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CENTRO DE HUMANIDADES
Breno Araújo1
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Graduando em Filosofia-Licenciatura. UECE, 2022.
No entanto, Marx não falta com o reconhecimento da importância da crítica a
religião por parte dos pensadores como um avanço no trabalho teórico
''materialista'', pois identificavam que a consciência se origina da realidade
objetiva, e trabalhava na separação das concepções teológicas das concepções
filosóficas, além de direcionar a teoria filosófica para os problemas sociais, como
trabalhou Feuerbach, mas não vai muito além.
Marx afirma que é preciso partir da análise da vida produtiva e social do ser
humano, pois só assim é possível analisar as causas concretas de suas ideias e o
fator basilar que torna predominante determinadas ações e formas de organização
da sociedade.
Além disso, ressalta que, devido a constituição corporal do ser humano, sua
natureza física, determina as formas de produzir sua existência e
consequentemente sua vida material e suas relações sociais; sendo este o fator que
o diferencia de outros animais.
2
MARX, Karl, Friedrich Engels – A Ideologia Alemã, Teses sobre Feuerbach, p 11.
realmente distintos dos objetos do pensamento; mas ele não considera a própria
atividade humana como atividade objetiva. (...) (MARX, Karl, Friedrich
Engels, 2001, p 99)
Neste sentido, Marx ressalta que Feuerbach, por não considerar a atividade do
homem como formação de sua existência e de suas ideias, limitava-se na direção
de libertar as ideias sem libertar primeiro o ser humano, por isso, considerava
apenas a atividade teórica, sem afirmar a práxis ou exercer uma atividade
revolucionária na vida real, e não somente na crítica do pensamento e pelo
pensamento. Na tese 4 ele desenvolve a crítica dessa concepção especulativa a
partir da crítica de Feuerbach da religião como alienação da consciência humana:
Destarte, na tese 5,3 ressalta que Feuerbach considera a intuição sensível, mas
não considera a sensibilidade como parte da atividade humana, como uma relação
mútua em exercício, que constitui a atividade como uma sensibilidade vinculada
as suas condições materiais e suas relações sociais, e não apenas como uma
atividade do pensamento sensível, no aspecto apenas físico do homem.
3
Ibidem, p 101.
suas relações sociais, pois deposita no espírito e no mundo religioso uma realidade
abstrata, que mesmo considerando-a como uma alienação da consciência, e
objetivando trazer o homem de volta a realidade objetiva, não compreende esta
realidade, isto é, o conjunto de suas relações sociais como produção do espírito
religioso. ‘’É por isso que Feuerbach não vê que o ''espírito religioso'' é ele
próprio um produto social e que o indivíduo abstrato que ele analisa pertence na
realidade a uma forma social determinada.’’ 4
Neste sentido, o ser humano é concebido somente em seu gênero, em seu aspecto
natural e geral, mas não como um agente de sua vida social, não como um produto
de sua atividade produtiva e suas relações socias, que constituem seus meios de
sobrevivência e sua consciência, isto é, toda forma de ideia alienada ou espiritual
do mundo e de si mesmo.
4
Ibidem, p 102.
5
Ibidem.
concebendo sua alienação isolada e abstratamente, reservando atenção prioritária
ao seu aspecto antropológico e não social e produtivo.
Marx argumenta que a consciência dos homens, assim como sua ''produção
intelectual'', ou seja, a política, a religião, metafísica etc. são um produto de sua
atividade e do comércio. A produção das idéias seriam sua ''linguagem da vida
6
real.'' Assim, Marx não separa, como fizera a filosofia alemã, o ser da sua
consciência. O ser consciente é um processo de sua própria vida real, de sua
atividade produtiva, e ao modificar sua vida física e material, modifica suas
formas de relações e sua concepção de mundo.
As ideias não são entes separados da vida real, mas um produto desta, que ao
ser transformada pela atividade dos homens, estes produzem e transformam sua
própria realidade e a produção de suas ideias. Por isso Marx afirma que: ''Não é a
consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência.''7
6
Ibidem, p 18.
7
Ibidem, p 20.
8
Ibidem, p 26.
teórico e ''desvinculado'' da vida prática, e se percebe como algo acima das
condições materiais.
(...) A partir desse momento, a consciência pode de fato imaginar que é algo
mais do que a consciência prática existente, que ela representa algo, sem
representar algo real. (...) está em condições de se emancipar do mundo e de
passar á formação da teoria ''pura'', teologia, filosofia, moral etc. Mas, mesmo
quando essa teoria, essa teologia, essa filosofia, essa moral etc. entram em
contradição com as relações existentes, isso só pode acontecer pelo fato de as
relações sociais existentes terem entrado em contradição com a força produtiva
existente; (...) (MARX, Karl, Friedrich Engels, 2001, p 26)
Ademais, vale destacar o papel que as ideias de uma época possuem e a força
de sua influência na sociedade. Marx afirma que a classe que detém os meios de
produção material, também possuem os meios de produção intelectual, onde as
ideais de uma época são usadas em favor da classe dominante como forma de
dominação, como ideais que sustentam seu poder e sua expansão.
9
Ibidem, p 36.
outras palavras, são as idéias de sua dominação. (...) (MARX, Karl, Friedrich
Engels, 2001, p 48)
Todavia, o que Marx quer enfatizar aqui, além do caráter de influência da classe
dominante em uma determinada época, é que as ideias dominantes são fruto das
relações sociais, dos modos de produção e seu estágio de desenvolvimento em um
dado momento, sob uma determinada estrutura social.
(...) porque os indivíduos, dos quais são as forças, existem como indivíduos
dispersos e em oposição uns aos outros, enquanto que essas forças, por outro
lado, só são forças reais no comércio e na interdependência desses indivíduos.
Portanto, por um lado, uma totalidade das forças produtivas que assumiram
uma espécie de forma objetiva e não são mais para esses indivíduos as suas
próprias forças, mas sim as da propriedade privada e, portanto, as dos
10
Ibidem, p 52.
indivíduos unicamente na medida em que são proprietários privados. (MARX,
Karl, Friedrich Engels, 2001, p 81)
Neste sentido, a saída para subverter essas condições materiais seria a abolição
da propriedade privada pela classe dominada, o proletariado. Somente com a
supressão da luta de classes, pois, tendo em vista que a alienação humana é dada
a partir da alienação a dominação de uma classe sob a outra, a libertação de uma
classe é condição para libertar a sociedade.
O ser humano, em Marx, não é mais visto em sentido genérico, assim como a
história como um conjunto de fatos sucessivos como se nada tivesse a ver com o
homem e sua relação com a natureza e sua produção como ser histórico. Portanto,
a história aqui, é concebida como a história da luta de classes, das forças
produtivas e suas relações de produção, da materialidade engendradora de vida e
da consciência, do homem como ser histórico, ativo e transformador.