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Mercado cultural, formatos de captação e parcerias

Aula 5: O papel das leis de incentivos à cultura no Brasil

Apresentação
Veremos nesta aula quais são as leis de incentivos que existem no Brasil, como funcionam, quais suas principais
dinâmicas e os mecanismos utilizados na área cultural em seus diversos setores. Detalharemos também a importância
das leis e o papel do estado.

Objetivo
Identi car quais são as leis de incentivos existentes no Brasil;

Reconhecer a dinâmica e entender os seus mecanismos;

Discutir sobre a importância das leis no mercado cultural e o seu papel de fomento a estas atividades.

Primeiras palavras
Para saber e entender quais as leis de incentivos no Brasil precisamos saber que estes incentivos no país são baseados em
mecanismos de benefícios scais, dentro da legislação do mecenato cultural, que permite o incentivo a projetos culturais pela
captação de recursos de pessoas físicas e jurídicas.

Ao conceito clássico de proteção aos artistas e às artes, as sociedades modernas acrescentaram um conjunto de incentivos
de natureza scal, que se traduzem na redução de impostos para quem contribui para o desenvolvimento cultural da nação.

Nesta aula vamos explorar quais são as leis de incentivos que existem no Brasil e como se dão no ambiente cultural e social.

Vamos primeiro contextualizar o tema a partir do entendimento do histórico destas iniciativas na área de cultura no
Brasil:

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1966
Criação do Instituto Nacional do Cinema (INC). Extinto em 1975.

1969
Criação da EMBRAFILME. Extinta em 1990.

1986
Lei Sarney – precursora das atuais leis de incentivos scais - extinta em 1990.

1987
Criação do Fundo do Cinema Brasileiro (FCB). Extinto em 1990.

1990
Lei Mendonça na Cidade de São Paulo.

1991
Lei Rouanet (Lei 8.313/91, alterada pela Lei 9.874/99). Um dos pilares do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac),
que também conta com o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e os Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficarts).

1992
Lei do ICMS no Estado do Rio de Janeiro.

1993
Lei do Audiovisual (Leis 8.685/93 e 11.329/06).

1995
Secretaria de Apoio à Cultura.

1997
Lei Rouanet rede ne teto de 5% do IR para 4%.

2000
Criação da Ancine.

2006
Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, com a principal função de subsidiar as decisões sobre a aprovação de
projetos culturais que pleiteiam incentivo scal por meio da Lei de Incentivo à Cultura. É colegiado onde integram: o
secretário especial da Cultura, os presidentes das sete entidades culturais vinculadas ao Ministério da Cidadania
(Agência Nacional do Cinema – Ancine, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, Instituto Brasileiro
de Museus – Ibram, Fundação Biblioteca Nacional, Fundação Casa de Rui Barbosa, Fundação Nacional de Artes –
Funarte e Fundação Cultural Palmares) e o presidente da entidade nacional que congrega os Secretários de Cultura das
unidades federativas. No total, são 16 membros titulares.
O crescimento observado no setor cultural brasileiro nas últimas décadas tem sido fortemente marcado pela presença do
poder público como principal agente de fomento à cultura. O Estado, por meio destes mecanismos de renúncia scal, tem
contribuído para o investimento em produções culturais em todo o país, com ênfase na região sudeste e, particularmente, nos
estados e nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

 (Fonte: Shutterstock)

Nesse sentido, dentre as diversas fontes de nanciamento de projetos culturais, a modalidade que mais se destaca são estes
incentivos scais que funcionam como estímulos concedidos pelo governo para a viabilização de empreendimentos
estratégicos, sejam eles culturais, econômicos ou sociais. Possuem também a nalidade de melhorar a distribuição de renda
regional. No caso dos incentivos scais direcionados à cultura, o poder público estimula a participação da iniciativa privada e
apoia a produção cultural do país por meio destes benefícios.

