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PROPÓSITO
PREPARAÇÃO
Ao iniciar este tema, tenha à mão um dicionário de português e o Dicionário Iphan de Patrimônio
Cultural .
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Vamos falar sobre o passado vivo e materializado, o que não é um processo simples. Para
mostrar que nem sempre temos consciência do passado, o geógrafo e historiador David
Lowenthal (1923-2018) chamou o passado de “país estrangeiro”, algo que, embora conhecido,
nem sempre percebemos como nosso (LOWENTHAL, 1998).
A consciência do passado e de sua ação no presente depende de vários fatores, entre os quais a
proximidade com fragmentos (bens naturais, materiais e imateriais) que se constituem na
herança cultural de uma sociedade, de um segmento social, de uma família ou de um indivíduo.
Abordaremos aqui parte dos fragmentos que alimentam a construção da memória da sociedade,
prática que é contínua e inclui diversas vertentes, e a criação de instituições públicas e privadas
especializadas em sua guarda, como museus, arquivos e bibliotecas. Trataremos da construção
do patrimônio cultural, parte da produção social de grande complexidade reconhecida pelo poder
público como portadora de valores culturais, composta por referências materiais e imateriais.
MÓDULO 1
Fonte: IPHAN
Figura 1. Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de São João del-Rei (MG). Acervo IPHAN.
Mais do que levar a conhecer o passado, o patrimônio cultural sustenta a ideia de pertencimento,
aquela que leva o indivíduo, ou um grupo social, a sentir-se parte de uma cultura, de uma
sociedade ou de um lugar. Como um dos vetores da memória social, o patrimônio possibilita a
formação de um olhar crítico sobre o presente, tempo em que atuamos e deparamos com
contínuas desigualdades, que incluem a negação de papéis sociais e o não reconhecimento de
direitos culturais. Esses foram definidos em 1948, no artigo 27, da Declaração Universal de
Direitos Humanos, publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU), como o direito de
tomar parte livremente da vida cultural da comunidade, a gozar das artes e a participar do
progresso científico e dos benefícios que dele resultem, estendendo-se a todos,
indistintamente (DUDH, 1948).
MEMÓRIA
Nesse conjunto de direitos sociais, inclui-se o direito à memória e, atualmente, entende-se que
também é legítimo o direito ao esquecimento. Autores contemporâneos que se dedicam a refletir
sobre essas questões, como Tzvetan Todorov (1939-2017) e Gabi Doff-Bonekämper, apontam
que os usos da memória nem sempre são positivos. Muitas vezes, ela é evocada para justificar
revanches, por exemplo, entre grupos étnicos; fala-se, também, de “memórias difíceis”, como as
dos campos de concentração nazistas, fazendo reviver más lembranças e injustiças. De qualquer
forma, a importância social da memória vem crescendo na mesma medida em que crescem as
reivindicações pelo reconhecimento de direitos, entre eles o direito à diferença.
Isso não impede que o exercício de direitos culturais seja cada vez mais afrontado por atitudes de
intolerância constantes, como o ataque a templos religiosos de matriz africana e a seus
seguidores, em total desrespeito à diversidade cultural. Até recentemente, esse traço marcante
de nossa cultura também não era considerado pelo Estado brasileiro, em ações de proteção a
bens culturais que lhe cabem desde 1937. Só em 1986, o governo federal reconheceu o valor
cultural do pioneiro Terreiro da Casa Branca, situado em Salvador (BA); e somente em 1990, o
governo de São Paulo reconheceu o valor cultural da casa de culto Axé Ilê Obá, situado na capital.
Fonte: IPHAN
Figura 3. Patrimônio ferroviário em São Paulo (SP). Acervo IPHAN.
É recente a consideração da cultura operária, que marcou o desenvolvimento de São Paulo, pelo
Estado. Isso significa a negação desses sujeitos sociais como participantes da construção da
sociedade. O reconhecimento público de valores culturais, ou a sua negação, espelha o atual
lugar dado a um segmento no conjunto da sociedade. Esse é definido por diferentes fatores,
desde questões relativas à formação histórica até o acesso à riqueza e à influência política na
atualidade.
VALORES CULTURAIS
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EXEMPLO
O caso do Terreiro da Casa Branca é esclarecedor: as religiões afro-brasileiras não eram
consideradas parte da cultura do país, uma vez que eram relacionadas à escravidão e aos
escravizados, bem como seus descendentes não eram considerados portadores de direitos
culturais. O reconhecimento do Estado encontrou muita resistência e só se tornou possível no
quadro da democratização do país e das pressões de movimentos sociais, em especial os
movimentos negros.
Também se deve à agregação de novos parâmetros para a atribuição de valores culturais pelo
Estado; eles foram agregados a partir dos conhecimentos gerados, em especial, na Antropologia
e na Geografia. Inicialmente baseados na Arte, na Arquitetura e na História, os valores se
ampliaram, acompanhando a constituição da preservação do patrimônio como um campo
especializado, envolvendo diferentes disciplinas.
