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Cultura e Democracia

CULTURA (latim): cuidado dispensado ao campo ou


ao gado.
XIII: designa uma parcela de terra cultivada.
XVI (começo): não significa mais um estado (da coisa
cultivada), mas uma ação (o fato de cultivar).
XVI (metade): pode designar também a cultura de uma
faculdade, o fato de trabalhar para desenvolvê-la
(cultura das artes, cultura das letras, etc.)
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ILUMINISMO (século XVIII): fala-se do estado do


indivíduo que “tem cultura”, estigmatizando um espírito
natural e sem cultura. É aí que se inicia a oposição
NATUREZA / CULTURA.

Essa oposição é fundamental para os pensadores


iluministas que concebem a cultura como um caráter
distintivo da espécie humana.
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Iluminismo ou esclarecimento foi um movimento


intelectual surgido na França, na segunda metade do
século XVIII (o chamado "século das luzes"), que
enfatizava a razão e a ciência como formas de explicar
o universo. A inspiração do Iluminismo parte da
Revolução Intelectual do século XVII, com tríplice
paternidade:
Descartes (francês do “Penso, logo existo”)
Locke (inglês, experiência de mundo)
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John Locke (1632-1704): acreditava que o homem adquiria


conhecimento através do empirismo.
Voltaire (1694-1778): defendia a liberdade de pensamento e
criticava a intolerância religiosa.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): defendia a noção de
estado democrático e igualdade para todos.
Montesquieu (1689-1755): defendeu a divisão do poder
político em Legislativo, Executivo e Judiciário.
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CULTURA

Progresso Evolução

Educação Razão
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No vocabulário francês do século XVIII:

CULTURA CIVILIZAÇÃO

Progressos Progressos
individuais coletivos
Cultura e Democracia

Tanto cultura quanto civilização são termos


utilizados apenas no singular, marcando o
UNIVERSALISMO e o HUMANISMO dos
filósofos.
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Em 1882, em uma célebre conferência chamada “O


que é uma nação?”, Ernest Renan afirmava com
convicção que:

“antes da cultura francesa, da cultura alemã,


da cultura italiana, existe a cultura humana”.
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Na Alemanha do século XIX, o termo KULTUR


tende cada vez mais para a delimitação e a
consolidação das diferenças nacionais.
O povo alemão, que ainda não conseguiu sua
unificação política, procura afirmar sua existência
glorificando sua cultura.
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Johann Herder (1774), tomava partido pela


diversidade de culturas, riqueza da humanidade.

Contra o universalismo uniformizante do ILUMINISMO


(que é um conceito empobrecedor).
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Johann Herder é considerado, então, o precursor do


conceito RELATIVISTA de cultura.

“foi Herder que nos abriu os olhos sobre as culturas”


(Dumont, 1986)
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A idéia alemã de cultura evoluiu pouco no século XIX


sob a influência do nacionalismo.

ALEMANHA – cultura liga-se ao conceito de nação.


FRANÇA – cultura está relacionada à idéia de
desenvolvimento intelectual e confunde-se, muitas
vezes, com civilização. Unidade do gênero humano.
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Enfim, o debate franco-alemão do século XVIII ao


século XX representa duas concepções de cultura:
uma PARTICULARISTA e a outra UNIVERSALISTA.
Essas duas idéias estão na base das maneiras de
definir o conceito de cultura nas ciências sociais
contemporâneas.
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Dois caminhos seguidos por etnólogos:


1. Privilegia a unidade e minimiza a diversidade,
reduzindo-a a uma diversidade temporária,
seguindo um esquema evolucionista;
2. Privilegia a diversidade, demonstrando que ela
não é contraditória com a unidade fundamental da
humanidade.
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 “A democracia é, assim, reduzida a um


regime político eficaz, baseado na ideia de
cidadania organizada em partidos políticos,
e se manifesta no processo eleitoral de
escolha dos representantes, na rotatividade
dos governantes e nas soluções técnicas
para os problemas econômicos e sociais”.
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 É somente na Democracia que podemos


identificar o princípio republicano de separação
entre a coisa pública e a coisa privada.

