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Patrimônio Cultural: O estabelecimento da memória para a história

nacional.
Ana Fernanda Barbosa dos Santos; Giovana Glanzmann Ferreira; Janaína Ávila Garcia; Raquel
Lopes Batista. 1

RESUMO
Os movimentos sociais que ocorreram no final do século XIX, fizeram com que a sociedade brasileira
transitasse por significativas mudanças, tanto na forma de produção quanto na de moradia. Na província
de São Paulo, o processo não foi diferente, especialmente durante o período em que João Theodoro Xavier
de Matos administrou a região (1872-1875). O gestor dedicou-se ao planejamento urbano, impulsionando
os grandes ricos cafeicultores a construírem casas na área urbana e chácaras localizadas próximas ao
centro para lazer da família. O artigo busca compreender a história da Região Central paulistana,
evidenciando pontos compreensíveis e realçando a antiga propriedade Chácara Lane. Através de uma
pesquisa qualitativa, de caráter descritivo e embasamento teórico em referenciais bibliográficos,
procedeu-se à observação de como se originou a construção da residência, sua influência social e
econômica, conformidades e não conformidades da arquitetura, e sua importância para a oferta turística
local. Desta forma, o estudo sobre o espaço cultural também visibiliza a conceituação do Turismo
Inclusivo, enfatizando não haver necessidade de assimilar e colocar como requisito valores altos para
visitar um local que contribui com a história de um bairro, estado ou país. Neste contexto, a Chácara Lane
está interligada à memória da cidade, ou seja, um local que contribui para a construção de uma
determinada imagem de São Paulo, de sua história original e de suas ligações com a história nacional.
Conclui-se que o atrativo proporciona uma viagem no tempo e um pouco de ar puro em meio aos edifícios
na tão conhecida, Rua da Consolação.

PALAVRAS-CHAVE: patrimônio cultural, Chácara Lane, história nacional, turismo inclusivo, São Paulo.

1
ana.santos290@fatec.sp.gov.br(FATEC-SP);giovana.ferreira3@fatec.sp.gov.br(FATEC-SP);
janaina.garcia01@fatec.sp.gov.br(FATEC-SP); raquel.batista2@fateec.sp.gov.br(FATEC-SP)
INTRODUÇÃO

Comumente, quando se pensa em patrimônio, a tendência é associá-lo meramente ao


patrimônio material, ligado à herança. Entretanto, de acordo com a Constituição Federal de 1998,
em seu Artigo 216, o patrimônio trata-se de dimensões materiais e imateriais que abarca tanto os
sítios arqueológicos, obras arquitetônicas, urbanísticas e artísticas – bens de natureza material –,
quanto celebrações e saberes da cultura popular, as festas, a religiosidade, a musicalidade e as
danças, as comidas e bebidas, as artes e artesanatos, mitologias e narrativas, as línguas, a
literatura oral – manifestações de natureza imaterial. Contudo, também refere-se, à imagem viva
de tempos passados ou presentes, que resultam em ícones conjuntos da memória sejam elas
coletivas ou individuais. O patrimônio pode fornecer informações significativas no que se refere
a história de um país, em concepções de tempo, perspectiva teórica e metodológica, além dos
sentidos apolíticos, elaborados em meio às lembranças e esquecimentos pelos indivíduos.

O artigo2 propõe uma análise teórica tendo como base os textos do sociólogo John Urry
(1946–2016), a respeito do olhar do turista sobre paisagens e lugares que vem mudando conforme
as características socioculturais de cada momento histórico. Desse modo, devido à idiossincrasia
do assunto e complexidade da evolução da história, fez-se necessário realizar um estudo com
recorte temático e bibliográfico, levando à elaboração de um conjunto de dados por diferentes
pesquisas direcionadas para o desenvolvimento do patrimônio cultural Chácara Lane, atual
conjunto de casas históricas do Museu da Cidade de São Paulo. Com fundamento da revisão
bibliográfica, ao nível nacional, foi realizado um estudo dos documentos que expõe informações
suficientes sobre as diferentes visões a respeito dos patrimônios, com a finalidade de esclarecer as
ideologias sobre o patrimônio e espaço cultural em questão.

