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MUSEUS, ARQUIVOS E

PATRIMÔNIO HISTÓRICO
A CONSTRUÇÃO DO
PATRIMÔNIO NACIONAL:
O CASO BRASILEIRO
SPHAN
Autor: Me. Juscelino Pereira Neto
Revisor: Vinnícius Pereira De Almeida

INICIAR
introdução
Introdução
Nos últimos anos, tem havido um crescente interesse acadêmico em questões
de construção do patrimônio histórico e da identidade nacional. Ainda que
muitos atribuam ao sentimento de identidade nacional um senso de
artificialidade, ele é indubitavelmente importante para a construção de uma
nação, uma vez que atribui à população um sentimento de pertencimento e
de identificação com um grupo específico e, ao mesmo tempo, de ser
diferente de outros grupos.

Nesta Unidade II, veremos como o senso de identidade nacional fornece um


meio poderoso de definir e localizar seus individuais no mundo e conecta um
grupo de pessoas a um local geográfico específico.
Patrimônio com
Construção
Identidade
Nacional

A identidade nacional é um conceito complexo, multidimensional e


multifacetado, e, com efeito, definir identidade nacional (bem como a própria
nação) é problemático. A definição de nação como uma comunidade política
imaginada, feita pelo historiador americano Benedict Anderson (2008),
encontrou ampla aceitação no campo das discussões do patrimônio histórico.
A nação é imaginada no sentido de que consiste em um grupo de pessoas que
nunca se conhecerão nem travarão contato entre si, mas que compartilham a
crença de que todas pertencem à mesma comunidade.

Na concepção de Anderson, as nações são tão imaginadas quanto são


entidades materiais. Da mesma forma, as identidades nacionais não são
lançadas nas pedras que compõem os patrimônios, mas são identidades
imaginadas. Além disso, há um reconhecimento crescente de que os
conceitos de nação e de identidade nacional estão impregnados de discursos
fluidos, transitórios, contextuais e contestados, de modo que não é possível
identificar identidades nacionais fixas.

Existem vários componentes fundamentais da identidade nacional, incluindo


um território histórico (da pátria), mitos comuns e memórias históricas, uma
cultura pública de massa comum, direitos e deveres legais comuns para
membros da nação e uma economia comum.

Este artigo foca no segundo elemento - História e passado. Um passado é um


elemento imprescindível para uma nação. Como Lowenthal (1991) avaliou, a
identidade nacional exige a construção de uma herança, para, assim,
considerá-la única. A fim de levar a cabo esse projeto, é feito um uso
nacionalista do passado, isto é, concentra-se em "lendas e paisagens" que
estejam presentes e sejam manifestações do país, que permitam criar um
repertório patrimonial e cultural para que a nação se alicerce no tempo e no
espaço.

Assim, na Europa, desde a ascensão do nacionalismo nos séculos XVIII e XIX,


parte do processo de edificação da nação tem sido a construção de um
passado nacional. Nesse processo, a História adquiriu considerável
importância política. No entanto, quando esse passado nacional não estava
disponível, muitas nações simplesmente fabricaram um, e essa "invenção da
tradição" é um elemento comum na construção da nação. De fato, errar a
história faz parte de ser uma nação.

Um passado nacional é construído a partir de uma coleção de mitos, tradições


e lendas. Normalmente, incluem-se mitos de origem, ascendência, migração,
libertação, citando-se, também, uma “Idade de Ouro” para o surgimento da
identidade nacional, eventualmente, um declínio e, finalmente, um
renascimento (SMITH, 1991).
Figura 2.1 - Festival folclórico do Bumba Meu Boi ou Boi-Bumbá em Parintins,
Amazonas
Fonte: Ricardo Stuckert / Wikimedia Commons.
O ponto central de um passado nacional é a premissa de uma “Era de Ouro”
idealizada e gloriosa - um tempo de esplendor comunitário, com seus sábios e
heróis, a era em que a comunidade alcançou sua forma clássica e logrou um
legado de memórias gloriosas e realizações culturais. A crença em uma época
de ouro serve para ancorar a nação no passado e é frequentemente usada
como um exemplo para a concretização do qual a nação pode se esforçar no
futuro (SMITH, 1986).

