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Novembro de 1914
Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818, em Treves (Prússia Renana). Seu pai,
advogado israelita, converteu-se, em 1824, ao protestantismo. Sua família, abastada
e culta, não era revolucionária. Terminando os estudos no Liceu de Treves, Marx
entrou para a Universidade de Bonn, indo depois para Berlim, onde estudou direito e,
sobretudo, história e filosofia. Em 1841, terminava os seus estudos, sustentando uma
tese de doutorado sobre a filosofia de Epicuro. Eram, então, as concepções de Marx as
de um hegeliano idealista. Fez parte, em Berlim, do círculo dos "hegelianos de
esquerda" (Bruno Bauer e outros), que procuravam extrair da filosofia de Hegel
conclusões ateias e revolucionárias.
Saindo da Universidade, Marx fixou-se em Bonn, onde contava com uma cadeira
de professor. Mas a política reacionária do mesmo governo que, em 1832, afastara
Ludwig Feuerbach de sua cátedra, e que, em 1836, recusava o seu retorno à
Universidade, e ainda, em 1841, proibia ao jovem professor Bruno Bauer realizar
conferencias em Bonn, obrigou a Marx a renunciar à carreira universitária. Nessa
época, o desenvolvimento das idéias hegelianas de esquerda estava em franco
progresso na Alemanha. Particularmente, a partir de 1836, começou Ludwig
Feuerbach a criticar a teologia e a se orientar para o materialismo que, em 1841, já
aceitava inteiramente, como se verifica em a A essência do cristianismo; em 1843,
eram publicados os seus Princípios da Filosofia do Futuro.
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Nessa época, os burgueses radicais da Renania, que tinham certos pontos de
contacto com os hegelianos de esquerda, fundaram, em Colônia, um jornal de
oposição, a Gazeta Renana, que apareceu a partir de 1.° de janeiro de 1842. Marx e
Bruno Bauer foram os seus principais colaboradores e, em outubro de 1842, Marx
tornou-se o seu redator-chefe, mudando-se então de Bonn para Colônia.
Em 1843, Marx desposou, em Kreuznach, Jenny von Westphalen, que já era sua
conhecida desde criança e com a qual já se havia comprometido desde o seu tempo
de estudante. Sua esposa pertencia a uma família nobre e reacionária da Prússia. O
irmão mais velho de Jenny foi Ministro do Interior, na Prússia, em uma das épocas
mais reacionárias, de 1850 a 1858. No outono de 1843, Marx foi a Paris para editar
uma revista radical ao lado de Arnold Ruge (1802-1880), hegeliano de esquerda,
aprisionado de 1825 a 1830, emigrado depois de 1848 e partidário de Bismarck de
1866 a 1870. Mas apareceu somente o primeiro número desta revista intitulada Os
Anais Franco-Alemães. Foi suspensa, devido à dificuldade de sua difusão clandestina
na Alemanha e das divergências com Ruge. Nos artigos de Marx, publicados na
revista, ele já nos aparece como um revolucionário que proclama "a crítica implacável
de tudo o que existe" e, em particular "a crítica das armas" e apela às massas e ao
proletariado.
Em setembro de 1844, Frederico Engels veio a Paris por alguns dias e tornou-se o
amigo mais íntimo de Marx. Tiveram ambos a parte mais ativa na vida agitada dos
grupos revolucionários da época, em Paris. A doutrina mais importante era a de
Proudhon com que Marx acertou contas, categoricamente, na A Miséria da Filosofia,
publicada em 1847. Numa luta cerrada contra as diversas doutrinas do socialismo
pequeno-burguês, Marx e Engels elaboraram a teoria e a tática do socialismo
proletário revolucionário, ou o comunismo (marxismo). Em 1845, por exigência do
governo prussiano Marx foi expulso de Paris como revolucionário perigoso. Seguiu
para Bruxelas. Na primavera de 1847, Marx e Engels filiaram-se a uma sociedade
secreta de propaganda, a Liga dos Comunistas e tomaram parte preponderante no 2.°
Congresso desta Liga em Londres, novembro de 1847. A pedido do Congresso,
redigiram o imortal Manifesto do Partido Comunista, publicado em fevereiro de 1848
Esta obra expõe, com clareza e precisão geniais, a nova concepção do mundo, o
materialismo consequente, que abrange também o domínio da vida social, a dialética
apresentada como a ciência mais vasta e mais profunda da evolução, a teoria da luta
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de classes e do papel revolucionário, histórico, mundial, do proletariado, criador de
uma sociedade nova, a sociedade comunista.
