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FACULDADE DE LETRAS
REFLEXÃO
FORTALEZA-CEARÁ
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Resumo
Abstract
It is treated in this article on the relationship " Patrimony, Tourist Leisure and Development",
in that they are told the resulting benefits of the tourist activities in some historical cities,
mainly, the localidades/communicates considered cultural patrimony of Brazil. The area of
Cariri belongs one to them, which stands out in the Northeastern and Brazilian scenery for a
diversity of elements which do of this singular area. In this area the culture stands out it is at
the popular parties, in the craft, in the music in the literature and in the rich historical
patrimony. Especially, this study has as objective to do a reflexive and critical analysis
regarding the importance of the social movements of the local history and, in matter, of the
messianic movement, the Large kettle of Santa Cruz of the Desert, a community collectivist
that one of the most important social movements of the century was considered XX. Those
important investigations are based in Barros' conceptions (1988), Farias (1997 and 2004),
Girão (1985), Macedo (1986), Maia (1992), Ramos (2000), Rego (2005), among others
studios. The methodological procedure was characterized by a literature revision to the light
of the mentioned referenciais.
2. Desenvolvimento
Entende-se, portanto, segundo Ferreira (2008, p. 212), por Cultura “[...] O complexo dos
padrões de comportamento, das crenças, das instituições,, das manifestações artísticas,
intelectuais, etc., transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade”.
Já, a palavra patrimônio, segundo Martins (2006), designa um bem destinado ao
usufruto de uma comunidade, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de
objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas artes e das
artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos. Em
uma sociedade mutante, constantemente transformada pela mobilidade, a noção de patrimônio
remete a uma instituição e uma mentalidade.
A institucionalização do patrimônio nasceu no final do século XVIII, com a visão
moderna de história e de cidade. Assim, para Martins (2006, p. 138), “[...] Patrimônio são o
conjunto de bens pertencentes a pessoas jurídicas de direito público (União, Distrito Federal,
Estados-Membros, Municípios, autarquias e fundações)”. Como bens que estejam destinados
à prestação de serviços públicos, equiparando-se a estes o conjunto de bens formadores do
patrimônio das pessoas jurídicas de direito privado (empresas públicas e sociedades de
economia mista) criadas pelas entidades estatais, quando prestadoras de serviços públicos.
Ao definir Patrimônio Público, ou melhor, dizer, Bens Públicos, pode-se conceituar,
conforme Mello (2007), como:
Todos os bens que pertencem às pessoas jurídicas de Direito Público, isto é, União,
Estados, Distrito Federal, Municípios, respectivas autarquias e fundações de Direito
Público, bem como os que, embora não pertencentes a tais pessoas, estejam afetados
à prestação de um serviço público (MELLO, 2007, p. 779).
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, tanto daqueles que o praticam como daqueles que
o acolhem.
Portanto, uma vez entendida as características dos termos, cultura e patrimônio, é
possível compreender e agir sobre as principais questões que envolvem o seu
desenvolvimento na região e no município.
Nesse sentido, podemos visualizar os múltiplos aspectos do lazer turístico ligados ao
patrimônio público, como por exemplo, a comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do deserto,
considerado hoje, um espaço voltado ao turismo e com um patrimônio material e cultural com
enorme possibilidade de desenvolvimento local.
2.2 Caldeirão da Santa Cruz do Deserto: uma região histórica com perspectivas para o
turismo cultural e desenvolvimento local
Pelo menos até a data de 1920, José Lourenço pertenceu a Ordem dos Penitentes,
uma seita secreta bastante conhecida em todo o Nordeste, organizada pelos
missionários quando faziam pregações pelos sertões do século XIX. Tal ordem
comumentemente realizava reuniões nas ruas, tarde da noite, reunindo inúmeros
adeptos, os quais cobriam os rostos com capuzes para não serem identificados.
Delas as mulheres não podiam fazer parte, nem sequer olhar a passagem das
procissões, aonde os penitentes cantavam e recitavam orações até chegarem a
algum cemitério abandonado, local escolhido para autoflagelarem-se com laminas
cortantes presas a um chicote; tudo no intuito de obter o perdão divino para seus
pecados. (FARIAS, 1997, p. 202).
A partir daí fica conhecido como Beato Zé Lourenço, dando início a sua vida de Beato,
ou seja, passa a ser uma pessoa dedicada à religião, a Deus e mantendo-se casto.
Figura 1 - O Secretário Isaías e o Beato José Lourenço
Provavelmente em 1894, por conselho de Pe. Cícero, José Lourenço, sua família e
alguns romeiros arrendaram um lote de terra no Sítio Baixa Dantas, de propriedade de um
coronel chamado João de Brito, localizado no município do Crato. Conforme Ramos (1991),
muito caridoso, Lourenço permite que outros romeiros venham morar no Sítio. Sua casa
começa a ficar rodeada por outras moradias construídas e habitadas por camponeses humildes.
