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Abstract: This paper aims to show the importance of interculturality for constructing a
society, where the different cultures can not only coexist but also interact and learn from
each other. In that context, it emerges the responsibility of the state to implement policies
so that aim could be achieved.
Sumário:
1. Introdução - 2. Multiculturalismo x Interculturalidade - 3. Redefinindo os direitos
culturais - 4. Os direitos culturais como direitos fundamentais - 6. Conclusão - 7.
Referências bibliográficas
1. Introdução
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Interculturalidade e direitos fundamentais culturais
2. Multiculturalismo x Interculturalidade
A interculturalidade, pela sua vez, é um conceito que, embora tenha também surgido como
reação dos Estados nacionais ao processo de uniformização cultural decorrente da
globalização, difere substancialmente do multiculturalismo. Virgilio Alvarado 3 distingue
claramente os dois conceitos ao afirmar que, enquanto o multiculturalismo propugna a
convivência num mesmo espaço social de culturas diferentes sob o princípio da tolerância
e do respeito à diferença, a interculturalidade, ao pressupor como inevitável a interação
entre essas culturas, propõe um projeto político que permita estabelecer um diálogo entre
elas, como forma de garantir uma real convivência pacífica. 4
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Interculturalidade e direitos fundamentais culturais
d) Propõe uma nova síntese cultural, o que implica a re-elaboração dos modelos culturais
preconcebidos;
e) Pressupõe a interação entre as culturas, que embora muitas vezes tensa, pode ser
regulada.
Nesse contexto, Alvarado afirma que o Estado não está apenas obrigado a criar e fortalecer
mecanismos de resgate e respeito da identidade cultural dos diferentes grupos que o
compõem, como assim o propõe o multiculturalismo, mas deve também o Estado adotar
sistemática e gradualmente espaços e processos de interação positiva entre as diferentes
culturas, com a finalidade de abrir e gerar relações de confiança, de reconhecimento
mútuo, de comunicação, diálogo e debate, aprendizagem e intercâmbio, cooperação e
convivência.
Para tal, faz-se necessário elucidar que e quais são os direitos culturais que devem ser
protegidos e promovidos pelo Estado, tema que será desenvolvido a seguir.
A bibliografia existente, a respeito de quase todos esses direitos, é muito rica e variada,
não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Não é difícil encontrar obras, pesquisas e
estudos sobre o direito à vida, à liberdade, à igualdade ou à propriedade, clássicos direitos
individuais. Dos direitos políticos muito, também, tem-se escrito, especialmente nos dias
atuais com a redefinição do conceito de cidadania. Os direitos sociais e econômicos, por
sua vez, têm sido objeto de análises e discussões que têm até ultrapassado os âmbitos do
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Interculturalidade e direitos fundamentais culturais
A idéia de cultura, num dos seus usos mais comuns, está associada a um dos domínios do
saber institucionalizado de ocidente, as humanidades. Definida como repositório do que de
melhor foi pensado e produzido pela humanidade, a cultura, neste sentido, assenta em
critérios de valor, estéticos, morais, ou cognitivos que, definindo-se a si próprios como
universais, elidem a diferença cultural ou a especificidade histórica dos objetos que
classificam (...).
Uma outra concepção, que coexiste com a anterior, reconhece a pluralidade de culturas,
definindo-as como totalidades complexas que confundem com as sociedades, permitindo
caracterizar modos de vida assentes em condições materiais e simbólicas. Esta definição
leva a estabelecer distinções entre culturas que podem ser consideradas seja como
diferentes e incomensuráveis, e julgadas segundo padrões relativistas, seja como
exemplares de estádios numa escala evolutiva que conduz do "elementar" ou "simples" ao
"complexo" e do "primitivo" ao "civilizado". 7
Hoje, não mais deve se entender que existem hierarquias de culturas nem imposições de
modelos comportamentais. Assim, com base nesse entendimento, foram aprovadas, nas
31 ª e 33 ª sessões gerais da Unesco, em 2002 e 2005 respectivamente, a Declaração
Universal sobre Diversidade Cultural e a Convenção sobre a proteção e promoção da
diversidade das expressões culturais estabelecendo, esta última, dentre seus princípios:
(...)
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Interculturalidade e direitos fundamentais culturais
Toda cultura, enquanto não afronte a dignidade humana, é válida e valiosa e, como tal,
deve ser respeitada e protegida. 9
Desse modo, os direitos fundamentais culturais que, na sua origem referiam-se apenas ao
direito à educação, mudaram hoje de conteúdo. Assim, enquanto o direito à educação
passou hoje a ser identificado como instrução e compreendido como um direito
fundamental social, conforme o previsto no art. 6.º, da CF/1988 (LGL\1988\3)10, os
direitos culturais passaram a se referir a todas as manifestações materiais e imateriais dos
diversos grupos humanos. Foi dessa forma como o constituinte brasileiro concebeu esses
direitos, prevendo-os nos artigos 215 e 216, da CF/1988 (LGL\1988\3).
