Fichamento Anderson – Considerações sobre o marxismo ocidental
ANDERSON, Perry. Considerações sobre o marxismo tradicional; Nas trilhas do
materialismo histórico. São Paulo: Boitempo, 2004. p.17: Prefácio: “Escrito no início de 1974 [...]” [DATA DE REDAÇÃO DO TEXTO] “Com efeito, este ensaio trata das coordenadas gerais do “marxismo ocidental” enquanto tradição intelectual comum” [OBJETO DO TEXTO: EXPOR AS COORDENADAS DO MARXISMO] p.18: “Um dos seus principais temas era o fato de a cultura inglesa carecer de qualquer tradição de “marxismo ocidental” nesse período – uma ausência registrada em tons inequivocamente negativos” [AUSÊNCIA DO MARXISMO TRADICIONAL, NA DÉCADA DE 1960, NA INGLATERRA] p.23: 1. A tradição clássica: “Este breve ensaio, portanto, tentará situar historicamente um determinado corpo de trabalho teórico e sugerir as coordenadas estruturais que definem sua unidade, que o constituem como uma tradição intelectual comum, apesar das divergências e oposições internas” [OBJETO DO LIVRO. A IDENTIFICAÇÃO DE CERTA TRADIÇÃO NÃO ELIMINA AS DIFERENÇAS INTERNAS] “Os fundadores do materialismo histórico, Marx e Engels [...]” [PRIMEIRA ETAPA, OS FUNDADORES] p.24: “[...] Engels produziu as primeiras exposições sistemáticas do materialismo histórico que converteram este numa força política popular na Europa e, na casa dos setenta nos, comandou o crescimento da Segunda Internacional, na qual o materialismo histórico se tornou a doutrina oficial dos principais partidos operários do continente” [ENGELS COMO O PRIMEIRO EXPOSITOR SISTEMÁTICO DO MATERIALISMO HISTÓRICO] p.25: “A extraordinária unidade entre teoria e prática alcançada nas vidas de Marx e Engels, apesar de todas as adversidades, nunca foi uma identidade ininterrupta. [...] O verdadeiro surgimento de partidos operários ocorreu após a morte de Marx. A relação entre a teoria e a prática proletária sempre foi irregular e indireta: muito raramente havia uma coincidência direta entre ambas” [SOBRE A RELAÇÃO DE MARX COM O MOVIMENTO TRABALHADOR DE SUA ÉPOCA] p.26: “O legado que Marx deixou, fundamentalmente, foi uma coerente e elaborada teoria econômica do modo de produção capitalista, exposta em O capital. Contudo, sua teoria política sobre as estruturas do Estado burguês ou sobre as estratégias e táticas da luta socialista revolucionária para sua derrubada por um partido operário não está no mesmo nível” [PARA ANDERSON, O LEGADO DE MARX É UMA PODEROSA TEORIA ECONÔMICA E UMA DÉBIL TEORIA POLÍTICA NO QUE DIZ RESPEITO À ESTRTURA DO ESTADO E AS ESTRATÉGIAS DE TOMADA DE PODER] “Ao mesmo tempo, e esta era uma omissão mais óbvia para seus contemporâneos, Marx nunca apresentou qualquer exposição geral mais extensa de seu materialismo histórico em si. Foi desta tarefa que Engels, com o Anti-Düring e seus complementos, se incumbiu, no final da década de 1870 e ao longo da de 1880, respondendo ao crescimento de novas organizações operárias no continente” [COMO MARX NÃO DEIXOU UMA EXPOSIÇÃO DE SEU MATERIALISMO, ENGELS TOMOU PARA SI ESTA TAREFA] p.27: “Esses quatro homens mantiveram correspondência pessoal com Engels, que exerceu forte influência em suas formações. A direção principal dos seus trabalhos pode ser vista, na verdade, como uma continuação da última fase do próprio Engels. Em outras palavras, eles estavam interessados, de diferentes maneiras, em sistematizar o materialismo histórico como uma teoria geral do homem e da natureza, capaz de substituir disciplinas burguesas rivais e dotar o movimento operário de uma visão de mundo ampla e coerente que pudesse ser facilmente... p.28:.. apreendida por seus militantes” [SOBRE LABRIOLA, MEHRING, KAUTSY E PLEKHANOV COMO CONTINUADORES DO PROJETO DE ENGELS, NÃO DE MARX. SUA INTENÇÃO ERA FORNECER UMA VISÃO DE MUNDO COERENTE E SUBSTITUIR AS CIÊNCIAS BURGUESAS POR UMA CIÊNCIA MARXISTA] “Esses trabalhos tinham mais o cunho de complementação do que propriamente de desenvolvimento do legado de Marx. Também foi essa geração que deu início à publicação crítica dos manuscritos de Marx e ao estudo de sua vida, com a intenção de recuperá-los e mostra-los em sua totalidade ao movimento socialista pela primeira vez. Engels publicou os volumes II e II de O capital; depois Kautsky editou as Teorias da mais-valia; em seguida, Mehring colaborou na publicação da Correspondência entre Marx e Engels e, no fim de sua vida, produziria a primeira grande biografia de Marx. Os objetivos prioritários desses sucessores eram a sistematização e recapitulação de uma herança ainda muito recente e próxima” [A PRIMEIRA GERAÇÃO POSTERIOR A MARX E ENGELS TINHA COMO INTENÇÃO, PRIMEIRO, COMPLEMENTAR O TRABALHO DE MARX E, EM SEGUNDO LUGAR, RECUPEAR SEU LEGADO COM A PUBLICAÇÃO DE MANUSCRITOS, CORRESPONDÊNCIAS E BIOGRAFIA] p.29: “Os herdeiros de Marx e Engels se formaram em um período de relativa calmaria. A geração seguinte de marxistas atingiu a maioridade em um ambiente muito mais turbulento, quando o capitalismo europeu começava a navegar na direção da tormenta da Primeira Guerra Mundial. Estes teóricos eram muito mais numerosos do que aqueles que os precederam e confirmaram, de forma ainda mais dramática, uma mudança que já era notada no período anterior: o deslocamento do eixo geográfico da cultura marxista para a Europa central e oriental. As figuras dominantes da nova geração vieram, sem exceção, de regiões a leste de Berlim. Lenin era filho de um funcionário público de Astrakhan, Rosa Luxemburgo era filha de um comerciante de madeira da Galícia, Trostki era filho de um fazendeiro da Ucrânia, Hilferding, de um agente de seguros, e Bauer, de um fabricante de tecidos da Áustria. Todos eles escreveram importantes trabalhos antes da Primeira Guerra Mundial”. [SOBRE A SEGUNDA GERAÇÃO DE MARXISTAS. ESTÃO TODOS À