Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Capela do Fundador
Encostada à direita da fachada principal ergue-se a Capela do Fundador. Não
estando prevista no plano inicial do Mosteiro, deve-se à decisão de D. João I
de fazer um panteão familiar, tendo cabido a mestre Huguet a responsabilidade
do seu planeamento e construção, concluída por volta de 1433/34. É um
espaço cheio de significado histórico e artístico. Com ele surge, pela primeira
vez em Portugal um local próprio exclusivamente destinado a panteão régio.
São importantes as suas propostas, arquitetónicas e escultóricas. De planta
quadrangular, transmuta-se ao centro num octógono coberto com uma
complexa abóbada estrelada que se transforma em autêntico dossel
glorificador do rei D. João I e da rainha D. Filipa de Lencastre, inumados em
grandiosa arca tumular.
Sobre a tampa desta que é a maior arca gótica quatrocentista em Portugal
estão esculpidos os jacentes emparelhados do casal régio, mão dada, cobertos
por baldaquinos com os seus escudos de armas; no rebordo, por entre ramos e
folhas, as suas divisas “Y me plet” e “por bem”; nas faces duas longas
inscrições em latim resumem os seus méritos e ações; na cabeceira a cruz da
Ordem da Jarreteira (que D. João recebeu) com a inscrição “hinny soit qui mal
y pense”.
Na parede de fundo, no lado sul, estão os túmulos, do 2º quartel do século XV,
dos filhos destes reis, a “ínclita geração” como lhes chamou Camões. Da direita
para a esquerda: túmulo do Infante e Regente D. Pedro e sua mulher Isabel de
Urgel, duquesa de Coimbra; de D. Henrique, o Navegador e Mestre da Ordem
de Cristo (com estátua jacente); do Infante D. João, mestre da Ordem de
Santiago e sua esposa D. Isabel; de D. Fernando, mestre da Ordem de Avis,
que morreu com fama de santo, no cativeiro de Fez.
De princípios do século XX são as três arcas funerárias, mandadas fazer pelo
Rei D. Carlos I, que se encontram no lado poente da Capela. Aqui estão
sepultados, da esquerda para a direita: O rei D. Afonso V, neto de D. João I, o
rei D. João II, filho de D: Afonso V; e, finalmente, o príncipe herdeiro D. Afonso,
filho de D: João II, morto precocemente, em 1491, num acidente a cavalo na
região de Santarém.
Igreja
Quando se entra na Igreja de Santa Maria da Vitória pela sua porta principal,
dificilmente se consegue iludir a forte impressão de majestade e grandeza que
a visão do seu interior origina. Esta grandiosidade (mais de 80 metros de
comprimento, por 22 metros de largura e 32,5 de altura) compreende-se por
realizar ambicioso projeto de D. João I: programa monumental que expressava
muito mais a afirmação do seu poder, e o sentido do Mosteiro como panteão
real do que uma vocação conventual, até porque a comunidade dominicana
nunca foi em número que justificasse tal dimensão.
Organiza-se em três naves, as duas laterais mais estreitas e mais baixas que a
central. As naves conduzem ao transepto, onde ao centro do cruzeiro
encontramos um moderno altar-mor que antecede a cabeceira. Esta é
constituída por cinco capelas poligonais, antecedidas de tramos retos, sendo a
central mais alta e profunda do que as quatro laterais. A elevação da Capela-
mor em dois andares, com frestas de iluminação preenchidas com vitrais,
datando os mais antigos dos primeiros anos do século XVI, constitui uma
inovação na arquitetura gótica portuguesa, circunstância que, aliada à grande
altura a que se ergue, igual à da nave do meio, contribui para acentuar a
profundidade desta última, de que se assume como remate luminoso e
transparente.
As abóbadas tanto da nave central quanto das colaterais são nervuradas com
ogivas e cadeias, tendo ao centro largas chaves ornamentais com temas
vegetalistas de acentuado naturalismo, aspetos que permitem pensar ter sido
mestre Huguet o responsável pela finalização desta cobertura.
A porta lateral, de quatro arquivoltas de arco quebrado, deve-se a Afonso
Domingues, que aqui utiliza uma linguagem ainda arcaizante nos elementos
decorativos das arquivoltas e na definição do gablete pontiagudo. A novidade
maior desta porta tem a ver com a aposição, sobre o campo definido pelo
gablete, dos brasões dos fundadores do mosteiro, em trabalho escultórico de
belo efeito.
