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CRISTOLOGIA – A

DOUTRINA DA
PESSOA DE CRISTO
Baseado em MCGRATH, Alister. Teologia: os fundamentos.
Tradução de Joshuah Soares. São Paulo: Loyola, 2009, p. 95-116.
PROFESSOR MARCOS PAULO
A TAREFA DA CRISTOLOGIA
■ Uma das tarefas fundamentais da teologia cristã
consiste em esclarecer a identidade e o significado de
Jesus Cristo, figura central da fé cristã;
■ Os cristãos de todos os tempos insistem que existe algo
de especial, algo qualitativamente diferente a respeito
de Jesus, que o coloca acima de outros mestres ou
pensadores religiosos;
■ Em que consiste exatamente esse algo especial? Essa
questão é tratada na parte da teologia cristã
tradicionalmente conhecida como cristologia;
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A TAREFA DA CRISTOLOGIA
■Nesse breve relato sobre a Pessoa de
Jesus Cristo, interessa-nos:
– Os títulos usados no NT para se referir a
Jesus;
– O impacto do ministério terreno de Jesus
sobre a vida das pessoas;
– A ressureição como sinal da exaltação de
Jesus à condição de Filho de Deus.
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JESUS, O MESSIAS
■ O título “Cristo” ou “Messias” referem-se à mesma ideia: a
primeira é a versão grega, a segunda a versão hebraica e
ambas significam “ungido”;
■ O “ungido” era alguém que foi ungido com óleo. O costume
da unção, praticado no AT, simbolizava que a pessoa ungida
dessa maneira era vista como destinada por Deus a
desempenhar determinadas funções com algum tipo de
poder ou favor divino;
■ Num primeiro momento, esse ungido era especialmente o
rei de Israel (1 Samuel 24,6), depois passou a designar
alguém que viria da linhagem de Davi para libertar Israel de
seus opressores.
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A EXPECTATIVA MESSIÂNICA
■ Durante o período do ministério de Jesus, a Palestina estava
ocupada e governada por Roma. Esse fato parece ter
incutido nova força à expectativa tradicional da vinda do
Messias;
■ Para muitos, o Messias deveria ser o libertador a quem
caberia expulsar os romanos do solo de Israel para restaurar
a linha de descendência do rei Davi. E óbvio que Jesus se
recusava a ser considerado o Messias nesse sentido;
■ Os ataques de Jesus era contra seu próprio povo. Assim,
depois da entrada triunfal em Jerusalém (Mt 21,8-11), com
todos os indícios de uma verdadeira demonstração
messiânica deliberada, Jesus imediatamente expulsa os
vendilhões do Templo (Mt 21,12-13);
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JESUS ACEITOU O TÍTULO DE MESSIAS?
■ Não está claro nos evangelhos a postura de Jesus em relação ao
título de Messias a ele atribuído. Em Mateus parece que ele o
aceita naturalmente. Já em Marcos, quando Pedro o aclama
Messias, dizendo: "Tu és o Cristo!", Jesus imediatamente manda
que ele se cale (Mc 8,29-30);
■ Por que Marcos deveria afirmar que Jesus não reivindicou
explicitamente que era o Messias, quando era abertamente
assim considerado por muita gente?
■ Talvez a resposta possa ser encontrada no mesmo evangelho de
Marcos, na única passagem em que Jesus explicitamente
reconhece sua identidade de Messias. Quando Jesus é levado,
como prisioneiro, à presença do sumo sacerdote, admite que é o
Messias (Mc 14,61-62).
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JESUS ACEITOU O TÍTULO DE MESSIAS?
■ “Mas ele calou-se, e nada respondeu. O sumo sacerdote lhe
tornou a perguntar, e disse-lhe: És tu o Cristo, Filho do Deus
Bendito? E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do homem
assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens
do céu.” (Marcos 14:61,62)
■ Nesse momento, quando não é mais possível nenhuma ação
violenta ou política de qualquer tipo, Jesus revela sua identidade.
Ele era verdadeiramente o libertador do povo de Deus, porém
não no sentido político do termo;
■ As incompreensões ligadas ao termo, principalmente nos
círculos nacionalistas judaicos radicais, parecem ter feito Jesus
minimizar o lado messiânico da sua missão.
