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No início século 1 EC, em uma pequena cidade rural da Palestina chamada Nazaré,
surgiu um homem cujos ensinos hoje cativa a mente de milhões de pessoas ao redor
do mundo. Tal homem tem sido o tema de louvor, pregação, adoração de homens e
mulheres, jovens e donzelas, crianças e adolescente. Ele tem sido o tema de união e
desavença; de debates teológicos de várias religiões; ele tem sido também tema de
debates académicos entre os eruditos mais bem-conceituados. Muitos, crente em sua
mensagem, alegam servi-lo e ama-lo; mas outros alegam que ele nunca existiu. Esse
homem é Jesus de Nazaré.
Os cristãos alegam que Jesus de Nazaré era/foi ou é o Messias prometido nas
Escrituras1 a nação de Israel. No entanto, os judeus negam o fato de que ele seja o tal
Messias. E através dos tempos, surgiram acalorados debates entre os judeus e cristãos
sobre esse tema; por um lado, os cristãos dizem que o Messias já veio na pessoa de
Jesus Nazaré, cuja morte na cruz foi um sacrifício para expiar os pecados da
humanidade. Também eles alegam que Jesus cumpriu mais de 300 profecias
messiânicas. Por outro lado, os judeus acreditam que a vinda do Messias ainda, será
um evento futuro. Para eles, Jesus não era/é Messias prometido nas Escrituras, e sua
morte na cruz é uma prova legal que ele falhou em cumprir os requisitos messiânicos.
Agora, se levanta uma questão: o Messias já veio ou não? Jesus de Nazaré é ou não o
Messias? Quem - entre os judeus e os cristãos - está certo?
Antes de responder as questões a que pouco coloquei, precisamos antes estabelecer
uma base para o conceito do Messias e suas qualificações. Creio que essa base nos
fornecerá uma compressão melhor de como as Escrituras fala acerca desse tema, e a
partir daí saberemos julgar as evidências necessárias para responder as questões que
coloquei acima.
O Conceito do Messias
O termo Messias tem sua origem no termo hebraico mâshìah, cujo significado é
ungido.2 O seu equivalente em grego é Cristo (Jo. 1:41), e o aramaico é meshîha.3 Os
académicos4 [Joseph klaushner] dizem que - nas Escrituras - esse termo “messias” é aplicado a
reis - como é o caso de Saul e Davi (I Sm 24:6, 10; II Sm 19:22; 23:1) – israelitas –
aos patriarcas5 e a toda a nação de Israel (I Cr. 16:22; Sl 105:5) - estrangeiros – como
por exemplo Ciro rei da Pérsia (Is. 45:1) - e sumos sacerdotes.6 [Hyam Maccoby, Rudolph Windsor]
Além disso, dizem que o conceito do Messias se desenvolveu devido a unção – com
óleo - literal daqueles que principalmente desempenhava os ofícios de reis e
sacerdotes.7 Ser ungido com óleo se tornou um título de honra entre a nação de Israel;
em outras palavras aqueles que eram ungidos se tornaram os ungidos de Deus.
Portanto, os reis, sumo sacerdotes, etc., eram investidos de poder e autoridade por
Deus para governarem o seu povo Israel (ver Ex 29:7, I Sm. 16:13).8
Hyam Maccoby diz que “todo rei Judeu da casa de Davi era conhecido como
messias, ou cristo…” e que o sumo sacerdote era referido como “o sacerdote
messias”, e que o título “messias” não era um título divino9 entre os judeus”.10 [divino no
sentido de ser Deus ou filho de Deus]
Se consideramos a afirmação de Hyam como séria e que retrata
a historicidade da culta judaica, então temos uma pista que marca a diferença entre a
ideia messiânica judaica e a ideia cristã messiânica.
Pesquisas académicas tendem a demonstrar que os reis de Israelitas eram
considerados salvadores, libertadores, redentores, etc.11 Por exemplo, em Judea
Trembles Under Rome, o autor fornece uma lista desses potenciais “salvadores
messiânicos”.12 Na história judaica sempre houve mais de um Messias cujas missões e
funções eram “manter a segurança nacional, guardar e fazer cumprir a lei do Senhor,
proteger os cidadãos da invasão estrangeira e reunir os exilados dispersos do povo
Judeu em cativeiro de todo o mundo”.13 Nesse sentido, o conceito do Messias Judaico
não é só para significar um rei, mas também um libertador que resgataria os Judeus de
sua sujeição do poder estrangeiro. O que isso significa? Significava que o descendente
desconhecido da casa de Davi - com a ajuda divina - restaurará a independência do
governo de Israel sob a dinastia Davídica.14 Assim, na tradição Judaica-Israelita o
conceito do prometido Messias tem como fundamento a origem da descendência
davídica - nas opiniões de vários especialistas - como um líder militar (político) e um
líder espiritual.
A Crença no Messias
O que é a crença no Messias? Acredito que Klausher soube responder tão bem está
questão que reproduzo aqui as suas palavras. Ele diz: “a definição da crença no
Messias é: a esperança profética para o fim desta era, na qual um forte redentor, por
seu poder e seu espírito, trará a redenção completa, política e espiritual, ao povo de
Israel, e juntamente com isso, felicidade terrena e perfeição moral para toda a raça
humana”.15
Para entendermos melhor esta definição de Klausher, devemos – segundo a
tradição judaica - entender a natureza do mal e as suas implicações no mundo.
Segundo a tradição israelita esta era é governada pelos poderes do mal que se
opõem a Deus. Esses poderes afetaram de modo tão desastroso e terrível o nosso
mundo. Calamidades, terremotos, maremotos, sismos, fomes, epidemias e etc.,
assolam o planeta. O mundo não só foi afetado por esses desastres naturais mais
também por falta de espiritualidade entre os homens. Guerras, assassinatos, furtos,
estropos, abortos, prostituição, promiscuidades, e assim por diante, fazem parte do
cotidiano da humanidade. A humanidade sofre com a consequência do mal e procurar
por um poder que seja capaz de erradicar o mal da terra e do coração do homem.
Segundo os profetas israelitas, esse estado das coisas são frutos da desobediência das
leis de Deus. E a nação de Israel mais de qualquer povo sabe o que isso significa.
Como nação ela foi escolhida por Deus como os guardiões de suas leis e desobedece-
las significava ruína completa, mesmo a ruína de ser dispersos entre as nações da
terra. Portanto, Israel por não obedecer as leis de Deus foi exposto aos poderes do
mal. Poderes esses que vieram na forma de impérios – Egito, Assíria, Babilonia,
Medo, Persa, Grécia, Roma - que os oprimiram, os mataram, e por fim os dispersaram
para todo os reinos da terra. Neste estado, Israel um perígino em terra estranha, sonha
e ansia pela esperança dadas pelos profetas que profetizaram a vinda de um
libertador/Messias no fim desta era, que é capaz de destruir os poderes opressores do
mundo e devolver a não de Israel a sua própria terra, e que também destruirá o mal -
em todas as suas formas - e restaurará a natureza ao seu estado anterior assim como
era no inicio.
Podemos, então, ver como nasceu a ideia na crença do Messias e como ela foi bem
definida por Klausher.
A crença e o conceito do Messias tiveram sua origem na mente e nas Escrituras da
nação de Israel. Foi dessas raízes que o cristianismo bebeu e teceu as suas próprias
ideias messiânicas. Assim sendo, o conceito do Messias não é algo novo que surgiu
com a criação do Novo Testamento. A crença e a ideia do Messias foram forjadas
muitos seculos antes da formação do cristianismo. Como veremos posteriormente, a
ideia do Messias foi bem cedo implantada como um embrião no coração da nação
hebraica. Qualquer estudo do tema, a sua pesquisa deve antes ser dirigida a tradição e
as Escrituras judaicas.
A Era Messiânica
Segundo os estudiosos a era messiânica é caraterizada por uma época em que não
haverá mais guerra entre as nações (haverá paz – Is. 2:24; Mq. 4:1-4; Ez. 39:9) e em
que todas as armas serão destruídas (Ez. 39:9, 12). Será uma era em que “O lobo
habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão
novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa
pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi” (Is.
11:6-7; Hc. 2:14), e “em que árvores darão os seus frutos todos os meses” -
prosperidade (Ez. 47:12). Será uma época que todo o povo de Israel habitará em
segurança (Jr. 23:5-6, 33:14-16), e os gentios os servirão, isto é, os servirão
materialmente (Is. 60:5-6 e 10-12), e os gentios buscarão orientação espiritual da
nação de Israel (Zc. 8:23). Nessa era, o conhecimento de Deus encherá toda a terra (Is.
11:9), e toda a carne o reconhecerão como o único Deus (Jr. 31:31-34; Is. 11:9; Zc.
8:23, 14:9, 16). Também não haverá mais a fome (Ez. 36:29-30) e nem haverá mais o
choro ou as tristezas (Is. 25:8, 35:8, 61: 65:19), e a morte será destruída para todo o
sempre (Is. 25:8, Os. 13:14). Este é o ambiente em que, segundo a tradição judaica, o
Messias, o redentor do futuro, reinará sobre terra, ou seja, o tão esperado “reino dos
céus”. Essa ideia também é encontrada na tradição cristã. Mas, sofre variações
significantes. Para os cristãos a era messiânica será estabelecida pelo o seu Cristo
quando este novamente retorna a terra para buscar e transladar a sua igreja desse
mundo perverso, fazendo-a habitar nos lugares celestiais e após algum tempo trazida
novamente para habitar numa terra transformada e paradísica.
Acredito, embora de uma forma resumida, ofereci ao leitor a ideia básica do conceito
e da crença do Messias e do meio que lhe rodeia. A seguir pretendo destacar algumas
das qualificações ou os requisitos messiânicos que julgo ser necessário para este
estudo.
Qualificações Messiânicas
Meu objetivo em apresentar as qualificações messiânicas aqui, é para demostrar no
que a tradição judaica acredita(va) acerca do Messias. Contudo, não pretendo dar aqui
um esboço detalhado do assunto. Somente falarei daquelas qualificações que julgo ser
fundamentais para o conceito do Messias. Dividirei essas qualificações em três seções.
Na seção (a) representarei o Messias como sendo rei, legislador e líder militar; na
seção (b), falarei sobre a sua descendência relacionado a Judá, Jessé, Davi e Salomão;
e na última seção (c) analisarei a questão de o Messias ser descendente de Davi
“segundo a carne”. É necessário dizer de antemão que não são apenas essas
qualificações que citarei aqui que identificam o Messias da tradição judaica, mas
existem muitas outras que o identificam, e que ao longo deste livro farei menção
conforme julgo necessário.
Seção A
Rei, Legislador e Líder Militar
Segundo a tradição judaica, o Messias combina em si tanto os requisitos políticos e
espirituais. O fundamento desta ideia se baseia no êxodo egípcio do povo de Israel.