Ali os sertanejos encontram terras para o trabalho e condições dignas de vida. Surgia, dessa
maneira, uma rústica comunidade.
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O beato ficou na prisão por 18 dias, sem comer quase nada, até quando Pe. Cícero foi
libertá-lo, mandando-o de volta ao Sítio Baixa Dantas.
Em tal episódio, Padre Cícero nada fez para evitar as humilhações de seu seguidor.
Foi mais uma concessão feita pelo astuto religioso perante o poder político,
demonstrando que Juazeiro não era um reduto de fanáticos, nada acontecendo ali de
condenável ou herético. (FARIAS, 1997, p. 203).
Entretanto, especula Barros (1988, p. 301), “[...] uma atuação sua aumentaria com
certeza as repercussões e o preconceito”. O silêncio não poderia ser entendido como uma
forma de proteger a comunidade contra uma sindicância externa mais profunda? Padre Cícero
possuía pleno conhecimento de todo passado do Beato e de que no Sítio Baixa Dantas, como
depois no Caldeirão, tinha-se uma sociedade diferente, igualitária, coletiva e cooperativista,
muito semelhante a Canudos que havia sido destruído.
Segundo Farias (1997), em 1926, pouco tempo antes da morte de Floro Bartolomeu,
João de Brito decidiu vender o Sítio Baixa Dantas. O novo proprietário exigiu de imediato
que Lourenço e a comunidade deixassem as terras. Dessa maneira, dali o Beato humildemente
se retirou, sem nenhuma indenização ou compensação pelas mais de duas décadas de trabalho
e melhorias que transformaram aquela área em uma das mais prósperas da região.
Desta feita, foi o Beato pedir ajuda ao Padre Cícero, que prontamente, ainda no ano de
1926, resolveu alojar o Beato e seus seguidores em uma grande fazenda de sua propriedade,
denominada: Caldeirão dos Jesuítas. Situada no município do Crato, nas encostas da Chapada
do Araripe, com uma área de cerca de 880 hectares, possuía tal nome devido à existência no
local de uma depressão natural de pedra (com mais ou menos 2 metros de profundidade)
capaz de acumular água (era também alimentada por um pequeno riacho) e do fato, segundo a
tradição popular, de ter servido de esconderijo para dois jesuítas fugitivos das perseguições
movidas pelo ministro português Marquês de Pombal no século XVIII.
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Um dos primeiros trabalhos a ser realizado foi a construção da casa do Beato, que
ficou conhecida como a “Casa Grande”, por ser bem que as habitações construídas
posteriormente. Essa casa foi construída com tijolo e coberta com telha. As outras
moradias que foram surgindo eram feitas, em geral, de taipa e cobertas com palha
ou telha. O piso era de barro batido. (RAMOS, 1991, p. 93).
poderosos quando vêem o povo unir-se e organizar-se. A Igreja, os coronéis e o Estado, então
assim como em Canudos, uniram-se e destruíram covardemente o Caldeirão.
Voltando aos pensamentos dos referidos autores, na visão de Laureno (2005), podemos
refletir sobre a citação:
O beato cada vez mais conseguia o respeito e a admiração de todos que viviam na
comunidade, tinha o hábito de dirigir novenas e ladainhas. Porém essa vida da
comunidade de rezas e tranqüilidade logo estaria sendo ameaçada por poderosos
interesses de “botas”, os “coronéis". (LAURENO, 2005, p. 22).
As pessoas que moravam no Caldeirão passaram dias sendo tratados como animais,
estavam famintos, pois quase não eram alimentadas, mulheres grávidas, crianças e velhos
eram amontoados como se fossem bichos. O cinismo das autoridades cearenses era
impressionante, chegando ao ponto de propor aos camponeses que fossem embora para sua
terra natal e deixassem para traz tudo o que construíram durante todos os anos que viveram na
comunidade, mas os mesmos se recusaram. Foi então tomada uma decisão: o Caldeirão
deveria ser destruído.
Então após alguns dias de reclusão no sítio, o Capitão Cordeiro Neto, resolveu destruir
toda a estrutura do Caldeirão. A polícia saqueou e incendiou toda a comunidade às vistas dos
olhos tristes dos pobres sertanejos que assistiam incrédulos todos os seus sonhos virarem
cinzas. É nesse contexto triste que podemos refletir com a fala de Laureno (2005, p. 26)
O Caldeirão foi destruído por militares sob um comando nojento de pessoas que não
estavam ali só seguindo ordens, eram pessoas com o espírito mau que via naquelas pessoas
inocentes uma ameaça que na verdade não era verdadeira estavam revoltados por aquele povo
ter conseguido sucesso econômico num período onde o mundo inteiro passava por uma
grande crise financeira.