2
O presente artigo foi elaborado através da matéria de Projeto Integrador I (PI I) do curso de Gestão de Turismo, da
Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC-SP), ministrado pelo Docente Luís Augusto Severo Soares, no ano
de 2021. O intuito do PI I foi buscar e pesquisar um futuro atrativo turístico na cidade de São Paulo.
O panorama debatido neste artigo, induz o entendimento de como o processo de
preservação do patrimônio cultural é importante para manter a integridade dos seus valores pela
própria nação, exercendo assim, o direito à cidadania. À vista disso, promove-se uma observação
sobre a necessidade de um Turismo Inclusivo e Cultural, destacando que, para visitar um local
que contribui com a história de um bairro, estado ou país, não se faz necessário a colocação de
valores altos, ou seja, por oferecer a entrada gratuita, o local contribui para o acesso à cultura nas
diferentes classes sociais.

O estudo gera debate sobre o patrimônio cultural no Brasil, em que procura-se entender
as ideias sobre a preservação da memória e uma análise do atrativo localizado na Rua da
Consolação.

METODOLOGIA

O presente artigo é resultado de uma pesquisa a respeito do eixo Patrimonial Cultural


Nacional, evidenciando pontos compreensíveis sobre a história da Região Central paulistana e
realçando a antiga Chácara Lane, com a finalidade de esboçar a importância da preservação da
memória para a história de uma nação. Através de uma pesquisa qualitativa, de caráter descritivo
e embasamento teórico em referenciais bibliográficos, obteve-se a informação de como o
Turismo Cultural está integrado diretamente com as perspectivas sociais.

À vista disso, procedeu-se à observação de como se originou a construção da residência,


sua influência social e econômica, conformidades e não conformidades da arquitetura, e sua
importância para a oferta turística local.

Segundo a Lei Geral do Turismo n.º 11.771/08, Seção II, Art 6.º do Plano Nacional do
Turismo (PNT), elaborado pelo Ministério do Turismo, diz que:
V- a incorporação de segmentos especiais de demanda ao mercado interno, em especial
os idosos, os jovens e as pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida,
pelo incentivo a programas de descontos e facilitação de deslocamentos, hospedagem e
fruição dos produtos turísticos em geral e campanhas institucionais de promoção.
(BRASIL, 2008, Art 6, Seção II, Parágrafo V)

Tomando como base os textos do sociólogo John Urry a respeito do olhar do turista
sobre a ruptura do cotidiano:

...O olhar do turista, em qualquer período histórico, é construído em relacionamento com


o seu oposto, com formas não-turísticas de experiência e de consciência social: o que faz
com que um determinado olhar do turista depende daquilo com que ele contrasta; quais
são as formas de experiência não-turística. (URRY, 2001, pg. 16)

Nesse espírito, o estudo sobre o Patrimônio Cultural Nacional Chácara Lane também
visibiliza a conceituação do Turismo Inclusivo, enfatizando não haver necessidade de assimilar e
colocar como requisito valores altos para visitar um local que contribui para a construção de uma
determinada imagem da cidade de São Paulo, de sua história regional e de suas ligações com a
história nacional.

REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico da presente pesquisa foi estruturado em três tópicos: a questão da


preservação patrimonial no Brasil; a valorização recente da memória do patrimônio histórico
cultural Chácara Lane; a evidenciação da Lei de Incentivo à Cultura.

1. A QUESTÃO DA PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL NO BRASIL

No Brasil, a aparição do processo de preservação do patrimônio cultural se deu na


primeira década do século XX. O processo de constituição da identidade nacional ganhou
impulso através da síntese proposta por Mário de Andrade (1893-1945), que deu origem ao
Decreto-Lei n.º 25 de 30 de novembro de 1937, responsável por presidir o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional - SPHAN.
A criação desse serviço (atual IPHAN), em 1937, reflete nos esforços para se constituir a
identidade brasileira, nomeando um acervo que representasse a chamada brasilidade, que pode
ser uma coesão social que assimile a existência de um Estado com relação administrativa com
todo o território nacional.

Nesse cenário, o conceito de patrimônio cultural e a decisão sobre o que deve ser
preservado é discutido no Brasil desde o Decreto de Lei nº 25/1937. O Art. 1.º da lei apresenta a
definição de patrimônio histórico e patrimônio cultural como:

Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e


imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. (BRASIL, 1937, Art. 1)

O vocábulo patrimônio, tradicionalmente, possui a significação de herança paterna, o


pecúlio. Os bens, à terra, os objetos são passados entre as gerações, de forma que não possam ser
perdidos, aniquilados ou destruídos. Ao comparar a ideia de patrimônio associada à herança
familiar com os atuais conceitos sobre patrimônio cultural, inferimos que é uma ideia que tem se
modificado ao longo dos anos, através de influências de contextos históricos específicos e do
entendimento sobre a produção cultural que abarca as dimensões materiais e imateriais das
manifestações culturais. Trata-se de um tema de interesse do poder público, nas suas esferas
institucionais de preservação, mas constitui matéria de debate em instituições privadas, em meios
acadêmicos, na mídia e nas comunidades.