Moisés foi a figura central dessa época. Os especialistas dizem que nome “Moisés”
indica aquele que traz ou resgata.18 Penso que eles estão certos, pois Moisés foi
escolhido por Deus para libertar e liderar a nação de Israel da escravidão do Egito
(Ex. 3:6-10). Conforme se deduz das Escrituras, ele foi escolhido como um líder
militar para o seu povo (Dt. 1:4; 2:24-26 seg.). Os sábios de Talmude o apelidaram de
o primeiro redentor ou salvador.19 A Escritura chama Moisés de rei de Jesurum (Dt.
33:5). Segundo alguns académicos Moisés não somente resgatou o povo de todos os
seus problemas materiais e da servidão política, mas também os libertou ou os redimiu
da escravidão espiritual sendo isso a “marca” para o “redentor do futuro”, o Messias
de Israel.20
Alem disso, Moisés, sendo um rei e líder militar, é lembrado na Escritura como o
recetor da lei de Deus e serviu como o mediador espiritual entre o povo e o Criador
(Ex. cap. 19; Dt. 5:5). Os autores do Talmude e do Midrash21 perceberam muito bem a
relação existente entre Moisés e o Messias prometido. 22 Para eles, Moisés é a figura
central nos quais as caraterísticas de rei, líder militar e espiritual foram retiradas para
endossar as qualificações do Messias. Para esses autores, o Messias será um rei
político e espiritual, e como Moisés libertará o povo das mãos de seus inimigos e lhes
ensinará os mandamentos e as leis do Criador, mas em uma escala em proporções
muito maiores.
Nem judeus e nem os cristãos contestam o fato de que o Messias será/é um rei que
possuirá as qualidades espirituais. No entanto, acredito que existe deficiência entre
leigos cristãos em reconhecer no Messias prometido as qualidades de um rei
político/líder militar a serviço de Deus em favor do seu povo escolhido. Assim,
acredito ser necessário elucidar mais acerca deste ponto.
A Escritura alude o fato de o Messias será/é um rei da tribo de Judá (Gn. 49:8-12).
A frase “O cetro não se afastará de Judá”, obviamente se refere a realeza. Acredito que
o texto não apenas fala do “cetro”, mas também faz alusão ao um rei que luta(rá) para
defender e libertar os seus súbditos. Existe alguma evidência disso? Leia com muita
atenção o que Escritura hebraica diz sobre o rei messiânico:
Eu o verei, mas não agora; e o contemplarei mas não de perto. Virá uma estrela
de Jacó, e um cetro subirá de Israel, e ferirá as regiões de Moabe, e destruirá
todos os filhos de Sete. E Edom será uma possessão; Seir também será uma
possessão para os seus inimigos; e Israel fará proezas. De Jacó virá um que
dominará, e destruirá os sobreviventes da cidade (Nm. 24:17-19).
A profecia nos leva até aos “últimos dias” (ver vs. 14); portanto – segundo se
acredita - nesses dias surgirá uma “estrela de Jacó”, ou seja, o Messias. Ele virá como
um líder que está pronto para a batalha. O verso diz que pelejará contra os inimigos de
seu povo, e que ele ferirá a Moabe, Seir e os filhos de Sete. Aqui, estamos na presença
de um líder militar “em luta pela defesa e justiça”23 da nação de Israel. Além disso, o
profeta Isaías retratando a glória do mundo vindouro, deixa fortes evidências de que as
caraterísticas um líder militar estará sobre o Messias. Isaías diz que,
Assim diz o Eterno dos Exércitos: Eis que salvarei o meu povo da terra do
leste e da terra do oeste; e eu os trarei, e habitarão no meio de Jerusalém; e eles
serão o meu povo, e eu serei o seu Deus, em verdade e em justiça (Zc. 8:7-8).
E acontecerá naquele dia, que o Eterno colocará sua mão novamente, uma
segunda vez, para resgatar o remanescente de seu povo, o qual sairá da Assíria,
e do Egito, e de Patros, e de Cuxe, e de Elão, e de Sinar, e de Hamate e das
ilhas do mar. E Ele erguerá uma bandeira para as nações e reunirá os
desterrados de Israel, e ajuntará os dispersos de Judá desde os quatro cantos
da terra. A inveja de Efraim também o deixará, e os adversários de Judá serão
cortados. Efraim não invejará Judá e Judá não importunará Efraim. Porém, eles
voarão sobre os ombros dos filisteus em direção ao oeste. Eles despojarão os
do leste juntamente. Irão pôr suas mãos sobre Edom e Moabe, e os filhos de
Amom os obedecerão. E o Eterno destruirá completamente a língua do mar
egípcio. E com seu poderoso vento ele sacudirá sua mão sobre o rio, o ferirá
nos sete riachos e fará homens atravessá-lo a pé enxuto. E haverá uma estrada
para o remanescente do seu povo, o qual será deixado, da Assíria. Como
ocorreu a Israel no dia em que subiu da terra do Egito (Is. 11:11-16).
As citações acima indicam claramente que Israel será salvo da terra dos seus
inimigos e trazidos novamente para terra da promessa - praticamente esse conceito de
salvação é encontrados em todos os livros proféticos da Escritura. O livro de Salmo
faz referência a uma lista de inimigos da nação de Israel:
Não estejas em silêncio, ó Deus; não te cales, e não fiques imóvel, ó Deus. Pois
eis que teus inimigos fazem um tumulto, e aqueles que te odeiam levantaram a
cabeça. Eles tomaram astuto conselho contra o teu povo, e consultaram contra
os teus escondidos. Eles disseram: Vinde, nós os cortemos fora para que não
sejam uma nação; que o nome de Israel não seja mais em lembrança. Pois eles
se consultaram juntos com um consentimento; estão aliados contra ti. Os
tabernáculos de Edom, e os Ismaelitas; de Moabe e os Agarenos; Gebal, Amom
e Amaleque; os Filisteus com os habitantes de Tiro. Assur também se juntou a
eles; eles ajudaram os filhos de Ló (Sl. 83:1-8).
No topo da lista está Edom. Os edomitas estão para sempre sob a ira de Deus, por
que no dia da calamidade de Israel, foram como um dos estrangeiros que destruíram
Israel (Ml. 1:4; Ob. 1). Parece-me que Edom é a representação de todos os inimigos de
Israel. Obadias falando a respeito deles pronúncia “o terrível dia” de Deus sobre todos
os pagãos (vs. 15), e Isaías falando da vingança de Deus diz,
Quem é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes tingidas? Este que é
glorioso no seu vestuário, avançando na grandeza da sua força? Eu que falo em
justiça, poderoso para salvar. Por conseguinte, és tu vermelho em teu
vestuário, e tuas vestes como aquele que pisa no lagar? Eu tenho pisado o lagar
sozinho e dentre os povos não houve ninguém comigo, porque eu irei pisá-los
em minha ira e esmagá-los em minha fúria, e o sangue deles será salpicado
sobre minhas vestes, e eu mancharei todo o meu traje. Porque o dia da
vingança está em meu coração e o ano de meus redimidos é chegado. E, eu
olhei e não havia ninguém para ajudar, e, eu me admirei que não houvesse
ninguém para suster. Portanto, meu próprio braço trouxe-me salvação; e minha
fúria, que me susteve. E, eu irei pisar os povos em minha ira, o os tornarei
bêbados de minha fúria, e eu derrubarei a força deles em direção à terra (Is.
63:1-6).
Termino essa seção pensando de que foram sobre essas bases que a tradição judaica,
teceu a ideia de que o Messias será/é um rei espiritual (legislador) e um rei líder
político-militar.
Seção B
O Messias Como Descendente de
Jacó, Judá, Jessé, Davi e de Salomão
O que podemos saber da antiga tradição judaica quanto a descendência do Messias?
Em primeiro lugar, de acordo com as ideias judaicas, o Messias terá uma descendência
terrena. Tudo isso é comprovado através das longas listas genologias preservadas nas
Escrituras. Entretanto, como o passar dos tempos muitos, mesmos entre os judeus,
acreditaram que Messias será/é um juiz cósmico que será enviado a terra para julgar o
mundo em atos terríveis de catástrofes sobre a terra. De acordo com alguns
académicos, essa ideia surgiu na mente judaica com a redação dos livros apócrifos
apocalípticos de Enoque, o IV Esdras e o livro de Daniel do cânon da Escritura. No
entanto, tradição original parece supor que o Messias seria um homem de carne e
osso, e que procederia de alguma família terrena. A Escritura está cheia de alusões
nessa direção. Por exemplo, ela fornece ao Messias uma ligação com cinco
personagens da histórica judaica. Analisarei agora as profecias messiânicas acerca
desses personagens e dar ao leitor uma ideia cara de antigos hebreus entenderam a
visão de que o Messias será/é um homem no sentido literal da palavra.
Descendente de Jacó
De acordo com o Novo Testamento o Messias é descendência de Jacó. Tendo em
conta que para os autores dos evangelhos de Mateus e de Lucas, Jesus de Nazaré é o
Messias, cada um deles começa por provar seus pontos de vista teológicos traçando a
genologia de Jesus. Logo no início do seu evangelho Mateus diz que Jesus, o
“Messias”, é o filho de Davi e de Abraão. E em seguida nos oferece uma lista de 42
gerações começando por Abraão, Isaque e Jacó e avançando até o rei Davi e assim por
diante até José (Mt. 1). A ideia que o autor do evangelho é clara; Jesus é sem sombra
de dúvidas um descendente de uma longa lista de personagens históricos das
Escrituras hebraicas, inclusive Jacó. Além disso, Mateus parece ter em mente a
“estrela de Jacó” quando narra a história da visita dos magos que vieram do oriente
para adorar o menino Jesus (Mt. 2:1-2; || Nm. 24:17). Lucas por sua vez também
acredita que Jesus sendo o “Messias”, também descendeu desses personagens das
Escrituras. Recuando no tempo a genologia de Jesus e passando por personagens
como Salomão, Davi, Jessé, Judá, Jacó, Isaque, Abraão, Sem, Noé, etc., Lucas nos
leva até Adão e Deus (Lc. 3:23-38).
De onde a tradição cristã concebeu a ideia de que o Messias seria um descendente
Jacó? Podemos afirma sem sombras de dúvidas que a essa ideia surgiu da antiga
tradição judaica. A ideia messiânica do Messias está presente na profecia do profeta
Balaão que ao narrar acontecimentos futuro acerca de um rei que virá para destruir
Moabe, os filhos de Sete, Edom e Seir, tece a ideia do Messias como descendente de
Jacó (Nm. 24:15-19). Embora, talvez isso não seja ideia original do texto, os sábios do
Talmude e do Midrash viram nisso a descendência terrena do Messias. Essa ideia foi
transportada da tradição judaica para dentro da tradição cristã e aplicada a Jesus de
Nazaré.
Descendente de Judá
Outra ideia que foi transportada da tradição judaica para o seio do cristianismo é a
ideia de que o Messias será/é da descendência de Judá. O Messias do Novo
Testamento cristão é originaria da tribo de Judá (Hb. 7:14; Ap. 5:5; 22:16), e a razão
para tal são as Escrituras hebraicas.
