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DOUTRINA DE CRISTO
EGUINALDO HÉLIO DE SOUZA
Versão da matéria: 1.0
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02 DOUTRINA DE CRISTO
Sumário
03 u Introdução
03 Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?
47 u Referências bibliográficas
q Introdução
Capítulo 1
q Nomes e títulos da pessoa de Cristo
Jesus
C omo tudo em sua vida, seu nome também não foi um acaso. Foi dado
pelo anjo a José, para que fosse colocado nele. Embora fosse um nome
de certa forma comum em sua época, seu significado, “O Senhor é Salvação”, ca-
bia a ele mais do que a qualquer outro. “Porque ele salvará o meu povo dos seus
pecados” (Mt 1.21).
Cristo
C risto era o termo grego equivalente ao nome hebraico Messias, cujo sig-
nificado é “Ungido”. Embora o conceito de ser um ungido do Senhor era
muito comum em toda a história de Israel, tratava-se de “O Ungido”, com letra
maiúscula, o ungido por excelência. Logo, a palavra Cristo foi acrescentada ao seu
nome, passando para posteridade como Jesus Cristo (Jo 4.25,26).
Filho do Homem
F ilho do Homem era primeiramente um título messiânico. Fora usado por Da-
niel com referência a um que viria nas nuvens, interpretado como sendo o
Messias (Dn 7.13).
Nos lábios de Jesus, porém, o título vai mais longe, identificando o Messias
com a própria humanidade. A palavra “filho” é um hebraísmo, uma forma pró-
pria de expressão dos semitas que identifica as qualidades de uma pessoa. Por
isso, uma série de expressões é usada com a palavra filho: “filhos do reino” (Mt
8.12); “filho da perdição” (Jo 17.12); “filhos da ressurreição” (Lc 20.36), e assim
por diante.
Por meio do título “Filho do Homem”, o Filho de Deus, Jesus, que, por natu-
reza, não era homem, ressaltou este aspecto de sua natureza. Sua identifica-
ção foi quase completa, excluindo somente seu nascimento virginal e sua vida
imaculada.
J esus foi o Unigênito (Jo 3.16), ou seja, o único gerado. Qualquer outro ser
no universo que receba o título de filho de Deus só o será em um sentido
relativo, como no caso dos anjos (Jó 38.7), de Adão (Lc 3.38) e do nosso próprio,
da nova aliança, que fomos adotados (Rm 8.15). Jesus o é em um sentido único,
absoluto.
A filiação divina no sentido exclusivo de Jesus dava-lhe natureza semelhante à
de Deus. Para os líderes religiosos de sua época, isto ficou muito claro. É evidente
que eles conheciam a designação “Filho de Deus”. Mas a maneira como Jesus a
usou escandalizou seus contemporâneos, porque o colocava em pé de igualdade
com o Pai (Jo 5.18; 10.33).
Alguns querem argumentar que o fato de Cristo ser Filho de Deus e gerado
por ele confere-lhe uma origem, um princípio, anulando, assim, sua eternidade e,
por conseqüência, sua divindade. Todavia, é necessário analisar teologicamente
o termo “Filho”. No contexto das pessoas divinas (Trindade), ele é utilizado apenas
como analogia, e não como descrição exata entre a primeira e a segunda pes-
soas. Se quiséssemos, no entanto, tomar as palavras “filho” e “gerar” com sentido
literal, teríamos então de supor que a divindade engravidara ou tivera uma mãe
para que ocorresse a concepção. Logo, os termos apenas ilustram verdades divi-
nas por comparação. Por isso o credo de Atanásio o coloca como “Eternamente
Gerado”.
E m certo sentido, homens como Davi ostentaram o título de filho de Deus. Mas
esta designação aparece em passagens de conteúdo messiânico, ou seja,
eram passagens que, embora se referissem à aliança de Deus com Davi, aponta-
vam, porém, para o seu sucessor futuro – Cristo (2Sm 7.14; Sl 89.27; Sl 2.7,12).
Senhor
E ste termo reflete pelo menos dois fatos a respeito de Jesus: divindade e
soberania.
Deidade: Quando Jesus faz referência ao Salmo 110 proferido por Davi, ele
deixa bem claro que o título Senhor ali utilizado ia bem além de mera monarquia
humana (Mt 22.41-46). Se Davi chamava de Senhor alguém que estava diante de
Deus, com certeza não era mero governante humano.
Soberania: Este título mostra seu domínio efetivo sobre tudo. Hoje, este domínio
é voluntário. Futuramente, será reconhecido por todos os seres conscientes do uni-
verso (Fl 2.10,11).
Capítulo
q O Deus Filho – sua divindade
2
J esus é Deus. Temos consciência da sublimidade desta afirmação. Dizer que
foi o próprio Deus quem andou entre os homens, morreu na cruz, ressuscitou
e subiu aos céus é um fato grandioso demais para a mente humana. Mas as Escritu-
ras Sagradas, única fonte inspirada e infalível para este assunto, assim nos revelam.
Logo, crer nas Escrituras Sagradas significa crer na divindade de Cristo.
A doutrina da divindade de Cristo não é baseada em um ou em poucos versí-
culos isolados. É alicerçada em toda a Bíblia. Dentre as várias provas das Escrituras
referente a esta doutrina, destacamos cinco:
Cristo e o tempo
“P orque um menino nasceu e um filho se nos deu [...] e o seu nome será [...]
pai da eternidade...” (Is 9.6).
“Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de
vida , mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para
sempre” (Hb7.3).
“Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre
todos, Deus bendito eternamente. Amém” (Rm 9.5).
“O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo” (Sl 45.6 cf. Hb 1.8).