LESTE DE BERLIM, SE FORMARAM NUM CONTEXTO HOSTIL PRÉ-1ª GUERRA MUNDIAL E TIVERAM SUAS GRANDES OBRAS PRODUZIDAS ANTES DESSA. ELES SÃO LENIN, ROSA LUXEMBURGO, TROTSKI, HILFERDING E OTTO BAUER] p.30: “Quais eram as tendências inovadoras de seus textos? Determinados pela aceleração de todo o ritmo histórico a partir da virada do século, seus interesses apontavam essencialmente para duas direções. Em primeiro lugar, as evidentes transformações do modo de produção capitalista, geradora da monopolização e do imperialismo, exigiam análise e explicação econômicas contínuas. Além disso, o trabalho de Marx começava a ser objeto de crítica profissional por parte de economistas acadêmicos. O capital não podia permanecer no estado em que estava: ele tinha de ser desenvolvido” [NOVIDADES TRAZIDAS PELA SEGUNDA GERAÇÃO PÓS- MARX/ENGELS: DESCREVER O NOVO PERÍODO DO CAPITALISMO (DESENVOLVER AS COORDENADAS DE CAPITAL) E RESPONDER ÀS CRÍTICAS PROFISSIONAIS RECEBIDAS POR MARX] p.31: “O imperialismo em si tornou-se objeto de um importante tratamento teórico: a acumulação do capital, de Rosa Luxemburgo, publicado às vésperas da Primeira Guerra, em 1913. A ênfase de Rosa Luxemburgo no papel indispensável da periferia não-capitalista do capitalismo na realização da mais-valia, e consequentemente à necessidade estrutural de expansão militar-imperialista pelas potências metropolitanas nos Balcãs, na Ásia e na África, marcou seu trabalho – apesar dos erros analíticos – como o esforço mais radical e original de repensar e desenvolver o sistema conceitual de O capital em escala mundial, à luz dos novos tempos” [SOBRE A ACUMULAÇÃO DO CAPITAL DE LUXEMBURGO E SEUS TEMAS] p.32: “Paralelamente, entretanto, pela primeira vez houve o surgimento meteórico de uma teoria política marxista. Ao passo que os estudos econômicos daquele período podiam fundar-se sobre os sólidos alicerces de O capital, nem Marx nem Engels haviam legado um corpo de conceitos comparável para a criação de uma estratégia e táticas políticas para a revolução proletária, em função da própria situação concreta em que se encontravam”. [OUTRA DEMANDA DA SEGUNDA TRADIÇÃO FOI ELABORAR UMA TEORIA POLÍTICA MARXISTA. SEGUNDO ANDERSON, NEM MARX NEM ENGELS LEGARAM UMA TEORIA COERENTE QUE FORNECESSE CONCEITOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA TEORIA POLÍTICA, DEVIDO, COMO RESSALVA O AUTOR, À CONDIÇÃO DELES. NESTE SENTIDO, TEORIA POLÍTICA É ENTENDIDA COMO UMA TEORIA QUE FORNECE ESTRATÉGIAS E TÁTICAS POLÍTICAS PARA UM PARTIDO DE TRABALHADORES] p.33: “No espaço de aproximadamente vinte anos, ele criou os conceitos e métodos necessários para a condução de uma vitoriosa luta proletária pelo poder na Rússia, dirigida por um partido operário hábil e dedicado. As formas específicas de combinar propaganda e agitação, liderar greves e manifestações, forjar alianças de classes, cimentar a organização partidária, abordar a autodeterminação nacional, interpretar conjunturas nacionais e internacionais, caracterizar tipos de desvios, fazer uso do trabalho parlamentar, preparar levantes insurrecionais – todas essas inovações, amiúde vistas como simples medidas “práticas”, na verdade representaram também avanços intelectuais decisivos em um terreno até então desconhecido. O que fazer?, Um passo à frente, dois atrás, Duas táticas da socialdemocracia, As lições do levante de Moscou, O programa agrário da socialdemocracia russa, O direito das nações à autodeterminação – todos esses, e uma centena de outros artigos e ensaios “ocasionais” anteriores à Primeira Guerra Mundial, inauguraram uma ciência marxista da política capaz de lidar, a partir de então, com uma ampla gama de problemas que até aquele momento haviam estado fora de qualquer jurisdição teórica rigorosa” [A NOVIDADE DE LENIN E QUE, SEGUNDO ANDERNOS, INAUGURA A TEORIA POLÍTICA MARXISTA: CONJUNÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE AÇÃO E ANÁLISE DE CONJUNTURA] p.34: “É sugestivo que Rosa Luxemburgo, a única do pensadores marxistas na Alemanha imperial a produzir um corpo original de teoria política, tenha refletido esta contradição em seu próprio trabalho – embora sempre tenha sido parcialmente influenciada por sua experiência no muito mais radical movimento clandestino polonês daquela época. Os escritos políticos de Rosa Luxemburgo nunca alcançaram a mesma coerência ou profundidade que os de Lenin ou o sentido de antecipação dos de Trotski. O contexto em que se formou o movimento alemão não permitiu um desenvolvimento comparável. Mas suas apaixonadas intervenções dentro do Partido Socialdemocrata contra o crescente desvio na direção do reformismo (cuja extensão Lenin, no exílio, não chegou a perceber) continham, entretanto, elementos de uma crítica da democracia capitalista, de uma defesa da espontaneidade proletária e de uma concepção da liberdade socialista que estavam à frente da compreensão de Lenin tinha dessas questões, por causa do ambiente mais complexo que ela conheceu. Reforma social ou revolução, a mordaz e polêmica obra com a qual ela respondeu ao evolucionismo de Bernstein, aos 28 anos, foi o ponto de partida de sua singular trajetória [....]” [SOBRE OS ESCRITOS POLÍTICOS DE ROSA LUXEMBURGO: SEUS LIMITES E SUAS NOVIDADES] p.35: “Assim, a cisão em torno da Primeira Guerra, estourara em 1914, ocorreu não entre os vários contingentes nacionais de teóricos marxistas que haviam dominado a cena no pré-guerra, mas dentre deles mesmos. Da geração mais antiga, Kautsky e Plekhanov optaram de forma clamorosa pelo socialchauvinismo e o apoio às suas respectivas, e adversárias entre si, pátrias; Mehring, por seu lado, recusou-se obstinadamente a compactuar com a capitulação do Partido Socialdemocrata Alemão. Entre a geração mais jovem, Lenin, Trotski, Rosa Luxemburgo