Vitrais
O programa de vitrais para o Mosteiro de Santa Maria da Vitória - que foi, tanto
quanto é possível apurar, o primeiro edifício português a receber a distinção de
semelhante solução artística - começou a materializar-se provavelmente à volta
de finais dos anos 30 ou do começo dos anos 40 do século XV. Entre o que
desses vitrais resta, encontramos fragmentos de composições figurativas, de
ornato vegetalista e de composições geométricas, sem esquecer um bom
número de painéis heráldicos. Pela descrição que Fr. Luís de Sousa faz do
monumento, cerca de 1623, ficamos a saber que todas as aberturas da igreja e
da Capela do Fundador ainda conservavam os seus vitrais nessa data.
Mouzinho de Albuquerque, primeiro responsável pelo restauro do monumento,
a partir do final de 1840, descreve o estado de avançada degradação em que
encontrou aqueles vitrais e as soluções que escolheu para resolver os
problemas de um sistema de iluminação em grande parte já perdido. Nas
janelas das naves encontravam-se restos dos antigos vitrais, que foram
apeados, desmontados e voltados a montar em novas calhas de chumbo,
formando pequenos painéis, os quais, por vezes, reuniam peças procedentes
de partes indiscriminadas dos vitrais originais. Os painéis assim formados
destinavam-se a ser colocados a meia altura de grandes caixilhos de madeira
com vidros coloridos, que, na falta de um programa de vitral propriamente dito,
se pretendia que evocassem uma atmosfera perdida.
Os fragmentos que Mouzinho tinha colocado nos grandes caixilhos de madeira
nas janelas das naves laterais foram retirados e tratados entre 1996 e 2005.
Por se encontrarem num estado muito avançado de degradação, não voltaram
para as janelas onde se encontravam. No entanto, esses são os mais antigos
testemunhos da existência de vitrais no Mosteiro da Batalha e em Portugal.
Tecnicamente, um vitral é um conjunto de vidros, normalmente corados na
massa ou incolores, frequentes vezes pintados, montados numa estrutura de
calhas de chumbo.
O primeiro vitralista da Batalha de quem temos conhecimento chamava-se Luís
Alemão e veio trabalhar para o mosteiro no final dos anos 30 ou no início dos
anos 40 do séc. XV. As características dos vitrais mais antigos aproximam-nos
de obras da Francónia e de Nuremberga, no sul da Alemanha, de onde Luís
Alemão era certamente oriundo. Os fragmentos que dessas obras nos
chegaram mostram profetas com rolos fechados ou abertos, bem como
patriarcas, santos e anjos mensageiros. Outros apresentam cenas da vida de
Cristo ou relacionadas com a Sua morte e ressurreição.
Alguns dos vitrais do século XV exibem um estilo de base idêntico aos
anteriores mas as suas figuras, pintadas com superior refinamento em grandes
superfícies de vidro incolor, são mais elegantes. A grande afinidade destas
obras com vitrais que se conservam, uma vez mais, em Nuremberga, faz
pensar que, por meados do século XV, terá ingressado na oficina da Batalha
algum novo artista, compatriota de Luís Alemão.
No final do século XV, aparecem os primeiros sinais de mudança para uma arte
com preocupações realistas. Porém, só no decurso da primeira década do
século XVI, irão aquelas preocupações realistas ser acompanhadas de
profundas transformações na maneira de pintar, com mestre João, um artista
de provável origem flamenga.
Na segunda década do século XVI, D. Manuel encomendou conjuntos
completos de vitrais para as janelas da capela-mor da igreja e para as da sala
do capítulo, onde se encontra refletido o poder da família real, através dos seus
retratos e das suas armas, bem como o dos Dominicanos, associados àqueles.
Os vitrais foram concebidos e os seu vidros pintados por artistas que eram
praticantes de pintura de cavalete, entre eles o pintor da corte de D. Manuel,
Francisco Henriques.
Os vitrais da sala do capítulo, datados de 1514, foram provavelmente
concebidos por aquele pintor, ainda que pintados por outro artista, cuja
identidade se desconhece. Tal como os vitrais da capela-mor da igreja, o
conjunto da sala do capítulo é entendido como um grande retábulo, neste caso
um tríptico, pelo qual se distribuem cenas da Paixão.
O mosteiro da Batalha foi o centro português de criação de vitral, nos séculos
XV e XVI, onde se instalou a maior parte dos praticantes daquela arte, que
daqui se deslocou a outros pontos do País para satisfazer diversas
encomendas, muitas delas do próprio rei, como no caso da Batalha.