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A intensa atividade na Internacional e seus trabalhos teóricos, que lhe exigiam
esforços ainda maiores, afetaram a saúde de Marx. Continuou sua obra de
transformação da economia política e a finalização de O Capital, acumulando num
volume quantidade imensa de documentos novos e estudando várias línguas (o russo,
por exemplo). Mas a moléstia o impediu de terminar esse seu livro.
O Materialismo Filosófico
A partir de 1844-1845, anos em que tomavam forma suas idéias. Marx foi
materialista; foi, em particular, adepto de Feuerbach, no qual, mesmo mais tarde, ele
não reconhecia pontos fracos, exceto na insuficiência da lógica e na falta de amplitude
de seu materialismo. Marx reconheceu o papel histórico mundial de Feuerbach, que
"fez época", justamente no seu rompimento decisivo com o idealismo de Hegel e na
sua afirmação do materialismo.
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criador do real... Para mim, ao contrário, a idéia não é
senão o mundo material transposto e traduzido no cérebro humano"(4).
"A unidade do mundo não consiste no seu ser... A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade, e esta última é provada... por uma longa e
laboriosa evolução da filosofia e das ciências da natureza...(5) O movimento
é o modo da existência, a maneira de ser da matéria. Nunca e em nenhum
lugar houve, e não pode haver, matéria sem movimento...(6) A matéria sem
movimento é tão inconcebível quanto o movimento sem matéria...(7).
No seu livro Ludwig Feuerbach, onde expõe suas próprias idéias, e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach, e que ele não enviou à tipografia antes de ter relido
ainda uma vez o velho manuscrito de 1844-1845, escrito em colaboração com Marx
sobre Hegel, Feuerbach e a concepção materialista da história, Engels escreve:
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Kant, o agnosticismo, o criticismo, o positivismo sob seus diferentes aspectos,
considerando este gênero de filosofia como uma concessão "reacionária" ao idealismo
e, quando muito, como "um modo vergonhoso de aceitar o materialismo às
escondidas, renegando-o publicamente".
Deve-se consultar sobre esse assunto, além das obras de Engels e de Marx já
mencionadas, a carta deste último a Engels, datada de 12 de dezembro de 1866, em
que ele fala do célebre naturalista T. Huxley, que novamente se mostrou "mais
materialista, nos últimos anos" e reconheceu que
Marx critica-o por ter "aberto uma nova porta secreta" para o agnosticismo e para
a teoria de Hume. Importa-nos sobretudo guardar a opinião de Marx sobre a relação
entre a liberdade e a necessidade:
A Dialética
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pobre, mutilado e estropiando a marcha real da evolução (marcada às vezes por
saltos, catástrofes, revoluções) na natureza e na sociedade.
Engels escreveu:
"A grande idéia fundamental, segundo a qual o mundo não deve ser
considerado como um complexo de coisas acabadas, mas como um
complexo de processos em que as coisas, estáveis aparentemente, tanto
quanto os seus reflexos intelectuais no nosso cérebro, as idéias, passam por
uma variação ininterrupta de vir-a-ser e de decadência, em que,
finalmente, apesar de todos os aparentes acasos e de todas as reviravoltas
momentâneas, um desenvolvimento progressivo acaba por aparecer; esta
grande idéia fundamental, principalmente depois de Hegel, penetrou tão
profundamente na consciência comum que ela, sob esta forma geral, já não
encontra mais contradições. Mas são coisas diferentes reconhecê-la em
palavra e aplicá-la na realidade, no detalhe, em cada domínio submetido à
investigação...(16).
"a ciência das leis gerais do movimento tanto do mundo exterior como do
pensamento humano".
"...não se trata mais de uma filosofia colocada fora das outras ciências. De
toda a filosofia antiga, o que subsiste e conserva uma existência própria é a
teoria do pensamento e de suas leis, a lógica formal e a' dialética"(18).
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Tanto na concepção de Marx, como na de Hegel, a dialética compreende aquilo
que hoje chamamos de teoria do conhecimento ou gnosiologia, cujo objetivo abrange
igualmente o ponto de vista histórico. A dialética, pelo estudo e generalização da
origem e do desenvolvimento do conhecimento, deve proceder à passagem da
ignorância para o conhecimento.