Considerando a ampliação do termo patrimônio, se passa a falar em direitos culturais e


no papel do Estado na garantia desses direitos. Isto posto, se faz necessária a preservação do
patrimônio histórico e cultural, assim como seu devido reconhecimento. Ao se contemplar um
espaço que possui uma relevância histórica, deve haver a preservação do mesmo. Na atuação dos
órgãos de patrimônio, a questão da preservação abrange um conjunto de ações que se inicia
com a identificação e com o reconhecimento, através do tombamento.3

A noção do patrimônio histórico deve memorar a cultura. Acontecimentos e objetos que


requerem um valor na memória, e consequentemente, merecem ser preservados porque são
significativos, representam toda uma trajetória, todo um caminho percorrido para a criação de
uma identidade, primeiramente para com o seu local, depois regional e finalmente atingir a
identidade nacional. Dessa forma, a preservação patrimonial no Brasil, implica na valorização das
mais variadas manifestações culturais tão latentes em nossa sociedade.

2. A VALORIZAÇÃO RECENTE DA MEMÓRIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL


CHÁCARA LANE

Presentemente, após uma série de transformações que deixaram a história e os casarões


que abrigavam as ricas famílias dos cafeicultores para trás, a Rua da Consolação abriga a antiga
casa-sede de uma chácara fundada no final do século XIX. A Chácara Lane, uma das casas
históricas do Museu da Cidade, antiga propriedade da família norte-americana Chamberlain entre
1870-1906 e palco para a antiga Escola Americana, que mais tarde tornou-se precursora da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Já em 1906, quatro anos após o falecimento do primeiro

3
A palavra tombamento originou-se do verbo tombar que - no Direito, em Portugal - tem o sentido de registrar,
inventariar, arrolar e inscrever bens. O inventário era inscrito em livro próprio que era guardado na Torre do Tombo,
em Lisboa. O termo passou a ser utilizado no Direito brasileiro para designar os bens registrados e tutelados pelo
poder público.
Assim, o tombamento é um dos dispositivos legais que o poder público federal, estadual e municipal dispõe para
preservar a memória nacional. Também pode ser definido como o ato administrativo que tem por finalidade proteger
- por intermédio da aplicação de leis específicas - bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também
de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados.
Entre as diversas formas de proteção, o tombamento é o instrumento mais conhecido e utilizado. O tombamento de
um bem cultural significa proteção integral, sendo uma das ações mais importantes relacionadas à preservação de um
patrimônio de natureza material. O Iphan atua de acordo com o Decreto Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, na
preservação e difusão dos bens materiais: http://portal.iphan.gov.br/perguntas Frequentes?categoria=9.
proprietário da Chácara, George Chamberlain, a propriedade foi comprada pelo médico Lauriston
Job Lane, filho de Horace Manley Lane, diretor da Escola Americana.

Figura 2 - Chácara Lane em 1888.

Fonte: Mackenzie, 150 anos de Memória, 2021.

No ano de 2004, o pedido de tombamento feito pelo Conselho Municipal de Preservação


do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP), foi
sancionado sob o Decreto Lei nº 10.236/2986 e o atrativo passou por restaurações entre os anos
de 2008 à 2012, tornando-se aberto para visitações.

No que se refere a um local que recebe visitações e consideração o estudo em que


Ministério do Turismo (MTur, 2018) afirma que: "Os atrativos turísticos apresentam o objetivo de
motivar o deslocamento de pessoas para conhecê-los", a Chácara Lane contribui para uma
contextualização histórica do bairro da Consolação.

O atrativo turístico Chácara Lane foi utilizada para diversos fins: Escola de Educação
Infantil, Arquivo Histórico Municipal, Biblioteca Circulante Mário de Andrade da Secretaria
Municipal de São Paulo e está atualmente integrada no Museu da Cidade de São Paulo, com
exposições de artes, com destaque para acervo de desenhos e gravuras de importantes artistas
brasileiros, dentre os quais desenhos originais de Tarsila do Amaral para o livro Pau Brasil, de
Oswald de Andrade, além de outras obras de Anita Malfatti, Emiliano Di Cavalcanti, Alfredo
Volpi e muitos outros.