Raramente, porém, qualquer passado nacional é de fato puramente nacional,


enquanto manifestações que estão circunscritas dentro de um território
nacional. Smith (1991) observa que dificilmente é possível falar do passado
único de uma nação; em vez disso, "o" passado transmitido é de várias
camadas e capaz de interpretações diferentes. Da mesma forma, argumenta
que é raro existir um consenso seguro sobre qual ou quais lendas e paisagens
simbolizam a nação. Além disso, a seleção, inclusão e exclusão é uma parte
essencial dos que se dispõem a criar narrativas nacionais (DIAZ-ANDREU;
CHAMPION, 2016).
reflita
Reflita
A citação a seguir incentiva a reflexão
sobre a função da História enquanto
uma disciplina que, ao investigar os
processos históricos, acaba
produzindo narrativas sobre o
passado e o patrimônio cultural de um
país. Vejamos:

“A história, assim como a antropologia,


sem falar no folclore, desempenha
papel importante na articulação das A
narrativas nacionais sobre patrimônio
cultural. No entanto, enquanto
antropólogos, historiadores, ou
folcloristas, escrevem textos de
descrição e análise de sociedades,
culturas, instituições, rituais, etc.,
aqueles que lidam pragmaticamente
com o chamado "patrimônio cultural"
dedicam-se às práticas de colecionar,
restaurar e preservar objetos com o
propósito de expô-los para que
possam ser vistos e preencham as
funções pedagógicas e políticas que
lhe são atribuídas” (GONÇALVES, 2002,
p. 21).
A definição de um passado nacional ideal excluirá ou marginalizará as versões
de passado de outros grupos, de comunidades que às vezes vivem dentro das
mesmas fronteiras. Com efeito, um passado nacional é uma construção que,
como conceitos da própria nação, será contextual e contestada (SMITH, 1991).

Com a ascensão dos nacionalismos na Europa do século XIX, os aspectos


tangíveis de restos do passado começaram a assumir uma importância
considerável para a identidade nacional. Nos Estados-nação emergentes da
Europa, relíquias e ruínas eram reverenciadas como a consciência
materializada de grupo e como vestígios de aspirações nacionais do passado,
que, por sua vez, constituíam um estímulo importante ao surgimento de um
movimento de preservação (LOWENTHAL, 1991).

Consequentemente, muitos edifícios, monumentos e paisagens naturais


alcançaram um significado considerável como símbolos ou ícones de uma
nação emergente e foram apropriados pelos poderes constituídos para o
propósito de construção da nação. No processo, tornaram-se monumentos
nacionais, dotados de novos e poderosos significados (GONÇALVES, 2002).

praticar
Vamos Praticar
A defesa dos bens culturais materiais e imateriais do patrimônio histórico brasileiro
é levada a cabo pela autarquia federal, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) e por demais órgãos competentes.

Acerca do dever dos institutos do patrimônio, considere o papel desempenhado por


eles e assinale a alternativa correta.
a) A solicitação de tombamento de qualquer patrimônio ao IPHAN deve ser
pedida somente por pessoa jurídica
b) No Livro do Tombo Histórico, estão reunidas as inscrições dos bens
culturais em função do valor artístico, como obras de pintores nacionais.
c) O tombamento é o dispositivo constitucional mais antigo à serviço da
defesa do patrimônio instituído em 1937.
d) O IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas
Gerais) realizou o tombamento do conjunto arquitetônico da cidade de Ouro
Preto/ MG devido ao seu valor histórico arquitetônico
e) Os únicos monumentos arquitetônicos tombados em nível federal, no
estado de Minas Gerais, estão localizados na cidade de Ouro Preto/MG.
Os Significados do
Patrimônio Cultural

Ao iniciar uma discussão acerca do que seja patrimônio cultural, é comum se


remeter a artefatos (pinturas, desenhos, gravuras, mosaicos, esculturas),
monumentos e edifícios históricos, além de locais arqueológicos. Porém, o
conceito de patrimônio cultural é ainda mais amplo e, gradualmente, cresceu
para incluir toda evidência de criatividade e expressão humana: fotografias,
documentos, livros e manuscritos, instrumentos etc. como objetos individuais
ou coleções.