e Bukharin empenharam-se em uma resistência total à guerra e na denúncia da traição das organizações socialdemocratas que haviam se alinhado com os opressores de sua classe no há muito holocausto final do capitalismo. Hilferding, que no início se opusera à guerra no Reichstag, não demoraria a se deixar convocar pelo exército austríaco; Bauer alistou-se prontamente nas forças em luta contra a Rússia no fronte leste, onde logo foi capturado. A unidade e a realidade da Segunda Internacional, tão caras a Engels, foram destruídas em uma semana” [OS DIFERENTES POSICIONAMENTOS DA 1ª E 2ª GERAÇÃO DOS HERDEIROS DE MARX E ENGELS QUANDO DA EXPLOSAO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL] p.36: “Ao mesmo tempo, o centro de gravidade internacional dos estudos históricos dedicados à descoberta e edição dos escritos não publicados de Marx passou a ser a Rússia. Riazanov, que tinha conseguido boa reputação por suas pesquisas arquivísticas sobre Marx antes mesmo da Primeira Guerra, assumiu então a tarefa da primeira edição completa e científica dos textos de Marx e Engels, cujos originais foram em grande parte transferidos para Moscou e depositados no Instituto Marx-Engels, do qual ele se tornara diretor” [SOBRE O NASCIMENTO DA PRIMEIRA MEGA] p.39: Uma vez rompido o bloqueio do Estado soviético, o enorme contraste entre a débâcle dos aparelhos socialdemocratas e a derrota dos levantes espontâneos na Europa central e meridional, de um lado, e o sucesso do Partido Bolchevique na Rússia, de outro, assegurou a formação relativamente rápida de uma internacional revolucionária centralizada baseada nos princípios delineados por Lenin e Trotski” [O CONTRASTE ENTRE O ÊXITO RUSSO E AS DERROTAS DO OCIDENTE SERVIRAM PARA SOLIDIFICAR UMA INTERNACIONAL FUNDAMENTADA NOS PRÍNCIPIOS SOVIÉTICOS] [A PARTIR DE 1921, COM A PUBLICAÇÃO DE ESQUERDISMO, A DOENÇA INFANTIL DO COMUNISMO, SE DÁ A EXPANSÃO MASSIVA DOS TEXTOS DE LENIN] p.40: “Lenin morreu no início de 1924” [DATA DA MORTE DE LENIN] “Em três anos, a vitória de Stalin no PCUS selou o destino do socialismo e do marxismo na URSS nas décadas seguintes. O aparelho político de Stalin suprimira ativamente as práticas revolucionárias das massas dentro da Rússia e cada vez mais as desencorajava e sabotava no exterior. A consolidação de um estrato burocraticamente privilegiado acima da classe operária era assegurada por um regime policial cuja ferocidade desconhecia limites. Nessas condições, a unidade revolucionária entre teoria e prática que tornara possível o bolchevismo clássico foi irremediavelmente destruída. Na base, a casta que confiscou o poder o país calou as massas e pulverizou sua espontaneidade e autonomia; no topo do Partido, os expurgos afastaram gradualmente os últimos companheiros de Lenin. Todos os trabalhos teóricos sérios foram interrompidos após a coletivização. Trotski foi exilado em 1929 e assassinado em 1940. Riazanov foi despojado de seus cargos em 1931e morreu em um campo de trabalhos forçados em 1939; Bukharin foi silenciado em 1929 e morto em 1938; Preobrajenski caiu em 1930 e morreu na prisão em 1938” [SOBRE O DESTINO DO MARXISMO E DOS MARXISTAS SOB O COMANDO DE STALIN] p.41: “Em 1929, o maior colapso na história do capitalismo devastou devastou o continente, espalhando o desemprego em massa e intensificando a luta de classes. A contra-revolução social estava agora mobilizada em suas formas mais brutais e violentas, extinguindo as democracias parlamentares nos países em que elas ainda existiam para eliminar todas as organizações independentes da classe operária. As ditaturas terroristas do fascismo foram a solução histórica do capital para enfrentar as ameaças da classe trabalhadora: elas foram planejadas para suprimir todo traço de resistência e independência proletárias, numa conjuntura internacional de crescentes antagonismos interimperalistas” [CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGUMENTO DOS FASCISMOS (franquismo, salazarismo, nazismo, fascismo, Republica de Vichy) COMO RESPOSTA ÀS INSURREIÇÕES NO PÓS-1929] p.42: [EM 1923 É FUNDADO O INSTITUTO DE PESQUISA SOCIAL EM FRANKFURT. SEU PRIMEIRO DIRETOR E CARL GRÜNBERG] “Durante os anos 1920, o Instituto de Pesquisa Social, por ele presidido, tinha comunistas e socialdemocratas em seus quadros e mantinha contato regular com o Instituto Marx- Engels de Moscou, enviando material de arquivo a Riazanov para a primeira edição científica das obras de Marx e Engels. O volume inaugural do Marx-Engels Gesamtausabe (MEGA) foi, na verdade, publicado em Frankfurt, em 1927, num empreendimento conjunto dos dois institutos” [O PRIMEIRO DIRETOR DA CHAMA “ESCOLA DE FRANKFURT” TEM CONTATO DIRETO COM RIAZANOV NO INSTITUTO. O PRIMEIRO VOLUME DA PRIMEIRA MEGA É PRODUTO DOS DOIS INSTITUTOS E SAI EM FRANKFURT, EM 1927] p.43: “[...] A lei da acumulação e o colapso do sistema capitalista, Publicado no ano da Grande Depressão de 1929, o trabalho de Grossmann resumia os debates clássicos do pré-guerra sobre as leis de movimento do modo de produção capitalista no século XX e apresentava a até então mais ambiciosa e sistemática tentativa de deduzir seu colapso objetivo da lógica dos esquemas de reprodução de Marx” [SOBRE O CONTEÚDO DO LIVRO DE GROSSMANN] p.44: “O livro de Sweezy, escrito no contexto do New Deal, entretanto, implicitamente renunciava à tese de que as crises de desproporcionalidade ou de subconsumo eram insuperáveis dentro do modo de produção capitalista, e aceitava a potencial eficácia das intervenções anticíclicas keynesianas pelo Estado para assegurar a estabilidade interna do imperialismo. Pela primeira vez a desintegração final do capitalismo era atribuída a uma determinante puramente externa – o desempenho econômico superior da União Soviética e dos