De acordo com o livro de Gênesis (49:8-12), o Messias será/é da tribo de Judá. Por
ambas as tradições, judaica e cristã, ele é retratado pelo nome de Silo.29 [a maioria das bíblhas
cristão traz Silo, mas a versão da Bíblia Hebraica em português diz Shiló]
De acordo com a tradição Israelita, Silo –
Messias - virá da descendência de Judá. Ele é retratado como aquele que um dia
aparecerá para tomar o cetro e dominar entre as tribos de Israel. Em outra parte da
Escritura existe a ideia de Judá sendo um cetro nas mãos de Deus (Sl. 60:7) possuindo
a autoridade de um legislador (106:8), ideia que já presente nas palavras do livro de
Gênesis. Essa ideia do texto em Genesis parece ensinar que o cetro (realeza) e
autoridade são passados adiante de geração em geração entre os descendentes de Judá
até o aparecimento do Silo-Messias; pois, a frase “O poder não será tirado de Judá,
nem o bastão de comando dentre seus pés …” indica que o domínio do reinado entre
os filhos de Israel pertence a Judá e ele não deve ser privado de exercer tal autoridade.
Mas, o cetro e autoridade só permanecerá em Judá, se forem preservados entre os
descendentes de Judá. E se o cetro deve ser passado entre os descendentes daquela
tribo isso faz com Silo-Messias pertence a mesma tribo, para que quando ele se
manifestar lhe possa ser dado o que lhe pertencer por “direito”. Portanto, estamos
perante uma lei hereditária que é passado de geração em geração. Tudo isto indica que
em Gênesis, segundo a tradição judaica, foi profetizado em visão alegórica pelo
patriarca Jacó, a vinda de um poderoso rei da descendência da tribo de Judá a quem
“a reunião de povos seguirá”. Além disso, outras partes das Escrituras ensinam que
um dia um rei ou líder procedente de Judá irá governar todas as tribos dos filhos de
Israel. Este é o caso de 1 Cronicas (5:1-2) e Miqueias (5:2).
No livro de Crónicas o autor trás uma longa lista de genologias das tribos de Israel.
Segundo essa lista, Rúben, o filho primogénito de Jacó, perdeu o seu direito de
primogenitura para José, ou melhor dizendo, para os filhos de José. Ali é dito que
embora José tenha ficado com o direito de primogenitura, Judá prevaleceu sobre seus
irmãos, pois dele proveio “o príncipe”. A palavra “príncipe” pressupõe que Judá será/é
o líder da casa real entre as tribos de Israel. Tanto em Gênesis com em Crónicas Judá
recebe como herança o cetro real para governar os restantes de seus irmãos.
O caso de Miqueias é bem mais obvia já que a tradição cristã tentou forjar a ideia
de Jesus como pretendente messiânico descendente de Judá (Mt. 2:1-6). Alias, o texto
de Miqueias nos ajuda a esclarecer as minhas interpretações a respeito de 1 Crônicas
5:1-2. O profeta Miqueias diz,
E tu, Bet-Léhem [Belém] de Efrat, és muito pequena para ser contada entre
os milhares de Judá, mas de ti sairá, para Mim, alguém que há de ser o
condutor de Israel, cuja origem remontará ao passado distante”. Mq. 5:1
O texto acima foi retirado de uma Bíblia cristã, e acredito que ela sofreu alterações
por aqueles que copiaram ou traduziram as Escrituras hebraicas para outras línguas, de
modo que o texto acima não reflete a ideia que estou tentando elucidar aqui.
Entretanto, uma outra Bíblia cristão produziu o texto que chega mais perto da ideia
original do texto. Ela se lê assim,
Mas tu, (Belém) Efrata, embora o menor dos clãs de Judá, de ti sairá para
mim aquele que será dominador em Israel…” BJ
Descendente de Jessé
Os sábios do Talmude e do Midrash viram no texto de Isaías 11 a profecia do futuro
redentor da nação de Israel, o derradeiro Messias. O texto em questão é considerado
por muitos como texto um messiânico.
Isaías 11 retrata a visão “utópica” que acompanhará a era messiânica. Ali são
descritos como a natureza dos animais serão transformados para melhor, em que “o
lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará ao lado do cabrito; o bezerro, o
filhote do leão e o animal adulto andarão juntos, e uma criança os conduzirá. A vaca e
a ursa pastarão lado a lado, suas crias se deitarão juntas e o leão comerá palha como o
boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e a mais crescida colocará sua
mão na toca do basilisco” pois sobre o monte de Seão não se fará nenhum mal porque
a terra estará repleta do conhecimento de Deus. Além disso, Isaías 11 profetiza o
resgate e o retorno dos remanescente da nação de Israel que foram deixados “na
Assíria, no Egito, em Patros, em Cush, em Elam, em Shinar, em Hamat e nas ilhas do
mar”. Mas como eles serão trazidos desses lugres? Isaías diz que será erguido “um
estandarte para as nações, congregará os dispersos de Israel e ajuntará aqueles de Judá
que estiverem espalhados pelos quatro cantos da Terra”. Mas o que é este estandarte?
Um pouco antes de falar da reunião dos exiados, o profeta diz que o descendente ou a
raíz de Jessé “será como um estandarte para todos os povos”, que logo no ínicio do
capítulo ele o coloca como sendo o rebento ou renovo de Jessé.
Penso que o termo renovo é usada nas Escrituras como simbolismo profético cujo
significado denota um descendente de uma pessoa. A ideia é do hebraico bíblico, o
termo renovo é o mesmo que um broto ou ramo verde. O broto é o começo de uma
nova planta. Quando o renovo ou broto é usado nas Escrituras proféticas denota a
origem de um novo descendente de uma pessoa. Ciente desse fato, o que temos em
Isaías é a promessa da origem de um novo descendente de Jessé cujo a missão será
julgar com justiça e equidade os necessitados os fracos da terra. O descentende de
Jessé matará os ímpios com o sopro de sua boca, e a ele todas as nações virá e, será
glorosio o lugar de sua morada.
De acordo com a tradição judaica, ainda não houve na história israelita tal
descendente de Jessé que levou a cabo o comprimento dessa profecia. Muitos
estudiosos e sábios do Talmude acredita que está profecia será realizada nos dias do
Messias de Israel. Portanto, a pessoa que cumprirá está profecia será um descendente
de Jessé, o pai do rei Davi, pois me parece que está a razão pela qual ambas as
genologias do Novo Testamento tentaram atribuir a linhagem de Jessé a Jesus de
Nazaré.
Descendente de Davi
O tema do renovo que aparece em Isaías em reação a Jessé, também aparece em
outros trechos das Escrituras em relação a Davi. Jeremias profetizou que virá dias em
Deus levantará “para Davi um Renovo justo, e um Rei reinará e prosperará, e
executará juízo e justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo e Israel habitará a
salvo. E este é seu nome, pelo qual ele será chamado: o Senhor Nossa Justiça!” (Jr.
23:5-6; ver 33:14-16). Note que a profecia é para os dias futuros, e que o “renovo” de
Davi é um “rei”. Já vimos que os reis da dinastia de Davi eram rei messiânicos,
portanto, o renovo ou descendente davídico será o Messias de Israel.
Além disso o salmista parece colaborar está ideia ao declara: “do fruto do teu
[Davi] corpo porei sobre o teu [Davi] trono” (Sl. 132:11). Sem sombras de dúvidas a
frase “fruto do teu corpo” é usado em linguagem figurada para se referir ao
descendente de Davi que herdará o trono real da casa de Davi. E falando desse futuro
descendente real da casa de Davi, o profeta Ezequiel o chama pelo nome de “Davi”, o
servo de Deus, que seria um príncipe e um rei entre e sobre os filhos de Israel para
sempre (Ez. 34:24; 37:25). O mesmo termo “Davi, seu rei” é empregado pelo profeta
Oseias, e se refere ao “chefe” que os filhos de Israel designarão sobre eles ao voltarem
do cativeiro (Os. 1:11; 3:5). Além disso, Jeremias fala de um príncipe que sairá do
meio do povo de Israel que será um rei da casa de Davi (Jr. 30:21, 9). Um estudioso
diz que “as palavras ‘Davi, seu rei’ não podem ser interpretadas em seu significado
literal. … O nome ‘Davi’ é usado aqui no lugar da ‘casa de Davi’ … Davi era o
progenitor dinástico dos reis de Judá, portanto, ele é considerado na Bíblia como o
‘pai’ dos reis de Judá. Daí também o uso de seu nome no lugar da ‘casa de Davi’”. 23
Não há dúvidas de que a tradição judaica acreditava na descendência física
davídica do Messias. E como é de se esperar a tradição cristã também colabora com a
ideia, visto que, para eles Jesus de Nazaré era o prometido Messias que descendeu do
rei Davi como pode ser comprovado pelo uso comum do título “filho de Davi” no
Novo Testamento ().
Descendente de Salamão
Agora, portanto, assim dirás ao meu servo Davi: … que levantarei a tua
semente após ti, a qual será dos teus filhos; e eu estabelecerei o seu reino. Ele
edificará uma casa para mim, e eu estabelecerei o seu trono para sempre. Eu
serei o seu pai, e ele será o meu filho; … mas eu o assentarei na minha casa e
no meu reino para sempre; e o seu trono será estabelecido para todo o sempre
(I Cr. 17:7-14).
Antes de tudo, deixe-me afirmar algo sobre o texto de 1 Crônicas 17:7-14, para
que não se levanta sobre mim a calúnia de tirar o texto do seu contexto. No devido
contexto, o texto se refere ao rei Davi ao seu filho Salomão (I Re. 2:12 e I Cr. 29:23).
Entretanto, penso que a tradição judaica vê nela uma profecia messiânica. Como a
tradição chegou a esse entendimento? Parece que essa ideia surgiu da promessa de que
o trono de Davi e de Salomão seria estabelecido para sempre. Mas de acordo como a
história e relato das Escrituras houve uma divisão no reino da casa de Davi e,
posteriormente o trono desses reis cessariam debaixo dos domínios babilónicos,
medos, persas, gregos e teriam um fim trágico debaixo do domínio romano, como se
viu na destruição do Templo de Jerusalém em 70 EC (I Re cap. 11 e 12; Dn. Cap. 2, 7,
8).1 Então, o tabernáculo de Davi foi lançado por terra (Am. 9:11). O que era para ser
um reino para todo o sempre se tornou em um reino interrompido. Entretanto, mesmo
em Amós onde se fala do tabernáculo caído de Davi também se encontra a promessa
que ele seria restaurará. De acordo com os historiadores houve duas quedas do Tabernáculo de Davi. Primeiro foi sob o demónio
babilónico em 586 AEC quando eles destruíram o Templo e a cidade de Jerusalém e levaram o povo cativo para a Babilonia, posteriormente o
templo seria construído por Zorobabel em 520 AEC. Zorobabel também é retrato como o renovo que levantaria para reconstruir o santuário de Deus.