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de produção correspondem a um determinado grau de desenvolvimento de
suas forças produtivas. O conjunto dessas relações de produção constitui a
estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma
superestrutura jurídica e política, e a qual correspondem formas
determinadas de consciência social. O modo de produção da vida material
condiciona o processo da vida social, política e intelectual em geral. Não e a
consciência do homem que determina o seu ser social.
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histórico. O marxismo abriu o caminho para um estudo vasto e universal do processo
do nascimento, do desenvolvimento e do declínio das formações sociais e econômicas,
examinando o conjunto das tendências contraditórias, ligando-as às condições de
existência e de produção, bem determinadas, das diversas classes da sociedade,
afastando o subjetivismo e a arbitrariedade na escolha das idéias "diretrizes" e na sua
interpretação, revelando a "origem" de todas as idéias e de todas as tendências
diferentes, sem exceção, no estado das forças produtivas materiais. Os homens são os
artífices de sua própria história, mas, que causas determinam os móveis dos homens
e, mais, precisamente, das massas humanas? Qual é a causa dos conflitos, das idéias
e das aspirações opostas? Que representa o conjunto destes conflitos da massa das
sociedades humanas, quais são as condições objetivas da produção da vida material,
sobre as quais toda a atividade histórica dos homens está baseada? Marx orientou a
sua atenção para todos esses problemas e traçou o caminho para o estudo científico
da história concebida como um processo único, regido por leis, apesar de sua
variedade prodigiosa e de todas as suas contradições.
A Luta de Classes
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por novas classes, por novas condições de opressão, por novas formas de
luta, as de outrora. Entretanto, o caráter distintivo de nossa época, da
época da burguesia, é o de ter simplificado os antagonismos de classe. A
sociedade se divide, cada vez mais, em dois grandes campos opostos, em
duas grandes classes, declaradamente inimigas: a Burguesia e o
Proletariado"(23).
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A teoria de Marx encontra sua confirmação e sua aplicação mais profunda, mais
absoluta e mais detalhada, na sua doutrina econômica.
O objetivo final desta obra, diz Marx no seu Prefácio de O Capital, é desvendar a
lei econômica da evolução da sociedade moderna"(25), isto é, da sociedade capitalista,
da sociedade burguesa. O estudo das relações de produção de uma sociedade
determinada, historicamente determinada em seu nascimento, em seu
desenvolvimento e em seu declínio, tal é o conteúdo da doutrina econômica de Marx.
Reina na sociedade capitalista a produção de mercadorias; por isso, a análise de Marx
começa pela análise da mercadoria.
O Valor
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iguais uns aos outros, na qualidade de trabalhos humanos. Afirmam isso
sem o saber"(26).
O valor é uma relação entre duas pessoas, disse um velho economista; dever-se-
ia ajuntar simplesmente: uma relação dissimulada sob uma aparência material.
Somente se pode compreender o que é o valor, partindo-se do sistema de relações
sociais de produção de uma formação histórica determinada, isto é, relações que
aparecem na troca, fenômeno de massa, que se repete milhões e milhões de vezes.
A Mais-Valia
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crescimento do valor primitivo do dinheiro posto em circulação que Marx chama de
mais-valia. Este "acréscimo" de dinheiro na circulação capitalista é um fato conhecido
de todo o mundo. É precisamente este "acréscimo" que transforma o dinheiro em
capital, como relação social particular de produção, historicamente determinado. A
mais-valia não pode provir da circulação das mercadorias, pois esta se refere apenas à
troca de equivalentes. Ela não pode ainda provir da majoração dos preços, pois as
perdas e lucros recíprocos dos compradores e dos vendedores se equilibrariam; trata-
se de um fenômeno social médio, generalizado, e não de um fenômeno individual.
Para obter mais-valia, é preciso que "o possuidor de dinheiro descubra... no mercado,
uma mercadoria cujo valor de uso seja dotado da propriedade singular de criar
valor(29), mercadoria essa na qual o processo de consumo seja ao mesmo tempo um
processo de criação de valor. Ora, esta mercadoria existe: é a força humana de
trabalho. Seu uso é o trabalho, e o trabalho cria valor. O possuidor de dinheiro compra
a força de trabalho pelo seu valor, que é determinado, como o valor de qualquer outra
mercadoria, pelo tempo da trabalho socialmente necessário para a sua produção (ou
seja, pelo custo dos meios de subsistência do operário e de sua família). Tendo
comprado a força de trabalho, o possuidor de dinheiro está no direito de consumi-la,
isto é, de determinar que ela se gaste no trabalho de toda a jornada, digamos, de 12
horas. Mas, em seis horas (tempo de trabalho "necessário") o operário cria um
produto que cobre as despesas de seu sustento e durante as outras seis horas (tempo
de trabalho "suplementar"), ele cria um produto "suplementar", pelo qual nada gastou
o capitalista, e que constitui a mais-valia.
