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DOUTRINA DE CRISTO
EGUINALDO HÉLIO DE SOUZA
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02 DOUTRINA DE CRISTO

Sumário

03 u Introdução
03  Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?

04 u Capítulo 1 q Nomes e títulos da pessoa de Cristo


04  Jesus
04  Cristo
05  Filho do Homem
05  Filho de Deus por nascimento
06  Filho de Deus no sentido messiânico
06  Senhor

07 u Capítulo 2 q O Deus Filho – sua divindade


08  Cristo e o tempo
09  Cristo e a criação
11  Cristo e seu Pai
14  Cristo e seus atributos
17  Declarando sua divindade

20 u Capítulo 3 q O Filho do homem – sua humanidade


20  O testemunho das Escrituras
21  Análise de sua natureza humana

25 u Capítulo 4 q As dessemelhanças em Jesus Cristo


25  O nascimento virginal de Jesus
29  A santidade de Jesus

31 u Capítulo 5 q A obra redentora de Cristo


33  A importância da morte de Jesus
36  As conseqüências da morte de Jesus
37  A importância da ressurreição de Jesus
40  A ascensão de Cristo

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 1


02 DOUTRINA DE CRISTO

41 u Apêndice I – Controvérsias cristológicas

44 u Apêndice II – O Tomo de Leão

47 u Referências bibliográficas

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02 DOUTRINA DE CRISTO

q Introdução

 Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?

“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus dis-


cípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles
disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas.
Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu
és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado
és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que
está nos céus” (Mt 16.13-17).
A pergunta mais importante a ser feita a qualquer ser humano é: “Quem é Jesus
para você?”.
Bem, sabemos que a salvação de uma pessoa não tem início quando ela
aprende uma definição teológica sobre quem é Jesus, mas quando ela passa a ter
um conhecimento pessoal dele, ou seja, quando tal pessoa passa a ter um encon-
tro pessoal com ele.
O grande problema que a cristologia se propõe a resolver é: “Quem é o verda-
deiro Jesus Cristo com quem as pessoas devem e podem encontrar-se, além de po-
der obter um conhecimento pessoal?”. O simples nome Jesus, esvaziado do seu sig-
nificado bíblico, nada representa. Quando os kardecistas, umbandistas, testemunhas
de Jeová, mórmons e outros grupos utilizam o nome de Jesus, estão oferecendo “um
outro Jesus” (2Co 11.4), destituído das características reais do Jesus das Escrituras.
“Examinais as Escrituras [...] pois são estas mesmas Escrituras que testificam de mim”
(Jo 5.39). Qualquer Jesus que não se ajuste aos moldes bíblicos é falso e perigoso.
A coisa mais importante da vida do homem é conhecer a Jesus. Mas aceitar
meramente o seu nome e sua essência não é suficiente. Devemos, acima de tudo,
conhecermos aquele em quem estamos crendo. Qualquer outra fonte, além da Bí-
blia, não tem autoridade divina para levar-nos ao conhecimento do nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. Por meio da Escritura Sagrada, podemos entender a pessoa e
a obra do Filho de Deus, Jesus Cristo. Que seja este agora o objeto de nosso estudo.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Capítulo 1
q Nomes e títulos da pessoa de Cristo

 Jesus

C omo tudo em sua vida, seu nome também não foi um acaso. Foi dado
pelo anjo a José, para que fosse colocado nele. Embora fosse um nome
de certa forma comum em sua época, seu significado, “O Senhor é Salvação”, ca-
bia a ele mais do que a qualquer outro. “Porque ele salvará o meu povo dos seus
pecados” (Mt 1.21).

 Cristo

C risto era o termo grego equivalente ao nome hebraico Messias, cujo sig-
nificado é “Ungido”. Embora o conceito de ser um ungido do Senhor era
muito comum em toda a história de Israel, tratava-se de “O Ungido”, com letra
maiúscula, o ungido por excelência. Logo, a palavra Cristo foi acrescentada ao seu
nome, passando para posteridade como Jesus Cristo (Jo 4.25,26).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 Filho do Homem

F ilho do Homem era primeiramente um título messiânico. Fora usado por Da-
niel com referência a um que viria nas nuvens, interpretado como sendo o
Messias (Dn 7.13).
Nos lábios de Jesus, porém, o título vai mais longe, identificando o Messias
com a própria humanidade. A palavra “filho” é um hebraísmo, uma forma pró-
pria de expressão dos semitas que identifica as qualidades de uma pessoa. Por
isso, uma série de expressões é usada com a palavra filho: “filhos do reino” (Mt
8.12); “filho da perdição” (Jo 17.12); “filhos da ressurreição” (Lc 20.36), e assim
por diante.
Por meio do título “Filho do Homem”, o Filho de Deus, Jesus, que, por natu-
reza, não era homem, ressaltou este aspecto de sua natureza. Sua identifica-
ção foi quase completa, excluindo somente seu nascimento virginal e sua vida
imaculada.

 Filho de Deus por nascimento

J esus foi o Unigênito (Jo 3.16), ou seja, o único gerado. Qualquer outro ser
no universo que receba o título de filho de Deus só o será em um sentido
relativo, como no caso dos anjos (Jó 38.7), de Adão (Lc 3.38) e do nosso próprio,
da nova aliança, que fomos adotados (Rm 8.15). Jesus o é em um sentido único,
absoluto.
A filiação divina no sentido exclusivo de Jesus dava-lhe natureza semelhante à
de Deus. Para os líderes religiosos de sua época, isto ficou muito claro. É evidente
que eles conheciam a designação “Filho de Deus”. Mas a maneira como Jesus a
usou escandalizou seus contemporâneos, porque o colocava em pé de igualdade
com o Pai (Jo 5.18; 10.33).
Alguns querem argumentar que o fato de Cristo ser Filho de Deus e gerado
por ele confere-lhe uma origem, um princípio, anulando, assim, sua eternidade e,
por conseqüência, sua divindade. Todavia, é necessário analisar teologicamente
o termo “Filho”. No contexto das pessoas divinas (Trindade), ele é utilizado apenas
como analogia, e não como descrição exata entre a primeira e a segunda pes-
soas. Se quiséssemos, no entanto, tomar as palavras “filho” e “gerar” com sentido
literal, teríamos então de supor que a divindade engravidara ou tivera uma mãe
para que ocorresse a concepção. Logo, os termos apenas ilustram verdades divi-
nas por comparação. Por isso o credo de Atanásio o coloca como “Eternamente
Gerado”.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 Filho de Deus no sentido messiânico

E m certo sentido, homens como Davi ostentaram o título de filho de Deus. Mas
esta designação aparece em passagens de conteúdo messiânico, ou seja,
eram passagens que, embora se referissem à aliança de Deus com Davi, aponta-
vam, porém, para o seu sucessor futuro – Cristo (2Sm 7.14; Sl 89.27; Sl 2.7,12).

 Senhor

E ste termo reflete pelo menos dois fatos a respeito de Jesus: divindade e
soberania.
Deidade: Quando Jesus faz referência ao Salmo 110 proferido por Davi, ele
deixa bem claro que o título Senhor ali utilizado ia bem além de mera monarquia
humana (Mt 22.41-46). Se Davi chamava de Senhor alguém que estava diante de
Deus, com certeza não era mero governante humano.
Soberania: Este título mostra seu domínio efetivo sobre tudo. Hoje, este domínio
é voluntário. Futuramente, será reconhecido por todos os seres conscientes do uni-
verso (Fl 2.10,11).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Capítulo
q O Deus Filho – sua divindade
2
J esus é Deus. Temos consciência da sublimidade desta afirmação. Dizer que
foi o próprio Deus quem andou entre os homens, morreu na cruz, ressuscitou
e subiu aos céus é um fato grandioso demais para a mente humana. Mas as Escritu-
ras Sagradas, única fonte inspirada e infalível para este assunto, assim nos revelam.
Logo, crer nas Escrituras Sagradas significa crer na divindade de Cristo.
A doutrina da divindade de Cristo não é baseada em um ou em poucos versí-
culos isolados. É alicerçada em toda a Bíblia. Dentre as várias provas das Escrituras
referente a esta doutrina, destacamos cinco:

Cristo em relação ao tempo

Cristo em relação à criação

Passagens paralelas do Antigo e do Novo Testamentos

Atributos da natureza de Cristo

Declarações bíblicas explícitas

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 Cristo e o tempo

“P orque um menino nasceu e um filho se nos deu [...] e o seu nome será [...]
pai da eternidade...” (Is 9.6).
“Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de
vida , mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para
sempre” (Hb7.3).
“Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre
todos, Deus bendito eternamente. Amém” (Rm 9.5).
“O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo” (Sl 45.6 cf. Hb 1.8).
Houve um tempo (se é que podemos chamar assim) em que nada existia, além
de Deus. Quando declaramos nada, não queremos apenas dizer o mundo visível, a
terra, as estrelas e o universo, mas também o mundo invisível, isto é, todo o exército
de anjos com suas hierarquias e poderes. Antes do primeiro ser angélico ser criado,
Deus já era em sua essência trina .
E isto mostra que o Filho não foi uma criação, pois antes que ele se pusesse
a criar, só havia o nada. Nem mesmo o que chamamos “tempo” pode ser dado
como existente. Ele é o “pai (que deu origem) da eternidade”, “ele é antes dos
tempos dos séculos” ou “tempos eternos” (Tt 1.2, 2Tm 1.9). Ele não tem “princípios
de dias” e é chamado “Deus bendito eternamente”.
A expressão bíblica “antes dos tempos dos séculos” mostra um período muito lon-
gínquo e já aqui Cristo existia, planejando com o Pai e o Espírito os rumos do universo.
Quando lemos: “Façamos o homem à nossa imagem”, percebemos:

Que a criação foi planejada por Deus antes de ser executada.


Que este Deus criador tinha pelo menos outro ao seu lado, pois com o outro
se comunica antes de criar a coroa da criação, isto é, o homem.
Que este outro (ou outros) trabalham em harmonia com ele. Note que não
foi dito: “faça o homem” como falando a um anjo subordinado. Nem foi dito
“faremos o homem” como uma ordem já decidida. Mas foi um plano em har-
monia: “Façamos o homem”.
Este outro (ou outros) tinha a mesma imagem, pois não disse: façamos à mi-
nha imagem, mas “à nossa imagem”.

Logo, o início da existência de qualquer coisa não partiu apenas do Pai, mas
de toda a divindade. Sendo assim, Cristo fez parte dessa decisão de criação de
todas as coisas.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 Cristo e a criação

C om respeito a Cristo e a criação, a Bíblia afirma quatro coisas:

Todas as coisas foram feitas por ele (Jo 1.3)

Todas as coisas foram criadas nele (Cl. 1.16)

Todas as coisas subsistem por ele (Cl. 1.17)

Todas as coisas foram criadas para ele (Cl.1.16, Hb.1.2)

 Todas coisas foram criadas por ele


(Textos auxiliares: Jo 1.3,10; Cl 1.15; Hb 1.2, 10-12; 1Cr 8.6)

Sabemos que é algo espantoso, mas aquele carpinteiro de Nazaré, filho


de Maria, que morreu crucificado no Gólgota, era o Criador do universo. E,
por ter-se identificado tanto com suas criaturas não foi reconhecido por elas.
Mas a Bíblia afirma: “estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo
não o conheceu” (Jo 1.10). Esta criação, como já dissemos, inclui o mundo
espiritual.

Com isso, Cristo é excluído da classe angélica. Em nenhum lugar das Escrituras
é afirmado o poder criador dos anjos. Nem o poderoso Miguel seria capaz de trazer
do nada qualquer coisa à existência. Aqueles que não se referem a Jesus como
sendo Deus, caem na inconsistência de julgá-lo como sendo um anjo e, com isso,
acabam crendo em uma espécie de semideus .

