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O que é alienação

Há vários sentidos para o termo alienação (lat. alienatio, de alienare: transferir para outrem; alucinar, perturbar).
Implica no estado do indivíduo que não mais se pertence, que não detém o controle de si mesmo ou que se vê privado
de seus direitos fundamentais, passando a ser considerado uma coisa (res).
No sentido jurídico, quer dizer perda do usufruto ou posse de um bem ou direito pela venda, hipoteca etc.
Referimo-nos a alguém como alienado mental, dizendo, com isso que tal pessoa é louca. Aliás, alienista é o médico
dos loucos.
A alienação religiosa aparece nos fenômenos de idolatria, quando um povo cria ídolos e a eles se submete.
Para Rousseau, a soberania do povo é inalienável, isto é, pertence somente ao povo, que não deve outorgá-la a nenhum
representante, devendo ele próprio exercê-la. É o ideal da democracia direta.
Na vida diária, chamamos alguém de alienado quando o percebemos desinteressado de assuntos importantes, tais
como as questões políticas e sociais, por exemplo.
Em todos os sentidos, há algo em comum no uso da palavra alienação: no sentido jurídico, perde-se a posse de um
bem; na loucura, o louco perde a dimensão de si na relação com o outro; na idolatria, perde–se a autonomia, na
concepção de Rousseau, o povo não deve perder o poder; o homem comum na alienação perde a compreensão do
mundo em que vive e torna alheio a sua consciência um segmento importante da realidade em que se acha inserido.
Os termos alienado e alienação ingressam na filosofia graças a Hegel e a Marx.
Em Hegel, ação de se tornar outrem, seja se considerando como coisa, seja se tornando estrangeiro a si mesmo, isto é,
a alienação designa o fato de um ser, a cada etapa de seu devir, aparecer como outro distinto do que era antes.
Em Marx, quer dizer, sobretudo, a “despossessão”, seguida da ideia de escravidão. Assim, quando dizemos hoje que o
trabalho é um instrumento de alienação na economia capitalista, estamos reconhecendo que o operário é despossuído
do fruto de seu trabalho (que traz a idéia de fetichismo, reificação). Em Marx, portanto, alienação é do Eu. A alienação
não é puramente teórica, pois se manifesta na vida real do homem, na maneira pela qual, a partir da divisão do
trabalho, o produto do seu trabalho deixa de lhe pertencer. Todo o resto é decorrência disso.
Com o surgimento do capitalismo houve a intensificação da procura do lucro confinando o operário à fábrica,
retirando dele a posse do produto. Mas não é apenas o produto que deixa de lhe pertencer. Ele próprio abandona o
centro de si mesmo. Não escolhe o salário – embora isso lhe apareça ficticiamente como resultado de um contrato
livre - , não escolhe o horário nem o ritmo do trabalho e passa a ser comandado de fora, por forças estranhas a ele.
Ocorre então o que Marx chama de fetichismo da mercadoria e reificação do trabalhador.
O fetichismo (do port, feitiço) é o processo pelo qual a mercadoria, ser inanimado, é considerada como se tivesse vida,
fazendo com que os valores de troca se tornem superiores aos valores de uso e determinem as relações entre os
homens, e não vice-versa. Ou seja, a relação entre os produtores não aparece como sendo relação entre eles próprios
(relação humana), mas entre os produtos do seu trabalho. Por exemplo, as relações não são entre alfaiate e carpinteiro,
mas entre casaco e mesa.
A mercadoria adquire valor superior ao homem, pois privilegiam-se as relações entre coisas, que vão definir relações
materiais entre pessoas. Com isso a mercadoria assume formas abstratas (o dinheiro, o capital) que em vez de serem
intermediárias ente indivíduos, convertem-se em realidades soberanas e tirânicas.
Em conseqüência, a humanização da mercadoria leva à desumanização do homem, à sua coisificação, à reificação (do
latim res, “coisa”), sendo o próprio homem transformado em mercadoria (sua força de trabalho tem um preço no
mercado).
Fetichismo, portanto, em Marx indica a ilusão, o engano que se apodera dos homens quando se deixam fascinar por
uma mercadoria de forma fantástica, desvinculando-a do trabalho humano. E a reificação implica no último estágio da
alineção do trabalhador, no sentido de que sua força de trabalho se transforma em valor de troca, escapando a seu
próprio controle e tornado-se uma “coisa autônoma”.
Trata-se da situação econômica de dependência do proletário relativamente ao capitalista, na qual o operário vende sua
força de trabalho como mercadoria, tornando-se escravo (Marx).
Para Marx, a propriedade privada, com a divisão do trabalho que institui, pretende permitir ao homem satisfazer suas
necessidades; na realidade, ao separá-lo de seu trabalho e ao privá-lo do produto de seu trabalho, ela leva a perder sua
essência, projetando-a em outrem, em Deus, por exemplo. A perda da essência humana atinge o conjunto do mundo
humano.