países que se esperava que a seguissem, ao final da guerra, cujo “poder de persuasão” finalmente tornaria possível uma transição pacífica para o socialismo até mesmo nos Estados Unidos. A teoria do desenvolvimento capitalista, com esta concepção, marcou o fim de uma era intelectual” [O LIVRO DE SWEEZY, DE 1942, COLOCA FIM NA TRADIÇÃO DO MARXISMO TRADICIONAL/CLÁSSICO] p.45: 2. O advento do marxismo ocidental: p.46: “Foi nesse novo panorama que a teoria revolucionária completou a metamorfose, resultando no que, retrospectivamente, pode ser chamado de “marxismo ocidental”. Com efeito, o conjunto das obras composto pelos autores que agora focalizaremos constitui uma configuração intelectual inteiramente nova no desenvolvimento do materialismo histórico. [...] Em particular, houve um drástico deslocamento dos temas e preocupações característicos de todo o grupo anterior de teóricos que chegaram à maturidade política antes da Primeira Guerra Mundial, numa evolução que era ao mesmo tempo de geração e região geográfica” [O MARXISMO OCIDENTAL É UM PRODUTO DA ESTABILIDADE ECONÔMICA E POLÍTICA DOS PÓS-GUERRA, ALÉM DA DIVISÃO DO MUNDO EM DOIS BLOCOS] p.47: “Nesta tradição podem ser identificadas duas divisões por geração. O primeiro grupo de intelectuais era composto por aqueles cuja experiência mais marcante em suas formações políticas foram ou a própria Primeira Guerra ou a influência da Revolução Russa, que ocorreu antes que aquela terminasse. Biograficamente, Lukács e Korsch eram respectivamente três e dois anos mais velhos que Bukharin, mas o que os separava da geração... p.48:...de marxistas do pré-guerra era o fato de terem chegado ao socialismo revolucionário muito mais tarde; enquanto Bukharin era um ativo e experiente auxiliar de Lenin já muito antes de 1914, eles foram levados à radicalização pela guerra e pelas subsequentes revoltas das massas, emergindo como marxistas apenas depois de 1918. Gramsci, por seu turno, já militava no Partido Socialista Italiano às vésperas da Primeira Guerra, mas era ainda jovem e imaturo, e sua inexperiência o levou a cometer sérios erros quando ela eclodiu – na ocasião, quase chegou a defender a intervenção italiana no conflito num memento em que seu partido combatia isto vigorosamente. Marcuse foi convocado pelo exército alemão antes de completar 21 anos e teve uma breve passagem (1917-18) pelo USPD; Benjamin escapou do serviço militar, mas foi levado para a esquerda pela guerra” [ANDERSON DIVIDE O MARXISMO OCIDENTAL EM DOIS GRUPOS. NO PRIMEIRO, COM LUKÁCS, KORSCH, GRAMSCI, MENJAMIN E MARCUSE, SÃO AUTORES QUE, EMBORA CONTEMPORÂNEOS DAS GUERRAS, SÓ FORAM LEVADOS AO MARXISMO POR INFLUÊNCIA DA 1ª GUERRA OU DOS MOVIMENTOS QUE DELES SE SUCEDERAM] “Diferentemente, o segundo grupo dessa geração da tradição do “marxismo ocidental” era formada por homens que atingiram a maturidade bem depois da Primeira Guerra Mundial, com sua formação política influenciada pelo avanço do fascismo e pela Segunda Guerra Mundial. Destes, o primeiro a descobrir o materialismo histórico foi Lefebvre, em muitos aspectos uma figura singular neste grupo, que entrou para o Partido Comunista Francês em 1928. Adorno, dez anos mais jovem que Marcuse e Benjamin, aparentemente só se voltou para o marxismo depois da tomada do poder pelos nazistas, em 1933. Sartre e Althusser, apesar da grande diferença de idade, ao que parece radicalizaram na mesma época pelo impacto da Guerra Civil Espanhola, pela queda da França em 1940 e pela prisão na Alemanha. Ambos completaram sua evolução política depois de 1945, nos primeiros anos da Guerra Fria: Althusser entrou para o Partido Comunista Francês em 1948 e Sartre alinhou-se ao movimento comunista internacional em 1950. Goldmann foi atraído pela obra de Lukács antes e durante a Segunda Guerra e o conheceu na Suíça em 1946. Della Volpe constitui uma exceção cronológica que, no entanto, confirma as características políticas e de geração deste grupo: em termos de idade, ele faria parte da primeira geração, mas não foi influenciado pela Primeira Guerra; mais tarde, sentiu-se atraído pelo fascismo italiano e só tardiamente se voltou para o marxismo, em 1944-45, no final da Segunda Guerra, quando tinha quase cinquenta anos de idade. Finalmente, um solitário caso limítrofe de uma terceira geração é identificável: Colletti, que era jovem demais para ser profundamente marcado pela Segunda Guerra e tornou-se um discípulo de Della Volpe no pós-guerra, entrando para o Partido Comunista Italiano em 1950” [SO SEGUNDO GRUPO DO MARXISMO OCIDENTAL: AUTORES QUE FORAM ARRASTADOS PARA O MARXISMO DEVIDO AO IMPACTO DOS FASCISMOS OU DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. ESTES SÃO LEFEBVRE, ADORNO, SARTRE, ALTHUSSER, GOLDMANN, DELLA VOLPE E COLLETTI] p.50: “A primeira e mais fundamental de suas características tem sido o divórcio estrutural deste marxismo da prática política. A unidade orgânica entre teoria e prática realizada pelos teóricos da geração clássica de marxistas antes da Primeira Guerra – os quais desempenharam uma função político-intelectual indivisível em seus respectivos partidos políticos na Europa central e oriental – seria progressivamente desfeita entre 1918 e 1968, na Europa ocidental. Esta ruptura não foi imediata e espontânea no novo contexto de geração e geografia do marxismo após a Primeira Guerra, e sim leta e gradualmente produzida por fortes pressões históricas, as quais só nos anos 1930 provocaram o rompimento final da ligação entre teoria e prática. Logo após a Segunda Guerra, entretanto, o desvinculamento entre prática e teoria já era tão acentuado que parecia inerente à própria tradição. No entanto, Lukács, Korsch e Gramsci – os três primeiros teóricos importantes e criadores do modelo do marxismo