 Em nossa realidade sabemos que não é bem


assim. Em Raízes do Brasil, de Sergio Buarque
de Holanda, esse pensamento se reflete na
construção do “Homem cordial”, o qual é
identificado pelo pensador brasileiro, como um
reflexo das nossas relações sociais.
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 O “cerne da democracia: a criação de


direitos.
 E por isso mesmo, como criação de direitos,
está necessariamente aberta aos conflitos e
às disputas.
 A democracia é única forma política na qual
o conflito é considerado legítimo.
 Na Democracia, não existe nenhuma
alternativa fora da política.
Cultura e Democracia

 O que é um direito? Um direito difere de


uma necessidade ou carência e de um
interesse.
 O Direito não é particular e específico, mas
geral e universal, seja porque é válido para
todos os indivíduos, grupos e classes
sociais, seja porque é universalmente
reconhecido como válido para um grupo
social (como é caso das chamadas
“minorias”).
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 Uma sociedade democrática, portanto, é


uma sociedade que institui e garante
Direitos, ou seja, eles são socialmente
construídos.

 A Democracia realiza-se como poder


social, que determina, dirige, controla e
modifica a ação estatal e o poder dos
governantes.
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 A Democracia possui três sustentáculos básicos:


 A igualdade, que afirma, perante as leis e os
costumes da sociedade política, que todos os
cidadãos possuem os mesmos direitos e devem
ser tratados da mesma maneira.
 Porém, a mera declaração do direito à igualdade
não faz existir os iguais, mas ela abre o campo
para a criação da igualdade por meio das
exigências, reivindicações e demandas dos
sujeitos sociais.
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 O segundo pilar é a liberdade, que afirma


que todo cidadão tem o direito de expor em
público seus interesses e suas opiniões, vê-
los debatidos pelos demais e aprovados ou
rejeitados pela maioria, devendo acatar a
decisão tomada publicamente.
 Da mesma maneira que a igualdade, a
simples declaração do direito à liberdade
não a institui concretamente, mas abre o
campo histórico para a criação desse direito
pela prática política.
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 Tanto é assim que a modernidade agiu de


maneira a ampliar a ideia de liberdade: além de
significar liberdade de pensamento e de
expressão, também passou a significar o direito
à independência para escolher o ofício, o local
de moradia, o tipo de educação, o cônjuge etc.
 Entretanto, no que diz respeito a Liberdade de
Expressão, é necessário lembrar que essa não
é plenamente ilimitada. Ultrapassando esses
limites, ela passa a ser CRIME
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 O que a legislação brasileira diz a respeito


disso? O artigo 20 da lei 7.716/1989 é
bastante claro. Prevê pena de um a três anos
de reclusão para quem “praticar, induzir ou
incitar a discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional”. Em seu artigo 1º, trata diretamente
do regime hitlerista, proibindo o seguinte:
“fabricar, comercializar, distribuir ou veicular
símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos
ou propaganda que utilizem a cruz suástica
ou gamada, para fins de divulgação do
nazismo”. A pena? Prisão de dois a cinco
anos, além de multa.
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 Foram as Revoluções burguesas do século


XVIII, seguidas dos movimentos socialistas
do século XIX, juntamente com o
cristianismo social, que a liberdade se
manifesta no direito de lutar contra todas as
formas de tirania, censura e tortura e contra
todas as formas de exploração e dominação
social, econômica, cultural e política.
Cultura e Democracia

 A última pilastra da Democracia é o direito à


participação no poder, que declara que todos
os cidadãos têm o direito de participar das
discussões e deliberações públicas, votando
ou revogando decisões.
 O significado desse direito está nas lutas
democráticas modernas, que apontaram que
do ponto de vista político, todos os cidadãos
têm competência para opinar e decidir, é
uma ação coletiva, quanto aos interesses e
direitos da própria sociedade.
Cultura e Democracia

 “A abertura do campo dos direitos, define a


democracia, explica porque as lutas
populares por igualdade e liberdade
puderam ampliar os direitos políticos (ou
civis) e, a partir destes, criar os direitos
sociais – trabalho, moradia, saúde,
transporte, educação, lazer, cultura –, os
direitos das chamadas “minorias” –
mulheres, idosos, negros, LGBTQIA,
crianças, índios” (CHAUÍ, 2020).
Cultura e Democracia