Portanto, os direitos culturais não podem mais ser entendidos como sinônimos de instrução
ou educação, sem que isso implique qualquer intenção de diminuir-lhes sua importância ou
transcendência para o desenvolvimento da personalidade humana. A presente proposta,
diferentemente, dirige-se a contribuir para a valorização da diversidade cultural de todos
os povos, 11 por meio do cumprimento e aperfeiçoamento das normas nacionais vigentes.
§ 2.º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte.
O constituinte de 1988, ao instituir o art. 5.º, § 2.º, previu que as fontes dos direitos e
garantias fundamentais poderiam ter assento em outras partes do texto formal da
Constituição, além do Título II, bem como em outros textos legais internacionais ou
nacionais, desde que os mesmos versem sobre matéria relativa a esses direitos.
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Interculturalidade e direitos fundamentais culturais
Da definição pode-se inferir que os direitos fundamentais são normas positivas do mais alto
nível hierárquico, visto a sua função de preservar a dignidade de todo ser humano, tarefa
que deve ser o centro e fim de todo agir. Aliás, a proteção da dignidade humana é o
elemento essencial para a caracterização de um direito como fundamental. É verdade que
todo direito, toda norma jurídica, tem como objeto a salvaguarda e bem-estar do ser
humano - ou pelo menos assim deveria sê-lo - mas, no caso dos direitos fundamentais,
essa proteção é direta e sem mediações normativas.
O caráter principiológico dos direitos fundamentais deriva, pela sua vez, da estrutura
abstrata do seu enunciado, conforme os ensinamentos do jurista alemão Robert Alexy. 15
Por outro lado, afirma-se, também, que os direitos fundamentais buscam legitimar o
Estado, na medida em que o grau de proteção desses direitos permitirá definir o grau de
democracia vigente. Contudo, não apenas o estado está submetido aos limites impostos
pelas normas dos direitos fundamentais, mas os particulares também devem obediência
aos seus ditames. 16
Outra importante forma de proteção dos direitos culturais é a norma que estabelece que
todo direito fundamental tem aplicação imediata (art. 5.º, § 1.º, da CF/1988
(LGL\1988\3)), evitando-se, assim, que a falta de uma norma regulamentadora torne
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Interculturalidade e direitos fundamentais culturais
Não existe nada mais rico do que a diversidade humana. Impor padronizações ou modelos
culturais é ir de encontro à própria natureza do ser humano e, conseqüentemente, ir contra
sua dignidade, princípio fundamental do Estado brasileiro (art. 1.º, III, da CF/1988
(LGL\1988\3)).
A norma prevista no caput do art. 5.º, "todos são iguais", deve ser interpretada no âmbito
jurídico da sua aplicação. Todos, perante o direito, são iguais, e assim devem ser tratados
pelo direito. 18 Não obstante, inexistem dois seres humanos biologicamente iguais e, muito
menos, culturalmente iguais. O direito deve tratar as pessoas como iguais, mas não visar
igualá-las.
[...] as metas maiores da educação multicultural são várias. Elas variam, primeiro, desde
o desenvolvimento de uma alfabetização étnica e cultural (por exemplo, ampliar o grau de
informação sobre a história e as contribuições dos grupos étnicos tradicionalmente
excluídos do currículo) até o desenvolvimento pessoal (por exemplo, desenvolver o
orgulho da própria identidade étnica). Segundo, variam desde a mudança de atitudes e
clarificação de valores (por exemplo, desafiar preconceitos, estereótipos, etnocentrismo e
racismo) até promover a competência multicultural (por exemplo, aprender como interagir
com pessoas diferentes de nós, ou como compreender as diferenças culturais). Terceiro,
variam desde o desenvolvimento da proficiência em aptidões básicas (por exemplo,
melhorar a leitura, a escrita e as habilidades matemáticas de pessoas cujo fundo étnico,
racial e/ou de classe é diferente do capital cultural predominante nas escolas formais) até
a busca da aquisição simultânea de equidade e excelência educacional (por exemplo,
desenvolver o aprendizado de opções atuantes através de diferentes culturas e estilos de
aprendizagem). Quarto, variam desde o aspirar pelo fortalecimento individual até o
alcançar reformas sociais (por exemplo, cultivar nos estudantes as atitudes, valores,
habilidades, hábitos e disciplina para que se tornem agentes sociais comprometidos com a
reforma das escolas e da sociedade, com o fim de erradicar as disparidades sociais, as
opressões racistas, sexistas e classistas, e com isto de melhorar a igualdade das
oportunidades educacionais e ocupacionais para todos). 19
O ensino da história brasileira, pela sua vez, deve levar em conta as contribuições das
diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro (art. 242, § 1.º, da CF/1988
(LGL\1988\3)).
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Portanto, é tarefa do Estado reconhecer, em primeiro lugar, essas diferenças para assim
protegê-las, proibindo qualquer tipo de discriminação e promovendo o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de
discriminação (Art. 3.º, IV, da CF/1988 (LGL\1988\3)).
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
(...)