 Todas as coisas foram criadas nele


(Textos auxiliares: Cl 1.16; Ef 1.23; Jr 23.24)

Tudo o que foi criado foi criado nele. O que quer que exista no universo está
dentro de sua infinitude. Não há recanto no cosmo que esteja excluído da presen-
ça infinita do Filho unigênito .

“Não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor?” (Jr 23.24). Isto é infinitude.
Logo, o universo é permeado, em toda a sua extensão, com o ser de Cristo. Mas
ainda é mais do que isso. Embora o Senhor Jesus encha os limites do universo, ele os
trespassa, de modo que não é o universo que contém a Deus. Antes, é Deus quem
contém o universo. Não é que Deus esteja no mundo, mas o mundo é que está em
Deus. Ele não é contido. Ele contém.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

É este o sentido “foi criado nele”. Embora o universo seja considerado infinito,
ainda assim não está fora da abrangência da natureza infinita de Cristo. Ele é o que
preenche “tudo em todas as coisas” (Ef 1.23). Sim, preenche tudo. E ainda vai mais
além, pois “os céus dos céus não o podem conter” (1Rs 8.27).

Assim, o Criador, que fez todas as coisas, criou tudo dentro da sua infinitude.
Portanto, nada está fora de sua natureza. Ou seja, tudo fora criado nele .

 Todas as coisas subsistem por ele


(Textos auxiliares: Cl 1.17; Hb 1.3)

Quando olhamos o universo, vemos uma “máquina” espantosa. São milhares


de estrelas de tamanhos diferentes que se mantêm fixas no Firmamento. É a terra
que faz seu giro milenar ao redor do sol. É a vida, em suas múltiplas formas, que se
apresenta a nós todos os dias: nas flores que nascem, nos animais que se multipli-
cam, na vegetação que seca e torna a renascer etc. Será que existe um poder,
uma força que faz que todas estas coisas mantenham seu curso e nunca parem?
Por que a vida não pára de se multiplicar e o universo de se mover? Porque Cristo
sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3). Ele não é só o Criador,
mas também é o sustentador da sua criação. Ela se mantém firme e coesa pelo
poder de Cristo.

O deísmo que afirma que Deus criou o mundo e depois o abandonou às suas
próprias leis esquece que há uma força por trás de todas as leis que rege toda a
criação. Cristo é a força por trás das leis da natureza que age para que ela (a na-
tureza) seja cumprida. Assim, tudo o que existe subsiste por ele, Jesus.

 Todas as coisas foram criadas para Ele


(Textos auxiliares: Cl 1.16; Hb 1.2; Mt 11.27; Jo 3.35; 13.3; Rm 8.17)

Tudo foi criado para ele. Aqui encontramos o motivo que levou Deus a criar o
universo. O universo foi criado para o Filho.

A queda prejudicou este propósito. Por isso, a criação teve de ser redimida an-
tes que o Herdeiro pudesse tomar posse, e a redenção da qual estamos falando foi
realizada por meio do próprio Herdeiro, Jesus Cristo.

Na eternidade passada, quando a divindade planejou a criação, havia o pro-


pósito de entregar tudo ao Filho. Tudo o que existe pertence a Cristo. Cada coisa
criada traz em si a marca “para Cristo”. O homem, como “a consciência do uni-
verso”, teve em si a possibilidade de escolha de aceitar este propósito ou não.
Rejeitou-o. Hoje, a igreja, o “novo homem” (Ef 2.15), é composta por aqueles que
reconheceram e aceitaram este propósito de “ser para Cristo”.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

O universo estará fora do seu eixo enquanto toda a oposição não for banida
e a criação não estiver dentro do propósito de “ser para Cristo”. Esta é a razão de
ser do universo e do homem.

 Cristo e seu Pai

É possível que muitos amem a Jesus, mas sintam receio quanto ao Deus do
Antigo Testamento. Parecem distintos, antagônicos. Um é guerreiro sangui-
nário; o outro é médico, compassivo. Um mata os pecadores; o outro morre por
eles. Um fala de vingança contra os inimigos; o outro fala de perdão. Um se ira; o
outro se compadece.

Estas idéias, todavia, são falsas. O Deus do Antigo Testamento ama, e muito.
Quando expulsou o homem do Éden prometeu-lhe um Salvador (Gn 3.15). No dilú-
vio salva uma família e com ela faz a promessa de nunca mais afogar sobre a água
os seres debaixo dos céus (Gn 9). Ama Abraão e sua descendência, a nação de
Israel (Gn12). E este amor não se limita etnicamente. Mas estende-se, a ponto de
perdoar e reter sua ira sobre a perversa Nínive (Jn 1.3).

Por outro lado, é o meigo Jesus que com seu chicote expulsa os vendedores do
templo e com seus lábios pronuncia pesados “ais” sobre os fariseus (Mt 23). Foi Jesus
quem, principalmente, ensinou a doutrina do inferno e se colocou como o pronun-
ciador da maldição eterna sobre os pecadores (Mt 25.41).

Não queremos aqui inverter o quadro. Queremos, sim, encurtar a distância,


apagar as diferenças ilusórias. Queremos deixar bem claro que o que vemos
em Jesus é o mesmo Deus do Antigo Testamento. Ou não disse ele: “Quem vê
a mim vê ao pai” (Jo 14.9)? Ou não é ele a “expressa imagem da sua pessoa?”
(Hb 1.3). Ou ainda não é a seu respeito que Paulo diz ter “a forma de Deus?”
(Fl.2.6).

Em Jesus há mais do que mera afinidade com o Pai. Ele e o Pai são um (Jo 10.30).

Em Jesus, vemos o único Deus verdadeiro (1Jo 5.20,21), e as Escrituras apre-


sentam Jesus tomando títulos e honras que só pertencem a Deus. Os escritores do
Novo Testamento tomam livremente passagens que se referiam a Deus e as apli-
cam a Jesus. Ele é a forma visível do Deus invisível, a lâmpada tangível pela qual se
derrama a intangível e inacessível luz de Deus (Ap 21.23).

A fim de comparar afirmações relacionadas a Deus e a Jesus, traçaremos um


paralelo nas Escrituras. Assim, mostraremos, por comparações, o quanto Jesus é
igual ao seu Pai.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 Passagens referindo-se a Deus e a Jesus

“Eu o Senhor, o primeiro, e com os últimos eu mesmo” (Is 41.4).


“Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim” (Ap 1.17).

“E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 2.32).
“E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (At 2.21; 34.36;
Rm 10.17).

“Diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua”
(Is 45.23).
“Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho [...] E toda a língua confes-
se que Jesus Cristo é o Senhor” (Fl 2.10-11).

“Então ele vós será santuário, mas servirá de pedra de tropeço e rocha de es-
cândalo” (Is 8.14).
“E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que trope-
çam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram desti-
nados” (1Pe 2.8).

“O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de


eqüidade” (Sl 45.6).
“Mas do filho diz, ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de
eqüidade é o cetro de teu reino” (Hb1.8).

“Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obras das tuas mãos. Eles
perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um ves-
tido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Porém tu és o mesmo, e os
teus anos nunca terão fim” (Sl 102. 25-27).
“E [do Filho]: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obras de
tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa,
envelhecerão, e como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas tu és o
mesmo, e os teus anos não acabarão” (Hb1.10-12).

“Eu o Senhor, esquadrinho o coração e provo a mente, e isto para dar a cada
um segundo os seus caminhos e segundo o fruto de suas ações” (Jr 17.10).
“Em todas as igrejas saberão que eu sou aquele que esquadrinha os rins e os
corações, e darei a cada um de vós segundo as suas obras” (Ap 2.23).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

“No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn1.1).


“No princípio era o Verbo [...] todas as coisas foram feitas por ele” (Jo 1.1-3).

“Vede, eu envio o meu mensageiro que prepara o caminho diante de mim”


(Ml 3.1).
“E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque hás de ir ante a
face do Senhor, a preparar os seus caminhos” (Lc 1.76).

“O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl 23.1).


“Eu sou o bom Pastor” (Jo 10.11).

“Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é” (Dt 32.4).


“Eu sou [...] a verdade” (Jo 14.6).

“Respondeu o Senhor a Moisés: aquele que pecar contra mim, a este riscarei
do meu livro” (Êx 32.33).
“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não es-
tão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do
mundo” (Ap 13.8).

“E entrarão nas fendas das rochas, e nas cavernas das penhas, por causa do
terror do SENHOR, e da glória da sua majestade, quando ele se levantar para
abalar terrivelmente a terra” (Is 2.21).
“E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto
daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro” (Ap 6.16).

“Digno és, Senhor, nosso e Deus nosso de receber glória, e honra, e poder”
(Ap 4.11).
“Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria,
e força, e honra, e glória, e ações de graças” (Ap 5.12).

“Porque eu sou Deus e não homem, o santo no meio de ti” (Os 11.9).
“Mas vós negaste o santo...” (At 3.14).

“Quando subiste ao alto levaste cativo ao cativeiro...” (Sl 68.18).


“Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro...” (Ef 4.8).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

“Ó Senhor, quem é como tu...?” (Êx 15.11).


A esta pergunta, podemos responder: “Só o teu Filho”.
De fato, os paralelos acima nos mostram que o Filho é igual ao Pai. O que se diz
de um também é dito do outro, igualmente.

 Cristo e seus atributos

Jesus Cristo é:

Aquele que sonda os corações (sua onisciência)

Aquele que opera como o Pai (sua onipotência)

Aquele que passeia no meio dos castiçais (sua onipresença)

Aquele que recebe oração

Aquele que recebe adorações

Quem é Jesus? Um anjo? Um homem? Só existem três classes de seres:

humanos

angelicais

divinos

E podemos distingui-las pelos seus atributos. Cada uma destas classes tem as
qualidades próprias de sua natureza, e nós, como servos de Deus, só podemos con-
tar com os seres dentro das limitações de seus atributos. Mas quando nos relacio-
namos com Jesus nós nos relacionamos com alguém com atributos divinos. Jesus é
universal e só pode ser universal porque é divino. As pessoas, por meio do mundo
físico, podem relacionar-se com homens, anjos ou demônios, porque são muitos. Je-
sus, no entanto, é um único ser e, ainda assim, devido à sua natureza divina, pode
relacionar-se com todos os cristãos do mundo inteiro em uma comunhão igual a
que tem com o Pai (1Jo 1.3).

Se o nosso relacionamento com Cristo é pessoal, então ele é um ser limitado?


Nada disso. Cristo não é como os homens ou como os anjos. Seus atributos o colo-
cam em pé de igualdade com Deus.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 14


02 DOUTRINA DE CRISTO

 Aquele que sonda os corações (sua onisciência)


(Textos auxiliares: Mt 11.27; Jo 16.30; 21.17; Ap 2.23; Jo 2.25).
O conhecimento de Jesus foi limitado na sua vida terrena (Mt 24.36), mas na
totalidade de seu ser, por ser Deus, ele conhecia todas as coisas.
Ao aparecer para João, em Patmos, Ele disse: “Todas as igrejas saberão que eu
sou aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo as
vossas obras” (Ap 2.23). O que Jesus está dizendo? Que dará a cada um a recom-
pensa devida. E como ele pode saber o que cada um realmente merece? Por seus
atributos divinos, pois ele é aquele que sonda, esquadrinha os rins (a mente para
os antigos) e os corações (sede da personalidade). O Senhor Jesus conhece o que
se passa no interior de cada um de nós. E este conhecimento é uma característica
de Deus, e de nenhum outro ser. Na verdade, estas palavras de Jesus são apenas
o eco das próprias palavras de Deus em Jeremias 17.10: “Eu, o Senhor, esquadrinho
os corações, e provo a mente, para dar a cada um segundo os seus caminhos e
segundo as suas obras”.
O apóstolo Pedro, que tão bem conheceu o Senhor Jesus, estava apto a dizer:
“Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo” (Jo 21.17). Pedro sabia que estava
diante de alguém com conhecimento ilimitado.