De acordo com os estudiosos Zorobabel era um dos messias judaicos. O segundo ato da derrubada do tabernáculo de Davi, que como já vimos,
aconteceu no ano 70 EC. Hoje em nossos dias resta apenas uma pequena lembrança do antigo templo denominado de Muro de Lametações.
Seção C
Filho de Davi “Segundo a Carne”
Já estabeleci o fato de que a ideia messiânica judaica coloca o Messias como um
descendente do rei Davi. Agora meu ponto é estabelecer e esclarecer que esta
descendência implica uma concepção física carnal no sentido literal do termo. O
próprio Novo Testamento já concebe essa ideia quando usa termo “segundo a carne”
() em relação a linhagem davídica de Jesus. Daí a minha utilização da frase “Filho de
Davi Segundo a Carne”.
O que se quer dizer quando se diz que o Messias será um descendente de Davi
segundo a carne? O que esse termo significa? Significa que o Messias será um
homem literal nascido da casa de Davi? Primeiro, deixe-me dizer o que esse termo não
significa. O termo não significa uma da divindade ou traço da deidade. O termo não
significa Deus, nem filho de Deus - no sentido usual da palavra – e nem significa um
juiz cósmico enviado dos céus para julgar a terra.
Segundo a Carne
A Bíblia hebraica não faz uso do termo segundo a carne – expressão encontra nos
escritos do Novo Testamento (At. 2:30; 13:23; Rm. 1:3; II Tm. 2:8). Mas, penso que o
termo reflete uma verdade acerca do pensamento messiânico judaico. Em outras
palavras, a o termo segundo a carne revela que o Messias será um descendente físico
– um homem comum – da linhagem do rei Davi. Todos os argumentos que expos na
secção B apontam para a ideia que o Messias será um homem comum, totalmente
humano. Se essa não era a ideia original da tradição judaica como conceberiam a ideia
que o Messias será da tribo de Judá? E se o Messias será da tribo de Judá, como seria
isso possível senão por intermedio daqueles que descendem dessa tribo de geração em
geração? E se é por meio dos descendentes de Judá, como o Messias não será
humano? Se ele descenderá de Jacó, Jessé, Davi, Salomão como não será um homem,
nascido de pai e mãe, e vindo ao mundo como toda a criança que nasce neste mundo?
Logo a seguir, tentarei provar que a expressão segundo a carne expressa a ideia
messiânica judaica de do Messias com ser humano de carne e osso como todos os
demais homens e mulheres deste mundo.
Acerca da promessa messiânica feita a Davi, encontramos a expressão “fruto do
teu corpo”, “semente” se referindo ao eu descendente messiânico (Sl. 132:11, I Re.
7:12). O salmista fala de um fruto do corpo de Davi que será estabelecido sobre o
trono. Penso que o termo fruto aqui denota o mesmo significado da palavra renovo que
descrito pelos profetas Isaías e Jeremias (Is. 11:1 e Jr. 23:5-6). O significado do uso
desse termo parecer denotar que o Messias será descendente biológico da casa e da
linhagem de Davi. Usado no Salmo 132, o fruto sai ou se origina do corpo do rei
Davi. O termo parece ser usado para se referir especificamente ao sêmen humano. Se
fossemos parafrasear o texto do Salmo 133:2 tiramos algo como: “do sêmen de teu
corpo porei sobre o teu trono”. Penso agora ser necessário estabelecer e esclarecer
que o termo fruto é usado nesse Salmo como simbolismo para se referir ao sêmen.
Como se pode perceber, o Salmo 133 faz alusão a um certo juramento de Deus ao
rei Davi. Esse juramento se encontra nos livros de Samuel, Reis e de Crónicas. 24 Não
há necessidade aqui de analisar todas essas passagens. No entanto, usarei aqui o texto
do livro do profeta Samuel por ser o que mais se enquadra a minha opinião.
O Trono de Davi. Como herdeiro de Davi o Messias herdará o “reino dos céus”, o
qual será estabelecido para sempre. Mas não pode haver um reino sem o trono. O
trono de Davi é o trono do reino dos céus. E onde estava situado esse trono? O trono
de Davi estava situado em Jerusalém (Sl. 122). Ali ficavam os tronos do juízo (vs. 5).
Quando Davi morreu esse trono ficou com seu filho Salomão (I Re. 8:20; I Cr. 28:5; II
Cr. 1:8). Por causa do pecado de Salomão o trono/reino foi divido (I Re. 11 e 12). Os
reis da casa de Davi (Jerusalém) e os reis da casa de Israel (Samaria) continuarão em
transgressões aos mandamentos de Deus de modo que sobre eles veio a fúria de Deus
e os lançou para fora de sua presença. Então, vieram os assírios e destruíram o reino
de Samaria e levou Israel cativo para além de Damasco (II Re. 17; Am. 5:7). Depois
vieram os babilónicos e destruíram a cidade Jerusalém e levaram o povo para cativeiro
na Babilónia (II Cr. 36). O trono de Davi sofreu um duro golpe e foi lançado por terra
(Am. 9:11). Entretanto, Deus teve misericórdia do seu povo e permitiu que eles
voltassem à sua própria terra e reconstruir a cidade e o Templo pelo decreto do seu
ungido Ciro, rei da Pérsia, mas mesmo assim Israel era apenas vassalo dos reis da
Pérsia, de modo que o trono de Davi estava nas mãos desse povo gentio (II Cr. 36; Ed.
1; Dn. 1). Ao longo da história de Israel, o trono de Davi passou sucessivamente para
as mãos dos gregos e dos romanos, até derrubada final Templo do Jerusalém e
dispersão do povo a todas as nações da terra. Entretanto, segundo narra a tradição
judaica, nos últimos dias Deus levantará um reino messiânico que destruirá todos
esses reinos gentios e restaurará o “tabernáculo caído de Davi”, trazendo a luz o
Messias para se apoderar do trono de Davi.
O trono de Davi não está no nos confins dos céus. O trono do Messias será sobre a
terra, sobre o trono de Davi. Assim como a pedra que feriu a estátua do sonho de
Nabucodonosor não voltou para o céu, mas cresceu e se tornou num “grande monte e
preencheu a terra toda” (Dn. 2:35), assim também acontecerá que nos dias do Messias,
ou seja, “nos últimos dias o monte da casa do Eterno será estabelecido no cume dos
montes, e será exaltado acima das colinas. Todas as nações fluirão em direção a ele. E
muitos povos irão e dirão: Vinde vós e deixai-nos subir ao monte do Eterno, em
direção à casa do Deus de Jacó, e ele nos ensinará a respeito de seus caminhos, e nós
andaremos nas suas veredas; pois de Sião sairá a lei, e a palavra do Senhor de
Jerusalém” (Is. 2:2-3, Mq. 4:1-2), “e a ti, ó torre do rebanho, fortaleza da filha de
Sião, a ti virá até mesmo o primeiro domínio; o reino virá para a filha de Jerusalém”
(Mq. 4:8), “… e Jerusalém será chamada a cidade da verdade, e o monte do Eterno
dos Exércitos, o monte santo” (Zc 8:3).
O Messias não é um Ser Divino. O conceito do Messias como descendente
biológico da casa Davi anula qualquer tentativa de faze-lo [Messias] um ser divino
preexistente e um filho literal de Deus. Admitir esse absurdo, é destruir a base do
monoteísmo da tradição judaica. Se eu levar em consideração tal ideia, certamente
teria que admitir que o Messias é um deus, da mesma natureza de Deus. Eu ainda teria
de concordar que o Messias possuirá a essência do próprio Deus e sendo ele [Messias]
um ser preexistente. Se aceita tal conjectura, de admitir que o Messias nasceu ou
nascerá literalmente do próprio Deus e consequentemente herdará todos os atributos
da divindade. Mas, tal conjuntura é estranha e falsa ao ensinamento da tradição
judaica. A tradição testemunha,
Assim diz o Eterno, o Rei de Israel e seu Redentor, o Eterno dos Exércitos. Eu
sou o primeiro e eu sou o último, e fora de mim não há Deus (Is 44:6).
Eu sou o Eterno e não há ninguém mais, não há outro Deus fora de mim. Eu te
cinjo, embora tu não me tenhas conhecido (Is. 45:5).
Olhai para mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, pois eu sou Deus e
não há nenhum outro (45:22).
Vós sois minhas testemunhas, diz o Eterno, e meu servo, a quem eu escolhi,
para que possais saber e acreditar em mim e entender que Eu Sou. Antes de
mim não houve nenhum Deus formado e nem haverá depois de mim (Is.
43:10).
Esses textos tradicionais testemunham que para a nação de Israel, o Deus Eterno é
um, e não há outro, e não existe outro, e não pode existir outro além dele. O Isaías 43
é um cheque mate a qualquer tentativa de supor que Messias é um “deus” ou o “filho
literal” de Deus. Concluo que a filiação do Messias com descendente segundo carne
de seu ancestral Davi é a certeza que o monoteísmo judaico permanecerá firme até o
tempo da era messiânica e dali por toda a eternidade.
Capítulo II
Tempo da Vinda do Messias
Montado em um Jumentinho
“Regozija-te muito, ó filha de Sião; aclama, ó filha de Jerusalém; eis que o teu Rei
virá a ti, ele é justo e tem a salvação; humilde, e montado sobre um jumento, e sobre
um jumentinho, filho de jumenta (Zc. 9:9)”
Por quê o profeta Zacarias usa um jumento para descrever a chegada do rei Messias?
Por quê um jumento e não um cavalo ou camelo? O Messias viria à Jerusalém
literalmente montado sobre um jumento? O que o profeta tem mente?
O jumento é conhecido por sua capacidade de transportar cargas e não por sua
rapidez. O jumento quando sujeito ao transporte de carga, torna-se penoso e mais lento
o seu trajeto até seu destino final. Agora, examine um jumentinho sujeito a carga,
quão lento não torna o seu trajeto? Quando a tradição Judaica alega que o Messias
viria montando em um jumentinho, penso que isso implica em um significado
alegórico e não literal. O povo sofreria vários algozes, antes de serem agraciados com
a presença do Messias. O processo da vinda do Messias seria tão lento que o profeta
foi compelido a usar a figura de um jumentinho sujeito a carga em vez de um cavalo
ou de um camelo. Mas, quão lento será a vinda do rei Messias? Segundo a tradição
Hebraica esse processo será tão lento que alcançará os últimos dias.
Dispersão e Retorno
Falta ainda falar um pouco mais sobre a ideia da dispersão e retorno de Israel. Esse
tema nos oferece uma ideia melhor da era messiânica e da vinda do Messias. Antes de
tudo, é preciso enfatizar que a ideia da dispersão e retorno de Israel foi bem cedo
imprimida no espírito e no coração da nação. De acordo com a tradição, depois do
êxodo de Israel da terra do Egito, encontramos a ideia de uma aliança realizada entre
Deus e Israel (Ex. 19:1-8). A aliança consistia em que Israel se disponibilizaria a
obedecer a todos os mandamentos de Deus, e Deus por sua vez protegeria Israel
fazendo-o o seu próprio povo (). Quero salientar que de acordo com a Escritura
Hebraica, Deus não conhece nenhum outro povo a não ser a nação de Israel ().
