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CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO CONCEITO DE TRABALHO EM MARX

Publicado em 30 de November de 2016 por Eliana Moreira de Souza

1. Uma consideração Frakfurtiana sobre Marx


A idéia de indivíduo enquanto participador de um todo, requer a emancipação de
faculdades obscurecidas com a negação da produtividade: a alienação. Esta significa
para Marx que o homem não se vivencia como agente ativo de seu controle sobre o
mundo, mas que o mundo lhe parece estranho. Fromm (1999) compara o conceito de
alienação ocidental com as idéias de idolatrias que se fazia no Antigo Testamento:
Quanto mais o homem transfere os seus próprios poderes para os ídolos, mais pobre ele
fica e tanto mais depende de seus ídolos, pois estes só lhe permite reaver pequena parte
do que foi originalmente dele... A idolatria é sempre a adoração de algo em que homem
colocou suas próprias forças criadoras e que agora se submete em vez de experimentar-
se a si próprio em seu ato de criador (FROMM, 1999, p. 51).
Nossa discussão parece já ter se formado em um segundo passo: além da existência
obscura desse sujeito, ele pode quebrar esse torpor que se instalou na sociedade
capitalista e desenvolver-se em si, visto que para Marx, o desenvolvimento humano
requer o desenvolvimento de suas capacidades totais de personificação. Assim, voltando
a Fromm (1999), o tema central de Marx é a transformação do trabalho alienado e
desprovido de significado em trabalho produtivo e livre, e não a melhor paga do
trabalho alienado por um Capitalismo privado ou por um Capitalismo de Estado
abstrato.
Dessa forma, o homem como está inserido nos processos produtivos do sistema, passa a
ser alienado de outros homens. Assim, Fromm (1999) nos explica que:
O conceito de Marx de homem alude, nisto, ao principio kantianista de o homem
sempre ser um fim em si mesmo, e jamais um meio para um fim. Mas ele amplia o
princípio ao asseverar que a essência humana do homem nunca deve converter-se em
uma existência individual. A humanidade no homem, fala Marx, nunca deve a vir a ser
sequer um meio para a existência individual dele – muito menos pode ser considerado
um meio para o Estado, a classe ou a nação (p. 58).
O homem torna-se prisioneiro de suas próprias armas, ou melhor, de suas próprias
forças de produção. Deste modo o ser humano se coloca num mundo em que não há a
verdadeira formação de um sujeito em si, mas apenas simulação de algo estranho,
fazendo com que o sujeito não se reconheça como si, e se envolva cada vez menos com
o muno exterior sendo aprisionado. Fromm realiza uma kantianização do pensamento de
Marx, fazendo que haja uma perda em boa parte de seus questionamentos sobre a
sociedade capitalista.
2. Marx e o trabalho
O trabalho é, em primeiro lugar, um processo de que participam igualmente o homem e
a natureza, e no qual o homem espontaneamente inicia, regula e controla as relações
materiais com outros e a natureza. Ele se opõe a natureza como uma de suas próprias
forças, pondo em movimento braços e pernas, as forças naturais de seu corpo, a fim de
apropriar-se das produções da natureza de forma ajustada a suas próprias necessidades
(MARX, 2002, p. 197).
O trabalho é antes de tudo a expressão própria do homem. É a expressão de suas
faculdades físicas e mentais, onde o homem desenvolve-se a si mesmo, torna-se ele
próprio, sendo um meio em si mesmo, a expressão da energia humana que o condiciona
enquanto sujeito e exprime uma de suas maiores características: o condicionante de
indivíduo em si.
O que fica claro também é que o homem, na sociedade capitalista, desenvolveu este
trabalho de forma assalariada, ou alienada, (termos empregados por Marx). Isto
produziu um abismo entre os seres humanos e as suas capacidades de ação e de criação,
e impediu que ele se formasse enquanto ser modificador de sua natureza e, ao mesmo
tempo, apropriador dos produtos do seu trabalho. Pois para Marx, realização daquilo
que realmente importa para o homem só pode ser compreendida na mais efetiva ligação
de si com o trabalho, que é a mais livre expressão da vida. Assim as relações com o
mundo condicionam a vivência dos seres entre eles e os libertam de suas faculdades
alienadoras. Para entendermos melhor, vejamos as visões e as versões acerca do
conceito de alienação de Marx.
Para Marx, o trabalho humano é alienado porque deixou de ser parte da natureza
humana e se manifesta como uma expressão de sofrimento e de obrigação, relacionada
em momentos de torpor e que lhe consome as suas energias mentais e físicas. Isto faz
com que o trabalhador só se sinta a vontade longe desta obrigação.
Isso se deu com a culminância da propriedade privada e com a divisão do trabalho que
desmembrou o homem e seus intelectos de forma a colocá-lo como um ser fragmentado
no processo social; assim como na idolatria, onde o homem transfere a sua energia e
recupera apenas uma fração do montante que cedeu originalmente.
No capitalismo isso fica mais claro e ocorre com maior freqüência, pois o homem se
afasta de suas faculdades criadoras e o objeto de seu trabalho lhe torna estranho e o
dominam, fazendo com que o sujeito só exista para aquela atividade e não para si
mesmo.
Agora temos outra questão que nos norteia: o trabalho e a produção intelectual do
sujeito existem, mas se manifestam de maneira idólatra, ou seja, estão recobertas com
ares de alienação e formam uma barreira que impedem o desenvolvimento de
capacidades criadoras e condiciona o homem apenas como um fim para o capitalismo.
A visão de indivíduo em Marx está centrada nessa discussão e pode ser entendido se
conseguirmos resolver esse problema que se apresenta.
Mas, o que seria e como aconteceria o trabalho não-alienado? Como recorreríamos a
ele? E será que assim o indivíduo se condicionaria como um real sujeito no ambiente
social? Marx deixa claro que a real libertação da alienação do trabalho do homem só se
daria na sociedade comunista. O ser estranho que o homem se transforma a partir de seu
trabalho só pode ser eliminado a partir de uma nova visão dessa relação entre o homem
e o trabalho. A eliminação da propriedade privada dos meios de produção é um dos
focos centrais da eliminação dessa alienação, pois liberta o sujeito dessa obscuridade e
cria condições para a sua existência real.
O objetivo da libertação capitalista sem a propriedade privada é a não produção de
coisas, numa sociedade em que o homem deixe de ser algo determinado pela sua
produção e que o fetichismo das mercadorias não crie as condições para o aleijamento
do ser humano. Assim como na religião, o homem passa a ser governado por seus
produtos; ao passo que na produção capitalista, o homem passa a ser governado por suas
próprias mãos.
REFERÊNCIAS
FROMM, Erich. Conceito marxista do homem. Econômicos e Filosóficos de Karl
Marx, por T.B. Bottomore. 8 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. vol. 1. São Paulo: Nova Cultural,
1996.

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