Desde o início século XIX até após a Segunda Guerra Mundial, quando a prática de preservar
bens culturais começa a internacionalizar-se, o patrimônio era constituído como representação da
nação e os bens como portadores dos valores históricos, artísticos e arquitetônicos.
Gradativamente, o conceito de patrimônio se ampliou, passando a abranger outros bens, além
das edificações, como os ambientes naturais que foram considerados “culturais”. Assim, também
passou a dizer respeito à sociedade e, como ela, ganhou complexidade e diversidade,
expressando o amplo universo abrangido na palavra cultura e as tensões políticas próprias do
viver em sociedade, como as que envolvem o reconhecimento de direitos.
ESTADO
A Constituição de 1988 consignou esse novo entendimento nos artigos 215 e 216. O artigo 215
atribui ao Estado a responsabilidade de garantir o exercício de direitos e manifestações culturais
e as nomeia culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e de outros grupos
participantes do processo civilizatório nacional (CF, 1988).
A Constituição não deixa dúvidas quanto à igualdade do direito de todos os cidadãos serem
representados no patrimônio cultural, uma vez que, como explicita o artigo 216, os bens que o
constituem são portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira (CF, 1988).
Além desses artigos, outros compõem um conjunto de grande potencialidade renovadora das
ações do poder público e do exercício de direitos culturais da sociedade. O art. 30, IX, consigna,
entre as competências municipais, a de promover a proteção do patrimônio histórico-
cultural local, observadas a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual (CF, 1988).
Fonte: IPHAN
Figura 7. Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim, em Salvador (BA). Acervo IPHAN.
Nas instituições públicas responsáveis pela construção do patrimônio cultural, ainda é comum a
atribuição dos valores arquitetônico, artístico e histórico. Trata-se de um resquício estabelecido na
fase inicial de proteção do Estado ao patrimônio, com base em padrões culturais eruditos, de
excepcional qualidade estética e artística, além da ancianidade. Nessa fase, afirmava-se o
sentido inicial da historiografia, cuja estruturação data do século XIX: apenas alguns atores
sociais eram vistos como construtores da nação e, como o passado, deveriam ser vistos com
admiração e reverência que se estendia aos monumentos históricos.
ANACRÔNICO
Estudar um fenômeno temporal fora de seu contexto de tempo, gerando uma deturpação de
entendimento.
A consideração dos valores, como intrínsecos aos artefatos, soa ainda mais anacrônica após a
globalização firmada na década de 1980, quando também se romperam laços com a cultura que
regeu a sociedade ocidental a partir do Iluminismo e se multiplicaram os atores e as
reivindicações pelo reconhecimento de lugares sociais e direitos. Documentos internacionais,
como o da Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais, promovida no México, em 1985, pelo
Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), refletem essas mudanças. Nele,
patrimônio cultural foi definido como conjunto de traços distintivos espirituais, materiais,
intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade e um grupo social, constituído
por obras materiais e não materiais que expressam a criatividade de um povo e os
valores que dão sentido à vida (CURY, 2000).
Entre eles estão os inventários, também previstos na Constituição de 1988 como instrumentos
de preservação, e o planejamento territorial. Em relação a este, é de imensa importância o
Estatuto da Cidade, como conhecida a Lei n. 10.257, de 2001, que regulamentou os artigos 182
e 183 da Constituição de 1988 sobre política urbana.
O estatuto tem como ferramenta principal o plano diretor, obrigatório em cidades com mais de
vinte mil habitantes. O objetivo é ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade
e garantir o bem-estar de seus habitantes, a partir da função social da propriedade. Além da
cooperação entre os entes administrativos, o Estatuto prevê a gestão democrática das cidades e
o direito a cidades sustentáveis.
EXEMPLO
A construção da memória, bem como do patrimônio de uma sociedade, é uma prática de caráter
cultural que reflete o campo político, de direitos e responsabilidades de Estado, depende da
definição de políticas públicas e da contínua negociação entre o Estado e os segmentos sociais,
portadores de expectativas e interesses, muitas vezes, conflitantes entre si.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Os bens reconhecidos como patrimônio cultural pelo Estado devem representar todos os
setores da sociedade.
A) I e II
B) I e III
C) II e III
D) I, II e III
E) I, III e IV
GABARITO
1. Os patrimônios culturais são estratégias por meio das quais grupos sociais e
indivíduos narram sua memória e sua identidade, buscando por elas um lugar público de
reconhecimento, na medida mesma em que as transformam em "patrimônio", isto é,
elegendo artefatos e espaços que representam e fundam a memória e a identidade.
(GONÇALVES, 2002)
2. Um dos atores mais importantes nas discussões sobre Patrimônio e sua preservação é
o Estado. Existem muitos motivos pelos quais o Estado é considerado peça fundamental
na atuação da preservação, qualificação e guarda do documento. No que tange à
responsabilidade do Estado, em relação ao patrimônio, podemos afirmar que:
Como salvaguarda das questões nacionais, ele deve zelar pela memória formal, ou
oficial, permitindo o reconhecimento do coletivo.