Sabe-se que, até ao final do século XVII, foram contratados vitralistas, sem
interrupção, para a manutenção das obras dos séculos anteriores. Durante a
centúria que se seguiu, o estado dos vitrais agravou-se substancialmente
devido não apenas á falta de cuidados mas também ao terramoto de 1755. As
perdas acentuaram-se até ao início das obras de restauro, no final de 1840.
A partir de cerca de 1870, voltaram-se a produzir vitrais na Batalha, desta vez
pela oficina de restauro do monumento. Iniciou-se então a substituição de
caixilhos de madeira com vidros de cores por verdadeiros vitrais.
A substituição dos caixilhos de madeira foi retomada, no início dos anos 30 do
século XX, em algumas das janelas da nave central da igreja, pela Direcção
Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que para esse efeito contratou a
oficina lisboeta de Ricardo Leone. Estas operações foram interrompidas em
1931, data em que se iniciou o restauro dos vitrais da sala do capítulo. Seguiu-
se o dos da capela-mor, até 1940. A substituição dos caixilhos de madeira por
vitrais não voltou a ser empreendida.
Casa do Capítulo
A meio da galeria nascente do claustro real, rasga-se a porta de entrada para a
casa do capítulo, um vasto espaço quadrangular de 19 metros de lado, coberto
com uma impressionante e arrojada abóbada estrelada de oito pontas sem
qualquer apoio central. Depois da igreja, esta era a dependência de maior
relevo na vivência diária dos frades dominicanos, que aqui se reuniam para
escutar e refletir os diversos capítulos da regra monástica por que se regiam e
para discutir assuntos relevantes do seu quotidiano.
A porta de acesso a este espaço, com um grande arco ogival, encontra-se
ladeada de amplos janelões geminados, encimados por espelhos vazados.
Realce para a já referida abóbada, cuja novidade estrutural é bem
demonstrativa das capacidades de mestre Huguet. Pode inclusivamente
pensar-se que terá sido a novidade e o arrojo desta realização que terão
convencido o rei D. João I a entregar-lhe o projecto da Capela do Fundador.
No interior da casa do capítulo, em uma das mísulas dos ângulos, está
representada a figura de um mestre pedreiro: acocorado para melhor se
adaptar ao suporte e tendo nas mãos a régua identificadora da profissão, veste
única cintada e chapéu de turbante traçado com pano pendente, segundo
moda do século XV.
No muro nascente rasga-se uma grandiosa janela de três lumes e alta bandeira
preenchida por uma delicada composição flamejante. Os vitrais que a
preenchem, datados de 1514 e restaurados em grande parte, representam,
como num tríptico, três momentos da crucificação de Cristo.
As dimensões grandiosas desta casa do capítulo, associadas a uma penumbra
contida em que esta casa está sempre mergulhada, adensando-se a sua
grandeza e solenidade com o colorido dos vitrais e da temática neles exposta
terão sido razões suficientes para que fosse este o espaço escolhido para a
nação portuguesa homenagear os seus militares mortos em combate
trasladando para aqui, em 9 de abril de 1921, os restos mortais de dois
soldados desconhecidos da Grande Guerra, que aqui repousam, tendo bem
junto o lampadário monumental, onde arde permanentemente a “Chama da
Pátria”.
Capelas Imperfeitas
Por detrás da cabeceira da Igreja, no alinhamento da capela-mor, situa-se o
Panteão de D. Duarte, usualmente conhecido por Capelas Imperfeitas, no
sentido de inacabadas, estrutura-se segundo um desenvolvido octógono com a
entrada a eixo e sete capelas radiantes separadas por pequenos corpos
triangulares.
A construção desta capela, devida à iniciativa do rei D. Duarte, ter-se-á iniciado
por volta de 1434, quando decorria ainda o primeiro ano do seu reinado.
O arquiteto responsável foi Huguet que, na plena posse dos seus recursos
técnicos e artísticos, amadurecidos nos muitos anos `frente do estaleiro
batalhino, levou às últimas consequências, depurando-a, a proposta que,
apenas esboçada na ousada abóbada da casa do capítulo, sistematizara logo
de seguida na singular Capela do Fundador.
