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ALIENAÇÃO NO ÂMBITO FILOSÓFICO E PSICOLÓGICO

Giovana Lauermann Wildner¹

RESUMO

Quando estamos falando em mente humana, em sentimentos, em percepção, temos


que entender uma das ações do nosso pensamento que é a alienação e suas
repercussões. A palavra alienação no âmbito psicológico, significa uma espécie de
perda de consciência, perda do contato com a realidade das situações, porém a
várias outras definições para a palavra alienação, e estas variam conforme o tempo.
Para saber o significado é necessário observar a colocação na frase.

Palavras – chave: Alienação. Hegel. Marx. Feuerbach.

1 INTRODUÇÃO

A alienação possui vários significados, contudo o mais comum é a ausência


de bens: materiais ou espirituais. Na Idade Média a religião alienava as pessoas
com uma doutrina rígida no qual quem detinha um pensamento diferente do da
igreja era amaldiçoado a ficar eternamente no inferno. Com o avanço da técnica e
do cientificismo, a humanidade alienou-se a indústria, cuja classe do proletariado foi
manipulada a ficar horas em serviço e com pouco tempo de lazer para garantir o
bem-estar de seus patrões. Posteriormente, com a tecnologia da mídia ficou mais
fácil para a classe dominante alienar a “massa”, utilizando agora do rádio,da
televisão e do cinema para produzir entretenimento e conduzir o povo a construir os
desejos dos dominantes.

2 ANÁLISE DO CONCEITO DE ALIENAÇÃO

A palavra alienação vem do latim alienus, que veio a dar “alheio”, significando
"o que pertence a um outro".
No domínio do direito, a alienação designa o ato de transferência da posse ou
do direito de propriedade de alguma coisa para outrem, seja por doação seja por
venda. No domínio da psiquiatria, a alienação era, sinônimo de doença mental

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Acadêmica do curso de Psicologia, na Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, campus de
Pinhalzinho – SC.
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grave, envolvendo a perda da noção quer da identidade pessoal quer da realidade.


No domínio estritamente filosófico, o tema da alienação é trazido para primeiro
plano por Hegel e retomado, posteriormente, por Feuerbach, por Marx e, já no século XX,
por autores como Luckács, Marcuse ou Sartre, que tendem, no entanto, a dar ao termo
um sentido marcadamente hegeliano, de “objetivação” ou “reificação”. Comum a todos
estes filósofos, é a ideia de que “a alienação refere-se, fundamentalmente, a uma espécie
de atividade na qual a essência do agente é afirmada como algo externo ou estranho a
ele, assumindo a forma de uma dominação hostil sobre o agente.”
Hoje em dia há a tendência para utilizar o termo nos mais variados domínios,
dando-lhe o significado extremamente amplo de todo o processo mediante o qual o
homem deixa de ser autônomo, de ser dono de si mesmo, para se tornar propriedade
(escravo) de um outro - algo ou alguém - que por ele decide acerca da sua vida. É
precisamente nesse sentido que se fala na “alienação” provocada pela ideologia, pela
droga, pelo materialismo, etc.
O primeiro filósofo a abordar o tema alienação foi Karl Marx (1818- 1883), segundo
ele o conceito desta é vasto e pode englobar diversas formas de pensamento.

3 ALIENAÇÃO SEGUNDO HEGEL

A principal inspiração do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-


1831) no início de sua carreira é a superação do estado de opressão no qual os homens
vivem em sociedade. Sua preocupação é de desenvolver um método que concilie os dois
princípios do pensamento moderno: racionalidade e liberdade. Para Hegel, a crítica à
opressão moral será formulada como crítica ao racionalismo abstrato. O alvo do filósofo
será sobretudo as “filosofias da subjetividade solipsista” de Descartes a Kant.
A partir da Fenomenologia do Espírito essa crítica se materializará na consideração
da história como desenvolvimento e superação das contradições postas pela coexistência
de razão e liberdade. Para Hegel, trata-se sempre de pensar no homem em relação a
outros homens. Porém, ele será acusado por alguns de ao tentar escapar do subjetivismo
iluminista – o princípio da identidade da consciência – tê-lo transformado em uma onto-
teo-logia. A figura da autoconsciência como desdobramento do Espírito absoluto, em
síntese, não diferiria muito das premissas teológicas. A alienação é portanto dada:

[…] pela objectividade material e histórica; a superação da alienação ocorre com a


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superação dessa objectividade enquanto estranha ao espírito; tal superação de


resto, não pode deixar de acontecer, dado que a objectividade é algo dispersante,
é uma totalidade espiritual posta pela autoconsciência, e na medida em que a
autoconsciência sabe desta nulidade do objecto, a alienação é imediatamente
suprimida e superada. (BEDESHI,1985: 235)