 Aquele que opera como o Pai (sua onipotência)


(Textos auxiliares: Jo 5.19 ; Mt 28.18 ; Fl 3.21)
Ao invés de perguntarmos: “Jesus pode todas as coisas?”, façamos este ques-
tionamento de maneira inversa: “Há alguma coisa que ele não possa fazer?”.
Se há algum limite para o Filho de Deus, este limite é de permissão, e não de
possibilidade. Caso ele não faça algo, será apenas por lhe faltar a permissão do
Pai, e não por faltar poder em sua natureza.
Ele é o Deus Filho, o onipotente Filho de Deus. Se alguém dúvida da onipotên-
cia de Cristo, perguntamos: “O Pai pode fazer todas as coisas?”. A resposta é sim.
Então, Jesus também pode, pois ele é Deus e é onipotente. Foi o próprio Jesus quem
disse: “... tudo o que o Pai faz, o Filho o faz igualmente” (Jo 5.19). E quando ele diz
que “o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma...” não há aqui nenhuma
contradição, antes, demonstra apenas a submissão do Filho ao Pai.
Jesus, o Deus Filho, tem todo o poder no céu e na terra, conforme está escrito
em Mateus 28.18. Ele tem poder para colocar todas as coisas sujeitas a seus pés (Fl
3.21). Se Jesus é limitado em algum ponto, não é em sua natureza, mas na submis-
são voluntária. Seu amor infinito ao Pai limita seu poder infinito.
Àquele que criou, sustenta e circunda todas as coisas haverá algo impossível
para ele? De modo nenhum!

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 15


02 DOUTRINA DE CRISTO

 Aquele que passeia no meio dos castiçais

Sua presença nos salvos (Jo 14.23, Rm 8.10)

Sua presença na igreja (Mt 18.20, Ap 2.1)

Sua presença no universo (Ef 4.10, 1.23, Cl 1.16)

Embora sua presença possa variar em grau, ela existe em todo o universo. Des-
de o coração dos santos, onde ele habita como Senhor, até o lado do Pai, onde ele
governa o universo, a presença de Cristo enche todas as coisas (Ef 1.23).
Que outro ser, além de Deus, pode estar em mais de um lugar ao mesmo tem-
po? Mesmo no mundo espiritual, com outra forma de existência, isto é impossível, a
não ser para Deus. Cristo, todavia, prometeu habitar, fazer morada naqueles que o
obedecem (Jo 14.23). Temos, então, sua onipresença nas diversas pessoas ao redor
do mundo.
Indo mais além, ele se faz presença onde seu nome é invocado em fé (Mt 18.20;
cf. Sl 145.18). Em sua igreja, entre os santos, ele manifesta sua presença por meio
do Espírito Santo. Mas nem mesmo o universo foge da sua infinitude. Tudo foi criado
nele, dentro da sua essência infinita, por isso ele é aquele que preenche todas as
coisas (Ef 1.23).

 Aquele que recebe orações


Nem o maior santo ou o mais poderoso anjo é digno do nosso mais débil cla-
mor. Eles não possuem a onisciência para poder ouvir, muito menos a onipotência
para poder responder. Carecem destas qualidades para se tornarem depositários
da nossa fé, clamor e oração.
Embora Jesus tenha dito apenas uma vez que deveríamos pedir-lhe alguma
coisa em seu nome (Jo 14.14; cf. tb. os melhores e mais velhos manuscritos), no en-
tanto, ele se tornou o objeto das orações do seu povo. Aqueles que desejam afir-
mar categoricamente que não devemos dirigir orações ao Filho, somente ao Pai e
em nome de Jesus, devem se dobrar humildemente diante das Escrituras.
Se não bastasse o texto acima, vemos, ainda, que toda a comunidade cristã
primitiva usava o nome de Jesus em suas orações, dirigindo a ele suas súplicas. Es-
têvão invocou o Senhor Jesus, entregando-lhe seu espírito na sua morte (At 7.59).
Os santos em Jerusalém invocavam o nome de Jesus (At 9.14), e não somente em
Jerusalém, mas “em todo o lugar” se invocava o nome de Jesus (1Co 1.2). Também,
encontramos o apóstolo Paulo orando a Jesus para que o livrasse de uma barreira
demoníaca (2Co 12.8).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Não resta dúvida de que a igreja primitiva olhava para Jesus da mesma maneira
que Israel olhou para Javé. Não como outro Deus, mas como o mesmo Deus que ago-
ra havia chegado mais perto, morrido e ressuscitado, para se tornar o seu Senhor.

 Aquele que recebe adoração


Estavam bem claras para Jesus, para os discípulos e para os primeiros leitores
dos escritos da nova aliança as palavras de Moisés, citadas em Mateus 4.10: “Ao
Senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás”. Sendo assim, a única explicação para
o fato de Jesus receber adoração dos homens e dos anjos é ele ser Deus.
Vemos Pedro (At 10.25,26), Paulo (At 14.11-15) e até um anjo (Ap 22.8,9) rejei-
tando a adoração.
Jesus, todavia, aceitou, inúmeras vezes, que os homens se prostrassem aos seus
pés e o adorassem (Mt 8.2; 9.18; 14.33; Lc 17.15,16).
Não bastasse isso, o próprio Deus exigiu adoração ao Filho, dizendo “Que
todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1.6). E o apóstolo João, ao contemplar a
glória celestial, foi testemunha da adoração prestada ao Senhor Jesus Cristo no
céu. Eram milhões e milhões de anjos e homens dizendo: “Digno é o Cordeiro [...]
de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações
de graças ” (Ap 5.12).
O capítulo ainda fala da adoração de toda a criação, uma adoração que não
se dirige apenas ao Pai, mas também ao Filho, a quem deve ser tributado “ações
de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre ” (Ap 5.13).
Se Jesus não é Deus, então a palavra de Deus não passa de um amontoado de
incoerências. Mas se ele é Deus, só há algo que o mundo pode fazer: adorar o Filho
como adora o Pai, e concordar com os testemunhos das Escrituras a esse respeito.

 Declarando sua divindade

E m 1João 5.9, está escrito “Se recebemos os testemunhos dos homens, o tes-
temunho de Deus é maior”. Se não for suficiente o que temos visto até ago-
ra, para que possamos nos convencer de que o Senhor Jesus é o verdadeiro Deus,
resta-nos ainda o testemunho aberto e inspirado das Escrituras.
A seguir, faremos uma exposição (com comentários) de doze textos em que
apóstolos, profetas e o próprio Jesus declaram abertamente a divindade do Filho
de Deus. Recomendamos que os alunos leiam as referências seguindo-as em sua
Bíblia, pois, sem essa observância, ficarão impossibilitados de compreender a abor-
dagem a que nos propomos.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Isaías 9.6: Esta passagem messiânica se refere a Jesus como o “Deus forte”. Este
menino “que nos nasceu” recebe um título que Isaías atribuíra a Javé . Em Isaías
10.21, o profeta diz: “os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de
Jacó”. Logo, ele, Jesus, é o Deus forte.

João 1.1: Sua distinção (estava com Deus) e a sua identificação (era Deus)
com Deus são expressas de uma maneira bem simples aqui. As maiores distorções
teológicas são demasiadamente frágeis para anular o que o autor inspirado quis
dizer: que Jesus é o Verbo de Deus.

As tentativas obstinadas de alterar a verdade aqui expressa criaram doutrinas


absurdas e estranhas que não chegaram jamais a um consenso claro. Se Jesus não
é Deus, como diz o texto, quem ele é então?

João 1.18: Aqui Jesus é o “Deus unigênito” que revelou, mostrou e desvendou
ao mundo como é o Pai.

João 5.18: Até mesmo os próprios inimigos de Jesus entendiam sua identifica-
ção com Deus. É preciso ser tolo para não compreender o que Jesus quis dizer. E
João, ao narrar este fato, comenta sobre a percepção dos judeus.

João 10.30: Esta união não é só de propósito, como alguns querem interpretar.
É uma união de natureza. Os contextos anterior e posterior comprovam isto. Nos
versículos 28 e 29, lemos: “... ninguém poderá arrebatá-las das minhas mãos [...]
ninguém poderá arrebatá-las das mãos dele [...] eu e o Pai somos um”. No verso 30,
Jesus está explicando o que havia dito anteriormente. O contexto posterior, v. 33,
mostra que foi isto que os seus ouvintes entenderam, ou seja, que ele estava decla-
rando sua divindade.

João 20.28: Mais do que uma exclamação, é um reconhecimento. Vemos Tomé


chamando Jesus de Senhor e Deus seu.

Romanos 9.5: Ainda que debatido na atualidade, os primeiros copistas colocaram


a pontuação gramatical de uma maneira que a divindade de Cristo ficou expressa.
Com certeza, a dúvida hoje levantada não era conhecida pelos primeiros cristãos.

Atos 20.28: Também controvertido, este texto fala da igreja de Deus que ele
comprou com o seu próprio sangue. Toda esta disputa não passa de preconceito.

Filipenses 2.6: “Sendo em forma de Deus” fala da sua natureza espiritual, antes
de adquirir a terrena. Não se tratava de uma forma humana ou angélica, mas di-
vina. Não era homem ou anjo, mas Deus. Por isso, ele compara a nossa sujeição a
outros (v.5) à sujeição do Filho ao Pai. Ainda que possua a mesma forma de Deus,
Jesus, o Filho, se fez menor que o Pai.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Colossenses 2.9: Não apenas algumas características, não apenas um pouco


da sua natureza, mas “toda a plenitude da divindade”. Possuir toda a plenitude da
divindade e não ser Deus é como possuir toda a plenitude da humanidade e não
ser homem.

Tito 2.13: “Grande Deus e Salvador Jesus Cristo”. Inserir a preposição “do” antes
da palavra “Salvador” para tentar fazer uma diferenciação é tolice, pois sabemos
que a parousia - aparecimento - se refere à vinda de Jesus em glória.

1João 5.20: Aqui, encontramos o apóstolo João chamando Jesus Cristo de “o


verdadeiro Deus”. Bem disse Atanásio em seu verso: “Verdadeiro Deus do verdadei-
ro Deus”.

Com estas passagens, podemos verificar que na crença de João, Paulo, Lucas,
Tomé, Isaías e Pedro, Jesus Cristo era Deus manifestado na carne. Em linguagem
verbal ou escrita, eles ousaram proferir algo que seria considerado blasfêmia pelos
judeus de suas épocas, embora saibamos que falavam a verdade.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Capítulo 3
q O Filho do homem – sua humanidade

N ão podemos falar de Cristo sem falarmos de sua natureza humana, caso


contrário, seremos incompletos. Dizer que “o Verbo era Deus” (Jo 1.1) é
apenas metade do assunto. Pois, também está escrito: “O Verbo se fez carne”
(Jo 1.14). Como qualquer outra doutrina das Escrituras, a natureza de Cristo tem de
ser analisada à luz de todas as passagens sobre o assunto, e não apenas em partes
selecionadas que ignorem outros textos referentes ao mesmo tema. Se é importan-
te dizer que Jesus é Deus, também é igualmente importante mostrar que Jesus foi
homem como nós.

 O testemunho das Escrituras

“P elo que convinha que em tudo fosse semelhante a seus irmãos” (Hb 2.17).

Para que o propósito divino tivesse êxito, o Filho de Deus teria de tomar sobre
si a humanidade completa. Era necessário que em tudo se tornasse um de nós. O
que o Filho fez ao torna-se carne foi traduzir o Deus inacessível para uma forma que
a humanidade pudesse compreender.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Para os gnósticos (para
quem a matéria era totalmente má) e para o atual movimento Nova Era (alta-
mente subjetivo) um salvador “que participou da carne e sangue” (Hb 2.14) é
inaceitável.

