem e Destinatários antitética, contrastando dois aspectos da verdade de
Vl.. Propósito do Livro tal modo que o pensamento ali mesmo se comple~va
VII. Canonicidade nada mais restando ao autor senão passar para algu~
480
PROV:ERBIOS
outro assunto. Isso produzia o bom efeito de pôr em uma coletânea, a sua unidade não estâ na
contraste os grandes antagonismos fundamentais da dependência de sua autoria. Antes, essa unidade
existência humana neste mundo: a retidão e a encontra-se na natureza geral do seu conteúdo, os
iniqüidade; a obediência e o desregramento; a provérbios, declarações sucintas, ou um pouco mais
industriosidade e a preguiça; a prudência .e a longas, que exibem profunda sabedoria prática,
presunção, etc., o que analisava, mediante contrastes, aplicável à conduta diária dos homens. A obra
a conduta do individuo e dos homens em sociedade. pertence à categoria geral da literatura de sabedoria
Entretanto, a partir do momento em que começam a (vide), exaltando as virtudes da sabedoria (sob a
prevalecer as mashalim ilustrativas e sinônimas, o forma de retidão) e condenando os vicios da
estudioso toma consciência de uma maior penetração insensatez (sob a forma de falta de temor a Deus).
e ampliação do alcance do pensamento, porquanto m. Autoria
começam a aparecer distinções mais sutis e descober- Tradicionalmente, o volume maior do livro de
tas mais remotas, e as analogias que ali se vêem Provérbios tem sido atribuido a Salomão, filho de
passam a exibir uma relação menos direta entre D aVI' e rei. de Israe1 (fc. P ro. 1:;1 10:;1 25 :1).
causas e efeitos. E então, avançando ainda mais o Entretanto, o próprio livro de Provérbios menciona
leitor, no livro de Provérbios, especialmente quando dois outros autores, a saber: Agur (3O:1) e Lemuel
atinge a seção transcrita pelos «homens de Ezequias, (31:1). Quanto a essa questão, existem duas posições
rei de Judâ» (caps. 25-29), pode notar que cada vez extremadas, a saber: 1. Salomão escreveu o livro
mais se usa do artifício literário dos paradoxos e dos inteiro de Provérbios; ou 2. ele não teve qualquer
dilemas. Além disso, a mashal amplia-se ainda mais, conexão direta com a obra (excetuando que ele é o
passando da mera comparação entre dois contrastes «autor tradicional. e patrono da literatura de
para o quadrante e para o poema bem desenvolvido. sabedoria). Um terceiro ponto de vista, que ocupa
Tudo isso, apesar de não ser ainda uma filosofia posição íntermediâria e está mais em consonância
autoconsciente, chega a ser um passo decisivo nessa com o próprio testemunho biblico, é aquele que diz
direção. que Salomão foi o autor da maior parte do volume do
Um pressuposto básico, dos escritores do livro de livro de Provérbios, ao que foram acrescentadas as
Provérbios, é que a sabedoria e a retidão são obras de outros autores. Assim, é apenas uma
idênticas e que a iniqüidade mesmo é uma espécie de meia-verdade aquela que diz que o livro de Provérbios
insensatez. Isso é um ponto tio pronunciado no livro não teve -paí», segundo têm afirmado alguns
que chega mesmo a ser axiomático, emprestando ao estudiosos. Pois, apesar das declarações de sabedoria
volume o seu colorido todo especial. Isso transparece geralmente originarem-se entre pessoas do povo
logo no primeiro provérbio, após as considerações comum, alguém foi o primeiro individuo a fazer essas
iniciais sobre o filho sábio. Lemos ali: «Os tesouros da declarações em uma linguagem epigramática. Essa
impiedade de nada aproveitam; mas a justiça livra da idéia é confirmada por nada menos de três vezes no
morte.. (Pro. 10:2). Com base nesse pressuposto volume do livro. Vejamos: «Provérbios de Salomão,
básico, surgem à tona outros principios não menos filho de Davi, o rei de Israel» (1:1); «Provérbios de
axiomáticos: a fonte de uma vida caracterizada pela Salomão... " (10: 1; que em nossa versão portuguesa
sabedoria é o temor a Yahweh; quem quiser ser sábio aparece como titulo, o que é um erro, pois faz parte
precisa ter uma mente disposta a aprender a do texto sagrado); e também «São também estes
instrução, e a atitude contrária é própria da provérbios de Salomão, os quais transcreveram os
perversidade; sábio é aquele que não se deixa homens de Ezequias, rei de Judâ- (25:1). Por que
impressionar pelas vantagens passageiras obtidas duvidar do próprio testemunho biblico? Todavia, essa
pelos impios, ao passo que o insensato não percebe as última passagem citada indica que Salomão não
vantagens da verdadeira sabedoria, o temor ao reunira todos os seus provérbios formando um único
Senhor. Esses principios são constantemente reitera- volume. Antes, ele deixara a muitos de seus
dos no livro de Provérbios, não de forma sistemática, provérbios dispersos, que os copistas de Ezequias
mas iluminando numerosos aspectos e aplicações às coligiram. Se juntarmos a isso as palavras de Agur e
questões práticas da vida. O principio que mostra que de Lemuel, teremos o que é hoje o nosso livro de
as más obras trazem em si mesmas as sementes da Provérbios.
destruição, ao passo que o bem arrasta após si as Uma tola objeção à autoria salomênica é aquela
bênçãos divinas é um dos conceitos fundamentais de que assevera que Salomão não era praticante das
onde emergiu toda a filosofia de sabedoria dos virtudes inculcadas no livro de Provérbios; cí., por
hebreus, exemplo, Pro. 7:6-23, que alguns pensam não refletir
De fato, essa capacidade de mostrar sagacidade nos a vida de Salomão, porque ele teria tido um imenso
pensamentos e nos conselhos, capaz de reduzi-los a número de mulheres e concubinas (ver I Reis 11:3,
máximas ou parábolas, sempre foi tão admirada entre que diz: «Tinha (Salomão) setecentas mulheres,
os israelitas que, desde antes de Salomão os seus princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe
possuidores tomavam-se lideres naturais, bem repu- perverteram o coração»). Tal objeção, entretanto,
tados na comunidade de Israel. Cf. 11 Sam, 14:2 e olvida-se do fato de que uma coisa é escrever obras de
20:16. E quem demonstrou maior habilidade, quanto sabedoria, e outra coisa, inteiramente diferente, é
a isso, do que o próprio Salomão? Não somente casos viver de maneira sábia. Um homem pode trair os seus
dificeis lhe eram trazidos a fim de que resolvesse os próprios princípios!
mesmos (ver I Reis 3: 16-28), como também lhe A narrativa sobre a vida de Salomão em I Reis caps.
apresentavam questões complicadas, para que fome. 3,4 e 10 {ver, especialmente. I Reis 4:30-34 e 11 Crê,
cesse resposta (ver I Reis 10:1,6,7). Portanto, foi com 9:1-24) dá a entender a sabedoria e a versatilidade
base no reconhecimento de que há homens dotados de inigualáveis de Salomão, na composição de afirma-
tremenda sagacidade mental, capazes de aplicar essa ções de sabedoria.
habilidade às questões práticas da vida, que surgiu a Por igual modo, a afirmação de que os subtitulos
literatura de sabedoria, incluindo o livro de (ver 1:1; 10:1 e 25:1) seriam meramente honorificas,
Provérbios. não correspondendo à realidade da autoria salomêni-
D. Ullldade do Uno ca, não faz justiça a Salomão. Mesmo que os
Visto que o próprio livro declara que se trata de subtítulos em 1:1 e 10:1 - mostrem que pessoas
481
PROVÉRBIOS
posteriores compilaram provérbios esparsos de Salo- declarações dos sábios, em 22:17-24:22 contêm
mio, nem por isso negariam, realmente, a autoria similaridades com as trinta seções da «Sabedoria de
salomônica. Os compiladores não foram autores. Eles Amenemope», produzidas no Egito, e que eram
compilaram o que já existia, e o que já existia era instruções mais ou menos contemporâneas à época de
saido da pena de Salomão. Acrescente-se a isso que o Salomão. Por semelhante modo, a personificação da
argumento que diz que as repetições, em duas seções sabedoria, tão proeminente nos caps. 1-9 (ver 1:20;
diferentes do livro de Provérbios, ou mesmo em uma 3:15-18; 8:1-36), pode ser comparada com a
de suas seções, elimina uma única autoria, esquece-se personificação de idéias abstratas, em escritos
do fato de que os autores muitas vezes repetem o que egípcios e mesopotâmicos pertencentes ao segundo
dizem, e que os editores ou compiladores tinham por milênio A.C.
costume reter passagens duplicadas, conforme se vê. O papel desempenhado pelos «homens de Eze-
por exemplo, nos casos de Sal. 14:1 e 53:1. quias» (ver 25:1) indica que importantes seções do
A questão da autoria do trecho de Pro. 22:17-24:34 livro de Provérbios foram compiladas e editadas entre
está vinculada ao problema da relação entre essa 715 e 687 A.C. Aquele foi um período de renovação
seção e a obra A Sabedoria de Amenemope, o que é espiritual, encabeçado por aquele monarca judeu.
ventilado mais abaixo. Durante as discussões e Ezequias demonstrou grande interesse pelos escritos
controvérsias que houve entre os judeus do século I de Davi e de Asafe (11 Crê, 29:30). Talvez também ti-
D.C., acerca do cânon do Antigo Testamento, o livro vesse sido nesse tempo que foram adicionadas às cole-
de Provérbios foi classificado, juntamente com os ções de provérbios de Salomão as palavras de Agur
livros de Eclesiastes e de Cantares de Salomão como (cap. 30); de Lemuel (cap. 31); bem como .. pala.......
«salomênico», conforme se aprende em Shabbat JOb. dos aábl_ (22:17-24:22; 24:23-34), embora seja
O livro de Provérbios, conforme o mesmo existe em perfeitamente possivel que o trabalho de compilação
nossos dias, deve ter tomado essa forma após os dias só tenha sido completado após o reinado de Ezequias,
do rei Ezequias (ver Pro. 25:1), isto é, após 687 A.C. conforme também já demos a entender acima.
De fato, Fritsch (IB, quarto volume, pâg, 775) pensa Os eruditos crítícos, por sua vez, rejeitam a autoria
que a forma final pode ter sido alcançada somente por salomônica, pelo que datam cada seção do livro de
volta de 400 A.C. Há outros que asseveram que a Provérbios em separado, usualmente em datas muito
coletânea final (incluindo as palavras de Agur e de posteriores à data tradicional da escrita e compilação
Lemuel) deve ter sido feita em algum tempo entre os do livro. Isso, por sua vez, leva-os a datarem a
dias do rei Ezequias e o começo do período coletânea inteira no fim do período persa, ou mesmo
p6s-exllico, o que daria, mais ou menos, o mesmo do período grego. Porêm, descobertas arqueológicas e
resultado. filológicas recentes têm feito alguns desses eruditos
Alguns estudiosos modernos, de tendências libe- abandonarem uma data tão extremamente posterior,
rais, têm observado que devem ser levadas em conta o que andava tão em voga na primeira metade do
as «palavras dos sábios», referidas em Pro. 22: 17 e século XX. Entre essas descobertas poderiamos citar a
24:23. Para eles, isso representa mais alguns autores, descoberta de declarações de sabedoria dos cananeus,
embora anônimos. Entretanto, não é absolutamente bem como certos padrões lingüisticos cananeus na
necessário aceitarmos essa opinião. Salomão poderia literatura de Ugarite.
estar meramente aludindo a afirmações que antigos
sábios haviam feito, mais ou menos de conhecimento O que é indiscutivel é que o livro de Provérbios pode
geral em sua geração, às quais, agora, ele emprestava ser dividido em certas seções, conforme se vê abaixo:
uma forma epigramática. Ê muito melhor ficarmos A. Seção I. Essa seção tem sido datada como
com a idéia da autoria salomônica, claramente passagem relativamente posterior, porquanto supõe-
declarada no próprio livro de Provérbios por três se que foi escrita como uma espécie de introdução
vezes, conforme já tivemos ocasião de verificar, do para o volume inteiro. Há quem pense que essa
que imaginar uma multiplicidade de autores, segundo primeira seção seja pôs-exilica, enquanto que outros
o sabor da alta critica, que sempre quer exibir pensam que a personificação da Sabedoria (ver o
erudição multiplicando autores e atribuindo aos livros oitavo capitulo) toma provável uma data dentro do
da Biblia uma data posterior à que, realmente, eles século 111 A.C. Porém, ainda um terceiro grupo de
pertencem. estudiosos tem demonstrado que essa personificação,
IV. Data ou melhor, hlpostatízação, é uma das caracteristicas
Duas questões diferentes estão envolvidas no das reliziões mesopotâmica e egipcia. A fórmula
problema da data do livro de Provérbios, a saber: a numérica de X, X + 1,encontra-se em Pro. 6:16-19,
data em que cada seção do livro foi escrita (ver abaixo ocorrendo também em textos ugaríticos (cf. Gordon,
quanto às «seções- do livro); e, em seguida, a data em Ugaritic Manual, pâgs. 34 e 201~ dosegundomilênio,
que foi feita a «coletâneas ou «editoração» das várias A.C. Albright (Wisdom in Israel and in the Ancient
seções, a fim de formar um único volume (rolo), Near East) pensa que essa seção é anterior aos
naquilo que hoje conhecemos como o livro de Provérbios de Aicar, isto é. o século VII A.C. Fritsch
Provérbios. Os eruditos conservadores têm seguido o segue a tendência de se dar uma data bem antiga à
tradicional ponto de vista da autoria salomônica do obra, ao afirmar que existem fortes influências
livro inteiro, excetuando os capitulos 30 (de Agur) e ugariticas e fenicias nessa primeira seção de
31 (de Lemuel). Isso posto. eles datam o volume maior Provérbios. e que os seus capítulos oitavo e nono
do livro como pertencente ao século X A.C., compõem «uma das porções mais antigas do livro».
provavelmente dos últimos anos do reinado de Um exemplo dessa influência ugaritica, que damos
Salomão. A coletânea das várias seções, por sua vez, é aqui como ilustração, é o uso do termo lahima,
datada variegadamente, pelos mesmos estudiosos «comer», que só pode ser encontrado por seis vezes no
conservadores, entre 700 A.C. e 400 A.C. Antigo Testamento, quatro delas no livro de
Provérbios. Quando isso é combinado com a opinião
A paz e a prosperidade que caracterizaram o de Seott (Anchor Bible, -Proverbs», págs. 9, 10), que
periodo de governo de Salomão, ajustam-se bem ao disse que os capitulos primeiro a nono foram escritos
desenvolvimento de uma sabedoria reflexiva e à como introdução a uma unidade já existente (isto é. os
produção de obras literárias dessa natureza. Outros- caps. 10-31), a mais antiga data provável para essa
sim, vários especialistas têm observado que as trinta primeira seção faz com que uma data salomônica
482
PROV~RBIOS
para as demais seções, a ele atribuídas, torne-se coletânea dos provérbios, pois, serviria de üvro de
bastante plausivel. Entretanto, Scott considera que informações útil para estudos públicos e privados. Os
essa primeira seção do livro ê um elemento posterior, provérbios inculcam a moralidade pessoal, além de
dentro do livro de Provérbios. O longo discurso dessa um direto «bom senso». Paterson conseguiu extrair
seção (em contraste com o estilo de aforismas do bem o propósito do livro de Provérbios ao escrever que
restante) encontra paralelos na antiga literatura de o alvo desse livro é «...diminuir o número dos tolos e
sabedoria egipcia e acádica. Os aramaísmos ali aumentar o número dos sábios» (pág. 54).
existentes, ao contrário do que antes alguns tinham Embora o livro de Provérbios seja uma obra de
suposto, argumentam em favor de uma data mais cunho eminentemente prático, ensinando como o
antiga, e não de uma data mais recente. homem deve viver diariamente, a sabedoria ali
B. Seção Il, Esse segmento do livro de Provérbios é ensinada está solidamente escudada sobre o temor a
considerado como salomônico pelos eruditos conser- Yahweh (ver, por exemplo, 1:7, que declara: «O
vadores, como uma coletânea gradualmente feita, temor do Senhor é o principio do saber, mas os loucos
talvez com um núcleo salomônico, que teria atingido desprezam a sabedoria e o ensines). Por todo o
seu presente estado ou no século V ou no século IV volume, esse respeito ao Senhor é apresentado como a
A.C. Um certo escritor moderno, Paterson, considera senda que leva à vida e à segurança (cf. 3:5; 9:10e
que essa é a porção mais antiga do livro de Provérbios. 22:4). No dizer de Pro. 3:18, a sabedoria é ....árvore
C. Seções 111 e IV. Essas seções estão envolvidas na de vida para os que a alcançam, e felizes são todos os
questão da divida literária à Sabedoria de Amenemo- que a retêm»,
pe, uma questão que será discutida mais abaixo. A VD. c.aonlcldade
idéia de que essa seção depende muito de uma obra Na obra hebraica, Sbabbat (3Ob), o livro de
egípcia possibilita uma data entre 1000 e 600 A.C., Provérbios é alistado como um livro de canonicidade
tudo estando na dependência da data da obra egípcia, disputada, nos fins do século I D.C., juntamente com
Por isso mesmo, Paterson pensa que essa porção é os livros de Eclesiastes e Cantares de Salomão. Mas,
prê-exílica, embora posterior a 700 A.C. sua associação com outras obras reconhecidamente
D. Seção V. De acordo com o seu subtitulo, essa salomônicas, nessa afirmativa judaica, parece em
seção vem da época do rei Ezequias. Porém, a autoria favor do argumento que o livro era canônico, e assim
real pode ter pertencido ao século X A.C. era considerado. Outro tanto se vê em M. Yadaim
E. Seções VI, VII e VIII. Há uma diferença na (3.5), onde diferentes opiniões aparecem no tocante à
colocação dessas três seções do livro de Provérbios, canonicidade de Eclesiastes e Cantares de Salomão,
entre a Septuaginta e o Texto Massorético (vide). Por mas onde não há qualquer debate no tocante ao livro
isso mesmo, Paterson pensa que, originalmente, cada de Provérbios. A LXX e a versão portuguesa
uma dessas seções corresponde a antigas coleções concordam em arrumar juntos todos os três livros
separadas. Á base de alegadas artiticialidades, ele atribuidos a Salomão, ou seja, Provérbios, Eclesiastes
datou-as em data posterior. No entanto, a forma e Cantares de Salomão.
acrôstica de composição (ver sobre Poemas Acrosti- De acordo com o Talmude (Baba Bathra, 146), o
cos) , que alguns eruditos modernos consideram um livro de Provérbios aparece depois dos livros de
artificialismo, era um método favorito de feitura de Salmos e de Jó; e, de conformidade com Berakoth
poemas, entre os antigos hebreus. Scott afirma que os (57b), esse livro deveria figurar entre os livros de J6 e
poemas acr6sticos apareceram muito antes do exílio de Salmos. A ordem de colocação nas modernas
do século VI A.C. E, visto que a literatura de Biblias (como na nossa versão portuguesa) deve estar
sabedoria transcendia às fronteiras nacionais, a alicerçada sobre certa tradição rabíníca, que dizia que
hist6ria politica internacional oferece-nos pouca Moisés escreveu o livro de J6, que Davi escreveu os
ajuda para se fixar alguma data para essas três seções Salmos, e que Ezequias compilou os Provérbios (Baba
do livro de Provérbios. Bathra, 14b-15a).
v. Lapr de 0rIpm e o.tIDllÜrIGI O trecho de Tiago 4:6, ao citar Pro. 3:34 fá-lo de tal
O livro de Prov6rbios provavelmente ongmou-se maneira que mostra que o livro de Provérbios era
nos círculos palacianos de Jerusalém. As porções considerado canônico no século I D.C. Em adição a
salomônicas (excetuando aquela seção transcrita isso, 'é com freqüência que o Novo Testamento
pelos «homens de Ezequias, rei de Judâ» (ver 25:1), refere-se à seção do Antigo Testamento que contém o
podem ter sido registradas pelos escribas desse livro de Provérbios, a saber, kethubim, os «escritos»,
monarca descendente de Salomão. A essas coletâneas tachando-os de «Bscrítura- (no grego, graphé). A sua
de provérbios, pois, os escribas reais adicionaram as inclusão na Septuaginta certamente favorece a id6ia
seções VI - VIII. O seu conteúdo indica que o livro de de uma bem remota aceitação do livro de Provérbios
Provérbios tinha por intuito instruir os filhos das como parte integrante das Santas Escrituras.
familias nobres. Assim, embora essas instruções VID. EItado do Texto
sejam endereçadas freqüentemente a «meu filhos, O livro de Provérbios, em sua maior parte, acha-se
estava em pauta uma audiência muito mais ampla. A escrito em hebraico claro, estilo clássico. Entretanto,
sabedoria dos sábios destinava-se a «todos» (Paterson, existem algumas poucas passagens difíceis, no texto
pág.54). das seções principais. O erudito Fritsch alista como
VI. PropóIIto do IJvro vocábulos que têm causado problemas para os
O pr6prio livro de Provérbios assevera claramente o tradutores, os seguintes: 'amon (Prov. 8:30); yathell
seu propósito, em Pro. 1:2-4, ou seja, para infundir (12:20); hibbel (23:34); manon (29:21);. 'f!luqah
sabedoria e díscreçlo aos homens, especialmente no (30:15); zarzir e 'alqum (30:31). A malona das
caso dos simplices, destituidos de experiência na vida. propostas de emendas, com o intuito de solucionar
Lemos no quarto verslculo: «...para dar aos simples' problemas textuais, não passa de conjecturas.
prudência, e aos jovens conhecimento e bom siso». e Descobertas lingilisticas recentes têm demonstrado o
valor de esperar-se por maiores informações em vez de
perfeitamente exeqülvel que esse também tenha sido o
prop6sito do livro inteiro. Seu propôsito é o de apelar-se para emendas conjecturadas.
orientar os homens na conduta prática diária. Essa A Septuasinta é uma tradução frouxa, quase uma
sabedoria, esse temor a Yahweh, é algo .necessário paráfrase, exibindo marcas do ponto de vista dos
para a formação de um caráter bem cultivado. A tradutores. Em certos. lugares, a traduçlo é
483
PROV~RBIOS
inteiramente corrupta. Inclui quase cem duplicatas de «Sabedoria- hipostatizada do livro de Provérbios;
palavras, frases, linhas e versiculos que aparecem porém, as conclusões desses eruditos não conseguem
somente por uma vez, no texto massorético. Além harmonizar-se entre si.
disso, omite algumas seções e adiciona outras. Na Se o erudito Scott (pâgs, 71 e 72) está correto em
Septuaginta, o trecho de Pro. 30:1-14 vem depois de sua vocalização da palavra hebraica 'amon, para
24:22 (segundo o texto hebraico), e então segue-se 'omen (em Pro. 8:30), visto que 'omen significa
24:23,24 (segundo o texto hebraico). Então a «artífice principal.. ou então «criancinha», segue-se
Septuaginta tem Pro. 30:15-31:9, e então os caps, que a ..Sabedoria» é vista como aquela força -
25·29 (segundo o texto hebraico), e, finalmente, hipostatizada- que unifica a todas as coisas (cf.
31:10-31. Essas anomalias têm levado os estudiosos a Eclesiástico 43:28; Sabedoria de Salomão 1:7; Col.
acreditar que o texto continuava fluido ao tempo em 1:17 e Heb. 1:3).
que foi feita a tradução da Septuaginta. Embora alguns críticos tenham datado o livro de
IX. Problema FApecIaIa Provérbios como pertencente ao periodo helenista, em
Duas particularidades que merecem atenção face da hipostatização da sabedoria (sob a alegação de
especial são: 1. A figura da Sabedoria, no oitavo que a tendência para as hipostatízações era forte
capitulo de Provérbios; e 2. a relação entre o livro de durante o periodo de dominação grega), o fato é que
Provérbios (22:17-24:34) e a obra egípcia Sabedoria há muitos paralelos entre o livro de Provérbios e o
de Amenemope. Ambos esses itens estão diretamente antigo mundo do Oriente Próximo, do segundo
vinculados a abordagens criticas quanto à autoria e à milênio A.C., ou mesmo antes. Entre esses paralelos
data do livro de Provérbios. razão por que os poderiamos citar os seguintes: 1. A divindade egípcia
ventilamos aqui. de Mênfis, Ptâ, teria criado as coisas com sua palavra
A. A Figura da Sabedoria. Apesar da sabedoria ser e seu pensamento. 2. Em Tote de Hermápolis, a
exaltada como uma virtude, por toda a seção de sabedoria divina e o deus criador aparecem personifi-
abertura do livro de Provérbios, como também cados. 3. A divindade sumêria Ea-Enki era chamada
noutros segmentos do livro, é no seu oitavo capitulo de «o verdadeiro conhecedor». 4. O deus babilônico,
que encontramos o tratamento da ..sabedoria.. como Marduque, intitulado de ..o mais sábio dos deuses..,
uma hipostatização. Ao que tudo indica. ali, esse teria conquistado Tiamate e então teria criado a terra
atributo divino aparece como um ser que mantém e o homem. 5. O altissimo deus EI, do panteão
inter-relacões. com os homens. Em Pro. ugarítico, é descrito como alguém cuja "sabedoria é
1 :20 -33 ; 8 : 1-36 ; 9 : 1-, .
6 13 , 18 ,a« S a b e d oria» aparece eterna». Esses e outros exemplos pré-hebraicos (ver
em oposição a uma personagem similar, embora Sal. 74:13,14; 82:1; Isa. 14:12-14; 27:1) demonstram
contrária. a ..Senhora Loucura». A Sabedoria aparece claramente que desde bem antes da época de
como um profeta que prega pelas ruas (cf. Jer, 11:6 e Salomão. já se conhecia o artifício literário da
17:19.20). hipostatízação,
Paterson fez um sumário da discussão da
Não há qualquer traço de politeismo no livro de «Sabedoria», afirmando que o trecho de Pro. 8:22,23 é
Provérbios. Por conseguinte, qualquer tentativa de uma ousada confirmação e reafirmação da doutrina
vincular o pano de fundo acerca de Salomão a A
Ma'at, Istar ou Siduri Sabatu, conforme alguns têm expressa em Gen. 1:2. Deus não criou um caos (cf.
Gen. 1 e 2), e, sim, um ..cosmos», um todo
feito. não é convincente e nem tem qualquer base nos organizado. A sabedoria é a essência mesma do ser de
fatos. A única questão que ainda resta ser ventilada é Deus. O universo não veio à existência por mero
se a «Sabedoria» é uma verdadeira hipostatização, isto acaso. e nem permanece existindo por suas próprias
é, um atributo ou atividade da deidade, à qual foi forças. O mundo conta com uma teleologia (vide)
conferida uma identidade pessoal. Alguns estudiosos ( 3
têm sentido que o oitavo capitulo de Provérbios porquanto existe a teologia ver Pro. :19; 20:12).
simplesmente apresenta uma vivida personífícação. B. Relação Entre Provérbios e a Sabedoria de
A intima correspondência entre as atividades da Amenemope, Desde que Adolph Erman ressaltou as
..Sabedoria... no livro de Provérbios, com as atividades similaridades existentes entre a Sabedoria de Amene-
de Yahweh, no resto do Antigo Testamento. é algo mope e o livro de Provérbios (22:17-23:14), tem
deveras notável. A Sabedoria derrama o espirito (ver havido uma tendência geral para os estudiosos
Pro. 1:23, cf. Isa. 44:3). Deus chama. mas Israel não pensarem que essa passagem biblica está diretamente
responde (ver Pro. 1:24-26; cf. Isa. 65:1.2,12.13; endividada àquela antiga obra de origem egipcia.
66:4). O Espirito de Deus é a Sabedoria (ver Pro. Todavia, os defensores da independência desse trecho
8:14; cf. Isa. 11:2). A Sabedoria promove a justiça bíblico a qualquer obra egípcia também têm
(ver Pro. 8:15,16; cf. Isa. 11:3-5). Da mesma maneira aparecido em bom número, como E. Díroton, C.
que a Sabedoria prepara o seu banquete (ver Pro. 9:5 Fritsch e R.O. Kevin, para citar somente alguns
- em oposição à mulher louca, que também tem o seu nomes. Embora a preponderância da erudição encare
banquete, Pro. 9:13-18), assim também o faz Yahweh o livro de Provérbios como se houvesse alguma
(ver Isa. 25:6; 55:1-3; 65:11-13). dependência entre o mesmo e a Sabedoria de
Nos seus escritos, tanto o judaísmo posterior Amenemope, há argumentos sólidos suficientes para
quanto o cristianismo referem-se ao papel desempe- mostrar a inveracidade dessa dependência, conforme
nhado pela ..Sabedoria» na criação - um desempe- podem averiguar sérios estudiosos da Biblia, que
000 que em muito se assemelha à sabedoria queiram parar para examinar todas as evidências
hipostatizada no livro de Provérbios. O livro apócrifo disponíveís.
Sabedoria de Salomão identifica a «Sabedoria.. como 1. O docameDto eaIPclo. Foi Sir E. Wallis Budge,
«a modeladora de todas as coisas.. (7:22), como no seu artigo Recuil d'Etudes Egyptologigue...
«associada às obras (de Deus).. (8:4) e como Champollion, em 1922, quem primeiro tomou
«formadora de tudo quanto existe» (8:6). Filo (De conhecida a antiga obra egípcia Sabedoria de
Sacerdota, 5) afirma que a «Sabedoria» foi a Amenemope, Em 1923. ele publicou o texto completo
fabricante do universo. Alguns estudiosos têm da obra. com fotografias e uma tradução. Outros
procurado demonstrar a ligação entre o «Loges» do eruditos deram a público suas próprias traduções do
primeiro capitulo do evangelho de João, bem como a original egípcio, Mas foi Erman o primeiro a sugerir
..Sofia» concebida pelos mestres gnósticos, com a que as "excelentes cousas» de que lemos em Pro.
484
PROVÉRBIOS
22:20, poderiam ser traduzidas por «trinta», com base X. Conteúdo e &baço do Uno
na divisão da Sabedoria de Amenemope em trinta O conteúdo do livro de Provérbios pode ser
capitulos. Essa tradução envolvia uma modificação classificado de conformidade com quatro critérios:
textual, .uma nova vocalização de shalishim para por gênero literârio, por assunto, por autoria e por
sheloshim, no texto hebraico do livro de Provérbios. E motivos teológicos. Felizmente, as divisões feitas de
então Erman inferiu que o escritor biblico teria, acordo com os três primeiros critérios justapõem-se
diante de si, os trinta capítulos da Sabedoria de com facilidade, em quase todos os pontos.
Amenemope, tendo selecionado dali trinta afirma- A. Conteúdo. 1. Classificação por gêneros Literá·
ções, incorporando-as então em seu pr6prio livro de rios: As duas formas literárias que mais prevalecem
sabedoria. A verdade é que Oesterley e outros vêem no livro de Provérbios são: 1. As declarações sucintas
pelo menos que vinte e três das trinta declarações e expressivas usadas para transmitir sabedoria (os
daquela passagem do livro de Provérbios derivam-se verdadeiros «provérbios-): e 2. os longos discursos
da Sabedoria de Amenemope. Scott, por sua vez, didáticos, do que são exemplos a primeira seção
afiançou que somente nove dessas declarações (caps. 1-9), e as seções sétima e oitava (caps. 30-31).
procedem daquela fonte. Mas o preâmbulo do trecho Praticamente todo o resto do livro cabe dentro da
de Pro. 22:17-21 parece ser uma reformulação da categoria dos «provêrbios-, Pode-se definir um
conclusão da Sabedoria de Amenemope, Essa obra provérbio como «uma declaração breve e incisiva, de
egípcia foi escrita por Amen-em-apete, um egipcio uso comum•. Tipicamente, um provérbio é anônímo,
nativo de Panôpolis, em Acmim. Ele era um tradicional e epigramâtico. Conforme alguém já disse,
supervisor de terras, evidentemente uma posição um provérbio caracteriza-se por «sua brevidade,
importante. Ele também foi um sâbío e um escriba. sentido e sal», E, conforme expressou com grande
Devido à posição que ele ocupava, alguns estudiosos percepção Lord Iohn Russell, um provérbio contém «a
datam a sua obra como pertencente ao periodo sabedoria de muitos e a argúcia de um só•. Na
pôs-exílíco de Judâ (cí, Esdras e Ben Siraque). segunda seção do livro de Provérbios há trezentos e
Entretanto, o gênero literário da sabedoria e a setenta e cinco dessas declarações. Dentre os cento e
instituição dos escribas eram realidades bem-estabele- trinta e nove versiculos dos caps. 25-29, cento e vinte e
cidas no antigo Oriente Próximo desde muito antes do oito são provérbios. Com freqüência, os provérbios
tempo de Salomão. assumem a forma de um simile grâfico (cf. os caps. 25
A obra Sabedoria de Amenemope têm sido e 26).
atribuidas diversas datas, desde cerca de 1300 A.C. QaaIe todo o Uno de Prov"''', excetuando as
(Plum1ey), ou 1200 A.C. (Albright), até datas em seções primeira, sétima e oitava (caps. 1-9, 30 e 31),
tomo do século VII A.C. (Griffith, Oesterley), ou do foi escrito' formando duplas que se completam, ou
periodo persa-grego (Lange). A data mais antiga disticos. Esse paralelismo-uma típíca caracteristica
baseia-se em um ostracon que continha um extrato da poesia hebraica - ocorre com certa variedade de
daquela obra egipcia. Se isso for aceito, então formas. O chamado paralelismo sinônimo, em que a
toma-se quase uma certeza que o livro de Provérbios segunda linha reitera ou reforça a primeira, é a forma
realmente tomou por empréstimo elementos de usualmente encontrada em Pro. 16:1-22:15 (cf.
Sabedoria de Amenemope, Hâ mesmo a possibilidade 20:13). O paralelismo antitético, em que a segunda
de que aquele ostracon representa uma fonte linha expõe um contraste do que foi dito na primeira,
informativa comum, usada tanto pelo livro de ou uma reversão da idéia da primeira linha, é a forma
Provérbios quanto por Sabedoria de Amenemope, de paralelismo usualmente encontrada nos capítulos
Seja como for, isso em nada afeta a inspiração do livro décimo a décimo quinto (d. Pro. 15:1). Ocasional:
de Provérbios, porquanto o fenêmeno da inspiração mente, no livro de Provérbios vê-se certa forma de
envolve até mesmo a seleção de material, como paralelismo em que a segunda (ou a terceira) linha
também a composição do material original. adiciona algo ao pensamento expresso na primeira
2. RelaÇlê5el léxlCIIII. Vârios estudos sobre a linha. Esse tipo de paralelismo sintético acha-se em
lexicografia de Sabedoria de Amenemope tendem a 10:22. Os capitulos vinte e cinco e vinte e seis estão
indicar que seu vocabulârio egipcio-semitico pertence repletos desse tipo de paralelismo.
ao estágio final do idioma egípcio. Hâ indicações que 2. Classificação por assunto. Três tipos latos de
esse vocabulârio da obra assemelha-se mais com a material são apresentados no livro de Provérbios, isto
Septuaginta do que com o texto massorético (ver os é, 1. instruções para que se abandone a insensatez e se
artigos sobre ambos). Interessante é que, embora isso siga a sabedoria (caps. 1-9); 2. exemplos especificos
seja posto em dúvida por alguns eruditos, o uso de de conduta sâbia ou de conduta insensata (as
expressões idiomâticas semiticas, no livro Sabedoria declarações gnêmicas das seções 11- V; caps. 10-29); e
de Amenemope, pode até mesmo mostrar que essa 3. a vivida descrição acerca da mulher virtuosa (cap.
obra egipcia é que depende do livro de Provérbios, e 31; que talvez contrabalance o motivo do filho sábio,
não ao contrário, conforme têm dito alguns nos caps. 1-9).
estudiosos. Assim é que se o livro de Provérbios parece
conter versiculos espalhados por Sabedoria de Em adição a isso, o conteúdo do livro de Provérbios
Amenemope, essa obra egipcia parece conter versícu- pode ser agrupado de acordo com os t6picos
los espalhados no livro de Amenemope. Destarte, os discutidos, como as declarações que versam sobre os
argumentos pró e contra parecem bem equilibrados. males sociais (Pro. 22:28; 23:10: 30:14); sobre as
Também tem grandes possibilidades uma terceira obrigações sociais (15:6,7,17; 18:24; 22:24,25; 23: 1,2;
posição, intermediâria, a que diz que tanto aquela 27:6,10); sobre a pobreza (17:5; 18:23; 19:4,7,17);
obra egipcia quanto o livro de Provérbios usaram sobre os cuidados com os pobres (14:31; 17:5,19;
antigas tradições orais comuns no antigo Oriente 18:23; 19:7,17; 21:13; 26:14,15); sobre as riquezas
Próximo, ou mesmo - algum apanhado dessas materiais como uma questão secundária (11 :4; 15: 16;
tradições, jâ sob forma escrita. Também merece 16:8,16; 19:1; 22:1), embora importante (10:22;
consideração a idéia que diz que a passagem do livro 13:11; 19:4).
ge Provérbios estava simplesmente usando os «trinta A vida doméstica é um t6pico freqüente do livro
capítulos» egípcios como um modelo, e não como uma (Pro. 18:22; 21~,19; 27:15,16; 31:30), como também
fonte informativa direta. E Scott (pAg. 20) exprime as relações entre pais e filhos (10:1; 17:21,25;
um ponto de vista parecido com isso. 19:18,24: 22:24,25: 25:17).
486
PROVÉRBIOS
o assunto da sabedoria já foi ventilado, acima. Em teológico. Assim, é ali salientada a soberania de Deus
contraste com o sábio, encontramos o «loucos. Nada (Pro. 16:4,9; 19:21; 22:2). A onisciência de Deus é
menos de quatro tipos de loucos podem ser claramente referida (15:3,11; 21:2). Deus é apresenta-
discernidos no livro de Provérbios: 1. O tolo símplice.. do como o Criador de tudo (14:31; 17:5; 20:12). Deus
que pode ser ensinado (Pro. 1:4,22; 7:7,8; 21:11). governa a ordem moral do universo (10:27,29; 12:2).
Esse é o «desmíolado». 2. O insensato empedernido As ações dos homens estão sendo aquilatadas por
(1:7; 10:23; 12:23; 17:10; 20:3; 27:22), que é um Deus (15:11; 16:2; 17:3; 20:27). Até mesmo neste
obstinado. 3. O tolo arrogante, que escarnece de nosso lado da existência a virtude é recompensada
todas as tentativas para iluminá-lo. Isso envolve uma (11:4; 12:11; 14:23; 17:13; 22:4). O juizo moral é mais
«atitude mental», e não tanto uma «incapacidade importante ainda do que a prudência (17:23).
mental», do que tal individuo se toma culpado (3:34; O povo hebreu não dispunha de um termo genérico
21:24; 22:10; 29:8). 4. O louco brutal, morto para para a idéia de «religião... Não obstante isso, o livro de
toda decência e boaordem(l7:21; 26:3; 30:22; cf. Sal. Provérbios exprime essa idéia por intermédio da
14:1). expressão «o temor do Senhor. (Pro. 1:7; 9:10; 15:33;
A conduta dos reis é um dos tópicos do livro (Pro. 16:6; 22:4), como também por meio daquela outra
16:12-14; 19:6; 21:1; 25:5; 28:15; 29:14). O bom expressão que se acha nos livros dos profetas «o
ânimo é encorajado (15:13-15; 17:22; 18:14). O uso conhecimento de Deus» (ver, por exemplo, Isa. 11:2;
da lingua é discutido (10:20; 15:1; 16:28; 21:23; 53:11; Osê. 4:1; 6:6). Essas duas idéias aparecem
26:4,23). Também são mencionados outros hábitos ou como um paralelo sinônimo, em Pro. 2:5 e 9:10.
caracteristicas pessoais (11:22; 13:7; 22:3; 25:14; Interessante é observar que o livro de Provérbios
26:12; 30:33). Finalmente, são discutidos alguns ignora quase completamente o templo de Jerusalém e
aspectos do conceito da «vida» -sua fonte originária o culto religioso ali efetuado (o que serve de fortissimo
(10:11; 13:14; 14:27; 16:22); sua vereda (6:23; 10:17; argumento contra uma autoria posterior do livro),
15:24); e também o conceito da vida propriamente excetuando algumas alusões bastante indiretas (Pro.
dita (11:30; 12:28; 13:4,12). 3:9,10). De fato, trechos de Provérbios, como 16:6 e
B. Esboço. Quase todos os esboços que se têm 21 :3, até parecem negar a necessidade dos sacrificios
traçado sobre o livro de Provérbios contêm de quatro leviticos (mas, cf. 15:8 e 21:27). O que se destaca no
a dez seções principais. As divisões naturais do livro, livro de Provérbios é o caráter vital da verdade (28:4 e
todavia, parecem indicar um esboço em oito pontos, 29:18). Citamos a última dessas referências: «Não
com base na autoria provável e nos estágios da coleção havendo profecia o povo se corrompe; mas o que
de unidades separadas, posteriormente coligidas em guarda a lei esse é feliz...
um único rolo escrito em hebraico. e o que se vê Embora o vocábulo «aliança» só ocorra em
abaixo: Provérbios por uma única vez (ver 2:16,17), não há
I. Instrução paterna: sabedoria versus insensatez que duvidar que esse conceito se faz presente no livro.
(caps, 1-9) A confiança, base de todo relacionamento de pacto, é
11. Provérbios de Salomão: primeira coleção (10: 1- umsine qua non (Pro. 3:5,7; cf. 22:19; 29:25). Deus é
22:16) mencionado, na maioria das vezes, por seu nome do
111. Palavras dos sábios: primeira coleção (22:17 - pacto,isto é, Yahweh (por nada menos de oitenta e
24:22) sete vezes). Também é evidente a relação entre pai e
IV. Palavras dos sábios: segunda coleção (24:23,24) filho, que tanto caracteriza a idéia de aliança (cf. Osê.
V. Provérbios de Salomão: segunda coleção, feita 11:1), conforme se vê em Pro. 3:12: «Porque o Senhor
pelos homens de Ezequias (caps. 25-29) repreende a quem ama, assim como o pai ao filho a
VI. Palavras de Agur (cap. 30) quem quer bem...
VII. Palavras de Lemuel (31:1-9) Um ponto que não pode ser esquecido, neste nosso
V[II. A esposa virtuosa (31:10-31). estudo, foi a marca deixada pelo livro de Provérbios e
Algumas dessas seções podem ser subdivididas. seus conceitos no Novo Testamento. Isso se faz sentir
Assim, para exemplificar, Scott (pâgs, 9 e 10) vê dez por meio de várias citações e alusões, conforme se vê
discursos de admoestação e dois poemas, além de nas duas listas abaixo, que servem apenas de
algumas declarações gnêmicas, na primeira seção, ao exemplos:
passo que Kitchen divide essa mesma seção em
catorze subdivisões. Na segunda seção, a diferença no A. Cltaçies
paralelismo entre os caps. 10-15 e 16:1-22:16 podé 3:7a Rom. 7:16
indicar uma divisão natural. A segunda seção, até 3:11,12 Heb. 12:5,6
Pro. 23:14 parece estar intimamente relacionada à 3:34 Tia. 4:6; I Ped. 5:5b
Sabedoria de Amenemope, enquanto que o resto 4:26 Heb. 12:13a
dessa seção não mostra tal relação, o que pode indicar 10:12 Tia. 5:20; I Ped. 4:8
outra divisão natural. Na quinta seção, talvez se deva 25:21,22 Rom. 12:20
perceber uma diferença entre os caps. 25-27 26:11 11 Ped. 2:22
(principalmente preceitos e similes) e os caps. 28 e 29 B. AIuêies
(principalmente declarações gnômicas, como em Pro. 2:4 - ' Colo 2:3
10:1-22:16). Quase todas as declarações disticas do 3:1-4 - Luc.2:52
livro de Provérbios encontram-se na segunda seção e 12:7 - \Mat. 7:24,27
em Pro. 28 e 29. Novamente, Scott subdividiu a sexta Se considerarmos que o livro de Provérbios é um
seção em um «diálogo com um cético.. (presumivel- extenso comentário sobre a lei do amor, então é certo
mente Agur; Pro. 39:1-9) e «provérbios numéricos e que esse livro canônico tem ajudado a pavimentar o
de advertência. (30:10-33), ao passo que Murphy caminho para Aquele que era tanto o Amor quanto a
divide essa seção após o vs. 14. Sabedoria encarnados, o Senhor Jesus Cristo.
XI. TeoI.... do Uvro Se perguntássemos por que motivo a última seção
Embora alguns estudiosos considerem o livro de desse livro termina com um hino de elogio à mulher
Provérbios como uma obra que ensina uma sabedoria virtuosa (Pro. 31:10-31), a resposta seria que a esposa
secular e prática, um exame mais cuidadoso de seu de nobre caráter forma um arcabouço literário
conteúdo revela que esse livro é extremamente juntamente com os discursos de introdução ao livro,
486
PROVÉRBIOS - PROVID:ENCIA
onde a Sabedoria é personificada como uma mulher. Em todas as coisas (Pro. 3:6).
Na vida diária, nenhum paralelo mais feliz poderia ser Não pode ser frustrada (I Reis 22:30,34; Pro.
encontrado como a personificação da sabedoria do 21:30).
que a de uma esposa de bom caráter. Por conseguinte, Os esforços humanos são vãos sem ela (Sal.
o livro de Provérbios começa e se encerra com chave 127: 1,2; Pro. 21:31).
de ouro.
Bibliografia. A fonte principal de. informações IV. Os Santos Deveriam:
sobre o livro dos Provérbios foi The Zondervan Confiar nela (Mat. 6:33,34; 10:9,29-31).
Pictorial Encyclopedia of the Bible, designada Z nas Depender inteiramente dela (Sal. 16:8; 139:10).
minhas referências bibliográficas. Agradeço a gentil Entregar suas obras a ela (Pro. 16:3).
permissão dada pela Zondervan Publíshíng House, Encorajar-se por meio dela (I Sam. 30:6).
Grand Rapids, Michigan, EUA, pelo uso desta obra. Orar, em dependência a ela (Atos 12:5).
Esta enciclopédia foi utilizada como fonte informativa Orar, para serem guiados por ela (Gên, 24:12-14;
na parte bíblica da minha enciclopédia e cerc~ de do!s 28:20; Atos 1:24).
e meio por cento do volume total desta encicíopédla
presente veio, por tradução, desta fonte. Além desta Resultado da dependência a ela (Luc, 22:35).
porcentagem, idéias e informações foram extraídas Vinculada ao uso de certos meios (I Reis 21:19 com I
desta obra sem uma tradução direta. Ver também Reis 22:37,38; Miq. 5:2, com Luc. 2:1-4; Atos
ALB AM E I IB KI ND WBC WES YO. 27:22,31,32).
Perigo para quem __ nega (Isa, 10:13-17; Eze. 28:2-10).
V. Flexível e Vigorosa
PROVID:!NCIA DE DEUS
A providência de Deus é suficientemente flexível
É o cuidado sobre todas as suas obras (Sal. 145:9). para incluir os homens livres... O seu plano é
I. É Exercida: suficientemente flexível para destacar o que há de
Na preservação de suas criaturas (Nee. 9:6; Sal. mais nativo em cada um de nós. O que praticamos
36:6; Mat. 10:29). desempenha papel preponderante no sucesso desse
No prover as necessidades de suas criaturas (Sal. plano.
104:27,28; 136:25; 147:9; Mat. 6:26). A providência de Deus é suficientemente vigorosa
Na preservação especial dos santos (Sal. 37:28; para excluir a possibilidade de um fracasso final. O
91:11; Mat, 10:30). plano de Deus encerra muitos retrocessos, mas ele
Na prosperidade dos santos (Gên, 24:48,56). jamais desiste. Algumas vezes ele pode recuperar-se
Na proteção dos santos (Sal. 91:3; Isa. 31:5). usando os restos que homens e mulheres deixaram
No livramento dos santos (Sal. 91:3; Isa. 31:5). para trás, os seus equivocas, seus ataques e seus
sacrificios. Um insensato conflito em família, como
Na orientação dos santos (Deu. 8:2,15; Isa. 63:12). aquele que envolveu José e seus irmãos, pode ser
No cumprimento de suas palavras (Núm, 26:65; usado por Deus para cumprir os seus propósitos (ver
Jos. 21:45; Luc. 21:32-33). Gên.45).
Na determinaçio dos caminhos dos homens O propósito da providência de Deus consiste em
(Pro. 16:9; 19:21; 20:24). preservar a vida não somente a duração da vida
Na determinação das condições e circunstâncias terrena, mas também a sua qualidade e' suas
dos homens (I Sam. 2:7,8; Sal. 75:6,7). realizações.
Na determinação do período da vida humana (Sal. VI. A Ajuda Divina Nas Horas Críticas
31:15; 39:5; Atos 17:26). Há ocasiões em que enfrentamos situações por
Na frustração dos designios dos impios (Êxo, demais difíceis para nós as vencermos sozinhos, e isso
15:9-19; 11 Sam. 17:14,15; Sal. 33:10). faz necessária a ajuda divina ou a intervenção divina.
Na frustração dos desígnios dos impios mediante o Quem já não experimentou em sua vida, em algum
bem (Gên. 45:5-7; 50:20; Fil. 1:12). tempo, esse tipo de ajuda divina?
Na preservação do curso da natureza (Gên. 8:22; Jô A tribulação, embora nos pareça sempre tão
26: 10; Sal. 104:5-9). desagradável, com freqüência nos serve de ajuda em
Na direção de todos os acontecimentos (Jos. 7:14; 1 nosso progresso espiritual, e não de empecilho,
Sam. 6:7-10,12; Pro. 16:33; Isa, 44:7; Atos 1:26). porque, em seu desenrolar, vamos obtendo as porções
No governo dos elementos (Jó 37:9-13; Isa, 50:2; apropriadas e necessárias de vitória e felicidade. (Ver
João 1:4,15; Nee. 1:4). o artigo sobre Sofrimento, Necessidade do).
Na determinação dos mais infimos detalhes (Mat, Luz que Brilha das Trevas
10:29,30; Luc. 21:18). Deus se move de forma misteriosa
É justa (Sal. 145:17; Dan. 4:37). Para realizar suas maravilhas.
É perenemente vigilante (Sal. 121:4; Isa. 27:3). Implanta seus passos no mar,
Abarca a tudo (Sal. 139:1-5). E cavalga por cima do tufão.
Algumas vezes é obscura e misteriosa (Sal. 36:6; No profundo, em minas insondáveis
73:16; 77:19; Rom. 11:33). De habilidades que nunca falham.
11. Tudo é Determinado Por Ela: Ele entesoura seus grandes desígnios,
Para a glória de Deus (Isa, 63:14). E põe em obras sua vontade soberana.
Para o bem dos santos (Rom. 8:28). (William Cowper)
Os ímpios têm de cumprir os desígnios dela (Isa, Pode-se perceber a atuação da providência divina
10:5-12; Atos 3:17,18). na vida do apóstolo Paulo. A simples leitura do livro
de Atos revela-nos que o autor sagrado sentia que
IH. Deve Ser Reconhecida: cada decisão importante que Paulo tomava de alguma
Na prosperidade (Deu. 8:18; I Cor. 29:12). maneira era inspirada por Deus, manifestada a
Na adversidade (Jó 1:21; Sal. 119:15). vontade de Deus ou em sua própria alma ou através
Nas calamidades públicas (A mós 3:6). de terceiros, que eram impelidos a prestar-lhe ajuda.
No nosso sustento diário (Gên. 48: 15). Quanto a isso, podem ser examinadas as seguintes
487
PRovINCIA - PROVOCAÇAO
referências: Atos 9:3-5; 11:28; 13:2; 16:10; 19:21; precisavam de poderosas forças militares para serem
21:11; 22:17-21; e 23:11. controladas e protegidas. Os governadores desses
territórios eram legados do imperador (no latim,
legatus Augusti pro praetore), e eram nomeados por
PRoVINCIA ele por um período indefinido, de acordo com seu
Esboço: discernimento. 3. Provincias imperiais governadas
1. Definição e Palavras Usadas por um procurador imperial (no latim, praefectus) da
2. As Provincias Romanas classe eqüestre. Esses procuradores também eram
3. A Provinda da Judéia designados pelo imperador, e governavam regiões
agrestes e não-desenvolvidas, algumas vezes tendo
1. De8alçIo e P8laua UaadaI como súditos populações sediciosas.
O oficio de um governante podia ser assim
chamado. Mais especificamente, porém, devemos 3. A Provlncla da ludéla
pensar no território assim governado. No hebraico, Para os estudiosos da Bíblia, essa é a porção mais
encontramos a palavra medinah , ..distrito», que atrativa. Em63A.C., a Judéia tomou-se provincia da
algumas vezes é traduzida por ..província», Esse termo Síria; mas, em 40 A.C., foi dada a Herodes, o
é usado por cerca de cinqüenta e seis vezes no Antigo Grande, como parte integrante de seu reino. Porém,
Testamento, mas por apenas quatro vezes indicando após a época dele, reverteu ao seu estado anterior. Os
governantes israelitas (distritos da época do rei procuradores romanos residiam em Cesaréia (ver
Acabe: I Reis 20:14,15,17,19). Outros usos apontam Josefo, Anti. 18.3,1, 55-59; Guerras 2.9,2, 171; Atos
para os administradores de distritos babilônicos e 23:23,33; 25:1). Ao praefectus era conferida consi-
persas, conforme se vê, por exemplo, em Esd. 2:1; derável autoridade, incluindo a questão da punição
4:15; 5:8; 6:2; 7:16; Nee. 1:3; 7:6; Est. 1:1; Ecl. 2:8; capital (Josefo, Guerras 2.8,1, 117). O Sinédrio judeu
6:8; Lam. 1:1; Dan. 2:47,49; 3:1-3,12,30; 8:2; 11:24. podia atuar, mas suas decisões estavam sujeitas à
A Septuaginta (tradução do Antigo Testamento para aprovação do praefectus . Isso posto, a punição capital
o grego) usa a palavra grega chóra, «país», como podia ser pressionada pelos membros do Sinédrio,
equivalente. Entretanto, a palavra grega basilela é mas precisava ser decretada pelo governador romano.
usada em Est. 1:3, e 8:9, enquanto que outra palavra Ver João 18:31; Atos 25:1-12. Pilatos só é figura
grega, eparchela, é usada em Est. 4:11. A primeira conhecida por nós devido à sua má decisão acerca de
dessas duas palavras significa ..reinos, e a segunda, Jesus. Em 36 D.C., Vitélio passou a governar a
..província», ..distrito». No Novo Testamento, essa Judéia, e Pilatos foi convocado a Roma, a fim de
última palavra é que é utilizada em Atos 23:23,24 e responder pelos erros cometidos (Josefo, Anti. 18.4,2,
25:1. Nos tempos do Novo Testamento, como até 88,89; Tácito, Anais 6.32).
hoje, no grego essa última palavra significa ..provin-
cia- ou território dirigido por um governador.
2. As Provlnd_ RollUUlU PROVOCAÇÃO
Originalmente, a palavra traduzida como ..provin- Todo pecado é uma provocação do homem contra
cía- denotava uma esfera administrativa. O praetor Deus, mesmo quando o homem também é ofendido,
urbanus (oficial) exercia autoridade sobre a urbana pois todo erro moral, em toda a criação, atinge a
provincia, uma área designada. Essa autoridade santidade divina. Davi, em seu adultério com
podia ser exercida dentro de alguma cidade (Livio Bate-Seba e assassinato do marido dela, ao reconhe-
6:42; 31:6), ou fora de uma cidade; mas nunca no cer seu duplo pecado, escreveu: ..Pequei contra ti,
segundo sentido, quando em foco algum território, o contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus
qual, era virtualmente um pequeno país, segundo olhos... ,. (Sal. 51:4). Uma provocação é algo que
eram as províncias romanas dos tempos neotestamen- reclama uma reação, seja boa seja má. O trecho de 11
tários. Esse antigo uso acerca do exterior de uma Cor. 9:2 contém o verbo «provocar» (em algumas
cidade é mencionado por Tácito (Anais 4:27). traduções; nossa versão portuguesa diz «tem estimu-
Suetônio (lu/. 19) empregou a palavra da mesma lado-), em um sentido positivo, mas em 11 Reis 23:26;
maneira que o fez Tácito, ao referir-se a bosques e Jó 17:2 e Eze. 20:28 encontramos a palavra hebraica
pastagens. correspondente, kaas, em um sentido negativo. A
As primeiras provincias italianas eram territórios expressão ..a provocação" ou ..a grande provocação- é
com alguma extensão. Entre 509 e 241 A.C., todas as usada para falar sobre a obstinação do povo de Israel,
menções às provincias aludem a territórios dentro da quando andava vagueando pelo deserto, tendo
Itália. Os cônsules e dois magistrados judiciais (no desperdiçado quarenta anos, antes de entrar na Terra
latim, praetors) governavam essas provincias. Mas, de Prometida. Ai encontramos as palavras hebraicas
241 a 27 A.C., também houve províncias fora da meribah (Sal. 95:8), ..contenção», e neatsoth (Nee.
I tâlia. Pertence a essa época o uso neotestamentário 9:18;26), ..desprezos».
do vocábulo. A ilha de Sardenha foi tomada de A passagem de Efê. 6:4 estampa a palavra no
Cartago, em 238 A.C., tendo-se tomado província tocante às relações pessoais, especialmente no caso de
romana em 227 A.C. Mas, antes disso, a ilha de pais que provocam insensatamente a seus filhos,
Sícílía se tomara provincia romana. Posteriormente, a mediante atos injustos e desarrazoados. Al-a palavra
Espanha foi governada como uma província. Procõn- grega usada é parorgizo; ..provocar além das
sules começaram a ser os governadores desses medidas», Isso alerta-nos para o fato de que certas
territórios, entre 27 A.C. e 180 D.C. formas de egocentrismo estão por detrás de atos
Durante a república romana, todas as provincias provocantes, e que até entes amados podem tomar-se
ficaram sob a jurisdição do senado; mas, a começar nossas vitimas. Outra palavra grega que merece a
por César Augusto, as provincias foram divididas em nossa atenção é paraze/óo, (Rom. 10:19; 11:11,14; I
três classes: 1. as dez provincias mais antigas Cor. 10:22), que significa "provocar com ciúmes».
(senatoriais), que não precisavam de grandes forças Finalmente, devemos meditar sobre o vocábulo grego
militares, ficaram sob o controle do senado. parapikraino, ..provocar abertamente» (Heb, 2:16),
Ex-cônsules eram os governadores dessas províncias. no caso da obstinação do povo de Israel, no deserto.
2. Doze províncias ficaram sob a administração
imperial. Todas elas eram áreas de fronteira, e •••••••••
488
PROXIMO - PRUD:ENCIA
PROXIMO Êxo, 3:22; 11:2 e Eze. 16:26. Também poderiamos
1. Palanu En...ohrIdu pensar no livro do profeta Jonas, que é o «João 3:16»
Precisamos considerar quatro palavras hebraicas e do Antigo Testamento. Entretanto, essa visão mais
uma grega: espiritual.não conseguiu capturar a imaginação da
a. Rea, «associado», «companheiro». Mas tem uma corrente principal do judaísmo, que cada vez mais
larga aplicação, incluindo até mesmo objetos inani- foi-se tomando uma fé exclusivista.
mados (ver Gên. 15: 10). Pode estar em foco um amigo A mais significativa passagem neotestamentária
intimo (Pro. 26:10), ou um amante (Can. 5:16), ou o sobre a definição de quem é o nosso «próximo», e o
marido de uma mulher (Jer. 3:20). Essa palavra que isso deveria significar para nós, acha-se na
hebrai~a,. pois, destaca como próximo uma pessoa parábola do Bom Samaritano, em Luc. 10:29-37. Ver
que é Intima de quem fala, em um relacionamento o artigo chamado Samaritano, Parábola do Bom. Ver
onde imperam laços de amizade (ver Êxo, 20:16, 17; também sobre Bom Vizinho. O pr6ximo é sempre
Deu. 5:20). Essa palavra hebraica ocorre por cento e alguma pessoa em necessidade, ao qual devemos
oitenta e nove vezes. socorrer, sem importar se essa pessoa vive perto ou
longe de nós, sem importar sua raça ou religião. Do
b, Shaken, «concidadão», «vizinho». Está em foco ponto de vista da criação (posto que não do ponto de
alguém que mora pr6ximo, e de quem se pode pedir vista. da regeneração), todos os homens são filhos do
algo emprestado (ver Êxo, 3:22; 12:4; Pro. 27:10). Tal mesmo Deus, e todos eles são irmãos. Assim, um
vocábulo também era usado para indicar cidades prôximo, nesse amplo sentido, tem direito ao nosso
próximas (ver ler. 49:18). O termo é utilizado por amor. Ora, esse ensino era totalmente estranho ao
vinte vezes, como um substantivo, pois também era
um verbo, com o sentido de «residir», etc. judaísmo exclusivista dos dias de Jesus; mas, embora
concorde com a nossa teologia cristã, raramente é
c. Qarob, «próximo», referindo-se a alguém ou a observado na nossa prática. A real lei de Deus
algum lugar; no caso de pessoas, significava consiste em amarmos ao próximo como a nós mesmos
"parente». Ocorre por setenta e cinco vezes nas (ver Tia. 2:8); mas quanto a isso temos pouca
E.áginas do Antigo Testamento. Alguns exemplos: experiência, exceto como uma proposição teológica.
Exo. 32:27; Jos. 9:16; Sal. 15:3; Eze. 23:5,12;
Gên. 19:20; Isa. 13:13; Joel 3:14; Sof. 1:14. Essas Paulo também mencionou essa lei, no contexto da
duas últimas referências mostram que a palavra natureza do amor cristão (ver Rom. 13:9,10). O amor
também significava «perto» temporalmente. ao próximo não o prejudica. Antes, cumpre todos os
requisitos da lei, que encoraja o bem e proíbe que se
d. Amith, «colega», «igual», «prôxímo-. Essa faça mal ao prôximo (ver Gál. 5:14, que reitera esse
palavra hebraica aparece por doze vezes no Antigo mandamento). Um amplo ensino espiritual haverá de
Testamento: Zac. 13:7; Lev. 6:2; 18:20; 19:11,15, ser, finalmente, anunciado entre todos os homens (ver
17; 25:14,15,17. Essas duas últimas referências Heb. 8:11). quando então a espiritualidade do ser
mostram que ela pode ser traduzida em por- humano será elevada ao ponto dele deixar de ser um
tuguês como «outro», embora dando a entender guerreiro tribal, conforme hoje se vê. Ver o artigo
outro ser humano, o próximo. geral sobre o Amor, e também aquele sobre o Fruto
e. Ptesion, «próximo», «viziIÍho», «concidadão». do Espirito.
Essa palavra grega aparece por dezessete vezes no
Novo Testamento: Mat. 5:43 (citando Lev, 19:18);
19:19; 22:39; Mar. 12:31,33; Luc. 10:27,29,36; João PRUDiNCIA
4:5; Atos 7:26; Rom. 13:9,10; 15:2; GAl. 5:14; Efé. Esboço:
4:25; Tia. 2:8 e 4:12. 1. O Vocábulo
2. Easinameatol BlbUeo. Acerea do Prómno 2. Na Filosofia
Para um israelita, um outro israelita era o próximo, 3. Considerações Bíblicas
porquanto era um irmão, participante, com ele, do 1. O Vocábulo
mesmo pacto com Abraão (ver Gên. 12:1-3). Dentro O vocábulo português prudência vem do latim
desse contexto foi dado o mandamento de amar ao prudens, «conhecedor». A forma nominal prudenti«,
ê
próximo como a si mesmo (ver Lev. 19:18). Esse A prudência consiste no uso habilidoso do conheci-
mandamento. foi universalizado no Novo mento, no exercício da sabedoria. Trata-se de um
Testamento; ao passo _que no Antigo Testamento era cuidado habitual de evitar erros e seguir o mais sábio
restringido aos participantes do pacto abraâmico. "curso de ação acerca de qualquer questão. Envolve
~ssiO?-, a interpretaçâo rabinica dizia que aos um sábio estado mental ou espiritual, que resulta em
Israel~tas fOI ordena~o que amassem ao próximo, e atos ditados pela sabedoria. A palavra latina traduz o
que ISSO subentendia que eles deveriam odiar ao termo grego phr6nesis, «bom senso», «sabedoria
não-prôximo, ou ao estrangeiro, ou ao inimigo. Jesus prática». Esse termo grego ocorre por duas vezes no
referiu-se a essa interpretação equivocada em Mat. Novo Testamento: Luc. 1:17; Efê, 1:8. O termc
5:43 as. E o Senhor reverteu essa idéia rabínica tão cognato, phrônimos, foi usado por catorze vezes
radicalmente que chegou a ordenar que amássemos Mat. 7:24; 10:16; 24:45; 25:2,4,8,9; Luc. 12:42; 16:8';
aos nossos próprios inimigos, determinando que Rom. 11:25; 12:16; I Cor. 4:10; 10:15; 11 Cor. 11:19.
orássemos em favor daqueles que nos perseguem (ver E a forma verbal, phronéo, figura por vinte e sete
Mat. 5:44). e desse modo que um crente chega a vezes: Mat. 16:23; Mar. 8:33; Atos 28:22; Rom. 8:5;
tomar-se um «perfeito» filho do Pai celeste (vss. 45.46t 11:20; 12:3,16; 14:6; 15:5; I Cor. 13: 11; 11 Cor. 13:11;
d'?tado de uma elevada natureza moral e espiritual. Gâl. 5:10; Fil. 1:7; 2:2,5; 3:15,19; 4:2,10; Col. 3:2; I
DIZ Mat. 5:48: «Portanto, sede v6s perfeitos como Tim. 6:17. Essa forma verbal significa «pensar»,
perfeito é o vosso Pai celeste». Naturalmente, essa «exercer bom juizo».
atitude para com o próximo faz parte da manifestação 2. Na Filosofia
geral da lei do amor. A prática da lei do amor é prova Sócrates acreditava que conhecer-se verdadeiramen-
da regeneração e da espiritualidade do individuo, te serve de garantia para que o ser humano aja
segundo aprendemos em I João 4:7 ss, sabiamente. A prudência aparece como uma das
O Antigo Testamento, de fato, emprega em sentido quatro grandes virtudes (juntamente com a coragem,
mais amplo o termo «próximo», conforme se vê em o autocontrole e a retidão), nos escritos de Platão. Os
489
PRUD~NCIA - PSEUDEPIGRAFOS
tradutores, com freqüência, têm usado a palavra pedaço de metal. Seu uso é o mesmo desde a
«sabedoria. como tradução, nesse contexto. Aristóte- antiguidade até os nossos dias. Os pedreiros
les fazia da phrónesis uma «sabedoria prâtica», ao usavam-no e usam-no para encontrar a verda-
passo que a «sabedoria. seria a sophla, de natureza deira perpendicular, - para que possam construir
teórica e especulativa, como base de toda manifesta- paredes, edificios, templos, etc., que se mantenham
ção de sabedoria. Os pensadores cireneus faziam da na vertical e não caiam. Visto que o prumo verifica a
prudência um dos alvos principais da vida. Tomás de verdadeira perpendicular, simboliza a justiça, ou as
Aquino atribuia a prudência original a Deus, que condições de correção e justeza. A arqueologia tem
teria organizado todas as coisas. Hobbes dizia que a demonstrado a existência desse instrumento pelo
prudência deriva-se da experiência em geral, ao passo menos desde 2900 A.C., no Egito.
que a sabedoria derivar-se-ia da ciência. Paley Usos Figurados. 1. Em Am6s 7:7,8, o prumo é
pensava que a prudência e a virtude são uma e a usado para averiguar a verticalidade de uma parede,
mesma coisa. O bispo Butler opinava que a prudência em uma visão desse profeta. O povo de Israel também
consiste no auto-afeto razoável, sendo um dos precisava ser examinado, a fim de que suas
principais elementos da ética, assumindo lugar iniqüidades fossem evidenciadas e corrigidas. 2. Em
paralelamente" à toda-poderosa consciência, a força 11 Reis 21:13, o prumo simboliza o juizo divino contra
orientadora de toda ação ética. Por sua vez, Sidgwick os habitantes de Jerusalém, que se tinham enlameado
acreditava que a prudência é uma qualidade intuitiva com toda espécie de práticas injustas, duvidosas e
do homem, pronta p.ara ser usada por todas as distorcidas. 3. Em Zac. 4:10, esse pequeno instru-
pessoas razoáveis. Alinhar-se-ia lado a lado com mento simboliza a determinação de Deus em impor
outros principios, como a justiça e a benevolência, um correto julgamento, requerendo dos homens uma
que seriam outras virtudes capitais. Conjuntamente, a verdadeira retidão. Como vimos, todas essas referên-
prudência. a justiça e a benevolência formariam a cias pertencem ao Antigo Testamento, o que mostra
base de toda ética. que esse instrumento sô aparece ali, e nunca é
3. Considerações Blblicas mencionado no Novo Testamento. No hebraico,
O termo grego phrónesis ocorre apenas duas vezes «prumo» é anak (em Am6s); misbqoletb ou mishqe-
em todo o Novo Testamento (Luc, 1:17 e Efé. 1:8), leth, em 11 Reis 21:13 e Isa. 28:17; e eben bedil;
que a nossa versão portuguesa traduz por «prudência. "pedra de estanho», em Zac. 4:10. Também é claro
em ambos os casos. No primeiro caso. há uma alusão que as menções a esse instrumento sempre envolvem
A natureza e aos atos de João Batista. precursor de um sentido metafórico, e nunca literal.
Jesus Cristo; no segundo caso, há menção «A
sabedoria e A prudência. empregados por Deus em PSEUDEPIGRAFOS
sua redenção e nos atos restauradores do mistério de Esboço:
sua vontade. Ver sobre Mistério da Vontade de Deus. I. A Designação
No Antigo Testamento. menciona-se aquela qualida-
de de bom senso que leva as pessoas a agirem com 11. Caracterização Geral
prudência (ver Amôs 5:13). Porém, também há uma 111. Classificações
prudência negativa que opera a malignidade (Pro. IV. Lista Básica de Obras Pseudepigrafas
12:23; 14:15; Gên. 3:1). A verdadeira prudência V. Preservação Cristã da Coletânea
consiste na aplicação prática da sabedoria. VI. Influência dos Livros Pseudepigrafos
I. A ne.Ip-çao
PRUDENTE Essa palavra portuguesa vem do grego. p8eudepl-
No latim, Pude_. «modesto», «envergonhado». graphOl, «escrito falso. ou «escrito espúrio». Apesar
..tímido», Esse era o nome de um cristão de Roma que de que alguns dos escritos da coletânea assim
se juntou a Cláudia e a outros no envio de saudações a conhecida são verdadeiramente «falsos», no sentido
Timóteo, conforme se lê em 11 Tim. 4:21. Ele e seus primário de que foram invenções, o termo é usado
amigos são mencionados somente aqui. em todo o para aludir, especificamente. à idéia de «falsa
Novo Testamento. autoria», Em outras palavras, os livros assim
chamados não foram escritos pelos autores aos quais
Por mera coincidência de nomes. o poeta latino são atribuídos. Para exemplificar, Enoque não foi
Marcial, em seus Epigramas (I. 31; IV.13,29; V.48; escrito por aquela personagem veterotestamentária
VI.58; VII. 11.97) falou acerca de um certo Prudente e chamada Enoque; Tomé não foi escrito pelo apóstolo
sua esposa. Cláudia, que eram britânicos de desse nome; e o Apocalipse de Abraão não foi escrito
nascimento. E alguns eruditos têm-se esforçado por pelo patriarca Abraão.
associar esse casal com aquelas pessoas mencionadas
no Novo Testamento; porém, certamente isso é um Não devemos esquecer que era costume comum na
exercicio de futilidade. antiguidade atribuir um livro qualquer a alguma
pessoa antiga e bem conhecida. Isso não sucedia
A Igreja bizantina comemora sua data em 14 de apenas no campo religioso, mas também secular,
abril. enquanto que a Igreja de Roma o faz a 19 de como nas obras filos6ficas e nas obras de literatura em
maio. Naturalmente, a Igreja cristã lhe atribui geral. Os motivos da prática variavam. Na maioria
importância como santo e mártir. Além disso. a dos casos, podemos supor que havia o desejo de obter
tradição faz dele um senador, localizando sua uma melhor distribuição de uma obra recente,
igreja-residência no local da moderna igreja de Santa mediante a glorificação de algum nome famoso. Mas
Prudencia. Usualmente, as tradições são muito muitos autores também desejavam honrar o nome
imaginativas. não sendo fiéis aos fatos hístôricos, de usado; e. em alguns casos. tencionavam promover as
W modo que é dificl1imo dizer se há qualquer verdade idéias e as tradições dos alegados autores.
em todas essas tradições acerca de Prudente.
O termo pseudeplgrafos, Quando usado para
indicar livros relacionados ,à Bíblia, usualmente
refere-se aos livros pseudepigrafos do Antigo Testa-
PRUMO mento. Há livros pseudepigrafos do Novo Testamen-
O prumo consiste de um fio com um peso qualquer to. mas usualmente são designados livros apócrifos.
em uma das extremidades. como uma pedra ou um Para efeito de distinção, os livros pseudepigrafos do
490
PSEUDEPIGRAFOS
Antigo Testamento formam uma coletânea separada não é errado empregar esse titulo geral para indicar a
dos livros apócrifos. e, naturalmente, também coletânea inteira.
separada dos cânones palestino e alexandrino do :e
7. Conteúdo. impossível caracterizar tio grande
Antigo Testamento. No cânon alexandrino estão coletânea-quanto ao seu conteúdo. Tudo quanto faz
Incluídos vários livros apócrifos, mas isso não se dá parte da religião aparece ali. desde ensinos éticos até
com os livros pseudepígrafos, embora alguns deles relátos de experiências místicas, desde profecias até
tivessem alcançado considerável prestigio, tendo exposições escrituristieas, desde história até poesia,
exercido definida influência sobre as idéias do desde filosofia até liturgia, desde apologética até
judaísmo helenista. e. dai. sobre certas idéias do Novo didática. Mas as ênfases principais silo ensinos,
Testamento. Tenho provido artigos separados sobre apologética. temas filosóficos, pseudonarrativas com
os mais importantes dentre esses livros; e nos artigos as devidas lições morais e espirituais, a busca da
sobre os livros pseudepígrafos (como o Enoque espiritualidade por parte da alma. principalmente
Etiope, também chamado I Enoque, ou como o através de experiências místicas. Além disso. visões e
Enoque Eslavõnico, também chamado 11 Enoque) iluminações, a ascensão a esferas celestiais, a descida
tomar-se-á patente, para o leitor, que esses livros a esferas infernais, com a conseqüente aquisição de
desempenharam um importante papel como influen- conhecimentos. Mas, se quisermos salientar um tema
ciadores de idéias, mesmo quando não foram maior, então temos as expectações apocalípticas dos
diretamente citados. I Enoque foi citado em Jud. 14 ss autores diversos. O leitor poderá verificar isso no
(de I Enoque 1:9); e o relato da descida de Cristo ao artigo separado sobre o Enoque Etlope (l Enoque). O
hades, em I Ped. 3:18-4:6, foi verbalmente inspirado conteúdo dessa coletânea ainda é mais variegado do
por passagens desse livro, embora com aplicação um que o do Antigo Testamento, contendo vários tipos de
tanto diferente. literatura que não aparecem naquela coletânea
n. CuaetedzaçIo Geral sagrada.
Vários pontos importantes devem ser salientados no 8. Classificações segundo as presumíveis proveniên-
tocante ao estudo desses livros: cias. Essa coletânea é por demais variada para ser
1. Eles constituem um corpo bastante extenso de simplesmente classificada em blocos. Porém, pode-se
literatura. uma espécie de terceiro desenvolvimento: fazer a tentativa de arranjar esse material de acordo
a. os livros canônicos do Antigo Testamento; b. os com dois grandes blocos. Ver a seção 111 quanto a
livros apócrifos, os quais, quanto a alguns deles, detalhes.
obtiveram posição canônica entre os judeus da
dispersão, e então no cânon católico romano do m. a-Hleaça.