ocidental – foram, em princípio, importantes líderes políticos em seus respectivos partidos” [PRIMEIRA CARACTERÍSTICA DO MARXISMO OCIDENTAL: PROGRESSIVO AFASTAMENTO ENTRE A PRODUÇÃO TEÓRICA E A ATIVIDADE POLÍTICA. SEUS CRIADORES, A DESPEITO DE TEREM ATUAÇÃO POLÍTICA EM SEUS PARTIDOS, FORAM LUKÁCS, KORSCH E GRAMSCI] p.52: “Assim, fascismo e stalinismo, as duas grandes tragédias que, de maneiras tão diferentes, se abateram sobre o movimento operário europeu no período entreguerras, se somaram para dispersar e destruir os potenciais expoentes de uma teoria marxista nativa vinculada à prática das massas do proletariado ocidental. A solidão e morte de Gramsci na Itália, o isolamento e o exílio de Krosch e Lukács nos EUA e na URSS, respectivamente, marcaram o fim da fase em que o marxismo ocidental ainda estava próximo das massas. A partir daquele momento, passaria a falar sua própria linguagem cifrada, cada vez mais distante da classe que formalmente procurou servir ou articular” [MOTIVOS PELOS QUAIS O MARXISMO OCIDENTAL SE AFASTOU DA PRÁTICA POLÍTICA, DAS MASSAS] p.53: “Em seu discurso inaugural, Horkheimer – um filósofo, em vez de historiador como Grünberg – definiu os termos de uma importante reorientação nos trabalhos do instituto, distanciando-se da preocupação pelo materialismo histórico como “ciência” em favor do desenvolvimento da “filosofia social” suplementada por pesquisas empíricas” [EM 1930 HORKHEIMER ASSUME O INSTITUTO DE LHE DÁ NOVA ORIENTAÇÃO. AO INVÉS DA CIÊNCIA, SUA DISCIPLINA DIRETIR É A FILOSOFIA SOCIAL. O MATERIALISMO HISTÓRICO NÃO É MAIS UMA PREOCUPAÇÃO] p.54: “Nesse ambiente, do qual o KPD seria banido e onde o Partido Socialdemocrata abandonaria formalmente qualquer ligação com o marxismo, a despolitização do instituto foi completada; enquanto nos Estados Unidos sua posição era de enclave isolado na vida acadêmica, na Alemanha Ocidental passou a ser oficialmente festejado e patrocinado. A “teoria crítica” defendida por Horkheimer na década de 1930 agora rejeitava explicitamente qualquer ligação com a prática socialista. O próprio Horkheimer, após aposentar-se acabou por se desmanchar em ignominiosas apologias do capitalismo” [A VOLTA A ALEMANHA DO INSTITUTO CONSOLIDOU SEU CARÁTER DESPOLITIZADO, QUE JÁ APARECIA COMO CONVENIÊNCIAS NOS EUA] “Marcuse, ao contrário, ficou nos... p.55:... Estados Unidos e, apesar do isolamento cultural e institucional a que estava sujeito, manteve uma posição revolucionária intransigente como indivíduo nas décadas de 1950 e 1960. Mas o peso objetivo desta situação custou caro a seu pensamento, Na América, Marcuse, comprometido com os ideias políticos do marxismo clássico, mas totalmente afastado de qualquer força social ativa que lutasse por eles, acabou por teorizar uma “integração” estrutural da classe operária no capitalismo avançado e, portanto, a impossibilidade de se superar o fosso que separa o pensamento socialista – que agora voltara a ser inevitavelmente “utópico” – e a ação proletária na história contemporânea. A ruptura entre teoria e prática, que na realidade começara silenciosamente na Alemanha no final da década de 1920, foi clamarosamente consagrada em teoria em meados dos anos 1960, com a publicação de One-Dimensional Man” [MARCUSE, APESAR DE NÃO RETORNAR Á ALEMANHA E SE MANTER UM REVOLUCIONÁRIO, POR PERMANECER EM UM PAÍS ONDE A MOBILIZAÇÃO DE TRABALHADORES É PRATICAMENTE NULA ACABA POR ACEITAR A NULIDADE DA AÇÃO POLÍTICA PELA CRESCENTE INTEGRAÇÃO DO TRABALHADOR À SOCIEDADE] p.57: “O universo político e cultural da Terceira República foi totalmente modificado com a ocupação alemã de 1940-44 e, pela primeira vez, produziu as condições para uma generalização do marxismo como corrente teórica da França” [O MARXISMO SÓ SE DIFUNDE NA FRANÇA NO PÓS-OCUPAÇÃO ALEMÃ] “Assim, o mais importante fenômeno da primeira década depois da guerra foi o impacto do marxismo no... p.58:...meio existencialista, que aparecera pela primeira vez durante a Ocupação e se irradiara amplamente com os trabalhos de Sartre, Merleau-Ponty e Simone de Beauvoir. Este impacto foi mediado pela influência de Kojève, o primeiro filósofo acadêmico a introduzir Hegel sistematicamente na França, antes da guerra, e cuja interpretação “existencial” da Fenomenologia do espírito proporcionou a Sartre e Merleau-Ponty uma passagem indireta ao marxismo” [ANDERSON DEFINE O MARXISMO COMO A FILOSOFIA DE IMPACTO NO PÓS-GUERRA FRANCÊS] “A limitada liberalização do regime interno do partido na década de 1960 revelou, contudo, que novas forças intelectuais haviam silenciosamente se criado em seu interior. A publicação em vários volumes, a partir de 1955, da biografia.... p.59:... de Marx e Engels escrita por Cornu havia assinalado a introdução da tradição erudita de Mehring e Riazanov na França. Mas foi o aparecimento do trabalho de Althusser, entre 1960 e 1965, que mostrou uma reviravolta decisiva no debate intelectual dentro do partido. Pela primeira vez, dentro da estrutura organizacional do comunismo francês, articulou-se um sistema teórico importante, cuja força e originalidade foram reconhecidas mesmo por seus mais decididos oponentes” [COM A LIBERALIZAÇÃO DO CONTROLE IDEOLÓGICO DO PARTIDO, NA FRANÇA PODE-SE VERIFICAR QUE JÁ EXISTIAM INTELECTUAIS MARXISTA DE GRANDE MONTA (CORNU). CONTUDO, QUEM MAIS SE DESTACOU POR FORNECER UM SISTEMA, FOI ALTHUSSER] p.62: “Como Sartre afirmaria mais tarde, de 1924 a 1968 o marxismo não “parou”, mas seu avanço ocorreu afastado da prática política revolucionária. O divórcio entre os dois foi determinado por todo um contexto histórico. [...] A característica oculta do marxismo ocidental como um todo, portanto, é ser um produto da derrota. O fracasso da revolução socialista em propagar-se para fora da Rússia, causa e