“Jesus Cristo veio em carne” (2Jo 7) foi o grito do apóstolo João contra as dou-
trinas que, por tanto mistificar o Filho de Deus, colocam-no como um “avatar” do
amor ou como um mero “espírito evoluído”.

Graças a Deus, porém, que o testemunho de Deus nas Escrituras não deixa dú-
vida. Pela palavra de três testemunhas será confirmada toda a palavra.

 Moisés

“E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente;


esta (Jesus) te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15).

 O autor do livro de Samuel

“Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então
farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas en-
tranhas, e estabelecerei o seu reino” (1Sm 7.12).

 O apóstolo João

“E o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14).

 O apóstolo Paulo

“Deus , enviando seu filho em semelhança da carne do pecado” (Rm 8.3).


“Mas a si mesmo se esvaziou tomando a forma de servo, fazendo-se seme-
lhante ao homem ” (Fl 2.7).

 Análise de sua natureza humana

A queles que nos narraram a vida de Jesus não o fizeram “seguindo fábulas
artificialmente compostas” (2Pe 1.16), mas por meio de contato pessoal ou
de contato com testemunhas oculares (V. Lc 1.1-4; Jo 21.23-24; 1Jo 1.1,2; 2Pe 1.16-
18). Qualquer, pois, que quiser afirmar algo sobre Jesus terá de curvar-se à autori-
dade divina e pessoal das Escrituras da Nova Aliança, que nos apresentam alguém
completamente identificado com a humanidade. As Escrituras, em nenhuma par-
te, negam que Jesus era verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 Suas limitações físicas

Dentro dos limites da capacidade física, Jesus realizou a vontade do Pai. Assim
como nós, homens, Jesus também estava sujeito à:

“Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado,


Sede
disse: tenho sede!” (Jo 19.28)

“Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome”


Fome
(Mt 21.18)

“Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim


Fadiga
junto da fonte. Era isto quase à hora sexta” (Jo 4.6)

“E eis que no mar se levantou uma tempestade, tão


Sono ­grande que o barco era coberto pelas ondas; ele, po-
rém, estava dormindo” (Mt 8.24)

 Suas limitações intelectuais

A onisciência, inerente à sua natureza divina, não se manifestava. Em sua


­h umanidade, Jesus ficou limitado também em suas capacidade intelectuais.

Ele crescia em “E crescia Jesus em sabedoria [...] diante de


conhecimento Deus e dos homens” (Lc 2.52)

“E, vendo de longe uma figueira com folhas,


Adquiria foi ver se nela acharia alguma coisa. Aproxi-
conhecimento mando-se dela, nada achou, senão folhas,
pelas observações pois não era tempo de figos” (Mc 11.13)

Era limitado em “Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem


seus conhecimentos os anjos do céu, mas unicamente meu Pai”
sobre o futuro (Mt 24.36)

 Suas limitações morais

“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”
(Hb 4.15).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 Suas limitações espirituais


Nem mesmo nesta área Jesus foi poupado. Antes, venceu, não porque era
­ ivino, mas porque era completamente consagrado e dedicado a Deus. Se assim
d
não fosse, teria sucumbido diante das tentações.

Jesus dependia “E, levantando-se de manhã, muito cedo, fazendo


da oração para ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali
ter poder orava” (Mc 1.35)

“E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a


Ele necessitava orar, e passou a noite em oração a Deus. E, q
­ uando
da orientação já era dia, chamou a si os seus discípulos, e esco-
de Deus lheu doze deles, a quem também deu o nome de
apóstolos” (Lc 6.12-13)

“Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito


Ele dependia
Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem,
da união do
e curando a todos os oprimidos do diabo, porque
Espírito Santo
Deus era com ele” (At 10.38)

 Sua identificação com seu meio social
Não se fala dele como um ser misterioso que surgiu de repente e de repente desa-
pareceu. Mesmo aqueles que o rejeitaram tiveram com ele uma convivência normal.
Poucos vultos do passado tiveram uma documentação do seu passado tão vasta.

Uma genealogia naquela época era tão ou mais impor-


tante quanto uma certidão de nascimento hoje. A ge-
Ele possui
nealogia não só identificava pai e mãe como também
uma
a família e a tribo. Embora Mateus 1.1-16 e Lucas 3.23-
genealogia
38 possuam algumas distinções, podemos ver o Filho de
Deus tendo uma completa identificação terrena.

Mãe, pai, irmãos e irmãs faziam parte da vida terrena de


Ele teve
Jesus. Em Marcos 6.3 seus opositores se espantaram de que
uma
falasse de maneira tão sublime, pois o tinham visto crescer,
família
e seus irmãos e irmãs eram conhecidos entre eles.

Até isto não ficou encoberto. “Não é este o carpinteiro...?”


Ele teve
(Mc 6.3) perguntavam. Jesus não foi um asceta, e muito
uma
menos um viajante que foi à Índia para aprender seus mis-
profissão
térios, como os ocultistas querem que o mundo acredite.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 A tricotomia em Jesus
Em seu aspecto básico, o ser humano é constituído de corpo, alma e espírito
(1Ts 5.23; Hb 4.12). Se Jesus era realmente humano, sua natureza, no aspecto bási-
co, também não poderia ser diferente. E, de fato, não era, pois as três partes bási-
cas desta natureza existiam em Jesus.

Foi Ele mesmo quem disse: “...um espírito não tem carne
nem ossos...” (Lc 24.39). Em muitos lugares, também fica
clara a referência ao seu corpo, como em Mateus 26.12,
Corpo por exemplo: “Pois, derramando este perfume sobre o
meu corpo...”. Cegos são aqueles que são incapazes de
aceitar este Jesus, como fazem os espíritas, os hindus e os
seguidores da Nova Era. Seu Jesus pode ser desencarna-
do, mas o Jesus das Escrituras não.

Ao soprar Deus no homem o fôlego de vida, é dito: “...


e o homem tornou-se alma vivente” (Gn 2.7). Logo, a
Alma alma é parte inerente da natureza do homem. O Senhor
Jesus disse no Getsemani: “... a minha alma está profun-
damente triste, até a morte” (Mt 26.38).

Como nós, Jesus também tinha um espírito. Em Lucas


Espírito 23.46, lemos: “E, clamando Jesus com grande voz, disse:
Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo
disto isto, expirou”.

Não obstante toda essa análise da natureza humana de Cristo, pelo menos em
dois aspectos (e só!) Jesus era diferente da raça humana. Todavia, estas diferenças
eram de suma importância e de extrema necessidade, do contrário, lhe seria im-
possível servir aos propósitos divinos. Pela importância dessas diferenças, trataremos
delas em capítulo à parte.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Capítulo 4
q As dessemelhanças em Jesus Cristo

A primeira diferença refere-se à sua geração, a segunda, à sua vida sem pe-
cado. Aqui está o contraste entre Jesus e a humanidade inteira. Sua obra
dependia destes fatores.
Aqueles que admiram os milagres realizados por Jesus deveriam saber que tais
milagres, em sua maioria, podem também ser realizados por seus seguidores. Em-
bora tenhamos este poder, outorgado a nós pelo próprio Jesus, por meio do Espírito
Santo, jamais poderemos nos igualar a ele nestes dois pontos de sua vida: seu nas-
cimento virginal e sua vida sem pecado. Na verdade, é aqui que reside a eficácia
da obra salvadora de Deus.

 O nascimento virginal de Jesus

E ste fato é claramente afirmado nas Escrituras da Nova Aliança. As pessoas


que negam esta verdade agem dessa forma porque lêem os textos sagra-
dos com o preconceito de que milagres não existem. Assim, tais críticos não mere-
cem qualquer atenção, pois querem ser matemáticos que não crêem na exatidão
dos números, querem ser psicólogos que não crêem na existência da mente. Seus
raciocínios são fúteis (Rm 1.21).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Agora, no entanto, nos deteremos em dois pontos: no fato e na sua razão.

 O fato
Dos quatros livros biográficos da vida de Jesus, dois deles mencionam o aspec-
to virginal de seu nascimento, Mateus e Lucas. Marcos, com sua narrativa resumida,
não o faz porque se concentra mais em sua obra. E João, por destacar o lado divi-
no de Cristo, também não o menciona.
Contudo, estas duas narrativas, registradas em Mateus 1.18-25 e Lucas 1.26-38,
se complementam de tal forma que temos material abundante para confirmar o
fato. Cada afirmativa feita pelos dois biógrafos está relacionada à geração sobre-
natural do Filho de Deus.

 Aspectos do fato

As duas narrativas tiveram o cuidado de acrescentar


uma expressão que demonstra que Jesus era filho de
As José apenas aparentemente. Vejamos:“E Jacó gerou
­genealogias a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se
chama o Cristo” (Mt 1.16). “E o mesmo Jesus começava
a ser de quase trinta anos, sendo (como se cuidava) filho
de José, e José de Heli” (Lc 3.23).

Embora não apareça em Lucas e em Mateus, a atitude de


José, porém, é visível. Eles, José e Maria, estavam noivos.
Este é mais ou menos o sentido da palavra “desposada”
em Mateus 1.18. Quando soube da gravidez (o fato) so-
José brenatural de Maria, José intentou deixá-la secretamente
(Mt 1.19). O fato de José não ter tocado em Maria mari-
talmente pode ser lido no versículo 25, onde diz que José
“não a conheceu até que ela deu à luz um filho”. Logo,
os próprios atos de José atestam a virgindade de Maria.

Lucas faz a descrição da anunciação do anjo a Maria.


Pelas palavras dos seus próprios lábios, ela era virgem:
“Disse Maria ao anjo: como se fará isto, visto que não
tenho relação com homem algum?” (Lc 1.34).Além disto,
Maria em sua narração sobre Maria, Lucas faz questão de rela-
tar o seguinte: “a uma virgem desposada de um homem
cujo nome era José, da casa de Davi. O nome da virgem
era Maria” (Lc 1.27). Mateus, ao afirmar a gravidez de
Maria pelo Espírito Santo, fez questão também de frisar:
“antes que coabitassem”.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

O anjo que apareceu em sonhos a José testemunhou


que Maria estava grávida pelo poder do Espírito Santo
Os anjos (Mt 1.20). O próprio anjo Gabriel, ao dirigir-se a Maria,
disse-lhe que ela haveria de conceber pela virtude do
Espírito Santo (Lc 1.33). Logo, tornam-se eles testemunhas
fiéis deste fato.

A virgem conceberá e dará à luz um filho” (Is 7.14). Sete-


centos anos antes de Cristo o profeta messiânico já estava
declarando o ato miraculoso da concepção do Messias.
Isaías E Mateus, escrevendo aos judeus, para quem as Escritu-
ras tinham um valor inegável, não poderia deixar de usar
aquela expressão que tantas vezes aparece em sua bio-
grafia: “Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que
foi dito da parte do Senhor ao profeta ” (Mt 1.22).

Observação: o fato de nenhum outro escritor da Nova Aliança ter-se referido


ao nascimento virginal de Jesus não invalida este acontecimento. Todos os argu-
mentos apresentados até aqui são mais do que suficientes para produzir convic-
ção. O silêncio de alguém não pode falar mais alto do que o testemunho de outra
pessoa. Uma ausência não pode ser mais convincente do que uma presença.
Não obstante outros escritores inspirados não confirmarem este fato, eles, porém,
não o negaram. E a fé no nascimento virginal de Cristo esteve presente na igreja des-
de o início da mesma, como atestam os escritos dos continuadores da obra de Cristo.
Conforme o testemunho de Inácio de Antioquia, um dos discípulos dos apóstolos: “...
Ele pertence à raça de Davi segundo a carne, mas Filho de Deus por vontade e po-
der divino verdadeiramente nascido de uma virgem e batizado por João”.