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O ESCÂNDALO DE UM MESSIAS
CRUCIFICADO
■ Os judeus não esperavam que seu Messias fosse executado
como um criminoso comum. Convém notar que, imediatamente
depois que Pedro o reconheceu como Messias, Jesus começou a
explicar aos discípulos que ele deveria sofrer, ser rejeitado pelo
seu próprio povo e ser morto (Mc 8,29-31), um fim nada
auspicioso para uma carreira messiânica;
■ Paulo explicou bem esse fato aos cristãos de Corinto ao afirmar
que a ideia de um “Messias crucificado” (ou "Cristo crucificado")
era uma ideia escandalosa para os judeus (ICor 1,23):
– “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os
judeus, e loucura para os gregos.”
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O ESCÂNDALO DE UM MESSIAS
CRUCIFICADO
■ Desde o começo, não resta dúvida de que os cristãos reconheciam a
existência de um nexo entre a missão messiânica de Jesus e o
destino do misterioso "Servo Sofredor":
– “3 Ele foi rejeitado e desprezado por todos; ele suportou dores e sofrimentos
sem fim. Era como alguém que não queremos ver; nós nem mesmo
olhávamos para ele e o desprezávamos. 4 No entanto, era o nosso sofrimento
que ele estava carregando, era a nossa dor que ele estava suportando. E nós
pensávamos que era por causa das suas próprias culpas que Deus o estava
castigando, que Deus o estava maltratando e ferindo. 5 Porém ele estava
sofrendo por causa dos nossos pecados, estava sendo castigado por causa
das nossas maldades. Nós somos curados pelo castigo que ele sofreu, somos
sarados pelos ferimentos que ele recebeu. 6 Todos nós éramos como ovelhas
que se haviam perdido; cada um de nós seguia o seu próprio caminho. Mas o
SENHOR castigou o seu servo; fez com que ele sofresse o castigo que nós
merecíamos.” (Is 53,3-6 - NTLH).

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JESUS, O SENHOR
■ Outro título que atrai nossa atenção é "Senhor" (em grego
kyrios). A palavra é usada em dois sentidos principais no Novo
Testamento. É empregada como título polido de respeito, no
tratamento das pessoas (Jo 11,21), ou como título de divindade
(Rm 10,9, ICor 12,3);
■ Os cristãos são aqueles que "invocam o nome do Senhor" (Rm
10,13, ICor 1,2). Que sentido tem esta expressão?
– Existia uma tendência no judaísmo da Palestina do primeiro século de
usar a palavra "Senhor" para designar o ser divino ou uma figura
superior ao simples ser humano;
– Porém, de particular importância é o uso da palavra grega kírios para
traduzir o nome de quatro letras usado para se referir a Deus no Antigo
Testamento (YHWH - muitas vezes designadas como tetragrammaton).
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A RELAÇÃO DO NOME KYRIOS COM
YHWH
■ Os autores do Antigo Testamento relutavam em referir-se a Deus diretamente,
porque temiam estar usando o nome de Deus em vão;
■ Às vezes, quando havia necessidade de referir-se a Deus, procuravam usar um
"criptograma" de quatro letras, transliterado como YHWH. Esse grupo de
quatro letras, que na King James é traduzido por "Jeová", e na Bíblia de
Jerusalém é traduzido por "Yahweh", era usado para representar o nome
sagrado de Deus;
■ O Tetragrama YHWH ocorre 6.823 vezes no texto hebraico da Bíblia Hebraica
de Kittel (BHK) e da Bíblia Hebraica Stuttgartensia (BHS). A frequência em que
aparece o Tetragrama atesta a sua imensa importância. Seu uso em todas
as Escrituras ultrapassa em muito, o de quaisquer nomes-títulos, tais como
Soberano Senhor (Adhonai), Altíssimo (Elyón) e Deus (Elohím – Ou “deuses”
como plural majestático) (Wikipedia).

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A RELAÇÃO DO NOME KYRIOS COM
YHWH
■ Yahweh é, portanto, um nome específico de Deus, quase
como um nome próprio, formado por um grupo de quatro
consoantes nunca empregado para identificar outros
seres divinos ou angélicos. O tetragrama, portanto, só é
empregado para designar o nome do Deus que Israel
conhecia e adorava;
■ Quando o Antigo Testamento foi traduzido do hebraico
para o grego (Septuaginta), a palavra kyrios começou a
ser usada de modo geral para traduzir YHWH. Das 6.823
vezes que o nome aparece em hebraico, o grego o
traduz por kyrios ("senhor") 6.156 vezes;
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A RELAÇÃO DO NOME KYRIOS COM
YHWH
■ O nome grego passou a ser aceito sempre que se fazia
referência direta e especificamente ao Deus que se revelou a
Israel no monte Sinai e que celebrou uma aliança com seu povo
naquela ocasião;
■ Os judeus não haveriam de atribuir esse termo a mais ninguém e
a nenhuma coisa mais. Atribuir essa palavra a uma pessoa ou
alguma coisa era o mesmo que admitir que tal pessoa ou coisa
era de condição divina;
■ O historiador Flávio Josefo conta que os judeus se recusavam a
chamar o imperador romano de kyrios porque consideravam este
nome reservado unicamente a Deus.
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A RELAÇÃO DO NOME KYRIOS COM
YHWH
■ Já os autores do Novo Testamento nunca hesitaram em usar, consciente e
deliberadamente, esse nome sagrado ao se referirem a Jesus. O nome
usado exclusivamente para se referir a Deus era atribuído da mesma forma
a Jesus;
■ Paulo, que foi quem mais empregou o termo "Senhor" ao se referir a Jesus -
tinham plena consciência das implicações desse nome e considerava que
os fatos a respeito de Jesus, especialmente a ressurreição dentre os
mortos, o obrigava a afirmar com esse nome a identidade divina de Jesus;
■ Tratava-se de uma decisão deliberada, refletida, informada e justificada,
inteiramente apropriada à luz da história de Jesus que foi elevado à glória e
majestade e está sentado à mão direita de Deus e que, portanto,
compartilha a mesma condição divina e deve ser tratado com o nome de
Deus.
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JESUS, O FILHO DE DEUS
■ Outro título que o Novo Testamento atribui a Jesus é o de "Filho de Deus".
No Antigo Testamento, o termo é usado algumas vezes para referir-se aos
seres angélicos ou sobrenaturais (SI 8,6; Jó 38,7; Dn 3,25). Os textos
messiânicos do Antigo Testamento referem-se ao Messias que virá como o
"Filho de Deus" (2 Sm 7,12-14; SI 2,7; 86,26-27);
■ Embora todas as pessoas sejam filhos de Deus em certo sentido da
palavra, o Novo Testamento afirma que Jesus é o Filho de Deus;
■ Paulo distingue Jesus como Filho de Deus natural e considera aqueles que
creem como filhos por adoção;
■ Da mesma forma, na primeira carta de João, Jesus é chamado "o Filho", ao
passo que as pessoas que creem são designadas como "filhos".

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JESUS, O FILHO DE DEUS
■ A compreensão da relação de Jesus com Deus, expressa na
relação entre Pai e Filho mostrada no Novo Testamento, é dada
de muitas formas;
■ Em primeiro lugar, notamos que Jesus se dirige diretamente a
Deus como “Pai”, usando a palavra aramaica Abbá, que, como
se sabe, reflete um relacionamento bastante íntimo (Mc 14,36;
Mt 6,9; 11,25-26; 26,42; Lc 23,34.46);
■ Em segundo lugar, muitas passagens evangélicas mostram com
clareza que os evangelistas consideram Jesus como Filho de
Deus ou que Jesus trata Deus como seu pai, mesmo quando não
o afirma explicitamente (Mc 1,11; 9,7; 12,6; 13,32; 14,61-62;
15,39).
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JESUS, O FILHO DE DEUS
■ Em terceiro lugar, o evangelho de João contém inúmeras
expressões que denotam a relação entre pai e filho
(especialmente Jo 5,16-27; 17,1-26), com ênfase
especial na identidade de vontade e propósito do Pai e
do Filho, indicando a estreita relação entre Jesus e Deus
como a entendiam os primeiros cristãos;
■ Em todos os níveis do Novo Testamento, nas palavras do
próprio Jesus ou na impressão que era criada entre os
primeiros cristãos, entende-se claramente que Jesus tem
uma relação única e íntima com Deus, publicamente
demonstrada pela ressurreição (Rm 1,3-4).
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JESUS, O FILHO DO HOMEM
■ Para muitos cristãos, o termo "Filho do Homem"
corresponde naturalmente a "Filho de Deus". Trata-se, na
verdade, de uma afirmação da humanidade de Cristo, da
mesma forma como a expressão "Filho de Deus" é uma
afirmação complementar de sua divindade;
■ Mas a questão não é tão simples. O termo "Filho do
Homem" (em hebraico ben adam ou em aramaico bar
nasha) é usado em três contextos principais no Antigo
Testamento:

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JESUS, O FILHO DO HOMEM
■ 1. Com o forma de tratamento do profeta Ezequiel;
■ 2. Para mencionar uma figura escatológica — como em Daniel
7,13-14, cuja vinda prenuncia o fim da história e o início do juízo
divino;
■ 3. Para destacar o contraste entre a pequenez e a fraqueza da
natureza humana e a condição superior ou de permanência de
Deus e dos anjos, como em Números 23,19 e no Salmo 8,14;
■ Esse terceiro significado refere-se naturalmente à humanidade
de Jesus, podendo estar subentendido em algumas das
referências nos evangelhos sinóticos. Mas o segundo uso do
termo foi o que mais atraiu a atenção dos exegetas.
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JESUS, O FILHO DO HOMEM
■ O alemão Rudolf Bultmann, estudioso do Novo Testamento,
afirma que o texto de Daniel 7,13-14 indica a expectativa da
vinda de um "Filho do Homem" no final da história e argumenta
que Jesus compartilha essa expectativa;
■ As alusões que Jesus faz ao “Filho do Homem, vindo nas nuvens
com grande poder e glória” (Mc 13,26), devem ser entendidas,
conforme ensina Bultmann, como relacionadas com a figura de
outra pessoa diferente de Jesus;
■ Bultmann sugeria que a Igreja primitiva tinha juntado "Jesus" e o
"Filho do Homem" numa só pessoa. Portanto, segundo ele, foi a
Igreja primitiva que inventou a aplicação do termo a Jesus.
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JESUS, O FILHO DO HOMEM
■ George Caird, outro estudioso do Novo Testamento, vê o
uso da expressão Filho do Homem na boca de Jesus de
outra forma;
■ Para ele, Jesus usou o termo “para exprimir sua unidade
essencial com a humanidade e, acima de tudo, com os
fracos e humildes; e também para mostrar seu caráter
de representante predestinado do novo Israel e portador
do juízo e do reino de Deus”;
■ Jesus, com esse título, queria dizer ser ele aquele que
traz o reino escatológico de Deus e junto dele vem
também o juízo sobre povos, nações e línguas.
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JESUS, O VERDADEIRO DEUS
■ Finalmente, precisamos considerar um grupo de textos do Novo
Testamento que contêm a afirmação mais importante de todas:
que Jesus é verdadeiramente Deus;
■ A afirmação de que Jesus é uma pessoa divina é o auge do
testemunho do Novo Testamento à pessoa de Jesus Cristo. Cerca
de dez passagens parecem falar explicitamente de Jesus nesse
sentido: João 1,1; 1,18; 20,28; Romanos 9,5; Tito 2,13; Hebreus
1,8-9; 2 Pedro 1,1; 1 João 5,20;
■ Outros textos acenam nesta direção: Mateus 1,23; João 17,3;
Gálatas 2,20; Efésios 5,5; Colossenses 2,2; 2 Tessalonicenses
1,12; 1 Timóteo 3,16.
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OS TÍTULOS CRISTOLÓGICOS:
CONCLUSÃO
■ Além dos títulos aqui estudados, o Novo Testamento
ainda apresenta vários outros que eram usados para
expressar a maneira pela qual as pessoas interpretavam
Jesus;
■ Para citar alguns temos:
– Profeta, Servo Sofredor, Sumo Sacerdote, Salvador,
Logos, Filho de Davi, Último Adão, dentre outros.

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OS TÍTULOS CRISTOLÓGICOS:
CONCLUSÃO
■ Do mesmo modo como as peças de um quebra-cabeça são
montadas para formar um todo compatível em que nenhuma
peça pode se distinguir por si mesma, assim os "títulos
cristológicos" do Novo Testamento juntam-se para formar um
quadro geral que nenhum título pode manifestar
adequadamente estando separado;
■ Tomados coletivamente, esses títulos formam um retrato
persuasivo, rico, profundo e poderoso de Cristo, o Salvador
divino e o Senhor, que continua a exercer influência e atração
enormes sobre os seres humanos, pecadores e mortais.
