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HISTÓRICO-CULTURAL
1. Introdução
Este trabalho é resultado do desenvolvimento do projeto PIBIC O conceito
de subjetividade na atualidade: uma análise a partir da Psicologia Histórico-Cultural.
O objetivo de tal pesquisa foi analisar como o conceito de subjetividade está sendo
discutido atualmente e como as produções intelectuais atuais estão compreendendo a
relação existente entre desenvolvimento da subjetividade e processos educativos,
tomando como fundamento teórico para a análise os pressupostos da Psicologia
Histórico-Cultural. A realização deste projeto de pesquisa ocorreu por meio de pesquisa
bibliográfica sobre a concepção de subjetividade na perspectiva da Psicologia Histórico-
Cultural, em fontes primárias e secundárias, e pela leitura e análise de artigos que
tratavam da subjetividade e da educação selecionados na biblioteca eletrônica scielo
(2008).
O desenvolvimento do psiquismo humano foi objeto de interesse de
investigadores da perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural . L. S. Vigotski (1896-
1934) foi quem deu início à Psicologia Histórico-Cultural, que está assentada no
materialismo histórico-dialético. Essa perspectiva parte da noção de que as leis do
desenvolvimento psíquico do homem estão socialmente condicionadas nas e pelas
relações sociais de produção. O processo de desenvolvimento é determinado por um
complexo conjunto de condições de vida e educação da criança. Dessa forma, o
psiquismo é constituído por influência da cultura, tem relação com o tempo histórico,
com as condições materiais na qual o indivíduo se desenvolve. A partir desta concepção
de constituição social do homem, nota-se a importância da escola no processo de
humanização. Se o homem não nasce já dotado de todas as características que o faz
homem, a educação é destacada enquanto meio pelo qual este homem apropria-se da
cultura e se desenvolve enquanto ser humano.
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autores que dão ênfase ao aspecto intrapsicológico, nem entre os autores que se
preocupam com o interpsicológico, e que a análise do tema subjetividade é feita com
reduções de ambas as partes, não se pautando no caráter dialético das produções de
Vigotski.
Diante do exposto, vemos a necessidade de discutir o desenvolvimento do
psiquismo e a constituição da subjetividade que se fundamentem em uma visão marxista
dos autores que compõem a Escola de Vigotski, tais como o próprio L. S. Vigotski, A.
N. Leontiev, A. R. Luria, entre outros.
Leontiev (1978/2004) discorre acerca da constituição psíquica do homem e
seu desenvolvimento. Para Leontiev (1978/2004, p.279, grifos do autor), o
desenvolvimento do homem é um processo histórico e social, visto que “o homem é um
ser de natureza social, que tudo o que tem de humano nele provém de sua vida em
sociedade, no seio da cultura criada pela humanidade”.
Apenas o aparato biológico não é suficiente para que o homem se torne
homem, pois “[...] cada indivíduo aprende a ser homem. O que a natureza lhe dá
quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe ainda preciso adquirir o que
foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana”
(Leontiev 1978/2004, p.285, grifo do autor). Portanto, o homem só se torna homem ao
apropriar-se do mundo, quando se transmite, às novas gerações, o legado da
humanidade. É o processo de apropriação e objetivação dos bens materiais e culturais
que propiciam o desenvolvimento de novas gerações de seres humanos. A constituição
da subjetividade humana caminha desse ir e vir do mundo interno para o mundo
externo, numa relação dialética entre objetividade e subjetividade.
Martins (2007), a partir das idéias defendidas por Leontiev, afirma que
compreender a “[...] a essência humana como conjunto das relações sociais implica
reconhecer que estas relações são produzidas pelos homens por meio da atividade
consciente, encontrando-se na base destas relações as relações sociais de produção”
(Martins, 2007, p.141). Isto mostra a conexão entre subjetividade e atividade vital do
homem – o trabalho, pois é pela atividade que este homem constrói a si mesmo e ao
mundo. Desta forma, a compreensão da subjetividade deve considerar que o homem
pertence a uma forma determinada de sociedade, e que as particularidades desta
sociedade condicionam a construção dos indivíduos que dela fazem parte. Para analisar
o indivíduo devemos nos fundamentar na análise do momento histórico e social
enfocando a relação dialética homem-sociedade. E para viver em sociedade o homem
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Essa citação e as demais, traduzidas do espanhol para o português, são de nossa
responsabilidade.