Logo na entrada do antigo casarão é possível visualizar uma escada em mármore, os


detalhes em madeira nos corrimões, a fachada em tijolo vermelho representando parte da
construção norte-americana e no piso térreo um hall, um banheiro, além de uma sala, que era
utilizada pela família Lane como “sala de sinuca”. Ainda no primeiro andar se encontra uma sala
de jantar e cozinha. Um detalhe que chama a atenção dos visitantes é o fato da residência possuir
uma lareira, o que na metade do século XIX era comum entre as elites paulistanas, devido ao
clima frio que a cidade de São Paulo apresentava.

Figura 3 - Escada de mármore da Chácara Lane.

Fonte: MCSP, 2021


Figura 4 - Sala de jantar da Chácara Lane.

Fonte: MCSP, 2021

A construção possui dois pavimentos, um porão, janelas verticais que proporcionam


uma grande luminosidade no interior da residência. A casa apresenta um balcão sobre a varanda
frontal de influência nacional e mistura de estilos coloniais norte americanos, construída com
materiais resistentes em solo brasileiro.

Em vista das descrições apresentadas, pode-se dizer que a Chácara Lane é um


importante lugar de memória para São Paulo. Com uma utilidade distinta daquela de quando foi
construída, a Chácara constitui-se em um local de memórias para compreender o passado e sua
influência no presente. Atualmente, a Chácara Lane encontra-se interligada à memória da cidade,
ou seja, uma importante referência histórica para os assentamentos urbanos da cidade.

Preservar o espaço cultural Chácara Lane é também manter a história da Universidade


Mackenzie. O espaço que abrigou a antiga Escola Americana, foi responsável pelo início de tudo,
tendo suas atividades iniciadas em 1870. Foi residência do Reverendo George W. Chamberlain e
funcionou como sede da Escola Americana, que deu origem à Universidade Presbiteriana
Mackenzie, além de representar o final do século XIX - momento em que os moradores mais
abastados possuíam, além da sua moradia no núcleo urbano central, chácaras localizadas em
áreas próximas do centro da cidade ou nos seus arrabaldes para o lazer familiar. Desse modo, o
fato dessa propriedade abrigar uma casa com mais de cem anos de existência e árvores,
representa uma pausa no ritmo acelerado da cidade de São Paulo.

3. A IMPORTÂNCIA DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL PARA A HISTÓRIA DO


PATRIMÔNIO

Segundo o Portal Mackenzie:

O Instituto Presbiteriano Mackenzie iniciou suas atividades em 1870, quando o casal de


missionários presbiterianos George Chamberlain e Mary Ann Annesley Chamberlain
chega à cidade de São Paulo. A senhora Chamberlain recebeu meninos e meninas para a
escola que se iniciava (...) No ano seguinte foi constituída a Escola Americana, embrião
do Colégio, que abrigava filhos de escravos e de famílias tradicionais. (INSTITUTO
MACKENZIE, 2021)

Inicialmente eram ministradas aulas de inglês e práticas religiosas presbiterianas, mas


com o crescimento da escola, começaram a contar com aulas de filosofia ao nível superior e em
meio a fase de expansão, o médico norte-americano Lauriston Job Lane foi nomeado diretor da
Escola Americana, conhecida também como Mackenzie College.

Figura 5 - Antiga Escola Americana, 1870

Fonte: Mackenzie, 150 anos de Memória, 2021


Com o reconhecimento da Escola Americana, em 1878, o local recebeu a visita imperial
de Dom Pedro II que, impressionado com o estilo de ensino americano dos missionários,
promoveu uma contribuição para que o espaço passasse a receber uma maior contemplação,
considerando o fato testemunhar uma época marcada por mudanças na economia, política e
sociedade, além da valorização da história da urbanização e da produção arquitetônica da cidade.

Consequentemente, com o aumento dos alunos e a necessidade de mais espaço, os dois


levaram as instalações da Escola Americana, para o bairro de Higienópolis, especificamente na
Rua da Consolação, onde já contavam com a grade horária de dois novos cursos: a escola normal
e o curso de filosofia.

Com o sucesso da escola, o advogado americano John Theron Mackenzie deixou em


testamento uma doação à Igreja Presbiteriana Americana para a construção de uma escola de
Engenharia em solo brasileiro. Desta forma, em 1896, se iniciou o curso de Engenharia e como
homenagem ao advogado, o sobrenome Mackenzie foi atribuído como nome da universidade,
representando assim, a sua importante contribuição para a instituição e o ensino superior.

