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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES

FRANCO ANDREUCCI - A DIFUSÃO E A VULGARIZAÇÃO DO


MARXISMO

Breno Araújo1

A discussão sobre os elementos revolucionários do marxismo, sua concepção


materialista da história e como se articula com a luta operária, se direcionam como
aspectos fundamentais para analisarmos o desenvolvimento das concepções que
rejeitaram o marxismo durante a Segunda Internacional, como o revisionismo e o
determinismo. Cabe-nos investigar, a origem, e no que consiste o determinismo
da teoria marxiana; como a política reformista se engendra como alternativa de
luta contra o capitalismo, tendo como fase final o comunismo, e como esses dois
movimentos contribuem para a difusão e a vulgarização do marxismo, bem como
sua simplificação teórica.

Nos primeiros anos da Primeira Guerra Mundial, em 4 de agosto de 1914,


Lenin e alguns marxistas europeus, romperam com a Segunda Internacional, e
nesta data, iniciou-se a classificação hierárquica entre as internacionais, seguindo
as fases da primeira a terceira, caracterizando aspectos do movimento operário
internacional, e da luta política marxista entre elementos de orientação e
organização que permaneciam, e outros que foram superados no decorrer do
avanço da luta política.

A Segunda Internacional comunista (1889-1914) é considerada pelos


marxistas da terceira, especialmente Lenin, como a propagação do movimento
operário internacionalmente, mas ao mesmo tempo, como a propagadora do
oportunismo, que efetivou em seu fracasso.

1
Graduando em Filosofia-Licenciatura. UECE, 2022.
Plekhânov e sobretudo Kautsky, foram os principais responsáveis pela
ausência de manifestação do marxismo na Segunda Internacional. Kautsky era
denominado como principal influência da vulgarização do marxismo, através da
inserção do reformismo, engendrado paulatinamente sob uma perspectiva
oportunista, com efeito da visão revisionista do marxismo e da forma de
organização do movimento operário.

Esta denominação crítica da atuação política do kautskysmo, era concebida,


sobretudo por Lenin, a partir da conciliação de classes dos oportunistas,
caracterizados pela ortodoxia do Kautskysmo e seu aspecto teórico superficial do
marxismo, limitando este a uma ciência positivista.

Assim, o marxismo tornava-se uma concepção determinista e mecanicista da


realidade social. Desconsiderava-se seu caráter dialético do materialismo
histórico, das categorias marxistas, e abstraíam a um revisionismo da teoria, para
uma aplicação reformista no sistema político-econômico.

Entretanto, vale ressaltar que o movimento de expansão do marxismo, através


do movimento operário da Segunda Internacional, tanto no aspecto teórico como
político, era também um momento de ‘’descoberta’’ da teoria marxista, um
desenvolvimento de sua compreensão através da práxis política. Por isso,
Andreucci ressalta que no marxismo ‘’(...) As vias da sua afirmação foram também,
contudo, as da sua sistematização; (...)’’2

Contudo, a Segunda Internacional não pode ser concebida apenas como um


período onde se organizou, sob determinadas concepções marxistas, o movimento
operário, e que efetivou em sua vulgarização, mas, possibilitou a discussão, após
os anos de 1956, retomando problemáticas sobre a organização política e sobre o
kautskysmo.

Provocou a expansão do marxismo e da investigação da relação do período


com as transformações da concepção marxista e a atuação do movimento operário,
ainda que limitadas ao reformismo. Em suma, engendrou novas formas de

2
ANDREUCCI, Franco – A difusão e a Vulgarização do Marxismo, Eric J. Hobsbawm - História do
Marxismo, O Marxismo na Época da Segunda Internacional, 1982. p 25, 3° parágrafo.
organizações que se expressam na formação da classe trabalhadora pelos partidos,
sindicatos etc.

Por marxismo da Segunda Internacional, entende-se, em geral, uma


interpretação e elaboração do marxismo que reivindica um caráter cientifico
para a sua concepção da história, na medida em que indica nela o
desenvolvimento segundo uma necessária sucessão de sistemas de produção
econômica, conforme um processo evolutivo que só no limite considera a
possibilidade de rupturas revolucionárias emergentes do desenvolvimento das
condições objetivas. -b. RAGIONIERI, II Marxismo e rinternazionale, cit., p.
47. (apud ANDREUCCI, Franco, 1982. p 24)

Devemos perceber que esse caráter cientificista da teoria marxiana,


contribuiu para a inconsistência do seu aspecto revolucionário da práxis política.
Ao concebê-lo apenas como uma nova teoria do desenvolvimento histórico, como
fase última da ‘’definição’’ mais completa do ser social, considerando a teoria
marxiana para a história social, como a de Darwin para a evolução.