O valor desta parte do capital hão permanece invariável; ele cresce no processo
do trabalho, criando a mais-valia. Para se exprimir o grau de exploração do trabalho
pelo capital, é preciso, pois, comparar a mais-valia não com o capital total mas com o
capital variável. A taxa de mais-valia, nome dado por Marx a esta relação, será, no
nosso exemplo das 12 horas de jornada, de 6/6, ou seja de 100%.
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necessário ("mais-valia relativa"). Marx, analisando o primeiro desses meios, esboça
um quadro grandioso da luta da classe operária pela redução da jornada de trabalho,
com a intervenção do Estado, pelo prolongamento (séculos XIV-XVII) ou para diminuí-
la (legislação das fábricas, no século XIX). Desde a publicação de O Capital, a história
do movimento operário em todos os países civilizados forneceu uma multidão de fatos
novos que ilustram aquele quadro.
Acelerando a anulação dos operários pela máquina e criando num pólo a riqueza e
noutro a miséria, a acumulação do capital dá nascimento também ao que se chama o
"exército de reserva do trabalho", o "excedente relativo" de operários, a chamada
"super-população capitalista", que toma formas extremamente variadas e que permite
ao capital desenvolver mais rapidamente a produção. Esta possibilidade, combinada
com o crédito e com a acumulação do capital na parte relativa aos meios de produção,
dá-nos, entre outras, a explicação das crises de super-produção que sobrevêm
periodicamente, nos países capitalistas, aproximadamente, a princípio em cada dez
anos, depois em intervalos menos próximos e menos fixos. É preciso distinguir a
acumulação do capital baseada no capitalismo, da acumulação dita primitiva,
caracterizada pela separação violenta do trabalhador (artesãos) dos meios de
produção, pela expropriação dos camponeses expulsos de suas terras, pelo roubo das
terras comunais, pelo sistema colonial, pelas dívidas do Estado, tarifas protecionistas,
etc. A "acumulação primitiva" cria, num pólo, o proletariado "livre" e, noutro, o
detentor do dinheiro, o capitalista.
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A tendência histórica da acumulação capitalista é caracterizada por Marx nestes
termos famosos:
"A expropriação dos produtores diretos faz-se com o vandalismo mais impiedoso e
sob a pressão das paixões as mais infames, mais ignóbeis, mais mesquinhas e mais
odientas. A propriedade privada, ganha pelo trabalho pessoal (do camponês e do
artesão)(30) e que é baseada na inter-penetração, podemos dizer, do trabalhador
individual com as suas condições de trabalho, é suplantada pela propriedade privada
capitalista que repousa sobre a exploração do trabalho de outros indivíduos que não
são livres senão formalmente.
Esta expropriação opera-se pelo jogo das leis imanentes da própria produção
capitalista, pela centralização dos capitais. Cada capitalista mata muitos outros.
Paralelamente a esta centralização, isto é, à expropriação de muitos capitalistas por
alguns, desenvolvem-se a forma cooperativa no processo do trabalho, numa escala
cada vez maior, a aplicação racional da ciência à técnica, à exploração sistemática do
solo, à transformação dos meios particulares de trabalho em meios que não podem
ser utilizados a não ser em comum, a economia de todos os meios de produção pela
sua utilização com meios de produção de um trabalho social combinado, a entrada de
todos os povos no sistema do mercado mundial, e, em consequência, o caráter
internacional do regime capitalista. À medida que diminui, cada vez mais, o número
dos potentados do capital, que usurpa e monopoliza todas as vantagens desse
processo de transformação, crescem, em volume, a miséria, a opressão, a escravidão,
a degenerescência, a exploração, bem como, igualmente, a revolta da classe operária,
que cresce sem cessar e que é instruída, unida e organizada pelo mecanismo mesmo
do processo de produção capitalista. O monopólio do capital torna-se o entrave do
modo de produção que prosperou com ele e por sua causa. A centralização dos meios
de produção e a socialização do trabalho chegam a um ponto tal que elas não se
acomodam mais em seu envoltório capitalista e fazem-no romper. A última hora da
propriedade privada capitalista soou. Os expropriadores são expropriados"(31).
