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INTRODUÇÃO

• O mosteiro de São Lourenço de Carvoeiro (em


galego: mosteiro de San Lourenzo de
Carboeiro; em espanhol: monasterio de San
Lorenzo de Carboeiro) é uma das obras
arquitetónicas de estilo românico serôdio, de
transição ao gótico, mais notáveis de Galiza.

Mosteiro de São Lourenço

• Trata-se de um mosteiro beneditino fundado


no século X e que viveu os seus momentos de
maior esplendor entre os séculos XI e XIII do
que se conserva em muito bom estado a igreja
e alguns dos departamentos monacais, graças
aos trabalhos de restauração e recuperação
realizados a partir da segunda metade do
século XX.
Localização

• Localiza-se na paróquia de Santa Maria de Carvoeiro,


pertencente ao concelho de Silleda, na comarca de Deza,
no seu limite norte com o concelho de Vila de Cruces.
• Situa-se à beira do rio Deza perto da sua desembocadura
no caudaloso Ulla (que faz fronteira natural da comarca
com a Terra de Santiago), aproveitando um meandro do
próprio rio e ao abrigo do Couto Costoia, numa paragem de
uma natureza abrupta, no território que passou a chamar-
se Trasdeza (mais além do Deza, segundo os cartógrafos da
diocese de Lugo), e perto de onde recebe as águas do seu
afluente o rio Toxa que se une abruptamente salvando um
considerável desnível formando as cataratas do Toxa, uma
das mais famosas de Galiza.
HISTÓRIA


• O nome do mosteiro deve-se a atividade carvoeira
proveniente do aproveitamento da densa vegetação
florestal da zona para a fabricação de carvão vegetal.
• Deste jeito nos textos mais primitivos aparece
mencionado como Carbonário (1131) e em textos mais
modernos como Karuonario (958), Carbonero (1311),
Carbonieyra (1320), Carguero (o Pai Yepes), Garguero,
Cargueiro ou Gargueiro. Uma denominação curiosa é a
que se faz do lugar como Algalí no diploma de
restauração da abadia feita no ano 999 pelo rei
Bermudo II.

• Noutros dois documentos, um do ano 1095 e o
outro do século XII, menciona-se o lugar como
retorta. Por último em numerosos documentos
fala-se do lugar ao abrigo do Monte Custodia, o
atual Couto Costoia, do que possivelmente
proviam a pedra utilizada para a sua construção.
• O conhecido como Caminho dos carvoeiros partia
do mosteiro para o mosteiro de Santa Maria de
Aciveiro e à Terra de Montes. O que parece fora
de toda dúvida é que por Carbonário eram
conhecidas estas florestas de densa vegetação
pegadas ao Deza.
FONTES


• Os dados que se conhecem sobre o mosteiro devem-se
fundamentalmente a três fontes:
• A obra do Pai Antonio de Yepes (1554 - 1618), cronista
da ordem beneditina e que visitou o Carvoeiro no ano
1600.
• A obra do cónego Antonio López Ferreiro, que na sua
obra O niño das pombas pôs como cenário o mosteiro.
• A obra do catedrático Manuel Lucas Álvarez, que
publicou mais de trezentos documentos da coleção
diplomática da comunidade.
FUNDAÇÃO E O PERÍODO DE
ESPLENDOR
EDIFÍCIOS MONACAIS.

• Graças ao Pai Yepes que no final do século XVI viu


o documento fundacional do mosteiro no arquivo
do mosteiro de São Martinho Pinário que
dispomos na atualidade dos dados sobre a
fundação.
• Não existe acordo entre os historiadores na data
de nascimento da abadia. A sua gestação
começaria nos primeiros vinte anos do século X, e
possivelmente para ao ano 936, data do
documento fundacional que marcaria a data
oficial da fundação,
• já existia uma pequena comunidade que seria a mesma
que se encarregaria da construção do edifício, no
mesmo lugar onde se erguia uma antiga ermida
dedicada a São Lourenço, propriedade de uma tal Egica
a que lhe compraram os fundadores do mosteiro, os
condes Dom Gonzalo e Dona Tareixa, segundo consta a
escritura da fundação do mosteiro, nas verbas do Pai
Yepes. Gonzalo Betote, filho de Afonso Betote, Conde
de Deza, e sua esposa Tareixa Eiriz, filha dos condes de
Lugo, sobrinha do bispo da diocese Dom Ero e tia do
bispo Rosendo de Celanova, pertenciam a uma das
linhagens mais poderosas daqueles tempos.
• Pouco tempo antes os condes fundaram a
igreja de São Salvador de Camanzo na outra
beira do rio Deza.
• Apesar de que bem cedo começaria a receber
doações e comprar terras as escrituras de
fundação datam do ano 926 e já se levava
trabalhado na fundação. A morte do Conde
Dom Gonzalo contribuiu a que se demorassem
as obras. O conde morreu no ano 927 e foi
enterrado no Mosteiro de Camanzo.
CAPITEL DE MOTIVOS VEGETAIS.