Antigo Testamento; c. os livros pseudepigrafos, Nenhum único método de classificaçAo tem
alguns poucos dentre os quais obtiveram situação merecido a aprovação de qualquer grande número de
canônica, pelo menos no parecer de alguns individuos eruditos. Mas um método favorito de classificação é
ou localidades limitadas, mas que, considerados como aquele de acordo com a presumível proveniência. Se
um todo, exerceram considerável influência sobre utilizarmos esse método da procedência, então a
idéias do judaismo helenista, as quais então classe maior é a do grupo hebreu-aramaico ou
encontraram caminho para o Novo Testamento. palestino. As principais obras dessa alegada prove-
2. Como uma coletânea, a maior parte desses livros niência são: Testamentos dos Doze Patriarcas;
pode ser datada entre 200 A.C. e 200 D.C. quase Jubileus; Martirio de Isaías; Salmos de Salomão:
todos eles são de natureza apoca1iptica. Ver o artigo Ascensão de Moisés; o Apocalipse Siriaco de
geral sobre Apocalípticos, Livros (Literatura Apoca- Baruque; o Testamento de Jô: os Paralipomena de
liptica), Jeremias, o Profeta; a Vida de Adio e Eva; as Vidat
3. Visto que muitos desses livros versam sobre dos Profetas. Além desses, há os livros gregos ou
questões apocalípticas, sua mais forte influência se dá alexandrinos, que também são conhecidos como
na área da tradição profética. Isso usualmente grupo judaico-helenista. Essa coletânea contém a
surpreende aqueles que tomam conhecimento do fato Carta de Aristéias; alguns dos Oráculos Sibilinos; IH
pela primeira vez-o esboço profético em linhas mais Macabeus (relatos lendários); IV Macabeus (obra de
gerais, presente no Novo Testamento, já aparecia em I cunho filosófico); o Enoque Eslavônico (11 Enoque); e
Enoque. Meu artigo sobre esse livro provê ampla parte do Baruque escrito em grego.
ilustração sobre esse fato. embora muitas pessoas Classificação Segundo o Gênero Literário. Talvez
fiquem consternadas diante disso. esse seja o melhor critério de classificação. Cinco
4. Apesar da maior parte desses livros nunca ter distintos tipos literários podem ser distinguidos nos
atingido posição canônica, eles são bem representados livros pseudepigrafos: 1. Narrativas, principalmente
entre o material achado nas cavernas próximas do histórias: Jubileus; a Vida de Adão e Eva; os
mar Morto. Ver sobre Manuscritos (Rolos) do Mar Paralipomena de Jeremias. (A palavra paralipomena,
Morto. Isso significa que em Jerusalém, e não que está no plural, signibca «coisas passadas», ou
somente entre os judeus da dispersão, eles eram seja, não mencionadas ou omitidas. Portanto, essa
importantes. Desempenharam um importante papel obra alega contar coisas que o livro can&nico de
durante o período intertestamentário, e são valiosos Jeremias deixou de lado). 2. Testamentos, como o dos
até hoje devido à luz que lançam sobre o pano de Doze Patriarcas e o de Jô, 3. Escritos litúrgicos, como
fundo judaico do Novo Testamento. Salmos de Salomão e os Hodayoth dos manuscritos do
S. Os escritores cat6licos romanos preferem o nome mar Morto. 4. Apologias, como a Carta de Aristéias,
apôcrifos quando se referem aos livros dessa 111 e IV Macabeus e alguns dos Oráculos Sibllinos. 5.
coletânea. provavelmente porque aqueles livros que os Apocalipses, como os de Enoque, Moisés e Baruque.
grupos protestantes chamam de ap6crifos são livros Muitos livros. como é õbvio, contêm vários desses
canonicos para os católicos romanos. gêneros literários, pelo que esta classificação também
6. A coletânea dos livros pseudepigrafos inclui é inadequada. embora útil.
muitas obras anônimas, pelo que, estritamente IV. u.ta BMIea de Obra ~
falando, o termo pseudepigrafo não pode ser aplicado A obra em dois volumes, tbeOld T.........
à coletânea inteira. Porem, visto que hâ tio grande PleacleptaraP.... de autoria de James H. Charles-
número de obras verdadeiramente pseudepigrafas, worth (Doubleday & Co., Nova Iorque). contém cerca
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PSEUDEPIGRAFOS - PSEUDO-
de .sessenta e cinco livros dessa natureza. Apresentei volva-se para os livros pseudepigrafos a fim de
artigos separados sobre os seguintes: entender o desenvolvimento que teve lugar na teologia
Abraão, Testamento de do judaísmo, após o encerramento do cânon do
Adão e Eva, Vida de Antigo Testamento.
Aristêias, Carta de 2. Algumas Idéias Proeminentes Desenvolvidas
Assunção de Moisés Nesse Período. a. O conceito da alma tomou-se
Baruque, Apocalipse Grego de universal no judaísmo, algumas vezes vinculado à
Baruque, Apocalipse Sirlaco de idéia da reencarnação; b. um inferno em chamas
Enoque, Etíope (I Enoque) tomou-se doutrina para alguns judeus; c. foi
Enoque, Eslavônico (11 Enoque) desenvolvida uma elaborada angelologia, incorporan-
Esdras (I ou IV) do idéias persas, mas, ocasionalmente com adições
Isaías, Martírio e Ascensão de inéditas e fantásticas; d. foi dada grande ênfase ao
Jeremias, Paralipomena de apocalipticismo; e. doutrinas messiânicas, algumas
José, Oração de delas de elevada ordem, bem como o esboço geral das
Jubileus, Livro dos predições proféticas; f. a doutrina da ressurreição dos
Macabeus (111) - sob o titulo Macabeus, Livros mortos ficou estabelecida.
dos 3. Sobre o Novo Testamento. O trecho de Jud. 14 ss
Macabeus (IV) - sob o titulo Macabeus, Livros é o único empréstimo direto que se vê no Novo
dos Testamento desses livros (extraído de I Enoque).
Salmos de Salomão Todavia, há vários empréstimos verbais, o que indica
Oráculos Sibilinos que os autores do Novo Testamento estavam
acostumados com aqueles livros, não hesitando em:
Testamentos dos Doze Patriarcas incorporar as idéias de alguns deles em seus escritos.
Oferecemos detalhes adicionais sobre os livros de Acima de tudo, o que pode ser facilmente
literatura apocaliptica no artigo intitulado Apocalípti- comprovado, os autores do Novo Testamento incor-
cos, Livros (Literatura Apocallptica), poraram em suas obras o esboço profético geral dos
V. Praervaçio CrIaS da Coletinea livros pseudepigrafos, incluindo muitos termos e
Apesar dos livros pseudepigrafos serem de origem noções que se aplicam ao Messias. Ver sobre o
judaica, não teriam sido preservados sem os labores Enoque Etíope, quanto a uma completa demonstra-
de escribas cristãos. Foram, pois, essencialmente ção. Também não poderíamos deixar de mencionar
preserya:dos em grego, latim, siríaco, eti6pico, c6ptico aqui o conceito de um inferno em chamas, tomado
e armemo. Com a descoberta dos Manuscritos (Rolos) por empréstimo de I Enoque. O relato sobre a
do ~ar Morto (vide), alguns desses livros foram Descida de Cristo ao Hades (vide), que se acha no
confirmados como de grande antiguidade, anteriores Novo Testamento, verbalmente é bastante similar ao
ao trabalho de amanuenses cristãos. Apesar dessa relato em I Enoque.
coletânea ser men?s fa~orecida, e, portanto, menos « ••• não é exagero dizer-se que é impossível
copiada pelos rabinos Judeus, obtiveram um certo compreender o pano de fundo teológico do Novo
fav;or .entre os cristãos, a começar por alguns dos Testamento à parte do estudo desses e de outros
propnos autores sagrados do Novo Testamento, os escritos judaicos pré-cristãos" (Z).
quais incorporaram idéias (especialmente aquelas Bibliografia. AM CH E ID J ND RU(l064) Z
atinentes a predições ~proféticas). E os apologistas
cristãos acharam nesses livros algum material de
val~r, co~o aquele que enfatiza questões devocionais.
MUItas interpolações feitas por escribas cristãos PSEUDO-DIONtSIO
penetraram nos textos desses livros, de tal forma que Os autores antigos costumavam atribuir suas obras
nem sempre é fácil distinguir essas interpolações dos a algum outro autor famoso, a fim de honrar a este
escritos originais. Esses livros serviram de modelo último ou promover as suas idéias, ou meramente a
para obras cristãs similares, especialmente aqueles fim de obter maior prestigio para os livros que
atualmente chamados Apócrifos (vide, mormente escreviam. E isso sem importar se essas obras eram de
aquela seção que trata dos livros apócrifos do Novo natureza bíblica, secular ou filosófica. Algum autor
Testamento). desconhecido aproveitou-se do nome de Dionisio, o
VI. lDOumcla dos UvnMI P.euclep~os Art:0pagita, (ver Atos 17:34), para sua própria obra.
1. No Judaísmo Helenista. O período intermediário O incrível é que tal identificação foi seriamente
entt:e o Antigo e o Novo Testamentos foi um tempo considerada durante a maior parte da Idade Média.
fértil quanto ao desenvolvimento e mistura de idéias Mas, visto que tal autoria é falsa, finalmente a obra
O antigo judaísmo .absorveu muitas idéias que nã~ passou a ser conhecida como Pseudo-Diontsio, Esse
apareciam no próprio Antigo Testamento. A idéia da autor desco~ecido usou ~ escritos de Proclo (vide),
«al~a» encontrou guarida na teologia judaica, após um famoso filósofo neoplatônico, como a base de uma
muitos séculos prrmeíramente de incredulidade e série. de tratados acerca c!e Deus, de idéias e teologia
então, de obscurantismo. As chamas do inferno for~ mística, e do neoplatonismo em geral (vide). Essa
acesas pela primeira vez em I Enoque uma idéia obra foi originalmente escrita em grego, mas então foi
transfc:rida então para o Novo Testamento. O esboço traduzida para o latim por Erigena (vide). Hugo de
essencial da tradição profética foi elaborado durante Saint Victor escreveu comentários sobre a obra como
esse período intertestamentário, conforme fica com- também o fizeram Roberto Grosseteste, Alberto
provado no artigo chamado Enoque Etlope. Ascen- Magno e Tomás de Aquino. Isso indica que tal escrito
sões aos céus e descidas às regiões infernais circulava consideravelmente, dotado de grande
tomaram-se telD;as populares. Desse modo, os livros prestigio entre autores da Idade Média.
pseudepígrafos (juntamente com os escritos apócrifos, Idél_
com os livros de Josefo e com os manuscritos do mar 1. A revelação, - que nos é desvendada nas
Morto) vieram a outorgar-nos discernimento sobre a Escrituras, toma-se a nossa primeira linha de
naturez~ do pensa.mento religioso e filosófico dos conhecimentos. Contudo, seria mister aplicar o
tempos judeu-helenistas. E: necessário que o estudioso conceito da chamada «teologia negativa» às Escrituras
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PSEUDO-MATEUS - PSEUDONIMO
e a todos os demais escritos que reivindicam revelar foram submetidos ao teste da água amargosa, e o
algo a respeito de Deus. Deus não pode, realmente, próprio Aõiatar misturou a bebida para eles.
ser descrito em termos antropomórficos, embora o Naturalmente, não foram desaprovados. Então Maria
antropomorfismo seja utilizado pelo homem, devido à foi entregue aos cuidados de losé, com a-condição de
sua falta de conhecimento e devido à ausência de que outras virgens a acompanhassem. Elas receberam
melhores meios de conhecimento. Assim sendo, a tarefa de fazer um véu para o templo. Quanto à
sempre poderemos dizer que «Deus não é isto» que hist6ria da natividade, foi ali que um boi e um burro
dizemos sobre o homem, para então tolamente teriam contemplado a cena.
atribuirmos tais qualidades a Deus, em forma Os capitulos dezoito a vinte e quatro contam a
expandida. Antes, fatiamos bem em aplicar uma jornada da santa familia ao Egito, e aludem a dois
espécie de teologia superlativa, conforme a qual Deus relatos que presumivelmente cumpriram as profecias
é encarado como um Superser, dotado de superuni- contidas em Sal. 148:7. Animais ferozes ficam mansos
dade e de superbondade. e misturam-se entre as ovelhas (ver Isa, 11:6,7;
2. Porém, além da teologia negativa e da 65:25). Houve milagres fantásticos. Uma palmeira faz
superteologia, precisamos obter maiores discernimen- uma mesura, a fim de oferecer os seus frutos, e
tos quanto à teologia mística, Ver sobre o Misticismo. trezentos e sessenta e cinco idolos prostram-se diante
Somente as experiências misticas podem conferir-nos de lesus e Maria.
alguma substância real no tocante a Deus e à alma. Do capitulo vinte e cinco até o fim encontra-se o
Esse método transcende à percepção dos sentidos e à Evangelho da Infância de Tomé, embora com
razão. acréscimos e eliminações. Nesse evangelho, José
i As metáforas da luz e das trevas são úteis para aparece como um carpinteiro inepto, que serrou uma
que possamos entender uma série de coisas que viga curta demais, a qual lesus precisou esticar
começa com Deus e termina com o homem. A luz mediante seu poder miraculoso. Mas no livro
divina banha a todos os seres; podemos ser Pseudo-Mateus, esse erro de cálculo é atribuído a um
iluminados; as forças das trevas resistem a essa luz, aprendiz, e não a José. Tudo é muito divertido, mas a
mas podemos vencê-las. O amor unifica a todas as verdade é ofendida em todos os sentidos.
coisas, pois o amor é a maior de todas as iluminações
e tende para a unidade. O ódio, por sua vez, engendra
a discórdia. Não podemos conhecer a Luz por meio da PSEUDONIMO
razão; mas a luz divina ilumina-nos para que
possamos conhecer a verdade, incluindo aquela Essa palavra indica aquela pritica literária em que
verdade prática do poder unificador do amor. alguém escreve com um nome ficticio. Os livros
pseudeplgrafos (tanto do Antigo quanto do Novo
4. Uma hierarquia celestial inteira está envolvida Testamento) são exemplos primordiais dessa prática.
na transmissão da luz divina aos. homens. Neste Alguns eruditos pensam que a epistola aos Efésios foi
mundo, essa luz, por sua vez, seria transmitida e escrita por algum discipulo de Paulo, que se utilizou
estaria na dependência a uma hierarquia eclesiástica. de seu nome. No artigo sobre esse livro, discuto acerca
Escritos. Sobre os Nomes Divinos; A Teologia do problema, sob Autoria. Outro tanto é dito acerca
Mlstica; A Hierarquia Celestial; A Hierarquia de I Pedro. Seja como for, essa prática era comum nos
Eclesiástica. circulos tanto religiosos quanto seculares. E os
antigos, ao que parece, não viam qualquer erro nessa
prática. Era um artificio para aumentar o prestigio de
PSEUDO-MATEUS, EVANGELBO DO uma obra escrita, permitindo-lhe umacirculaçio
Dois evangelhos extracanônicos estio por detrás mais ampla, ao mesmo tempo em que honrava ao
dessa obra, o Protevangelho de Tiago e o Evangelho alegado autor e promovia as suas idéias.
da Infância de Tomé, acerca dos quais ofereço O Plead&Dimo e a MonIIdade
artigos. Ver também sobre Apócrifos, na parte que
trata sobre o Novo Testamento, no que concerne a A prática de usar o nome de outras pessoas
uma descrição geral desse material. O Pseudo-Mateus (famosas, naturalmente) era tio generalizada na
é uma compilação latina tardia, baseada essencial- antiguidade, e envolvia tantas religiões, ou, pelo
mente sobre esses citados evangelhos apócrifos. Por menos, tantos escritores piedosos, que só podemos
sua vez, tomou-se uma fonte da obra Nascimento de concluir que os antigos não tinham as mesmas
Maria. Um nome alternativo do Pseudo-Mateus é impressões que nós acerca do que pensamos sobre o
Liber de Infantia, e
assunto. até provável que eles pensassem que, desse
O Pseudo-Mateus tem exercido grande importância modo, a pessoa cujo nome era usado, era honrada,
como se suas idéias e ideais estivessem sendo
histórica no mundo da literatura religiosa, visto que promovidos.
foi com base nessa obra que surgiram outros
evangelhos narrando a história da Infância de Jesus, UIO e PopabldUde
já na Idade Média. Estes serviram para inspirar a :e surpreendente quio populares tomaram-se
imaginação religiosa, as obras de arte e a poesia. algumas obras escritas sob pseudônimo, propagando-
Cartas espúrias, de Jerônimo ou para ele, foram se tremendamente. Não 'podemos supor que isso
adicionadas, a fim de emprestar-lhe prestigio e ocorria meramente porque alguns nomes famosos
fomentar sua circulação. Eles identificaram esse tivessem sido vinculados a elas. Algumas de tais obras
material com o Evangelho dos Hebreus, ao qual tinham um valor intrinseco. Mas a maioria delas não
Jerônimo fez referências freqüentes, embora tudo isso era acolhida a sério, como se fossem obras escritas por
não passe de fantasia. Mas alguns manuscritos dessa aqueles a quem era atribuidas.
obra atribuem-na a Tiago, e não a Mateus. A AbonJaaem Grep
Conteúdo. Os capítulos primeiro a décimo sétimo Autores famosos, como Homero, mui naturalmen-
derivam-se, principalmente, do Protevangelho, mas te contavam com obras espúrias, escritas em nome
com modificações e adições, embora o esboço geral deles. Não sabemos dizer quantos dos diMogos
seja o mesmo. Abiatar encorajou o casamento entre atribuidos a Platão foram, realmente, escritos por ele,
seu filho e Maria, mas Maria tomou votos de perpétua embora a maioria dos mesmos certamente tenha saldo
virgindade. Maria e losé, suspeitos de forníeação, de sua pena. Alguns poucos desses diálogos foram
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PSEUDONIMO - PSEUDOS-MESSIAS
escritos por disclpulos seus ou por admiradores de devamos censurar os autores antigos, que se valiam
Séculos posteriores. dos nomes de famosos herôis, em seus livros. Dentro
desse contexto, a palavra «censura» é um anacronis-
A AbonIqem Judaica mo.
Temos ai uma considerável massa de escritos cuja A Abontaaem Crlsd:
impo~cia deriva-se do fato de que nos mostr'am o A prática da pseudonimia prosseguiu nos tempos
que os Judeus pensavam (suas doutrinas, seus ideais, do Novo Testamento, e depois. E possível que nossa
etc.), ao tempo em que foram escritos. Além disso os epístola neotestamentária ~. 11 Pedro seja, na
livros pseudeplgrafos e ap6crijosexerceram co~si realidade uma obra pseudomma, segundo muitos
derivei influência sobre os escritores não-testamentá- eruditos pensam. Outro tanto é dito a respeito da
rios (especialmente no campo da profecia preditiva), epistola aos Efésios, na opinião de alguns; e meus
apesar de não aparecerem muitas citações diretas no artigos sobre esses livros abordam a questão. Seja
Novo Testamento. A descoberta dos Manuscritos como for, as obras pseudepigrafas do Novo Testamen-
(Rolos) do Mar Morto (vide) tem demonstrado que até to foram bastante numerosas, segundo fica demons-
~es~.o em Jerusalém esses livros eram usados, o que
trado em meu artigo sobre aqueles assuntos. Quase
~lgtllfica que não eram valorizados somente pelos
todo esse material pseudepigrafo era de origem
Judeus da dispersão. Alguns eruditos têm sugerido gnôstíca. Não nos podemos olvidar que o cânon
que os nomes de antigos her6is eram usados para neotestamentário sô ficou determinado ai pelo século
emprestar ~utorida~ às .obras escritas, visto que os IV D.C., e muitos sentiam o direito de continuarem a
livros considerados inspirados por Deus tinham-se pronunciar-se sobre Jesus e sua significação. bem
tomado parte de um cânon fechado. Porém, isso é como sobre os apóstolos e as contribuições que
supor que o processo de canonização havia estabeleci- fizeram à causa cristã. Isso significa que há toda uma
do essa interrupção. Historicamente, porém está literatura bastante parecida com o Novo Testamento,
envolvido um anacronismo. O cânon do Antigo que contém evangelhos, atos, epístolas apost6licas e
Testamento nem ao menos estava fixado nos' dias de apocalipses, tudo espúrio, ainda que pequena
Jesus, e os judeus da dispersão definidamente haviam porcentagem de declarações e relatos autênticos possa
«canonizado» os livros apócrifos, que ultrapassavam ter sido preservada nessa literatura. Doutrinas
além do último dos livros que os grupos protestantes esotéricas e heréticas supostamente eram apoiadas
atualmente consideram parte do cânon veterotesta- por material «oculto» ou «desconhecido», que os
mentârío. De fato, qualquer argumento nesse sentido evangelhos tradicionais teriam esquecido ou ao qual
é uma, e:'pécie de interpretação protestante, a qual, não tiveram acesso. Mas esses livros espúrios, em sua
sem dúvida, encontrava alguma simpatia na Palesti- esmagadora maioria, eram apenas peças de propa-
na, no periodo intertestamentário; mas de forma ganda a serviço de posições heréticas, não estando
~guma isso serviu ~e obstâculo à produção de novos
alicerçados sobre um fundo hist6rico.
livros sagrados, atribumdo-os ou não a antigos her6is
do Antigo Testamento. .P~r .semelhante m~do: não é provável que as
reivindicações de autona tivessem sido levadas a sério,
e estranho encontrar, nas fontes informativas que exceto pelos membros das seitas que se utilizavam de
consultei, expressão de consternação diante do fato de tais livros. As pessoas religiosas vivem caçando «textos
que judeus piedosos estiveram envolvidos nesse de prova», em apoio às suas idéias; e a grande
fenômeno de pseudonimia. Essa é uma clara pr.odução li~erária dos cristãos permitia que muitos de
afirmação anacrônica. e desnecessária e falsa a t81S t~xtos viessem a suportar quase qualquer tipo de
suposição de que essa atribuição era legítima em !J.e~sla. Não o1;>stante, há algumas narrativas (e
qualquer grau, visto que matéria antiga (parte idéias) deveras mteressantes e fantásticas, embora
pC:l'!encente a pessoas a qu«:m os livros foram escritos) algumas delas sejam moral e espiritualmente instruti-
fOI incorporada naqueles livros. Para exemplificar é vas, enquanto que outras servem de entretenimento.
perfeitamente patente que Enoque nada teve a ~er
com !l autoria de I e 11 Enoque, em nada tendo Podemos supor com segurança que alguns cristãos
contribuido para esses livros. Mas, aplicando essa ortodoxos objetavam ao empréstimo do nome de
falsa suposição, alguns têm procurado solucionar o qualquer dos apóstolos como muleta ~ara alguma
!J.e~sla; mas, de modo geral, em consonancia com as
problema de que o livro de Judas (no N. Testamento}
cita o livro de Enoque, uma obra pseudepigrafa. Ver Idéias da época, provavelmente muitos cristãos
Jud. 14. Suponho que alguns eruditos protestantes pensavam que a prática da pseudonimia, por si
pensam que isso teria sido um pecado da parte de mesma, era uma prática literária inofensiva. Mesmo
Judas. Tal opinião, entretanto, apenas exibe uma assim, vários autores cristãos atacaram livros espúrios
profu~da ignorância acerca do que, realmente, estava
(conforme se vê refletido no cãnon muratoriano e nos
envolvido. A verdade é que autores cristãos definida- escrito.s de Tertuliano, Serapíão e Clemente).
mente c0!1heciam. e ';ltilizaram as obras pseudepígra- Tertuhano chegou mesmo ao extremo de demitir um
fas, e muitas das Idéias deles foram tomadas dali por presbítero da Asia que confessou haver escrito um
e~p~timo. As chamas do inf~rno foram acesas pela
e.spúrio livro de Atos, «impelido pela admiração que
primeira vez em I Enoque; dai essa doutrina passou tinha de Paulo». Sem embargo, isso é a mesma coisa
para o Jud~smo helenista; e dai, para o cristianismo. que admitir que nos tempos neotestamentários havia
Essa dou~a, !ltualmente, é de importância primária a mesma lassidão e despreocupação com a pseudoní-
para muitos cristãos, e, no entanto ela começou ~ia que havia no. mund"o ~udaico-helenista do periodo
apenas em um dos livros pseudeplgrdos, I Enoque. mtertestamentário. Jerônimo chegou a citar material
~as, supor.que Enoque teve qualquer coisa a ver com
apócrifo atribuido a Mateus, e, ao que parece
ISSO, ~u com outras idéias inclusas em I e 11Enoque, é confundiu aquele evangelho com outro ou com outros:
suposição absurda. Nenhuma tradição antiga ampara do mesmo nome.
esses escntos. A verdade da questão é que os judeus
~va~ pouca atençã,? à questão da «propriedade ••• ••• •••
literária», que é tão tmportante para os escritores
~~rnos, ao. ponto de ser ela resguardada por PSEUDOS-MESSIAS
direitos autoraís, Também não hi qualquer necessi- Ver sobre Falsos Cristas. Ver também os artigos
dade de tentarmos achar razões pelas quais não chamados Anticristo e Falsos Profetas.
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PSI - PSICOD~LICO
PSI quanto a certos jogos, provavelmente deve-se ao seu
poder da mente, e não à mera sorte. Ver meu artigo
Essa é uma forma abreviada do vocábulo grego intitulado Parapsicologia, onde ofereço detalhes sobre
psiché, «alma.., que atualmente é usada para indicar o essa nova ciência e sobre os ftnámenos por ela
espectro inteiro dosfenômenos psiquicos, Ver? artigo examinados. Há nisso uma utilidade e importincia
intitulado Parapsicologia quanto a uma avaliação e que não podemos dar-nos ao luxo de ignorar.
descrição detalhada desses fenômenos. 7. Alguns estudiosos chegam a pensar que Deus,
como um Espirito que ele ê, afeta o mundo da D)atêria
através desse principio.
PSlr FUNÇÕES PSIQUlCAS E A PRIVAÇÃO DAS
PERCEPÇOES DOS SENTIDOS Modus Operandi, Dispomos de algumas evidencias
que dão a entender que a mente (energia pura,
Ver sobre Puapdcoloala, seção IX. provavelmente nJo.atômica) manipula uma energia
secundária, talvez semimaterial, a qual, por sua vez,
PSICANÁLISE EXISTENCIAUSTA pode produzir efeitos sobre a matéria (energia
Essa é uma modalidade de psicanálise que leva em atômica). Porém, ainda estamos muito longe de poder
conta a verdade proposta pelo existencialismo (que lormular uma teoria que envolva todas as questões
vede), como a base de suas operações, em lugar das envolvidas.· Porem, já é certo que há muitos efeitos
teorias de Freud. que podem ser produzidos pela mente, alaunt dos
quais têm controle sobre a matéria.
PSICOCINESIA {PK}
Essa palavra portuguesa vem de dois termos gregos,
psiché, «alma. (a parte imaterial do homem), e PSICODWCO ( ~ ........ PlleudélIea)
klnesis, «movimento.... Essa palavra indica a crença 1. A Palavra e Sua Origem
que os poderes imateriais conscientes (ou inconscien- Não dispomos de evidencias acerca de quando essa
tes) do homem (sua mente) têm a capacidade de palavra foi cunhada. Alguns fil610gos pensam que isso
mover objetos ou de produzir outros efeitos sobre a ocorreu em Harvard, em cerca de 1961-1962, mas
matéria. As evidências cientificas em favor desse outros preferem pensar ainda em uma origem mais
poder são bastante abundantes. Alisto abaixo apenas antiga. Seja como for, deriva-se do grego psichl,
algumas áreas: «alma», «mente», e dela, -reveíar», «esclarecer•.
1. As curas espirituais envolvem, provavelmente, 2. Uma Ampla Definiçõo
pelo menos em alguns casos, o poder psicocinétíco. Essa palavra pode envolver a idéia de experíêncía
2. 1.B. Rhine demonstrou, - mediante milhares religiosa, de consciência c6smica, de experlêncía
de testes, sob condições controladas, que a mente iluminadora ou transcendental, obtida através de
humana pode afetar o lançamento dos dados, para exercícios de ioga, de meditação. de jejum, etc.
que apareçam os números desejados, mais do que as 3. A DefiniçíJo Comum e mais Estrita
chances o permitiriam. No mundo das drogas, tão disseminado hoje em
3. Têm sido inventadas máquinas, e até tem sido dia, as experiências psicodllictlS referem-se aos tipos
patenteadas, que são movimentadas pelo poder de experiencias acima referidos, provocados pelo uso
mental, exclusivamente. Naturalmente, isso suben- de certas drogas como o LSD - 25. Mas o termo
tende alguma forma real de energia que ali ê também tem sido usado para aludir a certos estimulos
manipulada, e que, finalmente, poderia ser demons- mentais provocados através de cores variegadas. luzes
trada como existente dentro 40 campo atômico, e coriscantes, especialmente nas tonalidades laranja,
não apenas uma verdadeira energia não-material. verde, amarelo e púrpura.
4. Pessoas dotadas de grande concentração e de 4. Perguntas e Avaliações
poder da vontade são capazes de afetar a desintegra- Em primeiro lugar, ê verdade que certos compo--
ção de substâncias atômicas, usadas em jogos. Podem nentes quimicos podem provocar experiências religio-
fazer aparecer números ou figuras em telas (o que sas e espirituais. Algumas delas não passam de
parece ser feito mediante impulsos de particu1as alucinações, mas é provável que algumas delas sejam
atômicas), mais do que se poderia esperar do mero reais. Neste último caso, podemos afirmar que tais
acaso. Isso posto, a mente tem algum poder sobre as experiências ~ tornam-se posslveis mediante alguma
particulas subatômicas. modificação no equilibrio que existe entre o corpo e a
5. O poder da mente sobre o corpo, isto é, a alma. o que permite que a ~a se expresse. ou que
capacidade de manipular o corpo fisico, requer ela entre em estados espirituais positivos ou negativos.
alguma forma de psicocinesia. Seria impossível a um Naturalmente, os céticos supõem que o fato de que
espírito imaterial ou à mente operar um corpo certos componentes quimicos podem despertar expe-
humano, a menos que houvesse alguma força capaz riências é indicação de que todo misticismo é
de atuar sobre o corpo fisico. Isso nos leva ao meramente psicol6gico, envolvendo modificações
Problema Corpo·Mente (vide). Sempre pareceu miste- químicas no cérebro. Isso significaria que todo
rioso, para os fil6s0fos •. como a mente imaterial é misticismo ê mero subjetivismo, uma espécie de
capaz de manipulai ou controlar o corpo ftsico. auto-exercício de poderes do pr6prio ser, que ainda
Alguma forma de energia deve estar envolvida.. uma são pouco entendidos. Porém, ê fácil mostrar que essa
energia controlada pela mente. Que a mente pode avaliação labora em erro (embora, sem dúvida, isso
fazer o corpo fazer o que ela quer, e que todas as realmente aconteça às vezes, ou mesmo freqüente-
pessoas exercem controle sobre seus pr6prios corpos mente, com o uso de drogas), pelo fato de que as
serve de prova de que todas as pessoas são psíquicas, experiências misticas tem aplicações externas (que
exercendo poderes psiquicos continuos e produzindo vão além delas mesmas), como nos casos da profecia,
fenômenos psiquicos. Uma outra prova da continui- das curas de outras pessoas, etc. Essas experiências
dade dos fenômenos psiquicos. no caso de todas as conferem conhecimento genuino que está fora das
pessoas, é a nossa vida de sonhos, que produe experiências comuns do individuo, para·- nada
constantemente esses eventos. falarmos sobre a.transformação espiritual e ética que
6. O fenomenal sucesso de alguns jogadores, elas produzem.
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PSIconBLICO - PSICOLOGIA
Gopi Krishna, um mistico de alta ordem, afirmava 11. Na Filosofia
que é fácil distinguir um místico autêntico de um 111. Escolas de Psicologia
«místico feito pela química•. Um verdadeiro místico é IV. A Psicologia da Religião
dotado de uma espiritualidade e de um poder V. A Psicologia Metafisica
espiritual que ultrapassam o que é natural. Mas o I. A Palavra e S1I8II Defbdçê5es
mistico-quimico geralmente é um viciado, cujo
cérebro estâ acidulado pelos t6xicos. Outrossim, As palavras gregas formadoras desse termo são
apesar dele receber visões fantásticas, dentro de sua psichê, «alma», «mente», e logla, «estudo de ... A
própria mente, revela ser de pouca ou nenhuma psicologia, pois, é a ciência que estuda o comporta-
utilidade para as pessoas ao seu redor. Em suma, tal mento e as experiências dos organismos vivos. O
indiViduo não é uma potência espiritual. Assim sendo, termo comportamento refere-se à reação de algum
tal misticismo é da variedade barata, ainda quando organismo ao seu meio ambiente, que pode ser
esteja associada a alguns eventos genuínos, que não observado por uma pessoa. E a palavra experiência
podem ser classificados meramente como cerebrais. alude aos eventos internos que só podem ser notados
Ver o artigo sobre Sathya Sai Baba, que deveria pelo próprio individuo, mediante a mem6ria e a
convencer ao leitor que existe um misticismo real que percepção. Esse conhecimento interior, entretanto,
envóIve manifestações poderosas e práticas, sobre o pode ser grandemente aumentado com a ajuda de um
que a cultura das drogas nada conhece. Ver também o conselheiro ou psicoterapeuta, ou então quando um
artigo detalhado sobre o Misticismo, que aborda bem amigo perspicaz nos observa e dá os seus conselhos.
essas questões. As principais divisões da psicologia são: psicologia
experimental e psicologia aplicada. A primeira delas
U ma instrutiva declaração foi publicada no jornal está envolvida na pesquisa básica, usualmente através
The Times, de Londres, em sua edição de lS dejulho de métodos empiricos. A segunda é a aplicação
de 1967. Esse artigo sugeria que a maioria das pessoas prática da teoria, mediante a psicoterapia, o
precisa ser protegida do «vento divino. que sopra pelo aconselhamento, o diagnóstico, a psicanálise e a
universo, da mesma maneira que são naturalmente recomendação de medicamentos e tratamentos,
insuladas de certas radiações c6smicas pela atmosfera podendo estar incluida a hipnose. Quando a questão é
da terra. Várias poderosas influências, como as relacionada à religião e à teologia, então temos
experiências religiosas, a meditação, ou então as chegado ao campo da psicologia religiosa, a qual
drogas ou a loucura, podem destruir a insulação descrevo na seção quarta deste artigo.
natural das pessoas, revelando-lhes novos mundos e Freud, em sua visão materialista do homem,
novas facetas da existência, como antes nem de leve roubou-lhe a alma; e assim neutralizou a própria
suspeitavam. Essas revelações podem ser reais, nada palavra psicologia. No entanto, sabe-se que Freud
tendo de alucinação. Porém, muitas pessoas não estão estava intensamente interessado pelos fenômenos
preparadas para recebê-las, podendo sofrer grandes psíquicos, embora ele gostasse de ocultar esse
danos. Assim, apesar de haver algum uso legitimo aspecto, mantendo-o fora de seu trabalho cientifico.
para as drogas que produzem impressões psicodéli- No entanto, mesmo a essa área ele fez alguma
cas, tal emprego certamente deve ser confinado aos contribuição, especialmente através de seus estudos
limites da ciência, não devendo ser utilizados por sobre os sonhos. Pois reconhecia que os fenômenos
certos lunáticos que não estão preparados para os psíquicos são comuns e universais nos sonhos. E
eventos espirituais, especialmente para aquelas assim, nesse outro sentido, ele devolveu a alma à
manifestações que podem ser provocadas pelos psicologia. Seus alunos, Jung e Rank, enfatizaram o
alucin6genos. Além disso, podemos ter a certeza de papel da alma -Jung em suas teorias gerais, e Rank
que a maioria desses eventos não passa de alucinações através da ênfase que dava à vontade como uma
aberrantes. qualidade da alma.
A Qu.tio &Iea. Quanto mais se fica sabendo
acerca das drogas e de suas possiveis relações com a fé Quando a psicologia deu nascimento à parapsicolo-
religiosa, mais as questões éticas se tomam agudas. gia (vide), também abriu caminho para a investigação
Para começar, o uso popular das drogas, tendo em cientifica acerca da alma. Isso chegou a um ponto em
vista qualquer propósito, é imoral. Isso significa que que, atualmente, não estamos longe de obter provas
qualquer uso dessas drogas deve ser feito sob o rigido cientificas da existência da porção não-material do
controle e experimentação de cientistas que visam ao homem. Quando essa prova for confirmada, então
bem público. Certas drogas tem sido empregadas de teremos obtido um conhecimento que revolucionará
forma positiva no caso de cancerosos em condições toda a maneira de pensar e de agir dos homens. Uma
terminais. Muitos deles têm chegado assim a perceber coisa é dizer «eu creio», enquanto outras pessoas nos
a essência espiritual de seu ser, perdendo o temor da dizem: «Você está equivocado»; e outra coisa é dizer
morte. De fato, têm obtido maior espiritualidade por «sei porque a ciência tem demonstrado o fato». Apesar
uma diminuição da insulação que até então os das pessoas dotadas de fé não precisarem dessa
protegia do «vento divino. que sopra em redor de comprovação cientifica, as pessoas carnais e não-re-
nosso mundo. Esse tipo de experimentação tem sua generadas muito precisam da ajuda da ciência para
utilidade, e os cientistas estão avançando com reconhecerem a espiritualidade fundamental do ser
cautela, pelo que deveriam ter licença de prosseguir humano. Ver o artigo sobre a Psicoterapia, quanto a
em suas pesquisas. Deveriam ser baixadas leis outro importante aspecto da psicologia.
governando esse tipo de atividade. O livro intitulado Tr& DefIDlçê5es Búlcaa ela Psicologia:
The Human Encounter with Death, de Stanislav Grof 1. A psicologia e a ciência que estuda e descreve a
e Joan Halifax, narra o aspecto cientifico dessa mente humana em qualquer de seus aspectos,
questão. Esse livro foi publicado em 1977. operações, poderes, funções, natureza inerente e
manifestações.
2. A psicologia é a investigação sistemática dos
fenômenos mentais, mormente aqueles associados à
PSICOLOGIA consciência, ao comportamento e aos problemas
Esboço: enfrentados pelas pessoas para ajustarem-se ao seu
I. A Palavra e Suas Definições meio ambiente com freqüência hostil.
496
PSICOLOGIA
3. A psicologia estuda o agregado das emoções, dos asseverava que as experiências humanas tipicas são
pendores e dos padrões de conduta que caracterizam constituídas de conjuntos completos organizados e
um individuo ou um tipo de pessoa. complexos (significado da palavra alemã Gestalt).
n, Na F1I....fIa Nomes associados a essa escola são Wertheimer,
A. Penpeetlva Illlt6rlca Kobler e Koffka.
1. Em cerca de 1590, Goclênio (vide) introduziu o 6. A psicologia em profunmdade foi introduzida
termo psicologia no vocabulário humano, dando a por Freud (sobre quem apresento um artigo separado
entender com o mesmo «a ciência da alma», de acordo minucioso). Temos ai uma clara distinção entre a
com suas raizes no grego. Nos fins do século XVI e mente consciente e a mente inconsciente, em que esta
durante o século XVII, o vocábulo veio a referir- se à última com freqüência é a força desconhecida por
elaboração dedutiva das faculdades, poderes e detrás de todo comportamento. A psicanálise,
funções mentais. Nessa época, fazia parte integrante especialmente mediante o estudo dos sonhos (<<a
da metafisica. Os titulôs Psicologia Racional e estrada real para o inconsciente.., conforme dizia
Psicologia das Faculdades vieram a ser usados para Freud), revela ao consciente da pessoa o que está
essa forma de psicologia. sucedendo em seu inconsciente; e essa revelação com
2. Wolff, seguindo tendências de antes dele, freqüência exerce efeitos curadores. Conhecer é
distinguia entre a Psicologia Racional e a Psicologia poder. O propósito da psicologia seria obter um
Empirica (começos do século XVIII). Ver os artigos melhor ajustamento ao meio ambiente hostil do
separados intitulados Psicologia Empirica e Psicolo- individuo. Ver também o artigo sobre os Sonhos.
gia das Faculdades. Freud foi o pai do estudo cientifico sobre os sonhos. A
principio ele usava a hipnose; mas acabou abando-
3. Harley, Hume, lames Mill e lohn Stuart Mill nando o método, favorecendo a anâlise dos sonhos,
aprimoraram a psicologia empirica e lhe mudaram o entre outros métodos.
nome para Psicologia Associativa.
7. A psicologia analitica foi modelada por lung,
4. Emest Weber, Fechner, Helmholtz e Wilhelm que divergia, quanto a pontos importantes, das idéias
Wundt muito contribuiram para conferir à psicologia de seu mestre, Freud, Ver o artigo separado sobre
experimental' uma base firme e uma influência Jung, quanto a detalhes sobre a sua teoria. lung
crescente. Em 1879, Wundt organizou o primeiro também dava grande importância aos sonhos, e o
laboratório experimental de psicologia, e então artigo sobre o assunto inclui material a esse respeito.
muitos centros de pesquisa fizeram a mesma coisa, Ele enfatizava a importância do papel desempenhado
em muitos lugares do mundo. pelos arquétipos (vide), os quais operariam sobre a
B. A Psleologla eo. . ama DlJelpllDa Independente mente inconsciente quase como se fossem entidades
Várias escolas ou métodos de experimentação distintas. Jung acreditava fortemente na existência da
desenvolveram-se, expandindo o conhecimento e as alma humana e de Deus, e foi um mistico de alguma
aplicações da psicologia. estatura. Ele não hesitava em aplicar a psicologia à
1. A psicologia funcional foi criada por William questão religiosa, e seus estudos têm-se revestido de
J ames, sendo então promovida por J. R. Angell e grande valor para os ministros cristãos que precisam
outros. Os processos mentais passaram então a ser cuidar dos problemas intimos das pessoas.
encarados como adaptações dos organismos biológi- 8. A psicologia topol6gica ou de teoria de campo,
cos. John Dewey exerceu poderosa influência dentro introduzida por Kurt Lewin (vide), destacava o
desse sistema. Os pesquisadores funcionalistas estu- conceito do «espaço de vida» e a metodologia de «um
dam os processos psicol6gicos não primariamente caso por vez», O espaço de vida indica a totalidade dos
como conteúdos conscientes, e, sim, como atividades fatos e das relações que definem a situação' de uma
que têm utilidade na adaptação do individuo ao seu pessoa a qualquer dado instante. E a idéia de um caso
meio ambiente e na busca dos seus pr6prios alvos. A por vez aponta para incidências ou condições, nas
introspecção é muito importante nesse sistema. O experiências de uma pessoa, que estão sujeitas à
pragmatismo é importante para o conceito. análise, que muito podem fazer para iluminar ao
. 2. A psicologia genética foi promovida por Ward, ·0 pesquisador ou terapeuta, pelo menos, mais do que
qual procurou descrever as fases do desenvolvimento qualquer estatistica.
da mente. Ver o artigo sobre ele, quanto a 9. Psicologia Hôrmica, Esse adjetivo vem do grego
pormenores. Ele enfatizava a importância da genética hormé, que significa «impulso», No ser humano, há
na natureza e nos processos mentais dos individuos. aquele impulso que o leva a esforçar-se por alcançar
3. O estruturalismo (acerca de cujo assunto metas, o que é um aspecto básico da psicologia
apresento um artigo separado bastante detalhado) humana. Isso não pode ser explicado mecanicamente,
opinava que as sensações e os sentimentos são mas faz parte dos instintos básicos e inerentes ao
elementos que devem ser levados em conta em uma homem. Transcende ao meio ambiente. Entre esses
análise bem estruturada. impulsos encontramos a fuga, a repulsão, a
4. O behaviorismo (promovido por Watson) curiosidade, o auto-abatimento, a auto-asserção e o
eliminava inteiramente o poder da intuição no amor paterno. Todavia, há muitos outros impulsos. E
homem, Interpretando-o exclusivamente em termos o mais importante de todos, que destacamos agora, é
dos informes colhidos por suas observações sensoriais. o impulso de buscar a Deus e aos valores e realizações
O homem seria apenas um animal que aprende espirituais. McDougall foi o pai desse tipo de
através da experiência. Outros nomes associados a psicologia. Ele frisava questões como a vontade, os
esse ponto de vista são Pavlov, Skinner e E.D. Holt. impulsos, os instintos e os prop6sitos na vida.
Esse sistema inclui elementos do naturalismo e do C. RaIza no.6fIea . . EIcoI-. de ~
pragmatismo. O comportamento humano poderia ser A terminologia da psicologia é um desenvolvimento
recondicionado mediante o recondicionamento das mais recente. Não obstante, podemos traçar idéias
experiências. Não há ali qualquer apelo ao homem básicas das filosofias mais antigas, que foram
interior, à alma ou a qualquer qualidade transcenden- incorporadas pelas diversas escolas filos6ficas.
tal do homem. 1. Platão e Aristóteles tinham idéias que vieram a
5. A psicologia Gestalt fazia oposição à anterior ser incorporadas,na psicologia das faculdades, o que
psicologia .associativa. Esse novo ponto de vista demonstrei amplamente no artigo Psioologia tUrs
497
PSICOLOGIA
Faculdades. A psicologia da Idade Média foi uma associados a esses conceitos foram W. Stern, G.W.
continuação das noções de Platão e Arist6teles. A Allport, E. Spranger e W. Dilthey.
definição deste último quanto à «substância- foi um IV. A Pdeoloala da RelillIo
fator que governou o pensamento psicol6gico de
Tomás de Aquino e de outros escritores do período, 1. Definição. «A psicologia da religião é o estudo
Suas quatro causas, mediante as quais haveria todo sistemático dos fenômenos religiosos como formas da
desenvolvimento, serviam de importante base da experiência humana; é o estudo das emoções, das
teoria psicolôgica, A psicologia funcional também atitudes, dos padrões de comportamento, das
tem algumas raizes nas idéias de Arist6teles e de avaliações, quando associados às crenças e às práticas
Tomás de Aquino. religiosas. Também estuda o impacto dessas crenças
sobre o desenvolvimento da personalidade, e igual-
2. Descartes, Spinoza e Leibnitz ofereceram bases mente estuda os padrões das necessidades e desejos
variegadas para as psicologias racionais. levados em conta por religiões particulares- (e).
3. Locke foi um importante precursor da psicologia 2. Investigações Especiais. A psicologia da religião
associativa, por causa de sua forte ênfase sobre o investiga a conversão e as experiências misticas que
empirismo. modificam as vidas das pessoas e a maneira delas
4. Brentano procurou fazer da psicologia uma pensarem. Interessa-se especialmente pelos estados de
ciência puramente descritiva. Isso influenciou a consciência, pelos fenômenos psiquicos, pelas visões e
fenomenologia de Husserl, que apresentou sua pelos alegados encontros com seres espirituais. As
importante teoria psicol6gica. Ver o artigo sobre emoções da ansiedade e do temor, mormente no que
Brentano; quanto a detalhes acerca de suas idéias. diz respeito às doutrinas do pecado e do julgamento,
. m. &eoJ.. ele Pdeoloala encontram-se entre seus interesses. A exaltação
Quase todas essas escolas são descritas na segunda religiosa, a experiência do sagrado e a experiência
seção. Ali são descritas as seguintes: Psicologia com seu oposto, que são as manifestações demoniacas
Racional (das Faculdades); Funcional; Genêtícaj do e os estados mórbidos, também são assuntos de seus
Estruturalismo; Behaviorismo; Gestalt; em Profundi- estudos. Os psícôlogos céticos estão convencidos de
dade; Analitica; Topol6gica (teoria do Campo) e que todas as coisas investigadas são meros estados das
H6rmica. Informações adicionais a respeito têm sido mentes das pessoas, não sendo coisas objetivas. Mas
oferecidas em artigos separados, aos quais nos temos os estudos sobre o misticismo (vide), sobre as
referido. experiências perto da morte (vide) e sobre os
A essas escolas, agora acrescento as seguintes: modernos operadores de milagres, como Sathya Sai
1. Herbartianismo (Psicologia Dinâmica), que foi Baba (vide), mostram a objetividade das experiências
criação de I.F. Herbart (1776-1841), que se opunha à e dos objetos religiosos. Freud tinha a certeza de que
psicologia das faculdades e preferia frisar as relações os estados religiosos são provocados por certas
dinâmicas que existem entre as idéias. As idéias emoções negativas, como o temor e a ansiedade,
esforçar-se-iam, isolada e coletivamente, para atingir projetadas pelos pais a crianças medrosas. Os ataques
ideais, embora também possam entrar em competição de Freud contra a religião em geral (embora ele tivesse
e conflito. A massa que se apercebe das idéias jâ sido um judeu) tem feito com que muitos teólogos
existentes determina a extensão e a maneira como as mostrem-se hostis à psicologia e à psicoterapia. Mas
novas idéias serão manuseadas, aceitas. ou rejeitadas. essa hostilidade está desaparecendo, e o discernimen-
As novas idéias, porém, por verdadeiras que sejam, to de Freud quanto às profundezas da psique humana
usualmente são forçadas a esperar por muito tempo, está provendo valiosas informações. O tipo de
antes que as mentes humanas as aceitem e psicologia ensinado por Jung tem-se mostrado
incorporem, do que virão a resultar inevitáveis especialmente útil no aconselhamento pastoral. Os
modificações nas crenças e nas maneiras de pensar. O estudos de Freud sobre os sonhos (ele foi pioneiro no
conhecimento cresce com lentidão, e nem sempre a estudo cientifico quanto a essa ârea) têm-nos alertado
verdade sai vencedora, pelo menos no primeiro para a rica herança representada pelo mundo dos
arranco. Mas, afinal, a verdade vence, embora seja sonhos, tanto no aspecto espiritual quanto no
necessária a passagem do tempo, em qualquer caso emocional, a qual tem sido usada nas curas ou como
em que novas e importantes idéias se apresentem. As orientação.
antigas ortodoxias cedem lugar às novas «heresias», as 3. O Aconselhamento. Em nossos dias, a Igreja
quais terminam por tomar-se novas ortodoxias. E isso cristã se vê invadida pela psicologia popular;
sucede nos campos da ciência e da religião. Ê preciso conferências religiosas, onde a Biblia deveria ser a
tempo para que uma heresia se tome uma ortodoxia, principal atração, com freqüência servem de ocasiões
mas esse processo é continuo e inevitável. em que algum orador apresenta uma psicologia cristã
popular, que alegadamente é capaz de fazer de todo
2. A psicologia dos atos é criação de Franz pastor um conselheiro habilitado. Uma grande onda
Brentano. Ele reconhecia, na questão da psicologia, de literatura tem acompanhado isso, e uma certa
que há atos mentais, em adição ao conteúdo (O" seja, superficialidade tem tomado conta das mentes de
o ato de perceber os objetos fisicos). Seu método pastores que se põem à pratica sua psicologia
distintivo era a observação fenomenol6gica, em misturada com teologia. Apesar da prâtica talvez
contraste com a experimentação e a introspecção estar fazendo algum bem, ficamos desapontados com
experimentalmente controlada. Outros nomes asso- o quadro em geral. Apesar de ser bom que todo pastor
ciados a essa abordagem foram Upps, Stumpf, tenha alguma noção desses termos, é melhor deixar a
Witasek, Husserl, Messer e Kulpe, os quais questão aos cuidados de conselheiros profissionais,
introduziram suas respectivas adições e modificações. que conhecem realmente a psicologia, especialmente
3. Psicologias Personalistas, A pessoa concreta, por a verdadeira ciência, e não alguma versão bíblica, que
inteiro, é o assunto a ser investigado, segundo esse 56 destaca alguns aspectos dessa ciência. As próprias
ponto de vista. As pessoas são individuos que buscam idéias de Freud têm sido de grande valor nessa área,
atingir alvos. Cada individuo é impar. A pessoa total apesar de hostilidades. «... 0 trabalho de Freud tem
não pode ser explicada meramente pela inv~tigação rendido um grande beneficio para a teologia e os
empírica, cientifica. Outras disciplinas, incluindo a cuidados pastorais. Sua exploração sistemática dos
teologia, devem fazer parte da investigação. Nomes efeitos dos motivos inconscientes sobre a percepção e
498
PSICOLOGIA
o comportamento tem mostrado a complexidade da posto que preliminares, que realmente existe um
conduta humana, servindo de corretivo dos pontos de «terceiro sexo», inspirado ou por diferenças biológi-
vista pelagianos sobre a vontade, que têm penetrado cas, ou, em alguns casos, pela influencia de poderes
insidiosamente na corrente principal da teologia malignos. Um valioso conhecimento para a cura dos
ortodoxa. Isso tomou necessário um reestudo da homossexuais estâ emergindo da ciência, e deverla-
natureza da liberdade, da responsabilidade e da mos dar as boas-vindas a esse conhecimento.
culpa» (B). Freud poderia ser intitulado de calvinista Dificilmente é suficiente enviar um homossexual a um
psicológico, porque ele revelou as profundezas da conselheiro cristão. Apesar da ciência ter somente
depravação humana, que se manifesta até mesmo nas respostas preliminares para esse grave problema, tais
crianças. Por outro lado, psicologicamente falando, informações não deveriam ser ignoradas por nós.
ele muito fez por explorar os vastos poderes da Outro tanto se dâ com outros problemas da psique e
criatividade humana, e assim deixou claro que o da personalidade. Um trabalho extremamente valioso
homem não é apenas uma criatura sujeita aos está sendo feito nos casos de Penonàlidade Múltipla
caprichos da maldade, porquanto também é dotada (vide), da parte de psiquiatras com envolYimentos
de grande potencialidade para o bem. Essa circuns- religiosos, no tocante tanto ao tratamento de psiques
tância alerta-nos para algo que já sabíamos, por perturbadas como no tocante à teoria básica da
meio da teologia. Precisamos manter aceso o estudo natureza humana. Ademais, algumas vezes a questão
sobre a polaridade (vide), se quisermos compreender toda deve-se à Possessão Demoniaca (vide). Pessoas
melhor essas questões. O homem não é apenas um ser religiosas deveriam ansiar por valer-se dos serviços
depravado. Também é uma criatura de grande dos cientistas, para que estes os ajudem a solucionar
capacidade criativa, capaz de desempenhar um determinados problemas, em vez de dependerem
importante papel na vida. unicamente da fé religiosa. Ver o artigo separado
Referindo-se a Jung, diz a enciclopédia E: «Ele tem sobre a Psicoterapia.
sido a principal fonte de inspiração da guilda inglesa Apesar de Freud ter começado suas investigações
de psicólogos pastorais, os quais estão interessados chamando a fé religiosa de uma ilusão' (geralmente
principalmente na promoção da compreensão da com base na força do desejo), pensando que os
psicoterapia entre os ministros religiosos». alegados fatos religiosos sl9 inerentemente imprová-
4. A essência da fé religiosa reside no misticismo, veis, outros pesquisadores, que têm agido depois dele,
do qual a inspiração e a revelação são subcategorias. têm revertido esse julgamento. Alguém jA disse que a
Ver sobre o Misticismo. Quase todas as fés religiosas fé religiosa, apoiada pelas evidências, faz um bom
repousam sobre a revelação de seus profetas, O senso geral. Somente quando entramos nos pormeno-
misticismo é representado no Antigo Testamento res dogmáticos é que surgem as dúvidas.
como o profetismo, o que também se verifica com o 6. O pai da parapsicologia. Quando os homens
Novo Testamento, excetuando que ali temos a começaram a investigar a questão da existência da
experiência e a expressão mistica do Filho de Deus, o alma e de sua sobrevivência após a morte biológica,
qual transcende infinitamente aos profetas. William abriram uma nova maneira de consubstanciar as
James realizou um trabalho monumental em SUIl antigas crenças religiosas, na mais vital de todas as
anã1ise sobre as experiências misticas religiosas, que áreas. A psicologia começou a desempenhar um papel
apresentou em seu famoso livro The Yarietie« 01 pioneiro dentro dessa questão, dando assim nasci-
Religious Experience. Trata-se de um estudo cuida- mento à parapsicologia. Tenho apresentado um
doso, sensivel e intenso sobre a vida religiosa, com detalhado artigo sobre esse assunto.
base nas experiências dos místicos e dos crentes
ordinários. - Suas análises levaram-no a en- V. A Pllcoloala Meta""
carar a perspectiva religiosa como dependente de Investiga a ..... (grego, pMIebe). Ver os artigos
algo além ou acima da razão e da experiência humana sobre AbDaeI:aaond..... Vertambém~
ordinária, através da percepção dos sentidos. Peno da Morte.
Outrossim, ele demonstrou a unidade das experiên- BlbUoenftaI AM B C DUN E EP F FREU(1927)
cias religiosas básicas, apesar das muitas divisões da JU(1933) JU(1938) WJ
religião organizada, formada por grupos distintos, e,
algumas vezes, hostis entre si. Essa unidade das
experiências religiosas básicas aponta para o fato de PSICOLOGIA DAS FACULDADES
que ali há certas realidades e não apenas imaginações O termo básico por detrás de «faculdade», nesse
de mentes invadidas pelo medo e pela ansiedade, que, caso, é o termo latino facere, «fazer», Esse conceito
'segundo Freud pensava, seriam os fatores inspirado- ensina que podemos subdividir a alma (alma, psique)
res da fé religiosa. em diversas faculdades distintas, como as da razão,
5. A ciência da psicoterapia, apesar de ainda da vontade e da sensibilidade. Platão falava sobre
jovem, tem sua utilidade, e com freqUência é de uma alma tripartida, Em primeiro lugar, haveria a
importância vital para certos individuos. e um erro e vontade, a parte espiritual; também haveria os
uma presunção pensar que os pastores que leiam apetites, relacionados aos desejos do corpo, ou
alguns livros sobre psicologia, possam tomar-se sujeitos ao mesmo; e, em terceiro lugar, haveria a
psicoterapeutas de sucesso. HA problemas em que a razão, que procuraria harmonizar e regular essas
ciência é de maior ajuda do que a mera citação de outras duas funções diversas. Para ele, a. vontade
versículos bíblicos, com algum tempero com a tenderia para o bem, relacionando-se a certos
psicologia popular. Os psicoterapeutas estão realizan- aspectos da imaterialidade mais elevada. Os apetites
do exorcismos hoje em dia, obtendo sucesso onde estariam ligados às exigências da porção fisica do
muitos ministros do evangelho têm fracassado. Ora, homem. E a razão seria o fator controlador de tudo.
deveriamos considerar a psicoterapia como uma Aristóteles, seguido por Tomás de Aquino,
aliada da fé, e não uma oponente. Consideremos, referia-se às potencialidades da alma, que poderiam
para exemplificar, a questão da homossexualidade. ser interpretadas como faculdades. Aquino, pois,
Não basta mostrar alguns poucos versiculos biblicos a alistava as seguintes potencialidades: vegetativa,
um homossexual "para então dizer-lhe que ele é um sensorial, locomotiva e racional, com várias subdivi-
pecador. O problema é por demais complexo para ser sões. Nos fins do século XVI e no século XVII,
abordado dessa maneira simplista. Há evidências, começou a ser enfatizada a psicologia racional, ou
499
PSICOLOGIA - PSIQUE
psicologia das faculdades, salientando as faculdades fotografia Kirliana tem mostrado a transferência de
ou funções mentais. Tal pensamento tem suas raizes uma real energia curadora, um poder vital capaz de
nas idéias de Platão. Aristôteles e Tomás de Aquino. curar. E, em último lugar, mas não menos
importante, é a questão da oração tradicional. As
PSICOLOGIA EM PROFUNDIDADE orações individuais, a menos que sejam oferecidas por
Essa expressão indica que há níveis conscientes e algum gigante espiritual, com freqüência são bastante
inconscientes de mentalidade, e que a psícanâlise ineficazes. Porém, as orações grupais operam grandes
apropriada pode penetrar na mente inconsciente. coisas. A oração é primeiramente multiplicada, e
Quando isso é conseguido, então chama-se psicologia então explodem em seu poder. E é o esforço coletivo
em profundidade. Ver o artigo geral sobre a que pode fazer explodir o poder da oração.
Psicologia. Provavelmente, hâ uma energia real que está
envolvida nisso, pois todas as pessoas têm o poder de
curar, até certo grau. O homem é um espírito, e pode
PSICOLOGIA EMPIRICA curar espiritualmente. Não devemos esquecer que a
Ver sobre Psicologia, pontos dois, três e quatro. oração vale-se do poder de Deus, ou, talvez, de nossos
anjos guardiães ou guias. E é nessa altura que a
PSICOLOGISMO psicoterapia torna-se uma operação divina. Ver os
Chama-se assim a -teoria que diz que psicologia é artigos gerais chamados Cura e Curas Pela Fé.
o alicerce da filosofia, e que a introspecção é o método Também devemos lembrar que dois poderes ou dons
primãrio da inquirição filos6fica. Essa teoria foi incomuns sempre estiveram associados, virtualmente
ventilada inicialmente em um tratado sistemãtico dos em todas as culturas humanas, a saber: a. o poder de
fil6sofos alemães 1.K. Fries e F.E. Beneke. Se, hoje curar; b. o poder de profetizar (previsão do futuro).
em dia, hâ poucos exponentes dessa teoria, como um Mas também podemos apelar diretamente a Deus.
sistema, ela tem exercido a sua influência, passando a Como é 6bvio, o poder divino continua operando
.ser uma tendência na Iôgica. 1.S. Mill afirmava que curas, hoje como em todas as épocas.
todos os axiomas matemáticos e principios da 16gica No mundo secular, a psicanãlise é eficaz quanto a
são revelados, inicialmente, mediante a introspecção, alguns casos, pelo que tem o seu pr6prio valor. Se os
o que pode ser outro nome para a intuição. Em conflitos interiores, os sensos de culpa e de medo
contraste com isso, os lôgícos, como Frege e Carnap, puderem ser afastados mediante alguma revelação,
são radicalmente não-psicôlogos. então o resultado natural serâ uma saúde física
melhor. Não devemos menosprezar o poder desses
estados mentais interiores. A mente sempre será uma
construtora, podendo construir um palácio- ou uma
PSICOSSIN2SIA Ver Pdcoclné8la (PI{). cabana. Grandes tensões podem ir-se formando em
uma personalidade, e dai podem resultar enfermida-
PSICOTERAPIA
des físicas. O alivio das tensões pode curar. Conheço
um homem que curou sua própria úlcera estomacal
Esse termo vem do grego pdcbe, «alma», «mentes, e lendo e meditando o Salmo 23 todos os dias. A
terapia, «cura•• Assim, indica a tentativa de curar psicanã1ise é representada atualmente pelas escolas
mediante poderes espirituais ou mentais, em vez do tradicionais de Freud, Jung, Adler e Rank. E também
uso de produtos químicos e outros meios físicos. Hã existe a escola da psicobiologia, iniciada sob a
muitas aplicações possiveis dessa teoria. A medicina liderança de Adolf Meyer. Sua teoria era que as
tradicional costuma usar o placebo, ou seja, alguma enfermidades mentais devem ser entendidas em
substância inerte (geralmente, apenas uma pílula de termos do organismo total, reagindo diante de alguma
açúcar), na tentativa de «enganar. o paciente, para situação ambiental difícil. O alvo é fazer os ajustes
pensar que ele está recebendo um medicamento necessãrios, externos e internos, que tendem para a
potente. Isso faz sua mente reagir, deflagrando os paz e a harmonia. Quando isso é conseguido, então
poderes naturais do corpo para curar a si mesmo. segue-se a cura, mui naturalmente.
Trata-se de uma forma de cura natural, automental. Cada vez mais descobrem-se indícios e evidências
De fato, é provável que a maior parte das curas seja de de que a influência ou a possessão demoníaca,
natureza mental, no sentido de que essas condições embora muitos pensem ser coisa do passado, é
encorajam os medicamentos a fazerem seu efeito, responsável por muitas doenças, de natureza física ou
como também é provável que forças mentais negativas mental. Apesar de que os antigos exageravam essa
possam anular os bons efeitos dos produtos químicos. questão além dos limites razoáveis, a tendência
Além disso, a psiquiatria pode exercer o efeito de moderna tem sido negligenciar totalmente a questão.
encorajar a cura automental, sobretudo no caso de Ver os artigos sobre Personalidade Múltipla e
desequilíbrios mentais, alguns dos quais têm causas Possessão Demonlaca, quanto a maiores informações
fisicas, ao passo que outros são causados por a esse respeito. O exorcismo (vide) algumas vezes
problemas mentais. Acrescente-se a isso que o pode produzir curas imediatas e dramáticas, quando
aconselhamento ordinário, de origem cristã ou não, tudo o mais fracassa. Ver o artigo geral chamado
pode ser uma forma de psicoterapia. Se a conduta da Psicologia.
vida for corrigida, então o resultado pode ser o
bem-estar físico.
Outras formas são a cura pela fé religiosa; o uso da
hipnose; as técnicas da Ciência Cristã; as visitas aos PSIQUE
santuãrios religiosos, que algumas vezes resultam em Essa é a transliteração, para o português, da
milagres genuinos; a imposição de mãos, sem palavra grega que, originalmente, significava «respira-
importar se ligada a algum credo religioso especifico ção-, «hálito», mas que, dentro da história das idéias
pu cientificamente, sem qualquer esforço de promover gregas, não demorou a envolver a idéia da «parte
qualquer tipo de teologia. A imposição de mãos imaterial. do homem, primeiramente como um
(algumas vezes chamada de toque terapêutico) é fantasma sem mente, que esvoaça após ter sido
atualmente praticada em vãrios hospitais, inteiramen- liberado do corpo físico, e então como a alma
te à parte de qualquer implicação religiosa. A genuína, o homem verdadeiro.
500
PSIQUE - PSIQUISMO
1. Nos escritos de Homero. Ali a psique aparecia adjetivaI, psuchi/c6s, pode significar «natural. (ver I
como um principio sutil, semelhante à respiração, que Cor. 2:14; 15:44,46), ou então «sensual. (ver Tia.
anima o corpo mas que o abandona por ocasião da 3:15; Jud. 19).
morte, continuando a existir como uma espécie de
fantasma destituido de inteligência no mundo
inferior, sem mem6ria. Na verdade, não seria uma PStQUlCO, PENOMBNOS pstQmcos
pessoa real. Somente a alguns mortais especiais Ver o artigo sobre Parapsicologia.
seriam dadas, nesse estado, a mem6ria e outras
qualidades humanas.
2. Nos ritos de Dionisio (vide), a psique era vista PSIQUISMO
como a pessoa autêntica, superior ao corpo, um Esse é o limo da psique (a porção imateriB1 do
espírito aprisionado em um corpo fisico, até ser homem), embora o termo tenha uma ampla
liberado pela morte. Temos ai uma alma verdadeira, utilização, aplicando-se a todos os fenêmenos
representada por esse termo, psique. psíquicos, ou psi. Ver o artigo geral sobre a
3. Os pitagoreenos (vide) falavam na psique como a Parapsicologia, que é bastante detalhado. Essa
verdadeira alma, e também como a força que produz palavra pode ter muitas aplicações, como segue:
harmonia no corpo fisico. 1. Aplicação Existencial. Há uma parte imaterial
4. Platão foi um filósofo que emprestou à alma dentro do complexo de energias que compõem a
(psique) uma elevada posição dentro da hierarquia do personalidade humana. O homem não consiste
ser, supondo ser ela imortal e eterna, sem ter tido apenas em seu corpo fisico. Primariamente, o homem
verdadeiro começo de existência. Sua substância é um espirito que manipula seu corpo fisico como seu
sempre teria existido, embor.a as almas individuais instrumento. Sua existência depende dessa psique, e
tenham vindo à existência em alguma distante não do corpo material. Por conseguinte, podemos
eternidade passada, em um processo de individualiza- falar no psiquismo existencial, porquanto a expressão
ção. A alma (psique) teria afinidade com os pode ser usada para apontar para a natureza essencial
Universais (vide), e, em certo sentido, pertence à ou metafisica do ser do homem.
categoria dos mesmos. A alma seria perene, mas, na 2. Aplicação Racional. A mente não se limita ao
redenção, tornar-se-ia eterna, por ser recebida de cérebro. As mentes contam com cérebros, que
volta ao mundo das Idéias (vide; a mesma coisa que os manipulam como veículos. Portanto, a razão não é
Universais). e patente que Platão acreditava na apenas uma qualidade cerebral. A razão vem da
preexistência da alma, e isso aliado à reencarnação mente. Em conseqüência, podemos falar sobre um
(vide). De modo geral, a sua opinião prevaleceu sobre psiquismo racional. A mente é a sede da razão e do
o judaismo-helenista, passando dai para o cristianis- pensamento.
mo, embora sem o concurso da idéia da reencarnação. 3. Aplicação Yolicional, A vontade do homem não é
Tenho apresentado vários artigos sobre a alma. Ver exercida por seu cérebro. Antes, a sua psique imaterial
sobre Alma, e uma série de artigos dentro do titulo tem a vontade como um de seus atributos. A vontade
Imortalidade. Três desses artigos abordam as pode deixar-se influenciar pelo meio ambiente, mas,
evidências cientificas em prol da existência da alma. acima de tudo, é uma qualidade espiritual.
Ver também o artigo Experiências Perto da Morte, 4. Aplicação Ética. A conduta ideal do ser humano
que é a nossa mais esperançosa maneira de nos é governada pelas qualidades de sua mente e de sua
aproximarmos da questão da existência da alma e sua razão, tendo por base a sua psique, e não por meras
sobrevivência ante a morte biol6gica, do ponto de condições materiais e ambientais.
vista cientifico. Ver também o artigo Projeção da 5. Os Fenômenos Pslquicos, Esses fenômenos são
Psique, que também tem importantes implicações reais, tendo por base a porção imaterial do homem, a
cientificas no tocante à alma. sua psique. Assim sendo, o psiquismo pode ser uma
5. Os /i16sofos estôicos preferiam usar a palavra espécie de termo geral que alude a todas as variedades
gregapneuma para indicar a «alma»: mas tinham dela de Ienêmenos psiquicos.
uma opinião materialista, supondo que a alma pode 6. Psiquismo Versus Espiritualidade, Os fenôme-
sobreviver à morte fisica, embora sujeita, com o nos psíquicos, por si mesmos, são neutros. Um
tempo, à dissolução, pelo que, finalmente, seria homem não é nem mais e nem menos espiritual devido
reabsorvida pelo Fogo Universal, onde perderia de a seus poderes telepáticos ou psicocinéticos. E nem é
todo a sua individualidade. mais ou é menos espiritual, somente porque recebe
6. A psique contrastada com o pneuma. Quanto a visões ou' sonhos que prevêem o futuro. As curas
isso, ver o artigo separado intitulado Pneuma. podem ser efetuadas mediante puros poderes psíqui-
7. A filosofia grega gradualmente foi concebendo a cos, sem qualquer intervenção do Espirito de Deus.
alma como se estivesse espiritualmente relacionada a Curas dessa ordem são boas, mas não são
Zeus, a fim de poder compartilhar de seus atributos. espiritualmente produzidas. Embora espíritos não-
E acabou identificada, ou, pelo menos, relacionada humanos, como os anjos ou os demênios, possam
ao principio danous (mente), cósmica ou pessoal. Ver produzir fenômenos psiquicos, assim também pode
sobre Nous, ser feito pelo homem, por ser ele um espirito. Como já
8. Nas páginas do Novo Testamento. A palavra dissemos, em si mesmos os fenômenos psiquicos são
grega psiché é usada no Novo Testamento por nada neutros, não sendo nem bons e nem maus, embora
menos de cento e cinco vezes. Damos aqui exemplos: possam ser postos a uso do bem ou do mal. Isso posto,
Mat. 10:28; 11:29; 12:18; 16:26; 22:37; Luc. 1:46; há um psiquismo que pode ser contrastado com a
10:27; 12:19; João 12:27; Atos 2:27,31,41,43; 3:23; espirituaTidade. A espiritualidade pode usar os
4:32; 7:14; 14:22; 15:24; Rom. 2:9; 1~:1; I Cor. fenômenos psiquicos com muitos propósitos; mas a
15:45; 11 Cor. 1:23; Efé. 6:6; Fil. 2:30; Col. 3:23; I presença desses poderes não significa que uma pessoa
Tes. 2:8; 5:23; Heb. 4:12; 6:19; 10:38,39; 13:17; Tia. que os manifeste em abundância seja mais espiritual
1:21; 5:20; I Ped. 1:9,22; 2:11,25; 3:20; 4:19; I João do que as pessoas que não os manifestam. Todas as
3:16; 111 João 2; Apo. 6:9; 16:3; 18:13,14; 20:4. pessoas são psíquicas; e penso que tenho demonstrado
Usualmente, psiché e pneuma aparecem no Novo amplamente isso nos artigos de minha autoria
Testamento como sínênímos. Entretanto, a forma denominados Sonhos e Parapsicologia. Entretanto,
501
PSIQUISMO - PTOLOMEUS
nem todos os individuos são espirituais. 'Pois a são proclamadas pela primeira vez. A tolerância
espiritualidade subentende o desenvolvimento positi- (vide) é um importante principio religioso que sempre
vo do espirito, levando-o a possuir, em algum grau, os deveria ter aplicação; e, acima disso, há aquele
atributos divinos. Para o crente verdadeiro, isso principio superior do amor, que é a própria essencia
significa estar sendo transformado segundo a imagem da espiritualidade. Mas a hostilidade contra as novas
de Cristo, levando-o de um estágio de gl6ria a outro idéias nem é tolerante e nem é amorosa.
(ver 11 Cor. 3:18). E é justamente isso que está
envolvido na filiação a Deus (ver Rom. 8:29). De
conformidade com essa filiação, o remido vai PTOLOMEUS
compartilhando crescentemente da natureza divina 1. Pano de Fundo
(ver 11 Ped. 1:4; Col. 2:9,10; Efé. 3:19). Qualquer 2. O Egito dos Ptolomeus: Breve Esboço
individuo é capaz de demonstrar poderes psiquicos (e, 3. A Dinastia Ptolemaica
de fato, todos assim o fazem), sem possuir esse tipo de
espiritualidade. Por outra parte, o psiquismo não é 4. Os Judeus no Egito
contrário à espiritualidade, a menos que um homem 1. Pano de Fundo
abuse do mesmo, mediante manifestações negativas. Ver o artigo geral intitulado Periodo Intertestamen-
Ver o artigo separado'chamado Psique, quanto a tal: Acontecimentos e Condições do Mundo ao Tempo
como essa palavra tem sido usada na filosofia e na de Jesus. A terceira seção desse artigo trata dos
teologia. Ptolomeus e dos Selêucidas, que foram os sucessores
de Alexandre, o Grande, no Egito e na Síria,
respectivamente. O reino de Alexandre, por ocasião
PTOLEMAIDA de sua morte, foi dividido entre os quatro principais
Ver sobre Aeo. generais de seu exército. As duas porções orientais
ficaram com generais separados: a Siria ficou com
Seleuco (e com base em seu nome é que temos os
PI'OLOMEU, CLÁUDIO selêucidas, que foram os seus sucessores); e o Egito
Suas datas aproximadas foram 100 - 170 D.C. Ele ficou com Ptolomeu (de cujo nome deriva-se o coletivo
foi um filósofo e cientista grego que se especializou na ptolomeus, que foram os seus sucessores). Outros
astronomia, e cujas idéias vieram a dominar essa dominios foram estabelecidos em resultado do
ciência durante muitos séculos. Ver o artigo intitulado falecimento de Alexandre, mas somente esses dois
Ptolomeu. Teoria Cósmica de. acerca de como suas revestem-se de alguma significação para a história
teorias tomaram-se a posição da ortodoxia cientifica e biblica. A principio, a Palestina ficou sob o controle
teológica. de tal modo que outro cientista, mais sirio; mas, não muito depois, passou para o controle
moderno, Galüeu (vide), não conseguiu derrubar. egípcio. Assim permaneceram as coisas durante cerca
Ptolomeu publicou sua grande obra sobre astrono- de cem anos, até 198 A.C. Durante esse periodo, os
mia, que versava sobre todos os planetas então judeus andaram dispersos, e Alexandria serviu de
conhecidos e sobre mil e vinte e duas estrelas, em importante centro politico e cultural, o que propiciou
cerca de 150 D.C. O artigo mencionado descreve os meios para o Antigo Testamento ser traduzido para o
pontos fundamentais dessa teoria. grego, tradução essa que tomou o nome de
Somente jâ nos tempos de Nicolau Copêrníco Septuaginta, também representada pelo simbolo
(século XVI) foram abandonadas as teorias de LXX, que significa 'setenta' em latim, por causa da
Ptolomeu, qüando novas idéias tiveram oportunidade tradição (obviamente falsa) que diz que essa tradução
de fornecer uma descrição melhor sobre o espaço foi completada em setenta e dois dias, feita por
sideral. setenta e dois tradutores judeus. Sob os ptolomeus,
Escritos. Composição Matemática (13 volumes); pois, os judeus prosperaram, e até exigiram que fosse
criado um importante centro religioso em Alexandria.
Óptica; Geografia Matemática.
2. O EgIto dos Ptolomeu: Breve Esboço
a. Sob os Ptolomeus [-[lI, o Egito foi sujeitado a
PTOLOMEU, TEORIA COSMICA DE reformas econômicas, que fizeram o pais prosperar.