4 ALIENAÇÃO CONFORME MARX

Para Marx o conceito de alienação se remete à forma como trabalhamos,


estudamos, e participamos das atividades sociais. Somos alienados a partir do momento
que não temos o conhecimento de todo o social, apenas fragmentos sociais, apenas
aquilo que nos é lícito saber. A nossa alienação nos torna cegos e maleáveis aos olhos
dos dominadores. Temos também o conceito de mais valia que está relacionado ao
conceito de exploração como também ao conceito de alienação.
Em seu primeiro manuscrito econômico e filosófico, em que trata do trabalho
alienado, Karl Marx (1818- 1883) questiona sobre o que constitui a alienação do trabalho:
O que constitui a alienação do trabalho? Primeiramente, ser o trabalho externo ao
trabalhador, não fazer parte de sua natureza, e por conseguinte, ele não se
realizar em seu trabalho mas negar a si mesmo, ter um sentimento de sofrimento
em vez de bem-estar, não desenvolver livremente suas energias mentais e físicas
mas ficar fisicamente exausto e mentalmente deprimido. O trabalhador, portanto,
só se sente à vontade em seu tempo de folga, enquanto no trabalho se sente
contrafeito. Seu trabalho não é voluntário, porém imposto, é trabalho forçado. Ele
não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio para satisfazer
outras necessidades. Seu caráter alienado é claramente atestado pelo fato, de
logo que não haja compulsão física ou outra qualquer, ser evitado como uma
praga. O trabalho exteriorizado, trabalho em que o homem se aliena a si mesmo, é
um trabalho de sacrifício próprio, de mortificação. Por fim, o caráter exteriorizado
do trabalho para o trabalhador é demonstrado por não ser o trabalho dele mesmo
mas trabalho para outrem, por no trabalho ele não se pertencer a si mesmo mas
sim a outra pessoa.

Sobre a alienação econômica, Marx diz que: “[…] ela é a base e a determinante de
todas as outras alienações e se funda na propriedade privada dos meios de produção.
Portanto, abolir a propriedade privada é abolir a alienação econômica e
consequentemente toda forma de alienação.” (NOGARE, 1990, P.94)
E sobre o capital Marx acresce:
A transformação de uma soma de dinheiro em meios de produção e força de
trabalho é o primeiro movimento pelo qual passa um quantum de valor que deve
funcionar como capital. Ela tem lugar no mercado, na esfera de circulação. A
segunda fase do movimento, o processo de produção, está encerrada tão logo os
meios de produção estejam transformados em mercadorias cujo valor supera o
valor de seus componentes, portanto, que contenha o capital originalmente
adiantado mais uma mais-valia. Essas mercadorias a seguir têm de ser lançadas
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de novo à esfera da circulação. Trata-se de vendê-las, realizar seu valor em


dinheiro, transformar esse dinheiro novamente em capital, e assim sempre de
novo. Esse ciclo, que percorre sempre as mesmas fases sucessivas, constitui a
circulação do capital. (MARX, 1984, p.151)

5 ALIENÇÃO PELA VISÃO DE FEUERBACH

Segundo Ludwig Andreas Feuerbach (1804-1872), "alienação religiosa" consiste no


processo antropomórfico segundo o qual o homem projeta no céu a sua própria imagem
idealizada: não foi Deus que criou o homem; ao contrário, foi o homem que criou Deus.
Mas, ao adorar esse Deus forjado por ele mesmo, o homem religioso se despersonaliza
não mais se pertence se aliena.

Contrapondo-se ao idealismo de Hegel, Feuerbach contesta que a constituição do


mundo dependa do movimento das ideias. Defendendo a tese materialista, afirma que o
verdadeiro conhecimento não é possível senão como conhecimento das coisas materiais,
sensíveis. E todo conhecimento superior não é mais que um epifenômeno da matéria, ou
seja, um simples reflexo dela.

Embora a análise desenvolvida por Feuerbach acerca da religião seja passível de


críticas por apresentar lacunas em alguns aspectos, sobretudo ao centrar-se por demais
no próprio homem e na negação de Deus, sua contribuição para a compreensão da
alienação religiosa representa um esforço no sentido de ressaltar o papel e a importância
da consciência humana diante da experiência religiosa, pois a alienação religiosa como
tal ocorre na esfera da consciência e da interioridade humanas. A incidência disso para a
nossa realidade é que se trata de um problema que tem a ver com aquilo que somos e a
religião tem muito a ver com a formação da consciência e como tal pode se transformar
em grande detentora do controle da vida das pessoas e da realidade como um todo.

6 CONCLUSÃO

Ao longo deste breve artigo tentou-se esclarecer o sentido do conceito alienação,


tendo sido apresentadas três definições de alienação, cada uma defendida por um filósofo
diferente. Partiu-se da origem do conceito e da sua primeira teoria elaborada por Hegel,
na sua obra A Fenomenologia do Espírito. Nessa obra Hegel descreveu a alienação como
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a separação do espírito de si mesmo, passando a observador de si como um objeto entre


os objetos. Com Marx descobre-se uma visão da alienação no mundo capitalista em que
a vitima não é só o operário alienado de si mesmo graças a um trabalho forçado, mas
também o capitalista alienado na sua satisfação, sendo controlado pelas suas próprias
mercadorias. Passou-se depois às teorias de Feuerbach, que crítica sobretudo a Religião,
acusando-a como principal causadora da alienação do homem às suas ações essenciais.

REFERÊNCIAS

POLI, Maria Cristina. “Alienação” na psicanálise: a pré-história de um conceito. São


Paulo, 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1415-
11382005000200009&script=sci_arttext>. Acesso em: 7 abril 2014

RIBEIRO, Miguel Quitério. Alienação. Lisboa, 2006. Disponível em:


<aquele.do.sapo.pt/fbaul/3879alienacaoXX.pdf>. Acesso em 7 abril 2014.

MARX, Karl. Trabalho Alienado, in Manuscritos Econômico-Filosóficos. Disponível em:


<http://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/cap01.htm>. Acesso em: 7
abril 2014.

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