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CENTRO DE HUMANIDADES
Breno Araújo1
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Graduando em Filosofia-Licenciatura. UECE, 2022.
Marx, portanto, utiliza-se da concepção de alienação filosófica do idealismo
alemão, mas não como mera alienação da consciência, como problema
exclusivamente filosófico, mas trabalha através do método dialético trazendo o
conteúdo da alienação para a realidade objetiva, para a análise das relações sociais,
e não apenas da consciência ou de uma noção antropológica.
Assim, Marx parte da análise da tradição filosófica para uma análise que
fundamentará sua concepção de trabalho estranhado: a Economia Política
Clássica. Por conseguinte, sua compreensão e crítica social se direcionam á crítica
dos modos de produção capitalista, e das teorias abstratas da filosofia clássica
alemã que desviavam o caminho da compreensão histórica e social concreta da
alienação, limitando-se na análise da consciência reduzida em si mesma, sem
vínculo direto com seu caráter histórico e social.
O motivo pela qual Marx se utiliza do método dialético hegeliano para aplicá-
lo nas relações de produção, consiste no fato da alienação, isto é, o estranhamento
do sujeito no ato da produção, em suas relações de trabalho, ocorrer também em
sua consciência. Contudo, trazendo este raciocínio para a relação que o
trabalhador adquire na produção de uma mercadoria, o processo de estranhamento
de si, intensifica na medida em que intensifica sua produção:
O trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto
mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma
mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorização
do mundo das coisas (Sachenwelt) aumenta em proporção direta a
desvalorização do mundo dos homens (Menschenwelt). O trabalho não produz
somente mercadoria; ele produz a si mesmo e ao trabalhador como uma
mercadoria, e isto na medida em que produz, de fato, mercadorias em geral. 2
2
MARX, Karl, Manuscritos econômico-filosóficos – Trabalho estranho e propriedade privada, p 80.
Supervalorizando o mundo das coisas materiais, desvaloriza sua própria vida,
seus meios de sobrevivência e consequentemente, sua percepção de si mesmo e
do mundo. Assim, o produtor se torna o produto, o sujeito se torna objeto de sua
produção e não se reconhece nem em seu trabalho, nem no objeto produzido. Este
é o processo que Marx denomina de exteriorização:
Por esta razão, Marx aponta que o mundo exterior, a natureza, deixam cada vez
mais de serem um meio de vida imediato para o trabalhador, na medida em que
este se apropria, com o processo de produção estranhado, do mundo externo e da
natureza. Considerando que para manter-se vivo é preciso trabalhar, e para
trabalhar, é preciso ceder ao processo de produção que se apropria de sua vida,
para existir como ser humano, é preciso que subsista como trabalhador alienado.
A partir dessa investigação, Marx desenvolve a noção do ser humano como ser
genérico, isto é, o homem como ser que tem como objeto sua própria vida, obtém
3
Ibidem, p 83.
sua atividade e sua própria concepção de mundo e seu gênero como objeto. Marx
afirma que quanto mais universal o ser, maior o seu domínio da natureza, maior a
posse do seu corpo inorgânico.
Neste sentido, o trabalho estranhado usurparia a força vital do ser humano por
meio do domínio de sua atividade e da alienação de si sob sua vida orgânica e
social. Por isso, Marx afirma que o trabalho estranhado inverte a relação entre o
homem e o objeto, entre o pensamento e o ser, e faz ''da sua essência, apenas um
meio para sua existência'' 4
4
Ibidem, p 85.
Gattungsgegentändlichkeit) e transforma a sua vantagem com relação ao
animal na desvantagem de lhe ser tirado o seu corpo inorgânico, a natureza.
(MARX, Karl, 2010, p 85)
Neste momento, Marx parte para uma análise especulativa do homem a partir
da concepção de gênero humano na objetivação da consciência. O mundo criado
pelo homem, isto é, sua atividade criadora é considerada como uma objetivação
da consciência. A atividade criadora do mundo objetivo é o engendrar do próprio
gênero humano, sua essência e sua relação consigo enquanto ser genérico.
5
Ibidem, p 87.
tendo em vista que engendrou os modos de produção da burguesia, e estes mesmos
modos são, por sua natureza históricos, aptos a modificação.
Contudo, vale ressaltar que estas considerações históricas, bem como o caráter
desenvolvido da crítica da Economia Política serão desenvolvidos em suas obras
posteriores, mais precisamente, nas Teses sobre Feuerbach, A Ideologia Alemã, e
chegando em sua máxima em O Capital. Por mais que Marx tenha superado o
idealismo alemão, suas bases conceituais são trabalhadas a partir da concepção
antropológica de Feuerbach, e na dialética hegeliana.
''Em geral, a questão de que o homem está estranhado de seu ser genérico quer
dizer que um homem está estranhado do outro, assim como cada um deles [está
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estranhado] da essência humana.'' Isto é, a essência humana, é considerada
como algo estranho pelo fato do ser humano encontrar-se em uma relação estranha
com sua atividade vital: o trabalho. Neste sentido, a essência ainda não estaria
presente enquanto predominasse a alienação humana.
Esta concepção seria um exemplo para sua concepção social ainda em processo,
tendo em vista que o trabalho e sua sociabilidade, a história como um produto e
produtora das condições materiais do homem, seriam essenciais para a existência
e para compreender a ‘’essência humana’’, ainda que sob os modos de produção
estranhado do capitalismo.
Entretanto, sua obra sobre a alienação do ponto de vista material e social nos
Manuscritos de 1844, supera a concepção idealista, e pressupõe novos conceitos
e categorias desenvolvidos nas obras citadas anteriormente, mas ainda permite um
caráter minimamente especulativo na sua compreensão de essência humana ou
gênero humano; da alienação do trabalho não expandindo para o aspecto histórico
e dialético, que ainda não havia sido desenvolvido.
6
Ibidem, p 86.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS