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1
O presente texto é uma tradução do cap.1. do livro: JAEGGI, Rahel. Entfremdung. Zur Aktualität eines
sozialphilosophischen Problems. Berlin: Suhrkamp, 2016 (1a edição 2005). Agradecemos fortemente à
Rahel Jaeggi pela autorização da publicação. O texto foi vertido ao português primeiramente, com
competência, a partir da tradução inglesa (Alienation. New York: Columbia University Press, 2014) por
Alberto Luis Cordeiro de Farias, tendo em vista a realização de uma ulterior revisão feita por André
Magnelli com o cotejo do original alemão. Contudo, ao longo da revisão, muitos foram os problemas com
a tradução inglesa, a tal ponto que a revisão abandonou o texto em inglês e deteve-se inteiramente no
original, podendo ser vista enfim como uma tradução direta do alemão.
A Relação de falta-relacional: Para a reconstrução de um motivo da filosofia
social
Com essa abordagem, eu irei argumentar então que é possível superar dois problemas
com os quais a teoria da alienação frequentemente se confronta: por um lado, seu
essencialismo e sua orientação perfeccionista em torno de uma representação da
“essência”, da natureza do homem ou de um ideal concebido, de forma objetivista, de
2
O tradutor para a edição em inglês verteu como “relation of relationlessness”. Para acompanhar o
sentido da expressão em alemão, joga claramente com os sufixos “ness” e “less”, no primeiro caso para
acentuar a ideia de relação como um estado, uma qualidade no processo de alienação; e, no segundo caso,
para acentuar uma falta. Na ausência de cognato para o português, optamos por traduzir como “relação de
falta-relacional” a fim de mantermos os sentidos fundamentais do conceito pela autora: o de uma relação
incompleta, em que falta, por assim dizer, a própria “relacionalidade” da relação.
vida boa; por outro lado, o ideal de reconciliação - o ideal de uma unidade livre de
tensão - que parece estar vinculado à crítica da alienação quando ela aparece como uma
teoria da identidade ou uma teoria social. Quando se apresenta a alienação como sendo
uma relação de apropriação perturbada ou inibida do mundo e do eu, tem-se por
resultado a partir daí uma conexão esclarecedora entre liberdade e alienação. Na
medida em que a liberdade pressupõe, nomeadamente, que se pode fazer o que se faz, e
que as condições em que se faz são as suas próprias, a superação da alienação é uma
pressuposição para a realização da liberdade.
A primeira parte desta investigação [que foi empreendida em meu livro Entfremdung,
publicado em 2005] deve introduzir ao campo de problema que é marcado pelo conceito
de alienação. [Aqui, no presente texto, eu abordo] as várias dimensões do conceito e do
fenômeno da alienação - tal como a alienação se deixa desdobrar tanto na linguagem
cotidiana como no tratamento filosófico do conceito. Isso é aprofundado [no capítulo 2
de meu livro] com a ajuda de uma consideração mais precisa dos pontos de partida
teóricos da alienação e de como eles são alcançados tanto na teoria de Marx quanto na
ontologia existencial de Heidegger. Nesse contexto, após revelado o potencial do
conceito como um conceito fundamental de filosofia social, são discutidos [no capítulo 3
do mesmo livro] a sua estrutura, bem como a sua problemática. Finalmente, são
esboçadas [no capítulo 4] a proposta de reconstrução tal como eu a desenvolvo ao longo
[das partes II e III do mesmo livro].
Mesmo em nossos primeiros encontros com o tema, podemos ver que a alienação é um
conceito com “bordas borradas”. As “semelhanças familiares” e as sobreposições com
outros conceitos como a “reificação”, a “inautenticidade” e a “anomia” dizem tanto sobre
o campo de aplicação do conceito quanto sobre o emaranhamento recíproco entre os
vários significados que ele assumiu anteriormente na linguagem cotidiana e na
filosófica. Se o assim chamado “conteúdo experiencial” do conceito se alimenta das
experiências históricas e sociais que encontraram expressão nele6, também é o caso de
que, como conceito filosófico, a alienação influenciou as interpretações do eu e do
mundo de indivíduos e movimentos sociais. Nestas relações misturadas “impuras” é
construído um campo vasto de fenómenos que se deixam associar ao conceito de
alienação.7
3
ISRAEL, Joachim; MAASS, Hans-Joachim. Der Begriff Entfremdung: Zur Verdinglichung des
Menschen in der bürokratischen Gesellschaft. Reinbek: Rowohlt, 1985.
4
HABERMAS, Jürgen. Erläuterungen zur Diskursethik, Suhrkamp, Frankfurt am Main 1991, p.48.
5
MacINTYRE, Alasdair. Marxism: An Interpretation. London: SCM, 1953, 23.
6
Eu pego esta expressão [“conteúdo experiencial”] de Oskar Negt e Alexander Kluge. Ele se refere a
conceitos que tornam as experiências possíveis e que, por sua vez, dão vida àqueles mesmos conceitos. Cf.
NEGT, Oskar; KLUGE, Alexander. Öffentlichkeit und Erfahrung. Frankfurt: Suhrkamp, 1972.
7
Como Raymond Geuss diz, todos os conceitos filosóficos interessantes são “impuros”: GEUSS, Raymond.
Glück und Politik: Potsdamer Vorlesungen. Berlin: Berliner Wissenschafts-Verlag, 2004, p. 56.
1. Em conformidade com o uso linguístico, é “alienado” de si mesmo aquele que não
se comporta “de modo próprio” [eigentlich], mas sim “artificialmente” [künstlich] e
“de modo não genuíno” [unecht], ou aquele que é guiado por desejos que, em um
aspecto determinado, não são “os seus próprios” [die eigenen], ou não são
experimentados enquanto tais. Já de acordo com o diagnóstico crítico de Rousseau,
trata-se então de alguém que vive “na opinião dos outros” em vez de “em si mesmo”.
De acordo com isso, os papéis comportamentais e o conformismo social contam, por
exemplo, como alienados ou inautênticos; mas pertencem também ao campo dos
diagnósticos da alienação os discursos de crítica ao consumismo que versam sobre
as “falsas necessidades”.
2. “Alienadas” são as relações que não existem por sua própria causa, assim como as
atividades com as quais não se pode “identificar”. O trabalhador que pensa apenas
em parar o tempo, o acadêmico que publica unicamente com vistas ao citation
index, o médico que não pode esquecer por um momento da tabela de valores -
todos eles estão alienados do que fazem. E alguém que cultiva uma amizade apenas
porque serve a seus próprios interesses tem uma relação alienada com o seu
parceiro.
O que é, então, alienação? “Parece que sempre que ele sente que algo não é como
deveria, ele o caracteriza em termos de alienação”.8 Esta observação de Richard Schacht
sobre Erich Fromm parece uma descrição adequada de como o conceito é
freqüentemente usado (e não só por Fromm). No entanto, tão variados como os
fenômenos acima mencionados, eles fornecem um esboço inicial do conceito de
alienação. Uma relação alienada é uma relação deficiente que se tem consigo mesmo,
com o mundo e com os outros. Indiferença, instrumentalização, reificação, absurdo,
artificialidade, isolamento, falta de sentido, impotência - são diferentes caracterizações
que resultam dessas relações e figuram tais déficits. Uma característica distintiva do
conceito de alienação é que ele se refere não apenas à ausência de liberdade [Unfreiheit]
e à impotência, mas também a um “empobrecimento” característico da relação com o eu
e com o mundo (Esse é o modo pelo qual devemos entender o duplo significado da
fórmula de Marx da alienação como uma “desrealização dupla” [doppelter
Entwirklichung] do mundo e do ser humano: tornando-se irreal, o homem não se
experimenta como “efetivo”; tornando-se irreal, o mundo é sem significado e
indiferente). É a complexidade dessas inter-relações que fez da alienação o
conceito-chave de um diagnóstico de crise da modernidade e um dos conceitos
fundamentais da filosofia social.
8
SCHACHT, Richard. Alienation. Garden City, NY: Doubleday, 1970. p. 116.
