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Verbete.​ ​Alienação.

"Um​ ​estranho​ ​no​ ​mundo​ ​que​ ​ele​ ​próprio​ ​fez"

Blog​ ​do​ ​Sociofilo


Seção​ ​Cartografias​ ​da​ ​Crítica
Constelação​​ ​Teoria​ ​Crítica​ ​Alemã:​ ​Origens,​ ​Frankfurt​ ​e​ ​Além

Por​ ​Rahel​ ​Jaeggi1

Tradução​ ​André​ ​Magnelli​ ​&​ ​Alberto​ ​Luis​ ​Cordeiro​ ​de​ ​Farias

1
O presente texto é uma tradução do cap.1. do livro: JAEGGI, Rahel. ​Entfremdung​. ​Zur Aktualität eines
sozialphilosophischen Problems​. Berlin: Suhrkamp, 2016 (1a edição 2005)​. ​Agradecemos fortemente à
Rahel Jaeggi pela autorização da publicação. O texto foi vertido ao português primeiramente, com
competência, a partir da tradução inglesa (​Alienation. ​New York: Columbia University Press, 2014) por
Alberto Luis Cordeiro de Farias, tendo em vista a realização de uma ulterior revisão feita por André
Magnelli com o cotejo do original alemão. Contudo, ao longo da revisão, muitos foram os problemas com
a tradução inglesa, a tal ponto que a revisão abandonou o texto em inglês e deteve-se inteiramente no
original,​ ​podendo​ ​ser​ ​vista​ ​enfim​ ​como​ ​uma​ ​tradução​ ​direta​ ​do​ ​alemão.
A Relação de falta-relacional: Para a reconstrução de um motivo da filosofia
social

A alienação é uma ​relação de falta-relacional ​[​Beziehung der Beziehungslosigkeit​].2


Posto em uma formulação muito breve e muito abstrata, esse é o ponto de partida a
partir do qual as reflexões se desenvolvem aqui. A alienação não indica, portanto, a
ausência de uma relação, mas sim que ela mesma é uma relação, muito embora
deficiente. Por outro lado, a superação da alienação não significa retornar a um ser-uno
indiferenciado consigo mesmo e com o mundo, mas sim que ela é, novamente, uma
relação​ ​[​Beziehung​]:​ ​uma​ ​relação​ ​de​ ​apropriação​ ​[​Aneignungsverhältnis​].

A ideia sistemática decisiva de minha reconstrução do motivo da alienação [na teoria


social crítica] é tão somente a seguinte: a fim de tornar o conceito de alienação
produtivo de novo, devemos lhe dar uma expressão ​formal​. Em oposição a uma
definição substancial do que se aliena nas relações de alienação, é o caráter dessa
própria relação que deve ser investigado; o que o conceito de alienação nos permite
diagnosticar são as diferentes formas de perturbação das relações de apropriação. Essas
relações de apropriação devem ser entendidas aí como relações produtivas e como
processos abertos, nos quais a apropriação sempre significa ambos: tanto a integração
como a transformação do que é dado. A alienação é a distorção e a suspensão deste
movimento de apropriação. É possível, então, fornecer uma análise consistente dos
processos de alienação sem que se remeta a um “ponto arquimediano” além da
alienação.

Com essa abordagem, eu irei argumentar então que é possível superar dois problemas
com os quais a teoria da alienação frequentemente se confronta: por um lado, seu
essencialismo e sua orientação perfeccionista em torno de uma representação da
“essência”, da natureza do homem ou de um ideal concebido, de forma objetivista, de

2
O tradutor para a edição em inglês verteu como “​relation of relationlessness​”. Para acompanhar o
sentido da expressão em alemão, joga claramente com os sufixos “ness” e “less”, no primeiro caso para
acentuar a ideia de relação como um estado, uma qualidade no processo de alienação; e, no segundo caso,
para acentuar uma falta. Na ausência de cognato para o português, optamos por traduzir como “relação de
falta-relacional” a fim de mantermos os sentidos fundamentais do conceito pela autora: o de uma relação
incompleta,​ ​em​ ​que​ ​falta,​ ​por​ ​assim​ ​dizer,​ ​a​ ​própria​ ​“relacionalidade”​ ​da​ ​relação.
vida boa; por outro lado, o ideal de reconciliação - o ideal de uma unidade livre de
tensão - que parece estar vinculado à crítica da alienação quando ela aparece como uma
teoria da identidade ou uma teoria social. Quando se apresenta a alienação como sendo
uma relação de apropriação perturbada ou inibida do mundo e do eu, tem-se por
resultado a partir daí uma conexão esclarecedora entre liberdade e alienação. Na
medida em que a liberdade pressupõe, nomeadamente, que se pode fazer o que se faz, e
que as condições em que se faz são ​as suas próprias​, a superação da alienação é uma
pressuposição​ ​para​ ​a​ ​realização​ ​da​ ​liberdade.