A difusão e a vulgarização do marxismo, produziram também novas relações


entre o partido político e a teoria, entre a organização dos trabalhadores e sua
atividade política. O partido social-democrata alemão, como parte desse processo,
foi o principal fio condutor da formação das organizações operárias modernas.
Movimento que surgiu devido as condições vividas entre os anos 70 e os fins do
século XIX, a grande crise mundial de 1873, efetivando na mobilização da
formação de diversos partidos social-democráticos na Europa. (HOBSBAWN,
Eric J, 1982. P 26)

Um outro fato de difusão foi o programa de Gotha, (programa surgido como


consequência da fragmentação do movimento operário da Primeira internacional),
como forte fonte de influência sob o movimento operário, como trabalho de
unificação do movimento socialista, assim como no enfrentamento das leis anti-
socialistas, entre 1890 e o final do século, quando da vitória eleitoral do partido
social-democrata. Essa vitória eleitoral resultou num respaldo de influência pela
via parlamentar do movimento da social-democracia alemã, e passaram a atuar
também, por efeito, pelo caminho da reforma política.

Com o trabalho de unidade e propagação das ideias socialistas, o grupo


dominante da social-democracia se desloca para Zurique (onde trabalharam, no
centro cultural das personalidades intelectuais do período, com o objetivo de
expandir e adentrar, de uma forma um tanto superficial, o conteúdo marxista entre
os trabalhos e discussões acadêmicas).

Entretanto, apesar do amplo desenvolvimento das organizações operárias de


orientação marxista com base na social-democracia alemã, inicia-se o debate e a
inclusão do revisionismo como orientação de uma parcela da social-democracia.
Constituindo o aspecto principal da fragmentação da orientação marxista do
movimento socialista, gerando futuras posições deterministas e reformistas.

A partir destas fragmentações do movimento marxista, o revisionismo resultou


num determinismo das condições sociais, afirmando que o capitalismo teria como
fase final, a sua autodestruição, e que ‘’naturalmente’’ a sociedade caminharia
rumo ao socialismo. A luta revolucionária e armada, portanto, seria uma
alternativa aplicada somente em último caso.

As considerações cientificistas do Marxismo, reduzido a uma teoria do


desenvolvimento histórico, tinha como efeito, sua simplificação, sua
determinação como lei da história social, desprovido da luta autenticamente
revolucionária. Para Kautsky, essa forma de conceber o movimento marxista,
seria um autêntico aspecto de seu caráter científico, pois estaria livre da
‘’ortodoxia’’ e da cisão do movimento operário revolucionário.

Além disso, o revisionismo da teoria marxista apontou, cegamente,


especialmente através do programa de Erfurt, possíveis ''vulgarizações'' da teoria
marxiana por parte de Engels, acusando este de ter modificando a teoria após a
morte de Marx, como se estivesse desviando do caminho trilhado não apenas por
Marx, mas também pelo próprio Engels!

Ao contrário, Engels se esforçou em esclarecer os pormenores detalhes da


teoria marxiana, bem como a ênfase no estudo autêntico do materialismo
histórico. Influenciou sobretudo, na concepção marxista de Kautsky, Bernstein,
Bebel e Liebknecht, que contribuíram para uma difusão do marxismo, sob uma
base mais aproximada, de certa forma, pela contribuição direta de Engels. (por
mais que Bernstein venha a revisionar o marxismo e desencadear o determinismo
da teoria, além de Kautsky com a vulgarização das organizações e do
desencadeamento do reformismo).
Engels empenhou-se em oferecer ao movimento socialista em ascensão a
imagem das relações complexas que a doutrina de Marx tinha com suas
próprias 'fontes', a idéia da continuidade e da ruptura nas relações existentes
entre o marxismo e as grandes batalhas de 1848, nas relações existentes entre
o marxismo e a filosofia clássica alemã. (HOBSBAWN, Eric J, 1982. P 31, 1°
parágrafo).