Houve um tempo (se é que podemos chamar assim) em que nada existia, além
de Deus. Quando declaramos nada, não queremos apenas dizer o mundo visível, a
terra, as estrelas e o universo, mas também o mundo invisível, isto é, todo o exército
de anjos com suas hierarquias e poderes. Antes do primeiro ser angélico ser criado,
Deus já era em sua essência trina .
E isto mostra que o Filho não foi uma criação, pois antes que ele se pusesse
a criar, só havia o nada. Nem mesmo o que chamamos “tempo” pode ser dado
como existente. Ele é o “pai (que deu origem) da eternidade”, “ele é antes dos
tempos dos séculos” ou “tempos eternos” (Tt 1.2, 2Tm 1.9). Ele não tem “princípios
de dias” e é chamado “Deus bendito eternamente”.
A expressão bíblica “antes dos tempos dos séculos” mostra um período muito lon-
gínquo e já aqui Cristo existia, planejando com o Pai e o Espírito os rumos do universo.
Quando lemos: “Façamos o homem à nossa imagem”, percebemos:
Logo, o início da existência de qualquer coisa não partiu apenas do Pai, mas
de toda a divindade. Sendo assim, Cristo fez parte dessa decisão de criação de
todas as coisas.
Cristo e a criação
Com isso, Cristo é excluído da classe angélica. Em nenhum lugar das Escrituras
é afirmado o poder criador dos anjos. Nem o poderoso Miguel seria capaz de trazer
do nada qualquer coisa à existência. Aqueles que não se referem a Jesus como
sendo Deus, caem na inconsistência de julgá-lo como sendo um anjo e, com isso,
acabam crendo em uma espécie de semideus .
Tudo o que foi criado foi criado nele. O que quer que exista no universo está
dentro de sua infinitude. Não há recanto no cosmo que esteja excluído da presen-
ça infinita do Filho unigênito .
“Não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor?” (Jr 23.24). Isto é infinitude.
Logo, o universo é permeado, em toda a sua extensão, com o ser de Cristo. Mas
ainda é mais do que isso. Embora o Senhor Jesus encha os limites do universo, ele os
trespassa, de modo que não é o universo que contém a Deus. Antes, é Deus quem
contém o universo. Não é que Deus esteja no mundo, mas o mundo é que está em
Deus. Ele não é contido. Ele contém.
É este o sentido “foi criado nele”. Embora o universo seja considerado infinito,
ainda assim não está fora da abrangência da natureza infinita de Cristo. Ele é o que
preenche “tudo em todas as coisas” (Ef 1.23). Sim, preenche tudo. E ainda vai mais
além, pois “os céus dos céus não o podem conter” (1Rs 8.27).
Assim, o Criador, que fez todas as coisas, criou tudo dentro da sua infinitude.
Portanto, nada está fora de sua natureza. Ou seja, tudo fora criado nele .
O deísmo que afirma que Deus criou o mundo e depois o abandonou às suas
próprias leis esquece que há uma força por trás de todas as leis que rege toda a
criação. Cristo é a força por trás das leis da natureza que age para que ela (a na-
tureza) seja cumprida. Assim, tudo o que existe subsiste por ele, Jesus.
Tudo foi criado para ele. Aqui encontramos o motivo que levou Deus a criar o
universo. O universo foi criado para o Filho.
A queda prejudicou este propósito. Por isso, a criação teve de ser redimida an-
tes que o Herdeiro pudesse tomar posse, e a redenção da qual estamos falando foi
realizada por meio do próprio Herdeiro, Jesus Cristo.
O universo estará fora do seu eixo enquanto toda a oposição não for banida
e a criação não estiver dentro do propósito de “ser para Cristo”. Esta é a razão de
ser do universo e do homem.
É possível que muitos amem a Jesus, mas sintam receio quanto ao Deus do
Antigo Testamento. Parecem distintos, antagônicos. Um é guerreiro sangui-
nário; o outro é médico, compassivo. Um mata os pecadores; o outro morre por
eles. Um fala de vingança contra os inimigos; o outro fala de perdão. Um se ira; o
outro se compadece.
Estas idéias, todavia, são falsas. O Deus do Antigo Testamento ama, e muito.
Quando expulsou o homem do Éden prometeu-lhe um Salvador (Gn 3.15). No dilú-
vio salva uma família e com ela faz a promessa de nunca mais afogar sobre a água
os seres debaixo dos céus (Gn 9). Ama Abraão e sua descendência, a nação de
Israel (Gn12). E este amor não se limita etnicamente. Mas estende-se, a ponto de
perdoar e reter sua ira sobre a perversa Nínive (Jn 1.3).
Por outro lado, é o meigo Jesus que com seu chicote expulsa os vendedores do
templo e com seus lábios pronuncia pesados “ais” sobre os fariseus (Mt 23). Foi Jesus
quem, principalmente, ensinou a doutrina do inferno e se colocou como o pronun-
ciador da maldição eterna sobre os pecadores (Mt 25.41).
Em Jesus há mais do que mera afinidade com o Pai. Ele e o Pai são um (Jo 10.30).
“E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 2.32).
“E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (At 2.21; 34.36;
Rm 10.17).
“Diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua”
(Is 45.23).
“Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho [...] E toda a língua confes-
se que Jesus Cristo é o Senhor” (Fl 2.10-11).
“Então ele vós será santuário, mas servirá de pedra de tropeço e rocha de es-
cândalo” (Is 8.14).
“E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que trope-
çam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram desti-
nados” (1Pe 2.8).
“Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obras das tuas mãos. Eles
perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um ves-
tido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Porém tu és o mesmo, e os
teus anos nunca terão fim” (Sl 102. 25-27).
“E [do Filho]: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obras de
tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa,
envelhecerão, e como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas tu és o
mesmo, e os teus anos não acabarão” (Hb1.10-12).