A ​primeira parte desta investigação [que foi empreendida em meu livro ​Entfremdung,
publicado em 2005] deve introduzir ao campo de problema que é marcado pelo conceito
de alienação. [Aqui, no presente texto, eu abordo] as várias dimensões do ​conceito e do
fenômeno da alienação - tal como a alienação se deixa desdobrar tanto na linguagem
cotidiana como no tratamento filosófico do conceito. Isso é aprofundado [no capítulo 2
de meu livro] com a ajuda de uma consideração mais precisa dos pontos de partida
teóricos da alienação e de como eles são alcançados tanto na teoria de Marx quanto na
ontologia existencial de Heidegger. Nesse contexto, após revelado o potencial do
conceito como um conceito fundamental de filosofia social, são discutidos [no capítulo 3
do mesmo livro] a sua estrutura, bem como a sua ​problemática​. Finalmente, são
esboçadas [no capítulo 4] a ​proposta de ​reconstrução tal como eu a desenvolvo ao longo
[das​ ​partes​ ​II​ ​e​ ​III​ ​do​ ​mesmo​ ​livro].

“Um estranho no mundo que ele próprio fez": o conceito e o fenômeno da


alienação

O conceito de “alienação” refere-se a todo um conjunto de motivos interligados.


Alienação significa indiferença e divisão interna, mas também impotência e
falta-relacional, com respeito a si mesmo e a um mundo experimentado como
indiferente e estranho. A alienação é a incapacidade de estabelecer uma relação com
outros seres humanos, com as coisas, com as instituições sociais e, portanto, também -
sendo a intuição fundamental do tema da alienação - a si mesmo. Um mundo alienado
se apresenta aos indivíduos como sem sentido e sem significado, como rígido e
empobrecido, como um mundo que não é “o seu”, ou seja, um mundo em que não se
está “em casa” e sobre o qual não se tem influência. O sujeito alienado torna-se um
estranho para si próprio; já não se experimenta como um “sujeito ativamente efetivo”,
mas sim como um “objeto passivo” que está à mercê de forças que ele não conhece3.
Pode-se falar de alienação “onde quer que os indivíduos não se reencontram
[​wiederfinden​] em suas próprias ações” (HABERMAS, 1991)4 ou onde quer que não
possamos ser “Senhor sobre o Poder que nós mesmos somos” (como Heidegger poderia
ter dito). O alienado, de acordo com o jovem Alasdair MacIntyre, é “um estranho no
mundo​ ​que​ ​ele​ ​próprio​ ​fez”.5

O​ ​fenômeno​ ​da​ ​alienação

Mesmo em nossos primeiros encontros com o tema, podemos ver que a alienação é um
conceito com “bordas borradas”. As “semelhanças familiares” e as sobreposições com
outros conceitos como a “reificação”, a “inautenticidade” e a “anomia” dizem tanto sobre
o campo de aplicação do conceito quanto sobre o emaranhamento recíproco entre os
vários significados que ele assumiu anteriormente na linguagem cotidiana e na
filosófica. Se o assim chamado “conteúdo experiencial” do conceito se alimenta das
experiências históricas e sociais que encontraram expressão nele6, também é o caso de
que, como conceito filosófico, a alienação influenciou as interpretações do eu e do
mundo de indivíduos e movimentos sociais. Nestas relações misturadas “impuras” é
construído um campo vasto de fenómenos que se deixam associar ao conceito de
alienação.7

