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DIAS, Reginaldo Benedito. As esquerdas e as ortodoxias marxistas. Maringá: Eduem, 2010.

p.7 INTRODUÇÃO
-O objetivo do tempo é demonstrar como foi construída e atualizada dentro dos movimentos
políticos marxistas a noção de ortodoxia.
-Na língua grega, sua origem, a palavra pode ser traduzida como doutrina reta.
-O marxismo é composto por diversas correntes que reivindicam a ortodoxia do mesmo, entretanto,
não se vincula a reta aplicação de uma “doutrina”, mas sim de seu método. Ou seja, está sendo
reivindicado o método marxista e não a sua letra.
1. DE MARX AOS MARXISMOS
-Direita x Esquerda => Revolução Francesa.
p.8 -A linha de raciocínio de Marx e Engels remete diretamente ao racionalismo iluminista e a
noção subjacente deste. Conforme Engels (1986, p.28) “pela sua forma teórica (...) o socialismo
começa a apresentar-se como uma continuação, mais desenvolvida e mais consequente, dos
princípios proclamados pelos grandes pensadores franceses do século XVIII”.
p.9 -Segundo Hobsbawm, para Marx e Engels os socialistas utópicos pertenciam ao iluminismo.
-Ao escrever “Do socialismo utópico ao socialismo científico”, Engels situa esses socialistas
utópicos dentro do movimento socialista, e procura explicar o socialismo científico como uma
superação dialética do estado anterior dos socialistas, sendo pensadores que criticavam as
consequências das contradições do regime capitalista, tendo instigantes propostas de reorganização
social, mas que não compreendiam a dinâmica e o devir do capital.
-Na experiência vivida por Marx, as contradições entre a produção capitalista e o antagonismo de
classes já estavam desenvolvidas e amadurecidas, tratava-se então de desvendar as leis de
desenvolvimento histórico, tornando o socialismo um produto necessário da luta entre as duas
classes históricas formadas, tendo como missão investigar o processo histórico econômico de que
tinham que resultar essas classes e seu conflito (ENGELS, 1986, p.53).
p.1 -Hobsbawm (1987, p.64) diz que não é possível compreender o pensamento de Marx sem
0 considerar que pelo resto da vida dele as tendências que criticou, combateu ou teve que realizar
acordos foram tendências de esquerda radical pré-marxiana ou derivadas dela.
-Inicialmente, os ativistas não se definiam como marxistas nem se diziam adeptos do mesmo
(KONDER, 1992, p.62).
-Primeira Internacional (Associação Internacional dos Trabalhadores): organismo pluralista,
composto em sua maioria por operários, mas havia a presença de advogados, políticos e filantropos.
Suas correntes políticas incluíam Marx e seus adeptos.
p.1 -A ramificação da PI apresentava uma diversificação de setores que atendia as peculiaridades
1 nacionais, regionais e locais, coexistindo diferentes modelos de associações operárias.
-Comunistas eram os partidários de Marx e coletivistas eram os seguidores de Bakunin e socialistas
eram as tendências mais moderadas.
-Foi no contexto da AIT que o termo marxista ganhou sedimentação, sendo um dos termos usados
por Bakunin e seus adeptos para estigmatizar os partidários de Marx.
-Com o fim da AIT o termo “socialdemocracia” veio a substituir o “comunista”, definindo
correntes que se colocavam na luta de classes e luta política.
-Na década de 1880, no âmago da socialdemocracia alemã que os termos marxismo e
marxista ganharam sentido preciso.
p.1 -Com a morte de Marx e posteriormente de Engels, o termo “marxismo” passou a ser utilizado para
2 designar um determinado sistema de ideias, uma doutrina fundamentada no materialismo histórico
(KONDER, 1992, p.62). Karl Kautsky foi herdeiro oficial de Marx e Engels e chefe dessa
operação, passando a utilizar o conceito de forma consciente e sistemática, com significado
ideológico e político calculado.
-O marxismo assume então, a partir de 1883, um instrumento de disputa de hegemonia dentro do
movimento socialista em geral.
-Segunda Internacional: marcada por uma diversidade doutrinária. O organismo se deu pela união
de partidos socialdemocratas, autônomos, organizados de forma federativa, respeitando as
especificidades nacionais.
p.1 -Nesse período as correntes do movimento operário poderiam ser ilustradas por seções socialistas,
3 sindicalistas e cooperativistas. Hobsbawm (1982, p.81) classifica em: grupos oficialmente
identificados com o marxismo e decididos a sê-lo; grupos ligados a outras ideologias de caráter
revolucionário e os não socialistas. A maioria dos partidos da SI sob a liderança da
socialdemocracia alemã integravam o primeiro grupo. Em alguns movimentos, como o francês,
chegava a haver a predominância de tradições revolucionárias mais antigas.
-Entre as tendências mais radicais apontadas por Hobsbawm podem ser destacados o jacobinismo,
anarquismo e o sindicalismo revolucionário.
p.1 2. ORTODOXIA MARXISTA E REVISIONISMO
4 -A formação de uma ortodoxia marxista se deu no enfrentamento da crise revisionista.