O Estado tem a função de ser uma estrutura perene em meio a sociedades dinâmicas. Uma
maneira de garantia dos interesses sociais, evitando que caprichos ou outros interesses
fragilizem ou enfraqueçam demandas coletivas. Nesse sentido, o Estado tem uma forte relação
com os anseios sociais, devendo, ao mesmo tempo, proteger, mas, principalmente, estabelecer
burocracias, formulações, qualificações para que seu papel seja o de mediador, de apresentar as
bases necessárias para o funcionamento social.
MÓDULO 2
A primeira instituição de proteção a bens culturais criada no Brasil data de 1937, no âmbito do
governo federal. Assim como as posteriormente implantadas nos níveis estadual e municipal, ela
foi produto de seu tempo, isto é, representou as condições históricas do momento, nas quais se
incluem a concepção de patrimônio internacionalmente forjada, bem como as finalidades a ele
atribuídas.
Aqui, visamos a perceber como, ao longo do tempo, a relação entre governos e patrimônio, suas
responsabilidades e seus fiscalizadores, e sua orientação foram estabelecidos. Não é um
inventário de leis, tampouco um documento sobre quais as funções, mas um processo de
categorização, de ver como, socialmente, o Brasil foi amadurecendo, inventando e reinventando a
lei de forma recorrente.
Atualmente, o patrimônio é marcado por uma rede de proteção pública – ainda que possa ser
discutido o seu alcance – e nele estão envolvidos, com reponsabilidade, todos os entes
federativos. São esses os entes que construíram, como atores fundamentais, o quadro atual de
relação com o patrimônio no Brasil.
HISTÓRIA DA PRESERVAÇÃO
CONTEMPORÂNEA
Nas primeiras décadas do século XX, as discussões passaram a abordar as relações entre a
preservação do patrimônio e o desenvolvimento das cidades, o que anuncia seu entendimento
não apenas como algo lúdico, destinado à fruição do passado e do belo, mas também relativos
ao equilíbrio entre o presente e o passado, uma vez que contempla a possibilidade de
manutenção de referências espaciais e artísticas constitutivas do ambiente urbano.
VÂNDALAS
Dois anos depois, realizou-se o Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) do qual
resultou um documento que, atualmente, mantém-se como referência, a Carta de Atenas. Nela,
considerava-se que o culto ao passado não deveria desconhecer as regras da justiça social. E
que, nas cidades modificadas segundo princípios da Arquitetura e do Urbanismo modernos, as
edificações de valor histórico ou sentimental deveriam permanecer apenas como
testemunhos pontuais do passado. Sua manutenção, porém, estava em segundo plano em
relação à salubridade das moradias e o bem-estar e a saúde dos indivíduos (CURY, 2000). Para
além das questões de Arquitetura e Urbanismo, abriram-se então campos de discussão
envolvendo diferentes concepções do elo entre a sociedade e seu passado e entre a qualidade
de vida e o ambiente.
Usaremos algumas dessas cartas para traçar uma linha da ampliação do conceito de patrimônio
e suas finalidades sociais.
O então denominado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atual Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), foi criado no contexto da Carta de Atenas e
dos esforços que, desde a segunda metade do século XIX, vinham sendo feitos para a inserção
da nação brasileira na modernidade, projetando-a internacionalmente. Isso envolvia ampliar a
ação do Estado sobre a economia e a sociedade, e equiparar as cidades e a cultura urbana aos
padrões europeus, considerados modelos de civilização.
Tratava-se de construir "uma cara" que definisse a identidade brasileira. No decorrer da década
de 1930, intelectuais como Gilberto Freyre (1900-1987) e Sérgio Buarque de Holanda (1902-
1982) tentam compreender e explicar o Brasil, entender as bases da identidade nacional,
definição arduamente buscada por outros intelectuais, como Mário de Andrade (1893-1945), a
quem, em 1936, o então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema (1900-1985),
solicitou a elaboração do projeto de uma instituição dedicada a proteger o patrimônio nacional.
Sob o crivo de Gustavo Capanema, ministro da Educação e Saúde, pasta que abrigaria o serviço
de patrimônio, e de Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969), advogado e responsável por
conduzir a instituição, o anteprojeto passou por adaptações que atenderam aos interesses de
Estado. Entre eles estava o de estender a proteção pública aos monumentos representativos do
passado da nação, isto é, de todos os que viviam no território brasileiro, e recebeu a
denominação de Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atual Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Sua criação foi parte da nova organização do Ministério da Educação e Saúde Pública,
estabelecida na Lei n. 378, de 13 de janeiro de 1937. Determinava-se, também, que um
Conselho Consultivo nomeado pelo presidente da República seria responsável pelo exame e
pelas decisões. Essa estrutura se mantém e, atualmente, o Conselho é composto de nove
representantes de instituições públicas e privadas, e treze representantes da sociedade civil, com
mandato de quatro anos.
Fonte: IPHAN
Figura 15. Vista da ladeira de Santa Efigênia, em Ouro Preto (MG).
Até a década de 1960, o IPHAN foi a única instituição responsável pela proteção de bens
culturais em todo o Brasil. Sua atuação pautou-se por valores históricos, artísticos e
arquitetônicos, compondo um retrato da nação focado no passado colonial, especialmente no
século XVIII, pois as manifestações da arte barroca eram consideradas o ponto de excelência de
nossa “civilização”. As igrejas e os sobrados coloniais também constituíram um passado para a
arquitetura moderna brasileira, que então começava a ser notada internacionalmente e vinculou-a
à tradição nacional.
Sofrendo a carência de recursos humanos e materiais, já crônicas no setor público, o IPHAN não
dispunha de estrutura e técnicos suficientes para atender às demandas decorrentes da
abrangência assumida pelo patrimônio e sua utilização no turismo.
A precariedade de recursos enfrentada pelo Instituto foi abordada em dois encontros nacionais
de governadores, prefeitos e secretários estaduais realizados em Brasília (1970) e em Salvador
(1971).
Em Brasília, foram definidas medidas para uma ação supletiva dos estados e dos municípios à
atuação federal no que se refere à proteção dos bens culturais de valor nacional. Caberia aos
estados e municípios, sob orientação do órgão federal, proteger também os bens culturais de
valor regional. Com essa finalidade, seriam criados órgãos estaduais e municipais adequados,
articulados com os Conselhos Estaduais de Cultura e com o IPHAN para fins de uniformidade
da legislação em vista, atendido o que dispõe o art. 23 do Decreto-Lei n. 25, de 1937.
Em 1967, o governo do Estado de São Paulo promoveu uma reforma administrativa que uniu as
atividades de turismo às de cultura e esportes, de modo a melhor coordená-las, na Secretaria de
Cultura, Esporte e Turismo, a qual ficaria subordinado o Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), cuja denominação revela a tendência
então predominante, entre o patrimônio e o turismo, criado em 1968.
Fonte: IPHAN
Figura 16. O Iphan - São Paulo funciona em um casarão construído no início do século XX,
exemplar da arquitetura do período republicano.
TURISMO DE MASSA
No Brasil, foram inúmeros os casos em que populações, durante anos responsáveis pela
manutenção de heranças culturais, foram apartadas de seus espaços de vida por obras de
"revitalização” ou "adaptação a finalidades turísticas".
EXEMPLO
Uma discussão importante sobre esse processo nas obras olímpicas do Rio de Janeiro, do Porto
Maravilha; ou na revitalização de Fortaleza, em que populações, historicamente estabelecidas
perderam seus espaços, passando a suburbanizadas sob a tradicional alegação de melhor
qualidade de vida e requalificação do espaço original. No primeiro, foram membros de
quilombos urbanos e no segundo comunidades de pescadores os afetados pelas
transformações.
A dissociação atingiu cidade históricas, unidades cujo processo de valorização turística foi mais
complexo e envolveria vinculações com a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).
Desde sua criação, em 1973, até 1979, o Programa de Cidades Históricas (PCH) esteve sob a
coordenação da Secretaria de Planejamento da Presidência da República e só a partir de então,
até 1987, foi desenvolvido pelo IPHAN (TOURINHO; RODRIGUES, 2017).
Antes mesmo de incluir-se nas medidas propostas pelo Compromisso de Brasília, a criação de
órgãos estaduais e municipais de preservação do patrimônio estava sugerida no art. 23 do
Decreto-Lei n. 25/1937, atribuindo ao poder executivo a responsabilidade de providenciar e
realizar acordos entre União e estados para melhor coordenação e desenvolvimento das
atividades relativas à proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e para a
uniformização da legislação estadual complementar sobre o mesmo assunto.
Entre as décadas de 1960 e 1980, criaram-se órgãos de preservação em vários estados, como,
em 1964, a Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico do então Estado da Guanabara; em 1968,
o Condephaat, em São Paulo; e, em 1971, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico
de Minas Gerais (Iepha), todos organizados a partir do modelo estabelecido pelo Decreto-Lei n.
25/1937 e restritos à preservação de bens culturais de caráter material, tendo o tombamento
como instrumento.
TOMBAMENTO: VALORES E
PROCEDIMENTOS IMUTÁVEIS?
Fonte: IPHAN
Figura 17. Edifício Docas de Santos, que abriga a superintendência do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro (RJ).
A aplicação do tombamento cabe ao poder executivo federal, estadual ou municipal e se inicia
com estudos e avaliação técnica que resultam em um parecer e uma apreciação de um
conselheiro, membro do colegiado, que decide sobre a aplicação do tombamento. Cabe ao
representante direto do Executivo, o secretário da pasta em que se situa o órgão especializado,
homologar essa decisão que terá validade após a publicação da Resolução de Tombamento no
Diário Oficial.
Os bens tombados são inscritos, de acordo com seu caráter e valores que lhes são atribuídos,
em Livros do Tombo. No caso do IPHAN, eles são: Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico; Livro do Tombo Histórico; Livro do Tombo das Belas Artes; e Livro do Tombo das
Artes Aplicadas.