Voltando novamente ao ponto da aliança entre Deus e Israel, é preciso levantar a
seguinte questão: o que na tradição bíblica é chamada de aliança de Deus feita no
monte Sinai entre Deus e Israel? Respondendo a pergunta, de acordo com Dt. 4:10-13,
os chamados dez mandamentos são designados como sendo a aliança feita no Sinai
(Horebe). Nas Escrituras, a aliança é retrata como um ato matrimonial entre Deus e
Israel (Jr. 3:8, 14; 31:32; Ez. 16:8); muitas vezes Deus é visto como sendo o esposo da
nação de Israel, e este por sua vez como sendo a esposa de Deus (Is. 54:1-5; Os. 2:1).
Parece que os dez mandamentos são como se fosse o sinal da aliança matrimonial
entre as partes envolvidas ().
Levando em conta o que foi exposto acima, pergunta-se: o que aconteceria se
Israel quebrasse a aliança (dez mandamentos) de Deus? Abaixo segue uma lista de
vários textos bíblicos sobre o que aconteceria com a nação se isso viesse acontecer:
Portanto assim diz o SENHOR: Vós não tendes escutado a mim, para
proclamar liberdade cada um a seu irmão, e cada homem a seu próximo. Eis
que eu proclamo uma liberdade para vós, diz o SENHOR, para a espada, para a
peste, e para a fome. E eu vos farei ser removidos para todos os reinos da terra
(Jr. 34:17).
A trágica história de Israel, mostra que a nação não deu ouvidos as leis de Deus, e a
profecia da dispersão teve lugar. Viu-se o reino do norte (Samaria) ser exilado e
dispersos entre os gentios (II Re. 15:29; 17:1-6; I Cr. 5:26; Is. 8:4); o reino do sul
(Jerusalém) foi destruído pelos exércitos babilónicos e teve um pequeno retorno no
reinado de Ciro, rei da Pérsia (II Cr. 36:22; Ed. 1:1-3), para que posteriormente com
dominação romana, ser destruído e disperso aos quatros ventos do céu [flávio Josefo].
O historiador Windsor diz que “os hebreus africanos foram transportados como
escravos para a Europa, Ásia, América do Norte e do Sul e até para as ilhas dos mares,
como as Canárias, Madeira, Cabo Verde, Madagáscar, São Tomé, Guadalupe,
Martinica, ilhas Virgens, Bahamas, Jamaica e Cuba”. (Para obter informações sobre a disseminação dos
israelitas negros, leia o primeiro livro do autor, Da Babilônia à Timbuktu.)
Mas, assim como a dispersão foi imprimido no tema da aliança, o retorno dos
exilados também estava presente na aliança. A Tora de Moisaica diz que,
Então o SENHOR teu Deus reverterá o teu cativeiro, e terá compaixão de ti, e
voltará e te congregará dentre todas as nações para onde o SENHOR teu Deus
te tiver dispersado. Se algum dos teus for levado às partes extremas dos céus,
dali o SENHOR teu Deus te congregará, e dali te tomará; (Dt 30:3-4 ver
também Ne. 1:9; Jr. 29:14; 32:37; Ez. 34:13; 36:24; Mq. 4:6).
Quando se dará o retorno de Israel? A própria Tora ensina que se dará nos últimos
dos dias (Dt. 4:23-31). Este é o mesmo tema dos últimos dias que vimos nos profetas.
Voltemos agora a nossa atenção ao que é dito pelo profeta Jeremias:
… eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que eu trarei novamente os cativos de
meu povo Israel e Judá, … e eu os farei retornar para a terra que eu dei para os
seus pais, e eles a possuirão. … Pois isto acontecerá naquele dia, diz o
SENHOR dos Exércitos, que eu quebrarei o seu jugo de sobre o teu pescoço, e
irei despedaçar teus atilhos, e estrangeiros não mais se servirão dele. Porém
eles servirão o SENHOR seu Deus, e Davi, seu rei, a quem eu levantarei para
eles. … Porque eis que de longe eu salvarei a ti, e tua semente da terra do seu
cativeiro; e Jacó retornará, e estará em descanso, e estará quieto, e ninguém o
atemorizará. Pois eu estou contigo, … para te salvar, porquanto darei fim a
todas as nações nas quais te espalhei, … A violenta ira do SENHOR não
retornará, até que tenha feito isto, e até que tenha realizado os intentos do seu
coração. Nos últimos dias entendereis isto (Jr 30:3, 8-11, 24).
A Nova Aliança
A transgressão da aliança acarretou sobre Israel penosas e terríveis consequências.
Este também é um tema vinculado ao tema do retorno de Israel do cativeiro. Como a
aliança foi transgredida, Deus prometeu fazer uma outra aliança com Israel. Os
profetas a chamaram de a nova aliança. Jeremias diz que vêm dias em Deus faria uma
nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, mas que não seria conforme a
aliança que ele havia os seus pais no dia em os tirou da terra do Egito. O conteúdo da
aliança foi,
Porém este será a aliança que eu farei com a casa de Israel depois daqueles
dias, diz o SENHOR: Eu colocarei minha lei no seu íntimo, e a escreverei nos
seus corações, e serei o seu Deus, e eles serão meu povo. E eles não ensinarão
mais cada homem a seu próximo e cada homem a seu irmão, dizendo:
Conhecei ao SENHOR; porque todos conhecerão a mim, desde o menor até o
maior deles, diz o SENHOR, pois eu perdoarei a sua iniquidade, e não me
lembrarei mais do seu pecado (Jr. 31:31-34).
Outra vez aparece o tema “daqueles dias”. A nova aliança será feita “depois
daqueles dias”. De quais dias fala o profeta? Aqui precisa-se levar em conta o
contexto de Jeremias 31. No oitavo verso, o profeta profetiza que Israel será
resgatado das regiões do norte e será reunido dos litorais da terra. Mais adiante, se diz
que aquele que espalhou Israel novamente a reunirá como um pastor ajunta os seus
rebanhos (vs. 10). Além disso, temos a profecia figurativa de Raquel chorando por
causa dos seus filhos que foram exilados de sua terra, onde é consolada com a
esperança de que seus filhos voltarão da terra do inimigo para o seu próprio país (vs.
115-16). Ainda um pouco mais adiante - versos 23 a 28 – a profecia fala que os
cativos de Judá retornarão e habitarão e Judá e em Jerusalém. Somente então aparece
o tema da nova aliança. Assim, percebemos que “depois daqueles dias” se refere ao
tempo logo após a reunião e o retorno dos exilados de Israel. E como vimos, o retorno
de Israel se dará nos últimos dias. Mas, convém fornecer mais suporte a essa ideia.
A nova aliança é um tema que também se faz presente nas profecias do livro do
profeta Ezequiel. Quanto a aliança o profeta diz,
… eu farei uma aliança de paz com eles; será um aliança perpétuo com eles. E os
estabelecerei, e os multiplicarei, e colocarei o meu santuário no meio deles para
sempre (Ez. 37:26).
Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim diz o Senhor DEUS: Eis, ó meu povo,
que eu abrirei os vossos túmulos, e vos farei sair dos vossos túmulos, e vos
trarei à terra de Israel. E sabereis que eu sou o SENHOR, quando eu tiver
aberto vossos túmulos, ó povo meu, e vos trarei de vossas sepulturas, e porei
meu Espírito em vós, e vivereis, e eu vos colocarei na vossa própria terra;
então sabereis que eu, o SENHOR, disse isto, e o cumpri, diz o SENHOR (Ez.
37:12-14).
Por muitos anos pensei que esses versos representa a ressurreição corporal de todos
os santos. Entretanto o significado da visão é obvio. A visão representa uma
ressurreição figurativa espiritual da nação de Israel. O vale dos ossos secos ou os
túmulos representa as nações gentias nos quais Israel fora exilado. A abertura do
túmulo significa que Deus irá novamente reunir (ressuscitar) Israel e traze-lo para
novamente habitarem a sua própria terra. O tema do capítulo é sobre a dispersão e
reunião da nação. Esse significado flui também naturalmente da visão das duas varas
profetizado nos restantes dos versos do capítulo.
As Duas Varas. Na visão das duas varas o profeta toma dois pedaços de madeira,
ambos representados como o reino de Judá e de Israel, e uni-os para formarem uma só
vara em suas mãos. E o significado disso também é dado ao profeta: Deus ajuntará
Judá e Israel como um só reino em sua mão. Entretanto, aqui vem um detalhe que não
aparece em Jeremias 31: a profecia diz que Deus tomará “os filhos de Israel dentre os
pagãos, para onde eles foram” e os ajuntará “de todo lado” e os tará “para a sua
própria terra” fazendo deles “uma nação na terra sobre os montes de Israel” e eles no
futuro “não serão mais duas nações”, e haverá um rei que governará a nação
unificada de Israel (Ez. 37:15-25). Além disso, o mesmo significado pode ser
encontrado em Ezequiel 34. Ali, Deus é visto como o sendo o supremo pastor de
Israel e eles como sendo as ovelhas de seu rebanho. Há uma dura repressão sobre os
pastores que foram postos como os atalaias das ovelhas de Deus, pois deixaram que as
ovelhas se extraviassem e perderem-se sem que ninguém entre eles se preocupou ou se
deu ao trabalho de procurar pelas ovelhas perdidas. Entretanto, o próprio Deus se
propôs em procurar e reunir as suas ovelhas de todos os lugares para onde elas se
tinham se extraviados trazendo-as novamente para os pastos verdejantes. Além disso,
Deus prometeu que depois de reunir as ovelhas do seu pasto isso levantaria um pastor
que cuidará e liderará o seu rebanho. Também aqui aparece o tema da aliança de paz
que será feito com as ovelhas de Deus. Isso nos leva novamente para o verso da
aliança de paz e eterna dada em Ezequiel 37:26 (ver Is. 55:3), que em Jeremias é
chamada de nova aliança.
Podemos afirmar, sem medo de errar, que acordo com profetas hebraicos a nova
aliança será feita depois da reunião dos remanescentes de Israel. Mas a reunião de
Israel se dará nos últimos dias, só então aparecerá o Messias, e só então a nova
aliança será realizada.