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pelo simples aspecto exterior, superficial, da concorrência, a que se limita a economia
política vulgar ou a teoria moderna da "utilidade final". Marx analisa antes de mais
nada a origem da mais-valia para, somente depois, examinar a sua decomposição em
lucro, juro e renda territorial. O lucro é a relação da mais-valia com o conjunto do
capital empregado numa empresa. O capital de "elevada composição orgânica" (ou
seja, quando o capital constante ultrapassa o capital variável em proporções
superiores à média social) fornece uma taxa de lucro inferior à média. Os capitais de
"baixa composição" dão uma taxa de lucro superior à média. A concorrência entre os
capitais, a sua livre passagem de um ramo para outro, reduzem, nos dois casos, a
taxa de lucro à taxa média. A soma dos valores de todas as mercadorias, numa
sociedade dada, corresponde à soma dos preços das mercadorias, mas, em cada
empresa e em cada ramo de produção tomado à parte, sob a influência da
concorrência, as mercadorias são vendidas, não pelo seu valor, mas pelo preço de
produção, correspondente ao capital despendido, acrescentando-se o lucro médio.
Por uma análise detalhada deste tipo de renda, demonstrando que ela provém da
diferença de fertilidade dos terrenos e da diferença entre os capitais empregados na
cultura, merecendo atenção particular a crítica feita a Rodbertus, Marx esclarece
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plenamente o erro de Ricardo, que pretendia que a renda diferencial se obtém apenas
pela passagem dos terrenos melhores para os terrenos de qualidade inferior. Ao
contrário, produzem-se, igualmente, modificações inversas, os terrenos de uma certa
categoria se transformam em terreno de outra categoria (em virtude do progresso da
técnica agrícola, do crescimento das cidades, etc.) — e verifica-se que a famosa "lei
da fertilidade decrescente do solo" se revela profundamente errada ao pretender levar
à conta da natureza os defeitos, as limitações estreitas, e as contradições do
capitalismo. Além disso, a igualdade de lucro em todos os ramos da indústria e da
economia nacional em geral, supõe uma completa liberdade de concorrência, a
liberdade de transferir o capital de um ramo para outro. Mas a propriedade privada do
solo cria um monopólio e um obstáculo a esta livre transferência. Em consequência
desse monopólio, os produtos da agricultura, a qual se distingue por uma baixa
composição orgânica do capital e que, devido a isso, dá uma taxa de lucro individual
mais elevada, não influenciam o "livre jogo" do nivelamento da taxa de lucro; o
proprietário da terra que temo seu monopólio, pode manter o preço acima da média;
esse "preço" de monopólio origina a renda absoluta. A renda diferencial não pode ser
abolida no regime capitalista; ao contrário, a renda absoluta pode sê-lo por exemplo
com a nacionalização do solo, quando este se torna propriedade do Estado. Passando
o solo à propriedade do Estado, dar-se-ia a supressão do monopólio dos proprietários
privados e uma liberdade de concorrência mais consequente e mais completa na
agricultura. Eis porque, diz Marx, os burgueses radicais, mais de uma vez na história,
formularam essa reivindicação burguesa, progressista, da nacionalização do solo que,
não obstante, assusta a maioria da burguesia, pois ela "toca" de muito perto, a um
outro monopólio que, em nossos dias, é particularmente importante e sensível: o
monopólio dos meios de produção em geral. Essa teoria do lucro médio e da renda
territorial absoluta, foi exposta por Marx, numa linguagem marcadamente popular,
concisa e clara, nas suas cartas a Engels, de 2 a 9 de agosto de 1862(32). Importa-nos
igualmente assinalar, com referência a renda territorial, a análise de Marx sobre a
transformação da renda-trabalho (que nasce quando o camponês, trabalhando a terra
do senhor, cria um produto suplementar), em renda-produto ou renda-natureza
(quando o camponês cria, em sua terra, um produto suplementar que cede ao
proprietário devido à "coerção não-econômica") e, mais tarde, em renda-dinheiro (a
própria renda-natureza se transformando em dinheiro — chamada "foro", na antiga
Rússia — devido ao desenvolvimento da produção das mercadorias); e, finalmente, a
transformação em renda capitalista quando, em lugar do camponês, intervém na
agricultura o patrão, que cultiva a terra com o auxílio do trabalho assalariado. Ligada
a esta análise da "Gênese da renda territorial capitalista", assinalamos uma série de
profundos pensamentos de Marx, particularmente importantes para os países
atrasados, tais como a Rússia, sobre a evolução do capitalismo na agricultura.