A morte do rei D. Duarte em 1437 e, no ano seguinte, a do próprio mestre
Huguet inviabilizaram a conclusão da nova capela funerária, a cuja construção
presidiu uma atitude coerente de afirmação pessoal e familiar por parte do rei
D. Duarte.
No reinado de D. Manuel, com vista à conclusão do panteão foi alterado o
projeto inicial, conferindo-se-lhe maior monumentalidade. É deste período o
sumptuoso portal, totalmente esculpido, concebido e executado sob a direção
de Mateus Fernandes, um dos grandes mestres manuelinos, tendo sido
concluído nos primeiros anos do século XVI. As sete capelas funerárias
também foram concluídas na época de D. Manuel e têm nas suas abóbadas
chaves esculpidas com escudos de armas e emblemas que identificam o seu
destinatário. Reinando já D. João III foi ainda levantada, sobre o portal, a
varanda renascença, datada 1533, com estrutura e decoração de raiz italiana,
atribuída a Miguel de Arruda que, seguramente, a concluiu.
Panteão duartino, só nos anos quarenta do século XX foi, por fim, aqui
depositado na capela axial, o túmulo duplo do rei D. Duarte e da rainha D.
Leonor, num reencontro talvez definitivo com a História.
Modelos
Do ponto de vista da disposição relativa das dependências conventuais, o
projeto inicial do Mosteiro da Batalha conforma-se ao que era habitual nos
mosteiros medievais, desde a mais remota tradição beneditina. Tal como tanto
outros mosteiros, em particular os que foram de patrocínio régio, foi sofrendo
ampliações, materializadas pela justaposição tanto de grandes capelas
funerárias como de novos claustros com as suas dependências periféricas. Os
panteões de D. João I e de seu filho D. Duarte foram as primeiras capelas
funerárias régias portuguesas a ser concebidas como edifícios autónomos.
Desde finais do século XIV até os primeiros anos do século XVI, o Mosteiro da
Batalha foi o maior e mais avançado estaleiro do País. Aqui se projetaram e
executaram as soluções arquitetónicas e construtivas mais arrojadas, a partir
da tradição existente, através da vinda de artistas e artífices de outros reinos
ou do génio de artistas nacionais. A Batalha foi, ao longo de mais de um século,
centro de receção e difusão de correntes artísticas, funcionando, do mesmo
modo que os estaleiros das catedrais europeias, como escola para os mais
diversos profissionais de arquitetura e construção.
Os primeiros edifícios, projetados e executados sob a direção de Mestre Afonso
Domingues, bebem na tradição gótica radiante consolidada em Portugal. O que
é excecional nestas obras é a sua escala e o facto de serem completamente
abobadadas. A espacialidade da igreja, que se adivinha na sua fachada
principal, com a nave central proeminente em relação às laterais, é, porém, a
das igrejas mendicantes que se conhecem em Portugal desde meados do
século XIII. Os arrojados sistemas de cobertura, por seu lado, refletem a
experiência amadurecida nos estaleiros do deambulatório da Sé de Lisboa e no
coro alto de S. Francisco de Santarém. Também o claustro, projetado e
parcialmente construído pelo mestre português, tem antecedentes nacionais,
nomeadamente no claustro da Sé do Porto. O portal do transepto encontra a
sua origem em vários portais góticos portugueses anteriores.
Na conclusão da igreja e do Claustro Real, a intervenção de Mestre Huguet foi
naturalmente condicionada pela preexistência: por um lado, os suportes já
construídos para as abóbadas não permitiram particulares inovações nestas;
por outro lado, parece ter existido, por parte do novo arquiteto, uma
preocupação com a uniformidade do edificado, como é bem visível nas novas
naves do claustro que construiu. Nestes edifícios, a inovação não ultrapassou a
mudança das formas das nervuras e chaves de abóbadas, e, no caso exclusivo
do claustro, das colunas dos pilares.
Apesar de tudo, a igreja ainda pôde oferecer oportunidades de reformulação do
que teria sido o projeto inicial. São certamente de Huguet os grandes janelões
laterais da capela-mor que vieram modificar completamente o que estava
consignado para a iluminação do coro das igrejas de tradição mendicante.
Seus são também os terraços e telhados de perfil baixo, os coroamentos
flamejantes de pináculos e platibandas, as bandeiras de um bom número de
janelas, e, por fim, mas não menos importante, o portal principal. Todas estas
obras acusam uma linguagem arquitetónica que é própria do gótico
internacional e que, portanto, apenas poderia resultar da vinda para a Batalha
de um mestre instruído no estrangeiro.
A pátria de Huguet não é conhecida através de qualquer referência explícita.