O tombamento não impede a comercialização do bem, mas impõe restrições que visam à sua
manutenção física que, de acordo com a lei, é de responsabilidade do proprietário; também limita
seu pleno usufruto e pode causar sua desvalorização imobiliária. Ao mesmo tempo, protege o
bem de destruição física, mas não garante sua preservação e implica cuidados contínuos de
preservação. Na falta deles, é comum que o bem seja destruído pelo próprio correr do tempo.
Ao mesmo tempo forte e frágil, o tombamento é legítimo e sua aplicação vem impedindo a
destruição de inúmeros bens de grande importância cultural. Utilizado para todos os casos de
proteção de bens materiais – mesmo àqueles aos quais não se justifica a aplicação de regras
tão severas como as por ele previstas –, ele vem sendo frequentemente burlado por meio de
subterfúgios jurídicos e múltiplas ações de interesse particular, que atingem a destruição física e a
apresenta como parte constitutiva da “irrefreável” transformação das sociedades.
Fonte: IPHAN
Figura 18. Palácio Itamaraty, localizado no Rio de Janeiro (RJ) já foi moradia do barão do Rio
Branco, sede da Presidência da República do Brasil e abrigou, por décadas, o Ministério das
Relações Exteriores.
Os bens também são destruídos por falta de conservação e por descaracterizações executadas
sem o cumprimento da lei, que exige a aprovação prévia dos órgãos públicos competentes. O
cenário indica a urgente necessidade de adoção das demais formas de proteção previstas no
art. 216 da Constituição de 1988, entre os instrumentos utilizados pelas instituições públicas.
Podemos notar que a relação de leis e ordens relativas a patrimônio é principalmente federal,
mas isso não quer dizer que estados e municípios sejam menos importantes. Em espaços
diversos, foram construídos processos, modelos administrativos que, muitas vezes, obtiveram
sucesso e foram vitais nas questões urbanas e sociais.
RECOMENDAÇÃO
Que tal pesquisar, na sua cidade, ações do estado ou do município sobre a questão? Corredores
culturais, guardas de bens ainda não tombados. Por exemplo, a cidade de Paraty (RJ), mesmo
antes de vários tombamentos importantes, valorizava e mantinha seus calçamentos originais no
centro. Em Trancoso (BA), além do calçamento, os acessos estreitos à região eram
salvaguardados, tinham fins locais e não partiam de determinações federais. Alguns adotaram
novos conceitos operacionais o que permitiu democratizar atuações, embora mantidas as
principais características metodológicas e as referências básicas constituídas no IPHAN.
A metodologia aplicada para selecionar esses bens difere, grandemente, daquela adotada para
os bens materiais. O conceito que a sustenta, “referências culturais”, pressupõe sujeitos para os
quais algo faça sentido, como aponta Fonseca (s. d.). É a partir dos sujeitos sociais que se
estrutura a metodologia de pesquisa, o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC),
desenvolvido pelo IPHAN para identificar marcos e referências culturais de um grupo social.
CARTA DE FORTALEZA
Entre 1989 e 2003, a Unesco publicou documentos que se tornariam referências, nos quais se
reconhece a importância da cultura tradicional e popular como integrante do patrimônio cultural,
reconhece e prevê apoio aos mestres transmissores de saberes e realça a importância do
relativismo cultural para a definição das políticas de salvaguarda.
Fonte: IPHAN
Figura 20. Celebração do Bumba meu boi, no Maranhão.
O já mencionado art. 216 da Constituição de 1988 inclui a dimensão imaterial como parte do
patrimônio cultural brasileiro. Esse foi o marco de abertura para a efetivação de medidas que
vinham sendo estudadas desde o final da década de 1970, que incluíam a superação da ideia da
cultura popular como “folclore”, coisa apartada da cultura contemporânea, e buscavam a inclusão
das culturas indígenas, continuadamente ausentes das políticas públicas, a partir de uma
perspectiva cultural que também reconhecia potencialidades tecnológicas e econômicas.
Às ações iniciais de salvaguarda do patrimônio imaterial, o IPHAN vem somando outras, como o
Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) e o Plano de Salvaguarda, enquanto nos
estados e municípios vêm sendo adotadas políticas específicas para o patrimônio imaterial.
Vianna (2016) explica que o conceito de patrimônio imaterial (ou intangível) foi tomado a partir de
uma perspectiva antropológica e relativista da cultura. Isso significa a consideração da cultura
como expressão própria dos seres humanos; nela se incluem expressões materiais e um
complexo sistema de significados composto por valores, modos de viver, conhecimentos,
técnicas, crenças etc.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
DECRETO-LEI N CONSTITUIÇÃO
.25/1937 DE 1988
DEFINIÇÃO DE HISTÓRICO E
CULTURAL
PATRIMÔNIO ARTÍSTICO
REFERÊNCIA PRESENTE E
PASSADO
TEMPORAL PASSADO
A) As diferenças apontadas no quadro não refletem novos conceitos, uma vez que o registro das
leis não inclui a ação social e dos indivíduos.