Queremos falar sobre uma teoria formulada pelo b. Ptolomeu IV deixou no comando do pais um
astrônomo alexandrino, Cláudio Ptolomeu (cerca de principe amante dos prazeres, e seus ministros foram
l00'~l68 D.C.), alicerçado sobre conceitos de Platão e corruptos. O periodo dele foi assinalado pela guerra.
Aristóteles. Ele asseverava que a terra é o centro fixo c. As guerras prosseguiram, e houve perda de
do universo. Essa teoria também dizia que a terra é territórios ao tempo de Ptolomeu V. O controle do
circundada por esferas concêntricas sólidas, sete das egípcio passou para os selêucidas (cerca de 200 A.C.).
quais são os caminhos seguidos pelos corpos celestes d. Os conflitos com os selêucidas perturbaram a
em movimento, ao passo que a oitava, e mais externa, terra no tempo de Ptolomeu VI. Roma interveio no
seria a esfera das estrelas fixas. Mas Ga/i/eu (vide) conflito (180-145 A.C.). Antioco [V teve de
descobriu muitas provas contra tais idéias, e enfrentar a revolta dos Macabeus. O Egito passou a
cometeu a imperdoável «heresia» de asseverar que a ser governado por um triunvirato: Ptolomeu VI, seu
terra nem é fixa e nem é o centro do universo. A irmão, e Cleópatra Il, esposa de Ptolomeu.
indignação dos cientistas e teólogos da Idade Média, e. No período de Ptolomeu VII, a corrupção
que mantinha a ortodoxia ptolemaica, caiu sobre a tomou-se uma constante, e as comoções intestinas
cabeça de Galileu. E foi somente já em nossa própria tomaram-se comuns, por causa da desintegração das
época que a Igreja resolveu «perdoar» Galileu! Ver o condições econômicas. Templos foram construidos,
artigo sobre ele, que narra a história inteira. Toda na tentativa de aplacar as multidões, mas a verdade é
essa questão chama-nos a atenção para o fato de que que ôs egípcios queriam ficar libertos do dominio
tanto a ciência quanto a teologia podem estar estrangeiro.
equivocadas acerca de importantes questões, e que o f. Ptolomeu VIII (145-116 A.C.), mencionado em
caminho da investigação nunca deveria ser cerrado. I Macabeus 1:18 e 15:16, teve um reinado
As nOVM idêias com freqüência são surpreendentes, e desfavorável. Um ptolomeu não-real desse periodo foi
muitas vezes parecem trazer a aura da heresia quando o assassino do genro de Simão Macabeu (135 A.C.
502
PTOLOMEUS
Ver I Macabeus 1:16 ss), Duas rainhas, ambas de seu pai. Promoveu a biblioteca de Alexandria,
nome Cleópatra, estiveram associadas a esse monar- fundada por seu genitor. Erigiu o farol de Faros.
ca. Consolidou a economia e promoveu col8nias gregas no
g. Um declinio sem retomo assinalou o governo dos Egito. Entrou em conflito com os selêucidas, mas
ptolomeus egípcios, Ptolomeu IX foi expulso do acabou entrando em uma aliança com eles, dando sua
Egito, em 110 A.C., e o trono foi ocupado por seu filha; Berenice, a Antioco Il, como esposa. Porém, ela
irmão mais jovem, Ptolomeu X. Porém, Ptolomeu IX e o filho dela foram assassinados antes da própria
reconquistou o trono, e continuou governando o Egito morte de Ptolomeu 11 (a história geral talvez aludida
até cerca de 85 A.C. Revoltas caracterizaram o seu em Dan. 11:6). Antes de morrer, porém, Ptolomeu 11
perlodo duplo de governo. fundou vârias cidades. A tradição revela que ele foi o
h. Ptolomeu XII viveu à sombra da ameaça de p-atrono da tradução do Antigo Testamento para o
Roma, quando a maré da história esteve prestes a grego, chamada Versão Septuaginta, ou LXX.
produzir uma outra grande mudança nos aconteci- Faleceu em 247 A.C.
mentos, Ele foi forçado a exilar-se, em 58-55 A.C., e c. Ptolomeu 111. Nem bem subiu ao trono (em 247
o governo passou para as mãos de sua filha, Berenice A.C.), marchou contra a Sirla, a fim de vingar-se da
IV. Porém, individuos subornados fizeram-no voltar morte de sua irmã. Ao que parece, o trecho de Dan.
ao trono, e Berenice foi assassinada. 11:7,8 refere-se a essa campanha. Foi declarada
i. Cleópatra VII foi nomeada para suceder a guerra contra Antioco 111. Ptolomeu 111 foi bem-suce-
Ptolomeu XII, quando da morte deste, porquanto era dido na vingança. Em seguida, decorou o Egito com
sua filha. Ptolomeu XIII,. irmão dela, deveria templos e edificios públicos. As ruinas de seus
compartilhar do mando. Porém, estouraram rivali- esforços arquitetônicos ainda podem ser vistas até
dades entre os dois irmãos. Júlio César recebeu a hoje, como o templo de Horus, em Edfu, no Alto
tarefa de arbitrar entre os dois. Romântico envolvido Egito, embora os seus sucessores é que tenham
com Cleópatra, naturalmente tomou o partido dela. acabado essa construção. Ampliou a biblioteca de
Ptolomeu XIII revoltou-se diante disso, mas acabou Alexandria, e foi protetor dos eruditos.
sendo morto. Cesarion, filho de Júlio Cesar e de d. Ptomomeu IV. Subiu ao trono em 222 A.C.,
Cleópatra, estava sendo preparado para ocupar o tendo ali ficado até 20S A.C. Sua principal ocupação
trono do Egito, com o titulo de Ptolomeu XV. Ele era a busca pelos prazeres, embora tenha dedicado
governou como títere de sua mãe, desde 44 A.C., até a algum tempo à guerra. O trecho de 111 Macabeus
derrota em Ácio, em 30 A.C. Depois de Ácio, 1:1-5 faz menção à sua campanha contra os sirlos. A
Cesarion foi morto por Otâvio (que posteriormente foi fim de consolidar sua autoridade, mandou executar
o imperador Augusto). Cleópatra cometeu suicidio, e sua própria mãe, Berenice, seu irmão, Magas, e seu
assim o Egito passou para o dominio romano, em 30 tio, Lisimaco. E cometeu muitos e hediondos crimes.
A.C., tomando-se meramente uma provincia romana Em suas vit6rias sobre a Sirla, reconquistou a
dai por diante. Coele-Síria. Foi patrono das artes, da literatura e da
3. A DInatIa Ptolemalea (cerca de 323 - 30 A.C.): religião.
Ptolomeu I, Soter (305 - 282 A.C.) e. Ptolomeu V. As datas de seu reinado foram
Ptolomeu lI, Filadelfo (284 -246 A.C.) 204 - 180 A.C. Era ainda muito jovem quando
Ptolomeu 111, Evergetes 1(246 _ 222 A.C.) começou a reinar. Antioco 111 da Sirla conseguiu
P I IV Fil ( apossar-se da Palestina, tendo-a tomado do Egito
to omeu , opater 222 - 205 A.C.) (202 _ 198 A.C.), e foi assim que os judeus acabaram
Ptolomeu V, Epüânio (204 - 180 A.C.) sendo governados por dois senhores. Isso armou o
Ptolomeu VI, Filometer (180 - 145 A.C.) palco para a revolta dos Macabeus, contra a infame
Ptolomeu VII, Evergetes 11 (145 - 116 A.C.) dinastia dos Antiocos. Na tentativa de obter a paz,
Ptolomeu VIII, Soter 11 (116 - 110, 109, 88 - 80 Antioco IH deu sua filha a Ptolomeu V como esposa,
A.C.) quando Roma jâ começava a arbitrar sobre as
Ptolomeu IX, Alexandre I (110 • 109, 108/7 - pendências locais. Revoltas intestinas prejudicaram
88 A.C.) ao Egito, e a economia egipcia debilitou-se. Foi
Ptolomeu X, Alexandre II (80 A.C.) durante o reinado de Ptolomeu V que foi preparada a
Ptolomeu XI, Filopater Neos Dionísio ou Auletes Pedra de Rosetta (vide), um decreto baixado pelo
(80 - 51 A.C.) sacerdócio egipcio, em 196 A.C., em três escritas:
Ptolomeu XII (51 . 47 A.C.) hieróglifos egípcios, a escrita dem6tica e o grego. E
Ptolomeu XIII (47 - 44 A.C.) foi isso que permitiu, jã nos tempos de Napoleão, o
N.B. - Cleópatra VII compartilhou do mando entre deciframento da antiga língua egípcia.
50 e 30 A.C., com Ptolomeu IV, Filopater Filometor f. Ptolomeu VI. Seu governo foi de 180 a 145 A.C.
C aesar (44 - 30 A.C. ) . Subiu ao trono muito jovem, pelo que sua mãe
CIeópatra I , agIa . como regente. A n ti oco IV
Informei lIhtórieoa ReIaeIoIuuIo. . . . . :a.a consolidou conquistas sirlas no Egito, fazendo deste
a. Ptolomeu I. Ele foi um dos generais de um protetorado da Síria, Todos os estudiosos da
Alexandre, o Grande. Por ocasião da morte de Biblia conhecem a narrativa sobre Antioco IV
Alexandre, esse general tomou-se o sâtrapa do Egito Epífânio e como ele conspurcou o templo de
(cerca de 323 A.C.). Mais tarde, assumiu o titulo de Jerusalém,' diante do que os Macabeus revoltaram-se.
rei, tendo governado até 282 A.C. Seus dominios A passagem de Dan. 11:21 as como os livros de I e II
incluiam o Egito e a Palestina. Seu poder militar era Macabeus, em geral, narram a história dos conflitos
grande, e prosperou economicamente. A famosa dos judeus contra esse homem. Ptolomeu VI tentou
Biblioteca e Museu de Alexandria foi fundada por ele. fazer intervenções na Siria; mas não foi bem-sucedido
Ver o artigo chamado Alexandria, Biblioteca de. na empreitada, e, finalmente, veio a morrer de
Fundou a cidade de Ptolemaida (ver sobre Aro, nesta ferimentos recebidos em batalha. Os trechos de I
enciclopédia). Ele e Seleuco I talvez sejam os ..reis» Macabeus 1O:51~ss; 11:1 ss e Josefo (Anti. 13.4,5 8S)
referidos em Dan. 11 :5. prestam-nos algumas informações a respeito dele.
b. Ptolomeu 11. Ele foi o filho caçula de Ptolomeu I. Quando Antioco levou Ptolomeu VI como prisioneiro,
Governou durante dois anos, como co-regente com o irmão deste último proclamou-se rei, em Alexan·
503
PTOLOMEUS - PUA
dria. Então os dois irmãos governaram conjuntamen- acordo com a vontade expressa do senado romano.
te, até 168 A.C. Porém, a contenda acabou separando m. Ptolomeu XII. Ele e sua irmã, Cleópatra,
os dois, e Ptolomeu VI pediu socorro dos romanos. ocuparam o trono do Egito, de acordo com as
Um continuo estado de beligerância resultou em sua condições estipuladas no testamento de seu pai. Por
morte. Foi durante o seu governo que ocorreu grande ser muito jovem quando subiu ao trono, o eunuco
imigração de judeus, que estavam abandonando a Potino foi quem brandiu as rédeas do poder, pelo
Palestina, o que em muito aumentou a população menos durante algum tempo; mas Cleópatra, por ser
judaica no Egito. Isso teve lugar por causa da mais velha, pôs fim a esse estado de coisas. No
msegurança que então reinava na Palestina. entanto, considerando Potino um favorito, Ptolomeu
g. Ptolomeu VII. Ele governou de 145 a 115 A.C. XII expulsou sua pr6pria irmã. Em vista disso, ela
Era filho de Ptolomeu V. F oi também rei de Cirene. levantou um exército e invadiu o Egito. Pompeu, o
Cleôpatra fez seu filho infante ser coroado rei, mas Grande, procurando fugir do exército de Júlio César,
esse Ptolomeu invadiu o Egito. Os romanos chegou a Alexandria. Mas ali foi assassinado por
arranjaram para que Cle6patra se casasse com ele, e ordem de Ptolomeu XII. Júlio César desembarcou no
ele tomou-se rei. Imediatamente mandou matar o seu Egito. Mas Cleópatra encontrou-o de tal modo com
sobrinho. Seu governo foi assinalado por violências e suas graças femininas que ele a restaurou ao trono.
ultrajes contínuos. Foi então forçado a fugir para Quando César teve de arbitrar entre ela e seu irmão, a
Chipre, em 130 A.C. Porém, em 127 A.C., foi atração sexual foi o guia dele. E Ptolomeu, ainda em
restaurado ao poder. Apesar de seus crimes, havia um uma outra campanha militar, quando tentava
lado bom em sua vida. Ele foi patrono da literatura, e reconquistar o trono, acabou morrendo afogado.
ele mesmo foi autor de uma considerável obra sobre n. Ptolomeu XIII. Ap6s a morte de Ptolomeu XII,
história natural. seu irmão mais novo, Ptolomeu XIII, foi coroado e
h. Ptolomeu VIII. Governou entre 116 e 110 A.C., e casou-se com sua irmã, Cleópatra, por insistência de
então em 109, 88 - 80 A.C. Era filho de Ptolomeu VII. Júlio César (47 A.C.). Entretanto, Ptolomeu XIII
Ao subir ao trono casou-se com sua própria irmã, desapareceu da cena em 44 A.C., provavelmente
Cle6patra; mas foi forçado a divorciar-se dela, pela assassinado por ordem de Cleôpatra, a fim de que o
mãe dele. Em seguida, casou-se com sua irmã caçula, filho dela, Cesarion, pudesse subir ao trono. E
Selene. A mãe dele acusou-o de planejar uma revolta Cesarion foi Ptolomeu XIV.
contra ela, e ele foi forçado a fugir. Então ela chamou o. Ptolomeu XIV. Seu nome de batismo era
de volta a seu filho mais novo, Alexandre I, que estava Cesarion, e governou juntamente com sua mãe,
em Chipre. Porém, Ptolomeu VIII assumiu o controle Cle6patra, de 44 A.C. Até a derrota das forças,
do reino de seu irmão, e, durante dezoito anos, egipcias em Ácio (30 A.C.). Ptolomeu XIV era apenas
manteve Chipre como um reino independente. uma figura de adorno, que nada governava. Ap6s
Quando Alexandre I morreu, Soter retornou ao Egito aquela batalha, Cesarion foi executado por Otávio, o
e começou a governar conjuntamente com sua irmã, qual, posteriormente, veio a tomar-se o imperador
Berenice, até que ele veio a morrer. Esteve envolvido Augusto. Cesarion foi eliminado para que não mais
em muitas guerras e atos violentos, em muitos pudesse ser uma ameaça à supremacia romana no
levantes civis e estrangeiros. A cidade de Tebas, no Egito. Quando Ptolomeu XIV faleceu, o Egito foi
Egito, foi destruida em meio a tudo isso. reduzido a uma mera província romana, o que
i. Ptolomeu IX. Seu governo foi de 110 a 109 A.C., marcou o fim da era dos monarcas ptolomeus.
e novamente entre 108/7 e 88 A.C. Ele foi o 4. Os Jude... DO EPto
Alexandre I, descrito no ponto anterior, que esteve em Temos dado algumas noções a respeito ao longo
conflito com seu irmão. Começou a governar como rei deste verbete. Já vimos que uma considerável colônia
de Chipre; mas, quando seu irmão mais velho foi judaica formou-se no Egito, no periodo dos ptolo-
expulso pela mãe deles, então começou a governar meus. Foi em Alexandria que os judeus do Egito
conjuntamente com ela, que se tornou conhecida tomaram-se mais numerosos e fortes. A versão da
como Cleópatra 111. Vivia em dissipação e como Septuaginta (tradução do Antigo Testamento hebrai-
governante não foi grande coisa. Em 89 A.C., perdeu co para o grego) Iemergiu durante esse tempo (do
o trono, embora tivesse conseguido recapturar a século 111 A.C. em diante). Quando Antíoco 111, da
cidade de Alexandria. Mas, não demorou muito para Síria, conseguiu conquistar o Egito, a Palestina
ser expulso novamente. Finalmente, perdeu a vida em tomou-se um joguete nas mãos dos ptolomeus e
uma batalha naval ao largo de Chipre, numa última selêucidas. Antioco IV consolidou o poder sirio sobre
tentativa de recapturar o que havia perdido. a Palestina. Mas logo em seguida surgiram os
j. Ptolomeu X. Lutou contra seu irmão, Ptolomeu governantes judeus, os Macabeus, que realizaram a
IX, e conseguiu governar de 110 a 109 A.C., e outra façanha de obter independência dos judeus de
vez, entre 108/7 - 88 A.C. Sob proteção dos romanos, qualquer jugo estrangeiro por um breve periodo, até
apossou-se de Alexandria. Casou-se com sua prima, que Roma interveio e pôs fim a essa liberdade.
Berenice, rainha governante. Porém, somente vinte Bibliografia. AM BEV BEV(1927) NO SKE Z
dias ap6s o casamento, sob suas ordens ela foi
assassinada I Uma turba enfurecida matou-o, em
Alexandria. puA
1. Ptolomeu XI. Governou de 80 a 51 A.C. Era filho
ilegítimo de Ptolomeu IX. Era homem de mau-carâ- No hebraico «sopro», «declaração». E uma palavra
ter. Dirigiu o Egito em um período de grande aparentemente cognata deriva-se de uma raiz que
declínio, quando Roma ameaçava tomar conta do significa «esplêndido... Esse é o nome de dois homens
Egito. Mesmo assim, conseguiu subornar aos e de uma mulher, nas páginas do Antigo Testamento:
romanos. E isso, em combinação com os assassinatos 1. O pai de Tola, que foi um dos juizes de Israel
que cometeu, consolidou o seu governo. Mas, para (Jui. 10:1). Ele deve ter vivido por volta de 1240 A.C.
todos os efeitos práticos, os romanos é que 2. Um descendente de Issacar (Gên. 46:13). Nossa
controlavam o Egito. Forçado pelos romanos, acabou versão portuguesa, porém, grafa seu nome como Puva
deixando em herança o seu reino para seu filho e para (uma variante), enquanto que as outras duas pessoas
sua filha, a saber, Ptolomeu XII e Cleópatra, de são chamadas Puâ, Várias traduções intercambiam
504
PUBLICANO - PULGA
esses dois nomes. Puva viveu em cerca de 1700 A.C. posteriormente, sucedeu a Dionisio como bispo de
3. Uma das duas parteiras israelitas que receberam Atenas, na Grécia. E Jerônimo mencionou uma
ordem, da parte do Faraô, para tirarem a vida dos tradição na qual ele aparece como m6.rtir. e muito
meninos que nascessem às mulheres israelitas, mas dificil julgar a veracidade dessas tradições, as quais
que 'poupassem as vidas das meninas (ver ~xo. sempre tentam preencher os espaços em branco em
1:15-20). O nome da outra parteira era Sifrâ. nosso conhecimento, e que, por isso, na maioria das
Podemos imaginar que elas eram parteiras-chefes,_ e vezes consistem em fantasias da imaginaçlo.
que as demais parteiras dos israelitas obedeciam às
ordens dessas duas. PUL
No hebraico, «fortelO. No Antigo Testamento, esse é
PUBUCANO o nome de um rei assírio e de um povo, a saber:
Ver sobre CoIetorel de Im,...... Na antiguidade, 1. Pul é o nome alternativo do monarca assirio
as taxas e impostos freqiientemente eram coletados Tiglate-Pileser 111 (vide), o qual governou a Assina
por individuos privados empregados com esse em 745 - 727 A.C. e possível que Pul fosse seu nome
propósito, e não por agentes governamentais oficiais. pessoal, ao passo que Tiglate-Pileser fosse seu titulo
Naturalmente, tais individuas tiravam proveito da real. Tal titulo fora usado por um grande rei assino do
situação a fim de auferirem ganhos desonestos. Por passado. Os trechos de 11 Reis 15:19 e I Crô. 5:26
essa razão é que, no Novo Testamento, temos a mencionam-no por seu nome, Pul, Os historiadores e
expressão «publicanos e pecadores», reunindo duas arqueólogos tiveram de fazer muitas contorções até
classes que tinham grande afinidade de espírito, que ficou razoavelmente provado que Pul e Tiglate-Pí-
Pensava-sê- que nenhum publicano podia ser homem leser 111 foram nomes diferentes de um mesmo
honesto, tão má era a reputação da categoria. homem.
O termo significa coletor de impostos, embora, às 2. Pu1 também aparece, em Isa. 66:19 como nome
vezes, seja usado em sentido mais lato, dando a de um povo e pais africano. Todavia, os estudiosos
entender qualquer funcionário público. Bom número acreditam que na grafia dessa palavra, nessa
de coletores de impostos agia com desonestidade, passagem, há um erro, pois deveriamos ler ali Pute,
tanto em relação ao público como em relação ao conforme também aparece em algumas traduções.
governo, cobrando impostos ilegais e apresentando Ver o artigo sobre Pute, Nesse caso, fica definida a
relatórios falsificados, com a intenção de enriquecer Libia; de outra sorte, não se sabe onde, exatamente,
rapidamente. Não era raro que alguns publicanos dentro do território africano, ficaria Pul.
ameaçassem e até matassem a alguns para atingir os
seus propósitos. Havia duas classes de publicanos;
uma superior, formada pelos romanos da ordem PULGA
equitator, que em geral eram os dirigentes do No hebraico, parosh , termo que ocorre somente por
trabalho, responsáveis perante o governo romano; e duas vezes em todo o Antigo Testamento: I Sam.
outra inferior, formada por judeus, que trabalhavam 24:14 e 26:20. A pulga, da qual há duas espécies
nas vilas e cidades dos judeus. Mateus era um deles (cientificamente denominadas pulex e ctenocephali-
(ver Mat. 9:9). Quando Teócrito indagou: «Entre as des), é um inseto altamente especializado, pratica-
feras bravas, quais são as mais cruêís?» Ele mesmo mente formado somente de pernas. Se uma pulga
replicou: «Os ursos, os leões das montanhas, os tivesse o tamanho de um homem, seria capaz de saltar
publicanos e os caluniadores das cidades». O por cima de um edificio de dez andares I Os insetos
Talmude (vide) classifica os publicanos como adultos chupam o sangue de seus hospedeiros, pois,
salteadores e assassinos e declara que para tais sem isso, não podem reproduzir-se. As larvas vivem
homens não há chance de arrependimento. Ocupa- na poeira; portanto, quanto mais limpo for um lugar,
vam a posição de gentios, apesar de serem judeus de menos possibilidade haverá das pulgas multiplicarem-
raça. se.
Jesus usou esses homens tão detestados pelos judeus A pulga é um animal perigoso, transmissor de
como ilustração, afirmando que até tais homens eram diversas enfermidades, incluindo a temivel peste
amigos entre si. Pelo menos não ensinavam o ódio aos bubônica, transmitida a partir dos ratos. e dificil
inimigos, como o faziam as autoridades religiosas dos ver-se a pulga; e mais dificil ainda é matá-la. Trata-se
judeus. Jesus classificou como publicanos a todos de um inseto muito perturbador, por causa das
quantos não amam e não se mostram amigos. No picadas que dá na pele de uma pessoa.
reino de Deus a ordem das coisas terá de ser diferente. Esse inseto era muito comum nos países orientais.
Davi comparou-se a uma pulga, quando perseguido
por Saul; a fim de lançá-lo no descrédito (I Sam.
24:14). Davi estava fugindo do rei Saul, que estava
pOBuo resolvido a matá-lo. Porém, a quem o monarca estaria
No grego Pópllol; no latim, PIa"". Ele foi perseguindo? Somente a um cão ou a uma pulga. E,
homem liderante na ilha de Malta. Durante três dias com isso, Davi procurava mostrar a Saul que ele não
ofereceu hospitalidade a Paulo e aos seus companhei- era uma ameaça à segurança do monarca, por ser
ros de naufr'a;io ',(ver Atos 28:7,8), quando Paulo uma pessoa de pequena importância. Essa posição era
estava sendo conduzido a Roma como prisioneiro, a extremamente modesta, na verdade; e a história
fim de comparecer diante do tribunal de César (Nero). subseqüente demonstrou que Davi estava destinado
Seu pai estava então enfermo de disenteria e febre, pelo Senhor a ser um homem muito mais importante
mas foi curado por Paulo. para o reino e para os planos de Deus do que Saulo
O titulo que lhe é dado em grego, o protos, «o Há cerca de onze mil espécies de pulgas. Isso
primeiro», «chefe», tem sido confirmado pela arqueo- mostra que as coisas lilás, neste mundo, existem em
logia em inscrições da ilha de Malta. Talvez esse titulo meio a grande variedade. Uma pulga pode pular até
.fosse seu prenome romano. Provavelmente, atuava em 20 em de altura, e até 33 em para a frente. Seu
Malta como governador. O martirol6gio romano mecanismo de salto é uma autêntica catapulta, feita
assevera que ele foi o primeiro bispo de Malta, e que, de uma proteína elástica, chamada resilina. Algumas
505
PÜLPITO - PUNIÇAO CAPITAL
pulgas têm dois olhos; mas também há pulgas sem destrui-la. Mas confesso que é dificil perceber por que
olhos, cegas. Mas essa variedade mesmo assim não todo o castigo precisa visar à reabilitação. De fato, há
deixa de encontrar a sua presa, presumivelmente crimes, como o assassinato premeditado, que
devido ao calor sentido, ou ao sentido de olfato. Há requerem uma justa retaliação, inteiramente à parte
espécies que tendem por especializar-se em determi- do principio de reabilitação. Existem criminosos
nadas formas de vida animal. Há muitas piadas irrecuperáveis! E dificil ver como o homicidio pode ser
modernas sobre a pulga. Algumas pessoas têm a considerado um crime que não merece a punição
paciência de treinar pulgas, formando circos de capital. Há aquele argumento que diz que a punição
pulgas com elas! Mas, estar com pulgas à noite, no capital não serve de detenção para o crime, não baixa
leito, não é nenhuma brincadeira! a taxa de criminalidade. Mas, o criminoso contumaz,
A maneira como a natureza equipou a pulga uma vez executado, não continua fazendo vitimas
também não é nenhuma brincadeira. Pode permane- inocentes! E é por isso que ele deve ser executado. E,
cer no interior de seu casulo quase indefinidamente, se a taxa de criminalidade baixa ou não, isso não vem
até sentir as vibrações que indicam a presença de ao caso. A justiça é um principio que existe
algum hospedeiro. Então a pulga sai de seu casulo, inteiramente à parte da questão da prevenção. No
transforma-se em um inseto adulto e ataca. Um caso de muitos clérigos «humanitários», que evocam a
edificio vazio pode conter um grande número de questão dos direitos humanos para os bandidos e
pulgas, mas que permanecem ocultas em seus criminosos, eles olvidam-se de duas coisas: 1. Os
casulos. Quando pessoas passam a ocupar o edifício, direitos humanos das vítimas' desses criminosos. 2. A
causando as vibrações que despertam as pulgas, estas Inquisição fez milhões de vitimas, por motivos
começam a aparecer. E não demora a haver uma religiosos, consideradas hereges do ponto de vista de
praga de pulgas. Uma pulga adulta pode viver nada seus perseguidores, embora não tivessem outra culpa
menos do que um ano, para garantir que todas as suas além de não concordarem com certas doutrinas da
vitimas sintam-se o mais desconfortáveis possívell hierarquia de Roma. Essa hierarquia, que se tomou
culpada da perda da vida de milhões de criaturas
humanas, em muitos paises, por vários séculos, agora
POLPITO se faz defensora de bandidos! Todo o amor e
paciência cristãos não chegam para fechar-nos os
Essa palavra portuguesa vem do latim pulpltum, olhos a tão lamentável distorção dos direitos,
«palco», «plataforma». Ela ocorre em várias traduções pespegada em nome de Cristo, e contrária aos
(como na nossa versão portuguesa), em Nee. 8:4, princípios ensinados por Deus em sua Palavra!
como tradução da palavra hebraica migdal, «lugar As observações da sociologia mostram que a
elevado.., «plataforma». Esdras postou-se sobre uma leniência ou o rigor contra a criminalidade obedecem
plataforma a fim de ler, diante do povo reunido, as a um regime de pêndulo de relógio. Quando a
Escrituras Sagradas. Talvez o chão da plataforma criminalidade atinge niveis insuportáveis, a sociedade
fosse atingido por meio de uma escada. A elevação exige maior rigor contra os bandidos, e a taxa de
serviu para torná-lo conspicuo e para que pudesse ser criminalidade desce; mas então surgem em cena os
facilmente ouvido pela multidão numerosa reunida. «humanitários», recomendando tratamento brando
Naturalmente, nem devemos pensar que a migdal, para os criminosos, e a taxa de criminalidade sobe.
nesse caso, se assemelhasse aos púlpitos das modernas Será que isso não encerra nenhuma lição para nós? A
igrejas cristãs, embora a finalidade seja mais ou brandura para com os criminosos é quase uma
menos a mesma-permitir que o orador seja conivência com eles, pois provoca-lhes o atrevimento.
facilmente visto e ouvido pelos presentes. Até quando continuará esse estado de coisas? O Juiz
de toda a terra voltará a fim de governar o mundo.
F'â-Io-â com luva de arminho ou com manopla de
PUNIÇÃO ferro? Ver Apo. 12:5. Diz Apocalipse 19:15: «Sai da
Quanto aos castigos temporais, ver o artigo Crimes sua (de Jesus) boca uma espada afiada, para com ela
e Castigos. Quanto à punição eterna dos perdidos, ver ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de
o verbete JulRamento de Deus dos Homens Perdidos. ferro, e pessoalmente pisa o lagar do vinho do furor da
Quanto ao fato de que a missão tridimensional de ira do Deus Todo-poderoso». A ira de Deus pesa sobre
Cristo atingiu e continua atingindo oprôprio Iugar de os impios rebeldes; a sua misericórdia paira sobre os
punição dos perdidos, ver o artigo Descida de Cristo que se humilham e se arrependem! Ver João 3:36.
ao Hades, Ver também os artigos Restauração e Um Princípio Espiritual Envolvido. Há um
Missão Universal do Lagos (Cristo). principio espiritual envolvido nessa questão, que
tanto os proponentes quanto os opositoresda punição
capital usualmente não levam em conta. E que, para
PUNIÇÃO CAPITAL os criminosos, a ameaça de morte iminente é, com
Ver os artigos sobre Punição. Crime e Castigo e freqüência, a única coisa que os leva a reavaliar a sua
Retribuição. Não há que duvidar que a punição vida e os seus atos, impelindo-os a buscarem alguma
capital, mediante a qual alguém perde a sua vida renovação espiritual; e não poucos deles têm-se
fisica, por causa de algum crime cometido, faz parte convertido à fé cristã, sob as tensões envolvidas na
integral da ética do Antigo e do Novo Testamentos. ameaça da perda da existência fisica. Isso redunda em
Ver Gên. 9:6 e Rom. 13:4. A legislação mosaica bem para os espiritos dos criminosos. Pois a lei da
alistava diversos crimes em vista dos quais uma pessoa colheita conforme a semeadura, quando devidamente
deveria perder a vida (Núm. 15:32 ss; Lev. aplicada, sempre redunda no bem daqueles que
20:2,9,10,27; Deu. 17:3 ss; 22:25). O artigo sobre fazem a colheita.
Crime e Castigo, sob o subtítulo Apedrejamento, Quando a Retribuição Pura Também é Reabilita-
fornece detalhes completos sobre essa questão. ção. O mundo opera com base na lei da colheita
Porém, muitos filósofos, pol íticos, sociólogos e segundo a semeadura (ver Gál. 6:7,8). Se alguém
clérigos modernos se opõem à punição capital, com torna-se um assassino, haverá de beneficiar-se
base em supostas razões humanitárias, paralelamente espiritualmente, mesmo que não se converta, ao
à idéia de que é melhor recuperar uma vida do que sofrer a justa retaliação por seu crime; pois, dessa
506
PUNIÇÁO CAPITAL
forma, terá pago a sua divida e estará livre para PUNIçÃO CORPORAL
prosseguir na busca espiritual. Portanto, aquilo que A expressão indica alguma espécie de castigo que
poderia ser classificado como pura retribuição, do envolve o corpo fisico, em contraste com multas ou
ponto de vista físico e terreno, pode tornar-se um ato com a punição capital ou execução. A punição
de reabilitação espiritual, para que o espirito possa corporal pode ser aplicada mediante açoites, choques
entrar no mundo dos espíritos, não prosseguindo, elétricos, torturas diversas, encarceramento, limita·
neste mundo, em sua caminhada delituosa. Isso não ção de alimentos a pão e âgua, espancamento,
significa que haja nisso qualquer expiação, no sentido trabalhos forçados, confinamento em prisão solitária
teológico. Não há expiação na morte de um criminoso e até mesmo abusos sexuais, sob condições sub-hu-
apanhado e justiçado. Mas, tal execução pode manas.
significar que, tendo aquele espirito partido para as 1. Punições Corporais Privadas. Os pais discipli-
dimensões espirituais, e estando ainda sujeito ao nam seus filhos com varadas, conforme a sugestão de
ministério remidor de Cristo (ver I Ped. 4:6), ele Provérbios 13:24, onde se lê que o pai que não usa da
estará em melhor posição de ser beneficiârio da vara odeia a seu filho. Os pais também privam seus
missão de Cristo, do que se tivesse chegado, filhos de certos alimentos, como doces e guloseimas,
finalmente, ao mundo dos espiritos, sem haver por algum tempo. Outros fazem seus filhos posta-
saldado a sua divida diante dos homens. Aquele que rem-se em posições cansativas, como ficar com as
já pOlgou por Ollgurn erirne g r ave , eertOlrnente mãos levantadas por longos períodos de tempo.
mostrar-se-á mais responsivo para com a chamada de Costuma-se jogar um copo de água sobre o rosto da
Cristo, do outro lado da sepultura, do que aquele que criança iracunda. Há muitas variedades de. c~tigos.
partiu para a outra existência sobrecarregado de Algumas formas chegam a ser mesmo cnmtnosas,
crimes e de culpa, por não haver pago sua divida quando causam grande dor e/ou deformações.
diante da sociedade, enquanto ainda estava no corpo Algumas crianças, filhos de pais violentos, nunca
físico. conseguem recuperar-se inteiramente dos espanca-
Circunstâncias Mitigadoras, O argumento acima mentos recebidos de seusgenitores. Alguns
não pretende negar que, algumas vezes, até mesmo psicólogos modernos objetam a qualquer forma de
crimes como o homicídio não devem ser castigados punição corporal; mas a moderação nesse campo,
mediante a punição capital. Pode haver circunstân- como em tudo o mais na vida, parece ser a atitude
cias mitigadoras, quando então um tempopassado no mais aconselhável. Porém, se a disciplina corporal
cárcere pode ser mais apropriado e justo do que a não for acompanhada pelo amor, nem mesmo a
execução capital. O que não se pode esperar é que um moderação é aconselhâvel. Uma criança que. estA
tratamento mais brando, dado a criminosos, por si só sendo disciplinada, se também sabe que é amada,
seja capaz de recuperá-los. O criminoso é alguém que absorve bem algumas palmadas ou coisa semelhante,
quer satisfazer a seus maus desejos; ea perda da tirando proveito do castigo.
liberdade, enquanto ele estiver encarcerado, ê
2. Nas Escolas. Em muitos países, a legislação
suficiente para enfezá-lo, anulando qualquer bom retirou dos professores o direito de aplicarem
efeito da leniência. Isso comprova-se de cada vez em punições corporais de qualquer espécie a seus alunos.
que algum criminoso consegue fugir da prisão. Ele Pode-se debater se essa proibição é correta ou não,
recupera-se com a fuga, ou reenceta sua vida de Tal debate jamais chegará a um fim, porquanto o
crimes, com maior sanha ainda? O criminoso o é sucesso ou fracasso de tal disciplina depende de cada
desde o coração; as circunstâncias externas em coisa professor. Alguns professores são capazes de usar de
alguma alteram isso. Muitos criminosos procedem de punição corporal de forma humana e moderada,
classes abastadas, usando seus vastos recursos para resultando em um bem para o aluno. No entanto,
aprimorarem seus métodos criminosos e para melhor isso tem sido freqüentemente sujeitado a abusos nas
ocultarem os seus crimes. A sociologia tem fracassa- escolas, resultando em danos permanentes, em alguns
do, na busca da grande causa da criminalidade, casos. Visto não haver como separar com eficácia os
porque não a busca no coração humanol bons dos maus professores, em situações escolares,
A Multiplicação dos Crimes. É fato largamente os governos usualmente têm achado por bem
demonstrado que os criminosos, quando são final- simplesmente proibir qualquer forma de castigo
mente apanhados, usualmente já acumularam muitos físico.
crimes em seu rol de atividades. No entanto, a justiça 3. Nas Prisões. As punições corporais não são
humana cai no absurdo de julgá-los e puni-los apenas proibidas nas prisões e detenções de muitos países,
por um crime. Nem mesmo a filosofia concorda com sendo mesmo provável que elas ocorram em
isso. Platão assegurava que a pior coisa que pode praticamente todas as instituições penais, com ou sem
suceder a um homem é escapar ele da devida punição, a sanção da lei. Em vârios países, os códigos criminais
quando se fez culpado. Quando isso sucede, sua alma determinam especificamente formas de punição
corrompe-se definitivamente; e isso é questão muito corporal no caso de certos crimes. Uma prisão é um
mais séria do que não castigar ao criminoso com o lugar onde os criminosos pagam e sofrem pelos crimes
devido rigor. Mas, quando um criminoso é finalmente cometidos; mas, até mesmo ali principios humanitâ-
apanhado, a justiça humana só pensa em abrandar a rios deveriam ser observados. Porém, em nome dos
pena. Não me admiro que a taxa de criminalidade direitos humanos, em alguns países os criminosos são
aumente cada vez mais em muitos paises, onde os tratados com regalias tais, embora sejam assassinos e
homens acabam pensando que podem fazer o que estupradores frios, como a sociedade não trataria de
bem entenderem, sem qualquer conseqüência mais suas vitimas, reais ou potenciais. As observações da
séria I Nos paises árabes, um ladrão apanhado perde sociologia mostram que o tratamento conferido aos
uma das mãos; na segunda vez, perde a outra mão. É prisioneiros acompanha um regime de pêndulo.
ali que se encontram as mais baixas taxas de Quando a criminalidade aumenta demais, o clamor
criminalidade do mundo! Isso não encerra alguma popular exige um castigo mais severo contra os crimi-
lição para nós? (H) nosos, depois de algum tempo, os sentimentos de
humanidade requerem um tratamento cada vez mais
brando conferido aos criminosos, até que uma nova
••••••••• virulência de criminalidade demande novamente o
507
PUNIÇÃO ETERNA - PUREZA
endurecimento das atitudes contra os criminosos. seitas fazem uso desses livros quanto às suas idéias
Nestes meados da década de 1980, no Brasil, estamos basilares, sobretudo no tocante à origem das coisas.
experimentando uma fase de abrandamento, e a
criminalidade vem aumentando assustadoramente. Já .PUREZA
podemos prever que, dentro de algum tempo, o
pêndulo começará a gravitar para o lado oposto. (H) Ver sobre Sanddade e PurIfIcaçIo.
Esboço:
1. As Palavras e suas Definições
PUNIÇÃO RTERNA 2. A Pureza Cerimonial
Ver sobre o Julgamento. 3. Meios de Purificação
4. A Pureza Racial
5. A Pureza Moral e Espiritual
PUNOM 1. As Palanu e Suas DefInIç8es
No hebraico «trevas». Esse era o nome de uma O termo português «puro.. vem do latim, punu,
cidade de Edo:O, o lugar onde os israelitas fizeram «limpo», «claro», «casto.., «sem defeito». Várias
alto em sua marcha, certa ocasião, quando vaguea- palavras hebraicas são assim traduzidas:
vam pelo deserto (ver Núm. 33:42 ss), Chegaram eles
ali no segundo dia após terem partido do monte Hor, a. Tahor, que significa moral e cerimonialmente
«limpo», embora também possa indicar algo «bonito..
e antes de chegarem a Moabe. ou «limpo», Ver exemplos dessa palavra em Éxo.
Punom era um centro de mineração, e pode refletir
o nome de certo chefe edomita, Pinom (que algumas
25:11,17,24; 28:14; Lev. 24:4,6; I c-e.28:17; Eze.
6:20; Sal. 12:6; Mal. 1:11. Essa palavra hebraica é
traduções têm como alternativa para o nome Punam), aplicada a pessoas, coisas e estados, por nada menos
que ali teria residido (ver Gên. 36:41). Eusébio de noventa e quatro vezes no Antigo Testamento. O
informa-nos que condenados eram forçados a ouro é puro quando corretamente refinado; um
trabalhar nas minas da área, que era rica em cobre homem é considerado puro quando isento de
(ver Onamasticon 299, 85; 123, 9). A arqueologia tem corrupções morais; uma oferenda é pura quando
descoberto que ali se praticava a mineração desde tão oferecida segundo as prescrições leviticas e pela
cedo quanto 2200 A.C. Sofreu vários periodos de pessoa apropriada.
abandono mas era uma área próspera nos tempos b. Zak, «puro.., «limpo.., «claro». Essa palavra
romanos 'e mesmo depois. A moderna Feinan ocorre por onze vezes, como se vê nos seguintes
assinala ~ antigo local. Nas proximidades, ainda há exemplos: em Êxo, 30:34 (acerca do incenso); Lev.
minas e fundições, a saber, em Khirbet en-Nahas e 24:3 (acerca do azeite de oliveira); J6. 8:6 (acerca do
em Khirbet Nqieb Aseimer. Algumas minas da época homem); Pro. 20:11 (acerca das obras humanas).
bizantina ainda são visiveis na região, incluindo as
ruínas de uma basílica e de um mosteiro cristãos. c. Sagar, «refinar», «encerrar». Seu sentido normal
Uma inscrição do bispo Teodoro (587 - S88 D.C.) foi é «encerrar.., «fechar», sendo de ocorrência bastante
encontrada entre as minas do mosteiro. comum com esse sentido; no entanto, no participio
passado, ocorre com o sentido de «refinar», «purifi-
Jerônimo indicou que Punam era uma pequena car~ por oito ve:zes:: I Reis 6:20.21: 7:49.50: 10:21: 11
aldeJA C1l1 :seus diAB, oçupAdA DA 1l1iner~Ao do çobie
(realizada quase inteiramente por condenados). De erô: 4:20,22; 9:20. E palavra usada para indicar a
pureza do ouro refinado.
acordo com as descrições de Jerônimo, ficava entre
Petra e Zoar. d.· Taher, «brilhar.., «ser inocente», «expurgar».
Essa palavra é usada acerca de um homem, em Pro.
20:9 e J6. 4: 17, dando a entender um homem que não
é puro como o seu Criador.
POR No Novo Testamento, por sua vez, encontramos as
Ver sobre Purlm. seguintes palavras gregas:
a. Kathurôs, «puro.., «limpo». Esse vocábulo
aparece-por vinte e seis vezes: Mat. 5:8; 23:26; 27:59;
PURA Luc. 11:41; João 13:10,11; 15:3; Atos 18:6; 20:26;
No hebraico, «ornamentação», «folhagem... Esse era Rom. 14:20; I Tim. 1:5; 3:9; 11 Tim. 1:3; 2:22; Tito
o nome de um servo de Gideão (ver Jui. 7:10-14), e 1:15; Heb. 10:22; Tia. 1:27; I Ped. 1:22; Apo, 15:6;
que viveu no século ~II A.C. Por ordem do Senhor, 19:8,14; 21:18,21.
Gideão e Pura foram-se arrastando até perto do b. Agn6s, «puro», «casto», «claro... Esse adjetivo é
acampamento dos midianitas e amalequitas e usado por oito vezes: 11 Cor. 7:11; 11:2; Fil. 4:8; I
conseguiram ouvir um soldado contar o seu sonho, Tim. 5:22; Tito 2:5; Tia. 3:17; I Ped. 3:2; I João 3:3.
que falava sobre a destruição de Midiã, inimiga de c. Eilikrinés, «puro.., «sincero». Termo usado por
Israel. duas vezes: Fil. 1:10 e II Ped. 3:1. O substantivo.
eilikrinta, aparece por três vezes: I Cor. 5:8; 11 Cor.
1:12; 2:17.
2. A Pureza Cedmonlal
PURANAS Ver os artigos separados intitulados Limpo e
Uma coletânea de dezoito livros de poemas Imundo e Imundicia, quanto a detalhes sobre esse
religiosos, que constituem as sagradas escrituras da fé assunto. «A significação bíblica original (da pureza)
religiosa hindu popular. Ver sobre Hindulsmo e era cerimonial. Essa pureza deveria ser obtida
Filosofia Hindu. A terceira seção do primeiro desses mediante certas abluções e purificações impostas aos
livros apresenta uma discussão geral sobre a literatura adoradores no cumprimento de seus deveres religio-
dessa fé. Esses documentos particulares tentam sos ... no caso de Israel, a purificação cerimonial tinha
descrever a origem das coisas, do mundo, do tempo, aspectos sanitários e éticos.. (NO). Ver o artigo
dos deuses" e dos Vedas. Contêm algum material Purificação.
antigo. Mas, na forma em que existem, quase tudo
procede do século IV D.C. e posteriormente. Várias •••••••••
508
PUREZA - PUROA1'ÚRIO
3. MeiOlI de ParUIeaçIo instrumento a serviço de Deus, terá de ser puro (ver 11
a. Metliante o fogo. Como no processo do refino de Tim.2:21).
metais. processo esse que tinha usos metafóricós. Ver «Isso posto, a pureza é a atitude de renúncia e de
Zac. 13:9; Mal. 3:2; Sal. 12:6; Luc. 3:16 ss; 12:49: obediência que põe em sujeição a Cristo todo
Apo. 3:18. Mui provavelmente foi desse processo de pensamento, sentimento e ação, Começa no intimo e
purificação que se originaram as idéias do julgamento se exterioriza atingindo todos os aspectos da vida,
pelo fogo. Ver I Cor. 3:12 ss: Luc. 3:16 ss; 12:49. purificando todos os modos da existência e controlan-
b. Mediante a água. O principal agente de limpeza do todos os movimentos do corpo e do espírito- (NO).
é a água. Ver Êxo, 19:10: Núm. 19:17-21; 31:23: Deu. A mente deve demorar-se sobre pensamentos puros e
21:6: Sal. 24:4: Mat. 3:11: 27:24. Dai surgiu, sobre outras qualidades morais e espirituais. a fim de
metaforicamente, o batismo. que o homem interior possa ir sendo transformado
c. Mediante meios espirituais, a fim de ser segundo o grande modelei que é Cristo (ver Fil. 4:8;
conseguida a pureza moral e espiritual. Ver I Sam. Rom. 12:1,2).
16:18: Mat. 5:34-37; Col. 4:6; I Tim. 4:12; Apo. 19:8.
As fés hebraica e cristã têm enfatizado esse aspecto da
questão, em contraste com a esmagadora maioria das PURGATORlO
religiões pagãs, Ver o artigo geral sobre a Santifica- O leitor deve consultar o artigo intitulado FAtado
ção: A regeneração é comparada com uma limpeza, Intenllecllido. especialmente em seu- ponto qua1t0 ,
em Tito 3:5, e, conforme esse mesmo versiculo ensina, que procura descrever as várias divisões da religilo
isso é obra do Espírito de Deus. Jesus, o Senhor, é o cristã que têm pensado acerca dessa questão.
agente ativo nessa operação, Esboço:
4. A Pmeza R.dal I. Origem Possivel da Doutrina
Essa questão era critica em Israel, porquanto Deus 11. Caracterização Geral; Informes Históricos
havia separado esse povo como sua possessão A
exclusiva. Essa separação de Israel de outros povos foi IH. Idéias das Comunidades Ortodoxa e nglicana
efetuada sobre bases religiosas, e não sobre bases IV. Orações pelos Mortos
raciais distintas. Ver Bxo. 19:6; Esd. 9:2: 10:10,44; V. O Verdadeiro Purgatório
João 4:22; Rom. 9:3; H Cor. 11:22; Fíl. 3:5. O povo L Ortaem ....veI da Doatrlaa
de Israel tomou-se simbolo do Israel espiritual, Muitas crenças -partem da experiência humana. e
composto dos regenerados, conforme é salientado no quando estamos estudando as crenças .religiosas,
nono capitulo de Romanos. E o trecho de H Cor. 6:14 então precisamos incluir as experiências misticas ou
as alude à necessidade de separação para o Israel transcendentais. Mediante a razão, pode-se supor que
espiritual, a Igreja. Ver também Gál. 3:6-9,14,16,18; as almas que não são suficientemente más para ir
6:16. para o inferno. e nem suficientemente boas para ir
S. A Pureza MonI e E-plrltual para o céu, têm que sofrer alguma forma de
A legislação mosaica dá grande importância ao purificação, como preparação para o ingresso no céu.
problema do pecado e sua polução, e não meramente Esse sentimento parece refletido em I Cor. 3:12 ss,
ao lado cerimonial da fé religiosa. Dai é que proveio a que a Igreja Cat6lica Romana usa como prova de
necessidade do Dia de Expiação (ver Lev. 16). O texto da existência do purgatório. Naturalmente.
sacerdócio de Israel tinha de ser puro em símbolo e de protestantes e evangélicos' negam que exista tal
fato (ver Lev. 16:6). Jesus criticou a mera pureza referência naquela passagem, e percebem na mesma
cerimonial, que foi um dos grandes abusos emque se apenas um aspecto do julgamento dos crentes. Ver H
precipitou o judaísmo. Ver Mar. 7:3 ss; Luc. Cor. 5:10 ss quanto ~ principal menção biblica a esse
11:39-41. julgamento. Mas o catolicismo romano vê o
Os patriarcas. profetas e poetas do Antigo «purgatôrio» em passagens escrituristicas assim,
Testamento referiram-se à pureza moral e espiritual sendo significativo que o fogo é o símbolo daquele
como algo necessário para a espiritualidade genuína. julgamento, tal como é simbolo do julgamento dos
Os dez mandamentos estavam envolvidos nisso (ver impios. Quanto a detalhes completos sobre o assunto,
Êxo, 20). Davi aludiu à pureza como um elemento ver os artigos separados intitulados Julgamento de
necessário à comunhão com o Senhor (Sal. 24:3 ss), Cristo. Tribunal de e Julgamento do Crente por Deus.
«Mãos puras» era uma expressão equivalente à Algumas vezes. a razão é apoiada pela revelação.
inocência (ver J6 17:9: Sal. 18:20; Mat. 27:24). Davi Esse é o caso do raciocinio concernente à necessidade
entendeu que o importante é ter um coração limpo e que os crentes têm de ser purificados. sendo julgados
puro (ver Sal. 51:7,10). J6 referiu-se a estar limpo em consonância com a lei da colheita segundo a
diante de Deus (ver J6. 11:4). O profeta Ezequiel semeadura. Mas, acima da razão, temos a experiência
enfatizou a necessidade de pureza nacional (ver Eze. humana. As experiências mlstiCa8 presumivelmente
36:25). O escritor dos Provérbios via o valor de uma fornecem-nos alguma informação sobre o que
linguagem pura e de uma clara moralidade (Pro. devemos esperar para além da morte biolôgíca, e essa
22: 11). informação inclui a questão do julgamento. As
No Novo Testamento, no Sermão da Montanha, pesquisas quanto aos fenômenos psíquíeos, que
Jesus ensinou que somente os limpos de coração procuram espiar para além da morte e entrar nas
podem ter a expectação de ver a Deus (Mat. 5:8). O esferas espirituais além, como as Experiências Perto
trecho de Joio 13:3-11 ilustra a pureza de vida, na da Morte (vide). e o uso da regressão hipnótica, que
ordenança do lava-pés. Os servos de Deus precisam procura descobrir vida-entre-vidas, ou seja. presu-
ser puros (ver 11 Cor. 6:4,6). Os jovens inclinam-se miveis experiSncias que as pessoas têm entre as
para as impurezas morais ao entrarem em contacto encarnações. descobrem condições parecidas com as
com as experiências da vida; mas um jovem espiritual de um imaginado purgatório, no caso de algumas
repele essa tendência (ver I Tim, 1:5; 4:12; 5:2). Tiago pessoas, embora não certamente no caso de todas. O
exortou todos os crentes a buscarem a pureza (Tia. pecado mui definidamente segue uma pessoa até além
1:27; 4:8). Pedro mencionou a necessidade da alma da vida presente. - e ali cada qual se encontra
ser purificada, pois é ali que jaz a corrupção moral novamente consigo mesmo, .com todas as suas
(ver I Ped. 1:22). Se alguém quiser ser um bondades e maldades, com todos os seus triunfos e
509
PURGATORIO
fracassos. Algumas pessoas, que morreram clinica- afirmavam que a punição do purgatório inclui tanto a
mente, ou chegaram à beira da morte, ocasionalmen- privação da presença de Deus quanto o julgamento
te passam por experiências tipo hades ou purgatório, através do fogo tpoena damni e poena sensus), Os
estando naquele estado. As estatísticas indicam que intérpretes, entretanto, estão divididos quanto à
cerca de uma quarta parte daqueles que passam por questão, pois alguns pensam que as chamas são meros
experiências de quase morte têm alguma espécie de simbolos de julgamento, ao passo que outros pensam
«viagem negativa». E essas experiências podem ter em chamas literais. Porém, não conseguem explicar,
sido um fator por detrás do desenvolvimento da estes últimos, como as almas podem sofrer em chamas
doutrina oficial do purgatório, dentro da Igreja literais I
Católica Romana. Presumiveis experiências entre
encarnações (ver sobre a Reencarnação) podem ser AJauu1Dforme. hl&tódcos IIObre o clesenvol'rimeDto
da doutrina do puqat6do:
bastante similares àquelas. Mas, nesse caso, elas
podem ser tanto negativas (purgatoriais) quanto 1. A real origem da doutrina do purgatório pode ser
podem ser positivas (paradisiacas). Essas experiências sugerida na primeira seção, acima.
são chamadas experiências da metaconsciência, 2. O trecho de 11 Macabeus 12:42-45 oferece à
Os estudos que estão sendo efetuados nesse terreno mente católica romana ('iue aceita os livros apócrifos
deveriam continuar, ainda que, no presente, existam como inspirados e canonicos) uma .demonstração
poucas provas objetivas da validade de tais experiên- adequada de que as preces e os sacrificios de seres
cias. Pessoalmente, confiro grande importância a humanos vivos podem ajudar a melhorar as condições
experiências daqueles que estiveram clinicamente das almas que se desincorporaram.
mortos, ou quase nesse estado, e então voltaram à 3. Supostos textos de prova neotestamentârios, na
vida. O meu artigo sobre essas experiências, aborda opinião dos eruditos católicos romanos, são: I Cor.
pormenores. Ver sobre Experiências Perto da Morte. 3:12 ss (onde as chamas são mencionadas), e 11 Cor.
Os julgamentos sofridos durante essas experiências 5:10 ss,
não são juizos definitivos, mas apenas orientações 4. O trecho de Luc. 16:19-31 parece fazer estagnar
que, algumas vezes, incluem sofrimentos. O juizo o estado das almas dos mortos; mas o relato da
final só ocorrerâ terminado o milênio, que serâ descida de Cristo ao hades (ver I Ped. 3:18-4:6)
inaugurado após a Grande Tribulação. O julgamento mostra que a missão tridimensional de Cristo não
final, pois, serâ precedido por esses juizos orientado- deixou o hades em estado de estagnação. De fato, I
res, visto que o destino eterno de cada alma não é Ped. 4:6 mostra que o julgamento será remedíal, Os
determinado por ocasião da morte biológica. Ver I católicos romanos aplicam isso somente aos mortos
Ped. 4:6, que mostra que até o julgamento do hades é justos, mas I Ped. 3:20 ensina que a pregação do
remedial, e não apenas vindicativo. Jesus anunciou o evangelho, no hades, foi feita aos desobedientes.
evangelho naquele lugar, pelo que até o hades é um 5. Irineu (130 D.C.) tinha um ponto de vista
lugar de redenção. Ver o artigo Descida de Cristo ao dinâmico da vida após-túmulo, no tocante aos
Hades, Isso posto, nada hâ de antibíblico na idéia de regenerados, mas também no tocante aos não-regene-
julgamentos intermedíâríos, associados ao estado rados. Ele não pensava que a morte biológica
intermediãrio da alma, quando não haverã qualquer marcasse o fim da oportunidade de salvação, e
julgamento final, definitivo. Experiências com os encarava a vida por vir como fase da existência que dâ
estados intermediãrios de julgamento mui provavel- prosseguimento a todos os propósitos, designios e
mente serviram de inspiração por detrás daqueles oportunidades da vida terrena, embora em grau
conceitos que, finalmente, concentraram-se na dou- superlativo. Conseqüentemente, de acordo com esse
trina oficial do purgatório. Naturalmente, quando a ponto de vista, os perdidos poderão avançar, no outro
questão se dogmatizou, então a verdade básica lado da existência, achando a salvação em Cristo, ao
acabou sendo sacrificada. O pior aspecto dessa mesmo tempo em que os salvos poderão prosseguir em
doutrina do purgatório é que ela é limitada a cristãos, sua transformação segundo a imagem de Cristo,
somente com a finalidade de «purificá-los.., de modo a progredindo assim na participação da natureza
poderem continuar subindo para o céu. Mas a divina. Essa era a opinião que prevalecia entre os pais
verdade da questão parece ser que os juizos gregos da Igreja, adotada pela Igreja Ortodoxa
intermediâríos visam ao propósito de ajudar todas as Oriental. Essa visão mais otimista do futuro humano
almas a prosseguirem. A salvação serâ sempre o alvo tomou-se parte dos dogmas da ortodoxia cristã
final, conforme também a Igreja cristã oriental oriental. As idéias de lrineu figuram em Adv. Haer, 4.
sempre ensinou, e ao que os anglicanos confirmam 37,7: Patrologia Graeca, por I.P. Migne (16 volumes),
com sua aprovação. Esse é o verdadeiro purgatório. e 7. cols. 1103-4. De acordo com esse ponto de vista
dinâmico, sempre ocorrerão mudanças, abrindo-se
lI. Cuactedzaçlo Geral, Infonne. IDstôdC08 espaço para uma fase purgatorial para crentes e
Purgatório. Essa palavra portuguesa vem do latim, incrédulos, após a morte biológica. Mas é evidente
purgare, «purificar... Para o catolicismo romano, o que Irineu oferecia uma descrição muito mais.
purgatório é um lugar ou condição da alma onde esperançosa para os mortos do que aquela que,
aqueles que morrem na graça de Deus podem expiar finalmente, foi apresentada pela Igreja Ocidental
seus pecados veniais, que foram perdoados. As preces (católica romana ou protestante), de acordo com a
oferecidas em favor dos mortos e as missas rezadas em qual somente os salvos podem ser sujeitados a
beneficio deles são consideradas meios importantes qualquer evolução, mas onde o estado das almas
nessa expiação. perdidas é absolutamente estagnado, sem qualquer
De acordo com os ensinos católicos romanos, o raio de esperança.
purgatório é uma condição temporâria, onde a alma 6. Orlgenes (falecido em cerca de 2SO D.C.). Ele
dos cristãos batizados que morreram expurgam seus ensinou uma restauração universal (no grego,
pecados veniais. Definições providas pelos concílíos apocatâstasia}, abrindo espaço para a purificação de
de Florença e de Trento afirmam enfaticamente que todos os indívíduos, como parte necessária do
hâ um purgatório, e que o oferecimento de orações, e, processo restaurador (In Lucam Hom, XXIV; ver
especialmente, de missas, ajudam as almas ali Patrologia Graeca, 13, cols. 1864-S). Ele falava sobre
encerradas. Tomás de Aquino e Boaventura, dando um batismo de purificação que ele denominou de
continuação às idéias pioneiras de São Gregório, batismo de fogo. Podemos encontrar ai o gérmen de
510
PURGATORIO
um ensino sobre um purgatório, no sentido mais 13. Tanto no Oriente quanto no Ocidente deu-se
tradicional que veio à tonl bem mais tarde. Porém, prosseguimento A prática dos judeus helenistas de
Orígenes jamais teria concordado que isso se aplicasse orar pelos mortos, como algo dotado de eficácia. No
somente aos remidos, que precisariam ser purifica- Ocidente, essas preces eram consideradas úteis para
dos. Ele asseverava que pensar no julgamento os remidos que estivessem no purgatório; no Oriente,
somente como uma retribuiçlo (mas nlo como elas eram tidas como proveitosas para salvos e
restaurador, ao mesmo tempo), é aceitar uma teologia perdidos igualmente, porquanto suas condições não
inferior. Certamente ele estava certo nessa opinião, O eram vistas como estagnadas, nem no caso dos salvos
trecho de I Pede 4:6 ensina esse principio, e refere-se e nem no caso dos perdidos. Porém, os Reformadores
aos perdidos no bades que chegarlo a compartilhar protestantes abandonaram a crença na eficâcia das
da vida divina através do julgamento. Assin'l, o orações pelos mortos. Ver o artigo separado sobre esse
julgamento divino é um dedo da amorosa mio do assunto.
Senhor, por meio do que ele pode realizar coisas que 14.. O concilio de Trento; fazendo oposição a muitos
não poderia fazer de qualquer outro modo. O dos ensinos dos Reformadores, reafirmou a realidade
julgamento serâ exatamente tio severo quanto for do purgatório: «O purgatório existe, e as almas ali
necessário para transformar os homens. Ver o meu detidas são ajudadas pelas orações dos fiéis.. A isso
artigo geral sobre a Restauração. foi adicionada uma advertência ao abuso das
7. A começar pelo século IV D.C., tomou-se idéia indulgências, provocado pela ganincia de individuos
generalizada a combínação e o contraste entre o sem escrúpulos.
julgamento geral e o purgatório (somente para os Foi desse modo que o purgatório terminou sendo a
cristãos salvos). doutrina oficial da Igreja Católica Romana. Mas seus
8. O testemunho de Agostinho (século V D.C.) não pronunciamentos não determinam se as chamas do
é coerente. Por uma parte, ele ensinava que todos os purgatório são reais ou simbólicas, e nem é ali
justos (não somente os mlu1ires) recebem de imediato determinado qualquer lugar ou duração dos castigos.
a visão de Deus, por ocasião da morte, não precisando Também não há especificação de qualquer tipo de
esperar pelas operações em algum estado Intermedíâ- punição. O romanismo incorporou muitas especula-
rio. Assim, ele não interpretava I Cor. 3:12-15 como ções em sua doutrina purgatorial, e as discussões
texto de prova da existência do purgatório. Por outra prosseguem. Mas seu dogma é simples: 1. existe um
parte, às vezes ele falava de modo a parecer favorâvel' purgatório; 2. as almas ali encerradas são ajudadas
à necessidade do ignis purgatorius, para soluçlo de pelas orações de seus irmãos ainda na terra. Isso
certos problemas da alma. Em sua obra, Cidade de significa que, no Ocidente, acredita-se que somente
Deus (21:26), ele menciona a teoria que diz que os cristãos batizados vão para o purgatório, e que as
espiritos dos mortos serão purificados mediante o fogo almas perdidas em nada 510 beneficiadas com aqueles
entre a morte fisica e o julgamento final, e então castigos.
comenta: «Não rejeito essa teoria, pois pode ser m. Id6Ia cIu Com"'~ Ortodoxa. A......._
verdadeira•. Talvez ele aplicasse isso a todas as almas, cÁ Igreja Ortodoxa Oriental-embora não usando
e não somente às almas dos redimidos; e, nesse caso, a palavra-e a Igreja Anglicana-que ainda recente-
pelo menos nessa oportunidade, tentativamente ele mente começou a dar maior atenção a essa crença,
assumiu a posição cristã oriental sobre a questão. defendem ambas as doutrinas que envolvem a
9. Gregório, o Grande (540 - 606 D.C.), achava purificação das almas em seu progresso à bem-aven-
possivel os remidos serem privados da presença de turança final e a eficácia das orações pelas almas dos
Deus enquanto passassem pela purificação, opinando mortos. (E). Apesar disso ser verdade, devemos
que essa ausência, em si mesma, é um julgamento entender que o processo de purificação não deve ser
{Dialogorum Lib, 4:25; Patrologia Latina, I.P. concebido como limitado aos remidos. O fogo
Migne, 217 voI. 77, coI. 357}. purificador é universal; ele é purificador, e não
10. O segundo concilio de Lyons (1274) bem como o meramente retributivo; redunda em bem para os
concílio de Florença (1439), referiram-se ao purgatô- perdidos, podendo até levâ-los à redenção; purifica os
rio real como algo associado ao estado lntermedíârío salvos e serve cômo um dos elementos que os ajuda em'
das almas. Porém, essa idéia foi contestada pelos sua transformação segundo a imagem de Cristo, até
cristãos orientais. que, finalmente, venham a compartilhar da natureza
11. No cristianismo oriental foram mantidas as divina. O processo restaurador dos perdídos (ver Efé.
chamas do julgamento, para salvos e perdidos 1:9,10), do que faz parte o ministério de Cristo no
igualmente; mas ali falava-se sobre o fogo restaurador hades(ver I Pede 3:18·4:6), e onde a descida de Cristo
do juizo, aos moldes de Origenes, e não meramente ao hades e sua subida dali têm o mesmo propósito (ver
sobre um fogo de retribuição e sofrimento, sem Efé. 4:9,10), é uma realização de Cristo. Essa obra
qualquer modificaçio ou término dessa situação, ocorre após a morte biológica do individuo. Há
12. A Reforma Protestante op&s·se peremptoriamen- dimensões do ministério de Cristo que foram perdidas
te às indulgências (vide), pois entlo o dinheiro é que pela teologia católica romana, protestante e evan-
libertariá as almas do purgatório. De fato, Roma gélica. Quanto a isso, a Igreja Ortodoxa Oriental
estava obtendo grandes riquezas, mediante a explora- tem uma visão mais ampla, poupando a fé cristã de
ção dos sentimentos e temores do povo. Opondo-se a um ranço pessimista.
tamanho abuso, os reformadores penderam por negar A Igreja Ortodoxa Oriental nunca aceitou
qualquer estado intermediArio tanto a salvos quanto a oficialmente o purgatório concebido pela Igreja
perdidos. Por conseguinte, as coisas foram reduzidas Católica Romana, embora houvesse aderência tempo-
ao quadro mais simples possível: a terra (único lugar râria de delegados ortodoxos orientais às decisões do
de oportunidade de salvaçio); céu, imediatamente concilio de Florença.
após a morte biológica dos remidos; inferno, IV. Oraçlel PeI... Mono.
imediatamente após a morte biológica dos perdidos. «Tem sido corretamente afirmado que, exceto no
Talvez a maioria (mas certamente não todos os protestantismo moderno, as orações pelos mortos,
evangélicos) dos crentes mantenha esse ensino herdadas do ju<!aúsmo, têm sído.um costume cristlo
simplista. Mas certamente isso não corresponde à universal. A prática não requer um apoio blblíco
realidade dos fatos. especifico, sobretudo de 11 Macabeus 12:39. Certa-
511
PURGATORIO - PURIFICAÇÁO
mente esse é um corolário necessário da doutrinada 2. No Anda0 TeMameato
comunhão dos santos» (C). Quanto a uma descrição O povo de Israel foi escolhido por um Deus santo
dessa doutrina (na mente católica romana uma sócia para ser o seu povo, esperando, como conseqüência
Inseparável da doutrina do purgatório), ver o artigo disso, que esse povo viesse a compartilhar de su~
separado intitulado Orações Pelos Mortos. santidade (ver Lev. 11:44,45; 19:2; 21:26). A Iei
V O VentadeIro Paqatódo mosaica enfatizava tanto o aspecto cerimonial quanto
o· verdacleko purpt6do é o jalzo remedIaI. O o aspecto é~co ~ pureza (ver Lev. 20:22-26 - os
relato da descida de Cristo ao hades, além ele textos homens d~V1am. V1ver. sep~ados do ~cado). Mas as
Efé 1'9 10 q e falam sobre a restauração formas .cenmomal e ntualista da purifícação também
c~mo o de ..,' u . eram Importantes, Essa questão é longamente
final, dão-nos razão para ~r que o JUizo, conf<?rme o ventilada no artigo intitulado Limpo e Imundo. Velo
mesmo atualmente existe, é uma espécie de dici N alid d d
tô . O trech de I P d 4'6 tem aspectos t~bém sobre a Imun .Cla. a ment 1. a e os
purga ~o: o e.. di 'das' antigos hebreus, naturalmente, não se fazia a clara
pu"at~na1s. .os . homens pagam suas VI , a distinção que hoje se estabelece entre questões éticas e
retribuição é mevttâ.vel;. mas o Julgamento também questões cerimoniais. Para os israelitas, o que era
tem utI! aspecto remedial, Não ~ popular, en~ os apenas cerimonial revestia-se de alta importância
evangéhcos, falar em purgatóno, porquanto ISSO éti
reflete um dos piores abusos catôlicos romanos, ca.
mormente pouco antes da Reforma Protestante, a A imundícia contraída através do contato com
qual se rebelou, entre outras coisas, contra a objetos imundos, animais, alimentos, etc., requeria
vergonhosa venda das indulgências, que era feita purificação. Utensilios e vestes imundas eram lavados
supostamente a fim de livrar as almas retidas no em água corrente. Mas objetos de barro e cerâmica,
purgatório, a peso de moedas. Porem, um julga.,mento por serem porosos, se ficassem cerimonialmente
remedial envolve, necessariamente, o conceito de imundos, precisavam ser destruidos (ver Lev. 15:12).
expurgo, contido na palavra «purgatório•• Entretan- Os metais algumas vezes eram purificados fazendo-se
to, o verdadeiro expurgo destina-se à humanidade os mesmos passarem pelo fogo (ver Núm. 31:32,33).
inteira, e não aos fiéis que morrem com alguns Pessoas que ficassem cerimonialmente imundas
problemas espirituais não-resolvidos. ~ Origenes afir- precisavam separar-se da congregação, e não podiam
mava que falar no julgamento apenas em termos de participar da adoração formal (ver Núm. 5:2,3);
retribuição é condescender diante de uma teologia antes, precisavam lavar-se e oferecer sacrificios (ver
inferior. As evidências colhidas nas experiências perto Lev. 12:6). Se alguém tocasse em um cadáver, era
da morte (ver Experiências Perto da Morte) mister passar por uma elaborada cerimônia de
consubstanciam a realidade do aspecto remedial do purificação (ver Núm. 19). Havia uma cerimônia de
julgamento divino. Esse juizo é um meio de tomar purificação no caso de ex-leprosos (ver Lev. 14). Os
eficaz o amor de Deus, em certos casos. A ira de Deus israelitas que se tomassem cerimonialmente imundos
é uma subcategoria do seu amor; o julgamento é um e se recusassem a passar pelos ritos de purificação,
dedo da amorosa mão de Deus. A cruz de Cristo foi tinham de ser executados (ver Núm. 19:19).
um julgamento; mas a sua finalidade foi redimir os Á parte da lei mosaica, há a impureza moral, e essa
homens. O julgamento do crente poderá ser severo, também precisa de purificacão. Esses conceitos
mas o seu desígnio é preparar o crente para ocupar vieram a fazer parte da idéia de uma santidade mais
um nivel superior, pelo que será remedial. Esse profunda (ver Sal. 51:7; Eze. 36:24). Antigos
castigo do crente poderá ser severo, mas ser! uma conceitos de imundicia inc1uiam quatro aspectos
medida corretiva de um Pai amoroso. O trecho ~ I principais: alimentos; funções sexuais; lepra; contato
Ped. 4:6 mostra que o julgamento dos. perdidos com cadáveres, especialmente no caso dos sacerdotes.
também será remedial, conferindo aos perdidos assim A essa lista foram adicionadas as impurezas morais,
corrigidos vida no Espirito, a saber, a vida do próprio em um conceito crescente do que se faz mister para
Deus. Uma notável esperança! que uma pessoa seja considerada santa. Sem dúvida,
A missão tridimensional de Cristo (na terra, no os salmos e os escritos dos profetas devotam maior
hades e no céu) garante o sucesso universal de seus atenção à pureza ética e à necessidade do pecador ser
labores. Coisa alguma pode ficar fora do alcance do .purificado de seu pecado, do que os livros anteriores
seu poder. Um dos aspectos desse poder ê que as do A. Testamento. - A mensagem geral dos salmos e
almas são purificadas entre o tempo de sua morte dos profetas convoca os homens para que se afastem
lisica e o estado final. Esse tipo de purgatório é dos males corruptores como a idolatria, a sensualida-
verdadeiro, e faz parte da missão geral de Cristo, o de e a busca desenfreada pelos prazeres.
Logos, Ver sobre Miss~ Univers~l do Lagos (Cristo). 3. No NOTO TeMameato
Ver també!D sobre Desc!da de c;nsto CU? Hades e sobre Ai encontramos o desenvolvimento dos melhores
RestIfUTaÇ,,?, São .do~trinas assim que impedem que a aspectos do ensino dos israelitas acerca da purifica-
fé cristã seja pessimista, ção, como acerca de muitas outras questões. A pureza
Bibliografia. AM B C E P R cerimonial fica inteiramente para trás, conforme nos
ensina o décimo quarto capitulo da epistola aos
Romanos. Isso, no começo do cristianismo, pareceu
revolucionârio, para dizermos o minimo. Esse novo
PURIFICAÇÃO ponto de vista foi antecipado nos ensinamentos de
Esboço: Jesus (ver Mar. 7:19 e comparar com Atos 10:15). O
1. A Palavra concilio de Jerusalém (historiado no décimo quinto
2. No Antigo Testamento capitulo de Atos), não requereu que as elaboradas
3. No Novo Testamento regulamentações cerimoniais judaicas tivessem qual-
quer aplicação aos gentios convertidos ao Senhor. Á
1. A Palavra medida que a Igreja foi-se afastando de seu centro
Essa palavra portuguesa vem do latim, purus, inicial-Jerusalém-o antigo judaismo foi fenecendo,
«puro», e facere, «fazer., dando a entender qualquer como o poder impulsionador da nova fé. Ver Tito
agência ou condição que purifica a alguém, em 1:15; I Tim. 4:4. No Novo Testamento, pois,
sentido ético, espiritual, ritual ou cerimonial. encontramos a ênfase sobre a corrupção moral, que é
512
PURIM - PURITANISMO
a verdadeira causa da condenação de uma alma. O Posslvel Referência Neotestament6ria. Alguns estu-
sangue de Cristo, derramado uma única vez, diosos supõem que o trecho de 101.05:1 alude a essa
tomou-se o agente da purificaçlo (ver I Joio 1:7; Heb. festa judaica. Porém, o trecho labora contra o
1:3; 9:14), uma vez aplicado mediante a fé. Isso costume dos judeus celebrarem a festa de Purim em
refere-se ao poder salvaticio de Cristo, em sua missão qualquer lugar em territ6rio de Israel. Isso significa
na qual ele veio salvar e santificar. Ver o artigo sobre que não havia necessidade de subir a Jerusalém para a
a Santificação. Ficou então compreendido que o ritual celebração da festa (o caso da festa mencionada no
do .Antigo Testamento era mera prefiguração da evangelho de João). Dos israelitas eram requeridas
verdadeira purificação, que obtemos em Jesus Cristo apenas três peregrinações anuais a Jerusalém, a
(ver Heb. 9:13 ss, 23). E osfariseus (vide) vieram a saber, nas festas da páscoa, do Pentecoste e dos
tomar-se simbolo de uma fanática rigidez, de acordo tabernáculos.
com a qual o que é meramente cerimonial ocupa o 2. Historicidade
lugar dos verdadeiros valores éticos. Lamentavelmen-
te, a Igreja cristã, em alguns de seus segmentos, retém Embora a festa de Purim venha sendo celebrada
esse elemento ritualista em suas várias formas de com tanto entusiasmo e por tantos séculos, os eruditos
legalismo. Ver o artigo geral intitulado Pureza. liberais costumam salientar a total ausência de provas
hist6ricas seculares para a mesma. A hist6ria da
Pérsia não fala sobre qualquer Ester, e a identificação
PURIM de Assuero com Xerxes ou Artaxeçees pode ser uma
identificação ad hoc, ou seja, uma conjetura, feita
Ver sobre Festas (Festividades) Jud4ica3, seção com o propósito de conferir a Assuero um caráter
terceira, Festividade Ap6s o Exllio Babilônico, histôríco. Por isso mesmo, alguns pensam que o relato
primeiro ponto, Purim, é apenas uma novela religiosa que pode ter surgido
1. Caracterização Geral durante o periodo dos triunfos militares dos
O trecho de Est. 9:24 explica o nome purim (que Macabeus, para então ser posta em um düerente
está no plural) como -sortes-, Mui provavelmente, contexto histôríco. E outros periodos hist6ricos
essa palavra vem do assirio, puru, se não é que se também tem sido sugeridos como a época em que,
trata de um substantivo nativo do hebraico. O puru alegadamente, aqueles eventos tiveram lugar, como o
era um seixo, usado no lançamento de sortes. Hamã, periodo persa, o periodo parta, o periodo do
que planejava exterminar aos judeus, lançou sortes a zoroastrismo ou o período do exilio babílênico.
fim de determinar um bom dia para execução de seu Abordei esses problemas mais detalhadamente no
maligno plano. Mas o curso dos acontecimentos não artigo sobre o livro de Ester, em sua primeira seção.
seguiu a seqüência desejada, tendo sido revertido pela Aquele artigo também fala sobre o relato dos
intervenção de Ester, diante do rei persa. E uma festa acontecimentos por detrás da festa, sobre os quais
jubilosa judaica foi estabelecida para celebrar essa aqui nada relatamos. Ver os artigos separados sobre
grande vit6ria dos judeus. Essa festa era observada Hamã e sobre Mordecai.
nos dias 13 - 15 do mês de Adar (fevereiro-março). O 3. Lições Espirituais da Narrativa
livro de Ester é lido nas sinagogas até hoje,. e a Deus dispõe à sua vontade do tempo, agindo
congregação solta gritos e vaias, cada vez em que é conforme ele quer. Coisa alguma está fora do seu
mencionado o nome de Hamã, controle, mesmo em nossas horas mais negras.