“Eu o Senhor, esquadrinho o coração e provo a mente, e isto para dar a cada
um segundo os seus caminhos e segundo o fruto de suas ações” (Jr 17.10).
“Em todas as igrejas saberão que eu sou aquele que esquadrinha os rins e os
corações, e darei a cada um de vós segundo as suas obras” (Ap 2.23).
“Respondeu o Senhor a Moisés: aquele que pecar contra mim, a este riscarei
do meu livro” (Êx 32.33).
“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não es-
tão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do
mundo” (Ap 13.8).
“E entrarão nas fendas das rochas, e nas cavernas das penhas, por causa do
terror do SENHOR, e da glória da sua majestade, quando ele se levantar para
abalar terrivelmente a terra” (Is 2.21).
“E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto
daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro” (Ap 6.16).
“Digno és, Senhor, nosso e Deus nosso de receber glória, e honra, e poder”
(Ap 4.11).
“Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria,
e força, e honra, e glória, e ações de graças” (Ap 5.12).
“Porque eu sou Deus e não homem, o santo no meio de ti” (Os 11.9).
“Mas vós negaste o santo...” (At 3.14).
Jesus Cristo é:
humanos
angelicais
divinos
E podemos distingui-las pelos seus atributos. Cada uma destas classes tem as
qualidades próprias de sua natureza, e nós, como servos de Deus, só podemos con-
tar com os seres dentro das limitações de seus atributos. Mas quando nos relacio-
namos com Jesus nós nos relacionamos com alguém com atributos divinos. Jesus é
universal e só pode ser universal porque é divino. As pessoas, por meio do mundo
físico, podem relacionar-se com homens, anjos ou demônios, porque são muitos. Je-
sus, no entanto, é um único ser e, ainda assim, devido à sua natureza divina, pode
relacionar-se com todos os cristãos do mundo inteiro em uma comunhão igual a
que tem com o Pai (1Jo 1.3).
Embora sua presença possa variar em grau, ela existe em todo o universo. Des-
de o coração dos santos, onde ele habita como Senhor, até o lado do Pai, onde ele
governa o universo, a presença de Cristo enche todas as coisas (Ef 1.23).
Que outro ser, além de Deus, pode estar em mais de um lugar ao mesmo tem-
po? Mesmo no mundo espiritual, com outra forma de existência, isto é impossível, a
não ser para Deus. Cristo, todavia, prometeu habitar, fazer morada naqueles que o
obedecem (Jo 14.23). Temos, então, sua onipresença nas diversas pessoas ao redor
do mundo.
Indo mais além, ele se faz presença onde seu nome é invocado em fé (Mt 18.20;
cf. Sl 145.18). Em sua igreja, entre os santos, ele manifesta sua presença por meio
do Espírito Santo. Mas nem mesmo o universo foge da sua infinitude. Tudo foi criado
nele, dentro da sua essência infinita, por isso ele é aquele que preenche todas as
coisas (Ef 1.23).
Não resta dúvida de que a igreja primitiva olhava para Jesus da mesma maneira
que Israel olhou para Javé. Não como outro Deus, mas como o mesmo Deus que ago-
ra havia chegado mais perto, morrido e ressuscitado, para se tornar o seu Senhor.
E m 1João 5.9, está escrito “Se recebemos os testemunhos dos homens, o tes-
temunho de Deus é maior”. Se não for suficiente o que temos visto até ago-
ra, para que possamos nos convencer de que o Senhor Jesus é o verdadeiro Deus,
resta-nos ainda o testemunho aberto e inspirado das Escrituras.
A seguir, faremos uma exposição (com comentários) de doze textos em que
apóstolos, profetas e o próprio Jesus declaram abertamente a divindade do Filho
de Deus. Recomendamos que os alunos leiam as referências seguindo-as em sua
Bíblia, pois, sem essa observância, ficarão impossibilitados de compreender a abor-
dagem a que nos propomos.
Isaías 9.6: Esta passagem messiânica se refere a Jesus como o “Deus forte”. Este
menino “que nos nasceu” recebe um título que Isaías atribuíra a Javé . Em Isaías
10.21, o profeta diz: “os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de
Jacó”. Logo, ele, Jesus, é o Deus forte.
João 1.1: Sua distinção (estava com Deus) e a sua identificação (era Deus)
com Deus são expressas de uma maneira bem simples aqui. As maiores distorções
teológicas são demasiadamente frágeis para anular o que o autor inspirado quis
dizer: que Jesus é o Verbo de Deus.
João 1.18: Aqui Jesus é o “Deus unigênito” que revelou, mostrou e desvendou
ao mundo como é o Pai.
João 5.18: Até mesmo os próprios inimigos de Jesus entendiam sua identifica-
ção com Deus. É preciso ser tolo para não compreender o que Jesus quis dizer. E
João, ao narrar este fato, comenta sobre a percepção dos judeus.
João 10.30: Esta união não é só de propósito, como alguns querem interpretar.
É uma união de natureza. Os contextos anterior e posterior comprovam isto. Nos
versículos 28 e 29, lemos: “... ninguém poderá arrebatá-las das minhas mãos [...]
ninguém poderá arrebatá-las das mãos dele [...] eu e o Pai somos um”. No verso 30,
Jesus está explicando o que havia dito anteriormente. O contexto posterior, v. 33,
mostra que foi isto que os seus ouvintes entenderam, ou seja, que ele estava decla-
rando sua divindade.
Atos 20.28: Também controvertido, este texto fala da igreja de Deus que ele
comprou com o seu próprio sangue. Toda esta disputa não passa de preconceito.
