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Formulário para Atividade Presencial – AP 01

Nome da Disciplina: História Contemporânea II

Natureza: Obrigatória
Cursista: Paula Cristina Evangelista Guedes
Polo: Niquelândia
Tutor:
Turma: A

Atividade: Assistência de filme e debate sobre estratégias didáticas


Estudante,

Assista atentamente, durante o encontro presencial, ao filme O Jovem Karl


Marx e forme uma roda de conversa e discuta com seus colegas:

a) Quais as contribuições do filme para o entendimento da emergência do movimento


operário
b) Quais possibilidades didáticas o filme oportuniza?

Após o debate, produza um relatório da obra fílmica, procurando estabelecer


conectividades entre os acontecimentos dispostos no filme e no texto “A primavera dos povos”
do livro A era do capital do historiador Eric Hobsbawm (1979).

Você deverá encaminhar seu relatório na plataforma moodle, no repositório específico


da atividade presencial.

Bom atividade presencial!


O filme Le Jeune Karl Marx, dirigido pelo haitiano Raoul Peck, retrata o
percurso da perspectiva revolucionária que se forma no jovem Marx, ao longo dos anos
de 1843 a fevereiro de 1848, quando da publicação do programa da Liga Comunista,
conhecido como Manifesto do Partido Comunista, ou simplesmente Manifesto
Comunista.
O contexto do artigo de Marx, de 1842, publicado em Rheinische Zeitung
(Gazeta Renana), a respeito da coleta de lenha pelos camponeses empobrecidos na
Prússia, vista pelo despotismo prussiano como roubo passível de punição violenta,
inaugura a trama da narrativa. O então publicista Karl Marx, colaborador do referido
jornal publicado em Colônia, havia tomado posição política em favor dos camponeses
pobres do Reno, compelidos a roubarem madeira em função da situação miserável em
que viviam, em clara denúncia da repressão do Estado alinhada à defesa da propriedade
privada. Como punição, o jornal patrocinado pela burguesia liberal antiabsolutista, em
que atuava o jovem Marx, então com 25 anos, recebeu intervenção policial e foi fechado
em1843. O periódico contava com expoentes como Stiner, Bauer e Arnold Ruge.
O filme mostra, inclusive Marx e seus editores sendo levados pela polícia. Tais
autores passariam a ser objeto de virulenta crítica de Marx, que acabara de romper com
a perspectiva dos jovens hegelianos. O jornal tecia críticas ao governo de Frederico
Guilherme IV (lembrando que o governo prussiano combatia o liberalismo burguês),
tendo em Marx a postura mais radical. O êxito do filme está em demonstrar como o
socialismo científico, a partir da teoria social de Marx (e a colaboração seminal de
Engels), supera as perspectivas idealistas do socialismo utópico presentes na Europa do
século XIX.
A respeito, momento peculiar do filme é o encontro pessoal de Marx com Engels.
Os jovens revolucionários tiveram um primeiro contato em 1842, não amistoso, apesar de
que em 1844, em um segundo encontro, selariam o início de uma profunda e admirada
parceria intelectual-militante. A respeito, como escreveria Engels, em 1885, “constatamos
nossa completa concordância em todas as questões práticas” (apud LOWY 2012 p.134).
Foi ainda em Paris, com 25 anos e já doutor em filosofia, que Marx entrou em
contato com o movimento operário representativo do socialismo francês, como mostra o
filme. Estudou as greves dos operários tecelões da Silésia, ocorrida em junho de 1844,
identificando no proletariado o elemento ativo de sua própria libertação. Se sua atividade
como jornalista lhe revelou a importância para a liberdade política, foi, porém, em contato
com as lutas sociais da época que se viu compelido à importância do profundo estudo da
estrutura da sociedade burguesa.
Aquele ano de 1844, conforme aborda o filme, seria decisivo para o jovem
Marx, pois foi nos Manuscritos de Paris que desvendou o esboço decisivo de sua teoria
da alienação e o estudo da Economia Política. Ainda em 1844, no mês de agosto, é
publicado no periódico Vorwäts (periódico de esquerda publicado por exilados alemães
em Paris), o qual é mencionado no filme, o artigo de Marx, de importância
singularmente pouco considerada pelos próprios marxistas, intitulado Glossas Críticas
ao artigo “O rei da Prússia e a reforma social” de um prussiano, em que debate a
primeira revolta operária histórica alemã moderna, a saber, o levante dos tecelões de
Silésia, texto em que Marx articula o proletariado como elemento ativo da revolução
socialista numa perspectiva da autoemancipação. Foi nessa época que Marx redigiu o
pouco conhecido Elementos da Economia Política de James Mill, tratando, inclusive,
sobre a temática da alienação.
Dessa forma com o passar do tempo o autor pronuncia conferências em
Bruxelas, notadamente na Associação dos Operários Alemães, que seriam
posteriormente publicadas na Nova Gazeta Renana, em 1849, com o título Trabalho
Assalariado e Capital, texto dirigido à militância operária. Em fins de 1847, Marx e
Engels são incumbidos da tarefa de redação do Manifesto Comunista. Engels entrega a
Marx os Princípios do Comunismo, uma versão preliminar do Manifesto. A
responsabilidade pela exposição final do texto recai a Marx. Na euforia revolucionária
do contexto social da época (situação revolucionária que ficaria conhecida como a
Primavera dos Povos de 1848), o panfleto foi uma encomenda política da Liga dos
Comunistas. Trata-se do texto teórico político mais importante e influente já escrito na
história.
O panfleto, originalmente com vinte páginas, representa um documento
político-programático, ao mesmo tempo que uma análise histórica, isto é, uma teoria da
realidade e uma crítica do presente integradas ao projeto de emancipação proletária.
Tratava-se de apresentar ao proletariado um conteúdo programático embasado em
sólidas bases científicas. Na última semana de fevereiro de 1848 foram impressos 3 mil
exemplares do panfleto em Londres e divulgados amplamente. O propósito era divulga-
lo em diversos idiomas. Simultaneamente explode uma insurreição na Suíça, seguida
pela Itália, França, Renânia, Prússia, Áustria e Hungria. A partir de Engels, os jovens
Engels e Marx se consagrariam como os fundadores do socialismo científico. Vale
aguardarmos um outro filme retratando o período de “maturidade” desses primorosos
autores revolucionários.
Além disso é importante salientar que a juventude de Marx e Engels vai culminar
com a publicação do Manifesto Comunista, umas de suas obras mais conhecidas, escrita
quando beiravam os 30 anos, em 1848, mesmo ano em que acontece a Primavera dos Povos.
Dessa forma Eric J. Hobsbawm em a Era do Capital, demonstra que a Primavera dos
Povos foi uma série de eventos gerados por movimentos revolucionários (liberais;
nacionalista e socialistas) que eclodiram quase que simultaneamente pela Europa no ano
de 1848, possuindo em comum um estilo e sentimento marcados por uma atmosfera
romântico-utópica influenciada pela Revolução Francesa (1789).
Outro ponto em comum destacado por Hobsbawm reside no fato de que todas as
revoluções foram realizadas por trabalhadores, justamente porque foram eles que
enfrentaram a morte nas barricadas urbanas, o que no fundo assustou os moderados
liberais, contribuindo para o fracasso da revolução social. Entretanto, esse perigo não
era igualmente agudo em todos os lugares, pois camponeses poderiam ser atraídos por
governos conservadores. A burguesia, diante da ameaça à propriedade, preferiu
a ordem à chance de pôr em prática o seu programa, cessando de ser uma força
revolucionária.