A noção de patrimônio, com efeito, tem se ampliado ao longo do tempo e


seus novos usos produzem efeitos sociais que devem ser objetos de análise. É
sabido que, em meados da década 1970, observa-se um alargamento da
noção de patrimônio histórico e cultural, que incluía não somente os bens
materiais ou tangíveis, mas também os bens intangíveis, como, por exemplo,
gastronomia, práticas culturais diversas, celebrações, música, festividades,
costumes, rituais etc..

Hoje, cidades, patrimônios subaquáticos e ambientes naturais também são


considerados parte do patrimônio cultural, uma vez que as comunidades se
identificam com a paisagem natural e aspiram a sua permanência.
Monumentos têm o objetivo de marcar o ponto mais alto das realizações
humanas selecionadas do passado; dão uma sensação edificante de que a
grandeza já foi - e ainda é - possível; têm pretensão universalizante pois
ambicionam inspirar as gerações atuais (ROCHA, 2009).

Além disso, o patrimônio cultural não se circunscreve somente aos objetos


tangíveis cuja materialidade não se discute; consiste, também, em elementos
imateriais: tradições, práticas, ritos, artes cênicas, história oral, artesanato,
representações, conhecimentos e habilidades legados de geração em geração
dentro de uma coletividade.

De acordo com Caixas (2005), a roda de capoeira, uma mistura de dança e


luta, remonta, em sua origem, ao período da escravidão no Brasil, sendo
resultado de processos históricos complexos, estando em constante evolução.
O conceito de patrimônio cultural e natural é baseado em sistemas de valores
que mudam historicamente. Esses valores são reconhecidos por diferentes
grupos de pessoas. As ideias desenvolvidas e aceitas por esses diferentes
grupos criam várias categorias de patrimônio cultural e natural (patrimônio
mundial, patrimônio nacional, etc.).

Figura 2.2 - Homens jovens praticando capoeira, típica arte brasileira durante
protestos contra o governo federal
Fonte: Everson dos Santos de Andrade / 123RF.
Os objetos do patrimônio cultural são simbólicos. Eles representam
identidades em termos de cultura e ambiente natural. A conexão e as
atividades tradicionais em torno desses objetos criam um senso de
comunidade. Ao mesmo tempo, a seleção de quais objetos, monumentos ou
ambientes naturais são preservados define a trajetória futura de várias
narrativas culturais e o consenso da sociedade sobre o passado e presente.

A herança imaterial diz respeito, de fato, a uma variedade imensa de


tradições, músicas e danças, como tango e flamenco, procissões sagradas,
carnavais, falcoaria, cultura de cafeterias vienenses, o tapete do Azerbaijão e
suas tradições de tecelagem, marionetes de sombras chinesas, dieta
mediterrânea, canto védico, Teatro Kabuki, o canto polifônico do Aka da África
Central, apenas para citar alguns exemplos.

praticar
Vamos Praticar
O processo que envolve o tombamento de monumentos históricos, objetos
culturais brasileiros e bens imateriais pressupõe o cumprimento de um trâmite
procedimental específico (SIMÕES PIRES, 1994).

Sobre os meandros, assinale a alternativa correta.

a) Tombamento é um ato administrativo realizado pelo poder público nas


esferas estaduais e municipais, cabendo ao poder federal apenas o estudo
técnico e a seleção do bem a ser tombado
b) A partir da Carta Magna, se estabeleceu que é dever exclusivo da União a
defesa do patrimônio histórico-cultural
c) Entre os precedentes normativos na legislação brasileira sobre o
instrumento do tombamento, destaca-se o Decreto – Lei nº. 30 de 30 de abril
de 2006.
d) Estados e municípios têm competência para assegurar proteção do
patrimônio cultural apenas no que concerne a bens arquitetônicos e
memória imaterial.
e) Tombamento é um procedimento previsto pela Constituição que opera em
favor da preservação do patrimônio cultural, assegurando a proteção de
bens móveis, imóveis e imateriais.
A Importância da
Proteção do
Patrimônio Cultural

Em concomitância aos debates públicos sobre a necessidade de se preservar


o “patrimônio natural”, se assume, em proporções globais, um debate
acalorado acerca da necessidade de proteger as práticas e o patrimônio
cultural das “culturas tradicionais”. A ampliação desses conceitos tem
possibilitado a inserção de novos sujeitos políticos com novos discursos
(GONÇALVES, 2002). Contudo, a herança cultural não é apenas um conjunto
de objetos ou tradições culturais do passado. É, também, o resultado de um
processo de seleção, um processo de memória e esquecimento que
caracteriza toda sociedade humana constantemente empenhada em escolher
– por razões culturais e políticas – o que vale a pena ser preservado para as
gerações futuras e o que não vale.

Todos os povos contribuem para a cultura do mundo. Por isso, é importante


respeitar e salvaguardar todo o patrimônio cultural, por meio de leis nacionais
e tratados internacionais. O tráfico ilícito de artefatos e objetos culturais,
pilhagem de sítios arqueológicos e destruição de prédios e monumentos
históricos causam danos irreparáveis ao patrimônio cultural de um país.
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura), fundada em 1954, adotou convenções internacionais sobre a
proteção do patrimônio cultural, a fim de promover a compreensão
intercultural, enfatizando a importância da cooperação internacional.

Figura 2.3 - Bandeira da UNESCO: apresenta o logotipo da instituição com sua


sigla em fontes brancas em um fundo azul-claro. O desenho traz um templo
formado também por um front e uma escadaria de três degraus, sendo que
cada letra conforma uma coluna do pórtico de um templo grego antigo
Fonte: Uhland38 / 123RF.
A proteção da propriedade cultural é um problema antigo. Uma das questões
mais frequentes na proteção do patrimônio cultural é a difícil relação entre os
interesses do indivíduo e da comunidade, o equilíbrio entre os direitos
públicos e privados (STRINATI, 1999).

Desde o século XIX, o conceito de patrimônio cultural tem motivado a criação


de museus que preservassem o conteúdo de artefatos, objetos que
evocassem a História do país. Este tem sido um dos principais fatores desse
processo. Como resultado, observou-se a criação de museus nacionais e de
comissões ou instituições de proteção de monumentos.

Veja o infográfico, a seguir, sobre a importância do patrimônio cultural


nacional:
Cultura
e
herança
cultural 123rf.co

Há uma afirmação que diz que a


cultura e a herança cultural nos
'moldam'. O que isso significa?

A imagem é uma vista panorâmica da


antiga cidade de Pompéia, com casas e
ruas. Classificado como Patrimônio
Mundial pela UNESCO, Pompeia é uma
antiga cidade romana que foi destruída
devido à erupção do Monte Vesúvio no
século I. Nápoles, Itália.

Atualmente, no século XXI, é melhor entender que o patrimônio tem


significado em vários níveis, sendo objeto de abordagens e metodologias
multidisciplinares que podem ser desenvolvidas e usadas em todo o mundo.
O patrimônio cultural está no escopo da investigação de uma série de ciências
humanas, sociais e estudos ambientais. As soluções para o patrimônio
cultural e as questões de gerenciamento de recursos são melhor alcançadas
através do reconhecimento de diferenças e da legitimação de interesses
conflitantes, de modo a buscar um terreno comum.
praticar
Vamos Praticar
O Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, editado no Estado Novo de
Getúlio Vargas, significou a criação de um marco nacional e organizou a proteção do
patrimônio histórico e artístico nacional (ANDRADE, 1987).

Sobre a legislação e mecanismos jurídicos do patrimônio histórico nacional, assinale


a única alternativa correta.

a) Em 1936, o modernista Mário de Andrade aceitou o convite do Ministro da


Educação e Saúde, Gustavo Capanema, para elaborar o projeto de criação do
futuro SPHAN.
b) O SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), criado em
1933, teve como primeiro presidente a figura do escritor Mário de Andrade.
c) Uma das primeiras intervenções do SPHAN foi a elevação de Ouro
Preto/MG - por meio Decreto nº 22.928 - ao estatuto de patrimônio nacional.
d) O SPHAN manteve suas atividades até meados de 1937, quando foi
fechado por ação do Estado Novo, governo ditatorial de Getúlio Vargas.
e) O SPHAN de 1937 foi o primeiro órgão voltado para a preservação do
patrimônio no Brasil.
O Caso Brasileiro: o
SPHAN e o
Patrimônio
Brasileiro na
Legislação Nacional

Com o objetivo de seguir os passos da criação do patrimônio brasileiro a


partir dos esforços oficiais do Estado-nação, é necessário examinar a
legislação que estabelece o patrimônio no Brasil, através do qual o Estado usa
seu poder.

Conforme postula Canani (2005), o projeto de lei que iniciou as discussões


sobre a preservação do patrimônio cultural no Brasil foi solicitado durante o
governo de Getúlio Vargas, às vésperas da ascensão do Estado Novo, em
1936, quando o ministro da Educação, Gustavo Capanema, pediu a Mário de
Andrade que escrevesse o projeto que acabou sendo a gênese da legislação
sobre o patrimônio.
Nesse período, uma disputa sobre patrimônio no Brasil era travada por um
grupo de intelectuais no decorrer do Movimento Modernista, cuja proposta
era renovar, produzir arte, música e literatura originais e que fossem
tipicamente brasileiras. No Movimento Modernista, figuravam, entre os
artistas de maior renome, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel
Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral
e Lúcio Costa (BRASIL, 1976).

Sobre o tema, modernistas como Mário de Andrade apresentavam


comportamento ambíguo, pois, embora tenha pregado a modernização,
também salientava a necessidade de manter as tradições. Os intelectuais
modernos começaram a se preocupar com a herança brasileira e seu valor.
Esses artistas também foram os idealizadores de um movimento cultural
chamado Semana de Arte Moderna de 1922. Desde o início, registra-se que
Mário de Andrade e Lúcio Costa foram especialmente importantes para a
criação e operação da agência nacional de proteção, o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN).

Contudo embora a ideia se propusesse como moderna, os esforços


embrionários de defesa do patrimônio nacional se orientavam a partir da
visão do que era cultura daqueles que estavam à frente do projeto. Com
efeito, optou-se por proteger apenas os edifícios e monumentos
arquitetônicos que representavam um Brasil colonial, selecionando-se locais e
monumentos do século XVIII como símbolos de nossas raízes socioculturais e
com lastro de nossa identidade nacional.

Após o projeto de Mário de Andrade, outras propostas surgiram, revelando


um pouco de preocupação com a preservação de um patrimônio para as
gerações futuras, criando um cenário complementar no sistema jurídico
brasileiro. A promulgação do Decreto-Lei nº 25, no dia 30 de novembro de
1937, encaminhou, de modo oficial, a organização da proteção do patrimônio
histórico. De fato, a política conservacionista brasileira já ocorria no início do
século passado, com a criação da Inspetoria de Monumentos Nacionais entre
1934 e 1937, iniciativa pioneira do governo para institucionalizar uma ação e
proteger o patrimônio cultural brasileiro.
O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico (SPHAN), que definia o
patrimônio como todos os bens móveis e imóveis do país e cuja conservação
era de interesse público - seja para conectar a notável história brasileira, seja
devido a seus excepcionais recursos arqueológicos, etnográficos, literários ou
artísticos -, se orientava pelo Decreto-Lei nº 25 de novembro de 1937.

Essa organização, Sphan, posteriormente denominada Instituto do Patrimônio


Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), compartilhava da tarefa de identificar e
registrar o patrimônio cultural, artístico e histórico em estados e cidades. O
registro de imóveis poderia ser realizado em qualquer uma das instâncias
federais, desde que obedecessem à mesma lei, qual seja, registrar e
reconhecer oficialmente um ativo em uma organização com registro de
patrimônio.
saiba
mais
Saiba mais
O novo site do Iphan já está no ar. Com um
visual mais moderno e mais ágil, o novo
Portal do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) apresenta novas
características, com maior conteúdo que
facilita o acesso aos internautas. Essa nova
plataforma foi construída com vistas a
aprimorar o acesso a todas as informações
que digam respeito ao Patrimônio Cultural
Brasileiro sob a supervisão do Iphan.

Para conhecer mais o portal, acesse o


endereço eletrônico a seguir.

ACESSAR

O artigo primeiro, caput 2, do Decreto-Lei nº 25/37 oferece os contornos


normativos do conceito de patrimônio cultural, considerando “[...]
monumentos naturais, bem como sítios e paisagens que importe conservar e
proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou
agenciados pela indústria humana” (BRASIL, 1937, on-line ).

O Brasil desenvolve uma política para a identificação e preservação de obras


de arte, monumentos e outras propriedades materiais através do instituto
jurídico de registro desde 1937. A partir da criação de um arcabouço
institucional, foram frutíferos os esforços do governo brasileiro para
preservar sua herança cultural. Embora funcione de maneira eficiente, as
políticas preservacionistas ficaram circunscritas a edifícios arquitetônicos,
obras de arte de cunho religioso cristão e outras propriedades dessa
natureza. Naquela época, os registros do patrimônio histórico não
preservavam as identidades culturais de populações afro e bens simbólicos
imateriais (intangíveis). Esse reconhecimento só viria nas décadas seguintes.

praticar
Vamos Praticar
O ordenamento legislativo vigente versa sobre o processo de tombamento, sobre
bens da cultura material e regulamenta a preservação do patrimônio cultural e
histórico nacional, e é muito específico sobre as atribuições do poder público neste
campo.

Considere as alternativas a seguir que tratam da competência do poder público e


assinale a alternativa correta.

a) É assegurado ao Poder Público, lastreado pela Constituição Federal de


1988, o dever de proteger o patrimônio cultural, exceto inventários, bem
como desautorizar as desapropriações.
b) O conceito de cultura representa um conjunto abrangente de práticas,
conhecimentos, formas de expressão, de pensamento, de crenças e formas
artísticas, dentre outras, de uma nação.
c) Os bens culturais preservados pelo IPHAN são um conjunto de bens
culturais classificados segundo seu pertencimento e natureza presentes nos
sete Livros do Tombo.
d) O patrimônio paisagístico nacional se refere a uma paisagem cultural do
patrimônio moderno brasileiro. O órgão competente por sua classificação e
preservação é o Instituto de Gestão do Património Arquitetônico e
Arqueológico (IGESPAR).
e) São consideradas manifestações culturais brasileiras: o Carnaval, o
Candomblé, as Olimpíadas, a Roda de Samba, a Copa do Mundo, entre
outras.
indicações
Material
Complementar

FILME

Narradores de Javé
Ano : 2004
Comentário : Narradores de Javé é um filme nacional
sob a direção de Eliane Caffé, realizado em coprodução
com a França no ano de 2003. O filme se situa no
interior do estado da Bahia e narra os esforços de
munícipes que se uniram para fazer um relato sobre
suas memórias do local, já que o vilarejo seria destruído
em razão da construção de uma usina hidroelétrica. O
longa de Eliane Caffé permite que o estudante realize
uma reflexão sobre como ocorre o processo de escrita
da história, como se forma a cultura imaterial e a
conformação de uma memória coletiva.
Assista o trailer do filme a seguir.