 A razão do fato
Até aqui, vimos afirmando o nascimento virginal de Jesus Cristo: “Foi assim”.
Daqui por diante, explicaremos a razão de ter sido assim.
Deus, ao criar a vida, fê-la com a capacidade de se reproduzir. A vida gera
vida, é uma lei da natureza. Este axioma é verdadeiro com respeito à biologia e
também às Escrituras. Uma pedra não gerará uma árvore, nem uma árvore gerará
uma pedra. Um porco não dará à luz a terra, nem a terra dará à luz um porco.
Vamos dar um passo. Toda vida produz outra vida semelhante. Um gato gerará
um gato, nunca um cachorro. Um cachorro gerará um cachorro, nunca um maca-
co. Em termos bíblicos, isto equivale a dizer que cada ser vivo sobre a terra produz
fruto “segundo a sua espécie ” (Gn 1.11, 12, 21, 25).

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 27


02 DOUTRINA DE CRISTO

Com o homem, isto não foi diferente. Ele gerará descendentes segundo a sua
espécie. Foi justamente este o plano de Deus (Gn 1.28). Mas, até então, o homem
trazia em si a imagem de Deus. Como um espelho, ele refletia a glória de Deus. E o
mesmo aconteceria com seus descendentes.

Mas o pecado, infelizmente, embotou e quebrou este espelho, a ponto de


a imagem nele refletida não ser mais a perfeita imagem de Deus. O veneno do
pecado agora estava em seu sangue e na sua alma. O homem era o mesmo, só
que com uma qualidade inferior. Então, esta característica se propagaria aos
seus descendentes. Nem mesmo o dilúvio poderia destruir esta característica;
pôde, sim, destruir um sistema perverso, mas não alterou a natureza decaída do
homem.

Adão teria descendentes “conforme sua espécie”. Quando ele gerou um filho,
gerou-o “à sua semelhança, conforme a sua imagem” (Gn 5.3). Usando uma pa-
ráfrase, diríamos: “conforme a sua imagem decaída”, e não conforme a imagem
perfeita original.

E isto ocorreu devido ao tipo de semente. Ora, qualquer agricultor tem ciên-
cia de que a qualidade da semente determinará a qualidade do fruto. O homem,
ao fecundar a mulher, coloca nela uma semente que a Nova Aliança chama de
“semente corruptível” (1Pe 1.23). O fruto, ou seja, o descendente, será da mesma
qualidade.

Este fato foi reconhecido por Davi que, ao compor o Salmo 51, admitiu que na
sua concepção o pecado já estava presente nele. É o que ele diz: “Certamente em
iniqüidade fui formado e em pecado me concebeu minha mãe” (v.5).

No homem Jesus, esta imagem deveria ser resgatada em todos os aspectos.


Jesus foi, como homem, a imagem de Deus e o alvo da obra redentora sobre a
humanidade. Ele veio para restaurar esta imagem nos seres humanos. Podemos
ler sobre este assunto em Romanos 8.29, 1Coríntios 15.49, 2Coríntios 3.18 e Co-
lossenses 3.10. Isto teria sido impossível a qualquer pessoa que tivesse nascido
da semente de Adão diretamente. Sim, dizemos diretamente porque, embora o
receptáculo da semente divina (Maria) fosse proveniente de Adão, a semente
em si não era. Logo, foi necessário que o último Adão trouxesse uma imagem de
Deus não embotada.

Assim, o nascimento virginal de Cristo não foi um mero sinal à casa de Israel,
mas uma necessidade indispensável ao propósito restaurador de Deus.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 28


02 DOUTRINA DE CRISTO

 A santidade de Jesus

V amos tratar aqui um raciocínio semelhante: o fato e a necessidade do fato.

 O fato
Jesus realmente não tinha pecado? É fácil afirmar isso quando não convivemos
com alguém, ou quando o amor nos cega a ponto de não enxergamos as falhas da
outra pessoa. Todavia, os que testificaram da justiça, honestidade e inculpabilida-
de de Jesus foram aqueles que conviveram intimamente com ele ou ainda aqueles
que não o amavam.
Os testemunhos a seguir compõem uma lista e atestam sua vida (de Jesus)
sem pecado:

O testemunho “Pode algum de vós acusar-me de pecado?” (Jo 8.46).


do próprio “Se aproxima o príncipe deste mundo. Ele nada tem em
Jesus mim” (Jo 14.30).

“Tendo dito isto, tornou a ir ter com os judeus, e lhes disse:


Não acho nele crime algum” (Jo 18.38).
O testemunho “Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui
de Pilatos vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele
crime algum” (Jo 19.4).
“Pilatos porém lhes perguntou: Que mal fez ele” (Mt 27.23).

O testemunho “E estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe:


da esposa Não entre na questão deste justo, pois num sonho mui-
de Pilatos to sofri por causa dele” (Mt 27.19).

O testemunho
do ladrão “Mas este [Jesus], nenhum mal fez ” (Lc 23.41).
da cruz

O testemunho
de João “Eu preciso ser batizado por ti, e vens tu a mim?” (Mt 3.14).
Batista

O testemunho
“E nele não há pecado” (1Jo 3.5).
de João

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 29


02 DOUTRINA DE CRISTO

“Mas vós negastes o Santo e o justo” (At 3.14).


O testemunho
de Pedro “Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou
engano” (1Pe 2.22).

“Aquele que não conheceu o pecado, ele fez pecado por


O testemunho nós, para que nele fôssemos feito justiça” (2Co 5.21).
de Paulo
“Em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15).

O testemunho
“Bem sei que és o Santo de Deus” (Lc 4.34).
dos demônios

 A razão do fato
Em primeiro lugar, era necessário que Jesus fosse sem pecado, para que se tornas-
se um exemplo. O Senhor Deus, em Cristo, nos deu um padrão a ser seguido. Foi o pró-
prio Jesus quem disse: “Eu vos dei o exemplo para que faças o que eu fiz” (Jo 13.15).
Pedro, sem dúvida, captou esta importância da vida irrepreensível de Jesus. Em sua
epístola, ele escreve: “Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu
por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas” (1Pe 2.21).
Em segundo lugar, era necessário que Jesus fosse sem pecado, para que pu-
desse ser um sacrifício perfeito. Era a exigência divina para os sacrifícios da Antiga
Aliança: que os animais fossem sem defeito (Lv 1.3). A vida sacrificada em lugar do
culpado tinha de estar isenta de culpa. Seria inaceitável uma vida contaminada e
manchada. Era dessa forma que os animais eram utilizados simbolicamente para a
expiação na Antiga Aliança. Por um lado, eram inocentes, pois não tinham consci-
ência do pecado, e, por outro, eram perfeitos, pois não tinham defeitos.
Tais sacrifícios nada mais eram do que sombras. Na realidade, não poderia ser in-
ferior como sacrifício resgatador e substitutivo. Jesus era o Cordeiro de Deus (Jo 1.29)
e, sendo assim, qualquer mancha, defeito ou contaminação no sentido real teria anu-
lado a eficácia de sua morte. Por isso, ele tinha de ser “como um cordeiro sem defeito,
sem mancha” (1Pe 1.19).
Em terceiro lugar, era necessário que Jesus fosse um sacerdote perfeito, com um
sacerdócio perfeito. O sacerdócio arônico não foi eficaz completamente, devido às
falhas dos oficiantes. Mesmo o sumo sacerdote não ousaria entrar diante de Deus no
lugar santíssimo, ou seja, no santo dos santos, sem que antes se purificasse (Hb 5.3).
Com respeito a Cristo e ao seu sacerdócio, lemos esta maravilhosa declaração em
Hebreus 7.26, 27: “Por que nos convinha [isto é, era necessário] tal sumo sacerdote,
santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que
os céus; que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia
sacrifícios, primeiramente pelos seus próprios pecados, e depois pelos do povo”.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Capítulo
q A obra redentora de Cristo
5
E mbora os ensinos tão sublimes e milagres tão tremendos de Jesus tenham,
durante vinte séculos, comovido a humanidade, suas marcas mais fortes e
mais sublimes, porém, são uma cruz sobre um monte e um túmulo vazio. E tão fortes
foram e são estas marcas que foi principalmente sobre elas que se baseou a prega-
ção apostólica e toda a teologia da Nova Aliança.
A ênfase bíblica não foi sobre os ensinos de Cristo. Embora o espírito de sua
doutrina sobre o amor ao próximo permeie tudo, ele não é o centro da revelação
cristã, e muito menos ocupa a grande extensão da literatura apostólica. Todo des-
taque vai para sua obra — morte, ressurreição e ascensão. Os comentários, as
exortações, a revelação e a vida em Cristo se resumem nisto: “Cristo morreu por
nossos pecados, segundo as Escrituras [...] ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras...” (1Co 15.24).
Enquanto o mundo vê apenas a moralidade, a igreja enxerga a realidade. O
essencial não foi o que ele disse, mas o que ele fez. E, ainda, não o que ele realizou
por meio da sua vida, mas o que ele fez com ela — ele a entregou como resgate,
como expiação pelo mundo. É este fato — sua morte na cruz — que denomina o
“poder de Deus”, pois abriu a possibilidade da ação de Deus no homem.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Ao encarnar, o Verbo inseriu em sua natureza a criação decaída. Sua conde-


nação e aniquilamento foram a condenação e o aniquilamento desta criação. O
mesmo se dá com sua ressurreição. A transformação e a exaltação da sua vida são
a transformação e a exaltação de toda a criação. O que Deus pretendia fazer com
sua criação — destruir a velha e trazer à existência a nova — ele o fez por intermé-
dio de seu Filho. “Através de quem temos entrada pela fé a esta graça” (Rm 5.2).
É crendo nesta obra que esta realidade invade nossa existência e se torna
eficaz. Isto porque, para Deus, “nós” estávamos na morte, ressurreição e exalta-
ção de Cristo. Para Deus, sua morte foi a nossa morte. Sua ressurreição foi a nossa
ressurreição. Jesus ascendeu aos céus e nós com ele. Quem assim crê, passa para
uma nova posição de existência. Passa a viver em Cristo; em união com ele. A pro-
fundidade desta união é que determina a intensidade da eficácia da obra realiza-
da por Cristo. Quanto mais avançamos pela fé “para dentro” desta relação, mais
recebemos os efeitos da obra de Cristo.
Esta ênfase da Nova Aliança não é sem razão. O problema desta criação vai
além de um mero funcionamento errado. A própria essência foi contaminada. Em
Cristo, Deus tocou na própria natureza das coisas, destruindo o que pertencia à
velha criação e, pelo seu poder, resgatou seu Filho da morte para uma nova vida
(incorruptível).
Este fato possibilitou ao homem vencer o pecado e as paixões que o dominam.
Este fato trouxe poder curador para o corpo do homem. Este fato possibilitou ao
homem dominar sobre “toda a força do inimigo” (Lc 10.19). Este fato também pos-
sibilitará a transformação de todas as coisas no futuro.
A obra do Espírito Santo é aplicar a obra do Filho no coração do homem. Ele faz o
crucificado há dois mil anos tornar-se real para o homem de hoje. Ele traz o poder do
ressuscitado, aquele poder que venceu a morte, e o torna disponível hoje. O que o Es-
pírito Santo opera na vida do homem opera com base na obra consumada por Cristo.
Assim como nele tudo foi criado (Cl 1.16), nele também tudo foi redimido
(Rm 8.19-23). Da mesma forma como ele assumiu a essência da natureza na cruz,
na ressurreição ele assumiu a natureza da nova criação, para em breve trazê-la
à existência.
Em suma, o nosso relacionamento com Jesus nos leva a morrer para a corrup-
ção e a viver em uma nova vida. Neste relacionamento com Jesus, a velha cria-
ção/natureza é condenada e destruída na sua morte, para depois ser regenerada
na sua ressurreição. E é a esta restauração da criação que Mateus se refere ao falar
da “regeneração” (Mt 19.28).
Vamos, agora, olhar mais de perto a obra de Cristo. Com olhos atentos e espírito
pronto, nutriremo-nos com as mais importantes verdades reveladas à humanidade.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 A importância da morte de Jesus

“...e sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22).