 “Só há Democracia, com a ampliação


contínua da Cidadania”.
 É na Democracia que se amplia o sentido
dos direitos e abre um campo de lutas
populares pelos direitos econômicos, sociais
e culturais, opondo-se aos interesses e
privilégios da classe dominante.
 A democracia propicia uma cultura da
cidadania.
Cultura e Democracia

 No sistema capitalismo a Democracia enfrenta


diversos obstáculos. O conflito de interesses se
expressa na contradição entre o capital e o
trabalho e, portanto, a exploração e dominação
de uma classe social por outra.
 É nítido que as lutas populares nos países do
capitalismo central ou metropolitano,
ampliaram os direitos dos cidadãos e
reduziram a exploração dos trabalhadores com
o Estado do bem-estar social.
 Entretanto, para isso, a exploração mais
violenta do trabalho pelo capital recaiu sobre os
trabalhadores dos países da periferia do
sistema.
Cultura e Democracia

 A fragilidade dos direitos políticos e sociais


se manifestam no neoliberalismo, pelo
encolhimento do público e alargamento do
espaço privado ou do mercado.
 Esse encolhimento, se refere sobretudo ao
abandono dos investimentos dos fundos
públicos nos serviços e direitos sociais, que
passam a depender das leis do mercado.
 Ex: saúde, educação, habitação, entre
outros
Cultura e Democracia: entraves
para a democracia no Brasil
 Autoritarismo social:
 O autoritarismo é um velho conhecido da sociedade
brasileira. Nossa cultura e costumes, desde a
colonização, se construíram, e se reproduziram,
num contexto de autoritarismos.
 A sociedade brasileira é marcada pelo predomínio
do espaço privado sobre o público e, tendo o centro
na hierarquia familiar.
 É fortemente hierarquizada em todos os seus
aspectos, nas relações sociais e intersubjetivas são
sempre manifestadas como relação entre um
superior, que manda, e um inferior, que obedece.
Cultura e Democracia
 Esses micro-poderes capilarizam toda a sociedade, e o
autoritarismo da, e na, família se espraia para a escola,
as relações amorosas, o trabalho, a mídia, o
comportamento social nas ruas, o tratamento dado aos
cidadãos pela burocracia estatal.

 Exprime-se, ainda, no desprezo do mercado pelos


direitos do consumidor, na naturalidade da violência
policial.

 Tudo se manifesta como um controle social necessário,


mas um controle que se volta, principalmente, nas
classes e grupos mais vulneráveis, que representam os
Cultura e Democracia

 O Serviço Social se constroem no bojo do


autoritarismo social, uma vez que surge
para controlar a sociedade capitalista e
controlar os “resíduos” e “descartes”, que
passaram a emplacar lutas e conquistas
naquele início de século XX.
Cultura e Democracia

 ...“uma empregada ótima: conhece seu lugar”.


 ... “um negro de alma branca”.
 ,,, “uma mulher perfeita, pois não trocou o lar pela
indignidade de trabalhar fora”.
 ... “bela, recatada e do lar”.
 ... “Mulheres vestem rosa e homens azul”.
 ... “não existe racismo no Brasil”.
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 A sociedade brasileira é oligárquica e está


polarizada entre a carência absoluta das
camadas populares e o privilégio absoluto
das camadas dominantes e dirigentes.
 Dados do IBGE em 2021, apontam que 70%
da riqueza brasileira, está nas mãos de1%
dos MAIS RICOS.
Cultura e Democracia

 A carência social, deve ser entendida sempre


como particular, embora pressuponha um
direito, não alcança sua universalidade.
 O privilégio é, por definição, sempre particular e
deixaria de ser privilégio se se transformasse
num direito universal.
 A polarização entre a carência e o privilégio,
expressão acabada da estrutura oligárquica,
autoritária e violenta de nossa sociedade, nos
permitem avaliar o quanto tem sido difícil e
complicado instituir uma sociedade democrática
no Brasil e dar pleno sentido à cidadania.
Obrigado!

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