consequência de sua corrupção dentro daquele país, é a base comum de toda a tradição teórica desse período. Suas obras mais importantes foram, sem exceção, produzidas em condições de isolamento e desespero” [A CARACTERÍSTICA COMUM DO MARXISMO OCIDENTAL É SER PRODUTO DA DERROTA DA REVOLUÇÃO EM SE ALASTRAR PARA ALÉM DA RÚSSIA] p.63: [POR DERROTAS, O AUTOR TAMBÉM ENUMERA AS DERROTAS QUE SOFRERAM OS PARTIDOS DOS TRABALHADORES NA EUROPA] p.64: “A consequência desse impasse seria o silêncio premeditado do marxismo ocidental naquelas áreas mais fundamentais para as tradições clássicas do materialismo histórico: o exame das leis econômicas do funcionamento do capitalismo como um modo de produção, a análise da máquina política do Estado burguês, a estratégia da luta de classes necessárias para derrubá-lo. Gramsci é a única exceção a esta regra – e esta é a marca d sua grandeza, conferindo-lhe lugar especial entre todas as outras figuras desta tradição” [O AFASTAMENTO DO MARXISMO OCIDENTAL DA ATIVIDADE POLÍTICA (QUE ERA ENTENDIDA COMO RELAÇÃO PARTIDÁRIA E PARA A QUAL HAVIA 3 ATITUDES: INTEGRAÇÃO AO PARTIDO, SILÊNCIO SOBRE O MESMO E CERTA LIBERDADE TEÓRICA, COM INCIDÊNCIA SOBRE AS MASSAS; FICAR FORA DE TODA E QUALQUER ORGANIZAÇÃO E TER TOTAL LIBERDADE MAS, CONTUDO, SEM TER INCIDÊNCIA SOBRE AS MASSAS E CAPITULAR TOTALMENTE AO POLÍTICO. GRAMSCI É EXCEÇÃO] p.66: “Ao mesmo tempo, o resultado... p.67:... da Segunda Guerra viu também o estabelecimento, pela primeira vez na história da dominação burguesa, da democracia representativa baseada no sufrágio universal com o sistema normal e estável de Estado nos principais países capitalistas – Alemanha Ocidental, Japão, França, Estados Unidos, Inglaterra e Itália. O caráter de novidade da consolidação, em escala internacional, desta ordem política como sistema durável e uniforme é frequentemente esquecido no mundo anglo-saxão em razão da relativa antiguidade desta tradição na Inglaterra e nos Estados Unidos” [O RESULTADO POLÍTICO DA SEGUNDA GUERRA FOI A ESTABALIDADE DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA POR VIA DO SUFRÁGIO UNIVERSAL] p.69: 3. Mudanças formais: “O deslocamento básico de todo o eixo gravitacional do marxismo europeu no sentido da filosofia foi resultado do abandono progressivo de estruturas econômicas ou políticas como objetos centrais da teoria. O fato mais marcante em toda a tradição, de Lukács a Althusser, de Korsch a Colletti, é a esmagadora predominância de filósofos profissionais dentro dela. Do ponto de vista social, esta mudança significou uma crescente “academização” da teoria produzida na nova fase. [...] Os intelectuais marxistas da geração anterior à Primeira Guerra Mundial nunca fizeram parte dos sistemas universitários da Europa central ou oriental” [TRAÇO MARCANTE DO MARXISMO OCIDENTAL É QUE, PELO AFASTAMENTO DAS QUESTÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS, ELE SOBREVIVEU NA FILOSOFIA. ISTO IMPLICOU A ACADEMIZAÇÃO DO MARXISMO, DIFERENTE DA PRIMEIRA GERAÇÃO DO MARXISMO] p.70: “Os determinantes externos que levaram à substituição da economia e da política pela filosofia como foco principal da teoria marxista e das assembleias partidárias pelos departamentos acadêmicos como seus centros formais estavam inscritos na sombria história do período. Mas esta mudança jamais teria acontecido de forma tão geral e completa se não houvesse também um poderoso determinante interno na própria cultura marxista. O evento decisivo para tal transformação foi a tardia descoberta do mais importante trabalho do jovem Marx – os Manuscritos de Paris de 1844, que foram publicados pela primeira vez em Moscou, em 1932” [EXTERNAMENTE, O CONTEXTO HISTÓRICO EXPLICA A EVASÃO DOS MARXISTAS PARA A FILOSOFIA. CONTUDO, ADERSON ARGUMENTA QUE, INTERNAMENTE, ESSE FATOR DECISIVO FOI A PUBLICAÇÃO DOS MANUSCRITOS DE 44] p.72: “Nenhum filósofo da tradição do marxismo ocidental jamais afirmou que o objetivo principal ou final do materialismo histórico fosse uma teoria do conhecimento. No entanto, o pressuposto comum de quase todos era que a tarefa preliminar da pesquisa teórica do marxismo era discernir as regras de investigação social descobertas por Marx, ainda escondidas na particularidade temática de sua obra – e, se necessário, completá-las. O resultado disso foi que uma significativa parcela da produção do marxismo ocidental se constituiu... p.73:.. em um prolongado e intrincado Discurso sobre o Método” [AS PREOCUPAÇÕES DO MARXISMO OCIDENTAL SE DERAM NA DIREÇÃO DAS BASES DA INVESTIGAÇÃO DE MARX. POR ISSO SEUS DEBATES SE PROLONGARAM NUM DISCURSO SOBRE O MÉTODO] “A natureza secundária do discurso desenvolvido nessas obras – mais sobre o marxismo do que propriamente marxistas – teve uma consequência adicional. A linguagem em que foram escritas adquiriu um caráter crescentemente especializado e inacessível. Durante um período histórico inteiro, a teoria transformou-se numa disciplina esotérica cuja linguagem altamente técnica dava a medida de sua distância política. [...] Além disso, embora não negasse as dificuldades intrínsecas para se dominar qualquer disciplina científica, Marx, depois de 1848, sempre procurou apresentar seu pensamento na forma mais simples e lúcida possível, a fim de maximizar sua inteligibilidade pela classe operária, à qual se destinava. É conhecido o cuidado com que acompanhou, com este propósito, a tradução francesa de O capital” [A LINGUAGEM METODOLÓGICA DO MARXISMO OCIDENTAL O AFASTOU COMPLETAMENTE DO DEBATE POLÍTICO, O QUE PARECE ESTAR EM CONTRADIÇÃO COM A PRÓPRIA OBRA DE MARX, QUE FOI CRESCENTEMENTE “FACILITADA”. ESSA FACILITAÇÃO, É CONTEMPORÂNEAMENTE CONTESTADA POR HEINRICH] p.75: “Na ausência de um movimento revolucionário de classe que funcionasse como pólo magnético, a agulha da bússola