Pela frase “tabernáculo caído de Davi”, parece que o profeta se referi ao Templo e
as cidades de Jerusalém. Aqui, mais uma vez aparece o tema daqueles “dias” que já
sabemos que se trata dos dias da reunião dos exilados de Israel. Em Amós se vê que o
Templo de Jerusalém, ou seja, o tabernáculo de Davi permanecera caído até a reunião
de Israel de entre as nações e da vida do Messias. Isaías, o filho de Amós (Is. 1:1) e o
profeta Miqueias, parecem seguir a mesma linha de pensamento de Amós. Eles
também profetizaram que nos últimos dias o monte da Casa de Deus será estabelecido
e exaltado acima dos montes e várias nações correrão dizendo “Vinde vós e deixai-nos
subir ao monte do SENHOR, em direção à casa do Deus de Jacó, … pois de Sião sairá
a lei, e a palavra do SENHOR de Jerusalém” (Is. 1:2-4; Mq. 4:1-4). Alem disso, Isaías
diz que “acontecerá naquele dia”, que a uma “grande trombeta será soprada”, e o povo
de Israel “virão, os quais estavam prestes a perecer na terra da Assíria e os rejeitados
na terra do Egito, e adorarão ao SENHOR no santo monte em Jerusalém” (Is. 27:13),
pois a casa de Deus “será chamada uma casa de oração para todos os povos” (Is.
56:7). O profeta Ezequiel conhece essa tradição profética. Depois da unificação,
retorno, e da aliança de paz e perpétua para Israel, Deus colocará o seu santuário e o
tabernáculo no meio da nação de Israel, e que tal acontecimento seria uma testemunha
para as nações gentias (Ez. 37:26-28). Alem disso Ezequiel profetizou que haverá um
dia em a terra de Israel será dividida em herança às doze tribos de Israel, e será
deixada uma parte da terra com uma medida de “vinte e cinco mil canas” de
cumprimento e “dez mil” de largura, e deste espaço uma medida de quinhentos tanto
de largura como o cumprimento será deixada para a construção do santuário (Ez.
45:1-3; 47:13; 48:8-10; 29). O santuário estará no meio da cidade de Jerusalém para
nunca mais ser arrancada ou derrubada; Jerusalém terá doze saídas [portas] para as
doze tribos, e sobre as saídas os nomes das doze tribos dos filhos de Israel, e o nome
da cidade será “o Senhor está ali” (Ez. 48:20-21; 29-35, Is. 60:10, 61:4; Jr. 30:15-22;
31:38-40; Am. 9:14-15 – ver Is. 1:26; Jr. 3:17; 33:16; Zc. 8:3 que alude aos nomes que
se dará a cidade de Jerusalém). Esse é a esperança messiânica aguarda nos últimos
dias com a vinda do Messias.
Podemos dizer então pelo relato dos profetas que, até “aquele dia” não haverá um
Templo de Jerusalém na terra de Israel (Os. 3:5). Mas com era messiânica e vinda do
Messias nos últimos dias, Deus reunirá o seu povo de entre as nações colocando-os
novamente em seu território e estabelecendo o santuário no meio terra de Israel para
adoração e louvor ao seu santo nome.
Capítulo III
O Messias Cristão
O Messianismo de Jesus
Agora pretendo analisar os ensinamentos dos escritos do Novo Testamento quanto a
Jesus de Nazaré ser o tão esperado Messias da Escritura hebraica. Em primeiro lugar,
analisarei os escritos de Paulo por ser a nossa fonte mais antigas - segundo o consenso
académicas - dos escritos do Novo Testamento que temos a mão. Em seguida
debruçarei sobre a visão de Marcos que é o nosso evangelho canónico mais antigo.
Depois analisarei o cristo de Mateus e logo em seguida o de Lucas baseado em seu
evangelho e no livro de Atos. E por fim, analisarei o que o nosso Quarto evangelho
tem a dizer acerca de Jesus como messias.
O que será proposto em seguida, é apenas um pequeno resumo, pois se
consideraremos o assunto em sua profundidade e totalidade precisaríamos de um livro
de mais de mil páginas.
Escritos Paulino
De acordo com os estudiosos as fontes mais antigas e primitivas dos escritos do Novo
Testamento são as cartas paulinas.1 Dos vinte e sete livros que compõe o Novo
testamento, catorze deles são atribuídas à Paulo. Entretanto, os especialistas dizem que
somente sete desses livros são realmente da autoria de Paulo. Estes são: Romanos, 1 e
2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, I Tessalonicenses e Filêmon. 2 Usarei aqui somente
estes escritos “autênticos” de Paulo e alguns enxertos do livro de Atos que Lucas
atribui a Paulo, para elucidar como ele [Paulo] enxergava Jesus como Cristo/Messias.
Quem era o Cristo de Paulo? O escritor de Atos nos informa que apos a conversão
de Paulo, este imediatamente começou a pregar nas sinagogas de Damasco que Jesus
de Nazaré, a quem ele havia perseguido, era o Cristo/Messias (At. 9:15, :20-22). Em
outras ocasiões Paulo, testificou aos Judeus de que Jesus era o Cristo (At. 17:1-3; 18:5
etc.). Como Paulo teve esta compressão? Embora, o escritor de Atos tenta vincular
essa compressão de Paulo aos discípulos de Damasco e aos apóstolos em Jerusalém
(At. 9:19, 27-28), o próprio Paulo pinta um quadro totalmente aposto e contrário à do
escritor de Atos. Paulo diz claramente que o evangelho pregado por ele “não é
segundo o homem, pois” não o recebeu “de homem”, e que nenhum mortal o tinha o
ensinado, mas ele recebeu esse ensino “por revelação de Jesus Cristo” (Gl. 1:11-12).
Em outras palavras, tudo o que Paulo diz a respeito de Jesus, foi por causa da
“revelação” que ele recebeu do próprio Jesus de Nazaré. Tendo essas informações em
mente, podemos traçar quem era o Cristo na visão de Paulo.
Para Paulo, Jesus “tinha a condição divina” e se esvaziou a si mesmo para tomar “a
condição de servo, tomando a semelhança humana. Humilhou-se e foi obediente até a
morte, e morte de cruz! E por isso Deus o sobrexaltou grandemente e o agraciou com
o Nome que é sobre todo o nome” (Fl. 2:5-10) - retornarei a esse verso em breve - esse
nome é Jesus Cristo, que figura em todas as cartas paulinas. Quando Paulo usa o
termo “Jesus Cristo” simplesmente ele está ensinado que Jesus de Nazaré é o Messias.
Jesus - na visão de Paulo - era o Messias das Escrituras hebraicas (Rm. 1:2). O livro
de Atos relata que várias vezes Paulo entrava em controvérsias com os Judeus e lhes
provava pelas suas próprias Escrituras que Jesus era o Messias. Note as seguintes
passagens do Novo testamento:
Tendo alcançado, porém, o auxílio que vem de Deus, até o presente dia
continuo a dar o meu testemunho diante de pequenos e de grandes, nada mais
dizendo senão o que os Profetas e Moisés disseram que havia de acontecer:
que o Cristo devia sofrer e que, sendo o primeiro a ressuscitar dentre os
mortos, anunciaria a luz ao povo e aos gentios (At. 26:22-23, ênfase minha).
Por incrível que pareça, nas passagens acima, o escritor de Atos nunca cita uma
única passagem das Escrituras na qual Paulo se baseou para provar aos seus
compatriotas Judeus o que ele estava ensinado sobre Jesus. Por outro lado, o próprio
Paulo crê que Jesus é o Messias das Escrituras:
Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, escolhido para o
evangelho de Deus que ele já tinha prometido por meio dos seus profetas nas
Sagradas Escrituras (Rm. 1:1-2, ênfase minha).
Pois também Cristo não buscou a sua própria satisfação, mas, conforme está
escrito: Os insultos dos que te injuriaram caíram sobre mim. Ora tudo o que se
escreveu no passado é para nosso ensinamento que foi escrito, a fim de que,
pela perseverança e pela consolação que nos proporcionam as Escrituras,
tenhamos a esperança (Rm. 15:3-4, ênfase minha).
Transmiti vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu
por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao
terceiro dia, segundo as Escrituras (I Co. 15:3-4, ênfase minha)
Não há dúvida que Paulo vê Jesus como o Messias que é insultado de acordos com
“as Escrituras”; morre de acordo com as “Escrituras”; ressuscitou segundo “as
Escrituras”. Mas, quais Escrituras Paulo tinha em mente ao fazer essas afirmações?
Gostaríamos de saber que Escrituras ele tinha em mente, mas dos textos citados só
Romanos 15:13 parece ser extraído do Salmo 69:9. Entretanto, podemos supor por
inferências de seus escritos alguns textos das Escrituras que ele tinha em mente.
Temos dois textos como exemplos. O primeiro tem haver com a saída da nação
israelita da escravidão do Egito (I Co. 10:1-4, 9), e o segundo tem haver com a
promessa feita a Abraão (Gl. 3:14-15). Na mente de Paulo - bem como na mente de
seus seguidores - passagens das Escrituras como essas são claramente “profecias” que
testificam na forma de tipos o messianismo de Jesus de Nazaré. Voltarei a falar dessas
duas passagens em um capítulo posterior.
O Cristo paulino, não é somente o Messias das “Escrituras”, mas é o Messias
Filho de Davi “segundo a carne” (Rm. 1:3; 9:5). Paulo parece conhecer a tradição
messiânica judaica. Entretanto, ele não oferece nenhuma prova da descendência
davídica de Jesus Cristo. Não oferece nenhuma linhagem geonologia de Jesus como
fizeram os evangelhos posteriores de Mateus e Lucas. Não diz que era o pai de Jesus.
Somente faz uma vaga afirmação de que Jesus nasceu de mulher debaixo da Lei de
Moisés (Gl. 4:4), e mais uma afirmação de que Jesus tinha um irmão chamado Tiago e
entre outros irmãos (Gl. 1:19, I Co 9:5).
Mais que o Cristo das Escrituras e mais que o Cristo filho de Davi - na visão de
Paulo – Jesus era um ser divino. Em Filipenses 2:5-10 Paulo vê Jesus como um ser
divino que estava na forma de Deus e se esvaziou para se tonar homem e morrer pelos
pecados da humanidade e ressuscitar ao terceiro dia e ascender aos céus onde foi
exaltado a destra de Deus. O Cristo de Paulo é um ser preexistente que desce do céu e
oferece a sua vida como sacrifício pelos pecados da humanidade.
Escritos de Marcos
Os estudiosos atribuem a composição do evangelho de Marcos entre os anos 65 a 70
EC.3 É de consenso académico que este evangelho é um evangelho anónimo e que seu
provável escritor seja um gentio. Mas, a tradição cristã atribuiu o evangelho a Marcos,
que era um companheiro missionário do apóstolo Pedro.4
Marcos - diferente dos dois outros evangelhos Sinópticos, Mateus e Lucas -
começa sua narrativa quando Jesus se apresenta para ser batizado por João Batista no
rio Jordão (1:4, 9). Em outras palavras, não encontramos o escritor fazendo alusões ao
local nascimento de Jesus, a suposta data da natividade de Jesus, e entre outras coisas
sobre a sua infância narradas em Mateus e Lucas. Para este evangelista Jesus era
natural da cidade de Nazaré da Galileia, por isso era conhecido como Jesus [o]
Nazareno ou Jesus de Nazaré5 (1:9, 24; 10:47; 14:17; 16) e sua mãe se chamava Maria
e tinha vários irmãos e irmãs (6:3), mas - no evangelho que temos a mão - Marcos
nunca faz alusão a José como pai de Jesus como é relatada nos demais evangelhos do
cânon do Novo Testamento.