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assalariados agrícolas, tal como no regime feudal os servos mais abastados
exploravam os outros servos. Daí surge a possibilidade de acumular, pouco
a pouco, uma certa fortuna e de se transformar em futuros capitalistas.
Entre os antigos exploradores, donos da terra, cria-se, assim, um surto de
fazendeiros capitalistas, cujo desenvolvimento é condicionado pelo
crescimento geral da produção capitalista, fora da agricultura(33)
Qual é "uma das razões que fazem com que, nos países em que a pequena
propriedade predomina, o preço do trigo seja menos elevado que nos países
de modo de produção capitalista?"(39).
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A resposta é que o camponês fornece gratuitamente à sociedade (isto é, à classe
dos capitalistas) uma parte do sobre-produto.
"O preço pouco elevado resulta, pois, da pobreza dos produtores e não da
produtividade de seu trabalho"(40).
A usura e o sistema fiscal não podem fazer senão arruiná-la para sempre. O
capital investido na compra da terra é retirado à custa da produção. Os
meios de produção são divididos ao infinito. Os produtores tornam-se
esparsos (as fazendas cooperativas, isto é, as associações de pequenos
camponeses que desempenham um papel burguês progressista dos mais
consideráveis, fazem enfraquecer esta tendência sem, entretanto, a
suprimirem: é preciso, igualmente, não esquecer que essas fazendas
cooperativas trazem muitas vantagens aos camponeses abastados, mas
muito pouco, ou quase nada, à massa dos camponeses pobres, além de
que, estas associações, acabam por explorar, elas próprias, o trabalho
assalariado)(41). Há um desperdício enorme de força humana. A operação
progressiva das condições de produção e o encarecimento dos meios de
produção são leis necessárias à pequena propriedade"(42).
O Socialismo
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Pelo exposto, pode-se verificar que Marx conclui pela inevitabilidade da
transformação da sociedade capitalista em sociedade socialista, inspirando-se inteira e
exclusivamente, nas leis econômicas do movimento da sociedade moderna. A
socialização do trabalho que, sob formas múltiplas, avança sempre mais rapidamente
e que, durante os 50 anos após a morte de Marx, se manifestou, sobretudo, pela
extensão da grande indústria, dos cartéis, sindicatos, trustes capitalistas, e também
pelo desenvolvimento fabuloso da concentração e do poder do capital financeiro, — eis
a principal base material para o advento inelutável do socialismo. O motor intelectual
e moral, o agente físico desta transformação, é o proletariado, educado pelo próprio
capitalismo. Sua luta contra a burguesia, tomando formas diversas e um conteúdo
cada vez mais rico, torna-se, inevitavelmente, uma luta política que leva à conquista
do poder pelo proletariado ("Ditadura do Proletariado"). A socialização da produção
deverá alcançar a transformação dos meios de produção em propriedade social, á
"expropriação dos expropriadores". O grande aumento do rendimento do trabalho, a
redução da jornada de trabalho, a substituição dos vestígios, das ruínas, da pequena
produção primitiva e dispersa pelo trabalho coletivo, aperfeiçoando, estas são as
consequências diretas de tal transformação. O capitalismo rompe definitivamente a
ligação da agricultura com a indústria, mas prepara, ao mesmo tempo, em seu mais
alto grau de desenvolvimento, os elementos novos desta ligação, a união da indústria
com a agricultura na base de uma aplicação consciente da ciência, de uma
coordenação do trabalho coletivo, de uma nova distribuição da população, pondo um
fim ao isolamento da vida dos campos, ao seu estado de abandono e de atraso
cultural, da mesma forma à aglomeração anti-natural de enormes populações nas
grandes cidades. As formas superiores do capitalismo moderno criam condições para
uma nova forma de família, de uma situação nova para a mulher e de educação para
as novas gerações; o trabalho das mulheres e das crianças, a dissolução da família
patriarcal, pelo capitalismo, tomam, inevitavelmente, na sociedade moderna, as
formas mais horríveis, mais miseráveis e mais repugnantes. Entretanto...
