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A luta ideológica no movimento operário

Vladimir Ilitch Ulianov Lênin

A profunda mudança ideológica que ocorrera dentro da oposição, ou


setores progressistas do povo, é uma característica extremamente
importante e distintiva da Rússia pós-revolucionária. Esquecer essa
particularidade prejudica a compreensão da revolução russa e de seu
caráter, assim como das tarefas da classe operária em nosso tempo.

A mudança ideológica que houve na burguesia liberal se expressa na


ascensão de uma tendência antidemocrática (Struve, Izgoiev e V.
Maklakov abertamente, o resto dos Kadets secretamente, “timidamente”)

Entre os democratas essa mudança se expressa na absoluta confusão


e vacilação ideológica, que prevalece tanto entre os social-democratas
(democratas proletários) quanto entre os socialistas revolucionários
(democratas burgueses). Até mesmo os melhores representantes da
democracia se limitam apenas a lamentar essa confusão, vacilação e
retrocesso. Os marxistas, entretanto, olham paras as raízes
de classe desse fenômeno social.

O principal sintoma dessa desintegração é o liquidacionismo. Essa


corrente, já em 1908, foi definida oficialmente como: “uma tentativa de
parte dos intelectuais do partido de liquidar” a clandestinidade e a
“substituir” por um partido operário legal, definição ratificada por “todo o
corpo marxista”(1). Na última reunião oficial dos dirigentes marxistas,
realizada em janeiro de 1910, estiveram presentes representantes
de todas as “tendências” e grupos, e não houve uma pessoa sequer que
tenha protestado contra a condenação do liquidacionismo como
uma manifestação da influência burguesa sobre o proletariado. Essa
condenação, que é também a explicação das raízes de classe do
liquidacionismo, foi adotada por unanimidade.

Mais de 4 anos se passaram desde então e a vasta experiência do


movimento operário de massas forneceu milhares de provas que essa
avaliação do liquidacionismo é a correta.
Os fatos mostraram que o marxismo e a experiência prática do
movimento operário de massas mataram o liquidacionismo, que é uma
tendência burguesa e antioperário. É suficiente recordar como em um
único mês, março de 1914, a Gazeta Severnaya Rabochaya difamou a
“imprensa ilegal” (edição de 13 de março) e manifestações (o sr. Gorski,
na edição de 11 de abril), e como Bulkin em uma perfeita imitação dos
liberais, vilipendiou a “clandestinidade” (Nasha Zarya n. 3), como o
notório L. M, em nome dos editores do Nasha Zarya apoiou totalmente
Bulkin nesse ponto e defendeu a “organização de um partido operário
legal”. É suficiente relembrar tudo isso para entender por quê a atitude
dos operários com consciência de classe com o liquidacionismo não pode
ser nada mais que não a condenação impiedosa e o completo boicote dos
liquidacionistas.

Mas aqui aparece uma questão muito importante: Como essa


tendência surge historicamente?

Ela surgiu no curso dos 20 anos de ligação do marxismo com o


movimento operário de massas na Rússia. Até 1894-1895 não havia tal
relação. O grupo Emancipação do Trabalho só lançou as bases teóricas
para o movimento social-democrata e tomou o primeiro passo na direção
do movimento operário.

Foi só a propaganda de 1894-95 e a greve de 1895-96 que


estabeleceu laços firme e inquebráveis entre a socialdemocracia e o
movimento operário. Imediatamente uma luta ideológica começou entre
as duas tendências do marxismo: a luta entre os “economistas” e os
marxistas consequentes ou (mais tarde) os iskristas (1895–1902), a luta
entre os mencheviques e os bolcheviques (1903-08) e a luta entre os
liquidacionistas e os marxistas (1908-14).

Economismo e liquidacionismo são duas formas diferentes do mesmo


oportunismo intelectual pequeno-burguês que existe há 20 anos. É um
fato inconteste a conexão pessoal, e também ideológica, que existe entre
todas essas formas de oportunismo. Basta mencionar o nome do líder dos
economistas: A. Martynov, que posteriormente tornou-se um
menchevique e agora é um liquidacionistas. É suficiente lembrar as
declarações de alguém como G. V. Plekhanov, o qual em muitos
pontos(2) esteve próximo dos mencheviques, mas, no entanto, admitiu
abertamente que os mencheviques absorveram elementos oportunistas
intelectualistas nas suas fileiras, e que os liquidacionistas deram
continuidade aos erros dos economistas e foram disruptores do partido
operário.

Pessoas que (como os liquidacionistas e Trotsky) ignoram ou falsificam


esses 20 anos de história de luta ideológica no movimento operário
causam tremendo dano aos operários.

Um operário que adota uma atitude indiferente diante da história de


seu próprio movimento não pode ser considerado alguém com consciência
de classe. De todos os países capitalistas a Rússia é um dos mais
atrasados e mais pequeno-burguês. Esse é o porquê o movimento
operário de massas deu origem a uma ala pequeno-burguesa e
oportunista dentro do movimento; não é algo por acaso, mas inevitável.

O progresso feito durante esses vinte anos em livrar o movimento


operário da influência da burguesia, do economismo e do liquidacionismo
foi enorme. Pela primeira vez uma base proletária real para um partido
marxista de fato está sendo seguramente estabelecida. É tão amplamente
admitido, que até mesmo os oponentes dos pravdistas são obrigados a
reconhecer que entre os operários com consciência de classe os pravdistas
constituem a grande maioria. O que a “plenária” marxista de janeiro de
1910 reconheceu teoricamente (que o liquidacionismo é uma “influencia
burguesa no proletariado”), os operários com consciência de classe estão
colocando em pratica há quatro anos. Sua atuação pratica demonstra isso
através do enfraquecimento dos liquidacionistas, da remoção deles de
seus postos e da sua redução a um grupo de publicistas oportunistas que
estão fora do movimento operário de massa.

Durante esses 20 anos de confronto de ideias, o movimento operário


na Rússia tem crescido em escopo e força, além de amadurecer continua
e firmemente. Derrotou o economismo e o melhor do proletariado com
consciência de classe aliou-se aos iskristas. Em todos os estágios
decisivos da revolução eles deixaram os mencheviques em
minoria, mesmo o próprio Levitsky teve que admitir que as massas
operárias seguiam os bolcheviques.

E, por último, o movimento operário de massas derrotou o


liquidacionismo e, como resultado, tomou o caminho correto da luta
ampla – iluminada pela teoria marxista e resumida em slogans
incontornáveis – da classe avançada pelos avançados objetivos históricos
da humanidade.
Notas de rodapé:

(1) Refere-se ao V Congresso do POSDR (Conferência de Toda Rússia de 1908).


(retornar ao texto)

(2) Por que dizemos “em muitos pontos”? Porque Plekhanov ocupou uma posição
especial e divergiu dos mencheviques muitas vezes: (1) no congresso de 1903
Plekahnov lutou contra o oportunismo dos mencheviques; (2) depois do
congresso, Plekahnov editou os núms. 46-51 do Iskra se opondo aos
mencheviques; (3) em 1904 defendeu o plano de Axelrod para uma campanha
zemstovista, de tal forma que ignorou seus principais erros; (4) deixou os
mencheviques na primavera de 1905; (5) em 1906, após a dissolução da I Duma,
adotou um posicionamento em nada semelhantes aos mencheviques; (ver O
Proletário(3), agosto de 1906); (6) no congresso de Londres de 1907, segundo
relato de Cherevanin, Plekhanov combateu o “anarquismo organizativo” dos
mencheviques. É preciso levar em conta esses fatos para entender por quê o
menchevique Plekhanov denunciou e lutou longa e arduamente contra o
liquidacionismo. (retornar ao texto)

(3) O Proletário foi um jornal Bolchevique clandestino, publicado de 21 de agost


(3 de setembro) de 1906 até 28 de novembro (11 de dezembro) de 1909 sob a
editoria de Lênin. Foram publicados 50 edições do jornal, que tinha como
colaboradores ativos M. F. Vladimirsky, V. V. Vorovsky, I. F. Dubrovinsky, A. V.
Lunacharsky, entre outros. Os primeiros 20 volumes foram preparados pela
imprensa e impressos em Vyborg, entretanto, conforme as condições de
publicação ilegal na Rússia foram se tornando mais difíceis a publicação do jornal
foi transferida para o exterior (Genebra e Paris).

O Proletário era virtualmente o órgão central dos bolcheviques. A maior parte do


trabalho no jornal era realizado por Lênin, quase todas as edições do jornal
continham algum artigo seu. O Proletário publicou mais de 100 artigos e
parágrafos de Lênin tratando sobre os assuntos mais importantes da luta
revolucionária da classe operária. O jornal tratava de questões táticas e políticas
de interesse público, além de apresentar relatórios sobre as atividades do Comitê
Central do POSDR, as decisões de conferências e reuniões plenárias do CC, cartas
do CC sobre várias questões das atividades do Partido e uma série de outros
documentos. Um suplemento para o nº 46 do jornal publicou um relatório sobre a
conferência do Conselho Editorial ampliado do Proletário, assim como as
resoluções dessa reunião, que foi realizada em Paris em 8-17 de junho (21-30)
de 1909. O jornal estava em contato estreito com as organizações locais do
Partido.

Durante os anos da reação de Stolypin, o proletário desempenhou um papel


destacado na salvaguarda e fortalecimento das organizações bolcheviques, na
luta contra os liquidacionistas, otzovistas, ultimatumistas e dogmáticos.

A publicação do jornal cessou em 1910 de acordo com a decisão do plenário de


janeiro do C.C. do R.S.D.L.P. (retornar ao texto)

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