3
ISRAEL, Joachim; MAASS, Hans-Joachim. ​Der Begriff Entfremdung: Zur Verdinglichung des
Menschen​ ​in​ ​der​ ​bürokratischen​ ​Gesellschaft​.​ ​Reinbek:​ ​Rowohlt,​ ​1985.
4
​ ​HABERMAS,​ ​Jürgen.​ ​Erläuterungen​ ​zur​ ​Diskursethik​,​ ​Suhrkamp,​ ​Frankfurt​ ​am​ ​Main​ ​1991,​ ​p.48​.
5
​ ​MacINTYRE,​ ​Alasdair.​ ​Marxism:​ ​An​ ​Interpretation​.​ ​London:​ ​SCM,​ ​1953,​ ​23.
6
Eu pego esta expressão [“conteúdo experiencial”] de Oskar Negt e Alexander Kluge. Ele se refere a
conceitos que tornam as experiências possíveis e que, por sua vez, dão vida àqueles mesmos conceitos. Cf.
NEGT,​ ​Oskar;​ ​KLUGE,​ ​Alexander​.​ ​Öffentlichkeit​ ​und​ ​Erfahrung​.​ ​Frankfurt:​ ​Suhrkamp,​ ​1972.
7
Como Raymond Geuss diz, todos os conceitos filosóficos interessantes são “impuros”: GEUSS, Raymond.
Glück​ ​und​ ​Politik:​ ​Potsdamer​ ​Vorlesungen​.​ ​Berlin:​ ​Berliner​ ​Wissenschafts-Verlag,​ ​2004,​ ​p.​ ​56.
1. Em conformidade com o uso linguístico, é “alienado” de si mesmo aquele que não
se comporta “de modo próprio” [​eigentlich​], mas sim “artificialmente” [​künstlich​] e
“de modo não genuíno” [​unecht​], ou aquele que é guiado por desejos que, em um
aspecto determinado, não são “os seus próprios” [​die eigenen​], ​ou não são
experimentados enquanto tais. Já de acordo com o diagnóstico crítico de Rousseau,
trata-se então de alguém que vive “na opinião dos outros” em vez de “em si mesmo”.
De acordo com isso, os papéis comportamentais e o conformismo social contam, por
exemplo, como alienados ou inautênticos; mas pertencem também ao campo dos
diagnósticos da alienação os discursos de crítica ao consumismo que versam sobre
as​ ​“falsas​ ​necessidades”.

2. “Alienadas” são as relações que não existem por sua própria causa, assim como as
atividades com as quais não se pode “identificar”. O trabalhador que pensa apenas
em parar o tempo, o acadêmico que publica unicamente com vistas ao ​citation
index​, o médico que não pode esquecer por um momento da tabela de valores -
todos eles estão alienados do que fazem. E alguém que cultiva uma amizade apenas
porque serve a seus próprios interesses tem uma relação alienada com o seu
parceiro.

3. O discurso da alienação caracteriza, além disso, a desvinculação [​Herauslösung​]


dos enlaçamentos sociais. Nesse sentido, alguém pode se “alienar” do parceiro de
vida ou da família, do local de origem ou de uma comunidade ou de um meio
cultural. Mais especificamente, falamos de alienação quando alguém não pode se
identificar - conceber como “seu” - as instituições sociais ou políticas nas quais ele
vive. Isolamento social ou privatização individualista também podem ser
considerados como sintomas de alienação. Ligeiramente romantizada, a alienação é
por vezes entendida como um sinônimo de “desenraizamento” [​Entwurzelung​] e
“apatricidade” [​Heimatlosigkeit​], que, no repertório dos críticos culturais
conservadores, remontam à confusão ou ao anonimato das relações de vida
modernas,​ ​ou​ ​à​ ​“artificialidade”​ ​de​ ​sua​ ​mediação​ ​midiática.
4. A despersonalização [​Entpersönlichung​] e a reificação [​Versachlichung​] ​das
relações inter-humanas e das relações com o mundo, contam como alienadas na
medida em que essas relações não são mais imediatas, mas sim mediadas (por
exemplo, através do dinheiro), na medida em que não são “concretas”, mas
“abstratas”, na medida em que não são inalienáveis [​unveräußerlich​], mas
intercambiáveis. A mercantilização ou “comodificação” de áreas ou bens que antes
não tinham a forma de mercado é, a este respeito, um exemplo do fenômeno da
alienação. A afirmação de que a sociedade burguesa, “dominada pelo equivalente”
(como Adorno poderia ter dito), destrói a singularidade das coisas e dos seres
humanos, sua particularidade e sua insubstituibilidade, é um diagnóstico de crítica
da​ ​alienação​ ​que​ ​se​ ​encontra​ ​mesmo​ ​além​ ​dos​ ​limites​ ​do​ ​marxismo.

5. Alienação significa - um tema dominante já no tempo de Goethe - a perda do


“homem total” [​ganzen Menschen​], que, através da divisão do trabalho e da
especialização, conduz à fragmentação e ao estreitamento das atividades e, a partir
de então, atrofia o potencial humano e as suas possibilidades de expressão. Nada
mais do que uma “engrenagem da máquina”, é o trabalhador alienado
desindividualizado [​entindividualisiert​], mera parte funcional no interior de eventos
que​ ​não​ ​são​ ​para​ ​ele​ ​nem​ ​administráveis​ ​nem​ ​controláveis.