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AFIRMAÇÕES FUNCIONAIS SOBRE
JESUS
■ A maior parte dos títulos apresentados até agora identificam
Jesus como sendo Deus, ou seja, são títulos que tratam da
identidade de Jesus;
■ O Novo Testamento, no entanto, está repleto de afirmações
sobre funções que Jesus exerceu que também apontam para
sua identidade divina. São tarefas normalmente entendidas
como sendo do próprio Deus;
■ Três grupos de textos são de particular importância, por
identificarem a função de Jesus referindo-se claramente à sua
identidade. Vejamos:
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1. JESUS É 0 SALVADOR DA
HUMANIDADE
■ O Antigo Testamento afirma que existe um único
salvador da humanidade: Deus. Apesar do pleno
conhecimento de que só Deus é o salvador e de que só
Deus pode salvar, os cristãos primitivos afirmavam que
Jesus era o Salvador;
■ O peixe veio a tornar-se símbolo da fé dos primeiros
cristãos, porque as cinco letras que formam a palavra
"peixe" na língua grega (I-CH-TH-U-S) são as cinco letras
que formam a expressão "Jesus Cristo, Filho de Deus,
Salvador".
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1. JESUS É 0 SALVADOR DA
HUMANIDADE
■ Para o Novo Testamento, Jesus salva seu povo dos seus
pecados (Mt 1,21); só em seu nome é que se encontra a
salvação (At 4,12); ele é o que "comanda a salvação" (Hb
2,10); ele é o "Salvador, que é Cristo, o Senhor" (Lc
2,11);
■ Nessas afirmações, como em muitas outras, entende-se
que Jesus age como Deus, fazendo algo que, falando
propriamente, só Deus pode fazer.

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2. JESUS É ADORADO E REVELA DEUS
■ No contexto judaico em que os primeiros cristãos agiam, era Deus e
somente Deus que podia ser adorado (Rm 1,23). No entanto, a Igreja
cristã primitiva adorava Cristo como Deus;
■ Assim, o texto de 1 Cor 1,2 fala dos cristãos como aqueles que
"invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo", usando uma
linguagem que reflete as fórmulas do Antigo Testamento referentes ao
culto ou à adoração de Deus, como em Gn 4,26 e 13,4, no Sl 105,1,
em Jer 10,25 e em Jl 2,32. Entende-se dessa maneira, com toda a
clareza, que Jesus agia como Deus, sendo objeto de adoração;
■ “Todo aquele que me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Essas palavras notáveis,
tão características do evangelho de João, afirmam a crença de que o
Pai fala e age no Filho, em outras palavras, essa passagem afirma
que Deus é revelado em Jesus e por Jesus;
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AFIRMAÇÕES FUNCIONAIS SOBRE
JESUS: CONCLUSÃO
■ Esses três grupos de textos evangélicos mostram claramente que a
compreensão da comunidade primitiva acerca de Jesus transcende a
categoria da pura humanidade;
■ Na verdade, um vasto conjunto de textos afirma que Jesus de Nazaré
era um ser humano que sabia bem o que era sentir sede, fome,
cansaço e dor;
■ No entanto, existe também um grande número de textos que afirma
que ele era considerado mais que um ser humano. O que Jesus de
Nazaré dizia e fazia indicava que, no sentido próprio do termo, ele era
divino;
■ O enigma que a teologia cristã é chamada a resolver é saber como
esses dois elementos podem estar unidos.
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AFIRMAÇÕES FUNCIONAIS SOBRE
JESUS: CONCLUSÃO
■ Assim sendo, é tarefa da teologia responder as seguintes
questões acerca da identidade de Jesus:
– Como é que a teologia poderia localizá-lo em um mapa
conceituai? Como poderia situá-lo nas coordenadas de tempo e
eternidade, humanidade e divindade?
– Como é possível apresentar, logicamente, a ideia de alguém ser,
ao mesmo tempo, divino e humano?
■ Muitas soluções simples foram tentadas para logo serem
rejeitadas no primeiro período da reflexão teológica do
cristianismo. Resumiremos a seguir três dessas soluções
inadequadas.
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MODELOS CRISTOLÓGICOS PRIMITIVOS
■ O adocionismo:
– Esta abordagem acerca da identidade de Jesus julga que
Jesus é fundamentalmente um ser humano ungido pelo
Espírito Santo da mesma maneira que os profetas do
Antigo Testamento, mas em um grau superior;
– No batismo por João Batista, Jesus foi, digamos assim,
"adotado" pelo Pai, tornando-se o Filho de Deus. Ele
recebeu a missão de pregar a Boa-nova do Reino e
recebeu o poder de operar milagres;
– De acordo com essa opinião, Jesus pertence à mesma
linhagem de todos os profetas do Antigo Testamento,
distinto desses profetas em grau, mas não em qualidade.