Ademais, o Anti-Düring, de Engels, foi distorcido por diversas correntes que


partilhavam da simplificação cientificista do marxismo, ao aplicar o determinismo
no socialismo científico. Assim, o caráter verdadeiramente científico e consistente
do materialismo histórico, tornava-se mera ideologia política de propaganda
socialista.

Portanto, o materialismo histórico e dialético de Marx, sob sua análise da


totalidade social, a práxis verdadeiramente revolucionária, foram concebidas
gradualmente de forma cada vez mais distante da concretude teórica e científica
da análise histórica do ser social.

O conteúdo do marxismo passou a ser utilizado unicamente como mecanismo


de propaganda dos partidos e movimentos operários. O Capital passa a ser
estudado de modo simplificado e superficial, considerando somente seu aspecto
histórico, abdicando da relação político-econômica do capitalismo.

Era concebido meramente como uma obra máxima da definição da história


humana, de uma teoria social concreta, transformadora e evolucionista da
sociedade, sendo utilizado como manual de atuação política, levando mais em
consideração a propaganda, do que a unidade entre teoria e prática revolucionária.

Nos últimos vinte anos do Sécu. XIX, o marxismo se encontra, pois, com as
exigências práticas do movimento operário, todos os aromas fatalistas,
mecanicistas, deterministas, são aspirados e espremidos pela 'filosofia da
práxis' dos partidos socialistas, dos publicistas da imprensa do partido, dos
propagandistas. Nasce a 'tríade' do marxismo: a concepção materialista da
história, a teoria do valor, a luta de classes. (...). (HOBSBAWN, Eric J, 1982.
P 32, 2° parágrafo).

Um outro fator que contribui para a redução da teoria marxista como teoria
fragmentada por essa ''tríade'' mencionada acima, foi o positivismo, especialmente
pela sua relação com o marxismo efetuada por Kautsky, ao conceber o monismo
de Haeckel como aplicabilidade concreta na luta de classes. Como se sua
concepção completasse a concepção do materialismo histórico, na abolição da luta
de classes, a partir de uma concepção abstrata do marxismo como uma filosofia
da história ''unitária''.

Além do positivismo ser concebido como forma de simplificação do marxismo


e da luta operária, levou também a uma forma limitada de conceber a teoria de
Marx como parte ''complementar'' do evolucionismo e do desenvolvimento
científico de Darwin, Spencer e Haeckel.

Contudo, a teoria de Marx e Engels, perdia seu aspecto clássico, isto é, basilar
da totalidade e do materialismo histórico e dialético. Sabemos que a teoria do
valor, a luta de classes, a ditadura do proletariado etc. são partes constitutivas e
relacionadas da crítica da economia política, formam uma unidade da concepção
materialista que se exterioriza na organização operária revolucionária, e não na
conciliação de classes sob uma ‘’moderação’’ da luta política aos modos
convencionais da via parlamentar, ou da redução a propaganda política como foco
principal, independente da consistência teórica.

O movimento marxista, por efeito do exagero superficial no aspecto


científico, filosófico, e evolucionista do determinismo, levam, ao contrário, a
ideologia política de organização reformista, e não a uma concepção que se
exterioriza na práxis revolucionária.

As 'escolas socialistas' não marxistas entraram todas, após a Comuna de Paris,


numa crise da qual não mais saíram (o que se deu (...) num processo de
deslocamento do centro de gravidade da história do movimento operário da
França para a Alemanha); (...) o marxismo se viu compelido a viver, a coexistir
com o 'socialismo eclético', com um amálgama de ideologias socialistas de
variada proveniência, que iam desde o lassalismo até o blanquismo, desde o
proudhonismo até o anarquismo. (HOBSBAWN, Eric J, 1982. p 34, 4°
parágrafo).

Todo esse ''ecletismo'' no movimento socialista, foi ganhando mais espaço na


medida em que se expandiam a orientação dos partidos em mobilizar o maior
número possível de trabalhadores e agregá-los a organização. Através da agitação
e propaganda dos partidos social-democratas.

A expansão dessa forma diversa e amalgamada da orientação marxista, é


adquirida pelo fato de que as organizações concentraram-se somente na difusão
das idéias, da propaganda política, sem acertar as contas com a concepção
materialista da história e sua relação com a práxis revolucionária do partido.