de toda essa tradição tenda a apontar cada vez mais na direção da cultura burguesa contemporânea. [...] É evidente que a razão histórica para esta reorientação não está simplesmente na falta de prática revolucionária das massas no Ocidente. Mais do que isso, o bloqueio de qualquer avanço socialista nas nações capitalistas avançadas por si determinou a configuração cultural geral nessas sociedades em alguns aspectos fundamentais. Acima de tudo, o sucesso de restabilização do imperialismo, aliado à stalinização do movimento comunista, propiciou a recuperação, por importantes setores do pensamento burguês, de uma relativa vitalidade e superioridade sobre o pensamento socialista” [MAIS UMA IMPLICAÇÃO O MARXISMO OCIDENTAL: ELE NÃO SE DIRECIONOU AO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES, MAS PARA CULTURA BURGUESA. ISSO NÃO SE DEVE APENAS À STALINIZAÇÃO, MAS A CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO DO CAPITALISMO E SUA RESTRIÇÃO AO MOVIMENTO SOCIALISTA] p.76: “O mais notável aspecto do marxismo ocidental como uma tradição comum talvez seja, portanto, a presença e influência constantes de sucessivos tipo de idealismos europeus” [O MARXISMO OCIDENTAL É PERMEADO POR IDEALISMOS] p.79: “Além disso, este também se distinguiu por um eixo vertical de referência, de tipo bem estranho às tradições marxistas anteriores: a invariável construção de uma genealogia filosófica que se estendia a fases anteriores a Marx. Todos os principais sistemas teóricos do marxismo ocidental revelam o mesmo mecanismo espontâneo a esse respeito; sem exceção, todos recorreram a filosofias pré-marxistas para legitimar, explicar ou suplementar a filosofia do próprio Marx. Este retorno obrigatório a um tempo anterior a Marx em busca de um ponto mais adequado a partir do qual se interpretaria o significado do próprio trabalho de Marx é, uma vez mais, um sugestivo indicador da situação histórica básica do marxismo ocidental” [A TENTATIVA DE COLOCAR MARX EM UMA TRADIÇÃO QUE CONFERIRIA SENTIDO A SUA PRODUÇÃO TEÓRICA É UM TRAÇO DO MARXISMO OCIDENTAL. MAS E AS TRÊS FONTES DE LENIN NÃO FAZEM ISSO?] “Na realidade, teria início, no marxismo ocidental, um dupla rejeição do legado filosófico de Engels, levado a cabo por Korsch e Lukács, em Marxismo e filosofia e História e consciência de classe, respectivamente. A partir de então, a aversão aos últimos textos de Engels seria comum a praticamente todas as correntes da tradição, De Sartre a Colletti, de Althusser a Marcuse” [A REJEIÇÃO DO LEGADO FILOSÓFICO DE ENGELS TAMBÉM É TRAÇO DO MARXISMO OCIDENTAL] p.84: [ANDERSON ESTABELECE UMA RELAÇÃO ENTRE O MATERIALISMO DE ALTHUSSER E O MONISMO DE ESPINOSA. PONTO A SE INVESTIGAR] p.85: “Althusser adaptaria bem este dogma final: mesmo em uma sociedade comunista, os homens ainda estariam cercados pelos fantasmas da ideologia como meio necessário de usa experiência espontânea” [SOBRE ALTHUSSER NÃO VISLUMBRAR A SUPERAÇAO DA IDEOLOGIA A PARTIR DE SUA INCORPORAÇÃO DA IDEIA DE LIBERDADE EM ESPINOSA] p.87: “[...] a sua falta de internacionalismo. Também essa característica marcou um rompimento radical com os cânones do marxismo clássico” [A FALTA DE INTERNACIONALISMO É OUTRA MARCA DO MARXISMO OCIDENTAL] p.95: 4. Inovações temáticas: “Resulta daí que o marxismo ocidental como um todo, ao avançar para além das questões de método para tratar de questões substantivas, acabou por concentrar-se especialmente no estudo de superestruturas” [O MARXISMO OCIDENTAL NÃO TRATA DA ECONOMIA POLÍTICA. POR ISSO, QUANDO NÃO TRATA DE MÉTODO, TRATA DE QUESTÕES QUE DIZEM RESPEITO A SUPERESTRUTURA] p.96: “Foi sobretudo na Arte que, no domínio da cultura, mobilizou os maiores talentos e energias intelectuais do marxismo ocidental. A norma geral em relação a isto é notável” [A ARTE COMO TEMA PREDOMINANTE NO MARXISMO OCIDENTAL] p.98: “Toda a obra de Gramsci esteva centrada em objetos superestruturais, mas, diferentemente dos outros teóricos do marxismo ocidental, ele entendia a autonomia e a eficácia das superestruturas culturais como um problema político que deveria ser explicitamente teorizado como tal, ou seja, em relação a seu papel na manutenção ou subversão da ordem social” [DIFERENTE DOS OUTROS AUTORES DO MARXISMO OCIDENTAL, QUE TRATARAM DE TEMAS SUPERESTRUTURAIS EM SI MESMOS, GRAMSCI VIA EM SUA AUTONOMIA UM POTENCIAL POLITICO, SERVINDO PARA REVOLUÇÃO] p.99: “A noção de hegemonia de Gramsci, neste aspecto, é a primeira a aparecer e também a mais destacada [...] Gramsci formulou o conceito de hegemonia para designar a força e a complexidade decisivamente maiores da dominação da classe burguesa na Europa ocidental, que impediram a repetição da Revolução de Outubro nas regiões capitalistas mais avançadas do continente. Este sistema hegemônico de poder era definido pelo grau de consenso que recebia das massas populares que dominava e por uma consequente redução na escala de coerção necessária para reprimi-las. Seus mecanismos de controle para assegurar este consenso residiam numa rede de instituições culturais – escola, igrejas, jornais, ... p.100:...partidos, associações – que inculcavam nas classes exploração uma subordinação passiva utilizando um conjunto de ideologias tecidas no passado histórico e transmitidas por grupos de intelectuais ligados à classe dominante. Tais intelectuais, por sua vez, tanto podiam ser tomados, pela classe dominante, de modos de produção anteriores (“tradicionais”), quanto gerados dentro dos seus próprios quadros sociais (“orgânicos”) como uma nova categoria. A dominação burguesa também era fortalecida pelo apoio de outras classes sociais a ela aliadas, fundidas num compacto bloco social sob sua liderança. A hegemonia flexível e dinâmica exercida pelo capital sobre o trabalho no Ocidente