"... a grande indústria, pelo papel importante que destina às mulheres, aos
adolescentes e crianças de ambos os sexos, no processo de produção
organizado, fora da esfera familiar, não deixa de criar uma nova base
econômica para a forma superior da família e das relações entre os sexos. É
naturalmente, tão absurdo considerar como absoluta a forma germano-
cristã da família, como as antigas formas romana, grega, oriental, que
constituem, aliás, uma série de etapas históricas sucessivas. É também
evidente que a composição do pessoal operário contratado pela reunião de
indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades, embora constituindo
uma fonte contagiosa de corrupção e de dependência, na sua forma
capitalista originariamente brutal, em que é o operário quem existe para o
processo de trabalho e não o processo de trabalho para o operário, essa
composição deve, inversamente, transformar-se, em condições adequadas,
numa fonte de desenvolvimento humano"(44).
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"... o germe da educação do futuro que, para todas as crianças acima de
uma certa idade, unirá o trabalho produtivo à instrução e à ginástica... não
somente como um método para o desenvolvimento da produção social,
mas, também, como o único método para a produção de homens completos
em sua formação"(45).
A classe operária não pôde fortificar-se, amadurecer, formar-se, sem "se constituir
ela própria, dentro das fronteiras nacionais", sem ser "nacional" (embora de nenhum
modo no sentido burguês da palavra).
"ação comum, internacional, ao menos nos países civilizados, ser uma das
primeiras condições de sua emancipação"(46).
"O primeiro ato, escreve Engels no seu Anti-Dühring, pelo qual o Estado se
manifesta realmente como representante de toda a sociedade — a posse
dos meios de produção, em nome da sociedade — é, ao mesmo tempo, o
seu último ato, na categoria de Estado. A intervenção de um poder estatal
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nas relações sociais torna-se supérflua num e noutro domínios e estende-
se, em seguida, a todo o restante.
"Quando tivermos tomado o poder, não nos poderá vir à idéia de expropriar
pela violência os pequenos camponeses (com ou sem indenização, pouco
importa), como o seremos forçados a fazer com relação aos grandes
proprietários de terra. Nossa tarefa para com o pequeno camponês
consistirá, apenas, em orientar a sua produção e a sua propriedade privada
na vida cooperativa, não pela violência, mas pelo exemplo, oferecendo-lhe,
assim, a ajuda da sociedade. E, certamente, teremos meios suficientes para
fazer ver ao camponês as vantagens que, desde já, não podem deixar de
lhe saltar aos olhos"(50).
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mas em movimento (movimento cujas leis derivam das condições econômicas de
existência de cada classe). O movimento é, por seu lado, considerado, não somente
do ponto de vista do passado, mas também do futuro, e não de acordo com a
concepção vulgar dos "evolucionistas", que não percebem senão as lentas
transformações, mas sim, dialeticamente:
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operários ingleses se desembaracem de sua aparente contaminação burguesa"; como
"o clã dos cartistas" está fazendo falta ao movimento operário inglês; como os lideres
operários ingleses se tornaram uma espécie de tipo intermediário "entre a burguesia
radical e o operário"; como, finalmente, em virtude do monopólio da Inglaterra e na
proporção em que este monopólio subsista, "o operário inglês não se agitará". A tática
da luta econômica, ligada à marcha geral e à solução do movimento operário, é aqui
examinada sob um ponto de vista admiravelmente amplo, universal, dialético e
eminentemente revolucionário.
Quase 20 anos depois, numa carta a Engels, Marx escrevia que a causa do
fracasso da revolução de 1848 foi que a burguesia preferiu a paz na escravidão à sua
única perspectiva de combater pela liberdade. Passado aquele período de revolução
(1848-1849), Marx opôs-se à toda tentativa de brincar com a revolução (luta contra
Schapper, Willich(55), exigindo que se soubesse trabalhar, na nova época que, já
preparava, sob uma "paz" aparente, novas revoluções. O seguinte trecho de Marx
sobre a situação da Alemanha em 1856, época da mais negra reação, mostra com que
espírito entendia que se devia realizar este trabalho:
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(Correspondência entre K. Marx e F. Engels).