Filipenses 2.6: “Sendo em forma de Deus” fala da sua natureza espiritual, antes
de adquirir a terrena. Não se tratava de uma forma humana ou angélica, mas di-
vina. Não era homem ou anjo, mas Deus. Por isso, ele compara a nossa sujeição a
outros (v.5) à sujeição do Filho ao Pai. Ainda que possua a mesma forma de Deus,
Jesus, o Filho, se fez menor que o Pai.
Tito 2.13: “Grande Deus e Salvador Jesus Cristo”. Inserir a preposição “do” antes
da palavra “Salvador” para tentar fazer uma diferenciação é tolice, pois sabemos
que a parousia - aparecimento - se refere à vinda de Jesus em glória.
Com estas passagens, podemos verificar que na crença de João, Paulo, Lucas,
Tomé, Isaías e Pedro, Jesus Cristo era Deus manifestado na carne. Em linguagem
verbal ou escrita, eles ousaram proferir algo que seria considerado blasfêmia pelos
judeus de suas épocas, embora saibamos que falavam a verdade.
Capítulo 3
q O Filho do homem – sua humanidade
“P elo que convinha que em tudo fosse semelhante a seus irmãos” (Hb 2.17).
Para que o propósito divino tivesse êxito, o Filho de Deus teria de tomar sobre
si a humanidade completa. Era necessário que em tudo se tornasse um de nós. O
que o Filho fez ao torna-se carne foi traduzir o Deus inacessível para uma forma que
a humanidade pudesse compreender.
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Para os gnósticos (para
quem a matéria era totalmente má) e para o atual movimento Nova Era (alta-
mente subjetivo) um salvador “que participou da carne e sangue” (Hb 2.14) é
inaceitável.
“Jesus Cristo veio em carne” (2Jo 7) foi o grito do apóstolo João contra as dou-
trinas que, por tanto mistificar o Filho de Deus, colocam-no como um “avatar” do
amor ou como um mero “espírito evoluído”.
Graças a Deus, porém, que o testemunho de Deus nas Escrituras não deixa dú-
vida. Pela palavra de três testemunhas será confirmada toda a palavra.
Moisés
“Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então
farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas en-
tranhas, e estabelecerei o seu reino” (1Sm 7.12).
O apóstolo João
O apóstolo Paulo
A queles que nos narraram a vida de Jesus não o fizeram “seguindo fábulas
artificialmente compostas” (2Pe 1.16), mas por meio de contato pessoal ou
de contato com testemunhas oculares (V. Lc 1.1-4; Jo 21.23-24; 1Jo 1.1,2; 2Pe 1.16-
18). Qualquer, pois, que quiser afirmar algo sobre Jesus terá de curvar-se à autori-
dade divina e pessoal das Escrituras da Nova Aliança, que nos apresentam alguém
completamente identificado com a humanidade. As Escrituras, em nenhuma par-
te, negam que Jesus era verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Dentro dos limites da capacidade física, Jesus realizou a vontade do Pai. Assim
como nós, homens, Jesus também estava sujeito à:
“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”
(Hb 4.15).
A tricotomia em Jesus
Em seu aspecto básico, o ser humano é constituído de corpo, alma e espírito
(1Ts 5.23; Hb 4.12). Se Jesus era realmente humano, sua natureza, no aspecto bási-
co, também não poderia ser diferente. E, de fato, não era, pois as três partes bási-
cas desta natureza existiam em Jesus.
Foi Ele mesmo quem disse: “...um espírito não tem carne
nem ossos...” (Lc 24.39). Em muitos lugares, também fica
clara a referência ao seu corpo, como em Mateus 26.12,
Corpo por exemplo: “Pois, derramando este perfume sobre o
meu corpo...”. Cegos são aqueles que são incapazes de
aceitar este Jesus, como fazem os espíritas, os hindus e os
seguidores da Nova Era. Seu Jesus pode ser desencarna-
do, mas o Jesus das Escrituras não.
Não obstante toda essa análise da natureza humana de Cristo, pelo menos em
dois aspectos (e só!) Jesus era diferente da raça humana. Todavia, estas diferenças
eram de suma importância e de extrema necessidade, do contrário, lhe seria im-
possível servir aos propósitos divinos. Pela importância dessas diferenças, trataremos
delas em capítulo à parte.
Capítulo 4
q As dessemelhanças em Jesus Cristo
A primeira diferença refere-se à sua geração, a segunda, à sua vida sem pe-
cado. Aqui está o contraste entre Jesus e a humanidade inteira. Sua obra
dependia destes fatores.
Aqueles que admiram os milagres realizados por Jesus deveriam saber que tais
milagres, em sua maioria, podem também ser realizados por seus seguidores. Em-
bora tenhamos este poder, outorgado a nós pelo próprio Jesus, por meio do Espírito
Santo, jamais poderemos nos igualar a ele nestes dois pontos de sua vida: seu nas-
cimento virginal e sua vida sem pecado. Na verdade, é aqui que reside a eficácia
da obra salvadora de Deus.
O fato
Dos quatros livros biográficos da vida de Jesus, dois deles mencionam o aspec-
to virginal de seu nascimento, Mateus e Lucas. Marcos, com sua narrativa resumida,
não o faz porque se concentra mais em sua obra. E João, por destacar o lado divi-
no de Cristo, também não o menciona.
Contudo, estas duas narrativas, registradas em Mateus 1.18-25 e Lucas 1.26-38,
se complementam de tal forma que temos material abundante para confirmar o
fato. Cada afirmativa feita pelos dois biógrafos está relacionada à geração sobre-
natural do Filho de Deus.
Aspectos do fato
A razão do fato
Até aqui, vimos afirmando o nascimento virginal de Jesus Cristo: “Foi assim”.
Daqui por diante, explicaremos a razão de ter sido assim.