Existem incentivos que facilitam a transferência de recursos para atividades relacionadas ao terceiro setor com o objetivo de
fortalecer o tecido social do país. Esses incentivos são importantes ferramentas para a consolidação da sustentação
nanceira das entidades sem ns lucrativos.

Como incentivar?

1 2

Incentivos scais para doações livres Incentivos scais para doações/patrocínio a


projetos chancelados

Incentivos scais para doações a fundos


públicos

As leis de incentivo e seus mecanismos


No plano federal, a Lei Federal de Incentivo à Cultura permite a dedução de parte ou do total do valor investido em projetos
previamente aprovados pelo Ministério da Cultura (MINC) no imposto de renda de pessoa jurídicas e de pessoas físicas.
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Lei Federal de Incentivo à Cultura (conhecida como antiga Lei Rouanet) 

Abrangência: Âmbito nacional


Objetivo: Produção e difusão cultural
Regulador: Ministério da Cultura
Quem pode receber incentivo: Instituições com ou sem ns lucrativos que tenham natureza cultural

A Lei de Incentivo à Cultura não é um mecanismo de investimento, mas de patrocínio (aplicam-se recursos para o
retorno de marketing) ou doação (aplicam-se recursos sem fazer uso de publicidade paga para divulgar a operação).

Ela possui dois formatos de abatimento distintos:

a) Para as atividades culturais em geral, que incluem os espetáculos de música popular brasileira, lmes de longa-
metragem, tele lmes e minisséries, a regra geral é a do artigo 26 da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991: “O doador
ou patrocinador poderá deduzir do imposto devido na declaração do Imposto sobre a Renda os valores efetivamente
contribuídos em favor de projetos culturais aprovados de acordo com os dispositivos desta lei”. (BRASIL, 1991.)

Veremos na próxima aula mais detalhes sobre as regras, aplicação e modelos de tributação.

b) Para algumas atividades culturais especí cas, como artes cênicas (teatro, dança, circo etc.), música erudita e
instrumental, exposições de artes visuais, lmes de curta e média metragem, projetos de preservação do patrimônio
material e imaterial, livro de valor artístico, literário ou humanístico e doações de acervo para biblioteca pública, museu e
cinemateca.

Sua regra está estipulada no artigo 18:

Com o objetivo de incentivar as atividades culturais, a União facultará às pessoas físicas ou jurídicas a opção pela
aplicação de parcelas do imposto sobre a renda, a título de doações ou patrocínios, tanto no apoio direto a projetos
culturais apresentados por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas de natureza cultural, como através de contribuições
ao FNC, nos termos do art. 5º, inciso II, desta lei, desde que os projetos atendam aos critérios estabelecidos no art. 1º
desta lei. (BRASIL, 1991.)

Convém de nir o que são doações ou patrocínios nos termos da lei federal:

a) Doação

Transferência gratuita, em caráter de nitivo, à pessoa física ou jurídica de natureza cultural, sem ns lucrativos, de
numerário, bens ou serviços, para a realização de projetos culturais, vedado o uso de publicidade paga para divulgação
deste ato;

b) Patrocínio

Transferência gratuita, em caráter de nitivo, à pessoa física ou jurídica de natureza cultural, com ou sem ns lucrativos,
de numerário, para a realização de projetos culturais, com a nalidade promocional e institucional de publicidade.

Considera-se também patrocínio a cobertura de gastos ou a utilização de bens móveis e imóveis do patrimônio do
patrocinador sem a transferência de domínio, para a realização de projetos culturais sem ns lucrativos.

Em nível estadual, o incentivo scal se dá por meio da dedução de parte do ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) devido pelas pessoas jurídicas ao sco. Assim, as empresas que tiverem interesse em investir
no mecenato cultural deverão apoiar projetos culturais previamente aprovados pelas secretarias estaduais de cultura
(Secults) ou por outros órgãos responsáveis pela operação das leis estaduais de incentivo à cultura (LICs).
Lei de Incentivo à Cultura do Estado – ICMS (circulação de mercadorias e serviços) - n° de lei de
acordo com cada Estado 

Abrangência: âmbito estadual;


Objetivo: produção e difusão cultural;
Regulador: Secretarias de Estado da Cultura;
Quem pode receber incentivo: instituições com ou sem ns lucrativos que tenham natureza cultural.