No entanto, os terraços e telhados de perfil baixo, que lembram os da Catedral
de Palma de Maiorca, a semelhança do portal com o do projeto de Mestre Carlí
para a Catedral de Barcelona ou das suas esculturas com as do portal de
Santa Maria de Ampúrias, bem como as abóbadas estreladas que aparecerão
na Capela do Fundador, na casa capitular e a que estava prevista para as
Capelas Imperfeitas remetem para um horizonte geográfico que é o da antiga
Coroa de Aragão, coincidente, em parte, com a Catalunha, mas que se
estendia até ao Reino de Nápoles, passando pelas Ilhas Baleares. No portal
estão patentes, é certo, fontes mais antigas, nomeadamente vários portais
trecentistas da Normandia. No entanto, a chegada tardia dos respetivos
modelos a Portugal só pode ser explicada pelo longo caminho que até aqui
tiveram que fazer. Em todo o caso, o portal da Batalha ficou como uma
exceção no panorama da arquitetura nacional.
A inovação de Huguet não se limitou ao que lhe foi dado concluir na igreja. Na
verdade, teve ocasião de projetar e acompanhar a construção da capela
funerária de D. João I, mais conhecida pela designação de Capela do
Fundador, onde fez prova, da maneira mais clara e eloquente, do domínio de
todos os recursos de uma arquitetura até então desconhecida em Portugal:
abóbadas de traçado complexo e perfil baixo, cobrindo amplos espaços;
suportes adelgaçados e de traçado mais desenvolvido; amplas janelas com
seus complicados preenchimentos, que iluminam o interior generosamente. A
Capela do Fundador parece corresponder à reinterpretação de uma velha
tradição de edifícios funerários de planta centrada que será retomada no
projeto do panteão de D. Duarte (Capelas Imperfeitas) e inaugurará uma série
de panteões congéneres na Península Ibérica, de que são exemplo a Capela
do Condestável, na Catedral de Burgos, e a Capela de D. Álvaro de Luna, na
Catedral de Toledo.
Concebido por mestre Huguet, a sua riqueza iconográfica só tem paralelo com
programas idênticos das grandes catedrais góticas europeias: nas ombreiras
os Apóstolos conduzem a Cristo, rodeado dos 4 Evangelistas, enquanto nas
arquivoltas se dispõem virgens, mártires, papas, bispos, reis de Judá, profetas,
anjos músicos, segundo uma prefiguração da hierarquia celestial.
Igreja ou Capela-Mor
Sala do Capítulo
Capela do Fundador
Pensada por D. João I para panteão da sua linhagem, foi construída por
Huguet a partir de 1426. A planta quadrada dá lugar, ao centro, um octógono
que se eleva a grande altura, constituindo um dossel ou baldaquino glorificador
do túmulo conjugal de D. João I e D. Filipa de Lencastre. É, por várias razões,
um dos espaços mágicos da arquitectura portuguesa.
Pensadas por D. Duarte para panteão da sua família foram começadas por
Huguet, que desenhou uma grande rotunda de oito lados, com sete capelas. A
morte prematura do rei e, de seguida, do próprio arquitecto, para além de
outras vicissitudes impediu que a obra se concluísse. Numa das capelas
repousam, desde os princípios do século XX, os restos mortais do rei D. Duarte
e da sua mulher.
Mosteiro da Batalha (Autor: Georges Jansoone)
Adoçada ao refeitório com a qual tinha ligações foi este espaço profundamente
modificado observando-se, apenas, relacionado com a sua primitiva função
vestígios da grandiosa chaminé e algumas coberturas onde se recolhiam
utensílios e condimentos. Hoje, neste espaço, funciona a loja de vendas do
IGESPAR.
Dormitório primitivo dos frades, é uma vasta sala coberta de berço quebrado,
ritmada por poderosos arcos torais que lhe acentuam o ar grave. A designação
de Adega dos Frades explica-se por ser a última utilização que aquele espaço
teve enquanto casa dominicana.
Claustro D. Afonso V
Construído no reinado de D. Afonso V, sob a direcção do mestre Fernão Évora,
é o primeiro claustro a ser erguido em dois andares. Destinado à vida diária
dos frades dominicanos, a sua simplicidade ainda hoje permite aos visitantes
atentos apreenderem algum do misticismo que emana destes espaços
cluastrais.
Claustro de D. João I
Grande parte deste espaço foi ocupado até meados do século XIX como o
Claustro de D. João III, incendiado aquando das Invasões Francesas.
A meio deste largo pode ser apreciada uma lápide onde estão reproduzidas
várias siglas de canteiros e que assinala onde esteve construída a Igreja de
Santa Maria-a-Velha, o primeiro tempo que serviu para que os construtores do
Mosteiro pudessem participar nos actos litúrgicos.