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Marx e a revolução

A discussão desde
Hegel
Coincidência entre homens
Emancipação individuais, reais, com o ser
genérico, com o gênero humano.

 O humano como ser genérico (Gattungwesen):

Marx refere-se à noção de animais serem pertencentes a uma espécie, e um conjunto de espécies
pertencerem a um gênero. O humano é um ser genérico que tem como espécie “um âmbito
constantemente crescente de fenômenos naturais”. (MÁRKUS, 2015, p. 24). E acrescenta: “No
modo de atividade vital reside todo o caráter de uma species, o seu caráter genérico, e a
atividade consciente e livre é o caráter genérico do homem.” MARX, 2015., p. 311-312 apud
MÁRKUS, p. 24).”

Enquanto o humanos, o que nos unifica é o trabalho.


Fenômeno da Interdição ao
alienação ser genérico

 Produção e reprodução da vida de


maneira unilateral, cindida entre
concepção e execução.
 Essência Humana (tra-
 Raiz na divisão do trabalho.
balho, sociabilidade e
consciência) em senti- do
 Engendramento das classes sociais,
do patriarcado, do estado e da
livre e universal
propriedade privada.
 Controle das formas objetivadas de
consciência, sociabilidade e trabalho.
Marx é crítico da concepção que
 Encara a liberdade política dissociada da emancipação social e econômica.

Ela é incapaz de resolver o conflito entre interesse geral (Estado político) e interesse
privado (a sociedade civil).

Concepção que naturaliza a alienação do ser genérico


ao referendar o poder político alienado (forma Estado)
Contraponto a Hegel
 Hegel: sociedade civil exprime interesses privados, enquanto o Estado é
orgânico, fonte do direito e representante da expressão do poder
universal ao catalisar conflitos sociais. É realização da vontade livre.

 Marx: interesses privados de uma minoria são camuflados como


expressão harmônica do ser genérico.
Importante herança de Hegel
 A dialética entre particular e universal ao tratar da revolução burguesa:

havia a pretensão das velhas classes dirigentes em representar os interesses de toda a


sociedade (o universal), quando na verdade lutavam apenas por seus interesses de classe
(o particular).

Contudo, uma inversão


 Uma classe revolucionária, ao contrário, deveria representar todos os prejudicados pelo
antigo regime (o universal), ainda que, nesse processo, lute sobretudo pelo seu
particular (interesses de classe que lhe são próprios).
 Proletariado como classe dirigente de uma revolução democrática, com possibilidade de
se converter em revolução socialista.
Marx e Hegel concordam

 Na crítica à tese fundamental do liberalismo, na qual o homem só é


reconhecido como tal na condição de proprietário

Diferem
no papel do Estado. Para Marx, o Estado corrobora com os conflitos intrínsecos
à sociedade civil. Para Hegel, ele pode (e deve) vir a ser mais forte do que os
mecanismos econômicos, a fim de intervir nos problemas relativos à propriedade
privada ou à carência dela.
- Estado Hegeliano pressupõe a violência para assegurar a “decisão do soberano”
e a “obediência dos súditos”.
Propriedade privada
HEGEL MARX

 Deve ser assegurada pelo Estado a  Vê como problemática justamente


todos, como forma de resolver os a associação entre propriedade
problemas de desigualdade e privada e liberdade humana. Ela
injustiça social. mesma é a raiz da desigualdade,
 Realização da liberdade da alienação.
Estado
 Para HEGEL, assegura a propriedade privada e as liberdades civis.