O nome do rei persa, no livro de Ester, é Assuero, Sempre haverá vilões ameaçadores contra nôs, mas
que alguns eruditos identificam como Xerxes (485 - nenhum deles pode, realmente, prejudicar-nos, se
46S A.C.), ou então como Artaxerxes 11 (404 - 359 estamos dentro da vontade de Deus. Pois; na
A.C.). A falta de confirmação secular a Ester ou aos providencia divina, surgiria pessoas e circunstâncias
eventos descritos no livro com esse nome, tem levado favoráveis a n6s, na hora crucial de nossa necessida-
alguns eruditos liberais a duvidarem. da historicidade de. Ver o artigo intitulado Providência de Deus.
da narrativa, que eles então classificam como uma Algumas de nossas vit6rias são obtidas contra todas
novela romântico-religiosa. Hamã foi uma espécie de as forças adversas; e isso porque, para Deus, é
prlmeiro-ministro do rei persa, e que o livro de Ester igualmente fácil fazer algo difici1 ou fácil. Como tipo,
apresenta como homem dotado de considerável Ester simboliza o Messias, o Libertador nacional. O
autoridade, de tal modo que se Ester não tivesse profundo interesse de Deus por seu povo de Israel,
refreado aquele homem, provavelmente ele teria não se abate e nem pode ser frustrado. Paulo
conseguido concretizar seu plano criminoso. garante-nos que os planos divinos estio se desdobran-
Fora do livro de Ester, não temos qualquer outra do em favor de seu povo, a despeito da atual cegueira
referência ao relato. Mas o incidente é mencionado de Israel. Ver Romanos 9-11, especialmente o.trecho
nos livros ap6crlfos chamados Adições a Ester de 11:26 ss, A narrativa sobre Ester é uma espécie de
10:10-13; 11 Macabeus 15:36, e também em Josefo expansão parabôlíca da promessa contida em Salmos
(Anti. 11:6,13). Nos dias dos Macabeus, essa 91.
festividade era conhecida como Dia de Mordecai.
Josefo alude à universalidade da celebração entre os
judeus de seus dias (Anti. 11:6,13).
Essa festividade sempre foi popular entre os judeus, PURITANISMO
desde o seu inicio. Além da rememorizaçlo em geral, O puritanismo foi um movimento religioso do
mediante a leitura do livro de Ester, e dos gritos e século XVI; dentro do protestantismo inglês, cu.jo
vaias, conforme se disse acima, o leitor do relato propósito primário era o de epurificar» a Igreja
pronuncia todos os nomes dos filhos de Hamã de um Anglicana de formas cat6licas romanas. Eles toma-
56 talego, a fim de indicar que foram enforcados ram-se conhecidos como «separatístas» ou como
juntos. No segundo dia da celebração há um culto «não-seaaratistas», tudo dependendo de sua atitude
relígioso formal, são entoados hinos; há dramas e atos para com a Igreja Anglicana. Foi um dos ramos do
teatrais, e são apresentadas recitações. Alimentos e puritanismo que deu origem ao movimento batista.
presentes são distribuidos entre os pobres como UlI1 Assim, os puritanos foram os verdadeiros origina-
gesto de generosidade, em mem6ria da generosidade dores dos batistas, e não os anabatistas. Na fundaçl.o
de Deus para com o povo judeu (ver Bst. 9:19). das colônias da Nova Inglaterra, na América do
513
PURITANISMO - PURO E IMPURO
Norte, estavam bem representados os separatistas, os puritano nunca abandonou o calvinismo como sua
nilo-separatistas e os batistas. .A colônia da baia de posição teológica.
Plymouth compunha-se, essencialmente, de separatis- EIem_ _ Prlnclpab da f:tIa Parltaaa:
tas moderados. Por conseguinte, o puritanismo foi um 1. A peregrinação e o conflito fazem parte
movimento dentro da Igreja Anglicana, que se necessária da vida cristã. A afirmação clássica dessa
separou da mesma e se transferiu para a América do noção é O Peregrino, de João Bunyan.
Norte, nas emigrações inglesas para o continente 2. O trabalho árduo foi determinado por Deus
norte-americano. para o homem. O pecado é sufocado no homem
Embora o puritanismo já fosse uma agitaçlo quando este se ocupa em labor diligente. E o trabalho
reconhecida na década de 1560, na verdade foi uma árduo também afasta a pobreza da porta da casa.
extensão de mudanças instituidas pelo Parlamento Ninguém tem direito ao lazer. Conforme dizem as
Reformador, trinta anos antes, o qual substituiu o Escrituras: ..Seis dias trabalharás». O dinheiro, o
monarca reinante em lugar do papa, como cabeça da tempo e os talentos pessoais devem ser usados
Igreja da Inglaterra. Esse Parlamento Reformador completamente a serviço de Deus. O ócio é um peca~o
dissolveu os mosteiros e restringiu a autoridade dos sério, e dá margem a todas as formas ~e vicio,
bispos. Essas forças de oposição à Igreja Católica Indústria, capitalismo e filantropia silo considerados
Romana, iniciadas por Henrique VIII, vieram a importantes corolârios do trabalho árduo.
asseverar princípios de reforma mais extremos que 3. Educação e cultura. Os puritanos sempre se
Henrique VIII jamais quisera reconhecer. O movi- mostram ativos na promoção dos valores educacionais
mento puritano, mui naturalmente, aliou-se à e culturais. Eles se opunham a uma arte aviltada na
oposição aos reis da linhagem Stuart e ao movimento pintura, no teatro, etc., e promoviam aquilo que
do Parlamento Longo (1640), bem como apoiou a sentiam ser higido na arte e na literatura.
guerra civil de 1642, tomando-se assim uma poderosa
força politica. Mas, após um periodo de cooperação 4. O descanso dominical e alam/lia. Da mesma
forçada, tomou-se bem pronunciada a separação maneira que o crente deve trabalhar por seis dias,
entre os puritanos presbiterianos e os puritanos assim também ele deve parar de trabalhar por um dia
independentes. Entre 1643 e 1648 predominaram os a cada sete. No seu legalismo, os puritanos chamavam
puritanos presbiterianos, durante esse período a esse dia de descanso de sábado cristão, embora
Assembléia de Westminster teve as suas sessões e observado no domingo, e não no sábado. A violação
produziu a Confissão de Fé, bem como o Grande e o desse dia de descanso era uma ofensa grave, nas
Pequeno Catecismos. Entretanto, Oliver Cromwell comunidades puritanas. O dia de descanso era um dia
era um puritano independente, e, ap6s sua subida ao doméstico, e, em geral, a família, a unidade da
poder, o presbiterianismo, embora tole!ado, f?i família, a adoração e o cultivo do caráter cristão eram
forçado a ceder terreno diante de seu nval mais questões muito enfatizadas. O pai de cada familia era
recente. Todavia, após a restauração da casa reinante o seu sumo sacerdote, pelo que assumia todos os
dos Stuarts, o puritanismo caiu no ilegalismo. Assim, deveres próprios do oficio. A adoração dominical e a
eles passaram a ser considerados dissidentes, por- ênfase sobre o culto doméstico eram elementos
quanto recusavam-se a moldar-se aos ritos da Igreja primordiais entre os puritanos. ~ ~uito~ ci~dã~s
oficialmente estabelecida. norte-americanos, até os nossos propnos dias, jamais
deixaram esmaecer esse costume extremamente
A chamada à liberdade e à independência fez os saudável.
puritanos separatistas e não-separatistas volverem os 5. A Blblia, entre os puritanos, era o insubstituivel
olhos para a América do Norte, onde tal chamamento guia de doutrina e prática cristãs, e o estudo das
até hoje reboa. Os puritanos independentes estabele- Sagradas Escrituras fazia parte da vida díâría deles.
ceram-se na baia de P1ymouth, na Nova Inglaterra.
As colônias de Massachussetts Hay e de Connecticut 6. Eram salientados a vida comunal e o senso de
(as principais colônias da Nova- Inglaterra) foram responsabilidade. A ninguém era permitido viver só
fundadas por puritanos nilo-separatistas. Mas na para si mesmo. Cada individuo era considerado
ocupação de Rhode Island, os batistas desempenha- responsável diante de sua comunidade, e seus atos e
ram o papel principal. pensamentos eram examinados à luz do fato de que o
individuo faZia parte de tudo.
A Ética Puritana, Na concepção popular, a ética 7. A igreja local era o centro da vida e das
puritana consiste em uma piedade excessiva, de atividades comunitârias. Apesar de não haver entre os
mistura com regras estritas e opressivas. Historica- puritanos alguma igreja ,oficial (!'1ma i~éi~ que os
mente, porém, essa ética enfatiza as virtudes do puritanos combatiam), ainda assim a Igreja era o
trabalho árduo, da sobriedade, da honestidade e da grande poder por detrás de tudo.
indústria. Religiosamente falando, essa ética ex- 8. O legalismo, conforme foi dito acima, certamen-
pressa-se por intermédio do fervor. Foram desfecha- te era uma pedra fundamental da ética puritana,
das campanhas contra toda forma de mundanismo, «Como um modo de vida, o puritanismo não
de maquinação política, de peças teatrais e diversões sobreviveu além do século XVII; mas, como força
mundanas. Sua ênfase sobre a independência, o catalizadora, tem inspirado tendências intelectuais e
esforço pessoal e o individualismo ajudou a estabele- morais, que se eviden~a~ particularI?ente na cultura
cer o capitalismo. Do ponto de vista teol6gico, grupos norte-americana, persistindo por muíto tempo depois
evangélicos posteriores objetaram à ética puritana por que o credo original desapareceu» (AM).
:e
ser legalista. verdade que a lei mosaica servia, entre
os puritanos, de principal força de expressão. :e
incrlvel o número de aplicações que os puritanos PURITANISMO, 8TICA DO
podiam achar para os Dez. Mandamentos (vide).
Havia ai uma boa dose de farisaísmo, o que sempre Ver o artigo geral sobre o Puritanismo, últimos
parágrafos.
faz parte inseparável do legalismo, em suas expressões
modernas. Os lideres teológicos puritanos com-
punham-se, principalmente, de calvinistas eruditos.
Nomes notáveis entre eles foram Perkins, Sibbes, PURO E IMPURO
Ames, Owen, Goodwin, Baxter e Howe. O movimento Ver sobre lJJDpo e Imanelo.
514
PÚRPURA - POTE
PúRPURA POSTULA
Ver o artigo sobre as eor.. O déciJn.o item Ver o artigo geral sobre Enfermidades.
descreve especificamente a cor púrpura, com seus
usos e simbolismos. O décimo segundo ponto desse Estão em pauta diversas afecções cutâneas,
artigo apresenta o uso metafórico das cores na Biblia, referidas no Antigo Testamento. indicadas por meio
nos sonhos e nas visões. de quatro palavras hebraicas diferentes, a saber:
1. Garab, «pelagra», Palavra que aparece pór três
vezes: Lev, 21:20; 22:22; Deu. 28:27.
2. Mispachath, «pústula•. Palavra que figura por
PURVA MIMAMSA três vezes: Lev. 13:6-8.
Essa expressão vem diretamente do sinscrito, e seu 3. Yallepheth, «impingem». Palavra que aparece
sentido é "pensamento reverente inicial». Esse é o em Lev. 21:20; 22:22.
titulo de uma das seis escolas indianas ortodoxas. O 4. Sappachath, «püstula-. Palavra que aparece
sistema fundamenta-se sobre a Mimamsa SUtra, um apenas em Lev. 13:2 e 14:56. Contudo. uma forma
documento composto em cerca de 400 A.C.~ por verbal da palavra encontra-se em Isa. 3: 17, onde se lê:
Jaimini, Aborda as primeiras porções dos Vedas . o Senhor fará tinhosa a cabeça das filhas de Sião... 1O
(vide), como a Uttara Mimamsa (vide). Não há equivalente no Novo Testamento, embora a
LWIM PrbIâpaIIs LXX os tenha. Uma pústula é uma crosta ou
1. O dever (Dbarma) é um conceito bâsíco, sendo infecção purulenta. Por si mesma. não é alarmante,
ali desenvolvido de maneira elaborada. a principal podendo até mesmo ser uma proteção orgânica. O
fonte do material derivado dos Vedas. que realmente importa é o tipo de afecção por baixo
2. Se alguém cumprir seu dever conforme é devido, dessa crosta.
poderá livrar-se do ciclo dos renascimentos. Ver o Assim, no caso de garab, a afecção não era
artigo sobre a Reencarnação. considerada perigosa. A pelagra, afecção produzida
3. O dever depende de conceitos eternos. e os. Vedas pela falta de vitamina C no organismo, atacava muito
são reputados inspirados pela divindade. Assim sendo, as pessoas que não ingeriam frutas e legumes, como os
os deveres dos homens são habilidosamente delinea- marinheiros. em suas .longas viagens, ou os soldados
dos pela divindade. Os brahmins teriam sido os de infantaria, em suas conquistas.
instrumentos da transmissão da mensagem. mas a Nos dias do Antigo Testamento, uma pessoa que
própria mensagem vem da parte da divindade. Os tivesse uma afecção cutânea persistente devia
Vedas (econhecímentos) não consistem apenas nos mostrá-la aos sacerdotes, que determinariam se a
pensamentos dos homens. Temos ali uma religião mesma tinha caráter progressivo ou temporário, se
revelada, e, por via de conseqüência, uma ética era uma condição que requeria isolamento ou se era
absoluta. Os hindus não se preocupam em nada com uma condição benigna. (Lev, 13:2-8).
a questão da autoria dos Vedas, visto que acreditam Os sacerdotes ficavam desqualificados para servir,
que a divindade é o verdadeiro autor. e os animais a serem sacrificados eram rejeitados, se
4. Visto que a linguagem serve de veiculo necessário houvesse qualquer afecção cutânea presente. A ..boca.
dos Vedas, os hindus crêem que essa linguagem pustulenta.., com feridas em redor dos lábios, do
corresponde adequadamente ao significado tenciona- nariz e das pálpebras das ovelhas é uma condição bem
do. E isso subentende a origem divina da linguagem, conhecida atualmente pelos veterinários, e bem pode
asseverando que se trata de um meio eficaz para a ter sido uma cena familiar no clima quente e seco de
transmissão da mensagem divina. Israel.
5. Declarações transmitidas por uma linguagem As filhas de Sião haveriam de ser punidas, por
eficaz e que contam com o poder de Deus a causa de sua altivez, com uma dessas afecções na
sustentá-las. são necessariamente verdadeiras. Mas, cabeça (que nossa versão portuguesa traduz por
segundo os hindus. não temos o dever de procurar «tinha..) (Isa, 3: 17). Precisamos apenas pensar em
falsidades que não concordem com a mensagem uma criança com aquela crosta seborréica generaliza-
divina, nos escritos sagrados. da conhecida na medicina como dermatite seborréica,
6. Visto que essa escola dá tanta ímportâneía à para perceber a humilhante aflição que isso
linguagem, desenvolveu-se uma espécie de lógica em significaria para uma jovem israelita.
que se procura investigar formas de conhecimento
válido por meio de postulados, e isso acompanhado
pela ausência de negações. PUTE
7. O dever está baseado sobre a Apurva ou potência
transcendental, a qual tem em si mesma a capacidade 1. O Homem. Pute foi o terceiro dos filhos de Cão e
de praticar atos corretos. Esse poder (um tanto o único sobre o qual não hâregístro de descendentes.
parecido com as funções que emprestamos ao Espirito Ver Gan. 10:6; I c-e, 1:8. Mas Josefo (Anti. 1:6,2)
Santo) opera no mundo e inspira os homens a atos diz-nos que ele foi o pai dos 1tbios. e que seus
corretos. descendentes chamavam-se. antigamente, putitas.
8. O mundo é eterno. do mesmo modo que os 2. Descendentes. Além do que Josefo escreveu, há
Vedas. O mundo não foi criado. Purva Mimamsa não algumas indicações biblicas a respeito. Eles eram
deixa dúvida alguma sobre a questão. A idéia da guerreiros. que f9l'am mencionados juntamente com
criação do mundo por Deus é considerada incoerente, os lubim (vide), egipcios e etiopes, os quais foram
porquanto dependeria de uma regressão de criadores incapazes de impedir queos assirios (ver Naum 3:9)
ou causas ad infinitum, o que é considerado pelos atacassem a No-Amom (Tebas). Ver também Jer.
hindus como uma insensatez. E eles também 46:9 e Eze. 30:5, onde Pute é descrito como aliado dos
argumentam que Deus, se existia sozinho, nio egipcios. E em Eze. 38:5, Pute aparece como parte
precisaria de ninguém mais, pelo que não teria tido o formadora das forças de Gogue.
impulso de criar. Parece que esse povo é africano, embora continuem
questões disputadas sobre o povo preciso e a
localização exata onde esse povo habitava.
••••••••• 3. Localização Geográfica. Isalas situa Pute entre
515
PUTE - PUVITAS
Társis e Lude como nações que. algum dia, haverão PUTEUS
de ouvir falar sobre a gl6ria de Deus (ver Isa. 66:19). Uma famllia israelita de 'Juriate~JE!srini. originada
Jeremias alista Pute entre a Etiópia e Lude como por netos de Calebe (I Crô. 2:53). .
nações cujos guerreiros foram empregados por
Nabucodonosor na conquista do Egito (ver ler. 46:9).
Ezequiel, por sua vez, associa Pute aos exércitos de PUTIEL
Tiro (Eze. 27:10). Pute é alistado juntamente com a
Etiôpia, Lude, Arábia e Lâbía, como nações que No hebraico. «afligido por Deus (El)», Esse era o
haverão de sucumbir à espada (Eze, 20:5). O trecho nome do pai da esposa de Eleazar, o sacerdote. Ela foi
de Naum 3:9 associa esse povo à Etíôpía, ao Egito e à mie de Finéias (ver Êxo, 6:25). Putiel Viveu por volta
Líbia. Essas muitas referencias associam Pute com o de 1210 A.C. Eleazar era filho de Aarão.
continente africano, e na maioria das vezes ela tem
sido identificada com a Ubia. Certa inscrição persa de
Naqshi-i-Rustam menciona uma certa nação chama- PUVA
da Putaya. a qual. usualmente, tem sido identificada No hebraico, «boca- ou «sopro•. Esse era o nome do
com a Ubia. «Opiniões mais recentes, no que segundo filho de Issacar (Gên, 46:13). Ver também
conceme à identificação de Pute, vinculam esse povo Núm. 26:23 e I Crô. 7:1. Os descendentes de Puva são
a Punte ou Cuxe do sul da África, onde é comumente chamados -puvitas-, em Núm, 26:23; Puva foi o pai
vinculada às costas da Somália (I Crô. 1:8; Naum de Tola (ver Gên. 46:12). Viveu em cerca de 1770
3:9). Porém, a opinião mais prevalente é que Pute é a A.C. .
uu«:
PUVITAS
PUT:20LI
Nome genérico dos descendentes de Puva ou Puâ,
Ver sobre Potéoli. da tribo de Issacar (ver Núm. 26:23) .
516
I. Formu AntIpa
fenicio (semítico), 1000 A.C. grego ocidental, 800A.C. latino, 50 D.C.
cp Q o
2. N... Mu8lCl'ltol GreiOl do N01'o Teetemento
3. Formu Modemas
QQqq QQqq QQqq Qq
c
A Letra Q decorativa, o homem e o leão,
evangelho de Mateus, Livro de Kells
Q
Q QUADRADO
Abreviação do termo alemão QaeIle. eorigem». Essa palavra, que no hebraico é nba, aparece por
Simbolo e termo aplicado ao hipotético documento onze vezes no Antigo Testamento. como descrição do
que deu origem aos -Ditos de Jesus» e outros discursos formato de edifícios, como o tabernáculo ou o templo
encontrados em Mateus e Lucas, mas não em Marcos (Exo. 27:1; 28:16; 30:2; 37:35; 38:1; 39:9; I Reis 7:31;
e João. A hipótese eQ». Quel/en, ou «Redenquellen» Eze. 40:47). Em Apocalipse 21:16, que é o único uso
foi apenas uma dentre várias teorias dessa ordem, da palavra no Novo Testamento (no grego, tetrágo-
propostas no século XIX por eruditos das escolas nos), esse termo descreve o formato da Nova
germânicas da alta critica. De acordo com alguns Jerusalém. Ver o artigo sobre o simbolismo do
estudiosos, a descoberta dos Ditos de Jesus, em número quatro.
Oxyrhyncus, teria confirmado a plausibilidade da
posição. Eruditos do século passado e deste século
tentaram reconstituir a perspectiva histórica da vida QUADRAG!SIMA
de Jesus, e outros do século. XX continuam a Termo usado pela Igreja Católica Romana para
pesquisa. Ver o artigo sobre o Problema Sinóptico que indicar o periodo da quaresma, que dura quarenta
oferece mais detalhes sobre as diversas fontes supostas dias, desde quarta-feira de Cinzas até à véspera da
dos evangelhos sínôpticos, inclusive Q. Páscoa, Ver o artigo sobre o Calendário Eclesiástico.
619
QUATRO CONFINS - QUATRO SERES .
- CONFINS DA TERRA derivar-se-iam doapeiron (~ue vide), o ele~en~o mais
QUATRO básico de todos, que sena uma substância sem
Sabemos que a terra não é chata e nem quadrada, limites infinita indeterminada. Quanto a detalhes
pelo que o globo terrestre não tem c~ntos ou are~tas sobre ~ssa dis~ssão, ver os artigos sobre Tales de
em qualquer sentido. Porém, os antigos não sabiam Mileto, Anaximandro, Anaximenes, Empédocle~ e
disso, pelo que suas alusões.aos qua~o cantos da te~a Heráclito. Até hoje a ciência busca o elemellto .báslCO
podiam ser feitas com ~n~<!ade, literalmente. Seja da natureza, e o estudo das particulas subatoml~~ é,
como for, a expressão significa a extensão da terr~ atualmente, uma ciência independente e legitima.
inteira. A expressão encontra-se em Isaías 1~:12; Jo Suponho que a Mente é a base de tudo, que o átomo
37:3; 38: 13 e Ezequiel 7:2. O trecho de Apocalipse 7:1 consiste na concentração de energias psiquicas. Se
retrata quatro anjos, de pé sobre os quatro cantos da isso é verdade, então, dentro do âmbito da matéria, o
terra, segurando os quatro ventos. Isso refere-se a homem jamais poderá descobrir o que é fundamental
alguma forma de controle, porquanto se ~l~ém em toda a natureza, A resposta básica a essa questão é
controla esses quatro cantos,. controla. a terra mteira, a pessoa de Deus; porém, uma vez que proferimos a
Sabemos, por outras fontes informativas, que certos palavra Deus entramos no tremendo mistério, o que
povos antigos chegaram a imaginar a terra na forma significa que já temos mais mistérios do que aqueles
de um cubo. Os fil6sofos gregos jônicos (600 A.C.) que tentamos resolver. Por conseguinte, a verdade é
modificaram a concepção, pensando ser a terra um uma eterna aventura.
disco' mas a maioria dos antigos, desde os tempos
babi1&nicos, aceitava a idéia de que a terra tinha
forma retangular, possuindo quatro cantos, portanto. QUATRO LlQUIDOS DO CORPO
O vidente ao contemplar a terra do alto, viu a terra Galena, grande médico da antiguidade, ~reditava
como um 'plano retangular. :E: 6bvio que a visão que
teve retratava o globo terrestre segundo essa antiga que quatro fluídos ,do. corpo .humano precisa~ ser
concepção sobre a forma da terra, mas isso em nada mantidos em equilíbrio, a fim de ser ma~tid.0 o
labora contra a fé, criando problemas somente para bem-estar fisico e mental. Segundo ele, esses líquidos
dois grupos de pessoas, os céticos e os ultracon~rv~ seriam o sangue, a c61er~. (ou bílis amarela),. a
dores. E tolice pensar que os autores da Bíblia fleuma e a melancolia (ou b111S negra). Essa doutrina
conheciam mais sobre questões cientificas do que os foi capaz de continuar sendo adotada pela ciência até
seus contemporâneos. Quanto a explicações com- o século XVII. Formava a base da fisiologia e da
pletas sobre o sentido dessa idéia, em Apocalipse 7: 1, c1inica médica medieval. A lição que podemos
ver as notas expositivas do NTI, nesse ponto. aprender de crença assim, que finalmente são
deixadas de lado, é que grande parte do nosso
conhecimento continua sendo precisamente dessa
QUATRO DEDOS natureza total ou parcialmente falsa. Isso posto, ao
Ver o artigo geral sobre Pe80II e Medldas. Quatro abordar~os qualquer ponto do conheci!Dento huma-
dedos constituem a largura da mão, cerca de sete no , incluindo o conhecimento . teológico, devemos
centímetros I e meio, à altura da base dos dedos. A estar dispostos a buscar e a aceitar os avanços, mas
Vulgata Latina, diz quartor digitis, ' em Êxodo J5:25. sempre reconhecendo que a verdade é uma in.quiri-
Seis larguras da mão correspondem a um covado. ção, uma aventura eterna, e nã~ algo que sejamos
U ma largura extra da mão constituia o cavado capazes de delinear de maneira completa, em
referido em Ezeq, 40:5. Essa medida foi empregada qualquer periodo da história humana. Se pouco ou
para medir o equipamento do tabernáculo (Exo. nada sabemos sobre esta vida, que dirá acerca da vida
25:25; 37: 12), bem como no caso do templo em futura, mesmo no caso dos remidos! Mas, visto que ali
Jerusalém (I Reis 7:26; 11 c-e. 4:5). O termo foi usado o desenvolvimento espiritual nunca cessará, é de
metaforicamente para indicar a duração da vida de presumir que o nosso conhecime!1to também se
um homem enfatizando a sua brevidade (Sal. 39:5; expandirá cada vez mais, à medida que f0f!tl0s
em nossa v~rsão portuguesa, temos palmos, o que já crescendo segundo a imagem e semelhança de Cristo,
não corresponde exatamente à medida hebraica, (Ver 11 Cor. 3:18).
porque um palmo, para nôs, representa cerca de 20
ou 22 centimetros).
QUATRO SERES VIVENTES
O simbolismo dos quatro seres viventes parece
combinar o simbolismo que há nos livros de Ezequiel
QUATRO ELEMENTOS e Isaías. Os -querubins- de Ezequiel eram «quatro»
Na filosofia pré-socrática, temos uma ampla em número, o que se verifica também em.Apo. 4:6, no
discussão sobre a suposta origem dos elementos, que tocante aos «seres viventes». Mas a descrição recua às
se derivariam, todos, de um elemento básico. Essa descrições babilônicas, onde aparecem gênios ou
discussão teve prosseguimento entre os filósofos guardas com «quatro asas», na forma de um boi, de
gregos posteriores. Os elementos básicos do universo, um leão, de um homem e de uma águia, tal como se vê
que, mediante modificações, segund? se pen~ava, em Apo, 4:7. Nos escritos judaicos, a função desses
transformar-se-iam em todas as qualidades físícas. «seres» era a de sustentar a plataforma sobre a qual
seriam a terra, o ar, o fogo e a água. Cada um desses estava o trono de Deus, transformando-a em uma
elementos básicos teria duas qualidades, como a terra espécie de carruagem celestial. No trecho de Isa.
(fria e seca); o ar (quente e úmido); o fogo (quente e 6:1-7, os «serafins- aparecem como seres celestes, de
seco), e a água (fria e úmida). A água, segundo ~ forma humana, mas com seis a~as cada. Esses
presumia, poderia ser modificada de modo a produzir figuram perto do trono, como guardiães, a entoarem
todas as substâncias conhecidas, e havia filósofos que incessantemente: «Santo, santo, santo é o Senhor dos
pensavam a mesma coisa no tocante aos demais Exércitos». Tanto os «querubins» de Ezequiel como os
elementos básicos. «serafins- de Isaias, tomaram-se figuras importantes
Anaximandro não se satisfazia com essa classifica- nos escritos judaicos posteriores, e com freqüência
ção em quatro elementos fundamentais, supondo que eram vistos juntos, aliados aos -ofanins-, uma
os mesmos não fossem, realmente, básicos, porquanto personificação dos olhos nas rodas da visão celeste de
520
QUATRO SERES - QUEBRA-JEJUM
Ezequiel. Esses nunca dormiriam, mas guardam 6. Os «olhos. das rodas da visão de Ezequiel (ver
constantemente o trono de Deus e seus muitos olhos Eze. 1:18 e 10:12) são aqui transferidos aos pr6prios
fazem essa vigilincia ser completa e absoluta. Ver I seres celestiais, conferindo-Ihes a propriedade da
Enoque 71:7 e 14:23. Em 11 Enoque 21:1, os visão completa, que tudo sabem, possuidores de
querubins e serafins diziam ambos «Santo, santo, perfeita vigilância.
santo», o tersanctus. Abraão, no «sétimo eêu-, 7. O autor sagrado fala através de símbolos
conforme é pintado no Apo. de Abraão 18, teria visto misticos. Não sabemos dizer o quanto de tudo isso ele
os ofanins, aqueles que a «tudo vêem-, ris seres supunha aplicar-se aos seres celestiais propriamente
dotados de muitos olhos (comparar com Eze. 1:18 e, ditos, ou se a inte!ta descrição meramente indica os
10:12). Quatro eram os rostos de cada um deles, de vários poderes e as várias glórias de Deus, ou como
leão, de homem, de boi e de águia, e cada qual estava seus atributos pessoais ou como qualidades delegadas
equipado com seis asas. Essa obra judaica, que data a seus servos celestiais.
mais ou menos da mesma época do Apocalipse
canônico, mistura os querubins e serafins quanto à
sua aparência e função. QUf:
Tendo acompanhado a origem desses símbolos, Quê é um antigo nome da porção leste da CUida, na
vemos claramente onde o vidente João obteve tais parte suleste da Asia Menor. Um certo documento de
símbolos. Supomos que ele atribui a esses seres Nabucodonosor li, de cerca de 595-570 A.C.,
(provavelmente concebidos como seres literalmente menciona um lugar que se refere a essa região pelo
celestiais) as mesmas. funções que têm nos outros nome de Khuwe, O nome também se acha na estela
livros mencionados: seriam guardiães, sustentadores de Nabonido, em Estambul, e nos anais de
do trono de Deus, poderes celestiais e seres que Salmaneser 111 (858-824 A.C.), um dos reis da
prestam louvores celestes. O número «quatro. mui Assiria. Sabemos que Tiglate-Plleser 111 (744-727
provavelmente envolve, de alguma maneira, os A.C.) recebeu tributo do rei de Qué. Herôdoto faz
poderes dos céus, os poderes da terra, as quatro várias alusões a esse lugar. Ficava situado em uma
extremidades da terra e os quatro ventos. Cada um importante rota comercial que ia desde os Portões
deles tinha apenas uma cabeça, ao passo que, nos Sírios, nas montanhas de Amano, até às cidades da
antigos escritos judaicos, tinham quatro. O que se Cilicia, na cadeia do Taurus. Era região famosa por
pensa acerca dessas cabeças (leão, boi, homem e seus excelentes cavalos, de onde Salomão os
águia) é explicado nas notas expositivas, em Apo. 4:7 importava (I Reis 10:28; 11 c-e. 1:16). Em 103 A.C.,
no NTI. Além disso, incorporam em si mesmos a a região, atualmente chamada Cilicia, tomou-se uma
natureza dos alanina, dotados de muitos olhos, provincia romana. Foi governada por Cícero, em 51
indicando a «vigilâncía« perante o trono, visando a A.C. Na época do imperador Vespasiano (72 D.C.),
proteção do mesmo, bem como uma sabedoria geral, ela foi combinada com a Síria, sob uma única
que a «tudo. vê, dotados por Deus de propósitos administração, pelo que Lucas e Paulo estio corretos,
especiais. O vidente Joio nada apresenta de original ao combinarem esses dois lugares, nas referências que
em tudo isso, mas misturou figuras simbólicas fazem à região, em Atos 15:23,41 e Gâl, 1:21. Ver o
antigas, sem dúvida bem conhecidas em seus dias, artigo sobre a Ciltcia.
apesar de parecerem estranhas em nossa época,
sobretudo para os que não dão atenção aos antigos
escritos judaicos, como os livros apócrifos, pseude- QUEDAR
pigrafes e certas passagens apocalípticas do pr6prio No hebraico significa «comprimento•. Era nome de
A.T. um rio da Mesopotâmia, em cujas margens o rei
Nabucodonosor implantou uma colônia de judeus,
Sumário da IdeDtUlcaçio e ........cadoI . . . . . entre os quais achava-se o profeta Ezequiel (Eze.
...avente.: 1:1,3; 3:15). Esse tem sido identificado com o rio que
1. Seriam as quatro extremidades da terra ou os os gregos denominavam Chaboras, atualmente cha-
quatro ventos. Portanto, representariam poderes mado Khabour. Deságua no Eufrates, através da
terrenos, agências divinas que controlam a terra. A Mesopotâmia, sendo a única correnteza de qualquer
«natureza animada. louvá. a Deus e cumpre as suas volume que deságua naquele rio em Circêsio. Alguns
ordens. Os seres viventes simbolizam isso, embora eruditos pensam que não se trata precisamente de um
não sejam idênticos a essas forças naturais. rio, mas de um canal feito pelos babilônios. verdade
Ê
2. Seriam os quatro signos do zodiaco, os poderes que esses canais também eram chamados «rios•. Um
celestiais que têm poder sobre os céus e sobre a terra. grande canal artificial, desviado do Eufrates, acima
3. Seriam seres celestes literais, que realizam da cidade da Babilônia, flui a por quase cem
tarefas que lhes foram determinadas do alto. quilômetros para suleste, através de Nipur, e,
4. Outros pensam que não seriam seres literais, mas finalmente, desaguava de volta no Eufrates, perto de
meros «símbolos» do modo como Deus controla a tudo Ereque , segundo a arqueologia tem descoberto.
e dá glória a tudo. Os anjos batem suas muitas asas, e Atualmente, está seco, após séculos de negligência.
o movimento de ar e energia, assim produzido, Dois tabletes descobertos pelos arqueólogos mencio-
embora não seja perceptivel aos ouvidos terrenos nam-no com o nome deNaru Kabari. A identificação
ordinários, é a «música das esferas. das regiões desse rio, ou canal artificial, chamado Quebar,
espirituais. continua incerta. O que é certo é que Ezequiel teve
5. Outras interpretações incluem os pontos suas primeiras visões ali (Eze. 1:1,3). Em cuneiforme
seguintes: a. os quatro evangelhos; b. .as quatro babilônico, naru significa canal ou rio. Porém, a
igrejas patriarcais; c. os quatro grandes apóstolos, maioria dos eruditos rejeita a identificação com o rio
que simbolizariam os ministros do evangelho; d, os que flui para dentro do Eufrates, em Circésio
mestres da igreja; e. as principais faculdades da alma (Kierkesion). (5 Z) .
humana, que conduzem o homem a Deus. Todas
essas interpretações, apesar de terem algum valor,
talvez relacionadas à idéia do texto sagrado, não são Ql1bRA-JEIUM
interpretações primárias. No grego, aristâo, palavra que aparece somente em
621
QUEDA E RESTAURAÇAO DE ISRAEL
Luc. 11:36 e João 21:12,15. No grego significava, podem ficar sem cumprimento, porque, finalmente,
originalmente, a primeira refeição do dia. Em latim, Deus trará de volta a nação de Israel, pois a própria
prandere, Jesus disse a seus discípulos, em uma de atual dispensação da graça, entre seus diversos outros
suas aparições pós-ressurreição: ..Vinde, comei» (João aspectos, é também uma maneira de provocar a nação
21: 12. No grego diz: ..Vinde, tomai o desjejum»), de Israel à emulação, servindo de meio de sua
Posteriormente, os gregos usavam esse vocábulo para final restauração.
indicar o almoço, tomado ao meio-dia. Mais tarde Nos primeiros oito capitulas da epístola aos
ainda, a palavra passou a ser usada para indicar Romanos, Paulo demonstrou que todos os povos,
qualquer refeição, o que é refletido em alguns trechos judeus e gentios igualmente, são pecadores, extre-
do Novo Testamento: Mat. 22:4; Luc. 11:37; 14:12. mamente necessitados da graça de Deus. Essa graça
Ou então, nos escritos de Josefo (Anti. 6.362,8). (A) divina vem por intermédio de Cristo, e todos os povos,
.sem qualquer distinção, estão sujeitos à ira divina ou
QUEDA DE SATANÁS Ver Satanás, Queda de. à salvação divina, dependendo do que cada
individuo tiver feito com relação a Cristo, rejeitando-o
ou aceitando-o. Assim todas as barreiras nacionais
'QUEDA DO HOMEM NO PECADO foram eliminadas em Cristo. E o grande alvo do
Ver o artigo sobre Orlpm do Mal, especialmente destino humano é a transformação dos remidos
seções 111, IV e V. segundo a imagem de Cristo, o que será realizado
inteiramente à parte de qualquer distinção de classe
ou nacionalidade. Tais doutrinas parecem eliminar
QUEDA E RESTAURAÇÃO DE ISRAEL qualquer vantagem distintiva possuída pela nação de
Como a Entrada da Igreja. na Economia Divina. Israel, pois a igreja cristã não é agora o verdadeiro
Afeta Israel Israel? Sim, é verdade, mas isso não significa que não
haverá mais lugar algum para o cumprimento
O anelo de Paulo pela salvação de Israel, Rom. daquelas antigas profecias relativas ao futuro de
9:1-5. Israel. De fato, com o tempo, ..... todo o Israel será
Os capitulas nono a décimo primeiro de Romanos salvo» (Rom. 11:26,27).
constituem uma seção inteiramente distinta do resto Os capltul08 DODO • déclmo prlmeho de Romanos,
dessa epístola, Poderiamos eliminá-los dessa epistola portanto, de certo modo, apresentam o passado, o
sem que houvesse hiato apreciavel, porquanto a seção presente e o futuro de Israel, em que o nono capitulo
prática, que se inicia no décimo segundo capitulo da expõe principalmente o passado, o capitulo décimo
mesma pode ser facilmente vinculada à seção dos mostra-nos principalmente o presente, e o capitulo
capitulas primeiro a oitavo. Os capitulos nono a décimo primeiro fala sobretudo sobre o futuro dessa
décimo primeiro, por conseguinte, apresentam-nos nação, embora apareçam versiculos, aqui e acolá, que
um aspecto especial do que está implicito no evan- não cabem bem dentro desse quadro. Abaixo
gelho apresentado pelo apóstolo Paulo. Assim, pois, oferecemos os elementos essenciais da discussão
se o evangelho se alicerçá na graça divina, e não apresentada por Paulo sobre a natureza e o destino da
dentro do conceito da legalidade mosaica, e se o nação de Israel, agora que um novo sistema religioso
evangelho agora é exposto a todos os homens, sem revelado - o cristianismo - se adiantou para o
qualquer distinção, onde é que Israel, e as promessas primeiro plano, tendo tomado o lugar, por assim
que lhe foram feitas como nação, cabem dentro do dizer, que a nação israelita antes desfrutara, como
quadro? veículo especial da verdade de Deus:
O aparecimento do cristianismo criou dois pro- 1. A nação de Israel deveria continuar sendo
blemas principais para o sistema teológico judaico. O evangelizada, não sendo negligenciada, somente
primeiro deles é que embora alguns trechos biblicos porque rejeitou ao Messias, Jesus Cristo (ver Rom.
antecipassem um Messias que ao mesmo tempo seria 9:1-3).
o Servo Sofredor de Jeová, isso era proclamado pelos
eruditos judeus somente em casos isolados. Pelo 2. Os judeus desfrutaram dos elevados privilégios
contrário, o Messias da concepção judaica era sempre da verdade divina, mas os verdadeiros filhos de
um rei e lider militar triunfante, inteiramente Abraão são aqueles que se caracterizam pela fé, os
diferente da figura de Jesus de Nazaré, que teve uma quais também são piedosos segundo a eleição da
morte vergonhosa, para então desaparecer sem deixar graça, o que tem tanto um aspecto individual como
qualquer vestígio, em que suas ..profecias sobre o um aspecto nacional. (Ver Rom. 9:4-13).
reino» ficaram todas sem cumprimento aparente. Ê
3. A despeito da falha aparente da verdade de Deus
verdade que a idéia da expiação pelo pecado não era em Israel, desde que o Messias foi rejeitado pelos
desconhecida para os judeus, especialmente em face judeus, podemos confiar que o principio do
do fato de que eles possuíam um completo sistema de senhorio de Deus, que opera tudo segundo sua boa
sacrificios simbólicos, mas, por outro lado, os judeus vontade, não cairá por terra frustrado. (Ver Rom.
jamais vincularam essa doutrina com o ministério do 9:14-24).
Messias, e, sobretudo, com a idéia de que essa sua 4. A cegueira da nação israelita não surpreendeu ao
«morte expiatória» tomaria o lugar de todo o intricado Senhor Deus, pois, na realidade, isso já fora motivo
sistema de sacrificios legais. Portanto, foi deixado aos de profecias antigas, fazendo parte dos propósitos
cristãos defenderem esse tipo de Messias. especiais de Deus. (Ver Rom, 9:25-33).
Além disso, havia o problema de como situar a 5. Israel se caracteriza por certo zelo religioso,
nação de Israel dentro da nova dispensação cristã. embora esse zelo se alicerce sobre um falso senso de
Deve-se pensar que todas aquelas profecias encontra- auto-importância, e não sobre Deus; e isso resultou na
das no A.T., que se aplicavam especificamente a rejeição do próprio Messias. (Ver Rom. 10:1-4).
Israel como nação, agora possam ser facilmente 6. Moisés apontou para Cristo, não havendo
lançadas no olvido, sem serem jamais cumpridas, nenhuma fórmula secreta de salvação que requeira
mesmo que essa nação tenha ficado cega e nossa pesquisa em lugares estranhos, a fim de
desobediente? A resposta dada pelo apóstolo Paulo a encontrá-la. (Ver Rom, 10:5-8).
tal indagação é que essas promessas e profecias não 7. No presente, tanto para os judeus como para os
522
QUEDA - QUEDEMOTE
gentios, a salvl19ão é oferecida .com base nas mes!Das Ver o artigo separado sobre a :a.tauaçlo de &neI
considerações, Isto é, arrependimento e fé em Cnsto, para uma declaracão mais completa sobre esse
o que leva o individuo a invocar o nome do Senhor, assunto.
pedindo-lhe a salvação. (Ver Rom, 10:9·13).
8. Essa invocação de seu nome requer que
evangelistas fiéis anunciem a mensagem sobre Cristo. QUEDAR
(Ver Rom, 10:14,15). No hebraico, «poderoso». Esse é o nome de um
9. Não obstante, Isaias previu a dureza de coração e homem e o nome da tribo que dele descendia, nas
a desobediência da nação de Israel para com o seu páginas do Antigo Testamento:
próprio Messias; e Moisés já havia predito que 1. Um dos filhos de Ismael, filho de Abralo e
aqueles que não são povo (os gentios) finalmente Hagar. Viveu em tomo de 1840 A.C. Ele é
adquiririam elevados privilégios espirituais, provo- mencionado somente em Gett. 25:13 e I c-e. 1:29. Há
cando a inveja de Israel. E o profeta Isaias também se quem pense que a palavra hebraica significa «negro»
referiu a esse aspecto, porquanto Deus seria ou «moreno.., uma referência aos efeitos da radiaçlo
encontrado por aqueles que «não buscavam.. por ele, solar sobre a pele das pessoas que habitam em lugares
ao mesmo tempo em que Deus seria encontrado a desérticos, como é o caso do sul da Arábia, onde viv:em
estender suas mãos a um povo desobediente e profano os beduínos. Parece que isso é refletido em Cantares
- Israel. (Ver Rom. 10:16-21). 1:5, onde a «esposa.. diz que é «...morena... como as
10. Contudo, até mesmo agora há um remanescente, tendas de Quedar..... Seja como for, quando o filho de
um Israel espiritual, o qual tem sido preservado na Ismael recebeu esse nome, a razão disso não deve ter
igreja cristã através da eleição da graça, de tal modo sido essa coloração da tez.
que, apesar da maioria dos judeus ter permanecido na 2. Nome de uma tribo nômade de ismaelitas, que,
ignorância e na dureza de coração, o evangelho não em suas perambulações, iam até o golfo Elanitico.
tem sido pregado em vão para Israel. (Ver Rom. Porém, no Antigo Testamento o termo é usado'em
11:1-6). sentido genérico para indicar as tribos árabes
11. A nação de Israel foi judicialmente cega em (beduínos) como se vê em Cano 1:5: Isa. 21:16,17;
face de sua incredulidade, ao passo que os gentios são 42:11; 60:7; Jer. 2:10,49; Eze. 27:21. No trecho de
levados aos pés de Cristo, com o propósito de emular Salmos 12O:~, Quedar e Mesque referem-se, metafo-
os judeus, provocando-os ao ciúme, na esperança do ricamente, ;'a certas tribos bárbaras. Os povos
resultado final do arrependimento. - A plenitude nômades assim referidos trabalhavam como negocian-
das riquezas dos gentios em Cristo é que, finalmente, tes e criadores de ovelhas. Os seus numerosos
provocará a plenitude de Israel. (Ver Rom. 11:7-12). rebanhos, seus camelos e suas tendas, são menciona-
12. Os gentios não devem ser complacentes, pois se dos em Isaias, Jeremias e Ezequiel. Alguns deles eram
os ramos naturais foram arrancados da oliveira, ferozes e temidos guerreiros (Jer. 2:10). Isaias
quanto mais serão arrancados os ramos da oliveira predisse o julgamento de Quedar (21:6), bem como
brava que tiveram sido enxertados, se porventura Jeremias (49:28,29), dando a entender que seriam
seguirem a vereda da apostasia que Israel havia destruidos por Nabucodonosor.
escolhido. (Ver Rom. 11:13-22). Após o castigo que esse povo sofreu, às mãos de
13. Contudo, o quadro não é desesperador, no que Assurbanipal e Nabucodonosor, eles diminuiram
concerne à nação de Israel, porquanto Deus é capaz drãsticamente em número, e, finalmente, foram
de enxertá-los novamente em sua more natural. (Ver assimilados por outras tribos árabes. As inscrições
Rom. 11:24). assírias mencionam-nos em seus conflitos com
14. A cegueira da nação de Israel, em sua Assurbanipal. Muitas descobertas arqueológicas con-
totalidade, é um profundo mistério da vontade de firmam a importância de Quedar, em relação ao povo
Deus, o que tem, como um de seus propósitos, a de Israel. Sabemos que a nona campanha de
salvação dos gentios. Porém, quando estiver completo Assurbanipal foi dirigida contra Quedar. Gesém era
o número de gentios que deverão ser salvos, então um dos reis de Quedar na oportunidade. Também
todo o Israel virá a Cristo, e então se cumprirão as havia quedaritas estacionados na fronteira leste do
promessas nacionais feitas a Israel, que são tão Egito, que talvez tivessem sido deixados ali proposi·
proeminentes nas páginas do A. T. Muitos antecipam talmente pelos persas.
tais acontecimentos para os fins do século XX, Os hagiógrafos islâmicos, ao reconstituirem a
quando Israel, atacado por todos os lados por genealogia de Maomé, fazem-no descendente de
adversários extraordinariamente numerosos e impos- Abraão e de Ismael por meio de Quedar.
siveis de derrotar, será livrada por alguma intervenção
divina, em que os seus opressores serão julgados por QUEDEMÁ
Deus. Quando Israel for assim libertada, haverá de No hebraico, «oriental... Um filho de Ismael,
reconhecer nisso a mão do Messias, e, como nação, referido em Gên.. 25:15 e I CrÔ. 1:31, e que deu nome
Israel se tomará verdadeiramente cristã. Isso é
predito não somente pelas profecias das Escrituras, à tribo da qual ele era o ancestral e chefe. Ele aparece
mas também é a afirmação das visões dos místicos, como o filho mais novo de Ismael. Viveu em tomo de
através de todos os séculos, e até mesmo no presente.
1820 A.C.
15. Essa restauração de Israel se dará de
conformidade com o antigo pacto estabelecido entre QUEDEMOTE
Deus e essa nação, quando Deus houver usado de No hebraico, «regiões orientais•. Nas páginas do
misericórdia para com todos os povos, visto que Antigo Testamento aparece como um deserto e uma
encerrou a todos sob a incredulidade, a fim de que cidade, a saber:
também pudesse usar de misericórdia para com 1. Um deserto na região leste do território de
todos. Por esse motivo, grande é o louvor com que Rúben, perto do rio Amon, referido somente em Deu.
exaltamos o nosso Deus, pois dele, através dele e para 2:26.
ele são todas as coisas. e a glória lhe pertence para 2. Uma cidade do território de Rúben, entregue aos
sempre. (Ver. Rom, 11:27-36). levitas, perto de Jaza e Mefaate, referida em J98.
52S
tocante a Abraão. Ele era o rei de "Elão, um pais a
leste da Babilônia, no fundo do golfo Pérsico (Gên.
14:1,4,5). Ele aliou-se a três outros reis a fim de
combater contra os cinco reis da região do mar Morto.
Quando os governantes de Sodoma, Gomorra, Admá,
Zeboim e de Zoar libertaram-se de sua hegemonia, ele
tentou esmagar toda a resistência. Abraão entrou em
conflito com ele, quando teve necessidade de libertar
Jô, que fora levado como prisioneiro. Até agora, todas
as tentativas para identificar esse homem com figuras
QUEDES históricas conhecidas, têm fracassado. A identificação
No hebraico, «santa», «santuário». Nada menos de com Hamurabi (cerca de 1700 A.C.) não é mais
quatro cidades receberam esse nome, nas páginas do mantida. Pelo menos, podemos datá-lo como
Antigo Testamento, talvez por estarem associadas a pertencente ao século XXI A.C.
antigos santuários: 1. O Nome. A primeira parte desse nome, kudu ou
1. Havia uma cidade murada com esse nome, no kuti, é a palavra elamita que significa «servo». Nas
território de Naftali (Jos. 19:35-38). Havia sido uma combinações, usualmente esse nome era vinculado ao
cidade real dos cananeus. Tomou-se cidade levitica e nome de alguma divindade. A segunda parte do nome
de refúgio (que vide) (Jos. 20:7; 21:32). Baraque [ao 'omer , talvez seja uma referência à deusa
nasceu nesse lugar (Juí. 4:6). Ela aparece como uma Lakamar, que aparece nos textos acádicos de Agada,
das cidades de Naftali que Tiglate-Pileser conquistou, bem como no registro em babilônico antigo (Mari), O
e cujos habitantes foram levados para a Assíria, nome é próprio ao perlodo de cerca de 2000-1700 A. C.
durante o reinado de Peca (11 Reis 15:29). No perlodo 2. Circunstâncias Históricas. Coligações politicas,
intertestamentário, foi a cena de uma grande batalha como aquela descrita no livro de Gênesis, referentes a
havida entre os Macabeus e Demétrio (I Macabeus esse homem, são refletidas nos textos cuneiformes do
9:63). Tem sido identificada com o moderno TeU segundo milênio A.C. Porém, têm falhado todas as
Qades, a noroeste do lago Hulê, tentativas de identificação especifica. Alguns tentam
2. Uma cidade do território de Issacar, doada aos identificar esse homem com os chamados tabletes de
levitas gersonitas (I Crõ. 6:72). Ali um rei foi morto Quedorlaomer , existentes no museu Britânico e
por Josué, sendo ela mencionada como uma das pertencentes ao século VII A.C. Ali, o rei de Elão é
cidades do norte (I Crê. 12:22). O sexto capitulo de I chamado Ku.Ku.Ku.Mal, Alguns estudiosos pensam
Crônicas menciona tanto a Quedes de Naftali quanto que isso representa quatro reis, não um só, cada
a Quedes de Issacar(vss. 72 e 76). Na lista paralela de qual representando diferentes períodos de quatro
Josuê 19:20, o nome Quisiom aparece, podendo ser diferentes regiões do mundo, a saber: a Babilônia
uma outra forma do mesmo nome;e que pode ter sido (sul); o Elão (leste); a Assíria (norte); e Goim (oeste).
assim chamada devido à sua proximidade de um rio Se isso é verdade, então o décimo quarto capitulo de
com esse nome. O trecho de Juizes 4:11 afirma que Gênesis é uma Midrash (que vide). (lD S UN Z)
Heber, o queneu, mudara-se para as vizinhanças de
Quedes. Posteriormente, Sísera, ao fugir da batalha QUEDROM
na qual foi derrotado, entrou na tenda de Heber, onde
foi morto pela esposa deste, Jael (Jui. 4:17). Se ele Uma cidade nunca mencionada com esse nome nos
tivesse fugido para Quedes da Galiléia, no território livros .canônicos da Bíblia, Figura, porém, em I
de Naftali, então teria tido de correr por mais de Macabeus 15:39-41 e 16:9. Ficava localizada entre.
sessenta e cinco quilômetros I Portanto, deve ter Jamnia e Modin, tendo sido fortificada por Cendebeu,
havido uma outra Quedes, mais próxima. por ordem de Antioco VII, da Síria, a fim de ser
3. Uma cidade de Judá (Jos, 15:23), que alguns usada quando da invasão da Judéia, durante os dias
estudiosos têm identificado com Cades-Barnéia (que de Simão Macabeu, Dali era possível controlar várias
vide). Ficava localizada perto da fronteira com Edom. estradas que penetravam na Judéia. Talvez seja a
Ficava próxima de Hazor e Itnã. mesma Gederá, mencionada em Jos. 15:36, a qual se
chama, em nossos dias, Qatra.
4. Alguns pensam ter
QUEELATA
No hebraico, «convocação». Foi um dos acampa-
mentos de Israel no deserto, a respeito do qual nada
mais se sabe, além de seu nome (Núm. 33:22,23).
QUEFAR.AMONAI
No hebraico, «vila dos amonitas», Um lugar
mencionado entre as cidades de Benjamim (Jos.
18:24). O local da mesma é desconhecido. O nome
relembra-nos as invasões dos amorreus, nas ravinas
QUEDORLAOMER que começam às margens do Jordão e dai vão subindo
até às terras altas do território de Benjamim.
O rei de EIAo, lider dos três reis que invadiram
Canaã na época de Abraão (Gên. 14:4). No relato de
Gênesis, aprendemos que Abraão veio de Ur dos
caldeus; e, através de Harã, chegou à Palestina. Ali QUEFIRA
sle cuidou de seus rebanhos de gado e ovelhas, e Uma cidade dos gibeonitas, entregue à tribo de
recuperou os despojos que .tinham sido tomados das Benjamim (Jos, 9: 17 e 18:26). Parece ter sido uma vila
cidades da planície. Também no livro de Gênesís, dos heveus. A cidade continuava a existir após o
somos informados sobre os atos de Quedorlaomer, no cativeiro babilônico (Esd. 2:25; Nee. 7:29). Estava
QUEIJO - QUELUBE
localizada no lugar chamado Khirbet el-Keireh, garmita, e Estemoa, o maacatíta, eram filhos di:
acerca de três quilômetros ao norte de Quriate el mulher de Hodias, o que, convenhamos, é uma frase
Inabe, na estrada de Jerusalém a Jope, cerca de treze muito estranha, dando a impressão que, ao casar-se
quilômetros a oeste-noroeste de Jerusalém. com Hodias, já tinha esses dois filhos. Na verdade, o
trecho é confuso até mesmo no hebraico. Vmas
traduções em inglês têm procurado encontrar a
QUEDO solução para a obscuridade. Talvez a melhor seja a
No hebraico temos duas palavras envolvidas: tentativa da Berkeley Version, da Zondervan Pub-
1. Gebinah , ..coalhada... Essa palavra aparece lishing House (1960), que diz, vertendo aqui o
somente em Jó 10:10. versiculo para o português: cA esposa de Hodias era a
2. Shaphah, ..queijo de vaca », Palavra que também irmã de Naã, e os filhos dela, um de Gerém e o outro
só é usada por uma vez, em 11 Sam. 17:29. de Maacâ, foram os ancestrais, respectivamente, de
Também é usada uma expressão hebraica, em I Queila, o garmita, e de Bstemoa, o maacatita», O
Sam. 17:18, que significa fatias de queijo. Não hâ hebraico, a Septuaginta e as versões inglesas que pude
outras menções ao produto em toda a Bíblia. examinar dizem Queila, nesse versiculo. As versões
portuguesas variam entre Queila e Abiqueila,
O uso da palavra, no livro de Jô, é figurado, falando
sobre a formação do feto no ventre materno. Homero,
em Odi, 9, dâ-nos alguma idéia da preparação do
produto na ârea do mar Mediterrâneo, mencionando QUEIXO Ver sobre MUDar, 0-. MuIIu.
como o leite era deixado pendurado em odres e peles
de cabra, provavelmente um dos estágios de sua QUELAlAS
fabricação. A água era drenada, permitindo que o No hebraico, «insignificante». Mas outros es~dio
coalho fosse pressionado, para formar uma massa. 50S preferem «Yahweh é luz». Esse foi o nome de um
·Não há razão alguma para supormos que a levita, que precisou divorciar-se de sua esposa
preparação do queijo fosse diferente, em Israel, do estrangeira, apôs retomar do cativeiro babilêníco
que em qualquer outro lugar. No Oriente, o queijo (Esd. 10:23). Ele também é mencionado em I Esdras
geralmente tinha o formato de um bolo pequeno. O 9:23, onde é chamado Quelita. Esse nome também se
produto terminado era posto em cestos pequenos, acha em Neemias 8:7; 10:10 e I Esdras 9:48, mas não
feitos de junco ou de folhas de palmeira, que então hâ certeza se a mesma pessoa estâ em foco. Viveu em
eram amarrados e tomavam a forma de saquinhos. O tomo de 450 A.C.
vale Tiropeano, em Jerusalém, é o equivalente grego
de «vale dos fabricantes de queijo», por ter sido o
grande centro de fabricação de queijo em Israel. QUELAL
Sabe-se que o queijo era um item importante da dieta No hebraico, «perfeiçlo». Esse nome, que s6
dos judeus. A Mishnah requeria que os israelitas só aparece em Esd. 10:30, indicava um dos oito filhos de
comessem queijo fabricado por israelitas, essencial- Paate-Moabe , um homem que tomara esposas
mente por temor que o queijo dos pagãos tivesse sido estrangeiras e precisou divorciar-se delas, quando
fabricado com o leite de algum animal oferecido aos terminou o cativeiro babilônico, ao voltar a Israel
idolos. (cerca de 458 A.C.)
QUEILA QUELEANOS
No hebraico, «cercada». Uma cidadela no territôrio Um povo cuja identidade é desconhecida. De
de Judâ (Jos. 15:44). Ficava cerca de trinta e dois acordo com Judite 2:23, eles viviam ao norte dos
quilômetros a sudoeste de Jerusalém. Nos dias de ismaelitas, mas, o termo é tão vago que deixa os
Davi, essa cidade foi cercada pelos filisteus. Davi estudiosos em dúvida. Talvez devessem ser vinculados
dirigiu-se à mesma, a fim de libertâ-Ia dos filisteus, à moderna el-Khalle, antiga Cholle, que ficava
mas seus ingratos habitantes tê-lo-iam entregue a situada entre Palmira e o rio Eufrates. Outros
Saul, se ele não tivesse escapado dali (I Sam, 23:1-13). eruditos, porém, localizavam-nos ao norte das tribos
Esse lugar é mencionado nas cartas de TeU el-Amarna ismaelitas, os quais viviam na parte oriental da
com o nome de Qilti, Os exércitos passavam por Palestina, perto do deserto da Arábia, ainda que
Quei1a, na direção do Egito ou vindos de lã, conforme outros os façam habitantes da· cidade chamada
o demonstram as cartas dos principes de Jerusalém e Que/tu (que vide).
Hebrom a Aquenaton, Fara6 do Egito. Ap6s o exf1io
babilônico, o lugar foi novamente ocupado pelos
judeus, e alguns deles participaram da reconstrução QUELlTA
das muralhas de Jerusalém, sob Neemias (Nee. Ver sobre QaeI....
3:17,18). Hâ tradições que dizem que o profeta
Habacuque foi sepultado ali. Tem sido identificada
com a moderna Khirbet QUa, cerca de quinze QUELODE
quilômetros a noroeste de Hebrom. (h filhos de Quelode encontravam-se entre aqueles
que obedeceram à convocação de Nabucodonosor
para fazer guerra contra Arfaxade (Juditel:6). Essa
QUEILA (ABIQUEILA) palavra evidentemente é uma corrupção, talvez um
Em nossa verslo portuguesa esse foi o nome de um apelido dado aos sirios, chamados «filhos das
descendente de Calebe, filho de Jefoné, mencionado toupeiras» (lchol~tf).
em I Crê. 4:19. Ele é chamado «garmita», um
patronimico que $ignifica «forte» ou «ossudo». Seu pai
é dado como Naum, da tribo de Judá. Entretanto, QUELUBE
esse versículo, em nossa versão portuguesa, está com No hebraico, «gaiola» ou «cesto». Nome de dois
alguma falha, pois dá a impressão de que Abiqueila, o personagens da Bíblia, a saber: 1. O irmão de Suá e
626
QUELUI - QUENAZ
pai de Meir, da tribo de Judá (I Crô. 4:11). 2. O pai de «adquirido» ou «gerado». Foi pai de Enos, pai de
Ezri, que era jardineiro de Davi (I Crô. 27:26), em Maalalel (Gên. 5:9; I Crô. 1:2). Esse nome
cerca de 1000 A.C. O nome pode ser uma variação de corresponde a Cainã, uma forma que se encontra na
Calibe. genealogia de Jesus, em Luc. 3:36. O texto hebraico,
conforme contamos com ele, não inclui esse nome,
mas aparece na Septuaginta, em Gên. 5:24 e 11:12.
QUELU1 Por essa razão, alguns estudiosos pensam que esse
Nome de sentido desconhecido no hebraico, mas nome foi uma adição feita na Septuaginta, embora
talvez relacionado à raiz Jclh, «completo». Era nome também apareça no texto do evangelho de Lucas.
de um levita, filho de Bani, homem que tomara Porém, não há qualquer evidência textual objetiva
esposa estrangeira enquanto estava no cativeiro, mas para tal conjectura.
que, posteriormente, foi obrigado a divorciar-se dela
(Esd. 10:35). O nome não aparece no paralelo de I
Esdras 9:35. QUENAANÁ
No hebraico, «chato- ou «baixo». Nome de dois
homens que figuram nas páginas do Novo Testamen-
QUELUS to, a saber:
Um lugar para além do Jordão, para onde 1. Um filho de Bilã, um descendente de Benjamim,
Nabucodonosor enviou uma convocação, recrutando cabeça de uma casa benjamita (I Crô. 7: 10),
homens para irem à guerra (Judite1:9). Ficava provavelmente da família dos belaitas (cerca de 1020
situado a sudoeste de Jerusalém, perto de Betânia, ao A.C.).
norte de Cades, às margens do rio do Egito. 2. Pai ou antepassado de Zedequias, um falso
Atualmente tem sido identificado com a moderna profeta, o qual encorajou Acabe a subir contra
Khalasa, ao sul de Berseba, em uma importante Ramote-Gileade (I Reis 22:11,24 e 11 Crô. 18:10,23),
estrada que ia na direção sul, de Jerusalém ao Egito, e em cerca de 896 A.C. Entretanto, alguns estudiosos
na rota de caravanas entre Gaza e Edom, pensam que esses dois homens na realidade eram uma
só pessoa.
QUEMAIUM
A palavra hebraica, de sentido desconhecido, QUENANI
aparece somente por duas vezes, em 11 Reis 23:5 e em No hebraico, «feito ou nomeado por Yahweh», Era
Osé. 10:5. Algumas traduções transliteram essa nome de um levita que ohciou quando da solene
palavra, por não se saber o que ela significa. Nossa purificação do povo, sob Esdras (Nee. 9:4), em cerca
versão portuguesa a traduz por «sacerdotes», na de 459 A.C.
primeira dessas referências e por «sacerdotes idóla-
tras», na segunda. O Antigo Testamento só aplica
essa palavra à idéia de sacerdotes idólatras. É possível QUENANIAS
que o vocábulo esteja relacionado à raiz aramaica No hebraico, «bondade de Deus... Esse é o nome de
k umra ; que pode ser aplicada a qualquer tipo de dois homens do Antigo Testamento:
sacerdote, bom ou mau. Porém, no Antigo Testamen- 1. Um mestre dos músicos do templo, que conduzia
to, o termo sempre se reveste de um sentido negativo, os cultos musicais quando a arca foi removida da casa
como os sacerdotes dos lugares altos (11 Reis 23:5), os de Obede-Edom para Jerusalém (I Crô. 15:22). A
que serviam ao bezerro de ouro, em Betel (Osê, 10:5), Bíblia de Jerusalém empresta a ele um oficio mais
e os sacerdotes de Baal, em Sof. 1:4. amplo, fazendo-o também diretor do transporte (vs,
27) e um profeta do templo (vs, 22).
2. Um jizarita que, com seus filhos, cumpria
QUEMUEL deveres fora do templo de Jerusalém, como oficiais e
No hebraico, «assembléia de Deus- ou «Deus juizes que eles eram (I Crô. 26:20; Nee. 11: 16).
levanta-se». Esse foi o nome de três personagens do
Antigd' Testamento:
1. O terceiro filho de Naor, irmão de Abraão, o QUENATE
qual foi pai de seis filhos, o primeiro dos quais No hebraico, -possessão-. Esse era o nome de uma
chamava-se Arl, e o último, Betuel (Gên. 22:21,23). cidade de Manassês, do outro lado do rio Jordão. Foi
Todas essas pessoas slo de história desconhecida, conquistada dos amorreus por Noba, tendo recebido,
exceto o último desses homens, o qual foi pai de posteriormente, o nome desse homem (Núm. 32:42).
Labão e Rebeca (Gên. 24:15). Arã foi o nome próprio Mais tarde. foi recapturada por Gesur e Arã (I Crô.
que Quemuel deu a seu primogênito, mas, visto que 2:23). Tornou-se uma das cidades da Decápolis (que
no hebraico também significa «Síria», alguns intér- vide), quando então recebeu o nome de Canata. Foi
pretes, erroneamente, têm pensado que os sírios nesse lugar que Herodes, o Grande, foi derrotado
descendem dele. A Siria, entretanto, já constituía um pelos arabaianos (Josefo, Guerras 1:19,2). Tem sido
povo quando esse homem nasceu, 1800 A.C. identificada com a moderna Qanawat, a pouco menos
2. Um filho de Siftl, líder da tribo de Efraim. Foi de vinte e sete quilômetros a nordeste de Bostra. Os
um dos doze homens nomeado por Moisés para arqueólogos têm feito ali muitas escavações, com
dividir a Terra Prometida entre as tribos (Núm. muitos resultados positivos, especialmente nas cama-
34:24). Viveu em torno de 1170 A.C. das referentes ao período greco-romano. O número de
3. Um levita, pai de Hasabias, o qual era príncipe edificios em minas, ali encontrados, é considerável.
da tribo de Levi, na época de Davi (I Crô. 27:7). Viveu
em cerca de 1000 A.C.
QUENAZ
No hebraico, «caçador». Outros preferem o sentido
QUENÃ «flancos. Essa é uma forma singular do clã,
No hebraico, cmo-, ou então, na opinião de outros, -quenezeu- (que vide). Há três homens com esse
526
QUENEUS - QUENOBOSQUIOM
nome, no Antigo Testamento: a pensar que o próprio Davi era queneu, porquanto os
1. Um filho de Elifaz, neto de Esaú (Gên, 36: 11; I queneus eram grandes cultores da música, na época,
Crê, 1:36), que foi um dos lideres dos idumeus (Gên. o que explicaria o interesse de Davi. pela música, na
36:15). Viveu em tomo de 1740 A.C. promoção do ritual religioso. Esse argumento
2. Um dos irmãos mais novos de Calebe (Jos, 1:13), também alicerçá-se sobre o fato de que Davi enviou
pai de Otoniel, que foi um dos juizes de ]srael (Jos. presentes a seus «parentes», os anciãos de Judâ, entre
15:17; lui. 3:9). Viveu em cerca de 1490 A.C. os quais haveria queneus, Mas outras traduções,
3. O filho de Elâ, neto de Calebe (I Crê.), Viveu como a nossa tradução portuguesa, dizem ali
em cerca de 1400 A.C. «amigos», sentido que a palavra hebraica envolvida
pode ter. Isso, entretanto, contradiria outros trechos
biblicos, onde Davi aparece claramente como
QUENEUS descendente de Judá. Portanto, um Davi queneu não
No hebraico, «ferreiro», «trabalhador em metais». passa de uma conjectura, que a maioria dos eruditos
Esse povo é mencionado por treze vezes no Antigo repele.
Testamento: Gên. 15:19; Núm. 24:21,22; Jui. 1:16; A mp6tae QaenJta. Alguns intérpretes supõem
4:11,17; 5:24; I Sam.15:6; 27:10; 30:29 e I Crô. 2:55. que um dos nomes de Deus, a saber, Yahweh,
A palavra pode referir-se ao nome do clã quenita. No originou-se entre os queneus. Eles supõem que Moisés
hebraico, o nome é equivalente ao de Cairo, filho tomou conhecimento dessa palavra com Jetro, seu
primogênito de Adão, embora não haja razões para sogro queneu-midianita. Presumem eles que o
vincularmos um nome ao outro, como se os queneus sacrificio oferecido por Jetro (Êxo. 18: 12) foi feito
fossem descendentes de Caim. Esses pereceram no para instruir Moisés quanto à adoração a Yahweh. No
dilúvio, e a terra foi repovoada pelos descendentes de entanto, se aceitarmos o versiculo anterior a esse,
Noé, que era descendente de Sete. Em Números 24:22 veremos que Moisés foi o mestre, e Jetro foi o
é proferido um juizo divino contra esse clã, embora aprendiz, e não ao contrário. Os queneus-recabitas,
vivessem fortemente protegidos por suas rochas e de um periodo posterior, eram zelosos adoradores de
montanhas. Eles estavam muito reduzidos em número Yahweh, mas fizeram-no como convertidos à fé
nos dias de Saul (I Sam, 15:6). Tiglate-Pileser, rei da judaica, e não como originadores da mesma. Esses
Assiria, quando exilou o povo da Síría, levou o povo teóricos supõem que, originalmente, Yahweh era um
desse clã juntamente com os sirios (11 Reis 16:9). deus do fogo, e trabalhadores em metais, como eram
Em nossa versão portuguesa, «Cairo» é também o os queneus, naturalmente teriam interesse em
nome de uma cidade localizada perto de Hebrom, no promover o culto de um deus assim. Além disso, eles
território de Judá (Jos, 15:57). Em outras versões, o supõem que Caim foi seu mais remoto antepassado, e
nome dessa cidade é eQueneu». Ela tem sido que, visto que ele tinha a marca de Yahweh, ou' do
tentativamente identificada com a Khirbet Yaquin, a Senhor, os queneus, de milênios mais tarde, eram
suleste de Hebrom, A Septuaginta não menciona o zelosos adoradores dele (ver Gên, 4:15). Tudo isso
lugar, pelo que, nesse trecho, esta versão dá nove reflete um raciocinio extremamente deficiente. O
cidades, em vez de dez .. trecho de Gênesis 4:1,25 revela que os patriarcas já
Originalmente, os queneus eram uma tribo eram adoradores de Yahweh, o que significa que a
midianita (Núm. 10:29). Ao que parece, eles adoração a Yahweh não foi um desenvolvimento já da
trabalhavam com metais, conforme o nome indica, no época do povo de Israel, estabelecido na Palestina.
hebraico. Nas regiões por eles habitadas, segundo os (JBL (52, 212-229:1933) NO Z)
arqueólogos têm demonstrado, há minas e fundições
de cobre. O nome aparece pela primeira vez em Gên. QUENEZEU
15:19, indicando os habitantes cananeus da Palestina,
nos tempos patriarcais. Uma das áreas habitadas era Nome de um clã ou famllia. Ver o artigo sobre
a faixa que acompanha as costas maritimas do Quenaz. Essa era uma das tribos que ocupava o sul da
Mediterrâneo, a sudoeste de Hebrom (Juí. 1:16), Palestina (Gên. 15:19). A terra deles foi prometida
embora eles também fossem conhecidos como por Yahweh a Abraão. Eram aparentados dos
nômades. Hobabe, o filho de Reuel, sogro de Moisés, queneus (que vide), e, como eles, eram excelentes
era queneu (Êxo, 2:18). Moisés convidou seu sogro artifices em metais, do vale do Jordão, rico em cobre.
para acompanhá-lo como guia dos israelitas, em face Essa palavra é usada como um epiteto para indicar
de sua grande experiência como nômade (Núm. Calebe, sendo possivel que ele descendesse do idumeu
10:29). Quenaz (que vide). Nomes idwneus e horeus
aparecem na genealogia de Ca1ebe. Lemos que ele era
Os queneus também ocupavam a área atual do filho de Jefonê, o quenezeu (Nám. 32:12; Jos,
wadi Arabah (Núm. 24:20-22), no que veio a ser o 14:6,14). Os ~enezeus do descritos como um povo
território de Naftali (Jui. 4:11). Nos tempos de Davi e estrangeiro(Gên. 15:19). A Calebe foi prometida uma
Salomão, eles foram mencionados em associação a porção na Terra Prometida, com base em sua
Judá (I Saro. 15:6; 27:10). Heber, mencionado em fidelidade, e não por direito de nascimento.
