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Para Freud, o inconsciente individual é aquilo que o indivíduo reprime

devido a algumas circunstâncias. Karl Marx traz algo semelhante, quando diz
que: “Não é a consciência dos homens que determina sua existência, porém,
pelo contrário, é a sua existência social que lhes determina a consciência”, ou
seja, a idéia de Freud de que o indivíduo reprime aquilo que de alguma forma
não seria bem aceito pela sociedade, aparece de maneira similar na afirmação
de Marx, quando mostra que o ser é “moldado” através de suas relações e no
ambiente onde se encontra.
O texto escolhido apresenta o “Inconsciente Social” visto através desses
dois autores (Karl Marx e Freud). Para explicitar o tema: Freud “dividiu” a
personalidade em três partes, que eram, o Id, o Ego e o Superego, onde o Id
representa a soma total dos desejos instintivos, esses desejos podem ser
identificados como o “inconsciente”, pois a maioria não tem permissão para
chegar ao nível da consciência. O Ego é visto como a personalidade
organizada do homem, tem a função de um julgamento realista, pelo menos no
que seria “correto” para a sobrevivência, pode ser considerado como a
“consciência”. O superego seria a interiorização das proibições e julgamentos,
nesse caso, da sociedade, pode ser tanto inconsciente quanto consciente.
Analisar a sociedade como inconsciente social, mostra a angustia moral
em que as pessoas encontram-se, onde estão impostas por “leis” daquilo que
“pode e não pode” o que seria chamado o “certo e o errado” para o ambiente
onde se encontram. Por exemplo, uma mulher que vive no oriente médio, que é
obrigada a utilizar determinadas roupas que cubram seu corpo, burca, lenço,
para ela, se portar dessa maneira é o “correto”, se ela descumpre é punida de
alguma maneira, ou é excluída, ou castigada, conseqüentemente, se existir ali,
alguma vontade de desrespeitar a cultura do ambiente, ela “reprime” esse
desejo e continua se comportando do jeito “certo”.
Fazendo uma ponte entre o texto escolhido, pontuaremos aqui o
conceito weberiano de “ação social”, que trata da conduta humana dotada de
sentido,
Este conceito designa qualquer comportamento humano dotado de
sentido ou orientação, comportamentos que visam determinadas
metas e objetivos. (Faria,1983).
Sentido seria o que motiva a ação individual e quando não é formulado
de modo expresso, está implícito na conduta do agente, ex: o olhar punitivo de
um pai que julga o comportamento do seu filho inadequado, se não fala,
demonstra que está esperando uma mudança, outro exemplo é o funcionário
do mês que fica exposto em quadros de lojas, o dono do estabelecimento está
querendo de alguma maneira, alertar que o comportamento que ele julga
correto e bom para um trabalhador de sua loja é o mesmo daquele que está no
quadro. Dessa forma, o texto fala de comportamentos que são adotados
simplesmente por serem postos como corretos e o quanto estas pessoas estão
inconscientes, de alguma maneira, de seus verdadeiros desejos.
Ainda tratando de Max Weber, o conceito de “ação social” é aquele em
que o comportamento do indivíduo tem por referência aquilo que o motiva a se
comportar daquela maneira, só é uma ação social quando o sujeito realiza uma
ação por vontade própria. Quando a pessoa faz algo porque está na moda, ou
porque vê que não tem outra solução a não ser fazer, ou por falta de opção,
essa maneira de agir não e uma ação social.
Quando os homens têm consciência dos interesses que os motivam,
passando a avaliar as conseqüências de seus atos e decisões neles
baseados e a realizar opções com base no cálculo de meio e fins, a
ação social da qual são protagonistas é racional. E quando agem
motivadamente, mas sem terem consciência dos valores e dos
interesses que os motivam e sem avaliar os efeitos de seus atos e
decisões, como ocorre nas condutas repetidas acriticamente ao longo
da vida, das quais os hábitos, rotinas e costumes são os melhores
exemplos, ou nos atos de “arrebatamento”, como a ira e a paixão, a
ação social é irracional. (Faria, 1983).

Ou seja, para Weber, quando o homem não tem a consciência dos


valores e interesses que o motiva, a ação dele é irracional, então, este mesmo
homem está inserido em uma sociedade cheia de normas, leis, julgamentos,
então ele pratica e move sua vida ao redor disso, através do que os outros
poderiam pensar quando ele toma determinada atitude, fazendo um pré
julgamento, ele deixa então de tornar o seu comportamento uma ação social,
essa é uma grande diferença entre Karl Marx e Weber, para Marx, o homem
além de tudo, tem sua forma de agir e pensar determinada pelo capital, seu
lugar na sociedade determina como vai agir, afinal ele vive em uma luta de
classes, onde a classe mais alta não quer que a classe média atinja o seu
patamar e a classe média luta para ficar cada vez mais distante da classe de
renda mais baixa.
Como Freud pontua, as pessoas passam a reprimir suas reais vontades
pois podem ser julgados e até mesmo excluídos de grupos, o texto, o
Inconsciente social, cita uma frase da qual Freud fala: “Onde houver Id, haverá
Ego”. Logo, o homem uma “mistura” de desejos e repressão desses desejos,
pois a personalidade organizada deste, não permite que ele “desobedeça” o
julgamento da sociedade. Um exemplo é o de um homem que goste de ver
revistas de mulheres nuas, pelo fato de julgar esse comportamento como algo
errado ele deixa de ver e depois de algum tempo abre uma banca onde tem
variados tipos de revistas, o conteúdo que ele julgava ilícito também está lá,
logo, ele pode ver e descansa na justificativa de que só vê devido ao fato
daquele ser o seu trabalho.
Voltando para Weber, as estruturas sociais, para este, dependem da
significação determinada pela ação humana, ou seja, quais seriam os tipos de
ação que formam as bases das organizações tanto políticas quanto religiosas,
econômicas, culturais etc.
Weber, em sua devoção e em seus princípios éticos, identificou no
temor a Deus e na devoção ao trabalho dos protestantes um dos
impulsos criadores do capitalismo, a partir dos séculos 17 e 18.
Outros importantes fatores foram a racionalidade, que levou ao
progressivo “desencantamento do mundo” e acelerou a expansão da
ciência, permitindo ao homem precisar melhor as metas a serem
perseguidas e os meios de atingi-los, e a legislação – além do
surgimento tanto do trabalhador livre, sem qualquer outro meio de
subsistência a não ser sua própria capacidade de trabalho, quanto do
empresário industrial, cuja acumulação de riquezas é conseqüência
das atividades mercantis dos séculos anteriores. (Faria, 1983).