9
Cf. NICOLAUS, Helmut. Hegels Theorie der Entfremdung. Heidelberg: Manutius, 1995. p. 27.
tornou, a partir do século XVIII em diante, uma cifra usada para notificar a “incerteza,
fragmentação e divisão interna” nas relações dos seres humanos consigo mesmos e com
o mundo que acompanhava o progresso da industrialização. Foi esse diagnóstico que
Marx apreendeu em sua teoria de alienação e pôs em prática na sua crítica ao
capitalismo. Se a “perda determinada dos homens modernos”10, oriunda de Kierkegaard,
molda a questão da filosofia existencialista do ser-si e perder-se [Selbstsein und
Selbstverlust], então as experiências de indiferença e de estranheza radical [radikaler
Fremdheit], descritas aqui, aparecem como nada menos do que uma distorção
ontologicamente situada do mundo, da relação humana com o mundo e da relação do
homem consigo mesmo - o que, apesar de todas as divergências do diagnóstico
marxista, também tem algo em comum com ele. O diagnóstico da alienação (em sua
forma moderna) - por exemplo, liberdade e autodeterminação - está sempre abarcado
aí, bem como a sua redenção perdida. Entendida dessa maneira, a alienação não é
apenas um problema da Modernidade, mas também um problema moderno.
Pode-se dar uma história (muito) curta da teoria moderna da alienação, em uma de suas
versões, da seguinte maneira:
1. Não o conceito, mas sim a coisa, encontra-se descrito nos escritos de Rousseau, que
contêm todas as idéias-chave do qual o discurso da alienação - tomado em seu sentido
filosófico-social) é composto até hoje.11 Rousseau começa seu “Discurso sobre a origem
da desigualdade entre os homens” (1755) com uma imagem impressionante:
10
THEUNISSEN, Michael. Selbstverwirklichung und Allgemeinheit : Zur Kritik des gegenwartigen
Bewusstseins. Berlin: De Gruyter, 1981.
11
Não existe qualquer discordância a este respeito entre os intérpretes de Rousseau. Assim, Hans Barth
descreve Rousseau como um teórico da alienação avant la lettre (BARTH, Hans. Wahrheit und Ideologie .
Frankfurt: Suhrkamp, 1974. p. 105). E, de acordo com Bronislaw Baczko: “O termo hegeliano-marxista
[alienação] corresponde precisamente à condição para a qual Rousseau não tem qualquer nome, mas que
ele constantemente descreveu.” (BACZKO, Bronislaw. Rousseau: Einsamkeit und Gemeinschaft . Vienna:
Europa, 1970. p. 27).
aquisição de uma multidão de conhecimentos e de erros, pelas mudanças que se dão na
constituição dos corpos e pelo choque contínuo das paixões, por assim dizer mudou de
aparência a ponto de tornar-se quase irreconhecível12.
A desfiguração de que Rousseau fala aqui é a deformação dos seres humanos pela
sociedade: com a sua natureza dividida, alienada de suas próprias necessidades, sujeita
aos ditames conformistas da sociedade, no seu desejo de reconhecimento
[Geltungsdrang] e sua vaidade [Eitelkeit] dependente das opiniões dos outros, o
homem social é uma pessoa artificial e desfigurada. A dependência mútua dos seres
humanos civilizados, que, através do contato social, produz necessidades sem limites,
bem como a orientação em função dos outros, leva simultaneamente , de acordo com
Rousseau, à dominação e à perda de liberdade [Unfreiheit], à perda de autenticidade e à
(auto-) alienação - em outras palavras, ela leva a uma condição posta diretamente contra
a autonomia e autenticidade do estado da natureza, concebida como condição de
autarquia.
Sem querer negar as tensões internas ao trabalho de Rousseau, a conexão entre os dois
aspectos pode ser explicada assim: o fosso entre o ser-si autêntico [authentischem
Selbstsein] e a sociedade, que Rousseau articulou tão eloqüentemente, dá origem, de
acordo com seus próprios pressupostos, a uma aporia que pode ser resolvida apenas
12
ROUSSEAU, Jean-Jacques. The Discourses and Other Early Political Writings. Trans. Victor
Gourevitch. New York: Cambridge University Press, 1997. p. 124.
estabelecendo-se uma condição em que os indivíduos vivam dentro das instituições
sociais que podem experimentar como suas. Por um lado, o humano alienado descrito
por Rousseau perde-se na medida em que estabelece relações com os outros: o humano
natural “vive dentro de si mesmo; o homem sociável sempre fora de si mesmo”13. Por
outro lado, o ser humano só pode recuperar-se através da sociedade. Uma vez que a
restauração da autarquia do estado da natureza rousseauniano - e com ela uma
liberdade que exige independência e desapego dos outros - vem a um “preço muito alto”
14
(o preço de perder as qualidades especificamente humanas, tais como a razão e a
reflexividade), então a solução para o problema da alienação não pode residir na
dissolução dos laços sociais, mas apenas na sua transformação. A dependência mútua
dos indivíduos socializados, experimentados como alienantes, deve ser reconfigurada de
acordo com a ideia, estabelecida no Contrato Social, de uma associação na qual cada
indivíduo aliena [veräußert] todos os seus direitos à sociedade e assim se torna “tão
livre como antes”. O que antes era heteronomia alienante torna-se sujeição à “própria
lei”.