Jui. 4:11 e 5:24, era queneu,. e os ascetas recabitas, de Entretanto, as genealogias dos capitulas" e quatro
I Crô. 2:55, pertenciam a essa tribo. de I Crônicas fazem dele um neto de Judá, através de
Os queneus acompanharam a tribo de Judá à
Hezrom (2:9,18}. Por essa razão, muitos eruditos têm
herança deles (Jui. 1:16; I Sam. 27:10). Foram encarado as geneã10gias dos livrOs de Cr8aícas como
poupados por Saul, e sua guerra contra os uma tentativa proposital de dar a Catebe posiçJ.o legal
amalequitas (I Sam. 15:6). Davi cultivava a amizade em Israel, no judaísmo p6s-exflico. HA nisso tudo uma
discrepância que não é fácil de resolver. Por essa
deles (I Sam. 30:29). As aldeias de Jezreel e Cannelo razão, alguns sugerem que devemos pensu em mais
são mencionadas juntamente com a cidade de Caim, de um Calebe, o que não é impos:sfye1.
em Jos. 15:55, e duas das esposas de Davi vieram
dessas aldeias. Por essa razão, alguns supõem que
essas mulheres eram quenitas, embora não há QUENOBOSQUlOM
evidências conclusivas quanto a essa conjectura. Com No c6ptico, SlnaIlM, «Pasta&em de g&ll$OOt. Nome
base em I SamueI3O:26-31, alguns estudiosos chegam de uma antiga cidade do Egito, a lesie do NOo"acerca
627
QUERÁ - QUERIOTE
de quarenta e oito quilômetros ao norte de Luxor. Um incluíam homens provenientes das áreas que aqueles
mosteiro cristão foi fundado no lugar por Pacômio, filisteus haviam ocupado, razão pela qual esse corpo
em cerca de 320 D.C. Perto dali, em cerca de 1945, foi de elite acabou sendo conhecido por esse nome.
encontrada uma biblioteca de material gnóstico, a 2. As Tribos Filistéias. O termo «quereteus-
maior parte na forma de traduções côpticas do grego. referia-se aos filisteus que habitavam na porção
Essa descoberta incluiu cerca de quarenta e nove sudoeste de Canaã (I Sam. 20: 14). Os trechos de
documentos, em treze côdíces de papiro, atualmente Ezequiel 25:16 e Sofonias 2:5 usam o nome como
intitulados os manuscritos de Nag Hammadi, sinônimo dos filisteus em geral. A LXX diz ali
provavelmente porque foi nessa localidade, a oeste do cretenses, e é possivel que isso seja correto, pois
rio, que a descoberta foi pela primeira vez noticiada. atualmente acredita-se que os filisteus (que vide), são
Um desses documentos é chamado Códex Jung por provenientes de Creta, Na escrita cuneiforme temos
haver sido adquirido por aquele instituto de Zurique. kaptara, Alguns eruditos, entretanto, supõem que
Outros documentos encontram-se agora no Museu apesar de relacionados aos filisteus, os quereteus
Côptico do Egito, no Cairo. Essas obras estão sendo nunca estiveram diretamente associados à ilha de
publicadas, pouco a pouco. Entre elas há o Evangelho Creta, podendo ter tido outra origem, embora
da Verdade (contido no Códex Jung), o Evangelho de tivessem sido assimilados subseqüentemente pelos
Tomé (em um dos códices do Cairo). O Evangelho da filisteus. a termo «peletitas», usado como sinônimo
Verdade é uma espécie de meditação especulativa dos quereteus, pode ter sido empregado para evitar a
sobre a mensagem cristã, originada na; escola idéia de que Davi estava por demais intimamente
valentiniana do gnosticismo, talvez tenha Sido uma associado aos filisteus, e, nesse caso, o termo foi
produção do próprio Valentino, em cerca de 150 D.C. formado por analogia, com aquele outro, ou então por
a Evangelho de Tomé contém cento e catorze assimilação fonética. As identificações exatas, porém,
declarações atribuídas a Jesus, fragmentos das quais, continuam na dúvida.
em grego, foram encontradas em Oxyrhinchus, nos 3. As Tropas de Davi. Quantas daquelas pessoas,
fins do século XIX e no começo do século XX. O que embora filistéias, haviam sido incorporadas ao povo
encontramos nessa descoberta é uma espécie de de Israel. E, além disso, os israelitas daquelas áreas
fragmento da biblioteca do gnosticismo (que vide). eram simplesmente chamados por esse nome, embora
Ver também o artigo separado sobre os Manuscritos não fossem de ascendência filistéia? É provável que
de Nag Hammadi, (DOR ND) ambas as situações existissem ali. Seja como for, os
nomes quereteus e peletitas tornaram-se um termo
coletivo para indicar as tropas de elite de Davi (11
QUERÃ Sam. 8:18; 15:18; 20:7,23; I Reis 1:33,44; I Crô.
Um dos filhos de Dísã, filho de Seir, o horeu (Gên, 18:18). Posteriormente, eles passaram a ser chamados
36:26; I Crô. 1:41), em cerca de 1920 A.C. «capitães dos cários e da guarda» (11 Reis 11:4,19).
Eles mostraram-se leais a Davi em penados de crise,
QUEd1As em todas as revoltas que perturbaram a sua vida. Eles
o acompanharam quando ele fugiu de Absalão (11
Um capitão amonita, irmão de Timóteo, que se Sam. 15:18). Eles perseguiram Seba, após a rebelião
apôs a Judas Macabeu (I Macabeus .5:6). Ele do mesmo (11 Sam. 20:7). Quando Adonias tentou
controlava a fortaleza de Gazara (I Macabeus 5:8). suceder a Davi, por um golpe de astúcia, foram eles
Judas Macabeu assediou essa fortaleza. Judas venceu que deram apoio à escolha de Salomão, formando a
a batalha e executou os dois irmãos, Queréias e guarda pessoal para a sua unção como rei ( I Reis
Timóteo, além de muitos dos seus seguidores (11 1:38). a Iíder deles era Benaia, filho de Joiada (11
Macabeus 10:32-38). Sam. 8:18), o qual também é chamado de lider da
guarda pessoal de Davi (11 Sam. 23:23). (G HA JM)
QUlUmN.BAPUQUE
No hebraico, «chifre de pintura», ou seja, «caixa de QUERIOTE
cosmético», embora outros estudiosos prefiram No hebraico. «cidades» ou «aldeias». E o nome de
«sombra para os olhos•. Esse foi o nome da filha mais duas cidades, nas páginas do Antigo Testamento:
jovem de Jó, que lhe nasceu quando sua prosperidade 1. Uma cidade de Moabe, referida juntamente com
lhe tinha sido devolvida pelo Senhor (16 42:14). Dibom e outros lugares, em Jeremias 48:24. Talvez
Provavelmente, o nome diz respeito à sua beleza seja um outro nome de Ar, a antiga capital dos
fisica. Ela viveu em cerca de 1590; mas tudo depende moabitas, por causa do lugar proeminente que lhe é
em que período devemos situar a vida de seu pai, Jó, o dado, na enumeração das cidades de Moabe, quando
que constitui um dos problemas cronológicos do livro Queriote é citada e Ar é omitida (Jer. 48), ou
que tem o seu nome. vice-versa (Isa, 15 e 16). Ver também Amós 2:2. O
lugar tem sido identificado com a moderna Saliya,
cerca de quarenta quilômetros a leste do mar Morto,
QUERETEUS imediatamente ao norte do rio Amon. No Antigo
Esse nome é de significaçio incerta, mas a alusão é Testamento há predições de sua destruição. A cidade
à guarda real de Davi, uma tropa de elite (11 Sam. é mencionada na pedra Moabita, linha 13.
8:18 e I Crô. 17:17).
1. Significado do Nome. As traduções desse termo 2. Uma cidade ao sul do território de Judá (Jos.
hebraico têm sido diversas, como «chefes.., «corredo- 15:25), talvez pertencente à tribo de Simeão. Parece
res .., «executores», etc. Porém, parece melhor ser a cidade aludida no nome de Judas Iscariotes (que
entender essa palavra como um nome próprio, e não vide) que seria nativo dessa cidade, se isso é verdade.
como um substantivo comum. A palavra é o plural.de O local tem sido identificado com Khirbet el-Qarra-
quereteu, uma referência às tribos filistéias que tein, a pouco mais de vinte e dois quilômetros ao sul
habitavam na porção sudoeste da terra de Canaã (I de Hebrom, e a vinte e cinco quilômetros a oeste do
Sam. 30:14). Ver os comentários abaixo, sobre esse mar Morto.
termo. Os membros da guarda pessoal de Davi •••••••••
628
QUERIOTE - QUERUBIM
QUERIOTE.HEZROM egípcios, e com outras figuras tais. Supor que não há
conexão alguma entre eles e tais representações, ao
Uma cidade do distrito do Neguebe, no território de menos no tocante a como esses seres eram concebidos
Judá (Jos, 15:25). Nesse versículo ela é identificada pelos hebreus, parece-me uma maneira muito
com Hazor (que vide). Tem sido modemamente precária de pensar. Não parece provável que as
identificada com Khirbet el-Quaryatein, cerca de oito representações simbólicas dos hebreus se tenham
quilômetros ao sul de Maom. originado em um vácuo. Também é improvável que as
nações pagãs tenham feito empréstimos das noções
QUERITE dos hebreus, com distorções, assim inventando seus
deuses grotescos, parte homem e parte animal.
Um ribeiro existente na Transjordtnia, onde Elias Porém, estabelecer paralelos e identificações específi-
escondeu-se, após fugir da rainha Jezabel (I Reis cas também é precário. As escavações arqueológicas
17:3,5). Um local proposto é o wadi Kelt, um riacho têm descoberto todas as espécies de formas híbridas
de águas revoltas que deságua no vale do Jordão. na Assíria, na Babilônia, entre os hititas, gregos,
Porém, a expressão bíblica «fronteira ao Jordão», egípcios e cananeus, a partir dos dois primeiros
parece dar a entender que esse ribeiro ficava a leste milenios A.C. Assim, têm sido encontradas esfinges
daquele lugar, bem como na própria terra nativa de aladas, o trono esfinge do rei Airão de Biblos, seres
Elias, Gileade. Nesse caso, o wadi Yabis, defronte de humanos dotados de asas mas com cabeça de águia, e
Bete-Sei, parece ser a identificação mais provável. A todas as espécies de formas com um misto de animal e
localização do mesmo permanece em dúvida, e homem, como se fossem figuras divinas.
qualquer wadi, entre os inúmeros ali existentes, com
suas numerosas cavernas, pode ter sido o lugar. 4. Aparência dos Querubins. A arqueologia tem
lançado bastante luz sobre a aparência dos querubins,
conforme os mesmos apareciam nas figuras rituais
QUEROS dos hebreus. Um par de querubins foi encontrado,
No hebraico, «dobrado». Ele foi ancestral de uma como apoio do trono do rei Hirão, de Biblos, de cerca
família de servidores do templo, que retomaram da de 1200 A.C. Era uma criatura dotada de corpo de
Babilônia com Zorobabel. Seu nome aparece em Esd. leão, rosto humano e asas avantajadas. Os querubins
2:44 e Nee. 7:47, como também em I Esdras 5:30. mandados fazer por Salomão estariam postos sobre
Viveu em cerca de 630 A.C. seus pés (11 Crô. 3:13). Ezequiel diz que eles se
assemelhavam a um homem, mas com asas (Eze.
10:8). O leão alado com cabeça humana (esfinge com
QUERUBE asas), aparece por centenas de vezes na iconografia da
No Antigo Testamento, temos o nome de um dos Ásia ocidental, entre 1800 e 600 A.C. Por muitas
lugares de onde voltaram exilados, terminado o vezes, os querubins _aparecem apoiando o trono de
cativeiro babilônico, em companhia de Zorobabel alguma divindade. E perfeitamente claro que essas
(Esd. 2:59 e Nee. 7:61). E, no livro apócrifo de I representações, descobertas pela arqueologia, ajus-
Esdras 5:36, esse é o nome de um dos homens de tam-se às descrições bíblicas. Ezequiel fala em
Israel que voltaram do exílio babilônico. querubins com dois rostos, um de homem e outro
de leão (Eze , 41: 18), ou então com qnatro rostos
UERUBIM (Eze, 1:6,10; 10:14,21,22). Nesse caso, além dos
Q leões, havia uma cabeça de boi. As asas são
1. O Nome. Em português, o nome está no mencionadas em relação aos querubins, em I Reis
singular, mas reflete a forma plural no hebraico. O 6:24, asas essas que seriam quatro, de acordo com
sentido dessa palavra, no hebraico, é incerta, embora Eze, 1:6, 11. Duas asas estavam estendidas por cima
possa estar em foco a idéia de in tercessor, vindo de da figura, e duas eram usadas para voar, ao passo que
uma raiz básica do acâdico, caribu ou kuribu, Seja duas outras lhe cobriam o corpo. Sob as asas havia
como for, os querubins eram uma classe de seres mãos humanas (Eze , 1:8; 10:8,21). E seus pés
angelicais. assemelhavam-se à sola das patas de uma vaca (Eze,
2. As Ordens Angelicais. É bastante antiga a 1:7).
formação de uma angelologia, incorporando a idéia 5. Usos no Templo de Jerusalém. Figuras de
de que há várias ordens, classes, poderes ou mesmo querubins decoravam as portas e as paredes do
espécies de anjos. Ver o artigo sobre os Anjos. A templo de Salomão. Dois querubins eram feitos de
maioria dos estudiosos acredita que esse desenvolvi- madeira de oliveira, recoberta de ouro. Essas figuras
menta ocorreu, a principio, na religião persa, e dali foram postas no santuário do templo, com suas asas
passou para o judaísmo: e, deste, para o cristianismo. voltadas para cima, tocando nas pontas umas das
O judaísmo contava com uma hierarquia de anjos, outras, no meio da câmara, e debaixo das quais havia
encabeçada por sete ou quatro arcanjos. Haveria a arca (que vide). A própria arca tinha as figuras de
miríades de anjos subordinados, e muitas ordens e dois querubins de ouro batido, defronte uma da
funções. Coletivamente falando, eles eram servos de outra, nas duas extremidades da tampa da arca, ou
Deus, ministros seus que garantiam que a sua vontade prooiciatório (no hebraico, kaporet}, Suas asas
seria cumprida por toda a sua criação, tanto nos céus estavam elevadas para cima, formando uma espécie
quanto na terra. Estariam envolvidos em toda a forma de tela. Era ali, entre os dois querubins, que Deus
de fenômeno natural e sobrenatural. revelava-se e comunicava a sua mensagem. Yahweh é
3. A Ordem e a Classe dos Querubins, e Sua assim referido em I Sam. 4:4; II Sam. 6:2; 11 Reis
Aparência. Nessa conexão, ver abaixo sobre a 19:15; Sal. 80:2 e 99:1, como Aquele que estava
aparência desses seres. Por causa da associação dos entronizado entre os querubins. No segundo templo,
querubins com asas e outras características, alguns porém, segundo tudo indica, não havia querubins. Na
arqueólogos têm pensado em uma identificação com a visão de Ezequiel, o trono do Senhor repousava sobre
esfinge alada ou com o leão alado, dotado de cabeça as asas dos quatro querubins, cada um dos quais
humana, o que aparece como artigo proeminente da tinha a forma de um homem com quatro rostos, a
arte na Síría-Palestína. Outros os têm identificado saber, de um homem, de um leão, de um boi e de uma
com os colossos assírio-babílônicos, com os grifas águia, e cada qual tinha quatro asas, com mãos
629
QUERUBIM - QUESIL
humanas por baixo das mesmas. Cada querubim quanto entendiam de modo poético e simbólico.
tinha uma roda a seu lado, que se movia juntamente Talvez ambas as concepções estivessem envolvidas.
com o querubim, e tanto o querubim quanto ess-a roda Na verdade, nosso conceito de Deus vai-se aprimoran-
eram recobertos de olhos. Isso posto, esses querubins' do, -à medida que os séculos se passam; e nunca
serviam de carruagem divina. chegará o tempo em que o nosso conceito sobre o
6. Como uma Ordem Angelical. Antes de tudo, Senhor será perfeito. A maioria dos homens cria um
torna-se mister dizer que as apresentações descritas Deus segundo a sua própria imagem, conforme a sua
acima devem ser entendidas simbolicamente. Não é própria imaginação. Nosso conhecimento sobre Deus
necessário supormos que os anjos, ou qualquer classe continua bastante cru. d. Decorações Simbólicas. Os
entre eles, realmente tenham essas caracteristicas. querubins eram usados como símbolos, em Israel e
Também é patente que as descrições acima concor- em outras culturas antigas; mas, ao mesmo tempo,
dam com a atmosfera religiosa da Palestina, do Egito eles se revestiam de valor decorativo. Sobre o
e da Assíria, naquele tempo. Podemos perceber propiciatório da arca do pacto, havia as figuras de
sentidos simbólicos nessas descrições, e não devemos dois querubins, de frente uma para a outra. Eram
rebuscar além disso. Dentro da hierarquia angelical, feitas de ouro, formando uma peça sólida com a
que se desenvolveu posteriormente, os querubins tampa do propiciatório. Suas asas estavam abertas
vieram a ser situados em várias posições, dentro da como que para fazer uma sombra. No tabernáculo,
escala dos poderes angelicais. As funções deles eram havia figuras de querubins bordadas nas dez cortinas
de guardiães e assessores do Senhor. Com base nas brancas, de linho fino retorcido, tecidas em azul,
referências bíblicas, não conseguimos descobrir para púrpura e escarlate. Essas cortinas tinham cerca de
eles quaisquer patentes fixas, formando uma hierar- 13,50 m de comprimento cada, e então eram reunidas
quia bem ordenada. Porém, o fato de que os aos pares, a fim de cobrirem tanto a parede externa
querubins são pintados como assessores de Deus, como a cobertura mais interior da tenda (Êxo. 26: 1 ss,
associados ao seu trono, parece sugerir que eles 36:8 ss). Um outro véu, feito do mesmo material, era
ocupavam uma elevadíssima posição. pendurado entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos
(Êxo. 26:31 ss, 36:35 ss). No templo de Salomão, no
7. Funções. a. Como Guardiães. Depois que Adão e
Eva foram expulsos do jardim do Éden, Deus pôs santuário mais interior, havia dois querubins entalha-
querubins e uma espada flamejante, que se revolvia, a dos em madeira de oliveira e recobertos de ouro (I
fim de guardar o acesso à árvore da vida (Gên. 3:24). Reis 6:23-28). Tinham 4,45 m de altura e asas
O uso da figura, no templo de Salomão, sugere a exatamente com a metade dessas dimensões, de tal
mesma atividade. Nos países ao redor de Israel, os modo que, -abertas- elas atingiam 4,45 m. Figuras
arqueólogos têm encontrado figuras de querubins de querubins, palmeiras e flores abertas haviam sido
como guardas de cidades, palácios e templos. b. Sua entalhadas nos painéis de madeira das paredes do
Associação ao Fogo. No monte santo, os querubins templo. E também havia os suportes das bacias, em
andariam entre pedras de fogo. Na visão de Ezequiel, número de dez, de bronze, com a forma de um
eles são retratados em meio a relâmpagos e trovões' carroção. Os painéis desses carroções tinham
(Eze. 1:4,13,14,27,28). O relâmpago era um antigo decorações que representavam leões, bois, querubins
símbolo do poder dos deuses. Brasas de fogo estariam e grinaldas. Na visão de Ezequiel (Eze, 41:17-20),
entre os querubins e as rodas da carruagem divina apareceram vários entalhes de palmeiras e querubins,
(Eze. 10:6). Os querubins espalharam brasas por Essas figuras estavam em posição alternada, ou seja.
sobre a cidade de Jerusalém, um símbolo de uma palmeira, um querubim, uma palmeira, um
julgamento divino (Eze. 10:2). c. Transportadores do querubim.
Trono-Carruagem de Deus. Ver I Sam. 4:4; 11 Sam. 8. Sentidos Simbólicos. O material acima sugere
6:2; 11 Reis 19:15: Sal. 80:1; 99:1 e Isa. 37:6. Deus várias coisas simbolizadas pelos querubins: a. Eles
manifestava-se a Moisés dentre os dois querubins, eram guardiães; b. agentes dos julgamentos divinos;
montados nas extremidades opostas do propiciatório c. assessores de Deus e instrumentos especiais de suas
ou tampa da arca (lho. 25:22). Essa representação ações; d. vindicadores da santidade de Deus (Apo, 4);
tem paralelos nos cultos do Oriente próximo, nos e. mantenedores da santidade de Deus, no tocante aos
quais há divindades ilustradas a montar sobre leões, sacrificios cruentos (Exo. 25:17-20; Rom. 3:24-26); f.
bois ou animais mistos. As rodas da carruagem de símbolos - da hierarquia - existente entre os
Deus seriam impulsionadas por esses seres (Eze, seres imateriais; g. símbolos do controle de Deus
1:16,17), e, com suas asas, eles faziam o trono voar sobre os elementos naturais, como o sol, as
(Eze, 10:16). Portanto, Yahweh usa essa carruagem e intempéries, etc. (AM BA E ID UN VA Z 1-1961)
flutua sobre nuvens rápidas, e, dessa maneira,
controla as condições atmosféricas (Sal. 104:3 e Isa.
19:1). Outro tanto é dito acerca de várias divindades QUESALOM
do panteão cananeu. O Texto de Ugarite, pâg. 484, No hebraico, «força" ou «fortaleza», Era um dos
fala sobre os montadores das nuvens. Os trechos de 11 marcos de fronteira, na porção ocidental da fronteira
Sam , 22: 11 e Sal. 18:10, aludem a Deus montado norte de Judá (Ias. 15:10). Evidentemente era uma
sobre um querubim. Salmos 80 encerra descrições que cidade grande, localizada perto de Jerusalém. Tem
nos fazem relembrar as descrições do deus-sol, de sido comumente identificada com a aldeia de Kesla,
outras culturas. Ele teria um rosto resplandecente, cerca de dezesseis quilômetros a oeste de Jerusalém.
montado sobre um querubim, atravessando o
firmamento. Paralela a essa concepção é a idéia do sol Quf:SEDE
alado do antigo Oriente próximo, bem como as
.arruagens solares da adoração pagã ao sol (11 Reis No hebraico, a palavra tem sentido desconhecido.
23:11). Esses muitos paralelos simplesmente são Era nome do quarto filho de Naor, irmão de Abraão,
óbvios demais e exatos, para supormos que todas cuja esposa era Milca (Gên, 22:22), em cerca de 2088
essas coisas tiveram um desenvolvimento separado e A.C.
original. Em todas essas idéias religiosas, houve
muitos empréstimos e cópias. Não sabemos dizer o QUEsn
quanto os hebreus aceitavam isso literalmente, e o No hebraico, «carnal», «ímpia», Era uma cidade de
530
QUESNEL - QUIBZAIM
Judâ (Jos. 15:30). Eusébio, o historiador eclesiástico, não foi registrada senão após a morte de Sara. Outros
chamava-a de Xii, situando-a no sul do território de têm pensado que Quetura teria sido concubina d~
Judá, Em I Crô. 4:28-32, ela aparece com o nome de Abraão, tendo tido esses seis filhos com ele. E então,
Betuel. Pelo menos, com base nos paralelismos que os após o falecimento de Sara, ela foi elevada à posição
textos apresentam, isso parece corresponder aos fatos. de esposa legitima. Entre essas duas alternativas, a
Tem sido identificada com a moderna Khirbet el primeira é a mais provável. Isso levanta a questão do
Qarjetein, a oito quilômetros ao norte de TeU •Arad. rejuvenescimento de Abraão. :E: possível que ele tenha
ficado estéril apenas temporariamente, e que o seu
rejuvenescimento tenha feito parte de um novo ciclo
QUESNEL, PASQUIER biológico. Ou então, conforme ensinam as Escrituras,
Suas datas foram 1634-1719. Nasceu em Paris e houve a intervenção divina, que renovou as funções
faleceu em Amsterdã. - Depois que se uniu à biológicas de Abraão.
Congregação do Oratório (que vide), quando seus Seja como for, as tribos árabes atribuem sua origem
escritos passaram a ser influenciados pelas doutrinas a Abraão e Quetura, :E: possível que Bildade, o suita
de Baius e dosjansenistas (ver os artigos), Quesnel foi (Jô 2:11), um dos «amigos.. de Jô, tenha sido
condenado pelo papa Clemente XI. Ele foi expulso descendente de Sua, o filho mais novo de Abraão e
daquela congregação. Publicou vários livros com um Quetura. As três tribos de Midiã, Seba e Dedã, que
pseudônimo, na Bélgica. Foi preso em .1603; mas, são árabes em sua natureza, descendem desse
pouco tempo depois, fugiu para a Holanda, onde casamento. Os midianitas eram o grupo mais bem
prosseguiu escrevendo. Antes de sua morte, porém, conhecido dentre esses três, e ocupavam o território
ele buscou reconciliar-se com a Igreja Católica da porção superior do litoral do mar Vermelho. O
Romana, e foi bem-sucedido. Ver o artigo sobre a Bula vigésimo sétimo capitulo de Gênesis menciona-os,
Unigenítus, de 1713. tachando-os de negociantes com camelos. Vieram a
associar-se a Moisés (Êxo, 2:16; 3:1; 18:1). Mais
tarde, porém, invadiram o território de Israel (Jui. 6
QUESULOTE -8).
No hebraico, «gordura» ou «cintura... Era o nome de
uma das cidades do território de Issacar (Jos. 19:18).
Ficava localizada entre Jezreel e Suném. Eusébio QUEZIA
identificava-a com Acchaseluth, mas esta está por No hebraico, «cássia.. ou «cinamomo... Mas é usada
demais ao norte para ser a identificação correta. como nome próprio da Segunda filha de Jô, que lhe
Provavelmente, é a mesma Quislote-Tabor de Josué nasceu depois que ele passou pela sua grande
19:12. As identificações modernas incluem Iksal, que provação (Jô 42:14). Segundo alguns estudiosos, teria
fica cerca de três quilômetros a suleste de Nazaré, ou vivido em tomo de 1520 A.C., mas tudo depende da
um pouco mais ao norte, perto de Khirbet et- Tireh. época em que viveu Jô, Ver sobre 16.
QUETUBA QUIBROTE-BATAAVÁ
No hebraico, «escrita... Um contrato de casamento No hebraico, «sepulcros do desejo... Essa expressão
instituido por Simeão ben Shatah, no século I A.C., designa um dos lugares onde os israelitas tiveram um
para proteção da esposa, em caso de divórcio ou de seus acampamentos, quando vagueavam pelo
viuvez. As mais antigas referências a documentos de deserto (Núm. 11:34). Não se sabe, em nossos dias.
casamento aparecem nos papiros de Assuã (século V onde ficava essa localidade, embora se saiba que
A.C.), bem como no livro apócrifo de Tobias (7:14), e ficava próximo do monte Sinai. Foi ali que os
também no código de Hamurabi (que vide). Esse israelitas murmuraram contra Moisés, ao se lembra-
documento alista as obrigações do marido, embora rem dos deliciosos acepipes de que desfrutavam no
não tivesse o poder de validar um matrimônio. Foi Egito. Em face disso, Deus enviou codornizes ao
retido na prática dos judeus ortodoxos, com base na acampamento de Israel, em tanta quantidade que eles
tradição. adoeceram de tanto se empanturrarem. Seguiu-se
então uma praga, durante a qual muitos morreram
(Núm. 11:33). Os mortos foram sepultados nesse
QUETURA local, o que explica o nome do mesmo, «sepulcros do
No hebraico, «incenso... Segunda esposa ou desejo» ou «sepulcros da concupiscência», Dali os
concubina de Abraão (I CrÔ. 1:32). O casal teve seis israelitas partiram para Hazerote (Núm. 11:35). O
filhos: Zinrã, Jocsã, Medã; Midiã, Jisbaque e Sua. trecho de Deuteronômio 9:22 mostra-nos que a lição
Abraão estabeleceu-os para os lados do oriente, a fim ensinada em Quibrote-Hataavá foi relembrada algum
de que não entrassem em futuro conflito com Isaque tempo mais tarde.
(Gên. 25:1-6).
Abraão havia chegado à idade de cem anos,e, QUIBZAIM
naturalmente, seus poderes geradores haviam cessado
(Heb. 11:12). No entanto, foi-lhe prometido um No hebraico, «dois montões... Esse era o nome de
filho, que ainda não havia nascido, Isaque. A uma cidade do território de Efraim, entregue aos
promessa divina cuidou desse aspecto. Então, depois sacerdotes coatitas (Jos, 21:22). Ela tem sido
do falecimento de Sara, Abraão casou-se com identificada com a cidade de Jocmeão, mencionada
Quetura. Os criticos descobrem toda a espécie de em I Crê, 6:68. O local é incerto, embora ela tenha
problemas na narrativa. Precisamos pensar que seu sido identificada com Gusin, a três quilômetros a
vigor juvenil havia sido restaurado pelo Senhor, noroeste de Nablus, ou então com o TeU Qaimun, se o
porquanto, em seu segundo casamento, foi capaz de local era o mesmo chamado Jocmeão, conforme
gerar seis filhos. Ou então, conforme alguns supõem, dizemos acima. Esse lugar fica ao pé do monte
pode ter havido uma deslocação cronológica de Carmelo, cerca de treze qullômetros a suleste de
relatos, em cujo caso Quetura e seus filhos com Haifa.
Abraio faziam parte da vida anterior de Abraão, que •••••••••
581
QUIDDITAS - QUINA
QUIDDITAS QUILAN
Esse termo latino indica a qualidade primária de Cabeça de uma numerosa famllia, que retornou do
alguma coisa, aquilo que uma coisa é, tanto em sua cativeiro babilônico, em companhia de Zorobabel (I
essência quanto em sua definição lógica, em contraste Esdras 5:15). Nunca é mencionado nos livros
com suas qualidades secundârias. Sinônimos de canônicos do Antigo Testamento.
quidditas são forma, natureza e essência. Ver o artigo
sobre Qualidades: Primária, Secundária e Terciâria.
QUlLIASMO
Palavra que vem do grego, cbiUú,. «mil». Esse
QUIDOM termo português pode ser um sinônimo de «milênio»,
No hebraico, -Iança». A alusão é a uma pessoa ou a que vem do latim, para indicar a mesma coisa. Nesse
uma localidade. Se a referência é a uma pessoa, então caso, ambos os termos referem-se à doutrina que diz
seria ao israelita a quem pertencia a eira, onde que Cristo retornará ao mundo a fim de dar inicio ao
ocorreu o incidente que envolveu a arca, em sua seu reinado de mil anos na terra, antes do tempo do
viagem para Jerusalém. Se a referência é a um lugar, fim, ou seja, antes do estado eterno. Ver o artigo
então se refere ao sitio onde o lamentável aconteci- sobre o Milênio. Algumas vezes, entretanto, o termo
mento sucedeu, quando Uzá morreu (I Crô. 13:9), grego é usado para referir-se às interpretações
quando ele tocou na arca (que vide), quando os bois exageradamente literais de textos do Antigo Testa-
que puxavam a carroça onde ela estava sendo mento, que abordam a restauração da nação de Israel
transportada tropeçaram, e ela quase caiu. Em 11 durante o milênio. Para exemplificar, o quiliasmo
Samuel 6:6, o nome aparece sob a forma «Nacom», assevera que o trono de Davi será restaurado, e que o
onde os manuscritos variam. Isso pode dar a entender próprio Davi reinará, em pessoa. Além disso, essa
que a identidade do lugar ficou em dúvida. doutrina supõe que os sacrificios cruentos de animais
serão restaurados, insistindo sobre interpretações
gerais bem literais. De acordo com esse uso, o
QUlETISMO quiliasmo seria um posição que contrasta com o
Nome de um movimento religioso e mistico do «mileniarismo», que insiste sobre uma interpretação
século XVII, dentro da Igreja Católica Romana. Seus menos literal.
lideres foram Miguel de Molinos, que publicou o livro
Guia Espiritual, refletindo as idéias do movimento, e
Françoís Fénelon, que escreveu Explicações das QUILJOM
Máximas dos Santos. A Igreja Católica Romana não No hebraico, «fracasso». Nome de um dos filhos de
se sentiu feliz com o movimento, com o resultado que Elimeleque e Noemi. Quiliom era o marido de Orfa
Molinos foi condenado à prisão perpétua, ao passo (Rute 1:2 e 4:9), tendo falecido enquanto essa família
que Fénelon recebeu uma censura papal. de Israel jornadeava na terra de Moabe. Ele é
Idéias: chamado efrateu, o que talvez signifique que ele era
1. Um ponto de vista pessimista da natureza de Belém da Judéia. Cerca de 1360 A.C.
humana, por considerá-la totalmente depravada, com
a conseqüente necessidade do individuo vender ou QUlLMADE
matar sua vontade consciente.
2. Isso libera a alma para que busque completar-se Uma cidade asiática (Eze. 27:23), mencionada em
exclusivamente em Deus, inspirada no amor de Deus, conjunção com Seba e Assicia. Não se conhece a
e não nos méritos humanos. localização atual dessa cidade.
3. A meditação era um exercido muito usado, com
o intuito de ajudar o homem a esperar em Deus, em QUIMÃ
seus movimentos transformadores e graciosos. No hebraico, essa palavra significa «anelo».
4. A ênfase sobre a mediação levou à máxima do Também era usada para indicar uma fisionomia
quietismo que diz que um momento de verdadeira lívida, ou então para indicar um cego. Ê nome de um
contemplação vale mil anos de boas obras. Supomos homem e de uma localidade, como se vê abaixo:
que essa contemplação deve ser uma experiência 1. Um seguidor, e talvez filho de Barzilai, o
mistica segundo a qual a pessoa entra em contato gileadita, que acompanhou Davi até Jerusalém, após
direto com o Ser divino, sendo transformada nesse a revolta de Absalão. Foi agraciado por Davi com
processo. uma possessão em Belém, em consideração pelos
5. A fé pura está acima de idéias e crenças. O serviços prestados por seu pai (11 Sam. 19:37-40), em
verdadeiro amor consiste em amor por causa do amor, cerca de 1023 A.C.
um tipo de qualidade constante da alma, e não 2. Nome de uma localidade, perto de Belém da
meramente o afeto que se fixa sobre alguma pessoa ou. Judéia, identificada com a propriedade que Davi
objeto. outorgara a um homem do mesmo nome. A localidade
6. A verdadeira atitude mental receptiva, capaz de teve essa designação pelo menos durante quatro
acolher a graça divina, consistiria em absoluta calma séculos. Joanam e Careá, e seu bando, acamparam-se
(o que justifica o nome quietismo), sem mistura com ali quatro séculos mais tarde, quando então a
as ambições pessoais. A meditação era recomendada, localidade continuava com o mesmo nome. Alguns
a fim de encorajar esse estado de receptividade mental. identificam-na com o lugar onde José e Maria não
Outros importantes membros desse movimento, além puderam encontrar alojamento, quando Jesus era
daqueles dois que já foram mencionados, foram infante (Luc, 2:7). Porém, isso não passa de uma
Jeanne Marie Guyon (que vide) e a srta. Antoinette conjectura. Seja como for, o lugar tem uma história
Bourignon (que vide). (E P) antiga. O trecho de Jeremias 41:17 o menciona como
o lugar onde havia uma hospedaria.
QUIKAR QUINA
Ver sobre DlDhelro e sobre PeIIOII e Medida. No hebraico, «lamento pelos mortos», Uma cidade
532
QUINERETE - QUIRIATAIM
no extremo suleste do território de Judâ, próxima da cerca de quarenta e oito quilômetros de comprimento,
fronteira com Edom (los. 15:22). Talvez tenha sido de norte a sul, e chega a ter um terço disso, em sua
um lugar ocupado pelos queneus (I Sam. 27:10), porção mais larga. Trata-se de um lugar muito-fértil,
conforme o nome sugere. O local dessa cidade não bem conhecido per sua produção de algodão, seda,
pode ser identificado em nossos dias. frutas e bons vinhos. Sua aldeia principal era Quios,
que tinha um bom porto, segundo informa-nos
Estrabão (xiv.645). O navio no qual Paulo viajava
QUINERETE ancorou ali, na última viagem desse apóstolo à
No hebraico, a palavra significa «com formato de Palestina (Atos 20: 15). Quios é um dos sete lugares
harpa.., e tem dois empregos diversos. que têm sido mencionados como o lugar do
1. Era o nome de uma cidade fortificada no nascimento de Homero. Nos tempos romanos, Quios
território de Naftalí (los. 19:35, que é a' única desfrutava da posição de cidade livre e fazia parte da
referência bíblica). Jerônimo a identificava com a província da Ásia. Seus habitantes eram tidos como os
cidade que, posteriormente, chamou-se Tiberiades. mais abastados que havia entre os gregos, no século V
Também há aquela colina ou cômoro chamado TeU A.C.
'Oreimeh, que significa -cômoro da harpa... Fica no
lado noroeste do mar da Galiléia. As evidências
arqueológicas mostram que o local vinha sendo QUIR
ocupado desde os dias de Josuê, pelo que poderia ser o No hebraico, «muralha». O nome desse distrito
local original. aparece em 11 Reis 16:9; Amós 1:5; 9:7 e Isa. 22:6.
2. O mar de Quinerete (Núm. 34:11; Deu. 3:17; Pertencia ao império assirio, entre os mares Negro e
Jos. 11:12; 12:3, etc.), o qual também é chamado Cáspio, próximo do Elão, margeando o rio Qur.
«lago" de Genezaré», em Luc. 5:1, e «mar de Modemamente é chamado Geórgia, em território da
Tiberlades.., em João 6:1 e 21:1 (Bahr Tarbarihey é União Soviética. Tiglate-Pileser levou para ali cativos,
seu nome nativo), e naturalmente, o «mar da Galiléia» os habitantes de Damasco (11 Reis 16:9). Isso cumpriu
(que vide). Provavelmente, o nome Quinerete a profecia de Amós 1:5. Na referência do livro de
deriva-se de algum antigo nome cananeu, que existia Isaías, o lugar aparece em conexio com o vale da
antes da conquista da terra por Israel. O lago visto de visão, o qual, provavelmente, é a mesmo que aparece
cima, tem a forma de uma harpa, e disso deriva-se o no segundo livro dos Reis. Todavia, há estudiosos que
nome do lago. pensam que a região ficava localizada ao sul da
Babilônia, às margens do rio Tigre.
QUINQUE VIAE
Expressão latina que significa «cinco caminhos», QUIR DE MOABE
referindo-se aos cinco argumentos usados por Tomás
de Aquino para provar a existência de Deus. Ver o Com esse nome, a cidade figura apenas em Isaias
artigo sobre os Cinco Argumentos em Prol da 15: 1. Mas conforme pensam quase todos os
Existência de Deus. O artigo sobre Deus tem uma estudiosos, trata-se da mesma cidade chamada
seção que aborda esses argumentos e acrescenta Quir-Haresete, mencionada em 11 Reis 3:25 e Isa,
outros argumentos, àqueles cinco. O fil6s0fo católico 16:-7, ou então Quir-Heres, mencionada em Isa. 16:11
romano Jacques Marltain acrescentou um sexto e Jer. 48:31. Era uma das duas cidades fortificadas de
argumento. Ele supunha que o ser humano tem a Moabe, a outra sendo a cidade de Ar. O nome
intuição que o verdadeiro Eu, o intelecto ativo, não é Quir-Haresete ou Quír-Heres significa «cidade da
temporal. Com base nisso, o individuo chega a cerâmica» ou «cidade nova».
compreender que o eu é eterno, através do ato de Há estudiosos que pensam que Ar era uma região, e
pensar do Ser Infinito. não uma cidade de Moabe. Após a derrota de Mesa,
de Moabe, pelos israelitas, somente em Quír-Haresete
QUINTA-FEIRA SANTA ver SeIta-Feira SaDta. ficou pedra sobre pedra. Todavia, a cidade foi
capturada e destruida (11 Reis 3:25). Isaias previu sua
destruição (Isa. 16:7).
QUlNTEss2NCIA Alguns eruditos identificam o lugar com Queraque,
Na fisica de Aristóteles temos o quinto elemento (no a antiga capital daquele distrito. Sabe-se que esse era
latim, quinta essentia}, que seria o componente dos um local muito importante, estrategicamente falando,
corpos celestes, em distinção aos supostos elementos situado sobre um elevado lugar, de fácil defesa.
básicos da terra, como a terra, o fogo, o ar e a água, Dominava todas as antigas rotas de caravanas,
mas que estaria latente nesses elementos terrenos. Os estando no famoso Caminho do Rei, que ia do Efto à
alquimistas falavam sobre esse elemento chamando-o Síria. Os cruzados reconheceram a importância
de matéria-prima, ou primeira matéria, distinguin- estratégica do lugar, muitos séculos mais tarde. Ver o
do-o do resto, do que o mundo foi formado. Eles artigo sobre as Cruzadas. Atualmente a área é
tentavam destilar essa matéria-prima dos elementos habitada, situada a dezesseis quilômetros a leste do
terrenos. Esse elemento, no linguajar de Pitágoras e mar Morto. O wady Hesa fica cerca de vinte e três
de outros filósofos gregos, foi chamado éter. Na quilômetros para o sul. Um castelo encima a colina..
linguagem moderna, entretanto, o éter seria a porção Alguns supõem que o nome moabita original da
mais essencial e pura de alguma coisa. O adjetivo cidade era QRHH. E, nesse caso, é mencionada na
quintessencial significa aquilo que é absolutamente pedra Moabita, das linhas 22 em seguida, onde é dito
necessário ou essencial. que o rei Mesa estabeleceu ali um santuário em honra
a Quemós, e ali dirigiu um projeto de construções.
QUlOS
Esse é o nome de uma das principais ilhas do
arquipélago jônico, mencionada somente em Atos QUIRIATAIM
20: 15. Pertencia à Jônia, e ficava entre as ilhas de Segundo muitos pensam, esse nome significa
Lesbos e de Sarnos, cerca de treze quilômetros «cidade dupla». Nas páginas do Antigo Testamento,
distante cio ponto mais próximo da Ásia Menor. Tem há duas cidades com esse nome, a saber:
533
QUIRIATE - QUIRINIO
1. Em trechos como Núm. 32:37; Jos. 13:19; Jer, podem cumprir as descrições daquele lugar do Antigo
48:1,23 e Eze. 25:9, aparece uma cidade que fazia Testamento. Kuriet 'Enab também aparece com o
parte do território de Rúben, a leste do Jordão, cerca nome de Qaryet el-Inab, em outra literatura antiga.
de seis quilômetros a oeste de Medeba, que fica a Os habitantes árabes da atualidade chamam o lugar
suleste de Hesbom. Ela foi construida pelos de Qaryeh. Mas a cidade também é conhecida como
descendentes de Rúben. Os moabitas expulsaram os Abu Ghosh, devido ao nome de famosos xeques
gigantescos emins daquele lugar. Em seguida, ela desse nome, dos séculos VIII e IX, que ali exerceram
passou para as mãos dos amorreus, e, mais tarde, o seu poder.
para a possessão dos israelitas. Durante o perlodo do Perto do local original, há restos de habitações
exílio assirio, os moabitas conquistaram novamente a romanas, bem como do período das cruzadas. O
cidade, juntamente com outras da mesma ârea geral. perlodo biblico faz-se representar por um grande
Por causa disso, os moabitas foram condenados por cômoro, sobre o qual foi edificada a Igreja da Arca da
Deus (Jer. 48:1,23). O local tem sido identificado com Aliança. Esse cômoro tomou-se conhecido como Deir
a moderna el-Qereiyat, a quase quinze quilômetros a el-Azhar, o que talvez seja uma alusão a Eleazar, filho
leste do mar Morto e à mesma distância do rio Amon. de Abinadabe (que vide) o qual foi escolhido pelos
2. Uma das cidades leviticas de refúgio, dentro do homens de Quiriate-Jearim para tomar conta da arca
territ6rio de Naftali (I Crô. 6:74). Tem sido da aliança (I Sam. 7:1). Há evidências arqueológicas
identificada com Khirbet el-Kureiyat, minas existen- pertencentes à Idade do Bronze Posterior e à Idade do
tes entre Medeba e Dibom. Também era chamada Ferro, principalmente na forma de fragmentos de
Cartã, referida em Jos. 21:32 (que vide). cerâmica. Eusébio afirmou que esse lugar ficava a dez
milhas romanas de Jerusalém, na estrada para Lida,
metragem essa que ele corrigiu, posteriormente,
QUIRIATE para nove milhas romanas. Ficava entre Neftoá
Ver sobre QaIrlatewJeadm. (Lifta) e Chesalom (Quesla), o que concorda com os
informes bíblicos atinentes à sua posição na fronteira
norte de Iudá (los. 15:9 e 18: 15).
QUIRIATEwARBA
Informes Históricos. 1. Quiriate-Jearim foi uma das
O antigo nome de HeblOm (vide). quatro cidades gibeonitas que estabeleceram acordo
com os israelitas invasores, tendo-os enganado (Jos,
QUIRIATEwARIM 9:17). 2. A cidade servia como marco de fronteira
entre Judâ e Benjamim (Jos, 15:9). Ela foi cena de
Ver sobre QuIrlatewJearIm. certos eventos que circundaram a arca da aliança (I
Sam, 7:1). 3. Foi fortificada por Salomão (chamada
QUIRIATEwBAAL Baalate, em I Reis 9:18). 4. Foi invadida quando a
região foi invadida pelos egipcios (I Reis 14:25; II
O nome mais antigo de QaIrlatewJearIm (vide). Crô. 12:1-9). 5. Foi o lugar onde habitava o profeta
Urias, que denunciou o corrupto reinado de
QUIRIATE-HUZOTE Jeoaquim, o que o forçou a fugir para o Egito; mas
Urias foi capturado no Egito, trazido de volta a Judâ e
No hebraico, «cidade dos lugares exteriores». 1:: foi executado (Jer, 26:20-23). 6. Alguns dos cidadãos
meneio.nada apenas em Números 22:39. Nesse trecho de Quiriate-Jearím voltaram do exílio babilônico com
aprendemos que Balaque e Balaão foram até ali com o ZorobabeHEsd. 2:25; Nee. 7:29). (AH UNA (1962) Z)
propôsíto de oferecerem sacrificios. Era uma cidade
moabita. O lugar ficava perto de Bamote-Baal(vs. 41)
embora não saibamos dizer sua localização. Provável- QUIRIATEwSANÁ
mente ficava perto do rio Amon. Foi conquistada por Ver sobre Deb....
Seom, e depois pelos israelitas.
QUIRIATEwSEFER
QUlRIATEwJEARIM O nome mais antigo de Deb'" (vide).
No hebraico, «cidade das florestas», Nas páginas do
Antigo Testamento aparece como o nome de uma
cidade de Iudá e como o patronimico de um QUIR1NIO
descendente de Calebe, filho de Hur, a saber: Seu nome figura em Luc, 2:2. Seu nome completo
1. Essa cidade também aparece com o nome era Publius Sulpicius Quirinius. Ele era o que os
contraido de Quiriate-Arim, em Esdras 2:25. Com seu romanos chamavam de ..homem novo», Tal como
nome completo é mencionada em Jos. 9:17; 15:9.60; Cicero, ocupou o oficio de governador e tornou-se
18:14,15; Jui. 18:12; I Sam, 6:21; 7:1,2; I Crê. 13:5,6; cônsul em 12 A.C., sem a vantagem de um nome de
II Crê, 1:4; Nee. 7:29; Jer. 26:20. Apesar de ter sido famUia tradicional na politica ou na administração.
entregue à tribo de Judâ, mais tarde passou para o Tácito, o historiador romano, devotou um breve
território de Benjamim. Em Jos. 15:9 é chamada capitulo a Quirínio, por ocasião de sua morte, em 21
Baalá, e, em Jos, 15:60, Quiriate-Baal, Foi desse D.C.
lu~ar que a arca da aliança foi trazida e entregue aos Quirlnio era um militar notável, tendo a seu crédito
CUIdados de Eleazar (I Sam. 7:1). Vinte anos mais uma campanha no deserto de Cirene, região essa que,
tarde, Davi levou-a para Jerusalém (H Sam. 7:2; I Crô. juntamente com Creta, governou como procônsul,
13:5; 11 Crô. 1:4). O profeta Urías morava em em cerca de 15 A.C. Entre 12 e 2 A.C., ele esteve
Quirlate-Jearim (ler. 26:20). Várias tentativas de ocupado em um projeto de pacificação na Pisídia,
identificação têm sido dadas no tocante à localização contra os montanheses que Tácito, na passagem
moderna. Uma possibilidade é Kuriet 'Enab, acima citada, descreveu erroneamente como cilícios.
localizado ao norte do monte Jearim, e Khirbet As datas são vagas, mas os eruditos bíblicos
'Erma, que fica mais ao sul, é outra possibilidade. interessam-se pelas mesmas, por estarem ligadas à
Ambas essas vilas refletem o nome antigo, e ambas data do nascimento de Cristo. O ..primeiro recensea
534
QUIS - QUISOM
mento-, efetuado quando Quirinio era governador da Um de seus filhos chamava-se Jeremeel (I Crê. 24:29).
Siria (Luc, 2:2), pode ter sido aquele ao qual Gamaliel Viveu em tomo de 1060 A.C.
aludiu, segundo se lê em Atos 5:37. Esse
recenseamento deu-se em 6 ou 7 D.C. Segue-se que o
recenseamento anterior - devido ao ciclo costumeiro QUISI
de catorze anos - deu-se em 8 ou 7 A.C. E dai resulta No hebraico, «arco de Yahweh». Era filho de EtI,
o problema. Quirinio devia ter sido especialmente que foi nomeado COlDO cantor e músico, nos dias de
comissionado para a tarefa de supervisão por Davi (I Crê. 6:44). Em I Crônicas 15:17 ele é chamado
Augusto, pois sabe-se que Quintílio Varus ocupava Cusaias. Viveu em tomo de 1015 A.C.
então o importante porto de governador da Siria.
Mas, como Varus perdera três legiões na floresta
germânica de Teuteburgo? - um dos mais chocantes QUISIOM
desastres das forças romanas naquele século - talvez No hebraico, «dura. ou «terra duras, Era uma
Augusto preferisse um homem de maior envergadura cidade da tribo de Issacar, entregue aos levitas da
para ocupar-se do recenseamento. A intervenção de familia de Gérson (Jos, 19:20 e 21:28). O nome dessa
Quirínio, a organização necessária para o recensea- cidade aparece com a forma de Quedes, em I Crê,
mento e os preparativos para o mesmo podem ter 6:72. mas isso representa um erro escribal. A
adiado a data do mesmo para o fim de 5 A.C., uma localização não é certa, mas têm sido sugeridos os
data mais razoável. cêmoros el-Ajjul e el-Muqerqash, como possibilida-
Quirinio mostrou-se astuto o bastante para cortejar des.
discretamente a amizade de Tibério, que estava
exilado em Rodes. E nada perdeu com isso, quando
Tibério, por falta de outros herdeiros do trono, QUISLEU
sucedeu a Augusto. Quirinio, porém, morreu sem Ver Nee. 1:1 e Zac. 7:1. Esse era o nome do terceiro
herdeiros. mês do ano civil e do nono do ano eclesiástico dos
judeus, que começa na lua nova de dezembro. Ver o
artigo sobre o Calendário. A origem do nome é
QUIS acâdica, A Crônica Babilônica afirma que a marcha
No hebraico, «arcos ou «chifre». Esse 6 o nome de de Nabucodonosor contra Jerusalém começou nesse
cinco personagens do Antigo Testamento: mês, no ano de 598 A.C. Dias memoráveis desse mês
1. O filho de Ner, pai do rei Saul (I Sam. 9:1; I Crê. incluiam a festa da dedicação do templo, a
8:33; 9:38,39). A genealogia bíblica talvez registre o comemoração de haver sido purificado após as
fato de que Quis era descendente de Ner, e não seu poluções feitas pelos sirios; um jejum em face do fato
filho imediato. Isso permitiria a inserção de Abiel e de de que Jeoaquim queimou o rolo das profecias de
outros nomes, entre Quis e Ner. Comparar I Sa. Jeremias (Jer. 36:22).
9:1,14 com I Crô. 8:33 e 9:36, que aparentemente
estão em conflito:
Jeiel-- _ QUISLOM
No hebraico, «forte esperanças, «confianç8».. Ele
Abdon Zur Quis Ball Nfr Nadabe era pai de Elidade, principe. de uma das familias de
Zeror Benjamim, que foi escolhido para assessorar na
Aijiel divisão da terra de Canaã entre as tribos (Núm.
/ <, 34:21), em cerca de 1618-1490 A.C.
Quis Ner
Saul Abner QUISOM
No hebraico. -meândríco-, «sinuoso•. Um rio que
Talvez somente um Quis e um Ner descendiam de regava o vale de Esdrelom, em tomo do qual há o
Jeiel, e, nesse caso, os descendentes de Ner registro de muitos incidentes bíblicos, Trata-se de
tomaram-se duas casas tribais. A primeira delas uma torrente de inverno, que seca nos quentes meses
tomou-se a família real de Saul, tomando Quis como de verão. (Ver Sal. 83:9). Em Juizes 5:19 chama-se
seu fundador, porém, era um ramo mais recente da «âguas de Megido-, Origina-se nas colinas perto de
linhagem de Ner, Seja como for. ambas as casas Tabor e de Gilboa. Corre na direção noroeste.
pertenciam à familia de Jeiel. através das planicies de Esdrelom e Acre. e despeja
Quis foi um rico benjamita (I Crô. 8:33). A única suas âguas no mar Mediterrâneo, próximo do monte
coisa que a Bíblia nos revela sobre ele foi que ele Carmelo. Há dois canais que se tomam um só, a curta
mandou Saul buscar seus jumentos perdidos (I Crê. distância ao norte de Megido. O rio é profundo e de
9:3), e que ele foi sepultado em Zela (11 Sam. 21:14). águas râpidas, em certos meses do ano, quase não
Isso ocorreu em tomo de 1025 A.C. Há uma podendo ser atravessado, mas, no verão, o leito do rio
referência a ele. em Atos 13:21. seca e a área fica estorricada. Somente a poucos
quilômetros do mar vê-se alguma água nesse rio. nos
2. Filho de Jeiel e tio de Quis de número «um» (I meses de verão. Seu nome moderno é Nabr el
Crô.8:36). Mukatta, que significa «rio da matança», Ver I Reis
3. Um benjamita e bisavô de Mordecai, que foi 18:40. - No eântico de Débora (Jui. 5:21). é
levado cativo para a Babilônia (Est. 2:5), em cerca de chamado «ribeiro das batalhas». Um incidente blblico
478 A.C. de nota, associado a esse rio. é a híst6ria de Sisera
4. Um filho de Abi, um levita da famUia de Merari (que vide), em Juízes 5:20,21. Os sírios, sob o
(11 Crê. 29:12), que ajudou o rei Ezequias na comando de Sísera, combatiam contra Israel, os quais
restauração da verdadeira fé judaica. Viveu em tomo eram liderados por Débora e Baraque. Slsera contava
de 720 A.C. com forças muito superiores, com o apoio de carros de
5. O segundo filho de Mali. Seus filhos casaram-se combate e de .cavalaria. Porém. chuvas pesadas
com as filhas de seu irmão. Eleazar (I Crê. 23:21.22). fizeram o rio transbordar,-pondo as forças de
535
QUITIM - QUTB
Sisera à imobilidade; e o resultado foi que Israel dividida, durante as conquistas. A cidade permanece
obteve uma vitória fácil. Um outro notável incidente sem poder ser identificada.
bíblico, que teve lugar perto desse rio, foi o conflito
entre os profetas de Baal e o profeta Elias (I Reis
18:40). O local desse último incidente tem sido QUITROM
identificado com Deir al'Muhraqa, onde existe um No hebraico, efigurada» ou «pequena». Nome de
mosteiro carmelita, de Santo Elias. Os derrotados uma cidade do território de Zebulom, pertencente
sacerdotes de Baal foram levados a Quisom, onde anteriormente aos cananeus, mas de onde os israelitas
foram executados. O rio provavelmente foi usado para não puderam expulsá-los. Ela é chamada Catate, em
o ritual da purificação. Jos, 19:15. Aparentemente, era a maior cidade da
As cidades mencionadas em conexão com o rio são Galiléia, naquela época. Tem sido identificada com o
a cidade de Jocneão (TeU Qeimum), Megido (TeU TeU el-Far, cerca de treze quilômetros a suleste do
_el-MutesseUim), Taanaque (TeU Ti'nnik). Ver Jos. porto de Haifa, embora outros prefiram identificá-la
19:11 e Jui. 5:19. Esse rio era cruzado por com Catá ou com o TeU Qurdaneh.
importantes rotas de caravanas, e também foi a região
onde várias campanhas militares envolveram povos
como os midianitas e os filisteus. O rei Josias foi QUIUM
morto ali. Em tempos posteriores, esteve envolvido De acordo com vários estudiosos, esse nome vem da
nas guerras dos hasmoneanos, dos romanos e dos palavra síria kainanu, que é uma referência ao deus
cruzados. (ALB SMI) pagão, Saturno. Em Amós 5:26, única passagem onde
aparece o nome, ele aparece como o deus-estrela
adorado por Israel, em certa fase de sua história. Os
QUITIM egípcios usavam o termo Seb, para indicar essa
No hebraico, «nsulanos». Esse povo, descendente divindade. O termo hebraico envolvido é similar ao
de um dos filhos de Javã, filho de Jafé, é mencionado vocábulo que significa «coisa detestável». Alguns
na Biblia, com esse nome, somente em Gên, 10:4 e I estudiosos chegam a pensar que houve uma mudança
Crê. 1: 7. Quitim é um nome alternativo para a ilha de deliberada na grafia da palavra, como uma espécie de
Chipre (que vide). Josefo compara esse nome ao nome jogo de palavras. Mas outros pensam que a palavra
da cidade de Citiom, na costa suleste dessa ilha. hebraica está ligada à raiz da palavra que significa
Atualmente, essa cidade chama-se Larnaca, As «pedestal», o lugar onde uma imagem era colocada. A
referências fenícias dizem kt ou kty, ao se reportarem Septuaginta diz rephan, e Estêvão, em sua defesa-
a esse lugar. O povo de Quitim ocupava-se no comércio pregação, em Atos 7:42 SS, usa esse nome em sua
maritimo(Núm. 24:24). Em Isaías 23:1,12, esse nome forma grega, que nossa versão portuguesa translitera
parece aplicar-se à ilha inteira de Chipre, bem como para «Renfã», referindo-se à adoração idólatra de
as costas do Mediterrâneo oriental. Ver Jer, 2:10 e Israel, durante quarenta anos, no deserto.
Eze. 27:6. Na quarta visão de Daniel, o nome QUMRAN
aparentemente aplica-se a Roma (Dan. 11:30), o que
tem paralelo em uma referência nos manuscritos do Ver Khkbet Qumran e Mar Morto, Manuscrlto. do.
mar Morto em um Comentário sobre Habacuque, ao
interpretar a palavra «caldeus». O texto trata sobre a QURAN
guerra entre os Filhos da Luz e os Filhos das Trevas. Ver sobre o Aloorlo.
Ali, «quítím- poderia indicar os gregos selêucídas, os
romanos, etc., como uma referência obscura aos QUTB
adversários da retidão. Nome que os islamitas dão a alguma pessoa
especialmente santificada, a algum proeminente lider
espiritual, a um homem dotado de poder, com
QUITILIS missões e atividades especiais entre os homens. Tal
Em Josué 15:40 é uma das cidades que foram homem teria a habilidade de fazer coisas especiais,
atribuídas à tribo de Ju dâ, quando a terra foi sob a orientação de Alá (que vide).
686
1. Formas Antlgu
fenício (semítico), 1000 A.C. grego ocidental, 800A.C. latino, 50 D.C.
q R
3. Fonn.. ModenIu
RRrr RRrr RRrr Rr
Um ancestral de Judite (Judite 8:1), mencíonado rainhas, As mais notáveis foram Mical, filha de Saul e
como filho de Aitube e pai de Gideão, esposa de Davi, e Jezabel, esposa de Acabe. Foram
546
RAINHA DE SABA - RAIZ
ousadas. Mical zombou de Davi (11 Sam. 6:20 ss), e indícios bíblicos s10 Jer. 7 e 44. Diz o trecho de ler..
Jezabel imortalizou-se como perseguidora de Elias (I 7:18: «Os filhos apanham a lenha, as pais acendem o.
Reis 10:1-3). fogo, e as mulheres amassam a farinha para fazerem'
bolos à rainha dos céus...• Geralmente pensa-se que
A rainha-mãe geralmente era a viúva de um rei esses bolos tinham a forma de um ser humano.
anterior, e mãe do monarca reinante. Tinha Muitos fragmentos têm sido encontrados, feitas de
responsabilidades e era tratada com certo respeito. argila - usualmente com traços femininos exagera-
Mas Asa removeu sua mãe herege, Maacá (I Reis dos. Lemos em ler. 44:17 que o povo tencionava
15:13). Em contraste, Salomão respeitou sua mãe,
Bate-Seba(I Reis 2:19). Também digno de nota que,
é
queimar «incenso à rainha das céus. e oferecer-lhe
em Judâ, sempre que um rei subia ao trono, fazia-se libações «nas cidades de Judá e nas ruas de
menção ao nome de sua mãe (por exemplo, 11 Reis Jerusalém•.
12: 1). A importância do titulo é vista no fato de que a O problema consiste no uso da incomum forma
prostituída Babilônia, em Apo. 18:7, arrogava-se, massorêtica hebraica da palavra rainha. Alguns
pomposamente, o titulo: «Estou sentada como consideram essa uma forma distorcida da forma
rainha•. verdadeira. Outros, incluindo as tradutores da
LXX, entenderam que a palavra hebraica significa
«obra das mãos», o que explica a tradução da LXX,
RAINHA DE SABÁ «ao exército do cêu-, em Jer. 7:18. O Targum
Uma rainha que visitou Salomão, vinda do antigo aramaico diz ali «estrelas.; eiD.vez de «rainha•.
reino árabe de Sabão Ela o fez, ostensivamente, com o Geralmente aceita-se que se tratava de uma
propósito de «prová-lo com perguntas díãceís-, divindade estrangeira. Diversos povos vizinhos de
somente para descobrir se ele ultrapassava a tudo Israel tinham consortes para as suas divindades
quanto ela ouvira a seu respeito (I Reis 10:1-13; 11 masculinas - deusas e uma rainha das céus. Na
Crô. 9:1-12). Talvez também houvesse motivos Assíria, a deusa Istar era chamada senhora do céu, ao
comerciais nessa visita. Seus camelos vieram carrega- passo que na literatura ugaritica ela é chamada
dos de especiarias, muitíssimo ouro e pedras preciosas «rainha do céu•. A Astarte dos cananeus era uma bem
(I Reis 10:2,10). O que Salomão lhe deu de volta não é conhecida deusa da fertilidade. Esse parece ser o
especificado, embora pareça que lhe tenha dado domínio da rainha do céu, mencionada em Jer. 44,
mercadorias (v.13). O comércio era uma faceta visto que o povo regozijava-se nela por causa de seu
importante das atividades de Salomão. O mar bem-estar geral. O povo de U garite também contava
Vermelho e a peninsula da Arábia estavam dentro de com Anate, uma espécie de deusa-mãe. Esse nome
seu circulo de interesses. De fato, ele tinha um porto aparece nos textos elefantinos, do Egito. Anate-Yaho
no mar Vermelho, em Eziom-Geber (I Reis 9:26-28; era a consorte de Yaho (Yahweh). Talvez essa fosse
10:11,12,20-29). Há uma alusão especifica, em I Reis uma repetição do' culto contra o qual Jeremias
10:15, ao «tráfico. dos negociantes dos reis da Arábia pregava.
e dos governadores da terra. Portanto, uma visita de Dentro da mariolatria católica romana, também
uma rainha árabe não era algo inconcebível. são dados os titulas de «rainha. e de «senhora. à
O antigo reino de Sabá, nome sul-arábico do antigo virgem Maria, noções extrabiblicas que entram em
estado sabeu (ver Sabá) , ficava na extremidade choque com o ensino da Biblia, onde 56 há um Rei do
sudoeste da península da Arábia, mais ou menos na universo (Deus), e um único Senhor dos céus e da
região do moderno lêmen. O estado e seu povo, os terra (Jesus Cristo).
sabeus, são freqüentemente referidos no A.T. (Jó
6:19; Sal. 72:10,15; Isa. 60:6; Jer. 6:20; Eze. 27:22,23
e 38: 13). Importantes escavações feitas em Maribe, a RAIZ
antiga capital, em 1951-1952, nos têm dado grande No hebraico, 1Iaarab, e nq grego rID. Aponta para
conhecimento quanto à civilização dos sabeus. Suas a porção de uma planta que penetra no solo e extrai a
origens são desconhecidas, embora haja alguma seiva e os nutrientes para a vida da planta.
evidência de que a região pode ter sido ocupada por As numerosas referências à «raiz», nas Escrituras,
semitas que migraram para o sul, em meados do quase sempre são figuradas, com base na importante
segundo milênio A.C. Pelo século X A.C., havia um relação entre uma planta e sua raiz. Assim, raizes
reino florescente na região. Uma missão diplomática e próximas da água indicam prosperidade (ver Jó 29:19;
comercial, efetuada por uma rainha, ao reino de Eze. 31:7), mas o contrário aparece em Oséias 9:16:
Salomão, cerca de dois mil e quatrocentos quilôme- «... secaram-se as suas raizes...• Uma raiz envelhecida
tros para o norte, possivelmente fazia parte de um na terra (ver J6 14:8) indica a perda da vitalidade, e o
esforço de expansão comercial. Há inscrições assírias ato de lançar raízes indica estabelecer firmetiíen-
dos séculos VII e VIII A.C. que mencionam diversas teIvçr 11 Reis 19:30 e Efé. 3:17 - neste úítímoçaso...
rainhas, o que sugere uma linha de sucessão' «arraigados», em nossa versão portuguesa). O
matrilinear. julgamento contra os pecadores é retratado como o
A origem da tradição de que a linhagem real da apodrecimento da raiz (ver Isa, 5:24), ou como raizes
Abissinia descende de Salomão e da rainha de Sabá é que se re~secam (ver Jó 18:16 e Isa. 14:30). O ato de
difícil de provar. Certamente a Etiópia foi colonizada arrancar as raizes indica destruição (ver Eze, 17:9;
por sabeus provenientes do sul da Arábia. Lendas Luc. 17:6 e Judas 12). O machado à raiz das árvores
ár~bes fornecem muitos detalhes sobre a rainlia que indica um julgamento iminente (ver Mat. 3:10).
tena se casado com Salomão, e Josefo vinculava a A raiz é origem das condições morais ou espirituais.
rainha de Sabá à Etiópia (Josefo, Anti, I1.x.2; «Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os
VII.vi.5,6). males... » (l1'lm:'6:10); e uma raiz de amargura é a
causa de apostasia (ver Deu. 29:18 e Heb.12:15).
A raiz de uma familia ou nação é o seu genitor (ver
RAINHA DO em Rorn. 11:16). O Messias, como «a raiz de Jessê» (ver
Objeto de adoração dos judeus, nos dias de Isa, 11:10), não era alguém que tirava proveito da
Jeremias. Quase toda informação que temos sobre raiz, e, sim, a origem e a força da linhagem
esse culto vem de fontes extrabiblicas. Os únicos messiânica. A expressão «a Raiz de Davi», em Apo••
547
·RAM MOHAN ROY - RAMA
"5:5 e 2:16, - denota a natureza divina-humana de «altura», dado a diversas cidades da antiga Israel,
Cristo Jesus, como a origem e o descendente de Davi. usualmente edificadas em algum lugar elevado.
Uma outra expressão, ..raiz de uma terra seca», em 1. Em Naftaii. Essa cidade é mencionada por uma
Isa. 53:2, retrata seu meio ambiente humilde, em vez (Jos. 19:36; na LXX, Ramá, A ou Arâel, B).
contraste com seu vigor espiritual interno. Aparentemente, E. Robinson foi o primeiro pesquisa-
dor moderno a notar que o nome é preservado na vila
RAM MOBAN ROY de er-Râmeh, cerca de 13 km a oestessu doeste de
Safade (atual Zefat). A localização dessa aldeia árabe
Suas datas foram. 1772-1833. Foi o fundador da (cristã e drusa) é topograficamente marcante; está na
filosofia-religião· indiana Brahma Samaj (vide). vertente baixa do Jebel Heider (atual Har Ha'ari),
Também foi o fundador da chamada Nova India. perto do passo que separa aquele monte das outras:
Muitos acreditam ter sido ele o fundador do estudo colinas na serra direita que divide claramente o Wadi
das religiões comparadas, que é um dos pontos débeis esh-Shaghur(vale talmúdico de Beth-cerem), a fim de
nos estudos cristios. Ele comparou o cristianismo, o formar uma parede maciça entre a baixa Galiléia, ao
islamismo, o hinduismo e certa variedade de outras sul e a alta Galiléia, ao norte. Assim, er-Râmeh fica
fés. Foi positivamente influenciado pelo monoteísmo, na 'linha divisória natural entre a alta e a baixa
em resultado desse estudo, e era crente firme no Galiléia; e também fica perto da junção da estrada
telsmo (vide). TraduziuoslUpaDishadas do sânscríto, entre Aco e Safade com a estrada que vai para o sul,
e publicou-os, tendo encontrado nos mesmos muitas para Nazaré, O contexto bíblico em que Ramâ
crenças básicas de valores, incluindo a posição teísta, aparece ajusta-se à localização geográfica de er-Râ-
Ao estudar a Bíblia, sentiu-se muito atraido por meh; as aldeias antes de Ramã ficam na baixa
Jesus, tendo declarado enfaticamente que achava que Galiléia, e aquelas que se seguem, na alta Galiléia
as doutrinas de Cristo tendem mais por ensinar (incluindo Hazor, que deveria estar mais ligada à alta
princípios morais do que os ensinos de qualquer outro Galiléia, embora fique no vale de Hulé), Os termos
ser que se conhece. Esses princípios, segundo ele, alta e baixa Galiléia não aparecem na Bíblia, mas a
seriam maravilhosamente adaptados para seres distinção é óbvia na topografia local, além do que, a
racionais. Então publicou um livro chamado Os ordem das cidades de Naftali, nessa lista, certamente
Preceitos de Jesus, tendo-o recomendado como um reflete conhecimento sobre as duas regiões. Josefo
roteiro à paz e à felicidade. Chegou mesmo a tentar (Guerras 111. iii.l e ss) tinha plena consciência dessa
traduzir os evangelhos do Novo Testamento para o divisão, pondo a linha demarcatória na Beerseba do
idioma bengali, mas parece que a tarefa não foi norte, atualmente Khirbet Abu esh-Shibã, que fica
completada em seus dias. em uma colina a apenas 5 km a leste de er-Râmeh.
Roy ajudou a estabelecer a missão unitariana em Uma posição assim privilegiada, militarmente falan-
Calcutá, e, finalmente, caracterizou sua pr6pria do, certamente seria cidade do comandante militar
posição religiosa como cristianismo unitário. Adorava da Galiléia, cujo intuito era fortificar os pontos
a um s6 Deus e adaptou as formas religiosas do estratégicos. -Por outro lado, os rabinos, interessados
hinduismo tendo em vista essa finalidade. Mostrou-se nas questões da vida diária, davam como limite entre
ativo quanto a muitas reformas que tinham, em sua as duas Galiléias um centro rural conhecido por seu
base, os principias cristãos. Foi ele o intermediário da mercado e por seus lideres religiosos, a saber, Kefar
introdução dos métodos educacionais ocidentais na Hananiah (Kefr Inân, uma aldeia no vale, abaixo de
India, e viajou muito entre a India e a Inglaterra. Foi Beerseba; Shebi. IX.2).
neste último pais que veio a falecer, em 1833. Serviu, Na vila de er-Râmeh, as ruínas antigas (incluindo
portanto, de elo de ligação entre o Oriente e o uma inscrição em aramaico: «Em memória do rabino
Ocidente, tendo aprendido algumas lições valiosas Eleazer, filho de Tedeor, que edificou esta casa de
que no-las transmitiu em seus escritos. hôspedes») datam dos penados helenista e.xomano.
Quanto à Ramá da época blblica, seu sitio era
RAMA Khirbet Zeitun er-Râmeh, também conhecida como
Esse é o nome atual de uma das divindades hindus Khirbet Jâl, um cômoro antigo, cerca de 3 km a leste
que, juntamente com Krishna (vide), é uma das de er-Râmeh, no lado sul da estrada para Safade.
principais encarnações de Vishnu. Uma grande Trata-se de um cômoro típico das eras do Ferro I e Il,
porcentagem de hindus adora a divindade sob esse localizado em um trecho pedregoso do vale. Os limites
nome, incluindo a maioria dos vishnuitas. Rama exatos da antiga povoação são dificeis de determinar
parece ter começado sua carreira como uma figura atualmente, visto que a área inteira está ocupada
humana exemplar, no Ramayana (vide), uma grande pelos famosos bosques de oliveiras da região.
obra épica do hinduísmo. Nos livros I a VI, ele é 2. Em Aser. A descrição exata da linha fronteiriça
descrito como um filho obediente, um marido da tribo de Aser, cuja linha é difícil de seguir,
amoroso e um homem possuidor de todas as virtudes. aparentemente, situa a cidade de Ramá (Jos. 19:29;
Todavia, também teria realizado muitas tarefas na .LXX, Ramá) em algum ponto entre a grande
sobre-humanas, dai resultando que ele adquiriu Sidom e a ..cidade fortificada de Tiro». Esse último
estatura divina, e com a passagem do tempo, veio a lugar é conhecido em fontes não biblicas pelo nome de
tomar-se uma pessoa diVina, nos escritos e ensina- Usu (maneira assíria de grafar: Ushú) e o escrito.
mentos do hinduísmo. Os livros I e VII, que foram clãssicopalaityros (Estrabão XVI. 11.24) a localiza em
adições posteriores, aludem à sua divindade. A TeU Rashidiyeh, Portanto, essa Ramá deve ser
tradição fez dele uma encarnação de Vishnu, um filho procurada na área a noroeste da moderna cidade de
divino e, do século X D.C. até o presente, essa é a Tiro. A identificação, freqüentemente, proposta com
posição que ele tem ocupado dentro das crenças a pequena aldeia de er-Ramiyeh parece fora de
hindus. questão, porque fica por demais para o sul.
3. Em Benjamim. Uma aldeia dada à tribo de
RAMA Benjamim (Jos. 18:25; na LXX, Ramâ, com variações
Sem o artiJ,o definido, Nee. 11:33 e ler. 31:15. Um insignificantes em alguns manuscritos). As evidências
nome geográfico bastante comum, cujo sentido é em favor de sua identificação são das mais conclusivas
548
RAMA
em relação a qualquer localidade em Israel. Deve ser «sua cidade».
localizada perto de Betel (Juí. 4:5), a moderna Beitin, A identificação de Ramataim-Zofim com Ramá ê
no antigo tronco rodoviário que vai de Belém para o confirmada pela comparação entre I Sam. 1: 1 com
norte, e que passa a oeste de Jerusalém (Juí, 19:13). 1:19 e 2:11. Embora Samuel tivesse nascido ali, foi
Josefo (Anti VIII.xii.3). ao discutir sobre os eventos criado em Silô, e retomou à sua terra quando Sil6 foi
de I Reis 15:16,17, situa essa cidade, que ele chamou abandonada como centro religioso de Israel. Fez de
de Aramaton, a cinco milhas romanas de Jerusalém. Ramá o seu quartel general, de onde partia em seu
Mas Eusébio e Jerônimo situaram-na a seis milhas circuito anual a Betel, Gilgal e Mispa (I Sam.
romanas ao norte da cidade santa. Robinson notou 7:15-17). Os anciãos de Israel vieram a ele em Ramá
que o nome é preservado na moderna aldeia de quando lhe pediram um rei (I Sam. 8:4). Foi em
er-Râm, e Jerusalém fica apenas a pouco mais de 9 Ramá, na «terra de Zufe.., que Saul se encontrou pela
km para o sul. primeira vez com Samuel e foi secretamente ungido
A profed.a Débon (vide) exerceu sua autoridade rei (I Sam, 9:5-10:10). A provável associação do
como juíza de Israel em um lugar entre Betel e Ramá túmulo de Raquel com Ramâ de Benjamim (Jer.