B) As diferenças apontadas indicam que o patrimônio faz parte da vida cotidiana e realçam a
diversidade cultural e temporal dos bens protegidos. Quer dizer, o tempo é o motivo de suas
diferenças, o patrimônio é uma necessidade dos contemporâneos.
C) A lei mais recente nos leva à consideração da sociedade e do tempo presente superior no
papel e valor do patrimônio, uma vez que indicam que os artigos 215 e 216 da Constituição
representam a democratização da política de proteção do patrimônio brasileiro.
D) As dinâmicas sociais que marcam as leis de patrimônio revelam a relação dinâmica entre a
sociedade e as demandas do tempo.
E) As leis não dialogam, têm fins e motivos diversos entre si apesar de tratar de patrimônio.
GABARITO
1. O Decreto n. 25, de 1937, inaugurou uma política pública de proteção do patrimônio
histórico e artístico nacional. Os conceitos que a orientaram foram revistos na
Constituição de 1988. Observe o quadro:
2. O registro, instrumento aplicado aos bens de natureza imaterial a partir de 2000, realça,
como parte da cultura brasileira, as manifestações de setores da população, como os
indígenas, até então não contemplados pela política de proteção ao patrimônio. Sobre a
afirmativa, é correto afirmar:
MÓDULO 3
Identificar o papel da esfera privada na construção da memória social
Assista a seguir ao vídeo Atores da preservação do patrimônio: Sociedade civil.
REFLEXÕES NECESSÁRIAS
Fonte: IPHAN
Figura 21. Celebração do povo indígena Wajãpi do Amapá.
O etnocentrismo toma uma cultura como modelo para comparação com outras, desenvolvidas em
lugares, tempos e diferentes valores. Nesse ponto de vista, por exemplo, baseou-se a avaliação
das culturas africanas pelos colonizadores europeus e se sustenta a ideia de existência de
culturas mais evoluídas que outras e sua hierarquização a partir de classes sociais. O relativismo
cultural, explica Vianna (2016), busca entender cada cultura em si, a partir de suas próprias
características, da lógica e contradições que a compõem.
Eram frequentes as propostas de ampliação dos setores sociais representados nos conselhos
das instituições públicas responsáveis pelo exercício da proteção ao patrimônio, o que não
ocorreria. Atualmente, eles continuam formados por representantes de instituições acadêmicas e
profissionais e de setores da administração pública. Sem dúvida, a análise dos processos não
dispensa o concurso de profissionais especializados, porém, tendo em vista o crescente
interesse e a organização da sociedade em torno das questões da memória, parece-nos legítima
a criação de canais para a consideração do posicionamento desses setores.
A dinâmica do movimento social mostrou que o patrimônio foi incluído entre as reivindicações da
época, ainda que de forma pontual. Inicialmente, envolvendo setores médios e altos da
sociedade, a mobilização foi motivada pela defesa de bens de valor então ditos ecológicos,
como áreas verdes urbanas e rurais. Alguns casos ocorridos, em São Paulo, exemplificam a
valorização do patrimônio como campo de conexão da memória social aos direitos à vida com
boa qualidade ambiental e à cidade. Essa perspectiva se expressou no campo internacional do
patrimônio, no ano de 1972, na Declaração de Estocolmo, da Organização das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Unep), que consagrou seu desfrute como fundamental, uma vez que
permita aos homens levar uma vida digna, gozar de bem-estar (Declaração de Estocolmo
para o Meio Ambiente, 1972).
EXEMPLO
Em 1978, a mobilização dos moradores de Caucaia do Alto, em Cotia (SP), logrou sustar a
implantação de um aeroporto — projeto do governo estadual que resultaria na destruição de uma
grande área florestal e de mananciais, a Reserva do Morro Grande. Para isso, contou-se com a
atuação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do
Estado de São Paulo (Condephaat), criado em 1968. Após estudos técnicos, esse conselho
decidiu pelo tombamento da área, o que garantiu a preservação.
TOMBAMENTO DA ÁREA
Processo n. 00610/1975, Resolução de 2 jun. 1976.
O projeto era substituí-lo por uma estação do Metrô-SP, mas a movimentação, que também se
caracterizou por levar a integração do tema patrimônio à pauta da imprensa, fez com que a
decisão fosse revista e a estação passasse a ser subterrânea, mantendo-se assim o edifício.
Comprovou-se, portanto, que a propalada oposição entre progresso e preservação não passava
de uma falácia; a questão era política, de equilíbrio entre os interesses público e privado. Entre as
reivindicações do movimento estava o tombamento da escola, atendido pelo Condephaat.
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre essa questão, pesquise o Processo n. 00610/1975, Resolução de 2 jun.
1976.
Fonte: IPHAN
Figura 22. O conjunto histórico e paisagístico de Iguape (SP) foi tombado pelo IPHAN, em
2011.