O internacionalismo, especialmente após a derrota da Comuna de Paris, foi


um dos principais meios de difusão dessas idéias, da conscientização política e
das reformulações teóricas. Os trabalhadores ansiavam sublevar seu número e sua
intervenção, por conseguinte, as obras de Marx eram adaptadas a linguagem das
massas para facilitar a sua compreensão, seja através dos jornais, ou das cartilhas,
seja por outros meios de divulgação política.

Entretanto, sem compreender a totalidade da teoria marxista, da sua unidade,


utilizando por isso, a ''tríade'' fragmentada de seus conceitos (concepção
materialista da história, teoria do valor, luta de classes), aplicadas separadamente
conforme a orientação e as suas necessidades revisionistas ou reformistas, em
suma, a sua difusão ganhava espaço, mas reduzia sua qualidade, sua consistência,
sua formação teórica.

Ademais, a expansão geográfica do marxismo da Europa central a América


Latina, Ásia etc. apresentara-se já de forma superficial, especialmente no que diz
respeito aos seus aspectos teórico-organizativos, especialmente na Austrália, no
final do século, onde sua chegada era classificada como um socialismo de Estado,
que objetivava o controle das industriais, e na América Latina, com forte
influência, até o início do Século XX, do positivismo. (HOBSBAWN, Eric J,
1982. p 38 – 40). Por mais que contribuíssem para sua difusão, ocorreu uma certa
simplificação devido a diversidade e a evasão da concretude teórica da crítica da
economia política, como já foi demonstrado.

No entanto, vale ressaltar que sua simplificação foi uma consequência de sua
relação não só com o movimento operário, mas também com as variadas
ideologias que se apresentavam em outros países, onde na Alemanha, eram
desencadeadas principalmente sob as figuras de Kautsky e Bernstein, como
mecanismo de adaptação da linguagem teórica, de modo que facilitasse a
compreensão, propagação e aplicação da concepção do materialismo histórico,
embora tenha, em certa medida, generalizado em sua simplificação.

Entretanto, em seu papel de divulgação e conscientização política da classe


trabalhadora, o partido, foi um forte articulador e propulsor da educação operária,
bem como sua formação política, histórica e social. As escolas socialistas,
trabalhadas no partido, foram um mecanismo de riquíssima formação humana, seu
objetivo não se resumia ao ativismo, mas a uma formação histórica, um estudo
das condições materiais para que os trabalhadores pudessem associar sua situação
econômica e política, e atuarem conforme os respaldos teóricos concretos.

O congresso de Iena (1905) foi o responsável pela unificação das atividades


formativas e culturais dos partidos. O próprio Engels ressaltava a necessidade de
construir a formação teórica nos partidos em seus núcleos culturais ou escolas
socialistas. Como fez Bebel, na regência da União da Educação Operária,
Hermann Gorter em seu livro sobre o materialismo histórico, como objeto de
formação operária, e a social-democracia alemã em seus núcleos culturais,
bibliotecas etc.

Sem mencionar a seção central para a cultura e a escola do partido, surgidas


por volta de 1906, onde militantes, jornalistas e operários estudavam economia
política, materialismo histórico etc. (formação de quadros) tendo alguns dos mais
conhecidos intelectuais socialistas, entre eles, constituído por Rosa Luxemburg e
Anton Pannekoek, sob um agregado de sindicatos e partidos que receberam um
aumento do número de participação dessas formações entre 1906 e 1911.

Gramsci, que era um forte teórico da articulação da filosofia da práxis com o


movimento operário, isto é, sua formação, enfatizava a necessidade do partido
político, dos intelectuais orgânicos, instruírem o povo, partindo de suas condições
econômicas e sociais, isto traria ao povo, os próprios meios não apenas de
compreenderem a si mesmos enquanto classe explorada, mas como expressarem
suas reivindicações políticas enquanto classe revolucionária.

A educação partidária desencadearia na formação de intelectuais entre as


massas, na instrução de diversas fontes, seja através de conteúdos instrumentais e
científicos, seja da conscientização política, de modo que expanda e qualifique a
luta da classe trabalhadora e organizada.

Para que a divulgação do marxismo fosse possível, era realmente necessário


que ‘’simplificasse’’ sua linguagem para que fosse acessível as massas (?), a
propaganda política seria um meio para a difusão da teoria marxiana sem que sua
vulgarização fosse desenvolvida concomitantemente? Não podemos ter certeza
absoluta, mas, como demonstra Andreucci, sua propagação internacional,
partindo da Alemanha, foi importante para sua difusão, seja de caráter Slavo ou
latino, ainda que alterasse suas considerações basilares.