O pecado, desde que surgiu no mundo, cobra um preço: a morte. Tudo aquilo
que está em desarmonia com Deus deve perecer. Adão pecou e, por este motivo,
teve de perecer. Este universo, contaminado pelo pecado, primeiramente pelos
anjos e depois pelo homem, também perecerá (Sl 102.25,26). Inflexivelmente, esta
é uma determinação divina que não pode ser revogada.
Apesar desta aparente falta de solução, a divina sabedoria e o divino amor
conceberam um plano que remisse tudo e assim mesmo não quebrasse a lei. Al-
guém que estivesse fora da criação e não contaminado por ela tomaria o lugar das
coisas criadas e, recebendo sobre si a maldição e a culpa que lhe pesam, a remi-
ria. Se a criação era digna de morte, alguém encarnando a criação tomaria esta
morte sobre si. Também por isso Darbi, renomado erudito, assim traduziu Hebreus 2.9
“...para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todas as coisas”.
Não havia outro caminho pelo qual a redenção poderia ser realizada. Só o
Criador saberia como salvar sua criação. Se ele o fez por tal meio é porque não
havia outro. Deus escolheu criar, mesmo sabendo em que resultaria. Logo, ao criar
todas as coisas ele esteve disposto a pagar o devido preço por aquilo que havia
de vir à existência.
Toda a Escritura, de Gênesis até o Apocalipse, traz a mensagem do sangue,
isto é, da vida derramada. “Porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). E
porque desde Gênesis 3 até Apocalipse 20 o pecado está presente, as Escrituras
são “tintas” de sangue.
A pregação da cruz é o centro da pregação do evangelho: “Pois nada me
propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1Co 2.2). O evan-
gelho chega mesmo a ser chamado de “palavra da Cruz” e, embora não pareça,
“é o poder de Deus” (1Co 1.18).
Em Cristo crucificado Deus destruiu, com um só golpe, o pecado (Hb 9.26; Rm
8.3), o mundo (Gl 2.20), a lei (Ef 2.14.15), os principados e potestades (Cl 2.15), a
carne (Gl. 5.24) e o “eu” (Gl.2.20). Podemos imaginar a criação de Deus liberta
destas coisas?
Embora a expressão de vitória sobre estas coisas nem sempre seja plena na
vida dos salvos, ela é uma realidade nos propósitos de Deus. Como com Israel em
Canaã não houve falta de garantia de vitória por parte de Deus, mas, sim, falta
de fé nesta garantia, o mesmo pode acontecer conosco, ou seja, podemos deixar
também de alcançar esta plenitude, mas ela nos está disponível em Cristo.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Passo a passo, andaremos, a partir de agora, nas páginas Sagradas a fim de


contemplar como Deus, na morte de seu Filho sobre a cruz, demonstrou sua sabe-
doria e seu poder.

 Sua morte prefigurada


Sombras, tipos e figuras da morte de Cristo estão presentes nos eventos e nos
cultos da Antiga Aliança. Antes de o verdadeiro Cordeiro ser morto, muitos outros
cordeiros derramaram seu sangue para dar aos penitentes a expiação de sua cul-
pa. Embora tivesse recebido gloriosos títulos, como, por exemplo, Rei, Senhor, filho
de Davi, entre outros, Jesus foi identificado como “o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo” (Jo 1.29).
Depois de milênios oferecendo cordeiros a Deus, os homens nada mais fizeram
do que prefigurar o dia em que Deus ofereceria “seu Cordeiro” aos homens. Sem
a religião da Antiga Aliança, o sacrifício de Cristo na cruz ficaria inexpressivo, e a
Bíblia fala daqueles que souberam crer em uma obra de expiação realizada com
“sacrifício superior a estes” (Hb 9.23).
Pelas representações em eventos e sacrifícios, Deus pôde apresentar no mundo
físico aquilo que ele haveria de realizar no mundo espiritual. Eventos como a Pás-
coa, o sacrifício de Israel e as cerimônias como o Dia da Expiação foram maneiras
simples e eficazes de Deus demonstrar a eficácia da obra que haveria de realizar
em Cristo (Cl 2.17).
Sua morte, dentre outras coisas, foi o fato mais prefigurado na Antiga Aliança;
cada caráter de sua obra foi representado ou como tipo ou como contraste.
O sacrifício de Isaque, por exemplo, foi uma representação. É um pai oferecen-
do o seu filho único. Sem nos prendermos a detalhes, esta é a prefiguração de Deus
oferecendo seu Filho unigênito. Se de Abraão está escrito: “Sim, aquele que rece-
bera as promessas ofereceu o seu unigênito” (Hb 11.17), do Pai está escrito: “Amou
o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” (Jo 3.16). Abraão amou a
Deus de tal maneira que ofereceu o seu filho. E Deus também amou a humanidade
de tal maneira que ofereceu o seu Filho unigênito, Jesus Cristo.
O Êxodo, a saída do povo de Israel do Egito, também foi uma prefiguração da
redenção de Cristo. O Egito é o mundo, faraó representa Satanás e a passagem pelo
mar a libertação da terra da escravidão. E, como foram eles libertos? Pelo sangue,
sim, pelo sangue de um cordeiro (Êx 12). Aqueles que aplicaram o sangue em suas
casas foram os que escaparam da destruição e receberam a libertação de Deus.
Não temos um Egito literal que domina, mas temos o mundo mau e seu príncipe, por
isso “Cristo, nossa Páscoa, foi crucificado a nosso favor” (1Co 5,7b), e “se deu a si
mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau” (Gl 1.4).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Após isto, vemos Deus estabelecendo uma aliança com o seu povo, na qual o
sangue derramado estava freqüentemente presente. Quando o pecador colocava
as mãos sobre os animais oferecidos em sacrifício, na verdade, havia uma identifi-
cação do homem com o animal que morria em sacrifício em seu favor. Hoje, a mão
da fé nos identifica com aquele que foi oferecido e nos conforma com sua morte,
Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus.
Desde cerimônias simples, como uma oferta pela culpa, até outras mais com-
pletas, como o dia da expiação ( Yom Kippur), era a morte de animais e o derrama-
mento do seu sangue que garantiam o relacionamento entre Deus e o seu povo.
Até que viesse o cordeiro perfeito, aquela foi a maneira encontrada por Deus para
mostrar ao seu povo a realidade de seus propósitos.
Mesmo nos pequenos detalhes, a prefiguração era significativa. Ao escolher
um cordeiro, por exemplo, a mansidão com que este animal se deixa conduzir, mes-
mo à morte, era uma demonstração daquele que “como um cordeiro foi levado
ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não
abriu a sua boca” (Is 53.7). A exigência para que o animal sacrificado fosse perfeito
e não apresentasse qualquer defeito físico era uma amostra de como era a vida do
Cordeiro de Deus: “imaculado e incontaminado” (1Pe 1.18,19).
Como já dissemos, a mão sobre o sacrifício, como apresentado em Levítico,
fala de identificação. Poderíamos nos alongar nos detalhes, mas não faremos isto,
pois eles fazem parte de outro estudo. Todavia, já podemos reconhecer que as pre-
figurações referentes à morte de Cristo são abundantes no Antigo Testamento.
No caso do grande dia do Yom Kippur, a simbologia torna-se ainda mais expres-
siva. As diversas prefigurações dos sacrifícios de Cristo, como apresentadas em Levíti-
co 1 a 7, têm caráter conservador, pois seu alvo é manter a comunhão, obtida pelo
perdão conquistado. O Yom Kippur, por sua vez, era a conquista deste perdão.

 Sua morte predita e predeterminada


O ardente desejo dos judeus da época de Cristo por libertar-se do jugo romano,
aliado às passagens referentes ao reino glorioso do Messias, impediu a nação de Is-
rael de enxergar as profecias relacionadas à sua morte. Isaías 53 e o Salmo 22, princi-
palmente, predisseram com detalhes a morte do Messias. “E ele lhes disse: Ó néscios,
e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura não con-
vinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?” (Lc 24.25,26).
Os sofrimentos de Cristo, longe de serem um acidente histórico, uma fatalidade
política, eram o cumprimento de tudo aquilo que Deus havia planejado desde a
eternidade (At 2.23; 4.27,28). Por isso, Jesus é designado como o “Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 As conseqüências da morte de Jesus

I ncontáveis livros foram e ainda podem ser escritos sobre o valor da morte de
Cristo. Não foi, como vimos, uma fatalidade, ou como querem alguns, ape-
nas um ato de amor, pois não se pode achar nenhum valor concreto neste ato,
a não ser que ele gerasse outros resultados além disso. Alguém que, quando vivo
curava enfermos, expulsava demônios e multiplicava os pães, demonstraria muito
mais amor estando vivo do que dentro de uma sepultura, depois de morrer com a
estigma de um criminoso.

Dentre aquilo que é mostrado nas Escrituras, como fruto da cruz de Cristo,
nós podemos ter:

 O perdão dos pecados

Que o homem é um pecador diante de Deus é fato evidente nas Escrituras.


Que só Deus pode perdoar o homem também é. Mas Deus perdoar com base em
sua soberania, seria uma afronta à sua justiça. Dizer que Deus poderia perdoar
bastando querer, pois ele é Deus e faz o que quer, seria invalidar suas próprias leis
e também o seu próprio ser. Se o salário do pecado é a morte é porque ele assim
determinou. Não castigar a iniqüidade seria ferir sua imagem, ser incoerente com
suas próprias determinações. Então, ele não seria Deus.

O caminho utilizado por Deus foi a cruz. Cristo foi feito pecado em nosso lugar
(2Co 5.21). Levou sobre si o pecado de todos nós (Is 53.5,6). Assim, o sacrifício de
Cristo foi substitutivo, de modo que Deus pode perdoar-nos e isentar-nos de culpa,
uma vez que outro a levou sobre si. Desta forma, ele pôde ser “justo e justificador
daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26).

 O acesso a Deus

O pecado impede o homem de aproximar-se de Deus (Is 59.1,2). Ao perdoá-


lo na cruz, Deus permitiu ao homem aproximar-se dele. Talvez a forma mais clara
de demonstrar isso esteja relacionada ao templo de Jerusalém e ao seu culto. O
templo era dividido em Átrio, Lugar Santo e Lugar Santíssimo, ou Santo dos Santos.
Somente o sumo sacerdote poderia entrar no Santo dos Santos uma vez por ano.
Ali, a glória de Deus se manifestava.

Por ocasião da morte de Cristo, o véu que separava o Lugar Santo do Santís-
simo se rasgou de alto a baixo (Mt 27.51). Para o escritor da carta aos Hebreus, o
sangue de Cristo abriu acesso a todos os crentes para o santuário (Hb 10.19-22). Je-
sus tornou-se o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5) e, portanto, pelo
Espírito Santo, temos livre acesso à presença de Deus (Ef 2.18).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 A destruição do poder do pecado


Principalmente nas epístolas paulinas, o pecado não é apenas o ato em si,
mas o poder por trás deste ato. O homem não comete pecados apenas, ele tem “o
pecado” habitando nele (Rm 7.17). A vitória conquistada na cruz seria incompleta,
caso não visasse também este ângulo na atual situação do homem. O cristianismo
tem seus preceitos éticos, que seriam inúteis, caso não fosse possibilitado ao ho-
mem vencer suas más inclinações. Por isso, Cristo tornou-se pecado (2Co 5.21). Por
isso, Cristo assumiu a semelhança da carne do pecado e condenou o pecado em
sua natureza humana, morrendo na cruz (Rm 8.3). Ali, morreu o pecado.

 A vitória sobre os poderes malignos


Uma vez vencido o pecado, Satanás perdeu todo o seu direito sobre este mundo.
Os demônios têm sua base legal estabelecida sobre a desobediência humana diante
das leis de Deus. Uma vez que Cristo venceu em si o pecado, ele decretou a derrota
dos principados e potestades, tirando todas as suas bases legais na cruz (Cl 2.15).