Início da página
Notas de rodapé:
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(1) Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, pág. 20, Études Phflosophiques,
Editions Sociales Internationalles, Paris, (retornar ao texto)
(2) Lênin lembra Herr Vogt. para mostrar que Marx. além dos grandes trabalhos aos quais se dedicava
em todos os instantes, tinha ainda que responder a monstruosos ataques pessoais. Karl Vogt (1817-
1895), naturalista alemão, vulgarizador do materialismo e homem político, escreveu, em 1859, uma
obra cheia de injúrias contra Marx. onde declarava que ele era chefe de um bando de mestres-cantores.
Marx respondeu em sua réplica magistral Herr Vogt (1860), pela qual demoliu as acusações e
desmascarou, ao mesmo tempo, o autor, como um espião de Bonaparte e um intrigante político. O fato
foi confirmado oficialmente pela descoberta, durante a Comuna, de um documento da polícia
parisiense. (retornar ao texto)
(3) K. Marx e F. Engels — Sainte-Famille, in Études Philosophiques, pg. 129. (retornar ao texto)
(4) K, Marx — Le Capital. E. Costes, Paris, 1924, tomo I, pg. XCV. (retornar ao texto)
(11) Correspondência K. Marx—F. Engels, Ed. Costas, Paris, 1934, tomo IX, pgs. 123-124. (retornar ao
texto)
(20) Le Capital, tomo III, pg. 9 — Ed. Costes — Paris, 1924. (retornar ao texto)
(21) Karl Marx — Contribuição à Crítica da Economia Política, edição de M. Giard, Paris, 1928, pgs. 4, 5
e 6. (retornar ao texto)
(22) Correspondência K. Marx—F. Engels, tomo IX, pg. 82. (retornar ao texto)
(23) Karl Marx e F. Engels — Manifesto Comunista — Edições Horizonte — Rio. (retornar ao texto)
(25) Le Capital, tomo I, pg. LXXIX — Ed. Costes — 1924, Paris. (retornar ao texto)
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(27) Contribution à la Critique de l'Economie politique, pg. 10. (retornar ao texto)
(32) Correspondance K. Marx-F. Engels, tomo III. pg. 131-189 e pag. 145-147. (retornar ao texto)
(36) Karl Marx, La lutte des classes en France (1848-1850). Ed. Schleicher, Paris, 1900, pags. 137-138.
(retornar ao texto)
(37) K. Marx, O 18 Brumário de Luiz Bonaparte — pag. 139, Editorial Vitória — Rio. (retornar ao texto)
(47) Engels, L'origine de la famille, de la propriété privée et de l'État — Ed. Oostes, Paris, 1931, pg.
226. (retornar ao texto)
(50) Engels, "La question paysanne en France et en Allemagne". Neue Zeit, ano XIV, 1894, págs. 301-
802. (retornar ao texto)
(51) K. Marx, "Misére de la Philosophie", Ed. Giard, Paris, 1922, págs. 216-217. (retornar ao texto)
(54) A Nova Gazeta, Renana, 1848. Ver Literarischer Nachlass, tomo III pág. 213. (retornar ao texto)
(55) Karl Schapper (1812-1870). Revolucionário alemão. Emigrado, membro da 'Liga dos Justos'. Preso
e julgado em Paris, em 1839, após uma provocação da I Société des Saisons. Fundou com Marx, Engels
e Willich, a 'Liga dos Comunistas'. Por ocasião da cisão da Liga, tomou o partido de Willich, mas, mais
tarde, reconheceu o seu erro.
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A. Willich (1810-1878). Oficial prussiano combatente da revolução de 1848. Dirigiu a minoria na 'Liga
dos Comunistas'. Segundo Marx, que então dirigia a maioria, era Willich inclinado a frases
revolucion4rias e 'brincava' com a Constituição e a Revolução, não sem comprometer, ao mesmo
tempo, a uma e a outra e à causa a que ambas serviam". (retornar ao texto)
(56) Correspondência K. Marx-F. Engels, tomo VIII, págs. 140-141. (retornar ao texto)
(57) K. Marx, "Lettres à Kugelmann" (1863-1874). Ed. Sociales Internacionales. Paris, 1930. (retornar
ao texto)
***
"Para chegar a ser uma força política aos olhos do público, não basta colocar a
etiqueta "vanguarda" sobre uma teoria e uma prática de retaguarda; é preciso
trabalhar muito e com insistência para desenvolver nossa consciência, nossa iniciativa
e nossa energia". — Lênin
Inclusão 18/06/2011
Última alteração 13/04/2014
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