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Vigotski (1931/2000) afirma que, quando ele se refere a algo “externo”, está
querendo afirmar que é algo “social”. Ou seja, o que sustenta as funções superiores são
as relações sociais. Todo aspecto cultural é social, uma vez que a cultura é produto da
atividade humana social.
Nesta mesma linha de pesquisa, Vigotski e Luria (1030/1996) afirmam que
no início de seu desenvolvimento, a criança utiliza-se de suas funções psicológicas
naturais para se adaptar ao meio. Quando ela passa do estágio primitivo e natural para o
estágio cultural, passa a utilizar-se de signos externos como auxílio para, por exemplo,
memorizar algo. Com o passar do tempo, estes signos tornam-se internos, são
internalizados pela criança, e esta passa a utilizar-se de suas funções psicológicas
superiores para realizar suas tarefas, não necessitando mais de auxiliares externos.
A formação da subjetividade, nesta linha de raciocínio, é condicionada tanto
por fatores internos, como fatores externos; ou seja, tanto fatores culturais como o
próprio desenvolvimento das funções psicológicas superiores formam a personalidade
da criança.
No que se refere ao termo subjetividade, Silva (2007) pontua que o conceito
é amplamente utilizado hoje, porém possui as mais diferentes definições. A autora
procura compreender o significado deste termo a partir de Leontiev, afirmando que,
para este autor, “[...] a palavra subjetividade se refere ao processo pelo qual algo se
torna constitutivo e pertencente ao indivíduo; ocorrendo de tal forma que esse
pertencimento se torna único, singular” (Silva, 2007, p.75).
Ou seja, até mesmo no interior de uma mesma linha teórica houve diferentes
interpretações e formulações teóricas acerca da constituição da subjetividade, conforme
vimos em Molon (2003).
Nos artigos analisados, alguns autores, amparados pela Psicologia Histórico-
Cultural, entendem a subjetividade a partir do contexto cultural e simbólico do sujeito,
afirmando que ela é construída a partir deste contexto. Tais autores preocupam-se,
particularmente, com a questão da linguagem e da semiótica, destacando a formação da
linguagem como um processo constitutivo da subjetividade. A subjetividade, segundo
eles, é formada na relação do sujeito com o outro, processo este mediado pela
linguagem e pelo contexto histórico-cultural. O psiquismo dos indivíduos se desenvolve
pela apreensão de signos e significados, que, por usa vez, são construídos socialmente
nas relações entre os homens. Os artigos desta categoria citam, em sua maioria,
Vigotski e Mikhail Bakhtin.
Já outros autores, também amparados pela Psicologia Histórico-Cultural,
entendem a subjetividade como resultante das relações sociais de produção da vida
material. Ao analisarem a formação da subjetividade na sociedade de classes, destacam
o processo de alienação, compreendendo que o homem é síntese dessas relações sociais,
e que a subjetividade se forma por intermédio delas, tal como apregoa Saviani (2004).
Estes autores citam, notadamente, Vigotski e Leontiev, como é o caso de Martins
(2004). A autora afirma que o processo de personalização ocorre em interação com as
condições sociais objetivas da existência do individuo e que só é possível compreender
a construção da subjetividade na sociedade atual se analisarmos as relações sociais de
alienação no capitalismo, tal como discorrem Saviani (2004) e Leontiev (1978/2004).
Desta forma, as relações sociais desempenham fundamental papel na formação da
personalidade.
4. Considerações finais
Pode-se compreender que o termo subjetividade é amplamente utilizado
pelos autores contemporâneos, e que eles empregam este termo para se referir a
diversos fenômenos e muito raramente tratam do conceito a partir do método histórico-
cultural.
Cambaúva e Tuleski (2007) afirmam que é necessário superar a lógica
formal, que separa mundo objetivo de mundo subjetivo. Entendem que objetividade e
subjetividade não podem ser excludentes, uma vez que ambas estão interrelacionadas.
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Nesta forma de compreensão da subjetividade, não se pode partir nem do mundo interno
do indivíduo, nem do mundo externo. A análise supera a lógica formal e encaminha
para o entendimento da unidade dialética entre indivíduo e sociedade.
Para Saviani (2004), a solução do impasse entre individualidade e
universalidade está na dialética. Segundo ele, a Psicologia não deveria ter como objeto
de estudo o indivíduo empírico, e sim o indivíduo concreto. Defende esta idéia, pois
para Marx: “[...] o concreto é concreto por ser a síntese de múltiplas determinações,
logo, unidade da diversidade” (Marx, 1845/1973, apud Saviani, 2004, p.44).
Referências
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