 Para MARX, existe para defender os interesses do proprietário,


compreendendo como cidadão apenas o burguês.
Os conceitos de liberdade, igualdade, segurança e propriedade nada mais
são do que a vontade da burguesia elaborada em forma de lei. (VALLE,
2002 p. 34-35)
Recusa do Estado Hegeliano por Marx

 Embora diferenciado do Estado absoluto, mantém-se autoritário e


antidemocrático já que não incorpora a efetiva participação de todos.
 Apesar de ver um momento progressivo na constituição, considera que só o é
enquanto expressão de concessão às lutas e reinvindicações das massas. As leis
modernas não são repressivas apenas quando há essa incorporação das
demandas dos explorados.
 Isso difere de Hegel, já que vê no estado uma racionalidade que supera e está
acima dos conflitos da sociedade civil.
Defesa da revolução radical
Contra o Estado e contra a propriedade privada. A solução de Hegel, para Marx,
é essencialmente antidemocrática e autoritária, antagônica à emancipação
humana, ao encontro de cada humano singular com o ser genérico produzido
historicamente.

Marx vê – como Hegel vira – com legitimidade o uso da violência na


transformação da ordem vigente.
(...) a arma da crítica não pode substituir a crítica das armas; a força
material só será derrubada pela força material; mas a teoria em si torna-se
também uma força material quando se apodera das massas. (MARX, Karl. 1975
p.86 apud VALLE, 2002, p. 42).
A crítica das armas
A classe trabalhadora como sujeito
 Além de sublinhar a importância e a essencialidade da filosofia crítica, Marx
vê como imperativo que a revolução social surja como necessidade.
 O proletariado cumpre o papel de encarnar a teoria crítica e fazê-la força
material contra a ordem.
 A ordem é o reino da necessidade, o fenômeno da alienação.
 A revolução é a liberdade, cujo caminho abre-se pelas armas materiais e
intelectuais.
Operários e burgueses
 Para Marx, o advento da grande indústria aglomera massas com interesse
em comum (manutenção do salário), que contrasta com a lógica própria do
capital: a concorrência.
 O patrão, personificação do capital, é encarado como inimigo comum.
 Há um percurso desse pensamento comum às organizações (associações e
greves), cada vez mais abrangentes, deparadas com a organização dos
capitalistas, que vão ganhando abrangência também.
Classe em si e para si
 A classe trabalhadora surge como face da alienação do trabalho pelo capital.
Existe em si mesma passivamente, como expressão dessa relação de
exploração.
 Conforme passa à luta política e econômica, constrói relações próprias,
associações, greves etc., passa, ativamente, a existir para si.
 A classe produtora em si traz a contradição de ser oprimida e dominada
enquanto é a base de uma sociedade fundada na troca de mercadorias
produzidas (que não são dadas naturalmente).
Libertação
 Além de baseada na produção e circulação de mercadorias, a sociedade
burguesa é baseada na divisão antagônica de classes.

 A libertação da classe trabalhadora constitui a libertação de todas as


classes, porque visa destruir justamente a divisão.
 A classe trabalhadora tem cadeias radicais. Sofre de um mal em geral,
portanto não comporta reparações particulares. Não pode se emancipar
sem emancipar todas as esferas da sociedade. (VALLE, 2002, p.44).
Revolução política
 Inicialmente, ao expressar uma rebelião particular dentro da sociedade civil,
contra a ordem burguesa, o proletariado empreende o universal das
contradições capitalistas, abarcando todos os indivíduos vitimados por essa
ordem.

 Segundo Marx, o antagonismo burguesia-proletariado é uma luta de classe


contra classe que, levada às ultimas consequências, é uma revolução total.
(VALLE, 2002, p. 45)
Hegemonia da classe operária
Sobre setores de outras classes que, na revolução, isto é, no ponto culminante
de contradição da sociedade capitalista, unem-se à classe trabalhadora,
vendo-a como síntese superadora da situação, emancipadora.

 Setores da nobreza contra o antigo regime;


 Setores da intelectualidade e da pequena burguesia na revolução russa e
cubana.
Se a classe é despossuída
 Não tem o que preservar, garantir, conservar da ordem atual. Pode, apenas,
abolir relações que o impedem de possuir e de ser. Pode abolir a
propriedade privada.

Poder não quer dizer que isso está determinado a ser.