Quem era Jesus de Nazaré para Marcos? O Jesus de Marcos era o “Filho de Deus”
(1:1), fato que apenas algumas entidades conheciam - Deus, demónios, etc. (1:11, 24,
32-34; 3:11). A conotação deste termo Filho de Deus no evangelho de Marcos está
intrinsecamente ligada ao termo Messias (Cristo) e Filho do Homem, portanto, Marcos
nos apresenta Jesus como o Messias, o Filho de Deus e o Filho do Homem (1:1, 2:10-
11, 14:61).
Entretanto, o Jesus de Marcos não queria que ninguém soubesse quem realmente
ele era. Sempre que os demónios tentavam fazer uma revelação sobre isso,
imediatamente ele os repreendia e não deixavam que falassem (1:32-34, 3:11-12).
Depois do episódio da transfiguração, Jesus proibiu os seus discípulos de revelar que
ele era “o Filho do Homem” até que fosse levanto dos mortos (9:9); também advertiu
aos seus discípulos para não revelar a ninguém o seu messianismo (8:27-30). De
acordo com Marcos, Jesus passou seu ministério todo escondendo quem ele é - nesse
sentido, ele era um Messias secreto para a maioria de seus ouvintes; isto pode ser
provado por dois fatos. Primeiro, porque falava por parábolas para que “aos de fora …
para que vendo, eles possam ver, e não percebam; e, ouvindo, eles possam ouvir, e
não entendam; para que a qualquer momento, eles não se convertam” (4:11-12); e
Marcos testifica que Jesus nada dizia ao povo senão por meio de parábolas (vs. 32-
33), assim, o “mistério do reino” é encerado propositalmente para os “de fora”,
portanto os de fora não podem saber que Jesus é o Messias e como consequência não
se convertem e nem são perdoados. Em segundo lugar, o Jesus de Marcos é um
Messias secreto porque quando é confrontado para dar sinal que testifica claramente a
sua identidade, ele responde dizendo: “E, suspirando profundamente em seu espírito,
disse: Por que procura esta geração um sinal? Na verdade, eu vos digo que a esta
geração não se dará nenhum sinal” (8:12 - ênfase minha). Entretanto, subitamente
durante o seu julgamento perante o Sinédrio, Jesus afirma-se como o Messias perante
o sumo sacerdote e que como “o Filho do homem assentado à direita do Poderoso”
viria “com as nuvens de céu” (14:61-62).
Quais prova Marcos apresenta para o messianismo de Jesus? Qual ou quais
Escrituras cita em defesa de seu argumento? Em todo o seu evangelho, Marcos cita
algumas passagens das Escritura que parece aludir ao messianismo de Jesus predito
nas Escrituras. Logo no início de seu evangelho Marcos diz:
Escritos de Mateus
O evangelho de Mateus, o nosso primeiro livro do cânon do Novo Testamento, foi
escrito – segundo os estudiosos - entre os anos 70 a 80 E.C. 1 No mundo académico,
este o livro é considerado um livro anónimo,2 mas a tradição cristã, diz que o seu autor
foi o discípulo Mateus conhecido como sendo um publicano (9:8; 10:3).
De acordo com este evangelho, Jesus de Nazaré é o Messias/Cristo (1:16-17; 11:2,
16:10; 27:17 e 22). No início desse evangelho - diferente do evangelho de Marcos,
que começa o seu evangelho no meio da narrativa 3 – Mateus começa sua narrativa
evangélica trançado a origem de Jesus (1:1). Entretanto, aqui veremos que o Cristo de
Mateus se difere substancialmente do Cristo de Paulo. o Cristo de Paulo é um ser pré-
existente, mas o de Mateus está diretamente ligado a descendência de Davi e Abraão,
embora o seu nascimento – segundo o autor - seja obra de um milagre (1:1; 18 e
segue). Entretanto, para Mateus seu Cristo não era meramente um homem qualquer.
Sua concepção foi diferente dos demais homens, pois sua mãe “achou-se grávida pelo
Espírito Santo” (1:18), e “o que nela foi gerado vem do Espírito Santo” (1:20); isso
pressupõem que na mente do redator de Mateus, o seu Cristo é verdadeiramente o
“Filho de Deus” (3:17; 8:29; 14:33). Por outro lado - em concordância como o
apóstolo Paulo - o Cristo de Mateus era da descendência de Davi, algo que fica óbvio
logo no início desta narrativa (1:1-17); consequentemente este título de “Filho de
Davi” é várias vezes usado neste evangelho (1:1; 9:27, 12:23; 15:22; 20:30-31; 21:9,
15). Em concordância com o evangelho de Marcos, o Cristo de Mateus proíbe
“severamente” aos seus discípulos de falarem a qualquer pessoa de sua identidade, isto
é, que ele [Jesus] era o Messias (16:16-20).
Embora, todos os nossos evangélicos canónicos reconhecem que Jesus veio de
Nazaré da Galileia, o Cristo de Mateus – na visão do seu redator - não é natural da
cidade de Nazaré da Galileia, mas nasceu em Belém da Judeia no tempo de rei
Herodes, o Grande (2:1 e 11); só passa a ser conhecido como “Jesus, o Nazareu”,
“Jesus de Nazaré” ou ainda “Jesus, o Galileu” porque quando criança, ele e os seus
pais foram habitar na cidade de Nazaré da Galileia (1:23; 21:11; 26:71; 1:22-23).
Mais do que aqueles que o precederem - Paulo e Lucas - Mateus nos diz que o seu
Cristo realmente é o Messias prometido pelas Escrituras hebraicas. O autor parece
saber que pela tradição judaica o Messias prometido tinha que ser da linhagem de
Davi, por isso oferece três listas de catorze gerações que conecta Jesus a Davi (1:1,
18). Pela sua inferência, o autor também pressupõe que segundo as Escrituras o
Messias teria que nascer de “uma virgem”, por isso faz que a concepção de Jesus seja
obra do espírito santo para cumprir uma “suposta” profecia de Isaías 7:14 (Mt. 1:22-
23). Os magos vieram de oriente guiado por “estrela” para adorar o Jesus de Mateus,
porque assim foi predito pela profecia de Balão (Nm. 24:17; Mt. 2:2;). O Cristo de
Mateus nasce em Belém da Judeia, porque ali - na compreensão de Mateus - era o
local do nascimento do Messias prometido (Mt. 2:1-6; Mq. 5:2). O Cristo de Mateus -
após a fuga de seus pais ao Egito - permanece no Egito até a morte de Herodes porque
isso também no pensamento de Mateus é um cumprimento de uma profecia de Oseias
11:1 (Mt. 2:15). Segundo Mateus, Herodes - em sua busca para matar o menino Jesus
- ordena a execução de todos os meninos de Belém de dois anos para abaixo em
cumprimento da profecia de Jeremias 31:15 (Mt. 2:17-18). Mais uma vez Mateus faz
uso das Escrituras, para dizer que os pais de Jesus foram morar na cidade de Nazaré da
Galileia “para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: Ele [Jesus] será chamado
Nazareu” (Mt. 2:22-23, ênfase minha). João Batista, o percursor do Cristo de Mateus
também é retrato nesse evangelho como cumprindo a profecia daquele que prepararia
o caminho para a chegada do Messias (Mt. 3:1-3; 11:7-10; Is. 40:3). Segundo Mateus,
Jesus deixou a cidade de Nazaré e foi morar em Cafarnaum como mas um
cumprimento das Escrituras (Mt. 4:13-16; Is. 9:1-2). Em todos os nossos quatro
evangélicos canónicos Jesus é retratado como um grande curandeiro. Porém, o escritor
de Mateus vê essas curas de Jesus também como mais um cumprimento da profecia
(Mt. 8:14-17 citando Is. 53:4). Os ensinamentos de Jesus na forma de parábolas,
também é na visão de Mateus o suposto cumprimento do Salmos 78:2 (ver Mt. 13:34-
35). Em vários lugares – ver por exemplo Mateus 16:21; 20:17-19 - Jesus ensina
muitas vezes que ele iria ser traído, preso, crucificado, morto e ressuscitar ao terceiro
dia, mas em Mateus 26:24 há uma significativa mudança. Das outras vezes que Jesus
fala acerca disso, parece ser ele mesmo a profetizar sobre sua traição, morte etc; já em
Mateus 26:24 ele diz na “Em verdade o Filho do homem vai, como acerca dele está
escrito, mas aí daquele homem por quem o Filho do homem é traído! Bom seria para
esse homem se não houvera nascido” (enfâse minha). Portanto, a traição, a prisão, a
morte, a ressurreição de Jesus também é na verdade mais o cumprimento das
profecias. Ao abandonarem Jesus no Getsémani, os discípulos cumprem a profecia de
Zacarias 13:7 (Mt. 26:31). A traição de Judas em vender Jesus por trinta moedas de
prata na mente do escritor de Mateus também é um cumprimento da profecia de
Jeremias - Mateus aqui está equivocado porque jeremias nunca fala de tal profecia
como veremos posteriormente - (ver Mt. 27:9).
Dei quase todas as referências das Escrituras que o escritor de Mateus usa para
aplicar a Jesus como aquele que cumpriu as profecias. Existe outras inferências
indiretas que Mateus usa, mas por agora acho que essas são suficiente para elucidar o
meu ponto: para Mateus Jesus de Nazaré é o Messias prometida nas Escrituras
hebraicas, e para provar isso, cada ação relacionado ou feito por Jesus, o escritor usa
uma passagem das Escritura com suporte, embora na maioria das vezes nos
evangelhos que temos em mãos o escritor parece estar em equivoco.
Quero, no entanto, dar os meus parabéns ao escritor de Mateus em seu esforço de
procura provar pelas Escrituras de que Jesus é o Messias, coisa que não vemos sendo
feita com frequência nos demais escritos Novo Testamento. De fato essa é a forma
correta que qualquer um deve ser submetido ao se autoproclamar o Messias. Há algum
tempo atrás perguntei a vários cristãos por quê eles achavam que Jesus era o Messias e
para a minha supressa não sabiam responder, nem mesmo tiveram a ousadia de
Mateus para citarem as Escrituras hebraicas a favor deles. Bem, concordo com Mateus
de que alguém que se pretende ser o Messias deveria ser posto a prova pelas Escrituras
hebraicas e caso essa pessoa passe no teste é sem sombra de dúvida o Messias judaico.