• Finalizada a obra elegeu-se ao abade Félix e consagrou-se o templo


com a presença do bispo Hero de Lugo e de Rosendo de Celanova,
parente da condessa. A mesma condessa dirigiu-se logo a corte de
Leão, para pedir a Ramiro I que tomasse sob sua proteção o
mosteiro, o qual aceitou ficando desde então sob jurisdição real.
• Desde o final dos anos 60 do século X até o ano 999 não se teve
notícias do mosteiro. Neste ano o rei Bermudo II assinou um
documento ordenando a restauração do mosteiro, já que segundo o
próprio texto havia caído em mãos de dois monges enfrentados,
descendentes dos fundadores: Afonso Bermúdez e Arias Pelágiz,
futuro bispo de Mondoñedo. A destruição da casa também
poderiam ter ajudado a invasão normanda de Gunderedo no ano
968 e a incursão de Almançor.[1]
• O abade Trasuario foi o encarregado de levar a
cabo a ordem real de reconstruir o cenóbio. A
este abade seguiram-lhe Tanitus, do que temos
notícias no ano 1062 e o abade Munio com quem
daria início a etapa de maior esplendor da
comunidade.
• Viveu esta etapa de maior esplendor entre os
séculos XI a XIII, passando os dois séculos
seguintes a ser objeto da cobiça das casas
nobiliárias galegas, que se traduziu num
progressivo recorte da sua autonomia. Durante
estes anos, o seu património económico
aumentou consideravelmente, destacando o
domínio de extensas plantações em Ribeiro.
• No ano 1075 dirigiu-se à comunidade o abade
Ranemiro ao que lhe seguiu o abade Afonso
(1084 - 1115) que adquire o vizinho Couto de
Pastoriza através de permuta com o conde
Raimundo de Borgonha e sua esposa Dona
Urraca, em documento subscrito no ano 1096. A
este abade seguem-lhe os abades Xoán e Martín.
• No ano 1131 faz-se cargo da comunidade o abade
Froila. Durante o seu mandato a comunidade não
para de incrementar o seu património, como a
compra do Couto de Merza a Afonso VII no ano
1144. Também ordenou realizar obras de
ampliação e melhora da residência monacal.
Desconhece-se a data de início das obras, mas
sabe-se que já concluíram no verão de 1148.
• Quando morreu Froila ficava por ampliar a velha igreja
monacal, e foi isto o que se propôs o seu sucessor o
singular abade Fernando, quiçá procedente das terras do
mosteiro no Avia e que apareceu no cargo em 1162 e o
ocupou até o ano de 1192. Provavelmente nessas datas a
comunidade já estava incorporada à reforma de Cluny.
Nesse último terço de século estavam a construir um
tempo quase meia centena de igrejas na comarca, o que fez
com que chegasse até nossos dias um bom conjunto de
arquitetura românica do último terço do século XII.
• O abade Pedro Froilaz sucedeu Fernando e continuou os
trabalhos de remate da obra. Durante o seu mandato pode
ser que se executaram as pinturas murais do teto e as
paredes da capela à esquerda do altar maior, ainda
perceptíveis na atualidade e das que Antonio López
Ferreiro, que as chegou a ver, disse delas:
• porque esta igreja merecia que todos os
galegos a olhassem como a menina dos seus
olhos.
• À cabeça da comunidade sucederam-se os
abades Osorio, Xoán e Xoán de Deus sob cujos
mandatos a abadia seguiu a incrementar sua
fazenda, e este mesmo aumento do seu
património foi o que levou à comunidade a
começar a arrendar suas posses a diversas
pessoas.

• No final do século XIII começam a escassear as notícias de interesse
sobre o mosteiro. Com a mudança de século a importância e
atração que estava a adquirir o vizinho mosteiro de Santa Maria de
Aciveiro minguou de jeito considerável a tradicional influência do
Carvoeiro na comarca.
• Durante o século XIV o cenóbio seguiu a incrementar o seu
património. Ao mesmo tempo incrementou-se também os pleitos
com os servos que imcumpriam o pactuado nos arrendamentos e a
pressão dos cavaleiros e a emergente nobreza galega aumenta de
tal jeito que esta comunidade, como muitas outras de Galiza
naqueles tempos, acode continuamente na procura do amparo real
contra os abusos dos que eram objeto. Mas a autoridade real foi-se
afastando cada vez mais de Galiza e o seu poder coercitivo
debilitou-se produzindo um contínuo aumento dos abusos
impunes, chegando-se a uma situação de total assunção da
autoridade por parte de alguns autores chamados "Condes Tolos"
do século XV.
DOAÇÕES

• Com a proteção real e condal a comunidade desfrutou de grande


prosperidade durante a primeira metade do século, e a proteção
condal prosseguiu com os descendentes dos fundadores, de jeito
que a filha dos condes Aragonta, segunda esposa do rei Ordonho II
conseguiu a devolução de terras do Salnés que tinham sido
arrebatadas ao mosteiro por parte dos habitantes locais e nas que
estabeleceram salinas.
• Pouco tempo depois, sob o reinado de Bermudo II o mosteiro
esteve a ponto de desaparecer sendo determinante o apoio
externo que recebeu o mosteiro para a sua subsistência. Desde esse
instante e durante vários séculos o mosteiro ostentou grande poder
económico e sucederam-se as doações reais e de particulares ao
seu favor; os reis Afonso VII, no ano 1144, Fernando II, no 1159,
Afonso IX e Fernando III o Santo deixaram documentos dos
privilégios outorgados a esta comunidade.
CONCLUSÃO

• Portanto, com as reformas das ordens religiosas
promovidas pelos Reis Católicos junto ao papa Inocêncio
VIII Carvoeiro passou, no ano 1500, a se converter num
priorato (anexo) dependente do Mosteiro de São Martinho
Pinário e logo numa simples granja com dois monges
residentes e no final do século XVIII serviu como cárcere de
freiras. Deste jeito todos os seus bens passaram ao
património do mosteiro compostelano, além de perder o
título de abadia. A lei de desamortização de Juan Álvarez
Mendizábal supôs o abandono no ano 1836 das instalações
e o início de sua ruína. Na segunda metade do século XX
começaram as obras da sua restauração e recuperação,
obras que ainda continuam hoje em dia (2009).

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