As alienações religiosas e políticas são geradas pela alienação econômica. De modo particular, a alienação política é
exercida pelo Estado, instrumento da classe dominante que submete os trabalhadores a seus interesses. A alienação
religiosa é aquela que impede o homem de reconhecer em si mesmo sua humanidade, pois ele a projeta para fora de si,
num ser que se define por tudo aquilo que o indivíduo não possui: Deus.
Etimologicamente a palavra alienação vem do latim alienare, alienus, que significa “que pertence a um outro”. E
outro é alienus. Sob determinado aspecto, alienar é tornar alheio, transferir para outrem o que é seu.
Karl Marx interessou-se acerca dessa temática lendo um estudo elaborado por um outro filósofo tal qual ele,
Feuerbach. Este investigara o modo como se formam as religiões, isto é, o modo como os seres humanos sentem
necessidade de oferecer uma explicação para a origem e a finalidade do mundo.
Ao buscar essa explicação, apresenta Feuerbach, os humanos projetam para fora de si um se superior dotado das
qualidades que julgam as melhores: inteligência, vontade livre, bondade, justiça, beleza, mas as fazem existir nesse ser
supremo como superlativas, ou seja, ele é onisciente e onipotente, sabe tudo, faz tudo e pode tudo. Pouco a pouco, os
humanos se esquecem de que foram os criadores desse ser e passam a acreditar no inverso, ou seja, que esse ser foi
quem os criou e os governa. Passam a adorá-lo, prestar-lhe culto, temê-lo. Não se reconhecem nesse outro que
criaram. Quando os homens não se reconhecem num outro que eles mesmos criaram, eles se alienam. Feuerbach
designou esse fato com o nome de alienação.
A alienação é o fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, dão independência a essa criatura
como se ela existisse por si mesma e em si mesma, deixam se governar por ela como se ela tivesse poder em si e por si
mesma, não se reconhecem na obra que criaram, fazendo-a um ser-outro, separado dos homens, superior a eles e com
poder sobre eles. Alienação indica, então, o estado do individuo que não mais se pertence, que não detém o controle
de si mesmo ou que se vê privado de seus direitos fundamentais, passando a ser considerado uma coisa.
Marx não se interessou apenas pela alienação religiosa, mas investigou, sobretudo, a alienação social. Interessou-se
em compreender as causas pelas quais os homens ignoram que são os criadores da sociedade, da política, da cultura e
são agentes da história.
Interessou-se em compreender por que os humanos acreditam que a sociedade não foi instituída por eles, mas por
vontade e obra dos deuses ou pela força cega das leis da natureza, em vez de perceberem que são eles próprios que,
em condições históricas determinadas, criam as instituições sociais – família, relações de produção e de trabalho,
relações de troca, linguagem oral e escrita, escola, religião, artes, ciências, filosofia – e as instituições políticas – leis,
direitos, deveres, tribunais, estado, exército, imposto, prisões. A ação sociopolítica e histórica chama-se práxis. O
desconhecimento da origem e das causas da práxis leva os homens a atribuir a um outro ou a outros (divindades,
forças da natureza) aquilo que, na realidade, foi produzido por sua própria ação. Marx denominou esse
desconhecimento da própria práxis com a expressão alienação social.
Por que há alienação social? Por que os seres humanos não se reconhecem como sujeitos sociais, políticos, históricos,
como agentes e criadores da realidade na qual vivem? Por que além de não se perceberem como sujeitos e agentes, os
humanos se submetem às condições sociais, políticas, culturais como se elas tivessem vida própria, poder próprio,
vontade própria e os governassem, em lugar de serem controladas e governadas por eles?
E quando alguém diz, por exemplo, que uma pessoa é pobre porque quer, porque é preguiçosa, ou perdulária, ou
ignorante, está imaginando eu somos o que somos somente por nossa vontade, como se a organização e a estrutura da
sociedade, da economia, da política não tivessem nenhum peso sobre a nossa vida. A mesma coisa acontece quando
alguém diz ser pobre “pela vontade de Deus” e não por causa das condições concretas em que vive. Ou quando faz
uma afirmação racista, segundo a qual: “a natureza fez alguns superiores e outros inferiores”.
Além da alienação social temos a alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem como produtores
nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossa sociedade capitalista a alienação econômica
decorre da transformação de seres humanos em coisas, isto é, da transformação de uma classe social – os
trabalhadores – em mercadoria.
A alienação intelectual
A divisão social do trabalho (trabalho material: que produz mercadorias e trabalho intelectual: que produz ideias) leva
a crer que o trabalho material é uma tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto o
trabalho intelectual é responsável exclusivamente pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, os
intelectuais também se alienam.
A condição do trabalho no Brasil Nos últimos anos na sociedade brasileira, vemos, simultaneamente, várias
formas de produção. Vejamos alguns exemplos da diversidade das situações de trabalho que se observam no Brasil de
hoje:
- Trabalhadores, indígenas ou não, que tiram seu sustento coletando alimentos na mata, conhecidos como povos da
floresta.
- Trabalhadores da agropecuária, compreendendo os que ainda trabalham com enxada e facão e os que utilizam
máquinas e equipamentos sofisticados, como, por exemplo, as colheitadeiras, muitas delas computadorizadas.