por meio desta estrutura consensual estratificada representou, para o movimento socialista, uma barreira muito mais difícil de ser superada do que aquela encontrada na Rússia” [SOBRE O CONCEITO DE HEGEMONIA EM GRAMSCI] p.101: [SEGUNDO ANDERSON, A DIALÉTICA DO ILUMINISMO DE ADORNO E HORKHEIMER SÃO INSPIRADAS PELA FILOSOFIA DA NATUREZA DE SCHELLING] “Para eles, o rompimento original do homem com a natureza, e o subsequente processo de crescente domínio sobre esta, não resultaram necessariamente em um progresso na emancipação humana. O preço da dominação da natureza, da qual o próprio homem era parte inseparável, foi uma divisão social e física do trabalho que infligia uma opressão ainda maior sobre os homens, mesmo à medida que criava um potencial crescente ara sua libertação. A subordinação da natureza prossegui pari passu com a consolidação das classes e, consequentemente, com a subordinação da maioria dos homens a uma ordem social imposta sobre eles com uma implacável segunda natureza. Avanço da tecnologia até hoje apenas aperfeiçoou o mecanismo da tirania” [SOBRE A DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO] p.104: “O rompimento radical de Althusser com as concepções tradicionais do materialismo histórico encontra-se em sua firme convicção de que a “ideologia não tem história”, porque é – como o inconsciente – “imutável” em sua estrutura e em sua operação no interior das sociedades humanas. A autoridade desta afirmação provém, por analogia, do trabalho de Freud, para quem o inconsciente é “eterno”. A ideologia, para Althusser, era um conjunto de representações míticas ou ilusórias da realidade que expressava o relacionamento imaginário dos homens com as suas condições reais de existência, e era inerente à sua experiência imediata: como tal, era, ao contrário da maioria das concepções, um sistema inconsciente de determinações e não uma forma de consciência. A permanência da ideologia como um meio vivo da ilusão era, por sua vez, uma consequência necessária de sua função social de vincular os homens na sociedade, adaptando-as às posições objetivas a eles alocadas pelo modo de produção dominante. Assim, a ideologia era o indispensável cimento da coesão social, em todos os períodos da história” [SOBRE A IDEOLOGIA PARA ALTHUSSER, SUA RELAÇÃO COM FREUD E SUA UNIVERSALIDADE NA HISTÓRIA] p.105: “Finalmente, o estatuo transhistórico da ideologia como o veículo inconsciente da experiência vivida significava que, mesmo em uma sociedade sem classes, seu sistema de erros e ilusões sobreviveria para dar total coesão à estrutura social do próprio comunismo, pois também esta estrutura será obscura e impermeável aos indivíduos no seu interior” [PARA ALTHUSSER, ATÉ MESMO UMA SOCIEDADE SEM CLASSES POSSUIRÁ´IDEOLOGIA] p.108: “Pois, por mais extravagantes que sejam, estas inovações partilham de um traço fundamental: o pessimismo comum e latente. Todas as principais variantes ou desenvolvimentos substanciais dentro desta tradição se distinguem do legado clássico do materialismo histórico pelo caráter sombrio de suas implicações ou conclusões” [O PESSIMISMO COMO MARCA DAS INOVAÇÕES FORNECIDAS PELO MARXISMO TRADICIONAL] p.112: “O divórcio estrutural entre teoria e prática inerente à natureza dos partidos comunistas desta época impediu o trabalho político-intelectual unificado do tipo que definiu o marxismo clássico. O resultado disso foi a reclusão dos teóricos nas universidades, distantes do proletariado de seus próprios países e o estreitamento do campo de atuação da teoria, concentra-se na filosofia em detrimento da economia política” [AQUI FICA CLARO QUE O AUTOR ATRIBUIR O RECAIR NA FILOSOFIA COMO RESULTADO DA SEPARAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA NO MARXISMO OCIDENTAL] p.113: “O método como impotência, a arte como consolação, o pessimismo como imobilidade: não é difícil identificar elementos de tudo isso na configuração do marxismo ocidental, pois o determinante radical na formação desta tradição foi a derrota – as longas décadas de estagnação e reveses, muitos destes terríveis sob qualquer perspectiva histórica, pelas quais passou a classe operária do Ocidente depois de 1920” [SÍNTESE DO MARXISMO OCIDENTAL] p.114: “O materialismo histórico só poderá exercer todo o seu potencial quando estiver livre de qualquer espécie de provincialismo. Estes poderes ainda precisam ser recuperados” [O PROBLEMA DO MARXISMO OCIDENTAL É SUA LIMITAÇÃO DE FRONTEIRAS, PROVINCIALISMO. HOFF DIZ ALGO SOBRE O PROVINCIALISMO DOS AUTORES ALEMÃES] p.115: 5. Contrastes e conclusões: “Em 1974, a economia capitalista mundial entrou em sua primeira recessão generalizada desde a guerra” [DATA DA PRIMEIRA CRISE MUNDIAL DO PÓS-GUERRA] p.118: [ROSDOLSKY ERA UM TROTSKISTA] p.119: “A tradição marxista nascida com Trotski constituiu assim um polo oposto, nos aspectos mais essenciais, àquele do marxismo ocidental. Concentrou-se na política e na economia, no lugar da filosofia. Ela era resolutamente internacionalista e nunca limitou seus interesses ou horizontes a uma única cultura ou país. Falava uma linguagem da clareza e da urgência, e sua melhor prosa (Trotski ou Deutscher) possuía, não obstante, uma qualidade literária igual ou superior à de qualquer outra tradição. Seus membros não ocuparam cargos na universidade; foram caçados e exilados” [SOBRE O OASIS QUE FOI A TRADIÇÃO QUE NASCE DE TROTSKI] p.120: “Para ela, a preservação de doutrinas clássicas tornou-se mais importante do que o seu desenvolvimento. O triunfalismo em relação à causa da classe operário e o catastrofismo na análise do capitalismo, fundados mais na vontade do que no intelecto, seriam os vícios típicos da tradição trotskista em sua forma rotineira” [PONTOS NEGATIVOS DA TRADIÇÃO DE TROSTKI] p.125: Fim de texto.