(Jui. 4:5). Em vez de ter feito meia volta para passar a 31:15; Mat. 2:18; cf. Gên. 35:16-20), ajusta-se à
noite em Gibeâ, o levita poderia ter caminhado um descrição da viagem de Saul para o sul (I Sam.
pouco mais até Ramá (Jui. 19:13). Além de estar na 10:2-5,10). Samuel continuou a habitar em Ramá
estrada norte-sul, er-Râm também está a pequena mesmo após ter cortado relações com Saul (15:34;
distância da estrada leste-oeste que parte de 16:13). Davi se refugiou ali quando fugia de Saul
Jerusalém e passa por Gibeom, e da descida de (19: 18-24). Esse trecho também confirma a existência
Bete-Horom até Gezer, A hostilidade de Baasa (vide) de um lugar chamado Naiote (vide), em Ramá
consistiu no estabelecimento de um ponto forte em (19:19,22,23; 20:1), que, provavelmente, representa-
Ramá, capaz de bloquear o tráfico com Jeru- va um posto ou povoado, habitado por um grupo de
salém, - ao longo dessa rota vital (I Reis 15:17; 11 profetas. Finalmente, Ramá tomou-se o último lugar
c-e. 16:1). Retaliando, Asa (vide), persuadiu os sirios de descanso do profeta Samuel (25:1; 28:3).
a atacarem Israel pelo norte. E aliviando assim a S. No Neguebe. Uma cidade mencionada na
pressão na fronteira com Judâ, ele pode desmantelar a descrição da herança tribal de Simeão (Jos. 19:8). O
fortificação em Ramâ, usando os blocos da edificação texto massorêtico afirma que as cidades de Simeão e
para construir dois novos fortins em Geba (vide) e em suas aldeias iam «até Baalate-Beer, que é Ramá do
Mispa (vide). Destarte, a fronteira entre Judá e Israel Neguebe», Os manuscritos gregos exibem alguma
foi fixada como uma linha que dividia á anterior confusão nos textos. A diz: «até Baalate-Ramote, indo
herança tribal de Benjamim em duas (I Reis 15:17-22; para Bamete, na direção sul»; ao passo que B diz: «até
11 Crô. 16:2-6). A divisão do território de Benjamim, Bareque (variante: Baleque), indo para Bamete, na
dessa maneira, faz lembrar a divisão sobre a qual se lê direção sul». Deve-se desconsiderar a tradução da
em Josué 18:21-28, onde Rarnâ pertence ao distrito LXX do termo geográfico «Neguebe» por um termo
mais ao sul. Um breve oráculo de Oséias contra direcional «para o sul», pois é mais provável que o
Gibeâ, Rarnâ e Bete-Ãven (vide), aparentemente, hebraico «Ramate-Neguebe» indicasse um acusativo
visava a tribo de Benjamim, talvez com uma alusão adverbial de direção. Destarte, o vers1culo poderia ser
particular a essa meia tribo «judia» (Osê, 5:8). E traduzido por «até Baalate-Beer, na direção de
quando uma coluna do exército de Senaqueribe estava Ramate-Neguebe». A passagem paralela de I Crô.
assolando na direção sul, desde Samaria, como quem 4:33 diz apenas «até Baal». E Ramate-Neguebe
ia para Jerusalém, Ramâ ficava na rota direta do também não aparece na lista de povoados no Neguebe
avanço assírio (Isa, 10:29). Jeremias descreve Ramá de Judá (1os. 15:21-32), que incluia Simeão.
como o cenário de lamentação de Raquel por seus Por outro lado,' parece que essa cidade aparece
filhos (Jer. 31:15; cf. Mat. 2:18). Alguns dos como Ramote do Neguebe (I Sam. 30:27), um dos
anteriores habitantes de Ramâ estavam entre os que lugares para cujos anciãos Davi enviou parte dos
retornaram, terminado o exilio(Esd. 2:26; Nee, 7:30). despojos conquistados dos amalequitas. Mas não há
A cidade também é mencionada na lista de lugares qualquer indicação acerca da localização.
ocupados (Nee. 11:33), que pertenciam a territórios
fora da província judaica. Portanto, podemos supor Um novo ostracon, encontrado em TeU'Arad (julho
que Rarnâ foi uma daquelas cidades onde uma parte de 1967), levanta de novo a questão da identificação e
da população manteve seu domínio, durante o tempo localização de Ramá/Ramote-Neguebe. Trata-se de
em que o corpo principal dos judeus esteve no exílio. uma carta de alta autoridade que exigia confirmação
de uma ordem anterior, baixada pelo rei, de que
4. Local do nascimento do profeta Samuel, Embora fossem enviadas tropas de Arade e de alguns outros
seja muito provável que essa Ramá seja idêntica à lugares, para Ramote-Neguebe, a fim de tentar
anterior, as referências a ela pertencentes são tratadas impedir um ataque dos idumeus. Essa ameaça dos
em separado, por efeito de conveniência. O lar de idumeus, provavelmente corresponde à situação
Elcana (vide) e de Ana é chamado de «Ramataim-Zo- retratada em Sal. 137:7, onde se lê que Edom tirou
fim», em I Sam. 1:.1. Mas a construção hebraica é um proveito da queda de Judâ, em 587 A.C., para pilhar
tanto estranha. Visto que Elcana descendia de Zufe colonos indefesos na Cisjordânia. A retribuição
(vide), um levita coatita (I Crô. 6:35), estabelecido ao anunciada profeticamente por Obadias reverteria o
norte do território de Benjamim (I Sam. 9:5; cf. Jos. feito: «Os de Neguebe possuirão o monte de Esaú... »
21 :5; I Crô. ~:22-26,35,66 ss), aparentemente a (v. 19).
maneira mais correta de se entender o nome, em I A s atuais especulações sobre a identificação de
Sam. 1:1; é «Ramataim dos zufitas ». O subformativo Ramote-Neguebe giram em tomo de Khirbet Ghaz-
no hebraico, aim, provavelmente, deve ser compreen- zeh, na beira oriental do Neguebe de Judá, que
dido como um locativo, e não como um simples sufixo guarda uma das estradas principais vindas de Edom
dual (cf. Titaim, e outros). Todas as demais alusões à (Aharoni). Além da fortaleza com casamatas,
terra de Samuel (excetuando I Sam. 25:1 e 28:3), têm pertencente à Idade do Ferro 11, tem sido encontrado
o subformativo locativo -a, pelo que a LXX traduz uma certa quantidade de material da Idade do Ferro
esse nome como Armathaim ou Armathém ; chegando I, nas circunvizinhanças. Por outro lado. a elevada
mesmo a inseri-lo, em I Sam, 1:3, após as palavras posição dominante de Khirbert Gharreh e sua
649
RAMADA - RAMOS
'Iocalização no centro do Neguebe de Judá (ou seja, na o local da Pi- Ramesse egípcia (original da forma
fronteira da herança de Simeão) são fortes argumen- hebraica), tem sido muito debatido na egiptologia: em
tos em favor desta última, Tânis (no hebraico, Zoã, vide), ao sul do lago
Menzalé, ou perto de Qantir, cerca de 27 km mais
para o sudoeste. Em ambos os locais têm sido
RÂMADÃ encontrados consideráveis restos de objetos da época
Nome de um dia religioso do calendârío isllmico, daquele Faraô, embora o último nunca tenha sido
caracterizado por jejum total, desde o àlvorecer até o plenamente escavado. Pesados os prós e os contras,
pôr-do-sol. Ocorre no nono mês do calendãrio todavia, tudo leva a crer que devemos identificar
isllmico. Esse jejum comemora a primeira revelação Ramessés com a moderna Qantir, incluindo o
que, entre outras, foi dada a Maomé, tudo o que importante fator que ela está na rota do êxodo dos
culminou no Alcorão (vide). israelitas. (Ver Êxodo),
RAMATE.LEt RAMIAS
No hebraico, «colina de Lei... Foi o lugar onde No hebraico, «Yahweh é alto», Um descendente de
Sansão derrotou os filisteus com uma queixada de Parós(cf. Esd. 2:3), que retomou do exílio babilônico
jumento, como sua arma (1os. 15:17). com Zorobabel. Foi um dos que se tinham casado
com mulheres estrangeiras (Esd. 10:25),
RAMATE-MISPA
No hebraico, «colina da torre de vigia». Uma cidade RAMOS
pertencente ao território de Gade, na divisão da Era uma regilo luida como a Palestina, similar à
Palestina. É mencionada como localizada entre caatinga do nordeste brasileiro, é apenas natural que
Hesbom e Betonim (1os. 13:26). haja muitas espécies vegetais arbustivas. E isso
explica o incrivel número de palavras hebraicas
usadas no Antigo Testamento para indicar esse tipo
RAMATlTA de vegetação. ou ramos da mesma. Podem-se contar
Um nativo de Ramâ, O encarregado das vinhas de cerca de quinze palavras hebraicas para indicar tais
Davi, Simei, é chamado ramatita, em I Crô. 27:27, ramos. Nem sempre os tradutores podem encontrar
embora não se saiba precisar qual era o seu povoado, palavras modernas que correspondam exatamente
entre os muitos existentes nas cercanias. àquelas. A nossa Bíblia portuguesa em vários casos
usa a tradução «ramos.., quando há alusão a porções
de alguma planta, excetuando o tronco ou as raizes.
RAMAYANA Alguma árvore jovem também é assim chamada,
Esse é um dos grandes relatos épicos do hinduismo, conforme se vê em Eze. 31:5. Há alusões literais e
que ocupa naquela fé uma posição equivalente aos metafóricas. As alusões literais incluem os ramos
poemasRlada e Odisséia, na cultura grega. Essa obra usados quando da festa dos Tabernáculos (que vide)
conta com mais de cinqüenta mil linhas, em sete (Lev. 23:40); os galhos verdes onde abrigavam-se
livros.e mais antiga e mais breve do que o grande pequenos roedores e aves (Eze, 31:13); os ramos de
hissopo, mergulhados no sangue do cordeiro pascal,
épico hindu, o Mahabharata (vide).
O Ramayana foi escrito no periodo entre oá séculos aplicado às entradas das residências dos filhos de
Israel (Êxo, 12:22), ou usados em rituais e
IV e VI A.C. Seu assunto principal é Rama, uma purificações religiosas (Êxo, 14:51; Núm. 19:6).
personagem que teria começado como um ser Porém, quase todas as menções a essas formações
.humano, mas não tardou a tornar-se divino, um filho arbustivas ou similares são metafôrioas, a saber: 1.
encarnado de Vishnu. O poema conta seu nascimen- Grandes homens e lideres são comparados aramos
to, vida, vida conjugal, grandes virtudes e labores. (Isa. 11:1; Jer, 23:5; Zac. 3:8; 6:12; no hebraico.
Então temos a interessante história do rapto de sua netzer), como o grande Principe que brotaria dentre a
esposa, por parte de um demônio, e o retorno dela. família de Davi, Jesus Cristo. 2. Essa maneira de
Rama tornou-se um governante, pelo que encontra- referir-se a pessoas também foi empregada pelos
mos ali a descrição de seu reinado, então de seus anos antigos poetas, como Sôfocles, Elec. iv.18; Homero,
finais e de sua morte. Rlada, 2:47,170,211,252,349; Píndaro, Olymp; 2:6,3.
Esse épico é uma espécie de aventura moral e 3. Os descendentes de reis (Eze. 17:3,10; Dan. 11:7).
espiritual, na qual ovirtuoso Rama toma-se capaz de 4. A prosperidade, indicada por ramos vigorosos
mostrar que a vida humana pode ser vivida com (Eze, 17:3; Pro. 11:28; Sal. 80:11,14; Isa. 25:5). 5. O
sucesso, do ponto de vista espiritual e moral, no caso ramo abominável de Isa. 14:19, uma pessoa que seria
daqueles que têm a coragem de tentar. Rama saiu-se rejeitada como um ramo sem utilidade. 6. A adoração
vencedor sobre inimigos humanos e demoniacos. Do idólatra (Eze , 8: 17). provavelmente devido ao
começo ao fim exibiu um comportamento exemplar, costume dos id6latras de levarem ramos para decorar
que faríamos bem em imitar. Houve interpolações no seus ritos e cortejos. 7. Os crentes, os quais refletem a
século 11 A.C., que fizeram o ser humano, Rama, natureza de Cristo e estão em união mística com Ele
tomar-se no filho divino de Vishnu. Rama-Vishnu, (João 15:5,6). No mesmo contexto, lemos sobre
pois, tomou-se um guia divino e amoroso. que aqueles que não estão unidos a Cristo, porquanto
garante o bem-estar e o sucesso daqueles que se rejeitam-no, pelo que são lançados fora e queimados
devotarem a ele. (João 15:6; ver a exposição desse versiculo no NTI,
bem como o artigo sobre a Eterna Segurança do
RAMASs2S çre!lte). 8. Os ramos que reverdecem, mostrando que
Deriva-se do egipcio Pr-R'-. isso é, «propriedade o verão já se aproxima, o que é utilizado no
do rei Ramsês», Cidade residência das dinastias simbolismo de certos eventos, os quais prenunciarão a
egipcias XIX e XX, no delta do rio Nilo. Ali segunda vinda do Senhor (Mat. 24:32), 9. A
trabalharam os hebreus de onde partiram por ocasião mostarda, com seus ramos que se espalham I muito-
do êxodo. simbolizam a propagação do reino de Deus (Luc.
560
RAMOTE ..,... RAltJSES
13:19). 10. Os ramos que foram postos no caminho entre Israel e Siria. Acabe foi morto em batalha em
por onde Jesus estava prestes a passar, quando de sua Ramote-Gileade ([ Reis 22:3-40; [[ Crô. 18). Então
entrada triunfal em Jerusalém, foi uma forma singela Jeú foi ungido rei por um dos profetas mais jovens de
do povo prestar-lhe homenagem (Mat. 21:8). 11. No Eliseu (11 Reis 8:28-9:14).
décimo primeiro capitulo da epistola aos Romanos, A localização de Ramote-Gileade não é certa. O
Paulo compara os judeus a ramos naturais de uma Onomastieon a situa perto do rio Jaboque, cerca de
boa oliveira, ao passo que os gentios são ramos de 24 km a oeste da Filadélfia (Amam). As listas dos
oliveira brava, enxertados naquela. 12. Em Zacarias centros administrativos de Salomão, e os relatos da
4:12, há menção a dois «raminhos» (no hebraico, guerra entre Israel e a Síria sugerem um local mais
shibboleth), que representam dois servos e testemu- para o norte. Albright sugeriu a imponente localiza-
nhas especiais do Senhor. Há muitas interpretações a ção de Husn Ajlum. Os estudos da superfície, feitos
respeito da identidade desses dois. Seriam figuras, por Glueck, dão apoio a essa possibilidade. As
messiânicas, profetas, Enoque e Elias, etc. (Ver Apo. escavações efetuadas ali em 1967, em TeU er-Ramith,
11, que talvez estribe-se sobre essa alusão). Outros descobriram evidências muito favoráveis para a sua
vêem nas duas testemunhas simbolos de Cristo e do identificação com Ramote-Gileade. Ramith fica a 24
Espírito Santo. ou então da comunidade judaica e km a leste de Irbide e a quase 5 km de Ramtha. A
cristã. etc. continuidade de nomes e a localização geográfica têm
No Novo Testamento. há três vocábulos gregos a sido notados como fatores significativos. Os paralelos
serem levados em conta. a saber: Balon, «ramo de entre a história da ocupação. determinada pelas
palmeira», que aparece somente em João 12:13. provas arquiteturais encontradas nas escavações. bem
Klâdos, «rebentos», que aparece em Mat. 13:32; 21:8; como artefatos e registros literários dão apoio à
24:32; Mar. 4:32; 13:28; Luc, 13:19; Rom. 11:16-19. identificação de Ramith como forte possibilidade da
21. Stoibâs, «ramos». em Mar. 11:8. (G HA LAN S localização moderna da antiga Ramote-GUeade.
NTI)
RAMOTE RAMSM
No hebraico significa «alturas». A LXX exibe várias 'No egípcio, R'·........ que significa «Rã (deus sol) Ó
formas para esse nome. E nome de uma pessoa e de criou». Foi nome de onze Faraós do Egito e epiteto de
três cidades no A.T. dois outros, a saber:
1. Em Esd. 10:29, de acordo com Qere (vide) era A. N. D6cIDaa Nona DIDuUa
um dos filhos de Bani, israelita, que divorciou-sé de- 1. Ramsés I. Fundador da décima nona dinastia do
sua esposa gentilica, após o cativeiro. Na LXX, ele é norte do Egito. Pertencia a uma familia militar. Já
chamado Remoth . Mas, de acordo com Ketib (vide), idoso quando subiu ao trono, reinou somente por
seu nome seria Jeremote, dezesseis meses, mas se notabilizou como o pai do
2. Uma cidade pertencente a Gade, em Gileade formidável Setas I.
(Deu. 4:43); na LXX, Ramoth , los. 20:8; 21:38; I 2. Ramsés Il, Reinou durante sessenta e seis anos
Crô, 6:80 (no heb., em I Crô. 6:65). Ver Ramote de (ou entre 1304-1238 A.C., ou entre 1290-1224 A.C.).
Gileade. Filho de Setas: I e da rainha Mut-tui, ambos de
3. Uma cidade do Neguebe, para onde Davi enviou famílias militares. Tal como a rainha Hatsepsut e
presentes, após o seu ataque devastador contra o Amenofis [11, ele se utilizava do mito de origem divina
acampamento dos amalequitas (I Sam. 30:27; na de Faraô para legitimar o seu reinado. Ramsês li
LXX, Ramá). lutou por muitos anos contra os hititas, na Siria. Em
4. Uma cidade levitica pertencente aos descenden- seu quarto ano de governo, provavelmente, livrou o
tes de Gérson, no território de Issacar (I Crô, 6:73; na reino de Amurru do domínio hitita. No quinto ano.
LXX, Ramoth). Sem dúvida é a mesma Jarmute de marchou contra Cates do Orontes, diretamente para
Jos. 21:29, porquanto ocupa a mesma posição na lista dentro de uma armadilha hitita, mas conseguiu
das cidades leviticas, havendo muitas outras discre- desvencilhar-se por seu valor pessoal notável e pela
pâncias entre as duas listas. Além disso, deve ser a chegada oportuna de ajudantes. A famosa batalha foi
mesma Remete (Jos. 19:21). Uma estela de Seti I tratada como um feito épico, em cenas e textos nas
(1309-1290 A.C.) declara que os apiru do monte paredes dos templos. Politicamente, porém, foi um
Iarrnute atacaram os asiáticos. O monte Iarmute, sem retrocesso, embora contrabalançado por seu herois-
dúvida, deve ser associado à Jarmute-Remete-Ramote mo pessoal e por suas campanhas subseqüentes (anos
de Issacar, isto é, na região alta a noroeste de oitavo, décimo, etc., de seu reinado). Suas conquistas
Bete- Sean. Assim sendo, a forma Iarmute é mais também envolveram Seir e Moabe. Devido a ameaças
original do que a forma Ramote. Albright sugeriu assírias, egípcios e hititas entraram em um acordo de
como lacaio povoado de Kokab el-hawa, localizado a paz, observado por ambos os lados com lealdade,
pouco mais de onze quilômetros ao norte de alicerçado pelo casamento de Ramsés li, em seu
ijete-Seanon, um platô com 305 m de altura, acima trigésimo quarto ano de reinado, com urna filha do rei
'do nível do mar e uma região de fontes (ver «The hitita, e ainda depois, com outra princesa hitita.
Topography of the Tribe of Issachar-, ZAW, XLIV No que concerne ao número, as edificações de
(1926), pâg, 231). Ramsés II ultrapassam as de todos os demais Faraós.
Basta-nos falar sobre sua ambiciosa capital do delta,
Pi-Ramessês (vide), seu vasto salão com colunas de 24
RAMOTEaGILEADE m de altura, no templo de Karnak, em Tebas, e seu
Sob a administração de Salomão. Ramote-Glleade templo funerário com um colosso de mil toneladas, na
se tornou o centro do distrito a leste do rio Jordão, e margem oeste tebana, e os dois espetaculares templos
daí para o norte, até o Iarmuque (I Reis 4:13). Essa de pedra em Abu Simbel, modemamente transporta-
era uma das cidades de refúgio (Deu. 4:43; Jos. 20:8), dos inteiros, para não ficarem sob o nível das águas da
concedida aos levitas meraritas de Gade (Jos, 21:38; I represa do Nilo. Houve muita prosperidade durante o
Crô. 6:80). Era uma cidade de fronteira, sendo um, seu longo reinado, e a intensificação das atividades
posto avançado militar importantíssimo, nas guerras literárias no Egito. Talvez ele tenha sido o Faraô do
561
·RAMSÉS - RAPOSA
êxodo (ver Êxodo), Sua orgulhosa autoconfiança C~ VJaêtIma PrImeIn ))In..... e DepoII,
parece ser refletida no Faraô do Êxodo 5-12. Psusenes I (cerca de 1040 A.C.). Adotou o nome-
- 3. Ramsés-Sipta, Reinou por seis anos, no fim dessa duplo de Ramsés-Psusenes, a fim de frisar sua ligação
dinastia. Mudou seu nome para Rerenepta-Sípta, e (através de Smendes) com a familia Ramsês, e, assim
morreu jovem. Os verdadeiros mandantes, por detrás seu legitimo direito de governar o Egito. Seus
do trono, eram a rainha Tewosred e o chanceler Bay sucessores foram contemporâneos' de Davi e Salomão
(de origem sitia dotado de poderes similares aos de (ver Filha de Faraô; Egito, Terra do). O título «Filho
José, filho de Jacó). do Rei de Ramsês» ,tornou-se um elevado titulo
honorífico durante essa e as duas dinastias egipcias
B. VJaéúma Dbu8tIa seguintes.
1. Ramsés IIl. Filho de Setnact, que fundou a
dinastia. Reinou durante trinta e um anos. Lutou em
três batalhas épicas que impediram a invasão do
Egito. No seu quinto ano, derrotou os libios, posto RANGER
que de modo indeciso. No seu oitavo ano, lançou-se No hebraico, chanq, «ranger (os dentes)•. Essa
contra os povos do mar, incluindo os filisteus palavra é usada por cinco vezes no Antigo
(primeira menção a eles na história), fazendo o Testamento: J6 16:9; Sal. 34:16; 37:12; 112:10; Lam.
exército inimigo recuar e destruindo a sua marinha. 2:16. No grego, temos três palavras: a. Brocho,
No seu décimo primeiro ano, derrotou os líbios mais -rilhar (os dentes) .., que ocorre apenas por uma vez,
decisivamente. Também lutou em Edom, Manteve a em Atos 7:54. b. Trldzo, «rilhar (os dentes)», palavra
grandiosidade da dinastia a principio, mas não pôde que aparece também somente por uma vez, em Mar.
impedir a decadência administrativa, em seus últimos 9:18. c. Brugmôs, «o rilhar (dos dentes)», forma
anos. O mais importante edifício de seu reinado foi o nominal do primeiro verbo grego, que ocorre por sete
templo funerário em Tebas ocidental. vezes: Mat. 8:12; 13:42,50; 22:13; 24:51; 25:30; Luc.
2. Ramsés IV. Reinou somente por seis anos, mas, 13:28.
de . acordo com a famosa estela de Abydos, orou No Antigo Testamento, o ato de rilhar os dentes
pedindo um reinado de sessenta e sete anos, como o aparece em conexão com a fúria ou com profunda
de Ramsés lI. Compilou uma lista dos beneficios tristeza. No Novo Testamento, o trecho de Atos 7:54
realizados por seu pai, Ramâs III, aos templos refere-se a como os inimigos de Estêvão, cheios de
egípcios, para ajudá-lo em sua sucessão ao trono. ôdío, rilhavam os dentes, e a fúria deles não demorou
3. Ramsés V. Filho de Ramsés IV~ Reinou apenas a levá-los ao homicidio. Marcos 9:18 é trecho que fala
por. quatro anos, tendo morrido de varíola quando sobre como o epilético rangia os dentes. O termo
ainda bem jovem. Seu reinado tornou-se famoso por grego brugmôs é usado em conexão com o ranger dos
causa do vasto papiro Wilbour, parte de uma dentes daqueles que serão lançados nas trevas
pesquisa de terras do médio Egito, um documento de exteriores (Mat. 8: 12), da angústia daqueles que serão
imenso valor para o estudo da administração e das lançados na fornalha de fogo do juizo final (Mat.
instituições. 13:42). A idéia do julgamento final, vinculado a esse
4. Ramsés VI. Reinou pelo menos durante sete ato de agonia, aparece em Mateus 24:51 e reaparece
anos. Deu continuidade e completou o túmulo de seu em Mat. 25:30, o que é reiterado em Luc. 13:28.
sobrinho, Ramsés V, no vale dos Reis, em Tebas,
onde guardou importantes textos funerários. HÃo
S. Ramses VII. Reinou por sete anos. Se antecedeu Na LXX o nome aparece com as formas de Arám ou
ou ~e. sucedeu ao Faraó que alistamos em seguida, é Ram ou Arran. O significado do nome é alto. Há três
algo incerto. homens com esse nome, no A.T.:
6. Ramsés VIII. Um governante efêmero. que 1. Um dos antepassados do rei Davi, mencionado
dirigiu melhor o Egito em seu primeiro ano de somente nas genealogias (Rute 4:19; I Crô. 2:9).
governo. Também aparece como antepassado de Jesus, em
7. Ramsés IX. Reinou por dezoito anos. O sumo Mat. 1 :3,4 (no grego, Arám). Nos manuscritos
sacerdócio de Amom, em Tebas, era exercido por gregos, o trecho de Luc, 3:33 apresenta problemas,
membros de uma poderosa família. A administração pois ali aparecem as formas Ami ou Arám. Nossa
se tornou tão lassa que os próprios túmulos dos versão portuguesa diz -Arní ».
Faraós estavam sendo roubados. Invejas entre os 2. Filho primogênito de Jerameel, de Judá (I Crô.
administradores do leste e do oeste de Tebas 2:25,27). Esse Rão, aparentemente. era sobrinho do
trouxeram à luz o escândalo. Isso provocou a primeiro Rão, acima, de acordo com I Crô. 2:9.
intervenção de uma comissão, cujo relatório aparece
em uma série notável de papiros que narram o roubo 3. Cabeça da familia de Eliú, que foi um dos
de túmulos. «consoladores» molestos de Jó (Jô 32:2).
8. Ramsés X. Quase nada se sabe sobre o seu
reinado de nove anos. RAPOSA
9. Ramsés Xl. O último dessa linhagem, reinou No hebraico, Ih"', craposa., cchacal.. Esse termo
pelo menos durante vinte e sete anos. Houve invasores aparece por sete vezes: Jui. 15:4; Nee. 4:3; Sal. 63:10;
libios e uma guerra civil que involveu o vice-rei da Cano 2:15; Lam, 5:18; Eze. 13:4. No grego, alôpeks ,
Núbia, e talvez a morte ou o exilio de um sumo vocábulo que ocorre por três vezes: Mat. 8:20; Luc.
sacerdote de Amom, em Tebas. As falhas administra- 9:58; 13:32.
tivas foram solucionadas com a nomeação de dois No caso do Antigo Testamento, pelo menos nos
governantes subalternos a Faraô, um para o Alto <trechos de Juí. 15:4 e Sal. 63:10, o animal que está em
Egito e outro para o Baixo Egito. Houve então um vista é o chacal, porquanto também nesse caso hâ
verdadeiro «renascimento». Smendes, governante do certa confusão entre as espécies animais, nas pâginas
Baixo Egito, sucedeu Ramsés XI como rei, tendo sido da Bíblia, visto que os antigos não os classificavam
o fundador da vigésima primeira dinastia, pois, cientificamente, mas, muitas vezes, apenas pela
aparentemente, casou-se com uma princesa da aparência geral. A raposa e o chacal assemelham-se
familia real de Ramsés. .quanto ao tamanho e à forma, pelo que eram
662
RAPOSA - RAQU~L
facilmente confundidos entre si.· Seja como for, hã (vide), irmã mais velha de Raquel, tinha um nome
três espécies de raposas que vivem. na ma da que, no hebraico, significa «vaca selvagem•.
Palestina e do Egito. Hâ duas variedades de raposa Raquel era a filha caçula de Labia, irmão de
vermelha, uma delas de porte bem menor que a outra. Rebeca, mie de Jac6 e Esaú. Por conseguinte, Raquel
E a raposa siria é idêntica à raposa européia comum, tal como Lia, era prima em primeiro grau de Jac6, por
chamada cientificamente de Vulpes vulgaris, parte da mie deste.
As raposas e os chacais fazem parte da famUia do D. 0rfaemI ......
cão. A raposa é um animal solltârío, mas o chacal vive Em Gênesis 10:22, aprendemos que. os filhos da·
em pequenos bandos. Ambas as espécies comem Sem, filho de Noê, foram cinco: Elão (os elamitas),
frutas e vegetais, incluindo uvas (Can. 2:15). O relato Assur (os assírios), Arfaxade (os babílêníos), Lude (os
de Juizes 15:4 que diz que Sansão apanhou jrezentos lidios) e Arã(os sirios). Como é apenas natural, houve
animais, atou-os rabo a rabo com uma tocha entre casamentos mistos entre os descendentes desses cinco
eles e soltou-os nos campos plantados dos filisteus, filhos de Sem. Porém, na narrativa biblica sobre Jacó
provavelmente envolve chacais, e não raposas. Nos e Raquel (e também Lia), precisamos considerar
tempos da dominação romana, raposas com tochas Arfaxade e Arã. A famUia de Abraão (o nono na
atadas às caudas eram caçadas nos circos, durante as linhagem direta de Sem; ver Gên, 11:10-27) tinha um
festas em honra a Ceres. ramo aríaxadíta (babílênico) e um ramo arameu
Os lobos atacam suas presas com certa valentia. As (sirio). .
raposas, por serem muito menores, precisam depen- Quando Terâ, pai de Abraão, resolveu deixar Ur
der de sua astúcia. Talvez por isso Jesus tenha dito a dos caldeus, seguindo na direção do Ocidente (ver
respeito de Herodes: «Ide dizer a essa raposa que...• Gên. 11:31), um ramo da famUia se deixou ficarem
(Luc. 13:32). As pequenas forças fisicas da raposa Harã (o que é hoje a Síria), a saber, Naor, Betuel e
transparecem no motejo de Sambalá, acerca das Labão (ver os artigos separados sobre esses três), ao
muralhas de Jerusalém, quando, nos dias de Neemias, passo que Abraão prosseguiu até entrar na terra de
os judeus estavam reerguendo os muros arruinados da Canal, destino final a que se propusera Terâ, e para
capital da Judéia: «Ainda que edifiquem, vindo uma onde o Senhor Deus enviara especificamente Abraão.
raposa derrubará o seu muro de pedra. (Nee.4:3). Os Os que ficaram em Harã foram chamados de o ramo
falsos profetas de Israel são comparados por Ezequiel arameu da famnia de Abraão. Raquel e Lia, sua
com as raposas: «Os teus profetas, 61sMeI, são como irmã, pertenciam ambas ao ramo arameu da famllia.
raposas entre as ruínas» (Eze. 13:4). Visto que os israelitas, com suas doze tribos,
Usos Figurados: descendem de Jac6 e de suas quatro mulheres, Lia,
1. Os mestres e profetas falsos são comparados Raquel, BUa e ZUpa, e visto que as duas primeiras
com raposas, por causa de sua astúcia e obstinação eram aramêias, por isso mesmo, lemos em Deutero-
nos seus maus caminhos (Eze. 13:4; Cano 2:5). nômio 26:5: «Arameu, prestes a perecer, foi meu pai
(Jacó) e desceu para o Egito, e ali viveu como
2. Os tiranos e outros homens impios são estrangeiro com pouca gente; e ali veio a ser nação
assemelhados a raposas, por causa de seus desígnios grande, forte e numerosa... As palavras assim citadas
maldosos, que executam astutamente contra seus faziam parte da confissão que os israelitas deveriam
semelhantes (Luc. 13:32; onde Herodes é especifica- fazer, a mando do Senhor, quando tivessem entrado
mente mencionado). na Terra Prometida.
3. Aqueles que se deixam levar por concupiscências Após o incidente da perda da bênção da
pecaminosas parecem-se com as raposas, em seus primogenitura por parte de Esaú, irmão gêmeo de
caminhos astuciosos e ruinosos (Can, 2:15). Jacó (ver Gên, 27), com cuja bênção Jacó ficou,
4. Ser alguém «pasto dos chacais.. é o mesmo que Isaque, pai de ambos, mandou Jac6 tomar esposa
ter as próprias terras ou a própria habitação desolada, dentre a sua parentela araméia. Esse relato aparece
ao mesmo tempo em que o individuo que sofreu tal em Gênesís 28:1-5. Destacamos partes dessa passa-
perda é deixado insepulto, ao morrer (Sal. 63: 10). . gem: «...vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua
mie, e toma lá por esposa uma das filhas de Labia,
RAQUEL irmão de tua mãe... Jacó, que se foi a Padã-Arã, à
Esboço: casa de Labão, filho de Betuel, o arameu... " (vs. 2 e
5).
I. O Nome
11. Origens Raciais de Raquel Por conseguinte, nos primórdios do povo de Israel,
111. Encontro com Jacó três das matriarcas eram do ramo arameu da familia,
IV. Esposa Favorita de Jacó a saber, Rebeca, Lia e Raquel. Lia foi mie de seis
V. Filhos de Raquel filhos (metade das tribos de Israel): Rúben, Simeão,
a. Indiretos Levi, Judâ, Issacar e Zebulom. E Raquel foi mie de
dois filhos (uma sexta parte das tribos de Israel): José
b. Biológicos e Benjamim. Essas são as oito tribos de Israel com
VI. Morte e Sepultamento de Raquel maior incidência de sangue arameu, embora as
VII. O Caráter de Raquel outras quatro tribos também tivessem ~
VIII. Simbolismo Biblico arameu, porquanto Rebeca, mie de .Jacó, era
I. O Nome araméia. Mas não se sabe a etnia de BUa e ZUpa;
No hebraico, raheI, «ovelhv. Na Septuaginta porém, pode-se conjecturar que elas eram sirias. Ver
tradução do Antigo Testamento hebraico para o o artigo sobre Arã. Ver também sobreas Tribos de
grego, terminada cerca de duzentos anos antes da era Israel.
cristã, encontramos a forma Rachei, que é apenas m. BDcoatm com lac6
uma transliteração do nome hebraico para o grego. Primos que eram, Jacó e Raquel avistaram-se pela
Em uma cultura agropastoril, como era a de Harã, na primeira vez à beira do poço que havia no campo, nas
região da moderna Siria, seria apenas natural dar a proximidades de onde ela residia. Raquel trazia suas
uma filha o nome de um animal de criação, como é o ovelhas para beber, «porque era pastora. (Gên. 29:9).
caso da ovelha. Isso é confirmado pelo fato de que Lia Jac6, em demonstração de grande força ftsica,
568
.RAQUEL
«removeu a pedra da boca do poço.., para que as verificar facilmente esse favoritismo, que se manifes-
ovelhas pudessem beber. «Feito isso, Jacó beijou a tava das mais- diversas maneiras, principalmente no
. Raquel e, erguendo a voz, chorou.. (Gên, 29:10,11). leito! Um incidente tocante é o das mandrágoras
Como deve ter sido agradável para Jacó encontrar- achadas por Rúben no campo. Quando Raquel pediu
se com sua prima, longe de casa como ele estava, essas mandrágoras (então consideradas um afrodisia-
ainda sem saber onde ficaria! Felizmente, seu tio, co), Lia respondeu' à sua irmã mais nova: «Achas
. Labia, irmão de sua mãe, Rebeca, o acolheu. pouco a me teres levado o marido, tomarás também as
~ Chegou mesmo a dizer-lhe: «De fato•. és mandrágoras de meu filho? .. E a resposta de Raquel
meu osso e minha carne. (Gên. 29:14). Um mês ainda é mais reveladora: «Ele te possuirá esta noite, a
depois, porém, era preciso arranjar a permanência de troco das mandrâgoras de teu filho.. (Gên, 30:15).
Jacó em bases mais dia-a-dia, E Labão perguntou de Pobre Lia! Para deitar-se com seu marido, era forçada
Jacó que salário ele aceitaria para ficar com ele. a apelar para pequenos expedientes! Incidentalmente,
Jovem solteiro como era, Jacó estava de olho nas isso demonstra um dos males da poligamia.
primas. A Biblia nos dá uma breve descrição das Felizmente, o Senhor Deus não estava alheio à
duas: «Lia tinha os olhos baços (no hebraico. situação. Pois lemos: «E Jacó, naquela noite, coabitou
«íelícados..), porém, Raquel era formosa de porte e de com ela (Lia). Ouviu Deus a Lia; ela concebeu e deu à
semblante.. (Gên, 29:17). Mas o coração de Jac6 luz o quinto filho.., que foi Issacar (Gên. 20:16,17).
rendera-se à graça feminina de sua prima mais nova: O favoritismo de Jacó por Raquel nunca se abateu.
«Jacô amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei Mesmo depois da morte dela (ver abaixo, ponto VII),
por tua filha mais moça, Raquel» (Gên, 29:18). Nio ele se lembrava dela carinhosamente. Em diálogo que
há que duvidar que Jacó amara a Raquel desde que a teve com José, muitos anos depois, disse Jacó: «Vindo,
viu pela primeira vez. Ele não tinha chegado a Padã- pois, eu de Padã, me morreu, com pesar meu,
.Ari a fim de arranjar esposa? Não lemos que ele Raquel, na terra de Canaã, no caminho... sepultei-a
também tenha beijado Lia, mas beijou Raquel e ali no caminho de Efrata, que é Belém. (Gên. 48:7).
chorou! Quem pode penetrar naquela explosão de v. ~ de Raqael
sentimentos e explicar por que Jacó chorou? O que Quando Lia já tiver~.quatro filhos, isto é, Rüben,
sabemos é que os sete anos de serviço, propostos pelo Simeão, Levi e Judá (ver Gên, 29:31-35), Raquel
próprio Jacó ....lhe pareceram como poucos dias, pelo sentiu tremendos ciúmes de sua irmã. Portanto. a
muito que a (Raquel) amava..-(Gên. 29:20). bigamia estava envenenando o coração de Raquel.
IV. &pou FaTodta ele Jaéó Porém, ela apelou para um expediente comum na
Após sete anos de serviço. prestado por Jaeô, época. Entregou a Jacô sua serva (dada por seu pai,
chegou o dia do seu casamento. Houve grande Labia), de nome Bila. A a1e}açio de Raquel foi:
festividade, com muitos convivas e muita comida e «...coabita com ela, para que dê à luz e eu traga filhos
bebida. Mas, à noite, em vez de Labia dar Raquel ao meu colo, por meio dela.. (Gên, 30:3). E foi assim
como esposa a Jacó, fez introduzir na tenda dele sua que Jacó recebeu sua terceira mulher, com a qual teve
filha mais velha, Lia. Jacó só descobriu o logro na dois filhos: Di e Naftali (ver Gên. 30:5-8).
manhã seguinte (ver Gên, 29:21-25). Agora, Jacó Estabelecera-se uma estranha competição entre as
estava casado com Lia, porquanto o casamento se duas irmãs: Quem daria filhos a Jacô, e seria mais
consumara nas trevas da noite. :e evidente que Lia amada por ele?
amava seu primo; pois, se tivesse aversão por ele,
jamais teria consentido em coabitar com ele. Mas, A reação de Lia foi dar a Jacó a sua quarta mulher.
isso não satisfazia a Jacô, Por isso, uma semana mais Zilpa. Esta era a serva de Lia, que lhe fora dada por
tarde, Labão também deu Raquel a Jacó, como seu pai, Labão. E Jacó também teve dois filhos por
esposa, em troca de mais sete anos de serviço! E o meio de Zilpa: Gade e Aser. Mais tarde, Lia teve mais
favoritismo de Jacó por Raquel transparece de dois filhos, Issacar e Zebulom.
imediato. «E coabitaram. Mas Jacó amava mais a Ê claro que Lia estava levando a melhor. Ela dera a
Raquel do que a Lia; e continuou servindo a Labão Jacó nada menos de seis filhos, biologicamente seus,
por outros sete anos..(Gên, 29:30). Assim, por amor a enquanto que Zilpa, sua serva, dera a Jacó mais dois
Raquel, Jacó acabou servindo por nada menos de filhos. Se juntarmos a isso a única filha de Jacó, que
catorze anosl era filha de Lia, Diná, então veremos que, entre os
Todos esses costumes matrimoniais antigos têm filhos indiretos e os filhos biológicos de Lia havia nada
sido amplamente confirmados pelas descobertas menos de oito filhos homens e uma filha.
arqueológicas e históricas. incluindo o costume de a. Filhos Indiretos de Raquel. Enquanto isso,
nunca se dar em casamento uma filha menor, Raquel s6 podia contar com os dois filhos que Bila,
enquanto outra filha, maior, estivesse solteira, sua serva, dera à luz a Jacó: Dã e Naftali. Mas, uma
çonforme Labão alegou que fizera no caso de Lia e coisa é ter filhos através da concubina da esposa (no
Raquel! Além disso, alguns estudiosos pensam que, hebraico, issah, «esposa», o que mostra a legalidade
por essa altura dos acontecimentos, Labão não tinha do casamento de Jaêó e Bila) e outra coisa é ter seus
filhos homens. O casamento de Jacô (um parente próprios filhos. Na ~tiguidade. essa era uma questão
chegado) com Lia e com Raquel garantiria que a crucial. Problema semelhante já tinham tido, no
herança ficaria em familia. Não sabemos se Labão passado, Sara (ver Gên. 16:1 ss) e Rebeca (ver Gên,
agiu assim tão friamente, como se a única coisa que 25:19 ss), Sara apelara para que Abraão tomasse por
interessasse fossem as questões econômicas, mas os esposa a Hagar, a serva egipcia de Sara, e assim
documentos de Nuzi, no norte de Mesopotâmia, nascera Ismael (vide). No caso de Rebeca, porém,
mostram que tal costume era bem generalizado no Isaque orara ao Senhor, e Rebeca, ap6s alguns anos
antigo Oriente Médio. Esses documentos têm sido de esterilidade, teve gêmeos: Esaú e Jacó. Mas. no.
encontrados pelos arqueólogos, lançando muita luz caso presente de Raquel, até agora ela não fora mãe,
sobre a vida na época dos patriarcas do povo de Israel! b. Filhos Biol6gicos de Raquel. Novamente houve a
O favoritismo de lacó por Raquel não foi coisa intervenção divina, embora muito discreta. A única
passageira, e não se alterou mesmo depois que Lia noticia que a Bíblia nos dá a respeito encontra-se em
começou a dar-lhe filhos, ao passo que Raquel se Gênesis 30:22: «Lembrou-se Deus de Raquel, ouviu-a
mostrava estéril. Os leitores de Gênesis 29-35 podem e a fez fecunda••
554
RAQUEL
Assim, Raquel ficou grávida pela primeira vez, deu homem e SUa parte imaterial. O corpo"ê sepultado S
à luz a José, e exclamou, aliviada e vitoriosa: «Deus volta ao pó. E a alm.atom. um novo rumo. A morte 6
me tirou o meu vexame»I (ver Gên. 30:23). Isso a grande niveladora. Todas as distinções que os
mostra-nos que, até então, Raquel vivia um drama, homens estabelecem uns diante dos outros sIo
não se sentindo realizada como mãe. O nome José reduzidas a nada. Mais do que isso, a morte nivela o
chegou a ser um vaticinio. No hebraico, esse nome homem aos animais irracionais. O autor do livro de
significa ..que ele (Deus) adicione». Na verdade, Deus Eclesiastes observou isso, ao meditar: «••• 0 que sucede
atendeu a essa petição de Raquel, anos mais tarde, aos filhos dos homens, sucede aos animais... como
quando do nascimento de Benjamim, o segundo e morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo'
último filho de Raquel. Porém, o parto lhe foi tão falego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem
dificil que ela veio a morrer. sobre os animais.•• todos procedem do pô, e ao p6
Portanto, os filhos biológicos de Raquel foram José tomarão. Quem ~be que '! ttilego de vida. ~ filhos
~ Benjamim. Ver os artigos sobre ambos; e, quanto do:' homens se dirige para ~, e os dos aDUn!U5 para
aos seus descendentes. ver As Tribos de Israel. José e baIXO, para a terra»? (Eel. 3.19-21). TodaV18., esse
sua esposa egipcia, Asenate (ver Gên, 41:45), tiveram quadro mostra somente o quanto a morte é de~tural
dois filhos; Manassés e Efraim. Séculos mais tarde, a par~ seres etem~ como são os homens. Tudo ISSO nos
nação do norte, Israel, tinha na tribo de Efraim a e~~a 9ue a VIda terrena é apen~ uma ~ da
tribo liderante. E quanto a Benjamim? Os descenden- e~st~n.C1a da alma h~man~. Mas. deVIdo à nu;ser;.t~
tes de Benjamim sempre estiveram muito ligados à día divina, a ressurreição VIrá ~nsertar essa V101eneta
nação de Judâ, descendentes do quarto filho de lia, contra,! ser h~ano, produzida pelo. pecado. Na
juntamente com Simeão e parte de Levi. ressurreíção, pois, ~~ haverá de reunir novamente
. ..' os elementos constitutivos do homem. Claro que.
Atualmente,. os .Judeus classificam-se em .descen": haverá diferenças, e bem radicais, entre a ressurreiçlo
dentes de B~nJamlID e d~ndentes de Levi. Esses para a vida e a ressurreiçlo da condenação, mas nla ~
formam o nucleo do povo Jud~u, tanto no moderno aqui que queremos falar sobre essas distinções. Aqui,
~sta.do de Israel quanto na dispersão, pelo mundo preferimos falar sobre a tremenda dor da separaçlo
inteiro. Em tomo desse núcleo, . naturalmente, há imposta pela morte ftsica. No caso de Raquel, para
descendentes. das outras no,:e ?i~s. ~ e~ menores que Benjamim tivesse vida, sua mie teve de pagar
p~opo~ões, ~uidos e não mais distinguíveis daquelas com a mortel "...e foi sepultada no caminho de
tres tribos básicas. .' Efrata, que é Belém. Sobre a sepultura de Raquel
VI. Morte e SepaItameíIto ele RaquI levantou Jacô uma coluna que existe até o dia de hoje»
. Qu~do Raquel estav" Il'ávida pela segunda vez, e (Gên. 35:19,20). Terminada estava a vida de Raquel
Já fazia nada menos de vinte anos que Jac6 estava neste mundo! Jacó só haveria de revê-Ia, muitos anos
longe de sua casa paterna, Jacô e seu clã tinham depois, "mas só no estado espiritual, depois que
resolvido retomar à terra de Canaã. De fato. esse fechou os olhos fisicos pelá ú:ttlm.a vez. Como o N.T.
r~torno chegou a ser determinado pelo S~nhor, que fala, - a morte 6 o nosso inaiOr i:Dimiao.
dissera a Jacô: «Toma à terra de teus pais, e à tua Por isso mesmo foi que comentou o apóstolo Paulo:
parentela; e eu serei contigo» (Gên. 31:3). As duas «O último inimigo a ser destruido é a morte» (I Cor.
mulheres originais de Jacô, Ua e Raquel, concorda- 15:26). E isso ficou garantido pelo pr6prio Filho de
ram plenamente com ele.. E, aproveitando o fato de Deus, que nos àfiançou: «... a vontade de q.,.em me
que Labão est~va tosquiando suas ovelhas (Gên. enviou ê esta: Que nenhum eu perca de todos os que
31:19), eles fugiram. Jacô levantou-se, «...passou o me deu; pelo contrário ou o ressuscitarei no último
Eu!rates, e tomou o rumo da montanha de GUeade» dia» (João 6:39). '
(Gen. 31:21). No entanto, Labão acabou alcançando VB O C-'*- de D - - . I
a J ac6 e seu grupo, na montanha de Gileade. A · --.- -
conversa entre Jac6 e Labão não foi amena. Houve Raquel foi mulher com a1Iuns araves ~tos: Ela
recriminações de parte a parte, conforme pode mostrou ser mulher descontente e imp&Clente, diante
verificar o leitor ao examinar o trecho de Gên. 31:22 do fato de que não tinha. ~os. Jacô, que ~to a
ss. Mas, finalmente, Labão e Jacô firmaram um pacto amava, chelloU mesmo a lITltar·se com essa atitude
de não agressão mútua, e separaram-se. Jacô, tendo dela. Ver Gen. 30:1,2. " .
partido de Padã-Arã, «...chegou... são e salvo à Em sua luta com sua pr6pna irmã, Lia, além do
cidade de Siquêm, que está na terra de Canaã» (Gên. condenável ciúme que teve dela, também mostrou ser
33: 18). Ap6s o infeliz incidente entre Diná e o egoista em seu amor. pois, noite após noite, deitava-se
príncipe Siquém, filho do heveu Hamor (Gên. 34), com Jaeô, enquanto Lia ficava sozinha em sua tenda.
PO! ordem do Senhor, Jacô mudou-se para Betel (ver O ponto culminante dessa si~lo foi atinaido no
Gen. 35:1 ss). Foi em Betel que o Senhor mudou o caso das mandrágoras (ver acuna, em IV. &po8IJ
nome de Jacó, dizendo: clá não te chamarás Jacô, Favorita de Jac6, terceiro par'arafo).
porém Israel será o teu nome» (Gên, 35:10). E, então, Porém, a maior mácula no caráter de Raquel se deu
lemos: ..Partiram de BeteI e, havendo ainda pequena no caso dos terafins que furtou da casa de seu pai.
distancia para chegar a Efrata. deu à luz Raquel um Essa narrativa, que deixa transparecer a astúcia de
filho. cujo nascimento lhe foi a ela penoso» (Gên. Raquel, um defeito que, sem dúvida ela herdara da
35:16). A parteira ainda a encorajou. De fato, o famllia, é contada em Genesis 31:19-35. Mas, a
menino nasceu. Moribunda, Raquel chamou a caracteristica pior de Raq.uel DIo era propriamente o
criança de Benoni (no hebraico, ..filho de minha seu espirito ardiloso e, Sim, a sua tendência para a
tribulação»), mas Jac6 deu-lhe o nome de Benjamim idolatria. Os terafins (em nossa versão portuguesa,.
(no hebraico, ..filho de minha mão direita»), As «idolos do lar») eram ridiculamente pequenos,
Escrituras descrevem a morte de Raquel de modo aui porquanto ela os pêde esconder debaixo da sela de seu
generis, mas muito esclarecedor: «Ao sair-lhe a alma camelo. Isso significa que Dia havia, naqueles
(porque morreu)....» (Gên. 35:18). De fato, o hcmem é objetos, qualquer valor material.
a sua porção imaterial, composta de esplrito e alma.
O corpo fisico é apenas nosso veiculo animal, para objetos de veneraçAo, mas somente como aarantiaa de
vivermos neste mundo material. E a morte fisica que seus próprios filhos ficariam com a herança
consiste na separação entre a parte .material do lhe caberia da parte de Labio. Muitos estudiosos
=
Todavia, talvez ela DIo peDSaSle nos terafiDs como
556
RAQUEL - JlAS SHAMRA
dito que quem ficasse com os ..idolos do lar. também No livro de Rute (4: 11), Lia e Raquel são reputadas
ficava com a herança. Nesse caso, a ação de Raquel é como figuras ancestrais que .eãificaram a casa de
um tanto suavizada, e não podemos acusá-Ia de Israel». Isso disseram os anciãos de Israel, ao
idolatria. Seja como for, lac6 deixou entendido (sem aceitarem a moabita Rute' (vide), como parte
saber quem furtara os ídolos de seu tio, Labão) que o integrante do povo antigo de Deusl
culpado do furto era digno de morte...Não viva aquele Raquel é mencionada por nada menos de quarenta
com quem achares os teus deuses...• (Gên, 31:32). O e oito vezes nas páginas da Bíblia. Por quarenta e
resultado desse ato de furto, por parte de Raquel, não quatro vezes no livro de Gênesis. E, então, em Rute
nos é revelado. Mas sabemos que, não muito depois, 4: 11; I Sam. 10:2 (que apenas alude ao «sepulcro de
quando lac6 e seus familiares precisaram achegar-se Raquels); ler. 31:15 e Mat. 2:18.
mais perto do Senhor, foi necessârio que ele dissesse
aos seus familiares: «Lançai fora os deuses estranhos,
que-há no vosso meio, purificai-vos.... (Gên. 35:2). E RAQuEL, TOMULo DE
esses objetos acabaram enterrados .debaixo dó De acordo com Gên. 35:19,20. Jac6 erigiu uma
carvalho que está junto a Síquêm» (vs. 4). E ali coluna sobre o túmulo de Raquel, um marco que
ficaram, porquanto, ato continuo, Jacô e sua gente ainda existía no tempo de Samuel (I Sam. 10:2).
partiram para Betel. Para que serviram, portanto, os Muitos estudiosos pensam que a Biblia expõe duas
terafins furtados por Raquel? tradições divergentes, no tocante ao local do sepulcro.
Se n6s sabemos que somos meros pecadores, salvos Já se argumentou que nos trechos de Gên. 35:16; I
pela pura graça de Deus, e que continuamos muito Sam. 10:2 e Jer, 31:15, Efrata ficaria na fronteira
defeituosos até o último dia de nossa vida, certamente norte de Benjamim, cerca de dezesseis quilômetros ao
Jac6 compreendeu a mesma coisa. Assim, apesar de norte de Jerusalém, mas que, de acordo com Gên.
reconhecer os defeitos 6bvios de Raquel, nem por isso 35:19 e 48:7, ficaria perto de Belém, presumivelmen-
Iacô a amou menos. Bem pelo contrário, ao tomar te, ao sul de Jerusalém. A verdade, porém, é que
conhecimento da aproximação de Esaú, seu írmãc aqueles três versiculos não contradizem a afirmação
gêmeo. que vinha contra ele com quatrocentos clara de Gên. 35:19 e 48:7. O primeiro desses trechos
homens, lac6 dispôs a sua gente em grupos, um ap6s diz, literalmente: «havia ainda um trecho de terreno
outro, com alguma distancia entre cada grupo. Dessa até Efrata», dando a entender um local ao sul de
forma, se Esaú atacasse um dos bandos, talvez os Jerusalém. I Samuel 10:2 assevera que ficava
outros pudessem fugir. E lemos: .PÔS... a Raquel e localizado na fronteira de Benjamim. Isso pode
José por últimos. (Gên. 33:2). Isso não demonstrou referir-se à fronteira sul de Benjamim, imediatamente
um extremoso cuidado de I ac6 por Raquel e o único ao sul de Jerusalém (Jos, 15:8; 18:15-17), pois a
rebento deles, José? Sim,Jac6 amou Raquel até o fim! cidade mencionada em I Sam. 9, presumivelmente
VDI. 9mh'l _ . . . . . próxima da fronteira, não é identificada. Outrossim.
a expressão «junto ao sepulcro de Raquel» (I Sam,
EmJeremais 31:15,16, o profeta alude ao exUio das 10:2) não precisa ser pressionada, pois. de outra
dez tribos de Israel, a nação do norte, pelos assirios. sorte, as palavras «em Zelza», seriam supérfluas
Isso 0C0l"l'eU na época de Sabnaneser, rei da Assiria. (embora Zelza não possa ser identificada). Por outro
Ver também 11 Reis 17:20. O profeta alude à comoção lado, o local tradicional pode não ser autêntico, pois
e tristeza que esse cativeiro provocou, referindo-se, parece estar por demais ao sul da fronteira de
simb6lica e poeticamente a Raquel, como a Benjamim. Finalmente, a declaração em Jer. 31:15
antepassada maternal das tribos de Efraim e não fornece qualquer evidência de '1ue o túmulo de
Manassés, que, juntamente com outras tribos, foram Raquel ficava em Ramâ, a oito quilômetros ao norte
levadas para aquele exllio forçado. Lemos naquela de Jerusalém. O profeta pode ter evocado, em sublime
passagem de leremias: ..Assim diz o Senhor: Ouviu-se prosopopéia, Raquel a/lamentar-se por seus filhos em
um clamor em RamA, pranto e grande lamento; era Ramâ, ou pode ter previsto 'que os cativos de Judá e
Raquel, chorando por seus filhos, e inconsolável por BenjamiiJ:p. seriam levados a Ramã, apôs a queda de
causa deles, porque já não existem. Assim diz o Jerusalém, antes de serem levados para o exílio (Jer.
Senhor: Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas de 40:1), ou porque Ramá ficava em um lugar alto no
teus olhos; porque há recompensa para as tuas obras, território de Benjamim, de onde podia ser vista a
diz o Senhor, pois os teus filhos:voltarão da terra do desolação.
inimigo.. Portanto, essa predição tanto fala no castigo
de Israel quanto em S\la futura restauração. Ohl a Josefo e os talmudistas concordam que o túmulo de
entranhável miseric6rdia de Deusl E é em termos de Raquel ficava perto de Belém. Orlgenes, Eusébio e
restauração que o Espirito de Deus continuou a falar. Jerônimo também aceitavam o local. Posteriormente,
pela boca do profeta Jeremias, até o fim do trigésimo os peregrinos descreveram o túmulo como uma
primeiro capitulo do seu livro, e que o leitor faria bem pirâmide, formada por doze pedras. As cruzadas
em 'examinar. reconstruíram-no, erigindo um edificio quadrado,
com 7 m de lado. formado por quatro colunas
Quando chegamos ao Novo Testamento, porém, encimadas por arcos pontudos com 3,6 m de largura e
encontramos uma outra aplicação daquela mesma, 6,4 m de altura, tudo coroado por uma cúpula. Em
predição de Jeremias. Essa outra aplicação se 1788, os arcos foram preenchidos com paredes. Em
encontra em Mateus 2: 18, no caso da matança dos 1841, Sir Moses Montefiore obteve para os judeus a
inocentes, por determinação do iníquo rei Herodes. chave de Qubbet Rahil, adicionando um vestíbulo
Mateus informa-nos de que a matança dos meninos quadrado com um mihrab, para os islamitas.
de Belém e de «todos os seus arredores», foi
cumprimento do que fora dito "por intermédio do
profeta Jeremias». Nesse caso, Raquel representou RASSIIAMRA
todas as mies judias que perderam seus filhinhos, a Nome de UJ!l cêmoro na Siria. a antiga cidade de
fim de que Jesus, ainda menino, pudesse escapar com U garite, cerca de doze quilômetros ao norte de
vida da sanha assassina de um rei que não hesitou em Laodicêía e Mare, na costa marltima da Siria. Ali, a
matar meras criaDças, porquanto temia que ele, ou os partir de 1929, começaram a ser encontrados objetos
seus descendeD.te$ fossem ameaçados no trono pelo ar9ueol6gicos de imenso valor para o estudo da
Rei dos Judeusl religião fenicia e cananéia, inaugurando assim' uma
556
RASSIS - RAZÃO
nova era no estudo do A.T. Ver Ugarite, logoi spermatikoi se encontram nos -lüglll'CS mais
variados e, às vezes, surpreendentes. Os homens
gostam de limitar as atividades de Deus dentro de
RASSIS seus pobres sistemas, mas os IOgoi spermatikoi nlO
Um ancião de Jerusalém, muito considerado pelos conhecem qualquer limitação. Ver Mistério da
judeus em face de sua vida exemplar. Foi acusado Vontade de Deus.
perante o general sírio, Nicanor, como opositor do
helenismo, tendo cometido suicídio de maneira
sangrenta, preferindo isso a ser aprisionado (ver li RAZÃo
Macabeus 14:37-46). Ver o artigo geral sobre o RaeIoIIaImo. Ver.
também Ralo Da ReDalIo.
Esboço:
RATIONES SEMlNALES I. Definíção
Expressão latina que significa «razões seminais», ou 11. Idéias dos Filósofos
seja, aquelas forças básicas, não-materiais que põem
a criação material em ação, algo parecido com os UI. Razão na Religião
16goi spermátikoi, «sementes da razão», concebidos I. Definição
pelos gregos, que viam o Logos atuando e1h1udo~Na I. DeftDlçlo
filosofia de Boaventura, essas forças fazem a criação A_palavra portuguesa razIo vem do latim, ratlo,.
física ser o que ela é, trabalhando em cima das «estimativa», «avaliação... Em grego há três palavrás a
potencialidades da matéria. Deus é a fonte originária levar em conta, cujo sentido é equivalente ~r6ximo, e
tanto dessas forças quanto da matéria, sobre a qual que foram empregadas I pelos 'filósofos: phrónesis, i
N_
«múltipla personalidade», um estranho fenômeno que (por intermédio da mediunidade) e não o caso de um
não requer qualquer explicação como aquela que fala espirlto que nasceu por duas vezes.
sobre «outras vidas. à face da terra. ProblemU ED.oht... TeOria Coatrirla
A hipnose envolveria ainda diversas fraquezas, 1. Se um espírito que estivesse vagueando quisesse
considerada como um instrumento a ser usado em tais entrar em comunicação com os vivos, por qual razão
.casos, a saber:
ofereceria um esboço de sua vida passada (enquanto
e
1. fato bem conhecido que a pessoa hipnotizada habitava em um corpo fisico) mas nada diria sobre a
anela por agradar ao seu hipnotizador, sendo que sua existência atual?
poderia apresentar uma boa hist6ria de vida anterior 2. Por que tal espirito aparentemente não teria
exataniente com essa finalidade. E visto que a hipnose consciência de sua presente existência, mas usaria a
intensifica a capacidade criativa da mente, algumas
hist6rias muito fantásticas podem ser inventadas por sua grande oportunidade para recontar eventos
esse intermédio. passados, muitos dos quais são banais, afinal de
contas? Parece que qualquer espírito, que t:!vesse a
2. O participante, a fim de narrar uma boa hist6ria, oportunidade de aproveitar-se dessas ocasíões re-
vasculha mem6rias subconscientes, que ele tece para lativamente raras, haveria de querer comunicar algo
fornecer inúmeros detalhes sobre alegadas vidas de significativo, acerca do' que seria a vida do outro
passadas, em razão do que é capaz de falar de lado da existência, etc.
maneira convincente, conferindo às suas narrativas 3. Por que um espírito vagabundo teria qualquer
um tom de veracidade. motivo para provocar a identidade com outra
3: A hipnose não põe fim à tendência do individuo entidade? Por que ele não diria: «Vivi esta ou aquela
mentir descaradamente. Assim, a pessoa poderia vida, e essas coisas aconteceram, e quero que vocês
pensar consigo mesmo: «Ahl e se eu contasse para eles saibam dessas coísast» E por que iludiria à pessoa
que eu fui isto ou aquilo, em alguma vida anterior? O hipnotizada, levando-a a supor que ela é a
.velho desejo da autoglorificação não pode ser personagem que viveu a vida assim descrita?
dominado, nem mesmo com o auxilio da hipnose. 4. As comunicações mediúnicas não pertencem a
Contra essa alternativa, os defensores da idéia da esse naipe. Quando um suposto espírito humano se
reencarnação sentem-se capazes de retrucar: comunica, geralmente anela por identificar-se, nar-
Como é patente, alguns relatos sobre supostas vidas rando a sua hist6ria ou dando o seu conselho.
anteriores neste mundo são exatamente o que Todavia, não anseia por fazer o «médium. pensar que
sugerem. Muitas narrativas. que falam de alguma o espirito e o «médium. sejam uma s6 e a mesma
reencarnação, em algum tempo recente, e, conse- pessoa.
qüentemente, facilmente verificâveis, terminam por S. Seria possível (e, nesse caso, qual a freqüência da
mostrar-se puras fantasias, mesmo quando tais ocorrência?) que um espírito itinerante pudesse
narrativas são vazadas em excelente estilo literârio, substituir tio completamente o espírito da pessoa
rebrilhantes de impressionantes detalhes. Alguns hipnotizada que esta chegasse a falar sobre a vida de
desses relatos, embora totalmente convincentes, nada outrem como se tivesse sido a sua pr6pria vida? Penso
são senão um produto da faculdade inventiva do que tal ocorrência, mesmo que' assim pudesse
homem, plenamente liberada pela hipnose. acontecer, seria algo muito raro.
Tedavía, objeções como essas não conseguem 6. A minha opinião é que a explicação mediúnica
justificar aquelas outras narrativas que têm sido poderia explicar alguns casos de suposta reencarna-
comprovadas em todos os seus detalhes, conforme se ção (descobertos pela hipnose), mas também afirmo
ve nos diversos casos expostos neste artigo. Se certos que essa explicação é por demais 6bvia para justificar
eventos do passado realmente tiveram lugar, e se qualquer número apreciâvel de ínstâncías,
certos lugares e personagens realmente existiram, tais
coisas dificilmente poderiam ser produtos de uma c. A HIp.... PocIe PnduIr • MecIhmIdade
.,ente imaginativa que resolvesse usar o seu (envolvendo um fantasma)
subconsciente como fonte informativa. Alguns desses No artigo chamado - Pl'OJeçIo da Nqae,
casos envolvem um genuino retroconhecimento, e não estabeleci certa distinção entre o esptrito humano (o
meras fantasias. A questão que se impõe é: «Como é ser inteligente, a alma) e o fantasma (talvez vinculado
que essas pessoas foram capazes de detectar o ao corpo vital). O fantasma não é a entidade; antes, é
passado? As tentativas de explicação, acima, ditadas uma espécie de energia vital, semi-intelectual, que
pelo ceticismo, não fornecem qualquer resposta para pode projetar-se para fora mesmo quando uma pessoa
essa indagação. Meramente elimina alguns casos, ainda vive, a qual também pode libertar-se por
tachando-os de fan~- ocasião da morte flsica. O fantasm. tem... capacidade
600
REENCARNAÇÃO
de comunicar-se, mas através de vocAbulos muito hipnotizada) realmente existiu, e que realmente
limitados. Pode realizar algumas funções mecânicas; experimentou pelo menos algumas das coisas
porem, exibe not6ria debilidade mental. Nlo pode relatadas, seriam dignas da nossa consideração.
responder a perguntas difíceis, e chega a tropeçar até Suponhamos que estivêssemos investigando um
mesmo diante de pergu';ltas ficeis. Em suma, não se possível caso de reencamaçlo,. narrado sob ~pnose, e
trata de uma personalidade humana. Trata-se de que o mesmo tenha sido devidamente avenguado: a
mero fragmento do complexo do individuo falecido. pessoa mencionada teria vivido uma vez; certos
Com a passagem do tempo, aparentemente essa detalhes de sua vida tem sido confirmados. No
energia dissipa-se e desaparece. entanto, aquela pessoa, de fato, nlo 6 a mesma que
Mas, poderia um fantasma, vasculhando o agora está sob hipnose. Na verdade, a pes$08.
passado, e observando uma pessoa hipnotizada, vir a hipnotiZada não pode ser identificada com o e8plrito,
identificar-se com ela de al$}lma maneira, fornecen- que agora faz a comunicação, Em outras palavras, o
do-lhe um esboço de uma viàa anterior? Suponhamos espírito estaria mentindo para n6s. Ou então, trata-se
que isso pudesse ocorrer. Nessa eventualidade, de um espirito de menor inteligancia e poder que a
poderíamos encontrar uma explicação para certos pessoa hipnotizada, ou mesmo um espirito de maior
casos de alegada reencarnação, Todavia, 6 impossível inteligência e poder que ela. Poderia ser um espirito
acreditarmos que isso possa acontecer com muita bom ou um espirito mau, ou então se pareceria um
freqüência. O fantasma, um mero fragmento débil pouco mais conosco mesmos, que somos bons e maus.
mental de uma personalidade humana, dificilmente Se porventura tratar-se de um espirito bom, nlo
poderia dominar um espírito humano, e isso com penso que queria provar intencionalmente a veracida-
freqüência, neutralizando-o a ponto de provocar uma de da reencarnação para n6s, se a reencarnaçlo não
e
troca de identidade. possível que certas instâncias corresponde à realidade. Por outro lado, se tal espirito
envolvam precisamente isso, sobretudo aquelas que se é em parte bom e em parte mau, e portanto, capaz de
caracterizam pela trivialidade. Porém, muitos exem- nos enganar, por qual razla faria isso? E, finalmente,
pios de suposta reencarnação envolvem narrativas se esse espírito é um ser mau, por que haveria de
informativas e altamente complicadas. Acresça-se que querer que creiamos que acabamos de descobrir uma
algumas dessas narrativas revestem-se de elevada instância de reencarnaçla quando, na realidade,
qualidade literária, ultrapassando em muito o que se nada descobrimos?
poderia esperar de um mero fantasma. s.....
d, A mpDOU Pode ProduzIr • Meclbmldade 1. Alguns espiritos, de inteligência e poder
IDcoueiente (envolvendo um espirito nio-huma- inferiores aos do espirito Ilumano, podem perpetrar
no) brincadeiras acerca de condições da existência nos
Penso que é razoável a suposição de que o mundo dois mundos. Essas brincadeiras, apesar de falsas e
espiritual é tão complexo quanto o mundo fisico. não terem qualquer prop6sito, não teriam a intençia
Assim sendo, sem dúvida existem muitas variedades precípua de iludir. Seria uma brincadeira, pura e
de espiritos não-humanos, alguns deles menos simples. Isso poderia explicar algumas vidas passa-
inteligentes (e menos poderosos) e outros mais das, extremamente triviais, onde pouco é dito que seja
inteligentes (e mais poderosos) que o espirito humano. importante, e de onde nada se pode aprender.. Os
A teologia cristã sempre assumiu a posição de que macacos do mundo dos espiritos estio brincando,
essa avaliação 6 certa-tendo-nos conferido dois nada mais, nada menos. Entretanto, o número dessas
vocábulos bem gerais para designarem tais seres: ocorrências deve ser bem pequeno, e certas narrativas
anjos e demônios. Sem dúvida, essa classificação é um sobre supostas vidas passadas não se coadunam bem
tanto estreita, porquanto o vocâbulo «anjos- denota com essa idéia.
seres impecáveis, espirituais, poderosos e altamente 2. Quando são narradas hist6rias impressionantes e
inteligentes, ao passo que «demônios- denota seres de caráter criativo, as quais são subseqilentemente
pecaminosos, extremamente malignos, poderosos e confirmadas, se porventura são narradas por espiritos
altamente inteligentes. As evidências de que dispomos bons, então poderiamos supor que eles o fazem a fim
mostram que existem muitos seres espirituais de acreditarmos na realidade da reencarnação. Eles
(invisíveis, mas reais) que não se ajUstam. a nenhuma poderiam usar a mente subconsciente da pessoa
dessas duas categorias. Existem, por exemplo, os hipnotizada, se realmente se trata do espirito da
«elementares.., que são menos inteligentes e poderosos pessoa que estâ sendo descrita, e que teria vivido hi
que o espírito humano. Por isso mesmo, esses são muito tempo. Mediante tal manipulação, poderia
como-os macacos-do mundo dos espíritos. Existem fazer uma revelação mais ou menos como: «Essa
outros espiritos mais ou menos da estatura do espírito pessoa já viveu antes, e estes fatos talvez tenham
humano. E existem ainda outros fantasticamente alguma significaçio para você-, Por outra parte, se o
mais elevados que o espírito humano. espírito envolvido li maligno, nesse caso poderia estar
Em conseqüência disso, sob o titulo dado acima, perpetrando uma fraude proposital. E esse espirito
estamos especulando que o contato com toda essa inclinar-se-ia por dizer: «A reencarnação li um fato, e
grande complexidade de espíritos poderia ser a pessoa que você hipnotizou foi tal ou qual pessoa.
efetuado através de uma pessoa hipnotizada. E essa Por conseguinte, creia na reencarnaçio e viva a sua
pessoa tomar-se-ia, temporariamente (embora tam- vida à sombra dessa verdade». Os espiritos malignos
bém inconscientemente) um «médium». A teoria é supostamente fariam isso a fim de desviarem as
interessante, porquanto a pr6pria complexidade do nossas mentes da verdade, especificamente, a verdade
mundo espiritual (com as suas inúmeras variedades' que cada individuo passa por uma única vida fisica, a
de espiritos) poderia explicar as variações nos «tipos de única de que cada qual dispõe para a redençia do seu
vida.. supostamente vividos, bem como a variedade na espírito, E aqueles que morreram sem redençio
energia mental e na criatividade manifestada no esperam o juizo, imediatamente ap6s a morte fisica.
relato dessas tais vidas. Entretanto, muitas de tais' Escondendo dos homens essas verdades, e iludindo-os
instâncias ficariam eliminadas da investigação cienti- com uma doutrina falsa, eles estariam contribuindo
fica, pelo simples fato de que somente naquelas para o programa deles, que visa à destruiçlo dos
oportunidades que os pesquisadores descobrissem que espíritos humanos.
esta ou aquela pessoa (nomeada pela ~SQa, Essa espécie de explicaçlo é bas~te popular (de
601
REENCARNAÇAO
uma fo~a ou de outra) entre os opositores religiosos sensorial, são capazes de -ver. acontecimentos que
do conceito dareencarnação, ainda jazem no futuro. Os estudos feitos sobre os
Q.-o F..-. _ ~ ObIenaçilel sonhos revelam- que todas as pessoas. até certo ponto,
1: Não é ~o hnpn-Iyel que uma pessoa venha a podem prever o futuro. ~alvez até seja verdade,
ser influencíada pelos demêníos, e mesmo que venha conforme ~guns. têm sugerido, que todos os eventos
a tomar-se endemoninhada' todavia não é algo de de uma VIda sejam previstos pelos sonhos de uma
esperar que suceda com freqdência. ' pessoa, posto que parte dessas previsões seja dada sob
2. Outras formas de provas em prol da idéia da forma simb6lica, e, portanto, não seja reconhecida
reencarnação. como a mem6ria espontânea os COII\O tal. Conseqüentemente. se as pessoas são
sonhos, etc. (jâ aludidas) não envolvem, todas 'elas, capazes de prev~~_ o futuro, por Q}lal razão algumas
influência ou possessão demoníaca; e, assim sendo, delas n~ podenam ver o p~~ã01 Por que motivo
apesar de que alguns casos de suposta reencainaçlo alguns mdividuos ~lo possumam acentuadas facul-
poderiam ser explicados em termos de influência dades de retrocogníção, se hâ quem tenha acentuadas
demoníaca, tal explicação dificilmente dá solução a faculdades de precogmção?
todos os problemas envolvidos, conforme alguns Conhecemos pessoas que possuem tais poderes.
gostam de fazer. Mas essa explicação simplista é um Algumas podem captar o passado, e outras podem
insu:umento conveniente, que pode ser usado ca~~ o futuro.. Porem, tal. capacidade seria
praticamente em todos os casos. Todavia. porventura ~u~clente para explicar as narrativas que envolvem a
lSSO aumenta o nosso cabedal de conhecimento, ou Idéia da rencamação? Não me parece impossível que
soluciona os problemas que investigamos? I;>ificilmen- a. mente de alguém (uma vez liberada, por meio da
te. Outrossim, é comum que as pessoas religiosas hipnose, mas em outras pessoas, durante os sonhos. e,
tentem explicar problemas dificeis, dizendo: «Isso amda em outras, mesmo estando acordadas) possa
vem do diabols Tal abordagem, o mais que consegue é captar o passado de outrem. Se a experiência for
evitar a questão, não se tratando de um esforço sério suficientemente vivida, a J?e5S0~ poderia .supor
para a descoberta e o conhecimento da verdade. (mo~ente se Jâ tem a predíeposíçãc de aceitar o
Nesses casos. como é que a questão estâ sendo conceito da reencarnação) que estâ captando informa-
~tadar Sucede que tal resposta parte do pressuposto ções a respeit<! ~ alguma vida passada, que ela
de que Jâ sabemos qual seja a resposta para o proble- mesma tenha VIVIdo.
ma e que qualquer investigação real é supérflua. Contra a possibilidade de que tais explicações
O' . - possam justificar a realidade das mem6rias de vidas
s flem6nJos enganam os homens a fim de fazê-los passadas, em qualquer número apreciável, deveria-
acreditar na reencarnaç~o? Ver um tratamento mos fazer as seguintes observações'
detalhado sobre esta possíbílidade ao fim do artigo . '
sob os titulo. Desenvolvendo a Sugestão de Joe ] Todo C?- .co~ecImen~o. que temos. a~rca dos
Keeton ponto 6. poderes esptrttuaís especiais, parece. indicar que
, certos relatos que envolvem a retrocogníção, cobrindo
3. Quanto aos espíritos não-demoníacos, mas que presumíveis vidas anteriores, ultrapassam considera-
também não 510 humanos, e que porventura estejam velmente aquilo que se poderia esperar por parte'
envolvidos em todo esse drama, digo que esses 56 dessa faculdade. Por exemplo, consideremos aqueles
poderiam explicar os casos de narrativas banais. Não casos nos quais alguém fala em um idioma
penso que espíritos totalmente bons, ou esplrltos mais estrangeiro, em uma forma arcaíca' do mesmo. Certa
ou menos do nosso nivel-bons e maus-e-haveriam de mulher de Lancashire, na Inglaterra, estando sob
desperdiçar o seu tempo criando o mito da hipnose, falou fluentemente uma forma arcaica do
reencarnação. francês (sêc. XVIII), embora jamais tivesse estudado
e. In8ab1a de &pIdt. que NIo Eayolve. essa lingua. Algumas pessoas, mediante poderosa
BIP- força telepâtíca, têm sido capazes de falar em idiomas
Quanto a esse particular, entram em cena as.. corre~tes. Entretanto, poderia ~ma força espiri~
mesmas considerações apresentadas acima com o especial retroceder no tempo mais de um ~éculo, a fim
único reparo que tal influência poderia b,.. lugar de captar uma forma. de I~a q~e Já. se tomou
através da telepatia mental, durante as horas de obsoleta? A ~a aqui menClonada JamaIS estudara
vigilia; ou então durante as horas de sono. por meio qualquer vanedade do frances, quanto menos ~ma
de sonhos. Tudo quanto jâ foi dito, pr6 ou contra, sob forma pertence~te ao s~o XVIII! El~ aluc;liu à
o ponto d, também tem aplicação a este caso. morte de Mana Anto~eta como. ~ ISSO tivesse
Tão-somente temos removido a hipnose como o acaba,!o de acontecer, e disse que resídía em uma rua
modus operanâi, de Pans chamada Rue de St. Píerre, perto da catedr~
P .. iri . de Notre Dame, Atualmente, essa rua não mais
osso ~agmar um esp to errante,. per~do, existe. mas as investigações desvendaram o fato de
per;Plexo. vmculando-se 8; um outro espiri~ (amda que essa rua jâ existiu, perto da vizinhança
~Idente e~ um corpo ~I~), procurando VIver ~a identificada, cerca de cento e setenta anos passados,
VIda ~tenor naquele. mdividuo: PeDS? que ISSO (Informação extralda do livro de Allen Spraggett, The
podena acontecer: E ISSO poderia explicar alguJ!s Case for lmortlllitY., pâg. 139).
casos de mem6ria espontinea, ou de mem6na . .
constante, onde são revelados muitos detalhes acerca 2. Parece provável que a mem6ria sobre o passado,
de alguma vida anterior. que realmente fora vivida. devido a uma capacidade espiritual especial, ocorre
Nessa conjuntura, estaríamos frente a frente com uma ~m acessos esporâdícos, envolvendo algumas poucas
alma pouco desenvolvida, que se encontra em mformações esparsas, porquanto também é assim que
si~ação similar à de uma criança perdida. e
POIS, que Illguns casos de mem6ria sobre alegadas
possivel, no~a mem6ria fun,?ona na vida diária. Mas, por qual
motivo o conhecimento sobre o passado, ou
vidas anteriores' envolvam espiritos assim desnortea- capacidade retrocognitiva, envolveria algo diferente (c,
dos. muito mais pronunciado)! da mem6ria do dia a dia?
f ~ • ~ ......._. <?s relatos sobre reencarnaç~ envolvem lembranças
• ,..:eepç D ..-. . ._ _ SImples acerca de alguma 'VIda passada da mesma
e inegável_'lue ~rtos ind!vi~uos, talvez por meio ~ forma que todos n6s nos lembramos de estreitas faixas
uma extraordinária capacidade de percepção extra- do nosso pr6prio passado. A mem6ria simples é -algo
602:>
REENCARNAÇÃO
diferente dos lampejos de discernimento que podemos naquela área, ou em regiões próximas. E ela poderi.
obter por intermédio da percepção extra-sensorial. supor, devido a esse estranho fenameno, que já vivera
3. A maioria das pessoas dotadas dessa capacidade em uma vida anterior, naquela mesma reailo.
retrocognitiva especial, não demonstra possuir outras Todavia, talvez a mera psicometria estivesse em açlo.
capacidades psíquicas 'especíaís, como a telepatia, a 3. :e Impossível explicarmos, porêm, todas as
clarividência, etc., em razão do que é para se duvidar narrativas de possiveis reencarnações mediate essa
que o que elas estâo exercendo seja, realmente, um teoria, mesmo quando estio envofvidas essas conside-
aspecto de sunernercepcão extra-sensorial rações topográficas. Alguém poderia obter conheci-
4. Ao outro lado, é possivel que a retrocognição, em mento de um idioma por esse meio? Poderia uma
alguns casos, possa ser muito mais poderosa do que pessoa, psicometricamente sensivel, ter implantada
antecipamos, e poderia explicar até os casos mais em sua memória a língua falada em uma regilo nunca
dramáticos da reencarnaçio aparente. Investigue. antes visitada (mas .Que é relativamente próxima,
a_ A Explleaçlo PtIeo-'tdea (contato com campos quanto ao espaço)? - Ora, alauns casos envolvem
de memória e emanações provenientes de objetos) precisamente esse fenameno. Penso que isso seria
Em que consiste a psicometria? :e a capacidade que pedir demais da psicometria.
algumas pessoas tem (e que, mui provavelmente, a 4. Acresça-se que há muitos relatos sobre
maioria das pessoas poderia desenvolver até certo reencarnações que não envolvem qualquer proximi-
ponto) de receber, intuitivamente, informações sobre dade geográfica. A vida assim «captada» fora vivida
coisas que aconteceram em determinadas áreas, em local muito distante, não tendo sido intufda
sobretudo da parte de objetos fisicos que aparente- mediante alguma visita l re~ onde supostamente
mente absorveram (sem que saibamos dizer de que aquela vida tivera lugar. Nesses casos, o mero fator da
maneira) energias produzidas pelos acontecimentos distância elimina a psíeometría como uma explicaçlo.
ocorridos nas proximidades. Supomos que os Talvez a clarividência à longa dístâncía poderia ter
acontecimentos emanam energia para o ar dos locais descoberto tal vida, entrando em contato com algum
onde ocorreram, e que a mesma energia é capaz de ser complexo de memória; mas, ao assim postularmos, já
retida pelos objetos. Se a morte de uma pessoa deixa estamos falando novamente da teoria da percepçlo
um campo de memória na área onde ela viveu, então extra-sensorial, que já foi ventilada e avaliada.
tal energia pode ser detectada por alguém dotado de Naturalmente, a psicometria é uma espécie de
sensibilidade psicométrica. Seja como for, o fato é que percepção extra-sensorial, mas que requer o toque ou
certas pessoas podem dizer'coisas diversas acerca a presença do individuo sensivel para poder
.de outras vidas, meramente segurando objetos que funcionar.
estas outras costumavam usar. Alguma espécie de
energia, que emana de tais objetos, capacitam-nas a h. Mem6rla ADeeItnI e CMI RadaI
saberem, intuitivamente (ou, algumas vezes, através Não suponho que foi Carl Jung quem inventou o
de quadros mentais) certas coisas sobre seus com..eeito; mas o seu nome está intrinsecamente
proprietários, como a sua personalidade, caráter, associado ao mesmo, porquanto fazia parte importan-
caracteristicas, eventos passados, e mesmo eventos te da sua psicologia. Em seu livro, O Homem
futuros que envolveram os donos desses objetos. Moderno em Busca de uma Alma, ele asseverou: «A
Certas áreas geográficas aparentemente retêm (sob minha mente inconsciente estende-se para muito além.
a forma de alguma energia misteriosa) eventos que ali deste meio ambiente, retrocedendo no tempo... Tal
tiveram lugar. Alguns pesquisadores supõem que, como um homem traz todo o desenvolvimento da
fina1mente, seremos capazes de fotografar essas humanidade em seu próprio organismo... guelras em
emanações de energia, e, desse modo, poderio ser seu pescoço, derivadas de instâncias que retrocedem
registrados eventos do passado emocionalmente até os peixes ...assim também cada individuo traz
carregados. De qualquer forma, o fato é que a estampada a história inteira do mundo em sua mente
psicometria é uma realidade. Entretanto, porventura subconscientes. V ários ~uisadores têm aventado a
essa capacidade poderia explicar as narrativas sobre suposição de que a memória é transmitida por meio
reencarnações, ficando assim eliminada a nossa dos genes, em razão do que cada nascituro teria (de
explicação de que o fenômeno depende da retrocogni- forma latente ou inconsciente) a memória de seus
çlo? pais, de seus avós, de seus bisavós, de seus
ancestrais, afinal. Se nos tomássemos radicais quanto
OJ.enaçlel à questão, acompanhando bem de perto a idéia de
1. Aqueles casos de supostas reencarnações que Jung, poderiamos afirmar que cada ser humano tem a
envolvem a lembrança repentina de eventos particula- história inteira da humanidade em sua memória.
res, em uma área geogrâfica especifica, poderiam ser Parece que Jung conseguiu demonstrar adequada-
explicados mediante a teoria psicométrica. Ela mente que o homem retém antigos arquétipos
funcionaria como segue: uma pessoa, psicometrica- psicológicos gravados na memória, e que nlo se pode
mente sensivel (de forma consciente ou inconsciente) explicar isso com base em sua presente vida e contatos
ao visitar um local qualquer, poderia captar (através sociais.
de sua habilidade especial) o conhecimento de
acontecimentos que transpiraram naquelas circunvi- A ciência j6 provou a sobejo que os aniináis
zinhanças. O reviver do passado, dessa maneira inferiores retêm, pelos menos, as habilidades primá-
misteriosa, poderia levar tal pessoa a pensar que já rias aprendidas pelos seus ancestrais, o que, suponho
estivera ali pessoalmente, quando esses eventos eu, é uma forma de memória. Ora, isso poderia ser
ocorreram, e, portanto, que ela mesma tivera uma transmitido através dos genes ou por meio de
vida anterior, no local. Todavia, o que talvez esteja moléculas de memória. Os vermes que tenham
acontecendo, em um caso assim, é que o individuo aprendido a reagir à luz, ao calor, etc., uma vez
esteja captando as emanações de en~a do passado, mortos e pulverizados, e servidos como alimento a'
causadas pelos acontecimentos que ali tiveram lugar. sucessivas gerações de vermes, levam esses novos
vermes a exibirem aquelas mesmas caracterlsticas.