6. Como “alienadas” se deixam descrever finalmente as relações em que as


instituições se apresentam como onipotentes ou como restrições “sistêmicas” sem
qualquer margem de manobra para a ação: a alienação ou a reificação
[​Verdinglichung​] ​significam então a ereção de uma autoindependência das relações
[​Verselbständigung von Verhältnissen​] contra aqueles mesmos que as constituíram.
O “casamento sem vida” [​tote Ehe​] é, nesse sentido, tanto um fenômeno da
alienação quanto o estado de certos conselhos administrativos autônomos
[​Selbstverwaltungsgremien​] democráticos; [o mesmo vale para] a perda de margem
de manobra da ação contrária às condições econômicas de conjunto, bem como
[para]​ ​a​ ​“gaiola​ ​de​ ​ferro”​ ​da​ ​burocracia​ ​do​ ​Estado​ ​de​ ​bem-estar.
7. Mas o “absurdo” também pode ser contado como um membro da família da
alienação​. ​As figuras literárias de Franz Kafka, de Samuel Beckett ou de Albert
Camus são apenas os representantes mais proeminentes de experiências da mais
completa​ ​desconexão​ ​e​ ​perda​ ​de​ ​sentido.

Teoria(s)​ ​da​ ​alienação​ ​-​ ​Crise​ ​na​ ​consciência​ ​do​ ​tempo

O que é, então, alienação? “Parece que sempre que ele sente que algo não é como
deveria, ele o caracteriza em termos de alienação”.8 Esta observação de Richard Schacht
sobre Erich Fromm parece uma descrição adequada de como o conceito é
freqüentemente usado (e não só por Fromm). No entanto, tão variados como os
fenômenos acima mencionados, eles fornecem um esboço inicial do conceito de
alienação. Uma relação ​alienada é uma relação ​deficiente que se tem consigo mesmo,
com o mundo e com os outros. Indiferença, instrumentalização, reificação, absurdo,
artificialidade, isolamento, falta de sentido, impotência - são diferentes caracterizações
que resultam dessas relações e figuram tais déficits. Uma característica distintiva do
conceito de alienação é que ele se refere não apenas à ausência de liberdade [​Unfreiheit​]
e à impotência, mas também a um “empobrecimento” característico da relação com o eu
e com o mundo (Esse é o modo pelo qual devemos entender o duplo significado da
fórmula de Marx da alienação como uma “desrealização dupla” [​doppelter
Entwirklichung​] do mundo e do ser humano: tornando-se irreal, o homem não se
experimenta como “efetivo”; tornando-se irreal, o mundo é sem significado e
indiferente). É a complexidade dessas inter-relações que fez da alienação o
conceito-chave de um diagnóstico de crise da modernidade e um dos conceitos
fundamentais​ ​da​ ​filosofia​ ​social.

Sendo a expressão de uma “crise na consciência do tempo” (Hegel), a discussão


moderna sobre a alienação se estende desde Rousseau e Schiller, passando por Hegel,
até Kierkegaard e Marx. Elevada à “doença da civilização ​par excellence​”9, a alienação se

8
​ ​SCHACHT,​ ​Richard.​ ​Alienation​.​ ​Garden​ ​City,​ ​NY:​ ​Doubleday,​ ​1970.​ ​p.​ ​116.
9
​ ​Cf.​ ​NICOLAUS,​ ​Helmut.​ ​Hegels​ ​Theorie​ ​der​ ​Entfremdung.​ ​Heidelberg:​ ​Manutius,​ ​1995.​ ​p.​ ​27.
tornou, a partir do século XVIII em diante, uma cifra usada para notificar a “incerteza,
fragmentação e divisão interna” nas relações dos seres humanos consigo mesmos e com
o mundo que acompanhava o progresso da industrialização. Foi esse diagnóstico que
Marx apreendeu em sua teoria de alienação e pôs em prática na sua crítica ao
capitalismo. Se a “perda determinada dos homens modernos”10, oriunda de Kierkegaard,
molda a questão da filosofia existencialista do ser-si e perder-se [​Selbstsein und
Selbstverlust​], então as experiências de indiferença e de estranheza radical [​radikaler
Fremdheit​], descritas aqui, aparecem como nada menos do que uma distorção
ontologicamente situada do mundo, da relação humana com o mundo e da relação do
homem consigo mesmo - o que, apesar de todas as divergências do diagnóstico
marxista, também tem algo em comum com ele. O diagnóstico da alienação (em sua
forma moderna) - por exemplo, liberdade e autodeterminação - está sempre abarcado
aí, bem como a sua redenção perdida. Entendida dessa maneira, a alienação não é
apenas​ ​um​ ​problema​ ​da​ ​Modernidade,​ ​mas​ ​também​ ​um​ ​problema​ ​moderno.