Contudo, a comunidade que foi organizada na serra do Araripe ficou dividida em duas
alas, algumas pessoas revoltadas com a violência que sofreram no sítio Caldeirão e
influenciadas por Severino Tavares, que era uma espécie de profeta radical, foram contra as
idéias pacifistas do beato Lourenço, que era avesso à violência, organizaram-se, segundo
Farias (1997), como o objetivo de preparar uma armadilha para a polícia.
E dessa forma aconteceu, na tal emboscada morreram o Capitão José Bezerra e os dois
filhos dele. A ação foi um estopim para que a população juntamente com o governo e toda a
força militar pusessem para sempre um fim aos sonhos daquelas pessoas.
Centenas de mortos, alguns acreditam que em torno de mil vidas humanas que se
acabaram, bombardeios aéreos do Ministério da Guerra, incêndios e destruição de
casas, espaçamentos de crianças, mulheres e velhos, enfim, uma verdadeira
aniquilação de trabalhadores rurais que só tinham um sonho: trabalhar, viver em
paz uns com os outros e com Deus. (FARIAS, 1997, p. 208).
Nos relatos que se seguem observa-se, o que houve foi um grande genocídio em volta do
interesse em comum dos coronéis, do Estado e da Igreja, que se sentiram ameaçados de seus
poderes de manipulação do povo.
Após várias tentativas o governo juntamente com a ignorância do povo conseguiu
destruir a paz e o sonho daquelas pessoas. Quanto ao beato José Lourenço, morreu aos 74
anos e mesmo com vários pedidos do povo para que se rezasse ou fosse celebrada uma missa
em sua homenagem, os padres da região negaram-se com a desculpa de que não celebravam
missa para bandidos.
Finalizando, cabe destacar que o beato e seus seguidores eram pessoas de fé, sendo este
muito respeitado em todo Estado por aqueles que nele acreditavam. Embora, fosse analfabeto,
conseguiu com sua simplicidade e espírito de líder, o respeito e a admiração daquelas pobres
almas que um dia fizeram parte daquela comunidade que um dia conseguiu mexer com a
estrutura e o poder nesse país.
Atualmente, 47 famílias revivem o sonho coletivo de produção idealizado por José
Lourenço, num sítio denominado Assentamento 10 de Abril, a 37 km do centro do Crato. No
local encontram-se 47 casas, sendo que 44 de alvenaria e uma escola, porém sem ostentar a
grandeza atingida pelo então Caldeirão do beato José Lourenço.
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Considerações finais
Considerando os objetivos que envolveram este estudo, percebe-se que inúmeras são as
possibilidades para o desenvolvimento de diferentes experiências turísticas.
O turismo tem um altíssimo potencial econômico, social, cultural e ambiental, esses
itens são elementos extremamente ligados ao turismo, pois estabelecem reciprocidade entre
os elementos. O turismo é, principalmente, grande gerador de receita, é social por gerar
grande número de postos de trabalho direto e indireto, cultural porque preservam a identidade
do lugar, como monumentos históricos, e ambientais por aliar renda e preservação.
Portanto, são várias as causas que podem motivar o indivíduo a realizar uma viagem de
turismo, sendo importante ressaltar que as viagens são motivadas, na maior parte das vezes,
pela fé dos peregrinos, pelo passeio, pelos negócios e compras, entre outros, aliando
patrimônio, lazer turístico e desenvolvimento.
Referências
BARROS, José Góes de Campos. A ordem dos penitentes. Fortaleza: Imprensa Oficial,
1937.
FARIAS, Aírton de. História do Ceará: dos índios à geração Cambeba. Fortaleza: Tropical,
1997.
LAURENO, Dina Karla. (Org.) Caldeirão: realidade ou utopia? Fortaleza: UVA, 2005.
LE GOFF. Jacques. História e memória. 5. ed. Campinas, São Paulo: Unicamp, 2003.
MACEDO, Nertam. Floro Bartolomeu: o caudilho dos beatos cangaceiros. Rio de Janeiro:
Editora Renes, 1986.
MARTINS, Fernando Rodrigues. Controle do Patrimônio Público. 2. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006.
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito administrativo. 22. ed. São Paulo:
Malheiros, 2007.
MENEZES, Eduardo Diathay de. Roger Bastide e a historia dos movimentos populares no
Brasil: o caso do Caldeirão. Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, nº 1/2, p. 35-36, Edições
UFC, jan/fev, 1986.
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