Deus, ao criar a vida, fê-la com a capacidade de se reproduzir. A vida gera
vida, é uma lei da natureza. Este axioma é verdadeiro com respeito à biologia e
também às Escrituras. Uma pedra não gerará uma árvore, nem uma árvore gerará
uma pedra. Um porco não dará à luz a terra, nem a terra dará à luz um porco.
Vamos dar um passo. Toda vida produz outra vida semelhante. Um gato gerará
um gato, nunca um cachorro. Um cachorro gerará um cachorro, nunca um maca-
co. Em termos bíblicos, isto equivale a dizer que cada ser vivo sobre a terra produz
fruto “segundo a sua espécie ” (Gn 1.11, 12, 21, 25).
Com o homem, isto não foi diferente. Ele gerará descendentes segundo a sua
espécie. Foi justamente este o plano de Deus (Gn 1.28). Mas, até então, o homem
trazia em si a imagem de Deus. Como um espelho, ele refletia a glória de Deus. E o
mesmo aconteceria com seus descendentes.
Adão teria descendentes “conforme sua espécie”. Quando ele gerou um filho,
gerou-o “à sua semelhança, conforme a sua imagem” (Gn 5.3). Usando uma pa-
ráfrase, diríamos: “conforme a sua imagem decaída”, e não conforme a imagem
perfeita original.
E isto ocorreu devido ao tipo de semente. Ora, qualquer agricultor tem ciên-
cia de que a qualidade da semente determinará a qualidade do fruto. O homem,
ao fecundar a mulher, coloca nela uma semente que a Nova Aliança chama de
“semente corruptível” (1Pe 1.23). O fruto, ou seja, o descendente, será da mesma
qualidade.
Este fato foi reconhecido por Davi que, ao compor o Salmo 51, admitiu que na
sua concepção o pecado já estava presente nele. É o que ele diz: “Certamente em
iniqüidade fui formado e em pecado me concebeu minha mãe” (v.5).
Assim, o nascimento virginal de Cristo não foi um mero sinal à casa de Israel,
mas uma necessidade indispensável ao propósito restaurador de Deus.
A santidade de Jesus
O fato
Jesus realmente não tinha pecado? É fácil afirmar isso quando não convivemos
com alguém, ou quando o amor nos cega a ponto de não enxergamos as falhas da
outra pessoa. Todavia, os que testificaram da justiça, honestidade e inculpabilida-
de de Jesus foram aqueles que conviveram intimamente com ele ou ainda aqueles
que não o amavam.
Os testemunhos a seguir compõem uma lista e atestam sua vida (de Jesus)
sem pecado:
O testemunho
do ladrão “Mas este [Jesus], nenhum mal fez ” (Lc 23.41).
da cruz
O testemunho
de João “Eu preciso ser batizado por ti, e vens tu a mim?” (Mt 3.14).
Batista
O testemunho
“E nele não há pecado” (1Jo 3.5).
de João
O testemunho
“Bem sei que és o Santo de Deus” (Lc 4.34).
dos demônios
A razão do fato
Em primeiro lugar, era necessário que Jesus fosse sem pecado, para que se tornas-
se um exemplo. O Senhor Deus, em Cristo, nos deu um padrão a ser seguido. Foi o pró-
prio Jesus quem disse: “Eu vos dei o exemplo para que faças o que eu fiz” (Jo 13.15).
Pedro, sem dúvida, captou esta importância da vida irrepreensível de Jesus. Em sua
epístola, ele escreve: “Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu
por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas” (1Pe 2.21).
Em segundo lugar, era necessário que Jesus fosse sem pecado, para que pu-
desse ser um sacrifício perfeito. Era a exigência divina para os sacrifícios da Antiga
Aliança: que os animais fossem sem defeito (Lv 1.3). A vida sacrificada em lugar do
culpado tinha de estar isenta de culpa. Seria inaceitável uma vida contaminada e
manchada. Era dessa forma que os animais eram utilizados simbolicamente para a
expiação na Antiga Aliança. Por um lado, eram inocentes, pois não tinham consci-
ência do pecado, e, por outro, eram perfeitos, pois não tinham defeitos.
Tais sacrifícios nada mais eram do que sombras. Na realidade, não poderia ser in-
ferior como sacrifício resgatador e substitutivo. Jesus era o Cordeiro de Deus (Jo 1.29)
e, sendo assim, qualquer mancha, defeito ou contaminação no sentido real teria anu-
lado a eficácia de sua morte. Por isso, ele tinha de ser “como um cordeiro sem defeito,
sem mancha” (1Pe 1.19).
Em terceiro lugar, era necessário que Jesus fosse um sacerdote perfeito, com um
sacerdócio perfeito. O sacerdócio arônico não foi eficaz completamente, devido às
falhas dos oficiantes. Mesmo o sumo sacerdote não ousaria entrar diante de Deus no
lugar santíssimo, ou seja, no santo dos santos, sem que antes se purificasse (Hb 5.3).
Com respeito a Cristo e ao seu sacerdócio, lemos esta maravilhosa declaração em
Hebreus 7.26, 27: “Por que nos convinha [isto é, era necessário] tal sumo sacerdote,
santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que
os céus; que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia
sacrifícios, primeiramente pelos seus próprios pecados, e depois pelos do povo”.
Capítulo
q A obra redentora de Cristo
5
E mbora os ensinos tão sublimes e milagres tão tremendos de Jesus tenham,
durante vinte séculos, comovido a humanidade, suas marcas mais fortes e
mais sublimes, porém, são uma cruz sobre um monte e um túmulo vazio. E tão fortes
foram e são estas marcas que foi principalmente sobre elas que se baseou a prega-
ção apostólica e toda a teologia da Nova Aliança.