2. Por igual modo, uma pessoa dotada de Teriam estes últimos absorvido as molku1as de
sensibilidade psicométrica, que vivesse em uma cérta memória. em seu sistema, atra~ da digest:Io?
área, poderia captar eventos passados ocorridos Continua havendo muitos mistérioS.
608
REENCARNAÇÃO
c.......... &te e-o pesquisas têm mostrado que ele não se encontra entre
O tenente-coronel Charles E. Melchar. que servia os meus antepassados. NIo obstante. essa pessoa
no quartel-general da Terceira Força Aérea Norte- existiu. e realmente ocorreram muitas das coisas das
Americana. quando visitava o Pais de Gales p~S()u quais me recordo. Pelo que me tem sido dado saber.
por virias experíêncías que poderiam ser classificadas penso que eu sou aquela pessoa. em uma vida
como místicas, Ele reconheceu vârios ediflcios antigos. anterior». Todavia. eis que um outro homem retruca:
castelos. igrejas. locais, etc. Entretanto. tudo quanto «Contemplemos as coisas do seguinte ingulo: devido
ele foi capaz de reconhecer tinha mais de cem anos de ao seu relacionamento com a humanidade em geral,
antiguidade. Coisa alguma mais recente do que isso devido à mem6ria transmitida através dos genes,
despertava nele qualquer fagulha de mem6ria. No embora você não descenda do homem que acaba de
caso de alguns ediftcios. ele foi capaz de descrever o descrever. você conseguiu reter a memória dele. de
seu interior com toda a precisão, mesmo sem entrar alguma maneira misteriosa». Qual alternativa soa
neles. A sua capacidade continuou até que ele como a mais provável? Ou seria mais provável ainda
achou-se a uma distincia de cerca de' quarenta e oito alguma outra explicaçlo (tal como aquelas expostas
quílômetros. Cessou quando ele ultrapassou esta acima)?
linha invisível, tão abruptamente quanto começara. Nem sempre a verdade segue a alternativa
Ele não acreditava na reencarnação, mas não há que aparentemente mais provável. e justamente por isso
duvidar que esse episódio poderia ser melhor que o debate deve continuar.
explicado por meio desse conceito. 1e , A Teoria ela CombIDaçaD de F. . . .
Tendo voltado aos Estados Unidos da América. em .Apesar de que nenhuma teoria alternativa seja
agosto de 1965. movido pela curiosidade ele examinou capaz· de explicar todos os casos de suposta
a sua árvore geneal~ca. Descobriu que o seu tetravô reencarnação, todas essas alternativas, conjuntamen-
fora um mineiro gales de nome Alexander Priee, que te. poderiam explicar todos os epis6dios. ficando
vivera em Pontypool, perto de Abersychan, Pais de assim eliminada a necessidade de apelarmos para a
Gales. Mas a sua estranha experiência não terminou crença na reencarnação, a fim de explicarmos
depois que ele deixou o Pais de Gales. Algum tempo experiências de retrocogniçlo. Dessa maneira. pode-
depois começou a usar espontaneamente palavras rlamos desfechar um tiro mortal de carabina em
galesas. uma Ungua que ele jamais estudara ou usara. numerosos e variegados epis6dios de alegadas
E também descobriu que podia ler com facilidade reencarnações, e. presumivelmente. poderlamos atin-
obras literârias em galês, antes desconhecidas por ele, gir cada caso em particular. Cada chumbinho
como poemas. contos épicos, etc.• sem nunca havê-Ias disparado seria uma alternativa para a teoria da
estudado. Também começou a usar sentenças com reencarnação,
estruturas gramaticais tipicamente celtas. de muitos Aqueles que acreditam na reencarnação talvez até
séculos passados. e não a verslo contemporânea de concordem com esse método do tiro de carabina,
galês. Tudo isso soa como as melhores narrativas contanto que. entre os chumbinhos, estivesse incluido
sobre reencarnação. Mas a grande questão é: o um chumbínho intitulado «reencarnacêo». Poderia-
coronel Melchar obteve todo aquele conhecimento . mos ir eliminando muitas dessas histórias mediante
porque trazia os genes de seu tetravê, transmitidos no explicações alternativas. sem termos de aceitar o
decurso de muitas gerações? Ou ele seria, de fato. o conceito da reencarnaçló; e essas alternativas
seu próprio tetrav8 (aquela mesma entidade) e que poderiam fornecer-nos as respostas mais provâveís,
agora estava vivendo de novo? (Informação, Fale. Sem embargo. ao assim fazermos, poderlamos estar
dez. de 1969, p. 69 e ss} fugindo da questão central. Pois. recusando-nos a
O......aça. perceber a lógica e a força da reencarnaçãc, como
1. Apesar de nlo queremos tirar o crédito que cabe explicaçlo para esses fenêmenos, apelamos para
à memória ancestral. uma experiência- como aquela outras explicações. por mais improváveis que elas
que acabamos de relatar poderia ser explicada dessa sejam. no tocante a casos especlficos. Assim sendo,
maneira? Poderiamos entender que a experíêncía do poderiamos estar perdendo a verdade de vista. em vez
«déjà VU» (a sensação de que -já vi isto antess) de a estarmos capturando.
origina-se dessa forma de memória. Ocasionalmente Tenho exposto motivos fortes para a crença na idéia
sentimos uma vaga sensaçãc, ou talvez uma sensação da reencarnação, bem como muitas alternativas
perfeitamente distinta, que já vimos certas regiões ou possiveis que também poderiam explicar os estranhos
coisas. em alguma ocasião passada. Porém. essa episódios que têm sido historiados. Que o leitor
espécie de memória seria capaz de ensinar-nos todo empregue o seu próprio juizo aquilatador. Nlo
um idioma, além do conhecimento pormenorizado de dispomos de qualquer meio seguro que nos permita
coisas vividas há um século ou mesmo mais? Penso afirmar, com certeza absoluta. que a reencarneção
que isso seria sobrecarregar em demasia a idéia da faz parte da experiência humana em geral. Por outra
memória ancestral. pois se trata de algo por demais parte. exceto, através de declarações dogmátictlS. nlo
detalhado. Dor demais exato. hâ como essa possibilidade possa ser negada. A
2. Há grande.J mistérios. A genética e a memória aceitaçlo da reencarnação, como uma experiencia
racial poderiam ser tio poderosas que penetram nos humana geral. requer certo ato de fé. Em certos
tempos passados mais remotos da raça, entregando casos, porém, as evidências confirmatórias também
para um homem moderno a mem6ria e as slo tio patentes que, não"~itá-Ia. igualmente requer
capacidades de uma pessoa que morreu há muitos um ato de fé. E outro tanto sucede no caso do próprio
séculos. Se isto for o caso. nosso conhecimento da conceito da sobrevivencia da alma. com a única
natureza humana e como ela é transmitida atravês dos exceção de que. nesse caso. há uma maior variedade
séculO$ ainda esflo na sua infância.. de evidências. do que no caso da reencarnaçlo.
Portanto, do ponto de vista cientifico•. a crença na
Coudde. . . . &to sobrevivência da alma. diante da morte biológica. é
Diz certo homem: - -Lembro-me da vida de certá consubstanciada de uma forma bem mais convineen-
pessoa que viveu há cento e cinqüenta anos passados. te. Contudo. a taxa de probabilidades que precisamos
Ela era assim ou assado. viveu neste ou naquele lugar! atribuir à idéia da reencarnação não pode ser
e os seus parentes foram estes e aqueles. MinhaS desp~zada por quem quer que realmente esteja à cata
604
REENCARNAÇÃO
da verdade, e não meramente querendo consolo suficiente para remir a alma, e exerce imensa
mental, através de um credo que nem ao menos paciência. Ele sabe que somos apenas p6. E aplica os
examinou. seus argumentos e pressões. Deus é quem conduz a
Seja como for, tenho exposto as evidencias a alma durante todo o trajeto. NIo hâ alma que fique
respeito da reencarnação somente como uma das destituida de uma ampla graça. Deus nio é
maneiras pelas quais tentamos provar a validade da mesquinho. :eimpossivel que uma alma eterna tenha
crença na sobrevivência da alma diante da morte de ser redimida no espaço de uma única vida terrena.
fisica. A própria revelação bíblica, como também o Isso é uma visio miope sobre ó destino humano,
dogma religioso, poderiam ser empregados em favor Apesar de que seria perfeitamente justo Deus
de uma reencarnação limitada, isto é, que ela pode condenar aqueles que nlo tivessem recebido uma
ocorrer .e efetivamente ocorre no caso de certos ampla oportunidade, o fato é que ele nio aplica a
indivíduos, por motivos especiais. Se assim realmente justiça nua. Os caminhos de Deus operam lentamen-
sucede, mesmo que a reencarnação não faça parte da te, mas são inexorâveis e via até o fim da caminhada,
experiência humana em geral, então esse conceito prenhes de amor e misericórdia. Nio ~ possi\rel que o
toma-se uma maneira legítima.de defendermos a tese destino de uma alma eterna possa ser determinada
deste artigo: existem razões cientificas para acreditar- dentro dos estreitos limites da existência em uma
mos que a morte não mata uma entidade humana. única e breve vida fisica.
6. A ~. do staaUleado da Reeaamaç'lo e. Apesar de que alguns referem-se a uma justiça
a. A ídêía da reencarnaçlo é uma tentativa de se ex- divina que esmaga, elimina e queima, os defensores
por um ponto de vista mais razoável sobre. ortaem e o da idéia da reencarnação falam sobre uma justiça
dama ......o da alma. A religião, na maioria de suas divina que espera. convence e restaura até as almas
expressões, assevera: -Vivemos ap6s a morte fisica•. A mais obstinadas. Deus jamais desiste, e nunca aceita
idéia da reencarnação concorda com isso, mas afirma um -nlo,. como resposta. A idéia de que só hA uma
que essa é uma perspectiva por demais estreita das breve hora de oportunidade, e de que se deixarmos de
coisas. E aqueles que crêem na reencarnação tirar proveito dela como convém, então estamos
acrescentam: cCada individuo jA viveu antes da sua eternamente perdidos, é uma idéia .desesperadora-
atual vida no corpo. Todos vêm de longe. A queda do mente inadequada. Ela nada soluciona, nada satisfaz.
homem foi muito grande: a jornada de volta é longa. Não pode mesmo ser verdadeira. Antes, a oportuni-
Todavia, as coisas não tem sido muito mâs, Você tem dade de redenção começou desde tempos remotos, por
sido capaz de chegar até este ponto. A vit6ria espera-o ocasião da criação da alma, em um passado tão
um pouco mais à frente. Não fique desencorajado. anterior ao nascimento fisico que a nossa mente se
Deus tem paciência, e você dispõe de tempo•. estonteia. E a oportunidade persegue o homem
b. A reencarnação tenta solucionar problemas muitas e muitas vezes, através de nascimentos ftsicos.
diflceis, como aqueles sobre as «razões» do mal e do Como jâ dissemos, Deus nio é parcimonioso quanto a
solrimento. Ela também representa uma declaração isso. Ele não promove uma solução instantinea para o
forte e exigente da lei da colheita segundo a problema da queda do homem no pecado. Mas há um
semeadura. Aquilo que os homens sofrem, sofrem-no drama sagrado da alma que retrocede no tempo muito
porque o merecem. No Sofrimento hâ razões especiais mais do que a nossa mente é passivel de imaginar.
e exatas. Coisa alguma é abandonada ao sabor do Essa oportunidade prossegue em nosso estado
acaso. A razão e o designio imperam sobre as coisas. presente, buscando convencer-nos. Prolonga-se futu-
As lições são difíceis e muito requerem de nós, mas as ro adentro. O ato remidor de Deus é tio vasto quanto
recompensas para aqueles que as aprendem slo o seuamor, P. tio eficaz quanto o seu poder!
grandes. Cada um de n6s vive a encontrar-se consigo f. A reencarnação, se verdadeira, não é um
mesmo novamente. O que é que você tem padecido? principio absoluto. Os homens não existem somente
O que é que você ainda tem para experimentar? Quais para que vivam e tornem a viver, indefinidas vezes,
beneficios existem em reserva para você? Quais numa esfera fisica. A reencarnação, se verdadei,.",
habilidades especiais você possui? Quais deficiências e
não é nosso destino. apenas um dos graus da escada
e fraquezas? Todas essas coisas você tem causado ascendente.
para você mesmo, a menos que a Providencia Divina,
inteiramente à parte do que você ~ ou tenha feito, -1~ Teatati.... de R.eeoadIaçIo . . . . . a-e.ma.
forneça situações de aprendizado. Normalmente, çio •• TeoIoaIa Cdd
entretanto, como regra geral, vivemos sempre a Muitas pessoas, deixan~se orientar por crenças
reencontrar-nos. cristãs, julgam que a idéia da reencarnaçlo acha-se
c. A reencarnaçlo nio consiste só em pagar e em conflito insolúvel com a doutrina neotestamenti-
receber, de acordo com o que cada qual tiver feito ou ria da missi.o de Cristo•.Devido l confiança que ~
tiver sido. Mas ela também é uma escola. Envolve a na sua orientação cristã, rejeitam sem delongas
busca pela perfeição, Não obstante, a reencarnaçlo qualquer possibilidade da reencarnação exprimir
não é uma das escolas superiores, visto que este plano alguma verdade. e posslvel que, mesmo assim,
terrestre não é um dos grandes trampolins que nos aceitem a idéia de uma reencarnaçlo limitada,
reconduzem a Deus. De fato. a reencarnação supondo que essa poderia ser a experi8ncia de alguns
assemelha-se mais a uma escola primAria. Uma vez poucos individuos, incumbidos rde desempenhar
que o homem se forme nela, há muitas outras escolas alguma rnissio· especial. Essa pequena dose de
superiores à sua espera. Contudo, o que venha a reencarnação, visto nlo afetar a destino geral da
suceder nas vidas envolvidas em um corpo fisico, serve humanidade, ainda de conformidade com essas
de um dos fatores determinantes do avanço da alma. pessoas, não seria prejudicial ao ponto de vista
d, A reencarnação não equivale à redenção. neotestamentArio da redenção. Hâ muitos evanPJicos
Realmente, a alma remida liberta-se dos ciclos que aceitam uma minúscula parcela da reencarnaçlo,
terrenos. Entretanto, os renascimentos provêm ampla mas que não podem tolerâ-la em doses mais
oportunidade para a redenção, porque, atrav& deles, avantajadas.
nenhuma alma continua desculpável. Assim sendo, a Mas existem aqueles outros (embora em exfsuo
reencarnação seria uma das maneiras pelas quais número) que se consideram-cristlos sinceros, e que
Deus trata com os homens. Deus dispõe de tempo tem ficado impressionados com as evidençias emfavor
605
REENCARNAÇAo
da reencarnação, em razão do que anseiam por tentar muralhas do dogmatismo.
descobrir alguma maneira de reconcífíâ-Ia com o seu b. Outros cristãos apresentam citações extraldas
próprio conceito do cristianismo. Como isso poderia dos escritos de algum dos pais da Igreja, ou de algum
ser feito, ou, pelo menos, tentado? respeitável líder cristão do passado ou do presente,
a. Alguns cristãos enfatizam que existem trechos, supondo que, em vista de alguns poucos mas notáveis
no próprio Novo Testamento, que ensinam a idéia da cristãos terem aceitado a idéia da reencarnação em
reencarneção. Sob o segundo ponto deste artigo, seus sistemas teológicos, nenhum crente deveria
Histôri« da Reencarnação no Pensamento Humano, hesitar em fazê-lo, igualmente. No entanto, descobrir
d. A Reencarnação no Pensamento Cristão, apresen- alguns poucos testemunhos favorilveis à reencarnação
tei quatro dessas passagens, onde também pudemos dificilmente seria suficiente para mostrar que o
averiguar que, verdadeiramente, esses trechos refle- cristianismo não é Incompatível com essa doutrina.
tem a crença na reencirnaçio. Sem embargo, aqueles c. Outros cristãos, ainda, simplesmente afirmam
versículos biblicos não fazem qualquer declaração que a teologia cristã é incompleta, e que ela não s6
dogmática ou geral. Tio-somenteenvolvem duas poderia, mas também deveria, incorporar outras
situações, a saber: i. casos especiais; ou ii, são um idéias, apoiadas em provas razoáveis. Para essas
simples eco da crença dos antigos nesse conceito, sem pessoas, é um absurdo a suposição de que niO
que tais ecos sejam transformados em proposições podemos aprender outras verdades, ao longo do
teológicas. Destarte, apesar dessas passagens pode- caminho, presumivelmente porque a verdade nos foi
rem ser usadas para provarmos que os antigos entregue uma vez por todas, como que contida em
acreditavam na idéia da reencarnaçio-ou em casos garrafas arrolhadas. Todavia, essa é uma maneira
especiais de reencarnaçio-dificilmente esses trechos infantil de se buscar e a2licar a verdade, segundo
bíblicos podem servir de comprovações do conceito. alguns encaram as coisas. E bastante imatura aquela
Além disso, o resto do Novo Testamento, em todos os teologia que requer que sejamos capazes de
trechos nos quais o problema da redenção da alma é reconciliar entre si todas as idéias verazes. Pois é
abordado, definidameate não incorpora a idéia do inevitável que encontremos contradições e problemas
renascimento fisico em seu esquema. de reconciliação entre as idéias que aceitamos como
Se porventura tivéssemos de provar que a verdadeiras, ou mesmo como provavelmente verda-
reencarnação se aplica a todos os seres humanos, deiras. Em conseqüência do fato, de acordo com esse
então tal prova teria de ser obtida fora do8 limites da ponto de vista, a perspectiva neotestamentária da
revelação cristã. Muitos cristãos têm admitido que missão de Cristo (Ele oferece a salvaçio mediante a
isso poderia ser uma possibilidade, porquanto sua graça, por meio da fé, e os homens podem ser
nenhum livro, ou coleção de livros, e nem qualquer remidos em um único perlodo de vida terrena) não
revelação contida em qualquer sistema religioso, contradiz, necessariamente, a idéia de que os homens,
poderia revelar todos os aspectos da 'verdade. Os durante diversas reencarnações, encontrem oportu-
próprios documentos cristãos não declaram que nidades de buscar essa redenção. E nem somos
somente eles contêm a verdade, e que ninguém pode forçados a erguer algum sistema teológico que dê
descobrir qualquer verdade fora deles. Mas os solução a todas as questões que possam ser levantadas
homens, mediante o desenvolvimento do dogma acerca de como isso funcionaria.
cristão é que.: têm feito tais reivindicações. d. Alguns tem sugerido idéias sobre como isso
Ainda que dependamos exclusivamente dos ensina- deveria funcionar. Talvez suponham que haja dois
mentos constantes no Novo Testamento, nem por isso sistemas em operação. Um individuo, mediante o
somos forçados a abandonar outras avenidas pelas arrependimento (e com base na graça divina) poderia
quais poderiamos descobrir a verdade, e nem devemos neutralizar todas as dividas passadas de sua alma.
supor que não existe qualquer outra verdade a ser Isto é, o arrependimento genuíno, que aceita a oferta
aprendida. O dogma humano é que cerca a Deus e à divina da salvação em Cristo, pode cancelar toda e
verdade com uma sebe, afirmando que o conheeímen- cada divida da alma; sendo assim libertada, podendo
to só nos pode ser transmitido de determinada entrar nas dimensões espirituais, a alma não tem mais
maneira. Todavia. os dogmas são criados essencial- necessidade de retomar à terra. Essa teoria pressupõe
mente para simplificarem as coisas e conferirem-nos que o arrependimento; genuíno transforma a alma a~
algum conforto mental. Pois, se já conhecemos tudo o ponto em que os defeitos morais e espirituais, que
quanto é essencial que seja conhecido. então podemos causam os atos errados, são corrigidos. A própria
descansar e olvidar qualquer inquirição que procure alma é transformada e não apenas as más ações. Isso
por maiores luzes. O dogma pertence à essência posto, o retomo à vida pode ser evitado. Na verdade,
mesma da letra que mata. O seu propósito é impor foi a missão de Cristo que possibilitou a nossa
organização e ordem a um sistema de idéias, a fim de Iíberaçâo de tais ciclos, e, em vista disso, a
que esse sistema possa ser mais facilmente apreendido reencarnação não é mais a regra que governa as vidas
e aplicado. Porém, torna-se algo muito prejudicial dos homens. Ou então, mediante um processo mais
quando começa a erguer muralhas que aprisionam a lento. os homens vão saldando progressivamente áS
mente e o espírito, E toma-se ainda pior quando suas dividas. obtendo uma vit6ria gradual sobre os
persegue aqueles que tentam escapar de seus estreitos vicios e os problemas da alma. Isso prosseguiria at6
limites. Uteralmente falando, os dogmas têm sido a que. fínafmente, o iJidividuo se encontrasse do lado
causada morte de muitos corpos humanos. Têm sido vitorioso. donde também seria transferido para as
a fonte de inúmeras perseguições religiosas. Têm dimensões espirituais da existência.
servido para embotar muitas mentes. Os dogmas têm Ot..Y_ eIIId ........ . . . . .. entretanto, que o
criado inimizades. Sia os principais aliados dos arrependimento requeli.do. para aquele grande salto ,
preconceitos. algo estrito e absoluto.. A alma precisa ser
Por conseguinte, se o pr6prio Novo Testamento nio genuinamente libertada de todos os vícios, vindo a
nos limita, em nossa busca pela verdade, nio participar significativamente das virtudes morais
deverlamos sentir-nos muito preocupados com as positivas de Deus, como o amor, a bondade, a
pessoas que tentam descobrir verdades adicionais, retidio, etc. S mister que haja uma conversl.o
al6m daquelas que nos sio fornecidas pela revelação autêntica e completa,t ou a questio inteira será apenas
blblica. -Nem deverlamos ser construtores das uma farsa. S duvidoso. entretanto. que tal forma de
606
REENCARNAÇAO
conversão seja de ocorrência muito freqüente. A Da covardia que teme novasverdadU.
maioria dos homens continua seguindo pela outra Da preguiça que aceita meias-verdades.
estrada. Todavia, Deus exerce paciência no caso de Da arrogância que pensa conhecer toda a verdade.
todos eles. Õ Senhor, livra-nos!
e. 56 há um sistema de redenção. Esse sistema (Arthur Ford)
opera mediante a graça divina oferecida através da A sabedoria desta citação deve atrair a atenção
missão de Cristo, sendo aceito mediante a autêntica tanto das pessoas que acreditam na reencarnaçlo,
conversão. Por conseguinte, em sentido algum a quanto das pessoas que não acreditam." Não é
reencarnação seria um método alternativo de reden- impossível que todos os supostos casos de reencarna-
ção. Não obstante, para aqueles que ainda não foram ção possam ser explicados pelas alternativas sugeri-
remidos, ela oferece uma continua oportunidade. das, ou, podem existir outras explanações que,
. f. O ensino sobre a salvação em Cristo, mediante a atualmente, são fora da esfera do nosso Conhecimen-
graça divina, por meio da fé, é uma doutrina superior to. Ao mesmo tempo, a reencarnação pode ser uma
à da reencarnação. A revelação do Novo Testamento verdade que os nossos credos têm ignorado. Se
não contém"o ensino de repetidos nascimentos (apesar existem muitos ou poucos casos de reencarnação,
de continuarem estes a ser uma experiência humanà qualquer caso de renascimento constituiria uma
comum) porquanto isso teria obscurecido e embota- prova. entre muitas, que a alma existe e sobrevive a
do a imensa esperança oferecida mediante a morte biol6gica.
libertação desde agora mesmo. Deverlamos ter A....çIo da DIftnM T..... AIInaIdhM e
consciência disso, não promovendo a reencarnação AIteruM:IT.a
como uma questão na qual nôs, os remidos,
deveriamos continuar envolvidos. A verdade é que 1. A teoria de fraude dos céticos falha absoluta-
deveriamos promover a idéia de que é muittssimo mente à luz da revelação biblica (que afirma a
melhor escaparmos do processo da reencarnação. E realidade de alguns casos de reencarnação) como à
como escapamos desse processo? Aceitando a oferta luz da ciência (como nos dois mil casos investigados
divina da salvação em Cristo, depositando nele a por lan Stevenson), que supre a poSSibUidade- que o
nossa fé. Assim podemos conferir descanso às nossu fen&meno seja comum, se não universal.
1dDnas. " 2. Nenhuma explicação alternativa, tomada isola-
damente, pode anular a teoria. Todas elas tomadas
Meus amigos, tenho apresentado aqui como juntas ainda deixam sérias dúvidas.
cristãos diversos enb.::enQ,m!o problema da reencarna- 3. A explicação alternativa mais promissora é
ção. Podemos não concordar com as idéias dos outros. justamente aquela do budismo mais primitivo: o que
Entretanto, a nossa responsabilidade deixar o
se reencama nlo é uma entidade, mas a bagagem
ê :
debate continuar sem 6dio teolôgíco. O debate deve mental que é transferida para uma série de
sempre depender de evidências, e as evidências devem individuos, isto é, através de uma série de pessoas.
sempre emergir de pesquisas velhas, novas e sempre Esta baga8em mental é constitulda por disposições,
crescentes. Isto porque procuramos a verdade e não atitudes mentais (positivas e negativas), tendências e
conforto mental. Aceitaremos a verdade que, mem6ria. Embora esta teoria pudesse explicar a
finalmente, resulta das investigações, seja em favor ou maioria dos supostos casos da reencarnação, é diflci1
contra o conceito da reencarnação. ver como mera bagagem mental poderia explicar os
N.H. Apresento outros argumentos e alternativas à cesos de crianças que não têm sô uma mem6na
idéia da reencarnação ao fim do artigo sob o titulo detalhada de uma vida anterior, mas que também
Desenvolvendo a Sugestão de Joe Keeton, que faz podem falar uma linguagem (uma vez que têm a
parte das minhas reflexões posteriores sobre este capacidade ftsica, motora para tal) que nunca
assunto. estudaram e com a qual não têm contáto. Também., é
g. Alguns acreditam que a reencarnação é uma difícil entender como capacidades especiais poderiam
questão de escolha para a alma. Existem muitos ser tranferidas desta maneira.
lugares para promover o desenvolvimento espiritual. 4. Quase certamente, alguns casos de reencarnação
A pessoa pode escolher a reencarnação na terra como são verdadeiros. Mas as evidências positivas e
um meio de progredir, mas, não é obrigada a fazer negativas são tais que, se dependermos somente da
isto. Pode escolher outra esfera para continuar sua investigação da experi6ncia humana, e das investiga-
escola. ções cientificas, não poderemos nem afirmar, nem
8. CoDcIaIio negar a reencarnação. generalizada. Quem afirma a
reencarnção generalizada faz istopelafl; quem a nesa
Para aqueles que ji crêem na reencarnação, certas também o faz pela 11. As evidencias positivas em
porções deste artigo suprirão razões que mostram favor de alguns çasos- são quase irruistll!eis, mas para
que essa crença é sensata. E para aqueles que não afirmar m.ais do que isto, positiva ou negativa-
acreditam na reencarnação, os estudos aqui ofereci- mente, exige/é.
dos, que suprem explicações alternativas, podem ser
usados para combater esse conceito. Podemos ea.et-Io. As evidencias positivas Dão são adequa-
asseverar, entretanto, que as evidências em prol de das para comprovar a reencamaçio generaUzada.
uma reencarnação limitada são, pelo menos, tão embora sejam adequadas para praticamente compro-
vâlidas quanto as evidências em contrário. Quer haja var alguns casos. As explicações alternativas ~
um grama ou um quilograma de reencarnação, esse capazes de explicar razoavelmente a maioria dos
conceito (sob qualquer forma) torna-se um útil meio supostos casos de reencarnação, mas nlo resolvem o
corroborador que demonstra que a alma existe e problema e nem oferecem nenhuma certeza. A fé de
sobrevive à morte biol6gica. Ao examinarmos cada individuo vai determinar o que ele acha deste
qualquer tema controvertido, deveríamos esforçar~nos assunto. A ciência deve continuar as suas inft$tiga-
por conhecer a verdade, e não meramente por çõcs para resolver, de vez, positiva ou negativa-
buscarmos conseguir provas em favor daqueles mente, esta questão - que tem tremendas
dogmas que nos dão algum consolo mental. A verdade implicações.
importa muito mais que o conforto mental. Em
conseqüência disso: ••• ••• •••
607
REFLEXOES POSTERIORES
SOBllE A REENCARNAÇÃO
•••••••••
Prezados aroigos, escrevo esta pigina decorridos Yorkshire Road, e vivia na cidade de Nortbampton. o.
virios anos desde a autoria do artigo anterior. Penso Dr. lussek confirmou muitos Itens dos dados
ser importante adicionar algumas id6ias «; reflexões rornecidos por Roberts e provou a realidade da
posteriores ao assunto. A reencarnaçio é uma 6.rea de existencia de James Edward Stewart. Detalhes sobre
investigaçio cientffica de grande interesse e é lugares, escolas e amigos de Stewart, além de viagens,
importante dar pros&eguimento à questlo para provar nomes de ruas,' e até-meSíno o local ondese situava o
de uma vez por todas se é verdadeira ou falsa. Erasmo banco de Stewart foram revelados por Roberts e
certamente estava correto ao iruistir na livre posteriormente, confirmados. Stewart não era um
iDvestigaçio. Hâ certa verdade no sentimento inerente individuo de fama hist6rica, portanto, sua vida não
ao titulo de certo livro: «A Libertaçio da Teologia•. poderia ter sido investigada em uma biblioteca. Mas,
Freqdentemente, o dogma é somente algo usado pelas um elemento complexo entrou na hist6ria. Descobriu-
pessoas como uma apologia para suas mentes, hi se que as informações fornecidas por Roberts traziam
muito estagnadas. . também informações sobre outra pessoa, John
ODr. Ian Stevenson, da Universidade de VirgiDia. Stewart, um vendedor de vinho e nio um banqueiro, e
ji compilou mais do que 2CX)() casos de posslveis que nio era parente do outro Stewart. Mais uma vez,
reencarnações, as quais foram submetidas a investiga- 11. teoria do Sobre-ser. vivendo mais de uma vida flsica
ções cientificas do maior rigor. Seus melhores casos ao mesmo tempo, pode ser usada para explicar o
sl.o de crianças 'l.ue ainda tem lembranças de vidas problema. Ainda assim, reluto contra o uso desta
passadas, presumivelmente vividas pouco tempo antes faceta, talvez erradamente.
de seus novos nascimentos. Estas lembranças, como D. Seott Rogo. cujo livro Psychic Breakthrougha
qualquer lembrança, vio se perdendo com o decorrer Toclay (capItulo 15) me deu as informações relatadas
dos anos, da mesma maneira como as pessoas perdem nos parágrafos acima, afirma: «Certamente, h6. algo
seus passados com a excessio de algumas das coisas e de importlncia cósmica nos sendo revelado. pelo
eventos mais marcantes que deixaram marcas estudo cientifico da reencarnação, mas nossos pontos
permanentes. A· maioria dos casos investigados por de vista «simplistas. daquilo que a reencarnação
Stevenson é simples e não tem elementos confusos. deveria significar, não nos revela aquilo que queremos
Uma criança simplesmente se lembra de uma vida saber sobre o assunto. A'investigaçio deve, portanto,
vivida poucos anos antes. Investigações revelam a continuar. Conclui ao dizer: «Renascimento de algum
factual existência de algumas dessas vidas. Tais tipo, provavelmente, pode explicar a evidência
crianças, quando levadas aos locais onde declarada- coletada pela parapsicologia no tocante à reencarna-
mente viveram suas últimas vidas, tem lembranças ção. Mas é diflci1 de determinar qual conéeíto em
espontlneas de outros elementos, in loco. Essas particular a evidência tende a documentar. Então,
crianças não demonstram qualquer sinal de possessão depois de tudo ter sido dito e feito, a evidência
demonlaca, nem de qualquer alteraçio psicol6gica; continua intrigante e confusa - e não h6. uma soluçio
elas simplesmente lembram. Mas, justamente quando final à vista. (p. 196). O artigo anterior deu ao leitor
pensamos ter «provas razoiveis. da teoria, e em parar uma variedade de maneiras para explicar a reencar-
de investigar, elementos estranhos surgem, nos nação e também maneiras diversas para negar a
forçando a retomar as indagações. existência de qualquer coisa que se possa chamar de
Em um dos casos, descobriu-se que a pessoa cuja «reencarnação». E crucial a continuidade das
vida a criança teria vivido ainda estava viva quando a investigações. Assuntos de vital importlncia estio em
criança nasceu. Ela morreu ap6s a criança completar foco.
três anos de vida! Talvez a criança estivesse captando
um campo de mem6rias e identificando-se com ela. A Cura e a Reencarnação
Ou, talvez, o esptrito do homem, por motivos
desconhecidos, estivesse influenciando a mente da Todos temos' familiaridade com o fenêmeno que
criança, forçando uma identificaçio errênea, ocorre durante os tratamentos de psicoterapia. O
Outro caso estranho ocorreu no Ubano. O Dr, psiquiatra encontra a cura para uma doença
Stevenson encontrou duas crianças tendo lembranças simplesmente ao descobrir um trauma no passado da
da mesma vida anterior com detalhes e acertos presente vida do paciente. Tais curas sI.o dramâticas,
marcantes. Uma das doutrinas da reencarnação nos Mas a cura se torna ainda mais dramática quando o
indica que um mesmo Sobre-ser pode, de fato, ter trauma é descoberto em alguma vida passada.
uma ou mais encarnações ao mesmo tempo. O Revelar tal trauma cura da mesma maneira. Apesar
Sobre-ser é a verdadeira entidade espiritual. enquanto de não acreditar na reencarnaçio, Gerald Edelstein,
os corpos não passam de veículos usados na coleta de psiquiatra do Herrick Memorial Hospital, de Berke-
experiência. Essa teoria afirma ser posstvel (até ley, Calif6nu1(l afirma que a terapia de vidas passadas
freqQente) o esptrito controlar mais de um corpo ao têm resultados maravilhosos. Com câncer 6sseo, e
mesmo tempo. Isso poderia explicar o caso libanês, ap6s passar por 12 cirurgias, uma mulher, desespera-
mas nio quero depender dessa teoria. Em outro caso, da, resolveu fazer terapia de vidas passadas. Durante
Stevenson descobriu que uma criança estava mis- uma regressão, a mulher se viu como uma sacerdotisa
turando elementos das vidas de duas pessoas. pagi que era forçada a beber o sangue de vitimas
Também, neste caso, não quero depender da teoria de sacrificiais. Ela odiava fazer isso, mas teria sido
reencam.ações múltiplas (ao mesmo tempo) de uma executada se tivesse se rebelado. Depois de teste-
única entid4de espiritual, para explicar os fenômenos. munhar tal vida e tal evento, seu clncer simplesmente
O Dr, Eupne Jussek, um médico de Los Angeles, desapareceu. O sangue é, claro, produzido na medula
Calif6rnia, encontrou um caso estranho, descoberto 6ssea, eis a conexão psicol6gica.
durante uma sessio de regressi.o hipn6tica. Hipnoti- O Dr, Alexander Canon, um médico· britlnico,
zado, Charles Roberts afirmou ter sido um banqueiro afirmou que a teoria da reencarnaçio era seu maior
do século 19, cujo nome era lames Edward Stewart e pesadelo. Mas, ap6s documentar 1382 casos de
que tinha nascido em 1801. Seu endereço era 17 aparente apoio à teoria, veio relutantemente, a aceitar
REENCARNAÇÃO
o fenômeno. eTenho que admitir a existência de tal acredita em tais vidas. Keeton acredita que nio
coisa como a reencarnação», afirma. O Dr, Edith estamos fazendo as pergunta certas, quanto menos
Fiore chegou a mesma conclusão, com 99010 de as respostas. cAs maçls calam das ,"ores da mesma
convícção, mas também, relutantemente. A Dra. maneira milhares de anos antes de Newton fazer a
Helen Wambach não acreditava em qualquer coisa pergunta certa sobre a gravidade», lembra. .São de
como a reencamaeão, mas após regredir milhares de perguntas que precisamos, não de respostaslt,
pacientes, quisesse ou nio, encontrou diversas enfatiza. (As informações dos parAarafos acima foram
evidências de vidas passadas. Em tais vidas foram retiradas do livro, The Case for Reincamation, por
encontrados traumas que supostamente explicavam Joe Fisher, capitulo 15).
problemas de saúde, em vidas atuais. A revelaçlo e As evidências cientificas para a sobrevil'ência da
descoberta de tais traumas, freqQentemeni.e, propor- alma. perante a morte biológica estio se tornando tio
cionavam curas dramáticas. Por fim, ela veio a variadas e poderosas que podemos ter certeza de que,
afirmar: eNão acredito na reencarnação - eu sei de em um periodo de tempo relativamente curto, teremos
sua existêncial», provas cientificas esmagadoras para isso. A evid8ncia
cientifica para a reencarnação também está crescen-
Por outro lado, Joe Keeton regrediu milhares de do. Mas no presente momento, temos um empGte
pessoas, e sim, encontrou aparentes vidas passadas. entre evidências em favor e contra-evid8ncias que
Via regressão, Keeton curou as doenças possivelmente negam a teoria. Dali, átgumas pessoas rejeitam, por
causadas por traumas ou circunstincias de outras um salto de fé (além das evidências cientificas) o
existências. Mas, no entanto, apesar de prometer conceito. Esta rejeiçlo, normalmente, se baseia em
continuar a investigar, nlo espera descobrir a convicções religiosas. Outras pessoas, tamb6m por
resposta verdadeira para os poderes de cura da um salto de fé, aceitam a idéia. A investigação deve .
terapia de vidas passadas, sendo que ainda não continuar•
••••••
o oposto de injustiça
não é justiça
- é am.or.
••• •••
A festa
llL uJ
==
Reclinando na festa
•••••••••
620
Gráfico Histórico Comparativo
REIS DE ISRAEL E ronl
I
Israel Judá
Dinastia das
Jeroboão (931-910) Reoboão (931-915) Ben-Hadade de Damasco Terras do Mar Sisaque I Tiglate-Pileser II (968-936)
Nadabe (910-908) Abias (915-911) (935-914) Adabe-Nirari II (911-891)
Baasa (908-886) Asa (911-869)
Elâ (886-884) I
Zinri (7 dias em 885)
Tibni (884)
Onri em Samaria (884-870) Nabuapaldina Assurnasirpal 11 (883-859)
Jeorão como regente Batalha de Carcar (853)
(848-835) (885-852)
I Hazae1 de Damasco
Acabe (Elias) (870-848) Acazias (835-834)
Jorão (846-834) Atalia (834-828)
Salmaneser III (858-824)
I I
leú (834-806) Joás (828-789) Fundação de Cartago Pianqui Fundação
Adabe-Nirari III (810-783)
Jeocaz (806-709) Amazias (789-761) (814) (751-730)
! de Atenas
Jeoâs (790-775) (Isaías) Azarias (761-710) Mardukapaldina
Jeroboão II (775-746) (Uzias) Sargão II (721- 705)
(721;-711)
I Jotão (710-705)
Zacarias (746-745) Jeoacaz (705-700)
~
Salum (745) Ezequias (700-687) Taarge
Menaem (745- 738) Manassés (667-642) Samasumuquim Assurbanipal (668-631)
(689-664)
Pecaías (738-737) Amom (642-640) (668-648)
Peca (737-732) Josias (640-609) Núbio
Oséias (732-724) Jeoacaz (609) Psamético Ciro I
Queda de Samaria (722-721) Jeoaquim (609-598) (663-610)
loiaquim (597)
Zedequias (597-587)
Queda de Jerusalém Nabucodonosor 11 ••
(610.595) A Assíria é destruída (609)
(587) (605-562)
Destruição de Babilônia Ciro I1~
Bibliografia: (FRAN JOHN NO RO UN Z) (539) (559-530)
REID - REINO
REID, TBOMAS hipostatização. Alguns críticos acreditam que quase
Suas datas foram 1710-1796. Nasceu em Strachan, todas as crenças religiosas, especialmente aquelas que
envolvem entidades nlo-materiais, e esperanças
na Escôcia. Educou-se em Aberdeene Glasgow. metaftsicas, são produtos dessa fantasia. O A'Wumen-
Tomou-se ministro presbiteriano. Os artigos separa- to Ontol6gico (vide), para exemplificar, é considerado
dos que expõeiti suas teorias distintivas são Realismo uma mera fantasia que foi transformada em uma
do Bom Senso e Realismo Ingênuo. Quanto a um alegada realidade. Meu artigo sobre esse assunto
contraste com as suas idéias ver o artigo Realismo procura mostrar que as afirmações religiosas usual-
Critico, e então o verbete Realismo, que é bem mais mente contam com uma base mtstica, e que refutá-las
geral. Reid tomou-se melhor conhecido como o é algo que requer a demonstração de que o misticismo
originador da escola escocesa do bom senso. Ele (vide) não pode ser uma .verdadeira maneira de
considerava a filosofia de Hume - um pensamento
destrutivo do bom senso. O empirismo, para ele, alguém obter conhecimentos. Meu artigo sobre esse
facilmente conduz ao ceticismo, depois que o assunto destaca a dificuldade envolvida na tarefa.
estudioso descobre que nossa percepção dos sentidos é Entretanto, é verdade que a rei/icação é uma
inexata e fraca. Reid, pois, esperava ~oder restaurar o atividade comum em muitos sistemas de crença
papel do empirismo, com sua Insistência que nossos religiosa, de tal maneira que freqdentemente temos
sentidos são capazes de conferir-nos um real parábolas que, realmente, ni.o falam sobre coisas
conhecimento sobre os objetos. reais, mas que, quando muito, são meras figuras de
linguagem que versam sobre algumas modalidades de
IcWMa realidade.
1. Em seus ataques contra as idéias de Hume e de O relsmo é a tentativa de preservar a objetividade
Berkeley, Reid insistia que nossos sentidos apresen- de entidades intencionais, é uma filosofia ilustrada
tam-nos a realidade, e não apenas a representam. pelas idéias de Brentano e de Meinong. Eles
2. Dos objetos derivamos sensações que ele argumentavam que os objetos de nossos desejos,
chamava de «sinais naturais». Esses sinais dão-nos crenças e esperanças talvez não existam, na realidade,
conta dos objetos que os produzem, com toda a mas que omero fato de que podemos falar deles como
veracidade. Esses sinais confirmam nossa crença objetos, confere-lhes uma espécie de objetividade.
natural na realidade independente dos objetos. Há Alguns denominam esse ponto de vista de concre-
uma realidade que existe fora e de maneira tismo: Porém, isso parece dizer apenas que chama-
independente de nossas percepções e de nossas idéias. mos nossos pensamentos e crenças de objetos, pelo
3. Os sinais estio vinculados tanto às qualidades que assim eles devem ser, de alguma maneira. Tudo
primárias quanto às secundárias, que ele afirmava quanto temos feito é inventar uma idéia objetiva, e
serem reais, em parceria com John Locke. Descrições não uma entidade. A fé religiosa não depende de tal
simples originam-se do nosso bom senso, sendo elas atividade, embora, como é ôbvio, as pessoas religiosas
superiores à.quelas teoriasque 4í1uem essas descrições mostram-se ativas quanto ao reismo:
em idéias e meras sensações representativas. Porém,
os fil6sofos, segundo ele, gostam de envolver-se no
encantamento com as palavras, o que serve para REINO
desviar os homens por muitos caminhos sem destino e No hebraico. temos cinco termos e no grego. um, a
sem retorno. saber:
4. Aquilo que é verdadeiro dentro da teoria do 1. Melukah, palavra que ocorre por dezoito vezes.
conhecimento em geral, também é verdadeiro no Por exemplo:1 Sam. 10:16, 25; 11 Sam. 16:8; I Reis
campo da ética. A ética é intuitiva e está 1:46; I Crê. 10:14; Sal. 22:28; Isa. 34:12.
fundamentada sobre verdades auto-evidentes. Nilo 2. Maleku, palavra aramaica usada por cinqüenta e
podemos reduzir a ética a meros sentimentos de três vezes. Para exemplificar, Dan, 2:37,39-41,44;
aprovação ou desaprovaçi.o. Deus é o criador das 4:3.17,18,26,30,31,34,36; 7:14,18,22-24,27.
idéias éticas, e nõs as intuimos, em face de nossa 3. Malekuth, palavra hebraica usada por setenta e
afinidade com a Mente divina. cinco vezes com esse sentido. Por exemplo: Núm.
5. Possuimos o mesmo tipo de evidências em prol 24:7; I Sam. 20:31; I Reis 2:12; Est. 1:2,4,14.
da existência de Deus que possuimos no tocante à 4. Mamlakah, palavra hebraica usada por cento e
existência de outras pessoas. A intuição também dez vezes. Por exemplo: Gên, 10:10; Sxo. 19:6; Jos.
desempenha af um importante papel. Deus outorgou- 11:10; II Sam. 3:10,28; I Reis 2:46; II Crô. 9:19.
nos uma maneira digna de confiança de tomarmos
conhecimento geral das coisas e de discemirmos entre 5. Mamlakuth, palavra hebraica usada por nove
o certo e o errado. vezes: Jos. 13:12,21,27,30,31; I Sam, 15:28; 11 Sam.
16:3; ler. 26:1; Osé. 1:4.
A filosofia de Reid é a filosofia do homem comum, 6. Basiléia, palavra grega usada por cento e
que prefere não se envolver com as contorções dos sessenta vezes, desde Mat. 3:1 até Apo, 17:18.
fil6s0fos. Todavia, falta a essa filosofia aquela Em sentido geral, esse vocábulo é usado no Antigo
sofisticaçio necessária para que dai se parta para Testamento para especificar algum país ou países
qualquer teoria cientifica. Sua filosofia era uma sujeitos a um monarca (Deu. 3:4) ou entio. a fim de
espécie de revolta religiosa do homem comum contra designar o poder e o governo de algum rei (I Sam.
as complicações dos fil6sofos. Entretanto, a verdade 18:8; 20:31).
nem sempre é simples, e nem podemos tomar Sentidos Religiosos e Espirituais. Há muita
contacto com ela de maneira fácil e verdadeiramente variedade de tais sentidos, uma questão considerada
eficaz. no artigo intitulado Reino de Deus (ou dos Céus).
I. F.
RELIGIÃo E FILOSOFIA ClDNESAS
RemOtM e PrbaItITG
Antes do advento das fés chinesas tradicionais-o
começar pelos séculos 111 e IV da era cristã. Ver sobre
J<umarajiva, Seng-Chao, Chí-Tsang, Hsuang-Tsang e
Chih-I. Também surgiram várias escolas individuais,
como as escolas Hu a-Yen, T'ien-T'ai e Ch'an do
Budismo Zen, sobre as quais há artigos separados.
confucionismo, o budismo e o taoísmo, havia outras
.religiões mais primitivas. Elementos dessas religiões 7. O desenvolvimento do neoconfucionismo come-
mais primitivas misturaram-se com essas fés que, çou em cerca do século VIII D.C.• até os nossos dias.
posteriormente, tornaram-se tradicionais, e muita Alguns nomes representativos são Han Yu, Li Ao,
gente continuou a praticá-los, mesmo quando aquelas Chou Tun-i, Shao Yung, Wang Yan-Ming, Tai Chen,
fés passaram a ter pleno poder. K'ang Yu-Wei, T'an Ssu-Tung, Chang Tung-Sun,
1. O Animismo e o Politeísmo. Até onde a história Fung Yu-Lan e Asiung Shih-li, (que vide).
pode retroceder, os chineses adoravam quatro tipos de m. Intl'Od1aç&. ~
espíritos: a. O Shen, o mais elevado, o sol, a lua e as 1. Islamismo (que vide). Essa fé foi introduzida na
estrelas, e, secundariamente, os espíritos do vento, da China em 628 D.C. O islamismo veio de vários
chuva, etc. (as intempéries), b. O Ch 'i, que seriam os lugares, em diversas provincias chinesas. O movimen-
espíritos da terra, do solo, dos cereais, das cinco to expressava-se, essencialmente, em dois tipos de
montanhas sagradas, de outros montes, vales, etc. c. islamismo: o de Sinkiang e Chinghai, chamados os
O Kuei ; os espíritos humanos desencarnados, seus seguidores de maometanos de turbante, e o de
especialmente os ancestrais. d. O Kuai, os espíritos de outros lugares da China, introduzido por descenden-
seres animados e inanimados. Essa forma de tes de negociantes isJamitas e de soldados árabes, que
adoração Incluía muitos deuses e muitas localidades, foram enviados para pôr fim a uma rebelião em 755
relacionadas a esses espíritos. D.C., a pedido do imperador. Seus seguidores têm
2. A Adoração a Sang-ti. Esse seria um dos muitos retido as crenças islâmicas tradicionais, embora
espíritos celestiais, e também o chefe de todos eles, com a mistura de outros elementos. - Entre-
sendo um espírito positivo, pessoal e perfeito. Até o tanto, poucos dos seus seguidores chineses podem ler
ano de 1912, era dever do próprio imperador oferecer o Alcorão, e menor número ainda pode compreender
sacrifícios a esse deus, em favor do povo. a língua árabe. A tradução do Alcorão para o chinês
3. A Adoração aos Antepassados. A fundação de não teve lugar senão nos fins do século XIX, e a
um homem são os seus antepassados, os quais têm distribuição dessa tradução nunca foi grande. Em
sido variegadamente adorados, como as pessoas cerca de 1930, havia cerca de cinqüenta milhões de
adoram qualquer outra forma de divindade. Essa pessoas que seguiam essa religião, na China.
adoração é uma expressão e exagero do respeito filial. 2. Cristianismo. Precisamos .pensar nas seguintes
Um conceito bâsico da adoração chinesa é o variedades de cristianismo, introduzidas em épocas
cumprimento das relações humanas, e a adoração aos diferentes:
antepassados é uma tentativa de cumpri-las. Aos
antepassados são oferecidos alimentos, são-lhes a. Nestorianismo (que vide). Essa foi a primeira
oferecidas notas em papel-moeda, e também outros variedade de cristianismo a penetrar na China, talvez
meios para expressar a crença na realidade da desde tempos bem remotos, embora só tenhamos
existência e no poder dos antepassados são emprega> evidências dessa penetração ali a partir de 781 D.C. O
dos. Tablete Nestoriano, que está relacionado a essa fé,
RELIGIÁO E FILOSOFIA CHINESAS
apareceu na China em 635 D.C. Trata-se de uma 5. Zoroastrismo, Essa fé chegou à China entre 516 e
espécie de cristianismo oriental, desenvolvido inde- 519 D.C., mas sofreu perseguições, e, por volta de
pendentemente da civilização greco-romana. Uma 845, havia desaparecido quase inteiramente. Desde
grande perseguição por parte dos chineses foi dirigida então não parece ter havido qualquer movimento
contra o budismo, em 845, e, como subproduto, o sobrevivente.
nestorianismo quase foi destruido. 6. Outras. Antes da instalação do comunismo na
b. Catolicismo Romano. Missionârios franciscanos China, havia muitos grupos menores, como a teosofia,
levaram a fé católica romana à China, durante a o bahaísmo, e várias seitas menores cristãs e
dinastia Yuan, entre 1280 e 1368. Os jesuítas deram japonesas, além de muitas sociedades secretas e
uma força nova ao movimento, durante a dinastia semi-secretas, de natureza religiosa.
Ming(l368-1644). Francisco Xavier chegou à China IV. Comnnhmot lW........1JIMJnHUçIO
em 1552, mas morreu no mesmo ano. Os jesuitas Quando-o comuriismo (que vide) entrou na China,
desfrutavam do favor real, e o catolicismo desenvol- depois da Segunda Guerra Mundial, muitos lideres
veu-se rapidamente na China. Os jesuítas permitiam o religiosos de todas as denominações foram mortos e
sincretismo da fé católica com as crenças tradicionais igrejas foram fechadas. Pessoas foram mortas e
chinesas, mas os dominicanos e franciscanos objeta- perseguidas, em massa, meramente por causa da sua
vam a tal sincretismo. A batalha que disso resultou religião. Eu conheci- alguns parentes dessas pessoas.
reduziu em muito a influência católica romana, bem Durante a Revolução Cultural, as perseguições foram
como o número de católicos na China. Antes da renovadas. Recentemente (1984-85) uma Uberalizaçlo
instalação do comunismo, na China, havia cerca de tem modificado esta cena. Não sabemos até que ponto
três milhões de católicos chineses naquele pais. Eles isto vai continuar. Esperamos que seja para sempre,
operavam 438 orfanatos, 315 hospitais e mais de vinte mas a política é uma coisa imprevisivel.
mil escolas, tendo construido museus, bibliotecas e
centros de pesquisa. Havia cerca de três mil padres Reportagem, Estado de São Paulo, de 12 de
missionários estrangeiros. Os padres chineses eram novembro de 1985.
cerca de dois mil. PEQUIM - Os dirigentes «pragmatistas.. chineses,
c. Protestantismo. Robert Morrison chegou em sob a liderança do «homem forte. Deng Xiaoping,
Cantão em 1807, e, com ele, teve começo o movimento procuraram sepultar mais um dogma marxista-leni-
protestante na China. Após cerca de cento e trinta e nista, seguido fielmente pelos maoistas durante a
cinco anos, havia cerca de um milhão de protestantes Revolução Cultural dos anos 60: o de que a religião
de várias denominações. Em 1934, havia ali dezessete entorpece o povo e é um instrumento político das
missões inglesas, sessenta e quatro norte-americanas, ..classes reacionárias•. Ontem, o jornal porta-voz do
vinte e três canadenses e duas australianas. O número PC chinês, Diário do Povo, disse que é errado
total de missionários evangélicos era de cerca de seis considerar a religião «o ópio que envenena o povo..,
mil, representando mais de noventa denominações. qualificando também de «nociva e anticientifíca» a
Esses grupos contribuiam significativamente para a afirmação de que a religião é «o reflexo do absurdo,
educação, os cuidados médicos e os serviços do ilusório da ideologia subjetiva dos seres humanos•.
comunitários. Cerca de duzentos e setenta e um O jornal tambêm considerou errôneo afirmar que a
hospitais haviam sido construidos por eles. Em muitas religião é «o instrumento politico da classe dominante
áreas, os únicos serviços médicos que havia eram em seu controle das massas», .
prestados pelos hospitais cristãos. Além das tradi- Durante a Revolução Cultural, os maoistas
cionais denominações protestantes, tinham-se tor- procuraram destruir todos os vestigios do passado
nado movimentos nacionais a Cruz Vermelha, a «burguês, explorador e reacionário. e centenas de
Y.M.C.A. e a Y.W.C.A. Os cristãos, de modo geral, templos foram destruídos, livros foram queimados,
opunham-se a certas práticas duvidosas da sociedade 'sacerdotes e irmãs: muçulmanos ridicularizados,
chinesa, como o fumo de ópio, o casamento infantil, o perseguidos, presos e até assassinados.
casamento de cegos, o nepotismo e a deformação dos Para o Diário do Povo, essas afirmações feitas no
pés das jovens, como sinal de beleza. Os cristãos passado ..não são convenientes para a unidade das
promoviam os direitos das viúvas tomarem a casar-se, nacionalidades do pais, nem respeitam a hist6ria, a
o direito dos jovens escolherem os seus próprios cultura e os sentimentos de outros povos do mundo•.
cônjuges, a independência das mulheres, o direito As criticas dos -pragmatístas- à repressão desenca-
feminino à educação. Foi introduzida a ciência deada pelos maoistas contra a religião se traduzem
ocidental na China. A China Inland Mission, fundada cada vez mais em maiores garantias para os cultos.
por J. Hudson Taylor, que foi para a China em 1853, Dessa maneira, igrejas católicas, mesquitas e templos
nesse ponto culminante contava com cerca de mil de outras religiões reabriram suas portas em todo o
missionários na China, ocupados em muitas ativida- pais para que os crentes possam praticar sua fé. Na
des diferentes, além da organização de igrejas locais. China há atualmente 35 milhões de muçulmanos, dez
3. Judaismo, A história do judaísmo na China é milhões de cristãos e algumas dezenas de milhares de
bastante antiga, embora só possa ser acompanhada budistas.
com certeza até cerca de 1163, onde se sabe que uma Cantão está cada vez mais ocidental
sinagoga foi ali erigida. Porém, há estudiosos que
supõem que, através do comércio, o judaismo CANTÃO - Um funcionário municipal, que
penetrou na China desde o primeiro século da era conversou com membros de uma delegação parlamen-
cristã. Entretanto, essa fé nunca se espalhou muito, e tar soviética em visita a esta cidade, no mês passado,
nem obteve muitos adeptos. comentou que os russos se mostraram impressionados
e perplexos com a atmosfera reinante aqui.
4 .. Mani queismo , Esse movimento começou na «Se isso é marxismo, preciso vsltar a ler Marx. -
China em cerca de 694 D.C., tendo crescido de forma teria dito um dos representantes sovíêtíeos. Durante a
moderada até cerca de 823 D.C., quando sofreu visita, os russos tiveram a oportunidade de conhecer a
perseguição e foi grandemente reduzido. Seguiram-se florescente livre empresa da cidade, os seus hotéis de
outras perseguições, e, por volta de 915 D.C. pouco estilo ocidental, que rivalizam com o~ melhores de
restava do maniquelsmo. Não parece ter restado ,Hongcong e muitos outros sinais de que em Cantão
qualauer traço desse movimento depois de. t644. passou a vigorar a politica da «porta aberta••
647
RELIGIÃO - RELIGIÃO PRIMITIVA.
Onde a liberdade existe, religiões florescem válida. Não precisamos' anular a palavra «primitiva» a
O .espiritc;> humano rejeita a explicação materialista fim. de defender a idéia da revelação divina, que é uma
do mundo e procura uma expressão compativel com realidade. E nem carecemos supor que nada havia de
sua realidade metafisica. Todo o movimento comu- primitivo, isto é, de não plenamente desenvolvido, na
nista setá forçado a reconhecer isto, afinal, porque os religião hebréia.
-vaIores mais profundos não podem ser definidos em A excessiva «cristianização» da fé dos hebreus, por
termos de economia e movimentos histôricos. parte dos cristãos modernos, tem apenas tendido por
obscurecer aquilo em que os israelitas antigos
realmente acreditavam. Essa atitude moderna de
RELIGIÃo E LIBERDADE alguns faz aquela fé parecer cientifica e como se
Ver os artigos Liberdade Religiosa e Liberdade sempre estivesse «guardando.. fruição na pessoa do
Cristã. MesSias. Essa abordagem, apesar de ter algum
fundamento. na verdade, obscurece muitas facetas da
antiga fé dos hebreus. Para ver ilustrações a respeito,
RELIGIÃo E PSICOLOGIA o leitor deve examinar os artigos intitulados
Ver sobre Pdcol..... quarta seção. Cosmogonia, Cosmologia e Criaç@, onde encontra-
mos alguns conceitos verdadeiramente primitivos da fé
dos hebreus, que. têm sido ultrapassados tanto pela
RELIGIÃo E PSICOTERAPIA. ciência quanto pela teologia.
Ver o ârtigc) sobre a Neotenpla. . 2. eu.,.. Comuna da ReUallo PdJDItJya
a. O Sobrenatural. O homem não estaria sozinho;
existiriam seres maiores que o homem.
RELIGIÃo E SOCIOLOGIA b. A possibilidade de aplacar, forças hostis, divinas
Ver sobre SoeIoIoaIa da Rellalio. ou demoniacas, através de artes mágicas, rezas,
encantamentos, uma certa maneira de vida e
RELIGIÃo GREGA sacrifícios, cruentos ou não.
c. Animismo. Essa é a crença que os espiritos muito
Ver sobre Greac- PrImIdv.., ReJJaio du.. têm a ver com a vida humana, incluindo espiritos de
deuses, demônios, seres humanos e animais. Esses
RELIGIÃO HINDU espiritos animariam objetos e influenciariam ou
possuiriam pessoas e animais. Mesmo em sua forma
Ver sobre lIIDd.......o. desinco1J>orada, - eles f poderiam ser capazes de
influenciar os acontecimentos para melhor ou Para
RELIGIÃO JUDAICA pior. Essa crença algumas vezes' inclui a noção que
tais espiritos procuram viver vidas parecidas com as
Ver sobre Jad·.....o. vidas humanas, podendo até envelhecer e, finalmente,
morrer. Provavelmente, essa noção alicerçava-se
RELIGIÃo PRÁTICA sobre a observação que os .fantasmas.. tendem por
diminuir e desaparecer.
Essa expressão indica a prática da religião sem a d. Os shamans (tipos de sacerdotes especializados
ênfase sobre dogmas e teologia, com ênfase sobre a no controle de espíritos) são os cabeças das sociedades
prática das boas obras, sobre a promoção da caridade com crenças animistas. Deles espera-se que tenham
e todas as formas de empreendimento humanitário. sabedoria, poderes espirituais de curar e de fazer o
Também estão envolvidos o estabelecimento de mal, dotados de visões e sonhos para efeito de
comunidades religiosas, orfanatos, e as atividades do orientação, etc. Em algumas culturas, espera-se que
evangelho social e da obra social da Igreja. A maior esses shamans 'tenham um espirito-guia que ajude a
parte dessas coisas envolve diretamente a vida diária comunidade toda. A palavra shaman vem de um
segundo a lei do amor. Ora, o amor é a própria prova termo russo que significa «asceta»,
da espiritualidade (ver I Joio 4:7 ss), Precisamos ~.Poderes Sobrenaturais Impessoais. Algumas
tanto de uma religi10 te6rica quanto de uma religião vezes esses são os poderes temidos pelas pessoas, e que
prática. Tiago, em sua epístola, ressaltou o lado estas tentam aplacar, nas culturas onde o animismo
prático da religião cristã, em sua epistola (ver não é bem desenvolvido. Esse tipo de fé algumas vezes
especialmente Tia. 2:149s). Ele falou a respeito da lei chama-se animatismo, uma palavra cunhada para
real do-amor (ver Tia. 2:8). distinguir essa crença do animismo: Esses poderes
sobrenaturais impessoais, que também existiriam
RELIGIÃo PRIMITIVA próximos do homem, embora de maneira menos
definida do que no caso do animismo, são chamados
Esboço: mana, que é um termo genérico. Tudo quanto for
1. Definição Básica extraordinário, provocativo ou temível, capaz de
2. Crenças Comuns da Relígião Primitiva inspirar respeito ou veneração, constitui o mana. O
1. DefIalç:lo BWea mana sobrevém a um homem quando este está
Uma religiio 1?,rimitiva é um conjunto ,de crenças, a condicionado para realizar algum feito extraordiná-
conduta influenciada por essas crenças, além dos ritos rio, que esteja acima de seus poderes normais. O
e costumes que constituem a religião, formal ou mana é uma espécie de poder dos deuses, que n10
informal, de algum povo antigo. Os eruditos chega a ser definido.
conservadores algumas vezes objetam a que se f. Politelsmo. Essa crença concebe uma hierarquia
classifique a fé dos hebreus (sobre a qual a fé do Novo de deuses, havendo «deuses superiores" que seriam os
Testamento estriba-se parcialmente) de «primitivalO. E principais controladores da vida humana. Esses
isso porque tal adjetivo faz com que essa fé pareça ser deuses primários tomam-se objeto de veneração, e
apenas uma dentre muitas outras religiões de povos não meramente de temor. Em alguns sistemas.
antigos, e não uma religião especial, dada mediante aparece um Ser supremo que figura como criador, o
uma revelação divina. Porém, essa distinção não é que indica uma certa aproximação ao henotefsmo, se
648
RELIGIÁO - RELIGIÁO ROMANA
nlo mesmo do monoteismo. antropomórficos. Esses espiritos habitariam em coisas
g. Mitologias diversas existem, na tentativa de naturais como os rios, os bosques, as fontes de água.
explicar a origem e o destino, além de outras Tinham o poder de ajudar ou prejudicar, e a presença
caracteristicas da natureza e da vida humana. deles era sentida no senso de respeito que a alma
h. Elementos Especiais. Entre esses estio os ritos, humana sente diante da força, da beleza ou da
as festividades religiosas, os sacriftclos, OS exorcismos, beneficência da natureza. Ver sobre o Animismo, que
as rezas, os encantamentos, as artes mágicas, coisas adora as forças da natureza, em vez de adorar ao
essaS que emprestam a essas religiões uma espécie de Deus da natureza. Nisso os romanos primitivos
fwíção eclesiástica. Nessas sociedades, a mágica chegavam a mostrar-se ridiculos. Netuno deriva seu
(vide) com freqüência é uma questlo importante, por nome da palavra itálica que significa ..água». Portuno
meio da qual pensam muitos que o ser humano é era o deus tutelar dos «portos». A casa estaria cheia
capaz de controlar seu meio ambiente hostil, obtendo dessa presença. Jano era o espirito da «porta» (ianua).
resultados positivos de maneira geral. Usualmente, os Vesta era a deusa da «lareira», pois a raiz do nome
tabus (vide) fazem parte do quadro. Certos atos e dessa deusa significa «queimar». Os penates eram os
alimentos são proibidos. A quebra de um tabu guardiães do alimento guardado (penus). E assim por
prejudica e põe em perigo os violadores, diante. No culto popular. moderno, que a Igreja
i. Veneração aos antepassados, como também a Católica Romana observa, transferindo para seus
adoração a animais, ao sangue, o fetiêhismo, a «santos» (vide), a adoração que era dada a divindades
veneração a ídolos, os sacrificios humanos e de pagãs, vemos reflexos dessa antiga veneração
animais, todas essas são coisas que fazem parte das animista, incluindo seus ritos rurais e as datas de'suas
atitudes das religiões primitivas. festividades.
B. A ReUatlo ela adade de Rama
RELIGIÃo RELACIONADA À FILOSOFIA As festividades rurais, quando Roma se tornoua
Ver.o ll'tigo F1IOIOfIa e a Fé ReUaI". cena central e absorvedora da vida latina, foram
mantidas, embora com novas significações apropria-
RELIGIÃo ROMANA das. Júpiter, o antigo deus dos juramentos, tornou-se
Esboço o deus da justiça interna; Marte, um deus da
A. Alicerces Itálicos agricultura, tornou-se o deus da guerra. Evolução
B. A Religião da Cidade de Roma importante foi quando o antigo culto, antes nas mãos
dos chefes de família, foi aproveitado pelo Estado,
C. A Invasão Grega tendo em vista seus próprios usos. Um grande templo
D. Cultos Orientais foi erigido na colina Capitolina-o centro da nova
E. Adoraçlo a César Roma-onde foi estabelecida uma triada divina que
. F. A Religilo Romana e o Cristianismo simbolizava a majestade religíõsa do Estado. No início
essa tríada compunha-se de Júpiter, Quirínio e Marte,
Obur!~ l8IeIaII mas depois, sob a influência dos etruscos, essa triada
1. A Palavra. Quanto a uma completa definição· passou a compor-se por Júpiter, Juno e Minerva. O
dessa palavra e seus usos, ver o artigo Religião, Estado também criou uma hierarquia, composta
primeira seção, Essa palavra ê de origem latina. pelos flaminios, para servirem as principais divinda-
Provavelmente originou-se na idéia do senso de dades, pelo colégio dos pontífices ou ..sacerdotes»,
respeito pelo numen, ou vontade divina, envolvendo associados a muitos dos ritos secundários, e pelô sumo
as obrigações correspondentes. No inicio, nrJmen pontífice, ..sumo sacerdote», que era o guardião da lei
significava um aceno com mio, e, por extensão, sagrada e conservava em segredo o calendário
uma ordem' ou mandamento. Com o tempo passou a religioso, que ele só podia revelar ao povo mês após
indicar um ser divino, e, em conseqüência, a vontade mês. Essa é a base do sistema hierárquio da Igreja
de um deus ou dos deuses.. A forma plural, ..........; Católica Romana, adaptado quando o cristianismo
adquiriu o sentido de cesptritos». sobrepujou ao paganismo, mas moldado sobre este
2. As numin« atrairam a atenção dos romanos último, e não sobre aquele. O Novo Testamento não
primitivos, em paralelo com vArios povos antigos, em reconhece «sacerdotes» como uma classe distinta dos
sua cultura mais antiga, formando-Se assim uma fé «leigos». O sacerdócio de todos os crentes é o claro
religiosa animista. Quanto aos vários tipos de religião ensino neotestamentário. Ver I Ped. 2:5; Apo. 1:6;
ou de expressão religiosa, ver sobre Religião, terceira 20:6. Muito menos ainda o Novo Testamento
seção, onde alistamos e descrevemos os oito tipos. reconhece uma hierarquia sacerdotal. O sistema
3. Os Lares, Ver o artigo separado sobre esse ministerial cristão reconhece quatro variedades de
assunto. Cada lar romano tinha os seus pr6prios lares: trabalho ministerial, não em escala hierárquica, mas
(espiritos dos campos) e os seus próprios penates complementares: apóstolos, profetas, evangelistas,
(espiritos da copa). Esses espiritos eram representa- pastores. Esses ministros se ocupam da Palavra. Os
dos por meio de imagens. diáconos se ocupam mais do aspecto material do
Os primórdios simples nessa forma de religilo logo ministério, embora também possam ser pregadores.
se tomaram complexos, mediante sistemas elabora- Ver Efé. 4: 11 e a narrativa sobre Estêvão, em Atos 6 e
dos. O resto deste artigo aborda a questão. 7, sobretudo 6:10. É verdade que o ministério das
igrejas protestantes e evangélicas não acompanha de
A.~I"" perto esse esquema neotestamentârio, porquanto
A religião indígena básica de Roma tomou forma deriva-se muito mais das decisões dos Reformadores
inicial na comunidade agricola, patriarcal e primitiva do século- XVI, que reagiram contra a idéia
da qual emergiu Roma; Sua natureza e forma eram hierárquica de Roma, com seus muitos títulos, e
similares às religiões das tribos itálicas circunvizi- reduziram o ministério protestante a somente pastores
nhas, as tribos oscas e úmbrias, que se acumulavam e diáconos. Ver sobre o Ministério Cristão.
no espaço em redor do rio Tibre, que o povo latino
ocupava. A primitiva religião romana, conforme se c. A 111..... Grep
depreende de escritos como o Fasti de Ovídio, além de Houve tempo em que a peninsula ítâlica era
outros, era uma religião animista, reconhecendo a chamada de Magna Grécia. Ali muitas cidades têm
divindade em presenças espirituais, e não em deuses origem claramente grega. Isso significa que, desde o
649
RELIGIÃO ROMANA
começo de Roma, houve intercâmbio cultural entre cerca: de cem anos antes, havia tentado suprrmir o
tribos itálicas e helênicas. Porém, depois que as culto orgiâstico de Dionísio. Mas. habitualmente.
tropas romanas invadiram a Grécia, bem como esses cultos enfrentavam a supressão tornando-se
muitas regiões que haviam sido colonizadas pelos subterrâneos e isso atraía ainda mais os supersticiosos
gregos, a cultura grega «cativou sua feroz conquista- e crédulos romanos. O mitraísmo, ou culto a Mitra,
dora». no dizer de Horácio (Eplstola 2.1.156). Essa proveniente da Pérsia, era mais sério, não se podendo
invasão da cultura grega incluiu não somente aspectos classificá-lo como ignôbil. Ver sobre o Mitralsmo,
como a arte e a literatura, mas fez-se sentir até mesmo Porém, essa foi uma das poucas exceções. Na maioria
no campo religioso, quando a religião romana tomou das vezes, as religiões orientais importadas eram
uma direção nitidamente antropomôrfíca, segundo o moralmente prejudiciais.
gosto dos gregos. Em suas características, fundiram- E.~.CéuI'
se as divindades romanas e gregas: Júpiter e Zeus; A adoração ao imperador é abordado em um artigo
Juno e Hera; Netuno e Poseidon; Marte e Ares; separado. com esse título. Basta-nos acrescentar aqui
Minerva e Atena; Mercúrio e Hermes; Diana e que essa adoração era tanto ao espírito de Roma como
Arternis, etc. Nos escritos de Enio (238-169 A.C.) e de à pessoa do imperador, que encarnava esse espírito.