-Eduard Berstein era um dos principais teóricos do SPD, sendo convocado para refutar teses
liberais, mas que nesse refutar gerou dúvidas acerca da teoria socialista.
p.1 -Berstein-Debatte: colocava em xeque as premissas do marxismo. Este tinha grande impacto por
5 estar no seio do PC e por ser de uma pessoa tão influenciável como um dos amigos próximos de
Engels, executor testamentário do mesmo.
-O debate proposto era demasiadamente abrangente, mas o autor resume em dois blocos: de um
lado a leitura dinâmica do capitalismo do outro as formas de intervenção política para a promoção
do socialismo. A rigor, Berstein questionava a concepção de que o desenvolvimento do capitalismo
levava a uma concentração de renda de forma que ocorreria uma simplificação entre os
antagonismos de classes, e que se promoveria um subconsumo, motor das crises cíclicas.
-Para Marx a causa de crises econômicas é sempre a pobreza e a limitação do consumo de massas,
mas Berstein interpretava que a economia capitalista desenvolvera mecanismos para diminuir a
incidência de crises e atenuar a dura por meio de acordos entre conjuntos industriais.
-Portanto, a estratégia para atingir o socialismo não deveria se basear no colapso do
capitalismo. O socialismo era compreendido aqui como uma possibilidade histórica.
p.1 -Karl Kautsky, principal teórico do PC, evidenciava que atribuir a Marx uma teoria do colapso do
6 capitalismo era errônea, pois acreditavam que os limites da estrutura econômica, baseadas na
exploração do proletariado aguçaria a luta de classes ao invés de indicar a impossibilidade de seu
funcionamento. A crise do capitalismo dependeria de fatores sociopolíticos, e não dos econômicos
em si.
Kautsky não considerava decisivo o papel de barricadas e insurreições armadas. A visão dele era
que a violência tinha um papel defensivo e que era necessário combinar a luta de massas. A
estratégia do teórico era baseada em instrumentalizar as instituições existentes.
p.1 -As posições da esquerda da socialdemocracia foram representadas por Rosa Luxemburgo, que
7 teceu críticas sobre a dinâmica das contradições do capitalismo, combatendo a ideia de que
tivessem sido desenvolvidos mecanismos suficientes para contornar as crises cíclicas. Segundo a
autora, Berstein estaria optando por uma finalidade diferente em suas teorias, pois a luta pela
reforma não deveria tirar de cena a necessidade de realizar a luta contra o Estado burguês.
-Luxemburgo e Kautsky, ao refutarem as teses de Berstein, tinham em comum acharem o
socialismo como uma necessidade histórica.
-Luxemburgo compreendia que o capitalismo não poderia realizar a mais-valia e promover sua
reprodução.
p.1 -Para Kautsky a decadência do capitalismo era irreversível e a vitória final do socialismo.
8 -A ortodoxia marxista é contemporânea do revisionismo, nascendo e se organizando em razão dele.
-No SPD, o marxismo dominava o campo teórico partidário e as diferenças eram indicadas pela
denominação das correntes: revisionismo, ortodoxia, radicalismo, de esquerda.
-A polêmica suscitada por Bernstein tinha como parâmetro a práxis concreta do SPD.
-A distância entre a radicalidade teórica e o pragmatismo da ação cotidiana encontrou sua face mais
dramática durante a 1º guerra mundial, quando parlamentares do SPD aprovaram créditos para a
sustentação do conflito.
p.1 -Para os marxistas compreender as mutações do capitalismo se articulava com a estratégia de
9 superação do mesmo.
-Para Luxemburgo o fenômeno do imperialismo era a demonstração das contradições mais
extremas do capitalismo, necessitado de inserir em seu sistema as últimas formações não
capitalistas para realizar a mais-valia de sua produção.
p.2 -Lênin procurava situar o lugar do imperialismo na história, definindo-o de um lado como
0 monopolista e por outro como “capitalismo de transição ou agonizante”.
-Anteriormente a Primeira Guerra, prevalecia no âmago do movimento socialista um sentimento
pacifista.
-Lênin defendia que a guerra era um estopim da revolução internacional, e defendia a necessidade
de transformar a guerra imperialista entre Estados uma luta de classes revolucionária.
p.2 -A guinada no movimento socialista internacional seria consumada com a emergência e
1 consolidação da Revolução Russa em 1917.
-As teses de Bernstein foram refutadas oficialmente em 1903.
-Adam Przeworski periodizou o percurso da socialdemocracia da seguinte forma: em sua origem, a
socialdemocracia, influenciada pelo marxismo, tinha um horizonte revolucionário, abandonado
pela perspectiva reformista. Reformismo era a estratégia que julgava possível chegar ao
socialismo por meio da conquista de maiorias eleitorais e da introdução cumulativa de reformas
na estrutura do capitalismo. Dados os impasses vivenciados, a socialdemocracia abandonou
também o reformismo, em nome de uma política de combinação de propriedade e mercado
capitalistas com políticas de bem-estar social, formulando a tese de que o essencial era a
socialização do consumo e não da propriedade.

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