Breve​ ​história​ ​da​ ​teoria​ ​da​ ​alienação

Pode-se dar uma história (muito) curta da teoria moderna da alienação, em uma de suas
versões,​ ​da​ ​seguinte​ ​maneira:

1. Não o conceito, mas sim a coisa, encontra-se descrito nos escritos de Rousseau, que
contêm todas as idéias-chave do qual o discurso da alienação - tomado em seu sentido
filosófico-social) é composto até hoje.11 Rousseau começa seu “Discurso sobre a origem
da​ ​desigualdade​ ​entre​ ​os​ ​homens”​ ​(1755)​ ​com​ ​uma​ ​imagem​ ​impressionante:

Como a estátua de Glauco, que o tempo, o mar e as intempéries tinham desfigurado de


tal modo que se assemelhava mais a um animal feroz do que a um deus, a alma
humana, alterada no seio da sociedade por milhares de causas sempre renovadas, pela

10
THEUNISSEN, Michael. ​Selbstverwirklichung und Allgemeinheit : Zur Kritik des gegenwartigen
Bewusstseins.​ ​Berlin:​ ​De​ ​Gruyter,​ ​1981.
11
Não existe qualquer discordância a este respeito entre os intérpretes de Rousseau. Assim, Hans Barth
descreve Rousseau como um teórico da alienação ​avant la lettre (BARTH, Hans. Wahrheit und Ideologie .
Frankfurt: Suhrkamp, 1974. p. 105). E, de acordo com Bronislaw Baczko: “O termo hegeliano-marxista
[alienação] corresponde precisamente à condição para a qual Rousseau não tem qualquer nome, mas que
ele constantemente descreveu.” (BACZKO, Bronislaw. ​Rousseau: Einsamkeit und Gemeinschaft ​. Vienna:
Europa,​ ​1970.​ ​p.​ ​27).
aquisição de uma multidão de conhecimentos e de erros, pelas mudanças que se dão na
constituição dos corpos e pelo choque contínuo das paixões, por assim dizer mudou de
aparência​ ​a​ ​ponto​ ​de​ ​tornar-se​ ​quase​ ​irreconhecível12.

A desfiguração de que Rousseau fala aqui é a deformação dos seres humanos pela
sociedade: com a sua natureza dividida, alienada de suas próprias necessidades, sujeita
aos ditames conformistas da sociedade, no seu desejo de reconhecimento
[​Geltungsdrang​] ​e sua vaidade [​Eitelkeit​] dependente das opiniões dos outros, o
homem social é uma pessoa artificial e desfigurada. A dependência mútua dos seres
humanos civilizados, que, através do contato social, produz necessidades sem limites,
bem como a orientação em função dos outros, leva simultaneamente , de acordo com
Rousseau, à dominação e à perda de liberdade [​Unfreiheit​], à perda de autenticidade e à
(auto-) alienação - em outras palavras, ela leva a uma condição posta diretamente contra
a autonomia e autenticidade do estado da natureza, concebida como condição de
autarquia.

Há assim duas ideias aparentemente opostas que tornaram o pensamento de Rousseau


influente como uma teoria da alienação: por um lado, o desenvolvimento do ideal
moderno de ​autenticidade como um acordo não perturbado [​ungestörter
Übereinstimmung​] com “si” e com a própria “natureza”; e, por outro lado, a idéia da
liberdade social​, conforme expressa na formulação de Rousseau da principal tarefa do
Contrato Social​. Se, no ​Segundo Discurso​, Rousseau descreve vividamente o caráter
alienado do que são, neste contexto, os efeitos exclusivamente negativos da socialização,
ele também estabelece, no ​Contrato Social​, o ideal normativo de uma forma de
socialização​ ​não​ ​alienada​ ​no​ ​mundo.