Já o mecanismo de renúncia scal municipal concede dedução do Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISS) e
do Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU) para fomentar projetos culturais executados nos limites
geográ cos dos municípios. Essa possibilidade depende da existência de uma legislação de incentivo à cultura
aprovada pela câmara municipal e implementada pelas prefeituras.

Lei de Incentivo à Cultura do município – ISS (imposto sobre serviço) - n° de lei de acordo com cada
município 

Abrangência: âmbito municipal;


Objetivo: produção e difusão cultural;
Regulador: Secretarias Municipais de Cultura;
Quem pode receber incentivo: Instituições com ou sem ns lucrativos que tenham natureza cultural.

Agora quando falamos de mecenato cultural, nos programas de fomento por meio de fundos orçamentários, sabemos
que os fundos públicos de apoio à cultura são importantes instrumentos de fomento às atividades artísticas e culturais
a fundo perdido. Portanto, esse tipo de apoio nanceiro diferencia-se das leis de incentivo à cultura, que se baseiam nos
mecanismos de renúncia scal na medida em que dispensam a captação de recursos junto a empresas públicas e
privadas. Nessa modalidade de nanciamento, os projetos são selecionados por editais públicos lançados
periodicamente pelo MINC e pelas secretarias e fundações estaduais e municipais de cultura.

Importância das leis

A seleção dos projetos culturais segue as regras


estipuladas pelas leis ou pelos decretos que regulamentam
os fundos. Os editais dos fundos orçamentários de apoio à
cultura são bastante diversi cados, compreendendo tanto
projetos de criação, difusão, produção, circulação e
montagem de espetáculos, quanto ações de registro e
memória, gestão cultural, formação e quali cação dos
segmentos artísticos, além de manutenção de grupos e
espaços. Assim, é possível produzir lmes, montar peças
de teatro, lançar CDs, DVDs e livros, organizar exposições e
o cinas, entre inúmeras outras iniciativas.
(Fonte: Shutterstock)
A experiência nacional tem demonstrado até o momento que a renúncia scal produz desigualdades – entre regiões,
produtores e criadores – porque a decisão nal sobre o nanciamento é dos patrocinadores, que se orientam por razões de
mercado. Os fundos, além de atuarem com equilíbrio, podem focar suas aplicações em projetos estratégicos que supram
carências e fomentem potencialidades culturais no país. Mas ainda há muita discussão sobre projetos realizados pela
sociedade que não são escolhidos via seleção pública, aberta pelo Poder Executivo por meio de editais.

O MINC, no Plano Nacional de Cultura (PNC), como vimos na última aula, possui diversos programas, bolsas, concursos e
prêmios, como pontos de cultura, fomentos a produção audiovisual, festivais que envolvem as artes - como teatro, música,
música e literatura - e empreendimentos da economia criativa, entre outros. Nos estados e municípios, as assembleias
legislativas e câmaras municipais têm aprovado diversas leis para a constituição de fundos de fomento à cultura.

A fonte de recursos dessas políticas públicas de apoio à cultura geralmente está atrelada a um determinado percentual das
receitas correntes líquidas da administração pública. Em alguns estados, a legislação prevê a possibilidade de as empresas
públicas e privadas aportarem recursos diretamente nos fundos orçamentários mediante dedução no saldo de ICMS a ser
recolhido aos cofres públicos.

Saiba mais

Em termos internacionais, desde 1972, existe na ONU e na Unesco a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural.

Motivos para a utilização de incentivo scal:

a) Não há custo

Por intermédio das leis de incentivo, é possível viabilizar atividades de alta qualidade e grande importância sem custo
para o patrocinador.

b) Possibilidade de exposição da marca

O patrocinador poderá ter sua marca exposta em todo produto cultural resultante no projeto.