A ênfase bíblica não foi sobre os ensinos de Cristo. Embora o espírito de sua
doutrina sobre o amor ao próximo permeie tudo, ele não é o centro da revelação
cristã, e muito menos ocupa a grande extensão da literatura apostólica. Todo des-
taque vai para sua obra — morte, ressurreição e ascensão. Os comentários, as
exortações, a revelação e a vida em Cristo se resumem nisto: “Cristo morreu por
nossos pecados, segundo as Escrituras [...] ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras...” (1Co 15.24).
Enquanto o mundo vê apenas a moralidade, a igreja enxerga a realidade. O
essencial não foi o que ele disse, mas o que ele fez. E, ainda, não o que ele realizou
por meio da sua vida, mas o que ele fez com ela — ele a entregou como resgate,
como expiação pelo mundo. É este fato — sua morte na cruz — que denomina o
“poder de Deus”, pois abriu a possibilidade da ação de Deus no homem.
O pecado, desde que surgiu no mundo, cobra um preço: a morte. Tudo aquilo
que está em desarmonia com Deus deve perecer. Adão pecou e, por este motivo,
teve de perecer. Este universo, contaminado pelo pecado, primeiramente pelos
anjos e depois pelo homem, também perecerá (Sl 102.25,26). Inflexivelmente, esta
é uma determinação divina que não pode ser revogada.
Apesar desta aparente falta de solução, a divina sabedoria e o divino amor
conceberam um plano que remisse tudo e assim mesmo não quebrasse a lei. Al-
guém que estivesse fora da criação e não contaminado por ela tomaria o lugar das
coisas criadas e, recebendo sobre si a maldição e a culpa que lhe pesam, a remi-
ria. Se a criação era digna de morte, alguém encarnando a criação tomaria esta
morte sobre si. Também por isso Darbi, renomado erudito, assim traduziu Hebreus 2.9
“...para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todas as coisas”.
Não havia outro caminho pelo qual a redenção poderia ser realizada. Só o
Criador saberia como salvar sua criação. Se ele o fez por tal meio é porque não
havia outro. Deus escolheu criar, mesmo sabendo em que resultaria. Logo, ao criar
todas as coisas ele esteve disposto a pagar o devido preço por aquilo que havia
de vir à existência.
Toda a Escritura, de Gênesis até o Apocalipse, traz a mensagem do sangue,
isto é, da vida derramada. “Porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). E
porque desde Gênesis 3 até Apocalipse 20 o pecado está presente, as Escrituras
são “tintas” de sangue.
A pregação da cruz é o centro da pregação do evangelho: “Pois nada me
propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1Co 2.2). O evan-
gelho chega mesmo a ser chamado de “palavra da Cruz” e, embora não pareça,
“é o poder de Deus” (1Co 1.18).
Em Cristo crucificado Deus destruiu, com um só golpe, o pecado (Hb 9.26; Rm
8.3), o mundo (Gl 2.20), a lei (Ef 2.14.15), os principados e potestades (Cl 2.15), a
carne (Gl. 5.24) e o “eu” (Gl.2.20). Podemos imaginar a criação de Deus liberta
destas coisas?
Embora a expressão de vitória sobre estas coisas nem sempre seja plena na
vida dos salvos, ela é uma realidade nos propósitos de Deus. Como com Israel em
Canaã não houve falta de garantia de vitória por parte de Deus, mas, sim, falta
de fé nesta garantia, o mesmo pode acontecer conosco, ou seja, podemos deixar
também de alcançar esta plenitude, mas ela nos está disponível em Cristo.
Após isto, vemos Deus estabelecendo uma aliança com o seu povo, na qual o
sangue derramado estava freqüentemente presente. Quando o pecador colocava
as mãos sobre os animais oferecidos em sacrifício, na verdade, havia uma identifi-
cação do homem com o animal que morria em sacrifício em seu favor. Hoje, a mão
da fé nos identifica com aquele que foi oferecido e nos conforma com sua morte,
Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus.
Desde cerimônias simples, como uma oferta pela culpa, até outras mais com-
pletas, como o dia da expiação ( Yom Kippur), era a morte de animais e o derrama-
mento do seu sangue que garantiam o relacionamento entre Deus e o seu povo.
Até que viesse o cordeiro perfeito, aquela foi a maneira encontrada por Deus para
mostrar ao seu povo a realidade de seus propósitos.
Mesmo nos pequenos detalhes, a prefiguração era significativa. Ao escolher
um cordeiro, por exemplo, a mansidão com que este animal se deixa conduzir, mes-
mo à morte, era uma demonstração daquele que “como um cordeiro foi levado
ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não
abriu a sua boca” (Is 53.7). A exigência para que o animal sacrificado fosse perfeito
e não apresentasse qualquer defeito físico era uma amostra de como era a vida do
Cordeiro de Deus: “imaculado e incontaminado” (1Pe 1.18,19).
Como já dissemos, a mão sobre o sacrifício, como apresentado em Levítico,
fala de identificação. Poderíamos nos alongar nos detalhes, mas não faremos isto,
pois eles fazem parte de outro estudo. Todavia, já podemos reconhecer que as pre-
figurações referentes à morte de Cristo são abundantes no Antigo Testamento.
No caso do grande dia do Yom Kippur, a simbologia torna-se ainda mais expres-
siva. As diversas prefigurações dos sacrifícios de Cristo, como apresentadas em Levíti-
co 1 a 7, têm caráter conservador, pois seu alvo é manter a comunhão, obtida pelo
perdão conquistado. O Yom Kippur, por sua vez, era a conquista deste perdão.
I ncontáveis livros foram e ainda podem ser escritos sobre o valor da morte de
Cristo. Não foi, como vimos, uma fatalidade, ou como querem alguns, ape-
nas um ato de amor, pois não se pode achar nenhum valor concreto neste ato,
a não ser que ele gerasse outros resultados além disso. Alguém que, quando vivo
curava enfermos, expulsava demônios e multiplicava os pães, demonstraria muito
mais amor estando vivo do que dentro de uma sepultura, depois de morrer com a
estigma de um criminoso.