Escritos Lucas
O evangelho de Lucas, segundos os estudos académicos, foi escrito na mesma época
que o evangelho de Mateus. Este evangelho, como o nome indica foi atribuído a Lucas
um dos companheiros de viagem de Paulo. Este autor conta com mais um livros no
cânon do Novo Testamento, o Atos dos Apóstolos escrito na década de …. . Lucas
começa sua narrativa evangélica dizendo explicitamente para quem ele compôs seus
escritos, ou seja, para um tal Téofilo. Aqui o autor de Lucas faz uma afirmação de que
sua obra foi fruto de uma acurada investigações de coisas que já haviam sidos escritos
por muitos acerca de Jesus, e ele agora iriam compor também um relato e colocar por
ordem os acontecimentos que tiveram lugar na vida de Jesus de Nazaré. Em outras
palavras, aqui fica obvio que antes dos escritos de Lucas já existiam outras fontes em
circulação que falavam acerca de Jesus. Aqui ainda fica mais nítido de que os escritos
de Lucas não se tratam do que os cristãos chamam de “inspiração divina” mas sim de
uma investigação feita “diligentemente” por parte do autor. Essa a primeira impressão
que qualquer um deve tirar logo no início quando lê essa narrativa. Tendo dito isso,
tentarei retratar como Lucas nos apresenta o seu Cristo.
Talvez sobre o mesmo pressuposto do evangelho de Mateus, Lucas narra que Jesus
nasceu de modo sobrenatural. Ali Jesus parece ser filho do próprio Altíssimo que
engravidou uma virgem por ação de seu espírito (Lc. 1:26-35). No entanto, o escritor
deste evangelho parece descordar do evangelho de Mateus em alguns pontos. Só para
citar um exemplo, os dois evangelhos descordam sobre a residência dos pais de Jesus.
Para Mateus os pais de Jesus são de Belém, enquanto que para Lucas eles são de
Nazaré da Galileia, embora o minino Jesus nasce em Belém por causa de viagem que
os seus pais fizeram a Belém no intuído de cumprirem uma ordem de alistamento
decretada por Cesar Augusto no tempo em que Quirino era governador da Síria (Mt.
2:1, 9-11, 22-23; Lc. 2:1-2, 4, 39-40). Entretanto, ambos os evangelhos – Mateus e
Lucas – parecem conhecer a tradição de que o Messias supostamente nasceria em
Belém, a cidade de Davi.
Evidências de que Jesus é retrato como Messias é encontrado aqui e ali em várias
passagens no evangelho segundo são Lucas. Veja por exemplo Lucas 4:41, 9.20,
22:67; 23:2. Para esse escritor, Jesus é o Messias - anunciado pelos próprios anjos de
Deus - logo apos o seu nascimento e reconhecido como tal por um velho chamado
Simeão após trinta e três dias quando foi apresentado no Templo em Jerusalém (Lc.
2:11 e 26). Como de se esperar o escritor de Lucas também parece conhecer a tradição
de que o Messias seria da descendência de Davi segundo a carne. Descrevendo o
discurso do discípulo Pedro no dia do Pentecostes, Lucas escreve que “portanto, sendo
[Davi] profeta, e sabendo que Deus lhe havia jurado com juramento que do fruto de
seus lombos, segundo a carne, ele levantaria o Cristo, para sentar-se sobre o seu
trono; Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel, que a esse mesmo Jesus, a quem
vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At. 2:30-36). Alem disso, o escritor
fornece uma descendência geonologia que liga Jesus ao rei Salomão, ao rei Davi,
Jessé, Abraão, e até mesmo ao próprio Deus (Lc. 3:23:38).
Embora Lucas não cita extensivamente as Escrituras como Mateus, o seu Jesus
também parecer ser o cumprimento das Escrituras hebraicas. Assim o escritor narra
que os sofrimentos de Jesus, a sua morte, a sua ressurreição dos mortos no terceiro dia
foram realizações proféticas que Deus tinha pronunciado por meio de todos os seus
profetas, desde dos escritos de Moisés e até nos hinos dos Salmos (Lc. 24:26-27, 44,
46; At. 3:18). Talvez a única vez que Lucas citas as Escrituras aplicandas à Jesus é
aquela encontra no livro de Atos em que seus discípulos estando orando, em certo
momento dizem que “os reis da terra se levantaram, e os governantes se reuniram
contra o Senhor, e contra o seu Cristo ...” (4:26), citando o Salmos 2:1.
O evangelho de Lucas diz que Jesus de Nazaré é o Messias das Escrituras. O que
falta, portanto, é saber se sua narrativa evangélica resistirá uma investigação
minuciosa das Escrituras das ideias messiânicas judaicas.
Escritos de João
O evangelho segundo João foi o último evangelho a ser escrito e foi composto entre os
anos 90-95 EC.1 Estamos perante mais um evangelho anónimo. O escritor nunca se
identifica como sendo o discípulo João e nem qualquer narrativa em primeira pessoa.
Este evangelho é diferente significativamente dos demais evangelhos considerados
Sinóticos.
Quem quer que tenha sido o seu escritor, ele começa exaltando Jesus acima de
tudo e de todos. Para esse escritor Jesus é o verbo preexistente que estava com Deus
antes de todas as coisas e era o próprio Deus, que se encarnou – o autor não explica
como se deu a encarnação do verbo – e se fez carne (Jo. 1:1-3 e 14). O evangelho de
João retrata Jesus como sendo o “unigénito de Deus” (Jo. 1:18). Na história do
cristianismo houve acalorados debates sobre esse termo unigénito de Deus. O que
João quis dizer com esse termo? A palavra grega aqui utilizada para dizer unigénito é
monogenes que significa único gerado ou de acordo com o Dicionário Strong é
“usado para os filhos ou filhas únicos (visto em relação a seus pais)”. O que autor de
João tem em mete é claro; Jesus é o único filho gerado pelo próprio Deus. Em outras
palavras Jesus nasceu do próprio Deus. Tomemos por exemplo outra sentença deste
evangelho: “Porque Deus amou tanto ao mundo que ele deu o seu Filho unigênito…”
(Jo. 3.16). Para que Deus possa oferecer seu filho ao mundo, primeiro ele tinha que ter
um filho para enviar ao mundo; parece que não há dúvidas que o escritor de João
acredita que Jesus é único filho gerado pelo próprio Deus na eternidade passada. Está
é exaltada posição de Jesus de acordo com o relato joanino.
João continua sua saga, apresentado Jesus como o Messias. No início de sua
narrativa Jesus é reconhecido como Messias (Jo. 1:41). Mais adiante, os samaritanos
reconhecem o messianismo de Jesus (Jo. 4:25-26 seg., 42). Além disso, os doze
discípulos também reconhecem Jesus como Messias (Jo. 6:69). Marta também não
dúvida desse fato (Jo. 11:27). De fato este evangelho está repleto de pessoas que
reconhecem Jesus como o Messias.
O que em Marcos parece ser um Messias secreto, no evangelho de João a coisa
muda de figura. O Cristo de João não esta mais preocupado em esconder a sua
identidade como em Marcos. Por exemplo em João 4:25-26 ele se revela a mulher
samaritana como sendo o Messias. E até mesmos aos seus “inimigos” Judeus, ele se
revela como o pretendente messiânico (Jo. 10:24-25).
Se formos pesquisar João, baseado em seu evangelho, por quê de Jesus ser o
Messias, a resposta correta deveria ser: porque Jesus cumpriu todas as profecias das
Escrituras Hebraicas. Mas, não é o caso! O escritor de João até faz uso de alusões as
profecias das Escrituras aplicando-as à Jesus. Ele diz que Jesus é o “cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo” fazendo alusão aos cordeiros de sacrifícios nos livros de
Levítico ao talvez ligando aos cordeiros pascais (Jo. 1:29); diz que Jesus seria levanto
da terra como Moisés levantou a serpente no deserto (Jo. 3:14); segundo o evangelista
Abraão viu o dia de Jesus (Jo. 8:56). Além disso, o escritor faz uso textos de Isaías
53:1, 6:1-12 como cumprimento profético das Escrituras (Jo. 12:37-41). Embora,
tenhamos uma grade gama de indícios dos escritos das Escrituras que fazem alusões
ao messianismo de Jesus de João, não parecer ser esta a base centra na qual o escritor
a aplica o messianismo de Jesus.
Segundo o Novo Testamento, Jesus tinha fama de ser um grande curandeiro e um
milagreiro. Os milagres que Jesus operou, as ações de curas que ele realizou, no
entendimento do escritor joanino, são sinais - em Marcos nenhum sinal seria dado a
geração de Jesus (Mc. 8:11-12) - que levarão a comunidade e os leitores joaninos a
verem o messianismo de Jesus. Este foi motivo principal que levou João a escrever o
seu evangelho (Jo. 20:30-311). Essa ideia está presente mesma em vários lugares do
evangelho de João (ver. 10:37-38, 12:37-43 e 14:8-11) e me parece que a mesma ideia
se faz presente em Mateus 11:1-6. O escritor de João tem pleno direito de pensar
assim. Mas é correto em assentar o messianismo de alguém sobre os sinais
miraculosos? A Escritura prevê que o Messias seria reconhecido pelos milagres que
ele faria? O messianismo do Messias não deveria ser antes reconhecido por um assim
diz o Senhor? Espero que o leitor pense um pouco nessas questões.
Conclusão
Resumido o nosso capítulo podemos dizer que: 1) Paulo crê que Jesus de Nazaré é o
Messias das Escrituras, mas não temos nenhuma prova contundente de sua pena que
prova sua crença; 2) o Jesus de Marcos é um Messias secreto que repentinamente
aparece em cena pregando sobre a vinda do reino, e acaba saindo de cena
repentinamente sendo crucificado pelo o império romano. Como Paulo não temos em
Marcos provas contundentes da Escritura de que Jesus é o Messias; 3) Mateus é de
longe dos outros já citados que procura de uma forma ou de outra conectar Jesus as
profecias das Escrituras. Entretanto, no próximo capítulo demostrarei a falácia dos
argumentos e artifícios engenhosos que o escritor oferece para provar o messianismo
de Jesus; 4) Lucas, é um investigador “minucioso” que também não consegue usar as
Escrituras para dizer quais texto Jesus tinha em mente quando diz que Moisés, Salmos
e todos os profetas profetizaram acerca de Jesus. 5) e por fim, o exaltado Jesus de
João, o verbo que era Deus, é um Messias não por demérito das Escrituras hebraicas,
mas sim por causa dos seus sinais (milagres) que ele operou.
Dizer que Jesus de Nazaré é o Messias de acordo com as Escrituras é uma coisa -
simples a meu modo de ver – agora, provar pelas Escrituras que ele é de fato o
Messias é uma coisa completamente diferente. Talvez é por isso que nem Paulo,
Marcos, Lucas e João em seus escritos citam as alegadas “Escrituras” que apontam
claramente para o messianismo de Jesus de Nazaré. Repito, dizer algo e provar tal
algo são coisas completamente distintas uma da outra. Posso dizer que o homem foi a
lua, mas não tenho como provar que ele realmente o fez; simplesmente careço de
provas palpáveis para provar tal ponto. Assim é o caso do Novo Testamento - ou de
qualquer outro escrito - que afirma que Jesus é o Messias, mas não tem um claro
“Assim diz Senhor” como suporte.