- Trabalhadores empregados em indústrias de transformação ou de produção de bens duráveis ou não duráveis, seja
em grandes empresas nacionais ou internacionais, seja em pequenas fábricas “de fundo de quintal”.
- Trabalhadores nos setores de serviços e de comércio, que reúnem a maioria das pessoas. Há desde quem viva do
comércio ambulante até quem se empregue nos grandes supermercados e shoppings centers; há trabalhadores braçais,
que fazem reparos em casas, e funcionários de empresas de serviços altamente informatizadas, nas quais os
equipamentos eletrônicos fazem a maior pare das tarefas.
- Trabalhadores administrativos, em empresas e organizações públicas e privadas, desenvolvendo atividades das mais
simples, como servir cafezinho, até as mais complexas, como gerenciar um sistema computacional.
- Crianças que trabalham em muitas das atividades descritas.
- Trabalhadores submetidos à escravidão por dívida.
Em 1945 a maior parte da população brasileira vivia na zona rural. Em 2005, a maior parte da população vivia na zona
urbana. Isso significa que nos últimos sessenta anos houve uma transformação radical no Brasil, e ela foi feita por
milhares de trabalhadores que, efetivamente, criaram condições diferentes para se realizar como cidadãos num país tão
rico e tão desigual.
Em 2004, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em torno de 15% da População
Economicamente Ativa (PEA) trabalhava na indústria; dos 85% restantes, 60% a 65% dos trabalhadores estavam nos
setores do comércio e de serviços e em atividades administrativas, e apenas 20% na agropecuária, na caça e na pesca.
Ou seja, o processo de urbanização, com todos os seus desdobramentos, criou uma situação completamente nova no
Brasil, a tal ponto, que nem a agropecuária nem a indústria são hoje os setores que mais empregam. Portanto, o perfil
de trabalho no Brasil mudou muito e, com isso, as oportunidades de trabalho também.
Emprego e qualificação Ouvimos a todo momento nas conversas informais e encontramos com frequência nos meios
de comunicação a afirmação de que só terá emprego quem tiver qualificação. A qualificação em determinados ramos
da produção é necessária e cada dia mais exigida, mas isso somente para alguns poucos postos de trabalho. A maioria
das ocupações exige somente o mínimo de informação, que normalmente o trabalhador consegue adquirir no processo
de trabalho.
A elevação do nível de escolaridade não significa necessariamente emprego no mesmo nível e boas condições de
trabalho. Quantos graduados em Engenharia ou Arquitetura estão trabalhando como desenhistas? Quantos formados
em medicina são assalariados em hospitais e serviços médicos, tendo uma jornada de trabalho excessiva? E os
formados em Direito que não conseguem passar no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), muitos por ter
uma formação deficiente, e se empregam nos mais diversos ramos de atividade, em geral muito abaixo daquilo que
estão em tese, habilitados a desenvolver? Ou seja, a formação universitária, cada dia mais precária, não garante
empregos àqueles que possuem diploma universitário, seja pela precária qualificação, seja porque não existe emprego
para todos.
Encontram-se situações exemplares nos dois pólos de qualificação:
- Em muitas empresas de limpeza exige-se formação no Ensino Médio para a atividade de varrição de rua, o que
demonstra que não há relação entre o que se faz e a escolarização solicitada, pois não é necessário ter nível médio para
isso, mesmo que existam pessoas com até mais escolaridade que por necessidade o fazem.
- Jovens doutores (que concluíram ou estão fazendo o doutorado) são despedidos ou não são contratados por
universidades particulares porque recebem salários maiores e as instituições não querem pagar mais. Nesse caso, não
importa a melhoria da qualidade do ensino, e sim a lucratividade que as empresas educacionais podem obter.
O trabalho Informal Há no Brasil muitos trabalhadores que desenvolvem suas atividades no chamado setor informal,
o qual, em períodos de crise e recessão, cresce de modo assustador. Para se ter uma ideia do que representa esse setor,
vamos aos dados do IBGE. Em 2003, o instituto pesquisou 10, 525 milhões de microempresas com até cinco
empregados e constatou que 98% delas se enquadravam no conceito de informalidade. Dessas empresas, 7,6 milhões
não tinham nenhum tipo de registro jurídico e empregavam aproximadamente 36 milhões de pessoas. O setor informal
inclui também indivíduos que desenvolvem, por conta própria, atividades como o comércio ambulante, a execução de
reparos ou pequenos consertos, a prestação de serviços pessoais (de empregadas domésticas, babás) e de serviços de
entrega (de entregadores, motoboys) a coleta de materiais recicláveis, etc. A lista é enorme. E há ainda aqueles
trabalhadores, normalmente mulheres, que em casa mesmo preparam pães, bolos, e salgadinhos em busca de uma
renda mínima para sobreviver. Todos fazem a economia funcionar, mas as condições de trabalho a que se submetem
normalmente são precárias e não dão a mínima segurança e permanência na atividade.

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