Sem querer negar as tensões internas ao trabalho de Rousseau, a conexão entre os dois
aspectos pode ser explicada assim: o fosso entre o ser-si autêntico [​authentischem
Selbstsein​] e a sociedade, que Rousseau articulou tão eloqüentemente, dá origem, de
acordo com seus próprios pressupostos, a uma aporia que pode ser resolvida apenas

12
ROUSSEAU, Jean-Jacques. ​The Discourses and Other Early Political Writings​. Trans. Victor
Gourevitch.​ ​New​ ​York:​ ​Cambridge​ ​University​ ​Press,​ ​1997.​ ​p.​ ​124.
estabelecendo-se uma condição em que os indivíduos vivam dentro das instituições
sociais que podem experimentar como suas. Por um lado, o humano alienado descrito
por Rousseau perde-se na medida em que estabelece relações com os outros: o humano
natural “vive dentro de si mesmo; o homem sociável sempre fora de si mesmo”13. Por
outro lado, o ser humano só pode recuperar-se através da sociedade. Uma vez que a
restauração da autarquia do estado da natureza rousseauniano - e com ela uma
liberdade que exige independência e desapego dos outros - vem a um “preço muito alto”
14
(o preço de perder as qualidades especificamente humanas, tais como a razão e a
reflexividade), então a solução para o problema da alienação não pode residir na
dissolução dos laços sociais, mas apenas na sua transformação. A dependência mútua
dos indivíduos socializados, experimentados como alienantes, deve ser reconfigurada de
acordo com a ideia, estabelecida no ​Contrato Social​, de uma associação na qual cada
indivíduo aliena [​veräußert​] todos os seus direitos à sociedade e assim se torna “tão
livre como antes”. O que antes era heteronomia alienante torna-se sujeição à “própria
lei”.

O pensamento de Rousseau, então, levou seus seguidores em duas direções. Por um


lado, Rousseau (e especialmente o “rousseaunismo”) representa a forma continuamente
recorrente de crítica à alienação que se afasta do “universal” e, abraçando um ideal de
natureza infalível ou auto-suficiência primitiva, considera a socialidade e as instituições
sociais como inerentemente alienadas. Por outro lado, ele é a inspiração não só para a
idéia kantiana de autonomia [​Selbstherrschaft​], mas também para a concepção de
Hegel​ ​acerca​ ​da​ ​“socialidade​ ​da​ ​liberdade”​ ​[​Sozialität​ ​der​ ​Freiheit​].

2. Coube a Hegel, porém, conceituar a notória ideia de “auto-realização (filosófica) no


universal”. Embora para ele, também, a modernidade seja caracterizada pela alienação -
a fragmentação da consciência moderna, a separação entre “particular” e “universal” nos
relacionamentos dentro de uma sociedade civil ameaçada pela desintegração -, ele toma

13
​ ​Ibid.,​ ​187.
14
Frederick Neuhouser traz-nos, de modo deveras decisivo, em sua interpretação de Rousseau.
NEUHOUSER, Frederick. ​Foundations of Hegel’s Social Theory: Actualizing Freedom. ​Cambridge:
Harvard​ ​University​ ​Press,​ ​2000.​ ​p.​ ​55–81.
como o núcleo do problema não a perda de si do indivíduo ​através ​da sociedade, mas
sim a divisão entre indivíduo e sociedade. Para Hegel, a alienação (ou divisão interna) é
uma ​eticidade deficiente ​[​defizitäre Sittlichkeit​], a “perda da universalidade ética”
[​sittlicher Allgemeinheit​]. Quando a “eticidade” não deve significar a integração ética
substantiva em tipos comunitários pré-modernos (a eticidade integrada eticamente [​die
etisch integrierte Sittlichkeit​] das ​polis pré-modernas), mas tão somente o “direito dos
indivíduos à sua particularidade”, então o anti-atomismo de Hegel baseia-se na ideia de
que os indivíduos sempre se encontram já ​em relações ​[​in Beziehungen​]15, cuja
“realização”​ ​[​Realisierung​]​ ​(em​ ​vários​ ​sentidos)​ ​é​ ​um​ ​pressuposto​ ​de​ ​sua​ ​liberdade.

Onde Hegel aborda o conjunto de problemas delineados por Rousseau, ele transforma o
ponto de partida deste último ao conceber a liberdade ​como ​eticidade [​Sittlichkeit​] e a
eticidade ​como ​liberdade: nos tornamos livres nas e através das instituições
superindividuais [​überindividuellen Institutionen​] que primeiro permitem que nos
realizemos como indivíduos. O ideal (ainda atomístico) de autenticidade de Rousseau é
substituído, por meio do conceito, por uma auto-realização que se realiza,
primeiramente, como uma identificação com as instituições da vida ética. Embora, de
um lado, haja o esforço teórico de Hegel em superar o ideal de autarquia da liberdade
[​Autarkieideals von Freiheit​], de outro lado, ele pretende incorporar a ideia (kantiana)
de autonomia [​Selbstherrschaft​]: ele busca as condições para a recuperação das
instituições superindividuais. Tematizado sob o nome de “​Bildung​”, ​o processo através
do qual os indivíduos trabalham para sair das relações de dependência para poderem
construir​ ​-​ ​como​ ​parte​ ​de​ ​seus​ ​próprios​ ​pressupostos​ ​-​ ​suas​ ​próprias​ ​relações​ ​sociais.16