Impende salientar que a referida obrigação não deve ficar reduzida à atuação do Poder
Público, devendo existir a colaboração da sociedade (216, § 1.º, da CF/1988
(LGL\1988\3)). Com efeito, a sociedade não pode ficar à margem da concretização dos
direitos fundamentais. A Constituição Federal (LGL\1988\3) prevê diversos mecanismos de
participação popular na defesa de seus direitos. Participação esta que pode ser de forma
individual como, por exemplo, por meio do exercício do direito de petição para denunciar
ou reclamar a violação de algum direito (conforme o art. 5.º, XXXIV, a, da CF/1988
(LGL\1988\3)) ou da ação popular para defender o patrimônio histórico e cultural (art. 5.º,
LXXIII, da CF/1988 (LGL\1988\3)), ou de forma coletiva, por meio da ação civil pública.
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Interculturalidade e direitos fundamentais culturais
Destarte, Estado e sociedade devem juntar esforços para a concretização dos direitos
fundamentais culturais, porque somente dessa forma poder-se-á afirmar que se vive em
uma sociedade democrática, na qual todas as pessoas têm iguais direitos de desenvolver
plenamente sua personalidade.
É, dessa forma, obrigação do Estado adotar políticas públicas para a implementação efetiva
das normas constitucionais de proteção dos direitos culturais.
No se trata, por tanto, de reconocer que existen grupos indígenas en el territorio con su
historia, costumbres, lenguas, etc. se trata de que la Constitución integre la totalidad de las
realidades socioculturales como parte constitutiva de la nación para que cada grupo social
encuentre su espacio y su función. En este sentido el Estado debe elaborar políticas
públicas voluntaristas que hagan avanzar las ideas, las formas de organización y la
participación ideológica, social, política, económica, etc. de tal manera que se vaya
creando una nueva consciencia de pertenencia y coexistencia. 20
No entanto, como afirma Wayne Norman, 21 não é suficiente apenas que as políticas
públicas atendam à justiça das suas instituições e aos direitos que as definem, mas devem
também atender às virtudes da cidadania, que não pode ser mais considerada como um
pacote de direitos e liberdades, mas deve incluir virtudes, responsabilidades, atitudes e
identidades. A cidadania deve ser entendida não mais como um status, mas como um agir
em prol do bem-estar da comunidade. 22
6. Conclusão
No século XXI, a humanidade ainda tem a chance de superar os erros do passado. É com
essa preocupação que a interculturalidade propõe não apenas o reconhecimento/respeito
do outro, mas a necessidade de promover a interação pacífica entre as diversas culturas,
pressuposto do próprio engrandecimento da humanidade.
7. Referências bibliográficas
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______. Supremo Tribunal Federal. ADIn 939 -DF . Disponível em: www.stf.gov.br. Acesso
em: 14.12.2006. http://www.ces.fe.uc.pt/emancipa/research/pt/ft/intromulti.html.
Acesso em 01.10.2004B.
FULLER, Norma. Introducción. In: FULLER, Norma (ed.) Interculturalidade y política. Lima:
Red para el desarrollo de las ciencias sociales en el Perú, 2003
_____. Os direitos fundamentais como limites ao poder de legislar. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris, 2001.
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. Malheiros: São Paulo.
2004.
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9. No entanto, o reconhecimento da diversidade cultural dos seres humanos não deve ser
usado como pretexto nem muito menos para justificar atos transgressores à dignidade
humana ou dos outros direitos fundamentais, conforme o disposto no art. 4.° da
Declaração Universal sobre a diversidade cultural.
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10. Art. 6.º "São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição". BRASIL. Constituição da República
(LGL\1988\3) Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm . Acesso em:
27.11.2007.
11. O termo povo é utilizado neste texto no sentido amplo de nação ou comunidade
cultural, e não no sentido político-jurídico.
12. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1995, p. 160.
13. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADIn 939 -DF. Disponível em: www.stf.gov.br.
Acesso em: 14.12.2006.
14. LOPES, Ana Maria DŽÁvila. Os direitos fundamentais como limites ao poder de legislar.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2001, p. 36-37.
15. Cf. ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Madri: Centro de Estudios
Constitucionais, 1993.
16. Cf. SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004.
17. Cf. SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. Malheiros: São
Paulo. 2004.
18. Art. 5.º "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...)". BRASIL. Constituição da República (LGL\1988\3) Federativa do Brasil de
1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm . Acesso em:
27.11.2007.
20. ALVARADO, Virgilio. Políticas públicas e interculturalidade. In: FULLER, Norma (ed.)
Interculturalidade y política. Lima: Red para el desarrollo de las ciencias sociales en el Perú,
2003, p. 45.
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22. Cf. LOPES, Ana Maria DŽÁvila. A cidadania na Constituição Federal (LGL\1988\3)
brasileira de 1988: redefinindo a participação política. In: Paulo Bonavides; Francisco
Gérson Lima de Marques; Fayga Silveira Bedê. (Org.). Constituição e cidadania. Estudos
em Homenagem ao Professor J. J. Gomes Canotilho. São Paulo: Malheiros, 2006. v. 1, p.
21-34.
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