13
Ibid., 187.
14
Frederick Neuhouser traz-nos, de modo deveras decisivo, em sua interpretação de Rousseau.
NEUHOUSER, Frederick. Foundations of Hegel’s Social Theory: Actualizing Freedom. Cambridge:
Harvard University Press, 2000. p. 55–81.
como o núcleo do problema não a perda de si do indivíduo através da sociedade, mas
sim a divisão entre indivíduo e sociedade. Para Hegel, a alienação (ou divisão interna) é
uma eticidade deficiente [defizitäre Sittlichkeit], a “perda da universalidade ética”
[sittlicher Allgemeinheit]. Quando a “eticidade” não deve significar a integração ética
substantiva em tipos comunitários pré-modernos (a eticidade integrada eticamente [die
etisch integrierte Sittlichkeit] das polis pré-modernas), mas tão somente o “direito dos
indivíduos à sua particularidade”, então o anti-atomismo de Hegel baseia-se na ideia de
que os indivíduos sempre se encontram já em relações [in Beziehungen]15, cuja
“realização” [Realisierung] (em vários sentidos) é um pressuposto de sua liberdade.
Onde Hegel aborda o conjunto de problemas delineados por Rousseau, ele transforma o
ponto de partida deste último ao conceber a liberdade como eticidade [Sittlichkeit] e a
eticidade como liberdade: nos tornamos livres nas e através das instituições
superindividuais [überindividuellen Institutionen] que primeiro permitem que nos
realizemos como indivíduos. O ideal (ainda atomístico) de autenticidade de Rousseau é
substituído, por meio do conceito, por uma auto-realização que se realiza,
primeiramente, como uma identificação com as instituições da vida ética. Embora, de
um lado, haja o esforço teórico de Hegel em superar o ideal de autarquia da liberdade
[Autarkieideals von Freiheit], de outro lado, ele pretende incorporar a ideia (kantiana)
de autonomia [Selbstherrschaft]: ele busca as condições para a recuperação das
instituições superindividuais. Tematizado sob o nome de “Bildung”, o processo através
do qual os indivíduos trabalham para sair das relações de dependência para poderem
construir - como parte de seus próprios pressupostos - suas próprias relações sociais.16
15
Para uma discussão do atomismo em filosofia social, ver TAYLOR, Charles. Human Agency and
Language: Philosophical Papers 2. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 211–229.
16
Estou falando aqui do tratamento hegeliano da alienação enquanto uma problemática de diagnóstico do
tempo. Seu conceito de alienação, por outro lado, exibe a seguinte estrutura filosófica, aparece igualmente
em Marx: a alienação como autoalienação do Espírito, que é incapaz de reconhecer seus próprios
produtos enquanto tais. Todavia, o conceito não é necessariamente - neste nível - concebido de modo
pejorativo ou ainda normativo. Ver Nicolaus, Hegels Theorie der Entfremdung, que analisa as várias
dimensões da teoria da alienação de Hegel.
3. As duas vertentes “pós-hegelianas” da teoria da alienação se encontram em
Kierkegaard e Marx, com um projeto de antropologização de Hegel.17 Com certeza, a
orientação virulenta do final do século XIX em direção à “existência efetiva” e ao
“humano efetivo e ativo” os conduz em diferentes direções: a direção de Marx em
relação à economia contrasta com a preocupação de Kierkegaard com as dimensões
éticas da existência humana. A atenção que a teoria da alienação dedica aos problemas
da divisão interna, da indiferença e da perda da referência com o eu e o mundo leva
ambos ao motivo da apropriação prática. Assim como Kierkegaard entende o
“tornar-se-si” [Selbstwerdung] em termos de apropriar-se de suas próprias ações e de
sua própria história - como um processo de “tomar-se prático”, e, por isso, como uma
apreensão ativa de conjuntos estranhos -, assim também, para Marx, a ideia de uma
apropriação produtiva do mundo e de si mesmo atua como o contra-modelo da
alienação.