“primavera dos povos”, foi a primeira e última revolução europeia no sentido


(quase) literal, a realização momentânea dos sonhos da esquerda, os
pesadelos da direita, a derrubada virtualmente simultânea de velhos regimes
da Europa continental a oeste dos impérios russo e turco, de Copenhague a
Palermo, de Brasov a Barcelona. Foi esperada e prevista. Pareceu ser a
consequência e o produto lógico da era das duas revoluções. (HOBSBAWM,
1982, p. 18).

Ainda assim, para Hobsbawm 1848 não foi apenas um “breve episódio
histórico” sem consequências. As revoluções de 1848 não são facilmente definidas em
termos de regimes políticos, leis e instituições, porém elas marcaram o fim, na Europa
ocidental, da política da tradição que até então era posta em prática pelas monarquias,
que acreditavam que o povo aceitaria a lei do direito divino que apontava para dinastias
que iriam presidir sociedades hierarquicamente estratificadas. Isso tudo sancionado pela
tradição religiosa que defendia a crença dos direitos e deveres patriarcais dos que eram
superiores social e economicamente. Além disso, os defensores da ordem social foram
obrigados a aprender a política do povo, e esta foi sem dúvida a maior inovação trazida
pelas revoluções de 1848, pois ficou claro que classe
média; liberalismo; democracia; política; nacionalismo e as classes trabalhadoras eram,
daquele momento em diante, presenças permanentes no panorama político.
Este conjunto de revoluções caracterizadas por serem dos setores pobres da
sociedade e que contrariavam os interesses liberais de construção e expansão da riqueza
pessoal, da busca do lucro sem peias, mesmo sendo derrotadas, serviram como modelo
de uma possibilidade de reação social. Para Hobsbawm (1982), elas são uma reposta à
crise socioeconômica que paira sobre a Europa neste momento; estagnação do
comércio, fome, miséria elementos que nivelam as necessidades sociais e
consequentemente as formas de resposta agregadas à luta contra o “Antigo Regime”.
Portanto se faz necessário ressaltar que os choques de 1848, conhecidos como
Primavera dos Povos, foram o espaço de luta e de teste da força do movimento de
trabalhadores, teste das formas de luta adotadas e do nível de organizações de todas as
classes. A conjuntura ampla apresentava condições para que lutas acontecessem,
especialmente na França e Alemanha, mas também na Itália, Inglaterra, Bélgica, etc. As
análises de Marx e Engels estão voltadas para essa conjuntura de conflitos sociais,
evidenciando ao mesmo tempo uma nova compreensão sobre a realidade, dentro de uma
realidade nova. Não é exagero observar que o próprio marxismo é fruto desse momento
de lutas, não apenas como manifestação teórica, afinal, Marx e Engels foram alguns dos
protagonistas na construção de organizações de trabalhadores, algo que ainda é uma
carência mundial para a classe trabalhadora.

Referência bibliográfica

HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital 1848 - 1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

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