Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Na obra “Crítica da filosofia do direito de Hegel”, iniciado na família, viabilizado na sociedade civil e
escrita por Marx (2005), encontram-se os efetivado no Estado. Apenas com a referida
pensamentos dos filósofos alemães Karl Marx efetivação, o ser humano passa a ser considerado
(1818-1883) e Friedrich Hegel (1770-1831) acerca, objetivo, verdadeiro e ético. Observa-se que, em
dentre outros temas, da teoria do Estado e da Hegel, a existência concreta do homem se dá
sociedade civil. No presente texto, pretendemos somente com a sua participação no Estado. O
evidenciar alguns dos argumentos marxistas homem passa a existir apenas depois do Estado,
utilizados para refutar a teoria hegeliana do Estado pois é ele que possibilita a sua existência objetiva.
e da sociedade civil. A família e a sociedade civil são pensadas como
Marx desenvolveu o seu pensamento crítico etapas do autodesenvolv imento de si e do
voltando-se para a realidade humana, procurando Estado, uma vez que cada um desses estratos
discernir o que é real e o que é aparente, bem sociais possui, mesmo de forma rudimentar, a ideia
como que consciência o homem tem da realidade e do Estado. Hegel (2003, p. 216) afirma que “o
a maneira pela qual essa consciência é construída. Estado é, em geral, o primeiro. Na sua
Para Marx, a religião faz com que o homem crie e intrinsecidade, a família desenvolve-se em
alimente ilusões sobre a realidade do mundo e de sociedade civil, e o que há nestes dois momentos
sua própria situação como ser social inserido é a própria idéia do Estado”.
nesse mundo irreal; mundo que é apenas fruto da Na sociedade civil - que é constituída por três
imaginação humana. Portanto, o processo crítico momentos: o sistema de carências, a justiça e a
deve ser iniciado com a crítica da religião, pois administração pública e corporações -, os
apenas dessa maneira o homem é capaz de princípios da particularidade e da universalidade
libertar-se das ilusões acerca do mundo e de si têm fundamental importância. No primeiro momento
próprio. A partir daí, com a sua razão e consciência - sistema de carências -, o desejo e a satisfação
esclarecida, o homem descobre que concebia um pelo trabalho são observados e devem ser
falso mundo e uma falsa imagem de si mesmo. garantidos, tanto sob o ponto de vista particular
Esse homem torna-se, então, capaz de realizar como coletivo. No segundo, a existência da justiça
uma crítica da filosofia, da política e da economia é compreendida como garantia do respeito pela
e, assim, provocar o avanço da consciência propriedade privada e pela liberdade. No terceiro, a
individual e coletiva. administração pública e as corporações limitam os
Podemos afirmar que a construção do aspectos contingenciais que formam a natureza
pensamento marxista foi feita também a partir de humana. As corporações são consideradas a
Hegel. Discutindo e refutando a filosofia hegeliana, segunda raiz moral do estado; a primeira é a
Marx amplia e fortalece a sua compreensão da família.
realidade humana e do mundo. Hegel entende que os princípios da
particularidade e o da universalidade são
O Estado hegeliano
dependentes e necessários porque quando a
O Estado é concebido por Hegel como a particularidade desenvolve-se até a totalidade
realidade concreta da ideia moral objetiva (ou “o princípio da particularidade transforma-se em
eticidade) e da liberdade; e manifesta, por isso, o universalidade, pois só aí encontra a sua verdade e
universal concreto, ou seja, o que é vivenciado. O a legitimação da sua realidade positiva” (HEGEL,
Estado insere o ser humano em um contexto social 2003, p. 170).
49 in fo rm e econ ô m ico Ano 13, n. 27, abr. 2012