17
LÖWITH, Karl. From Hegel to Nietzsche. New York: Anchor, 1967. p. 135–39.
interna de Hegel enfoca o fato de que os indivíduos não poderem se reencontrar nas
instituições sociais e políticas; a análise de Marx da alienação nos Manuscritos de 1844
argumenta que, no trabalho alienado, somos incapazes de apropriar-nos da nossa
própria atividade, seus produtos e as condições da produção comunitária; a concepção
de alienação de inspiração existencialista aponta para os obstáculos estruturais à
capacidade dos indivíduos de entenderem o mundo como seu próprio e de se
entenderem como sujeitos que moldam esse mundo.
18
O Manuscrito de 1844 apareceu primeiro no Marx-Engels-Gesamtausgabe em 1932 e foi bem recebido
imediatamente, com entusiasmo, por Herbert Marcuse, que os viu como revelando enfim as fundações
filosóficas da crítica da economia política e da teoria da revolução de Marx.
19
LUKÁCS, Georg. History and Class Consciousness : Studies in Marxist Dialectics. London: Merlin,
1971.
análise de como, com a propagação da economia monetária, a liberdade se transformou
em perda de significado - todas elas capturaram frutiferamente os fenômenos que
Lukács viu à época como “no ar”. A interseção de temas marxistas e existencialistas foi
uma característica distintiva do pensamento de Lukács20, e é fácil ver que essa
combinação teórica foi crucial para o desenvolvimento da Teoria Crítica, e que até hoje
permanece crucial para o conceito de alienação em suas várias formas.21
Referências bibliográficas
20
O próprio Lukács realizou comentários a este respeito em 1967: “Para perceber o impacto do livro neste
tempo, e também a sua relevância hoje, nós devemos considerar um problema que ultrapassa em sua
importância todas as questões de detalhe. É a questão da alienação, que, pela primeira vez desde Marx, é
tratada como central para a crítica revolucionária do capitalismo (...) É claro, o problema estava no ar
naquele tempo.” (LUKÁCS, Georg. History and Class Consciousness : Studies in Marxist Dialectics.
London: Merlin, 1971, p. xxii). Ele assinala de modo explícito a próxima conexão entre sua visão e a
discussão existencialista da alienação ao mencionar aqui tanto o aparecimento de Ser e Tempo (1927) e a
discussão francesa do pós-guerra, quanto também ao notar que “a alienação do home é um problema
crucial da era em que nós vivemos e é reconhecida como tal tanto pelos pensadores burgueses quanto
pelos proletários, por comentadores tanto de direita quanto de esquerda” (ibid., p. xxii)
21
É lógico que a tentativa em grande amplitude de Habermas para refundar a teoria crítica e reformulá-la
usando o paradigma da ação comunicativa leva a uma reconstrução da teoria da reificação: assim, a tese
da colonização do mundo da vida transforma uma das intuições centrais da teoria crítica desde Marx.
LUKÁCS, Georg. History and Class Consciousness: Studies in Marxist Dialectics.
London: Merlin, 1971.
MacINTYRE, Alasdair. Marxism: An Interpretation. London: SCM, 1953.
NEGT, Oskar; KLUGE, Alexander. Öffentlichkeit und Erfahrung. Frankfurt: Suhrkamp,
1972.
NEUHOUSER, Frederick. Foundations of Hegel’s Social Theory: Actualizing Freedom.
Cambridge: Harvard University Press, 2000.
NICOLAUS, Helmut. Hegels Theorie der Entfremdung. Heidelberg: Manutius, 1995.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. The Discourses and Other Early Political Writings. Trans.
Victor Gourevitch. New York: Cambridge University Press, 1997.
SCHACHT, Richard. Alienation. Garden City, NY: Doubleday, 1970.
———. The Future of Alienation. Urbana: University of Illinois Press, 1994.
TAYLOR, Charles. Human Agency and Language: Philosophical Papers 2. Cambridge:
Cambridge University Press, 1985.
THEUNISSEN, Michael. Selbstverwirklichung und Allgemeinheit: Zur Kritik des
gegenwartigen Bewusstseins. Berlin: De Gruyter, 1981.