Hoje em dia, os mecanismos de incentivo cultural no Brasil continuam


ativos e em solidi cação.

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 Exemplo

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Exemplo
A Lei Rouanet sofreu mudanças signi cativas a partir do governo do Presidente da República, Jair Bolsonaro. A
publicação da nova Instrução Normativa, no dia 22 de abril, traz alterações às regras de acesso e nanciamento de
projetos culturais por meio da renomeada Lei Federal de Incentivo à Cultura. Após extinto o Ministério da Cultura, a
medida foi tomada pelo Ministério da Cidadania.

Segundo anúncio feito pelo ministro da pasta, Osmar Terra, o teto de valores nanciados cará em R$1 milhão. Até
então, o limite era de R$60 milhões. Adicionalmente foi reduzido de R$60 milhões para R$10 milhões, o volume
máximo de recursos que uma mesma empresa poderá receber para viabilizar projetos.

As diversas mudanças simpli cam os processos de análise e aprovação das contas, melhoram o uxo da prestação
de contas, implantam uso de sistema online mais inteligente, assim como incluem informações e projeções de
custos mais detalhadas para respaldo das tomadas de decisões técnicas. É um avanço importante.

A nova regra não inclui projetos de patrimônio tombado (como restauração de construções), construção de teatro e
cinemas em cidades pequenas e planos anuais de museus e orquestras.

Também pelas novas regras, os projetos nanciados devem prever de 20% a 40% de ingressos gratuitos. Esses
devem ser distribuídos preferencialmente a pessoas inscritas no cadastro único (o cadastro que reúne bene ciários
de programas sociais federais, como o Bolsa Família). O valor dos ingressos populares, que era de R$75, vai cair para
R$50.

Um dos objetivos é reduzir a concentração de recursos destinados à Região Sudeste, principalmente nos estados do
Rio de Janeiro e São Paulo. Para isso o governo pretende ampliar medidas para estímulo a projetos realizado nos
demais estados. Além disso, deve haver a promoção de editais focados em cultura regional, a serem elaborados em
parceria com empresas estatais que zerem uso dos mecanismos de incentivo.

A obrigação para os projetos contemplados pelo incentivo de realizar ações educativas relacionadas ao projeto
aprovado foi incluída. Ainda em termos de funcionamento, as prestações de contas anteriores estão sendo
examinadas e as novas serão realizadas pela internet.

A classe artística atualmente está mobilizada, pois acredita que faltam ajustes para a realidade desse segmento.
Mas o fato é que a legislação está passando por fortes modi cações na área de cultura e os pro ssionais, empresas
e instituições envolvidas neste setor vão precisar se adequar ao novo cenário regulamentado. A lei passa a se
chamar apenas Lei de Incentivo à Cultura.

Atividade
1 - Qual a de nição de doação nos termos da Lei Federal de Incentivo à Cultura?

2 - Quando foi criada a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, qual era a sua principal função?
Referências
3 - Qual o principal mecanismo utilizado pelo poder público para o fomento à cultura no país?

BRASIL. Decreto nº 5.761, de 27 de abril de 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/


Decreto/D5761.htm. Acesso em: 23 ago. 2019.

BRASIL. Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8313cons.htm.


Acesso em: 23 ago. 2019.

BRASIL. Nova lei da cultura: material informativo sobre o projeto de lei de fomento e incentivo. Disponível em:
http://www2.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2010/01/projeto-15-28jan10-web.pdf. Acesso em: 12 fev. 2019.

CESNIK, Fábio de Sá; MALAGODI, Maria Eugênia. Projetos culturais. São Paulo: Escrituras, 2012.

COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. 2. ed. (revisto e ampliado). São Paulo:
Iluminuras, 2012.

FERREIRA-LIA, Luzia. Políticas públicas para a cultura: teoria e prática. Curitiba: Appris, 2017.

Próxima aula

Regras para leis de incentivo;

Modelo de tributação das leis de incentivo;

Aplicação prática.

Explore mais

Lei de Incentivo à Cultura.

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