Ao longo dos caminhos da sua difusão, que o marxismo empreendia numa


forma já amplamente influenciada por seu encontro com o movimento operário
da Europa central, ele se modificava e se simplificava ainda mais. Os
instrumentos e testemunhos desse fenômeno foram as atividades práticas e
propagandísticas do movimento socialista. Os comícios, as conferências, a luta
política no dia a dia, os jornais, tornaram-se - numa fase na qual o movimento
operário já tinha construído todos os seus eficazes aparelhos - os meios de
difusão do marxismo. (HOBSBAWN, Eric J, 1982. p 44, 1° parágrafo).

As condições socias do período anterior e durante a guerra, a influência do


capitalismo em sua fase imperialista, Kautsky e Bernstein na simplificação da
teoria marxiana, bem como sua vulgarização, foram fatores determinantes para a
formação e orientação política dos partidos tanto na Alemanha, quanto
internacionalmente.

Nos remetemos a dúvida: seria possível a difusão sem que houvesse


vulgarização? supostamente, se os elementos clássicos do marxismo, isto é, sua
teoria, seu estudo sério do materialismo, fosse exercido pela grande maioria das
organizações da classe trabalhadora, sem que a orientação dos intelectuais,
articulassem sua propagação com base no esquartejamento da teoria marxiana,
utilizando apenas seu conteúdo histórico em O Capital, por exemplo. Mas, ainda
que assim o fosse, será que sua difusão não assumiria, como assumiu, certas
características específicas quando em contato com outros países? Quando em
contato com ideologias políticas oportunistas? Possivelmente.

Contudo, por mais que sua difusão tenha caminhado ao lado do determinismo,
(por consequência da convicção ‘’científica’’ de que o marxismo seria uma
solução irrefutável, e a sociedade comunista uma certeza indubitável, que efetivou
na orientação reformista da luta política, pois a conquista proletária seria uma
‘’garantia histórica’’ do processo de evolução do homem pelas condições
materiais), a teoria de Marx e Engels do materialismo histórico e dialético, ainda
persistem como orientação dos partidos políticos da atualidade.
A orientação da Segunda Internacional foi importante para que essas
concepções chegassem até os trabalhos que dispomos, afinal, trabalhos editoriais
foram fruto dessa difusão e dos trabalhos dos partidos, e contribuíram para
organização das lutas operárias em todo o mundo.

O fato contrastante, consiste na validade teórica e organizativa dessa difusão,


que era fruto do aspecto cientificista da época, (que precedeu a visão
determinista), e do processo de amadurecimento das condições materiais do
capitalismo imperialista. Sem mencionar que nem todas as organizações
conheciam as obras de Marx, e quando as conheciam, eram fragmentadas
conforme os meros interesses superficiais da propaganda política.

Por mais que Kautsky, ou Bernstein tivessem contato direto com Marx e
Engels, as condições críticas em ascensão, eram um confronto para a permanência
na teoria revolucionária, sendo mais convincente o caminho do revisionismo e do
reformismo político, o que resultou na escassez da compreensão epistemológica
da teoria marxiana, sua orientação política, e no próprio fim da Segunda
Internacional. Daí a necessidade de uma orientação não apenas com base
quantitativa, (reduzido a propaganda) mas qualitativa da teoria (estudo unitário
das obras, desconsiderando a ‘’tríade’’ e o isolamento das concepções adotadas
em O Capital).

Contudo, como destaca Franco Andreucci, a difusão e a vulgarização do


marxismo pela Segunda Internacional, é resultado não apenas da contradição
desta, mas da própria história. E geraram frutos que colhemos e plantamos sob
novas concepções até os dias atuais. A expansão do marxismo da Segunda
Internacional, efetivou não apenas na sua vulgarização, mas em sua ‘’expansão e
empobrecimento, difusão e esquematização, ampliação e sistematização.’’
(HOBSBAWN, Eric J, 1982. p 71).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

-ANDREUCCI, Franco – A difusão e a Vulgarização do Marxismo, Eric J. Hobsbawm -


História do Marxismo, O Marxismo na Época da Segunda Internacional. Editora Paz e
Terra. 1982, Rio de Janeiro.

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