O atrativo Chácara Lane, ainda mantém o propósito de inclusão. O espaço cultural é


palco para compartilhamentos de informações, técnicas em gravura e arquitetura, além de
exposições dos projetos de novos e antigos artistas consagrados nacionalmente.

TURISMO CULTURAL, PRESERVAÇÃO E MOBILIDADE

O turismo cultural é aquele que tem por característica, o desenvolvimento da


personalidade humana através de informações, conhecimentos e contatos por experiências
turísticas, assim como suas formas de agir, sentir e de expressar.
Dessa forma, podemos afirmar que preservar a chácara é um ato de valorização a cultura
do Brasil, já que o local, remete a memória da nação brasileira, atraindo os turistas que
desconhecem ou possuem um conhecimento limitado a respeito do valor da arte no país.

Gráfico 1 - Espaços Culturais em São Paulo

Fonte: Observatório de Turismo e Eventos - Prefeitura do Estado de São Paulo.

Com base nos estudos feitos acerca do bairro da Consolação, é evidente que a Chácara
Lane promove uma ampla opção de deslocamento pela região, já que o bairro tem como um dos
seus principais diferenciais a rica e ampla infraestrutura de mobilidade, que possibilita a
locomoção de carros, bicicletas e transportes públicos.

À vista disso, podemos afirmar que proporcionar condições de deslocamentos acessíveis e


adequadas, contribui para o acesso à cultura e ao lazer, além da possibilidade dos locais se
tornarem indutores do desenvolvimento social e econômico, o que beneficia tanto visitantes
quanto moradores.

A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À CULTURA NO BRASIL

O Art. 215 da Constituição Federal assegura que "o Estado garantirá a todos o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais.” (BRASIL, 1988, Art 215, Seção II, Capítulo
III).

Nesse sentido, ao pesquisarmos a cidade e o Estado de São Paulo, é possível notar uma
grande efervescência cultural, proporcionando aos turistas, uma experiência garantida no eixo do
entretenimento.

Com isso, o presente artigo busca enfatizar que o Patrimônio Histórico e Cultural
Chácara Lane é um importante difusor de conhecimento, entretenimento e lazer. Além de
oferecer uma grande carga cultural aos visitantes e moradores da região central, também preza
pela democratização do acesso à cultura na cidade e no estado.

Como não é cobrado nenhum valor para entrar, o local garante a expansão no grande
número de visitas técnicas já existentes, alcançando assim, um número maior de apreciadores e
interessados na arquitetura, arte e contribuição histórica nacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme o estudo do Ministério do Turismo (MTur, 2018), os atrativos turísticos


apresentam o objetivo de motivar o deslocamento de pessoas para conhecê-los. Partindo desse
conceito, a Chácara Lane contribui para a contextualização histórica do bairro, e
consequentemente transmite um olhar crítico ao refletirmos sobre os frutos gerados na
Instituição.
O estudo sobre a preservação da memória nacional a partir do atrativo turístico Chácara
Lane, possibilitou entender como ocorre a inserção do Turismo Cultural como forma de interação
da sociedade com o ambiente, destacando a pertinência da análise do fenômeno turístico sob uma
perspectiva social.

Em suma, buscamos analisar os estudos a respeito da preservação do patrimônio


nacional e relacionamos com o trecho de Urry de 1996, onde ele diz: "A maneira como o
visitante olha para as paisagens e para os lugares visitados vem mudando ao longo do tempo,
conforme as características socioculturais de cada momento histórico.'' Desta forma, concluímos
que a Chácara Lane é um exemplo de como o turismo pode ser inclusivo e ao contrário do que
muitos pensam, não se faz necessário a colocação de valores, uma vez que, o local apresenta
atividades gratuitas, e uma atuação viabilizada, já que o atrativo atende e supre as necessidades
dos frequentadores, cumprindo com o objetivo de prover opções diversificadas dando a
oportunidade de uma qualidade de vida melhor, e consequentemente ao acesso à cultura.

O atrativo Chácara Lane proporciona uma viagem no tempo e um pouco de ar puro em


meio a edifícios na tão conhecida, Rua da Consolação. Podendo assim, dizer que, o Patrimônio
Cultural Chácara Lane é um importante lugar de memória para São Paulo, apresentando uma
utilidade distinta daquela de quando foi construída, representando um local de lembrança para
compreender o passado e sua influência no presente.
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