15
Para uma discussão do atomismo em filosofia social, ver TAYLOR, Charles. ​Human Agency and
Language:​ ​Philosophical​ ​Papers​ ​2​.​ ​Cambridge:​ ​Cambridge​ ​University​ ​Press,​ ​1985.​ ​p.​ ​ ​211–229.
16
Estou falando aqui do tratamento hegeliano da alienação enquanto uma problemática de diagnóstico do
tempo. Seu ​conceito ​de alienação, por outro lado, exibe a seguinte estrutura filosófica, aparece igualmente
em Marx: a alienação como autoalienação do Espírito, que é incapaz de reconhecer seus próprios
produtos enquanto tais. Todavia, o conceito não é necessariamente - neste nível - concebido de modo
pejorativo ou ainda normativo. Ver Nicolaus, ​Hegels Theorie der Entfremdung​, que analisa as várias
dimensões​ ​da​ ​teoria​ ​da​ ​alienação​ ​de​ ​Hegel.
3. As duas vertentes “pós-hegelianas” da teoria da alienação se encontram em
Kierkegaard e Marx, com um projeto de antropologização de Hegel.17 Com certeza, a
orientação virulenta do final do século XIX em direção à “existência efetiva” e ao
“humano efetivo e ativo” os conduz em diferentes direções: a direção de Marx em
relação à economia contrasta com a preocupação de Kierkegaard com as dimensões
éticas da existência humana. A atenção que a teoria da alienação dedica aos problemas
da divisão interna, da indiferença e da perda da referência com o eu e o mundo leva
ambos ao motivo da ​apropriação prática. Assim como Kierkegaard entende o
“tornar-se-si” [​Selbstwerdung​] em termos de apropriar-se de suas próprias ações e de
sua própria história - como um processo de “tomar-se prático”, e, por isso, como uma
apreensão ativa de conjuntos estranhos -, assim também, para Marx, a ideia de uma
apropriação produtiva do mundo e de si mesmo atua como o contra-modelo da
alienação.

O padrão referencial ético-eticista [​sittlich-ethische Zielbestimmung​] de Kierkegaard


consiste em se tornar um “humano singular”, um “singular singularizado” [​vereinzelter
Einzelner​] contra a esfera pública conformista que tende a existir na sociedade
burguesa. A abordagem de Marx caracteriza-se pela compreensão da apropriação da
própria essência humana em termos de uma apropriação do “ser-genérico”
[​Gattungswesen​] (onde o “ser-genérico”, conceito de Feuerbach, pode ser entendido
como uma versão naturalizada da visão hegeliana da eticidade). Assim, tanto os pontos
iniciais como os finais da crítica existencialista da alienação divergem principalmente
daqueles da “linha-Hegel-Marx”, na medida em que a alienação é entendida, no último
caso, como alienação ​do ​mundo social, enquanto que, no primeiro caso, a condição de
estar imerso em um mundo público é considerada como fonte de alienação, entendida
como a perda de autenticidade do sujeito em face dele como “nivelamento”
(Kierkegaard) ou como “Reino do homem” [​Herrschaft des Man​] (Heidegger). No
entanto, existem múltiplos pontos de sobreposição entre essas duas vertentes da teoria
da alienação (e não apenas em relação à sua recepção histórica): o diagnóstico de divisão

17
​ ​LÖWITH,​ ​Karl.​ ​From​ ​Hegel​ ​to​ ​Nietzsche​.​ ​New​ ​York:​ ​Anchor,​ ​1967.​ ​p.​ ​135–39.
interna de Hegel enfoca o fato de que os indivíduos não poderem se reencontrar nas
instituições sociais e políticas; a análise de Marx da alienação nos Manuscritos de 1844
argumenta que, no trabalho alienado, somos incapazes de apropriar-nos da nossa
própria atividade, seus produtos e as condições da produção comunitária; a concepção
de alienação de inspiração existencialista aponta para os obstáculos estruturais à
capacidade dos indivíduos de entenderem o mundo como seu próprio e de se
entenderem​ ​como​ ​sujeitos​ ​que​ ​moldam​ ​esse​ ​mundo.