TRAILER

LIVRO

O que é Patrimônio Histórico


Editora : Brasiliense
Carlos Alberto Cerqueira Lemos
ISBN : 9788511000467
Comentário : Sugere-se a leitura da obra pela sua
capacidade de transmitir, de maneira didática, as
categorias essenciais sobre o que é patrimônio
histórico, sua natureza, função e o que se enquadra
dentro desta categoria, isto é, artefatos, edifícios
arquitetônicos, o meio ambiente e os recursos naturais.
O autor instiga o leitor a observar os monumentos
conforme sua função, longevidade e relação com os
períodos históricos. O livro faz parte da consagrada
coleção “Primeiros Passos” da Editora Brasiliense,
especialmente para estudantes da área que pretendem
estabelecer um contato inicial com o tema.
conclusão
Conclusão
No decorrer desta Unidade, vimos que a História é essencial para a definição
de uma nação. Cada nação precisa demonstrar que possui um passado
nacional e uma herança, em suas inúmeras formas, sendo estas associadas
ao seu processo de construção. Frequentemente, aspectos da herança
nacional adquirem uma importância simbólica poderosa, ao representar
aspirações e identidade nacionais. Em muitos casos, um patrimônio nacional
é representado por edifícios ou monumentos e, nesse processo, eles podem
adquirir significados dinâmicos, complexos e de várias camadas. No entanto,
nem todo edifício e monumento histórico tem esse papel. Ademais, alguns
dos símbolos mais poderosos da identidade nacional são frequentemente
intangíveis (como, por exemplo, o idioma ou as tradições), os chamados
patrimônios imateriais.

referências
Referências
Bibliográficas
ANDERSON, B. Comunidades imaginadas : reflexões sobre a origem e a
difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
ANDRADE, R. M. F. Rodrigo e o SPHAN : coletânea de textos sobre patrimônio
cultural. Rio de Janeiro: MinC/SPHAN/Pró-Memória, 1987.

BRASIL. Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937 . Organiza a proteção


do patrimônio histórico e artístico cultural. Rio de Janeiro: 1937. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm . Acesso em:
23 abr. 2020.

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proteção aos bens culturais . Brasília, DF: MEC/IPHAN, 1976.

CANANI, A. S. K. B. Herança, sacralidade e poder: sobre as diferentes


categorias do patrimônio histórico e cultural no Brasil. Horizontes
Antropológicos , Porto Alegre, v. 11, n. 23, p. 163-175, jan./jun. 2005.

CAXIAS, R. Capoeiragem : expressões da Roda Livre. Rio de Janeiro: Impresso


Brasil, 2005.

DIAZ-ANDREU, M.; CHAMPION, T. Nationalism and archaeology in Europe .


London: Routledge, 2016.

GONÇALVES, J. R. S. A retórica da perda : os discursos do Patrimônio Cultural


no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002.

HOBSBAWM, E.; RANGER, T. A invenção das tradições . Rio de Janeiro: Paz e


Terra, 1990.

LOWENTHAL, D. British national identity and the english landscape. Rural


History , v. 2, n. 2, p. 205-230, 1991.

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DALPRA, P. (Org.). DNA Brasil : tendências e conceitos emergentes para as
cinco regiões brasileiras. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2009.

SIMÕES PIRES, M. C. Da proteção ao patrimônio cultural : o tombamento


como principal instituto. Belo Horizonte: Del Rey, 1994.

SMITH, A. D. National identity . Reno: University of Nevada Press, 1991.


SMITH, A. D. The ethnic origins of nations . Oxford: Basil Blackwell, 1986.

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UNESCO. Convenção de Haia . 1954. Disponível em: www.portaliphan.gov.br.


Acesso em: 21 abr. 2020.

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