Plauto (251-184 A.C.), dois dos mais antigos autores Também deve-se dizer que se esse conceito tinha
romanos, cujas obras chegaram até nós, esse processo origem na deificação dos déspotas do Oriente,
'de identificação já aparece quase completo. A igualmente tinha raízes no antigo conceito italiano
despeito dessa identificação de nomes, no panteão das abstrações deificadas, ou animismo. Se os cultos
romano, foram mantidos os cultos italianos, prove- misteriosos, com sua forte carga emocional, eram
nientes da primitiva antiguidade, e continuaram a ser devidamente desafiàdos pelo cristianismo, as especu-
servidos pelo sacerdócio aristocrático. Tudo consistia lações monoteístas dos filósofos, de Cícero, de Sêneca,
em um sincretismo de idéias religiosas mais antigas e de Epicteto e até de Marco Aurélio, ao nível social e
mais recentes, em uma confusão tal que, segundo político, satisfaziam-se com o culto ao imperador.
muitos comentadores, esse sincretismo contribuiu Isso posto, a fé cristã chegou a uma sociedade romana
pesadamente para o profundo ceticismo que prevale- faminta, insegura e insatisfeita, que se estava
cia na sociedade romana. no final da era republicana. desintegrando moralmente, em meio à mais absurda
O .único elemento ao qual podemos, com razão, confusão religiosa.
adjetivar de «religioso», era o elemento supersticioso,
que até hoje não abandonou as populações italianas. F. 'A R.eJJaIio Ro...... e o Clt......,......
Embora as questões filosóficas não façam parte das Neste sexto ponto queremos esclarecer como a
considerações deste artigo, não há que duvidar que, atitude do império romano para com o cristianismo, a
dentro de tão confusa situação religiosa, a filosofia principio amigável ou mesmo indiferente, terminou
fosse uma espécie de religião para os romanos mais resultando em um terrível conflito, ao ponto que o
especulativos. Isso explica o grande sucesso de idéias simples lato de que, ser cristão, era considerado um
filosóficas, como o estoicismo (vide) e o epicurismo crime. E também como, não podendo vencer o seu
(vide), na Roma imperial. E, pouco depois, veio adversário. o império achou por bem absorver esse
juntar-se a Isso,. ainda um outro 'ingrediente, na adversário, o cristianismo, tornando-o seu, em um
tentativa de satisfazer o faminto e estéril espírito novo sincretismo tipicamente romano. Para começar,
romano, inteiramente desapontado com as suas diríamos que a principal questão envolvida nesse
próprias divindades e conceitos religiosos, a saber, .os conflito entre o império romano e o cristianismo era
cultos orientais. que, à medida que este se fortalecia, aquele se
debilitava. E as .autoridades romanas. naturalmente,
D. o. Calto. OrieDtaIa reagiram a isso. ou perseguindo os cristãos, ou
A extraordinária capacidade de absorção dos finalmente, oferecendo-lhes proteção imperial, para
romanos, que nunca se mostraram muito criativos, melhor controlá-los. Dividiremos este sexto ponto por
mas cujo sincretismo religioso era simplesmente etapas que seguem os desenvolvimentos históricos
proverbial, foi sendo alimentada cada vez mais, naturais.
conforme o império ia-se expandindo geograficamen- a. Até à Morte de Nero (68 D.C.). Visto que os
te, e um número cada vez maior de divindades primeiros cristãos nem imaginavam separar-se da
estrangeiras encontrava aceitação no hospitaleiro sinagoga judaica, para as autoridades romanas, no
panteão de Roma. As religiões de «mistério», com seus começo o cristianismo parecia apenas um dos ramos
ritos de fertilidade e suas cerimônias só para os da fé judaica. Ora. o judaísmo era uma religião lícita,
iniciantes, deixaram os romanos fascinados. Ê que isto é, uma religião estrangeira tolerada no império.
essas religiões vinham preencher um vácuo no Para os romanos, o cristianismo a principio deve ter
espírito romano, com sua religião tão despida de parecido apenas um judaísmo reformado e mais
características atrativas. O próprio Estado, terminada espiritual. Assim. as primeiras perseguições contra os
a Segunda Guerra Púnica, em 204 A.C., introduziu o cristãos foram todas movidas pelo judaísmo. Quando
culto orgiástico da grande mãe Cibele, natural da os judeus acusaram os cristãos, o governo imperial
Frigia. na Ásia Menor. Esse culto, servido por não sô se recusou a dar ouvidos a essas acusações, mas
sacerdotes que dançavam freneticamente, ao ritmo de também protegeu aos cristãos, livrando-os até mesmo
tambores, com estranhos e horrendos ritos de da violência da população (ver Atos 21:31 s). Foi
mutilação e êxtases. conquistou os romanos, por 'somente na época de Nero que o governo romano
assim dizer, da noite para o dia. Mais tarde, de 88 a tomou o primeiro passo hostil contra os cristãos, a fim
63 A. C .• os legionários romanos encontraram Ma. a de desviar da pessoa do imperador as suspeitas
deusa da Capadócia, com o seu ritual de batismo em populares de que ele mandara incendiar Roma.
sangue de bois. Do Egito, as tropas romanas Depois disso, as acusações passaram a ser que os
trouxeram o culto a Isis, com seus jejuns e seu drama cristãos eram hostis ao gênero humano e eram
de ressurreição. Esses cultos estrangeiros chegaram a culpados de praticar artes mágicas. A partir daí, o
arraigar-se de tal modo nas preferências dos romanos cristianismo passou a ser considerado uma religião
que Augusto, ao procurar restaurar os cultos italianos ilícita, aos olhos dos governantes romanos.
mais primitivos, ao menos em sua forma grego-roma- b. O Período .F7aviano (68-96 D.C.). Durante esse
na, não obteve bom êxito. De fato, o senado romano, período, o governo imperial não assumiu nenhuma
650
RELIGIÁO ROMANA
atitude uniforme de hostilidade aos cristãos. Contu- outros perseguidores do cristianismo, Diocleciano foi
do, os imperadores flavianos não podiam evitar de um dos governantes romanos mais capazes. A
seguir o precedente estabelecido por Nero. Tito em principio, ele não queria perseguir &9s..cnstlos;
coisa alguma alterou essa atitude governamental, mas porém, quando o fez, mostrou-se muito duro,
Domiciano, seu irmão, aparece proeminentemente procurando mesmo o exterminio deles. Houve alguns
como perseguidor dos cristãos, durante esse periodo editos de sua autoria contra os cristãos. Um deles
histórico, tal como Nero o fora durante o periodo visava a debilitar a Igreja em expansão. Biblias foram
anterior. Não obstante, Domiciano entrou em choque destruídas e assembléias cristãs foram fechadas. Um
com o cristianismo muito mais por causa de seu outro edito voltava-se contra a organização eclesiásti-
esforço em prescrever as religiões orientais e em dar ca dos cristãos. Um terceiro oferecia a chance de
novo impulso à religião nacional. Por isso, foi criada a escapar da morte aos cristãos que se retratassenf,
alegação de que os cristãos eram ateus, no sentido de embora também procurasse compeli-los à submissão,
que eles não aceitavam adorar os deuses romanos. Foi mediante torturas fisicas, se eles se mostrassem
o mesmo Domiciano quem criou um teste fácil de ser insubmissos. Isso mostra-nos o desespero do governo
aplicado para detectar os cristãos e facilitar os imperial, já inteiramente batido no campo das idéias.
inquéritos contra eles. Esse teste consistia em Finalmente, convencido da inutilidade de suas
requerer dos cristãos a adoração ao gênio do medidas, Diocleciano acabou suspendendo a pena de.
imperador, o que, naturalmente, os cristãos convictos morte contra os cristãos (304 D.C.). Isso, paralela-:
se recusavam afazer. A politica de Domiciano, além mente à sua abdicação ao trono, no ano seguinte,
disso, era impor o seu titulo de dominus et deus, conforme muitos comentadores têm dito, mostra-nos
«senhor e Deus». Como é óbvio, os cristãos, leais à que ele reconheceu sua derrota, diante do Mestre da
divindade e senhorio de Cristo, nunca aceitariam Galiléia. O primeiro edito geral de tolerância aos
titulo tão blasfemo, com tudo quanto o mesmo cristãos teve lugar a 30 de abril de 311 D.C., da parte
subentendia. O livro de Apocalipse reflete os de Galécio, Constantino e Licínio,
sofrimentos da Igreja cristã durante o reinado de e. Do Primeiro Edito de Tolerância até à Queda do
Domiciano. Império Romano do Ocidente (311-466 D.C.). Face
c. O Periodo Antonino (96-192 D.C.). E: fato ao edito de tolerância, em 311 D.C., o cristianismo
curioso que alguns dos melhores imperadores foi, finalmente, declarado religião licita, embora isso
romanos perseguiram aos cristãos, como Trajano, ainda não lhe tivesse dado posição de igualdade com o
Marco Aurélio, Décio e Diocleciano, ao passo que paganismo oficial. Não demorou, porém, que essa
alguns dos piores dentre eles deixaram os cristãos em igualdade também fosse reconhecida. E, finalmente,
paz, como Cômodo, Caracala e Hiliogabalo. Foi com a fundação da nova capital' do império,
durante o reinado de Marco Aurélio (161-180 D.C.) Constantinopla, o cristianismo tornou-se, virtualmen-
que a perseguição contra os cristãos estendeu-se à te, a religião oficial do império romano-em uma
Gália e ao norte da África-um passo mais na direção aliança que teve conseqüências desastrosas para a
da perseguição geral contra os seguidores de Jesus pureza e para a unidade do cristianismo. Em primeiro
Cristo, conforme se viu no século seguinte. Por essa lugar, porque, ao entrarem em aliança com
altura dos acontecimentos, as autoridades romanas Constantino, os cristãos estavam dando a César o que
irritavam-se sobretudo contra o que lhes .parecia a pertencia a Deus, reduzindo o cristianismo a uma
obstinação dos cristãos, que não queriam largar sua religião deste mundo. E, em segundo lugar, porque
"pertinaz superstição», confonne diziam. Para essas essa secularização imediatamente fez o cristianismo
autoridades, bastaria isso para que os cristãos fossem transformar-se em uma religião intolerante e perse-
considerados dignos de castigo. No entanto, até esse guidora, inspirada que estava pela intolerância
ponto da história os imperadores não perseguiam aos imperial.
cristãos como uma norma fixa de seu governo.
Os filhos de Constantino herdaram a natureza cruel
d. As Muitas Dinastias, de 192 a 311 D.C. Nesses de seu pai, e agora de mistura com um cristíanísmo
cem anos e um quarto, mais de vinte homens vestiram apenas nominal. Se Constantino deixara o cristianis-
a púrpura real, quase cada um deles de uma dinastia mo e o paganismo em um mesmo nível, o que se prova
diferente. Foi um período um tanto confuso para o facilmente pelo fato de que aquele imperador nunca
império. Os cristãos tiraram proveito da situação para desistiu dos titulos pertinentes ao sumo sacerdócio da
se multiplicarem e se propagarem pelo império. religião pagã, que eram privilégios dos imperadores
Quando subiu ao trono o imperador trâcio, Maximia- romanos, os seus filhos, por sua vez, lançaram-se à
no, houve perseguições localizadas contra os cristãos. inglória tarefa de tentar exterminar o paganismo..
Foi o imperador Décio (249-251 D.C.) quem lançou a mediante a violência, em nome de Cristo. Não
primeiraperseguição geral contra os cristãos, isto é, demorou para que o cristianismo oficial se transfor-
envolvendo todas as províncias do império. A politica masse em um poder que apelava para o vandalismo.
imperial estava então calcada sobre duas normas 'As turbas. cristãs tomavam de assalto os templos
básicas: 1. a profissão cristã, por si só, não resultava pagãos e se apossavam de seus bens, liderados por
em sentença de morte para alguém, pois todos os lideres cristãos fanáticos. Realmente, no império
meios eram empregados pelas autoridades romanas romano do Ocidente, o paganismo, dai por diante, foi
para convencer os cristãos a se retratarem de suas perseguido pela Igreja oficial até o fim, e a sua
idéias religiosas; a execução só ocorria no caso dos derrubada definitiva foi apressada pela extinção do
recalcitrantes. 2. As autoridades romanas já haviam império ocidental, em 476 D.C. Por sua vez,
reconhecido a força da organização dos cristãos, pelo Justiniano, no império romano oriental, .fechou as
que os seus esforços dirigiam-se, principalmente, escolas pagãs de filosofia, em Atenas (529 D.C.),
contra os oficiais da Igreja. Interessante é observar- tendo mesmo proibido, despoticamente, a adoração
mos, incidentalmente, que a Inquisição, uma medida pagã, mesmo em particular, sob pena de morte.
radical tomada pela contrarreforma católica romana, Teria vencido o cristianismo e sido derrotado o.
que começou cerca de doze séculos depois da paganismo? A verdade dos fatos é outra. As
perseguição geral movida por Décio, empregava populações inquietas do império romano não se
exatamente essas normas. Ver sobre a Inquisição. haviam convertido a Cristo. O que havia sucedido era
Voltando aos imperadores romanos, tal como que a Igreja oficial secularizava-se a tal ponto que foi,
661
RELIGIÃO - RELIGIOES COMPARADAS
'por ela abandonado o requisito biblico da conversão restauradores são realmente milenares, não sendo
(arrependimento e fé em Cristo), em troca da mera limitados nem pela morte biológica e nem por
aceitação de lábios. Espiritualmente falando, o que qualquer era particular da história humana. Antes,
estava ocorrendo era o maior plantio de joio, em meio transcendem a todas essas coisas (I Ped. 4:6 e Efé.
ao trigo (ver Mat. 13:24-30) que, provavelmente, já 1:10).
houve na hist6ria. Sendo esse o caso, o Lagos pode mostrar-se ativo
O paganismo romano já representava o sincretismo em muitos lugares e através de muitos sistemas, em
de noções religiosas itálicas e gregas com o judaísmo, sentido preparatório. A unidade é o alvo final de toda
com as religiões orientais e com as idéias filosóficas essa atividade, conforme aprendemos em Efésios
gnôstícas, e a isso veio juntar-se um verniz de 1:10. Em toda a nossa busca, a lei do amor, e não a lei
cristianismo, com muito tempero ariano. (Ver sobre o da hostilidade, deve governar os nossos passos. Essa é
Gnosticismo e sobre o Arianismo). Não foram uma lição dificil de ser absorvida: pois as denomina-
Constantino e nem Teodôsio (vide) que deram fim à ções cristãs promovem ativamente o 6dio, a fim de
religião pagã romana. Esses e outros imperadores ro- defenderem os seus respectivos sistemas. Tenho sido
manos do Ocidente e do Oriente somente deram uma testemunha de muitas controvérsias e divisões
nova feição ao paganismo "romano, pressionados que eclesiásticas. Certo professor que tive, na faculdade
estavam sendo por considerações politicas, porquanto teológica em que estudei, em meio a certa
o cristianismo, na época deles, era uma força que não controvérsia particular declarou: «A melhor coisa que
podia deixar de ser ouvida no governo do império esta denominação poderia fazer seria jogar fora todos
romano. os seus mimeôgrafos!» Ele disse isso porque cada-
facção em luta estava atacando as outras mediante
material duplicado em seus mimeógrafos. Porém, a
RELlGiOES, TIPOS DE verdade é que os conflitos começam na mente dos
Ver sobre ReUalIo, seçio 111, 'TIpoe de JWlalIo. homens. Se tivermos de opor-nos a outro sistema-ou a
outra pessoa, cujas idéias são diferentes das nossas,
RELlGIOES. 'COMPARADAS deveremos fazê-lo impulsionados pelo espirito do
amor, deixando de lado toda a hostilidade. Convém
Ver sobre R"""" . . . . . . . (Loaoi SpenaatIkoI)' que escolhamos nossas palavras a fim de edificar, e
Esse 6 o estudo das virias reJisitles do mundo para não a fim de antagonizar.
que se averigue o que é similar ou diferente nas
mesmas. Por extensão, também pode estar em pauta Os ~ deveriam começar pela
o estudo das crenças de várias denominações, dentro expeetwçIo da . . . . . . ., e nia pelo intuito de
de um único sistema religioso, para que se verifique defender a minha posição e de derrubar a posição
como a fé é diversamente interpretada. Durante contrária. Nas mãos dos céticos, o estudo das religiões
quatro anos fiz estudos biblicos e teológicos, mas não comparadas com freqüência é feito a fim de descobrir'
recebi qualquer aula de religiões comparadas, exceto coisas que podem ser usadas para desacreditar a fé
de modo negativo. Eram feitos estudos de outras fés, religiosa em geral. Essa é uma outra abordagem
mas apenas com o intuito de criticar, e não com a. negativa do assunto. E não precisamos procurar por
esperança de descobrir novos aspectos da verdade.. muito tempo para descobrir coisas absurdas nas
Realmente, o estudo negativo, no campo das religiões religiões. No entanto, esses «absurdos" geralmente
comparadas, no caso de muitas pessoas religiosas, é a não anulam os discernimentos que elas têm recebido
única motivação que. as leva a estudar as outras quanto à verdade. O principio do Ser divino e da
religiões. Deixo aqui registrado que essa é uma existência da alma e sua sobrevivência ante a morte
maneira errada, míope e prejudicial de estudar as biológica, juntamente com a lei do amor, são
religiões, nada tendo a ver com a verdadeira defesa da doutrinas cardeais da maioria das religiões. O
verdade.. Ver os artigos sobre a Comunidade de budismo é criticado como uma fé baseada no ateismo.
Inquirição e sobre a Comunidade de Interpretação, Ê verdade que certas formas de budismo não
quanto a algumas razões dessas minhas afirmações. promovem a doutrina de Deus, e que, mediante
Quando aprendi a abordar os ensinos de outras omissão, isso poderia ser considerado ateísmo.
denominações cristãs, ou os ensinos de religiões Porém, devemo-nos lembrar que Buda foi um filósofo
não-cristãs, com o propósito de aprender, e não com o ético, que não se atirou à tarefa de examinar as
intuito de criticar, então descobri, em muitos casos grandes questões metafisicas. Assim sendo, quando
para minha grande surpresa, que podemos obter abordamos o budismo, devemos lembrar que, no
desse estudo muitos discernimentos importantes. Meu mesmo, devemos procurar entender os princípios
próprio conhecimento e minha fé têm sido enriqueci- éticos, e não entrar em questões metafísicas
dos mediante o estudo das religiões comparadas. Uma especulativas, Se assumirmos essa abordagem, pode-
das descobertas que podemos fazer é que alguns remos aprender muito. Se você não acredita nisso, leia
grandes principios básicos percorrem todas as fés o meu artigo sobre o Budismo. Tenho estudado o
religiosas, embora expressos mediante um vocabu- budismo a fim de aumentar os meus conhecimentos, e
lário diferente. Sou forçado a concordar aqui com a não para tornar-me um budista. Há excelentes pontos
opinião dos pais gregos da Igreja que diziam que as sobre a alma e sua busca, derivados do budismo. Suas
sementes da verdade foram semeadas por toda a parte múltiplas veredas de expressão são muito instrutivas,
pelo Logos ; o qual tem uma expressão universal, e não acrescentando algo ao nosso conhecimento sobre os
atua somente através de uma fé religiosa. A lei foi meios do desenvolvimento espiritual. Posso extrair
dada a Israel como mestre-escola, para conduzir os pontos valiosos do hinduísmo, sem que eu me torne
judeus a Cristo. A melhor porção da filosofia grega, hindu, e sem sentir-me forçado a criticar o
sobretudo a filosofia de Platão, também foi dada aos hinduísmo. Assim sendo, meu leitor ou ouvinte
pagãos como um mestre-escola, para levá-los aos pés (conforme o caso), pode estar certo de que não estou
de Cristo. :E: claro que a filosofia fez isso em termos, sendo convertido a essas religiões! Posso mostrar
pois apenas fê-los anelar pela revelação divina, que é apreciação pela defesa fanática da existência da alma,
desfrutada por meio de Cristo. O mesmo principio demonstrada pelo espiritismo, juntamente com a sua
pode ser aplicado a outras filosofias e religiões. Não insistência sobre a prática da caridade, sem tornar-me
devemos olvidar que os processos remidores e espirita. Posso 'salientar a longa história das
662
RELIGIOES MISTERIOSAS
contribuições que a Igreja Católica Romana tem feito ao mesmo. A Eneyclopaedia Britanica, apesar de
para a fé e a civilização, sem tornar-me um católico conter estudos de anatomia comparada, de psicolo-
romano. Satisfaço-me com a informação de que gia, de filologia, e de outras ciências, não tem
Roma conseguiu manter de pé a civilização ocidental, nenhum artigo sobre religiões comparadas. Isso, por
tornando-se a fonte de toda a cultura e educação si mesmo, serve de indicação do pioneirismo desse
durante a Idade Média, pelo espaço de mil anos, "sem tipo de estudo. Quantas escolas teológicas no Brasil
pôr em dúvida a justiça da Reforma- protestante do têm um curso sério sobre o assunto, ou ao menes
século XVI. Também não preciso rosnar contra os incluem a matéria em seu currículo, de maneira
católicos e os protestantes para que o meu leitor fique significativa? A maioria desses seminários propagam
certo de que não estou esquecendo qualquer erro, em ativamente suas próprias doutrinas limitadas, pelo
minha busca pela verdade. Podemos encontrar muitos que não estão interessados em cursos sérios sobre esse
erros, na doutrina e na prática, de todas as assunto. Um interesse menos preconcebido pela
denominações cristãs e de todas as religiões do verdade haveria de encorajar os seminários 'evangéli-
mundo. Somente as pessoas mais arrogantes pode- cos a incluirem estudos de Religiões Comparadas.
riam negar esse fato. Porém, nada ganhamos por
entrar em guerra o tempo todo. Certo ex-padre
católico romano, quando fala em ~úblico, mostra-se RELIGIOES MISTERIOSAS (DOS MJSTOIOS)
cheio de consideração com os outros. Porem, quando Esboço:
senta-se por trás de sua máquina de escrever, deixa-se Introdução
impulsionar por um espirito tão iracundo que sua Palavras e Caracterização Geral
máquina chega a fumaçar! Hâ evidências de que, I. lista das Religiões Misteriosas (dos Mistérios)
antes de sua conversão ao evangelho, ele fumaçava 11. Qual a Relação entre' essas Religiões" e o
contra os protestantes! Infelizmente, em alguns
circulas religiosos, é considerado uma virtude cristã Cristianismo?
cuspir bolas de fogo! Porém, penso que o homem IH. Contribuições
espiritual vai aprendendo a moderar essa tendência Introdu.
humana, à medida que ele amadurece. P....vra e CuaeterIzaçIo Geral
Os historiadores, algumas vezes, caem no erro de 1. A Palavra-Chave.O termo básico grego é ",ústes,
dniciado nos místêríos-, O vocábulo grego mustérion
afirmar, em seus estudos comparativos de religiões, significa «mistêrk», «rito secreto», «doutrina secretas,
que a fé religiosa é apenas uma parte do processo Essa mesma palavra grega no plural, mustéria,
histórico, nada tendo de divino na mesma. Os
filósofos talvez façam outro tanto, ao traçarem as apontava para os «mistêríos-, as celebrações religiosas
linhas comuns da crença religiosa, que se manifestam secretas, os ritos e as doutrinas inescrutáveis. Ao que
nas várias fés religiosas do mundo. Os crentes parece, esse termo, com tal sentido, foi usado pela
. primeira vez, dentro do contexto cristão, na obra
extremamente fundamentalistàs podem perder de Dionysius Areopagitica, do pseudo-Dionlsio (vide). O
. vista o valor que podemos derivar desse estudo, ao vocábulo mistério deriva-se da palavra grega múo,
insistirem sempre que aquilo que eles sabem, auto- «fechar os olhos», criando assim o senso do
maticamente 'precisa ser certo, não estando sujeito a misterioso.
qualquer apnmoramento. Eles também mostram-se "
absurdos quando concebem o Lagos divino, Jesus 2. Caracterização Geral. A expressão religiões
Cristo, a operar exclusivamente através da fé cristã. misteriosas relaciona-se àquelas formas religiosas que
Neste preciso instante, tenho aberto diante de mim, incorporam doutrinas esotéricas, ritos e cerimônias
um volume de dicionário teológico, de tendências secretas de iniciação, e que existiam no mundo
fundamentalistas, onde encontro, de tantas em tantas helênico, mais ou menos na época das conquistas
linhas, uma advertência contra o liberalismo teolôgi- militares de Alexandre, o Grande, e dai por diante,
co, ou acerca do estudo das religiões comparadas, até os primórdios do cristianismo. Esses cultos' eram
embora admita que esse estudo «não seja destituido de enormemente populares no tempo de Jesus Cristo, e
certo interesse e valor», os eruditos não têm dificuldade alguma por encontrar
Ainda recentemente, um bem conhecido pregador palavras tomadas por empréstimo dos mesmos, nas
páginas do Novo Testamento, como pléroma,
pelo râdio e pela televisão declarou publicamente que «plenitude», e a própria palavra mustérion, «misté-
Deus nunca ouve as orações dos judeus! Mas a sua rio», Algumas citações dos escritos dos antigos pais da
Bíblia, o tempo todo, contém o Antigo Testamento. E Igreja, como Clemente de Alexandria e Orígenes,
todos pensamos que os livros do Antigo Testamento mostram que alguns dos primitivos cristãos pensavam
são uma mui significativa contribuição à fé religiosa. que o cristianismo é a grande e autêntica religilo
Porventura Deus teria uma tão fraca audição quanto à
a declaração daquele pregador quer dar a entender? misteriosa, visto que trouxera luz as esperanças e 06
alvos das religiões misteriosas, onde essas esperanças
No século XIX, começou a surgir o que veio a ser e alvos eram traçados de maneira muito vaga e
chamado de Ciência das Religiões Comparadas. Essa imperfeita.
novel ciência acompanha a história das religiões;
classifica itens teológicos, filosóficos e éticos; tenta As religiões misteriosas eram, essencialmente,
fazer comparações e contrastes, e, de modo geral, religiões que falavam em redenção, oferecendo aos
expõe a substância e as subcategorias das idéias iniciados a libertação dos problemas do mal, das
religiosas. O método cientifico é aplicado, até onde é condições terrenas e suas limitações. Essa libertaçlo
possível, nesse tipo de estudo. Teoricamente, aborda deveria ser obtida mediante a aderência fiel aos ritos
esse campo desarmado de pressupostos, busca todos prescritos. Após longas e árduas purificações, os
os fatos e aplica as ciências paralelas da arqueologia, iniciados seriam ~dados à vida própria dos deuses,
da antropologia, da lingüística, da teologia, da ou a alvos espintuais de alguma daquelas diversas
filosofia, da sociologia, da psicologia e da história. seitas.
Reúne os fatos, relaciona os mesmos, classifica-os A possessão de um conhecimento secreto e a
quanto à sua origem, natureza e desenvolvimento, e observância dos ritos determinados supostamente
então declara: «Nisto consiste a religião». Esse estudo eram medidas que asseguravam um estado de
não têm satisfeito a todas as esperanças relacionadas bem-aventurança aos devotos, tanto agora como Da
"663
RELIGIOES MISTERIOSAS
Vida ap6s-t6.mulo. Os mistérios gregos, frigios, sírios, vida, conferindo a vida eterna à alma.
eglpcios e persas são os que mais interessam aos Os frigias adoravam Cibele. que terminou toman-
estudiosos. E, naturalmente, o gnosticismo sofreu do-se conhecida como Magna Mater, «Grande Mie».
poderosamente a influência desses cultos, tendo Ela era a deusa da fertilidade. Ãtis, seu amante, foi
incorporado. em seu sistema, aspectos daquelas emasculado a fim de que a sua virilidade fosse dada à
crenças. Quase todas \ aquelas religiões misteriosas deusa. Mas, ele recuperou-se . prodigiosamente da
giravam em tomo da idéia de salvadores que morriam emasculação e voltou à vida. Os sacerdotes dessa
e voltavam à vida. Essa aspíração, entretanto, s6 teve relígíão, pois, emasculavam-se em honra a essa deu~.
cabal cumprimento na vida. na morte e na Os sacrificios cruentos de touros eram um nto
ressurreição de Jesus. o Cristo. Entretanto. aquelas iIllpo~tanu. n.e~a ~1igião mi5teci05a.. C! 5augue
doutrinas esotéricas apelavam para um profundo e gotejava da plataforma on&; .~ sacnficlos. eram
crescente senso dêlnecessidade de alguma experiência efetuados, pingando sobre os Iniciados, que ficavam
religiosa pessoal, bem como da salvaçl.o futura da em baixo da plataforma. E esse sangue. segundo
alma, como algo essencial para- o ser humano. Foi supunham, garantia a vida eterna aos iniciados.
precisamente por esses motivos que essas religiões Na Sina, Afrodite e Adênís eram as principais
floresceram tio espetacularmente no mundo antigo, divindades pagãs vinculadas às religiões misteriosas.
durante alguns séculos. Aquela deusa personificava a vida-mie da natureza,
J. u.ta ... ReIIIIa. MDUd.... (.... MIatéd_) enquanto seu companheiro representava a morte e
1. Os Mistérios Eleusianos, Esse nome deriva-se de então o renascimento da vegetação. A morte de
Eleusis, perto de Atenas. na Grécia, onde estava o Ad&nis era representada por melo de um drama
santuário central dessa fé misteriosa. Essa relígíão místico. Quando Ad&nis morria, havia muita
estava alicerçada sobre mitos associados às deusas lamentação, mas um júbilo frenético aco~panh~va a
Demeter (a Ceres dos romanos) e Persefone (a sua imaginária ressurreição. ~sse drama Simbolizava
Proserpina dos romanos), filha da primeira. Para as esperanças que os iniciados tinham de vencer a
esses mistérios pareciam muito importantes as morte e serem restaurados à vida, a saber, a vida
estações do ano em sucessão, o renascimento da vida eterna.
na primavera, e dai derivava-se a idéia de renascimen- 3. Os Mistérios Órticos. Eurídice e Orfeu
to pessoal. Nessa religião encontramos o drama da formavam um outro imaginário casal divino. Orfeu,
descida ao hades, da subida do mesmo, e. por não haver seguido à risca certas instruções
subseqüentemente, da vida eterna. Persefone teria divinas, foi incapaz de impedir Euridice de voltar do
sido arrebatada para o hades. Isso teria causado a mundo inferior. Encontramos ai a tragédia da vida e
Demeter uma profunda tristeza. A fim de aliviar-lhe a da morte dos homens, que somente levam aos
tristeza, Zeus (o Júpiter dos romanos) arranjou as tormentos e ao desespero do mundo das trevas. Nos
coisas de modo a devolver Persefone à sua mie, por mistérios 6rficos encontramos o deus Dionisió a
oito dos doze meses de cada ano. Os quatro meses que morrer e a ressuscitar como um salvador. Ele, que era
ela ficarilt'no hades corresponderiam aos meses de in- um dos filhos de Zeus, teria sido morto pelos titãs,
vemo, quando as coisas morreriam à face da terra. que lhe comeram as carnes. Porém, um novo Dionísio
Mas, então, a vida retomava, quando Persefone era emergiu de seu coração, que havia sobrãdo. A partir
.devolvida à sua mie, que então cessava em suas desse mito, esse culto desenvolveu-se em uma crença
lamentações. Essa hist6ria era o ponto central dos em uma espécie de metempsicose (reencarnação),
mistérios eleusianos. Em imítação a Persefone, os como maneira de preservar a vida do individuo,
iniciados precisavam descer ao hades, e, então, ainda embora o fim da carreira da alma fosse a gl6ria
emulando-a, deveriam voltar à vida. Ao ascender ao eterna. No orfismo eram importantes tanto as práticas
hades, os iniciados atingiriam uma resplandecente ascéticas quanto os ritos de purífícação.
luz, a luz da imortalidade. Portanto, para essa fé, um A hist6ria da descida ao hades, o orfismo, é
ponto cêntrico era a descida ao hades e a derrota do bastante antiga, antecedendo as formas posteriores,
mesmo, quando o individuo dali escapava. Isso caracterizadas por uma melhor esperança, daquela
tomou-se um dos motivos universais das religiões do fé. Orfeu era reputado como um grande poeta,
mundo, e o cristianismo, como é claro, também inclui porquanto seria filho de E~gro e da m~sa Calio~.
uma descida ao hades (por parte de Cristo), com Tão artístico era ele na música e na poesia que sena
propósitos remidores. Ver o detalhado artigo intitula- capaz de fazer as árvores e as rochas moverem-se,
do Descida de Cristo ao Hades, Nessa descida ao como também podia amansar as feras. Eurídice, sua
hades, Cristo abriu aquele lugar como um campo esposa, teria sido picada por uma serpente e teria
missionário. Dessa maneira, sua missão tomou-se morrido. Assim sendo, Orfeu desceu ao hades, onde
tridimensional: a. na terra; b. no hades; c. nos céus. tocou sua música e declamou a sua poesia. E de tal
Isso posto, uma aspiração dos pagãos apontava; para maneira comoveu Persefone, com a sua apresentação,
uma realidade; e Cristo foi quem concretizou essa que ela lhe permitiu levar dali Euridice, de volta ao
realidade. mundo superior, com a condição de que ele não
2. Os Mistérios de Ísis-Osiris Cibele-Átis e olhasse para trás, ao passar pelo reino dos mortos
Afrodite-Adônis. Esses mistérios eram parecidos com (1embremo-nos da esposa de 1.61). Entretanto, Orfeu
os mistérios eleusianos (ver acima). Em ambos os não foi capaz de conter a sua curiosidade, e olhou
casos, os ritos tinham por finalidade induzir boas para trás. Como castigo, Euridice teve de voltar ao
colheitas, mas, finalmente, desenvolveram-se em hades, que se tomou a residência permanente dela.
cultos que buscavam a salvaçl.o pessoal, através de
ritos de purificação, Isis e Osiris eram egipcios. A Utentua 0dIca. Uma volumosa literatura
Segundo a crença, Osíris teria sido morto e desenvolveu-se em tomo desses mistérios, hinos e
desmembrado por Sete, o deus maligno. lsis pôs-se a poemas'que exerceram considerável influencia sobre o
procurar até encontrar os membros do marido, e, neoplatonismo. Mas isso foi apenas natural. posto.
depois de ajuntá-los, fez seu marido voltar à vida. Os que Platão deixara-se influenciar por essa fé religiosa,
seres humanos. pois, identificar-se-iam com Osírís em com suas idéias de reencarnações, o drama sagradO
sua experiência de morte e desmembramento, mas o da alma e a vida eterna para as almas purificadas. O
poder daquela deusa seria adequado para restaurar a orfismo conferia aos iniciadm a certeza da salvaçl.o e
654
RELIGIOES MISTERIOSAS
da 'bem-aventurança eterna, mediante a comunhão mitraismo, homens e mulheres podiam tomar-se
mIstica com Deus. Orfeu era considerado o fundador membros, com um destino celestial identico, mesmo
daqueles ritos, motivo pelo qual o culto tomava o seu que no mundo os privilégios entre homens e mulheres
nome diferissem. A ênfase de Paulo quanto a esse último
4. Os Mistérios de /)ioni80. Nesse caso, a ponto mostra que o cristianismo avançava um degrau
divindade era celebrada em meio a cânticos .e danças, em relação ao judaísmo, onde a -mulher era
através das virtudes do vinho, dos prazeres Sexuais e inferiorizada em relação ao homem. Por isso mesmo,
do êxtase de plena participação nos. atos de sacrificar alguns estudiosos têm chegado a pensar que Paulo foi
e comer animais. O que esses eitos buscavan:. era a influenciado, quanto a esse particular, pelas religiões
produção do êxtase, seria nessà ex~, que o iniciado misteriosas, uma conclusão desnecessária, porém.
buscava união com Deus. A alma era considerada 2. A ~nfase Sobre a Experiência Humana. A fé de
superior ao corpo, de fato, aprisionada no corpo. uma pessoa deve tomar-se real na prática, nia se
Conforme já vimos, Dioni$o também era figura reduzindo meramente a um credo. As religiões
importante em outras religiões misteriosas, embora misteriosas absorviam a vida inteira de seus devotos.
elas não tivessem, especüicamente, o seu nome. Mas, E o cristianismo, quando é autêntico, faz a mesma
em tomo de seu nome, desenvolveram-se vários mitos. coisa.
O culto especifico a DioDiSo era de origem trâeia, 3. O Bem Etemo da Armá. As religi6es misteriosas,
mas tomou-se muito generalizado. ,O léu nome tem tal como o cristianismo, enfatizavam. a vida vindoura,
sido encontrado entre antigas inscrições cretenses. a imortalidade da alma e tudo quanto está envolvido
Um outro nome seu eraBaco. E, devi90 aos excessos nisso.
selvagens dos ritos dos mistérios de Dio~ temos as 4. Competição e Contrastes. Como é 6bvio, há
palavras portuguesas báquico e bacanal, referindo-se muitos contrastes, como também similaridades; e o
a orgias, festins de vinho e excessos sexuais de toda cristianismo entrou em conflito com essas religiões, e,
sorte. As becas eram. as companheiras femininas e finalmente, venceu-as. O cristianismo prosseguiu,
devotas deBICO ~ll Dioniso.. enquanto elas chegaram ao final de suas carreiras e.
S. O Mitra[smo. Esse culto girava em tomo da desapareceram.
matança de um touro, em nome do deus Mitra. Foi a S. Empréstimos Feitos pelo Cristianismo? O ponto
última das religiões misteriosas a popularizar-se no intensamente debatido é exatamente o quanto o
império romano. Ao que parece, era de origem persa. cristianismo tomou por empréstimo dessas religiões.
Mitra, o deus-herói, estando na terra, dedicou-se a Alguns eruditos supõem que os empréstimos foram
servir à humanidade. Após uma última ceia, que significativos naquelas áreas em que o judafsmo não
celebrava o seu sucesso, especialmente os Seus foi uma fonte de influência. Os racionalistas
esforços remidores em favor dos homens, ele subiu germânicos e os teólogos céticos chegaram a tentar
para o céu. Ali chegando, ele continuou a ministrar desenvolver esse tema. Mas pensaram que o apóstolo
aos homens, por meio de seus agentes terrenos. Seus Paulo muito se endividou diante dessas idéias. Além
seguidores, estando neste mundo, enfrentam muitas das vârias doutrinas que temos alistado I!0 primeiro
dificuldades com poderes diab6licos, mas ele os ajuda ponto, sentiu-se que as lavagens cerimoniais dessas
e os torna vencedores. O processo de iniciação, para religiões misteriosas eram as precursoras do batismo
que alguém se tornasse membro pleno desse culto, era cristlo; que a refeiçlo sagrada era a precursora da
o mais elaborado dentre todas as religiões misteriosas. Ceia do Senhor; que o conceito do deus que morre e
O candidato precisava passar por sete graus que ressuscita influenciou as doutrinas cristis a respeito
simbolizavam como a alma, após a morte, deve de Cristo. Eruditos como Bousset, Reitzenstein e
atravessar sete céus, antes de atingir a glória eterna. Loisy foram os principais porta-vozes dessas idmas.
Em cada um desses graus o candidato entrava Apesar de muitos estudiosos admitirem que um certo
mediante a prlLtica de abluções, refeições sagradas e conjunto de vocábulos foi tomado por empréstimo
vários ritos sacramentais. O mitraismo era a única das desses cultos, incluindo a própria palavra mistério,
religiões misteriosas a restringir ao sexo masculino o que ocorre com freqüência no Novo Testamento,
direito de se tomarem membros, pelo que se tomou embora nunca em todo o Antigo Testamento (outros
um culto extremamente popular entre os soldados exemplos slo mústes, mustérion, kathá1'8is e teleiô-
romanos. Durante o segundo e o terceiro século de sis) , esse radicalismo parece ter sido essencialmente
nossa era, tomou-se o rival mais popular do abandonado. Não há que duvidar que certas formas
cristianismo, especialmente nas fronteiras do império de expressão foram tomadas por empréstimo, e que
romano, onde o número de militares romanos era algumas idéias sia similares. Mas, não hlL razlo
maior. alguma para supormos que houve qualquer emprêsti-
A Matança do Touro. Talvez esse fosse o rito mais mo substancial das religiões misteriosàs para o
importante do mitraismo. Representava os poderes cristianismo.
p
serópxuais, e dai eàxtraPal0lava 1?~8; 0dospoder e a glória dado
ria vida qu os tnlC18 estavam sen
m, CoDtrIbalçilee
à n...~~ ,~
introduzidos. Esse culto era caracterizado por uma 1. Voltando ~..estão dos Empre;nimos de Ideias.
rigida disciplina que, naturalmente, atraia a mente Penso que é lógico supormos que o cristianismo, ao
crescer no meio ambiente formado pelas religiões
,militar e religiosa. misteriosas, recebeu um senso maü agudo sobre os
n. QuI • ReIaçIo Eatn .... ~ e o mistmos, sobre a profunda natureza dos mist6rios
CrIId........' divinos, do que teria sido possivel se tivesse recebido
1. Atitudes e Idéias Similaas. A leitura do material apenas a influência do judaismo. QuiçlL tenha sido
acima impressiona o leitor com certas semelhanças essa a principal contribuição das religiões misteriosas.
básicas. Vemos naquelas religiões misteriosas planos Isso fica demonstrado pelos muitos mistérios que
de redenção, como no cristianismo; elas enfatizam a foram adotados no pensamento e no vocabulArio
responsabilidade humana, o uso de sua vontade para cristãos. Ver o artigo separado intitulado Minhio.
obedecer e executar os mandamentos da diVindade; Isso significa que apesar do cristianismo nio ter tido
elas dia grande valor à fê religiosa nesta vida; elas de pedir emprestadas idéias das religiões misteriosas,
falam. na descida ao hades, na libertação do bades, e parece.ter incorporado o senso de admiraçia, em sua
no v&o para a glória eterna; exceto no C8S() do fé, acerca das divinas realidades, que era sentido, pelo
656
RELOGIO - REMANESCENTE
menos parcialmente, nas religiões misteriosas. ou seja, um funcionamento paralelo harmônico.
2. O Trabalho Missionário Foi Facilitado. A Igreja Vários filósofos têm tomado uma ou outra dessas
cristã, ao avançar para regiões onde predominava o posições como possíveis. Ver o artigo geral sobre o
paganismo, encontrou aderentes das religiões miste- Problema da Mente-Corpo" (F)
riosas. Uma certa semelhança de maneira de pensar,
quanto a certas áreas importantes, naturalmente
teriam exercido efeito na preparação do caminho para REMALIAS
a passagem da nova fé, o cristianismo. Pai de Peca, um dos últimos reis de Israel, reino do
3'. A ênfase sobre a necessidade de disciplina e d. norte. Peca obteve o trono assassinando seu
experiência religiosa foi uma ênfase positiva, embora, antecessor, Pecaías (11 Reis 15:25), que fora o rei que
com freqüência, aqueles sistemas relígíoscs misterio- o nomeara como seu capitão.
sos abusassem dessa questão.
4. Os mistérios do cristianismo;são mais antigos REMAN2NCIA
que os das religiões misteriosas, pois aqueles têm sua
base no judaísmo, além do fato de poderem Esse termo, cunhado por Wydlffe (vide), vem do
reivindicar para si uma revelação mais exata a vocábulo latino remanare, «permanecer». Assim ele
respeito dos grandes mistérios. Outrossim, o cristia- deu nome a certa doutrina sua. Ele afirmava que, na
nismo é mais rígido ém suas exigências éticas, embora eucaristia, os elementos materiais do pio e do vinhb
não sem o concurso daquela liberdade que surgiu permanecem nesse sacramento, mesmo após as
quando o cristianismo rompeu relações com o palavras de consagração, mas fazem-se acompanhar
legalismo judaico. (AM E F Z) pelo corpo e pelo sangue de Cristo. Essa idéia pode ser
comparada às doutrinas da transubstanciação e da
consubstanciação, sobre as quais tenho apresentado
RELOOIO·DO SOL artigos separados. Ver também o artigo Jesus Como o
Há evidências em favor da suposição de que o Pão da Vida, quanto à ínterpretação mistica da Ceia
relógio de sol foi inventado pelos babilônios. Herôdoto do Senhor.
informa-nos que os gregos obtiveram deles esse
instrumento, bem como a divisão do dia em doze
unidades ou horas (ii.109). A primeira menção à REMANESCENTE
«hora», no Antigo Testamento, encontra-se em Daniel No hebraico temos três palavras diversas, com o
3:6, bem como no contexto babilônico. Os trechos de sentido de «aquilo que resta», «escape» e «remanescen-
11 Reis 20: 11 e Isaias 38:8, em conexão com o rei te». No N.T. também temos três palavras gregas,
Ezequías, parecem aludir gnômon (indicador vertical) katáleimma, letmma e loipôs, todas com o sentido de
do relógio de sol, onde o termo hebraico maalah «remanescente».
significa «degrau». Porém, a referência ali existente O conceito de remanescente encontra-se ao longo
mais provavelmente aponta para uma série de degraus da Bíblia,. com vários aspectos e significações.
sobre a qual alguma coluna lançava sua sombra, Aquelas palavras originais, algumas vezes, eram
projetada pela luz do céu que ia ascendendo; ou urna usadas em combinações que lhes emprestavam um
sucessão de marcas, onde a sombra atingia segundo a efeito intensificador ou especial. Podiam indicar
hora do dia. Esse sistema era usado como um método objetos ou pessoas que sobraram, após o uso ou
primitivo para dizer a hora do dia. O aparelho, sem alguma mortandade ou destruição. Os profetas se
importar o seu formato e natureza, foi erigido pelo rei utilizaram especiafmente de expressões como «restan-
Acaz. O profeta Isaías, a fim de mostrar que a tes de Sião» (Isa, 4:3; Jer. 6:9, «resíduos de Israel»;
Ezequias seria conferida a saúde fisica que ele Miq. 2:12, «restante de Israel»; Miq. 5:6 s, «restante
buscava recuperar, predisse que a sombra retomaria de Jacô») e expressões similares. Essas expressões têm
dez graus (ou degraus), o que devemos considerar um um sentido teológico e escatológico, um resumo das
grande milagre, a menos que, naquela oportunidade, esperanças dos crentes israelitas. O povo ao qual seria
tenha ocorrido uma leve mudança na posição dos dada a salvação final consiste na comunidade
pólos magnéticos da terra, o que alterou a sombra em daqueles que, pelo desígnio gracioso de Deus, vierem
dez graus. a escapar do juízo condenatório, por haverem sido
escolhidos pelo Senhor. Todavia, como muitos outros
conceitos teológicos, o conceito de «remanescente»
RELOOIOS, IMAGEM DOS DOIS também sofreu uma evolução ao longo da revelação
bíblica:
Descartes insistia na combinaçio entre a mente e o
corpo, com interação mútua em sua teoria da dupla 1. Uso profano ou natural. A idéia de algo que
personalidade humana. Outros filósofos tomam sobrou é comum no uso secular. A Bíblia alude ao
posições diferentes, e o que podemos dizer sobre o resto das ofertas de manjares ou de cereais (Lev. 2:3),
problema da mente-corpo, pode ser ilustrado ao resto 'do azeite (Lev. 14:18), os restantes dos
mediante dois relógios. As possibilidades são como prostitutos cultuais (I Reis 22:46), etc. A palavra
seguem: «restante- é usada, especialmente, para indicar
Dois relógios, que marcam o tempo com precisão, e minorias políticas de vários tipos (ver los. 23: 12; Deu.
3:11; 11 Sam, 21:2; Isa. 14:22,30; 16:14; I Reis 14:10;
estão sempre juntos, poderiam fazer isso através de: 11 Reis 25:11; Eze. 14:22, etc.). Os grupos de exilados
1. Interação constante e ajuste" mútuos; ou 2. um que retomaram da Babilônia em companhia de
fabricante poderia ajustar constantemente ambos os Zorobabel e Esdras também eram chamados «rema-
relógios, a fim de que sempre correspondessem um ao nescentes»,
outro; ou, finalmente, 3. os dois relógios, devido à
perfeição de seu mecanismo, podem trabalhar sempre 2. Uso teológico. :E. nesse campo que a palavra se
em uníssono, sem qualquer interferência externa, e reveste de grande importância. O destino politico de
sem necessidade de qualquer interação. Se substituir- Israel é uma questão escatológica, profetizada. Um
mos a relação entre mente e corpo por dois relógios, exemplo pertinente disso é Miq. 5:3: «Portanto os
chegamos a obter várias teorias possíveis, como: 1- entregará até ao tempo em que a que está em dores de
Interacionismo; 2. ocasionalismo; ou 3. paralelismo, parto tiver dado à luz; então o restante de seus irmãos
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REMAR - REMORSO
voltará aos filhos de Israel», Estão em foco os eleitos REMIDOR DE PARENTE
dê Deus dentre todas as nações, que serão unidas aos Ver GoeI.
israelitas salvos no fim de nossa dispensação,
completando a Igreja. Os profetas do A.T. apenas
vislumbravam o que o N.T. descreve com maior REMINlSCINCIA
clareza. Essa palavra aponta para o ensino de Platão de que
Aquele que faz a vontade de Deus é irmão, irmã ou todo conhecimento importa em «lembrança... Ele
mãe de Cristo (Mat. 12:50); e Cristo não se alicerçava sua idéia sobre a crença de que a alma,
envergonha de chamá-los irmãos (Heb. 2:11). A antes de vir a este mundo, já havia contemplado as
promessa se estende a todos quantos são chamados Idéias, o mundo dos Universais (vide), mesmo porque
por Deus (Atos 2:39). ela seriâ aparentada daquelas elevadas realidades.
Que a Biblia ensina um retorno literal dos judeus à Assim sendo, a alma humana seria possuidora-de todo
Palestina, (que pode ser identificado ou não ao conhecimento, embora não no nivel da consciência.
contemporâneo movimento sionista), parece claro, Mas, por meio de vários esquemas, a alma pode
através de trechos como Jer. 31:7-9 e Miq. 5:7,8. Mas, recuperar parte desse conhecimento, ou seja, através
quando chegamos ao N.T., a palavra «remanescente .. da razão (dai a importincia do diálogo), da intuiçio e
é usada especialmente em relação aos judeus que, em das experiências misticas. .
cada geração, se vão convertendo a Cristo, até à Ainda segundo Platão, a alma perderia a memória
grande colheita final de israelitas, nos dias da grande de suas vidas anteriores e dos universais, ao
tribulação. Romanos 9:27-29 é passagem crucial reencarnar-se. Por assim dizer, antes de voltar a este
dentro da teologia do remanescente. Só o remanescen- mundo, ela seria forçada a beber da fonte do
te de Israel será salvo. Esses são a semente espiritual esquecimento, e assim nasceria, como que pela
de Abraão, em contraposição à sua descendência primeira vez. Ver o artigo detalhado chamado
natural - aqueles que são tão numerosos como as Reencarnação. Ver também o verbete A"am"ésis,
estrelas, em contraste com aqueles que são tão termo grego para reminiscência.
numerosos como a areia dos mares. Portanto, é um
erro equiparar a moderna nação de Israel com o
remanescente profetizado. Contudo, apesar desse REMISSÃO DE PECADOS
remanescente visar especialmente aos judeus eleitos Ver PerdIo.
por Deus, também estão em pauta os gentios eleitos
(ver Rom. 9:24,25: «... a quem também chamou, não
só dentre os judeus, mas também dentre os REMONSTRANTES
gentios .....). Isso esclarece que a Igreja de Cristo, em Quarenta e cinco ministros de pendores arminianis-
seu estágio final, consistirá de judeus e gentios eleitos, tas objetaram ao calvinismo estrito e apresentaram
tal como se deu no começo do cristianismo, suas idéias alternativas. Eles dirigiram uma remoas-
fortalecendo a posição pós-tribulacional, que não trância ou «protesto.. às provincias da Holanda e de
concebe a Igreja gentilica arrebatada antes da Frieslândia, em 1610, motivo pelo qual vieram a ser
tribulação, somente após o que os judeus se voltariam conhecidos como os remónstrantes ou protestadores.
para Cristo. As promessas bíblícas, acerca do povo de Imediatamente foram privados de seus ministérios e
Deus do fim, visam igualmente a judeus e gentios, foram banidos, visto que o 6dio teol6gico sempre se
pois, em Cristo são eliminadas todas as distinções que manifestará com conseqüências drásticas. Posterior-
os separavam, formando-se um único corpo mistico mente, porém, foram perdoados. Ver os artigos
de Cristo. (Ver João 17:22,23). intitulados Calvinismo: Armi"ia"ismo: CaI~i"o e
Romanos 11:4,5 é trecho que fala de um Arm(nio.
remanescente escolhido de acordo com os propósitos
da graça divina. A base histórica disso é a experiência
do profeta Elias, que foi relembrado, em um REMORSO
período de grande apostasia em Israel, que havia ali Ver o artigo geral sobre o ArnpeadJm..to. A
muitos que não tinham dobrado os joelhos diante de palavra latina por detrás de «remorso.. é remorsus,
Baal. O ponto frisado pelo apóstolo foi que esses fiéis «morder de volta». Remordere é termo latino que
do passado são paralelos ao remanescente da graça na significa «remorder.., «continuar mordendo». Todos
dispensação atual. A soberana eleição de Deus está estamos familiarizados com o remorder da consciên-
em foco. Apesar da maioria da nação de Israel ter cia. O remorso é uma espécie de angústia mental,
caido em apostasia, o remanescente permaneceu fiel devido às coisas erradas que temos praticado.
ao Senhor, O mesmo. sucederá no periodo escatológico Trata-se de um desassossego de que fizemos algo
do fim. Outro pensamento que se salienta é que Deus errado, que precisa ser corrigido. Trata-se também de
jamais rejeita os seus escolhidos. Pois a eleição para a uma. ~guda auto-reprimenda. Muitas pessoas têm
salvação não depende das realizações morais dos chegado ao ponto de cometer suicldio, devido ao
escolhidos, mas do beneplácito de Deus. A ênfase espicaçar de um profundo remorso.
recai sempre sobre a profundissima misericórdia do O remorso, entretanto, fica a meio do caminho
Senhor, em todas as discussões sobre o remanescente. palmilhado pelo arrependimento. Por isso mesmo, os
te6logos geralmente distinguem entre o remorso e o
arrependimento, porquanto o primeiro pode existir
REMAR, REMADOR sem o segundo. Presumivelmente, quando Judas
Ver Na" e Eaabueaçilel. Iscariotes sentiu remorso, por haver traido ao
inocente Jesus, nem por isso verdadeiramente
arrependeu-se. De outra sorte, não se teria suicidado
REMETE (ver Mal. 27:3). Por outra parte, para n6s é diftcil
Uma cidade de frontei,ra. no territ6rio de Issacar, dizer qual o resultado final de seu remorso. Pedro vem
alistada juntamente com En-Ganim (Jos. 19:21). em nosso socorro, e diz: «...Judas se transviou, indo
Provavelmente era idêntica à Ramote de I Crô. 6:73, e para o seu próprio lugar..(Atos 1:25). E o trecho de 11
à Jarmute de Jos. 21:29. Cor. 7:10 acena-nos com a esperança de que a
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RENAN - RENASCENÇA
«tristeza segundo Deus.. termina em arrependimento-. tornou-se -um fator muito forte no âmbito da
Todavia, hiL uma tristeza mundana que 56 resulta em educação, o que se estendeu até dentro do período
maleflcio para a alma. moderno. No entanto, esse impeto, em nossos dias,
perdeu-se quase inteiramente. Os departamentos de
estudos clâssicos são pequenos e débeis nas institui-
RENAN, JOSEPR ERNEsT ções de ensino. Assim, a Universidade de São Paulo,
_~uas datas foram 1823-1892. Nasceu em Treguier, em 1987, não formou um único aluno no idioma e na
na Bretanha francesa. Ele foi orientalista, historia- literatura gregos, e a maioria das universidades nem
dor, teólogo e filósofo. Educou-se em Treguier e em ao menos conta com uma cadeira dessa disciplina. O
SIo Nicolau, no Seminário de Issay. Tornou-se latim é pouquíssimo ensinado, até mesmo em nivel
professor de hebraico e das linguas caldaicas no universitârio, quanto menos no giniLsio e no colégio.
Collêge de France. Apresentou conferências de Estamos falando sobre o nosso pais. A reforma do
tendências liberais, como aquelas sobre a Vida de ensino, em 1964, extinguiu o estudo do latim,
Jesus, o que Ihe- custou sua remoção daquela conforme, várias décadas antes, o grego cessara de ser
instituição de ensino por parte do ministério de ensinado. O grego ..koiné.., porém, continua sendo
educação da França. Porém, deu prosseguimento às uma matéria obrigat6ria dos cursos teológicos,
suas pesquisas e aos seus escritos. Mais tarde, veio a porquanto foi nesse idioma que o Novo Testamento
ser administrador do Collêge de Franee, e finalmente, foi originalmente escrito. A Igreja Cat6lica Romana
grande oficial da Legião de Honra. sempre se mostrou interessada pelos clâssieos, e
Renan tomou-se conhecido nos círculos teológicos grande parte das idéias de Platão e Arist6teles foi
por meio de sua literatura, na qual assumia uma incorporada no escolasticismo (vide), ainda que essa
posição naturalista. Referiu-se a Jesus Cristo como incorporação tenha tido adap~ões cristãs e dogmiLti-
«homem incompariLveb,/mas sem jamais considerar a caso Isso contrasta com o perlodo da renascença,
sua natureza divina. Sua famosa obra, Vie de Jésu«, quando os estudiosos examinavam os clássicos devido
..Vida de Jesus.., foi finalmente expandida em um jogo ao valor que lhes davam. -
de oito volumes. Também escreveu cinco volumes 3. O Momaeato do R-maaluno
sobre a Histoire du peuple d 'Israel, além de viLrias Podemos estar certos de que esse movimento surgiu
outras obras importantes. Seus Ensaios de Moral e como uma revolta contra o domínío sufocante da
Critica nunca deixaram de suscitar debates. Igreja Cat6lica Romana, apesar de também ter sido
um ressurgimento livre e espontâneo do desejo de.
RENASCENÇA liberdade e bem-estar humanos. Ver o artigo geral
Esboço: chamado Humanismo. Os cliLssicos gregos e romanos
1. O Termo e a Êpoea em Foco eram estudados; os valores culturais humanos foram
2. O Reavivamento da Cultura Antiga enfatizados; a autoridade da Igreja foi questionada.
3. O Movimento do Humanismo Vultos como Petrarca e Erasmo de Roterdã foram
fatores importantes para o humanismo que caracteri-
4. Aristóteles Versus Platão zou a época.
5. O Reavivamento do Misticismo 4. ~ Venua PIado
6. O Soerguimento da Ciência Um dos efeitos da renascença foi o debilitamento
7. Insatisfação com as Instituições do aristotelismo. Por sua vez, o platonismo foi
8. Reflorescimento das Artes reavivado, conforme se viu na Academia Florentina
.9. Efeitos sobre a Erudição e a Literatura (vide). E isso teve certos efeitos sobre a postura
10. Sumário de Efeitos teológica de muitos pensadores.
1. O TenDO e a 2poea em :Foco s. O ReaYlvameato do MbtIeIamo
OvociLbulo português «renascença.. deriva-se do Durante a renascença foram reestudados a c.baIa
francês que sígnifíca «renascimento». Esse termo é (vide) e os escritos herméticOs (vide). A alquimia
aplicado como designação hist6rica de um período de cresceu em sua importância, abrindo caminho' para a
tempo que foi vivido pela Europa Ocidental, entre os mais cientifica qu(mica. Nicolau de Ousa (vide)
séculos XIV e XVI. Porém, somente entre 1855 e 1860 combinou entre si essas diversas disciplinas.
é que esse termo começou a ser realmente usado para 6. O SoeraafuI-to da Oêacla
indicar esse periodo de tempo, e isso nas obras de A renascença foi um importante fator para o
Michelet e Burckhardt. Eles usaram esse vocábulo desenvolvimento .da ciência moderna. A ciência
como titulo do periodo histórico em pauta. Mas houve conseguiu desprender-se de vez da filosofia, adquirin-
outras designações. como ..renascimento do espirito do direitos e valias próprios. Giordano Bruno (vide) e
greco-romano.. e creavivamento da erudição... Francisco Bacon (vide) foram' figuras exponenciais
, 2. O ·Reavlvlmalmto da Caltara Aatlp -i nesse aspecto do movimento.
As obras clâssicas gregas e latinas não eram 7. IDutl. . . . com .. IJutltalçlel
desconhecidas durante a Idade Média, mas também Uma caracterlstica óbvia do período foi ..
não eram enfatizadas. Durante a renascença, reviveu insatisfação geral diante dos rumos que estavam
o interesse por essas iLreas do pensamento e tomando a religião e as principais instituições
realização. E isso serviu de estimulo para que os religiosas. A Igreja Cat6lica Romana resistia às
estudiosos buscassem maiores conhecimentos sobre a tentativas de reforma de seus abusos, tendo apelado
idade âurea greco-romana. E dai resultou um efeito para a perseguição e a matança. Lembremo-nos que a
secularizador, que tendeu por diminuir o predomínio Reforma Protestante foi um corolârio da renascença.
até então exercido pela Igreja Católica Romana sobre Mas nem toda resistência cat6lica romana era contra
o oeste europeu. os reformadores religiosos. Giordano Bruno acabou
Por essa altura dos acontecimentos. foram executado na fogueira, tendo-se tomado o primeiro
encontrados muitos manuscritos escritos em grego e -mârtír da filosofia.., nos primórdios da era modema.
em latim, e a literatura e a cultura da antiga
civilização greco-latina tomaram-se importantes para 8. Reft.....mn-to ou ~
graflde número de estudiosos. Essa influência Esse foi um importante aspecto da renascença. A
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RENASCENÇA - RENDA GARANTIDA
arte abandonou o simboHsmo medieval acerca de um j. Finalmente, a renascença assinalou o fim da
outro mundo, imaginado pelos religiosos, para Idade Média e o começo da era moderna. (AM E H P)
representar as belezas do mundo ftsico. Nem por isso
os assuntos religiosos foram totalmente relegados ao
esquecimento, mas agora possuiam uma maior RENASCIMENTO
naturalidade. Os arquitetos da renascença afastaram- Ver sobre Reencarnação. Ver também os artigos
se d'hs temas misticos e religiosos, e reviveram as Novo Nascimento e Regenertlção, que são outras
formas clássicas. Os dramas teatrais e a música. formas (espirituais) de renascimento.
passaram a celebrar temas totalmente seculares. e
6bvio que muitos artistas renascentistas foram
homens piedosos; mas até mesmo eles começaram a RENDA GARANTIDA
explorar um leque mais amplo de assuntos e temas. .... reeomendoa que não nos preocupássemos
Contudo, houve uma expansão a áreas que os com o dia de amanhã (ver Mat, 6:34). Isso com base
piedosos do passado' dificilmente teriam querido no fato de que Deus tem consciência de nossas
sondar. Assim, Poggio Bracciolini serve de exemplo necessidades, sendo ele aquele que nos dá uma renda
de um humanista que desafiou abertamente a garantida. Porém, a pobreza tem uma natureza tão
moralidade da sua época. Vasari, em sua obra Vidas opressiva, e os homens são dotados de uma
dos Pintores, falou sobre as belas-artes, que foram mentalidade tal que alguns sindicatos trabalhistas e
ganhando uma faixa cada vez mais larga na cultura outras organizações têm procurado promover o
humana. Michelet descreveu a renascença como «o conceito de uma renda garantida, na forma de
descobrimento do mundo e do homem.., e isso teve salário. Presumivelmente, isso parece indicar que
reflexos nas artes e na literatura do período, A também deve haver empregos garantidos. Porém,
renascença, em suma, foi um tempo de excitação mesmo que isso não aconteça, essa idéia declara que o
intelectual generalizada, de iluminismo (Walter -governo deveria garantir algum dinheiro para os
Pater) e da redescoberta de uma liberdade auto-. desempregados.
consciente (Symonds). Algumas vezes, a pobreza origina-se na falta de
9. EfelimlOlHe. EndIçio e.IJteratara oportunidade, de educação ou de provisões e
Esses campos da atividade humana receberam uma providências inadequadas, por parte dos governos.
nova liberdade, um novo impulso, em parte Mas, outras vezes, a pobreza origina-se na mera
inspirados pela erudição árabe e judaica. A literatura preguiça. Um caso recente no _Brasil (1986), ilustra
do período incluiu a tradução dos clássicos gregos e bem isso. Foram doadas terras a muitas familias. Mas
romanos, o reavivamento das antigas idéias do certos homens assim beneficiados, que poderiam
periodo greco-romano, em obras totalmente divorcia- então trabalhar e desenvolver suas plantações,
das da questão religiosa, e que, em muitos casos, preferiram ir a uma aldeia próxima passando as
punham em dúvida a autoridade de Roma. noites em bebedeiras e festanças. E alguns deles,
lO. S......o de Efeito. nessa irresponsabilidade, chegaram a cometer crimes
a. Perda de prestigio e autoridade por parte da sérios.. A lição é clara: Antes que se possa tirar as
Igreja Católica Romana. pessoas das favelas, é mister tirar a favela do coração
b. Adoção de certas idéias pagãs, novas formas das pessoas.
culturais e uma moralidade nova. Por outro lado. há muitas pessoas honestas e
c. Mudanças nos costumes, com o enriquecimento dignas de confiança, que querem trabalhar, mas que
não têm a oportunidade de fazê-lo em regiões onde
de muitos e uma vida luxuosa. impera a depressão econômica. Até que ponto um
d, Surgiram os livre-pensadores, com suas atitudes governo pode e deve assumir a responsabilidade por
de critica, tanto positiva (feita pelos reformadores seus cidadãos? Nos dias antigos, os necessitados eram
protestantes) quanto negativa (feita pelos pensadores ajudados por suas respectivas familias. Porém, nem
céticos). sempre isso funcionou, porque sempre houve fome e
e. Formação das pedras fundamentais das socie- necessitados nos países em recessão econômica,
dades modernas, com politica desvinculada da Igreja; apesar das boas intenções das famílias.
a arte e a literatura seguem temas seculares, e não Muitos cristãos objetam a um excessivo envolvi-
mais exclusivamente religiosos. mento dos governos nessas questões, argumentando
f. Um notável efeito foi o lançamento do alicerce da que isso promove tanto a desonestidade quanto a
ciência moderna, que se tomou essencialmente preguiça. Muitas pessoas pouco ou nada fazem por si
secular, e não mais religiosa, pois libertou-se do mesmas, a menos que sejam forçadas, a fim de
apadrinhamento romanista. sobreviverem. A Bíblia enfatiza a caridade, mas
g. Foi lançada a base sobre a qual floresceram também requer o senso de responsabilidade pessoal,
filósofos posteriores, como John Locke e Hume, os repreendendo o parasitismo: " se alguém não
quais foram instrumentais na introdução do empi- trabalha, que também não coma » (lI Tessalonicen-
rismo e do ceticismo, figuras exponenciais que ses 3:10). Todavia, isso não isenta a ninguém do dever
separaram a filosofia e a ciência da religião. de mostrar-se generoso para com os necessitados.
h. Foi facilitado em muito o caminho para a Porém, até que ponto pode um governo, mediante a
Reforma Protestante. Apareceu o individualismo na cobrança de impostos, garantir que seus cidadãos
maneira de pensar; foram fornecidas raizes ao necessitados sejam socorridos? A experiência tem
liberalismo. Na verdade, a Reforma embotou demonstrado que quanto maiores garantias se tentar,
temporariamente a influência secularizadora da mais baixos ficarão os salários, visto que muitas
renascença, embora tivesse sido muito ajudada pelas pessoas serão ocupadas a fazer algum trabalho que
modificações impostas pela renascença. poderia ser feito por poucas pessoas. Isso significa que
i. A secularízação da era moderna foi o desabrochar os salários precisarão ser distribuídos por um maior
da semente plantada durante a renascença. Portanto, número de pessoas, que pouco ou nada fazem.
esse movimento foi decisivo na determinação da Um outro desses artifícios econômicos tem sido o de
direção que a cultura haveria de tomar na Europa, e, obrigar as pessoas a contribuírem com parte de seus
em seguida, nas Américas. salários para fundos de garantia social, para o caso de
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RENFA - RENOVAÇAO
pessoas que tiverem perdido seus empregos, por to é no espírito que se originam todas as mudanças.e
qualquer motivo, possam receber do governo alguma renovações. Naturalmente; fica entendido que o
ajuda financeira. O chamado «seguro desemprego» é Espirito de Deus é o agente em toda verdadeira
um outro desses esquemas, mas, na verdade, não mudança e renov~ão espirituais.
pode isso ser confundido com uma renda garantida, Terminada a era apostólica, uma visão sacramental
mesmo porque é de pequena duração. Alguns da renovação penetrou na Igreja. E certos versiculos
economistas, politicos e outros têm sugerido que uma neotestamentários parecem antecipar essa distorção,
solução possível possa ser uma pequena renda embora certos te6logos neguem isso. Entre as obras
garantida, que garanta a sobrevivência dos necessita- ap6crifas,Barnabé 6: 11 liRa a renovação ao batismo
dos em tempos de crise, mas que não encoraje os em âgua, como também o liVro, Atos de Tomé (132).
preguiçosos a tentarem viver somente 'dessa ajudago- Ver o artigo intitulado Regeneração Batismal.
vemamental, em bases permanentes. Os problemas A própria regeneração, efetuada pelo Espirito
sociais em que algumas nações se vêem envolvidas são Santo, é a maior de todas as renovações. No entanto,
tão calamitosos que não existe nenhuma boa solução, hodiemamente, o termo é usado por muitos para
mesmo que, se combinem muitos métodos de ajuda. indicar os reavivamentos religiosos e os movimentos
Contudo, faz parte da responsabilidade dos governan- de igrejas tradicionais que aceitam a bênção
tes continuarem buscando remediar tal situação. carismática. A regeneração é obra do Espirito de
Sabemos, contudo, que a pobreza continuará Deus, e a renovação mental é efetuada pelo mesmo
existindo até à volta do Senhor Jesus. Ele mesmo Espirito, com a cooperação consciente e esclarecida
disse: «Os pobres sempre os tendes convosco... » (Mat. do crente.
26:11). Os meios de desenvolvimento espiritual são fatores
importantes em qualquer renovação genuina e
RENFÃ duradoura. Ver o artigo chamado Desenvolvimento
Espiritual, Meios do; As experiências emocionais
Na Septuaginta, R.aIfaa; no N.T., Romla, além de podem ser o estopim de renovações imediatas, mas
numerosas variantes, todas com sentido incerto; Atos provisórias. O crescimento espiritual, porém, garante
7:43. . a continuidade da renovação mental, moral e
Nome de uma divindade astral associada ao planeta espiritual do crente.
Saturno, citado em Atos 7:43, baseado na tradução
da LXX, citando Amós 5:26. O texto hebraico
massorético diz aqui kiyyun, similar ao acâdico RENOVAÇÃO DA MENTE
kaiwanu; «Saturno». No hebraico houve a substituição Rogo-vos pois. irmãos. pela compaixão de Deus,
das vogais de siqqus, «coisa detestável», pelas vogais que apresenteis os vossos corpos como um
da palavra acâdica, a fim de refletir quão detestável sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. que é o
era aquela divindade pagã. Não se sabe como a vosso culto racional. E não vos conformeis a este
Septuaginta terminou exibindo a forma inesperada mundo. mas transformai-vos pela renovação da
Raifãn : Talvez se trate de uma transliteração vossa mente, para que experimentais qual seja a
equivocada ou uma forma de Repa, um nome egípcio boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
do deus do planeta Saturno, em substituição às Consagração do cristão, segundo Romanos 12: I, 2:
traduções alexandrinas menos inteligíveis, kiyyun.
Pela Renovação da Vossa Mente
RENOVAÇÃO Essa «renovação» é de caráter espiritual. assumindo
o aspecto de «reformas, em que as faculdades mentais
Esse conceito sempre sofre devido a ...... Interpre- e espirituais-as faculdades imateriais do indivi-
taça. extnmM: da parte daqueles que se satisfazem duo-são afetadas para melhor. Isso é mais do que a
com seus hábitos e maneira de Viver, os quais resistem renovação «íntelectual», porquanto também deve-ser
a qualquer tentativa de mudança, com freqilência. ação da própria alma ou espírito, a verdadeira
rotulando-a de heresia ou fanatismo; ou da parte essência intelectual do ser humano.
daqueles que anseiam tanto por renovar as coisas que «A mente é renovada pela novidade do Espírito, e
terminam na arrogância da superioridade e do do intimo o impulso transformador passa a transfigu-
exclusivismo, pensando que voltaram aos dias do rar a totalidade da vida», (Philip Schaff, no
Novo Testamento ou conseguiram realizar algum feito Comentário de Lange).
extracrdinârlo. Quase todos os movimentos de
renovação enfatizam o lado místico, ao mesmo tempo Deus é intelecto puro, o «nous» dos gregos (que
em que negam o valor do intelecto. Ver sobre significava a -mente-, para eles), o naus do universo,
Ãntiintelectualismo. o grande ser imaterial. O homem também possui
Seja como for, apesar dos abusos, a renovação é intelecto, cuja espiritualidade é derivada da espiritua-
uma parte integral do pensamento cristão, e deveria lidade infinita de Deus. A mente, palavra empregada
lazer parte da experiência cristã. Paulo exortou-nos neste texto e usada constantemente no vocabulário ~a
para que sempre renovAssemos a nossa mente (ver filosofia grega, a começar por Anaxágoras, reveste-se
Rom. 12:1,2), como meio de atingirmos um alto grau da idéia de «espiritualídade-, e não apenas da idéia de
de dedicação a Cristo. A necessidade de renovação «intelectualidade-. Portanto supomos, paralelamente
faz-se continuamente presente, e deveria ser enfatiza- a vários intérpretes, que o presente versículo fala mais
da por n6s. O salmista reconheceu esse fato (Sal. do que sobre as qualidades intelectuais, dando a
5:10; 103:5; Isa. 40:31; 41:1). O Novo Testamento usa entender que mais do que essas faculdades ainda
as palavras gregas anakalnosis, crenovação», e. precisam ser transformadas pelo poder de Deus. Na
anane60mai, «ser renovado- (um verbo passivo o