 A união da comunidade judaica crente com a comunidade gentia incrédula


Até antes da obra de Cristo, o povo de Israel se constituía na comunidade dos
salvos. Embora outros pudessem entrar nesta comunidade e desfrutar dos mesmos
benefícios, era necessário estar incluído de alguma forma dentro desta comunida-
de. Os gentios ou não-judeus, como povo, estavam excluídos desta comunidade e,
portanto, de todas as bênçãos prometidas a eles.
Quando morreu na cruz, Jesus desfez a parede de separação que havia no
meio, e reuniu em um só corpo os que eram salvos de ambos os grupos. Os salvos
entre os judeus e os salvos entre os gentios desfrutavam agora da mesma posição
diante de Deus, sem que se fizesse necessário uma transferência de comunidade
em qualquer grau. (Ef 2.11-22; 3.1-6)

 A importância da ressurreição de Jesus

A crença judaica se distinguia dos povos ao seu redor pela fé na ressurreição


física. Diferente dos gregos, por exemplo, os judeus criam que o ser huma-
no era completo apenas por possuir corpo e alma. A filosofia grega dava ao corpo
o mero valor de invólucro, de casca, que o quanto antes fosse descartada, melhor.
Enquanto o grego queria se despir do corpo, a esperança judaica era que este
corpo fosse reunido com a alma algum dia no futuro e revestido de imortalidade.
“Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados;
não porque queremos ser despidos (isto é, livres do corpo, como os gregos), mas
revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida” (2Cor 5.4).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Inúmeras passagens nas Escrituras hebraicas faziam referência à ressurreição


dos mortos. Assim, com o passar dos anos, a doutrina se desenvolveu, até tornar-se
um assunto central na fé judaica e de discussão teológica nos tempos de Jesus e
dos apóstolos (Mt 22.23-33; At 23.5-9). Quando hoje dizemos a alguém que Jesus res-
suscitou, o impacto é bem menor do que aquele sentido pelos judeus no início da
Igreja. A ressurreição era a esperança de todo aquele povo e dizer que Jesus havia
ressuscitado dentre os mortos não só confirmava sua esperança milenar como tam-
bém confirmava que Jesus era o Messias. Por isso, os líderes religiosos em Jerusalém
reagiram quando viram Jesus de Nazaré como a prova definitiva da ressurreição
dos mortos (At 4.2).

 Testemunhas da ressurreição
A ressurreição de Cristo é um fato histórico. Isto é, em determinado lugar e em
determinado tempo isto aconteceu. Não foi um produto de ficção como as narra-
ções do Bagava Gita ou de outro livro religioso hindu, nem de uma mera percep-
ção equivocada dos discípulos, mas algo que efetivamente ocorreu. “Mas de fato,
Cristo ressurgiu dentre os mortos, e foi feito primícia dos que dormem” (1Co 15.20).
Este acontecimento tão crucial à validade do cristianismo foi presenciado por
diversas pessoas. Certos conceitos tidos como verdadeiros não podem advogar
esta validade. A reencarnação, por exemplo, embora crida por milhões de pesso-
as, não tem como apresentar provas testemunhais. Jamais alguém na história se
apresentou ou foi registrado como testemunha ocular de uma reencarnação. O
mesmo se dá com o ensino sobre o anulamento ou inconsciência da alma na mor-
te. Não existem testemunhas para estes posicionamentos. São, no máximo, hipóte-
ses, e não elementos factuais.
Mas o levantamento de Jesus dentre os mortos aconteceu e foi visto por di-
versas pessoas. O apóstolo Paulo, em 1Coríntios 15.1-8, alista diversas pessoas que
viram a Jesus ressuscitado. A narrativa dos evangelhos também apresentam estas e
outras testemunhas. Foi algo que aconteceu e foi visto, o que concede à ressurrei-
ção de Cristo uma validação universal, uma sanção desfrutada por poucos eventos
deste tipo.

 Provas escritas da ressurreição


Alguém talvez conteste que seja possível provar a ressurreição de Cristo. Mas
verdadeiramente é possível provar sua ressurreição pelo mesmo modo que é pos-
sível provar qualquer fato histórico. Ninguém jamais lançaria dúvida de que Pedro
Álvarez Cabral descobriu o Brasil. É um fato crido. Por quê? Dos que hoje crêem,
com certeza ninguém o viu chegando. Mas houve testemunhas oculares do fato,
que registraram em documentos. Isto é suficiente.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

Os livros do Novo Testamento não são escritos especulativos. São, em gran-


de parte, constituídos pela narrativa de acontecimentos. São provas documentais
derivadas de provas testemunhais. Existem cerca de 24.000 manuscritos referentes
aos livros canônicos do cristianismo. Isto retira qualquer dúvida de sua autentici-
dade. A afirmação de Pedro é uma entre muitas que atestam a fidelidade e a
historicidade dos relatos relacionados à ressurreição de Jesus: “Porque não vos
fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas ar-
tificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade” (2 Pe 1.16). Veja
também Lucas 1.1-14 e 1 João 1.1,2.

 O significado da ressurreição

Mas por que este fato é tão importante? Qual o significado disto tudo? De toda
a profundidade teológica que o fato envolve, podemos destacar algumas:

Foi uma vitória definitiva sobre a morte


Diferente da ressurreição de Lázaro, do filho da viúva de Naim ou da filha
de Jairo, a ressurreição de Cristo representou uma vitória definitiva sobre a
morte, e não uma vitória temporária como a daqueles (Rm 6.9). Cristo, como
primícia dos que dormem (1Co 15.20), foi o primeiro caso em que a matéria
corrompida pelo pecado foi eternamente remida, em que o mortal foi reves-
tido de imortalidade (1Co 15.53).

O efeito espiritual da ressurreição


O crente, ao receber a salvação preparada por Deus, passa a viver “em
Cristo” (2Co 5.17), isto é, unido com ele em sua morte e ressurreição. Embora
a vida física daquele que crê permaneça a mesma, seu homem interior pas-
sa por um processo de “ressurreição”, que faz que ele tenha um antegozo
daquilo que lhe está preparado no futuro. Assim, podemos dizer que fomos
“ressuscitados com ele” (Ef 2.4,5).

A certeza de que também iremos ressuscitar


O que fora apenas uma promessa profética do Antigo Testamento (Is 26.19)
tornou-se fato concreto no Novo. Jesus é a prova de que a ressurreição
é real. Ele ressuscitou, venceu a morte. Este fato deu a certeza de que o
mesmo sucederá a todos os que nele crêem (Jo 11.25). Assim como ele
morreu e ressuscitou, os que nele dormem tornarão a ressuscitar com ele
(1Ts 4.14,15).

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 A ascensão de Cristo

O fato de Cristo ter subido aos céus e ter-se assentado à direita de Deus Pai
não foi apenas um deslocamento geográfico. A riqueza e os efeitos destes
acontecimentos são de alcance ilimitado e, junto com sua morte e ressurreição,
constitui a coluna vertebral de sua obra.
Este fato foi testemunhado e registrado tal qual os demais acontecimentos de sua
vida. Ele não apenas subiu, mas retornou ao seu estado anterior junto ao Pai, agora
como homem glorificado. Sua glorificação tem profundo significado em sua obra.

 Obra de Intercessão
Jó lamentou que no seu caso ele não possuía um intercessor, um mediador que
servisse de árbitro entre ele e Deus. Esse mediador tornou-se patente na pessoa de
Cristo (1Tm 2.5). Ele agora atua como sumo sacerdote intercessor entre Deus e o seu
povo com um ministério efetivo e contínuo.

 Soberania
Sua posição, acima de todo principado e potestade (Ef 1.21), é uma posição
de soberania, de domínio sobre todas as coisas. Ele foi colocado ao lado do trono
do Pai e dele emana todo o controle do universo (Hb 1.3).

 Preparação
Sua ida aos céus, ou seja, à casa do Pai, também teve um aspecto preparató-
rio (Jo 14.1-3). Ele foi antecipadamente ao local de nossa eterna morada. Na eter-
nidade, todos os que vencerem como seus seguidores participarão dos privilégios
por ele conquistados.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 40


02 DOUTRINA DE CRISTO

q Apêndice I - Controvérsias cristológicas

D o século II ao V d.C., houve inúmeras controvérsias com respeito à pessoa


de Cristo. Quem era ele afinal?
Temos, pois, estabelecido, por meio das Escrituras, que Jesus era verdadeiro
Deus e verdadeiro homem. Uma questão, todavia, se levantava: ele deixou de ser
Deus para ser homem? Ele era Deus e homem ao mesmo tempo? Podem existir
duas naturezas ao mesmo tempo?
Esta controvérsia ocupou por muito tempo os debates teológicos dos primeiros
séculos pós-apostólicos. As principais escolas foram Alexandria e Antioquia.
Alexandria, mais distante geograficamente da Palestina, mais amante da sub-
jetividade e mais amante do pensamento especulativo e inimiga da matéria, devi-
do à influência grega, sempre teve tendência para destacar de Cristo o seu lado
espiritual e divino. Algumas vezes, chegou até mesmo a negar a existência de um
corpo como o nosso em Jesus.
Antioquia, mais próxima da realidade histórica, mais influenciada pelos sinóp-
ticos e menos avessa à matéria, devido à influência judaica, tendia a destacar o
lado humano de Jesus. Num breve resumo, eis algumas das opiniões a respeito da
natureza do Filho de Deus:

 Gnosticismo
Foi uma das piores doutrinas inimigas do cristianismo. Embora existissem várias
correntes diferentes do gnosticismo, todas elas, no entanto, foram influenciadas
pelo neoplatonismo e pelo pensamento grego em geral. Rejeitavam a matéria por
achar que ela era má e, com isso, rejeitavam também a encarnação do Verbo,
o que gerou posições absurdas e conflitantes no que se referia à morte e à ressur-
reição de Cristo. Ao que parece, foi uma das primeiras heresias cristãs, visto que,
conforme a opinião de alguns, os escritos do apóstolo João foram redigidos visando
combater estas idéias errôneas a respeito de Cristo.

 Sabelianismo
Sabélio começou a ensinar em Roma, por volta de 215 d.C. Segundo seu ensi-
no, o Pai e o Filho são exatamente a mesma pessoa, o mesmo Deus com nomes e
formas diferentes. Esta posição, com respeito à relação entre o Deus Pai e o Deus
Filho, também ficou conhecida como monarquianismo modalista, sendo condena-
da, em 261 d.C., juntamente com outras doutrinas de Sabélio.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 41


02 DOUTRINA DE CRISTO

 Monarquianismo dinamista
Este ensino dizia que Jesus era um homem comum que, por ocasião do seu
batismo, foi unido a Cristo, que veio sobre Jesus como um poder. Jesus era as-
sim um profeta, e não o Verbo divino encarnardo. Quem primeiro apresentou
esta posição foi Teodoto, em 190 d.C., ao chegar em Roma. Na ocasião, foi
excomungado pelo bispo de Roma. Mais adiante na História da Igreja, Paulo de
Samósata adotou a mesma idéia e foi declarado herético pelo sínodo de Antio-
quia, em 268 d.C.

 Ebionismo
Pregava que Jesus de Nazaré não teria vindo abolir a lei como prega a dou-
trina paulina. Desta forma, pregavam que tanto judeus como gentios convertidos
deveriam seguir os mandamentos da “santa lei”, o que levou a um choque com ou-
tras ramificações do cristianismo e do judaísmo. Acreditavam que Jesus Cristo era o
Messias, mas não era Deus, e que não nasceu de uma virgem, mas sim foi gerado
por José, sem a ação sobrenatural do Espírito Santo.

 Cerintianismo
Defendia que não houvera união das duas naturezas, senão por ocasião do
batismo de Jesus, estabelecendo, assim, a divindade de Cristo como dependente
do seu batismo, e não por virtude do seu nascimento.

