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Poesia lírica de

Luís Vaz de Camões


Índice
 O autor
 Influências do contexto renascentista
 O desconcerto do mundo
 Mudanças constantes
 O sofrimento amoroso
 Neoplatonismo e amor platônico
O autor
 Camões é tido como um dos maiores (às vezes o maior) poeta da língua.
Imortalizou o povo português, cantou sofrimentos amorosos e existenciais.
 Destaca-se por sua obra épica: o poema “Os Lusíadas” canta, em estilo solene,
os feitos heroicos do navegador Vasco da Gama, que lança Portugal na era das
grandes navegações.
 Utilizando o gênero dos poemas épicos gregos, o poeta alça o povo lusitano ao
status de mito. Não deixa, porém, de fazer críticas à época: as grandes
navegações sacrificam portugueses pobres e glorificam e enriquecem a coroa e
a burguesia.
POESIA ÉPICA POESIA LÍRICA
temas históricos temas individuais
feitos heroicos sentimentos
O renascimento
 Resgate de temas da antiguidade clássica (cultura greco-romana): figuras da
mitologia, narrativas heroicas;
 Resgate de formas da antiguidade clássica: versos com métrica nobre (dez
ou doze sílabas), rimas regulares.
 Retomada da lógica: obras de Aristóteles e de Platão.
 Visão de mundo antropocêntrica: o humano como medida e centro das coisas
(ruptura com a visão teocêntrica medieval, em que Deus era o centro).
 Camões canta a Modernidade (grandes navegações em Os Lusíadas), mas
conserva um tema medieval e clássico: o amor idealizado.
O desconcerto do mundo
Correm turvas as águas deste rio,  Em alguns sonetos, Camões
Que as do céu e as do monte as enturbaram;
Os campos florescidos se secaram, busca demonstrar que aquilo
Intratável se fez o vale, e frio. que é observado não
Passou o Verão, passou o ardente Estio,
corresponde necessariamente
Úas cousas por outras se trocaram; à realidade;
Os fementidos Fados já deixaram
Do mundo o regimento, ou desvario.  Desconcerto é a falta de lógica,
o equívoco: a análise fracassa e
Tem o tempo sua ordem já sabida;
O mundo, não; mas anda tão confuso, o eu-lírico é levado ao
Que parece que dele Deus se esquece. sofrimento.
Casos, opiniões, natura e uso
Fazem que nos pareça desta vida Glossário: Natura: natureza
Que não há nela mais que o que parece. Enturbaram: agitaram. Uso: costume.
Fementidos: enganosos, ilusórios.
Fados: destinos.
Mudanças
constantes
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
 O mundo é dinâmico;
Continuamente vemos novidades,
 Ser humano e natureza estão diferentes em tudo da esperança;
sujeitos a constantes do mal ficam as mágoas na lembrança,
modificações. e do bem (se algum houve), as saudades.

 Mudanças na natureza têm ritmo O tempo cobre o chão de verde manto,


previsível (como estações do que já coberto foi de neve fria,
ano); e, enfim, converte em choro o doce canto.
 Mudanças humanas não seguem E, afora este mudar-se cada dia,
uma “lei”: possibilidade de outra mudança faz de mor espanto,
tristeza e sofrimento. que não se muda já como soía.
O sofrimento amoroso
 Conflito entre o material (profano, carnal) e o amor idealizado (puro,
espiritualizado), capaz de conduzir o indivíduo à realização plena.

DESEJO -> MATÉ RIA CONTEMPLAÇÃ O -> IDEIA


Quando o sentimento é a Quando o sentimento amoroso é
expressão de um desejo, a espiritualizado, a mulher é
mulher é caracterizada como idealizada como absolutamente
impiedosa, cruel, que se satisfaz perfeita. A contemplação é
com sofrimento daquele que a suficiente para purificar o eu-
ama. lírico.
 No amor idealizado, espiritualizado, o eu-lírico não almeja materializar
sua relação, isto é, torna-la carnal. Isso corromperia esse amor.
 A caracterização camoniana desse amor idealizado, oposto ao profano,
reproduz uma filosofia resgatada da Antiguidade Clássica e redefinida no
Renascimento: o neoplatonismo.
 Nesse contexto, esse tipo de amor idealizado, isto é, que só ocorre “no
mundo das ideias”, também é chamado de amor platônico.
Neoplatonismo e amor platônico

 Segundo Platão, a amor verdadeiro é capaz de purificar o ser humano,


permitindo que ele se desprenda de realidades ilusórias e contemple o
belo em si, o mundo das essências. Como esse amor é somente uma
ideia, não busca realização física.
 Toda manifestação idealizada do sentimento amoroso passou a ser
chamada de platônica.
 No Renascimento, alguns filósofos procuraram conciliar o amor
platônico com os valores cristãos. Da fusão dessas duas visões surge,
então, o neoplatonismo amoroso, uma forma de amor tão idealizada que
não deseja a realização carnal, libertando o ser humano da escravidão
dos desejos e aproximando-o de Deus.
Transforma-se o amador na coisa amada, Identidade entre pessoa que
ama e que é amada.
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar, A imaginação sacia, vence o desejo.
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,


Que mais deseja o corpo de alcançar? Tendo a ideia, é desnecessária a carne.
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.
A união ideal, metafísica
entre eu-lírico e amada
Mas esta linda e pura semideia, resulta numa alma única e
Que, como o acidente em seu sujeito, perfeita.
Assim como a alma minha se conforma, *ideal: relativo à
ideia; ao mundo
das ideias, que
Está no pensamento como ideia; Amor platônico: união só existe em
ideal sem interferência pensamento.
E o vivo e puro amor de que sou feito, das necessidades físicas
Como a matéria simples busca a forma.

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