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MODELOS CRISTOLÓGICOS PRIMITIVOS
■ Docetismo:
– Outros teólogos preferiram o pensamento que
ressaltava a divindade de Jesus de Nazaré, ao mesmo
tempo em que minimizava sua humanidade. Daí surgiu
o docetismo (palavra originada do verbo grego dokein,
que significa "parecer");
– O docetismo afirma a divindade absoluta de Jesus,
mas uma divindade que mantinha a aparência de ser
humano. Embora realmente divino, Cristo apresentava-
se à humanidade como alguém que participava da
condição humana.
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MODELOS CRISTOLÓGICOS PRIMITIVOS
■ Arianismo:
– Talvez a doutrina errada mais importante sobre a identidade de
Jesus tenha sido o arianismo (nome originado do Padre cristão
Ário, que viveu em Alexandria entre os anos 256 e 326);
– Ário ensina que Jesus Cristo não é Deus, mas a mais perfeita de
todas as criaturas de Deus. É possível traçar uma linha clara
separando Deus de sua criação. Não há alternativas, nenhuma
posição intermediária. Ao insistir nessa divisão rigorosa, Ário
afirma que Jesus de Nazaré deve ser situado no lado da criatura
e não no lado divino dessa divisão;
– Atanásio (298-373) rebateu Ário afirmando que Jesus era
adorado e era chamado de Salvador, atribuições do próprio
Deus. Logo ele também era divino.
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O CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA
■ O Concilio de Calcedônia (451) foi um marco da teologia
cristã, que levou a termo um longo período de estudo e
reflexão que durou alguns séculos;
■ Calcedônia, de modo geral, definiu a concepção da igreja
acerca da doutrina das duas naturezas de Cristo, expressa
da seguinte maneira:
– Nós todos confessamos unanimemente que Nosso Senhor
Jesus Cristo é o único e o mesmo Filho, perfeito na divindade e
na humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente
humano, com alma racional e corpo, com a mesma substância
do Pai em relação à divindade, e sendo da mesma substância
humana na humanidade e igual a nós mesmos em todas as
coisas, exceto no pecado (Hebreus 4,5).
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A CENTRALIDADE DA DOUTRINA DA
ENCARNAÇÃO
■ A doutrina da encarnação é a peça chave na compreensão
da dupla natureza de Cristo. Nela reside o auge da reflexão
cristã sobre o mistério da pessoa do Redentor: o
reconhecimento de que Jesus Cristo revela Deus,
representa Deus, fala como Deus, age como Deus, sendo,
portanto, ele mesmo, o próprio Deus;
■ Em suma, tomando as palavras de um autor do primeiro
século, devemos aprender a "pensar a respeito de Jesus
como pensamos a respeito de Deus“ (2 Clemente 1,1-2)
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CRISTO, O MEDIADOR
■ O Novo Testamento em várias passagens refere-se a Cristo
como mediador entre Deus e a humanidade (Hebreus
9,15 e 1 Timóteo 2,5). Entende-se aqui que Cristo é
mediador entre o Deus transcendente e a humanidade
decaída. Qual é o objeto da mediação? De que forma ela
acontece?
■ São dadas duas respostas complementares básicas no
Novo Testamento e na longa tradição do entrosamento
teológico cristão com a Escritura: a revelação e a
salvação. Cristo é mediador tanto do conhecimento de
Deus com o da amizade com Deus.
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CRISTO, O MEDIADOR
■ A obra de Cristo pode ser resumida em três funções ou
ministérios: profeta, sacerdote e rei. O argumento
fundamental é que Jesus Cristo reúne em sua pessoa as três
grandes funções de mediação do Antigo Testamento;
■ Em seu ministério profético, Cristo é o arauto e testemunha da
graça de Deus. Ele é o mestre dotado de sabedoria e
autoridade divina. Em seu ministério real, Cristo inaugurou um
reino que é celestial, não terreno, espiritual, e não físico. Esse
reino é exercido entre aqueles que creem através da ação do
Espírito Santo. Finalmente, por seu ministério sacerdotal.
Cristo pode nos reintegrar no favor divino, mediante o
oferecimento de sua morte como satisfação por nosso
pecado.
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