 Docetismo
Doutrina cristã do século II que defendia que o corpo de Jesus Cristo era uma
ilusão, e que sua crucificação teria sido apenas aparente. Não existiam docetas
enquanto seita ou religião específica, mas como uma corrente de pensamento
que atravessou diversos estratos da Igreja. Esta doutrina é refutada no Evangelho
do apóstolo João, no primeiro capítulo, onde se afirma que “o Verbo se fez carne”.
Autores cristãos posteriores, como Inácio de Antioquia e Ireneu de Lião deram as
contribuições teológicas mais importantes para a erradicação deste pensamento,
em especial o último, em sua obra Adversus Haereses.

 Arianismo
Considerava que Cristo era o mais exaltado dos seres criados, negando, com
isso, sua divindade e interpretando erroneamente sua humilhação temporária.
Esta controvérsia foi uma das maiores da História da Igreja e responsável pelo
Concílio de Nicéia. As testemunhas de Jeová defendem posições semelhantes ao
arianismo.

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02 DOUTRINA DE CRISTO

 Apolinarianismo

Afirmava que Jesus não tinha um espírito humano. Sua posição inicial era contra
o arianismo. Contrapondo-se a Ário, ele advogava a autêntica divindade de Cristo
e tentava proteger sua impecabilidade, substituindo o pneuma (espírito) humano
pelo logos, pois julgava aquele sede do pecado. Conseqüentemente, Apolinário
negava a própria e autêntica humanidade de Jesus Cristo.

 Nestorianismo

É uma doutrina cristã, nascida no século V, segundo a qual há em Jesus Cristo


duas pessoas distintas, uma humana e outra divina, completas de tal forma que
constituem dois entes independentes. A doutrina surgiu em Antioquia e manteve
forte influência na Síria, e é sustentada ainda hoje pelo rosacrucianismo e outras
doutrinas ligadas à gnose. O problema que envolveu o nestorianismo centrou-se
fundamentalmente em torno do título com o qual se devia referir a Maria, se somen-
te cristotocos (mãe de Cristo, a dizer, de Jesus humano e mortal), como defendiam
os nestorianos, ou de theotocos (mãe de Deus, ou seja, também do Logos divino),
como defendiam os partidários de Cirilo, bispo da cidade de Alexandria.

 Eutiquianismo

Seus adeptos acreditavam que Cristo teria somente a natureza divina, pois sua
humanidade havia sido absorvida por sua divindade. Eutiques reconhecia que an-
tes da união entra a divindade e a humanidade, existiam duas naturezas em Jesus,
mas depois dessa união passou a reconhecer somente a divina.

Todos estes heréticos posicionamentos conduziram, por fim, a uma síntese


chamada teologicamente de união hipostática ou teantropia: duas naturezas
em uma só pessoa.

Cristo é o mediador entre Deus e os homens. Ele é aquele que pode caminhar
sobre o pó da terra e depois assentar-se à direita da majestade nas alturas. Como
uma ponte, tocou os dois extremos, formando um elo. Com uma de suas mãos, to-
cou os céus e, com a outra, a terra. Uniu Deus ao homem. Já o justo Jó afirmava:
“Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos” (Jó 9.33).

Apesar de ter tomado um corpo físico, isto, no entanto, não fez do Filho me-
nos Deus. Ele é tão Deus quanto o foi na eternidade, como bem atesta Hebreus
13.8 sobre a imutabilidade de sua natureza. Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e
eternamente. Embora trouxesse um corpo como o nosso, ele também trazia uma
natureza como a de Deus nesse corpo. Colossenses 2.9 diz: “Porque nele habita
corporalmente toda a plenitude da divindade”.

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q Apêndice II - O Tomo de Leão

C onsiderando o nosso breve estudo sobre cristologia — humanidade, divin-


dade e obra redentora de Cristo — julgamos por bem concluí-lo apresen-
tando um resumo destes pontos registrados em um documento escrito pelo Bispo
de Leão (440-461), de 13 de junho de 449.
Vejamos:

I. Resposta ao desvario de Eutiques e sua incompreensão das Escrituras:

II. Eutiques, ignorando o que devia saber acerca da encarnação do Verbo,


não teve vontade de buscar a luz da inteligência no estudo diligente das Escrituras.
Devia ter admitido, ao menos, com respeitosa solicitude, a fé comum e universal
dos fiéis de todo o mundo que confessam crer EM DEUS PAI TODO-PODEROSO E EM
JESUS CRISTO SEU ÚNICO FILHO, NOSSO SENHOR, QUE NASCEU DO ESPÍRITO SANTO E
DA VIRGEM MARIA. Esses três artigos derrotam as pretensões de qualquer herege.
Cremos que Deus é Pai onipotente, ao mesmo tempo Pai e onipotente. Segue-se
que vemos o Filho co-eterno ao Pai, em nada diferente do Pai, porque nasceu
Deus de Deus, Onipotente de Onipotente, co-eterno de co-eterno, não lhe sendo
posterior no tempo, nem inferior no poder, nem diferente na glória, nem separado
dele na essência. Este mesmo unigênito, Filho eterno do Pai eterno, nasceu do Es-
pírito Santo e da virgem Maria. Seu nascimento no tempo, entretanto, nada tirou
e nada acrescentou a seu nascimento eterno divino, mas se integrou inteiramente
para a restauração do homem desviado, a fim de poder vencer a morte e por
própria virtude aniquilar o diabo, detentor do poder da morte. Nós nunca poderí-
amos derrotar o autor da morte e do pecado, se o Filho não tivesse tomado nossa
natureza, fazendo-a sua, o Verbo que nem morte, nem pecado podem deter, visto
que ele foi concebido pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria, cuja virgin-
dade permaneceu intacta tanto em seu nascimento como em sua concepção...
(1) Este nascimento, unicamente maravilhoso e maravilhosamente único, não deve
ser entendido como se impedisse as propriedades distintivas da espécie [isto é,
da humanidade] através de novo modo de criação. Pois é verdade que o Espírito
Santo deu fertilidade à virgem, embora a realidade do seu corpo fosse recebida
do corpo dela...

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III. Assim, intactas e reunidas em uma pessoa, as propriedades de ambas as


naturezas, a majestade assumiu a humildade, a força assumiu a fraqueza, a eter-
nidade assumiu a mortalidade e, para pagar a dívida da nossa condição, a natu-
reza inviolável uniu-se à natureza que pode sofrer. Desta maneira, o único idêntico
Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, pôde, como convinha à
nossa cura, por um lado, morrer e, por outro, não morrer. O verdadeiro Deus nas-
ceu, pois, em natureza cabal e perfeita de homem verdadeiro, completo nas suas
propriedades e completo nas nossas [totus in suis totus in nostris]. Por “nossas”, en-
tenda-se aquelas que o Criador no princípio formou em nós e que assumiu a fim de
as restaurar; pois as propriedades que para dentro de nós trouxe o Sedutor ou que,
seduzidos, adquirimos por própria conta, não existiram absolutamente no Salvador.
O fato de entrar em comunhão com nossas fraquezas não o fez participar das nos-
sas culpas; tomou a forma de servo e não a mácula do pecado, enobrecendo as
qualidades humanas sem diminuir as divinas. Assim, “esvaziando-se a si mesmo”, o
invisível se tornou visível, o Criador e Senhor de todas as coisas se fez mortal, não
por alguma deficiência de poder, mas por condescendência de piedade. Quem,
sem perder a forma divina, pôde criar o homem, também pôde fazer-se homem em
forma de servo. Cada natureza guarda suas próprias características sem qualquer
diminuição de tal maneira que a forma de servo não reduz a forma de Deus.
O diabo alardeava que, seduzido pela sua astúcia, o homem estava privado
dos dons divinos, despojado do dom da imortalidade, implacavelmente condena-
do à morte, tendo encontrado, neste companheiro de pecado, certa consolação
de sua morte. Jactava-se também de que, por causa da justiça que exigia, Deus
teve de mudar seu plano com respeito ao homem, criado com tanta distinção, pois
precisou de nova dispensação para levar a cabo seus ocultos desígnios; de que o
Deus imutável, cuja vontade não pode ser privada de sua própria misericórdia, só
pôde realizar o plano original de seu amor por nós mediante outro plano mais miste-
rioso, para que este homem, conduzido ao pecado pela fraude maliciosa de Satã,
não perecesse contrariando os propósitos de Deus.

IV. Neste mundo fraco entrou o Filho de Deus. Desceu do seu trono celestial,
sem deixar a glória do Pai, e nasceu segundo uma nova ordem, mediante um
novo modo de nascimento. Segundo uma nova ordem, visto que invisível em sua
própria natureza, se fez visível na nossa e, ele que é incompreensível (2), se tornou
compreendido; sendo anterior aos tempos, começou a existir no tempo; Senhor
do universo, revestiu-se da forma de servo, ocultando a imensidade de sua Exce-
lência; Deus impassível, não se horrorizou de vir a ser carne passível; imortal, não
se recusou às leis da morte. Segundo um novo modo de nascimento, visto que
a virgindade, desconhecendo qualquer concupiscência, concedeu-lhe a maté-
ria de sua carne. O Senhor tomou, da mãe, a natureza, não a culpa (3). Jesus
Cristo nasceu do ventre de uma virgem, mediante um nascimento maravilhoso.

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O fato de o corpo do Senhor nascer portentosamente não impediu a perfeita iden-


tidade de sua carne com a nossa, pois ele que é verdadeiro Deus também é ver-
dadeiro homem. Nesta união não há mentira nem engano. Correspondem-se numa
unidade mútua [sunt invicem] a humildade do homem e a excelsitude de Deus. Por
ser misericordioso, Deus [divindade] não se altera; por ser dignificado, o homem
[humanidade] não é absorvido. Cada natureza [a de Deus e a de servo] realiza
suas próprias funções em comunhão com a outra. O Verbo faz o que é próprio
ao Verbo; a carne faz o que é próprio à carne; um fulgura com milagres; o outro
submete-se às injúrias. Assim como o Verbo não deixa de morar na glória do Pai,
assim a carne não deixa de pertencer ao gênero humano... Portanto não cabe a
ambas as naturezas dizerem: “O Pai é maior do que eu” ou “Eu e o Pai somos um”
(4). Pois, ainda que em Cristo nosso Senhor haja só uma pessoa, Deus homem, o
princípio que comunica a ambas as naturezas as ofensas é distinto do princípio que
lhes toma comum a glória...

Notas:
1. Encontramos aqui indício da formação da doutrina mariana. Realmente na
concepção a virgindade de Maria permaneceu intacta; pois José não teve relações
com Maria durante a gestação. Mas no nascimento houve naturalmente a ruptura
vaginal (ou será que houve um nascimento através da um parto cesariano?). Isto
em nada diminui ou atribui mácula, e durante o nascimento deve ter havido algum
sangramento, pois Maria buscou a purificação comum às judias após o parto.
2. Não circunscrito especialmente.
3. Contrastando com a tendência mariana, essa frase dá-nos excelente re-
flexão. Onde estavam as doutrinas que ensinam que Maria era imaculada desde
seu nascimento? Se fosse necessário que Maria nascesse imaculada para ser mãe
do prometido Messias, não deveria a mãe de Maria também nascer sem pecado
para gerar sem pecado? Nessa corrente chegaríamos à mãe Eva — certamente a
doutrina mariana não tem lógica. Aqui, nesta frase, temos a confissão de que Maria
tinha culpa, embora não a tivesse transmitido a Cristo Jesus.
4. João 10.30; 14.28 — Contrastando com o quarto anátema de Cirilo.

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LANGSTON, A.B. Esboço de teologia sistemática. Editora Juerp, 1977.
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STEWART, Don. 103 perguntas que as pessoas fazem sobre Deus. Editora Juerp,
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