Para Weber, a ciência não tem sentido porque sua contribuição é com
esse desencantamento do mundo.
Karl Marx, escreve: “A vida não é determinada pela consciência, mas
esta pela vida”, logo, o ambiente onde o homem está inserido é que, de certa
forma, rege a sua maneira de agir e pensar. O homem, cego, acredita que seus
pensamentos moldam a existência social, porém, é a existência social que lhes
determina a consciência, por isso existem tantas formas de pensar, tantas
culturas e formas de encarar o mundo.
A linguagem, assim como a consciência, só brota da necessidade, da
exigência, do intercâmbio com outros homens. Onde há um
relacionamento, ela existe para mim: o animal não tem relações com
coisa alguma, nem as pode ter. Para o animal, sua relação com os
outros não existe como relação. A consciência, por conseguinte, é
desde o começo um produto social, e assim permanece enquanto
houver homens. (Fromm, 1962, p. 100).

Para Marx, as consciências estão organizadas de acordo com certos


grupos da sociedade, seu patamar social etc. Ex: Os membros da elite, julgam-
se intelectuais e apostam que sua maneira de organização é a que melhor
satisfaz os interesses do homem, isso é lógico, pois estão fechados em sua
maneira de perceber o que seria o melhor para o favorecimento de sua classe,
logo, ignoram ou são hostis a qualquer sistema que duvide disso ou ponha em
risco o sistema elitista.
Na teoria de Sigmund Freud e de Marx, existe a semelhança de que
ambos acreditavam que a consciência do homem, é, em grande parte uma
“consciência falsa”. O homem acredita que seus pensamentos são autênticos,
quando na verdade são, de certa forma, impostos e ditados por leis, regras,
grupos, pela sociedade ou forças objetivas que funcionam à sua revelia. Na
teoria de Freud, essas forças representam as necessidades fisiológicas e
biológicas; na teoria de Marx, são as forças históricas, econômicas e sociais
que determinam a consciência do individuo.
O princípio de Freud, como terapeuta, era o de que a consciência do
inconsciente é a forma de curar a enfermidade mental. Como filósofo
social, ele acreditava no mesmo princípio: somente adquirindo
consciência da realidade e superando nossas ilusões, podemos
adquirir a força ótima para enfrentar a vida. (Fromm, 1962, p. 105).

Ambos, Freud e Karl Marx, acreditavam que a consciência do


inconsciente era a “cura”. Freud no sentido de que somente através da
psicoterapia, onde o indivíduo atormentado e angustiado passa a perceber o
motivo daquilo que o aflige, ex. se uma pessoa nutre ódio por um homem mas
está inconsciente um medo pois aquele homem representa uma ameaça na
sua vida profissional ou afetiva, aquele ódio passa a ter um justificado. Já para
Marx, o homem se conscientizando da realidade, onde seria preciso superar as
ilusões e avaliar o porque das forças históricas, econômicas e sociais
determinarem a consciência do indivíduo, adquire a força ótima para enfrentar
a vida.
Para Marx, a existência do homem e sua consciência são
determinadas pela estrutura da sociedade de que é parte; Para
Freud, a sociedade influencia o ser apenas pela maior ou menor
repressão de seu equipamento psicológico e biológico inato. (Fromm,
1962, p. 108).

Essa diferença acaba gerando uma segunda diferença:


Freud acredita que o homem pode superar a repressão sem
modificações sociais. Marx, por outro lado, foi o primeiro pensador a
ver que a realização do homem universal e plenamente consciente só
pode ocorrer juntamente com as modificações sociais que levam a
uma nova organização econômica e social verdadeiramente humana
da humanidade. (Fromm, 1962, p. 108).

Resumindo, tanto Marx quanto Freud, acreditam que grande parte do


que o homem pensa conscientemente é determinado por forças que operam
sem o seu próprio conhecimento. Que o homem explica essas formas de
alguma maneira, buscando justificativas que os satisfazem subjetivamente,
mas o homem só pode atingir a liberdade e a saúde, adquirindo consciência de
que isso ocorre com ele. A diferença entre esses dois está no conceito de
natureza das forças que movem o homem para que se comporte dessa
maneira. Para Freud são forças fisiológicas (libido) ou biológicas (pulsão de
vida e de morte) e para Marx são as forças históricas, a consciência do homem
é determinada pelo seu ser, este, pela sua prática da vida, esta pelo modo de
produção das coisas essenciais à vida, ou seja, pelo seu modo de produção e
pela estrutura, modo de distribuição e consumo dela resultantes.

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