Em 1983, a Casa Modernista, da Rua Santa Cruz, no bairro de Vila Mariana, projeto
pioneiro de Gregori Warchavchik (1896-1972);
Em 1984, a antiga residência do Sítio Itaim, em taipa de pilão, situada na Rua Iguatemi, no
bairro do Itaim Bibi.
CASA MODERNISTA
SÍTIO ITAIM
Patrimônio cultural será aqui tomado em seu sentido mais amplo de toda produção da sociedade
e envolve culturas particulares. Seu volume é imenso, assim como sua complexidade, que
abrange todos os campos da atuação humana.
São objetos, registros escritos e imagéticos, que documentam, isto é, dão informações para a
contínua prática de construção da memória social e da História. Por meio deles, podemos
conhecer sujeitos e situações cotidianas, muitas vezes difíceis de serem reconstruídas por
documentos oficiais.
Além dos acervos pessoais e familiares, fazem parte desse patrimônio os acervos técnicos e
administrativos de empresas que, com exceção de documentos jurídicos, são comumente
descartados em prejuízo das possibilidades de novas percepções do passado e da construção
de identidades coletivas.
As duas décadas finais do século XX caracterizaram-se por uma sensação de perda que gerou
incertezas diante da ruptura de valores consagrados e do contato com outros, ainda não
familiares, resultantes da globalização da economia e da mundialização da cultura. A resposta à
situação foi a valorização da memória e da cultura, contando com a participação ativa do mundo
corporativo; esse apresentava tais ações como parte de sua “responsabilidade social”,
ampliando assim a criação de imagens empresariais positivas.
A iniciativa privada, bem como o poder público, e muitas vezes em parceria, ampliaram as
oportunidades de contato e criação artística da população; as periferias das grandes capitais
foram pontuadas por casas de cultura e criaram-se centros culturais que ofereciam, gratuitamente
ou a preços acessíveis, exposições, espetáculos de teatro e cinema.
EXEMPLO
O Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em 1989, instalado no Rio de Janeiro e, mais
tarde, em Belo Horizonte, Brasília e São Paulo, onde foi inaugurado em 2001. Na capital
fluminense, situa-se no Centro, em um edifício tombado que, em 1923, foi adequado para sediar
a agência central do banco. Ainda que se trate de uma instituição dedicada a atividades culturais
múltiplas, seu edifício-sede expõe em primeiro plano o apreço pela memória institucional nele
representada.
Isso confirma a observação de Canclini (1994), sociólogo argentino que estuda questões relativas
ao patrimônio cultural. Para ele, são três os agentes sociais que investem em sua construção: o
Estado, os movimentos sociais — ambos abordados anteriormente — e a iniciativa privada, da
qual tratamos neste tópico. Todos esses setores incluem disputas simbólicas e materiais
acentuadas, no caso das ações da iniciativa privada, o que não significa que delas estejam
excluídas questões de identidade relacionadas a interesses objetivos das atividades de
produção, comércio ou serviços.
Entre os anos 1980 e 2000, instalaram-se centros de documentação e memória em todo o país:
da Odebrecht, na Bahia; e da Eletropaulo, em São Paulo, este motivado pela privatização da
empresa cujos acervos se dispersariam; do Grupo Ultra, também em São Paulo; o da Varig, no
Rio Grande do Sul; e o da Globo, no Rio de Janeiro, para citar apenas alguns exemplos
(KERBER; OTT, 2014). Da criação desses setores especializados também participaram
organizações sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1999; e
universidades, como a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em 1999.
Esse movimento mostra que a ideia da construção da memória por agentes externos ao Estado
ampliava-se. De qualquer modo, os investimentos em centros de documentação acabaram por ir
ao encontro de uma perspectiva empresarial que, é necessário reconhecer, fazia parte da
competição e do marketing, a responsabilidade social. Porém, sua implantação ampliou e
diversificou o conjunto de documentos necessários à construção do conhecimento histórico, uma
vez que diversos centros de memória de empresas foram abertos à consulta para pesquisadores.
Além disso, sua organização influiu na construção de uma historiografia específica, a história de
empresas, muitas vezes reveladora de aspectos até então desconhecidos.
As iniciativas vão de passeios turísticos, como em Paraisópolis, uma das maiores favelas da
capital paulista, até museus organizados na perspectiva da museologia social, o que os torna
peças de valor estratégico para a apropriação cultural, construção de autoimagem comunitária e
ressignificação do passado.
O Museu da Maré, inaugurado em 2006, que também oferece uma versão da história do Rio de
Janeiro a partir do ponto de vista dos moradores da Zona Norte.
Fonte: UrurayPatrimonio/facebook
Figura 26. Jornada do Patrimônio, Grupo Ururay (2019).
Outros grupos, como o Ururay – Patrimônio Cultural, coletivo formado em 2014 pela agregação
de diversos grupos preexistentes, atua na Zona Leste de São Paulo, vasto e tradicional território
negro, operário e fabril da cidade e inclui em suas atividades estudos, identificação e ações de
valorização dos bens. Entre estes, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos,
situada no bairro da Penha. Construção simples, do início do século XIX, tombada pelo
Condephaat em 1982, ela permanecia sem uso e ameaçada de destruição. Os grupos que
buscam valorizar a memória e as práticas culturais da região recuperaram as festas da
padroeira, santa de especial veneração das comunidades negras do Brasil, retomando-a como
lugar de culto e sociabilidade.