Questão da revolução proletária como possibilidade e não como determinismo
em Marx.
Uso da violência
 É um fato objetivo que constatam Marx e Engels que a violência é um
recurso legítimo na derrubada da ordem vigente, pois a revolução mesma só
pode surgir da agudização de conflitos já violentos no âmbito da sociedade
civil burguesa.

 A emancipação operária – e de toda a sociedade – só pode ser um processo


em que se retire da burguesia seu capital (dinheiro, mercadorias, meios de
produção, forças de produção).
Marx e Engels justificam o uso da violência:

Naturalmente, isso só pode ocorrer, de início, por meio de intervenções


despóticas no direito de propriedade e nas relações burguesas de
produção; através, portanto, de medidas que talvez pareçam insuficientes
e insustentáveis do ponto de vista econômico, mas que tragam resultados
para além de si mesmas e sejam indispensáveis para revolucionar todo o
modo de produção.

(MARX, ENGELS, 1998 apud VALLE, 2002, p. 46)


A supressão dos antagonismos de classe

Leva à supressão da classe operaria em si, uma vez que ela se constitui primeiramente
pela divisão capitalista do trabalho.

Se a revolução se funda no fim da divisão em classes sociais, ela tem como horizonte
a própria supressão da classe trabalhadora e de seu papel enquanto classe dominante
em luta contra a burguesia remanescente.

A supressão violenta da sociedade de classes é a supressão da violência da tirania das


relações sociais.
Violência defensiva da classe trabalhadora

 Ataque burguês ao sufrágio universal;


 Repressão às jornadas de 1848;
 Repressão à Comuna de Paris.

A burguesia recorre à força sempre que a classe operária se coloca como


classe independente ante os conflitos.
O comunismo como possibilidade
Para Márkus (2015, p. 138) a vida individual multilateral e livre é possível por meio
da “eliminação do antagonismo entre essência humana e existência, entre
desenvolvimento social e individual”; o que não quer dizer que o comunismo seja livre
de determinações sociais, uma libertação total das barreiras naturais e históricas do
homem. Apenas quer dizer que, torna-se possível para os indivíduos, a escolha
consciente, dentro do intervalo (historicamente circunscrito) das possibilidades
objetivas dos rumos de suas próprias vidas. Significa possibilidade de vida harmoniosa,
“segundo a sua decisão, seus desejos, habilidades e interesses.” Todas as forças
mentais e materiais são posse real dos indivíduos associados, e deixam de ser forças
externas e alheias que os subjugam unilateralmente.
MARX
[o comunismo é] um novo modo de produção, fundado não no desenvolvimento
das forças produtivas para reproduzir e, no máximo, ampliar um estado
determinado, mas onde o próprio desenvolvimento das forças produtivas – livre,
desobstruído, progressivo e universal – constitui o pressuposto da sociedade e,
por isso, da sua reprodução; onde o único pressuposto é a superação do ponto de
partida. (MARX, 2011, p. 445-446)
referências
 LUKÁCS, G. Introdução a uma estética Marxista: Sobre a Particularidade como Categoria da Estética. –
São Paulo: Instituto Lukács, 2018.
 MÁRKUS, György. Marxismo e Antropologia: o conceito de “essência humana” na filosofia de Marx. São
Paulo: Expressão Popular, 2015.
 MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 1998.

 MARX, K. Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel in Manuscritos Económico-Filosóficos.


Lisboa: Edições 70, 1975.
 ______. Manuscritos econômicos-filosóficos de 1844. In: Cadernos de Paris & Manuscritos económicos-
filosóficos de 1844. São Paulo: Expressão Popular, 2015.
 ______. Grundrisse, Manuscritos econômicos de 1857-1858: Esboços da crítica da Economia Política. São
Paulo: Boitempo, 2011.
 VALLE, M. R. do. debate teórico sobre a violência revolucionária nos anos 60 : “Raízes e polarizações” /
Maria Ribeiro do Valle. – Campinas, SP, 2002.

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