Dentre aquilo que é mostrado nas Escrituras, como fruto da cruz de Cristo,
nós podemos ter:
O caminho utilizado por Deus foi a cruz. Cristo foi feito pecado em nosso lugar
(2Co 5.21). Levou sobre si o pecado de todos nós (Is 53.5,6). Assim, o sacrifício de
Cristo foi substitutivo, de modo que Deus pode perdoar-nos e isentar-nos de culpa,
uma vez que outro a levou sobre si. Desta forma, ele pôde ser “justo e justificador
daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26).
O acesso a Deus
Por ocasião da morte de Cristo, o véu que separava o Lugar Santo do Santís-
simo se rasgou de alto a baixo (Mt 27.51). Para o escritor da carta aos Hebreus, o
sangue de Cristo abriu acesso a todos os crentes para o santuário (Hb 10.19-22). Je-
sus tornou-se o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5) e, portanto, pelo
Espírito Santo, temos livre acesso à presença de Deus (Ef 2.18).
Testemunhas da ressurreição
A ressurreição de Cristo é um fato histórico. Isto é, em determinado lugar e em
determinado tempo isto aconteceu. Não foi um produto de ficção como as narra-
ções do Bagava Gita ou de outro livro religioso hindu, nem de uma mera percep-
ção equivocada dos discípulos, mas algo que efetivamente ocorreu. “Mas de fato,
Cristo ressurgiu dentre os mortos, e foi feito primícia dos que dormem” (1Co 15.20).
Este acontecimento tão crucial à validade do cristianismo foi presenciado por
diversas pessoas. Certos conceitos tidos como verdadeiros não podem advogar
esta validade. A reencarnação, por exemplo, embora crida por milhões de pesso-
as, não tem como apresentar provas testemunhais. Jamais alguém na história se
apresentou ou foi registrado como testemunha ocular de uma reencarnação. O
mesmo se dá com o ensino sobre o anulamento ou inconsciência da alma na mor-
te. Não existem testemunhas para estes posicionamentos. São, no máximo, hipóte-
ses, e não elementos factuais.
Mas o levantamento de Jesus dentre os mortos aconteceu e foi visto por di-
versas pessoas. O apóstolo Paulo, em 1Coríntios 15.1-8, alista diversas pessoas que
viram a Jesus ressuscitado. A narrativa dos evangelhos também apresentam estas e
outras testemunhas. Foi algo que aconteceu e foi visto, o que concede à ressurrei-
ção de Cristo uma validação universal, uma sanção desfrutada por poucos eventos
deste tipo.
O significado da ressurreição
Mas por que este fato é tão importante? Qual o significado disto tudo? De toda
a profundidade teológica que o fato envolve, podemos destacar algumas:
A ascensão de Cristo
O fato de Cristo ter subido aos céus e ter-se assentado à direita de Deus Pai
não foi apenas um deslocamento geográfico. A riqueza e os efeitos destes
acontecimentos são de alcance ilimitado e, junto com sua morte e ressurreição,
constitui a coluna vertebral de sua obra.
Este fato foi testemunhado e registrado tal qual os demais acontecimentos de sua
vida. Ele não apenas subiu, mas retornou ao seu estado anterior junto ao Pai, agora
como homem glorificado. Sua glorificação tem profundo significado em sua obra.
Obra de Intercessão
Jó lamentou que no seu caso ele não possuía um intercessor, um mediador que
servisse de árbitro entre ele e Deus. Esse mediador tornou-se patente na pessoa de
Cristo (1Tm 2.5). Ele agora atua como sumo sacerdote intercessor entre Deus e o seu
povo com um ministério efetivo e contínuo.
Soberania
Sua posição, acima de todo principado e potestade (Ef 1.21), é uma posição
de soberania, de domínio sobre todas as coisas. Ele foi colocado ao lado do trono
do Pai e dele emana todo o controle do universo (Hb 1.3).
Preparação
Sua ida aos céus, ou seja, à casa do Pai, também teve um aspecto preparató-
rio (Jo 14.1-3). Ele foi antecipadamente ao local de nossa eterna morada. Na eter-
nidade, todos os que vencerem como seus seguidores participarão dos privilégios
por ele conquistados.
Gnosticismo
Foi uma das piores doutrinas inimigas do cristianismo. Embora existissem várias
correntes diferentes do gnosticismo, todas elas, no entanto, foram influenciadas
pelo neoplatonismo e pelo pensamento grego em geral. Rejeitavam a matéria por
achar que ela era má e, com isso, rejeitavam também a encarnação do Verbo,
o que gerou posições absurdas e conflitantes no que se referia à morte e à ressur-
reição de Cristo. Ao que parece, foi uma das primeiras heresias cristãs, visto que,
conforme a opinião de alguns, os escritos do apóstolo João foram redigidos visando
combater estas idéias errôneas a respeito de Cristo.
Sabelianismo
Sabélio começou a ensinar em Roma, por volta de 215 d.C. Segundo seu ensi-
no, o Pai e o Filho são exatamente a mesma pessoa, o mesmo Deus com nomes e
formas diferentes. Esta posição, com respeito à relação entre o Deus Pai e o Deus
Filho, também ficou conhecida como monarquianismo modalista, sendo condena-
da, em 261 d.C., juntamente com outras doutrinas de Sabélio.
Monarquianismo dinamista
Este ensino dizia que Jesus era um homem comum que, por ocasião do seu
batismo, foi unido a Cristo, que veio sobre Jesus como um poder. Jesus era as-
sim um profeta, e não o Verbo divino encarnardo. Quem primeiro apresentou
esta posição foi Teodoto, em 190 d.C., ao chegar em Roma. Na ocasião, foi
excomungado pelo bispo de Roma. Mais adiante na História da Igreja, Paulo de
Samósata adotou a mesma idéia e foi declarado herético pelo sínodo de Antio-
quia, em 268 d.C.