O movimento Tribufu, feito pelo coletivo Movimento Cultural da Penha. Surgiu na Igreja de Nossa
Senhora do Rosário dos Homens Pretos, situada no bairro da Penha. Construção simples, do
início do século XIX, tombada pelo Condephaat em 1982, ela permanecia sem uso e ameaçada
de destruição. Os grupos que buscam valorizar a memória e as práticas culturais da região
recuperaram as festas da padroeira, santa de especial veneração das comunidades negras do
Brasil, retomando-a como lugar de culto e sociabilidade.
Rolé Carioca - Iniciativa de professores que acreditavam que a história estava na rua e o que era
produzido na academia devia ser acesso a todas as pessoas que assim quisessem
ressignificando não os monumentos, mas os bairros operários, a cidade maltratada.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Considero não haver qualquer relação uma vez que a responsabilidade sobre patrimônio,
como previsto na Constituição de 1988 é responsabilidade dos órgãos governamentais, sendo
uma deturpação do sentido do patrimônio envolver entes privados.
C) Como parte da história econômica, a história de empresas não diz respeito a outras
especialidades, como a história urbana e social.
E) A História do patrimônio deve ser pensada como um sentido, da pressão pública para os
entes públicos. Então, as afirmativas são complementares, uma vez que é a organização da
memória social que gera as ações governamentais e esses envolvem as empresas sobre o valor
do Patrimônio.
B) São espaços depositários de um patrimônio cultural particular, que é parte da memória social.
E) São estruturas complexas com funções diversas, uma vez que se especializam nas guardas,
acumulam e organizam patrimônio e memória e ainda podem difundir informações essenciais.
GABARITO
1. Leia atentamente os textos a seguir:
“Embora o senso comum considere a memória social como algo pronto, semelhante a
um antigo álbum de fotografias, ela é uma construção dinâmica, em constante mutação
que, por diversos caminhos, nos aproxima do passado.”
A memória e a História são formas diferentes da sociedade se aproximar do passado; entre elas,
há pontos de convergência e oposição. A produção historiográfica se relaciona à construção da
memória histórica, que são informações sobre tempos pretéritos contidas em diversos suportes
materiais, genericamente chamados “documentos”. De um modo livre, podemos definir a História
como o conhecimento racional sobre o passado; as narrativas históricas analisam o que foi vivido
pessoal e coletivamente e são permeadas por silêncios e exclusões. O mesmo ocorre com a
memória, que podemos definir como um conjunto de experiências vivenciadas, pessoalmente ou
por relatos, cuja evocação condiciona-se a situações externas aos indivíduos, sejam elas
materiais ou não.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apontamos, em traços gerais, a construção do patrimônio cultural, desafio que inclui diferentes
agentes: Estado, órgãos e instituições nacionais e internacionais especializados, movimentos
sociais e iniciativa privada.
Tal construção envolve tensões e disputas materiais e simbólicas, uma vez que resulta em um
universo no qual, estar representado, significa ser reconhecido como construtor da história.
REFERÊNCIAS
CURY, I. (Org). Cartas patrimoniais. Rio de Janeiro: Iphan, 2000. p. 13- 17.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH). Assembleia Geral da ONU, A/Res/3/217A, (10 dez. 1948).
TOURINHO, A.; RODRIGUES, M. Patrimônio, espaço urbano e qualidade de vida. In: Oculum
ens. Campinas (SP), v. 14, n. 2, p. 349-366, maio-ago. 2017.
EXPLORE+
Caso queira ampliar suas leituras sobre a construção do patrimônio cultural, consulte a revista
especializada, publicada pelo Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo,
onde encontrará artigos isolados e dossiês sobre diversos temas.
Para conhecer algumas resoluções importantes do IPHAN sobre a questão do patrimônio, veja:
Processo n. 00610/1975
Processo n. 22831/1983
Processo 20640/1978
Um documento muito importante sobre a relação entre turismo e patrimônio é Carta de Turismo
Para conhecer mais sobre memória operária veja o documentário Memórias de Um Rio Fabril ,
de 2017 e dirigido por Paulo Fontes, Thais Blank e Isabel Joffily, que consta no site do
Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho - LEHMT.
Quer conhecer algumas iniciativas municipais e estaduais sobre a questão do patrimônio? Leia o
artigo da professora Marly Rodrigues:
CLIQUE AQUI
Que conhecer um pouco mais sobre a história da preservação de patrimônios culturais? Leia o
artigo da professora Marly Rodrigues:
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Quer conhecer um pouco mais sobre a trajetória internacional dos meios de preservação e
patrimônio. Leia o artigo da professora Marly Rodrigues:
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CONTEUDISTA
Marly Rodrigues