4. No século XX, a discussão sobre a alienação (e, portanto, sobre o legado


filosófico-social do pensamento de Marx) desempenhou um papel proeminente em
várias vertentes do marxismo ocidental. Isso criou a possibilidade de uma dimensão
normativa da crítica social que fosse de fundamental importância para o
desenvolvimento de uma teoria crítica do capitalismo avançado. Já na década de 1920,
sem conhecer o relato da alienação dos Manuscritos de 184418, Georg Lukács ampliou a
análise de Marx sobre o fetichismo da mercadoria em uma teoria de alienação ou
reificação, em seu conhecido ensaio “Reificação e a Consciência do Proletariado”.19 Aqui,
com sua tese central da “universalidade da forma-mercadoria” como característica
distintiva da sociedade moderna, a teoria da reificação tornou-se uma teoria da
sociedade capitalista moderna em todas as suas manifestações. A influência da teoria de
racionalização de Max Weber e o diagnóstico da reificação [​Versachlichung​] de Georg
Simmel levaram Lukács a uma visão ligeiramente diferente da de Marx, que considerava
salientar os fenômenos de indiferença, objetivação, quantificação e abstração que, com a
disseminação da economia de mercado capitalista, caracterizam todas as relações e as
formas de expressão da sociedade burguesa. A imagem da gaiola de ferro de Weber, na
qual os humanos estão presos por uma sociedade capitalista burocratizada; a descrição
de Simmel da “tragédia da cultura”, na qual os produtos da liberdade humana assumem
uma existência independente como algo objetivo sobre e contra o ser humano; sua

18
O Manuscrito de 1844 apareceu primeiro no ​Marx-Engels-Gesamtausgabe ​em 1932 e foi bem recebido
imediatamente, com entusiasmo, por Herbert Marcuse, que os viu como revelando enfim as fundações
filosóficas​ ​da​ ​crítica​ ​da​ ​economia​ ​política​ ​e​ ​da​ ​teoria​ ​da​ ​revolução​ ​de​ ​Marx.
19
LUKÁCS, Georg. ​History and Class Consciousness : Studies in Marxist Dialectics​. London: Merlin,
1971.
análise de como, com a propagação da economia monetária, a liberdade se transformou
em perda de significado - todas elas capturaram frutiferamente os fenômenos que
Lukács viu à época como “no ar”. A interseção de temas marxistas e existencialistas foi
uma característica distintiva do pensamento de Lukács20, e é fácil ver que essa
combinação teórica foi crucial para o desenvolvimento da Teoria Crítica, e que até hoje
permanece​ ​crucial​ ​para​ ​o​ ​conceito​ ​de​ ​alienação​ ​em​ ​suas​ ​várias​ ​formas.21

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LÖWITH,​ ​Karl.​ ​From​ ​Hegel​ ​to​ ​Nietzsche​.​ ​New​ ​York:​ ​Anchor,​ ​1967.

20
O próprio Lukács realizou comentários a este respeito em 1967: “Para perceber o impacto do livro neste
tempo, e também a sua relevância hoje, nós devemos considerar um problema que ultrapassa em sua
importância todas as questões de detalhe. É a questão da alienação, que, pela primeira vez desde Marx, é
tratada como central para a crítica revolucionária do capitalismo (...) É claro, o problema estava no ar
naquele tempo.” (LUKÁCS, Georg. ​History and Class Consciousness : Studies in Marxist Dialectics​.
London: Merlin, 1971, p. xxii). Ele assinala de modo explícito a próxima conexão entre sua visão e a
discussão existencialista da alienação ao mencionar aqui tanto o aparecimento de ​Ser e Tempo ​(1927) e a
discussão francesa do pós-guerra, quanto também ao notar que “a alienação do home é um problema
crucial da era em que nós vivemos e é reconhecida como tal tanto pelos pensadores burgueses quanto
pelos​ ​proletários,​ ​por​ ​comentadores​ ​tanto​ ​de​ ​direita​ ​quanto​ ​de​ ​esquerda”​ ​(ibid.,​ ​p.​ ​xxii)
21
É lógico que a tentativa em grande amplitude de Habermas para refundar a teoria crítica e reformulá-la
usando o paradigma da ação comunicativa leva a uma reconstrução da teoria da reificação: assim, a tese
da​ ​colonização​ ​do​ ​mundo​ ​da​ ​vida​ ​transforma​ ​uma​ ​das​ ​intuições​ ​centrais​ ​da​ ​teoria​ ​crítica​ ​desde​ ​Marx.
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