Ebionismo
Pregava que Jesus de Nazaré não teria vindo abolir a lei como prega a dou-
trina paulina. Desta forma, pregavam que tanto judeus como gentios convertidos
deveriam seguir os mandamentos da “santa lei”, o que levou a um choque com ou-
tras ramificações do cristianismo e do judaísmo. Acreditavam que Jesus Cristo era o
Messias, mas não era Deus, e que não nasceu de uma virgem, mas sim foi gerado
por José, sem a ação sobrenatural do Espírito Santo.
Cerintianismo
Defendia que não houvera união das duas naturezas, senão por ocasião do
batismo de Jesus, estabelecendo, assim, a divindade de Cristo como dependente
do seu batismo, e não por virtude do seu nascimento.
Docetismo
Doutrina cristã do século II que defendia que o corpo de Jesus Cristo era uma
ilusão, e que sua crucificação teria sido apenas aparente. Não existiam docetas
enquanto seita ou religião específica, mas como uma corrente de pensamento
que atravessou diversos estratos da Igreja. Esta doutrina é refutada no Evangelho
do apóstolo João, no primeiro capítulo, onde se afirma que “o Verbo se fez carne”.
Autores cristãos posteriores, como Inácio de Antioquia e Ireneu de Lião deram as
contribuições teológicas mais importantes para a erradicação deste pensamento,
em especial o último, em sua obra Adversus Haereses.
Arianismo
Considerava que Cristo era o mais exaltado dos seres criados, negando, com
isso, sua divindade e interpretando erroneamente sua humilhação temporária.
Esta controvérsia foi uma das maiores da História da Igreja e responsável pelo
Concílio de Nicéia. As testemunhas de Jeová defendem posições semelhantes ao
arianismo.
Apolinarianismo
Afirmava que Jesus não tinha um espírito humano. Sua posição inicial era contra
o arianismo. Contrapondo-se a Ário, ele advogava a autêntica divindade de Cristo
e tentava proteger sua impecabilidade, substituindo o pneuma (espírito) humano
pelo logos, pois julgava aquele sede do pecado. Conseqüentemente, Apolinário
negava a própria e autêntica humanidade de Jesus Cristo.
Nestorianismo
Eutiquianismo
Seus adeptos acreditavam que Cristo teria somente a natureza divina, pois sua
humanidade havia sido absorvida por sua divindade. Eutiques reconhecia que an-
tes da união entra a divindade e a humanidade, existiam duas naturezas em Jesus,
mas depois dessa união passou a reconhecer somente a divina.
Cristo é o mediador entre Deus e os homens. Ele é aquele que pode caminhar
sobre o pó da terra e depois assentar-se à direita da majestade nas alturas. Como
uma ponte, tocou os dois extremos, formando um elo. Com uma de suas mãos, to-
cou os céus e, com a outra, a terra. Uniu Deus ao homem. Já o justo Jó afirmava:
“Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos” (Jó 9.33).
Apesar de ter tomado um corpo físico, isto, no entanto, não fez do Filho me-
nos Deus. Ele é tão Deus quanto o foi na eternidade, como bem atesta Hebreus
13.8 sobre a imutabilidade de sua natureza. Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e
eternamente. Embora trouxesse um corpo como o nosso, ele também trazia uma
natureza como a de Deus nesse corpo. Colossenses 2.9 diz: “Porque nele habita
corporalmente toda a plenitude da divindade”.
IV. Neste mundo fraco entrou o Filho de Deus. Desceu do seu trono celestial,
sem deixar a glória do Pai, e nasceu segundo uma nova ordem, mediante um
novo modo de nascimento. Segundo uma nova ordem, visto que invisível em sua
própria natureza, se fez visível na nossa e, ele que é incompreensível (2), se tornou
compreendido; sendo anterior aos tempos, começou a existir no tempo; Senhor
do universo, revestiu-se da forma de servo, ocultando a imensidade de sua Exce-
lência; Deus impassível, não se horrorizou de vir a ser carne passível; imortal, não
se recusou às leis da morte. Segundo um novo modo de nascimento, visto que
a virgindade, desconhecendo qualquer concupiscência, concedeu-lhe a maté-
ria de sua carne. O Senhor tomou, da mãe, a natureza, não a culpa (3). Jesus
Cristo nasceu do ventre de uma virgem, mediante um nascimento maravilhoso.
Notas:
1. Encontramos aqui indício da formação da doutrina mariana. Realmente na
concepção a virgindade de Maria permaneceu intacta; pois José não teve relações
com Maria durante a gestação. Mas no nascimento houve naturalmente a ruptura
vaginal (ou será que houve um nascimento através da um parto cesariano?). Isto
em nada diminui ou atribui mácula, e durante o nascimento deve ter havido algum
sangramento, pois Maria buscou a purificação comum às judias após o parto.
2. Não circunscrito especialmente.
3. Contrastando com a tendência mariana, essa frase dá-nos excelente re-
flexão. Onde estavam as doutrinas que ensinam que Maria era imaculada desde
seu nascimento? Se fosse necessário que Maria nascesse imaculada para ser mãe
do prometido Messias, não deveria a mãe de Maria também nascer sem pecado
para gerar sem pecado? Nessa corrente chegaríamos à mãe Eva — certamente a
doutrina mariana não tem lógica. Aqui, nesta frase, temos a confissão de que Maria
tinha culpa, embora não a tivesse transmitido a Cristo Jesus.
4. João 10.30; 14.28 — Contrastando com o quarto anátema de Cirilo.
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